modelagem estatística da plasticidade pfefferkorn de massas
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15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil
UTILIZAÇÃO DE EXPERIMENTOS COM MISTURAS NA INVESTIGAÇÃO DO EFEITO DA COMPOSIÇÃO E DA PLASTICIDADE NA RESISTÊNCIA
MECÂNICA DE MASSAS CERÂMICAS TRIAXIAIS
K.A.S. Curto1,2, A. F. Costa2, J. P. Reis2, S.L. Correia1,2,3, D. Hotza1,2
Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos – EQALABMAC – Laboratório de Materiais e Corrosão Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC Campus Universitário – Trindade – 88040-900 Florianópolis, [email protected]
1 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Programa de Pós -Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais – PGMAT
2 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos – EQA - LABMAC
3 Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, Centro de Ciências Tecnológicas, Joinville, SC
RESUMO
As técnicas de experimentos com misturas têm sido utilizadas em muitas áreas.
A resistência mecânica a flexão de produtos cerâmicos é um dos parâmetros de
qualidade mais importantes nas etapas de desenvolvimento e aplicação de massas
cerâmicas para pavimento e revestimentos gresificados. No presente estudo foram
usadas diferentes composições de massas cerâmicas triaxiais, constituídas por uma
argila, um feldspato sódico e quartzo. Oito formulações com diferentes proporções
dos componentes foram submetidas ao processamento de moagem a úmido,
secagem, granulação e umidificação, compactação, secagem e queima. As
condições foram semelhantes às utilizadas na indústria cerâmica. A aplicação da
metodologia possibilitou obter um modelo de regressão para a resistência mecânica
a flexão e correlaciona-la com a plasticidade e composição. Uma análise de
variância, parâmetros estatísticos e a realização de um experimento complementar
permitiram confirmar a significância e validade do modelo obtido.
Palavras-chave: experimentos com mistura, massas cerâmicas triaxiais grês,
resistência mecânica, análise de variância.
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INTRODUÇÃO
Em conformação de materiais cerâmicos utiliza-se comumente o conceito de
módulo de resistência mecânica a flexão como um parâmetro de processo e
qualidade nas etapas de fabricação de um determinado corpo cerâmico. Na própria
operação de conformação, durante a etapa de extração, a peça prensada deve
possuir uma resistência suficiente para suportar o atrito da peça com as paredes do
molde. Durante a operação de secagem, a peça é submetida a esforços mecânicos
e térmicos, se na secagem a eliminação de água não for homogênea, os gradientes
térmicos originam tensões que podem provocar o aparecimento de fissuras (1). Por
isso a resistência mecânica deve ser relativamente elevada para que possa suportar
as etapas do processo.
Em um corpo cerâmico antes da queima somente as partículas de argila
encontram-se em contato, sendo assim, a resistência do corpo a cru se dá em
função das forças de ligação entre as partículas de argila. A resistência mecânica
será função do número de ligações existentes ao longo da superfície de fratura e da
energia de uma ligação simples entre as partículas (1,2).
Outros fatores que influenciam na resistência à flexão são:
Variação na conformação: a pressão e a umidade de prensagem influem de
forma considerável sobre a porosidade da peça exercendo uma influência
marcante sobre a resistência a seco.
Dimensões da peça: a resistência de materiais frágeis depende da geometria
da peça e do sistema de aplicação da carga.
Umidade da peça: quanto mais umidade na peça menor a resistência
mecânica, devido a diminuição das forças de ligação entre as partículas.
Temperatura: ao aumentar a temperatura às distâncias interatômicas
aumentam e as forças de ligação diminuem, com isso a resistência mecânica
cai.
O conhecimento da plasticidade de uma massa cerâmica é de grande
utilidade na etapa de moldagem de um produto cerâmico. Através de valores de
índice de plasticidade, pode-se estimar a adequação da massa cerâmica com
relação à conformação de peças.
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Em muitas situações comuns na pesquisa e indústria avaliam-se propriedades
em função de componentes de uma mistura. A metodologia de delineamento de
misturas parte do princípio que a soma das proporções dos componentes em uma
mistura é igual a 100% ou 1. No caso de pontos experimentais regularmente
distribuídos num espaço experimental, tem-se o chamado simplex (3,4).
