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MARCELO GOMES CORDEIRO VALADARES
O TRATAMENTO DOS GLIOMAS DE ALTO GRAU NO HOSPITAL
DE CLÍNICAS DA UNICAMP
CAMPINAS
2015
ii
iii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Faculdade de Ciências Médicas
MARCELO GOMES CORDEIRO VALADARES
O TRATAMENTO DOS GLIOMAS DE ALTO GRAU NO HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UNICAMP
Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos
exigidos para a obtenção do título de Mestre em Ciências
Médicas, área de concentração Neurologia.
ORIENTADOR: PROF. DR. HELDER TEDESCHI
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO
FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO
ALUNO MARCELO GOMES CORDEIRO VALADARES, E ORIENTADO PELO
PROF. DR. HELDER TEDESCHI.
CAMPINAS
2015
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Ficha catalográficaUniversidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Faculdade de Ciências MédicasMaristella Soares dos Santos - CRB 8/8402
Valadares, Marcelo Gomes Cordeiro, 1982-V23t ValO tratamento dos gliomas de alto grau no Hospital de Clínicas da Unicamp /
Marcelo Gomes Cordeiro Valadares. – Campinas, SP : [s.n.], 2015.
ValOrientador: Helder Tedeschi.ValDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade deCiências Médicas.
Val1. Glioma. 2. Glioblastoma. 3. Neoplasias do sistema nervoso. 4. Oncologia. 5.Neoplasias. 6. Saúde pública. I. Tedeschi, Helder,1960-. II. Universidade Estadualde Campinas. Faculdade de Ciências Médicas. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: High grade glioma treatment in Unicamp's Hospital de ClínicasPalavras-chave em inglês:GliomaGlioblastomaNervous system neoplasmsMedical oncologyNeoplasmsPublic healthÁrea de concentração: NeurologiaTitulação: Mestre em Ciências MédicasBanca examinadora:Helder Tedeschi [Orientador]Fernando CendesCassio Eduardo Adami Raposo do AmaralData de defesa: 23-01-2015Programa de Pós-Graduação: Ciências Médicas
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RESUMO
Introdução: O tratamento para gliomas de alto grau consiste em cirurgia
seguida de radioterapia e quimioterapia. Mesmo com o melhor tratamento
disponível a sobrevida em geral não atinge 2 anos para glioblastoma
multiforme e 2 a 5 anos para outros gliomas anaplásicos. Estudos realizados
em países em desenvolvimento sugerem que as limitações financeiras dos
sistemas públicos de saúde destes países podem dificultar o acesso da
população aos recursos necessários, podendo inclusive influenciar
negativamente a sobrevida. Neste trabalho analisamos uma série de
pacientes portadores de gliomas de alto grau tratados em um hospital público
de uma grande região metropolitana brasileira. Comparamos o tratamento
oferecido com o preconizado na literatura e verificamos se eventuais
limitações nas diversas etapas do tratamento multidisciplinar afetam a
qualidade do serviço prestado. Método: Analisamos retrospectivamente
prontuários de pacientes portadores de gliomas de alto grau tratados no
Hospital de Clínicas da Unicamp entre 2007 e 2013. Resultados: Foram
incluídos 135 pacientes. A idade média foi de 57 anos e 2 meses e haviam 2
homens para cada mulher. A unidade de emergência foi a porta de entrada
para 89% dos pacientes. No momento do diagnóstico 90.3% já apresentavam
sintomas há mais de 2 semanas e 14,8% estavam sintomáticos há mais de 12
semanas. Quimioterapia e radioterapia foram prescritas para 56% dos
pacientes. Radioterapia apenas foi o tratamento de escolha para 25% e outros
19% foram encaminhados para cuidados paliativos. Tromboembolismo
venoso foi diagnosticado em 26%, infecções relacionadas ao procedimento
cirúrgico em 16%. Após a cirurgia a mediana de tempo para início dos
tratamentos subsequentes foi: 6.71 semanas para a primeira consulta com o
viii
radioterapêuta, 6.28 semanas para a primeira consulta com o oncologista e
12.57 semanas para iniciar a quimioterapia e radioterapia. Progressão
tumoral com necessidade de nova abordagem cirúrgica foi observada em 27
pacientes no grupo de terapia tardia (>6 semanas) e em nenhum paciente no
grupo de terapia precoce (≤6 semanas) (p=0.002). Não foi observada
correlação estatística entre a ocorrência de eventos tromboembólicos
(p=0.09) ou infecciosos (p=0.057) e a demora para o início do tratamento
adjuvante. A mediana de sobrevida de 100 pacientes portadores de
glioblastoma multiforme submetidos a todas as formas de tratamento foi de
7.8 meses. Conclusão: Embora o tratamento cirúrgico seguido de
radioterapia e quimioterapia esteja disponível no Hospital de Clínicas da
Unicamp, apenas 56% dos pacientes são submetidos a todo o tratamento
preconizado e apenas 12% iniciam a quimioterapia e radioterapia em menos
de 6 semanas após a cirurgia. Estes números são inferiores aos observados
em países desenvolvidos, mas compatíveis com outros estudos de países em
desenvolvimento. A mesma comparação é feita em relação à sobrevida
global dos pacientes diagnosticados com glioblastoma multiforme. Os dados
apresentados reforçam a tese de que o tratamento de portadores de gliomas
de alto grau é influenciado negativamente pelas limitações presentes na
saúde pública de países em desenvolvimento.
Palavras-chave: Glioma, Glioblastoma, Neoplasias do Sistema Nervoso,
Oncologia, Neoplasias, Saúde Pública
ix
ABSTRACT
Introduction: The general management of high-grade gliomas is based on
surgery plus radiotherapy and chemotherapy. However, in developing
countries, the lack of financial resources may delay the treatment, and
probably affect patients’ outcome. Based on this, the aim of this study is to
review the clinical data of high-grade glioma patients treated in a brazilian
referral public hospital. Methods: We retrospectively analyzed the clinical
data with emphasis on the management options (surgery, radiotherapy and
chemotherapy) of high grade glioma patients from 2007 to 2014 at the
University of Campinas (Unicamp) hospital. Results: A total of 135 patients
(27% of all brain tumors) had the diagnosis of high-grade glioma and were
included. The mean age of high-grade glioma patients at the time of
diagnosis was 57 years and 2 months. There were 90 men (67%) and 44
women (33%). The outpatient referral system was responsible for only 15
(11%) admissions with 120 (89%) patients being admitted through the
emergency unit. Headache was the main complaint and 90.3% of the patients
had been symptomatic for over 2 weeks and 14,8% for over 12 weeks. After
surgery 56% were treated with chemotherapy and radiotherapy.
