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Ano XI • N.º 36 • 22 de Junho a 21 de Setembro 2011 Esta Revista faz parte integrante da edição do Jornal de Notícias e não pode ser vendida separadamente • Distribuição gratuita Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes Portfolio QUANDO AS DUNAS SORRIEM Entrevista LÍQUENES Pesquisa PAISAGENS ACÚSTICAS Ano Internacional das Florestas

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Ano XI • N.º 36 • 22 de Junho a 21 de Setembro 2011

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Portfolio: DunesInterview: LichensReport: Natural soundscapes

PortfolioQUANDO AS DUNAS SORRIEMEntrevistaLÍQUENESPesquisaPAISAGENS ACÚSTICAS

Ano Internacional

das Florestas

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FICHA TÉCNICARevista “Parques e Vida Selvagem” ·

Director Nuno Gomes Oliveira · Editor

Parque Biológico de Gaia · Coordenador

da Redacção Jorge Gomes · Fotografias

Arquivo Fotográfico do Parque Biológico

de Gaia · Propriedade Águas e Parque

Biológico de Gaia, EEM · Pessoa

colectiva 504763202 · Tiragem 120 000

exemplares · ISSN 1645-2607 · N.º Registo

no I.C.S. 123937. Dep. Legal 170787/01

· Administração e Redacção Parque

Biológico de Gaia · Rua da Cunha · 4430-

681 Avintes · Portugal · Telefone 227878120

· E-mail: [email protected] · Página

na internet http://www.parquebiologico.pt ·

Conselho de Administração José Miranda

de Sousa Maciel, Nuno Gomes Oliveira,

Serafim Silva Martins, José António Bastos

Cardoso, Brito da Silva · Publicidade

Jornal de Notícias · Impressão Lisgráfica -

Impressão e Artes Gráficas, Rua Consiglieri

Pedroso, 90 · Casal de Santa Leopoldina ·

2730 Barcarena, Portugal · Capa Honckenya

peploides, sapinhos-da-praia, em primeiro

plano; foto de Henrique N. Alves.

Esta revista resulta de uma parceria entre o Parque Biológico de Gaia e o “Jornal de Notícias”

Verão 2011

SUMÁRIO 3

Os conteúdos editoriais da revista PARQUES E VIDA SELVAGEM são produzidos pelo Parque Biológico de Gaia, sendo contudo as opiniões nela publicadas da responsabilidade de quem as assina.

portfolioHá plantas que florescem adaptadas ao ambiente dunar. Pedindo apenas para não ser pisada, esta flora estabiliza as dunas e desempenha papéis insubstituíveis nos circuitos de interdependência da diversidade da vida.

38 LÍQUENESentrevistaSeres vivos muito simples que constituem uma simbiose de um organismo formado por fungos e algas, os líquenes terão inventado em primeira-mão a agricultura. Joana Marques troca em miúdos o que deve saber sobre estes seres fantásticos, os líquenes.

46 PAISAGENS ACÚSTICASpesquisa

Uma equipa está a realizar a gravação de sons naturais, um pouco por todo o país.Pretende documentar o mundo em constante mudança. Saiba porquê...

SECÇÕES

9 Ver e falar

11 Cartoon

12 Fotonotícias

18 Quinteiro

21 Contra-relógio

25 Dunas

28 Espaços verdes

42 Reportagens

50 Migrações

56 Actualidade

59 Biblioteca

62 Crónica

JG

15 QUANDO AS DUNAS SORRIEM

Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 3

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4 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Respondendo a esses pedidos, foram realizadas muitas dezenas de acções no Parque Nacional de Peneda-Gerês, na Mata Nacional

das Dunas de S. Jacinto e noutros sítios a meio dia de viagem por autocarro, no máximo. Mas esses sítios não estavam preparados e equipados para o objectivo: faltavam centros de acolhimento, percursos marcados, informação, equipamentos para desenvolver os trabalhos, etc.No sentido de melhorar a situação, em 1978 a associação instalou o primeiro percurso de descoberta da Natureza de Portugal, na mata que viria a ser, no ano seguinte, a Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, e preparou um guia desse percurso e um diaporama de apresentação.Mas havia o problema da distância; para uma escola do Grande Porto uma visita à Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto demorava pelo menos um dia, o que tornava muito complicado coordenar os horários escolares.O aluguer do necessário autocarro era também muito caro, se tomarmos em conta os orçamentos das escolas (orçamento anual médio duma escola, nos anos 70, para visitas de estudos: 100 euros - Preço dum autocarro por dia, nesse tempo: 75 euros).Pensámos, então, procurar na periferia do Porto, na área rur-urbana, a área das velhas

quintas, na maioria já então abandonadas, um local disponível para a instalação de um “equipamento de educação ambiental”. As condicionantes do projecto eram as seguintes:• o terreno devia ter alguns aspectos de

interesse paisagístico e patrimonial (natural e cultural);

• o terreno devia ser de tamanho razoável, para que fosse possível estabelecer um percurso de descoberta da natureza de, pelo menos, 2 km;

• o terreno devia ser propriedade duma instituição pública, porque a associação não tinha dinheiro para o adquirir;

• o sítio devia ser acessível por transporte público, desde o centro do Porto.

Nesse tempo não havia ainda nenhum projecto nem modelo fixado para o “equipamento”, mas havia algumas ideias:

• mostrar a natureza perto da cidade, mas sem fazer uma reserva natural;

• mostrar a fauna, mas sem fazer um jardim zoológico;

• mostrar a flora selvagem, devidamente identificada, mas não fazer um jardim botânico;

• mostrar e preservar o património cultural, mas sem fazer um museu ou ecomuseu;

• mostrar, num espaço único, todos os aspectos do ambiente local.

Com estas ideias e condicionantes, elaborámos um estudo-prévio e começámos as diligências na região, especialmente junto dos municípios, que eram proprietários de muitos terrenos vagos.Em Dezembro de 1981 a Câmara Municipal de Gaia sugere a instalação do “projecto” na Quinta da Cunha de Baixo, em vias de aquisição pelo Município. A quinta seria adquirida em Janeiro de 1981 e a Câmara Municipal cedeu 3 hectares à associação.Havia, então, que baptizar o “equipamento” e elaborar o projecto.Como queríamos mostrar todos os aspectos do ambiente, a ideia imediata foi designá-lo “Parque Ecológico”. Mas, nesse tempo, em Portugal, o conceito de ecologia andava confuso na cabeça das pessoas, e muito politizado, em virtude da criação recente de um partido “ecologista”.Para fugir dessa confusão, e de eventuais equívocos, optámos por chamar ao “equipamento” PARQUE BIOLÓGICO.Tínhamos o nome, só faltava dar-lhe a forma.Perante a total ausência de experiências de centros de iniciação ambiental em Portugal, optámos por realizar uma volta pela Europa, visitando os principais equipamentos com finalidades semelhantes, e colhendo ideias.Com a apoio financeiro do Comité dos Desafios da Sociedade Moderna, da

Por Nuno Gomes OliveiraDirector da Revista “Parques e Vida Selvagem”

4 EDITORIAL

“Parque Biológico” um conceito com 30 anos* Durante os anos 70, uma associação de conservação da natureza

existente no Porto, o Núcleo Português de Estudo e Protecção da Vida

Selvagem recebia muitas solicitações de escolas para organizar e orientar visitas

de estudo, aulas de campo e outras acções de Educação Ambiental

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 5

Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), tivemos a oportunidade de fazer, uma primeira viagem de um mês à França, Grã-Bretanha, Holanda, Suíça e Espanha.De regresso a Portugal, com a máquina fotográfica e os cadernos de apontamentos cheios de ideias novas, houve que as misturar e adaptar em função das possibilidades concretas (o sítio e o orçamento) ao nosso projecto.Do Centro Natureza de Brooadland, do Parque da Sociedade Inglesa da Protecção das Aves, e de muitos outros sítios, trouxemos o modelo do trilho de descoberta da natureza. Do Parque Ornitológico do Teich, de Slimbridge, e do Parque Zoológico de Norwich, vieram os modelos de exposições de animais vivos.Enfim, os quadros de informação, observatórios, fichas de trabalho, os caminhos, e outros aspectos complementares, foram atentamente estudados em cada sítio visitado.O projecto Parque Biológico, finalmente, é o resultado de todas estas experiências visitadas. Em Agosto de 1982 o projecto, designado “PARQUE BIOLÓGICO DA QUINTA DA CUNHA (GAIA) – UM PROGRAMA CULTURAL DE INICIAÇÃO À NATUREZA”, é apresentado à Câmara de Gaia, que o aprova. Em 20 de Março de 1983 o Parque Biológico de Gaia recebe a primeira visita de estudo, da Escola Preparatória Pires de Lima, do Porto.Dadas as dificuldades de meios humanos e materiais que o Núcleo Português de Estudo e Protecção da Vida Selvagem tinha, a instalação do Parque Biológico de Gaia tornava-se complicada e, em Setembro de 1985, a Câmara Municipal de Gaia acordou com a associação assumir o projecto.A partir daí foi uma evolução imparável, quer em área (hoje são 35 hectares), quer em recursos financeiros e humanos (hoje trabalham no Parque Biológico de Gaia cerca de 120 pessoas), quer em iniciativas e, naturalmente, em número de visitantes.

Mas o Parque Biológico de Gaia cresceu também, dentro do Concelho de Gaia, para fora dos seus limites territoriais: em 1997 cria o Parque de Dunas da Aguda, em 2005 o Parque da Lavandeira, em 2007 a Reserva Natural Local do Estuário do Douro – a 1.ª reserva natural local de Portugal –, em 2009 o Parque Botânico do Castelo; assumiu, entretanto, a gestão de todos os espaços verdes e do cordão dunar de Vila Nova de Gaia, tendo hoje à sua guarda cerca de 245 hectares.Mas também foi replicado noutros concelhos: em 2003 é assinado um protocolo com a Câmara Municipal de Vinhais, para criação do Parque Biológico de Vinhais, em 2006 com a Câmara Municipal de Lamego, para reestruturação do Parque Biológico da Serra das Meadas e recentemente, em Abril deste ano, com a Câmara Municipal de Lousada, com idênticos objectivos.Este interesse pelo conceito “parque biológico” fez com que a empresa municipal Parque Biológico de Gaia registasse a marca, no início do ano 2000. Assim, os protocolos celebrados com outras entidades também autorizam o uso da marca nacional n.º 338327, com a simples contrapartida de que cada parque:• respeite rigorosamente a legislação

aplicável, nomeadamente, no que diz respeito à exposição de animais, o Decreto-lei n.º 59/2003, de 1 de Abril e todas as directivas emanadas do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, da Direcção Geral de Veterinária e da Autoridade Florestal Nacional;

• que em todas as acções promovidas seja respeitada a ética ambiental e seguidos adequados procedimentos informativos, formativos e pedagógicos.

• que em local destacado da entrada do parque seja afixado um mapa de localização e informações dos restantes Parques Biológicos existentes, ou que venham a existir, em Portugal, em regime

de reciprocidade, isto é, os outros terão igual informação.

Com esta medida pretendemos proteger os princípios que informaram o desenvolvimento do conceito “parque biológico”, não permitindo que outros, por mero interesse promocional, se apropriem da marca e degradem a sua imagem.Isto porque, hoje em dia, a marca “parque biológico” é, de facto, apetecível se atendermos, por exemplo, às referências na Internet.E é uma marca apetecível até pelas elogiosas referências da literatura especializada internacional; a prestigiada revista Internacional “Zoo News”, Vol. 54, n.º 7, de 2007, dá conta de uma visita às colecções zoológicas de Portugal, feita pelos seus colaboradores Olof Paterok e Jonas Livet, e sobre o Parque Biológico de Gaia escreve: “Fomos avisados [sabemos por quem mas preferimos não o referir neste momento] para não visitar este parque, dado que supostamente seria desinteressante, com apenas alguns animais, mas decidimos de qualquer modo dar uma vista de olhos. Esta acabou por ser uma das melhores decisões em toda a viagem.” Para adiante acrescentar que o Parque Biológico é ”...provavelmente o melhor zoo de Portugal...”.Não sendo tipicamente um zoo, o Parque Biológico desenvolveu uma nova forma de expor animais vivos, mais respeitadora das suas necessidades comportamentais, mais próxima da natureza e mais pedagógica; e é interessante ver que dois dos maiores especialistas mundiais em parque zoológico o consideram ”...provavelmente o melhor zoo de Portugal...”.

O conceito “parque biológico” está, hoje, sedimentado como um equipamento de divulgação e interpretação da Natureza e da

Paisagem, no seu sentido mais amplo.Para isso, um “parque biológico” socorre-

Aspecto do interior do Parque Biológico da Serra das Meadas

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6 EDITORIAL

se de exposições, percursos de descoberta da natureza, painéis de informação e outros recursos.Frequentemente confundido com um “jardim zoológico”, um “parque biológico” não quer seguir o modelo tradicional de exposição de animais, em que o seu ambiente natural e comportamento não são respeitados.No entanto, as pessoas não se contentam com vídeos e filmes sobre a fauna, tendo real necessidade de observações ao vivo, pelo que o “parque biológico” também cumpre essa função.Mas, é bom que se note, o “parque biológico” apenas tem em cativeiro animais domésticos ou, sendo da nossa fauna, que por uma ou outra razão se encontram incapacitados para sobreviverem na natureza. Animais de faunas exóticas não tem cabimento no conceito “parque biológico”.Paralelamente, o “parque biológico” é, também, uma reserva natural onde se protege e fomenta a biodiversidade.É, ainda, um ecomuseu, que conserva e promove as tradições locais, as construções rurais e o artesanato. A boa aceitação que o modelo “parque biológico” tem junto da população reside no facto de ele constituir um memorial da cultura e da paisagem locais onde os visitantes encontram, frequentemente, as referências da sua juventude.Assim sendo, o “parque biológico” desempenha uma das mais importantes funções das zonas verdes, o contacto com a natureza como fonte de equilíbrio psicológico.Esta função é potenciada pela aparente desorganização espacial do modelo “parque biológico”, resultante da recusa do modelo de jardim ou parque formal.De facto no modelo “parque biológico” procura-se preservar a paisagem típica da região, e não recriá-la.Os elementos dessa paisagem – os pombais, os soutos, os carvalhais, os campos de cultivo, os caminhos vicinais, as casas rurais, os moinhos, os ribeiros, os muros, os açudes, a fauna selvagem e a flora espontânea, o homem e a sua cultura – variando de região para região, estão representados no “parque

biológico” e são preservados e explicados ao visitante que ali revê o moinho da sua infância ou a poça de água do ribeiro onde aprendeu a nadar.Da compreensão dessa paisagem e da comparação com a envolvente próxima, resulta uma maior sensibilização para os problemas do ambiente.No modelo “parque biológico”, mais importante do que aprender o nome das árvores ou das aves, é perceber o contraste, largar a estrada e entrar nos caminhos, deixar para trás o barulho dos carros e ouvir os pássaros e o marulhar dos ribeiros, e após umas horas de mergulho no mundo que estamos a perder, regressar à confusão de uma movimentada vila ou cidade.Assim se abrem os olhos e os espíritos para a necessidade de planear o território, de manter amplos espaços verdes nas cidades, de proteger os rios, a fauna, a flora, a construção tradicional, todo um conjunto de valores referenciais da nossa civilização.A educação ambiental é um processo de cativação e envolvimento do cidadão na resolução dos problemas ambientais que afligem a Humanidade; uma boa maneira de começar esse processo é pela demonstração das contradições da vida moderna, e do que isso significa para cada um de nós em termos de qualidade de vida.

Foi, por isso, com muita alegria que estivemos na Serra das Meadas a participar na reabertura ao público do Parque Biológico de Lamego,

após obras e trabalhos de recuperação que tivemos ocasião de acompanhar.As condições naturais deste parque, fruto das acções de florestação e conservação levadas a cabo, no passado, pelos Serviços Florestais, são excelentes. A paisagem, quer no interior do parque, quer na envolvente, é magnífica e a biodiversidade muito interessante, particularmente a bem

conservada mancha de Carvalhal autóctone, da espécie Quercus robur, carvalho-roble ou carvalho-alvarinho, que nos transporta ao passado florestal do Norte de Portugal.Lamego e a região ficam, a partir de agora, dotadas de um equipamento cultural e lúdico de

grande valor e poder de atracção, que importa divulgar.A pequena rede de quatro “parques biológicos” já existente deve ser um motor dessa divulgação, quer difundindo informações sobre os outros parques, em regime de reciprocidade, quer criando nos respectivos sites um espaço comum, proposta que vamos fazer formalmente a todos.Para acabar, refira-se que um “parque biológico” tem de ser, também, um agente de desenvolvimento local, atraindo visitantes e incentivando o turismo. Deve ser um agente da consciencialização ambiental da população, deve ser uma grande escola sem muros, para crianças e “crianças grandes”.Termino com um concelho para os técnicos e animadores do Parque Biológico da Serra das Meadas, e dos outros, citando as palavras do colega Louis Espinassous, animador de Educação Ambiental do Parque Nacional dos Pirenéus franceses:“... se um dia te aborrecer calçar as botas e fazer uma visita de estudo à chuva... Se um dia o primeiro canto do cuco, o primeiro pampilho da Primavera não te fizerem irresistivelmente sorrir... muda de emprego, muda de emprego.Sobretudo, sobretudo se te aborreces, um pouco que seja, com os catraios, ou se eles se aborrecem, mesmo um pouco, contigo... muda de emprego. Muda de emprego, se um dia deixares de te alimentar da pequena luz traquina que se acende nos seus olhos, se deixares de beber os seus gritos estridentes de entusiasmo...Mas se ouvires atrás de ti a voz de um miúdo murmurar: “É bestial como este tipo está contente por estar connosco!”Então, continua, continua, continua.”