Na otimização de misturas cerâmicas triaxiais, o uso do simplex permite estimar
uma propriedade a partir das variações dos componentes. Coordenadas triangulares
são utilizadas para descrever misturas ternárias. Para uma massa cerâmica de
componentes 1, 2 e 3, as composições das misturas estão no interior de um
triângulo eqüilátero. Adicionando-se ao triângulo uma quarta dimensão,
correspondente aos valores de uma variável dependente, obtém-se uma função
ajustada da variável que define uma superfície de resposta (5,6). Alternativamente,
pode-se utilizar o conceito de pseudocomponente, Figura 1.
Figura 1. Sub-região do simplex original redefinida como um simplex de
L-pseudocomponentes (4,5,6).
A análise estatística compreende o ajuste dos dados experimentais da medida
do módulo da resistência mecânica por flexão a seco para uma superfície de
resposta e a verificação do modelo através da análise de variância e comportamento
dos resíduos.
Esse trabalho tem por objetivo utilizar a técnica de experimentos com misturas
de formulações de massas cerâmicas triaxiais na propriedade tecnológica módulo de
resistência mecânica a flexão em corpos-de-prova compactados a seco. Procura-se
também e estudar a existência de correlação da propriedade citada com a
plasticidade Pfefferkorn.
x1
x2x3
x1’
x2’ x3
’
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MATERIAIS E MÉTODOS
Matérias-primas e massas cerâmicas
As matérias-primas utilizadas no desenvolvimento do trabalho são utilizadas na
indústria cerâmica de revestimento, fornecidas pela empresa Colorminas, de
Criciúma, SC. As matérias-primas selecionadas consistiam da argila (45,63 %
caulinita, 10,92 % mica muscovita, 41,63 % de quartzo e 1,82 % de acessórios), um
feldspato potássico (ortoclásio) e um quartzo.
As massas cerâmicas triaxiais foram formuladas para produtos de cerâmica
tradicional via úmida. Para um delineamento simplex modificado {3,2}, as
composições são apresentadas na Tabela I.
Tabela I Formulações de massas triaxiais para um simplex modificado {3,2}.Matéria-prima (%m) M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7 M8
Argila 20,0 26,7 40,0 40,0 20,0 46,7 26,7 33,3Feldspato 50,0 16,7 30,0 10,0 30,0 16,7 36,7 23,3Quartzo 30,0 56,6 30,0 50,0 50,0 36,6 36,6 43,4
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Preparação de corpos-de-prova
As formulações foram submetidas ao processamento a úmido, semelhantes às
utilizadas na indústria de revestimento: moagem, secagem, umidificação a (6,5
0,3) % base seca, granulação e compactação. Foram preparados 7 corpos de prova
lisos de 126 x 56 x 8 mm para cada formulação em uma prensa hidráulica de 30 t da
Servitech modelo CT320, a pressão de compactação utilizada foi de 300 MPa e a
quantidade de material utilizada para cada corpo de prova foi de 90 g. Após a
prensagem, os corpos de prova foram secos em estufa a uma temperatura de (110
5) ºC até massa constante e deixando esfriar até temperatura ambiente para que
fosse realizado o ensaio de resistência a flexão.
Medição do índice de plasticidade
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O índice de plasticidade foi medido utilizando-se o plasticímetro de
Pfefferkorn, segundo o método descrito na literatura.(7) As medidas foram feitas em
duas amostras para cada formulação; para cada amostra foram feitas três medidas.
Medida do módulo de resistência mecânica a flexão a seco
Para o ensaio de resistência a flexão em três pontos, foi utilizado um flexímetro
digital da EMIC com capacidade de 10 kN. O ensaio foi realizado a uma velocidade
de 2 mm/min, até a ruptura dos mesmos, conforme Norma ABNT 13818 (8).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Resultados das medidas da resistência mecânica e plasticidade
A Tabela II apresenta os resultados obtidos para a média das medidas do
módulo de resistência a flexão a seco (MRFS) dos corpos-de-prova e índice de
plasticidade Pfefferkorn (IP) para cada formulação Mi, (i = 1, 2,..., 8).
