o estado de bodin no estado do homem renascentista

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  • 7/24/2019 O Estado de Bodin No Estado Do Homem Renascentista

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    Revista de Histria

    ISSN: 0034-8309

    [email protected]

    Universidade de So Paulo

    Brasil

    Bentes Monteiro, Rodrigo; Ramundo, Walter Marcelo

    O estado de Bodin no estado do homem renascentista

    Revista de Histria, nm. 152, junio, 2005, pp. 189-214

    Universidade de So Paulo

    So Paulo, Brasil

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=285022040008

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    Resumo

    Abstract

    Palavras-Chave

    Keywords

    O ESTADO DE BODIN NO ESTADO

    DO HOMEM RENASCENTISTA1

    Rodrigo Bentes Monteiro & Walter Marcelo RamundoDepto . de Hi s t r i a da Univer s idade Federa l F lum inen se

    Interessa-nos entender Os Seis Livros da Repblicade Jean Bodin de modomais sensvel a sua poca, no tocante historiografia sobre o homem renascen-tista e o Estado moderno. O que torna poltica uma teoria das relaes soci-ais no so apenas as referncias a partidos ou governos, mas as estruturas edinmicas do poder e da autoridade. Em Bodin essas percepes tm a fam-lia como cerne, entendida como instituio social plena de afetos, e comoarena de lutas. Consideramos tambm o universo cultural especfico com oqual a obra dialoga, destacando a influncia do neoplatonismo.

    Jean Bodin Renascimento Estado moderno Neoplatonismo

    The aim of the article is to understand Jean Bodins The Six Books of theCommonwealthin a manner sensitive to its time, with regard to the histo-riography of Renaissance man and of the modern State. His approach tosocial relations becomes a political theory not only because of referen-ces to parties or governments, but rather because of his discussion of thestructures and dynamics of power and authority. The family lies at thecore of Bodins perceptions, understood as a social institution that is bothreplete with emotion as well as a sphere of conflict. The authors also take

    into account the specific cultural universe with which the work interacts,emphasizing the influence of neo-platonism.

    Jean Bodin Renaissance Modern State Neo-platonism

    1A origem da pesquisa encontra-se no estgio ps-doutoral desenvolvido por RodrigoBentes Monteiro no Depto. de Histria/USP entre 2001 e 2002, sob superviso do Prof.Dr. Modesto Florenzano (a quem agradecemos pela leitura crtica deste artigo), com bolsaFAPESP. Ela prossegue no Depto. de Histria/UFF, onde se prepara com os bolsistas deiniciao cientfica (CNPq) Walter Marcelo Ramundo e Wagner Leal Carneiro a tradu-

    o doLivre IdeLes Six Livres de la Rpublique, de Jean Bodin.

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    O Homem o que ele acredita

    (Anton Tchcov)

    Homem renascentista

    Nos tempos medievais, renascerera empregado com valor religioso de seconhecer uma nova disposio de amor, como uma vegetao que crescenovamente, ou ainda em aluso ao mito dafnix.Da mesma forma, o termorenascimentoassociava-se regenerao espiritual, fazendo crer na reencar-

    nao do amor aps a morte. No sculo XVII, a palavra renascenaainda erautilizada como referncia ao ressurgimento da Antiguidade Clssica atravsdas letras e artes. Voltaire saudou o mundo literrio e artstico da PennsulaItlica no tempo dos Mdicis como prenncio dasLuzes. No entanto, at mea-dos do Ottocento, aRenascenacomo idia historiogrfica era um territrioinexplorado. Michelet escreveu sobre a grande revoluo mental, o descobri-mento humano de si e do mundo. Apesar de ter antecipado as formulaes deBurckhardt, a este a posteridade associou merecidamente a definio deRe-

    nascimentoem termos do desenvolvimento do indivduo e da descoberta domundo e do homem. Coube ao historiador suo a construo desta poca his-trica, autnoma, com fisionomia prpria e coeso interna. Na introduo deA Cultura do Renascimento na Itlia, cuja primeira edio de 1860, alerta-nos para as inflexes que os leitores e ele prprio encontraro no objeto:Os contornos espirituais de uma poca cultural oferecem, talvez, a cada obser-vador uma imagem diferente, e, em se tratando do conjunto de uma civiliza-o que a me da nossa e que sobre esta ainda hoje segue exercendo a sua

    influncia, mister que juzo subjetivo e sentimento interfiram a todo o mo-mento tanto na escrita quanto na leitura desta obra (BURCKHARDT, 1991,p.21). Peter Gay, ao analisar o estilo de Burckhardt, encontra um canal intimistaentre o leitor e o tema. A intitulao de seu livro em ensaioevidencia isso,uma vez que este o gnero mais pessoal que se conhece, criando uma ima-gem segura do passado de difcil re-interpretao das regras pr-existentes(GAY, 1990, pp.131-166).

    Construa-se uma interpretao da Renascena e seus homens sob viscultural, com uma nova percepo de mundo. Esse breve perodo o sculo

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    XIX - tornou-se assim celeiro de interminveis discusses acerca dos cortesespaciais e temporais que delimitam o Renascimento. So diversos osquestionamentos que matizam sua fora, sua evoluo, o poder dos ideais de

    indivduos e crculos intelectuais. Indaga-se sobre a cristalizao daesgotante noo de ruptura renascentista como uma eliminao do afasta-mento medieval do homem em relao civitasterrena e ao mundo natural,ou como entendimento de um corte sem resduos. Contesta-se a postulaode um esquema hermenutico no plano historiogrfico e filosfico, cujo ba-lano recente foi efetivado por Cesare Vasoli (VASOLI, 2002, pp.3-25).

    Surgiram anlises partindo deste modelo, como a de Eugnio Garin, queobserva a estreita relao entre os homens do sculo XIX e o mito renascentista.

    Segundo o historiador italiano, a filosofia renascentista seria confundida como contexto da Renascena, havendo sobreposio do idealizado ao histrico(GARIN, 1991, pp.9-16). Ambos os tempos se confundem na excentricidadee nas extravagncias, e a construo do homem renascentista de Burckhardtdenota o quo o passado no simplesmente passado, mas possuidor de umacontinuidade no presente. A necessidade de uma referncia ao pretrito se rea-lizou em outro momento que refletiu tambm nova efervescncia na conscin-cia humana para o resgate, ou nascimento deste homem renascentista. Essa

    percepo dos historiadores contribui para uma anlise menos teleolgica sobrea subjetividade desses indivduos, enfatizada por Burckhardt, e tambm parauma relativizao da compreenso do homem renascentista como detentor deuma multiplicidade de talentos, cara historiografia em geral. Uma famosapassagem da obra de Burckhardt evidencia algo anteriormente no percebidopelos homens, seu entendimento enquanto indivduos em sua gnese espacialitaliana: Na Idade Mdia (...) o homem reconhecia-se a si prprio apenas en-quanto raa, povo, partido, corporao, famlia ou sob qualquer outra das de-mais formas do coletivo. Na Itlia, pela primeira vez, tal vu dispersa-se ao vento;desperta ali uma contemplao e um tratamento objetivodo Estado e de todasas coisas deste mundo. Paralelamente a isso, no entanto, ergue-se tambm, naplenitude de seus poderes, o subjetivo: o homem torna-se um indivduo espiri-tual e se reconhece enquanto tal (BURCKHARDT, 1991, p.111).

    Essa nova percepo de si acarretaria uma transformao singular no uni-verso material. Reconhecida, a individualidade traria para o homem uma indi-ferena quanto ao medo da singularidade, de ser e parecer diferente dos vizi-nhos. Tambm no haveria na Pennsula Itlica do sculo XV espao para falsa

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    modstia ou hipocrisia; o cosmopolitismo era manifestao explcita do maisalto grau de individualidade, expanso das virtudes sem limites espaciais. Odesenvolvimento nesse contexto de uma literatura biogrfica seria mais um

    reflexo da glria moderna. Diferentemente das interpretaes que observamapenas a celebrao suntuosa de indivduos sobre-humanos realizando proe-zas gloriosas, Burckhardt aponta os extremos desta individualidade, e os peri-gos da auto-afirmao. O homem que se orgulhava em cultivar sua personalida-de mais caracterstica, na literatura mais interessante ou nas roupas que lheapresentavam, necessitava de auto-expresso, o que resultava tambm emagressividade e desumanidade. O desejo da fama, a necessidade de obter oapreo dos outros para confirmar o pessoal, podiam desencadear tragdias.

