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  • 8/14/2019 Performances de Chalayan Por Mariana Rachel Roncoletta

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    Mariana Rachel Roncoletta

    Performances de Chalayan: singularidades entre designers de moda e redesign de corposRevista Digital Art&, n. 8, outubro de 2007.

    Link: http://www.revistarte.com.br/site-numero-08/apresentacao.htm

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    Performances de Chalayan:

    Singularidade entre designers de moda e re-design de corpos

    por Mariana Rachel Roncoletta 1

    Chalayans Performances:

    Singularity between fashion designers and body re-design

    Resumo

    A Moda como linguagem transforma o corpo alm das barreirasmorfolgicas do prprio corpo. Neste ensaio iremos observar atravs da histria damoda, a relao do design com a semitica discursiva, a re-significao de tais corposem trs momentos: Atravs dos primeiros designers de moda, Poiret e Chanel e suas propostas para a alta-costura visando um pblico hegemnico. No segundo momento,graas inverso do Sistema de Moda e de designers como Yves Saint Laurent e

    Paco Rabanne propem uma democratizao e diversificao da prpria moda. E noterceiro momento, atravs da coleo de vero 2007 de Hussein Chalayan e autilizao da tecnologia desenvolvida pelo studio 2d:3d iremos constatar a re-significao do corpo, em propostas singulares do mesmo desfile.Palavras-chave: moda, corpo, design, diversidade, tecnologia

    Abstract

    Languages Fashion changes the body behind the morphological bodyitself. In this project we observe through the fashion history, the relationship betweendesign and discursive semiotic, the body revelation in tree moments: Through the

    first fashion designers, Poiret and Chanel such as propose to haute couture looking for hegemonic public. In the second time, through the reverse Fashion System end thedesigner such as the diversities and democratic proposes Yves Sant Laurent and

    Paco Rabane. And in the third moment, through the Hussein Chalayan summer collection 2007 and the studio 2d:3d technology well observe the singular bodyrevelation during the same fashion show .

    Key words : fashion, body, design, diversities, technology

    Introduo

    Neste artigo iremos privilegiar as propostas hbridas do designer demoda Hussein Chalayan em seu desfile chamado One hundred eleven realizado emoutubro de 2006. Nesta coleo de vero 2007 constataremos que o designer propeatravs do uso da tecnologia do studio 2d:3d o re-design da vestimenta, e por conseqncia do corpo, tendo como suporte a mesma modelo.

    1 Mariana Rachel Roncoletta, stylist e consultora de imagem. Docente e pesquisadora. Atua na criao e desenvolvimento deeditoriais de moda, desfiles e campanhas publicitrias. Mestranda em Design pela Universidade Anhembi Morumbi - UAM.Ps-graduada em Jornalismo de Moda e Estilo de Vida pela UAM (2007). Especialista em Comunicao e Marketing de Moda pela UAM (2005). Bacharel em Desenho de Moda pela Faculdade Santa Marcelina (1992). Contato:[email protected] .Artigo publicado na Revista Digital Art& n.8 outubro de 2007. Link:http://www.revistarte.com.br/site-numero-08/apresentacao.htm

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    Link: http://www.revistarte.com.br/site-numero-08/apresentacao.htm

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    Entende-se como desfile de moda uma apresentao de roupas eacessrios, realizada em data e horrios pr-fixados pelo destinador,na qual um grupo de modelos caminha por aproximadamente 30metros de passarela durante 20 minutos. Com trilha sonora

    especialmente criada para esse fim, elas exibem em torno de 75 looksa um pblico aglutinado em filas dispostas lateralmente em torno da

    passarela . GARCIA e MIRANDA (2005: 86).

    A descrio acima correta e traduz a estrutura bsica de um desfile.De sua criao no sculo dezenove at os dias atuais, o desfile preserva sua essncia:corpos humanos cobertos por roupas circulando num espao determinado. Mas aolongo de sua existncia, sua dinmica tem sofrido contnuas interferncias einfluncias. De evento discreto a show espetacular, os desfiles j passearam por diferentes categorias.

