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GEOLOGIA DE MATO GROSSO DO SUL ATLAS MULTIRREFERENCIAL , 1990 O arcabouço geológico do Mato Grosso do Sul está constituído por três unidades geotectônicas distintas: Plataforma (Craton) Amazônica, Cinturão Metamórfico Paraguai- Araguaia e Bacia Sedimentar do Paraná. Sobre estas unidades geotectônicas são visualizados dois conjuntos estruturais, bem definidos nas imagens de radar, fotografias aéreas e imagens de Landsat; o primeiro diz respeito às estruturas localizadas em terrenos pré-cambrianos, e segundo àquelas dispostas em terrenos fanerozóicos. O conjunto mais antigo, relacionado ao Pré- Cambriano refere-se às rochas do Complexo Rio Apa, Grupo Amoguijá, Suíte Intrusiva Alumiador e grupos Cuiabá, Jacadigo e Corumbá. Estas unidades exibem estruturas dobradas e falhadas, reflexo dos esforços compressivos e de tensão que experimentaram. O comportamento desigual das estruturas sugere que os fenômenos tectonorogênéticos agiram em diversas fases, atuando de maneira desigual sobre as diferentes litologias no tempo e no espaço. O Complexo Rio Apa constitui-se no embasamento, exibindo metamorfismo na fácies anfibolito e foliações predominantes segundo NNE e NNO, mergulhando para SE e NE respectivamente. O Grupo Amoguijá exibe tectônica ruptural, que cisalharam energeticamente as vulcânicas ácidas que o constituem. Os granitóides que compõem a Suíte Aluminador, mostram tectônicas semelhantes, com falhas preferenciais

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Page 1: MS Geologia

GEOLOGIA DE MATO GROSSO DO SUL

ATLAS MULTIRREFERENCIAL , 1990

O arcabouço geológico do Mato Grosso do Sul está constituído por três unidades

geotectônicas distintas: Plataforma (Craton) Amazônica, Cinturão Metamórfico Paraguai-

Araguaia e Bacia Sedimentar do Paraná. Sobre estas unidades geotectônicas são visualizados

dois conjuntos estruturais, bem definidos nas imagens de radar, fotografias aéreas e imagens

de Landsat; o primeiro diz respeito às estruturas localizadas em terrenos pré-cambrianos, e

segundo àquelas dispostas em terrenos fanerozóicos.

O conjunto mais antigo, relacionado ao Pré- Cambriano refere-se às rochas do

Complexo Rio Apa, Grupo Amoguijá, Suíte Intrusiva Alumiador e grupos Cuiabá, Jacadigo e

Corumbá. Estas unidades exibem estruturas dobradas e falhadas, reflexo dos esforços

compressivos e de tensão que experimentaram. O comportamento desigual das estruturas

sugere que os fenômenos tectonorogênéticos agiram em diversas fases, atuando de maneira

desigual sobre as diferentes litologias no tempo e no espaço. O Complexo Rio Apa constitui-

se no embasamento, exibindo metamorfismo na fácies anfibolito e foliações predominantes

segundo NNE e NNO, mergulhando para SE e NE respectivamente. O Grupo Amoguijá exibe

tectônica ruptural, que cisalharam energeticamente as vulcânicas ácidas que o constituem. Os

granitóides que compõem a Suíte Aluminador, mostram tectônicas semelhantes, com falhas

preferenciais orientadas para NNO- SSO, onde é significativa a presença de rochas

cataclasadas. Apófises destas intrusivas são responsáveis por estruturas circulares, observadas

no flanco oeste da Serra da Bodoquena e parcialmente recobertas pelas rochas carbonatadas

do Grupo Corumbá. O Grupo Corumbá representa a sedimentação mais antiga do

Geossínclinio Paraguaio, ocupando suas porções mais internas. Metamorfisado na fácies xisto

verde, exibe padrão de dobramento com eixos caindo para NO, numa sucessão de anticlinais e

sinclinais, eventualmente inversos e fechados consoante esforços compressivos orientados de

leste para oeste. As rochas que predominam na unidade – xistos e filitos – exibem duas

xistosidades bem caracterizadas, evidenciando pelo menos duas fases de dobramento. A

xistosidade S2 crenula e transpõe a S1, mascarando-a freqüentemente. Na borda ocidental da

Bacia Sedimentar do Paraná, o Grupo Cuiabá está estruturado segundo uma longa faixa de

espessura variável, orientada para a direção NNE-SO, acompanhando o nível de meia encosta

das serras. Plutões graníticos estão introduzidos nos metamorfitos Cuiabá, com metamorfismo

Page 2: MS Geologia

de contato e presença de hornfels. O Grupo Jacadigo tem suas principais exposições

localizadas nas adjacências de Corumbá e na região das grandes lagoas, ao longo da fronteira

Brasil-Bolívia. Suas rochas estão dobradas e seccionadas por falhas indiscriminadas,

destacando-se padrões orientados para N-NO. Na região da Baía Vermelha é anotada a

presença de estrutura dômica. As rochas carbonatadas que compõe o Grupo Corumbá

experimentam esforços de compressão, evidenciados sob a forma de diferentes falhas, dobras

e fraturas. Os falhamentos mais importantes orientam-se segundo NNO e NNE, com

mergulhos geralmente apontando para NE e SE, respectivamente. Nas zonas mais

tectonizadas é comum a presença de faixas cataclásticas e silificação das rochas carbonatadas,

com presença de vênulas preenchidas por calcita e sílica. Na banda oriental da serra da

Bodoquena as dobras são mais acentuadas, assimétricas, orientando-se submeridianamente

com flancos invertidos e mergulhos atingindo 50º. As fraturas são comuns, exibindo padrão

retilíneo normalmente direcionado para NE-SO. Um aspecto estrutural importante do Grupo

Corumbá diz respeito à feição kàrstica que esta unidade apresenta, com freqüente presença de

grutas, cavernas, dolinas e drenagem subterrânea.

As feições lineares observadas nos sedimentos fanerozóicos, da Bacia Sedimentar do

Paraná, representam o segundo conjunto estrutural observado no ato Grosso do Sul.

