MÉTODOS CONTRACEPTIVOS DE BARREIRA E DIU: TECNOLOGIA EDUCATIVA PARA DEFICIENTES VISUAIS

MECHANICAL CONTRACEPTIVE METHOoS ANO IUo : EoUCATIONAL TECHNOLOGY FOR THE VISUALLY IMPAIREo

MÉTOoOSANTICONCEPTIVOS DE BARRERA Y DIU: TECNOLOGiA EDUCATIVA PARA INVloENTES

Loma Marlena Freitag Pagliuca I

Jane Ofiveira Rodrigues 1

RESUMO. O Planejamento Familiar oferece conhecimentos para decidir o numero de filhos e o momento apropriado para tê-los: As informações educativas em saúde têm se co ncentrado na com unicação visual, dificultando seu acesso ao deficiente visual, portanto os objetivos deste estudo foram construir materiaIS educativos auto- instrucionais sobre mêtodos de barreira e DIU e permitir a avaliaçAo do matenal construido. Obedeceu-se dois momentos metodológicos: elaboraçao de métodos educativos explorando o tato e a audição seguido de teste por casal de cegos. Os dados da avaliação foram obtidos por entrevistas. Os resultados mostram que o conhecimento ocorreu com conteúdo e linguagem adequados, a comunicação privilegiada foi a verbal e a táctil e contribuiu para o resgate da cidadania do deficiente Visual.

PALAVRAS CHAVE· Planejamento Familiar, saúde ocular. deficientes, cegueira.

INTRODUÇÃO

o Planejamento Familiar ê uma prática cuja origem se encontra em épocas remotas . Nos registros históricos da reprodução humana, constatamos desde a antigüidade, uma preocupação pelo controle da natalidade. Esse fato motivou o surgimento de práticas anticoncepcionais , conforme registro nos papiros egípcios que datam de 1550Antes de Cristo ( Nogueira citado por Ten6rio , 1998).

O Planejamento Familiaré fundamental para a adequada estl\Jturaçãoda família . Oferece conhecimentos para decidir o número de filhos e o momento apropriado para tê-los. Quando uma pessoa aprende sobre planejamento familiar, passa a ter autonomia sobre seu corpo, aumentando sua capacidade de escolha.

O conhecimento do mundo exterior ê efetuado essencialmente por meio do sentido da visão. Na ausência do mesmo, há prejuízo de acesso às informaçOes disponíveis. A visão caracteriza-se como responsável por 80% das informações perceptiva das pessoas, permitindo, de imediato, que se avalie o significado de sua perda (Pagfiuca ,1993) . Ainda segundo a mesma autora , a Organização Mundial de Saude (OMS) estima que a cegueira afeta 500/100.000 habitantes no mundo, sendo que a visão dos outros milhões é tão precária que é necessário considerá-los cegos .

I Trabalho desenvolvido no Projeto IntegradO Saúde OcularlCNPq. Prêmio Zaira Cintra Vida/, 1° Lugar. 5 1 CBEn

1 Pro". Dr.· do Departamento de Enfermagem da Univers idade Federal do Ceará (UFC). 1 Enfermeira. Graduada pelo Curso de Enfermagem da UFC. Ex-bolsista I.C.ICNPq.

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o conceito de cegueira varia de acordo com os fins a que se destina , como: econõmicos, legais, administrativos e educacionais. Segundo a OMS, a cegueira pode ser total ou parcial . A parcial , também conhecida como legal ou profissional, é aquela em que o indivíduo com acuidade visual corrigida nos dois olhos tem uma percepção igualou inferior a 0,1, ou campo visual tubular restrito a 20° ou menos. Nestes casos, os indivíduos são apenas capazes de contar os dedos a uma curta distância e há os que só percebem vultos. Existem os que estão mais próximos da cegueira total , os que s6 têm percepção de projeção luminosa. Na cegueira total , o indivíduo não possui percepção luminosa (Cardoso; Pagliuca citado por Rocha , 1999) .