    Nesse passeio, a arte sempre cruzou os caminhos da Moda. Designersinspiram artistas, artistas inspiram designers. Nos desfiles, podemos observar aconexo com a arte em produes performticas, que utilizam elementos prprios dasartes, como instalaes, para transmitirem seus conceitos. No sculo XXI, diferentesconexes entre esses dois territrios so constantemente exploradas e, portanto, cabedizer que um desfile tambm uma performance.

    Os desfiles de moda costumam ser o pice da criao de um designer.Dentro da sala do desfile h um ritual de apresentao, onde msica e ambientaocontribuem para envolver o espectador e influenciar sua anlise.

    A ascenso dos designers de prt--porter est, segundo EVANS(2002 :57-59), diretamente ligada origem dos desfiles espetaculares de hoje. MaryQuant percebera que, a menos que dramatizasse a apresentao, suas criaes

    simples se perderiam entre outras, mais elaboradas . Foi na dcada de 60 que osdesfiles tomaram o formato atual, e no so mais abertos ao pblico emapresentaes dirias. So exclusivos para a imprensa e lojistas.

    Nos anos 60 passamos de uma moda hegemnica, ditada pela alta-costura e pela elite econmica, para uma moda, diversificada mais democratizada,regida pelos designers das marcas de prt--porter. Nos dias atuais convivemos comuma pluralidade muito maior proposta em um nico desfile por um nico designer,caso de Chalayan. Este re-design plural possvel graas inverso do Sistema de

    Moda.Paralelo aos desfiles-show, designers mais conceituais, como IsseyMiyake, Martin Margiela e Hussein Chalayan, comearam adesenvolver desfiles com conceitos prximos arte, utilizando, paraisso, instalaes arquitetnicas, performances e conceitos abstratos. RONCOLETTA e BARROS (2007:35)Para compreendermos como o Sistema se inverteu passaremos

    rapidamente pelos primeiros designers de moda modernos: Poiret e Chanel. Emseguida, um breve olhar na inverso do Sistema dos anos 60, para finalmenteobservarmos atravs de Chalayan seus corpos diversificados em movimento atravs

    da tecnologia utilizada.

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    Projetos hegemnicos de Poiret e Chanel

    O designer de moda por princpio um designer de produtos voltado para a indstria do vesturio. Como designer entendemos a definio da ICSID2 :

    A Misso do Design uma atividade criativa cuja finalidade estabelecer as qualidades multifacetadas de objetos, processos, servios e seus sistemas, compreendendo todo seu ciclo de vida. Portanto, design o fator central da humanizao inovadora detecnologias e o fator crucial para o intercmbio econmico ecultural.

    Ao pensarmos em designers de moda esto subtendidos portanto os processos de criao e realizao de projetos como objetos para a indstria dovesturio que refletem a subjetividade do designer (como ele enxerga o mundoatravs de suas criaes) na esfera scio-cultural onde o prprio designer estinserido. Sua misso, como designer utilizar-se das inovaes tecnolgicas de seutempo oferecendo produtos que refletem a sociedade ou uma parcela dela na esferacultural, social e econmica daquela poca.

    O primeiro designer de moda segundo SEELING (2000:23-32) foiPaul Poiret que abriu seu salo de moda em 1903 em Paris vestindo atrizes decinema como Rjane. Ele tornou-se uma estrela da moda em apenas trs anos. Poiret, j influente, esboa em 1906 um vestido de linhas simples e estreitas, com a cinturadeslocada para debaixo do peito, e saia que caa reta at os ps.Inspirado nomodernismo que reinava na Europa, talvez at influenciado pela procura dos artistasingleses e das defensoras do direito das mulheres pelo vestido da Reforma . Estasilhueta d a Poiret a fama de libertar o corpo feminino dos espartilhos.

    Fig. 1: A esttica oriental de Poiret. Fonte:DESLANDRES (1987: 126).

    Fig. 2: Ilustrao de Chanel dos anos 20. Fonte:SEELING (2000:116).

    2 ICSID: International Council of Societies of Industrial Design. Design is a creative activity whoseaim is to establish the multi-faceted qualities of objects, processes, services and their systems in wholelife cycles. Therefore, design is the central factor of innovative humanization of technologies and thecrucial factor of cultural and economic exchange.

