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OCristodosProfetas—OwenPalmerRobertsonTRADUZIDODOORIGINALEMINGLÊS:TheChristoftheProphets

©2004byO.PalmerRobertsonP&RPublishingCompany,P.O.Box817,Phillipsburg,NewJersey08865-0817.

©2016EditoraCLIRE–CentrodeLiteraturaReformada.1.aediçãoemPortuguês:outubrode2016.

Éproibidaareproduçãototalouparcialdestapublicaçãoporquaisquermeiossemaautorizaçãoporescritodoeditor,excetocitaçõesemresenhas.

Salvooutraindicação,todasascitaçõesbíblicassãodetraduçãoprópriadoautor.Nasversõeseminglêsondeapalavra“SENHOR”apareceemsubstituiçãoaotetragramahebraico,oautorsubstituipor“SENHORdaAliança”.Omesmocritériofoiaplicadoparaasversõesemportuguês.

PRODUÇÃOEDITORIAL:Editorerevisor:WaldemirMagalhãesColaborador:ManoelCanutoTradutor:HelioKirchheimDesigner:HeraldoAlmeida

CONSELHOEDITORIAL:AdemirSouza;AdrianoGama;JuliusvanSpronsen;KennethWieske;WaldemirMagalhães;WelitonBorges.

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AOS MEUS TRÊS F ILHOS :

JohnMurrayRobertson,DavidElliotRobertsoneDanielIsaacRobertson

“Quantoamim,estaéaminhaaliançacomeles”,dizoSenhordaAliança.“OmeuEspíritoqueestáemvocêeasminhaspalavrasquepusemsuabocanãoseafastarãodela,nemdabocadosseusfilhosedos

descendentesdeles,desdeagoraeparasempre,”dizoSENHORdaAliança.—Isaías59.21

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SUMÁRIO

ÍndiceAnalíticoPrefácioINTRODUÇÃO

1.AORIGEMDOPROFETISMOEMISRAEL252.ASPECTOSIMPORTANTESRELACIONADOSÀORIGEMDOPROFETISMO

3. CHAMADOEACOMISSÃODOPROFETA4.VERDADEIROSEFALSOSPROFETAS1155.ALIANÇAELEINAPROCLAMAÇÃODOSPROFETAS6.AAPLICAÇÃODALEIEDAALIANÇANAMENSAGEMDOSPROFETAS7.OCENÁRIOBÍBLICO-TEOLÓGICODOSPROFETASESCRITORESDEISRAEL8. OProfetismoAnterioraoExíliodaNação:osProfetasdoSéculoVIIIa.C.9. OProfetismoAnterioraoExíliodaNação:osProfetasdoSéculoVIIa.C.10.OPROFETISMODURANTEOEXÍLIODANAÇÃO:EZEQUIEL11.OPROFETISMODURANTEOEXÍLIODANAÇÃO:DANIEL12. OsProfetasdaRestauração13.APREDIÇÃONAPROFECIA14. OEventoCentraldoMovimentoProféticodeIsrael

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

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ÍNDICEANALÍT ICO

Prefácio

Introdução

1•AOrigemdoProfetismoemIsraelI.ExplicaçõesalternativasparaaorigemdoprofetismoemIsraelA.ComportamentoextáticoB.PráticasrelacionadasaocultoC.ProfeciadoAntigoOrientePróximo1.Mari2.Neo-AssíriaII.TestemunhobíblicoarespeitodaorigemdoprofetismoemIsrael

2•AspectosImportantesRelacionadosàOrigemdoProfetismoI.AproeminênciadeMoisésemrelaçãoatodososoutrosprofetasA.AoposiçãoaMoisésB.AsingularidadedeMoisésII.AiniciativadeDeusemfazersurgirumapalavraproféticaIII.AspalavrasdoprofetacomoaprópriapalavradeDeusA.Omododerecebê-laB.Omododeentregá-laC.Consequênciasdaqualidadederevelaçãodapalavraprofética1.Autoridade2.UnidadeIV.Indiscriminadarejeiçãodeformasalternativasdedeterminarapalavrado

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SenhorV.Operigodeapartar-sedoprofetadoSenhorA.Afastar-sepordesobediênciaB.Afastar-sepelafalsaprofeciaVI.JesuscomoaconsumaçãodoprofetismoA.JesuscomooriginadordapalavraproféticaB.JesuscomodistribuidordosdonsdoEspíritoC.JesuscomoSenhordapalavraproféticaD.JesuscomooprofetaconsumadoVII.Conclusão

3•OChamadoeaComissãodoProfetaI.OcontextohistóricodochamadodosprofetasII.AvisãodeDeusIII.ComissãodapartedoTodo-poderosoIV.AreaçãodeincapacidadeV.AreaçãodopovoVI.Conclusão

4•VerdadeiroseFalsosProfetasI.AorigemúltimadaverdadeiraedafalsaprofeciaII.AsmotivaçõesdosverdadeirosedosfalsosprofetasIII.OcaráterdapessoaeobradosprofetasIV.CritériosparafazerdistinçãoentreaverdadeiraeafalsaprofeciaA.CritériosbíblicosparafazerdistinçãoentreverdadeiraefalsaprofeciaB.CritériosmodernosparadistinguirentreaverdadeiraeafalsaprofeciaV.AsconsequênciasdoministériodosverdadeirosedosfalsosprofetasA.ParaaspessoasdeformageralB.ParaofalsoprofetaC.Paraoverdadeiroprofeta

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VI.Conclusão

5•AliançaeLeinaProclamaçãodosProfetasI.ArelaçãodaaliançaedaleicomosprofetasA.OtestemunhobíblicoB.TradiçãohistóricareconstruídaII.OfatorcentraldaleiIII.OfatorcentraldaaliançaA.AunidadedasaliançasB.Diversidadeentreasalianças

6•AAplicaçãodaLeiedaAliançanaMensagemdosProfetasI.ComoosprofetasaplicavamaleiA.AmaneirageralcomoosprofetasaplicavamaleiB.Amaneiraespecíficacomoosprofetasaplicavamalei1.Nãoterásoutrosdeusesalémdemim(Êx20.3)2.Nãofarásparatinenhumaimagemdeescultura(Êx20.4)3.NãotomarásonomedoSenhorteuDeusemvão(Êx20.7)4.Lembra-tedoShabbathparasantificá-lo(Êx20.8)5.Honrateupaietuamãe(Êx20.12)6.Nãomatarás(Êx20.13)7.Nãoadulterarás(Êx20.14)8.Nãofurtarás(Êx20.15)9.Nãodirásfalsotestemunho(Êx20.16)10.Nãocobiçarás(Êx20.17)C.Alémdoespecífico:osignificadomaisamplodeguardaralei1.Cuidadoparacomoórfão,aviúvaeoestrangeiro2.AmoraDeuseaohomemD.Arelaçãodaleicomacondenaçãodasnações1.Orgulho,idolatriaeviolência

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2.CrueldadeparacomopovodeDeusII.ComoosprofetasaplicavamaaliançaA.AaliançadeDeuscomAdãoB.AaliançadeDeuscomNoéC.AaliançadeDeuscomAbraãoD.AaliançamosaicaE.AaliançadeDeuscomDaviF.AnovaaliançaG.SumárioIII.Conexãoentrealiançaeleinosprofetas

7•OCenárioBíblico-TeológicodosProfetasEscritoresdeIsraelI.AtradiçãodeinúmeroseditoresII.AbuscaporumaalternativaA.WalterBrueggemannB.BrevardS.ChildsIII.Ofocodocorpusprofético

8•OProfetismoAnterioraoExíliodaNação:osProfetasdoSéculoVIIIa.C.I.OseiasII.AmósIII.MiqueiasIV.IsaíasA.Elementos-chavesdochamadodeIsaías1.AexaltaçãodoSenhorcomorei2.AsantidadecomocaracterísticadistintivadoSenhordeIsaías3.OcaráteruniversaldodomíniodoSenhor4.ApecaminosidadedoprópriopovodeDeus5.AincapacidadedopovodeouviraPalavradoSenhor6.Oexíliodopovoesuarestauraçãoàterra

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B.AreconstruçãocríticadolivrodeIsaíasV.JoelVI.ObadiasA.AculpadeEdomB.OjulgamentodeEdomC.ComoojulgamentodeEdomafetaopovodeDeusVII.JonasVIII.Conclusão

9•OProfetismoAnterioraoExíliodaNação:osProfetasdoSéculoVIIa.C.I.NaumII.HabacuqueIII.SofoniasIV.JeremiasA.Jeremias1:OchamadodoprofetaB.Jeremias11,12:AaliançadeDeusparaIsraeleparaasnaçõesC.Jeremias18,19:JeremiasvaitercomooleiroD.Jeremias24:avisãodosdoiscestosdefigosE.Jeremias31:aprofeciadanovaaliançaF.Jeremias42:umapalavraaoremanescentequesobreviveG.Jeremias45:Baruqueea“sagadorolo”H.Conclusão

10•OProfetismoDuranteoExíliodaNação:EzequielI.AcondiçãodopovoduranteseuexílioA.EscassosindíciosdosexiladosB.AexperiênciadosdeportadosC.AreaçãodosisraelitasaoexílioII.AmensagemespecialdeEzequielA.AssuntosintrodutóriosrelacionadosàprofeciadeEzequiel

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B.MomentoscríticosnasprofeciasdeEzequiel1.AvisãodocomissionamentodeEzequiel(Ez1-3)2.Oafastamentodaglória(Ez8-11)3.Arestauraçãodepoisdoexílio(Ez34-48)a.ArestauraçãoefetuadapeloPastordivinoeoreidavídico(Ez34)b.Arestauraçãopormeiodaconsumaçãodasaliançasdivinas(Ez36.24-28;37.24-28)c.Arestauraçãopormeiodavivificaçãodosossossecos(Ez37.1-14)d.Arestauraçãoefetuandoareunificaçãodosreinosdivididos(Ez37.15-28)e.Arestauraçãoqueacarretaavitóriafinalsobretodosospoderescontrários(Ez38,39)f.Arestauraçãoincluiumplanoparaotemplofinal(Ez40-48)(1)Ocenáriodavisão(2)Oconteúdodavisão(3)Osignificadodavisão

11•OProfetismoDuranteoExíliodaNação:DanielI.Umtemaconstante:odomíniouniversaldoreinodeDeusII.CincopontosdecisivosA.AgigantescaestátuadeNabucodonosor(Dn2.31-45)B.Apedracortadasemauxíliodemãos(Dn2.34,35)C.Osquatroanimais,opequenochifre,eoFilhodoHomem(Dn7.2-28)1.Osquatroanimais2.Opequenochifre3.OFilhodoHomemD.Assetentasemanas(Dn9.24-27)1.Ocontexto2.Anaturezadassetentasemanas3.Oslimitescronológicosdassetentasemanas4.Aconsumaçãodaredençãonassetentasemanas

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5.AsingularidadedaseptuagésimasemanaE.Oreidedurosemblante(Dn8.23;11.36)III.OsignificadoteológicodoexíliodeIsraelA.OsapóstatasB.Oscrentestransigentes,desobedientesC.Israelcomoapersonificaçãotipológicado“ServodoSenhor”D.Oremanescentefiel

12•OsProfetasdaRestauraçãoI.Osprimeirosprofetasdarestauração:AgeueZacariasA.AsituaçãodopovoB.AsituaçãodasnaçõesC.Antecipaçõesdofuturo1.Jerusalémeotemploserãoreconstruídos2.OpróprioDeusvairetornarparavivercomeles3.Muitomaisgentevairetornar4.Opecadoseráremovido5.OServo-MessiassacerdotalviráII.Apalavrafinaldoprofetismodaantigaaliança:MalaquiasA.AordemdaadoraçãoB.AordenançadocasamentoinstituídanaCriaçãoC.AinstituiçãodotrabalhoD.Expectativas,exortaçõeserealizaçõesconsumadas

13•APrediçãonaProfeciaI.PerspectivascríticassobreaprediçãonaprofeciaII.OconceitobíblicodeprediçãonaprofeciaIII.CategoriasdeprediçãoproféticaA.Prediçõesdecurtoprazo1.OcursodanaçãodeIsrael

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2.Aascensãoequedadosreisdasnações3.AvidapessoaldosprofetasdeDeusB.PrediçõescondicionaisC.Prediçõesarespeitodasnações1.Ainclusãodosgentiosdaperspectivaanterioraoexílio2.Ainclusãodosgentiosdaperspectivadoexílio3.AinclusãodosgentiosdaperspectivaposterioraoexílioD.Prediçõesdelongoprazo

14•OEventoCentraldoMovimentoProféticodeIsraelI.AimportânciadasprofeciasarespeitodoexílioedarestauraçãoII.ConceitoschavesrelacionadoscomasprediçõessobreoexílioearestauraçãoA.OexílioearestauraçãoestãointerligadosB.OexílioearestauraçãoocorrempordiferentesrazõesC.Oexílioearestauraçãoestãoligadosaoêxodo,àperegrinaçãonodeserto,eàconquistadaterraD.OexílioearestauraçãoestãoligadosaofimdamonarquiadeIsraeleàmanifestaçãodoMessiasvindouroE.Oexílioearestauraçãosãopreditosdemaneiraimpressionante1.OdesafiodeIsaíasquantoàprofeciaa.OretornodeIsraeldoexíliob.AmençãodeCirocomolibertadordeIsraelc.AvindadosofredorservodoSenhordaAliança2.AprediçãodeJeremiasarespeitodos70anosdeexílioIII.Osignificadobíblico-teológicodarestauraçãodeIsraelA.ArestauraçãodeIsraelimplicanoperdãodepecadosB.ArestauraçãodeIsraelimplicananovavidaemgraçaC.ArestauraçãodeIsraelincluiasnaçõesgentiasD.ArestauraçãodeIsraelrejuvenesceaterra,culminandocomaressurreição

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dentreosmortos

Conclusão

Bibliografia

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PREFÁCIO

NESTAMETICULOSA introduçãoaosprofetasdoantigoIsrael,oDr.O.PalmerRobertsonrevelaapaixãoeopropósitodosescritosextraordináriosdeles.Eleescreve: “Uma nova aliança, uma nova Sião, um novo templo, um novoMessias, uma nova relação com as nações do mundo – essas eram asexpectativas propostas para injetar futura esperança no povo que teria desuportarotraumadadeportaçãodasuaterra”.

Depoisdeexaminarasorigensdoprofetismo,ochamadodosprofetas,esuaproclamaçãoe aplicaçãoda lei edaaliança,oDr.Palmerdedicaatençãoespecial ao significado bíblico-teológico do exílio e da restauração.Observandoessasexperiênciaspelaperspectivadeváriosprofetas,eleconduznossaatençãoparaos sofrimentoseparaagloriosa restauraçãodopovodeDeusemCristo.

O Cristo dos Profetas é uma sequência da obra O Cristo dos Pactos,consideradapormuitoscomoumclássiconaáreadateologiabíblica.

A profusão sem par da literatura inspirada dos profetas surgiu numperíododahistóriaquenosconvidaacompará-loaonossoprópriotempo.AproclamaçãodelesparaseuscontemporâneoseasprediçõessobreoexílioearestauraçãodeIsraeleoMessiasvindourotêmaplicaçõesperenes.

Os estudiosos da teologia bíblica vão apreciar, de modo especial, aanálise que o Dr. Palmer faz dessas profecias, bem como suas firmescontestaçõesàsinterpretaçõesliberaiseneo-ortodoxasdehoje.

—Oseditores

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INTRODUÇÃO

ALGUMA COISA levou os profetas de Deus a escrever. Quando acabaram defazê-lo, tinham produzido um acervo literário sem paralelo na históriahumana.Nadaantesnemdepoisdelesseigualaàobraliteráriaproduzidapelosprofetas de Israel.1 Mas o que levou os profetas a produzirem essa obrasingulardeescritos?

Por muitos anos, o criticismo bíblico afirmou que os profetasoriginalmente entregaram suas mensagens unicamente de forma oral comoproclamações curtas, abruptas. Esse tipo de discurso mais irracional, emforma de êxtase, foimais tarde escrito e depois repetidamente revisado poruma série de editores subsequentes.2 Mais recentemente, tem-se concedidomaiorcréditoaopontodevistadequeosprópriosprofetasescreverammaisdas suas mensagens do que anteriormente se reconhecia.3 Obviamente,qualquerque seja aperspectiva, épreciso reconhecerquealguémemalgummomentodahistóriadeIsraelescreveuumagrandequantidadedematerialquesetornouconhecidocomo“profético”.

Suaorigem,comcerteza,pode ser legitimamenteatribuídaà inspiraçãodoEspíritoSantodeDeus.AvisãoarrebatadoradeIsaíasdo“Senhor,numaltoesublimetrono”comserafinscobrindoorostoeospésenquantovoavam;aprofecia de Joel de que “nos últimos dias” Deus “derramaria seu Espíritosobre toda a carne” de tal forma que homens e mulheres, jovens e velhos,teriamvisõesesonhos;adescriçãoqueEzequielfazdovaledosossossecos,com a pergunta desafiadora que apela à sua fé: “Filho do homem, podemreviverestesossos?”—essaspalavras,essasvisões,ecentenasdepassagenscomoessasemtodapartenosprofetas—nãosãoprodutonormaldeescritoshumanos que facilmente podem ser imitados. Todo leitor imparcial recebedelesasensaçãodequeessaspalavrassãodefatosobrenaturais.

Mas é preciso perguntar outra vez: O que, no tempo e na história,estimulou essa efusão de literatura inspirada durante dezenas, até mesmocentenas de anos, manifestando uma forma e conteúdo que jamais haviaocorridoantesedepoisdissojamaisserepetiu?

NaestruturadasEscrituras,osgrandeseprimeiroseventossalvíficosnahistória de Israel que trouxeram a nação à existência foram registrados deformaqueaposteridadeconseguiriaentenderseusignificado.Deacordocom

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oPentateuco,oêxododoEgitonãofoiapenasadramáticalibertaçãodemaisumpovodo cativeiroda escravidão.Não; essesgrandes eventos foramumaação redentoradopróprioDeus,naqualEle libertou seupovoescolhidodasua contaminação pecaminosa por meio do sangue do cordeiro pascal. Damesma forma, as leis de Israel não eram simplesmente o refinamento e aespiralascendentedamoralhumanaemdireçãoàperfeição.Emvezdisso,as“dez palavras”, osDezMandamentos, surgiram no contexto de uma aliançadivinainiciadanomonteSinai,umelosolenedeumjuramentodesanguepormeio do qual o autorrevelado SENHOR da Aliança se comprometeu com opovoeopovocomEleportodaaeternidade.

EssesatosdeDeus,poderosose formativos,emfavordoseuescolhidopovo da aliança foram cuidadosamente registrados e seu permanentesignificado foi preservado por escrito para as gerações vindouras.Consequentemente, todas as eras futuras têm condições de confirmar por simesmas o intento de Deus ao formar esse povo no decorrer da históriahumana e juntar-se com Israel na aliança que intencionava fazer deles umabênçãoatodasasnaçõesdomundo.

Circunstância similar cercou o auge, a épocamáxima do trato deDeuscomseupovosobaproteçãodasuaaliançacomIsrael.AhistóriadabênçãodivinanaaliançachegouaoseuaugenosdiasdeDavieSalomão,quase500anosdepoisdalibertaçãodeIsraeldaopressãodefaraó.Nessaeragloriosa,ojuramento de Deus a respeito da aliança do reino foi confirmadoespecificamentecomDaviecomseusdescendentes.Deusteriauma“casa”,umlugardedescanso,umtemploparaseradorado,queestariasituadoexatamentenomeiodaterradoseupovo.AliEleseencontrariacomeles,osabençoaria,efariadelesumabênçãoparatodasasnações.Aomesmotempo,Daviteriauma“casa”,umadinastia,umalinhagemdedescendentesquereinarianotronoemJerusalémparasempre(2Sm7.10-16;Sl89.19-37;132.1-18).Afusãodessasduas“casas”emumlugarnomonteSiãoestabeleceuarealidadedoreinodeDeus na terra. Como consequência, o reino messiânico de retidão, perdão,justiça e amor com o passar do tempo se expandiria até envolver todos osoutros reinosdomundo.OmessiasungidodeDeusreinariademaramaredesde o rio até aos confins da terra (Sl 72.1-17). Deus haveria de subjugartodos os inimigos da retidão e justiça sob os pés do messias (Sl 2). EsseestabelecimentosimultâneodotronodeDaviedotronodeDeusemJerusalémassinalavaopontomaiselevadodaconcretizaçãodospropósitosdeDeusnahistóriadeIsrael.OMessiaseseureinoestavamnocentrodetodasasoutrasnações,posicionadosdetalformaqueaobradeDeusdaredençãodopecadoesuasconsequênciaspoderiaespalhar-seportodosospovosdaterra.

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É compreensível, então, que esse evento culminante no movimento dahistóriadaredençãofossetambémregistradopelosescritosinspirados,destavez pelos poetas de Israel. Se a nação precisava ser conduzida de formaapropriadaemadoração,eraprecisoqueumacervodeliteraturainspirasseaadoraçãodopovo.Assim,Davi,o“docesalmistadeIsrael”, falouarespeitodoscéusquedeclaramaglóriadeDeusedofirmamentoqueproclamaaobradassuasmãos;eleescreveudaexaltaçãodohomemnacriaçãoenaredenção,homemque foi feito “umpoucomenor do que os anjos”,mas “coroado deglória e honra”; ele descreveu como é bem-aventurado o homem cujastransgressões são perdoadas e cujos pecados são cobertos; ele louvou oSenhor que era a sua luz e sua salvação, a força da sua vida; e prestouhomenagemaoMessiasprometidocomofilhodeDeusestabelecidonosantomonte Sião, que haveria de herdar as nações e desfazer os abusos de podercometidospelosmonarcasegoístasdestaterra.EssessalmosdaépocadeDavicelebravamasglóriasdoMessiaseseureinoquejátinhavindoeaindaestavaporvir.

Mas,qualera,então,nomovimentodahistóriadaredenção,afunçãodosescritos dos profetas? O que, especificamente, na história, fez surgir essegrandeegloriosoacervodeliteraturaprofética?Seoaugedahistóriaisraelitafoioestabelecimentodamonarquiamessiânica,oquemaisrestou?

Semdúvidaalguma,Vosestácorretoquandodizque“anovaorganizaçãodoreinoteocráticosobumgovernohumano”fezsurgiroministérioproféticona história de Israel.4 Esse “monumental movimento progressivo” deestabelecer um rei ungido que reinava por Deus representava um passoexpressivonadireçãodamanifestaçãodospropósitossalvíficosdeDeus.Issoexplica a presença de Samuel no estabelecimento de Saul e Davi comoprimeiros reis de Israel. Em toda a história restante dos reis de Israel, osprofetas muitas vezes dirigiram suas mensagens de forma específica aosgovernantestantodeIsraelcomodeJudá.

Masexisteumaclaradiferençaentreoministériodosprimeirosprofetascomo Elias e Eliseu e os profetas posteriores como Isaías e Ezequiel. Noprimeiro caso, a história pessoal dos profetas serviu como foco do seuministério,massãopoucasaspalavrasdelesqueforamcolocadasporescrito.EliasconfrontoudeformadramáticaoreiAcabenomonteCarmelo,massãopoucas as suaspalavras; ahistóriado seupupiloEliseu inclui dezoito açõesmiraculosas.Mas,emboraavidadeIsaías,JeremiaseEzequieltenhamalgumaimportância como representação da sua mensagem, é o registro das suaspalavras, de forma escrita, que representa o âmago distintivo doministériodeles.5

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Mas,umavezmais,podemosperguntar:Oque,nosprocessosdahistóriadeIsrael,levouàcriaçãodeumtãosignificativoacervodematerialescritoatornar-se o centro do ministério profético?6 Se o estabelecimento damonarquiarepresentavaoápicedahistóriadaredençãoemseuprogressosobaantigaaliança,oquefoideixadodelado?

Otrágicoéacoisaquefoideixadadelado.EssepovodaaliançadeDeus,escolhidoefavorecido,iriafalharnosseuscompromissos.Emvezdeservircomo a luz de Deus para as nações, esse povo escolhido apresentaria maisdepravaçãodoqueospovosaoseuredor.Comoconsequência,tiveramdeserrejeitadosporDeus,exilados,retornaramaoseulugardeorigemalémdorio.Essanaçãoquehavia sido altamente favorecidapor400anosdesdeque seupaiAbraãotinhasaídodeUrdoscaldeusprecisavaagoraserforçadaavoltarà terra dos caldeus como justo juízo de Deus contra sua persistência narebelião.

Mas o que significava nos propósitos de Deus esse trágicoacontecimento?Comopoderia o desterrodanação eleita deDeus contribuirpara o desenvolvimento do plano de Deus para redimir um povo dentre ahumanidade decaída?Qual seria o fim de tudo isso? Se o povo deDeus setornou“não-meu-povo”,oqueofuturoreservariaparaumaobradivinaquerevitalizariaumuniversoquegemiaangustiadoàesperaderedenção?

FoioexílioeofuturoalémdoexílioqueosprofetasescritoresdeIsraelforamconvocadosecomissionadosaexplicar.Eleseramprofetasporqueseuchamadoeramais falardoqueagir.Elesnãoguiariamanaçãoemaçõesdenatureza redentiva comparáveis à libertação do Egito sob Moisés ou aconsolidação do reino sob Davi. Como profetas, eles foram chamadosprimeiro e acima de tudo para falar, e, por meio da fala, exigirarrependimento da transgressão da lei de Deus e fé na palavra da graça deDeus.

MasessegrupodeservosdeDeustambémfoicomissionadoaescrever.Essesservosforamchamadosparaescreverporcausadapróprianaturezadomomento histórico em que viviam. A nação seria devastada, destruída,aniquilada.Primeirooreinodonorteseriainvadidopelosassírios,levadoaocativeiro para bem longe das suas fronteiras. Mas depois aconteceria oabsolutamente impensável. O reino de Judá, que abrigava o santo lugar dahabitaçãodeDeus,desapareceriadafacedaterra.Como,então,seconservariaum fio que fosse de esperança com respeito aos propósitos redentores deDeus?OquehaviarestadoparaIsraeleconsequentementeparatodasasoutrasnações, serem abençoadas com as boas novas da redenção? Onde estava,agora,agrandeobradeDeusderevitalizaraterracorrompida?

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Nessevácuodeaparentedesesperançaéqueosprofetasforamchamadospara falareescrever.Eles tinhamdeescrevere tambémfalarparaque fossepossível manter a continuidade da esperança através das gerações. Quandosurgiram“asgrandesmonarquiasuniversais asiáticas”,designadasporDeuspara seremos instrumentosdecastigopara suanaçãoescolhida, eraprecisodarmostrasda inabalávelsoberaniadoseuDeus.7Senadahavia restadodasatividadesinstitucionaisdavidadotemploemJerusalém,quetinhamsidotãoperfeitamente projetadas para transmitir as expectativas da redenção àsgeraçõesvindouras,algumaoutracoisaprecisavaaparecerparaacenderumachamade esperança no coração dos futuros filhos e filhas.Essa outra coisaseriamosescritos inspirados,asprofeciaspreservadasnãoapenasdoexílio,mas também da restauração depois da devastação. Se o próprio exílio foipredito nos registros escritos dos profetas, então, quando chegou essemomento terrível, seu lugarnospropósitosdeDeuspôdesercompreendido.Em vez de criar uma atmosfera de descrença, o exílio antecipado pelosprofetas desafiaria o remanescente dopovodeDeus à fé queveria a justa eintencionalmãodoSENHORdaAliança.Nestacircunstânciacrítica,tornou-senecessário estabelecer a onisciência e onipotência do único Deus vivo everdadeirosobrea“aparentesuperioridadedosdeusesdos ímpios,àmedidaque isso se tornou notório pela vitória dos poderes mundanos sobre ateocracia”.8

Simultaneamente, as predições proféticas de uma restauração mesmodepois das devastações do exílio só poderiamproduzir o efeito demover opovoauma féqueolhasseparao futuro.Pois, seDeus tinha sido fiel à suapalavranamensagemsobreoexílio,podia-seesperarqueseriafieltambémàsuapalavranamensagemarespeitodarestauração.

O que significava essa restauração? Será que era simplesmente umretorno ao antigo estado de coisas que imperava antes do exílio? Será queantevia um ciclo de deterioração no pecado seguido inevitavelmente porrepetidosjuízosdeDeus?SeráqueosfuturosreisdeumIsraelrestauradonãoseriam melhores que os reis do passado, os quais foram tão severamentecondenadospelosprofetas?

De acordo com os escritos dessesmesmos profetas, a resposta é:Não!Foipreservadaparaaposteridadeaesperançadeumarestauraçãomuitomaisgloriosa do que os dias anteriores ao exílio. Uma nova aliança, uma novaSião,umnovotemplo,umnovomessias,umanovarelaçãocomasnaçõesdomundo—essaseramasexpectativasdestinadasacriaresperançafuturaparaopovoqueteriadesuportarotraumadeserdeportadodasuaterra.Masessesescritos não foramdivinamente projetados apenas para sua própria geração.

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Eles tinhamemvista todas as futuras gerações, até omomentoda triunfantevindadoMessiasesperado,quefariasurgirumnovocéueumanovaterra.

Dessa forma, os escritos inspirados dos profetas falam a todas asgerações ainda hoje. Sem um retorno para Deus em fé e arrependimentoconformeeles exigem, suaspalavrasnão serãoentendidasde formacorreta.Masparatodasasgeraçõesepovosqueleremeouviremcomoentendimentoquesomenteafépodeconceder,elessempretrarãoamensagemdeesperançaerestauração.

Essaéarazãoporqueosescritosdessesprofetasdeoutroraprecisamserouvidosoutravez.Elesfalamhojecomtantaclarezacomofalaramnaépocaemqueforaminspirados.Comférenovada,queageraçãodehojeouçaestamensagemprofética,queseconcentramaisumaveznoMessiasvindouroenoseureinoglorioso.

1 “Completamente único” é a maneira como Clements descreve omaterial profético. Ele prossegue:“Emnenhumoutro lugar na antiguidade se preservou esse tipo dematerial literário”.O volumedeliteraturaproféticadoAntigoTestamento“continuasendoumaproduçãoúnica”doantigoIsrael(OldTestamentProphecy,203).

2VejaMowinckel,ProphecyandTradition;eRowley,Servantof theLord, 93.A antigaopiniãodoseruditos se baseava muito na perspectiva corrente da época, que via o material profético comoprodutodeumprocessoevolutivo.Combasenessapressuposição filosófica,osantigosprofetasdeIsrael eram vistos mais ou menos como brutos que pronunciavam suas profecias num estado deêxtase,esomentemaistardeareligiãodosprofetasevoluiuparaumsistemadefémaiscoerente.VonRad(OldTestamentTheology,2.6),sobreaideiadequeIsaíaseJeremiaspertenciamaumgrupodeprofetas extáticos de uma “contínua linha de desenvolvimento” diz que essa é uma “simplificaçãoexagerada”.

3VejavonRad,OldTestamentTheology,2.40-45.Lindblom,ProphecyinAncientIsrael,221,afirmaqueé“fatoincontestável”queosprópriosprofetas“àsvezes”puseramporescritoosseusoráculos.DeacordocomFohrer,IntroductiontotheOldTestament,359,“amaioria”dosditosproféticosfoiescrita “enquanto ainda estavamvivos os profetas”.Analisando a ordemqueDeus deu aEzequielparaquecomesseoroloquelhefoiapresentado,Zimmerli,FromPropheticWordtoPropheticBook,430,concluique“éevidentequeoprofetaestavaacostumadocomrolosdessetipo,quecontinhamapalavra profética”. Numa peculiar guinada da erudição recente, há pessoas que propõem quecontrariamente ao procedimento dos profetas anteriores ao exílio, somente os profetas posterioresescreveram suas mensagens sem jamais proclamá-las oralmente. É interessante ver que essasperspectivas recentes foram antecipadas por um erudito da geração anterior, que considerou otestemunhodomaterialproféticocommaisseriedadedoquesefazgeralmente:“Emalgunscasos,oprofeta,sobainspiraçãoprotetoradoEspíritodeDeus,podetercolocadoporescritolongasseçõesdassuasmensagenslogodepoisdehavê-lasproferidodeformaoral.Poroutrolado,podeserquealgumasdasprofeciasnão tenhamnunca sidoentreguesoralmente,mas foramunicamenteprodutosliterários”(Young,IntroductiontotheOldTestament,157,158).

4 Vos,BiblicalTheology,203.5Paradesenvolverestadistinção,vejavonRad,OldTestamentTheology,2.33.

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6 Fohrer, Introduction to the Old Testament, 360, argumenta que “a palavra falada [do profeta]precisava ser registrada logo para conservar sua capacidade de produzir efeito”. Somente se fosseescrita é que o poder da palavra profética poderia ser liberado outra vez. Embora haja algumaverdade nessa observação, ela parece atribuir poder mântico à palavra em si, em vez de atribuirpoderàobradosoberanoSenhornaconfirmaçãoeaplicaçãodaverdadedasuapalavra.

7Keil,IntroductiontotheOldTestament,1.279.8Ibid.

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AORIGEMDO PROFETI SMO EM ISRAEL

“NadasabemossobreasorigensdaprofeciaemIsrael.”—JohannesLindblom,ProphecyinAncientIsrael

“Aindasãoobscurasasorigensdaprofeciaisraelita.”—WaltherZimmerli,TheLawandtheProphets

“[AEscritura]nãoforneceainformaçãonecessáriaparaumasolução[comrespeitoàorigemdoprofetismoemIsrael].”—BrevardS.Childs,BiblicalTheologyoftheOldandNew

Testaments

“AprofeciaemIsrael…começacomoinexplicávelsurgimentodeindivíduosqueafirmamestarpronunciandoapalavrareveladade

Yahweh.…Osurgimentode[essagente]…é,defato,umacontecimentoestranho,inexplicável,originalocorridoemIsrael.…Essesindivíduossãoestranhosenãohácomoentendê-losàluz

denenhumantecedente.”—WalterBrueggemann,TheologyoftheOldTestament

NESTEASSUNTO, alguns dos principais críticos bíblicos expressamde formaunânime seu ponto de vista de que não é possível conhecer a origem doprofetismoemIsrael.Elessimplesmentenãosabemcomosurgiuofenômeno.Paraeles, suaorigemémistérionão resolvido.Paraeles, éumenigmasemsolução a maneira como surgiu esse grupo de indivíduos, por 200 longosanos, convictos de queDeus havia entrado em contato com eles.Mas certasfontes continuam sendo apontadas como a origem do profetismo em Israel.Antes de considerarmos o testemunho bíblico a respeito da origem doprofetismo em Israel, precisamos examinar as seguintes explicaçõesalternativasparaaorigemdaprofecia.

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I.ExplicaçõesalternativasparaaorigemdoprofetismoemIsrael

A.ComportamentoextáticoAevidênciabíblicaindicaquealgumaformadeexperiênciaextáticavez

ou outra estava associada com o profetismo em Israel. Esse elemento naexperiência profética se estende das primeiras manifestações nocomportamentodeSaul(séculoXIa.C.)àassombradarespostadeEzequielàsuaexperiênciadeumavisão(séculoVIa.C.).OEspíritodeDeusveiosobreSaul,quesedespiudasuatúnicae“profetizou”napresençadeSamuel(1Sm19.23,24).Depoisde teravisão,Ezequielsentou-seatônitoporsetedias (Ez3.15).Séculosdepoisdisso,lemosqueveioaopróprioapóstoloPedro(séculoId.C.)um“êxtase”(ekstasis)juntamentecomavisãoqueabriuseuministérioaovastomundodasnaçõesgentias(At10.10).Àvistadestaevidência,propõe-sequeoprofetismoemIsraelseguiuumpadrãodedesenvolvimentosimilarao fenômeno entre os cananeus e em outras religiões, evoluindo de formanatural de seus primitivos começos extáticos às formas de expressão maiselaboradasdosprofetasposterioresdeIsrael.

É muito difícil conseguir evidência convincente de que a experiênciahumana comum de êxtase seja resposta à questão da origem da profeciabíblica. A opinião anteriormente sustentada de que a profecia israelita seoriginoudafusãodeumelementonômadequeIsraeltrouxeàPalestinaeumramo nativo de profecia cananeia “é mera hipótese e cria uma série deproblemas”.1 Essa teoria se baseia em “hipóteses evolucionistas nãocomprovadas que não se sustentam pela evidência dos próprios textos”.2Childs chama a atenção ao fato que “tem surgido um consenso crescente deque não há como correlacionar terminologia específica [para o profetismo]comocrescimentohistórico”.3

Alémdisso,nemtodoêxtaseédomesmotipo.Asexperiênciasdeêxtasepodem variar de comportamentomântico irracional até percepção espiritualintensa. Nas muitas ocasiões relatadas de sonhos proféticos e visões naEscritura,édifícilencontrarbaseparaa ideiadequeoprofetabíblico tenhaperdido parte, ainda que pequena, da acuidade mental enquanto profetizava.Pelo contrário, o êxtase associado com a profecia bíblica é mais bementendidocomoumaexperiênciaque“elevaamentehumanaaomaiselevadoplano de relacionamento com Deus”.4 A evidência da Escritura indica que,assim que o profeta bíblico saía da sua experiência de visão, ele lembravaplenamenteaquiloquetinhavistoeouvido.Mesmotendosidotransportadoàpresença do Deus cercado pelos serafins, o profeta Isaías permanece

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plenamente autoconsciente, ao ponto de se dar conta de sua pecaminosidadepessoal (Is 6.5). Por isso, sugere-se de forma apropriada que o êxtase nosentidodeumcomportamentomânticomaquinal “nunca foiumelementodagenuínaeoriginalprofeciaisraelita”.5

Porisso,seaorigemdaprofeciaemIsraelnãopodeserencontradanumprocesso evolutivo de um êxtasemaquinal até um discurso racional, o que,então,fezsurgiresseamploepersistentefenômenoemIsrael?Umasegundasugestão é que o profetismo em Israel tenha surgido em associação com aspráticasisraelitasrelacionadasaoculto.

B.PráticasrelacionadasaocultoJáhouvetempoemquefoiseriamentesugeridoqueoprofetaemIsrael

equivaliaàantítesecríticadosacerdócioemIsrael.Aspassagensbíblicasemque os profetas criticam o sistema ritual de Israel são, agora, corretamenteentendidas como juízo contra a conduta interior fria e não contra amaneiraexterior de adorar. A simples observação de que os profetas criticavam asoraçõesdanaçãodeformatãoenérgicacomocondenavamseussacrifíciosdáapoio a essa conclusão.6 Mas será que o profeta, assim como o sacerdote,estava profissionalmente ligado aos centros de adoração de Israel? SerápossívelentenderocultocomoogeradorlegítimodoprofetismoemIsrael?

A resposta mais honesta a essa pergunta é simplesmente que há poucaevidênciadequeomovimentoproféticotenhacomeçadoemassociaçãocomaspráticasreferentesaocultodeIsrael.Claramente,osprofetasparticipavamdaspráticasdeadoraçãoemIsraelcomopartenormaldasuavida.Algumaspoucas passagens bíblicas dão a entender a possibilidade de um ambientedestinadoàfunçãoproféticanotemplorelacionadoasuasatividadescultuais.7Mas,comoobservaVawter,emborapossahaveralgumfundamentoparafazerassociação com o culto em uns poucos casos, “simplesmente não existeprobabilidade nenhuma em favor da hipótese ‘cultual’.”8 A avaliação deRowley de que “precisamos tomar cuidado para não desconsiderar aevidência”9 com respeito à função dos profetas cultuais em Israel continuasendo uma perspectiva sensata sobre o assunto. A relação dos profetas emIsraelcomocultonãoincentivaaideiadequeoprofetismotenhasurgidodaspráticasdeadoraçãodasnações.10

C.ProfeciadoAntigoOrientePróximoExistiu, com certeza, entre as diversas nações do Antigo Oriente

Próximo,umfenômenoquetalvezpossaserchamadodeprofecia.11OpróprioJeremiasreconheceaatividadedeprofetasentreasnaçõesvizinhasdeJudá(Jr

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27.2-4, 9, 10). Muitos textos antigos têm surgido, os quais podem serchamados como proféticos em sua natureza, especialmente o material doséculoXVIIIa.C.encontradoemMarinomédioEufrates,edoImpérioNeo-AssíriodoséculoVIIa.C.12

1.MariOs materiais do século XVIII de Mari do médio Eufrates que podem

assemelhar-se com a profecia bíblica incluem dois textos rituais, cerca decinquenta dentre oito mil cartas e cerca de doze textos sobre economia ouadministração dentre um total de doze mil.13 Esses textos proféticos sãoreferências indiretasaprofeciasapresentadasdiretamenteaoreinaformadecartas vindas de vários funcionários públicos, informando-lhe o conteúdobásico de certos oráculos que tinham chegado ao conhecimento deles.14 Ostextos mencionam vários indivíduos que alegam ter recebidomensagens daparte dos deuses. Esse material tem certa semelhança à profecia do AntigoTestamento.Masseuconteúdoétotalmentediferente,comodeixamevidentesasseguintescaracterísticas:

Áreasde interesse:Osprofetasbíblicosmanifestamumaamplitudedepreocupaçãocomassuntossociais,éticose religiosos,aopassoqueos textosdeMariestãomais intimamentepreocupadoscomosassuntosbasicamenterelacionadoscomobem-estardorei.15Centralidade do ministério profético: Na profecia bíblica, asociedadeisraelitaestáemprimeiroplano.Masooráculoocasionalde algum profeta em Mari pouco contribui para a vida dacomunidade.16Censura do rei e do povo: “Em contraste comMari, a Bíblia estárepletadeprofeciasdesfavoráveisaoreieaopovo”.17Enquantoostextos de Mari têm como propósito apoiar e encorajar o rei, asdeclaraçõesproféticasdoAntigoTestamentomaiscondenamdoqueelogiamasmaisaltasautoridadesdasuasociedade.Verificaçãodosoráculosproféticosatravésdemeioscultuais:Seavalidade da mensagem profética em Mari fosse questionável, ocorrespondentedoreirecomendariaquesebuscasseoutrooráculoparaconfirmarapalavraprofética.EmIsrael,nenhumtipodemeiocultual desses era usado para verificar amensagem profética, nãoimportandoseacreditassemnelaounão.18A crueza da ação profética: Em Mari, um profeta devora umcordeirocrueanunciaqueanaçãoserá“devorada”.Enquantoesse

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incidente é descrito como o “texto mais iluminado” dentre osoráculos proféticos de Mari, é preciso notar que “a crueza desseprocedimento excede qualquer coisa atribuída aos profetasisraelitas”.19 As ações dos profetas bíblicos podem até serclassificadascomoincomuns,masnãogrosseiras.Sustento material por parte da corte do rei: De vez em quando,algumprofetadeMarirecebiapresenteseapoiofinanceirodacortereal,taiscomoalgumaroupa,umaneldeprata,umjumento.Outrasvezes, o profeta chegava até a solicitar diretamente umpresente.20Com exceção da anormal cobiça de Geazi, servo de Eliseu, osprofetasdeIsraelnãoprocuravamnemrecebiamapoiodacortedoreideIsrael.EssefatorindicaqueosprofetasemIsraeltinhamumafunçãototalmentediferentedaqueladosprofetasdeMari.Os profetas falavam em nome de uma variedade de deuses: EmIsrael,overdadeiroprofetafalaexclusivamenteemnomedoúnicoDeus,oCriadordetodasascoisas,oSENHORdaAliançadeIsrael.Mas em Mari os profetas promovem os diferentes interesses dediversosdeuses.21

Então, como é que a profecia emMari se relaciona com a origem doprofetismoemIsrael?Nãopodemosdizerqueosdoismundosdeprofecia“deformaalgumapossamsercomparados”.22Emumnívelbembásico,ambososgrupos de profetas têm a intenção de apresentar umamensagemda parte deDeus(oudosdeuses).

Masasdiferençassãototalmentefundamentais,deformaqueseriamuitodifícil apoiar a ideia de que a origem da profecia israelita pudesse serencontrada na instituição do profetismo manifestado 1.000 anos antes emMari. Após um completo exame dosmateriais, um críticomoderno afirma:“Por isso,parecemais seguroconcluirque, emsuamanifestaçãoanterior, aprofeciaisraelitafoiumfenômenoessencialmentenativocomcaráterpróprioimpostopelasituaçãoúnicaemqueseencontravamosprópriosisraelitas”.23Àluzdaevidênciadisponível,omínimoquesepodedizeréqueéprematurosugerirqueMarirepresentao“protótipodaprofeciaemIsrael”.24

2.Neo-AssíriaOs textos proféticos daNeo-Assíria do séculoVII são chamados de “a

mais próxima analogia histórica e fenomenológica da antiga profeciaisraelita/judaica”.25 Esses textos vieram ao conhecimento do público aprimeiravezem1875quandoGeorgeSmithpublicouumatabuletadeNínive

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que ele chamou de “Discursos de Encorajamento a[o rei assírio] Esar-Hadom”, cujo reino é datado aproximadamente entre 680-669 a.C.26Aproximadamente em 1915, a maioria do acervo conhecido já havia sidopublicadoem inglês, francêsoualemão.Depoisda IGuerraMundial,houvepouco interesse nos textos, estendendo-se esse desinteresse até o final doséculo XX. Embora estivessem disponíveis, não receberam a atenção quemereciam.

Mas, em 1997, foi publicado o texto completo das tabuletas, comextensivas notas e tradução.27 Esses textos do século VII foram escritosdurante a mesma época de vários dos profetas escritores de Israel e numperíodo quando aAssíria teve amplo contato com seu estado vassalo Israel.Unicamenteporessasrazões,essematerialproféticoextrabíblicosesituamaispróximo domaterial bíblico do que os textos deMari, que datam de 1.000anosantes.

Essa coleção de textos assírios consiste em vinte e oito oráculos feitospor treze profetas, quatro homens e nove mulheres.28 Numa estimativasuperficial,aspalavrasdostextosseigualamemcercadeumporcentocomos textosproféticosbíblicos.Emvezdeseremrelatos indiretosdeprofeciascontidas em correspondência dirigida ao rei como se vê em Mari, muitosdesses textos assírios preservam a real obra das declarações proféticas em“tabuletasdecompilações”contendodecincoadezcurtosoráculosemcadatabuleta.Unicamentenumsentidomuitolimitadoseforneceumcontextoparaasdeclarações,enãoháindicaçãoquantoàreaçãoaessasprofecias.

Com apenas umas poucas exceções, essas declarações proféticas seconcentramemumapalavradeconfiançaparaoreiousuafamíliareal.AoreiEsar-Hadom se afirma que ele vencerá todos os seus opositores e que seusfilhososucederão.29Deacordocomcertaanálise,“osinteressespessoaisdoreideterminamaverdadeouafalsidade”emqualquerdeclaraçãoespecíficadealgumprofeta.30

A adoração da deusa Ishtar “foi o ambiente principal da funçãosociorreligiosadosprofetasassírios”.31ComodevotosdeIshtar,grandepartedosprofetas,amaioriadelesmulheres,“representavamoaspectomaternodadivindade,manifestadocomoproteçãodoreielutandoporele”.32Aomesmotempo, esses profetas e profetizas também podiam proclamar palavras quevinhamdeoutrasdeidadesalémdeIshtar.

Entãocomoéqueessematerialproféticoseassemelhaaofenômenodaprofecia em Israel, visto que boa parte foi produzida nomesmo período detempo? Pelo fato de serem realmente “a mais próxima analogia histórica efenomenológica à antiga profecia israelita/judaica” (avaliação de Nissinen,

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citadaacima),pode-severumaamplasimilaridadenaalegaçãodessesprofetasde que declaravam palavras dos deuses a seus contemporâneos. Esse valordado a esses oráculos é indicado por terem sido reunidos e registrados emtabuletaspreservadasnosarquivosreais.Mas,deformamaisespecífica,qualéa conexão que se pode fazer entre a profecia daAssíria e a de Israel? SerápossívelqueaprofeciaassíriatenhaservidocomofontedofenômenosimilaremIsrael?

Parpola propõe que as semelhanças entre a profecia assíria e a bíblicapodem ser explicadas por “similaridades conceituais e doutrinárias dasreligiões subjacentes, sem precisar recorrer à hipótese improvável dosempréstimos diretos ou das influências de uma ou de outra forma”.33 Noconsiderardessaanálise,deve-senotarprimeiroque“empréstimosdiretosouinfluências”sãodescartadoscomo“hipóteseimprovável”,oquesignificaquena opinião de Parpola a profecia assíria não deve ser considerada como afontedaprofeciaisraelita.Alémdisso,Parpolaconcluiqueaprofeciaassírianão deve ser considerada como algo que exerce influência direta sobre omaterialproféticodaBíblia.

Mas Parpola sugere que as semelhanças de religião explicam ascaracterísticassemelhantesentreaprofeciaassíriaeaisraelita.Porexemplo,no oráculo 1.4, a deidade fala primeiro como Bel, depois como Ishtar deArbela,e finalmentecomoNabu, filhodeBel—levandoParpolaaconcluirque“nãohácomonãolembrarasantatrindadedoCristianismo”.34 Oconceitode Deus como a “soma total dos deuses” no antigo Oriente Próximo “comcertezatambémeraparteintegrantedomonoteísmojudeudoprimeiromilênioa.C.”35 ParaParpola, isso é suficientepara confirmar “que tantoo JudaísmocomooCristianismotêmemcomumcomareligiãoassíriaváriosconceitosecaracterísticas aparentemente politeístas.”36 Por exemplo, pelo fato de Ishtarser o deus Assur revelado em sua expressão feminina (materna), “ela é oequivalentefuncionaldoEspíritodeDeusbíblico”.37Resumindoosignificadodessesparalelospropostos,Parpolaafirma:“Considerandotodasascoisas,aestrutura conceitual da profecia assíria se mostra grandemente idêntica àprofeciaisraelitaantiga”.38

Cadaumdessesparalelospropostosprecisaserdebatidodetalhadamentepara expor a compreensão errônea do testemunho bíblico fundamental arespeitodaabsolutaunicidadedoDeusdaBíblia emcontraste com todososconceitospoliteístas.Aindabemquenãoéprecisooutravezreunirevidênciapara esta verdade básica da herança judaico-cristã. Mas se esse tipo decomparaçãoespúriaresidenabasedasupostaconexãoentreoprofetismonaAssíriaeemIsrael,entãoasingularidadedaprofeciabíblicaficaaindamais

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reforçada. Essa singularidade fica duplamente acentuada se esses textosproféticos assírios são avaliados como o paralelomais próximo à profeciabíblicadoAntigoOrientePróximo.

Aesserespeito,todooconceitodeprocuraraorigemdaprofeciabíblicaemcontextosestrangeirosprecisasercolocadosobamaisseveraanálise.Paracomeçar,porquedeveriaumaorigemestrangeiraparaaprofeciaisraelitasermais favorável para o desenvolvimento do fenômeno do que umdesenvolvimentonativo?39Quaisfatores,nahistóriaounasociedadedeMarioudaAssíria,tornamessasnaçõesmaisreceptivasaosurgimentodaideiadoprofetismo do que a nação de Israel? Pelo contrário, se for concedidoqualquercréditoaotestemunhobíblicoarespeitodaexperiênciadoêxodo,oSinai, a conquista e o reino em Israel, então existem todas as razões para oprofetismo,comoummovimento,surgiremIsrael.Razõessimilaresaessassãodifíceisdeencontrarnosregistroshistóricosdasoutrasnações.

Paralelosmais convincentes talvez sejamdescobertosnomaterial que échamadode“ColeçãoTrês”dos textosproféticosassírios,quecontémcincooraçõesbreves.Osegundooráculo,denominado“AaliançadeAssur” incluiasseguinteslinhas:

[Teu][rei]colocouseuinimigo[sob]seupé.

Donasceraopôrdosol,nãoháreiigualaele.

Esta tabuleta da aliança de Assur é apresentada ao rei numa almofada.Borrifa-se óleo perfumado, fazem-se sacrifícios, queima-se incenso, eelesaleemnapresençadorei.40

OsparalelosdeexpressõesqueocorremnosSalmos2e72sãoevidentes,emerecemmaioranálise.MaséprecisonotarqueessaspassagensbíblicassãodatadasmuitomaiscedodoqueostextosassíriosdoséculoVII.41Porisso,édifícil deduzir que esses textos assírios tardios serviram de fonte das ideiasencontradasnossalmos.

O terceiro oráculo da Coleção Três refere-se à “tabuleta da aliança deAssur”eindicaquefoi“lidanapresençadorei”.42Oquartooráculo,chamadode“Arefeiçãodaaliança”,contémafrase“[entra]aali[ança]”.43Alémdisso,otextorefere-seacomerpãoebeberáguaeafirmaque,depoisdeesqueceraaliança,apessoaserálembradadasuaobrigaçãodeguardaraaliançafeitaemfavordeEsar-Hadomaobeberessaágua.Adeusaqueproferiuesteoráculolamenta,então,nãotercomidaparaseubanquete.44

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Umavezmais,essesmateriaisprecisamsercuidadosamenteconsideradosem termos da luz que lançam sobre os textos bíblicos, especialmente comorelatam o estabelecimento de uma aliança. Muitos paralelos se evidenciamimediatamente, mas precisam ser pesados com cuidado antes de chegar aconclusões sobre relações exatas.Dentre outras coisas, é preciso considerarqueoprocedimentodefazeraaliançaapareceentrealgumasdasmaisantigastradiçõesemIsraeledessaformaseantecipaaessematerialassírioemváriosséculos.45

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II.TestemunhobíblicoarespeitodaorigemdoprofetismoemIsrael

Uma vez que as várias explicações alternativas para a origem doprofetismo em Israel provaram ser insatisfatórias, o testemunho da própriaEscritura, uma fonte com frequência desconsiderada e estranhamenteminimizada, pode ser considerada commaior cuidado ainda.Nesse registropode-seencontrarumaexplicaçãocoerenteeconvincenteparaaorigemdesseespantoso e singular fenômeno do profetismo em Israel. Essa fonte provêinformação necessária a respeito da origem do profetismo no curso dahistória de Israel, aomesmo tempoque explica os principais aspectos dessefenômenoímpar.

Oprofetismo,deacordocomaEscritura,temsuamaisremotaorigemnopropósitodacriaçãode todasascoisaspeloúnicoDeusdouniverso.Váriaspassagens nos escritos dos profetas associam a atividade criativa do Deusúnicocomopropósitodasuapalavraconformereveladapormeiodosseusservos,osprofetas:

Aquelequeformaasmontanhas,criaovento,edeclaraseuspensamentosaohomem,...

oSENHORdaAliança,Deustodo-poderosoéoseunome.(Am4.13)46

Assimtambém:

ÉoquedizDeus,oSENHORdaAliança,aquelequecriouocéueoestendeu,queespalhouaterraetudooquedelaprocede,...

Eu,oSENHORdaAliança,ochameiparajustiça...(Is42.5NVI)

Eainda:

EstaéapalavradoSENHORdaAliançaparaIsrael;palavradoSENHORdaAliança

queestendeocéu,assentaoalicercedaterraeformaoespíritodohomemdentrodele:

“FareideJerusalémumataçaqueembriaguetodosospovosaoseuredor,todososqueestarãonocercocontraJudáeJerusalém”.(Zc12.1,2NVI)

OaugedestaamarraçãodospropósitoscriativosdeDeusparaaprofeciasurge num contexto de ampla zombaria contra os ídolos pagãos que não

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conseguem falar (Is 44.9-20).Emvívido contraste com amudez dos deusesidólatras, o Deus de Israel declara até mesmo eventos futuros antes queaconteçam:

IstoéoqueoSENHORdaAliançadiz,teuredentor,eaquelequeteformounoventre:

EusouoSENHORdaAliança,ocriadordetodasascoisas,aquelequesozinhoestendeuoscéus,quemespalhaaterra,eumesmo,quemfrustraospresságiosdosimpostores,quemzombadosprognosticadores,quemderrubaossábios,efazqueasabedoriadelespareçatolice,quemdáorigemàpalavradoseuservo,econfirmaasprevisõesdosseusmensageiros.(Is44.24-26)

Esse contexto mais amplo de uma criação intencional e uma redençãoplanejada por si só provê explicação adequada para o surgimento doprofetismo em Israel. EsseDeus único, em absoluto contraste com todos osoutros “deuses-de-nada”, confirma seu plano para seu povo escolhido pormeio dos seus porta-vozes proféticos. Por meio de uma série de laços dealiança que Ele mesmo promove, revela e sela nos processos da históriahumana,Deusfazconhecersuapessoa,seupropósitoesuavontadeparaseupovoeparaasnaçõesdomundo.

Dessaforma,osprofetasdeIsraelviam-seasimesmoscomolevantadosparaseremalinhagemvivademediadoresdaaliançaentreDeuseseupovo.SuaposiçãosoleneincluíaseremlevadosaoconhecimentodosconselhosdoSENHOR da Aliança. Devido a essa posição privilegiada, o profeta podiadeclarar de forma autoritativa tanto a vontade moral como o propósitoredentordosoberanoSENHORdaAliançadacriação.Nessafunção,oprofetapodiaanunciarasconsequênciasdabênçãooudamaldiçãoqueacompanhariao estilo de vida escolhido pelo povo. Além disso, por meio da revelaçãodivina,eleeracapacitadoapredizerahistóriadojuízodeDeuseasuabênçãotantonosacontecimentosdecurtocomodelongoprazo,fazendoopovosaberosplanospormeiodosquaisoSENHORrealizariaseuspropósitosredentores.

Assim,omovimentoproféticodeIsraeltevesuafundamentalorigemnospropósitos divinos da criação e da redenção. Mas quando, no tempo e nahistória,surgiuoprofetismonanaçãodeIsrael?

ÉpossívelsuporqueomovimentoproféticotevesuaorigememIsraelnaépoca dos grandes profetas do séculoVIII, como Isaías,Miqueias,Oseias e

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Amós. Demuitas formas, esse período representa o pontomais elevado dahistóriadoprofetismoemIsrael.MastantoOseias(6.5;9.7,8;12.10,13)comoAmós (2.11,12) confirmam a atividade profética anterior à época deles. Deformaalternativa,pode-sesugerirqueoprofetismoemIsraelseoriginoucomo ministério anterior de Elias e Eliseu47 ou mesmo com o ministério deSamuelnaépocadoestabelecimentodamonarquia.48Masaobservaçãodeque“naquelesdias[nainfânciadeSamuel]raramenteoSENHORdaAliançafalava,easvisõesnãoeramfrequentes”dáaentenderqueoministérioprofético jáhaviaocorridoporalgumtempoantesdaépocadeSamuel(1Sm3.1NVI).

De acordo com o testemunho da própria Escritura, a origem doprofetismo retrocede muito além da época da monarquia na história daatividaderedentoradeDeusnomeiodeIsrael.AsantigaspalavrasdoprofetaOseias indicam a real origemdo profetismo em Israel: “Mas oSENHOR [daAliança], por meio de um profeta, fez subir a Israel do Egito e, por umprofeta,foieleguardado”(Os12.13ARA).Nessapassagem,otermoprofetafoiescolhidoparamelhordescreveroministériodeMoisés.Elenãoera reiemIsrael,emboraexercesseamplospoderesnanação.Emborapertencesseaumafamíliasacerdotal,elenãoatuouprimariamentecomosacerdote.Eleeraprofeta, porquanto comunicava a palavra reveladora de Deus ao seu povo.Antes da época de Moisés, Deus comunicava-se diretamente com o cabeçaindividual das famílias pormeio de visão, sonho ou teofania. Os patriarcasAbraão, Isaque,JacóeJosé todosreceberamrevelaçõespessoais.EmvezdeoutrapessoalhestrazerapalavradeDeus,opróprioSenhorlhesapareceudevárias formas. Oseias fala dessa forma mais antiga da revelação divina namesmapassagembíblica:

Ele[Jacó]lutoucomoanjoesaiuvencedor;choroueimplorouoseufavor.

EmBetelencontrouaDeus,quealiconversoucomele.

Sim,opróprioSENHORdaAliança,oDeusdosExércitos!SENHORdaAliançaéonomepeloqualficoufamoso.(Os12.4,5NVI).

Mas,nosdiasdeMoisés,anaçãoconsistianumaimponentepopulaçãode600 mil famílias. Como iria Deus fazer conhecida a sua vontade a essanumerosanação?Emvezdefazeromesmosonho,visãoouteofaniaocorrersimultaneamente a600mil líderesde família,Deus falaria ànação todapormeiodeumúnicohomem,designadocomoseuprofeta.Emvezdedirigir-seatodo o povo de forma individual, o Senhor comunicaria sua vontade, suamensagempormeiodessaúnicapessoaescolhida,nemsemprepormeiode

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manifestação sobrenatural da natureza divina ou por meio de algum serangélico.

AEscrituraconfirmaque,pormeiodoprofetaMoisés,oSenhorrealizouograndeeventosalvíficode tirarseupovodoEgito.Alémdisso,elaafirmaque o estabelecimento formal da progressiva função de profeta ocorreu emassociaçãocomoseventosdoSinai.Naqueletempo,oprópriopovopediuummediador (Êx 20.18-21; Dt 5.22-27). Por estarem aterrados por causa dasmanifestações da presença de Deus no monte, eles pediram a Moisés quesubisseparaencontraroSenhoremfavordeles.Essepedidodopovotornou-seaocasiãodoestabelecimentodoofíciodeprofetaemIsrael.Maistarde,oeventoérelatado:

OSENHORdaAliança,seuDeus,vailevantarumprofetadeentrevocês,de entre os seus irmãos, como [Moisés]. Vocês devem ouvi-lo. [Será]exatamente de acordo com tudo que vocês pediram ao SENHOR daAliança, seu Deus, em Horebe, no dia do ajuntamento, quando vocêsdisseram:“NãomefaçasouvirnovamenteavozdoSENHORdaAliança,meuDeus,enãomefaçasveressefogoterríveloutravez,oueumorro”.(Dt18.15,16)

De acordo com o testemunho da Escritura, esse pedido do povo porocasião da assembleia no Sinai explica a origem do ofício de profeta emIsrael. O povo estava aterrado com amanifestação da presença deDeus, deformaqueoSenhorindicouummediadorproféticoparasepararopovodosacontecimentos assustadores associados com a revelação da sua vontade.Como consequência, o profeta na Escritura assume a função de mediadorgracioso.ElesecolocaentreDeuseopovoparaentregarapalavradoSenhor.Aomesmotempo,ocaráterhumanofrágildoprofetafazcomqueeleestejamuitomaissujeitoàrejeiçãoeaoabusoporpartedopovodoqueopróprioSenhorestariaemtodooseuesplendor.NinguémseatreveuainsultarDeusnoSinai, pois as glórias da divindade forammanifestas comgrande assombro.MasadocilidadedagraçadeDeusagoratornaseuporta-vozpessoalsujeitoaabusos.Mas,mesmonessaposiçãodevulnerabilidade,oprofetaescolhidodoSenhorpersonificaaprincipalmensagemdeDeusemsuagraciosaaliança.Ospecadoresemseupiorestado, abusandode seualtoprivilégiode receberemuma palavra da parte do Senhor, ainda podem ser redimidos dos seuscaminhosautodestrutivosporcausadalonganimidadedoSenhorconformeéapresentadanosabusossofridosporseusservos,osprofetas.

Do testemunho bíblico a respeito da origem do profetismo é possível

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deduzirváriaspercepçõesdanaturezadaprofecia.Em primeiro lugar, merece especial atenção a grande responsabilidade

que pesava sobre os ombros daqueles que ocupavam essa função.O profetasubstituiaprópriapresençadoDeusTodo-poderoso.EssapequenaesingularvozsubstituitodosostemíveissinaisqueacompanhavamateofanianoSinai.Afumaça, omonte que tremia, avivados pelo fogo intenso e as trombetas quesoavam,encontramagoraseuequivalentenavozgentildeumirmãofalandocomseusirmãos.

Emsegundolugar,aorigemdaverdadeirapalavraproféticanãodeveserprocurada na experiência subjetiva do profeta. Mesmo nos casos em que apalavra do Senhor é transmitida ao profeta por meio de uma experiênciainterior,apalavraemsiorigina-seemDeusesubstituiasuapresença.

A absoluta independência da palavra profética da pessoa do profeta éressaltadapelo fatoqueoofíciodeprofetanãoera transmitidoporgeraçãonatural,algocompletamentediferentedopadrãoestabelecidoparaafunçãodosacerdote e do rei em Israel. O filho do rei ou do sacerdote normalmentesucediaseupainoseurespectivoofício.MasnenhumexemplodaEscrituradáaentenderqueofilhodoprofeta tenhaocupadoo lugardeseupai.Somentepelo chamado e comissão direto do Senhor poderia uma pessoa ocuparlegitimamente o ofício de profeta.Ainda assim, o profeta precisava esperarqueDeus revelasse sua palavra para ele. O profeta não podia por iniciativaprópria criar alguma palavra legítima de profecia, mesmo que pedissesinceramenteaoSenhorquelhefalassenalgumasituaçãoespecífica.49

Em terceiro lugar, a palavra do profeta não envolvia primariamentepredições com respeito a eventos futuros. A principal tarefa de Moisés naentregada leinoSinainão foipredizero futuro,masdeclarar avontadedeDeus conformehavia sido revelada a ele.Não se encontra nemmesmoumaprediçãonosDezMandamentos,ocoraçãodarevelaçãocomunicadapormeiodeMoisés.

A esse respeito, é preciso analisar cuidadosamente a notória distinçãoentreaproclamaçãodapalavraproféticaeaprediçãodofuturoporpartedoprofeta. Desde o início, a proclamação do profeta era uma revelação dapalavra de Deus tanto quanto o era a sua predição do futuro. Não é que aproclamação do profeta a respeito de diversos assuntos do cotidiano fosseumaespéciedepregaçãodemenorautoridade,aopassoquesuaprediçãodofuturoerainspiradanumsentidomaiselevado.

A essência do profetismo é mais bem definida em termos dessaproclamaçãodapalavradeDeus,nãoemtermosdeenvolverounãoalgumaprediçãodofuturo.Dadascertascircunstânciasespecíficas,oprofetahaveria

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de predizer algum evento futuro. Obviamente, esse tipo de percepção sópoderiaocorrerpormeioderevelaçãodivina.Masaessênciadaprofecianãoeradeterminadapeloelementodapredição,maspelanaturezadadeclaraçãodoprofetacomoumarevelaçãovindadeDeus.

Essa perspectiva da essência da profecia é importante para avaliar aquestãodacontinuidadedaprofeciahoje.Claramente,ninguémpodepredizerdemodoinfalívelcoisasespecíficasreferentesaofuturo,comoeraocasodaprofeciabíblica,àpartedeumarevelaçãodiretavindadoDeussoberanoquecontrola o futuro. Mas é igualmente verdade que ninguém consegue“anunciar” a palavra de Deus no sentido profético sem experimentar umarevelaçãodeDeus.Quersejacomoprenunciadorquersejacomoanunciador,o profeta comunicava a revelação de Deus. Se alguma pessoa afirma que aprofeciabíblicacontinuahojeemsuasduas formasbásicas,deve ficarclaroqueelacrêquearevelaçãocontinuaocorrendohoje.Mesmoqueumpregadorcontemporâneo possa ser “profético” em seuministério no púlpito, ele nãoestá profetizando no sentido bíblico da palavra. Da mesma forma que umpregadorhojepodeserapostólico,masnãoserumapóstolo,assimelepodeserproféticosemserumprofeta.

Em quarto lugar, como consequência da singularidade do ministérioprofético,anaçãodeIsraelprecisaservistacomotendoumafunçãodistintivaentre os povos da terra. O livro de Deuteronômio esclarece a posiçãoprivilegiada da nação israelita destacando o fato que foram os únicos areceberemarevelaçãodaleideDeus:“Ou,quegrandenaçãotemdecretosepreceitos tão justoscomoesta leiqueestouapresentandoavocêshoje?” (Dt4.8NVI).IsraelsedestacoudentreasnaçõesdomundoporcausadarevelaçãoespecialdavontadedeDeuscomunicadapormeiodeMoisésemsua funçãoprofética no Sinai. Essa singularidade de Israel nos planos e propósitos deDeusindica,dentreoutrascoisas,queumacompreensãoplenadoprofetismoem Israel não pode nunca ser alcançada por meio de comparações comfenômenos similares entre outras nações do mundo. O agnosticismo doscríticos modernos, anteriormente mencionado, com respeito à origem doprofetismo em Israel não deve surpreender, pois Israel, como receptor darevelação deDeus, é, de fato, único.A singularidade do acervo domaterialproféticoisraelitafalaporsimesmo.DeacordocomoapóstoloPaulo,Israeléúnico“principalmente”porque“aos judeus foramconfiadasaspalavrasdeDeus“(Rm3.2NVI).

Dessa singularidade de Israel não se deve concluir que Deus não sepreocupasse comas outras nações domundo.Pelo contrário, desdeo iníciofoi explicadoaAbraãoque seusdescendentes seriamumabênçãoa todasas

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nações (Gn 12.3). Quando Deus no início separou Abraão e os seusdescendentes, ele deixou claro que qualquer estrangeiro poderia tornar-seplenoparticipantedetodososprivilégiosdosfilhosdeAbraão,eigualmenteherdeirodasmesmasbênçãos(17.12,13).Éinteressantequeoprimeirousodotermoprofeta na Escritura se refere à intercessão deAbraão como a chaveparaabênçãoparaasnaçõesdomundo(20.7).

Em quinto lugar, pormaior que a função domediador profético possaparecer no contexto da sua origem, ela não consegue representar amaneirapela qual o propósito últimoda aliança deDeus haverá de se concretizar.AessênciadaaliançafaladeumauniãoíntimaentreDeuseseupovo.“EusereivossoDeus e vós sereismeu povo” resume a intimidade do relacionamentoestabelecido pela aliança. Mas foi por estarem aterrados na presença doSENHORdaAliançaqueopovopediuquealguémmediasseapalavradeDeusparaeles.EnquantoopovosentiaqueprecisavadeumintermediárioentresieDeus,nãoerapossívelque secumprisseopropósitoúltimodaaliança.EssepontoédestacadopelaafirmaçãodePaulodeque“omediadornãoédeumsó”(Gl3.20).Apresençadeummediadorsugereimplicitamenteaseparaçãodaspessoasumasdasoutras.Porexemplo,semaridoemulherconseguiremcomunicar-se apenas por meio de um mediador, obviamente eles nãoexperimentaramaunidadepretendidanorelacionamentoconjugal.

Nosprocessosdahistóriada redenção, torna-seclaroquesomente seopróprioDeusviesseaseraquelequemediasseapalavradivinaéquepoderiacumprir-seaunidadedecomunhãointencionadapelaaliança.UmavezqueopróprioDeussetornasseomediador,anecessidadedotrabalhointermediáriodafiguraproféticachegariaaofim.Anovaaliançaconfirmaessaperspectivado alvo final do profetismo. O escritor de Hebreus fala da finalidade darevelação profética conforme vista na pessoa de Jesus.Anteriormente,Deusfalou de várias e diferentes formas por meio de muitos e diferentesmediadoresproféticos.MasagoraElefalouemcaráterfinalemseuFilho(Hb1.1,2).QuandoarevelaçãoproféticavemdiretamenteatravésdeJesusCristo,oFilhodeDeus,cumpre-seoalvoúltimodaaliança.EleéoúnicomediadorentreDeus e os homens (1 Tm 2.5). Experimentar a revelação deDeus pormeiodoFilhosignificaserumcomopróprioDeus.

Assim,deacordocomotestemunhobíblico,oprofetismoemIsraeltevesua origem como estabelecimento da nação teocrática no períodomosaico.Conformefoisendoreveladaafundamental leidaaliança,passouaexistiroofícioprofético.Comoconsequência, emabsoluto contraste comuma longahistóriadereconstituiçãocríticanegativa,leieprofecianãosãoopostasumaàoutra.Pelocontrário,oprofetismoseoriginacomamediaçãodaleideDeus.

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1Porter,“OriginsofProphecyinIsrael”,13.

2Ibid.,14.3Childs,BiblicalTheologyoftheOldandNewTestaments,168.

4Vos,BiblicalTheology,245.5Ibid.,14

6Harrison,IntroductiontotheOldTestament,746,747.7Jeremias35.4refere-seà“câmara”dosfilhosdeHanã,filhodeJigdalias,“homemdeDeus”,queselocalizava na casa do Senhor. Essa afirmação poderia ser interpretada com o sentido de que osdescendentesdeumafiguraprofética tinhamum lugarpermanenteno templo.Masaafirmaçãoestálonge de estabelecer a função dos profetas cultuais em Israel. Bright, Jeremiah, 189, diz que aexpressãohomem deDeus “ocorre apenas aqui em Jeremias, e não sabemos se nos últimos seteséculos ela adquiriu alguma conotação especial, diferente de nabi (profeta)”. Bright admite apossibilidadedequeHanãfosse“algumtipodefuncionáriocultual”.Aoreferir-seàmesmapassagemdeJeremias,Johnson,CulticProphetinAncientIsrael,62,vêevidênciadeque“osprofetastinhamlugar especial (mas não necessariamente residência permanente) dentro do próprio Templo”. Combasenisso, ele afirmaque“édifícil não inferirqueamenção se refere aumaescola específicaouassociaçãodeprofetasquefaziapartedocorpodefuncionáriosdoTemplo”.Emboraessainferênciaseja possível, com certeza não é imprescindível, tendo emvista especialmente o fato de dependertantodahipótesedeque“homemdeDeus”precisa significarprofetanessaépocaenãomeramenteumapessoapiedosanestecasoisoladodaexpressãoemJeremias,que,emcontrapartida,usaotermoprofetanumerosasvezes.UmafontepotencialmaissignificativaparareferênciasaumtipodeprofetacultualemIsraelsãooslivrosdasCrônicas.EmalgunslugaresemCrônicas,aprofeciaémaisbementendidacomotendo“suasignificaçãomaisampladecantaretocaremlouvoraDeus,executadosnopoderdoEspíritodivino”(Keil,Chronicles,270;veja1Cr25.1,3;2Cr29.30;35.15).Emoutroscasos, os sacerdotes sãousadosporDeuspara comunicar algumamensagemproféticadivinamenterevelada em resposta a alguma situação específica (2 Cr 20.14; 24.20). Mas, em nenhum dessescasos,otextodáevidênciaadequadaparasustentaraideiadequeessessacerdoteseramhabilitadosa proferir a palavra de Deus em resposta a algum pedido, como possivelmente uma celebraçãocultualrequeria.

8Vawter,“IntroductiontoPropheticLiterature”,193.9Rowley,ServantoftheLord,105.

10VejaaanálisedaevidênciaemHarrison,IntroductiontotheOldTestament,746,747.Paraumplenodesenvolvimento das hipóteses cultuais, veja Johnson,Cultic Prophet in Ancient Israel. Depois deanalisaromaterialbíblico,Johnsonconcluiafirmandoque“édifícilvercomoalguémpoderesistiràconclusãodequeosprofetas,bemcomoossacerdotes,estavamoficialmenteligadoscomocultodotemplo”(61).Mas,emseuprefácio,elesedistanciada“complicadaquestãodealgumdosprofetascanônicosdeverserconsideradoounãocomoprofetacultual”(v).Elediz:“Ofatoéqueaindanãochegamos aoponto emque essaquestãopode ser discutidade forma satisfatória”.Não épossívelnegarqueosprofetascomfrequênciaatuavamemconexãocomo temploemJerusalém.Masessacompreensãonãodeterminaqueelesocupavamaposiçãodeempregadoscultuais.

11Vawter,“IntroductiontoPropheticLiterature”,186,187,observaqueamaioriadasreligiões,senãotodaselas,“produziramofenômenodaprofecia”.Huffmon,“OriginsofProphecy”,176,afirmaqueaprofecia,conformedefinidanaBíblia,nãoé“umacontecimentonemúniconemisoladonomundodoAntigoOrientePróximo”.Mas,comoserádebatido,hácertasdistinçõesquemarcamdeformaclaracomosingularofenômenobíblico.

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12DeacordocomaanálisedeNissinem,“SocioreligiousRoleoftheNeo-AssyrianProphets”,89, jáforam identificados mais do que 130 textos antigos do Oriente Próximo, relativos ao fenômenoprofético.Ele ressaltaquequasemetadedesses textosvemdeMari, epoucomenosqueametadevemdaAssíria.

13ParaumacompletadescriçãodostextosencontradosemMari,vejaDurand,ArchivesepistolairesdeMari,377-452.Veja,também,Huffmon,“CompanyofProphets”,48,49.

14Malamat,“ForerunnerofBiblicalProphecy”,37.

15Malamat, ibid.,36,dizqueasmuitasreferênciasaosassuntosmilitareseapreocupaçãopelobem-estardorei“sãosignificativamentediferentesdaprofeciabíblica,aqualapresenta,ladoaladocomavisãouniversal,umaplenaideologiareligiosa,umapreocupaçãoético-socialeumpropósitonacionalespecífico”. Para uma perspectiva um tanto diferente, veja Parker, “Official Attitudes towardProphecy”,67,68.

16Huffmon,“CompanyofProphets”,49,dizque“asmensagensproféticas[emMari]estãoclaramentesubordinadasaoutrosemaiscomunsexpedientesdamensagemdivina”.

17Malamat,“ForerunnerofBiblicalProphecy”,42.Huffmon,“OriginsofProphecy”,173,174dizqueos oráculos deMari com frequência censuram o rei por falhar em seus deveres para com váriosdeuses e templos; e emumaocasiãoo rei até é lembradoda suaobrigaçãodepromover a justiça.MasHuffmondizqueos textosdeMarisão,namaioriadasvezes, favoráveisao rei.Emsuma,ostextosdeMarinãopodemserigualadosàradicalecompletarepreensãodosreisedopovoqueseencontranosprofetasdeIsrael.

18Malamat, “Forerunner of Biblical Prophecy”, 47, indica que, em contraste comMari, a palavraprofética em Israel “não é jamais submetida a confirmação por meios cultuais; ela é confirmadasimplesmente pelo teste do cumprimento ou não cumprimento” (cf. Dt 18.22; Jr 28.9; Ez 33.33)”.Parker, “OfficialAttitudes towardProphecy”, 68, pensaque aprofecia, no sentido simplesdeumapessoaquetrazumamensagemdosdeuses,é“essencialmenteomesmo”emMarieemIsrael.MasdepoiseleafirmaqueospresságiosnãoeramusadosemIsraelparaconferiraspalavrasdosprofetas,comoaconteciaemMari.

19Gordon,“FromMaritoMoses”,69.20Huffmon,“CompanyofProphets”,54;Malamat,“ForerunnerofBiblicalProphecy”,39.

21Nessesentido,Huffmon,“CompanyofProphets”,56,citaumexemplodeMari.22ConformeressaltadoporGordon,“FromMaritoMoses”,76.

23Blenkinsopp,HistoryofProphecyinIsrael,48.24Malamat,“ForerunnerofBiblicalProphecy”,36.

25Nissinen,“SocioreligiousRoleoftheNeo-AssyrianProphets”,114.26Parpola,AssyrianProphecies,ix.

27 A obra Assyrian Prophecies de Parpola estimulou pesquisas abrangentes desse material. AstabuletasestãohojenoMuseuBritânico.

28Ibid.,xlviii.

29Ibid.,4-11.30Huffmon,“CompanyofProphets”,62.

31Nissinen,“SocioreligiousRoleoftheNeo-AssyrianProphets”,104;vejatambém95.32Ibid.,99.

33Parpola,AssyrianProphecies,xvi.

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34Ibid.,xviii.

35Ibid.,xxi.36Ibid.,xxii.

37Ibid.,xxvi.38 Ibid., xxiv. Apesar da comunidade acadêmica ser grandemente devedora a Parpola por tornaracessívelestaediçãodostextosproféticosdaAssíria,abasefilosóficaparafazercomparaçõescomo texto bíblico precisa ser considerada com olho crítico. Parpola descreve de forma clara seumétodoparaencontrarparalelos:“O‘modelo’usadocomoauxílioparaanalisar, interpretare juntaraspartesdessespequenosfragmentosdesconexosdeevidênciafoiaevidênciacomparativafornecidapelos sistemas religiosos e filosóficos relacionados” (xvii). A sua compreensão errônea e o usodistorcidodo testemunhobíblico fundamentalsobreanaturezaessencialdeDeus fazcomquesejaduplamentenecessárioagircomprudênciaparachegaraconclusõesbaseadasnaanálisepessoaldeParpola,especialmentenassuasnotaseditoriais.

39Vos,BiblicalTheology,224.40Parpola,AssyrianProphecies,23,25.

41Dahood,Psalms,1.7,dizarespeitodoSalmo2:“Ogenuínosaborarcaicodalinguagemsugereumadata bastante antiga (provavelmente o século X).” Com respeito ao Salmo 72, Kraus diz: “Estecântico semdúvida é pré-exílico e pode ser atribuído a uma época relativamente antiga” (Psalms,2.77).AocomentardeformageralsobreadataçãodoSaltério,Weiserdiz:“Amaioriadossalmosveioàexistêncianoperíodopré-exílicodahistóriadeIsrael”(Psalms,91).

42Parpola,AssyrianProphecies,25.

43Ibid.44Ibid.,25,26.

45 Veja as observações de von Rad de que a narrativa referente à aliança em Gênesis 15“provavelmente é uma das narrativasmais antigas na tradição a respeito dos patriarcas” (Genesis,189).

46O sentido exato desta passagem é controverso.O problema da interpretação surge como caráterambíguo do pronome seus. Será que se refere aos pensamentos de Deus ou aos do homem?Anderson e Freedman, Amos, 456, concluem que são os pensamentos do próprio Deus que Elerevelaaohomem:“Éoseupensamentosecreto,suareflexãointerior,queElerevela”,oquedefatoé uma surpreendente afirmação nasEscrituras.Wolff, JoelandAmos, 224, diz que tanto o hapaxlegomenonshekho(seuplano)eoparticípiomaggid(quedeclara)admitemaideiadequeéoplanodeDeus que está sendo revelado. Pareceriamesmo desnecessárioDeus declarar à própria pessoaseusprópriospensamentos,mesmonumcontextodejuízodivino.Paraumpontodevistaalternativo,vejaNiehaus,“Amos”,407.

47VejavonRad,OldTestamentTheology,2.6.48Huffmon, “OriginsofProphecy”,177dizqueessa é a figura apresentadano textodaEscritura, aqual,emsuaopinião,“pareceessencialmentecorreta”.

49Mesmoabem-intencionadarespostadoprofetaNatãaodesejodeDavideedificarumacasaparaoSenhorprecisousercorrigidaporumapalavrasubsequentequeveiodiretamentedopróprioSenhor(2Sm7.1-5).

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A SPECTOS IMPORTANTES

RELACIONADOS ÀORIGEM DO

PROFETISMO

VÁRIAS PASSAGENS do Pentateuco intimamente ligadas com a origem doprofetismo em Israel fornecem uma significativa percepção a uma série deaspectos importantes do fenômeno relacionados à sua origem. Entre essaspassagens estão Êxodo 4.14-16; 7.1-5; Números 11.21-30; 12.1-8;Deuteronômio 13.1-5; 18.9-22. O primeiro desses aspectos importantes é aproeminênciadeMoisés.

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I.AproeminênciadeMoisésemrelaçãoatodososoutrosprofetas

Desde os dias de Wellhausen no final do século XIX, as porções doPentateuco relativas à lei que a Escritura atribui ao dom profético dado aMoiséstêmsidoconsideradascomopertencentesaumestágiomuitoposteriordoassimchamadodesenvolvimentoevolucionáriodareligiãodeIsrael(vejacap. 5 §I.B). Enquanto as Escrituras apresentam a lei de Moisés como ofundamentodoministériodosprofetasdeIsrael,essepontodevistaalternativoinverte a ordem e alega que os profetas de Israel vieram primeiro e foramdepoisseguidospelasinstituiçõesdaleiemIsrael.NaopiniãodeWellhausen,olivrodeDeuteronômioeraumpiedosoembustecriadonaépocaemquefoidescobertoduranteareformadoreiJosiasdeJudáemaproximadamente627a.C.Oficiaisbem-intencionadoscompuseramolivrodeformaqueaparentasseautoriadeMoisés,enterraram-nosobosescombrosdotemploemJerusalém,e então supostamente o encontraram de novo— tudo com a finalidade deajudarJosiasemseusesforçospelareforma.

Se é válido questionar as origens do livro de Deuteronômio, deve serigualmente válido questionar as origens da teoria de Wellhausen. Em seufavor, podemos mencionar o fato que ele demitiu-se, por motivos deconsciência, de uma faculdade teológica, por não sentir-se à vontade napreparaçãodeestudantesparaoministériodoevangelho.Deacordocomseuprópriotestemunho,comojovemestudanteeleseviuquestionandoasorigensdasporçõesdoPentateucorelativasà lei.Eleachavaquea leideMoisésera“comoumfantasma”quefazbarulho,masnãotemexistênciarealnosescritosdosprofetasdeIsrael.Então,comaidadede23anos,ouviupelaprimeiravezateoriadeGrafdequealeinaverdadeseguiuenãoprecedeuoministériodosprofetasdeIsrael.“Quasesemconhecerasrazõesdahipótesedele,fuivencidoporela”,dizWellhausen.1

Pormaisde100anos,omundoacadêmicotemobtidosuasinformaçõesbasicamentedeWellhausen,oqualestavaconvencidodeuma teoriasobreasorigensdoPentateucoquasesemconhecerasrazõesporquefoiproposta.Empesquisassubsequentes,porçõesdasseçõesdoPentateucoreferentesàleitêmsidoreconhecidascomomaisantigasdoqueofinaldoséculoVIIa.C.Masadatação da essência doDeuteronômio em conexão como descobrimento dolivro da lei durante o reino de Josias (640-609 a.C.) continua basicamentecomoa inabalávelâncoradasprincipaisescolasdecriticismobíblico.Comoconsequência, o Moisés histórico juntamente com seu ministério proféticocomomediadordaleideDeusreveladaaIsraeltemsidotransformadoemum

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fantasma,enquantoalgumapessoadesconhecida,chamadadedeuteronomista,juntamentecomsuaescoladeuteronômica,elevou-seaalturasdeglória semparalelo. Essa verdadeira figura fantasmagórica recebe, por parte de várioseruditos, o crédito não apenas de compor o livro de Deuteronômio, mastambémdos livros de Josué, Juízes, Samuel eReis.Além disso, essa figuradesconhecida e incognoscível, junto com sua escola (de existência nãocomprovada), recebe o crédito de reescrever uma importante porção doslivrosproféticos,especialmenteOseiaseJeremias.

No final das contas, a própria Escritura oferece um testemunho maisconvincente a respeito da relação da lei e do profeta em Israel. Moisésencontra-se no ápice da atividade profética em Israel. Já no início daexperiência de Israel com o profetismo, chega-se ao cume. Outros profetasatuam à sombra de Moisés. Em sua função de profeta por excelência, eleentregoualeiaopovodeDeus,aqualsetornouabaseparatodaafelicidadeedesgraçadanação(edecadaindivíduo).

Essa perspectiva de Moisés como cabeça do movimento profético emIsrael não nega que tenha havido progresso na revelação.Umprofeta comoIsaíastemapreciaçãomuitomaisricadaobradoMessiasvindouroeseureinodoqueMoisés.Claramente,adescriçãodeIsaíasdo“servosofredor”quefoiferido por nossas transgressões chega mais perto da obra consumada doCristo do que a imagem do cordeiro pascal como revelado por meio deMoisés.MasMoisésaindaexercea funçãodeorigemprincipalda revelaçãodaleideDeusaoseupovo,oquecontradizaideiadeumaevoluçãonaturalistadoprofetismocomrelaçãoàleinaexperiênciadeIsrael.SeafonteprincipaldetodooprofetismoemseuinícioéapessoadeMoisés,entãoaorigemdaverdade que ele anuncia é a revelação da parte deDeus, e não a trama doshomens.

HáduaspassagensdoPentateucoque ressaltamasupremaciadeMoisésna revelação da antiga aliança:Números 12 eDeuteronômio 18. Essas duaspassagensindicamaproeminênciadeMoisésquandomencionamarespostadeDeus à oposição a ele em sua função profética e a sua singularidade emrelaçãoatodasasoutrasfigurasproféticas.

A.AoposiçãoaMoisésQuemhaveriadeopor-seaMoisés,eporquê?Nãofoieleoinstrumento

usadoporDeuspara tirar IsraeldoEgito?Não foieleomediadorda leideDeus no Sinai? Por que alguém se oporia a ele?A centralidade do coraçãohumanoemsimesmoexplicaaoposiçãofeitaaMoisés.Presunçãoeorgulhofizerampartedessaoposição.

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EssaoposiçãoveiodaprópriafamíliadeMoisés.Miriã(suairmã)eArão(seuirmão)contestaramafunçãodeMoiséscomolíderdanação(Nm12.1).AEscrituradeixaclaroqueMiriãfoia líderdessaoposição.Elaémencionadaantes de Arão, e o verbo que descreve a oposição feita a Moisés está nosingular feminino: “Ora, Miriã e Arão, ela falou [wattedabber] contraMoisés”.EssaperspectivasobreoassuntoéconfirmadapelofatodesomenteMiriãtersidoatacadapelalepranofinaldoepisódio(12.10).

Calvino sugere que a reclamação de Miriã e Arão contra seu próprioirmão serve indiretamente a um bom propósito ao indicar que o nepotismonãotinhalugarnaproeminênciadeMoisésdentrodanação.2SuafunçãocomomediadordapalavradeDeusparaseupovoeraumassuntoexclusivamentedeindicação divina. Mais significativo ainda, esse incidente fornece umaoportunidade para deixar clara a singularidade de Moisés na história doprofetismoemIsrael.

AacusaçãoinicialdirigidacontraMoiséséqueelehaviasecasadocomumamulhercuxita(Nm12.1).SeráqueessaacusaçãosignificaqueMoiséséculpadodepoligamia?Ouseráqueareclamaçãocontraelesebaseiaemseucasamentocomumamulherestrangeira,deorigemnãoisraelita?

Muito provavelmente, Moisés não é culpado de poligamia, já que opróprioSenhorodefendecontraseusacusadores.Alémdisso,ofatodeleterse casado com uma estrangeira não era em si mesmo errado, desde que amulher não israelita tivesse reconhecido por si mesma o Deus de Israel.Possivelmente, esta mulher cuxita não é outra senão a mulher de Moisés,Zípora, amidianita.Algumas evidências indicam que cuxita emidianita sãotermos coincidentes.3 Mas esse casamento de Moisés com Zípora tinhaocorridotantosanosantesquenãopareceprovávelqueumareclamaçãofosseregistradanessadataposterior.

Nofinal,aobjeçãoaocasamentodeMoiséspareceapenasumpretexto.Averdadeirarazãovemàtonacomasegundareclamação:“TemoSENHORdaAliança falado apenas por meio de Moisés? Não tem Ele falado tambématravés de nós?” (Nm 12.2). Miriã e Arão têm inveja da função de Moiséscomomediador profético do povo deDeus. Eles se opõem à proeminênciadada a essa única pessoa, mesmo sendo ele seu irmão. Ao criticarem seucasamento, procuram humilharMoisés de forma que consigam exaltar a simesmosaumaposiçãodemaiorproeminência.

Ainsaciabilidadedoespíritohumanoporposiçãoepoderse tornamaisaparente quando se percebe que a inveja queima na alma de Miriã e Arãomesmo tendo suas próprias posições de proeminência. Desde a época doêxododoEgito,MiriãeraconhecidacomoaprofetisadeIsrael(Êx15.20),ea

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palavra do Senhor tinha vindo por meio dela. Além disso, Arão tinha sidodivinamente indicado como sumo sacerdote em Israel. Somente ele tinhaacessoaoUrimeTumimnadeterminaçãodavontadedeDeusparaopovo(Êx28.30;Lv8.8;vejatambémNm27.21;Dt33.8;Ed2.63;Ne7.65).Maisainda,Moisés não tinha esperança nenhuma de que seu ofício como mediador daaliançafossepassaràsualinhagemfamiliar.MasDeustinhadeterminadoqueosfilhosdeArãoosucedessememseuofíciodesumosacerdote.NemMiriãnemArãotinhamrazãodereclamarqueDeusestivesseindispostoatrabalharpormeiodeles.Naverdade,textosbíblicosposterioresindicamquetantoArãocomoMiriã foramde crucial importância na salvação deDeus em favor deIsrael.ElesforamenviadoscomMoisésparalideraranação(Mq6.4).ArãoeMiriã deveriam ter se humilhado por causa do privilégio de serem osinstrumentosda revelaçãodeDeus.MassomenteMoisésmanifestao tipodehumildadequeelesdeveriamtermostrado.

Quando comenta essa falha de Miriã e Arão, Calvino diz: “Quando odesejo de governar se apossa do coração dos homens, eles não apenasabandonamoamoràjustiça,mas...abondadedesapareceporcompletodentrodeles, pois irmãos contendemuns comos outros e se enfurecem, por assimdizer,contraassuasprópriasentranhas.Aambiçãotemsido,eaindaé,amãedetodososerros,detodososdistúrbioseseitas”.4

ÉtristedizerqueopecadodainvejacontraposiçõesdeproeminêncianoserviçodeDeuscontinuaocorrendonaeradanovaaliança.Noministériodoevangelho cristão, há trabalho mais do que suficiente para todos, e mesmoassim, membros, presbíteros e ministros da igreja de Cristo mordem-se edevoram-seunsaosoutrosporcausadainveja.Emlugardesseprocedimentocentrado em si mesmo, os servos do Senhor Jesus devem regozijar-se nosmuitosdonsquetêmsidoconcedidosaosváriosmembrosdoseucorpo.

Nessasituação,Moisésnãopodiafalaremdefesaprópriasemdarlugaràinsinuação de que sua proeminência era fruto de sua própria autoafirmação.Pormaisestranhoquepareça,aafirmaçãodeMoisésarespeitodesimesmo,dequeeleera“ohomemmaismansodafacedaterra”,deveserconsideradacomoumarepresentaçãoverdadeiradanaturezadele(Nm12.3).Suanaturezareservadaconfirmaofatoqueelenãosecolocouasimesmonessafunção.5

Mas o Senhor não deixaria que seu servo fosse maltratado pelos seusparentesinsolentes.Ele“oouviu”e“logofalou”emrespostaàsituação(Nm12.3,4).OSenhorconvocouMiriã,ArãoeMoisésparaotabernáculo,ondeoslembrou da suprema fonte de todo e qualquer dom para o ministério.Especificamente,eledeixoubemclaroqueoSenhormesmodeterminariadeformasoberanaquemhaveriadefalarporEle,oquediriamosseusprofetas

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escolhidos,equalposiçãoocupariamcomoinstrumentosdasuapalavra.

B.AsingularidadedeMoisésMoisésnãoéaúnicapessoaqueseráencarregadadasrevelaçõesdivinas,

comoerradamenteafirmaramMiriãeArão(Nm12.2).OSenhorrespondeàreclamaçãodelesdeixandoclaroquesurgirãooutrosprofetasemIsraeldepoisdeMoisés.Deusserevelaráaessesoutrosprofetas.6Apalavraproféticadelesnãoserádesuaautoria,masvirápormeiodesonhosevisões(12.6).Masemoposiçãoaessaduplamaneiradecomunicaçãocomtodososoutrosprofetas,uma enfática negativa apresenta amaneira pela qualDeus fala comMoisés:“Nãoassim”(lo-ken)(12.7).

Por meio dessa distinção, Deus coloca Moisés numa categoriainteiramentediferentedetodososoutrosprofetasdahistóriadeIsrael.Moisésfigurasozinhoemsuafunçãodistintacomorecipientedarevelaçãodivina.Ainveja de Miriã e Arão tornou-se a oportunidade para Deus ressaltar asingularidadedeMoisés.Naverdade,oSenhordiz:“VocêsachamqueMoisésocupaumaposiçãoelevadademais?Poisvouexplicarparavocêsoquantoeleéexaltado!Eleestámaisacimanãoapenasdevocêsdois;aposiçãodeleédeuma categoria inteiramente diferente de todos os outros profetas que jamaissurgirãonahistóriadeIsrael.Eleéúnico.Eleocupaolugardefonteprincipalde todooprofetismodoAntigoTestamento.Todososprofetas subsequentestrabalharãoàsombradeMoisés.AvalidadedetodaaprofeciaposteriorserádeterminadaporcomparaçãocomasdeclaraçõesproféticasdeMoisés”.

A distinção de Moisés como o mais importante profeta de Deus éressaltadapelo fatodoSenhor falar comele “boca aboca” (Nm12.8).Essaafirmaçãonãotemafinalidadedenegararealidadeouaprecisãodarevelaçãorecebidapelosoutrosprofetas.MasMoisésestaránumacategoriainteiramentediferentedetodososoutrosprofetasdeIsrael.

Deus diz a respeito deMoisés: “Ele é fiel em toda aminha casa” (Nm12.7b).Essa fraseaparentementese refereao fatodeMoisés ter-semostradodignodeconfiançacomofielportadordamensagemqueDeuslhehaviadado.Masoqueéessa“casa”deDeus?Seráqueapalavraserefereaotabernáculonodeserto,assimcomoaconteceempassagenssubsequentes(Jz18.31;19.18;1Sm1.7,24;2Sm12.20)?Essainterpretaçãoparecelimitadademais,poisoserviço de Moisés como porta-voz profético de Deus foi muito além dasatividades cultuais associadas com o tabernáculo. Às vezes, no AntigoTestamento,o termocasa refere-se a uma unidade familiar, como a casa deAbraão(Gn18.19;Dt25.9).Mas,alémdisso,eleéusadocomfrequêncianoPentateucoparadesignaropovodeIsrael(Gn46.27;Êx16.31;19.3;40.38;Lv

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10.6;17.3,8,10;22.18;Nm20.29).Nestecontexto,pareceque“casa”refere-seao povo de Israel. Essa passagem é diferente por referir-se a Israel como“minha [deDeus]casa”.AnaçãodeIsraelservecomoolugardamoradadopróprioDeus,eaMoisésfoiconfiadaumaposiçãodemuitaresponsabilidadenessa“casa”.

Além disso, é dito a respeito deMoisés: “E ele verá a semelhança [ouforma]doSENHOR daAliança”.Emoutro lugar, aEscrituradizquehomemnenhumpodeveraDeusecontinuarvivo (Êx33.18,19).MasMoisés,comoprofeta, verá a forma de Deus. Essas afirmações não são contraditórias.Moisés não verá a natureza essencial de Deus. Mas ele verá a forma quemanifestaráanaturezadoDeus invisívelaoentendimentodohomemmortal.Essa experiência de Moisés o coloca numa categoria distinta de todos osoutros profetas. Ele é único na história do profetismo em Israel, e porindicação de Deus ocupa uma posição de proeminência que ninguém maishaverádeocupar.

Emumasegundapassagemquedeclarasuasingularidade,Deuteronômio18.9-22,Moisés aparece como o primeiro dos profetas de Israel e tambémcomooparadigmaparatodososoutrosquehaverãodeocuparesseofício.NoSinai, Moisés, e Moisés somente, foi comissionado por Deus para ser seumediador da revelação em resposta ao pedido do povo.Aterrados ao pé domonte,elesimploraramparaqueMoiséssubisseparareceberarevelaçãodalei de Deus. Dessa forma, Moisés atua como o profeta divino, trazendo apalavra do Senhor ao povo, e como consequência ele exerceu uma funçãosingular comooparadigmade todososprofetas subsequentes em Israel.Osprofetas posteriores seriam “comoMoisés”. NemArão nem qualquer outroindivíduode Israel seriamopadrãopara a longahistória doprofetismoemIsrael.Moisés,eMoiséssomente,exerceuessafunção.Nessesentido,Moisésfoiumafiguradistinta,singularnahistóriadeIsrael.NinguémmaisemIsraelfoicomoele.ComoDeuteronômio,maistarde,indica:“EmIsraelnuncamaisse levantouprofeta comoMoisés, a quemoSenhor conheceu face a face, ...PoisninguémjamaismostroutamanhopodercomoMoisésnemexecutouosfeitos temíveis queMoisés realizou aos olhos de todo o Israel” (34.10, 12NVI).

Emsuma,Números12 eDeuteronômio18 estabelecemaproeminênciadeMoisésna linhagemprofética, fornecendoumachavepara todaahistóriasubsequente do profetismo em Israel. Os profetas posteriores jamais seergueram, em sua posição ou experiência, acima deMoisés. O conjunto dasubsequente literatura profética essencialmente amplia aquilo queMoisés jáhaviadeclaradoaopovodeDeus.OPentateucoconformereveladopormeio

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de Moisés funciona como o documento fundamental para a inteireza darevelação que vem à teocracia. Muito da obra dos profetas subsequentesedifica sobre o fundamento da revelação estabelecido por Moisés como afonteoriginaldopovodeDeusdaantigaaliança.

Não deve surpreender, então, que ummoderno consenso crítico afirmeque não conhece nada a respeito das origens da profecia em Israel, poisnenhum desenvolvimento naturalista consegue explicar sua origem. Se forrejeitado o testemunho bíblico a respeito da função singular de Moisés naprofecia israelita, perde-se toda a chave para a sua revelação na história daredenção. A recomposição crítica negativa do material mosaico destrói acoerenteestruturaqueexistedeformainerenteàEscritura.Omaterialmosaiconão pode ser reorganizado posteriormente na história para ajustar-se a umavisão naturalista da religião de Israel sem obscurecer a origem divina darevelaçãobíblica.EssarevelaçãoalcançaumaugeinicialnohomemMoiséseencontra sua consumação no homem Cristo Jesus, o único Mediador entreDeuseoshomens.

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II.AiniciativadeDeusemfazersurgirumapalavraprofética

AntesdeIsraelentrarnaterraprometida,oSenhorosalertouqueseriambombardeados por vários artifícios cananeus para determinar a vontade deDeus (Dt 18.9-11). A nação seria continuamente tentada a voltar-se a essesoutrosmétodos para determinar o futuro.Mas o povo do Senhor precisavareconhecer o caráter abominável dessas práticas. O contínuoministério dosprofetas seria essencial para restringir o povo de apelar a esses métodosproibidos para conhecer a sua vontade. Uma resposta apropriada a essacontínua ameaça exigia uma constante manifestação do ofício profético emIsrael.

Mas o que poderia garantir a presença de um ministério proféticocontínuo entre o povo? Qual provisão poderia ser feita para manter umacontínua linhagem de figuras proféticas? Os ofícios de sacerdote e rei emIsrael tinham sido estabelecidos formalmente pela legislação mosaica (Dt17.14-20;18.1-8).Essesofícioseramperpétuospornatureza,erampassadospor geração natural de pai para filho.Mas como poderia o correspondenteofíciodeprofetasermantidoemtermosdelongoprazo?SeráqueumatriboespecíficadeIsraeldeveriaserdesignadacomoafontedalinhagemprofética,assimcomoLeviforneciaossacerdotesdeIsraeleJudáosseusreis?Seriamos vários profetas capacitados a transmitir seus poderes proféticos asucessoresselecionados?Oudeveriasercriadoum“centrodetreinamentodecarreira”paracapacitarospotenciaisprofetasemIsrael?

Desde o início, ficou claro que não se esperava que aparecesse outro“profeta como Moisés”. A constante presença das opções canaanitas paradeterminaravontadedeDeusdemandariaumapresençaregulardosprofetasem Israel. Mas nenhum desses métodos sugeridos para conservar o ofícioprofético poderia garantir a continuação de uma linhagem de verdadeirosprofetasemIsrael.

Somente uma provisão é feita para essa necessidade de uma contínualinhagemdeprofetasemIsrael.OpróprioDeustomariaainiciativa.SomenteElepoderia“levantar”umprofetaassimcomoMoisésem Israel.A fraseEususcitarei um profeta (Dt 18.18) dá forte ênfase à necessidade da iniciativadivina namanutenção do ofício profético.Qualquer revelação posterior quesuplementasseaspalavrascomunicadasporDeusatravésdeMoisésprecisavaaguardarainiciativadivina.SomenteDeuspodiadeterminarquandoseupovoprecisavaderevelaçõesadicionaisdasuavontade.SeIsraelquisesserevelaçãoalémdaspalavrasencontradasnaleideMoisésoualémdoconhecimentoque

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estivesse disponível a eles no Urim e Tumim, eles tinham de aguardar ainiciativa de Deus. A história subsequente do movimento profético queatravessaosséculosconfirmaestacompreensãodafontedivinadoprofetismoemIsrael.

OutraindicaçãodanecessidadedainiciativadivinadelevantarumprofetapodeservistanarespostadoSenhoràfrustraçãodeMoiséscomrespeitoasuainabilidadedegovernaravastapopulaçãodanaçãodeIsrael(Nm11.11,12).OSenhor,porsuaprópriainiciativa,tomoudoEspíritoqueestavasobreMoisése o colocou sobre setenta anciãos, de forma que profetizaram (11.25). Pormaiorquefosseasuaposiçãonahistóriadoprofetismo,mesmoMoisésnãotinha a capacidade de investir outros com o dom profético. Somente Deuscontrolava as várias manifestações do seu Espírito entre o povo. Ninguémpodiaporsimesmodecidirqueemitiriaumaprofeciaquandoeondequisesse.Nem poderia alguém legitimamente estabelecer outra pessoa no ofícioprofético.SomenteDeus,osoberanoSENHORdaAliança,podiadarorigemàverdadeirapalavraprofética.

UmeventoqueocorreexatamentenessepontoressaltaofatoquesomenteDeus exercia o controle sobre o espírito profético. Enquanto Moisés e ossetenta anciãos estão reunidos na tenda da congregação, dois homensprofetizamnoacampamento(Nm11.26).Movidopelozeloporaqueleaquemservia,JosuéinsistecomMoisésqueesteosfaçaparar(11.28).NaopiniãodeJosué, nenhuma atividade profética deveria ocorrer fora da supervisão deMoisés.

MasagrandezadeMoisésévistanapercepçãoqueeletemdoseulugardeservonacasadeDeus,nãocomosenhorsobreacasadeDeus.Emvezdeceder ao pedido de Josué para fazer calar os dois que estão profetizando,Moisésexpressaoaneloquehánoseucoração:quetodoopovofosseprofetae que Deus pusesse o seu Espírito em todos eles (Nm 11.29). Moiséscompreende que o Espírito que o capacitou a profetizar não está sob seucontrole,masveioatéelecomodomdeDeus.Alémdisso,elenãosepreocupaem manter sua própria proeminência. Em vez disso, ele deseja ver a maisampla extensão possível do Espírito de profecia. Esse Espírito não era deorigemhumanaenãopodiasercontroladonemmesmopelomaiordosservosde Deus. Somente o próprio Senhor é capaz de dar origem à verdadeirapalavraprofética.

É interessante que, hoje, em alguns círculos, existem aqueles queassumem para si mesmos o poder de comunicar os dons do Espírito aosoutros.Pormeiodaaplicaçãodaságuasbatismais,pelaimposiçãodasmãos,oupormeiodeoraçõesespecíficas,algumaspessoaspresumempoder fazer

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aquiloqueMoisésprontamentereconheceunãoterpoderderealizar.Supõe-seque os vários dons do Espírito, incluindo a habilidade de profetizar, sãocolocados nas mãos de alguns para serem distribuídos conforme quiserem.Masossímbolosexteriorescomoobatismoea imposiçãodasmãos têmnaEscrituraosignificadodesinaiseselosdas realidadesdoEspírito,nãoodeoriginadoresdosdonsdoEspírito.

OsincerodesejodeMoisésdequeoEspíritodeDeusviessesobretodoopovo de Deus tem seu cumprimento cerca de 1.400 anos depois, quando oEspírito é derramado sobre toda a carne no dia de Pentecostes (At 2.17).Naquelemomento,adistribuiçãododomproféticoantecipouadistribuiçãodoevangelhoatodasasnaçõesconformeamultidãoouviaosapóstolosfalaremváriaslínguassobainfluênciadoEspíritoSanto.Nessecasoculminante,comonosdiasdeMoisés,oEspíritodeprofeciafoioriginadounicamenteporDeus.É evidente que nenhum ser humano poderia criar as experiências do dia dePentecostes.

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III.AspalavrasdoprofetacomoaprópriapalavradeDeus

Desde o início, a Escritura enfatiza que o profeta em Israel haveria deministrar uma palavra de revelação da parte deDeus e nãomeramente suaspróprias observações pessoais.As frases “Eume faço conhecer” e “Eu falocom ele” caracterizam a experiência do profeta (Nm 12.6c). Suamensagemnão era algo criado por ele mesmo. Ele não falava de suas compreensõespessoais.Emvezdisso,eraDeusquemserevelavaaeleerevelavasuavontadequandofalavacomoprofeta.

Uma passagem frequentemente mal interpretada reforça o fato que oprofeta tinha entendimento pessoal do caráter de revelação da palavra quevinha da parte do Senhor. No relato da vinda do Espírito sobre os setentaanciãos, é afirmado que eles profetizaram “mas eles nada acrescentaram!”(Nm 11.25c). Alguns intérpretes sugerem que essa ressalva significa que ossetentaanciãosnuncamaisprofetizaram.ElesofizeramumavezporocasiãodadistribuiçãoinicialdoEspírito,masnuncatornaramafazê-lo.7Umaanálisemais convincente entende que a frase significa que os setenta anciãos nãoacrescentaramnadaquefossedelesmesmosàssuasdeclaraçõesproféticasquetinham sido inspiradas pelo Espírito Santo. Deus comunicou-se com eles eatravés deles ao colocar palavras na sua boca, e eles não se atreveram aacrescentar nenhuma declaração que pudesse ser confundida com a própriapalavradeDeus.8

Essa compreensão da declaração que os anciãos “nada acrescentaram”recebe apoio na tripla aparição da frase idêntica no livro deDeuteronômio.Emcadacaso,aafirmaçãoarespeitode“nãoacrescentar”indicaafinalidadedapalavradarevelaçãodeDeus.DepoisdereiterarosDezMandamentos(Dt5.6-21),MoisésregistraqueopróprioDeus“nãoacrescentou”nenhumaoutrapalavra ao Decálogo (5.22). Em vez disso, os Dez Mandamentos foramgravados emduas tábuas de pedra como registro permanente da vontade doSenhorparaseupovo.Nasegundaocorrênciadessafrase,Moisésadmoestaopovo com respeito às leis de Deus conforme tinham sido reveladas a ele:“Ninguém acrescente nada à palavra que estou lhes ordenando” (4.2). Umaterceiramenção aparece emDeuteronômio quando é discutido o assunto dafalsaprofecia.Emvezdedaremouvidosaosfalsosprofetasqueosincentivama seguirem outros deuses, os israelitas são alertados de que não devemacrescentarnadaaosmandamentosdoSenhor,osquais foramentreguespormeiodeMoisés,oprofetaquelhesfoidesignado(12.32).

Dessamesma forma,os setenta anciãosqueprofetizaramnãoanexaram

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suasprópriasreflexõesàpalavradeDeusquelhestinhavindoporrevelação.Os receptores da palavra profética eram plenamente capazes de discernir adiferença entre a revelação divina que lhes tinha vindo e suas própriasreflexõespessoais.Na experiênciadeles, a profecia claramente situava-senacategoriaderevelaçãodiretadapartedeDeus,queprecisavaserdiferenciadadasdeclaraçõesmeramentehumanas.

Maiorconfirmaçãodocaráterrevelacionaldapalavraproféticapodeservista na autoconsciência do profeta de que ele de fato havia recebido umapalavra de revelação da parte do Senhor. Isso está implícito no veredito dapenalidadedemorteparaafalsaprofecia(Dt13.5).NãoseriacorretoexecutarumapessoapordeclararumapalavraquenãotivessedefatovindodeDeusseo próprio profeta não tivesse a capacidade de distinguir entre uma palavrarevelada a ele peloSenhor e seus próprios impulsos interiores.Esse caráterrevelacionaldapalavradoprofetaéreforçadopeladescriçãotantodomododerecebercomodomododeentregaramensagemprofética.

A.Omododerecebê-laAntecipando o ministério dos profetas de Israel, oSENHOR da Aliança

afirmaqueElecomunicarásuapalavradeduasformas:emvisõeseemsonhos(Nm12.6).Essas formasdecomunicaçãodivinacaracterizarãoaexperiênciadosprofetasde todosos tempos.Receberamensagempormeiodevisõesesonhos indica claramente que a mensagem do profeta se origina com arevelação da parte de Deus, não com a percepção do homem. Embora oSenhorvácomunicar-secomMoisésdeformadistinta(12.7),nãoépossíveldesconsiderarofatoquetodososprofetasreceberãosuamensagempormeiodeexperiênciasderevelação.

A ideiadequeamensagemproféticaveiopormeiodesonhosevisõesdivinamenteinspiradosésubsequentementeconfirmadapelofatoquemesmoaprofeciaescritanoAntigoTestamentoé representadacomoumacoisaqueévista.Os“escritos”doprofetaIsaíassãodescritoscomouma“visão”queele“viu”(Is1.1).A“palavra”queIsaías“viu”descreveumamensagemespecíficaqueelerecebeu(2.1;vejatambém13.1).AmóseMiqueiastambém“viram”apalavradoSenhor(Am1.1;Mq1.1).Habacuquefaladoseulivrotodocomoum“fardo”queele“viu”(Hc1.1).Emvezdesugerirqueessasexperiênciasproféticastiveramsuaorigemnosubconscientehumano,essestermosindicamque as visões e sonhos foram comunicações de revelação da verdade quetiveramsuaorigemunicamenteemDeus.

B.Omododeentregá-la

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OrelacionamentoentreArãoeMoisésnaépocaemqueforamenviadosemmissãoaofaraódoEgitoéumexemploperfeitodaideiabásicadoprofetaemIsrael.Deus,deformagraciosa,cedediantedafraquezadeMoisés.Devidoà sua timidez, Arão, seu irmão, falará por ele: “Você falará [com Arão] ecolocaráaspalavrasemsuaboca.EumesmosereicomsuabocaecomabocadeArão.Euensinareiavocêsdoisoquedevemfazer.Elefalaráporvocêaopovo.Dessa forma, ele, elemesmo, servirá de boca para você, e você seráparaelecomoDeus”(Êx4.15,16).

Como porta-voz profético de Moisés, Arão não devia inovar. Ele nãodeviatentarcomunicarsuasprópriasideias.Aspalavrasexatasqueeledeveriafalarafaraóseriamcolocadasemsuaboca.Sódevemserfaladasaspalavrasdiretamente dadas a ele pelo originador da palavra profética. As frasesdescritivasusadasporDeusreforçamaproximidadedorelacionamentoentreapalavradeDeuseapalavraprofética.ArevelaçãodivinavaidiretamentedeDeus para a boca do profeta. Consequentemente, a palavra do profeta é aprópria palavra de Deus. Ele não comunica sua revelação ao profeta “depensamentoparapensamento”ou“dementeparamente”,mas“bocaaboca”.

Poressaênfase, torna-seclaroqueaprofeciadiz respeitonãoapenasàrecepçãodapalavradeDeusporpartedoprofeta,mastambémàsuaentregaaopovo.9Emcertosentido,orecebimentoeaentregadapalavraproféticanãopodemser facilmente separadosumdooutro.Aexperiênciaprofética todaéapresentadacomoumeventoúnico.Afunçãodoprofetaerajamaisacrescentaralgumacoisaàmensagem;ele tinhadeentregarexatamenteaquiloque tinharecebido.

Essa antiga descrição do modo de comunicação da palavra proféticareforça a absoluta perfeição da fala do profeta em sua representação dapalavradeDeus.PelofatodoSenhorcolocarsuaspalavrasnabocadoprofeta,a integridadeda revelaçãodivina temagarantiade serpreservada àmedidaquepassapeloinstrumento,oprofeta,emdireçãoaopovo.

C.ConsequênciasdaqualidadederevelaçãodapalavraproféticaDe imediato, podem-se notar duas consequências da qualidade de

revelação da palavra profética. Tanto a autoridade quanto a unidade damensagemdosprofetaspodemser consideradas como resultados inevitáveisdassuaspalavrasvindocomorevelaçõesliteraisdapartedeDeus.

1.AutoridadeUma antiga passagem referindo-se à função do profetismo em Israel

enfatizaqueaautoridadedapalavradeDeusnãoédeformaalgumadiminuída

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ao passar pelo profeta do Senhor. Em sua comissão a Moisés, o Senhorafirma:“Veja,EutorneivocêcomoDeusparafaraó,eArão,seuirmão,seráseuprofeta.VocêdeclararátudooqueEulheordenar,eArão,seuirmão,diráafaraóquefaçaosfilhosdeIsraelsaíremdasuaterra”(Êx7.1,2).

Nessasituação,MoisésfuncionacomoDeusparafaraó,ArãoéprofetadeMoisés,efaraóéoreceptordapalavraprofética.Moisés,nafunçãodeDeus,enviasuapalavraa faraópormeiodeArão,que lheservedeprofeta.Masapalavra que passa através de Arão vem a faraó com a plena autoridade dopróprio Deus. Faraó talvez desvalorize a autoridade da palavra do Senhorporque ela vem a ele por meio de um instrumento humano um tantoinexpressivo.Ele atéousa sugerirqueopovo sacrifiquenaprópria terraouquenãovámuitolongepelodeserto(Êx8.25-28).Eleatépropõequeapenasoshomensvãoadorar, deixandoas famílias e rebanhospara trás (10.11,24).MasapalavraderevelaçãodeMoisésconformemediadaaeleporArãonãoéem nenhum sentido menos autoritativa. Ela é a própria palavra de Deus.Conformeapalavradivinapassapeloprofeta,suaintegridadeépreservadadeformaquesuaautoridadeoriginalcomoapalavradeDeusnãoédiminuídaemnenhumsentido.

Desdeo inícioda instituiçãodaprofeciaemIsrael,apalavradoprofetaveio com a plena autoridade da palavra de Deus. A mediação profética denenhumaformaminimizaaautoridadedapalavradivina.Dessaperspectiva,épreciso prevenir que a palavra dos profetas como no final das contas foipreservadanasEscrituras inspiradasdeve ser tratada comomesmo respeitorequeridopelaautoritativaPalavradeDeus.

2.UnidadeUmasegundacaracterísticadapalavraproféticavindadesuaqualidadede

revelaçãoéasuaunidade.Pelofatodasváriaspalavrasdosprofetastodasseoriginarem no único Deus criador, nenhuma palavra de profeta podecontradizer outra. Essa unidade da palavra profética pode ser vista napassagem da Escritura que primeiro descreve a distribuição do Espírito deprofeciaentreosanciãosdeIsrael:

Moisésprosseguiu falandoaopovoaspalavrasdoSENHOR daAliança.Depois, reuniu setentahomensdentreos anciãosdopovoeos colocoupertodatenda.Então,oSENHORdaAliançadesceunanuvemefaloucomele. Ele tomou do Espírito que estava nele e o colocou nos setentaanciãos.Então,àmedidaqueoEspíritopousavaneles,profetizavam.Maselesnadaacrescentaram(Nm11.24,25).

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Moiséstinhaindicadoquenãoconseguiacarregarsozinhoofardodessagrande comunidade de pessoas (Nm 11.13,14). Assim, o Senhor provê umasoluçãodistribuindoentreossetentaanciãosoEspíritoqueestavaemMoisés.NãohánadanocontextoquesugiraqueoEspíritoemMoiséstenhadiminuídocomesseprocesso.OsrabiscomparavamadistribuiçãodoEspíritoqueestavaemMoisésaváriasvelas sendoacesasporumaúnicavela.Achamadavelaoriginaldeformaalgumaédiminuídaquandoacendequalquerquantidadedeoutrasvelas.Assim,oSenhortomadoEspíritoqueestáemMoiséseocolocanossetentaanciãossemdiminuiraexperiênciadeMoiséscomoEspírito.

A redistribuição do Espírito que estava emMoisés indica que o tempotodooEspíritoerasuficienteparaacrisedaquelemomento.NenhumEspíritonovoouadicionalveiosobreossetentaanciãos.Otempotodo,adeficiênciaestavanohomemMoisés.Elemesmonãoera suficientepara servir comooúnico instrumento da obra do Espírito, embora o Espírito que havia sidocolocadonelefosseplenamenteadequadoparaatarefa.

Ométodo pormeio do qual oEspírito foi distribuído entre os anciãosenfatizaaunidadedaprofeciadoEspírito.Todaprofeciaverdadeiraseoriginade uma fonte apenas. Nesse ponto crucial da sua distribuição inicial entreváriosindivíduos,éreforçadaasingularidadedaprofeciadoEspírito.Comoconsequência, uma declaração profética jamais haverá de contradizer outradeclaraçãoprofética.

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IV.IndiscriminadarejeiçãodeformasalternativasdedeterminarapalavradoSENHOR

MoisésatuoucomoprofetatrazendoanaçãoparaforadoEgito,falandocomo profeta de Deus a faraó. Ele continuou nessa função como profetacomunicando a palavra sustentadoradeDeus aopovodurante suas andançasnodeserto.MasparaIsraelserpreservadoduranteotempoemqueestivessemnaterra,avontadedeDeusteriadeserreveladaaelespormeiodeumasériedeprofetaslevantadospeloSenhor.Assim,comoumamedidadefensivacontraoscaminhosabomináveisdoscananeus,oSenhorlevantaráum“profetacomoMoisés”paraservirdemediadordasuavontaderevelada.Pelofatodaameaçada alternativa cananeia surgir de forma consistente através dos séculos, umasériedeprofetasserálevantadaparacontrabalançarsuaspalavrasecaminhoserrôneos.Aesserespeito,exige-sedanaçãoumatotalfaltadetolerânciaparacomqualquer rival dosprofetas de Israel antesmesmode entraremna terra(Dt18.9).

Oscananeus jáempregavamcaminhosalternativosparadeterminaremavontade dos deuses. Essas práticas variadas tinham o potencial degradativamentearruinaraeficáciadafunçãoproféticaemIsrael.Nadamenosque nove práticas cananeias são classificadas como “abominações” contra oSenhor(Dt18.10,11).Essasabominaçõesrepresentammétodospormeiodosquaisoscananeusprocuravamdeterminaravontadedosseusdeuses.Calvinodiz: “Aprendamos desta passagem com quantas fascinações monstruosas eridículasSatanás, semprequeDeus soltaacorrentecomaqualestápreso, écapazde fascinaros infelizeshomens, e comoégrandeopoderdeenganarque o pai damentira recebe da justa vingança deDeus com o propósito decegarosincrédulos”.10

Como assinalado anteriormente, os profetas deMari e daAssíria eramlivresparaservircomoporta-vozesdemaisdoqueumdeus.Tantoospadrõesmoraisdessesváriosdeusesquantoosseusinteressesdelongoprazopodiamserpromovidospelasdeclaraçõesdosseusvaticinadores.MasareivindicaçãodoDeusdeIsraeldeseroúnicoDeus,oúnicocriadoreSenhordocéuedaterra, não podia admitir o reconhecimento de uma variedade de deuses. Arazão básica para essa condenação de outros deuses e suas adivinhaçõesbaseia-senofatoqueumapessoasetornaparecidacomaquiloqueelaadora.ComoafirmaoprofetaOseias:

...consagraram-seàqueleídolovergonhoso

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esetornaramtãorepugnantesquantoaquiloqueamaram.(Os9.10bNVI;vejatambémSl115.4-8)

Uma variedade de outros deuses promove inevitavelmente ambição emvezdegenerosidade,mentiraemvezdedizeraverdade, imoralidade sexualemvezdepureza,rebeliãoemvezdesubmissãoàautoridade,morteemvezdevida.

A primeira abominação na lista de Deuteronômio indica o caráterdesprezível da religião desses outros deuses: “Nunca se achará entre vocêsalguémquefaçaseufilhoousuafilhapassarpelofogo”(18.10).Aooferecerumsacrifíciohumano,osadoradorescananeustentavamconvencerosdeusesdaprofundezadasuadevoçãoecoagi-losaatenderemseusdesejospessoais.Oadoradornaverdadeesperavadeterminarocursodofuturoatravésdasuapráticarepulsivadeoferecerumsacrifíciohumanoaosdeuses.

AEscrituranãofornecemuitosdetalhessobreessapráticade“passarpelofogo” um filho ou uma filha,mas o procedimento era seguido amplamenteentreospovosantigos.OdeuscartaginêsMoloqueassumiu formade figurahumanacomcabeçadetouro.Seusbraçosestavamestendidosparareceberascrianças oferecidas em sacrifício. Essa imagem de metal era aquecida, pormeio de um fogo dentro dela, até tornar-se incandescente.As crianças eramcolocadasnosbraçosdoídoloeempurradasparadentrodoventredodeus.Osomde flautase tamboresabafavaochorodasvítimas.Asmães ficavamalipertosemderramarumasólágrimaparademonstrarsuadisposiçãoemfazeressas oferendas.11 Essa prática abominável mostra o ponto a que irá ahumanidadenatentativadedeterminarocursodoseufuturo.

Supõe-se que o homemmoderno esteja bem longe dessas brutalidadesantigas. Mas a prática moderna do aborto, especialmente o aborto pornascimento parcial, muitas vezes não está longe dessas antigas formas desacrificar crianças com a finalidade de satisfazer ambições pessoais. Umesforço para determinar o curso do futuro por meio de ações abomináveiscontrárias à vontade de Deus pode estar na raiz de uma grande parte daspráticasmodernas,exatamentecomoaconteciaantigamente.

AsdemaisoitoabominaçõeslistadasemDeuteronômio18.10,11indicamvárias formaspelas quais umapessoa pode tentar conhecer ou influenciar ofuturo. A forma específica da realização dessas práticas antigas é um tantoincerta.12Mas elas envolviam várias formas de adivinhação pela análise doformatodasnuvens,encantamentodeserpentes,leituradefolhaspicadasnumamistura especial, recitação de um feitiço, consulta do mundo espiritual, ecomunicação com osmortos. Uma vez que esse amplo espectro de práticascorrentes nomundo antigo haveria de rivalizar a instituição da profecia em

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Israel, nem uma exceção sequer é permitida a essa proibição. Todas essaspráticas são classificadas como abominações à vista do Senhor. O povoredimidopeloSenhornãodeviaenvolver-sedeformaalgumacomqualquerdessesmétodosdetentardeterminarofuturo.

Nem todas essas práticas antigas podem ser descartadas comosuperstições passadas, pois, com todos os refinamentos da civilizaçãomoderna, muitos instrumentos divinatórios atuais exercem a mesma funçãodessasabominaçõesantigas.Horóscopo,leituradasorte,curandeirosemagos,todos tentam determinar o futuro de maneira sobrenatural. Existe nahumanidadeumainextirpávelcompulsãoquemoveaspessoasa tentaremseriguaisaDeuspormeiodoconhecimentodofuturo.Mas todasessaspráticasdivinatórias modernas estão debaixo da mesma condenação de seusequivalentes antigos. Eles são abomináveis ao Senhor. O povo que alegaconheceroúnicoDeuséadmoestadoadesviar-sedeconsultarqualquerfontealémdarevelaçãoinspiradamediadapelosseusservos,osprofetas.

As sérias consequências de seguir esses caminhos de tentar conhecer avontadedeDeus sãodeclaradas em termos certeiros: “Pois todosque fazemessas coisas são uma abominação para o SENHOR da Aliança, e por causadessasabominaçõesoSENHORdaAliança,seuDeus,osexpulsarádediantedevocês” (Dt18.12).Nãoapenasaspráticas,mas igualmenteaquelesqueusamessesmétodos são abomináveisdiantedoSenhor.Comoconsequência,Deusexpulsará o povo que ocupou a Palestina desde antes da época de Abraão.Mesmoospagãosnãopodemenvolver-senessaspráticassemtrazeremsobresiairadeDeus.

É instrutivo notar que o mal essencial que provocou a expulsão doscananeusnãofoiopecadodeidolatria,imoralidadeoubrutalidade.Nãofoiaglutonaria,amentiraouacobiça.OpecadoabominávelquetrouxeojuízodeDeussobreacivilizaçãocananeiafoiatentativadelesdedeterminaravontadedeDeuspormeiodosseusprópriosartifícios.Opecadoqueoscondenoufoiumpecado religioso, o pecadode tentar conhecer os propósitos deDeusdealgumaformadiferentedocaminhoindicadopelopróprioDeus.

Assim também é hoje, como em todas as gerações. O deus damodernidadeéodeusdatolerância,exigindoquetodaequalquerreligiãosejaconsiderada como tendo igual valor aos olhos de todos.Mas como verdadebásicaéprecisoreconhecerque,seexisteapenasumDeus,somenteEledeveserreconhecidocomoaúnicafontedaverdadefinal.

Emcontraste comas religiõesdeCanaã, o completo comprometimentode Israel com o Senhor precisa ser mostrado de forma concreta na sua

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inquestionávellealdadeaosservosdeDeus,osprofetas.Elesprecisamrejeitarde maneira firme todos os esforços rivais de conhecer a vontade de Deus:“Masvocêsnãofarãoassim!OSENHORdaAliança,seuDeus,nãolhespermitefazê-lo!”(Dt18.14).ApalavradeproibiçãodoSenhorexcluitodasasoutrasformasdetentarconheceravontadedeDeus.Reconheceranaturezaúnicadoprofetismo em Israel significa a indiscriminada rejeição de todas as formasalternativas de determinar a vontade, o propósito, a mente do único Deuscriador.

Emsuma,osrivaisdafunçãoproféticatêmsidonumerososemtodasasépocas. Essas substituições humanas da função divinamente estabelecida doprofetacontinuammanifestando-sedeinúmerasformas.Emboraàsvezesnãoseja levada a sério, a Palavra deDeus diz que são abominações que trazemconsigoojuízodivino.

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V.Operigodeapartar-sedoprofetadoSenhor

Oafastar-sedoprofeta indicadopeloSenhoréprevistocomoumafaltagrave,quetrazconsequênciasdevastadorastantoparaoindivíduocomoparaanação. Esse afastar-se do profeta podia ocorrer de duas formas: pordesobediênciaoupelafalsaprofecia.

A.Afastar-sepordesobediênciaA desobediência à mensagem do profeta é descrita como “não dar

ouvidos” às palavras que o profeta diz em nome de Deus (Dt 18.19). Essadeficiêncianoouvirnãosignificasimplesmentenãoprestarplenaatençãonomomento em que o profeta entrega sua revelação ao povo. Na verdade, apalavra do profeta em geral era entregue de forma tão vívida que é difícilimaginarquealguémnãoprestasseatençãoaoqueestavasendodito.Emvezdisso,esse“nãodarouvidos”refere-seaumarecusaaobedecer,umafalhaemprestar atenção, uma determinação de seguir emdireção oposta ao caminhoindicadopeloprofeta.

ÉprecisolembrarqueoâmagodaprofeciaoriginariamenteentregueporMoisésestavaresumidonosDezMandamentos.Essasorientaçõesparaavidado povo de Deus forneciam a essência da mensagem dos profetas queprecisava ser obedecida. Foi, na verdade, a desobediência a essesmandamentosbásicosquenofinaltrouxeadesgraçaparaanaçãodeIsrael.

Deus não deixará nasmãos de juízes humanos a tarefa de ser chamadaparaaprestaçãodecontasapessoaquerejeitaumprofetaseu.EEletambémnãopermitesimplesmentequeascircunstânciasdavidaexerçamajustiça.Emvezdisso,Elemesmochamaráapessoaparaaprestaçãodecontas.LogonoiníciodaEscritura,nosdiasdeNoé,Deuspessoalmentedeclarouoassassinocomo responsável por seu crime (Gn 9.5).Amesma palavra (“requerer”) éagoraaplicadaàpessoaquedeixadeouvirapalavradeDeus(Dt18.19).NãoprestaratençãoàpalavradoprofetadeDeussignificaqueopróprioDeusdaráinícioaumprocessojudicialcontraessapessoa.

Essa antiga prestação de contas especificada por ocasião da origem doprofetismoétransferidaporfimporJesusaosseuspróprioscontemporâneos.Quando emite um solene alerta, Ele repete as consequências de não prestaratençãoàpalavradosprofetasdeDeus,asquaisseencontramnasEscriturasdaantigaaliança:

“Por isso, tambémdisse a sabedoria deDeus:Enviar-lhes-ei profetas e

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apóstolos,eaalgunsdelesmatarãoeaoutrosperseguirão,paraquedestageração se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde afundaçãodomundo;desdeosanguedeAbelatéaodeZacarias,quefoiassassinado entre o altar e a casa deDeus. Sim, eu vos afirmo, contasserãopedidasaestageração”(Lc11.49-51ARA).

Deus exigirá uma prestação de contas daqueles que tratam mal seusprofetas.Parareforçaressefato,nossoSenhorJesusrepeteoprincípio:“Sim,eu vos afirmo, contas serão pedidas a esta geração”. De modo supremo, ageraçãoquerejeitaoprofeta,oúnico“profetasemelhanteaMoisés”,serátãoculpadacomosetivesserejeitadotodaalinhagemdosprofetasdesdeAbelatéZacarias.

Emoutraocasião,JesusreforçaasoleneresponsabilidadecolocadasobreaspessoasquetêmaoportunidadedeouviraPalavradoSenhor:“Aquelequeme rejeita enão recebeminhapalavra temquemo julgue.Apalavraque eutenhofalado,essamesmao julgaránoúltimodia,poisnão tenhofaladopormimmesmo,masoPai,quemeenviou,Elemedisseoqueeudeveriadizereo que eu deveria falar” (Jo 12.48,49). Jesus indica que suas palavras seoriginavamnoPai.Consequentemente,qualquerqueorejeitaenãorecebesuapalavra rejeitaaopróprioDeuseserá julgadoporEle.Asprópriaspalavrasdo profeta que a pessoa se atreve a rejeitar se tornarão a base do seujulgamento.Consequências terríveishaverãode seguirqualquerdesleixoemprestaratençãoàpalavraprofética.

B.Afastar-sepelafalsaprofeciaA segunda maneira de afastar-se do profeta é descrita como falsa

profecia. Uma pessoa pode atrever-se a declarar uma palavra em nome deDeusquandooSenhornãomandouqueelafalasse.Aseriedadedessecrimeévistanofatodeserexigidaamortedapessoaqueprofetizavafalsamente(Dt18.20-22). Essa previsão da falsa profecia entre o povo de Deus foiconfirmadacomopassardo tempopela longahistóriadoconflitoproféticoem Israel (veja o cap. 4, §IV). No final, a falha em seguir as diretrizes doSenhor para fazer distinção entre profetas verdadeiros e falsos resultou noexíliodanaçãotoda.

Com vistas a uma antecipação do conflito entre vozes que igualmentealegavamserproféticas,oSenhorprovêcritériosquefazemdistinçãoentreofalsoeoverdadeiroprofeta.Otestemaissimpleséseapessoafalaemnomede algumoutro deus (Dt 18.20). Sempre que for invocado o nomede outrodeus,aquelequefalaprecisaserconsideradocomofalsoprofeta.Nãosedeve

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tolerar nenhum sincretismo, pois existe um único Deus vivo e verdadeiro.Comosegundoteste,apessoaprecisaserjulgadacomofalsoprofetaseasuapalavranãosecumpre(18.22).OfalsoprofetapodefalaremnomedoDeusverdadeiro.Masseasuaprediçãonãoseconcretiza,eleprecisasermorto.

Um terceiro critério para fazer distinção entre o verdadeiro e o falsoprofeta reforça o caráter fundamental das declarações proféticas deMoisés:“Vocês devem guardar seus mandamentos e obedecer à sua voz, servi-lo ebuscá-lo.Oprofetaousonhadordesonhos[quecontestaessesmandamentos]deve ser morto, pois incita rebelião contra oSENHOR da Aliança, Deus devocês” (Dt 13.4b-5a). A verdadeira palavra profética sempre estará emharmoniacomaspalavraspreviamentefaladasporMoisés.ÉimpossívelquesejaumprofetaverdadeiroqualquerpessoaqueseopuseràsleisdeMoisés.

Assim,desdeocomeçodoprofetismoemIsrael,fez-sedistinçãoentreosverdadeiroseosfalsosprofetas.OpovodeDeusfoidevidamentealertadoqueteriam de exercer discernimento para detectar a palavra que vinha dosverdadeirosprofetasdoSenhor.

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VI.Jesuscomoaconsumaçãodoprofetismo

AtensãocriadapeloestabelecimentodeummediadorproféticonoSinaiapontavaparaanecessidadedeacabarcomaseparaçãoentreDeuseseupovoem algum ponto no futuro. Deus apareceu no topo do monte que tremia efumegava,mostrandosuaterrívelglóriaconformefalavapelosomdasuavozdetrombeta.OpovotremeudemedoaopédomonteeimplorouaMoisésquemediasseaspalavrasdoseuDeusespantoso.Aomesmo tempoquea funçãodomediador profético era essencial para a comunicação da palavra divina,essemesmosistematornouimpossívelocumprimentodopropósitocentraldaaliança, que era estabelecer uma intimidade de comunhão entre Deus e seupovo.Dealgumaforma,essacircunstânciaprecisavaseralterada.

Essaconjunturatodaencorajaaexpectativadequealgumaresoluçãodoproblema surgiria no futuro. O propósito de Deus na aliança não seráfrustrado. A unidade entre o SENHOR da Aliança e seu povo precisa serconcretizada.Naverdade,oSenhornãominimizarásuagrandezaesuaglóriacomooTodo-poderoso.Masdealgumaformaadeficiênciarepresentadapelafunção mediadora de Moisés precisa ser superada. Nesse contexto, asreivindicaçõesdasEscriturasdanovaaliançacomrespeitoaJesusdeNazarépodem ser plenamente apreciadas, pois emmuitos pontos a apresentação deJesuscomoprofetaforneceumarespostaaessalimitaçãodafunçãoproféticadaantigaaliança.

A.JesuscomooriginadordapalavraproféticaNãofoiMoisésquemdeuorigemàpalavraprofética.Eleserviuapenas

comoumcanal,comoummediadordaPalavradeDeusparaopovo.Todososprofetas da antiga aliança exerceram essa função limitada. “Assim diz oSenhor” era a fórmula normal usada pelos profetas quando anunciavam suamensagemaopovo.ElessópodiamfalarunicamenteaquiloqueoSenhorlhescomunicava.

EmcontrastecomafunçãomediadoradeMoisésedetodososprofetassubsequentes, Jesus é apresentado como o originador da palavra profética enão apenas como seu mediador. Os registros dos Evangelhos jamaisdescrevem Jesus apresentando suas declarações começando com a fórmulaprofética“AssimdizoSenhor”.Essafórmula,pormais importantequeseja,tambémindicaqueoporta-voznãodeuorigemàpalavraquedeclaraaopovo.Em nítido contraste, Jesus regularmente começa suas afirmações proféticascom:“Emverdade,emverdade,euvosdigo”.AautoridadecomaqualElefala

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vem dele mesmo. Consequentemente, são inteiramente removidas todas aslimitações associadas com a mediação profética como originariamenteinstituída em Israel.Ao ouvir as palavras de Jesus, o povo deDeus ouve aspalavrasdeDeus,poisElemesmoé, emsimesmo,ooriginadordapalavradivina.

B.JesuscomodistribuidordosdonsdoEspíritoPor ocasião da distribuição inicial do Espírito de profecia, Moisés

claramente não exerceu nenhum controle sobre as manifestações do domprofético.FoideDeusainiciativadetomardoEspíritoqueestavaemMoisésecolocá-lonossetentaanciãos,deformaqueelesprofetizassem(Nm11.25).Aomesmotempo,EldadeeMedadeprofetizaramtotalmenteforadasupervisãodeMoisés(11.26,27).Claramente,adistribuiçãodosdonsparaoministérionãoestavasobadireçãodeMoisés.

Umapassagem instrutiva dasEscrituras da nova aliança se assemelha aesse incidente dos dias deMoisés e estabelece Jesus como distribuidor dosdonsdoEspírito.Nessecaso,odiscípuloJoãoexerceumafunçãosimilaràdeJosuéemseuzeloporseumentor.JoãorelataqueosdiscípulostinhamvistoalguémexpulsandodemôniosemnomedeJesus,maselesotinhamproibidoporqueessapessoanãoestavacomeles(Mc9.38).ArespostadeJesusnãofoioqueJoãoesperava:“Nãooimpeçam,poisninguémconseguefazermilagresemmeunomeelogodepoisconseguefalarcontramim”(9.39).

AcomparaçãodessanarrativacomoincidenteregistradoemNúmeros11lança luz sobre o progresso da revelação com respeito à função profética.AmbasaspassagensdizemrespeitoaosdonsdoEspíritodeDeus,emboraotextodoAntigoTestamentoseconcentrenodomdaprofecia,enquantootextodo Novo Testamento se ocupa com o dom da cura. Ambos os incidentesregistram umamanifestação dos dons do Espírito fora do círculo direto dolíderproféticodaquelesdias.Na situaçãodaantiga aliança,Moisés reúneossetentaanciãosnatendadacongregaçãoforadoacampamentodeIsrael.MasoEspíritoproféticosemanifestaalémdaesferadocontroledeMoisés.Nocasoda narrativa de Marcos, Jesus reúne seus discípulos em torno dele. Masnovamente o Espírito atua fora do círculo direto do líder profético domomento.

Mais significativo do que os paralelos, é a substancial diferença entreessesdois casos.Noprimeiro,Moisés aparececomoonecessitado servodapalavra profética. Ele não consegue carregar sozinho o fardo do povo. AmanifestaçãododomdaprofeciaforadaesferadiretadainfluênciadeMoisésreforçaaslimitaçõesdele.Elepermaneceparasemprecomoservodapalavra

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profética,nãoexercendonenhumcontrolesobreofenômenoespontâneoqueocorre foradoseuambientedecontrole.Moiséspodeserapreciadoporsuagrandezanocontextodaantigaaliança.SomenteeleéquemdáaleideDeusaopovo. Ele se destaca acima de todos os outros como omediador designadoparaosdocumentosdaaliança.Massuaslimitaçõessetornamimediatamenteaparentes.

Emradicalcontraste,JesusagecomooSenhordapalavraprofética.Duasvezes se faz referência a esse indivíduo que, apesar de não estar ligadodiretamenteaosdiscípulosdeJesus,executaseuministérioemnomedeJesus(Mc9.38,39).

Umacomparaçãoentre essasduaspassagensdemonstra a superioridadede Jesus em relação aMoisés. Na consumação da história da redenção, umprofetamaiordoqueMoiséssurgiueElemesmocontrolouadistribuiçãododomprofético.MoisésnãotinhanenhumcontrolesobreoprofetizardeEldadee Medade. Mas Jesus, de forma evidente, governou aqueles que operavammilagres em seu nome. Eles nada podiam fazer à parte da sua concessãopessoaldepoder.

Essa autoridade sobre a palavra profética é ainda mais ressaltada emconexão com a função real de Jesus em seu estado de exaltação.De acordocomoNovoTestamento,Jesus,comooCristoexaltado,“subiuàsalturas”àdestradeDeus (Ef4.8;Sl 68.18).AoderrotarSatanás em favordopovodeDeus, Ele “levou cativo o cativeiro”, libertando os homens da prisão dopecado e introduzindo-os na “gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm8.21).Deumaperspectivadaantigaaliança,oSenhorvitoriosorecebeudons(Sl68.18[=67.19Septuaginta])naexpectativadeumdiafuturoemqueseriamdistribuídos.MasemsuaposiçãoexaltadacomoungidodeDeus,JesusCristoagoraderramaseupróprioEspírito,distribuindodonsdeministérioconformeasuavontade(Ef4.8).AcomparaçãodoSalmo68comsuacitaçãoemEfésios4 reforçaaperspectivadiferente sobreadistribuiçãodedonsqueoMessiasfaz. O Salmo 68.18 pode ser traduzido: “Tu recebeste dons dos [ou para]homens” (laqakhtah mattanot baadam). De forma similar, a Septuagintaafirma: “Tu recebeste dons entre os homens” (elabes domata em anthrōpō).Emsignificantecontraste,Efésios4.8dizassim:“Eledeudonsaoshomens”(edōkendomatatoisanthrōpois).

A esta altura, é correto perguntar sobre a metodologia de citação dasEscrituras da nova aliança. Será que o apóstolo Paulo agiu corretamente aomodificarofraseadodessesalmo,deformaquepassaadizer“deudons”emvezde“recebeudons”?Àvistadosdesenvolvimentosdahistóriadaredençãoentre a época do salmista e a época do cumprimento da nova aliança, essa

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formadetratarotextodaantigaaliançaéperfeitamentelegítima.Pelofatodehaver chegado o grande dia da exaltação consumada do rei ungido, essaverdadedaantigaaliançapodeser,deformalegítima,invertida,deformaquereflita asnovas circunstânciasdonovodiada exaltaçãodoMessias.Hoje, oMessiasvitorioso“deudonsaoshomens”, emvezde“recebeudonsparaoshomens”.Da perspectiva da antiga aliança, oMessias vindouro ainda estavaparareceberosdonsquehaveriadedistribuiraosmembrosdoseureino.Masda perspectiva da nova aliança, pormeio do seu batismo e ressurreição nopoderdoEspírito,JesusrecebeuodomdoEspíritosemmedida,deformaquetinhacondiçõesdedistribuirosdonsdoEspíritoaossúditosdoseureino.Pormeio dessa distribuição dos dons do Espírito, Ele estabeleceu na igrejaprimeiroapóstolos,depoisprofetas,depoispastoresemestres(Ef4.11).

Deformaevidente,JesusCristo,emsuaposiçãoexaltada, tantoémaiorqueMoisésoprofetaquantomaiorqueDaviorei.EleésemelhanteaMoiséscomoporta-vozproféticoqueentregaainerrantePalavradeDeus.MasEleémaior do que Moisés porque distribui o dom de anunciar uma palavraproféticadeacordocomsuavontade.EleésemelhanteaDaviporquemereceareverênciadetodasasnações.MasEleémaiordoqueDaviporquesoberanaegraciosamentedistribuimuitomaisdonsdoqueElejamaishaverádereceber.

C.JesuscomoSenhordapalavraproféticaQuando Miriã e Arão desafiaram a posição exaltada de Moisés como

porta-vozdeDeus, opróprioSenhor falou emdefesada singular funçãodeMoisés como profeta por excelência (Nm 12.4). Eles não deviam opor-se aMoisés, pois em toda a casa de Deus ele era fiel (12.7,8). Dentre toda acomunidadeondeoSenhorhabita,Moisésdistinguiu-seporsuafidelidade.

AsEscriturasdanovaaliançaindicamqueJesustambém“foifielàquelequeohaviaconstituído,assimcomoMoisésfoifielemtodaacasadeDeus”(Hb3.2NVI).Mas,porumarazãomuito importante,JesusédignodemaiorhonradoqueMoisés.OsdoishomenssemostraramfiéisàtarefaquelhesfoidadaemrelaçãoaopovodeDeus,sua“casa”.Masnessepontoacomparaçãocessa,poisnodesdobrardafiguradasuacasa,oescritoraosHebreusindicaumacoisaimpressionante.Evidentemente,todacasaprecisaserconstruídaporalguém, e no final das contas Deus é o construtor de todas as coisas. Masenquanto Moisés agia como servo nessa casa, Jesus, como Filho único deDeus,estavaladoaladocomDeuscomooconstrutordacasa(3.3-6).

Moisés ocupava a posição mais alta possível em relação aos seuscontemporâneos. Em sua função singular como o indivíduo preeminente detodo o movimento profético, ele pertencia a uma categoria inteiramente

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diferentedetodososoutrosprofetasquehaveriamdesurgiremIsrael.Todososprofetassubsequentesdaeradaantigaaliançaerammenoresdoqueele.Deforma semelhante, Jesus é apresentado nas Escrituras da nova aliançapertencendo a uma categoria inteiramente diferente da de Moisés. Como oFilhodeDeus, umcomoCriadorde todas as coisas,Ele é ooriginadordapalavraprofética.EleéaPalavra(Jo1.1).Elenãosesituaaoladodaquelesquefazempartedacasa.Emvezdisso,EleestáaoladodeDeus,oedificadordacasa.ComoCriadordetodasascoisas,JesusoFilhotemessênciatotalmentediferente da deMoisés o servo: “Se a palavra falada pelos mensageiros daantigaaliançafoiimutável,etodatransgressãoedesobediênciarecebeujustaretribuição, como haveremos de escapar se negligenciarmos tão grandesalvação, que primeiro começou a ser anunciada pelo Senhor e depois foiconfirmadaanósporaquelesqueoouviram?”(Hb2.1,2).Cristoéúnicocomoprofetaporcausadaprópriaessênciadasuanatureza.Comofilhosobreacasae ao lado de Deus como o construtor da casa, sua palavra precisa serreconhecidacomonadamenosdoqueaprópriaPalavradeDeus.

D.JesuscomooprofetaconsumadoAmençãodequeoSenhorlevantariaumprofeta“semelhanteaMoisés”

previualongalinhagemdeprofetasqueserviriamcomoalternativasdeIsraelàs abominações dos cananeus. Mas é muito provável que essa antecipaçãopretendiatambémapontarparaumdeterminadoindivíduo:

O uso do singular “profeta”, embora em simesmo não suficientepara esperar uma figura profética singularmente igual a Moisés,permiteessapossibilidademaisdoqueopermitiriaaformaplural,na qual seria difícil supor uma referência a uma figura proféticasingularqueDeushaveriadelevantarnofuturo.Moisés exerceuuma funçãodistinta emcomparação com todososoutros profetas (Nm 12.1-8). Consequentemente, esse anúncio arespeito da expectação de umprofeta semelhante aMoisés levantauma questão importante. Será que essa “semelhança” protege asingularidade de Moisés de maneira que alguém pode sersemelhante,masninguémjamaispodeserigualaele?Ouseráqueisso aponta para o surgimento de um determinado indivíduo queconsumadamente corresponderia ao primeiro dos profetas em suaproeminência singular? Moisés foi diferenciado, especialmente,como alguém que receberia a revelação de Deus de uma formatotalmente diferente dos outros profetas. Dessa forma, se fosse

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surgiralgumprofetasemelhanteaMoisésnomaisplenosentido,eleteriadeser“alguémquerecebessesuasrevelaçõesàsemelhançadeMoisés”.13

DeacordocomDriver,apossibilidadedeumareferênciaaumindivíduoqueseriadistintocomoMoiséséalgoinerenteaotexto:“Sãotaisostermosdadescrição, que podem ser compreendidos, de modo lógico, incluindo umareferência ao profeta ideal, O Qual seria ‘como” Moisés num graupreeminente,emQuemalinhagemdosprofetascaracterísticosculminaria,OQualapresentariaascaracterísticasdoprofetaemsuaplenaperfeição.”14 VonRad também vê uma referência a um único profeta por excelência. EleinterpretaapassagemcomoumadescriçãodavindadeummediadorproféticoescatológicoqueserácomoMoisésnãonosentidodeserumprofetadejuízoeperdição.Emvezdisso,eleserácomoMoiséscomoumqueintercede,sofre,e até morre em favor do povo. Nessa experiência, a vida do profeta devepersonificar suamensagem.De acordo com vonRad, essa descrição de umprofeta está “em harmonia com a do servo sofredor de Deus no Dêutero-Isaías”.15

Essas observaçõesmerecem cuidadosa consideração.Em termos da suafunçãodeprofeta sofredor,Moisésprecedeo servode Isaías.OconceitodeservodoSenhoremIsaíasdemonstraainteraçãodos“muitos”edo“único”demaneira similar ao movimento entre um profeta específico e todo omovimentoproféticoassimcomoéprevistoemDeuteronômio18.

O fatodeDeus levantarumprofeta comoMoisés inclui a ideiadeumapessoaproféticaespecíficaquehaveriadesofrerdeformasingularemfavordo povo de Deus. A longa linhagem dos profetas em Israel assemelha-se aMoisés de várias maneiras. Mas nenhum deles pode ser considerado comoMoisésemseusentidopleno:“EmIsraelnuncamaisselevantouprofetacomoMoisés,aquemoSenhorconheceufaceaface”(Dt34.10NVI).NemsequerumdosprofetasatuoucomoMoiséscomoosingular legisladordopovodeDeus, cuja revelação foi confirmada pormuitos sinaismiraculosos (34.12).EssalimitaçãonalongalinhagemdosprofetasdeixaabertaapossibilidadedeumafiguraproféticanofuturoqueserácomoMoisésnosentidopleno.Umadas esperanças características de Israel consolida-se na expectação de umprofetafinalcomqueoSenhorfalará“bocaaboca”equemanifestaráopoderdopróprioDeus,assimcomoofezMoisés.

Em diversas ocasiões, as Escrituras da nova aliança referem-se a umaexpectação popular com respeito à aparição de umprofeta comoMoisés.Opovo interroga João Batista: você “É o Profeta?” (Jo 1.21 NVI). Eles não

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conseguementenderporqueJoãoousalevaropovoaodesertoecomeçarumbatismoparaarrependimentoseelenãoéoCristo,Elias,ouoprofeta(1.25).QuandoJesus,maistarde,alimentaamultidãocompãoepeixenodeserto,opovo rapidamente conclui: “Sem dúvida este é o Profeta que devia vir aomundo” (6.14 NVI). Assim comoMoisés proveu pão para seus pais, assimJesus miraculosamente proveu pão no deserto. Havendo feito essaidentificação, o povo resolve fazer de Jesus seu rei (6.15). Uma vez queMoisés exercia as funções de profeta e rei, eles devem ter concluído que oprofetavindouro,semelhanteaMoisés,seriaidentificadocomooseuMessiasreal.16 Mais tarde, Jesus, de forma dramática, oferece a água da vida paratodosquevieremaEle,damesmaformaqueMoisésproveuáguanodeserto.NoúltimodiadaFestadosTabernáculos,que lembravaaopovoosdiasdassuasperegrinaçõesnodesertosobaliderançadeMoisés,Jesusafirmaemvozalta:“Sealguémtemsede,venhaamimebeba” (7.37NVI).Quandoopovoouviu essas palavras,muitos deles concluíram: “Certamente este homeméoProfeta”(7.40NVI).EssaspessoasviramemJesuso“profetacomoMoisés”quetinhasidoprometido,eJesusasencorajounessaidentificação.

Jesus, de formaespecífica, é identificadocomooprofetaprometidonosermão de Pedro por ocasião da cura do homem aleijado no templo deJerusalém(At3.19-26).17DeacordocomPedro,amensagemdoprofetismodurante os séculos encontra seu maior resumo na predição referente ao“profetasemelhanteaMoises”quehaveriadevir:“PorqueMoisésdisse,porum lado [men]: ‘O Senhor seu Deus levantará de entre os seus irmãos umprofetacomoeu’” (3.22).MasPedro indicaqueMoisésnão foioúnicoquepreviu uma consumação da história do profetismo nos últimos dias: “Poroutrolado[de], todososprofetas,deSamueleosqueoseguiram,falaramarespeitodestesdias”,osdiasdavida,morteeressurreiçãodeJesus,oprofetaconsumado(3.24).

