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1 O MITO DE JÚPITER E A QUESTÃO DO INCESTO 1 NO APOLOGÉTICO DE TERTULIANO: 2 MITO E QUESTÕES DE TRADUÇÃO 3 Luís Carlos Lima Carpinetti (UFJF) 4 [email protected] 5 6 RESUMO 7 Imerso nos escombros da antiga civilização greco-romana, o culto cristão era alvo 8 das maledicências e difamações, e assim se nos apresenta no texto do Apologeticum, de 9 Tertuliano. Nessa obra, como renomado jurista, Tertuliano transita entre as crenças 10 pagãs e articula uma defesa do cristianismo como religião e culto alternativos a um 11 universo de crenças e superstições que vicejam no decadente mundo romano que se 12 debate em aguda crise econômica. Neste artigo, discorremos sobre o mito de Júpiter e 13 sobre a questão do incesto imputado aos cristãos em suas práticas secretas. Discorre- 14 remos sobre a origem e relações de Júpiter, pai e deus dos deuses, bem como sobre 15 Ctésias de Cnido e sobre história de Édipo. Os rituais cristãos despertam curiosidade 16 e são suscetíveis a questionamentos de diversas ordens. Apresentamos o texto de Ter- 17 tuliano no qual este mito é discutido pelo jurista Tertuliano, na passagem no caput IX, 18 parágrafos 16 a 20, e propomos a esse texto uma tradução nossa. 19 Palavras-chave: Mitos romanos. Mito de Júpiter. Tertuliano. Apologética. Tradução. 20 21 1. Introdução: o autor Tertuliano e sua obra Apologético 22 Tertuliano viveu aproximadamente 60 anos, a partir de 160 a 220 23 d.C. aproximadamente. As informações sobre a biografia de Tertuliano 24 advêm de suas obras e de comentários de outros autores. Segundo a tra- 25 dição, Tertuliano cresceu em Cartago, onde teria nascido; é filho de um 26 centurião romano, advogado treinado e padre ordenado. Essas afirmações 27 são de Eusébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica 1 . Quanto a São 28 Jerônimo 2 , alega este que o pai de Tertuliano tinha a posição de centurião 29 proconsular no Exército romano na África. Porém, não está claro se esta 30 posição sequer existiu nas forças militares romanas. 31 O que sua obra revela é o trato cuidadoso da palavra e da oratória, 32 fruto de seu conhecimento da retórica judiciária romana e da cultura gre- 33 1 História Eclesiástica, Livro II, capítulo II. 2 De uiris illustribus, cap. 53.

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    O MITO DE JPITER E A QUESTO DO INCESTO 1 NO APOLOGTICO DE TERTULIANO: 2 MITO E QUESTES DE TRADUO 3

    Lus Carlos Lima Carpinetti (UFJF) 4 [email protected] 5

    6

    RESUMO 7

    Imerso nos escombros da antiga civilizao greco-romana, o culto cristo era alvo 8 das maledicncias e difamaes, e assim se nos apresenta no texto do Apologeticum, de 9 Tertuliano. Nessa obra, como renomado jurista, Tertuliano transita entre as crenas 10 pags e articula uma defesa do cristianismo como religio e culto alternativos a um 11 universo de crenas e supersties que vicejam no decadente mundo romano que se 12 debate em aguda crise econmica. Neste artigo, discorremos sobre o mito de Jpiter e 13 sobre a questo do incesto imputado aos cristos em suas prticas secretas. Discorre-14 remos sobre a origem e relaes de Jpiter, pai e deus dos deuses, bem como sobre 15 Ctsias de Cnido e sobre histria de dipo. Os rituais cristos despertam curiosidade 16 e so suscetveis a questionamentos de diversas ordens. Apresentamos o texto de Ter-17 tuliano no qual este mito discutido pelo jurista Tertuliano, na passagem no caput IX, 18 pargrafos 16 a 20, e propomos a esse texto uma traduo nossa. 19

    Palavras-chave: Mitos romanos. Mito de Jpiter. Tertuliano. Apologtica. Traduo. 20

    21

    1. Introduo: o autor Tertuliano e sua obra Apologtico 22

    Tertuliano viveu aproximadamente 60 anos, a partir de 160 a 220 23 d.C. aproximadamente. As informaes sobre a biografia de Tertuliano 24 advm de suas obras e de comentrios de outros autores. Segundo a tra-25 dio, Tertuliano cresceu em Cartago, onde teria nascido; filho de um 26 centurio romano, advogado treinado e padre ordenado. Essas afirmaes 27 so de Eusbio de Cesareia, em sua Histria Eclesistica1. Quanto a So 28 Jernimo2, alega este que o pai de Tertuliano tinha a posio de centurio 29 proconsular no Exrcito romano na frica. Porm, no est claro se esta 30 posio sequer existiu nas foras militares romanas. 31