Com freqüência as pessoas cegas vivem em condições desvantajosas devido a barreiras fisicas e sociais. As sociedades precisam reconhecer que, apesar dos esforços feitos em prevenção, haverá sempre um determinado número de pessoas com deficiência e incapacidades e que devem ser identificados e eliminados os obstáculos à sua plena participação. Assim , quando pedagogicamente possível , o ensino deve ser ministrado no sistema escolar normal , o trabalho deve ser proporcionado mediante emprego aberto e a moradia facili tada ás suas necessid ades (Corde, 1997) .

Usualmente, as informações educativas têm se concentrado na comunicação visual. o que dificulta seu acesso às pessoas cegas. Estamos numa época em que predominam as imagens. No que pertine às informações básicas de saúde, há pouco material informativo adaptado a realidade destes indivíduos.

O interesse pela temática da educação em saúde para pessoas com necessidades especiais tem nos acompanhado já há algum tempo. Em trabalho anterior abordamos o ensino de contraceptivos comportamentais para deficientes visuais, com o emprego da comunicação táctil, em curso ministrado por enfermeira . {Rodrigues: Pagliuca , 1998).Apesardos resunados obtidos parece que este caminho não permitirá disponibilizar estas informações para todos os deficientes visuais. Portanto. outras abordagens devem ser experimentadas, sempre confiando na capacidade de participação e auto-cuidado do deficiente visual.

Como resposta às reflexões aqui mencionadas, estudam-se alternativas para educação em saúde sobre plallejamento familiar através dos métodos de barreira e DIU (Dispositivo Inlra Uterino). destinado a pessoas cegas ou deficientes visuais. Para esclarecer o tema e a abordagem adotada , consultamos a literatura sobre educação especial, a educação para a liberdade de Paulo Freire e o planejamento famil iar.

O CEGO E A EDUCAÇÃO PARA A LIBERDADE DE PAULO FREIRE

A educação é um direito de todos e permite aos ind ividuas uma participação consciente da realidade social. Na área da educação do defICiente visual são atribuições do governo promover a criação e o desenvolvimento de recursos para a educação e reabilitação a fim de que o deficiente visual possa transpor os limites da deficiência e inserir-se no contexto social .

Os educadores especializados afirmam que as necessidades educacionais especificas dos cegos são a aprendizagem do Braille. o amplo uso de experiências aud itivas, táteis e cinestésicas e o tre inamento especial da mobilidade. Referindo-se aos alunos com visão subnormal, esses mesmos autores destacam que tais atunos necessitam de ampliação e de material impresso em formatos especiais (Mazzotta, 1962) . A comunicação também pode ser instituída através da escrita e datilografi a Braille.

Paulo Freire (1994) , criou o conceito da educação como prática libertadora, seu método estimula a colaboração , a decisão, a participação e a responsabilidade social e política. Sua filosofia postula que o educando se veja vivendo e produzindo em determinada sociedade e lutando por uma sociedade mais justa , mais democrática , na qual todos possam ter vez e voz. O pensamento do autor se aplica de maneira perfeita à educação dos adultos e, cremos nós, no aprendizado dos métodos de planejamento famil iar.

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Mátadas contrBcepllvos de barreira ..

PLANEJAMENTO FAMILIAR

A Constituição Federal Brasileira (BRASIL , 1988, p.148) postula que, fundamentado nos principios da dignidade da pessoa humana e da patemidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal , competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e cientificos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.

Os serviços de planejamento familiar são os responsáveiS pela implementação deste artigo e, consu"ados os casais quanto ao numero de filhos que desejam ter, orientam sobre os métodos anticoncepcionais e sobre o funcionamento dos órgãos sexuais e reprodutivos (FUNDAÇÃO V/CTOR C/V/TA, 1998) .

A opção do uso de um determinado método contraceptivo parte da informação disponibilizada para o usuário, sendo esclarecido o que é, como se utiliza e suas vantagens e desvantagens. Portanto deve-se oferecer informações sobfe todos os métoclos anticoncepcionais para aumentar a liberdade de escolha.

