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Pesquisa FAPESP - Especial Patentes (ed. 50). Janeiro/2000TRANSCRIPT
ESPECIAL PATENTES
Proteção à tecnologia
Especialistas apresentam mecanismos de defesa da propriedade intelectual dos resultados de pesquisa
Em dezembro do ano passado, a Fundação de Amparo à Pesqui
sa do Estado de São Paulo - FAPESP reuniu um grupo de especialistas brasileiros e estrangeiros no workshop Propriedade Intelectual e Patentes. Objetivo: analisar estratégias para aprimorar seus próprios procedimentos relativos à proteção da propriedade intelectual de produtos resultantes das pesquisas que financia e, de modo mais amplo, indicar caminhos para que as instituições de pesquisa possam zelar melhor pelos resultados do trabalho de seus pesquisadores.
Na verdade, nesse campo de propriedade intelectual e patentes de produtos originários da pesquisa brasileira verifica-se um certo impasse. Cada uma a seu modo, as instituições nacionais avançam no desenvolvimento tecnológico e no entrosamento com o setor empresarial, mas ainda tratam com pouca atenção o patenteamento dos resultados das pesquisas - cuidado indispensável quando se almeja a produção em escala industrial dos resultados de experimentos nascidos em laboratório, o retorno social dos investimentos realizados e, mais ainda, financiamentos extras à pesquisa, desta feita de origem privada, capazes de complementar os recursos públicos.
As patentes, por si só, não asseguram o repasse da tecnologia, mas dão às empresas a possibilidade de tecer contratos coesos com as instituições de pesquisa. Sem patente, dificilmente as empresas sentem-se à vontade para investir durante um ou dois anos no desenvolvimento de um produto nascido em um laboratório acadêmico. Portanto, sem uma política clara e eficaz de proteção da propriedade intelectual, será praticamente impossível para as instituições de pesquisa avançarem nos acordos de licen-
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ciamento com as empresas. No cenário internacional, as oportunidades estão definidas: já há muitos anos, as indústrias começaram a ver as universidades com outros olhos, especialmente na medida em que as pesquisas em informática e biologia molecular começaram a dar resultados que poderiam gerar lucros.
Dentro desse panorama, a FAPESP, com seu longo histórico de financiamento à pesquisa científi
ca e tecnológica no Estado de São Paulo, e com a atenção especial que vem dispensando nos anos mais recentes à inovação tecnológica - com os programas de Parceria para Inovação Tecnológica (PITE) e Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PITE)-, não poderia manterse ao largo da questão da propriedade intelectual e patentes. Daí seu esforço para atuar de forma mais ativa nesse campo, do qual o workshop foi um ponto de partida.
Neste encarte organizado por Carlos Fioravanti estão resumidas as apresentações de cinco especialistas convidados pela FAPESP. Elas retratam diferentes estratégias de instituições de pesquisa- dos Estados Unidos, de Israel ( escolhido por ser um país que, como o Brasil, contribui com cerca de 1% da produção científica mundial, embora com uma atuação bem mais incisiva no campo da propriedade intelectual) e do próprio Brasil. Os relatos respondem às principais dúvidas dos dirigentes das instituições e dos pesquisadores a respeito do registro das idéias. Mostram que não são poucas as possibilidades de acordos com o setor empresarial e, por fim, indicam como a universidade pode auxiliar a criação e a consolidação de empresas, principalmente quando os mecanismos de proteção à propriedade intelectual já se encontram implantados.
PATENTES
ESTADOS UNIDOS
Da descoberta à cotnercialização
Formado em Economia Política pela Universidade de Indiana, David Allen vive
o desafio de fazer com que a Universidade Estadual de Ohio - a segunda maior nos Estados Unidos, com cerca de 50 mil alunos - amplie os vínculos com o setor empresarial e ajude a transformar a economia do Estado de Ohio, de perfil industrial e conservador, ainda com baixa competitividade nas atividades ligadas à informação e à Internet. Não lhe falta experiência para dar conta do recado. Depois de implantar o Centro de Criação e Desenvolvimento de Empresas na Universidade do Estado da Pensilvânia, Allen transferiu-se para a Universidade de Ohio, onde, de 1991 a 1997, dirigiu o Instituto de Biotecnologia Edison, um centro de pesquisas com renda anual de USS 2 milhões (metade proveniente de contratos com indústrias), e coordenou o Escritório de Transferência de Tecnologia. Atualmente, como vice-presidente-assistente do Escritório de Licenciamento de Tecnologias da Universidade Estadual de Ohio, desenvolve parcerias com empresas e supervisiona os contratos de licenciamento de tecnologias, um campo em que a instituição já construiu certa tradição: do orçamento anual de pesquisa da universidade, cerca de USS 200 milhões, USS 36 milhões provêm de empresas ou associações de empresas. Allen fez duas apresentações no seminário sobre patentes promovido pela FAPESP, Da Descoberta à Propriedade Intelectual e Da Propriedade Intelectual à Comercialização, sintetizadas a seguir.
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Para começar, algumas definições importantes. Uma invenção é uma formulação ou método tecnológico novo e útil, que pode ser comunicada por meio de notificação por escrito ao departamento de patentes ou escritório de licenciamento de tecnologia. A propriedade intelectual cobre um conjunto de tipos de tecnologia, na forma de invenções, patentes, direitos autorais, marca
David Allen registrada, dados e, cada vez mais, know-how. Uma licença é um con
trato que dá à empresa os direitos à propriedade intelectual. Normalmente outorgamos direitos, mas não vendemos a propriedade intelectual. Quando se vende a propriedade intelectual não se pode mais retomá-la e não há garantia de que será desenvolvida.
A Universidade Estadual de Ohio- a segunda maior nos Estados Unidos, com cerca de 50 mil alunos e um orçamento anual de pesquisa deUS$ 210 milhões, dos quais US$ 36 milhões provenientes de empresas ou associações de empresas- não cria empresas, mas trabalha com quem tem interesse em fundar uma empresa que licencie a propriedade intelectual. Nosso escritório cuida de todo o processo de desenvolvimento da tecnologia, da proteção à propriedade intelectual ao licenciamento a empresas. Cuidamos também da comercialização, preparando os contratos que, às vezes, são necessários já no início do processo, a exemplo dos acordos de confiança e de transferência de material. Outros aparecem mais tarde, como os acordos de opção e de licenciamento.
Em 1999, recebemos 100 comunicados de invenções, a maior parte da área de engenharia e medicina. Em 1998, foram apenas 75. Em 1998, registramos 33 patentes, duas a mais do que no ano anterior, e assinamos 26 acordos de comercialização, sendo 13 para licenciamento e 13 para opções, quando a empresa decide num segundo momento se vai realmente aceitar o licenciamento. Algumas opções realizadas no ano passado serão acordos de licenciamento no próximo ano. Recebemos dos contratos com empresas cerca de US$ 1,6 milhão, normalmente com uma variação de 20% para mais ou para menos de um ano para outro.
Em uma reunião com os inventores, determinamos o procedimento mais adequado, ao verificar se a tecnologia já foi publicada ou noticiada em alguma conferên-
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cia ou encontro científico. Freqüentemente, temos de tratar da garantia da propriedade intelectual o mais rápido possível. Já fizemos isso até de um dia para o outro, mas certamente não é uma situação desejável. Nesse encontro, vemos também se a invenção é o resultado de um programa de financiamento ou se há outra empresa ou instituição que, por ter patrocinado a pesquisa, pode ter algum tipo de direito autoral ou propriedade intelectual sobre os resultados.
Para aceitar um projeto e providenciar a patente, exigimos uma demonstração de que a idéia realmente funciona. Não é necessário que se te-nha uma redução de operação à
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se quer realmente avançar para o acordo de licenciamento. Em metade dos casos, fazemos com a empresa um acordo de financiamento para a pesquisa avançar até a fase de desenvolvimento.
Os inventores recebem metade dos primeiros US$ 75 mil em royalties. A outra metade é destinada ao escritório de licenciamento para cobrir despesas com o processo. Depois, os inventores recebem um terço dos royalties, independentemente de permanecerem ou não na universidade. O outro terço vai para o departamento da faculdade onde trabalham ou trabalharam e a parte res-
tante para a agência que financia a pesquisa adicional.
prática, mas um conceito e uma redução conceituai à prática, de forma que se possa demonstrar como, de fato, se poderia desenvolver a tecnologia. A demonstração conceituai em geral não é suficiente para iniciar a comercialização do projeto. Mais cedo ou mais tarde é preciso demonstrar que o projeto pode realmente se tornar operacional.