    O que sua obra revela o trato cuidadoso da palavra e da oratria, 32 fruto de seu conhecimento da retrica judiciria romana e da cultura gre-33

    1 Histria Eclesistica, Livro II, captulo II.

    2 De uiris illustribus, cap. 53.

    mailto:[email protected]

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    co-romana. Manejava com desenvoltura o vocabulrio jurdico. Contudo, 1 no se deve confundi-lo com um jurista homnimo, mencionado no Di-2 gesto. Tertuliano no era um jurista profissional. Observa-se nele o estilo 3 permeado de arcasmos e provincialismos, traos de linguagem a que 4 chamamos de africanismos. Suas imagens so brilhantes, e seu tempera-5 mento apaixonado. 6

    Sua converso ao cristianismo ocorreu por volta de 197-198, ten-7 do sido, provavelmente, um evento repentino e decisivo, pois ela retrata 8 uma sociedade em que o cristianismo era ensejo para proscries, execu-9 es e martrios. Uma pesquisa que revolucionou a leitura da obra de 10 Tertuliano revela que precisamos observar neste autor o legado dos pos-11 tulados retricos de Ccero e que, quanto a estes postulados, observem-se 12 todos os tratados de Ccero, combinados com a disciplina da f crist (ou 13 regra de vida), dada pela pregao dos apstolos, e a regra de f, haurida 14 dos textos escritos ou atribudos ao apstolo Paulo. (FREDOUILLE, 15 2012, p. 42)3 16

    Podemos dividir a sua obra em trs grandes grupos: escritos apo-17 logticos, escritos polmicos, escritos disciplinares. categoria de escri-18 tos apologticos pertencem as obras cuja meta a defesa da f contra os 19 opositores. A ela pertencem a obra Aos Pagos, Apologeticum (sua obra 20 mais conhecida, mais lida e traduzida ao longo dos sculos), O Testemu-21 nho da Alma, Contra Escpula, Contra os Judeus. categoria de escri-22 tos polmicos pertencem A Prescrio dos Hereges, Contra Marcio, 23 Contra Hermgenes, Contra os Valentinianos, O Batismo, Scorpiace, A 24 Carne de Cristo, A Ressurreio da Carne, Contra Prxeas, A Alma. 25 categoria de escritos ascticos, morais e disciplinares, referenciamos: Aos 26 Mrtires, Os Espetculos, O Vestido das Mulheres, A Orao, A Pacin-27 cia, A Penitncia, Esposa, A Exortao da Castidade, A Monogamia, 28 O Vu das Virgens, A Coroa, A Fuga na Perseguio, A Idolatria, O Je-29 jum, A Pudiccia, O Manto. 30

    Neste artigo, o texto em foco o Apologtico. Tertuliano iniciou 31 sua tarefa literria no ano de 197. A crtica atual renunciou ao ideal de fi-32

    3 Em Ernest Renan, pode-se ter uma viso melhor do papel exercido pela comunidade crist de Je-rusalm, representada pelos doze apstolos e a misso de So Paulo, com suas inumerveis via-

    gens e fundao de comunidades crists em vrias regies do mundo civilizado antigo. Nesse senti-do so relevantes a obra Os apstolos e a obra So Paulo. Em nossa bibliografia, recomendamos a edio da editora Robert Laffont, pelo rigor de seu sistema de referncias e por se tratar do idioma original do clssico da historiografia do cristianismo, Lhistoire des Origines du Christianisme, obra

    em sete volumes.

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    xar o ano exato que corresponde publicao de cada uma de suas obras, 1 limitando-se a datar as cinco delas que contm aluses histricas que 2 permitem uma datao relativamente segura: Aos Gentios (In Nationi-3 bus), Apologtico (Apologeticum) e Aos Mrtires (Ad Martyras) foram, 4 provavelmente, publicados no ano de 197 d.C. 5

    O que mais chama a ateno no texto do Apologtico sua imer-6 so no mundo pago e seu dialogismo entre a cultura pag e o que este 7 prope como mudana de mentalidade ou converso, em favor dos ideais 8 cristos. Neste sentido, articula sua dialtica entre a cultura pag e a pro-9 posta de uma nova religio, defendendo os cristos das calnias e difa-10 maes a eles imputadas por parte dos gentios. H inmeras acusaes 11 tais como infanticdio, pedofagia, homicdios de um modo geral, prticas 12 de orgias secretas e incestos. Tertuliano d conta de defender os cristos 13 que enfrentavam as perseguies e que eram alvo de calnias, as quais, 14 por sua vez, tinham por motivao as prticas mencionadas acima. 15