A escolha dos métoclos contraceptivos é determinada pela etapa de vida das pessoas, a índole de suas relações sexuais , o risco de contrair doença sexualmente transmissível , sua condição de saude, o acesso aos serviços, a disponibilidade do método e o tipo de orientação que recebe . A forma que o sistema de prestação de serviços aborda todas estas questões influencia na qualidade geral dos mesmos (Finger.1998).

A educação em saude para o planejamento familiar está disponibilizada nos postos e centros de saúde do serviço pUblico no Brasil e ocorre de maneira até razoávet para os videntes. Quando se refere aos deficientes visuais a situação é outra, pois dispõem de cartilhas e fitas de vídeo em VHS onde predominam as imagens. A inexistência de recursos de ensino para os deficientes visuais caracteriza violação dos direitos humanos pois impede seu acesso a informação.

Portanto, levando-se em conta as necessidades especiais dos deficientes visuais e a importância da educação em saúde para um planejamento familiar consciente entre casais, são objetivos deste estudo: Construir materiais educativos auto-instrucionais sobre métodos de Planejamento Fami1iarde barreira e DIU para deficientes visuais e cegos e. compartilhar com o usuário a avaliação do material construído .

METODOLOGIA

Estudo tecnológico, tipo exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa, sobre material e método educativo para educação em saúde para cegos. O estudotecnol6gico permite a criação e teste de materiais e métodos, já a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, preocupa-se com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou, seja , ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitooes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenõmenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis (Deslandes ,1994) .

No primeiro momento foram criados os materiais educativos no laboratório de enfermagem, contou-se com auxilio de estúdio de som para a gravação da fita K7. A etapa seguinte compreendeu a organização do método de ensino concatenando o uso do material auditivo com o de toque. Conduídas estas etapas passou-se à fase experimental com o auxilio de um casal de cegos para realizar o teste .

O casal , após um primeiro encontro para esclarecimento dos objetivos da pesquisa, concordou em receber a pesquisadora em sua residência. Garantiu-se sigilo e liberdade para abandonar o estudo a qualquer momento. Ambos eram portadores de cegueira absoluta, adultos, alfabetizados em Braille e que expressaram no primeiro contato desejo de planejarsua familia .

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o kit estava acompanhado de orientações em Braille que também foram explicados oralmente e foi combinado para o dia seguinte a sua devolução e entrevista para avaliação do material. Na entrega do kit certificamo-nos de que as pessoas dispunham de rádio gravador para reprodução da fita k7 .

Posterionnente, na entrevista para avaliar o material educativo, foram utilizadas questões norteadoras, que estimularam a crítica do analista , dentre elas: comente suas impressões sobre este material: este Kit conseguiu lhe transmitir infonnaçõessobre planejamento familiar?, a linguagem está acessível aos deficientes visuais?, como você se sentiu ao ouviresta fita?, c ao tatear o material?, quais suas sugestões para melhorar este material? As entrevistas foram individuais e, com a concordância dos entrevistados, gravadas.

Os resultados do estudo estão apresentados em dois momentos distintos, no primeiro descreve-se os materiais educativos sobre métodos de barreira e DIU criados para deficientes visuais e cegos; no segundo, a análise da avaliação realizada pelo casal de cegos. As fitas gravadas nas entrevistas foram ouvidas exaustivamente, transcritas, e buscou-se organizaras dados de acordo com as questões norteadoras. A análise da avaliação realizada pelo casal de cegos foi organizada em temáticas subdivididas em categorias. (Rodrigues, Leopardi, 1999) .

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

O material educativo oferecido para uso e avaliação dos cegos compunha-se de um manual de instruções, uma frta K7 e materiais para serem explorados pelo tato. Estava contido em uma pasta com 2cm de altura: 10cm de largura e 13,4cm de comprimento e identificadas com escrita Braille .