Maisnoprincípiodasuamensagem,Pedroindicouque,pormeiodoseumilagredecura,DeushaviaglorificadoaJesus,seupais(At3.13).Essetermocarrega em si uma ambiguidade inerente, significando tanto “filho” como“servo”.Contrariamenteàregranormaldehermenêutica,dequeumapalavraprecisa ter umúnico significadonumcontexto específico, este termoparececarregarambosossignificadosnestapassagem.18Pedroafirmaque,poressemilagredecura,“Deus...glorificouseufilho/servo”,queéidentificadocomoJesus(At3.13).MasassimcomoosservosproféticosdoSenhorprovaramaconstante rejeição israelita para com seu ministério, assim Jesus, comofilho/servofoitraídopelopovodeDeusperantePilatos,emboraogovernadorotivessedeclaradoinocente(3.13b).

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Se compararmos a fraseologia de Atos 3.22 com 3.26, veremos quePedro tempor intenção identificar o profeta previsto porMoisés com Jesuscomooservo/filho:

Deussuscitaráumprofeta[prophēthēs](At3.22,citandoDt18.15).Deussuscitouseuservo/filho[pais](At3.26,explicandoDt18.15).

Pedro apresenta uma profunda Cristologia por meio desta exposiçãobíblico-teológicadeDeuteronômio18.15.Émuitoprovávelqueaquelesqueoouviam, uma vez que conheciam muito bem as Escrituras, relacionaram apalavrapaiscomoservosofredordeIsaías,poisessetermoéusadoarespeitodoservodoSenhornaversãodaSeptuagintadeIsaías42.1;52.13;53.2.Essesversículos descrevem o servo sofredor que proclama a verdade às naçõesquandodesempenhasuafunçãoprofética.

A constante resistência à palavra profética na história de Israel não semanifestavameramentecomoumarejeiçãopassivadamensagemdosprofetas.Em vez disso, ela acabava em perseguição ativa aos profetas por parte dopovo.Oprofeta sofriaaviolênciada iradopovoque rejeitavaaPalavradeDeusedessaformatornava-seumafigurasofredora.UmapartedoseuofícioerareceberemsimesmoarepulsadopovodeDeus,sofrendoemsuasmãosenquantolhesanunciavaaPalavradeDeus.

Tendoemmenteessepanodefundo,pode-seavaliarmaisplenamenteatroca que Pedro faz do servo/filho com o profeta semelhante a Moisés. OprofetasofredoreoservosofredordoSenhor fundem-sequandoPedrounepaiscomprofeta.Jesus,comooprofeta,é tambémofilho/servo, resumindoem simesmo a função profética conforme ela se funde com o conceito doservosofredornopensamentodeIsaías.Aomesmotempo,comofilho(pais),Ele exerce a função de real soberanomessiânico. Na perspectiva de Pedro,Jesus é o profeta semelhante a Moisés. Ele preenche todas as expectativasdesenvolvidas pela longa linhagem de profetas que o precederam. Ele é oprofetaquehaveriadeconsumaropropósitodeDeusconformefoiindicadodesdeomomentoemquesurgiuafunçãoprofética.

Nesse contexto, o apóstolo exige uma resposta típica doministério dosprofetasdeIsrael:“Por isso,arrependam-seevoltem,paraqueseuspecadospossamserapagados,afimdequevenhamtemposderefrigériodapartedoSenhor” (At3.19). Jesus tinhasubidoaocéuapenasquarentadiasantes.MasPedrodizaopovoquesearrependade formaqueoSenhor“possaenviaroCristo”quehaviasidodesignadoparaeles(3.20).Ele jáestáolhandoparaogloriosoretornodeCristojuntamentecom“otempodarestauraçãodetodasascoisas...anunciadaspelossantosprofetasdeDeus”(3.21).19

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Embora Deus pretenda abençoar seu povo levantando esse profetasemelhante a Moisés, a alternativa potencial para um juízo maior tambémprecisaserreconhecida:“Eseráquetodapessoaquenãoouviraesseprofetaserácompletamenteeliminadadoseupovo”(At3.23).20Dessaforma,Pedroreforça a severidadedas consequências de rejeitar esse profeta semelhante aMoisés,oqualeleagoraidentificacomoJesus.QualquerquerejeitaaJesus,oprofetasemelhanteaMoisés,serátotalmentedestruído,eliminadoparasempredopovodeDeus.EssarealidadenãodevesurpreenderosouvintesdePedro,umavezque“todososprofetas...predisseramestesdias”(At3.24NVI).

Pedro conclui sua mensagem desenvolvendo uma segunda citação dasEscriturasdaantigaaliança:“Pormeiodosseusdescendentes,todasasnaçõesda terra serão abençoadas” (At 3.25, citação de Gn 22.18). Ao explicar osignificadodessapromessadaaliançadadaaAbraão,Pedroafirma:“Avocêsprimeiro,Deus, tendo ressuscitado seu filho, enviou-o para que ele pudesseabençoá-los fazendo com que cada um abandone seus maus caminhos” (At3.26). A bênção da aliança feita com Abraão finalmente chega a sua plenarealizaçãoquandoDeusenviaseufilho/servoJesus.Consequentemente,Jesusocupa a função desse profeta semelhante a Moisés. A longa linhagem deprofetas maltratados se origina comMoisés e se consuma em Jesus Cristo.Comoresultado, todasasbênçãos intencionadasnaaliançadeDeusvêmpormeiodele.

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VII.Conclusão

Por ocasião da origem do profetismo, é dada forte ênfase naexclusividade da palavra profética como a única forma do povo de Deusreceber revelação da parte dele. É abominação aos olhos de Deus qualqueresforçoquebuscadeterminaravontadedeDeusdequalqueroutraformaquenãosejapormeiodafunçãoinspiradadoprofeta.

NaconsumaçãofinaldalongahistóriadoprofetismoemIsrael,espera-seque surja um único profeta semelhante a Moisés. Esse profeta consumadopersonificará todos os princípios da atividade profética, incluindo osofrimento e a rejeição que invariavelmente vêm aos profetas de Deus. AameaçadojuízodivinopairasobretodosquerejeitamomensageiroenviadopeloSenhor.Mas,nofinal,opropósitodeDeusaoestabelecersuaaliançaserárealizado. Seu povo será trazido a uma permanente unidade com Ele. EsseprofetafinalseráopróprioDeuscomseupovo,declarandosuaPalavraaoseupovo.

1SobreasorigensdahipótesedeWellhausen,vejaZimmerli,LawandtheProphets,23.

2Calvino,FourLastBooksofMoses,4 .41.3Numparalelismopoético,Habacuqueafirma:“Viaafliçãodas tendasdeCuchã; tremiamascortinasdastendasdeMidiã”(Hc3.7NVI).

4 Calvino,FourLastBooksofMoses,4 .42.5Contrariamente a opiniões críticas negativas, essa afirmação não deve ser considerada como não-mosaica, uma afirmação que não podia ter sido feita pelo próprioMoisés, com isso provando queMoisésnãopodiaterescritooPentateuco.Emvezdisso,elaapresentaumarepresentaçãoverdadeiradohomemMoisés,conformeprovasuapréviahesitaçãoemassumirafunçãodeliderançaparatirarIsraeldoEgito(Êx4.10-13).

6O texto exatodessa importante frase emNúmeros 12.6 temcausado extensas discussões, com trêsopiniõesbásicas: (1)O textohebraico está corrompido eprecisa sermodificado (Gesenius,HebrewGrammar§128d;McNeile,Numbers,66).Aalteraçãomaiscomuméa seguinte:“Seexistealgumprofetaentrevocês[nabibakem],Eu,yhwh,falareicomele”.Jáoutrospropõemaomissãodeyhwh;(2)Afraseéumexemplodeumasequênciadepensamentotruncado:“Seháentrevocêsumprofetade yhwh” (Freedman, Pottery, Poetry, and Prophecy, 237; Wenham, Numbers, 112). Ashley,Numbers,220n.7,dizqueoTextoMassorético“podesermantido,umavezquesereconhecequeestaconstruçãoéachamadasequênciadepensamentotruncado,comumsufixopronominalcolocadoentre o conceito e seu genitivo”; (3)OTextoMassorético deve ser entendido em seu sentidomaiscomum.Johnson,CulticProphetinAncientIsrael,46n.7,diz:“Nogeral,seconcorda,éclaro,queo hebraico só pode significar ‘Se o seu profeta é yhwh’”. Johnson comenta: “Normalmente, isso éclassificado como algo sem sentido; mas será que é tão sem sentido como parece?” Ele segueafirmandoqueoverdadeiroprofeta,aoentregarsuamensagem,podiaserconsiderado,assimcomoo“anjo de yhwh”, como virtualmente yhwh em pessoa. Ele também indica que a oscilação entre a

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primeira e a terceira pessoa “é sinal característico das declarações proféticas”. Veja Young,MyServantstheProphets,47-49,paraumaproveitosadiscussãosobreessasopções.

7Paraessainterpretação,vejaYoung,MyServantstheProphets,69.8 O texto da Septuaginta, kai ouketi prosethento (mas eles nada acrescentaram), confirma essacompreensãodoTextoMassoreta.Quandoosanciãosprofetizaram,elesnadaacrescentaramdoseuprópriopensamentoparaaformaçãodaspalavras.

9AideiadequeapalavraproféticadanovaaliançacomeçacomopalavradeDeusinspirada,infalíveleinerrantequandorecebidapeloprofeta,masdepoisperdesuaplenaautoridadedivinanomomentoemqueéentreguecontradizesteprincípiobásicodaprofeciamesmoemsuaformadeantigaaliança(Grudem,GiftofProphecy,135,137,139;vejatambém110-111).Comcerteza,seriadesurpreenderseaprofeciadanovaaliançafossedequalidadeinferioraoseuequivalentedaantigaaliançanesseponto crítico. Além disso, é preciso perguntar: Qual seria o propósito de Deus ao comunicar aoprofetadeformainfalívelsuapalavraparaopovose,nofinal,aoserentregue,essarevelaçãoperdeseucaráterinfalível?Paraumaanálisemaisextensaecríticadessaperspectivaarespeitodaprofeciadanovaaliança,vejaRobertson,FinalWord,85-126.[APalavraFinal,publicadopelaEditoraOsPuritanos,2.aed.2015–N.doE.]

10Calvin,FourLastBooksofMoses,1.429.

11Nicol,“Molech,Moloch”,2075.12Paraumaanálisedosdiversostermos,vejaYoung,MyServantstheProphets,22,23.

13Fairbairn,InterpretationofProphecy,498.14Driver,Deuteronomy,229(ênfasenooriginal).

15VonRad,Deuteronomy,124.16VejaCullmann,ChristologyoftheNewTestament,23.

17A identificação de Jesus com o profeta prometido conforme refletida na antiga proclamação darecém-formada igreja cristã é também vista em sua menção no testemunho final de Estêvão (At7.37,38).

18 Para um uso similar de uma dupla percepção na Escritura, note o uso da palavra ben no Salmo80.15.Otermohebraicopodesignificartanto“filho”como“videira”,eocontextodosalmosugerequeosalmistapretendiacomunicarambosossentidosnesseversoespecífico.

19Osubstantivoapokatastaseōs,queemAtos3.21serefereàrestauraçãodetodasascoisasconformeprometidopelosprofetas, deve ser comparadocomoverboapokathistaneis em1.6.Por causadaconexão entre os dois versículos, a restauração de todas as coisas em 3.21 pode ser consideradacomoumaexplicaçãodarestauraçãodoreinoaIsraelem1.6.ArestauraçãodeIsraelnosprofetaséequivalente em seu contexto da nova aliança à renovação da terra inteira, não meramente aorestabelecimentodoEstadodeIsrael.VejaRobertson,IsraelofGod,141,142.

20AúltimametadedeAtos3.23agrupaumafrasedeLevítico23.29(quedescreveacondenaçãodohomemqueprofanaoDiadaExpiação)comacitaçãodeDeuteronômio18.19.Acomprovaçãodeque Pedro se refere a Levítico 23.29 vem do fato dele usar a incomum palavra gregaexolethreuthēsetai (deve ser totalmente destruído), um termo que se encontra na versão daSeptuaginta deste versículo, mas não em Deuteronômio 18.19. De acordo com a costumeirametodologia de citações usada no Novo Testamento, Pedro uniu em uma única citação duaspassagensdoAntigoTestamentoquetratamdeumtemasimilar.

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OCHAMADO E ACOMISSÃO DO

PROFETA

NATENTATIVAdeentenderafunçãodoprofetanoplanoepropósitodeDeus,uma análise do chamado e da comissão do profeta fornecerá percepçõessingulares.A análise do que levou as pessoas a esse ofício sagrado ajuda aentenderafunçãoqueseesperavaqueoprofetaexercesse.Assimcomoumacerimônia de casamento ou um culto de ordenação antecipam as relaçõesbásicas que se seguirão, assim o chamado do profeta provê uma claradefiniçãodassuasresponsabilidades,poisosprofetascomeçavamseutrabalhocom“umprofundosensodavocaçãodivina”.1EssesensodechamadodapartedeDeus influenciava profundamente o trabalho deles.Não tinhamdúvida deterem sido comissionados pelo Senhor para serem seus mensageiros. “Umprofeta sabia que ele nunca escolheu por si mesmo seu caminho: ele foiescolhidoporDeus”.2Comoconsequência,oprofetaviviacomumsensodecompulsãoparafalar,efalarunicamenteaquiloqueDeuslhehaviarevelado.Semdúvidanenhuma,oministériodosprofetasdeIsraelteriasidototalmentediferente à parte dessa consciência de ser chamado e comissionadodiretamente por Deus. Por causa desse senso de chamado divino direto, oprofetaatuavacomoumafigurareligiosatotalmenteindependentenahistóriadeIsrael.

A Escritura registra o chamado e comissão de vários indivíduos comoporta-vozesdoSenhor.AlémdosprofetasescritoresdeIsrael,outrasfigurasproeminentes chamadas para umministério profético foramMoisés (Êx 3 e4),Samuel(1Sm3.1-4.1a),eoservodoSenhor,deIsaías(Is49.1-6;50.4-9).3OchamadodeGideão(Jz6.11b-17)eodivinocomissãodoprofetaMiqueias(1Rs22.19-22)tambémsãoinstrutivosnaanálisedosignificadodochamadoprofético.4Em termosdosprofetasescritoresde Israel, encontram-sequatroregistrosdecasosdechamadodivinoparaumministérioprofético:Isaías(Is6),Amós(Am7.10-17),Jeremias(Jr1.4-10),eEzequiel(Ez1.4-3.11).IsaíaseAmós viveram no século VIII a.C., perto do início da história dos profetasescritores de Israel.Emcontraste, Jeremias eEzequielministrarampertodofinal da história da antiga aliança profética, na última parte do séculoVII e

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avançandopeloséculoVI.Apesardoperíododetempoemqueessesprofetastrabalharam durar mais de 150 anos, as circunstâncias associadas ao seuchamadoecomissãoforamessencialmenteasmesmas.

OchamadodeDeuspodevircomoumaconvocaçãogeralaoofíciodeprofetaoucomoumaincumbênciadeexecutarumamissãoespecíficanalgumacircunstância histórica concreta. Em ambos os casos, o relato do chamadodivinodos seus servos, os profetas, inclui normalmente umavisãodeDeus,uma palavra introdutória, uma comissão divina, uma expressão profética derelutância, umadivina tranquilização, eumsinalde confirmação.5Asváriasdescriçõesde chamados à funçãoprofética apresentamumavariedademuitograndeparaestabeleceraexistênciadeumaformapredefinidapararegistrarum chamado profético.6 Mas certos aspectos dominantes do chamado dosprofetasmerecemmaiorconsideração.

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I.Ocontextohistóricodochamadodosprofetas

UmavezqueaorigemúltimadoprofetismoemIsraeltemsuasraízesnopropósitodacriação(vejaCapítulo1§II),nãodeveriasersurpresaencontraraEscrituratraçandoasraízesdochamadodoprofetaaoseternospropósitosdoCriador.ConformeoSENHORdaAliançadizespecificamenteparaJeremias:

Antesdeformá-lonoventreeuoescolhi

antesdevocênascer,euosepareieodesignei

profetaàsnações.(Jr1.5NVI)

DeformaconsistentenaEscritura,oSENHORdaAliançadeIsraelaparecenãoapenascomoreideIsrael,mastambémcomosenhordouniverso.7Doseutrono celestial soberano, Ele governa a ascensão e o declínio das nações.Dessa posição de autoridade, Ele chama e comissiona certas pessoas de suaescolhaparalevaremasuapalavrarevelada.Comoconsequência,apessoaqueDeus decide chamar como seu profeta é constituída “sobre nações e reinos,paraarrancar,despedaçar,arruinaredestruir;paraedificareplantar”(Jr1.10NVI).

Esseconsagradopropósitodivinocomrespeitoà funçãodoprofetismoindicaqueadesignaçãodeumprofetaespecíficoporpartedoSenhornãosebaseiaemfépréviaouemdonspessoais.8Nempodea tarefadoprofeta sertratada como uma vocação que se pode estudar e aprender por meio deaspiração individual.Emvezdisso, é precisoque a pessoa seja compelida aexerceressafunçãocríticapormeiodasconvocaçõesdosoberanoSenhor.

Deacordocomesseprincípio,muitopoucainformaçãoédadaarespeitoda vida pessoal do profeta, especialmente antes do seu chamado. Depois deinvestigaraescassaevidênciadaEscrituracomrespeitoaosantecedentesdosprofetas bíblicos, um comentarista observa: “Parece que se atribuía poucaimportânciaàvida,atividadeecondiçãosocialdoprofeta”.9Comonocasodapessoaquefoiafiguradetransiçãoentreaeradaantigaeadanovaaliança,oprofetadeDeusnadamaisédoqueuma“voz”(Jo1.23).MasessavozéavozdeDeus.

Mas inquestionavelmente o chamado dos profetas veio no contexto deumasituaçãohistóricaespecífica.Ascircunstânciasquecercavamochamadodos profetas muitas vezes combinavam fatores de crise da nação comatividadesrotineirasnormaisporpartedoprofeta.Moisésrecebeseuchamado

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enquanto pastoreia seu rebanho no deserto doSinai aomesmo tempo que opovoisraelitagemesobosfardosdasuaescravidãonoEgito(Êx2.23-3.1).10Gideãoéironicamentechamadodevalenteguerreiroquandoestáocultamentemalhando trigo no fundo de um lagar, enquanto Israel sofre sob a opressãodos midianitas (Jz 6.11,12; veja também 6.2,6). Amós está ocupado em suaatividade de fazendeiro na parte sul de Judá quandooSenhor o chamaparaprofetizar contra aspráticasdepravadasde cultodo reinodonorte, asquaisacabaramlevandoIsraelparaoexílio(Am7.14).Essacombinaçãodocaráterrotineiro da vida do profeta com as circunstâncias de crise nacional einternacional reforça a insignificância da pessoa chamada para o ofícioprofético.

Em cada um dos quatro registros de chamado que foram feitos aosprofetas escritores de Israel, notam-se particularidades nas circunstânciashistóricasquecercavamaconvocaçãodivinaparaoserviçoasquaisindicamqueosprofetasnãosãofilósofosteóricoslidandocomideiasnebulosassobreDeus. Eles são homens envoltos no transcorrer do tempo e da história,demonstrando o envolvimento intencional do seuDeus no curso da históriahumana.Emparticular,oministériodelescomfrequênciarelaciona-secomascircunstâncias do povo de Israel, o instrumento escolhido por Deus paracomunicaraomundooplanodivinoderedenção.

CadaumdoscasosregistradosdechamadoproféticoenvolvendoIsaías,Amós,JeremiaseEzequielérelatadonaprimeirapessoapelopróprioprofeta.Ninguém poderia confirmar o chamado deles ao ofício profético senão opróprio profeta. Mas esses relatos não devem ser vistos meramente comointeressantes notas autobiográficas. Eles funcionam na literatura proféticacomoautenticações,como“proclamaçõespúblicas”emqueapessoa“anunciasua divina comissão e por meio delas se compromete abertamente com asecreta e interna compulsão vinda de Deus”.11 Embora essas solenesdeclarações dos profetas com respeito às suas experiências de um chamadodivino não pudessem ser comprovadas objetivamente, sua autenticidadetambém não podia ser negada.Mas elas serviam para alertar a comunidadecomrespeitoàsolenidadedareivindicaçãoqueestavasendofeita.

Maisespecificamente,Isaíasrecebeuumacomissão“noanoemqueoreiUziasmorreu”,maisoumenosem740a.C.(Is6.1NVI).12UziastinhasidoumbomreiemJudá,atéqueseucoraçãoseergueuemsoberbaporcausadosseussucessos. Quando, de forma presumida, ele entrou no templo para oferecersacrifício,opondo-seàleideMoisés,foiatacadocomlepraemsuafronte.OreifoiatingidoporesseatosingulardejuízodivinoexatamentenolugarondedeveriaestaralâminadouradadosumosacerdotecomainscriçãoSANTIDADE

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AOSENHOR (Êx28.36-38).Por fim,o reiUziasmorreu leproso“numacasaseparada,porquefoiexcluídodaCasadoSENHORdaAliança”(2CR26.16-21ARA).

Isaíasrecebeusuacomissãocomessesolenepanodefundo.NoanoemquemorreuoreiUzias,Isaíasouviuoserafimrepetindo:“Santo,santo,santo”e recebeu ordem de continuar no ofício profético por intermédio de váriosjuízos depuradores até que oSenhor tivesse suscitado uma semente santa naterra(Is6.3,13).OseverojuízodeUziasprenunciouadevastaçãoquehaveriadevirsobreanaçãodesobediente,eacomissãodeIsaíasnesseexatomomentodeterminou essencialmente o curso do seu ministério profético durante osanosvindouros.

AEscrituranãoindicaotempoexatodochamadodeAmós,maselerelataochamadoduranteoreinodoreiJeroboãoIIdeIsraelnomeiodoséculoVIIIa.C. (Am7.10-15).Amazias,o sacerdotedeumfalsocentrodeadoraçãoemBetel,admoestouAmósaque“fosseparacasa”paraoreinodosul,Judá,ondeele poderia profetizar livremente e ganhar seu pão. Esse falso sacerdote jáhavia antes apresentado um relato preocupante ao rei com respeito àsprofeciasdeAmós.Ele levantouaacusaçãodeconspiraçãocontraoprofeta(7.10a). De forma não intencional, ele reconheceu o efeito poderoso doministériodeAmósdizendo:“aterranãopodesofrertodasassuaspalavras”(7.10b ARA). Amós teria permissão de voltar e profetizar em seu próprioterritórionatal,massuasprofeciascondenatóriasdirigidasaogovernadordoreinodo norte e o “lugar santo do rei” emBetel nãomais seriam toleradas(7.11,13). Amós respondeu demonstrando que sua função como profeta nãoeraalgoproduzidoporelemesmo.Usandoa formaenfáticadopronomenaprimeira pessoa, três frases reforçamque ele pessoalmente nada tinha a vercomseuchamadoàtarefadeprofeta:

Eunãoeraprofeta,eeunãoerafilhodeprofeta,maseueraumboiadeiro,etomavacontadefigueiras.(Am7.14)

Depois, em marcante contraste, ele declara a iniciativa do Senhor em seuchamadoparaserprofeta:

MasoSENHORdaAliançametiroudeapósogado

eoSENHORdaAliançamedisse:VaieprofetizaaomeupovodeIsrael.

Ora,pois,ouveapalavradoSENHORdaAliança(Am7.15,16aARA)13

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Amósnão se tornouprofetaporcausade suaprópriadecisão.Nemeraele filho de algum profeta, o que poderia indicar alguma forma desubordinação em sua função como profeta.14 Em vez disso, ele era umboiadeiro, um lavrador que tomava conta de figueiras. Foi Deus quem lhedisseparaireprofetizaraoseupovoIsrael(7.10-15).Suapresençanoreinonorte de Israel não foi sua escolha pessoal. Foi determinação de Deus.Claramente, esse relato do chamado de Amós reforça o fato que o ofícioprofético não era algo que a pessoa podia por si mesma escolher paraexercer.15 Somente a iniciativa divina comunicada por meio de revelaçãodireta tinha o poder de estabelecer uma pessoa como verdadeiro profeta doSenhor.

OchamadodeJeremiasédatadoespecificamentenodécimoterceiroanodoreiJosias,cercade627a.C.(Jr1.2).Essadataestavabempertodaépocaemque Josias começou sua primeira reforma pública com a finalidade depurificarIsraeldassuaspráticascorruptasdeadoração(2Cr34.3-7).Pelofatode precisar viver durante um período tumultuoso da história da nação, oprofeta recebeu ordem de não se casar (Jr 16.2).16 Por ocasião do seuchamado, o reino do norte já estava no exílio por quase 100 anos.AdifíciltarefadeJeremiasincluíasustentaraverdadedeDeusenquantoorecalcitrantereinodosul,Judá,experimentavaumsimilartraumanacional.

A convocação de Ezequiel para o serviço divino foi distinta porqueocorreuforada terradaPalestina.NoquintoanodoexíliodoreiJeoaquim,cercade593a.C.,veioochamadoaessedescendentedalinhagemsacerdotalde Israel para servir como profeta do Senhor (Ez 1.2,3; veja também33.21,22).17ElefoicomissionadoparaserasentineladeIsrael,sendo-lhedadaaresponsabilidadedefazersoaroprimeiroalarmeparaalertaroperversodasconsequências do seu caminho.Nessa posição crítica de sentinela, o profetaperderiaaprópriavidasedeixassedecumprirsuamissão.18

Apesar de continuar vivendo na terra da Babilônia, foram dadas aEzequiel visões únicas do afastamento da glória de Deus do templo emJerusalém e a consequente destruição desse lugar que já fora santo.Mas nofinal também lhe foram dadas visões de um templo restaurado, de maioresproporçõesedeglóriamaisplena.

Dessas diferentes circunstâncias históricas do chamado e comissão doSenhor aos seus profetas, vemos que esses porta-vozes de Deus foramconvocados em resposta a situações históricas específicas. Os profetas nãoforamchamadoscomofilósofosteóricosseparadosdasrealidadesdahistória,àsvezesdurasefrias.Emvezdisso,oSenhorfaloudiretamentecomsituaçõeshistóricas concretas enfrentadas por seu povo por meio desses diversos

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indivíduoscomissionadoscomoseusmensageiros.Masessasraízeshistóricasdoofícioproféticojamaisisolaramamensagemproféticaaumaúnicaépoca.Apalavradoprofetacomfrequênciaantecipavaofuturo,aomesmotempoquecomunicavaamensagemdeDeusàgeraçãopresente.Suaspalavrasinspiradasdirigiam-se à sua própria época de forma específica, mas de tal forma quefalamenfaticamenteatravésdosséculos.

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II.AvisãodeDeus

Não há evidência suficiente para afirmar que uma visão do Todo-poderoso era essencial ao chamado de todos os profetas.Mas, nos casos deIsaíaseEzequiel,amanifestaçãodeDeusemsuaglóriafezparteintegrantedoseu chamado e comissão como profetas do Senhor. Jeremias afirma que osfalsosprofetasnãoestiveram“noconselhodoSENHORdaAliança”(Jr23.18NVI), indicando que ele tinha passado por essa terrível experiênciaqualificadora (veja também1Rs 22.19-23).19 A visão exaltada damajestadedivinaexerceuumafunçãovitalnaconvocaçãodeváriosprofetasdasnações,eessaexperiênciavisionáriasempreexerciaforteimpactosobreoprofeta.

APalavradeDeusvem“coma fortemãodeDeus” sobre ele (Is 8.11).Dorescomodeparturienteseapoderamdoslombosdoprofeta,eocrepúsculosetornaumhorrorparaele(21.3,4).Depoisdehaver tidoavisão,oprofetaestavaexausto,estevedoenteporváriosdias(Dn8.27),eseu“rostomudoudecoresedesfigurou”(10.8ARA).QuandoeleouviuamensagemdoSenhor,ocoraçãodoprofetaseagitou,seuslábiostremeram,apodridãoentrouemseusossos,eseusjoelhosvacilaram(Hc3.16)Aoreceberseuchamado,oprofetasentou-seatônitoporcausadavisãodurantesetedias(Ez3.15).Essaspalavrasnão descrevem meramente experiências psicológicas exageradas, pois deformaconsistente elas resultamnasmais exaltadasdeclaraçõeshumanasquedãotodaaglóriaaoúnicoemesmoDeusCriador.

NocasodeIsaías,oSenhoraparecesentadoemseutrononotemplo(Is6.1). Não deve ser considerado como algo incidental que essa visão tenhaocorridonotemplodeDeusnacidadeeleitadeJerusalém,poisnocentrodaaliançadeDeuscomDaviestavaafusãodotronodoreicomoprópriotronodeDeus(2Sm7.25-29;1Cr29.22,23).Daviinsistiuemestabelecerolugardotemplo,representandootronodeDeusnaterra,ladoaladocomseuprópriopalácio e trono. Esse local permanente para o trono de Deus servia comolembretesimbólicodequeosreisdeIsraelgovernavamunicamenteporcausada soberania de Deusmanifestada em Jerusalém. Os sucessores terrenos deDavifalharamemsuasresponsabilidadescomogovernantes,masoSenhoremsuasoberaniajamaishaveriadefalhar.

AvisãodeIsaíasdemonstrouqueasantidadecelestialtinhavindoàterra.Os serafins constantemente cobriam-se enquanto estavam diante do Senhorclamando: “Santo, santo, santo”. Essamanifestação da santidade de Deus naterrafezcomque tremessemasbasesdo templo,oquefoiumprenúnciodadestruição dessa majestosa estrutura, o que mais tarde aconteceu devido às

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suas impurezas.Depois de experimentar uma purificação do altar, o profetarespondeàperguntavindadotrono:“Quemenviarei?Quemirápornós?”(Is6.8 NVI). A afirmação de que essa descrição “manifesta um politeísmo queencheocéucomváriosdeuses”20desconsideratotalmenteavívidadescriçãode Isaías da soberania universal do únicoDeus sobre todas as nações e suazombaria para com seus ídolos sem sentido. Embora os serafins estejampresentes na visão de Isaías como criaturas que adoram, nem eles nemnenhuma outra criatura aparece como a pessoa de quem e por quem algumprofetarecebesuacomissão.DeuseunicamenteDeusenviaseusporta-vozesproféticos.SomenteEleéo“Eu”quecomissionaseusporta-vozes,esomenteEleéo“nós”porquemvaioprofeta.

Dequemera,então,aglóriadoSantodeIsraelqueIsaíasviunotemplo?Nocontextoseguinte imediato,oprofeta IsaíasantecipaosurgimentodeumdescendentedalinhagemdeDavi,nascidodeumavirgem,cujonomeemsuaessênciaserá“Deusconosco”(Is7.14).EssaraizdeJesséreinaránotronodeDavi para sempre como o “Deus poderoso” que é “Pai desde a eternidade”(11.1; 9.6,7; veja o Capítulo 8 §IV.A.1). Embora interpretações injuriosastentemenfraquecer o testemunhodessas passagens, seu pleno significadonocontexto fornece o suporte apropriado para o surpreendente testemunho dasEscriturasdanovaaliançadeque Isaías“viuaglóriade Jesuse falousobreele”(Jo12.41NVI).QuandoaunicidadedeDeusse juntaaoconceitodeummessiasdivino,surgeumsuporteadequadoparareconhecerasváriasPessoasdoDeusúnico.21SomenteessacompreensãodasEscriturasdaantigaaliançaforneceumaexplicaçãoadequadaparaafacilidadecomqueosjudeuscrentesem Jesus Cristo podiam afirmar sua plena deidade lado a lado com suaconsagradafénaunicidadedeDeus.

Essa visão inicial da santidade de Deus teve profundo impacto noministériodeIsaías.Paraele,Deuserasingularmenteo“SantodeIsrael”.EssadesignaçãodeDeusaparecevinteecincovezesnolivrodeIsaías,dozevezesemIsaías1-39,etrezevezesemIsaías40-66.EssadescriçãoúnicadeDeuséusadaapenasduasoutrasvezesemtodooacervoprofético(Jr50.29;51.5).22Claramente, o conceito de Isaías a respeito de Deus foi grandementeinfluenciadopelavisãoquedeuinícioaoseuchamadoprofético.EsseDeusfoi“exaltado em sua justiça”, pois “o Deus santo se mostrará santo em suaretidão”(Is5.16NVI).

Ezequiel teve umavisão complexa da glória doSenhor por ocasião doseuchamadoparaoofíciodeprofeta.Consequentemente,seulivrotodopodeserresumidocomoumadescriçãoda“glóriaqueseafastouedepoistornouavoltar”.Emsucessivosestágiospormeiodaprimeiraporçãodaprofeciade

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Ezequiel,aShekinahseelevadoseulugarderepousoemJerusalémeafasta-sedomonte do templo (Ez 9.3; 10.13,18,19; 11.22,23).Mas a última parte dolivroconcentra-senareconstruçãodeumtemplomaior,commaiorglóriadoquepoderiaserimaginadaemassociaçãocomocomplexodotemploanterior(42.15-20;43.2,5).

Em sua visão, Ezequiel vê quatro seres viventes posicionados junto dotrono do Todo-poderoso. Rodas giram dentro de rodas cobertas de olhos,transmitindoumasensaçãodeprontidãoparamovimentar-sede imediatoemqualquerdireçãodesejadapelopoderosoeoniscienteDeus.Avisãocomunicaaideiabásicademobilidadeinerenteauma“carruagememformadetrono”.Rodasdentrode rodaspermitemmovimentos simultâneospara frenteeparaos lados.23 O esplendor de relâmpagos e o som de muitas águas fornecemimagem e som para a visão. No firmamento, encontrava-se a forma de umhomem,queardiacomometalincandescente.Essehomemestavasentadoemumtronodesafira,rodeadodenuvensescurasedeumarco-íris.DestavívidamanifestaçãodaglóriadoSenhor,Ezequielouviuumavozcomissionando-oaircomoprofetaencarregadodeentregaraopovoaspalavrasdeDeus(Ez1.4-2.8).

A visão de Deus concedida a Ezequiel está intimamente ligada ao seuchamadoparaoserviço.Atarefaeratãogrande,quenadamenosdoqueumavisão espetacular da glória de Deus poderia sustentar o profeta. Esse servoescolhido precisou, depois, avaliar sempre seu trabalho em termos da visãooriginal,nuncaemtermosdarespostadoshomens.Nofinaldascontas,eraaessegrandeegloriosoDeusqueeleservia,nãoaopovoqueeraoreceptordasuamensagem.Avisãoreforçouaimportânciadasuafunçãocomoprofetaeanecessidadedafidelidadeàtarefaaquefoichamado.

Nocontextodanovaaliança,visõessemelhanteseramassociadascomochamado dos porta-vozes de Deus. Jesus recebeu sua comissão para oministérioemconexãocomavisãodocéuabertoeapombaquedescia (Mt3.16).Simultaneamente,avozdocéudeclarouqueEleeraoFilhoamadodeDeus(3.17).Emrespostaaessavisãoabonadora,JesuscomeçouaanunciaravindadoreinodeDeus.OapóstoloPaulotambémrelatatersido“elevadoaoterceirocéu”comopreparaçãoparaseuministério(2Co12.2-4).Suasublimevisão culminou na união dos judeus e dos gentios em um novo homem emCristo.Aamplitudedasuatarefaigualou-seàgrandezadasuavisão.

Assim,tantonocontextodaantigacomodanovaaliança,avisãodeDeusera parte vital do chamado do profeta. Essa visão comunicava ao futuroprofeta um sentimento de espanto em relação àquele com quem ele teria delidar.Maisdoqueaspalavraspoderiamtransmitir,umvislumbredaglóriade

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Deusporpartedoprofetatornava-ocônsciodagrandezadapessoaporquemelehaveriadefalar.Elejamaispoderiaesqueceromomentodaconfrontaçãocom o Deus incompreensível. Jamais poderia a face do homem, por maisenfeitada de glórias transitórias, comparar-se com a subjugante presença doDeusonipotentequeohaviachamadoecomissionado.Claramente,esseofícionão poderia ser exercido de forma apropriada simplesmente na base dadecisão humana. Mas a visão da glória de Deus podia preparar de formaadequadaesseshomensparaomaiselevadodoschamadoshumanos.

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III.ComissãodapartedoTodo-poderoso

Ochamadode Jeremias ressaltaqueoprofeta foi primeiro consagradoaoSenhoredepoiscomissionadocomsuamensagem:“Antesdeformá-lonoventreeuoescolhiantesdevocênascer,euosepareieodesigneiprofetaàsnações”(Jr1.5NIV).Oprofetanãopertenciaasimesmo.Antesdenascer,pelaação autônoma doCriador divino, ele foi consagrado, dedicado de corpo ealma ao SENHOR da Aliança de Israel. Assim como Deus tinha tomado oslevitasparasinaépocadaformaçãodanaçãonoSinaieentãoosdeuaArãopara fazerem o trabalho do tabernáculo, assim o Senhor agora requereu oprofeta para ser dele e então o comissionou como seu porta-voz (Nm8.16,19).24Oprofetarecebeumaordemsolene:“Vai!”(Is6.9;Jr1.7;Ez2.3;3.4;Am7.15;vejatambémJz6.14).ElenãopodeesperaratéqueopovovenhaaeledepoisdereceberapalavradapartedeDeus.Eleprecisaserousadoemtomarainiciativa,mesmosabendoqueopovonãoresponderáfavoravelmenteàsuamensagem.

AqueméenviadooprofetadeDeus?Antesdetudo,oSenhorcomissionaseus profetas para entregarem a mensagem a seu próprio povo da aliança,àqueles que estão ligados a Ele para bênção emaldição, para vida emorte,pelos vínculos soberanamente administrados, previamente feitos com Adão,Noé, Abraão, Moisés e Davi. Às vezes o profeta era comissionadoespecificamente ao reino apóstata do norte (Am 7.15). Outras vezes, eraenviado exclusivamente para o reinodo sul, comonos casos deHabacuque,Sofonias e Jeremias. Em algumas ocasiões, o profeta recebia sua comissãoespecificamenteparaumpovoexilado,expulsoda terraque lhesdeucoesãonacional,comonocasodeEzequieleDaniel.Masemcadaumdessescasos,amensagem e o ministério dos profetas eram dirigidos à pequena eaparentemente insignificante comunidade conhecida como Israel. Esse povotinhasidoescolhidoefavorecidoporDeusparareceberoricoministériodosservos escolhidos de Deus dentre a humanidade. Mesmo hoje eles sãodiferenciadoscomofavorecidosacimadetudoporqueaelesforamconfiadososoráculosdeDeus(Rm3.2).

A comissão dos profetas abrangia também uma comunidade bemmaisampla. “Um profeta para as nações” é a impressionante descrição da tarefadada a Jeremias (Jr 1.5). Na exata ocasião em que os grandes impériosorientais estavam surgindo, Deus enviou seus profetas solitários paraconfrontá-loscomsuaPalavra.Maispoderosadoqueosexércitosdehomensseria essaPalavra entreguepelosprofetas.Pelo fatodeles falaremaPalavra

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daquele que havia criado e sustentava todas as coisas por sua Palavra, osprofetas foram constituídos “sobre as nações e os reinos” (1.10). O Senhorestava “velando” por sua Palavra (1.12). Assim como o leopardo vigiaatentamente sua presa, agachando-se na relva até omomento certo de entraremação(5.6),assimoSenhorvigiaapalavradoseuprofetaparafazerquesecumpra tudo o que ele diz.25 Foi esse firme compromisso do Senhor decumprircadapalavradosseusprofetasqueosreisdeJerusalémdeixaramdeconsiderardeformaadequada.ElesdeveriamterprestadobastanteatençãonoexatoconteúdodamensagemdosprofetasporqueestesexpressavamoplanopredeterminadodeDeus.Emvez disso, os reis de Jerusalém “consideravamsuas próprias decisões com seriedade excessiva. Eles se imaginavam livrespara fazer o que bem quisessem enquanto as coisas funcionassem.Mas esse‘velar ’deYahwehasseveraqueexisteumaspecto,umfluxo,umpropósitonahistóriaquenãopodesernegadoedoqualnãosepodeescapar”.26

Assim, o profeta do Senhor trabalha com a responsabilidade de umasentinela(Ez3.17).Elenãopodefalharemsoaroalarme,alertandoopovodojuízovindourodoSenhor.Ele é enviadoaumacasa rebelde.Mas,quer elesescolhamouvir,ounãolevaremconsideração,eleprecisaalertá-losdojuízoqueviráseelesdeixaremdeprestaratençãoàPalavradoSenhor.

EssapoderosaPalavravindadoSenhorpelainstrumentalidadedoprofetatinhaemsiacapacidade“paraarrancar,despedaçar,arruinaredestruir;paraedificar e plantar” (Jr 1.10 NVI). De acordo com a comissão de Jeremias,quatropalavrasdejuízoeduaspalavrasdebênçãocaracterizamamensagementreguepelosprofetasdoSenhor.Consequentemente,aascensãoequedaatémesmodeJerusalémnãosederam“deacordocomsuaprópriacapacidadedevidaesobrevivência,masunicamentedeacordocomasoberanainclinaçãodeYahweh”.27Mesmoocomplexodo templosagrado,queabrigavaapresençaconstante da glória do SENHOR da Aliança, não estava livre da palavraproféticaquefezcomquefossearrancada,despedaçada,arruinadaedestruída,pois “nenhumaestrutura histórica, nenhumaastúcia política, nenhum sistemade defesa consegue proteger uma comunidade contra Yahweh”.28 Naçõeserguem-se e nações caemde acordo comos propósitos universais do únicoSenhordacriaçãoeprovidência.

Émuitointeressantequeessalinguagemproféticadedestruireedificarotemplo de Deus seja usado por Jesus quando Ele começa seu ministérioprofético(Jo2.19).Mas,nessaocasião,Eleserefereaotemplodoseucorpo(2.21). Depois da sua ressurreição de entre os mortos, os discípuloslembraramoqueEletinhadito,ecomoconsequência“creramnaEscrituraena palavra que Jesus dissera” (2.22 NVI). Nesse caso, a Escritura que os

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discípuloscrerampodiamuitobemterincluídoareferênciaaoministériodosprofetasemtermosdedestruireedificar.29

Dessa forma, os profetas receberam uma solene comissão da parte doSenhor.Suaspalavrasvinhamcompoderdemoldarahistória.Umavezqueaspalavras tivessem sido pronunciadas, nada poderia impedir que secumprissem,poisasdeclaraçõesdosprofetaseramexatamenteamesmacoisaqueapalavradeterminantedopróprioDeus.

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IV.Areaçãodeincapacidade

Nãodevesurpreenderque,umavezacabadaaexperiênciadecontemplarsua visão inicial, o profeta Ezequiel tenha se sentado estarrecido entre osexiladosnaBabilônia,atônitoporsetedias(Ez3.15).Qualseriaomortalquepoderia assimilar a glória do Deus eterno sem ser profundamenteinfluenciado? Quem se mostraria suficiente para a tarefa de comunicar aterrívelmensagemdojuízodivinoinerenteàsuavisão?

A reação de Jeremias à visão que o introduziu no ofício de profeta foiessencialmenteamesma.Obviamente,elenãoaspiravaaoofícioparaoqualoSenhor o chamou. Como ele foi convocado ao serviço divino de maneirasimilar àdeMoisés, eleapresentouumadesculpa similar àdeMoisés.30 Elenãopassavadeumacriança.Nãotinhacapacidadedefalar.ComopoderiaeleservircomoprofetadesignadoporDeusparaasnaçõesdomundo(Jr1.6)?

AvisãodeIsaíasdasantidadedeDeusconduzofuturoprofetaàsraiasdodesespero:“Aidemim...poissouhomemdelábiosimpuros,emoronomeiode um povo de lábios impuros” (Is 6.5). Mais tarde, ele pronunciaria o aidivino para as nações pecadoras, mas agora ele o faz para si mesmo. Seuslábiosimpurosnãotinhamcondiçõesdeservircomoinstrumentosdapalavradivina.Emvezdeprepará-loparao serviço, essavisãodaglóriadeDeusaprincípioodeixacomaimpressãodequeeletinhasidoarruinadodeumavezportodas.

Mas essa profunda convicção de pecado era um elemento comum dochamadoprofético.SomentequandooprofetasetornavaplenamentecônsciodasuaprópriapecaminosidadeedagraçadeDeusqueeracapazderestaurá-lo, é que ele podia enfrentar a função de porta-voz de Deus para umahumanidadepecadora.Osalmistaexpressaesseconceitodeformavívida:

Purifica-mecomhissopo,eficareipuro;

lava-me,emaisbrancodoqueaneveserei.

Entãoensinareiosteuscaminhosaostransgressores,

paraqueospecadoressevoltemparati.(Sl51.7,13NVI)

Essareaçãodeumsensodetotal incapacidadeparaservircomoprofetadeDeustemdeserapenasoestágiointermediáriodaresposta.Umabrasavivado altar purifica a impureza dos lábios de Isaías. Num jogo de palavras

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diferente,éditoaJeremiasqueelenãodevecontinuarcommedodopovoaquemeleprecisaentregaramensagemdeDeus,ouoSenhoroamedrontarádiantedeles(al-tekhatmippenehempen-akhittekalipnehem;Jr1.17).Depoisdeficarporsetediasemgrandeespanto,Ezequielrecebeseucargodesentinelapara a nação. O Senhor glorioso da visão o considerará pessoalmenteresponsávelseelenãoalertaroperversodasconsequênciasdosseuscaminhos(Ez3.18).

Era importante que as pessoas chamadas para o ofício de profetaentendessem desde o início a seriedade da sua tarefa e as glórias daquele aquem eles serviriam. Um senso de incapacidade e indignidade era muitoadequado–desdequeoprofetanãosetornasseinválidopelaterribilidadedaposiçãoquetinhadeocupar.

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V.Areaçãodopovo

Esperava-se que o povo a quem o profeta era enviado reagisse comalegria e humilde submissão ao fato do Senhor enviar um mensageiroescolhidopara revelar-lhesa suaverdade.Afinal, foi em respostaaopedidooriginal dopovonoSinai queoSENHOR daAliança estabeleceuno início afunçãomediadoradoprofetanosdiasdeMoisés.Mas,falandodeformageral,opovonãoresponderiadessaformareceptiva,eoprofetaprecisavaterumacompreensãorealistadareaçãoquepodiaesperardesdeocomeço.

FoiexplicadoaEzequielque,comoregrageral,acasadeIsraelnãodariaouvidosàssuaspalavras(Ez3.7).Umavezqueelenãoestavasendoenviadoaumpovodefaladesconhecida,oúnicoobstáculoàsuaaceitaçãodaspalavrasdoprofetaseriaoprópriocoraçãodurodeles.Mesmoquevoltassemorostocontra o profeta de Deus “com resoluta e atrevida insolência”,31 aresponsabilidade do profeta permanecia inalterada. O fato de lhe daremouvidosnãodeviaserofatordeterminantenocumprimentodoseuchamado(3.16-21). Se o profeta falhasse na entrega da sua mensagem da parte doSenhor,eleseria responsabilizadopessoalmentepelosanguedopecadorqueperecesse.

Jeremias devia esperar muita oposição à mensagem que precisavaentregar.E, empreparaçãopara a rejeiçãoqueenfrentaria,Deusdeclara, nodia do seu chamado, queEle havia feito do profeta “uma cidade fortificada,umacolunadeferroeummurodebronze,contratodaaterra”(Jr1.18NVI).Reis,sacerdoteseopovocombinariamsuasforçasparalutarcontraJeremias,masoSenhorosustentariadeformaquenãoconseguissemvencê-lo.

Isaíasvoluntariamente seoferececomoalguémpara ser enviadocomamensagem (Is6.8),mas seuentusiasmoseenfraquece imediatamentequandolhe é dito o tipo de reação que ele deve esperar (6.9-11). Na verdade, opropósito de Deus desde o início é fazer o profeta servir como seuinstrumentodejuízoparaumpovoquejáohaviarejeitadoporváriosséculos.Isaíasrecebeaordemdeendurecerocoraçãodopovoecegar-lheosolhos.Oelemento radical da comissão de Isaías não é que o povo rejeitará suamensagem,masqueasuapregaçãoseráoinstrumentodeDeusparaendurecê-los.32Certocomentaristapropõequeessasinstruçõessãomaisbementendidasem termos do “uso do exagero na típica linguagem poética da línguahebraica”.33 Mas, na verdade, o endurecimento profetizado é maisapropriadamente entendido como uma “cegueira judicial, como o resultadonaturaleajustaretribuiçãodadepravaçãonacional”.34Ocoraçãodessepovo

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insensível seráendurecidomaisaindapormeiodamensagemdagraçaedoperdão.

Esse aspecto doministério profético é, de fato, difícil de compreender.Isaíastinhadecontinuarnessasolenefunçãoproféticadeendurecerocoraçãodo povo de acordo com os propósitos de Deus (Is 6.9-13a) até que a terrativesse sido totalmente devastada. Parece que os tradutores da Septuagintaperceberam a dificuldade teológica dessa declaração, visto que traduziramassim a passagem: “O coração deste povo se tornou gordo e seus ouvidosouviram com dificuldade e seus olhos se fecharam”.35Mas é preciso dar àpassagem o pleno peso das suas implicações. A palavra profética serveclaramente como uma manifestação da graça de Deus pelo fato do Senhorcontinuar a apresentar sua palavra ao povo.Aomesmo tempo, a palavra doprofetaservecomoumamanifestaçãomuitorealdojuízodeDeussobreumpovo recalcitrante, pois “esses entorpecidos e embotados caminham emdireçãoaofim”.36

É digno de nota que as Escrituras da nova aliança repetidamente citamestapartemaisproblemáticadoregistrodochamadodeIsaías.Oclássico:“Aquemenviarei,equemhádeirpornós?”seguidopelaexclamaçãodoprofeta:“Eis-meaqui;envia-meamim!”(Is6.8)nãoencontralugarnasEscriturasdanova aliança.Mas a declaração de que pela palavra profética o coração dopovoseriaendurecidoécitadonos trêsEvangelhos sinóticos,bemcomonoEvangelho de João (Mt 13.13-15;Mc 4.10-12; Lc 8.9,10; Jo 12.39-41). ElaaparecenosescritosdeLucas(At28.25-29)enasobrasdePaulo(Rm11.7,8).Por determinação do Senhor, a história da antiga aliança antecedeu essascontrapartidasdanovaaliança.

Mas, no final, haverá uma descendência santa na terra. A soberania dagraça de Deus garante isso. Da mesma forma que um ramo brota de umaárvorequefoicortada,assimumremanescentepermaneceránaterra(Is6.13).Emboraoprofeta tenhadevivercommuita rejeição,elepodeficarcertodequesuamensagemnãoseráentregueemvão.Deusseráglorificado tantonarejeiçãocomonaaceitaçãodoprofeta.

Amensagemdosprofetastambémgaranteque“notempodehoje”,assimcomo durante a época dos profetas, “sobrevive um remanescente segundo aeleição da graça” (Rm 11.5). Será reunido um remanescente apesar docontínuoendurecimentodocoraçãocontraoevangelhodagraçadeDeus.

Esse entendimento a respeito da resposta do povo ao ministério dosprofetasprepara,porfim,ocaminhoparacompreenderareaçãoaoministériode Jesus. A rejeição de Jesus e ao seu ensino conforme registrado nosEvangelhosnãodeveserlidacomoum“recursoestilístico”usadoarespeito

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da vida de Jesus para explicar umministério fracassado. Em vez disso, elarepresenta“umaparteintegraldamesmaluta”deDeuscomseupovo,lutaquejá estava ocorrendo durante toda a história do ministério profético.37 EssarejeiçãodapalavraproféticadeJesusfoi“oclímaxfinal”do“endurecimento”deIsraelpormeiodoministériodosprofetas.38OexíliodeIsraelcomopovode Deus tinha de vir como um ato de juízo divino antes que pudessem serexperimentadas as graciosas provisões da restauração depois do exílio: “Odrama profético não permite uma precipitação para [a restauração do] pós-exílio,assimcomooevangelhonãopermiteumaprecipitaçãodiretaefácildasexta-feiraparaodomingo”.39EssasrealidadeshistóricassobreamaneiradeDeus operar a redenção nomundo encontram sua realização consumada narejeiçãoe restauraçãode JesusoCristo, apersonificaçãodo IsraeldeDeus.Eleprimeiro temdeexperimentaro juízodarejeiçãodeDeusedoshomensparapoderseraqueleque,inocente,carregaospecadosdoseupovo.Somenteentão Ele entrará em sua glória e fará que a história humana prossiga emdireçãoàrestauraçãodetodasascoisaspormeiodasuaressurreiçãodeentreosmortosefaráqueserenoveouniversodecaído.

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VI.Conclusão

Oregistrodochamadoecomissãodessesprofetas fornecesignificativapercepção da responsabilidade que lhes foi dada pelo Senhor. Não existemevidências suficientespara suporque todososprofetasdoSenhor tiveramamesma espécie de visão experimentada por Isaías e Ezequiel. Mas aresponsabilidadedoofícioproféticotinhasempreaspretensõesimplícitasquese tornavam tão explícitas nessas gloriosas ocasiões. Com respeito aochamadodosprofetas,podemosnotarváriosfatores-chaves.

Emprimeiro lugar,osprofetasnãoatuavamcomo filósofos religiosos.ElesnãogastavamseusdiasespeculandoarespeitodanaturezadeDeusesuarelação com o mundo. Em vez disso, eles eram pessoas chamadas ecomissionadascomumamensagemdivinamentereveladaqueerapertinenteauma circunstância histórica específica. Não é que as profecias deles fossemrestritas ao tempo em que viviam, sendo, por isso, irrelevantes para hoje.Como a mensagem deles se originava no Deus eterno, suas palavras terãosempre aplicação significante para todas as épocas. Mas o profeta não erachamado para lidar com abstrações filosóficas. Pelo contrário, ele falava aPalavra concretadeDeus aopovoda suaprópria épocade formaque aindacontinuafalandoconcretamentehoje.

Emsegundolugar,osprofetasnãoeramchamadosparaatuaremvirtudeda sua piedade religiosa ouqualificações pessoais.Amósnadamais era queum pastor, um colhedor de sicômoros. Ezequiel vivia entre os exilados, opovo castigado doSenhor.Talvez ele não tivesse sido tão ímpio como seuscontemporâneos, mas ainda assim era um pecador falando com pecadores.Jeremiasreconheceplenamentequenãotinhadonsnaturaisdeelocuçãoqueoqualificassem como porta-voz do Senhor. Unicamente porque o Senhorcolocoupalavrasemsuabocaéqueeleconseguiuexecutaroofíciodeprofeta.Isaías confessou que era um homem de lábios impuros, indicando suacompreensão de que seu coração também o desqualificava para exercer afunçãodeporta-vozdoSenhor.Numaépocaemquetantagentetãoavidamentese dispõe a falar pelo Senhor, é bom ser lembrado da desqualificaçãofundamentaltípicadetodopecador.

Em terceiro lugar, o chamadodivinodosprofetas indicaque eles eramagentes religiosos independentes.40 Eles deviam a origem e continuação doseu ofício unicamente ao próprioDeus. Nem rei nem sacerdote nem algumoutroprofetaeraafontedaautoridadedeles,enenhumadessaspessoaspodiatomar deles o seu ofício. Eles tinham de prestar contas unicamente aoDeus

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majestosoqueostinhachamado.Emquartolugar,ochamadodivinoaoofícioexplicaacompulsãosoba

quallaboravamosprofetas.ComoAmósatesta:

Oleãorugiu,quemnãotemerá?

OSENHORdaAliança,oSoberano,falou,quemnãoprofetizará?(Am3.8NVI)

Deformasemelhante,Jeremiasdeclara:

PorissoapalavradoSENHORdaAliançatrouxe-meinsultoecensuraotempotodo.

Mas,seeudigo:“Nãoomencionareinemmaisfalareiemseunome”,

écomoseumfogoardesseemmeucoração,umfogodentrodemim.

Estouexaustotentandocontê-lo;jánãopossomais!(Jr20.8b,9NVI)

OdistintoeinconfundívelchamadodoSenhoraoprofetaserviudefirmefundamento para sua proclamação da Palavra divina. “Foi por causa dessacertezadequeeradeDeusochamadoqueeletinharecebido,queelecondenouaspretensõesdosfalsosprofetas.”41

Emquintolugar,ochamadodivinoestabeleceualegitimidadedoofíciodo profeta. A esse respeito, o Senhor contrasta a propriedade do lugar deJeremias como profeta com a ilegitimidade dos falsos profetas em virtudedelesnãoteremjamaisrecebidoacomissãodadaaele:

Nãomandeiessesprofetas,contudoelesforamcorrendo;

nãolhesfalei,contudoelesprofetizaram.

Mas,seestivessemestadonomeuconselho,entãoteriamfeitoomeupovoouvirasminhaspalavras,

eoteriamfeitovoltardoseumaucaminho,edamaldadedassuasações.(Jr23.21,22NVI)

A clara implicação é que, em contraste com esses falsos profetas,Jeremias recebeu do Senhor sua experiência de visão quando foicomissionado e foi trazido para o círculo mais chegado do seu conselhosecreto.Além disso, o registro escrito do chamado do profeta fornece umaautenticação permanente para que ele assuma o ofício profético.42 O realobjetivodoregistroescritodochamadoproféticoé“adefesaelegitimaçãodoprofetacomoporta-vozdeDeus”.43

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Emsextolugar,ochamadodoprofetanuncaseorientapelosucesso.Pelofato de estar sobre Jeremias a mão do Senhor, ele consegue cumprir suafunção profética sem a aprovação humana (Jr 15.17). Desde o início, eleentende que deve esperar rejeição, oposição e fracasso de acordo com ospadrões humanos. Sua fundamental responsabilidade é permanecer fiel nadeclaração da Palavra de Deus exatamente como ela lhe é entregue. Seuchamado o prepara para o fracasso que vai enfrentar em seu esforço depersuadiropovoacrereresponderpositivamenteàsuamensagem.44QuandoaplicaesseprincípioaosservosdeDeusdetodasasépocas,Calvinodiz:“Àsvezes,Deusquer que seus servosdescansemem sua autoridade, trabalhandomesmosemnenhumaesperançadesucesso....Emboranossotrabalhosejavão,oimportanteéqueagradeaDeus.Quandorecebermosordemdefazeralgumacoisa,aprendamosadeixarosresultadosnasmãosdeDeus”.45

Emsétimolugar,ochamadoaoofíciofeitoaosváriosprofetasdaantigaaliançapreparaocaminhoparaumprofetasemigualnofuturo,quechamaráoutrosassimcomoelemesmofoichamado.ComaexceçãodocasodeEliaschamandoEliseu e deMoisés impondo asmãos sobre Josué, os profetas daantigaaliançanãotinhamautoridadedefazerumchamadoproféticoaoutros.MasquandoJesusveiocomooprofetasemigual,ElepassoupelaexperiênciadavisãocelestialqueoasseguroucomoFilhoeServodeDeus(Mt3.17).Demaneiraúnica,seuchamadoaoofíciopodeseratestadoporoutrosquevirama pomba descendo e ouviram a voz celestial (Jo 1.32-34). A partir daquelemomento,Jesusdemonstrouseuprópriopoderúnicodechamarecomissionarporta-vozesparaoSenhor(Mt4.18-22;28.18-20;Jo1.33-50).Mesmodepois,Ele mesmo tornou-se o objeto central da visão celestial que comissionoufigurasproféticasmaioresdaeradanovaaliança(At9.1-9;Ap1.9-20).Aesserespeito,ninguémpodecomparar-seaEle,queéoprofetasupremoentreosprofetas.

ComafinalizaçãodaobraredentoradeCristopormeiodasuamorteeressurreição, e com a provisão de uma interpretação inspirada da sua obraconsumadanasEscriturasdanovaaliança,oextraordinárioofíciodeprofetacomoporta-vozdeDeuschegouaofim.Porhaveremcessado,comofinaldaera apostólica, as visões proféticas do Todo-poderoso junto com novasrevelações, a Igreja não deve esperar uma continuação do ofício proféticocomo tal na presente era.Mas osministros deCristo hoje precisam levar asériosuaresponsabilidadedeseremproféticosemsuadeclaraçãodaPalavrado Senhor. A esse respeito, podem-se aprender muitas lições do chamadoinicial e do comissionamento dos profetas de antigamente.Queira o SenhormostrarseufavoràsuaIgrejaemtodasasépocaspormeiodacontinuaçãodas

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bênçãosdeumministérioproféticoatéqueEleretorneemglória.

1Bright,Jeremiah,xxiv.

2Lindblom,ProphecyinAncientIsrael,6.3Habel(“FormandSignificanceoftheCallNarratives”,314-316)tentaencontraroselementosdeumchamado profético em Isaías 40 por meio de uma comparação com Isaías 6.Mas Isaías 40 tempoucacoisaemcomumcomIsaías6“enãoseparecenemumpoucocomumministérioprofético”,conformeobservaBlenkinsopp(Isaiah,1.226).Isaías40nãoédirigidoaumindivíduoenãoincluinada dos elementos normais de um chamado profético, como a visão de Deus, a reação deincapacidade,eaexpectativadarejeiçãoporpartedopovo.

4Mas é preciso notar que a narrativa de 1 Reis 22, que repetidamente é citada como um notávelexemplodechamadoprofético,sópodeserdenominadadenarrativadechamado“comrelutância”(Seitz,Isaiah1-39,54).

5ObserveesseselementosindicadosemHabel(“FormandSignificanceoftheCallNarratives”,298).A maioria desses elementos aparece de forma inteiramente natural na descrição do chamado deEzequiel,conformeindicadoemClements,Ezekiel,9-10.

6 Em oposição a Habel (“Form and Significance of the Call Narratives”, 305). Zimmerli (Ezekiel,1.97,98)detectaduasformasbásicasparaoschamadosproféticos.Aprimeiraforma,encontradanoschamados de Moisés, Gideão, Saul e Jeremias, mostra que Deus sujeitou o sentimento deincapacidade.Asegundaforma,representadapeloschamadosdeIsaías,MiqueiaseEzequiel, incluiumaadmissãoaoconselhodivino.Zimmerlidemonstraquefalardeuma“fórmulafixa”pararegistrarochamadoproféticoéforçarasevidências(99).

7Baltzer,“OfficeandCallingoftheProphets”,569.

8VejavonRad,OldTestamentTheology,2.57.9Blenkinsopp,HistoryofProphecyinIsrael,34.Elediznoutro lugarqueoprofetaEzequiel“quasedesapareceuporcompletonolivroquelevaseunome”(Blenkinsopp,Ezekiel,15).

10VejaoscomentáriosdeHabel:“FormandSignificanceoftheCallNarratives”,298.11Ibid.,306.

12Édifícildeterminar seochamadoemIsaías6ocorreuno iníciodoministériode Isaíasoudepois.Young(Isaiah, 1.232) conclui que Isaías 6 registra o chamado inicial de Isaías e que os capítulosanterioresdolivrocomeçamapresentandoostemasmaioresdasuaprofecia.Seitz(Isaiah1-39,55)mencionaqueé impossíveldizer se apassagem registrao episódio inicialda separaçãodoprofeta.Maseleobservaqueaépocaemqueocorreuavisãoéidentificadacomo“oanoemquemorreuoreiUzias”,emboraoversículoinicialdolivrodeclarequeIsaíasministrou“nosdiasdeUzias”(Is1.1).Mas é preciso notar que o texto não diz que Isaías teve sua visão no dia em que Uzias morreu,deixandoabertaapossibilidadedequeIsaías6tenhaocorridoalgumtempoantesdamortedeUzias,mas durante o ano em que ele morreu. Como possibilidade alternativa, pode ser que Isaías tenhaministradocomoprofetaporalgumperíodoanterioràsuaexperiênciacomessavisãoespecífica,queentãoserviucomoconfirmaçãodoseuchamadoaoofícioprofético.

13Paraodesenvolvimentodessasafirmaçõescontrastantes,vejaWolff,JoelandAmos,312,313.

14Ibid.,314.15 Tem havido fortes discussões sobre se o texto da declaração de Amós 7.14 diz: “Eu não souprofeta” ou “Eu não era profeta”.Wolff diz: “Ordinariamente, a regra diz que uma frase nominaldescreveacontecimentoscontemporâneosaoperíodode tempodefinidopela fraseverbalcomque

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estáassociada.Umavezqueafraseverbalemquestão,7.15,descreveeventosdopassado,muitostêmdecididoemfavordetraduzir7.14igualmentenopassado”(JoelandAmos,312).Wolffentãoapresenta “razões para o contrário” e conclui (312,313) que Amós pretendia negar que fosse umprofetanosentidodenãoocuparafunçãopermanentedeprofeta,emborativessesidocomissionadopor Deus a falar como profeta. As razões contrárias de Wolff não são tão fortes como as suasobservaçõesgramaticaisfeitasanteriormente.

16 Essa circunstância antecipa as orientações de Paulo com respeito ao casamento por causa dasafliçõesqueimperavamnaquelesdias(1Co7.25-27).

17A referência inicial ao trigésimo ano (Ez 1.1) é interpretada de diversas formas. A maneira maissimplesde entendê-la éver ali uma referência à idadedoprofeta.A idadede30 anos era a idademínimaparaassumirafunçãodesacerdoteemIsrael(Nm4.3).VejaVanGemeren,InterpretingthePropheticWord,323;Blenkinsopp,Ezekiel,16.

18Brownlee,Ezekiel,50.19Blenkinsopp (History of Prophecy in Israel, 34) diz que o recorrente “assim diz o Senhor” dosprofetaspressupõeumacenadacortedivinaemsessão,presididapeloSenhorcomojuizdoconcíliocelestial.Oprofeta foi trazidoà reuniãodesseconcílioeentãoédesignadocomomensageirocomumamissão.Blenkinsopppodeestarlendodemaisnessafrase,eeleerraquandosugereumamolduramitológicaparaacena.Aimagemdoprofetasendotrazidoaoconcíliodivinoservepararepresentaraterrívelresponsabilidadedoprofeta.

20Brueggemann,Isaiah,1.58.21Childs(Isaiah,59)aprovaaanálisedeCalvino,quedisse:“DeusjamaisserevelouaospaissenãoemsuaeternaPalavraeFilhoUnigênito”,eassimoEvangelhodeJoãoestá totalmentecorretoaoafirmarqueIsaíasviuJesusefaloudasuaglória,emborasejaerradolimitaravisãodeIsaíasapenasàglóriadeCristo(Calvino,Isaiah,201).

22Afraseencontra-seumaveznos livroshistóricos(2Rs19.22)e trêsvezesnosSalmos(Sl71.22;78.41;89.18).

23Blenkinsopp,Ezekiel,21,22.

24Paraessacomparação,vejaKidner,MessageofJeremiah,25.25Comooleopardocaçasozinho,diferentementedoleão,eleéextremamenteaplicadonavigilânciadecadamovimentodasuapresa.

26Brueggemann,Jeremiah,27.27Ibid.,26.

28Ibid.,25.29 Brueggemann (ibid., 26) apresenta comentários instigantes nessa linha de pensamento. Masinfelizmenteseufraseadocriaumasériaambiguidade:“EmJoão2.19,aparecemosverbos‘destruir’e‘edificar’. Eles são usados com referência à cidade de Jerusalém, especificamente o templo”. SeBrueggemannpretendedizerqueopropósitooriginaldeJesuserareferir-seàdestruiçãodacidadedeJerusaléme do templo, ele usa de forma errada as palavras de Jesus, o qual, de acordo com seudiscípulomaischegado,“falavadotemplodoseucorpo”(Jo2.21).Foramasfalsastestemunhasnojulgamentode Jesus que se referiramàs palavras dele como se dissessem respeito à destruiçãodotemplo(Mt26.61).Apesardaambiguidade,émelhorsuporqueBrueggemannpretendereferir-seaopropósitodaspalavrasdeJeremias,quedefatoestavafalandodadestruiçãodacidadedeJerusalémedotemplo.

30Habel,“FormandSignificanceoftheCallNarratives”,308.31Fairbairn,Ezekiel,36.

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32Lindblom,ProphecyinAncientIsrael,188.

33Gowan,TheologyofthePropheticBooks,63.34Alexander,Isaiah,1.91.

35VejaSeitz,Isaiah1-39,55.36Brueggemann,Isaiah,63.

37Childs,Isaiah,59.38Ibid.

39Brueggemann,Isaiah,63.40VejavonRad,OldTestamentTheology,2.53.

41Oehler,TheologyoftheOldTestament,2.316.42 Von Rad, Old Testament Theology, 2.55; Bright, Jeremiah, 6; Lindblom, Prophecy in AncientIsrael,182.

43Baltzer,“OfficeandCallingoftheProphets”,568.44VonRad,OldTestamentTheology,2.65.

45Calvino,Ezekiel,1.62.

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VERDADEIROS E FALSOS PROFETAS

AMAIORAMEAÇAaobem-estardopovodeDeusemtodasasépocastemvindodaquelesqueseapresentamcomoporta-vozesproféticosdoSenhor,masquenaverdadenãoosão.EmvezdecomunicaremaverdadereveladaoriginadaemDeus,essaspessoasfalamumaenganosamentira.

A própria presença de dois tipos de profetas entre o povo de Deusforçosamente tem um impacto significante na vida da comunidade. Muitasvezes, duas respeitadas figuras se confrontavam, cada uma reivindicandoautoridade divina para suamensagem.A quem devia o povo seguir? Comofariamelesparadistinguiroverdadeiroprofetadofalso?Porqueodestinodanaçãodependiadaspalavrasproferidasporessaspersonagensantagônicas,erade importânciavitalqueopovoentendesseasdiferençasquecaracterizavamessas figuras proféticas e seus ministérios. Quando consideramos osverdadeiroseosfalsosprofetas,háváriascoisasquemerecemconsideração.1

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I.Aorigemúltimadaverdadeiraedafalsaprofecia

Aprofeciaverdadeiratemsuaorigemúltimaemumacriaçãointencionalpor parte do Deus único. Através de revelação vinda por meio de sonho evisão,oCriadorcomunicariaseupropósito,suavontadeaoseupovo.Tantoasuavontademoralquantoseupropósitoconsumadoseriamreveladosaoseupovopormeiodosseusservos,osprofetas.Aspalavrasdoprofetaverdadeironãosãodelemesmo.ElasvinhamdiretamenteporrevelaçãodapartedeDeusconformeelefalava“bocaaboca”pormeiodoseuinstrumentoprofético.

EmboraaEscrituraforneçapoucaexplicaçãoarespeitodaorigemúltimadomal,elaclaramenteindicaoinstrumentopormeiodoqualafalsidadeeomalentramnestemundo.AEscrituranãodáindíciosdeumserperversoquetivesse uma existência lado a lado com Deus. Mas imediatamente após acriaçãodohomemnumestadodeinocência,aserpenteintroduziuaprimeiramentira que contradizia a verdade de Deus (Gn 3.1,4,5).2 Desse ponto emdiante,avozdaserpentefalanterepercutiunasdeclaraçõesdosfalsosprofetas.Se a intenção de Satanás é opor-se aos propósitos de Deus com respeito àredençãodoseupovo,entãoécompreensívelqueeletentedeturparaverdadede forma que discorde da revelação dada pormeio dos profetas do Senhor.Atravésdessemétodo,eleatacanaraizosmeiospelosquaisDeusdeterminoudirigiraféeavidadoseupovo.Àsvezesdemaneiramaissutil,àsvezescommaisousadia,essamesmavozcontinuafalandoatravésdaseraseaindaofazhoje.DeacordocomoApocalipse:“essavelhaserpente,odiaboouSatanás”haverádecontestaraverdadedeDeusatéofimdostempos(Ap12.9).

Aesserespeito,afirmarqueaexistênciadafalsaprofeciaindicaalgumacoisa“sinistra”comrespeitoaDeusequeafalsaprofeciamanifestaaprópria“atividade demoníaca” de Deus representa o cúmulo da blasfêmia.3 Comcerteza, é legítimoafirmarqueoSantode Israel faz comqueospropósitosperversos dos homens e de Satanás executem seus próprios objetivos. AtémesmoéapropriadoafirmarqueoSenhorsoberanoordenoutodasascoisas,mesmoas açõesperversasdoshomensedeSatanás,para serviremaos seuspropósitos últimos. Mas insinuar que, para entender a existência da falsaprofecia, “é preciso levar em consideração o lado obscuro deDeus, o lado‘demoníaco’”4 é perverter a verdadeira natureza do Santo de Israel. Há umerro pernicioso que deforma a natureza essencial de Deus na base daafirmação de que os falsos profetas “são na verdade profetas verdadeirosapesardeanunciaremumamensagemfalsa”.5Narealidade,essaafirmaçãofazda verdade erro e do erro, verdade, e assim cai na mesma categoria das

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declaraçõesdosfalsosprofetasdeIsrael,quetornavamobememmaleomalembem(Is5.20).NãoéDeusquemmente,massimofalsoprofeta.OfatodeDeus, em suas disposições providenciais, fazer uso dos falsos profetas paraseus próprios propósitos não torna de forma alguma o Senhor culpado ouculpável pelasmentiras que eles proferem. Quando o profetaMicaías contaque um espírito do conselho celeste “sairia para tornar-se um espíritomentiroso”nabocadosprofetasdeAcabe(1Rs22.22NVI),éprecisolembrarqueesseespíritomentirosovaiaosprofetasquejásetinhamcomprometidoafalar pelo falso deus Baal. Esses falsos profetas, quer fosse de maneiraautoconscienteounão, já tinhamseaplicadoa transmitirafalsidadeemsuasprofecias.OSENHOR daAliançade Israel simplesmente emprega as práticasperversas desses profetas perversos para executar seus justos propósitos.Longedeseraculpávelfontedasmentiras,oSenhordirigeessasmentirasdetalformaquesirvamàverdade.OsfalsosprofetasserãosempreresponsáveispelasmentirasquefalaramemnomedoSenhor.AbsolutamentenadaqueDeustenhafeitoalgumavezforçoualguémamentir.

Asorigensúltimasdaverdadeiraedafalsaprofeciasãocompletamentedistintasumadaoutra.AverdadeiraprofeciavemdiretamentedoúnicoDeusvivoeverdadeirocomoomeiodecomunicarsuavontadeaoseupovo.Masafalsa profecia tem suas origens nos perversos propósitos do maligno, quetentaenganaretrazerruínaaomundocriadoporDeus.

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II.Asmotivaçõesdosverdadeirosedosfalsosprofetas

Algumacoisaimpeleoprofeta.NinguémtomaparasiafunçãodefalaraoshomensemnomedeDeussemumforte impulso interior.Masomotivoqueimpeleosverdadeirosprofetaséradicalmentediferentedaquelequemoveos falsosprofetas.OprofetaverdadeiroenviadopeloSenhor falavamovidopor um senso de necessidade similar à compulsão expressa pelo apóstoloPaulo: “Sobremimpesaumaobrigação; sim, aidemimse eunãopregaroevangelho”(1Co9.16).DeacordocomJeremias,aPalavradeDeuseracomofogoemsuaboca(Jr5.14).EleviveusobumacompulsãodefalarparaaliviarasensaçãoabrasadoraprovocadapelaPalavradoSenhor.

O profeta, juntamente com seu próprio desejo de alívio da pesadapresença da Palavra do Senhor, era motivado também pela percepção danecessidadedopovo.Oprofetaentendeuqueviverempecadoinvariavelmentetrazia a calamidade à vida da nação de Deus. Por mais difícil que fosse, oprofetaverdadeiroprecisavadeclararomaisclaramentepossívelopecadodopovocomaesperançadequeeleouvisseesearrependesse.Aí,então,talvezoSenhor recue do seu intento de trazer juízo sobre eles por causa dos seuspecados.OpróprioSenhorexpressaessacompreensãodaresponsabilidadedoprofeta: “Diga-lhes tudo o que eu lhe ordenar; não omita uma só palavra.Talvez eles escutem e cada um se converta de suamá conduta.Então eumearrependereienãotrareisobreelesadesgraçaqueestouplanejandoporcausadomalqueelestêmpraticado”(Jr26.2b,3NVI).

Jáaforçamotivadoradosfalsosprofetaseradiferente.Eleseramhomensmotivados,masnãoporqueaPalavradoSenhoroscompelisseafalar.Haviadoismotivosemparticularqueosfaziamassumirafunçãodeporta-vozesdeDeus:vantagenspessoaiseaceitaçãodiantedoshomens.

OprofetaMiqueias, queviveuno séculoVIII a.C., declara aPalavradoSenhor a respeito da razão que motivava os falsos profetas: “Assim diz oSENHOR [daAliança] aos profetas que fazem omeu povo desviar-se, e que,quandolhesdãooquemastigar,proclamampaz,masproclamamguerrasantacontraquemnão lhes encheaboca” (Mq3.5NVI).Nesse caso, amotivaçãoparaprofetizareraclaramenteconseguiralimentoebem-estarpessoal.SeumapessoaàprocuradeumapalavradapartedoSenhornãopagasseumaquantiaque o profeta considerasse remuneração adequada, ela podia aguardar umaoposiçãoque,de tão rigorosa,podiaserchamadadeguerra.Aspessoasquenuncaexperimentaramairadosreligiososhipócritastalvezfaçampoucodestadramática figura de linguagem. Mas a ira dos que são justos aos próprios

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olhosexcedeadetodososoutros,jáqueestãoconvictosdequerepresentamacausadeDeus.

OprofetaEzequieléorientadopeloSenhora“voltarorosto”contraasmulheres que estavam profetizando falsamente entre o povo de Israel. Aotrazerem desastre sobre o povo de Deus por desencaminhá-los, elas erammovidas “em troca de uns punhados de cevada e de migalhas de pão” (Ez13.19 NVI). Desconsiderando totalmente o bem-estar do povo a quemdeveriam servir, essas falsas profetisas tinhampormotivação principal suasvantagens pessoais. Em todas as épocas, sempre houve profetas que falaramtendoemvistaseuprópriobenefício.EmdetrimentodopovodeDeus,ofalsoprofetapreocupa-seunicamentecomsuapromoçãopessoal.

Ooutromotivoque impeliaosfalsosprofetaseraqueelesmesmoseoseuministériofossemaceitospelopovo.Infelizmente,eraexatamenteessetipodeprofetaqueoprópriopovodesejava.Elesficavammuitocontentescomumprofeta que lhes dissesse aquilo que queriam ouvir. Miqueias descreve asituaçãocorrenteemsuaépoca:“Seummentirosoeenganadorvieredisser:Eu pregarei para vocês fartura de vinho e de bebida fermentada, ele será oprofetadestepovo!”(Mq2.11NVI).Paraelesnãohavianadamelhordoqueteremumprofeta queos acompanhasse emansamente lhes oferecesse comoPalavradapartedoSenhorexatamenteascoisasquequeriamouvir.Asituaçãoé a mesma em todas as épocas. O povo sempre dirá que deseja ouvir umapalavraverdadeiradapartedoSenhor.Mas,naverdade,eledesejaumreflexoautoritativodassuasprópriasideias,asquaispromoverãoseuprópriobem.

A razão que impelia o profeta produzia um efeito significativo namensagem que ele entregava. Se verdadeiramente tinha sido a Palavra doSenhor que tinha vindo a ele, o profeta precisava entregar essa Palavraexatamentedaformaquetinhavindo,quaisquerquefossemasconsequências.Mas o falso profeta, movido pelo interesse da vantagem pessoal ou pelaaceitação junto ao povo, falaria qualquer coisa que ele percebesse que amultidãoqueriaouvir.

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III.Ocaráterdapessoaeobradosprofetas

A principal descrição da pessoa do falso profeta e de sua obra não émuito agradável. Ele émentiroso, e suamensagem é umamentira. Ele viveumamentiraefalamentiras(Mq2.11;Jr23.14,26).Ofalsoprofetaédescritodessaformadiretaporqueamentiraésuaprincipalcaracterística.EledizquerecebeuumapalavradapartedoSenhor,masoSenhornãofaloucomele.OfatodelesfalaremcomosesuaspalavrasfossemdapartedeDeusintensificaodano causado à vida dos outros. Os receptores da sua mensagem sãocolocados sobo fardodeguardar a palavradoprofeta porque ela lhesvemcomoPalavradeDeusouentãodeixardeconsideraressapalavraecorreroriscodedesobedeceremaoseuCriador.

Por trásdopecadodementiremnomedeDeusencontra-seumaatitudedecoração,depresunçãoeteimosia.Ofalsoprofeta“nãoestevenoconselhodoSENHORdaAliança”,emesmoassimseatreveafalarcomoseentendesseos mistérios de Deus que não estão disponíveis ao homem comum (Jr23.16,22). Esses falsos profetas alegam que Deus veio até eles de formaespecial quando dizem: “Tive um sonho! Tive um sonho!” (23.25). Mas naverdade eles anunciam apenas os enganos do seu próprio coração (23.26).Deus não os comissionou como seus mensageiros, e mesmo assim elescorrem como se tivessem sido enviados pelo próprio Senhor soberano(23.21).Ofalsoprofetaabusadaconfiançaassociadacomseuofício(23.10c).Ele usa seu poder para fortalecer a mão do perverso e para intimidar overdadeiroprofetaaopontodeameaçá-lodemorte(23.14).

Umacompreensãofundamentalparadistinguirentreprofetasverdadeirose profetas falsos é que todo mundo, mesmo o melhor do povo de Deus,regularmenteprecisaserrepreendidoporcausadosseusmauscaminhos.Emcontraste com os falsos profetas que falam palavras suaves e agradáveis,porqueelesmesmossebeneficiamcomarespostapositivadopovo,Miqueiasdescreve sua própria situação como profeta verdadeiro do Senhor: ”Mas,quantoamim,graçasaopoderdoEspíritodoSENHORdaAliança,estoucheiodeformaedejustiça,paradeclararaJacóasuatransgressão,eaIsraeloseupecado”(Mq3.8NVI).

Considere a singularidade da experiência desse profeta verdadeiro doSenhor. Ele tem forte confiança de que Deus está com ele, o que nenhumacircunstânciapodedesfazer.Elepossuiumpoderquevaialémdasuaprópriapessoa. O Espírito do Senhor, o Espírito de toda a verdade, o enche de talformaqueelevivecomaconsciênciadequeDeusestáconduzindoocaminho

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da suavida.Agrandezamoral da causa justa doSenhor lhedá suporte, nãocomumsensode falsapresunção,mascomaconfiançadenão falarde suaprópriamenteecoração,masdapartedoconselhodoSenhor.Todaessaforçainteriorvemseconcentrarnacapacitaçãodoprofeta“paradeclararaJacóasuatransgressão,aIsrael,oseupecado”.Qualseriaofalsoprofetaqueveriaalgumsentidoouteriaalgumasatisfaçãoemdesmascararomauprocedimentodas pessoas a quem estava tentando agradar?Como poderia ele esperar quedenunciar publicamente o coração perverso e depravado dos seus ouvinteshaveriadelevá-losapagar-lheumsaláriomaissubstancial?Movidoporumacompulsão interna e provido de profunda compreensão das pervertidasmotivações do coração dos homens, o profeta verdadeiro do Senhor falaporqueentendequearevelaçãovindadeDeusporseuintermédiorepresentaaúnicaesperançadosseusouvintes.

De tempo em tempo, os profetas verdadeiros do Senhor tinhamconfrontações com os falsos profetas. Mas a verdadeira briga entre osverdadeiroseosfalsosprofetaschegouaograumáximonosdiasdeJeremias.A situação pode ser comparada aos dias do ministério de Jesus na terra,quando Satanás reagiu à presença do Cristo encarnado através de umademonstração maior dos seus poderes do que em qualquer outra época dahistória humana. Pessoas endemoninhadas apareceram como clarosindicadoresdasuacapacidadedemanterahumanidadesobseucontrole.Emcertosentido,pode-sedizerqueSatanásdecidiu,porocasiãodaEncarnação,desafiarospoderesdoFilhodeDeus.

Deformasemelhante,osprofetasmentirososdeSatanássemanifestaramdemaneira mais determinada durante os dias de Jeremias, mais do que emqualquer outro período da história da antiga aliança. O profeta estavaanunciando ao povo de Jerusalém a destruição da amada cidade deles nomomento em que os exércitos babilônios desciam contra eles. Dava aimpressãodequeoprofetadoSenhoreraopiordos traidores, convocandouma rendição ao inimigo com todas as humilhações que a submissão trariaconsigo. Como consequência, várias passagens na profecia de Jeremiasretratam a postura contrária dos falsos profetas, muitas vezes incluindo asameaçasquedirigiamcontraoverdadeiroservodoSenhor:

Os falsosprofetasmentemdizendoquenenhumdanosobreviráaopovo; mas Deus tornará suas palavras como fogo na boca deJeremiasparaconsumirosperversos(5.12-14).AsconspiraçõescontraavidadeJeremiasfazem-noverasimesmo“comomansocordeiro”;masDeuspuniráosfalsosprofetas(11.18-

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23).Osfalsosprofetasanunciam“osenganosdasuaprópriamente”;e,como consequência, eles sofrerão amais severa dasmaldições daaliança(14.13-16).Pasur, o sacerdote rival de Jeremias, feriu o profeta de Deus e ometeu no tronco. Jeremias responde anunciando que Pasur serálevado para a Babilônia com toda a sua casa, e jamais haverá deretornar(20.1-18).Osfalsosprofetassãopessoasímpias,queespalhamaperversidadenosantotemplodoSenhor.Deusnãoosenviou,elesnãoestiveramnoseuconselho,e,porcausadasuapresunção,ocaminhodelessetornaráescorregadioeserãobanidosparaaescuridão(23.9-40).Jeremias profetiza que Jerusalém se tornará como Siló em suadevastação, se o povo se recusar a dar ouvidos à sua palavraprofética.Mas,emvezdesesubmeter,opovojuntamentecomseusfalsosprofetasdeterminamatarJeremias(26.1-24).

A dura mensagem entregue especificamente ao assistente de Jeremias,Baruque,tambémreforçaasameaçasqueregularmentesãodirigidascontraavida e o bem-estar dos profetas do Senhor. O Senhor pergunta a Baruque:“Procurastugrandescoisasparatimesmo?”Vocêestáàbuscadeconfortonavida?“Nãoasprocures.”Deuscuidaráquesuavidasejapreservadaàmedidaquefor jogadodeumanaçãoparaoutra.Essaéasuadádivaparavocê.Masnãocometaoerrodeprocurartodasessascoisasagradáveisqueavidapodefornecer,porqueessascoisasnãosãoaporçãodestinadaaohomemchamadoparaserprofetadoSenhor(Jr45).

Esse contraste entre o verdadeiro e o falso profeta encontra sua maisvívidaexpressãonaconfrontaçãocaraacaraentreJeremiaseHananiasofalsoprofeta(Jr28).NosdiasdeZedequias,oúltimoreideJudá,oSenhorordenoua Jeremias que colocasse uma canga no pescoço, simbolizando a certaescravidãoaoreideBabilôniaqueanaçãohaveriadesofrer.JudáetodasasnaçõesvizinhasforamaconselhadasasesubmeteremaessejugosequisessemcontinuaremsuaprópriaterraapesardasuaservidãoàBabilônia(27.1-15).

Mas Hananias se atreveu a profetizar de forma contrária. Não apenasesses países seriam poupados do domínio daBabilônia,mas dentro de doisanos retornariam a Jerusalém todos os tesouros que Nabucodonosor tinhatomadodacasadoSenhor.Jeoaquim,oreiexilado,seriasoltoevoltariaparaaterra.Paradramatizarsuapredição,HananiasconfrontouJeremiasdiantedetodoopovoequebrouacangasimbólicaqueestavanopescoçodeJeremias.

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O Senhor não podia tolerar essa pública contradição da sua palavraverdadeira.JeremiastevedeanunciaraHananiasqueeletinhaagidodeformaarrogante ao profetizar mentiras. Como consequência de pregar rebeliãocontraoSenhor,Hananiasmorrerianaquelemesmoano.Eassimaconteceu.Dentro de dois meses, Hananias o falso profeta estava morto (28.17; vejatambém28.1).

Aliçãoconvencedemaneirapoderosa.OfalsoprofetaseatreveacriaremsuaprópriamenteumapalavradapartedoSenhor.Eleanunciaaquiloqueopovoquerouvir.Maspelo fatodessamentiraproduziro terrívelefeitodeafastaropovodeconfiarnaverdadeiraPalavradoSenhoreagirdeacordocomela,ofalsoprofetaencontra-sedebaixodamaldiçãodeDeusemaiscedooumais tarde receberá uma justa recompensa pelomal que fez ao povo doSenhor.

Ocontrastenãopoderiasermaisdramático.Emumdoscasos,oprofetade Deus fala a verdade da Palavra do Senhor, por mais deprimente que amensagempossapareceraopovodeDeus.Masnooutrocaso,ofalsoprofetaseatreveacriarumasupostapalavradapartedoSenhorquenaverdadeéumainvençãodasuaprópriaimaginação.Ofalsoprofetaémotivadopelacobiçaepelodesejodeserqueridopelopovo,aopassoqueoprofetaverdadeirofalacoisas que o povo não quer ouvir, impelido por uma compulsão vinda doSenhoreporumapreocupaçãoaltruístapelobemdopovo.

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IV.Critériosparafazerdistinçãoentreaverdadeiraeafalsaprofecia

Comofariaanaçãoparadistinguirentreasdeclaraçõesdosverdadeirosedos falsos profetas? Os registros referentes aos patriarcas não mostramnenhuma preocupação com respeito a esse problema.Abraão, Isaque e Jacóclaramente sabiamquandoDeus lhes falava,mesmoquepor um lapsode fétalvezduvidassemqueaPalavradoSenhorviesseacumprir-seplenamente.Oproblema surgiu com a instituição do ofício profético em Israel. Agora,embora a própria Palavra de Deus estivesse sendo entregue, ela veio pelainstrumentalidade de um irmão falando a outros irmãos. A voz simples ehumildedeumhomemtornou-seoinstrumentodarevelaçãodeDeus.Comoconsequência, alguns critérios eram necessários para confirmar que esseprofetaeradefatoenviadoporDeusequesuaspalavraseramaspalavrasdeDeus.OprópriopovoformulouessaperguntaquandooofíciodeprofetafoiinicialmenteestabelecidoemIsrael(Dt18.21).Nessecontexto,algunscritériospara identificar a verdadeira palavra profética foram dados pelo próprioSenhor.Pelaaplicaçãodessescritérios,opovopoderiafazerdistinçãoentreaverdadeira palavra do verdadeiro profeta e a pretensa palavra do profetamentiroso.

A.Critériosbíblicosparafazerdistinçãoentreverdadeiraefalsaprofecia

Basicamente, foram dados três princípios para fazer juízo crítico entreverdadeiraefalsaprofecia.Emprimeirolugar,seumprofetafalasseemnomedealgumoutrodeus,eleteriadeserconsideradocomofalsoprofeta,apesardequalqueroutracaracterísticaquepudessedestacá-locomopessoadignadeserouvida:“Seumprofetaouumsonhadordesonhosselevantarentrevocêse fizeralgumsinaloumilagre, eo sinalouomilagreacontecerexatamentecomoelelhesdisse;seaomesmotempoeledisser:‘Vamosapósoutrosdeusesque vocês não conheceram, e vamos servi-los’; vocês não devem ouvir aspalavrasdesseprofetaousonhadordesonhos”(Dt13.1-3a).

Umprofeta,querverdadeirooufalso,poderiamostrarumahabilidadedeoperarsinaisoumilagres.Israeljáhaviatestemunhadoumadisputacontraseuprofetamaisimportante,Moisés,enquantoaindaestavamnoEgito.Osmagosde faraó tinham operado seus falsos milagres.6 A capacidade de imitar osgenuínospoderesdeMoiséspormeiodohipnotismodeserpentes,pelailusãodetornaráguaemsangue,epelamultiplicaçãoderãschegouàsuaconclusãonatural, e os assim chamados magos se viram forçados a admitir que os

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poderesmaiores deMoisés tinhamde ser atribuídos ao “dedodeDeus” (Êx8.18,19).

As Escrituras da nova aliança confirmam também os “sinais e falsosmilagres”que serão executadosporum falsoprofeta (2Ts2.9).7OpróprioJesusafirmouapossibilidadedesinaisemilagressendoexecutadosporfalsosprofetas:“Falsoscristosefalsosprofetassurgirãocomtodoopoder,efarãograndessinaisemilagres”(Mt24.24).Poressarazão,aimportânciadestetesteda verdadeira profecia também diz respeito aos nossos dias. Na atmosferareligiosa de hoje, muita gente exige a manifestação do espetacular paraconfirmaroministériodaspessoas.Mas,deacordocomotestedaEscritura,aprópriaoperaçãodemilagresnãoéocritériofinalqueestabeleceumapessoacomoprofetaverdadeirodoSenhor.

Juntamentecomaoperaçãodesinaisemilagres,o falsoprofetamostraquemdefatoéquandoencorajaseusdevotosaseguiremoutrosdeuses.Depoisdeestabelecerumarelaçãodeconfiança,elediz:“Vamosapósoutrosdeuses,que vocês não conheceram, e vamos servi-los” (Dt 13.2b).Agora fica claroque esse profeta não recebeu sua mensagem da parte do Deus que libertouIsrael do Egito. Pelo contrário, ele promove um deus que Israel jamaisconheceu.Mas os israelitas não devem atender às palavras desse profeta ousonhadordesonhos.Não importao tamanhodosinaloudomilagrequeeleexecute, a pessoa que fala em nome de outro deus precisa ser consideradacomofalsoprofeta.

Este teste da verdadeira e da falsa profecia é avaliado de diversasmaneiras.Certo crítico reconhece que esse critério seria válido se um falsoprofetapertencesseaocultodeBaal,masmesmoassimeleconsideraostestesbíblicosemgeralcomo“impossíveisdeseremaplicadosouimpraticáveis”.8Deacordocomessepontodevista,ainadequaçãodestecritérioficaevidentequando o profeta jura lealdade ao SENHOR da Aliança embora continueprofetizandoemnomedeBaal.9

UmaperspectivamaisradicalafirmaqueessetestebásicodelealdadeaoDeusúnicoeverdadeiroestavafadadoaofracasso.Poismesmoqueo“temacanônicofundamentaldaBíbliasejaoesforçopor‘monoteizar ’”,édeduvidarque qualquer unidade mais ampla da Bíblia seja “completamentemonoteísta”.10SerealmenteéverdadequenenhumaseçãomaiordaEscrituraseja completamente monoteísta, então obviamente a proposta de que overdadeiroprofetafalariaunicamenteemnomedoúnicoSENHORdaAliançateriadeserconsideradacomoumafalácia.

Mas o testemunho da Escritura sobre si mesma garante uma posição

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muitomaisvigorosacomrespeitoaestetestedeidentificaçãodaverdadeiraeda falsa profecia. A proibição contra falar em nome de outro deus não fezconcessões para uma aproximação sincrética que permitisse que a pessoaadorasseoSENHORdaAliançaaomesmotempoqueprofetizasseemnomedeBaal. Os próprios profetas condenavam com veemência esse tipo desincretismo.Sofoniasafirmaemtermoscerteiros:

Euexterminarei...aquelesquejuramaoSENHORdaAliançae[aomesmotempo]juramporMoloque.(Sf1.4b,5)11

Se o SENHOR da Aliança de Israel criou todas as coisas visíveis einvisíveis,entãoaautorrevelaçãodoseunomedistintivopode,legitimamente,tornar-se o fundamento para testar a verdade ou falsidade de toda profecia.ConformeobservaChilds: “Numsentidomuito real, todoo assuntoda falsaprofeciagiraemtornodomauusodonomedeDeus”.12Tendoemmenteessacompreensão, simplesmente não seria possível que uma pessoa fossereconhecida como profeta verdadeiro se fosse devota de Baal, mesmo queprofetizasseemnomedoSENHOR daAliança.Este primeiro teste haveria dediferenciarclaramenteentreoverdadeiroeofalsoprofetasemprequealguémseaventurassepelosincretismo.

Emsegundolugar,umaclaradistinçãoentreprofetasverdadeirosefalsosbaseava-senocumprimentodasprediçõesfeitaspeloprofeta.Seasprediçõesdoprofeta não se cumprissem, ele seria desacreditado e não se deveria crernele (Dt 18.22).Este teste da palavra profética fundamenta-se claramente emsua origem em Deus, pois nenhum ser humano tem conhecimento claro econcretodo futuro semuma revelaçãodapartedeDeus,oqualdeterminaocursodofuturo.

A natureza radical deste critério se vê no fato que não apenas umadeterminadaprofecia,masaprópriapessoadoprofetaeradesacreditadaporuma predição que não se cumprisse. Como consequência, um indivíduoespecífico poderia “predizer” corretamente qualquer quantidade de eventos.Mas se ele falhasse uma vez em suas profecias, desse ponto em diante eledeveriaserconsideradocomofalsoprofeta,cujaspalavrasnãodeveriamserconsideradas como vindas da parte de Deus. Este segundo teste documprimento das predições não dava lugar a uma “estimativa percentual”.Qualquer profecia que falhasse significava que a pessoa seria estigmatizadacomofalsoprofeta.

OsprofetasverdadeirosdeIsraelestavamcompletamenteàvontadecom

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este testedo seuministério, comopodemosver emváriasocasiões.Quandodesafiado com respeito à sua profecia sobre a morte de Acabe, Micaíascolocou publicamente em risco seu ministério profético: ”Se você de fatovoltar em segurança, oSENHOR daAliança não falou pormeu intermédio”.Então,voltando-seaopovo,elereforçouseuprópriodesafio:”Ouçamoqueestoudizendo,todosvocês!”(1Rs22.28NVI).OslivrosdosReispodemserlidoscomoconfirmaçãodasprediçõesdosservosdeDeus,osprofetas,poiscercadevinteconfirmaçõesdeprofeciassãoregistradasnosdoislivros.13

Os profetas escritores de Israel regularmente se sujeitavam (e aossupostosprofetascontemporâneos)aoescrutíniodasprediçõescumpridasounãocumpridas.OprofetaIsaíasrelataqueopovoestavatentandosilenciarosprofetasdoSenhor(Is30.10).OSenhorreageordenandoqueIsaíascoloquesua palavra em forma permanente. Ele tinha de escrever sua mensagem deformaquepudesseseruma testemunhaeternaparaosdiasvindouros (30.8).Asgeraçõesfuturasverãoclaramenteaautenticidadedaspalavrasdoprofeta.

Emumcontextodecontínuaconfrontaçãocomfalsosprofetas,Jeremiasreitera o critério do Senhor para separar o profeta verdadeiro do falso: “Oprofeta que prediz prosperidade [shalom] – quando a palavra do profeta secumprir,entãoesseprofetaseráconfirmadocomoumquedefatofoienviadopeloSENHORdaAliança”(Jr28.9).Àpartedaconfirmaçãodocumprimentodaspredições,apessoanãopodiaserconfirmadacomoprofetaverdadeirodoSenhor.Outravezficaclaroqueaconfirmaçãoserefereàpessoadoprofetaenãoapenasaumamensagemespecífica.

NosdiasdeEzequiel,oSenhormostrasuainsatisfaçãocomumpovoquetrata seu profeta como se ele fosse um bom cantor, mesmo quando elepronuncia o mais severo dos juízos (Ez 33.32). A prova das predições doprofeta determinará que ele não é apenas outro ator dramático: “Assim,quandoestas[declaraçõesdejuízo]secumprirem–epodetercertezadequeelasvãosecumprir!–entãoelesserãoforçadosareconhecerquehouveumprofeta no meio deles” (33.33). O profeta não tem dúvida de que suaspredições serão cumpridas.14 Essa confiança surge unicamente porque elesabequesuaspalavrasnãopartemdelemesmo,masseoriginaramnopróprioSenhor.Ocumprimentodasprediçõesproféticaseraotesteseguroquedeviaseraplicadoatodapessoaquesedissesseprofeta.

Muitas objeções se levantam contra esse critério, num esforço dedemonstrar sua ineficácia. Alega-se que ele seria eficaz apenas emretrospecto.15Somentedepoisdaprofecia ter secumpridoéquepoderia serafirmado com confiança que a palavra era do Senhor. Mas essa objeção

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desconsideravários fatores.Porum lado,pode-seobservarqueasprofeciasbíblicassãocompostasdeprediçõesdecurtoedelongoprazo.Nãodemorariamuitoparaoscontemporâneosdeumprofetaverificaremaveracidadedasuamensagem. Além disso, como assinalado anteriormente, a confirmaçãoprofética dizia respeito não apenas a predições específicas, mas também àpessoa do profeta. Uma vez que a pessoa fosse confirmada como profetaverdadeirodoSenhorpormeiodocumprimentodasprediçõesdecurtoprazo,opovopoderiaconfiarnasprofeciasdelongoprazo.

AlgunsintérpretessealongamparamostraradesesperançadodilemadeJeremias em sua confrontação com Hananias.16 O verdadeiro profeta doSenhor é apresentado como um indivíduo deprimido porque a profecia deHananiasparecetãoboaquantoasuaprópria.TalvezopróprioJeremiasestejacomeçandoaduvidardasuaprópriaprofecia.

Mas essa perspectiva sobre o encontro dos dois rivais desconsideratotalmente os acontecimentos subsequentes.O Senhor não permitirá que seuservofielpermaneçanessetipodesituaçãoembaraçosa.Jeremiasreplicacomumaprediçãodecurtoprazo,quetodoopovopoderáconfirmar.Hananias,ofalsoprofeta,morreránessemesmoano (Jr28.16).Nãomaisdedoismesesdepois, Hananias morre (28.17; veja também 28.1). Seria possível imaginarmaneira mais dramática para confirmar o profeta verdadeiro e sua palavravindadoSenhor?Sugerir,comoofazemalgunscomentaristas,queessasduasfiguras proféticas estavam empatadas desconsidera totalmente a conclusãodesse confronto. Por meio do cumprimento dessa solene predição de curtoprazo,confirma-seaprofeciadelongoprazodeJeremias.EleéoverdadeiroprofetadeDeus.

Aomesmotempo,pode-semostraraimportânciadasprediçõesdelongoprazoparaopovocomparando-ascomsuascontrapartesdanovaaliança.Deacordo com o apóstolo Pedro, a promessa da vinda do Senhor traznaturalmente a pergunta: “Que tipo de gente vocês são?” (2 Pe 3.11). Oincontestável retorno do Senhor deve impelir o povo de Deus a umcomportamentosóbrioe justo.Seasprediçõesde longoprazocomrespeitoaoretornodoSenhorproduzumimportanteefeitoemtodooestilodevidadopovo da era da nova aliança, o mesmo princípio se aplica às predições delongoprazodasEscriturasdaantigaaliança.

Aafirmaçãodequemuitasprediçõesdosprofetasverdadeirosdeixaramde cumprir-se representa um sério obstáculo ao efetivo uso deste critério.17Certocríticoafirmaque“amaisnotávelfalhadeumapromessaprofética”seencontranolivrodeIsaías,“porqueestaobraprimapoéticaestápermeadadeprediçõesnãorealizadas”.18Prestandoatençãoàrepetidareivindicaçãodeque

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oDeusdeIsraeltinhaahabilidadedepredizerofuturo,considera-se“irônico”que “as grandiosas predições deste autor deixassem de se cumprir”.19 AprediçãodeIsaíasdequeodesertofloresceriacomoumjardimécitadacomoumdessesfracassosdoprofeta,juntocomsuasdeclaraçõesdequeaBabilôniaseriadestruídaequeCiroadorariaoDeusdeIsrael.20

Cada um dos vários exemplos usados para mostrar o fracasso daspredições bíblicas poderia ser considerado em termos individuais.21 Mas areferênciaàprofeciacomrespeitoaoflorescimentododesertocomoexemplodeprofecianãocumpridadeixaclaroqueestásendousadoumconceitomuitorígido e literal para medir o cumprimento das profecias. Admitimos quecontinuarãoexistindodificuldadesparasechegaraumentendimentoadequadode todas as predições dos profetas. Mas quando se reconhece o princípiobíblico do cumprimento último em uma consumação da nova aliança, sãopoucososproblemassériosquepermanecem.

Alémdisso,asugestãodequeasprediçõesdosprofetasforam“coligidaseeditadas”depoisquesecumpriram22solapadetodoarazãoderegistrarporescrito essas profecias. Uma profecia escrita que foi adulterada depois decumprido o fato perdeu sua importância como antecipação divinamenterevelada do futuro. A modificação no conteúdo subsequente ao eventoantecipado na predição torna suspeita a profecia toda. É de fato esquisito oraciocínioquepartedasuposiçãodequeoprofetaprecisaserconsistenteemsuas profecias se quiser manter credibilidade, mas depois afirma que acomposiçãodasprofeciasdepoisdoevento(profeciasqueforamregistradaspor escrito antes do evento) tornou possível a conciliação das váriasdeclarações.23Observa-se,ecorretamente,queumprofeta“nãopodiamudaratodahorasuamensagemesuasimplicações”seelequisesseseraceitocomoprofetaverdadeiro.24 Mas como, então, poderiam as palavras de umprofetaser consideradas válidas se o escrever dos seus discursos oferecia aoportunidadedeconciliarsuasdeclaraçõesaparentementedivergentes?

ÉaltamenteimprovávelqueosantigosescritosdosprofetasclássicosdeIsrael ficassem escondidos dos olhos do público, de forma que quaisqueralterações necessárias com o objetivo de conciliar declarações divergentespudessem ser feitas sem influenciar o respeito com que o profeta eraconsiderado. Pela própria natureza do caso, não seria fácil modificar osregistros escritos das declarações proféticas com a finalidade de fazerconciliaçãosemlançardescréditonassuaspredições.Seopropósitooriginaldo registro por escrito das palavras do profeta era estender para o futuro aautoridadeda sua palavra falada, entãoo registro inicial das declarações doprofeta teriade ser consideradocomosagradodesdeo inícioepor isso ser

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necessariamenteguardadodealteraçãooumodificação.Conservadaemsuaintegridadenaformaescrita,umaverdadeirapalavra

profética serve como maravilha progressiva que confirma a alegação doprofeta de que ele fala unicamente por direta revelação da parte de Deus.SomenteoDeussoberano,quetemumpropósitoparasuacriação,consegueconhecercomcertezaocursodoseventosfuturos.

Como terceiro critério para se distinguir entre o verdadeiro e o falsoprofeta,desdeoiníciofoimostradoedepoisreiteradoqueoprofetadeveriaserconsideradocomoverdadeirosomenteseelefalassedeconformidadecomas revelações prévias deDeus, especialmente conformevierampormeio deMoiséscomoafonteprincipaldaprofeciabíblica.Emvezdeprestaratençãoàs muitas vozes que pudessem vir de várias fontes, Israel devia guardar osmandamentosdoseuSENHORdaAliançaeobedeceràsuavoz(Dt13.4;vejatambémIs8.20).

A referência a guardar os mandamentos de Deus é uma alusão aoministériodeMoisésemparticular,poiseleerao legisladordeIsrael.25Suaprioridade sobre o profetismo subsequente é estabelecida pelo fato de seusmandamentos se tornaremo critério para julgar entre a verdadeira e a falsaprofecia. Sua lei registrada devia ter prioridade sobre as declaraçõesproféticasposteriores.Nãoseesperavaqueoprofetaintroduzisseatodahoraalgumacoisaanteriormentedesconhecidapelopovo.Emvezdisso,eledeviadeixar claro que estava firmado nos velhos fundamentos estabelecidos porMoisés.26 Mesmo que viver na base dos velhos mandamentos, estatutos eordenanças nunca pareça tão excitante quanto ouvir declarações novas,recentes, acompanhadas de sinais e milagres surpreendentes, as palavrasfaladas por Moisés tinham de receber preeminência. Elas forneciam a baseparatestartodasassubsequentespalavrasdeprofecia.

Neméprecisodizerqueeraesperadoquetantooestilodevidadoprofetacomo também suamaneira de falar se conformassem à lei estabelecida porMoisés. Seria inimaginável um profeta viver de forma imoral e ainda serconsideradocomoprofetaverdadeirodoSenhor.Assim,aganânciadosfalsosprofetas é severamente condenada pelos profetas verdadeiros de Israel (Mq3.5,11; Jr 6.13). Seu comportamento imoral profana o santíssimo lugar doSenhor (Jr23.10,11,13,14;29.21,23).Este terceiro teste,o testedeprofetizardeacordocomosmandamentosdeMoisés,serviadeguardaparaprotegeropovodapromoçãodaimoralidade,idolatria,ganância,injustiçaeviolência.

Poressarazão,aacusaçãocontemporâneademaucomportamentomoralporpartedosprofetasclássicosdeIsraelprecisaservistocomoumacríticaàsuafunçãocomoverdadeirosprofetasdoSenhor.Insinua-sequeIsaíasfez-se

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culpadodeações imoraismantendorelaçõessexuaiscom“aprofetiza”,combasenasuposiçãodequeessamulhernãoerasuaesposalegítima.27Deacordocom certa análise, ou Oseias agiu de forma imoral casando com umaprostituta,ouDeusagiudeformaimoraldeixandodeinformaraoprofetaaspropensõesdasuafuturaesposa.28AcircunstânciadocasamentodeOseiaséconsiderada como “ofensiva à sensibilidademoral”.29 Em resposta a isso, énecessário registrar um protesto contra essas acusações contra Deus e seusservos,osprofetas.

A importância da lei moral para a verdade na profecia tem especialrelevância nos tempos modernos. Sempre surgem situações em que umasupostapalavradeDeuscontradizarevelaçãodaleimoraldeDeusqueveiopor meio de Moisés. Temos notícia de que ditos conselheiros cristãos têmrecomendado relações extraconjugais como forma de aliviar tensõesconjugais.Combasenasalegaçõesdequeaprofecia jáestásendocumpridapelareconstituiçãonacionaldeIsraelnasterrasbíblicas,têmsidoamplamentedesconsideradas as restrições básicas dosDezMandamentos com respeito àpretensão da propriedade alheia. Mas as profecias, as promessas e oscumprimentosdaPalavradeDeusconformecomunicadospormeiodosseusprofetasnãopodeme jamaishaverãodecontradizera revelaçãomosaicadaleimoraldeDeus.

Deuscontinuamentefazprovadalealdadedoseupovocombasenoseucompromissocomessaantigapalavraprofética.Naverdade,arazãoporquesurgem falsos profetas é porque “o SENHOR da Aliança, vosso Deus, vosprova,parasaberseamaisoSENHORdaAliança,vossoDeus,detodoovossocoraçãoedetodaavossaalma”(Dt13.3ARA).Emcompletocontrastecomumconceito evolutivo da atividade profética, amais antigaPalavra deDeustorna-se o critério de verificação da autenticidade de toda profeciasubsequente.

Esses trêscritérios foramprovidenciadoscomoasbasesparadistinguirentre o verdadeiro e o falso profeta em Israel. Contradizer qualquer dessescritérios seria prova suficiente para estigmatizar a pessoa de uma vez portodascomofalsoprofeta.Seoprofetaincentivasseopovoaseguiroutrodeusque não fosse o Deus dos seus pais, se qualquer das suas profecias não secumprisse, se suas palavras ou sua vida discordassem do padrão moralestabelecido pela lei de Moisés, ele teria de ser considerado como falsoprofeta.

B.Critériosmodernosparadistinguirentreaverdadeiraeafalsaprofecia

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O moderno criticismo negativo julga esses critérios bíblicos comototalmenteinadequados.“Oqueéclaro”,dizBrueggemann,équeosprofetasde Israel fazem “uma reivindicação de autoridade que é impossívelcomprovar”.30 Crenshaw conclui que “todos [os critérios bíblicos para sedistinguir entre verdadeira e falsa profecia] são inadequados”.31 A própriafalênciadaprofeciaemIsraeléatribuídaaofracassodanaçãoemdesenvolvercritériosválidosparasedistinguirentreverdadeiraefalsaprofecia.Deacordocom essa perspectiva, a “fraqueza fundamental da profecia” era sua falta de“quaisquer meios de validar alguma mensagem que reivindicasse origemdivina”.32 Devido à conclusão de serem ineficazes os testes biblicamenteprescritos da verdadeira e da falsa profecia, propõem-se alguns outroscritériosimaginativos:

Propõe-se que um profeta que recebe suamensagem pormeio desonhos “é por essa mesma razão um falso profeta”.33 Mas essaconclusãosebaseianumafalsaanálisedapassagemquedescreveofalsoprofetacomoalguémqueexclama:“Eutiveumsonho,eutiveumsonho”(Jr23.25-28).Sonhosevisõeseramaformapadrãoderecebermensagensproféticas(Nm12.6).NapassagemdeJeremias,o profeta de Deus imita as reivindicações exageradas dos que sediziamprofetas; elenãoestáestabelecendoumcritériopara julgarentreverdadeirosefalsosprofetas.Propõe-se que o falso profeta anunciava “prosperidade” ao passoque o profeta verdadeiro anunciava “desgraça”.34 Mas esses doiselementosdebênçãoemaldiçãosurgemnaturalmentedaaplicaçãodosprincípiosbásicosdasaliançasdeDeusfeitascomIsrael(vejaocapítulo 5). Quanto mais cuidadosamente se considera o contextodasváriasdeclaraçõesproféticas,maisclarosetornaofatoqueosprofetas verdadeiros do Senhor apresentavam profecias tanto debênçãoscomodemaldições.Propõe-sequeo falsoprofetapodia ser identificado comoprofetacultual, ao passo que o profeta verdadeiro apresentaria críticasseverasaoculto.Masemborasejaincertooníveldoenvolvimentoproféticonoculto,osprofetasverdadeiroscertamenteparticipavamdas práticas de adoração estabelecidas de Israel. Pode-se chegar aumaconclusãosimilarcomrespeitoàsuposiçãodequeosprofetasverdadeiros não eram extáticos, ao passo que os falsos profetaseram extáticos.35 Falta evidência bíblica que identifique todos osfalsos profetas como extáticos e todos os extáticos como falsos

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profetas.36Propõe-sequeadistinçãoentreverdadeirosefalsosprofetassurgiude diferentes abordagens hermenêuticas das antigas tradições deIsrael.37Osdoisgruposdeprofetasapelavamàsmesmastradições.MasoverdadeiroprofetaviaDeusnãoapenascomoredentor,mastambémcomocriador,deformaqueDeuseraapresentadocomoooleiroeopovoeraobarro.MasofalsoprofetatratavaDeuscomoseelefossebarronaexecuçãodasuaobraderedenção,easpessoaseram oleiros que davam forma a Deus conforme quisessem. Essaanálise pode ajudar a entender como os falsos profetasdesenvolviam suas perspectivas a respeito de Deus como alguémque existia exclusivamente com o propósito de trazer a bênção deredenção ao povo.Mas ela desconsidera o consistente testemunhobíblico que os profetas verdadeiros de Deus baseavam suasafirmações em novas revelações recebidas diretamente do Senhor,não em conclusões alcançadas como consequência de certosprincípioshermenêuticosqueelesaplicassemaantigaspalavrasdoSenhorparasuaprópriaépoca.Propõe-sequeofalsoprofetapodiaseridentificadocomoapessoaquemostrasse incompetência no exercer o trabalho de profeta, aopassoqueoprofetaverdadeirolidavacomsucessocomaspressõesdasuavocação.38Masestabaseparasedistinguirofalsoprofetadoverdadeiroapenasimpõeumcritériomodernoaumcontextoantigo.Propõe-se que fatores sociológicos explicam a diferença entreverdadeiros e falsos profetas. Diferentes grupos da sociedadeisraelitatinhamideiasdivergentessobrecomoosprofetasdeveriamagir.Comoconsequência,“asdecisõesarespeitodaverdadeiraedafalsa profecia eram tomadas basicamente aplicando-se critériossociológicos para determinar quais reivindicações proféticas eramválidas e quais não eram”.39 Assim, Jeremias surge como um“profeta periférico”, criticando a classe social dominante da suaépoca,enquantoHananiaseraum“profetacentral”falandoemfavordas pessoas que ocupavam o poder (Jr 28).40 Mas a controvérsiaentreverdadeiroe falsoprofetaemIsraelnãosecentravanonívelhorizontal dos relacionamentos entre grupos sociais, embora osprofetas tivessempreocupações óbvias com respeito à área social.Emvezdisso,adisputa tinhacomofocoorelacionamentoverticalde Deus com as pessoas, já que um relacionamento mais íntegrocom ele haveria de influenciar o ambiente sociológico. O profeta

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verdadeiroemIsraelbaseavaseuministérioemumrelacionamentocom o autorrevelado Deus da aliança como a única formaapropriada de definir um relacionamento legítimo entre os váriosgruposdepessoas.

A atual proliferação de distinções hipotéticas entre verdadeira e falsaprofecia não consegue desenvolver critérios convincentes. Se presumirmosque a presença profética em Israel foi um fenômeno puramente naturalista,então será necessário continuar a busca por explicações naturalistas paradistinguir entre profecia verdadeira e falsa. Mas, se, conforme reivindica aEscritura,estavamocorrendoverdadeirasrevelaçõesdapartedeDeusatravésdos verdadeiros profetas de Israel, então os critérios bíblicos para sedistinguir entre profeta verdadeiro e falso se mostrarão perfeitamenteadequados.

Em suma, a perspectiva crítica negativa falha na apreciação damaneiraefetiva emque os critérios bíblicos operavamna vida corporativa de Israel.Esses critérios, corretamente aplicados, seriam totalmente adequados paraseparar os falsos profetas dos verdadeiros.Em resumo, simplesmente não écorreto falar do colapso da profecia em Israel pelo fato de não existiremcritériosadequadospararesolveroconflitoentreverdadeiraefalsaprofecia.Deus jamais perdeu sua habilidade de comunicar sua palavra de revelaçãosempre que quis fazê-lo. Na verdade, a profecia na forma da antiga aliançachegou ao fim aproximadamente 400 anos antes do nascimento de JesusCristo. Mas esse encerramento não ocorreu pela insuficiência dos critériosparasedistinguirentreverdadeiraefalsaprofecia.Quandoterminouahistóriadaredençãoemtermosdoseventosredentivosdaantigaaliança,porocasiãodo retorno de Israel do exílio, cessaram as palavras interpretativas dosprofetas.Mas, durante a época da antiga aliança, os critérios originais paratestaraprofeciaforamtotalmenteadequados.

Alémde fornecer critérios para se distinguir entre verdadeiros e falsosprofetas,oSenhor tambéminstituiuumapenalidadeparaafalsaprofeciaemIsrael.Ainstituiçãodapenademortereforçaaseriedadedaofensadoprofetamentiroso (Dt 13.5). Pelo fato do profeta em Israel ocupar tão importanteposição, a morte tinha de ser a penalidade para aqueles que presumissemocupar esse ofício sem um chamado legítimo da parte deDeus.O rei ou osacerdotenãoprecisavamnecessariamentemorrerporabusardeseuofícioemIsrael. Mas o falso profeta tinha de morrer. A razão para a severidade dapuniçãocorrespondeaodanoquepoderiaserfeitoaopovodeDeuspormeiodo falso profeta. ComoCalvino disse a respeito de ummomento crítico na

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históriadaigreja:“Quandosetomaaliberdadedeensinarqualquercoisaqueagradeaoshomens,areligiãotodanecessariamentesecorrompeu...deformaquenãohádiferençaentreluzetrevas...aigrejanãoficaráempéanãoserqueosfalsosmestressejamimpedidosdetransformaraverdadeemmentira”.41

Osgovernoscivisdehojenãodevemtentarexerceramesmafunçãodogoverno teocrático da nação de Israel conforme ela era administrada sob asimbólica formada antiga aliança.Comoconsequência, não se deve esperarqueosgovernosatuais,querepresentamváriastradiçõesreligiosas,exerçamjuízosobreaspessoasquereivindicamserprofetas,dizendoquaisdessessãoverdadeirosequaissãofalsos.Nemdevemosgovernosatuaisexecutarapenademorte contra as pessoas que forem julgadas como falsos profetas.Mas aigreja, sob a nova aliança, deve exercer a supervisão dos seusmembros deformaresponsável,protegendo-osdepessoasquefalsamentealegamterumapalavra inspirada e infalível da parte do Senhor. A disciplina por parte daigreja deve incluir exortação, admoestação e, se necessário, excomunhão dapessoaquefalsamenteousafalarumapalavradapartedoSenhor.

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V.Asconsequênciasdoministériodosverdadeirosedosfalsosprofetas

“Falaréfácil”éumtruísmoquereforçaofatoqueaspalavrasvêmmaisfácildoqueasobras.Masfalarnuncaéfácilparaapessoaqueestánaposiçãode profeta do Senhor. Tanto para o ouvinte como para aquele que fala aspalavrasdoprofetatrazemconsigoamplasconsequências.

A.ParaaspessoasdeformageralAfalsaprofeciatinhaumefeitoimediatotantonaspessoasboascomonas

más: “Vocês, mentindo, desencorajaram o justo contra a minha vontade, eencorajaram os ímpios a não se desviarem dos seus maus caminhos parasalvaremasuavida”(Ez13.22NVI).

É triste pensar que alguém tentando fazer a vontade de Deus sejadesencorajadoporumapessoaquesupostamenterepresentaopróprioSenhor.Masopoderdoofícioproféticopermiteàpessoapromoverexatamenteessetipo de desencorajamento. Ao mesmo tempo, o profeta pode interferir nosensodepecadodaspessoas,encorajando-asanãosevoltaremdosseusmauscaminhos, e dessa forma as pessoas talvez percam uma oportunidade de severemlivresdopecadoedassuasconsequências.Alémdisso,afalsaprofeciatem o efeito de poupar aqueles que deveriam termorrido por causa do seupecado e matar aqueles que não deveriam ter morrido (Ez 13.19). Umatremenda responsabilidade está sobre os ombros do profeta. Com suaspalavras,eleexerceopoderdavidaedamorte.

O profeta Jeremias viu a operação desses efeitos nas pessoas comoresultado das palavras dos falsos profetas. Os profetas de SamariadesencaminharamopovodoSenhor,eosprofetasdeJerusalém”Encorajam[encorajavam] os que praticam o mal, para que nenhum deles se converta[convertesse]desuaimpiedade”(Jr23.13,14NVI).Comoconsequência,a”aimpiedadeseespalhouportodaestaterra”(23.15).Otrabalhodoprofetanãoéassuntodepoucaimportâncianavidadanação.Eletemprofundoefeitoparaobem ou para o mal. Se recusar-se a confrontar o povo com seu pecado, oprofetapodeenchê-lode falsasesperançasdepaze segurançaque jamais serealizarão(23.16,17).

As consequências da falsa profecia para a nação vão muito além doencorajamento dos ímpios e do desencorajamento dos justos. Não ésimplesmentequeaquiealiumaboapessoavaimorreremsuapersistêncianaverdade porque os falsos profetas usam sua influência contra ela. Não, ofuturo da nação inteira depende das palavras dos profetas verdadeiros e dos

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falsos. Se os falsos profetas tiverem autorização de continuar, amaioria dopovocomopassardotempocreránelesetodaanaçãosofreráacalamidade:Porisso,porcausadevocês,Siãoseráaradacomoumcampo,Jerusalémsetornará ummonte de entulho, e a colina do templo, ummatagal” (Mq 3.12NVI).Mesmoamaissagradadasinstituiçõesdivinasserádevastadaporcausadainfidelidadedosfalsosprofetas.Elesnãoconseguemviversemaaprovaçãodos homens, e assim eles não viverão.Mas, infelizmente, a nação comoumtodosofrerátotaldevastaçãojuntamentecomeles.Deusvaiseesquecerdoseupovo, vai expulsá-lo da suapresença, e trazer sobre ele eternadesgraçaquenuncamaisseráesquecida(Jr23.39,40).

EssamaldiçãoporcausadoenganodosfalsosprofetastevesuaconcretarealizaçãocomoexíliodeIsrael.DeacordocomasLamentaçõesdeJeremias:

Asvisõesdosseusprofetaseramfalsaseinúteis;

elesnãoexpuseramoseupecadoparaevitaroseucativeiro.

Asmensagensqueeleslhederameramfalsaseenganosas.(Lm2.14NVI)

Mas a verdadeira palavra de profecia tem a capacidade de nutrir,alimentar e refrigerar a alma do pecador. Em contraste com a impotente eineficaz palavra do falso profeta, a Palavra do Senhor, mesmo faladabrandamente pelo profeta verdadeiro, é como fogo e martelo (Jr 23.29). AverdadeiraPalavradoSenhor tememsiopoderdeconsumiroperversodamesmaformaqueumachamaconsomeapalha.Comoummartelorebentaarocha, assim a palavra do profeta verdadeiro quebranta o coração do maisendurecidopecador.

Aigrejahojeprecisaestarplenamentecientedosperigosassociadosaumministério cuja motivação é aprovação pessoal por parte dos nobres e dopovo.Pastores,pregadoresepresbíterosdevemconsideraroefeitodevastadorem sua igreja provocado pela infidelidade para com a Palavra de Deus.Tolerar em si mesmo ou nos outros a infidelidade à Palavra do SenhorsignificaruínaparaopovodeDeus.

B.ParaofalsoprofetaDeus tem seu próprio encontromarcado com os falsos profetas que se

atrevemafalaremseunome.Eletornaráescorregadioocaminhodeleseosbanirá para a escuridão (Jr 23.12a).O sol se porápara os falsos profetas, eeles serão dominados pela escuridão (Mq 3.6). Eles serão envergonhados,sofrerãodesgraça,esairãocomo rostocoberto (3.7).Deusestácontraeles.

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Serão excluídos do conselho do povo de Deus e não serão listados nosregistrosdacasadeIsrael.ComoageraçãodescrentedaépocadeMoisés,aosfalsosprofetasnãoserápermitidoentrarnaterraprometidaenãoparticiparãodasbênçãosdoSenhor(Ez13.8,9).Nofinal,DeusespalharáasuairasobreosprofetasquepintaramdebrancoasparedesdeJerusalém,encobrindoopecadodaspessoasemvezdeconfrontá-los(13.15,16).ExatamentecomoHananias,ofalsoprofetaqueseatreveuacontradizerJeremias,elesterãomorteprecoce.Semaías e seus descendentes serão punidos de tal forma que não ficaráninguémdasuadescendênciaentreopovo(Jr29.32).

Nãodevemosesquecerqueafalsaprofeciainvariavelmenteproduzseusefeitos no caráter moral do próprio falso profeta. O Senhor revela que osfalsos profetas Acabe e Zedequias “cometeram loucura em Israel”. Eles“adulteraram com as mulheres de seus amigos” e ”em meu nome falarammentiras,queeunãoordeneiquefalassem.”(29.23NVI).Comoconsequência,elesserãoassadosnofogopeloreiNabucodonosor,eseusnomessetornarãoumprovérbiodezombariaentreopovo(29.21,22).

Assim, a advertência da Palavra de Deus se aplica a todos aqueles quepretendem profetizar falsamente em nome do Senhor. Essa advertência sedirige especificamente aos que forem tentados por vantagens pessoais adeclararcertascoisascomoaPalavradoSenhor,coisasquenãotiveramsuaorigememrevelaçãodivina.

C.ParaoverdadeiroprofetaE quanto ao verdadeiro profeta? O que ele pode esperar como

consequênciadasuafidelidadeàPalavradoSenhor?Quetemapalhacomotrigo?–perguntaoSenhor(Jr23.28c).Apalha,ouafalsaprofecia,nãotemsubstância.Elanãoconseguenutriraalmadohomem.Oferecerapalhaouafalsa profecia em lugar do trigo da verdadeira Palavra deDeus é privar dealimentoofamintopovodoSenhor.Emcontraste,overdadeiroprofetapodeesperar algum grau de satisfação do seu ministério. Por meio das suaspalavras,ofamintopovodeDeusseráalimentado.

Mas o profeta verdadeiro também precisa esperar outras coisas para simesmo.Oprofetaverdadeiropode esperar ossosque trememeumcoraçãoquebrantado por causa doSenhor e da sua santa Palavra (Jr 23.9). Ele podeesperar que o desafiem, mandem calar a boca e o mandem para casa (Am7.12,13).Eleseráacusadopublicamenteporautoridadesdiantedeautoridades(Jr 26.11). Ele precisa sofrer falsa acusação e ameaças contra sua vida (Am7.10;Jr26.11).Àsvezes,elepodeesperarabusofísicoepossivelmenteatéamorte.Devezemquando,elepodeatéserpoupadodaameaçademorte,como

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o foram Jeremias eMiqueias (Jr 26.17-19,24). Mas em outras ocasiões eletalvez tenha de fugir por sua vida para outros países e ainda assim serperseguidoatéamorte,comofoicomoprofetaUrias(26.20-23).TodasessascoisasoprofetadoSenhordeveesperar.

MaseletambémteráaalegriadiáriadecomungarcomoSenhorecomseu povo verdadeiro. Ele terá a Palavra do Senhor como um fogo em seuíntimo,despertandosuaalmaedando-lheumsensodemissão.ElepodeveropovodeDeusprestaratençãoàsuapalavra,arrepender-sedosseuspecados,efazeravançaraobradoSenhor(Ag1.12).Nessescasos,eleteráoprivilégiode entregar uma mensagem de encorajamento e bênção ao povo (1.13,14).TodasessascoisasvirãocomoconsequênciadeleexerceroofíciodeprofetaverdadeirodoSenhor.

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VI.Conclusão

O povo de Deus em todas as épocas tem convivido com profetasverdadeiros e com profetas falsos. Um grupo de vozes proféticas lhes falaseveramente,masnofinaléumabênçãoparaeles.Ooutrogrupoosbajulaeafaga,mascomopassardotemposervecomocausadasuadestruição.

Éevidentequeopapeldoprofeta,queéfalaraprópriaPalavradeDeus,nãopodeservistosimplesmentecomoumtrabalhoqualquer.AspalavrasdosprofetasverdadeirosefalsosserãoopontocrucialemquesetravaráabatalhaentreSatanáseCristo.Oápicedacontrovérsiaedoconflitovãoseconcentrarnoministériodapalavraproféticaedareaçãodopovoaessapalavra,poisabatalha entre Deus e Satanás em seu nível mais básico centra-se naproclamação da verdade.Nesta batalha, é precisomanter a proeminência deMoisésemrelaçãoatodososprofetassubsequentes.Asualegislaçãotorna-seo teste último entre o que é verdade e o que é falso. Assim, o profetaverdadeirodoSenhorocupaumaposiçãodecrucialimportânciaparaopovodeDeus.

1Umbrevemasproveitosoresumodadiscussãoarespeitodaverdadeiraedafalsaprofeciaencontra-seemVanGemeren,InterpretingthePropheticWord,61-67.VejatambémSanders,“HermeneuticsinTrueandFalseProphecy”,21-29.

2Crenshaw(PropheticConflict,78)ousaatribuiroerromoralaDeus,fazendoqueElesejaoautordomalaocriaraserpente.EledizqueaafirmaçãodequetudooqueDeuscrioueramuitobomé“umaespécie de zombaria frívola”. Quando ousa fazer essas acusações contra Deus, ele avança muitoalémdotestemunhodaEscrituracomrespeitoàorigemdomal.Umsignificativoecuidadososilênciofaz separação entre o registro de que tudo aquilo que Deus havia criado era “muito bom” e oaparecimentodasedutoraserpente.

3Ibid.,78,79.

4Ibid.,77.5Ibid.,76.

6Émelhor considerar essas imitações dosmilagres deMoisés como truques ou ilusões, e não comogenuínastransformaçõesdasordensnaturaisdacriaçãodeDeus.

7AspalavrasusadasnoNovoTestamentoparasinaisemaravilhassão idênticasàsqueseencontramemDeuteronômio13.1naversãodaSeptuaginta.

8Crenshaw,PropheticConflict,55,56.9Ibid.,55.

10Ibid.,40,41.11VejaRobertson,Nahum,Habakkuk,andZephaniah,264,265.

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12Childs,OldTestamentTheologyinaCanonicalContext,69.

13VejaRobertson,ChristoftheCovenants,252-269;vonRad,OldTestamentTheology,2.342-356.14Crenshaw(PropheticConflict,14)sugerequeoprofetatalveztivessede“andarnofiodanavalhaentreacertezaeadúvidatodososseusdias”.

15Ibid.,50.16 Veja Brueggemann, Theology of the Old Testament, 631. Ele diz que “os eruditos chegaram àconclusão”dequenãoexistem“critériosobjetivos”paradecidirentreasreivindicaçõesdeJeremiaseasdeHananias.

17Crenshaw,PropheticConflict,51,52.18Ibid., 51n. 39. “Louvorpífio”descrevede formaapropriada esse elogio ao livrode Isaías comouma “obra prima poética” que, não obstante, está “permeada de predições não cumpridas”. Paraapoiar sua opinião de que os escritos do profeta estão permeados de profecias não cumpridas,CrenshawcitaE.Osswald,oqualafirmaque,àvistadagrandequantidadedepalavrasproféticasnãocumpridas,afédosprofetas“eraumafépassíveldeerros”.

19Ibid.,52n.41.20Ibid.,51n.39.

21Crenshawregistradozepassagensquesupostamentedemonstramonãocumprimentodeprediçõesdevários profetas (Ibid., 51 n. 39). Sua insistência numa visão de cumprimento literal é visto quandoinclui Ezequiel 40-48 em sua lista de profecias não cumpridas. Ele também encontra defeito naprofeciadeHulda(2Rs22.18-20),dizendoqueelapredissequeoreiJosiasseriarecolhidoaosseuspaisempaz,oquenãoaconteceu.MasquandoolhamosarealprofeciadeHulda,torna-seevidentequeaprofetisanaverdadepredissealgocompletamentediferente.Josiasseriarecolhidoaosseuspais(verdade), ele seria enterrado em paz (também totalmente verdade), e seus olhos não veriam odesastrequeDeustrariasobreJerusalém(tambémverdade).Éprecisonotartambémque,comtodaeditoraçãosupostamenteacontecendo,seriamuitoestranhoquealgumredatoraolongodocaminhonãotivessepercebidoecorrigidoosupostoerronoregistrodosReis.

22Childs,OldTestamentTheologyinaCanonicalContext,140.

23Clements,OldTestamentProphecy,210,211.24Ibid.,210.

25 Clements, Prophecy and Tradition, 52 mostra que ser como Moisés significava que o profetaverdadeiroadequavaseuensinoàToráentregueporMoisés.

26Fairbairn,InterpretationofProphecy,14,15.

27Crenshaw,PropheticConflict,58.28Ibid.,57.

29Ibid.,58.30Brueggemann,TheologyoftheOldTestament,631.

31Crenshaw,PropheticConflict,61.32Ibid.,103.

33Ibid.,54.Crenshawagedeformaapropriadalimitandoessaafirmaçãoemvistadaamplapresençadesonhosevisõesentreosprofetasverdadeirosconformesevênaliteraturaprofética.

34Umsingulardesenvolvimentobaseadonestadistinçãopropostaentreverdadeirose falsosprofetassevênamaneiracomovanderWoudeabordaMiqueias4 .9-5.1em“MicahinDispute”,255.Emborao texto deMiqueias não contenha indicadores formais de um diálogo entre os que falam, van der

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Woude atribui as bênçãos aos falsos profetas e asmaldições aos verdadeiros profetas.Na opiniãodele, esta análise justifica considerar a passagem toda como pré-exílica. Não há necessidade desuposiçõesdessetipoparaestabelecerumadatapré-exílicaparaestaprofecia,tendoemvistaqueasbênçãosprometidaseasameaçasdemaldiçõesencontradasnasalianças,jáerambemconhecidasemIsraelmuitotempoantesdaépocadeMiqueias.

35VejaMowinckel,“’Spirit’andthe‘Word’”.36Wilson,ProphecyandSociety,49.

37Sanders,“HermeneuticsinTrueandFalseProphecy”,37.SandersmostrasuahermenêuticabarthianaquandoafirmaqueosReformadoresensinavamque“aBíbliatornou-seaPalavradeDeusemnovoscontextosunicamentequandointerpretadadeformadinâmicapeloEspíritoSanto”(29).

38Coggins,“Prophecy–TrueandFalse”,80-82.

39Wilson,SociologicalApproaches,77.40Wilson analisa o profeta como uma figura humana intimamente relacionada a um ambiente socialespecífico (Prophecy and Society, 3). Quando considera a localização social da profecia,Wilsonnotaqueemtodasociedade“intermediários”serelacionamcomalgumaespéciede“grupodeapoio”queos capacita a funcionarna sociedade (87).Eledesenvolve seupontodevista sobre aprofeciabíblica baseando-se amplamente na ideia de uma tradição efraimista de profecia como a únicavariedade de profecia que pode ser claramente identificada nos textos bíblicos. Ele associa essatradição efraimista com a história deuteronomista, a parte Eloísta do Pentateuco, e os escritos deOseiaseJeremias,umavezquetodasessasobrastêmtradiçõeseperspectivasteológicasemcomum.Ele identifica essa tradição comum como uma “perspectiva israelita do norte” (17), mas não dánenhuma prova dessa visão combinada de profecia e de sua origem efraimista, com exceção decolocar em notas de rodapé algumas fontes que, examinadas, parecem dar pouco suporte à suahipótese. Como argumento para a ideia de uma comunidade profética efraimista, ele afirma que otítulonabi “é uma característica da tradição efraimista” (256).Mas prontamente ele admite que otítulo também era ocasionalmente usado por autores judaístas, e então segue enumerandomais desetenta dessas exceções judaístas (63). Depois de pressupor uma tradição efraimista de profecia,Wilson fala dessa tradição do norte como geralmente periférica à linhagem principal da elitegovernantede Israel.Mas,pelo fatoda tradição ser identificadacomseuprópriogrupo social, elamantém a capacidade de funcionar em sociedade (17). Oseias é identificado como um profetaefraimistaperiférico, influenciadoporDeuteronômio, e aparentemente apoiadopelogrupoquedavacontinuidade à tradição efraimista (230). Por outro lado, Isaías é apresentado como um importanteexemplo do grupo judaico de profetas. Nessa qualidade, ele aparece como um profeta central,encorajando a estabilidade com base nas antigas tradições. Mas às vezes Isaías também aparececomo um profeta periférico, criticando severamente o culto. Para explicar essa “figura ambígua”,WilsonsupõequeIsaíaspodetersedeslocadoentreváriosgruposdeapoio(272,273).Umasimplesleitura da descrição bíblica da função dos profetas de Israel deixa exposto o problema básicoassociado com essa explanação sociológica do ministério deles. Esses homens encararam reis,profetasepessoassemdarnenhumaevidênciadedependeremdealgumgrupodeapoio.PelofatodeestaremconvictosdequevinhamcomumapalavradapartedoSenhorsoberanodocéueda terra,elesencontravamseuapoioforadoambientedosagrupamentossociaisnormais.

41Calvino,TwelveMinorProphets,5.380.

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ALIANÇAE LEI

NAPROCLAMAÇÃO DOS PROFETAS

OSPROFETAS de Israel tinham a responsabilidade de condenar o pecado dosseus contemporâneos e chamá-los para uma vida de fé e santidade. Era osolenedeverdoprofetacensuraravidadopovodeDeus,etambémanunciarpalavrasdeesperança.OsjuízoseasbênçãosdeDeuseramosgrandestemasdosprofetas.

Mascombaseemquêosprofetascondenavamospadrõesculturaisdasuaépoca?OquelhesdeuaideiadequeemalgumtempofuturoabênçãodeDeushaveria de retornar? Será que as reprovações deles se baseavam em suaspróprias concepções pessoais de certo e errado? Será que suas predições arespeito do futuro tinham como fundamento o seu próprio discernimentopolítico? Será que os profetas estavam associados com determinadacomunidade social que determinava sua visão de mundo? Esses assuntoslevantamaquestãodofundamentobásicodoministériodosprofetas,e,maisespecificamente, a função da lei e da aliança na mensagem dos profetas deIsrael.Aesserespeito,hátrêselementosquemerecemconsideraçãoespecífica.

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I.Arelaçãodaaliançaedaleicomosprofetas

A.OtestemunhobíblicoA questão do relacionamento da aliança e da lei com os profetas não

parece algo difícil. Conforme as próprias Escrituras testificam, a lei e aaliançadãobaseatodaaperspectivadosprofetasquandoanalisamopassado,opresenteeofuturodopovoaquemelesfalam.AleireveladaporDeusnoSinaieaaliançacomseupovoqueretrocedeàépocadospatriarcasforneciaaosprofetasopadrãopeloqualelesousavamcondenaropecadoeprometerredençãoparaanaçãodeIsrael.SemosconceitosfundamentaisdaleideDeuse da sua aliança, os profetas teriam ficado totalmente à deriva nummar derelativismo.Nenhumaoutrabasepodeexplicaradequadamenteamaneirapelaqualosprofetascombinarammensagensdejuízoebênçãounscomosoutrosdeformatãoseguraeconsistente.

Estarespostasimples,porémnãosimplista,àquestãodorelacionamentodaaliançacomaleiparaosprofetasocupaumlugardedestaquenahistóriadainterpretação.De acordo comuma tradição judaicaque resumeoministériodosprofetas:“[Osprofetas]nãodiminuíramnemacrescentaramnadaaoqueestáescritonaTorá,excetoanarraçãodorolodeEster”(BabylonianTalmud,tractateMegillah14a);“Moisésjáfaloutodasaspalavrasdosprofetas,e‘tudoo que foi profetizado depois vemda profecia deMoisés’” (MidrashExodusRabbah42.8em32:7).1

Emmuitosaspectos,aintroduçãodecincopáginasqueCalvinoescreveuemseucomentáriosobreIsaíasoferecemaiscompreensãodoministériodosprofetasde Israeldoqueascentenasdepáginasdasmodernascontrovérsiascom respeito às fontes das mensagens proféticas: “Costumam-se dar muitasopiniõesecriarmuitastesesarespeitodoofíciodosprofetas.Mas,emminhaopinião,o caminhomais curtopara tratar esse assunto é seguiro cursodosprofetasatéaLei,deondeelesderivavamsuadoutrina. ... [Poisosprofetas]nãodizemnadasenãooqueestárelacionadocomalei”.2Calvinoprossegueesboçandobrevementeocentrodoministérioproféticoemtrêscategorias.Emcadaárea,elemostranaleiasfontesdoministérioprofético:(1)osprofetasexplicamdemaneiramaisplenaemtermosdemandamentosaquiloquetinhasido enunciado de forma breve nas duas tábuas da lei; (2) os profetasdesenvolvem de maneira específica as ameaças e promessas que Moisésproclamouem termosgerais; e (3)osprofetas “expressamdemaneiramaisclaraaquiloqueMoisésdizdemaneiramaisobscuraarespeitodeCristoesuagraça”.3

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Assim,quandoosprofetasexpõemaIsraelseusdeveresmorais,elesnãointroduzemnadanovo;emvezdisso,elesexplicamaspartesdaleiqueforammalcompreendidas.Comrespeitoàsameaçasdejuízo,osprofetasdescrevememdetalheaquilodequealeifalouemtermosgerais.Porexemplo,Levítico26faladodiaquandoavidadanaçãodesobedienteestaráporumfio,aopassoqueosprofetasvãoalémdaleieespecificamaAssíriaeaBabilôniacomoosagentesdojuízodivino.4Emtermosdasbênçãosprometidas,aleideclaraqueDeus trará Israeldevoltaà sua terramesmodepoisdeEle tê-losdispersado(Dt 30.4), mas os profetas são mais específicos quando anunciam que oretornoocorrerádentrode70anos.5

Embora energicamente contestada, essa dependência dos profetas doministério superior da lei recebe repetida confirmação de muitos gruposdivergentes.Warfieldafirmaque“doSinai,eunicamentedoatoderevelaçãoocorrido no Sinai” podia ser criada a expectativa da vinda de Deus, queencheráomundocomsuaglóriaassimcomoo feznoSinai.6Brightvêumreflexo das mais antigas tradições de Israel na ligação da experiência daentregadaleicomorelacionamentodaaliançacomIsrael.Elemencionaqueédito que os filhos dos israelitas vão perguntar: “Que significam estespreceitos, decretos e ordenanças que o SENHOR da Aliança... ordenou?” Arespostadeveser:“Fomosescravos...noEgito;masoSENHORdaAliançanostiroudelácommãopoderosa...[Ele]nosordenouqueobedecêssemosatodosestes decretos... para que sempre fôssemos bem-sucedidos e que fôssemospreservadosemvida...”(Dt6.20-24NVI).Brightpergunta:“Oquepoderiasermaisclaroque isso?”AaliançadeDeus forneceocontextohistóricoparaaentregadaleiesetornaabaseparaoministériodosprofetas.ElesrecorremtantoàaliançacomoàleiquandoexplicamaIsraelasalternativasdabênçãoeda maldição que estão diante deles.7 Clements diz: “Desde o começo, ainstituiçãodaaliançaporpartedeYahwehcontinhaumcódigobásicode lei,queexpressavaasobrigaçõesimpostasacadaisraelita”.8Clementsafirmaqueos profetas não criaram uma nova religião nem introduziram uma novamoralidade: “Sem o fato anterior da aliança, não teríamos condições decompreenderosprofetas”.9Deformasemelhante,vonRaddizque“sempredenovo”podem-severosprofetas“aplicandoprescriçõesdavelha leidivinaàsituação”.10 Childs, embora fale em certo momento do “longodesenvolvimento que tanto expandiu como restringiu os mandamentos” doDecálogo,11argumentavigorosamenteemfavorda“sequênciatradicional”daleiprecedendoosprofetas,declarandoqueé“inconcebível”reverteraordemcanônica.12Brueggemannafirmaque“épossíveldefenderaideia...dequeas

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acusações [que os profetas dirigiam contra Israel] tiveram sua origem dosvelhosmandamentosdoSinai”.13

Assim, parece que a questão está claramente resolvida.De acordo comAlt,aúnicatradiçãoexistentesobreasorigensdaleiisraelitaencontra-senoslivros canônicos do Antigo Testamento. A explicação que eles fornecem“parece, à primeira vista, consistente e inequívoca”: “De acordo com essatradição,todaordenançalegalobservadaemIsraelfoiestabelecidapeladivinavontadedeYahweh,efoireveladaporelenaúltimageraçãoantesqueastribossaíssemdodesertoparaestabelecer-senaPalestina... naaliançaentreguepormeiodeMoisés”.14Dessa forma, é amplamente reconhecidoque, de acordocom o testemunho bíblico a seu próprio respeito, oministério dos profetasapoiava-sefirmementenarevelaçãodaleinoSinaienaaliançafeitacomospais. Essas experiências históricas prévias prepararam o terreno para ascondenações e os encorajamentos emitidos subsequentemente pelos váriosprofetasdeIsrael.

B.TradiçãohistóricareconstruídaMas,naarenadodebateacadêmico,arelaçãodaleicomoprofetanãoé

tão clara como se pode deduzir do testemunho bíblico. A tradição históricareconstruída tem passado por um longo processo de debate que explica opresenteestadodadiscussão.

Épreciso reconhecer que foiWellhausenquem tornoupopular no finaldo século XIX a reconstrução da história do profeta em relação à lei.WellhausenadotouateoriadeGrafdequeosprofetasnaverdadeprecederama lei na religião de Israel, e ele fez algumas afirmações chocantes em seuresumo do efeito da lei na elevada visão de Deus como originalmenteencontrada nos profetas: “A profecia morreu quando seus preceitosalcançaramaforçadeleis;asideiasproféticasperderamsuapurezaquandosetornarampráticas”;“oCriadordocéuedaterra torna-seoadministradordeuminsignificanteplanodesalvação;oDeusvivodescedoseutronoparadarlugarparaalei”;“aleiseinsereemtodolugar;elaordenaebloqueiaoacessoao céu”.15 Dessas observações, torna-se claro que Wellhausen não seinteressavadeformaneutrapelaquestãoacadêmicadarelaçãoentrealeieoprofeta.Emvezdisso,eleviaaleinaEscrituracomoalgototalmentenegativo,algo que punha em risco a própria essência da religião pura. Embora nãofossem totalmente claros os seusmotivos, pode-se notar queWellhausen nofinal das contas renunciou ao ensino teológico porque sua função de dartreinamentoparaoministériodoevangelho“pesava tremendamente”emsuaconsciência.16

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AindiscriminadaseparaçãoqueWellhausen fazentrea leieosprofetasnão conseguiu resistir à prova do tempo. Críticos subsequentes analisaramcomo excessivamente simplista sua tese de que os profetas eram gêniosreligiosos criativos que trabalhavam completamente à parte de uma leianterior.MesmosefossenecessárioadmitirquematerialreferenteaocultoeaessênciadolivrodeDeuteronômioprecisasseserdatadomuitomaistardequeaépocadeMoisés,umagrandepartedomaterialrelativoàleinoPentateucopodiaretrocederaoperíodomosaico.17

Ofulcrode todaahipótesedeWellhauseneraa conexãodaorigemdolivrodeDeuteronômiocomadescobertado“livrodalei”nosescombrosdotemplonosdiasdo rei Josiasemcercade621a.C.A tesedeWellhauseneraque a reforma de Josias se concentrou em leis que diziam respeito a umsantuáriocentralquenãoestavapresentenalegislaçãoanterior.Compalavrascativantes, Wellhausen declara sem rodeios: “A respeito da origem deDeuteronômio,existemenosdúvidaainda;emtodososcírculosemquesedávalor a resultados científicos, reconhece-se que esse livro foi composto namesma época emque foi descoberto”.18Comessa firmedeclaração elevadaacima e além de qualquer discussão, o restante do material do Pentateucopoderiaserorganizadonumasequêncialógica,evolutiva.

Uma crítica a essa hipótese todo-inclusiva afirma francamente que adescoberta do livro da lei na época de Josias na verdade não poderia nuncaesclareceroassuntodadataçãodolivrodaleideDeuteronômio,“umavezquenão fica claro quanto mais velho era o livro da lei na ocasião em que foiredescoberto”.19 Essa conclusão óbvia deveria ter sido reconhecida muitasdécadas atrás. O simples relato do descobrimento de um livro da leidificilmenteésuficienteparaindicaraidadedolivrooudoseuconteúdo.Umadeclaração mais sincera de uma razão fundamental, mas muitas vezes nãomencionadaparadataroDeuteronômiobemdepoisdoministériodosgrandesprofetasdoséculoVIII,éapresentadopelomesmoautor:“AlgumaspartesdoDeuteronômionãopodemtersidoescritasantesdoreinodoreiJosias,vistoquefazemalusãoàscatástrofesquesobrevieramaJerusalémnoséculoVIa.C.(e.g., Dt 29.21-28)”.20 Implícitas nessa conclusão, encontram-se um grandenúmerodehipótesesnão comprovadas.Aafirmação contradizdiretamente aperspectiva mais ampla do movimento profético em Israel com respeito aofatodequeoDeusquecriouestemundocomumpropósitotambémdirigiráos acontecimentos de forma que cumpram seu propósito. Esse Deusdeterminou revelar certos aspectos do seu plano e propósito a indivíduosescolhidosporeledeformaquefossemsuastestemunhasnestemundo.

Essencialmente, duas alternativas têm sido propostas em substituição à

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reestruturaçãodemasiadosimplistadeWellhausenda relaçãoentrea leieosprofetas.Nenhumadessasduasopiniões,que trabalhamemdireçõesdecertaformacontrárias,temrecebidoapoiouniversalnaarenadocriticismobíblico.

Porumlado,propõe-sequeolivrodaleideDeuteronômiorepresentaodocumento fundamental de uma abrangente filosofia da história que seexpressa no grupode livros de Josué até 2Reis.O autor (umúnico) desseslivros históricos tinha como intenção “ensinar o verdadeiro significado dahistóriadeIsraeldesdeaocupação[sobaliderançadeJosué]atéadestruiçãodavelhaordem[noexílio].Osignificadoqueeledescobriu foiqueDeusdeforma reconhecível trabalhou nessa história, continuamente opondo-se aoaceleradodeclíniomoralcomadvertênciasepunições,e, finalmente,quandoessassemostraramineficazes,comacompletaaniquilação”.21Aoproporessahipótese, Noth indica apropriadamente que essa perspectiva da história deIsraelconformeapresentadanoslivrosdeJosuéaté2Reissefundamentaemincontáveis detalhes específicos, não meramente em afirmações vagas. Nãoapenas uma vez ou outra,mas repetidas vezes esse ponto é comprovado.OSenhor de Israel reforça a lei da sua aliançapormeiodessahistória do seupovoescolhido.

Pareceria completamente óbvio que o livro de 2 Reis tivesse sidocomposto depois do exílio do reino de Judá em 586 a.C., uma vez que eleregistra os eventos da história de Israel até aquela época. Mas quando sepropõequeolivrodeDeuteronômiopertenceaesseperíodogeraloupoucoantes do exílio de Israel, todo o argumento dos “incontáveis detalhesespecíficos” que permeiam os livros dos Reis é fortemente contestado.Repetidasvezes,oDeusdessahistóriaéapresentadonãoapenasplanejandoofuturo,maspredizendoeventosmuitoespecíficospelabocadosseusservos,os profetas. Von Rad chama a atenção para esse “sistema de prediçõesproféticaseoscumprimentosexatosenotórios”,identificandoonzediferentesocorrênciasdeprediçãoecumprimento.22

Como,então,olivrodeDeuteronômioseajustanesseesquemahistóricodapalavraprenunciadoradaprofeciadeterminandoocursodahistória?Anãoserque senegue todaa teologia transmitidapor esses livros,Deuteronômioservecomoograndepromotordessesprincípios,lançandoofundamentoquedeve controlar toda a história subsequente. A palavra de Deuteronômio é aPalavradoSENHORdaAliançaquepreparaoterrenoparaodesdobramentodahistória que vem a seguir. O livro todo apresenta a si mesmo como umdocumentodarenovaçãodaaliançainiciadaporDeusatravésdeMoiséspoucoantes dessa grande história ter seu início. Nessa declaração, o SENHOR da

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Aliança promete bênçãos e ameaça commaldições seu povo na base da suareaçãoparacomaleidaaliançaconformeagoraestásendoapresentadaaeleslogoantesdeentraremnaterraprometida.

Edificandosobreessefundamento,oslivrosdeJosuéaté2Reisanalisamahistóriados800anossubsequentes.Àmedidaquesedesvendaodramadahistória, os profetas de Israel fornecem o testemunho vivo do SENHOR daAliançaaoseupovocombasenessaleipactual,quelhestinhasidodeclaradanoprincípio.Somentenessecontextopode-seapreciaroplenosignificadodaspalavrasquedãoinícioaolivrodeDeuteronômio:“EstassãoaspalavrasqueMoisésfalouatodooIsraelnodesertoaolestedoJordão...MoisésproclamouaosisraelitastudooqueoSENHORdaAliançahavialheordenado...aolestedoJordão,no territóriodeMoabe,Moiséscomeçouaexporesta lei,dizendo...”(Dt1.1,3,5).