Da direita para a esquerda: Manuel Coutinho, Vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Lamego, Dr. Nuno Gomes Oliveira, Administrador do Parque Biológico de Gaia e Engº. Francisco Lopes, Presidente da Câmara Municipal de Lamego

* Adaptado do texto apresentado na reabertura do Parque Biológico da Serra das Meadas, Lamego, em 6 de Junho de 2011.

6 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 7

OPINIÃO 7

Em Março de 2007 fiz o ponto da situação dos espaços verdes

e de conservação da natureza em Vila Nova de Gaia e das perspectivas

de evolução desta componente do nosso território. Nessa altura, estimou-se

a sua área em 113 hectares, ou seja, 3,63 m2 por habitante e apontei

como objectivos de crescimento, a curto prazo, os 5,67 m2 por habitante,

tendo em atenção os projectos em carteira

Ambiente a nível europeu

Por Luís Filipe MenezesPresidente da Câmara Municipalde Vila Nova de Gaia

Com a conclusão das obras e trabalhos de ajardinamento dos últimos 14 000 m2 do Centro Cívico de Gaia, ao lado dos Paços do Concelho, que ocorreu no passado dia 31 de Maio, podemos actualizar as contas e afirmar que já atingimos os 7,86 m2 por habitante e, com os trabalhos previstos e em curso, poderemos atingir em breve perto de 10 m2 por habitante, o que nos coloca ao nível das médias das cidades da Europa do sul.A construção do jardim do Centro Cívico

custou mais de 200 mil euros, e a sua manutenção será muito dispendiosa, e tão mais cara quanto menos os utentes tratarem bem deste espaço verde.Iniciaremos dentro de dias a fase final de construção do Parque da Ponte Maria Pia, na Serra do Pilar e, logo que possível, a instalação do Parque do Vale de S. Paio, em Canidelo, que vem complementar a Reserva Natural Local do Estuário do Douro, inaugurada em Setembro passado, juntando o lazer à conservação da natureza.

O projecto municipal “Encostas do Douro”, em pleno desenvolvimento, vai também criar a oportunidade de novas zonas verdes de recreio e lazer ao longo da orla fluvial, com a deslumbrante paisagem do vale do Douro. A qualidade de vida urbana passa, e em muito, por espaços verdes públicos, especialmente parques, onde se possam retemperar as forças de um dia a dia de trabalho. Continuaremos a aproveitar todas as oportunidades para dotar Gaia destes equipamentos fundamentais.

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Tem sido uma preocupação constante da Câmara Municipal de Gaia,

desde sempre, mas com particular ênfase neste Ano Internacional

das Florestas, conseguir lugar para as árvores na cidade, na certeza que,

além de elemento embelezador, são um contributo para a melhoria

da qualidade do ar e para a redução do efeito de estufa

Bosques urbanos

Mas numa cidade com as características de Vila Nova de Gaia, que cresceu em torno de aglomerados antigos, com ruas e passeios estreitos, com poucos espaços verdes públicos, é difícil encontrar espaço para a plantação de árvores, pelo que temos privilegiado os grandes espaços, como os Parque da Lavandeira, S. Caetano, Crestuma ou Parque Biológico.No âmbito da campanha de sequestro de Carbono, que lancei em Março de 2008, no

Parque Biológico, tem sido possível reunir contributos de mecenas, pessoas individuais, escolas, e empresas, exactamente com esse objectivo de adquirir floresta. Como resultado dessa campanha, esperamos poder iniciar a sua segunda fase de ampliação do Parque Biológico, prevista no Plano Director Municipal e, assim, alargar substancialmente a área de bosques urbanos, sumidouros de carbono.Para dar força a essa campanha, no próximo

Outono decorrerá em Gaia um grande evento sobre bosques urbanos, que se deseja seja o arranque de um ambicioso processo de recuperação e aumento da área florestal do Concelho contribuindo, assim, para a fixação de carbono, compensando as emissões de dióxido de carbono que a actividade humana necessariamente produz, e que estão a ser uma das causas do aquecimento global do planeta, fenómeno que importa parar com urgência.

Por Marco António Costa

8 OPINIÃO

8 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

João L. Teixeira

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VER E FALAR 9

Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 9

Os leitores mandamA revista de Primavera soltou-se de entre as páginas

do «Jornal de Notícias»: por isto ou por aquilo

há sempre questões a colocar

Pombos Em 21 de Abril, Manuel Ferreira escreve: «Como cidadão interessado em questões ambientais, gostaria de tirar uma dúvida sobre os pombos da Área Metropolitana do Porto. Verifica-se que os pombos da cidade do Porto têm uma grande incidência de problemas nas patas – será consequência das feridas provocadas pelos sistemas anti-pombos? Serão malformações provocadas por algum produto químico para os controlar? É lamentável se for isso, pois conheço algumas cidades europeias e nunca vi semelhante fenómeno! Grato desde já pela vossa melhor atenção, subscrevo-me, com os meus melhores cumprimentos».Assunto técnico, foi encaminhado a Vanessa Soeiro, médica-veterinária, que alinhou esta palavras: «É certo que se vêem muitos pombos com alterações/deformações grosseiras dos membros inferiores, mas não podemos de imediato associar a métodos de controlo de população utilizados pelos municípios. Desde logo, não sei que métodos estão a ser utilizados pela Câmara Municipal do Porto, mas podemos também pensar que, dada a enorme população destas aves naquela cidade em que numerosos edifícios abandonados servem de local de abrigo e de nidificação, a transmissão de uma série de doenças (entre elas algumas viroses) está favorecida pela concentração de indivíduos naqueles locais. A varíola aviária é um exemplo de patologia que pode causar lesões na pele, nomeadamente nas patas, comissuras do bico e pálpebras. Estas feridas podem infectar e provocar deformações como aquelas que refere, e outras».

SardõesPedro Pereira escreveu: «Tive conhecimento da vossa revista no ano passado através do JN, gostei dos vossos artigos. Fui pesquisar e fiz o download de todas as revistas. Fiquei especialmente interessado nos artigos de fotografia da natureza e do “Quinteiro”, até já coloquei ninhos no meu jardim este ano.No Parque de Avioso, na Maia, onde normalmente passeava, tirei estas fotos (…). Continuem o excelente trabalho que têm feito nesta área, pois é um óptimo trabalho, tanto que já estou à espera da próxima edição».

Tordos no trabalhoApela também Ana Mota: «Gostaria de pedir a vossa colaboração na identificação de uma ave que há dias apareceu perto do meu local de trabalho, chamando a atenção pelo seu piar. Consegui fotografá-la hoje e junto envio as fotografias».A resposta seguiu: «É um tordo-comum, Turdus philomelos. Essa espécie canta muito bem e a ave que nos mostra é possível que faça parte de um par que esteja a fazer ninho nas redondezas. Consegue-se ver essa mesma espécie todo o ano e, por vezes, aparece com alguma frequência nas sessões de anilhagem científica de aves selvagens. As várias espécies de tordo são parentes próximos dos melros».

Fórum AmbienteMaria João Azevedo conta-se entre os vários leitores que responderam ao apelo lançado nesta revista no sentido da Biblioteca poder completar a sua colecção da publicação “Fórum Ambiente”. Diz em 21 de Abril :

«Após a leitura da revista “Parques e Vida Selvagem” n.º 35, tomei conhecimento que o Centro de Documentação do Parque Biológico de Gaia procura para a sua Biblioteca alguns números da antiga revista “Fórum Ambiente”. Como tal decidi contactar-vos dando conhecimento que possuo a colecção completa da referida revista, pelo que estarei disponível para a entrega da mesma, caso assim o pretendam».

Massaroco do Porto SantoEm 19 de Abril Raimundo Quintal escreve: «No sábado passado, integrado num grupo de 26 elementos da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal, fiz uma visita de estudo no Porto Santo. No Pico Branco, como era expectável, tivemos oportunidade de observar em plena floração muitos exemplares de Echium portosanctensis, um arbusto endémico do Porto Santo, com extraordinárias inflorescências cor-de-rosa.Este Echium só muito recentemente foi classificado como uma espécie diferenciada das espécies há muito conhecidas na Madeira (Echium candicans e Echium nervosum). O artigo científico, onde são revelados os caracteres morfológicos que confirmam a separação das outras espécies do seu género, publicado nos “Anales de Jardin Botánico de Madrid”, vol. 67 (2): 87-96, Julio-diciembre 2010, é da autoria dos investigadores José Augusto Carvalho, Tânia

Pontes, Maria Isabel Batista-Marques e Roberto Jardim.

O Echium portosanctensis multiplica-se muito

bem por semente. As próximas

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10 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

10 VER E FALAR10 VER E FALAR

semanas serão o período ideal para colher sementes. Sugiro à Direcção Regional de Florestas e à Câmara do Porto Santo uma campanha de colheita de sementes, seguida duma grande sementeira com o objectivo de disseminar este extraordinário arbusto pelos jardins e estradas do Porto Santo.Pelo seu valor científico e pelo seu extraordinário desempenho ornamental o Echium portosanctensis ou Massaroco do Porto Santo deveria ser divulgado internacionalmente com a designação de Pride of Porto Santo.Peço antecipadamente desculpa se estiver a cometer o erro de afirmar que esta extraordinária planta exclusiva do Porto Santo nunca foi usada como imagem forte na promoção turística da Ilha, que padece do estigma da aridez e da falta de flores».

Mais revistasOs pedidos de aquisição de revistas mais antigas, por parte de vários leitores, continuam a chegar.

Como entretanto já não há exemplares em armazém para atender a todos os pedidos, a alternativa de reunir uma colecção completa recai na internet: basta ir ao site www.parquebiologico.pt, procurar Recursos e aí Revistas — as anteriores edições da revista «Parques e Vida Selvagem» estão aí disponíveis.

Novo ninhoJorge Silva, delegado regional do Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens, fala-nos da existência de mais um ninho de cegonha-branca na sua zona: «Durante os últimos dias de Fevereiro deparámos com duas cegonhas-brancas a sobrevoarem a Zona Húmida da Veiga de S. Simão que resolveram fixar residência no alto de um poste eléctrico. A espécie é pouco comum nesta zona, embora nos últimos anos existam registos: um casal em Lanheses (2010/2011), outro em Santa Marta de Portuzelo (2009/2010/2011) e outro em Arcozelo (2010/2011)». As cegonhas costumam

frequentar zonas húmidas, terrenos abertos ocupados com pastagens ou pousios, searas, montados abertos, charcas, açudes, pauis, rios, ribeiras, lameiros, lagoas costeiras, estuários e arrozais. Não esquecer: «Estas aves encontram-se legalmente protegidas pela Directiva das Aves e pela Convenção de Berna e a espécie está classificada como Vulnerável. Fazem parte do património natural que é de todos e que não podemos negar às gerações futuras».

Melro malhado

Em 6 de Maio diz Rui Ferreira, de Paredes: «Primeiro quero dar os parabéns pelo excelente trabalho na construção desta notável revista, que começa a ser uma referência na divulgação ambiental. Mas o meu verdadeiro motivo para vos escrever foi o facto de ao ler o artigo “Anilhagem científica de aves selvagens” (revista n.º 35, pág. 33) onde referem a captura de um melro, Turdus merula, com penas brancas. Isso faz-me reconhecer o mesmo fenómeno num outro melro que nasceu no jardim de casa dos meus pais (concelho de Paredes). Acrescento a curiosidade: as manchas brancas mantêm-se desde juvenil até hoje, se não me falha a memória, três anos. Pensava inicialmente que seria sujidade, mas já o apelidamos de “melro malhado”. Envio uma das fotos da ave».

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 11

CARTOON 11

Conheça as edições do Parque

Desejo adquirir os seguintes títulos nas quantidades indicadas:

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Faça a sua encomenda, preencha com os dados:

Por Ernesto Brochado

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12 FOTONOTÍCIAS

12 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

12 FOTONOTÍCIA

Caiu que nem um pato!

Mais surpreendente do que capturar um gavião, um peto-verde ou um pica-pau-malhado-grande foi,

para o grupo de anilhagem científica de aves selvagens em serviço no Parque Biológico de Gaia, encontrar preso na rede um pato-real…É possível que esta espécie já tivesse batido nas redes colocadas, mas dada a sua dimensão dificilmente se esperaria que a ave permanecesse retida nas malhas que, de tão finas e escuras, à sombra, ficam quase invisíveis. Além disso, na anilhagem de anatídeos – o grupo dos patos-bravos – normalmente não se usa este tipo de rede mas sim armadilhas. Sem ligar a qualquer tipo de metodologia, esta ave foi mesmo capturada gerando uma atmosfera de surpresa entre os anilhadores credenciados e os formandos.Recolhido e transportado à mesa de anilhagem, na quinta do Chasco, é neste momento que o olhar assustado do pato-real perante o alicate próprio para esta actividade parece dizer: «Ai que lá vou eu para o arroz...». Antecipação errada! Tratou-se apenas de colocar na pata deste pato-real macho uma anilha com um código alfanumérico – M23454 – capaz de o identificar entre os milhões de aves da mesma espécie na sua ampla área de distribuição. A colheita dos chamados dados biométricos – o tamanho do bico, comprimento da asa e, entre outros parâmetros, o peso – foi retirado mas passou ao lado das folhas de registo, uma vez que não existem certezas de ser um indivíduo selvagem e, se for de cativeiro, poderia introduzir erros nos dados. Numa eventual recaptura, a nova colheita de dados e respectiva localização permitirá uma comparação de elementos úteis no conhecimento ornitológico.Uma vez devolvido à liberdade, era vê-lo voar! «Desta já me safei!», e perdeu-se de vista.

Quando este grupo de trabalho de anilhagem científica caminha para o seu quinto aniversário de actividade neste Parque – em 14 Outubro – nesse mesmo dia, 21 de Maio, foram anilhadas e recapturadas já com anilha 27 aves,

concretamente milheirinhas, carriças, piscos, toutinegras e chapins, sendo já uma parte crias nascidas em 2011.

Foto: Daniel MachadoTexto: Jorge Gomes

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 13

Depois disto, confesso que é difícil deixar de crer que existe algum tipo de contenda entre os botânicos e as suas

sogras... não lhe parece? Quando ouvi no Biorama* pela primeira vez a designação fiquei na dúvida se seria o verdadeiro nome vulgar da espécie. Fui prontamente esclarecido: é mesmo nome vulgar desta espécie de cacto-barril, o Echinocactus grusonii. Vá lá que os hífenes de assento-de-sogra sustentam a diferença da designação desta planta de ambientes desérticos, mas as regras da língua portuguesa não sustêm o impacto de uma imagem subjectiva em que alguém se vá sentar no vegetal geometricamente delineado que, embora do grupo das suculentas, se reveste de generosos espinhos.Tratar-se-á de um grito de revolta ou de uma saída humorística?Perguntar a alguma das abetardas que ali cercam o assento, profundamente territoriais, não adiantará nada. Mas configura-se mais acertada a segunda leitura e, uma vez que sou do sexo oposto, não me sinto picado... À revelia, os pensamentos ribombam como uma trovoada estival e atiram-se a explicar a pulsão de quem soprou o nome na praça pública com sotaque naturalmente brasileiro: surgiria porque poucos gostam de ser paus-mandados? Ou porque a monogamia é um preceito legal tão enraizado na nossa cultura que, juntar-se com uma, suporia não agregar outra? Bem, como isto já está a ficar nublado, é altura de pensar em ângulos menos contorcidos. A planta da família das Cactáceas não tem nada a ver com estas guerras de alecrim e manjerona e os seus espinhos desenham, isso sim, uma resposta de adaptação ao ambiente, quer para diminuir a temperatura do ser vivo quer para o defender da gula dos herbívoros. De uma ou de outra maneira, a planta, cuja distribuição nativa recai em regiões mexicanas, apesar de ser um dos cactos mais cultivados no Mundo, no estado selvagem já é muito difícil de encontrar, pelo

Vai um assento-de-sogra?

que se tornou uma espécie ameaçada com estatuto de conservação crítico. Voltadas estas e outras páginas, dizem os botânicos que depois dos vinte anos de idade, e indiferente a qualquer guerrilha antropomórfica, este ser vivo pouco dado a fazer a barba já é capaz de exibir flores… amarelas.