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    Suas colees inspiradas no Oriente duram mais de duas dcadas. Esta paixo segundo SEELING (op.cit :32) responsvel por marcar a esttica do criador em todos os seus projetos, desde acessrios, perfumes e vestidos at objetos dedecorao de interiores so absorvidas primeiro pela sociedade parisiense, depois

    pelo mundo. Tal esttica to difundida e consumida pela alta sociedade considerada por ns como uma proposta hegemnica: um nico estilo de moda,conseqentemente endereada a um nico tipo de corpo, o estilo oriental interpretado por Poiret para a alta sociedade inserido no Sistema de Moda. As mudanas propostas pelo designer, apesar de significativas so variaes lentas no estilo do comeo dosculo, diferente das variaes propostas pelos designers atuais.

    Poiret no estava sozinho, outros criadores como Mariano Fortuny,Jacques Doucet, Jeanne Lanvin tambm propunham uma esttica oriental, cada umcom uma interpretao refletiam uma grande tendncia de moda anterior PrimeiraGuerra Mundial. Para (RONCOLETTA (2004:21) e demais autores, a moda com mminsculo refere-se s tendncias e modismos, diferenciando-se da Moda com Mmaisculo, referindo-se ao Sistema como linguagem comunicacional.

    No ps-guerra estabelecem-se Madeleine Vionnet e MademoiselleChanel. Coco Chanel, assim conhecida carinhosamente, a responsvel pelolook LaGaronne dos anos 20, mulheres com corpo de meninos, achatamento dos seios,cintura deslocada para o quadril e cabelos curtos. Como designer refletiu atravs desuas criaes o que mais tarde chamaremos delifestyle , nos anos 60, to importante para a diversificao da Moda futura. Entende-se por look uma organizao naconstruo de determinadas roupas, associadas a postura corporal, atitude, cabelo,maquiagem etc. GARCIA e MIRANDA (Op.cit.: 31).

    A obra de Chanel sua vida em forma de roupa cheia decontradies. Ela fundia o feminino e o masculino, o charme e a fora,a simplicidade e o luxo, o domnio e a submisso que agrada a mulher moderna. Seu objetivo era libertar as mulheres dos espartilhosmentais, de certa preguia mental, que as mantinha na dependnciados homens. SEELING (Op. cit :99) Ao tentar libertar as mulheres com suas propostas, Chanel desloca a

    mobilidade do corpo feminino no sentido concreto, para danar aoswing, e nosentido figurado absorvendo as necessidades das mulheres modernas do ps PrimeiraGuerra de se divertirem, em busca pela juventude e uma possibilidade deindependncia atravs da carreira profissional.

    Coco Chanel e Paul Poiret so os primeiros criadores de modamodernos reconhecidos como designers de moda, por realizarem atravs de suascriaes um intercmbio econmico, social e cultural refletindo o comportamento deuma poca traduzidos emlooks . Poiret, por ter libertado o corpo feminino doespartilho, desenvolvendo um design reconhecvel para a elite. Chanel por ter absorvido as tendncias comportamentais culturais vindas docharleston e do jazz, criando um estilo de vida. Ambos designers refletiram a alta sociedade parisiense no pr e ps primeira Guerra Mundial.

    Propostas diversas dos designers do prt--porter

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    Por quase 100 anos, desde o surgimento da alta costura com CharlesFrederick Worth que comeou a assinar suas criaes como se fosse um artista(couturier ) em 1858 e fundou sua casa de costura em Paris, a Moda era comandada pela alta-costura hegemnica para a elite-econmica. Eles ditavam as tendncias.

    LIPOVESTKY (1989:107-115) relata a mudana do eixo da Modaimposta pela alta-costura para o novo Sistema imposto pelo prt--porter a partir dosanos 60 onde os designers de moda ganham prestigio e impem hierarquias quediminuem a desigualdade entre classes, portanto entre corpos vestidos. Afirma queno existe mais moda, aquela da elite, mas sim modas, portanto, formas de vestir,atitudes e corpos diferentes. O autor ainda sugere a individualizao e a importnciado look : uma somatria dos valores da moda e valores estticos daquela sociedademais democrtica.