Tabela II Valores médios e desvios padrão de MRF e IP.Massa MRFS (MPa) IP ( % )
M1 1,4 0,2 34,0 0,1M2 2,2 0,2 41,1 0,8M3 2,5 0,3 41,4 0,1M4 2,3 0,4 32,8 0,2M5 1,3 0,3 45,8 0,5M6 2,2 0,3 36,7 0,5M7 2,2 0,1 35,7 0,5M8 2,2 0,3 38,7 0,1
Análise de variância e obtenção do modelo para o índice de plasticidade
Utilizando o delineamento simplex aumentado {3,2}, foi possível avaliar
quantitativamente o efeito das frações de argila (x1), feldspato (x2) e quartzo (x3)
sobre o módulo de resistência a flexão (MRFS). A Tabela III apresenta a análise de
variância para vários modelos de resposta. De acordo com a tabela, o modelo linear
(p = 0,3108) e o modelo quadrático (p = 0,6095) não são significantes a um nível de
significância α = 0,05. Entretanto, e cúbico especial (p = 0,0378) é estatisticamente
significante no nível estipulado. Para o modelo cúbico especial, o coeficiente de
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determinação R2A é de 0,9928, o que indica que o modelo apresenta variabilidade
muito pequena. A equação, expressa em componentes originais, é dada por:
(A)
Verificação do modelo
A verificação do modelo ajustado também deve observar uma análise de
resíduos. A Figura 2 (a) apresenta graficamente os resíduos em função dos valores
preditos. Pode-se verificar que os mesmos estão distribuídos aleatoriamente,
sugerindo que a variância das observações originais é constante para todos os
valores de MRF.
Tabela III Análise da variância para o módulo de resistência a flexão
Modelo SQR gl MQR SQE gl MQE F p R2 R2A
Linear 0,5306 2 0,2653 0,8904 5 0,1781 1,4897 0,3108 0,3734 0,1227Quadrático
0,4757 3 0,1585 0,4147 2 0,2074 0,7646 0,6095 0,7081 0,0000
Cúbico 0,4133 1 0,4133 0,0015 1 0,0015 282,1750 0,0378 0,9990 0,9928Total 1,4210 7 0,2030SQR: soma dos quadrados da regressão; gl: graus de liberdade; MQR: média dos quadrados da regressão; SQE: soma dos quadrados do erro; MQE: média dos quadrados do erro; F: fator de Fisher; p é a contribuição de um fator para a variância; R 2 é o coeficiente de determinação; R2
A é o coeficiente de determinação ajustado.
(a) (b)
Figura 2. a) Valores preditos em função dos valores observados para os
resíduos; b) Curva de probabilidade normal para os resíduos do índice de
plasticidade
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De acordo com a Figura 2 (b), os resíduos seguem praticamente uma linha
reta, de modo que a condição de normalidade é satisfeita (3,4), isto é, a variável
dependente módulo de resistência à flexão pode ser estimada com uma boa
aproximação a partir das quantidades relativas dos materiais.
Objetivando uma melhor visualização dos valores de resistência à flexão, foram
construídos gráficos de pseudocomponentes de superfície e de contorno, Figuras 2
e 3, com base na Equação (A). A análise das figuras mostra que existem regiões de
composição que fornecem MRFS superiores a 2,3 MPa, ou seja, as quantidades de
argilas devem ser inferiores a 40 %, enquanto os teores de ortoclásio e quartzo
devem estar compreendidos entre 30 e 60 %. Esse fenômeno deve ser
provavelmente devido ao fato que o quartzo e feldspato, com distribuição de
partículas maiores, possibilitam um maior compactação do corpo-de-prova, o que
contribui para valores elevados de MRFS. Mesmo nas regiões de máxima MRFS, as
massas cerâmicas triaxiais para as matérias-primas citadas não atendem às
especificações os corpos-de-prova da indústria de revestimento, que exige que a
MRFS seja superior a 3,0 MPa. A baixa resistência do material a seco pode ser
melhorada com a introdução de uma outra argila com propriedades que
incrementem essa característica.
Figura 2. Superfície de resposta para o módulo de resistência a flexão a seco
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Figura 3. Curvas de nível para o módulo de resistência a flexão a seco
Validação dos experimentos
Visando confirmar a validade da análise estatística, a qual estima a influência
das variáveis x1, x2 e x3 sobre o módulo de resistência à flexão a seco, através de um
modelo de regressão cúbico especial, a formulação M8 foi utilizada para verificar o
erro relativo. O valor para a resistência à flexão calculada para o modelo, Equação
(A), na massa M8 é de 2,14 MPa. O valor experimental médio obtido (Tabela II) é de
2,16 MPa. Assim, o erro da estimativa baseado no modelo é de 1,38% em relação
aos valores experimentais, o que confirma a validade do ajuste do modelo cúbico
especial.