Constituindo-se na borda oeste da referida Bacia, as unidades litoestratigráficas que a

compõem, dispõem-se segundo marcante horizontalidade e subhorizontalidade, com suaves

mergulhos para a zona central da Bacia. As feições lineares estão definidas por falhas e

fraturas, com abatimento basculado de blocos e eventual formação de grabens e horsts,

gerados por movimentos verticais impostos às rochas. Este quadro caracteriza uma tectônica

rígida, identificada com o modelo germanótipo. Houvera ainda três fases de basculamento,

onde a última e mais importante teria ocorrido “ após a deposição dos arenitos eólicos da

Formação Botucatu, antes e depois das efusivas da Formação Serra Geral”. É interessante

observar que o Grupo Cuiabá e as Intrusivas Ácidas Cambro-Ordovicianas apresentam

direções rupturais semelhantes às observadas na Bacia Sedimentar do Paraná. Acreditando-se

que estas sejam geradas pela reativação de antigas linhas de fraqueza pela ação da gravidade.

TERRENOS PRÉ-CAMBRIANOS

Área do Complexo Rio Apa.

Page 3: MS Geologia

Constitui-se o Complexo Rio Apa, essencialmente por rochas de composição ácida,

situadas segundo uma faixa que se estende desde as proximidades da cidade de Corumbá até

as margens do Rio Apa, no sentido NS prolongando-se para o território da República do

Paraguai. Esta faixa limita-se a Oeste com a Suíte Intrusiva Alumiador e a leste com as rochas

carbonatadas do Grupo Corumbá. Suas melhores exposições encontram-se entre os rios

Perdido e Caracol, na BR-267 que liga Porto Murtinho a Jardim. Estas rochas constituem a

unidade estratigráfica basal da coluna geológica do Estado do Mato Grosso do Sul sendo

recobertas discordantemente por rochas vulcânicas do Grupo Amoguijá, Formação Urucum

do Grupo Jacadigo, pelas formações Puga, Cerradinho e Bocaina do Grupo Corumbá e pelos

sedimentos quaternários constituídos por depósitos detríticos, Formação Xaraés e Formação

Pantanal. A idade destas rochas foi calculada pelo método Rb/Sr em 1690+- 30MA.

Litologicamente detecta-se ganisses de composições diversas, migmatitos, milonitos, biotita

granitos, anfibolitos, xistos, dioritos, monzonitos, tranquitos e gabros, entre outros.

O Grupo Amoguijá tem sua área de ocorrência a leste da cidade de Porto Murtinho

paralelamente ao Complexo Rio Apa, sobrepondo-se a este de maneira discordante. É

recoberto parcialmente pelas formações Urucum, Cerradinho e Pantanal. Faz contato

tectônico através de falhas indiscriminadas com a Suíte Intrusiva Alumiador e Gabro Morro

do Triunfo. A idade destas rochas foi calculadas pelo método Rb/Sr, fornecendo uma idade

de 1.650 + - MA. Petrograficamente o Grupo Amoguijá compõe-se de riolitos, dacitos,

riodacitos, tufos, metavulcânicas ácidas e intermediárias, hornfels, andesitos e dioritos. A

distribuição destas rochas na área em foco se dá de maneira errática, em pequenas em

pequenas exposições ocupando uma faixa de largura variável e extensão aproximada de 45

km, desde a fazenda Flórida ao sul, até as proximidades do curso médio do Rio Tererê.

Rochas de composição granítica são representadas na área pela Suíte Intrusiva

Aluminador, formando as serranias do Rio Perdido, São Paulo, São Miguel e Paraguaio. Elas

se estendem ao longo de uma faixa de orientações NS, por cerca de 100 km tendo uma largura

média de 8 km, desde o Rio Apa até pouco a sul do rio Aquidabã. Estas rochas acham-se

intrusivas no Complexo Rio Apa, fazendo parte de uma fase comagmática às Rochas do

Grupo Amoguijá. Acham-se parcialmente encobertas por sedimentos clástico-carbonatados da

Formação Cerradinho e clásticos das Formações Urucum e Pantanal, através de discordância

litológica. Geocronologicamente, dez amostras foram analisadas pelo método Rb/Sr,

indicando uma idade de 1.600 + - 40 MA. As rochas pertencentes à Suíte intrusiva

Page 4: MS Geologia

Alumiador foram reunidas por Araújo et al (19810) em vários grupos principais: a) granitos

foliados; b) granitos não foliados; c) granitos porfiríticos.

DEPRESSÃO DO RIO MIRANDA

Na área que compreende e Depressão do Rio Miranda, ocorrem principalmente rochas

do Grupo Cuiabá, que ocupam a região Centro-Oeste da Folha SF.21, Campo Grande,

mostrando uma conformação Triangular, tendo o vértice sul situado nas nascentes do Córrego

Mutum. A norte, elas se estenderiam até o limite da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil,

desaparecendo sob os sedimentos quaternários da Formação Pantanal. Para noroeste, estende-

se em forma de fina faixa, bordejando a encosta ocidental da Serra de Maracaju e Serra o

pantanal, em afloramentos descontínuos. Suas melhores exposições encontram-se entre as

localidades de Aquidauana-Miranda e Aquidauana-Bonito. Estas rochas apresentam razoável

extensão aflorante no Estado do Mato Grosso do Sul, principalmente nos tratos da Folha

SF.21 Campo Grande. Acham-se intruídas por rochas graníticas, representadas pelos granitos

Taboco, Rio Negro e Coxim, situadas ao longo da borda oeste da Serra de Maracajú.

Geocronologicamente, foram analisadas pelos métodos K/AR e Rb/Sr, fornecendo idades

respectivas de 639 ma e 484 + - MA, sendo esta última idade considerada como época do

resfriamento regional do último evento tectonotermal que as atingiram. As litologias do

Grupo Cuiabá são representadas fundamentalmente por micaxistos ocorrentes principalmente

entre as cidades de Bonito e Miranda, em área conhecida como Depressão Periférica do rio

Miranda. Apresentam uma grande variação mineralógica que denominam os diversos tipos de

xisto ocorrentes. Calcários, mármores e metagrauvacas, além de quartzitos ocorrem de

maneira localizada, porém frequentes. Esporádicos metaconglomerados ocorrem na parte

ocidental da área de afloramento do Grupo Cuiabá, em contato com a Formação Cerradinho,

sendo que os tipos litológicos menos comuns são as metagrauvacas, milonitos, filitos,

ardósias, hornfels, etc.

ÁREAS DE OCORRÊNCIA DOS GRUPOS JACADIGO E CORUMBÁ

Os Grupos Corumbá e Jacadigo são formados respectivamente pelas formações Puga,

Cerradinho, Bocaina, Tamengo, Urucum e Santa Cruz. As ocorrências das litologias

pertencentes ao primeiro grupo se dão principalmente ao longo da Serra da Bodoquena, sendo

que o segundo grupo se localiza maiormente na região de Corumbá.

