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Fundamentos Semânticos na Linguística Textual 1 TROL Fundamentos Semânticos na Linguística Textual Ananda Teixeira do Amaral Márcia Leite Pereira dos Santos Maria Luzia Paiva de Andrade    1    ª   e    d    i   ç    ã   o

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    Fundamentos Semnticos na Lingustica Textual

    1TROL

    FundamentosSemnticos naLingustica Textual

    Ananda Teixeira do Amaral

    Mrcia Leite Pereira dos Santos

    Maria Luzia Paiva de Andrade

    1edio

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    DIREO SUPERIORChanceler Joaquim de Oli veira

    Reitora Marlene Salgado de Oliveir a

    Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oli veira

    Pr-Reitor de Planejamento e Finanas Wellington Salgado de Oli veiraPr-Reitor de Organizao e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oli veira

    Pr-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oli veira

    Pr-Reitora Acadmica Jain a dos Santos Mello Ferreira

    Pr-Reitor de Extenso Manuel de Souza Esteves

    DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTNCIAAssessora Andrea Jardim

    FICHA TCNICATexto:Ananda Teixeir a do Amaral, Mrcia Leite Pereira dos Santos , Maria Luzia Paiva de AndradeReviso Ortogrfica:Tatiane Rodrigues de Souza eWalter P. Valverde Jnior

    Projeto Grfico e Editorao:Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni, Fabrcio Ramos, Marcos

    Antonio Lima da Sil va e Ruan Carlos Vieira Fausto

    Superviso de Materiais Instrucionais:Janaina Gon alves de Jesus

    Ilustrao:Eduardo Bordoni e Fabrcio Ramos

    Capa:Eduardo Bordoni e Fabrcio Ramos

    COORDENAO GERAL:Departamento de Ensino a Distncia

    Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niteri, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br

    A485fAmaral, Ananda Teixeira do.

    Fundamentos semnticos na lingstica textual / AnandaTeixeira do Amaral, Mrcia Leite Pereira dos Santos, MariaLcia Paiva de Andrade ; reviso de Walter P. ValverdeJunior. 1. ed. Niteri, RJ: EAD/UNIVERSO, 2011.

    199 p. : il

    1. Lingustica. 2. Semntica. 3. Lngua portuguesa -Semntica. 4. Edu cao distncia. I.Santos, Mrcia LeitePereira dos. II. Andrade, Mari a Luzia Paiva de. III. ValverdeJnior, Walter P. IV.Ttulo.

    CDD 801

    Ficha cat alogrfica elaborada pela Biblioteca Universo Campus Niteri

    Bibliotecria: ELIZABETH FRANCO MARTINS CRB 7/4990

    Departament o de Ensino a Dist ncia - Univ ersidade Salgado de Ol iveira

    Todos os direit os reserv ados. Nenhuma part e dest a publica o pode ser repr oduzida, arquiv ada ou tr ansmit ida de nenhu ma forma

    ou por nenhum meio sem permisso expressa e por escr i t o da Associao Salgado de Ol iveira de Educa o e Cultur a, m antenedora

    da Univ ersidad e Salgad o de Olive ir a (UNIVERSO).

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    Informaes sobre a disciplina

    Carga horria terica: 60 h

    Crditos: 04

    Ementa:

    Semntica textual e estrutural. Introduo Lingustica Textual. Texto e

    discurso. O contexto. Fatores de textualidade: coeso e coerncia. As leituras do

    texto.

    Objetivos:

    Entender as diversas representaes das palavras e das imagens no

    discurso do cotidiano. Compreender os fundamentos tericos da

    Lingustica Textual. Entender os mecanismos de coeso e coerncia

    textuais. Observar e analisar os aspectos de pressuposio e inferncia

    necessrios leitura do texto. Reconhecer processos referentes leitura.

    Contedo Programtico

    Unidade 1: Semntica

    Conceito.

    Viso histrica.

    Semntica Tradicional

    As alteraes de sentido atravs dos tempos: os processos de mudana

    semntica.

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    Unidade 2: Significado e Contexto

    Relao entre signif icao e contexto.

    Fenmenos que decorrem da assimetria entre significantes e significados.

    Semntica Estrutural: Formao disciplinar.

    Conceitos bsicos: sema, semema, arquissemema, arquilexema.

    As relaes smicas: Oposio, Incluso, Participao e Associao.

    Unidade 3: O Lxico

    Lxico e Vocabulrio

    Vocabulrio e Contexto

    Denotao e Conotao

    Polissemia e Homonmia

    Sinonmia e Antonmia

    Paronmia

    Campos Semnticos

    Unidade 4:Lingustica Textual: Conceitos, Histrico E Precursores.

    Conceitos

    Histrico

    Precursores

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    Unidade 5: O Texto, O Discurso e a Enunciao

    5.1. O texto, o discurso e a enunciao.

    5.2. O que texto

    5.3. O texto e o contexto

    5.4. As linguagens do texto

    5.5. A leitura do Texto: O processo de leitura

    5.6. Pressuposio, Inferncia e Implicitude

    5.7. O problema da ambiguidade

    Unidade 6: Fatores de Textualidade: A Coeso e a Coerncia Textuais

    6.1. Fatores de Textualidade: A coeso e a Coerncia

    6.2. Mecanismos de coeso

    6.3. Conceito: Coerncia e texto

    6.4. Fatores de coerncia textual: a relao entre a coeso e a coerncia

    Referncias:

    Bibliografia Bsica:

    FVERO, Leonor Lopes & KOCH, Ingedore. Lingustica Textual. SP: Cortez, 1998.

    ILARI, Rodolfo. Introduo semntica: brincando com a gramtica. 5 ed. So

    Paulo: Contexto, 2004.

    KOCH, Ingedore Villaa, ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do

    texto. 2 ed. So Paulo: Contexto, 2006.

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    Bibliografia Complementar:

    ILARI, Rodolfo. Introduo ao estudo do lxico: brincando com as palavras.

    4 ed. So Paulo: Contexto, 2006.

    KOCH, Ingedore & Travaglia, Luiz Carlos.Texto e coerncia, SP. Cortez, 2000.

    KOCH, Ingedore. G. Villaa. Argumentao e Linguagem. SP: Cortez, 1999.

    ______________________. A Coerncia Textual. SP: Contexto, 1999.

    MARQUES, Maria Helena Duarte. 6. Ed. Iniciao semntica. R

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    Palav ra da Reitora

    Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo,exigente e necessitado de aprendizagem contnua, a Universidade Salgado de

    Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que rene os diferentessegmentos do ensino a distncia na universidade. Nosso programa foidesenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experincias do gnerobem-sucedidas mundialmente.

    So inmeras as vantagens de se estudar a distncia e somente por meiodessa modalidade de ensino so sanadas as dificuldades de tempo e espaopresentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu prprio

    tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-seresponsvel pela prpria aprendizagem.

    O ensino a distncia complementa os estudos presenciais medida quepermite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo

    momento ligados por ferramentas de interao presentes na Internet atravs denossa plataforma.

    Alm disso, nosso material didtico foi desenvolvido por professoresespecializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade sofundamentais para a perfeita compreenso dos contedos.

    A UNIVERSO tem uma histria de sucesso no que diz respeito educao a

    distncia. Nossa experincia nos remete ao final da dcada de 80, com o bem-

    sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processode atualizao, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualizao,graduao ou ps-graduao.

    Reafirmando seu compromisso com a excelncia no ensino e compartilhando

    as novas tendncias em educao, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer oprograma e usufruir das vantagens que o estudar a distncia proporciona.

    Seja bem-vindo UNIVERSO Virtual!

    Professora Marlene Salgado de Oliveira

    Reitora

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    Sumrio

    Apresentao da disciplina................................................................................................................................ 11

    Plano da disciplina................................................................................................................................................... 13

    Unidade 1 Semntica ......................................................................................................................................... 17

    Unidade 2 Significao e Contexto .......................................................................................................... 41

    Unidade 3 O Lxico .............................................................................................................................................. 67

    Unidade 4 Lingustica textual: conceitos, hi strico e precursores...................................... 91

    Unidade 5 O Texto, O Discurso e a Enunciao ............................................................................... 113

    Unidade 6 Aspectos e Fatores de Textualidade: A Coeso e a Coerncia Textual ... 149

    Consideraes finais............................................................................................................................................... 185

    Conhecendo as autoras........................................................................................................................................ 187

    Referncias.................................................................................................................................................................... 189

    Anexos ............................................................................................................................................................................ 191

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    Apresent ao da Disciplina

    Sejam bem-vindos disciplina Fundamentos Semnticos na Lingustica

    Textual!

    Chamamos de Fundamentos Semnticos da Lingustica Textual disciplina

    que tem como objeto de estudo o texto, em suas mais variadas manifestaes. Sua

    importncia como integrante da grade curricular do Curso de Letras deve-se,

    principalmente, s novas propostas dos PCNs para o ensino de Lngua Portuguesa

    que tem como cerne o texto. Nossa disciplina pode oferecer ao futuro professor

    subsdios indispensveis para a realizao de seu trabalho. Cabe a ela o estudo dos

    recursos lingusticos e condies discursivas que presidem construo da

    textualidade e, em decorrncia, produo textual dos sentidos. Sabemos,

    claramente, que so os ensinamentos da Lingustica Textual que respaldam as

    postulaes dos PCNs. Compreenso, leitura do que no est escrito, construo

    de sentidos, por exemplo, so habilidades que envolvem questes como a da

    implicitude; dos tipos de implcito e das formas de sua recuperao, isto , danecessidade de ler o que no est escrito, mas que indispensvel para a

    construo do sentido; dos tipos de inferncias necessrias para faz-lo e de como

    se processam estrategicamente.