''Um projeto só avança quando
há transferência real de conhecimento
do laboratório para a empresa''
Para desenvolver um produto com uma empresa, não basta fazer o registro das patentes, que normalmente são incompletas e necessitam de mais trabalho. Patentes, por si mesmas, apenas começam o jogo da comercialização. Um projeto só avança quando há transferência de conhecimento real do pessoal do laboratório para a empresa e quando ocorre,
Procuramos também conhecer os objetivos do inventor. O que ele realmente quer? Ele meramente concluiu mais uma pesquisa financiada ou estaria interessado em comercializar a tecnologia? E de que maneira? É importante que o pesquisador compreenda o que é necessário para se comercializar a tecnologia, já que a tecnologia por si mesma não se transfere. O que se transfere é o conhecimento embutido na tecnologia. o que acontece é que o conhecimento passa dos laboratórios dos pesquisadores para a empresa.
É importante também saber que contatos os inventores têm com os setores ligados à produção, porque de 50% a 70% dos acordos de licenciamento provêm de contatos feitos pelos próprios inventores com ex-alunos ou ex-colegas, que agora trabalham na indústria, ou ainda empresários que conheceram em reuniões, encontros ou conferências. É um mito a idéia de que saímos a campo em busca de empresas. Em geral, as empresas é que nos encontram, porque estão em conta to com os inventores.
Para apresentar o projeto às empresas, formulamos um resumo não confidencial, de uma ou duas páginas, que identifica de forma ampla o que a tecnologia pode fazer, sem especificar de que modo faz. Em seguida, fazemos um acordo confidencial, por meio de uma negociação com o inventor, e procuramos convencer a empresa a visitar os laboratórios da universidade e a conhecer os outros pesquisadores que participam daquele projeto. Quando há sinais claros de interesse, apresentamos nossas condições e damos um prazo para a empresa decidir
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mais do que um bom contrato, um encontro de mentes.
Observamos também que quase todas as patentes bem-sucedidas são renegociadas a cada três anos. É muito difícil chegar a um acordo ideal já no começo, porque os cinco anos seguintes é que definem a viabilidade da comercialização da tecnologia. Na maioria das vezes, é a taxa de royalties que mudamos. Sempre pisamos duro para fazer o produto mais competitivo. Muito raramente pedimos ·mais e muito raramente ganhamos mais. Mas o ponto aqui é o relacionamento, que deve ir bem para assegurar o sucesso do projeto.
Normalmente, não é a tecnologia que não funciona, são as pessoas que não conseguem ou não querem criar os relacionamentos e as condições necessárias para que o projeto se concretize. Caso as empresas não sejam capazes de desenvolver a tecnologia, nós a tomamos de volta e a repatenteamos. Nos últimos dois anos repatenteamos três tecnologias porque as companhias licenciadas não foram capazes de desenvolvê-las ou não tinham atingido as condições estabelecidas no acordo.
Não estamos nesse negócio para ganhar dinheiro. Mais do que ganhar dinheiro, pretendemos, sim, melhorar a universidade e responsabilizá-la, como instituição, pelos recursos que recebe. Desejamos nos tornar mais competitivos, o que implica ter as melhores faculdades, atrair e manter os melhores estudantes e conseguir mais financiamentos para pesquisas. Se, ao contrário, perdermos competitividade, os alunos vão para outras escolas, como o Instituto de Tecnologia de Mas-
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sachusetts ou a Universidade de Stanford, que se formaram nas duas últimas décadas nesses mesmos moldes.
Pôr a tecnologia em uso e aumentar a competitividade não significa apenas assegurar o patrocínio de pesquisas, mas principalmente ter boas faculdades e bons estudantes. Chegaremos a esses resultados à medida que desenvolvermos as cinco estratégias que nos impomos.
A primeira é mudar a estrutura interna da universidade, que deve incutir novas políticas e uma cultura mais atual de desenvolvimento científico e tecnológico. Temos alguma dificuldade com os estatutos legais do Estado a respeito de propriedade intelec-tual, mas conseguimos uma flexi-
PATENTES
da como uma universidade tecnológica. Queremos abrilhantar nossos astros na pesquisa nessa área, de modo que os pesquisadores possam se ver como excepcionais e serem reconhecidos pelo trabalho que realizam.
Por fim, queremos fortalecer o trabalho em conjunto com outras entidades. Criamos um conselho de liderança com homens de negócios, que coordenam os grupos de tecnologia e indicam os interesses das empresas. Desse modo, estaremos certos de constar na agenda dos empresários quando precisarem de serviços na área tecnológica. Esse conselho tem funcionado muito bem. A
proximidade é um ponto a favor: a sede do conselho fica a cerca de
bilidade maior em patentes e na comercialização dos resultados de pesquisas.
O segundo ponto é redefinir o comportamento administrativo. Concluímos que precisávamos acabar com a duplicação de procedimentos, de uma coordenação e de um sistema de contabilidade mais visível na universidade. Ampliamos o quadro de pessoal, reforçamos a ação da equipe que
'' Queremos consta r na agenda
dois quilômetros do câmpus. Na incubadora de negócios da
universidade, onde as empresas nascentes podem se estabelecer desde que mantenham um relacionamento com a universidade, está estabelecido que 30% dos funcionários serão alunos de graduação. Desse modo, os estudantes poderão se desenvolver e, após sair dos laboratórios universitá-
dos empresários quando precisarem de serviços na área
tecnológica''
busca financiamentos externos para as pesquisas, e fui indicado para vice-presidenteassistente, para cuidar da contabilidade dos contratos, do patenteamento e dos cantatas com as empresas.
A terceira meta é ampliar o fluxo de tecnologia da universidade com as empresas. Para isso, estamos formando uma equipe de comercialização de tecnologia e criando uma instituição não-lucrativa cuja única função será produzir empresas a partir das pesquisas da universidade.
Fazemos com as empresas um contrato por um período de 60 meses, no qual se avalia a viabilidade de comercialização de um jeito mais aberto, sem os critérios de decisões e a política de prioridades da universidade. Nesse tempo, assessoramos a empresa e, se necessário, buscamos financiadores adicionais. Trabalhamos com fundos de investimento de risco, que inicialmente põem deUS$ 100 mil a US$ 2 milhões numa companhia de desenvolvimento tecnológico. Com essa ajuda financeira, as empresas constroem a atividade comercial de um modo muito mais confortável do que a universidade poderia proporcionar. O financiamento chega normalmente quando já há um produto em fase de testes e um público bem definido.
A quarta meta da estratégia de parceria em tecnologia é realmente contar às pessoas o que estamos fazendo e identificar nosso papel como agentes críticos do processo. Somos um ponto-foco que permite à universidade se posicionar melhor no futuro e se tornar conheci-
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rios, entrar nos negócios tecnológicos estabelecidos, primeiro nas
incubadoras e depois na Cidade da Ciência, que é o parque de pesquisa.
Procuramos criar condições para que depois eles próprios abram seus próprios negócios. Designamos um pesquisador sênior que os orienta e diz o que devem saber. Sem liderança, não se vai a parte alguma. Esse é um ponto claro para nós há muito tempo. Cada um, do funcionário rríais simples ao presidente, vive se perguntando o que pode fazer para, desde o ensino médio, os nossos colleges, criar um ambiente positivo e desenvolver a capacidade de trabalho e a criatividade nos amigos.
Podemos medir esse empenho coletivo por meio do volume de financiamento recebido ou da contribuição para novos negócios e por nossa capacidade de atrair os melhores estudantes do país, que no passado iriam para outras universidades. Podemos avaliar nosso trabalho também pelo acervo de patentes de invenções, royalties e companhias de start up.
Com esse modelo, esperamos ser capazes de drenar mais capital e estabelecer um programa de pesquisa de classe mundial a um quilômetro do câmpus, numa área onde ainda não há muito mais que o verde. Precisamos comunicar o que a universidade faz. De nosso orçamento, 60% vêm dos contratos de licenciamento com 26 empresas, 20% do Estado de Ohio e 20% de doações. E, descobrimos, o melhor jeito de motivar as pessoas a assinar aqueles cheques para a universidade é mostrar os ganhos econômicos que podemos proporcionar.