Page 5: MS Geologia

O Grupo Corumbá constitui-se pelas formações Puga, Cerradinho, Bocaina e

Tamengo, formações estas que se sobrepõe às Rochas do Complexo Rio Apa com contato

discordante do tipo litológico. Em alguns locais, sotopõem-se às rochas do Grupo Cuiabá,

através de falhas de Grande Ângulo, mas normalmente se encontram superpostas a estas. A

idade do Grupo Corumbá é suposta pré-cambriana superior, em razão do conteúdo fossilífero

das formações Bocaina e Tamengo. Sua distribuição geológica se dá no sentido S-N,

aproximadamente, desde as margens do Rio Apa, até além da estrada Noroeste do Brasil,

onde suas litologias são encobertas pela sedimentação da Formação Pantanal, reaparecendo de

maneira ampla e continua nos limites da cidade de Corumbá e daí, estendendo-se para o

Território Boliviano.

O Grupo Jacadigo foi estudado principalmente por Dorr II (1945) e Almeida (1945),

constituindo-se pelas formações Urucum e Santa Cruz, tendo a sua primeira denominação

dada por Lisboa (1909). Os principais afloramentos deste grupo situam-se nos arredores da

cidade de Corumbá, nas morrarias de Mutum-Jacadigo (Linha divisória Brasil - Bolívia),

Urucum, São Domingos, Santa Cruz, Tromba dos Macacos, Rabichão, Ladário, Zanetti,

Sajutã, Bomfim, Amolar e Insua. Algumas ocorrências isoladas encontram-se próximas à

cachoeira Grande do Rio Apa. Em termos de posição estratigráfica, o Grupo Jacadigo assenta-

se discordantemente sobre rochas do Complexo Rio Apa, sendo recoberto por sedimentos das

formações Pantanal, Xaraiés, depósitos detríticos e aluviões atuais. A idade pré-cambriana

superior para o Grupo Jacadigo foi indicada através da análise geocronológica. Segundo

Walde, Gerth e Leonardos (1982) a idade radiométrica obtida foi de 1 (hum) bilhão de anos.

A litologia do grupo é constituída por sedimentos clásticos, tais como arcóseos grosseiros e

conglomeráticos; ocorrem ainda grauvacas, siltitos e localmente calcários; para o topo na

Formação Santa Cruz, ocorrem arcóseos ferruginosos, arenitos, jaspelitos ferruginosos, óxidos

de manganês, hematita silicosa, lentes intercaladas de óxidos de manganês, de siltitos,

arenitos e conglomerados subordinados. Em estudos mais recentes com base em microfósseis,

a idade indicada para o grupo tem sido proterozóica.

Os gabros troctolíticos do Morro do Triunfo foram descritos anteriormente por Correia

et al (1976) e posteriormente por Araújo et al (1981 e 1982). Trata-se de uma única

ocorrência, localizada a cerca de 55km a nordeste de Porto Murtinho, nas proximidades do

curso médio do Rio Tererê, em terrenos da Fazenda Emadicá, onde configura um maciço

rochoso isolado. Este maciço possui formato elipsoidal disposto no sentido E-O, com cerca

de 500 m acima da planície Pantaneira. As relações de contato do Gabro Morro do Triunfo

Page 6: MS Geologia

não estão bem estabelecidas, uma vez que os sedimentos quaternários da Formação Pantanal

recobrem lateralmente toda essa unidade, em nítida discordância litológica. Na extremidade

oeste do corpo, uma falha indiscriminada coloca as rochas gabróicas em contato com

vulcânicas ácidas do Grupo Amoguijá. Com respeito à sua idade, as dúvidas existentes,

fizeram com que fossem excluídas da coluna geológica consideradas como rochas de

posicionamento indefinido.

TERRENOS FANEROZÓICOS

Sob esta designação, encaixam-se unidades litoestratígráficas com idades variáveis de

570 M.A., relativas à instruções ácidas Cambro-Ordovicianas culminando com deposições

aluvionares recentes, englobando rochas Paleozóicas, Mesozóicas, além de depósitos

sedimentares Cenozóicos.

INTRUSIVAS ÀCIDAS CAMBRO-ORDOVICIANAS

No âmbito do Mato Grosso do Sul, foram caracterizados três conjuntos de rochas

intrusivas ácidas relacionadas ao período do Cambro-Ordoviciano: Granito Taboco, Granito

Rio Negro e Granito Coxim. Estas Unidades são consanguíneas e estão correlacionadas ao

evento magmático, pós-cinemático, que deu origem ao batólito identificado Granito São

Vicente, no Estado de Mato Grosso. Localizadas de maneira sucessiva e descontinua na borda

ocidental da Bacia do Paraná, ao longo da escarpa oeste da serra de Maracaju, estas rochas

estão introduzidas nos metassedimentos do Grupo Cuiabá desenvolvendo auréola de

metamorfismo de contato, melhor observada nas bordas do Granito São Vicente.

Reconhecido em três pequenos corpos na borda ocidental da serra de Maracaju, o

Granito Taboco está grosseiramente alinhado na direção nordeste, acompanhando a linha de

contato entre o Grupo Cuiabá e a Formação Furnas. Suas principais exposições são

observadas na Fazenda Serrito, entre o córrego da Piúva e a margem direita do rio Taboco,

cerca de 18km a noroeste de Cipolândia. Na rocha ígneas observadas na região do Taboco não

foram encontradas variações litológicas significativas, apenas granitos foram identificados.

Macroscopiamente, estas rochas são homogêneas, com coloração rósea a cinza-claro,

composição mineralógica à base de feldspato róseo, quartzo, minerais micáceos e pontuações

máficas. A granulação oscila de média a grosseira, podendo localmente, definir termos

porfiríticos e micrograníticos. As rochas com granulações mais fina (aplíticas) estão

localizadas próximas ao contato com as encaixantes do Grupo Cuiabá.

Page 7: MS Geologia

Ocupando uma área mapeada de aproximadamente 16km², os afloramentos do Grande Rio

Negro situam-se cerca de 20 km a noroeste da cidade homônima, à margem direita do rio

Negro, na fralda ocidental da serra do Maracaju onde o rio tem visível controle estrutural sob

a forma de falha. As exposições mais ressaltáveis são observadas nos arredores das fazendas

Rincão e Porteiro, próximo à rodovia MS-228, que liga a cidade de Rio Negro com a BR-419.

O Granito Rio Negro está espacialmente disposto entre os granitos Taboco e Coxim,

respectivamente posicionados a sul e norte, ao longo do alinhamento nordeste, comum a todas

estas unidades. As litológicas encontradas foram petrograficamente caracterizadas como

tonalitos, aos quais estão associados litotipos de caráter vulcânico classificados como

andesitos. Macroscopicamente os tonalitos estão fraturadas apresentam esfoliação esferoidal,

exibem coloração cinza, textura fanerítica, granulação média a grosseira e composição

mineral representada por quartzo, feldspato, biótica e anfibólio.