    Neste artigo, abordamos a questo do incesto, que uma relao 16 sexual entre parentes (consanguneos e afins) dentro dos graus em que a 17 lei, a moral ou a religio probe ou condena o casamento. O que no 18 puro, no casto, impudico, impuro. Na histria de Jpiter, observamos 19 muito a presena do incesto em suas mltiplas unies. 20

    21

    2. Referncias do trecho do Apologtico caput IX, pargrafos 16 a 20 22

    Falaremos primeiramente de Jpiter e suas unies. Zeus, como era 23 conhecido na Grcia, era um polgamo convicto e foi amante de deusas e 24 mortais. Primeiramente casou-se com Mtis, deusa da prudncia, filha de 25 Ttis e de Oceano. Quando Mtis estava grvida de Atenas, Gaia profeti-26 zou que esta filha iria destron-lo de seu posto de deus dos deuses, como 27 havia acontecido com Cronos e Urano e que isso era um ciclo eterno. 28 Zeus, temendo que isto fosse acontecer, montou uma armadilha: fez uma 29 brincadeira com Mtis pela qual se metamorfoseariam. Mtis no foi 30 prudente e aceitou. Em algum momento, Mtis se metamorfoseou em 31 mosca e Zeus a engoliu. Isto de nada adiantou. Atenas nasceu adulta da 32 cabea de Zeus. A profecia de Gaia estava errada. 33

    A segunda esposa de Zeus foi Tmis, tit e deusa da justia. As 34 moiras levaram Tmis at Zeus para se tornar sua esposa. As moiras pro-35 fetizaram que Zeus teria muito a aprender com Tmis, que era to sbia 36 quanto Mtis. Foi ela quem temperou o poder de Zeus com muita sabe-37

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    doria e com seu profundo respeito pelas leis naturais. Entretanto, o casa-1 mento dos dois no foi de total e doce harmonia, pois, embora transitasse 2 sabedoria entre eles, os ditames de um e de outro sempre tinham um pre-3 o muito elevado, pois nada possui soluo definitiva. Assim, o matri-4 mnio com Tmis foi desfeito, e Zeus casou-se finalmente com sua irm 5 Hera. Embora casado com Hera, Zeus tinha inmeras amantes. Ele se 6 metamorfoseava de diversas maneiras para se relacionar com suas aman-7 tes, como a metamorfose em qualquer objeto ou criatura viva, sendo o 8 caso mais famoso o caso de sua metamorfose em cisne para se relacionar 9 com Leda, e o touro para se relacionar com Europa. Com Alcmena, ele 10 se disfarou de Anfitrio e engravidou-a de Hrcules. Com Leda, nasceu-11 lhe Helena. Helena era irm gmea da rainha Clitemnestra de Micenas, 12 irm de Castor e Plux e esposa do rei Menelau de Esparta. 13

    Hera, irm e esposa de Jpiter, era ciumenta e perseguia as aman-14 tes e os filhos de tais relacionamentos, a ponto de tentar matar a Hracles 15 ainda beb. O nico filho de Zeus que Hera no odiava, antes gostava, 16 era Hermes, filho de Zeus com Maia, devido sua inteligncia. Hera 17 possua sete templos na Grcia, dos quais no sobrou nenhum, pois H-18 racles os destruiu todos, tendo sido, por este feito, reconhecido como he-19 ri no Olimpo. Ela era muito vaidosa e sempre quis ser mais bonita que 20 Afrodite, sua maior inimiga. Zeus tambm foi pai de Persfone, com sua 21 irm Demter. Zeus tambm foi pai de Eros, com Afrodite. 22

    Percebemos, por este relato, o quanto Zeus praticava relaes in-23 cestuosas. 24

    Quanto referncia a Ctsias de Cnido4, a quem Tertuliano alude, 25 ao citar o costume dos persas de terem comrcio carnal com suas pr-26 prias mes, dizem-nos as enciclopdias consultadas que era mdico e his-27 toriador da cidade de Cnido, situada na Cria; que viveu no sculo V 28 a.C., era mdico particular de Artaxerxes Mnemom, ao qual acompanhou 29 em 401 a.C. em sua expedio contra seu irmo Cyro, o mais jovem. 30 Ctsias era o autor de tratados sobre rios, as receitas persas de um relat-31 rio sobre a ndia (Indica) e de uma histria sobre a Assria e a Prsia, em 32 23 livros, chamados Persica, escritos em oposio a Herdoto no dialeto 33 jnico, decididamente fundados nos Arquivos Reais Persas. 34