    Alm disso, discutiremos aqui, nas prximas pginas e por meio de fruns de

    discusso e de exerccios, as dificuldades enfrentadas pelos semanticistas e os

    motivos para a atual fragmentao do campo da semntica. Dedicar-nos-emos a

    questes caras aos estudos semnticos, como a polissemia, a homonmia, a

    conotao, a sinonmia e a relao entre significado e contexto. A semntica tem

    sido definida historicamente como a cincia do significado. Qualquer pessoa,

    mesmo aquela que no se dedica a um curso de Letras, pode intuir, partindo dessa

    definio bastante geral e consensual, que esse ramo da Lingustica muito

    importante e que seu progresso fundamental para o desenvolvimento dos

    estudos da linguagem. Entretanto, a semntica no teve, durante a evoluo da

    Lingustica, ao longo do sculo XX, a ateno e o volume de pesquisas merecidos.

    As causas dessa negligncia foram diversas e podero ser melhor entendidas ao

    longo da disciplina Fundamentos Semnticos na Lingustica Textual que

    iniciamos agora.

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    Todo professor de Lnguas e Literaturas, interessado em aprimoramento e

    adaptao s novas abordagens, tem nesta disciplina grande apoio e fonte de

    conhecimento. Ela foi pensada para que voc tome conhecimento de como ointeresse pelo significado ant igo e remonta aos filsofos gregos; como se deu, no

    final do sculo XIX, a emergncia da nova cincia, a Semntica; e como foram se

    dando os desdobramentos posteriores a esse momento inicial, com o

    estruturalismo ou com as tendncias mais contemporneas de estudos lingusticos

    da teoria do texto em suas diversas manifestaes, todos os aspectos responsveis

    pela textualidade at os fatores necessrios para recuperao de seus implcitos.

    Esperamos que tenha um timo aproveitamento!

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    Plano da Disciplina

    A disciplina Fundamentos Semnticos na Lingustica Textual baseia-se na

    disponibilizao, compreenso e anlise de discusses fundamentais acerca da

    evoluo dos estudos do significado. Prope-se no apenas a apresentar ao

    estudante do curso de Letras os estudos semnt icos e sua tradio como tambm

    desenvolver seu interesse pelo estudo do texto em suas mais dspares

    manifestaes, direcionando o aluno compreenso dos mecanismos

    concernentes textualidade e observao dos processos necessrios para a

    leitura, interpretao e produo textual. A disciplina Fundamentos Semnt icos na

    Lingustica Textual tem como objetivos conhecer a definio de Semntica e as

    principais questes que a envolvem, entender os conceitos bsicos da Semntica

    Tradicional e Estrutural, compreender os fenmenos relacionados ao sistema

    lexical, reconhecer mecanismos formadores da coeso textual, identificar

    processos construtores da coerncia textual e valorizar a leitura como processo

    interativo.

    O contedo desta disciplina est dividido, para efeito didtico e estrutural, em

    seis unidades de estudo que abordaro desde a Semntica at os aspectos e

    fatores de textualidade.

    Vamos conhec-las !

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    Unidade 1: Semntica

    Estudaremos em nossa primeira unidade estudaremos a definio mais

    consensual de Semntica, as questes que essa definio recobre e uma histria

    dos estudos do significado.

    Objetivos:

    Conhecer a definio de Semntica e pensar sobre as principais

    questes que a envolvem; compreender o incio do

    desenvolvimento dos estudos da Semntica e, com isso, os motivos

    de sua diversidade terica.

    Unidade 2: Significao e Contexto

    Em nossa segunda unidade estudaremos a relao entre significado e

    contexto o que veremos nesta unidade de estudo. A interpretao de uma

    mensagem depende da considerao por parte dos interlocutores tanto de

    contexto lingustico (co-texto) quanto de contexto extralingustico. Os conceitosbsicos da Semntica Estrutural e sua oposio a uma semntica diacrnica.

    Objetivos:

    Conhecer a relevncia da considerao de aspectos contextuais para

    os estudos da significao, e um pouco mais acerca dos conceitos

    bsicos da Semntica estrutural.

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    Unidade 3: O Lxico

    Em nossa terceira unidade estudaremos a definio de lxico, a diferena

    entre lxico e vocabulrio, conotao e denotao, polissemia e homonmia,

    sinonmia, antonmia e paronmia.

    Objetivos:

    Diferenciar lxico de vocabulrio; compreender como o lxico um

    sistema dinmico no apenas composto pelas palavras j existentes

    na lngua, mas tambm pelas estruturas e frmulas-padro para a

    sua prpria expanso; compreender os fenmenos relacionados aosistema lexical, como denotao e conotao, polissemia e

    homonmia, etc.

    Unidade 4: Lingustica Textual: Conceitos, Histrico e Precursores

    Em nossa quarta unidade estudaremos o surgimento da Lingustica Textual

    assim como indicar seus precursores e as correntes tericas a que so filiados.

    Objetivos:

    Conhecer o surgimento da Lingustica Textual e sua contribuio

    para o ensino da Lngua Portuguesa.

    Unidade 5: O Texto, O Discurso e a EnunciaoEm nossa quinta unidade estudaremos a construo do conceito de texto

    e discurso, observando a importncia do contexto e a presena da enunciao.

    Demonstrar o processo de leitura como interao de conhecimentos do leitor e

    produtor do texto, com vistas aos processos necessrios para boa compreenso

    textual.

    Objetivos:

    Definir o texto como unidade de sentido, relacionando-o situao

    discursiva (contexto), assim como traar paralelo entre conceitos de

    texto, discurso e enunciao.

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    Unidade 6: Aspectos e Fatores de Textualidade: A Coeso e a Coerncia

    Textual

    E para finalizar em nossa sexta unidade estudaremos o fenmeno da

    coeso textual, apontando seus principais mecanismos com demonstrao de sua

    importncia no processo de construo do texto e determinar o fenmeno da

    coerncia textual, com vistas aos processos cognitivos necessrios para a

    compreenso do texto, apontando os principais aspectos da coerncia.

    Objetivos:

    Reconhecer aspectos da textualidade, definindo a coeso como umde seus elementos, alm de apontar os principais mecanismos

    coesivos.

    Evidenciar ao aluno a importncia da coerncia textual como

    principal mecanismo de sentido textual, observando tambm seus

    principais aspectos.

    Bons Estudos .

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    Semntica

    Definio de Semntica.

    Viso Histrica.

    Semntica Tradicional

    As Alteraes de sentido atravs dos tempos: os processos de mudana

    semntica.

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    Nesta unidade, iniciaremos nosso estudo pensando sobre a definio mais

    consensual de Semntica e as questes que ela recobre. Depois, a partir de um

    breve passeio pela histria dos estudos do significado, veremos ainda a que sedevem a complexidade e a diversidade dos estudos semnticos atualmente. Vamos

    l?

    Objetivos da Unidade

    Conhecer a definio de Semntica e as principais questes que a envolvem.

    Compreender o incio do desenvolvimento da disciplina e os motivos de sua

    diversidade terica.

    Conhecer o que se chama de Semntica Tradicional.

    Plano da Unidade

    Definio de Semntica.

    Viso Histrica.

    Semntica Tradicional

    As Alteraes de sentido atravs dos tempos: os processos de mudana

    semntica.

    Bem-vindo primeira unidade de estudo!

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    Definio de Semntica

    O que Semntica?

    Inicialmente, podemos afirmar que a semntica a rea da Lingustica que

    estuda o significado das lnguas naturais. Segundo Pierre Guiraud (1972), a

    Semntica o estudo do sentido das palavras: a l inguagem um meio de

    comunicao; a lngua o instrumento que nos serve para transmisso das ideias.

    Ainda de acordo com Guiraud, as palavras apresentam um sentido de base, um

    sentido contextual, um valor sociocontextual e um valor expressivo. O semanticista

    o estudioso empenhado na descrio do conhecimento semntico que os

    falantes tm de sua lngua; funo do semanticista penetrar no domnio do

    significado da palavra.

    Este conhecimento possibilita a qualquer falante de portugus, por exemplo,reconhecer que as sentenas seguintes descrevem a mesma situao:

    Cntia ul timamen te n o tem conseguido cump rir o horrio.

    Nos ltimos te mpos, Cn tia no tem conseguido ser pon tual.

    O conhecimento semntico tambm permite que o falante saiba que as

    sentenas seguintes no podem se referir mesma situao:

    Cntia ult im am ente no t em conseg uido cheg ar no horrio.

    Cnt ia apena s com eou a cum prir h orrios recent em ent e.

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    Alm disso, permite que o falante saiba a que termo um pronome se

    refere:

    Cnt ia e Maria foram farm cia. Elas precisavam com prar an algsicos.

    (o pronome elas substitui Cntia e Maria)

    Ou ainda, permite que o falante atribua interpretaes diferentes para a

    sentena:

    A me encontrou o f i lho em seu quarto.(Ou a me o encontrou noquarto dele ou o encontrou no quarto dela)

    Um estudioso de semntica est interessado, portanto, em questes dessa

    natureza. No podemos deixar de considerar aqui que o estudo da semntica

    dialoga com a investigao de outros processos cognitivos, extralingusticos, que

    interagem e interferem nos significados, como a entonao, a expresso facial, os

    gestos etc.

    Afinal, nem sempre o sistema semntico o nico responsvel pelo

    significado; a depender da situao, o sistema semntico tem seu significado

    alterado por outros sistemas cognitivos.

    A diferena entre Semntica e Pragmtica pode ser til para que voc entenda

    o que foi dito acima:

    Inicialmente, podemos dizer que a diviso entre Semntica e Pragmtica no

    sempre precisa ou fcil de fazer. De qualquer modo, em linhas gerais, enquanto a

    Semntica explica aspectos da interpretao que dependem apenas do sistema da

    lngua, a Pragmtica estuda os usos situados da lngua e preocupa-se com certos

    tipos de efeitos interacionais.

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    EXEMPLIFICANDO

    1) Numa ligao telefnica, quando algum pergunta Fulano est?, o

    interlocutor responde que sim e imediatamente passa o telefone para a outra

    pessoa. A perguntaFulano est? entendida, nessa situao, como Quero falar

    com Fulano.