Foto: Daniel Machado Texto: Jorge Gomes e Henrique N. Alves

(*) Biorama: exposição do Parque Biológico

de Gaia que reconstitui vários biomas – ou

grandes comunidades ecológicas do nosso

planeta – tais como a savana, a floresta

tropical e o ambiente mesozóico.

FOTONOTÍCIA 13

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14 FOTONOTÍCIA

14 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Cágados com pinta

Embora no nosso país se registem duas espécies de cágados autóctones, um é decerto bem mais conhecido que o outro.

O cágado mais fácil de ver é o cágado-mediterrânico, Mauremys leprosa, cuja cor dominante é esverdeada. Mais difícil de observar, até porque as suas populações se encontram em regressão, é o cágado-de-carapaça-estriada, Emys orbicularis, de tamanho idêntico. Se a carapaça tem menos limo, vêem-se estrias radiais de cor amarela que contrastam com o fundo verde-escuro. Quando se consegue dar uma olhadela ao pescoço, detectam-se as típicas pintas amarelas. Como estão ambos os répteis ameaçados por diversos factores a que se soma a concorrência de cágados exóticos, sobretudo de origem norte-americana, surgiu o Projecto Life Trachemys, co-financiado pela Comissão Europeia.

O objectivo desta iniciativa é «diminuir a perda de biodiversidade aquática em 17 zonas húmidas de Portugal e Espanha através da erradicação das espécies selvagens de tartarugas exóticas e da criação em cativeiro de cágados-de-carapaça-estriada para posterior repovoamento». O Projecto Life Trachemys (1) está já em execução em ambos os países e envolve instituições diversas. A candidatura foi apresentada pela Conselleria de Medi Ambient - Generalitat Valenciana e tem como parceiros em Portugal o CIBIO da Universidade do Porto, o Parque Biológico de Gaia e o Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens (RIAS).Na fotografia, Ana Alves, engenheira zootécnica do Parque, explica que tinham acabado de chegar duas fêmeas grávidas de cágado-de-carapaça-estriada capturadas, com a devida licença, no

Algarve, numa das zonas de acção do projecto: assim que os ovos estejam postos serão novamente transportadas para os seus locais de origem, prosseguindo o curso normal da sua vida em liberdade. Fica o apelo: «Detectando alguma tartaruga exótica num habitat em que seria de esperar não a ver – como ribeiros, albufeiras, lagos – por favor, colabore connosco enviando-nos essa informação. A erradicação de cágados exóticos é importante porque na natureza estes competem com as espécies autóctones».(2)

Mais: www.cma.gva.es/lifetrachemys

Foto: Daniel MachadoTexto: Jorge Gomes

(1) - LIFE 09 NAT/ES/000529.

(2) - Contacto no Parque Biológico de Gaia:

[email protected]

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 15

PORTFOLIO 15

Verão é tempo de praia e isso quer dizer que onde existem dunas há dezenas de espécies de plantas que florescem adaptadas a um ambiente tão arenoso que evoca um deserto.Sem se queixar, pedindo apenas para não ser pisada, esta flora estabiliza as dunas e desempenha papéis insubstituíveis

nos circuitos de interdependência da diversidade da vida.Para o ajudarem a ver um punhado destas espécies mais de perto, alguns fotógrafos deram ao dedo. Conhecê-las pelo nome pode criar laços, cumplicidade: lírio-da-praia... silene-do-litoral, cardo-marítimo, botão-das-dunas, chapeleta, mostarda-das-dunas, gládio e... muitas mais.

Quandoas dunas sorriem

Silene-do-litoral, Silene littorea

Lírio-da-praia, Pancratium maritimum

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16 PORTFOLIO

16 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

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Cardo-marítimo, Eryngium maritimumGládio, Cyperus capitatusCentáurea-das-dunas, Centaurea sphaerocephala subsp. polyacantha – endemismo ibérico

Mostarda-das-dunas, Coincya johnstonii – endemismo do litoral do distrito do Porto

Chapeleta, Calystegia soldanella

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 17

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Botão-das-dunas, Jasione lusitanica – ocorre apenas no litoral do Noroeste peninsular

Morganheira-das-praias, Euphorbia paralias

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Cardo-marítimo, Eryngium maritimum

Mostarda-das-dunas, Coincya johnstonii – endemismo do litoral do distrito do Porto

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Morrião-azul, Anagallis monelli

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18 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

18 QUINTEIRO

18 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Lurdes Viegas mora em Carregado, no distrito de Lisboa, e foi o caso mais recente entre os que chegaram ao conhecimento

da revista Parques e Vida Selvagem. Explica que «numa das visitas em família ao Parque Biológico, participámos numa actividade do primeiro sábado do mês, na qual trouxemos uma caixa-ninho». Apesar de ter composto peça a peça o ninho artificial, agora que o tinha nas mãos pensava em como iria aplicá-lo no seu jardim.Não foi fácil a decisão, mais ainda porque

Caixa-ninho ou caixa-surpresa?

10 de Abril, domingoSem querer perturbar, não fosse o casal de chapins abandonar o ninho, passados dias abrimos a tampa e lá estavam dois ovos!Quando alguém participa

numa actividade de

construção de caixas-

-ninho para aves que

gostam de nidificar

em buracos

– como os que muros

rústicos e árvores velhas

oferecem – tem uma

de duas atitudes:

ou não acredita

que aquilo funcione

e fica por aí ou então

dá o benefício da

dúvida e, sem hesitar,

experimenta...

26 de Abril, terça-feira

Hoje já havia uns seres minúsculos (não

consegui perceber quantos), ainda com cascas

de ovo em volta, o que nos leva a deduzir que

tenham nascido um ou dois dias antes.

4 de Maio, quarta-feiraPela primeira vez ouvimos chilrear quando os pais entravam no ninho com comida. Não dava para distinguir o que levavam, pois entram com imensa rapidez.

6 de Maio, sexta-feira Se aproximar os ouvidos da caixa ouço as crias.

30 de Abril, sábado Ocorreu uma situação engraçada observada pelo meu marido: um dos progenitores entrou no ninho com uma espécie de minhoca no bico e voltou a sair tal como entrou, pousando numas canas que temos nas traseiras, e pondo-se a chilrear com a minhoca no bico. Não tinha noção que era possível.

de permeio se metiam outros assuntos: «Depois de um ano a ponderar, decidimos colocá-la na parede da casa, debaixo da aba do telhado, pois as árvores que temos são baixas e de fácil acesso a gatos». E eis que, «quando já não acreditávamos que fosse possível, em meados de Março deste

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 19 Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 19

Caixa-ninho ou caixa-surpresa?

19 de Maio, quinta-feira Os nossos inquilinos foram embora e nem a renda pagaram.Pois é, ontem choveu o dia todo, pelo que só de manhã, quando abri a janela, observei um dos progenitores a regressar ao ninho com alimento – mesmo a chover andou às voltas enquanto eu estava visível, evitando dirigir-se ao ninho.

Hoje de manhã, ainda estava deitada, ouvi um som que me pareceu a caixa a movimentar-se (como já tem acontecido em dias de vento mais intenso), fui ver mas não havia sinal de movimento. 14 de Maio, sábado Os chapins-filhotes encontravam-se no ninho, chilreando como habitualmente e o meu marido resolveu fotografá-los. Encontrava-se na varanda, preparado para subir ao muro, quando aparece um dos progenitores com uma lagarta verde no bico (foi um alimento que se repetiu frequentemente). Quando esta ave viu o meu marido, pousou no telhado em frente emitindo um extenso chilrear. Nesse momento fez-se silêncio total dentro da caixa. Mesmo assim, o meu marido subiu e obteve a foto (em cima) que envio e mostra a posição em que eles se colocaram quando ouviram o aviso do progenitor.

9 de Maio, segunda-feira Observei o chapim a descansar no gradeamento da varanda antes de entrar na caixa (pena não ter a máquina comigo pois foi cedo - 8h00 - quando abri a janela) e tinha uma aranha no bico que, contando com as patas, ultrapassava o diâmetro da cabeça do pássaro.

12 de Maio, quinta-feira Hoje já se ouvem dentro de casa, mesmo com vidros duplos. Identifica-se claramente quando os progenitores entram no ninho, pois o volume aumenta significativamente.Observei o chapim a sair com algo no bico

(devia ser o serviço de limpeza*). Tenho notado que a partir das 20h30/21h00 faz-se silêncio.

Fiquei cerca de 15 minutos a aguardar e nada. Como havia muita passarada por perto, não consegui distinguir se havia chilrear dentro da caixa. Durante o dia não vi movimentação e quando o meu marido chegou, ao final da tarde, foi espreitar a caixa e só lá estava o ninho (foto). Engraçado, estava à espera de que, quando abandonassem o ninho, ficassem algum tempo por perto. Os pássaros que nasceram na janela da casa da minha vizinha saíram na semana passada e todos os dias os observo a serem alimentados pelos pais em cima do telhado ou nas árvores em redor, mas estes não os vi mais. Penso que acaba aqui a história dos chapins. No entanto, vou ficar atenta!

ano vimos um chapim pousado no orifício da caixa-ninho».Estaria a ave a explorar espaços adequados à nidificação ou já teria mesmo adoptado este ninho artificial de madeira?Professora de Ciências da Natureza, Lurdes diz que lá em casa ficaram mais atentos

ao movimento destes chapins-azuis: «Observámos que o casal visitava a caixa-ninho regularmente e levava palhinhas no bico». Não tardou muito e, «de cima do muro da varanda, levantando a tampa, verificámos que estava em curso a construção de um ninho»...

Texto: Jorge Gomes Fotos: Jorge Varatojo

* É habitual estas aves retirarem do ninho as fezes das crias. Os entendidos na matéria dizem que é uma forma de evitar a presença de indícios que atraiam predadores.

Nest-box or box-surprise? When someone prepares nest boxes for birds that usually build their nests in holes, such as in walls and old trees, two points of view should be considered: either they do not believe that the boxes will give a positive result or they give the birds the benefit of the doubt and without hesitation, try. This reader was converted and by his observations of a pair of Bluetits kept a diary to share with you here.

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 21

Carvalhal: um bosque multisserviços

Quando a luz da manhã toca as folhas do bosque, o ar fica mais leve. A brisa quer soltar uma gargalhada subtil e as ramagens aquietam-se como se guardassem segredos de fadas e duendes. Mesmo que o musgo e a manta-morta do solo possa ter sido consumida, resistente, o carvalho-alvarinho engendra caminhos para ressurgir onde parecia ter soçobrado.Se as raízes encontram granito esboroado, a regeneração do bosque avança em poucos anos, mas se o xisto domina, há que ter mais paciência. Dentro de um carvalhal bem conservado ninguém encontra uma única erva, ouviu-se da boca de Jorge Paiva, botânico, na mata da Margaraça, com evidente pendor mediterrânico.

E, realmente, ali, em lugar de herbáceas surgiam fetos. No meio do bosque as folhas fazem um conjunto redondo, autêntica parabólica a captar os menores fragmentos de luz que atravessam o tecto do carvalhal feito de copas entrelaçadas. Em baixo, as camadas de folhas humedecidas inibem incêndios. Na orla, com maior luminosidade, esses mesmos fetos descaem lateralmente, à maneira de uma cascata de água, de permeio com diversos arbustos com gosto pelo seu lugar ao sol. Hoje não é fácil encontrar um carvalhal pouco perturbado. O consumo humano deixou ao longo de inúmeras gerações marcas evidentes.

Se bem que há uns tantos milénios parecessem um poço sem fundo, estes carvalhais foram sendo consumidos, século após século, à exaustão.

Mudam-se os temposParte da madeira destes bosques foi gasta em dois momentos excepcionais da história. Primeiro, na época dos Descobrimentos. Naus e caravelas fizeram-se ao mar. À medida que uma imergia, outras cinco surgiam. Mais tarde, tornou-se necessário construir caminhos para um veículo de ferro, pesado, na época um prodígio do universo dos transportes. Na construção dos

Se juntar a purificação do ar à defesa da água, à protecção do solo

e da biodiversidade, neste Ano Internacional das Florestas vai deparar

com a ponta do icebergue do conjunto de bens e serviços

que um bosque de carvalhos é capaz de lhe oferecer de mão beijada

CONTRA-RELÓGIO 21

Bogalho: a resposta imunitária à picadela de um insecto As bolotas começam a aparecer no Estio

Março: a bolota germina na altura certa se não perder contacto com a terra Abril: carvalho-alvarinho em flor

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22 CONTRA-RELÓGIO

22 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

O bosque nativo da região litoral nortenha encontra no carvalho-alvarinho, Quercus robur, a espécie ex-líbris

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DUNAS 23

Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 23

caminhos-de-ferro foram necessárias boas traves, e mais traves, do Minho ao Algarve.O desbaste de troncos dos terrenos férteis deixava ao desbarato a boa terra para agricultura que os carvalhais criaram. Também as fontes de água guardadas pelas rochas vestidas de vegetação foram chamariz para diversos povos que ocuparam noutros tempos a região.

Carvalho-alvarinhoO bosque nativo da região litoral nortenha encontra no carvalho-alvarinho, Quercus robur, a espécie ex-líbris.Entre o clima de dominância atlântica e os solos disponíveis, este carvalhal sentiu-se como peixe na água.No Verão já se consegue distinguir as bolotas nas ramagens.A preferência deste carvalho recai nos solos graníticos ou xistosos profundos e frescos, que atapetam os vales e encostas com declive pouco acentuado. Pouco tolerante ao frio invernal, este carvalho

escolhe locais com clima húmido, oceânico, onde não se faça sentir a secura estival. Normalmente vive até aos 600 metros de altitude, mas pode subir até aos mil metros.A maioria destes bosques, muito produtivos, foram no passado transformados em pastos e cultivos. Os carvalhais distribuem-se pelo Noroeste de Portugal, sendo as serras da Estrela e Lousã o seu limite sul e as serras da Peneda, Amarela, Gerês, Cabreira e Marão, Montemuro e Caramulo o seu limite a leste.De forma pontual pode aparecer mais a sul, em locais onde a humidade o permita. O carvalho-alvarinho é uma espécie monóica. Leva esse dito por possuir flores masculinas e femininas na mesma árvore, mas, espertalhão, dessincroniza-as. Foge assim ao inconveniente de se fecundar a si próprio, o que traria perda de diversidade genética.É em torno desta árvore da família das Fagáceas, capaz de atingir largas centenas de anos de vida e de atingir perto de 40 metros de altura, que se abrigam muitas outras espécies.

O catapereiro, uma pereira-brava, dá flores brancas em Março e contagia loureiros e azereiros.Ao pica-rato agrada o ensombramento. Mais conhecida a planta por gilbardeira, Ruscus aculeatus, encontrou quer na Grã-Bretanha quer na Alemanha, designações semelhantes, não fossem os ratos subir aos chouriços pendurados no fumeiro. Na Inglaterra, conhecia-se por Butcher’s Broom, ou seja, vassoura do carniceiro. Azevinhos, abrunheiros e cerejeiras bravias misturam-se ao resto do carvalhal.Ainda assim, apesar de toda esta apologia ao carvalho, note que ao escrever tal palavra há que ter um especial cuidado, não vá o V ausentar-se e criar uma gralha que remete o leitor para o sinónimo proscrito do cesto da gávea… e, com isso, lá vêm de novo as caravelas e o mar.

Texto e fotos: Henrique N. Alves e Jorge Gomes

Setembro: catapereiro com frutos, uma pereira-brava, na orla do bosque O azevinho aparece no meio do carvalhal

A noselha, Merendera pyrenaica, evoca um antigo carvalhal: OutubroA gilbardeira evita a periferia do bosque

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24 BATER DE ASA

24 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

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Aberto todos os dias das 9h às 18hPraia da Aguda • Vila Nova de Gaia

Aquário e Museu das Pescas

O voo das aves

Um número considerável de gaivotas-do-mediterrâneo, Larus melanocephalus, faz da região da foz do Douro um

local importante de paragem durante as suas viagens. Esta espécie de gaivota encontra-se incluída no Anexo I — que inclui as espécies de aves de interesse comunitário cuja conservação requer a designação de Zonas de Protecção Especial – da Directiva Habitats (Decreto-lei n.º 49/2005, de 24 de Fevereiro).É uma das gaivotas do grupo das gaivotas-de-capuz mais atraentes que se pode observar. São especialmente cativantes nesta época, altura em que apresentam a sua plumagem nupcial.Os adultos possuem a cabeça preta, com uma auréola branca a envolver o olho, destacando-se um forte contraste com o bico vermelho com barra preta e patas vermelhas.Há mais de 80 anos Tait dava esta espécie como de presença muito escassa em Portugal, não havendo registos para a zona do Grande Porto, nem estuário do Douro. A verdade é que nessa altura pouco se conhecia sobre esta espécie. No último par de anos, a gaivota-do-mediterrâneo foi registada na Reserva Natural Local do Estuário do Douro (RNLED) tanto na passagem Primaveril (Março a Maio) como no período pós-reprodutor (Junho a Outubro), assim como no Inverno (Novembro a Fevereiro), sendo estimada a ocorrência em dois anos de mais de 150 aves desta espécie.