    4As anotaes sobre Ctsias de Cnido foram traduzidas do ingls do site

    https://en.wikipedia.org/wiki/Ctesias, onde se encontram essas informaes.

    https://en.wikipedia.org/wiki/Ctesias

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    Na obra Persica, Ctsias fez a cobertura da histria da Assria e 1 da Babilnia para a fundao do imprio Persa; os dezessete restantes 2 cobrem as notcias at o ano de 398 a.C. Das duas histrias, ns possu-3 mos resumos feitos por Photius, e h fragmentos preservados por Ateneu, 4 Plutarco, Nicolau de Damasco e, especialmente, Diodoro Sculo, cujo se-5 gundo livro devido em sua autoria na maior parte a Ctsias. Como rela-6 o ao valor dos Persica, tem havido muita controvrsia, tanto na Anti-7 guidade quanto modernamente. Embora muitas autoridades antigas o te-8 nham tido em alta estima, usando-o para desqualificar Herdoto, um au-9 tor moderno escreve que a obra de Ctsias, por falta de confiabilidade, 10 faz com que Herdoto parea um modelo de preciso. O relato de Ctsias 11 acerca dos reis assrios faz com que ele no se reconcilie com a evidncia 12 cuneiforme. O satirista Luciano fez to pouco caso da confiabilidade his-13 trica de Ctsias que em sua satrica Histria Verdadeira ele coloca 14 Ctsias numa ilha, onde o mal fosse punido. Luciano escreveu que o 15 povo que sofreu o maior tormento foram aqueles que contaram mentiras 16 quando eles estavam vivos e escreveram histrias mentirosas, entre eles 17 estavam Ctsias de Cnido, Herdoto e muitos outros. 18

    Na obra Indica, o registro da viso que os Persas sustentaram da 19 ndia, sob o ttulo de Indica, inclui descries de povos semelhantes aos 20 deuses, filsofos, artesos e ouro inquantificvel, entre outras riquezas e 21 maravilhas. de grande valor o fato de registrar as crenas dos persas 22 sobre a ndia. Restam do livro apenas fragmentos e relatos feitos sobre o 23 livro por autores a ele posteriores. 24

    dipo Rei, tragdia de Sfocles (497 ou 496 inverno de 406 ou 25 405 a.C.) nos relata a histria de um rei tebano predestinado a matar seu 26 pai e a casar-se com sua me. Sabendo disso, seus pais Laio e Jocasta 27 abandonaram o menino tendo este sido criado pelo rei de Corinto, como 28 se fosse seu prprio filho. J adulto, retornara a Corinto e acertara a per-29 gunta que lhe fora feita pela Esfinge, monstro que era metade leo, meta-30 de mulher. Esta no o devorou, e ele se tornou um heri. Diante de uma 31 peste que assolava a cidade de Tebas, cidade sobre a qual reinava, busca 32 saber a causa da mesma. Ento, depois de muito investigar e fazer suas 33 buscas, descobre que o casal que o abandonara quando menino eram seus 34 pais, Laio e Jocasta. E que, sem o saber, matara a Laio, numa discusso 35 que tiveram, e se casara com Jocasta, sua me, que morava com ele no 36 palcio. Diante da descoberta, ele cai em si e descobre que seu ato, inter-37 ditado pela religio, era a causa de toda a calamidade. Sua atitude, em 38

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    vista do tremendo desconforto ou culpa, foi de vazar seus olhos e sua 1 me-mulher, Jocasta, se enforcar. 2

    Sfocles5 escreveu muitas obras teatrais, em nmero de 123, das 3 quais sete chegaram at nossos dias: As Traqunias, Antgona, Ajax, di-4 po Rei, Electra, Filocteto, dipo em Colono. Foi um grande autor teatral 5 no gnero dramtico trgico, ao lado de squilo e Eurpides, dentre aque-6 les cujo trabalho sobreviveu. Por quase 50 anos, Sfocles foi o mais ce-7 lebrado teatrlogo nos concursos dramticos da cidade de Atenas, que 8 aconteciam durante as festas religiosas Leneana e Dionsia. Sfocles 9 competiu em cerca de trinta concursos, venceu vinte e quatro e, talvez, 10 nunca tenha ficado abaixo do segundo lugar. Em comparao, squilo 11 venceu 14 concursos, e foi derrotado por Sfocles vrias vezes, enquanto 12 Eurpides ganhou apenas 4 competies. Sfocles tambm trabalhou co-13 mo ator. Foi ordenado sacerdote de Asclpio, deus da medicina, e eleito 14 duas vezes para a Junta de generais, que administrava os negcios civis e 15 militares de Atenas. Dirigiu o departamento do Tesouro que controlava 16 os fundos da Confederao de Delos. Em suas tragdias, mostra dois ti-17 pos de sofrimento: o que decorre do excesso de paixo e o que conse-18 quncia de um acontecimento acidental (destino). 19