    Importante situar essa nova dimenso do sistema da Moda para poder localizar a grande variedade de estilos de corpos sugeridos pelos diversos designers

    de moda, chamados de criadores Nestes tempos convivem diversos padres de beleza, juntos na mesma

    categoria hierrquica: a ninfeta Twiggy divide espao com a charmosa Jack Kennedye a cantora James Joplin. A Moda como sistema apenas se apropria destes padres de beleza e os consagra atravs da mdia.

    Para compreendermos a relao da moda, ou melhor dos designers demoda com o corpo, conseqentemente com a roupa necessrio entender que a partir deste momento, o rompimento se d com os anos loucos firmando-se a partir dosanos 60, a Histria da Moda no mais se restringe Histria da veste, mas Histriade seus designers. poca de designers como Mary Quant, Courrges, Yves Saint

    Laurent, Pierre Cardin e Paco Rabanne cada um com uma proposta esttica diferenteconvivem com a diversificao e democratizao da Moda.YSL para a coleo de alta costura de 67 utilizou materiais baratos

    como a rfia e prolas de madeira. Na coleo de Paco Rabanne de 66 tambm paraalta costura so utilizados materiais como o plstico e o metal. So propostascompletamente diferentes comprovando at mesmo para a elite uma democratizaoda moda, tanto pelos materiais utilizados como pela tecnologia empregada como pelos corpos diversificados.

    Fig. 3: YSL Haute Couture de 1967 feito de rfia, linho, prolas de madeira e vidro.Fig. 4: Coleo de Haute Couture de Paco Rabanne de 1966, feita de plstico e metal. Fonte:

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    SEELING (2000:356 e 376). A atitude muda. O mundo muda. A Moda muda. O corpo muda.

    preciso surpreender para seduzir. Renovar-se para vender. A Moda do mundo deontem s muda porque tem de manter-se a par de um sistema que ela vigora. Ela faz parte das importantes regras sociais para a elite e aos poucos para a massa.

    Para CASTILHO (2002:59-72), os grupos sociais se organizam deacordo com as aceitaes e suas estticas pelo corpo eleitas de acordo com taisaceitaes sociais. Reafirmando a linguagem de Moda como linguagem social,representada hoje pela linguagem dos designers de Moda, podemos admitir queexistem diversos grupos, diversos corpos convivendo com os mais diversoscdigos.

    O corpo sempre foi um suporte para a Moda, para os designers demoda, e suas propostas. Em Discursos da Moda: semitica, design e corpo , osautores CASTILHO e MARTINS(2005:27-33) relatam a multiplicidade do ser humano e de seu corpo significante por meio da moda, ou seja, o re-design docorpo natural-biolgico atravs da vestimenta (e de seus significados daquela roupana sociedade atual) incorporados ao prprio design do corpo transformando-o emoutro corpo. Os autores questionam:Qual o modelo de corpo hoje que o designer demoda projeta em base na percepo do meio circundante?

    Propostas singulares de Hussein Chalayan

    Nos anos 90 teremos um mesmo designer propondo diversasconversas3 no mesmo desfile, na mesma coleo. Um designer busca inspiraes nasmais variadas fontes reunindo-as aparentemente num caos esttico ps-moderno. Asapropriaes do criador se fundem em diversos cdigos complexos numa mesmacoleo. Cadalook de uma mesma coleo uma proposta singular. So vriosnomes da Moda com propostas singulares num mesmo desfile: Walter vanBeirendonck, Comme des Garons, Alexander McQueen e os brasileiros AlexandreHerchcovitch, Marcelo Sommer, Jum Nakao, Icarius, Ronaldo Fraga dentre outros.