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PATE N TES
ISRAEL
Os riscos e as possibilidades de negócios
Paulina Ben-Ami, vicepresidente de patentes e propriedade intelectual
da Companhia Yeda de Pesquisa e Desenvolvimento, a empresa de transferência de tecnologia do Instituto Weizmann de Ciências, criada em 1959, explicou por que os institutos de pesquisa de Israel, tanto quanto os dos Estados Unidos, não se cansam de propor projetas conjuntos com o setor empresarial. Em primeiro lugar, porque nesses países o Estado financia a pesquisa apenas parcialmente. Em segundo lugar, por causa da "consciência da necessidade de transferir à sociedade os resultados da pesquisa desenvolvida nas instituições com financiamento público". Brasileira e israelense, formada em Química pela Universidade de São Paulo, com pós-graduação na Universidade Hebraica de Jerusalém, Paulina foi diretora da Divisão de Química e Biotecnologia do Escritório de Patentes de Israel, até se transferir para a Yeda, em 1990. Sua exposição, Proteção da Propriedade Intelectual em uma Instituição Acadêmica, deixou evidente a importância da proteção dos resultados de pesquisa, quando se cogita a produção em escala industrial: "Nenhuma empresa assina um contrato de licença sem que a invenção esteja protegida por um pedido de patente ou já patenteada", comentou. Perita em propriedade intelectual, Paulina participou de projetas da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi) em países da América Latina, incluindo o Brasil.
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A patente é uma modalidade de propriedade industrial que protege uma invenção que é nova, tem caráter inventivo e é útil. Sendo uma propriedade, a patente tem valor econômico e permite uma série de operações financeiras, tais como sua venda ou licenciamento a fim de manufaturar produtos ou fornecer serviços protegidos pela patente. De modo geral, as opções estratégicas
Paulina Ben-Ami de um titular de patente incluem: 1 - A exploração própria da patente;
2 - O uso da patente para impedir sua exploração por terceiros; 3 - A transferência dos direitos da patente a terceiros, mediante compensação financeira; 4- A concessão de licença a terceiros, que pode ser exclusiva, excluindo o próprio titular, ou não-exclusiva, mediante pagamentos de royalties e outras compensações; e 5 - O uso da patente como sua parte na constituição de uma nova empresa (start up).
Quando o titular da patente é uma instituição acadêmica, somente as opções 3 a 5 são viáveis. Por não ser produtora ou fornecedora de serviços, a instituição não explora a patente por si própria e não usa a patente para impedir que 'outros a explorem, porque uma de suas finalidades é transferir a tecnologia gerada nos seus laboratórios à sociedade. A transferência dos direitos da patente a terceiros, apesar de viável, é pouco usada, restando, portanto, o licenciamento da patente a empresas ou o estabelecimento de companhias start up baseadas na tecnologia patenteada.
Quais os motivos que levam as universidades e os institutos de pesquisa a procurar essa colaboração com a indústria e o setor empresarial? Por um lado, a busca de verbas para a pesquisa, em países como os Estados Unidos e Israel, nos quais a pesquisa universitária é financiada apenas parcialmente pelo Estado, e, por outro lado, a consciência da necessidade de transferir à sociedade os resultados da pesquisa desenvolvida nas instituições com financiamento público.
Os contratos entre uma instituição acadêmica e as empresas interessadas nas tecnologias propostas podem ser de vários tipos: a - Contrato de pesquisa com opção a licença, segundo o qual a empresa financia a pesquisa ainda em estágio pre-
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ISRAEL
liminar por um prazo determinado (geralmente de um a três anos) e tem a opção de negociar uma licença se os resultados da pesquisa forem positivos; b- Contrato de pesquisa e de licença, que fixa desde o início o financiamento da pesquisa e as condições da licença; c - Contrato de opção, feito quando o pedido de patente já foi depositado, a pesquisa está mais avançada e a empresa requer um certo tempo para avaliação da invenção; e d- Contrato de licença, feito após a concessão da patente, muito raro porque geralmente as invenções nas instituições acadêmicas são de caráter preliminar e necessitam de pesquisa adicional antes de sua comercialização.
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As desvantagens: 1 - A dificuldade de licenciar projetas em estágio muito preliminar; 2 - Decisões lentas (quanto maior a empresa, mais tempo para a tomada de decisão); 3 - O financiamento da pesquisa depende de concluir com sucesso e nos prazos determinados etapas ( milestones) do projeto definidas no contrato; 4- A falta de investimento agressivo no desenvolvimento ou marketing do projeto por vários motivos, inclusive a prioridade a outros projetos;
5 -A exigência de sigilo e de limitação de colaboração com outros
O contrato entre uma instituição acadêmica e uma empresa deve considerar os interesses das duas partes e estipular, por um lado, que os interesses da empresa sejam assegurados por meio do depósito de um pedido de patente para cada invenção resultante da pesquisa financiada pela empresa antes de sua publicação científica, e, por outro lado, que
''É importante que os direitos da
licença voltem
pesquisadores; 6- O perigo de mudança repentina da estratégia da empresa, que pode resultar no término do projeto em qualquer estágio, independentemente de seus resultados. Por essa razão é importante que todas as patentes estejam no nome da instituição e é preciso assegurar no contrato que todos os direitos da licença voltem à insti-
à instituição caso o contrato com a em presa
seja interrompido''
os interesses acadêmicos sejam assegurados por meio da definição do prazo concedido ao licenciado para proceder com o depósito do pedido de patente (geralmente, de dois a três meses), evitando, assim, a protelação da desejada publicação científica.
Uma das grandes dificuldades no licenciamento de projetos acadêmicos à indústria reside no fato de as pesquisas acadêmicas serem de caráter preliminar (seed stage) e progredirem a passos lentos. Uma forma mais recente de promover o desenvolvimento de novos produtos baseados em pesquisa acadêmica consiste no estabelecimento de empresas novas (start up) com a ajuda de capital de risco ( venture capital), provido por particulares ou por fundos de investimento de capital de risco. Essas empresas start up investem um capital inicial para desenvolver a tecnologia até um estágio mais avançado que permite, então, a venda da tecnologia e/ou da start upa uma empresa estratégica ou a outros investidores e/ou negociação de suas ações na bolsa de valores.
Vamos agora comparar as vantagens e as desvantagens do licenciamento de um projeto acadêmico a uma empresa estratégica ou a uma start up. As vantagens de um contrato com uma companhia estratégica incluem: 1 - Um período mais longo de financiamento da pesquisa; 2 - A capacidade para desenvolver, produzir e vender os produtos, e compromisso contratual para fazê-lo; e 3 - Pagamento de honorários de licença (license fees), além dos royalties da venda.
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tuição em caso de interrupção do contrato por parte da empresa.
As vantagens de um contrato com um fundo de capital de risco e a criação de uma start up incluem: 1 - O financiamento maior da pesquisa inicial; 2 - Decisões mais rápidas; e 3 - O fato de a instituição e os pesquisadores receberem ações da coml?anhia start up.
E as desvantagens: 1 -A possibilidade de concessão de licença a uma organização inexperiente; 2 - A limitação de recursos financeiros; 3 - A dificuldade em recrutar profissionais capacitados para a pesquisa e o desenvolvimento da tecnologia e para a administração da start up; 4- A possibilidade de fusão ou venda da start upa terceiros ou ao público; e 5 - O perigo de conflitos de interesses entre os acionistas e o Conselho de Diretores da start up.
O estudo da Yeda, que em hebraico significa conhecimento ou know-how, a empresa de transferência de tecnologia do Instituto Weizmann de Ciências, pode servir como exemplo da forma que uma instituição acadêmica protege a propriedade intelectual e transfere com sucesso os resultados de sua pesquisa aplicada ao setor empresarial.
A Yeda, criada em 1959, funciona como um braço comercial do Instituto Weizmann, uma instituição sem fins
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PATE NTE S
lucrativos fundada em 1934, que conta com cerca de 400 professores e pesquisadores, 250 estudantes de mestrado, SOO doutorandos, 200 pós-doutorandos, 800 técnicos e engenheiros e 250 funcionários administrativos. Cerca de 900 projetos de pesquisa básica e aplicada encontram-se em andamento. Do orçamento de cerca US$ 170 milhões anuais, 50% são fornecidos pelo estado e de 10% a 15% provêm de royalties de projetos licenciados.