    Assim vemos as trs referncias literrias do trecho traduzido do 20 Apologtico de Tertuliano. Passamos agora discusso das escolhas de 21 traduo que apresentamos do caput IX pargrafos 16 a 20. 22

    23

    3. Discusso de escolhas de traduo 24

    Na sequncia, apresentamos o texto de Tertuliano em latim: 25

    IX.16. Proinde incesti qui magis quam quos ipse Iuppiter docuit? Persas 26 cum suis matribus misceri Ctesias refert. Sed et Macedones suspecti, quia, 27 cum primum Oedipum tragoediam audissent, ridentes incesti dolorem: 28 " ", dicebant, " !". 17. Iam nunc recogitate, quantum li-29 ceat erroribus ad incesta miscenda, suppeditante omaterias passiuitate luxuri-30 ae. Inprimis filios exponitis suscipiendos ab aliqua praetereunte misericordia 31 extranea, uel adoptandos melioribus parentibus emancipatis. Alienati generis 32 necesse est quandoque memoriam dissipari; et simul error impegerit, exinde 33 iam tradux proficiet incesti serpente genere cum scelere. 18. Tunc deinde quo-34 cumque in loco, domi, peregre, trans freta, comes est libido, cuius ubique sal-35 tus facile possunt alicubi ignaris filios pangere uel ex aliqua seminis portione, 36

    5 As anotaes relativas biografia de Sfocles, foram colhidas no site

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Sofocles.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Sofocles

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    ut ita sparsum genus per commercia humana concurrat in memorias suas, ne-1 que eas caecus incesti sanguinis agnoscat. 19. Nos ab isto euentu diligentissi-2 ma et fidelissima castitas saepsit, quantumque ab stupris et ab omni post ma-3 trimonium excessu, tantum et ab incesti casu tuti sumus. Quidam multo secu-4 riores totam uim huis erroris uirgine continentia depellunt, senes pueri. 20. 5 Haec in uobis esse si consideraretis, proinde in Christianis non esse perspice-6 retis. Idem oculi renuntiassent utrumque. Sed caecitatis duae species facile 7 concurrunt, ut qui non uident quae sunt, uidere uideantur quae non sunt. Sic 8 per omnia ostendam. Nunc de manifestioribus dicam. 9

    Passemos anlise das frases e apresentao das escolhas feitas 10 de traduo. 11

    A frase Proinde incesti qui magis quam quos ipse Iuppiter docuit? 12 representa uma constatao das vrias prticas de incesto atribudas a J-13 piter, deus dos deuses na mitologia pag. uma pergunta retrica. Nesta 14 frase, o verbo docuit tem como complemento o pronome demonstrativo 15 quos, o qual determinado pelo genitivo singular de incestum, -i. Em 16 quos est subentendido um substantivo masculino plural que entendemos 17 que seja algo como casus, us que entendemos como caso, ocorrn-18 cia. Como docere um verbo que seria apresentar provas, documentar, 19 instruir no processo judicial, criamos uma locuo verbal que traduzi-20 mos como apresentar ocorrncias. O genitivo incesti um genitivo ob-21 jetivo, complemento nominal de quos. 22

    Assim resolvemos traduzir a frase como: Por conseguinte, quem 23 mais apresentou ocorrncias de incesto do que as que o prprio Jpiter 24 apresentou? 25

    A frase Persas cum suis matribus misceri Ctesias refert apresenta 26 o verbo dicendi refero e uma orao infinitiva persas cum suis matribus 27 misceri. Refero relatar, narrar. Aqui a informao sobre Ctsias de 28 Cnido decisiva para se entender que se trata de uma narrativa histrica, 29 sendo este autor um historiador da cultura oriental. Como a expresso 30 misceri no se aplica a uma voz ativa, entendemos que o mesmo trata de 31 uma voz mdia ou depoente. Era muito comum que os verbos de voz ati-32 va passassem a ser depoente e vice-versa, segundo Alfred Ernout6. Assim 33 entendemos que misceri uma voz mdia (depoente). 34

    6 Alfred Ernout (1989, p. 1150. Consulte-se suas informaes sobre o verbo depoente.

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    Assim traduziramos por enroscar-se, ter comrcio carnal: Ct-1 sias de Cnido7 relata que os persas tm comrcio carnal com suas pr-2 prias mes. 3