O Granito Coxim aflora sob a forma de estreita faixa alinhada para nordeste, com

cerca de 70 km de comprimento e 1 km de largura, representando o mais belo exemplo

brasileiro de magmatismo fissural. Esta faixa está localizada na borda oeste da Bacia

Sedimentar do Paraná, posicionando-se ao longo da linha de escarpa da banda ocidental da

serra do Maracaju, trecho compreendido entre as margens do rio Taquari (limite norte) e

poucos quilômetros a sul do paralelo 19 (limite sul). A caracterização litológica e petrográfica

efetuada por Del’Arco et al, (1982), caracterizaram dois litotipos para esta unidade: granito e

tonalito. Macroscopicamente, o granito é uma rocha de coloração avermelhada, maciça,

isótropa, constituída por quartzo, feldspato e máficos. Observado sob microscópio revela

textura xenomórfica e composição mineralógica a base dos seguintes minerais: ortoclásio,

oligoclásio, quartzo, biotita, opacos, epidoto, alanita, apatita, clorita, serita e saussurita; os

dois últimos são produtos da transformação do plagioclásio, enquanto o epidoto (clinozoisita)

provém da biotita e plagioclásio. Em amostra de mão o tonalito apresenta coloração rosada

com tonalidades cinza, é homogêneo com granulação média e textura granular hipidiomórfica.

Examinado em lâmina delgada, o tonalito revela ser cataclasado, ter granulação variável de

fina a grosseira, textura hipidiomórfica e assembleia mineral formada por oligoclásio, quartzo,

microclínio, biotita, hornblenda, clorita, epidoto, apatita, esfeno, minerais de argila opacos.

FORMAÇÃO COIMBRA

Os afloramentos que constituem a Formação Coimbra estão restritos à região do Forte

Coimbra, onde são encontrados no topo dos confrontantes morros da patrulha e do

Page 8: MS Geologia

Marinheiro, respectivamente na margem direita e esquerda do rio Paraguai. Também são

observados em diversos morros posicionados a noroeste do Forte Coimbra, claramente

destacáveis na topografia plana da planície pantaneira: morro Grande a 10 km e o conjunto

denominado Morro Comprido a 20 km. As principais litologias caracterizadas são arenitos,

recobrindo delgados estratos de folhetos e conglomerados. Os arenitos são normalmente

duros, com cimento sílicoferruginoso, coloração rósea, com eventuais manchas brancas e

amareladas, granulações grosseiras, compostos principalmente por quartzo em grãos

angulosos a subarredondasdos, com esfericidade baixa a regular. Feldspatos alterados

(caulinizados), opacos e micas aparecem de maneira subordinada. Níveis conglomeráticos

com até 10 cm de espessura são comuns, formados por grânulos e, eventualmente, seixos de

quartzo. Estas Rochas estão bem acomodadas, suborizontalizadas ou com frequente

estratificação plano-paralela e cruzada. Os folhetos argilosos e de coloração cinza, assim

como os conglomerados, ocorrem de maneira bastante subordinada, sotopondo-se aos

arenitos.

BACIA SEDIMENTAR DO PARANÁ

A Bacia Sedimentar do Paraná localiza-se na porção centro-oeste da Plataforma Sul

Americana, comportando-se como uma unidade geotectônica fanerozóica com evolução

registrada a partir do Eo-Siluriano logo após a estabilização da Plataforma Brasileira. A sua

atual configuração foi grandemente influenciada por fraturas, arqueamentos e flexuras do

embasamento o que dificulta extrapolações que visem a total investigação sobre a sua

evolução pretérita. Segundo a maioria dos pesquisadores, esta Bacia representa uma depressão

intracratônica, cujo eixo principal de deposição se alinha numa direção aproximada NNE-

SSW a NS, refletindo um padrão estrutural com visíveis deslocamentos de blocos e

falhamentos escalonados próprios dos estilos paratectônicos ou germanótipos. As

deformações estruturais originais em função dessa tectônica rígida, ou foram produzidos por

movimentos ascendentes ou descendentes de considerável amplitude vertical, envolvendo

grandes áreas, ou relacionam-se com falhas de pequeno rejeito associadas aos eixos dos

grandes arqueamentos regionais, ou ainda devido a reativação de velhas linhas de fraqueza do

embasamento. Estes sistemas de falhas e fraturas alojam sills (solteiras) e diques básicos em

estreita relação com os derrames basálticos, assim como manifestações alcalinas tardias,

relacionadas ao Cretáceo. Na porção setentrional da Bacia é visível a concordância de suas

estruturas falhadas com trend regional do substrato, o que viria confirmar a reativação de

estruturas do seu embasamento. Durante toda época da formação, a Bacia Sedimentar do

Page 9: MS Geologia

Paraná com sua designação retirada do rio hormônio que a divide quase simetricamente na

altura do seu médio/alto curso, acumulou-se aproximadamente 5.000m de sedimentos e lavas.

A área brasileira abrangida pela Bacia, representa aproximadamente 1.150.000 km², sendo

que 60.000 km² ramificam-se para Argentina, Uruguai e Paraguai. Seu preenchimento por

sedimentos e lavas, associado a deformação e movimentos epirogênicos regionais,

implantaram-lhe características que levaram-na a receber controvertidas classificações, onde

as mais aplicadas são bacia interior ou intracratôniaca, sinéclise e antéclise, dentre outras. No

presente trato cartográfico, a Bacia Sedimentar do Paraná em sua porção oriental adentra os

Estados de São Paulo, Minas Gerais (Triângulo) e Goiás na parte nordeste. Já a porção

sudoeste é limitada pelo planalto de Maracajú e serra da Bodoquena e na parte centro-

ocidental e norte ocidental faz limite com o Pantanal Matogrossense. Os litotipos detectados

na unidade em epígrafe, mostram-se discordantes em relação ao seu substrato, aqui

representados principalmente pelos grupos Corumbá, Cuiabá e Intrusivas Acidas Cambro –

Ordovicianas (Taboco, Rio Negro e Coxim).