    Os crimes da Renascena seriam fruto da obsesso pela preservao da indivi-dualidade (BURCKHARDT, 1991, pp.81-105).Garin no enxerga este homem dissipando o vu de forma to definiti-

    va, concebendo-o dicotmico entre a liberdade de criao e percepo de suaspotencialidades, e a angstia pela insegurana, fruto desta mesma liberdadeque outrora no o acometia. Essa nova concepo de mundo contemplavanovos e antigos valores. Entretanto, se Garin encontra confuso entre a filosofiarenascentista e o contexto histrico da Renascena na obra de Burckhardt, ele

    tambm no est livre dos anseios de seu tempo. Sua observao relativa aohomem renascentista carrega implicitamente o pressuposto de uma percepofuturolgica, uma vez que o medo do homem renascentista, segundo Garin, de-corre de se assumir uma nova perspectiva ante a nova percepo do mundo. Masperceber a mudana e tem-la no parece ser uma construo tpica do homemem questo. Giacomo Marramao argumenta que este ainda no apresentava umaangstia transindividual pelo presente que escapa, o que caracteriza aautoconstrio civilizatria. Seu senso mundano do tempo forneceria umaviso sincrnica; havia apenas re-estruturao prospectiva do espao, e no umaracionalizao futurolgica. Dessa forma o homem renascentista no reage comsofrimento e desorientao; ele toma essa re-estruturao como um dado, e segueadiante (MARRAMAO, 1995, pp.77-156).

    J Agnes Heller, ao olhar para o homem renascentista encontra um ser queno mais projeta um ideal para sua existncia, um valor a ser alcanado. Acrise deste homem estaria na prpria construo do conceito de si mesmo. NaAntiguidade e na Idade Mdia haveria a concepo de um homem ideal. Pri-meiramente com valores como sabedoria, coragem e moderao. Depois, ajustia da cristandade pautada nos pecados capitais guiaria a conduta dos in-

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    divduos. O homem da Renascena viveria a irrealizao de sua grandeza ede sua pequenez, no conseguindo constituir mais um ideal que o orientassecomo categoria ontolgica (HELLER, 1982, pp.9-27).

    Outro ponto caro historiografia diz respeito versatilidade do homemrenascentista. Burckhardt ao mencionar Leon Alberti, encontra neste a per-sonificao da perfeio de tudo que se propusera a fazer, e apesar disto, eleainda no chegaria perto de Leonardo da Vinci. Menos eloqente, ainda queno fugindo regra, Garin afirma que o homem deste perodo qualificadocom uma multiplicidade de talentos. Buscando uma explicao para a mesmaidia, Agnes Heller defende que a versatilidade desse homem estava no apa-recimento da produo burguesa, e seu nvel relativamente baixo de produ-

    o. A interpretao bastante consensual (BURCKHARDT, 1991, pp.117-118; GARIN, 1991, pp.9-16; HELLER, 1982).No sculo XIX, auge da fragmentao abrupta do conhecimento e dos

    afazeres em campos especficos, ocorreu a construo historiogrfica da Re-nascena e de seus homens. Este entendimento encontra-se atrelado ao redu-cionismo das funes do homem nas sociedades mais complexas. O homemda Renascena no parece entender-se como tal; o sapateiro Jean de Lry, omdico Rabelais e o demonlogo Jean Bodin eram comuns no universo das

    atividades necessrias aos indivduos daquele tempo. Assim, em nossa percep-o necessrio reverter esta lgica interpretativa. A multiplicidade de talen-tos s existe na medida em que ocorre a multiplicidade das atividades a pos-teriorido fazer e do conhecer.

    Para Eugnio Garin, o homem renascentista sabia que algo novo aconte-cia, que seu presente configurava-se de forma diferenciada. Diversos fatos cor-roboram esse entendimento: o domnio do Imprio Otomano sobre Bizncio,o conhecimento do grego clssico e os textos da Antiguidade. As invenestecnolgicas tambm indicam mudanas um novo saber ou uma nova neces-sidade do saber , interpretadas como gide dessa transformao: plvora,papel, bssola, imprensa. As navegaes e os descobrimentos so temas obri-gatrios como marcos do incio dos Tempos Modernos. Contudo, esses ele-mentos devem ser compreendidos como conseqncias de uma nova atuaodo homem ante a natureza, significando um afastamento em relao s coisasnaturais, e sua nova proposta de responsabilidade e elaborao de outra for-ma de conhecimento. Interessa-nos entender que a transformao do homemem sua compreenso de si, e conseqentemente dos elementos externos, acom-panha transformaes nas prprias relaes entre os homens. Como mudan-

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    a maior, iniciava-se a instituiosocial entendida como Estado, que des-perta, tambm, grande controvrsia historiogrfica.

    Estado modernoPara Jean-Frdric Schaub, os historiadores do Antigo Regime interessa-

    dos no Estado encontram-sesob a injuno das escolhas da escola dosAnnalese da historiografia marxista, que negligenciaram no sculo XX o estudo dapoltica generalizao polmica, ao pensarmos em vrios trabalhos(ANDERSON, 1995; LADURIE, 1994). A isso se soma o relativo triunfo dosregimes liberais - fazendo com que o tema adquira contornos ideolgicos -, eum ambiente poltico e jurdico caracterizado por fenmenos de transfern-

    cia da soberania, pela seduo do federalismo e pelo horizonte transnacionaleuropeu. Nesse quadro, grande a dificuldade em lidar com a periodizaoda histria poltica, refm da classificao tradicional. Durante o sculo XX,pesquisasapresentam uma Idade Mdia nacional e burocrtica, Tempos Moder-nos religiosos e feudais, ou uma poca Contempornea de arcasmos e resistn-cias. Freqentemente, em funo de um paradigma modernizador, identifica-se no passado a experincia contempornea, projees teleolgicas designadascomo anacronismos. Sem negar a importncia de elementos como a precoci-

    dade do statoitaliano ou a teoria da soberania de Bodin, Schaub recusa neleso carter indelvel de divisores de idias e pocas, que no tiveram em seutempo, mas que uma viso retrospectiva da histria lhes concedeu. Questionao carter revolucionrio da construo jurdica bodiniana de uma soberaniafundada no monoplio da lei, e o prprio estatuto da lei no conjunto dos instru-mentos normativos do Antigo Regime. Em suma, interroga-se sobre a dataodo Estado, supondo que a soberania foi realizada por um processo multissecularde acumulao de foras e direitos por parte da instituio governamental.

    O discurso da histria assim reenviado prpria construo do tempohistrico, pela identificao dos tempos, do qual fala o historiador e daqueleque pensa reconstruir. A interpretao positivista do passado francs, deixa-da intacta pela historiografia scio-econmica, fez com que a histria polti-ca, ao tornar-se objeto da histria, funcionasse como histria oficial. Aindahoje, a descrio do Estado francs sofre para se distanciar do modelo quedetermina sua gnese pela emergncia de um sentimento nacional, ou pela im-pessoalidade do poder(SCHAUB, 1996, pp.127-141).