    Fig. 5 e 6: Os micro-controles, baterias e tubos desenvolvidos pela 2d:3d que possibilitaram atransformao dos 5 vestidos em outros 5 ao vivo. Fonte: TECNOLOGY REVIEW, 2006. Link das

    3 POLHEMUS (1994:130) chama essas inspiraes de diversas fontes propostas num mesmolook deSupermercado de Estilos.

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    fotos, vdeo:http://www.technologyreview.com/Infotech/17639/. Link fotos:http://www.mediaruimte.be/coco/2006/hussein-chalayan-sping-%E2%80%93-summer-2007/

    Em 2006 o designer de moda Hussein Chalayan apresentou suacoleo de vero 2007 propondo a transformao de suas criaes em outras num

    mesmo suporte, no mesmo corpo atravs da tecnologia desenvolvida pela equipetcnica do Studio 2d:3d4 comandada por Rob Edkins. A tecnologia permiteliteralmente transformar um traje em outro, portanto um corpo em outro com todasignificao do traje no apenas pelas propores corporais da prpria modelo (amesma mulher, o mesmo corpo) como uma modificao da releitura da prprialinguagem de moda doslooks .

    Nesta coleo, Chalayan prope discursos diferentes, sobrepostos emum mesmo corpo, gerando diferentes corpos num mesmo desfile. Ao sugerir umlook modificado por si s, ele sugere uma mudana de cultura no tempo-espao histrico, passando por outro tempo-espao dos anos 20, por exemplo. So trs discursossingulares sobrepostos em cada um doslooks transformadores5.

    Fig. 7 e 8: No primeirolook uma releitura dos trajes do final do sc. XIX, no segundo suatransformao.Fonte: VOGUE, 2006. Link:

    http://www.style.com/fashionshows/collections/S2007RTW/complete/thumb/HCHALAYA

    4 O Studio 2d:3d (link:www.2d3d.co.uk ) especializado em efeitos especiais. Segundo MOWER, jornalista Vogue Amrica o studio desenvolveu os efeitos do filme Harry Porter o Prisioneiro deAzkaban. O vdeo do processo de construo dos looks transformadores da equipe de HusseinChalayan com o Studio 2d:3d est disponvel para donwload no site da Showstudio.com atravs dolink:http://showstudio.com/projects/chalayanss07/ref.mov.5Os vdeos do desfile esto disponveis no site Vogue.com, atravs do link:http://www.style.com/fashionshows/collections/S2007RTW/video/HCHALAYAe no site You

    Tube.com, pelo link:http://www.youtube.com/watch?v=URq0brRc-vk

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    Consideramos como primeira proposta singular, a releitura da prpriahistria da Moda no contexto atual (de ambas as pocas), onde s podemosidentificar seus sentidos atrelados a tal releitura, as propostas da coleo no socpias de poca, muito pelo contrrio so seus cones de significados. A segunda

    proposta est no ato de transformao tecnolgica ao vivo, de um traje em outro, umcorpo em outro, portanto uma singularidade em outra. Tais transformaessimultneas resultam ainda numa terceira singularidade, num terceiro corpo inseridono sculo XXI proporcionando um questionamento da moda, do corpo e datecnologia que podemos viver nos dias atuais. Podemos escolher entre corposvitorianos num dia, e libertos como nos anos loucos nos outros.

    No primeirolook tecnolgico, samos de um corpo-vestido em propores vitorianas, conforme vemos na fig. 7, onde o traje est inserido naquelacultura sustentando o padro de beleza daquele momento reforado por determinadacaracterizao. A cintura marcada, o vestido longo e todo recatado. O quadril eseios so avantajados pela forma de ampulheta da vestimenta, os efeitos de sentidotambm se remetem ao perodo: um corpo feminino aprisionado pela veste como eraantes de Poiret.

    Este vestido se transforma num outro, demonstrado na figura 8. A saia encurtada, o decote aberto proporcionando um novo corpo liberto da posturargida do traje anterior. Ao proporcionar esta transformao, numa mesma vestesobre um mesmo corpo (a mesma modelo), seus efeitos de sentido tambm setransformaram numa outra identidade atravs da prpria veste. Neste instante o corpoque carrega tal veste assume os sentidos culturais dos anos 20: a liberdadela

    garonne de Chanel. Interessante observar, ainda, como o designer seleciona suas prprias

    transformaes entre pocas antagnicas para o corpo, e por conseqncia para odiscurso feminino, inserido na cultura ocidental. So propostas algumastransformaes: do vitoriano aos anos 20, do New Look de Dior para o tubinhometalizado de Paco Rabanne e ainda por ltimo do vestidoclean dos 90 para o corponu.