Radiotherapy was the single therapy for 25% of the cases. Another 19%
were referred to supportive care. After surgery patients took a median 6.71
weeks to the first radiotherapy consultation, 6.28 weeks to the first clinical
oncology consultation and a median 12.57 weeks to start radiation. Only
12% started radiation in less than 6 weeks. Tumor progression requiring a
second surgery was observed in 27 patients in the delayed therapy group (>
6weeks) compared with no patients in the early therapy (< 6 weeks) group
(P=.002). Glioblastoma Multiforme patients overall survival was 7.8
x
months. Conclusion: Although surgery, radiation and temozolamide were
available at our institution only 56% of the patients received all these
treatments and only 12% started radiation in less than 6 weeks. These
numbers fail in comparison to many studies published in developed
countries but are similar to others published in developing nations. The same
applies to the overall survival calculated for glioblastoma patients. This
study supports that financial constrictions in public health care in developing
countries have a negative impact on high-grade glioma treatment.
Keywords: Glioma, Glioblastoma, Nervous system neoplasms, Medical
Oncology, Neoplasms, Public Healthcare.
xi
SUMÁRIO
Resumo vii
Abstract ix
Lista de Ilustrações xix
Lista de Tabelas xxi
Lista de Abreviaturas e Siglas xxiii
Introdução 01
O HC Unicamp e o tratamento Neuro-oncológico na RMC 04
Objetivos 08
Material e Método 09
Critérios de Inclusão 09
Critérios de Exclusão 09
Resultados 15
Discussão 24
Conclusões 33
Referências 35
xii
xiii
DEDICATÓRIA
A Paula minha esposa por todo amor e incentivo.
Aos meus pais Graça e Eustáquio pelos fundamentos e exemplo.
A todos os profissionais envolvidos na pesquisa e tratamento do câncer, pela
dedicação ao que fazem.
A todos pacientes diagnosticados com câncer cerebral.
xiv
xv
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Helder Tedeschi por compartilhar seus conhecimentos e
valores.
Aos colegas Dr. Enrico Ghizoni e Dr. Andrei Fernandes Joaquim pelo
grande apoio e amizade.
Aos funcionários do ambulatório de Neurologia e Neurocirurgia do HC
Unicamp pelo auxílio neste trabalho.
Aos funcionários do Serviço de Arquivo Médico (SAM), Informática e
Centro Cirúrgico do Hospital de Clínicas da Unicamp.
xvi
xvii
EPÍGRAFE
“Learn from yesterday, live for today, hope for tomorrow. The important
thing is not to stop questioning”
- Albert Einstein
“A physician is obligated to consider more than a diseased organ, more even
than the whole man – he must view the man in his world”
- Harvey Cushing
xviii
xix
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01 – Probabilidade de sobrevida para portadores de Glioblastoma
Multiforme (n=100), considerando todos os tratamentos. Tempo em meses.............
23
xx
xxi
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Municípios da RMC atendidos pelo HC Unicamp.......................... 06
Tabela 02 – Hospitais credenciados para Neurocirurgia pelo SUS na RMC...... 07
Tabela 03 – Classificação OMS – Principais Grupos e Tumores........................ 10
Tabela 04 – Definição de Grau de Ressecção Tumoral....................................... 12
Tabela 05 – Motivos de exclusão para 358 pacientes.......................................... 15
Tabela 06 – Características gerais da população estudada.................................. 16
Tabela 07 – Principais sintomas.......................................................................... 17
Tabela 08 – Localização das lesões tumorais...................................................... 18
Tabela 09 – Tumores diagnosticados na população estudada............................. 19
Tabela 10 – Principais complicações pós operatórias......................................... 20
Tabela 11 – Tratamentos Quimioterápico e Radioterápico................................. 20
Tabela 12 – Principais intervalos de tempo medidos relacionados ao
tratamento, após o diagnóstico de Glioma de Alto Grau.....................................
21
Tabela 13 - Relação tempo para início da Radioterapia e número de cirurgias.. 22
Tabela 14 – Relações entre complicações e atraso para início da radioterapia... 22
xxii
xxiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
GBM Glioblastoma Multiforme
HC Hospital de Clínicas
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
OMS Organização Mundial de Saúde
PACS Picture Archiving and Communication System
RMC Região Metropolitana de Campinas
RNM Ressonância Nuclear Magnética
TC Tomografia Computadorizada
xxiv
1
INTRODUÇÃO
Gliomas de Alto Grau ou (OMS Grau 3 & 4) são os tumores cerebrais
primários mais comuns em adultos. Estima-se a incidência em
aproximadamente 5.2/100.000 habitantes o que representaria mais de 10.000
novos casos anualmente na população brasileira. Mesmo com o melhor
tratamento disponível a sobrevida média não atinge 2 anos em tumores como
o glioblastoma multiforme (OMS Grau 4) e em média 2 a 5 anos em gliomas
anaplásicos (OMS Grau 3) (1). Uma das características marcantes a que se
atribui a baixa sobrevida é a natureza infiltrativa das células neoplásicas que
se extendem muito além dos limites visíveis nas mais apuradas técnicas de
imagem (2). Isto torna a remoção cirúrgica total improvável, mesmo com
ressecções extensas como hemisferectomias (3). Outra característica
importante é a natureza policlonal do tecido tumoral com grande diversidade
de mutações, resistência ao tratamento quimioterápico e células tronco
tumorais em repouso que eventualmente se tornam ativas causando a
recidiva tumoral (4).
As modalidades de diagnóstico e tratamento de tumores cerebrais, em
especial quando aplicadas a gliomas, têm evoluído de forma significativa nas
últimas décadas. Os recursos de imagem, em especial após a década de 70
com a introdução na prática clínica do uso da Ressonância Nuclear
Magnética (RNM), possibilitaram um grande salto na qualidade do
diagnóstico. Permitiram a identificação precoce de algumas lesões e melhor
planejamento cirúrgico (5). As técnicas complementares associadas à RNM
que vieram em seguida, como estudos de perfusão, espectroscopia,
ressonância magnética functional e tractografia ou DTI (diffusion tensor
imaging), facilitam o diagnóstico diferencial entre lesões neoplásicas,
2
inflamatórias ou isquêmicas. Fornecem também informações que permitem
diferenciar lesões neoplásicas primárias e secundárias (metástases) e ainda
permitem estabelecer relações da lesão tumoral estudada com o tecido
cerebral normal, em especial em áreas de grande eloquência como área
motora ou área da fala (6).