Há até registo de uma destas aves que foi observada na RNLED em Junho e Agosto de 2010, anilhada enquanto cria em 25 de Junho de 2007 na França, em Oye Plage (Pas-de-Calais). No próximo Outono, com o aumento dos movimentos migratórios,

deverão surgir novos casos, sendo de esperar que as suas anilhas tragam mais novidades.

Mais: www.parquebiologico.pt/userdata/RNLED_avesanilhas.pdf

Plumagem de Inverno

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 25

DUNAS 25

No que toca ao concelho de Vila Nova de Gaia, contam-se cerca de 14 quilómetros à beira-mar. A norte, vem pelo estuário do rio Douro e, a sul, termina na praia da Granja. Entretanto, passa por pontos como

o Centro de Educação Ambiental das Ribeiras de Gaia, a Estação Litoral da Aguda, o Parque de Dunas do mesmo nome, ou por locais de especial interesse geomorfológico como a praia de Lavadores, a poça da Ladra, entre outros.

Preservar as dunas equivale a defender a erosão da linha costeira. Estas plantas são um dos maiores aliados na estabilização do meio dunar. Para sobreviverem, esta flora não precisa de rega, como as do jardim lá de casa. Exigem apenas que não as pisem. Daí os passadiços que marcam a paisagem.O litoral desempenha importantes funções ecológicas na pesca costeira, na migração de aves e insectos, e ainda é um bem economicamente valioso nos sectores do turismo e do lazer.

Aguda: Parque de Dunas

Como a maioria dos seres vivos, as plantas dunares dependem da água doce.Quem diria… Num meio arenoso, a água escoa-se rapidamente. Mesmo assim, no Parque de Dunas da Aguda há cerca de 70 espécies de plantas. Desconfiando do solo em que escondem

as suas enormes raízes, desenvolveram dispositivos naturais capazes de diminuir perdas de água, diante de um sol impiedoso.Um dos pormenores a destacar é a cor. Algumas apostam numa tonalidade cinzenta-clara, que reflecte mais luz.Folhas pequenas menor transpiração, como ensinam os botânicos. Se não chega,

algumas enrolam-se sobre si próprias. Há ainda plantas que usam uma camada serosa, que as impermeabiliza, ou revestem-se de pêlos mínimos, geradores de micro-sombras.Passar neste parque de entrada grátis pode dar-lhe pistas para ver as dunas como nunca as viu: estas estão bem longe de serem meros montes de areia...

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26 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

26 DUNAS

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Estes animais, exclusivamente marinhos, têm sexos separados e as posturas ocorrem uma vez por ano. A fertilização é externa, resultando dela uma larva pelágica que terá de sofrer uma metamorfose até se tornar num animal adulto.As estrelas e os ouriços-do-mar possuem centenas de minúsculos pés ambulacrários de forma tubular (fig. 1), que utilizam para se agarrarem às rochas, se deslocarem pelo substrato, apoderarem-se de alimento ou livrarem-se de resíduos. Trata-se de sacos digitiformes, flexíveis e musculosos, ligados na base. No interior do corpo há um minúsculo reservatório repleto de líquido, ligado ao sistema vascular aquífero. Os músculos bombeiam o líquido do reservatório para o interior dos pés ambulacrários, distendendo-os. O sistema nervoso coordena os pés, puxando e empurrando-os em conjunto,

permitindo o deslocamento do animal. Neste filo encontram-se vários tipos de sistemas digestivos, mas em todos os casos a boca situa-se na face virada para o substrato e o ânus na face dorsal. Os ouriços-do-mar possuem pequenos “dentes” que, com as suas estruturas de suporte, formam a lanterna de Aristóteles, cuja função é raspar as algas das rochas. As estrelas-do-mar, por outro lado, são animais carnívoros e predadores vorazes. Alimentam-se, entre outros, de mexilhões que conseguem abrir com a força dos seus braços (fig. 4). Projectam parte do seu sistema digestivo para o exterior, de forma a realizar uma digestão parcial fora do corpo. Posteriormente, o mexilhão quase liquefeito passa para o seu estômago, onde se completa a digestão. O poder de regeneração dos equinodermes é notável. Uma estrela-do-mar cortada a meio regenera-se, em alguns meses, em duas estrelas-do-mar distintas. O corte de um

braço, desde que deixe algum tecido da parte central, bem como algum tecido nervoso, recupera também facilmente. As estrelas-do-mar Asterias rubens (fig. 2) e Marthasterias glacialis (fig. 3, 4), e o ouriço-do-mar Paracentrotus lividus (fig. 5, 6) são espécies originárias do sublitoral, embora possam abundar no intertidal inferior. Os ofiurídeos Amphipholis squamata (fig. 7) e Amphiura chiajei (fig. 8) estão associados aos bancos de mexilhão (Mytilus galloprovincialis) mas encontram-se também nas cavidades das bases de fixação das laminárias (Saccorhiza polyschides).

Por Mike Weber e José Pedro Oliveira

Flora e fauna marinhas do litoral de Vila Nova de Gaia

ELA - Estação Litoral da AgudaRua Alfredo Dias, Praia da Aguda,4410-475 Arcozelo • Vila Nova de Gaia

Tel.: 227 536 360 / Fax: 227 535 [email protected]

As estrelas-do-mar, os ofiurídeos e os ouriços-do-mar pertencem ao filo

dos Equinodermes, que significa pele com espinhos. Os registos fósseis

mais antigos deste grupo têm cerca de 500 milhões de anos

1. Marthasterias glacialis

5. Paracentrotus lividus 6. Paracentrotus lividus 7. Amphipholis squamata 8. Amphiura chiajei

2. Asterias rubens 3. Marthasterias glacialis 4. Marthasterias glacialis

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 27

Estuário do Douro

Reserva Natural Local

Longe de ser a primeira vez que uma destas aves de rapina migradoras se observa na Reserva Natural Local do Estuário do Douro, a diferença é que desta vez houve registo através de fotografia.É caso para lembrar o antigo provérbio: «vale mais uma imagem do que mil palavras», embora também na verdade haja casos em que várias imagens de nada valem se não forem associadas a palavras

ou números exactos. No caso desta águia-pesqueira, poderia tratar-se de uma ave em migração para territórios de nidificação para norte do nosso país e poderia ter vindo de África onde normalmente as águias-pesqueiras passam o Inverno.*

Entre investigadores há um dado adquirido: a introdução de espécies exóticas num habitat nativo invariavelmente diminui a sua biodiversidade.Compreende-se: o arranque progressivo de espécies como o chorão, e a erva--das-pampas, Cortaderia selloana, prende-se a este nó cego. Onde se instalam, tais espécies tendem a tomar o espaço das plantas nativas e degradam o funcionamento do ecossistema. Se não se intervém observa-se a redução da quantidade de espécies e das interrelações entre as mesmas.Longe de serem as únicas exóticas, as já referidas integram uma longa lista, onde se incluem outras espécies como a erva-gorda, Arctotheca calendula.

Novo NorteNo âmbito do concurso Novo Norte, que premeia acções de excelência no desenvolvimento do território, promovido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), a candidatura do Parque Biológico de Gaia “Reserva Natural Local do Estuário do Douro” foi uma das seleccionadas dentro do grupo “Norte Sustentável”.Encontra mais na internet em www.ccdrn.pt/premios/nomeacoes2011.php

Chorão, Carpobrotus edulis

Em 16 de Maio, segunda-feira, uma águia-pesqueira

andou às tainhas no estuário do Douro...

Plantas exóticas destroem ecossistemas

* Inteire-se de três casos de migração de águias-pesqueiras entre África e a Europa indo a www.parquebiologico.pt, clicando em /Recursos/Revistas e aí deve procurar as páginas 38/39 da edição n.º 29 da revista «Parques e Vida Selvagem».

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28 ESPAÇOS VERDES

28 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Espaços verdes: Centro Cívico

O espaço verde do Centro Cívico (2.ª fase) foi inaugurado na manhã de 31 de Maio com a presença de Luís Filipe Menezes

e de Marco António Costa, respectivamente presidente e vice-presidente do Município. Apresentada a evolução da área dos espaços verdes públicos do concelho de Gaia foi dito aos presentes que há hoje 7,86 m2 de área verde por habitante, mas deseja-se mais, pelo

que poderá atingir em breve 9 m2. Explicou Luís Filipe Menezes que a Câmara Municipal está «a fazer um grande esforço para continuar a fazer coisas, mas com custos controlados». A solução passa «por utilizar meios da autarquia e materiais reciclados ou mais baratos». Ainda sobre a actual gestão camarária, salientou que «o concelho faz um grande aproveitamento dos fundos comunitários».

A ideia de redução de custos é transversal. Segundo Nuno Oliveira, os 14 mil m2, integrados no chamado Centro Cívico de Gaia, custaram cerca de 20 euros/m2. Quanto à manutenção custará «3500 euros/mês», pelo que os usufrutuários terão de usar o espaço com cuidado. Dejectos de animais ou danos provocados por skates ou bicicletas elevam a factura.

Centro Escolar Parque BiológicoFoi lançada pelo presidente do Município de Gaia, Luís Filipe Menezes, a primeira pedra do Centro Escolar do Parque Biológico, no passado dia 20 de Maio: «Estamos a reconhecer a determinação, a força e a vontade da comunidade escolar de Gaia, quer a nível privado quer a nível público», sublinhou. Na proximidade do centro de Avintes, terá 18 salas de aula, entre as quais cinco salas de pré-escolar e 13 salas do 1.º ciclo, servindo 450 alunos. O centro escolar será dotado de mais valências, como auditório, polidesportivo, salas de actividades e outras. A obra estará concluída em Setembro de 2013. A escolha pela construção deste novo centro escolar foi, segundo Menezes, determinada pela unidade territorial da freguesia de Avintes. Esta coerência reforça-se através da proximidade do Parque Biológico de Gaia, «um equipamento que é referência nacional a nível da educação ambiental», salientou o autarca.

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 29

Parque Botânico do Castelo

Parque da Lavandeira

Na sequência da campanha de trabalhos arqueológicos realizada no Castelo de Crestuma o ano passado, que confirmou a importante ocupação tardo-antiga e da Alta Idade Média deste sítio arqueológico, terá lugar este ano nova fase de investigação. Os trabalhos decorrem entre os dias 8 e 26

de Agosto, apenas da parte da manhã. O projecto é desenvolvido pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR/Confraria Queirosiana) e tem o apoio da empresa Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM.Mais informações e bibliografia sobre o

sítio arqueológico e os trabalhos em curso podem ser obtidas na internet em http://confrariaqueirosiana.blogspot.com.Este parque conjuga a vertente de espaço verde de lazer com a sua vocação de sítio arqueológico, onde abundam vestígios de ocupação romana.

Escavações arqueológicas: campanha de 2010

Este Parque fica perto do centro de Gaia, na freguesia de Oliveira do Douro, e resulta da aquisição, pelo Município, da antiga Quinta da Lavandeira. O Parque da Lavandeira proporciona a quem ali se desloca várias vertentes de lazer como percursos pedestres, zonas de merendas, jardins temáticos.Além disso, há iniciativas que se tornam habituais na vida anual deste espaço verde, designadamente as actividades de yoga, com orientação da responsabilidade da Dr.ª Luísa Bernardo, que proporciona a actividade em regime de voluntariado às quartas e sextas-feiras às 9h45. Aos sábados às 10h30 também há outra sessão de yoga. É também neste dia da semana, de manhã, que “As mulheres do

campo vêm à vila”, altura em que ocorre a venda de legumes sem pesticidas. Poderá participar nas actividades de Tai Chi às segundas e quintas-feiras, pelas 9h30. Em 10 de Julho, a Ilha Mágica levou a efeito jogos tradicionais, pinturas faciais, expressão plástica, contadores de histórias, modelagem de balões, construção de papagaios de papel e vira-ventos. Deve também ficar atento à feira do livro (Artes e Letras) com actividades de animação – hora do conto, atelier de pintura, pinturas faciais e jogos tradicionais, isto nos dias 16 e 17 de Julho, 23 e 24 de Julho e 30 e 31 de Julho. Nos domingos 7 de Agosto e 4 de Setembro há Feira de Artesanato. A entrada é gratuita.

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30 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Agenda

ExPoSição coLEcTiVA dE FoTogrAFiA dA NATurEzA “PAiSAgENS NATurAiS” As paisagens reflectem os habitats que sustentam o universo dos seres vivos, segundo os ecossistemas que lhes dizem respeito. Além do vínculo vital, geralmente entrevisto em segundo plano, estes espaços apreciam-se pela estética.Até 26 de Setembro, no horário de abertura do Parque.

SábAdo No PArquEDia 3 de Setembro o Parque prepara algumas actividades especiais para os seus visitantes, sem custos a não ser o bilhete de entrada habitual neste equipamento de educação ambiental. Programa: 11h00/12h00 - Atelier: Anilhagem científica de aves selvagens.14h30/15h00 - Conversa do mês: “Migrações da Natureza”. 15h30/17h30 - Visita guiada pelos técnicos do Parque e percurso

ornitológico. Entre as 22h00 e as 23h30, há ainda observações astronómicas (inscrição necessária), dependendo das condições meteorológicas.

obSErVAção dE AVES SELVAgENSNo domingo de 4 de Setembro, entre as 10h00 e o meio-dia, leve, se tiver, um guia de campo de aves europeias e binóculos à Reserva Natural Local do Estuário do Douro. Com telescópio, estará um técnico do Parque para ajudar os presentes a identificar as aves do Litoral.

coNcurSo dE FoTogrAFiA dA NATurEzA PArquES E VidA SELVAgEM Já abriu a edição de 2011 deste Concurso Nacional de Fotografia da Natureza. Surge agora com mais prémios e disciplinado por categorias. Para participar é obrigatória a leitura do regulamento e o preenchimento

da ficha de inscrição (grátis) que pode descarregar no site www.parquebiologico.pt indo a Actividades/Fotografia. Só até 30 de Setembro!

ESPEciAL FériAS De 18 de Julho até 9 de Setembro, todos os dias úteis, pelas 15h00, uma actividade diferente no Parque Biológico, incluída no preço da entrada, e sem necessidade de marcação.

ViNdiMA Sábado, 24 Setembro, das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 17h00. Para participar deve inscrever-se previamente através do Gabinete de Atendimento do Parque.

ANiLhAgEM ciENTíFicA dE AVES SELVAgENS Nos primeiros e terceiros sábados de cada

Tome nota de alguns destaques das iniciativas do Parque Biológico de Gaia a breve prazo...

Férias no Parque

Deixados os livros escolares

na prateleira e com o tempo a convidar,

os mais novos querem é divertir-se...

Está em curso o programa Férias no Parque, organizado para os mais novos pelo Parque Biológico de Gaia. Feitas a pensar em crianças e

jovens dos seis aos 15 anos de idade, as Oficinas de Verão decorrem nas semanas de 18 a 22 de Julho, de 1 a 5 de Agosto, de 15 a 19 de

Agosto e de 29 Agosto a 2 de Setembro. A entrada diária faz-se às 9h00 e a saída às 17h30.

Por sua vez, os Campos de Verão abrangem crianças e jovens das idades referidas, em regime residencial e não residencial. O primeiro

campo vai de 9 a 16 de Julho. O segundo é de 23 a 30 de Julho. O terceiro campo estende-se de 6 de Julho a 13 de Agosto e o quarto

campo vai de 20 a 27 de Agosto (só para “veteranos”)*.Estes espaços lúdicos e formativos que o Parque criou para os seus filhos fazem-se de ateliers pedagógicos que podem ser consultados em www.parquebiologico.pt indo a Actividades/Campos de férias e

Oficinas. Para participar é necessária inscrição.* Jovens entre os 14 e os 18 anos. As Férias no Parque compõem-se de ateliers pedagógicos

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 31

mês, das 10h00 às 12h00, os visitantes do Parque podem assistir de passagem pelo percurso de descoberta da natureza (Quinta do Chasco) a estas actividades, se não chover.

rEcEbA NoTíciAS Por E-MAiLPara os leitores saberem das suas actividades a curto prazo, o Parque Biológico sugere uma visita semanal a www.parquebiologico.pt. A alternativa será receber os destaques, sempre que oportunos, por e-mail. Para isso, peça-os a [email protected]

Quer ser nosso amigo no Facebook?

MAiS iNForMAçõES Gabinete de [email protected] directo: 227 878 1384430-681 AVINTES - Portugalwww.parquebiologico.pt

Tome nota de alguns destaques das iniciativas do Parque Biológico de Gaia a breve prazo...

Que será isto?