    2) Numa cena cotidiana, se o marido diz esposa J vai sair?, essa pergunta

    pode ter significados bem diferentes, a depender da situao. Se ela proferida em

    tom de repreenso, por exemplo, pode significar voc j vai sair novamente?. Seo tom for meramente interrogativo, pode significar J est na hora de voc sair?.

    Ou ainda, se o tom for carinhoso, pode significar No saia agora, fique mais um

    pouco.

    Como vemos, o significado vai alm do sentido do que dito. A compreenso

    do significado depende no apenas de conhecimento lingustico, mas tambm denosso conhecimento sobre o mundo, sobre comportamentos, inteno, valores

    etc.

    A definio de Semntica como estudo do significado, com a qual

    comeamos esta unidade, bastante consensual, mas recobre algumas questes

    importantes. Apesar da aparente simplicidade da definio, a tarefa de estudar o

    significado, do ponto de vista terico, na verdade, bastante complexa.

    Primeiro, a complexidade se deve ao fato de existirem diferentes perspectivas

    tericas acerca do objeto de estudo da semntica; depois, advm da falta de

    consenso quanto ao prprio conceito de significado.

    Conhecer um pouco a histria dos estudos do significado pode ser til para

    que voc entenda melhor a complexidade de que falamos acima. Uma breve viso

    histrica pode nos fornecer informaes sobre o que seriam essas diferentes

    perspectivas tericas e sobre quais seriam esses conceitos de significado.

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    IMPORTANTE

    O Significado

    Para alguns linguistas, o significado associado a uma noo de referncia.

    Interessa a esses estudiosos a relao entre a lngua e o mundo. A semntica formal

    uma das teorias que trabalham nessa perspectiva.

    Para outros linguistas, o significado est associado a uma expresso mental. As

    teorias que tratam o significado como representao mental, sem relao com a

    referncia no mundo, so conhecidas como teorias mentalistas.

    Viso histrica

    Apenas no sculo XIX, a Semntica destacou-se como um importante

    ramo de estudos da lngua. O interesse pelo significado no , entretanto, torecente. Encontramos reflexes sobre o emprego e o sentido das palavras j nos

    escritores greco-latinos. As mudanas de significado tambm foram assunto dos

    antigos, que as viam como reflexo de mudanas na mentalidade pblica. Muitos

    dos interesses da Semntica moderna, portanto, j se anunciavam bem antes do

    sculo XIX.

    IMPORTANTE

    O termo semntica tem origem na palavra grega semantik (derivada de sema

    = sinal). Os registros mais antigos que conhecemos acerca do tema remetem

    Filosof ia Socrtica. Como a Lingustica s ganhou autonomia disciplinar no sculo

    XIX, as investigaes sobre o significado se davam no domnio da Filosofia.

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    Na Grcia Antiga, os filsofos estavam interessados na relao entre a

    linguagem e o mundo que os circundava, pois tentavam compreender a relao

    entre a linguagem e o conhecimento humano. Uma discusso fundamental naAntiguidade era, ento, se havia uma relao natural, no convencional, entre uma

    palavra e o objeto ao qual ela se refere no mundo, ou se o significado era

    estabelecido de maneira arbitrria e convencional.

    DICA

    Se desejar conhecer um pouco mais dessa discusso entre os gregos, leiaCrtilo, de Plato. Num dilogo sobre a justeza dos nomes, entre Scrates,

    Hermgenes e Crtilo, exibem-se tanto o interesse filosfico dos gregos pela

    linguagem quanto a discusso sobre a naturalidade ou convencionalidade da

    relao entre as coisas e os nomes que elas recebem.

    Da Antiguidade Clssica emergncia da Cincia Lingustica, muitospensadores se manifestaram sobre as relaes de significao. So de Aristteles,

    por exemplo, reflexes at hoje fundamentais para a Lingustica. Entre elas,

    podem-se destacar:

    definio de palavra como unidade

    mnima significativa da fala;

    distino entre as palavras que

    mantm o seu sentido ainda que

    estejam isoladas (nomes e verbos) e as

    palavras que s funcionam em

    determinados contextos gramaticais

    (preposies, conjunes etc.);

    atribuio do significado de uma

    palavra ao seu referente.

    Aristteles: Nasceu em Estagira,colnia grega da Trcia, em 384a.C. Em 367, estabeleceu-se emAtenas para ser aluno de Plato,

    que o chamava de o pensador .Em343, foi convidado para ser mestrede Alexandre da Macednia, at338. Em 335, abriu uma escolaperto de um templo consagrado aApolo. Mestre e discpulos eramconhecidos como peripatticos,pois costumavam filosofarpasseando. Faleceu em Clcis, ilhada Eubeia, em 322 a.C., um poucoantes de Demstenes. Teofastro

    deu continuidade Escola.

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    No sculo XVII, o filsofo ingls John Locke questiona essa ltima proposio,

    privilegiando a convencionalidade da relao entre a palavra e o que, socialmente,

    essa palavra significa. No sc. XIX, a proposta de investigao genealgica dofillogo alemo Friedrich Nietzsche contribui para a construo de outros modos

    de se conceber a relao entre a lngua e os fenmenos descritos por ela. Apesar de

    seu interesse recair sobre a prpria constituio do pensamento filosfico

    ocidental, as formulaes nietzscheanas possibilitaram considerar os valores

    morais e as condies histricas na anlise da formao do significado das palavras.

    Dentro dos estudos propriamente lingusticos, Karl Christian Reisig funda, na

    primeira metade do sc. XIX, a semasiologia como uma disciplina de carterhistrico, cujo foco era estabelecer os princpios que governam o desenvolvimento

    do sentido das palavras. Ainda que tenha estabelecido as bases para essa nova rea

    disciplinar, seu trabalho ficou restrito ao contexto alemo. Apenas no final do sc.

    XIX, Michel Bral vai instituir um programa mais sistemtico para o que considerava

    uma nova cincia: a Semntica.

    Foi, entretanto, com Ferdinand Saussure (paralelamente aos estudos

    Leonard Bloomfield) que se delinearam mais precisamente o objeto e o mtodo da

    Cincia Lingustica, o que conferiu a esta rea autonomia como disciplina. Dentre

    os principais postulados de Saussure, contriburam decisivamente para as

    investigaes da Semntica:

    o rompimento com a tradio diacrnica dos estudos da linguagem;

    a distino lngua x fala, considerando a lngua como um sistema de

    valores opostos acessados por todos os falantes de uma mesma

    comunidade lingustica e a fala como ato individual, sujeito inclusive

    a fatores extralingusticos.

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    Os conceitos de Saussure foram introduzidos no campo da Semntica pelo

    linguista alemo Jost Trier.A Teoria dos Campos Semnticos, desenvolvida por

    Trier e difundida a partir da dcada de 1950, depois da 2 Guerra Mundial, mantmo pressuposto saussureano de deslocar a anlise orientada exclusivamente pelo

    vis historicista ainda que as mudanas de significado continuassem a ser

    consideradas. As proposies de Trier forneceram um mtodo para a abordagem

    da influncia da linguagem no pensamento.

    Na segunda metade do sc. XX, os estudos do linguista norte-americano Noam

    Chomsky, sobretudo com sua crtica ao behaviorismo, trouxeram novas

    formulaes para as investigaes da Semntica. Em Logical Structure of

    Linguistic Theory (1955), obra que apresenta a ideia da gramtica gerativa (ou

    generativa) e em Estruturas Sintticas (Syntactic Structures, 1957), Chomsky

    defende que os enunciados (frases) das lnguas naturais devem ser interpretados a

    partir de dois tipos de representao: as est rut uras sup erficiai s(que correspondem

    estrutura imanente das frases), e as estruturas profundas (que correspondem

    representao abstrata das relaes lgico-semnticas das frases). As estruturas

    superficiais seriam derivadas das estruturas profundas, por meio de regrastransformacionais, organizadas numa sintaxe. Tal componente sinttico seria inato

    espcie humana (esta a base da noo de competncia, que Chomsky definiu

    como o conhecimento que um falante nativo ideal tem de sua prpria lngua; ao

    lado da noo de performance, que se refere atividade do falante em situaes

    concretas de comunicao). Para Chomsky, todo falante nativo tem a competncia

    para formular tanto enunciados j conhecidos como enunciados novos. Todos

    obedecem s mesmas regras. O conceito de competncia de Chomsky seassemelha do de langue, de Saussure. Da mesma forma, o de atuao prximo

    do de parole.

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    Entre os estudos atuais no campo da Semntica, parece que o nico consenso

    justamente a ausncia de consenso em torno do termo significado, objeto

    primordial da rea. Efetivamente o que temos so vrias linhas dentro dasinvestigaes semnticas (Semntica Formal, Semntica Cognitiva, Semntica

    Estrutural, Semntica Histrica etc.). Esse carter fragmentrio costuma ser

    apontado como resultante de uma srie de fatores que teriam retardado o

    desenvolvimento pleno de uma rea disciplinar coesa. Dentre esses fatores, esto

    no apenas as prprias divergncias entre os pesquisadores, como tambm fatores

    histricos, como as duas Grandes Guerras (que teriam dificultado o trabalho dos

    linguistas europeus) e a inter-relao entre a Semntica e a Filosofia (boa parte dostextos produzidos sobre o tema foi escrita por filsofos, e no propriamente por

    linguistas).

    Entretanto, a discordncia em relao ao sentido do termo significado ainda

    apontada como principal causa para a no-sedimentao disciplinar da Semntica.

    Talvez por isso, o conhecimento que temos do que seja Semntica se restrinja,

    por exemplo, aos estudos da homonmia, sinonmia, paronmia, etc., concepo

    herdeira do ensino fundamental e mdio. Os estudos de homonmia, sinonmia eparonmia sero tratados nas unidades seguintes. Antes disso, entretanto,

    dedicaremos um pouco mais de ateno histria da disciplina.

    Semntica Tradicional

    Iniciamos nosso passeio pela histria da disciplina. Agora, daremos

    continuidade a ele, aprofundando conhecimentos sobre a emergncia do campo

    conhecido hoje como Semntica e sobre as motivaes iniciais dos semanticistas.