A sedimentação desenvolvida no compartimento em questão, mostra seus primórdios

registrados a partir de transgressões silurodevonianas, com a sedimentação do Grupo Paraná,

aqui representado pelas formações Furnas e Ponta Grossa. Logo após já no Carbonífero e

Permiano, a Bacia Sedimentar do Paraná recebeu as deposições relacionadas Supergrupo

Tubarão, na presente área representado pelo Grupo Itararé, através da Formação Aquidauana

e do Grupo Guatá, aqui representado pela Formação Palermo. Posteriormente registrou-se a

deposição de litotipos relacionados ao Grupo São Bento no Estado do Mato Grosso do Sul

constituído pelas formações Pirambóia, Botucatu e Serra Geral. O período relativo ao

Mesozóico seria completado com a deposição cretácica do Grupo Bauru; bem representativa

nos tratos cartográficos em questão, constituído assim pelas Formações Caiuá, Santo

Anastácio, Adamantina e Marília. As coberturas lateríticas Terciário-Quartenário

Indiferenciadas, de origem pedológicas, correntes sobre rochas da bacia e relacionadas a

processos de pediplanação cenozóica, encerram a longa fase de eventos geológicos de tão

representativa unidade geotectônica.

UNIDADES SILURO DEVONIANAS

O Grupo Paraná em território do Estado de Mato Grosso do Sul, representa a

sedimentação Siluro-Devoniana e constitui-se pelas formações Furnas e Ponta Grossa,

ocorrendo a partir da porção central do Estado, arredores do município de Aquidauana,

Page 10: MS Geologia

estendendo-se através de uma faixa contínua e pouco estreita com direção aproximada N 10º.

E a partir do município acima citado. Adentrando-se para norte no vizinho Estado de Mato

Grosso. Litologicamente observam-se arenitos ortoquartzíticos, colorações claras, com

intercalações subordinadas de conglomerado e finos leitos siltito e argilito cinza-esverdiado

e/ou cinza-amarelado. Estratificações cruzadas de pequeno a médio porte, além de

estratificações planas paralelas e raras marcas de ondas, completam as características

inerentes à Formação Furnas. Já a Formação Ponta Grossa, acompanhando litologicamente

arenitos finos a médios, gradando para o topo a siltitos, folhelhos sílticos e/ou argilosos.

Pontuações concreções e nódulos ferruginosos, além de uma espessa capa laterítica, associada

a colitos ferruginosos, muito bem caracterizam a Formação Ponta Grossa, que não ultrapassa

a 200 m de espessura; estruturas singenéticas como laminações plano-paralelas,

estratificações cruzadas de pequeno porte e mais raramente marcas de ondas assimétricas,

além de camadas bioturbadas são bastante comuns nesta unidade.

UNIDADES PERMO-CARBONÍFERAS

O Supergrupo Tubarão, constitui-se na área em apreço pelo Grupo Itararé, englobando

a Formação Aquidauana e pelo Grupo Guatá representado pela Formação Palermo.

A Formação Aquidauana, início do processo da sedimentação Gonduânica, no

presente trato cartográfico, aflora continuamente desde a região de Bela Vista, no Sul do Mato

Grosso do Sul, até no município de Pedro Gomes, porção norte da área, adentrando o

contíguo Mato Grosso, com espessura estimada em torno de 500 m. Litologicamente,

evidencia-se a presença de arenitos com granulometria variável de fina a grosseira, cores

vermelho-tijolo, esbranquiçadas, cinza arroxeadas. Associados ao pacote arenítico observa-se

a presença de níveis conglomeráticos, além de intercalações de siltito, argilito avermelhado e

subordinadamente, lentes de diamictito. Em todo o pacote individualiza-se feições

singenéticas como as estruturas plano-paralelas, estratificações cruzadas de médio a grande

porte e raras marcas de ondas. Estruturas secundárias relativas a disfunções poligonais

lembram feições evocativas de “cascos de tartaruga”. A Formação Palermo que completa o

ciclo Gonduânico no estado do Mato Grosso do Sul, mostra uma inexpressiva e descontínua

área de ocorrência, bordejando a Serra Preta e sua extensão sul (Barretinha, Torrinha, Caracol

e São Domingos), até as imediações da localidade de Jauru, região norte do Estado.

Litologicamente a Formação Palermo é representado por chert oolítico e/ou pisolítico, assim

Page 11: MS Geologia

como coquinas silicificadas, além de arenitos cinza-arroxeados, fino a muito fino, siltito

amarelado a avermelhado e esporadicamente silicificado.

UNIDADES MESOZÓICAS

NO Estado do Mato Grosso do Sul, o Grupo São Bento engloba as formações

Pirambóia, Botucatu e Serra Geral. No Mapa afeito ao presente trabalho a sequência em foco

aparece anexada à Formação Botucatu, pois a escala de trabalho não possibilitou a perfeita

individualização cartográfica da Formação Pirambóia. Entretanto, acredita-se que novas

etapas de campo virão suprir tal lacuna Litologicamente observa-se arenitos finos a muitos

finos, médios, esporadicamente micro - conglomeráticos e/ou grosseiros, com siltitos e

argilitos subordinados. Estruturas predominantes referem-se a estratificações cruzadas

acanaladas de pequeno a grande porte. A Formação Botucatu estende-se a partir do sudoeste

do Estado (divisa com o Paraguai, município de Bela Vista) em faixa contínua num sentido

aproximado de SW-NE, onde os contrafortes da Serra Preta (norte do Estado do Mato Grosso

do Sul) adentra o contíguo Mato Grosso. Litologicamente foram detectados arenitos finos a

muito finos, bem selecionados, apresentando feições evocativas de “micro-ponteamentos”, o

que muitas vezes caracteriza processos de abrasão eólica (impacto entre os grãos carregados

pelos ventos). A presença nestas rochas de grãos foscos, associados a estratificações cruzadas

planares de grande porte, tende a confirmar a presença de transporte e deposição eólica em

ambiente desértico. Muitas vezes tais rochas mostram-se bastante silicificadas, porém, é

comum seu alto poder de desagregação, causando em decorrência os típicos areões. A

Formação Serra Geral, parte superior do Grupo São Bento, mostra uma expressiva área de

ocorrência, aparecendo a partir do extremo sul do estado, até confrontar-se com o Chapadão

do Taquarí, limite com o vizinho estado do Mato Grosso. Litologicamente, as exposições dos

derrames basálticos são constituídas por rochas de cores verdes e cinza-escuro, localmente

vítreas, granulação fina a média, afanítica, ocasionalmente porfirítica; quando alteradas

superficialmente adquirem coloração amarelada, com amígdalas preenchidas por quartzo,

calcita ou nontronita. A disjunção colunar e esfoliação esferoidal, estruturas típicas de

derrames espessos, ocorrem também em corpos intrusivos ocupando uma posição

aproximadamente média a alta na sucessão dos derrames, quando costumam por vezes

mostrar diaclasamentos poligonais. A presença de arenitos intertrapeados, sugerindo origem

eólica e às vezes subaquosos são evidenciados com uma certa frequência ao longo das faixas

de domínio do basalto pertencente à Formação Serra Geral. Comumente estes arenitos

Page 12: MS Geologia

apresentam-se intensamente afetados pelo vulcanismo o que os fazem apresentarem-se com

fortes recozimentos.