Logo que a revista Parques e Vida Selvagem foi distribuída, dia 20 de Abril, Vera Lúcia Fonseca, da Trofa, envia um

e-mail. Identificada nele correctamente a poupa, Upupa epops, ainda adianta às 8h30 da manhã: «Aprecio muito a revista, tem excelentes artigos. Continuem a fazer um bom trabalho. Com este passatempo ficamos a conhecer melhor as espécies que observamos!», adianta. Estava encontrada a leitora mais rápida a acertar numa das duas espécies publicadas na passada edição desta revista.Apenas 15 minutos depois, Raquel Santos, de Oliveira do Douro, identificava correctamente a borboleta cauda-de-andorinha, Papilio machaon, pelo que ficou atribuído o outro prémio, a obra “Manual do cultivo e confecção do linho”, de Domingos Quintas Moreira. Ambos os livros foram enviados pelo correio aos concorrentes vencedores.Também Pedro Maurício se levantou cedo, mas já não chegou a tempo. Deu-nos às 9h04 um óptimo bom dia e escreveu acertadamente as duas identificações, «só pelo gosto de participar».O mesmo fez, entre outros, Tatiana Pinhal: «Parabéns pela revista! É fantástica!». Voltando a página, quem sabe se não chega agora a sua vez? Para esta edição de Verão, deixamos-lhe as fotografias de um insecto e de um mamífero. É capaz de identificar algum? Se for, não deixe de nos dizer! As fotografias publicadas são sempre de vida selvagem que já foi observada na região.

As respostas mais rápidas recebem como prémio um livro editado pelo Parque, neste caso a obra “Manual do cultivo e confecção do linho”, de Domingos Quintas Moreira.As respostas devem indicar um dos nomes vulgares reconhecidos ou, melhor ainda, o nome científico. Se na sua resposta acertar numa só de ambas as espécies, é igualmente considerada na lista das mais rápidas. Envie-nos o seu e-mail para [email protected] ou carta para Parque Biológico de Gaia Revista PVS - 4430-681 Avintes. O prazo para as respostas termina em 20 de Julho de 2011. Os leitores já premiados em edições anteriores só o serão se não houver outra resposta certa (este item só é válido durante um ano a partir da atribuição do prémio).Então, já sabe o nome de alguma destas duas espécies?

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32 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

A paixão tinha de ser intensa para perderem a cabeça e se evidenciarem desta maneira em demorados enleios. É uma observação rara: duas cobras-de-escada, uma espécie abundante que não é venenosa, nas últimas instâncias do seu namorico. Constritoras, são muito úteis no controlo das populações de ratos. O instantâneo é de Paulo Moreira, em serviço de vigilância no percurso do Parque Biológico de Gaia, mais precisamente no moinho do Belmiro.

Distinguem-se pelas longas pernas vermelhas, pelo bico fino e contraste definido entre branco o preto, os pernilongos, cujo nome científico é Himantopus himantopus.No Parque Biológico de Gaia um casal

resolveu, sem receio algum, fazer ninho à vista de todos os visitantes, à beira de água, com três ovos pintalgados, próprios da espécie, que fazem lembrar os das codornizes.As crias nasceram em 12 de Junho.

«Até hoje, em Portugal já se anilharam cerca de 50 mil morcegos», afirma Maria João Pereira, bióloga ao serviço do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade enquanto ministrava o VI Curso Básico de Identificação Morfológica de Morcegos na tarde do passado dia 7 de Maio, sábado, no auditório do Parque Biológico de Gaia.As 20 pessoas inscritas ouviram a explicação de que a ideia do curso consistia em perceber que havia que sair dali para ir estudar, a fim de aprofundarem o assunto.No curso aprendeu-se que só com uma credencial do ICNB é que se pode manusear estes mamíferos voadores e torna-se necessário ter em dia a vacina anti-rábica. Em Portugal actualmente contam-se 25 espécies diferentes de morcegos e estão em curso trabalhos com o objectivo de viabilizarem o surgimento de um Atlas dos Morcegos. Com esta obra, ficar-se-á com «a cartografia actual da distribuição

Curso de Identificação de Morcegos

das espécies de morcegos em Portugal Continental» e será viável «alimentar uma base de dados georeferenciada que permita um acesso fácil e generalizado à informação». Com os dados sobre a distribuição de cada

espécie, os esforços de conservação tornar-se-ão mais eficazes. No Ano Internacional dos Morcegos, os organizadores do curso têm um site com informação dirigida ao grande público: http://www.wix.com/anodomorcego/icnb

Novidades de fauna

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Musgo pleurocárpico (com crescimento prostrado) de cor verde-amarelada ou verde-acastanhada,

formando tufos extensos e robustos. Esta planta apresenta um caulóide principal (eixo principal onde se inserem pequenas folhas, os filídeos) prostrado sobre o substrato, do qual surgem ramos erectos até 4 centímetros de altura, bastante ramificados no extremo e que apontam na mesma direcção. Devido a esta característica diz-se que o musgo tem um aspecto dendróide, ou seja, cada ramo assemelha-se a uma pequena árvore.Este musgo é bastante inconfundível a olho nu, pois em estado seco, os filídeos ficam muito ajustados ao eixo, imbricados, e os seus ramos curvam-se, ficando com o aspecto de pequenas patas de uma ave – daí o seu nome comum. Já em estado húmido têm um aspecto bastante diferente, quase parecendo uma outra espécie a olhos destreinados, uma vez que os filídeos estendem-se rapidamente, ficando a planta mais volumosa e sem aquele aspecto característico dos ramos quase vermiformes em estado seco. Com o auxílio de uma pequena lupa é possível ainda observar que os filídeos são muito côncavos e quase triangulares e que a margem dos filídeos é dentada na parte superior. O nome genérico deriva do grego pteron=ala e gonios=ângulo, uma vez que outra característica distintiva desta espécie é apresentar células alares, que estão nos ângulos basais dos filídeos, diferentes das restantes células.É um musgo que ocorre frequentemente em carvalhais, em ambientes bastante puros, principalmente nos troncos ou em rochas, em locais geralmente sombrios. É uma espécie que é conhecida por acumular grandes quantidades de metais pesados e, por isso, tem sido usada em estudos de bioindicação. Ocorre em toda a Europa e a sua presença na América do Norte foi interpretada como uma prova da deriva dos continentes. No Norte da Europa observa-se um declínio desta

Musgo pata-de-avePterogonium gracile (Hedw.) Sm.

espécie, facto que se tem atribuído à poluição atmosférica.É uma espécie com tendência ocêanica-mediterrânica, sendo das espécies mais abundantes nos troncos e rochas do Norte do País. No Parque Biológico pode

encontrar-se em locais sombrios, em rochas e muros de granito sob coberto arbóreo.

Texto: Helena Hespanhol (CIBIO-UP) Foto: Cristiana Vieira (CIBIO-UP)

Novidades de flora

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34 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

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Mindelo:libertação de gineta

O abutre-preto juvenil que aterrou na auto-estrada, próximo de Valadares, em Vila Nova de Gaia, foi o protagonista de um final feliz que nem sempre é possível nas múltiplas histórias dos centros de recuperação de fauna selvagem. Devolvida à natureza em 22 de Março próximo de Castelo Branco, esta ave necrófaga de quase três metros de envergadura tinha sido entregue aos cuidados do Centro de Recuperação do Parque Biológico de Gaia em 26 de

Setembro do ano passado, em estado de fraqueza. Passado um mês, e uma vez reunidas as necessárias condições de saúde, diz Vanessa Soeiro, a médica-veterinária que coordena este centro, «a ave foi transferida para o Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco (CERAS), onde finalizou o processo de reabilitação».Aí, exercitou mais o voo, aumentou de peso, conviveu com outros da mesma espécie também em recuperação.

Antes que abrisse asas no regresso ao seu voo em liberdade, «o abutre-preto foi identificado com marcadores alares, o que permitirá, através de observações atentas, fazer o seguimento das suas deslocações», sublinhou. Oportunamente, repórteres da RTP fizeram a cobertura desta devolução de um animal selvagem à natureza no seu respectivo habitat, que se encontra até disponível na internet. «Este foi para nós (Parque Biológico de Gaia e CERAS) mais um momento de

Abutre-preto recuperado

Dia 28 de Abril, pelas dez da manhã, foi libertada na Área de Paisagem Protegida

do Litoral de Vila do Conde uma jovem gineta, do sexo masculino, entretanto

reabilitada pelo Centro de Recuperação do Parque Biológico de Gaia. O animal tinha

sido entregue ao cuidado deste Centro de Recuperação pelos serviços da GNR/SEPNA. O centro «procedeu aos devidos exames clínicos e à recolha de amostras

biológicas». Entretanto recuperada, a gineta voltou à

sua origem na presença de representantes do Município de Vila do Conde e de vários

órgãos de comunicação social.

Nasceu em 25 de Abril um caimão-comum, Porphyrio porphyrio. Trata-se do primeiro nascimento desta espécie no Parque Biológico de Gaia. Note-se que o caimão-comum esteve em perigo de desaparecer de Portugal há apenas duas décadas.O habitat desta ave encontra-se nas zonas húmidas de água doce ou salobra, outrora frequentes no Sul do país, no Sado, Tejo e outras zonas litorais até ao Mondego.

Novo hóspede

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 35

enorme satisfação», comenta obviamente satisfeita a médica-veterinária do Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque Biológico de Gaia.Com vista a apoiar as populações das várias espécies de aves necrófagas da região, existe um alimentador de grifos nas redondezas, uma vez que estes animais possuem um delicado estatuto de conservação.

Fotos: João L. Teixeira

Papel ecológico dos grifos

Ao longo dos séculos, com a progressiva humanização da Península Ibérica, as populações de grandes

herbívoros selvagens – cervídeos, javali, cabras-monteses, entre outros – foram substituídas pelos herbívoros domésticos – bovinos, ovinos, caprinos e equinos. Os abutres acompanharam esta tendência, passando a depender dos animais domésticos como fonte de alimento. Nos últimos anos, a regulamentação sanitária relativa à destruição de cadáveres de animais domésticos tem levado a uma diminuição da disponibilidade alimentar para as populações de abutres, causando receios de um eminente declínio populacional destas espécies.Paralelamente, nas últimas décadas, as populações de grandes herbívoros selvagens têm vindo a recuperar na Península Ibérica, devido ao despovoamento do interior, abandono da agricultura e aumento da procura de caça maior. Até que ponto os abutres estão de novo a consumir grandes ungulados selvagens em vez de animais domésticos é ilustrado por uma situação acompanhada em Outubro de 2010, na Zona de Caça Nacional da Herdade da Contenda, em Moura. No final de uma montaria em que foi abatido um número elevado de veados, os caçadores foram conduzidos dos seus postos para o almoço, tendo os funcionários

da montaria voltado imediatamente ao terreno para recolher as carcaças dos animais abatidos, para posterior aproveitamento da carne. Ao chegarem à mancha monteada, depararam com várias centenas de grifos (Gyps fulvus) que consumiam as carcaças dos veados abatidos. Em menos de uma hora cinco veados adultos foram reduzidos ao esqueleto, tendo os tecidos moles sido totalmente consumidos pelos abutres.Este episódio ilustra também uma das actuais ameaças a estas espécies, que é o saturnismo (intoxicação por chumbo), devido à ingestão de balas de caça embebidas nos tecidos dos animais abatidos. Todos os anos vários abutres, bem como outras aves de rapina necrófagas facultativas, dão entrada nos centros de recuperação portugueses com sintomas de saturnismo. Alguns dos abutres que consumiram as carcaças de veados referidas poderão ter ingerido as balas, que se degradam na moela, libertando o chumbo que é assimilado pelo organismo da ave. Para que os abutres possam aproveitar em segurança o recurso alimentar providenciado pelas crescentes populações de herbívoros selvagens, em harmonia com a actividade cinegética, é necessário substituir as munições à base de chumbo por outras munições, já disponíveis no mercado.

Por Nuno Santos

As aves necrófagas estritas (abutres)

estão especializadas no aproveitamento

dos cadáveres de ungulados de grande porte

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36 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Exposições de fotografia

O salão de fotografia da natureza do Parque Biológico de Gaia acolheu desde o início do ano três mostras de fotografia da natureza, tendo a mais recente aberto ao público em 4 de Junho, subordinada ao tema “Paisagens Naturais”.A exposição resulta de uma selecção de meia centena de trabalhos que concorreram em edições de anos anteriores do concurso nacional de fotografia da natureza PARQUES E VIDA SELVAGEM, que se realiza todos os anos e que em 2011 marca 30 de Setembro como o último dia para apresentação de fotografias. Como este concurso envolve dezenas de autores de todo o país, esta é uma forma de revalorizar trabalhos que se encontram em arquivo. Antes desta mostra fotográfica, que estará aberta aos visitantes do Parque durante o Verão, foram expostas fotografias com temas como “Serras Encantadas” e “Polinização, um negócio natural”.Jo

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esDesempenho

ambientalNo passado dia 7 de Junho realizou-se

a habitual reunião anual de avaliação do desempenho ambiental do Toyota Caetano

Portugal, em Vila Nova de Gaia.Na foto, o Eng.º José Ramos, Presidente do Conselho de Administração do Grupo

Salvador Caetano, a Vereadora do Pelouro de Ambiente da Câmara Municipal de Gaia, Eng.ª Mercês Ferreira e o Administrador do Parque Biológico, Dr. Nuno Gomes Oliveira plantam um Carvalho-roble, produzido nos

viveiros do Parque Biológico, para assinalar a data. D

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 37

PARTICIPAR 37

AstronomiaAtravés do seu Observatório

Astronómico, o Parque Biológico de Gaia desenvolve diversas iniciativas.

A mais recente foi a observação do eclipse da Lua de 15 de Junho, uma altura coincidente com as tão

participadas Noites dos Pirilampos, que terminam com uma visita ao observatório

astronómico. Para participar nestas actividades é

necessária inscrição prévia, sendo certo que esta iniciativa depende forçosamente

das condições meteorológicas. Encontra mais informações se

contactar o Gabinete de Atendimento, telefone directo: 227 878 138. E-mail:

[email protected]

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Um certo dia de férias...

Em pleno Verão, há que lançar aos leitores este desafio: que tal fazer um texto de Língua Portuguesa com base nas suas observações

de vida selvagem, a partir de algum dos seus passeios, viva esta na cidade ou noutro local?Depois, independentemente de ter fotografias ou desenhos relacionados com essas observações, reveja essas linhas no seu melhor, com rigor face aos factos, lançando mão de palavras acessíveis ao público em geral, a fim de participar neste concurso.Serão depois atribuídos três prémios. Além da publicação oportuna na revista PARQUES E VIDA SELVAGEM, um prémio corresponde à escolha de quatro títulos das edições disponíveis do Parque; a outro premiado caberá a escolha de três títulos das mesmas edições; e, por fim, o outro prémio será a escolha de dois títulos (ver por favor a lista do anúncio da página 11 desta revista). Porém, embora isto provavelmente não venha a ocorrer, caso não haja trabalhos que o justifiquem, o júri reserva-se o direito de não atribuir prémios.É de ter em conta que pode concorrer a duas categorias: Campo ou Cidade. Mediante a análise do trabalho o júri poderá

reclassificar a categoria sem penalização para quem participa no concurso.Quanto ao texto é importante a autenticidade, as datas, a qualidade da redacção e a clareza da linguagem, bem como a capacidade de síntese sem sacrifício dos pormenores mais interessantes. O trabalho a apresentar não deverá exceder os 2 mil caracteres incluindo espaços. A revista reserva-se o direito, face a uma eventual melhor gestão do espaço editorial da revista, de cortar palavras ou até frases, sem alterar o sentido do texto. As decisões do júri são soberanas, não sendo objecto de reclamação.Os interessados, tendo alguma dúvida, poderão esclarecê-la pelo e-mail [email protected] ou por correio: Revista PARQUES E VIDA SELVAGEM, Parque Biológico de Gaia - 4430-681 Avintes. Note que não há grande motivo para deixar de participar: mesmo que passe férias em casa, pode basear-se no que vê pela sua janela.

Concurso

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38 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Não é caso para reescrever a história mas,

analisado o fenómeno, será alguém capaz

de retirar aos líquenes o mérito de terem inventado

em primeira-mão a agricultura?

Quem sublinha o facto é Joana Marques, investigadora do CIBIO-UP que estuda o mundo fantástico dos líquenes.