O manual de instruções em Braille esclarecia que o material seria de uso individual, auto-instrucional , podendo ser ouvido tantas vezes quantas julgasse necessário , com as interrupções que desejasse. Foi sugerido manter o material organizado para facilitarconsullas subsequentes.

Inicialmente foi preparado um texto . baseado na revisão de literatura. sobre a temática a ser abordada. Sobre o texto informativo foi criada uma estória comum no cotidiano, um casal de namorados que se depara com uma gravidez não planejada. Sobre este cenário foi gravada uma fita K-7 em estúdio. com linguagem radiofónica , contando com a participação de um casal de locutores profissionais. outro de alares amadores. Enquanto os atores interpretavam a estória de um namoro e posterior gravidez não desejada, os locutores infonnavam sobre a anatomia e filosofia dos sistemas reprodutores, os métodos de planejamento familiar de barreira e DIU. O fundo musical instrumental , visando aumentar a capacidade de concentração do ouvinte . foi introduzido sempre que havia indicação de exploração táctil de algum material .

Os materiais tácteis foram organizados em pastas e caixas. identificadas por números e com seus conteúdos descritos. As estruturas anatómicas do sistema reprodutor masculino e feminino foram reproduzidas em folhas de cartolina , com contomos em alto relevo, obtido com o punção. objeto pontiagudo para escrita Brai11e.As estruturas estavam identificadas com seus respectivos nomes. alguns simplificados para a linguagem popular. Os desenhos das estruturas anatómicas foram realizados das externas para as internas, com a inclusão progressiva de novos elementos. pennitindo sua exploração pelo tato. Vale ressaltar que para o sistema feminino foram usados apenas três pranchas, enquanto para o masculino, o dobro.

A pasta de número um continha as pranchas reproduzindo ovários. trompas de Falópio, útero e vagina . A pasta número dois continha a reprodução do pênis com canal aferente e deferente, testiculo e escroto.

As cinco caixas restantes continham, respectivamente, o espermicida vaginal com aplicador: diafragma: camisinha masculina e uma prótese com a forma de pêniS; camisinha feminina e DIU. O texto da gravação orientava a exploração láctil do material ao mesmo tempo

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Métodos contraceptivos de bSffsira ...

Que instruia sobre seu uso. A prótese do pênis servia para o treino de ·vesti"- a camisinha . O segundo objetivo, avaliação do material e método educativo, previu a participação do

casal de cegos. Este explorou o material , na perspediva da análise de sua qualidade e pertinência de uso em larga escala para esta clientela, bem como sugerir aperfeiçoamentos. A análise cuidadosa de suas entrevistas permitiu identificar as temáticas: conhecimento e comunicação. A primeira temática está subdividida em: conteüdo e linguagem e a segunda, em verbal e táctil. Passa·se a descrevê·las.

TEMÁTICA: Conhecimento

o conhecimento possui dois elementos: o sujeito e o objeto. O sujeito ê aquele que capta e o objeto é aquele que ê captado . O conhecimento é o ato ou efeito de conhecer. Conhecer significa associar semelhança com aquilo que é conhecido. Conhecer eqüivale a receber e a transmitir mensagens do meio a que se pertence e ter uma mensagem a transmitir através de uma linguagem (Sá, 1973).

O conhecimento traz em si um conteúdo e uma linguagem. O mesmo conteúdo pode ser abordado sob diferentes formas, aqui o conteúdo selecionado refere-se aos métodos de planejamento familiar por barreira e DIU e, conforme as falas Que se seguem pode-se perceber Que o conteúdo foi compreendido pois os entrevistados os repetem .

.. . vai falando em espermicidas, camisinha e af a gente va i entendendo melhor sobre planejamento familiar. Deixa a pessoa a par de como acontece a fecundaçlJo e como evitar filhos. Ajuda a pessoa a conhecer o corpo do homem e da mufher dos nomes e detalhes sobre eles.