    Prossigamos ento!

    O que estamos chamando de Semntica Tradicional se refere a um conjunto

    de tendncias mais ou menos heterogneas, cujo ponto comum est em

    considerarem o fator histrico na anlise do significado ou, mais propriamente,o que se conhece como mudanas semnticas.

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    Como vimos h pouco, desde os gregos, a investigao sobre o significado dos

    fenmenos em relao sua denominao tem considerado, de um modo geral,

    dois pontos bsicos:

    a) a discusso em torno da naturalidade ou convencionalidade do nome das

    coisas:

    A especulao em torno da origem das palavras tinha nos naturalistas a defesa

    da relao natural entre um fenmeno, por exemplo, e o nome que esse fenmeno

    recebia. Tal concepo era desacreditada pelos convencionalistas, para os quais aexistncia de vrias lnguas (e consequentemente de vrios nomes para uma

    mesma coisa) provava a arbitrariedade do nome.

    b) a centralidade da mudana semntica atravs da histria:

    Quando Bral utilizou o termo semntica, no sc. XIX, ele se referiu ao estudo

    das variaes do sentido das palavras ao longo do tempo. Fazer semntica seriaequivalente a fazer histria das palavras.

    Tanto o questionamento sobre a naturalidade/convencionalidade da

    significao quanto a proposta de uma perspectiva diacrnica na anlise da relao

    nome/coisa sero entendidos, mais tarde, a partir dos postulados de Saussure

    (Semntica Estrutural), como uma viso tradicional da Semntica.

    Os pressupostos da Semntica Estrutural sero estudados mais adiante.

    Voltemos questo das mudanas semnticas, ponto central do que se

    convencionou chamar de Semntica Histrica.

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    As Alteraes de sentido atravs dos tempos: os processosde mudana semntica

    O esclarecimento das motivaes e dos tipos de mudanas semnticas foi o

    principal foco da teoria da mudana semntica proposta por Michel Bral, no final

    do sc. XIX. Depois dele, vrios linguistas se apropriaram dessa teoria para a

    investigao de outros fenmenos correlacionados.

    Motivaes e tipos das mudanas semnticas:

    Polissemia

    A polissemia , talvez, a principal causa das mudanas semnticas. Polissemia

    o fato de uma palavra adquirir novos significados alm do seu significado inicial.

    Exemplos: a palavra cabea, segundo o Dicionrio Houaiss da LnguaPortuguesa, designa em sua primeira acepo, uma das grandes divises do

    corpo humano constituda pelo crnio e pela face e que contm o crebro e os

    rgos da viso, audio, olfato e paladar. Entretanto, no mesmo verbete, h uma

    lista variada de outros significados. Entre eles, esto cabea como equivalente a

    lder (Ele o cabea do grupo); a inteligente (Ela tem um papo cabea); a

    primeiro (em futebol, aqueles que lideram grupos sorteados para campeonatos:

    O Brasil foi cabea-de-chave na Copa de 2002); a unidade de um grupo (Oalmoo custa R$20,00 por cabea ou A fazenda da minha tia tem 500 cabeas de

    gado).

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    IMPORTANTE

    Em certos casos, o novo significado que a palavra adquire passa a

    coexistir com o seu antigo sentido; em outros casos, o sentido original da palavra

    se perde. Ex: a palavra culos do latim oculus tem como significado original

    olho. Por emprstimo erudito, posterior ao perodo de formao das lnguas

    romnicas, passou a designar o dispositivo utilizado para auxiliar, corrigir ou

    proteger a viso.

    M etonm ia e M etfora

    Trata-se de processos muito comuns que acarretam alteraes no significado

    de uma palavra. So, portanto, motivadores de polissemia.

    A metfora exige uma similaridade de significados, a exemplo da palavra

    cobra ut ilizada para se referir a algum de mau gnio (em associao ao veneno

    do rptil) ou, em outro caso, a algum muito astucioso (em associao ao

    comportamento do animal).

    A metonmia abrange relaes de proximidade de significados, que

    podem assumir diversas formas como autor-obra, continente-contedo, causa-

    efeito etc. As principais caractersticas do personagem D. Quixote, de Miguel de

    Cervantes, deram origem ao adjetivo quixotesco, que, conforme o DicionrioHouaiss da Lngua Portuguesarefere-se quele que generosamente impulsivo,

    sonhador, romntico, nobre, mas um pouco desligado da realidade.

    A metonmia tambm envolve todos aqueles casos de marcas de

    produtos que passam a designar o gnero desses produtos, como Bombril (l de

    ao), Gillette (lmina para barbear), Modess (absorvente ntimo), Chiclete (goma de

    mascar), Nescau (achocolatado em p), QBoa (gua sanitria) entre muitos outros.

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    M udanas Pejor ativas

    Muitas palavras sofrem um tipo especial de mudana semntica, em que seus

    significados passam de positivos ou neutros para um significado negativo. Essa

    mudana de sentido interessante, pois reflete o pensamento de determinadas

    pocas e, alm disso, demonstra como o lxico reflete as crenas de uma

    sociedade.

    A palavra marginal, originariamente significava apenas aquilo ou aquele

    que est na margem. Como geralmente os que vivem margem da sociedade soos pobres, desempregados, mendigos etc., a palavra marginal, devido ao

    preconceito das pessoas contra os pobres, passou de palavra neutra a palavra

    pejorativa. E marginal ganhou o sentido de ladro, bandido.

    M udana s Am eliorat iva s

    Nesse tipo de mudana ocorre o inverso: uma palavra de sent ido negativo (ou

    neutro) adquire um significado positivo, a exemplo dos termos sinistro e

    brbaro, originariamente designativos de coisas ruins e atualmente usados como

    gria em referncia a coisas boas.

    M udanas por contg io

    Trata-se de uma referncia ao conceito de contgio, proposto por Michel Bral.

    A forma mais comum das mudanas por contgio a elipse. Expresses como

    caderneta de poupana e plula anticoncepcional que se tornaram,

    respectivamente, caderneta ou poupana e plula ou anticoncepcional (a

    depender da poca). Um exemplo mais recente a expresso celular comoreferncia a telefone mvel celular.

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    M udana s por g eneralizao

    Esse tipo de mudana ocorre quando uma palavra anteriormente usada para

    referentes especficos passa a nomear um referente genrico.

    O estudioso Luciano Amaral Oliveira, em Manual de Semntica (2008, p. 53), d

    um exemplo que ilustra bem como se d a mudana por generalizao. Segundo

    ele, a palavra reggae, usada inicialmente apenas para designar um tipo de msica

    surgida na dcada de 60, na Jamaica, a partir de dado momento, em Salvador,

    passou tambm a ser usada para nomear as festas em que se ouvia esse tipo demsica. Depois, passou a designar qualquer festa. muito comum, entre os

    soteropolitanos, algum dizer que vai pro reggae, querendo dizer que vai para a

    farra.

    M udanas por restrio

    Nesse processo ocorre o inverso do processo de generalizao. Uma palavra

    que antes designava um gnero passa a designar uma espcie. Um bom exemplo

    est na palavra gado, originariamente referente a rebanho, ou seja, conjunto de

    animais criados para diversos fins, conforme registra o Dicionrio Houaiss da

    Lngua Portuguesa. O uso mais corrente do termo, entretanto, se refere apenas ao

    gado bovino. Tambm a palavra barbeiro, normalmente utilizada para se referir

    ao mau motorista, tem sua origem na expresso, j metafrica, usada para designar

    qualquer profissional descuidado ou incompetente na realizao do seu ofcio.

    M udana s d ecor rentes de tabus

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    Normalmente associadas a fenmenos socioculturais, essas mudanas

    ocorrem em funo de escolhas diretamente ligadas a proibies (expressas ou

    internalizadas) quanto ao uso de determinados termos. Os diversos nomes com osquais se designam a figura mtica do diabo, sobretudo em regies de tradio

    catlica, evidenciam esse fenmeno em vez de se pronunciar uma palavra

    associada ao mal, escolhem-se termos que, por diversas relaes (metonmicas,

    metafricas etc.) podem servir para nome-lo. digno de nota o eufemismo

    secretria utilizado em lugar de empregada domstica, dado o sentido

    pejorativo que, no Brasil, essa atividade ganhou na diviso social do trabalho.

    Seguindo a mesma lgica, dentro do que se costuma chamar correo poltica, otermo deficiente tem sido substitudo por expresses como portador de

    necessidades especiais, em funo do sentido negativo atribudo ideia de

    deficincia.

    Os processos de mudana semntica so diversos. Alm dos citados aqui, a

    alterao do significado pode ocorrer tambm devido a equvocos de

    interpretao, a exemplo da palavra missa. Originariamente particpio passado do

    verbo mittere (deixar ir, partir, soltar, largar, lanar, atirar etc.), o termo passou adesignar um ritual catlico. Como a cerimnia era geralmente celebrada em Latim,

    a confuso se deu a partir da expresso Ite missa est, usada ao final do culto,

    significando ide, foi enviada algo que pode ser pensado hoje como Vo, a

    orao foi enviada a Deus, conforme registra o Dicionrio Houaiss da Lngua

    Portuguesa.

    Situaes como essa dizem respeito a uma certa situao que favorece a

    interpretao do vocbulo missa (enviar) como cerimnia, evidenciando

    assim as relaes entre contexto e significado. Essa ser a discusso da prxima

    unidade.

    Terminamos aqui nossa primeira unidade. Na prxima, abordaremos as

    relaes entre significado e contexto e os fenmenos que decorrem da assimetria

    entre significantes e significados. At l!

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    LEITURA COMPLEMENTAR

    Para saber mais sobre a histria dos estudos do significado e sobre

    diferentes perspectivas tericas da Semntica, leia:

    MARQUES, Maria Helena Duarte. Iniciao semntica.6. ed. Rio de Janeiro:

    Jorge Zahar Ed., 2003.