Os vice-presidentes de Ciência e Tecnologia e de Propriedade Intelectual da Yeda identificam e avaliam os projetos de pesquisa com potencial comercial, os quais são, então, apresentados ao Comitê de Patentes interno, do qual fazem
I SRAEL
Os assessores desse fundo têm livre acesso aos pesquisadores do instituto, para que possam eles também identificar e monitorar as oportunidades, mesmo antes dos resultados finais. Desde seu estabelecimento, cinco companhias start up foram criadas - três na área de Ciências Biológicas, uma em Eletroóptica e uma em Biossensores -e dois outros projetos estão em negociação. Um contrato feito entre a Yeda, o instituto e este fundo, já no seu estabelecimento, determinou as condições referentes a equity (participação acionária) e antidiluição, tanto da Yeda como dos pesquisadores, ao financiamento da pes-
quisa e aos royalties. A Yeda tem contratos de pes
parte os dois VPs e mais o presidente da Yeda e o VP de Transferência de Tecnologia do instituto. Os projetos aprovados são então protegidos através do depósito de pedidos de patente e oferecidos para licença, por meio de sua apresentação no siteda Yeda na Internet e a empresários que visitam o instituto ou por meio de contatos com empresas ou investidores de capital de risco feitos pela dire-
''Se os pesquisadores põem uma quantia do paga menta no
laboratório, o instituto contribui com uma
quantia igual''
quisa e de licença com mais de 20 empresas, 65% das quais são estrangeiras, e participou na criação de cerca de 20 companhias start up. Os royalties anuais recebidos das vendas, principalmente no exterior, dos produtos licenciados (quatro medicamentos e um cartão inteligente), da ordem de vários milhões de dólares, só tendem a crescer com o lançamento de no-
ção da Yeda ou por intermédio dos cientistas. Identificadas as empresas interessadas na licença ou os investidores interessados em estabelecer uma start up, começa o processo das negociações, levado a cabo pelo presidente da Yeda, assessorado pelos VPs e com a colaboração dos cientistas.
Sendo Israel um mercado pequeno, de 6 milhões de habitantes, nem sempre as indústrias nacionais podem absorver e desenvolver tecnologias originadas nas universidades. Isso faz com que grande parte dos esforços da Yeda se dirija à procura de empresas estrangeiras para licenciar as pesquisas do instituto. Também as start ups estabelecidas pela Yeda em Israel, no final das contas, procurarão empresas estrangeiras para a negociação de sua tecnologia. Por essa razão, a Yeda investe muito no patenteamento das invenções no estrangeiro, principalmente Estados Unidos, Europa e Japão, e na preparação dos contratos de licença.
Outra característica sui generis refere-se à criação de um fundo de capital de risco dedicado ao Instituto Weizmann. Esse fundo, estabelecido em 1996 com capital estrangeiro (cerca de US$ 17 milhões), por iniciativa do instituto, tem o direito exclusivo da primeira oportunidade com relação aos frutos da pesquisa feita na entidade, ou seja, todos os projetos em andamento no instituto, incluindo aqueles em oferta de licença, são apresentados pela Yeda primeiro a esse fundo, o qual pode escolher entre eles os projetos que considera interessantes para a criação de uma start up.
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vos produtos farmacêuticos nos Estados Unidos e na Europa.
Deduzidas as despesas, a Yeda entrega 60% dos royalties ao Instituto Weizmann, para aplicação em novas pesquisas, e distribui os 40% restantes aos pesquisadores e aos inventores, sejam professores, estudantes ou técnicos, de acordo com a divisão que eles próprios acertaram e comunicaram à Yeda antes de depositado o pedido de patente. Se os pesquisadores resolvem colocar uma quantia do seu pagamento pessoal no laboratório em que trabalham, o instituto contribui com um valor igual.
A proteção da propriedade intelectual, por meio das patentes, é muito importante nesse processo da comercialização porque nenhuma empresa assina um contrato de licença sem que a invenção esteja protegida por um pedido de patente ou já patenteada. A Yeda recebe anualmente de 70 a 80 novas propostas (em 1999, 90) e deposita de 50 a 60 novos pedidos de patente inicialmente em Israel ou nos Estados Unidos, dos quais cerca de 40 são, após 12 meses, depositados no exterior.
Os custos envolvidos no processo de patenteamento são altos, mas necessários. Uma vez licenciadas, todas as despesas das patentes são pagas pelo licenciado, inclusive as de data anterior à da licença. Em 1999, a Yeda pagou diretamente cerca de US$ 900 mil de despesas com patentes, dos quais US$ 400 mil foram recebidos de volta dos licenciados. Além disso, estimamos que os pagamentos relativos a patentes da Yeda feitos diretamente por licenciados foram da ordem de US$ 2 milhões.
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PATENTES
I S RAEL
En1 contato direto con1 os pesquisadores
R enée Ben-lsrael, cientista social formada nos anos 70 pela Universidade
de São Paulo, trabalha desde 1988 na Yissum Companhia para o Desenvolvimento da Pesquisa, o escritório de licenciamento de tecnologia da Universidade Hebraica de Jerusalém, uma das mais antigas de Israel, com 1.200
Renée Ben-lsrael
A Yissum, em hebraico, significa aplicação. É uma empresa privada economicamente autônoma, que tem o monopólio da comercialização dos resultados de pesquisa da Universidade Hebraica de Jerusalém. Temos cerca de 1.200 cientistas e 24 mil estudantes- 30% dos doutorados de Israel são realizados na Universidade Hebraica. Estão em andamento no momento cerca de 3.500 projetos de pesquisa, financiados por verbas internas, provenien
cientistas e 24 mil estudantes. A equipe de 15 funcionários da Yissum vive atenta para descobrir quais projetas de pesquisa em andamento na universidade (3.500, no momento) serão concluídos em breve e, principalmente, quais podem ser produzidos comercialmente. Como os colegas, Renée é uma profissional de múltiplas tarefas. Atende os inventores, a quem serve de guia no labirinto jurídico da propriedade industrial, avalia a maturidade e as possibilidades de desdobramentos comerciais dos projetas de pesquisa, providencia o registro das patentes e prepara os acordos de licenciamento de tecnologias com as empresas. Como gerente de propriedade intelectual faz, enfim, a articulação entre pesquisadores, empresários e investidores. Um trabalho que ela considera uma legítima acrobacia, com regras claras, mas também indispensável dose de sorte. Na apresentação que fez na FAPESP, Administração de Propriedade Intelectual Universitária: A Arte da Acrobacia, Renée tratou das possibilidades e das dificuldades de trabalho com os pesquisadores e com os empresários interessados em novas tecnologias.
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tes do Estado e das mensalidades de alunos, e externas, públicas ou particulares.
A Universidade Hebraica conta com duas entidades para administrar os recursos financeiros: a autoridade para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e a Yissum. A primeira lida com as bolsas de estudo e com as verbas de origem não-comercial. Negocia fundos de pesquisas com outras universidades, procura contatos com agências de financiamento e fomenta a cooperação internacional.
A Yissum cuida dos assuntos comerciais. Fazemos arranjos comerciais com indústrias, fundos de risco e desenvolvemos uma série de outras possibilidades comerciais. A Yissum registra entre 40 e 50 novos pedidos de patentes por ano e o portfólio ativo é de aproximadamente 800 pa~ntes e 200 projetos à venda, ou seja, oferecidos para diversos tipos de colaborações econômicas. Lidamos com a academia, com a indústria, com o mundo legal dos advogados e da propriedade industrial e com o mundo financeiro, cada um com suas próprias regras, características e interesses. Como sobreviver andando nessa corda bamba sem perder o foco e a dignidade? É A Arte da Acrobacia.
Nossas funções se desdobram em três categorias interligadas que exigem alto nível de coordenação: política, entre entidades e internacional. O trabalho é político, num sentido amplo, antes de mais nada, porque propriedade intelectual tornou-se um assunto popular, questionado eticamente no sentido da própria atividade comercial no câmpus e em áreas como a biotecnologia e a utilização de reservas naturais, por exemplo. Se há algum tempo podíamos trabalhar sossegadamente, sem sermos questionados, hoje devemos explicações, respostas e relatórios a diversos grupos, pois os projetos são financiados pelo Estado, por bancos, por uma indústria ou por um consórcio de empresas. Temos o dever de explicar. De
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PATENTES ISRAEL
certa maneira, vivemos num que é a mercadoria que temos para aquário, estamos sob um escrutínio constante.