Deus honrou o povo israelita com uma função especial, e assim “oscolocou sob especial obrigação, que foi exposta com precisão na leideuteronômica”.23MastodaarealidadedessaamadurecidateologiadahistóriaécontraditadaquandosenegaaolivrodeDeuteronômioseucorretolugarnoiníciodahistória.ÀpartedomomentohistóricoquandooSENHORdaAliançaapresentasualeipactualquedeterminaráoseventosquevirão,todooregistrohistóricotorna-seumazombariaparacomoDeusquedeclaraqueEledirigiráo curso do futuro com base nos princípios revelados em sua aliança. Nateologiadesenvolvidano livrodeDeuteronômio,a leidaaliançaprecisavirantes do ministério dos profetas de Israel. Essa lei fornece a base para amensagemeoministériodetodososprofetasquevêmemseguida.

Osegundomaiordesenvolvimentocomrespeitoàrelaçãodaleicomosprofetas desde Wellhausen diz respeito à forma pactual do livro deDeuteronômio.Durantedécadas, aspessoas ficaramconfusascomrespeitoàforma de Deuteronômio, com sua mistura singular de estipulações legais,lembranças históricas, maldições, e bênçãos. Na metade do século XX,descobriu-sequemuitosdoselementosformaisnasporçõesrelativasàleidoPentateucoseassemelhavamàsantigasformasdetratadosdoOrientePróximodatadasdoséculoXIVaoséculoXIIa.C.24 Mesmoaordemdoselementosnolivro de Deuteronômio tem sido vista como correspondente ao padrãoencontrado repetidamente nas formas de tratados do antigo ImpérioHitita.25Apesar de alguns estudos tentarem associar esses elementos a documentosassíriosdosséculosVIIIeVIIa.C.,omaterialbíblicocorrespondedemaneiramaisconvincenteaosdocumentosmaisantigosdoImpérioHitita.26

Asimplicaçõesdaquestãodorelacionamentodaleiedaaliançacomos

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profetas de Israel ficam de imediato visíveis. Se a estrutura do livro deDeuteronômio como um todo corresponde às formas de tratado do antigoOrientePróximoqueexistiam500anosoumaisantesdosprofetasescritoresdeIsrael,entãonãosepodemaislevaradianteadiscussãodaanterioridadedalei ao profeta de forma fragmentada. Em vez disso, todo o conteúdo dodocumentoda aliançadeDeuteronômio se confirma como sendodeorigemmosaica.Dessaformamaisabrangente,leiealiançaprecisamservistascomoassentando o fundamento para o ministério e mensagem dos profetas deIsrael.27

Essas duas tendências simultâneas, em linhas gerais na análise deDeuteronômio, empurramo livroemduasdireçõesdiferentes.Porum lado,umaperspectivaunificadasobrearelaçãodeDeuteronômiocomoslivrosdeJosué até 2Reis, leva a localizar a forma final editada deDeuteronômionoperíodo após o exílio, de acordo com os últimos eventos registrados em 2Reis.EnquantosegueodebatesobreexatamentequallegislaçãonoPentateucoprecedeuosprofetas,oargumentounificadordeDeuteronômioéconsideradocomo tendo se desenvolvido nas últimas fases do ministério profético emIsrael. Por outro lado, quando são levadas a sério as semelhanças com ostratadoshititas,aprópriaformadolivrodeDeuteronômiorevelaumaorigemcorrespondente em termos gerais à época do próprioMoisés.Nesse caso, aperspectiva teológica de Deuteronômio é justificada por toda a históriasubsequentedanaçãodeIsrael.

Talvezsejademaisesperarqueamodernaerudiçãocríticareconheçaquea forma final de Deuteronômio date da época de Moisés, conforme écomprovado por comparação com as formas de tratado hititas, enquanto aomesmo tempo reconhecer a notável singularidade da mensagem bíblicaapresentadapelaconexãodeJosuéaté2ReiscomateologiadeDeuteronômio.Mesmonabasedemodestasconclusõescomrespeitoaessaspropostas,deveser claramente estabelecida a anterioridade da aliança e da lei aoministériodosprofetasnateologiadaEscritura.

Merecem consideraçãomais duas tendências com respeito à relação dolivro da lei de Deuteronômio com os profetas. Uma dessas correntes fluidiretamentedeWellhausenparaosestudoscontemporâneosetemligaçãocoma hipótese do santuário centralizado.De acordo com essa teoria, o culto deIsraelmudoudrasticamenteduranteareformadoreiJosiasdeJudá,devidoasua exigência de uma centralização do culto (2 Rs 23.1-15, 19-20). Dessaperspectiva,asleismaisantigasdeIsraelconformeseencontramno“livrodaaliança”(Êx20-24)teriampermitidovárioslocaisparaocultoemIsrael.Mas,dizemeles,aleideDeuteronômiointroduzaideiadocultocentralizado,que

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permitesomenteumlugarparaopovoreunir-separaoferecerseussacrifícios(Dt12.1-7,13,14).EssahipótesecomparaessasduasfontesdaleiparaIsraeleconcluiquea legislaçãodeuteronômicadeve terseoriginadoséculosdepoisdaépocadeMoisés,diferentementedamaneiraqueolivrodeDeuteronômioapresenta a si mesmo. Construindo sobre essa premissa básica, propôs-seentãoqueopadrãodejulgamentodosreisdeIsraelnãoseapoiavanumabasedeboasemásobrasdeacordocoma leideDeus.Emvezdisso,deacordocomvonRad,era“ainsistêncianocultocentralizado”queserviadebaseparaojulgamentopelodeuteronomistacomrespeitoaocomportamentodosreisdeIsraeleJudá.28

Bastadizercomorespostaaessasproposiçõesqueosdois livrosda leinãosãocontráriosumaooutroquantoaosseusregulamentos,mesmoquesejapossívelnotarumadistinção.29Semprehouvecentralizaçãocom respeito aotabernáculo desde as mais antigas tradições de Israel no deserto, emborativesse sido concedida permissão de erguer altares onde quer que Deusescolhesserevelarseunome(Êx20.24).30Masquandoanaçãoestavaprestesaentrar no território dos cananeus, o assunto dos altares estrangeiros passou,dramaticamente, a fazer parte da situação. Todos os altares dos cananeustinham de ser destruídos (Dt 12.2,3). Ao mesmo tempo, a nação tinha decentralizarseuculto“paraevitaracontaminaçãodocultopuroaYahwehpormeio de práticas idólatras”.31 Por essa razão, a legislação deDeuteronômiofalade“olugar”ondeocultoseriaestabelecidodeformapermanente(12.4-7). Embora a centralização seja claramente um fator nesta legislação, oprópriofraseadodotextobíblicoindicaqueumassuntodeigualimportânciaera a permanência do local. Especificamente, é “o lugar que o SENHOR daAliançaseuDeus,escolher...paraalipôroseuNomeesuahabitação[oulugarde moradia]” (Dt 12.5 NVI).32 A localização permanente do santuáriosignificariaqueDeustinhaescolhidoumúnicolugarparasuamoradiadentrodoterritóriodeIsrael.Poressaação,ficariaclaroqueoreinodeDeustinhafinalmentevindoparaanaçãoemformaderesidência.

EmtermosdabaselegalparaDeusjulgarosreisdeIsraeledeJudá,vonRaddepreciaarepetidainstruçãoemDeuteronômio(15vezes)eemReis(11vezes) que as “ordenanças, estatutos emandamentos de Yahweh” servem debase para o julgamento divino. Von Rad refere-se à “afirmaçãoatabalhoadamente redundante de que um rei não seguiu as ‘ordenanças,mandamentoseestatutosdeYahweh’”.Emvezdereconhecerofatoóbvioqueumpadrãodiferentedacentralizaçãodocultoérepetidamentecomunicadoporessasfrases,vonRadtentaminimizarsuaimportânciacaricaturando-ascomosemanifestassem “uma sinalizaçãomuito clara de poder descritivo”.33 Pelo

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contrário,essasrepetiçõesapenasreforçamafunçãocentraldaleideDeusnojulgamentodosreis.

UmsegundodesenvolvimentocorrentenaanálisedaleiemrelaçãocomosprofetaséadescobertaestelardeDeuteronômio,aquemseatribuicarátersemelhante ao de uma estrela nova. Agora, subitamente, parece queDeuteronômioseexpandiuaopontode,naprática,enchertodoouniversodosdocumentos bíblicos. A obra deuteronômica é vista atualmente como sendocompostapelolivrodeDeuteronômio,ahistóriadeuteronômicaregistradaemJosué até 2 Reis, modificações editoriais de vários livros proféticos comoOseiaseJeremias,enumerosasadiçõesànarrativadeGênesisatéNúmeros!34

E então, o que aconteceu? Wellhausen ganhou a parada situandoDeuteronômionoséculoVIIa.C.naépocaemqueJosiasdescobriuumlivroda leinosescombrosdo templo,bemdepoisdosgrandesprofetasdoséculoVIII,Oseias,Isaías,AmóseMiqueias.ComessacronologiadeDeuteronômiobem estabelecida, os elementos J e E de Gênesis-Números puderam serestabelecidos nos séculos precedentes, enquanto o documento P com seuspormenoresrelativosaoculto,umacriaçãodoexílio,naturalmenteseguiriaaobradeDeuteronômio.MasagorahátantoselementosdeuteronômicossendodescobertosentreessasoutrasassimchamadasfontesdoPentateuco,quetodaa obra de Gênesis-Números está adquirindo um ar deuteronomista. Existecerto propósito unificador que vincula ao livro de Deuteronômio o“tetrateuco”deGênesis-Números.

Nos corredores daAcademia, esses assuntos estão ainda abertos para odebate.NãoédesurpreenderouviraafirmaçãodequeaideiadeWellhausenestá“numacrisesériaepossivelmente terminal”eque, seessasperspectivasmais novas forem mantidas, “é difícil acreditar que a hipótese documentalconsigasobreviveremsuaformaclássica”.35Aomesmo tempo,a infamantecaracterização que Wellhausen fez de Deuteronômio como uma “fraudepiedosa”sobrevivenasdeclaraçõeseruditascontemporâneas.VonRadsenteanecessidadederepetirasimesmoparareafirmarsuaconvicçãoarespeitodarepresentação que Deuteronômio faz de si mesmo como sendo de origemmosaica: “Essa ficção é mantida consistentemente do começo ao fim deDeuteronômio.Masnarealidadeéumaficção”.36

A afirmação de que Deuteronômio é uma ficção quando ele seautorrepresentacomodocumentopactualoriginadonoprincípiodahistóriadeIsraeltemconsequênciasimportantes.Dasuposiçãodequeváriasdeclaraçõesencontradas em outros códigos de lei do Pentateuco que precedemespecificamente o exílio e a restauração, juntamente com Deuteronômio,precisamserdatadasbempróximooumesmoapósoexíliodeIsrael,seguem-

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senaturalmentedeterminadasconclusões:

Essareconstruçãosignificaqueomodelodaaliança,encontradoemDeuteronômio, foi criado unicamente como um faz de contaconhecidodosancestrais israelitasquandonaverdadeessabasedaresponsabilidade da nação só lhes foi revelada quando estavamprestes a ser exiladosoumesmoquando já estavamnoexílio.Porque,então,oDeusde Israeldeveriaserconsideradocomoalguémdeintegridademaiordoqueosdeusesdosfilisteusoudosegípcios?Essa reconstrução significa que o Deus de Israel não alertouadequadamenteanaçãodeIsraelcomrespeitoàscondiçõesdoseurelacionamentopactual eas terríveisconsequênciasdaviolaçãodaaliança. Por que, então, deveria o Deus de Israel ser consideradomaisjustodoqueosdeusesdeEdomoudeMoabenasuaformadetratarseupovo?Essareconstruçãosignificaque,semterreveladotudooqueestavaenvolvido na obrigação de prestar contas em relação à aliança, oDeus de Israel não poderia ou não quereria poupá-los dascalamidades do exílio. Por que, então, deveria esse Deus serconsideradomaispoderosooumaisgraciosodoqueosdeusesdosconquistadoresassíriosoubabilônios?

SedefatoesseSENHORdaAliançade Israelnãoparecemaispoderoso,mais gracioso, mais verdadeiro, mais justo do que qualquer outro deus daimaginaçãohumana,entãoporquedeveriamaspessoasdasváriasnaçõesdoséculoXXIcolocarsuaesperançaeconfiançanele?EmboraEleseapresentecomo o único Criador, Sustentador e Redentor deste mundo, por quemereceriaafédasnaçõesquandosemostraimpotente,indignodeconfiança,injustoesemmisericórdiaemrelaçãoaoseuprópriopovodaaliança?

Quando o livro que reivindica ser uma revelação do Deus de Israel éabertamente representado como uma ficção, não é de admirar que omundoacadêmico bíblico hoje esteja repleto de incredulidade. Uma vez que osprofessoresdosprofessoressecaracterizampelaincredulidadecomrespeitoàfontedivinadaleimoral,nãodevesurpreenderqueaigrejaprofessanteestejapermeadadenominalismoeimoralidade.

Havendo considerado a relação da aliança e da lei com os profetas,podemos voltar ao tratamento desses dois grandes temas nos escritos dosprópriosprofetas.Emprimeirolugar,seráútilnotarofatorcentraltantodaleicomo da aliança nos profetas. Depois, no próximo capítulo, poderemos

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consideraramaneiraconcretacomoosprofetasaplicavamaaliançaealei.

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II.Ofatorcentraldalei

Israeléanunciadocomodiferenteentretodasasnaçõesdomundoporquenenhuma“grandenaçãotemdecretosepreceitostãojustoscomoestalei”queDeus colocou diante deles (Dt 4.8NVI).Mas com toda a abrangência da leicolocadaàdisposiçãodosprofetas,umaproibiçãoespecíficaemergecomoofoco maior das suas repreensões. O fator central da lei conforme aplicadopelos profetas ao povo da sua época é a proibição contra a idolatria.37Repetidas vezes o povo é condenadopelos profetas por adorar os ídolos.AcondenaçãodaidolatriaestáemprimeirolugarentreasproibiçõesdolivrodeDeuteronômio,queservecomoamaispoderosaaplicaçãodaleinocontextodaaliançamosaica.NarepetiçãodoprocessodarevelaçãodoSinaiocorrido40anosantes,Moisésindicaarazãoporqueseupovojamaisdeveriarecorreraosídolos:

“NodiaemqueoSENHOR daAliança lhes faloudomeiodo fogoemHorebe,vocêsnãoviramforma alguma. Portanto, tenham muito cuidado, para que não se corrompam fazendo para si umídolo,umaimagemdealgumaformasemelhanteahomemoumulher,ouaqualqueranimaldaterra,aqualqueravequevoanocéu,aqualquercriaturaquesemoverenteaochãoouaqualquerpeixequevivenaságuasdebaixodaterra.”(Dt4 .15-18NVI)

Devidoàsuaexperiênciasingular,Israelnãodevedeixar-seseduzirparaadorar coisas “que oSENHOR daAliança, o seuDeus, distribuiu a todos ospovosdebaixodo céu” (4.19NVI).Especial para Israel eraoDeus invisívelqueoslibertoudafornalhadoEgitoeosreivindicoucomoseupovopeculiar(4.20).Poressarazão,anaçãonãodevenuncacondescenderemadorarídolosquesepodemver.ODeusdelessefezconhecidocomoaquelequeéinvisível,queos livrade todasituaçãodeperigo.EleéoDeusvivoque tempoderdeagiremfavordoseupovo.Porisso,elesnãodeveminsultá-lorepresentando-ocomaformadequalquercoisaquesepossaver.

Essainicialexposiçãodacentralidadedaleiproibindoaidolatriaforneceumapontenaturalparaoconceitodacobiçacomoaraizdaidolatria,poisodesejodetersempremaiséessencialàideiadaidolatria.AscoisasqueDeusfeznãodevemnunca substituir oDeusque as fez.Aconexão entre cobiça eidolatria é feita abertamente quando as Escrituras da nova aliança falam da“cobiça,queé idolatria”(Cl3.5).Essevoltarparaascoisasparasubstituiroconhecer,oamareoserviraDeuséopecadocentraldahumanidadeemtodasas gerações. Dessa forma, não devemos nos surpreender com fato quepercebemos que a proibição contra todas as formas de idolatria seja o foco

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principaldaleideDeus.Talvez se imaginasse que o ponto central da preocupação dos profetas

fosseoprimeiromandamento,queproíbeopovodeterqualqueroutrodeusalémdoSenhordasuaredenção.Masaproibiçãocontraaidolatriaservecommais eficiência ao estabelecimento da singularidade do Deus de Israel porcausadaconcretudeemtermosdeaplicação.“Ídolosdocoração”sãodefatodenunciados pelos profetas (Ez 14.3,4,7). Mas a própria concretude daproibiçãocontraaidolatriaacapacitaparaservirdemodomaiseficazcomooesteio da lei. Esse princípio aplica-se com igual eficácia num mundo pós-modernocomoofeznaépocaemqueIsraeltomoupossedaterraprometida.Ralph Waldo Emerson expressa bem isso em sua “Ode” dedicada a W. H.Channing (1847): “As coisas estão no comando e dominam a humanidade”.Comfrequência,nãosepercebeadegradanteconsequênciadaidolatria,tantoda espécie antigaquantoda formamoderna.MasoprofetaOseias explica oinevitávelefeitodaidolatria:

“Mas,quandoelesvieramaBaal-Peor,consagraram-seàqueleídolovergonhosoesetornaramtãorepugnantesquantoaquiloqueamaram”(Os9.10bNVI).

DeacordocomOseias,oadoradordeídolossofreumjuízopeculiar.Eleécondenadoatornar-senadamaisqueuma“coisa”parecidacomacoisaqueeleadora.

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III.Ofatorcentraldaaliança

A lei, na proclamação dos profetas, nunca funciona de formaindependentecomoumpadrãoabstratoquedefineocertoeoerrado,obemeomal.Emvezdisso,aleifuncionaemrelaçãoàaliançaeàadministraçãodeum relacionamento pessoal com Deus. Certo comentarista resume assim orelacionamento: “Os profetas precisam, consequentemente, ser consideradosnão simplesmente como mestres de moralidade, mas como porta-vozes daaliança.PoisamoralidadequeelesensinavamimplicavaaexistênciadeumaligaçãosingularentreYahweheIsrael”.38

A.AunidadedasaliançasA função mais ampla exercida pela aliança em relação à lei reforça a

centralidadedadimensãopessoalemtodososmandamentosdeDeus.Centralatodasasaliançaséoprincípio“Emanuel”.“EusereiovossoDeusevóssereisomeupovo”expõecomprecisãoocoraçãodosrelacionamentosdeDeuscombasenaaliança.39A aliançamosaicada lei ressalta queoprincípioEmanuelpodecomunicartantobênçãocomomaldição.Aleidestaaliançaprevinecomabundância a reconciliação do transgressor. Mas à parte de um adequadoarrependimento unido com a fé nos sacrifícios reconciliadores, afamiliaridade do relacionamento estabelecido na aliança trará somentemaldiçãona vida dopovo.Mas todoo propósito últimoda revelaçãoda leinãoécondenar,masserviràgraçadeDeusenquantoestaoperaemfavordaredençãodohomem.

Arevelaçãodagraçamesmonaleireforçaamensagemdeesperançanoministériodosprofetas.Essesporta-vozesdeDeustalvezprevinamarespeitodadevastaçãocomoconsequênciadaviolaçãodalei.MasalémdadestruiçãodeIsraelencontra-seasegurançaproféticadarestauração.Essarestauraçãosóé possível porque a aliança suplanta a lei. Não porque a nação castigadaconquistejustiçameritóriaquetragadevoltaofavordeDeus,masunicamentepor causa da anterioridade da graça na aliança pode a nação esperar ocumprimento da promessa de que eles retornarão à terra que perderam. Defato, no processo da restauração, ser-lhes-á dado um novo coração, que oslevaráaandarem todososmandamentosdoSenhor.Masagraçadaaliançapermanecesupremaparasempre.Anaçãojamaispoderáexigirbênçãospelofato de guardarem a lei. Em vez disso, o povo precisa sempre suplicarhumildemente com base nas promessas imerecidas dadas graciosamente naaliança.

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B.DiversidadeentreasaliançasUma tendência recorrente na análise das várias alianças registradas na

Escritura é caracterizar algumas delas como condicionais e outras comoincondicionais. Essa tendência naturalmente afeta várias maneirascontemporâneasdetrataramensagemdosprofetas.Umadefesaradicaldessadualidade nas alianças divinas pode ser vista na análise de Bright, o qualdesenvolve extensivamente a ideia de alianças que alternam entre promessasincondicionais e condicionais. A aliança abraâmica é apresentada comoincondicional, seguidapela claramente condicional aliançamosaica,queporsuavezésuplantadapelaligaçãoincondicionaldeDeuscomDavi.40

Essa alternância entre dois tipos de aliança é, então, empregada porBright para explicar as mensagens divergentes dos profetas. Para Oseias,aliançasignificavaaaliançacondicionalqueDeus tinha feitocomIsraelpormeiodeMoisésnoSinai.Com respeito aOseias,Brightdiz: “A teologiadaeternaaliançadeYahwehcomDavinãosignificavanadaparaele”.41Poroutrolado,oprofeta Isaíasviu tudopelosolhosda incondicionalaliançadavídica.Da perspectiva desse profeta, Deus “comprometeu-se por todo o futuro pormeiodasuapromessaincondicionalaDavi”.42

De acordo com Bright, essa diferenciação explica o conflito entre osverdadeiros e os falsos profetas na época de Jeremias. Todo o pensamentodele era orientado por uma perspectiva deuteronomista, que se baseavafirmemente nas ideias da aliança condicional mosaica. De acordo com aperspectiva de Bright, o conceito da aliança encontrado no livro deDeuteronômio estava em conflito direto com o caráter incondicional daaliançafeitacomDavi:“Naverdade,épossívelchegaraopontodedizerqueDeuteronômio abala completamente a aliança davídica. Ela torna insegura aposição da monarquia fazendo-a depender de determinadas condições”.43 AgrandeproezadeBrightestácondensadaemsuaafirmaçãodequeareformade Josias pode ser chamada de “vitória da aliança mosaica sobre a aliançadavídica”.44 Numa tendência similar, ele argumenta que a maior luta deJeremias era com os falsos profetas que defendiam a permanênciaincondicionaldeSiãojuntamentecomalinhagemdesucessoresdeDavicombase na aliança deste. Bright resume o assunto: “Por um lado, estavam oshomens que aparentemente criam que a sobrevivência da nação estavaincondicionalmentegarantidapelaspromessasdeDeus;contraelesestavaumprofetaqueestavaclaramenteconvencidodequenãoeraassim”.45

Emboraessabaseparaumadistinçãoentreverdadeirosefalsosprofetastenha o apelo da simplicidade, ela simultaneamente põe em risco aconfiabilidadedeumgrupodeprofetasbíblicosoudeoutro.Porexemplo,se

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Isaíaséresponsávelporpromoverumateologiadaaliançaincondicional,elese torna culpado dos ensinos errôneos dos falsos profetas da época deJeremias. Por outro lado, se Oseias e Jeremias erraram ao declarar umaaliançacondicional,éprecisoarranjaralgumaexplicaçãoparaarealidadedoexíliodeIsrael.

Paracriaressadicotomiaentrealiançaealiança,entreprofetaeprofeta,Bright precisou eliminar dos vários profetas os elementos que contradizemsua hipótese.Assim, amenção de um Israel restaurado buscando “Davi, seurei” emOseias 3.5 precisa ser extirpada do texto original da profecia e serconsiderada como provavelmente acrescentada em data posterior quando aspalavras de Oseias foram transmitidas a um contexto judaico.46 De formaaindamaisradicaltodaalusãoaumfuturoreidadescendênciadeDaviprecisasereliminadaoudealgumaformaexplicada.DeacordocomBright,qualeraaesperança futura de Israel depois do exílio? Diz ele: “Certamente, ela nãoassumiriaaforma...davindadeumlibertador‘messiânico’dacasadeDavi”.ComrespeitoaqualquerexpectativarelacionadacomalinhagemdeDavi,nãohavia “nada claro na maneira de pensar de Jeremias”.47 A referência deJeremias sobre levantar-se “um Renovo justo de Davi, um rei que reinarásabiamente” (Jr 23.5) é posta de lado como uma “alusão duvidosa” a umaesperançacentradanaaliançadavídica.Apassagemparalelaem33.14-16nãoseencontranaSeptuaginta,e,assim,“provavelmenterepresentaumacréscimoposterior às palavras de Jeremias”. A descrição de um Israel restauradoservindo“aDavi,seurei,quelhelevantarei”(30.9ARA)“provavelmentenãoéoriginaldeJeremias”.Eassimpordiante.

Com todo respeito, ficabemevidentequeapressuposta teologiadeumdualismo nas alianças de Israel decreta exatamente quais passagens nosprofetasdevemserconsideradascomogenuínasequaispassagenstemdeserconsideradascomoacréscimossecundários.Nofinal,oesforçodeBrightparaunir na nova aliança essas duas tendências, a incondicional e a condicional,carecedacoerêncianecessáriaparaserconvincente.48UmapromessapactualdapartedeDeusnãopodesercondicionaleincondicionalaomesmotempo.Ouaspromessasapresentamcondiçõesounãoapresentam.

Pararesolveresseproblemaéprecisocomeçarpercebendoofatoqueacerteza do cumprimento não é a mesma coisa que a ausência de condições.Afirmarqueaaliançadavídicanãopossuicondiçõesédesconsideraramaiorparte do ministério profético tanto dos profetas anteriores como dosposteriores.DaviordenaqueSalomãoguardeosdecretos,mandamentos,leise exigências da lei deMoisés para que o Senhor guarde sua promessa paracomele (1Rs 2.3,4).Essas promessas pactuais serão cumpridas nãoporque

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foramfeitassemcondições,masporqueopróprioSenhoremsuagraçafarácomquesecumpramtodasascondições.ConformeVoscorretamenteobserva,emIsaíasaênfaseestána“absolutacertezadapromessadivina”,49 oquedeformaalgumaexigeaausênciadecondições.Certamentedeve-sereconhecerqueasvárias aliançasaque se referemosprofetaspossuemsuaspróprias edistintasênfases.Aaliançafeitacomospaiséamaissimplesemtermosdassuaspromessas,masnãoestáisentadecondiçõesqueameaçamcommorteeprometemvida.Aaliançamosaicaseconcentranasobrigaçõesdoparticipantedela,masnãoestádesprovidadepromessasgraciosasderestauraçãoeperdão.Aaliançadavídicaconcentra-senoestabelecimentodoreinoteocráticocomosurgimento do rei escolhido, edificando sobre o fundamento das promessasfeitas aos pais, mas jamais sem as condições associadas com a aliançaestabelecidapormeiodeMoisés.

Assim, osmuitos profetas de Israel passam com facilidade de um paraoutro aspecto das várias alianças, da ameaça do juízo para a promessa dabênção.Somenteoreconhecimentotantodaunidadecomodadiversidadedasalianças em que eles baseavam seu ministério pode explicar a riqueza e aincessanterelevânciadoseuministérioduranteasdiferentesépocasdahistóriadeIsrael.

1CitadoemZimmerli,LawandtheProphets,14.

2Calvino,TwelveMinorProphets,5.xxvi.3Ibid.,xxvii.

4 Inconscientemente,CalvinotocounapassagemdeLevítico,queosmodernoscríticosquenãocreemna profecia preditiva, insistem em dizer que foi escrito na época do exílio de Israel. A passagemantevê o dia em que Israel será disperso entre as nações, a terra folgará nos seus Shabbathnegligenciados, e o Senhor por fim se lembrará da sua aliança com eles (Lv 26.33,34,40-42). Apassagem antevê de forma tão clara o futuro de Israel, que é preciso entendê-la, como Calvinopropõe,comoabaseparaassubsequentesdenúnciaseencorajamentosdosprofetas.Senão,elateráde ser tratada como tendo sido escrita depois de ocorrido o fato, a despeito de descrever-se a simesma como originada na época de Moisés. Somente então se poderá afirmar que os profetasdesenvolveramsuamensagemàpartedalei.

5VonRad(OldTestamentTheology,2.4 n.2)citaMartinhoLuteronessemesmosentido:“Prophetiaenimnihilaliudquamexpositioet...praxisetapplicatiolegisfuit”(“Poisaprofecianãoeraoutracoisasenãoexposiçãoe...práticaeaplicaçãodalei”).

6Warfield,ChristologyandCriticism,22.7Bright(CovenantandPromise,29)segueobservandoqueJosué24é,talvez,oexemplomaisclarodamaneirapelaqualosatossalvíficosdoSENHORdaAliançafornecemabaseparaaleieaaliançaemIsrael.Josuécortouumaaliançaparaopovo,formulouparaelesdecretoseleis,eescreveuessaspalavras no livro da lei de Deus. Essa representação apresenta claramente lei e aliança conformeestabelecidasemIsraelmuitotempoantesdoministériodosprofetasescritoresdanação.

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8Clements,ProphecyandCovenant,71.

9Ibid.,125,126.Pode-severumaimportantemudançanaperspectivadeClementsquandocomparamossuas obras Prophecy and Covenant e sua posterior Prophecy and Tradition. Nesta última obra,Clements diz que ele deseja “modificar a tendência” em seu estudo anterior de apresentar umateologiadaaliançarelativamenteuniforme.Elenãoconseguemaisveraaliança,especialmentecomoéexpressanocódigodeuteronômico,comonecessariamenteexistindoantesdosprofetasdo séculoVIII(22,23).

10VonRad,OldTestamentTheology,2.179–80.

11Childs,OldTestamentTheologyinaCanonicalContext,63.12Childs,BiblicalTheologyoftheOldandNewTestaments,174.

13Brueggemann,TheologyoftheOldTestament,374.Maistarde,BrueggemannenfatizaafunçãodoMoisés histórico como o legislador de Israel: “O Israel dedicado à Torá é, na verdade, o IsraeldedicadoaMoisés,deformaqueéapessoahistóricadeMoisés,quepodeseridentificada,quereúneeinstituiIsraelcomoocompanheiroespecialdeYahweh”(579).Contudo,maistardeeleapresentaatensão interna ao fazer reconstruções críticas da história de Israel, afirmando que tanto a teologiasacerdotal como a deuteronômica são exílicas e atribuídas aMoisés apenas no processo canônico(673).Comoconsequência,omaterialmosaicolegaldoPentateucoficaseveramentereduzidoenãoconstituibaseadequadaparaascondenaçõesqueseencontramnosprofetas.

14Alt,EssaysonOldTestamentHistoryandReligion,81.Altprossegue,então,argumentandocontraa representaçãodaorigemda leiencontradanaEscritura.Emseusensacionalartigoque localizaopalco para o tratamento da lei israelita para os próximos 70 anos,Alt empregou análise crítica daformapararevelardois tiposde leicomduasorigensdiferentes:a leicasuística(leidecasos) tinhaorigemcananeia,enquantoaleiapodíctica(leideclarativa)vinhadopróprioIsrael.OprocessopeloqualAltchegouaessainfluenteconclusãoédignadenota.Eleobservaque“nãotemos,nopresente,nenhuma fonte original para o estudo da lei cananeia” e que mesmo “o processo pelo qual osisraelitasaconseguirampermanecedesconhecido”(98,99).Mas,tendoafirmadoquealeicasuísticaépuramentesecular,umavezquenãomencionaDeus,Altchegaaduasconclusões:(1)pelofatodenão mencionar Deus, ela não pode ter-se originado com Israel; e (2) pelo fato de ela não terorientação religiosa, ela deve ter uma base politeísta, de forma que ela pode adaptar-se amuitosgrupos comdiferentes deuses (98).Dessa forma,Alt conclui que, pelo fatodas leis casuísticas deIsrael não mencionarem Deus, elas devem basear-se num conceito de vários deuses! Comoconsequência, elas devem ter origem cananeia e não israelita. Com respeito à lei apodíctica, AltescolheÊxodo21.12comoseuprimeiroexemplo (104).Nessapassagem,a formanãoéde leidecaso,massimdeleideclarativa.Todohomicídioécrimequedeveserpunidocomamorte.Nãosepermite nenhumaexceçãoparaohomicídio culposoou algumaoutra circunstância casual.MasAltconseguefazeressaafirmaçãounicamentepordesconsiderartotalmenteosdoisversículosseguintes,que (em formatocasuístico)discutemas exceçõesespecíficas.Pelomenosdois tiposde leipodemseridentificadosnoPentateuco,masaúnicamaneirademanteroesforçodeAltdeestabelecerduasorigensdiferentesparaessasduasespéciesdeleiéarrancarasváriasleisdoseucontextoevaler-sedoargumentodosilêncio.

15Wellhausen,ProlegomenatotheHistoryofIsrael,488,509.16Zimmerli,LawandtheProphets,22,citandoWellhausen.

17Ibid.,30,42.18Wellhausen,ProlegomenatotheHistoryofIsrael,9.

19Clements,“BookofDeuteronomy,”278(ênfaseacrescentada).20Ibid.

21Noth,DeuteronomisticHistory,89.

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22VonRad,StudiesinDeuteronomy,78.Naverdade,podem-senotarcercadevinteocorrênciasdeprediçãoespecíficaecumprimentoem1e2Reis.VejaRobertson,ChristoftheCovenants,252–267.

23Noth,DeuteronomisticHistory,89.24VejaorelatoclássicoemMendenhall:“AncientOrientalandBiblicalLaw”.

25VejaKline,TreatyoftheGreatKing,27–44.26Weinfeld, “Deuteronomy”, 27. Para uma anterior refutação do ponto de vista de que o materialbíblico combinamelhor com as formas de aliança do primeiromilênio a.C., vejaKitchen,AncientOrient and the Old Testament, 90-102. Weinfeld reconhece que Deuteronômio “seguramentepreservamotivosdatradiçãodaantigaaliança”,emboraeleargumentequeelesforamretrabalhadosdeacordocomasformasposteriores.

27ObserveaconclusãodeMcConvillenessadireçãoemLawandTheologyinDeuteronomy,159.28VonRad,StudiesinDeuteronomy,76.

29Noth(DeuteronomisticHistory,95–96)tentaexplicartodasasocorrênciasdesacrifíciosfeitosemlugaresdiferentesdosantuáriocentralencontradosnoslivrosdeJosuéaté2Reis,comoareferênciaaos muitos altares na época de Elias (1 Rs 19.10). Mas a presença múltipla deles nesses livroshistóricos tantoenfraqueceoseuargumentoemfavordarelaçãounificadoradeDeuteronômiocomoslivrosdehistóriacomodestróiaideiadeumsantuáriocentralexclusivo.

30VonRad (Deuteronomy, 16) achanecessáriomodificar sua afirmaçãodeque a característicamaisimportante deDeuteronômio era sua “exigência de centralizar o culto”: “Mas, por outro lado, nãovemos que todas as partes do livro expressam, ou mesmo supõem essa exigência, que erarevolucionária para seu tempo. Existem muitas leis em Deuteronômio que não parecem saberabsolutamente nada a respeito dessa demanda por centralização”. Ao mesmo tempo, von Radrepetidamenterepudiacomopré-deuteronômicoounão-deuteronômicoqualquermaterialquenãoseajustaasuateoria.VejaDeuteronomy,115,165;StudiesinDeuteronomy,86.

31Kline,TreatyoftheGreatKing,80.32VonRad(StudiesinDeuteronomy,38)acertaalturachegapertodereconhecerqueamaiorênfaseem Deuteronômio encontra-se na permanência do local em vez da centralização. Ele diz que oelementoqueé“decididamentenovo”emDeuteronômioemcontrastecomÊxodoé“aconcepçãodeumapresençaconstanteequasematerialnotabernáculo”.

33 Ibid., 77. Deve-se notar que essasmesmas expressões também são encontradas na legislação deoutraspartesdoPentateuco(Êx15.26;Lv26.3,15;veja tambémGn26.5,quedescreveoestilodevidadeAbraão,opaidosfiéis).

34Blenkinsopp,“IntroductiontothePentateuch,”317.Blenkinsoppfalade“umimportantecomponenteDemGênesisatéNúmeros”e“aassimilaçãodeJpelaescolaD”(313).

35Ibid.,312–313.36VonRad,Deuteronomy,28.

37Clements(OldTestamentProphecy,111)abreumaseçãodoseu livrocomo título“Idolatria–Opiordospecados”.

38Clements,ProphecyandCovenant, 80.Clementsminimizaa importânciadaaliançaemsuaúltimaobra,nãoencontrandoreferênciasàaliançaeàleinomaterialoriginaldeOseiaseAmós.Masentãoele descobre forte edição deuteronômica referente à aliança nesses mesmos livros. Ele nãoestabelece nenhum critério para fazer a distinção entre o que era original desses profetas e oselementosqueforameditados.VejaProphecyandTradition,42.

39VejaRobertson,ChristoftheCovenants,45–52.40Bright,CovenantandPromise,26,28,142.

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41Ibid.,87;vejatambém112.42Ibid.,113.

43Ibid.,131.44 Ibid., 135. Seria de fato esquisito Josias, como sucessor de Davi, cortar a própria gargantaesforçando-sediligentementeparasubstituirumaaliançaqueasseguravaumreinoininterruptoparasimesmoeparaseusfilhosporumaaliançaquecolocavaemriscosuaprópriavidabemcomoavidadosseusdescendentes.

45Ibid.,17;vejatambém142.46Ibid.,87n.16.

47TodasascitaçõesseguintesdeBrightnesteparágrafosãodeibid.,193.48Ibid.,197–98.

49Vos,BiblicalTheology,277.

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AA PLICAÇÃO DALEIE DAALIANÇANAMENSAGEM DOS PROFETAS

DEPOIS DE TERMOS considerado os fatores centrais tanto da lei como daaliançanacompreensãodosprofetas,temoscondiçõesdeolharmaisdepertoaconcretaaplicaçãoqueosprofetasfizeramdessesprincípios.Oempregodalei e das alianças assume uma forma geral e também uma aplicação maisespecífica.

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I.Comoosprofetasaplicavamalei

Têmsidofeitasalgumastentativasdeestabeleceraleinaturalcomoaraizda ética dos profetas de Israel.1 Mas o apelo consistente dos profetas à leiconformemediada porMoisés enfraquece essa premissa. Quando julgam oestilo de vida dos seus contemporâneos, os profetas de forma consistenteapelamparaas leisqueaparecemnosdocumentosdaaliança.Esseapelodizrespeitoàleiemgeraleemsuasespecificações.

A.AmaneirageralcomoosprofetasaplicavamaleiDamaisprimitivaeradoprofetismoatéàúltima,aplica-sealeiaopovo

comoumaexplicaçãoparaojuízoouparaabênçãoqueelesdevemesperar.DeacordocomOseias,queviveunoséculoVIIIa.C.,Deusdeclaraqueelelhesescreveuasmilharesdecoisasdasualei,maselesasconsideraramcomoalgoestranho. Como consequência, eles são condenados a voltar ao Egito (Os8.12,13).2Pelo fatode terem rejeitadooconhecimentoqueDeus lhesdeu,oSenhorosrejeitarácomoseussacerdotes;pelofatodeteremfeitopoucodaleideDeus,oSenhorfarápoucodosseusfilhos(4.6).Israeléculpadodepecarindiscriminadamente. Da perspectiva de Deus, só existe maldição, mentira,assassinato, rouboeadultério;ecomoconsequênciaa terra todaestáde luto(4.2,3).3 Os cinco pecados específicos alistados porOseias, todos indicadosgramaticalmentenaformade infinitivosabsolutos,claramentese referemaoterceiro,aonono,aosexto,aooitavoeaosétimomandamentos.4

Na outra extremidade da história de Israel, prevalece a mesmadesconsideraçãoparacomaleideDeus.OSenhorviráprontamenteparadarseu testemunhoperante um tribunal contra o povopor causa do seu pecado.Ele falará contra eles porque são feiticeiros, adúlteros e perjuros. Elesdefraudamosaláriodostrabalhadores,oprimemaviúvaeoórfão,enegamajustiçaaoestrangeiro.Desdeotempodosseusantepassados,elessedesviaramdosdecretosdoSenhorenãoosguardaram(Ml3.5-7).OfinaldahistóriadeIsraelnãoémelhordoqueoseuinício.

GeralmenteIsaíaséconhecidoporsuadescriçãosublimedeDeusemsuaglória.MaseletambéménotávelporsuavisãoelevadadaleideDeus.5Acertaaltura, o profeta pergunta: “Quem de nós pode conviver com o fogoconsumidor[dosjuízosdeDeus]?”(Is33.14NVI).Elerespondeasuaprópriapergunta retórica: “Aquele que anda corretamente e fala o que é reto, querecusaolucroinjusto,cujamãonãoaceitasuborno,quetapaosouvidosparaastramasdeassassinatosefechaosolhosparanãocontemplaromal,éesseo

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homem que habitará nas alturas; seu refúgio será a fortaleza das rochas; ...Seusolhosverãooreiemseuesplendorevislumbrarãooterritórioemtodaasuaextensão”(33.15-17NVI).Claramente,naperspectivadeIsaías,abênçãodavidaparaopovodeDeusdependedasuasensibilidadeparacoma leidoSenhor.

EssavisãoelevadadaleideDeustorna-seaindamaisexplícitaquandooprofeta reflete no caráter da própria lei: “Foi do agrado do SENHOR daAliança,poramordesuaretidão,tornargrandeegloriosaasualei”(Is42.21NVI).MasIsraelnãoobedeceriaàsualei,eassimelederramousobreelessuaira ardente (42.24,25). Além disso, o Senhor se identifica a si mesmo emrelaçãoàsualei:“EusouoSENHORdaAliança,oseuDeus,quelheensinaoqueémelhorparavocê,queodirigenocaminhoemquevocêdeveir.Setãosomentevocê tivesseprestadoatençãoàsminhasordens,suapazseriacomoumrio,suaretidão,comoasondasdomar.Seusdescendentesseriamcomoaareia, seus filhos, como seus inúmeros grãos; o nome deles jamais seriaeliminadonemdestruídodediantedemim”(48.17-19NVI).TodasasbênçãosdaaliançateriamvindoaIsraelseapenastivesseaceitadoviverdeacordocoma lei do Senhor. No final das contas, o povo descobrirá que sua únicaesperançaestánaleipromulgadapeloservoescolhidodoSenhor(42.4c).

Quando Israel estava prestes a ir para o cativeiro, o profeta JeremiaschamouaatençãoparaafunçãocrucialdaleideDeusnaventuraenadesgraçadeIsrael.EmboraoconhecimentodavontadedeDeusdevessesernaturalparaanação,elahaviasidodesencaminhadapelosseusescribaseestudiosos.Numadescriçãovívida,oprofetadeclara:“Atéacegonhanocéuconheceasestaçõesque lhe estão determinadas, e a pomba, a andorinha e o tordo observam aépoca de sua migração. Mas o meu povo não conhece as exigências doSENHOR da Aliança” (Jr 8.7 NVI). As ordens permanentes do Criador sãoentendidas pelas criaturas do mais baixo nível, mas o povo escolhido dopróprio Deus perdeu contato com a vontade do Senhor.Mas a nação seguegabando-sedasuaposiçãoprivilegiadacomorecipientedarevelaçãodeDeus:“Como vocês podem dizer: ‘Somos sábios, pois temos a lei doSENHOR daAliança’,quandonaverdadeapenamentirosadosescribasatransformouemmentira?”(8.8NVI).

Se eles tinham rejeitado a Palavra do Senhor, que tipo de sabedoriapoderiamelesaindater(8.9)?Elestinhamperdidocompletamenteadireçãoetinham de vaguear na escuridão dos seus próprios conselheirosautoproclamados.Oshomens sábiosdaquela épocapodiam tentar entender arazão para a devastação da terra.Mas para oSenhor a resposta é óbvia: “O

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Senhor disse: ‘Foi porque abandonaram a minha lei, que estabeleci diantedeles;nãomeobedeceramnemseguiramaminhalei.Emvezdisso,seguirama dureza de seu próprio coração’” (9.13,14a NVI). A raiz do problema deIsrael é que eles foram circuncidados apenas na carne. Sem mostrarpreconceito para com os povos do mundo, o Senhor tomou uma decisão:“’Vêmchegando os dias’, declara oSENHOR daAliança, ‘em que castigareitodososquesãocircuncidadosapenasnocorpo,comotambémoEgito,Judá,Edom, Amom, Moabe e todos os que rapam a cabeça e vivem no deserto;porque todasessasnaçõessão incircuncisas,eacomunidadede Israel temocoraçãoobstinado’[hebraico:éincircuncisadecoração]”(9.25,26NVI).

A íntima relação entre o profeta verdadeiro e a lei deDeus é vista nasconspiraçõesdoscontemporâneosdeJeremiasparadesacreditá-loecomissoinvalidar suas palavras. Quando arquitetam seus planos, os perversosmaquinadores se certificam de ainda conservar o ensino da lei: “Entãodisseram: ‘Venham! Façamos planos contra Jeremias, pois não cessará oensino da lei pelo sacerdote nem o conselho do sábio nem amensagem doprofeta.Venham!Façamos acusações contra ele e nãoouçamosnadadoqueeledisser ’”(18.18NVI).Emoutraspalavras,elestêmprofetasesacerdotesdoseu próprio gosto, que vão declarar-lhes exatamente o que desejam ouvir,exatamente como se fosse a palavra do Senhor. Ao desacreditarem oincômodoJeremias,silenciarãoafontedaPalavraquelhestrazdesgosto.

Esseprincípioéverdadeemtodasasépocas.Oshomensfarãooqueforpreciso para silenciar a palavra do profeta verdadeiro enviado por Deus esubstituí-la por palavras que lhes agradem.Um sinal do fimda presente eraserá este: “virá o tempo emque não suportarão a sã doutrina; ao contrário,sentindo coceira nos ouvidos, juntarãomestres para simesmos, segundo osseusprópriosdesejos”(2Tm4.3NVI).

Noseufamososermãopregadonotemplo,emqueJeremiasexpõeafalsaconfiança no templo, o profeta cita violações específicas do primeiro,segundo,terceiro,sexto,sétimo,oitavoenonomandamentos(Jr7.5-10).Mas,mesmodepoisqueopovorepreendidofoitransportadoparaoexílionoEgito,“atéessedia”elenãotinhaseguidoaleidoSenhor,osdecretosqueEletinhacolocadodiantedosseuspais(44.10).

O profeta Ezequielmostra que Israel rejeitou as leis deDeus enquantoainda estava no deserto, mandamentos “os quais, cumprindo-os o homem,viveráporeles”(Ez20.13,16).Pelofatodeelesnãoobservaremessasleisqueconcedem vida, o Senhor lhes deu estatutos que não eram bons e leis pelasquais não conseguiriam viver, leis tais que exigiam o sacrifício dos seusprimogênitos (20.25). O profeta especifica os pecados dos quais a nação é

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culpada:elesderramaramsangue,fizeramídolos,lidaramcompaiemãecomdesprezo, oprimiram os estrangeiros, maltrataram os órfãos e as viúvas,profanaram o Shabbath, acolheram caluniadores, agiram de forma lasciva,desonraram o leito dos seus pais, desonraram as noras, aceitaram suborno,exageraram nos lucros – e se esqueceram do Senhor soberano (22.3-12).Nessalistaproféticadospecadosdopovo,ficaplenamenteevidentealistadosDezMandamentos entregue no Sinai e renovada nas campinas deMoabe.OpadrãopeloqualIsraelestásendojulgadoéaleientregueporintermédiodeMoisés.6 Mas, mesmo depois do juízo corretivo do exílio, eles continuamviolandotodososmandamentosdalei(33.23-29).

Emcomparaçãocomasoutrasnações,Deusdispensoufavoresespeciaisa Israel. Na realidade, ele estabeleceu Jerusalém como o centro das nações,comosoutrospovosestabelecidosemtornodela.MasIsraelserebeloucontraasleiseosdecretosdoSenhormaisdoquetodosospovosaoseuredor.Elanemmesmoagiudeacordocomosmaisbaixospadrõesdasnaçõesvizinhas(Ez 5.5-7). Por essa razão é que o Senhor castigará Israel na presença dasoutras nações (5.8). Seus justos padrões precisam sermantidos, e a posiçãofavorecidade Israelpor estardeposseda leidoSenhor só fez trazermaiorcondenação sobre ele. Israel precisa provar o juízo divino, pois eles “nãoagiram segundo os meus decretos nem obedeceram às minhas leis, mas seconformaram aos padrões das nações ao seu redor” (11.12 NVI). Comoconsequênciadisso,oprofetaEzequielrecebeumavisãodaglóriadoSenhorapartando-se do templo de Jerusalém,movendo-se para omonte ao leste dacidade (11.23). Pelo fato de terem perdido sua singularidade como povo doSenhor,pornãoseconformaremaosrequisitosdaleiqueosfezdiferentesdasoutrasnaçõesdomundo,elesnãomaispodiampreservarabênçãoespecialdaglóriadoSenhorhabitandoentreeles.

ÀsvésperasdamanifestaçãodagraçadeDeusnarestauraçãodeIsrael,oprofetaDanielhumildementeconfessaopecadodopovo,ressaltandoquefoiporqueviolarama leiqueasmaldiçõesdaaliança sobrevieramànação.Emsuaoração,elereconhece:

...nóstemoscometidopecadoesomosculpados.Temossidoímpioserebeldes,enosafastamosdosteusmandamentosedas tuas leis.Nãodemosouvidoaosteusservos,osprofetas,quefalaramemteunomeaosnossosreis,aosnossoslídereseaosnossosantepassados,eatodooteupovo....nãotedemosouvidos,SENHORdaAliançanossoDeus,nemobedecemosàsleisquenosdestepormeiodosteusservos,osprofetas.TodooIsraeltransgrediuatualeiesedesviou,recusando-seateouvir.Por isso asmaldições e aspragas escritasnaLeideMoisés, servodeDeus, têmsidoderramadassobrenós,porquepecamoscontrati.ConformeestáescritonaLeideMoisés,todaessadesgraçanosatingiu,eaindaassimnãotemosbuscadoofavordoSENHORdaAliança,onossoDeus,afastando-nosdenossasmaldadeseobedecendoàtuaverdade.(Dn9.5,6,10,11,13NVI)

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Dignodenota nessa passageméo fato queoministério dos profetas éidentificadocomo rigorosamenteamesmamensagementregueporMoisés.7Os profetas de Israel nada mais fizeram do que aplicar à vida dos seuscontemporâneosaleireveladaatravésdeMoisés.OmotivodadeportaçãodanaçãonãocarecedemaiorexplicaçãodoqueasmaldiçõesescritasnaaliançadeDeuscomMoisésquase1.000anosatrás.AtarefadosprofetasnãoexigiacriatividademaiordoqueaplicaraleideMoisésànaçãoaquemministravam.

No que se refere à lei de Moisés e à expectação futura de Israel daperspectiva da antiga aliança, as últimas palavras proferidas por um profetadeixamclaroesserelacionamento.Malaquiasdeclara:“Lembrem-sedaLeidomeuservoMoisés,dosdecretosedasordenançasquelhedeiemHorebeparatodoopovodeIsrael”(Ml4.4NVI).Deacordocomasexpectativasdoúltimoprofeta da antiga aliança, Elias retornaria um dia para chamar o povo aoarrependimento.Oueles responderiamdeformaapropriadaaessechamado,ouoSenhorviriagolpearaterracomumamaldição(4.5,6).AsEscriturasdaantiga aliança assim terminam, estabelecendo a permanente função da lei navidadopovodeDeus.Emcadaépocadoministériodosprofetasànação,aleideDeuscontinuacomoabaserealdojuízodeDeus.

B.AmaneiraespecíficacomoosprofetasaplicavamaleiOs profetas de Israel não apelavam à lei deMoisés apenas demaneira

geral. Mais especificamente, cada um dos Dez Mandamentos originais queresumemaleideDeuséaplicadoaosseuscontemporâneos.Exemplosdessasaplicaçõespodemajudarareforçarafunçãoqueexerciamessesmandamentosespecíficosnoministériodosprofetasnodecorrerdosséculos.8

1.Nãoterásoutrosdeusesalémdemim(Êx20.3)“Vejam se alguma vez aconteceu algo assim”, diz o Senhor através de

Jeremias: “alguma nação já trocou os seus deuses?”E o Senhor afirma: “Omeupovocometeudoiscrimes:elesmeabandonaram,amim,afontedeáguaviva; e cavaramas suaspróprias cisternas, cisternas rachadasquenão retêmágua”(Jr2.10,11,13NVI).ComoIsraeltemagidotolamente,comoéabsurdoo que tem feito à luz da sua própria experiência e em vista do padrão decomportamento seguido por todas as outras nações do mundo. Trocar osdeuses é como tentar reescrever a história. Seria como tentar eliminarShakespeare da história da literatura inglesa ou George Washington dasorigensdosEstadosUnidosdaAmérica.IsraelfoilibertadosobaliderançadeMoisés, que revelou o nome do SENHOR da Aliança ao povo. Mas agoradeveriamelessubstituiroseuSENHORdaAliançaporalgumoutrodeuspara

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explicarsuasorigens?AtolicedeIsraelemescolheroutrodeusalémdaquelequeoslibertouéquaseincompreensível.9

2.Nãofarásparatinenhumaimagemdeescultura(Êx20.4)As imagens de esculturamais importantes de Israel foram os bezerros

feitosparaseremadoradosnoreinodonorte.OSenhordizatravésdeOseias:“Comprataeourofizeramídolosparasi,paraasuaprópriadestruição...EstebezerroprocededeIsrael!Umescultorofez.ElenãoéDeus.SerápartidoempedaçosobezerrodeSamaria”(Os8.4,6NVI).Aadoraçãode ídoloscomocorrer do tempo resultou na devastação do reino do norte. De acordo comOseias, a adoração de ídolos leva o povo a tratar uns aos outros de formamenosdoquehumana.Pelofatodos israelitasse teremconsagradoaosseusídolos, tornaram-se tão vis quanto as coisas idólatras que amaram (9.10).Comoconsequênciadisso, suas filhas sevoltarampara aprostituição e suasnorasparaoadultério(4.13).

EssasreferênciasàsorigensdaidolatriaemOseiasrepresentamapenasoponto inicial de uma extensa história emque o povo insistia em representarDeus pormeio de ídolos.Dos quinze livros proféticos, todos – exceto Joel,AgeueMalaquias–referem-seàadoraçãodeídolos.Novediferentespalavrasparaídolosãousadasnumtotaldequaseduzentasocorrências.Ainsensatezdaadoração de ídolos é enfatizada especialmente em Isaías 40-48, onde sedesenhaovívidocontrasteentreosídolosmudosquenãoconseguemfalareoSENHOR daAliança que tem o poder de determinar o futuro e, por isso, depredizeroquevaiacontecer.OpecadoderepresentaroDeusCriadorinvisívelpormeiodealgumaformacriadaporhomensfoidefatooconstantepecadode Israel, que por fim produziu sua corrupção, condenação e cativeiro. Aspessoasdehojenãodeveriamconsiderar-sesuperioresaosseusantepassadospelofatodenãopossuíremídolosfísicos,quandoapráticaigualmenteidólatradepossuirumdesejoinsaciáveldetermaisemaiscoisasclaramentedominaasociedademoderna.

3.NãotomarásonomedoSenhorteuDeusemvão(Êx20.7)Famosasdentreasrepreensõespúblicasdosprofetasrelativasàspráticas

vaziasdeadoraçãodeIsraelsãoaspalavrasdoSenhorpormeiodeAmós:“Euodeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleiassolenes...Afastemdemimosomdassuascançõeseamúsicadassuas liras.Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiroperene!”(Am5.21,23,24NVI).

Arepreensãopúblicaproféticaa respeitodossacrifíciosdeIsrael levou

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antigos críticos a concluir que havia uma grande divisão entre profeta esacerdote em Israel.Mas adivisãonão foi nunca entre sacerdotes eprofetascomotais.Emvezdisso,oalvodacondenaçãoproféticaeraafaltadelealdadesinceraaoúnicoeverdadeiroDeusvivo.AmósrevelaessalealdadedivididaparacomoSENHORdaAliançamesmoduranteosatosdeadoraçãoquandoelepercebe que em seu coração o povo anseia que termine logo o tempo deadoraçãodoShabbath,paradaremseguimentoaosseusnegócios(8.5).

UmadasmaioresblasfêmiascontraDeusdiziarespeitoavê-locomonãotendo mais poder para agir do que o deus egípcio que Isaías chama de“Monstro inofensivo [Hebraico: Raabe]” (Is 30.7 NVI). De acordo comSofonias, o povo pensava: “OSENHOR daAliança nada fará, nem bem nemmal”(Sf1.12NVI).OprofetaJeremiasacusaopovopormentirquandodizarespeitodoSenhor:“Elenãovaifazernada!Nenhummalnosacontecerá”(Jr5.12NVI).Comopassar do tempo, opovo tevede “engolir suaspalavras”,poisoDeusdeIsraelnãoéumdeusquenadafaz.Eledemonstrouaverdadeaseurespeitotrazendoojustojuízodoexíliosobreopovoquepersistiuemseupecado.10

4.Lembra-tedoShabbathparasantificá-lo(Êx20.8)UmamarcaquedistinguiaIsraelcomopovoquepertenciaaoSENHORda

AliançaeraaobservaçãodoShabbath.EssediaerachamadodesinaldadoporDeusparaseupovo(Êx31.13).Seopovoapenasserestringissedeseguirseuspróprios interessesnosantodiadoSenhorechamasseoShabbath dediadeprazer; se eles honrassem o dia não seguindo seu próprio caminho, nãofazendosuasprópriascoisas,enãofalandosuasprópriaspalavras,entãoelesencontrariam sua alegria no Senhor e sentiriam rico prazer na herançaprometidaaoseupaiJacó(Is58.13,14).DeacordocomoprofetaEzequiel,oSenhornãodeuaIsraelapenasseusdecretosemandamentos;EletambémlhesdeuoShabbathcomosinalparaquesoubessemqueoSenhoroshaviatornadosantos (Ez 20.12). Mas essa bênção não se restringia a Israel. Tambémestrangeirospodiamprovaressabênção:“EosestrangeirosqueseuniremaoSENHOR da Aliança... todos os que guardarem o Shabbath deixando deprofaná-lo...esseseutrareiaomeusantomonteelhesdareialegriaemminhacasadeoração”(Is56.6,7NVI).

Mas,emvezdepermitirqueosantodiadoSenhorosdiferenciassecomoseupovoespecial,anaçãodemonstrousuacobiçatratandooShabbathcomose fosse um fardo. Além demaltratar os pobres e negociar desonestamentecom balanças enganosas, tinham uma atitude de impaciência para com o

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Shabbath. Eles diziam: “Quando será que vai acabar o Shabbath, parapodermosnegociarotrigo?”(Am8.5).UmséculodepoisdeAmós,oSenhordisseaJeremiasquesecolocassenaportaondeentravamosreisnacidadedeJerusalém,bemcomoemtodasasoutrasportas.Nesseslugaresdestacadoseledevia ordenar ao povo que não fizessemnegócios no dia doShabbath,masque o santificassem. Seus antepassados tinham falhado em guardar essemandamento. Se eles apenas se abstivessem de trazer suas cargas atravésdessas portas noShabbath, eles veriam reis que tinham sentado no trono deDavi com suas comitivas marchando através dessas mesmas portas. Mas seeles deixassem de obedecer ao Senhor com respeito à lei do Shabbath, Eleacenderia um fogo inextinguível nessas mesmas portas (Jr 17.19-27). Apromessa ligada de forma tão clara aomandamento do Shabbath continuousendooferecidaaindaquandoIsraelchegouaofimdosseusanosdeincessanterebeliãocontraaleidoseuDeus.

Essamesma circunstância vigora ainda hoje. O povo deDeus continuasendoprivadodasmaisricasbênçãosdoSenhor,fundamentadasnaordenançadoShabbathquefoiproferidanacriação,reiteradanoperfeitoresumodaleideDeus,evivificadonaconsumaçãodaredençãopormeiodaressurreiçãodeCristo.11Pormeiodeintermináveisprocessosderacionalizaçãohumana,faz-se imenso esforço para abolir as seguras promessas da Palavra do Deusvivo.12 Mas todos que acolhem a graciosa provisão de um Shabbath dedescansoqueaindarestaparaopovodeDeus,essesrecebemaabundânciadasalturasdaterraeaherançadeJacó.

5.Honrateupaietuamãe(Êx20.12)De acordo com o profeta Miqueias, o colapso do respeito devido à

autoridade trouxe consigo enorme calamidade para as estruturas sociais deIsrael:“Nãoconfienosvizinhos;nemacreditenosamigos.Atécomaquelaqueoabraçatenhacadaumcuidadocomoquediz.Poisofilhodesprezaopai,afilhaserebelacontraamãe,anora,contraasogra;osinimigosdohomemsãoosseusprópriosfamiliares”(Mq7.5,6NVI).

Omandamentodehonrarospaisaprincípiopareceassuntodesomenosimportância para os grandes movimentos da história da humanidade. MastransgrediraleidorespeitopelaordemestabelecidaporDeusinvariavelmentedevasta uma sociedade inteira.Quando sãovioladas as estruturas da família,corrói-seafirmezadecaráterquefundamentaacomunidade.13Aodescreveras corrupções da cidade de Jerusalém que selaram seu destino, o profetaEzequiel menciona os crimes de violência, idolatria, difamação, adultério esuborno(Ez22.1-12).Masbemnomeiodessahorrívellistadepecados,elediz

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que“elestêmdesprezadopaiemãe”(22.7NVI).Uma lista similar das ações depravadas dos homens se encontra no

catálogodanovaaliança.Entreospecadosdehomossexualismo,assassinatoeódio a Deus encontra-se também o pecado de desobediência aos pais (Rm1.24-32,esp.1.30).ÉcontraessetipodeinjustiçaqueairadeDeusserevelado céu. Ao mesmo tempo, Deus ainda oferece a promessa de longa vida atodasaspessoasquehonramseupaiesuamãe(Ef6.1-3).

6.Nãomatarás(Êx20.13)A condenação pelos atos de violência cometidos contra as naçõesmais

fracas não dizia respeito apenas aos conquistadores violentos. Habacuquecomeça sua profecia com uma reclamação contra o Senhor por causa daviolência descontrolada que caracterizava a vida do próprio povo de Deus:“Atéquandogritarei...:“Violência!”semquetragassalvação?...Adestruiçãoeaviolênciaestãodiantedemim;hálutaeconflitoportodolado.Porissoaleiseenfraqueceeajustiçanuncaprevalece”(Hc1.2-4NVI).

Um século antes, os profetasAmós eMiqueias castigaramo povo pelamaneira violenta com que tratavam uns aos outros. Os necessitados sãomaltratados,eospobresdaterrasãorelegadosaumaposiçãosecundária(Am8.4). Os ricos que tinham nas mãos a riqueza, a posição e o poder eramespecialmente culpados de crimes de violência (Mq 6.12). Esse irrefreávelataquesobreaspessoas tornaa lei inútil.Aviolênciadestróiosfundamentosdacoerênciadasociedade.

7.Nãoadulterarás(Êx20.14)O adultério do rei Davi foi especialmente odioso aos olhos de Deus

porquefoicometidoadespeitodetodasasprovisõesqueoSenhortinhafeitoparaseusdesejossexuais(2Sm12.7,8).Deformasemelhante,opovodeIsraelemmassavoltou-separaumavidadeluxúriaadespeitodetodasasbênçãosdoSenhor: “Embora eu tenha suprido as suas necessidades, eles cometeramadultério e frequentaram as casas de prostituição. Eles são garanhões bem-alimentadoseexcitados,cadaumrelinchandoparaamulherdopróximo”(Jr5.7b,8 NVI). O profeta Amós também condena as ações adúlteras dos seuscontemporâneos.Ambos,paiefilhosãoculpadosdevaler-sedamesmajovem(Am2.7).

AindaqueoSenhortenhamostradograndepaciênciacomaimoralidadedasnaçõesdeIsraeleJudá,eramcertasasconsequênciasdoseuestilodevidacorrupto. O Senhor haveria de vindicar-se pela vergonha que uma naçãodessastraziaaoseunome.Numvívidotratamentodaidolatriacombinadacom

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adultério, Ezequiel anuncia o fim que forçosamente viria com o passar dotempo. Tanto Israel como Judá são descritos como prostitutas sem pudor.Como consequência, uma multidão vai apedrejá-los, derrubá-los com suasespadas,matar seus filhos e filhas, e queimar completamente suas casas (Ez23.47). O Senhor acabará com a luxúria da terra, de forma que todas asmulheres tomarão cuidado para não imitar o comportamento imoral dessasduasnações(23.48).

A devastação de Israel e Judá está registrada nos anais da história dahumanidade.Os acontecimentos sucederam exatamente como os profetas doSenhor avisaram. A lição dessa luxúria dessas duas nações deveria serentendidaclaramenteportodasaspessoas.Mas,infelizmente,umacivilizaçãoapós outra afundou na imoralidade sexual e sofreu as inevitáveisconsequênciasdadevastação.

8.Nãofurtarás(Êx20.15)Oroubopodesercometidonãoapenasarrombandoumacasaepegando

ascoisasdeoutrapessoa.Oroubopodesercometidotambémquandosetiravantagemdeumaposiçãodeautoridade,negando-seaconcederaquiloquededireitopertenceaosoutros.IsaíasoprofetapronunciaoaideDeussobretodoesse tipo de atividade: “Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevemdecretos opressores, para privar os pobres dos seus direitos e da justiça osoprimidos do meu povo, fazendo das viúvas sua presa e roubando dosórfãos!”(Is10.1,2NVI).Quandofinalmenteaverdadevieràtona,umgrandenúmerodehomenspúblicosegovernadoresdasváriasnaçõesdomundodehojehaverádeseenquadrarnaacusaçãodeIsaías:“Seuslíderessãorebeldes,amigos de ladrões; todos eles amamo suborno e andam atrás de presentes”(1.23NVI).

As várias ocupações do povo se mostravam uma constante fonte dedesonestidade.Umprofetafaladebalançasinjustas(Os12.7).Outrodescreveapráticacomumdosmercadores:diminuiramedida,aumentaropreço,vendersujeiracomotrigo(Am8.5,6).Essetipodedesonestidadenãoserestringeaostemposbíblicos.Nosúltimosanos temos testemunhadoocompletoabusodecomerciantestirandovantagemdepessoasemaflição.NaAméricadoNorte,asvítimasdeumfuracãonaFlórida foramsubmetidasapreçosexorbitantespordesesperadamenteprecisaremdeáguapotável.NaÁfrica,mulherespobresemtempodesecatinhamdeajoelhar-separavarrerochãodearmazéns,pornãoteremoutraopçãoalémdejuntaremapalhacomotrigo.

Tenham cuidado todas as gentes de todas as nações, pois mesmo apoderosa nação da Babilônia não escapou do juízo de Deus por causa do

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roubo: “Ai daquele que amontoa bens roubados e enriquece medianteextorsão!Atéquando istocontinuaráassim?Nãose levantarãoderepenteosseus credores? Não se despertarão os que o fazem tremer? Agora você setornará vítima deles” (Hc 2.6,7 NVI).Mesmo o remanescente de Israel, queretornouparaaterradepoisdoexílio,continuoupecandocontraseusirmãospor meio do roubo. Deus mostra ao profeta Zacarias a visão de umpergaminhovoando,querepresentavaaleiescritadeDeus.Essepergaminhovoandoassumeafunçãodeummodernohelicópterodeataque,entranacasadetodoladrãoelhedestróiasvigaseostijolos(Zc5.3,4).

Comtodaacerteza,opiortipoderouboqueumhomempodecometeréroubar a Deus. Os israelitas continuamente se atreviam a roubar do seugraciosoredentorretendoodízimo(Ml3.6-9).SeapenassevoltassemaEleeguardassem sua lei, eles veriam as janelas do céu abertas e as bênçãos doSenhor sendo derramadas, bênçãos tão grandes que não teriam nem ondecolocá-las(3.10).Masarelutância,atémesmodopovomaisrico,deapartar-sedopreciosodízimodátestemunhodadurezadocoraçãohumanomesmonocontextodaaltasociedade.

9.Nãodirásfalsotestemunho(Êx20.16)TantooreinodonortequantooreinodosuldeIsraelforamarruinados

pelohábitocomumdementir.DeacordocomOseias,umadasevidênciasdamentira que imperava era a abundância de processos judiciais. O profetaafirma:“Elesfazemmuitaspromessas,fazemjuramentoseacordosfalsos;porissobrotamasdemandascomoervasvenenosasnumcampoarado”(Os10.4NVI).Comoconsequênciadamentiramesmosobjuramento,opovopodeteracerteza de que seus falsos deuses serão levados para aAssíria como tributoparaogranderei(10.6).

Jeremias teve suasprópriasexperiênciasamargas,e sabiadequeestavafalandoquandofazsuaadvertência:

Alínguadelesécomoumarcoprontoparaatirar.

Éafalsidade,nãoaverdade,queprevalecenestaterra....

Cuidadocomosseusamigos,nãoconfieemseusparentes.

Porquecadaparenteéumenganadorecadaamigoumcaluniador.

Amigoenganaamigo,ninguémfalaaverdade.

Elestreinaramalínguaparamentir;e,sendoperversos,elessecansamdemaisparaseconverterem.

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Deopressãoemopressão,deenganoemengano,elesserecusamareconhecer-me”...

Alínguadeleséumaflechamortal;elesfalamtraiçoeiramente.

Cadaummostra-secordialcomoseupróximo,masnoíntimolhepreparaumaarmadilha.

Deixareieudecastigá-los?”,perguntaoSENHORdaAliança.

“Nãomevingareideumanaçãocomoessa?”

“FareideJerusalémumamontoadoderuínas,umahabitaçãodechacais.

DevastareiascidadesdeJudáaténãorestarnenhummorador.»(Jr9.3-6,8,9,11NVI)

Por ocasião do exílio do reino do sul, o pecado da mentira tinhaimpregnadoanaçãoaopontodenãoseacharnemmesmoumapessoahonestaentre eles. Jeremias recebe um desafio similar ao pedido de Abraão comrespeito à destruição de Sodoma e Gomorra. Nesse momento, o Senhorconcordouque,sefossepossívelachardezpessoasjustasnovalehabitado,Eleopouparia.Massemqueoprofetafaçaopedido,oSenhordiminuionúmerodepessoasjustasnecessáriasparaqueJerusalémsejapoupada:“Percorramasruasde Jerusalém,olhemeobservem.Procurememsuaspraçasparaver sepodem encontrar alguém que aja com honestidade e que busque a verdade.Entãoeuperdoareiacidade.Emboradigam:‘JuropelonomedoSENHORdaAliança’,aindaassimestãojurandofalsamente”(Jr5.1,2NVI).NafaltadeumasópessoaquefalasseaverdadeemtodaaJerusalém,oSenhornãopodiafazeroutracoisasenãodestruiracidade.

A desenfreada cultura de hoje não fará melhor do que a Jerusalém deJeremiasquandofor trazidadiantedo tribunalda justiçadeDeus.Seráqueépossível encontrar uma só pessoa que fale sempre a verdade, somente averdade? Mas mesmo assim persiste a esperança final do profeta: “Oremanescente de Israel não cometerá injustiças; eles não mentirão, nem seacharáenganoemsuaboca”(Sf3.13NVI).Pelomenosexisteumapessoaqueé conhecida por preencher esse aspecto da santa lei de Deus (Is 53.9; 1 Pe2.22).

10.Nãocobiçarás(Êx20.17)PodemossuporqueDeusnãosepreocupamuitocomatitudesdecobiça

nocoraçãohumano.Mas Isaías indicaqueoSenhor está iradopor causadapecaminosa cobiça da nação (Is 57.17). Até os profetas do povo são “cãesdevoradores,insaciáveis”(56.11NVI).

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Talvez a mais completa condenação da cobiça entre os profetas seencontre nas palavras de Amós, proferidas nos dias do progresso eprosperidadenacional tantodo reinodonortecomodosulduranteo séculoVIIIa.C.Amósrepetidamentecondenaseuscontemporâneosporseuestilodevidapomposoàcustadosoutros:14

Vendemporprataojusto,eporumpardesandáliasopobre.(2.6b)

[Asalvaçãonãopodechegara]osisraelitasdeSamaria,comapontadeumacamaeumpedaçodesofá.(3.12)

Derrubareiacasadeinvernojuntocomacasadeverão;

ascasasenfeitadasdemarfimserãodestruídas,easmansõesdesaparecerão,declaraoSENHORdaAliança.(3.15)

Ouçamestapalavra,vocês,vacasdeBasãqueestãonomontedeSamaria,vocês,queoprimemospobreseesmagamosnecessitadosedizemaossenhoresdeles:“Tragambebidasevamosbeber!”(4 .1)

Vocêsoprimemopobreeoforçamadar-lhesotrigo.

Porisso,emboravocêstenhamconstruídomansõesdepedra,nelasnãomorarão;

emboratenhamplantadovinhasverdejantes,nãobeberãodoseuvinho.(5.11)

Vocêssedeitamemcamasdemarfimeseespreguiçamemseussofás.

Comemosmelhorescordeiroseosnovilhosmaisgordos.

DedilhamsuaslirascomoDavieimprovisameminstrumentosmusicais.

Vocêsbebemvinhoemgrandestaçaseseungemcomosmaisfinosóleos,masnãoseentristecemcomaruínadeJosé.

Porissovocêsestarãoentreosprimeirosairparaoexílio;cessarãoosbanquetesdosquevivemnoócio.(6.4-7)

Ouçam,vocêsquepisamospobresearruínamosnecessitadosdaterra,...

diminuindoamedida,aumentandoopreçoenganandocombalançasdesonestase

comprandoopobrecomprataeonecessitadoporumpardesandálias,vendendoatépalhacomotrigo?

OSENHORdaAliançajuroucontraoorgulhodeJacó:“Jamaisesquecereicoisaalgumadoqueelesfizeram.”(8.4-7)

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O constante desejo por mais e mais itens prazerosos conduz o povo atirar vantagem dos pobres e a oprimir os necessitados. No final, eles nãopossuirãonada.AeradaprosperidadeedaexpansãonostemposdeJeroboãoII de Israel eUzias de Judá rapidamente chegou ao fim.Vinte e cinco anosdepoisdessasprofecias,nãoexistiamaisoreinodonorte.

Dessa forma, os profetas de Israel fizeram ampla aplicação dos DezMandamentos à vida dos seus contemporâneos. Tanto individual quantosocialmente essas leis do Senhor eram o padrão pelo qual Ele julgava seupovo. É digno de nota observar como a mensagem dos profetas estáimpregnada dessesmandamentos.Talvez amaior necessidade da igreja e dasociedade de hoje seja uma aplicação completa eminuciosa dessesmesmosDez Mandamentos. Se Deus espera que as pessoas se arrependam do seupecado, então é preciso que os requisitos da sua justa lei sejam plenamentecompreendidos.15

C.Alémdoespecífico:osignificadomaisamplodeguardaraleiMesmo havendo analisado a intensa aplicação dos DezMandamentos à

vida do povo deDeus, deve ficar claro que os profetas não eram legalistas.ElesentendiamquealeideDeusensinavaocaminhoparaumavidaplena,nãoa viam como um código rígido de restrições que privariam do povo a suaalegria.Como indicava o próprio livro deDeuteronômio, essas leis deviamser entendidas como “a vossa vida” (Dt 32.45-47). Se olharmos além dasaplicaçõesespecíficasqueosprofetasfizeramdaleideDeus,ficaevidentequeessesmensageirosdoSenhoresperavammaisdoqueumaobservânciaformaldosDezMandamentos.Suascríticasvisavamocoraçãodosseusouvintes.Elesse preocupavam especialmente com duas áreas: cuidado para com osnecessitados:oórfão,aviúva,eoestrangeiro;eoamoraDeuseaohomem.

1.Cuidadoparacomoórfão,aviúvaeoestrangeiroApreocupaçãodosprofetasnocuidadoparacomosnecessitadosestava

escritoemletrasgrandesnaleiregistradanoPentateuco:

OestrangeirodeviagozarodescansodoShabbath(Êx20.10).Israelnãodeviaatormentarosestrangeiros,vistoqueelesmesmostinhamsidoestrangeirosnoEgito(Êx22.21;23.9).Deviaserdeixadaparatráspartedosfrutosdaceifaparaospobreseestrangeiros(Lv19.10;23.22).Oisraelitadeviaamaroestrangeiroassimcomoamavaasimesmo(Lv19.34).

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Deusamaoórfão,aviúvaeoestrangeiro;porissoIsraeldeveamá-lostambém(Dt10.18,19).Juntamente com o levita, o estrangeiro, o órfão e a viúva devemparticipardosdízimostiradosacadatrêsanos(Dt14.28,29;26.12).Oestrangeiro,oórfãoeaviúvadevemregozijar-secomoisraelitanasfestasdassemanasedostabernáculos(Dt16.11,14).Nãodeveserpervertidaajustiçadoestrangeiro,doórfãoedaviúva(Dt24.17).A respigados campos, árvores frutíferas e vinhedospertencemaoestrangeiro,aoórfãoeàviúva(Dt24.19-21).Uma maldição é pronunciada sobre os que negam justiça aoestrangeiro,aoórfãoeàviúva(Dt27.19).

De acordo com essas referências, o povo de Deus tinha umaresponsabilidadeespecialdecuidardoórfão,daviúvaedoestrangeiro.Porteremfalhadonessasáreas,osprofetasfalaramduraspalavrasdecondenação.EspecialmenteodiosasparaoSenhoreramaspessoasquemostravamgrandezelo por rituais religiosos, mas não tinham afeição para com aqueles porquemoSenhorlhesordenavativessemespecialconsideração.Opovodosdiasde Isaías deu todos os sinais de que era um povo profundamentecomprometido.TodososdiaselesbuscavamoSenhorepareciamdesejososdeconhecerseuscaminhos.Elesseviamcomoumanaçãoquefaziaoqueeracorreto, não abrindo mão dos mandamentos do seu Deus. Estavam semprejejuandoe sehumilhandodiantedoSenhor (Is58.2-5).Masnenhumadessasatividades agradava ao Senhor. Ele buscava um tipo diferente de devoção.Conforme Isaías o descreve: “O jejum que desejo não é este: soltar ascorrentes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade osoprimidos e romper todo jugo?Não é partilhar sua comida como faminto,abrigaropobredesamparado,vestironuquevocêencontrou,enãorecusarajudaaopróximo?”(Is58.6,7NVI).

Numa famosa passagem usada pelos modernos esforços de colocarprofetacontrasacerdote,Miqueiasdenunciaoformalismovaziodasuaépoca:

ComqueeupoderiacomparecerdiantedoSENHORdaAliançaecurvar-meperanteoDeusexaltado?

Deveriaoferecerholocaustosdebezerrosdeumano?

FicariaoSENHORdaAliançasatisfeitocommilharesdecarneiros,comdezmilribeirosdeazeite?

Devoofereceromeufilhomaisvelhoporcausadaminhatransgressão,

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ofrutodomeucorpoporcausadopecadoqueeucometi?Elemostrouavocê,óhomem,oqueébom

eoqueoSENHORdaAliançaexige:pratiqueajustiça,ameafidelidade

eandehumildementecomoseuDeus.(Mq6.6-8NVI)

Quando davam os detalhes do tipo de religião que o Senhor ama, osprofetasregularmenterepetiamasexigênciasdaleimosaica.Isaíasinsistecomseuscontemporâneosparaque“julguemoórfãoedefendamaviúva”(Is1.17).Oseias, seucontemporâneono reinodonorte,chamouaatençãoparao fatoque, no Senhor, o órfão encontra misericórdia, o que devia estabelecer opadrãode vida para o povodeDeus (Os14.3).Um século depois, Jeremiascoloca-se junto à porta da casa do Senhor e diz: “se não oprimirem oestrangeiro,oórfãoeaviúvaenãoderramaremsangueinocentenestelugar,...entãoeuosfareihabitarneste lugar,na terraquedeiaosseusantepassadosdesde a antiguidade e para sempre” (Jr 7.6,7 NVI). Pelo fato de Israel terfalhadonessasáreas,foramarrastadosparaocativeiro.

Mesmo depois do mais severo castigo do exílio, o povo do períodoposterioraoexílioprecisouserlembradodasuaobrigaçãoparacomoórfão,a viúva e o estrangeiro.Zacarias encontra o povo reclamando por causa dojejum que tinha feito nos últimos 70 anos enquanto lamentavam a queda deJerusalém.Mas tinhamelesaprendidoa liçãocomrespeitoà importânciadocuidadoparacomosnecessitados?Eleosadmoesta:“AssimdizoSENHORdaAliança,oSENHORdosExércitos:Administremaverdadeirajustiça,mostremmisericórdiaecompaixãounsparacomosoutros.Nãooprimamaviúvaeoórfão,nemoestrangeiroeonecessitado”(Zc7.9,10NVI).

Nofinaldoministériodosprofetasdaantigaaliança,foinecessárioqueMalaquias os lembrasse e repreendessepelamesma coisa.OSenhor afirma:“Euvireiavocêstrazendojuízo.Semdemoratestemunhareicontra...osque...oprimemosórfãoseasviúvaseprivamosestrangeirosdosseusdireitos”(Ml3.5NVI).

SeessanegligênciadasuaprincipalresponsabilidadecaracterizouopovodeDeusportantosséculos,entãoéclaroquesedeveesperarqueesseerroserepitacomigualfrequênciaemnossosdias.Deve-serepararcomhonestidadeque as igrejas evangélicas e reformadas de hoje têm grande culpa pelanegligência nessas áreas. Apesar de insistirem na sã doutrina como devemfazer, elas com frequência passam de largo pelos elementos essenciais daverdadeirareligião.ComoTiagoodiz:“AreligiãopuraeincorruptadiantedeDeus e do Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas em suas aflições, e nãodeixar-secorromperpelomundo”(Tg1.27).

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2.AmoraDeuseaohomemUmsegundo fator central que avançoumuito alémdas formalidadesde

guardara lei foiaexigênciadeamaraDeuseaohomem–expectativasquetiveram sua origem na própria lei mosaica. Essas não eram condiçõespropostas em primeira mão pelos profetas que pudessem estimular umaperspectiva de vida legalista. Nem foram essas exigências de amarintroduzidasunicamentesobaluzmaiordanovaaliança.Emvezdisso,aleimais ampla do amor veio já no princípio quandoMoisés entregou a lei. OpovodeDeusdeveamaroSenhorcomtodoseucoração,menteealma,eaoseupróximocomoasimesmo.

OmandamentodeamaraopróximoéexpressoclaramenteaprimeiraveznolivrodeLevítico.AleideDeusadvertecontrabuscarvingançaouguardarrancorcontraoutrapessoa.Paranãofazer isso,opovodeDeuséadvertido:“amecadaumoseupróximocomoasimesmo”(Lv19.18NVI).Essadiretrizé reforçada commaior vigor ainda pela razão imediatamente acrescentada:“Eu sou o SENHOR da Aliança”. Em Levítico, essa fórmula especial comregularidadeservecomoabreviaçãodestamaisextensa:“EusouoSENHORdaAliança, teuDeus, que te tirou da terra doEgito, da casa da servidão”. Pelofato do Senhor ter sido gracioso libertando os israelitas da sua opressão adespeitodasuacontínuapecaminosidade,elesnãodeviamcultivarespíritoderessentimento contra seu irmão. Em vez disso, deviam amá-lo com aintensidadeerealidadecomqueamavamasimesmos.

Essa exigência de amar não se limitava aos irmãos israelitas.Todos osestrangeiros que viviamna terra tinhamde ser tratados exatamente como sefossempessoasnativas.Nãohádesculpaparamaltrataroestrangeiro.Emvezdisso, o Senhor ordena: “Amem-no como a si mesmos, pois vocês foramestrangeirosnoEgito”(Lv19.34NVI;vejatambémDt10.19).AexplicaçãodoSenhoréconvincente:por400anos,osisraelitastinhamsidoforçadosavivercomoestrangeirosnoEgito;comcerteza,elestinhamcondiçõesdeentenderaimportânciadeamaroestrangeiro.

Alémdisso,aleipreceituaqueoamoraDeusdetodoocoraçãotemdecaracterizar o povo do Senhor. O grande Shamá de Israel é imediatamenteseguido pelo primeiro e maior mandamento do Senhor: “Ouça, ó Israel: OSENHOR da Aliança, o nosso Deus, é o único SENHOR da Aliança. Ame oSENHORdaAliança,oseuDeus,detodooseucoração,detodaasuaalmaedetodas as suas forças” (Dt6.4,5NVI).Essemandamento específico é seguidopelaadvertênciadequeessasleisprecisamestarnocoraçãodeleseprecisamser impressas no coração dos seus filhos enquanto falam delas sentados em

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casa,andandopelocaminho,deitando-seelevantando-se.Comosinaisemsuasmãosetesta,comoleisinscritasnosumbraisdassuascasas,essasleisdevemserlembradasotempotodo(6.6-8).

ArealevidênciadoverdadeirorespeitoporessasleisserávistaàmedidaqueopovoandardeacordocomtodososmandamentosqueoSenhorlhesdeu(Dt11.1).ComoconsequênciadeviveremdeacordocomesseamordetodoocoraçãopeloSenhor,opovopodeesperarqueoSenhorexpulsarádediantedeles todas as nações e lhes dará a terra que lhes prometeu (11.22-25).Repetidamente,aleienfatizaosignificadocentraldeamaraoSenhor:

Deusmostraráseuamorpormilgeraçõesparacomaquelesqueoamam(Êx20.6).Deusguardasuaaliançaparacomaquelesqueoamam(Dt7.9).OquemaisoSenhorrequerdetialémdequeoames(Dt10.12)?Pelo fatodoSenhor termultiplicado seupovo, elesdevemamá-lo(Dt11.1).SeamaresaoSenhor,Eleteabençoará(Dt11.13).SeamaresaoSenhor,Eleexpulsaráteusinimigos(Dt11.22,23).Deusvaiteprovarparasaberseoamas(Dt13.3).SeamaresaoSenhor,Eleacrescentarámaiscidadesderefúgio(Dt19.9).OSenhorcircuncidaráteucoraçãoparaqueoames(Dt30.6).Avidaeobem,amorteeomaldependemdoamoraoSenhor(Dt30.15,16).EscolhamavidaamandoaoSenhor(Dt30.19,20).

Deveficarclaro,então,que,nocódigodaleimosaica,oamoraDeuseao próximo exercia uma função vital na manutenção de um corretorelacionamento de Israel para com o Senhor. Essa inabalável lealdade paracomoSenhoreraessencialparatodooseucomprometimentoreligioso.

Porincrívelquepareça,osprofetasdeIsraelfizeramapenasusolimitadodessesmandamentosarespeitodoamor.Isaíasrefere-seaosestrangeirosquehaviam se comprometido “para amarem o nome do SENHOR da Aliança eprestar-lhe culto” (Is 56.6).16 Oseias lamenta: “A fidelidade e o amordesapareceramdesta terra,comotambémoconhecimentodeDeus”(Os4.1).Ele insistecomseuscontemporâneos: “Semeiema retidãopara si, colhamofrutoda lealdade, ...poiséhoradebuscaroSENHORdaAliança”(10.12).Eleconvocaopovoparaque“pratiquealealdadeeajustiça”,referindo-seàsuaobrigação de amar seu próximo (12.6). Em sua grande oração de confissão

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porocasiãodo retornodoexílio,Danieldirige-seaoSenhorcomoo“Deusgrandeetemível,que...[mantém]a...[sua]aliançadeamorcomtodosaquelesque... [o] amam e obedecem aos... [seus] mandamentos” (Dn 9.4). Zacariasadmoestaopovodaeraposterioraoexílioaque“amemaverdadeeapaz”(Zc8.19).Masessaspoucas referênciassãobempoucasquandocomparadascomacentralidadedomandamentodeamarnoslivrosdaleimosaica.

É evidente que os profetas não esqueceram o lugar do amor nasobrigações da aliança. Mas, aparentemente, eles viram que pouco valeriaadmoestar de forma geral um povo corrupto. Pode ser que os profetasperceberamqueapelaràleiexpressadeformageralparaamarnãoserviriadeforma adequada para despertar a consciência dos seus contemporâneos. Emvezdisso,oqueelesfizeramfoidestacarocaráterpervertidodoamordessesseuscontemporâneos:

Todoselesamamosuborno(Is1.23).Seusprofetasamamosono,negligenciandosuafunçãodesentinelasdeIsrael(Is56.10).DepoisdeabandonaremoSenhor,elesseperfumaramesubiramàscamasdeMoloqueeoutrosdeusesqueelesamam(Is57.8,9).Elesamamdeusesestrangeiros(Jr2.25).Elessãotãohábeiseminsistirnoseuamorporoutrosdeuses,queatéapiordasmulherespodeaprendercomeles(Jr2.33).Elesgostamqueseusprofetasprofetizemmentiras(Jr5.31).Elesgostammuitodevaguear(Jr14.10).ElesgostamdebancaraprostitutacomosbonitõesdaBabilônia(Ez23.14,17).Elesgostamdosbolossagradosdeuvaspassasoferecidosaoutrosdeuses(Os3.1).Seusgovernantesgostamdecaminhosvergonhosos(Os4.18).ElestêmsidoinfiéisaoSenhoregostamdosaláriodaprostituta(Os9.1).ElesgostamdetrazersuasofertasaBeteleaGilgal,oscentrosdafalsaadoração(Am4.4,5).Elesodeiamobemeamamomal(Mq3.2).

Se os profetas dizem pouca coisa a respeito do primeiro e grandemandamento – o mandamento de amar o Senhor seu Deus com todo o seucoração,alma,menteeforça–podeseremparteporqueelesviramqueseuscontemporâneos precisavam primeiro purificar-se dos amores idólatras que

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impregnavamavidadeles.Nofinaldascontas,aúnicacuraparaessedesviototal para o pecado é um amor consumidor pelo Senhor que os redimiu etransformounumpovodesuaparticularpropriedade.

D.ArelaçãodaleicomacondenaçãodasnaçõesOutraperguntapodeserapresentadacomrespeitoàfunçãodaleideDeus

no ministério dos profetas. Como é que os profetas promulgavam juízo arespeito das nações do mundo que estavam à volta do povo da aliança deDeus?Qualéopadrãopeloqualamaldiçãoouabênçãoépronunciadasobreelas?

Curiosamente,muitasvezesasnaçõesnãosãotrazidasajuízonabasedasua conformidade com os Dez Mandamentos.17 A mais plena aplicaçãoespecífica da lei moral para com as nações se encontra na condenação deHabacuque proferida contra a Babilônia por causa de roubar, matar, buscarganhoinjusto,derramarsangue,forçaroutrosabeberem,eadorarídolos(Hc2.6-20). Fora isso, quando enumeram pecados específicos, os profetas emgeralsereferematrêsáreasdomauprocedimentomoral:orgulho,idolatriaeviolência.Demaneira talvezaindamais impressionante,osmaus tratosdelespara com o próprio povo de Deus explicam os juízos de condenação doSenhorcontraasnações.PercebamosasespecificaçõesdessasduasbasesparaacondenaçãodeDeusparacomasnações.

1.Orgulho,idolatriaeviolênciaAautoexaltaçãoemespecialérepetidamentemencionadacomoopecado

dasnaçõespagãs.18Tiro,aprósperacidadeportuáriadoMediterrâneo,dissenoorgulhodoseucoração:“Souumdeus”(Ez28.2NVI).Porisso,Tirotevede ser espoliada para “abater todo orgulho e vaidade” (Is 23.9 NVI). ABabilôniafoiamaldiçoadaporqueanaçãoseatreveuadizer:“Eusou,enãoexiste outra”, uma afirmação que somente o próprio Deus Todo-poderosopodefazer(Is47.8).AarrogânciadaBabilôniaévistamaisclaramenteemsuaarroganteafirmação:“Subireiaoscéus...sereicomooAltíssimo”(Is14.13,14NVI).Nabucodonosoréliteralmentehumilhadoatéaopóesealimentaentreasferas do campo porque ficou orgulhoso das construções da Babilônia (Dn4.29,30,33). Belsazar, filho de Nabucodonosor, não aprendeu nada com aexperiênciadoseupaiarespeitodasarmadilhasdoorgulho,deformaqueamãoqueescrevenaparedeanunciaqueoSenhorcontouosseusdias.Pelofatodelenãosehumilharmesmosabendooquehaviaacontecidoaseupai,masselevantarcontraoSenhordocéu, recusando-seahonraraqueleque tinhasuavidanasmãos, ele tinhadeperecernaquelamesmanoite (Dn5.22,23,30).O

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orgulhodeMoabeénotório–“OuvimosacercadasoberbadeMoabe:dasuaarrogânciaexagerada,detodooseuorgulhoedoseuódio”–porissoeleserápisoteado(Is16.6,8NVI).Cemanosmaistarde,oorgulhodeMoabecontinuaigualmentenotório,eassimanaçãoserádevastadacomoSodomaofoipelojuízodivino(Sf2.8-10).PelofatodoEgitodizer:“ONiloémeu;euofiz”,oSenhorestácontraosegípcios(Ez29.9NVI).Nínive,adespreocupadacapitalda Assíria, proclama com todo atrevimento: “Eu, e mais ninguém!”. Comoconsequência:“Todososquepassamporelazombamesacodemospunhos”(Sf2.15NVI).OSenhoracabarácomoorgulhodosfilisteus(Zc9.6).

As nações também são repetidamente condenadas por seus atos deviolênciaesuaidolatria(Am2.1;Jn3.8c;Na3.1,4;Is17.8;19.1,3;47.12).Maso crime mais frequentemente enfatizado pelos profetas é esse pecado doorgulho. As nações do mundo se colocam no lugar de Deus. Esse pecadoespecífico,queéafontedetantosoutrosmales,trazasnaçõesparadebaixodacondenaçãodoSenhor.

ÉdifícilnãotrazeràlembrançaocontextodanovaaliançaemqueoreiHerodes,vestidodos seus trajes reais, fez seu famosodiscursonacidadedeCesareia,àbeira-mar.PelofatodelenãoterdadoglóriaaDeus,umanjodoSenhoroferiumortalmente(At12.21-23).

2.CrueldadeparacomopovodeDeusLadoa ladocomaproeminênciadoorgulhocomoacausado juízode

Deussobreasnações,osprofetasrepetidamenteapresentamoutrarazão.Porcausa da sua crueldade para com o povo da aliança de Deus, as nações seencontramsobojuízodele.AtémesmoumaatitudedezombariapodetrazerairadeDeussobreumvizinhodopovodele.Essetemareceberepetidaênfasenos profetas.Mais de 1.000 anos antes dos primeiros profetas escritores deIsraelcomeçaremseuministério,DeusfezumapromessaaAbraãoarespeitodo efeito da atitudedas nações domundopara comele e seus descendentes.Qualquer nação que amaldiçoasse o povo da aliança de Deus, o próprioSenhoraamaldiçoaria;equalquernaçãoqueabençoasseopovodaaliançadeDeus,opróprioSenhoraabençoaria(Gn12.3;27.29).

Devido ao uso inadequado dessas palavras já por muito tempo, essamaldição e bênção das nações com base em seu relacionamento com opatriarcaeseusdescendentesprecisamseranalisadascomcuidado.Nãoéqueodestinodasnaçõesdependadasuaformadetrataropovojudeunosentidoformal, nacionalista, embora a crueldade para com qualquer povo com opassardotempofaçacairsobresiojuízodeDeus.Maséamaneirapelaqualas nações da terra tratam o verdadeiro Israel de Deus que determinará seu

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destino nestemundo e no vindouro.19 O apóstolo Paulo declara demaneirabem franca que “não é judeu quem o é apenas exteriormente” (Rm 2.28,29ARA) e que qualquer gentio pode tornar-se um judeu autêntico se forenxertado pela fé na cepa do povo eleito deDeus (Rm 11.17,19; Ef 3.6; Gl3.26).Naverdade, qualquer judeuque chega a crerque Jesus éo seuCristoprometido será enxertado outra vez na comunidade do povo de Deus (Rm11.23).Mas,àpartedaféespecíficaemJesuscomoseuMessias,aquelesquesão judeus externamente não funcionam mais como a base pactual para abênçãoeamaldiçãodeDeusparacomasnaçõesdomundo.Nãoéamaneiradetratarosjudeuscomotaisquedeterminaobem-estardosdiferentespovosdomundo.Maséaatitudedasnaçõesedosindivíduosparacomoverdadeiro“Israel de Deus”, formado de judeus e gentios crentes espalhados entre ospovosdomundo,quedeterminatantoamaldiçãocomoabênçãoquevêmdamãodoSenhor.

Essa relaçãomaldição/bênção de todas as nações para com o Israel deDeusrecebeamplaaplicaçãoporpartedosantigosprofetas.AodeclararseujuízovindourosobreaBabilônia,IsaíasreconhecequeoSenhorestavairadocomseuprópriopovoeosentregounasmãosdosbabilônios.Masessanaçãopagã,porsuavez,nãodemonstramisericórdiaparacomopovodeDeus(Is47.6).Porisso,elesnãodevemsesurpreendersenãorecebemmisericórdiadaparte do Senhor. À medida que se aproxima o Dia da vingança do SenhorcontraaBabilônia, JeremiasdeclaraqueoSenhorvaipuniraBabilôniaporesmagarosossosdeIsrael(Jr50.17,18NVI).OSenhorconvocatropasparaseacamparemcontraaBabilôniacomestaordem:“Retribuamaelaconformeosseusfeitos”(50.29NVI).Elegaranteaoseupovo:“RetribuireiàBabilôniae a todos os que vivem naBabilônia toda amaldade que fizeram em Sião”(51.24NVI).

OprofetaAmóscomfrequênciaretornaaessetemaconformeanunciaojuízo vindouro do Senhor sobre as diferentes nações ao redor Israel. Edomnãomostroumisericórdia quandoperseguiu seu irmão Israel coma espada,golpeando seu próprio parente de sangue, e por isso deve ser amaldiçoado(Am 1.11). Tanto Damasco comoAmom são condenados por agredirem deforma brutal a vizinha comunidade israelita deGileade.Damasco trilhou oshabitantes de Gileade com pesado equipamento agrícola, e Amom tentouexterminar as gerações futuras rasgando o ventre das mulheres grávidas(1.3,13).TantoGazaquantoTirovenderamàescravidãocomunidadesinteiras,muitoprovavelmenteisraelitas(1.6,9).PorcausadesseabusocontraopovodoSenhor, todos os vizinhos imediatos de Israel encontram-se debaixo decondenação.

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Deformasemelhante,oprofetaObadiascondenaosvizinhosedomitasdeIsrael, ao oriente, por causa “daviolentamatançaquevocê fez contra o seuirmão Jacó” (Ob 1.10 NVI). Naum, por sua vez, retrata de forma vívida adestruição deNínive, ao norte, por tramar omal contra o Senhor afligindoJudá (Na 1.11,12). Nessa mesma linha, Ezequiel declara o juízo do SenhorsobreAmomporzombardeIsraelquandoestecaiu:“Vistoquevocêsbaterampalmas epularamde alegria como coração cheiodemaldade contra Israel,poressarazãoestendereiomeubraçocontravocêseosdareiàsnaçõescomodespojo”(Ez25.6b,7aNVI).

De acordo com Ezequiel, Edom também sofrerá juízo pela mão doSenhor porque ele “vingou-se da nação de Judá e com isso trouxe grandeculpa sobre si” (Ez 25.12 NVI). A lei da absoluta justiça vai prevalecer emEdom.Pelo fatodeEdom terguardadono coraçãoumaantigahostilidade eentregadoIsraelàespadanotempodacalamidadedeste,osmortospelaespadaserão espalhados por todo o território de Edom (35.5,8). Pelo fato dosedomitasteremplanejadodominarasnaçõesdeJudáeIsraeldepoisqueforamderrotadas,oSenhorvailidarcomelesnafúriadoseuzelo(35.10,11).PorqueelesseregozijaramcomadevastaçãodeIsrael, todooEdomserádevastado(35.15).AFilístia tambémprecisa provar o juízodeDeusporque “agiuporvingançaecommaldadenocoração,ecomantigahostilidadebuscoudestruirJudá” (25.15NVI).O Egito, porque foi um bordão de junco que rachou osombrosdeIsraeletorceuascostasdelesquandoseapoiaramnele,teráasuaterra transformada num deserto desolado (29.6-9). Ezequiel declara que,quando o Senhor fizer seu povo retornar, ele não mais terá vizinhosmaliciosos, pois Ele infligirá punição sobre todos os seus vizinhos que lhefizerammal(28.24,26).

Talvez seja na profecia de Joel que se encontre a descrição maisdramática das nações sendo trazidas a juízo por causa de seus atos decrueldadeparacomopovodeDeus.Todasasnaçõesdomundodevemreunir-se no “vale de Josafá”. Essa expressão descritiva (Jl 3.2) pode referir-se aoincidenteemqueos inimigosque invadiam IsraeldestruíramunsaosoutrosnosdiasdeJosafá(2Cr20.1-30).NodiavindourodejuízodescritoporJoel,as multidões se juntarão no vale da decisão. Mas a decisão não seráprerrogativadoshomens.Pelocontrário,Deuséquetomaráumadecisão(Jl3.12-14).20OSenhor entrará em juízo contra todas as nações “por causa daminha herança – Israel, omeu povo – pois o espalharam entre as nações erepartiram entre si aminha terra” (3.2NVI). “Mas o Egito ficará desolado,Edomseráumdesertoarrasado,porcausadaviolênciafeitaaopovodeJudá,emcujaterraderramaramsangueinocente”(3.19NVI).Nesseúltimogrande

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diade juízodapartedoSenhor, todasasnaçõesserão julgadascombasenamaneiracomotrataramopovodeDeus.

Uma vez mais é preciso lembrar que o povo de Deus não deve serconsiderado como sendo a mesma coisa que Israel “segundo a carne”. É amaneira de tratar overdadeiro povodeDeus, tanto judeus comogentios emsua origem, que servirá de base para a decisão de Deus com respeito àsmultidõesde todasasnaçõesnodiado juízo.Por isso, asnaçõesdomundodevemseralertadas.SuareaçãoparacomopovodeDeusespalhadopelaterraserá a base para seu juízo eterno. Embora a violação de todos os DezMandamentos tenha aplicaçãouniversal, é especialmente amaneira comoosdescrenteslidamcomopovodeDeusqueservirádebaseparasuamaldiçãooubênção.

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II.Comoosprofetasaplicavamaaliança

Paralelamenteà funçãoda lei, asaliançasqueDeus fezcomoshomensocupamumlugarcentralnoministériodosprofetas.TantooconceitogeraldaaliançacomoosdetalhesdasdiferentesaliançasestabelecidaspeloSenhornosprocessosdahistóriapodemservistosexercendoumafunçãovitalnavidadopovo.

Em alguns casos, muitas alianças são reunidas em um únicopronunciamentoprofético.QuandoantecipaofuturodeumIsraelrestaurado,Ezequielretrataaesperançadanaçãoreferindo-seaumasériedealianças:“OmeuservoDaviseráreisobreeles,etodoselesterãoumsópastor[alusãoàaliançadavídica].Seguirãoasminhas leise terãoocuidadodeobedeceraosmeusdecretos[aliançamosaica].ViverãonaterraquedeiaomeuservoJacó,aterra onde os seus antepassados viveram [aliança abraâmica]... Farei umaaliançadepazcomeles;seráumaaliançaeterna[novaaliança]”(Ez37.24-26NVI).Oprofetaviuqueumaúnicaaliançanãoerasuficienteparadescreverasexpectativas futurasdopovonasua terra restaurada.Claramente,elevêcadaumadassucessivasaliançasampliando-senaspromessasanterioresdoSenhorfeitasaoseupovo.Asdiferentesaliançasnãosubstituíramumasàsoutrasnodecorrer da história. Os requisitos legais da aliança mosaica não foram deencontro às promessas da aliança abraâmica. Pelo contrário, cada aliançasucessivafazsuacontribuiçãoparaoperfeitopropósitodeDeusparacomseupovo.

HáumapassagemnaprofeciadeJeremiasqueressaltaesseprincípiodaunidadedasalianças.NoesforçoderenovaraconfiançadopovonafidelidadedeDeuscomrespeitoaoscompromissospactuaispoucoantesdadevastaçãodo exílio, Jeremias declara que o Senhor fará com que os descendentes deDavieoslevitasserão“tãonumerososcomoasestrelasdocéueincontáveiscomo a areia das praias do mar” (Jr 33.22 NVI). Por meio dessa evidentealusãoàspromessasdaaliançaabraâmicaeaoscompromissosdoSenhornasalianças davídica e mosaica, o profeta vincula essas três grandesadministrações pactuais como uma firme base para a expectativa quanto aofuturodepoisdoexílio.21

AssimtambémoprofetaIsaíasentrelaçaasaliançasdeAbraãoeDavinaexpectativa de um retorno ao estado original das coisas no jardim doÉden.IsraeldeveolharparaAbraãoseupaieconfiarqueoSenhorcertamentevaiconsolarSião,poisEletransformaráseudesertodetalformaqueeleassumiráas características de um jardim do Éden restaurado (Is 51.2,3). No final, as

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duasaliançasvãofundir-senessagrandeconsumação.Essaliberdadedosprofetasdefundirasváriasaliançasseapresentaoutra

vez na mensagem dos profetas posteriores ao exílio. De acordo com asexpectativasescatológicasdeZacarias,asnaçõesestrangeirasquenãosobemcom Israel para celebrar a festa dos tabernáculos serão amaldiçoadas compragas assim como o foi o Egito antigamente como consequência da suaviolência contra a semente de Abraão (Zc 14.16-19). Esse profeta juntaelementos da aliança abraâmica, damosaica e da nova aliança, e assim criaumacombinaçãodeexpectativaescatológica.

Essarepetidafusãodasváriasalianças,comobaseparaentenderafuturaesperançadopovodeDeus,éumalertacontraqualqueresforçoparaseparar,deformademasiadamenterígida,essasdiferentesadministraçõesdagraçadeDeus no decorrer das épocas. Embora sejam distintas em seus diferentescontextos,aspromessaspactuaisdoSenhorevidenciamumaunidadeessencial.

Quandoexaminamoscommaiscuidadoasaliançasespecíficasàmedidaque surgem no ministério dos diferentes profetas, manifestam-se ênfasesdistintas.Asaliançasnãoexercemfunçõesiguaisnasmensagensdosprofetas.Certas alianças ocuparam claramente uma prioridade no pensamento deles.Mas cada uma das várias alianças divinas encontra representação nasdiferentesmensagensdosprofetas.

A.AaliançadeDeuscomAdãoAlgumaspessoasnegamqueexistanaEscrituraqualquermençãodeuma

aliançadeDeuscomAdão.ÉprecisoreconhecerqueosprimeiroscapítulosdeGênesisnãousamapalavraaliançaparadescreveressaépocanahistóriadahumanidade.MasOseiasindicaqueIsraeleJudánãosãomelhoresdoqueosoutros povos, pois “emAdão eles quebraram a aliança” (Os 6.7 NVI). Nãoimporta se a palavra hebraica adam neste texto se refere ao homem(humanidade)emgeralouaoprimeirohomem,aimplicaçãoéamesma.Deusestabeleceu uma aliança com a humanidade, distinta da aliança feita comIsrael.22Jeremiasrefere-seaocaráterimutáveldaaliançadeDeus“comodia”esua“aliançacomanoite”,queusaaterminologiapactualparareferir-seàsordensestabelecidasnacriação(Jr33.20NVI).23Namentedessesprofetas,ovínculoestabelecidopela criação forneceo fundamentodaobraprogressivapararedimirseupovodasuacondiçãodecaída.

Consequentemente, o profeta Isaías declara que o juízo de Deus sobreIsraelporcausadaviolaçãodasuaaliança resultaránumamaldiçãoda terraquesecomparaàmaldiçãooriginal.Váriasvezeseleserefereaos“espinhoseabrolhos” que vão sufocar o produto da vinha do Senhor (Is 5.6; 7.24,25;

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32.13). Embora as palavras hebraicas para espinhos e abrolhos na maioriadesses casos não sejam asmesmas palavras encontradas emGênesis 3.18, asemelhança éque Isaíaspretende retratar amaldiçãooriginal da terra sendorepetida por causa da desobediência de Israel. Numa passagem paralela, oprofetaOseias usa asmesmas palavras para espinhos e abrolhos usadas emGênesis 3.18 (Os 10.8).Em Isaías, essa conexão com amaldição da aliançaoriginal é sustentada pelas imagens de um retorno às circunstânciasparadisíacasdepoisdeIsraelsercastigado(Is32.15-20).

Embora não sejam abundantes as referências que os profetas fazem aorelacionamentooriginaldeDeuscomahumanidadenumcontextopactual,elassão significativas. A obra da redenção apresenta as estruturas pactuais dacriação como o ponto do qual o homem se desviou pormeio do pecado ecomoabaseparaumaexpectativadarenovaçãodaterra.

B.AaliançadeDeuscomNoéQuandoconfirmaseuamorimutávelparacomseupovo,oSenhorindica

que,assimcomoElejurouqueaságuasdeNoéjamaisiriamoutravezcobrira terra, assim agora Ele jura jamais outra vez repreender seu povo (Is54.9,10).AaliançacomNoé,quenopassadocontinuouemvigorpor tempoindeterminado,agorasetornaopadrãoparaDeuspreservarseupovoduranteasépocasvindouras.AintegridadedoDeusTodo-poderosoquefoifielaoseujuramentoaopatriarcaNoégaranteabênçãodeDeusportempointerminávelnofuturo.

Numapassagemdesse“pequenoapocalipse”(caps.24-27),IsaíasfazecoàlinguagemqueoriginalmentedescreveaexpansãodaságuasdodilúvionosdiasdeNoé:as“comportasdocéuseabriram”,eaáguasubmergiuaterra(Gn7.11). De forma semelhante, Isaías antecipa o dia vindouro em que as “ascomportas do céu se abrirão” e um segundo juízo universal será aconsequência(Is24.18).Oprofetaantevêodiafinalemquechegaráaofimaterraconformeaconhecemosagora.Paravivificarsuamensagem,elerecorreà antiga linguagem do dilúvio, referente à abertura das comportas do céu.AssimcomonosdiasdeNoéaimpiedadedohomemsetornoutãograndequefoi inevitávelo juízododilúviovindodoSenhor, assimno futuro amesmacircunstânciavai produzirum juízo cataclísmico similar.Oprofetadiz: “tãopesada sobre ela é a culpa de sua rebelião que ela cai para nunca mais selevantar!”(24.20NVI).24

Deumaperspectivadiferente,oprofetaOseiasrelembraoladograciosodaaliançacomNoéemsuaantecipaçãodeumaaliançaconsumadoracomouniverso. Os deuses de Baal prometiam fertilidade para a terra, mas não

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tinhamacapacidadedecumpriraprópriapalavra.MasoSENHORdaAliançavai“cortarumaaliança”comasferasdocampo,comasavesdocéuecomascriaturas que rastejam pelo chão (Os 2.18). A lista de seres vivos faz ecoperfeito com a linguagem de Gênesis em suas repetidas listas de criaturasenvolvidas no dilúvio (Gn 6.7; 8.17,19; 9.2). A produtividade aumentada daterraantevistaporOseiasseopõedeliberadamentecontraosjuízosdodilúvioeantevêasituaçãoabençoadadopovonarestauraçãodaterra(Os2.21-23).25

OutraalusãoàaliançadeDeuscomNoénosescritosproféticospodeserencontrada na referência à ordem estabelecida do dia e da noite, que podereferir-se ao restabelecimento dessas ordenanças referentes à criaçãoconforme foram confirmadas na aliança com Noé (Jr 33.20). De qualquerforma,aordemestabelecidapelapromessadeDeusaNoéforneceabasedasegurançacomrespeitoàfidelidadedeDeusnofuturo.Namentedosprofetas,aobrigaçãopactualparacomNoécontinuavamantendosuaimportância.

C.AaliançadeDeuscomAbraãoRepetidamente,osprofetasasseguramaIsraelsuafuturabênçãocombase

naspromessaspactuaisfeitasaAbraão.OSenhorque“redimiuAbraão”dizàcasa de Jacó que não deve se envergonhar (Is 29.22). Israel, como“descendente deAbraão” é o servo escolhido deDeus (41.8).A nação deve“olharparaAbraão[seu]pai”,quefoichamadoaumrelacionamentopactual(51.2).O“amorimutável”doSenhoraindaédirigidoaIsraelcomo“Abraão”deacordocomo juramentodaaliança (Mq7.20).Osprofetas repetidamentereferem-se à bênção da sua semente originalmente concedida a Abraão (Is6.13; 41.8-10; 43.5; 44.3; 45.19,25; 48.19; 53.10; 54.3; 59.21; 61.9; 65.9,23;66.22; Jr 30.10; 31.36,37; 33.22; 46.27; Ez 20.5; Zc 10.9). De formasemelhante, a promessa feita a Abraão com respeito à terra recebe umaconstante ênfase nos profetas, especialmente em sua relação com o tema darestauração depois do exílio. A promessa a Abraão de que ele seria “umabênção para as nações” pode ser considerada como uma das plataformas-chaves da mensagem dos profetas, dominando sua expectativa quanto aofuturo.

A mais plena e singular abordagem da aliança com Abraão entre osprofetasencontra-senadramáticarepetiçãodacerimôniaderenovaçãopactualexecutadanosdiasdeZedequias,oúltimo reide Judá (Jr34).Como reidaBabilônia batendo contra as portas de Jerusalém, Zedequias ordena umacerimôniaderenovaçãopactualincluindouma“passagempelomeiodasduasporções” (34.18,19).Esseprocedimento éumaexata repetiçãodopadrãodamaneiradefazeraliançaseguidoporAbraão(Gn15.10,17,18).Paralelamente

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a essa alusão à maneira de executar a cerimônia pactual que inaugurou aaliançadeDeuscomAbraão,oprocedimentodeexecuçãodaaliançaseguidopelo rei Zedequias refletiu igualmente o padrão da renovação da aliançamosaica, incluindo a leitura da lei e a promessa de obediência por parte dopovo. O juízo pronunciado sobre Zedequias e seus contemporâneos surgiuporque eles violaram a primeira das leis específicas listadas no “livro daaliança”comrespeitoàlibertaçãodosescravosisraelitasacadaseteanos(Êx21.1-3;vejatambémJr34.12-17).26

A ligação dessas duas alianças explica como os profetas de Israelconseguiam antever tanto a calamidade como a bênção para Israel. Acalamidade haveria de vir por causa da violação da lei da aliança. Mas épossívelprometer abênçãocomoa conclusãoúltimapor causada soberanapromessa por parte deDeus de abençoar seu povo apesar dele nãomerecerabsolutamentenada.Ésomentenessecontextomaisplenoda fusãodeváriasalianças que o ministério dos profetas pode ser entendido de maneiraapropriada.

D.AaliançamosaicaToda a base da declaração oficial do juízo iminente contra a nação

fundamenta-se no lugar ocupado pela lei mosaica na aliança divina. Se nãoexistissenenhumaleiquecondenasseessaspráticas,especialmentepelofatodecontradizerem diretamente as práticas culturais aceitas pelos povos que osrodeavam, os profetas não teriam nenhuma base firme para suas denúnciascontraaviolaçãodoShabbath,aadoraçãodosídolos,asoferendasaosoutrosdeuses,ouasrelaçõessexuaisforadocasamento.27

Diga-lhes que assim diz o SENHOR da Aliança, o Deus de Israel: Maldito é aquele que nãoobedeceraos termosdestaaliança,osquaisordeneiaosantepassadosdevocês,quandoeuos tireidoEgito...Eudisse:Obedeçam-meefaçamtudooquelhesordeno,evocêsserãoomeupovo,eeusereioseuDeus.Entãocumprireiapromessaquefizsob juramentoaosantepassadosdevocês,dedarlhesumaterraondemanamleiteemel...(Jr11.3-5NVI)

Osmandamentos da aliança feita pormeio deMoisés serviramdebaseparaoministériodosprofetas.Essencialmente, tudooqueelesdisseram foi“tudofundamentadonaherançamosaica”.28Aomesmo tempo,namentedosprofetas,aaliançacomMoiséstinhadeservistacomoinseparáveldaaliançaseguinte,adeDavi.OsprofetasescritoresdeIsraelatuaramduranteoperíodoespecíficodahistóriadeIsraelemqueestavaemvigoraaliançacomDavi.Ocontextohistóricotornaaindamaisevidenteafunçãocentraldaaliançamaisantiga, a mosaica, no ministério dos profetas. A aliança feita por meio de

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Moisésnãoperdeunadadasua importânciaporocasiãodoaparecimentodaaliançacomDavi.

E.AaliançadeDeuscomDaviÉ compreensível que a aliança davídica fosse exercer uma função

importante no ministério dos profetas. Essa aliança foi a última e maisdesenvolvida aliança na experiência histórica da nação. Além disso, osprofetassedirigiamprimeiramenteaosreisdeIsraeleànaçãodeJudá,cujocentroestavaemJerusalém,eessesdoiselementossãoocoraçãodaaliançadavídica. Essa aliança claramente exerce a função central noministério dosprofetas de Israel do século VIII ao século V a.C. Todas as expectativasproféticas referentes a um futuro para Israel derivam das duas promessascentraisdessaaliança:(1)apreservaçãodeumdescendentedeDavinotrono,e(2)adivinadefesadacidadedeJerusalém.29

A monarquia do norte originalmente estabeleceu sua independência dafunçãodalinhagemdeDavisobestaproclamação:

QuetemosemcomumcomofilhodeJessé?

Paraassuastendas,óIsrael!Cuidedasuaprópriacasa,óDavi!(1Rs12.16NVI)

A despeito desses enraizados afastamentos, Oseias não se desculpa porapresentaraúnicaesperançadelongoprazoparaessereinorebelde.Porcausado seu pecado, Israel se tornará “Não-Meu-Povo”. Mas: “Depois disso osisraelitasvoltarãoebuscarãooSENHOR daAliança,o seuDeus, eDavi, seurei”(Os3.5NVI).30

AconspiraçãodaSíriaedeEfraimparasubstituirodescendentedeDavipelo “filho de Tabeel” nos dias de Isaías não pode ser bem-sucedida. Senecessário,Deusfaráatémesmoqueumavirgemconcebaegereumfilho(Is7.6,7,14).ApromessapactualdeDeusfeitaaDavinãoseráquebrada.Todososprofetas anteriores ao exílio, do exílio e posteriores ao exílio fazem eco àpromessa pactual feita a Davi com respeito à linhagem perpétua dos seusdescendentesnotronodeIsrael.Essapromessaforneceamaisfortebaseparaaesperançadeumfuturoreimessiânicodepoisdosjuízosdoexílio(Is9.6,7;11.1-10;16.5;22.20-25;25.6-12;33.20,21;37.31,32;55.3b,4;Jr23.5,6;33.14-26;Ez34.23,24;Os3.5;Am9.11,12;Mq5.2;Zc6.9-15).

Aomesmo tempo, toda amensagemprofética referente à singularidadede Jerusalém/Sião e o complexo do templo depende da palavra inicial daaliançadavídica.ComoindicouoprofetaNatã,ofilhodeDaviedificariauma

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casa paraoSenhorno lugar escolhidopelo reiDavi, embora esse lugar nofinaldascontastivessesidodeterminadopeloSenhor(2Sm7.13;vejatambémSl 78.67-72). Essas promessas pactuais eram o fundamento para a contínuaênfasedosprofetasnafunçãodocomplexoSião/Jerusalém.

Amósoprofetaboiadeirodo reinodosul ressaltaacontínua funçãodeSião e Jerusalém em suamensagem aos habitantes do norte: “OSENHOR daAliançarugedeSiãoe trovejadeJerusalém” (Am1.2NVI).Ele finaliza suaextensa palavra de juízo contra o reino do norte, Israel, mostrando-lhe aesperançadarestauraçãodatendacaídadeDavieareconstruçãodosmurosdeJerusalém(9.11,12).

TodaamensagemdeesperançadeIsaíascentra-senessapromessafeitaaDavicomrespeitoàexaltaçãodocomplexoSião/Jerusalém:“NosúltimosdiasomontedotemplodoSENHORdaAliançaseráestabelecido...PoisaleisairádeSião,de Jerusalém virá a palavra doSENHOR daAliança (Is 2.2,3).31 Noúltimo dia, os que forem deixados em Jerusalém/Sião “serão chamadossantos”, e o Senhor criará em todo omonte Sião “uma nuvem de dia e umclarãodefogodenoite”(4.3-5).Osreisdaterraeospoderesdoscéusserãopunidos, pois oSENHOR da Aliança reinará nomonte Sião e em Jerusalém(24.21,23). Como as aves dão proteção aos filhotes com suas asas, assim oSENHOR da Aliança, o Senhor dos Exércitos protegerá Jerusalém (31.5). Ofogo e a fornalha dos juízos deDeus que vão consumir aAssíria estão emSiãoeemJerusalém(31.8,9).NenhummoradordeSiãodirá:“‘Estoudoente!’Eospecadosdosquealihabitamserãoperdoados”(33.24).ÉparaJerusalémque a mensagem de conforto e boas novas deve ser entregue (40.2,9).Jerusaléméacidadea respeitodaqualCirodiz:“Seja reconstruída”(44.28;veja também 45.13). “Os resgatados do SENHOR da Aliança voltarão” paraSião com cântico, e “tristeza e suspiro deles fugirão” (51.11). Jerusalém, acidadesanta,seráadornadacom“roupasdeesplendor”(52.1).Acidadeaflitaserá reconstruída com safiras, rubis e pedras preciosas (54.11,12).Todosos“seusfilhos[deJerusalém]serãoensinadospeloSENHORdaAliança,egrandeseráapazdesuascrianças”(54.13).OsantomontedoSenhorseráuma“casadeoraçãopara todosospovos”(56.7).“ORedentorviráaSião,aosqueemJacó se arrependeremdos seuspecados” (59.20).Estrangeiros reconstruirãoosmurosdeSião,aglóriadoLíbanoenfeitaráosantuáriodeSião,etodososinimigosdeIsraelchamarãoSiãode“CidadedoSENHORdaAliança”(60.10-14).OsquechoramemSiãousarão“umabelacoroaemvezdecinzas”(61.3).Por amordeSião ede Jerusalém,oprofetanãodescansará “enquanto a suajustiça não resplandecer como a alvorada” (62.1). Sião será chamada

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“procurada, cidade não abandonada” (62.12).OSenhor vai “criar Jerusalémpara regozijo, e seu povo para alegria” (65.18). A “riqueza das nações”correráparaJerusalém,epovosestrangeirosserãotrazidos“comoofertaaoSENHOR da Aliança”, com alguns deles servindo como sacerdotes e levitas(66.12,20,21).

Emboraapresençadessa“teologiadeSião”nãosejaexclusivaàprofeciade Isaías, é impressionante amaneira como ela permeia todo o seu livro.32Mas é preciso lembrar que toda a imagística provémdiretamente da aliançafeita com Davi. Sem dúvida nenhuma, a aliança davídica exercia umaimportantefunçãonoministériodosprofetas.33

F.AnovaaliançaA nova aliança, nos escritos proféticos, fornece a transição necessária

paraumaera completamentediferentequedeveria suplantar as imperfeiçõesdas formas da antiga aliança. Depois de uma sucessão de alianças que seestendeupormaisde1.400anos,abrangendoavidadeAbraão,MoiséseDavi,anaçãoescolhidadeDeusaindanãoestavacumprindosuamissãodeserumabênçãoparatodasasnaçõesdomundo.AsformasesombrasdaantigaaliançasimplesmentenãoeramcapazesdeconduziropovodeDeusaoseuestadodeplenarealização.34 Assim,nohorizontedofuturo,surgeadivinaprovisãodeumaaliançadeespéciediferente.EssanovaaliançanãoseráisoladadetodosostratosanterioresdoSenhorcomoseupovo,35maseladevesertotalmentediferente porque sua essência repousará na renovação de todas as coisas,inclusive o coração do povo da aliança deDeus.36Mesmo o livro da lei deDeuteronômiotinhafeitoumaconvocaçãoàobediênciadocoração,eanovaaliançaagoramostracomoissopodeacontecer.OSenhortomaráainiciativaeescreverásualeinocoraçãodopovo.37

G.SumárioParaosprofetas, a sériedeobrigaçõespactuaisqueoSenhorde forma

soberana estabeleceu com Israel explica a origem da nação no passado, dátestemunhoquantoaostratosdoSenhorcomseupovonopresente,eantecipaas experiências de felicidade e desgraça no futuro.A verdadeira religião deIsraelnãotemsuaorigemnasimaginaçõesdoshomens,masnasiniciativasdeDeus.Todososministériosdosprofetaspodemserexplicadosemtermosdecomoaplicaramasváriasaliançasaopovo.

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III.Conexãoentrealiançaeleinosprofetas

Esses dois grandes elementos, lei e aliança, são a base para entender oministériodosprofetas.Mascomoessesdois elementos se relacionamentresi?

Aleitemsuaorigemnaaliança.OrelacionamentoespecialdeIsraelcom o Senhor como consequência da aliança conduz à revelaçãoqueEle lhesdáda lei.Por causada aliança, Israel é levadoaumacompreensãomaisplenadavontadedeDeusdoquequalqueroutranaçãojáexperimentou.A aliança da redenção, originada de um princípio da graça, tornapossívelabênçãoadespeitodatransgressãomerecedoradasentençade morte conforme a lei. As profecias referentes ao exílio e àrestauraçãosópodemsercompreendidasnocontextodasgraciosasprovisõesfeitaspelasaliançasdeDeus.A fusão aperfeiçoada de lei e aliança encontra-se nas provisõesfeitasnanovaaliança.Asleis,ordenançasemandamentosdoSenhornão mais continuarão do lado de fora da vida do povo. Pelocontrário, a administração da nova aliança criará um coração quesente prazer em cumprir a lei do Senhor. Nesse contexto pactualfinal,todasasbênçãosdaaliançaserãoexperimentadaspelopovodeDeus.

Porcausadauniãoda leiedaaliançanosprofetas,aesperadareaçãoaessasduasdimensõesdo relacionamentodeDeus comseupovoé amesma:arrependimento e fé seguidos por uma vida de obediência ao SENHOR daAliança.Aimportânciadessesconceitosévistanaricavariedadedemaneirascomosãoexpressosnosprofetas.

Os profetas podem juntar seu chamado ao arrependimento com umasegura promessa de bênção. Ou eles podem oferecer apenas a limitadapossibilidade de restauração no caso de um retorno ao Senhor. As duasmaneiras de chamar ao arrependimento ocorrem no mesmo capítulo emAmós. Quando dirige a palavra do Senhor ao reino do norte, Amós diz:“Busquem-meeterãovida”(Am5.4);“BusquemoSenhoreterãovida”(5.6);“Busquem o bem, não o mal, para que tenham vida” (5.14). Mas depoisimediatamenteacrescenta:“Odeiemomal,amemobem...TalvezoSENHORdaAliança,oDeusdosExércitos,tenhamisericórdia”(5.15).38

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Algumaspessoasargumentamqueochamadoaoarrependimentonãotemlugar nenhum namensagem genuína dos profetas.39 Já outros propõem queum “talvez” condicional anexado à mensagem de arrependimento sejaincompatível coma expressãodeclarativa “assimdiz oSENHOR daAliança”dosprofetas.40Masasduasformasdechamadoaoarrependimentocombinambemcomoministériodosprofetas.OSenhorjamaisteriadadoinícioaumaaliançapararedimirumpovorebeldesenãoestivesseabertoàpossibilidadede voltarem para Ele. Assim, Oseias coloca uma oração de arrependimentonos lábios dopovo: “Venham,voltemospara oSENHOR daAliança. Ele nosdespedaçou,masnos trarácura” (Os6.1NVI). Joel instruios sacerdoteseopovo a vestirem pano de saco e declararem um santo jejum (Jl 1.13,14).Miqueiasorientaopovo:“Ouçam,tribodeJudáeassembleiadacidade”(Mq6.9NVI).EIsaíasadverteanação:“Paremdefazeromal,aprendamafazerobem!...Sevocêsestiveremdispostosaobedecer,comerãoosmelhoresfrutosdestaterra”(Is1.16,17,19NVI).41

Ao mesmo tempo, o pecador não pode jamais vangloriar-se como setivesseumachavequecontrolaDeus,deformaque,seapessoasearrepende,elanãoprecisatemerabsolutamentequeojuízodeDeusvácairsobresi.Não;ésomenteoTodo-poderosoquemdeterminaquandodeveinfligirjuízoscomocastigo sobre seu povo. Suas ações não devem, por causa disso, ser vistascomoarbitrárias,poisde forma inerenteànaturezadeDeusháumsensodejustiça e misericórdia restauradora que pode ser qualquer coisa, menosarbitrária.MasébemverdadequeaspessoasnãocontrolamaDeus.Atosdearrependimentonãotêmacapacidadedemanipulá-lo.

Mas os repetidos “talvez” dos profetas fornecem ampla razão para aspessoassearrependerem:“TalvezoSENHORdaAliança,oDeusdosExércitos,tenhamisericórdia” (Am5.15NVI).“...talvezvocês tenhamabrigonodiadaira do Senhor” (Sf 2.3). “Talvez ele volte atrás, ...e ao passar deixe umabênção”(Jl2.14NVI).Poressarazão,opovodeveretornaraoSenhorqueosadvertiueatéoscastigou.

Deacordocomosprofetas,ooutroladodeumareaçãoapropriadaàleieàaliançaéafé.ÀvistadacondescendênciadapartedeDeusemestabeleceraintimidadedeumrelacionamentopactual,ograndepecadodeIsraelfoideixarde confiar nele com respeito a tudo o que é necessário para a vida e asalvação.42 Quando confronta Acaz por ocasião da invasão sírio-efraimita,Isaías jogacomapalavrahebraicapara “fé” (amen): “Sevocêsnão ficaremfirmesnafé,comcertezanãoresistirão!”(Is7.9NVI).Motyerdiz:“AfééarealidadecentraldopovodoSenhor,nãoapenasaquiloqueosdistingue,mas

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ofundamentodasuaexistência.Semféopovonãoexiste”.43Asnumerosasformasemqueoconceitodaféseexpressanosprofetasé

apenasum indicadorda funçãocentraldesta reaçãoàaliançaeà leidadasaIsrael.Umaamostradeexpressões,extraídasespecialmentedeIsaías,forneceumaideiadaamplitudedaterminologiausadapelosprofetasparacomunicaraideiadafé:

confiança no Senhor (Is 26.3,4; 28.16; 50.10; Jr 39.18;Na 1.7; Sf3.2,12)invocaronomedoSenhor(Sf3.9)apoiar-senoSenhor(Is10.20)prestaratençãonoSenhor(Is22.11;31.1;51.1,5)respeitaroSenhor(Is22.11b)descansareficarquieto(Is30.15)esperarnoSenhor(Is30.18)prestaratençãonapalavradoSENHORdaAliança(Is51.4;Jr26.3)darouvidos(Is55.3)buscaroSenhor(Is51.1;55.6)invocaroSenhor(Is55.6)aguardarcomesperança(Is51.5)manternocoraçãoaleideDeus(Is51.7)fazerdeDeusoseurefúgio(Is57.13)

A chave para uma reação apropriada à mensagem dos profetas é umaplenaentregadesimesmoaoDeusdaaliança.OpovodeDeusprecisaparardepôrsuaconfiançanoshomensepassaradependerinteiramentedoúnicoeverdadeiroDeusvivo.

Dessearrependimentoeconfiançavaijorraravidadeobediência.Depoisde receber as bênçãos da redenção, a pessoa regozija-se por andar noscaminhos do Senhor. A obediência que brota da fé ratifica a posse daspromessas encontradas nas alianças deDeus.O servodoSenhormostra suaprontidão em servir quandoobedece à voz doSenhor (Is 50.4,5).OSenhorseráoDeusdeles,eelesserãooseupovo,massomenteseobedeceremàsuavoz (Jr 7.23). O povo precisa corrigir seus caminhos e comportamento eobedecer ao SENHOR da Aliança, seu Deus (26.13). Somente se o povoobedecer diligentemente é que terá o privilégio da comunhão íntima com oSenhoreseusdivinosconvidados(Zc6.15).

OSenhormostraclaramentecomoElequerqueopovo reajadiantedasua aliança e sua lei.Opovoprecisamostrar tristeza e arrependimentopelo

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seupecado,eprecisaexpressarsuacompletaconfiançaunicamentenoSenhorpara sua salvação. Somente assim é que será capacitado a viver uma vidaagradávelaEle.

Leiealiançaprecisamservistascomoosmaioreselementosdefinidoresdo ministério dos profetas de Israel. Absolutamente todos os problemasrelacionados com a compreensão doministério dos profetas encontram suasolução na administração da lei e da aliança de Deus. Nessas provisões épossível encontrar no final das contas a expectativa do Cristo das alianças,daquelequeguardoualeiemfavordopovodeDeus,doLegisladordopovodeDeus,queviveuemorreuparacumprirasexigênciasda leipactualequepersonificaocoraçãodaaliança,aquelequeéEmanuel:Deusconosco.

1VejaBarton,“EthicsinIsaiahofJerusalem”,80,85,86.EmseuesforçoparaestabelecerafunçãodaleinaturalemIsaías,Bartondescuidadamente repeteoitodosDezMandamentosdoSinai.Eleestácertoquandomostraoorgulhoeaidolatriacomoosprincipaispecadosdopovo.Masseuargumentoemfavorda leinaturalnaverdade seprestamaispara ressaltar a funçãoda lei reveladadeDeus.VonRaddizqueacondenaçãodopovoporpartedosprofetasnãosebaseiameramenteemprincípioséticos gerais,mas se fundamenta “na tradiçãomais antiga da lei sacra, especialmente no Livro daAliança” (Old Testament Theology, 2.136). Clements (Prophecy and Tradition, 44) diz que uma“Torárevelada”éabasefundamentaldavidadeIsrael,deformaqueasminuciosasdenúnciasdosprofetaspodemserchamadasdeumabandonodaToráreveladanoSinai.

2Phillips(“ProphecyandLaw”,223)observaqueOseias8.12 indicaque jáhavianosdiasdeOseias“umclaroconjuntoescritodeleis,oficialmentecreditadoaYahweh,aquemsepodiaapelar”.

3Arib (controvérsia)queoSenhor temcomseupovopode ser caracterizadaapropriadamente comouma“demandapactual”.Combasenaviolaçãodascondiçõesdaaliança,oSenhor temumacausacontra seu povo. Outras passagens de Oseias aplicam a lei ao seu povo: 7.1b-7 (engano, roubo,mentiraseadultério)e9.5(diasdefesta).

4 Phillips(“ProphecyandLaw”,225)dizque“nãohádúvida”queessescincoinfinitivosabsolutossereferemacincodosDezMandamentos.Depois,eleafirmaqueexiste“forteevidência”dequeelesse devam a uma “edição deuteronômica” de Oseias, mas não fornece base nenhuma para essaconjectura.

5VonRaddiz:“NãohácomoenfatizardemaisapreocupaçãodeIsaíaspelaleidivina”(OldTestamentTheology,2.149).EssaobservaçãopodesercontrastadacomapropostadeBright (Covenant andPromise, 113) de que o ministério de Isaías deve ser entendido em termos das promessasincondicionaisdaaliançadavídica. Isaíasclaramenteenfatizaessaaliança,masdificilmentepoderiasercaracterizadocomoumprofetaqueministroupromessasincondicionais.

6 “O padrão pelo qual Ezequiel mede a conduta de Israel são as ‘ordenanças’..., os ‘juízos’..., queYahwehdeuaoseupovo(Ezv.6,etc.)”(vonRad,OldTestamentTheology,2.224).

7 “Também para Daniel o fundamento do bem-estar de Israel é a lealdade aos mandamentostradicionais,eseumaiorperigo,qualquercoisaquefrustreessalealdade”(ibid.,2.309).

8Phillips (“Prophecy andLaw”,230)propõeque sedeve retroceder aosDezMandamentospara “aprática jurídica local nativa, há muito tempo administrada pelos anciãos nos portões das cidades”.MasseráquedefatosesupõequealeidoShabbath,a leicontraacobiça,a leicontraa idolatria

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simplesmentesurgiramespontaneamentenosdiferentesportõesdaterra?QualqueresforçoparaficaratrásdosDezMandamentosconformeaparecemhojenasEscrituraspareceumesforçoextremamenteinútil.Aperfeiçãodessasdezpalavras,amaneirapelaqualresumemtodaaobrigaçãomoralhumana,asingularidadedasuafunçãocomopadrãoemIsrael–todosessesfatoresfalamnãodeumaorigemhumana,masdeumaorigemdivina.DeondeIsraelconseguiuaideiadesepararumdiaemseteparadescansareadorar?ComoéqueeleschegaramaoconceitoqueoDeusdelesnãodeviaseradoradopormeiode ídolos?Nocontextoda imoralidadecananeia,ondeéque Israel conseguiua ideiadeproibiroadultério?Oprimeiromandamento,denãoteroutrosdeuseseoúltimomandamento,denãocobiçarascoisasdeoutrapessoasão,defato,distintivosdessanação.

9Asviolaçõesdessaprimeiraproibiçãosãocitadaspelosprofetasemváriasfasesdahistóriadanação.Oseias13.4refere-sedeformaespecíficaaessemandamentonaacusaçãocontraIsrael:“Maseusouo SENHOR daAliança, o seuDeus, desde a terra do Egito.Vocês não reconhecerão nenhum outroDeusalémdemim,nenhumoutroSalvador”(NVI).Sofonias1.4b,5condenaosincretismoqueuneBaalaoSENHORdaAliança.Depoisdoexílio,Jeremias44.15fazacusaçãocontraasmulheresque,noEgito,queimamincensoaoutrosdeuses.

10Outrosexemplosemqueosprofetasexpõemopecadodopovopor“tomarseunomeemvão”sãoaceitarjuramentosemnomedoSenhor,masnãoemjustiça(Is48.1b);jejuar,masnãocomverdadeirapreocupaçãopelobem-estardopovodeDeus(58.3-12);iraocentrodaadoraçãoidólatradeBetel(Am4.4);jurarfalsamente(Zc5.1-4;8.17);mostrardesprezoparacomonomedoSenhor(Ml1.6).

11ParaumaabordagemdopermanentevalordaordenançadoShabbathnocontextodanovaaliança,vejaMurray,PrinciplesofConduct,30-44;Robertson,ChristoftheCovenants,68-74.

12NolivroFromSabbath toLord’sDay,deCarson,um influentegrupodeeruditosevangélicos fazumgrandeesforçopara abolir a funçãodoShabbath comoordenança da criação.No ensaio finaldessa coletânea, Lincoln prontamente reconhece o efeito de estabelecer que oShabbath seja umaordenança da criação: “Se pudesse ser estabelecida a hipótese do Shabbath como ordenança dacriação, então,não importandoanatureza temporáriadoShabbath comoparte da aliançamosaica,aindapoderiaserfeitaaapelaçãopelapermanênciadaordemdeumdiadedescansocomoinerenteàhumanidade feita à imagem de Deus” (346). Depois, ele se refere ao texto de Carson no mesmovolumeemfavordeuma“detalhadarefutação”daafirmaçãodequeJesusestabeleceuocaráterdoShabbath comoordenançadacriaçãoquandodisse:“OShabbath foi feito [egeneto] por causa dohomem[diatonanthrōpon]” (Mc2.27NVI).Essapassagemédignadenotanãoapenaspeloquediz, mas pelo que ela não diz. De acordo com o testemunho de Marcos, Jesus não disse: “OShabbath foiordenado para Israel”. Em vez disso, Ele disse: “O Shabbath foi feito [i.e., veio aexistir]porcausadohomem”.EmborasejabemextensaadiscussãodeCarson(62-66),eladeixadefornecerarefutaçãoprometidacomrespeitoàordenançadacriaçãonessaspalavrasdeJesus.CarsonreconhecequeaafirmaçãodequeoShabbath“foifeito”refere-seàaçãodeDeus.MasquandofoioShabbath“feito”porDeus?UmavezqueoShabbathnãofoi“feito”,massim“ordenado”noSinaipor ocasião da entrega da lei, a frase precisa ser considerada como se referindo à sua atividadecriativa.CarsonfornecequatrousosdotermoanthrōposemMarcos(89n.56).Ousoem2.27nãose enquadra em nenhuma das duas primeiras categorias (“filhos dos homens” [usada uma vez] e“FilhodoHomem”comotítulomessiânico).Carsonreconhecequeadistinçãoentresuasúltimasduascategorias“podemserartificiais”,umavezqueambassereferemaoshomensemgeralouaohomemgenérico (humanidade), aindaqueumadessas categoriasdevez emquando se refira a umhomemespecífico.Mas Carson insiste queMarcos 2.27 “não pode referir-se a ‘humanidade’ apenas combase na palavraanthrōpos”.A quê, então, se refere a palavraanthrōpos? É preciso que o termoqueirasignificarohomememgeral(i.e.,homemgenérico,humanidade)oualgumhomemespecífico(eclaramenteJesusnãodizqueoShabbathfoifeitoparaumhomemespecífico).Assim,parececlaroqueMarcos2.27 refere-seàaçãodeDeusde“fazer”oShabbathporcausada“humanidade”emgeral,oqueéomesmoquedizerqueoShabbathéumaordenançadacriação.

13Omandamentoreferenteaorespeitopelospaisreceberepetidaênfasenasporçõesrelativasàleino

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Pentateuco(Êx20.12;21.17;Lv19.3;20.9;Dt27.16).Tambémseencontramreferênciasespecíficasaestemandamentonosescritosproféticosanterioresaoexílio(Mq7.5,6),duranteoexílio(Ez22.7)eposterioresaoexílio(Ml1.6).

14AscitaçõesaseguirsãotodasdaNVI.15A melhor e mais minuciosa explicação e aplicação dos Dez Mandamentos ainda se encontra noCatecismo Maior dos padrões de Westminster, Perguntas 98-152. [O Catecismo Maior deWestminstercomentadoporJohannesGeerhardusVos,EditoraOsPuritanos,2007–N.doE.]

16TodasascitaçõesbíblicasdesteparágrafosãodaNVI.17Phillips(“ProphecyandLaw”,220)comtodaacertezaentendeuascoisasdeformaerradaquandodiz queAmós condena as nações estrangeiras combase nos vereditos encontrados noPentateuco,enquanto as acusações de Israel mostram uma “total falta de referência” às sanções da lei. Suacondenação de Judá aponta especificamente que a nação tinha “rejeitado a Torá do SENHOR daAliança” (Am 2.4), ao passo que não encontramenção nenhuma da Torá nos juízos pronunciadoscontra as seis nações estrangeiras. Com respeito à nação de Israel, em três versículos faz-sereferênciaaoprimeiro, terceiro,sétimo,nonoedécimomandamentos(2.6-8).Emoutrolugar,Amósconvoca Israel para uma prestação de contas por violar o primeiro e o segundo mandamentos(5.5,26), o terceiro mandamento (8.14), e de forma impressionante o quarto mandamento comrespeitoaoShabbath(8.5).EletambémpercebeIsraelculpadodetransgredirosexto(8.4),ooitavo(8.5b), o nono (5.10) e o décimo (4.1; 5.12) mandamentos. Já as nações são condenadas porviolência(1.3),escravidão(1.6,9),brutalidade(1.11,13)evingança(2.1).

18Clements(ProphecyandTradition,65)observaqueoorgulhoéaprincipal razãodacondenaçãoprofética das nações. Esse orgulho se manifesta numa determinação de dominar comercial emilitarmenteenodesejodeexercergovernosobreosoutros.

19Paraumadiscussãomaisaprofundadaarespeitodaidentidadedo“IsraeldeDeus”,vejaRobertson,IsraelofGod,33-46.

20VejaRobertson,ProphetoftheComingDayoftheLord,110.21OesforçodelimitarJeremiasaumpontodevistadeuteronomistaqueseajustaunicamenteàaliançamosaica pode subverter o claro testemunho desta passagem, além de outras, simplesmente porpressuporaquiloqueaindaestáparaserprovado.

22Paramaioresconsideraçõessobreasformasopcionaisdeinterpretarkeadam,vejaRobertson,ChristoftheCovenants,22–24.

23Paraumaanálisedessasfrasesemtermosdasuareferênciaàordemdacriação,vejaibid.,19-21.

24SeráqueoprofetaestáantevendoumdiaemqueoSenhorvainegarsuaspromessasfeitasnaaliançacomNoédequeElejamaisdestruiriaoutravezaterracomumdilúvio(Gn9.11)?Nãoexatamente,pois a promessa original era que “enquanto durasse a terra” ela seria preservada de um juízouniversalconformefoiocasoporocasiãododilúvio(8.22).Alémdomais,Isaíasusaadestruiçãodaterrapormeiodeumdilúvioapenascomoilustraçãodotipodejuízouniversalquesedeveesperarnofuturo.

25Um dos principais critérios para identificar o documento sacerdotal do Pentateuco é esse supostointeresseporlistasqueseencontraemGênesis.Mas,apesardodocumentoPviaderegraserdatadonoséculoVIa.C.,essalistagemidênticadecriaturasemOseias(séculoVIII)surgecomoumreflexodeumatradiçãoaindamaisantiga.

26Para uma discussãomais aprofundada dessa combinação dos procedimentos pactuais das aliançascomAbraãoecomMoisésemJeremias34,vejaRobertson,ChristoftheCovenants,131-137.

27VejaBright(CovenantandPromise,84n.6).

28Lindblom(ProphecyinAncientIsrael,314).

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29VejaClements (ProphecyandCovenant, 56); Bright (Covenant and Promise, 55, 70).A extensaabordagemdeBright a respeito desses dois temasda aliançadavídica conforme se encontramnosSalmos é especialmente esclarecedora (58-72). Com respeito à declaração de que a linhagem deDavihaveriadepermanecerparasempre,queseutronoseriacomoosolealua,queficariamfirmesenquantodurassemoscéus,Brightdiz:“Essassãopalavrasfortes.Enãodevemserpostasdeladocomomerahipérbole,poisforamcridasliteralmente”(60).

30Clements (Prophecy and Tradition, 30) diz que Oseias 3.5 “deve ser, certamente, um acréscimoeditado”.Maselenãofornecenenhumabaselógicaparaaconclusãoaquechegou.

31TodasascitaçõesbíblicasdesteparágrafosãodaNVI.

32 Outras passagens proféticas que apresentam uma teologia de Sião: Amós 9.11; Miqueias 4 .1-5;Obadias21;Jonas2.4;Sofonias3.14-17;Jeremias33.6-9;Ageu2.6-9;Zacarias2.1-13;4 .1-14;12.1-9;13.1;14.1-21.

33Paracompreenderesseaspectodaaliançadavídicaemtermosdoseucumprimentonanovaaliança,vejaGálatas4 .24-26eHebreus12.22-24.Fairbairn(InterpretationofProphecy,285)dizque,aosolhos dos apóstolos da nova aliança, a antiga Sião da Palestina já acabou. A única Sião quepermaneceéolugardafunçãodeCristoàmãodireitadoPai.

34VonRad (Old Testament Theology, 2.398–99) diz que Ezequiel e Jeremias indicam que Israel é“inerentemente...incapaz”deobedeceraoSenhor.Comanovaaliança,oSenhorcolocaráaoalcancedo povo a obediência à Torá. Gowan (Theology of the Prophetic Books, 105) interpreta mal asEscrituras quando afirma: “A maioria dos escritores do AT toma por certo que os homens têm ahabilidade de obedecer se apenas tentarem”. Essa interpretação das Escrituras tem sido um erropadrãodetodosossistemasdejustiçapormeiodasobras.Oconstantechamadoaoarrependimento(queGowan,pág.7,negacomrespeitoaosprofetasanterioresaoexílio)acompanhadodaofertadereconciliaçãoeperdãomostraainabilidadehumanadeobedecer.

35 VanGemeren (Interpreting the Prophetic Word, 332) afirma corretamente: As novas ações daredenção de Deus conforme Ezequiel são “uma magnífica concretização das alianças feitas porocasiãodacriação,comAbraão,comMoisésecomDavi”.

36OsprofetasanteviramanovaaliançaemOs2.18-23;Is54.5-10;59.21;Jr31.31-34;32.40;50.4,5;Ez16.59-63;36.24-38;37.12;37.18-28.

37VonRad(OldTestamentTheology,2.213)dizqueoSenhorvaievitaroprocessodefalareouvir,oquenãoétotalmentecorreto.Mesmonocontextodanovaaliança,apalavraaindavaiserproferida.Sóqueagoraelapenetraráocoraçãodepedradoouvinteeotraráàvida.

38TodasascitaçõesbíblicasdesteparágrafosãodaNVI.39Gowan(TheologyofthePropheticBooks,7).Emcontrapartida,Childsafirmacategoricamentequeosprofetasdeformaconsistenteapresentavamànaçãoamensagemdoarrependimento.Elenotaque,antes do exílio, Jeremias pregou “Voltai-vos” por vinte e três anos (Old Testament Theology in aCanonicalContext,141).

40 Westermann (Prophetic Oracles of Salvation, 238) considera o oráculo incondicional umacaracterística da presença “carismática” de um profeta. Ele diz que uma mensagem condicionalproduz um “testemunho unânime” para a redação deuteronomista. Ele não fornece nenhuma provaparaessadeclaraçãogenérica.

41 Lindblom (Prophecy in Ancient Israel, 350) afirma categoricamente que o chamado aoarrependimentoépartelegítimadamensagemdosprofetasdeIsrael.

42Ibid.,342.43Motyer,Isaiah,83.

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OCENÁRIO B ÍBLICO-TEOLÓGICO DOS PROFETAS ESCRITORES DE ISRAEL

QUANDOCONSIDERAMOS o cenáriobíblico-teológicododesenvolvimentodoprofetismonahistóriada redençãoduranteoperíododaantigaaliança,umapercepção das tendências contemporâneas na análise do material proféticotalvez ajude a iluminar e acentuar a importância do testemunho bíblico. Nofinal das contas, somente o testemunho da Escritura pode apresentar umadescriçãoverdadeiradodesabrocharda revelaçãodospropósitos redentoresdeDeusconformesãoexpressosnosprofetasescritoresdeIsrael.

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I.Atradiçãodeinúmeroseditores

Durantealgumasdécadas,supunha-sequeoslivrosdeprofeciaconformehojeseconhecemtivessemchegadoaoestadoatualpormeiodo trabalhodeinúmeroseditoresduranteváriasgerações.1Umadasprincipaisfinalidadesdaanálisedomaterialproféticoeraresgataraspalavrasoriginaisdoprofetadosmuitos acréscimos feitos no longo processo da modificação e editoração.Dava-se importância fundamental à ipsissima verba, as palavras do próprioprofeta, em contraste com o valor secundário atribuído ao materialacrescentado.Porémumautormaisrecentejulgacomo“tarefafrequentementeimpossível” o esforço para recuperar as palavras originais e autênticas dosprofetas. No final, consegue-se algum consolo com a dedução de que atradiçãodasdeclaraçõesproféticasencontradasnoslivrosproféticoscomoostemoshojeé,“nogeral,essencialmenteconfiávelcomoregistrodasideiasdosprofetas”. Pode-se sustentar essa afirmação porque o escritor supõe tambémque“aprincipalintenção”dosquecoletaramosdiversospronunciamentosdosprofetas era “preservar as palavras divinas para a posteridade, e adaptá-lasparaousoprático”.2

Existe alguma tensão importante nessa análise da obra dos supostoseditores e coletores dosdiscursosproféticos.Aspalavras dosprofetas eramconsideradas“divinas”pelosqueascoletavam,oqueseharmonizabemcomotestemunho bíblico de que Deus colocou suas Palavras na boca dos seusprofetas,comunicando-secomeles“bocaaboca”.Alémdisso,éafirmadoqueesses coletores das palavras proféticas tinham como “principal intenção”preservar as palavras divinas para a posteridade, uma conclusão tambémsustentadapelaEscritura.SeaspalavrasproféticaseramasprópriasPalavrasdeDeus,entãotinhamdeserpreservadasexatamentecomoforamrecebidas.AEscritura jamais dá a entender que Deus simplesmente comunicava ideiasvagas aos seus profetas. Sempre era a Palavra ou as Palavras de Deus quevinhamaosprofetas,oquesignificavaque,comoPalavrasdeDeus,tinhamdeserpreservadas.Mas,emseguida,tambémésugeridoqueaprincipalintençãodos coletores dessas Palavras divinas incluía adaptar essa revelação divinaparaousoprático.Éclaroqueseriaapropriadoqueosdiscípulosdosprofetas“aplicassem”aosseuscontemporâneosaspalavrasproféticasanteriores.Mas“preservar” aspalavrasdosprofetas e “adaptá-las”no sentidode alterar suaforma e conteúdo originais são duas coisas completamente diferentes. Essefato fica evidente na observação seguinte desse mesmo autor de que essespreservadores das palavras “divinas” dos profetas fizeram incontáveis

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modificações,“oquemostraqueotextonãoeraconsideradodeformaalgumasacrossanto”.3 Ou seja, embora as palavras dos profetas sejam apresentadascomo palavras “divinas” que precisam ser preservadas, elas são ao mesmotempo apresentadas como sujeitas a “incontáveis... adições, ampliações ecomentários” e não são consideradas como sendo “de forma algumasacrossantas”.

Essa desconcertante apresentação do caráter das palavras proféticas étípica da perspectiva prevalente hoje. A certa altura, Brueggemann critica amaneiracontemporâneadetratarosprofetasapontandoqueacríticahistórica“operoucomsuposiçõesnaturalistas,deformaquetudopodiaeprecisavaserexplicado, sem referência nenhuma a qualquer afirmação teológica”. Oresultado inevitável foi uma “história da religião” que “resiste a qualquernoçãodeYahwehcomoalguémqueagenavidadeIsrael”.4 Elereclamaqueacrítica histórica produz “comentário filológico inútil, infindáveis discussõeseditoriais, e tediosas comparações com outros materiais”, simplesmenteporqueeleé,“peloqueseestávendo,incompatívelcomoprópriotexto”.Eleresume da seguinte forma o problema: “Pelo fato do Assunto principal dotextotersidoexcluídoemprincípio,oseruditossãolivresparalidaremcomessasquestõesmuitomenosimportantes”.5

Emseuesforçoparadeterminaraorigemúltimadessamaneiraatualdeabordar os profetas de Israel, Brueggemann atina com o cerne da questão:“Em muito estudo ‘científico’ do Antigo Testamento, em geral parte-se doprincípio de que o ceticismo é muito mais respeitável do ponto de vistaintelectual do que o fideísmo... Além do mais, com frequência, aquilo quepassa por objetividade neutra no estudo do Antigo Testamento é uma maldisfarçadahostilidadepessoalcontraaautoridadereligiosa”.6

Essepontoémuitobemcompreendido,enãoéfácilfugirdodilema.Apalavra profética em Israel claramente se apresenta como uma revelaçãodivina com toda a autoridade de uma declaração da parte do Deus Todo-poderoso, o único Criador, Sustentador e Redentor do universo. Se erarecebidanacomunidadedeIsraelsobessaperspectiva,entãoclaramentedeveterchegadoinicialmenteànaçãocomumaautoridadeinerentequeseopunhaaqualquer que pretendesse adulterar sua forma e conteúdo. Em decorrênciadisso,amodernacomunidadeacadêmicanãopode,deformaconsistente,tratara tradição textual dos profetas de Israel como material flexível sujeito àmanipulaçãodequemquerqueseja,grupoou indivíduo,eaomesmotempoafirmar que sua autoridade divina o coloca numa posição acima de todorearranjohumano.