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    Mais uma vez, o paradigma de interpretao historiogrfica surgiu no sculoXIX. Uma leitura de O Antigo Regime e a Revoluode Alexis de Tocqueville,de 1856, engrandeceu a herana centralizadora da dinmica revolucionria, situ-

    ando instituies novas numa tradio de sculos (TOCQUEVILLE, 1982;COSANDEY & DESCIMON, 2002, pp.137-138). Reduzindo a ruptura, a hist-ria poltica identificou antes da Revoluo o anncio de sua obra. Mas a Revolu-o no foi algo superficial. Alm de muitas transformaes, ela inaugurou aautonomia da poltica em relao s oposies sociais, finalizando a indistinoentre sociedade e governo, e formando plenamente o conceito de Estado na Fran-a do sculo XIX. Tal assero expressa a distncia em relao retrica polticada Idade Moderna como forma acabada de poder institucional. Nesse sentido, para

    Schaub, o livro de Franois Furet, embora esvazie a mudana da Revoluo naesteira de Tocqueville, identifica nela essa conquista da independncia da polti-ca (SCHAUB, 1996, pp.144-153; FURET, 1989, pp.145-175).

    Na recusa metodolgica de operar uma ciso entre histria e teoria pol-tica, antroplogos interessam-se por antigos fenmenos sociais e culturais.Essas sugestes justificam uma dmarcheda anlise poltica das sociedadesdo Antigo Regime que no passa pela tradicional cronologia da afirmao doEstado. Ademais, Schaub identifica trs frentes de renovao: a aceitao dos

    insumos da histria do direito, uma hermenutica dos textos antigos menosevolucionista, e a abordagem da histria do Estado como institucionalizaoda sociedade - mais do que como descrio de instituies.

    O quadro complexo. A obra de Bodin, por exemplo, pode ser objeto de vriasleituras. Se o jurisconsulto foi um defensor do absolutismo, seu pressuposto pol-tico interpretado como etapa na formao de uma ideologia, embora esteja semdvida ligado s guerras religiosas. Mas se a soberania de Bodin uma teoria geraldo Estado, esse sentido contemporneo. A interpretao, anacrnica, concebe alei como criao do direito positivo, norma jurdica suprema. Mas esse anacro-nismo requer tambm uma suspenso do julgamento sobre a datao do Estado,que como vimos aprisiona a anlise. No domnio administrativo, conhecida ainterpretao retrospectiva que concebe Bodin como definidor da funo pbli-ca, a partir da teoria do direito pblico. Para o jurista francs, a questo consistiaem saber se uma pessoa pode possuir um comando, dissociando o ofcio do ofici-al, j que o poder delegado permanecia propriedade do Estado. Os magistrados entre eles o rei - detinham competncias, mas os ttulos conferidos no lhes per-tenciam. Mas Bodin, exercendo funes de um jurisconsulto de seu tempo, no

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    operava separao completa entre o ofcio e sua pessoa, por exemplo, ao atribuir-se vaidoso o pioneirismo na definio da soberania do poder rgio, ao pronunci-ar-se sobre o destino dos oficiais no fim de cada reinado, ou ao impedir o rei de

    lanar novos impostos para a guerra nos estados gerais de Blois, 1576. Os laossociais tecidos entre ofcios e instituio monrquica eram muito fortes para queuma teoria da impessoalidade absoluta do poder pblico pudesse se impor(MONTEIRO, 2003, p.172).

    O savoir-fairedos magistrados no era o nico limite expanso de umpuro poder pblico. Bodin tambm examinou as leis fundamentais, essenci-ais para a monarquia: a lei slica, e a inalienabilidade dos domnios da coroa.Nos dois casos, as normas incidiam nas relaes entre prncipe e estados, para

    afirmar o carter dinstico da instituio rgia, e fixar condies do exercciodo poder real. Essas disposies desempenharam papel importante no traba-lho de impessoalidade da autoridade pblica, corroborando a teoria da sobera-nia. Desse modo, segundo Schaub, os historiadores tambm se equivocam seconcebem a teoria de Bodin como mero reflexo de seu tempo, ou apenas umaexaltao do absolutismo (SCHAUB, 1996, pp.153-159).

    Entre poucos estudiosos, Michel Senellart rompe com as barreiras cronol-gicas na anlise dos textos, ao verificar como o moderno conceito de governo

    surgiu de regras anteriormente elaboradas para o regimenmedieval, o gover-no das almas exercido pelos homens da Igreja (SENELLART, 1995). Sem en-veredar por uma concepo teleolgica da histria, pode-se compreender comoa viso terica de Bodin permite imaginar a monopolizao pelo soberano dopoder de comando pela lei, mesmo que a sociedade poltica no tenha produzi-do, propriamente, um Estado. Essa abordagem das estruturas polticas do An-tigo Regime assume suas tenses inerentes, evidenciando as fragilidades deuma histria poltica por demais certa de suas concluses.

    Nesse sentido, Schaub defende uma histria dos textos polticos em suaacepo cultural, distanciando-se do fetichismo filosfico. A histria scio-cultural indica a necessidade de maior sensibilidade aos contedos dos tex-tos. Com efeito, a chamada escola de Cambridge oferece importantes refle-xes acerca de um estudo comparativo das obras contemporneas aosclssicos, como Quentin Skinner, ou de uma identificao apurada das lin-guagens polticas, como J. G. A. Pocock. Todavia - no obstante a qualidadedessas anlises na utilizao do mtodo contextual -, o exemplo de Cambridgee de sua histria das idias polticas no ser reproduzido neste artigo, uma

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    vez que ampliamos aqui a noo de poltica em direo ao mbito culturale filosfico renascentista (MONTEIRO, 2005; SKINNER, 1996; POCOCK,2003, pp.9-99)2.

    Entre a definio da soberania de Bodin e a fundao da soberania naci-onal pela Revoluo Francesa, um Antigo Regime se move, modelando a es-fera do pblico. Nesse mbito relacional entre poder pblico e sociedade, nose pode subtrair da histria a parte contratante da sociedade, no tempo dosmonarcas absolutos. Se uma monarquia sacral constituiu uma resposta dila-cerao do corpo mstico medieval, preciso questionar as condies sociaisde monopolizao do poder no plo pblico. Como se sabe, as guerras de reli-gio quebraram o espelho em que a respublicavia-se unida como Estado e

    sociedade, como Igreja enfim. Mas se a pretenso da monarquia ao monop-lio das cerimnias da informao, na expresso de Michle Fogel, se afir-mou com as guerras de religio, a absoro dessa emisso cultural no foi ime-diata (FOGEL, 1989).

    Torna-se oportuno compreender como o Estado nascendo institua o so-cial, definia hierarquias e garantia a esfera da intimidade, mas tambm comoagentes sociais representavam status, interiorizando novas legitimidades ehierarquias. Entende-se que a abstrao do poder, sua secularizao e a obje-

    tivao da coisa pblica fundaram o Estado. Mas como efetuar essa caracte-rizao, quando os negcios privados e as funes pblicas no se separavam?A escola neo-cerimonialista de Ralph Giesey descobriu nas grandes cerim-nias a expresso da legitimao sagrada da realeza (GIESEY, 1987). Esta an-lise criticada por Alain Boureau, ao demonstrar a necessidade de contextua-lizao social e poltica de cada celebrao organizada, observando tambm quea exaltao transcendente do rei inspirava-se na liturgia crist (BOUREAU,1988). Sabe-se desde Kantorowicz, que a dupla natureza do rei era a condiosimblica e jurdica da definio do Estado, etapa essencial no processo deabstrao da funo e garantia de sua permanncia. Mas a dialtica das digni-dades e de seu titular no era limitada ao caso do rei bicorporal, sendo verificadaem vrios estratos sociais, e com muita confuso entre as esferas, como vimos

    2Isso no feito por Skinner, ao comentar Bodin lido apenas na traduo para o ingls- como expoente mximo da utilizao do moderno conceito de Estado, constitucionalistaem algumas obras, absolutista em outras, reproduzindo em seu livro vises retrospecti-

    vas da histria poltica (SKINNER, 1996, pp.513-572).