    Tratemos do trecho Sed et Macedones suspecti, quia, cum primum 4 Oedipum tragoediam audissent, ridentes incesti dolorem: " ", di-5 cebant, " !". A orao Sed et Macedones suspecti um sin-6 tagma nominal no qual est subentendido o verbo esse. A orao causal 7 quia dicebant ridentes incesti dolorem aponta o motivo de se suspeitar 8 dos macednios: o riso diante da frase em grego " -9 !" (lana-te sobre tua me), ao ouvirem pela primeira vez a tragdia 10 dipo-Rei. 11

    Assim traduzimos: Mas os macednios so tambm suspeitos, 12 porque, quando, pela primeira vez, ouviam a tragdia de dipo, rindo da 13 dor do incesto, diziam 'Lana-te sobre tua me!' 14

    Passemos ao trecho Iam nunc recogitate, quantum liceat erroribus 15 ad incesta miscenda, suppeditante materias passiuitate luxuriae. Esta-16 mos diante de um convite reflexo com o imperativo recogitate, que 17 podemos traduzir, como nossa preferncia, pela segunda pessoa do plu-18 ral, porque um discurso pomposo e formal, refleti. Este verbo tem 19 como complemento uma orao interrogativa subordinada quantum lice-20 at erroribus ad incesta miscenda, e um ablativo absoluto suppeditante 21 materias passiuitate luxuriae, que podemos traduzir por o quanto se d 22 permisso aos vossos equvocos para se misturar os incestos, quando a 23 promiscuidade da devassido multiplica as ocasies. 24

    Destarte, temos: Eia, refleti agora o quanto se permite aos vossos 25 equvocos cometer incestos, com a promiscuidade da devassido que 26 vem ao encontro das ocasies. 27

    Adiante ao trecho Inprimis filios exponitis suscipiendos ab aliqua 28 praetereunte misericordia extranea, uel adoptandos melioribus parenti-29 bus emancipatis.Notamos aqui o uso alternado da preposio de forma 30 pouco comum: no primeiro caso, h uma personificao da misericrdia, 31 j no segundo caso ou omitida por se subentend-la j presente, ou por 32 ausncia de necessidade. Em ambos os casos, os ablativos trazem a fun-33 o de agente da passiva, complementos dos particpios futuros passivos 34 suscipiendos e adoptandos. Estamos diante de um primeiro passo: o 35 7 Mdico de Artaxerxes Memnon, o qual ele acompanhou em sua expedio contra Ciro em 401 a.C.

    Consultar suas Histoires de lOrient, Paris, Les Belles-Lettres, 1991.

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    abandono dos filhos merc da compaixo dos outros ou da adoo por 1 pais melhores. 2

    Assim, pensamos em traduzir da seguinte forma: Primeiramente, 3 abandonais vossos filhos a fim de que a compaixo dos outros deles se 4 encarregue ou que pais melhores os adotem. 5

    Tratemos agora do trecho Alienati generis necesse est quandoque 6 memoriam dissipari; et simul error impegerit, exinde iam tradux profici-7 et incesti serpente genere cum scelere. Fala-se da necessidade de que a 8 lembrana da famlia da qual se separou se desvanea. E que, uma vez 9 que o erro tenha sido plantado, a partir dele a raiz do incesto far pro-10 gressos com o rastejar da famlia com o crime. interessante notar os 11 seguintes itens lexicais: o verbo impingere (plantar em, incutir), o subs-12 tantivo tradux (rama, sarmento) e o verbo serpere (serpentear, rastejar), 13 quando os mesmos denotam uma gradao de movimentos, comeando 14 pelo plantio, passando pelo vegetal que se alastra e terminando pelo mo-15 vimento prprio do rptil. 16

    Assim temos: "Faz-se mister que a lembrana de sua famlia que 17 se lhe tornou estranha, um dia se desvanea e, to logo o erro tiver sido 18 incutido, far progressos a rama do incesto, com a famlia rastejando-se 19 com o crime". 20

    Passemos ao trecho Tunc deinde quocumque in loco, domi, pere-21 gre, trans freta, comes est libido, cuius ubique saltus facile possunt ali-22 cubi ignaris filios pangere uel ex aliqua seminis portione, ut ita sparsum 23 genus per commercia humana concurrat in memorias suas, neque eas 24 caecus incesti sanguinis agnoscat. Percebe-se neste trecho a constncia e 25 insistncia do desejo carnal, sua atuao inconsciente das consequncias 26 e o reinado do acaso e das situaes fortuitas. O trecho aponta para o fato 27 de que o desejo carnal acompanha o indivduo onde quer que esteja, e 28 que os desvios desse desejo podem facilmente gerar-lhe filhos em algum 29 lugar sem que os mesmos tenham conhecimento ou de alguma poro da 30 semente, de tal modo que a famlia disseminada pelas relaes humanas 31 se encontre em suas lembranas e, inconsciente do sangue incestuoso, 32 no as reconhea. 33