No estado do Mato Grosso do Sul, o Grupo Baurú, aparece constituído pelas

Formações Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina e Marília. A Formação Caiuá é representada

por uma característica uniformidade de litológica, que se observa tanto no oeste paulista como

no norte paranaense. Com espessura não superior a 150 m, visualizam-se arenitos bastante

porosos, facilmente desagregáveis, e na maioria das vezes seus grãos encontram-se envoltos

por uma película de limonita. A Formação Santo Anastácio acompanha a configuração

cartográfica imprimida pela subposta Formação Caiuá, com sua individualização dificultada,

pelo espesso e constante solo arenoso, além da inexpressividade de seus afloramentos. Na

parte inferior da Formação Santo Anastácio, destaca-se um arenito cinza-pardo, vermelho-

arroxeado ou creme, encontrando-se sempre envolto por uma película limonitizada. A

granulação é predominantemente fina e esporádicamente média a grosseira, mostrando a

presença de um cimento síltico e carbonático, que gradativamente vai aumentando; detecta-se

sempre tênues intercalações síltico-argilosas, tornando-se mais espessas para cima.

Superiormente observou-se um arenito a médio, creme-avermelhado ou pardacento,

selecionamento médio com cimento silicoso e carbonático mais frequente. Litologicamente a

Formação Adamantina constitui-se essencialmente por arenitos finos a médios,

subarcoseanos, de coloração variando entre cinza-róseo, cinza-esbranquiçado a amarelo-

esbranquiçados. Os grãos médios apresentam-se subarredondados, enquanto os grãos mais

finos são predominantemente subangulosos. Geralmente estes arenitos apresentam uma matriz

algo argilosa e pouco consistente. O aspecto brechóide, a tendência ao concrecionamento,

bolas de argila, orifícios tubiliformes, nódulos, fragmentação tipo “confete” e em

“bastonetes”, esfoliação esferoidal, além de estruturas singenéticas, como plano-paralelas,

laminações tubulares e entrecruzadas, e ainda estraficações cruzadas (acanaladas e

tangenciais) de pequeno a médio porte, intercalações sílicas das rochas areníticas, argíliticas e

sílicas, aliadas a lentes conglomeráticas, imprimem uma condição mais dinâmica ao pacote

rochoso, caracterizando sobremaneira a presente unidade. A Formação Marília não mostra

uma configuração geográfica expressiva no Estado do Mato Grosso do Sul; individualiza-se a

grosso modo, como variações da Fácies Ponte Alta na serra do Aporé todo o conjunto de

arenitos calcíferos, podendo conter lentes e nódulos com maior possança de calcário

conglommerático ou brechóide além de níveis irregulares de arenitos de diversas naturezas,

siltitos que ocorrem com maior frequência na porção superior do pacote. Já na porção norte,

Page 13: MS Geologia

onde foram individualizadas ocorrências da Formação Marília, observou-se que ali ocorreria

somente a fácies superior, ou seja, a Fácies Itiquira no sentido de Souza Jr. et al.(1983),

correlacionável à Fácies Serra da Galga, Itaqueri e Membro Borolo (Gonçalves e Schneider,

1970). Litológicamente, observou-se um conjunto de rochas bastante silicificadas,

predominando rudáceos, representados por paraconglemerados, brechas conglomeráticas e

níveis irregulares de conglomerados polimictos desagregados que constituem as tradicionais

“cascalheiras”. O corpo da rocha é um arenito variável de médio a grosseiro, maciço, mal

selecionado, com colorações róseo-avermelhado, contendo tênues intercalações síltico-

argilosas.

COBERTURAS DETRITO-LATERÍTICAS TERCIÁRIAS E QUARTENÁRIAS

INDIFERENCIADAS.

Grandes áreas aplainadas, localizadas em cotas superiores a 800m, são reconhecidas

em grande parte da região Centro-Oeste. De uma maneira geral, estas superfícies foram

consideradas primeiramente como sendo constituídas por um pavimento detrito-laterítico,

contendo em sua parte superior um solo homogêneo vermelho-escuro. São de larga ocorrência

na parte noroeste do Estado, principalmente nas áreas aplainadas mais elevadas conhecidas

regionalmente como chapadões, recobrindo rochas paleozóicas e mesozóicas da Bacia

Sedimentar do Paraná. No Mato Grosso do Sul especificamente, formam o extenso chapadão

dos Gaúchos, cuja extensão engloba a Chapada do Taquari. Outra ocorrência digna de nota é

aquela que se verifica no Chapadão de São Gabriel, onde se situa a cidade homônima.

Reconhece-se três horizontes com espessura variável: 1) Horizonte C ou Inferior - constituído

pela parte alterada da rocha subjacente, mostrando evidências de laterização. Está diretamente

interligada ao Horizonte B (intermediário). Apresenta intensa atividade química ascendente

e/ou descendente, através de veios de lixiviação irregulares e entrecruzados. Geralmente,

certas rochas alteradas têm coloração amarelo-ocre, denotando o início de laterização. Nesta

porção inferior, nota-se a intensa migração arenosa e substituição argilo-ferruginosa, que

gradativamente vai substituindo a rocha, evidenciando o fenômeno da pedogenização. 2)

Horizonte B ou Intermediário-Constitui a zona dos alvéolos, onde ocorre a maioria das

reações químicas e se concentram as frações limoníticas e argilosas. Os pisolitos, amêndoas e

fragmentos angulosos de limonita, com incremento de ferrificação, proporcionada por

migrações diversas, percolações e variações do nível freático, tendem a soldar-se

compactando-se e formando os pacotes de couraças lateríticas. Observados na área em

questão, como até 10 m de possança. 3) Horizonte A ou Superior – Constitui dentro do perfil

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da sequência detrito-laterítica, a porção mais espessa e uniforme. É composta por dois tipos

de solos principais: LEd e LVD – latossolos vermelho-escuros e amarelos, distróficos, textura

argilosa a muito argilosa, localizados em relevo plano a suavemente ondulado. Os horizontes

inferiores são areno-argilosos, tendendo a argilo-arenosos. Este horizonte raramente mostra

fragmentos rochosos, provenientes dos horizontes localizados imediatamente abaixo,

mostrando solos bastante maduros e uniformes.