Mas para não pôr o carro à frente dos bois, há uma pergunta que se tem de fazer logo de início.Os líquenes são plantas?Joana Marques – Não são plantas. São entidades mais complexas, no sentido de resultarem da união de dois ou mais indivíduos, pertencentes a pelo menos dois reinos distintos. A definição clássica de líquen aponta para a simbiose entre um fungo e uma alga. Sabe-se que nesta parceria o fungo tem um papel principal e a alga desempenha um papel secundário, embora obrigatório, na formação do líquen. Por si só, os fungos que encontramos nos líquenes não conseguem alimentar-se. É aí que encaixa a sua dependência da alga. No fundo, as algas são as couves que o fungo cultiva para se alimentar. Este prende-a na medula – uma espécie de rede interna formada pelo fungo – e recebe dela os nutrientes. Tem também havido quem considere que se trata de uma simbiose com parasitismo dito controlado.Essa leitura é aceitável?Joana Marques – Sim, repare que não há uma verdadeira relação de parasita-hospedeiro. O dano causado à alga é mínimo, mas há um equilíbrio através do qual ela

é mantida de forma controlada a produzir nutrientes para o fungo. Apesar da relação peculiar, há vantagens recíprocas. Como a alga tem clorofila, realiza fotossíntese, e é auto-suficiente como as plantas. O fungo aproveita uma parte desses nutrientes.Normalmente os fungos de vida livre o que é que fazem?Joana Marques – Decompõem matéria orgânica para se alimentarem. Os fungos nos líquenes têm outro estilo de vida: roubam os nutrientes à alga. Que vantagens revertem para a alga com essa relação?Joana Marques – A alga coloniza ambientes que de outra forma não conseguiria atingir por serem mais hostis. Ainda assim, apesar da faceta exploradora do fungo, o facto é que ela sobrevive, e verifica-se até que o fungo estimula a alga a crescer mais rapidamente.Em Portugal, que nomes surgiram primeiro no estudo dos líquenes?Joana Marques – Os primeiros trabalhos portugueses sobre líquenes foram feitos por botânicos desde meados do século XVII, altura em que os líquenes eram considerados plantas. Um trabalho importante vem do botânico Gonçalo Sampaio que, já no início do século XX, foi também um grande liquenólogo, dos mais importantes entre portugueses. Ele e Carlos das Neves Tavares, em Lisboa. Ambos contribuíram para o reconhecimento de uma série de espécies novas de líquenes para a ciência.

E hoje, sabe-se muito ou pouco sobre líquenes?Joana Marques – Já se sabe bastante, mas ainda há muito para saber sobre a biologia dos líquenes, nomeadamente sobre alguns aspectos da reprodução. Em Portugal sabe-se muito pouco sobre a diversidade de líquenes. Há três ou quatro pessoas no país a estudá-los, sendo duas recentemente doutoradas.Diferente é a situação em Espanha. Há mais liquenólogos no país vizinho, que tem incluído Portugal nos estudos que realiza. É curioso que o projecto da Flora Liquénica

Líqueneso dilema do fungo e da alga

38 ENTREVISTA

Lichens It is not necessary to rewrite history, of course, but without studying the symbiotic phenomenon of lichens, would someone be able to appreciate how they became the first creatures to invent agriculture? Joana Marques, a CIBIO Biologist from the University of Porto, who studies the fantastic world of lichens, which are living creatures resulting from the symbiosis between fungi and algae, stresses this fact.

Parmelia sp.

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 39

REPORTAGEM 39

Ibérica, que felizmente tem incluído Portugal e permitido recuperar algum conhecimento sobre a flora liquenológica portuguesa, está a ser financiado integralmente pelo Governo espanhol.De qualquer maneira, certo é que há muitos grupos por estudar a nível ibérico, e sobretudo a nível nacional. De cada vez que se visita uma área encontram-se novidades para o país, para a península Ibérica e, muitas vezes, para a ciência.Qual é o tempo de vida de um líquen?Joana Marques – A longevidade dos líquenes pode ser de centenas de anos.

Na craveira dos milenares já é mais difícil provar: são casos excepcionais de um ou outro indivíduo que se consegue encontrar nos locais mais remotos do planeta.Uma vida longa não afasta a necessidade de se reproduzirem. Como é que isso se passa?Joana Marques – Os líquenes reproduzem-se de várias maneiras, sendo a forma mais rápida por fragmentação. Também o fazem por reprodução sexuada. No líquen esta acontece apenas com o fungo. Quando se produzem os esporos que vão dar origem a outro líquen, esses esporos são

Com frequência, «a cor que associamos à rocha é a dos líquenes que a cobrem», diz Joana Marques, bióloga

Usnea rubicunda e Parmelia sulcata

esporos do fungo, em tudo semelhantes aos esporos que se formam num cogumelo. A questão fulcral no líquen é que esse esporo para se desenvolver num novo líquen tem de encontrar a mesma espécie de alga que estava presente no líquen-mãe que lhe deu origem. Sabe-se que sobretudo em ambientes extremos aquela alga dificilmente sobrevive na forma livre, porque o meio é demasiado seco ou exposto mas o esporo germinado de alguma forma encontra uma, duas, três células de alga para envolver no corpo que entretanto forma e prosseguir o seu desenvolvimento. E esse encontro é, em muitos aspectos, ainda um mistério e é dificil de reproduzir em laboratório.Qual é o papel ecológico dos líquenes?Joana Marques – É diverso, consoante o tipo de líquen ou o habitat ocupado pelo líquen.Se estivermos a falar de um líquen terrícola que coloniza superfícies terrosas é o da estabilização dos terrenos. Por outro lado, se estivermos a falar dos líquenes saxícolas, que crescem em rochas, é precisamente o oposto: eles produzem ácidos que interagem com os minerais da rocha e ajudam a degradação.Isto é tão importante que, de facto, sem líquenes e outros colonizadores primários da rocha, não haveria formação de solo tão rapidamente, graças à erosão física e química que provocam.Mas há mais. Se estivermos a falar de

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líquenes que crescem em troncos de árvores considera-se que muitos deles são capazes de fixar azoto – algo que poucos organismos conseguem. Sabemos que as plantas vasculares não o conseguem fazer sozinhas, têm de estabelecer relações especiais com bactérias fixadoras de azoto, essencial à vida de todos os organismos. Os líquenes tornam-no disponível e, ao caírem dos troncos das árvores, enriquecem o solo em azoto, em nutrientes. Como se dão os líquenes com a poluição?Joana Marques – Se é verdade que a partir de um certo nível de poluição os líquenes normalmente não resistem, também é um dado adquirido que até um certo ponto algumas espécies de líquenes conseguem aguentar níveis de poluição moderada.Não será de estranhar por isso que haja espécies de líquenes ameaçadas. Algumas já se sabia que estavam em regressão a nível europeu e a península Ibérica acaba por ser, em alguns casos, um último reduto pelo facto de não ser, por comparação com os países do Centro da Europa, um território extremamente afectado pela poluição, pela industrialização e até por efeitos da radiação nuclear que também pode afectar a diversidade liquénica.Na península Ibérica quantas espécies de líquenes existirão?

Joana Marques – Para a península estão contabilizadas cerca de 3 mil espécies de líquenes. Da lista portuguesa constam cerca de 800 espécies, mas estes números estão sempre a crescer e a sofrer actualizações.Por exemplo, nos 35 hectares do Parque Biológico de Gaia, quantas espécies de líquenes haverá?Joana Marques – Estão contabilizadas até agora mais de 50 espécies. Mas serão talvez o dobro. Ouve-se dizer que aqueles líquenes esfiapados que caem dos ramos das árvores de alguns bosques indicam que o ar está puro. É assim?Joana Marques – A esses chamam-lhes barbas-de-velho. São líquenes do tipo fruticoloso, porque lembram um pequeno arbusto. Esses líquenes são de facto dos mais sensíveis à poluição, logo são indicadores de que o ar tem boa qualidade.Sendo assim, seria de implementar uma campanha a favor da biodiversidade dos líquenes?Joana Marques – Faria sentido. Temos bons exemplos de comunidades de líquenes que estão ameaçadas. Revelam-se muito sensíveis à poluição e também a outros tipos de perturbação, por exemplo, da floresta. A respeito disto há até uma informação a referir em relação ao modo como a gestão

da floresta afecta a diversidade liquénica: a “limpeza” da floresta é geralmente desfavorável à manutenção de um conjunto de espécies de líquenes, lideradas pelo chamado “pulmão dos carvalhos” (Lobaria pulmonaria), e que se encontram em regressão por toda a Europa devido aos efeitos da alteração das florestas. Por exemplo, um simples corte dos ramos das árvores faz com que o maior aporte de luz daí resultante altere essas comunidades. Estamos a falar de comunidades que dependem de um certo grau de ensombramento. Se o bosque crescer sem alterações podem reaparecer naturalmente, desde que até lá não sejam conduzidas à extinção.E os incêndios?Joana Marques – São normalmente catastróficos. Mas depende da intensidade do incêndio. Se esta for relativamente baixa ou se, pelo menos, as árvores tiverem sobrevivido, temos verificado que, ao permanecerem alguns pedaços de talo, o líquen consegue regenerar e, ao fim de meia dúzia de anos, já se consegue observar a presença de uma comunidade de líquenes em recuperação. Nem sempre os elementos da comunidade que recupera são exactamente os mesmos que lá estavam antes. Na realidade o mais

40 ENTREVISTA

Lecanora campestris

Candelariella vitellina Cladonia fimbriata

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 41

frequente é que ocorra um empobrecimento no número de espécies. Tudo depende da natureza das alterações provocadas pelo incêndio sobre a floresta propriamente dita. É sempre da manutenção da qualidade do habitat que depende a preservação da diversidade liquénica.Os líquenes preferem zonas secas ou húmidas?Joana Marques – A maior diversidade liquénica encontra-se nas regiões temperadas e árcticas, mas existem muitas espécies tropicais e dos desertos. Conhecem-se líquenes de todos os tipos de ambientes, do mais húmido e fresco ao mais seco e exposto. Há líquenes que se adaptaram à vida subaquática, desde que se trate de água doce, mas a maior parte parece dar-se melhor em ambientes mais secos, evitando o encharcamento. Têm por vezes cores vivas, coloridas. São pigmentos que podem ter uma função de protecção – protectores solares naturais – contra a radiação. A espécie Xantoria parietina é uma delas. Quando está ao sol é laranja-vivo.Há alguns que já foram utilizados em tinturaria? Joana Marques – Os líquenes acabados de referir podem ser utilizados em tinturaria.Os líquenes do género Parmelia eram usados na produção de tintas de tons castanhos,

alaranjados dos kilt escoceses. Tingem a lã e outros tecidos como o algodão.Já experimentei, há uma série de receitas, algumas remontando ao período romano, ainda disponíveis actualmente. Não precisam dos chamados mordentes – substâncias que fazem a ligação entre a tinta e o tecido, e responsáveis por grande parte da poluição derivada dos têxteis – pois os pigmentos liquénicos ligam-se directamente ao tecido. E quando há líquenes que degradam monumentos? Joana Marques – Um líquen não distingue entre o granito na montanha e o granito da Sé do Porto. Neste último caso vai degradando a superfície da rocha. Quando o líquen está a crescer sobre o nariz de uma estátua, talvez seja conveniente retirar o líquen porque vai desfigurar o nariz ao fim de alguns anos.Neste momento estudo precisamente o efeito que os líquenes têm sobre as gravuras de Foz Côa. Se o líquen degradasse a superfície de xisto a um milímetro por ano ou se atingisse centímetros de profundidade, para as gravuras de Foz Côa seria dramático porque elas têm poucos milímetros de profundidade.É assim porque o líquen tem algo semelhante a raízes – as hifas do fungo – que entram na rocha, e dependendo da rocha pode penetrar alguns centímetros, aproveitando espaços entre os minerais da rocha.

Para além disso, produzem substâncias liquénicas, libertam-nas nos interstícios da rocha, alterando a sua composição.Os líquenes crustáceos são os que crescem entranhados na rocha. Vêem-se discos de diversos tamanhos. Uns brancos, depois outros amarelitos. É por causa deste crescimento radial, a uma taxa mais ou menos constante, que se pode fazer algum tipo de datações, à semelhança do que acontece com os anéis das árvores. Isso pode ser útil para diversos fins mas pense-se por exemplo num conflito entre vizinhos acerca de uma pedra que marque o limite entre terrenos. Um diz que a pedra foi movida para dentro do seu terreno, encurtando-lho. Os líquenes presentes poderão evidenciar se é assim. Torna-se possível, observando a superfície da pedra, perceber se ela foi ou não removida porque há casos em que isso é óbvio pelo crescimento do líquen.Conhecendo a taxa de crescimento da espécie, uma espécie como Lecanora campestris, numa dada região, tem uma determinada taxa de crescimento, que pode ser determinada. Pelo diâmetro do talo, sabemos há quantos anos esta pedra está aqui exposta.

Texto e fotos: Jorge Gomes

Parmotrema perlatum

Xanthoria parietina

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42 REPORTAGEM

42 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Arrábida: Museu Oceanográfico Já não ribombam canhões na fortaleza

de Santa Maria, em Portinho da Arrábida:

com um pé na água o museu oceanográfico

une pela mão do homem o mar e a serra

A Fortaleza de Santa Maria foi construída a pedido dos monges do Convento da Arrábida, no século XVII. Na sua primeira idade foram muitas as naus e caravelas que a olharam do horizonte. As da armada régia, as do comércio e as da pirataria.Agora, sopra apenas uma brisa estival quando nos abeiramos da porta imponente, pensada para resistir a investidas de guerra. Voltadas as páginas do tempo, em 1978 a fortaleza foi entregue ao Parque Natural da Arrábida, que efectuou obras de recuperação e ali veio a instalar em 1991 o museu oceanográfico, que acolhe a colecção do naturalista setubalense Luiz Gonzaga do Nascimento (1882-1970), cuja origem remonta ao início do século XX.Os velhos canhões virados ao oceano guardam silêncio enquanto a traça robusta do forte o alça à classificação de imóvel de interesse público.No interior, o salão mais espaçoso acolhe precisamente alguns destes objectos, amostras de animais marinhos conservados em formol ou em álcool, ou mesmo a seco, como é o caso das tartarugas marinhas em tamanho real que recebem os visitantes. Os componentes desta colecção terão sido recolhidos na região de Setúbal-Costa da Galé-Espichel.Aparece depois ao visitante a sala dos aquários. De água salgada, evidenciam algumas espécies de fauna e flora do litoral marinho da Arrábida. A variedade dos organismos marinhos

acentua-se e o ritmo da água, a luz e os peixes que ali se movem tornam-nos cúmplices da imensa diversidade de vida que se desdobra no mar.O bodião, que pode ser visto em tonalidades acastanhadas ou esverdeadas, tímido, espreita de um cântaro imerso, num jogo de escondidas. Uma legenda explica que este peixe ocorre quer em fundos rochosos, onde aproveita reentrâncias para se proteger, quer nas pradarias submersas de Zostera, nada mais,

Os tubarões são um grupo que se destaca no museu

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 43

Sala Luiz Gonzaga do Nascimento: a origem da colecção remonta ao início do século XX

Tartaruga-comum, Caretta caretta - hoje ameaçada de extinção

nada menos do que flora filamentosa que lembra um prado imerso, e que ocorre desde as águas frias da costa norueguesa às águas do Mediterrâneo. Os ouriços-do-mar não passam despercebidos nestes aquários. Espinhosos, semiesféricos, estes equinodermes deslocam-se lentamente.Seguem-se alguns sargos — peixe capaz de atingir 30 centímetros de comprimento, habitual desta região, que se vê em cardume — e, entre outras espécies, um pitoresco caboz testa o mito da invisibilidade. Olhos salientes, a pele imita a textura e a cor do fundo rochoso. A legenda sublinha a grande resistência deste peixe à baixa

Arrábida: Oceanographic MuseumThe Fortress of Santa Maria, located in Portinho da Arrábida is now an Oceanographic Museum which unites ocean and mountains. The Fortress was built in the seventeenth century at the request of the Monks of the Convent of Arrábida. In 1978, it was handed over to the Management of the Natural Park of Arrábida, who restored the Fortress and in 1991, installed the Museum.

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44 REPORTAGEM

44 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Sala dos Aquários: pequena garoupa, Serranus atricauda

Há vários pisos para visitar – a arquitectura típica conduz a outro tempo da história

Caboz: a pele copia manchas de cor do seu habitat

salinidade.Até uma visita rápida permite aos visitantes perceber que a costa da Arrábida é especial, graças à grande variedade de biótopos costeiros com características únicas.

Ao surgir na sequência do estuário do rio Sado é uma importante zona de criação de espécies marinhas com valor comercial, como santolas, raias, chocos, linguados, corvinas.

Além deste museu, desde 1998 o Parque Natural da Arrábida agrega também o Parque Marinho Professor Luiz Saldanha.

Texto e fotos: Jorge Gomes

Contacto

2925 Portinho da Arrábida

Telefone (351) 21 218 97 91

Portugal

www.icnb.pt

Parque Natural da Arrábida - Museu Oceanográfico

Vista de um dos terraços da Fortaleza de Santa Maria da Arrábida

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 45

REPORTAGEM 45

É nas zonas mais

montanhosas do Leste

da ilha de São Miguel,

nos Açores, que vive

um tesouro da avifauna

que não se pode

encontrar em mais lado

nenhum, nem em outro

lugar da ilha, nem

do arquipélago,

nem no resto do mundo.