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    no caso do prprio magistrado Jean Bodin. A progressiva abstrao do exerc-cio das funes pblicas deve ser analisada a partir do estudo das lgicas scio-polticas que comandavam seu investimento por pessoas e famlias, e no ape-

    nas pelo prisma do poder monrquico (KANTOROWICZ, 1998).Longe de ter domesticado os poderes hostis (feudais, eclesisticos, comunais),a monarquia se construa medida que se construam outros poderes. Essas constru-es simultneas formavam o substrato do Estado, pensado em termos organicistase corporativos. Ao mesmo tempo, a constituio histrica de uma territorialidadeda monarquia permite saber como se constitua um espao do rei, pblico e perma-nente. A lei fundamental em torno da inalienabilidade no remete aos registros deteologia moral da Idade Mdia. O sistema feudal traduzia o suporte territorial em

    redes de fidelidades, e o rei medieval no era o cume dessa pirmide, emboradesempenhasse papel simblico. Portanto, a sinopse do Antigo Regime, vista peloplo monrquico, seria precisamente o trabalho da instituio do rei como rbi-tro, pelo triunfo ideolgico da imortalidade do rei e pela afirmao jurdica dainalienabilidade do domnio (SCHAUB, 1996, pp.159-170).

    No obstante, durante o Antigo Regime, a instituio poltica da socieda-decontou com agentes a servio do rei, encarregados de acelerar um processode desvendamento social: juristas, engenheiros, cientistas, cartgrafos, inten-

    dentes, censores, produziam uma cultura desligada da herana teolgica medie-val. Nesses movimentos, emergia a combinao entrepersonado rei, especia-listas e sociedade. Era a difuso cultural de outra relao com o mundo material,atravs de prticas tcnicas - lembremos da nova atuao do homem ante anatureza na Renascena. Entre tantos, destacamos os alquimistas, como emblemaa expressar essa nova relao laica com a matria, comparveis ao apelo poste-rior a uma tecnologia do exerccio da autoridade poltica. Jol Cornette evoca ahiptese de substituio da alquimia pela fsica moderna, em meados do sculoXVII, junto monarquia. Entre Catarina de Mdici e Lus XIV, produziu-se ummodelo no qual, para o Estado, verdade e segredo - ou mistrio - tinham partesligadas (CORNETTE, 1994, pp.475-505; SCHAUB, 1996, p.176). O exemploalquimista evidencia a lacuna da reflexo de Schaub, no referente considera-o de aspectos culturais e histricos pertinentes a cada concepo do poder.Embora o historiador francs indique a procedncia da abordagem - especial-mente pelo contato entre poltica e literatura -, sua preocupao em desmistificarparadigmas da histria poltica deixa-o refm, ele tambm, do tema do Estadoem sua feio legislativa e institucional. Contudo, se no existia Estado naacepo contempornea, existiam outros tipos de Estado, ou outras idias do

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    poder, j que uma das boas idias desse balano historiogrfico consiste emapresentar o poder monrquico em relao sociedade. Tendo em vista essembito relacional, trata-se de confluir a cultura renascentista e o poder sobera-

    no na Frana do sculo XVI.

    No reino do amor

    Ao enveredar pelo ambiente intelectual da monarquia francesa no tempodas guerras de religio, Denis Crouzet identifica, aps a ecloso dos confli-tos, duas respostas da realeza no excludentes entre si s violncias inter-confessionais. A mais evidente, de matriz humanista, tentava fundar a paz pelatolerncia da f reformada. Provavelmente de fonte erasmiana, foi dominante

    de 1560 a 1568, liderada pelo chanceler Michel de LHspital, que se esfor-ou com alguns intelectuais ospolitiques, entre eles Bodin - para tornar pol-tica uma viso da ordem rgia. Alm dos dios, existia a soluo da tolern-cia como preservao do Estado, pois sem um poder dominante, os homensguerreariam ao infinito. O rei devia manter a paz, justificativa da organizaosocial e poltica capaz de findar os conflitos. Pode-se perceber essa tendnciaem muitas passagens de Os Seis Livros da Repblica (CROUZET, 1994,pp.205-213; MONTEIRO, 2003, pp.168-172).

    Mas havia outra corrente filosfica que convm enfatizar. Os dilogos dePlato tambm foram admirados fora da escola por ele fundada, formando umplatonismo popular e ecltico em Alexandria que suplantou o ceticismo daAcademiaateniense. Formulava-se assim uma doutrina de idias transcenden-tes, com pontos comuns ao neopitagorismo e aos hermticos - telogos queutilizavam escritos atribudos ao egpcio Hermes Trimegisto (YATES, 1987,pp.13-18). No sculo III d.C, padres alexandrinos fundiam ensinos da Bbliae da filosofia grega a elementos desse platonismo. A escola, denominada de-

    pois neoplatnica, transmitiu sua herana posteridade. Nela, Plotino conce-bia um universo hierrquico no qual o Deus transcendente ou Uno, descia porvrios graus ao mundo corpreo, enquanto uma ntima experincia espiritualpermitia conscincia retornar atravs do mundo inteligvel ao Unosupre-mo, ao passo que o mundo fsico era uma trama de afinidades ocultas origina-das na alma do mundo(KRISTELLER, 1995, pp.55-60).

    Embora elementos do platonismo medieval tenham sobrevivido noRenascimento, novos aspectos surgiram pelo encontro com a cultura bizantina.

    Paul Kristeller no considera o platonismo renascentista parte do humanismo,

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    atribuindo-lhe significado prprio como filosofia. Impossvel detalhar nestebreve estudo as atuaes de Marslio Ficino e Giovanni Pico della Mirandola:a primeira verso em latim de Plato e Plotino, a traduo de supostas obras

    de Pitgoras e do Trimegisto, a sntese entre platonismo, aristotelismo e cristia-nismo estendendo-se aos rabes e hebreus, a influncia daAcademia platnicana Europa (KRISTELLER, 1995, pp.61-69; VASOLI, 2002, pp.193-246). Atri-buindo alma humana um lugar central na hierarquia do universo, Ficino con-cedia expresso metafsica ao humanismo. Sua doutrina do amor espiritual,cunhando o termo amor platnico, tornou-se muito popular. A importnciada ascenso da alma a Deus mediante a contemplao ligava-o aos msticos,e a idia da unidade do mundo garantida pela alma influenciaria filsofos como

    Giordano Bruno (YATES, 1987). No sculo XVI, dilogos de Plato eram li-dos nas academias italianas, sobretudo em Florena, onde conferncias sobre afilosofia do amoreram freqentes. Obras de Plato e dos antigos platnicos, almdas atribudas a Orfeu, Zoroastro, Hermes e aos pitagricos, eram editadas emgrego e latim. Os escritos platnicos renascentistas tambm foram difundidosem lnguas vernculas, sobretudo francesa e italiana. Na Frana, doutos comoLefvre dEtaples e poetas religiosos como Margarida de Navarra, valiam-sedas idias de Ficino, no apelo contemplao e experincia interior. O amor

    platnico tornava-se moda nas academias literrias. A influncia do platonismotambm ocorria na matemtica, apreciada por Plato e seus seguidores, a ex-pressar a superioridade do conhecimento quantitativo sobre o qualitativo, damatemtica sobre a fsica, do platonismo sobre o aristotelismo.

    Nesse mbito, o poder rgio francs da Renascena se caracterizava pelacapacidade do rei governar como iniciado nos segredos do universo. No siste-ma neoplatnico de Ronsard, poeta da corte, o universo era regido por umalei de alternncia. Mesmo que o dia seguisse a noite, que as estaes se sucedes-sem, o bom tempo viria aps a tempestade. Em 1566, um terico explicava aimagem Pietas et Justitia emblema de Carlos IX a partir de Ficino, quedefinia o prncipe como aquele que devia, por suas virtudes, ser sbio paraguiar o povo aos bons modos, na crena e amor de Deus. As festas da corte notempo de Catarina de Mdici e de seus filhos podiam chocar pela suntuosida-de. Mas a diverso civilizada afirmava a virtude pacificadora do prncipe quevivia em tranqilidade, oferecendo prazeres e diferenciando-se do tirano, queproporcionava opresso, angstias, medos. As festas eram ento espelhos dajustia e piedade rgias, incluindo os presentes na consagrao das virtudes,reflexos da beleza universal cuja sabedoria s o prncipe possua. Nesse sen-

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    tido, festas, quadros, tmulos e poesias organizados na corte Valois atuavamcomo talisms, inspirados em teorias neoplatnicas e hermticas do spiritus,como Ficino desenvolveu a partir do lendrio Trimegisto3.