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II.Abuscaporumaalternativa

Onde, então, podemos encontrar uma alternativa para essa destruidorafragmentaçãodamensagemdosprofetasdoAntigoTestamento?Comoéqueo leitor moderno pode deixar de esvaziar a mensagem dos profetas dequalquer significado importante em função de ter sido estilhaçada emfrustrantes fragmentos que estão apenas vagamente ligados uns com osoutros? Walter Brueggemann propõe uma solução alternativa, e BrevardChildspropõeoutra.

A.WalterBrueggemannDeacordocomWalterBrueggemann,ohomempós-modernofinalmente

se desvencilhou de “um período cultural dominado pelo positivismoobjetivo”.7 Desapareceram todas as suposições comuns, universais. Fomosdeixados, agora, apenas com o “caráter irascivelmente pluralista” de cadatextobíblico.8Emvezdeanalisaro textobíblicoemtermosdeumprocessoprogressivodeediçãoouredação,esseselementoscontraditórios têmdeseraceitosporaquiloquesão,comoa“progressivaobradeadjudicação,emquequalquer ponto estabelecido é alcançado unicamente de forma provisória eestá novamente sujeito à reconsideração”. Esse processo de constantemodificação e mudança aplica-se não apenas a este ou aquele assunto, masdefine“oprópriocaráterdeYahweh,oDeusdeIsrael”.AprópriaessênciadeDeusé“dilaceradadessaformaeissopormeiodaretóricadeterminadoradeIsrael”.VáriostextosdaEscrituraquenãoseharmonizamcomfacilidadeunscomosoutrosprecisamserconsideradoscomotentativasdechegaràverdadeque precisam conviver com outras tentativas igualmente sérias de seremreconhecidas como verdade. Em outras palavras, como alternativa paraanalisarotextodaEscrituracomoumasériedepensamentosdeumeditor,oleitorprecisavivercomarealidadedecontradiçõesencontradasnotexto.Deacordo com Brueggemann, desejar algo mais com respeito à verdadeestabelecidadoAntigoTestamentoéquererumacoisaquenãoexiste.

Como é radicalmente diferente a Palavra que procede do Deus dosprofetas!Eleé,paraeles,arocha,aeternaeimutávelrocha,epode-seconfiarna sua palavra em todas as variáveis experiências humanas (Is 26.4; vejatambém 8.14; 17.10; 30.29). Não há outro Deus além dele, nenhuma Rochaalém dele (Is 44.8). Mesmo quando nações poderosas se juntam comoinstrumentos do juízo deDeus contra Israel, Ele continua sendo a Rocha, oDeusdeles,oSantodeles(Hc1.12).OSenhoréparaelesomesmoDeusque

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foi louvado no cântico deMoisés: “ARocha! Perfeitas são suas obras. Poistodosos seus caminhos são justos.UmDeusverdadeiro e semnenhummauprocedimento,justoecorretoEleé!”(Dt32.4).

EssaespéciedeDeuspodeparecerestranhaaopovopós-moderno.Mas,semdúvida,EleéoDeusdosprofetas.ComoCriadoreSustentadordomundo,oRedentordoseupovo,pode-seconfiarqueEleéverdadeiroasuaprópriaessênciaimutável.Personificandotudoaquiloquefazpartedaessênciadeumarocha,Eleéomesmoontem,hojeeparasempre.

B.BrevardS.ChildsOutra alternativa contemporânea à descriçãomais antiga do profetismo

procede da abordagem canônica da Escritura tornada famosa por BrevardChilds.9 Antigamente, considerava-se sem sentido lidar com os diferentesdocumentosproféticos como se fossemdirigidos à situaçãohistóricaque sepropunhamconfrontar.Mascomosurgimentodeumaabordagemcanônica,tornou-se legítimo lidar com os diferentes livros proféticos como elesatualmente se apresentam ao leitor. Argumenta-se que a forma final dosdiferentesdocumentoseraamaneiraemqueporfimvieramafuncionarcomoocânondeIsrael.Por isso,éprecisofazercertaavaliaçãodamensagemdasdiferentesEscriturasproféticasconformeérefletidanessaformafinal.

Pode-seregistrarumavantagemdecurtoprazocomanovacompreensãoteológica descoberta quando os profetas são tratados “como se” realmentefossemaquiloqueelesmesmosdizemser.Masnofinaldascontasoflautistaque entoa essa nova melodia precisa receber seu pagamento. Porque, se naverdade os profetas não entregaram a mensagem que o material delesreivindica na forma que está agora, então os seus escritos perdem aintegridadeparapoderemdecretarumateologiaválidaeconfiável.

Uma ilustração dessa abordagem pode ser vista na maneira de Childstratar a profecia de Isaías. Ele reconhece que é possível apresentar “umargumento convincente” ao considerar Isaías 40-66 como originalmentedirigido aos exiladosnaBabilôniano séculoVI.Masna suapresente formacanônica, esses capítulos têm um cenário muito diferente. Agora elespertencemaoministériodoséculoVIIIdeIsaíasemJerusalém.10

Oaspecto trágicodeentenderasúltimasprofeciasdo livrode Isaíasnasua presente circunstância literária como pertencentes ao século VIII a.C.,apesardeaomesmotempoafirmarqueelasnaverdadesurgiramnoséculoVIa.C., é que o Deus de Isaías é reduzido ao nível dos ídolos/deuses que Elemesmoridicularizatãoabertamente.Todaasuazombariaparacomosídolossurdos e mudos feitos de madeira e pedra desaba por fim na sua própria

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cabeça.Deumaperspectiva“canônica”,oDeusde Isaíasnãoconsegue fazeraquiloqueEledesafiaosídolos/deusesafazerem–umagenuínaprediçãodelongoprazodoseventoshistóricosfuturos.Nofim,asprediçõessimuladasdoprofetaescarnecemdodeusqueeledizser.11

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III.Ofocodocorpusprofético

Qualquer que seja a perspectiva sobre o desenvolvimento do corpusproféticodoAntigoTestamento,osescritosdosprofetasdeIsraelporfimtêmde ser vistos como centrados primariamente em dois eventos de imensaimportância: o exílio e a restauração de Israel. As observações de umcomentarista reforçam a centralidade desses dois eventos para o ministérioprofético:

Operíododahistóriaqueviuaeraáureadosprofetastemnocentroaimensacrisedoexílio,aqualcolocouemperigotodaavidaeafédeIsrael.Ainterpretaçãoproféticadessatragédiaeapromessade uma renovação da graça divina deram a Israel uma percepção espiritual que tornou possívelaceitar essa derrota e sofrimento como a vontade de Yahweh e emergir daí purificado eespiritualmentefortalecido.12

Somente da perspectiva da importância histórica, o exílio da naçãoagiganta-se como o momento crítico referente ao extermínio ou àsobrevivênciadeIsraelcomoumpovocomumaidentidadeduradouraentreasnações do mundo. Bright diz: “A destruição de Jerusalém e o subsequenteexílioestabelecemograndedivisordeáguasdahistóriadeIsrael...Israelfoideixadonaquelemomentocomoumaaglomeraçãodeindivíduosderrotadosearrancadospelaraiz...Amaravilhaéquesuahistórianãoacabouainda”.13Emdecorrênciadisso, a importânciabíblico-teológicadesses eventosnavidadeIsrael é crucial para uma adequada avaliação dos propósitos de Deus comrespeito à redenção do seu povo.14 É por meio do ministério dos profetasescritoresqueumacompreensãodesseseventoscríticoséfornecida.

IsraelfoiescolhidodemodosingularcomooservodeDeus.Abraãofoichamado de Ur dos caldeus, apesar de seus pais terem adorado ídolos “dooutroladodorio”(Gn12.1;Js24.2).Opovoseorganizouemumaentidadenacional pela revelação pactual que veio por meio deMoisés no Sinai. Notempo apropriado, o povo foi trazido para a terra que Deus lhes tinhaprometido.Erauma terraque jorrava leiteemel,comparávelàsbênçãosdoparaísorestaurado.Apossessãodaterraestabeleciaessepovocomoherdeirodas bênçãos redentoras de Deus. O que, então, poderia significar para essepovoserembanidosdaterra?OquesignificouoexílioparaIsrael?Pormeiodoexílio,opovodeDeustornou-se“Não-Meu-Povo”(Os1.9).Aoforçá-losavoltaremàterradeondetinhamvindo,parecequeoSenhorindicavaquetodoo processo eletivo tinha sido revertido. O que poderia ser mais drástico?Quempoderiaexplicarumaexperiênciadessas?

Na verdade, deveria ser reconhecido que a mensagem dos diferentes

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profetas,mesmo os anteriores ao exílio, inclui os elementos tanto do exílioquantodarestauração.Umasaudávelmudançadedireçãonoprevalentepontode vista sobre a interpretação profética reconhece futura bênção e juízo namensagemdoprofetismoantesdoexílio.15Aexpectativadosprofetas“estavarelacionada diretamente com a experiência do exílio e com a esperança darestauraçãodepoisdele”.16NoconceitodaaliançaapresentadanaEscritura,ojuízoénormalmenteacompanhadodaantecipaçãodarestauraçãoelibertação.Consequentemente,o“coraçãodamensagemprofética”temdeserencontradonaameaçadojuízojuntamentecomaesperançadasubsequenterestauração.17

OseventosdoexílioedarestauraçãodeIsraeltinhamumadiversidadedesignificados para o povo de Deus. De várias maneiras, esses eventos erammuitomaiscomplexosdoqueochamadooriginaldeAbraãoparasairdeUrdos caldeus. Os propósitos redentores de Deus originalmente focavam umúnico indivíduo. Mas no exílio e na restauração, uma nação inteira estavaenvolvida – uma nação da qual vários membros responderam aos desafiosdesses momentos de formas completamente diferentes. Por isso, écompreensívelqueummovimentotãoimportantecomoatradiçãoproféticadeIsraeltivessesurgidodessasgravescircunstâncias.

Por fim, somente o próprio Deus poderia explicar o “por quê?” e o“porquê”doexíliodeIsraelearestauraçãoqueseseguiu,poisesseseventostinhamsignificadonãoapenasparaosisraelitasdaquelaépoca.Deacordocoma função dos maiores movimentos da história registrada no AntigoTestamento,esseseventostambémforamdesignadosparacomunicarverdaderedentoraatodasasgerações.

Emdecorrênciadisso,aantecipaçãodoexílionãoprecisaservistacomo“amesma coisa que ocorreu centenas de vezes nomundo antigo” em que aadoraçãode umdeus específico chegou ao fim coma destruição do temploonde era adorado.18 Nem deve a grande expectativa da restauração serreduzidaaumasituaçãoemque“Israelesperoualémdaesperançaouintençãodo próprio Yahweh, que não tinha essa esperança ou intenção para essanação”.19 Muito pelo contrário, pela soberana determinação do próprioSENHOR da Aliança, a adoração desse Deus seria, no final, ampliada paraabarcarumacomunidademundialcomoconsequênciadarestauraçãodanaçãodepois do exílio. Na visão profética, essa restauração se expandiria de talformaquesetornariauniversalemsuanatureza,incluindotodasasnaçõesdahumanidade.20

Dessa perspectiva, o esclarecedor ministério dos profetas escritores deIsraelpodeservistocomodesenvolvidoemtornodetrêsmomentos-chavesdaexperiênciadanação:21oexíliodoreinodonorteem722a.C.,abrangendoo

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ministériodeAmós,Oseias,IsaíaseMiqueias;oexíliodoreinodosulem587a.C., envolvendo também o ministério de Isaías e Miqueias, e tambémincluindo o ministério de Naum, Habacuque, Sofonias e Jeremias; e arestauraçãodeIsraeldoseuexíliocomeçandoem536a.C.,conformetratadapelosprofetasAgeu,ZacariaseMalaquias.EzequieleDanielsãodistintospelofatodeteremexercidotodooseuministérioproféticoenquantoelesmesmosexperimentavamarealidadedoexíliodanação.22Essestrêspontosespecíficosdeconvergênciade722a.C.,587a.C.e536a.C.nãodevemserconsideradoscomo limites do ministério dos diferentes profetas desses momentos dahistória,poiscadaumdosprofetassemovenaextensãodostemasdoexílioedarestauraçãoconformeessesgrandeseventostomamformanopanoramadahistóriadaredenção.Masessespontoshistóricosespecíficosfuncionamcomomomentosqueafetamdeformadramáticatodaamensagemdosprofetas.

Esse lugar do foco principal dos livros proféticos com referência aoexílio e à restauraçãopode servisto comoapenasumaopçãodentremuitas.Mas esses eventos parecem ser mais do que centros opcionais para seuministério.Sebemqueosprofetascomregularidadeseocupavamcomoutrosgrandeseventosdahistóriadaredenção(e.g.ochamadodeAbraão,oêxodolideradoporMoisés,eoreinoestabelecidoporDavi),aexperiênciadoexílioearestauraçãofoiaexperiênciaúnicadosprópriosprofetas.Emdecorrênciadisso,oexílioearestauraçãoéqueforneceramaestruturahistóricasingularparaodesenvolvimentodoprofetismoemIsrael.

Com essa perspectiva em mente, o cenário bíblico-teológico dosdiferentes profetas de Israel será considerado nos próximos cinco capítulos.Consequentemente, a progressão do ministério profético será analisada daseguinteforma:

Oprofetismoanterioraoexíliodanação,abrangendooministériodeAmós,Oseias,Isaías,MiqueiaseJonasduranteoséculoVIIIa.C.eoministériodeNaum,Habacuque,SofoniaseJeremiasduranteoséculoVIIa.C.O profetismo durante o exílio da nação conforme experimentadoporEzequieleDanielemmeadosdoséculoVIa.C.O profetismo no tempo da restauração da nação depois do exílio,envolvendo oministério deAgeu, Zacarias eMalaquias durante oúltimaquartapartedoséculoVIa.C.,estendendo-seatémeadosdoséculoVa.C.

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1 Para uma visão geral das diferentes abordagens críticas dos profetas, veja Eissfeldt (“PropheticLiterature”);eCogginsetal.(Israel’sPropheticTradition).Asdiversasdisciplinasdecríticaliterária,críticadaforma,críticadatradição,críticadaredação,ecríticaretóricatêmsidoaplicadasaoslivrosproféticos. Como principal porta-voz de uma perspectiva crítica da forma a respeito dos profetasescritores no início do século XX, veja Gunkel (“Prophets as Writers and Poets”). Num estilocativante, Gunkel propõe que os profetas primeiro anunciavam sua mensagem oralmente, e queunicamenteporcausadamudançados temposhomenscomoAmóse Isaíascomeçaramaescrever.No princípio, começaram a escrever apenas mensagens curtas e desarticuladas, as quais foramalteradas, rearranjadas e suplementadas por vários editores posteriores, possivelmente durante osséculosseguintes.SomentecomEzequielsurgeumautorproféticoqueescreveumlivrodeprofecias.Como consequência desse ponto de vista, Gunkel afirma: “Às vezes, esses [escritos proféticos]contêmmuitacoisaquenãovemdosantigosprofetas,como,porexemplo,oLivrodeIsaíaspodeserdenominado de formamais apropriada como uma visão geral da profecia hebraica, em vez de um‘livrodeIsaías’”(28).Umamudançasignificativanapredominantevisãodosprofetascomoautoresdo seu próprio material desenvolveu-se durante a última metade do século XX. De acordo comEissfeldt:“Nãoreceberánenhumapoioagoraateoriadequeosmesmosprofetasquedãonomeaoslivros tenham colocado por escrito seus próprios oráculos ou coleçõesmenores desses oráculos”(117 [ênfaseacrescentada]).MasvonRad(OldTestamentTheology, 2.40-45) apresenta evidênciadequeosprofetas atuaramcomoautores, emboramesmoassimadote a ideiadeque, no final dascontas,forammuitoseditoresquederamorigemaosdiferenteslivrosproféticos.

2TodasascitaçõesdesteparágrafosãoextraídasdeLindblom(ProphecyinAncientIsrael,279).3Ibid.

4Brueggemann(TheologyoftheOldTestament,727).5Ibid.,104.

6Ibid.,729.7Ibid.,61.

8TodasascitaçõesdeBrueggemannaseguirnesteparágrafoforamextraídasdeibid.,64.9VejaasobrasdeChilds(IntroductiontotheOldTestamentasScripture,69–83;eBiblicalTheologyoftheOldandNewTestaments,70–79).

10Childs(IntroductiontotheOldTestamentasScripture,325).11Oswalt(Isaiah,2.5)notaque,apesardoseruditoscontemporâneosseremforçadosa reconheceraunidadeteológicadolivrodeIsaías,“suaconcepçãodanaturezadaprofeciaaindaosimpedededaropassoqueoprópriolivroclaramentepedequeseusleitoresdeem”,queéaceitaracapacidadedoDeusdeIsraeldepredizerofuturo,exatamenteporqueEledeterminaocursodasnações.

12Clements(ProphecyandCovenant,128).13Bright(HistoryofIsrael,343).

14Gowan está absolutamente correto ao tentar configurar toda a teologia dos profetas de Israel emtorno dos temas gêmeos do exílio e da restauração como os equivalentes bíblico-teológicos damorteedaressurreição.SeulivroTheologyofthePropheticBooks[TeologiadosLivrosProféticos]temcomosubtítuloTheDeathandResurrectionofIsrael[AMorteeaRessurreiçãodeIsrael].

15ContrasteaanteriorobradeMowinckelemseuinfluentelivroProphecyandTradition.Mowinckelpressupõequeumprofetanãopodiaapresentarsimultaneamenteumamensagemdecalamidadeedebênção, pois qualquer bem que pudesse ser executado por uma ameaça de calamidade seriacancelado pela presença da mensagem de bênção. Em outras palavras, declarações de juízovindourotêmdeseranterioresaoexílio,enquantopalavrasdebênçãopodemserclassificadascomoposterioresaoexílio.

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16Clements(ProphecyandCovenant,114)depoisafirmaque,deacordocomosprofetasanterioresao exílio, o povo a quem eles pregavam estava “sob sentença de morte”.Mas, depois do juízo,Yahwehhaveriade“reelegererestabeleceroseupovo”(113).

17Ibid.,25.18Westermann(PropheticOraclesofSalvation,268).

19Brueggemann(TheologyoftheOldTestament,439)[ênfasenooriginal].20Westermann (PropheticOracles of Salvation, 273) restringe seriamente a compreensão de longoprazodessapromessaderestauraçãoquandodizquesomenteamensagemdoDêutero-IsaíasconduznaturalmenteaoNovoTestamento,umavezqueapenaselenãoincluiaderrotadeinimigosassociadacoma restauração (171).EmboraWestermannatribua Isaías66 aoassimchamadoTerceiro Isaías,sua análise contradiz o testemunho unificado do livro de Isaías e não se ajusta ao ensino de Jesusquando cita o versículo final da profecia de Isaías: “Sairão e verão os cadáveres dos que serebelaram contra mim; o verme destes não morrerá, e o seu fogo não se apagará, e causarãorepugnânciaatodaahumanidade”(Is66.24NVI;Mc9.47,48).

21Gowan(TheologyofthePropheticBooks,9).22Essasituaçãodosdiferentesprofetasarespeitodesses trêspontoshistóricosdeconvergência incluitodosos livrosproféticoscomexceçãodeJonas,JoeleObadias.Jonas(identificadocomoanterioraoexílioporuma referência encontradanosReis) é singularpelo fatodesse livro centrar-senumamensagema umpovo não israelita.Nem Joel nemObadias se localizamde forma específica comrelação à história externa, e ambos têm sido datados ou bemmais cedo ou muito mais tarde pordiferenteseruditos.

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OPROFETI SMO ANTERIOR AO EXÍLIO DANAÇÃO : OS PROFETAS DO SÉCULO V III

A .C.

DEPOISDEELIASexpurgardeformaheroicaosprofetasdoreinodonortenoséculoIXa.C.,amaioriadosprofetasquerestaramaparentementesucumbiramempoucotempoaoespíritodasuaépoca.Brightdiz:“Parecequecomogrupoelesafundaramnacorrupçãogeraletornaram-se...profissionaisinteressadosprincipalmente em seus salários (Am 7.12; Mq 3.5,11)”.1 Mas o maisesplêndidodetodososperíodosdahistóriadoprofetismodeIsraelsurgiunoséculo VIII a.C. Durante esse tempo, Deus levantou profetas em ambos osreinos, do norte e do sul, que prenunciaram os terríveis dias vindouros doexílio como decorrência do pecado de Israel, ao mesmo tempo oferecendoconsolaçãopormeiodaesperançadeumagloriosarestauraçãopelaobradagraçadeDeus.

Duranteesseperíodo,OseiaseAmósopuseram-seàscorrupçõesquesehaviam infiltrado na sociedade israelita num período de inigualávelprosperidadedoreinodonorte.Aomesmotempo,IsaíaseMiqueiastratavamdeproblemassimilares,concentrandoseuministérioprincipalmentenoreinodo sul, em Judá. A função de Israel como a nação eleita de Deus tambémsofreuumasingularobjeçãocomoresultadodamissãodeJonasemNínive,acapitaldaAssíria,nonorte.AfunçãodecadaumdessesprofetascomrelaçãoaoexílioeàrestauraçãodeIsraelmereceatençãoespecial.

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I.Oseias

Oministério deOseias ocorre durante o reinado dos reisUzias, Jotão,AcazeEzequiasdeJudá,edoreiJeroboãoIIdeIsrael,umperíodoquecobreaproximadamente os últimos três quartos do século VIII a.C. (Os 1.1). Oministério deste profeta foi compreendido imediatamente pelos seuscontemporâneos desde o início. Deus ordena aOseias que tome por esposaumamulherprostitutaegerefilhosdelacomomaneiradeilustrarareaçãodoSenhoràinfidelidadedanaçãoparacomEle(1.2,3).2Tendo-seenvolvidonaspráticassensuaisdaadoraçãoaBaaldaépoca,aapostasiadeIsraeloslevouaintroduzirocultoàprostituiçãoemsuasinstituiçõessagradas.3OSENHORdaAliançanãopoderiaignoraressaperversãodaverdade.

O casamento de Oseias fornece uma descrição vívida da relação doSENHORdaAliançacomo Israel infiel.Adespeitodessanaçãoescolhida terido após outros deuses, deuses que prometiam prosperidade material, Deuscontinua amando Israel damesma forma queEle dirigeOseias a amar umamulherinfiel.MasoSenhortraráIsraelsobamãodosseusjuízospunitivos.Deacordocomosnomessimbólicosdos filhosdeOseias,DeusvaichamarIsraeldeLo-RuhamaheLo-Ammi,poisEle“nãoterámisericórdia”eelessão“Não-Meu-Povo” (1.6,9).Elevai conduzir anaçãodevoltaparaodeserto edespi-ladetodasaspossesmateriaisquesignificavamtantoparaela(2.2-13).Masno finaloSenhora farávoltarpara simesmo,paraa terraqueEle lhedeu, e a uma harmoniosa monarquia sob Davi (2.14-3.5). Esse retornoenvolveránovoêxodo,novaperambulaçãoporumdesertotransformadonumcampofrutífero,eumanovaconquistadaterra,emqueaanteriorexperiênciaamargadederrotaemAiassumiráagoraaformadeuma“portadeesperança”(2.15).

Dessepontodepartida,aprofeciadeOseiasretornarepetidamenteaessestemas iniciais. O conceito de Deus como “o Senhor, marido de Israel”modelou a apresentação de Oseias “em praticamente todos os aspectos”. Opovo “deve amar o Senhor de forma suprema por Ele ser quem é, e devebuscar as bênçãos exteriores unicamente porque nelas Ele expressa o seuamor”.Mas, em vez disso, “o povo se preocupa apenas com as dádivas e éindiferenteaoDoador”.4Asua infidelidadeparacomDeusexplicaaorigemdospecadossociaisde Israel.Umespíritodeprostituiçãodominaanação,enãoháconhecimentodeDeusnaterra(4.1).Comoconsequêncianatural,existesóoamaldiçoar,mentir,assassinar,roubar,adulterarederramarsangue(4.2).O espírito de prostituição deles faz comque se desviem, de formaque suas

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filhassãoprostitutasesuasnoras,adúlteras(4.12-14).Outrasreferênciasaumrelacionamentoconjugalprofanadoocorremfrequentementenolivro:

Anaçãocontinuaemsuaprostituição(4.18).Efraimvoltou-separaaprostituição(5.3).Háumespíritodeprostituiçãonocoraçãodeles(5.4).Elessão infiéisaoSENHORdaAliançaegeraramfilhos ilegítimos(5.7).Elessãotodosadúlteros,queimandocomoumforno(7.4).Efraimvendeu-seaosseusamantes(8.9).Elesamamosaláriodaprostituta(9.1).Deusvaiexpulsá-losdasuacasaenãomaisvaiamá-los(9.15).

A maior acusação de Oseias contra Israel se origina da sua própriaexperiência trágica. A nação tem sido infiel para com o Senhor da mesmaformaquesuamulheragiucomoprostituta.

Asconsequênciasdessainfidelidadepodemservistasdeformaconcretaquandoopovoéexpulsoda terra.Os israelitasviverãomuitosdiassemrei,sempríncipe,semsacrifício,semcoluna,semestolasacerdotalouídolosdolar (3.4). Efraim será assolado no dia do castigo (5.9).Deus será como umleãoparacomEfraim,despedaçando-ossemqueninguémossocorra(5.14).O seu ídolo em forma de bezerro será levado ao exílio, carregado para aAssíria (10.5,6). Samaria e seu rei serão arrastados como um galho nasuperfíciedaságuas(10.7).Oexílioéinevitável.

MasassimcomoOseiaséorientadoarecuperarsuamulherinfiel,assimoSENHORdaAliançaamaIsraelaopontodeprecisartrazê-lodevoltaparasimesmo.AssimcomoDeusprometeunaaliançacomospais,os israelitas semultiplicarão até serem como a areia domar, que não pode sermedida oucontada(1.10).OpovodeJudáeIsraelseráreunido,teráumsólíder,ebrotaráda terra (1.11). Eles retornarão e buscarão o Senhor e Davi seu rei (3.5).5DepoisqueoSenhorosarrancarcomoumleão,Elevoltaráaoseulugaratéquereconheçamsuaculpaebusquemsuaface(5.15).Eleoscurará,atarásuasferidas, e descerá sobre eles como chuvas refrescantes (6.1-3). Embora elestenhamsevendidoentreasnações,Elevoltaráajuntá-los(8.10).“Comopossodesistir de você?” brada o Senhor em seu amor compassivo pelo seu povo(11.8 NVI). Ele é Deus e não homem, e por isso não pode repudiá-los porcompleto(11.9b).SeusfilhosretornarãoaEletremendoquandoElerugir.Elesvirão como aves do Egito, como pombas da Assíria, e o Senhor osestabeleceráemsuascasas(11.10,11).

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AúltimadasmensagensdeOseiassobrearestauraçãoretornaàimagemdaabundânciade frutos.Oculto aBaalprometeu essabênção aos israelitas.Mas o Senhor é o único que na verdade pode fazer a terra produzir emabundância.OpróprioSenhor tomará a iniciativa, vai sarar a desobediênciadeles, e os amará livremente (14.4). Ele será como o orvalho para Israel,fazendo com que floresçam abundantemente (14.5). A restauração serácompletadacomumretornoparaaterrafértilqueelesironicamenteperderamaobuscaremosdeusesdafertilidade.OpovoquehaviasidojulgadocomoLo-AmmiagoraseráconhecidocomofilhosdoDeusvivo.

É surpreendente a aplicação que Paulo faz da mensagem de Oseias àcircunstância da nova aliança. Deus tornou conhecidas as riquezas da suamisericórdiaamuitagente,“nãoapenasdosjudeus,mastambémdosgentios,comoeledizemOseias:‘Vouchamarde‘meupovo’aquelesquenãosãomeupovo; e vou chamar de ‘amado meu’ aquele que não é meu amado” (Rm9.24,25).Mascomoéquepodeser isso?ComoéquePaulopodeaplicardeforma legítima uma profecia a respeito da restauração de Israel fazendo-aabrangera inclusãodosgentiosnapresenteera?SeráquePaulo torceuumaantigaprofeciapactualparaadaptar-seaosseusprópriosobjetivos?

De formaalguma!A revelaçãodoapóstoloquantoaosignificadodessaantiga profecia pactual esclarece vários fatores cruciais para uma adequadacompreensãodamensagemdosprofetas.Por um lado, demonstra a extremaimportância do exílio de Israel. Através desse juízo do Senhor, Israel naverdade tornou-se Lo-Ammi, exatamente comoOseias disse. Como indica adeclaração do profeta, eles eram “Não-Meu [de Deus]-Povo” (Os 1.9). Pormeio do juízo do exílio, eles retornaram ao status em que se encontravamantesdochamadodeseupaiAbraão.Aomesmotempo,ofatodePauloaplicaraprofeciadeOseiasàentradadosgentiosnaatualidademostraaimportânciada inclusão dos povos gentios. Eles se tornaram parte legítima do Israel deDeus.Os crentesgentios sãopovodeDeus exatamente comomuitos crentesjudeustêmsidoecontinuamsendopovodeDeus.Alémdisso,ofatodePaulorecorreraessapassagemindicao tempoexatoda“restauração”de Israel.Oretorno deles não deve ser visto como se fosse algum movimento que váocorrerentreosdescendentesétnicosdeAbraãonumfuturodistante.Emvezdisso,essa“restauração”de“Israel”jáestáocorrendoàmedidaquejudeusegentiossãoreconciliadoscomDeuspelaoperaçãodasuagraça.6

Ainda que a profecia de Oseias surja de uma circunstância históricaconcreta na história da nação de Israel, ela fala diretamente aos eventosredentores de nossos dias. Judeus e gentios são transformados em um novopovodaaliançadeDeus,emcumprimentoàprofeciadeOseias.7

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II.Amós

Amósdirige-seaoreinodeIsrael,nonorte,duranteosdiasdasuamaiorprosperidade: emmeados do século VIII a.C.8 Este profeta de fala franca ecorajosasalientaocaráteruniversaldodomíniodoSENHORdaAliançadesdeo princípio quando anuncia seu juízo vindouro sobre todos os vizinhos deIsrael.ElecondenaopecadodeDamascononordeste(1.3-5)eentãosevoltanadiagonalatravésdeIsraelatéGazanosudoeste(1.6-8).ElesedeslocapelaregiãocosteiraatéTirononoroeste (1.9,10)eentãoatravessamaisumavezIsraelemdireçãoaEdom,AmomeMoabenosudesteenoleste(1.11-2.3).Oprofeta chega mais perto de casa quando anuncia que nem mesmo Judá, anação irmãde Israel, pode reivindicar isençãodos juízosdoSenhor (2.4,5).Amóschegaaoclímaxdessepadrãocruzadodecondenaçãoquandoprofereseus juízosmais severos contra o próprio reino de Israel ao norte (2.6-16).Deusclaramentenãopretendeisentarseuprópriopovodasuadistribuiçãodejustiça.9

Otomde juízodessesdoisprimeiroscapítulospermeia todoo livrodeAmós, com exceção dos últimos versículos.Amaior esperança que se podedaraIsraeléumincerto“talvez”:talvezoSenhorrespondaemmisericórdiase o povo se arrepender, pois não é possível prender o Senhor numa caixa(5.15).10 A severidade da mensagem do juízo torna-se mais clara quandoAmósrecebeordemdosacerdotedeBetelparadeixaraterraemdecorrênciada sua declaração de que o rei Jeroboão seria violentamentemorto e que anaçãoiriaparaoexílio(7.10-13).Aorecontaraexperiênciadoseuchamadoparaoofício profético em resposta aodesafio do sacerdote deBetel,Amósresumeaessênciadetodaasuamensagemprofética.PelomenosquatrovezeseleafirmaqueIsraelserádesapossadodasua terrae levadoparaocativeiro(7.17).11 Essa mensagem do exílio certo é o elemento novo e diferente emcontrastecomoministériodosprofetasanterioresenãoescritores.12

Mas por que deveria o Senhor trazer esse juízo devastador sobre essapequena nação que finalmente alcançou um nível razoável de prosperidadedepois de tantos anos de luta pela sobrevivência? A penetrante resposta doprofetaaessaperguntadeveterchocadoaquelesqueaouviramemprimeiramão:

OuçamestapalavraqueoSENHORdaAliançafaloucontravocês,óisraelitas;contratodaestafamíliaquetireidoEgito:

“Escolhiapenasvocêsdetodasasfamíliasdaterra;

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porissoeuoscastigareiportodasassuasmaldades”.(3.1,2NVI)

Essa declaração assustadora expressa “um dos temas centrais do livrointeiro”.13 Por causado status especial de Israel,Deus temuma razão aindamaiorparapuni-losporsuadeslealdadeedesobediência.Essestatusespecial,conformeindicaapassagem,surgedoeventohistóricodoêxodo,peloqualoSenhorosestabeleceudeformasingularcomoseupovodaaliança.

ApalavraaliançaapareceumaúnicaveznaprofeciadeAmós,eissonumcontexto em que não se refere claramente a uma aliança divina (1.9). Mastambém é verdade que o sistema de referência emAmós pressupõe tanto aaliança comospais comoa aliança feita pormeiodeMoisés.14 Esta nação,estas famílias somente dentre todas as famílias da terra, foram favorecidasmaisdoquetodososoutrospovos.15SãoelesqueoSenhortiroudoEgitopormeio do êxodo. Por causa desse privilégio especial, eles estão sob juízoespecial.Devidoàaliançaelestomarampossedaterra,eporcausadaaliançaelesserãoexiladosda terra.Todosos terríveis juízosdescritosdeformatãovívidanaprofeciadeAmósdescerãosobreessanaçãoexatamenteporqueelesforamfavorecidosdemodoespecialpeloSenhor.

Somente nas últimas palavras de Amós podemos encontrar algumaesperançaparaanação.Finalmenteaperspectivaderestauraçãoapósoexílioé declarada e assegurada com base nas alianças de Deus. Nessa hora, é aaliança comDavi que fornece a esperança certa, a expectativa de que Deuslevante o “tabernáculo caído deDavi” (9.11,12).16 A obra de redenção deveavançar a despeito da incursão do pecado no coração e vida daqueles queforam especialmente favorecidos pela graça do Senhor. Por fim,mesmo osedomitas,ostradicionaisadversáriosdeIsrael,terãoinculcadoemsionomedeDeus,simbolizandosuaparticipaçãonagraçaeletivadoSenhor(9.12).

ApassagemfinaldeAmósforneceaestruturaparaseentenderainclusãodos gentios entre o povo de Deus no contexto da nova aliança. No grandeconcíliodaliderançadaigrejaocorridoemJerusalém,oapelodeTiagoaessaprofeciadeAmósdecidiuaquestão(At15.15-19).Aspalavrasinspiradasdoprofeta tinham antevisto o dia em que o “tabernáculo caído de Davi” seriarestaurado.Amóstinhadeclaradoquemesmoosarqui-inimigosdeIsrael,osedomitas, teriam o nome pactual de Deus colocado neles. Tiago declara aoconcíliodeJerusalémque,pormeioda ressurreiçãoeascensãodeCristo,otronodeDavifoirestauradoeelevadoaumaposiçãonovaemaismajestosa.DasuaposiçãoàmãodireitadeDeuscomooSenhorungido,JesusderramouseuEspírito sobre as nações gentias.Nada, alémdisso, poderia explicar suaconversão em massa. Havia ficado claro naquele momento que os gentios

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poderiamexperimentarabênçãofinaldeseremunidoscomoDeusdaaliançasemjamaissetornaremjudeuspormeiodoritualdacircuncisão.OnovodiadonovopovodeDeussobanovaaliançahaviachegado.17

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III.Miqueias

Os dois maiores profetas de Israel estabeleceram-se na Judeia e emJerusalém na segunda metade do século VIII a.C. Suas visões proféticasocorreramnosdiasdosreisUzias,Jotão,AcazeEzequiasdeJudá(Is1.1;Mq1.1).18Tanto Isaías como Miqueias viveram durante os traumáticos dias dadevastaçãodoreinodonorteeseuexíliopormeiodasmãosviolentasdoreidaAssíria em722 a.C., o que é um fatomuitas vezes desconsiderado.O reiSenaqueribe por fim bateu às próprias portas de Jerusalém, e, sem dúvida,teria provocado sua devastação se não fosse a direta intervenção de Deus,exatamente como Isaías tinha predito. Na maior humilhação, o poderosoSenaqueribe por fim morreu no templo do seu deus pelas mãos dos seusprópriosfilhos(Is37;2Rs19.20-37;2Cr32.20,21).

A mensagem desses gêmeos proféticos, que anunciaram a Palavra deDeusduranteumadasmaiorescrisesdahistóriade Israel,émais facilmenteentendidaquandoseexaminamprimeiroospadrõesdamensagemdeMiqueiasantes de considerar Isaías. Embora ambos os profetas claramente possuamsuas próprias ênfases distintas, podemos detectar vários temas que sesobrepõem.

Ainda que o termo aliança não apareça no livro de Miqueias, ofundamento da sua mensagem se apoia nas alianças anteriores que Deusestabeleceucomseupovo.Anaçãoécondenadaporcausadoseufracassoemresponder de forma apropriada às bênçãos trazidas pela libertação doEgito(Mq 6.4,5). Em decorrência disso, o Senhor agora traz contra eles a açãojudicialbaseadanaaliança,conclamandoaterraeseupovocomotestemunhas(1.2; 6.1,2; veja tambémDt 4.26; 30.19; 31.28; 32.1).Mas a única esperançadelesdeveserqueDeushaverádemostrarsuasmaravilhasdamesmaformaqueEleo fezquandoanação saiudoEgito (Mq6.4,5;7.15).Atémesmodeformamaisbásica,aesperançadelesseapoianojuramentopactualfeitoaospais,aAbraãoeJacó(7.20).Essaexpectativaagoraéexpandidanapromessadeumgovernador(davídico)datribodeJudá,quesurgirádeBelém(5.2).Seureinodepazporfimalcançaráosconfinsdaterra(5.4,5).

Como resultado do fracasso de Israel de corresponder à sua obrigaçãopactual, Miqueias profetiza devastação e exílio para a capital de ambos osreinos:Samariaserátransformada“nummontãodeentulho”(1.6);Jerusalém“será revolvida como um campo”; e a colina do templo “parecerá ummatagal”(3.12NVI).Aautenticidadedessaminuciosaprofecia200anosantesda realocorrênciaéconfirmadaduranteoministériode Jeremias,quandoo

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povo recomenda sua execução por causa de profecias semelhantes dedestruição (Jr 26.18).19 Mais especificamente, Miqueias anuncia que aBabilôniaseráodestinodaspessoasquesãoexpulsasdaterra(4.10).

Depois do exílio, haverá uma restauração, um ajuntamento do Israeldisperso (2.12; 4.6; 5.3). Nem toda a nação voltará, mas apenas umremanescente(2.12;4.7;5.7,8;7.18).Umavezrestabelecido,esseremanescentesemultiplicaráefloresceráàmedidaquepassaapossuirariquezadasnaçõesem nome doSENHOR da Aliança, e à medida que as nações correm para omonte do Senhor (2.12; 4.13c; 4.1-3). Quando o reino for restaurado, o reiserárestaurado,eoparaísoserárenovado.AssimcomoBelémfoiolugardonascimentodogrande reiDavi,assimBelémseráo lardaquelequeémaiorqueDavi,poisassuasorigenssãodesdeaeternidade(4.8;2.13;5.2-4).

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IV.Isaías

OlivrodeIsaíasapresentaosmesmostemasdominantesassociadoscomo exílio e a restauração conforme se vê na profecia deMiqueias.De formasimilaraOseiaseAmós,amensagemdesteprofetaencontraseuresumoemseuchamadoinicialparaoofício.AmensagemdeOseiasestáagregadaàsuacomissãoinicialdadaporDeusparaqueoprofetasecasecomumaprostituta.A mensagem profética de Amós a respeito do exílio vindouro de Israel serepete quatro vezes quando ele relembra seu chamado inicial ao ofícioproféticoaoserinterpeladoporAmazias,sacerdotedeBetel(Am7.10-17).Deformasemelhante, a essênciadamensagemde Isaíaspode ser encontradanavisãoque lheocorreunomomentodoseuchamadoparaoofíciodeprofetaem Israel (Is 6). Considere os seguintes elementos-chaves do chamado deIsaíaseentãoareconstruçãocríticadamensagemdele.

A.Elementos-chavesdochamadodeIsaías

1.AexaltaçãodoSenhorcomoreiQuando sua visão começa, Isaías vê o Senhor assentado num alto e

sublimetrono,easabasdassuasvestesenchemotemplo(6.1).Masaomesmotemposoaumanotadetristeza:IsaíastevesuavisãoexaltadadoSenhorcomorei no ano em que morreu o rei Uzias. Bem no início do seu ministério,estabelece-se o contraste entre o governo de Deus e o governo do homem.Mesmoosmelhores reisde Israel sãopecadores,homenscompésdebarro.Mas, a despeito da ascensão e queda dos reis humanos, o Senhor continuaininterruptamente em seu trono. Essa tensão entre Israel precisar de um reimesmoqueopróprioSenhorpermaneçacomoreijávemdaépocadosjuízes.

As profecias de Isaías apresentam o Senhor em sua posição exaltadacomo rei em todas as diferentes seções do livro. Todos os outros reis esoberanos serão trazidosdiantedoSENHOR daAliançapara serem julgados,poisElereina“nomonteSiãoeemJerusalém”(24.23).Ojustoverá“oreiemseu esplendor”, como aconteceu com Isaías (33.17NVI), pois oSENHOR daAliançaéjuiz,legisladorerei(33.22).OreideJacódeformaeficazapresentaseucaso,emcontrastecomos ídolos ineficientesemudos (41.21).NumecodeliberadoàvisãoinicialqueIsaíastevedoSenhoremsuasantidade,Deussedeclaracomo“oSanto,oCriadordeIsraeleoseuRei”(43.14,15NVI).EleéoreideIsrael,quetemocéucomoseutronoeaterracomooestradodosseuspés(44.6;66.1).

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PormeiodeIsaías,aresoluçãofinaldatensãoentreoreinadoeternodoSenhor sobre Israel e os reis falíveis e temporários da nação é revelada deformamaisclaradoquehaviasidoentendidaanteriormente.Aatençãosevoltaparaumreidavídicoideal.Essetemaunificaaprimeiraseçãomaiordolivro(capítulos2-11).20Nosúltimosdias,muitasnaçõesirãoaJerusalémparaouviraPalavradoSenhor.Emdecorrênciadisso,seráestabelecidoumreinodepazde alcance mundial (2.1-4). O rei desse grande império será o descendenteprometido de Davi. Como manifestação consumada do princípio do “Deusconosco”,Eledeveserconcedidodeformasobrenatural,devenascerdeumavirgem(7.14).

AtentativadeacabarcomalinhagemdosreisdavídicosnosdiasdeIsaíasprecisaseravaliadaporsuaplenaimportânciaemfornecerumcontextoparaoanúncio de um nascimento virginal. O propósito de Deus durante todos osséculosvindourosestavaemjogo.ASíriaeEfraim,doispoderesmuitomaisfortesdoqueopequenoreinodeJudá,formaramumaaliançacomoexpressopropósitoderemoverodescendentedeDavidotronoesubstituí-lopelo“filhodeTabeal”(7.5,6).Aseriedadedocaráterdessaameaçadáabaseparaentenderaextraordinárianaturezadareação.OprofetaIsaíasnãosecontentaapenasemtranquilizar o descendente deDavi que atualmente ocupa o trono de que elenãoprecisapreocupar-secomasituação.Emvezdisso,eledesafiaoincréduloreiAcazapedirumsinalmiraculoso.Elepodeescolhercéuouterracomoaesfera em que vai acontecer omilagre, semmedo de falsificações forjadas(7.11). Nomomento que o rei quiser, esse fenômeno sobrenatural pode sermanifestoparaquetodosovejam.Quandoorei,comfalsapiedade,recusaaespetacular oferta de Isaías, o profeta declara a toda a “casadeDavi” queopróprio SENHOR da Aliança providenciará um sinal miraculoso. Esse sinalmiraculosoterácomofinalidadeespecíficaconfirmaroinabalávelfatodequealinhagemdeDavinãopodeenãoseráexterminada.Dizoprofeta:“Olhem!Espantem-se!”“Avirgemconceberáedaráàluzumfilho;eelaochamaráde‘Emanuel’”,quequerdizer“Deusestáconosco!”(7.14).

Já se fizeram esforços extraordinários para despojar essa passagem detudo aquilo que soa sobrenatural. Mas todo o contexto se opõe a essesesforços. A intenção violenta da coalisão sírio-efraimita era clara. Essasnaçõespretendiamanular o solene juramentoda aliançaqueoSenhorhaviafeitocomDavi.Apropostadeumfenômenosobrenaturalnocéuounaterradificilmente poderia ser cumprida pelo nascimento normal de um filhocomum do rei ou do profeta. A natureza miraculosa do “sinal” que Isaíasestava propondo pode ser comparada ao caso subsequente da doença deEzequias, quando o sinal fornecido pelo profeta foi que o relógio de sol

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retrocedeudezgraus(38.7,8).Um filho nascido do rei ou do profeta de forma normal dificilmente

poderiaproduziroefeitodeasseguraracontinuidadeininterruptaeperpétuada linhagem dos reis davídicos no trono de Israel de acordo com o divinojuramentofeitoaDavi.Masumavirgemdandoàluz,umavirgemdalinhagemdeDavidandoàluz–issodefatoseriaumsinalespetaculardignodeencararo desafio feito por essa coalisão de exércitos indispostos contra oSenhor eseuCristo.OvocábuloescolhidoporIsaías(almah)descrevenãoapenasuma“jovem”, comoo traduz aRevisedStandardVersion.A palavra designa uma“jovemnão casada” e, neste caso, de caráter “íntegro” como a que dá à luzEmanuel.Emseusentidomaispleno,elaéuma“jovemíntegranãocasada”,oqueéexpressocommaisprecisãopelapalavravirgem.21

O sinal sobrenatural de um filho nascido de uma virgem atende aodesafioapresentadoàlinhagemdeDavinestecontexto.OprefáciodeIsaíasaesta profecia cria uma expectativa sem precedentes para omiraculoso, e ostradutoresdaSeptuagintarepresentaramcorretamenteessaexpectativaquandousaramovocábulogregopara“virgem”(parthenos)paradescreveramulherque haveria de gerar a criança. Somente amesma descrença que frustrou areaçãodoreiAcazàmensagemdoprofetahaveráderacionalizaramaravilhadestapalavra.22

Outros nomes que caracterizam a natureza dessa criança concedida deforma sobrenatural têm a mesma qualidade surpreendente que o nomeEmanuel.Eleseráconhecidocomo“DeusForte”e“PaidaEternidade”(9.6).Osignificadodessesnomespodemserdiscutidos,masumcorretoentendimentodo seu significado indica que esse salvador vindouro deve ser umMessiasdivino,opróprioDeusentreoshomens.23Elerevelaráasuasuficiênciaparaasuagrandiosamissãounicamenteporcausadanaturezasingulardasuapessoa.Essegrandesalvador-reidopovodeDeusdevereinarnotronodeDavi,seupai, para sempre (9.7). O Espírito do Senhor repousará sobre Ele, e Elegovernará com justiça sobre todas as nações (11.5,10). A descrição dessepoderosomonarca enviadoporDeusultrapassaos limitesdequalqueroutracoisaquejásetenhavistoentrearaçahumana.

Assim, o primeiro fator que se deve notar na visão que comissionouIsaíasésuaênfasenogovernodeDeussobreseupovo.Essegovernodivinopor fim será manifesto de forma redentora na pessoa do vindouroMessiasdavídico.

2.AsantidadecomocaracterísticadistintivadoSenhordeIsaíasUmsegundo fatorque ficaexplícitonavisãoquecomissiona Isaíaséo

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caráter santo do Senhor. “Santo, santo, santo” é a descrição da essência deDeusconformeosserafinsodeclaram(Is6.3).Demaneiraequilibradaentresuas duas seções maiores, encontra-se a especial designação de Isaías arespeito de Deus como “o Santo de Israel”. A frase ocorre doze vezes emIsaías1-39 (1.4;5.19,24;10.20;12.6;17.7;29.19;30.11,12,15;31.1;37.23)etreze vezes em Isaías 40-66 (41.14,16,20; 43.3,14; 45.11; 47.4; 48.17; 49.7;54.5;55.5;60.9,14).OusodessacaracterizaçãodistintivaparaDeusemIsaíasémaisimpressionanteaindaquandosenotaqueelaapareceapenasduasvezesemtodoorestodocorpusprofético(Jr50.29;51.5).ÉmuitoevidentequeavisãoinicialdoSenhortrêsvezessantoinfluencioutodooconceitodeIsaíasarespeitodeDeuseseuministérioparacomIsrael.

EsseDeussantosemostrarásantopormeiodeseusfeitosjustos(Is5.16).EleéoSanto,oSantodeJacó,queprecisaserconsideradocomosanto(10.17;29.23;8.13).Seunome,seuEspírito,seuShabbath,eseubraço(osímbolodoseu poder em ação) são santos (57.15; 63.10,11; 58.13; 52.10). Comoconsequência,olugardasuahabitaçãoésanto.Isaíascomfrequênciaserefereao “santomonte” de Deus, que é identificado como Jerusalém (11.9; 27.13;56.7;57.13;65.11,25;66.20;vejatambém48.2;52.1).Osantuário,acasaondeEle habita, também é santo (63.18; 64.11).Mesmo o caminho que conduz aSiãoécaracterizadocomoum“CaminhoSanto”(35.8,10).Narealidade,todasascidadesda sua terrapodemserchamadasde santas, e seupovo tambémésanto(64.10;4.3;62.12;63.18ARA).Aomesmotempo,éprecisoreconhecerqueocéuéolugardasuasantahabitação(63.15).

Assim,todaamensagemdeIsaíaséinfluenciadaporessaidentificaçãodeDeuscomooSantode Israel.Emdecorrênciadisso, tudoqueestáassociadocomesseDeussantopassaaterascaracterísticasdasantidade.

3.OcaráteruniversaldodomíniodoSenhorUm terceiro elemento central do ministério de Isaías que surge muito

fortemente por ocasião do seu chamado inicial é o caráter universal dodomínio do Senhor. Esse Deus não deve ser visto comomais uma deidadelocal dentremuitas outras, pois “toda a terra está cheia da suaglória” (6.3).Essa soberania universal é claramente ressaltada em todo o livro pelasdeclarações do controle do Senhor sobre todas as nações. O SENHOR daAliançadeIsrael temumplano,umpropósitoparaasnações,propósitoesseque vai prevalecer. Esse plano abrange o mundo todo, pois sua mão estáestendidasobretodasasnações(14.24,26).Maisespecificamente,EleplanejaesmagarapoderosanaçãoassírianomomentoemqueelesinvadirematerradeIsrael(14.25).

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Ocaráteruniversaldoseugovernofundamenta-senofatoqueElecriouomundotodo.Chegaráahoraquandoahumanidade(haadam)olharáparaseuCriador,quenãoéoutrosenãooSantodeIsrael(17.7;vejatambém27.11).ODeus de Israel é “oDeus eterno, oCriador de toda a terra” (40.28NVI).OSenhor que fez a terra, criou a humanidade, e organizou os exércitos dasestrelas do céu levantará Ciro, o imperador medo-persa; e ai daquele quecontendecomseuCriador(45.12-13.9).Assimcomo“todaaterra”estácheiada glória do Deus de Israel (6.3), assim o Criador de Israel é chamado de“Deusdetodaaterra”(54.5).

Emúltimainstância,oSenhormostrarásuasoberaniasobretodaaterraquando remover o manto demorte que envolve todos os povos, que cobretodasasnações(25.7,8).ÉevidentequenessaocasiãoEleserevelarácomooúnicoDeusvivoeverdadeiro.

4.ApecaminosidadedoprópriopovodeDeusNomomentodoseuchamadoparaoofícioprofético,aprimeirareação

deIsaíasàmanifestaçãodasantidadedoSenhorfoiumsincerogrito:“Aidemim!” (6.5). Ele e todo o seu povo têm de antever o juízo de Deus comoconsequência da contaminação do pecado. Mas o Senhor graciosamenteprovidenciaumcaminhodepurificaçãopormeiodeumabrasatiradadoaltardo sacrifício. Um tema adicional maior de Isaías é, assim, estabelecido nomomentodo seuchamado.Não sãoapenas asnações ao redorde Israelqueestão sendo condenadas devido aos justos juízos de Deus. O próprio povoescolhidodoSenhor–incluindoosseusmediadoresproféticos–demonstramumacorrupçãoqueos incapacitadeestaremnapresençadoDeussanto.Nãopodemos esperar que esse Deus santo e justo comprometa sua santidadesimplesmente fazendo vista grossa diante das transgressões. Mas, em suamisericórdia,Elefazprovisãoparaapurificaçãonoaltardosacrifício.

Isaías começa sua mensagem profética dirigindo-se a uma “naçãopecadora,umpovocarregadodeiniquidade”(1.4NVI).Essepovoseprendeaopecadocomcordasdeengano(5.18).AnaçãosobrecarregouoSenhorcomseus pecados (43.24). Suas iniquidades os separaram do seu Deus; seuspecadosocultaramdelesasuaface(59.2).TalvezacoisamaisnotávelsejaaacusaçãocontraanaçãoemtermosdasuafunçãocomooservoescolhidodoSenhor:“Quemécegosenãoomeuservo,e surdosenãoomensageiroqueenviei? Quem é cego como aquele que é consagrado amim, cego como oservodoSenhor?”(42.19NVI).

OprofetaanunciacomsatisfaçãoqueopecadodeJacófoiexpiadoequeos pecados daqueles quemoram emSião serão perdoados (27.9; 33.24).As

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novas consoladoras são que os pecados de Israel já foram pagos e jamaisserãolembradosoutravez(40.2;43.25).Demaneiraconsistente,émostradoqueessespecadosnãoforamsimplesmentedesconsideradospeloSenhor.Suajustiça será mantida. Em decorrência disso, um servo especial do Senhor éesmagado por causa das iniquidades do seu povo quandoEle toma sobre simesmoaculpadospecadosdeles(53.5,11).

5.AincapacidadedopovodeouviraPalavradoSenhorNomomentodo seuchamadoparaoofícioprofético, Isaías recebe sua

comissãoparairefalaraopovo.Masnessepontoinicialdoseuministérioeleéinformadoarespeitodotipodereaçãoquedeveesperar:opovoverá,masnão perceberá; ouvirá, mas não entenderá sua mensagem (6.9). OdesenvolvimentodessetemanolivrodeIsaíasémuitomaisextensoeamplodoquepodemossupornumprimeiromomento.24 OjuízodeDeussobreIsraelé que eles não verão com os olhos, não ouvirão com os ouvidos, nementenderão com o coração a verdade de Deus quando lhes for anunciada(6.10). Isaías acabou de ver o Senhor como rei em toda a sua glória. Masagoraanaçãoécondenadaàcegueiraespiritual.Dessepontoinicial,maldiçãoebênçãosãorepetidamentedefinidascomoconsequênciadeperceberounãoperceberaverdadearespeitodeDeusqueestásendocolocadadiantedeles.

O Senhor cerrou os olhos da nação, que são os seus profetas (29.10).Ninguémpoderiaser tãocegocomooservodoSenhor (42.19). Israel tateiacomoalguémquenãotemolhos(59.10).Masapartirdaescuridãodastrevasosolhosdoscegosirãoenxergar(29.18).Nofinal,seusolhosverãooreiemsua beleza, assim como Isaías o viu por ocasião do seu chamado profético(33.17).AoservodoSenhoréatribuídaaespecialtarefadeabrirosolhosdoscegos(42.7).

DuaspassagensdeespecialimportânciaemIsaíasanteveemvistaparaoscegoseluznastrevasàmedidaqueessesdoistemasseampliamnocontextoda nova aliança. Zebulom e Naftali, territórios da região norte de Israelconhecida como “Galileia dos Gentios” periodicamente sofreram o maiorimpacto dos assaltos das nações invasoras. Normalmente, eles viam apenastrevas terríveis e completa escuridão (8.22).Mas chegará o dia quando essepovoqueandanastrevasveráumagrandeluz,poisserácumpridaapromessado descendente davídico que estabelecerá a justiça para sempre (9.2,7). Nodevido tempo, esse território galileu tornou-se o receptor da luz das boasnovasdoevangelho.Quando Jesusdeixou Judápor causadaprisãode JoãoBatista, para proclamar a vinda do reino de Deus na Galileia, essa luzprometida finalmente chegou à entenebrecida terradosgentios (Mt4.12-17).

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Deformasemelhante,apromessadequeosolhosdoscegosseriamabertoseosouvidosdossurdosseriamdesobstruídostemsuarealizaçãoconsumadanoministériodecuradeJesus,deacordocomoEvangelhodeMateus(Is35.5;vejatambémMt11.5,6).

De qualquer forma, esse tema que aparece primeiro no registro dochamado de Isaías, e a tudo permeia, reaparece regularmente no livro evincula suas várias seçõesumas comas outras.Demodovívido, descreve ajustiçaeagraçadeDeusaolidarcomumpovopecaminosoeendurecido.

6.OexíliodopovoesuarestauraçãoàterraPorquantotempodeviaoprofetacontinuarentregandosuamensagema

um povo que não ouvia? Essa pergunta é respondida diretamente na visãoinicialdoprofeta:

Atéqueascidadesestejamemruínasesemhabitantes,

atéqueascasasfiquemabandonadas

eoscamposestejamtotalmentedevastados,

atéqueoSENHORdaAliançatenhaenviadotodosparalongeeaterraestejatotalmentedesolada.(6.11,12NVI)

Énotávelqueessaafirmaçãoa respeitodo futuroexíliodanação surjatãoclaramentenomomentodochamadodeIsaíasparaoofícioprofético.Maso ceticismo com respeito a sua autenticidade deve ser contrabalançado pelalembrançadequeesteprofetanaverdadeviveuduranteo terrível traumadoexílio do reino do norte e anunciou ao rei Ezequias que destino idênticoaguardavaJudá,oreinodosul.Oexíliodeambososreinos,norteesul,foialgoqueocupouamentedoprofetadurantetodooseuministério.

Masapromessadarestauraçãodepoisdoexílioétambémgarantidanesseponto inicial por meio da promessa de que seria preservada uma sementeremanescente:25

Mas,assimcomooterebintoeocarvalhodeixamotroncoquandosãoderrubados,

assimasantasementeseráoseutronco[naterra].(6.13bNVI)

Dessavisãoinicial,ostemasdoexílioedarestauraçãoservemdepontoscentraisdocomeçoaofimdolivrodeIsaías.Aprimeirareferênciaexplícitaao exílio na verdade aparece na porção introdutória do livro, anterior ao

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registrodacomissãodoprofeta.Porcausadasuafaltaderespeitopelaobrado Senhor, esse povo irá “para o exílio” (5.13).26Mas os antigos alertas arespeitodoexílioqueviriaparaIsraelsãoapenasocomeçodamensagemdoprofeta.Samaria,essa“flormurcha... localizadanacabeçadeumvale fértil”será como um figomaduro antes da colheita (28.1,4NVI).O próprioDeusconvocaráoreidaAssíriacomosuanavalhaalugadapararasparacabeça,aspernaseabarbadeIsrael(7.17-20).TodaariquezadeSamariaserálevadaporessepoderosoreiquevemdooutroladodorio(8.4).

Dessamesmaforma,osdescendentesreaisdeDaviserãodeportadosparaaBabilônia,ondesetornarãoeunucosnopaláciodoreiestrangeiro,incapazesde gerar uma semente real para as futuras gerações (39.6,7).Deus vai falarcom Jerusalém por meio de línguas estranhas de invasores estrangeiros,cancelando sua aliança com amorte pormeio de uma enchente devastadoraque os levará para longe (28.11,18,19). Quem foi que entregou Israel aossaqueadoressenãoopróprioSenhor(42.24,25)?Eleéquemvaidestiná-losàespada(65.12).EssealvoroçovindodotemplodeJerusalém–oqueéisso?Éo som do Senhor recompensando seus inimigos por tudo o que merecem(66.6).

Ainevitabilidadedoexílioparaambososreinos,odonorteeodosul,é,assim,umdos temasconstantesde Isaíasque surgemdochamado inicialdoprofeta.Mas,aomesmotempo,arestauraçãoeoretornodepoisdoexíliosãotambémfatoresmaioresemsuamensagem.Comoumaárvorequedeixaumtocodepois de cortada, “assima santa semente seráo seu tronco [na terra]”(6.13bNVI).

O temada restauraçãodepoisdoexílioexerceumafunçãoproeminentenasdiferentesseçõesdeIsaías.MesmoumdosfilhosdeIsaíascarregaonomesimbólico de Shear-Jashub, significando “um remanescente haverá deretornar”(7.3).Emboraadestruiçãotenhasidodecretadaparatodaaterra,umremanescente haverá de retornar (10.20-23). O Senhor juntará seuremanescente, os exilados do reino do norte de Israel bem como o povodispersodeJudá,daAssíria,doEgitoedaBabilônia(11.11,12).TantoomardoEgitocomoorioEufratessecarãodeformasemelhanteaomarquesecounaépocadoêxodooriginal(11.15,16).OslouvoresdeIsraelsoarãooutravez,exatamente como aconteceu por ocasião da libertação do mar Vermelho,palavraporpalavra(12.2;vejatambémÊx15.2).

Com poucas exceções, cada capítulo da última seção do livro de Isaíasinclui referências importantes à restauração depois do exílio. Quandoconsideramos,doinícioaofimdolivrodeIsaías,odesenvolvimentodaideiadarestauraçãodepoisdoexílio,váriospontospodemserdestacados.

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Emprimeirolugar,umadiferençasurgenodesenvolvimentodotemadarestauraçãonasduasmaioresseçõesdaprofecia.EmIsaías1-39,arestauraçãoestáassociadamaisespecificamentecomaideiadoremanescente(4.3;10.20-22;11.11,16;17.6;24.6;28.5;37.4,31,32;veja também46.3;49.21),aopassoqueemIsaías40-66ofocoestánaideiadosurgimentodasemente(41.8;43.5;44.3;45.19,25;48.18,19;53.10;54.3;59.21;61.9;65.9,23;66.22;vejatambém6.13).Umaperspectivacríticanegativapodeaproveitar-sedessadistinçãoparaapoiara ideiadedoisdiferentesautoresou tradiçõesparaasduasseçõesdolivro. Um problema com essa perspectiva é que muitos críticos tambémpropõemqueamesmamãoquecompôsaúltimaseçãodeIsaíasnoséculoVIa.C.deveserresponsávelporinserirasreferênciasaumretornodoexílionaprimeira seção do livro. Para uma análise mais frutífera, seria muitoapropriadoqueoprofetafalassesobreumremanescentesobreviventenomeiodesua lutaparaajustar-seaoconceitodeumaexperiênciadeexílio.Masemseguida,depoisdoprofetaterseacomodadoàinevitabilidadedeumexílioquecertamenteviria,elepodeprofetizarosurgimentodeváriassementesdopovopreservado de Deus em sua restauração. Na expectativa do profeta, não é ageração atual dos seus contemporâneos, mas uma semente futura ainda pornascerquevoltarádoexílio.

Emsegundolugar,a inclusãodosgentioscomopartevitaldeumIsraelrestaurado aparece como temaprincipal do início ao fimdo livro de Isaías.UmaamostradepassagensressaltaaforçadessepontonaprofeciadeIsaías.DeIsaías1–39:27

Virãomuitospovosedirão:“Venham,subamosaomontedoSENHORdaAliança.”(2.3)

...aRaizdeJessé,queserácomoumabandeiraparaospovos,eoseulugardedescansoseráglorioso.(11.10)

OSenhor...tornaráaescolherIsraeleosestabeleceráemsuaprópriaterra.

OsestrangeirossejuntarãoaelesefarãopartedadescendênciadeJacó.(14.1)

...dádivasserãotrazidasaoSENHORdaAliança,oSenhordosExércitosdapartedeumpovoaltoedepelemacia,...serãotrazidasaomonteSião.(18.7)

...desdeoocidenteaclamamamajestadedoSENHORdaAliança.Deemglória,pois,aoSENHORdaAliançanooriente...

Desdeosconfinsdaterraouvimoscantar:

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“GlóriasejadadaaoJusto!”(24.14-16)

NestemonteoSENHORdaAliança,oSenhordosExércitosprepararáumfartobanqueteparatodosospovos,...

Nestemonteeledestruiráovéuqueenvolvetodosospovos,...

destruiráamorteparasempre.(25.6-8)

DeIsaías40–66:

NodesertopreparemocaminhoparaoSENHORdaAliança...e,juntos,todosaverão.(40.3,5)Paravocêécoisapequenademaissermeuservo

pararestaurarastribosdeJacó...Tambémfareidevocêumaluzparaosgentios,

paraquevocêleveaminhasalvaçãoatéosconfinsdaterra.(49.6;vejatambém42.6)...vocêconvocaránaçõesquevocênãoconhece,

enaçõesquenãooconhecemseapressarãoatévocê.(55.5)...eutrarei[estrangeiros]aomeusantomonte...poisaminhacasaseráchamada

casadeoraçãoparatodosospovos...[aquele]quereúneosexiladosdeIsrael[diz]:

“Reunireiaindaoutros”.(56.7,8)Asnaçõesvirãoàsualuz

eosreisaofulgordoseualvorecer.Estrangeirosreconstruirãoosseusmuros,

eseusreisaservirão.(60.3,10)...enviareialgunsdossobreviventesàsnações....Elesproclamarãoaminhaglóriaentreasnações.Tambémdentretodasasnaçõestrarãoosirmãosdevocêsaomeusantomonte,emJerusalém....Farãocomofazemosisraelitasquandoapresentamassuasofertasdecereal...tambémescolhereialgunsdelesparaseremsacerdoteselevitas.(66.19-21)

Emborao temada inclusãodasnaçõesgentiaspossa ser encontradodoinício ao fim dos escritos proféticos, nada se compara com a extensaelaboraçãodotemacomoelesurgedeformaconsistenteemtodoolivrodeIsaías.Aafluênciadosgentios, ligadaemIsaíastãoregularmenteaotemadoretornodoexílio, representaumanovafasenodesenvolvimentodoconceitodarestauraçãodeIsrael.EssaexperiênciaprevistanahistóriadanaçãocriaráumanovaeraparaopovodeDeus.Pormeiodesseprocesso,aprópriaideiade um povo deDeus é redefinida para incluir povos de todas as nações domundo.

Em terceiro lugar, a restauração é representada em última análise emIsaías nãomeramente como um retorno à condição anterior desfrutada pelanaçãoantesdoexílio.Emvezdisso,arestauraçãoesperadacresceaopontodeabarcaraideiadeumanovacriaçãocósmica:28

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Aluzdaluabrilharácomoosol,ealuzdosolserásetevezesmaisbrilhante...quandooSENHORdaAliançacuidardascontusõesdoseupovoecurarasferidasquelhecausou.(30.26)

Poisvejam!Criareinovoscéusenovaterra...

porquevoucriarJerusalémpararegozijo,eseupovoparaalegria.Construirãocasasenelashabitarão...Oloboeocordeirocomerãojuntos,

eoleãocomeráfeno,comooboi...Ninguémfaránemmalnemdestruição

emtodoomeusantomonte.(65.17,18,21,25;vejatambém11.6-9)

Assim como os novos céus e a nova terra que vou criar serão duradouros diante demim ...assimserãoduradourososdescendentesdevocês eo seunome. ...toda ahumanidadevirá e se inclinarádiantedemim.(66.22,23)

Nãoéqueaideiadeumanovacriaçãosimplesmentesedesenvolvaporsimesma,àpartedeoutrasconsiderações teológicas.Emvezdisso,oconceitodeumretornodoexílioforneceuoventredoqualnasceuaexpectativadeumanovaordemmundial.

Em quarto lugar, é impressionante, no desenvolvimento da teologia deIsaías, a introdução de uma figura personificada no tema do exílio e darestauração. Somente no contexto do exílio e da restauração da nação osignificado dessa pessoa singular que personifica Israel pode sercompreendidodemodoapropriado.Elefoiabatido,aviltado,maishumilhadodo que qualquer outra pessoa que já viveu na face da terra. Ele não tinhanenhumabelezaoumajestadequepudesseatrairaspessoasparasi(53.2b).Suaaparência estava deformada mais do que a de qualquer outro homem, suaformaestavatãodesfiguradaquenãopareciahumana(52.14).Elefoicortadodaterradosviventesesuasepulturafoipostaentreosímpios(53.8b-9).MaspelavontadedoSenhorEleverásuasementeeprolongaráseusdias(53.10).Depoisdosofrimentodasuaalma,eleveráaluz,ficarásatisfeito,eavontadedoSenhor lhe dará uma porção entre os grandes (53.11,12).Na experiênciadessa figura, o exílio e a restauração significam humilhação e exaltação,morteeressurreição.Suaexaltaçãoé,narealidade, tãogrande,quepodeserdescritacomamesmafraseologiaencontradanochamadooriginalde Isaíasretratando o próprio Senhor exaltado. Inicialmente, o profeta viu o Senhor“altoesublime”(ramwenissa)(6.1);agoraelevêoservodoSenhor“exaltadoe elevado” (yarum wenissa) (52.13). Essa combinação de palavras é tãocaracterística que dificilmente poderia ser coincidência que fosse usadaumafraseidênticaparadescreveressasduasfigurassupremasemIsaías:opróprioSenhoreseuservo.AúnicavezemqueessacombinaçãoaparecenovamentenaBíblia é numa passagem que designa o próprio Senhor como “oAlto, o

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Sublime”(57.15).TendoemmenteessepanodefundoarespeitodolivrodeIsaías,torna-se

compreensível por que o escritor do Evangelho ousa reunir citações dequandoIsaíasapresentaoservoexaltadodoSenhor(Is53.1)comseurelatodavisãodopróprioSenhorexaltado(6.10)eafirmarqueIsaíasviu“aglóriadeJesus”nessasexperiências(Jo12.37-41,citandoambososversosdolivrodeIsaías).Jesus,eJesussomente,éoSenhorqueexperimentouaexaltaçãocomodecorrênciadasuafunçãocomoservodoSenhor.

UmpontodegrandeimportânciaéarelaçãodessasegundafiguramaiordaprofeciadeIsaíascomoDaviidealdaprimeiraseção.Osjudeusdosdiasde Jesus não entenderam a conexão entre essas duas figuras. Comoconsequênciadisso,elessejuntaramaosromanosparacumpriremaprofeciacrucificando seu próprio Messias. Os discípulos de Jesus também tiveramgrande dificuldade para entender a conexão, de forma que buscavam umglorioso reino messiânico, não sendo capazes de apreender a ideia de umMessias sofredor. Por longos períodos em sua história, a Igreja cristã nãoentendeuessauniãodoMessiasdavídicocomoservosofredordeIsaías,eporisso o triunfalismo de tempos em tempos emergiu em suas várias formasdiferentes.

Mas o primeiro dos cânticos do servo deveria ter sido suficiente paracapacitaraspessoasa fazeremaconexãoentreoMessiasdavídico idealnosprimeiros capítulos de Isaías com o servo sofredor do Senhor na seçãoposterior.NesseprimeirocânticonotamosqueDeus“põeseuEspírito”sobreEle (42.1), que é omesmo sinal dado a respeito doMessias davídico (11.2).TrêsvezeséafirmadoqueesseservodoSenhorestabelecerájustiçaemtodaaterra (42.1,3,4), justamente a tarefa designada anteriormente ao Messiasdavídico (9.7; 11.4,5).Adespeito do seu sofrimento, esse servo se tornará aesperança dos homens, mesmo nas mais remotas ilhas (42.4); e de formasemelhantesepercebequeosgentiosserãotrazidosparaforadastrevaspeloMessias davídico (9.1), pois por meio do seu reino a terra se encherá doconhecimentodoSenhorcomoaságuascobremomar(11.9).Pormaiorquesejam as diferenças entre essas duas figuras, seu ministério sobreposto osidentifica como uma só e a mesma pessoa. Duas pessoas diferentes nãopoderiam exercer funções que se sobrepõem de forma tão ampla. O servosofredordoSenhornãoéoutrosenãooMessiasdavídicoideal.Osofredoréaquele que reina. Apesar dessas profundas perspectivas só se tornaremplenamente compreensíveis com a rejeição, crucificação, ressurreição eascensão de uma só Pessoa, Jesus o Cristo, os mesmos conceitos corremjuntosnateologiadeIsaías.

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Para Isaías, o exíliode Israel é umacerteza.Duranteoperíodo emqueviveu, ele já testemunhara a deportação do reino do norte.Ele entendeu queseriaapenasumaquestãodetempoantesqueoreinodosulexperimentasseomesmo tipo de devastação. Mas um Messias divino levantará um reinorestauradodeDeus, e um servodistintodoSenhor carregará os pecadosdopovodeDeus.Por isso,anaçãopoderiaesperararestauraçãoquevaimuitoalémdareposiçãodaquiloquefoiperdido.Somenteumanovacriaçãoemqueo reidivino reinaem justiçapodesatisfazerasexpectativasdessasvisõesdapartedoSenhor.

Emsuma,trêsgrandespicosdemontanhasconectadosfornecemacolunavertebraldasprofeciasdeIsaías:avindadoreidavídicoideal,ossofrimentosdo servo ungido do Senhor, e a chegada dos dias do reino escatológico deDeus. Os esforços para dividir as profecias de Isaías entre vários autoresdeixam de levar em conta o caráter entrelaçado desses temas. A falha nocompreenderarelaçãodessestemasunscomosoutrosexplicaaincapacidadedosjudeusdereconheceremoseuMessias,acegueiradosdiscípulosdeJesusemrelaçãoaoverdadeirocaráterdamissãodele,eaconfusãonaIgrejacristãproduzida por intermináveis tipos de triunfalismo. É neste contexto que apergunta da reconstrução crítica do maior livro profético pode serconsiderada.

B.AreconstruçãocríticadolivrodeIsaíasNos dois últimos séculos, tem prevalecido a opinião que considera o

livro de Isaías como sendo formado de três (ou, às vezes, duas) seçõesmaiores resultantes de três épocas diferentes e fornecendo três diferentesperspectivasdamensagemdoprofetismoemIsrael:29Isaías1-39(anterioraoexílio),Isaías40-55(duranteoexílio),eIsaías56-66(posterioraoexílio).30Essa divisão básica do livro, com várias modificações, tem ditado aperspectivadominantedodesenvolvimentohistóricodateologiadeIsaías.

Mesmo apresentações conservadoras do Antigo Testamento agorapromovemahipótesedamúltiplaautoriadolivrodeIsaías,conformesevênaobradeDillardeLongman.31Nocontextodeumacomunidadeevangélica,atentativadecomprovarmúltiplaautoriaparaolivrodeIsaíaséfeitainsistindoque atribuir Isaías 40-66 a um autor que não seja Isaías “não ésubstancialmente diferente” de reconhecer que Moisés não foi o autor doregistro da suamorte conforme relatada emDeuteronômio.Ao avaliaremoconteúdodeIsaías40-66,elesconcluemqueopanodefundodessescapítulos“presumeumautorvivendoduranteoexílio”.Alémdisso,elesobservamqueoprofetaIsaías“nãoémencionadonasegundametadedolivro”.

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Embora repetidamente se tenham apresentado argumentos em favor dadistribuiçãodomaterialdolivrodeIsaíasentreosperíodosanterioraoexílio,duranteoexílio,eposterioraoexílio,ajustificativaapresentadaporDillardeLongman não é particularmente forte, em especial pela premissa que elesapresentam com respeito ao caráter de revelação divina do livro. AcomparaçãodaquestãodaautoriadeIsaíasaoregistrodamortedeMoisésemDeuteronômiodeixadelevaremconsideraçãoadiferençadegêneroentreosdoisescritos.OregistrodamortedeMoiséssurgecomoumepílogohistóricolidando com assuntos de sucessão num documento de renovação pactual.Comotal,pode-seesperarqueessematerialseajusteàsconvençõesbíblicasrelacionadas com os escritos históricos. Por essa elementar razão, pode-sesupor queoPentateuconãopretende representarMoisés como a pessoa queregistrouascircunstânciasdasuaprópriamorteesubsequentesprocedimentosfunerais, pois os escritos históricos via de regra não relatam osacontecimentosantesqueocorram.Mas Isaías40-66surgecomoumgêneroliterário completamente diferente. Esse material tem todas as característicasdosescritosproféticosqueantecipameventosecircunstânciasdofuturo.Nessecaso, é totalmente natural esperar que a autoria esteja com alguémque viveantesdaépocaqueestásendoantecipada.Poressarazão,IsaíasfilhodeAmoznão seria automaticamente eliminado de ser considerado como autor destematerial como ocorre comMoisés em relação ao registro histórico da suaprópriamorte.

OargumentodeDillardeLongman,então,fazusodeumaconjectura.Naopinião deles, o pano de fundo de Isaías 40-66 supõe um autor que estejavivendoduranteoexíliobabilônicodoreinosuldeJudánoséculoVIa.C.,oqualocorreupelomenos100anosdepoisdavidadeIsaíasfilhodeAmoz.Poressa razão, eles concluem que o Isaías original não pode ter sido o autordessesúltimoscapítulosdolivro.

Admitimosqueoexíliopode,sim,fazerpartedaconjecturadeIsaías40-66.MasmuitasvezesseesquecequeoutroexílioocorreuduranteotempodevidadeIsaías,noséculoVIIIa.C.Eletestemunhouaviolentainvasãodoreinodonorte,Israel,ocercodacidadedeSamaria,eadeportaçãodegrandepartedapopulaçãodessereinodonorte.Eleviveunosdiasemqueastropasassíriasocuparam o território israelita a uma distância de treze ou dezesseisquilômetros de Jerusalém. Por divina revelação, ele também foi informadoque o reino de Judá experimentaria exatamente o mesmo trauma do exílio.Seria,então,desurpreenderqueoprofetaoferecessepalavrasdeconfortoaosjáexilados,comotambémparaaquelesquehaveriamdeexperimentaroexílioacertaalturadofuturo?Seráquesedevepresumirqueosexiladosdoreino

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norteteriamdeviverpor150anossemnenhumapalavradedivinoconfortodapartedoprincipalprofetadosseusdiascomrespeitoàpossibilidadedasuarestauração?Ouseráquesedeveriasuporqueosexiladosdoreinodosul,deJudá, tinham de viver várias décadas no exílio antes que lhes fosse dirigidaumapalavradeconfortodapartedoTodo-poderoso?

Quando se presume que o autor de Isaías 40-66 tenha vivido durante oexíliobabilônico,éprecisooferecerboaevidênciaparaderrubaraconclusãomais firmemente fundamentada, baseada no contexto canônico que conectaessescapítulosaoministériodoIsaíasdoséculoVIII.Seserecorreraousode“Babilônia” em Isaías 40-66 para confirmar a opinião que o autor viveu naBabilônia,deve-senotarqueduasvezesmaisreferênciasaBabilôniaaparecemnosprimeiros trintaenovecapítulosde Isaías (nove referênciasaBabilôniaemIsaías1-39,versusquatrovezesemIsaías40-66).Entreessasreferências,encontra-se a “Advertência contra a Babilônia, que Isaías, filho de Amoz,recebeuemvisão”(13.1NVI).Se,pordivinarevelação,IsaíaspodepreveraquedadaBabilônianofuturodistante,entãocomcertezaelepoderiatambémprever a libertação de Israel da Babilônia por intermédio dessa mesmarevelaçãodivina.

O argumento que a admoestação para “deixar a Babilônia” (48.20)presume que as pessoas já se encontram no exílio precisa levar emconsideração o contexto dessa admoestação.Oprofeta primeiro prevê o diaemque,nofuturo,oSenhorderramaráseujuízosobreaBabilônia(48.14b).Quandoessegrandediachegar,Israel terádeaproveitaraoportunidadeparadeixaraBabilônia.UmavezqueopropósitodeDeusemjulgaraBabilôniajátinha sido anunciado por Isaías filho deAmoz na primeira porção do livro(13.1), seria totalmente apropriado que esse mesmo Isaías admoestasse seupovoadeixaraBabilôniaquandochegasseomomentoapropriado.32

Um argumento apresentado é que muitas passagens profetizam umaredençãoiminenteeumretornoaSião.Mas,emumnívelbásico,osescritosproféticos repetidamente lidam com assuntos de data futura incerta como sefossemiminentes.AobradoservodoSenhordetrazerluzparaosgentiosécolocada entre os eventos iminentes da consumação redentora.33 Masdificilmente poderíamos argumentar que a obra do servo era iminente nosentido de ser realizada durante o período de vida do profeta (42.1-9; vejatambémMt12.15-21).Se,alémdisso,quiseremrecorrerapassagensemIsaías40-66 que presumem a destruição da cidade de Jerusalém, o quehistoricamente ocorreumuito depois de Isaías, então essas passagens que sereferemàcidade,suaadoraçãoesuascorrupçõescomoseaindacontinuassemtambém precisam ser levadas em consideração (57.5-7; 65.2-7,11,12; 66.1-

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4,6,15,16).34Alémdisso,existeumproblemaespecialparaaquelesqueoptamporuma

origembabilônicaparaaspalavrasdeconfortoemIsaías40-66(40.9;41.27;46.13; 51.16; 52.7,8).35 Se um profeta supostamente na Babilônia fala aosexilados que também estão na Babilônia, como pode ele referir-se a elesdizendo:“Tu,queanunciasboas-novasaJerusalém,ergueatuavoz...;...dizeàscidades de Judá: Eis aí está o vosso Deus!” (40.9)? De acordo com areestruturaçãodo livrode Isaías,opovoaquemsedirigia Isaías40-55nãoestáemJerusalémnemnascidadesdeJudá;elesestãonaBabilônia!Ahipótesede um defensor do Dêutero-Isaías reconhece essa forma de discurso comodigno de nota e apenas consegue supor que o significado teológico deJerusalémnãolevaemconsideraçãoseusignificadogeográficooriginal.36

Poroutrolado,sealguémemJerusalémestáoferecendoconfortoàquelesaquemeleanteriormentemostrouqueiriamparaoexílio(39.5-7),entãoelepode,deformalegítima,dirigir-seaessaspessoascomoJerusalém,Siãoeascidades de Judá. Suamensagem é que seu trabalho duro não perdurará parasempre;elechegaráaofim.Seupecadoserápago,eelareceberádamãodoSenhorodobroportodososseuspecados(40.1,2).37Comtodaacerteza,nãoexisteocasiãonaantigaaliançaemquesepoderiadizerqueopecadodeIsraeltinha de fato sido expiado. Nenhum sacrifício animal poderia substituir apuniçãoqueopecadohumanomerecia,eemnenhumlugardaEscriturasedizque o sofrimento humano tem valor expiatório. O profeta antecipa um diafuturo emque o Senhormesmo providenciará expiação pelo pecado do seupovo.Damesmaformaqueopecadoprovocouoexílio,assimarestauraçãodoexíliosópodevircomaremoçãodopecado.Nenhumarestauraçãopodeocorreràpartedeumaexpiaçãoapropriadapelatransgressão.Nessecontexto,o conceito do sofrimento expiatório, substitutivo do servo do Senhor surgenaturalmente na porção final de Isaías. Mas nenhuma dessas realizaçõesprecisanecessariamenteservistapeloprofetacomosefosseocorrerduranteoseuperíododevida.Nãoexisterazãosólidaparanegarapossibilidadedessaspalavras de conforto e profecia da expiação terem vindo de Isaías filho deAmozdoséculoVIIIa.C.

Dillard e Longman também argumentam que Isaías não é o autor doscapítulos 40-66 do livro dizendo que “Isaías não émencionado na segundametadedolivro”.38Mas,umavezmais,éprecisolevaremcontaoargumentoliterário ligado ao material específico em consideração. Os profetas sãomencionadospornomenosseusescritosessencialmenteporduasrazões:como propósito de atribuir autoria, o que ocorre regularmente (mas nãoexclusivamente) no início daquilo que escrevem; ou sãomencionados como

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forma de relacionar um incidente específico da vida do profeta com a suamensagem. Em decorrência disso, a ausência do nome de qualquer figuraproféticaemIsaías40-66éargumentomaisforteafavordaautoriadeIsaíasdoquecontraela.Emboraaobservaçãojáestejadesgastada,mesmoassiméverdadeira: se foiumprofetado séculoVIquemcompôs Isaías40-66,ondeestáonomedele?Porquedeveriaelequebraropadrãoestabelecidodetodosos quinze livros proféticos em que o profeta se identifica logo no início?Além disso, se essa pessoa desconhecidaministrou nos importantes dias daconquistadeCiroeseusubsequentedecretodequeopovopodiaretornarparaasuaterra,ondeseencontraqualquerreferênciaasuasexperiênciashistóricascomo profeta? Isaías nós conhecemos bem. Conhecemos as experiências deJeremias como profeta,mesmo durante seu curto tempo de exílio no Egito.Ezequieldeixouumextensoregistroda importânciadasuavidaproféticanaBabilônia. Todos esses profetasmaiores nós conhecemos.Mas quem é esseDêutero-Isaías?Teria sidosuacarreiracomo talvezomaiordosprofetasdeIsrael tão insossa ao ponto de não sabermos absolutamente nada a respeitodele?39 Por outro lado, uma vez que o Isaías do século VIII a.C. nãoexperimentou o exílio, não deveria surpreender o fato de não encontrarmosmençãoda sua experiência como figuraprofética emconexão comaúltimametade do seu livro. Ao contrário do argumento de Dillard e Longman, aprópria falta de referência ao nome de Isaías nos capítulos 40-66 se ajustamaisapropriadamenteàmaneiradeusaronomedeumprofetana literaturaproféticaseIsaíasdefatofoioautordestematerial.

Finalmente,apropostahipotéticadequeumprofeta“queviveumaistardeno exílio previu pormeio de inspiração divina aquilo queDeus estava parafazer através de Ciro” parece um remendo para livrar a profecia de serconsiderada uma produção puramente naturalista.40 Além disso, ela reduzaquilo que talvez seja a profecia mais espetacular do Antigo Testamento apouco mais do que um perspicaz prognóstico político. Todo o contexto deIsaías40-48surgecomoumbemestruturado“desafioàprofecia”emqueoúnico Deus Criador e Redentor do seu povo faz aquilo que nenhum outropretenso deus pode fazer: Ele prediz o futuro de uma forma que somentealguém que controla o curso das nações pode fazer. Qualquer dos diversosdeusesdasnaçõespoderiaoferecerumaanálisebem feitadaspossibilidadespolíticas.AprofeciadeIsaíasdizrespeitoaosúltimosdiasdoexíliodeIsraeldoséculoVI,quandoninguémpoderianemsuporqueCiro reverteriacertaspolíticasdecretadaspelosbabilônios,oqueresultarianoretornodeIsraeldoexílio. Mas qual ídolo surdo e mudo poderia comparar-se com a prediçãoculminante de Isaías, escrevendo no século VIII a.C., que dá nome ao

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conquistadordaBabilôniacomoolibertadordoseupovo170anosantesqueeleentreemcenanahistória!Namentedemuitos,nemmesmoDeuspoderiateressetipodeconhecimento,muitomenosocontrolenecessáriodahistóriahumana que poderia garantir sua ocorrência. Essa profecia singular em seucontextocanônicoénaverdadeopontoemquea fédemuitagente tropeça,levando a uma negação da autoria de Isaías.Mas, para um evangélico, essaprofeciadificilmentepoderiaserconsideradacomosendomaisespetaculardoqueasprevisõesde Isaíasa respeitode JesusoMessias, seus sofrimentos, esuaglória,entregues700anosantesdoseunascimento.

NinguémnocontextoatualdeveriasertãosimplistanotratodestaquestãoaopontodepensarqueJesuseosapóstolossepreocuparamcomoassuntodaautoria e data dos livros bíblicos. Contudo, suas declarações e escritosinspirados trazem consigo conclusões inequívocas a respeito dessa matéria.Quandocitaa segundametadede Isaías,Lucasapresenta sua referênciacomesta frase:“Comoestáescritono livrodaspalavrasdeIsaías,oprofeta”(Lc3.4NVI). Se ele tivesse dito “as palavras do livro de Isaías”, seria possívelsuporqueLucasestivesseapenasusandoumafraseconvencionalparareferir-seaumlivroconhecidopelonomedeIsaías.Masquandoelediz:“olivrodaspalavrasdeIsaías,oprofeta”,torna-seclaroqueelepretendeatribuiraorigemdessematerialaoprofetaIsaías.Deformasemelhante,quandooapóstoloJoãomescladuascitações,umadaprimeiraparteeoutradasegundapartedeIsaías,eapresentaambasascitaçõescompalavrasque sugeremaautoriade Isaías,suas palavras precisam ser ouvidas com cuidadosa atenção. Ao citar Isaías53.1,Joãodiz:“IssoaconteceuparasecumprirapalavradoprofetaIsaías”;e,ao citar Isaías 6.10, ele diz: “como disse Isaías noutro lugar” (Jo 12.38-40NVI). O apóstolo conclui sua citação conjunta com uma observação queclaramente situa ambas as citações dentro do período de vida do Isaías doséculo VIII: “Isaías disse essas coisas [não “isso” como a NVI interpreta]porque viu a glória de Jesus e falou sobre ele” (Jo 12.41). Embora essaspalavras não devam ser aplicadas de forma simplista com a finalidade deestabelecerdataeautoria,elasclaramentedevemreceberopesoquemerecemnaresoluçãodeassuntosrelacionadoscomaorigemdolivrodeIsaías.

Dillard e Longman talvez estejam corretos ao dizer que “a questão daautoria de Isaías provavelmente não deve tornar-se um chibolete [Jz 12.6]teológico”.41Naverdadeoassuntoémuitomaisimportantedoqueumameraquestão de pronúncias alternativas da mesma palavra por parte decomunidades diferentes. Sua alegação de que essa questão não seja um testequantoàortodoxiaprecisaserconsideradacombastantecuidado.Nãoéalgosem importância mencionar o testemunho do Senhor e dos autores dos

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Evangelhosedepoisdeixardeladootestemunhounânimedelescomosefosseirrelevanteparaanossavidaeféhoje.Numerosascomunidadeseclesiásticasquetêmaceitadoperspectivascríticasnegativasarespeitodequestõescomoaautoria de Isaías fracassaram,dentrodeumaouduasgerações, no tocante aassuntosdeféemoral.

No campomais vasto da investigação, a simples figura de dois ou trêsIsaíasdistintosestásetornandocadavezmenosconvincente.42Cadavezmaisestão sendo reconhecidasmanifestações de intertextualidade dentro do livroúnico de Isaías. Seções parecidas dentro desse livro profético estão sendoidentificadas,deformaqueseestáreconhecendoumaunidadebemmaiordomaterial que o compõe. Certo erudito afirma que, por causa das suassemelhanças,omaterialcomumenteconhecidocomoPrimeiroIsaíasdevetersidodeliberadamentereescritopara refletirosensinosdasúltimasseçõesdolivro.43 Em outras palavras, o material de Isaías 1-39 está agora sendoreconhecido como tendo tão íntima correspondência com as profecias deIsaías40-66,quecomeçaaemergirumaunidadeliterária.Umsegundoeruditoafirma que é como se Isaías 40-66 “nunca tivesse circulado como coleçãoprofética separada... e de fato a única forma que temos é como existe hoje:comooscapítulosfinaisdeumavisãodeIsaías”.44 Emoutraspalavras,essescapítulos finais de Isaías estão integrados de forma tão íntima aos capítulosiniciais,quenuncadevemterexistidodeformaseparada.

Essereconhecimentodeamplasconexões intertextuaisatravésde todoolivrode Isaíaspor indivíduosquemesmoassimcontinuamafirmandoqueolivrosedesenvolveudurantedoisséculosoumaistemconduzidoalinhasderaciocínio incomuns. Em Isaías 56-57, são reconhecidas matérias queclaramente refletem os pecados específicos de Israel antes do exílio. Aconclusão natural seria que esses capítulos na verdade foram dirigidos àcomunidade que viveu antes do exílio.Mas, em vez disso, propõe-se que osupostoTerceiroIsaíasusoureferênciasintertextuaisparaidentificarosmalesda sua época comdescrições relevantes aos dias do supostoPrimeiro Isaías170anosantes.45Masnãose faznenhumesforçoparaexplicara razãopelaqualoprofetahaveriadedirigir-seaospecadosdasuaépocadeumaformatãoestranhaecheiaderodeios.

Semdúvida nenhuma, o livro de Isaías em sua atual apresentação é umprodutouniformedeautoriadeIsaíasfilhodeAmoz,doséculoVIIIa.C.Nadano texto justifica qualquer outra alternativa.46 Admitindo-se a integridadedessaapresentação,muitasseçõesdeIsaíassurgemcomoprediçõesproféticasdo futuro. Algumas dessas profecias não poderiam cumprir-se senão muitodepoisdoséculoVIIIa.C.Jáoutrasprofeciaspreveemcircunstânciasqueainda

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sãofuturasmesmopartindodaperspectivadapresenteépoca.O que está em jogo na questão da origem das diferentes porções de

Isaías? No final das contas, o que está em jogo é a integridade e aconfiabilidade do livro. Esta profecia deve ser tratada como o conjuntounificado que elamesma afirma ser?Ou o livro deve ser considerado umamontagemdevozesdivergentesquerepresentamumaminiaturadahistóriadodesenvolvimentodoprofetismo?UmaanáliseaceitáveldafunçãodeIsaíasnoprogresso da revelação da redenção depende dessa questão da absolutaconfiabilidadedolivroconformeelemesmoseapresenta.

Sea integridadedo livrode Isaías seperder,qualquer forçadeverdadeque se possa sentir de uma unidade legítima do livro será inevitavelmentedissipada.ComoéquepodeoSantode Israel esperarautenticidadedos seusadoradores quando uma grande porção do material de Isaías se apresentacomo predições do futuro anunciadas no séculoVIII a.C. quando essas ditasprediçõesnaverdadesurgiramdepoisdeocorridososfatosnoséculoVIa.C.?UmDeus que se apresenta como aquele que controla a história e restaura abem-aventurança original do seu povo, perde sua credibilidade quando suamensagem é anunciada por um profeta cujoDeus não consegue demonstrarcomclarezaquecontrolaahistóriaeantecipaoquevaiacontecernofuturo.Se ao profeta é negada a possibilidade de antecipar o futuro, nenhumaexpectativalegítimasobreviveàprofeciadoaparecimentodeumpríncipedapazquevaiestabelecerjustiçanaterraoudeumservosofredordoSenhorquevoluntariamentevailevarsobresimesmoosjustosjuízosdoDeustrêsvezessantoemlugardoseupovo.

Alguns estudiosos de nossos dias procuram renovada relevância para amensagemdeIsaíasnosurgimentodocriticismocanônico.Essepontodevistamomentaneamente afasta os “resultados garantidos” nas conclusõesnegativamente críticas para ver o livro de Isaías comoo conjunto unificadoqueeledizser.47Mas,emtodotemposubjacenteaessasupressãotemporáriados juízos negativamente críticos, encontra-se a aceitação daquilo queacredita-seserarealverdadearespeitodolivro.Emumadasatuaisanálises,considera-sequeoambienteoriginaldeIsaías40-66foieliminado“quaseporinteiro”,esimultaneamenteseafirmaqueéevidentequeomaterialpertenceaoséculo VI a.C. Esses últimos capítulos do livro de Isaías são consideradoscomoestandoassociadosàscircunstânciasdoséculoVIIIa.C.,emesmoassimsãoconsideradoscomoseestivessemnum“ambientenãohistórico”.Poroutrolado, a colocação destematerial do séculoVIII em novo ambiente como sepertencesse ao século VI a.C. não deve ser desdenhada como “ficçãohistórica”.48 Ao mesmo tempo, a primeira porção de Isaías tem sido

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significativamente modificada “para assegurar que sua mensagem fosseinterpretadaàluzdoSegundoIsaías”.49

Várias questões surgem em reação a essa aproximação canônica àprofeciadeIsaíastalcomoolivroseapresentahojeaoleitorcontemporâneo.Em primeiro lugar, se os autores/compositores de Isaías 40-66 queriamexpressarverdadeteológicaeternaqueseaplicavaaquaisquercircunstânciashistóricas, por que ele (ou eles) julgou (julgaram) ser necessário ouproveitoso acrescentar o material a Isaías 1-39? Não teria sido melhorsimplesmente publicar seumaterial de forma anônima e semdata, de formaqueficasseclarodesdeo inícioqueele (oueles)nãopretendia (pretendiam)queomaterialselimitasseaqualquerambientehistóricoespecífico?

Emsegundolugar,seomotivodeanexaressematerialaIsaías1-39foiobter reforçada autoridade, qual é a circunstância que se pode imaginar quetenha dado a esse indivíduo ou grupo de indivíduos o direito de alterar demodo tão drástico o conteúdo de um material já considerado comoautoritativoemrazãodeseratribuídoaorespeitadíssimoprofetaIsaías?Seráque se deve presumir que essa pessoa (ou essas pessoas) tinha (tinham)exclusivo controle desse único rolo existente de Isaías na época do exílio?SeráquesedevesuporqueninguémsenãoessescertosindivíduostinhamtodooconhecimentodaquiloquenarealidadepertenciaaorolodeIsaías,deformaque estavam livres para alterar seu conteúdo ou dobrá-lo de tamanho semseremquestionados?SeosescritosdeIsaíastinhamautoridade,emrelaçãoaquem tinham essa autoridade? Uma vez que os criadores desse materialadicionaldesejavamaautoridadequepoderiaserconseguidaassociandoseusescritoscomomaterialdeIsaías,entãoficaevidentequenãoforamelesquehaviam inserido essa autoridade no material de Isaías. Caso contrário, elespoderiam ter incluído seu material adicional baseados na sua própriaautoridade previamente estabelecida. E será que devemos supor que asprofeciasdeIsaíasfilhodeAmoztenhamexistidopor170anos,doséculoVIIIa.C. até o final do século VI a.C., mas de tal forma que ninguém conheciaexatamente o que estava nesse material? Não existe nenhuma evidênciaobjetiva que possa confirmar essas circunstâncias imaginárias.Mas continuasendo vigorosamente asseverado que um indivíduo ou grupo de redatoresdesconhecidos do séculoVI a.C. conseguiu fazer grandes alterações em umdocumento respeitado sem levantar objeção nenhuma por parte dacomunidade.

Emterceirolugar,sedevemosconsiderarseriamenteonovoambientedeIsaías40-66comointerconectadocomaspalavrasdeIsaíasfilhodeAmoz,doséculo VIII a.C., então a dimensão “desafio-à-profecia” desses capítulos

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precisaserconsideradacomseriedade.NessenovocontextodoséculoVIII,osurgimentodeCiroaindaéalgoquevaiocorrernumfuturodistante,eassimtodas as referências a ele precisam ser vistas como objeto de prediçãoprofética. Embora algumas pessoas afirmem que Isaías 40-66 perdeu seucontexto histórico, de forma que o material pode ser tratado como que seajustassecorretamentenamensagemde Isaías1-39,acircunstânciahistóricadessesúltimoscapítulosdeIsaíassesobressaiclaramentediantedosolhosdoleitor.ÉóbvioqueasmúltiplasreferênciasaoreiCirodaPérsiaemIsaías40-48 contradizem qualquer sugestão de que omaterial queira ser consideradocomo não atrelado à história. Longe de ser apresentado como um caso deperspicaz prognóstico político, o contexto é tal que falsos deuses sãodesafiadosadeclararofuturo,oqueéalgoquesomenteoDeusdeIsraelpodefazer.

No final, esse último procedimento crítico negativo pode sercaracterizadocomoumateologia“faz-de-conta”.Aanálisecríticadomaterialproféticoquecaracterizaamaiorpartedosestudoshámaisde100anosaindaé basicamente considerada válida em seu estabelecimento das origenshistóricas genuínas do material bíblico. Mas com a finalidade de recuperarapreciação mais profunda pelo texto bíblico da forma em que se apresentahoje,essaabordagemcanônicafingequeasprofeciasbíblicasnaverdadesãoaquilo que elas dizem ser, ao passo que todo o tempo expressa confiançabásicanasmodernasconclusõescríticasqueafirmamexatamenteooposto.

Mas a singularidade do testemunho profético, bem como o testemunhodasEscriturascomoumtodo,repousanofundamentohistóricoautênticodasdeclarações bíblicas. Um famoso crítico resume a singularidade dotestemunho bíblico alguns anos antes do desenvolvimento da abordagemcanônica:“Amaneiracomoosprofetasdãootempoexatoemquereceberamcertasrevelações,datando-asporeventosdomundohistóricoepolítico,epormeio disso enfatizando seu caráter como reais eventos históricos, não temparaleloemnenhumaoutrareligião”.50

Em suma, crer em qualquer das diversas reconstruções críticas cujaintenção é traçar o processo pelo qual foi formado o livro de Isaías exigemuita fé.Na realidade, crer, semo apoiodenenhumaevidência externa, emqualquer desses processos sugeridos que se supõe terem ocorrido mais de2.500anosatrás,exigemaiorfé,eumaespéciediferentedefé,doquecrerqueoDeusúnicoquecriouestemundocomdeterminadoobjetivorevelouaoseuprofetaumalibertaçãodeIsrael,libertaçãoessaqueaindademoraria170anosparaacontecer.CrernumaversãoreconstruídadoprocessoquedeuorigemaolivrodeIsaíasrequerumafirmeféemumadasastuciosasopiniõesdasescolas

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de pensamento moderno, que dependem essencialmente da habilidade doraciocínio naturalista para explicar todos os fenômenos extraordináriosrelacionadoscomaatividadedoSENHORdaAliançadeIsrael.Poroutrolado,crernoúnicoDeusvivoeverdadeiro,quecriouestemundocomumobjetivo,que tem a capacidade e a determinação de regular a história humana de talformaqueelacumpraseuobjetivo,equedecidiurevelarseuobjetivoatravésde certos indivíduos descritos por Ele como “meus servos, os profetas”conduz de modo completamente natural a uma firme crença na genuínaintegridade do material escrito, preservado e altamente respeitado que seencontranolivrodeIsaías.

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V.Joel

Émuito provável que a sequência dos livros proféticos da coleção dosdozeprofetasmenoresnão sebaseie somente emcritérios cronológicos.Naverdade,émuitoprovávelquesemelhançasdetemaefraseologiatenhamsidocritérios usados na disposiçãomassorética.Mas não é possível dissociar detodo esses fatores do aspecto cronológico. A similaridade de tema evocabulário serve naturalmente como fator principal que indica umacircunstânciahistórica idênticaaquesedirigiramosdiferentesprofetas.Poressa razão, bem como pela longa data da tradição, a ordemmassorética dasequênciado livrodosdozedeve ser considerada commuita atenção.Dessaperspectiva, tanto Joel como Obadias entram na categoria dos profetasanterioresaoexílio,emboraessadisposiçãonãodevaserconsideradacomooriginadaporinspiraçãodivina.

Esses dois profetas são os mais difíceis de datar, há propostas queabrangemdataçõesquevãodoséculoIXaoséculoIIa.C.51Calvinoobservaque as consequências da dificuldade de datar Joel são muito menosimportantes do que, por exemplo, se Oseias fosse igualmente difícil: “Nãoconhecer a época de Oseias seria uma grande perda para os leitores, poisencontram-sealimuitaspartesquenãopoderiamserexplicadassemconhecera história; mas quanto a Joel, como eu já disse, a necessidade dessainformação émenor; pois a significação da sua doutrina é evidente emborasua época seja obscura e incerta”.52 As observações de Calvino sãoapropriadas,desdequenãosedêiguallugaràextremamentetardiadataçãodoséculo II a.C. entre as possibilidades mais plausíveis.53 Com essasconsideraçõesemmente,podemosanalisaramensagemdessesdoispequenos,masimportanteslivros.

Edificando solidamente sobre o tema convergente do vindouro Dia doSenhor, amensagem de Joel avança de forma dramática para o seu clímax.Primeiro, o próprio povo deDeus passa por um juízo de “terra devastada”comoconsequênciadeumadevastadorapragadegafanhotos(1.4-2.11).Mas,depoisdadevastaçãodaprópriaterradoSenhor,ocorrenadamenosqueumarestauração miraculosa, quando o Senhor restitui tudo o que os gafanhotoscomeram (2.25). Mas a preocupação do Senhor não é meramente com seuprópriopovo, Israel.Ela seestendea todasasnações.Assimcomoocéuseescureceucomanuvemdaspequenascriaturasdeformaqueosol,aluaeasestrelas se escureceram, assim o vindouroDia do Senhor trará consigo umescurecimento universal dos céus acima de todas as nações (2.10,31; 3.15).

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Multidõesse reunirãonoValedaDecisão,nãoparaqueospovosdomundopossamdecidirafavoroucontraDeus,masparaqueDeuspossaestenderseujulgamentosobretodaahumanidade(3.14).NessegrandeeterrívelvindouroDiadoSenhor,umjuízodivino final tornarápossívela inauguraçãodeumanovaera.

Adespeitodessadescriçãodeum julgamentouniversaldasnações, nãodevemosverJoelcomomesquinhamentenacionalistaemsuaatitudeparacomos povos do mundo. Em conexão com a prometida restauração de Israeldepoisdoseujulgamento,Joelafirmaqueabênçãodivinasupremahaverádecairsobretodasasnações.Deus“derramará[seu]Espíritosobretodaacarne”(2.28).De forma indiscriminada sobre homens emulheres, jovens e velhos,israelitas enão israelitas,Deusvaiderramar abundantementeumaefusãodoseuEspírito,quevaiequipartodosospovosaabençoaremosoutrospormeiodosseusdonsespirituais(2.28b-29).

AdescriçãodosuperabundantederramamentodoEspíritodeDeussobretodaacarnehumanafazdestaprofecia“umadasmais‘universais’doAntigoTestamento”.54 Esse caráter universal pode ser corretamente verificadoquandoessaprofecia secumpre.NodiadePentecostes,quandoos legítimosapóstolos de Jesus Cristo falaram todas as línguas do mundo com osrepresentantesvindosdetodosospovosdomundo,ouniversalismodeJoelserealizouabundantemente.MesmoqueamultidãonodiadePentecostes fosseformadade judeus e de prosélitos judeus, asmúltiplas línguas das profeciasapostólicas confirmaram a significação universal do Evangelho cristão.Daquele dia até o presente, estende-se a toda a humanidade o convite doSenhor através do seu profeta Joel: “Aquele que invocar o nomedoSenhorserásalvo”(Jl2.32;At2.21).

Mascomoépossívelexplicaradrástica transiçãonamensagemdeJoelda destruição e restauração de plantas e animais para o derramamento doEspírito deDeus sobre toda a carne humana?Que precedente pode explicaressa madura representação da salvação por meio da infusão do Espíritodivino?DeveriaessedesenvolvimentonolivroserentendidocomoumaclaraindicaçãodequedoisautoreseduasfontesseencontramportrásdotextodeJoel?Seriaapropriadofalardeum“Dêutero-Joel”?55DuasconsideraçõesqueunemasseçõesmaioresdeJoelargumentamcontraessabifurcaçãodolivro:afunção do Espírito de Deus no registro bíblico da criação e o lugar doprofessordajustiçaemJoel.

Na criação, o Espírito deDeus pairava sobre ummundo que era “semformaevazio”(Gn1.2).DepoisdeEle fazera terraproduzirervas,árvoresfrutíferas, e animais, o Criador concentrou-se em fazer um homem

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(1.11,24,26).Masnessecaso,muitascoisasforamcompletamentediferentes.OSenhor Deus deu um toque pessoal ao formar o homem do pó da terra esoprar em suasnarinaso espíritodavida (2.7).Numsensoúnico, avidadohomem dependia do Espírito de Deus. Não deveria surpreender, então, que,depois da descrição de Joel a respeito da restauração das plantas, árvores eanimaisqueseseguiuapósapragadosgafanhotos,oEspíritodeDeusentrenadescriçãocomproeminênciadistintaemconexãocomorejuvenescimentodohomem. Não apenas o homem israelita, mas “toda a carne” experimenta arecriação da vida pela operação do Espírito de Deus. Dessa perspectiva, asegundapartedaprofeciadeJoel(Jl2.28-3.21)brotanaturalmentedaprimeira(1.2-2.27).

A frase hammoreh litsedaqah pode ser traduzida como “professor dajustiça”ou como“chuvada justiça” (2.23).56A princípio, o contexto parecefavoreceraideiadeumachuvajustaporcausadareferênciaaos“abundantesaguaceiros” e as “chuvas do outono e da primavera” na última metade domesmoversículo (2.23b).Masoque é chuvade justiça?Adescidada chuvaevidentementenãopossuiqualidadesmoraisinerentes,eemborasejamdadasvárias explicações para essa frase, elas não convencem de forma alguma.57Apósconsideraçõesmaisprofundas,parececompletamenteapropriadaparaocontextoaideiado“professordajustiça”comofiguramessiânicaservindoemconexãocomoderramamentodoEspíritodeDeusconformedescritoalgunsversículos mais adiante. Pode-se encontrar apoio para essa interpretação naespecial conexão encontrada na Escritura entre o reto ensino e a bênção dachuva.Durante a dedicaçãodo templo,Salomãoora para queoSenhor lhesensine“obomcaminhoemqueandem”elhesdê“chuvana...terra[dele]”(2Cr6.27ARA).OprofetaIsaíasobservaqueoSenhorprometequeIsraelveráeouviráseusmestrese“oSenhortedaráchuvasobreatuasemente”(Is30.20-23;vejatambémSl72.1-3,6,16;Os10.12).Asideiasdarestauraçãodaterraeda renovação do homem estão repetidamente unidas na Escritura, fatoapropriado para o conceito bíblico de uma inteireza na ordem das coisascriadas.58

Comoconsequênciadessasduasconsiderações,olivrodeJoelpodeserlidocomoumaunidadequeantecipadiversosdesenvolvimentosconsecutivosdooperardeDeusparaasalvaçãoemummundodecaído:(1)OjuízodeDeuscai sobre a terra e o povo de Deus; (2) Deus anuncia o chamado aoarrependimento e retorno; (3) toda a criação é restaurada de formasobrenatural pela graça do Senhor; e (4) todas as nações do mundo sãojulgadas.OconceitodoDiadoSenhoruneessesdiferenteselementosdolivro.Achegadadessegrandee terríveldiaobscureceosol,a luaeasestrelasem

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três diferentes contextos do início ao fim do livro (1.10; 2.31; 3.15),mas oamanhecerdessemesmodiatambémtrazconsigoaconsumadarestauraçãodaterra.

Levando em consideração a estrutura mais ampla do livro, talvez sejamelhordatarJoeldeacordocomumremotoambienteanterioraoexílio.59AameaçadaprofeciadeJoelnãoéoexílio,masumapragadegafanhotos.UmavezquenemaAssírianemaBabilôniasãomencionadascomoosadversáriosdeclarados do povo de Deus, é bem possível que Joel seja o mais antigoprofetadeIsraelequemuitosdosparalelosdeoutrasobrasproféticaspossamserexplicadosseconsiderarmosJoelcomoafontedomaterialcitado.60

Dequalquerforma,estáfirmementeestabelecidoolugardeJoelcomooprofetaqueprofetizouoPentecostesdanovaaliança(At2.16-21;Jl2.28-32).Narealidade,umaconsideraçãocuidadosadasconexõesentreoPentecosteeoderramamentodoEspíritopodeservirparaesclarecertantoJoelcomooLivrodeAtos.OPentecostesoriginaleraumaocasiãoparaaconsagraçãodo“pãodas primícias” (Lv 23.20; veja também 23.15-17). Nessa ocasião festiva, opovo era relembrado que a fertilidade da terra tinha sido renovada pelabondadedoseuDeus.TantoJoelcomooapóstoloPedroderamumpassoalémdessa renovação. O homem, pela divina redenção, também é renovado pormeio do gracioso derramamento do Espírito de Deus. A consumação daredençãonãopodecompletar-sesemessaplenarestauraçãodohomemrefeitoà imagem de Deus. Com essa perspectiva em mente, estabelece-se ofundamento para aquilo que, depois, Paulo chama de total renovação doEspírito, a qual ainda está por vir, pela transformação do corpo do homemredimido, de forma que se transforme num “corpo espiritual”, ou seja, umcorpototalmentepermeadopeloEspíritodeDeus(1Co15.44).

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VI.Obadias

Obadias,omaiscurtodoslivrosproféticos,temaintroduçãomaisbreve,a qual, na língua original, é composta de apenas duas palavras: “Visão deObadias” (Ob 1). O livro inteiro fala a respeito de Edom, a personificaçãonacionaldeEsaú.MasqueméEsaúnaexpansãoda revelaçãodosprofetasarespeitodoMessiaseseureinovindouro,equaléapermanenteimportânciadanaçãodeEdom?

De acordo com a antiga declaração profética (Gn 25.23), havia duasnações lutando no ventre de Rebeca. Jacó, o “suplantador”, o último dosgêmeos a nascer, personifica o princípio da graça de Deus totalmenteimerecidaemsuaobraderedenção.Esaú,oprimogênito,representaapartedahumanidadeque persiste na rebelião contraDeus.Apermanente importânciadessadistinçãose tornaevidentecomoaparecimentodocontrasteJacó/EsaúemMalaquias,aúltimade todasasvozesproféticasdeIsrael (Ml1.2-5).Emalgumlugar,entreanarrativadeGênesiseaprofeciadeMalaquias,encontra-seamensagemdeObadias.Nessabreveprofecia,podemosdetectartrêstemasproeminentes:aculpadeEdom,ojulgamentodeEdom,ecomoojulgamentodeEdomafetaopovodeDeus.

A.AculpadeEdomEdommerece punição divina pelas mesmas razões por que o juízo de

Deusdevecair sobrediversasnações,conformese repeteconstantementenaproclamaçãodosprofetas(vejacap.6§I.D).Emprimeirolugarnalistaestáoseuorgulho:“Aarrogânciadoseucoraçãootemenganado”,declaraoSenhor(Ob 3a NVI; veja também Jr 49.16a). Eles se atreveram a construir seupequenoninhoentreasestrelas(Ob4a)eorgulhosamenteafirmaram:“Quempodeme derrubar?” (3bNVI). Com essas palavras arrogantes e presunçõesorgulhosas,essepequenopovoinsolenteimitaavanglóriadaBabilônia:

Subireiaoscéus;

erguereiomeutronoacimadasestrelasdeDeus.(Is14.13NVI)

Comoconsequênciadisso,Edomprecisaexperimentarosmesmosjuízosdivinos, ser derrubado do céu (Is 14.12; Ob 4b). A esse respeito, tanto aBabilôniacomoEdomparticipamdodestinodeSatanás,seuinfameancestral(Lc10.18;Ap12.8,9).

AsegundacausadaculpadeEdoméqueeletratoumalopovodeDeus.

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Eles abusaramdeninguémmenos que seu irmão Jacó, o que torna seumaucomportamentoaindamaisabominável(Ob10).Anegligênciafaziapartedaculpa deles por não terem intervindo quando os estrangeiros “lançavamsortes”contraJerusalém(11).NaçõesinvasorasofereceramacidadesantadoSenhoraodeusdasorte,eEdomparticipoudocrimedelespornãofazernadaarespeitodoqueestavaacontecendo.

Se essa acusação contra o antigo Edom por sua negligência para comJerusalém é justa, quanto mais justa será se aplicada aos homens que seatrevemaofereceraessedeusdasorteaúnicapossessãodoimaculadoFilhodeDeus. Tudo o queEle possuía eram as roupas do corpo. Esses trajes lheforam arrancados, rasgados em quatro partes, e distribuídos entre seustorturadores. Depois, pela decisão do jogo de dados, determinaram quemhaveriadeserodonodasuatúnicasemcostura(Jo19.23,24).Desdeentão,umnúmeroincontáveldepessoascontinuasemsentirvergonhadosmaus-tratosaquesubmeteramofilhodeDeuseassimcompartilhamdaculpadaaçãodeles.

AplenaacusaçãodeObadiasvemnaformadeumaséptuplareferênciaaodiadadesgraça,destruição,tribulaçãoecalamidadedeJudá(Ob12-14).Edompessoalmente contribuiu com essas desventuras exterminando os israelitasfugitivos àmedida que tentavam fugir pelas suas fronteiras (14).A repetidareferênciaaodiadadevastaçãosofridapelopovodeDeusantecipaosegundomaiorpontodeObadias:ojustojuízodeEdomvaiocorrernograndeDiadoSenhor.

B.OjulgamentodeEdomNesseponto,oprofetaampliaasuaáreadealcanceparaincluirtodasas

nações no vindouro julgamento doDia do Senhor (Ob 15a).Mas ele nuncaperde Edom de vista.A base do julgamento universal deDeus será a lei detalião: “olho por olho, dente por dente” (Êx 21.24). Assim como Edom fezcomJudá,assimseráfeitocomEdom.“Amaldadequevocêpraticourecairásobre você” é o veredito do Senhor (Ob 15b NVI). A extensão dessejulgamentoévistonestapalavra:“NãohaverásobreviventesdadescendênciadeEsaú”(18NVI).Nojulgamentofinal,asementedeSatanásserátotalmenteeliminada. Nenhum deles sobreviverá ao escrutínio do julgamento final deDeus.

Mas nesse processo do julgamento divino do vindouroDia do Senhor,comovaisesairoprópriopovodeDeus?ComoojulgamentodeEdomvaiafetaropovodeDeus?

C.ComoojulgamentodeEdomafetaopovodeDeus

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O julgamento do Senhor para com Edom significará libertação para oMonteSião.O favorecidomontedeDeus será chamadode “santo” (Ob17).Portodaahistória,aredençãodopovodeDeussignificajulgamentosobreosseus inimigos. No caso de Obadias, é feito um deliberado contraste entre aexaltação doMonte Sião e a humilhação domonte Esaú.Obadias de formaconstante designa Sião como “monte Sião” (17,21), e em toda a Escriturasomente Obadias designa Edom ou Esaú como “monte de Esaú” (8,9,21).61Essa libertação significará concretamente que toda a terra, incluindo Edom,serápossuídapelopovodeDeus.Aessaaltura,oprofetamapeiaoslimitesdoterritório que o Senhor prometeu: a região costeira da Filístia (19b), a áreacosteiranorteatéSidom(20a),oNeguebenosul(20b),SamariaeEfraimaonorte(19b),aáreameridionaldaTransjordâniadeEdom(19a),eoterritórionorte da Transjordânia de Gileade (19c) – cada porção da terra haverá depertenceraopovodoSenhor.

Deformamaisespecífica,salvadoressubirãoaomonteSiãoparajulgaromontedeEsaú(Ob21).Nessaexpressãofinaldaprofecia,épossíveldetectardois indícios de esperança para Edom, a despeito das devastações dojulgamentodivino:ossalvadoresquevãojulgaromontedeEsaúeaposiçãodeObadiasnocânondaEscritura.AideiadejuízesquesalvamIsraelocorreduasvezesem textosprogramáticosdo livrodos Juízes (Jz2.16,18).Depoisdessa introdução do conceito, esse aspecto salvador do juizado é aplicado aOtniel,Eúde,Sangar,Gideão,Tola,JeftéeSansão–setedos juízesdeIsrael(3.9,15,31; 6.15; 10.1; 12.2; 13.5). Em Obadias, a salvação efetuada pelosjuízes aplica-se primeiro a Israel. O fato desses salvadores do monte Siãoexecutarem a tarefa de “julgar” o monte de Esaú sugere algo mais do quemeramenteconquistaroudestruirEdom.ElesjulgamomontedeEsaú,oquesugere fortemente a possibilidade do seu julgamento envolver atividadesalvífica.Emoutraspalavras,Edoméopossívelbeneficiáriodo julgamentodessessalvadoresdomonteSião.

AposiçãodeObadiasnolivrodosdozeprofetasmenoresconfirmaaindamaisessaperspectiva.62Adisposiçãodosdozeclaramente intenta seguirumpadrão cronológico básico, movendo-se consecutivamente pelos grupos deescritosdosséculosVIII,VIIeVI.MasJoeleObadiasnãoespecificamumadataparasuasprofecias.Emambososcasos,associaçõestemáticascomlivrospróximos parecem ter influenciado sua localização entre os doze profetasmenores.Aesserespeito, temsidopropostoqueObadiaspodeserpercebidoemsuatotalidadecomoumaexplicaçãodeumversículodocapítulofinaldeAmós, que é o livro imediatamente anterior a ele.63 De acordo com Amós9.11,12,DeusvairestaurarotabernáculocaídodeDavi“paraquepossuamo

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restantedeEdome todasasnaçõesquesãochamadaspelomeunome”.Trêsvezes, nos versos 19 e 20, Obadias observa que Israel vai “possuir” váriasporções da terra prometida. Em primeiro lugar, as pessoas do Neguebe deJudápossuirãoomontedeEsaú,deformaqueaconexãocomofinaldeAmósé bem específico. Mas o resultado dessa possessão conforme explicada emAmóséimportante.OSENHORdaAliançaregistraEdomentreasnaçõesque“sãochamadaspelomeunome”,indicandoqueelessetornaramoseleitosdoSenhor. Assim como Israel estava marcado como o escolhido do SenhorporqueerachamadopelonomedeDeus,assimagoraEsaú/Edomexperimentaessemesmoprivilégio emconexão como restabelecimentodo “tabernáculocaídodeDavi”(Dt28.9,10;Am9.11,12).

A despeito da severidade do julgamento que Obadias pronuncia sobreEdom/Esaú, a esperança da salvação ainda lhes pertence. O fato de Deussuscitar salvadores para Israel deve resultar num clímax na restauração dotabernáculo caído deDavi e o aparecimento doMessias aguardado há tantotempo.Na vinda desseMessias há esperança de umuniverso restaurado queincluiráatémesmogentesemelhanteaEsaúeumanaçãocomoEdom.QuandoElefinalmentevier,“oreinoserádoSENHORdaAliança”(Ob21NVI).

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VII.Jonas

Jonas se distingue entre os livros proféticos de diversas maneiras. Emprimeiro lugar, o livro se dedica quase exclusivamente a uma narrativa arespeitodavidadoprofeta,emvezdeconcentrar-senamensagemdoSenhorpormeiodoseuprofeta.Nessesentido,Jonasseparecemaiscomasnarrativasa respeitodosprofetasnos livroshistóricosdaBíbliadoquecomos livrosqueconsistemprincipalmenteemdeclaraçõesproféticas.Essefatodemaneiraalguma diminui a importância do livro, pois a mensagem é claramentecomunicada pela vida do profeta bem como por meio das poucas palavrasvindasdoSenhornolivro.OpróprioJonastorna-seum“sinal”paraacidadede Nínive que confirma a mensagem que ele traz. Assim como o SenhordecidiusermisericordiosocomJonas,seuservodesobediente,elheconcedeuuma segunda chance, assim Ele também escolheu que seria misericordiosocomumacidadeviolentacomoNínive,seopovosearrependesse.

Em segundo lugar, o livro não reivindica de forma direta sua autoria,embora Jonas seja mencionado como o compositor da oração poética nocapítulo2 (1.1; 2.1,2).Oambientehistórico é claramentedelineadoporumareferênciaque seencontrano livrodosReis a “Jonas, filhodeAmitai”,queprofetizounosdiasdeJeroboãoII(2Rs14.23-27).64Emdecorrênciadisso,oseventos do livro pertencem “ao contexto do mundo do Antigo OrientePróximodoséculoVIIIa.C.,quandoaAssíriaeraopodermundialemergentee Nínive era uma grande cidade global”.65 Foi a essa cidade estrangeira, acapital de um sólido império, que Deus enviou Jonas com sua mensagemprofética.

O fatode ser comissionadoaumanaçãoestrangeiradefineaindaoutroelemento da singularidade de Jonas entre os livros proféticos. De formasignificativa,JonasémencionadonolivrodosReiscomoquemprofetizouaexpansãodoreinodeIsraelparaosladosdeNínive.Masagoraeledeveirepregar a essa nação cruel e ameaçada para levar a um fim infeliz essecrescentereinodeIsrael.

É legítimo surgirem perguntas a respeito do gênero literário de Jonas,mas essas questões precisam lidar seriamente com os sinais históricos queapoiam o livro.66 Repetidamente, o material do livro de Jonas tem sidodescritocomoestória(ficção).Deacordocomcertointérprete,avantagemdapalavraestóriaéqueelaé“neutracomrespeitoàquestãodahistoricidade”.67Mas essa suposta neutralidade não pode ser sustentada por muito tempo,conformeomesmoautorressalta:“OlivrodeJonaspodeserdescritocomo

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uma estória fictícia desenvolvida em torno de uma figura histórica compropósitosdidáticos”.68Torna-seclaroquedesignaro livrode Jonascomapalavraestóriaforneceumabaseparaseremtratadoscomohistóricosapenasoselementosdolivroquecadaleitordesejacrerquetenhamacontecido.

Consegue-seomesmoefeitoquandoseafirmaqueaquestãodanaturezahistórica do material é “irrelevante para a interpretação do livro”.69 Se nofinal das contas a interpretação envolve o objeto ao qual a crença deve serdirigida, então certamente é um assunto importante seDeus trouxe Jonas devolta da iminência damorte, oumesmo da própria morte.70 Obviamente, aestruturadolivrointeiroéambientadanumcontextohistóricogenuíno.Jonasé identificado como a figura profética que surge na narrativa histórica daEscrituracomoo“filhodeAmitai,queeradeGate-Hefer”,queviveunosdiasdeJeroboãoII(2Rs14.25).Jope,TársiseNínivesãotodascidadeshistórico-geográficas. Quando Jesus usa o relato de Jonas como o principal modeloparasuaprópriamortedetrêsdiaseposteriorexperiênciaderessurreição,arealidade da experiência de Jonas é claramente removida do âmbito dairrelevância não histórica (Mt 12.39,40; Lc 11.29,30). Um olhar maiscuidadoso na escolha das palavras de Jesus com respeito à relação daexperiênciadeJonascomasuaprópriadevedissiparasdúvidasarespeitodaafirmação de Jesus a respeito da realidade histórica dos eventos da vida deJonas.OpovoemvoltadeJesusqueriaumsinalmiraculosodapartedele.Oúnico sinal que lhes foi prometido não foi a mensagem, mas a pessoa dopróprio Jonas conforme foi concedido aos ninivitas. O sinal de Jonas paraJesus refere-se à descida e vivificação do profeta como antecipação da suaprópriamorteeressurreição.SeadescidadeJonasportrêsdiasaoSheoldeveserconsideradacomo“ficçãohistórica”,entãooparalelocomaexperiênciadeJesus inevitavelmenteabreaportaparaseconsiderarseusepultamentodetrêsdiasesubsequenteressurreiçãocomosendodecaráterfictíciotambém.SeopovodeNínivedefatosearrependeucomapregaçãodeJonascomoJesusafirmou, se um “juízo final” de fato vai ocorrer, no qual os ninivitas dageraçãode Jonas se sairãomelhordoqueoscontemporâneos incrédulosdeJesus; se Jesus foi sepultado e ressurgiu dentre os mortos após três diasconformeopadrãodaexperiênciadeJonas–entãoamaneiramaisconsistentede considerar o registro da descida de Jonas ao fundo do mar e seuressurgimentotorna-secompletamenteclaro.71

Natentativadeprovarqueolivroéumaestóriadidáticaemvezdeumahistória didática, vários comentaristas lembram que a narrativa descreve osanimais comoparticipantes do arrependimentoda cidade.72ÉverdadequeoreideNíniveincluiosanimaisemsuaordemparaqueninguémcomaoubeba

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(3.7).Homenseanimaissemexceção tinhamdecobrir-secompanodesaco(3.8a).Masem termosde real arrependimento, é apenaseespecificamenteohomem(ish)quedeveclamarcominsistênciaaDeuseabandonarseusmauscaminhos(3.8b).Emvezdeserconsideradocomumaestóriadidática,olivrodevesercaracterizadocomohistóriadidática.73

Vários temas comuns a outros profetas surgem no livro de Jonas. OSENHORdaAliançadeIsraeléoDeusdocéuquefezomareaterra(1.9).74Eleexercecontínuocontrolesobretodaasuacriação,deformaqueprovocauma tempestadenomar enovamentea fazacalmar (1.4,15).Elepreparaumgrande peixe, uma trepadeira que dá sombra, e um verme devorador (1.17;4.6,7).Elevaitrazerjuízodevastadorsobreopovoperverso,mastalvezpoupeaqueles que se voltarem para Ele (3.4,10). Deus mostra sua misericórdia egraçanãomeramenteaIsrael,masamaisperversanaçãodomundo.

Os conceitos de afastar-se da presença doSenhor e de ser restaurado aEle assumem importânciamais ampla do que em outros escritos proféticos.Paraoprofetadesobediente,afastar-sedapresençadeDeussignificaqueeledesce ao fundo do mar, envolto nas cordas da morte. Separação de Deussignifica nada menos que o fim da vida. Consequentemente, ser restauradopara Deus significa ressurreição à novidade de vida. Essa vida restauradasignificaumasegundaoportunidadedeserviraoSENHORdaAliança,oDeusde Israel. Em sua restauração, o Senhor graciosamente fala com seu servo“segunda vez”, comissionando-o a levar a mensagem do juízo e graça aNínive(3.1,2).

Assim,JonaséafastadoatéàsprofundezasdoSheoleé restauradoparaserviraomundogentio.75EnquantoosoutrosprofetasdeIsraeldoséculoVIIIsepreocupamcomasescurasnuvensdoexílioparaaAssíria,Jonasdátudodesi para fugir do propósito divino de que ele pregue emNínive, a capital docruelreinoquevaiexecutaroexíliodoseuprópriopovo.Nasuaresistênciaaessechamado,Jonasdesceauma“sepulturalíquida”,ondepermaneceportrêsdias.Emdesespero,eleclamaaDeus,eoSenhorolibertadasgarrasdamorte.Depois dessa dramática lição, Jonas aprende a dar valor à determinação deDeus de prover salvação para a mais cruel nação do mundo. Tendoexperimentado figurativamente a morte e a ressurreição, Jonas serve comoinstrumento de Deus para trazer salvação aos gentios. Nesse caso, aexperiência de vida de Jonas antecipa de forma profética o dia em que arestauração significará a expansão mundial da atividade salvadora de Deusentretodasasnaçõesdomundo:“PoisassimcomoJonasestevetrêsdiasetrêsnoitesnoventredeumgrandepeixe,assimoFilhodohomemficarátrêsdias

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e trêsnoitesnocoraçãoda terra” (Mt12.40NVI).DepoisdeexperimentaraseparaçãodoPaiemsuamorte,Jesusressuscitarestauradoparacomissionarseusdiscípulosairefazerdiscípulosdetodasasnações(28.18-20).

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VIII.Conclusão

Osprofetas de Israel do séculoVIII a.C. constantemente profetizaramoexílioearestauração.TantoparaoreinonortedeIsraelcomooreinosuldeJudá,oexílioera inevitável.Essepovoquehaviacomeçadocomochamadode Abraão de Ur dos caldeus seria trazido sob o domínio de uma formaposteriordoImpérioCaldeu.PormeiodaconquistadaAssíriapelaBabilônia,ossobreviventesdoexíliodeambososreinosjudaicosseriamtrazidossobamesmadominaçãoestrangeira.

Mas esses profetas do século VIII não falavam como se a nação nãotivesseesperançaparao futuro.Umnovoêxodohaveriadeocorrer.Opovoteriacondiçõesderetornaràsuaterraprometida.OreinopactualdeDaviseriarestabelecido,enaçõesestrangeirashaveriamdeseacolhersobaproteçãodabandeiradoimpériorestaurado.

Masocaráterterríveldaexperiênciadoexílioaindaseagigantavadiantedeles. Eles na verdade tinham de passar pela devastação e desorientaçãoassociadascomaexpulsãodasuaterra.Eratarefadosprofetasquesurgiramnoséculoseguinte lidarcomesse tempode traumaemqueo reinodonortetinhasidoexiladopelasuperpotênciaassíriaeoexércitobabilônicoembreveexecutariaojuízodivinosobreoreinodosul.

1Bright,HistoryofIsrael,261.

2Rowley(MenofGod, 96) observa que vários profetas de Israel “perceberammesmo sob a formaembrionáriaaessênciadamensagemcomqueforamencarregados”nomomentodoseuchamado.Aordem inicial do Senhor para que Oseias tome uma “mulher de prostituições e gere filhos deprostituição”(Os1.2)resumeaessênciadasuamensagemeministério.

3SeráqueesseprofetadoSenhorcasoudefatocomumaprostituta?Ouseráqueessamulherapenastinha uma tendência à imoralidade? Ou será que esse relato deve ser considerado apenas comoalegoriadorelacionamentodeDeuscomIsrael?Apesarde,sobcircunstânciasnormais,nãopareceralgosábioalguémescolherumcônjugequeestejaenvolvidoemcomportamentoimoral,aEscrituranãopareceproibirisso.Levítico21.7,13-15proíbeaosacerdotecasarcomprostitutaoucommulherdivorciada,masessaproibiçãonão implicanecessariamentequenenhumoutroqueexercessealgumofício em Israel pudesse casar sob essas circunstâncias. Para uma discussão mais completa, vejaRowley (Men of God, 66-97). Young (Introduction to the Old Testament, 253) sustenta que anarrativaésímbolodaapostasiadeIsrael,masqueOseiasnãoesposouumaadúltera.Wolff,depoisdedescreverextensamentea imoralidadesexualassociadacomocultoaBaalemIsrael,optaporuma interpretaçãode“ritualmetafórico”, sugerindoqueanoivadeOseias tinha“participadodo ritonupcial cananeu de iniciação que se havia tornado costumeiro” (Hosea, 15). Kidner (Message ofHosea, 19) insiste que “qualquer que seja nosso ponto de vista, não devemos suavizar as coisasfazendo dela uma prostituta cultual,meramente iludida e abusada; pois a língua hebraica tem umapalavraparaisso(4.14),enãoéapalavrausadaaqui”.

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4AscitaçõesdesteparágrafosãoextraídasdeVos(BiblicalTheology,297).

5Com frequência, questiona-se a autenticidade da referência de buscarDavi o rei neste livro de umprofetaenviadoaoreinodonorte.MascomoAnderseneFreedman(Hosea,307)indicam:“Nósnãoconhecemosde forma suficienteopensamentopolíticodeOseiaspara rejeitarmosa restauraçãodoreinodeDavicomoumaexpectativaescatológica”.

6OcomentáriodeGowan(TheologyofthePropheticBooks,49–50)dequeasexpectativasdeOseiasa respeito de um retorno do reino do norte “não se realizaram” peca por deixar de ver a naturezaradicaldoexílioeocaráter transformadorda restauração.O Israel exilado tornou-se“Não-Meu-Povo”, e assim a conversão dos povos gentios cumpre, na verdade, essa profecia de formamuitomaisgloriosadoqueteriafeitoumretornoetnocêntricodasdeztribosperdidas.

7Fairbairn(InterpretationofProphecy,377)percebeocumprimentoúltimodaprostituiçãodeIsraelemumaigrejaapóstataconformeadescreveolivrodeApocalipse.Porumlado,avisãoapocalípticavêumavirgemcastasemruganemmancha,puraegloriosa,vestidadosol,epreparadaparaseranoivadoCordeiro(Ap12.1,2;21.2).Poroutrolado,láestáBabilôniaaGrandeProstituta(17.3-6a;18.3),representando“umaigrejadepravada,infiel,mergulhadanalamadomundanismoedopecado”.

8O profeta data seuministério nos dias do reiUzias de Judá (aproximadamente 779-740 a.C.) e deJeroboãoIIdeIsrael(aproximadamente783-743a.C.)(Am1.1).

9Wolff(JoelandAmos,102)observaquepelomenosdoisterçosdaspassagensdereprovaçãoejuízoemAmósindicamespecificamentequeopróprioDeuséquemexecutaojuízo.

10VonRad (Old Testament Theology, 2.134) fala de “um tímido ‘talvez’” como a única esperançaoferecida porAmós.O fraseado de vonRad tem um toque poético,masminimiza a sinceridade eintensidadedoapeloqueoprofetafazcomrespeitoaoarrependimento.

11Clements(OldTestamentProphecy, 32).Apesarde fornecerumaútil percepçãoquantoaoâmagodessamensagemdeAmós,Clements segue expressando sua própria crença de que essas palavrasnão podem ser as palavras genuínas de Amós. Diz ele: “Não podemos duvidar que o autor danarrativaconhecesseesses trágicoseventos[doexíliodeIsrael]eos tivesseassociadodiretamentecom a profecia de Amós a respeito de Yahweh se levantando em combate contra seu povo”.Clements não apresenta nenhuma razão por que a narrativa deva ser considerada como tendo sidoescrita depois de cumprido o fato, em vez de ser uma legítima previsão do futuro. Com suareconstruçãodotexto,édifícilvercomoomaterialpoderianãoseracusadodeconstituirumafalsarepresentaçãodoautordapalavraprofética.

12AdeclaraçãodequeIsraeliráparaoexílioérepetidamenteexpressaporAmósemmuitoscontextosdiferentes(5.5,27;6.7,8;7.17).Contudo,ClementsvaialémdaevidênciadotextoquandoafirmaqueAmósdeclaraofimdaaliançacomIsrael(ProphecyandCovenant,40).ContrasteadeclaraçãodeMotyer(MessageofAmos,68):“Amósestádeclarandoavingançaqueestáincluídanaaliança;nãoexiste uma tal vingança divina que anule uma aliança feita ou revogue uma promessa outroraconcedida”.ÉverdadequeoscomportamentospactuaisdeDeusassumirãonovoformatodepoisdojuízodoexílio,masaaliançacomotalnãochegaaofim,poisDeushaveráderealizarospropósitosdasuagraça.

13AndersenandFreedman(Amos,382).14Bright(CovenantandPromise,84)dizque,emboraAmósnuncauseotermoaliança(oquenãoéexato,anãoserqueseremovaprimeiroareferênciadeAmós1.9),“éevidentequeoscrimesqueelecombatesãoinfraçõesdaleipactual”.

15Calvino(TwelveMinorProphets,2.202)afugentaasobjeçõesàexclusividadedagraçaeletivadeDeuscomentandohabilmenteque,seDeusdevessequalquercoisaaqualqueroutropovo,entãocomcertezaEleoteriadado.Maselesnãomereciamnadadapartedele.

16HámuitosquecontinuamconsiderandocomoincertaouimprovávelalegitimidadedeAmós9.11-15.

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Em sua obra anterior (Prophecy and Covenant, 111), Clements trata a passagem como autênticadeclaração de Amós. Em sua obra posterior (Prophecy and Tradition, 46), ele conclui que amensagem de esperança emAmós deve ter surgido de edição posterior. Depois, em sua obraOldTestamentProphecy, 197, ele conclui que essas palavras finais deAmós não são necessariamenteumaadiçãofeitadepoisdoexílio.Maisrecentemente,Gowan(TheologyofthePropheticBooks,36)dizque“nãoexisteevidência”emAmósdequearestauraçãoviessedepoisdoexílio.Eleafirmaque“pareceimprovável”quequalquerdaspromessasdeAmós9.11-15tenhavindodealgumafontedoséculoVIII.Numgesto louvável,Gowan fornece algumas razõespara sua conclusão, indicandoaausênciadevocabulárioetemasqueseajustemàsporçõesanterioresdolivrodeAmós.Gowandizqueaspromessasde restauraçãonão teriamsentidoantesque tudoestivesseperdido,oquepareceenvolverumaestranha formadeargumentar (i.e.,porqueaesperançanãopode ter seu lugarantesque tudoestejaperdido?).Depois,então,elesugerequeo lugardessaspromessas“na formafinal,canônica do livro” faz sentido (37). Mas pode-se perguntar: se oferecer promessas antes dadevastaçãonãofaziasentidonocontextooriginaldeAmós,porquefariaqualquersentidoumeditorposterior adicioná-las e fazer com que parecessem palavras proferidas por Amós antes dadevastação? De uma perspectiva diferente, Andersen e Freedmann (Amos, 917) asseveram que aideiadeuma restauraçãodo tabernáculocaídodeDavideve ter surgidomuitoantesdoexílio.Naverdade,elesafirmamqueessaesperançadeveterexistidoemIsraeldesdeotempodarupturaqueseparouosdoisreinosnotempodeRoboão,filhodeSalomão.

17 Para uma abordagem mais plena dessa passagem e uma análise da interpretação alternativa dopensamentodispensacional,vejaRobertson(“HermeneuticsofContinuity”).

18Miqueiasnão citao reiUzias entreos reis da épocado seuministério, sugerindoque eledeve tercomeçadoseuministérioumtempodepoisdeIsaías.Poroutro lado,sóMiqueiasmencionaSamariacomoreceptoradoseuministérioemseuversículoinicial,aopassoqueotextodeIsaíasindicaqueelefaloudeformarelevanteaambososreinos.

19AsugestãodequeaspalavrasdeMiqueiasincluíamumaprofeciamalsucedidaporqueadestruiçãodeJerusalémnãoocorreuenquantoeleviviadeixadelevaremconsideraçãooconstantetestemunhobíblicodalonganimidadedoDeusdeIsrael.

20Otemadoesperadoreidavídiconãose limitaaosprimeirosonzecapítulosdeIsaías.Eleaparecenovamenteem22.20-25eem32.1,2.

21 O vocábulo alternativo à disposição de Isaías (betulah) significa “virgem” num sentido maisespecífico,masemalgunscasosapalavraéusadaparadesignarumamulhercasada(Jl1.8).

22Aideiadeumaduplareferêncianestaprofecia,tantoaumacriançanascidadeumavirgemcomoaofilhodoprofetaoudorei,nãofazjustiçaaocomprometimentodoSenhoremsuaaliançacomDavi,quanto ao significado de almah como uma jovem não casada, ou ao contexto de um sinalsobrenatural fornecido por Isaías.Aposterior referência à juventude da criança comoumavara demedirtemporáriaparaaduraçãodosreisoponentes(Is7.16)nãorequerumnascimentopertencenteàmesmaépoca,masapenasaduraçãodotemporequeridoparaacriança-ainda-por-nasceravançardonascimentoatéainfância.

23Para umamplo debate sobre essa designaçãodoMessias como “DeusForte” em Isaías 9.6, vejaWarfield(ChristologyandCriticism,28-39).AclarareferênciaaDeuspelamesmadesignaçãoem10.21dáforteapoioàconclusãodequeaintençãoem9.6éafirmaradeidadedoMessiasprometido.

24VejaClements,“BeyondTradition-History”.

25Emrespostaàsobjeçõesdequetantoadestruiçãocomoarestauraçãoseencontramnesseregistrodo chamado de Isaías, as observações de Lindblom são apropriadas. Ele afirma que ambos oselementos“sãoabsolutamenteinseparáveisefundamentaisparaapregaçãodeIsaíasdesdeoinícioaté o fim”. Ele continua: “Seria de fato estranho se a ideia do remanescente salvo, tão básica napregação de Isaías, não tivesse sido indicada já na visão inicial, na qual os conteúdos da sua

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mensagemproféticaforamdefinidos”(ProphecyinAncientIsrael,188,189).

26Umavezqueessareferênciaocorrenotempoperfeitodalínguahebraica,elapoderiadescreverasverdadeirasorigensdocativeirodoreinodonorte.VejaSeitz(Isaiah1-39,50).

27AscitaçõesaseguirsãodaNVI.

28AscitaçõesseguintessãodaNVI.29 Para uma análise da ampla influência de Bernhard Duhm na defesa da tripla divisão do livro deIsaías,vejaClements (CenturyofOldTestamentStudy,51-56);Young (Studies in Isaiah, 39-72).Young observa (40 n. 7) que a apresentação dos três Isaias feita por Duhm começa com umaabordagemde2Crônicas36.22,23,queYoungcaracterizacomo“nadamenosqueespantosa”.EledestacaofatodeDuhmmencionarqueocronistaindicaque,deacordocomapalavradoSenhorpormeiodeJeremias,oSenhordespertouoespíritodeCiro.Mesmoquefiqueclaropelocontextoqueocronista estava se referindo aos 70 anos de duração do exílio conforme profetizado por Jeremias,ondeCironãoénemmencionado,DuhmconcluiqueocronistapensouqueaprofeciareferenteaCironão se originou com Isaías,mas com Jeremias.Apoiando-se nessa base confusa, ele afirma que olivrodeIsaíasdeveterexistidosemaprofeciadeCiroeseencerrouemIsaías39naépocaemqueforam escritas as Crônicas! Partindo desse ponto, teve início todo o desenvolvimento de Duhm arespeitodeumIsaíastripartidoposterioraoexílio.

30Complementandoaideiadeumadivisãobásicadolivro,existeapropostadeumaescoladeIsaíasede discípulos que davam continuidade à tradição original do profeta para a geração seguinte. Essahipótese tambémestásendoseriamentequestionadapornãoapresentarevidênciaobjetiva.Clements(Old Testament Prophecy, 146) diz que a hipótese “estica nossa credulidade a um alcanceimpossível, senos é exigido crerqueumgrupodediscípulosde Isaías existiu comoumaentidadeidentificáveleoperanteduranteumperíododequasequatroséculos,semdeixarnenhumregistrodasuaexistência,salvopelolivroemqueelesconseguempreservarseuanonimato”.

31DillardeLongman(IntroductiontotheOldTestament,268-275).Todasascitaçõesdesteparágrafosãodapágina275.

32OsprópriosDillardeLongmanadvertemqueastuciosasreferênciasàdestruiçãodaBabilôniapelosmedosdosséculosVIIIaoVIa.C.sãoumargumentocuja“circularidade...édifícildeevitar”(ibid.,270n.2).MasnapáginaanteriorelesargumentamqueasreferênciasàBabilônianasegundapartedeIsaíasdevempertenceraoséculoVIa.C.,umavezque“aBabilônianãotinhaaindase tornadoumimpériomundial,nemtinhasetornadoopressoradeIsraelparaoSenhorquerervingar-sedela”.

33Ibid.,269.

34Dillard e Longman também chamam a atenção (ibid., 270) para a referência à sentinela sobre osmuros de Jerusalém em Isaías 62.6. Motyer (Isaiah, 529) diz que a corrupção religiosa descritanessaspassagensdeIsaías40-66seencaixacomos“cultoscananeusanterioresaoexílio”.DepoiseleconcordacomFoster(RestorationofIsrael,126),queexpressasuaopiniãodequeessematerialfornece“umadescriçãodareligiãopopularcorruptaqueexistiaantesdoexílioesemdúvidaduranteo exílio e nos tempos posteriores a ele”. Mas Foster não apresenta nenhuma evidência para suaafirmação de que essas mesmas depravações sem dúvida existiam nos tempos durante o exílio eposterioresaele.Motyerdiz:“Atéondevãoasevidências,asapostasiasesincretismosanterioresaoexílio foram destruídos pelo fogo do exílio”. Westermann (Isaiah 40-66, 419) observa que amenção do templo em66.6 “só faz sentido na suposição de que já tivesse sido reconstruído”. SuaconclusãoacentuaavivacidadedalinguagemreferenteaumtemploedificadoemJerusalém,quenãoexistiaduranteosdiasdoexíliode Judá.Essapassagemémelhor entendida como referindo-se aotemploanterioraoexílioemvezdeapósoexílio,especialmenteporqueelaantecipaadevastaçãodotemploqueaindahaveriadeocorrer.

35EsseproblemaéreconhecidoporClements(OldTestamentProphecy,48).

36Ibid.

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37Passagensbíblicasdosprofetastraduzidasparaoinglêscomotemponopassadosãomuitasvezescompreendidasdeformamaisapropriadacomopassagensquedescrevemumaaçãodaperspectivadeserconcluída–semlevaremconsideraçãoseoeventodizrespeitoaopassado,presenteoufuturo–emvezdeafirmarqueoeventojáocorreu.

38DillardeLongman(IntroductiontotheOldTestament,275).39Westermann(Isaiah40-66,7)falado“completoencobrimentodesimesmo”nasombradaPalavradeDeus.Eleobservaque“nãoconhecemospraticamentenadaarespeitodopróprioDêutero-Isaías,nemmesmooseunome”(6),maselenãovênadaincomumnessefato.

40DillardeLongman(IntroductiontotheOldTestament,275).41Ibid.

42 Oswalt (Isaiah, 2.4) observa corretamente que, “nos dias atuais, a ideia de vários livrosindependentesdeIsaíasestádesaparecendo”.

43Childs(IntroductiontotheOldTestamentasScripture,333).

44Seitz(“Isaiah40-66”,320).45Childs(Isaiah,462,463).

46O fato do livro de Isaías em sua presente forma se apresentar como uma unidade literária e essedocumento unificado ser a única forma em que existe qualquer registro do livro deveria por si sófornecerbaseadequadaparaa legitimaçãodeconsideraro livrocomoumprodutoúnicodeIsaías.Mas em resposta à obra deMotyer,Clements afirma: “Por essa razão, parece-me antes um passoreacionárioetímidoapegar-sedesesperadamenteàsesfarrapadasreivindicaçõesdedatarIsaías1-39ao séculoVIII, emesmo o livro todo, em face das recentes obras que comentam essemajestosoescrito profético quando as próprias suposições sobre as quais se baseiam essas reivindicações serelacionamtãopobrementecomanaturezadoprópriotexto”(OldTestamentProphecy,10).MasopróprioClements reconhece as “muitas conexões literárias evidentes” entre os capítulos 1-39 e oscapítulos 40-66 (13) que encorajam a ideia de uma produção literária unificada datada do séculoVIII.Eleforneceaquiloquepodeserconsideradocomoumbrilhantedesenvolvimentodo temadacegueira e surdez de Israel que conecta os capítulos 1-39 com os capítulos 40-55 e conclui queexiste uma real unidade, não apenas uma unidade editorial superficial, mas uma unidade que dizrespeito à compreensão do livro como um todo (83-86,96). Ele também apoia a ideia de que oscapítulos 56-66 estão “intimamente ligados” com os capítulos 40-55, embora seja “altamenteimprovável”quesejamdomesmoautor(98).Édeadmirarquantaunidadepodeserreconhecidasemao menos estar aberto à possibilidade de que o livro tenha sido produzido por um único autor.Clementsdescreveasimesmoexplicandoquetem“reagidodeformamuitonegativa”àtendênciadealgunseruditosquereivindicamqueumsóautorescreveuolivrodeIsaías.Eleatribuiessaformadereagiràssuasprópriascircunstâncias,queeledescrevecomo“fortementeconservadorasealtamente‘biblicistas’ nomelhor sentido da palavra” (12). É de surpreender, dado o seu próprio testemunhocomrespeitoasuaapreciaçãopessoalpelasEscrituras,queClementsdirijasuasmaisseverascríticascontraaobradeMotyer,quesetemprovadocomoamelhorexposiçãodolivrodeIsaíasproduzidanoséculoXX.

47 Ao promover uma fusão das inquietações originadas das perspectivas teológicas amplamentedivergentes,certoeruditocomenta:“Paraexpressarissodeoutraforma,alacunaentreamaioriadosmodernos comentários críticos e a literatura anterior a 1.700... está sendo agora preenchida pelaspercepçõesdamodernaanáliseestilísticaeestrutural....Nãosãoapenasosantigoseruditos,anterioresaoscríticosefundamentalistasquefazemperguntassobreosignificadodaformafinaldotexto:essassão as perguntas que têm sido feitas hoje pelos linguistas descritivos” (Sawyer, “Change ofEmphasis”,234).Paraesclarecerseuponto,Sawyerforneceváriasilustraçõesdefraseologiasimilarextraídas do tradicional Primeiro e Segundo Isaías e usa essas frases para lançar luz sobre amensagemdetodoolivro(241).

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48Childs,IntroductiontotheOldTestamentasScripture,325.

49Ibid.,333.50VonRad,OldTestamentTheology,2.363.

51 Para uma completa discussão sobre a datação desses dois pequenos livros, veja Harrison(Introduction to the Old Testament, 876–79, 899–903). Compare com Eissfeldt (Old Testament,394–95,402–3).

52Calvino(TwelveMinorProphets,2.xv).

53VejaOesterleyeRobinson(IntroductiontotheBooksoftheOldTestament,362).54Barton(Joel andObadiah, 96). Barton observa que não é possível confirmar pela Escritura que“todaacarne”signifiquetodososisraelitas.MaseleconcluiqueesseconceitouniversalnãoseajustaaoesquemaoriginaldeJoel,mastemdeserumaadiçãosecundária.

55EssepontodevistaésustentadoporBarton (Ibid.,31),oqualconcluique trataro livrocomoumtodonão levará a “nenhumaconclusãoútil a respeitoda suamensagemparao futuro”.VejaWolff(Joel and Amos, 7–8), que argumenta firmemente em favor da unidade do livro, ao ponto deasseverarqueaprofeciadeJoelnãopodesercompreendidaàpartedeserconsideradacomovindadeumúnicoautor.MasWolffnãoexcluiadiçõesliterárias,oquefazcomquesejamaisdifícilmanteroargumentoemfavordaautoriadeumapessoaapenas.

56Muita consideração é dedicada a essa pequena frase.Veja a bibliografia a respeito do assunto emPrinsloo(TheologyoftheBookofJoel,66n.18).

57 Para uma análise das diversas maneiras de entender a frase chuva da justiça, veja Robertson(ProphetoftheComingDayoftheLord,72).

58Vejao abrangente tratamentodoassuntoemAhlström (Joeland theTempleCult, 108).Ahlströmobserva a íntima conexão entre a bênçãoda chuva e a pessoa do reimessiânico.O rei é “como achuva”descendoparaabençoaraterra(Sl72.6).

59ParaumadiscussãomaisamplaarespeitodosfatoresquesedevemconsiderarnadataçãodeJoel,vejaRobertson(ProphetoftheComingDayoftheLord,10–13).