O conteúdo é o que se contem em alguma coisa . Conteúdo de revistas, livros, imagens cinematográficas, palavras. textos entre outros. O conteúdo possui caracteristica e significação. O conteúdo pocle ser manifesto ou semântico ou conteúdo com harmonização de sentimentos ou latente ( Rodrigues; Leoparoi, 1999) .

Conforme foi relatado anteriormente. foi abordado a visão social do planejamento familiar. a anatomia e fisiologia do homem e da mulher, a concepção e os métodos de barreira e DIU e estes conteúdos estão sendo reproduzidos nas falas do casal cego.

O segundo aspecto do conhecimento refere-se a linguagem, conceituada como um conjunto de sinais que serve para o fim de comunicação. Cada tipo de linguagem (mimica, de trânsito, jurídica) manifesta-se através de uma língua (ou c6digo) .Alinguagem radiofónica compreende um emissor (locutor); receptor (ouvinte) ; código comum (Iingua) ; canal tisico (aparelho fonador, rádio. e ouvido); contexto (o ambiente tingüístico e o social) ; e a mensagem (o discurso). A mensagem está sujeita a seleção e a combinação de signos pelos indivíduos falantes (Sá.1973).

A linguagem pode ser. ainda. popular ou científica. Para o conteúdo da fita buscou·se uma linguagem clara e atraente. mais próxima dos termos populares e adaptada à linguagem radiofónica, pois sabemos que a comunicação depende de uma linguagem comum. Que permite a compreensão da mensagem na educaçao em planejamento familiar.

Não usou palavras diffceis. O maten'al estava bem explicado. ~ uma redaçlJo simples e bem direta. Com termos do dia a dia que todo mundo usa.

Nestas falas observamos Que a linguagem radiofônica utilizada na fita k-7 foi efetiva na transmissão do conhecimento. demonstrando a importância de vocabulários do dia a dia para

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faci litar o aprendizado.

TEMÁTICA: Comunicação

As teorias de comunicação são unânimes em indicar como elementos do processo de comunicação o emissor ou remetente, o receptor ou destinatário e a mensagem. Classificam a comunicação em verbal e não verbal. Classificam. ainda, em comunicação escrita . falada, por gestos. em grupo. táctil , sonora. por simbolos, entre outras (Pagliuca .1996) . O material educativo criado, destinado ao deficiente visual. privilegiou a comunicação verbal e táctil através, respectivamente, da linguagem radiofônica e da exploração táctil. A utilização de locutores com voz feminina e masculina também contribuiu para reproduzir ambiente de casal . com responsabilidades partilhadas. Foi utilizado fundo musical com instrumental em piano visando aumentar a capacidade de concentração dos ouvintes.

Com a fita ajudou porque ele (o locutor) vai falando ... Eu coloquei os headphones e eu fiquei compenetrada, quietinha para entender dire;tinho tudo{. .. }

A comunicação verbal é aquela associada a palavra escrita ou falada . A comunicação pode não ser efeliva quando a maneira de falar distrai a atenção do que foi dito ou Quando o próprio emissor encontra dificuldades de falar (Silva. 1996). Pelos depoimentos percebemos que a atenção no decorrer da gravação foi mantida e que os recursos utilizados para tal fim foram relativamente eficazes. apesar dos entrevistados comentarem que os atares amadores não fizeram uma boa entonação na interpretação e sugeriram a participação de atores profissionais.

A comunicação táctil refere-se a transmissão de mensagens através do tato e por meio do toque. Envolve pressão e local onde se toca (Silva , 1996). Segundo Pagliuca (1996) , na criação de materiais sobre educação em saude. com a utilização do laia, deve-se atentar quanto a importância de conceitos sobre ponto. linha. plano e textura visando a facilitar o aprendizado e a compreensão do material educativo através da exploração tácti l. Compreender que o ponto é uma diminuta marca no espaço e Que em conjunto toma-se linha. O plano é o espaço anele se concebe a criação e este plano pode ser positivo (relevo) e negativo. ou seja, o plano positivo é aquele real e o plano negativo é o plano em que não há relevo e denomina-se pausa e repouso. A textura deriva da qualidade fisica do plano e tem relação direta com o material empregado, podendo ser percebido pelo olhare pelo tato .