A segunda categoria seria a da coordenação das relações interpessoais e entre entidades. Não basta haver uma tecnologia de alto nível, um excelente mecanismo de proteção de propriedade intelectual e uma companhia muito interessada nas novas técnicas. Sem unir todas as peças do quebra-cabeça, não
'' Podemos recusa r algo brilhante em termos científicos,
porque fazemos distinção entre ciência
e tecnologia''
vender, e 20% em itens variados, como trocas de equipamentos, serviços legais e auditoria. De que forma obtemos tais resultados com apenas 15 funcionários? Antes de mais nada, com a otimização das forças locais, a experiência na seleção de projetos (com o tempo desenvolvemos um certo faro, que ajuda a não perder tempo com projetos inúteis) e finalmente com o outsour-
teremos nenhum acordo. A articulação internacional é importante porque não
há mais ciência feita em um só lugar. Estamos vendo, por um lado, avançarem os projetos internacionais puramente acadêmicos como mistos, feitos com a indústria, e, por outro, as companhias se fundirem ou serem englobadas umas por outras. Temos de agir de acordo com essa realidade. Além disso, é dificílimo realizar um licenciamento clássico de uma tecnologia, protegida por uma patente, a uma única empresa. Vivemos mais e mais situações mistas, nas quais uma tecnologia pertence a diversas entidades, é protegida por diversas patentes e copyrights e é licenciada a um grupo de capital de risco, que por sua vez quer lançá-la em bolsa de valores quando atingir um estágio mais avançado.
Cuidamos do trabalho de relações públicas, dentro e fora da universidade, do marketing da própria companhia e das invenções e do financiamento às pesquisas. Por ser de certa forma uma empresa de serviço, temos de atender a todos os telefonemas e depois fazer a triagem.
O turnoverda Yissum em 1999 foi de cerca deUS$ 15 milhões. O orçamento interno é de um décimo, distribuído do seguinte modo: 40% em salários, 40% em patentes,
cing, a utilização de forças externas. Delegamos o trabalho do registro
das patentes a profissionais especializados, por diversos motivos. Primeiro, porque temos de dar cobertura a diversos campos e seria difícil manter um grupo de advogados de patentes que pudesse cobrir todas as áreas da universidade. Segundo, porque trabalhamos num mundo profissional e temos de procurar a melhor solução possível para cada problema.
No Departamento de Propriedade Intelectual, do qual faço parte, recebo os primeiros telefonemas e faço a primeira triagem. Pergunto aos pesquisadores: Já publicou? Vai publicar quando? Em que estágio está a pesquisa? Recebeu bolsa ou financiamento de alguém a quem esteja devendo alguma explicação? Tem colaborador em outro lugar? Essas perguntas são essenciais porque a partir das respostas poderemos estabelecer se temos nas mãos uma tecnologia patenteável ou não e até mesmo se temos direito a essa tecnologia. Há casos de bolsas ou de financiamentos que exigem boa parte dos direitos de propriedade intelectual ou de uma parceria que dificulte a futura comercializa~ão e inutilize nosso trabalho.
Para ser patenteada a invenção deve ser original, nãoóbvia e ter alguma aplicação útil. Esses são os critérios
formais, que não bastam.
Receita Gerada com Novos Contratos em 1999 Para que a Yissum resolva investir num plano que inclua a proteção da propriedade intelectual, a invenção deve preencher mais alguns requisitos, que levam em conta o tempo, esforço do desenvolvimento de marke-
7.000
6.000
5.000
[ 4.000
.. :l 3.000
2.000
1.000
o Pesquisa Serviços Total
Fonte:Yissum Companhia para o Desenvolvimento da Pesquisa da Universidade Hebraica de Jerusalém
PESQUISA FAPESP
• Ciências Naturais
• Medicina
• Agricultura
• Farmácia
• Outros
• Total
ting, de contratos, enfim, de toda a equipe.
Em certos casos registramos uma idéia sem esses critérios, quando há um feedback, por exemplo, de uma empresa de capital de risco, que precisa do número do registro da patente para levar
9
I S RA EL
o projeto à bolsa de valores e conseguir financiamento. O interesse comercial não precisa ser imediato, pois a Yissum procura conciliar projetas a curto e longo prazos.
Consultamos especialistas das indústrias e procuramos recolher o máximo de informação possível, por meio de uma consultaria interna, da equipe de marketing ou de propriedade intelectual e até mesmo os agentes de patentes, antes de tomar a decisão final, que é sempre da Yissum. Depois dessa análise, enviamos uma carta padrão ao inventor comunicando que vamos ou não registrar a patente e salientando que o critério de seleção é puramente comercial. Podemos recusar algo brilhante em termos
PATE N TE S
que uma patente possa ser importante apenas daqui a dez anos, pode não ser inteligente registrá-la hoje, porque daqui a dez anos ela terá dez anos de vida a menos; • O mercado já existe ou será preciso esperar que se desenvolva?; • Quais os investimentos realizados nesse mercado?; • Em que estágio se encontra a invenção? É uma idéia ou há indicações de que realmente possa funcionar? Se registramos muito cedo, a patente pode expirar antes de o produto chegar ao mercado; • Quais serão as reivindicações dessa patente? É uma pa
tente de um processo, que depois será difícil saber quem a está utili
científicos, porque fazemos distinção entre ciência e tecnologia. Há algum tempo se discutiu amplamente se as patentes deveriam ser utilizadas como publicações na promoção de cientistas na universidade. Minha recomendação foi que não. Patentes podem ser conferidas a muitos assuntos cientificamente pouco relevantes.
''É importante ver zando, de uma molécula ou de um material?; • Qual é a dinâmica nessa área? Esse campo está se desenvolvendo tão rápido que, quando conseguirmos a aprovação do registro, a patente já estará obsoleta? Isso acontece muito com computadores, uma área em que as patentes têm de ser licenciadas rapidamente para não perderem o valor;
a pessoa do outro lado como quem também
está procurando o sucesso. E sermos sinceros e diretos ''
Até o começo de dezembro de 1999, tivemos 71 novas solicita-ções para registras de patentes. Re-gistramos 47. Normalmente, registramos por ano entre 45 e 50 patentes, a maioria provisórias. Foram concedidas 21 patentes e licenciamos 16.
Há dois tipos de abordagens para registrar uma patente. O conservador consiste em enviar uma página redigida sobre a invenção a algumas empresas e, se houver interesse pelo projeto, registrar a patente. Ou então quando houver alguém que mantenha essa patente e que pague por ela. O outro enfoque é mais aventureiro e exige dois tipos de pergunta. A primeira: será que essa invenção pode ser patenteada? É uma pergunta fácil, porque, como já sabemos, uma idéia para ser patenteada não pode ser óbvia e deve ser original e ter um potencial comercial. A outra pergunta é mais relevante: quando dizer que uma invenção é comercialmente atraente?
Hoje, a Yissum conseguiu ter um patrimônio que lhe permite um certo comportamento aventureiro. Pode se dar ao luxo de registrar patentes mesmo que não sejam imediatamente bem-sucedidas. Creio que são essas as perguntas mais relevantes: • Quais as necessidades do mercado? São coisas realmente importantes ou algo irrelevante?; • Qual o tamanho do mercado? A invenção vai servir apenas para laboratórios esotéricos ou atenderá a um público bem mais amplo?; • Qual a situação do mercado no momento? O invento responde a uma necessidade atual ou diz respeito a uma demanda que pode surgir daqui a alguns anos? Se ocorrer
lO
• Quem são os inventores? São líderes conhecidos nas respectivas
áreas? Sabem quais são as necessidades do mercado ou apenas inventam soluções para problemas inexistentes? Já tiveram outros sucessos, são cooperativos?
Não há respostas fáceis. Damos uns chutes, inteligentes e educados, mas, ainda assim, chutes. Temos todas as ferramentas de análise, mas nem sempre temos sucesso. Não temos comitês· de análise de patentes, que não queremos usar porque já tivemos muitos problemas. Eles são tradicionalmente lentos e nós necessitamos de rapidez e agilidade.
Usamos às vezes consultaria externa, que nos ajuda a apresentar uma tecnologia não confidencial a uma empresa. Jogamos verde para colher maduro. Nem sempre temos sucesso. O problema nesse esquema são as restrições acadêmicas, já que os pesquisadores querem publicar rapidamente o resultado de seus trabalhos.