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    Fig. 9 e 10: Na primeira o New Look de Christian Dior, na segunda uma releitura da coleo futuristade Paco Rabanne. Fonte: VOGUE, 2006. Link:

    http://www.style.com/fashionshows/collections/S2007RTW/complete/thumb/HCHALAYA

    No terceirolook tecnolgico, a modelo entra na passarela usando umchapu e um vestido de placas. Ao parar em frente hlice do motor no ponto de luzclara o vestido se arma proporcionando uma forma acinturada remetendo-nos

    diretamente as cinturas de vespa dos anos 50 e a volta do luxo e da feminilidade propostas por Christian Dior no ps Segunda-Guerra, como podemos observar na fig.9. Esta mesma modelo, parada na luz tem seu vestido encurtado e metalizado por quadrados numa releitura do vestido de quadrados metlicos de Rabanne e sua mini-saia. Olook ainda recebe uma mudana na cabea de chapu para bon com viseiraacrlica. Essas mudanas s so possveis pela utilizao da equipe de efeitoscinematogrficos da 2d:3d comandada por Rob Edkins.

    O criador escolhe mais uma vez pocas antagnicas em seus valoresmorais-culturais especialmente para a mulher representada por seus corpos vestidos eat mesmo pelos padres de beleza alterados. Nos anos 50 tnhamos a mulher curvilnea, passando para a mulher-menina representada por Twiggy nos anos 60.

    Para finalizar o designer apresenta um trajeclean caracterstico dosanos 90 confeccionado por um tecido leve na cor da pele, fig. 11. A modelo se posiciona na luz e seu vestido desaparece. escondido em seu chapu. A modelo ficanua apenas com o enorme chapu na cabea escondendo suas partes intimas com asmos, a fig. 12.

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    Fig. 11 e 12: Na primeira o vestidoclean , na segunda o corpo nu. Fonte: VOGUE, 2006. Link:http://www.style.com/fashionshows/collections/S2007RTW/complete/thumb/HCHALAYA

    interessante ressaltar que depois desta avalanche de propostas, propores, modos e atitudes o desfile termine com o corpo nu. Corpo este outrora

    vestido e tecnologicamente despido, ficando apenas o imenso chapu e as sandliasaltas. Mais de 100 anos de histria da moda ocidental desfilaram, e Chalayan afirmanum simples ato que a Moda no seria nada sem o corpo seja ele qual singularidadeassumir.

    Consideraes finais

    Vimos que cada designer projeta diversos modelos de corpos vestidoscomo tambm utiliza diferentes modelos de corpos biolgicos como suporte de suascolees questionando o prprio sistema de Moda e a indstria da beleza e a busca docorpo perfeito paradoxalmente com a individualizao do ser.

    No incio do sc. XX observamos a Moda como linguagemhegemnica direcionada a elite, impondo seus padres de beleza tambmhegemnicos. Aps a inverso do Sistema, a Moda pluralizou-se, cada designer podiasugerir uma proposta, democratizando e diversificando a prpria Moda. Dos anos 90em diante possvel encontrar cada vez mais diferentes designers com propostasdiferentes numa mesma coleo.

    Cada designer do prt--porter, como Chalayan, prope vrias modas evrios corpos, numa coleo hbrida, subjetiva e pessoal. Como usurios podemosenvolver nossos corpos com tais modas ou no. Podemos nos integrar com suas propostas inusitadas ou escolher as tendncias estticas predominantes do prpriosistema de Moda.

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    Referencias Bibliogrficas:

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    http://www.style.com/fashionshows/collections/S2007RTW/video/HCHALAYA TECHNOLOGY REVIEW, acessado em maio de 2007. Disponvel em:

  • 8/14/2019 Performances de Chalayan Por Mariana Rachel Roncoletta

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    Mariana Rachel Roncoletta

    Performances de Chalayan: singularidades entre designers de moda e redesign de corposRevista Digital Art&, n. 8, outubro de 2007.

    Link: http://www.revistarte.com.br/site-numero-08/apresentacao.htm

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    http://www.technologyreview.com/Infotech/17639/