Assim como o diagnóstico de imagem o tratamento neurocirúrgico
passou por grande refinamento em todo o mundo com a propagação dos
conhecimentos em microcirurgia (técnica microcirúrgica com uso da
magnificação e conhecimento detalhado da anatomia do cérebro). Dessa
forma diversos centros passaram a realizar cirurgias de maior porte e lesões
que anteriormente seriam consideradas inoperáveis ou operadas com grande
morbidade para o paciente, passaram a ser abordadas de forma rotineira,
com diminuição da taxa de complicações (7). A chegada da alta tecnologia à
sala cirúrgica com equipamentos de neuro navegação, uso do 5-ALA (um
marcador fluorescente captado pela célula do glioma), ressonância
magnética intra-operatória, eletrocorticografia e estimulação cortical
permitiram a realização de resseções mais extensas preservando a função
neurológica intacta (8). Em 2011 Sanai et al (9) publicaram estudo em que
apresentam relação estatisticamente significativa entre a extensão da
ressecção cirúrgica de glioblastoma multiforme (GBM) com o aumento da
sobrevida. Em seu trabalho a remoção de mais de 98% do tecido tumoral
visível à RNM com contraste acrescentou até 4.9 meses de sobrevida, mas
mesmo resseções a partir de 78% já representavam algum benefício.
Grandes ressecções em áreas importantes do cérebro são realizadas com
muito mais segurança através do uso da alta tecnologia.
Em 2005 Dr. Stupp, um oncologista suíço, e sua equipe (10) publicaram
um importante trabalho em que demonstravam com significância estatística
3
que o uso da droga quimioterápica temozolamida (um agente alquilante
disponível nos EUA desde 1999) aumentava a sobrevida em
aproximadamente 2.5 meses se ministrada em conjunto com a radioterapia
no tratamento do GBM. Até então acreditava-se que apenas a radioterapia
após a cirurgia apresentava benefício real. Mesmo que pareça pequeno
incremento, por tratar-se de uma doença tão devastadora, representou um
passo de grande importância.
A partir de então tem-se como padrão ouro para tratamento de gliomas
de alto grau a ressecção cirúrgica máxima possível seguida de radioterapia
concomitante à quimioterapia utilizando-se a temozolamida. Esta evidência
é sólida para gliomas OMS grau 4 e extrapolada para grau 3 (1). O
tratamento quimioterápico e radioterápico deve ser iniciado
preferencialmente em menos de 6 semanas após o tratamento cirúrgico, com
evidência de maior sobrevida livre de doença (11) e possivelmente maior
tempo de sobrevida global. (12)
Mesmo após todos os avanços citados, os gliomas de alto grau ainda
estão dentre o grupo das neoplasias mais letais (1). A pesquisa na área de
neuro-oncologia é cada vez maior, com trabalhos promissores relacionados a
imuno-terapia (13), implantes de wafers de carmustina (14), novas drogas
como bevacizumab (15) além de equipamentos de interferência
eletromagnética no ciclo celular como Novo-TTF® (16).
4
O HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UNICAMP E O TRATAMENTO
NEURO-ONCOLÓGICO NA REGIÃO
O Hospital de Clínicas (HC) é o maior hospital vinculado à Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). É também o maior e mais equipado
hospital público de sua área de abrangência (Região Metropolitana de
Campinas), cuja população é estimada em 3 milhões de habitantes
distribuídos em 20 municípios. Campinas é o maior deles com população
aproximada de 1.150.000 habitantes (17) (Tabela 01).
No Brasil, o sistema de saúde possui financiamento público e privado. O
sistema público é chamado SUS (Sistema Único de Saúde) e é custeado
pelos impostos municipais, estaduais e federais. O HC Unicamp trabalha
exclusivamente com o SUS, não havendo financiamento privado na
instituição. Eventualmente, hospitais privados também podem ser
contratados pelo SUS para atendimento aos seus pacientes em situações em
que a demanda seja considerada maior que a oferta ou na ausência de um
hospital público na região. O acesso do pacientes ao HC Unicamp se dá
apenas através do encaminhamento da rede primária (ou básica) de saúde e
de hospitais municipais ou regionais de porte menor. Isto ocorre em todas as
situações, com exceção daquelas caracterizadas como emergência em que o
paciente pode ser admitido por procura espontânea.
Na Região Metropolitana de Campinas (RMC) existem no total dez
hospitais públicos e hospitais privados contratados pelo sistema público que
contam com equipes de neurocirurgia. Todos estes podem realizar cirurgias
para tumores cerebrais em pacientes do SUS. No entanto, apenas 04 destes
centros contam com serviços de radioterapia e oncologia. Todos os demais
5
devem encaminhar os pacientes após o tratamento cirúrgico para seguimento
em um destes quatro centros (Tabela 02).
O número total de publicações de instituições brasileiras que tratam
tumores cerebrais é escasso assim como os dados epidemiológicos na
literatura nacional. Muitos trabalhos têm sugerido que as limitações
econômicas e sociais nos países em desenvolvimento afetam a
disponibilidade de recursos, acesso aos centros especializados e sugerem que
esse quadro pode afetar o resultado do tratamento (18, 19, 20).
Com este estudo buscamos conhecer as características dos pacientes
diagnosticados com gliomas de alto grau que tratamos em nossa instituição.
Avaliamos a forma como o tratamento está sendo oferecido, comparamos
com as informações disponíveis na literatura e investigamos se eventuais
limitações nas diversas etapas do tratamento multidisciplinar podem afetar a
qualidade do serviço prestado.
6
Tabela 01 – Municípios da RMC atendidos pelo HC Unicamp
Município População (2014) IDH-M (2010)
Campinas 1.154.617 0,805
Sumaré 262.308 0,762
Americana 226.970 0,811
Indaiatuba 226.602 0,788
Hortolândia 212.527 0,756
Santa Bárbara d’Oeste 189.223 0,781
Valinhos 118.302 0,819
Itatiba 111.620 0,778
Paulínia 95.221 0,795
Vinhedo 71.217 0,817
Cosmópolis 65.628 0,769
Nova Odessa 56.008 0,791
Monte Mor 54.462 0,733
Jaguariúna 50.719 0,784
Arthur Nogueira 49.346 0,749
Pedreira 45.052 0,769
Santo Antônio de Posse 22.176 0,702
Engenheiro Coelho 18.153 0,732
Holambra 13.046 0,793
Morumgaba 12.779 0,715
População total 3.055.976
7
Tabela 02 – Hospitais credenciados para Neurocirurgia pelo SUS na RMC
Hospital Município Onco/Radioterapia Administração
HC Unicamp Campinas Sim Pública
Hospital Mario Gatti Campinas Sim Pública
Boldrini * Campinas Sim Privada
PUC Campinas Sim Privada
HES Sumaré Não Pública
Hospital Municipal Americana Não Pública
HAOC Indaiatuba Não Privada
Santa Casa Valinhos Não Privada
Galileo Vinhedo Não Privada
Santa Casa Itatiba Não Privada
* Atende apenas a população pediátrica.
8
OBJETIVOS
Primário
- Avaliar se o tratamento oferecido ao paciente portador de glioma de
alto grau no HC Unicamp, com ênfase nas modalidades terapêuticas
empregadas, é compatível com o preconizado na literatura.