Outro fator importante é olhar nos olhos de quem está falando. Há pouco tempo, na Holanda, expliquei longamente a situação e as perspectivas de uma patente a um empresário até que, de repente, ele comentou que o projeto estava lhe parecendo em ritmo muito lento. Em seguida, perguntou por quê. Entendi o problema dele. Concordei e fui ver como poderia acelerar o trabalho. É importante ver a pessoa do outro lado como quem também está procurando o sucesso. E sermos sinceros e diretos, como ele foi. E, finalmente, o que nunca é demais: sorte. É o que desejo a todos os que estão começando esta aventura, muito fôlego e muita sorte. ·
PESQUISA FAPESP
PAT EN T ES
BRAS I L
O resultado das estratégias das instituições brasileiras
C om uma notável visão da história e das perspectivas
O Brasil, apesar de ter assinado a Convenção da União de Paris em 1883, que organizou o assunto da propriedade intelectual no final do século passado, pouco fez no decorrer deste século para introduzir a cultura, estabelecer políticas públicas coerentes e difundir os princípios da propriedade intelectual.
da propriedade intelectual no Brasil, Maria Celeste Emerick, coordenadora de Gestão Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, mostrou quão pouco eficazes e estruturadas são, ainda, as formas
Maria Celeste Emerick
Um marco no cenário nacional sobre a propriedade intelectual é a ratificação pelo Brasil, com o decre-
de atuação das instituições nacionais de pesquisa nessa área - algumas vezes a inconsistência mesclando-se com a displicência, a ponto de permitir que importantes materiais ou resultados de pesquisas deixem o País sem qualquer controle. Maria Celeste- socióloga formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (Uf JF), de Minas Gerais - ingressou em 1986 na Fiocruz, onde, em 1990, participou da criação e passou a coordenar a área de Gestão Tecnológica, que elabora e implementa a política de Propriedade Intelectual e Comercialização de Tecnologia na instituição. Maria Celeste dividiu sua apresentação Propriedade Intelectual e Comercialização de Tecnologia em Instituições Acadêmicas no Brasil em três partes. Na primeira, descreveu as mudanças no cenário brasileiro na década de 90. Em seguida, analisou os resultados de políticas institucionais de propriedade intelectual. Por fim, expôs sugestões por meio das quais as agências de financiamento poderiam promover de modo mais intensivo a comercialização dos resultados da pesquisa no Brasil.
PESQUISA FAPESP
to legislativo n° 1.355, de 30 de dezembro de 1994, do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Trips), um acordo internacional que mudou bastante as regras do jogo no campo da propriedade intelectual. Costuma-se dizer que a Convenção de Paris era uma convenção sem dentes e o Trips é uma convenção com dentes: dá prazos e estabelece obrigatoriedade de patenteamento em determinados setores, como a biotecnologia, química fina e alimentos. Ao ratificar esse acordo, o Brasil teve de rever a legislação sobre propriedade industrial e direito autoral. Teve de fazer novas leis sobre proteção de software, proteção de cultivares, além de outras ainda em estudo, como o projeto de lei de proteção de topografia de circuitos integrados, em fase de discussão no Congresso Nacional.
O decreto no 2.553, de 16 de abril de 1998, que regulamenta os artigos da Lei 9.279/96, que regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, pretende estimular o patenteamento nas instituições acadêmicas, por meio da premiação do inventor. Depois das portarias dos Ministérios da Ciência e Tecnologia no 88/98 e da Educação no 322/98, que regulamentaram esse decreto, tanto as universidades como as instituições de pesquisas vinculadas ao Ministério da Ciência e Tecnologia deveriam cumprir o que está determinado, que basicamente é prever o ganho para o servidor-inventor.
Chamo a atenção para um detalhe da Lei de Patentes, a questão da titularidade, ou seja, a quem pertencem as invenções. A invenção pode pertencer exclusivamente ao empregador, exclusivamente ao empregado ou pertencer às duas partes, como acontece nas instituições públicas brasileiras. Em geral, o titular é a própria instituição, que pode também prever a co-titularidade. Em princípio o empregador tem o direito da titularidade, mas há possibilidade de pensar em outras alternativas.
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BRASIL
Três expenencias estão ampliando a discussão no Brasil sobre propriedade intelectual: o Grupo Interministerial, a Rede Temática e o Projeto Inventiva.
O Grupo Interministerial foi criado em 1995 no âmbito da Câmara de Comércio Exterior, articulado pela Casa Civil. É composto por todos os ministérios que produzem tecnologia ou regulam o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Seu principal objetivo é definir a política de governo e apoiar as negociações internacionais. Não tínhamos interlocuto-res nos ministérios, inclusive no
PATENTES
·A dificuldade em estabelecer o preço de uma tecnologia; • O desconhecimento do mercado.
Outra iniciativa é o Projeto Inventiva, desenvolvido em conjunto pelo Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo e pelo INPI, com apoio do Sebrae e da Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo ( Ciesp/Fiesp). Procurou detalhar as demandas e as dificuldades dos inventores e estimular a criatividade e a
inovação nas instituições de pes
de Ciência e Tecnologia, até muito recentemente.
A Rede Temática de Propriedade Intelectual, Cooperação, Negociação e Comercialização de Tecnologia (Repict), criada no âmbito da Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro, é uma entidade privada sem fins lucrativos que congrega instituições de pesquisa, fomento e associações empresariais do Estado, com o objetivo de
''A maior dificuldade das instituições
acadêmicas são as cooperações informais ou não formalizadas adequadamente''
quisa e nas indústrias. A amostragem: 14 institutos tecnológicos, 12 incubadoras tecnológicas, 3 centros educacionais, 37 microempresas, 5 empresas de grande porte, 2 associações de inventores e 5 secretarias estaduais de indústria e comércio ou de ciência e tecnologia.
O relatório final, concluído em marco de 1998, indicou:
contribuir para subsidiar a formulação e a implementação política de propriedade intelectual nas empresas, universidades e instituições de pesquisa do Rio de Janeiro. Mas o foco já saiu do Rio e ganha expressão nacional, com a participação de instituições com bastante experiência, como Petrobras, Embrapa, USP, Unicamp, IPT, Fiocruz e outras instituições acadêmicas e associações empresariais.
No evento Política de Propriedade Intelectual, Cooperação, Negociação e Comercialização de Tecnologia: Análises e Proposições, realizado pela Rede em 1998, com 165 participantes de 15 Estados, fizemos documentos dos grupos de trabalho que constituem um diagnóstico do País. Nada muito diferente do que sabemos, mas foi construído coletivamente, de forma participativa. Esse diagnóstico indicou: • O desconhecimento profundo da necessidade de proteção dos processos de patenteamento, negociação e comercialização dos resultados da pesquisas; • A carência de políticas governamentais e institucionais de regulamentação de propriedade intelectual no País; • A carência de gestores, professores e pesquisadores nessa área; • A necessidade de mudar a cultura no ambiente acadêmico e nas agências de fomento a respeito da propriedade intelectual; • A inexistência de políticas claras das agências de fomento nesse campo; • A desigualdade de condições de negociações das universidades e institutos brasileiros nas parcerias com instituições estrangeiras;
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com patentes;
• 93% das instituições não fazem previsão orçamentária de gastos
• 85,7% não concedem prêmios ou vantagens econômicas aos inventores em decorrência da exploração das patentes; • 64% não utilizam cláusulas relativas à propriedade intelectual nos acordos, convênios ou contratos de cooperação em pesquisa ou assistência técnica; • 57% tratam diretamente com o INPI do depósito e do acompanhamento dos processos de patente para reduzir os custos; • 36% fazem ~usca do estado-da-arte em patentes; • Apenas quatro entre as instituições de pesquisa analisadas dispõem de uma política formal de propriedade intelectual; • Nenhuma adota critérios de seleção das invenções a serem protegidas.
O resultado a que se chegou é portanto muito parecido com o diagnóstico da Rede Temática: inexistência de políticas de propriedade intelectual e comercialização de tecnologia nas instituições acadêmicas e tecnológicas, pouco patenteamento nas universidades, poucos contratos negociados e poucas negociações que dêem retorno financeiro.
Não basta saber quando e como fazer um pedido de patente. É preciso ter um entendimento geral da política e cultura institucional e da pesquisa. A maior dificuldade das instituições acadêmicas são as cooperações informais ou não formalizadas adequadamente. Nessa área, o calcanhar-de-aquiles é o fluxo informal e descontrolado de informações entre pesquisadores de instituições brasileiras e estrangeiras.