    OLIVEIRA, Luciano Amaral. Manual de semntica. Petrpolis, RJ: Vozes, 2008.

    ULLMANN, Stephen. Semntica: uma introduo cincia do significado. 5ed. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1987.

    HORA DE SE AVALIAR!

    No se esquea de realizar as atividades desta unidade de estudo,elas iro

    ajud-lo a fixar o contedo, alm de proporcionar sua autonomia no processo de

    ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as

    envie por meio do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja

    conosco!

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    Exerccios Unidade 1

    1) Assinale a alternativa que apresenta corretamente a definio de Semntica

    dada pelos livros didticos de portugus e livros tericos da rea de lingustica.

    a) A semntica definida como estudo dos usos situados da lngua e dos

    tipos de efeitos interacionais.

    b) A Semntica definida consensualmente como o estudo do significado.

    c)

    A Semntica definida como investigao sobre a naturalidade ouconvencionalidade da relao entre as coisas e os nomes que elas recebem.

    d) A semntica definida como estudo do sistema da lngua,

    desconsiderando os contextos de uso.

    e) A semntica definida como o estudo das unidades mnimas distintivas da

    lngua.

    2) Preencha as lacunas com V para as afirmaes verdadeiras e F para as falsas e

    marque a opo correta.

    I - A tarefa de se estudar o significado, do ponto de vista terico, tem sido

    complexa porque existem diferentes perspectivas tericas acerca do objeto de

    estudo da semntica.

    II - Na Grcia Antiga, a disciplina Semntica se preocupava com a mudana designificado.

    III - A falta de consenso quanto ao prprio conceito de significado um fator que

    dificulta o estudo da Semntica e torna complexa a tarefa do semanticista.

    IV - Dentre os principais postulados de Saussure, destaca-se a proposta de se

    estudar a linguagem a partir de uma perspectiva diacrnica.

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    a) V-V-V-F

    b) F-F-V-V

    c) F-F-V-Fd) F-V-F-V

    e) V-F-V-F.

    3) Para responder s questes 3 e 4, leia o trecho em destaque:

    Nem sempre o sistema semntico o nico responsvel pelo significado; a

    depender da situao, o sistema semnt ico tem seu significado alterado por outros

    sistemas cognitivos.

    3) Marque a alternativa que explica com mais coerncia o sentido da frase Chegou

    cedo!,dita por um professor a um aluno que chegou atrasado para a aula.

    a) O tom do professor pode expressar reprovao, e, nesse caso, a frase

    significa entre sem fazer barulho.

    b) O tom do professor pode expressar satisfao, e, nesse caso, a frase

    significa mesmo atrasado, bom que voc tenha vindo.

    c) O tom do professor irnico, significando voc chegou atrasado.

    d) O tom do professor indiferente, e a frase no tem outro sentido alm

    daquele expresso pelo enunciado.

    e) Nenhuma das alternativas explica com coerncia o sentido da frase.

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    4) Marque a alternativa que explica com mais coerncia o sentido da frase Qual o

    nm ero desta poltron a? na seguinte situao: Maria chega ao teatro pouco antes

    do incio do espetculo e verifica que seu lugar est ocupado por outra pessoa.

    a) O tom de Maria pode ser impaciente, e, nesse caso, a frase significa esta

    poltrona minha.

    b) O tom de Maria pode ser pacfico, e, nesse caso, a frase significa saia do

    meu lugar.

    c) O tom de Maria pode ser amigvel, e, nesse caso, a frase significa vou

    chamar o responsvel pelo teatro.

    d) O tom de Maria pode ser de dvida, e, nesse caso, a frase significa estou

    curiosa para saber o nmero da sua poltrona.

    e) Nenhuma das alternativas explica com coerncia o sentido da frase.

    5) Relacione as duas colunas abaixo, considerando as contribuies dos autores

    para os estudos semnticos:

    (...) Desenvolvimento da Teoria dos Campos Lexicais(campos lxicos ou campos semnticos).

    (...) Nomeou o campo de investigaes como Semntica,instituindo um programa mais sistemtico para o estudodas mudanas de significao.

    (...) Definio de palavra como unidade mnimasigni ficativa da fala; distino entre palavras que mantm

    o seu sentido mesmo quando isoladas e palavras que sfuncionam em determinados contextos gramaticais;atribuio do significado de uma palavra ao seureferente.

    a) Cont ribuies de Aristteles.

    b) Contribuies de Saussure.

    c) Cont ribuies de Trier.

    d) Cont ribuies de Michel Bral

    (...) Rompimento com a tradio diacrnica dos estudos dalinguagem; distino entre lngua (sistema de valoresopostos acessados por todos os falantes de uma mesmacomunidade lingustica) e fala (ato individual, sujeitoinclusive a fatores extralingusticos).

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    A sequncia correta :

    a) D C B - A

    b) B A D C

    c) B D A C

    d) C D B A

    e) C D A B

    6) Analise as proposies abaixo. A seguir, assinale a alternativa que contm as

    respostas corretas.

    I - As tendncias reunidas sob o rtulo Semntica Tradicional tm como ponto

    em comum considerarem o fator histrico na anlise do signif icado. (...)

    II - Hoje, os estudos semnticos se preocupam em discutir se a relao entre aspalavras e as coisas por elas nomeadas natural ou convencional. (...)

    III - A partir dos postulados de Saussure (Semnt ica Estrutural), o questionamento

    sobre a naturalidade/convencionalidade da significao, assim como a proposta de

    uma perspectiva diacrnica na anlise da relao nome/coisa so entendidos

    dentro dos estudos semnticos como uma viso tradicional. (...)

    IV - O principal foco da teoria da mudana semntica proposta por Michel Bral foi

    esclarecer as motivaes e os tipos de mudanas semnticas. (...)

    a) Esto corretas I, II e III.

    b) Esto corretas II, III e IV.

    c) Esto corretas I, III e IV.

    d) Esto corretas II e IV.

    e) Todas esto corretas.

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    7) possvel encontrar em textos antigos a palavra vilo com o sentido de

    habitante de uma vila. Hoje, na maioria dos casos, a palavra tem o significado de

    malvado, grosseiro. Esse tipo de mudana semntica se originou a partir dopreconceito das pessoas de determinada poca contra os pobres, habitantes das

    vilas. Assinale o tipo de mudana que deu origem palavra vilo.

    a) Mudana ameliorativa.

    b) Mudana por contgio.

    c) Mudana pejorativa.

    d) Mudana devido ao tabu.

    e) Nenhuma das alternativas anteriores.

    8) A palavra cachorro, inicialmente, era utilizada para designar qualquer filhote de

    animal; com o passar do tempo, passou a significar apenas o filhote de co e oprprio co. Assinale o tipo de mudana que deu origem palavra cachorro.

    a) Mudana por contgio.

    b) Mudana ameliorativa.

    c) Mudana devido ao tabu.

    d) Mudana por restrio.

    e) Nenhuma das alternativas anteriores.

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    9) A palavra criado originalmente significava uma pessoa rf que era criada

    como filho por uma famlia. Com o tempo, na sociedade brasileira, criado passou

    a designar um empregado domstico. O que voc acha que essa mudana poderevelar sobre a sociedade brasileira?

    10) comum ouvirmos algum dizer que deu uma viagem de balde, para sereferir a uma atividade frustrada, sem sucesso. Entendendo que a expresso

    original viagem debalde, sendo debalde equivalente a intil, vo, discorra

    sobre o fenmeno que pode explicar esse tipo de mudana.

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    Significao e Contexto

    Relao entre significao e contexto.

    Fenmenos que decorrem da assimetria entre significantes e

    significados.

    Formao disciplinar.

    Conceitos bsicos: sema, semema, arquissemema, arquilexema.

    As relaes smicas: oposio, incluso, participao e

    associao.

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    Nesta unidade, pensaremos sobre a relao entre significado e contexto.

    Veremos como a interpretao de uma mensagem depende da considerao por

    parte dos interlocutores tanto de contexto lingustico (co-texto) quanto decontexto extralingustico. Alm disso, conheceremos um pouco sobre a Semnt ica

    Estrutural e entenderemos seus conceitos bsicos e sua oposio a uma semntica

    diacrnica.

    Objetivo da Unidade:

    Compreender a relevncia da considerao de aspectos contextuaispara os estudos da significao.

    Conhecer os conceitos bsicos da Semntica estrutural.

    Plano da Unidade

    Relao entre signif icao e contexto.

    Fenmenos que decorrem da assimetria entre significantes e significados.

    Formao disciplinar.

    Conceitos bsicos: sema, semema, arquissemema, arquilexema.

    As relaes smicas: oposio, incluso, participao e associao.

    Bom estudo!

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    Relao entre Significao e Contexto

    Desde a emergncia dos postulados de Saussure, que dariam sustentao

    Semntica Estrutural, em vigor nas primeiras dcadas do sc. XX, as anlises

    desconsideravam quaisquer elementos que no fossem estruturais dos prprios

    sistemas lingusticos. Em funo disso, descartou-se a importncia dos

    interlocutores e, por conseguinte, do prprio uso da lngua.

    Essa postura ser contestada por diversas correntes, a partir da segunda

    metade do sc. XX, a exemplo da Lingustica Cognitiva, surgida nos finais dos anos1970 e princpios dos 80. Augusto Soares da Silva, um dos nomes ligados a essa

    tendncia, aponta o que considera dois problemas fundamentais da Semntica

    Estrutural: conceber a estrutura semntico-lexical como linguisticamente

    intrnseca e autnoma e estabelecer uma dicotomia entre informao semntica

    (essencial e lingustica) e informao enciclopdica (dispensvel e extralingustica)

    dos itens lexicais (SILVA, 1999, p.2).

    Em sua crtica proposta estruturalista, Augusto Soares da Silva chama aateno para a importncia da experincia da linguagem-no-uso e da relao

    entre linguagem e pensamento.