Secundários
- Estabelecer as características epidemiológicas dos pacientes
portadores de gliomas de alto grau atendidos no HC Unicamp e a forma
como são encaminhamento para o hospital.
- Analisar os tratamentos: cirúrgicos; quimioterápicos e radioterápicos
realizados. Identificar as principais complicações e calcular a sobrevida
média dos pacientes portadores de glioblastoma multiforme.
- Relacionar a disponibilidade de recursos no HC Unicamp a eventuais
dificuldades encontradas no atendimento aos portadores de gliomas de alto
grau.
9
MATERIAL E MÉTODO
Foi realizado um estudo retrospectivo na base de dados do Hospital de
Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas - SP, Brasil. A
pesquisa foi iniciada após aprovação do comitê de ética em pesquisa da
instituição (CEP-FCM/UNICAMP Protocolo 556.810).
Critérios de Inclusão
- pacientes portadores de gliomas de alto grau (OMS grau 3 e grau 4)
(Tabela 03)
- idade ≥ 16 anos
- submetidos a tratamento cirúrgico para tumor cerebral no HC Unicamp
- entre 01 de Janeiro de 2007 e 31 de Dezembro de 2013
Critérios de Exclusão
- pacientes reoperados no HC Unicamp cuja primeira cirurgia para
tumor cerebral foi realizada em outra instituição
- pacientes operados no HC Unicamp mas encaminhados para
tratamento quimioterápico ou radioterápico em outra instituição
10
Tabela 03 – Classificação OMS – Principais Grupos e Tumores (21)
Grau Histológico Grau de Agressividade Principais Tipos
Grau 1 Baixo Grau Astrocitoma Pilocítico
Subependimoma
Grau 2 Baixo Grau Astrocitoma Difuso
Oligodendroglioma
Oligoastrocitoma
Ependimoma
Grau 3 Alto Grau Astrocitoma Anaplásico
Oligodendroglioma Anaplásico
Oligoastrocitoma Anaplásico
Ependimoma Anaplásico
Grau 4 Alto Grau Glioblastoma Multiforme
Gliosarcoma
O autor realizou o levantamento inicial através da base de dados do
centro cirúrgico por grupamento de cirurgias. Foram obtidas todas as
matrículas de pacientes cujas cirurgias foram classificadas como cirurgias
para tumor cerebral no período estabelecido nos critérios de inclusão.
Através do sistema de informática do hospital foram recuperados os resumos
de alta hospitalar e excluídos todos os pacientes cujo resumo diagnóstico de
alta estabelecia com certeza lesões patológicas diferentes do objeto deste
estudo. Todos os demais casos (diagnósticos objeto deste estudo, casos não
especificados ou casos duvidosos) tiveram seus prontuários solicitados junto
ao Ambulatório de Neurologia e Neurocirurgia ou Serviço de Arquivo
Médico (SAM).
Foram excluídos pacientes cujos prontuários não dispunham de
informações do tratamento cirúrgico (relatório de cirurgia e evolução médica
da internação cirúrgica), informações do tratamento radioterápico (consulta
11
inicial e planejamento quando indicado), tratamento quimioterápico
(consulta inicial e evoluções da oncologia quando indicado tratamento
quimioterápico).
Dos prontuários dos pacientes restantes foram obtidos os seguintes
dados: idade ao diagnóstico, sexo, endereço residencial, sintomas no
momento da primeira consulta no hospital, tempo referido para o primeiro
sintoma, exame neurológico sumário, forma de encaminhamento ao hospital
(encaminhamento ambulatorial, interconsulta por outra especialidade,
procura espontânea ou encaminhamento de urgência à unidade de
emergência). Através da ficha de atendimento do serviço social recolhemos
informações socioeconômicas como escolaridade e renda familiar.
Através de exames de imagem (ressonância magnética pré-operatória e
pós-operatória quando disponível ou tomografia de crânio sem contraste ou
com contraste pré e pós-operatória) disponíveis no sistema informatizado da
radiologia (PACS), resgatados no arquivo medico ou ainda através do
registro no prontuário médico, estabelecemos a localização do tumor
(frontal, temporal, parietal, outros) e tentamos definir o grau de extensão de
resseçcão cirúrgica em (1) ressecção macroscópica total, (2) ressecção
subtotal ou (3) biópsia (Tabela 04). Nas evoluções do neurocirurgião e no
relatório de cirurgia obtivemos a data da cirurgia, complicacões peri-
operatórias (tromboembolismo venoso, infecções, hemorragias, edema
cerebral causando coma) e data da alta hospitalar. Das fichas de atendimento
e evoluções da neurocirurgia, oncologia e radioterapia obtivemos a data das
consultas subsequentes, tratamentos indicados e complicações apresentadas.
12
Tabela 04 – Definição de Grau de Ressecção Tumoral
Grau de Ressecção Definição
Ressecção Macroscópica Total Ausência de captação de contraste na RNM
realizada em menos de 72 horas após a cirurgia.
Ressecção Subtotal Imagem residual nodular com ou sem captação de
contraste ou captação de contraste mesmo que
discreta na RNM realizada em menos de 72 horas
ou imagem residual na TC pós operatória em meio
a lacuna cirúrgica.
Biópsia Imagem pós operatória ou relato cirúrgico de
craniotomia com remoção de fragmento tumoral
ou ainda Biópsia Estereotaxia
De posse dessas informações foram calculados os tempos: (1) entre a
cirurgia e a alta, (2) a cirurgia e o resultado do laudo anátomo-patológico,
(3) a cirurgia e a primeira consulta com oncologista, (4) a cirurgia e a
primeira consulta com radioterapêuta (5) a cirurgia e o início do tratamento
quimioterápico e radioterápico, (6) a primeira consulta com radioterapêuta e
o início da radioterapia.
Os pacientes que foram encaminhados para tratamento com
quimioterapia e radioterapia foram dividos em dois grupos: (1) precoce
(iniciaram o tratamento em ≤ 6 semanas) e (2) tardio (> 6 semanas). As
complicacões registradas foram: hemorragias, edema cerebral maligno pós-
operatório, infecções (ferida cirúrgica e infecções intra-cranianas) e eventos
tromboembólicos (trombose venosa profunda e tromboembolismo
pulmonar) precoces (≤14 dias) e tardios (>14 dias). Para cálculo de
13
sobrevida foi considerado o óbito registrado no prontuário, a última consulta
do prontuário ou o término do estudo.
Os dados foram comparados utilizando-se o teste chi-quadrado.
Probabilidade de sobrevida foi calculada considerando-se o período desde o
diagnóstico até 31 de Dezembro de 2013. Curvas de sobrevida foram
construídas com o método Kaplan-Meier. O nível de significância
considerado neste estudo foi p<0.05. A informação estatística foi processada
no software R para Mac OS X (22).