No kit auto-instrucional foram utilizados estruturas planas com contamo em alto relevo que permitiram a compreensão relativa entre as estruturas do sistemas reprodutores masculino e feminino. O uso associado de papéis de diferentes l exturas permitem diferenciar as estruturas anatómicas nos diversos planos.

Foram registradas dificuldades e criticas ao explorarem o sistema reprodutor masculino devido ao tamanho reduzido das estruturas anatômicas e que não evidenciaram riquezas de detalhes. Como sugestão mencionaram um contamo mais acentuado em alto relevo e dar mais espaços entre uma estrutura e outra. Estas sugestões foram incorporadas ao material definitivo.

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Só precisa melhorar as folhas quanto ao a"o relevo. Acho que se fosse um pouco mais em alto relevo dava para ver melhor O espaço maior entre uma coisa e outra( entre um órgao e outro). Pode ser feito também com cordao que nao seja muito grosso e entao colar. O da mulher estava mais bem distribulda (ao se referir a posiçao relativa de cada uma das estruturas).

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Mêtodos contraceptivos de barreira.

S6 consegui identificar o testiculo e o saco escrotal

No caso do contato com a camisinha feminina associada a explanação oral sobre a mesma, os deficientes visuais retataram que ai tomaram esta experiência concreta pois não haviam vivenciado tal momento antes, apenas tinham ouvido falar deste método. Nas próximas fala s observa-se a capacidade de concentração que a fita proporcionou e, a sincronia entre a comunicação verbal e táctil.

Eu já tinha ouvido falar em camisinha feminina mas foi a primeira vez que tive contato com uma. Ele (o locutor) começou a explicar foi ficando melhor dando os espaços de tempo. (Para exploraçao táctil).

A análise da quatidade e aplicabilidade do material educativo se encerra aqui. Passamos então à reflexão na persped.iva da educação como prática da liberdade, conforme proposta por Paulo Freire (1 994) , buscando compreender se o processo permitiu trilhar o caminho da construçao da cidadania . Vejamos como isto se deu.

Cidadania ê a qualidade de cidadão. é o individuo no gozo de seus direitos de cidadão, lanto os chamados direitos humanos· à vida , à saúde, à educação, à moradia- quanlo aos direitos civis - liberdade, igualdade jurídica e justiça (Buffa , 1993).

O fato do kit ser auto-instrucional foi valorizado pelos entrevistados, ficando evidente que seu controle sobre o modo de aprender reforça sua independência.

Deixa a pessoa a vontade, IMe. Porque a pessoa vai ouvire a fita) no horário que tiver vontade de estudar. É bem democrático. Deixa você sozinho. Nao lem aquela pessoa do lado que deixa você inibido.

Materiais educativos disponibilizados em larga escala, segundo Atkinson (1989) , tem a vantagem potencial de atingir um grande número de pessoas através do uso repetido. O aprendiz pode selecionar o momento de assistir, afim de combinar com seus horários pessoais. O aprendiz pode também ouvir repetidamente para melhorar a compreensão do conteúdo.

Questões sociais amplas. como o direito à educação especial e sua negação, com altos indices de analfabetismo entre os cegos , também foram verbalizados pelos cegos que colaboraram com o estudo, patenteando suas preocupações consigo próprio e com outros e sua capacidade de refiexão social.

{ . .} mesmo considerando que infelizmente o grau de estudo dos deficientes visuais é baixo por conta das dificuldades de material didático e econ()mica. da fafta de vontade das autoridades na área educacional como por exemplo a impressora Braille, com o ensino itinerante (. . .)

No que se refere ao Ensino Itinerante, deve-se destacar que é considerado um auxílio especial , por proporcionar atendimento a alunos que se encontram matriculados na escola regular. Os professores especializados visitam as escolas, onde prestam assistência aos professores comuns e aos alunos deficientes visuais, Basicamente, o objetivo deste recurso é que recebam os benefícios do programa educacional proporcionado a Iodas as crianças e adultos da escola (Mazzotta, 1982) .