PESQUISA FAPESP
PATENTES
Em minha análise, inspirei-me em quatro grupos de instituições: · Os institutos de pesquisas vinculados a empresas estatais (Petrobras, Eletrobras e Telebrás, que têm esse assunto bastante bem organizado há duas décadas). • O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), vinculado ao governo estadual, com bastante experiência nessa área; • Duas instituições públicas, a Fiocruz e a Embrapa, vinculadas ao governo federal, portanto, a órgãos executivos
BRAS I L
na Unicamp e em outras instituições com experiência em parcerias e cooperação tecnológica. É comum a existência de várias instâncias que tratam do assunto e uma não dialogar com a outra.
É uma tourada negociar qualquer tecnologia porque os departamentos jurídicos normalmente estão defasados no entendimento das leis relacionadas à transferência de tecnologia e, na prática, dificultam demais os acordos com as empresas. Outro grande nó é a pre-
de governo; • A universidade, peculiar por explorar um conjunto maior de áreas do conhecimento e dispor de maior liberdade de pesquisa do que outras instituições públicas.
''Boa parte
cariedade dos mecanismos de planejamento, financiamento e avaliação das pesquisas. Boa parte das instituições não sabe que projetos está realizando, a que se propõem e se terminaram com êxito. Em geral as instituições ficam satisfeitas apenas com o número de trabalhos publicados.
De modo geral, a propriedade intelectual não integra a visão estratégica das instituições. Na maiorias das vezes, é
das instituições não sabe que projetas
está realizando, a que se propoem e se
terminaram com êxito''
Se não mudarmos nossa cultura, perderemos tudo o que fizemos e estamos fazendo na pesquisa.
um pesquisador sozinho ou um grupo pequeno que procura, isoladamente, descobrir os mecanismos de proteção de seu trabalho, nem sempre com resultados satisfatórios. Mas não adianta fazer uma patente sem olhar para o mercado, sem pensar em dinheiro. A patente deve ser vista como um mecanismo que pode contribuir para que o resultado de uma pesquisa chegue até o mercado.
Os Centros de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobras e da Telebrás talvez sejam das poucas instituições brasileiras que montaram uma estrutura e uma visão estratégica nessa área. Não vejo a proteção à propriedade intelectual ser tratada com a mesma atenção na USP,
A Propriedade Intelectual no Brasil
Patentes
Quando um pesquisador estrangeiro chega, queremos mostrar os
equipamentos e os laboratórios mais modernos. Muitas coisas são levadas por não termos regras, procedimentos e organização nas instituições.
Na Fiocruz uma patente já foi roubada por um estagiário estrangeiro. E depois nós é que somos acusados de piratear. Tanto a entrada quanto a saída de pesquisadores precisa ser mais orientada e regulamentada. Nossos pesquisadores vão para outros países com o bolso cheio de DNA de pacientes, da forma mais aberta possível, sem imaginar quanto vale o material com uma característica génética específica para testar produtos farmacêuticos.
Instituições Patentes depositadas No Brasil No exterior
Patentes concedidas No Brasil
Negociadas No exterior
Fiz um levantamento sobre o número de patentes depositadas e concedidas no Brasil e no exterior e de licenciamentos em seis instituições (ver quadro). No caso da Petrobras, o número de patentes depositadas e concedidas é bastante expressivo, tanto no Brasil quanto no exterior. A Petrobras faz anualmente uma revisão do que poderia licenciar e, nos dois últimos anos, abandonou uma série de pedidos de patente cuja continuidade não parecia mais interessante. Há apenas oito patentes negociadas, mas é um resultado que, disseram-me, é realmente expressivo, porque o Centro de Pesquisas da Petrobras trabalha muito para ele mesmo e grande parte das tecnologias é usada
Petrobras* 257 760 366
IPT 128 2
USP** 114
Unicamp 103 I
Embrapa*** 72 5
Fiocruz 16 28
* Polít ica de patenteamento e licenciamento em revisão. ** Nova política de propriedade intelectual em discussão. - IS programas de computador, I I 3 marcas, 4 1 cultivares
67
26
18
9
(3 de milho, I O de arroz, 3 de sorgo e 2 de algodão) registrados.
Fonte: Coordenação de Gestão Tecnológica da Fiocruz
PESQUISA FAPESP
684 8
4
6
13 17
pelo próprio sistema Petrobras. A Petrobras trata do assunto com muita prá
tica e documentos internos norteadores. Há muitas empresas e patentes chegando ao mercado que ela dominava até há pouco tempo.
13
BR ASIL
O IPT também formulou na década de 70 uma política de propriedade intelectual, com a criação do Núcleo de Inovação Tecnológica, atualmente sob os cuidados da Coordenadoria de Relações com o Mercado. O IPT também está mudando suas estratégias: fez uma instrução normativa em julho de 1999, que trata da premiação dos inventores, e outra em setembro, que estabelece diretrizes para elaboração e aprovação de propostas para proteção e comercialização.
A USP começou em meados
PATE N T ES
os acordos de cooperação tecnológica, cujo número está crescendo. De 31 acordos negociados em 1999, 17 foram assinados.
O papel das agências de fomento é fundamental para mudar a situação. Por falta de conhecimento das implicações da divulgação antecipada ao depósito de pedido de patente, andam na contramão da proteção dos resultados das pesquisas. Algumas exigem participação de resultados, por meio de cláusulas contratuais, mas ainda é
bastante restrito o gerenciamento da década de 80, com a criação do Grupo de Assessoramento e Desenvolvimento de Inventos (Gadi). A portaria mais recente, deste ano, transfere esta área, antes ligada à Consultaria Jurídica, para a Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e Atividades Especiais (Cecae), vinculada à Reitoria.
'' As publicações não podem ma is ser consideradas como o único indicador
dos resu I ta dos
do processo e a avaliação dos resultados. Muito se perde e ninguém sabe o que faz. Outras exigem participação na titularidade, mas nada se define a respeito da participação nos custos. Como resultado, o outro titular desiste de colocar a agência como co-autora, porque não há ninguém para conversar sobre como dividir e fazer o pagamento desses A Unicamp, que também ten
tou cuidar desse assunto de alguma forma desde os anos 80, criou
de uma pesquisa''
em 1998 o Escritório de Difusão e Serviço Tecnológico, o Ediste. Informaram-me que estão procurando mudar a estratégia, verificando quais patentes estão concedidas ou depositadas e escrevendo para todos os inventores para analisar se as patentes ainda estão válidas, se houve continuidade na pesquisa e se há empresa interessada no desenvolvimento da tecnologia. Enfim, estão de alguma forma provocando a comunidade acadêmica.
A Embrapa sentiu muito os efeitos da globalização na área da agricultura, com a entrada no País de empresas de grande porte e a competição acirrada. Em 1999, saíram duas deliberações, uma sobre a propriedade intelectual de cultivares obtidas isoladamente ou em parceria e outra sobre a política de negócios tecnológicos. A Embrapa passa por um processo de regulamentação bastante rigoroso desde 1996.
A Fiocruz começou informalmente em 1986, quando criou o Núcleo de Estudos Especiais da Presidência, que pela primeira vez fez menção ao assunto. Já tínhamos uma pequena história: o depósito da primeira patente e o primeiro acordo já nesse espírito da negociação e proteção datam de 1911.
Damos um pequeno passo atrás do outro, mas já com alguns resultados. Uma patente de uma vela repelente a insetos gerou oito licenças não-exclusivas. Quando o resultado de uma pesquisa consiste em tecnologia pouco competitiva, licenciamos a várias empresas. Estão em curso negociações mais expressivas com três ou quatro empresas do exterior, mas os resultados ainda são bastante preliminares. Estamos procurando organizar
14
custos. Há também as agências que
desistiram de reivindicar direitos de propriedade intelectual porque elas não conseguem gerenciar os resultados das pesquisas ou projetas que possam levar a patentes e não têm qualquer política nessa área. Queremos que as agências sejam nossas parceiras e financiem os projetas, que reivindiquem os direitos de participação nos resultados, mas que ajudem também no financiamento do desenvolvimento do produto e na busca de parcerias com o setor produtivo.
Na minha opinião, as agências de fomento poderiam: • Elaborar, implementar e gerenciar uma política de propriedade intelectual, não apenas manter uma cláusula contratual de eventual participação nos resultados, e criar uma definição estratégica do que quer ao alocar recursos financeiros num projeto de pesquisa; • Incorporar a patente ou outra forma de pesquisa protegida como indicador de resultado; • Criar uma modalidade de bolsa adequada a formar profissionais para atividade executiva e não apenas acadêmica.