    Uma das propostas da corrente denominada como Semntica Cognitiva,

    portanto, a de se observar, na comunicao humana, a articulao entre

    significado e contexto. De fato, h situaes em que a relao significado-contexto

    crucial para a interpretao da mensagem.

    Outro campo de investigao lingustica que tambm tem tratado da

    importncia do contexto para o processo de significao a Lingustica Textual.

    Tericos como Ingedore Villaa Koch e Leonor Lopes Fvero tem discut ido o papel

    do contexto na e para a produo de sentido.

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    Em Ler e Compreender: os sentidos do texto, as autoras Ingedore Villaa

    Koch e Vanda Elias explicam, de modo bastante didtico, como a Lingustica

    Textual, em sua fase inicial de pesquisas sobre o texto, percebia o contexto apenascomo o entorno verbal, o que hoje os estudiosos da rea chamam de co-texto, e

    como a evoluo dos estudos da rea (auxiliada principalmente por teorias da

    Pragmtica) fez com que os autores passassem a levar em conta tambm o que

    chamam de contexto sociocognitivo. Para Koch e Elias, portanto, o contexto

    engloba no s o co-texto, como tambm a situao de interao imediata, a

    situao mediata (entorno sociopoltico-cultural) e o contexto cognitivo dos

    interlocutores (KOCH & ELIAS, 2006, p. 63).

    A crnica Em cdigo, do escritor Fernando Sabino, exemplifica bemcomo o desconhecimento do contexto pode transtornar a compreenso damensagem.

    Em cdigo

    Fui chamado ao telefone. Era o chefe de escritrio de meu irmo:

    - Recebi de Belo Horizonte um recado dele para o senhor. uma mensagem

    meio esquisita, com vrios itens, convm tomar nota: o senhor tem um lpis a?

    - Tenho. Pode comear.

    - Ento l vai. Primeiro: minha me precisa de uma nora.

    - Precisa de qu?

    - De uma nora.

    - Que histria essa?

    - Eu estou dizendo ao senhor que um recado meio esquisito. Posso

    continuar?

    - Continue.

    - Segundo: pobre vive de teimoso. Terceiro: no chora, morena, que eu volto.

    - Isso alguma brincadeira.

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    - No no, estou repetindo o que ele escreveu. Tem mais. Quarto: sou

    amarelo, mas no opilado.

    Tomou nota?

    - Mas no opilado - repeti, tomando nota. - Que diabo ele pretende com isso?

    - No sei no, senhor. Mandou transmitir o recado, estou transmitindo.

    - Mas voc h de concordar comigo que um recado meio esquisito.

    - Foi o que eu preveni ao senhor. E tem mais. Quinto: no sou colgate, mas

    ando na boca de muita gente. Sexto: poeira minha penicilina. Stimo: carona, sde saia. Oitavo...

    - Chega! - protestei, estupefato. - No vou ficar aqui tomando nota disso, feito

    idiota.

    - Deve ser carta em cdigo ou coisa parecida - e ele vacilou: - Estou dizendo ao

    senhor que tambm no entendi, mas enfim... Posso cont inuar?

    - Continua. Falta muito?

    - No, est acabando: so doze. Oitavo: vou mas volto. Nono: chega janela,

    morena. Dcimo: quem fala de mim tem mgoa. Dcimo primeiro: no sou pipoca,

    mas tambm dou meus pulinhos.

    - No tem dvida, ficou maluco.

    - Maluco no digo, mas como o senhor mesmo disse, a gente at fica com ar

    meio idiota... Est acabando, s falta um. Dcimo segundo: Deus, eu e o Rocha:

    - Que Rocha?

    - No sei: capaz de ser a assinatura.

    - Meu irmo no se chama Rocha, essa boa!

    - , mas que foi ele que mandou, isso foi.

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    Desliguei, atnito, fui at refrescar o rosto com gua, para poder pensar

    melhor. S ento me lembrei: haviam-me encomendado uma crnica sobre essas

    frases que os motoristas costumam pintar, como lema, frente dos caminhes.Meu irmo, que engenheiro e viaja sempre pelo interior fiscalizando obras,

    prometera ajudar-me, recolhendo em suas andanas farto e variado material. E ele

    viajou, o tempo passou, acabei me esquecendo completamente o trato, na

    suposio de que o mesmo lhe acontecera.

    Agora, o material ali estava, era s fazer a crnica. Deus, eu e o Rocha! Tudo

    explicado: Rocha era o motorista. Deus era Deus mesmo, e eu, o caminho.

    Assim como ocorre na situao descrita pela crnica, vrias so as

    circunstncias em que o desconhecimento do contexto pode causar mal-

    entendidos. Entre essas situaes, destacam-se:

    O uso dos diticos

    Pelo processo designado como dixis (do grego deksis, que significa

    mostrar), certas palavras mantm uma relao de absoluta dependncia com a

    situao em que so empregadas. Os diticos so elementos da lngua que tm

    como funo localizar entidades no contexto social, espao-temporal e discursivo,

    ou seja, indicam elementos fora do texto e no possuem um valor semntico em si

    mesmos. Por exemplo: Quando dizemos, estou aqui!, o sentido do termo aquidepende sempre do lugar onde estamos quando a frase pronunciada.

    Por sua natureza indicativa, a categoria pronominal a mais lembrada quando

    se fala dos diticos (os pronomes de 1 e 2 pessoas eu, tu, voc, vocs, ns, vs

    e os demonstrativos este, esse, aquele), entretanto tambm so diticos

    certos advrbios de tempo e lugar (aqui, ali, a, ontem, agora, hoje).

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    Imaginemos esta situao:

    Numa locadora, o atendente pergunta a um dos clientes: voc viu estefilme?. Para que o cliente entenda a questo, ele deve acessar uma srie de

    informaes pr- estabelecidas pelo contexto. Primeiro, entender que voc se

    refere a ele (o cliente) e no a outros clientes presentes na cena; segundo, entender

    a que filme o atendente se refere, j que se trata de um lugar em que no h

    apenas um filme; terceiro, a entonao da sentena provavelmente esclarecer se a

    pergunta se refere a uma indicao (veja este filme), uma desaprovao ao filme

    (esse filme no bom), entre outras possibilidades.

    Outro exemplo de como o uso dos diticos solicita conhecimentos

    extralingusticos pode ser verificado no slogan da rede de lanchonetes Mc

    Donalds.

    Amo muito tudo isso!

    Na frase, tudo isso ter significados distintos a depender de onde o

    cliente acesse essa mensagem na prpria loja (nos banners e cartazes) ou em

    casa (nas embalagens utilizadas pelo servio de entrega).

    O emprego da elipse

    A definio mais comum para o fenmeno da elipse, nos dicionrios, refere-se

    supresso, em um enunciado, de um termo cuja significao pressuposta. Essa

    pressuposio s vezes depende do contexto lingustico (chamado de co-texto),

    como ocorre no slogan do Repelente Off Kids Quem cuida usa , em que a

    imagem ou o nome do produto, normalmente localizados ao lado dos slogans,

    referenciam a frase. H casos que pedem o conhecimento scio-cognitivo dointerlocutor. Isso acontece no exemplo abaixo

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    Nessa pea criada pela agncia

    argentina DDB para anunciar a queda de

    preo do automvel New Beetle(Volkswagen), a imagem do carro foi

    substituda pela expresso de um possvel

    comprador. O entendimento pleno dessa

    mensagem requer algumas informaes

    prvias, tais como: o fato de o New Beetle

    no se incluir na categoria dos carros

    populares (o que torna o preo baixo algosurpreendente); o ficar de boca aberta ser

    uma reao culturalmente codificada como

    indicativo de surpresa. Alm disso, preciso conhecer a imagem do automvel em

    questo para identificar sua silhueta, apenas sugerida pelo formato da boca aberta.

    Fenmenos que Decorrem da Assimetria entreSignificantes e Significados

    No se pode considerar que a correspondncia entre o significante e o

    significadoseja estvel ou exata. Trata-se, pelo contrrio, de um jogo em que a

    equivalncia depender das diversas circunstncias que envolvem o uso da lngua.

    H, pois, situaes de excesso de significantes para um mesmo significado (como

    ocorre, por exemplo, com as vrias denominaes dadas ideia de divindade

    superior: Deus, Jeov, Oxal, Jah, Pai, etc.) ou de excesso de significados para um

    mesmo significante (como demonstram os dicionrios, com as vrias acepes

    para um mesmo verbete). Ainda em funo dessa assimetria, ocorrem alguns

    fenmenos, como por exemplo:

    Ambiguidade ou vagueza

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    A ambiguidade e avagueza constituem fenmenos que s podem ser

    resolvidos no contexto. Trata-se de duas propriedades semnticas que costumam

    gerar muita polmica na rea. Para observarmos esses fenmenos por uma

    perspectiva referencial (relao significao-contexto), vejamos a interpretao de

    Mrcia Canado (2008):

    A partir de sries consideradas sinonmicas (por ex.: quebrar

    partir/estilhaardescumprirmachucarrefletirdecepcionar-sefalir), a

    autora reflete sobre os impasses enfrentados na rea para a definio exata dos

    dois fenmenos. Retomemos o exemplo:

    Paulo quebrou o vaso. (partir, estilhaar) Paulo quebrou sua promessa. (descumprir)

    Paulo quebrou a cabea em um acidente. (machucar)

    Paulo quebrou a cabea com aquele problema. (refletir)

    Paulo quebrou a cara. (decepcionar-se)

    Paulo quebrou a empresa. (falir)

    Se considerarmos sentidos diferentes para cada uma das sentenas

    acima, entendemos que quebrar ambguode seis maneiras. Se, por outro lado,

    considerarmos que h um sentido mais geral associado a quebrar nessas

    sentenas, ento entendemos esse verbo como vago.

    Embora a distino ambiguidade/vagueza no seja consensual entre osestudiosos, todos parecem concordar com uma ideia geral: trata-se de fenmenos

    que necessitam da considerao do referente da mensagem.