14
15
RESULTADOS
O levantamento inicial realizado identificou 534 cirurgias para ressecção
ou biópsia de tumor cerebral realizadas em um total de 493 pacientes. Destes
358 pacientes foram excluídos por uma das seguintes razões: não foram
compatíveis com os critérios de inclusão; possuíam prontuários incompletos
ou prontuários que não puderam ser recuperados; foram operados
inicialmente em outro hospital ou encaminhados após a cirurgia para centros
em geral de outras cidades ou estados em que residiam (Tabela 05). No total
foram incluídos 135 pacientes com diagnóstico de gliomas OMS grau 3 ou
grau IV.
Tabela 05 – Motivos de exclusão para 358 pacientes
Tumores outros que não Gliomas 309
Gliomas de Grau I e II (Baixo Grau) 21
Pacientes operados inicialmente em outro hospital 6
Paciente encaminhado para tratamento complementar em outro centro 3
Paciente com idade inferior a 16 anos 2
Prontuários incompletos 7
Prontuários não recuperados 10
Total 358
Epidemiologia
A proporção de homens para mulheres nesta população era de 2:1. A
idade média ao diagnóstico era de 57.2 anos (intervalo de 17 a 89). Ensino
médio era o maior nível de escolaridade para 46% dos pacientes e apenas
5% haviam concluído o ensino superior. A renda familiar média da
16
população correspondia a 2.2 salários mínimos (aproximadamente
R$1780,00 ao mês baseado nos valores referentes ao ano de 2014 no Estado
de São Paulo). A maior parte dos pacientes (78%) residia na RMC (Tabela
06).
Tabela 06 – Características gerais da população estudada
N %
Sexo
Masculino 90 67
Feminino 45 33
Idade Média 57.2 (17-89)
Glioma Grau 4 59.2 (23-89)
Glioma Grau 3 43.5 (17-60)
Instrução Formal
≤ 10 anos de escolaridade formal 66 49
Ensino Médio Completo 62 46
Ensino Superior Completo 7 5
Procedência
Campinas 51 38
Outros Municípios da RMC 54 40
Outras Regiões do Estado de São Paulo 20 15
Outros estados e países 10 7
Encaminhamento ao HC Unicamp
Apenas 15 pacientes (11%) foram encaminhados ao hospital através do
ambulatório de neurocirurgia ou interconsulta e 120 pacientes (89%) foram
admitidos através da Unidade de Emergência (Pronto Socorro). O sintoma
mais frequente foi cefaléia (90%). Algum forma de déficit motor foi
17
observada em 33 pacientes (25%) (Tabela 07). Um total de 122 pacientes
(90.3%) apresentavam sintomas há mais de 2 semanas, 91 pacientes (67.5%)
há mais de 4 semanas e 20 pacientes (14.8%) estavam sintomáticos há mais
de 12 semanas no momento em que foram atendidos pela primeira vez no
HC Unicamp.
Tabela 07 – Principais Sintomas
Sintoma N %
Cefaléia 121 90
Vertigem / Desequilíbrio 74 55
Alterações de Sensibilidade 36 27
Fraqueza Motora (Déficit) 34 25
Dificuldades de Memória 31 23
Crise Epiléptica 14 10
Alterações Visuais 13 10
Tratamento Cirúrgico
A localização tumoral mais frequente no cérebro era o lobo frontal
(34%) seguido pelo lobo temporal (29%) (Tabela 08). A avaliação da
extensão de ressecção tumoral foi prejudicada visto que apenas 3 pacientes
(2.1%) haviam sido submetidos a RNM pós operatória em menos de 72
horas após o tratamento cirúrgico. Outros 15 pacientes (11%) possuíam
tomografia pós operatória com contraste. Os demais 117 pacientes (86.6%)
possuíam apenas tomografia de crânio sem contraste, método que não
consideramos válido para avaliação da extensão de ressecção.
18
Tabela 08 – Localização das lesões tumorais
Lobo Cerebral n %
Frontal 46 34.1
Temporal 39 28.9
Parietal 15 11.1
Occipital 6 4.5
Ínsula 3 2.2
Múltiplos 26 19.2
Total 135 100
Um único procedimento cirúrgico foi realizado em 108 pacientes (80%)
(neste cálculo não consideramos cirurgias para implantes de cateteres,
válvulas ou tratamento de complicações cirúrgicas como edema maligno ou
infecções). Vinte e sete pacientes (20%) foram submetidos a uma segunda
cirurgia para ressecção tumoral em algum momento após a alta e três
pacientes foram submetidos a 3 cirurgias (um portador de glioblastoma
multiforme e dois portadores de astrocitomas anaplásicos). Nenhum paciente
foi operado quatro ou mais vezes.
Tumores OMS grau 4 foram diagnosticados em 103 pacientes (76.3%),
sendo glioblastoma multiforme em 100 pacientes (74.1%) e gliosarcoma em
3 pacientes (2.2%). O tumor OMS grau 3 mais frequente foi o astrocitoma
anaplásico diagnosticado em 14 pacientes (10.4%) seguido do
oligoastrocitoma anaplásico em 11 pacientes (8.1%) (Tabela 9).
19
Tabela 09 – Tumores diagnosticados na população estudada
Tipo Histológico N %
OMS Grau 4
Glioblastoma Multiforme 100 74.1
Gliosarcoma 3 2.2
OMS Grau 3
Astrocitoma Anaplásico 14 10.4
Oligoastrocitoma Anaplásico 11 8.1
Oligodendroglioma Anaplásico 7 5.2
Total 135 100
A mediana de tempo transcorrido desde a admissão até a cirurgia foi de
1.28 semanas (intervalo de 0.28 a 2.43). Após a cirurgia o tempo necessário
para alta hospitalar obedeceu a uma mediana de 1 semana (intervalo de 0.14
a 2.28) e para liberação do laudo anátomopatológico foi de 1.14 semanas
(intervalo de 0.71 a 3.28).
Tromboembolismo venoso foi a complicação mais frequente no período
pós-operatório sendo diagnosticados em 35 pacientes (26%), sendo 12 destes
(34%) diagnosticados em menos de 14 dias transcorridos da cirurgia
(precoce) e os demais 23 pacientes (66%) no período pós operatório tardio
(>14 dias). Infecções relacionadas ao procedimento cirúrgico foram
diagnosticadas em 15 pacientes (11%) (Tabela 10).
20
Tabela 10 – Principais complicações pós operatórias
Complicação N %
Eventos tromboembólicos 35 26
≤14 dias 12 34
>14 dias 23 66
Infecção relacionada à cirurgia 15 11
Superficial (pele e subcutâneo) 12 80
Profunda (extradural e intradural) 3 20
Edema Cerebral Maligno (causando coma) 5 3.7
Hemorragias (intracerebral, subdural, extradural) 3 2.2
Tratamento Quimioterápico e Radioterápico
Quimioterapia e radioterapia foram realizadas em 75 pacientes (56%).