    O homem era um mundo que refletia o grande mundo. Entre a alma e o corpodo mundo, entre divindades celestes e terrestres, havia o spiritus, difundido nouniverso, graas ao qual as influncias astrais desciam at o homem. A magiacatalisava o influxo do spiritusdivino em direo s formas sensveis. A educa-o principesca, atravs de Plutarco, visava fazer de Carlos IX um rei filsofo semelhana dos descritos naRepblica de Plato. Como a fora unificadorado mundo era um fogo, a chama da realeza por meio da educao e da cinciadevia ser mantida acesa, contra a degenerescncia (CROUZET, 1994, pp.213-

    225). Rei filsofo e mago, que se ocupava das cincias da natureza e agia noplano natural, na acepo de Garin (GARIN, 1991, p.134). Contra a violncia,uma realeza da harmonia dos contrrios se impunha. Para o letrado Loys LeRoy, inspirado em Plato e Aristteles, o mundo inferior era governado pelomundo superior que, segundo disposies astrais, tornava os homens inclina-dos s virtudes, letras ou guerra, numa estao mais que em outra. Deus alter-nava oMalcom oBem, para que os homens no fossem dominados pelo orgu-lho. Os problemas da Frana eram naturalizados assim pela lgica da

    instabilidade das coisas humanas, da bonana ao sofrimento, e vice-versa. A har-monia universalera esse movimento pendular incessante, cabendo aos gover-nantes promover a concrdia.

    Num mundo religioso dilacerado, o amorneoplatnico era a ltima defe-sa contra a ruptura, tentativa de adeso da monarquia ao movimento univer-sal, a esta sabedoria ou prudncia que afastava os efeitos astrais, superandoos desafios polticos e religiosos, pela harmonia de contrrios que asseguravaa perpetuao da vida. O homem era, portanto, ambivalente, definindo-se numadualidade conservadora das coisas. Os que detinham o poder poltico deviamatuar segundo essa compensao para atingir o equilbrio. Catarina de Mdici,nos libelos huguenotes, tornou-se uma feiticeira aps o massacre de 1572,

    3Entre livros e manuscritos inventariados na morte de Catarina de Mdici, encontram-seedies de Plato, de Plotino, livros referidos teologia hebraica, sobretudo cabala, almde um sobre as revelaes msticas do Trimegisto. Em 1563 ela decidiu construir paraHenrique II e ela mesma, em Saint Denis, uma capela funerria em forma de rotunda, sm-bolo do universo, com quatro esttuas de bronze lembrando as virtudes do neoplatonismo:

    fortaleza, justia, temperana e prudncia-sabedoria (CROUZET, 1994, pp.225-240).

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    responsvel pelos males da Frana. De fato, ela pertencia a uma cultura mgi-ca. Na Renascena, poder significava tambm atrao de foras, comunho como fluxo vital, parte de um sistema esotrico de conhecimento que condicionava

    a poltica. Alm dos eventos das guerras de religio, existia uma cultura que aglu-tinava poder monrquico, neoplatonismo e hermetismo, ou seja, realeza, filo-sofia e magia. A religio dos ltimos Valois era diferente das confrontantes, cato-licismo e protestantismo, ao fazer da arte poltica uma arte mstica. Denis Crouzetdefende a busca do poder na Frana da segunda metade do sculo XVI nas ima-gens do mundo que seus contemporneos compunham, em funo dos seus siste-mas filosfico-metafsicos (CROUZET, 1994, pp.240-253)4.

    Ao conceber o poder como discurso, o historiador francs explica o massa-

    cre de 24 de agosto de 1572 como um sonho perdido da Renascena, e aliviao drama da violncia religiosa na Frana do sculo XVI, que recebeu outraabordagem, por exemplo, de Natalie Davis (DAVIS, 1990, pp.129-156). Masresta saber se as idias neoplatnicas continuavam presentes no tempo dasguerras religiosas aps o massacre de So Bartolomeu, quando os conflitosentre catlicos e protestantes se acirraram, em especial na obra que a historio-grafia poltica entendeu como apenas dedicada ao Estado e ao direito5. Em1576 Jean Bodin publicava Os Seis Livros da Repblica.Voltamo-nos assim

    para essas questes, na interpretao da obra e do prprio Bodin, em especialsobre o primeiro livro, que comporta a teoria da soberania. Ressalta-se que oautor era um dos deputados do terceiro estado na assemblia de 1576, ocorri-da no castelo de Blois, e tinha ligaes com ospolitiques grupo de catlicos

    4Essa acepo do poder difere da que classifica Catarina de Mdici como discpula de

    Maquiavel, para quem o prncipe devia aprender a no ser bom, sem se identificar aomal. Sob esse ponto de vista a monarquia francesa da Renascena estava distante deMaquiavel. Como estavam os prncipes daquele tempo em geral segundo anlise de JohnLaw na coletnea dirigida por Garin (GARIN, 1991, pp.17-36).5Henrique III, o rei de Bodin, importou livros mgicos da Espanha, entre eles um sobre oPicatrix, de autoria de um escritor rabe de influncia hermtica. Segundo Frances Yates,ele foi o centro de um forte movimento religioso ligado aos capuchinhos, com influnciasno hermetismo francs. NoBallet Comique de la Royne, festa realizada em 1581, pelo casa-mento do favorito do rei com sua cunhada, a reforma solar e mgica da monarquia france-sa ante os tempos difceis era evidente, concretizada na harmonia da msica e da dana.Tempo em que Giordano Bruno, tambm hermtico, hospedava-se na corte francesa, man-

    tendo intenso contato com o rei (YATES, 1987, pp.63, 206, 229-230).

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    e protestantes que advogavam a paz poltica de maneira mais independentedas questes religiosas. Pensemos nas possibilidades que Bodin, como homemde seu tempo, usufruiu na composio de sua obra, o que reflete a necessida-

    de de uma construo terica da organizao social legtima aos indivduosnaquele contexto histrico e cultural.Bodin recorre com freqncia aos homens da Antiguidade. Romanos,

    gregos, latinos, egpcios, entre outros, fossem poetas, imperadores, juriscon-sultos, magistrados, escravos ou mulheres. Tambm recorre a histrias de fam-lias, relatos de viajantes e jarges mitolgicos. No obstante, tambm se valede homens modernos como exemplos. Homensdo Imprio, da Inglaterra,das cidades italianas. Suas menes compreendem uma opinio, um julgamen-

    to de valor, ou expressam uma crena na veracidade para confirmar seus ar-gumentos. Em uma passagem, menciona um filsofo grego e um seu contempo-rneo: todavia, no queremos mostrar uma Repblica Ideal como Plato eThomas More, chanceler da Inglaterra, imaginaram, mas nos contentaremosem seguir as regras Polticas o mais prximo possvel... (BODIN, 2005, p.5)6.O jurista em sua obra referencia obras clssicas, mas sua argumentao dire-cionada aos homens do seu tempo. Sua percepo de tempo pode ser entendi-da como sincrnica, uma vez que mistura elementos antigos e novos para in-

    terpretar o presente, no criando fantasias futurolgicas. Ademais, parece firmeem seus argumentos e sistematizao, com inmeras nuances. No parece umser dicotmico pelo medo da liberdade, ou angustiado pelo tempo que esca-pa. O jurista escreve com flego, quase oitocentas pginas, e escreve tambmvrias outras obras7. De acordo com Marramao, toma os acontecimentos comodados e segue adiante, sem sofrimento ou desorientao. Podemos percebersua religiosidade, uma responsabilidade interior (MARRAMAO, 1995). Tam-bm seu ideal de homem parece ter uma definio:

    6Toutefois, nous ne voulons pas aussi figurer une Republique en Idee sans effect, telleque Platon, & Thomas le More Chancelier dAngleterre, ont imagin, mais nouscontenterons de suyvre les reigles Politiques au plus pres quil sera possible ...(BODIN,1579, p.3). Livro I, captulo 1, Qual o fim principal da Repblica bem organizada.Traduo em andamento de Os Seis Livros da Repblicade Rodrigo Bentes Monteiro &Walter Marcelo Ramundo.7Entre elas Thatre de la Nature Universelle (publicado aps sua morte), Methodus adFacilem Historiarum Cognitionem (1566), La Dmonomanie des Sorciers (1580) e

    Colloquium Heptaplomeres(1596) (MONTEIRO, 2003, pp.161-164).