ALCALINA FECHO DOS MORROS

Estas rochas constituem uma série de pequenos morrotes ilhados e realçados na

planície pantaneira, posicionados de maneira restrita e bem localizada nas proximidades da

margem esquerda do rio Paraguai, cerca de 25 km à montante da cidade de Porto Murtinho.

Os morros são de pequena expressão topográficas à exceção do maciço do Pão de Açúcar e

normalmente exibem topos abaulados. Nos maciços que constituem as Alcalinas Fecho dos

Morros foram petrograficamente caracterizados diversos tipos litológicos como: nefelina

sienitos, traquitos pórfiros, biotita-aegirina sienitos e aegirina-arfvedsonita sienitos entre

outros.

ÁREAS CENOZÓICAS

O domínio englobado pelas áreas cenozóicas se faz representar por depósitos

sedimentares sob a forma de elúvios, colúvios, alúvios e lateritos ferruginosos, ocorrentes

indistintamente em todo o estado, conforme descrições a seguir:

Sob a denominação de Depósitos Detríticos foram mapeados elúvios, colúvios, alúvios

e sedimentos lateríticos-ferruginosos ocorrentes na planície do rio Paraguai, em torno das

encostas e áreas topograficamente elevadas. As variações climáticas no Pleistoceno foram

provavelmente as responsáveis pela formação de grande quantidade de leques aluviais, na

parte superior da Formação Pantanal, evidenciando a ocorrência de processos torrenciais de

deposição que em clima semi-árido, tornaria possível a formação de depósitos detríticos. Em

alguns locais, sobre estes sedimentos, encontram-se blocos e matações soltos, evidenciando

processos erosivos recentes, atuando principalmente nas escarpas. Os elúvios e lateritos

ferruginosos são representados por paleos-solos, ocorrendo com mais frequência nas áreas

aplainadas adjacentes aos afloramentos das litologias do Grupo Cuiabá.

Os Colúvio-Alúvio compõem a maioria dos sedimentos detríticos mapeados na área,

formando sedimentos típicos em diversos locais, tais como: sopé das serras de Ínsua, Bonfim,

Page 15: MS Geologia

Jacadigo, Urucum, Santa Cruz, Rabichão, Pantanal e Maracaju. Estas duas últimas serras

delimitam a borda oeste da Bacia do Paraná e seus depósitos detríticos formam cones

coalescentes. Nas serras de Jacadigo e no maciço de Urucum, dada a sua importância

econômica, os colúvios foram delimitados, recebendo no Mapa Geológico a sigla

MF,representando o principal componente do minério de ferro. Os fragmentos mais comuns

são de hematita fitaja e jaspelito ferruginoso. Estes depósitos são extremamente ricos em

Ferro (FE) devido a lixiviação da sílica. A sul do Estado, em área próxima à ocorrência do

Granito Taboco, margeando a borda da serra de Maracajú, ocorre um depósito colúvio-alúvial

em uma faixa de aproximadamente 25 km de comprimento por 5 km de largura. É constituído

por depósitos conglomeráticos com matriz arenosa e cimento ferruginoso, contendo

fragmentos de tamanhos desde seixos a matações. Os fragmentos são principalmente quartzo,

metassedimentos do Grupo Cuiabá e arenitos da Formação Furnas; subordinadamente

encontram-se fragmentos de rochas graníticas.

Considerou-se como depósitos eluvionares, as concreções limoníticas, associadas a

grãos de quartzo e fragmentos das rochas subjacentes intemperizadas. Eles formam o que já se

convencionou denominar de “piçarra”. São mais comuns nas áreas de ocorrências de rochas

do Complexo Rio Apa e Grupo Cuiabá. Estes depósitos foram denominados por Almeida

(1965a) de “Depósitos Sedentários”. Os lateritos Ferruginosos conhecidos como “canga”

formam nódulos com diâmetros variáveis, dispersos em matriz argiloso-siltosa ou como

agregados. Estes afloram em forma de lajedos, blocos e matações, sendo constituídos por

óxidos e hidróxidos de ferro, geralmente associados a grânulos de quartzo. As concreções

limoníticas em formação hoje, nos sedimentos da Formação Pantanal, resultam de processos

de lixiviação condicionados a oscilações do lençol freático e tem aspecto distinto dos lateritos

ferruginosos.

Desde as primeiras observações efetuadas nos meados do século XVI, o Pantanal

Matogrossense revela o forte fascínio que exerce sobre os homens. A extraordinária riqueza

representada por suas férteis pastagens naturais anualmente renovadas, a abundância e

variedade de sua magnífica fauna de pelo e pena, a piscosidade de seus rios, a amplidão da

planície com seu relevo monótono, as lagoas, o instável comportamento de suas drenagens,

conferem-lhe características peculiares. Santuário ecológico, com formidável vocação para a

pecuária, o Pantanal Matogrossense é uma região única, sem rival no globo pelas dimensões

que apresenta. Oliveira & Leonardos (1943) descreveram a maior parte dos depósitos

sedimentares que ocorrem na depressão do rio Paraguai e nas planícies e pantanais

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matogrossenses; agrupando os sedimentos inconsolidados em uma unidade litoestratigráfica

denominada Formação Pantanal, constituída, segundo ele por “vasas, arenitos e argilas

formando uma capa relativamente delgada sobre o fundamento paleozóico da Bacia do Alto

Paraguai. São depósitos na maior parte recentes”. A Formação Pantanal recobre a planície

pantaneira em cotas oscilando de 80 a 140 m, ocupando cerca de 20% da área total do Mato

Grosso do Sul. A principal área de ocorrência configura extensa faixa variável de até 250 km,

com formato grosseiro de cunha estendendo-se desde as margens do rio Piquiri ou Itiquira a

norte onde possui maior largura – até as margens do rio Apa a sul, já na divisa com a

República do Paraguai, na qual adentra. A oeste extravasa os limites do Estado, adentrando

em território boliviano e paraguaio. O limite leste é representado por uma linha formada pelas

escarpas da serra do Pantanal, serra do Maracaju e serra da Bodoquena. A Formação Pantanal

é composta por depósitos aluviais inconsolidados e semi-consolidados, constituídos por

sedimentos arenosos, síltico-argilosos e alguma matéria orgânica. As areias quartzosas

apresentam a tônica litológica dos pantanais matogrossenses, com os pelitos sendo observados

nas áreas interfluviais, onde sua sedimentação está associada com inundações periódicas

verificadas na região. A porção arenosa compreende grãos de quartzo hialino com

granulações média, arredondados, esfericidade boa a regular. Níveis de simétricos de

composição síltico-argilosa podem ser observados de maneira intercalada, assim como

sequência com estratificação gradacional. No topo da sequência existe variação faciológica,

entre as frações areia e argila, com predominância alterada. Na parte inferior o pacote arenoso

torna-se mais grosseiro, areno-conglomerático, com grãos subarredondados a subangulosos,

localmente com níveis conglomeráticos.