Radioterapia isolada foi ministrada a 33 pacientes (25%) e os demais 25
pacientes (19%) foram tratados paliativamente (Tabela 11).
Tabela 11 – Tratamentos Quimioterápico e Radioterápico
Modalidade de Tratamento N %
Quimioterapia e Radioterapia 75 56
Radioterapia isolada 33 25
Tratamento Paliativo 25 19
Após a alta hospitalar a mediana para primeira consulta com o
radioterapêuta foi de 6.71 semanas (intervalo de 0.57 a 14.14), 6.28 semanas
para consulta com o oncologista clínico (intervalo de 1 a 14.42) e 12.57
semanas (intervalo de 4.85-22.85) para iniciar o tratamento com
quimioterapia e radioterapia (Tabela 12). Após o primeiro atendimento com
o radioterapêuta a mediana para início da radioterapia foi de 5.85 semanas
21
(intervalo de 0.71-7.14). Apenas 16 pacientes (11.8%) efetivamente
iniciaram o tratamento com quimioterapia e radioterapia em um período
inferior a 6 semanas após a cirurgia.
Tabela 12 – Principais intervalos de tempo medidos relacionados ao tratamento, após o
diagnóstico de Glioma de Alto Grau
Período calculado Semanas Intervalo
Internação Hospitalar è Cirurgia 1.28 (0.28-2.43)
Cirurgia è Alta Hospitalar 1 (0.14-2.28)
Cirurgia è Liberação do resultado anátomopatológico 1.14 (0.71-3.28)
Cirurgia è Primeira consulta com Oncologista 6.28 (1-14.42)
Cirurgia è Primeira consulta com Radioterapêuta 6.71 (0.57-14.14)
Primeira consulta com radioterapêuta èInício da radioterapia 5.85 (0.71-7.14)
Cirurgia è Início da Radioterapia/Quimioterapia 12.57 (4.85-22.85)
Análises Estatísticas
Buscamos relacionar a presença de tromboembolismo venoso, infecções,
hemorragias e edema cerebral com o atraso para o início do tratamento
quimioterápico e radioterápico. Porém observamos que nenhuma das
variáveis mostrou-se estatisticamente significante. Apenas a presença de
infecção no período pós operatório esteve próxima do nível de significância
adotado (p=0.57) (Tabela 13).
22
Ao relacionar o início tardio do tratamento com quimioterapia e
radioterapia e a evolução oncológica dos pacientes, notamos que a
progressão tumoral (novo crescimento tumoral após a primeira cirurgia) com
necessidade de uma segunda abordagem cirúrgica foi observada em 27
pacientes no grupo de tratamento tardio (>6 semanas) e em nenhum paciente
no grupo de tratamento precoce (p=0.02). Dez pacientes (7.4%)
necessitaram de uma nova abordagem antes mesmo de iniciar o tratamento
quimio e radioterápico (Tabela 14).
Tabela 13 – Relações entre complicações e atraso para início da radioterapia
Variáveis no período pós operatório Semanas
( 75 pacientes ) ≤ 6 > 6 p
Tromboembolismo venoso 2 23 0.09
Infecção 0 15 0.057
Edema Cerebral Maligno 1 4 1
Hemorragias 0 3 0.84
Tabela 14 – Relação entre tempo para o início da Radioterapia e número de cirurgias
Número de Cirurgias Tempo para início da radioterapia
(Semanas)
p
≤ 6 > 6 0.02
1 16 32
≥ 2 0 27
23
Calculamos também a mediana de sobrevida dos pacientes portadores de
Glioblastoma Multiforme (grupo mais representado com n=100 pacientes)
Todos pacientes com diagnóstico de GBM e tratados com quimioterapia e
radioterapia, radioterapia isolada ou encaminhados a tratamento paliativo
foram incluídos neste cálculo. A mediana de sobrevida observada foi de 7.8
meses (95% Intervalo de Confiança de 7.2 a 9.3) (Figura 01).
Figura 01 – Probabilidade de Sobrevida para portadores de Glioblastoma
Multiforme (n=100), considerando todos os tratamentos. Tempo em meses.
24
DISCUSSÃO
Este estudo engloba o maior número de pacientes portadores de Gliomas
de Alto Grau dentre os realizados em território brasileiro (19) e a segunda
maior série de pacientes portadores de Glioblastoma Multiforme (18).
Epidemiologia
O predomínio de homens, a idade média ao diagnóstico de 57.2 anos
além da maior frequência de tumores nos lobos frontais e temporais estão de
acordo com os dados conhecidos e disponíveis na literatura mundial (23, 18,
24).
A leve predominância de pacientes de outros municípios da RMC
seguida por pacientes do município de Campinas, que em conjunto totalizam
quase 80% de todos os atendimentos, confirmam a característica regional do
hospital.
A renda familiar média e o grau de instrução formal em número de anos
também são compatíveis com a realidade da população do Estado de São
Paulo, em especial daquela que depende da saúde pública. (17, 25)
Encaminhamento ao HC Unicamp
Em nossa série 67.5% dos pacientes levaram mais que 60 dias do início
dos sintomas para serem atendidos pela primeira vez no HC Unicamp. Esse
dado é corroborado por Lynch et al (19) que mostrou longos períodos de
duração dos sintomas antes da realização da cirurgia (média 2.76 ± 2.26
25
meses) em um hospital do Rio de Janeiro. Também corroborado por
Loureiro et al (18) que publicou trabalho em que 55.2% de seus pacientes
portadores de Glioblastoma Multiforme na cidade de São Paulo necessitaram
de mais que 55 dias para serem operados desde que os sintomas se
iniciaram.
Dentre os 135 pacientes operados no HC Unicamp 89% foram admitidos
através da Unidade de Emergência após semanas de cefaléia sem melhora
com medicação, primeira crise epiléptica ou instalação de um déficit motor.
Apenas 11% foram atendidos no Ambulatório de Neurocirurgia
(encaminhados por Unidades Básicas de Saúde ou hospitais de menor porte)
ou ainda avaliados em interconsulta solicitada por outra especialidade fora
da Unidade de Emergência.
Idowu et al (26) e Edgeworth et al (27) estudaram a já reconhecida
demora para o diagnóstico de tumores cerebrais e apontaram como
principais responsáveis fatores relacionados aos pacientes (como a
negligência em relação aos sintomas que são muitas vezes inespecíficos) e
fatores relacionados ao atendimento médico nas unidades de atendimento
primário (baixa suspeição em relação a doenças mais graves). Apenas Curry
et al (28) relacionaram fatores sócio-econômicos e étnicos com a dificuldade
no acesso aos centros especializados em um estudo realizado nos Estados
Unidos. Porém a estrutura de saúde estadunidense é diferente e o paciente
que não possui seguro de saúde (muitos neste trabalho) deve arcar com os
custos do atendimento.