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    ... quando tem sido a questo de dar a f, tratar a paz, denunciar a guer-ra, acordar ligas ofensivas ou defensivas, limitar as fronteiras, e julgar as di-ferenas entre os Prncipes e Senhores soberanos, no se tem jamais includo

    os ladres, nem sua fuga, se talvez isto no feito por necessidade forada,que no absolutamente sujeito vontade das leis humanas, as quais tmsempre separado os bandidos e corsrios daqueles que ns dizemos inimigosjustos em feito de guerra, que mantm seus Estados e Repblicas por via dajustia, dos quais assaltantes e corsrios procuram a reverso e a runa(BODIN, 2005, p.3)8. Mais adiante acrescenta: De qualquer modo, viver emamizade e sociedade repartindo igualmente o saque (...) isto no deve serchamado sociedade nem amizade, nem partilha em termos de direito, mas con-

    jurao, roubos e pilhagens, pois o principal ponto, no qual jaz a verdadeiramarca da amizade, seu padro, , a saber, o justo governo segundo as leis danatureza (BODIN, 2005, p.5)9. Bodin no ope homem e Deus, razo e f.Percebe-se como indivduo, responsvel por seus apetites, direes, numconjunto que parece composto de valores morais de herana medieval, e tam-bm neoplatnicos.

    Nesse sentido, enxerga as qualidades de uma natureza em sua configura-o plural, apresentando um distanciamento imanente em relao a esta. A

    harmonia melodiosa do mundo vista de cima, viso de um mundo exterior aohomem. Retomando a discusso encetada sobre a historiografia renascentista,assim como no h homem que no represente o seu tempo, tambm no hhomem contraditrio em relao a sua poca. O que existe um olhar tericoreducionista quanto s necessidades dos indivduos em qualquer tempo. Des-sa forma as contradies do passado so muitas vezes provenientes de constru-

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    ... quand il a est question de donner la foy, traitter la paix, denoncer la guerre, accorderligues offensives, ou defensives, borner les frontieres, & decider les differents entre lesPrinces & Seigneurs souverains, on ny a iamais comprins les voleurs, ny leur fuite: sipeut estre cela ne sest faict par necessit forcee, qui nest point subiecte la diferetiondes loix humaines, lesquelles ont tousiours separ les brigans & corsaires, davec ceuxque nous disons droits ennemis en faict de guerre: qui maintiennent leurs estats &Republiques par voye de iustice, de laquelle les brigans & corsaires cherchent leversion& ruine (BODIN, 1579, p.1).9& quoy quils semblent vivre en amiti & societ partageans egalement le butin (...), neantmoinscela ne doit estre apell societ, ny amiti, ny partage en termes de droit: ains coniuration, voleries& pillages: car le principal poinct, auquel gist la vraye marque damiti, leur defaut, cest

    savoir, le droit gouvernement selon les loix de nature (BODIN, 1579, pp.2-3).

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    es de imaginrios ulteriores, que terminam por legitimar as contradies vis-tas em nosso presente, e vice-versa. Em Bodin, no encontramos a angstiaparasitria da subjetividade contempornea. Em meio aos conflitos religio-

    sos, o jurista observa e dialoga, mas tambm busca uma ao que possa confi-gurar uma presso para o fim das contendas de seu tempo.No direcionamento neoplatnico, Bodin recorre aos antigos e aos valores

    da espiritualidade e da sabedoria, para justificar a harmonia necessria aoshomens para uma vida feliz. Mas introduz elementos novos: porque os an-tigos chamavam Repblica uma sociedade de homens reunidos, para viver comfelicidade, essa definio todavia tem mais do que necessrio de uma parte,e menos de outra, pois trs pontos principais a faltam, a saber, a famlia, a

    soberania e o que comum numa Repblica (BODIN, 2005, p.5)10

    .Almaeum Podersoberano em harmonia necessria ao equilbrio das partes, tendo oUnocomo elemento ordenador. Entende-se que este ltimo pode ser visto comoo bem absoluto, verdadeiro. Voltando ao texto, percebemos essas trs instnciasde forma implcita:famlia, soberania, coisa pblica. Respectivamente, alma,poder e unicidade.

    Em outras passagens, Bodin vale-se de frmulas matemticas, fascinadocom o nmero trs, os estados da Frana que deviam ser compostos em har-

    monia pelo poder soberano. Mas o trecho final que melhor evidencia a con-jugao dos valores culturais destacados para o exerccio da poltica, com umareligiosidade especial que contradita interpretaes acerca do jurista comopensador laico, protestante, judeu ou ctico, por quase no citar o Novo Tes-tamento em sua obra (MONTEIRO, 2003, pp.168-174):

    Tudo que por vozes e sons contrrios se compe uma doce e naturalharmonia, tambm de vcios e virtudes, de qualidades diferentes doselementos, de movimentos contrrios, e de simpatias e antipatias liga-

    das por meios inviolveis, se compe a harmonia desse mundo e desuas partes: como tambm a Repblica, composta de bons e maus,de ricos e pobres, de sbios e loucos, de fortes e fracos, unidos por

    10Cest pourquoy les anciens appelloyent Republique, une societ dhommes assembls,pour bien & heuresement vivre: laquelle definiction toutefois a plus quil ne faut dunepart, & moions dune autre: car les trois poincts principaux y manquent, cest savoir, la

    famille, la souverainet, & ce qui est commun en une Republique (BODIN, 1579, p.3).

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    aqueles que so os intermedirios entre uns e outros: sendo sempre obem mais poderoso que o mal, e os acordos mais que as discrdias. Etanto assim que a unidade sobre os trs primeiros nmeros, o inte-lecto sobre as trs partes da alma, o ponto indivisvel sobre a linha,superfcie, e o corpo, assim pode-se dizer, que esse grande Rei eterno,nico, puro, simples, indivisvel, elevado acima do mundo elementar,celeste e inteligvel, uniu os trs juntos, fazendo reluzir o esplendorde sua majestade e a doura da Harmonia divina em todo o mundo, aexemplo de que o sbio Rei deve-se conformar, e governar seu Reino(BODIN, 2005, p.739)11.

    A est o Estado de justia harmnica entre o divino e a sociedade, em

    sintonia com poetas da corte e membros da famlia Valois, bastante diferentedo Bodin absolutista ou constitucionalista identificado por interpretaes ps-tumas (FRANKLIN, 1993). Para esse homem renascentista no havia cam-pos distintos do conhecimento. No entanto, h ainda outro aspecto da obrabodiniana relacionado ao poder que merece ser destacado. Diversamente daacepo neoplatnica que remete o jurista a um contexto cultural especfico,esse tpico transcende tempos e periodizaes da histria.

    O poder da famlia

    Embora utilize jarges revistos pela recente historiografia poltica comoEstado absolutista e burguesia, Norbert Elias, ao enfatizar as relaes entrepoder, sociedade e indivduos nos tempos medievais e modernos, no tem comofoco a discusso do Estado e o primado da lei. Concebendo a poca estudada

    11Or tout ainsi que par voix & sons contraires il se compose une douce & naturelle harmonie,aussi des vices & vertus, des qualits differentes des elements, des mouvements contraires,& des sympathies & antipathies liees par moyens inviolables, se compose lharmonie de cemonde & de ses parties: comme aussi la Republique est composee de bons & mauvais, deriches & de poures, de sages & de fols, de forts & de foibles, allis par ceux qui sont moyensentre les uns e les autres: estant tousiours le bien plus puissant que le mal, & les accords plusque les discords. Et tout ainsi que lunit sur les trois premiers nombres, lintellect sur letrois parties de lame, le poinct indivisible sur la ligne, superficie, & le corps: ainsi peut ondire, que ce grand Roy eternel, unique, pur, simple, indivisible, ellev par dessus le mondeelementaire, celeste & intelligible, unit les trois ensemble, faisant reluire la splendeur de samaiest & la douceur de lharmonie divine en tout ce monde, lexemple duquel le sage Roy

    se doit conformer, & gouverner son Royaume (BODIN, 1579, p.739).