60 Para uma lista completa domaterial similar ao de Joel em outros profetas, veja Crenshaw (Joel,27,28).

61ANVI torna obscuro esse deliberado contraste emObadias entre omonte Sião e omonte Esaútraduzindoestaúltimaexpressãocomo“osmontesdeEsaú”e“amontanhadeEsaú”.

62Essaposiçãodiz respeito ao cânondaBíbliaHebraica, jáque aordemnaSeptuaginta édiferente.VejaaargumentaçãodeWolff(JoelandAmos,3-4);Hubbard(JoelandAmos,22–23);Barton(JoelandObadiah,4).

63Allen(Joel,Obadiah,Jonah,andMicah,129).Veja tambémWolff (ObadiahandJonah, 17); eBarton(JoelandObadiah,116).

64AlocalizaçãocanônicadolivroentreosprofetasquedatamasimesmoscomoanterioresaoexíliodoséculoVIIIa.C.confirmaoambientedessaépoca.

65Limburg(Jonah,22).66Comrespeitoàquestãodaintegridadeliteráriadolivro,oargumentodeLimburg(Ibid.,32)referenteaopoemadeJonas2édignodenota:“NãoénecessárioprovarqueosalmoépartedolivrooriginaldeJonas;oônusdaprovapertenceaosqueargumentamemdireçãocontrária”.

67Ibid.,23.68Ibid.,24.Fretheim(Messageof Jonah, 62), na busca por alguma realidade histórica para o livro,assevera que “o livro é histórico pelomenos no sentido em que reflete a vida e o pensamento da

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comunidadejudaica”.

69DillardeLongman(IntroductiontotheOldTestament,393).70ÉpossívelqueJonas tenhadefatomorridonoventredopeixeeressuscitadopelopoderdoDeusCriadoraquemeleconfessava.

71VejaascitaçõesqueAlexanderfazdeC.S.Lewis(“JonahandGenre”,35,36):“Eruditos,comotais,falam[domiraculoso]comtantaautoridadequantoqualqueroutrapessoa.Ocânon‘Semiraculoso,nãohistórico’éumqueelestrazemparaseuestudodostextos,nãoumdoqualelestêmaprendido”.Etambém:“NãoimportaoqueesseshomenspossamsercomocríticosdaBíblia,nãoconfionelescomocríticos.Naminhaopinião,quandonãotêmpercepçãoarespeitodaqualidadedostextosqueleem, elesmostram que não possuem juízo literário. ...Esses homens pedem que eu creia que elesconseguemlerasentrelinhasdostextosantigos,masoqueficaevidenteésuaóbviaincapacidadedeler as próprias linhas (em qualquer sentido digno de ser debatido). Eles alegam ver formiguinhasminúsculasadezmetrosdedistânciamasnãoconseguemverumelefantebemembaixodonariz”.

72Observe o título de seção emWolff (ObadiahandJonah, 143): “Even theCattle Repent”.VejaLimburg(Jonah,34);eFretheim(MessageofJonah,63).VejatambémareferênciaaessepontodevistaemDillardeLongman(IntroductiontotheOldTestament,392).

73AopiniãodeLimburgarespeitodeJonascomo“estóriadidática”(Jonah,26)podesercontrastadacomaperspectivadeAlexander(“JonahandGenre”,59),quedefendeaideiade“históriadidática”.

74Wolff(ObadiahandJonah,87)diz:“Oqueéimportantedoinícioaofimdanarrativaésuateologiadacriação”.Depois,elese refereà tempestade,aopeixe,àplanta,aovermeeaoventooriental–tudofeitopeloDeusdeJonas.OSENHORdaAliançaéoCriadorqueordenatodasascoisasparasuaprópriaglória.

75 Fretheim (Message of Jonah, 22) salienta que os marinheiros/ninivitas arrependidos são gentios,mencionandoadiferençaqueteriafeitoseessaspessoasemvezdissofossemjudias.

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OPROFETI SMO ANTERIOR AO EXÍLIO DANAÇÃO : OS PROFETAS DO SÉCULO V II A .C.

DURANTEO SÉCULO VII a.C., a atividade profética se restringiu ao reino deJudá,nosul,umavezqueastribosdonortejátinhamidoparaoexílio.Masoqueaconteceuaessas tribosdonorte,cujamaioria foi levadaparaaAssíriaporSenaqueribeem722a.C.?

Jásefezmuitaespeculaçãoarespeitododestinodastribosdonorte.AsEscriturasrelatamqueoreidaAssíriaestabeleceunaterradeSamariagenteestrangeira,ondesemesclaramcomosjudeusremanescentesqueviviamali(2Rs 17.24-33).Mas pouco ou nada se sabe a respeito dos judeus que foramlevadosparaaAssíria.1O IsraelismoBritânicoconsideraqueeles acabaramchegandoà Inglaterrae fundamenta suasargumentaçõesemparte em razõeslinguísticasespúrias.Umavezqueapalavrahebraicaberitsignifica“aliança”e ish significa “homem”, concluem que a palavra British deva ser umapalavra-código para “homens (israelitas) da aliança”.2 A suposta conexãolinguísticanaverdadenãotemfundamento,comosepodevernousovariadoda terminação –ish das palavras inglesas: Turkish (turco), Polish (polonês),pinkish(cor-de-rosa),finish(concluir),selfish(egoísta).Váriasoutrasteoriaslocalizam as dez tribos perdidas naÁfrica, Índia,China, Pérsia,Curdistão enosEstadosUnidos.3Masnumsentidomuitoreal,pode-sedizerqueessasdeztribosessencialmente“desapareceramdopalcodahistória”.4

Se a história perdeu contato com as dez tribos do norte, como devem,então, ser entendidas as profecias a respeito da reunião de Judá e Israel?Oseiasnãoprofetizaumdiaemqueosisraelitasdoreinodonortehaverãodeviver muitos dias sem rei e sem líder e que então “voltarão e buscarão oSENHOR daAliança, o seuDeus” (Os3.4,5NVI)? Jeremias não fala de umanova aliança que será feita com a “casa de Israel” e a “casa de Judá” (Jr31.31)?Ezequiel não antecipa o dia em que as duas nações de Israel e Judáserãoreunidassobumúnicorei(Ez37.15-23)?

Ocumprimentodessasprofeciasdeveserentendidodeduasformas.Porumlado,pode-seproporque,emboraoshomens tenhamperdidoapistadasdez tribos perdidas, Deus não as perdeu. Assim, virá o dia em que Ele, deformasoberana,vairecuperá-las.

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Mas uma segunda compreensão menos especulativa e mais exegéticadessaspassagensdámaisamploespaçoparaessasprofeciasanteciparemumdia em que as imagens proféticas irão além do estágio simbólico dasrepresentaçõesdaantigaaliançaeentrarãonas realidadesdasconcretizaçõesda nova aliança. Nesse contexto, o que cumpre essas profecias não ésimplesmenteoajuntamentodosdescendentesliterais,físicosdecadaumadasdozetribosdeIsraelvoltandoparaaterradaBíblia.Antes,comoPauloexplicaespecificamente, esta profecia tem seu cumprimento na presente época,conformeoSenhorchamaopovoàsalvaçãoemCristo“nãoapenasdentreosjudeus,mas tambémdentreosgentios”eassimcumpreaprofeciadeOseias(Rm9.24-26NVI).ApesardaspalavrasdeOseiasanteciparemoreajuntamentodas dez tribos dispersas do reino do norte de acordo com as figurassimbólicasdaantigaaliança,elasabrangememsuaconsumaçãoaafluênciadepessoas de todas as nações do mundo, tanto de judeus como de gentios.Quando as tribos do norte foram banidas da sua terra natal para o amplomundodosgentios,elasmesmassetornaramnaverdadegentias:“Não-Meu-Povo”. Em decorrência disso, todos os que são reunidos a Cristo sãoidentificadoscomooIsraeldeDeus,qualquerquesejasuaascendênciaétnica(Ez37.24-28;Jr31.33;vejatambémHb10.15-18;Gl6.16).5

EmtermosdoministérioproféticoprogressivoemJudádepoisdoexíliodo reino do norte, os profetas escritores do século VII a.C. podem seridentificadoscomoNaum,Habacuque,SofoniaseJeremias.Cadaum,demodopeculiar,interagecomarealidadedorealexílioquetinhaocorridoparaumaporção do povo da aliança de Deus, e o exílio iminente que aguardava aporçãoremanescente.Considereosdestaquesdasuamensagemnocontextodoexílioedarestauraçãodanação.

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I.Naum

AAssíria,apotênciamundial,comsuacapitalNínive,havialevadoparaoexíliouma importantepartedapopulaçãodo reinonortede Israelnoséculoanterior.DequeformaosoberanoSenhorhaveriaderesponderaoexcessodebrutalidade da Assíria contra o povo dele, apesar dessa nação ter sido oinstrumentoescolhidopeloSenhorparaexecutarojuízo?NaumconcentrasuamensagemexclusivamentenavindouraobradoSenhordedestruiracapitaldaAssíria, Nínive. Do início ao final dos três capítulos desta profecia, eleenfaticamenteproclamaotema:Nínivevaicair.

UmavezqueaevidênciaextrabíblicaindicaqueNínivecaiuem612a.C.,podemosdeduzir queNaumprofetizou antes dessa data.6 Além disso,Naumfaz referência ao colapso da capital egípciaNo-ammon (i.e., Tebas) em664a.C.comoformadeprovocaraautoconfianteAssíria(Na3.8).SeráqueNínivedefatopensaquesuasdefesassãomaisfortesdoqueessaantigafortificaçãoegípcia,quesemanteveintacta800quilômetrosrioacimanaconvergênciadoNilo Azul e do Nilo Branco, flanqueada de ambos os lados por aliadospoderosos?SeráqueaAssíriaesqueceuqueessaantiga fortalezacaiudiantedoseupróprioexército?SeráNínivetãoatrevidaaopontodepensarquenãopodecairtambém?

Aqueda passada deNo-ammon e a futura queda deNínive delimitam adatadacomposiçãodeNaum.7AsreferênciasdeNaumsugeremqueacapitalassíriaaindaerapoderosanaépocadasuaprofecia,oqueimplicaqueolivrofoi escrito alguns anos antes da queda de Nínive. Naum tem a ousadia dedeclarar sua mensagem profética diante de um poderoso conquistador domundoquejáhaviadevastadooreinonortedeIsrael.

Uma nota de júbilo triunfante conclui o primeiro capítulo do livro:“Como são belos sobre osmontes os pés daquele que traz boas novas, queanunciaapaz”(Na1.15).PodemosdeduzirqueasboasnovasaqueNaumserefereantecipamalibertaçãodoscativosdoreinodonortedasopressõesdaAssíria. Mas Naum para um pouco antes desse ponto desejado. Suas boasnovas se concentram em nada mais e nada menos do que na destruição doperversoreidaAssíriaeseuimpério.ArazãoqueopovodeDeustempararegozijar-seéadevastaçãodesseinimigoviolento.

Isaías tinhaanteriormenteusadoessasmesmaspalavrasparaanteciparafutura salvaçãodopovodeDeus.Osbelospés sobreosmontesnavisãodeIsaíaspertencemnão àquelesque anunciamaderrotados inimigos,mas aosque proclamam paz, anunciando que o Deus de Israel reina (Is 52.7). É

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adequado que o mesmo fraseado introduza essas diferentes mensagens emIsaías eNaum.Esses dois elementos, a destruição dos inimigos deDeus e asalvaçãodopovodeDeus,precisamsercombinadosseoreinodeDeusdevede fato concretizar-se na terra. A justiça deDeus precisa ser estabelecida, eseus inimigos precisam ser derrotados. À parte da derrota dos inimigos deDeus,nenhumaboanovagenuínapodeseranunciadaaopovodeDeus.

Apresentando-se em um contexto da nova aliança, essas profeciascombinadasdeNaumeIsaíasantecipamportodoomundoaproclamaçãodoevangelhode JesusoCristo.Comooaugede tudo,pode-sedizer a respeitodosquetrazemamensagemdasalvaçãoemCristoajudeusegentios:“Quãoformosos são os pés dos que anunciam coisas boas!” (Rm 10.15 ARA). Asboasnovasdoevangelhocontêmamensagemdequeasalvaçãochegouparaopovo de Deus. Mas elas também ressaltam o fato de que os “poderes eprincipados”sobocontroledeSatanásforamdespojadosporCristonacruz(Cl2.14,15).TodaaimpiedadepersonificadanocruelreideNíniveencontrasua expressão consumada nos poderes de Satanás que se opõem aoestabelecimento do reino de justiça e graça de Deus. Mas a cruz de Cristobaniuessespoderesepublicamenteosexpôscomoderrotados.

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II.Habacuque

O livro deHabacuque é singular pelo fato do leitor ter o privilégio deobservar o próprio profeta passar de uma atitude de profundamurmuraçãocontraDeus para um espírito de total submissão.8Ele começa com um tomamargodereclamação:“Atéquando?”(1.2).ContestaacoerênciadasaçõesdoSenhoràluzdasuanaturezasanta(1.12-13).Elesepreparaparacontra-atacararepreensãodoSenhormediantesuaprópriarefutação(2.1).Mas,nofinal,eleexpressaomaisbeloespíritodesubmissãoquesepossaencontraremtodaaEscritura:

Mesmonãoflorescendoafigueira,

enãohavendouvasnasvideiras,

mesmofalhandoasafradeazeitonas,

nãohavendoproduçãodealimentonaslavouras,

nemovelhasnocurralnemboisnosestábulos,

aindaassimeuexultareinoSENHORdaAliança

emealegrareinoDeusdaminhasalvação.(3.17,18NVI)

Oqueproduziuessamudança radicalnoespíritodoprofeta?Ocenáriobíblico-teológicodolivroexplicaamudança.

Os versículos iniciais de Habacuque não fornecem informaçõesespecíficasquantoaoambientehistóricodolivro.Masareferênciaaoskasdimou caldeus claramente situa o ministério deste servo profético na segundametade do século VII a.C. (1.6).9 Aparentemente, na época da profecia deHabacuque, aBabilônia aindanão tinha chegadoao augedo seupoder, umavezqueoprofetaserefereaofatodoSenhor“levantar”essacruelnação(1.6).

Ofatodeviveremdepoisdasombriaexperiênciadoexíliodo reinodonortenãosurtiugrandeefeitosalutarsobreocomportamentomoraldopovodaaliançadeDeusnoreinosuldeJudá.EmdiálogocomoTodo-Poderoso,Habacuque se queixa a respeito do mau procedimento do próprio povo daaliançadeDeus.10Porquantotempoprecisaelegritarporajudasemreceberrespostaalguma(1.2)?Aviolênciaestáportodolado,eaToráestáparalisada(1.3,4).PormeiodessareferênciaàincapacidadedaToráfuncionar,oprofetadeixaclaroqueeleestálidandocomadesenfreadapecaminosidadedopróprio

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povodeDeus.Nãoparecequeessesofrerdainjustiçasemalívioporpartedopovode

Israelcaracterizasseosdiasdo justoreinodobomreiJosias.As tribulaçõesque Habacuque descreve se encaixam melhor nos dias do filho de Josias,Jeoaquim, aproximadamente entre a morte de Josias em 609 a.C. e oestabelecimento do domínio babilônico sobre o território sírio-palestino nabatalhadeCarquemisem605a.C.

Quando o Senhor responde à queixa do profeta anunciando a vindouradevastação de Judá pelasmãos dos cruéis babilônios, isso está além do queHabacuque pode compreender.OSenhor lhe concedeu bemmais do que eletinha pedido. Ele queria apenas a correção do mau comportamento nacomunidadedopovodeDeus.Masagoraeledescobrequeoinconcebívelvaiacontecer:JudáeJerusalém,assimcomoIsraeleSamaria,serãoexilados(1.5-11).

Agora,oprofetaestácomumproblemamaissério.OSENHORdaAliançaéoSanto,aRochaquenãofalha.MascomopodeEle ficarquietoquandooperversodevoraosque sãomais justosdoqueele (1.13)?Nãohádúvida, apecaminosidadedoseuprópriopovoégrande,assimcomoelemesmotinhadito.MasoTodo-Poderoso irá permitir queumanaçãomaisperversa aindaseja seu instrumento para devastar seu próprio povo? Depois de contestarousadamenteosplanosepropósitosdoTodo-Poderoso,Habacuquesepreparaparaarespostaqueeletemcertezaquevirá.Mal-humoradocomoé,oprofetasepreparaparareplicaracensuradoSenhor(2.1).11

ApróximaPalavradoSenhorpegaoprofetatotalmentedesprevenido.Amensagem é tão importante, que precisa ser esculpida em tábuas de pedracomoosDezMandamentos(2.2).Elaprecisaserescritadeformatãoclaraqueaté mesmo alguém que passe correndo consiga lê-la. Essa mensagemreveladora durará até o fim e não falhará (Hc 2.3). Mas, que mensagemimportanteéessa?12

“O justificado pela fé viverá por sua firme confiança” (2.4).13 Aquelesque foram justificados por sua confiança no Deus da aliança com certezaviverão.ElessobreviverãoaosjuízosdeDeusqueprovocarãoaruínadeumanaçãoapósaoutra.Asnaçõesvãodesmoronar.OprópriopovodeDeusvaiexperimentar o mais severo castigo. Depois que os babilônios tiveremcumpridosuadivinacomissão,elesporsuavezvãoexperimentarsuaprópriadevastação pela mão do Senhor. Mas do início ao fim desse período deestremecimento de impérios, uma palavra de esperança surge por cima doentulho.ApessoaquefoideclaradajustaporsuaconfiançaemDeussópoderácontinuar a viver por meio da sua firme confiança. Como membro do fiel

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remanescente que será testemunha ocular desses eventos cataclísmicos, oprofeta precisa continuar confiando no Senhor o tempo todo. O Senhorconservarásuapresençaemseusantotemplomesmonumaépocadecolapsodas nações. Assim, toda a terra deve manter reverente silêncio diante dele(2.20).

Oproblemahistórico-redentivocomqueHabacuquesedeparaantecipaodesafio teológico enfrentado pelo apóstolo Paulo expresso no livro deRomanos. Será que Deus rejeitou seu povo? Pelo fato deles, em suaincredulidade, terem rejeitado seuMessias, será que agora foram rejeitadospor completo pelo Senhor (Rm 11.1)? Habacuque tinha feito esta perguntaséculosatrás.Porentregarseupovoàsmãosdoscruéisbabilônios,seráqueDeus os tinha abandonado totalmente? Não, pois “o justificado pela fé comcertezavaiviver”(2.4).Aquelesqueconfiaramnelehaverãodesobreviver.Oapóstolo Paulo encarou basicamente a mesma ameaça com respeito àpermanência do antigo povo de Deus. A nação de Israel havia rejeitado oCristodeDeusquehavia sidoenviadoemseubenefício.SeráqueDeus, emreação a isso, havia rejeitado seu povo? Será que desta vez Ele os tinharejeitadocompletamente?Não,poisumavezmais:“Ojustificadopelafécomcertezaviverá” (Rm11.1,2;1.17).OpróprioPauloéumtestemunhovivodofatoquepermaneceumremanescentedeacordocomaeleiçãodagraça.Esseremanescentevai sobreviverpela fé.Eles surgirãocomavitalidadedanovavidaemCristoàmedidaquecontinuamdescansandonelesomentepelafé.

Aindahojesobreviveumremanescentedepessoascrentesdeacordocomaeleiçãodagraça.Umavezqueseupovoéidentificadoespecificamentecomoum povo de fé, judeus e gentios igualmente estão inclusos entre esses quevivem a despeito da severidade dos contínuos juízos do Senhor. EsseevangelhocompeliuPauloa ir atéosconfinsda terracomamensagemquemanifestaopoderdeDeusparaasalvaçãoprimeirodojudeu,mastambémdogentio.ÉomesmoevangelhoquecompeleoscrentesairemcomoevangelhohojeecontinuarindoatéqueoSenhorretorneemglória.14

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III.Sofonias

Sofonias é o único desta primeira tríade de profetas do séculoVII quelocaliza de forma clara seu ministério num ponto específico da história deIsrael.Eleindicaqueprofetizou“duranteoreinodoreiJosias,filhodeAmomdeJudá”(1.1),oquelocalizaseuministérioentre640e609a.C.Alémdisso,ofatodeledirigirumoráculoespecificamenteaoreinodaAssíriaindicaquesuamensagemveioantesdaquedadeNínive,ocorridaem612a.C.(2.13-15).

OoutroeventoimportantenosdiasdoreinodeJosiaséadescobertadolivroda lei em622a.C.A recuperaçãodesse livroda leipactual conduziuauma profunda reforma da nação (2 Rs 22.1-13). Se alguma coisa poderiasalvaranaçãodeJudádodesastredoexílioquesobreveioaoreinodonorte,seriaessareformadeacordocomaleidaaliançamosaica.

SeráqueSofoniasescreveusuamensagemantesoudepoisdesseúltimograndemovimentode reformadahistóriade Judá?Agrande semelhançadeexpressãoentreSofoniaseDeuteronômiosugerequeoprofetamodelousuamensagem com base no livro da lei há pouco descoberto.15 Várias frasesidênticasàlinguagemdeDeuteronômionoslevamaconcluirquedificilmenteSofoniastenhaantecipadoessadescoberta.Masparecetotalmentepossívelqueele tenha exercido uma especial função como profeta indicado pelo Senhorcomopropósito de apoiar as reformas radicais promovidas pelo jovem reiJosias. Sofonias, assim, baseou sua mensagem na lei do Senhor conformetinhasidoreveladaaMoiséseredescobertaporJosias.16

Fundamental para a profecia de Sofonias é seu anúncio a respeito dovindouroDiadoSenhor.Umséculoatrás,Amós tinhase referidoaoDiadoSenhordeumaformaqueindicavaqueoconceitojáeraconhecidoháalgumtempo. Os contemporâneos de Amós estavam ansiando pelo Dia do Senhorporqueoviamexclusivamentecomoumtempodesalvaçãoeluz.Maselelhesinformou que o vindouro dia traria escuridão, não luz, e juízo em vez desalvação(Am5.18-20).

DiferentedodesenvolvimentodeSofoniasdateologiadoDiadoSenhoréaconexãofeitaentreessediaculminanteeasantigasaliançasdeDeus.Emseucapítuloinicial,Sofoniasrefere-seatrêssucessivasaliançasnahistóriadeIsrael:aaliançacomNoé,aaliançacomAbraão,eaaliançacomMoisés.Emcada caso, a linguagem da maldição pactual antecipa o futuro juízo divino.Usando a linguagem associada com a aliança de Noé, Deus afirma que vaiacabarcomtudonafacedaterra,incluindohomens,animais,pássarosepeixes(Sf1.2,3;Gn6.7).Empregandofigurasqueseparecemmuitocomadescrição

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dacerimôniaderealizaçãodeumpactonosdiasdeAbraão,oprofetaindicaqueoSenhorpreparouumsacrifícionaformadevítimasqueprecisamsofrerseujuízo,tendoconsagradoseusconvidadosparaobanquetevindouro(Sf1.7;Gn 15.9-11). Repercutindo as circunstâncias da inauguração da aliançamosaicanoSinai,Sofoniasdeclaraqueovindourodiadojuízoseráumdiadeescuridãoedensastrevas,denuvensenuvensespessas,detrombetaegritodeguerra (Sf 1.15,16; Êx 20.21). Essas referências se concentram no vindouroDiadoSenhor,que,segundooprofeta,está“perto”(1.7).AterrívelpresençadeDeusqueameaçaojuízonotempodasolenidadepactualdopassadoagoraantecipaovindourojuízodograndeeterrívelDiadoSenhor.Assimcomooreino do norte foi varrido por persistir em violar as estipulações pactuais,assim o remanescente reino do sul pode aguardar uma devastação maisterrível ainda. O exílio para o reino do sul de Judá é agora relacionadodiretamenteaodiavindouro,odiaemqueoSENHORdaAliançafarácumprirtodasasmaldiçõesjuradasnoacordopactual.

Assim, em Sofonias, o Dia do Senhor pode ser equiparado ao dia dasolenidade inaugural oudo reforçopactual.Odia da aliança é, num sentidosingular,o“diadoSenhor”,odiaemqueoSenhormostrasuasoberaniaentreopovodestemundopormeiodoestabelecimentoereforçodasuaaliança.ODia do Senhor é o dia em que Deus mostra seu senhorio estabelecendo deformasoberanaoureforçandoseuacordopactual.

NãoépossívelencontrardescriçãomaisaterradoradojuízodeDeusdoqueadoprimeirocapítulodaprofeciadeSofonias:“nodiadairadoSENHORdaAliança... omundo inteiro será consumido, pois ele dará fim repentino atodososquevivemnaterra”(1.18NVI).MastambémsurgeafiguradoamordeDeusnaspalavrasdesteprofeta.Pode-sedizercomtodarazãoqueaversãodoAntigo Testamento de João 3.16 encontra expressão no capítulo final deSofonias, onde o profeta declara: “O SENHOR da Aliança, teu Deus... terágrandeprazeremti,eleficaráquietoemseuamor,eleseregozijaráemticomcântico” (3.17).17 Quem poderia imaginar uma coisa dessas! ODeus Todo-poderosomergulhanumaquietacontemplaçãoporcausadoseuamorporseupovo. O próprio Senhor rompe em cântico por causa da sua alegria comaquelesquesãoseus.

Em termos de exílio e restauração, Sofonias vai muito além dadeportaçãodopovodeJudáemsuasantecipaçõesdovindourodiadojuízodeDeus.Agoraétodoomundoesãotodososseushabitantesqueserãovarridospelojuízodivino.ComonocasododilúviodeNoé,todasascriaturasviventesvão perecer. Mas agora neste vindouro juízo cataclísmico do cosmos, até

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mesmo“ospeixesdomar”haverãodeperecer(1.3).De forma semelhante, a restauração para Sofonias vai muito além do

retorno de um remanescente de Judá. Até os lábios de povos estrangeirosserão purificados, de forma que clamarão ao Senhor em busca de salvação(3.9). Além dos rios da Etiópia, no interior da África, os adoradores doSenhor lhe trarãoofertas (3.10).18Aomesmo tempo, aobrapurificadoradeDeuscomrelaçãoaJerusalém,seusantomonte,vaiavançar(3.11,14).Elevaireunir aquelesque foramdispersose trazê-lospara casade todo lugarondeforamenvergonhados(3.19,20).ArestauraçãoparaaterraexerceclaramenteumaimportantefunçãonaantecipaçãodeSofoniasarespeitodofuturo,masasdimensõesdessarestauraçãoforamampliadasparaincluirtodaahumanidade.

Curiosamente,aprofeciadeSofoniascontémmuitopoucoemtermosdeexpectação com respeito ao vindouro rei messiânico. Em vez disso, é opróprioDeuso“poderosoherói”quemsalvaráoseupovo(3.17).ÉpossívelqueodesapontamentocomosreisquehaviamreinadoemJudátenhalevadoeste profeta a retroceder à visão dos dias anteriores àmonarquia em que opróprioDeusera reie salvadorentre seupovo.Emcertosentido,estavisãoestavacorreta,poissomenteopróprioDeuspodiaatuarcomoosalvadordestacomunidadepecadoraedecaída.

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IV.Jeremias

Jeremias é corretamente descrito como “um homem de corageminflexível,quenunca,atéondesabemos,abrandouapalavraqueseuDeuslhedeu, nunca omitiu sequer uma sílaba”.19 Mas a sua coragem não pode seratribuídaaseusdonsnaturais,comoelepróprioreconheceprontamente(1.6).Emvezdisso,Jeremiasfoiumhomem“guiadoporseuchamadoparamostrarumaforçaque,pornatureza,nãolhepertencia”.20SuafidelidadeàPalavradoSenhoréatémaisdignadenotaàvistadasvariadascrisesqueeleenfrentoudurantesualongacarreiracomoprofetaemIsrael.

Nosprimeirosversículosdoseulivro,Jeremiasdataseuchamadodivinono décimo terceiro ano do rei Josias, ou seja, em 627 a.C. (1.2).21 Ele deuprosseguimentoaseuministérionumaépocaposterioraoexíliodoreinodosul, queocorreu em587 a.C.Mesmodepois de ter sido forçado a ir para oEgitopelaliderançajudiaaindarebelde,elecontinuouseuministérioproféticodurante esses dias tenebrosos de exílio da sua terra natal (43.8-44.30). Pormaisde40anos,JeremiasviveucomofardodedeclararaPalavradoSenhoraumpovocontradizente.

Jeremias se distingue dentre os livros proféticos pela variedade dematerialquesuasprofeciascontêm.Declaraçõespoéticas,prosabiográfica,ediscursosemformadeprosasãoostrêsmaiorestiposdeliteraturadolivro.22Especialmente digna de nota é a extensão do material biográfico de suasprofecias. Essas notações biográficas ampliadas não são de forma algumairrelevantesparaamensagemqueoprofetatrazdapartedoSenhoraopovo.23Comonaexperiênciademuitosoutrosprofetas,avidadeJeremiaspersonificasuamensagem.OsfilhosdeIsaíaslheforamdadoscomosinaisproféticos(Is8.18).AmortedamulherdeEzequielfoiaoportunidadedeumagrandeliçãopráticaparaopovodasuaépoca(Ez24.15-18).OcasamentodeOseiascomumamulher adúltera deu vida à infidelidade de Israel (Os 3). A descida deJonasaoventredograndepeixeesualibertaçãodaliantecipouoúnicosinalque Jesushaveriadedar aos seuscontemporâneos (Mt12.40).Dessamesmaforma,aoposição,ossofrimentos,earejeiçãoaJeremias,oprofetadeDeus,personificamamensagemarespeitodoservodoSenhor,quesofreporcausadaredençãodoseupovo.

AssimcomoaconteceucomOseias,AmóseIsaías,aprincipalmensagemdo profeta é resumida por ocasião do seu chamado ao ofício profético.Nocaso de Jeremias, o amplo registro do seu chamado inclui uma exortaçãochave,duasvisõeschaves,eseispalavraschaves.

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Primeiro vem a exortação chave. O Senhor indica que Jeremias foidesignadodesdeoventredamãeparaserum“profetaàsnações”(1.5,10).24Emdecorrênciadisso,elenãoprecisatemer,masdeveiratodoaqueleaquemoSenhoro enviar e falar tudooqueoSenhor lheordenar (1.7).Deacordocom o padrão do profetismo estabelecido por meio de Moisés, o SenhorcolocarásuaspalavrasdiretamentenabocadeJeremias(Jr1.9;veja tambémDt 18.18).25 A exortação chave para Jeremias, então, concentra-se em suainescapável responsabilidade de anunciar a Palavra de Deus não apenas aIsrael,mastambémnamedidaemqueelainfluenciaocursodasnações.

As duas visões chaves ligadas ao chamado de Jeremias são o ramo deumaamendoeiraeapanelafervendoinclinando-sedonorte(1.11,13).Ambasasvisões iniciaiscondensampontosdeênfasequeseexpandemdo inícioaofim do livro. A panela fervendo inclinando-se do norte é imediatamenteassociada ao próximo versículo pela frase repetida do norte. A calamidadeseráderramadasobretodoopovoquehabitaaterra,antecipandooexílioqueafinal virá pormeiodanaçãodonorte, aBabilônia (1.14).26 O vocabuláriocomumassocia a alusão à previamentemencionada amendoeira (shaqed) aofato do Senhor velar (shoqed) para garantir que sua Palavra se cumpra(1.11,12).27 Assim como o agricultor palestino observa diligentemente oflorescimento da amendoeira como o primeiro sinal da primavera, assim oSenhor concentra sua atenção em sua Palavra à medida que ela surge.Consequentemente,nolivrodeJeremias,repetidasvezesaatençãoédirigidaàPalavra deDeus que foi proferida, até o ponto emque aPalavra doSenhorpareceumaentidadeàparte.ElaéumaPalavravivaquepossuiaautoridadedederrubarreisegovernantes.28

As seis palavras chaves agrupadas no chamado de Jeremias aparecemcomoseisinfinitivosconsecutivos,quatrocomconotaçãonegativaedoiscomconotação positiva: “para arrancar, despedaçar, arruinar e destruir; paraedificar e plantar” (1.10 NVI). Apesar da importância dessas palavras namensagem de Jeremias ser com frequência reconhecida, sua manifestaçãoregular em momentos críticos no livro em geral não é percebida.29 Suaproeminentefunçãoemsetepontoschavesfazcomquemereçamconsideraçãomaisabrangente.

A.Jeremias1:OchamadodoprofetaA função dessas seis palavras na descrição da comissão do profeta

quandofoichamadoindicaasuaimportância.AtravésdasuapalavraproféticapormeiodeJeremias,Deusvaidesarraigaredespedaçar,destruirearruinar,edificar e plantar nações e reinos. Essas palavras específicas definem o

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chamadoeacomissãodoprofeta.

B.Jeremias11,12:AaliançadeDeusparaIsraeleparaasnaçõesHouve uma ocasião crítica no ministério de Jeremias por ocasião da

descoberta do livro da lei nos dias de Josias, que deu forte impulso aomovimentode reformado jovem rei (2Rs22.8-23.3).Umagrandeparte dafunção do profeta era a aplicação prática do livro da aliança à vida daspessoas.

EmJeremias11e12,oprofetaéalertado:“Ouçaostermosdestaaliança;erepita-osaopovodeJudá”(11.2NVI).Oprofeta,então,precisaproclamarasmaldiçõespactuaisatodosquenãovivemdeacordocomostermosdaaliança(11.3).Duasvezessefazreferênciaa“plantar”Israel.Mas,apesardoSenhoros terplantado,Eleagoradecretouacalamidadeporcausadadesobediênciadeles (11.17). O profeta reconhece que o Senhor os plantou e que eleslançaramraízesederamfruto(12.2a).MasemboraoSenhorestejasempreemseus lábios, Ele continua longe do coração deles (12.2b). Em decorrênciadisso,oSenhorabrirámãodasuacasa,abandonarásuaherança,eentregarásuaterraamuitospastoresestrangeirosquearruinarãoasuavinha(12.7,10).

Aestaaltura,surgemaspalavraschavesnegativasdeJeremias.OSenhorvai “desarraigar” tanto a casa de Judá como as nações estrangeiras quemaltrataramseupovo(12.14).AssimcomoEleos“plantou”fazendo-osentrarnaterraprometida,assimagoraElevai“desarraigá-los”porsuainfidelidadepactual.30Mas esse desarraigamento é aqui ampliado para incluir as naçõesestrangeiras que violaram suas leis. Essas palavras chaves pronunciadas porJeremiascomo“profetaparaasnações”possuemaforçainerentenecessáriaparadeterminarofuturocursodasnações.

Masoamploescopodessaspalavraschavesincluimaisdoqueoplantareosubsequentearrancardepessoasenações.Depoisdetê-losdesarraigado,Elediz:“tereicompaixãodenovoeosfareivoltar,cadaumàsuapropriedadeeàsuaterra”(12.15NVI).Depoisdedesarraigarseupovoeosseusopressores,oSenhorvai“edificá-los”outravez.Essatremendarestauraçãochegaaopontodefazercomquenaçõesestrangeirassejam“edificadas”nomeiodopovodeDeusseessasnações“aprenderemacomportar-secomoomeupovo”(12.16NVI).31

Se alguém se sentir tentado a atribuir a editores mais recentes essaextraordinária antecipação de incorporação internacional ao povo de Deus,precisalembrarqueochamadoinicialdeJeremiasantecipouexatamenteessefenômeno.Eleédesignadonãoapenascomoprofeta“paraIsrael”,mascomoprofeta “para as nações”. As palavras chaves da sua comissão original

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declaram especificamente que ele é designado “sobre nações e reinos” nãoapenasparadesarraigarederrubar,masparaedificareplantar.

Assim,essaspalavraschavesmoldamoministérioproféticodeJeremiasemtermosdecalamidadeelibertação,deexílioerestauração,deacordocomostermosdaaliançadeDeus.Israeleseusvizinhosserãoexpulsosdasuaterranatal.Maselestambémserãotrazidosdevoltaàsuaterradeorigem.

C.Jeremias18,19:JeremiasvaitercomooleiroÉcomumoscomentaristastrataremcomoumaunidadeoscapítulos18e

19deJeremias,emparteporqueamboscomeçamcomoprofetaindotercomo oleiro.32 Na primeira visita de Jeremias, o oleiro decide remodelar umamassadebarroqueestragounoprocessodamodelagem.Desseprocedimentodo oleiro, o profeta aprende uma lição a respeito dos caminhos do Senhor.Tendoanteriormentedeterminado“arrancar”,“despedaçar”e“arruinar”umanaçãoporcausadoseupecado,oSenhorpodemudarseupropósitoparacomessanação seopovosearrepender.Aindaexisteesperançaparaumanação,mesmoqueelasedeparecomaiminênciadojuízodivino.Poroutrolado,seoSenhoranunciaquepretende“edificar”e“plantar”umanaçãoeseessanaçãoprocedermal,Elevai reconsiderarobemque intentava fazer em favordela(18.1-10).

Emsuasegundavisitaaooleiro,oprofetacompraumabotijadeoleiro,convocaosanciãosdopovo,equebraabotijanovaledeBen-HinomcomosímbolodaiminenteruínadanaçãodeJudá.Pode-severumavançoalémdoanterior incidente com o oleiro no fato de que agora a obra dasmãos deleultrapassa o ponto em que pode ser recuperada. Ela precisa ser quebrada edescartadacomosímbolodaruínadanaçãodeJudáedacidadedeJerusalém(19). Embora as palavras chaves de Jeremias não apareçam neste segundocapítulo,suainfluênciavindadocapítuloanteriorémuitoclara.

AmensagemdaspalavraschavesemconexãocomasvisitasdeJeremiasaooleiroseladeformasimbólicaodestinodanação.ElesrejeitaramaDeusrecusando-seaobedeceraos seusmandamentos.Mesmo tendo recebidoumasegundaoportunidade,elesrecusaramarrepender-seecorrigirseuscaminhos.Adevastaçãoéinevitável.

ÉpossívelcompreendermaisplenamenteessaspalavrasdeJeremiasàluzdas Escrituras da nova aliança, com o suborno que os líderes de IsraelofereceramaJudasparatrairJesus(Mt27.9,10).Mateuscitaespecificamente“aspalavrasdoprofetaJeremias”(27.9).MasofraseadodacitaçãodoAntigoTestamentovemcomcertezadeumaprofeciadeZacariasenãodeJeremias(Zc11.11-13).33 Tanto emMateus como em Zacarias,mas não em Jeremias,

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fazseumpagamentodetrintasiclosparaadeposiçãodopastorindicadopeloSenhorpara Israel.Comoexplicar,então,a referênciadeMateusàspalavrasdeJeremias?

HáumelementoimportantenanarrativadeMateusquefaltaemZacariase que se encontra nesses capítulos de Jeremias. Com o seu “dinheiro desangue”,ossacerdotescompraramo“CampodeSangue”(Mt27.6-8).Judas,comprofundopesar,afirma:“Eutraíosangueinocente”(Mt27.4).Adespeitodoseurepúdioinsensível,oslíderesdeIsraelsãoosculpadosque,planejandoamortedeJesus,“encheramestelugarcomosanguedeinocentes”,oquefazecoà fraseencontradanasegundapassagemdeJeremias referenteaooleiro(19.4cNVI).Mateusfaladetrair“sangueinocente”,eJeremiasdizqueosreise o povo de Judá encheram Jerusalém com o “sangue dos inocentes”. ElestinhamacabadocomapossibilidadedeumnovocursodeaçãodoSenhoremfavordeles,comosimbolicamenterepresentadonaprimeiravisitadeJeremiasaooleiro(18.1-10).O“arrancar”,“despedaçar”e“arruinar”deumanaçãoquenãoquersearrependerporterrejeitadooSenhorencontraseucumprimentonojuízodanaçãodeJudáporhaverrejeitadoseuPastor/Messias(18.7).ParaJeremias e os anciãos de Israel, o vaso de barro simbolizando sua nação ecidade, precisa agora ser quebrado no Vale da Matança (19.1,6,7,11; vejatambémMt27.8-10).EmboraodinheirodesangueeoCampodeSangueemMateus se apliquem diretamente ao destino de Judas, também é precisoestenderasconsequênciasaosseuscolaboradores,quepagaramodinheirodosangue da traição e compraram o Campo de Sangue.Uma vezmais as seispalavraschavesdochamadodeJeremiasexercemumafunçãoimportanteemseuministérioaumpovorebelde.

D.Jeremias24:avisãodosdoiscestosdefigosJeremias se deparou com uma nova circunstância com o exílio do rei

JeoaquimdeJudáem597a.C.Oprofetaencontra-senummomentocríticoemseuministério.EleprecisalidarcomasituaçãodeumpovoquefoidivididopelojuízodoSenhor.NocasodoexíliodoreinonortedeIsrael,amonarquiaacabou por ocasião do exílio em 722 a.C. Mas como deve essa novacircunstância ser interpretada, em que um rei judeu foi deportado para aBabilônia,aopassoqueumreisubstitutocontinuareinandoemJerusalém?34ComoéqueoSenhorvêessesdoisgruposdepessoas,umsofrendooexílio,eooutropermanecendonaterraecontinuandocomaspráticasdeadoraçãodotemploordenadasporDeus?Oquereservaofuturoparaosjudeusqueforamtransportados para o exílio juntamente com o rei Jeoaquim? Como se devecompararseudestinocomaexpectativadaquelesqueforamdeixadosnaterra

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pelosconquistadoresbabilônios?MaisumavezentramemcenaaspalavraschavesdochamadodeJeremias

para definir a questão entre esses dois grupos. Em uma visão memorável,Jeremiasvêdoiscestos,umcontendofigosbons,eooutrocontendofigostãoruins que não podem ser comidos (24.2).Uma vez que esses dois cestos defigossãocomparadosaosdoisgruposdeisraelitas,presume-sequeosfigosruinsrepresentemopovoquesofreuoseverojuízodoexílio,eosfigosbonsrepresentemaquelesqueforamdeixadosnaterra.Masaocontráriodoquesepoderiaesperar,osisraelitasexiladosparaaBabilôniaéquesãoidentificadoscomocestodefigosbons,enquantoosquepermanecemnaterrasãoosfigosestragados(24.5,8).

OempregodaspalavraschavesdochamadodeJeremiasaosexiladosdaBabilônia acentua a diferença entre esses dois grupos. O Senhor avisa que,com respeito ao rei Jeoaquim e aos exilados, Ele vai “edificá-los” e não“derrubá-los”;Elevai“plantá-los”enão“arrancá-los” (24.6b).Elevai fazercomqueretornemparasuaprópriaterra(24.6a).Emvigorosocontraste,oreiZedequiaseosdeixadosnaterraserãobanidosdeumavezportodasdaterradada aos seus pais (24.9,10). Os que ficaram na terra serão expulsos dali,sofrendoojustojuízodoSenhor.

A natureza radical dessa reorientação religiosa para o povo não podepassardespercebida.Porsuagraciosamisericórdia,oSenhorvai“edificar”e“plantar” aqueles que parecem menos dignos. O fato das pessoas exiladasseremasfavorecidasreforçaocarátergraciosodamaneiradeagirdoSenhor.O famoso sermão que Jeremias proferiu no templo tinha exposto a tolicedaquelesquepunhamsuaconfiançanasordenaçõesexternasdafé,mesmoqueas diretrizes a respeito da adoração tivessem vindo da parte do Senhor.“TemplodoSENHOR,templodoSENHOR,templodoSENHORéeste”eraoseucantovazio (7.4).Mas agora averdade anteriormente expressapor Jeremiasassume forma ainda mais dramática. Não são os que ficaram na terra,agarradosaosrituaisdeadoraçãodotemplodeJerusalém,masaquelessoboterrívelcastigodoexílio–énessaspessoasqueresideafuturaesperançadeIsrael.35

Mas por que razão deveria a futura esperança da nação residir, dentretodoopovo,exatamentenacomunidadejáexilada?NãoestãoelesdebaixodoevidentejuízodeDeus,fatocomprovadoporestaremnoexílio?APalavradoSenhor a Jeremias configura claramente a basepara essa diferenciação: “Eulhesdareiumcoraçãocapazdeconhecer-meedesaberqueeusouoSENHORdaAliança.Serãoomeupovo,eeusereioseuDeus,poiselessevoltarãopara

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mim de todo o coração” (24.7 NVI). A prioridade da graça do Senhor étotalmenteevidentenestaexposiçãodoprofeta.Nãoéqueosquesofreramocastigo do exílio primeiro retornarão ao Senhor e então lhes será dado umnovocoração,poiselesnãoteriamnecessidadedadádivadeumnovocoraçãose já tivessem retornado. Pelo contrário, o Senhor tomará a iniciativa emostraráasuagraçaaessepovosemméritoecastigado,concedendo-lhesonovo coração de que tão desesperadamente precisam. Então, comoconsequência,elessevoltarãoparaEle.36

Uma vez mais, exílio e restauração desdobram-se no contexto daspalavraschavesdochamadodeJeremias,masdestavezamensagemavançaumpassomais.Arestauraçãovaisecumprirpormeiodeumanovaaliança,conforme deixa bem claro o fraseado de Jeremias. O Senhor lhes dará umcoraçãoqueoconhece/ama,eelesserãoseupovoeEleseráseuDeus. Essafrase resume a essência do relacionamento pactual deGênesis aApocalipse.Emboraa expressãonovaaliança não apareça nesta passagem ligada com arestauraçãodosexilados,doinícioaofimoconceitoéclaramentecentral.Aexpressãonovaaliança se tornamaisproeminentenapróximapassagemquefazusodaspalavraschavesdochamadodeJeremias.

E.Jeremias31:aprofeciadanovaaliançaA profecia de Jeremias a respeito da nova aliança é geralmente

reconhecida como a mais importante mensagem desse profeta.37 Mas nemsempre se percebe a conexão de Jeremias 31 com o todo damensagem dolivro, pelo fato de encontrar-se como parêntese entre fortes alusões àspalavraschavesdeJeremias.38EssecontextomaisamplodaprofeciadanovaaliançadeJeremiassituaestaseçãonumaestruturaque,deformaembrionária,antecipa o rejuvenescimento não apenas de Judá, mas de todo o universodecaído.

Emdiasfuturos,oSenhorvai“plantar”acasadeIsraeleacasadeJudá:“’Virãodias’, dizoSenhor, ‘emque semeareina comunidadede Israel enacomunidadedeJudáhomenseanimais’” (31.27NVI).AssimcomoElecertavezos“vigiou”para“arrancar”e“despedaçar”,para“derrubar”e“destruir”,assimnofuturoElevai“vigiá-los”para“edificar”e“plantar”(31.28).Essesversículos estão literalmente permeados de palavras extraídas das palavraschavesdochamadodeJeremias.Todososseisverbosoriginaisaparecememum versículo, junto com o duplo uso do verbo vigiar, expressando a visãoinicialdaamendoeira(1.11,12).

O juízo do exílio é inevitável.As palavras dos profetas deDeus a esserespeitocomcertezaserãoexecutadas,porqueoSenhorestá“vigiando”asua

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Palavra. Mas depois do arrancar virá o plantar novamente. O fato desse“plantar”incluira“sementedehomensedeanimais”sugereapossibilidadedeum novo começo cósmico. Não apenas Israel, mas omundo todo assumiráformadiferente.

Mas que tipo de esperança poderia ter o povo quando Deus haviaanunciadodeformatãoclarasuaintençãodeconduzirparaforadasuaterraumanaçãorebelde?Seadesobediênciajáoshaviaarruinadoumavez,oquehaveriadeimpedirarepetiçãodessamesmatragédia?39Jeremiasexplicaque,assimcomotodaahistóriadaredençãotinhasidoconstruídanopassadopelasalianças da graça, assim as futuras expectativas do povo de Deus sefundamentariam no estabelecimento de uma nova aliança com maioresmanifestaçõesdagraça(31.31-34).

Mesmo enquanto a nação cambaleia à beira da devastação, essa novaaliançaconcedeumaesperançafuturaaIsraeleincluipontosdecontinuidadedostratospactuaispassadosbemcomopontosderadicalnovidade.40ATorádoSenhorestaráemvigor;masagoraestaleideveserinscritanocoraçãodopovo de Deus em vez de estar em frias tábuas de pedra. Os pecados serãoremovidos,massemorepetidooferecimentodesacrifícios.Oconhecimentodo Senhor será a essência da relação da nova aliança, mas não serãonecessáriosmestresqueinculquemesseconhecimento.

Ocritériodocumprimentofinaldaprofeciaarespeitodarestauraçãodeacordocomasprovisõesdessanovaaliançanãoéosimplesretornofísicodopovo judeu ao território geográfico da Palestina, assim como o que temacontecidonasegundametadedoséculoXX.Essetipoderetornosecumpriunofinaldos70anosmarcadosporJeremias.Massomenteorejuvenescimentodocoraçãojuntamentecomarestauraçãodetodaaterrapormeiodoreplantiodasementedohomemedosanimaispodecumprirasexpectativasdaprofeciadanovaaliança(31.27,33,34).

Ao mesmo tempo, essa expectação da nova aliança em Jeremias seexpressa da única forma em que pode ser apresentada sob as formassimbólicas da era da antiga aliança. De acordo com as palavras chaves deJeremias,acidadedeJerusalémserá“edificada”paraoSenhor“desdeatorrede Hananeel até a porta da Esquina” (31.38 NVI). Mesmo os lugares antescorrompidos por meio de cadáveres “serão santos aoSENHOR da Aliança”(31.40a,b).Nesseestadorenovado,acidade jamaisseráoutravez“arrasada”ou“destruída”(31.40c).

Adespeitodaformadaantigaaliança,emqueestaprofeciaseexpressa,essanovaaliançarompeoslaçosdaantigaaliançanaprogressãodahistóriadaredençãoexecutandoumauniãovitalcomDeusatravésdaobradoEspírito

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SantocombasenaobraredentoradeJesusCristo(Lc22.20;Hb8.7-13).Dessaperspectiva,épossívelpercebero impacto formadordanovaaliançaatravésdetodaahistóriahumanadesdeaépocadeJesus.Nãoépormeiodoseventosque ocorrem numa simples entidade geopolítica do globo durante ummomento histórico que se cumpre a nova aliança. Em todos os estágios dahistória humana, esse compromisso radicalmente novo do Senhor na novaaliança efetuou uma restauração que configurou e continua configurando asorigensedestinosdospovosedasnaçõesdomundo.

F.Jeremias42:umapalavraaoremanescentequesobreviveMesmodepoisdosbabilôniosdevastaremJudáeJerusalémem587a.C.,

as palavras chaves de Jeremias a respeito de “arrancar” e “plantar” naçõescontinuammoldandoocursodahistória.EmJeremias42,os remanescentesquesobreviveramàsdevastaçõesdosbabilôniossuplicamaJeremiasquelhesdêorientaçãodapartedoSenhor.UmhomemchamadoIsmael,umrenegadode sangue real, tinha assassinado o governador que o rei babilônio tinhaestabelecidosobreJudáetambémaumgrupodesoldadosbabilônios(41.1-3).Seráqueos remanescentes judeusdeveriamarriscar-secontinuandona terra,ou deveriam fugir para o Egito, evitando assim a punição vingativa dosbabilônios?

Dezdiasdepois,JeremiasretornacomarespostadapartedoSenhor.Suarespostaécompostaemlinguagemqueagora jáeraconhecidadopovo:“Sevocês permaneceremnesta terra,Eu vou ‘edificá-los’ e não ‘despedaçá-los’;Eu vou ‘plantá-los’ e não ‘arrancá-los’” (42.10). Uma vez mais, a sorte dopovoélançadanalinguagemdochamadooriginaldeJeremias.Emboraesteremanescentequehaviasobrevividoàsdevastaçõesbabilôniasmalpudesseserchamado de nação ou reino, as palavras deste profeta às nações ainda seaplicavam.OpróprioSenhorvaiedificá-losenãodespedaçá-los,plantá-losenãoarrancá-los.

Já se haviam passado mais de 40 anos desde a comissão original deJeremias. Mas o mesmo fraseado que modelara seu chamado como jovemdefineamensagemqueeletrazlogoantesdeserforçadoporessesrebeldesadeixaraterraeparticipardoexílioqueelesimpuseramasimesmos.Doinícioao fim desse período, os momentos mais cruciais do seu ministério oencontraramecoandoasmesmaspalavraschavesqueohaviamconduzidoaoofíciodeprofeta.

G.Jeremias45:Baruqueea“sagadorolo”APalavradoSenhor emJeremias45édirigidaaBaruque, escrivãode

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Jeremias, porém ela se reporta a um dos momentos mais importantesregistradosnolivrodeJeremias.Esseincidentedramáticopodeserchamadode“sagadorolo”(Jr36).NoquartoanodoreinodeJeoaquim,reideJudá,oSenhorordenaaJeremiasqueescrevatodasassuaspalavrasproféticasdesdeoseuchamadoinicial23anosantes.Foiem605a.C.querecebeuessaordemderegistrarsuasprofecias,mesmoanoemqueosbabilôniosderrotaramemCarquemis as forças combinadasdoEgito edeumaAssíria enfraquecida.Apartirdessemomentocrítico,emlugardaAssíriaoudoEgitoeraaBabilôniaquepassariaadominarocenáriodaterradaBíbliaatéqueJudáfosselevadoao exílio em 587 a.C.A única esperança restante para Judá era um genuínoarrependimento por toda a nação, que pudesse ser levado em conta peloSenhor.

A apresentação pública dessa coleção de declarações proféticas deJeremiassurgiumaisoumenosumanodepoisdetersidoescrita,numtempoemqueJudátinhasidoconvocadoaumjejumnacional(36.6,9).41PelofatodeJeremias estar aparentemente “proibido” de entrar na área do templo, seuescrivão Baruque foi encarregado da tarefa de ler publicamente 23 longosanosderegistrodasmensagensproféticasdeJeremias(Jr36.5,6).

A reação inicial das autoridades às profecias de Jeremias deve ter sidomuito animadora para Baruque. Depois dele terminar a leitura, as pessoas“entreolharam-se com medo” e concluíram que o próprio rei Jeoaquimprecisavaouviressaspalavras(36.16NVI).Mas,conhecendoasinclinaçõesdorei,osoficiaisorientaramBaruqueeJeremiasaseesconderem.

Orolo,agora,adquirevidaprópria.Eleécolocadonumasalaespecialatéqueoreisejainformadodasuaexistência.Depois,então,étrazidoàpresençadoreieseusatendentesnopalácioreal.Pelofatodeserinverno,oreiestáseaquentando diante de um braseiro aceso. Àmedida que cada nova seção doroloélida,oreicortaváriascolunascomsuafacaeasjoganofogo,atéquetodo o rolo seja consumido. Depois, ele dá ordens para prender Baruque eJeremias(36.26).Mas,comooSenhorostinhaescondido,elesescapamilesos.

Ébemprovávelque,emrespostaaodesesperodeBaruquequandoprevêareaçãonegativadoreiàprofeciaescritadeJeremias,apalavraproféticadoSenhor tenha vindo especificamente paraBaruque.Em sua agonia, ele haviaexclamado: “Ai de mim! O Senhor acrescentou tristeza ao meu sofrimento.Estouexaustodetantogemer,enãoencontrodescanso”(45.3NVI).AgoraaspalavraschavesdochamadodeJeremiassãointroduzidasoutravez.OSenhordizaBaruque:“Euvou‘destruir ’aquiloque‘edifiquei’e‘arrancar ’aquiloque‘plantei’emtodaesta terra”(45.4).OSenhorestánoprocessodearrancaranaçãoqueElemesmoedificoudurante1.500anosdesdeotempodeAbraão.

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Estão ocorrendo eventos cataclísmicos que levarão à extinção do povo deDeuscomonação.PormeiodaderrotadasforçascombinadasdoEgitoedaAssíria emCarquemis, aBabilônia agora tem livre acesso à santa cidadedeJerusalém.Dentrode20anos,nãomaisexistiráanaçãodeJudá.

SeriaagoraahoradeBaruqueprocurar“grandescoisas”parasimesmo?O Senhor adverte: “Não as procures” (45.5a). Não se sabe o suficiente arespeito de Baruque para determinar a exata natureza das coisas que elepoderiaestarbuscando.42Comopessoabeminstruída,deposiçãoproeminentecomo escrivão de Jeremias, seria bem natural que ele esperasse algumreconhecimento público por seu fiel serviço ao profeta. Talvez ele atéabrigasse alguma esperança de que, quando entregasse toda amensagem deJeremias ao povo, ele fosse compelido ao arrependimento, e a nação fossesalva.Ou talvez ele fosse umhomemmaismodesto, simplesmente anelandoumaformadepazequietudeemcontrastecomsuavidadefugitivodorei.

Em resposta à sua lamentação, o Senhor repreende Baruque para quefique contente por escapar com vida (45.5). Quando nações inteiras estãosendodesalojadasemtodolugaraoseuredor,oquemaispoderiaeleesperar?A Palavra de Deus sobre plantar e arrancar, edificar e derrubar tinha sidoemitidaemdireçãoàsnações.Comoindivíduo,Baruquenãodeveriaesperarmaisdoquesobreviver,comooSenhorhaviaprometido.

H.ConclusãoDo início ao fim, os momentos críticos do livro de Jeremias se

concentramnaspalavraschavesqueoriginalmentedescreveramseuchamadoe comissão. O livro todo possui uma unidade no meio dos seus diferenteselementosmedianteousodessasseispalavraschaves.Pelofatodessegrupodepalavraspersonificara ideiadoexílioedarestauraçãoparaasnações,essasmesmasideiasprecisamservistascomocentraisnamensagemdolivro.43

Emsuma, todos os profetas de Judá anteriores ao exílio, do séculoVIIa.C., exerceram seu ministério sob a opressiva sombra dos superpoderesinternacionais.Cientesdoquehaviaacontecidoao reinonortede Israel,elesencararam as realidades vindouras da inevitável devastação. Nesse contexto,elespuseramaesperançamaisnapessoadopróprioDeusdoquenaesperançade um Messias vindouro. Somente Ele era capaz de fazer esses poderososimpériosseajoelharem.SomenteElepoderiapreservarumremanescentefielno meio das calamidades vindouras. Somente Ele poderia plantar um novoespíritonocoraçãodaspessoas, trazê-lasdevoltaà sua terra, e restabelecerumreieumreinoquerefletissemajustiçadoSenhor.

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1Malamat (“Exile”, 1035) diz: “Não obstante as várias lendas inventadas a respeito do exílio daschamadas ‘Dez Tribos Perdidas’, não existe informação segura a respeito do destino dos exiladosisraelitasnaMesopotâmiaduranteoImpérioAssírioouemtemposposteriores.SomenteumaspoucasalusõesnaBíbliaeemfontesepigráficasdãotestemunhodasuaexistência.Arespeitodessasúltimasfontes, é de especial importância a evidência onomástica daMesopotâmia contida em documentosassíriosdatadosdofinaldosséculosVIIIeVII,umavezqueapresentanomesque,pelaBíblia,sesabe ser israelitas”. Mas o próprio Malamat aponta as limitações associadas com o critério dosnomes: “Contudo, com a exceção dos nomes pessoais compostos com o elemento teofórico yau(Yhwh),nãoésempreevidentequeserefiraaisraelitasexilados,jáquesãonomessemitascomunsdonoroeste,etambémpodemdesignartantofenícioscomoarameus”.AmesmaadvertênciaéfeitaporOdedemumminuciosoestudodasdeportaçõesemmassadoImpérioNeo-Assírio:“Ousodocritérioonomásticoemqualquerinvestigaçãodedeportaçõesecomunidadesdedeportadosétambémcheiode dificuldades que necessitam de abordagem cautelosa e uma consciência das limitações dessemétodo...Nemsempreépossíveldeterminaraorigemdeumapessoaatravésdoseunome,umavezque existem muitos elementos comuns no estoque de nomes dos povos semíticos” (MassDeportations and Deportees, 12). Malamat faz outro comentário: “O fato de grande parte dosdescendentesdosexiladosisraelitasterlançadoraízesnasociedademesopotâmicaresultouque,comopassar do tempo, eles foramabsorvidos pelo ambiente estrangeiro” (“Exile”, 1036).Ele justificaessa conclusão apontando que parte da comunidade israelita “sem dúvida preservou seu caráternacionalpeculiarepreservouligaçõescomsuaterranatal(2Rs17.28),maistardeunindo-secomosexilados de Judá”. Além disso, ele afirma que o retorno a Sião “aparentemente” incluiuremanescentesdasdeztribos,aquefazemalusãoEzequiel37.16-22;Esdras2.2eNeemias7.7.Masos textos citados por Malamat não fornecem prova adequada a respeito de uma identidadepermanentedasdeztribosdoreinodonorte.

2Silverman (“British Israelites”,1382).Silvermanapontaqueoprimeiromanifesto inglêspró-israelitafoipublicadoem1649porummembrodoParlamento,opuritanoJohnSadler,autordeRightsoftheKingdom.Eletambémchamaaatençãoparaumlivrobest-sellerdeautoriadeEdwardHine,Forty-sevenIdentificationsoftheBritishNationwiththeLostTenTribesofIsrael(1871).

3Rabinowitz(“TenLostTribes”,1006).RabinowitzcitaocasodealguémqueviajouàAméricadoSulem1644erelatoutersedeparadocomíndiosqueocumprimentaramrecitandooShemá.

4 Ibid.,1003.Essaconclusão recebeconfirmaçãoparcialno fatoqueo termoJew, que geralmente éconsideradocomoabrangendotodasastribosdeIsrael,naverdadetemsuaraiznapalavraJudahite,quefazreferênciaàtribodeJudá.QuandoapalavraJewaparecenaBíbliainglesa,sejanoAntigoounoNovoTestamento,elasempreétraduçãodapalavraJudahite.OsdescendentesdatribodeLevitalvezmantenham sua identidade por causa da sua função como sacerdotes em Jerusalém.AlgunsremanescentesdatribodeBenjamimtalvezconservemsuaidentidadeporcausadaligaçãoterritorialcomJudá.Mas,naprática,nadasesabearespeitodasrestantesdeztribosdonorte.

5VejaRobertson(IsraelofGod,38-46).

6VejaWiseman,ChroniclesoftheChaldaeanKings,16,17.7ArespeitodasdatasdaquedadeNo-ammoneaconquistadeNínive,vejaBright(HistoryofIsrael,311,316);eYoung(Introduction to theOldTestament, 270).Para auxílio a respeitodeumaépocaanterior dentro do período de 644-612 a.C., veja Roberts (Nahum, Habakkuk and Zephaniah,38,39).

8Roberts(Nahum,HabakkukandZephaniah, 81) caracterizaHabacuque como “diferente do típicolivroprofético”pelofatodosoráculospareceremum“argumentocoerente,desenvolvidodeformasequencial,queseestendedoinícioaofimdolivro”.

9AlgunstentamidentificarosKasdimcomumpovodiferentedobabilônico,mascompoucosucesso.Paraoutrasopções,vejaRobertson(Nahum,Habakkuk,andZephaniah,34).

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10 Este ousado diálogo com o Todo-Poderoso se destaca como um aspecto distintivo da funçãoproféticadeHabacuque.BakerdescreveHabacuquecomoumprofetaque“pediuqueDeusprestassecontas quando suas ações pareciam não corresponder às exigidas pela aliança”. Ele ressalta asingularidadedesseprofetacontrastandosuasaçõescomapráticadosprofetasemgeral:“Asituaçãodosprofetaserabastanteperigosaquandoconfrontavamseupovo,massãopoucososindivíduosquesecolocamemriscoconfrontandoseuDeus”(Nahum,Habakkuk,andZephaniah,43).

11A traduçãodaNVI– “que resposta terei àminhaqueixa” – é brandademais para as palavras doprofeta. Habacuque, na verdade, está dizendo que já está pronto para replicar ao Todo-Poderosoantesquevenhaasuarepreensão.

12Roberts (Nahum, Habakkuk and Zephaniah, 81), embora fornecendo um excelente resumo daprogressão do argumento do livro, falha em identificar a mensagem chave do profeta com aspalavrascruciaisdeHabacuque2.4.Emvezdisso,eleolhaparaavisão/teofaniadeHabacuque3.

13Paraumaanálisemaisplenadestafrasecrucial tantonocontextodaantigacomodanovaaliança,vejaRobertson(Nahum,Habakkuk,andZephaniah,174-182.

14Roberts (Nahum, Habakkuk, and Zephaniah, 85), de forma apropriada, relaciona a abrangentemensagem deHabacuque com a experiência do cristão de hoje: “A vida do cristão se desenvolvedepoisdavitóriadeDeussobreomalnamorteeressurreiçãodeJesus,eantesdasuavitóriafinalnasegundavindaedaressurreiçãogeral.Porisso,nãoéporacasoqueHabacuque2.4tenhasetornadoumtexto-chavenadescriçãodoestilodevidaescatológicodocristão”.

15Parailustraçõesdosparalelos,vejaRobertson(Nahum,Habakkuk,andZephaniah,254,255).16NãoparecehaverboarazãoparaatribuiressesparaleloscomolivrodeDeuteronômioaumeditorposterior. Por que não pode o profeta, em cujo cenário ele mesmo se encontra, ser visto como apessoa certa a fazer aplicação concreta do livro da lei redescoberto aos seus contemporâneos?Adespeito de várias percepçõesúteis,Achtemeier parece inconsistente quandoduvidadagenuinidadedotexto.Porumlado,elaaponta“umainteirezaorgânicaarespeitodolivro,queargumentacontrasua disposição geral feita por um editor”.Mas então ela conclui que Sofonias 3.18-20 “representaposterioresatualizaçõesdeuteronômicasdaobra”(Nahum-Malachi,62).

17Ocaráterintransitivodoverboharashfavoreceatradução“ficaráquieto”maisdoqueatradução“atranquilizará”daNVI,cf.Robertson(Nahum,Habakkuk,andZephaniah,340).

18 Embora seja possível identificar esses adoradores além dos rios da Etiópia como israelitas deregresso,ocontextosugerequesãopovosdenaçõesestrangeirasquesetornarampovodoSenhor.

19Bright,Jeremiah,ci.20Ibid.

21NãohárazãoconvincenteparaquestionaressadeclaraçãoinicialarespeitodaépocadochamadodeJeremias,eapesardissoesseassuntoégeralmenteconsideradocomoumdosmaiscontroversosemrelação a este livro. Perdue (“Jeremiah in Modern Research”, 1) registra a data do chamado deJeremias entre os assuntos chaves das atuais discussões. Mas ele afirma que, se fizermos umaabordagemteológicadaquestão,aconclusãoaquesechegacomrespeitoaesseassuntotempoucaimportância (4). Hyatt (“Jeremiah and Deuteronomy”, 114) afirma que Jeremias não começou suaobraproféticaatéquaseumadécadadepoisdas reformasde Josiasem621a.C.Eleconcluiqueoprofetanaverdadeseopôsàsreformaspromovidaspelateologiadeuteronomista.Masafirmaqueolivro,conformeagorasurge,foisubmetidoamaiorediçãodeuteronomista,deformaqueparecequeJeremias encarou combonsolhosomovimentode reforma.Emsuas conclusões finais referentes àatualsituaçãodasdiscussõessobreolivrodeJeremias,Perduepondera:“Amaiorfrustração,éclaro,é o reconhecimento de que nenhum consenso dominante emergiu com respeito a qualquer dosassuntosdiscutidos”(31).

22Bright(Jeremiah,lx)registraqueBernhardDuhmfoiquemdeuinícioaessaanálisedomaterialem

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Jeremias.Paraumtratamentomaisabrangentedoassunto,vejaSeitz(TheologyinConflict,1n.1).

23OconteúdodomaterialnarrativodolivroémuitasvezesvistocomocontrárioàteologiadasseçõespoéticaseporessarazãonãoéatribuídoaJeremias.VejaoscomentárioscomrespeitoàsconclusõesdeDuhmeMowinckelemHobbs(“CompositionandStructure”,179).

24Calvino(JeremiahandtheLamentations,37)observaqueasprofeciasdeJeremiasincluíamtodasasnaçõesqueestavam“pertoequeeramconhecidasdosjudeus”.

25Thompson(Jeremiah,148)diz:“Provavelmente,nenhumaoutradescriçãodechamadoproféticonoAntigoTestamentosepareçatantocomDeuteronômio18.18”.

26Existemamplasdiscussõesarespeitodaidentidadedesseinimigovindodonorte.Perdue(“JeremiahinModernResearch”,6-10)reconhecetrêspontosdevista:(1)ohistórico,emqueoinimigopodesertanto os citas como os babilônios; (2) omitológico-escatológico, e (3) o fluido, em que o inimigoaparece primeiro como histórico nas passagens genuínas de Jeremias, mas depois desenvolve umcaráter trans-histórico, apocalíptico, nas seções posteriores do livro. Esta terceira alternativarepresenta a visão de Childs (“Enemy from the North”). Ele (161) desenvolve uma bem cuidadaprogressãodotempoanterioraoexílio(emqueo inimigodonorteseencontranoplanodahistóriahumana)aotempoinicialdoexílio(emqueoinimigoassumecaracterísticassobre-humanasdescritasem linguagem associada aomito do caos) até o tempo final do exílio e posterior a ele (emque oinimigo invariavelmente surge com “o grande estremecimento” da fusão dessas duas tradições).ChildssóchegaaessarequintadaprogressãoporrelegaràépocadoexíliooudepoisdelepassagensdegrandiosoestremecimentocomoIsaías13e14,Jeremias50e51(masnão46-49)eJoel2e3.Ele também precisa supor que as referências ao estremecimento do mundo anteveem umacontecimento mítico em vez de um real acontecimento que ocorre no tempo e no espaço. Umaanálise mais equilibrada, embora menos espetacular, do “inimigo do norte” se encontra em Bright(Jeremiah, 7), que observa que a identidade do adversário é “deixada sem definição” no primeirocapítulodolivro,masdepoisclaramenteidentificadacomosbabilônios.Umcataclísmicoelementoescatológico parece ser um aspecto da perspectiva profética a respeito desse inimigo que vem donorte.

27 “Não há dúvida de que... a associação de palavras nos dois versículos é a de uma verdadeiraetimologia,nãodeumaetimologiapopularousimplesjogodepalavras”(Holladay,Jeremiah,1.37).

28Ocaráteronipresentedoconceitoda“Palavra”emJeremiassevênofatodaraizaparecermaisde300vezesnolivro.

29 Para uma bibliografia de discussões sobre a função dessas palavras chaves em Jeremias, vejaHermann(“OvercomingtheIsraeliteCrisis”,301n.4).

30Adurezadessaspalavrasdejuízopareceexcluirtodaesperançaquantoaofuturo.Maspronunciarojuízoeraaúnicacoisaquepodiadaresperança.Brightdiz:“ÉprecisamentepelofatodamensagemdeJeremiasserumamensagemdejuízoqueelaeraumamensagemsalvadora.Poracabardeformabrutacomafalsaesperança,pordeclararotempotodoqueosacontecimentostrágicoseramobradeYahweh,seu justo juízosobreanaçãoporcausadopecadodela,Jeremiasporassimdizerpuxouacalamidade nacional para dentro da estrutura da fé, e dessa forma evitou que ela destruísse a fé”(Jeremiah,cxiv).

31 Quando traduz a palavra como “serão estabelecidos” em vez de “serão edificados”, a NVIobscureceaconexãocomaspalavraschavesdochamadodeJeremias.

32Drinkarddizoseguinte:“Deváriasmaneiras,oscapítulos18a20estãoliterariamenteconectados.Quanto ao assunto, o tema do oleiro como a base damensagem do capítulo 18 está intimamenteligadoàbotijadeoleiroqueservedecentrotemáticodocapítulo19.Essesdoistemassãosimilarese ao mesmo tempo contrastantes. No capítulo 18, o vaso é refeito de acordo com a vontade dooleiro.Mas, no capítulo 19, o vaso é destruído. Enquantomantiver suas propriedades plásticas, obarrocomfacilidadepodeserremodeladoeajustado;porémumavezqueimado,elesetornarígidoe

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quebradiço. Ele não pode mais ser transformado conforme a vontade do oleiro, mas pode serdestruídopelamãodoseudono!”(emCraigie,Kelley,eDrinkard,Jeremiah,240).

33Oscomentaristasdiferemquantoà relaçãodeJeremias18e19comestacitaçãoemMateus.Paraver as opções que existem, veja Hagner,Matthew, 2.814,815. A solução do problema está nosprincípios da metodologia da fusão de textos e na supremacia contextual como aspectospredominantes das citações do Antigo Testamento encontradas no Novo Testamento. É comum oNovo Testamento fundir duas ou mais passagens do Antigo Testamento em uma única citação. Ocontexto tanto da fonte doAntigoTestamento comoda citaçãodoNovoTestamento émuitomaisdeterminantedoqueumarepresentaçãoliteraldaspalavras.

34Seitz(TheologyinConflict,4 ,5,30,100,101)apresentaumargumentoconvincenteporveroexíliode597a.C.comosendomuitomaisimportantedoqueemgeralseentende.

35VejaClements(Jeremiah,145-149).36 Kidner (Message of Jeremiah, 93) diz o seguinte: “Apesar dos pensamentos dos homens seconcentrarem na política, no patriotismo e na desconcertante distribuição do sofrimento, Deus falasobreterenviadoosexiladosparaaCaldeia(5),edeconsiderá-loscomobons(5),nãoporcausadosseusméritos,masporaquiloqueoNovoTestamentochamariadesuagraça–ouseja,dobemqueEleplanejavafazerporeles(6),e,acimadetudo,dentrodeles(7)”(ênfasenooriginal).

37Bright(Jeremiah,287)refere-seàpassagemdanovaaliançacomo“merecidamentefamosa”,como“oaugedateologia[deJeremias]”,ecomo“umadaspassagensmaisprofundasemaiscomoventesdetodaaBíblia”.

38Porcausadessa falhaemveraposição integradadaprofeciadanovaaliançaem todoo livrodeJeremias,agenuinidadedasuaprofeciamuitasvezesénegada.MasBrightdiz:“Comrespeitoàsuaautenticidade,sópodemosdizerquenãodeverianuncaserquestionada”(ibid.).

39Clements,Jeremiah,190.40ParaumadiscussãomaiscompletaarespeitodoexatorelacionamentodanovaaliançadeJeremiascomasaliançasestabelecidasantesdo tempodele,vejaRobertson(ChristoftheCovenants, 280-286).

41Bright(Jeremiah,ci)dizquea leiturapúblicadessepergaminhodasprofeciasdeJeremiasocorreu“talvezmaisdeumanodepois”.

42Vejaibid.,185parainteressantessugestõescomrespeitoàspossíveisaspiraçõesdeBaruque.

43AlgumaspessoastalvezsugiramqueestaunidadeestruturaltenhasidoimpostaadiversosconteúdosdolivrodeJeremiasporalgumeditorposterior.Masparecemaisapropriadoconsiderarestesegmentounificadocomocriaçãodopróprioprofeta.Foielequemrecebeudeformatãovigorosanessestermoso chamado inicial ao ofício profético. Foi ele mesmo quem passou por todas essas diferentesexperiências.FoielequemditouaseuescrivãoBaruqueaquiloquecomfrequênciaéconsideradoamaiorpartedosprimeiros20capítulosdo livro.Émaisprovávelque tenhasidoopróprioJeremiasquem compôs o registro das suas profecias, usando as mesmas palavras chaves do seu chamadoinicialparaestabelecerumaperspectivaunificadoraemtodooseuministério.

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OPROFETISMO DURANTE O EXÍLIO DA

NAÇÃO : EZEQUIEL

AREAÇÃODOPROFETISMOaoexíliodeIsraelcomeçouquando,em722a.C.,oreino do norte foi levado ao cativeiro pela Assíria. Oseias, Amós, Isaías eMiqueiastodosanteciparamatristeexperiênciadadevastaçãodoreinodasdeztriboseinteragiramcomela.Masnãoháevidênciadequealgumprofetatenhasido levantadopeloSenhorparavivernomeiodosexiladosnaAssíriaparadeclarar-lhes a sua Palavra. Naum anunciou o futuro colapso da cidade deNínive,eoSenhorrevelouaHabacuqueosurgimentodoImpérioBabilônio,queserviriacomoinstrumentodeDeusparaexercerjuízosobreaAssíria.Masesses profetas atuaram numa localidade bem afastada de onde estavamespalhadososcativosportodooImpérioAssírio.

MasasituaçãofoimuitodiferentenocasodoexíliodoreinosuldeJudá.OscativosforamlevadosparaaBabilôniacomoconsequênciadasincursõesdeNabucodonosornaPalestinaduranteoreinadodeJeoaquim,deJoaquimede Zedequias, os três últimos reis de Judá. As primeiras deportaçõesocorreramem605a.C.,seguidasdeoutrosemaisamploscativeirosem597e587 a.C.1 Desde os primeiros momentos do exílio de Judá, o centro daatividadeproféticacomeçouasofrerumadramáticamudança.NãoemIsrael,aterradopovodeDeus,masnaBabilônia,aterradosqueconquistaramIsrael,viria a Palavra do Senhor por meio dos profetas. Jeremias tivera umministério profético limitado no Egito, devido ao exílio a que os israelitasfugitivososubmeteram(Jr43.4-13).MasfoinaBabilônia,onovosoberanodanação,queEzequieleDanielcumpriramaprogressivafunçãodelevaraopovoamensagemdoSENHORdaAliança.

AoanalisarestanovafasedoministériodosprofetasdeIsrael,devemosprimeiramente observar a condição do povo durante o seu exílio. Depois,precisamosconsideraramensagemdistintivadosprofetasdoexílio.

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I.Acondiçãodopovoduranteseuexílio

A.EscassosindíciosdosexiladosDeacordocomBright,decifrarahistóriadopovoisraelitanoperíododo

exílio é “extremamente difícil”: “Nossas fontes bíblicas são, na melhor dashipóteses, inadequadas. A respeito do exílio em si, a Bíblia não nos dizabsolutamentenada,anãoseraquiloquesepodeaprenderindiretamentedosescritos proféticos e de outros escritos daquele tempo”.2 Westermannconcorda com essa avaliação da evidência disponível, observando que “onossoconhecimentodeJudáduranteoperíododoexílioedodestinodaquelesque foram levados para a Babilônia, é escasso e incerto”.3 Em especial, aspráticasdecultodanaçãoeopapelqueosprofetaspodemterexercidonessecontexto estrangeiro, estão completamente ausentes. Childs indica que “faltainformação”paramontarumaconcepçãoclaradaadoraçãojudaicaduranteocativeirodeIsrael.4 Seráqueoexíliobabilônicofoiaépocaemquesurgiuosistema da sinagoga?De acordo comAckroyd, uma resposta realista a essapergunta é: “algo sem fundamento claro”.5 Será que as práticas rituais dacircuncisão e da observação do Shabbath se tornaram mais proeminentesnessesdias?Emboramuitoseruditospressuponhamessedesenvolvimento,asevidênciasdisponíveisnãofornecemumarespostaexataàquestão.6Estariaopovo planejando construir um novo templo na terra para onde tinham sidoexilados? Indicaria a reunião dos anciãos diante de Ezequiel uma práticaregulardereunir-separaadorar?Respostasaessasperguntasnãosurgemnemde evidência arqueológica nem de fontes bíblicas. Em alguns aspectos, operíodoexílicodahistóriadeIsraelpodesercomparadoaumburaconegro,umaeraarespeitodaqualmuitopoucosepodeconhecer.7

Mas, com base na comum prática de deportação de pessoas noOrienteMédioduranteos séculosVIII aVIa.C.,pode-se teruma ideiageraldavidadosisraelitasdeportados.EssadescriçãobásicadavidadaspessoasnoexíliopodeajudarnoentendimentoeapreciaçãodoministériodosprofetasdoexíliodeIsrael.

B.AexperiênciadosdeportadosQuanto ao número das pessoas envolvidas nas deportações, é preciso

levaremcontaapossibilidadedeexageroedenúmerosquerepresentemtotaiscombinados de diversas operações militares. Mas nenhuma evidênciadisponível contradiz os registros existentes.Mesmo assumindo a imprecisãodosnúmeros,é impressionanteaquantidadedosdeportados.Certaestimativa

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indica um total de 4,5 milhões de pessoas deportadas pelo Império Assírioduranteumperíododemaisoumenos três séculos.8 Senaqueribe, ao relatarsua campanhamilitar contra o rei Ezequias de Judá em 701 a.C., indica emumainscriçãoquedeportou“duzentasmil,centoecinquentapessoas,jovensevelhos,homensemulheres”.9

Noprocesso da deportação, emviagens de centenas de quilômetros, oscativoseramsupridosdecomidaeágua.Aparentemente,apenasosoficiaisdopaíscativotinhamasmãoseospésacorrentados.10Normalmente,asfamíliaseramdeportadasemconjunto,poisacreditavamqueestariammenosinclinadasa fugir e seriammaisprodutivas.11As crianças pequenasmuitas vezes eramcarregadas nas costas dos pais.Mesmo comunidades inteiras erammantidasjuntas e recolocadascomo“pequenosgruposhomogêneos,quantoaos laçosdesangue,religiãoecultura”.12Mas,comaintençãodemanterdominadososcativos,osassírioscomfrequênciaestabeleciamdepropósitogentederegiõesmontanhosasemregiõescosteirasevice-versa.

Pormeio das deportações, os assírios pretendiam reduzir aomínimo apossibilidade de insurreições. Alguns deportados tornaram-se conscritos doexércitoassírio.Algunssetornavamcocheirosdecarruagensecavalarianos,enquantooutrospassavamapertenceracompanhiasdearqueiroseescudeiros.Alguns chegavam até a servir como guardas pessoais do rei. Outros eramempregados como artesãos e trabalhadores sem qualificação profissional.13Aindaoutroseramusadospararepovoarregiõesabandonadasoudesoladas.14Documentos jurídicos e deEstado indicamque “muitos estrangeiros, algunsdelesdeportadosouseusdescendentes,serviramcomooficiaisnacortereal,na capital, na própriaAssíria e nas províncias”.15 Também há registros queindicam que alguns cativos foram consagrados ao serviço dos templosassírios.16

Certaevidênciaindicaquenãosefazianenhumadistinçãosocialoulegalentre os deportados e os habitantes nativos do mesmo país. Ambos eramtaxados na mesma base e aos olhos dos governantes assírios eram iguaisperante a lei.17Mas outra evidência indica que alguns cativos eram tratadoscomodespojodeguerraeeramforçadosatarefasqueexigiamdurotrabalhomanual.Algumaspessoasnãoeramlivres,comoéatestadopeloscontratosdevenda que incluíam as pessoas que viviam na terra juntamente com apropriedade.18ConformeobservaOded:“ostatussocioeconômicoelegaldosdeportados não era uniforme e suas condições não eram idênticas”.19 Seustatusdiferiagrandemente,assimcomodiferiamsuasocupaçõesecondiçõesespecíficas.

Foi a esse grupo de pessoas derrotadas, dispersas e deslocadas que os

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profetas do exílio foram enviados.20 Em acréscimo ao seu geral estado deconfusão, os cativos israelitas tinham de viver com a mensagem dos seusprofetas anteriores bem como com sua lei mais antiga tinindo em seusouvidos. A lei pactual estabelecida por meio de Moisés tinha claramenteanunciadoque,seelespersistissememseupecado,oSENHORdaAliançanãosomenteiriacastigá-los,Eleostirariadasuaterra(Lv26.14-45;Dt28.15-68).Eles seriam “completamente eliminados da terra” (Dt 4.25,26).OSenhor osespalharianomeiodospovos(Dt4.27,28).NodiscursodedespedidadeJosué,ele advertiu que, se eles adotassem as práticas das nações vizinhas, eleshaveriamdedesaparecerdaboaterraqueoSenhorlheshaviadado(Js23.13NVI).Osprofetasrepetidamenteosalertaramarespeitodomesmodestinoqueos aguardava se continuassem em seu pecado (2 Rs 17.13).Mesmo entre oprimeiroexíliomaiordeJudáem597a.C.esuaexpulsãofinalem587a.C.,oprofetaEzequieloshaviaalertado.OSenhorostraria“aodesertodospovos”assim como Ele havia trazido seus pais ao “deserto da terra do Egito” (Ez20.35,36ARA).Nessedesertodejuízoscorretivos,muitosdeleshaveriamdeperecer,longedasuaamadaterranatal.Masoutroshaveriamdesobreviver.

C.AreaçãodosisraelitasaoexílioNo caso da maioria das outras nacionalidades, as pessoas e suas

características desapareceram dos registros da história subsequente. Seusdeuses pereceram juntamente com o povo que os adorava. Mas isso nãoaconteceucomopovodeIsrael,ecertamentenãocomoseuDeus.AsoberanagraçadoSenhorconservousuanaçãocomoumacomunidadepermanente,adespeitodasuadispersãoportodososlados.Comcertezasuascircunstânciasmilitavam contra sua sobrevivência. Bright expressa de forma vívida odesafio:“Comevidênciasderiquezasepoderjamaisimaginadasaoseuredor,comosmagníficostemplosdedeusespagãosportodolado,deveterpassadopelamentedemuitosdelesse,nofinaldascontas,Yahweh,oDeusbenfeitordeuminsignificanteEstadoqueEleparecianãotercondiçõesdeproteger,eradefatoosupremoeúnicoDeus”.21

Humanamente falando, a sobrevivência do seu povo era devida aoministérioeàmensagemdosprofetas, tantoosanterioresaoexíliocomoosdoexílio.Antesdostrágicoseventosdoexílio,anaçãotinhasidodevidamentealertada sobre as consequências de continuar em seus caminhos rebeldes.Quando ocorreu o fato, eles tinham uma “explicação coerente” para suasdesgraças.22Elestambémpossuíamumabaseparaaesperança,queseestendiaparaalémdamaiordevastaçãoquequalquernaçãooupovopoderiasofrer.Adespeitodosjuízosdoexílio,elesaindaeramopovoeleitodeDeus,pormeio

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do qual os propósitos do Senhor para toda a humanidade haveriam de serexecutados. Se as palavras dos seus profetas fossem dignas de confiança, arestauração estaria ali, depois do exílio.Do outro lado do abismo damortepelo banimento da terra estaria a ressurreição pelo retorno para a terra.Mesmoantesdoeventodoexílio,Jeremiastinhacolocadoessaexpectativanaformadeumaconfissãodeféparaanação,paraqueaverdadepudesseestarprofundamenteimpregnadanamenteenocoração:

Vêmdias quando... os homensnãomais vãodizer: “JuropelonomedoSENHOR daAliança, quetrouxe os israelitas doEgito”,mas eles vão dizer: “Juro pelo nome doSENHOR daAliança, quetrouxeos israelitasdonorteede todosospaísesparaondeeleoshaviaexpulsado” (Jr16.14,15NVI;vejatambém23.7,8).

Tornara-seagoraatarefadosprofetasqueviviamentreopovonoexílioreforçareexpandiressasgrandesverdades.Dediversasmaneiras,EzequieleDaniel foram homens especiais que “se puseram na brecha”, que foramcomissionadosparaanunciarcomdestemorocompletocolapsodanaçãocujaderrocadaelesjáestavamcomeçandoaexperimentar.Maselestambémforamchamados para ampliar o horizonte do futuro, demaneira que abrangesse afunçãoservidorapropostaparaestanaçãodesdeseu início,nocumprimentodoprogramamundialderedençãodoseuDeus.

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II.AmensagemespecialdeEzequiel

A.AssuntosintrodutóriosrelacionadosàprofeciadeEzequielOiníciodo livrodeEzequiel forneceuma localizaçãoespecíficaeuma

dupladataçãoparaocomeçodoseuministérioprofético.EleestavaentreosexiladosdeJudáestabelecidosnaBabilôniaemTel-AbibenorioQuebar(1.1).Os primeiros versículos associam a identificação de Ezequiel como umsacerdotee“otrigésimoano”(provavelmenteumareferênciaasuaidade),23oque pode indicar que sua visão de comissionamento da parte deDeus tenhaocorridonomesmoanoemqueele foi incumbidodoofíciosacerdotal (1.1;veja também Nm 4.30 e 8.24). Apesar de ter sido transplantado para solopagão impuro, ele foi favorecido com uma visão espetacular do Deusexaltado.24 É bem provável que em parte fosse por causa do seu ofíciosacerdotal que a mensagem de Ezequiel se concentra no templo e nos seusserviçossacerdotais.

AsegundadataqueaparecenosversículosiniciaisdeEzequieléoquintoanodadeportaçãodoreiJoaquimdeJudá.Emborativessegovernadoapenaspor três meses, o reino de Joaquim foi de grande importância porque elepersonificouopontogenealógicomaisdistantealcançadopelalinhagemrealdo reiDavi. Seu tioZedequias o sucedeu comogovernador em Judápor 11anos,masasesperançasdeIsraelcontinuaramcentradasemJoaquimmesmodepoisqueestefoilevadoparaocativeiro.25Em597a.C.,oreiJeoaquim,naépoca com 18 anos, rendeu-se a Nabucodonosor da Babilônia, que tinhainvadidoJudáesitiavaJerusalém.OmonarcavitoriosolevouparaaBabilôniao rei adolescente, juntamente com a rainhamãe, todas as suas esposas, seusoficiais,e10.000dosprincipaishomensdaterra,bemcomotodosostesourosdeourodotemplo,queSalomãotinhajuntado400anosantes(2Rs24.8-17).

Cincoanosdepois,oquedeve ter sidoem592a.C.,oexiladoEzequielrecebeu sua fantástica visão da glória deDeus (Ez 1.2).Mais oumenos poresse tempo,o reiZedequiasdeJudácometeuseuerro fataldeatrevidamentejuntar-se a outras nações ocidentais em rebelião contra o governodo tiranoNabucodonosor. Émuito provável que os exércitos daBabilônia estivessemmarchando em direção ao oeste para reprimir essa revolta. Desta vez opoderosomonarcanão foi tão indulgente.Eledestruiu totalmente Jerusalém,devastou suas edificações, destruiu o templo e seus objetos sagrados, edemoliu os muros da cidade. Ele convocou à sua presença o rebelde reiZedequias,matouos filhosdesteà suaprópriavistapara reforçara ideiadeque ele não teria sucessores, e então precipitou o rei indefeso emperpétuas

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trevasvazando-lheosolhos(2Rs25.6-21).AsprofeciasdeEzequielgiramemtornodoseventosdoexílio finalde

Israeledaantecipaçãodeumarestauraçãofuturaegloriosa.Masostemasdoexílio e da restauração são desenvolvidos de forma distinta. O exílio éapresentadoespecificamentecomumfoconoafastamentodaglóriadeDeusdotemplodeJerusalém.Arestauraçãochegaaoseuaugenavisãodoretornoda glória deDeus ao templo. “O afastamento e o retorno da glória” talvez,então,sirvacomotemaqueresumeamensagemdestelivrodeprofecia.

Quanto à forma da disposição do seu material, o livro de Ezequiel sedivide naturalmente em três seções maiores.26 A primeira seção apresentaprofecias proferidas antes da queda de Jerusalém e do exílio final doshabitantesdanação(Ez1-24).ComoEzequieltevesuavisãoinicialechamadoao ofício de profeta em 592 a.C. e a cidade de Jerusalém caiu diante deNabucodonosor em 587 a.C., as profecias desses capítulos devem ter sidoproferidasduranteessesseisouseteanos.UmadeportaçãoemmassadopovodeJudá juntamentecomseurei jáhaviaocorridoem597a.C.Masosfalsosprofetas estavam encorajando o povo a confiar que a cidade sagrada jamaishaveriadecair.Nessecontexto,Ezequielpermaneceufielcolocando-secontraa maré de sentimento popular declarando a Palavra de Deus a respeito dacertezadequeacidadeviriaabaixo.

Nasegundaseçãomaiordaprofecia,EzequielanunciaosjuízosdeDeuscontraasnações(capítulos25-32).PelofatodemuitasdasnaçõesvizinhasdeJudáteremzombadodopovodeDeusporocasiãodasuaqueda,elaspodemesperarahoradosjustosjuízosdeDeusparacomelas(25.3,6,7,8,12,15;26.2).Uma segunda base para a condenação das nações é o fato de terem selevantado orgulhosamente (28.2,5,17; 29.3,15; 31.10). Ezequiel repete váriasvezesaconsequênciafinaldestejuízosobreasnações:“Entãosaberãoqueeusou o SENHOR da Aliança” (25.7,11,17; 26.6; 28.22,24,26; 29.6,16,21;30.8,19,25,26; 32.15). O único Deus verdadeiro se fará conhecido entre asnaçõespormeiodessesjuízos.Mas,alémdisso,serádesobstruídoocaminhopara a restauração do povo de Deus por meio desse juízo divino sobre asnações. É extraordinário esse anúncio da restauração de Israel nomeio dosvereditosdos juízosdeDeuscontraasnações.Nenhumvizinhomaldosovaiagir mais “como roseiras bravas dolorosas e espinhos pontudos” contra opovodeDeus(28.24NVI).Pelocontrário,depoisdeinfligirseusjuízossobreessas nações vizinhas que difamaram seu povo, o Senhor vai recolhê-losdentretodasasnaçõesparaondeEleosespalhou.Elesviverãoemsegurançaemsuaprópriaterra,construirãocasas,eplantarãovinhedos.Emdecorrência

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disso,virãoaconhecerdemaneiramaisplenaqueoSENHORdaAliançaéoseu Deus (28.24-26). Mesmo essa declaração de juízo sobre as nações temligaçãodiretacomamensagemdoexílioedarestauração.

AterceiraseçãomaiordolivrodeEzequieldescreveemtermosvívidosuma visão da restauração de Israel depois do seu exílio na Babilônia,culminandocomoretornodaglóriaaotemplorestaurado(capítulos33-48).DepoisdeexplicaracausafundamentaldaquedadeJerusalém(capítulo33),as profecias subsequentes consistem em três seções maiores: uma vívidaprediçãodarestauração(capítulos34-37),oconflitocomGogueeMagogue(capítulos38,39), e o retornodaglória ao templo restaurado (capítulos40-48).27

B.MomentoscríticosnasprofeciasdeEzequielAoconsiderartodaamensagemdeEzequiel,trêsmomentoscríticosnas

profecias chamam atenção: a visão do comissionamento do profeta (1-3), oafastamento da glória (8-11), e a restauração após o exílio (34-48). AssimcomonocasodeIsaíaseJeremias,ochamadoinicialdoprofetaapresentaumresumodo âmagoda suamensagem.Emcada umadessas seções chaves dolivro,emergeumaexperiênciadavisãodaglóriadeDeuscomofococentraldamensagemprofética.

1.AvisãodocomissionamentodeEzequiel(Ez1-3)Ameiocaminhodoscativeirosde597e586a.C.,oprofetaEzequiel,ele

mesmoumexiladonaterradaBabilônia,recebeumavisãodosublimeDeusde Israel. Nenhuma outra visão de Deus registrada nas Escrituras da antigaaliançaétãogloriosaoutãocuidadosamentedescritacomoesta.NemmesmoavisãodeDeusqueMoisés tevenomonte secomparacoma revelaçãoqueDeusdádasuaglóriaaEzequiel.Talvezoaspectomaisimpressionantedestavisãoéqueelaocorre forada terrasanta.ComoBlockexpressamuitobem:“O profeta testemunhou o inacreditável – longe do templo, no meio dosexiladosnaterrapagãdaBabilônia,Yahwehapareceuaele!”28

Quempoderiaimaginarumacoisadessas?JustamentenummomentodahistóriaemqueopovodeDeusemIsraelconfiatantonapresençadoseuDeusno templo de Jerusalém, esse Deus manifesta sua glória na terra dos seusconquistadores bem longe do lugar santo. Absolutamente essencial para acontinuidadedateocraciaeraamanifestaçãoespecialdapresençadeDeusnomeiodo seupovo.Mas agoraEle aparecenamaior revelaçãoda suaglóriajamais vista por um ser humano na terra num cenário longe do templo emJerusalém.Aprimeiraliçãoparaseaprenderdestefatoéapresençauniversal

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easoberaniadoúnicoDeusvivoeverdadeiro.Nãoépossívelrestringi-loauma parte do globo. Ele pode manifestar seu poder soberano e glória emqualquerpartedaTerra.Elenãoseráconfinadoemumúnicolugar.

Avisãodasrodasocupaumlugardedestaqueacimadetodososoutroselementos.29 Na imagem original do trono de Deus no santuário de Israel,estavam presentes os querubins (Êx 25.17-22).Mas de forma singular nestavisãoestáaproeminênciadadaàsrodas,rodasdentroderodas(Ez1.15-21).Rodas cobertas de olhos, rodas girando, rodas emque habita o espírito dosseresviventes,rodasmovendo-secomorelâmpagosemtodasasdireções,massempreemperfeitaharmoniacomosseresviventes.Oquesãoessasrodas,equaléasuaimportância?

As rodas representamumDeus que não pode ser contido emumúnicolugar. Esse santuário móvel, essa divina carruagem-trono não pode serrestringidade formaquepermaneçaparasempreemJerusalém.Asoberaniade Deus pode descer para a Terra tão facilmente na Babilônia como emJerusalém.SeháumacoisaqueavisãodaglóriadeDeusconformereveladaaEzequiel ensina, é que ela comunica a verdade de que deve ser para sempreabandonadaapresunçãodequeapresençadeDeuspodeserrestritaaumsólugar.

Essa visão inicial da glória de Deus torna-se o ponto central damensagemdeEzequiel.Porocasiãodocomissionamentodoprofeta(3.22,23),no momento da partida da glória do templo de Jerusalém (8.4), e naantecipação profética do retorno da glória (43.3), a visão original (1.4-28)retornaaoprofeta.

Somentepormeiodoexílioéqueopovodaantigaaliançaconseguiriacompreender a importância deum santuáriomóvel para seuDeus.EnquantosubsistiuotemploemJerusalém,comapresençadaglóriadeDeusnosantodos santos, ninguém podia imaginar que a glória do Senhor pudessemanifestar-se em qualquer outro lugar.Mas agora não era possível negar averdade, especialmente depois da destruição do templo e seus lugaressagrados.TalvezumapistaarespeitodanaturezamóveldotronodeDeussefizessepresenteduranteaconstruçãodotemplodeSalomão(1Cr28.18).Mascoma regular recorrênciadavisãodas rodasconcedidaaEzequiel, nãoerapossívelnegaraverdade.AglóriadeDeusnãoestavarestritaaumlugarsó.Elepodiamanifestarsuapresençaemqualquerlugardomundoquecriara,edefatoeraissoqueEleiriafazer.

Comoconsequênciadessavisãoinicialdacarruagem-tronoesuasrodas,Ezequielrecebeseucomissionamentoparaser“sentinela”paraIsrael.Emduasocasiões diferentes, ele é designado para a mesma tarefa. No final do seu

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chamado inicial, lheéordenadoquesejaumasentinelapara Israel (3.16-21).Ainda que a mesma carruagem que ele acabou de ver assuma a forma decarruagem de guerra do Senhor, espalhando brasas de fogo pela cidade deJerusalém (10.6,7), Ezequiel recebe a tarefa de ser uma “sentinela” para anação.30Então,depoisdaquedadacidadedeJerusalém,Ezequielrecebemaisuma vez o encargo de ser uma “sentinela”,mas desta vez de forma pública(33.1-20).MesmodepoisdacidadedeJerusalémtercaídoeanaçãotersidolevada para o cativeiro, subsistem os mesmos princípios de justiça. Comosentinela, o profeta precisa levar todo e qualquer indivíduo a prestar contasdiante de Deus, pois o Senhor vai julgar cada homem de acordo com seuspróprioscaminhos(33.20).31

Avisãodochamadodoprofetaserve,assim,comomomentocríticonolivro de Ezequiel. Um novo aspecto da realidade do Deus de Israel semanifesta como consequência do exílio da nação. EsseDeus é universal emsuasoberaniacomo tambémemsuaatividadesalvíficaenãoseráconfinadoemnenhumlocalespecífico.

2.Oafastamentodaglória(Ez8-11)Avisão da glória deDeus, como a primeira,mas ocorrendo um ano e

dois meses depois do seu comissionamento inicial, introduz o segundomomento crítico na profecia de Ezequiel (8.1-4). Desta vez, o profeta vê aglóriadeDeusnaquiloqueeletalvezconsiderasseserocontextoapropriado.Emvezdaglória lheaparecernascampinasdaBabilônia,eleé transportadoemsuavisãoatéotemplodoSenhoremJerusalém(8.3).Alieleéconduzidoporumaprogressãodecorrupçõesquepoluemesselugarsantíssimo,ealieletestemunhaumafastamentoprogressivodaglóriadessesantuáriosagrado.

AcausadoafastamentodoSenhorédemonstradadeformadramáticanavisãodoprofeta.Naentradadopátiointernodosantuário,é-lhemostrado“oídoloqueprovocaociúmedeDeus”(8.3,5NVI).OSenhorchamaaatençãodoprofetapara“asgrandesabominaçõesqueacasadeIsraelestápraticandoaqui!” (8.6).Bemdiante da presença doDeus santo eles tinham erguido umídolo.Masoprofeta é informadoque elehaveriadever abominações aindamaiores. Ezequiel, então, é levado por um buraco na parede para o pátiointerno do santuário do Senhor.Ali ele vê setenta anciãos da casa de Israel,cadaumadorandonoescurodiantedorelicáriodoseupróprioídolo(8.7-12).A liderança da nação tinha avançado muito além das corrupções de IsraelquandoadoraramobezerrodeourojuntodoMonteSinai.Masoprofetaveráabominaçõesaindapiores.NaentradadacasadoSenhor,asmulheresdeIsraelfazemseuprópriocultodeadoração(8.14).Masabominaçõesaindamaiores

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serãomostradas aoprofeta.Nopátio internoda casa santadoSenhor ele sedepara com vinte e cinco homens curvando-se diante do sol, com as costasvoltadasparaotemplodoSenhor(8.16).32

O Senhor ressalta as terríveis consequências dessas profanações. Essassãoas“coisasquemelevarãoparalongedomeusantuário”(8.6NVI).Elenãopodemaisaturaressasmúltiplasperversõesdasuasantidade.Ezequiel,então,testemunhaumdosmais tristesmomentosde todaahistóriahumana.QuatroséculosdebênçãoespecialdoSenhorchegamaofim.AShekinah,aglóriadoSenhorvairetirar-sedoseulugardehabitaçãonosantuáriodeJerusalém.Oprofeta testemunha o passo-a-passo do afastamento da gloriosa presença doSenhor.UmacoisaeraoscativosnaBabilôniacontemplaremasdevastaçõesda terra prometida que haviam ocorrido após saírem para o exílio. Algototalmente diferente seria eles perceberemaglória daShekinah afastando-sedotemploeaprofanaçãodolugarsagradoondeseuSENHORdaAliançahaviaprometido habitar para sempre. Mas, em sua visão, Ezequiel antecipaexatamenteessesacontecimentos.

Primeiro, ele vê a glória do Deus de Israel elevando-se acima dosquerubins no Santo dos Santos, onde tinha residido desde a oraçãoconsecratóriadeSalomão(1Rs8.10,11),movendo-separaolimiardotemplo(Ez9.3).Emseguida, aglóriadoSenhor seafastado limiardo temploe semove, juntamente com o querubim e as rodas, à porta oriental da casa doSenhor(10.16-19).FinalmenteaglóriadeDeus,novamentecomoquerubimeasrodas,eleva-seacimadacidadedeJerusalémesedetémnummonteaolestedacidade,omontedasOliveiras(11.22,23).Apartirdesseponto,olugarquejáforasantoencontra-setotalmenteexpostoàpilhagemdasnaçõesinvasoras.AglóriadoSenhorseposicionaagoraparatestemunharadestruiçãodacidadeedotemploquejátinhamsidosantos.

NãosedeveconsiderarcomocoincidênciaofatodofamososermãodeJesus ter sido proferido no mesmo monte das Oliveiras enquanto Elecontemplava a cidade de Jerusalém e anunciava sua destruição iminente (Mt24.3; Lc 21.20-24). Assim como os exércitos de Nabucodonosor em brevehaveriam de rodear a Jerusalém dos dias de Ezequiel, demolindo-acompletamenteequeimandoseusremanescentes,assimasantacidadedosdiasdeJesusseriacercadapelosexércitosromanosquenãodeixariampedrasobrepedra.

Mas,mesmonessemaisescuromomentoprofético,oSenhornãodeixaseu povo sem um lampejo de esperança. Esses exilados já banidos para aBabilônia, desprezados pelos moradores críticos de Jerusalém – esses têmuma função especial no plano e propósito de Deus. Duas vezes eles são

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nomeados: “Teus irmãos, teus próprios irmãos”, para reforçar o fato que oSenhorosaceitoucomopartedafamíliadosredimidos(Ez11.15).Elessãoosverdadeirosparentesdesanguedoprofeta,quedevemserconsideradoscomo“todaacasadeIsrael,cadaremanescentedeles”(11.15).Énotávelque,antesdadestruição final de Jerusalém, o Senhor já havia começado a preparar essesexiladoscomoumpovovisandoa restauração.Maissurpreendenteaindaéadeclaração do Senhor ao seu profeta com respeito aos que estão no exílio:“Emboraeuostenhaenviadoparalongeentreasnaçõeseostenhaespalhadonomeiodasnações,contudoEutenhosidoparaelesumsantuárioporbrevetemponasterrasparaondeforam”(11.16).

O que o Senhor está dizendo ao seu profeta? Não se pode imaginarafirmaçãomaisradical.Espalhadosporvilarejosobscurosediversospaíses,vivendo em penúria como estrangeiros, longe do santuário da habitação doSenhor – mesmo nesses lugares distantes o próprio Senhor se tornou umsantuário para eles.Como indicaumcomentarista: “Naverdade, eles tinhamperdido o templo exterior (em Jerusalém), mas o próprio Senhor tinha setornadoseutemplo”.33TotalmenteseparadosdaterraedolugarquetinhasidodesignadocomoahabitaçãodoSenhornaterra,nemmesmoreunidosnumsólugar,masespalhadosentrenumerososlocais,essesexiladosdeviamentenderqueopróprioSenhoreraseusantuário.MesmoantesdeserdestruídooantigotemplodeJerusalém,umnovoevastotemplohaviasidoerigidoparaopovodeDeus.

DoisconceitosradicaisestãosendoagoraapresentadosaopovodeDeusque está no exílio. Em primeiro lugar, o próprioSENHOR da Aliança é seusagrado lugardehabitação.Nãoéemconstruções feitaspormãoshumanas,masnauniãocomopróprioSenhorqueseupovovaiexperimentarasplenasrealidadesdaverdadeiraadoração.Emsegundolugar,qualquerlugardaTerrapode ser o local do encontro de Deus com seu povo. Esses conceitosrevolucionáriosjamaisteriamsidopercebidosnãofosseadispersãodopovode Deus, que forneceu uma nova compreensão da importância do exílio.Claramente,Ezequiel,comoprofetadoexílio,alcançaumanovacompreensãodospropósitosdeDeusparaseupovo.OpovodoSenhornãodevelimitarsuaadoraçãoaumsólugarnafacedaTerra.Emvezdisso,pelofatodoseuDeusestaremtodolugarcomoSenhordetodasasnações,épossívelestarunidoaEleemantercomunhãocomEleemtodoequalquerlugar.

ÉevidentequeaquiloqueopovodeDeusrecebeagoranoexílioéapenasum fraco vislumbre da luz final. Esse santuário é descrito especificamentecomo “pequeno”, o que poderia referir-se ao fato de ser menor emcomparação com o templo de Jerusalém. Ou talvez indique seu caráter

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temporário,descrevendoalgoquenofinaldascontasprecisasersubstituído.Em qualquer dos casos, centenas de anos depois uma descendente dosdeslocadossamaritanosrecebedeJesusumaclaraexplicaçãodamesmalinhade pensamento.Nemem JerusalémnememSamaria se deve adorar aDeus.Onde quer que oEspírito e a verdade se encontrem, ali oDeus santo estarápresenteemtodaasuaglória(Jo4.21-24).

EssavisãodeEzequielseenquadraclaramentenaestruturadas imagensda antiga aliança, ao passo que, ao mesmo tempo, antecipa as diferençasradicaisdanova.EmboraoSenhorseestabeleçaasimesmocomoosantuáriodo povo exilado, uma restauraçãomais plena está sendo antecipada. Ele vaijuntá-los dentre as terras para onde foram espalhados e vai devolver-lhes aterradeIsrael(Ez11.17).34EntãooSenhorlhesdaráumsócoração,colocarádentrodelesumnovoespírito,e removeráseucoraçãodepedra,dando-lhesum coração de carne (11.18,19). Como consequência disso, eles guardarãosuas leis.Elesserãoseupovo,eEleseráseuDeus,obviamentepensandonoâmagodoconceitodaaliança(11.20).Umnovoêxodo,umaterrapurificada,um coração único, um novo espírito, e uma nova obediência completam adescriçãodessepovorestauradodoSenhor.

3.Arestauraçãodepoisdoexílio(Ez34-48)UmimportantefatoremtodaaestruturadolivrodeEzequieléorelatoda

queda de Jerusalém em Ezequiel 33.21. Desse ponto em diante, o profetaconcentrasuaatençãonarestauraçãoquecertamentehaverádevir.

VáriostemassedestacamnestaseçãofinaldolivrodeEzequiel.Osmaisproeminentes são os seguintes: as figuras do divino Pastor e da realezarestauradadeDavi;arevivificaçãodosossossecos;areunificaçãodosreinosdivididosde Judáe Israel; aconsumaçãodasaliançasdivinas; avitória finalsobretodosospoderesqueseopõem;eaplantadotemplodefinitivodeDeus.O fator unificador de todos esses temas é a expectativa da restauração queagoradeveseguir-seàexperiênciadoexílio.

a.ArestauraçãoefetuadapeloPastordivinoeoreidavídico(Ez34)A figura do pastor, por muito tempo uma imagem para o rei ideal de

Israel,érepetidamenteaplicadatantoaopróprioDeuscomoaosherdeirosdotronodeDavi(Gn48.15;49.24;Sl23.1).PelofatodospastoresdeIsraelteremfalhadotãomiseravelmentenoexecutarsuasresponsabilidades(Ez34.1-10),opróprioSENHORdaAliançaassumiráa tarefadepastorearsuasovelhas:“Eumesmo buscarei asminhas ovelhas... Eu as farei sair das outras nações e asreunirei,trazendo-asdosoutrospovosparaasuaprópriaterra....Procurareias

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perdidasetrareidevoltaasdesviadas”(34.11,13,16NVI).Aomesmotempo,essa responsabilidadede pastorear cairá sobre os ombros deDavi, servodeDeus: “Porei sobre elas um pastor, o meu servo Davi, e ele cuidará delas;cuidarádelaseseráoseupastor.Eu,oSENHORdaAliança,sereioseuDeus,eomeuservoDaviseráolídernomeiodelas”(34.23,24NVI).

EssafiguraamalgamadadeDeuseDaviservindosimultaneamentecomopastoresparaumIsrael restauradoantecipaaperfeiçãodogovernonoreinodaredenção.UmdescendentedeDaviqueatuadamesmaformaqueopróprioDeusnomeiodoseupovoresolvetodasastensõesexperimentadasemtodaateocraciadaantigaaliança.Nofinaldascontas,oDeusPastor,quedásuavidapelasovelhassurgirácomoosoberanoSenhornomeiodelas(Jo10.11).AoexplicarsuafunçãocomooPastordodiversificadorebanhoqueElejuntará,Jesusdiz: “Tenhooutrasovelhas [crentesgentios] quenão sãodeste aprisco[crentesjudeus].Énecessárioqueeuasconduzatambém.Elasouvirãoaminhavoz,ehaveráumsórebanhoeumsópastor”(Jo10.16NVI).

b.Arestauraçãopormeiodaconsumaçãodasaliançasdivinas(Ez36.24-28;37.24-28)

Integralmente associada com a restauração do povo exilado, está arecorrênciaavárioselementosdasprincipaisaliançasqueoSenhorfezcomseupovonodecursodasgerações.Emrepetidosparágrafos,Ezequielmoldaoretornodoexílioemtermosdaaliançaabraâmica,mosaica,davídicaedanovaaliança.Seupovorestabelecidoviverá“naterraquedeiaosseusantepassados”(36.28 NVI; 37.25, fazendo alusão à aliança abraâmica); eles seguirão seusdecretoseguardarãosuasleis(36.27;37.24,referindo-seàaliançamosaica);Davi será o seu rei, e eles terão todosum sópastor (37.24,25, lembrando aaliança davídica); e eles receberão um novo coração e um novo espírito egozarãoasbênçãosdeumaeternaaliançadepaz(36.26;37.26,referindo-seànova aliança). Essas bênçãos consumadas referentes às várias alianças serãoexperimentadas quando o Senhor reunir seu povo de todas as nações e otrouxerdevoltaparasuaprópriaterra(36.24;37.21).

Embora essas descrições sejam vividamente apresentadas em trajes daantiga aliança, a compreensão consumada de cada uma dessas alianças, nofinaldascontas,sópodeserentendidaemsuasrelaçõescomasrealidadesdanova aliança. Abraão foi privado das suas expectativas de uma terratopograficamente limitada eprocurouumapátria celestial, nãousufruindoocumprimento das promessas à parte dos crentes da nova aliança (Hb11.9,10,16).Moisés experimentou as limitações da lei pormeio da perpétuarepetição dos sacrifícios e dessa forma teve de ser liberto da condenação

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divinapeloolhardafé(Lv23.4-8;Hb10.11;Nm21.4-9).Daviviucorrupção,masCristo,seufilho,venceuamortepormeiodaressurreição(Sl16.10,11;At 2.24-33). Os que participam da nova aliança, quer judeus quer gentios,celebramsuarestauraçãoparacomDeustodavezquecomemopãoebebemocálicedanovaaliança,seladapelosanguedeJesus(Mt26.27-29;Lc22.20).

c.Arestauraçãopormeiodavivificaçãodosossossecos(Ez37.1-14)AcircunstânciadarestauraçãodeIsraeleoretornoparaaterratorna-se

muitovívidanavisãoqueEzequieltemdovaledosossossecos:

Porissoprofetizeediga-lhes:AssimdizoSoberano,oSENHORdaAliança:Ómeupovo,vouabriros seus túmulos e fazê-los sair; trarei vocês de volta à terra de Israel.E quando eu abrir os seustúmuloseos fizer sair,vocês,meupovo, saberãoqueeusouoSENHORdaAliança.PoreiomeuEspíritoemvocêsevocêsviverão,eeuosestabelecereiemsuaprópriaterra.Entãovocêssaberãoqueeu,oSENHORdaAliança,falei,efiz.PalavradoSENHORdaAliança.(37.12-14NVI)

É evidente que Ezequiel está falando do retorno para a terra e darestauração do povo.Mas, em termos específicos, o que é que esta profeciaantecipa?

Váriosintérpretessugeremqueoprofetasimplesmenteusaalinguagemfigurativa da ressurreição física para antecipar o retorno de Israel para aterra.35Maséprecisoexplicar,dealgumaforma,aorigemdessasfiguras.DeondeEzequielobteveaideiadefalarsobreoretornodoexílioemtermosdeabrirsepulturas?Certamenteelanão lheveiodarepresentaçãocultualdeummitodeumdeusquemorreeressurge,comoalgumaspessoaspropõem.36

Referências bíblicas anteriores que confessam o poder de Deus pararessuscitarosmortosconfirmamacompreensãodequeoprofetavaialémdeumsimplesretornomaravilhosodosexiladosparaaterraprometida.37Comoobserva um crítico erudito: “Nenhum israelita piedoso jamais duvidou queDeus, por meio de um milagre, poderia restaurar os mortos à vida”.38 Oceticismo dos saduceus do Novo Testamento com respeito à esperança daressurreição para osmortos haveria de exigir nomínimo umamodificaçãodessa afirmação universal (Mt 22.23-32). Mas a reação de Jesus a esseceticismo indica que Ele tinha por certo que o testemunho da ressurreiçãofísica fazia parte do ensino do Antigo Testamento: “Vocês estão enganadosporque não conhecem as Escrituras nem o poder deDeus” (Mt 22.29NVI).SomentealgunspoucoscasosderessurreiçãodosmortosestãoregistradosnoAntigo Testamento (1 Rs 17.17-24; 2 Rs 4.18-37; 13.20,21).Mas é possívelencontrar, espalhado pelas Escrituras, testemunho adicional com respeito àpossibilidadedaressurreição.Repetidamente,ocumprimentodapromessada

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terra era associado com a vida além damorte.O principal exemplo é vistoquandooSenhordizaMoisésqueEleéoDeusdeAbraão,IsaqueeJacó,500anos depois que os patriarcas tinhammorrido. Ele é, no final das contas, oDeus dos vivos e não dosmortos; e assim a sua promessa da terra para ospatriarcasaindavalianosdiasdeMoisés(Êx3.6;Mt22.32).Dealgumaforma,essapromessafeitapessoalmenteaospatriarcasprecisasercumprida.39

A palavra do Senhor a Ezequiel enquadra-se perfeitamente nessaexpectativa.40Nomínimo,aprofeciadeEzequielarespeitodoretornoàterrainclui o fato de Deus colocar seu Espírito nas pessoas, de forma que elas“voltemaviver”(Ez37.14a).EssadescriçãodanovavidageradapeloEspíritodeDeus é provavelmente o texto bíblico que Jesus esperavaqueNicodemoscompreendesseporocasiãodaconversadelessobreanecessidadede“nascerdaáguaedoEspírito”(Jo3.5,10NVI).MasaespecificidadedalinguagemdeEzequielcomrespeitoaabrirsepulturaseocontextodosossossecosemortosvoltandoàvidasugereaexpectativadaressurreiçãofísica.Atravésdaaberturadassepulturasedavoltaàvidadeentreosmortos,deveráocorrerumretornoàterraemseumaisplenosentido.41

Comessaperspectivaa respeitodaprofeciadeEzequiel,nãoépossívelconsiderar como o cumprimento final das expectativas criadas por suaprofeciaoinsignificanteretornodoexílioqueocorreupoucodepoisdosdiasdeste profeta. O retorno de Israel naquela época, por mais importante quetenha sido para a história da redenção, serviu para apontar para umarestauraçãomaior,deacordocomasprovisõesdanovaaliança.42

Por razões similares, o retorno dos judeus para a terra no século XX,resultadodaformaçãodomodernoEstadodeIsraelem1948,nãopodeserocumprimento dessa profecia de Ezequiel. Sua nova criação não resultou naaberturadesepulturas,naressurreiçãodocorpo,noderramardoEspíritodeDeus,nemnadeclaraçãodeJesuscomooCristodanovaaliança.Nãoimportacomo a restauração do Estado de Israel seja vista, ela não preenche aexpectativadeEzequielconformedescritanestavívidaprofecia.

d.Arestauraçãoefetuandoareunificaçãodosreinosdivididos(Ez37.15-28)

AúltimadeumalongalinhadepromulgaçõesproféticasdeEzequieléaúnica que comunica salvação em vez de juízo.43 Ezequiel recebe orientaçãoparaescrever“PertencenteaJudá”emumpedaçodemadeirae“PertencenteaJosé” em outro. Depois, os dois pedaços deviam ser juntados um ao outro,simbolizandoafusãodoreinodonorteeodosulquandofossemrestaurados(37.16,17,22).44 OSenhorvaitirar“osisraelitasdasnaçõesparaondeforam”

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evai fazercomquesejam“umaúnicanaçãona terra”,deformaque“nuncamais serão duas nações, nem estarão divididos em dois reinos” (37.21,22NVI).

Amensagem da reunificação nacional como aspecto da restauração deIsrael é muito clara. Mas como deve ser antevisto o cumprimento disso?Sugere-se que somente a reunião étnica das várias tribos de Israel poderiacumpriraprofeciadeEzequiel.Umavezqueelefaladeformatãoespecíficado reino do norte, seria forçoso que estivessem incluídos nessa reuniãorepresentantesdasdeztribosperdidas.45

Oproblemacomessepontodevista,éclaro,équeasdeztribosperdidasnão possuem mais identidade étnica (veja a introdução ao capítulo 9). Nãoexiste registro das diversas tribos do reino do norte. Esta realidade écomprovada,entreoutrascoisas,pelofatoqueapalavra judeuemambososTestamentos(hebraico:yehudi;egrego:ioudaios)“originalmenteseaplicavaamembrosdatribodeJudá”.Mas,depoisdadestruiçãodeIsrael,otermojudeupassouadesignarqualquerisraelita,semlevaremconsideraçãoatriboaquepertencia.46Emoutraspalavras,essevocábuloidentificavatodososmembrossobreviventes da antiga comunidade israelita, já que se haviam perdido asidentidadestribaisdoreinodonorte.

Portanto, é possível supor que Deus manteve para si mesmo umaidentidadedecadaumadasdeztribosdonorteequeessastribostodasserãorepresentadas na reconstituição de Israel quando se cumprir a profecia deEzequiel. Block declara: “A reconciliação [das tribos do norte e do sul]antevistaporEzequielnãopoderiaseralcançadaporsuaprópriainiciativa,damesmaformaqueosjudeusnãoconseguiriamefetuarseuprópriotransplantedecoração(36.26,27),nemosossossecospoderiamporsimesmosvoltaràvida (37.1-14). Cada fase da restauração requeria direta e miraculosaintervençãodivina”.47Mas o apóstolo Paulo fornece uma soluçãomais ricadesseproblemadoquepoderiaseroapelaraumareconstituiçãomiraculosadas dez tribos perdidas. Como indicado anteriormente, na explicação documprimento da profecia de Oseias com respeito à restauração do exiladoreinodonorte,Paulodizqueamudançadostatus de “Não-Meu-Povo”para“MeuPovo”refere-seaochamadodivinodosobjetosdamisericórdiadeDeus“não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios” (Rm 9.23-25NVI).Pormeiodoexílio,astribosdoreinodonortetornaram-se“Não-Meu-Povo”, exatamente como o Senhor tinha dito. Eles foram absorvidos pelamultidãogentia,vivendosemDeusesemesperançanomundo.MasDeus,emsuagraça, transformoupessoasdessemundogentioemseupovofavorecidopormeio da obra do seuEspírito.Dessamaneira, as dez tribos perdidas no

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mundogentiotêmsidoeestãosendorestauradas.

e.Arestauraçãoqueacarretaavitóriafinalsobretodosospoderescontrários(Ez38,39)

As interpretações dadas a respeito da famosa passagem sobreGogue eMagogueemEzequiel têmsidonumerosas.Osváriospontosdevistavãodereferências a nações seculares ameaçando um Estado judeu renovado emalgumpontonofuturo,atéuminimigoidealizadoopondo-seaopovodeDeusnodecorrerdahistória.

Existem referências que parecem favorecer uma consideração dapassagem bíblica em termos puramente geopolíticos. São menções aos“montes de Israel” (38.8; 39.2,4,17), “meu povo Israel” (38.14,16; 39.7),“minha [de Deus] terra” (38.16), “a terra de Israel” (38.18,19), “meus [deDeus] montes” (38.21), “as cidades de Israel” (39.9), “a casa de Israel”(39.12,22,29),e“opovodeIsrael”(39.23,25).

Masváriasconsideraçõesfavorecemumentendimentoescatológicomaisamplo da passagem. Em primeiro lugar, os nomes das nações que atacamIsrael provêm da antiga lista de nações emGênesis 10.Magogue,Meseque,Tubal,GômereTogarma(Ez38.2,6)sãolistadoscomodescendentesdeJafé(Gn 10.2,3). Cuxe, Pute, Sabá e Dedã (Ez 38.5,13) aparecem comodescendentes deCam (Gn10.6-8).Nemumdos nomes emEzequiel aparececomodescendentedeSem,excetoMesequeeSabá,quetambémseencontramna lista dos descendentes de Jafé e de Cam. Dessa forma, o conflito emEzequielrefleteumabatalhamaisampladosdescendentesdeJaféeCamcomosdescendentesdeSema respeitodosassuntosdaparticipaçãona redenção,conformedescritonaantigabênçãodeNoéemfavordeSemesuamaldiçãosobre Canaã, filho de Cam (Gn 9.24-27). Mas uma investigação dessaslinhagens de descendência (tanto quanto são indicadas nas Escrituras) nãoajudaaveresseconflitoatravésdasgeraçõescomoumconflitobasicamenteétnico-político.Emvezdisso,aEscrituraapontaparaumcontextohistórico-redentivo,poisnemtodososdescendentesdeSemforamfavorecidoscomaredenção,comoindicaoconflitoclássicoentreosgêmeossemitasEsaúeJacó(Ml 1.2,3).De forma semelhante, os descendentes da cananeiaRaabe podemgozar os plenos benefícios da redenção divina, chegando ao ponto de fazerparte da linhagem real de Davi (Mt 1.5).48 Assim, o fato de Ezequielmencionaresseantigoconflitonãopromoveaideiadeumconflitoculminanteentreraçashumanas.Emvezdisso,eleserefereàguerraentrea“sementedamulher” e a “semente de Satanás” em termos dos propósitos redentores deDeus,semlevaremcontanenhumfatorétnico(Gl6.15,16;Rm16.20).

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Emsegundo lugar,o“inimigodonorte”mencionadoemEzequiel38e39 emúltimaanálisevema ser um tipobíblicodosgrandespoderesque seopõem ao povo de Deus, sem referência a características políticas ougeográficas (Ez38.15;39.2; Is14.31;Jr1.14;4.6;6.1,22;10.22;13.20;25.9;46.20,24;47.2;50.41;vejatambémAp17.5,6;18.1–24;20.8).

Em terceiro lugar, o conflito atinge proporções escatológicas,envolvendoum“grandeterremoto”,comumimpactocomparávelaodilúviode Noé, que aterroriza os “peixes do mar, as aves do céu, os animais docampo,todacriaturaquerastejapelochãoetodasaspessoasdafacedaterra”(Ez 38.19,20NVI).Esse conflito culmina como povo de Israel reunindo-separa um “grande sacrifício nos montes de Israel” em que eles comerão “acarne dos poderosos e beberão o sangue dos príncipes da terra” (39.17,18NVI).Ali,àmesadeDeus,elescomerãosuaporçãodecavalosecavaleiros,dehomenspoderososesoldadosdetodotipo(39.20).Apesardessalinguagemvívida descrever muito bem de forma simbólica maldições pactuais numcontexto escatológico (Ap 19.17,18), não é possível entendê-la comoreferênciaaeventosnormaisdahistóriadahumanidade.

Os capítulos que descrevem a luta comGogue eMagogue basicamenteconfirmamqueopovodeDeus jamais será totalmentevencidopelasnaçõesoutra vez, como Israel o foi com o seu exílio.49 Nenhuma superpotênciasurgirá no futuro para sobrepujar o povo restaurado de Deus. Como Jesusdisse:“Asportasdoinfernonãoprevalecerãocontraela”(Mt16.18).

f.Arestauraçãoincluiumplanoparaotemplofinal(Ez40-48)

(1)OcenáriodavisãoAgora vem a “gigantesca visão final” do profeta.50 A profecia de

Ezequielnãoestariacompletasemestavisãofinaldaglóriaretornandoaumtemplo restaurado.Primeiroo sacerdote/profeta havia tido a visãodo exílioem termos da glória que se afastava do templo. Ainda que suas descriçõesanteriores de um renovado relacionamento pactual e um retorno à terrafossem gloriosos, o elemento faltante, não mencionado, era o retorno daglória a um templo restaurado. Desde o tempo de Moisés, por todos osperíodosdeJosué,dosJuízes,edosReis,aShekinahserviucomoofocodaadoraçãode Israel, sinalizandode formasingular essepovocomosendodopróprioDeus.AvisãodeEzequielprecisaculminarcomoretornodaglóriaquehaviaseafastadodotemplodeSalomãodeacordocomorelatoanteriordopróprioprofeta.

Essa visão final do templo restaurado contrabalança o afastamento da

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glória registrado emEzequiel 8-11.A glória tinha abandonado o templo deJerusalém por causa das profanações do povo. Mas agora, por causa dapermanentepurificaçãodopovoatravésdadádivadonovocoração,aglóriaretornará, jamais se afastará outra vez. Essa visão do templo restaurado étambémassociadaàrestauraçãodescritaemEzequiel34-37,queculminacomadeclaraçãoqueDeuscolocaráseusantuárionomeiodelesparasempre.Seulugardehabitaçãoserácomeles,eseusantuáriopermaneceráparasemprenomeiodeles(37.26-28).

De acordo com o padrão estabelecido no livro, esta visão do templorestauradoédatadapormeiodareferênciaaoanodoexíliodoreiJoaquim.51Ovigésimoquintoanodoseuexílioseria572a.C.,significandoqueoúltimomonarca da linhagemdeDavi, que tinha sido levadopara aBabilônia aindaadolescente,estavaagorabemavançadonameia-idade.

Esse “vigésimo quinto ano” tem sido visto como importante porquerepresenta exatamente ametade do período de cinquenta anos do Jubileu deIsrael.52 Por ocasião do Jubileu, cada pessoa voltaria à propriedade da suafamíliaeaoclãdasuafamília(Lv25.10).Oscativosdoexíliopodiamagoraregozijar-seporestaremultrapassandoamarcadametadedotempodaperdadaterra.Essepontodevistarecebealgumapoiodeindíciosbíblicosdequeoexílio seriamedido em termos de completar os anos do Jubileu que tinhamsido desconsiderados pela nação (Lv 26.34; 2 Cr 36.21). O profeta IsaíastambémtinhaprofetizadoalibertaçãodaescravidãodoexílionostermosdoJubileu, o grande ano da libertação (Is 61.1). Ezequiel mostra algumconhecimentodoprincípiodoJubileunestaseçãoaoreferir-seàreversãodosdireitosdepropriedadeno“anodaliberdade”(Ez46.17).Seessacompreensãoda referência ao vigésimo quinto ano está correta, ela reforça o carátersimbólico da profecia, uma vez que os próximos vinte e cinco anos secumpririamumadécadaantesdorealfimdoexíliodeIsrael.53

(2)OconteúdodavisãoPrimeiramente,éprecisolembrarqueestamensagemveioaEzequielna

formade“visõesdeDeus”(40.2).MuitoselementosnessescapítulosreforçamaideiadequeédefatopormeiodevisãoenãosimplesmenteporrevelaçãodiretaqueémostradoaEzequielomodelodeumtemplorestaurado.Sobesseaspecto,arevelaçãoaEzequielnestaocasiãoé,porsuanatureza,deumcaráterdiferente das instruções detalhadas que Moisés recebeu a respeito dotabernáculonodeserto.NaexperiênciadeMoisés,asorientaçõesreferentesàconstrução do tabernáculo foram muito específicas: “Certifique-se de fazertudo segundo o modelo que lhe foi mostrado no monte” (Êx 25.40; veja

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tambémHb8.5).ÉsignificativoqueanaçãojamaistenharecebidoorientaçõesexplícitasparaconstruirotemplodavisãodeEzequiel.

Há vários elementos do conjunto do templo revelado a Ezequiel quemerecemmaiorconsideração:

Oprópriotemplo:DemaneirasimilaràexperiênciaanterioremqueEzequieltestemunhouoafastamentodaglóriadotemplo,oprofetaétransportadonasvisõesdeDeusparaaterradeIsraelecolocadoemum“montemuito alto” (40.2).Pode-se suporqueo local se refiraaosarredoresdeJerusalém,emborasejasignificativoqueaprópriacidade não émencionada em nenhum lugar nestes capítulos.54 Dequalquerforma,aEzequielédadaavisãodeumtemplorestauradonaterradeIsrael.Osacerdócio:Ossacerdotesdestenovotemplosãodescritoscomo“os filhos de Zadoque, que são os únicos levitas que podemaproximar-se do SENHOR da Aliança para ministrar diante dele”(40.46;43.19).O altar e os sacrifícios: Para consagrar este altar, devia sersacrificado um novilho como oferta pelo pecado, juntamente comofertasdiáriasdeumbode,umnovilho,eumcarneiroporsetedias.Depois dessa consagração inicial, os sacerdotes deviamapresentarofertasqueimadase sacrifíciosdecomunhão sobreoaltar (43.18-27).Orioquecorredotemplo:Emsuavisão,Ezequielvêumriosaindodesobotemplo,correndoparaoleste.Esserioficacadavezmaisfundo à medida que sai do templo. Quando ele deságua no marMorto,aságuassalgadassãoinstantaneamenteconvertidasemáguafresca, de forma que os pescadores tenham condições de pescarpeixesdevárias espéciesnas águasque anteriormentenãopodiamser povoadas por nenhum tipo de peixe. Nas margens desse rio,encontram-seárvorescujasfolhasnuncamurcham,equeproduzemfrutostodososmesesdoano(47.1-12).A nova partição da terra: Numa nova disposição, sete tribos vãohabitarfaixasterritoriaisquevãodolesteparaooeste,aonortedeJerusalém. As cinco tribos restantes possuirão faixas de terracorrendodelesteaoeste,aosuldeJerusalém(48.1-29).Oterritórioreservadoparaotemplo:AsdivergênciascomrespeitoàexatadimensãodaáreamedidaemEzequiel42.15-20remontamàsmais antigas formaspreservadasdopróprio texto.Osmanuscritos

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hebraicos apoiam uma leitura de 500 varas, ao passo que aSeptuaginta prefere 500 cúbitos.55 Uma vara mede seis cúbitos(40.5), de forma que 500 varas somam 3.000 cúbitos. A 46centímetros cada cúbito, o comprimento total de cada lado destequadrado é 1.370 metros. Em decorrência disso, este templo seestenderiamuito além dos limites domonte Sião.Na verdade, eleiriadomontedasOliveirasemdireçãoaooesteatéumpontoparaláde Jerusalém, do outro lado do vale Tiropeon. Algumas pessoasconcluemdessaobservaçãoqueotextodevereferir-sea500cúbitosemvezde500varas.56SomentecomessareduçãodetamanhoéqueotemplodeEzequielpoderiacabernomonteSião.Mas,àvistadosoutrosaspectosdocomplexodotemplodeEzequielqueextrapolamavida – o rio correndodomonteSião que rapidamente ficamaisfundodeformaquenãopodeseratravessado,opodermiraculosodesse rio para sanear as águas domarMorto, e a capacidade dasárvoresquecrescemaoladodoriodegerarfrutostodososmesesdo ano, com folhas que nunca murcham – parece perfeitamenterazoávelqueasdimensõesdaáreadotemploseestendamalémdoslimitesdatopografiadeJerusalém.Todosesseselementosressaltamo fato que Ezequiel, como ele mesmo indica, está relatando umavisão, não uma descrição factual de ummodelo de templo que opovorestauradodeIsraeldevaconstruir.Nessecontexto,otamanhoampliadodaáreadotemplosatisfazmuitobemocaráterdevisãodaprofecia.O tamanho da área do templo conforme representado navisão de Ezequiel, como afirma Fairbairn, “é uma evidênciaincontestáveldequeoprofetatinhaalgumacoisadiferenteemmentenão a construção de pedra e cal, e lidava com conceitos que sóteriamsuamaterializaçãonaselevadasrealidadesdoreinoeternodeDeus”.57Emoutraspalavras,otemploantevistoporEzequielnuncafoi designado para ser construído, muito menos construído nomonte Sião. Suas gigantescas dimensões devem ser vistas comoexpressão da enorme expansão do reino de Deus no futuro. Umacircunstância similar pode ser vista nas dimensões da novaJerusalém no livro do Apocalipse. Neste último caso, as medidasdessacidadecubiformefazemcomquesuasdimensõesseestendamdeJerusalématéRoma,enumadistânciaigualparacima(Ap21.16).A glória retorna: No centro da visão de Ezequiel encontra-se oretornodaglóriaqueeletinhavistoafastar-seemsuavisãoanterior(43.1-5).Oprofetamostraqueestavisãoera“como”avisãoqueele

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tiveraquandooSenhorveiodestruirotemploe“como”avisãoquetivera por ocasião do seu chamado inicial junto do rio Quebar(43.3).AglóriadeDeusentranessenovotemplopelaportalesteeentão enche esse templo (43.4,5; 44.4). Em decorrência disso, oSenhorafirma:“esteéo lugardomeu tronoeo lugarparaasoladosmeus pés. Aqui viverei para sempre entre os israelitas” (43.7NVI).

Esses são, portanto, os vários elementos que constituem os principaisaspectosdavisãofinalqueEzequieltevedotemplo.Masqualéexatamenteosignificadodeles?

(3)OsignificadodavisãoAvisão final deEzequiel temmuitos significados, que se destacamdas

váriasperspectivaspelasquaiselapodeserconsiderada.Váriosdessespontosdevistapodemserconsiderados.

DequemodoosexiladosquehaviamsidolevadosparaaBabilôniaporNabucodonosor considerariam essa visão final? Com certeza, a mensagemfinal de Ezequiel deve ter dado esperança a eles. A essa altura, alguns dosexilados,juntamentecomseureieseuprofeta,járesidiamnessaterraestranhapor 25 anos ou mais. Essa última visão de Ezequiel deve ter reavivado namente e no coração deles a expectativa de um retorno ao fim dos 70 anosprescritos. Deus era pontual, e Ele haveria de restaurar seu povo a umacondiçãodemaiorglóriadoqueantes,exatamentecomohaviaprometido.

ComoconsiderariamavisãoqueEzequiel tiverado temploaquelesquevoltaram do exílio por meio do decreto de Ciro em 536 a.C., uns 35 anosdepois que a visão foi dada ao profeta? Será que determinarammodelar otemploquerestauraramdeacordocomoplanofornecidoporEzequiel?Seráque pelo menos tentaram reproduzir o modelo do profeta? As evidênciasdisponíveisnãodãoamínimasugestãodequeopovoqueretornoudoexíliotivesse tentadoreproduzirdealgumaformaoprojetodo templodeEzequielquandoconstruíramseunovotemploemJerusalém.58

Esse fato levanta a questão se Ezequiel alguma vez pretendeu que umtemplo fosse construído de acordo com o modelo descrito em sua visão.Váriosfatoresconfirmamqueelenão tinhaessa intenção.Orio jorrandodesobotemploindicaqueaconcretizaçãogeofísicadessavisãonãopoderiasercolocada em prática na ordem do presentemundo. Além disso, a visão dastribosrestabelecidasdeIsraeldepoisdaperdadasuaidentidadedistintivaeadivisãodaterraemseunovoformatodefaixasdeterraparalelassugerealgo

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diferentedeumcumprimentorealdeacordocomoplanodeEzequiel.Alémdomais,seaconclusãoanteriorestácorretacomrespeitoaotamanhodaáreadotemplo,ocomplexodotemploantevistosimplesmentenãocabenomonteSião. Em decorrência dessas considerações, parece que Ezequiel jamaispretendeu que seu templo fosse construído depois de Israel voltar para suaterra.

Mas,equantoàrelaçãodotemplodeEzequielcomascondiçõesdanovaaliançaprofetizadaspelopróprioprofeta?ComoestáestaestruturadotemplorelacionadacomodiaemqueDeusdaráaoseupovoumnovocoraçãoeumnovoespírito?Seráquechegaráodiaemqueosdescendentesétnicosdas12tribos de Israel voltarão a juntar-se na terra de seus pais e ativarão asdisposiçõesdotemplodeEzequiel?

Antes de responder afirmativamente a essa pergunta, é preciso pesarcuidadosamente os efeitos de tal conclusão. Em primeiro lugar, é precisoreconhecer que, embora Ele seja agora reconhecido como grande SumoSacerdote do novo Israel de Deus, Jesus Cristo não poderia servir comosacerdote em nenhum templo assim reconstituído. A visão de Ezequiel nãoreconhecenenhumnovosacerdócio“segundoaordemdeMelquisedeque”quetenhasubstituídoaantigaordemsacerdotal.Deacordocomsuavisão,somentelevitasdeumafamíliaespecíficaestariamaptosaservirnessetemplo.

Além disso, o autossacrifício de Jesus Cristo não teria posto fim aossacrifíciosdesanguepelopecadoseessavisãosetornasserealidadeemalgumtempofuturo.Aretomadadossacrifíciosdiáriose regularesnaturalmentesetornariao centroda adoraçãonessenovo templo.Oesforçopara explicar aretomadadossacrifíciosemtermosdememoriaisqueolhamparatrás,paraosacrifíciodeCristo,desconsiderao fatoqueaofertadessesanimaiscustariamuitoaoofertante.Naverdade,eleteria“pago”operdãodosseuspecadospormeiodosacrifício.Aideiadesacrifíciosmemoriaisdesconsideraadeclaraçãoclaradeque“jánãoháofertapelopecado”(Hb10.18).

Essesmesmosprincípiosresistematémaisvigorosamenteàideiadequea retomada desses sacrifícios na verdade ofereceria purificação e perdãotemporais ao ofertante e assim garantiriam proteção contra punição física etemporal.59Pelofatode jáestarnopassadooperíodoemqueseesperavaooferecimentodeumCristovindouro,nãosepodeaceitarnenhumretornoàsantigas formas de adoração para suplementar as perfeições do sacrifício doCristo.

Como, então, se cumprirá a visão do templo de Ezequiel? Há quatroníveis de concretização dessa visão consumada do profeta que devem serlevadosemconsideração:

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Com respeito ao conceito essencial de um templo restaurado, essavisãodeEzequielteveseucumprimentonoretornodepoisdoexílioem536a.C.OpovodeIsraelretornouparasuaterra,reconstruiuotemplo, e restabeleceu o sacerdócio e os sacrifícios. Embora peloreconhecimento de seus próprios profetas, a “maior glória” dotemploaindaestivesseporvir,DeusempartemostrousuaglórianotemplodarestauraçãodeIsrael.Em termos da real vinda do Messias, o Evangelho de JoãodemonstraquenaPessoadoVerboencarnado“vimosasuaglória”(Jo 1.14 ARA). Jesus identificou-se como o templo que seriadestruído, mas seria restaurado em maior glória (Jo 2.19). Eleproclamou que “fontes de água viva” fluiriam do interior daquelequecressenele, assim identificando-secomoa fontedaáguaviva:“’Quemcreremmim,comodizaEscritura,doseuinteriorfluirãorios de água viva’. Ele estava se referindo ao Espírito, que maistardereceberiamosquenelecressem.AtéentãooEspíritoaindanãotinhasidodado,poisJesusaindanãoforaglorificado”(Jo7.38,39NVI).Outrocumprimentodavisãodo templodeEzequielpodeservistono fato que cada crente sob a nova aliança se torna templo,residênciadaDivindade (1Co6.19).Tambémascomunidades, emCristo, podem ser descritas como templos vivos de Deus (1 Co3.16,17).60Da perspectiva da escatologia consumada, parece difícil separar avisão do templo deEzequiel da visão do apóstolo Joãona ilha dePatmos. Sim, é verdade: não aparece nenhum “templo” na visãoconcedidaaJoão.MastudoaquiloqueotemplosimbolizouatravésdosséculosencontrasuaplenamanifestaçãonoSenhorDeusTodo-PoderosoenaPessoadoCordeiro,quetomaramolugardotemplo(Ap21.22;Jo2.19-22).OriodavidaapareceemApocalipse juntocom suas árvores que dão frutos em cadamês do ano.61 Mas, navisãodoApocalipse,asfolhasquenãomurchamservemparaacuradasnações(Ap22.1,2).62Naverdade,o templodeEzequiel jamaisfoi projetado para funcionar de maneira estritamente provincial,pois ele declara especificamente que estrangeiros residentesreceberãoamesmaherançadosnativos(Ez47.22,23).Masacidadecelestialémuitomaisvastaporincluirtodasasnaçõesdaterra.63

Em suma, a visão final deEzequiel do templo restaurado com a glória

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restituída é uma conclusão apropriada para sua mensagem aos exilados deIsrael,bemcomoparaasgeraçõesvindouras.Apesardeseguirospassosdosprofetasanterioresaoexílio,queprofetizaramantesdele,Ezequielclaramentefoialémdasconcepçõesdessesqueoprecederam.

1AsreferênciasbíblicasarespeitodaprimeiradeportaçãobabilônicanosdiasdeJeoaquimencontram-seem2Reis24.1,2e2Crônicas36.5-7.Daniel identifica seuexílio comestaprimeiradeportação(Dn1.1-4),aopassoqueEzequieldatasuasprofeciasemrelaçãoaoexíliosoboreinadodeJoaquim(Ez1.2;vejatambém2Rs24.10-17;2Cr36.9,10).

2Bright(HistoryofIsrael,343).3Westermann(Isaiah40–66,5).

4 Childs(BiblicalTheologyoftheOldandNewTestaments,162).5Ackroyd(ExileandRestoration,32).

6Ibid.,36.7Sãodeadmirarasconfiantesdeclaraçõesfeitaspelamaioriadoseruditosdaatualidadecomrespeitoàproduçãoliteráriadesseperíodoàluzdoescassoconhecimentodequehojesedispõe.Brueggemanncomenta: “Atualmente, é cada vezmais concorde queo Antigo Testamento em sua forma final éproduto do exílio babilônio e uma reação a ele”(Theology of theOld Testament, 74, ênfase nooriginal). Esse quadro hipotético é surpreendente à luz da condição do povo israelita durante seuexíliorelativamentebreve.Umpovoderrotadovivendocomopequenaminorianumaterraestranha,espalhado por um vasto império por cidades, vilas e vilarejos, e mesmo no meio de pobresassentamentos,supostamentedáorigemaumgrupodeautoresanônimoseeditoresqueproduzemomaisgloriosocorpodeliteraturareligiosadahistóriadahumanidade.Deacordocomareconstruçãocrítica geralmente aceita, esses exilados produziram e/ou editaram a história deuteronomista, o queenvolveuamodelagemdasformasfinaisdolivrodeDeuteronômioedoslivroshistóricosdeJosuéa2Reis; retrabalharamaessênciade todoocorpusprofético;compuseramasgloriosasprofeciasdoDêutero-Isaías, juntamente com uma completa edição da primeira porção de Isaías, de forma quepudesse conformar-se com a mensagem do Dêutero-Isaías; desenvolveram os códigos das leisreferentesaocultodaescolasacerdotal,incluindoacoleçãoecodificaçãodaspráticasdeadoraçãodestinadas ao templo de Jerusalém, que, naquela época nem existia mais, e o seu sacerdócio; erestauraram a versão sacerdotal da narrativa da mais antiga história de Israel nos veneradosdocumentos do Pentateuco. Afirma-se que todo esse trabalho foi executado durante o exílio deIsrael, a despeito da ausência de qualquer evidência objetiva que possa dar suporte à teoria. Alt(Essays on Old Testament History and Religion, 85) afirma que a tradição deuteronomista podiamanter-se viva sob o governo babilônio “unicamente de forma secreta”. Bright (Historyof Israel,350)declaraque“emboraosdetalhessejaminteiramentedesconhecidos,oprocessodacompilaçãoque no fim das contas resultou nos livros proféticos como os conhecemos foi executado” duranteesseperíododeexíliodeIsrael.Ackroyd(ExileandRestoration,84)sugereumadatanoséculoVIou V para o Código da Santidade, baseando sua conclusão em afirmações de Levítico 26, “queevidentementeconsideravamumasituaçãodeexílio”.EleobservaqueomaterialdeLevítico26.33-39retrataumacircunstânciadeexílio“deformatãoclaraquetornaevidenteadataçãodoséculoVIparasuaformafinal”(86n.9).Nessecaso,arejeiçãodapossibilidadedeprofeciapreditivaeexatafunciona claramente como o critério último para julgar a genuinidade de uma peça de literaturabíblica,adespeitodasexplícitasreivindicaçõesemcontráriodosprópriosdocumentosbíblicos.

8 Oded (Mass Deportations and Deportees, 20). Veja a sua análise posterior do assunto em“SettlementsoftheIsraeliteandJudeanExiles”.

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9Pritchard(AncientNearEasternTexts,288).

10Oded(MassDeportationsandDeportees,35–39).11Ibid.,24.

12Ibid.,25.13Ibid.,53–54.

14Ibid.,67.15Ibid.,104.

16Ibid.,114–15.17Ibid.,84.

18Ibid.,90,96.19Ibid.,115.

20 Os documentos Murashu têm recebido especial atenção. Eles são “um grupo de documentosjurídicos babilônios compilados em Nipur durante a segunda metade do século V a.C.” (Stolper,“Murashû,Archiveof”,927).Essearquivopareceserafonteextrabíblicamaisimportantearespeitodosjudeusduranteocativeirobabilônio.Masmesmoaquiaevidênciase limitafundamentalmenteàaparênciadosnomesquepodem indicar aorigem judaicadaspessoasmencionadas.Stolper resumesuas observações: “Pouco se pode dizer sobre [aqueles que têm esses nomes judeus] que osdiferenciedeoutroshabitantesdaregião....Elesnãoocupamespaçoespecialnostextos,masconstamalicomoproprietáriosdealgumpequenosítio,comopequenosoficiais,oucomotestemunhas”(928).Zadok (Jews in Babylonia, 48,49) registra que os nomes associados com a famíliaMurashu sãotipicamentebabilôniosequeasuposiçãodequeafamíliaera judiaé“totalmentesemfundamento”.Mas ele conclui que os judeus residiam na maioria dos distritos que circundavam Nipur eaparentementepossuíampropriedadesemváriosdos21assentamentos(50).Masdeve-senotarqueessematerialpertenceapelomenosumséculodepoisdoexílio inicialdos judeus (Ackroyd,ExileandRestoration,32).

21Bright(HistoryofIsrael,348).

22Ibid.,349.23 Block (Ezekiel, 1.82) conclui que essa antiga explicação de Orígenes “continua sendo a maisprovável”.Eichrodt (Ezekiel, 52) diz: “é bemprovável” que o número indique a idade do escritor.Zimmerli (Ezekiel, 1.114) é mais cauteloso, concluindo que “não há como ter certeza a respeitodisso”.

24VejaEichrodt(Ezekiel,52).25Pode-seleroseguintenainscriçãodetrêsalçasdejarrasquesãodaépocadeJeoaquim/Zedequias:“PropriedadedeEliaquim,servodeJeoaquim”.SeesseJeoaquiméomesmojovemreiquereinouporapenas três meses, a inscrição pode confirmar que alguns da população judia ainda consideravamJeoaquim, em vez de seu tio Zedequias, como seu rei legítimo, mesmo estando ele cativo naBabilônia. Veja Block (Ezekiel, 1.86). Observe também a atrevida proclamação do falso profetaHananias,proferidaduranteoreinodeZedequias,dequedentrodedoisanosoSenhortrariadevoltaoreiJeoaquimjuntamentecomostesourosdotemplo(Jr28.1-4).

26Como no caso de quase todos os livros proféticos, fazem-se contínuos esforços para separar asprofeciasgenuínasdeEzequieldaspalavrassecundáriasquesepresumemteremsidointroduzidasporeditores posteriores. Mas ultimamente a tendência geral é creditar mais deste livro profético aopróprioEzequiel do queno caso damaioria dos outros escritos proféticos.De acordo comChilds,“estásetornandocadavezmaisclaroqueoscritériosobjetivosliteráriosouhistóricosestãodeixandode fazerdistinçãoentreníveisprimários e secundários” (“Enemy from theNorth”,159n.24).Deist

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apresenta a sugestão de uma escola de discípulos que produziu uma importante quantidade domaterial do profeta como “talvez uma invenção ad hoc, para a qual não existe evidência firme(contemporânea) nem textual nem sociológica” (“Prophets”, 588). Whitney (Exilic Age, 87–93)chega ao ponto de provar que as palavras de Ezequiel apresentam características de um ambientebabilônioenãopalestino,equesópoderiamtersidoescritaspor“alguémqueestivessepresentenacena histórica” (89). Ele, então, afirma que, se “qualquer sistema lógico” deve ser atribuído aoprofeta, as passagens que dão esperança a Judá e a Jerusalém “precisam ser consideradas comosendo inserções de mãos posteriores” (93). Pelo contrário, a lógica da esperança baseada noscompromissos pactuais do Senhor não teria dificuldade nenhuma em prever a restauração após oexílio.

27 As diferentes profecias são datadas muito regularmente do início ao fim do livro e quase semnenhuma exceção estão dispostas emordemcronológica.Oponto de referência para a datação deEzequieléoanoemqueoreiJeoaquimfoiparaoexílio(597a.C.).Seguemosdetalhes:

quintoano 593a.C. 1.2

sextoano 592a.C. 8.1

sétimoano 591a.C. 20.1

nonoano 589a.C. 24.1

décimoprimeiroano 587a.C. 26.1;30.20;31.1

décimoano 588a.C. 29.1

vigésimosétimoano 571a.C. 29.17

décimosegundoano 586a.C. 33.21

vigésimoquintoano 574a.C. 40.1

28Block(Ezekiel,1.105).

29Eichrodt(Ezekiel,118)afirmaqueadescriçãodasrodasdeveserumainserçãoposterior.Aofazê-lo,acabacomomaisimportanteaspectodavisãodocomissionamentodeEzequiel.

30 Zimmerli (Ezekiel, 2.185), comentando a responsabilidade de Ezequiel como sentinela, fala da“completa irracionalidade da atividade divina”. Ele se refere ao fato de Deus primeiro outorgarpoderesauminimigocontraseupovoeentãoenviarumasentinelaparaalertá-los.“Essaéalógicadivina!”,dizZimmerli.Essaexclamaçãoatrevidadepreciaa justiçadeDeusao trazer juízosobreoímpio renitente, amisericórdia deDeus emnão ter prazer namorte do ímpio (Ez 33.11), e a plenaresponsabilidadedetodoserhumanoporsuasprópriasações.

31AintegridadedosdoiscomissionamentosdeEzequielcomosentinelaédefendidaporKlein(Ezekiel,28–32).Ele argumentaque a primeira descrição é privada e diz respeito à ocasiãodo chamadodoprofeta,aopassoqueasegundadescriçãoépúblicaeposterioràquedadeJerusalém.

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32 Para um desenvolvimentomais completo dessa progressão (ou regressão) das depravações, vejaBlock(Ezekiel,1.283–300).

33Keil(Ezekiel,1.151).34 Block (Ezekiel, 1.272–73) diz que o texto de Ezequiel 11.14-21 “parece totalmente alheio àdescrição da visão”. Mas o contraste entre a palavra de juízo para os corruptos habitantes deJerusalém e a palavra de encorajamento para os deportados castigados do exílio produzem aestruturadaunidadedocapítulo.

35VejaTaylor(Ezekiel,236),queé totalmenteenfáticonesseponto.Veja, também,Eichrodt(Ezekiel,509);eZimmerli(Ezekiel,2.264).

36Taylor(Ezekiel,236),citandoateoriadeH.Riesenfeld.

37Veja a extensa abordagem da visão de Ezequiel emBlock (Ezekiel, 2.381–92), o qual apresentainterpretações judaicasecristãs,asquaisconsideramqueEzequielestá fazendoadescriçãodeumaverdadeiraressurreição.BlockexaminaváriaspassagensbíblicasanterioresaEzequielquefalamemtermosderessurreição(386,387,esp.n.97)econclui:“Deformanovaedramática,aconvicçãodeque a sepultura não precisa ser o fim providenciou um poderoso veículo para anunciar a plenarestauraçãodeIsrael.Amaldiçãoseriaremovida.Yahwehtrariaseupovodevoltaàvida”(387).