Só mesmo ali

A princípio pensava-se que essa ave era uma subespécie do nosso conhecido dom-fafe, mas há oito anos os investigadores fizeram uma distinção de espécies que iria mudar aquela que era até ao momento a ordem natural das coisas. Essa ave chama-se priolo. Uma ave endémica da ilha de São Miguel que vive especialmente na Serra da Tronqueira e no chamado Pico da Vara. Estamos a falar das zonas mais altas da ilha. O priolo esteve quase a desaparecer para sempre, esteve quase a extinguir-se! Ora há seis, sete anos, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, com a colaboração

de muitas organizações e entidades ligadas directa ou indirectamente à protecção da natureza, encetou no habitat do priolo uma campanha gigante para salvar esta espécie, que repito só se encontra a leste da ilha de São Miguel e em mais lugar nenhum do mundo. Uma das principais causas da quase extinção do priolo teve a ver com a destruição do seu habitat natural (o que infelizmente acontece com muitas outras espécies) e também o aparecimento de espécies vegetais infestantes ou exóticas, no fundo, espécies que iam roubando espaço às dezenas de plantas de que o priolo se alimenta. Fomos até ao território do priolo acompanhados pelo biólogo Joaquim Teodósio, da SPEA, que está há cinco anos em São Miguel a monitorizar a espécie e a coordenar uma equipa com o único objectivo de fazer aumentar o número de priolos existentes. Joaquim Teodósio explica: “Esta é a única ave conhecida na Europa que se alimenta de fetos, por exemplo, neste caso uma espécie conhecida como o feto-do-botão. No Inverno os soros produzidos por este feto são uma importante fonte de alimento para o priolo”. Mas a pergunta impõe-se: qual é afinal o trabalho que os técnicos da SPEA andam a fazer no terreno, como estão afinal a contribuir para aumentar a população de priolos? Joaquim Teodósio diz que “juntamente com vários parceiros, temos estado a travar as ameaças que poderiam levar à extinção do priolo. Desde logo o combate no terreno com corte das tais plantas invasoras. Este projecto intitulado

Projecto Laurissilva Sustentável tem na eliminação das exóticas o principal meio para atingir o fim desejado: aumentar a população do priolo. Depois de derrubadas ou cortadas as infestantes, há que semear ou plantar as tais espécies que sempre serviram de alimento ao priolo. O projecto nos últimos seis anos recuperou 250 hectares de floresta. A população do priolo é acompanhada anualmente e os resultados são animadores; este ano o estatuto de ameaça foi revisto a nível internacional e o priolo deixou de estar Criticamente Ameaçado e passou a estar Ameaçado na tabela relacionada com o estado de conservação”. O priolo é uma ave pequena, anda aí pelos 16 centímetros, não mais. Pequena em tamanho mas muito importante para a ciência e para a biodiversidade mundial. Tem um bico preto e forte, o corpo é cinzento e a cauda escura. Os trabalhos de recuperação da espécie são mesmo animadores como refere Joaquim Teodósio: “O priolo de facto tem estado a recuperar. Há dez anos não havia mais de 400 indivíduos. Hoje a recuperação do habitat, fundamental para que ele se mantenha e se multiplique, faz com que a estimativa ronde entre 500 a 800 casais”. Se o trabalho assim continua, dizemos nós, que acompanhamos parte deste trabalho de campo, então poderemos dizer, embora com cautelas, que o priolo começa a ser finalmente uma espécie em vias de expansão!

Texto: Luís Henrique Pereira jornalista da RTP Fotos: Marcos Prata

O priolo: uma ave em vias de expansão?

Priolo Azores Bullfinch The Azores Bullfinch, Pyrrhula murina, a treasure of the avifauna, lives in the more mountainous areas of the eastern island of Sao Miguel, in Azores. At first, it was thought that this bird was a subspecies of the already known Bullfinch. Eight years ago, researchers made a distinction between the species, which

changed the natural order of things.

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46 PESQUISA

46 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Os sons animais Os sons produzidos pelos animais são de uma enorme diversidade. Desde o grito penetrante do pavão ao som melodioso do rouxinol existe uma variedade de sons que satisfaz todos os gostos. Grilos, cigarras, ralos, cobras, baleias, golfinhos, morcegos, corços, peixes e crustáceos todos produzem os seus sons interessantes à sua maneira. Os sons dos animais são uma parte integrante da paisagem e constituem com outros sons as paisagens acústicas. No seu conjunto, a paisagem acústica é a conjugação de sons do ambiente (por exemplo, água a correr num ribeiro), das actividades do homem (por exemplo, buzina) e dos animais. Duas características importantes da componente acústica da paisagem é que está sempre presente, porque ouvimos sempre algo, e é dinâmica, porque a cada instante muda. Os sons dos animais têm a importante capacidade de despertar em nós emoções, como a alegria e a tranquilidade, ou ainda reavivar memórias. Este valor estético dos sons dos animais melhora a nossa qualidade de vida e facilita a nossa interacção com o mundo natural. O que seria do Homem sem poder escutar o som dos animais?

Gravar as paisagens Foi com a ideia de documentar os sons dos animais, dos habitats e dos locais que se encetou a iniciativa para retratar as “Paisagens Acústicas Naturais de Portugal” (ver caixa 1). No presente momento a equipa está a realizar gravações de sons naturais um pouco por todo o país, nos habitats mais importantes, e com isso construir um arquivo que preserve a memória acústica ecológica do presente, documentando assim este mundo em constante mudança. Desta forma, poderemos no futuro escutar o que se ouvia no Parque Biológico de Gaia na Primavera de 2011*.Paralelamente, a equipa está a compilar gravações antigas realizadas, desde há alguns anos, por investigadores e entusiastas dos sons dos animais, por forma a que estas informações históricas não se percam. Que interessante seria ouvir uma gravação da

Serra do Gerês dos anos 60! Que espécies estariam presentes? Quais seriam os sons de origem humana nesta paisagem acústica? Essas gravações são a única forma de podermos “voltar” ao passado e ouvir um mundo já desaparecido.

Sim, mas para que serve gravar o som?Os animais usam as suas vocalizações para comunicar, por exemplo no contexto reprodutor. Veja-se, ou melhor oiça-se, o som poderoso de um veado na brama ou de uma singela carriça à procura de um parceiro. Em ambos os casos, o macho ao bramir/cantar anuncia que está preparado para acasalar e que tem um território. Através da sua canção este tenta atrair parceiras e, ao mesmo tempo, anuncia que está disposto a defender o seu território contra possíveis competidores. A função do canto faz com que as vocalizações contenham em si uma “assinatura de espécie”. Esta assinatura garante aos indivíduos serem capazes de atrair um elemento da mesma espécie e identificar os seus territórios junto dos machos competidores. Ora esta característica é-nos também muito útil pois permite-nos, com um elevado grau de certeza, identificar pelo ouvido uma espécie sem a ver. Muitos dos contactos quando da detecção de espécies são auditivos, sendo por esta razão o som essencial para uma correcta identificação. Esta característica é fundamental para os estudos de monitorização e atlas dos animais.Assim, as gravações realizadas e compiladas no âmbito do retrato das “Paisagens Acústicas Naturais de Portugal” preservam a memória acústica ecológica de um local na data em que foram gravadas. Para além disto, podemos recorrer a elas para saber que espécies estavam a cantar nesse local e elaborar uma lista das espécies presentes, o que dá uma ideia da riqueza específica, ou mesmo o número de indivíduos presentes. As gravações permitem ainda apoiar estudos de bioacústica (ver caixa 2), para a descrição de novas espécies com base no som, ou para conhecer a ecologia e o comportamento

Quando chegamos

ao campo, ainda antes

de começarmos

a “ver”, frequentemente

já estamos a ouvir!

O elegante melro

a cantar é interrompido

pela toutinegra-de-

-barrete-negro, seguida

por uma carriça

insistente, e todos

acompanhados pelas

rãs descontraídas

Paisagens acústicas naturais num mundo em mudança

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 47

Paisagens acústicas naturais num mundo em mudança

Ana

Cos

ta

Natural soundscapesA group of Scientists is recording the natural sounds of different landscapes, all over Portugal. In this way, they want to register a world that is always changing.

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48 REPORTAGEM

48 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

das espécies. No âmbito da bioacústica, podemos, por exemplo, realizar estudos do reportório das espécies extraindo gravações para comparar os cantos, para perceber a interacção entre machos da mesma espécie e de espécies diferentes ou, ainda, estudar fenómenos de “pronúncias” de uma espécie em diferentes zonas do país.Os exemplos apresentados da utilidade do som para a realização de estudos, bem como para a preservação de uma memória acústica colectiva, permitem compreender as grandes valências deste tipo de documentação. No final do projecto teremos documentado pela primeira vez as paisagens acústicas naturais de Portugal de uma forma sistemática e única a nível nacional. Esperamos que através deste projecto se abram novas perspectivas de contacto com a natureza e se apure um sentido de audição mais desperto. Em resumo, deixe-se surpreender, oiça os animais: vai sentir uma experiência de abrir as orelhas.

Como retratamos as paisagens acústicas?Para a realização da paisagem acústica necessitamos de um local com o mínimo possível de ruído de origem humana onde colocamos o nosso aparato de gravação (centenas de metros de fios, seis microfones, tripés e um gravador). As “Paisagens Acústicas Naturais de Portugal” realizam-se por um ciclo de 24 horas de gravação em contínuo, sendo o aparato constituído pelos seis microfones dispostos numa área circular de 35 metros de raio máximo em redor do gravador. Nos dias seguintes à gravação realizamos ainda gravações complementares para uma caracterização mais completa. Terminadas as gravações guardam-se todos os registos num servidor e depois toda esta informação digital é analisada e seleccionada pelos membros da equipa para divulgação posterior.

* https://sites.google.com/site/asnmnhn/home/gaia

Por Paulo A. M. Marques (ISPA-IU e MNHN-UL)

Representação do canto de um rouxinol

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Representação de um canto de rela

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 49

Paisagens acústicas naturais de Portugal

Esta iniciativa surge no âmbito de um projecto mais amplo, o projecto científico “Paisagens Acústicas Naturais num Mundo em Mudança” que resulta de uma parceria entre o ISPA-Instituto Universitário e o Museu Nacional de História Natural, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e coordenado por Paulo A. M. Marques. Este projecto pretende identificar as fontes primárias para a história da bioacústica em Portugal. A informação coligida será fundamental para identificar as gravações históricas como parte do nosso Património Científico e para salvaguardar as mesmas como memória ecológica. Esta memória será completada com o registo das “Paisagens Acústicas Naturais de Portugal” que pretende fazer um retrato contemporâneo do Portugal sonoro. Esta informação será depois aberta ao público num site dedicado, na edição de um CD virtual e na grande exposição “Os sons dos animais selvagens: uma experiência de abrir os ouvidos” para os quais estão já convidados.

BioacústicaA Bioacústica estuda os sons animais. É uma área de conhecimento transversal a outras como o comportamento animal, a taxonomia, a ecologia ou a fisiologia. Investiga a produção e a recepção de som pelos animais, incluindo o Homem, como os animais se comunicam através dos sons, os órgãos afectos à audição e à produção de som, assim como os processos fisiológicos que produzem e recebem sons para comunicação ou para eco-localização. É ainda objecto da bioacústica a compreensão da função e evolução dos sons produzidos por um animal e a relação com o ambiente. Os sinais acústicos são produzidos por vertebrados (principalmente mamíferos, aves, anuros e peixes) e por invertebrados (principalmente insectos das Ordens Orthoptera e Homoptera). A bioacústica é hoje um instrumento importante para a descrição de espécies novas.

Representação do canto de um insecto

Gravação utilizando parabólica

Pau

lo M

arqu

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Gravação no Jardim Botânico do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa

Sus

ana

Per

eira

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50 MIGRAÇÕES

A tal da letra gamacor-de-prata

gama-cor-de-prata Autographa gamma (Linnaeus, 1758)

Pequena, discreta e de tons acastanhados, esta borboleta é uma

grande migradora que lhe passa despercebida debaixo do nariz:

nos seus melhores anos atinge o Círculo Polar Árctico

À medida que a estação quente do ano se dilata no Norte da Europa, a borboleta gama-cor-de-prata avança no terreno

com as fronteiras térmicas.

Não há muito tempo, estes mesmos seres eram tão-somente pequenas lagartas verdes, pouco esquisitas em relação à

ementa para que a natureza as gizou – diversas espécies de plantas silvestres ou cultivadas, entre as quais se contam

urtigas e trevos.

Uma paleta alimentar deste género leva a que dificilmente se consigam tornar uma praga, mesmo se num dado ano

conseguem aparecer aos milhões.

Aliás, apesar do elevado número de predadores – por exemplo, aranhas e aves – elas parecem voar sob uma batuta maior,

percorrendo distâncias imensas, fenómeno que está a ser estudado pelos cientistas.

Segundo os investigadores, este é um dos insectos alados que palmilha as chamadas auto-estradas aéreas, nada mais do

que ventanias na ordem dos cem quilómetros por hora, que os fazem migrar numa só viagem centenas de quilómetros.

Isso não quer dizer que se possam dar ao luxo de dispensar alimento durante o fluxo migratório. Já diziam os antigos que

«quem não é para comer não é para trabalhar». As flores de ninguém nas beiras dos caminhos, as dos jardins, as dunas ou

até as floreiras nos arranha-céus são as suas estações de serviço vitais: fornecem-lhes energia, repouso e protecção numa

curta vida de insecto adulto que se pensa atingir em média talvez um mês.

Para lhes valer a continuação da viagem, gozam de um mimetismo típico de insectos que precisam de se tornar

despercebidos à luz do dia, daí a sua cor acastanhada irregular e a forma de repouso em que parecem porções de mato no

pouso em que descansem.

Pela sua dimensão – uma envergadura de 30 a 45 milímetros – voa assim que o sol se despede no horizonte e deixa-se

levar pelo instinto rumo a novas fronteiras.

Ocasionalmente, esta borboleta torna-se mais notada quando ocorre um pico populacional e aos milhões se vê a voar

numa única direcção, atravessando cidades, rios, campos e serras.

Embora essa deslocação ocorra todos os anos nas suas estações menos frias, aconteceu aqui em Portugal de forma

significativa em 2006, sendo impossível ignorar no último fim-de-semana de Maio, altura em que, esfomeadas, estas

borboletas quebravam a regra da imobilidade diurna e se alimentavam nas flores, onde estas existissem, tirando partido da

sombra da folhagem enquanto procuravam o néctar vital para continuarem a bater asas.

Esta espécie do grupo das chamadas borboletas nocturnas enquadra-se na família dos Noctuídeos e distribui-se pela

Europa, pelo Norte de África e por algumas regiões asiáticas.

Texto: Jorge Gomes

Foto: Rui Andrade

50 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

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Bibliografia http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/ nature/8500619.stmhttp://en.wikipedia.org/wiki/ Silver_Y#Distributionhttp://www.leps.it/http://www.butterfly-conservation.org/ Moth.asp?MothId=113

Silver Y The moth Silver Y (Autographa gamma),

which is small, discreet with brown shades, moves in a major migration that passes unnoticed right under your nose. This species of moths fits into the family

of Noctuidae and is widely distributed throughout Europe, North Africa and some Asian regions. Occasionally, the migration of this species can reach the

Arctic Circle.

Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 51

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52 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

52 RETRATOS NATURAIS

Se o facto de representar uma ave numa pose que tipifique a espécie a que pertence é já por si um desafio interessante, desenhá-la a voar procurando representar cada conjunto de penas alares, na posição, número e forma correctas, intensifica ainda mais esse exercício.As asas são um dos elementos da anatomia externa das aves que nos permitem conhecer, atentando somente à sua forma geral, o grupo a que podem pertencer — enquanto a asa de um peto-verde terá uma configuração mais elíptica, uma ave marinha como o cagarro terá uma asa rectangular bastante mais estendida. Se a essa informação adicionarmos cores e padrões, poderemos ir mais além na nossa classificação e chegar mesmo à identificação da espécie. É por demais evidente que as asas são pois

Vamos desenhar... um peto-verde a voarObservar e desenhar uma ave a voar é um exercício que permite retratar a beleza,

a fluidez do movimento e a graciosa capacidade de se sustentar no ar, pela força

das suas asas. Representar uma ave de asas abertas transmite, no imediato, a ideia

subliminar da liberdade de um voo. Dominar a arte de bem representar as asas é

condição essencial para transmitir identidade e genuinidade à espécie a retratar

elementos-chave a que devemos votar especial atenção e devoção, aquando da figuração de uma ave. Assim, e para além da configuração da asa, é importante familiarizarmo-nos com cada grupo de penas, a sua forma, a sua posição e o seu número.