Tanto Lynch (19) quanto Loureiro (18) tentaram relacionar no Brasil a
diferença entre o atendimento a portadores de Gliomas de Alto Grau em
hospital público com o atendimento em hospital privado e, embora os
26
pacientes atendidos nos hospitais privados fossem em geral operados em um
menor período de tempo, os dados não foram estatisticamente significativos.
Dessa forma a impressão de que os pacientes não eram encaminhados ao
ambulatório de Neurocirurgia com um diagnóstico precoce e sim admitidos
pela Unidade de Emergência, muitas vezes com sintomas mais graves, seria
unicamente relacionada às dificuldades de encaminhamento como o
reduzido número de vagas de atendimento especializado e grande espera
para agendamento de consultas nas unidades básicas não se mostrou
totalmente verdadeira. Acreditamos que o quadro é mais complexo e
multifatorial.
Tratamento Cirúrgico
A mediana de tempo para realização da cirurgia foi de 1.28 semanas
após a admissão hospitalar. Isto pode ser explicado pela necessidade de
preparação pré-operatória, como exames e avaliações de outras
especialidades, além da baixa disponibilidade de horários para cirurgias
eletivas. O tempo de internação pós operatória de 1 semana foi considerado
positivo, visto que os pacientes têm em média quase 60 anos e portanto estão
expostos a maior risco de complicações e internações prolongadas.
Em nosso estudo, embora fosse um dos objetivos, não foi possível
estabelecer os graus de ressecção tumoral. Os critérios para avaliação de
ressecção macroscópica total que estabelecemos envolvem uma RNM
precoce após a cirurgia. Atribuímos à dificuldade para realização de RNM
pós operatória em menos de 72 horas o baixíssimo número de pacientes que
possuíam o exame (2.1%). No HC Unicamp dispomos atualmente de apenas
27
2 aparelhos de RNM que atendem aos pacientes internados, ambulatoriais e
projetos de pesquisa.
A complicação pós operatória mais frequente foi tromboembolismo
venoso (trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar). No HC
Unicamp não existe até o momento protocolo de profilaxia para eventos
tromboembólicos em pacientes portadores de tumores cerebrais que não
estejam com paralisia motora ou restritos ao leito. Nossa taxa de
tromboembolismo venoso foi de 26%. Embora pareça um número muito
elevado à primeira vista, é respaldado pela literatura. Simanek et al (29)
apontou taxas de 24% para tromboembolismo venoso em um estudo
realizado na Áustria com 63 pacientes submetidos a cirurgia para gliomas de
alto grau. Neste trabalho a maior frequência é de tromboembolismo
pulmonar (60%) e o autor atribuiu índices ainda maiores quando analisou
pacientes submetidos a biópsias e ressecções subtotais se comparados a
pacientes submetidos a ressecções macroscópicas totais. Por fim reforçou a
necessidade do uso de heparina de baixo peso molecular em todos
portadores de gliomas de alto grau submetidos a cirurgia.
Em nossa opinião a elevada taxa de tromboembolismo venoso (34%) no
período pós operatório precoce (<14 dias) justifica a adoção do uso de
heparina de baixo peso molecular no período de internação hospitalar em
todos os portadores de gliomas de alto grau.
Quimioterapia e Radioterapia
Quimioterapia oferecida em conjunto com radioterapia ou após a
radioterapia foi o tratamento de escolha para 75 pacientes (56%). Outros 33
pacientes (25%) receberam apenas radioterapia e apenas 25 pacientes (19%)
28
foram tratados paliativamente (em geral corticosteróides, anticonvulsivantes
e suporte clínico/nutricional). Há alguns anos pacientes com diagnóstico de
gliomas de alto grau e com condições clínicas satisfatórias tratados no HC
Unicamp recebem temozolamida como primeira linha de quimioterapia. Os
números relativos à proporção de pacientes que fez quimio e radioterapia
associadas são próximos e até um pouco superiores aos 45.3% divulgados
por Loureiro et al (18) em um hospital público universitário de São Paulo,
porém muito inferiores aos 70.4% de um hospital privado no mesmo
município(18, 19). Estudos publicados em países desenvolvidos mostram
taxas de pacientes que são submetidos ao melhor tratamento preconizado
consistentemente superiores: Graus et al (11) na Espanha 61%, Mineo et al
(31) na França publicou 62% e Chambless et al (33) nos Estados Unidos
85%.
Este dado ganha importância quando relembramos que existe evidência
sólida de que o tratamento concomitante com quimioterapia (temozolamida)
e radioterapia melhora a sobrevida dos portadores de glioblastoma
multiforme (OMS grau 4) e diversos trabalhos estão avaliando o mesmo
benefício para demais gliomas de alto grau (15, 34).
Após a cirurgia os pacientes demoraram uma mediana de 6.28 semanas
para a primeira consulta com o oncologista clínico e 6.71 semanas para a
primeira consulta com o radioterapêuta. A mediana para liberação do
resultado anátomo-patológico pelo patologista foi de 1.1 semanas após o
recebimento do material (data da cirurgia). Consideramos essa informação
importante pois é necessário o resultado deste exame para definição do
tratamento oncológico e observamos que muitos pacientes provavelmente
tiveram seu resultado anátomo-patológico liberado antes mesmo de sua alta
hospitalar. Na primeira consulta com o oncologista é avaliada a indicação de
29
quimioterapia de acordo com as condições clínicas do doente e definida a
medicação a ser utilizada. A temozolamida, introduzida ao longo do período
englobado por este estudo, deve ser solicitada à Secretaria Estadual de
Saúde. Na primeira consulta com o radioterapêuta, se for indicado
tratamento radioterápico, é feito o agendamento da programação para
radioterapia que envolve uma tomografia e o estudo do caso para
planejamento do tratamento.
A mediana para início da radioterapia, com ou sem quimioterapia
concomitante, após a realização da cirurgia foi de 12.57 semanas. Apenas 16
pacientes (21.3%) de 75 que se submeteram ao tratamento o iniciaram em
menos de 6 semanas. Porém, quando consideramos o tempo após a primeira
consulta com o radioterapêuta, a mediana para início do tratamento
radioterápico é de 5.85 semanas. Neste intervalo o paciente realiza a
tomografia, aguarda o planejamento da radioterapia e a liberação da
medicação quimioterápica. Por outro lado, no período pós operatório
imediatamente após a alta hospitalar, o paciente somente aguarda o seu
primeiro atendimento médico.
Essa lentidão impressiona se compararmos com estudo realizado em um
hospital privado de São Paulo que identificou 89.7% dos pacientes iniciando
a radioterapia em menos de 6 semanas após a cirurgia. Esse mesmo estudo
também analisou dados de um hospital universitário de atendimento público
em que, por outro lado, apenas 17.1% dos pacientes conseguiram ser
atendimentos com a mesma agilidade (18).