( ... ]me senti bem de estar aprendendo maise por estar participando de um trabalho sério que irâ ajudar os deficientes visuais a obter conhecimentos, como por em

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PAGUUCA, Lorita Marlena Freitag et ai,

prática o seu planejamento familiar

Este ultimo depoimento fica registrado como reconhecimento do compromisso de cidadão, assumido pelo casal de cegos que se dispôs a colaborar neste estudo, na luta por transformação para uma sociedade mais justa em que a educação em planejamento familiar seja de qualidade e para todos.

REFLEXÕES FINAIS

Estamos numa sociedade extremamente discriminatória em relação às pessoas com necessidades especiais, o que compromete o acesso a educação em saüde, determinada pela falta de oportunidades iguais de aprendizagem. Percebemos que houve receptividade por parte dos deficientes visuais em relação ao kit auto-instrucional criado . Eles elogiaram e criticaram os materiais contribuindo para o seu aperfeiçoamento.

O tema planejamento familiar é de interesse das pessoas cegas e o material educativo parece ter respondido as suas necessidades de aprendizagem. OsdefXlimentos mostram que o conhecimento foi transmitido adequadamente no seu conteúdo e linguagem, a comunicação verbal e táctil pode ser melhorada usando apenas locutores profissionais e, o sistema reprodutivo masculino ser subdividido em maior numero de pranchas.

A pedagogia proposta por Paulo Freire (1994) responde às nossas crenças e valores quanto a educação e cidadania, pois é fundamentada numa filosofia cuja meta é o engajamento do indivíduo na luta por transformações sociais. Confirma a urgência de uma educação capaz de despertar a consciência critica dos deficientes visuais para que possam inserir-se nesta luta, onde haja a democratização do conhecimento necessário para o exercício pleno da cidadania .

ABSTRACT:Familv planning is fundamental for lhe appropriale structuring of lhe famity. This offers knowledge to decide on lhe number of children, and lhe mos! adequate momen! to have them. The curren! health information heing advertised is based on visual communication. lhis fac! hinders lhe access of visually impaired people to such importan! knowledge. lhe presen! S!udy has as objectives the creation of self-inslructional educational material concerning mechanical contraceptive methods and IUD. as well as its evaluation. lhe research was divided ln two melhodological parts. ln lhe firsl part, methods Ihat explored lhe senses of hearing and louch were elaboraled. ln lhe second part, Ihese methods were tesled bV a sight impaired couple. The data for lhe evaluation was obtalned Ihrough inlerviews. Results show Ihat lhe use of appropriate content and language faci litate lhe understanding of lhe contraceptive melhods by Ihese people. Verbal and tactile communication was favored and contribuled on lhe reconslruction of citizenship for the visualfy impaired.

KEYWORDS: familv planning, visually impaired, blindness, eve health

RESUMEN: la Planificación FamiHar ofrece conocimientos para decidir eI numero de hijos y eI momento apropriada para tenerlos. las informaciones disponibles en educación para la salud se han concentrado en una comunicación visual, lo que impide su acceso a las personas ciegas. EI presente estudio tiene como objetivos: construir materiales educativos autoinstruccionales sobre los mêtodos de barrera y DIU V permitir la evaluación dei malerial construido. Se han seguido dos momentos

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Métodos contraceptivos de barreira ..

metodológicos: alaboraciôn de métodos educativos que utilizan ai tacto y la audición y por último un test presentado por una pareja de invidentes, dos datos de la evaluación se obtuvieron com entrevistas. Los resultados demuestram que hubo un aprendizaje de contenidos, com un lenguaje adecuado; que la comunicación mejor rue la verbal y táctil y, sobre todo, que ha contribuido para ai rescate de los invidentes como ciudadanos.

PALABRAS CLAVE: planificación familiar, salud de los invidentes.

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