    Assim traduzimos: 34

    Ento, novamente, em qualquer que seja o lugar, em casa, em pas estran-35 geiro, atravs dos mares, a paixo lhe companheira, cujos desvios em toda 36 parte podem, em algum lugar, facilmente vos gerar filhos sem que tenhais co-37 nhecimento ou que se origine de alguma poro da semente, de tal modo que a 38

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    famlia disseminada pelas relaes humanas se encontre em suas lembranas 1 e, inconsciente do sangue incestuoso, no as reconhea. 2

    O pargrafo 19 traz o seguinte texto: Nos ab isto euentu diligen-3 tissima et fidelissima castitas saepsit, quantumque ab stupris et ab omni 4 post matrimonium excessu, tantum et ab incesti casu tuti sumus. Quidam 5 multo securiores totam uim huis erroris uirgine continentia depellunt, 6 senes pueri. O foco da situao apresentada anteriormente, muda, da ati-7 tude dos gentios, para a atitude dos cristos perante esta situao. Isto faz 8 lembrar as admoestaes do texto do Evangelho dadas por Jesus a seus 9 discpulos, nas quais, diante de uma dada situao corrente na atitude re-10 ligiosa hipcrita de fariseus e escribas, Jesus lhes aconselhava o contr-11 rio. Consulte-se Mateus 23, 8 e ver-se- o contraste da fala de Jesus em 12 relao atitude religiosa dos fariseus e escribas8. Tertuliano articula sua 13 fala em conformidade com a tradio apostlica, segundo a regra de vi-14 da9. 15

    Assim traduzimos o trecho apresentado: 16

    A ns protegeu deste tipo de acontecimento a diligentssima e fidelssima 17 castidade, tanto quanto das relaes sexuais e de todo falecimento depois do 18 matrimnio, como tanto somos protegidos do ensejo do incesto. Alguns entre 19 ns, muito mais seguros, desviam toda a fora deste erro por uma continncia 20 virginal, velhos puros como crianas. 21

    Para terminar o texto de Tertuliano que selecionamos, passemos 22 ao pargrafo 20: Haec in uobis esse si consideraretis, proinde in Christi-23 anis non esse perspiceretis. Idem oculi renuntiassent utrumque. Sed cae-24 citatis duae species facile concurrunt, ut qui non uident quae sunt, uidere 25 uideantur quae non sunt. Sic per omnia ostendam. Nunc de manifestiori-26 bus dicam. O trecho reflete sobre um mecanismo muito comum junto s 27 pessoas que a projeo sobre o outro da viso que temos de ns mes-28 mos. Desta maneira os pagos enxergam nos rituais secretos algo como a 29 devassido e tudo que dela decorre, como a fonte de todos os outros v-30 cios, sobretudo se a lngua que os cristos utilizam contm os mesmos 31 significantes da dos gentios. Lembremos de amare do qual nos d teste-32

    8Em portugus no Evangelho aparece a expresso quanto a vs, em latim uos autem, em grego .

    9 Leia-se Jean-Claude Fredouille (2012, p. 42), onde encontramos o termo latino disciplina como re-

    gra de vida.

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    munho a poesia de Catulo e todas as implicaes de paixo, amor carnal 1 e outros10. 2

    Assim traduzimos o trecho: 3

    Portanto, se vs considersseis haver em vs esses crimes, vs vereis cla-4 ramente no hav-los entre os cristos. Os mesmos olhos vos teriam apresen-5 tado uma e outra coisa. Mas as duas espcies de cegueira facilmente coexis-6 tem de modo que aqueles que no veem o que h parecem ver o que no h. 7 Assim o mostrarei atravs de toda a sequncia. Agora falarei dos crimes a to-8 dos mais visveis. 9

    Agora apresentamos o resultado de nosso trabalho com toda a se-10 quncia: 11

    16. Por conseguinte, quem mais apresentou ocorrncias de incesto do que 12 as que o prprio Jpiter apresentou? Ctsias de Cnido11 relata que os persas 13 tm comrcio carnal com suas prprias mes. Mas os macednios so tambm 14 suspeitos, porque, quando, pela primeira vez, ouviam a tragdia de dipo, rin-15 do da dor do incesto, diziam Lana-te sobre tua me!12 16

    17. Eia, refleti agora o quanto se permite aos vossos equvocos cometer 17 incestos, com a promiscuidade da devassido que vem ao encontro das ocasi-18 es. Primeiramente, abandonais vossos filhos a fim de que a compaixo dos 19 outros deles se encarregue ou que pais melhores os adotem. Faz-se mister que 20 a lembrana de sua famlia que se lhe tornou estranha, um dia se desvanea e 21 que, to logo o erro tiver sido plantado, far progressos a rama do incesto, 22 com a famlia rastejando-se com o crime. 23