Um dos maiores problemas da Ciência e Tecnologia no Brasil é que os pesquisadores nadam, nadam e morrem na praia. Conseguem bons trabalhos, mas param na hora de fazer um protótipo e finalizar o produto.
Em geral, nossos dirigentes não olham para o resultado dos projetas que param na bancada do laboratório. São geradas muitas teses e livros, mas pouco resultado chega ao mercado. As publicações não podem mais ser consideradas como o único indicador do resultado e da relevância de uma pesquisa.
PESQUISA FAPESP
PATE N TES
BRASIL
Os tneandros do registro de patentes
Luiz Otávio Beaklini colocou-se à frente da platéia do auditório
da FAPESP, em dezembro de 1999, apenas dois meses depois de ter sido nomeado diretor de patentes do Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Mas, ao longo de sua exposição, A Atuação do Instituto Nacional
Luiz Otávio Beaklini
Trabalho no INPI há mais de 20 anos como examinador de patentes e há menos de dois meses fui nomeado diretor de patentes. Encontrei uma diretoria cheia de desafios, especialmente com uma grande quantidade de pedidos de patentes não examinados. Trata-se de um problema de muitos anos, cuja solução desafia os administradores. Não vou prometer ·que será tudo resolvido em curto espaço de tempo, mas as medidas que estão sendo tomadas
de Propriedade Industrial, conseguiu aplacar as críticas a respeito do modo de funcionamento da instituição à medida que descrevia as dificuldades atuais e as alternativas criadas para evitar o atraso no exame dos pedidos de patentes - a cada ano, chegam cerca de 18 mil novos pedidos. Beaklini conhece os desafios do novo cargo que ocupa. Com uma equipe reduzida, tem de cuidar de uma demanda crescente de pedidos de análise de patentes. Mas, esperançoso, acredita que a nova legislação nacional, os acordos internacionais e os cursos realizados em empresas e instituições de pesquisa permitirão que se modifique rapidamente o quadro da propriedade industrial no Brasil. Especialista em Propriedade Industrial pela Organização Mundial da Propriedade Industrial (Ompi) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Beaklini é engenheiro civil com pós-graduação no Centro Tecnológico da Universidade Federal Fluminense (UFF). Embora há 20 anos no INPI, não perdeu o elo com o ambiente acadêmico: foi professor visitante da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, entre 1997 e 1998. Desde 1983 leciona na Escola de Engenharia da UFF.
PESQUISA FAPESP
permitirão modificar completamente o cenário atual da propriedade industrial no Brasil.
Entrei no INPI quando parecia que o instituto iria se tornar um grande escritório de patentes. Havia um programa de modernização patrocinado pela Ompi, o Banco de Patentes, e um grupo de 140 examinadores havia sido contratado e treinado por especialistas dos maiores escritórios do mundo. O INPI sempre recebeu aproximadamente 10 mil depósitos de patentes por ano. Para esse número, 140 examinadores bem treinados seriam suficientes, mas a equipe logo se viu reduzida para 80, já incluídos os 16 recém-contratados pelo único concurso público que o INPI foi autorizado, e a situação começou a se complicar. A cada ano acumulavam-se mais pedidos não examinados.
De uns anós para cá, quando o Brasil adotou uma nova legislação de propriedade industrial, que não mais excluía de patenteabilidade setores como o químico, o farmacêutico e o alimentício, ao mesmo tempo em que a economia dava sinais de ter entrado num padrão menos desorganizado, o volume de solicitações de patentes explodiu. De 10 mil em 1994, foi aumentando a cada ano e está agora em 18 mil, sem sinais de que este crescimento vá parar.
O governo federal agora está consciente do problema e, ao editar a Medida Provisória 2014/99, incluiu um dispositivo permitindo a contratação temporária de examinadores. O contrato é de apenas um ano, mas estamos muito felizes porque vemos uma solução para nosso atraso.
Em 1998 só conseguimos decidir 5 mil pedidos. Em 1999, passamos para 10.784. Não é o ideal, mas é bem mais do que antes. Conseguimos reverter a curva de análise de pedidos de patentes, que era decrescente e hoje aponta para cima.
São muitas as causas do grande atraso do INPI, algumas delas decorrentes de decisões que não se mostraram as mais acertadas. A Lei de Patentes de 1971 excluiu de
15
BRAS IL PATENTES
patenteabilidade produtos quími- A Medida Provisória 2014/99 cos, farmacêuticos e alimentícios. O Brasil não era o único país do mundo a fazer uma reserva de mercado para estes setores. O Japão, a Itália e a Holanda também já optaram por este caminho. Cada um desses países utilizou esse período em que poderia utilizar medicamentos criados em outros países sem ter de pagar royalties para desenvolver sua indústria farmacêutica, assim como o Brasil.
''Vamos reduzir determinou que os pedidos depositados até 31 de dezembro de 1994 e referentes a matéria que àquela data não poderia ser privilegiável sejam considerados indeferidos, na data de 31 de dezembro de 1999, um dia antes da aplicação do acordo Trips. É a melhor solução para o INPI, pois elimina uma grande disputa entre qual a interpretaÇão da lei.
o prazo mínimo de aceitação de um pedido
de patentes de dois ou até seis meses para,
no máximo, um dia''
Por causa do impedimento legal à concessão de patentes nestes campos, o INPI decidiu não examinar os pedidos de patente nessas três áreas. Os processos foram se acumulando e, passados alguns anos, cresceram como uma bola de neve.
Em 1994, a assinatura pelo Brasil do acordo Trips ( Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights) complicou essa realidade. Ninguém percebeu na época, ou não foi possível tomar as medidas necessárias a tempo. O acordo Trips determina: nenhum país que assinou o acordo pode manter uma lei que proíba patente em qualquer setor tecnológico, como o Brasil fazia com o farmacêutico. Isso cria um conflito, pois os pedidos de patentes dessas áreas, depositados na vigência de uma lei que não permitia seu patenteamento, que estiverem aguardando decisão até o próximo dia primeiro de janeiro de 2000, quando o acordo começa a vigorar, como serão julgados? Enquanto um grupo acha que aqueles pedidos devem ser indeferidos, pois foram depositados numa lei que não o permitia, outro acredita que deva ser exatamente o contrário e não existe razão para que não possam ser patenteados, desde que sejam novos e inventivas.
Cerca de 70% dos pedidos de patentes vêm do exterior. A maio
ria é depositada por meio de um acordo internacional chamado PCT que traz um Relatório Internacional de Buscas, uma lista representativa do estado da técnica, preparado por uma Autoridade Internacional de Buscas (conhecido como ISA, em inglês). O INPI, como todos os demais escritórios de patentes do mundo, utiliza essa listagem para acelerar o exame técnico dos pedidos de patente.
Apesar de o INPI arrecadar com os pedidos e a manutenção das patentes, quase não fica com esse dinheiro. Vivemos à míngua, porque não recebemos autorização para usá-lo e no final do ano o governo raspa o que sobrou. Mas isto também está mudando, e para melhor. O governo tem mostrado um apoio ao INPI como nunca se viu antes.
Quais são as perspectivas? Na Diretoria de Patentes, pretendemos reduzir o que for apenas formalismo dos procedimentos de análise de patentes. A idéia é não fazer exigência apenas por aspectos formais. Já vi o INPI devolver um pedido de patente porque a margem excedia três milímetros as normas predeterminadas. É um absurdo este· grau de preciosismo, enquanto o órgão leva meses para fornecer o número de depósito do pedido, coisa que deveria ser feita em uma hora.
Vamos reduzir o prazo
Pedidos deferidos e patentes expedidas mínimo de aceitação de um depósito de patente, de dois ou até seis meses para, no máximo, um dia. Não estou falando do exame técnico, mas do ato de depositar o pedido. O exame mesmo vai aguardar os outros procedimentos, o sigilo de 18 meses, a publicação e o pedido de exame. A despeito das dificuldades, esse, a meu ver, é ocaminho pelo qual vamos produzir uma pressão maior ainda vinda do setor privado nacional para nos obrigar a
4.000
3.000
2.000
1.000 • Pedidos deferidos
• Patentes expedidas
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Fonte: INPI aumentar nossa eficiência.
16 PESQUISA FAPESP
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