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    Entretanto, para a autora, h diferena nos modos como o contexto implica

    para cada um dos fenmenos:

    A diferena entre as duas que, para

    ambiguidade, o contexto tem a funo de

    selecionar qual dos possveis sentidos ser

    utilizado; para a vagueza, o contexto pode

    apenas acrescentar alguma especificidade que

    no est contida na prpria expresso(CANADO, 2008, p.61).

    EXEMPLIFICANDO

    Imaginemos esta situao: numa padaria, um cliente pede um sonho e ouve a

    seguinte resposta: o sonho acabou.

    A mesma sentena, entretanto, bem conhecida em outro contexto. O sonhoacabou um dos versos de uma cano do roqueiro ingls John Lennon (God,

    1970), e tambm uma sentena pronunciada por ele para se referir ao fim da banda

    Os Beatles.

    O sentido de sonho depende, portanto, do contexto.

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    Consideremos este outro exemplo: os termos alto e baixo guardam um

    carter relacional e, por essa razo, so semanticamente vagos, solicitando sempreespecificaes. Como poderamos comparar um edifcio considerado alto com uma

    pessoa considerada alta? Ainda que levemos em conta seres de um nico tipo (os

    seres humanos, por exemplo), estabelecer uma distino ser sempre uma deciso

    vaga. Algum s alto em relao a algum paradigma.

    IMPORTANTE

    Ainda segundo Canado, h um outro fenmeno: a indicialidade. Esse o

    caso do uso de alguns diticos, a exemplo do pronome eu. Em sentenas como

    Eu gosto de chocolate, o pronome eu pode se referir a vrios indivduos no

    mundo, mas nem por isso pode ser interpretado como vago ou ambguo, j que

    sempre corresponde ao sujeito enunciador.

    H ainda outros casos associados assimetria entre significantes e

    significados. A no-correspondncia entre esses elementos do signo lingustico

    gera significantes sem significados e significados sem significantes:

    Nomes prprios, por exemplo, no significam. So, portanto,

    significantes sem significados.

    O termo rosa, quando ut ilizado como nome prprio (Rosa), passa a ser uma

    marca sem significado que ns relacionamos pessoa assim nomeada, mas perde

    a carga semntica que tinha quando nomeava coisas com propriedades especf icas

    como uma cor ou uma flor. Sua funo apenas identificar e no significar.

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    Por outro lado, h relaes de significao que nem sempre recebem

    nome. Trata-se de significados sem significantes.

    H uma histria muito conhecida em relao palavra saudade. Por se tratar

    de um termo s conhecido nas lnguas galega e portuguesa, costuma-se dizer que

    falantes de outra lngua no sentiriam saudade. O fato de o sentimento no ser

    nomeado nas demais lnguas no implica, entretanto, na ausncia do sentimento.

    Histrias como essa levaram a empresa britnica Today Translations a uma

    pesquisa sobre as palavras mais difceis de traduzir em todas as lnguas do mundo.

    Na opinio dos 1000 tradutores profissionais entrevistados, o termo saudade

    ocuparia o 7 lugar. exceo de saudade, a lista constitui um bom exemplrio

    de casos de significados para os quais no temos, em portugus, significantes. Em

    primeiro lugar, por exemplo, ficou a palavra Ilunga que, em tshiluba (lngua com

    status de nacional, falada na Repblica Democrtica do Congo) designa uma

    pessoa disposta a perdoar quaisquer maus-tratos pela primeira vez, a tolerar o

    mesmo pela segunda vez, mas nunca pela terceira vez (Folha Online, 23/06/2004).

    Em nossa lngua no h um nico termo que possa dar conta dessa significao,

    dadas as especificidades que ele comporta, embora esteja claro que pessoas com

    tais caractersticas possam existir.

    Lembremos que possvel encontrar, em uma lngua, sistemas de significao

    que no encontram correspondncia em outras. Como o lxico informa muito

    sobre a cultura do povo que o utiliza, podemos, de fato, encontrar casos de

    palavras e fenmenos de uma cultura no existentes em outra.

    Semntica Estrutural

    A Semntica Estrutural se desenvolveu na Europa, a partir da

    fenomenologia de E. Husserl e Merleau-Ponty e da lingustica de Ferdinand de

    Saussure e Louis Hjelmslev, opondo-se semntica diacrnica de Michel Bral.

    Trata-se de uma teoria da significao que prope uma anlise sincrnica dalngua.

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    Formao Disciplinar

    Um dos nomes considerados precursores dessa corrente, o linguista sueco

    Adolf Noreen dividiu os estudos semnticos em dois campos: o descritivo e o

    etimolgico. Em seus trabalhos Noreen postulava a oposio variante/invariante.

    Outro precursor da Semntica Estrutural, Jost Trier (citado na Unidade I) criou a

    teoria dos campos lxicos, ou lexicais (hoje designada como teoria dos campos

    semnticos), segundo a qual as palavras se encontram relacionadas umas com as

    outras, podendo por isso ser agrupadas em campos conceituais.

    Nos anos 1960, a partir dos trabalhos do linguista francs Bernard Pottier e do

    linguista lituano Algirdas Julien Greimas, a Semntica Estrutural se consolidou

    como Cincia, investindo na anlise do significado. O nvel estratgico da

    Semntica Estrutural foi deslocado da palavra para o SEMA unidade mnima de

    significao dentro de um campo semntico.

    Conceitos Bsicos: Sema, Semema, Arquissemema eArquilexema.

    A nomenclatura semafoi proposta por Pottier e Coseriu nos anos 1960. Cada

    palavra, quanto ao seu aspecto semntico, pode ser pensada como um conjunto

    de traos semnticos ou semas.

    Osememaseria um conjunto de semas que pode se lexicalizar, formando uma

    palavra. Pode se lexicalizar, mas no necessariamente se lexicaliza.

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    EXEMPLIFICANDO

    Para o semema (+com quatro pernas, +com encosto, +para uma

    pessoa, +para sentar etc.), temos a palavra cadeira.

    Entretanto, muitas vezes no temos um nome para determinadas realidades.

    Consideremos as relaes de parentesco: quando duas pessoas se casam,

    temos um nome para as mes do marido e da mulher (sogra). No entanto, o que

    uma sogra da outra? Co-sogra? No temos um nome para esse semema, mas

    sabemos quem so elas e poderamos at mesmo listar os traos semnticos que

    fazem parte desse semema).

    Ou seja, um conjunto de semas (semema) pode se lexicalizar formando uma

    palavra ou no. No podemos deixar de distinguir as noes de semema e

    palavra, pois elas no se confundem: a primeira uma unidade abstrata; a

    segunda, uma unidade lingustica.

    O ltimo termo, o arquissemema, seria formado pelo conjunto de semas mais

    bsicos de um grupo semntico. Se o arquissemema se lexicaliza, forma um

    arquilexema. O arquilexemaseria, portanto, como um hipernimo, um termo

    mais genrico, que possui em seu semema o denominador comum de um grupo

    de sememas.

    As palavras banco, cadeira, sof, tamborete etc. podem ser todas classificadascomo assento. O arquilexema assento rene todos os traos bsicos

    compartilhados por esse conjunto de palavras: +para sentar.

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    IMPORTANTE:

    As noes de arquissemema e hipernimo no se confundem. O

    arquissemema uma unidade abstrata. Ou seja, ele existe potencialmente para

    qualquer conjunto de seres. Podemos estabelecer relaes lgicas que agrupem

    diversos elementos a partir da identificao de semas semelhantes, mas isso no

    significa, entretanto, que existam hipernimos para todas essas relaes.

    As Relaes Smicas: Oposio, Incluso, Participao e

    Associao.

    J vimos que o significado de uma palavra pode ser decomposto em traos

    mnimos: os semas. Em conjunto os semas definem um conceito para a palavra,

    distinguem conceitos e estabelecem relaes entre os vocbulos da lngua.

    Podemos observar que, entre conjuntos e subconjuntos de itens vocabulares,

    estabelecem-se relaes associativas de quatro tipos bsicos: oposio, incluso,participaoe associao. Essas relaes associativas se vinculam aos semas e,

    portanto, a determinao dessas relaes depende da depreenso dos semas que

    definem os vocbulos.

    Relao d e Opo sio

    a relao que se estabelece entre vocbulos que possuem semas

    comuns. So diversos os tipos de inventrios que se constituem pelas relaes deoposio:

    inventrios no-ordenados (formiga, murioca, pulga, barata);

    inventrios ordenados simples (segunda-feira, tera-feira...

    domingo);

    inventrios ordenados por um eixo gradual (fervendo, quente,

    morno, frio, gelado);

    inventrios hierarquizados (doutor, mestre, especialista, graduado).

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    Relao d e Inclu so

    Essa relao pode ser observada entre os hipernimos e hipnimos de umalngua, ou seja, a relao que ocorre entre termos genricos e os termos que neles

    se incluem por conta dos semas bsicos que possuem em comum (ex: animal inclui

    bode, gato, cachorro, leo, etc.).

    Relao d e Part icip ao

    Esse tipo de relao se estabelece entre os vocbulos da lngua e os

    elementos metalingusticos que utilizamos para falar sobre a prpria lngua. Os

    termos movimento, direo, espao, por exemplo, so usados para a definio

    componencial de andar, caminhar , correr, no plano lexical, e de a, at , d e, com, no

    plano gramatical.

    Relao d e a ssociao

    Trata-se de uma relao conotativa, que se d no plano de uso da lngua.

    Fazemos, por exemplo, associaes entre cores e sentimentos. Ento o vermelho

    est associado, em nossa cultura, paixo; o verde, esperana; o azul,

    tranquilidade; o preto, a coisas ruins. O termo denegrir, por exemplo, usado para

    designar a ao de manchar a imagem de, vem dessa associao.

    A cano Nuvem Negra (1993), do compositor alagoano Djavan,

    expressa essa relao entre a cor preta (negra) e a negatividade:

    [...]Passa nuvem negraLarga o diaE v se leva o mal

    Que me arrasouPra que no faa sofrer mais ningum [...]