38JohnSkinner,conformecitadoemTaylor(Ezekiel,236).TayloreoutrosconsideramqueSkinnerestátotalmenteerradonessaavaliação.

39 Não há indícios específicos de que o próprio Moisés tenha entendido plenamente todas asimplicações da autorrevelação de Deus na sarça ardente. Apesar disso, ele ouviu o SENHOR daAliançaidentificar-secomooDeusdeAbraãoadespeitodospatriarcasestaremmortosjáháquase500anos.Essapistaa respeitoda ressurreiçãodosmortospodeserdetectadaemoutrospontosdanarrativa deGênesis. Quando explica a atuação de Isaque na execução domandamento divino desacrificar seu filho,Abraão disse a seu servo: “Depois de [nós] adorarmos, [nós] voltaremos” (Gn22.5NVI).DeacordocomoNovoTestamento,Abraãoconcluiuque,senecessário,Deuspoderiaressuscitar Isaquedentre osmortos (Hb11.19).Emvezde sedesesperar àmedidaque envelheciasem tomar posse da promessa da terra, Abraão começou a buscar uma cidade “cujo arquiteto eedificador”eraDeus,euma“pátriamelhor”,quetinhaascaracterísticasdasrealidadescelestiais(Hb11.10,16). Josémostrou sua confiançano futuro êxodo aodar ordens a respeitodadisposiçãodosseus ossos (Gn 50.25; veja tambémHb 11.22). Ele poderia termostrado preocupação de que seusossosfossemtransportadosparaaterraprometidameramenteporrazõessentimentais.Poroutrolado,suadeterminaçãonesseassuntopode indicarqueeleesperavaparticiparpessoalmentenapossessãoda terra que havia sido prometida. Se Abraão tinha avançado em sua fé ao ponto de buscar umacompreensão celestial e eterna da terra da promessa (Hb 11.10,16), então é quase certo que essaexpectaçãotivessepassadoparageraçõesposteriores,entreasquaisestavaJosé(Gn18.17-19).

40Apesarda forte recusaporpartedemuitosa respeitodapresençada féna ressurreiçãonoAntigoTestamento, existem outras passagens que merecem cuidadosa consideração: Salmo 16.9-11 (At2.24-32);Salmo17.15(1Jo3.2);Isaías25.6-8(Ap21.4);Isaías26.19;Daniel12.2,3(Jo5.28,29).ÉsignificativoqueoresumodePauloarespeitodaessênciadoevangelhoqueeletinharecebidoequetambém passara adiante inclui a afirmação de que Cristo “ressuscitou no terceiro dia, segundo asEscrituras”(1Co15.4NVI).

41 Feinberg (Prophecy of Ezekiel, 214) enfatiza os dois estágios envolvidos no processo daressurreiçãodescritoporEzequiel.Primeiro,osossoseos tendõesse juntam,eentãooEspíritodeDeus sopra a vida. Sugere-se que as duas fases representam o retorno de Israel à terra sem avitalidadedanovavidaespiritualdeDeus, seguidodeumsegundoestágiocomo reavivamentodaverdadeira fénoMessiasvindouro.Masoparaleloóbvio como relatoda criação emGênesis2.7deixa claro que esse retorno à vida, embora ocorra em dois estágios, precisa ser visto como umeventosó.Deusprimeiroformouohomemdopódaterra,eentãosoprouemsuasnarinasofôlegoda

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vida.SomentedepoisdessasegundaaçãodoCriadoréqueohomemfoichamadode“servivente”.Deigualforma,oesqueletoformadopelajunçãodosossosemEzequielestavatotalmentesemvidaenquantoestavaalinovale.SomentedepoisqueosoprodavidadeDeusentrouéqueoesqueletopassouaviver.

42UmaanálisesemelhantearespeitodaimportânciadavisãodotemplorestauradodeIsraelpodeserencontradaemWalker(JesusandtheHolyCity,313).ÀluzdereferênciasàprofeciadotemplodeEzequiel no Novo Testamento, Walker conclui que os escritores do Novo Testamento“aparentementenãoesperavamqueaprofeciadeEzequielsecumprisseliteralmentenofuturoemumtemplofísico.Emvezdisso,essaprofeciatornou-seummodobrilhantedefalardemaneirasimbólicadaquiloqueDeustinhaagoraexecutadoemJesusepormeiodele.Porisso,paradoxalmente,emboraavisãodeEzequieltenhaseconcentradotantonotemplo,elateveseucumprimentoúltimonacidadeonde ‘não havia templo’, porque ‘seu templo é o SenhorDeus Todo-Poderoso e o Cordeiro’ (Ap21.22)”.

43Paraumaanálisedossinaisproféticoscomrelaçãoàpalavradoprofeta,vejaBlock(Ezekiel,1.164-167).

44Paraumresumodadiscussãoarespeitodanaturezadospedaçosdemadeiraesuasinscrições,vejaBlock(Ezekiel,2.397–406);eZimmerli(Ezekiel,2.273).

45Paraessepontodevista,vejaBlock(Ezekiel,2.410),oqualdizque“ofocoétnicodoprofeta”éenfatizadopelaexpressãofilhosoudescendentesdeIsrael.MasédifícilprovaressaafirmaçãoporcausadocarátermultiétnicodosdescendentesdeAbraãodoponto inicialda identificaçãodaquelesquehaveriamdeherdaraspromessasfeitasaele.Desdeoinício,qualquergentiopodiatornar-seumjudeupleno submetendo-se ao ritual da circuncisão, ao passo que descendentes étnicos podiam sertotalmenteexcluídos.VejaGênesis17.12-14;Êxodo12.48.

46Grintz(“Jew,”21,22).47Block(Ezekiel,2.412).

48 Para um desenvolvimento mais pleno dessa perspectiva, veja Robertson (“Current CriticalQuestions”).

49Klein(Ezekiel,166).

50AfraseédeZimmerli(Ezekiel,2.327).51Ezequieldáumasegundadataparaessavisão,odécimoquartoanodepoisdaquedadeJerusalém,quecorrespondeexatamenteaovigésimoquintoanodoexíliodeJoaquim(de597a572a.C.).

52VejaZimmerli(Ezekiel,2.346);eBlock(Ezekiel,2.495,512).53OexíliodeJoaquimcomeçouem597a.C.,deformaqueovigésimoquintoanoé572a.C.Vinteecincoanosadicionaiscorrespondemaoano547a.C.,pelomenosdezanosantesde536a.C.,datadoretornodoexílio.

54OnomeJerusalémémencionado26vezesemEzequiel,masnunca,noscapítulos40-48.55OKethib(otextoescrito)dosmanuscritoshebraicosdiz:“elemediucincovarascúbitos[khamesh-emot] com a vara de medir” (Ez 42.16), o que não faz sentido. Os antigos escribas hebreus,guardando-sedemodificarotextoescrito,aindaassimindicaramnoQere(otextoqueeralido)queofraseadooriginaldotextodeveriaser“elemediu500[khamesh-meot]varascomavarademedir”.Éóbvioquea formaescritado textohebraiconesteversículocontémumantigoerrodeescrita,umavez que a área do templo eramuitas vezesmais larga do que cinco cúbitos, e dizer “cinco varascúbitos”éduplamenteconfuso.Naopiniãodeváriosintérpretes,antigosemodernos,500varas(cadavara equivalendo a seis cúbitos ou aproximadamente 1.370 metros) fazem a medida parecerexageradamentegrande.ASeptuagintaapresentaotextodeformasimples:“500pelavarademedir”,masessaaparentemodificaçãodotextoentãorequeraeliminaçãode“500varas”dostrêsversículos

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subsequentes, implicando que a medição foi em cúbitos. Em apoio à versão “500 varas” existe aobservaçãoquea frasedeacordocomavarademedir transmiteomesmo sentido apesardenãocontarcomapresençadapalavraadicionalvaras.Keil(Ezekiel,2.269)concluiqueaexpressão“deacordocomumcúbito”em40.21funcionadamesmaformaque“deacordocomavara”em42.16.Seamediçãotivessesidoemcúbitos,otextode42.16deveriaser“deacordocomocúbito”emvezde“deacordocomavara”.ParaveradiscussãocompletadeKeilarespeitodoassunto,veja269-273.Aexpressão“500varas”em42.16é tambémfirmementeapoiadapela triplaapariçãonos trêsversículosseguintes:“500varasdeacordocomavarademedir”(42.17-19).

56VejaadiscussãodeZimmerli(Ezekiel,2.402).Paraumainterpretaçãoalternativaquemesmoassimprefereapalavracúbitos,vejaBlock(Ezekiel,2.568n.161).

57Fairbairn(Ezekiel,470).

58NaopiniãodeBlock(Ezekiel,2.503),“parecequeacomunidadeposterioraoexílionãofeznenhumesforçoparacolocarempráticaoprojetodeEzequiel”.

59VejaadescriçãodessepontodevistaemBlock(ibid.,503).

60Block (ibid., 505) expressa bemo ponto de vista demuitos cristãos de hoje quandodiz que seria“inconcebível”queEzequielprevisseumaplenarestauraçãodoseupovosemumcumprimentoliteralde uma dinastia davídica restaurada e uma residência permanente de Deus no meio de umacomunidade étnica judia restaurada. Mas ele imediatamente comenta: “Contudo, à vista dasconsideraçõescitadasacima,parecemelhorinterpretaroscapítulos40-48deformaideológica”.Elerejeita uma interpretação escatológica da visão do templo, mas afirma que, por meio dessa visão,Ezequiel “assenta o fundamento para a espiritualização paulina do templo” (506). Block não vêinconsistêncianessespontosdevistadivergentes.

61 Para maiores detalhes sobre as origens paradisíacas do rio de Ezequiel, veja Zimmerli (Ezekiel,2.510). Quando se refere a Gênesis 2.10-14, Zimmerli diz: “Todos os grandes rios do mundoprocedemdeste lugar,que,poressa razãoprecisamserconsideradoscomonumaaltamontanha.Omundo habitado vive do excedente das riquezas do Paraíso”. Esse tema do rio do Paraíso “foiclaramente usado na formação de Ezequiel 47.1-12, juntamente com o singelo ambiente daPalestina”.Amesma imagística ocorre no Salmo 46.4, que se refere às “correntes que alegram acidadedeDeus”.Veja,também,Isaías8.6,7,ondeapequenafontedeJerusaléméapresentadacomotendomaispoderdoqueasgrandeságuasdaAssíria.

62Block(Ezekiel,2.503n.26)entraemmuitosdetalhesparademonstrarqueotemplodeEzequielnãocorrespondeàvisãodeApocalipse21e22.Masosváriosparalelosparaosquaiselechamaatençãomais apoiam a similaridade do que a rebatem.Ele sugere como contraste que a “cidade santa” deEzequielnãorecebenome,aopassoqueacidadeemApocalipseéJerusalém.MastalvezpossamosdizerquearazãoporqueacidadenãorecebenomeemEzequielsejaporqueelenãoqueriaqueelafosseidentificadaprecisamentecomaatualcidadedeJerusalém.MasnocasodavisãodeJoão,suacidadenão corriao riscode ser confundida coma cidade terrena.Block tambémchamaa atençãoparaofatoqueacidadedeEzequieléquadrada,enquantoadeJoãopossuioformatodeumcubo.Mas não implica a passagem da sombra para a realidade exatamente esse tipo de alargamento devisão?

63Paraumadiscussãomaisextensaarespeitodeconsideraçõeshermenêuticasrelativasàinterpretaçãodavisãodo templodeEzequiel, vejaFairbairn (Ezekiel, 260-268, 431-450).Dentreoutrospontosnotáveis,Fairbairnindicaqueointérpreteprecisaperceberqueomaterialvememformadevisão,queosmodernosintérpretescristãosliteralistasusamexatamenteosmesmosprincípiosqueostradicionaisintérpretes literalistas judeus, e que esse método de interpretação, se for seguido de maneiraconsistente,levaráàrejeiçãodeJesusoCristo.

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OPROFETISMO DURANTE O EXÍLIO DA

NAÇÃO : DANIEL

ÉDAPERSPECTIVAdeumsacerdotequeEzequielconsideraahistóriadoexílioedarestauraçãodeIsrael.Eleconcentrasuaatençãonaprofanação,devastaçãoeperfeita restauraçãodo templo.Poroutro lado,DanielconsideraahistóriadoexílioedarestauraçãodeIsraeldeumpontodevistatotalmentediferente.Eleobservaoexílioea restauraçãodanaçãocomoalguémqueservecomooficialdoEstadodeimperadoresquegovernamomundo.1Deacordocomorelato do livro,Daniel foi feito cativo durante uma das primeiras incursõesvitoriosas de Nabucodonosor contra o Ocidente.2 Depois de liquidar osremanescentesdoexércitoassírioeasprincipaistropasdefaraódoEgitonabatalhadeCarquemisem605a.C.,oreidaBabilôniaviu-senototalcontroledetodooterritórioaoestedoEufratesatéafronteiradoEgito.3AEscriturarelataque“oreidoEgitonãomaisseatreveuasaircomseuexércitodesuaspróprias fronteiras, pois o rei daBabilônia havia ocupado todo o territórioentreoribeirodoEgitoeorioEufrates,queantespertenceraaoEgito”(2Rs24.7NVI).Aparentementeaomesmotempo,essepoderosoreidevastouJudáelevoudevoltaconsigoumseletonúmerodejovensescolhidos,deformaquepudesseeducá-losparaserviremnacortebabilônica(2Rs24.1;2Cr36.5-7;Dn1.1-4).

Comtodaacerteza,aexperiênciadoexílioeaesperançadarestauraçãotinham grande importância para Israel. Mas esses eventos também tinhamclaras implicações para outras nações do mundo. A mensagem do livro deDaniel concentra-se no impacto da dispersão do povo de Deus entre osimpériosdomundoeoresultadofinaldadispersãodanaçãoescolhida.

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I.Umtemaconstante:odomíniouniversaldoreinodeDeus

Dos profetas de Israel, somente Daniel e Ezequiel fazem uso de umaimagem que descreve o carátermundial dos reinos que são objeto das suasprofecias.Essa figura comparaos impériosdomundoaumagrande árvoreque se expande, na qual as aves do céu fazem seus ninhos. De acordo comEzequiel,anaçãodaAssíriaseassemelhavaaumcedrodoLíbano,erguendo-se acimade todas asoutras árvoresdocampo.Todas as avesdocéu faziamninhos em seus galhos, os animais davam cria debaixo dos seus ramos, eoutrasgrandesnaçõesviviamàsuasombra(Ez31.3,5,6).Mas,porcausadoorgulho e perversidade da Assíria, o Senhor a entregou à mais cruel dasnações estrangeiras, que a derrubou (31.10-12). Ezequiel, então, aplica amesma figura ao faraó do Egito: “você também será derrubado e irá parabaixodaterra,juntocomasárvoresdoÉden”(31.18NVI).

MesmoofuturoerestauradoreinodeIsraelédescritoporEzequielcoma mesma figura. Primeiro, o profeta descreve a erradicação de uma vinhacomo símbolodo exílio doúltimo rei de JudápormeiodeNabucodonosor(17.1-21).MasentãoopróprioSenhordizqueElepegaráumramodotopodeumcedroeoplantaránoaltodosmontesdeIsrael.Esseraminhose tornaráumcedroexcelente.Avesdetodotipofarãoninhosnessaárvoreeencontrarãoabrigoàsombradosseusramos(17.22,23).Pormeiodessafigura,Ezequielantecipa a futura restauração da monarquia israelita depois do exíliobabilônico. Inerente à figura, encontra-se a expectativa de um gloriosorenascimentodoreinodeDeusnaterra.

No livro de Daniel, a figura de uma árvore que cresce e provê lugarseguroparaasavesdocéufazeremseusninhosdescreveoreiNabucodonosordaBabilônia.OreicontaaDanielseusonhoarespeitodeumaárvoreenorme:“A árvore... era visível até os confins da terra. Tinha belas folhas, muitosfrutos, e nela havia alimentopara todos.Debaixodela os animais do campoachavamabrigo,easavesdocéuviviamemseusgalhos;todasascriaturassealimentavamdaquelaárvore”(Dn4.11,12NVI).Nabucodonosorestáconfusoquantoaosignificadodessaárvoremagníficaeodecretovindodocéudequeeladeveriasercortada.Danielexplicaavisão:“essaárvore,órei,éstu!”(4.22NVI). Seu império havia se estendido pela largura da terra, mas ele seriahumilhado pelo Deus do céu. Depois da sua restauração, o rei reconhece oDeus Supremo, reconhecendo que a grandeza do domínio representado pelaárvorequecrescianaverdadepertenceaoDeusdeDaniel.OdomíniodeDeusé eterno, e Ele age conforme lhe agrada com os poderes do céu e com os

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povosdaterra(4.34,35).OvastodomíniodessemonarcaterrestresófuncionasobodomíniouniversaldoDeusdeDaniel.

Omesmo conceito do domínio universal e eterno doDeus dos céus serepetecomotemaconstantedoinícioaofimdolivro.Emsuainterpretaçãodavisão inicial queNabucodonosor tevedeuma imensa estátua,Daniel afirma:“Naépocadessesreis,oDeusdoscéusestabeleceráumreinoquejamaisserádestruídoequenuncaserádominadopornenhumoutropovo.Destruirátodososreinosdaquelesreiseosexterminará,masessereinoduraráparasempre”(2.44NVI).

Depois que Daniel foi liberto da cova dos leões, reaparece o tema docarátereternodoreinodoSenhor.Oreidiz:“EstoueditandoumdecretoparaqueemtodososdomíniosdoimpériooshomenstemamereverenciemoDeusdeDaniel.PoiseleéoDeusvivoepermaneceparasempre;oseureinonãoserádestruído,oseudomíniojamaisacabará”(6.26NVI).

Mais uma vez, em sua própria visão dos quatro animais, quecorrespondem às quatro partes da estátua de Nabucodonosor, Daniel vêalguémsemelhanteaoFilhodoHomemaproximando-sedoAnciãodeDias.Essa figura humana de origem divina recebe especial honra: “Ele recebeuautoridade, glória e o reino; todos os povos, nações e homens de todas aslínguasoadoraram.Seudomínioéumdomínioeternoquenãoacabará,eseureinojamaisserádestruído”(7.14NVI).

A subsequente interpretação dessa visão chega à mesma conclusão.Apesar dos poderes que se opõem ao Ancião de Dias possam triunfar emalgumas situações em seu conflito contra os santos, sua vitória parcial nãoduraparasempre(7.21,22).Nofinal,seráestabelecidooreinoeternodeDeus:“Entãoasoberania,opodereagrandezadosreinosquehádebaixodetodoocéuserãoentreguesnasmãosdossantos,opovodoAltíssimo.Oreinodeleserá um reino eterno, e todos os governantes o adorarão e lhe obedecerão”(7.27NVI).

Essa figuradaárvorequecresce,apresentadaporEzequieleDaniel,osdoisprofetas israelitasqueviveramnoexílio,nãoapareceemnenhumoutrolugar nos registros escritos dos profetas de Israel, nem anteriores nemposteriores ao exílio. A própria experiência de exílio deles, sua vida sob odomínio dos grandes monarcas do século VI a.C., fez essa figuraespecialmente adequada para eles. Em certo sentido, os dois eram como asaves do céu fazendo ninhos nos galhos desses grandes impérios. Apesar detodoosofrimentoqueessessoberanostrouxeramàhumanidade,elestambémconcederambênçãoparaoshabitantesdasuaterra,tantoaoscidadãosnativoscomo aos deportados de outros povos. Jeremias antecipou essa condição

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quandoaconselhouaoscativosdeIsrael:

Construamcasasehabitemnelas;plantemjardinsecomamdeseusfrutos.Casem-seetenhamfilhosefilhas;escolhammulheresparacasar-secomseusfilhosedeemassuasfilhasemcasamento,paraque também tenham filhos e filhas.Multipliquem-se e não diminuam. Busquem a prosperidade dacidadeparaaqualeuosdeporteieoremaoSenhoremfavordela,porqueaprosperidadedevocêsdependedaprosperidadedela.(Jr29.5-7NVI)

Ver esses reinos prosperar em seus vastos domínios deve ter ajudadoesses dois profetas do exílio em sua compreensão daquilo que deveria seresperado da concretização final do reino universal do único e verdadeiroDeus.Aideiadeumgrandereino,comseucentroemumaltomontenaterrade Israel, está claramente presente nas profecias de Ezequiel (Ez 17.23). AfiguradescritaporDaniel temdimensõesaindamaiores, apesarde trabalharcomamesmaestrutura.Seuconceitodovindouro reinodeDeus rompeuoslaçosdoprovincialismojudeueenvolveutodoouniversocriado.EmDaniel,nenhuma das representações desse vasto reino de Deus se restringe ou serelacionaespecificamentecomaterraouanaçãodeIsrael.EssereinoeternodeDeusconformeeleoviuincluiigualmentetodasasnaçõesdomundo.

A figura de uma árvore que cresce representando o reino de DeusencontraseudesenvolvimentoúltimonoensinodeJesus.Elecomparaoreinode Deus a uma semente de mostarda, a menor semente quando plantada nochão.Umavezplantada,ela“atingeaalturadeumaárvore,demodoqueasavesdocéuvêmfazerosseusninhosemseusramos”(Mt13.32;Mc4.32;Lc13.18,19 NVI). Os profetas do exílio de Israel, que viveram longe da terranatal,foramasprimeiraseúnicaspessoasdaantigaaliançaquemencionaramessascomunicativas figuras. Jesus, aoantecipar aplena restauraçãodopovodeDeus no reino doMessias, faz uso damesma figura. Povos de todos ostemposenaçõesdomundotêmsidoabençoadoscomavindadessereinodoCristoehaverãodecontinuarsendoabençoadosatéaconsumação.

TodoolivrodeDanieltrabalhaapartirdessepontodevistadavindadeumpreditoreinodeDeusquedevetomarolugardetodososreinosterrenosdeste mundo. O livro tem por certo que Deus possui um plano que vai serconsumado em seu reino, tomando o lugar de todos os poderes terrenos,temporais.Daniel, como representantedeDeusno reinodaBabilônia, surgecomooreveladorinspiradodessedivinoplanouniversal.

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II.Cincopontosdecisivos

Quando se examina esse temaquepermeiao livrodeDaniel, é precisoconsiderarcommaisdetalhecincopontosdecisivos: (1)agigantescaestátuade Nabucodonosor (2.31-45); (2) a pedra cortada sem auxílio de mãos(2.34,35);(3)osquatroanimais,o“pequenochifre”eoFilhodoHomem(7.2-28);(4)as“setentasemanas”(9.24-27);e(5)o“reidedurosemblante”que“seexaltaráeseengrandeceráacimadetodososdeuses”(8.23;11.36).

A.AgigantescaestátuadeNabucodonosor(Dn2.31-45)A enorme estátua de cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e

quadrisdebronze,pernasdeferro,epésempartedeferroeempartedebarrofoimostradaaoreiNabucodonosornumsonhodecunhoprofético.DeacordocomDaniel,osonhodoreiteveorigemcom“aquelequerevelaosmistérios”com o propósito de mostrar “as coisas futuras”, antecipando “o que vaiacontecer”(2.29).Osonhomostrou“oqueaconteceránofuturo”(2.45).Emdecorrênciadisso,NabucodonosorreconhecequeoDeusdeDanieléoDeusdosdeuseseoSenhordosreis(2.47).4

Os quatro diferentes elementos da enorme estátua representam quatrosucessivosreinosmundiais(2.37-40).Masquaissãoessesreinos?

Daniel identifica a cabeça de ouro como especificamente o reino deNabucodonosordaBabilônia(2.37,38),masasoutraspartesdaestátuanãosãoexplicitamente associadas comnenhum império subsequente.Se for levada asério a declaração de que esse sonho revelou a Nabucodonosor o curso dahistóriano séculoVI a.C., não édifícil identificaros reinos subsequentes.AMedo-Pérsia destruiu a Babilônia, a Grécia invadiu aMedo-Pérsia, e Romatomou o lugar da Grécia como o maior dos antigos impérios. Comoconsequência,essanotávelpassagemantecipaasprincipais linhasdahistóriahumana pelos 500 anos subsequentes. O alvo final dessa história é vistoquando o Deus do céu estabelece um reino que jamais terá fim. Esse reinodivino esmagará todos os reinos anteriores e durará para sempre (2.44).DignodenotaéofatoqueDanieljamaisantevênitidamenteumreinoisraelitacomoaconcretizaçãoúltimadospropósitosdeDeusnahistóriahumana.Emvezdisso,quandoultrapassaesseponto,elevêumreinodeDeusmundialpoisincluitodososoutrosreinosdomundo.

Em geral, identificações alternativas dos quatro reinos sucessivos nãoconsideramavisãodeNabucodonosorcomoumaprediçãodeeventosfuturosentreasnaçõesdomundoqueculminamcomavindadoreinodeDeusàterra.

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Emvezdisso,essespontosdevistaalternativosveemessanarrativacomoumregistro da história que já ocorreu, que apenas é apresentada como seestivesse descrevendo eventos futuros. Pressupondo não ser possível aprediçãodeeventos futuros, especialmentenessaamplaescala, algumaoutraexplicaçãodevefazersentidoparaavisãodeNabucodonosor.5UmavezqueosmanuscritosdisponíveisdolivrodeDanieldatamsomentedoséculoIIa.C.6e,umavezqueoscapítulos finaisdo livroemgeralsãoconsideradoscomodescrições de importantes detalhes da carreira deAntíoco IVEpifânio (175-163a.C.),conclui-sequeasseçõesnarrativasdeDanielnãopodemestender-sealémdoseventosdoséculoIIa.C.Emdecorrênciadisso,asquatropartesdaestátuasãoidentificadascomumasucessãodenaçõesqueseestendeapenasatéoséculoIIa.C.,deixandoRoma(eavindadeJesusCristo)deforadocampodeaçãodeDaniel.7 Essa perspectiva sugere a seguinte sequência:Babilônia,Média,PérsiaeGrécia.8

O resultadodesse rearranjo coloca o autor deDaniel emmaus lençóis,uma vez que o reino daMédia separado da Pérsia nunca se estabeleceu emlugardaBabilônianemgovernouosjudeus.9FalardeumreinodaMédiaqueconquistouaBabilônia,que,porsuavezfoiinvadidapelaPérsiaécometerumerrohistóricobásico.EssadifamaçãodareputaçãodoautordeDaniel,quemquerquetenhasidoele,éaindamaiscomplexa,pois,seessematerialdefatosurgiunoséculoIIa.C.,oautoréculpadodefalsidadepordaraimpressãodeque seus escritos prediziam eventos futuros centenas de anos antes deocorrerem.10Dessaforma,oautordeDanielsemostraumbommentirosoeumpéssimohistoriador.11

Éclaro,essepontodevistaprecisadesconsiderarofatodequeolivrodeDanielsubsequentementeidentificaoImpérioMedo-Persacomoumaentidadeconjunta.Daniel,mais tarde,vêumcarneirocomdoischifres.Essecarneirode dois chifres é especificamente identificado como “os reis daMédia e daPérsia”(8.20).Esseimpérioconjuntoé,então,atacadoporum“bodepeludo”,identificado como “o rei da Grécia” (8.21). Dessa forma, Daniel dá claraevidênciadoentendimentodequeoImpérioMedo-Persaéumaentidadeúnicaenãodeveserconsideradaemsuasvisõescomoimpériosseparados.

Quandosecomparaaposteriordescriçãodeváriasnações,emDaniel8,comasequênciadequatroimpériosemDaniel2,somoslevadosàconclusãoque,dopontodevistadeDaniel,oreinoquesucedeuaBabilôniaprecisaseraMedo-Pérsia,seguidapelaGrécia.Comessaordememmente,oquartoreinoprecisa ser considerado como sendoRoma, e a “pedra feita sem auxílio demãos” que se expande num império mundial deve ser associado com onascimentodoCristianismo.Seolivroéconsideradocomoeleseapresenta,o

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soberano propósito de Deus de redenção através das épocas torna-seplenamentevisível.12

B.Apedracortadasemauxíliodemãos(Dn2.34,35)A pedra cortada sem auxílio de mãos humanas na visão de

Nabucodonosor requer maior consideração. Essa pedra esmaga os pés daenormeestátuaeentãosetornauma“montanhaenorme”que“encheomundotodo” (2.35).A pedra é identificada com o reino que jamais será destruído,levantado pelo Deus do céu (2.44).Mas será possível dizer alguma coisa arespeitodaorigemdessafiguradapedraquepossaajudaraidentificá-lacomprecisão?

AntesdoexíliodeIsrael,oprofetaIsaíasidentificouoSenhordaaliançade Israel comoumsantuáriopara seupovo,e tambémcomo“umapedra detropeço,umarochaquefazcair”paraambasascasasdeIsrael(Is8.14NVI).PorocasiãodaprofeciadeIsaías,anaçãodeJudájuntamentecomseurei,porcausa da sua incredulidade, tremia diante da coalisãomilitar sírio-efraimita.AindaqueoSENHORdaAliançasejaoDeusdeIsrael,Elenãofazacepçãodepessoas.SeanaçãonãoquercreremEmanuel,elesserãojulgadosdeformatãojustaeseveracomoasnaçõespagãs.Assim,oSenhorsemanifestaaelescomoumapedraqueosfaztropeçareumarochaqueosfazcair.

Como uma “pedra” inabalável, o Senhor não muda seu propósito deexecutarjustojuízosobreseusprópriosservosousobreasnaçõesdomundo.EmDaniel,afiguradapedraservecomoinstrumentosimbólicodojustojuízode Deus sobre as nações do mundo. Essa pedra, quando surge, esmaga asnações e então se estende e torna-se um reino que governa todos os povos.Mas, assimcomoopróprio reiNabucodonosor serviu comopersonificaçãosimbólicadopoderterreno,assimessapedradosonhodoreifuncionacomouma figura da cabeça real do reino de Deus na terra. Essa “pedra” não émeramenteumpoderinanimado,uma“coisa”.Pelocontrário,a“pedra”deveservista comoumaPessoa,umsoberanoquepersonificao reinodeDeus esuplantatodososoutrosmonarcasdaterra.

DopontodevistadasEscriturasdanovaaliança,JesusCristoéapedrasoberana que surgiu nos dias do quarto reino de Daniel e que exerceautoridadesobretodososreisdaterra.Apesarderejeitadopelopovojudeu,quehaviasidocomissionadoareconstruirosantotemplodeDeusnomeiodeummundodepravado,Jesus tornou-seaprincipalpedraangulardo reinodeDeus na terra (Mc 12.10; Sl 118.22). Ele é a “pedra que faz que os homenstropecem”ea“rochaqueofende”(1Pe2.8,citandoIs8.14).Eletornou-seosingulargrandepontodejuízoparatodososhomensenações,pois:“Todoo

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quecairsobreestapedraserádespedaçado,eaquelesobrequemelacairseráreduzidoapó”(Lc20.18NVI).

C.Osquatroanimais,opequenochifre,eoFilhodoHomem(Dn7.2-28)

AprópriavisãodeDanielarespeitodosquatrograndesanimaissurgindode um mar agitado (7.2,3) suscita a questão da estrutura do livro. Há umagrandetentaçãodesimplificaraestruturadolivrodividindo-oentreDaniel1-6, que apresenta experiências históricas e revelações que surgemdo contatocom os governantes da Babilônia, e Daniel 7-12, que registra os sonhos evisõesdopróprioDaniel.Umadivisãomaisconvincenteéaseguinte:13

Daniel1(hebraico)descreveocenáriohistóricodolivro;Daniel 2-7 (aramaico) começa e termina com visões dos quatroreinosqueseestendempelofuturo;14Daniel8-12(hebraico)lidacomvisõeseeventosrelacionadoscomo segundo e o terceiro reino deDaniel, conduzindo em direção àconsumaçãofinal.

EssaanáliseestruturaldolivroressaltaaíntimaconexãoentreosquatroreinosdeDaniel2eosquatroanimaisdeDaniel7.Essaconexão,porsuavez,sugereumaligaçãoentreapedracortadasemauxíliodemãosemDaniel2eoFilhodoHomememDaniel7.15

NatentativadeentenderavisãodeDaniel7,hátrêselementosquesãodegrande importância: os quatro animais, o “pequeno chifre”, e o Filho doHomem.

1.OsquatroanimaisHávários fatores inerentes àdescriçãodosquatro animais emDaniel7

queconfirmamsua identidadecomoosmesmosquatro reinos representadospelas várias partes da enorme estátua emDaniel 2: Babilônia,Medo-Pérsia,GréciaeRoma:

O primeiro animal é “como um leão”,mas tem asas de águia.Asasasdesteanimalsãoarrancadas,elheédadoocoraçãodehomem(7.4).EssadescriçãoseajustaaoreiNabucodonosor,identificadonaprimeira visão como a cabeça de ouro. O arrancar das asas e ocoração de homem representam sua humilhante experiência nasmãosdoTodo-Poderoso(4.31-33).

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O segundo animal é “erguido por um dos seus lados”, deixandoclaro que tem dois lados estabelecendo uma congruência com ocarneiro de dois chifres em Daniel 8, que é identificado como oreinodaMedo-Pérsia(7.5;8.3,20).O terceiro animal surge como um leopardo com quatro asas. Arápida conquista desse reino é ressaltada por compará-lo a umleopardo, especificamente um leopardo equipado com quatro asas(7.6a). Essa característica da velocidade corresponde bem àsconquistas de Alexandre o Grande e faz conexão com a visão dobodedeumchifre sóvindodoOcidente,quecruzaomundo todosem tocaro chão, que é identificado comoaGrécia (8.5,21).Esseanimal tem quatro cabeças, antecipando a quádrupla divisão doimpériodeAlexandre(7.6b;vejatambém8.8).A aparência desse quarto animal não corresponde a nenhummembro específico do reino animal. Em vez disso, sua aparênciaassustadora, grandes dentes de ferro, e dez chifres ressaltam oaspecto animal dessa criatura e lembram o leitor que todas essasimagens se mostravam como animais. Algo de nobre pode serassociadocomaspartesdeouroepratadaestátuaemDaniel2.Masesses animais surgindo do mar agitado são todos criaturascarnívoras,ameaçasmortaisàvidahumana.

Dessa forma,osquatro animaisdeDaniel 7 correspondem intimamenteaos quatro elementos da estátua de Daniel 2. Em Daniel 7, os poderesdominantes dos tempos vindouros são vistos como animais que ameaçam avidadopovodeDeus.Surgindodomaragitado,elesrepresentamadesordemcriadapelosreinoscorruptosdeummundodecaído(Is17.12-14;Jr46.7,8;Ap13.1).SeoreinodeDeusdeveserrestauradonaterra,elevaisedepararcomgrandeoposiçãodapartedessasautoridadesanimalescas.

2.OpequenochifreOsdezchifresdaquartacriaturasãosuplantadosporumpequenochifre.

Apesar de ser uma personificação do poder que pertence ao quarto animal,esse chifre “possuía olhos como os olhos de um homem e uma boca quefalavacomarrogância”,queimediatamentelheatribuiumafunçãosinistra(7.8NVI). Esse pequeno chifre reaparece na interpretação da visão concedida aDaniel.Deacordocomsuaarrogantemaneiradefalar,essapersonificaçãodopoder humano “falará contra oAltíssimo, oprimirá os seus santos e tentarámudar os tempos e as leis” (7.25). Surpreendentemente, os “santos serão

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entregues nasmãos dele” por um período específico (“um tempo, tempos emeio tempo” – 7.25), mas no final das contas Deus vai fazer cessar essaopressão contra seupovo.Ele removerá todopoder subversivo ao seu justogoverno,e“asoberania,opodereagrandezadosreinos...serãoentreguesnasmãosdossantos,opovodoAltíssimo”(7.26,27NVI).

Queméessepequenochifre?DopontodevistadeDaniel,elerepresentauma personificação dos poderes governamentais que surgem como umamanifestação tardiadoquarto império.Seasequênciadosquatroreinosestácorretamente identificada,elesurgecomopartedamanifestação romanadospoderesterrenoserepresentaasíntesedaautoridadehumanaemoposiçãoaoreinodeDeus.16

DignadenotaéaextensãodoparalelismoentreessepequenochifredoquartoanimaldeDanieleabestadescritaemApocalipse13.Essabestasurgedomar,temdezchifres,esepareceemsuasváriaspartescomumleopardo,um urso, e um leão (Ap 13.1,2; Dn 7.4-6). Essa besta profere blasfêmias eexercesuaautoridadeporquarentaedoismeses,oequivalentedeDanielpara“um tempo, tempos, emetade de um tempo”, ou seja, três anos emeio (Ap13.5;Dn7.25).Elarecebepoderparaguerrearcontraossantos“evencê-los”(Ap13.7;Dn7.21).OssantosquesãoconquistadospelabestasãodescritosemApocalipse como aqueles que vão “para o cativeiro”, indicando que aexperiênciadoexíliodeIsraelagoraé tratadacomsignificaçãoescatológica(Ap13.10).Deumpontodevistaneotestamentárioconsumado,essepequenochifredoquartoanimalemDaniel7pareceencontrarsuapersonificaçãofinalnadescriçãodePaulodo“homemdopecado”.Deacordocomaexpectativadoapóstolo,ele“seopõeeseexaltaacimadetudooquesechamaDeusouéobjeto de adoração, chegando até a assentar-se no santuário de Deus,proclamandoqueelemesmoéDeus”(2Ts2.4NVI).

Oresultadofinaldesseconflitocomasváriasmanifestaçõesdabestaseráuma inevitável vitória dos santos.Numponto anterior, umadas três cabeçasdessa besta recebeuo que parecia um ferimentomortal,mas foi curada (Ap13.3).Nodevido tempo, aqueleque fezo céu, a terra e omar será adoradoapropriadamente por sua criação (Ap 14.7). Nesse dia, um “como Filho doHomem” surgirá numa nuvem branca com uma coroa de ouro na cabeça eumafoiceafiadanamão(Ap14.14).Elevaipresidirojustojuízoaquetodosos seres criados terão de se submeter (Dn 7.11-14,22,26,27). Esse Filho doHomem é o terceiro elemento que requer maior consideração na visão deDaniel7.

3.OFilhodoHomem

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EmumadasmaisdiscutidaspassagensdasEscrituras,Danieldescrevesuavisão deum como o Filho doHomem que vem com as nuvens do céu até oAncião deDias.EsseFilho doHomemé descrito nosmais elevados termosimagináveis:“Elerecebeuautoridade,glóriaeoreino;todosospovos,naçõesehomensdetodasaslínguasoadoraram.Seudomínioéumdomínioeternoquenãoacabará,eseureinojamaisserádestruído”(7.14NVI).

VáriascoisaspodemserafirmadasarespeitodesseFilhodoHomem.Emprimeiro lugar, ele é um homem, uma pessoa, um ser humano em vivocontrastecomosanimaisanteriormentedescritos.Comohomem,elecarregaaimagem do Deus Criador e possui o potencial de governar sobre toda acriação(Gn1.27,28).Emsegundolugar,elevemnasnuvensatéoAnciãodeDiasparaumaocasiãodeinvestidura.Essavindanasnuvensindicasuaorigemdivina, uma vez que, nas Escrituras, somente o próprio Deus vem nasnuvens.17Emterceirolugar,esseFilhodoHomemrecebedoAnciãodeDiasum reino que é universal e eterno. Todos os povos de todas as nações oadoram,eseudomíniosobretodosduraparasempre.Emoutraspalavras,eleéReidosreiseSenhordossenhores.Essereino,tãoextensoquantoodomíniodeDeus,vaimuitoalémdasfronteirasdeumimpériojudeurestauradorestritoàterrabíblica.

EssegloriosoFilhodoHomemnãopodeseralocadoapropriadamentenagaleriadosheróisjudeusdoséculoIIa.C.ConformeJerônimoinsisteemseucomentáriodoséculo IV,pormaisquese forcea imaginação,esseFilhodoHomem emDaniel não pode ser identificado com JudasMacabeu, pois estehomemobviamentenãoveionuncacomasnuvens emglóriaparagovernareternamente sobre todas as nações.18 Toda a imagem da visão de Danieltranscende as barreiras das limitadas conquistas da resistência macabeia aogovernoselêucida.

Nem deve esse Filho do Homem ser definido como personalidadecorporativa,comoapenasumsímbolodossantosdoAltíssimo.Éverdadeque,maistardenestecapítulo,asoberaniadosreinosterrenoséentreguenasmãosdos santos, o povo do Altíssimo (7.27a). Mas logo se percebe que o reinopertenceaoAltíssimoequetodososgovernantesoadorarãoelheobedecerão(7.27b).AadoraçãodetodasasnaçõestambémpertenceaoFilhodoHomem,mas,jamais,aossantos(7.14).19

Curiosamente,esseFilhodoHomemnãoénuncaidentificadoporDanielcomoumfilhodeDavioucomoumherdeirodotronodeDavi.EssetipodenotaçãoseriadeesperarseolivrodeDanieltivessesuaorigemnosdiasdosMacabeus.20Aausênciadesse tipodeconexão tambémindicaaautenticidadedessapassagemnocontextodoDanielhistórico,quegastatodasuavidaadulta

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no mais elevado nível da corte oficial do Império Babilônico. Daniel tinhauma tarefa especial de interpretar o significado do exílio de Israel para asnações do mundo em que vivia. O reino de Deus que ele descrevia jamaistomouaformadeumreinorestauradodeIsrael.Emvezdisso,eraumreinodealcancemundialqueincluíaigualmentetodasasnaçõesdomundo.

Ao mesmo tempo, embora não especificamente relacionado com aexpectativadeumreinodavídicorestaurado,esseFilhodoHomemrepresentaumaextensãonaturalda ideiadeumvindouroMessiasdavídico.AfiguradoFilhodoHomememDaniel7secomparacomaimagemdapedracortadasemauxílio demãos humanas emDaniel 2. Essa imagem anterior emDaniel sedesdobradaanteriordescriçãodapedraencontradanoSalmo118.22,23eemIsaías8.14;28.16.EmDaniel 7, contudo, essa figuradapedramessiânica seexpande para torná-la apropriada para a ampla visão do reino de DeusconformeelesedesenvolveemDaniel.

Esse ponto de vista a respeito doFilho doHomememDaniel encontraclaraconfirmaçãonofatoqueJesususavaessaexpressãoparaidentificarasimesmo. De acordo com o testemunho dos Evangelhos, Jesus raramente sereferiaa simesmocomapalavraMessias, seéquealgumavezo fez, eemapenas em poucas ocasiões foi assim chamado pelos outros. Mas Eleconstantemente falava de simesmo como o Filho doHomem.A razão paraessa escolha por parte de Jesus parece ser que, pelo fato do nomeMessiasestar sobrecarregado de concepções populares com fortes implicaçõespolíticas,aexpressãoFilhodoHomempodiafuncionarparaJesuscomoumaautodesignação de caráter mais flexível. Apesar de certos textos do AntigoTestamento fazerem uso da expressão, ela aparentemente não tinha searraigadoprofundamenteno linguajardodia adia.21 Emdecorrência disso,Jesus podia usar livremente a expressão com referência a si mesmo semprovocar fortes conotações políticas na mente dos seus ouvintes. Ele tinhacondições até mesmo de modelar a definição da expressão, o que Ele fezdescrevendo o Filho doHomembasicamente de duas formas: como alguémque sofreriamaus tratos (Mt 17.22,23) e como alguém que viria em glóriacomojuiz(Mt24.30,31).

O auge do uso da expressãoFilhodoHomem por parte de Jesus comouma autodesignação surge no final da sua vida quando Ele se coloca,deliberadaeinquestionavelmente,nafunçãodogloriosoFilhodoHomemdeDaniel.EsseusodaexpressãoporpartedeJesuseclodenoestágiocentraldomomento dramático do seu interrogatório por parte do sumo sacerdote deIsrael:“VocêéoCristo,oFilhodoDeusBendito?”perguntaosumosacerdoteaJesus.“Sou”,disseJesus.“EvereisoFilhodohomemassentadoàdireitado

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Poderoso vindo com as nuvens do céu” (Mc 14.61,62 NVI). “Com esseversículo, chegamos ao clímax cristológico do Evangelho”, diz France.22Depois,elecomenta:

Ousoque[Jesus]fazdessetítulo[FilhodoHomem]emlugardaquelequeosumosacerdoteusa,“o Cristo”, serve para enfatizar o contraste entre essa visão e as conotações que o termo Cristopoderiaterevocadoparaamaioriadosjudeusdaqueletempo.EleéoMessias[egōeimi],massuavisão messiânica encontra-se num nível completamente diferente daquele que o sumo sacerdotepudessetersugerido.QualquerconceitoarespeitodoMessiascomoumlibertadornacionalistanumnívelpolíticofoicompletamentedeixadoparatrás:O“triunfo”deJesusestáàmãodireitadeDeus.Mesmo que a acusação trazida perante Pilatos ressuscite as conotaçõesmais políticas da palavraChristos, Jesus outra vez, em sua declaração, distancia-se de forma decisiva de qualquerentendimentodessetiporelacionadocomsuamissão.23

O sumo sacerdote não precisa de mais nenhum testemunho. Cheio depiedosa indignação, ele rasga as vestes de Jesus e declara-o culpado deblasfêmia.Todososqueestãocomeleconcordamqueohomemquefazessetipodedeclaraçãomereceamorte.

PelofatodeJesustersecolocadonafunçãodoFilhodoHomemdescritoporDaniel,EleéjulgadocomoquemreivindicaaDivindadeparasimesmo.Se Ele descreve a simesmo assentado entronizado àmão direita deDeus evindodocéuenvoltoemnuvens,EletemdeestarassumindoaprerrogativadeDeus como soberano e juiz. Embora Jesus tenha anteriormente usado essaterminologiadeFilhodoHomemparaidentificar-semuitasvezes,Eleagoraclaramente se coloca no contexto da figura de Daniel do Filho do Homemglorificado, reivindicando assim tanto a Deidade como a humanidade. Aspessoas podem escolher reconhecer ou repudiar essa declaração de Jesus arespeitode simesmo,mas a reivindicaçãoé evidente.Ele éoDeus-homem,dignodaadoraçãodetodososhomensenações.Aesserespeito,oconceitodeum vindouro governante messiânico é conduzido a um significativo passoalém da limitada ideia de um descendente de Davi que restaura um reinotipicamentejudeunaterraprometidaaospais.Agoraoreivindourouneumaorigem divina com sua manifestação humana. Em vez de descrever arestauraçãodepoisdoexíliocomosimplesmenteumretornodopovojudeuàsuaantigaterranatal,aesferadestereinoagoraincluitodosospovosdetodasasnacionalidadesnumreinoeternocomdimensõesuniversais.

D.Assetentasemanas(Dn9.24-27)UmadaspoucaspassagensnosprofetasquedefatousaapalavraMessias

encontra-se na profecia de Daniel a respeito das setenta semanas (9.24-27).Essa passagem tem sido chamada de “sombrio pântano do criticismo doAntigo Testamento”, e, no entanto, é uma das mais gloriosas profecias das

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Escriturasdaantigaaliança.24Masapassageméinterpretada,opontocentralda revelação de Daniel é clara: “Deus decretou um tempo definido para arealizaçãodetudoqueénecessárioparaaverdadeirarestauraçãodopovodeDeus do cativeiro”.25 É preciso juntar as várias peças que compõem essequebra-cabeçasexegéticoparaentenderaprofecia.

1.OcontextoOscontextosbíblico-teológicos– imediato, intermediárioepleno– têm

todos importante papel na interpretação dessa passagem. Começando com aabrangência intermediária que circunda todo o livro deDaniel, o lugar dassetenta semanas tem especial significado. O sonho de Nabucodonosor arespeitodaimagememDaniel2previusucessivosreinosterrenos,começandocom a Babilônia, continuando com a Medo-Pérsia, Grécia e Roma. EssasequênciateveseuclímaxnotriunfodoreinoeternoemundialdeDeussobretodososdomíniosterrenoscomoa“pedrafeitanãocommãoshumanas”queseexpandiuatéenchertodaaterra.AprópriavisãodeDaniel7arespeitodosquatro animais culminou coma entregade todos esses reinos a umcomooFilhodoHomem,vindonasnuvens,queseaproximavadoAnciãodeDias.Deformasemelhante, as“setenta semanas”deDaniel9abarcao tempodesdeoatualreinodaMedo-Pérsiaatéachegadadoungido,opríncipe.Emcadaumadessas três instâncias de visão profética registradas em Daniel 2, 7 e 9, otemposeestendedoperíodocontemporâneodoprofetaatéavindadoMessiasnasglóriasdoseureinosempiterno.

OprópriocontextoimediatodeDaniel9ligaareferênciainicialdos“70anos” do cativeiro de Israel, conforme preditos por Jeremias, às “setentasemanas” que antecipam dias futuros (9.2,24). A relação entre esses doissetentas leva naturalmente ao contexto bíblico-teológico mais pleno daprofecia conforme ela se relaciona com as Escrituras da antiga aliança.“Setenta” não era simplesmente um número escolhido ao acaso quedeterminava a extensãodos anos de cativeiro de Israel.Conforme indicouohistoriador inspirado de Israel, seu cativeiro durou 70 anos por causa danegligênciadeIsraelparacomoprincípiodoAnodeDescanso(2Cr36.21).Essa análise dos 70 anos do cativeiro de Israel tem sua raiz ainda maisprofundanahistóriadaredenção,retrocedendoaotestemunhodoPentateuco.A ameaça damaldição pactual por causa da desobediência de Israel era queeles seriam expulsos da terra da sua herança, de forma que “a terra terá odescanso sabático que não teve quando vocês a habitavam” (Lv 26.35NVI).“Entãoaterradesfrutaráosseusanossabáticosenquantoestiverdesolada”(Lv26.34NVI).Essaconsideraçãomaisplenadocontextodosversículosfinaisde

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Daniel9 forneceaestruturaapropriadaparacompreenderanaturezados70anos.

2.AnaturezadassetentasemanasPode-se presumir que as setenta semanas de Daniel 9 devam ser

consideradas puramente de um ponto de vista figurativo, à luz da funçãoescriturísticamaisampladoconceitodoShabbathnahistóriadaredenção.Naverdade,nãosedevedeixardelevaremcontaocarátersimbólicodonúmerosete como um aspecto do conceito do Shabbath. A perfeição dos setesconformepersonificadosnas“setentasemanas”faladomovimentoemdireçãoao clímax final da obra redentora do SENHOR da Aliança no mundo. OdescansodoShabbathquerestaparaopovodeDeusprecisaservistocomooalvofinaldassetentasemanas(Hb4.9).

Aomesmo tempo, o contexto em que a profecia deDaniel se encontrainevitavelmenteapontaaumarealordemcronológicanospropósitosdeDeus.JeremiasnãopredissequeobanimentodeIsraeldaterrateria,porexemplo,aextensão de 23 ou 41 anos – ele predisse 70 anos. Mesmo que osexcessivamenteescrupulosossedesentendamquantoaoexatocomeçoefinaldos 70 anos, o fato é que a duração do tempo permanece amesma. Setentaanosantesde536a.C.noslevadevoltaaproximadamenteaoano605a.C.,queserviuaJeremiasdemarcaparaoiníciodos70anosdeexílio(Jr25.1-3,11).

Se uma sequência cronológica específica é evidente nos 70 anos docativeiro de Israel conforme Jeremias profetizou, e se esse princípio dosetenta na parte anterior de Daniel 9 tem uma ligação importante com osetentadaparteposteriordomesmocapítulo,parecequeas“setentasemanas”também têm alguma significação cronológica.26 Além disso, é preciso daralguma razão para a decomposição das setenta semanas de Daniel em trêsperíodosdesetesemanas,sessentaeduassemanas,eumasemana.Umaanálisepuramentefigurativaétotalmenteinadequadaparaexplicaressasubdivisãodassemanas;eadivisãotemevidenteimportâncianavisãodeDaniel.

Pode-se encontrar a solução para a questão concernente à natureza dassetenta semanas numa inclusão do simbólico no cronológico. Não se deveesquecer,noquadromaisamplodomovimentoatravésdahistóriaemdireçãoaoclímaxdospropósitosredentoresdeDeusnorepouso,oShabbathquerestaparaopovodeDeus.Aomesmo tempo,épreciso fazeralgumesforçoparadeterminaradisposiçãocronológicaintencionaldostempos.

3.OslimitescronológicosdassetentasemanasAsuposiçãodequeopontoinicialdassetentasemanasdeveser536a.C.

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comodecretodeCirotornainsustentávelqualquerentendimentocronológicodapassagem.Assetenta“semanas”deDanieltêmaclaraintençãodefazerecoaos70anosdoexíliodeIsraelmencionadospreviamentenomesmocapítulo.Umavez que os 70 anos de cativeiro representam70 anos deShabbath queforamnegligenciadosporIsrael(2Cr36.21;Lv25.1-7),assetenta“semanas”de Daniel são mais bem compreendidas como um conjunto de setenta“semanas” de anos, ou 490 anos. Se esses 490 anos começam em536 a.C.,eles chegam apenas até 47 a.C., uma data sem nenhum significado especial.Uma consideraçãomais fiel ao próprio texto indica que o ponto inicial dassetenta semanas de anos não é o retorno inicial dos judeus em resposta aodecreto deCiro em 536 a.C.,mas o retorno subsequente sob o comando deNeemias em aproximadamente 445 a.C. A proclamação do decreto de“reconstruirJerusalém”,enãosimplesmenteoretornodopovoparaa terra,marca o começo do relógio cronológico das setenta semanas (Dn 9.25). Adistinção entre essas duasproclamações reais se torna evidente nadescriçãohistóricadosdoiseventosnoslivrosdeEsdraseNeemias.OdecretodeCiroem536a.C.destinou-seàreconstruçãodotemplo,aopassoqueodecretodeArtaxerxes, de 445 a.C., delegou poderes para a reconstrução da cidade (Ed1.2-4;Ne1.1,3;2.3,5,8,17).27

Comessepontoinicialparaassetentasemanasou490anos,asubdivisãodas setenta semanasdeanosé tãonotável comoaprofeciade Jeremiascomrespeitoàextensãodos70anosdecativeirodeIsrael.Aprimeiraunidadedesete semanas, ou 49 anos, estende-se do decreto de Artaxerxes aaproximadamente 400 a.C., que corresponde à época emque a revelação daantigaaliançachegouaofim.Apróximaunidadedesessentaeduassemanas,ou434anos,chegaaaproximadamente30d.C.,aépocadavida,ministério,morte e ressurreição de Jesus, o Ungido. A semana final de anos tem seuprópriosignificadoespecial,quetambémprecisaserdeterminadonaestruturadeumcontextoplenamentebíblico-teológico.

Obviamente, esse tipo de antecipação detalhada do curso da história dahumanidade não pode ser acolhido pelo moderno criticismo negativo. NocontextocontemporâneoemqueétotalmentenegadaaideiadequeDeustemum plano para este mundo, a inevitável conclusão tem de ser que, dada aprecisão com que esse material descreve o real curso da história dahumanidade, é forçoso que tenha sido composto depois de acontecidos osfatos.Mas,consideradanaformaemquenaverdadeseapresenta,istoé,comouma profecia detalhada de longo prazo do curso dos eventos humanosconforme estão relacionados com os propósitos redentores de Deus, aprofeciadeDanielcomrespeitoàssetentasemanasé,defato,extraordinária.

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Deformaalguma,elafigurasozinhaentreasprofeciascomrespeitoàobradoMessiasvindouro.Maselaproduzumaféfirme,bemfundamentadanoDeusque ordena o curso da história de forma que sirva aos seus mais extensospropósitosredentores.

4.AconsumaçãodaredençãonassetentasemanasSeis propósitos redentores dignos de nota são percebidos no contexto

dessas setenta semanas, três delas referindo-se à remoção do pecado e trêsdescrevendo a instituição da justiça. Em primeiro lugar, esse período édeterminadoporDeuscomoumtempode“acabarcomatransgressão,darfimao pecado, expiar as culpas” (Dn 9.24a NVI). Esses três primeiros itensrefletemclaramenteareaçãodivinaaofatodeDanielterconfessadodezvezesseu pecado na primeira metade do capítulo (Dn 9.5,6,7,8,9,10,11,14,15,16).EssatripladescriçãodaremoçãodopecadocolocanocentrodospropósitosdeDeusnahistóriahumanaaremoçãodasofensasqueseparamaspessoasdoseu Deus Criador. A transgressão, o pecado e a iniquidade serão expiados,acabadosechegarãoaofim.EssareferênciaàremoçãodopecadohumanopormeiodaexpiaçãoantecipanadamenosqueoeventodosacrifíciodoinocenteCordeirodeDeuspelopecadodoseupovo.Pormeiodasuamortenacruz,eporsuamortesomente,podeserremovidaadívidapelatransgressãodaleideDeus. Nenhum outro evento, passado ou futuro, pode repetir aquilo que amortede JesusCristoconsumou.Aomesmo tempo,a completa remoçãodorealpecadoetransgressãoprecisaaguardaroretornofinaldeCristo,quandoEleremoveráainiquidadedeformaabsolutamentedefinitiva.

Além disso, esse período de setenta semanas é indicado porDeus para“trazer justiça eterna, cumprir a visão e a profecia, e ungir o santíssimo[lugar]”(Dn9.24b).AjustiçaqueJesusCristoestabeleceuporsuavidaemortejamaisteráfim,poisopecadorqueumavezfoideclaradojustopelafépossuiparasempretodaajustiçadoFilhodeDeusquelhefoiimputada.Pormeiodaperfeiçãodasuaobranacruz,oSenhorJesusCristo–ressurreto,assuntoaocéueexaltado–ungiuosantíssimolugarcelestialcomseusangue(Hb9.12).ComoaPalavradeDeus aohomem, final e consumada, Jesus selouvisão eprofecia.Umavezquesuaobraredentorafoiapropriadamenteinterpretadaetranscrita pelos apóstolos e profetas da era doNovo Testamento, não haviamaisnecessidadedevisãoeprofeciaadicionais.

Todos os seis itens consumados pela conclusão das setenta semanasfocamavida,morte,ressurreiçãoeentradanaglóriadoSenhorJesusCristo,o Ungido, o soberano do seu povo. As visões anteriores da história dahumanidadedoscapítulosprecedentesdeDaniel confirmamesseponto,pois

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emcadacasoelesculminamcomCristovindoaomundoeaexpansãodoseureinoatéofinaldostempos.EmDaniel2,Eleéapedracortadasemauxíliodemãoshumanas,queesmagatodososimpériosterrenoseentãoseexpandeatéencher a terra. Em Daniel 7, Ele é o glorioso Filho do Homem, que seaproximadoAnciãodeDias, põe fimaopecado, e recebedelepoder sobretodososreinosdomundo.Porisso,avisãodassetentasemanasdeDanielseconcentra nos dois grandes adventos do Cristo. Nesta visão, toda a históriahumana é dramaticamente descrita. É nesse contexto que precisa sercompreendidaasingularidadedaseptuagésimasemana.

5.AsingularidadedaseptuagésimasemanaPorsisó,aseparaçãodaseptuagésimasemanadasoutrassessentaenove

mostra a singularidade desta última semana. Mas, especificamente qual é anatureza dessa singularidade? Por que ela é separada das outras semanas?Muitas respostas têmsidopropostasaessaquestão.Podemoscompararduasdessasmuitasrespostas.

Em primeiro lugar, alguns estudiosos da Bíblia consideram singular alocalização temporal desta septuagésima semana. De acordo com essahipótese, normalmente chamada de “teoria do intervalo”, a septuagésimasemana é diferente pelo fato de estar cronologicamente separada das outrassessentaenovesemanas.Deacordocomessepontodevista,apresençadeumintervalo entre as setenta semanas é provado pela destruição de Jerusalémquase40anosdepoisdamortedeCristo,oquerepresentaumperíodolongodemais para a septuagésima semana.28 Em decorrência disso, surge umintervalo inicial nas setenta semanas. Nesse meio tempo, toda a eracontemporânea da Igreja se desenvolveu. Os 2.000 anos passados, desde aépoca de Cristo até o presente, representam um intervalo nas semanasprofetizadas de Daniel. Esse intervalo pode continuar indefinidamente pelofuturoecontinuaráatéofiminesperadodaeradaIgreja,doestabelecimentodoImpérioRomanorestaurado,eocomeçodoreinomilenarjudeu.

Existem duas considerações óbvias que depõem contra essa teoria dointervalocomrespeitoàseptuagésimasemanadeDaniel.Emprimeirolugar,acompleta ausência de qualquer indício de um intervalo na própria passagemdepõe contra a teoria. Absolutamente nada em Daniel 9.24-27 nem mesmosugere, muito menos estabelece esse tipo de intervalo na progressão dassetentasemanas.Kaiserpropõequeafrasedepoisdesessentaeduassemanas“parecesugerirumintervalo”.29Masaminúsculapossibilidadeexegéticaquesefundamentaemumainvulgarinterpretaçãodacomumpalavradepoisparecebaseprecáriademaisparaestabelecerumintervalode2.000anosdeduração

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nahistóriadahumanidade.Tudonocontextosugereumasucessãonormaldaseptuagésimasemanadepoisda sexagésimanona.Édifícil imaginarcomooescritor poderia ter dito que a septuagésima semana seguiu o término dasexagésima nona sem dizer que a septuagésima semana veio “depois” dassemanasanteriores.

Um segundo ponto de vista sobre a questão da natureza especial daseptuagésima semana parece arraigado demodomais firme no contexto deDanielenaestruturabíblico-teológicamaisampladaEscritura.Essasemanafinal,diferentedassemanasanteriores,édivididaemduasmetades:“Nomeioda semana [i.e., ameio caminho andado da semana; khatsi] ele dará fim aosacrifícioeàoferta”(9.27).Essefimdosacrifícioseidentificacomoexpiarda iniquidade e o trazer da justiça (Dn 9.24) consumados anteriormente nassetenta semanas. Uma vez que a iniquidade foi coberta por uma expiaçãoadequada, “já não resta sacrifício pelos pecados” (Hb 10.26). Esse eventoculminante, de acordo com Daniel 9.27, vai ocorrer na metade daseptuagésima semana de sete anos, ou seja, aos três anos e meio da últimasemana.

Afiguradostrêsanosemeioémaisbemdesenvolvidanocapítulofinaldo livro de Daniel e mais extensamente no livro do Apocalipse. Em seudiálogo final com a pessoa que lhe fazia as revelações, Daniel ouve umapergunta: “Quanto tempo decorrerá antes que se cumpram essas coisasextraordinárias?” (Dn 12.6 NVI). O homem vestido de linho faz um solenejuramento de que o período será por “um tempo, tempos e meio tempo”,refletindoamesmamedidadetempoanterior,emqueossantossofrerãonasmãos do pequeno chifre do quarto animal de Daniel 7 (12.7; veja também7.25). Essa mesma medida aparece outra vez na forma de mil, duzentos enoventa (ou mil, trezentos e trinta e cinco) dias que devem acabar entre otempoemqueéabolidoosacrifíciodiárioeoestabelecimentodaabominaçãoquecausadesolação(12.11,12).

As várias maneiras em que essa última metade da semana final édesignada em Daniel sugere que a medição do tempo foi modificada decronológico/simbólica para puramente simbólica. O livro do Apocalipsereflete a mesma diversidade ao referir-se a um período idêntico como umartifício simbólico: mil, duzentos e sessenta dias, quarenta e dois meses, e“tempo, tempos, emetadedeum tempo” (Ap11.2,3;12.6,14;13.5).AúltimametadedaseptuagésimasemanadeDanielpode,assim,serconsideradacomouma forma diferente de medir o tempo. Essa última meia semanasimbolicamente representa um período de tempo mais longo, de duraçãoindefinida, que se estende da cessação do sacrifício até a destruição do

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anticristonaconsumaçãodapresenteera.Duranteessaépocafinaldetempo,seépossívelextrairdolivrodoApocalipsealgumapercepção,overdadeiropovodeDeusseráperseguidocomcrueldadeenquantotestemunhaportodoomundo.MaselestambémserãoprotegidospelasordenaçõesprovidenciaisdoSenhor(Ap11.2,3;12.6,14;13.5).Nofinal,todososinimigosdoSenhorserãodestruídosporocasiãodasuavinda.30

Esta seçãodeDaniel deve ser vista comode importantespassagensqueantecipamavindadoMessiaseseureinonestemundodecaído.Quandodasuavinda, o pecado será derrotado, a justiça eterna será estabelecida, e serãodestruídos os poderes das trevas personificados na obra de Satanás emanifestados pormeio dos poderes terrenos domundo.A vinda de Jesus oCristo,ooferecimentodoseucorpocomosacrifício,easubsequentedifusãodoseureinoemtodasaseraspelosconfinsdaterradevemencorajarocrentea olhar adiante com grande expectativa da derrota final de todos os seus enossos inimigos. Mesmo que os santos tenham de suportar um prolongadoperíododeperseguição,sualibertaçãofinalserágloriosa.

E.Oreidedurosemblante(Dn8.23;11.36)Aquele que aceita a realidade da profecia preditiva nas Escrituras da

antiga aliança, não terá nenhum problema com respeito aos primeiros novecapítulos de Daniel quanto à antecipação da história da redenção que sedesenvolve dos tempos do Império Babilônico até a aparição de Cristo. Àmedida que a história da antiga aliança se aproximava de seu fim,provavelmenteesperava-sequeosdiasvindourostivessemsidopreditos.Porocasiãodaformalizaçãodaaliançaabraâmica,Deusinformouaopatriarcaocurso da história que dizia respeito ao seu povo pelos próximos 400 anos.Eles seriam escravos num país estrangeiro.Mas depois eles voltariam parapossuiraspromessasfeitasaopatriarca(Gn15.13,16).Deformasemelhante,antesdoseuexílioparaaterradaBabilônia,oSenhorinformouànaçãoqueseu cativeiro duraria 70 anos (Jr 25.12; 29.10; Dn 9.1,2). Agora, quando opovodeDeusestáprestesaentraremoutroperíodode400anosemqueelesestariamsujeitosaosreisereinosdestemundo,eradeseesperarqueoSenhortornasseconhecidoemtermosgeraisoplanoepropósitoqueEletinhaparaostempos vindouros, assim como tinha feito anteriormente. De acordo com opontodevistadaEscritura,ahistóriadaelevaçãoedaquedadasnaçõestemcomo foco os propósitos redentores do Deus de toda a criação. Por essasrazões,nãodevehavergrandedificuldadenaaceitaçãodessesprimeirosnovecapítulosdolivrodeDanielcomoaquiloqueelesdizemser:umaantecipaçãoproféticadoplanoepropósitodivinosparaos tempossituadosentreoreino

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daBabilôniaeoreinodeCristo.Os três últimos capítulos deDaniel geralmente são considerados como

sendo de caráter diferente. Especialmente com referência a Daniel 11, aquestãoqueselevantanamentedequasetodososleitoresé:Deveomaterialdestecapítuloserconsideradocomohistóriaescritadepoisqueocorreramoseventos descritos? Ou deve essematerial ser compreendido como profecia,como a predição de eventos ainda futuros? Em suma, quando surgiu estematerial:noséculoVIa.C.ounoséculoIIa.C.?

É preciso admitir prontamente que os amplos detalhes encontrados emDaniel 11 fortalecem o ponto de vista de que o capítulo registra eventoshistóricosquejáocorreram.EmnenhumoutrolugarnomaterialproféticodoAntigoTestamentoépossível encontrar tantosdetalhesa respeitodeeventosainda futuros. Além disso, esses acontecimentos em geral parecem muitodistantes de quaisquer propósitos redentores de Deus com respeito ao seupovo. De acordo com essa profecia, sucessivos reis da Pérsia invadirão oreino da Grécia (11.2). Então, surgirá um poderoso rei, cujo reino serádividido emquatro,mas não entre os seus descendentes (11.3,4).31O rei dosul, identificado com o Egito, buscará uma aliança com o rei do norte pormeio da sua filha, mas não conseguirá fazê-lo (11.6; 11.8).32 Um reisubsequentedosul,então,atacaráoreidonorte(11.7,8).Entãooreidonorteeseusfilhossucessorescontra-atacarãooreidosul(11.9,10).Essabrigaentreosdoisreinoseseussucessorescontinuapormuitosanos(11.11-32,40-45).

Naturalmente, surge a pergunta: Qual é a relação desses relatosdetalhados com os contínuos propósitos redentores de Deus? Por quedeveriam constar esses detalhes específicos da história alheia aos eventosredentoresdaEscrituranaprofeciapreditivaespecífica?SeráqueessaseçãodeDanielnãoparecemaisumrelatohistóricoquejátranscorreudoqueumaprofeciapreditiva?

Do outro lado da questão está o relato da reação de Daniel a essasrevelações. Em sua experiência prévia como intérprete dos sonhos deNabucodonosor,Daniel surge totalmente calmo em sua fé de que oDeus darevelação tornara-lhe conhecida a verdade com respeito aos impérios aindavindouros.Masestaúltimavisão,emboranemdepertosejatãoarrebatadoraem suas revelações da história futura, deixou o profeta totalmente perplexo.Atéoshomensqueestavamcomeleficaramtãoaterrorizados“quefugiramese esconderam” (10.7).OpróprioDaniel ficou semvigor nenhum.Sua faceficoupálida; ele sentiu-se totalmentedesamparadoecaiudesfalecido, comorosto em terra (10.9). À medida que prossegue a visão, ele é tomado deaflição. Toda sua força se esvai, ao ponto de mal conseguir respirar

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(10.16,17).Diferentemente das visões anteriores, Daniel permanece perturbado ao

fim desta visão. Ele não consegue entender. Na visão, ouve dois seresperguntando: “Quanto tempo decorrerá antes que se cumpram essas coisasextraordinárias?” (12.6NVI).Essapergunta recebeuma resposta enigmática:“Haveráumtempo, temposemeio tempo”(12.7).Daniel,então,percebequeacaboudeouvirarespostaàpergunta,masnãoacompreendeu.Porisso,fazmaisumapergunta:“Meusenhor,qualseráoresultadodissotudo?”(12.8).Aessa altura, o anjo intérprete encerra abruptamente a discussão. “Siga o seucaminho,Daniel,poisaspalavrasestãoseladaselacradasatéotempodofim”(12.9NVI).

Com essa estrutura contextual em mente, a pergunta original pode serfeita uma vez mais. Será que esta visão é apresentada como a narração dahistóriaquejáocorreuouelacontémantecipaçõesproféticas?

DopontodevistadeDanielconformeretratadonanarrativa,arespostaaessaperguntaétotalmenteevidente.SeDanielconseguiuentenderdeformatãocalmaeclaraosignificadodossonhosdeNabucodonosor,queanteciparamaascensãoeaquedadenaçõespelosséculossubsequentes,porquedeveriaeleestartãotranstornadoseestivessesimplesmentesendoinformadoarespeitodeeventos que já tivessem transcorrido na história contemporânea? Se Danielconseguiu compreender de forma tão clara o curso dos eventos futuros pormeio de revelação divina, que lhe interpretou os obscuros sonhos deNabucodonosor, por que estaria ele tão desnorteado a respeito de umamensagemarespeitodeeventoshistóricosquejátinhamocorrido?

Àluzdessasconsiderações,parecequeaestruturapretendidaparaessescapítulosfinaisdeDanielnãoédiferentedaestruturadomaterialanteriordolivro. Daniel não está recebendomensagens a respeito de eventos atuais doséculoIIa.C.Emvezdisso,comoalguémqueviveduranteosdiasdoImpérioMedo-Persa(10.1),elereceberevelaçõesdivinasconcernentesaofim.Dignodenotaéofatoqueasreferênciasaofimocorremseisvezesnosdoisúltimoscapítulosdo livro (11.35,40;12.4,9,13 [duasvezes]).Pode-se suporqueessepontodevista só édefendidopelo(s) criador(es)do livrodeDaniel eque areal perspectiva é aquela em que os eventos históricos já ocorridos sãoalocadosdeformaquepareçamestarnumfuturodistante.Dessaperspectiva,osdesmaiosdeDanielse tornariampartedeumartifício literárioparadaraimpressãoao leitorqueuma revelaçãoespetacular lhe tivesseocorrido.Masessepontodevistasópodesermantidoàcustadaintegridadedolivro,enãoexiste apelo a gênero literário que possa de forma adequada recuperar essaperda.33

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Como, então, se encaixa na história da redenção essa visão final deDaniel?Umavezquesedizqueesseseventosteriamocorridoapósadivisãoquadripartida do reino da Grécia, os vários reis do norte referem-se aosgovernantes do Império Selêucida, ao passo que os reis do sul são osptolomeus do Egito. Mas em que sentido os detalhes da briga entre osptolomeus e os selêucidas durante os séculos III e II a.C são relevantes aoprogressivo propósito de Deus de redimir um povo para si mesmo? Devebastar a simples lembrança de que as porções anteriores do livro deDanielforneceram informação a respeito dos outros três reinos conforme serelacionaramcomoreinodopovodeDeus.ABabilônia,oprimeiroreino,foianaçãoque levouopovodeDeusparao exílio.AMedo-Pérsia, o segundoreinomencionadoemDaniel,possibilitouarestauraçãodoseupovo.Roma,oquarto reino, foi identificada como o reino que seria esmagado pela pedracortada semauxíliodemãos.Masaté essepontonada sedisse a respeitodarelação desse terceiro reino com o vindouro reino deDeus.Nesses últimoscapítulosdeDaniel,éexplicadoqueesseterceiroreinoseráograndeopressordo povo de Deus, com isso antecipando a última grande perseguição quehaveriadeviremdatafutura.Essepontodevistaparecefornecerbaselógicaadequada para o extenso tratamento do período que envolve o terceiro dosreinosmencionadosemDaniel.

Mas há outras razões disponíveis no próprio texto que explicam apreocupaçãodeDanielporcausadoseventosrelacionadoscomesseterceiroreinonasequênciaquevaidaBabilôniaatéRoma.Emprimeirolugar,deve-senotarqueoreidonorteeoreidosulocupamterritóriosadjacentesàterradeIsrael.Asalusõesà“belaterra”,ao“povoqueconheceseuDeus”,eàaboliçãodossacrifíciosdiáriosnotemplosugeremaimportânciadessasincursõesparaopovodeDeuseparaa terradaPalestina (8.9,11,13,14,24;10.14;11.16,31-35,41,45). Esses sucessores do império grego de Alexandre marcham donorte e do sul um contra o outro através da terra prometida aos patriarcas.Comoconsequência,oavançodoseuconflito trazclaras implicaçõesparaocumprimento do programa de redenção de Deus na terra da Palestina.Humanamente falando, esses dois poderes terrenos, Egito e Síria, estavamdeterminandoo futuro da região, pois, no século II a.C., eles eramos “doisgrandes poderes mundiais” que, combinados, detinham “um monopólio deforçapolíticaemilitar”.34MasamensagemdeDaniel11,“aqualreiteraadolivrotodo,éque,pormaispoderososquesejamosgovernantesdaterra,eles‘tropeçamecaem,paranãomaisaparecerem’(11.19)”.35Esse terceiroreinonasequênciadospoderesmundiaisétratadodemaneiramaisespecífica,nãoporque o autor o conhecesse pessoalmente por viver na época em que

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ocorreramoseventos,masporqueoconflitodessanação tornou-seamaiorameaçaparaopovodeDeusnaterrabíblicaantesdamanifestaçãodoMessias.

Emsegundo lugar,a totalprofanaçãodo templodeJerusalémporpartede Antíoco IV Epifânio, o mais proeminente dos reis selêucidas, teveimplicaçõesqueseestenderammuitoalémdosdiasdosMacabeus.Apelidadode Epimanes (Louco) em lugar do seu arrogante título de Epifânio ([Deus]Manifesto), as ambiçõesmaliciosas deAntíoco sofreram severa humilhaçãonasmãosdos romanos.Ao invadiroEgito, foi recebidodo ladode foradeAlexandriapeloromanoPopiliusLaenas,quedeuaAntíocoumultimato:queabandonassesuas incursõesnoEgitodeumavezpor todas.QuandoAntíocoreplicouqueprecisavadetempoparapensar,Popiliusimediatamentedesenhounaareiaumcírculoemtornodele,exigindoquedecidisseantesdepisarforadaquele círculo.36 Enfurecido diante dessa humilhação, Antíoco retornou àPalestina e começou commedidasmais severas para concluir a helenizaçãodas terras sob seu domínio. Por fim, ordenou ao seu principal coletor deimpostosquedeflagrasseumataquecontraJerusalémnoShabbath.Amaioriados homens da cidade foi morta, e a maioria das mulheres e das crianças,escravizada.OtemplodeJerusalémfoidedicadoaZeus,deusdoOlimpo,efoioferecidosacrifíciopagãonoaltardeZeus,erigidosobreoaltardasofertasqueimadas no templo.37 Foi instituído um controle mensal, e era mortoqualquerjudeuencontradocomalgumacópiadaToráouqualquercriançaquetivesse sido circuncidada. Antíoco tentava ao máximo forçar a comunidadejudiaaconformar-seaseusesforçosde imporaadoraçãoeoestilodevidagregocomoofatorunificantedoseuimpério.Setivessesidobemsucedido,não teria sobrado nem lugar nem povo para plantar a semente do reino deDeusdestinadaacresceratétornar-seagrandeárvorequeencheriaaterra.

É muito provável que a “abominação que causa desolação” conformedescrita na visão de Daniel fosse uma profecia dessa total profanação dotemplodeDeusporpartedeAntíocoIVEpifânio(11.31,32;8.23-25).Porisso,Antíocopoderia ser identificadocomoo“reideduro semblante” (8.23)que“se exaltará e se engrandecerá acima de todos os deuses” (11.36NVI).MasessaduraoposiçãoàadoraçãoaoDeusverdadeirosimultaneamenteapresentaum modelo que reaparecerá no tempo do fim.38 Nesse tempo do fim, vaisurgirumperíododeangústiaparaopovodeDeus“comonuncahouvedesdeoiníciodasnaçõesatéentão”(12.1NVI).MasopovodeDeus,cujosnomesforamescritosnolivrodavida,serápreservado(12.1-4).

Em terceiro lugar, e até mais importante, essa visão final de Danielmostra-se comoociclo culminantedosprogressivosmovimentoshistóricosvoltados para a consumação da atividade redentora de Deus. No livro de

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Daniel,hátrêscicloshistóricosdahistóriadaredençãoquesemovematravésdeépocasdedevastaçãoe libertação,deperseguiçãoeexaltação,deexílioerestauração.Aperversidadeaumenta,osimpériossãoderrubados,ocorreumabatalha final, oúltimo inimigoévencido, eo santoe eleitopovodeDeusépreservadoerestaurado.Oprimeirocicloémedidopelos70anosdeexíliodeIsrael.ElecomeçacomatomadainicialdeNabucodonosordosjudeuscativoseterminacomodecretodeCirodequeosexiladosestãolivrespararetornaràsuaterranatal(9.2).Osegundocicloabrangeassetentasemanas,quevãodapromulgaçãododecretopararestaurarereconstruirJerusalématéavindadoUngido(9.24-27).OterceiroeúltimocicloconformedescritoemDaniel8e10-12 corresponde em princípio intimamente a esses ciclos anteriores dolivro.Oprimeirociclode70anosconduziuocursodaredençãoatéodecretode Ciro, que os judeus retornassem para a terra que haviam perdido. Osegundo ciclo de setenta semanas culminou com a vinda do Messias e arestauraçãoque sópoderiavir comumaplenaexpiaçãoque removesse todatransgressão, pecado e iniquidade. O ciclo final da história da redençãocomeçaquandoéabolidoosacrifíciodiárioesurgea“abominaçãoquecausadesolação” (12.11).39 A partir desse ponto inicial, que está diretamenterelacionadocomaprimeiravindadeCristopelaaboliçãodosacrifício,chega-se ao clímax na restauração final do povo deDeus pela sua ressurreição deentre os mortos (12.13). Esse ciclo de medição de tempo consiste em “umtempo, tempos, emetade de um tempo”, ou três “semanas” emeia, oumil,duzentosenoventadias(12.1-3,7,11,12).Maisumavez,ousodessasmedidasdetempodeliberadamenteenigmáticasretrataumperíododeduraçãoincerta.Nessa ocasião, o períodomedido se estende da época da obra expiatória deCristo até a completa restauração de todas as coisas quando os mortos sãofinalmenteressuscitados(Dn12.2,3;At3.21;1Co15.22-25).

ParaDaniel,avindouraperseguiçãodopovodeDeussobogovernodoreidedurosemblantesecaracterizacomoum“tempodeira”(8.19).Omesmoconceito foi usado anteriormente por Isaías para descrever a Assíria como“varadaminha[deDeus]ira”(Is10.5).Porisso,oexíliodeIsraelmanifestouajustairadeDeuscontraopecado,eantecipouairafinalqueaindahaveriadevir.

Mas,depoisdoexílio,estavaarestauração.Essarestauração,emtermossimilaresàexpectativadeEzequiel,viriapormeiodaressurreiçãodosmortose a renovação de toda a terra. Daniel foi significativamente além dasantecipações dos profetas anteriores ao exílio pela extensão em que elecontemplouarestauraçãoemtermosdessarenovaçãodaterra.Essepontodevista característico de Daniel é muito bem demonstrado: “A profecia tinha

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olhadoemdireçãoaumalvo,masnormalmenteeralimitadaaocumprimentodentrodahistóriadaspromessas feitasa Israel.AperspectivamaisampladeDanielaplicouatodasasnaçõesotemadocumprimentodapromessa,comonaverdadeoautordeGênesis12.3tinhafeito,eolhouparaotempodofimeparaafinalizaçãodopropósitodeDeusparaomundoqueElecriou”.40

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III.OsignificadoteológicodoexíliodeIsrael

OministériodosprofetasescritoresdeIsraelconcentra-seprimariamenteemtornodoseventosdoexílioedarestauraçãodeIsrael.ApartirdoséculoVIIIa.C.,comOseiaseAmósnoreinodonorteeIsaíaseMiqueiasnoreinodosul,oexíliodanaçãoesuaesperançaderestauraçãodominaramohorizonteprofético.NoséculoVIIa.C.,comNaum,Habacuque,SofoniaseJeremias,otemacontinuapredominante.ParaEzequieleDaniel,comoexilados,noséculoVI a.C., a grande preocupação era a inevitável expulsão do remanescente deJudá, a destruição de Jerusalém e seu templo, e a esperança da restauraçãofuturadanaçãodestruída.Paraseavaliaroministériodosprofetasescritoresécrucial compreendermos o significado bíblico-teológico desses eventos navidadeIsrael.

Antes de considerar a mensagem dos profetas da restauração de Israelcomo o capítulo final domovimento profético das nações, é preciso algumesforço para analisar o significado teológico do exílio de Israel conformeapresentadopelosprofetasqueministraramanteseduranteoexíliodanação.

Israel tinha sido escolhido de forma singular para ser o servo deDeusparaasnações.Abraão tinhasidochamadodeUrdoscaldeus,apesardeseupai ter adorado ídolos “do outro lado do rio” (Gn 12.1; Js 24.2). Moisésorganizou o povo como entidade nacional assim que saíram da terra. ArevelaçãoproféticaqueveioatravésdeMoisésnoSinaiproveuabaseparaonascimentodanação.Notempoapropriado,opovofoitrazidoparaaterraqueDeuslhehaviaprometido.Eraumaterraquemanavaleiteemel,comparávelàs bênçãos do paraíso restaurado. A possessão da terra determinou para opovosuaposiçãocomoherdeirosdasbênçãosdeDeus.

Mas,então,oquepoderiasignificarparaopovoobanimentodaterra?Oque significava o exílio para Israel? Por meio do exílio, o povo de Deustornou-se“Não-Meu-Povo”(Os1.9).Forçando-osaretornarà terradassuasorigens, o Senhor indicou que as bênçãos da nação haviam sido removidas.Que medida poderia ser mais drástica? Quem poderia explicar essaexperiência?

Omovimentoproféticosurgiucomafinalidadedelidarcomesseassuntocrucial.SomenteopróprioDeuspoderiaexplicaro“porquê”eo“paraquê”doexíliodeIsrael,poisoexíliotinhasignificadonãoapenasparaosisraelitasdaquelaépoca.Deacordocomafunçãodosmaioresmovimentosdahistóriadaredenção,esseeventotambémeraprogramadopeloSenhorparacomunicarverdaderedentoraatravésdasgerações.OÊxodotinhacomunicadooconceito

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daredençãodaculpadopecadopelosanguedocordeiropascal(Êx12.13,23;1Co5.7,8).AconquistadeCanaã tinhaantecipadoaentradaescatológicanodescanso que resta para o povo de Deus (Sl 95.10,11; Hb 4.3,9-11). AmonarquiatinhapersonificadooprincípiodosenhoriodoMessiassobreseupovonovindouroreinoescatológico(Sl2.2,8,9;At2.29-36).

Por outro lado, o exílio da nação parecia alocar-se numa categoriadiferente de todas as outras fases da história da redenção. Em vez de fazeravançar a experiência de redenção da nação, a expulsão da terra pareciacancelar todososganhosconseguidosatéessaaltura.Nessesentido,oexíliocriou uma crise teológica para a nação. E então, como os profetasresponderam a essa crise? Qual mensagem do SENHOR da Aliança poderiaapresentarumasoluçãoaessedesafiodafé?

A resposta profética a esse dilema foi multifacetada, como era de seesperar.Oproblemadacompreensãodoexílioeraextenso,ea respostadosprofetas era complexa. É preciso notar vários elementos dominantes nasrespostas dos profetas. Esses vários elementos dizem respeito às diferentescategoriasdegentequepodemseridentificadasentreosexiladosdanação.

A.OsapóstatasO exílio tinha significado específico para aqueles que confessavam de

modo formaloDeusde Israel,masque evidenciaram sua incredulidadepormeio do sincretismo ou pela factual adoração de outros deuses. Sofoniasdescreve essa gente como aqueles que juram “pelo SENHOR da Aliança etambém por Milcom” (Sf 1.5).41 Jeremias diz que eles são “figos ruins”,estragadosdemaisparaseremcomidos(Jr24.3).EssetipodepessoasempreviveunomeiodanaçãoeleitadeDeus.Mas,atravésdoexílio,odestinofinaldosapóstatasvemàtona.ElesforamincluídosnamaldiçãofinaldeDeus.Deacordo com a lei da aliança, aqueles que adoram outros deuses têm de sereliminados,poisquebraramaaliança.Paraessagente,oexíliorepresentouoeternobanimentodapresençadoSenhor.

B.Oscrentestransigentes,desobedientesOexíliocomunicouumaverdaderedentoraespecíficaparaoscrentesno

Deus de Israel que tinham sido transigentes em sua fé, andando emdesobediência. Ele ensinou de uma vez por todas que o Senhor castigariaseveramente seu próprio povo se eles persistissem em seus caminhos dedesobediência.Emsuaoraçãodeconfissãoàsvésperasdoretornodoexílio,Danielconfessaopecadodopovoqueosfezmerecedoresdessejuízopunitivodoexílio:“TodooIsraeltransgrediuatualeiesedesviou,recusando-seate

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ouvir.Por issoasmaldiçõeseaspragasescritasnaLeideMoisés, servodeDeus, têmsidoderramadassobrenós,porquepecamoscontra ti”(9.11NVI).Essaéumaliçãoquecadageraçãodeveaprender.“OSenhordisciplinaaquemEleama”(Hb12.6).EssasaçõespunitivasdoSenhorcontraseuprópriopovoàsvezespodemserseveras.Mas,éprecisorelembrarqueopiorcastigodestavidaésempremenordoqueapuniçãoquetodopecadomerece.SomenteessereconhecimentoéquefaráosjuízospunitivosdeDeusconduziraoverdadeiroarrependimentoemvezlevaraumarebeliãoressentida.

C.Israelcomoapersonificaçãotipológicado“ServodoSenhor”A despeito da prática comum dos oradores populares, é totalmente

inadequadofazeraplicaçãoespecíficadaprofeciadeIsaíasarespeitodoServodoSenhor quevicariamente carregouo pecado a qualquer outra pessoa quenão seja o Cordeiro de Deus, sem pecado, cujos sofrimentos expiaram ospecadosdoseupovo.Masnolimitadosentidoassociadocomoutrostiposdaantiga aliança, Israel, em seu exílio, antecipou os sofrimentos vicários dosingular Servo do Senhor. Não foi por acidente que a teologia do Servosofredorsedesenvolveunumcontextoqueantecipouoexíliode Israel.Nemfoiporacasoquese tenhadesenvolvidoum intercâmbioentreoconceitodanação como servo de Deus e um singular Servo sofredor do Senhor. AsentençadejuízosobreumantecipouoabandonodooutroporpartedeDeus.Evidentemente,nenhumdossofrimentosdeIsraelpodeserconsideradocomoexpiatórioemsubstituiçãodaculpadosoutros,umavezquenuncaexistiuumisraelitaquenãotenhaelemesmopecado.MasessafiguradossofrimentosdeIsraeltevesuaconcretizaçãoquandoJesusCristo,comooverdadeiroIsraeldeDeus, tornou-se “Não-Meu-Povo” em favor do seu povo no “exílio” da suacrucificação. Em suamissão singular como Servo do Senhor, Ele sofreu obanimento“foradoarraial”,oinocenteemfavordosculpados(Hb13.11-13;1Pe2.22-25).

D.OremanescentefielJeremias,EzequieleDaniel, juntamentecomoutros fiéisadoradoresdo

Deus verdadeiro, foram extraditados para países estrangeiros na companhiadospecadores rebeldesdanação.Apesardessesprofetaseoutroscomoelespermanecerem fiéis em sua confiança no Senhor, eles sofreram o exíliojuntamente com os rebeldes e desobedientes. No seu desterro, eles tiveramvisões a respeito da expansão do reino de Deus por todo o mundo. OprovincialismodeIsraeltinhasidocanceladopelopróprioatodojuízodivinoque espalhou esses fiéis entre as nações.Como consequência, a porta estava

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aberta de uma nova maneira para todos os povos da terra participarem doreinodeDeus.Esseprincípiorecebemanifestaçãoconsumadanossofrimentosdos discípulos de Jesus hoje à medida que “cumprem na carne o resto dasafliçõesdeCristo”emfavordadifusãodoEvangelhoatéosconfinsdaterra(Cl1.24ACF).

Dessaforma,oeventodoexíliotinhaumamultiplicidadedesignificadosparaopovodeDeus.Deváriasmaneiras,oexílioeraumeventomuitomaiscomplexonahistóriadaredençãodoqueochamadooriginaldeAbraãoparasairdeUrdoscaldeus.NoprincípioospropósitosredentoresdeDeustinhamfocadoumúnicoindivíduo.Masnoexíliohaviaumanaçãotodaenvolvida–uma nação em que seus vários membros responderam de modoscompletamentediferentesaosdesafiosdafé.Porisso,écompreensívelqueummovimentotãoimportantecomoatradiçãoproféticadeIsraeltivessesurgidodessassignificativascircunstâncias.

1Comfrequência,háquemsugiraqueofatodeDanielconstarentreosEscritosemvezdeestarentreosprofetasnocânonjudeuindicaqueolivrofoiescritodepoisdejátersidocompletadaacoleçãodelivros proféticos canônicos. Mas a função de Daniel como estadista em vez de profeta é melhorargumentoparaoseuposicionamentonocânon.EmboraDanieltivesseodomdaprofecianosentidodepreverofuturo,elejamaisocupouoofíciodeprofeta.DeacordocomHarrison(IntroductiontotheOld Testament, 284), “Daniel era um estadista e não ummediador clássico entreDeus e umanaçãoteocrática.Suaposiçãonaterceiradivisãodocânonaparentementesejustificapelofatoqueseconsideravaque as obras pertencentes aoKethubhin tivessem sido escritas por indivíduos que nãoeramprofetasnomaisestritosentidodapalavra,masquenãoobstantetinhamescritosobinspiraçãodivina”.VejaYoung(ProphecyofDaniel,20).

2Anarrativa inicialdeDaniel termina informandoqueDanielpermaneceunaBabilôniaatéoprimeiroanodeCiro(1.21).Emoutraspalavras,eleestevepresentedurantetodosos70anosdocativeirodeJudá,de605a536a.C.

3DeacordocomaCrônicaBabilônica,depoisdederrotarFaraóNecoemCarquemis,Nabucodonosor“conquistoutodaaáreadoshatitas”,referindo-seatodaaSíriaePalestina(Wiseman,ChroniclesoftheChaldaeanKings,69, linha8;veja também25).WisemanobservaqueoefeitosobreJudá“foique o rei Joaquim, umvassalo deNeco, submeteu-se voluntariamente aNabucodonosor, e algunsjudeus,incluindooprofetaDaniel,foramlevadoscomocativosourefénsparaaBabilônia”(26).

4 NabucodonosorreconhecequeoDeusdeDanieléoDeussupremoporcausadasuacapacidadedeanteciparofuturo.SeoDeusdeDanielnaverdadenãopredizofuturo,entãoaconclusãoinevitávelprecisaserexatamenteooposto:elenãoéo“DeusdosdeuseseoSenhordosreis”.

5VejaCollins(Daniel,166),queapresentasuarazãopararejeitaraordemdosquatroreinosdeDanielcomosendoaBabilônia,aMedo-Pérsia,aGréciaeRoma:“Dentrodas limitaçõescronológicasdoLivrodeDaniel,oquartoreinonãopodeserposterioraodaGrécia(adespeitodaantigatradiçãoqueoidentificacomRoma,começandocomJosefo)”.Emboranãoacrescentedetalhesànaturezadessas“restrições cronológicas”, ele aparentemente trabalha com a suposição de que a profecia preditivanãopodefuncionarcomoumaspectolegítimonaanálisedeDaniel,adespeitodasclarasalegaçõesdolivrodeanteciparofuturoemvirtudedadivinarevelação.Aoexplicaramudançanaidentificaçãodoquarto reino entreos comentaristas,Keil (Daniel, 245,246) indica que, “quando oDeísmo e o

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Racionalismo abalaram a fé na origem e no caráter sobrenatural da profecia bíblica, então, comoconsequência,comarejeiçãodaautenticidadedolivrodeDaniel,tambémfoinegadaaassociaçãodoquartoreinocomamonarquiamundialdeRoma”.ObservetambémmaisrecentementeocomentárioincisivodeBaldwin(Daniel,184,185):“Comrespeitoàprofeciacomopredição,aigrejaperdeusuacoragem. Um humanismo mundano, racionalista invadiu de tal forma o pensamento cristão, quecolore de covarde zombaria as alegações de ver na Bíblia qualquer coisa mais do que vagasreferências a eventos futuros. O pensamento humano, entronizado, tem julgado um capítulo comoDaniel11comosefossehistóriaescritadepoisdeocorridooevento,aopassoqueDeus,entronizado,aquelequeestavapresentenoprincípiodotempoeestarápresentequandootemponãomaisexistir,podecomcertezadeclararcomabsolutajustiçaque‘anunciadesdeaantiguidadeascoisasvindouras’(Is44.7)”.

6Collins(Daniel,2).7RomasóconquistouaPalestinaem63a.C.VejaBright(HistoryofIsrael,458).

8VejaEissfeldt (OldTestament, 520).Mais recentemente,Goldingay (Daniel, 51) limita a amplitudedosquatroreinosao“períododeNabucodonosoratéCiro”.Elededuzque“nãoexisteindicaçãodetempona revelaçãodeDaniel” (59),econclui, semfornecerbaseparasuaconclusão,queavisão“implicaqueahistóriapodeserdivinamenteprevista,masnãoédivinamentepredeterminada”.

9Collins(Daniel,166)diz:“AinclusãodaMédianasucessãodos impériosmundiaispareceesquisitoporque a Média jamais governou os judeus”. Depois, ele observa que, de acordo com algumasantigastradições,aAssíriafoisucedidapelaMédiaeconclui:“FicaclaroqueasequênciadosreinosqueencontramosemDanielsebaseianatradicionalsequênciadeAssíria,MédiaePérsia,queeradeorigempersa,masfoiamplamenteconhecidanoOrientePróximo.DanielsubstituiuaBabilôniapelaAssíriaporrazõesóbviasnocontextodahistóriajudaica”(168).Contudo,nãoéapenasumaquestãosimplescomoasubstituiçãodonomeBabilôniaporAssíria emDaniel.Nabucodonosor e seu reinoexercemumafunçãocentralemtodaameta-narrativadolivro.

10Não émuito eficaz a tentativa de defender a reputação deDaniel identificando o gênero do livrocomoapocalíptico.Collins(Daniel,57)sente-seconstrangidoa fornecer“maneiras... sugestivasemqueoafastamentodaverdadeliteralpodesermoralmentejustificado”.EleserefereàexplicaçãodePlatãodequeosgovernantespodemconsiderar “necessáriaumaconsideráveldosede falsidadeeengano para o bemdos seus súditos” – tão necessária, na verdade, como o uso do remédio. EssarepresentaçãodocarátermoraldeDanielencontra-seemtotalcontrastecomaintegridadedomesmoDaniel descrito no livro. Esse Daniel não vai apelar de forma alguma a um faz-de-conta parainterpretarosonhodeNabucodonosor,aocontráriodocostumedosmágicosdorei.DeacordocomCollins, a “grande façanha de dois séculos de criticismo histórico sobre o Livro de Daniel foiesclarecer o gênero literário do livro” (123).Mas uma grande diversidade de opinião ainda cercaessa mesma questão. Apesar de algumas características geralmente associadas com literaturaapocalíptica apareçam em Daniel, o livro simplesmente não se enquadra bem no estereótipo dogênero apocalíptico. Na variação entre profético e apocalíptico, Daniel pertence tanto à formaproféticacomoàapocalíptica.QuandocomentaodesenvolvimentodeDanielarespeitodoconceitodoreino,Goldingay(Daniel,59,60)dizqueo“entendimentodeDanielarespeitodessereinoémaisparecidocomaideiaproféticadoDiadeYahwehdoquedealgunsapocalipsesposteriores”.Baldwin(Daniel, 46) diz que existe “pouca coisa que impressiona o leitor como estilo ou conteúdoapocalíptico nos primeiros seis capítulos”. Numa tendência similar, Keil (Daniel, 27) comenta:“Consequentemente, as profecias de Daniel não se diferenciam em naturezamesmo em sua formaapocalípticade todoocorpoprofético,masunicamenteemgrau”.MencionandoqueDanielnão seconformaexatamenteaomodeloapocalíptico,Collins(Daniel,58)demonstraqueDanieléumdosmaisantigosnogêneroapocalípticoequesua“combinaçãodehistóriasevisõesnãoseconformaanenhumprecedenteclaroe,naverdade,nãosetornaumacaracterísticarecorrentedogênero”.Maistarde,eleobservaque,senãosepresumissequeDanieléumlivroescritosobpseudônimoeporissocontém profecia ex eventu, “as semelhanças com os apocalipses seriam grandemente diminuídas”.

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Collinsconcluiqueseucaráterpseudônimo“jáhámuitotempofoiestabelecidosemnenhumadúvidaquemereçaconsideração”(56).Maspresumirqueéumlivroescritosobpseudônimonãoéamesmacoisaqueprovarqueeleé,defato,umpseudônimo.ÉdifícilvercomosepodeestabelecerDanielcomo um documento pseudônimo do século II à parte da pressuposição de que a possibilidade daprofeciapreditivanãopodeserconsideradacomoalternativaválida.

11Collins (Daniel, 123) julga que “Daniel não é uma fonte confiável de informação fatual nem arespeito do passado nem do futuro”. Ele explica que essa deficiência fica evidente por causa dos“notóriosproblemas”das referênciasaDarioomedoeaoperíodode loucuradeNabucodonosor,nenhum dos quais são comprovados em documentos externos. Esse tipo de argumento do silênciodevesertratadocomcautela,especialmenteàvistadalongatradiçãodaconfianteafirmaçãodequeareferênciadeDanielaBelsazarcomoreidaBabilônianãoerahistórica.Essepontofoideclaradocomo um erro emDaniel por muitos anos, até que se descobriu referência a Belsazar na CrônicaBabilônica. Uma resposta mais simples à questão da identificação de Dario o medo pode serencontrada no comentário de Young (Prophecy of Daniel, 183): “Não sabemos quem foi esseindivíduo”. Collins também afirma que a inexatidão do livro é provada pela “reivindicação nãohistóricadequeo livro relataasvisõesdeum judeunoexílio”,umahipótesequeaindaprecisadecomprovação.

12UmavezquealgumasporçõesdeDanielseencontramentreosdocumentosdeQumran,qualquerdatação do livro de Daniel que reconheça essa sequência é forçada a reconhecer a antecipaçãoprofética dos eventos da história da humanidade pelo Deus de Daniel. Para uma análise daimportânciadomaterial deQumranparaquestõesde críticaquedizem respeito ao livrodeDaniel,vejaHarrison(IntroductiontotheOldTestament,1118).

13Comoajudaparaessaanálisedaestruturadolivro,vejaKeil(Daniel,15).14ComrespeitoaoimpactodasporçõesaramaicasdeDanielparaafixaçãodeumadataparaolivro,veja a discussão deBaldwin (Daniel, 30-35). Depois de citar discussões de H. H. Rowley, K. A.Kitchen,eE.Y.Kutscher,Baldwinconclui:“Estásetornandoumfatocadavezmaisaceitoquenãosepodedecidir a data deDaniel combases linguísticas, e que a crescente evidência não favoreceumaorigemocidentalnoséculoII”(34,35).

15ParaumforteargumentoemfavordaunidadedolivrocombasenafunçãocentraldeDaniel7,vejaRowley (Servant of the Lord, 250–60). Ao concluir sua argumentação, Rowley diz: “O ônus daprovarecaisobreaquelesquepretendemdissecarumaobra.Mas,aqui,nadaseproduziuquepossaserchamadoseriamentedeprovadanaturezacomposta.Poroutrolado,temosdisponívelevidênciaem favor da unidade da obra, evidência que, em sua totalidade, equivale a uma prova” (268). OargumentodeRowleyemfavordaunidadedeDanieldeformaeficazpõedeladopropostasdeumaabordagemdivididaquedataoscapítulos7-12noséculoIIa.C.duranteaépocadosMacabeus,aomesmotempoquealocaoscapítulos1-6adataincertaemalgumséculoanterior.Tendoestabelecidode forma tão convincente a unidade e a integridadedo livro, opróprioRowley sevê compelido afazerumaescolha.Eleprecisaconsiderar todoolivrodeDanielporaquiloqueelemesmodizser,comoumamensagemdoséculoVI,mensagemdeconfortoerestauraçãodaconfiançanosoberanoSenhordetodasasnaçõesparaosexiladosdeIsraelnaBabilônia;oueleprecisatratarolivrocomouma pesada charada literária composta no século II a.C., embora o livro se apresente sob oconsistente disfarce de ter surgido no século VI a.C. Assim, Rowley data o livro na época dosMacabeus e, comoé de esperar, apresenta umcriativo argumentopara transformar as histórias dosprimeiros seis capítulos em histórias que se adaptem à época dos Macabeus (264-266). Seuargumentodequeessasmesmasnarrativasnão teriamsignificado“antesdo século II a.C.” é falhopornão consideraro consistenteministériodosprofetasde Israel nanação assegurando-lheparaofuturoosplanosdelongoprazorelativosàredençãodeDeus.

16 Young (Prophecy of Daniel, 147) acredita que os dez chifres deste quarto animal não agemsimultaneamente. Em vez disso, entende esses dez chifres como representantes de um númeroindefinidodeimpériosdepoisdoestiloromanodeculturaocidental.

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17AsnuvensservemdecarruagensemqueDeusvemdocéuparaexecutar juízo,oquecondizbemcomocontextodeDaniel7.VejaSalmo18.10,11;97.2-4;104.3;Isaías19.1;Naum1.3.

18Valeapenacitar integralmenteasobservaçõesde Jerônimocomouma reação sensataaoprimeirocomentário descrente e racionalista sobre Daniel: “Deixem Porfírio responder a questão: A quem,dentre toda a humanidade, se deve aplicar essa linguagem, ou quem pode ser essa pessoa que deforma tão poderosa quebra e reduz a pedaços o pequeno chifre, que ele interpreta como sendoAntíoco?SeelerespondequeospríncipesdeAntíocoforamderrotadosporJudasMacabeu,entãoele tem de explicar como se pode dizer que Judas vem com as nuvens do céu como o Filho doHomem,e foi trazidoatéoAnciãodeDias, ecomosepodedizerqueautoridadeepoder real lheforamconcedidos,equetodosospovosetriboselínguasoserviram,equeseupoderéeternoenãochegarájamaisaofim”(Daniel,80,81).

19Collins (Daniel, 309) rejeita a interpretação comum do Filho doHomem. Ele identifica os santoscomoanjoseoFilhodoHomemcomoMiguel,olíderdoexércitocelestial(318).Masessepontode vista se depara com sérias dificuldades quando se observa que o Filho do Homem recebeadoraçãoese tornaSenhorde todasasnaçõesdeumamaneiraquerefleteaautoridadedopróprioDeus(Dn7.14).

20DeacordocomFischer,ogovernodosMacabeus“foiconsideradocomoocumprimentoproféticoemesmocomoorestabelecimentodosimpériosdeDavieSalomão”(“Maccabees”,441).

21VejaGoldingay(Daniel,167).Eledizqueessapalavrasetornaumtermohonoríficoem1Enoque37-71,4Esdras13,noNovoTestamento,enosescritos rabínicos,mas“mesmoaquihádúvidasedevemospensaremtermosdeum‘conceitodeFilhodoHomem’noJudaísmo.Muitomenosainda,existeevidênciadeque,noséculoIIa.C.,afrasetenhasidousadacomoumtítuloousereferisseaumconceitobemconhecido”.

22France(Mark,610).23Ibid.,613.

24Montgomery,conformecitadoemYoung(ProphecyofDaniel,191).Montgomerytambémfalada“vastidãodesuposiçõeseteoriassempistas”queprocuramdeterminarumacronologiaexataparaassetentasemanasdeformaqueseencaixenahistóriadaredenção;Montgomery(Daniel,401).

25Young(ProphecyofDaniel,194).

26Ficaevidenteoproverbialdesconfortodeumdilemanessaquestãodassetentasemanas,sedevemserentendidascronológicaousimbolicamente.ÉverdadequeDaniel9serefereaváriostemposparaareconstruçãodacidadedeJerusalémenãomeramenteotemploemsuasreferênciasaodecretodeCiro(Is44.28);queocontextodeDaniel9conduznaturalmenteaumaexpectaçãodequeassetentasemanasprofetizadascomecemassimqueos70anosdocativeirocheguemaofimem536a.C.;equeodecretodeArtaxerxes(comodataalternativaparaoiníciodassetentasemanas)nãoeraconhecidona época de Daniel (Poythress, “Hermeneutical Factors”). Essas observações favorecem umacompreensãopuramentesimbólicadassetentasemanas.Aomesmotempo,étambémverdadequesefazumadistinçãoespecíficaemEsdraseNeemiasentreodecretohistóricodeCiroparareconstruirotemplo e o decreto de Artaxerxes para reconstruir a cidade; que o verdadeiro decreto de Ciroconforme registrado no Cilindro de Ciro (Pritchard, Ancient Near Eastern Texts, 316) autoriza areconstrução de templos de deuses estrangeiros (não cidades); que a conexão com os 70 anos deDaniel,claramentecronológicos,favoreceumadimensãocronológicaparaassetentasemanas;equemuitos elementos proféticos, especialmente em capítulos subsequentes de Daniel permanecemtotalmente desconhecidos para o profeta, conforme Daniel mesmo reconhece (Dn 12.8,9). Essasconsiderações favorecem uma compreensão cronológico/simbólica da passagem. Além disso, épossívelencontrarapoio“depoisdeocorridoofato”naproximidadecomqueoperíododesignadopelassetentasemanasseaproximadaverdadeiracronologiahistóricaentreodecretodeArtaxerxeseo ministério de Jesus Cristo. Não se deve permitir que a absoluta precisão na datação deprecie o

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notável caráter da predição. No cômputo geral, deve-se preferir a compreensãocronológico/simbólicadapassagem,comodecretodeArtaxerxesservindocomoopontoinicialdassetentasemanas.Emboranãoapoieanaturezacronológicadassetentasemanas,Kline juntaosdoisnúmeros setenta deDaniel observando sua conexão com o princípio doShabbath de Levítico 25(“CovenantoftheSeventiethWeek”,459).

27Veja a natureza específica do decreto deCiro conforme consta noCilindro deCiro: “Fiz voltar a(essas) cidades sagradas do outro lado do Tigre os santuários que estiveram em ruínas por longotempo,asimagensque(costumavam)viveralielhesestabelecisantuáriospermanentes.Eu(também)juntei todososseushabitantes(anteriores)e(lhes)devolvisuasmoradias”(Pritchard,Ancient NearEasternTexts,316).AobjeçãodeBaldwin(Daniel,176)nãosesustentaàvistadasdeclaraçõesdostextosdeEsdraseNeemias.

28Walvoord(Daniel,230).

29Kaiser(MessiahintheOldTestament,203).30Muitosoutrospontosdedificuldadeexegéticasurgemnessesversículosemacréscimoàquestãodosignificadodassetentasemanas:(1)OfatodoUngidoser“cortadofora”(Dn9.26a)possivelmentealude à sua morte substitutiva, especialmente à vista do uso regular do verbo cortar como umadescriçãodoprocessodeestabelecerumaaliança,queantecipaamaldiçãoúltimadaaliança;(2)Adestruiçãodacidadeedosantuáriopelopovodogovernantequevirá(Dn9.26b)poderiaanteciparadestruiçãodeJerusalémpeloexércitodeTitoem70d.C.Mas,nodecorrerdapassagem,parecemaisque se refere à destruição executada pelo povo do verdadeiro soberanomessiânico deDeus, queacabou de sermencionado, uma vez que naEscritura o juízo normalmente acompanha a redenção(Kline,“CovenantoftheSeventiethWeek”,463);(3)Dizerqueum“Ungido”faz“umaaliançacommuitos”porumasemana(Dn9.27a)nãosignificaapresentarum“Ungido”diferentedaquelequefoimencionadonoversículoanterior.Pelocontrário,éomesmoUngidoquereforçaaaliançacomseupovo.Klinecomenta:“GabrielaquideclaraaDanielqueamortedoUngido(verso26)nãosignificao fracassoda suamissão; pelo contrário, é a sua consumação” (Ibid., 463); (4)A "abominaçãodadesolação" ocorrida no templo (Dn 9.27c) pode referir-se à profanação do templo feita pelosromanos.Masnofinal issoantecipaaprofanaçãofinaldaverdadeiraadoraçãoaDeusporpartedoanticristo.

31EssereipoderosopareceserAlexandre,cujoreinofoidivididoemquatropartes,masnãoentreseusfilhos.

32EssereidosulpareceserumdosptolomeusdoEgito,quesedestacaramentreosherdeirosdoreinode Alexandre. O correspondente rei do norte representa os descendentes do império selêucida daSíria,asegundalinhagempoderosadoimpériodivididodeAlexandre.

33Apesardenãocontarahistóriatoda,Keil(Daniel,28)estáessencialmentecorretoquandoobservaque “todo crítico que rejeitamilagres e profecia sobrenatural considera sua ilegitimidade comoumindubitável princípio do criticismo”. Ele observa que, na antiguidade, “ninguém duvidava da sualegitimidade, exceto o bem conhecido inimigo do Cristianismo, o neoplatônico Porfírio”. Collins(Daniel, 26) afirma que os conservadores “argumentam que a posição crítica se fundamenta numanegaçãodogmáticaeracionalistadapossibilidadedaexistênciadeprofeciapreditiva”.Emvezdisso,eleafirmaque,paraoeruditocrítico,“oassuntodizrespeitoapenasaprobabilidades”.MaséprecisolembrarqueopróprioCollinsfaladas“restriçõescronológicas”dolivro,queparaeleimpõemumadatanoséculoII,adespeitodaconsistenterepresentaçãoqueolivrofazdesimesmocomoobradoséculoVIa.C.(166).Pareceinevitávelque,combaseemconsideraçõesdogmáticaseracionalistas,CollinstenhaderejeitarasrepetidasreivindicaçõesdarevelaçãodivinacomofontedapercepçãodeDanieldocursoesignificadodoseventosfuturos.

34Baldwin(Daniel,41).

35Ibid.,41–42.

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36VejaWhitehorne(“Antiochus”,270).

37Ibid.38Baldwin(Daniel,201)concluique“éaAntíocoqueaprediçãodeviaseraplicada,comooprimeirodemuitosopressores”.Alémdisso,eladizqueoorgulhohumanolevaosgovernantesafazeremdesi mesmos sua própria autoridade final. Essa autoridade humana autoexaltada encontra seu bodeexpiatórioemquemdescarregarsuaamargura“epõeemmovimentotodasasarmasdeguerra,tantopsicológicacomofísica,contraopovodeDeus”.Essecicloserepetedoinícioaofimdahistóriadahumanidade, mas “a escalada de oposição vai culminar num violento ataque final em que o malparecerátriunfar,esomenteaintervençãodeDeusprovaráocontrário”.

39Nesse caso, a abominação da desolação pode ser estendida para incluir a profanação da área dotemplodeJerusalémfeitapelosromanos,que,porsuavez,éumprenúnciodaabominaçãofinalnofimdostempos(Mt24.3,15).

40Baldwin(Daniel,14).

41AnotáveldistinçãoemSofoniaséobscurecidapelaNVI,comoobservadoanteriormente.

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OS PROFETAS DA RESTAURAÇÃO

TÃO IMPORTANTE como o próprio exílio para a experiência de redenção deIsraeléasuarestauraçãodepoisdoexílio.Ahistóriadarestauraçãoabrangeum período de aproximadamente 150 anos (536-400 a.C.). Três eventoschavesmarcamoandamentodesseperíodo:

oprimeiroretornoeocomeçodareconstrução(536a.C.)orecomeçodareconstrução(520a.C.)o segundo retorno sob a direção de Esdras (458 a.C.) e Neemias(445a.C.)

Os profetas da restauração comunicaram a Palavra de Deus ao povodurante as duas últimas fases desta história da restauração. Ageu e Zacariasprofetizaram como contemporâneos durante o recomeço da reconstrução, eMalaquiasprofetizouduranteotempodosegundoretornosobaliderançadeEsdras eNeemias.Embora não semencione nenhuma atividade profética naterraprometidaduranteoprimeiroretornoem536a.C.,éessencialconheceros principais eventos associados a esse retorno inicial para compreender deformaexataoqueDeusestavafazendocomseupovonessenovoestágionoandamentodaredenção.

OsimplesfatodeIsraelretornareraespantoso!Quemjamaisouviufalarde algo assim? Quem poderia ter previsto que surgiria um império deproporçõesgigantescasiguaisasdoImpérioBabilônico,queentãohaveriadereverterapolíticainternacionalreferenteàsnaçõesconquistadas,cujasregrastinhamprevalecidopormais de 200 anos?Masos profetas de Israel quedeforma tão solene haviam declarado a inevitabilidade do exílio da sua naçãoforam os mesmos a prometer a restauração nacional. Amós poderia terperdidoavidapordeclarar:“certamenteIsraeliráparaoexílio,paralongedasua terra natal” (Am 7.11,17cNVI; veja também 5.27; 6.7).Mas ele tambémanunciou: “levantarei a tenda caída deDavi”, “Trarei de volta Israel, omeupovo exilado” e “Plantarei Israel em sua própria terra, para nuncamais serdesarraigado” (Am 9.11,14,15 NVI). Miqueias tinha declarado: “Sião seráaradacomoumcampo,Jerusalémsetornaráummontedeentulho”(Mq3.12NVI).MaseletambémdeclarouaPalavraderestauraçãodoSenhor:“ajuntarei

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osquetropeçamereunireiosdispersos,aquelesaquemafligi....OSENHORdaAliança reinará sobre eles no monte Sião, daquele dia em diante e parasempre”(Mq4.6,7NVI).Demaneiraaindamaisespecífica,Jeremiasmarcou70 anos como a extensão do exílio de Judá (Jr 25.11,12; 29.10), e Isaíasidentificou Ciro nominalmente como o servo do Senhor que seria seuinstrumentoparaexecutaressagranderestauração(Is44.28;45.1).

No tempo indicado no plano do Todo-Poderoso, ocorreu esse grandeeventodoretornodoexílio.Daniel,queestavaentreosprimeirosexiladosdeJudá70anosantes,testemunhouocolapsodaBabilôniaepreviuodecretodoretornoemitidoporCiro,omedo-persa(Dn9.2).ODeusdeIsraelfoifielàsuaPalavra.Israelvoltariaparasuaterra.

ImediatamenteapósseuretornoparaaPalestinaem536a.C.,opovodeIsrael começou a restaurar seu centro de adoração em Jerusalém. Comoprioridademáxima,foirestauradooaltarnolocaldotemplodeSalomão(Ed3.1-3). Em abril do ano seguinte, começou o trabalho da reconstrução dotemplo (3.8-13). Em decorrência da forte oposição samaritana, a obra dotemplo foi interrompidamais tarde, nessemesmo ano (4.24) e ficou paradaduranteos15anossubsequentes.

PoucodepoisdapossedeDarioIcomoimperadormedo-persa(522a.C.),oprofetaAgeucomeçouapromovernovosesforçosparaareconstruçãodotemplo(Ag1.1).Aproximadamentedoismesesdepois,Zacariascomeçouseuministério convocando o povo ao arrependimento (Zc 1.1). Por causa dosesforçosdessesdoisprofetas,otemplorestauradofoicompletadoemmaisoumenoscincoanos(516a.C.;Ed6.14,15).UmadasmaiscomoventesdescriçõesdaEscrituramostraodramadomomento.Gritosdealegriadetalmaneirasemisturaramcomlamentosdedecepção,queunsnãopodiamserdiferenciadosdos outros. A geração mais jovem regozijava-se sem nenhuma inibiçãoquando viram o fundamento do novo templo ser lançado. A geração maisvelha, lembrando as glórias do magnificente edifício de Salomão, choravaconvulsivamente.

EssacenadramáticaresumearealsituaçãodoseventosduranteosdiasdarestauraçãodeIsrael.Grandesexpectativasdegrandezaconviviamladoaladocomasrealidadesdeum“diadascoisaspequenas”(Zc4.10).Osprofetasdarestauração de Israel falavam diretamente às duas situações. Sim, os dias deesplendorhaveriamdevirno finaldascontas–diasmuitomelhoresdoquequalquercoisaquepudesseserlembradadopassado.Mas,nessemeiotempo,aspequenascoisasdomomentopresentenãodeviamserdesprezadas.Opovoescolhido de Deus tinha de ser advertido para que não recorresse a seuspróprios artifícios como maneira de compensar as frustrações que tão

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intensamentesentiam.Nodecorrerdos75anosseguintes,ocorremoseventosdolivrodeEster

nadistante terradaPérsia.Devemoslembrarqueavastamaioriadoscativosexilados permaneceu na terra para onde foi deportada em vez de retornar àPalestina. Perto do final desse período, Esdras lidera o segundo retorno aJerusalém em cerca de 458 a.C. (Ed 7.6-10).1 O ministério de Malaquiassucedeu juntamente com as circunstâncias provindas desse segundo retorno.Embora a profecia de Malaquias não seja especificamente datada, ascircunstâncias descritas no livro se parecemmuito com o que aconteceu nosegundo retorno. O templo evidentemente tinha sido terminado e ossacrifícios, restaurados (Ml 1.7-10; 3.8), mas o sacerdócio levítico careciaseriamentedepurificação,ecasamentosmistosentreisraelitaseadoradoresdeoutros deuses eram prática comum (Ml 3.2-4; 2.10-12). Abusos similarescaracterizaramosdiasdeEsdraseNeemias(Ne13.23-31).MalaquiasadvertecontraascorrupçõesdasuaépocaeprevêosúbitoretornodoSenhoraoseutemplo restaurado.Ao proferir as últimas palavras da era da antiga aliança,Malaquiasprofetizaoseventosiniciaisquevãoanunciarodiadamanifestaçãodanovaaliança.

Na análise damensagem especial desses três profetas, primeiro vamosconsiderarosministériosdeAgeueZacarias,comoosprimeirosprofetasdarestauração.Depois,comooúltimoporta-vozproféticodostemposdaantigaaliança,consideraremosamensagemdeMalaquias.

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I.Osprimeirosprofetasdarestauração:AgeueZacarias

Quando consideramos a mensagem desses primeiros profetas darestauração,destacam-se três assuntosprincipais: a situaçãodopovoque foirestaurado à sua terra, a situação das nações à sua volta, e as previsões dofuturoreveladasaAgeueZacarias.

A.AsituaçãodopovoO primeiro fator que emerge da análise do período da restauração de

IsraeléamiserávelnaturezadoretornodeIsrael.Emnenhumaspectoanaçãonemmesmoseaproximavadasglóriasdoseupassado.Elanãofoirestauradaà sua glória anterior. O grupo que saiu do Egito sob a direção de Moiséssomavamaisde600milhomens,oqueenvolviamaisde3milhõesdepessoasquandoeramconsideradasasmulhereseascrianças(Nm1.46).MasonúmerototaldehomensquesaiudaBabilôniafoiapenas49.697(Ed2.64).EmvezdedesfrutarasenormesdimensõesdoreinodeSalomãoemseusdiasdeglória,opovo da restauração ficou confinado a uma pequena área em torno deJerusalém. Logo ao norte estavam os samaritanos hostis, e obstruindo suaexpansãoparaosulestavaoNeguebeeodesertodoSinai.Tantonoambientereligioso como no político, o povo que retornou da Babilônia estavaseveramente limitado. Exceto por alguma relativa independência durante arevolta dos Macabeus, os judeus nunca governaram a si mesmos, umacondição que prevaleceu nos próximos 2.500 anos. O fato de lançar afundação do novo templo inspirou apenas o choro convulsivo da partedaquelesqueselembravamdamagnificênciadotemplodeSalomão.

Por mais radicais que as seguintes afirmações possam parecer, arestauração dos judeus na segunda metade do século VI a.C. mal pode serchamadade restauração.Na realidade, esseperíododahistóriade Israelnãopresenciou uma verdadeira restauração da comunidade israelita nos moldesinstituídos pela provisão da aliança deDeus comMoisés eDavi.Havia umaaparênciaexterior,masinfelizmentefaltavaaessência.

Essaafirmaçãobaseia-senaincapacidadedequalquermonarquiaatuantenacomunidaderestauradaestabeleceropovocomoumanação.Apesardeseugovernador Zorobabel ser descendente de Davi, seus poderes se estendiamapenas até onde a autoridade governamental persa o permitisse.Alémdisso,apesar de existir um sacerdócio levítico e tivessem sido reinstituídas asoferendassacrificiais,omomentomáximodosacrifícionãopodianuncaserrealizado.TodaevidênciadisponívelindicaqueoSantodosSantosdotemplo

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restauradonuncaabrigouumaarcadaaliançarestabelecida.Nolugarondeaarca deveria estar, foi colocada uma “pedra de alicerce” de três dedos dealtura,deacordocomatradiçãojudaica.2Josefoenumeraosdiversosobjetossagrados tomados do templo quando o general romano Pompeu forçouentradanotemploem64a.C.,maselenãomencionaaarcadaaliança.3Tudoindica que a arca se perdeu quando os babilônios destruíram Jerusalém, enuncamaisfoireconstruídaparasercolocadanotemplorestaurado.4

Decisivoparaentender a situaçãode Israel apartirdomomentodo seuexílioéosignificadodessaausênciadaarca.Desdeadestruiçãodotemploem586a.C.,nuncamaisfoipossívelobservardemaneiraapropriadanoJudaísmooDiadaExpiaçãodeacordocomasprescriçõesdaleideMoisés.Semarca,não pode haver propiciatório (Lv 16.11-17; Êx 25.17-22; Lv 23.26-32). Semumpropiciatório,nãoépossívelaspergirosanguedaexpiaçãodosacrifíciosubstitutivo.SemaaspersãodosangueexpiatórionoDiadaExpiação,nãoépossívelcobriranualmenteaculpadopecado.Semcobriropecadopormeiodaaspersãodosangue,nãopodehaverperdão.Semperdão,nãohápazcomDeus.SemessainstituiçãovisíveldapazcomDeus,ninguémpodereivindicardeformalegítimaofatodefazerpartedoverdadeiroIsraeldeDeus.

Desprovidodessesdoisfundamentosdateocraciamosaica–amonarquiaeocorretofuncionamentodosacerdócio–opovodarestauraçãonãopodiaalegarde forma legítimaquea teocraciamosaica tivessesido reconstituída.5Eles tinham voltado para a terra. Tinham reconstruído o templo. Mas nadaindicaqueaglóriadaShekinahtivesseretornadopararestabeleceressepovocomo a permanente nação da aliança. Apesar dos profetas da restauraçãoasseguraremopovodequeoSenhor estava comeles, suapresençanãoeramanifestadamaneiraevidentequetinhasidonopassado.

Então, por que uma restauração tão pífia? Afinal, por que umarestauração?NãotinhaDeusindicadoseudesgostoparacomascorrupçõesdeIsrael removendo sua glória do templo de Jerusalém? Não tinha o SenhormostradoaEzequielemtermosdramáticosquesuaglóriasemoviacomoumacarruagem e podia manifestar-se na terra estrangeira da Babilônia tãofacilmente quanto no lugar do templo em Jerusalém? Por estranhas quepossampareceressasperguntas,elasservemparadestacararealimportânciadarestauraçãodeIsrael.

Já de início é preciso rejeitar a hipótese de que a restauração de Israelocorreudeformatãopequenapelofatodopovonãomerecerumaexperiênciamaisgloriosaemseuretorno.6AextensaconfissãodepecadoqueDanielfeznanoiteanterioraoretornodeIsraeldeixatotalmenteclaroqueanaçãonãomereciaabsolutamentenadacomrespeitoàsbênçãosdarestauração(Dn9.1-

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19). Mesmo a fraca renovação que eles experimentaram veio comomanifestação da imerecida graça deDeus.Mais condizente com a realidade,por meio da restauração, Deus intentava mostrar ao mundo seu inabalávelcompromisso de cumprir seus propósitos de redenção no meio de umahumanidadedecaída.SemarestauraçãodanaçãodeIsraelà terraprometida,seriainterrompidaalinhadecontinuidadedospropósitospassadosdeDeus.

Interconectadocomessepropósitodemostrarcontinuidadenopropósitoda redenção estava o compromisso do Senhor de manter suas intençõesredentoras entre as nações do mundo. Ao prever a restauração de Israel, oprofetaEzequieldeclarou:“AsnaçõessaberãoqueEu,oSENHORdaAliança,santificoIsrael,quandomeusantuárioestiverparasemprenomeiodeles”(Ez37.28). Embora, à primeira vista, possa parecer secundária, essa razãodescrevedeformaadequadaarealidadequetodobenefícioverdadeiroentreahumanidade surgirá apenas quando for concedida a devida honra ao únicoDeusverdadeiro.CorretamenteentendidacomoumasingularaçãododivinoCriador,arestauraçãodeIsraelpromovedemaneiraefetivaasingularidadedeDeusentre todososoutrossupostosdeusesdestemundo.SomenteoDeusdeIsrael predisse o exílio e o retorno da sua nação. Somente a Ele pertence aglóriadeordenarocursodahistóriahumana.

Mas por que deveria a restauração do exílio ocorrer numa escala tãopequena? Se a manifestação da glória de Deus é um ponto essencial narestauração da nação, por que não deveria essa glória sermanifesta em suaextensãomaisplena?Achavepararesponderessaquestãoéamensagemdosprofetas da restauração a respeito da maior glória do templo restauradoassociadacomas revelações referentesà funçãodovindourosacerdote real.EsseUngidoquehaveriadevir,anunciadopelosprofetasdarestauração,deveaparecer numa situação de humilhação, de forma que Ele cumpra a funçãopreviamente descrita do Servo sofredor do Senhor. Ele vai manifestar apresençadoreinoredentordeDeusemsimesmo,primeiroemhumilhaçãoesomente depois em glória. Mas, se um sucessor da linhagem de Davi jáestivesse reinando em Israel sobre um reino gloriosamente restaurado, ocenário apropriado não estaria armado para o caráter humilde daquele quehaveriadevir,queestavaparasofrerantesdasuaexaltação.7

Hátrêselementosquecaracterizamasituaçãodoprópriopovoquefaziaparte dessa comunidade restaurada. Em primeiro lugar, esse povo darestauração vivia centrado em si mesmo e negligenciava a casa do Senhor.Não se encontra nenhuma lista de pecados grosseiros desse povo nasmensagens dos profetasAgeu e Zacarias, apesar de ser possível inferir quefossem culpados dementir, jurar falsamente, e enganar-semutuamente pelo

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usodemedidasfalsas(Zc5.1-11).Existealgumaevidênciadequeaindahaviaidolatriaentreeles,equetalvezrecorressemaosadivinhadores(10.2).QuandoZacarias fala dos maus pastores, parece estar descrevendo uma liderançacorrupta, e pode-se inferir que os falsos profetas ainda eram um problemapara o povo (11.15-17; 13.2-6). Mas o grande pecado desse povo era acomplacência coma falta deprogressona construçãodo reinodeDeusnosseusdias.Elestinhamtempoerecursosparainvestirnodesenvolvimentodassuasprópriasmoradias,oque indicaquegozavamdesignificativa liberdadeapesardecontinuaremsobogovernopersa(Ag1.4,9).Elespassaramasentir-semal com o sistema de jejuar quatro vezes pormês para lembrar os diastristesdaquedadeJerusalém(Zc7.3,5;8.19).Mas,enquantoacasadoSenhorpermanecia em ruínas, eles gozavam plenamente o conforto das suas casasbemacabadas(Ag1.4).

Essesquevoltaramrepresentamospoucosexiladosquefizeramograndeesforçopararetornarparaessaterradevastadadosseuspais.Comoseexplicaoapertodoseuproblemaeconômico?Eles trabalhamduroeplantammuito,mas colhem pouco. Recebem um bom salário, mas parece que seus bolsosestão furados (Ag 1.6). Será que essas condições perturbadoras devem seratribuídasmeramenteaofluxoerefluxonaturaldediasbonsseguidosdediasmaus? De forma alguma! O próprio SENHOR da Aliança dos Exércitoscelestiaisdeclaraarazãoparaessacircunstânciadeaperto:“Porcausadomeutemplo,queaindaestádestruído,enquantocadaumdevocêsseocupacomasua própria casa” (Ag 1.9NVI)! Seu estilo de vida centrado em simesmostrouxeamãocastigadoradoSenhorsobreelesesobretudoquepossuíam.Porpermanecerem tanto tempo no pecado da complacência, as correções doSenhor prosseguem. Talvez eles não sejam conduzidos outra vez ao exílio,masprecisamaprenderbemaliçãodavezemqueforamexpulsosdaterra.Amão imparcial deDeus traz juízo sobre todos que não o reconhecem comosupremosobretodaavida.Custeoquecustar,elestêmdecolocaroSENHORdaAliançaemprimeiro lugar.Elesprecisammostrarde formaconcreta suadevoção reconstruindo a casa do Senhor, o lugar onde Ele será adoradoenquantohabitaentreeles.

Mas,alémdocastigoqueacomunidadeestavaexperimentandoadespeitodasuarestauração,umperigomaioraindaseaproxima.Éumapossibilidadeinimaginável.Elespodemserlevadosaoexílioumavezmais.AdevastaçãoearepetiçãodoseuexíliosãoopçõesvivasatémesmoparaopovoqueacabouderetornardaBabilônia.Umenormepergaminhoquevoava,escritodeambososlados,entranacasadeladrõesedaquelesquejuramfalsamente,consumindo

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madeira e pedras (Zc 5.1-4). Na segunda parte dessa visão de possíveldestruição,umamulherdescritacomoperversidadeéforçadaparadentrodeumcesto demedir fechado comuma tampade chumbo.Esse cesto com suacobertura, simbolizando o frequente uso de pesos emedidas enganosos porpartedos israelitas, é, então, transportadoporduasmulheres impurasparaaterra de Sinear, o antigo nome da Babilônia. Ali ele é colocado de formapermanente em seu pedestal (Zc 5.5-11). O Senhor, por meios dos seusprofetas,fazamensagemficarbemclara:umpovorestauradonãopodetomarporcertoquevaiocuparparasempreolugardabênçãodeDeus.Ainsistênciano pecado, sem arrependimento, resultará na repetição do terrível juízo doexílio que eles acabaram de experimentar. Desse segundo exílio não háexpectativaderetorno.

Masessepovonãoestáentregueaumfuturosemesperança.Adespeitodassuasfalhas,mesmoassimelesmanifestamumaverdadeiraprontidãoparaarrepender-seemudarseuscaminhos.Suaexperiênciaanteriordoexílionãofoi totalmentevã.UmefeitopositivodaobradagraçadeDeuspormeiodoexíliodeIsraelpodeservistonoarrependimentomanifestopelacomunidadeda restauração.A reação de arrependimento émostrada primeiro pelos doisprincipaislíderesdopovo,ZorobabelogovernadoreJosuéosumosacerdote(Ag1.12a).Masdepois“todooremanescentedopovo”sejuntaaseuslíderesnesse singular ato de obediente arrependimento (Ag 1.12b). Juntos, elesassumematarefadeedificaracasadoSenhor.

A razão para a eficácia das convocações deAgeu ao arrependimento éclaramenteexposta:“oSenhor,oseuDeus,[o]enviara”(1.12bNVI).Éclaro,oSenhoranteriormentehaviaenviadoseusprofetasantesdoexílioeduranteotempoemquedurouoexílio.MasAgeu,aprimeiravozproféticaafalardesdeo tempo da restauração da nação, indica explicitamente a fonte do seuarrependimento genuíno. O Senhor “despertou o espírito” dos líderes e dopovo, e por isso vieram e começaram a trabalhar na casa do SENHOR daAliança, o SENHOR dos Exércitos, o seu Deus (1.14). Torna-se evidente aprecedênciadagraçadivinanooperardoarrependimentonocoraçãodoseupovo.

Essa precedência da graça no arrependimento do povo torna-se aindamaisóbvianaexpectativadeumarrependimentomaioremaisprofundoporparte do povo de Deus num dia futuro. Nesse tempo, o Senhor derramará“sobre a família deDavi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito deação de graças e de súplicas” (Zc 12.10a NVI). Em decorrência dessamanifestação final da graça divina para com os principais pecadores, eles

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olharão “para mim, aquele a quem traspassaram, e chorarão por ele comoquemchoraaperdadeumfilhoúnico,eselamentarãoamargamenteporelecomoquemlamentaaperdadofilhomaisvelho”(Zc12.10bNVI).

Ogrande enigmaassociado à interpretaçãodessaprofecia é encantadorpor sua profundidade. Quem é o “mim/ele” por quem choram? A soluçãodessemistérioencontra-senosignificadocomumdaspalavras.O“mim/ele”aquemtraspassaramnãoéninguémmenosqueopróprioquederramousobreeles o espírito de ação de graças e de súplicas, de forma que agora eles ocontemplam e se desmancham em amargo choro. O próprio povo deDeus,aquelesaquemfoiconcedidooprivilégiode retornarà suaamadacidadeereconstruir seu venerado templo – esses são os que traspassaram a fonte detoda a graça.O clímaxdessa graça superabundante será apresentado quandonaquelediaforabertaumafonteque“jorrará...parapurificá-losdopecadoedaimpureza”,emfavordomesmopovoquetraspassouaquelequeéafontedetodaagraça(Zc13.1NVI).TantoaliderançacomooscidadãosdeJerusalémexperimentarãoopoderpurificadordessafonteaberta.

Do ponto de vista da concretização consumada, essas descriçõesproféticasantecipamdeformaexataascircunstânciasdamorteagonianteeagloriosa restauraçãodaquelequeéa fontede todaagraça.Nomomentoemque o traspassaram na crucificação, eles olharam para Ele. Aquele quetraspassouoladodeJesuscomsualançaviuumafonteaberta,deonde“saiusangueeágua”(Jo19.34NVI).Aquelequeviuissotestifica,eseutestemunhoéverdadeiro.Eledáseutestemunho“paravocêstambémcrerem”.Essascoisasaconteceram para que se cumprisse a Escritura: “Olharão para aquele quetraspassaram” (Jo 19.37NVI, citandoZc12.10).Aquele que é gracioso, quenosamouenoslibertoudenossospecadospelafontedoseusangue,serávistooutra vez: “Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, atémesmoaquelesqueotraspassaram;etodosospovosdaterraselamentarãoporcausadele.Assimserá!Amém”(Ap1.7NVI).

Dessaforma,ficabemevidenteasituaçãodopovoquefoirestauradodoseuexílio.Elesestãovivendocentradosemsimesmos,negligenciandoacasadoSenhor;permanecemsujeitosàmãocorretivadeDeus,mesmoaopontodeencarar um segundo exílio,mais duradouro;mas podem experimentar, pelagraçadeDeus,odomdoarrependimento,queconduzàsalvação.

B.AsituaçãodasnaçõesComo pequeno povo subjugado em um território vulnerável sob o

domínio de poderes estrangeiros, o povo da restauração estava plenamentecônsciodaimportânciadasnaçõespoderosasdomundoparaoseguimentoda

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suaprópriaexistência.Porcausadasuacondiçãohumilhante,Israel,nosdiasdasuarestauraçãodepoisdoexílio,podiaservircomofiguradoverdadeiropovodeDeusnodecorrerdostemposemmeioaforçasestrangeiras.Como,então,essasnaçõesdomundoforamvistaspelosprofetasdarestauração?Hádois aspectos dessas nações do mundo que se apresentam: elas estãodespreocupadasapesardeteremparticipadodoextermíniodopovodeDeus,eelasinevitavelmentevãosofrerjuízodapartedeDeus.

Naprimeiradeumasériedevisões,oprofetaZacariasouveorelatodecavaleirosdivinamentecomissionados,queandaramdeumladoparaooutroportodaaterra(Zc1.8-11).Comoresultadodasuamissãodereconhecimento,elesinformamaoanjodoSenhor,queéseu“oficialcomandante”,queviramaterratoda“repousadaetranquila”(ARA)ou,deformamaisliteral:“sentadaesemnadaqueapreocupe”(1.11c).Essacircunstânciaparece,àprimeiravista,ser muito animadora. Mas a reação imediata do anjo do Senhor requercuidadosaanálisedessasituaçãoglobal.Elesuplica:“SenhordosExércitos,atéquando deixarás de termisericórdia de Jerusalém e das cidades de Judá...?”(1.12NVI).

Algumacoisaestáterrivelmenteerradacomasituaçãodomundo.Depoisde teremdevastadoopovoda aliançadeDeus, asnaçõesnão sepreocupamcomsuasituaçãoaviltante.Elasseguemseuprópriocaminho,displicentementeinsensíveiscomaruínadeJudáeJerusalém.NaavaliaçãodoSenhordocéueda terra, essa não é uma ofensa pequena, pois a indiferença para com osnegócios do povo de Deus deve ser comparada com a descrença mundana.Esse“atéquando?”domediadorecabeçadopovodeDeusantecipaomartíriodealgunssantosquelutamparasobreviveremmeioaummundosecularizado(Ap6.10).MasapoderosaintercessãodoanjodoSenhorrecebeumarespostadefinida.ArespostadaoraçãodaprimeiravisãodeZacariasvempormeiodeduasvisõessubsequentesdoprofeta.Nessasduasvisões,torna-seclaroqueasnaçõesserãojulgadasedevastadasporteremmaltratadoopovodeDeus.

Emprimeiro lugar, está a visãodequatro chifres e quatro artesãos (Zc1.18-21).Oschifressimbolizamaforçabrutadasnaçõessecularesdomundo.Onúmeroquatrorepresentaumainclusãodetodasasnaçõesdomundo,assimcomo os quatro ventos do céu simbolizam a universalidade (Zc 2.6). Essesquatrochifresfizeramduascoisas:elesseergueramnumamostradeorgulho,esemmisericórdiaespalharamopovodeDeus.EssasnaçõesjulgaramqueemseuprópriopoderespalharamopovodeDeus,nãopercebiamquetinhamsidoapenasinstrumentosdajustiçadivina.SemapermissãodoSenhor,elasjamaispoderiamvenceropovoprotegidopelagraciosaaliançadivinadaredenção.Oprofeta Jeremias havia indicado anteriormente a perspectiva correta que as

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naçõescontemporâneasde Judádeveriamacatar: “Começoa trazerdesgraçasobre a cidadeque levaomeunome; evocês sairiam impunes?Demaneiraalguma ficarão sem castigo! Estou trazendo a espada contra todos oshabitantes da terra, declara o SENHOR da Aliança dos Exércitos” (Jr 25.29NVI).Quetodasasnaçõesdomundo,tantoasdopassadocomoasdopresente,aprendam essa lição. Não foi o poder das próprias nações que levou Israelparaoexílio.OsoberanoSenhordocéuedaterraprovocouessaexperiênciaterrívelparaseuprópriopovo.Deveriaqualquernaçãodomundopensarqueporsuaprópria forçapodesepreservardedevastaçõessimilares?Deformaalguma!OcálicedairadeDeusnofinaldascontaschegaráatodaselas.

AvisãodeZacariastambémrevelaquatroartesãos,trabalhadoreshábeis,que conhecem bem sua profissão. Esses “artesãos” possuem a especialhabilidadedefazercairditadores,governos,autoridades.Essesquatromestresda destruição correspondem em número aos quatro chifres, indicando queserão sempre suficientes para a tarefa de derrubar cada um dos poderessecularesquesurgir.

SeessavisãodosquatrochifresedosquatroartesãossimbolizaodestinodetodasasnaçõesqueoprimemoverdadeiropovodeDeusduranteasváriasépocasdahistóriahumana,avisãofinaldeZacariasindicaofimconsumadodesseprocessodejuízo.Asimagensmostradasaoprofetaprogridemdejuízotemporalparajuízoescatológico.Nofinal,elevêquatrocarruagensdeguerrasurgindodomeiodedoismontesdebronze(Zc6.1-8).Osignificadodessesmontes de bronze é claramente indicado pela afirmação que as carruagenssurgemdediantedo“Senhordetodaaterra”(Zc6.5ARA).8

Oscarrosda iradeDeusaparecememoutros lugaresnasEscrituras.OTodo-Poderosotemmilhõesdecarrosdeguerra(Sl68.17)comosquaiselepodeespalhar“asnaçõesquetêmprazernaguerra”(Sl68.30NVI).OSenhorvirá com seus carros, trazendo sua fúria como um torvelinho sobre toda ahumanidade(Is66.15,16).ÉdotronodeDeusqueprocedeaordemparaessescarrosdeiraquetrazemojuízofinalsobreasnaçõesdomundo.

OprimeiroeprincipalobjetodojuízotrazidoporessescarrosdoSenhoréa“terradonorte”(Zc6.6,8).NumavisãoanteriordeZacarias,essaterradonorte é identificada como a Babilônia (Zc 2.6,7). Mas, mesmo nos dias deZacarias, a Babilônia tinha adquirido um valor simbólico, uma vez que oImpério Babilônico estava em ruínas já por toda uma geração. Essa naçãoserviu comoo símbolo adequadopara aoposiçãopolítica ao reinodeDeusporvárias razões.ABabilônia tinhadestruídoacidadeescolhidadoSenhor,Jerusalém, queimando-a totalmente. A Babilônia tinha acabado com os 400anos de sucessão davídica no trono de Israel, mostrando sua prontidão em

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acabar com as promessas pactuais de Deus. A Babilônia tinha desalojado oprópriopovodeDeusdaterraquelhestinhasidoprometida.Porcausadessadeterminação de destruir todo o propósito redentor de Deus no mundo, aBabilônia serve como a figura mais apropriada para os poderes visíveis einvisíveisquesecolocamcontraDeus.

O fato dos carros divinos agirem contra a nação que é um perfeitoexemplo da inimizade contra os propósitos redentores de Deus resulta emdescanso.Maisespecificamente,oEspíritodeDeusdescansanaterradonorte(Zc6.8).Eleconquistouomesmoterritórioqueseopôsaosseuspropósitoseestáagorasentadotriunfantementeemseutronoinabalável.Durantetodaasuaperegrinação no deserto, o povo de Deus foi posto em marcha pelamovimentação da arca, que simbolizava o trono de Deus. “Levanta-te, óSENHORdaAliança!Sejamespalhadososteusinimigosefujamdediantedetiosteusadversários”eraoclamordeMoisés(Nm10.35NVI).Mas,quandoaarca voltava a descansar, Moisés clamava: “Volta, ó Senhor, para osincontáveis milhares de Israel” (Nm 10.36 NVI). Agora, na perspectivaescatológica deZacarias, o descanso final é alcançado na derrota do últimoinimigo de Deus. Como indica a passagem paralela do capítulo final daprofeciadeZacarias,adestruiçãodefinitivadosinimigosdoSenhorsignificaqueoSenhoréestabelecidocomo“reidetodaaterra”(Zc14.9NVI).

À vista desse juízo final deDeus sobre a terra do norte, a urgência daordemdefugirdaBabilôniapodeserplenamentecompreendida,mesmoqueessanaçãonãomaisexistanosdiasdeZacarias(Zc2.7).AnãoserqueopovodeDeusseafastedadependênciadopoderpolíticoímpio,eleseráconsumidonaconflagraçãovindoura,damesmaformaqueamulherdeLó,cujodestinodeve ser muito bem guardado na memória de cada geração (Gn 19.26; Lc17.32).

C.AntecipaçõesdofuturoComonocasodetodososprofetasdeIsrael,apreocupaçãodosprofetas

da restauração não se restringia meramente às circunstâncias dos seuspróprios dias. Ao contrário da ideia de que os profetas se concentravamapenas em necessidades correntes de reforma social, a visão delesnormalmente se expandia para incluir tanto o futuromais próximo como omaisdistantequeopovodeDeusdeveria esperar.Aesse respeito, podemosnotar cinco elementos de importância futura nesses primeiros profetas darestauração.

1.Jerusalémeotemploserãoreconstruídos

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Mesmoumaleituraapressadadosprofetasdarestauraçãotornaevidenteque a reedificação de Jerusalém e a reconstrução do templo eramcaracterísticascentraisemsuaexpectativadofuturo.Masqualéarazãodisso?Não haviaEzequiel tido amanifestação da glória daShekinah na Babilônia,indicandoquenãohavianecessidadedeumtemploemJerusalém(Ez1)?NãotinhaoSenhorreveladoqueElemesmoseriaumsantuárioparaseupovoemtodos os ambientes para onde foram espalhados no seu exílio (11.16)? Nãotinha a visão final de Ezequiel mostrado para ele um templo futuro queultrapassaria as fronteiras dos limites geográficos (capítulos 40-48)? Éevidente que “precisava haver uma razão mais fundamental para areconstruçãodotemplodoqueosimplesreiníciodoritual”.9

Essa razãomais fundamental devoltar para a terra e a reconstruçãodotemplo era o testemunho que esses acontecimentos dariam a respeito dosprogressivos propósitos de redenção do Senhor. “Quando meu santuárioestivernomeiodelesparasempre”,disseEzequiel,“entãoasnaçõessaberãoqueEu,oSENHORdaAliança,santificoIsrael”(Ez37.28).Aintençãodivinadeproverumaformadereconciliaçãoentresimesmoeospecadoresnãochegouao fimcomoexílio.ApesardeAgeueZacarias testemunharemapenasumarestauração limitada do templo em seus próprios dias, eles anteviram umtempoemqueaglóriadestesegundotemploseriamaiordoqueadotemplooriginal construído por Salomão.No final das contas, a riqueza de todas asnações haveria de fluir para Jerusalém para a reconstrução desse grande egloriosotemplofinal(Ag2.6-9).Umabalomundialfarácomquesuascoisasmaisdesejáveis–suaprataeseuouro–fluamparaJerusalém.10

Ocorrequase instantaneamenteocumprimentodessaprofeciaa respeitodo fluir da riqueza das nações para o projeto de completar o templo emJerusalém. Dario, como novo rei da Medo-Pérsia, ordena aos seussubordinados na Palestina que tinham protestado contra a reedificação dotemploquearquemcomoscustosdasuareconstrução(Ed6.8-12).Emquatroanos,estavacompletadaarestauraçãodotemplo.

Masalinguagemdoprofetaimpõeumcumprimentodelongoprazoparaaprofecia.Amaiorglóriadoqueadotemploanteriornãofoipercebidanessepequeno segundo templo, pormais que se dessemasas à imaginação.Mas aprofecia de Ageu deve ter algum significado. De igual maneira, Zacariasdescreve a reconstrução da cidade de Jerusalém por meio da visão de umcordeldemedir.Acidadeétãoextensa,quenãopodesermedidapelohomemnemlimitadaporummuro.Masummurodefogoacerca,eaglóriahabitaalinomeio (Zc 2.4,5).O templo deHerodes, nos dias de JesusCristo, era, naverdade, de uma estrutura magnífica. Mas seu edifício dificilmente poderia

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atenderàexpectativadessesprofetas.Aglóriaestavaausentedoseusantuáriointerior,easnaçõesdomundonãofaziamfluirsuasriquezasparadentrodeseuscofres.

Por fim, ao referir-se a si mesmo, Jesus faz uma declaraçãoimpressionante:“aquiestáoqueémaiordoqueo templo”(Mt12.6NVI).Anatureza drástica dessa declaração a respeito de si mesmo leva o leitor doEvangelhoaperguntar:“SeráqueElefezmesmoessareivindicação?SeráqueEledefatodeclarouqueeramaioratédoqueomaissantolugardeDeusnaterra?”Aressurreiçãodoseucorpodeentreosmortosprovêaúnicarespostaadequada a essa questão. Seu corpo era o templo de Deus. Nele residia aplenitude da Divindade. Apesar desse “templo vivo” do seu corpo ter sidodestruídoquandofoicrucificado,elenãopôdeserretidopelamorte,deformaqueseucorpofoiedificadonasuaressurreição(Jo2.19).

Opovodo exílio tinha retornado para a terra e o templo precisava serreedificado com a finalidade de prover um local santificado em que osgrandes atos da redenção divina pudessem ser concluídos. Por meio dessessignificativosacontecimentosdoséculoVIa.C.,foilançadoofundamentoparaoclímaxdahistóriadaredençãopeloaparecimentodeJesusoCristo.

2.OpróprioDeusvairetornarparavivercomelesA mais profunda tragédia do exílio de Israel da sua terra está bem

resumida nas seguintes palavras: “A verdadeira tragédia do exílio não foi aremoçãodopovonemmesmoatotaldestruiçãodacidadeedotemplo.FoioafastamentodoseuDeusdomeiodeles,umaausênciasimbolizadaemumadasvisõesdeEzequielpelaremoçãodaShekinahdotemploparaocumedomontedasOliveiras(Ez11.23)”.11

O afastamento da presença do Senhor conforme relatada de forma tãodramática por Ezequiel abriu as comportas da devastação para seremderramadassobreotemploemJerusalém,sobreaterra,esobreseupovo.Poroutro lado, o retorno do próprio Senhor ao seu lugar no meio deles eracrucialparaa restauraçãodanação,pois, “àpartedaPresençadeDeus,nãoexisterestauração,nemterrasanta,nemcidadesanta,nemtemplosanto,poisésomente essa Presença que santifica”.12 A primeira visão de Zacarias domisterioso homem entre as murtas no desfiladeiro indica que o Senhor vairetornar a Jerusalém,onde sua casa será edificada e a cidade restaurada (Zc1.16).EssapalavradeencorajamentoéconfirmadaporninguémmenosqueoSENHORdaAliançadosExércitos,umadesignaçãodeDeusrepetidatrêsvezesnestaprimeirapalavradoprofetaaopovo:“AssimdizoSENHORdaAliança

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dosExércitos:Voltaiparamim,dizoSENHORdaAliançadosExércitos,eEuvoltareiavósoutros,dizoSENHOR daAliançadosExércitos” (Zc1.3).Umsilêncioproféticode50anosnaterraprometidaéquebradopelaprimeiravezpelo profeta Ageu com a mesma autorrevelação de Deus: “Assim diz oSENHORdaAliançadosExércitos”(Ag1.2).13Apesardeprometerqueaindavairetornaraoseupovo,oSenhor,falandooutravezna terradosseuspais,indicaquejácomeçouseuretorno.Opovonãodevedesanimarporcausadasua humilde condição nem desprezar o “dia das pequenas coisas”, pois oSENHOR daAliança dosExércitos enviou seumensageiro para omeiodeles(Zc4.9,10).

Arealidadedarestauração,emboraassociadadiretamentecomoretornoparaa terraea reedificaçãodo templo, recebe suaespecial confirmação,deacordo com os profetas da restauração, por meio da constante presença doEspíritoSantoentreseupovo.Oexílio,nosentidodobanimentodediantedoSenhor,nãoacabouporocasiãodoretornodopovoàterranemmesmocomareedificaçãodotemplo.Sóseriapossíveldizerquetinhaacabadoporocasiãodo retorno do Senhor para junto do seu povo.Ageu interpreta a tradicionalfrasepactual“Euestouconvosco”como“MeuEspíritopermaneceemvossomeio”(Ag2.4c,5).ParaZacarias,arestauraçãoconsumadadotemploaparecenaformadevisãodeduasenormesoliveirasdentrodoSantodosSantos,quefornecem um fluxo ininterrupto de azeite para um candelabro de ouro,complexo e remodelado. A interpretação da visão não deixa dúvida comrespeito a seu significado: “Esta é a palavra do SENHOR da Aliança paraZorobabel:‘Nãoporforçanemporviolência,maspelomeuEspírito’,dizoSENHOR da Aliança dos Exércitos” (Zc 4.6 NVI). Mesmo o ato físico dareconstrução do templo só pode ser executado pela constante presença doEspíritodoSenhor(4.7-9).

JádesdeantigamentehaviaindicaçõesarespeitodafunçãodoEspíritodeDeus entre o seu povo. O Espírito de Deus estava entre o povo durante oÊxodo e os guiou pelo deserto até seu descanso (Is 63.11c,14; Ne 9.20). OEspírito que havia pousado sobre Moisés foi distribuído entre os setentaanciãos,capacitando-osaprofetizar(Nm11.17).Otabernáculo,comoolugarda habitação de Deus, poderia ser construído unicamente por uma pessoa“cheia doEspírito deDeus” (Êx35.30,31NVI).Mas, para esses profetas darestauração, o Espírito de Deus assume ainda maior proeminência como oúnicopormeiodequemaluzdavidaémantidaentreseupovo,conformesevê no simbolismo da perpétua provisão de azeite para o candelabro, e pormeio de quem é garantido o poder para vencer os inimigos no trabalho de

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edificaracasadoSenhor.OequivalentedanovaaliançadessadependênciadopovodeDeusdoseu

Espírito nos dias da restauração se encontra na função do Espírito naedificação do templo do Senhor com pedras vivas. Toda essa estrutura dopovodeDeusdanovaaliançaéajustada“ecresceparatornar-seumsantuáriosantonoSenhor....sendoedificadosjuntos,parasetornaremmoradadeDeuspor seu Espírito” (Ef 2.21,22 NVI). O Cristo assunto ao céu deu dons doEspírito aos homens “para que o corpodeCristo seja edificado” (Ef 4.7-13NVI).Os crentes noCristo estão, “como pedras vivas na edificação de umacasaespiritual...oferecendosacrifíciosespirituaisaceitáveisaDeus,pormeiodeJesusCristo”(1Pe2.5NVI).Asombradotemplorestauradosobaantigaaliançaantecipaumahabitaçãoaindamaisgloriosa,vivificadapelapresençaconstantedoEspíritodeDeus.