Correlação linear ente a plasticidade e a resistência à flexão
Objetivando verificar uma correlação linear entre o índice de plasticidade e o
módulo de resistência mecânica a flexão, foi estimado o coeficiente de correlação
linear, r, para as duas propriedades. O valor encontrado para r foi de –0,2195, com
p = 0,6015, indicando insignificância a um nível α = 0,05 e uma fraca correlação
linear entre as propriedades. Assim, não é possível afirmar que se o aumento ou
redução de uma propriedade afeta linearmente a outra, para as condições e
experimentos realizados nesse trabalho. Entretanto, poderá existir uma correlação
não-linear entre a MRFS e IP (9).
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CONCLUSÕES
A utilização do delineamento de misturas a propriedade de módulo de
resistência à flexão a seco de corpos-de-prova de diferentes formulações de massas
cerâmicas triaxiais constituídas de argila, feldspato e quartzo mostrou ser coerente.
O modelo cúbico especial obtido é significante e se ajusta muito bem aos dados
experimentais, como pode ser verificado a partir da análise estatística e validação
dos experimentos, com um erro relativo de 1,38 %.
As massas cerâmicas triaxiais obtidas com as matérias-primas do trabalho não
atendem às especificações da indústria de revestimento, uma vez que o valor
máximo obtido para o módulo de resistência mecânica a flexão a seco foi de 2,3
MPa.
Não foi verificada nenhuma correlação linear entre o índice de Plasticidade
Pfefferkorn e o módulo de resistência mecânica a flexão a seco dos corpos-de-prova
das massas cerâmicas triaxiais estudadas.
REFERÊNCIAS
1. F. Negre, E. Sánchez, F. Guinés, J. García, C. Feliu, Técnica Cerâmica 225 (1994), p. 452-63.
2. J. L. Amorós Albaro, A., Cerâmica Industrial, 6 (2001), p. 46-50.3. MYERS, R.H.; MONTGOMERY. D.C. Response surface methodology:
process and product optimization using designed experiments, John Wiley and Sons, New York, EUA (1995), 700 p.
4. CORNELL, J.A. How to run mixture experiments for product quality, ASQC, Milwaukee (1990), 96 p.
5. S.L. Correia, K.A.S. Curto, A. De Noni Jr, A. M. Segadães, D. Hotza, Modelagem Estatística da Plasticidade Pfefferkorn de Massas Cerâmicas Triaxiais Utilizando Delineamento de Misturas em Rede Simplex, Anais XV Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciências dos Materiais, Natal – RN, Novembro de 2002.
6. S.L. Correia, K.A.S. Curto, A. De Noni Jr, D. Hotza, Desenvolvimento de Massas Cerâmicas Triaxiais Rubustas Através do Uso da Programação Não-Linear, Anais 46o Congresso Brasileiro Cerâmica, São Paulo, SP, junho de 2002.
7. J. L. Amorós et al, Manual para el Control de la Calidad de Materias Primas Arcilosas, Instituto de Tecnologia Cerámica, Castelon, Espanha (1998).
8. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, Placa Cerâmicas para Revestimento – Especificação e Métodos de Ensaios, NBR 13818, Anexo C, 1997 p. 14 – 16
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9. M. R. Spiegel. Probabilidade e Estatística, McGraw-Hill, London (1978).
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USE OF EXPERIMENTS WITH MIXTURES IN THE INVESTIGATION OF THE EFFECT OF COMPOSITION AND PLASTICITY ON THE
MECHANICAL STRENGTH OF CERAMIC TRIAXIAL BODIES
ABSTRACT
The techniques of experiments with mixtures have been used in a lot of areas. The mechanical flexural strength of ceramic products is one of the most important quality parameters in the development and application steps of ceramic products for floor and wall tiles. In the present study different compositions of ceramic triaxial bodies were used, constituted by clay, sodium feldspar and quartz. Eight formulations with different proportions of the components were submitted to wet grinding, drying, granulation and humidification, pressing, drying and firing. The conditions were similar to those used in the ceramics industry. The use of this methodology enabled to obtain a regression model for the mechanical flexural strength and to correlate it with plasticity and composition. A variance analysis, statistical parameters and a verification experiment allowed to confirm the significance and validity of the model obtained.
Key-words: experiments with mixtures, triaxial ceramic bodies, mechanical strength, variance analysis.