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    comoprocesso civilizador,ele rompe com a periodizao tradicional, interessa-do na conduta dos sentimentos humanos rumo a uma direo especfica, quan-do o controle efetivo de terceiros seria convertido em autocontrole de desejos

    e libido, para sua adaptao a uma estrutura social complexa (ELIAS, 1993,v.2, pp.193-207). A Renascena vista como momento significativo dessastransformaes, no que se refere organizao social em vias de encaminha-mento, mas tambm produo historiogrfica que construiu o conceito de Re-nascimento sob o prisma de mudana de concepo do indivduo sobre si mes-mo e o mundo. No entanto, esse processo tambm diz respeito aos monopliosde poucos indivduos, lderes aptos a exercer atividades reguladoras mediantemecanismos de legitimao, responsveis pelos demais. Dessa forma, os expedi-

    entes utilizados pelas monarquias europias mormente a francesa - revelavamuma apropriao da intermediao das relaes humanas. As lideranas condi-cionadas por tradies, mas tambm por novas construes legitimadoras, procu-ravam atender a esse novo universo de necessidades dos indivduos.

    Nesse mbito o amor, outrora concentrado na figura do mito universal cris-to, era catalisado por indivduos preocupados em assumir a orientao do reba-nho rfo da estrutura de poder religioso no incio de sua decomposio. Ametfora de Schopenhauer referente a porcos espinhos que se aproximam e

    afastam at encontrarem uma distncia ideal para aquecerem-se sem se espetar ilustra o problema das relaes sociais. Mediante essa imagem Freud cujateoria serviu a Elias explica a superao da hostilidade primria entre oshomens na formao de grupos pela fora do amorque vincula os indivduos,como base, instrumento e efeito da autoridade. Para surgir o amor no grupo, eranecessria a figura paterna, a compartilhar esse sentimento (FREUD, 1976,pp.52-69). Jos Brunner afirma que o paradigma edipiano de Freud um cons-tructoterico reducionista, ao fazer do desenvolvimento masculino uma normafalocntrica e autoritria, alm de resvalar para a universalizao mtica (ROTH,2000, pp.76-87). Podemos concordar com a crtica, mas no universo francs qui-nhentista, deparamos-nos com a existncia da lei slica, que regulava a suces-so do trono atravs dos filhos vares. Considerada a lei mais fundamental doreino, caracterizando uma monarquia mantida pela ordem dinstica, o respeito lei slica causou guerras externas como a dos Cem Anos- e internas comoas religiosas do sculo XVI.

    A proteo paterna, como poder e agregao, tambm se encontra em OsSeis Livros ...,a mostrar que as estruturas paternalistas e a analogia entre paie reieram perceptveis e naturalizadas naquele mundo. Para Bodin a famlia

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    era a primeira base da sua argumentao de Estado, arcabouo sensvel nasua composio filosfica. Segundo Pietro Costa, a famlia era um microcosmoda representao da ordem poltica numa escala maior. Da famlia chegava-

    se Repblica, e do pai ao rei, numa configurao patriarcal de sociedade(COSTA, 1999, pp.65-80). A famlia seria assim uma espcie de sintonia finado Estado harmnico, enquanto o rei-pai, figura masculina como lder e indiv-duo, seria o juiz para a manuteno do processo civilizador, no entender deElias. Como vimos, o homem renascentista concebia-se de forma diferente,percebendo uma mudana e uma necessidade de transformao da naturezaque o cercava. Enxergava tambm o outro de maneira diferenciada, necessitan-do de mecanismos que estabelecessem novas relaes.

    Nesse sentido a mudana do homem constituiu na Frana das guerras reli-giosas uma necessidade de restabelecer bases de autoridade capazes do retor-no paz e da preservao fsica dos indivduos. Para os homens, entre elesBodin, tratava-se de buscar elementos que reatassem este elo, mediante amemria de um passado social, mas tambm por uma estrutura da autoridadepresente na sua prpria composio psquica. Desse modo, rei, Deus, sobera-no e paiseriam variaes de um mesmo tema, e a adjetivao desta autorida-de significava a escala de valores estruturais de uma sociedade, sobretudo no

    referente secularizao.Bodin, alm das discusses acerca da legitimidade rgia e seus mecanismos,operava no sistema dessa estrutura constituinte da autoridade e do poder, a fam-lia, negligenciada por comentadores de sua obra12: A segunda parte da definiode Repblica que ns colocamos, diz respeito famlia, que a verdadeira fontee origem de toda Repblica, membro principal desta. Mais adiante comenta: Ojusto governo do pai e dos filhos repousa no bom uso do poder, que Deus deu aopai sobre os prprios filhos, ou a lei sobre filhos adotivos, e na obedincia, amor,e reverncia dos filhos para com seus pais. A palavra poder prpria a todos quetem poder de comandar a outrem (BODIN, 2005, pp.10, 25)13.

    12Por exemplo, na edio de Les Six Livres ...abreviada por Grard Mairet os trechossobre a famlia, presentes nos captulos 2, 3 e 4 do Livre I,so suprimidos (MAIRET,

    1993, pp.65-81).

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    O poder de comandar emanava primeiramente de Deus, posteriormentedo pai que recebeu este poder divino. Aos filhos, cabia obedincia e revern-cia. Assim a autoridade deste pai era suficiente, se bem usada, para comandar

    os outros. No universo cultural francs a construo da imagem protetoramasculina ganhava a confiana de Bodin no referente autoridade: O coman-do dos mnagesse prende a quatro foras, do marido sobre a mulher, do paisobre os filhos, do senhor sobre os escravos, do mestre sobre os serviais. E obom governo de toda a Repblica, corpos e colgios, sociedades e lares, de-pende de saber comandar e obedecer; diramos por ordem do poder de co-mandar, seguindo a diviso que ns colocamos (BODIN, 2005, p.17)14.

    Poderamos prosseguir construindo uma apologia categoria ontolgica da

    famlia, a funo de cada membro a me, os filhos, os servos e os escravos -e mesmo suas quantidades precisas. Bodin em seu contexto desestruturado defundamentaes de autoridade e poder como era o tempo das guerras de reli-gio na Frana recorria a esses elementos arraigados no homem de tradiomedieval (COSTA, 1999, pp.65-80). Essa referncia ocorria no momento daelaborao dos paradigmas do Estado moderno, e do homem renascentista.

    Mas amor, famlias, poder e Estado tambm lembram um conhecido arti-go de Eduardo Viveiros de Castro e Ricardo Benzaquen de Arajo sobre a pea

    de Shakespeare,Romeu e Julieta. Considerando a pea teatral paradigmtica,os autores incorporam o afeto na anlise das relaes sociais, pois emRomeue Julieta, direito e afeto no se acham em perfeita oposio complemen-

    13La seconde partie de la definition de Republique que nous avons posee, touche lafamille, qui est la vraye source & origine de toute Republique, & membre principaldicelle. Le droit gouvernement du pere & de enfans gist bien user de la puissance,que Dieu a donn au pere sur ses enfans propes, ou la loy sur les enfans adopts, & en

    lobeissance, amour, & reverence des enfans envers les peres. Le mot de puissance, estpropre tous ceux qui ont pouvoir de commander autruy (BODIN, 1579, pp.7, 20). Oprimeiro trecho retirado do captulo 2, Do Mnage, e a diferena entre a Repblica ea famlia. Desde o sculo XIII, mnage significava a administrao dos bens. Faire sonmnagetinha ento o sentido de faire ses affaires. No sculo XIV, a noo abrangia osobjetos de uma casa. O sentido moderno surgiu no sculo XVI, referente vida materialda casa, mormente seus cuidados materiais (REY, 1998, pp.2190-2191).14Le commandemont des mesnages se prend en quatre forces, du mari envers la femme, dupere envers les enfans, du seigneur envers les esclaves, du maistre envers les serviteurs. Etdautant que le droit gouvernement de toute Republique, corps & colleges, societs &mesnages, despend de savoir bien commander & obeir: nous dirons par ordre de la puissance

    de commander, suyvant la division que nous avons posee (BODIN, 1579, pp.13-14).