3.MuitomaisgentevairetornarDe certa forma, a restauração do povo à sua terra é vista como fato

consumado, mas a repetição frequente das expectativas proféticas durante arestauraçãoéquemuitomaisgentevaiseuniraelesnesseretorno.ÉdignadenotaadeclaraçãoqueoSenhoraindanofuturovairecolherseupovodaterradaAssíria,umpaísquejánãoexistiahá100anosquandoZacariasdisseisso(Zc10.10).Oprofetatambémfazumaconvocaçãoparaoscativosdaterradonorte, identificada comoBabilônia (Zc 2.6,7).Uma vez que aBabilônia nãomais existia nos dias da restauração, o profeta deve estar falando de umretornomaisgeraldopovoparaaterra.Essefatoéclaramenteindicadopelareferência simultânea a um ajuntamento vindo dos “quatro ventos do céu”(2.6).OSenhordiz:“Salvareimeupovodospaísesdoorienteedoocidente.Euos trareidevoltaparaquehabitememJerusalém”(8.7,8NVI).Sãofeitasdiversas referências à restauração dos de Efraim, representando as tribosperdidas do reino do norte (9.10,13; 10.7; veja também 10.6), os quaisretornarãoaGileadeeaoLíbano,representandoospontosextremosalesteeaoestedo reinodonorte (10.10a).Onúmerodosque aindavoltarão será tãogrande,que“nãohaveráespaçosuficienteparaeles”(10.10bNVI).

Talvez mais notável ainda seja a repetida expectativa de que as naçõesgentias também se juntarão a essa restauração futura e mais plena. Ageuencorajaopovoqueseencontraemtãomodestacondiçãoanunciandoqueafutura riqueza da nação não dependerá dos recursos que elamesma consigagerar.Emvezdisso,oSenhorvaiabalarasnaçõesdaterra,deformaqueascoisasdesejáveisdetodasasnaçõesencherãodeglóriaotemplorestaurado.AprataeoourodetodasasnaçõespertencemaoSenhor,oquesignificaqueEle

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podegarantirqueessesegundotemplovaiirradiarmuitomaiorglóriadoqueaedificaçãodeSalomão(Ag2.7-9).Mas,seasnaçõesvieremcarregadasdepresentes valiosos para o Deus de Israel, então elas também terão dereconhecê-locomooDeusqueEleé.

Esse ponto de vista é confirmado por Zacarias. No coração da amplacidadedeJerusalémestarão“muitasnações”quese“juntarãoaoSENHOR daAliança” e se tornarão seu povo (Zc 2.11). Essas nações gentias não virãoapenasdemaneiraformal,porcortesia,edeixandoaliseuspresentes.Mesmoquetenhamvindo“delonge”,elesvirãopara“ajudaraconstruirotemplodoSENHORdaAliança”(6.15NVI).Aoconcluiraprimeiraseçãomaiordolivro,ZacariasanunciaquemuitospovosenaçõespoderosasvirãoaJerusalémparabuscar oSENHOR daAliança de Israel (8.22).Mais especificamente, aquelesquedeixaramaFilístiapertencerãoaoSenhoresetornarão“líderesemJudá”(9.7b). A porção final da segunda metade da profecia de Zacarias tambémindica que os sobreviventes de todas as nações que atacaram Jerusalém nopassado“subirão anoapós anopara adoraro rei, oSENHOR daAliança dosExércitos”(14.16NVI).

Apesardafuturainclusãodasnaçõesgentiasnumaescalamassivaserumtemacomumdosprofetas,omistérioarespeitodasua inclusãoficouocultoatéaplenitudedos tempos.Essemistériosemostrouumadasverdadesmaisdifíceisdeentenderdetodosostempos,apesardesuanaturezaserclaramenteexplicada.Omistérionãoconsistenofatoda inclusãodosgentios,poisessaverdadevindouraéanunciada regularmenteporquase todososprofetas.Emvezdisso,oapóstoloPauloapontaanaturezaexatadessemistério:“medianteoevangelho,osgentiossãocoerdeiroscomIsrael,membrosdomesmocorpo,ecoparticipantesdapromessaemCristoJesus”(Ef3.6NVI).Osgentiosnãosãosimplesmenteparticipantes,masiguaisparticipantesdetodasaspromessasdasaliançasdeDeus;nãomeramentepartícipesdaherança,masiguaisherdeirosjuntamentecomIsraeldetodasaspromessasdeDeus;nãoapenasestrangeirosquesetornarambem-vindos,masmembrosdomesmocorpojuntamentecomoscrentesjudeus–esseéomistérioassociadocomaparticipaçãodosgentiosna salvação de Israel. Esse mistério agora se tornou conhecido, masrepetidamente é negado. Esse mistério tem o potencial de mudar a totalperspectiva da progressiva obra de redenção do Senhor entre as nações domundoedaconduçãodaIgrejadeCristoàsuaplenamaturidade.

4.OpecadoseráremovidoAsduasseçõesmaioresdolivrodeZacariasfornecemdescriçõesvívidas

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daremoçãodopecadocomopartedarestauraçãodoexílio.Seopecadofoiacausa fundamental do banimento do povo da sua terra e da destruição dotemplo, então a remoção da contaminação do pecado precisa ser uma parteessencialdarestauraçãodoexílio.Narealidade,podemosconcluirque,àpartedaprovisãoparaapurificaçãodopecado,nãopoderiaocorrerumagenuínarestauraçãodoexílio.

Alegislaçãomosaicatraziaminuciosasdescriçõesarespeitodaremoçãodopecadopormeiodos rituaisdosistemasacrificial.Masobviamenteessesprocedimentosnãotinhamsidoefetivosnosentidomaispleno,ouoexílionãoteria jamais ocorrido. O fato do Dia da Expiação ocorrer todos os anosindicava que o sangue dos animais não era suficientemente eficaz pararemoverospecadosdeumavezparasempre.

O ponto central da visão de Zacarias antevê a resolução desseprogressivo problemado pecado e sua inevitável necessidade de punição.OsimbolismoassociadocomojulgamentodosumosacerdotedeIsraelmostraamaneira de finalmente deixar de lado o pecado (Zc 3.1-10). Essa passagemservecomocenacentraldasériedevisõesdeZacariasefuncionacomooeixodeapoiodessaprimeiraseçãodolivro.14 Suacentralidadetambémévistanorestringirdasvisõesemseuinícioefimaessepontocrítico.Aprimeiravisãodescrevecavaleirosquefazemincursõesdereconhecimentopelomundotodo,aopassoqueaúltimavisãodescrevecarrosdeguerradeDeustrazendojuízosobre os quatro cantos da terra. Mas agora o ponto central se restringe aoSantodosSantosnotemplodeJerusalém.15

NessavisãocentraldeZacarias,oanjodoSenhorsedestacanovamenteeatuadasmesmasduasformasemquesemanifestounaprimeiravisão.Naquelemomento,eleatuoucomosoberanosobreosemissáriosdivinos,recebendoeavaliando os relatos dos patrulheiros angélicos enviados por toda a terra(1.11). Mas ele também exerceu a função de mediador do seu povo,intercedendo por eles (1.12).Agora, nesta quarta visão, o anjo do Senhor éapresentadoaindamaisclaramentecomojuizdoseupovoecomoaquelequemedeiaapurificaçãodopecado(3.1,2,4).JosuérepresentaanaçãodeIsrael,culpadadiantedotribunaldivino.Ele tambéméidentificadocomoum“tiçãotiradodofogo”,ofogodojuízodeDeusatravésdoexílio.

Nesseponto crítico,Satanás semanifesta comoogrande adversário doreino de Deus.16 Seu nome significa “o Acusador”, e sua atividadecorrespondeao seunome.Desdeo iníciodessaconfrontação, ficaclaroqueSatanáspareceestarnocontrole.AsvestimentassujasdeJosuérepresentamaspenetrantescorrupçõesdacomunidademesmodepoisdosjuízospunitivosdoexílio.Masojuizdivinamenteindicado,oAnjodoSenhor,expulsaSatanásda

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saladojulgamento,removeasvestessujasdosumosacerdoteeovestecomtrajes festivos (Zc 3.2-4). Josué recebe, então, a informação que ele e seuscompanheiros servem como símbolos para o futuro, pois o Senhor estáfazendoviroseuservo,oRenovo(3.8).PormeiodessareferênciaaoServo-Renovo no contexto da função de Josué o sumo sacerdote como sinalprofético, efetua-se uma especial combinaçãodosofícios de sacerdote e rei.Nestecontexto,oSenhorindicaque,pormeiodesseServo-RenovosacerdotalElevairemoveropecadodaterra“emumsódia”(3.9).Atravésdessafrase,oprofetafazalusãoàpurificaçãoanualdopecadodanaçãonoDiadaExpiação.

AsegundametadedaprofeciadeZacarias tambémdáênfaseàprovisãodafuturapurificação.Uma“fontejorraráparaosdescendentesdeDavieparaos habitantes de Jerusalém, para purificá-los do pecado e da impureza” (Zc13.1NVI).Tantooreicomoopovoencontrarãopurificaçãodopecadonessafonte aberta. Essa fonte purificadora surgirá do transpasse de alguém quemotivará lamentações comparáveis ao pesar provocado pela morte do reiJosias, o último dos monarcas piedosos de Israel, no vale de Megido (Zc12.10,11;vejatambémLc23.27,28;Jo19.34-37).Dessaforma,emassociaçãocomosdoisofíciosdesumosacerdoteerei,seráprovidenciadoumcaminhopara o perdão do pecado em algum ponto do futuro. Somente com essesincrementos é que se pode dizer que a restauração de Israel após o exílioestarácompleta.

5.OServo-MessiassacerdotalviráA despeito das opiniões contrárias atualmente mantidas por muitos da

comunidade acadêmica, a expectativa de um singular herói salvador quehaveria de derrotar o arqui-inimigo de Deus apesar delemesmo sofrer umdoloroso machucado remonta à queda do homem no pecado.17 Naquelemomento crítico, a Palavra deDeus prometeu que uma semente singular damulheresmagariaacabeçadaserpente,aomesmotempoqueaserpentefeririaseu calcanhar (Gn 3.15). É possível encontrar provas do significadomessiânicodessaspalavrasnaSeptuagintajánoséculoIIIa.C.Nacrucialfraseemqueémencionadaasementedamulherquehaveriadeesmagaracabeçadaserpente(ondeohebraicousaogêneroneutroreferindo-seàsementerecémmencionada), os tradutores judeus pré-cristãos optaram por traduzir o textocomo “ele [um herói singular enviado por Deus] esmagará a cabeça daserpente”.18 É possível seguir através de todo o testemunho bíblico essaexpectativadaremoçãodamaldiçãodivinasobreacriação,desdeaesperançadopaideNoé,dequeseufilhoseriaaquelequetrariadescansodafadigadaterra(Gn5.28,29)atéolivrodeDaniel,ondeoFilhodoHomemtriunfasobre

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oanimal(Dn7.11-14).OprofetismoanterioraoexíliodeIsraelconcentrou-senaesperançade

umimaginárioreidavídicoquelibertasseanação,comumapercepçãomaisampla de que o constante fracasso dos monarcas terrenos significava quesomente um interventor divino poderia retificar as desordens criadas pelopecado(Is7.14;9.6,7;11.1-10).DuranteoexíliodeIsrael,aesperançadeumfuturoreieumreinoexpandiu-seadimensõesmaisamplas,apesardemanterumarelaçãodecontinuidadecomopassado.OpovodeDeusseriarestaurado.Elessairiamdolugardoseuexílioeretornariamparaaterraprometida,ondeotemplodofuturotransporiaasamarrasdaslimitaçõesgeográficas(Ez40-48) e o singular herói salvador seria um Filho do Homem, um filho dahumanidadecomoumtodo,nemdepertoumfilhodeJacó.Eleseriainvestidodesoberaniauniversal(Dn7.11-14).

Com esse pano de fundo emmente, qual é a esperança referente a umsingular herói salvador que está para vir de acordo com os profetas darestauração?QueênfasesespeciaispodemserdetectadasemAgeueZacariascomrespeitoaessepormeiodequemhaveriadevirsualibertação?

Emprimeirolugar,osprofetasdarestauraçãocontinuavamesperandoosurgimentodeumreidalinhagemdeDavi,indicadoporDeus.Aesserespeito,suas antecipações refletem conexões e continuidade com o passado. EsseelementoemsuaexpectativamessiânicaévistonofatoquetantoAgeucomoZacariasdãomuitaatençãoaZorobabel,oproeminentedescendentedeDavinosseusdias.Noregistrodasuaúltimapalavraprofética,Ageutemavisãodeum terríveldiaemqueoscéusea terra serãoabalados,e serãosubvertidostronosdereisereinosestrangeiros.Nessemesmodia,oSENHORdaAliançadosExércitostomaráZorobabelseuservoefarádeleumanelcomsinete,poiseleéoescolhido(Ag2.20-23).

EssareferênciadeAgeuaumabalouniversaledosreinoscomopartedasua palavra profética final deve estar conectada à sua referência anterior aoabalo do céu e da terra que faria as nações trazerem sua glória para a casarestaurada do Senhor (Ag 2.6,7). Esse segundo abalo faz destacar um únicodescendentedeDavi,queserácapacitadoaagircomautoridadedivinasobretodasasnações.AssimcomootemplodeDeuseotronodeDaviseuniramnomonte Sião com a vinda da arca a Jerusalém, assim o profeta antecipa umafutura unificação gloriosa da divina adoração e domínio por meio darestauraçãodeummonarcadalinhagemdeDavi.

OstrêsnomesqueAgeudáaZorobabel,como“servo”deDeus,“aneldesinete”e“escolhido”apontamparaexpectativasmessiânicas.Oprimeirohinode Isaías a respeitodo servo apresenta essa figuramessiânica como“omeu

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servo,aquemsustento,omeuescolhido,emquemtenhoprazer”(Is42.1NVI).O Senhor rejeitara resolutamente a Joaquim, o último descendente dalinhagemdavídicaanterioraoexíliodeJudá:“aindaquevocê...fosseumanelde selar em minha mão direita, eu o arrancaria” (Jr 22.24 NVI). MasZorobabel é agoraescolhidocomoaqueleque seráoanelde selardeDeus,levandoconsigoaplenaautoridadedesignadadopróprioSenhor(1Rs21.8).Por causa da amplitude das conotações dessas designações messiânicasaplicadas a Zorobabel, parece altamente improvável que os contemporâneosdeAgeuesperassemumaconcretizaçãodessasexpectativasnaprópriapessoadeZorobabel.EssaconclusãoéconfirmadapelocontemporâneoproféticodeAgeu, Zacarias, que também estabelece numa funçãomessiânica não apenasZorobabel,mastambémosumosacerdoteJosué.

NocasodeZacarias,Zorobabelexercea funçãodorégioconstrutordotemplo, e se enquadra num antigo padrão associado com os governantes deIsrael.19Noestágioanteriordahistóriadanação,oprojetodotabernáculodeDeusfoiconfiadoaMoiséscomoorei-pastordanação(Êx25.1-8;40.33;Nm12.7).OreiDavi,maistarde,expressouseudesejodesubstituirotabernáculomóvelporumacasapermanenteparaoSenhor,masahonradefazê-lorecaiusobre seu filho Salomão (2 Sm 7.11b-13). Agora, no momento crítico darestauração do templo depois das devastações do exílio, Zorobabel, odescendentedeDavi,torna-seoedificadorindicado.APalavradoSenhorvemespecificamenteaZorobabelparaqueotemplosejaedificado“Nãoporforçanemporviolência,maspelomeuEspírito”(Zc4.6NVI).UmamontanhaqueseopõeàconclusãodoprojetoéinstantaneamentetransformadanumaplaníciediantedeZorobabel (Zc4.7).APalavradoSenhordeixabemclaraa funçãoessencial de Zorobabel nessa reedificação da casa do Senhor: “Asmãos deZorobabel colocaram os fundamentos deste templo; suas mãos também oterminarão”(Zc4.9NVI).

EssarégiafiguramessiânicadoprofetaZacariassurgeumavezmaisnasegunda metade do livro, onde ela assume uma forma que é tanto maisgloriosa comomais humilde.Designada especificamente comoRei de Sião,essafuturafiguravemparaestabelecerajustiça,massurgedeformahumilde(Zc9.9).Elegovernatodasasnações.Seureinoseestendedemaramaredorioatéaosconfinsdaterra,exatamentecomoosalmistahaviaantecipado(Zc9.10c;Sl72.8).SeupodersetornaevidenteporsuahabilidadedelivrarEfraime Jerusalémdas suas armasdeguerra eproclamarpaz àsnações (Zc9.10a-b).20

A combinação de humildade e soberania noMessias vindouro torna-semaisevidentenafiguradomaltratadopastor-e-rei.Profetizandoarespeitode

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umdesoladordianofuturo,oSenhorinstruiseuprofeta:“Pastoreiaorebanhodestinadoàmatança”(Zc11.4).Masesserebanhorebeldedetestaseupastoreodespedecomoínfimopagamentode30peçasdeprata,ovalordevidoaumescravoque tivesse sidochifradoporumboi (Êx21.32).Mas,mesmonessasituação de ter sido maltratado e despedido por seu ingrato rebanho, essehumildepastor retémaautoridadeporaindaestardepossededuasvarasdepastor. O pastor humilhado quebra essas varas, simbolicamente chamadas“Favor”e“União”, indicandoacessaçãodoacordopactualentreoSenhoretodasasnaçõeseentreJudáeIsrael(Zc11.7,10,14).

Masopiorparaessehumildepastor-e-reiaindaestáporvir.OpróprioSenhorchamaaespadadosexecutoresparaferirseucompanheirofavorecido,seuprópriopastordivinamenteindicado(Zc13.7).AúnicaexplicaçãoviávelparaesseataquecontraoBomPastorprovocadopelopróprioSenhoréqueopastor-e-rei tambémexercea funçãodesacrifíciosacerdotal–ou,comoEledeve ser considerado apropriadamente – o sacerdote que é, Ele mesmo, osacrifício. Pelo fato de ser ferido, as ovelhas serão dispersas, castigadas,purgadas,purificadas.Amaiorpartedo rebanho seperderápara sempre, aopasso que um remanescente será refinado. Mas, no final das contas, ossofrimentos do humilde pastor-e-rei em favor do seu rebanho executará opropósito final do Senhor nessa parte remanescente: “Ela invocará o meunome,eeulheresponderei.Éomeupovo,direi;eeladirá:‘OSenhoréomeuDeus’”(Zc13.9NVI).

NãosedevemesquecerasfigurasdosvárioselementosdorégiopastordeZacariasqueaparecemnasnarrativasdaPaixãonosrelatosdosEvangelhos.AúltimasemanadavidadeJesuscomeçacomopovoosaudandocomoseureieElemontadonumjumentinhoentrandoemJerusalém(Mt21.4,5,citandoZacarias 9.9). O fato de Israel depor seu pastor indicado por Deus pelo“considerávelvalor”de30peçasdeprataseconcretizaquandoosoficiaisdotemplo pagam Judas por seu ato de traição (Mt 26.14-16; 27.9, citando Zc11.12,13).21 Na terceira citação desta seção de Zacarias, o próprio JesusmodificaaredaçãodoAntigoTestamentoparadestacarofatoqueopróprioDeus provocou a morte do Bom Pastor: “Eu ferirei o pastor, e as ovelhasserão dispersas” (Mt 26.31, citando Zc 13.7). O nobre rei do seu povo setornouosacerdotesacrificadopelasmãosdopróprioSenhor.Somentedessaformaéquepoderiaconsumar-severdadeiraredenção.

O segundomaior elemento de umamensagemmessiânica nos profetasposterioresaoexílioévistonestafusãodosofíciosdesacerdoteerei.Auniãodedoisofíciosemumasófiguraressaltaomaisimportantedesenvolvimentona ideia messiânica de Zacarias como o principal profeta do período da

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restauração. Por toda parte da profecia de Zacarias, a união dos ofícios desacerdoteereiemumasófiguraassumeumaproeminênciajamaisvistanosprofetasanteriores.Emsuaprimeiravisão,Zacariasvêumhomemmisteriosonum cavalo vermelho, depois identificado como o “anjo do Senhor” (Zc1.8,11). Esse anjo do Senhor recebe o relatório dos mensageiros divinos erespondecomojuizsobreasnaçõesdomundo(Zc1.11).22Aomesmotempo,ele intercede em favor dos santos sofredores de Judá e Jerusalém (Zc 1.12).Dessamaneira,eleé“colocadonaduplafunçãodejuizdasnaçõeseadvogadodoIsraeldeDeus”.23Eleapresentacaracterísticasreaisetambémsacerdotais.AsignificânciamessiânicadessaduplafunçãodoanjodoSenhorrecebemaiordesenvolvimentoemsubsequentesrepresentaçõesdeJosuécomoumsacerdoteque é coroado rei. Josué é especificamente identificado como uma pessoasimbólicadecoisasvindouras.Eleédesignadocomo“meuservo,oRenovo”,um título anteriormente usado pelos profetas para identificar o esperado reimessiânicodalinhagemdeDavi(Zc3.5,6;Is11.1;4.2;Jr23.5,6;33.14-17;Ez17.22-24; cf. Sl 132.16,17). A pedra ou placa dourada entalhada no turbanterealdiantedeJosuétorna-seopontocentraldos“seteolhos”deDeus(Zc3.9).“Santidade ao Senhor” estava gravado nessa placa dourada, que descreve aperfeita santidade do reino de sacerdotes de Deus (Êx 28.36-38). Emdecorrênciadaobradessesacerdote-e-reideZacarias,opecadodaterraseráremovidoemumsódia(Zc3.9).OsumosacerdoteJosuéserve,assim,como“umtipoproféticodaquelequehaverádevir”.24

A sequência de visões da primeirametade de Zacarias se completa pormeiodeumarepresentaçãodavidarealdesignificadoproféticoqueumavezmaisfundeosofíciosdesacerdoteereiemumcontextomessiânico.Osumosacerdote Josué é nomeado com o títulomessiânicoRenovo (Zc 6.12). Masagora,nessecenárioquenãoéodeumavisão,aconteceumadramáticaaçãode significaçãoprofética. Por ordemdoSenhor,Zacarias tomaprata e ouroque os exilados tinham trazido de volta da Babilônia. Com esses tesourostiradosdeoutrasnaçõesdomundo,oprofetaéorientadoa“fazerumacoroaecolocá-la na cabeça de Josué o sumo sacerdote” (Zc 6.11). O surpreendentecaráter dessa ação é plenamente confirmado pela tendência dos críticosbíblicos que negam que isso poderia ter acontecido. Desde os dias deWellhausen para cá, frequentemente tem sido negado que um sacerdote deIsrael pudesse ser coroado rei. Os críticos propõe que o texto da Escrituradeve ter sidocorrompidoeafirmamqueapassagemoriginalmente indicavaqueZorobabel,ogovernador,enãoJosué,osacerdote,foiobjetodacoroaçãosimbólica,apesardenenhumaevidênciadealgummanuscritoconfirmaressahipótese.25

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Essa fantasiosa edição do texto antigo erra completamente o alvo. Éexatamenteporqueessaaçãodecoroarosumosacerdotenãoseencaixanospadrões anteriores do testemunho bíblico, que ela deve ser avaliada por suasingularidade.Umavezquecolocarumacoroarealnumsacerdoteéalgoquese move contrariamente às expectativas políticas do período posterior aoexílio,aaçãoprecisaserconsideradaporseuvalorprofético.Asignificaçãodapassageméclaramentemessiânica.

AsingularidadedomessianismocaracterísticodeZacariasédramatizadanessafusãodefunçõesdereiesacerdote.Essefatoéressaltadopelacoroaçãode Josué o sacerdote em lugar de Zorobabel o descendente de Davi. SeZorobabeltivessesidoapessoacoroada,nenhumafusãodosdoisofíciosteriasido representada. A coroação do sacerdote torna o ponto o mais vívidopossível.A intençãode exaltar o sacerdote aoofíciode rei é reforçadapeladeclaração que explica a importância do ato simbólico: “[O sacerdote] serárevestido demajestade e se assentará em seu trono para governar” (Zc 6.13NVI). O sacerdote vindouro profetizado governará como rei em seu trono.Essadeclaraçãonaturalmentedespertamuitasperguntas.Porqueumsacerdoteestáocupandoumtrono?Dequeméotronoqueeleestáocupando?Umavezque nenhum sacerdote em Israel tinha legitimamente um trono próprio, eledeveestar sentadono tronodeoutrapessoa.Qual é exatamenteo sentidodadeclaraçãoqueeledevesentar-seem“seu”tronoparagovernar?

Neste caso, parece que o trono é o de Deus. Esse sacerdote e rei“construiráotemplodoSENHORdaAliança...eseassentaráemseu[deDeus]tronoparagovernar”(Zc6.13NVI).26OSantodosSantosnotemploeraasalado tronodeDeus.Nesse lugar,Ele seassentavacomoreidoseupovo.Umavezporano,osumosacerdotedeIsraeltinhapermissãoparaentrarnasaladotronoparaaspergirsobreopropiciatórioosanguedaexpiação.Masagoraofuturo sacerdote, que é também reimessiânico, entra no Santo dos Santos eestá assentado permanentemente no trono de Deus nesse santíssimo lugar.Quando o profeta indica que “haverá harmonia entre os dois” (6.13), ele serefereàpazentreopróprioSenhoreosacerdoteereiquegovernacomEle.27AoparticipardotronodeDeus,omessiânicosacerdoteereiprecisaestaremperfeitaharmoniacomopróprioSenhor.

As funções régias desse sumo sacerdote exaltado são ainda maisressaltadaspela repetidadeclaraçãoqueele“construiráo templodoSENHORdaAliança”(6.12,13).Normalmente,aconstruçãodeumtemploparaDeuséumprivilégioespecialreservadoparaorei.28Mas,nestecaso,Josuéosumosacerdote de Israel é quem vai construir “o templo doSENHOR da Aliança”

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(6.13).PortandootítulomessiânicodeRenovo,essesacerdotenotronodividecomZorobabeladistintahonradeedificarotemplodoSenhor(6.12).Maséclaro que o sumo sacerdote Josué não pode de fato exercer régia soberaniasobreopovode Israel.Amiserável situaçãodopovo restauradode Israel éressaltada pelo fato de continuarem sujeitos às autoridades seculares. Osoberano persa não permitiria que os judeus estabelecessem sua própriasoberania,deformaqueacoroasimbólicaéremovidaecolocadanotemplocomoummemorialprofético(6.14).

É gloriosa a expectativa final criada por essa ação memorial. Um dia“gentedelonge”viráparticiparjuntamentecomesseexaltadosacerdoteereimessiânicodaconstruçãodo templodoSenhor (6.15).Essaexpectativapodereferir-seajudeusqueaindahaveriamderetornardoexílio.Mastambémpodeindicarosgentios,osquetêmestadoafastadosdaapropriadaadoraçãoaDeusequeumdiasetornarãoparteintegraldoIsraeldeDeus.

Ograndeavançodosprofetasdarestauraçãocomrespeitoàredençãodohomem pode ser encontrado nesse entendimento mais pleno da função doMessiasvindouro.EleseráumreiungidodalinhagemdeDavi,eaomesmotemposervirácomosacerdote.Elenaverdadevaiservircomosacerdoteereisacrificialemseutrono.EmvezdeentrarnasaladotronodoSenhorapenasumavezporano,Elevaisentar-sepermanentementecomDeusemseutrono.PormeiodacombinadaautoridadeinvestidasobreElecomosumosacerdoteereideIsrael,ElevaiedificarotemplodoSenhor.

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II.Apalavrafinaldoprofetismodaantigaaliança:Malaquias

NotempodeMalaquias,emmeadosdoséculoVa.C.,jáhaviammorridoZorobabel, ogovernanteda linhagemdeDavi e Josué, o sumo sacerdotedarestauração de Israel. Eles tinham sido apresentados ao povo dos seus diascomo homens-símbolo, personificando a esperança do futuro das nações.ZorobabeldeviacompletararestauraçãodotemplovencendotodaresistênciapormeiodopoderdoEspíritodeDeus (Zc4.6,9). Josué,o sumosacerdote,tinhasidocoroadorei sobreanação,masapenasdemaneiraprofeticamentesimbólica(6.11,12).

O dia dessas duas figuras simbólicas havia chegado e já tinha sidodeixado para trás.Embora o templo tivesse sido reedificado, nada da glóriamaiorprofetizadaporAgeutinhaocorrido.AlinhagemrealdeDavinãotinhasubidoàposiçãodesoberaniasobreaterra,eosumosacerdotedanaçãocomcertezanãoestavasentadonumtrono.

Setenta e cinco anos depois do ministério desses antigos profetas darestauração,Malaquiasentraemcena.29AscircunstânciasdasuaépocaeramtotalmentediferentesdasituaçãoinicialnotempodarestauraçãodeIsrael.Umsacerdócio estava agora funcionando ativamente, oferecendo comregularidadesacrifíciosnotemplorestaurado.Opovoquehaviaretornadodoexílio com tão elevadas esperanças tinha se acomodado numa enfadonharotina. Elementos do estilo de vida da comunidade não israelita tinham sidoabsorvidos pelo povo. Até mesmo se ouviam reclamações a respeito dainatividadedoseuDeus.30

Então,qualeraamensagemdesseúltimoprofetadaeradaantigaaliança?Que palavra especial ele trouxe da parte do Senhor para o povo darestauração?

Emtermosdeformaliterária,o livrodeMalaquiasédiferentepelousodo estilo de “discussão”. O profeta propõe uma série de perguntas ouafirmações dirigidas pelo povo ao seu Deus, perguntas que sintetizam suaatitude (1.2,6c,7,12,13; 2.14,17; 3.7c,8,13,14). O Senhor e seu profetarespondemcomsuaprópriasériedeperguntas(1.2c,6,8,9,13;2.10,15;3.2,8).Apesardesercontroversaanaturezaprecisadessasalternâncias,suapresençaconstantereforçaaunidadeliteráriadolivro.31

Comfrequência,olivrodeMalaquiasédenegridocomoumexemplodeliteratura profética de segunda categoria.32 Mas geralmente não se leva emconsideração o magistral desenvolvimento de uma dominante estruturatemáticadentrodolivro.Emrespostaàsituaçãodeterioranteentreopovode

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Deus no final do longo movimento rumo à consumação da redenção,Malaquiasfundamentaseuapeloproféticonastrêsgrandesordensdacriaçãoeda aliança: a ordem da adoração, a ordem do casamento, e a ordem dotrabalho.

A.AordemdaadoraçãoPorocasiãodaCriação,oSenhorsantificouosétimodiaeotornousanto

(Gn 2.3). Por meio dessa ação, Ele convocou tudo o que tinha feito, masespecialmenteahumanidade,aconsagrar todososseusesforçosaElecomoseu caridoso Criador. Nos processos da revelação redentiva, o Senhorrepetidamentechamouaatençãodoseupovoparaacentralidadedaadoração.Emprimeirolugar,Eleposicionouotabernáculoedepoisotemplonocentrodasuavidaemcomunidade(Êx25.30;40.34-38;Nm10.36;1Rs6-8;2Cr2-7).Odivinoestabelecimentodesacerdotes, sacrifícios,e santasconvocaçõesressaltavamessacentralidadedaadoraçãodirigidaaoseuCriadoreRedentor.O remanescente da restauraçãomostrou sua percepçãoda importância desseaspectodasuavidapelaurgênciaquedeuàreedificaçãodoaltardosacrifícioe do templo. Antes que se fizesse qualquer outra coisa, essa pequena eesforçada comunidade, sempre com o apoio e encorajamento dos seusprofetas, estabeleceu como prioridade a tarefa de reconstituir seu centro deadoraçãocomoopontofocaldasuavidacomunitária(Ed3.1-4).

Setentaecincoanostinhamagorapassadodesdeafinalizaçãodosegundotemplodanação.Depoisdeduasoumesmo trêsgerações teremampliadoointervaloentreozelooriginaldacomunidadedarestauraçãoeasrealidadesdadura vida na terra, assim o sacerdote e o povo tinham desviado o foco do“primeiro amor” do seu Senhor para colocá-lo em seu próprioengrandecimento.

Comoreaçãoaessasituaçãocadavezpior,oprofetaMalaquiasobrigaopovoacolocar-sediantedoseuDeuseanteciparodiadasuaavaliaçãofinalem sua presença. Quarenta e sete dos cinquenta e cinco versículos deMalaquias são um discurso em primeira pessoa da parte do Senhor ao seupovo.Emdecorrênciadisso,oprofetacria“umvivoencontroentreDeuseopovo,algosemigualnoslivrosproféticos”.33Longedeserumaobrainferiorentreosprofetas,essetestemunhofinaldacentralidadedeDeusnavidadoseupovoresumedeformaapropriadaadominantemensagemdoSenhorquetinhasidorepetidamenteanunciadapelosprofetas.

Aoreagirmaisespecificamenteàsituaçãodaadoraçãoqueprevaleciaemsua época, Malaquias primeiro descreve o Deus que deve ser adorado. Elehavia mostrado o caráter imutável do seu amor eletivo por meio da

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restauraçãodeIsraelaumaáreadentrodassuasfronteirasoriginais,oqueéreforçado pelo tratamento diferente para com a nação vizinha deEdom (Ml1.2,5).OpovodeIsraelseatreveaperguntarcomooSenhortemdemonstradoseu amor por eles, aomesmo tempo que seus sacerdotes estão cansados deoferecersacrifíciosregularmente(Ml1.13).Pareceatéqueparaopovotantofazagirembemoumal (Ml2.17),eparece inútil serviraoSenhor (3.14).OSenhorrespondedirigindoaatençãodopovoparaalémdafronteira,paraseuparente. Edom foi devastado pelo juízo divino. Na sua audácia, eles tinhamdito: “Nós vamos nos levantar outra vez” (1.4). Eles tinham determinadorestabelecer suas cidades arruinadas.Mas a restauração de uma nação não éalgoquepodeserfeitopelavontadehumana,pormaisdeterminadaqueseja.Adespeito dos seus mais elevados esforços, o Senhor declara que Edom vaipermaneceremruínas.

É o amor de Deus que garante a restauração de Israel. Todos os seusprofetastinhamanunciadoainfalibilidadedessefato.Emborasuarestauraçãocomo nação não estivesse a essa altura tão gloriosa como gostariam queestivesse, eles não podiam negar sua realidade. Eles tinham retornado à suaterranatal.Elestinhamrestauradoseussacrifícioseseutemplo.Deusmostrouseu especial amor por eles nesses acontecimentos, que estavam em evidentecontrastecomasortedosseusvizinhosedomitas.

MasanaçãorestauradafalhoucompletamenteemmostrarumareaçãodeadoraçãoapropriadaaessamanifestaçãodoamorespecialdeDeusparacomeles.DeusdizsertantoopaiadotivodeIsraelcomoseureisoberano.MasElenão recebe nem a honra devida a um pai nem o respeito devido a um rei(1.6,14).Eles trazem animais cegos,mutilados e doentes como seu tributo aEle,dádivasqueelesnãoseatreveriamapresentearaseugovernadorterreno(1.8,13b,14a).Adespeitodetodoesforçoqueopovotinhafeitonarestauraçãodotemplo,oSenhoragoraquercerrar-lheasportas(1.10).

Não se poderia imaginar declaração mais radical. Mas “um templofechado, por mais terrível que seja, é preferível à perpetuação do cultoinútil”.34 Conformeobservacertocomentarista:“Émelhorficarcaladodoqueblasfemar.Épreferívelprovaraagoniadeestar longedeDeusaenganar-seachandoqueDeusvaiouvirassúplicasdeumhipócrita”.35

AcomunidadedeJerusalémpodetersidofavorecidaporseuretornoparaa terra,mas seus sacrifícios contaminados são amaldiçoados.Essamaldiçãopronunciadasobreadoradoresdesleixadosédirigidaespecialmenteàspráticasdossacerdotes.Malaquiasfazamaisbeladescriçãodafunçãodosacerdoteemtoda a Escritura.Deus estabeleceu uma aliança de vida e paz comLevi.36 OsacerdotedeIsraelandavacomDeus,proviaopovocominstruçãoverdadeira,

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e desviava muitos do pecado (Ml 2.5,6). Ele era até designado como o“mensageiro do SENHOR da Aliança dos Exércitos” (2.7). Mas agora DeusamaldiçoouasbênçãosdossacerdotesdeIsraelporcausadasuainsinceridadede coração (2.2). Quando o sacerdote pronuncia a bênção aarônica sobre opovo (Nm 6.24-27), a bênção pretendida transforma-se numa maldição. “OSENHORdaAliançateabençoeeteguarde”passaateroefeitodedeclarar:“OSENHOR da Aliança te amaldiçoe e te destrua”. “OSENHOR da Aliança façaresplandecerseurostosobre tie tenhamisericórdiade ti” transforma-seem:“OSENHORdaAliançadesviedetioseurostoenãomostremisericórdiaparacontigo”.Emvezde“OSENHORdaAliançalevanteseurostosobretietedêapaz”,abênçãodosacerdotetorna-se:“OSENHORdaAliançaseocultedetietesobrecarreguecomumconflitosemfim”.

Essa maldição divina aparece uma vez mais no final da profecia deMalaquias.Anãoserqueopovorespondadeformaapropriadaaochamadoaoarrependimento,oSenhorviráe“feriráaterracomumamaldição”(4.6).Um exílio pior do que tinham experimentado virá sobre eles. Assim comoCanaã já esteve debaixo de maldição, assim agora essa terra de falsossacerdotes e adoradores vai experimentar a mesma maldição calamitosa eabsoluta.Mas, a despeito desse juízo punitivo da mão do Senhor, a aliançasacerdotalcomLevidealgumaformaserámantida.Essesfortesjuízoscairãosobreossacerdotes“deformaqueminhaaliançacomLevipossacontinuar”(2.4).Nofinal,oSenhordevereceberaadoraçãoapropriadadevidaaElepelacriaçãorestaurada.Umsacerdócioapropriadodeveráoperarcomsantidadeepureza.

Em contraste com essa exposição da fracassada adoração de Israel,Malaquiasantecipade formaproféticaumaradical reorientaçãodaadoraçãopor todoomundo.Embora se fechemasportasdo templode Jerusalém,detodas as nações do mundo serão trazidas ofertas apropriadas em nome doSENHORdaAliança.ApesardeseremrejeitadosossacrifíciosdacomunidaderestauradadeIsrael,asofertasdasnaçõesserãoaceitasporEle(1.11).

Algumas pessoas sugerem que, por meio dessa declaração, Malaquiasabre uma pequena possibilidade e reconhece que o Senhor aceita todas asreligiões.DeacordocomDriver,otextoparecedizerque,quando“ospagãosem sua cegueira se prostramdiante damadeira e da pedra”, sua adoração é“adoração ao Senhor, simplesmente porque é adoração em sinceridade,emboranãoemverdade”.37Masessa interpretaçãodesconsidera totalmenteaevidentedeclaraçãodotexto.OSenhormostraqueessaadoraçãodetodasasnações do mundo será aceitável unicamente porque é oferecida “em meu

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nome” porque “grande é o meu nome entre as nações, diz o SENHOR daAliança dos Exércitos” (1.11c NVI). Pela repetição do nome de Deus e aespecificaçãodessenomecomooSENHORdaAliançadeIsrael,torna-seóbviaa questão. A adoração de todo tipo de concepção a respeito de Deus não éaceitável ao Senhor. Só será agradável a Deus a adoração que considera oSENHORdaAliançaemsuasingularidade.

Comoéradicalessadeclaração!Asfrases“emtodolugar”e“donascerdo sol atéoocaso”estãoemvigorosocontraste com“emJerusalém”e“nomonte Sião”. Além disso, “as nações” contrastam com “Israel”. A ideia deofertasapresentadaspelasnaçõesnãoéexclusivadeMalaquias(vejaIs66.18-21; Zc 14.21). A singularidade da proclamação de Malaquias é que essaadoração de âmbito mundial “não dependeria dos sacrifícios levíticosoferecidosemJerusalém”.38Emvezde todas asnações fluírematéomonteSião,umaatividadeglobaldeadoraçãopuratomaráolugardacentralidadedacidade de Jerusalém. Pessoas e lugares de todo lugar do mundo serãoconsideradoscomocampoapropriadoparaaadoraçãoautêntica.

EssesvárioselementosreferentesàadoraçãoapresentadosemMalaquiaspassamaoprimeiroplanoquandovistospelaperspectivadanova aliança.Épreciso perguntar: Quando as nações apresentarão ao Senhor sacrifíciosapropriadosemseuspróprioslocaisàpartedocentrodeadoraçãodacidadedeJerusalém?Arespostaimediataeóbviaé:“Agora,nestaépoca!”DesdeosdiasdoministériodeJesuseseusapóstolosatéopresente,naçõesespalhadaspelomundo têm oferecido sacrifícios apropriados em nome do únicoDeusverdadeiro.Aomesmotempo,anaçãodeIsraelfoiproscrita,expulsadasuaterra.MesmosuareconstituiçãocomonaçãonaPalestinaduranteoséculoXXnão alterou de forma significativa a figura profética. Na verdade, muitosjudeus se juntaram com gentios na adoração ao único Deus verdadeiroreveladonaPessoadeJesusCristopelopoderdoEspíritoSanto.MasasportasdotemplodeJerusalémestãofechadasnessesúltimos2.000anos.Mesmoseos judeus renovassem sacrifícios de sangue em Jerusalém, eles seriamconsiderados uma abominação peloSENHOR da Aliança, pois Ele declarou:“Estáconsumado”pormeiodosacrifíciodoseuFilho,aoqualnadasepodeacrescentar.Somenteemeatravésdoseuautossacrifícioéqueahumanidade,tantojudeuscomogentios,podeserrestauradaaumacondiçãoapropriadadecoração que vai conduzi-los a consagrarem tudo que são e têm como umsupremoatodeadoraçãoaoúnicoCriadoreRedentor.

A condenação de Malaquias das práticas de adoração dos sacerdotesencontra sua contrapartida em sua condenação das ofertas corrompidas

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apresentadaspelopovo.Eles roubavamaDeus em seusdízimos e ofertas, eporissosãocolocadosdebaixodamaldição(3.8).ElesfalarampalavrasdurascontraoTodo-Poderoso.BlasfemavamcontraEledizendoqueerainútilserviraDeus,querendodizerquenãoseganhanadaporguardarseusmandamentos(3.13,14).

Masumavezmais,agraçadeDeussemanifestaalémdasconsumidorasdevastaçõesdamaldição.Restaráumfielremanescente,eelespertencerãoaoSenhor como seu “tesouro pessoal” (3.16,17). O conceito de um tesouropessoalapareceaprimeiraveznoSinai,quandooSenhor reivindicoucomoseuopovodaaliança(Êx19.5,6).Omesmoconceitoérenovadonasplaníciesde Moabe, depois dos 40 anos de perambulação no deserto (Dt 7.6; 14.2;26.18,19)emaistardetambéméreiteradopelosalmista(Sl135.4).AmaneiracomoaSeptuagintatraduzessaexpressãoforneceoelolinguísticodessericoconceito teológico aos documentos da nova aliança. Os crentes em Jesus oCristo são “propriedade exclusiva” de Deus, estabelecendo uma linha diretapara a concretização das sombras da antiga aliança em realidades da novaaliança (Ef 1.14; 1 Pe 2.9). A valiosa propriedade do Senhor tornou-se umsacerdócio real que oferece a verdadeira adoração do louvor sacrificial aoúnicoDeusvivoeverdadeiro(1Pe2.9).

B.AordenançadocasamentoinstituídanaCriaçãoCom frequência, sugere-se que o livro de Malaquias consiste numa

desconjuntada colcha de retalhos de sermões sem foco central nemdesenvolvimento coerente. A despeito de sua óbvia unidade mostrada naconstante forma de diálogo, a profecia é geralmente atribuída a váriossupostoseditoreseredatores.

Anoçãomais ampladas instituições estabelecidas naCriação fornece achaveparadescobrirostemasunificantesdestelivro.OLivrodeGênesisnosdá uma descrição panorâmica da ordem da Criação ao apresentar osmandamentos fundamentais da adoração no Shabbath, do casamento e dotrabalho. Malaquias conclui o capítulo final da narrativa da antiga aliançaretornandoaessesmesmostemas.Àluzdisso,amaneiradetratarocasamentoeodivórcioemMalaquiasnãodeveserconsideradacomoumaimposiçãodealgum editor ao texto, mas um aspecto integral do desenvolvimento dessestemascentrais.

Nem deve o santo assunto do casamento ser denegrido ao ponto deconsiderá-lo como polêmica alegórica contra a adoração pagã. Certocomentarista supõe que, emvez de lidar como casamento e o divórcio nosrelacionamentos humanos, o profeta apresenta Yahweh como o “cônjuge

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feminino”eIsraelcomoo“cônjugemasculino”.39EssecomentaristaconcluiqueMalaquiasexpressaemformadeparábolasuapreocupaçãocomrespeito“àveneraçãoimprópriadeumdeusmasculinonumsantuáriodeYahweh”eaomesmotempocriticaaveneraçãodeumadeidadefemininaemIsrael.40

Com a finalidade de sustentar esse ponto de vista, esse comentaristaprecisatomarcomocerto,semnenhumaevidênciatextualqueoapoie,queumescribaposterioracrescentouafrasechave“Ninguémsejadeslealparacomaesposadasuamocidade”,queserefereclaramenteaorelacionamentomarital(Ml2.15b).Ocomentaristaafirmatambém:“Aquiloquehaviasidolinguagemdirigidaparaosjudeus,oIsraelpersonificado,torna-selinguagemdirigidaaindivíduos israelitas”.41 Ao tratar essa passagem como nota de edição, massem apresentar nenhuma evidência textual ou manuscrita que apoie essaopinião,sóépossívelafirmá-lopormeiodeargumentocircularpresumindoaquiloqueeletentaprovar.

De maneira muito mais convincente, Malaquias deve ser lido comoalguém tratando com toda a solenidade a instituição do casamento feita naCriação. A passagem começa com a afirmação que um Deus “nos criou”,empregandoomesmo termousadoemGênesis1.1 (Ml2.10).Apartirdessabase, o profeta conclui que Judá profanou a aliança e profanou o santuário“casando com a filha de um deus estrangeiro” (2.10,11). A solenidade dorelacionamentoconjugaléaindamaisressaltada“porqueoSENHORdaAliançaétestemunhaentrevocêeamulherdasuamocidade”(2.14aNVI).Aspessoasem suamaioria são culpadas de infidelidade para com amulher com quemfizeramsuaaliançamatrimonial(2.14b).

Em nenhum outro lugar das Escrituras se encontra visão tão elevada arespeito da instituição do casamento como na profecia de Malaquias.ArraigadonaCriação,fundadonaaliançaredentoradeDeus,solenizadopelopróprioSenhoragindocomotestemunhapactual,ocasamentoéelevadomuitoacimadaspreocupaçõesdaconveniênciahumana.Nãohácomosercompletaarestauraçãodoseupovosaídodocativeiroquefoiresultadodopecadosenãohouver reverência apropriada para com o matrimônio, essa instituiçãoordenadaporDeus.

Dito de forma negativa, nenhuma ação pode despertar o desagrado doTodo-Poderosomaisdoqueopoucocasoparacomaordemdomatrimônio.“Euodeioodivórcio”(2.16)éaleituramaisnaturaldotextobíblicoeressaltacomênfaseareaçãodoSenhorparacomaviolaçãodoseuatodeunirmachoe fêmea. Desde os temposmais remotos, repetidos esforços têm sido feitospara embotar a franqueza dessa afirmação. Apesar de deixarem intactas asconsoantes do texto, os massoretas incluíram vogais que puseram o verbo

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numa forma indicativa da terceira pessoa: “’Ele odeia o divórcio’, diz oSENHORdaAliança,Deusde Israel”,oque fazpoucosentidonocontexto.ASeptuaginta apresenta uma tradução interpretativa da passagem, que concedeumajustificativaparaodivórcio:“Sealguémodeia,quemandeembora”.Maisem conformidade tanto com o contexto da passagem como com acircunstânciasocialdaquelesdias,afraseémaisbemlidacomoumavigorosaafirmação:“Euodeioomandarembora”.42

Àvista de antigos esforços para ler o texto de forma diferente de umadiretacondenaçãododivórcio,aatitudeexpressapelosdiscípulosdeJesusécompreensível. Eles ficaram surpresos com o ensino de Jesus a respeito dainviolabilidadedocasamento (Mt19.9,10).Mas Jesusnão lhesdáuma saídafácilparaaintençãooriginaldaordenançaporocasiãodacriação.AquiloqueDeusuniuhomemnenhumdeveseparar(Mt19.6).

Ainda que a lei de Moisés graciosamente fornecesse orientação sobreaquiloqueoSenhorsabiaqueinevitavelmentehaveriadeocorrer,opropósitoerajamaisanularaintençãodoCriadorcomrespeitoaomatrimônio.Nofinaldoperíododa antiga aliança, essaPalavradoSenhor soou alta e clara.Se arestauração ao paraíso é o alvo da redenção, o casamento precisa serconsideradoinviolável.

C.AinstituiçãodotrabalhoPor causa do pecado original do homem, a terra debaixo dele foi

amaldiçoada. Espinhos e abrolhos tornaram-se sua inevitável colheita (Gn3.17-19).Comoconsequência,acomissãooriginaldeDeusparaohomemde“dominaraterra”tornou-seumatarefapesada.Seriasemprenecessáriomaistrabalhoparaproduzirresultados.Ohomemcomeriapão,massomentecomosuor do seu rosto (Gn 3.19a).Agora, no fim da história da redenção sob aantigaaliança,essamaldiçãoéreiteradaumavezmais.“Vocêsestãodebaixode grande maldição – a nação toda”, declara o profeta (Ml 3.9b NVI). Amaldiçãodequeopovoprecisaserlibertoémencionadabemespecificamente.Aspragasdevoramsuascolheitaseasvideirasperdemseufruto(Ml3.11).Oseu labor diário se tornou uma tarefa pesada, que poderia corretamente sercaracterizadacomo“frustraçãodefrustrações,tudoéfrustração”(Ec1.2).

EssepovoésupostamenteopovoredimidodoSenhor,aquelesqueforamlibertosdamaldição.Elesresponderamaodesafioderetornarparaaterra.Porque, então, eles precisam sofrer esse castigo damãodoSenhor?A respostafrancadoprofetavaidiretoaoâmagodoproblema.Deusveioaelesemjuízo,testificando contra aqueles que defraudam o salário dos trabalhadores,oprimemasviúvaseosórfãos,enegamjustiçaaosestrangeiros(Ml3.5).O

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Senhornãodeixoudecumpriraspromessasdaaliança.Pelocontrário,opovoé que trouxe sobre si mesmo essa maldição. Os patrões deixam de pagarsalário justo aos seus empregados. Os que estão bem de vida oprimem osindefesos.Emdecorrênciadisso,Deuscolocouessamaldiçãosobreumpovomesquinhoesemmisericórdia.

Mas, adespeitodo juízodoSenhor,havia esperançaparao futuroparaaqueles “que temiam o SENHOR da Aliança” e “conversaram uns com osoutros” (3.16aNVI).Um remanescentedopovonãoestava satisfeito comascorrupções que predominavam. Como consequência, o Senhor manteve um“livrocomomemorial”,onderegistrouasobrasdosfiéis(3.16b,17).

A transformação esperadapor aquelesqueparticipamda realizaçãodasaliançasdeDeusencontra-seemabsolutocontrastecomocomportamentodoscontemporâneos de Malaquias. O apóstolo Paulo admoesta a primitivacomunidade cristã: “Aquele que costumava roubar não roube mais; em vezdissotrabalhe,fazendocomasprópriasmãosoqueébom,deformaquetenhaalguma coisa para compartilhar com quem está em necessidade” (Ef 4.28).Umacoisaécerta,ocrenteemJesusoCristonãoédiligenteemseutrabalhoapenasparaaglóriadeDeus.Alémdesseaspectoessencialdavidaredimida,espera-sequeeletenhacomoalvoemseutrabalhoaprovisãodascarênciasdavida daqueles que estão em necessidade. Dessa maneira maravilhosa, seráconcretizadaaplenitudedaredençãoconsumadaemCristo.

D.Expectativas,exortaçõeserealizaçõesconsumadasAlém da sua ênfase na ordem da Criação no passado, encontra-se a

consumadaexpectativadeMalaquiascomrespeitoaofuturo.Amensagemdoprofetacomrespeitoaofimúltimodestemundonãotemnadaavercomumaperspectivautópicaeirrealdepossibilidadesfuturas.Emvezdisso,elefalaemtermos sóbrios que antecipam realidades históricas. Como a última vozprofética da antiga aliança, suas palavras no final das contas encontram suarealizaçãonosprimeirosdesenvolvimentosdaeradanovaaliança.

Emconformidade com seu estilo de diálogo entreDeus e o povo, umaquestão acusatória dirigida pelo povo ao Senhor provoca uma resposta queolhaparaumdiavindouroquehaveráde inauguraruma situaçãode caráterfinal.ArespostadeDeusàperguntadopovo:“OndeestáoDeusdajustiça?”(2.17NVI)indicaqueaperguntadeveserlidacomoequivalenteaquestionar:“SeráquesecumpriráalgumdiaapromessapactualdeumreiungidocomoEspírito,reiessequeestabeleceráajustiçanaterra?”43Arestauraçãodanaçãotrouxe muitas frustrações, e uma das principais era a ausência da figuramessiânica de acordo com a promessa pactual feita a Davi. Como

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consequência da falta de um representante divino com autoridade parasubjugaromal,muitagentedanaçãosofriacontinuamentecomaprevalênciadainjustiça.Assim,surgiuaquestãoacusadora:“OndeestáoDeusdajustiça?”

ArespostadeDeusaessaforteacusaçãoéprecedidadeumchamadodeatenção:“Vejam!”(3.1;vejatambém4.1).Opovotinhaperguntado:“OndeestáDeus, oDeus da justiça?”A resposta deDeus afirma: “OSenhor que vocêsestão procurando está para vir”. Sem dúvida nenhuma, Ele vai cumprir suapalavra enviando seu representantemessiânico, que estabelecerá a justiça naterra.O paralelismo da expressão confirma a identidade do próprio SenhorcomumasingulardesignaçãoencontradaunicamenteemMalaquias:

Eentão,derepente,oSenhorquevocêsbuscamviráparaoseutemplo;

omensageirodaaliança,aquelequevocêsdesejam,virá,

dizoSENHORdosExércitos.(Ml3.1b)

OSenhorprocuradoéomesmoqueodesejadomensageirodaaliança.EmrespostaàdesilusãodopovocomrespeitoàaparentefalhadapromessadoSENHOR daAliança com respeito a umMessias quehaveria de estabelecer ajustiça,oSenhor lhesasseguraqueElecertamentevirá.Emboraa identidadede Deus como o mensageiro da aliança seja exclusiva dessa passagem deMalaquias, ela extrai seu conteúdo de uma referência mais antiga ao“mensageiro”doSenhorqueprecedeuIsraelnodesertoenquantoosconduziaaoseudescansoescatológico(Êx23.20-23).Nessaocorrênciaanterior,otextosemovecomfacilidadede“omensageiro”paraopróprio“Senhor”,deformaqueuméidênticoaooutro.OnomedeDeusestánessemensageiro,Eletemaautoridade de perdoar pecados, e o mensageiro diz aquilo que o Senhorordena.ApesardeteronomediferentedonomedoSenhor,essemensageirodaaliançaéoSenhor.ApesardeserenviadopeloSenhor,EleéoSenhor.

A reclamação do povo com respeito à ausência do “Deus da justiça”recebe uma resposta muito franca. Suas expectativas messiânicas não serãofrustradas.O próprio Senhor virá na pessoa domensageiro da aliança paraestabelecerajustiçaqueelesdesejam.

Suavindaserá“derepente”(Ml3.1b).Maselaseráprecedidaporoutromensageiro:“Vejam,euenviareiomeumensageiro,queprepararáocaminhodiante de mim” (Ml 3.1a NVI).44 Essa declaração não antevê uma série demensageiros similar ao grupo de profetas que tinha levado a Palavra doSenhorageraçõesanteriores.Emvezdisso,elaantecipaumúnicoindivíduoqueprepararáocaminhodopróprioSenhorquehaverádevir.Pormeiodessa

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fraseologia,Malaquias reverbera a linguagem de Isaías com respeito à vozque haveria de preparar o caminho do Senhor quando a nação exiladaretornavapara sua terra (Is 40.3).Mas agoraque a restauraçãoposterior aoexílio antecipada por Isaías tinha sido efetuada, Malaquias antecipa outrarestauraçãoqueserárealizadacomavindadopróprioSenhor.

Quando o Senhor aparecer, Ele virá ao seu templo (Ml 3.1). A essareferência a comunidade da restauração podia se agarrar. Seus labores nareconstrução do templo de Jerusalém não tinham sido vãos. Esse templorestauradoservirácomoopontofocaldafuturavisitaçãodoSenhor.

Assim como os contemporâneos de Amós receberam mais do quepreviamcomreferênciaaseudesejopelovindouroDiadoSenhor(Am5.18-20),assimopovodotempodeMalaquiaspodetercertezaqueoSenhorquevirátrarásurpresastremendasemseudespertar.“Quempodesuportarodiadasuavinda,equempodeficarempéemsuapresença?”Seussacerdotesterãodepassarporintensapurificação,comoouroepratasãorefinadospelofogo.Mas,nofinal,asofertasdopovoserãoapresentadasemjustiça(Ml3.3,4).OpróprioSENHORdaaliançadarátestemunhocontratodososquetransgridemaaliança, incluindo adúlteros e aqueles que oprimem viúvas, órfãos eestrangeiros (Ml3.5;veja tambémDt24.14-17).Deumavezpor todas, seráprovadoqueéfalsaaacusaçãodequeoDeusdajustiçaestáausente.

Outra reclamação contra Deus evoca um pronunciamento escatológicofinal. O povo falou palavras duras contra o Senhor (Ml 3.13). Embora elenegueaacusação,oSenhorinsiste.OpovochegouàconclusãodequeéinútilserviraDeus(3.14).

Estáchegandoodiaemqueficaráclaroquerecusar-seaserviraoSenhortrazconsigoamplasconsequências.Opovoveráclaramenteadistinçãoentreojustoeoímpio,entreaquelesqueservemaDeuseaquelesquenãooservem(Ml3.18).Deusmantémum“livrodememórias”(Sl69.28;87.6;139.16;Ap20.12;vejatambémIs4.3;Ez13.9),eaquelesqueoservemserãomostradoscomo“particulartesouro”(Ml3.16,17).EssaimagemdeumtesouroparticularfoimencionadaaprimeiraveznomonteSinai,quandooSenhordeclarouquea nação em aliança com Ele deve ser considerada como sua “propriedadepeculiar”(Êx19.5,6;Dt.7.6;14.2;26.18,19;Sl135.4).

Essediavindourodejuízodeixarámuitoclaraadistinçãoentreosjustose os ímpios. Toda presunção daqueles que praticam o mal será lançada nofogo.NemraiznemramorestarãoparamantersuarebeliãocontraoSenhor(Ml 4.1).45 Para aqueles que temem ao Senhor, nascerá o sol da justiçatrazendocuraemsuasasas.Assimcomoosraiosdosolbanhamaterracomcura e purificação, assim o estabelecimento da justiça trará bênção ao

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verdadeiropovodeDeus(Ml4.2).46Amensagem final deMalaquias começa com uma severa admoestação

para “lembrar” (Ml 4.4). À luz das anunciadas distinções escatológicas queserão feitas entre os justos e os ímpios, o povo tem uma graveresponsabilidade de “lembrar”. Essa recomendação não significasimplesmente que o povo deve recordar essas coisas em sua mente. Empreparação para esse grande dia de juízo vindouro, ele precisa colocar emprática tudo que lhe foi revelado por toda a história da redenção. EssapassagemaludeaosváriossegmentosdadivinarevelaçãofeitaaIsrael:“TorádeMoisés” refere-se ao Pentateuco, a referência a Elias alude aos profetasanteriores,eo“grandeeterrívelDiadoSenhor”écitaçãodeJoel2.11comoexemplodamensagemdosprofetasmaisrecentes(Ml4.4,5).Opovoprecisaser cuidadosonoobservar todos os estatutos emandamentos dados a Israel,queestipulamofundamentodoseurelacionamentopactual(Ml4.4).

Antesdavindadesse“grandeeterríveldiadoSENHORdaAliança”,Deuslhes enviará o profeta Elias (Ml 4.5). Ele vai anunciar uma mensagem dearrependimento, levandoocoraçãodos jovensedosvelhosa sevoltar comsimpatiaumparacomooutroàmedidaquecadaumsevoltaaoSenhor(4.6a).Da mesma forma que o primeiro Elias confrontou uma sociedade apóstatacomochamadoaoarrependimento,assimessesegundoEliasvaiconvocaropovo para converter seu coração. Se ele não atentar para suamensagem, opróprioSenhor virá e ferirá a terra comobanimento (kherem), (4.6b).SerápronunciadoumtotaleabsolutoanátemadeDeussobreopovo.

E quem é esse Elias que haverá de vir, e como deve ser entendido ocumprimentodestaprofecia?NocontextoimediatodasprofeciasdeMalaquiasarespeitodaconsumação,esseEliasdeveseridentificadocomomensageiroanteriormente indicado comoo indivíduo que haveria de preceder oSenhorque estava para vir (Ml 3.1a). Ele é a consumação da profecia de Isaías arespeitodavozqueclamanodeserto,vozqueantecipaoretornodeIsraeldoexílio(Is40.3).

SeráqueareferênciaqueMalaquiasfazdoretornodeEliasdemandaumaverdadeirareencarnaçãodoantigoprofeta?SeráqueovelhoElias,quesubiuao céu numa carruagem de fogo retornaria à terra como o consumadoprecursor do Senhor que estava para vir? Não existe nada na experiênciahistóricadasEscriturasdaantigaaliançaqueantecipealgodessegênero.Emoutras ocasiões, os profetas predisseram um dia em que Davi haveria deretornarcomoreide Israel (Os3.5;Ez34.23;37.24).MasaexpectativanãoeraqueumDavireencarnadoretornasseparagovernarIsrael,comissopondodeladoodomíniodoMessiasprometidoqueseriamaiordoqueDavi.Emvez

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disso,essasprofeciasantecipamavindadeumreicomamenteeoespíritodeDaviequereinarásobreopovodeDeusdomundotodo.

ÉàluzdessemodeloquedevesercompreendidaamanifestaçãodeJoãoBatista, identificado como “Elias” nas Escrituras da nova aliança. Osdiscípulos perguntaram a Jesus por que seus mestres da lei diziam sernecessário que Elias viesse antes do surgimento do Messias (Mt 17.10). Opontode referênciaéclaramenteaprofeciadeMalaquiasa respeitodeDeusenviarseuservoElias(Ml4.5,6).Jesusreplicaqueosmestresdaleitêmrazão:“Defato,Eliasvemerestaurará todasascoisas.Maseu lhesdigo”,continuaJesus:“Eliasjáveio,eelesnãooreconheceram,masfizeramcomeletudooquequiseram”(Mt17.11,12NVI).ComoresultadodaexplicaçãodeJesus,osdiscípulosentenderamqueEleestavasereferindoaJoãoBatista.Pormeiodoseuministério,JoãocumpriuaprofeciaarespeitodoretornodeElias.

Mas como deve ser entendida essa explicação de Jesus? Será que JoãoBatista era literalmente Elias? Será que Jesus pretendia afirmar a crença nareencarnação? Somente uma interpretação estúpida das palavras da profeciapoderiaapontarnessadireção,pois emoutro lugar Jesusé totalmenteclaro:“Esevocêsquiseremaceitar,esteéoEliasquehaviadevir”(Mt11.14NVI).MasseforpermitidoàEscriturainterpretarasimesma,seráprecisochegaraoutra conclusão. O Evangelho de Lucas indica que João Batista viria “noespíritoenopoderdeElias”(Lc1.17).ElenãoéliteralmenteEliasnosentidodeserumareencarnaçãodovelhoprofeta.MaseleéumliteralcumprimentodaprofeciadeMalaquiassobreEliasnosentidodequeeleéocumprimentoem carne e osso da promessa a respeito de ummensageiro que haveria depreceder oMessias vindouro no “espírito” e “poder” de Elias. Jesus estavafalando em perfeita harmonia com a mensagem de Malaquias quandoidentificouJoãoBatistacomoocumprimentodapalavradoprofeta,emesmoassimoprecursordeCristonãoeraumareencarnaçãodoantigoprofeta.47

Assim, as últimas palavras do longo movimento do profetismo sob aantigaaliançaanteciparamdeformaapropriadaoseventosqueinauguraramaeradanovaaliança.AmensagemdeJoãoBatista fezcomqueparticipassemdas bênçãos do reinomessiânico todos aqueles que prestaram atenção à suaconvocação ao arrependimento. Mas para aqueles que não quiseram ouvir,cumpriu-seobanimento.

OtestemunhodasEscriturasdoNovoTestamentoarespeitodoministériode João Batista como o cumprimento da profecia de Malaquias é umtestemunhoqueéprecisoadmitir.SeuministérioseencaixaexatamentecomadescriçãofeitaporMalaquias.Emdecorrênciadisso,aidentificaçãodeJesuscomoomensageirodaaliançaenviadoporDeus,mensageiroqueéopróprio

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Senhorprecisaserplenamenteavaliadaporsuaimportânciaeterna.JesuséoSenhorparaquemJoãoBatistapreparouocaminho.Eleéaomesmotempoomensageiro da aliança que trouxe a “mensagem da aliança”, a palavra arespeitodanovaaliançaemseusangue,quefoiderramadoparaaremissãodopecado de muitos. Por meio da sua vinda, foi efetuada, finalmente, umarestauraçãoadequadadoverdadeiroIsraeldeDeus.

1ParaumadiscussãoarespeitodeatuaisproblemasrelacionadosàdataçãodoretornodeEsdras,vejaBright(HistoryofIsrael,391–402).BrightprecisacontarcomumaemendaaolivrodeEsdras7.7,8parasustentarqueNeemiasprecedeuEsdras.WilliamP.Brown,editordaquartaediçãodeHistoryofIsraeldeBright,rebateessaconclusão.Emapoioàdatade458a.C.paraoretornodeEsdras,vejaMerrill(KingdomofPriests,502–506).

2Seow(“ArkoftheCovenant”,391).3Ibid.,oqualcitaJosefo(Antiquities14.71–72;JewishWar1.152–53).

4Veja Kitchen (“Ark of the Covenant”, 111), o qual diz que Josefo indica que não havia arca nosegundotemplo(Josefo,JewishWar5.219).

5Veja a discussão desse ponto emKeil (Daniel, 8–10): “A restauração do Estado judeu depois doexílio não foi o restabelecimento do reino de Deus do Antigo Testamento” (8). Ele observa que,mesmoaquelesqueretornaram“nãoforamlibertosdasujeiçãoaopoderpagãoterreno”.Apesardacidadeeotemploteremsidoreconstruídos,aglórianãoestavapresente.Pelofatodenãoestaraliaarcadaaliança,“osumosacerdotenãomaispodiachegar-sediantedo tronodagraçadeDeusnoSantodosSantosparaaspergirosangueexpiatóriodosacrifício”(8,9).

6Essepontodevista é expressoporKline (“HowLong [I]?”27).Essa conclusão se fundamentanasuposição deKline de que a aliançamosaica era uma “aliança de obras” no campo tipológico, deforma que a nação de Israel tinha de merecer suas bênçãos temporais. Mas o próprio Kline temdificuldade para manter esse ponto de vista de forma consistente, pois logo adiante ele indica namesmapáginaquearestauraçãodeIsraeleraumdomdagraça(27).Masumeventonãopodeserquestãode“graça”eaomesmotempobasear-seem“obrasmeritórias”.OpontodevistadeKlinearespeitodaaliançamosaicacomouma“aliançadeobras”ébasicamentedefeituosoemváriospontos.Ele fundamenta seuargumentona suposiçãodequenasalianças redentorasdeDeus sepode fazeruma distinção entre a base de benefícios temporais e benefícios salvíficos.Mas naEscritura essesdoisaspectosdaredençãosãoquestõesdegraça.Eletambémprecisasuporqueépossívelfazerumadiferençaentreamaneiradefuncionardaexperiência tipológicadeIsraeleaexperiênciaredentora.MasVosefetivamentecomprovaqueotipológicopodecomunicaremsuaessênciaapenasarealidadesimbolizadaqueele retrata (BiblicalTheology, 145,146).AdefiniçãodeKlinedaaliançamosaicacomo aliança de obras meritórias é também defeituosa pelo seu esforço em fazer uma radicaldistinção entre a natureza básica das alianças deAbraão eDavi em comparação coma aliança deMoisés. As mesmas imagens tipológicas apresentadas nas alianças de Abraão e Davi podem serencontradasnadeMoisés,eomesmo tipodecondição legalemrelaçãoàpromessaéencontradoemtodasastrêsalianças.Daviadverteseufilho/sucessorSalomãoparaque“obedeçaaosseus[deDeus] decretos, aos seus mandamentos, às suas ordenanças e aos seus testemunhos, conforme seachamescritosnaLeideMoisés;assim...oSENHORdaAliançamanteráapromessaquemefez”(1Rs2.3,4NVI).Davi,obviamente,viuseurelacionamentopactualcomoSenhorcomoumaextensãodaaliançadeMoisésenãotinhaproblemanenhumemjuntarmandamentoscompromessas.

7VejaKline (“HowLong [I]?”, 27).A despeito de eu rejeitar a análise deKline sobre a função daaliançamosaica,precisoexpressarumsinceroapreçopelasnumerosaspercepçõesfornecidasporsua

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obraarespeitodosprofetasdarestauração.

8EssesmontesdebronzequeabrigamapresençadoSenhortalvezreflitamosproeminentespilaresdebronzedotemplodeSalomão(1Rs7.13-22).

9Baldwin(Haggai,Zechariah,Malachi,19).

10 Está equivocada amais antiga e tradicional identificação doMessias esperado com o “desejo detodasascoisas”.Calvino(TwelveMinorProphets,4 .360)considerapossívelqueotextoserefiraaCristocomoodesejodasnações,masconcluiqueareferênciaéàsriquezasdasnações,queserãotrazidasparao templo restaurado.Emborao sujeitoestejanosingular,overbovirá encontra-senoplural.AdeclaraçãoimediatamenteseguinteemAgeu2.8,“minhaéaprata,emeuéoouro”,apoiaaideiadeque é a riquezadasnações enãooCristoquehaverádevir.No contextomais amplodaEscritura,éaoCristocomosoberanosalvadorqueasnaçõesapresentarãosuasriquezas.

11Merrill(KingdomofPriests,470).

12Kline(“HowLong[II]?”,27).13A especial indicação de Deus como “o SENHOR da Aliança dos Exércitos” não ocorre nunca noPentateuco,mas no restante doAntigo Testamento, cerca de 300 vezes. De acordo comBaldwin(Haggai,Zechariah,Malachi,44),essenomeocorrepredominantementenosprofetas(247vezes)ecommaisfrequêncianosprofetasdarestauração(Ageu,14vezes;Zacarias,53vezes;eMalaquias,14vezes).Baldwinobservaqueadesignaçãoestáprovavelmente relacionadaprimeiroàadoraçãode Israel e por isso se refere aos exércitos angélicos.A frase aparece primeiro quandoElcana vaisacrificar aoSENHOR daAliançadosExércitos emSiló (1Sm1.3).Veja, também, 1Samuel 4 .4; 2Samuel6.18;7.26;Isaías6.1-6quantoaousodotermoemcontextosrelacionadoscomaadoração.

14VejaKline(“ServantandtheSerpent[I]”,21;eidem(“Anathema”,3–4).EleargumentaqueasduaspartesdeZacarias5naverdadeconstituemumavisãoapenas.Naprimeiracena,umrolovoantetrazjuízodevastadorsobretodososquetransgridemalei,oqualrepresentaoprimeiroestágiodoexílio(5.1-4). A segunda cena retrata uma mulher personificando a impiedade sendo carregada para aBabilônianumcestodemedir(5.5-11)ecompletaafiguradoexíliocomeçadanaprimeira.Asimetriacriada por sete visões, coma visão do sumo sacerdote noSanto lugar como a quarta, é cativante.Masapesardacaracterísticadeequilíbrioseperderdecertaformaporcomputaroitoemvezdesetevisões,oterceirocapítuloaindacontinuacomoopontocentraldessaprimeiraseçãodeZacarias.

15VejaKline (“Servant and the Serpent [I]”, 21) para importantes percepções a respeito da estruturadessasvisõesnoturnas.

16ComrespeitoaolugardeumapessoachamadaSatanásnasEscrituras,vejaKline(Ibid.,24):“Nãoestamos lidando com o desenvolvimento de uma noção metafísica na mente israelita, mas com aprogressivarevelaçãodeDeusarespeitodeumaentidadehistóricaespecífica”.

17VejaRobertson(ChristoftheCovenants,93–103).

18VejaMartin (“EarliestMessianic InterpretationofGenesis3:15”);eWoudstra (“RecentTranslationsofGenesis3:15”).

19Paraessepontodevistaarespeitodafunçãodoreicomoedificadordotemplo,vejaKline(“ByMySpirit[II]”,9).

20Petersen(Zechariah9–14andMalachi,58)refere-seaevidênciaencontradaemtextosdosegundomilênio a.C. que descreve um reimontado num jumento, e que não sugere humildade por parte domonarca. Ele considera essa passagem em Zacarias como a “única exceção dessa figura realuniversal”porcausadoacréscimodapalavrahumilde,“queéusadaaquipararedefinirocaráterdoreidivino”(58).McComiskey(“Zechariah”,1166)afirmaqueojumento“sobressainestetextocomoumadeliberada recusa” de um cavalo de batalha como “símbolo da arrogante confiança na forçahumana”.Elecontinua:“PrecisamosveroreideJerusalémemcontrastecomAlexandreoGrandeeos outros orgulhosos conquistadores da história.A referência ao fato deElemontar um animal de

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cargaenãoumcavalobrancodebatalharessaltaessesentidodapalavra⁽ānî.OreideJerusalémédeaparênciahumilde,masévitorioso,eassimtemsidosemprequeaIgrejanãoespalhaoEvangelhodemodo efetivo pela espada ou pela arrogância, mas espelhando o espírito humilde do seu rei esalvador”. Qualquer que seja a maneira de ver a importância do jumento, o texto afirmaexplicitamenteessecaráterhumildedovindouroreimessiânico.

21ApesardacitaçãoseratribuídaaJeremiascomoomaisproeminentedosdoisprofetasmencionados,ficabemevidenteamaneiradeexpressar-sedeZacarias.

22EsseanjodoSENHORdaAliançasurgeemimportantesocasiõesdeepisódiosanterioresdahistóriadaredençãoerepetidamenteestáemíntimorelacionamentocomopróprioDeus.OAnjo/mensageirodoSENHORdaAliançaéigualadoaDeusquandoconfirmaaaliançacomAbraãopormeiodejuramentodivino (Gn 22.15-18). OmesmoAnjo do SENHOR da Aliança aparece a Moisés na sarça ardente,revelando-secomooDeusqueéoeterno“EuSou”(Êx3.2,5,14).EssemesmoAnjodoSENHORdaAliançamais tarde se identifica como aquele que tirou Israel do Egito (Jz 2.1). Dessa forma, EleaparecerepetidasvezesdeformaqueotrazaorelacionamentomaischegadopossívelcomDeus,aomesmo tempo que possui uma existência separada de Deus. Em decorrência dessa regularrepresentaçãodoAnjodoSENHORdaAliança,Elepodeserconsiderado,apartirdopontodevistadamaiorluzdanovaaliança,comoamanifestaçãopré-encarnadadaSegundaPessoadaTrindade.

23Kline(“HowLong[I]?”,29).24Kline(“ServantandtheSerpent[II]”,23).

25Veja Baldwin (Haggai, Zechariah, Malachi, 134 n. 1), que especifica vários comentaristas queadotamessepontodevista.

26 Para o desenvolvimento deste conceito, vejaKline, “Estrutura do Livro de Zacarias”, 182.KlineencontraofundamentoparaafusãodotronodoMessiascomotronodeDeusem1Crônicas29.23,onde o trono de Salomão é chamado de “trono do Senhor.” Além disso, ele observa que estapassagemsefundeàsideiasdeconstruçãodotemplocomasucessãoreal,assimcomoapassagemencontradaemZacarias.

27Ibid.,182.28 Veja Kline (“By My Spirit [II]”, 8–9); e Idem (“Exaltation of Christ”, 5–6), que aponta fontesbíblicaseextrabíblicasaesserespeito.

29O nomeMalaquias significa “meumensageiro” e é considerado por alguns intérpretes como umadesignaçãosimbólicaenãoonomedeumapessoareal.ASeptuagintatraduzonomehebraicocomo“seumensageiro”,oquepodeindicarqueelaapoiaesseraciocínio.Nenhumdosargumentoscontraconsiderar onomecomo título emvezdeumapessoa é convincente.Depois de analisar osprós econtras do assunto, Verhoef (Haggai and Malachi, 156) conclui que, na falta de argumentosconvincentesemfavordocontrário,adesignaçãoMalaquiasdeveserconsideradacomoonomedoprofeta.

30 Situações semelhantes às da época de Esdras e Neemias fornecem fortes evidências para datarMalaquias na metade do século V a.C. Juntamente com a evidência de que foi completada arestauraçãodotemplo,ocasamentocomnãoisraelitaspareceseromaiorproblemadaqueletempo(Ml 2.10,11; veja também Ed 9.1,2; Ne 13.1-3,23,24). A falha em trazer os dízimos adequadostambémindicacircunstânciassimilares(Ml3.8-12;vejatambémNe10.35-40;13.10-12).

31Petersen(Zechariah9–14andMalachi,31)caracterizaaobracomouma“diatribe”helenista,queeledescrevecomosendosimilaraumdiálogo,excetoqueapenasumadaspartesfala,emboracomfrequênciarepresentandoumasegundapersonagem.Emqualquerdoscasos,ocaráterpenetrantedaformaressaltaainerenteunidadedaobra.

32 C. Kuhl (Prophets of Israel, 169) caracteriza Malaquias como “simplesmente um precursor doJudaísmo tardio”.Veja referências a outras avaliações negativas emBaldwin (Haggai, Zechariah,

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Malachi,216n.1).

33Baldwin(Haggai,Zechariah,Malachi,216).34Verhoef(HaggaiandMalachi,220).

35Ibid.,citandoH.Brandenburg.36EmnenhumlugarnasEscriturasémencionadadeformaespecíficaumaaliançacomLevi,maselaseencontra implícitaemÊxodo32.26-29,umavezqueos levitasobedeceramàordemdeMoisésdenãopouparemseusprópriosirmãos.

37Verhoef (HaggaiandMalachi, 226), citandoDriver emDriver eSanday (Christianity andOtherReligions,31–46),conformeseencontraresumidoemExpositoryTimes20(1909):151–152.

38Baldwin(Haggai,Zechariah,Malachi,230).

39Petersen(Zechariah9–14andMalachi,203).40Ibid.,202.

41Ibid.,204.42Umparticípiopresente,juntamentecomumsujeitoimplícitoéseguidodeumacombinaçãoinfinitivapiel.Overbousadoaquisignifica“mandarembora”etambéméusadoparaodivórcioemIsaías50.1eDeuteronômio22.19.

43AquebradecapítuloentreMalaquias2.17e3.1éespecialmenteinfeliz.Arespostaàindagaçãodopovoajudaaentenderasimplicaçõesdaquestãoreferenteàsexpectativasmessiânicas.

44 Observando a complexidade criada pelas várias personagens, Petersen (Zechariah 9–14 andMalachi, 209) conclui que esses versículos são “o produto de um complexo processo decrescimento”.Elereconhecematerialoriginalno inícioenofinaldaseção,masdescobre inserçõeseditoriaisnomeio,emboraencontreumaperspectivaescatológicaemambasasporçõesdapassagem(212). Esse tipo de análise representa uma forma conveniente de resolver um problema exegético,masnão explica a razãoporqueum suposto editor faria comqueumapassagemclara se tornassemaisdifícildeentender.

45Umavezmais,adivisãodoscapítuloséinfeliz.Apesardealgunscomentaristasapoiaremafunçãodisjuntiva de “pois eis” em Malaquias 4 .1, a frase é mais bem entendida como associada com opensamentoanterior.

46Petersen(Zechariah9–14andMalachi,225)segueocursodessaideiaatéaimagemdosdeusesdaantigaMesopotâmia e do Egito. Embora seja possível o relacionamento, ele não é necessário. Aconsciênciauniversaldosefeitoscurativosdaluzdosoléfontesuficienteparaaideia.

47AsugestãodeumsegundoretornoliteraldeEliasatravésdeumareencarnaçãonofuturoprecisasercompletamenterejeitada.EssetipodepropostaimplicaqueJesuserrouquandoaplicouapassagemaJoão Batista. Muitas outras conexões na Escritura entre as promessas da velha aliança e oscumprimentos da nova aliança relacionados com João Batista dão consistente suporte para acompreensãoqueJesustinhadaprofeciadeMalaquias.

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APREDIÇÃO NAPROFECIA

A PREDIÇÃODEEVENTOS futuros atiça as pessoas.As igrejas podem semprecontar com grandes multidões para conferências proféticas, é só fazer boadivulgação.Mas, de umaperspectiva bíblica, a predição não é a essência daprofecia.NaEscritura,aprofeciaédescritacomoumadeclaraçãodaprópriaPalavradeDeus,semimportarseestáounãoenvolvidaaprediçãodofuturo.O elemento distintivo da profecia bíblica é a sua característica de ser umarevelaçãodapartedeDeus.AsleisentreguesporMoisésnoSinairepresentamoexemplofundamentaldaprofecianaEscritura,epouconoquedizrespeitoaprediçãosobreofuturosepodeencontrarnosDezMandamentos.Portanto,noquedizrespeitoàessênciadaprofecia,aprediçãodofuturoéalgosecundário.

Mas, sem dúvida nenhuma, a predição de eventos futuros é umacaracterísticadistintivadasdeclaraçõesproféticasdaBíblia.Boapartedecadalivro profético do Antigo Testamento se dedicam a predições referentes aofuturo.AprediçãoexatadeacontecimentosfuturoséconsideradanaEscrituracomo um dos maiores critérios para se fazer distinção entre profeciaverdadeira e profecia falsa (Dt 18.21,22). No presente capítulo,consideraremosváriosaspectosdaprediçãonaprofecia.

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I.Perspectivascríticassobreaprediçãonaprofecia

As repetidas e muitas vezes espetaculares declarações encontradas emtodaaliteraturaproféticadaantigaaliançacomrespeitoàprediçãodeeventosfuturos criaram mais razões para criticismo negativo e incrédulo do quequalquer outro aspecto da profecia bíblica. Críticos não preparados paraaceitaroplenotestemunhodaEscrituraarespeitodesimesmacomrespeitoàprofecia talvez façam soar entusiasmados registros em louvor do“monoteísmo altamente ético” que caracteriza os profetas de Israel. Mas asconstantes declarações que permeiamos escritos dos profetas de Israel comrespeito a predições do futuro apresentam enormes problemas para amentalidadecríticanegativa.

A reação a esse problemático aspecto da predição na profecia éapresentada numa variedade de formas. Por um lado, algo como uma“conspiração silenciosa” tenta evitar o problema simplesmentedesconsiderando esse aspecto da literatura profética.1 A vasta maioria dosestudos de profecia bíblica cobre assuntos que dizem respeito às origens daprofecia, seu cenário histórico, a forma literária, o conteúdo teológico domaterial.Masaprediçãodo futuroporpartedosprofetas éumassuntoque,comfrequência,permanecesemser reconhecido,nãoé tocado,epermaneceinexplorado.

Por outro lado, a tensão que recai sobre a presença da predição naprofecia bíblica conduz vários indivíduos a se expressarem demaneira queaparentemente ratifica a presença da predição na profecia, ao passo que aomesmo tempo limitam seriamente (se, na verdade não contradizem) essasmesmasafirmações.Eichrodtafirmaqueaprediçãoé“oinestimávelmétodopelo qual a nação é guiada ao longo dos caminhos de Deus por meio dosenigmasdahistória,e,dessaforma,elaconservasuaverdadesecretamesmoquandonãoéliteralmentecumprida”.2Eichrodtjulgasercoisafácildifamarapredição na profecia bíblica denegrindo o testa de ferro do cumprimentoliteral. Mas ele não fornece critério convincente para descobrir aquilo quechama de “verdade secreta” na predição bíblica em distinção das suasdeclarações explícitas. Quando Jeremias declara que seu adversário, falsoprofeta, vai morrer dentro de um ano (Jr 28.15-17), ele arrisca suacredibilidade profética diante domundo que o observa, não na base da suapercepçãodamortalidadedeHananias,masemseuconhecimentodivinamentereveladodonúmeromáximodemesesquevãotranscorrerantesdamortedofalsoprofeta.EmrazãodaabordagemdialéticadevonRad, levanta-seainda

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maioroposiçãocontraoassuntodapredição.Porumlado,eledeclaraque“oSenhordahistóriaéaquelequepodefazercomqueofuturosejapredito”e“opoder de predizer demonstra sua [de Deus] específica diferença deles [dosídolos]”.3Masele tambémafirmaque“nemumade todasas suas [de Isaías]grandes afirmações a respeito de Sião se concretizaram... Yahweh nãoprotegeusuacidade”.4Mantersimultaneamenteessasduasasserçõessignificaque uma pessoa precisa viver com uma autocontradição teológica ou que oDeus de Israel na verdade não émelhor que os ídolos de quem Isaías tantozomba.

Essapermanenteoposiçãonotratardaprediçãonaprofeciacontinuaemobras mais recentes. Clements reconhece a singularidade da profecia doAntigo Testamento quando afirma que “não é possível encontrar obras nãobíblicasdomundoantigoque se comparem”,oque significaqueomaterialbíblicoprecisaserestudado“deforma indutiva,apartirdaevidência internadoprópriopergaminhodequesedispõe”.5ElemesmovaitãolongeaopontodeatribuirosescritosdosprofetasàobradoEspíritoSanto,queinspiroutantoosprofetasquantoosrevisores.6Mas,quandodescreveoeditordaprofeciadeAmós, Clements afirma que um revisor incorporou na predição do profeta“informação histórica post eventum”.7 Ou seja, Amós antecipou o juízo deDeus sobre Israel apenas em termosgerais,maso editor então inseriu fatoshistóricos posteriores como se fizessem parte da predição original. Emdecorrência disso, dá-se a impressão ao leitor de que esses fatos históricosespecíficos foram também preditos por Amós, mesmo que na verdade nãotenhasidoassim.“Mas”,julgaClements,“issonãoeradeformaalgumaumafalsificação da profecia, ou uma invenção da sua veracidade, mas sim umaformadeexporseusignificadomaispleno”.8

AoposiçãoinerenteàmaneiradeClements trataroassuntoé totalmenteóbvia. Ele deseja atribuir significativo valor religioso às declarações dosprofetas chegando ao ponto de atribuir sua origem à inspiração doEspíritoSanto.Masasalegaçõesproféticasarespeitodaprediçãocriamumproblemaespecial. Ou a precisão com respeito aos eventos históricos futuros teveorigemem revelações diretas da parte doDeus que controla o futuro, ou, adespeitodasnegaçõesdeClements,osupostoeditorprecisaseracusadodemáfé.

Deformasemelhante,GowanalegaqueDeusestavaenvolvidonahistóriade Israel “tanto no nível da comunicação com certos indivíduos escolhidos,como no nível da real participação nos eventos da história mundial”.9 Aomesmo tempo, ele afirma que Isaías “não tinha conhecimento a respeito decomoseriaofuturomaisdoquequalqueroutrohomem(inspiradoounão)”e

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queelepredisse“muitascoisasquenãosecumpriram”.10SeoprofetaIsaíasseatreveu a apresentar como mensagens divinas muitas supostas prediçõesmesmo sem saber a respeitodo futuronadamaisdoquequalquer outro serhumano, é preciso indagar a respeito da probidade da informação que elesupostamenterecebeudapartedeDeus.

Alémdesses,háoutrospontosdevistasugeridosarespeitodoproblemada predição nos profetas. Fohrer propõe que os profetas com frequênciaanunciavamemsuasprediçõeseventosqueestavam“prestesaocorrer”.Elestinham“temposuficiente”paraindicaraquiloqueestavaacontecendo,eassimconseguiamajudaraspessoasachegaraconclusõesapropriadasarespeitodosignificadodoevento“profetizado”.11Comoalternativaàpropostadequeumbem intencionado editor adicionou detalhes históricos subsequentes a umaprofeciafeitaemtermosgerais,Sawyersugerequealgunseditoresinventarameventos que na verdade nunca ocorreram como maneira de confirmar ocumprimentodeumaprediçãoprofética:“Umeventopoderiaserinventadooupelomenoscuidadosamenteenfeitadoparasercompatívelcomumaprofeciabemdocumentadaquejátivessesidoproferida”.12Sawyercitaumapassagemdo livro de Esdras para ilustrar “o poder que a profecia tinha de criar seuprópriocumprimentoadespeitodaevidência”.13

Talvezumadasmais francasnegaçõesdo testemunhobíblicoa respeitodaprediçãonaprofeciaseencontrenacrençadeCarrolldequeéimpossíveloprofetapossuiracapacidadedepredizerofuturocomprecisão:

Nãohánecessidadedediscutir aqui os tipos de argumentos usados emalguns círculos teológicosparaasseguraraautenticidadedaprofeciacomogenuinamentepreditivaetambémcomoimpossívelde estar errada. Eles estão baseados em várias posições dogmáticas que não estão abertas adiscussãocrítica.EssasposiçõesincluemasnoçõesdequeDeusconheceofuturo,queEleorevelaaos profetas e como tal a palavra revelada não pode estar errada. Essas metáforas arcaicaspertencemaumarejeitadaformadediscursoteológicoetrazmuitomaisproblemasdoquesoluçõespara o entendimento da profecia. Comparar simpliciter as palavras dos homens com a palavra deDeus é impor à deidade os erros dos homens. Falar a respeito de Deus conhecer o futuro édesnecessáriomesmoparaopensamentoteológico,comoateologiadoprocessodeixamuitoclaro.AginásticahermenêuticaexigidaparadarcoerênciaànoçãodeDeusconhecererevelarofuturonaformadeprediçõesdadas aosprofetasnãoconcedecréditonenhumà comunidade religiosa.Alémdisso, a explicaçãodaprofeciaproduzidanesses círculos ébanal alémdoque sepode crer e emtermoscomparáveisamapasastraiseoutrostipossemelhantesdedesviosirracionais.14

De certa forma, é bom que essa perspectiva crítica negativa tenha sidoexpressademaneiratãogrosseira.Nãohácomoerraroponto.SenemmesmoDeus conhece o futuro, então não há como ninguém mais possuir talconhecimento.Essa posição não dá lugar a dúvidas.Umuniverso fechado àdireta intervençãodeDeus impedequalquer reconhecimento da validadedasrepetidas alegações dos profetas quanto à predição do futuro.Essa visão do

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mundoedavidasimplesmenteexcluiapossibilidadedequequalquerum,atémesmo o próprio Deus, possa de fato saber o que vai acontecer no futuro,muitomenosrevelá-loaosoutros.

Aomesmotempo,éespantosolerafirmaçõestãoousadasegrosseirasarespeitodoqueDeustemenãotemcondiçõesdefazer.Noutrolugar,Carrollfala de forma positiva a respeito do valor da teologia do processo em“resgatarDeus”.15MasadeidadeindependenteeautossuficientequedefatoéDeus não precisa de forma alguma ser resgatada pelos homens. Em que sefundamenta um mero homem para afirmar que é impossível que o Todo-Poderoso,oeternoCriadorconheçaofuturo?Emrespostaaumapessoaquefazessetipodeafirmação,bastadizer:“TeuDeusépequenodemais”.ODeusqueserevelounaEscrituranãotemproblemanenhumemconhecer,controlare predizer o futuro. Como Daniel disse a um confuso rei, Nabucodonosor:“Nenhumsábio...écapazderevelaraoreiomistério...masexisteumDeusnoscéus que revela os mistérios. Ele mostrou ao rei Nabucodonosor o queaconteceránosúltimosdias”(Dn2.27,28NVI).

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II.Oconceitobíblicodeprediçãonaprofecia

DeacordocomasEscrituras,muitosfatorescontribuemparaumavisãoplena da predição na profecia. Emprimeiro lugar está a predição do futurocomo uma obra totalmente sobrenatural do Deus Todo-Poderoso.Repetidamente, os profetas contrastamo fato de receberem revelação divinacom respeito ao futuro curso dos eventos com as maquinações da mentehumana mostradas pelos profetas mentirosos (Jr 28.2-4,10-17). Oenvolvimento da divindade na predição do futuro indica claramente que omiraculoso, o sobrenatural, fornece a única estrutura possível para umconceitolegítimodaprofeciapreditiva.

Essadimensãomiraculosadaprediçãonaprofeciapode ser comparadacoma ênfase emaçõesmiraculosas nos livros históricos.Adivisão domarVermelho,aprovisãodomanánodeserto,aquedadosmurosdeJericó–tudomanifestouasaçõessobrenaturaisemiraculosasdeDeusnaesferadahistóriadaredenção.Nocasodosprofetas,osobrenaturalseexpressanaformaçãodapalavra profética. Essas predições do futuro são igualmente tãomiraculosascomo as extraordinárias obras do Senhor na libertação do seu povo daescravidãoedopecadosoba liderançadeMoisés.Mas,agora,pormeiodoministério dos profetas, o povo experimenta aquilo que Vos chama de “asmaravilhasdapredição”.16

À luz disso, não é de admirar que qualquer pessoa que se chega aosescritos dos profetas com uma perspectiva naturalista ache difícil – não,impossível – aceitar ao pé da letra os registros das profecias preditivas.Dealguma forma, declarações que assumem a forma de predições do futuroprecisam ser explicadas em termos naturais em vez de fazê-lo em termossobrenaturais.Porisso,ouéprecisoproporqueotextofoialteradoparafazê-loparecer como sehouvesseumapredição envolvidaouos fatoshistóricosdevemtersidoalteradosparaseadaptaremaosdetalhesdapredição.SomentequandoumapessoareconheceaparticipaçãodoúnicoDeusTodo-PoderosoeoniscientenaprofeciapreditivaéqueelapodeapreciarogenuínofenômenoconformeapresentadonaEscritura.

Um segundo fator essencial na genuína profecia preditiva é oreconhecimentoqueDeuscriouestemundocomumpropósito.OsprofetasdeIsraelconstantementesustentamessepontodevista.Otestemunhodaprofeciaa respeito da função de uma criação de Deus como a origem última doprofetismofoiconsideradoanteriormente(vejaocapítulo1,§II).Aquelequeformaosmontesdeclaraseuspensamentosaoshomens(Am4.13).OSENHOR

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daAliançaque lançao fundamentoda terra faz suadeclaraçãoa respeitodeJerusalém(Zc12.1,2).OCriadordetodasascoisasfazcomquesecumpraapalavradoseuservo(Is44.24-26).

Jeremias também ressalta a conexão entre a predição na profecia e aatividade criadora de Deus. Cinco nações ao redor de Jerusalém enviaramembaixadores ao rei Zedequias, aparentemente com a intenção de prepararumarevoltacontraoreiNabucodonosordaBabilônia(Jr27.1-3).Deusenviouumamensagemdo seuprofeta Jeremias a essas várias naçõespormeiodosseus embaixadores: “Eu fiz a terra, os seres humanos e os animais que nelaestão,comomeugrandepoderecommeubraçoestendido,eeuadouaquemeuquiser”(27.5NVI).OSenhordacriaçãodeterminouentregaressasnaçõesaseuservoNabucodonosor,sujeitando“aeleatémesmoosanimaisselvagens”(27.6NVI).Pelofatodeterfeitotodasessascoisas,suadistribuiçãopresenteefutura será de acordo com a vontade dele.Mesmo o poderoso monarca daBabilôniaéservodoDeusdacriação,oqueficaráevidentequandochegaravezdelesersubjugado“pormuitasnaçõeseporreispoderosos”(27.7NVI).

Nessecaso,oprofetaapoiaacertezadassuasprediçõesbemespecíficasarespeito da ascensão e queda das nações no firme fundamento do poder doSenhor manifestado na criação. Ele prediz com ousadia que a revolta dacoalisãocontraaBabilôniavaifracassar.E,notempoapropriado,aBabilôniaporsuavezseráinvadidaporumacoalisãomaispoderosadenações.Emboraessas predições pudessem ser atribuídas à perspicácia política pessoal deJeremias, essa conclusão é uma violência contra a declarada origem dessadeclaração.Deus,oCriadordoshomensedosanimaisodecretou,eénessefirme fundamento que o profeta pode enviar confiantemente sua mensagematravésdessesembaixadores.

Alémdisso,aprediçãonaprofeciapresumenãoapenasqueoDeusúnicoeverdadeirotenhacriadoestemundo,masqueElefezsuamaravilhosaobradacriaçãocomumclaropropósitoemmente.Aesserespeito,aquestãopodeser apresentada da seguinte forma: Por que teria oTodo-Poderoso feito suaobradacriaçãosemnenhumpropósitoparaomundoqueElecriou?SeEletinha umpropósito na criação, então se pode afirmar queEle tenha seguidocomgrandeinteresseocursodoseventosquesedesenvolveuatravésdosanos.Mais ainda, tendo emvistaumpropósitodistintopara sua criação, podemosafirmartambémqueesseDeusCriadortenhaestadointimamenteenvolvidonocursodahistóriadomundoparacertificar-sedequeseudivinopropósitonacriaçãoserealizasse.

Consequentemente,aideiadeumacriaçãocomumpropósitoéressaltadaporduasideiasintimamenterelacionadas:opropósitodoSenhoreoconselho

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do Senhor. Deus declara que Ciro, o governadormedo-persa, “vai cumprirtodo o meu propósito” em derrotar a Babilônia e em restaurar Israel (Is44.28).Apesardeserrepetidamentedebatidaaexatacircunstânciadoregistrodessa declaração profética, o tempo em que o Senhor determinou seupropósitosereferedeformamaisnaturalàeternidadepassada.Emharmoniacomo caráter do eternoDeusCriador está a eternidadedos seuspropósitosredentores. Por essa razão, o Senhor pode revelar seu propósito a seusprofetasmuitoantesqueocorraoevento.

EssaperspectivaarespeitodopropósitodeDeusconformedizrespeitoàprediçãonaprofeciaencontraplenodesenvolvimentonopronunciamentodoSenhorarespeitodovindourojuízocontraaAssíria:

Certamente,comoplanejei,assimacontecerá,

e,comopensei,assimserá.

EsmagareiaAssírianaminhaterra;nosmeusmontes

apisotearei.(...)paratodaaterra;essaéamãoestendida

sobretodasasnações.PoisesseéopropósitodoSENHORdaAliançadosExércitos;

quempodeimpedi-lo?Suamãoestáestendida;

quempodefazê-larecuar?(Is14.24-27NVI)

Deacordocomessetexto,oplanodoSenhornãoésomenteneutralizarproblemasquesurgemdasatividadesdeumanaçãoapenas.Emvezdisso,todoomundo e todas as nações têm seu percurso estabelecido de acordo com oplanodele.

A conexão imediata entre o eterno plano de Deus para as nações domundo e as declarações preditivas dos seus profetas se encontra emreferênciasaoconselhodoSenhor.Quandoconfrontaosprofetasmentirosos,oSenhordeclara:“MasqualdelesestevenoconselhodoSenhorparaverououvir a sua palavra?” (Jr 23.18 NVI). Esses profetas mentirosos faziam deconta que tinham recebido sua palavra profética da parte do próprio Deus.“Mas”, diz o Senhor, “se eles tivessem comparecido ao meu conselho,anunciariam as minhas palavras ao meu povo e teriam feito com que seconvertessemdoseumauprocedimentoedassuasobrasmás”(Jr23.22NVI).

Essas referênciasaoconselhodoSenhornão significamque,por causadelimitaçõesinerentes,Deusprecisabuscarconselhodapartedesuaspróprias

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criaturas, sejam elas terrenas ou celestiais. Em vez disso, o Senhor escolhelivremente revelarasmaravilhasdoseuplanoa seus servos, tantoangélicoscomo proféticos. A cena em que o profeta Micaías descreve o SenhorparecendobuscarconselhocomrespeitoàmaneiradeefetuaradestruiçãodoreiAcabedeveservistacomoumadramatizaçãoestilizada(1Rs22.19-23).OfatodequeopróprioDeusordenaocursodosacontecimentossubsequenteséclaramente comunicado quando o narrador descreve uma flecha que acertaexatamenteasjuntasdaarmaduradeAcabeenquantoelesedeslocanumcarrodeguerranomeiodabatalha,cumprindoassimaprediçãodoseuprofeta(1Rs22.34).

EsseconselhodoSenhorrepresentaopontoemqueoverdadeiroprofetaera admitido nos propósitos secretos de Deus. As nações não conhecem osplanos do Senhor e não têm acesso ao seu conselho (Mq 4.12). Mas overdadeiro profeta do Senhor tem o privilégio de ouvir por si mesmo osplanosdoSenhorparaasnações.SomenteportersidoaceitonoconselhodoSenhoréqueeleécapazdepredizerofuturo.

Umterceiroelementonaprofeciapreditivaressaltaofatoqueosprofetasdo Senhor predizem atividades divinas redentoras. Ao contrário de todo ofalso profetismo, tanto antigo quantomoderno, as predições bíblicas jamaisaparecem como prognósticos isolados a respeito de contingências políticassecularesoupessoais.Asprediçõesdosprofetassempre têmrelaçãocomosprogressivos propósitos de Deus de redimir um povo para si mesmo,começando com Israel e alcançando por fim todas as nações do mundo. Amaldição proferida na criação será removida, o pecado será perdoado earrancado, a justiçauniversal seráestabelecida, e apaz será restauradaentreDeuseoshomens,entrehomemehomem,eentreoshomenseacriação.OprogressivopropósitodeDeusparaa“restauraçãodetodasascoisas”(At3.21ARA)forneceaestruturaemqueoperamtodasasprediçõesbíblicas.

Um quarto elemento na profecia preditiva conforme apresentada naEscritura diz respeito à interconexão de sucessivas gerações nos propósitosredentores de Deus. Ao antecipar a destruição de Sodoma e Gomorra, oSenhor diz a respeito de Abraão: “Esconderei de Abraão o que estou parafazer? ...Pois eu o escolhi, para que ordene aos seus filhos e aos seusdescendentesqueseconservemnocaminhodoSENHORdaAliança...paraqueoSENHOR da Aliança faça vir a Abraão o que lhe prometeu” (Gn 18.17,19NVI).

Na própria essência das alianças divinas da redenção encontra-se essefator das promessas referentes à geração. Noé com toda a sua casa teve de

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entrarnaarca(Gn7.1).ApromessadeDeusaAbraãoincluimilgerações(Sl105.8,9;vejatambémGn17.10).AaliançadoSinaiincluíageraçõesaindanãonascidas(Dt5.2,3;29.14,15).OsfilhosdeDavivãosentar-senotronodepoisdele(2Sm7.12).DeusiniciasuanovaaliançacomacasadeIsraeleacasadeJudá(Jr31.31).Pelofatodapalavradaaliançaalcançarbemalémdapresentegeração,elainevitavelmenteincluieventosdofuturo.

O princípio fundamental da promessa pactual através das geraçõesencontra-senabasedasantecipaçõesproféticasarespeitodofuturo.Nãoépormeiodealgumapercepçãoesquisitaoumísticaqueoprofetapredizoquevaiacontecer no futuro. Em vez disso, ele pode estar absolutamente certo dosacontecimentosfuturosdegeraçãoemgeraçãoporcausadosolenejuramentodivinodaaliança.OsoberanoSenhordocéuedaterrajuroucomoascoisascooperarão para o bem do seu povo nas gerações vindouras, e elas vãoocorrerexatamentedessaforma.

UmquintoelementodaprofeciapreditivanaEscrituraéseucarátercomoprogressivo milagre em forma escrita. As predições proféticas preservadasporescritorepresentamumasingularevidênciadaintervençãosobrenaturalnaesfera da experiência humana. Um propósito maior para se escrever essasprofecias é que elas podem funcionar como progressivas, sempre presentesconfirmações da graciosa operação do SENHOR da Aliança em favor daredençãodeummundodecaído.SomenteumDeusTodo-Poderoso,Criador,preservadoreúnicoredentordestemundoéquepoderiaanteciparofuturodeforma tão abrangente como é testemunhado pelos escritos dos profetas deIsrael! Se é verdadeira a apresentação que os profetas fazem de si mesmosnessas predições, então é evidente que não pode existir outro Deus, poissomenteDeuspoderiacontrolarorumodoshomensedasnaçõesaopontodeseressencialqueosprofetasanotassemsuaspredições.

Muitas passagens dos profetas fazem referência específica à ordem doSenhorparaescreveremsuaspredições.Noiníciodoseuministérioprofético,Isaías recebe ordem de Deus para escrever num grande pergaminho: “Odespojocorre,apresaseapressa”(Is8.1).EssaspalavrasescritasantecipamadestruiçãodoreinonortedeIsraeljuntamentecomaSíriapormeiodoreidaAssíria(8.4).Apalavraescritadoprofetaforneceuumregistropermanentedasua predição. Em outra ocasião, o Senhor ordena a Isaías que escreva numpergaminho sua predição a respeito da queda do reino sul de Judá (30.8).Nesse caso, o profeta antecipaumacontecimentoque estámais de100 anosdistante.Arazãoparaseescreveraprofeciaéapresentadabemclaramente:

Agoravá,escrevaissonumatábuaparaeles,

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registre-onumlivro,paraquenosdiasvindouros

sejaumtestemunhoeterno.(Is30.8NVI)17

O propósito de escrever é para que todas as futuras gerações possamconfirmaraveracidadedaPalavradeDeusconformefoitransmitidaporseuprofeta escolhido. Dessa forma, o Deus verdadeiro deste universo vaiidentificar-seclaramente.

Uma referência adicional de Isaías ao “pergaminho do SENHOR daAliança” ressalta a consciência do profeta de que seus escritos eramdivinamente inspirados (34.16). Seu registro do juízo sobre Edom não éprognósticoinventadoporelemesmo.Eleé,emvezdisso,umdocumentoquetemsuaorigemnopróprioDeus.

Indicadores de escritos mais abrangentes que predisseram o curso deeventos futuros aparecem no livro de Jeremias. No drama que pode serchamado de “saga do rolo”, o Senhor ordena a Jeremias que registre “neletodasaspalavrasquelhefaleiarespeitodeIsrael,deJudáedetodasasoutrasnações,desdequecomeceiafalaravocê...atéhoje”(Jr36.2NVI).Esseescritoprofético abrangeria mais de 20 anos de declarações proféticas. Pode-sepresumir com segurança que no atual livro de Jeremias foi preservadomaterialsuficientedesseescritooriginalparaindicarquegrandepartedessasprofecias incluía tanto predições de curto prazo como de longo prazo. Opropósitodessesescritos,esuarelaçãocomocursofuturodanaçãoédeixadobemclaro:“Talvez,quandoopovodeJudásouberdecadaumadasdesgraçasque planejo trazer sobre eles, cada um se converta de suamá conduta e euperdoeainiquidadeeopecadodeles”(36.3).NosbonspropósitosdoSenhor,esseextensoregistrodeprediçõesdodesastrefuturodeJudátemaintençãodetornarpossívelsualibertaçãodacalamidadequeoSenhorordenouparaeles.Quandoo rei Jeoaquimqueimouesse roloprofético,oSenhorordenouqueJeremias escrevesse uma versão ainda mais completa das suas profecias(36.28).Mas, agora, foi alterado o propósito desse escrito: ele agora servecomoodobrarfúnebredossinosparaoreirebeldeeseupovo.SeufuturofoiestabelecidopeladeclaraçãodaPalavraescritadojuízodeDeus(36.30,31).

Emoutraocasiãoaindaoutropropósitoestáportrásdapalavraescritadoprofeta.Jeremiasrecebeumaordem:“Escrevanumlivrotodasaspalavrasqueeulhefalei”(Jr30.2NVI).Oprofetaé,então,instruídoaregistrarprediçõesarespeitodoretornodeIsraeledeJudádaterradoseuexílio(30.3).Épossívelque esse relato introdutório inclua a predição da nova aliança registrada nocapítulo seguinte de Jeremias (31.31-34). Se considerarmos asEscrituras danovaaliança,osescritosdeJeremiasabarcameventosqueocorreramcercade

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600anosdepoisdeteremsidoregistrados.Todos esses registros de predições proféticas, considerados em sua

integralidade, apresentam abertamente diante do mundo todo um milagreprogressivo. Nada menos que a intervenção divina sobrenatural poderia teroriginadoessesescritos.Époressarazãoqueacorrentedesconstruçãocríticadosescritosproféticostemumimpactotãodestrutivosobreafé.Osescritosproféticos com regularidade afirmam predizer o futuro. Se não é possívelconfiar neles pelo que afirmam ser, então não são dignos de confiançanenhuma.

O sexto e culminante elemento da predição na profecia surgenaturalmenteemconexãocomoobjetivofinaldoSenhorparaaHistória.Ospropósitos deDeus não existem sem um alvo final. O próprio elemento domiraculoso na profecia preditiva serve como arauto do milagre final quetransformarátodoouniverso.18Apresenteordemmundialnãochegaráaofimpormeiodeumprocessodedegeneraçãonatural,eestemundonãoseráoutravez restauradopormeiodeseuspoderes inerentesde revitalização.SomentepelomilagreconsumadodoretornodogloriosoCristoressurretoéquetodoinimigo da justiça será destruído. Somente pela liberação divina domesmopoder sobrenatural que ressuscitou Jesus dentre osmortos é que o universoexperimentará sua necessária transformação. A reconhecida dimensãomiraculosa da profecia preditiva encontrará sua expressão final nessatransformaçãosobrenaturaldouniversointeiro.

A obra sobrenatural de Deus ao criar este mundo com um propósito,juntamentecomacertezadasuarealização,estáintimamenteconectadacomofenômeno da predição na profecia. O propósito redentor do Senhor atravésdasgeraçõeshumanasconformepreditasantecipadamenteporseusservososprofetas precisa ser visto como o ponto central da revelação divina nasEscrituras.

Em muitos sentidos, as tentativas de explicar as predições na profeciapodemsercomparadascomosantigosesforçosdaantigateologialiberalparadesacreditar os milagres de Jesus. O fato dele andar sobre as águas eraexplicado como possível apenas por causa de um banco de areia abaixo dasuperfíciedo lago.Aexplicaçãopara amiraculosamultiplicaçãodospães edos peixes, que alimentou 5.000 pessoas, era que, por causa da altruístagenerosidade do jovenzinho, outros foram levados a repartir seus lanches.Uma vez que se apresentem explicações naturalistas, não existe mais razãopara aceitar predições a respeito davindadeCristo ou suamorte sacrificialsubstitutiva em lugar de pecadores que vivem em constante negação do seuCriador.

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MasotestemunhodaEscrituraéuniforme.Porumperíodoconstantedemaisde200anos,osprofetasdeIsraelfizeramsuasdeclaraçõesarespeitodadivinainspiraçãodassuasprediçõesdeeventosfuturos.Emdecorrênciadisso,a mensagem e o ministério de todo o movimento profético pode sercorretamente entendido e considerado quando o elemento da prediçãoprofética recebe seu lugar apropriado. O progressivo milagre da profeciapreditivadeacordocomoprópriotestemunhodaEscrituraeaféemtodasasmaravilhas sobrenaturais da criação, redenção e consumação, serãoconfirmados.Racionalizararealidadedaprediçãoproféticaconduziráaféqueafirma a divina intervenção sobrenatural como a esperança de um mundodecaído,aumcorrespondenteeinevitáveldeclínio.

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III.Categoriasdeprediçãoprofética

Pelo fato dos verdadeiros profetas do único Senhor do céu e da terrasaberem que sua palavra profética vinha até eles por divina revelação, elestinhamplena confiançanaspredições a respeitodo futuroqueproclamavamcom tanta ousadia.Apesar de saberem que a pena demorte pairava sobre acabeça de qualquer pessoa que se atrevesse a predizer o futuro de maneiraincorreta,osprofetasverdadeirosfrequentementeousavamanteciparofuturocom predições de longo e de curto prazo. Às vezes, eles reforçavam suasprofeciascomsançõesdramáticas.Àsvezes,elesestabeleciamcondiçõesquedefiniam o resultado final das suas antecipações proféticas. Às vezes, elesfalavam com ousadia a respeito do destino das nações, pequenas e grandes,queestavamàsuavolta.Àsvezes,elesfalavamemtermosterríveisarespeitodaculminanteconcretizaçãodospropósitosfinaisdeDeusnofuturodistante.Mas sempre suas predições a respeito do futuro tinham,no final das contas,relaçãocomospropósitosredentoresdoSenhor.

Na tentativa de compreender o alvo e foco das predições futuristas dosprofetas, é útil considerar suas antecipações em termos de certas categoriasmaiores. Essas categorias de predições incluem as seguintes: predições decurto prazo, predições condicionais, predições com respeito às nações, eprediçõesdelongoprazo.

A.PrediçõesdecurtoprazoNumsentidomuitoreal,osverdadeirosprofetasdoSenhormuitasvezes

punham a vida em risco com as predições de curto prazo, que podiam serprontamente verificadas enquanto eles ainda viviam. A legislação mosaicaindicava que o profeta mentiroso que inventava suas próprias prediçõesfracassadasdeveria sermorto (Dt18.20-22).Amós recebeuordensclarasdequedeveriaparardepredizerqueIsraeliriaparaoexílioequeoreiJeroboãomorreriapelaespada(Am7.11-16).Jeremiascomfrequênciatevedesuportarconfrontações com profetas mentirosos da sua época sobre quais palavraspreditivasseriamcumpridas(Jr28).Asprediçõesdecurtoprazo,então,comfrequênciaprovaramserocampodetestesdosprofetasdeIsrael.

Aexpectativadaspessoascomrespeitoàsprediçõesdecurtoprazoquepodiam verificar as credenciais de um profeta se manifesta plenamente nosdias de Ezequiel por meio de uma provocação popular: “Os dias passam etodasasvisõesdãoemnada”(Ez12.22NVI).Aparentemente,esseprovérbiosurgiuporquemuitasvisõesfalsaseadivinhaçõesbajuladorasestavamsendo

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proferidasporpretensosprofetasparaescapardoolhar fiscalizadordo testedocumprimentoporcausadasuaindefiniçãoecaracterísticadelongoprazo(12.24). Como consequência desse abuso da função profética na nação, overdadeiroprofetadeDeustambémsofreuaferroadadessazombaria.MasoSenhornãotolerariaessasituaçãopormuitotempo.Emvezdesseprovérbio,umnovoditadotomariaseulugar:“Estãochegandoosdiasemquetodavisãosecumprirá”(12.23NVI).19Areclamaçãodopovoaparentementesedirigiaavisões que se cumpririam apenas num futuro distante (12.27).Mas oSenhoragora vai lhe darmais do que pediu: “Nenhumademinhas palavras sofrerámaisdemora;tudooqueeudissersecumprirá”(12.28NVI).Anaçãodeixoudeperceberagraçaenvolvidanademoradocumprimentodasprediçõesdosprofetas,masagoratodojuízoemitidocontraessacasarebeldeserácumpridosemmaisdemora(12.25).

Essa expectativa de predições suficientemente claras para que suasconcretizaçõesfossemreconhecíveisnofuturopróximoestavalegitimamentefundada na instituição original do ofício profético em Israel e continuouduranteahistóriadanação.Seaspalavrasdeumprofetanãosecumprissem,então o Senhor não tinha falado através dessa pessoa (Dt 18.22). Asingularidadedo jovemSamueleraqueoSenhornãopermitiuquenenhuma“dassuaspalavrascaísseemterra”.Emdecorrênciadisso,todooIsraelouviuque“SamueltinhasidoestabelecidocomoprofetadoSENHORdaAliança”(1Sm 3.19,20). No calor do seu conflito com o mentiroso profeta Hananias,Jeremias apela à tradição há muito estabelecida do teste dos profetasverdadeiros. Um profeta pode ser reconhecido como verdadeiro profeta doSenhorsomente“seaquiloqueprofetizouserealizar”(Jr28.9NVI).Deformasemelhante, Ezequiel faz sua reputação depender do cumprimento da suapredição com respeito à devastação da terra de Israel: “Quando tudo issoacontecer—ecertamenteacontecerá—elessaberãoqueumprofetaestevenomeiodeles”(Ez33.33NVI).

Dessa forma, as predições de curto prazo dos profetas verdadeiros doSenhorcumpriamumpropósitovital:confirmavamaveracidadedaspalavrasdoprofetaesupriamumabaseparaaféconfianteporpartedopovo.Deformasemelhante,asmuitasprediçõescumpridaseconservadassobaformaescritanasEscrituras servem para confirmar a veracidade dasmensagensmorais eredentorasencontradasnaEscritura,eaomesmotempoestabelecemumfirmefundamentoparaafénasprediçõesdelongoprazodosprofetas.Somentepelanegação da integridade da Palavra escrita de Deus é que essas conclusõespodemserinvalidadas,paragrandeprejuízoeperdadodescrente.

Quando consideramos de forma mais específica as predições de curto

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prazodosprofetasnaEscritura,deveserprimeiroreconhecidoqueaatençãodasprediçõesproféticasnuncaédirigidaaassuntosincidentaisquenãoestãodiretamente relacionados com os progressivos propósitos de redenção doSenhor.Osprofetasbíblicosnãopredizemqualcavalovaiganharacorrida,qual timevaivenceradisputaesportiva,ouqual investimentodaráomelhorretorno.Emvezdisso,suapreocupaçãoseconcentrasemprenoplanodeDeusestabelecidodesdeaeternidadepassadapararedimirumpovoparasimesmo.Essaperspectivaespecíficalevaosprofetasaanteciparcircunstânciasfuturastantopróximascomodistantes.

1.OcursodanaçãodeIsraelComoseráconsideradonopróximocapítulo,aantecipaçãoproféticado

exílioedarestauraçãodeIsraelporsisómerececonsideraçãoespecial.Masvários exemplos de profecia preditiva de curto prazo relacionados a esseassuntopodemserúteisnestemomento.

Apesardeprofetizarnosdiasdemaiorglóriadoreinodonorte,OseiaspredisseemtermoscerteirosqueDeusporiaumfimaoreinodeIsrael,masmostraria especial amor para com a casa de Judá (Os 1.4b,7). Maisespecificamente, ele declaraqueo ídolo em formadebezerrodeBete-Áven(Betel)serácarregadoparaaAssíriacomotributoao“granderei”(Os10.5,6).Essaprediçãoteveseucumprimentonoespaçodeaproximadamente30anos.

Poucodepois,Isaíaspredissequeas“poderosasedevastadoraságuas”doreidaAssíriatransbordariamseuscanais,inundariamJudá,eocobririam“atéopescoço”(Is8.5-8).EmboraanaçãofossealertadaqueoexércitodaAssíriasacudiria“opunhoparaomontedacidadedeSião”(10.32NVI),elesforamencorajadosanãotemeressaforçainvasora(10.24).AooferecerumapalavradeconfortoaoperturbadoreiEzequias,oprofetapredisseque,emboraoreidaAssíriajáestivessedoladodeforadasportasdeJerusalém,elenãoentrariana cidade. Ele voltaria pelo mesmo caminho por onde tinha vindo, pois oSenhordefenderia Jerusalémporamorde simesmoeporamordeDavi (Is37.33-35). Em todas essas três profecias, Isaías reconhece a seriedade daameaçadosassírios.Masele tambémmostraqueseuexércitonãoseriabemsucedido na invasão da escolhida cidade de Jerusalém. Como haviatestemunhado a queda de Samaria diante dessas mesmas tropas assírias,somente por revelação divina é que Isaías podia saber o desfecho dessaameaçacontraJerusalém.

Um século depois, Jeremias profetiza no início do reino de Zedequiasque, a não ser que a nação se submetesse voluntariamente, Judá e todas asnações vizinhas seriam sujeitadas à brutalidade do rei Nabucodonosor da

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Babilônia(Jr27.1-15).Maisoumenosdezanosantesdacidadecair,emesmoem face das predições contraditórias de outros pretensos profetas, Jeremiasdeclaroudemodoinequívocoqueasantacidadehaveriadecair.Emborasuaprevisão pudesse ser atribuída a perspicaz percepção política, a experiênciapassadadanaçãoapontavaemdireçãodiferente.NãohaviaDeusentradonumaeterna aliança com Davi, que garantia a preservação da cidade? Não tinhaJerusalém se mostrado inexpugnável quando assaltada pelo exércitoigualmente poderoso dos assírios? Por que, então, deveria ser previstaqualquercoisadiferentedeumlivramentodivinoparaessacidadeescolhida?

Arevelaçãodivinamostroucomoabsolutamentecertaaqueda iminentedeJerusalém.OprofetadeDeussabiaporantecipaçãoquejuízospunitivosdoSenhorseriamadministradospelamãodeNabucodonosor,servodeDeus.Elepredissecomtristeza,mascomsegurança,atragédiaqueviriasobreanação.

Todasessasprediçõesdecurtoprazoforamcumpridasduranteoperíodode vida do profeta e de seus contemporâneos. Embora as pessoas daquelaépoca fossem capazes de racionalizações semelhantes às dos acadêmicos dehoje, os registros escritos da Escritura apontam para revelações divinas dofuturo desenrolar de eventos que inevitavelmentemanifestavam a verdadeiranaturezadeumredentorsoberano,graciosoejusto.

2.AascensãoequedadosreisdasnaçõesPelo fato dos reis de Judá e Israel terem incorporado a ideia de um

Messiasvindouro,avidadessesreisnaturalmentesetornouumdosprincipaisassuntos das predições dos profetas. Devido às suas imperfeições inerentes,essesungidosmenorescomfrequênciaapresentavamumpadrãodevidaqueeraexatamenteoopostodaquiloqueseesperavadosalvadorungidodopovodeDeus.

Amós predisse que, com sua espada, o Senhor se levantaria contra a“casa” de Jeroboão (Am 7.9). Amazias, o sacerdote do ilegítimo e idólatracentro de adoração de Betel distorceu as palavras de Amós e o acusou deprofetizar que o próprio Jeroboão morreria pela espada (Am 7.11; vejatambém 2 Rs 14.29). Mas foi Zacarias, filho de Jeroboão, que foiviolentamentemorto pela espada deSalum, exatamente como Jeremias tinhapredito(2Rs15.8-10).

À medida que a monarquia do reino sul de Judá foi chegando ao seutérmino, Jeremias pronunciou uma série de predições a respeito dos seusúltimosreis.Joaquimesuamãeseriamlançadosparaoexílioparanuncamaisvoltarem, e nenhumdos seus filhoso sucederia no trono (Jr 22.24-30; 2Rs24.8,12,15).Apesar dos profetasmentirosos o desmentiremprometendo que

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Joaquim voltaria da Babilônia, a profecia de Jeremias é que se mostrouverdadeira(Jr28.4).

PorterarrogantementedestruídoopreciosoroloqueregistravatodasasmensagensdoSenhoraJeremiasoprofeta,umapalavraespecialdejuízofoiproferida contra o rei Jeoaquim de Judá. Ele tinha mostrado completodesprezo pela Palavra do Senhor rasgando e queimando o rolo. Por essarazão, seu corpo seria jogado fora, sem que nenhum dos seus descendentestivesse permissão de sentar no trono de Davi (Jr 36.30,31). Essa prediçãocrioudificuldadesemdoissentidos.Porumlado,olivrodasCrônicasmostraqueJeoaquimfoilevadoparaaBabilôniaenãofoienterradoforadosportõesdeJerusalém(2Cr36.6;Ez19.9).Alémdisso,Joaquim,ofilhodeJeoaquim,sucedeu-onotronodeJudá(2Rs24.6).

Considerando primeiro o segundo problema, é preciso notar queJeremias depoismostra queNabucodonosor fazZedequias rei “em lugar deJoaquim,filhodeJeoaquim”(Jr37.1NVI).JeremiasestavaplenamentecientedequeumfilhodeJeoaquimo tinhasucedidono tronodeJudá,masaoqueparecenãoconsideravaessefatoumacontradiçãodasuaprediçãoanterior.Ébem possível que Jeremias esteja levando em consideração que Joaquimreinou em Judá por apenas três meses e foi então deposto do trono porNabucodonosor.Essebreveinterlúdiopodemuitobemserconsideradocomonão“sentarnotrono”emumsentidonormaldaexpressão.

Com respeito ao desonroso enterro de Jeoaquim, o texto diz que seucorposeria“jogadopara foradosportõesde Jerusalém”.A frase indicaumenterro em desgraça, embora não especifique as circunstâncias concretas dadisposiçãodoseucorpo.Oquequerquetenhaacontecido,oreinãorecebeuashonrasnormaisassociadascomamortedeummonarca.

Num momento dramático durante o cerco final de Jerusalém,NabucodonosoresuastropasforamperturbadosporumaincursãodoexércitodoEgito(Jr37.5).Naturalmente,essainterrupçãodoassaltobabilôniosobreacidade santa incitou esperanças de um livramento divino como aqueleanteriormente experimentado nos dias de Ezequias. Mas Jeremias já haviapredito que a cidade cairia sob o poder de Nabucodonosor e que o reiZedequiasserialevadoparaaBabilônia(32.1-5;34.1-7).EledeclaraaindaquefaraóeseuexércitovãoretornaraoEgitoequeosbabilôniosvãotornaraoseu cerco e no final das contas queimar Jerusalém até ao chão (37.6-10).Quando o rei Zedequias arranjou uma conversa pessoal com Jeremias, amensagem do profeta foi a mesma: o rei seria entregue nas mãos deNabucodonosor(37.17).

Aomesmotempo,naBabilônia,oprofetaEzequielestavapromulgando

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sua própria profecia a respeito do cerco de Jerusalém e a captura do reiZedequias.SobasordensdoSenhor,eleajuntousuascoisasparaoexílio,e,aocairdanoite,elesaiuporumburacoquehaviacavadonaparede(Ez12.3-7). O Senhor, então, deu uma interpretação do ato simbólico do profeta, deformaqueatéaspessoasmaiscegaspudessementender:“Opríncipe...poráasua bagagem nos ombros ao entardecer e sairá por um buraco que seráescavadonomuroparaelepassar.Elecobriráorostoparaquenãopossavernadadopaís....euotrareiparaaBabilônia...maselenãoaverá,ealimorrerá.Espalhareiaosventos...osseusoficiaisetodasassuastropas”(12.12-14NVI).

Os detalhes da profecia de Ezequiel são confirmados pela subsequentenarrativadeJeremias.OsbabilôniosnofinaldascontasabriramumabrechanosmurosdeJerusalém.Oreieseuexércitofugiramatravésdomurosobaproteção da noite. Todos os seus soldados se separaram dele, e ele foicapturado.ZedequiasfoientãolevadodiantedeNabucodonosor,oqualmatouseus filhosdiantedos seusolhos, cegou-o,eo levouparaaBabilônia,ondeficoupresoaté suamorte (Jr52.4-11;veja também2Rs25.4,7).ExatamentecomoEzequiel tinha predito, o rei fugiu através domuro ao anoitecer, seushomenssesepararamdele,ele foicapturadoe trazidoparaaBabilônia,masnuncachegouavê-la,ealielemorreu.

Quem teria condições de antecipar esses detalhes antes de ocorrerem,além do próprio Deus que ordena o curso da história! Embora asracionalizações possam explicar as predições do profeta, a evidenteintegridadedotextotantodeJeremiascomodeEzequieltestificaoutracoisa.Selevarmossóessaprofeciaemconsideração,entãoficaráclaroquesóexisteumDeus, oDeusqueordenao cursodos reis para aglóriada sua justiça emisericórdia.

3.AvidapessoaldosprofetasdeDeusAsprediçõesarespeitodavidapessoaldosservosespeciaisdeDeus,os

próprios profetas, não aparecem à parte de uma conexão íntima com oprogressivoprogramaderedençãodeDeus.Mesmoquandoocercobabilônioestá no seu auge e Jeremias continua em prisão domiciliar, a Palavra doSenhor lhe diz que seu tio virá pedir-lhe que compre uma propriedade (Jr32.6,7).Quandootiochegaelhefazaproposta,JeremiastemcertezadequeopedidodoseutiovemcomoPalavradoSenhor(32.8).QuemalémdoSenhordirigiriaalguéma responderpositivamenteaumapropostadecomprarumapropriedade no próprio território atualmente ocupado por um exércitoinvasor,enquantoaomesmotemporevelaascircunstânciasdapropostaantesqueelasejafeita?

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JeremiasprecisafazeroqueoSenhorordena,masnãoconseguedeixardeadmirar-secomaincongruênciadessasinstruções.Porquedeveriaele,umpobrepregadoremprisãodomiciliar,comprarterraquandotodoointeriordeJudá está agora no processo de cair nas mãos dos babilônios? O Senhorresponde à legítima interrogação do seu profeta desvendando-lhe seuspropósitosparaofuturo:“AssimdizoSENHORdaAliança: ‘Assimcomoeutrouxe toda esta grande desgraça sobre este povo, também lhes darei aprosperidadequelhesprometo.Denovoserãocompradaspropriedadesnestaterra...Propriedadesserãocompradasporprataeescriturasserãoassinadaseseladas diante de testemunhas no território de Benjamim ...porque eurestaurareiasortedeles’,declaraoSENHORdaAliança”(Jr32.42-44NVI).

Estecapítulodavidadoprofetatorna-seumsímboloprofético,umsinaldeesperançaparaofuturo.AJeremiasfoidadaasoleneresponsabilidadededeclarar que era inevitável que Jerusalém fosse queimada até ao chão pelosbabilônios,emdiretacontradiçãoamuitosoutrosprofetasqueinsistiamqueacidadesantanãopoderiacairjamais.Eagorasuaaçãodeinvestirseusparcosrecursosem terrasde Judámesmoenquanto sedáocerco finaléumaclaradeclaraçãoemaltavozdamensagemdeesperança.Ofatodelepromulgaressaprediçãoantecipaaquiloqueéverdadeiramenteinconcebível:depoisdoexílio,Israeldeveretornarparasuaterraetornarapossuirsuaspropriedades.

Um incidente preditivo similar ocorre na vida de Ezequiel. Enquantomorava na Babilônia, ele foi avisado que sua esposa, a “delícia dos seusolhos”, haveria de morrer. Mas ele não deveria participar de nenhum doscostumeirosrituaisdelamentação.Natardedodiaseguinte,suaesposamorre.Mas, de acordo com as orientações do Senhor, o profeta não participa denenhumdosrituaisdelamentaçãocostumeiros(Ez24.15-18).OSenhor,então,diz a esse profeta que informe o povo com respeito ao significado dessesacontecimentos.OSenhorestáprestesaprofanarseusantuárioemJerusalém,a “delícia dos olhos deles”.Mas o povo estará tão pesaroso, que seguirá oexemplodeEzequiel.Elesnãoexecutarãonenhumdoscostumeirosrituaisdelamentação, e não comerão suas refeições costumeiras. Por meio dessaantecipaçãoproféticadaprincipaldetodasastragédiasimagináveis,Ezequielsetornaumsinal,eopovovemaconhecerqueseuDeusédefatooúnicoesantoDeus,oSENHORdaAliança(Ez24.20-27).

Emboraessaspredições ligadascomaexperiênciadevidadosprofetassejammuito importantes, amaiorpartedasprofecias associadas comavidadosprofetasdiz respeitoaoconflitoquesurgiucomoconsequênciadassuaspredições. Amós recebeu dura oposição por causa das suas predições com

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respeito à queda do reino norte diante dos exércitos da Assíria. Mas, emrespostaàoposiçãodeAmazias,o sacerdotedeBetel,Amósapresentaoutraprofecia contendo nãomenos que cinco predições específicas: Amulher deAmaziasvaisetornarumaprostitutanacidade,seusfilhosefilhasvãomorrerpela espada, sua terra será dividida como espólio, o próprio sacerdote vaimorrernumaterrapagã,eIsraelvaiparaoexílio(Am7.17).Somenteaúltimadessas predições pode ser verificada como fato histórico, mas a própriaconservação das outras predições permite a suposição de que também secumpriram.

TrêsincidentesdoconflitodeJeremiascompretensosprofetasinspiramtrês predições adicionais de curto prazo. Em primeiro lugar, Hananias, aoesmagaroscanzissimbólicosqueJeremiascolocounopescoço,declaraquedentrodedoisanosopoderdeNabucodonosor seráquebradoeosexiladosretornarão(Jr28.3,4,10,11).Jeremiasdizqueessaprediçãoéesperançasemnenhumfundamento,eentãoprofetizaque,porcausadasuarebeliãocontraaverdadeiraPalavradoSenhor,Hananiasmorrerádentrodeumano.Porvoltado sétimo mês, a profecia de Jeremias se cumpre; o falso profeta morre(28.16,17). Em um segundo incidente, Jeremias prediz que os profetasmentirosos e imorais, Acabe e Zedequias, serão capturados porNabucodonosorequeimadosvivos (29.20-23).Aindanum terceirocaso,umprofetamentirosochamadoSemaíasdistribuiuaváriaspessoasemJerusalémumacartaqueescreveuenquantoestavanaBabilônia.Nessacarta,eleacusouJeremiasdesefazerpassarporprofetaedenunciouapalavradeJeremiasdequeopovonaBabilôniadeveriaestabelecer-seporqueserialongoocativeiroà sua frente. Ele incitou os sacerdotes de Jerusalém a que considerassemJeremias como louco e a colocá-lo no tronco e prendê-lo comcorrentes deferro (29.24-28). Jeremias respondecomumaprofeciadizendoqueSemaíasjamais verá as boas coisas que o Senhor fará por seu povo cativo e quenenhumdosseusdescendentesvaisobreviver(29.29-32).

Essasseverasprediçõesemitidascontraaspessoasquecontraditaramosverdadeiros profetas do Senhor não devem ser consideradas comomanifestaçõesdevingançapessoal.Emvezdisso,esses juízosdeclarativosarespeito do curso futuro dos eventos somente foram possíveis porque seoriginaram com o Deus que controla o futuro. Em decorrência disso, elesressaltamaseriedadedecontraditaraverdadeiraPalavradoDeusvivo.Falarcontra a Palavra dos verdadeiros profetas deDeus é falar contra o próprioDeus.

Nessecontexto,aformagrosseiraemquemuitosestudosatuaistratamaPalavra escrita do Deus vivo é de estarrecer. Se esses pronunciamentos de

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juízocontraosprofetasmentirososdosdiaspassadosrepresentamrevelaçõesverdadeiras da parte de Deus, “como escaparemos, se negligenciarmos tãogrande salvação..., primeiramente anunciada pelo Senhor” e então “foi-nosconfirmadapelosqueaouviram.Deustambémdeutestemunhodelapormeiodesinais,maravilhas,diversosmilagresedonsdoEspíritoSanto”?(Hb2.3,4NVI).

Portanto, as predições de curto prazo dos profetas tinham uma funçãomuitoimportante.Especialmentecomoformadeconfirmaraautenticidadedaspalavras dos profetas, essas divinas revelações de pormenores a respeito dofuturoeramecontinuamsendoumimportanteaspectodoministérioprofético.UmavezqueasespetacularesteofaniasassociadascomarevelaçãodaverdadedeDeusnoSinainãodevemmaisseresperadasnestapresenteera,apalavraconfirmadadohumildeprofetadeantigamentenosescritosdaEscritura temhojeimportânciavitalparaopovodeDeus.

B.PrediçõescondicionaisAfiguradeumatalaiaconformeapresentadapeloprofetaEzequieléum

perfeito exemplo da ideia das predições condicionais na mensagem dosprofetas de Israel.20 O atalaia tinha a responsabilidade de avisar a nação nocasodeumataqueiminente.Eletinhadesoaratrombetaparaalertarcontraoperigo que se aproximava da cidade.Apesar do atalaia não ser consideradoresponsável pela reação do povo aos seus alertas, ele seria culpado peloderramamentodequalquersanguesefalhassenosoardoalarme(Ez33.1-6).

O Senhor aplica esse princípio a Ezequiel como seu profeta escolhido.Eleprecisaalertaroímpioarespeitodasconsequênciasdosseuscaminhos.Seo ímpio responde às intimações do profeta com fé e arrependimento, terá avida poupada. Mas se ele continuar com seus mesmos procedimentospecaminosos,ojuízodivinoinevitavelmentecairásobreele.Mas,seoprofetadeixar de alertar o ímpio a respeito dos seus caminhos, o Senhor o faráresponsávelpelosanguedoímpio(Ez3.17-21;33.7-9).

Assim, as predições de devastação pessoal e nacional dos profetas deIsraelvãoounãosecumprir,dependendodarespostadopovoaquemforamdirigidas.Éclaro,ospropósitosedeterminaçõesdoSenhorpermanecemparasempreimutáveis.MasnasdispensaçõesdamisericórdiadoSenhor,pecadoresculpados podem ser poupadosmesmodepois de um juízovindouro ter sidoanunciadopeloprofetaseelessevoltamemarrependimentoefé.

Mas imediatamente surge um problema com o inequívoco caráter dealgumas declarações dos profetas que não apresentam em si condiçõesexplícitas. Dentro de 40 dias Nínive será destruída, de acordo com o

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pronunciamentodeJonas(Jn3.4).ElenãodiznadaarespeitodapossibilidadedemisericórdiadapartedeDeusnumeventualarrependimentodacidade.Masnofimacidadevestidadelutoépoupada.Deformasemelhante,oprofetafazuma inequívoca declaração ao rei Ezequias quando este se encontra doente:“AssimdizoSENHORdaAliança: ‘Ponhaacasaemordem,porquevocêvaimorrer; você não se recuperará’” (Is 38.1 NVI). A palavra do profeta écerteira. A doença do rei será fatal. Mas em resposta às orações do rei, oSenhor acrescenta mais 15 anos à vida de Ezequias (Is 38.5). O profetaMiqueias faz uma inequívoca predição a respeito do futuro de Jerusalém:“Siãoseráaradacomoumcampo,Jerusalémsetornaráummontedeentulho,eacolinadotemplo,ummatagal”(Mq3.12NVI).Masacidadefoipoupadadadestruiçãopelosinvasoresassíriosepermaneceuintactapormais150anos.

Emcadaumadessasprofecias,nãoépossíveldetectarnenhumaindicaçãoarespeitodealgumacondicionalidade.Adeclaraçãoéinequívoca:essascoisascom certeza vão acontecer. Uma vez que não aconteceram, pode-se sugerirque,destavez,falharamasprediçõesdosprofetasverdadeirosdoSenhor.Suasprofeciascomrespeitoaofuturonãosecumpriram.

A conclusão de que os profetas do Senhor falharam em suas prediçõesmanifesta uma visão muito pequena dos atributos de Deus.21 Um aspectocentraldanaturezadoúnicoDeusverdadeiroconformereveladonaEscrituraé que Ele graciosamente provê uma forma de receber pecadores que searrependem. A esse respeito, o seu caráter jamais muda. O próprio JonasexplicaosupostodilemacomrespeitoàsobrevivênciadeNíniveadespeitodasuaprediçãodeque seriadestruída: “Foipor issoquemeapressei em fugirpara Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muitopaciente,cheiodeamorequeprometescastigar,masdepoistearrependes”(Jn4.2NVI).PelofatodeJonasmesmoconheceroimutávelcaráterdeDeus,eleesperou o tempo todo que uma Nínive arrependida fosse poupada do juízodivino. Pode-se chegar à mesma conclusão com respeito à assim chamadaprofecia fracassada deMiqueias a respeito da destruição de Jerusalém. Umséculomaistarde,certosanciãosnotempodeJeremiascitaramaprediçãodeMiqueias(Jr26.18),masasuaintençãoaofazeremessacitaçãonãoémostrarqueMiqueiaserrouemsuaprofeciaouacusarMiqueiasdefalsoprofeta.Emvez disso, eles citam sua profecia “para argumentar que, como resultado daprofecia de Miqueias, o rei [Ezequias] e o povo se arrependeram, e assimYahwehosperdoouepoupouacidade”.22

Ezequiel faz amesma consideração. O povo estava reclamando que oscaminhos do Senhor eram injustos porque Ele puniu os justos e poupou osímpios.Mas o Senhor responde apontando que, quando um homem justo se

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afastadasuajustiça,eleserápunido;equandoumímpiosearrependedoseupecado,eleserápoupado.DeusnãoéinjustonaessênciadoseuSer,eporessarazãoElenãoagirádeformainjusta.Mesmoquenãoexpressonaocasiãoemqueéproferidaumaprofecia,ocaráteressencialdoSenhorserámanifestonasconsequênciasqueseguemasprediçõesdosseusprofetas.

UmmeroserhumanonãopodepresumirquesabequandooSenhoremsua justiça concluiquecertos indivíduosdevemserpoupadosde seus juízosanunciadosequandoelesultrapassaramopontoemquenãohámaisretorno.“Voltem-se para oSENHOR daAliança” implora Joel, pois “Talvez ele volteatrás”(Jl2.13,14NVI).“Odeiemomal,amemobem”,admoestaAmós,pois“TalvezoSENHORdaAliança,oDeusdosExércitos,tenhamisericórdia”(Am5.15NVI).Emdecorrênciadisso,apresunçãojamaistemlugaradequadoemfacedosanunciadosjuízosdeDeus.

Por outro lado, por causa da misericórdia do Senhor, é possível quenuncasejatardedemais.MesmonoquartoanodoreiJeoaquim,nomomentoem que os primeiros cativos de Judá, como Daniel, estavam sendo levadospara a Babilônia, o rolo que continha todas as profecias de Jeremias foiapresentadopublicamentecomaesperançadequetalvezopovosevoltassedeseusperversoscaminhosetrouxessesuaspetiçõesdiantedoSenhor(Jr36.7).A despeito da sua persistência no pecado, eles ainda podiam ser salvos. Deformasemelhante,mesmodepoisdoreiNabucodonosorteroreveladorsonhoa respeito da sua humilhação vindoura, Daniel aconselhou o monarca arenunciar aos seuspecados tendocompaixãodosnecessitados,pois “Talvez,então,continuesaviverempaz”(Dn4.27NVI).Masoreicontinuouseguindoseus orgulhosos caminhos, e assim acabou pastando no campo como umanimal.

DeacordocomJeremias,apromessadarestauraçãoparaa terradepoisde 70 anos de exílio depende do cumprimento de certas condições.O povoprecisaclamaraoSenhor,oraraEle,ebuscá-lode todoocoração.Então,esomenteentãoEleostrarádevoltadoseucativeiro(Jr29.12-14).Naverdade,o gracioso plano do Senhor garante que essas condições serão cumpridasquandotiverpassadooperíodode70anos(29.10,11).Masascondiçõesquedevemsercumpridassãomuitoreais.

Asprediçõesdosprofetasarespeitodebênçãosemaldiçõesfuturasestão,portanto, claramente atreladas à reação do povo. Os seres humanos sãotratadoscomopessoasresponsáveisqueprecisamprestarcontasdesuasaçõesao Senhor. Ao mesmo tempo, os propósitos redentores do Senhorinevitavelmente semoverão em direção ao seu alvo final, exatamente como

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antecipadopelosprofetas.

C.PrediçõesarespeitodasnaçõesSeria espantoso se alguém do mundo moderno pudesse pelo menos

chegarpertodamensagemdosprofetasdeIsraelcomrespeitoàsnaçõesqueoscercavam.VárioselementosdistintivosfazempartedasproclamaçõesdosprofetasdeIsraelarespeitodasnaçõesvizinhas:(1)asnaçõesserãojulgadasporDeus,especialmenteporseuspecadosdebrutalidade,idolatriaeorgulho;(2)asnaçõesserãotratadasporDeusdeacordocomamaneiraquetrataramanaçãode Israel (vejaocapítulo6,§ I.D);e (3)asnaçõesno finaldascontasparticiparão da redenção providenciada para Israel. Na mensagem dosprofetas, a interação do Senhor com as nações com frequência aparece emformadeprediçõesarespeitodofuturo.

Vários livros proféticos incluem seções dedicadas a profecias comrespeitoàsnaçõesvizinhasàIsrael.Oalcancedessasprediçõesébemextenso:

Amom(Jr49.1-6;Ez21.28-32;25.1-7;Am1.13-15;Sf2.8-11)Assíria(Is10.5-19;14.24-27;Naum;Sf2.13-15)Babilônia(Is13;14.3-23;21.1-10;47;Jr50-51;Hc2.4-20)Etiópia(Is18;20.3-6;Sf2.12)Damasco(Is17.1-3;Jr49.23-27;Am1.2-5;Zc9.1-4)Edom(Is21.11,12;34.5-15;Jr49.7-22;Ez25.12-14;35;Am1.11,12;Obadias)Egito(Is19;20.3-6;Jr46.2-26;Ez29,30,32)Moabe(Is15,16;Jr48;Ez25.8-11;Am2.1-3;Sf2.8-11)Filístia(Is14.28-32;Jr47;Ez25.15-17;Jl3.4-8;Am1.6-8;Sf2.4-7;Zc9.5-8)TiroeSidom(Is23;Ez26-28;Jl3.4-8;Am1.9,10;Zc9.2-4)

Muito apropriadamente, o foco se concentra de modo especial naBabilôniacomooperfeitoexemplodaanimosidadecontraopovodeDeus(Is13.1-22;14.3-23;21.1-10;47.1-15;Jr50.1-46;51.1-64;Hc2.4-20).Mastalvezmaisnotávelsejaaconsistênciadaprediçãoreferenteàsalvaçãofinaldequeessas nações vão participar juntamente com Israel. Muitas vezes, énegligenciada a extensão desse elemento na antecipação profética comreferência ao futuro. Mas, para entender a descrição profética do futuro, éessencial perceber corretamente esse aspecto da mensagem profética. AdespeitodosmaustratosedadevastaçãocomqueasnaçõesagiamparacomIsrael,amensageméclaramenteproferidaacadanovoestágiodahistóriada

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nação. As nações do mundo participarão da redenção e da restauraçãoprometidasa Israel.Esseaspectodaprediçãoproféticapodeserconsideradodeumaperspectivaanterioraoexílio,dopróprioexílioetambémposterioraele.

1.AinclusãodosgentiosdaperspectivaanterioraoexílioÉespantoso,mesmoemmeioarepetidosavisossobreadevastaçãoque

as nações vizinhas trarão a Israel, os profetas anteriores ao exíliorepetidamenteproclamamasbênçãosdeDeusquevirãosobreessasmesmasnações.No casode Jonas, seu instinto de lealdade à naçãoo impedede ir aNínive,acapitaldoreinoassírio,quenofinaldascontasvaidevastarastribosdo norte de Israel. Mas em decorrência da sua pregação, toda a cidade searrepende, e oSenhormostra suamisericórdia aopoupar seupovo (Jn3.6-10).OseiasdescreveomaisseverojuízodeIsraeldizendoqueserálevadodevoltaaoseuestadogentiooriginal.ElesetornaráLo-Ammi (Não-Meu-Povo),(Os 1.9).Mas entãoDeus, em sua graça soberana transformará esses novosgentiosoutravezemAmmi(MeuPovo),(Os2.1,23).Quandoessadeclaraçãoda transformação de israelita em gentio e outra vez em israelita é levada asério, então se torna compreensível o fato que essa profecia de OseiasfuncionepropriamentecomoumabaseparaoministériodePauloàsnaçõesgentias. As dez tribos que constituíam o reino do norte foram engolidas,assimiladaspelovastomundodosgentios.MasquandoCristochamaospovosgentiosparasimesmo,cumpre-seaprometidarestauraçãodoIsraeldeDeus(Rm 9.24-26). Amós golpeia Israel sem misericórdia com a mensagem dojuízovindourodeDeus sobre eles.Masno final ele prediz a restauraçãodatendacaídadeDavieaconversãodeEdomempovosobreoqualéinvocadoonome deDeus, fazendo-os participantes da graça eletiva deDeus damesmamaneira que Israel o foi (Am 9.12; veja também Dt 28.9,10, onde a fraseidêntica indica a eleição de Israel). Esse anúncio da inclusão dos gentiosproclamadoporAmósnofinaldascontasprovêparaaigrejadanovaaliançauma base para resolver a questão concernente a como os gentios quereceberam o Espírito Santo devem ser recebidos na comunidade da novaaliança(At15.15-19).

Dentre os profetas anteriores ao exílio, é de Isaías a mais gloriosadescriçãodainclusãodomundogentio.Detodasasváriasseçõesdolivro,ogrande espaçodovindouro reinodeDeus inclui as abundantesmultidõesdenaçõesgentias.Logonaprimeiraporçãodasuaprofecia,Isaíasdeclara:“Nosúltimos dias... Virão muitos povos... ao monte do SENHOR da Aliança... Elejulgaráentreasnaçõeseresolverácontendasdemuitospovos.Elesfarãode

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suasespadasarados,edesuaslanças,foices”(Is2.2-4).23Asegundametadedolivrocomeçacomoanúnciodeque,porocasiãodonovoêxodo,a“glóriadoSENHOR da Aliança será revelada, e, juntos, todos a verão” (40.5). O reimessiânicodalinhagemdeDaviservirácomoluzparaaobscurecidaterradosgentios(Is9.1,2)e“serácomoumabandeiraparaospovos”(11.10).Asnaçõesvão reunir-se a Ele, pois Ele juntará não apenas os exilados de Israel; Eletambémvaierguer“umabandeiraparaasnações”(Is11.12;veja tambémMt4.12-17).A segunda grande figura de Isaías que aparece lado a lado com ogovernadordavídicosetornaconhecidopormeiodoscânticosdoservo.EsseservodoSenhornãoapenasrestauraráopovodeIsrael;eletambémvaiserviraomundogentio.Ele“trarájustiçaàsnações”,e“Emsualeiasilhasporãosuaesperança” (Is 42.1,4). Se parece ser “coisa pequena demais” esse servoescolhido“restauraras tribosdeJacó”,ele teráuma tarefaaindamaiorparadesempenhar.Deusvaifazerdele“umaluzparaosgentios”paraqueele“leveaminha[deDeus]salvaçãoatéosconfinsdaterra”(Is49.6).Adespeitodesertão degradado, ele “será engrandecido, elevado e muitíssimo exaltado”(52.13), de forma que “aspergirá muitas nações, e reis calarão a boca porcausa dele” (52.15). Os cânticos desse servo dão testemunho da dimensãouniversal da intenção de Deus em restaurar um mundo decaído e são comfrequênciacitadosporessamesmarazãoporváriasporçõesdosdocumentosdanovaaliança(Mt12.13-21;At8.32-35;13.46-48).

Masnãoésóisso.EsseprofetavisionárioolhadiretamenteparaoEgitoeparaaAssíria,osprincipaisinimigosdanaçãodosseusdiasaosuleaonorte,eousacolocá-losjuntocomsuapróprianaçãodeIsraelcomopropriedadesdoSenhor!Dáparaimaginar?“NaquelediahaveráumaltardedicadoaoSENHORdaAliançanocentrodoEgito”(Is19.19).UmcaminhodiretamentedoEgitoaté a Assíria, de forma que esses dois inimigos de Israel possam viajartranquilamentedeumladoparaoutro,passandoporJerusalém,paraadoraroSENHOR da Aliança juntamente em seus próprios países (19.23). Emdecorrência disso, “Israel será ummediador entre o Egito e aAssíria, umabênçãonaterra.OTodo-poderosoSENHORdaAliançaosabençoará,dizendo:‘BenditosejamoEgito,meupovo,aAssíria,obrademinhasmãos,e Israel,minhaherança’”(19.24,25NVI).

Outra confirmação dessa dimensão universal da futura expectativa deIsaíasseencontraemsuadeclaraçãodequeacasadeDeusseráchamada“casade oração para todos os povos” (Is 56.7b NVI; veja também Mc 11.17).Nenhum estrangeiro será jamais impedido de pertencer ao seu povo. OpróprioDeustomaráainiciativadetrazerparasuacasatodososestrangeiros

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queamamseunomeevaidar-lhesalegriaemsuacasadeoração(Is56.6,7a).É espantoso que essas predições da inclusão sincera das nações gentias

com seu povo ocorressem exatamente nos dias em que a violenta nação daAssíriaestavainvadindoaterradeIsrael.Masnãoseriaapropriadoatribuirdeformaarbitráriaessasprediçõesarespeitodainclusãodosgentiosaumtemposubsequentedahistória israelita.Emtodocaso,essaspassagensdediferentesporções de Isaías apresentam forte testemunho da genuína expectativa dosprofetasdeIsraelcomrespeitoàfutura inclusãodomundogentionoâmagodavidaeadoraçãodanaçãoescolhida.24

Essa tradição da inclusão dos gentios nas futuras bênçãos do Senhor éconstante no testemunho dos profetas do século VII anteriores ao exílio. OreinodeJudáencontra-seagoraàbeiradoexílio.PelofatodanaçãoemsuahorademaisprofundaagoniatersetornadoobjetodezombariaporpartedeMoabe,JeremiaspronunciaadesgraçadoSenhorsobreessanação(Jr48.27-46).Masdepoisde46versículosdeseveracondenação,umasúbitamudançadeperspectivaapresentaaprediçãodequeoSenhorvai restaurara sortedeMoabe nos dias futuros (Jr 48.47). A mesma mudança futura aparece napalavradoSenhorarespeitodeAmomeElão(Jr49.6,39).

AideiadoSenhorrestaurarasortedasnaçõesnãoisraelitaséaindamaisnotável pelo fato de Jeremias com frequência usar amesma expressão paradescreverarestauraçãodoseupovoIsrael(Jr30.18;32.44;33.11;33.25,26).Todas as bênçãos da restauração que pertencem à nação de Israel o Senhoroferece da mesma forma a todas as outras nações e povos que surgem nahistóriadomundo.