Indicando a escarpa em que se assenta Corumbá na margem direita do rio Paraguai

como seção-tipo, Almeida (1945b) define a sequência de calcários com a denominação

Formação Xaraiés, em lembrança à tribo indígena que habitava a região. A definição

litoestratigráfica da unidade distingue diversos tipos litológicos, aborda aspectos relacionados

á sua gênese e salienta seu registro fossilífero. No que tange a seu posicionamento

estratigráfico, Almeida (op.cit) a dispõe sobre uma superfície de erosão levemente ondulada,

recobrindo rochas dos Grupos Corumbá e Jacadigo. As principais zonas de ocorrência da

Formação Xaraiés são observadas na região das cidades de Corumbá e Bonito. Normalmente

estes depósitos são encontrados em terrenos baixos e aplainados, recobrindo rochas do Grupo

Corumbá (formação Tamengo e Bocaina), Formação Urucum e Complexo Rio Apa. A

Formação Xaraiés é formada por tufos calcários, travetinos e conglomerados calcíferos,

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geralmente fossilíferos. Estas rochas compõem-se em depósitos superficiais (Colúvio-

aluviais) acompanhando vales de drenagem, associados com a presença de rochas

carbonatadas que lhes deram origem. Sobre as formações Bocaina, Cerradinho e Tamengo

dominam as variedades calcárias, enquanto nos depósitos dispostos sobre a Formação

Urucum destacam-se a presença de arcóseos e/ou minério de ferro.

Sousa Júnior & Tarapanoff (1986) apresentaram no XXXIV Congresso Brasileiro

de Geologia as primeiras informações a respeito da criação de uma unidade quaternária,

denominando-a de Formação Ponta Porã. Segundo aqueles autores, tal unidade se constituiria

essencialmente por uma fácies basal formada por intercalações argilo-siltosas, recobertas por

um pavimento rudáceo, bastante representativo e utilizado economicamente na região, ora

assinalada, principalmente no encascalhamento de estradas. A Formação Ponta Porã ocorre

em áreas não contínuas de aproximadamente 70 x 50 km, abrangendo parte dos municípios de

Ponta Porã, Itaúm e Antônio João, localizadas no sul do Estado. O modelado morfológico

que se desenvolveu através do pacote ora referido, traduz-se sob a forma de um mar de

colinas convexas alinhadas, truncadas por vale pouco profundos, geralmente ocorrendo sobre

o substrato basáltico. A espessura observada, tendo o seu ponto mais baixo na fazenda

Lacinho, MG-382 (parte inferior da sequência) até nos pontos mais altos (Antônio João), não

ultrapassa 30 m, Litologicamente observou-se a presença logo acima das rochas basálticas

de um conglomerado monomicto de aproximadamente 1 m de espessura, matriz areno-

argilosa, decomposta, de coloração avermelhada, granulação fina. agregando a grosso modo

rudáceos (grânulos e seixos) bem arredondados de quartzo. Sobreposto ao conglomerado,

detectou-se uma camada de até 2m de espessura, de um argilito cinza-prateado, alterando-se

para cores amarronzadas e amareladas (início do processo de laterização). Condicionado ao

argilito, observa-se intercalações subordinadas de lâminas sílticas com coloração amarelo-

cera, devido também a ferruginização. Níveis já bastante larerizados (sílticos), de forma

lenticular, ocorrem sob a forma sinuosa, entre o argilito e o arenito superior. Sobreposto à

camada de 2 m de argilito intercalado com nódulos e níveis orgânicos (cor preta), já atingindo

o grau da turfa, ocorre uma camada de arenito avermelhada, granulação fina, algo argilosa,

mostrando intenso grau de pedogenização com desenvolvimento de níveis ondulares de

“cascalho”, o que já indicaria o início do pavimento rudáceo. O arenito ora descrito

representa uma espessura entre 3 e 4 m, sugerindo o seu desenvolvimento para o solo que

recobre o Qpp e que também serve de matriz para o pavimento rudáceo. O pavimento

rudáceo que constitui a porção superior da Formação Ponta Porã, traduz-se sob a forma de uma

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cascalheira de até 10 m de espessura, com matriz argilo-arenosa e esporadicamente areno-

argilosa, representado por um paleo-solo com resquício de uma pretérita estratificação,

agregando a grosso modo, grânulo , seixos e matações sub a bem arredondados de quartzo

(90%) e quartzito. Esporadicamente registra-se a presença de bolas de argiIa de até 10 cm de

diâmetro, assim como de fragmentos ferruginosos e manganesífero sob a forma placóide e

botrioidal, desprovidos de arredondamento, ocorrem a saciado e bastonetes limonitizados,

constituindo níveis reguares e ondulares que mais parecem o resultado de oscilações do nível

freático. Não se observou um sentido de sedimentação orientada, rudáceos encontram-se

imbricados caóticamente entre si com uma concentração também bastante irregular, o que

sugere deposições rápidas e irregulares. O tipo de sedimentação observado sugere uma bacia

fechada, sujeita a uma deposição irregular, onde ocorreu inicialmente a alternância de

deposições argilosas e arenosas, para só a partir daí acontecer uma dinâmica fluvial mais

expressiva, onde as deposições ocorriam mais rapidamente, sujeitas a canais e temporários,

haja visto estarem os rudáceos imbricado caóticamente.

A rede hidrográfica compreendida no presente trato cartográfico, limita-se à Bacia Platina,

destacando-se os depósitos ao longo dos rios de maior parte como o Paraguai que recobre

todos os tributários que cortam o Pantanal com acumulações de sedimento recentes

(condicionados às calhas dos rios), com até 5 km de extensão e os depósitos do rio Paraná

(sudoeste da área), onde a Ilha Grande observam-se acumulações de até 3 km de largura. Os

depósitos recentes caracterizam-se por cascalho, areia e argilas, predominando as frações

arenosas. Os cascalhos são representados por grânulos, seixos, blocos e matacões compostos

dominantemente por quartzo. As areias são quartzosas, variando de fina a grosseiras, com

classificação variável. Silte e argila são também comumente observados, porém em menor

intensidade que as areias. A composição dos sedimentos variam de região para região, estando

em consonância com as litologias retrabalhadas, pois os sedimentos holocênicos cortam

indistintamente terrenos arqueozóicos, proterozóicos e fanerozóieos.