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    tar (CASTRO & ARAJO, 1977, pp.130-169). O amor de Romeu e Julietaindicaria uma valorizao especial da noo de indivduo, acompanhada dosurgimento de domnios relativamente autnomos a esfera poltica, associ-

    ada ao poder. Na Verona do sculo XV, Shakespeare narrou os momentos fi-nais da luta entre duas famlias nobres, com sua pacificao, e a consolidaoda autoridade do prncipe. Nesse ambiente surgia o amor entre dois inimigos,Romeu e Julieta. O prncipe era um rbitro com posio eqidistante em rela-o s faces. A morte dos amantes dissolveu os dios, e a unio das famli-as implicou seu fim como entidades autnomas15. Para Castro e Arajo, o es-quema amor-indivduo versussociedade-famlia no esgota o tema do amorna pea, que atinge a prpria identidade individual. No caso limite de Romeu

    e Julieta, o amor acionaria duas noes de indivduo: como ser moral aut-nomo, e como membro da espcie.Entretanto, o radicalismo do amor teatral e o trgico destino dos amantes,

    unidos apenas na morte, no excluem a convergncia entre o amor de Romeue Julieta e a consolidao do poder em Verona. Pois a pea de Shakespeareseria tambm um mito que narra, alm da origem do amor, a fundao doEstado. Romeu e Julieta eram indivduos que s respeitavam a autoridade doprncipe. Os autores comparam ento O Prncipede Maquiavel e a pea tea-

    tral. Maquiavel abordaria o poltico com lgica independente. O mesmo isola-mento de domnios estaria emRomeu e Julieta, em direo oposta: o amor, asrelaes interindividuais, tambm no se encontravam imersos na lgica rela-cionada famlia. Ao separar os indivduos das famlias, o amor tambm re-tirava delas a autoridade poltica, concentrada nas mos do prncipe deVerona16. Em sntese, Eduardo Viveiros e Ricardo Bezaquen acrescentam outradimenso ao indivduo como ser moral autnomo, possuidor de direitos e

    15Inspirados em Philippe Aris, para Castro e Arajo o casal Romeu e Julieta seria umamanifestao das novas formas de famlia no Ocidente, com relaes internas de afe-to. A famlia conjugal moderna, formada a partir de laos afetivos, individuais, retirar-se-ia da esfera poltica, voltando-se para si mesma e constituindo domnio prprio, doprivado, psicolgico. No nos parece ser essa a acepo da famlia bodiniana, que reme-te noo de casa nobre, formando grupos para o estabelecimento da Repblica. Argu-mentos diferentes de Aris, que concentra a anlise no comportamento familiar, no sen-timento de infncia, jogos, disciplinas, instituies de ensino, roupas etc (ARIS, 1981).16Os autores observam que a maior parte de O Prncipeera dirigida aos principados novos,no hereditrios, ou seja, sem ligao com lealdades familiares, dependendo apenas da

    virtdo governante (CASTRO & ARAJO, 1977, p.163).

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    deveres, mostrando como essa concepo ocidental possui um aspecto que per-mite a confuso com a idia de indivduo relacionada espcie. Esse aspectoseria a personalidade, o indivduo como ser psicolgico. A personalidade se-

    ria a verdade do indivduo, mas tambm indicaria seu papel social. Desse modoo poder, manipulado por indivduos desvinculados da ordem tradicional, afasta-va-se da concepo holstica do mundo, tanto quanto o amor, que ligava indiv-duos independentes da ordem moral-social-religiosa.

    A anlise estrutural da pea indica diferenas em relao teoria de Bodine ao Estado francs da Renascena, como figuram neste artigo. Destaca-seprimeiramente a abordagem que descentra o tema do mbito da lei, do direitoe da administrao, possibilitando o estudo do poder vinculado a contextos

    especficos e a sentimentos. Mas a famlia bodiniana, tal como aparece emOs Seis Livros ...,no a mesma conotada por Castro e Arajo, pois no seopunha ao poder soberano outrossim era a sua prpria base , tampouco aoamor, embora esse amor no fosse entendido na acepo individual do estudoantropolgico. Dessa forma, se a pea de Shakespeare considerada um ar-qutipo, esse carter modelar no deve ser atribudo obra de Maquiavel enem a Bodin , pois verificamos aqui um Estado francs em ampla relao sociedade, dependente de famlias na teoria e na prtica. Afinal, como enten-

    der as guerras de religio sem as faces familiares Valois Angoulme,Bourbon, Guise, Cond, Montmorency? Disputas que no cessariam com aascenso de Henrique IV e o fim das guerras, ressurgindo na Fronda durantea menoridade de Lus XIV. Como diria Bodin, a famlia mais poderosa detma soberania. Portanto, Bodin escrevia em acordo ao seu reino dinstico e he-reditrio, diferente das cidades italianas. E buscava em estruturas medievaiscomo a famlia, os corpos e os colgios, os fundamentos para sua teoria dopoder. Desse modo o julgamento bodiniano negativo sobre Maquiavel, pre-sente em Os Seis Livros ...,confunde-se experincia histrica tumultuadadas cidades-estado. Bodin contava com a tradio, para elaborar suapuissanceabsolue et perpetuelle (VASOLI, 2002, p.341).

    Em conclusivo, destacamos a subjetividade da interpretao histrica, e aimportncia do sculo XIX na elaborao de paradigmas historiogrficos doRenascimento e do Estado. Leituras que concebem Bodin como artfice doconceito de Estado devem ser revistas no somente em sua negao, mas pelaremisso do contedo de sua obra ao mundo cultural, filosfico e poltico como qual ela dialogava e a separao desses contedos j denota a precarieda-de da anlise. Incorporar a cultura ao estudo da poltica no significa deslo-

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    car a discusso, mas compreender de modo adequado concepes de podervigentes, descobrindo no caso de Bodin - outras abstraes e secularizaes,para alm da histria poltica do direito e da administrao. O estado do ho-

    mem renascentista diz respeito individualidade, e percebemos um Bodin autore vaidoso de sua obra, o que por outro lado, punha limites impessoalidadeno exerccio de sua funo, e de outros agentes sociais - inclusive o rei. O Es-tado do Bodin da Renascena tambm falava de um ideal, concretizado noamor neoplatnico e na magia hermtica, harmonizando Deus, poder sobera-no, famlias e pessoas. Tratava-se, porm, de outro amor que no aquele entreindivduos, bem como de outra famlia, relacionada aos tempos medievais, oua todos os tempos, pela analogia entre o pai e o rei. Tratava-se de outro Esta-

    do, diferente da acepo contempornea, mas diverso tambm do poder conce-bido por Maquiavel. Mesmo no lidando com o inventrio de seus livros, eno tendo explicitado aqui sua biografia, cremos ter fornecido subsdios paratornar menos contraditria a figura do Bodin poltico, jurista, demonlogo,ctico, humanista, neoplatnico. Mediante anlise de seu texto, percebemo-lo fruto de seu tempo, momento em que guerra e refinamento, violncia e civi-lizao grassavam entre famlias, poderes, nobres e plebeus. Mas parece que,ao procurar uma soluo para esses problemas, Bodin tambm falou a outros

    tempos, razo pela qual ele nos desperta grande interesse, a provocar a subjeti-vidade da nossa interpretao.

    Fonte

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