AantecipaçãodequeDeusvairestaurarasortedasnaçõesnãoisraelitasnão se restringe a esses casos específicos, mas faz parte de um programadefinido.Jeremiasaplicasuapalavrachavedesarraigar a todosos“vizinhosqueseapoderam”daterradeIsrael:“Mas”,dizoSENHORdaAliança,“depoisde arrancá-los, terei compaixão de novo e os farei voltar, cada um à suapropriedadeeàsuaterra.Eseaprenderemacomportar-secomoomeupovo,e jurarempelonomedoSenhor, ...entãoelesserãoestabelecidosnomeiodomeupovo”(Jr12.15,16NVI).

ComoémaravilhosaessaperspectivadeJeremiasarespeitodofuturo!AoportunidadedeseremrestauradasaofavordeDeuseestabelecidasentreseupovoeleitoéinequivocamenteoferecidasemdiscriminaçãoatodasasnações.Asnaçõesquepecaramdapiorformapossívelemseumodobrutaldetrataropovo de Deus em sua hora de maior necessidade são declaradas comorecipientes dessas promessas da restauração. Além disso, o Senhor anunciaque,nomomentoemquealgumanaçãooureinosearrependerdoseumal,Ele

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não infligirá a desgraça que tinha planejado contra ela (Jr 18.7,8). Essaspessoas eram totalmente merecedoras de destruição por parte da mão doSenhor, mas em sua compaixão Ele se dispôs a perdoá-las se apenas searrependessem do seu mal. O próprio Jeremias havia testemunhado comotinhamtratadomalopovodeDeus,eaindaassimemnomedoSenhorelelhesofereceamesmasalvaçãoqueofereceaIsrael.

EmNaumeemHabacuque,nãoseencontranadadessetipodepromessaderestauraçãoparaasnaçõesdomundo.MasdemodosemelhanteaJeremias,seucontemporâneoSofoniaspredizqueojuízodoSenhorcairásobreMoabee Amom. Mas ele termina dizendo que as “nações de todo o mundo oadorarão,cadaumaemsuaprópriaterra”(Sf2.11bNVI).Olhandoaindaparahorizontesmaisdistantes,esseprofetaantecipaodiaemque,depoisdosjuízospurificadores do Senhor, os lábios dos povos serão purificados, “para quetodos eles invoquem o nome doSENHOR da Aliança e o sirvam de comumacordo” (3.9).Do interior do continente daÁfrica, desde “alémdos rios daEtiópia”,osverdadeirosadoradoresdoSenhor lheapresentarãosuasofertas(3.10).

Adespeitodesofreremeesperaremasdevastaçõesfeitascontraopovode Deus pelas brutais nações vizinhas, os profetas anteriores ao exílio deformaunânime testificamagraçadeDeusordenando restauraçãoparaessasmesmasnações.Deformaalguma,Israelseráoúnicopovorestauradodepoisdo juízodivino.Essapromessaeessaesperançaestãodisponíveisa todasasnaçõesdomundo,mesmoaospovosmaiscruéis.

2.AinclusãodosgentiosdaperspectivadoexílioEzequieleDaniel,osprofetasdeIsraelqueparticiparampessoalmentedo

exíliodanação,obviamenteenxergamasnaçõesdomundodeumaperspectivadiferentedosprofetasanterioresaoexílio.Emvezdeolharemparaasnaçõesdomundodedentrodanaçãoprometida,essesdoisservosdoSenhorexercemseuministério profético enquanto vivem dentro do território de uma naçãonãoisraelita.Écomoseelestivessemsidoengolidospelasvastasregiõesdosgrandesimpériosmundiaisdasuaépoca.Como,então,elesveemainclusãodenaçõesque sãomuitomaioresemuitomaispoderosasdoquea suapróprianaçãodeIsrael?

Assimcomoofazemosprofetasanterioresaoexílio,Ezequielantecipaum futuro para o Egito que envolve dispersão e ajuntamento, exílio erestauração, de forma semelhante à experiência de Israel. Por causa da suadeclaraçãoirreverente–“ONiloémeu;euofiz”(Ez29.9NVI)–osegípciosserãodispersosentreasnaçõeseespalhadospelospaíses(29.12).Mas,depois

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de 40 anos, os egípcios serão recolhidos outra vez para sua própria terra(29.13,14).Mas oEgito vai permanecer para sempre “um reino humilde... enunca mais se exaltará sobre as outras nações” (29.14,15). Em decorrênciadisso,oEgito jamais seráoutravezuma fontede confiançaparaopovodeIsrael e será uma lembrança do pecado das nações que se fiamnos podereshumanosemvezdeconfiarememDeus(29.16).

OexílioearestauraçãodoEgitodeformasemelhanteaotratodoSenhorpara com Israel antecipa a visão final de Ezequiel de um novo templo comuma correspondente nova distribuição de terras para o povo de Deus. Masagora a partilha da terra na visão precisa incluir tratamento igual para osestrangeirosqueestãoem Israel.A terraprecisa ser repartida comoherançaparaos israelitas “eparaos estrangeiros residentesnomeiodevocês e quetenham filhos” (Ez 47.22aNVI). Não apenas comomedida temporária, masparaasgeraçõesvindouras,osgentiosparticiparãodaherançadeIsrael.Aindamaisespecificamente:“Vocêsosconsiderarãocomoisraelitasdenascimento;juntocomvocês,aelesdeveráserdesignadaumaherançaentreas tribosdeIsrael” (47.22b).Nãonumaespéciedeguetodegentios,mas: “Qualquerquesejaatribonaqualoestrangeiroseinstale,alivocêslhedarãoaherançaquelhecabe” (47.23).Oestrangeironãodeve simplesmente ser toleradoentreopovo restaurado de Deus. Pelo contrário, ele deve receber herança igualjuntamentecomoIsraelrestaurado.

DeacordocomEzequiel,asituaçãofinaldascoisasseráa inclusãodosgentios ao lado de Israel. Sua predição do futuro, embora apresentadaconforme o único molde que ele conhecia – o molde dos tipos da antigaaliança – tende a romper nummolde totalmente diferente das realidades danova aliança. A oposição entre a inclusão dos gentios e a exclusividade doIsraeldaantigaaliança torna-sevisívelquandosecomparaaantigavisãodeEzequiel sobre a glória de Deus se manifestando dentro do território daBabilônia (Ez 1.1,2) com a visão final do retorno da glória ao templorestaurado,quenãopodesercontidodentrodopequenoespaçodomonteSiãode Jerusalém (42.15-19). Assim, a profecia de Ezequiel no tempo do exíliopodeservistacomoexercendoumafunçãodetransiçãoentreacontinuidadedoexclusivismodaantigaaliançadeIsraeleavindadabênçãorestauradoradeDeussobreomundogentio.

ApalavrabestialatendeàdescriçãoqueDanielfezdatiraniahumanaqueele experimentoucomoexiladono imponente impériodaBabilônia.Emseusonho,elevêquatrograndesanimais,cadaumdiferentedosoutros,saindodomar (Dn 7.3). Esses animais representam poder terreno, manifestando arapidezdeumleopardoeumaáguia,juntocomaferocidadedeumursoede

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um leão (7.4-6). Esses animais aterrorizam e amedrontam, despedaçam edevoram (7.7). Mas o Ancião de Dias assenta-se em seu trono soberano, otribunalcomeçaojulgamento,osanimaissãodespojadosdetodaautoridade,ea sua última figura representativa é morta, e seu corpo lançado num fogoflamejante (7.9-12). Então, alguém comparado ao primeiro Adão (“alguémcomoumFilhodoHomem”)vememseuesplendornasnuvensdocéu (7.13).ElefoilevadoemtriunfoàpresençadoAnciãodeDiase“recebeuautoridade,glória e o reino; todos os povos, nações e homens de todas as línguas oadoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reinojamaisserádestruído”(7.14).

OqueseráqueoexiladoDanielantevêemtermosdofuturodasnaçõesdomundo?Elepredizdiasemqueospoderesgovernamentaisvãoesmagar,devorarepisotearoutrasnaçõesdomundo,aomesmotempoquevãotravarguerra contra os santos de Deus e derrotá-los (Dn 7.19,21). Esses santossofredoresserãoentreguesaoanimal“porumtempo,temposemeiotempo”(7.25).Mas,nofinal,asoberania,opodereagrandezadetodosessesreinosserão tirados deles e entregues aos santos, o povo do Altíssimo (7.26,27a).Essereinoculminanteduraráparasempre,etodososgovernantesadorarãoeobedecerãoaoDeusAltíssimo(7.27b).

DamesmaformaqueolivrodoApocalipse,Danielantecipaasequênciadegovernosanimais(bestas)quesurgemdentreamultidãodahumanidadequepelejacontraopovodeDeusduranteaseraseosconquistam(Ap13.7).Mas,nofinal,prevaleceo indestrutível reinodeDeus,epovosde todasasnaçõessãotrazidosemsubmissãoaalguémcomparadoaoprimeiroAdão(“alguémsemelhante ao Filho doHomem”), (Ap 14.14ACF). No final das contas, asnaçõesandarãonaluzqueéidentificadacomooCordeirodeDeus,eosreisdaterratrarãoseuesplendoraoseutemplo(Ap21.22-24).

3.AinclusãodosgentiosdaperspectivaposterioraoexílioAexpressão“coisaspequenas”podeservircomodescriçãoapropriadada

nação, do templo e do povo do período da restauração (Zc 4.10). A naçãoestava confinada a uma porção bem pequena do antigo império de Judá; asdiminutasdimensõesdotemplorestauradotrouxeramlágrimasaosolhosquetinhamvistoamagnificênciadotemplodeSalomão;eopovorestringia-seapouco mais de 49.000 pessoas. Essa esforçada comunidade, que haviamostradoadisposiçãodearriscar-searetornarparasuaterradevastada,nãotinhaopçãoanãosercontinuarcomogovernofantochesobodomíniopersa,depoisgrego,edepoisdebaixododomínioromano.ArevoltasobaliderançadosMacabeusfoiapenasumarápidaimagemluminosanateladoradardasua

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contínuasujeição.Asobrevivênciacomopovodeidentidadecaracterísticaeratudo a que eles podiam aspirar de forma razoável. Qual era a atitude, aexpectativa, e a predição dos profetas da era da restauração no início doperíododoano600a.C.,queterminoucomosromanosdestruindoJerusalémem70d.C.?

A lembrança da famosa afirmação de Zacarias a respeito das “coisaspequenas” dá o tom. O povo da restauração não deve desprezar o dia dascoisas pequenas (Zc 4.10). Em vez disso, a filha de Sião deve “cantar ealegrar-se”,poisoSenhorestávindo.Emdecorrênciadisso:“Muitasnaçõesse unirão aoSENHOR da Aliança naquele dia e se tornarão meu povo” (Zc2.10,11NVI).“Gentedelonge”,provavelmentesereferindoaospovosgentios“viráajudaraconstruirotemplodoSENHORdaAliança”(Zc6.15NVI).ComoexplicaAgeu,contemporâneodeZacarias,Deusfarátremertodasasnações,easriquezasdasnaçõesencherãodeglóriaacasadoSenhoremJerusalém(Ag2.7).

Que audácia! Que corajosa antecipação do futuro por parte dessesprofetas que viveram nos dias das “coisas pequenas” posteriores ao exílio.Vivendo no meio da contínua dominação dos superpoderes mundiais, apredição desses profetas é que as nações de todo o mundo prometerão suafidelidade aoDeus de Israel, de forma que se tornarão seu povo juntamentecomosjudeus.MasMalaquias,comoaúltimavozproféticadaeradaantigaaliança, reforça essa mesma mensagem, embora com uma característicadiferente.OnomedoSENHOR daAliança de Israel é grande entre as nações“do oriente ao ocidente”. Em todos os lugares do mundo, não apenas emJerusalém “incenso é queimado e ofertas puras são trazidas” em nome doSENHORdaAliança,“porquegrandeéomeunomeentreasnações”(Ml1.11NVI).

Será que esses profetas da restauração passaram dos limites? Será quefalaram em termos exagerados que não tinham como se cumprirem?Certamente, se insistirmos na concretização política, étnica e geográficadessasprofecias,ahistóriadosúltimos2.500anosnãoseráanimadora.Massereconhecermos que a forma simbólica do reino de Deus encontra suaconcretização adequada nas realidades do reino da nova aliança conformedefinidasporJesusoCristodeDeus,entãotodageraçãodesdeasuavindatemvistoumcrescentecumprimentodapreditaexpansãodoreinodasaliançasdeDeus.Umnovocoração,umEspíritoderramado sobre todacarne,umpovopurificado,zelosodeboasobrasergueu-seemtodososcantosdesteuniverso.Dotempodoministériodosapóstolosaomundoconhecidodasuaépocaaté

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nossos dias, gente de todas as nacionalidades tem adorado o SENHOR daAliançadeIsraelconformeEletemsidoconhecidonapessoadeJesusCristo.

NumestudomaisminuciosoarespeitodessavisãogeraldainclusãodasnaçõesgentiasnaredençãoerestauraçãodeIsrael,pode-seperguntar:Qualé,então,omistérioarespeitodainclusãodosgentiosaquePauloserefere(Ef3.3,4)?Esse apóstolo aos gentios declara abertamente que aquilo que estavaacontecendoemseusdiascomrespeitoàinclusãodosgentios“nãofoidadoaconheceraoshomensdoutrasgerações” (Ef3.5NVI).Masevidentementeosprofetas da antiga aliança em cada novo estágio da história de Israel comfrequênciapredisseramumaextraordináriainclusãodasnaçõesgentias.Então,qualéomistérioaquePauloserefere?Obviamente,paraosprofetasnãoeraummistérioqueosgentiosseriamredimidoserestauradosjuntocomIsrael.

O próprio Paulo explica a natureza desse mistério desconhecido pelosprofetasporumatriplarepetiçãodomesmoconceito.Suaprópriaexplicaçãodo mistério é que os crentes gentios se tornaram “coerdeiros com Israel,membrosdomesmo corpo, e coparticipantes da promessa” de Deus (Ef 3.6NVI)–emnenhumsentidoparticipantesempartedaspromessasfeitasaIsrael,mas participantes plenos, iguais, totalmente unos com os crentes judeus emtodas as promessasdeDeus.Essa era a verdadequeos antigosprofetas nãoconseguiam perceber, apesar da semente da futura realidade ser inerente àssuaspredições.EssasemostrouadoutrinadanovaaliançamaisdifícildeserentendidaatémesmoparaosapóstolosdeJesus.Atéhojeaigrejatemgrandedificuldadede entender asplenas implicaçõesdesse fatodadisseminaçãodoEvangelho pelo mundo gentio. Toda promessa feita a Israel agora pertenceigualmente a todo crente gentio enxertado em Cristo. Nada em termos depromessas redentoras e restauradoras permanece como possessão exclusivado povo judeu. Qualquer coisa do futuro que pertence aos crentes judeuspertenceigualetotalmenteaoscrentesgentios.

AindahojeexistemleitoresdaspalavrasdePauloquetêmdificuldadedeassimilar seu sentidopleno, a despeitodos2.000 anosque têmcomprovadosua veracidade. A Igreja assumiu por tanto tempo que alguma dispensaçãoespecialpertencedeformadistintaaopovoisraelitaquecontinuaapropagaressa ideia errônea.Mas as declarações do apóstolo inspirado são claras:Osgentios são igualmente herdeiros, igualmente participantes, igualmentepossuidoresdaspromessasdeDeusjuntocomoscrentesjudeus(Ef3.6).EsseéomistérioqueprecisaserplenamentecompreendidopelaIgrejahoje,seelaquiser comunicar de forma apropriada às nações do mundo o grandeEvangelhodanovaaliança.

Adescriçãoextraordináriadainclusãodosgentiosconduznaturalmenteà

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categoriafinaldaprofeciapreditivaentreosprofetas,oassuntodasprediçõesdelongoprazo.

D.PrediçõesdelongoprazoA preocupação dos profetas de Israel com respeito ao futuro não se

restringia de forma alguma às circunstâncias da sua própria época. Aocontráriodaantigaideiadequeosprofetaseramapenashomensdasuaépoca,esses homens de Deus com frequência antecipavam eventos que sedesenrolariamemocasiãonãoespecificadano futuro.É ingenuidadesugerirqueasantecipaçõesreferentesaumfuturonãoespecificado,epossivelmentedistante,não sejam relevantesquandoconfrontadascomavidacotidianadaspessoas. A consciência de cada ser humano o alerta que em algum diadesconhecidodofuturoeleterádeprestarcontasarespeitodetudooquefez,querbem,quermal.Ohomempodeescolhernãolevaremcontaessesavisosinerentesàsuapsique.Ofatodessediadeajustedecontassetornarrealidadeem algum momento do futuro desconhecido de forma alguma tornairrelevanteessediaaguardado.Félix,ogovernadorromano,tremeudiantedoseuprisioneiroPauloquandoeste falouda justiça,dodomíniopróprioedojuízo vindouro (At 24.25). Mesmo que a mensagem cristã da prestação decontasdiantedeDeusapresenteaocasiãoprecisadojuízodeDeuscomoumevento do futuro incerto, o conceito desse dia decisivo pode exercer umpoderoso efeito no comportamento diário das pessoas. Além disso, aiminência da prestação de contas por parte do homem também precisa serlevadaemconta.Dopontodevistaprofético,ninguémsabeahoraouodiaquandoacadeiadeeventos relacionadoscomosúltimosdiascomeçaráa sedesenvolver. Na verdade, o drama do fim dos tempos já começou (Hb 1.2;9.26; 1 Pe 1.20). A possibilidade do fim dos tempos é um fator semprepresente,comoqualsempresedevecontar.Poressarazão,asprediçõescomrespeito a um futuro desconhecido, possivelmente de longo prazo, serãorelevantes para cadageração, assimcomoo foramnosdias dosprofetas deIsrael.

Essas predições dos profetas a respeito de um futuro indefinido,possivelmentedelongoprazo,nãosãodeformaalgumarestritosaosúltimosdias da profecia do Antigo Testamento. A ideia de um gênero apocalípticotardiamente desenvolvido que assume o lugar de formas proféticas maistradicionaisnãoécompatívelcomaevidênciadosprópriosprofetas.Logonoinício,Amósteveavisãodosolsepondoaomeiodiaeaterraescurecendoemplenaluzdodia(Am8.9);Isaíasdescreveasestrelasdocéusedissolvendoeo céu se enrolandocomopergaminhonodia emqueDeus julgar todas as

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nações(Is34.4);eJoelantecipousangue,fogoefumaçaassociadoscomodiaquando Deus derramará seu Espírito sobre toda carne (Jl 2.28-30). Essasterríveisprediçõesfalamdeumfuturo indefinidodaobraredentoradeDeusnomundo. Embora distribuídas ao longo de 200 anos de atividade literáriaprofética, as predições de longo prazo dos profetas de Israel têm muitascaracterísticasemcomum.

Em primeiro lugar, essas antecipações proféticas de um futuro nãoespecificado mas possivelmente distante são com frequência escatológicas,terminais, e muitas vezes ligadas a desastres da natureza. Elas envolvemtransformações sobrenaturais domundo conformeo conhecemoshoje.Umacaracterísticarecorrentenessasprofeciaséaperturbaçãodoscorposcelestes.Sol, lua e estrelas deixam de brilhar (Am 8.9; Is 13.10,13 [veja tambémMt24.29;Mc13.24,25]; Is24.23;30.26;34.4;60.19,20; Jl2.31;3.15;Ez32.7,8[vejatambém2Pe3.10;Ap21.23]).Simultaneamente,aterratremeàmedidaquesofretransformaçõesterríveis(Is2.19c,21c;5.25b;Jl2.10;Ag2.6,7,21,22;Zc 14.4-6). A fertilidade da terra aumenta de tal forma que ela produzquantidades imensuráveis. A colheita é tão grande, que o ceifeiro não temtempoadequadoparajuntarsuacolheitaabundanteantesqueoaradorcomecearasgarosoloparaapróximaplantação(Am9.13).OsdesertosdaPalestinasão transformados,de formaqueárvores,plantaseanimaisprosperamondeantes só havia aridez (Is 35.1,2,6,7). O monte Sião se eleva da sua poucaaltitudeacimadosmontesqueocercam,aopassoqueomontedasOliveirassedivide nomeio, numvale que vai de Jerusalém até omarMorto (Is 2.2;Zc14.4,5,10). Uma fonte jorra do templo em Jerusalém, expande-se nas maisamplasdimensões imagináveispelodeserto judeu,epurificaomarSalgado,deformaqueaságuasanteriormentemortaspululemdetodotipodepeixe(Ez47.1-12;Zc14.8).

Embora a palavraapocalíptica seja normalmente usada para identificarprofecias desse tipo, a palavra cataclísmica talvez seja um termo descritivomelhor.Aideiadoapocalípticopassouaterumafamaumtantoirreal,quenãocabe bem às expectativas genuínas dos profetas bíblicos.25 Apesar de váriosfatoresindicaremqueosprofetasnãoesperavamquesuasimagenspoéticasdofuturo tivessem cumprimento literal, há suficientes indicadores de realidadeantecipadaquepermeiamessasprofeciasparaexigirquesejamconsideradascomoindicativasdeexpectativasgenuínasdenaturezacataclísmica.Joeltalveznãotenhaesperadoquealuasetransformassedefatoderochaemsangue,masele antecipou uma genuína revolução cósmica (Jl 2.31). Talvez Ezequieljamais tenha pensado que seu projeto para um templo restaurado fosseexecutadodeacordocomosexatosdetalhesdasuavisão,maseleesperavaque

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no futuro Deus haveria de habitar no meio do seu povo de formadramaticamentediferentedoquetinhafeitoemqualquermomentodopassado(Ez 48.35). Essas predições dos profetas apontavam para eventossobrenaturais reais que só podiam ser concretizados pela direta intervençãodivinasemelhanteàatividadedoTodo-Poderosodurantesuacriaçãooriginaldouniverso(2Pe3.10,13).

AexpectativaproféticadoDiadoSenhorpodeseravaliadacorretamentenesse contexto. As origens do conceito do Dia do Senhor continuam sendodebatidas,emborasejapossíveltraçarsuasraízesnãoespecificamenteàfigurade Deus como um guerreiro, mas mais precisamente a Deus como autor eimpositor da aliança.26 Homem, animal, pássaro, peixe e toda a criaçãoinanimada estão obrigados ao Todo-Poderoso pelas alianças que Eleestabeleceu ao longo das épocas (Os 2.18-23; Sf 1.2,3). Essas promessaspactuaiscomeçaramcomacriaçãoevãotersuaconcretizaçãofinalnoDiadoSenhor,emqueElerenovaráaterraetrarátodaahumanidadeàsuapresençapara o juízo final. Esse dia será concretizado não como um período de 24horas,mascomoumaeraecomoumespaçonotempoemqueoSenhorfarácumprirasbênçãoseasmaldiçõesdasuaaliança.27

Ofuturodesconhecidodahumanidade edouniverso encontrará, assim,sua concretização final pela intervenção cataclísmica, sobrenatural doTodo-Poderoso Deus Criador quando Ele finalmente cumprir seus propósitoseternos. Os profetas de maneira consistente buscavam uma manifestaçãoextraordináriadoenvolvimentodivinonocursodestemundonoaugedaseras.

Emsegundolugar,essaantecipaçãoproféticadeumatotaltransformaçãoda ordem mundial encontra-se arraigada firmemente ao mesmo tempo nahistória e na antiga estrutura da obra redentora de Deus. Ezequiel e Danieltinham testemunhado por simesmos através de sonho e visão a intenção doSenhor dedesenvolver seuspropósitos redentores na esferamais ampladosimpérios gentios. Mas a expectativa deles a respeito do futuro no final dascontassevoltaparaIsraelcomoterraepovo.OtemplodavisãodeEzequiellocaliza-seemumaltomontenaterradeIsrael(Ez40.2).Avisãoculminantede Daniel sobre as setenta semanas que antecipam todo o curso da históriahumana começa com sua consciência de que os 70 anos do exílio de IsraelconformepreditosporJeremiasestãoprestesaacabar,deformaqueopovocativoestáprestesaretornarparasuaprópriaterraprometida.EssaorientaçãoparacomIsraelcomoterraepovosevêcomfrequênciarefletidanosescritosdos profetas quando antecipam os eventos cósmicos que afetam o futuro.Aintervençãosobrenatural,cataclísmicadoSenhornofuturoocorreránotempoe na história e em íntima conexão com seu relacionamento passado com a

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sementedeAbraão,osdescendentesdeDavi,acidadedeJerusalém,eaterradeIsrael.

Como poderiam ter os profetas de antigamente ter concebido suasexpectativasa respeitodo futurodeoutra forma?Eles falarama respeitodofuturo desconhecido de acordo com aquilo que conheciam a respeito dopassado.ODeusdoseupassadohaveriadeconduzirnofuturoseuspropósitosoriginais até sua final concretização. Possivelmente, esses alvos divinosseriam alcançados de forma semelhante às experiências de redenção que anaçãotinhaprovadonopassado.Nãosedeviaesperarqueosprofetasfalassemàpartedocontextodas figurasdaantigaaliançaqueeramseu referencial, eeles nem podiam fazê-lo, visto que ainda não conheciam a linguagemmaisprecisadasrealidadesdanovaaliança.

Aomesmo tempo, suas expectativas a respeito do futuro romperam asamarrasdaantigaaliança.OtemplodeEzequielnãocabesobreomonteSião,mas se estende pelos vales de Cedrom e do Tiropeon por causa do seutamanho gigantesco (Ez 42.15-19; veja o capítulo 10, § II.B.3.f(2)). Zacariasdescreve a futura Jerusalém como uma cidade sem muros por causa donúmero dos seus habitantes e aomesmo tempomenciona ummurode fogoqueacerca (Zc2.2-5).Aprópriamaneirade seexpressaremcomrespeitoàconcretização do futuro significava que, apesar de ancorarem suasexpectativasnopadrãotradicionaldasantigasobrasredentorasdeDeus,essesprofetastambémentendiamquealgomaioremaisamplodoqueseupassadoestavaadiantedeles.Atensãoentreocaráterlimitadodo“já”easexpectativasilimitadasdo“aindanão”nãoocorreramaprimeiravezcomosurgimentodaescatologiadanovaaliança.Suasraízesestãofirmementefundamentadasnasexpectativasdofinaldostemposdosprofetasdaantigaaliança.

Um terceiro elemento das expectativas de longo prazo dos profetas deIsraeléqueelesmesmosnãoeramcapazesdeperceber totalmenteoalcancedas suas próprias mensagens. Quando terminou de receber sua revelação arespeito da restauração de Israel depois do seu exílio, o profeta Jeremiasrecebe a informação: “Em dias vindouros vocês compreenderão isso” (Jr30.24cNVI).Essaafirmaçãoclaramenteimplicaqueaplenacompreensãodoprofeta a respeito da sua própria predição teria de aguardar até que fossecumprida.Daperspectivadecurtoprazo,Jeremiasmostrasuaperplexidadearespeito do significado da Palavra do Senhor a ele dirigida com respeito àcompradapropriedadedoseutioquandoosbabilôniosestãoprestesatomarJerusalémcomoaúltimaresistênciadeJudá.Elesedesconcertacomarazãode ser da ordem ilógica do Senhor: “Ainda assim, ó Soberano SENHOR daAliança, tumemandaste comprar a propriedade e convocar testemunhas do

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negócio,emboraacidadeestejaentreguenasmãosdosbabilônios[conformeTudecretaste]!”(Jr32.25NVI).JeremiasnãotemdúvidadequeessainstruçãovemdapartedoSenhor.Maselenãoconsegueentendê-la.Comoprofetaemprisãodomiciliar,porquedeveriaeleinvestirapoucapratadequedispunha,quandonesse exatomomento toda a terra da nação está sendo tomada pelosbabilônios,comseushabitantessendomandadosparapaísesestrangeiros!Elenãocompreendeosdetalhesdasuaprópriaprofecia.

Jeremias só entende mais tarde. O Senhor fala outra vez e o explica:emboraopovosejalevadodasuaterra,elesnofinaldascontasvoltarão.Elestomarãopossedaterraoutravez.Aspropriedadesserãocompradasevendidasnovamente(Jr32.42-44).Finalmente,Jeremiasentendequesuacompraéumaação simbólica que antecipa a futura restauração da sorte de Israel. Mas opróprioprofetaaprincípionãocompreendeosignificadodesuaprópriaaçãoprofética.

Esseincidentepessoalnavidadeumprofetaserveparailustrarafiguramaior.Asprediçõesdofuturoqueantecipavamaconcretizaçãodospropósitosdivinosnemsempreeramcompreendidospelopróprioprofeta.Esseprincípioatua tambémemváriasprofeciasde longoprazodeDaniel.Apesardeaindajovemeletersidodotadodeespecialsabedoria,Danieltevesériadificuldadepara compreender suas próprias mensagens a respeito do tempo do fim.Depois da sua visão dos quatro animais, doAncião de Dias, e do Filho doHomem, Daniel admite que ficou “agitado em espírito”, e suas visões oalarmaram.Elefoisuficientementecorajosoparaperguntarorealsentidodassuas visões (Dn7.15,16).Depois de receber as explicações, ele ainda queriasabero sentidodeaspectos adicionaisda suavisão (7.19,20).No finaldesseprocesso,eleaindaestavaprofundamenteperturbadoemseuspensamentos,eseurostoempalideceu(7.28).

Alémdisso,nofinaldasuavisãodocarneirodedoischifresedobode,éasseguradoaDanielqueavisãoéverdadeira.Ele,então,éinstruídoaselar“avisão, pois refere-se ao futuro distante” (Dn 8.26 NVI). Em reação a isso,Daniel fica exausto e doente por vários dias. Depois ele testifica que estava“assustadocomavisão”porque“estavaalémdacompreensãohumana”(8.27NVI).Nessecaso,suavisãodofuturodistantenãoéclaraparaele.Alémdisso,elerecebeinstruçãoparaselaravisão,dandoaentenderqueelasignificaalgoparaofuturoquenãopodeserentendidonosdiasdoprofeta.

Nofinaldoseulivro,Danielrecebeainstruçãodefechar“comumseloaspalavrasdolivroatéotempodofim”(Dn12.4NVI).Muitagenteemtodolugar tenta conseguir uma compreensão adequada dessa revelação comrespeito ao futuro. Ao ouvir por acaso a mensagem de que essas “coisas

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espantosas”seriamcumpridasemum“tempo,tempos,emeiotempo”,Danieldiz: “Eu ouvi, mas não compreendi” (12.7,8). Em resposta a seu pedido deexplicações, é dito a Daniel que “as palavras estão seladas e lacradas até otempodofim”(12.9).Maslheéasseguradoquemesmoassimnenhumímpioseria capaz de compreender essa mensagem, mas os sábios a entenderiam(12.10).

Assim, as predições de longoprazo a respeito do futuro assumemumacaracterísticapeculiar.PordeterminaçãodeDeus,elasnãoserãoplenamentecompreendidas enquanto não estiverem realmente no processo de seremcumpridas.Opontoprincipaldamensagemproféticapodeserentendido,masosdetalhespermanecerãoseladosatéquechegueahora.Essepontodevistaarespeito da profecia escatológica é confirmado pelo comentário feito nasEscrituras da nova aliança, que os profetas “investigaram e examinaram,procurando saber o tempo e as circunstâncias para os quais apontava oEspírito de Cristo que neles estava, quando lhes predisse os sofrimentos deCristoeasglóriasqueseseguiriamàquelessofrimentos”(1Pe1.10,11NVI).

Emboraesseaspectodaprofeciapreditivaarespeitodofimdostemposseja um fator indiscutível, ele não deve nunca servir de desculpa paraclassificar determinadas profecias como incompreensíveis. Alguns aspectosbásicosdavisãoreveladorasempreserãocompreensíveiseaplicáveis.

Qual é, exatamente, a mensagem central dos profetas com respeito aofuturo de longo prazo? O que é que dominava a maior parte das suaspredições?Umaanálisedesseaspectodamensagempreditivadosprofetasnosconduzaopontocentraldaprofeciapreditiva:oMessiasjuntocomseupovovãosofrerdevastaçãoerestauraçãopormeiodeexílioeretorno.Detodosostópicostratadosnaprofeciapreditiva,oexílioearestauraçãodoMessiaseseupovo é de longe o mais constante, o de mais longo alcance e o maisimportante.

1Albright(FromtheStoneAgetoChristianity,17)reconhecequeele, juntamentecomamaioriadoseruditosbíblicos, subestimouoelementopreditivonaprofecia.Rowley (Servantof theLord, 125–126)tambémobservaqueafunçãodaprediçãonaprofeciabíblicaéincorretamenteminimizada.VejaBarr (Concept of Biblical Theology, 20), que afirma com respeito aos modernos pontos de vistasobre teologiabíblica: “Nos livrosproféticos,omistériodaprediçãoverbalparece ter acabado, enãoeranecessáriotrazê-lodevolta”.

2Eichrodt(TheologyoftheOldTestament,1.505n.1).3VonRad(OldTestamentTheology,2.242).

4 Ibid.,167.5Clements(OldTestamentProphecy,7).

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6Clements(ProphecyandCovenant,128).

7Clements(OldTestamentProphecy,33).8 Ibid., 34. Apesar do gênero literário do exemplo a seguir ser bem diferente, seria de admirar seClements fizesse amesma avaliação a respeito de um aluno que, depois de responder uma provaescrita em termos bem gerais, de alguma forma tivesse acesso a essa prova depois de ter sidoavaliadaeentãoacrescentasseextensosdetalhesasuasgeneralizaçõesanteriores.

9Gowan(TheologyofthePropheticBooks,9).10Ibid.,161–162.

11Fohrer(IntroductiontotheOldTestament,352).12Sawyer(“ProphecyandInterpretation”,564).

13Ibid.,565.14Carroll(WhenProphecyFailed,34–35).

15Ibid.,227n.47.CarrollcitaHartshorne(RealityasSocialProcess,161–162):“MesmoasprofeciasdeDeus teriamreferênciaàaçãocomoescolhaentreprobabilidades.Elenãoveriaaquilo ‘quevaiacontecer’,mas o conjunto de coisas possíveis, dentre as quais será escolhido aquilo que de fatoacontece.EEleveráqueumaporcentagemmaiordealgumtipodecoisasacontecerádoqueoutras,ou seja, Ele verá em termos de probabilidades. Essa parece ser a única maneira em que oconhecimentonãotornaimpossívelaliberdadehumana,ouquenãodestróiaideiareligiosadeDeuscomoperfeitoembondadee sabedoria”.Umavezmais, é espantosoquealguém imagine saberdeformatãoprecisaamaneiracomoDeusvêofuturo.

16Vos(BiblicalTheology,251).

17VonRad (Old Testament Theology, 2.40–45) vaimuito além das tradições críticas anteriores emsuasafirmaçõesarespeitodaatividadeescritadosprofetas.MasvaialémdaevidênciaexegéticasuaconclusãodequenestapassagemIsaíasestásendodispensadodeseuofícioprofético.

18VejaVos(BiblicalTheology,251).

19Umaalteraçãomuitopequenado textohebraicofazadiferençaentreessesdoisprovérbios,oquetornaoassuntodamudançaaindamaispungente.

20 Para uma equilibrada abordagem das questões relacionadas com as predições condicionais, vejaPratt(“HistoricalContingencies”).

21VejaadiscussãodesseassuntoemFairbairn(InterpretationofProphecy,58–82).22Freedman(“BetweenGodandMan,”61–62).

23TodasascitaçõesbíblicasdesteparágrafosãodaNVI.24Os textos bíblicos de Isaías já discutidos de forma alguma exaurem suas predições a respeito dainclusãodosgentios.Háoutraspassagensquefazemisso:Isaías14.1;17.7,8;18.7;23.18;24.14–16;25.6–8;27.6;60.3–16;66.19–21.

25Édifícil definir a relação entreoprofético eo apocalíptico.Childs (Biblical Theology of theOldandNewTestaments,182)discuteosrecentesesforços“detraçarocrescimentohistóricodaprofeciado exílio, por meio de escritos protoapocalípticos até o pleno apocalipcismo”. Ele conclui: “Emsuma,aprópriatradiçãobíblicaprovêainformaçãonecessáriapormeiodaqualsepodetraçarcomprecisão o crescimento do profético para o apocalíptico” (183). Para uma bibliografia da literaturaapocalípticaemgeral,vejaVanGemeren(InterpretingthePropheticWord,410–411,523n.32).

26VejavonRad(“OriginoftheConceptoftheDayofYahweh”).ApropostadevonRaddeencontraraorigemdoDiadoSenhornafiguradeDeuscomoumguerreironãoabrangetodososaspectosdoimpacto transformador universal do Dia do Senhor. Para a sugestão de que a aliança em seus

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momentos iniciais e de reforço fornece a origem do Dia do Senhor, veja Robertson (Nahum,Habakkuk,andZephaniah,266–269).ODiadoSenhoréomomentoemqueEledeclaraereforçaseusenhorio,oqueéequivalenteaodiaemqueEleiniciaereforçaseurelacionamentopactualcomseupovo,comahumanidadeecomomundo.

27AsprincipaispassagensdasEscriturasdaantigaaliançaque lidamcomoDiadoSenhoraparecemrepetidamente no decorrer dos séculos: Amós 5.18-20 e Isaías 2.12-21 no século VIII; Sofonias1.7,14-18noséculoVII;eMalaquias4 noséculoV.AsreferênciasdeJoel(1.15;2.1-17)podemserdatadascomoasdoprofetamaisantigoouasdomaisrecente,emborasejapreferívelumadatamaisantiga.A referência ao assunto nas Escrituras da nova aliança incluemAtos 2.17-21 (citando Joel2.28-32); 1 Tessalonicenses 5.2; 2 Tessalonicenses 2.2; 1 Coríntios 1.8; 5.5; 2 Coríntios 1.14; 2Timóteo4.8;2Pedro2.9;3.10.

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OEVENTO CENTRAL

DO MOVIMENTO PROFÉTICO DE ISRAEL

O EXÍLIO E A RESTAURAÇÃO determinaram o aspecto central da história domovimentoproféticodeIsrael.Oexílioearestauraçãodanação,incluindoadevastaçãoearestauraçãodoseureimessiânicojuntocomseupovo,foramtão importantes como os eventos da formação original do povo eleito: ochamadodeAbraão,oêxodo,eainauguraçãodaaliançanoSinai.Pormeiodo exílio e do retorno, o rei ungido de Israel – seuMessias junto com seupovo–experimentaramadevastaçãoearestauração.

O que poderia sermais radical?O que poderia significar tudo isso?Agigantescatarefadosprofetaseraanteciparoexíliopormeiodedeclaraçõespreditivasedessaformaprepararopovoparaessechoqueinimaginável.Aomesmotempo,suatarefaeramanteraesperançanospropósitosredentoresdelongo prazo do SENHOR da Aliança predizendo um retorno do abismo doexílio. Por essa razão, esses dois grandes eventos, o exílio e a restauração,tornaram-seopontocentraldasprediçõesdosprofetas.

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I.Aimportânciadasprofeciasarespeitodoexílioedarestauração

Onúmerodeprediçõesarespeitodoexílioedarestauraçãonosprofetas,porsisó,podeservircomoclaroindicadordasuaimportância.Sefizermosumacomparação,nãomaisde25profeciasespecíficasarespeitodoMessiasvindouro podem ser claramente identificadas nos escritos dos profetas deIsrael. Por outro lado, quase 200 predições a respeito do vindouro exílio erestauraçãoocorremnomesmocorpodeliteraturaprofética.EssasprediçõesestãoespalhadasdeIsaíasatéDaniel,deOseiasatéMalaquias.Dificilmenteumlivroproféticodeixade incluiralgumaantecipaçãoa respeitodoexílioedarestauração.1

A característica penetrante dessas predições a respeito do exílio e darestauraçãoéressaltadapeloamplocostumedereforçarasaçõeseasfigurasdelinguagemproféticas.Emdeterminadaocasião,JeremiasquebraovasodebarrodeumoleironovaledeBen-Hinomeproclamaaopovo:“AssimdizoSENHORdaAliançadosExércitos:Assimcomosequebraumvasodeoleiro,que não pode ser mais restaurado, quebrarei este povo e esta cidade, e osmortos em Tofete serão sepultados até que não haja mais lugar” (Jr 19.11NVI).Quebrarpublicamenteovasodebarro comoacompanhamentovisívelda mensagem do exílio deve ter produzido vívida impressão nos quetestemunharamofato.Deusdefatofariavirocativeirodoseuprópriopovoadespeitodasuafalsasegurança,fundamentadanapresunçãodequeapresençadeDeussempreosconservarianosantotemplodeJerusalém.

De forma semelhante, o Senhor ordenou que Jeremias comprasse umcinto de linho e o colocasse na cintura paramostrá-lo ao povo.Depois, elerecebeuaordemdeiraPerate(possivelmenteoEufrates)eesconderocintona fenda de uma rocha.Muitos dias depois, ele recebe uma terceira ordem:deve retornar e resgatar seu cinto. A essa altura, o cinto estava podre etotalmente inútil (Jr13.1-7).Opovodeve tervistoessecintovistosoquandoJeremiasocolocounacinturadepoisdecomprá-lo.Elesagoraveemosrestospodres dessemesmo cinto depois de ter sido abandonado em “exílio”. Essarepresentação profética descrevia a deportação de Judá de seu país. Assimcomooprofetahaviacolocadoessevistosocintodelinhonacintura,assimoSENHORdaAliançatinhafeito“comquetodaacomunidadedeIsraeletodaacomunidadedeJudá”seapegassemaEle(Jr13.11NVI).Elaseramseupovopara sua honra e louvor.Mas agora Ele arruinaria “o orgulho de Judá e oorgulho desmedido de Jerusalém” porque tinham ido atrás de outros deuses(Jr13.9,10NVI).ElessetornariamcomoocintoestragadodeJeremias–sem

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nenhumaserventia.Umterceiroexemploderepresentaçãoproféticaparareforçarpredições

arespeitodoexílioedarestauraçãofoiofatodeJeremiascomprarterrasbemnomomentoemqueo reiNabucodonosordaBabilôniaestavagolpeandoasportasde Jerusalém (Jr32.1,2,6-12).OpobreprofetanãoentendeporqueoSenhorquerqueelecompre terranessemomento inoportuno.A respostadoSenhor não demora a vir: “Porque assim diz o SENHOR da Aliança dosExércitos,Deusde Israel:Casas, campos evinhas tornarão a ser compradosnesta terra” (Jr 32.15 NVI). Nessa mesma época, o rei Zedequias estavazombando do profeta a respeito das suas predições a respeito do juízovindouro.AaçãoproféticadeJeremiasdecomprarpropriedadesfaloumelhordoquepalavrasarespeitodaexpectativadarestauraçãodeIsrael,mesmoqueissonãotivesseinfluenciadoorei.Ofatodoprofetainvestirempropriedadesdemonstroudeformavisívelqueelecriaplenamentequesuamensagemsobrea restauração depois do exílio tinha vindo da parte do Senhor e não de simesmo.

Encontramos maior reforço a respeito da centralidade das profecias arespeito do exílio e da restauração nas vívidas figuras de linguagem usadasparacomunicaramensagem.Deusvaifazeropaísretrocederaocaosanterioràcriaçãodomundo:“Olheiparaaterra,eelaerasemformaevazia;paraoscéus, e a sua luz tinha desaparecido. Olhei para os montes e eles tremiam;todasascolinasoscilavam.Olhei,enãohaviamaisgente;todasasavesdocéutinhamfugidoemrevoada.Olhei,eaterrafértileraumdeserto;todasassuascidadesestavamemruínaporcausadoSENHORdaAliança,porcausadofogodasuaira”(Jr4.23-26NVI).

Alémdisso, o Senhor anuncia que vai lançar o povo para fora do paísusandoafiguradeumafunda(Jr10.18).DeusvaiespalharIsraelcomopalhalevadapeloventododeserto(Jr13.24).Elevaienviarpescadoresecaçadores,e eles tratarão Judá como se fosse um animal que precisa ser capturado (Jr16.16).Deusvai trazerumacalamidadetalquefarátinirosouvidosdopovo(Jr19.3).Opovodesignadoparaocativeiropermanenteécomofigosruins,podresefétidos(Jr24.8).AexpectativadoexílioedarestauraçãoimpregnavaamentedeJeremiascomessasdiversasimagens.

Ezequiel,emsuamaneirade trataroexílioea restauração, tambémfazvasto uso de simbolismo e figuras de linguagem que se destacam por suavariedadeevivacidade.Emtermosdefigurasdelinguagem,Ezequieldizque,assimcomoDeusprojetouamadeiratortadavinhaparanãoservirparanadasenãoparaserqueimada,assimJerusalémdeveserconsideradacomo“lenha

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para o fogo” (Ez 15.1-6). Noutra ocasião, ele afirma que Jerusalém é umapanela cheia de pedaços de carne (Ez 24.3-14). De forma ainda maisdramática, ele mostra o Senhor dizendo: “Assim como os homens ajuntamprata, cobre, ferro, chumbo e estanho numa fornalha a fim de fundi-lossoprando fortemente o fogo, na minha ira e na minha indignação tambémajuntareivocêsdentrodacidadeeosfundirei”(Ez22.20NVI).Derepente,asantacidadedeJerusalémsetornouumafornalhaparaderreterseushabitantesparapurificá-losdetodasassuasiniquidades.

Em duas seções vívidas, Ezequiel compara Israel e Judá commulheresadúlteras (capítulos16e23).Porcausada suavidadeadultérionabuscadeoutrosdeuses,oSenhorfaráumacoisadrástica:“Euacondenareiaocastigodeterminadoparamulheresquecometemadultério...euaentregareinasmãosdeseusamantes,eeles...arrancarãoassuasroupaseapanharãoassuasjoiasfinaseadeixarãonua.Trarãoumamultidãocontravocê,queaapedrejaráecom suas espadas a despedaçará” (Ez 16.38-40NVI).OSenhor dará “fim àlascívianaterra,paraquetodasasmulheres[domundo]fiquemadvertidasenãoimitem”Israelemseupecado(Ez23.48NVI).

Além dessas figuras de linguagem, o extenso uso que Ezequiel faz dosimbolismo permeia o livro do início ao fim. Esses símbolos vêm tanto naforma de encenações proféticas como de visões proféticas. A profecia deEzequiel começa com uma visão misteriosa de rodas dentro de rodasassociadas com a manifestação da glória de Deus (Ez 1.4-28). Ainda que avisão seja talvez a mais bem conhecida seção da profecia de Ezequiel, elatambéméamenoscompreendida.SeusignificadosetornaclaromaistardenolivroquandoaglóriadaShekinahaospoucosseafastadotemplodeJerusalém(capítulos 10 e 11). O significado das rodas na visão inicial agora se tornaclaro. A presença de Deus não pode ser permanentemente restringida pordesígnios humanos. A glória de Deus é móvel; e depois que essa glória seafastoudo templodeJerusalém,o lugarque forasantose tornacomum, tãosujeito à devastação dos exércitos humanos como quaisquer outros lugaresreligiosos.AmaisdestacadavisãodeEzequiel,então,dizrespeitodiretamenteaotemadoexílio.

Depois, Deus ordena ao profeta que faça um tijolo de barro com umdesenhodeJerusalémsobreele.Ezequieldevedeitar-sede ladopormaisdeumano,antecipandoumcercodacidadepormeiododesenhosimbóliconotijolo(capítulo4).Depois,oprofetarecebeordemderaparacabeçaeabarba.Uma terça parte do cabelo deve ser queimada, outra terça parte deve sergolpeada com uma espada, e uma terça parte jogada ao vento. Essas açõessimbólicas também são uma profecia em forma de encenação a respeito do

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vindouroexíliodeIsrael(capítulo5).Depois,oprofetarecebeorientaçãoparajuntarseuspertencesnapresençadetodoopovo,escavarumburaconaparedeaoanoitecer,eencenarumafugadacidade(Ez12.1-20).Finalmente,éditoaoprofetaqueeleprecisaseprepararparaperdersuaesposa,odeleitedosseusolhos. Mas ele não deve derramar uma lágrima sequer. Essa experiênciapersonificaumaprediçãodasituaçãotraumáticadosexiladosdeJerusalém(Ez24.15-27).

Além dessas profecias encenadas, Ezequiel recebe uma série de visõesque dramatizam a mensagem do exílio e da restauração. Visões das duaságuias(Ez17),doreidaBabilônianabifurcaçãodaestrada(Ez21.18-23),dasduasvarasquesejuntamcomosefossemumasó(Ez37.15-28),dovaledosossos secos (Ez 37.1-14), e do templo restaurado (capítulos 40-48) – todasessas visões servem para comunicar a certeza da mensagem do juízorelacionadocomoexílioeaesperançaassociadaàrestauração.Elasvivificamamensagemdafuturaexpectativaquesurgiudoplanodivinodaredenção,queprossegueatéopresentemomento.

Asencenaçõesproféticas,asfigurasdelinguagem,aseloquentesvisões,ea simples estatística de diferentes fontes de pesquisa se combinam pararessaltaraimportânciacentraldasprediçõesproféticascomrespeitoaoexílioeàrestauração.Naliteraturaprofética,nenhumoutrotópicosecomparacomesseassuntoespecífico.Nãohácomoenfatizardemaisasuaimportância.Umaanálise mais detalhada ressalta os conceitos chaves relacionados com asprediçõessobreoexílioearestauraçãodeIsrael.

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II.Conceitoschavesrelacionadoscomasprediçõessobreoexílioearestauração

A.OexílioearestauraçãoestãointerligadosOsprofetasfrequentementeunemasideiasdoexílioedarestauração,de

formaquenãoéfácilsepararumasdasoutras.OexílionãoéofimdaestradaparaIsrael.Apossibilidadedarestauraçãoéapresentadadeformaconsistentecomoumaesperançamesmoenquantoojuízodoexílioestásendoanunciado.

PraticamentetodoolivrodeOseiassededicaàprediçãodosdoiseventosdo exílio e da restauração. Suas profecias repetidamente unem esses doistemas. Em breve,Deus vai punir a casa de Jeú, a atual dinastia do reino donorte(Os1.4).MasIsraeleJudáserãojuntamenterestauradosereconstruídossob a direção de um só líder (1.11). OSENHOR da Aliança vai punir Israelpelos dias emque queimou incenso aos baalins (2.2-13).Mas ao conduzi-loparaodeserto,elevailhefalaramorosamenteetrazê-lodevoltaparaaterraprometida(2.14-23).Israelvaivivermuitosdiassemreinemsacrifício;masdepoisanaçãovairetornarebuscaroSenhorseuDeuseDaviseurei(3.4,5).Pelo fato de Efraim não se arrepender, eles não podem ficar na terra doSenhor,masretornarãoparaoEgito(9.3;11.5).MasacompaixãodoSENHORdaAliançanãovaipermitirqueEledesistadelesporcompleto.Nofinaldascontas,

...virãotremendodesdeoocidente.VirãovoandodoEgitocomoaves,daAssíriacomopombas.(Os11.10b,11NVI)

O povo de Samaria precisa sofrer sua culpa e cair pela espada.Mas oSenhorvaicurarsuarebelião,amá-losde todoocoração,efazê-loscrescerna terra como o cedro do Líbano (Os 13.16; 14.4-8). Apesar do criticismonegativocomfrequêncianegarapossibilidadedeunirprediçõesdejuízocomprediçõesdebênção,amisturadessestemasportodaaprofeciadeOseiasdáapoio à ideia que ambos os elementos foram antecipados por esse profetagenuíno.

É digno de nota o fato que mesmo o comissionamento profético queintroduzIsaíasemsuafunçãodeprofetagiraemtornodotemadoexílioedarestauração.EmreaçãoaochamadoproféticoqueveiocomsuavisãodoDeustrêsvezessanto,o jovemprofetapergunta:“Atéquando?”Porquanto tempoeledeveproclamaramensagemdeDeusarespeitodavindadojuízosobreumpovoobstinado?ArespostadoSenhoré,nomínimo,inquietante:

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Atéqueascidadesestejamemruínasesemhabitantes,

atéqueascasasfiquemabandonadas

eoscamposestejamtotalmentedevastados,

atéqueoSENHORdaAliançatenhaenviadotodosparalonge

eaterraestejatotalmentedesolada.

Eaindaqueumdécimofiquenopaís,essestambémserãodestruídos.

Mas,assimcomooterebintoeocarvalhodeixamotroncoquandosãoderrubados,

assimasantasementeseráoseutronco.(Is6.11-13NVI)

Essetextoprogramático,queantecipatodooministériodoprofetaIsaías,predizoexíliocomoconsequênciadateimosiadocoraçãodopovo.MaseletambémpredizarestauraçãocomoconsequênciadagraçaredentoradeDeus.PelasmisericórdiasdoSenhor,umasementesantaseráoremanescente,aceparestantenopaís.

Não há como subestimar a constante frequência das predições comrespeitoaoexílioeàrestauraçãonasprofeciasdeJeremias.Comapenasduasoutrêsexceções,cadaumdosprimeirostrintaeoitocapítulosdolivrocontémpredições claras a respeito do exílio e da restauração. A natureza preditivadessas profecias é enfatizada pela ordem explícita que Jeremias recebeu doSenhorparaqueescrevessesuasprofeciasarespeitodesseseventosprevistos(Jr30.2).Oscapítulos finaisdo livroapresentama realhistóriadaquedadeJerusalémesuasconsequências(capítulos39-45;52), juntocomprediçõesarespeitodasnaçõesvizinhas (capítulos46-51).Essasprediçõesa respeitodoexílioedarestauraçãocomeçamemtornode627a.C.,40anosantesdorealexílio de Judá (Jr 1.2). Elas continuaram durante o período em que osbabilôniossitiarametomaramacidadedeJerusalémem587a.C.(Jr39.1-3).AfunçãocentraldessasprediçõesnoministériodeJeremiasédramatizadanosversículoschavesqueresumemocomissionamentodoprofeta:“Veja!Euhojedou a você autoridade sobre nações e reinos, para arrancar, despedaçar,arruinar e destruir; para edificar e plantar... pois estou vigiando para que aminhapalavrasecumpra”(1.10,12NVI).

EssadescriçãodoministérioproféticodeJeremiasincluitantooarrancarcomo o plantar, tanto o destruir como o edificar. Esses termos resumem ocomissionamentodoprofetacentradoemambasasideias:exílioerestauração.Além disso, esse comissionamento se estende além do próprio Israel para

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incluirnaçõesereinosalémdoslimitesdopovodaaliançadeDeus.Depois,oSENHOR da Aliança declara que, por meio da palavra do profeta, Ele vaidesarraigar todos os vizinhos ímpios de Israel dos seus países e tambémdesarraigaracasade Judádomeiodeles (Jr12.14).MasemsuacompaixãoEle vai restaurar essas mesmas nações e estabelecê-las entre o seu povo(12.15,16).Masqualquernaçãoquese recusaraouviroSENHOR daAliançaserádesarraigadaecompletamentedestruída(12.17).Depois,quandoaênfasedoprofeta sevoltaparapredições sobrea restauraçãode Israel, reapareceaterminologiadosversoschaves:“’Virãodias’,dizoSENHORdaAliança,‘emque semearei na comunidade de Israel e na comunidade de Judá homens eanimais. Assim como os vigiei para arrancar e despedaçar, para derrubar,destruir e trazer a desgraça, também os vigiarei para edificar e plantar ’,declaraoSENHORdaAliança”(31.27,28NVI).

AindamaisassombrosaéadeclaraçãodopróprioSenhordequeElevaicomprometer-sedetodoocoraçãocomessarestauraçãodoseupovo:“Tereialegriaemfazer-lhesobem,eosplantarei firmementenesta terrade todoomeucoraçãoedetodaaminhaalma”(Jr32.41).São,defato,boasnovasqueo Deus Todo-Poderoso vai regozijar-se dessa forma na restauração do seupovo.Essadeterminaçãoderestaurarseupovodepoisdesuadevastaçãonãodeve ser considerada como o desenvolvimento de uma escola proféticasubsequente,queformulaessas ideiasalgumtempodepoisdorealeventodoexílio da nação. Em vez disso, o testemunho do tema introdutório queentrelaça toda a estrutura do livro afirma desde o início que não somente oexílio, mas também a restauração exerce a função central nos planos epropósitos do Senhor.2 A esperança para além dos juízos divinos é parteintegrantedamensagemdosprofetas.

B.OexílioearestauraçãoocorrempordiferentesrazõesAscausasdoexílioeasdarestauraçãosãodrasticamentediferentesumas

das outras. O exílio ocorreu porque Israel pecou. A nação violou osmandamentosdoseuDeus(Jr9.1-11).PelofatodeIsraelrecusararrepender-se,foiparaoexílio(Os11.5c).ParaJudá,oexílionãofoisimplesmenteumacontecimento sem sentido no curso da história humana que ocorreu semnenhumarazão.Opecadodopovocausousuadesgraça.Paradarvidaaessamensagem,Ezequielrecebeaordemdesedeitarsobreseuladopor390dias,correspondendoaos“anosdopecadodeIsrael”(Ez4.5).Mesmoaquelesqueescaparam do exílio devem gemer como pombas dos vales, “cada um porcausa de sua própria iniquidade” (7.16). O profeta é transportado para

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Jerusalém numa visão, e ali ele testemunha uma abominação após outra,incluindo umdetestável ídolo que habita dentro do templo bemna frente damanifestaçãoda glória deDeus (8.3-5).Essa profanaçãonãopode ter outroefeito senão afastar o Senhor do seu próprio santuário (8.6).3 As atuaisrebeliõesdeJudácontraoSenhorsãotãosériascomoospecadoscometidosno Egito durante as peregrinações da nação pelo deserto (20.1-29). Talvezmaisdoquequalqueroutroprofeta,Ezequiel fazusodosDezMandamentoscomo base para identificar os pecados específicos de Judá (22.6-12). EssaexposiçãodopecadodopovoforneceabaseparaasprediçõesdoprofetacomrespeitoàinevitabilidadedoexíliodeJudá.

TalvezalgumasdaspalavrasmaistristesencontradasnolivrodeJeremiassejamasqueantecipamareaçãodemuitasoutrasnaçõesdiantedadevastaçãodeJerusalém.Elasconhecemmuitobemomotivodoexíliodanaçãoparaumpaís estranho: “De numerosas nações muitos passarão por esta cidade eperguntarão uns aos outros: ‘Por que o SENHOR da Aliança fez uma coisadessasaestagrandecidade?’Elhesresponderão:‘FoiporqueabandonaramaaliançadoSENHOR,doseuDeus,eadoraramoutrosdeuseseprestaram-lhesculto’”(Jr22.8,9NVI).FicaráevidentenãoapenasparaJudáqueessehorrordoexíliolhessobreveioporqueviolaramaaliança;asprópriasnaçõespagãssaberãoarazãodacalamidadedeles.

Emnítidocontrastecomosmotivosdoexílio,anaçãobanidanãopoderianunca experimentar a restauração por conta de méritos aos olhos de Deus.NemmesmoacompaixãodoSenhorpelosseussofrimentosfornecearazãodo seu retorno.Emvezdisso, eles serão restaurados por causa da honra donomedeDeus.Ezequieldiz:“Nãoéporsuacausa,ónaçãodeIsrael,quefareiessascoisas,masporcausadomeusantonome,quevocêsprofanaramentreasnaçõesparaondeforam.Mostrareiasantidadedomeusantonome,...EntãoasnaçõessaberãoqueeusouoSENHORdaAliança,...Poiseuostirareidentreasnações,osajuntareidomeiodetodasasterraseostrareidevoltaparaasuaprópriaterra”(Ez36.22-24NVI).

Um conceito tão elevado de Deus e de sua centralidade em todos osnegóciosdoshomenspareceráextremamenteestranhonocontextomoderno,emquepoucoounenhumespaçoexisteparaDeusnocursodomundo.MasumavezqueDeuséverdadeiramenteDeus,Eletemodireitodeserlevadoemconsideraçãoacimadetudoemtodootempo.QuandoEleéhonradodeformaapropriada, todas as outras questões da existência humana se encaixam noslugaresapropriados.QuandoEleépercebidocomooDeussantoquedefineanatureza da verdadeira justiça e entãomantém essa justiça entre os homens,

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quandoEleécompreendidocomopermanentementefielàspromessaspactuaisquevoluntariamentefez,entãoasaúde,aalegria,eaplenitudeabundarãoentrea humanidade.Masmesmo nesse nível, o bem-estar da espécie humana nãodeveserconsideradocomoobemfinal,comoseDeusexistisseporcausadohomem. Em vez disso, em primeiro lugar precisa permanecer o honrar aDeus,oqueéexatamenteopropósitodarestauraçãodeIsrael.

C.Oexílioearestauraçãoestãoligadosaoêxodo,àperegrinaçãonodeserto,eàconquistadaterra

Os temas do exílio e da restauração são desenvolvidos de formainterconectadacomasantigas tradiçõesdoêxodo,dodesertoedaconquista.Não há como subestimar a importância desse fato, visto que relacionar oexílioearestauraçãoaessesantigoseventosdaredençãoproduzoefeitodeinserir essas ocorrências históricas posteriores na mesma categoria dessesmomentoshistóricosanterioresquepersonificamarevelaçãoredentora.SeaúnicamaneiraderedimirohomemdaculpadopecadoéderramarosanguedocordeironanoitedaPáscoa,seoscrentesnoCristohojeestão“nodeserto”e a caminho para a terra prometida de acordo com a experiência de Israeloutrora, e se os eventos do exílio e da restauração são apresentados comorecapitulaçõesdaanteriorexperiênciaredentoradeIsrael,entãoesseseventosdoexílioedarestauraçãotambémdevemtersidodesignadosporDeuscomopropósitodecomunicaraverdadearespeitodaredenção.

Afunçãocrucialdonovoêxodo,danovaperegrinaçãopelodeserto,edanova conquista no desenvolvimento profético do exílio e da restauração érepetidamente reconhecida.4 Em especial, os profetas Oseias e Isaíasdesenvolvem esses temas. Pelo fato do reino do norte de Israel ter sidoengolidopelocompletomaterialismodaadoraçãoaBaal,Deusvailevá-losdevolta ao deserto e despi-los de todas as suas possessõesmateriais. Então, o“vale de Acor”, onde Israel sofreu sua primeira derrota significativa nosprimeirosdiasdasuaconquistadaterra,setornaráuma“portadeesperança”(Os 2.15 NVI). Deus punirá Israel por seu pecado fazendo-os retornar àescravidãodoEgito(Os8.13c;9.3).AlémdevoltaremparaoEgito,aAssíriavaigoverná-los(Os11.5).Mas,pelofatodoSenhoramarIsrael,Elenãopodeentregá-lostotalmenteàdesgraça:

...virãotremendodesdeoocidente.VirãovoandodoEgitocomoaves,daAssíriacomopombas.

Euosestabelecereiemseuslares;palavradoSENHORdaAliança.(Os11.10b,11NVI)

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Usando o expediente da recapitulação profética, Isaías prediz que oSENHOR daAliança fará seupovoexperimentarumnovoêxodoeumanovaperegrinaçãopelodeserto.Elesvãoserdramaticamentelibertosdaescravidãodos seus inimigos: “Esqueçam o que se foi; não vivam no passado. Vejam,estoufazendoumacoisanova!Elajáestásurgindo!Vocêsnãoareconhecem?Aténodesertovouabrirumcaminhoeriachosnoermo”(Is43.18,19NVI).Quandoantecipaarestauraçãodeambososreinos,Isaíasrecorreàfiguradeumanovaexperiênciadeêxodo/deserto/conquista.OSenhorvaisecaromardoEgitoevarrer suamãosobreo rioEufrates,de formaqueopovopossacruzá-los de sandálias (11.15,16). Serão abertos os olhos dos cegos e osouvidos dos surdos como águas que brotam no deserto, pois os resgatadosvoltarão, entrarão em Sião cantando (35.5-10). Uma voz clama no desertoporqueestáocorrendoumnovoêxodo(40.2,3).OSenhorquecertavezabriuumcaminhonomardestruindoascarruagens,oscavaloseoexércitodoEgitovai fazê-looutravez(43.14-17;veja também41.18-20;49.9-12;55.12,13;Jr16.14,15;23.7,8).

É significativo o fato desses eventos do final da história de Israel – oexílioearestauraçãodanação–estaremintimamenteligadosàsintervençõesredentorasdoSenhornopassado.Seoêxodo,odesertoeaconquistadaterrapersonificam verdades redentoras a respeito da libertação da culpa e daopressãodopecado,dadivinapreservaçãodurante anosdeperegrinaçãonodeserto, da entrada final nas perfeições de um paraíso restaurado, então asdifíceisexperiênciasdoexílioedarestauraçãotambémpodemserentendidascomoverdadescomunicativasdenaturezaredentora.Essasverdadestêmclaraconexão com as realidades redentoras transmitidas por meio doêxodo/deserto/conquista.Mas,devidoàavançadahoradahistóriadaredenção,deve-seesperarquetransmitamumaperspectivaclaraarespeitodomododeDeusoperararedençãoemfavordoseupovo.

D.OexílioearestauraçãoestãoligadosaofimdamonarquiadeIsraeleàmanifestaçãodoMessiasvindouro

Oexílioearestauraçãonaprofeciapreditivaestão intimamente ligadosaofimdasmonarquiasdeIsraelesuasubstituiçãoporumnovodescendentedalinhagemdeDavi.OsprofetasfazemextensousodahistóriadamonarquiadeIsrael comomeio de descrever o exílio e a restauração.De acordo com osprofetas,osmausreisdeIsraelserãoviolentamenteremovidosdasuaposiçãodehonraeserãolevadosparaoexílio.Aomesmotempo,aesperançaparaofuturoencontra-sena restauraçãodeumrei fielaoSenhordeacordocomaaliançafeitacomDavi.

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Quandoprofetiza o desterro do reinodonorte,Oseias anuncia que “osisraelitasviverãomuitosdiassemreiesemlíder”(Os3.4NVI).Emsuaira,Deus lhes deu um rei, e em sua indignação Ele o tomará deles (13.11). Deacordocomesseprofeta,aprincipalconsequênciadoexílioéadestruiçãodamonarquiaemIsrael.

Nem Oseias nem Amós omitem nada à medida que apresentam aesperançada restauraçãodo reinodonorte.OpovoprecisabuscarDavi seureiparaarestauraçãodoreinodonorte.ArestauraçãodotabernáculocaídodeDavi é a esperança de Israel no norte (Os 3.5; Am 9.11). O reino do nortesurgiu de uma forte revolta contra o governo da linhagem de Davi, o queimplicounarejeiçãodaaliançafeitacomDavi(1Rs12.16).Porinsistiremnarestauração da linhagem davídica como a esperança do devastado reino donorte, esses profetas puseram a expectativa da restauração exatamente nocentrodaspromessaspactuaisfeitasaDavi.

EmduasocasiõescríticasespecíficasdahistóriadeJudá,osreisdanaçãosurgem como pessoas chaves na mensagem de Isaías. O profeta é enviadoespecificamente ao reiAcazquandoeste estava sendoameaçadopelaSíria eporEfraim(Is7.1-3),masamensagemdoprofetaéfeitanoplural,jáquesedirigeà“casadeDavi”ameaçadaporessacoalizãodenações:“Sevocêsnãoficarem firmes na fé, com certeza não resistirão!” (7.9b NVI).5 Embora sedirijaaoreiAcazemparticular,oalertadoprofetaincluitodaacasadeDavi,a qual o inimigo pretende exterminar (7.6b).Ainda queAcaz não tenha a féexigidapeloSenhor,amensagemdoprofetamostraque,sefossenecessário,mesmoumavirgemdariaà luzumfilhoparaconservara linhagemdeDavi(7.14). Embora possa até ocorrer a devastação da linhagem real, o SenhorpermaneceráfielàsuapromessarestaurandoumdescendentedeDaviaotronodeacordocomaspromessasdasuaaliança.

Num segundo confronto, com outro rei de Judá, Isaías novamenteprofetizaumfuturoexílioparaanação.OreiEzequiascometeumgraveerroaomostrar a riquezada suanação a umadelegaçãovindadaBabilônia.Emdecorrênciadisso,oprofetaanunciaquetudodevalordopalácioserálevadopara o exílio.Mais grave ainda, a linhagem real deDavi será removida dotrono: “E alguns de seus próprios descendentes serão levados, e se tornarãoeunucosnopaláciodoreidaBabilônia”(Is39.7NVI).Asprofeciasanterioresde Isaías com respeito ao reino permanente de um futuro rei messiânicoexcluemapossibilidadedeumextermíniodalinhagemdeDavieapresentamumapromessade restauraçãono futuro (7.14; 9.6,7; 11.1-10).Masoprofetaantecipa de forma bem clara um período em que os descendentes de Daviserãoexiladosdesuaterraeretiradosdotronoquelhespertence.

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AsprediçõesdeJeremiasarespeitodeumfuturoreimessiânicoreferem-sediretamenteàexpectativadarestauraçãoapósoexílio.Oprofetaapresentauma série de juízos condenatórios dirigidos aos vários reis que governamJudánosdiasqueantecedemoexíliodanação.EssesreisfracassaramemsuasoleneresponsabilidadecomomediadoresdaaliançadeDeuscomDavieporissovãosofreradevastação:6

OreiJeoacaz(Salum)morreránoexílioenãoteráoprivilégiodever outra vez a terra prometida (Jr 22.11,12). Ele sofrerá essedestinoapesardeJeremias lhe tergarantidoque,seeleobedecesseaos mandamentos de Deus, “então os reis que se assentarem notronodeDavi entrarãopelas portas deste palácio emcarruagens ecavalos, em companhia de seus conselheiros e de seu povo” (Jr22.1,2,4NVI).O rei Jeoaquim será enterrado como se enterra um jumento, seráarrastadoejogadoparaforadosportõesdeJerusalém(Jr22.19).O rei Joaquim será entregue ao rei Nabucodonosor da Babilônia,arrastadoparaumpaísestrangeiro,e jamais retornaráparaa terraprometida.NenhumdosseusdescendentesocuparáotronodeDavi(Jr22.24-27,30).O rei Zedequias manda buscar Jeremias durante o assalto deNabucodonosor contra Jerusalém, esperando que ele profetizeintervençõesmiraculosas similaresaos livramentosdopassado (Jr21.2). Em vez disso, o profeta prediz o exílio para o rei e para opovoquesobreviver,censurandoacasarealdeJudá,acasadeDavi(21.7,11,12).

Oprofeta,então,pronunciaumadesgraçageralsobreospastores-reisdeJudá,queespalharamasovelhas.Por teremfalhadoporcompleto,opróprioSenhor vai tomar a iniciativa de trazer o povo de volta do exílio e vaiestabelecer“sobreelespastoresquecuidarãodeles”(Jr23.1-4NVI).

No contexto dessas profecias a respeito do fracasso dos reis de Judá, éfeita a predição sobre um peculiar descendente de Davi, que governará emjustiça sobre seu povo. Deus já havia prometido anteriormente dar-lhes“governantesconformeaminhavontade”,antecipandogovernantesreaisquepodiamcomparar-secomopróprioDavi(Jr3.15NVI;1Sm16.7).MasagoraoSenhordeclara:“Diasvirão...emquelevantareiparaDaviumRenovojusto,umreiquereinarácomsabedoriaefaráoqueéjustoecertonaterra.EmseusdiasJudáserásalva,Israelviveráemsegurança,eesteéonomepeloqualserá

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chamado:OSENHORdaAliançaéaNossaJustiça”(Jr23.5,6NVI).Não foi com Jeremias que se originou esse conceito de um peculiar

descendente de Davi, que atenderia a todas as expectativas criadas peloestabelecimentodoreinodeDeusnaterraatravésdoreinodeIsrael.OpróprioreiDavifundiudemaneirasimbólicaseutronocomotronodeDeusaotrazeraarca,querepresentavao tronodeDeus,paraacidaderealdeJerusalém(2Sm6.12-15,17).JeremiasmostrouessafusãodotronodeDeuscomotronodeDaviquando revelouque a antiga arcada aliança seriano futuro substituídapelotronodoSENHORdaAliançaemJerusalém:

“Quandovocês aumentareme semultiplicaremna sua terra naqueles dias, declara oSENHOR daAliança, não dirão mais: ‘A arca da aliança do SENHOR’. Não pensarão mais nisso nem selembrarãodela;nãosentirãosuafaltanemsefaráoutraarca.Naquelaépoca,chamarãoJerusalém‘OTronodoSENHORdaAliança’,etodasasnaçõessereunirãoparahonraronomedoSENHORdaAliança em Jerusalém.Nãomais viverão segundo a obstinação de seus corações para fazer omal”(Jr3.16,17NVI).

Umséculoantes, Isaíashaviaexpressadosuasexpectativasa respeitodeumRenovojustodalinhagemdeDavi(Is4.2;9.7;11.1).Masagora,quandooreideJudáestáprestesaserengolidopeloexílioparaaBabilônia,essaantigaexpectativa surge uma vezmais.A restauração depois do exílio vai ocorrerjuntamente com o surgimento de um descendente de Davi, que não vaiapresentarnenhumdosdefeitosdosseuspredecessores.

UmfatosingularcomrespeitoaesserebentodalinhagemdeDaviéquenele se achará a justiça que o povo deDeus precisa para tornar-se aceitáveldiantedele.ComoJeremiasodiz,Eleseráchamadode“OSENHORdaAliançaéaNossaJustiça”(Jr23.6NVI).ElenãoseráapenasdiferentedosatuaisreisdeJudásendoporsimesmojustoemtotalcontrastecomainjustiçadeles,masElemesmoseráajustiçadoseupovo.

Emoutra profecia sobre a restauraçãode Judá, Jeremias retorna a essafigura,usandoquaseasmesmaspalavras:“NaquelesdiasenaquelaépocafareibrotarumRenovojustodalinhagemdeDavi;elefaráoqueéjustoecertonaterra.NaquelesdiasJudáserásalvaeJerusalémviveráemsegurança,eesteéonomepeloqualelaseráchamada:OSENHORdaAliançaéaNossaJustiça”(Jr33.15,16).Quandoexplicaessaprofecia,Jeremiasdizque,depoisdesurgiresseRenovojusto,Davinuncamaisdeixarádeterumdescendenteseuqueseassenteno tronoda casade Israel (33.17).Tão certo comodia enoite estãoestabelecidos pela palavra pactual do Senhor, assim está determinada apermanência de um descendente de Davi no trono do reino de Deus

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(33.20,21,25,26).AúltimareferênciaemJeremiasa respeitodaconservaçãoda linhagem

davídicaemconexãocomarestauraçãodeIsraelaparecenosversículosfinaisdolivro.Nessaocasião,amensagemvemcomorelatodeumeventohistóricoem vez de vir na forma de profecia preditiva. Mas esse evento antecipa amesmaexaltação finaldodescendentedeDavicomoo fizeramasanteriorespalavras proféticas de Jeremias. Um novo rei surge na Babilônia e tira daprisãooreiJoaquimdeJudá.ElenãoomandadevoltaparaJudá,oqueseriaumacontradiçãodaprediçãoespecíficadeJeremias(Jr22.27).EleconcedeaJoaquim,netodeJosiaserepresentantegenealógicomaisdistantedalinhagemdeDavi, “um assento de honramais elevado do que os dos outros reis queestavamcomelenaBabilônia”(Jr52.32NVI).

Pode parecer que nada existe de especial nessa observação final deJeremias.Mas, no contexto das suas predições a respeito da restauração dalinhagemdeDavicomoaesperançadoIsraelexilado,pode-seobservaralgosignificativo nessa breve narrativa final.7 Joaquim personifica a esperançafuturada linhagemmessiânicadeDavi.Ofatodeser tratadofavoravelmentepeloreidaBabilôniadáaentenderquenãofalharáapromessadeDeuscomrespeitoàrestauraçãodalinhagemdeDavi.

Assim, não é de surpreender encontrarmos na genealogia de Jesusregistrada no Evangelho de Mateus o nome Jeconias, também chamadoJoaquim,oqualrecebeutratamentofavoráveldasmãosdoreibabilônio(Mt1.11,12). Dessa desterrada linhagem de descendentes veio a restauradalinhagemdeDavi,quenofinaldascontasconduziuaJesusoCristo.NãofoisemrazãoqueJeremiasassociouoexílioearestauraçãodeJudáintimamentecom o destino da linhagem de Davi, pois é através dessa linhagem que oMessias escolhido finalmente viria. Com o nascimento, vida, morte,ressurreiçãoeascensãodeJesusoCristo,esseRenovojustoda linhagemdeDaviporfimsemanifestou.Hoje,EleestáassentadoàmãodireitadepoderdotronodeDeus,oqualdeveserconsideradocomootronodeDavi.DessetronoElejamaisseráremovido.

Predições messiânicas também surgem de uma teologia do exílio e darestauraçãonaparáboladeEzequielarespeitodeumaáguia(Nabucodonosor)quecarregaapontadeumcedro(aparentementeZedequias)paraumaterrademercadores(Babilônia)(Ez17.2-4).Depoisdessapalavraproféticadejuízo,oprofetadizqueopróprioSenhor tomaráoutroramodo topodeumcedroevaiplantá-lonoaltodosmontesdeIsrael.Nosgalhosdessaárvore,asavesdocéuencontrarãoabrigoe sombra (Ez17.22-24).Aindaquea alusão sejaumtantovelada,amensagemcentraléclara:opróprioSenhorestabeleceráumrei

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para governar em Israel depois que seus reis tiverem sido exilados. OutraprediçãocomrespeitoaessasubstituiçãodosreiscorruptosdeJudá,operadaporDeus,afirmaoseguinte:

ÓímpioeprofanopríncipedeIsrael,oseudiachegou,estaéahoradoseucastigo,eassimdizoSoberano,oSENHOR daAliança:Tireo turbante e a coroa.Não será comoantes—oshumildesserãoexaltados,eosexaltadosserãohumilhados.Umadesgraça!Umadesgraça!Eufareidelaumadesgraça!Nãoserárestaurada,enquantonãovieraqueleaquemelapertencepordireito;aeleeuadarei(Ez21.25-27NVI,ênfaseacrescentada).

Assim,aquedadesseperversogovernantede Israelpropiciaaestruturaparaumaprediçãoarespeitodolegítimoocupantedotronodanação,quesemanifestaránofuturo.

Outras predições de Ezequiel a respeito da vindoura figura messiânicaseguemmaisdepertoasexpressõesdeesperançadosprofetasanteriores.Deusestabeleceráumpastorsobreseurebanhorestaurado,oqualéchamadodeseuservoDavi. Esse pastor os governará e isso durará para sempre (Ez 37.23-25).8

Dessa forma, a futura expectativa de um Messias em Ezequiel estáintimamenterelacionadaàsprediçõescomrespeitoaoexílioeàrestauração.Essaesperada figuramessiânicanãoestavapresenteporocasiãodaprofeciade Ezequiel. Não se pode duvidar que Israel tenha sido restaurado para suaterra. A reivindicação central dos novos escritos pactuais é que uma figuramessiânicadescendentedeDavichegouparareinarsobreopovodeDeus.

Os profetas de Israel que pessoalmente participaram da restauração daBabilônia depois do exílio de Israel continuampredizendo (por incrível quepossa parecer) mais restauração e exílio no futuro. Referindo-se a umterremotoescatológico,AgeupredizorestabelecimentodalinhagemdeDavi(Ag 2.21,22). Em uma mensagem especial a Zorobabel, o governadornomeadoparaarestauraçãodanação,oSenhordeclaraqueEleotornaráseuaneldeselar(2.20-23).EsseZorobabeléidentificadocomodescendentediretodeJoaquim,eassimrepresentaacontinuaçãodalinhagemrealdeDavi(1Cr3.18,19;Ed5.2).ComoautoridadedesignadaporDeus,eleseráinvestidocomaautoridadedoTodo-Poderoso,demaneiraqueaquiloqueeleordenateráainsígnia da autoridade de Deus. Ainda que a monarquia davídica não tenhanuncasidoreinstaladaemIsrael,essepronunciamentosimbólicoarespeitodeZorobabel tinha grande significado para o povo da restauração. Essadeclaração profética antecipava o surgimento de um filho deDavi que viriaparagovernaremalgumdiafuturo.AconexãodeDavipormeiodeZorobabela Jesus Cristo é claramente estabelecida no Evangelho de Mateus, onde

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Zorobabel é listado na genealogia que conduz à restauração consumada dotronodeDavientreopovodeDeus(Mt1.12).

A expectativa de outro exílio e restauração continua na seção final dolivro de Zacarias. Em Zacarias 9-14, o rei de Sião ainda está para vir emjustiça e humildade. Quando Ele finalmente chegar, vai proclamar paz àsnaçõesegovernará“deummaraoutro,edoEufratesatéosconfinsdaterra”(9.9,10 NVI). À luz dessa expectativa, os “prisioneiros da esperança” sãoinstigadosaretornar,poisoSenhoragoraanunciaquevai“restaurartudoemdobro”paraeles (9.12).Nessedia,oSenhor lutaráemfavordoseupovo,eeles brilharão “como joias de uma coroa” (9.14-17 NVI). Embora arestauração já tenha começado nos dias de Zacarias, o Senhor promete queaindavaitrazê-losdevoltadaAssíriaedoEgito,deformaqueserãocomoseElenuncaostivesserejeitado(capítulo10).

Comtodaessabênçãoprofetizada,oprofetapredizque,devidoànaturezaperversa dos pastores da nação, o povo será entregue outra vez às naçõesvizinhas.PorescolheremvenderseuúnicoBomPastorpelo“generosopreço”de 30 peças de prata, a nação cairá nas garras de pastores imprestáveis (Zc11.4-17), os quais “comerão a carne das ovelhasmais gordas” (11.16NVI).Apesar de nenhum Bom Pastor-rei ter surgido nos dias dos profetas darestauração,umBomPastornofinaldascontassurgiuentreopovo(Jo10.1).EsseBomPastorfoirejeitadopelopovoevoluntariamenteentregousuavidaem favor das ovelhas (Mt 27.9,10; Jo 10.11). Dessa forma, cumpriu-seperfeitamenteaprofeciaarespeitodopastorferido.

E.OexílioearestauraçãosãopreditosdemaneiraimpressionanteA importância das predições a respeito do exílio e da restauração de

Israel é vista na impressionante natureza da sua predição nas Escrituras daantigaaliança.DentreasváriascentenasdeprediçõesarespeitodofuturonasEscrituras da antiga aliança, duas seções nos profetas se destacam como asmaisimpressionantes:odesafiodaprofeciaemIsaíaseaprediçãodeJeremiasespecificando 70 anos como a duração do exílio de Israel. Essas duasprediçõesimpressionantesestãorelacionadascomoexílioearestauraçãodeIsrael,eambasmerecemmaiorconsideração.

1.OdesafiodeIsaíasquantoàprofeciaDificilmentealguémdiscordadoelevadomonoteísmoéticodosúltimos

capítulosdeIsaías.Oprofetazombadosídolossemvida,contrastandocomoúnicoDeusvivoeverdadeiroaincapacidadedelesdefazeremqualquercoisa.Masmuitas vezes deixamosde levar emconsideração amaior característica

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dessazombaria:osídolossãomudos,nãoconseguemfalar.Suaincapacidadedefalarédramatizadaquandooprofetaosdesafiaapredizeremofuturo:9

Tragamosseusídolosparanosdizeremoquevaiacontecer.

...quenosdeclaremascoisasvindouras,revelem-nosofuturo,paraquesaibamosqueelessãodeuses.(Is41.22,23)

Tragaopovoquetemolhos,masécego,Qualdelespredisseisto

eanunciouascoisaspassadas?(43.8,9)

Quementãoécomoeu?Queeleoanuncie,queeledeclareeexponhadiantedemim...oqueaindaestáparavir;...eoqueiráacontecer.(44.7)

Declaremoquedeveser,apresentemprovas...Quemhámuitopredisseisto,

quemodeclaroudesdeopassadodistante?(45.21)

Deixeseusastrólogosseapresentarem,aquelesfitadoresdeestrelasquefazemprediçõesdemêsamês,queelesasalvemdaquiloqueestávindosobrevocê;...

Cadaumdelesprossegueemseuerro;nãoháninguémquepossasalvá-la.(47.13,15)

Os ídolos mudos não conseguem falar nem com respeito às prediçõesfeitas no passado nem sobre a possibilidade de predizer o futuro. Eles nãoconseguem indicar alguma ocasião no passado em que predisseram algumacoisacorretamente,enãoconseguempredizero futuro–nãosóporquenãoconseguemfalar,maspelosimplesfatodenãoteremcapacidadedecontrolarofuturo.10O deus que prediz o futuro precisa ter, também, a capacidade defazeraconteceressefuturo.

O fracassodos falsosdeusesdasnaçõespagãsde responder aodesafiopara predizerem o futuro deu ocasião para o único Deus verdadeiro, oSENHOR da Aliança de Israel, mostrar seu poder de antecipar o futuro. Emcontrastecomtodososoutrossupostosdeuses,Eletemopoderdecontrolarofuturo.ODeusdeIsraelaceitaseuprópriodesafio.Elefalaespecificamentearespeito de um evento dramático ainda por acontecer na vida de Israel, queenvolve o curso das mais poderosas nações da terra. Especificamente, Eleprediztrêscoisas:(1)oretornodeIsraeldoseuexílio;(2)amençãodeCirocomo libertador de Israel; e (3) a vinda do sofredor servo do SENHOR daAliança.

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a.OretornodeIsraeldoexílioUsando o recurso da recapitulação profética dos eventos salvíficos

passadoscomoformadeantecipara redençãono futuro, IsaíaspredizqueoSENHOR daAliança fará seupovoexperimentarumnovoêxodoeumanovaperegrinaçãopelodeserto.Elesserãolibertosdaescravidãodoexílioquelhesfoiimpostaporseusinimigos:11

Esqueçamoquesefoi;nãovivamnopassado.

Vejam,estoufazendoumacoisanova!Elajáestásurgindo!Vocêsnãoareconhecem?

Aténodesertovouabrirumcaminhoeriachosnoermo.(Is43.18,19)

Nãotremam,nemtenhammedo.Nãoanuncieiistoenãoopredissemuitotempoatrás?

Vocêssãominhastestemunhas.(44.8)

EusouoSENHORdaAliança...queexecutaaspalavrasdeseusservosecumpreasprediçõesdeseusmensageiros,

quedizacercadeJerusalém:Elaseráhabitada,edascidadesdeJudá:Elasserãoconstruídas,edesuasruínas:Euasrestaurarei...(44.24,26)

Desdeoiníciofaçoconhecidoofim,desdetemposremotos,oqueaindavirá.(46.10)

Eupredissehámuitoascoisaspassadas,minhabocaasanunciou,eeuasfizconhecidas;entãorepentinamenteagi,eelasaconteceram...

Porissohámuitolheconteiessascoisas;antesqueacontecessemeuasanuncieiavocê...(48.3,5)

ÉbemclaraaintençãodessasedeoutrasdeclaraçõesquepermeiamestaseçãodeIsaías.ODeusdeIsaíasaceitaparasimesmoodesafioqueEle fezaosfalsosdeuses,quepredissessemofuturo.Aquiloqueelesnãoconseguiamfazer,Ele é capazde fazer.Pelo fatode sóEle serDeus,Ele, e somenteElepodepredizerofuturo.

No âmago da predição do Senhor, encontra-se o anúncio de que Israelserá restauradodo exílio.Ver as palavras do profeta como se tivessem sidoproferidasdepoisdeocorridoofatonegatotalmenteoimpactointencionadopor esta predição. Uma análise das circunstâncias exigidas para que esseeventoprofetizadoviessedefatoaocorrerexpõeseucaráterextraordinário.Emprimeiro lugar, o ImpérioBabilônico tinha de ser conquistado por umapotência ainda desconhecida. Depois, essa potência estrangeira tinha de

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reverter a política de deportação dos povos conquistados praticada pelosbabilônios.E,finalmente,opovoisraelitaprecisavaestardispostoaretornar,adespeito do confortável estilo de vida que tinham conquistado na Babilôniadurante seu exílio. Mas, “na plenitude do tempo”, surgiu o Império Medo-Persa. Imediatamente depois de conquistar aBabilônia, Ciro promulgou seudecreto de que os povos deportados deviam receber assistência pararetornarem para sua terra natal. Apesar de apenas um pequeno número deexiladosjudeusteratendido,oretornopreditoocorreu,eopovodeIsraelfoirestabelecidonaterraprometida.

Essa representação da restauração num contexto de profecia preditivamais de 100 anos antes de ocorrer o evento pode ser considerada de duasformas. Por um lado, o material pode ser deslocado pelos corredores dahistória de forma que os eventos em consideração sejam vistos comoocorridosporocasiãodasupostaprediçãodeIsaías.Emdecorrênciadisso,aaparenteprediçãodeIsaíasarespeitodosacontecimentosfuturosacabasendoapenas uma inteligente análise política feita por alguém que viveu na épocadesses acontecimentos. Por outro lado, o material pode ser tratado comoaquilo que ele diz ser, ou seja, são predições divinamente inspiradas deimportantes eventos futuros e foram de fato registrados nessas porções daprofeciadeIsaías.

O maior problema para entender esses versículos como verdadeiraspredições do futuro diz respeito à contestação que eles representam a umaabordagemnaturalista da história e experiência humanas. Se as intervençõessobrenaturais de Deus são excluídas da arena da história humana, então ainevitável suposição é que deve ser totalmente impossível que qualquer serhumanopossuaconhecimentoexatoarespeitodeeventosfuturos.Masopontodevistaquenegaarealnaturezapreditivadessaspalavrasnofinaldascontasdepara-se comomaior número de problemas, especialmente se uma pessoaprofessa crer noDeus que se apresenta nasEscrituras da antiga aliança.Emprimeiro lugar,éprecisoexplicarograndenúmerodeoutrasantecipaçõesarespeitodoexílioedarestauraçãoqueestãonosprofetasanterioresaoexílio,incluindo Isaías, como já mencionado anteriormente. A certa altura dasargumentações, o manejo do material de maneira que se amolde a umapreconcebida teoriabaseadana impossibilidadedaprediçãoperde seupoderde convencimento. Talvez seja útil considerar as consequências de uma“pretensa”profecia preditiva em Isaías. Se o próprio Isaías não tivesse feitonenhuma predição genuína a respeito do futuro, então o Deus de Israel setornariaosupremoobjetodasuaprópriazombariasarcástica.Osídolosnãoconseguem predizer o futuro porque não conseguem falar; mas o Deus de

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Israel, de acordo com essa teoria, lançou umdesafio a respeito da prediçãoqueElepróprionãoconseguiaexecutar.

Um ponto de vista muito mais consistente a respeito desse materialconcede glória ao Deus do tempo e da eternidade, o Deus que desde oprincípiopossuiumpropósitoredentorparatodasaseras.SeesseSenhordetoda a criação fez o mundo com um propósito, será que Ele não temconhecimentonemcontrolearespeitododesenrolardosimportanteseventosquedeterminarãoarealizaçãodessepropósito?NãoétestemunhouniformedaEscrituraquetantoosmenorescomoosmaioresacontecimentosdestemundoestão sob sua direção, ao mesmo tempo em que Ele afirma que as pessoastomamsuasprópriasdecisões?EsseDeusdasEscriturasérealmentedignodeserchamadoDeus.

b.AmençãodeCirocomolibertadordeIsraelApreocupaçãomaisespecíficadaquelesquenegamaverdadeiranatureza

preditivadessasprofeciasdeIsaíasgiraemtornodamençãodeCirocomoolibertador de Israel bem mais de 100 anos antes dele surgir no cenário dahistória.Mesmoque se admita queumDeus onisciente e onipotente pudessefazer esse tipo de predição, permanece a pergunta: Por que faria Ele umaprediçãotãoexataarespeitodofuturo?

Umavezmais,essaespantosaprediçãonãodeveserlidaàpartedafiguramaior dos propósitos redentores deDeus apresentados no livro de Isaías.Amenção da pessoa que seria o instrumento escolhido de Deus para fazerretornar seu povo à sua terra natal não ocorre como um simples fenômenoisolado. Em várias ocasiões, sua pessoa e obra se tornam conhecidas comoinstrumento escolhido de Deus para promover o plano mais amplo daredençãodoseupovo:12

Desperteiumhomem,edonorteelevem;desdeonascenteproclamaráomeunome.

Pisaemgovernantescomoemargamassa,comoooleiroamassaobarro.(Is41.25)

EusouoSENHORdaAliança,quefiztodasascoisas...

queexecutaaspalavrasdeseusservos...quedizacercadeCiro:Eleémeupastor,

erealizarátudooquemeagrada;elediráacercadeJerusalém:“Sejareconstruída”,edotemplo:“Sejamlançadososseusalicerces”.(44.24,26,28)

AssimdizoSENHORdaAliançaaoseuungido:

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aCiro...Euireiadiantedevocê...paraquevocêsaibaqueeusouoSENHORdaAliança,

oDeusdeIsrael,queoconvocapelonome.PoramordemeuservoJacó,

demeuescolhidoIsrael,euoconvocopelonome

elheconcedoumtítulodehonra,emboravocênãomereconheça.(45.1-4)

Doorienteconvocoumaavederapina;deumaterrabemdistante,umhomemparacumpriromeupropósito.

Oqueeudisse,issoeufareiacontecer;oqueplanejei,issofarei.(46.11)

Nãoéapenasumprognósticoarespeitodeumacontecimentofuturoquedeixará o povo maravilhado e boquiaberto.13 Essa predição a respeito dohomem designado por Deus para libertar seu povo do exílio amolda-se noplanomaisamplodosprogressivospropósitosdaredenção.CirofoiindicadoporDeusparaserviraosseuspropósitosreveladosnaredençãodeumpovoparasimesmo,eoretornodeIsraelparaaterraprometidaeraparteintegrantedesseprocesso.Aopredizeresseeventoantesqueacontecesse,oSENHOR daAliança provou que os eventos da história da redenção não eram simplesocorrências do acaso. Pelo contrário, eles foram soberanamente ordenadosporDeusoCriadoreRedentor.

Essa conexão das profecias a respeito de Ciro com os propósitosredentoresdeDeuséressaltadapelasimultâneaapresentaçãodeumasegundasériedeprediçõesarespeitodoservosofredordoSenhor.Entretecidasnessaseção da profecia de Isaías, essas profecias são na verdade maisimpressionantes do que as predições a respeito deCiro e focamcommaiorprecisãoaindaoâmagodaobraredentoradeDeusnomundo.Édignodenotaquealgunsestudiososdefendamenergicamenteacorreçãodessasegundasériede predições como reais antecipações do futuro ao mesmo tempo que dãoexplicaçõesracionalistasarespeitodasprofeciasdarestauraçãodeIsraeledamenção de Ciro. Esse conjunto adicional de predições põe em foco umasegunda figura especial agora bem conhecida como o “sofredor servo doSenhor”.

c.AvindadosofredorservodoSENHORdaAliançaAsprediçõesarespeitodossofrimentoseexaltaçõesdoservodoSenhor,

que são apresentadas nosmesmos capítulos de Isaías que contêm a profeciareferenteaCiro,nãodevemserconsideradasàpartedoquadrogeraldoexílio

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e da restauração que está sendo revelado simultaneamente pelo profeta. AprópriadeterminaçãodequeanaçãoeleitaprecisapassarpeloexílioepelarestauraçãoencontrasuaexpressãopersonificadanossofrimentoseexaltaçõesdessesingularservodoSenhor.Narealidade,asignificaçãoproféticadoexílioe da restauração de Israel tem sua concretização plena nos sofrimentos eexaltações do servo, enquanto os sofrimentos e exaltações do servo têm suasignificação última em sua natureza vicária substitutiva em favor da naçãoeleita.

Essainterconexãoentreocorpocoletivodanaçãoeleitaeoindivíduo,oservodoSenhor,éconfirmadanãoapenaspela semelhançadasexperiênciasdasduaspessoas.Elatambémencontravívidamanifestaçãonafacilidadecomqueapalavraservoéaplicadaprimeiroànaçãoeleitaedepoisaoservocomoindivíduo (Is 42.19; 44.1,2,21; 42.1; 49.3; 52.13). A experiência de umaprenuncia a experiência do outro; os sofrimentos e a exaltação do singularservoservemdeformavicáriaparaalcançarredençãoparaosváriosservos.Tantoanaçãoeleitacomooindivíduoservosofremotraumadadevastaçãoerejeiçãoporpartedoshomensedasnações,umaatravésdoexíliodanação,eooutro atravésde agressões contra suapessoa.Eles sãoumpovopilhadoesaqueado, sobre quem foi derramada a ira de Deus (44.22,25); e ele é“desprezadoerejeitadopeloshomens”(53.3NVI),emúltimaanáliseporqueeraavontadedoSenhorfazê-losofrer(53.10).Tantoanaçãocomoapessoado servo experimentam o regozijo da honra e proeminência, uma pelarestauração da nação e o outro pela exaltação pessoal. O Senhor diz queJerusalémeascidadesdeJudá“serãoconstruídas”,poisElevairestaurarsuasruínas (44.26); e Ele afirma que seu servo será engrandecido (52.13) ereceberáumaporçãoentreosgrandes(53.12).

Esseentendimentointegradodarelaçãodanaçãoeleitacomoindivíduoservo fornece uma estrutura para se entender a natureza preditiva dessasdeclarações.ComoIsaíasantevêasituação,aobravicáriadosofrimentoaindanãofoialcançada.ApesardegrandepartedalinguagemdeIsaías53estarnaforma gramatical que parece indicar ação completada, a humilhação e aexaltaçãodoservoprecisamsercompreendidascomoacontecimentosfuturos.“Ele foi ferido por causa das nossas transgressões” não significa que oferimento tenha sido feito na ocasião em que essas palavras foram escritas.Pelocontrário,amaneiradefalarse refereaeventos futurosdaformamaisvívida possível, como se os eventos já tivessem ocorrido. Essas palavrasproféticasarespeitodossofrimentoseexaltaçõesdesseindivíduoservosãodenaturezapreditiva,antecipandoacontecimentosnahistóriaque,daperspectivadopróprioprofeta,aindaestãoporocorrer.

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Aomesmo tempo, a despeito da sua realização futura, como é vívida amaneiracomosãodescritas:14

Ofereciminhascostasàquelesquemebatiam...nãoescondiaface

dazombariaedoscuspes.(Is50.6)

Certamenteeletomousobresiasnossasenfermidadesesobresilevouasnossasdoenças;...(53.4)

...comoumcordeirofoilevadoparaomatadouro...(53.7)

...emboranãotivessecometidonenhumaviolêncianemhouvessenenhumamentiraemsuaboca.(53.9)

...elelevouopecadodemuitos,epelostransgressoresintercedeu.(53.12)

Tambémfareidevocêumaluzparaosgentios.(49.6)

[Ele]seráengrandecido,elevadoemuitíssimoexaltado.(52.13)

Emsualeiasilhasporãosuaesperança.(42.4)

A pergunta que naturalmente surge a respeito dessas predições é: “Dequemoprofetaestáfalando?Desiprópriooudeoutro?”(At8.34).Aperguntanão é: “A respeito de quê o profeta está falando?” – pois essamensagem éclarapara todosquea leem.Emvezdisso,aperguntasempre temsido:“Dequemoprofetaestáfalando?”

ÉevidentequeesseindivíduoservonãopodeserconfundidocomanaçãodeIsrael,jáqueemváriascircunstânciasseuministériosedirigeaIsraeleéem benefício da nação (Is 49.5,6; 53.4,5). Se examinarmos os registros dahistóriahumana,nãoencontraremosninguémcujavidaseequipareatodososdiferentesaspectosdessaprediçãoarespeitodoindivíduoservodoSenhor–com uma única exceção. Em Jesus, o homem de descendência judaica, queviveunaPalestina2.000anosatrás,todasessasprediçõessecumprem.Elenãorecebeu crédito da grandemaioria do seu próprio povo da nação judaica eaindaagoraamaiorianãocrênele(Is53.1;Jo12.38).SuamaneiradeservirerasuportarcompaciênciaaquelesqueseopunhamaEle,evitandooconflitosempre que possível (Is 42.3; Mt 12.14-21). Ele absorveu em si mesmo asfataisdoençaseenfermidadesdosoutros,paraquepudessemexperimentaracura (Is 53.4; Mt 8.17). Ele deixou que o ofendessem e maltratassem,recebendodapartedosseusatormentadorescusparadas,bofetadasezombarias(Is50.6;Mt27.30;26.67).Quandojulgado,Elefoi levadocomocordeiroaomatadouro,nãoabrindoabocaemdefesaprópria(Is53.7;Mt27.12-14).Ele

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nãocometeuviolênciacontraninguém,nemenganoalgumsaiudasuaboca(Is53.9; 1 Pe 2.23). Ele não sofreu por causa dos seus próprios pecados, maspelospecadosdosoutros(Is53.12;1Pe2.24).Comoconsequênciadoseufieltrabalho, seunome foi exaltadoacimadequalqueroutronome (Is52.13;Fp2.7,9-11). Hoje Ele se tornou uma luz para as nações gentias, e os maislongínquoslugaresdaterradepositamneleasuaconfiança(Is42.4;49.6;At13.47).

Alguns supõem, como certos críticos costumam fazer, que todos essesparalelosentreoindivíduoservodeIsaíaseapessoadeJesussãoinvençãodaIgrejacristãprimitiva.Éimpressionanteque,quandofazemisso,elesmesmoscumprem as predições a respeito do servo do Senhor, rejeitando-o por nãocreremnele(Is53.1).Éprecisoreconhecerqueosautoresdosdocumentosdanovaaliançatinhamapossibilidadedemanipularseusprópriosregistros.MaséóbvioqueelesnãotinhamcomomanipularosdocumentosdasEscriturasdaantigaaliança.Emdecorrênciadisso,aperguntadoeunucoetíopeaindaexigeresposta:“Dequemoprofetaestáfalando?Desiprópriooudeoutro?”E,seelefaladealguémdiferentedeJesusCristo,queméqueaomenoschegapertodosdetalhesdasuadescrição?Seráquenãoexisteninguémmaisnahistóriadahumanidadequepreenchaessasexpectativas?

A falta de resposta a essa pergunta conduz naturalmente à resposta deFilipeàindagaçãodoeunuco:“Começandocomessetexto,elelhepregouasboas novas de Jesus” (At 8.35). Sem considerar outras predições dosdocumentosdaantigaaliançaaqueavidaeministériodeJesuscorrespondem,arelaçãodasuapessoaeobracomasprediçõesarespeitodoindivíduoservono livro de Isaías é suficientemente extraordinária para que o mundo aconsidere.

À luz desses fatos, é preciso reconsiderar o assunto das predições arespeito de Ciro.Muitos crentes que se denominam evangélicos concordamplenamente coma natureza preditiva das palavras a respeito desse indivíduoservo mencionado por Isaías e seu cumprimento na pessoa de Jesus. Aespantosanaturezapreditivadessematerialseaplicaquerapessoaconsidereesta seção de Isaías como escrita no século VIII a.C. (700 anos antes donascimentode Jesus) ouno séculoVI a.C. (500 anos antes de Jesus nascer).Essasprediçõesespecíficas sãodenatureza talqueé impossível falardeumcumprimentomaisrecenteemaisdistante,jáqueoministériodesseindivíduoservoélevarospecadosdoseupovo,esomenteJesus,quenãotinhapecado,podia cumprir essa expectativa.Os evangélicos em geral insistem que essaspalavrasespecíficaspredizemavidaeoministériodapessoadeJesus.

Porque,então,podemosperguntar,deveriamasprediçõesa respeitoda

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vida eministério deCiro ser tal pedra de tropeço para os evangélicos, semfalardarejeiçãodasuanaturezapreditivaporpartedoscríticosedescrentes?Éevidentequetantoomaterialarespeitodoexílioedagloriosarestauraçãode Israel e a identificação deCiro comoo escolhido libertador da nação seencontramnumcontextodeprofeciapreditiva.Omaterial faladecoisasqueCiro,comoservodeDeus,aindavaifazeredeumalibertaçãodoexílioque,da perspectiva do profeta, ainda está no futuro. Não existe evidênciamanuscrita que indique que esse material alguma vez existiu em formaseparadadolivrodeIsaías.Todaaestruturadodesafioàprediçãodomaterialreferente a Ciro torna-se uma base legítima para que a zombaria de Isaíascontra os ídolos caia sobre sua própria cabeça se for negada a naturezapreditiva das palavras a respeito de Ciro. A sugestão de que o autor dessematerial, quem quer que seja, era simplesmente um esperto prognosticadorpolítico da época de Ciro quase 200 anos depois do Isaías Ben Amoz doséculoVIIInãoseharmonizacomocontextodessasdiversaspredições.

Porfim,ojuízomaiscoerentepodeserconsideraraspalavrasarespeitode Ciro como um apêndice da profecia preditiva nos documentos da antigaaliança, adequadamente projetadas como estrutura para as prediçõesconsumadasarespeitodovindouroservodoSenhor.Aprofeciaarespeitodalibertaçãoefetuadaporumservotorna-seaestruturaqueenglobaalibertaçãomaiormediadapeloconsumadoservodoSenhor.

Deve-senotaraestaalturaqueaabordagemcanônica,tãofavoravelmenterecomendadaemmuitoscírculos,temoefeitodecortaraveiajugulardessasprofeciaspreditivas.SeamaiorpreocupaçãodainterpretaçãobíblicaseapoianaformafinaldequalquerparteespecíficadaEscritura,entãoaideiadeumaprediçãocomrespeitoaoexílioeàrestauraçãodeIsraelcorreoriscodenãopossuirvalornenhum,jáquesesupõequeaprofeciadefatotomouformasódepois da pretensa predição ter ocorrido. Se omaterial que se encontra emIsaíascomoumaprediçãodofuturonaverdadeassumiuessaformasomentedepoisdeteremocorridooseventosdoexílioedarestauração,oupelomenosquandoeramiminentes,entãoaprediçãonãoéprediçãocoisanenhuma.Piorainda,aformafinalprecisaserconsideradacomofarsa,uma“predição”quenavega sob falsa bandeira. Pior do que não falar nada a respeito do futuro,como o faziam os ídolos dos deuses pagãos, seria fingir predizer o futuroquandonaverdadeomaterialproféticoveioaexistirdepoisdeocorridososfatos. Não é de surpreender que os mais espertos subscritores das antigasabordagens críticas com respeito aos documentos do Antigo Testamentoqueiramsaberporqueseuscolegasdeveriamaborrecer-secomocriticismocanônico. Se entendidas de forma apropriada, nenhuma das premissas do

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criticismomaisantigofoiderrotadapelocriticismocanônicomaisrecente.

2.AprediçãodeJeremiasarespeitodos70anosdeexílioA predição mais inconfundível de Jeremias a respeito do exílio e da

restauração encontra-se em sua declaração de que Israel vai permanecer nocativeiropor70anos.Porumlado,eleafirmaqueanaçãocativavaiserviraBabilônia por 70 anos (Jr 25.11). Por outro lado, ele afirma que Israelretornaráparasuaprópriaterradepoisde70anos(29.10).Asduasideiasnãosãoexatamente idênticas,poiserapossívelquedepoisde70anoso ImpérioBabilôniosedesfizessesemqueIsraelvoltasseparaa terraprometida.Essasduasprofeciasespecíficascombinam-separamostrara importância tantodoexíliocomodarestauraçãodeIsraelparaospropósitosdeDeus.

Ocálculodesseperíodode70anoséfeitodeváriasformas.15AmaneiramaisóbviadelidarcomoassuntoéperceberqueJeremiasdizqueestapalavraespecífica do Senhor veio a ele 23 anos depois do décimo terceiro ano doreinadodeJosias(Jr25.3).Josiascomeçouareinaremaproximadamente640a.C., de forma que o décimo terceiro ano é aproximadamente 627 a.C. Se adataçãoéconsideradadeformainclusiva,23anosapartirdaqueladataé605a.C.,oquecorrespondeàdatadaprimeiradeportaçãodeJudáexecutadaporNabucodonosor (2Rs24.1,2;2Cr36.5-7;Dn1.1-6).Setentaanosmais tardeseria536a.C.,oquecorrespondecomexatidãocomadatadodecretodeCirode que os povos trazidos para o exílio pelos babilônios são autorizados aretornarparasuaterranatal.16

Comosedevetratarumaprediçãodessetipo?Seráquedevemosatribuirà sagacidade política de Jeremias essa especificação de 70 anos para aextensão do exílio de Israel? Isso é improvável, uma vez que nenhumconhecimento político poderia determinar que o exílio de Israel fosse durarexatamente70anos.Será,então,quedevemosconsideraressaprediçãocomoumcasoclássicodevaticiniumexeventu,umafalsaprediçãoquenaverdadefoi proferida somente depois de ocorrido o fato? A mente racionalista queexclui automaticamente todas as intervenções de Deus no presentemundo éforçadaachegaraessaconclusão.MasissolançadúvidassobretodoolivrodeJeremias,jáqueotemaunificadordolivroseconcentranaprediçãodeumexílioenarestauraçãodeIsraelqueaindaestavamporacontecer.Certamente,qualquer pessoa é livre para denegrir a integridade de toda a profecia deJeremias,masnãopodefazê-losemtambémquestionar todoooferecimentoda redençãopormeiodeum salvadordesignado comoconsequênciada sualigaçãocomosmesmostemasdoexílioedarestauração.NãoerapossívelqueamensagemdivinadasalvaçãodeDeuspudesseserentreguepormeiodeum

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antigotextoinventadoecorrompido,quefingiapredizeraquiloquenãotinhapossibilidadedesaber.

É claro que existe quem pense de forma diferente. Considerando aintegridadedo texto comoum todo, a ideiade exatamente70anosde exíliopara Israel se harmoniza não apenas com os fatos históricos objetivos,mastambémestádeacordocomaantigateologiadoAnodeDescanso.Conformeindicado no Livro das Crônicas, os 70 anos de exílio de Israel foramdeterminadosporDeusporquesuaextensãoseigualavaaoperíodonecessáriopara completar os Dias de Descanso negligenciados por Israel (2 Cr 36.21;veja também Lv 26.34,35).17 Onde quer que se encontre, a perfeição dotestemunho bíblico encoraja a fé. A mensagem especial deste livro produzconfiança, e sua capacidade de mostrar o poder de Deus agindo na esferahumanaérepetidamentedemonstrada.

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III.Osignificadobíblico-teológicodarestauraçãodeIsrael

JáavaliamososignificadodoexíliodeIsraeldasuaterra(vejaocapítulo11, §III). Mas agora precisamos refletir sobre o significado do eventoredentivodarestauraçãodeIsraeldoexílio.Quatroaspectosimportantescomrespeitoàrestauraçãodevemserconsiderados:arestauraçãodeIsraelimplicanoperdãodepecados;implicananovavidaemgraça;incluiasnaçõesgentias;e inclui o rejuvenescimento da terra, culminando na ressurreição dentre osmortos.

A.ArestauraçãodeIsraelimplicanoperdãodepecadosNosescritosdosprofetas,jamaisoretornodeIsraelparaaterraétratado

como um evento puramente mecânico. Assim como no êxodo do Egito opecadodopovofoiremovidopormeiodosanguedocordeiropascal,assimoperdãodospecadospormeiodaobravicáriadoservosofredorerapartevitaldarestauraçãodepoisdoexílio.Seopecadoprovocouoexíliodanação,entãoapurificaçãodopecadoéessencialparaelaserrestaurada.

O profeta Miqueias é meticuloso quando associa a experiência derestauração depois do exílio com o perdão do pecado. Ao concluir suaprofecia,eledeclara:

ComonosdiasemquevocêsaiudoEgito,alimostrareiasminhasmaravilhas.

Quemécomparávelati,óDeus,queperdoasopecadoeesquecesatransgressãodoremanescentedasuaherança?

Tu,quenãopermanecesiradoparasempre,mastensprazeremmostraramor.

Denovoteráscompaixãodenós;pisarásasnossasmaldadeseatirarástodososnossospecadosnasprofundezasdomar.

MostrarásfidelidadeaJacó,ebondadeaAbraão,

conformeprometestesobjuramentoaosnossosantepassados,naantiguidade.(Mq7.15,18-20NVI)

Ao destacar esse aspecto da restauração de Israel, Jeremias diz que osbabilôniosencherãoacidadede Jerusalémdecadáveresporcausade todaasuamaldade(Jr33.5).MasdepoisEletraráIsraeldevoltadoseuexílio:“Euospurificareidetodoopecadoquecometeramcontramimeperdoareitodososseuspecadosderebeliãocontramim”(33.8NVI).JeremiasregistraqueaAssíriafoiaprimeiraquedevorouIsraelequeNabucodonosordaBabilônia

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seráoúltimoaesmagarseusossos.MasagoraeleprometequevaipuniroreidaBabilôniaassimcomopuniuoreidaAssíriaquandotrouxerIsraeldevoltaaoseuprópriopasto:

Naquelesdias,naquelaépoca,declaraoSENHORdaAliança,

seprocurarápelainiquidadedeIsrael,masnadaseráachado,

pelospecadosdeJudá,masnenhumseráencontrado,poisperdoareioremanescentequeeupoupar.(Jr50.20NVI)

QuandoDanielpercebequeos70anosdecativeiropreditosporJeremiasestão finalmente chegando ao fim, imediatamente se lança numa extensaoração de confissão (Dn 9.2,4-19). No final, ele suplica a restauração dosantuárioedacidadedeles,exclamando:“Nãotefazemospedidosporsermosjustos, mas por causa da tua grande misericórdia. Senhor, ouve! Senhor,perdoa! Senhor, vê e age!” (9.18,19 NVI). Dessa mesma forma, Ezequielobservaque,nodiaemqueoSenhorospurificarde todososseuspecados,Elerepovoarásuascidades,esuasruínasserãoreconstruídas(Ez36.33).

E como poderia ser de outra forma? Se o pecado e a culpa que oacompanha forama causado exíliode Israel, entãooperdãodopecadoe aremoçãodaculpasãoessenciaisparaarestauraçãodepoisdojuízodoexílio.Mas como poderá ser efetuado esse perdão de pecados? Como pode esseperdão de pecados ser diferente das anteriores provisões do Senhor a esserespeito?

Jeremiasrespondeespecificamenteessasimportantesquestõesatravésdoseu ensino sobre o estabelecimento da nova aliança. Uma vez mais, numcontexto de restauração depois do exílio, o profeta aponta para umrelacionamentopactual inteiramentenovono futuro,quenão serádeacordocomaantigaaliançafeitanoSinaiquandoDeustirouseupovodoEgito.Nessanovaaliança,opovovai receberumnovocoração,pois seuspecados serãototalmente perdoados, eDeus não vaimais lembrar-se dos seus pecados (Jr31.33,34).Umaconstante lembrançadapermanentepecaminosidadedopovoera algo inerente ao antigo sistema sacrificial. Ano após ano, quandoapresentavamseussacrifíciosnoDiadaExpiação,eleseramaomesmotempolembrados que seus pecados pendentes ainda precisavam ser perdoados.Agora,sobessanovaaliança,nãohaveránuncamais lembrançanenhumadepecado.

Como será concretizada essa nova aliança?Quando será providenciadosacrifício adequado para a remoção do pecado de uma vez por todas? Essa

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aliança consumada tem sua manifestação histórica quando Jesus Cristo,primeiro de forma simbólica e depois real, substituiu o sacrifício do seuprópriocorpoesangueemlugardaofertadocordeiropascal(Lc22.20).Seusanguederramadoqueexpiaospecadosdoseupovodeumavezportodaséosanguequedá inícioànovaaliança(Hb9.25-28).Pormeiodessesacrifício,executa-se uma plena e completa restauração do seu povo. Devido à suasingularidade,nãoépossívelnenhumarestauraçãodopecadorparacomseuDeusàpartedaremoçãodospecadospormeiodessesacrifício.

B.ArestauraçãodeIsraelimplicananovavidaemgraçaA visão de Jeremias dos dois cestos de figos (Jr 24)mostra de forma

vívida que a experiência da restauração deve ser considerada como umaquestãodefavorimerecidodasmãosdeumDeusgracioso.Deacordocomavisão,queveiologodepoisqueoreiJoaquimeosprincipaislíderestinhamsidolevadosparaoexílio,umcestocontémfigosmuitobons,eooutroestácheiode figos tão ruinsquenãopodemser comidos.Ocestode figosbonsrepresenta Joaquim e o povo que já foi levado para o exílio.A despeito dopecadoquelevouessaspessoasaserembanidasdaterraprometida,oSenhorvai cuidardelespara seubemeno finaldascontas trazê-losdevoltaparaaterra.Elevaiedificá-losenãodestruí-los;vaiplantá-losenãodesarraigá-los;vai dar-lhes um coração para que o conheçam (Jr 24.5-7, com o uso deextensofraseadoextraídodoversículotemadolivro:Jr1.10).

De formabemclara, nada alémda graça doSenhor pode explicar essaforma de tratar esses exilados. Eles já foram apresentados como objetosmerecedoresdairadeDeusquandoforamexiladosporEledasuaterra.MasagoraoSenhorsecomprometea fazê-losprosperarcombênçãoseno finalrestaurá-los para a terra. O caráter gracioso e imerecido dessa bênção éressaltadopelofatodoSenhortomarainiciativaemdar-lhesumcoraçãoparaque o conheçam. Antes desse soberano ato de misericórdia, esse povo nãomanifestavaumadequadoamorporEle.Adescriçãodessesfigoscomosendobons não se refere a alguma característica inerente de boa qualidade. Pelocontrário,essaboaqualidadedevesuaorigemàsoberanainiciativadoSenhor,que transforma os corações corruptos desse povo. Algum dia no futuro,ocorreráumaregeneraçãonomaisprofundodoseuser–masunicamentepelagraçadeDeus.

Poroutrolado,osfigosruinsrecebemapenasaquiloquemerecem,nadamais,nadamenos.EssesfigosruinsrepresentamZedequiaseosisraelitasqueainda continuam na terra. Assim como o primeiro cesto de figos, elesmerecem a ira e o juízo do Senhor por causa dos seus maus caminhos e

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perversocoração,enadivinaadministraçãodajustiçaéexatamenteoquevãoreceber (Jr24.8-10).Nomistériodagraça salvadoradeDeus,omistériodadivinaeleiçãoereprovação,algunsvasossãopreparadosparaglória,eoutrosparadestruição (Rm9.22,23).O exílio e a restauraçãode Israel expõememletrasgarrafaisessesprincípioseternos.

ComomanifestaçãodagraçadeDeus,a restauraçãodeIsraeldepoisdoexíliovaisobrepujaropróprioeventodoêxodo:

“’Portanto, vêmdias’, diz oSENHOR daAliança, ‘em que nãomais se dirá: ‘Juro pelo nome doSENHORdaAliança,quetrouxeos israelitasdoEgito’,massedirá:‘JuropelonomedoSENHORdaAliança,quetrouxeosdescendentesdeIsraeldaterradonorteedetodasasnaçõesparaondeosexpulsou’.Eelesviverãonasuaprópriaterra.”(Jr23.7,8NVI)

Assim,arestauraçãodeIsraeldoexíliopersonificaumeventoredentivoque ofusca até a importância do êxodo. A graciosa obra dos propósitoseletivosdeDeusserámaisevidente,poisIsraeleJudánãoserãoabandonadosporseuDeus,“emboraa terradosbabilôniosestejacheiadeculpadiantedoSantode Israel” (Jr 51.5NVI).Deus, em suagraça emisericórdia, escolheuessepovoeotraráparaomonteSião(3.14).

Mas essa restauração não acontecerá sem a participação de Israel, pois“Voltarão comchoro, suplicarão enquanto euos conduzir” (Jr 31.9NVI).OSenhorouveolamentodeEfraim:

Defato,depoisdedesviar-me,eumearrependi;

depoisqueentendi,batinomeupeito.

Estouenvergonhadoehumilhadoporquetragosobremimadesgraçadaminhajuventude.(Jr31.19NVI)

Um arrependimento que envolva exame de consciência e tristeza pelopecado precisa acompanhar a libertação do juízo divino. Em antecipação aessas entranhadas agonias, o profeta prediz o arrependimento quecaracterizaráoretornodepoisdoexílio.Àmedidaqueanaçãoretorna,opovode Israel eopovode Judávirão juntos“chorandoebuscandooSENHOR daAliança, o seu Deus” (Jr 50.4 NVI). Mas essas lágrimas não durarão parasempre. Uma das grandes consequências da restauração será o retorno daalegriaedafelicidade:

OSENHORdaAliançaresgatouJacóeolibertoudasmãosdoqueémaisfortedoqueele.

ElesvirãoecantarãodealegrianosaltosdeSião;

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ficarãoradiantesdealegriapelosmuitosbensdadospeloSENHORdaAliança:ocereal,ovinhonovo,oazeitepuro,

ascriasdasovelhasedasvacas.Serãocomoumjardimbemregado,

enãomaisseentristecerão.Entãoasmoçasdançarãodealegria,

comotambémosjovenseosvelhos.Transformareiolamentodelesemjúbilo;

eulhesdareiconsoloealegriaemvezdetristeza.(Jr31.11-13NVI)

Aoseremrestaurados,“maisumavezseouvirãoasvozesdejúbiloedealegria,donoivoedanoiva,easvozesdaquelesquetrazemofertasdeaçãodegraças para o templo do SENHOR da Aliança, dizendo: ‘Deem graças aoSENHORdaAliançadosExércitos,poiseleébom;oseuamorlealduraparasempre’.‘Porqueeumudareiasortedestaterracomoantigamente’,declaraoSENHORdaAliança”(Jr33.10c,11NVI).

Ao citar essa bem conhecida frase dos Salmos a respeito do caráterpermanentedoamordeDeus,JeremiascolocaarestauraçãodoexílioladoaladocomospoderososfeitosdeDeusnaCriaçãoenaRedenção(Sl136.1;1Cr16.34).Pormeiodessegrande evento final de salvação, oSenhor trouxealegria eterna para seu povo. Mas como será possível identificar ocumprimento dessa promessa da graça na restauração? Será que o povoretornouparasuaantigaterracomumcoraçãorenovadoconformeoprofetaantecipou,depoisdetranscorridosos70anosdeJeremias?

Aevidênciadosprofetasposterioresaoexílioindicaqueemalgunscasosa graça de Deus estava claramente agindo no coração do povo enquantoretornavamdaBabilônia.DepoisdasexortaçõesdeAgeu,oespíritodopovofoimovidodetalforma,quecomeçaramareedificarotemplo(Ag1.14).Masaimperfeiçãodasuarespostaindicavaanecessidadedeumcumprimentomaisamplodessaoperaçãodagraçanarestauração(Zc5.3,4;Ml1.6,8,13,14;2.2;3.8).

DeacordocomasEscriturasdanovaaliança,avindadeJesusjuntamentecom o ministério dos seus apóstolos proclamou a chegada do dia darestauração pela graça de Deus. Jesus começou seu ministério em Nazaréproclamandoo“diaaceitáveldoSenhor”(Lc4.18-21).Foipelagraçaqueaspessoas creram nas boas novas quando lhes foram anunciadas (At 18.27;13.48; 16.14; 20.24,32; Ef 2.8,9). Toda a instituição da nova aliança,começando com a escolha dos primeiros doze e sua rápida expansão pelovasto mundo gentio, indica as amplas dimensões em que atuava essarestauraçãopelainfusãodagraçadivina–econtinuaoperandoaténossosdias.Ainclusãodosgentiospodeporsisóserconsideradacomoaspectoprimário

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darestauraçãopelagraçaconformeretratadapelosprofetas.

C.ArestauraçãodeIsraelincluiasnaçõesgentiasA inclusãodosgentios comoaspecto significativodaprofeciapreditiva

foidestacadaanteriormente (vejacapítulo13,§III,C).Tambémé importantereconhecer que Israel não pode jamais ser considerado como devida ebiblicamente “restaurado” à parte da plena inclusão dos povos gentios.UmareorganizaçãodeIsraelnaterraprometidaqueressaltaonacionalismojudeueergue muros de separação entre eles e os povos gentios não corresponde àrestauraçãoretratadanosescritosdosprofetas.

Oseias e Amós, como profetas que se dirigiram ao reino do norte,fizeramdeclaraçõesfundamentaisqueserviramperfeitamentenaresoluçãodoproblemadainclusãodosgentiosnaIgrejacristãprimitiva.Noaugedodebateem Jerusalém, Tiago, como ministro dirigente apela para a declaração deAmós de que os povos gentios teriam o nome de Deus invocado sobre si,indicando sua eleiçãopara a salvação exatamente comoera o casode Israel(At 15.14-18). “Colocar o nome” do Senhor sobre uma pessoa resume umconceito bíblico repleto da ideia da soberana graça eletiva.Essa experiênciaoutroraseparouIsraelcomoopovopeculiardeDeus(Dt28.9,10).MasagoraamesmafraseologiaéusadatantonacitaçãodeAmóscomonoscomentáriosde Tiago (Am 9.11,12; At 15.14c,17c). Demaneira semelhante, Paulo cita areferência deOseias que descreve a transformação de “Não-Meu-Povo” empovodeDeuspara explicar a inclusãodosgentios (Rm9.24,25).Deacordocom o testemunho tanto dos profetas como dos apóstolos, a restauração doexíliotrazconsigo,deformainerente,ainclusãodospovosgentios.

Comousodeumaimpressionantefigura,Paulodescrevesuamissãoparacom os gentios em termos similares à linguagem do profeta Isaías. Elerecebeu a especial graçadeDeus “para serministrodeCristo Jesusparaosgentios”. Nessa qualidade, ele tem um “dever sacerdotal” de apresentar osgentios como “uma oferta aceitável aDeus, santificada peloEspírito Santo”(Rm 15.15,16). Dessa forma, o apóstolo encara seus esforços missionáriosparacomosgentioscomoumdeversacerdotaldanovaaliança.Pormeiodapregação do Evangelho para os gentios, ele consegue apresentá-los comosacrifíciosantificadoeaceitávelaDeus.

A figura apresentada por Paulo se compara de forma exata com amensagem final do livro de Isaías. Deus vai comissionar alguns dossobreviventes da catástrofe do exílio para uma tarefa especial. Eles vãoproclamaraglóriadeDeusentreasnações(Is66.19).Emdecorrênciadisso,assim como os israelitas trazem suas ofertas de grãos, assim esses

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mensageirosespecialmentecomissionadosvão trazer “irmãosgentiosdentretodas as nações” para o santomonte deDeus em Jerusalém comooferta aoSenhor(66.20).AlgunsdessesgentiosqueparticipamdarestauraçãodeIsraelserão então selecionados como “sacerdotes e levitas” para ofereceremserviçosdesacrifíciosaoSenhor(66.21).

Impossívelimaginarformadeexpressãomaisradical!Gentioschamadosde irmãos, purificados diante do Senhor em Jerusalém, e escolhidos pelopróprio Deus para servirem como sacerdotes e levitas nas mais sagradasfunçõesdiantedoSenhor.MastantoasEscriturasdaantigaaliançacomoasdanovaaliançaconfirmamofato.NenhumarestauraçãodopovodeDeuspodeser reconhecida como legítima sem a profunda inclusão dos povos dasdiferentesnaçõesgentias.OargumentodePaulo,conformeédestacadováriasvezesnasEscriturasdanovaaliança,équeessarestauraçãopelainclusãodosgentioséexecutadapormeiodasuapregaçãodoEvangelhodeJesusoCristo.Aqui e agora na presente época, a restauração do Israel de Deus tornou-serealidade.

D.ArestauraçãodeIsraelrejuvenesceaterra,culminandocomaressurreiçãodentreosmortos

AprediçãodarestauraçãonosprofetasvaimuitoalémdosimplesfatodoretornodeumremanescentedopovojudeudaBabilôniaparaaPalestina.Osprofetasentenderamumarestauraçãocomconsequênciasmuitomaisamplas,que incluiriam o rejuvenescimento da terra, culminando com a ressurreiçãodentreosmortos.

A renovação cósmica associada com a restauração das nações na visãodos profetas contrabalança a destruição cataclísmica da terra ligada com oexíliodeIsrael.JeremiasrelataqueoSenhorchoraelamentapelosmontesepastagensqueforamdesoladospeloexílio(Jr9.10,16).Aterravoltouaoseuestadooriginal,“semformaevazia”,asmontanhasestremecendo,osmontesoscilando,easavesdocéuvoandoembora(Jr4.23-25;cf.Gn1.2).OprofetaSofonias descreve o vindouro juízo de Israel em termos que lembram adestruição cósmica provocada pelo dilúvio no tempo de Noé. O Senhordeclaraque“vaivarrertudodafacedaterra”,inclusivehomens,animais,aves,epeixes(Sf1.3NVI;Gn6.7,17;7.21-23).Elevaicongregartodasasnaçõesereinos, pois todo omundo será consumido pelo fogo da sua ira zelosa (Sf3.8).

Uma correta consideração desses textos não nos permite simplesmenterelegá-los ao âmbito da hipérbole. Quando os profetas contemplaram ovindouroexíliodasuanação,elesviramneleumaimagemmicrocósmicado

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grande julgamento das nações domundo que ainda estava para vir. SeDeusdeviatratarseuprópriopovocomcorretajustiçadeacordocomostermosdamaldiçãopactual, entãoo restantedasnaçõesdomundopodiamesperarquenofinalreceberiamumtratamentojustosimilar(Is24.1,4-6,19-23;Jr25.30-33;Jl3.1-3,12-16).

As nações do mundo hoje fariam muito bem se considerassem asimplicaçõesdoexíliodeIsraelcomseuprópriofuturo.SeoúnicoCriadoreSustentador do universo trouxe juízos devastadores sobre sua naçãofavorecida,deveriamelasesperarmenosquantoasimesmas?

Nasprediçõesproféticassobreofuturo juízocósmicoassociadocomoexílio de Israel pode-se encontrar um modelo para avaliar as antecipaçõesproféticasdofuturorejuvenescimentocósmico.Éóbvioqueseusalinguagemfigurada em determinadas circunstâncias para retratar a grandeza da bênçãoquepodeseresperadanofuturo.Montanhasquedestilamvinhonovoemontesmanandoleitesãoimagensqueretratamvinhedoscheiosdefrutosegadoqueproduzmuito (Jl 3.18).A comparação da terra restaurada com o Jardim doÉden sugere uma renovação idílica, mas ao mesmo tempo indica umaexpectativaconsumadaqueseigualaaoestadooriginaldacriação(Is51.3;Ez36.35). “Cada um debaixo da sua própria vinha e figueira” é um retrato doparaíso restaurado como uma figura da condição esperada pela nação nofuturo(Mq4.4;Zc3.10;1Rs4.25;Is36.16).

Mas com essas imagens os profetas falavam com toda a seriedade arespeitoda transformaçãoda sua terraemconexãocoma restauraçãodeles.Depoisde tirarde Israelgrão,vinhoe lãpormeiodoprocessodoexílio,oSenhor lhes devolveria suas vinhas cheias de frutos (Os 2.9,15). Eleresponderiaaopedidodoscéus,oscéusresponderiamaopedidodaterra,eaterra responderia ao pedido do grão, do vinho e do azeite (Os 2.21,22).Juntamentecomumnovocoraçãoeumnovoespírito,oSenhordariaaoseupovo restaurado árvores frutíferas e colheitas abundantes (Ez 36.26,29,30).Para confirmar o testemunho de Oseias, profeta anterior ao exílio, e deEzequiel, profeta que participou do exílio, devemos citar o testemunho deZacarias,profetaposterioraoexílio:“Haveráuma rica semeadura,avideiradaráoseufruto,aterraproduzirásuascolheitaseocéuderramaráoorvalho.Edareitodasessascoisascomoumaherançaaoremanescentedestepovo”(Zc8.12 NVI). Com certeza, não foi nenhum idealismo platônico que ditou asexpectativas da restauração de Israel. Uma cultura moderna que compra osprodutosdaterraemfrascos,sacaselatastematendênciadeconsiderarcomolíquidas e certas essas coisas essenciais à vida.Mas as predições proféticascomrespeitoaotempodarestauraçãodevemservistascomosendocumpridas

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nagraçadeDeusconformeéatualmenteapresentadanaeradanovaaliança.Mas não é só isso.De acordo com as profecias de Isaías sobre os dias

vindouros, Israelvaigerminare florescer,enchendoomundo todocomseufruto (Is 27.6). O deserto vai rebentar em flores, e rios fluirão dos altosestéreis (35.1-7; 41.18-20). “Ele também lhemandará chuva para a sementequevocêsemear,eaterradaráalimentoricoefarto.Naquelediaoseugadopastaráemgrandesprados.Osboiseosjumentosquelavramosolocomerãoforragemesalespalhadoscomforcadoepá.Aluzdaluabrilharácomoosol,ea luzdo sol será setevezesmaisbrilhante, ...quandooSENHOR daAliançacuidardascontusõesdoseupovoecurarasferidasquelhecausou”(Is30.23-26NVI). Quando o Espírito é derramado lá do alto, o deserto se torna umcampofértil,eocampofértilpareceráumafloresta(32.15).

Nesse contínuo movimento de renovação da terra bruta até atransformação dos corpos celestes e a consumação do derramamento doEspíritodivino,édifícildeterminarondeterminaarealidadeeondecomeçaalinguagemfigurativa.Masaênfasebíblicanaunidadeindissolúveldofísicoedo espiritual recomenda cautela para não minimizar a expectativa de umatransformação cósmica final que removerá todo remanescente da maldiçãoque se originou com aQueda. Isso é exatamente o que o profeta prediz emtermosdasituaçãoconsumadadascoisas.“Oloboviverácomocordeiro,...eumacriançaosguiará....poisaterraseencherádoconhecimentodoSENHORdaAliançacomoaságuascobremomar”(Is11.6-9NVI).OSenhorcriaráumnovocéueumanovaterra,e(umavezmais–destaveznasegundaseçãodaprofecia de Isaías) o lobo e o cordeiro se alimentarão juntos (Is 65.17,25;66.22).Nãohánadanalinguagemdessaspassagensquesugiraalgodiferentede uma real transformação da terra em conexão com as dimensões maisamplasdeumarestauraçãofinaldetodasascoisas.

ÉnessaestruturaquesepodecompreenderarenovaçãofinaldopovodeDeus por meio da restauração dentre os mortos. Assim como a terra érejuvenescida, assim seu povo será ressuscitado. A declaração de Oseias dequeoSenhorfaráviveraquelesqueEleferiupoderiaserconsideradaapenascomoumareferênciaveladaàpossibilidadedaressurreiçãodentreosmortos(Os6.1,2).18MasasafirmaçõesdeIsaíascomrespeitoàressurreiçãodentreosmortossãotãoclarasqueevocamumaopiniãoquaseuniversaldoscríticosdaBíbliadequedevemserinserçõesposteriores:

Nestemonteeledestruiráovéuqueenvolvetodosospovos,

acortinaquecobretodasasnações;destruiráamorteparasempre.

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OSoberano,oSENHORdaAliança,enxugaráaslágrimasdetodorosto...(Is25.7,8NVI)

Masosteusmortosviverão;seuscorposressuscitarão.

Vocês,quevoltaramaopó,acordemecantemdealegria.

Oteuorvalhoéorvalhodeluz;aterradaráàluzosseusmortos.(26.19NVI)

Essaperspectivaarespeitodaressurreiçãodentreosmortoséconfirmadaem predições com respeito ao futuro tanto por parte de Ezequiel como deDaniel.AvisãodeEzequieldovaledeossosmortosesecoséocontextoemque ele prediz a renovação da vida em conexão com a restauração dosexilados.OSenhordeclarapormeiodoseuprofeta:“Ómeupovo,vouabrirosseustúmulosefazê-lossair;trareivocêsdevoltaàterradeIsrael.Equandoeuabrirosseustúmuloseosfizersair,vocês,meupovo,saberãoqueeusouoSENHORdaAliança....eeuosestabelecereiemsuaprópriaterra”(Ez37.12-14NVI).Alguns comentaristas insistemqueEzequiel fala apenasdo retornodoexíliopormeiodafiguradaressurreiçãodentreosmortos.19Masapresençada esperança da ressurreição mesmo nos dias dos patriarcas sugere queEzequiel estava apenas estendendo o mesmo conceito à expectativa darestauraçãoapósoexílio.20

Daniel émuito claro em sua afirmação a respeito de uma ressurreiçãogeraldentreosmortos:“Multidõesquedormemnopódaterraacordarão:unsparaavidaeterna,outrosparaavergonha,paraodesprezoeterno”(Dn12.2NVI).SeasexpectativasdeumnovocéueumanovaterrasãopartelegítimadasexpectativasdeIsraelarespeitodasuarestauraçãoapósoexílio,entãoahumanidade tambémprecisasernovamentecapacitadaparavivernessenovoambiente.Umcorpo ressurretocapacitadopelopodervivificantedoEspíritoSantodeDeusforneceumaestruturaadequadaparaumahabitaçãonova,santae aperfeiçoada para a raça humana.O rejuvenescimento da terra juntamentecom a ressurreição do corpo concede uma dimensão culminante para aspredições proféticas a respeito do retorno após o exílio.Nadamenos que arenovaçãodacriaçãoatenderáàsantecipaçõesdoprofetaarespeitodofuturo.

Essa perspectiva global a respeito da restauração depois do exíliocorrespondeexatamenteàexpectativaproclamadapeloapóstoloPedroemseusermãodepoisdacuradomendigoaleijadodotemplo.Eleadmoestaopovoaque se arrependa para seus pecados serem apagados (uma parte integral daperspectivaproféticadarestauraçãodeIsrael).Depois,então,virãotemposderefrigério da parte do Senhor (uma dimensão adicional do conceito de

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restauração da antiga aliança). Finalmente, Deus enviará outra vez o Cristo,que deve permanecer no céu “até que venham os tempos da restauração detodasascoisas,arespeitodasquaisoSenhorfalouporbocadosseussantosprofetas muito tempo atrás” (At 3.19-21). Em outras palavras, quando osprofetasfalaramderestauração,nofinaldascontaselesestavamsereferindoao rejuvenescimento de toda a terra, que ocorreria juntamente com aconsumadavindadoMessiasprometido.

1Umaanálisesuperficialdosprofetasmostra83prediçõesdoexílioe91darestauração,perfazendoumtotalde174.JonaseMalaquiasparecemserosúnicoslivrosproféticosquenãopredizemnemoexílio nem a restauração, mas suas circunstâncias específicas fornecem explicação adequada paraessaomissão.

2Outraspassagensdosprofetasconfirmamacombinaçãodoexíliocomarestauração.OseiaschamaodiadoexíliodeIsraelde“Jezreel”(Os1.4)porcausadomassacrecometidoporJeúemJezreel(2Rs10.1-14).ComoapalavraJezreel significa “Deus espalha”, ela contéma ideia inerentedeumacolheita que se segue. Oseias também anuncia que o povo de Judá e Israel serão reunidos e vãovoltar da terra do seu exílio, pois “será grande o dia de Jezreel” (Os 1.11). Em outras palavras,espalhar(i.e.,oexílio)resultaemcolher(restauração)aquiloquefoisemeado.Nessecaso,asduasexpectativas, a do exílio e a da restauração, estão fundidasnaúnicapalavraJezreel. Veja tambémJeremias33.2-9;Ezequiel16.

3OsdetalhesdessaprofanaçãoesuasconsequênciassãoencontradosemEzequiel8.7-9.11.

4VejaAnderson(“ExodusTypologyinSecondIsaiah”);eMauser(ChristintheWilderness).5ANVIatribuiosentidooriginalàpalavracrer.

6Trêsdessesreis(Jeoacaz,JeoaquimeZedequias)eramfilhosdeJosias,eum(Joaquim)eraseuneto.7VejacomoProvan(“MessiahintheBooksofKings”)abordaessaquestão.

8 Não é tão clara a predição de Ezequiel a respeito do “príncipe” mencionado repetidamente emconexãocomavisãodotemplorestaurado.Apalavranasiaparece37vezesemEzequielemuitasvezesservedesinônimopara“rei”(12.10,12;19.1;21.12,25;etc.).Noscapítulos44-48,elaocorre17 vezes em associação com a visão do templo restabelecido. Esse príncipe é a única pessoaautorizadaacomernapresençadoSenhor (44.3)epossui terraespecificamentedesignadaparaelecontíguaàregiãosagradadacidade(45.7).Alémdisso,eletemodeverdefazerosacrifício(45.17)eéalertadoanãotomarcoisaalgumaquepertenceaopovo(46.18).Apalavratambémaparecedevez em quando no plural (45.8,9). Essas referências podem incluir predições de uma figuramessiânica, mas elas aparecem numa forma simbólica que não deixa tão clara sua intenção comooutras prediçõesmessiânicas deEzequiel.Keil (Ezekiel, 2.300) parece estar correto quando afirmaqueessepríncipe“neméosumosacerdote[deIsrael]...nemumtermocoletivoparaasautoridadescivis do povo de Israel nos tempos messiânicos”. Em vez disso, esse “príncipe” é o “Davi”messiânico que anteriormente é chamado de “príncipe” em Ezequiel 34.23,24. Keil explica que oproblemada transmissãodepropriedadesdessepríncipepara seus filhos (46.16) surgiuporque, daperspectiva de Ezequiel, pensa-se nesse príncipe nos termos de um rei segundo os moldes dosanteriores reis de Israel, de forma que as limitações do tipo da antiga aliança se refletem nasprediçõescomrespeitoaocumprimentodanovaaliança(431).

9AscitaçõesaseguirsãodaNVI.

10Emgeral,concorda-sequeIsaías40-48repetidamenteapresentadeuses idólatrascomumdesafio

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para que façam predições com respeito ao futuro; que o SENHOR da Aliança de Israel aceita seuprópriodesafio;queasprediçõespassadasjácumpridassãoumapartedodesafio;equealibertaçãoque será trazida por meio de Ciro representa a predição culminante do Senhor por meio do seuprofeta.DeacordocomvonRad(OldTestamentTheology,2.248):“tantoonovocomoovelhofoipredito muito tempo atrás. Isso deu à sua mensagem sua legitimidade: ela foi legitimada pelacontinuidade da predição”. Mais adiante, ele nota que é de “grande importância... que os eventosdessa história [de salvação] fossem todas preditas, e se cumprissem adequadamente” (246,247).Surgemgrandesdivergênciasquandosetentamidentificardeformaprecisaas“coisasanteriores”,ascoisas“antigas”queoSENHORdaAliançajápreviuefezacontecer.Aperspectivadotempoemqueoprofeta apresenta seu desafio à profecia também exerce uma função importante no debate. North(“FormerThings”) concluiqueoprofeta faladeumaperspectivaduranteo exílio equeas “coisasanteriores”incluemasconquistasanterioresdeCiroatéaquedadeSardesem547a.C.As“últimascoisas”são,então,aderrotadaBabilôniaeodecretoqueospovoscativosestãolivresparavoltarparacasa,oquesignificaqueoprofetaseencontranoestreitoespaçodetempoentre547a.C.e536a.C.AanálisedeNorthacabaesbarrandoemcertasdificuldadesexegéticas.PorquedeveriamessasprediçõesarespeitodasfuturasconquistasdeCiroserdirigidasporumprofetadoexílioa“Sião”ea“Jerusalém”,quandodefatonãoexistiaalinenhumacomunidadeisraelitaduranteosprimeirosdiasdeCiro(Is41.27)?Porqueseriamas“primeirascoisas”chamadasdeantigas(Is43.18;44.7;48.3-8)seelassereferiamaeventosouprediçõesquehaviamocorridoapenasunspoucosanosantes,supondo-se que o profeta fala entre 547 a.C. e 536 a.C.? As explicações de North a respeito dessasdificuldades não conseguem superar seu crescente efeito contrário. Childs (Isaiah, 322) aponta oproblema sentido por muitos comentaristas de não haver “nenhuma profecia aparente no SegundoIsaíasemqueYahwehtenhadefatopreditoavindadeCiro”,umavezquenaquelaalturaseentendiaqueCirojáestivessenocenário.Eleapresentaumasoluçãobaseadanocriticismocanônico,emqueolivrodeIsaíasévistodaperspectivadasuaformafinal.Dessepontodevista,a“predição”arespeitodeCiroé substituídaporumacréscimo feitoporumeditor em Isaías13,quedescreveaquedadaBabilônia, aparentemente provocada porCiro.Combase nesse acréscimo editorial, Isaías 41 podeafirmarqueDeus“predisseavindadeCiro,oqueagoraestásecumprindoparaquetodosovejam”.Nessa reconstrução, todo o argumento feito em favor doDeus de Israel acaba se baseando numafarsa. Desse ponto de vista, na verdade não houve profecia nenhuma. Em decorrência disso, oargumentobaseadonaprofeciapreditivaencontradaemIsaíasacabariaprovandoqueopróprioDeusde Isaías seria um falso deus, pois como Childs observa corretamente, a força do argumento deIsaías é que “a reivindicaçãodeverdadeira divindade se fundamenta na capacidadenão apenas decontrolar o curso dos eventos futuros, mas também de ter predito os eventos antes que tivessemacontecido”(321).

11AscitaçõesaseguirsãodaNVI.12AscitaçõesseguintessãodaNVI.

13Paraumplenodesenvolvimentodadimensãopreditivadessaspassagens,vejaAllis(UnityofIsaiah,51–80). Ele mostra de forma convincente como a estrutura poética do fraseado culmina com amençãodeCiro.

14AscitaçõesaseguirsãodaNVI.

15VejaThompson(Jeremiah,513,514).16Comoem todososcasosdedataçãobíblica, asdatasnãopodemser comprovadascomabsolutacerteza.Masdequalquerforma,essesnúmerossãodefatoextraordinários.

17Comesses textos emmente, torna-se bemclara a razãopor queos críticos se veemobrigados anegar que Moisés seja o autor do Pentateuco. Do ponto de vista naturalista, é absolutamenteimpossível queMoisés tenha antecipado o exílio de Israel 800 anos antes do evento. Aomesmotempo,nãosedevepensarqueaspropostasdocriticismocanônicoofereçamalternativamelhor.Dizerqueateologiasurgedeuma“formafinal”dessasprediçõesarespeitodeumexíliode70anossem

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afirmaroverdadeirocaráterpreditivodessasdeclaraçõesécairnasgarrasdeumaperspectivapós-modernaquenegaovalordaverdadeobjetiva.SeDeusnãorevelouaJeremiasosfatosarespeitodoexílioeda restauraçãode Israelconformeoprofetaalega,entãoa integridadedo livroprecisaserconsideradacomofatalmentearruinada.

18O contexto indica que a referência deOseias 13.14 ao resgate do poder do sepulcro émais beminterpretada não como uma afirmação de esperança na ressurreição, mas como uma pergunta queespera resposta negativa: “Devo resgatá-los do poder do sepulcro?” Não. “Devo redimi-los damorte?”Não.VejaVos(BiblicalTheology,290).Aderrotadamorteearemoçãodamaldiçãodaleipormeiodamortee ressurreiçãode JesusCristo fornecemargumentoadequadoparaPaulousaromesmotextocomoobjetivodeinspiraraesperançadaressurreição(1Co15.55,56).

19Veja Taylor (Ezekiel, 236), que émuito enfático nesse ponto; Eichrodt (Ezekiel, 509); e Zimmerli(Ezekiel,2.264).

20Veja a afirmação implícita da presença da fé na ressurreição nas Escrituras da antiga aliança narepreensãodeJesuscontraossaduceusporcausadoseuceticismocomrespeitoà ressurreiçãodosmortos: “Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!” (Mt22.29NVI).Com respeito a essapassagemdeEzequiel, observea extensaabordagemdoassuntoem Block (Ezekiel, 2.381-392). Ele apresenta interpretações judaicas e cristãs que entendem queEzequiel descreve uma verdadeira ressurreição. Ele discute várias passagens bíblicas anteriores aEzequielquefalamemtermosderessurreição(386,387,especialmenten.97)econclui:“Deformanovaedramática,aconvicçãodequeasepulturanãoprecisaserofimfoiumpoderosoveículoparaanunciaraplenarestauraçãodeIsrael.Amaldiçãoseriasuspensa.Yahwehtrariaseupovodevoltaàvida”(387).Paradiscussãoadicional,vejaRobertson(IsraelofGod,21-25).

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CONCLUSÃO

ADESPEITODOSREPETIDOS alertas dos profetas, deve ter sido extremamentedifícil para o povo de Israel aceitar o fato de que o inacreditável evento dodesterroparaoexíliohaveriade fatodeacontecer.OSenhor foi longânimocom seu povo rebelde durante décadas e séculos. Mas no final das contaschegouummomento emqueEle não ia esperarmais. Finalmente, chegou ahoradocumprimentodetodasasadvertênciasarespeitodoexílio.

Dentreosprofetas,coubeaEzequiel ressaltaresse fatoda iminênciadoexílio. Paramostrar que era real a iminência da destruição de Jerusalém, oprofeta repete: “Chegou o fim!O fim chegou aos quatro cantos da terra deIsrael.Ofimestáagorasobrevocê...Umadesgraçajamaisimaginadavemaí.Chegou o fim!Chegou o fim! ...O fim chegou!A condenação chegou sobrevocê que habita no país. Chegou a hora, o dia está próximo” (Ez 7.2,3,5-7NVI).

Depois de adiar por muito tempo, depois de muitos alertas proféticos,chegouahoradadevastação finalde Judá.OSenhorordenoua seuprofeta:“registreestadata,adatadehoje,porqueoreidaBabilôniasitiouJerusalémexatamente neste dia” (Ez 24.2 NVI). Exércitos invasores tinham entrado esaído da terra de Israel no passado, mas agora tudo estava acontecendo deverdade. As predições dos profetas estavam se cumprindo. Como o Senhorhavia declarado: “Chegou a hora de eu agir. Não me conterei; não tereipiedade, nem voltarei atrás. Você será julgada de acordo com o seucomportamento e com as suas ações. Palavra do Soberano, o SENHOR daAliança” (Ez 24.14 NVI). Por muitos anos, o Senhor tinha mostrado suapaciência.Masfinalmentehaviachegadoahoradeleagir.Emsuajustiça,Eletrariajustojuízocontraseuprópriopovo.

O mais difícil de entender era o fato que tanto os justos como osperversoshaveriamdesofrernessacalamidade.Oexércitobabilônioinvasornão faria distinção entre justiça e perversidade entre aqueles que sofreriamessa devastação. Em decorrência disso, o profeta geme com coraçãoquebrantadoeamargopesar,poisoSenhortinhaafirmado:“Evemchegando!Semnenhumadúvidavaiacontecer”(Ez21.3,6,7NVI).

Dessamesma forma, gente de todas as gerações desde os dias de Jesus

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Cristo tem tidodificuldadedeacreditarna iminênciadoseu retorno.Mesmonosúltimosdias,haverázombadoresdizendo:“Oquehouvecomapromessada sua vinda? ...tudo continua comodesde o princípio da criação” (2 Pe 3.4NVI).Apresente geraçãonão é diferente.Ela tambémnão consegue crer naiminênciadasuavinda.MasEleviránoexatomomentoquandoopovonãooestiveresperando.

Pararesumirofocoproféticodoexílioedarestauração,devemosprestaratençãoaosseguintespontos:

Tanto a cidade de Jerusalém como a pessoa do Messias exercemuma função muito grande na restauração da nação. Pode-secompreenderaimportânciaatribuídaàcidadeeaoMessiasàluzdolugardistintoquerecebemnaspromessasdaaliançadavídica.1EssaúltimaaliançadahistóriadeIsraelgiraemtornodeduaspromessas:aconservaçãodacidadedeJerusalémeacontinuaçãodalinhagemdeDavi.Apesardahistória secularde Israeldesdeesse temponãopreenchernenhumadessasexpectativas,avindadeJesusoCristoeoestabelecimento do seu trono na Jerusalém celestial apresentam oestágiofinalqueatendeàsexpectativascriadaspelasprediçõesdosprofetas.O exílio e a restauração de Israel produzem um significativoimpacto em todas as nações do mundo. Tanto no juízo como narestauração, as nações têm seu futuro definido de acordo com aexperiênciadessanaçãoespecífica.AssimcomoanaçãodeDeusnofinal das contas sofreu justo juízo, assim todos os povos no finalsofrerão os justos juízos do Senhor. Assim como Israel foirestauradodepoisdoexílio,assimtodososquesearrependeremeinvocaremonomedoSenhorserãosalvos.Ahistóriade Israelnoexílioena restauração torna-seabaseparaprojetar o futuro.Assimcomoosprofetas Isaías eOseias fizeramuma recapitulação escatológica, no sentido de associarem àsprojeções futuras a experiência do êxodo, assim também aexperiênciadoexílioedarestauraçãodeIsraelforneceabaseparaapredição profética do futuro. Nesse sentido, a naturezaprofeticamente tipológica da história da redenção sob a antigaaliançaérealçadatantonoiníciocomonofinaldahistóriadanaçãoescolhida. Assim como o êxodo, a peregrinação no deserto, e aconquista da terra personificavam princípios da obra redentora deDeus,assimtambémoexílioearestauraçãocomunicavamverdades

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arespeitodojuízoedalibertação.

AconstantepresençadostemasdoexílioedarestauraçãonoministériodosprofetasdeIsraelfornecealgumasdiretrizesparaentenderoconsumadocumprimento da profecia na presente época. O ponto central dessecumprimentoéapessoadeJesusCristo.ComosofredorservodoSenhor,Eledesceu às profundezas do exílio da presença de Deus. Ele também foirestauradopormeiodaressurreiçãodentreosmortosepelaascensãoàmãodireitadoPai.TodososqueestãounidosaElepela fémorreramcomEleeforamoutravezressuscitados.

Ao mesmo tempo, o povo de Deus aguarda a restauração final queacontecerá por ocasião do retorno de Jesus Cristo. A fusão de expectativasescatológicas nos profetas com a figura da restauração depois do exílioconduznaturalmenteàjunçãodessesmesmostemassobaexpectativadanovaaliança.O rejuvenescimento domundo que ocorrerá como estabelecimentofinaldoreinomessiânicorepresentaaconsumaçãodasexpectativasarraigadasnasprediçõesproféticasdarestauraçãoapósoexílio.

Atransferênciadosvaloresdoexílioedarestauraçãoparaaeradanovaaliança determina o permanente valor dessas predições proféticas. Acompreensãodos sofrimentos edamortedeCristo é enriquecidaquandoosvemos de acordo com a teologia do exílio. A consideração para com suavitória triunfante na ressurreição e ascensão se multiplica quando a vemoscomo uma restauração depois do juízo de Deus. Ele triunfou em suaressurreição de talmaneira que lançou o fundamento para a restauração detodasascoisas,oqueserárealizadoporocasiãodoseugloriosoretorno(At3.21).

1Veja a discussão sobre a promessa com respeito à cidade de Jerusalém e à pessoa doMessias naaliançadavídicaemRobertson(ChristoftheCovenants,236–243).

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