    18. Ento, novamente, em qualquer que seja o lugar, em casa, em pas es-24 trangeiro, atravs dos mares, a paixo lhe companheira, e os seus desvios em 25 toda parte podem, em algum lugar, facilmente vos gerar filhos sem que te-26 nhais conhecimento ou que se originem de alguma poro da semente, de tal 27 modo que a famlia disseminada pelas relaes humanas se encontre em suas 28 lembranas e, inconsciente do sangue incestuoso, no as reconhea. 29

    19. A ns protegeu deste tipo de acontecimento a diligentssima e fidels-30 sima castidade, tanto quanto das relaes sexuais e de todo falecimento depois 31 do matrimnio, como tanto somos protegidos do ensejo do incesto. Alguns en-32 tre ns, muito mais seguros, desviam toda a fora deste erro por uma conti-33 nncia virginal, velhos puros como crianas. 34

    20. Portanto, se vs considersseis haver em vs esses crimes, vs vereis 35 claramente no hav-los entre os cristos. Os mesmos olhos vos teriam apre-36

    10 Lembre-se tambm do seriado Roma, a inscrio no portal da casa da personagem Attia Attia amat omnes. Attia era a mulher mais devassa do seriado.

    11 Mdico de Artaxerxes Memnon, o qual ele acompanhou em sua expedio contra Ciro em 401 a.C. Consultar suas Histoires de lOrient, Paris, Les Belles-Lettres, 1991.

    12 Em grego:

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    sentado uma e outra coisa. Mas as duas espcies de cegueira facilmente coe-1 xistem de modo que aqueles que no veem o que h parecem ver o que no h. 2 Assim o mostrarei atravs de toda a sequncia. Agora falarei dos crimes a to-3 dos mais visveis. 4

    5

    4. Concluso 6

    A mitologia pag, retratada na figura de Jpiter, de dipo e nas 7 fontes a que Tertuliano teve acesso nos trazem, tambm segundo o tes-8 temunho de Tertuliano, uma cultura em que o incesto era uma prtica 9 corrente, que, infelizmente, no cessou em to recuadas eras, permeando 10 ainda hoje, o noticirio da televiso e da mdia. O abuso sexual praticado 11 por adultos contra menores da mesma famlia crime, segundo legisla-12 o vigente em vrias regies do mundo civilizado. Entretanto, isto no 13 pode impedir que crianas e adolescentes sejam vtimas da prtica de 14 abuso sexual e at de prostituio. 15

    Os rituais cristos, com seus cnticos em plena madrugada, em 16 locais de difcil acesso e restrito ao pblico, despertavam a curiosidade e 17 atiavam a imaginao. Como os cristos se utilizavam dos mesmos sig-18 nificantes da lngua do paganismo, era natural que os pagos entendes-19 sem e interpretassem o que ouviam e o que lhes era vedado ver segundo 20 suas experincias e vivncias correntes. Citamos como exemplo a poesia 21 de Catulo que traduz o que significa amar na cultura pag romana, e 22 tambm nos lembramos da personagem Attia, do seriado Roma. 23

    A defesa de Tertuliano em favor dos cristos, nesse to delicado 24 assunto, permanece atual, no sentido em que a humanidade ter que pas-25 sar ainda por muitas evolues a fim de que se resolva emocional e afeti-26 vamente acerca da proposta do amor revelado na religio crist, num 27 mundo em que vive na Idade de Ferro do materialismo e da busca desen-28 freada da sobrevivncia e dos bens materiais. 29

    30

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 31

    A BBLIA de Jerusalm. So Paulo: Paulus, 1985. 32

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  • 13

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    HESODO. Tutte le opere e i frammenti con la prima traduzione degli 12 scolii. A cura di Cesare Cassanmagnago. Milo: Bompiani, 2009. 13

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    SERIADO ROMA. Segunda Temporada Completa, DVD. John Milius, 16 William J. Mcdonald, Bruno Heller. Warner Bros Entertainment, 2007. 17

    TERTULIANO. Apologtico. A los gentiles. Introduccin, Traduccin y 18 Notas de Carmen Castillo Garca. Madrid: Gredos, 2001. 19

    TERTULIANO. Apologtique. Texte tabli et traduit par Jean-Pierre 20 Waltzing. Paris: Les Belles-Lettres, 2002. 21

    TERTULIANO. Apology. De Spectaculis. With an English Translation 22 by T. R. Glover Felix, Minucius Octauius. With an English Translation 23 by Gerald H. Rendall. Cambridge, London: Harvard University Press, 24 1931. 25

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