Existe controvérsia na literatura se o atraso no tratamento radioterápico
(e consequentemente quimioterápico) influencia ou não a sobrevida dos
pacientes portadores de glioblastoma multiforme (não encontramos estudos
que analisam o impacto em outros gliomas de alto grau) (35). Valduvieco et
30
al (12) mostrou em seu estudo que o início tardio da radioterapia após 6
semanas teve um efeito deletério na sobrevida média. Por outro lado, Graus
et al (11) analisando 834 pacientes na Espanha não encontrou benefício
estatisticamente significativo para o início precoce da radioterapia (<6
semanas) em relação à sobrevida média mas mostrou que há influência na
sobrevida livre de doença.
Em nosso trabalho todos os 27 pacientes que necessitaram de uma
segunda cirurgia devido a um novo crescimento tumoral se encontravam no
grupo de início de tratamento tardio, sendo que 10 pacientes sequer haviam
iniciado a radioterapia quando foram reoperados. Este dado foi
estatisticamente significativo (p=0.002) e corrobora o conceito de que
atrasos na radioterapia e quimioterapia prejudicam o controle do câncer
diminuindo o tempo de progressão livre de doença.
Interpretamos esse cenário como consequência clara da enorme demanda
em relação à oferta de tratamento oncológico em especial radioterápico em
países em desenvolvimento nas populações dependentes dos sistemas
públicos. (18, 35). Observamos que o período médio de 6 e 6.7 semanas para
consultas com oncologista e radioterapêuta em que o paciente não aguarda
nenhuma conduta específica relacionada ao seu tratamento, pode e deve ser
reduzido, através do agendamento mais ágil das consultas com os
especialistas, antecipação dos exames e pedidos necessários, para que os
prazos para início da quimioterapia e radioterapia possam ser adequados ao
previsto na literatura.
A mediana de sobrevida para portadores de glioblastoma foi de 7.8
meses. Mais uma vez o número é parecido com outros trabalhos publicados
no Brasil, também em hospitais públicos. Lynch et al (19) estudando 63
pacientes obteve mediana de sobrevida de 7.7 meses, já no estudo de
31
Loureiro et al (18) com 117 portadores de GBM foram calculados 7.1 meses.
São números consistentemente menores se comparados a estudos de países
vizinhos e países desenvolvidos. Um trabalho chileno conduzido por
Lorenzoni (30) publicou 10 meses de sobrevida para 61 pacientes. Na
Alemanha Stark (23) calculou em 10.8 meses a sobrevida para 267
pacientes. Na França Mineo (31) obteve 11 meses estudando 340 casos e nos
Estados Unidos Lacroix (32) revisou dados de 416 pacientes e obteve 10.6
meses de sobrevida.
O Papel Regional do HC Unicamp
Baseados na incidência de gliomas de alto grau e em dados
populacionais brasileiros (25) que apontam na RMC uma dependência de
aproximadamente 60% da população (1.800.000 habitante) do atendimento
público de saúde, esperaríamos anualmente pelo menos 94 novos
diagnósticos de glioma de alto grau.
Considerando que existem na região três centros de referência em
neurocirurgia, oncologia e radioterapia para adultos (Unicamp, PUC e
Hospital Mario Gatti) e estimando que cada uma deles trate quantidades
iguais de pacientes, esperaríamos em média 31 novos casos ao ano em nosso
serviço. No entanto o número de pacientes operados anualmente no HC
Unicamp foi em média 19.3, ou apenas 60% do esperado.
Embora não existam publicações das outras duas instituições em relação
aos pacientes tratados, levantamos a hipótese de que o número de hospitais
credenciados pelo SUS para neurocirurgia na RMC (10 no total) seja o
responsável pela diluição do tratamento cirúrgico do paciente portador de
glioma de alto grau.
32
É de se supor que iniciar o tratamento radioterápico e quimioterápico em
um paciente encaminhado externamente seja ainda mais demorado do que
apresentado neste trabalho, embora não haja até o momento nenhum estudo
abordando este aspecto. Por fim existe evidência sugerindo que centros
especializados em oncologia obtêm melhor resultado que hospitais gerais
(36, 37).
Acreditamos que as políticas públicas devam concentrar os recursos
financeiros dos contribuintes para o tratamento do câncer em grandes centros
de referência para que estes sejam mais bem equipados e com maior
disponibilidade de profissionais especializados. Isto se torna ainda mais
importante em uma situação de recursos limitados e grande demanda por
atendimento como a que ocorre no Brasil, em especial na área de
atendimento ao paciente oncológico altamente dependente de equipamentos
e recursos caros.
33
CONCLUSÕES
- O tratamento preconizado na literatura para pacientes portadores de
gliomas de alto grau encontra-se disponível no HC Unicamp. Todos os
pacientes em condições clínicas são operados com objetivo de atingir a
ressecção máxima possível. Após, são encaminhados para radioterapia e
quimioterapia, na qual está disponível a temozolamida para o tratamento de
primeira linha.
- A população estudada aqui não difere dos demais relatos de portadores
de gliomas de alto grau, respeitadas as condições socioeconômicas locais. A
demora para o diagnóstico dos tumores aqui estudados parece multifatorial e
não somente causada pela dificuldade de acesso a um centro de referência.
- Embora ofereça o tratamento previsto na literatura, apenas uma
pequena parcela dos pacientes têm acesso a ele da forma melhor
estabelecida. O número de pacientes com acesso a quimioterapia e
radioterapia assim como a proporção dos que iniciam o tratamento dentro do
tempo preconizado é inferior a outros centros, assim como a mediana de
sobrevida de todos os pacientes portadores de Glioblastoma Multiforme.
Não foi identificada nenhuma complicação relacionada ao tratamento que
pudesse ser responsabilizada por este quadro.
- As limitações de recursos tecnológicos e financeiros parecem
influenciar negativamente o tratamento dos gliomas de alto grau e estavam
presentes em todas as etapas do tratamento. No centro cirúrgico estavam
ausentes diversos equipamentos de alta tecnologia como RNM intra-
34
operatória e neuronavegação. No pós operatório era flagrante a dificuldade
para realização da RNM em menos de 72 horas após cirurgia. A grande
demanda de consultas com oncologia e radioterapia fez com que os
pacientes demorassem o período que deveriam levar para início do
tratamento apenas para o primeiro atendimento com os respectivos
especialistas. Embora este estudo não tenha sido formatado para identificar a
influência desses fatores sobre a mediana de sobrevida e a sobrevida livre de
progressão, as repetidas evidências de que pacientes tratados nos serviços
públicos de países em desenvolvimento fazem menos radioterapia e
quimioterapia concomitantes, demoram mais para iniciar os seus tratamentos
e têm uma sobrevida menor, reforçam a necessidade de buscar urgentemente
a resolução destes problemas.
35
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