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    Fundamentos Semnticos na Lingustica Textual

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    A relao de associao , como podemos ver, construda culturalmente.

    Grupos ligados s lutas pela valorizao da cultura e do povo negros costumam

    investir na ressignificao da cor preta / negra, com discursos que criam outras

    associaes para essa cor. A cano Il Prola Negra, dos compositores baianosMilto, Rene Veneno, Guiguio, gravada em 2000 pela cantora Daniela Mercury um

    bom exemplo disso:

    [...]Tu s o mais belo dos belosTraz paz e riqueza

    Tens o brilho to fortePor isso te chamo de prola negra [...]

    Diferentemente de Nuvem Negra, Il Prola Negra associa a palavra

    negra a ideias como paz, beleza, riqueza (prola) e brilho.

    importante salientar que as relaes de associao no so postuladas

    inicialmente pela Semntica Estrutural de matriz Saussuriana. S a partir de

    estudos mais recentes, como a Teoria da Significao, de Greimas, possvel

    relacionar o estudo da lngua a elementos extralingusticos.

    Na prxima unidade, estudaremos o conjunto das unidades significativas de

    uma lngua: o lxico. At l!

    At l!

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    LEITURA COMPLEMENTAR

    Para aprofundar seus estudos sobre a Semntica estrutural, leia:

    OLIVEIRA, Luciano Amaral. Manual de Semntica. Petrpolis, RJ: Vozes, 2008.

    MARQUES, Maria Helena Duarte. 6. ed. Iniciao Semntica. Rio de Janeiro:

    Jorge Zahar Ed., 2003.

    CANADO, Mrcia. Manual de semntica: noes bsicas e exerccios. 2 ed.rev. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

    HORA DE SE AVALIAR!

    No se esquea de realizar as atividades desta unidade de estudo,elas iro

    ajud-lo a fixar o contedo, alm de proporcionar sua autonomia no processo de

    ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as

    envie por meio do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja

    conosco!

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    Exerccios Unidade 2

    1) Assinale a alternativa que melhor descreva o mtodo de anlise da Semntica

    Estrutural.

    a) As anlises fundamentadas na Semntica Estrutural consideram o

    contexto extralingustico para explicar os fenmenos de significao.

    b) As anlises fundamentadas na Semntica Estrutural desconsideram

    quaisquer elementos que no sejam estruturais dos prprios sistemas

    lingusticos, descartando a importncia dos interlocutores e do prprio

    uso da lngua.

    c) As anlises fundamentadas na Semntica Estrutural preocupam-se com a

    coerncia e a coeso textuais no estudo da lngua.

    d) As anlises fundamentadas na Semntica Estrutural postulam a

    observao diacrnica da lngua.

    e) As anlises fundamentadas na Semntica Estrutural preocupam-se

    principalmente com as variaes lingusticas decorrentes de fatores

    externos lngua, como fatores geogrficos, etrios, de gnero ou de

    classe.

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    Para responder questo 2, leia o trecho da cano abaixo e marque a

    alternativa correta:

    [...]Eduardo e Mnica trocaram telefone

    Depois telefonaram e decidiram se encontrar

    O Eduardo sugeriu uma lanchonete,

    Mas a Mnica queria ver o filme do Godard

    Se encontraram ento no parque da cidadeA Mnica de moto e o Eduardo de camelo

    O Eduardo achou estranho, e melhor no comentar

    Mas a menina tinha tinta no cabelo

    [...]

    Renato Russo, LP Dois, 1986.

    2) Na cano Eduardo e Mnica, h um trecho que se refere a dois meios de

    locomoo: moto e camelo. Em determinadas regies do pas, inclusive Braslia,

    local onde nasceu a banda Legio Urbana, camelo uma das designaes para

    bicicleta. As pessoas de outros estados podem ter dificuldade para entender esse

    sentido do termo camelo, at porque o animal camelo tambm um meio de

    locomoo em outros pases. Essa situao demonstra que a interpretao da

    mensagem muitas vezes depende da considerao:

    a) do contexto extralingustico.

    b) do contexto intralingustico.

    c) da inteno do autor.

    d) de conhecimentos geogrficos.

    e) nenhuma das alternativas anteriores.

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    3) Levando em conta as crticas dirigidas contra a Semntica Estrutural, a partir da

    dcada de 1960, marque com V as proposies verdadeiras e com F as falsas.

    Depois, assinale a alternativa que contm a sequncia correta.

    (...) Os linguistas chamam a ateno para a importncia do contexto

    intralingustico na anlise da linguagem.

    (...) Os linguistas chamam a ateno para a necessidade de se estabelecer uma

    lngua ideal, que seria parmetro para qualquer lngua real.

    (...) Os linguistas chamam a ateno para a importncia da experincia da

    linguagem-no-uso e da relao entre linguagem e pensamento.

    (...) Os linguistas chamam a ateno para a importncia de se considerar a

    variao lingustica como elemento fundamental no estudo das lnguas.

    a) V-F-V-V

    b) V-V-F-F

    c) V-F-V-F

    d) F-V-V-V

    e) F-F-V-V

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    4) Na revista Veja, da edio de 24 de dezembro de 2008, numa propaganda do

    perfume Emoes Roberto Carlos, da Racco, h o seguinte texto:

    Mai s um especial d e Nat al do Rob ert o Carlos pra vo c se em ocion ar

    Sobre o texto do anncio correto afirmar:

    a) a palavra especial se refere tanto exclusividade do perfume quanto

    aos shows que o cantor costuma fazer no final do ano e que so

    chamados de especiais de Natal.

    b) a palavra especial se refere tanto exclusividade do perfume quanto s

    emoes que o perfume pode provocar ao ser usado.

    c) a palavra especial poderia ser substituda, nesse contexto, por

    espetculo e o sentido do enunciado no seria alterado.

    d) a palavra especial se refere tanto exclusividade do perfume quanto ao

    fato de a fragrncia evocar coisas boas.

    e) Nenhuma das alternativas anteriores.

    Leia a estrofe do poema Moraliza o Poeta nos Ocidentes do Sol a Inconstncia dos

    Bens do Mundo, para responder questo 5.

    Nasce o Sol, e no dura mais que um dia,

    Depois da Luz se segue a noite escura,

    Em tristes sombras morre a formosura,

    Em contnuas tristezas a alegria.

    Gregrio de Matos, sc.XVII

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    5) Considerando que o verbo morrer, presente no terceiro verso foi suprimido no

    verso seguinte, assinale a alternativa que nomeia esse fenmeno.

    a) metfora.

    b) metonimia.

    c) polissemia.

    d) elipse.

    e) aliterao

    6) Assinale V para as proposies verdadeiras e F para as falsas. Depois, marque a

    alternativa correta.

    (...) O linguista sueco Adolf Noreen dividiu os estudos semnticos em dois campos:

    o descritivo e o etimolgico.

    (...) As noes de semema e palavra se confundem, pois ambas se referem a

    unidades lingusticas.

    (...) Segundo a teoria dos campos lexicais (ou semnticos) as palavras se encontram

    relacionadas umas com as outras, agrupando-se em campos conceituais.

    (...) O termo sema foi proposto por Pottier e Coseriu nos anos 1960.

    a) V-F-V-F

    b) V-F-F-F

    c) F-F-V-V

    d) F-V-F-V

    e) V-F-V-V

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    7) Marque a alternativa em que os termos podem ser reunidos sob o arquilexema

    bebida (+para beber):

    a) tinta chocolate refrigerante cerveja.

    b) gua caf mingau saliva.

    c) refrigerante sopa suco sorvete.

    d) gua refrigerante cerveja suco.

    e) refrigerante saliva mingau suco

    8) Assinale com V as alternativas verdadeiras e com F as falsas. Depois, marque a

    alternativa que contenha a sequncia encontrada.

    (...) O arquilexema veculo abrange termos como automvel metr e avio.

    (...) O arquilexema ave abrange termos como abelha, pinguim e canrio.

    (...) O arquilexema coisa abrange uma infinidade de termos.(...) O arquilexema parente abrange termos como sogra, vizinho e av.

    a) F-V-V-V

    b) V-F-F-F

    c) V-V-F-F

    d) F-V-F-Ve) V-F-V-F

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    9) Observe os slogans abaixo e reflita sobre o uso dos diticos na relao entre

    contexto e significao.

    "Somos todas divas" = (Sabonete Lux Luxo, 2006)

    A gente se v por aqui" = (TV Globo, 2000)

    10 - Considerando a relao que pode ser estabelecida entre os hipernimos e

    hipnimos de uma lngua, comente a sequncia verdura: alface, brcolis, aspargo,

    couve

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    O Lxico

    Lxico e vocabulrio.

    Vocabulrio e contexto.

    Denotao e conotao.

    Polissemia/Homonmia.

    Sinonmia/Antonmia.

    Paronmia.

    Campos semnticos.

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    Nesta unidade abordaremos a viagem inicial pelos caminhos da Semntica.

    Chamamos o percurso feito at aqui de inicial, porque desejamos ter provocado

    seu interesse por esse rico e ainda pouco explorado campo de estudos.

    Na unidade anterior, aprofundamos nosso conhecimento sobre a Semntica

    estrutural. A partir de agora, pensaremos sobre a definio de lxico,

    diferenciaremos lxico de vocabulrio e entenderemos por que nos referimos ao

    lxico como um sistema dinmico e inteligente.

    Tambm discutiremos temas caros aos estudos semnticos, provavelmente j

    estudados por voc no ensino fundamental e mdio, como conotao edenotao, polissemia e homonmia, sinonmia, antonmia e paronmia.

    Vamos prosseguir!

    Objetivos da unidade:

    Diferenciar lxico de vocabulrio

    Compreender como o lxico um sistema dinmico no apenas

    composto pelas palavras j existente na lngua, mas tambm pelas

    estruturas e frmulas-padro para a sua prpria expanso.

    Compreender os fenmenos relacionados ao sistema lexical, comodenotao e conotao, polissemia, homonmia, etc.

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