Uma ave a voar, geralmente é retratada em três normas: de lado, de cima (topo), ou vista de baixo. Se as duas últimas vistas são aquelas em que as asas apresentam a sua máxima expressão (mas exclusivas: ou só a face superior, ou só a inferior), a primeira (lateral) é aquela onde teoricamente se observam simultaneamente ambas as faces, no pico do batimento (ventral, na asa mais proximal, e dorsal, na asa mais distal.Regra geral, com excepção de alguns grupos (ex.: as aves de rapina), a face ventral é bastante menos expressiva (em cor e em padrões) que a face dorsal. Assim, e para este exercício, iremos optar por desenhar a ave a voar em vista dorsal, tendo como modelo o tímido peto-verde (Picus viridis). Apesar de possuir um corpo e volumetria maior que

Peto-verde (Picus viridis) e Pica-pau-malhado-grande (Dendrocopus major)

Cagarro (Calonectris diomedea borealis)

Page 53: Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes

Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 53

a de um passeriforme, como o pardal, as suas asas exibem uma configuração que continua a encaixar no modelo das asas mais arredondadas, ou elípticas. O primeiro momento consiste em escolher a pose; para conferir maior dinamismo a este tipo de ilustração, o melhor é imaginarmos o observador numa posição que não seja perpendicular ao plano das asas (de topo), posicionando-o mais próximo de uma das pontas da asa — criamos assim uma vista em perspectiva com três pontos de fuga (os vértices A e B formam um losango que resulta da distorção de um quadrado inicial).Esta perspectiva confere, em termos de leitura de imagem, uma maior proximidade (como se o observador, voasse ligeiramente acima da ave, ladeando-a) e implica que teremos que distorcer ligeiramente a asa mais afastada ou distal (o ponto C permite-nos corrigir a curva 1’, que é uma distor ção da curva proximal 1). Nessa asa serão as rémiges secundárias e as coberturas supra-alares grandes, aquelas que terão maior expressão, enquanto que as supra-alares primárias, as rémiges primárias e as rémiges bastardas terão que ser “encurtadas” e com maior índice de sobreposição. Obviamente na asa mais “próxima” do observador (proximal), esta tendência e ordem inverte-se e, estando num primeiro plano, será sobre elas que deverá incidir maior pormenor.O desenho preliminar (traço de contorno apenas) será a nossa plataforma de testes — é onde faremos todas as experiências, correcções de posicionamento e articulação dos diferentes tipos de penas. É de realçar que, para que esta pose de voo resulte credível, igual atenção deve ser prestada ás extremidades do tronco, nomeadamente à cauda e à cabeça (esta última deve ser desenhada numa vista dorso-lateral). Estes ensaios gráficos podem ser feitos em vulgar

papel de fotocópia (80 gm2), se bem que o ideal será que essas modificações se realizem em papel vegetal translúcidow (uma folha por correcção), que por sobreposição em camadas sucessivas, permitirá obter a representação que consideremos satisfatória.Obtido o modelo e recorrendo novamente a uma folha de papel vegetal, o desenho é passado a limpo (por sobreposição e graças à sua transparência), reafirmando ou aprimorando o traço. Com ajuda de um papel vegetal grafitado (onde previamente riscamos lápis de grafite para obter uma mancha uniforme de grafite) faz-se a transferência deste desenho de contorno para a superfície de papel onde se irá colorir a nossa ave. Utiliza-se a técnica da “transferência por papel químico”: a folha de papel vegetal com o desenho de contorno presa com duas mini-tiras de fita-adesiva, à folha de papel onde se irá pintar, e o papel “químico” de grafite “ensandwichado” entre ambas, com a face grafitada em contacto com o papel. Faz-se passar um lápis de grafite (2H, por ex.) por cima do traço do nosso desenho preliminar e assim se transfere, de

modo indirecto, o nosso desenho de linha (redefinindo, posteriormente e se necessário, o traço nessa folha de papel). Atentando às cores predominantes do nosso modelo (verdes-limas amarelados nas zonas mais iluminadas a verde-quebrados para as sombras do corpo; laranjas e vermelhos para testa, coroa e nuca da cabeça; cinzentos frios para a metade interna das rémiges), cria-se uma palete de cores variadas, com as quais tonalizamos paulatinamente a nossa ilustração, para esta ganhar “volume”.Algo correu mal? Não vale a pena desesperar... retomando o nosso desenho preliminar e nova transferência para outra folha de papel, estamos aptos a recomeçar a pintar . Bons ensaios!

Texto e ilustrações: Fernando CorreiaBiólogo e Ilustrador científicoDep. Biologia, Universidade de [email protected] www.efecorreia-artstudio.com

ASA (topografia)Vista superior

— rémiges escapulares

— coberturas supra-alares pequenas

— coberturas supra-alares médias

— coberturas supra-alares grandes

— rémiges bastardas

— grandes supra-alares primárias

— rémiges primárias

— rémiges secundáriasTordo-ruivo (Turdus iliacus)

Vista superior da asa

Vistainferiorda asa

Page 54: Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes

54 TRILHOS

Ao palmilhar um qualquer percurso

de natureza, fica-lhe bem estar atento

aos diversos vestígios que os animais

selvagens deixam inadvertidamente.

Isso pode passar-se numa reserva

natural, num parque ou até numa

serra por esses montes fora.

Ao desenvolver a sua capacidade

de observação está a puxar

pela sua vocação de Sherlock Holmes,

o famoso detective criado por Conan

Doyle, mesmo que se tenha esquecido

da lupa e do bloco de notas em casa!

Veja as imagens que aqui deixamos,

nada mais do que elementos

que se calhar até vai reconhecer

de experiências anteriores…

?Sher

Como vai a sua costela

de

54 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Bigorna de caracóisPor vezes uma simples pedra lisa serve para melros e tordos a usarem como bigorna habitual para quebrarem a protecção dos caracóis, longe de olhares indiscretos. Neste caso, um toco de tronco tem servido de alternativa e até dá para saber a espécie de pelo menos um dos moluscos: Cepaea nemoralis!

Texto e fotos: Jorge Gomes

Page 55: Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes

Pinha roídaUma pinha neste estado não deixa dúvidas — andam esquilos nas imediações! As características do vestígio não o deixará hesitar: terá sido hoje ou há alguns dias?

Pegadas na areia«Alguém tem o guia de pegadas?», é precioso…Nem sempre será certo identificar a espécie responsável pelo rasto, sobretudo se se trata de aves limícolas, mas nada é inalcançável e entre a capacidade de observação e a experiência conseguida tudo se há-de resolver.

Peles de cobraQuando estão em altura de crescer, a pele rompe e sai como quando tira uma meia do pé: pode nem as ver, são discretas. Mas pelo decalque das escamas da pele pode chegar à espécie de serpente. Esta à primeira vista parece ter sido deixada por uma cobra-de-água-de-colar, Natrix natrix.

Ovos quebrados e pedaços de ninhosSe procurar a informação bibliográfica da especialidade, ao ver no caminho ovos partidos poderá reconstituir um quadro de eventos. Este é de estorninho! Terá sido vandalizado por alguma pega-rabuda?

DescouraçadosAnimados pela febre sexual, algumas cabras-louras, Lucanus cervus, distraem-se. Vem o gaio, um corvídeo, e a colheita sazonal impõe-se. Ficam os vestígios da cadeia alimentar.

Aqui há coelhoAntes coelho que gato! Que tipo de mensagem deixarão estes coelhos-bravos ao criarem estas latrinas? Territorialidade, dominância... que o alimento não falte, há muitos láparos para vingar.

Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 55

Page 56: Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes

56 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

56 ACTUALIDADE

No dia 22 de Maio, no âmbito do Dia Internacional da Biodiversidade, o ICNB em parceria com o Centro de Ciências do Mar e o Instituto Superior de Psicologia Aplicada, realizou uma jornada fotográfica no Parque Natural da Arrábida. A área de protecção total do Parque Marinho da Arrábida é um dos locais de maior diversidade marinha do nosso país. Foram convidados 20 dos mais destacados fotógrafos subaquáticos nacionais para testemunhar o presente momento desta importante área marinha.Com a realização desta jornada fotográfica, cria-se a oportunidade de juntar o olhar complementar de profundos conhecedores da realidade das áreas marinhas protegidas, quer pelo registo fotográfico destas paisagens subaquáticas quer pela investigação científica associada à biodiversidade marinha e sua conservação.O momento foi também de balanço após os cinco primeiros anos de implementação do

Parque Marinho e quando chega ao fim o primeiro projecto de conservação dos habitats marinhos deste também sítio de interesse comunitário no âmbito da RedeNatura 2000 – o projecto Life Biomares. O início do que será, por certo, um longo caminho na recuperação da riqueza natural da costa da Arrábida foi testemunhado, tendo sido relevado por todos os intervenientes a existências de numerosos indicadores que comprovam a revitalização da biodiversidade marinha do Parque, nomeadamente grande diversidade de espécies, dimensão apreciável de alguns exemplares, comportamentos naturais dos animais mesmo na presença humana, abundância muito significativa de exemplares juvenis. Os testemunhos destes observadores privilegiados, bem como a informação técnica entretanto disponibilizada pela comunidade científica, unirão esforços por divulgar e informar utilizadores da área e população em geral sobre a importância das áreas marinhas.

Floresta: bens públicos

e serviços ambientais

Integrado nas comemorações do Ano Internacional das Florestas e por ocasião

da 48.ª Feira Nacional de Agricultura, a Autoridade Florestal Nacional realizou, no dia 6 de Junho, um seminário sobre Bens

Públicos e Serviços Ambientais. O evento, com início às 10h00, teve lugar no Centro Nacional de Exposições (CNEMA) em

Santarém.Pretendeu-se com esta iniciativa contribuir para uma reflexão sobre a importância de

alguns serviços ambientais proporcionados pelas florestas em termos de valorização

económica, e sobre mecanismos que visem a remuneração da produção pelo fornecimento destes mesmos serviços, permitindo alargar a

base de sustentabilidade do sector.

Na data em que se assinalou o Dia Nacional do Património Geológico e Dia Internacional da Terra, 22 de Abril, foi entregue à Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores o Prémio Geoconservação 2011, uma distinção do Grupo Português da ProGEO, a Associação Europeia para a Conservação do Património Geológico. O júri decidiu atribuir o prémio reconhecendo “o trabalho desenvolvido na Região Autónoma dos Açores nos últimos anos, nomeadamente a nível da inventariação, protecção e valorização do património geológico açoriano e que constitui a base do projecto Geoparque Açores”. Para a edição deste ano concorreram ainda as autarquias de Braga, Freixo de Espada à Cinta, Lagos, Miranda do Corvo, Povoação e Sabugal. A cerimónia de entrega deste prémio decorreu na Ilha de S. Miguel, inserido num evento organizado pelo Observatório Microbiano das Furnas, Associação Geoparque Açores e Parque Natural de S. Miguel.

Parque MarinhoProfessor Luiz Saldanha

Prémio Geoconservação

Page 57: Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes

Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 57

O projecto LIFE “Recuperação do Habitat do Lince-ibérico no Sítio Moura/Barrancos”, que decorreu entre Outubro de 2006 e Dezembro de 2009, promovido pela LPN – Liga para a Protecção da Natureza em parceria com a Fauna & Flora International (FFI) e o Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS / ISCTE – IUL), foi distinguido pela Comissão Europeia como um dos “Melhores entre os Melhores” (Best of the Best) projectos LIFE – Natureza avaliados durante o ano de 2010. Dos cerca de 60 projectos LIFE – Natureza desenvolvidos em diferentes países da Europa e avaliados em 2010, apenas seis receberam esta distinção por parte da Comissão Europeia.O projecto, que tinha como principal objectivo contribuir para a recuperação e conservação de habitats favoráveis à presença do lince-ibérico no Sítio Moura/Barrancos, incluindo a recuperação das populações naturais de coelho-bravo (a principal presa deste raro felino), foi possível graças ao empenho de

todos os que nele colaboraram.A chave do sucesso resultou sobretudo da confiança e colaboração de todos os proprietários e gestores que firmaram Protocolos de Colaboração com a LPN, no âmbito do LIFE Lince Moura/Barrancos, permitindo deste modo implementar medidas de gestão e conservação do habitat dirigidas ao Lince-ibérico. Um dos principais objectivos desta iniciativa é o de contribuir para a conservação e a gestão a longo prazo de um corredor de áreas prioritárias para a conservação do lince-ibérico em Portugal. Este corredor permitirá assegurar a expansão transfronteiriça e a ligação de populações isoladas desta espécie no Sul de Portugal e Espanha.O projecto LIFE Lince Moura/Barrancos demonstra que a articulação e compatibilização das actividades humanas com a conservação da natureza é possível, e em particular no caso da preservação do lince-ibérico e dos seus habitats.

O Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, parceiro nos projectos NATURA Miño-Minho e NATURA Xurés-Gerês (co-financiados pelo programa POCTEP/FEDER), organizou o 2.º Fórum

de Conservação de Espaços Naturais Transfronteiriços Galiza-Norte de Portugal. Este evento pretendeu divulgar os resultados obtidos no âmbito destes dois projectos e teve lugar no dia 9 de Junho, no Gerês.

Conservação de Espaços Naturais Transfronteiriços

Projecto Life Lince Moura/Barrancos

João L. Teixeira

João L. Teixeira

João

L. T

eixe

ira

Page 58: Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes

58 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

58 BLOCO DE NOTAS

Avifauna do Estuário do CávadoE se trocássemos “aquela” expedição às remotas Galápagos por uma simples

saída de campo numa zona húmida da nossa região onde a caprichosa obra

da selecção natural também se revela em toda a sua plenitude e grandeza?

Entre as últimas aves invernantes a partirem, as que cumprem um percurso migratório e as que encontram no Cávado condições favoráveis para se reproduzirem, são inúmeras as espécies que competem pelos recursos alimentares disponíveis em terra, no meio aquático e nos sedimentos a descoberto na maré baixa. Foi deste modo que, ainda antes das narcejas (Gallinago gallinago) debandarem dos prados salgados, assistimos à insólita chegada de um bando de marrecos (Anas querquedula) em busca da suculenta matéria vegetal dos fundos fluviais, vimos os desembaraçados pernas-longas (Himantopus himantopus) a abastecerem-se de insectos aquáticos e as hábeis garças-imperiais (Ardea purpurea) a “apunhalarem” os peixes mais incautos junto às margens. Ou seja, como num puzzle, a agitada passagem para o Estio faz coincidir nestes habitats ribeirinhos um grande número de aves que, ombro a ombro, disputam a sua posição num bem determinado nicho ecológico.As aves que referi estão dotadas de características morfológicas que claramente as distinguem, mas também afluem a este pequeno estuário outras que partilham traços evolutivos semelhantes. Apesar disto, a proximidade com que agora aqui se distribuem evidencia algumas variações

adquiridas por cada uma delas. Assim, tal como Darwin, que ao lançar um olhar atento sobre os bicos dos tentilhões enquanto atravessava o Pacífico, se maravilhou com os prodigiosos efeitos da evolução das espécies, também muitos de nós nos questionamos

sobre as razões das diferenças entre os bicos, as patas e outras particularidades adaptativas daquelas nossas aves que sabemos terem origens em ancestrais comuns.Sem ousarmos imitar a épica viagem do famoso naturalista, facilmente concluímos pela observação da avifauna local que as estratégias alimentares estão entre as principais causas daquela diversidade. Tomando apenas o exemplo das nossas visitantes melhor equipadas, as limícolas, descobrimos que aqui a “mesa”, além de

farta, é variada. Os longos e afilados bicos dos fuselos (Limosa lapponica) permitem-lhes consumir quase em exclusivo as mais nutritivas poliquetas, o que obriga os pernas-vermelhas (Tringa totanus), menos bem preparados a este nível, a alternarem

o regime com pequenos moluscos. Por sua vez, os maçaricos-galegos (Numenius phaeopus) tiram vantagem da bem desenhada curvatura do bico para alcançarem caranguejos, enquanto os pilritos-comuns (Calidris alpina) introduziram os bivalves na dieta de marisco. Mais afastadas dos lodaçais, e sem aquelas avançadas tecnologias, as rolas-do-mar (Arenaria interpres) demonstram especial aptidão a revirarem pedras nas margens, onde os pilritos-d’areia (Calidris alba), acompanhados por

raros pilritos-pequenos (Calidris minuta), tiram proveito da menor concorrência nos solos arenosos. E como os capítulos da “sequela” a que chamamos Luta pela Sobrevivência não são visíveis à nossa escala temporal, resta-nos o contentamento de sermos testemunhas doutras transformações como a recém-chegada ao nosso clima das andorinhas-dáuricas (Hirundo daurica), cuja descendência não tardará a povoar os nossos céus.

Texto e fotos: Jorge Silva

Andorinha-dáurica

FuseloMaçarico-galego

Page 59: Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes

Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 59

A Ilustração Portugueza e o rio Febros

Em 17 de Junho do ano da graça de 1918, na secção Portugal Pitoresco da revista Ilustração Portugueza, o rio

Febros foi tema de uma página escrita por Haydée Mercedes do Céu Gama de Carvalho.A Ilustração Portugueza (28 páginas) era uma edição semanal do antigo jornal «O Século», com sede em Lisboa, no caso a n.º 643, II série, com a imagem de uma pastorinha na capa, que custava aos leitores, o número avulso, 15 centavos.Com quatro ilustrações a preto e branco (chamadas na época “cliché”), lê-se assim segundo o acordo ortográfico na altura em vigor: «Portugal, para qualquer canto que os nossos olhos se dirijam, mostra-nos os dotes com que a natureza o bafejou, pois esta tão linda terra contém maravilhas que em outras não é facil encontrar. As suas paisagens são cheias de encanto e as suas belezas naturaes um eden!O rio Febros que divide a freguezia de Avintes de Vilar d’Andorinho, no concelho de Gaya, é sobremaneira d’um pitoresco unico! As fotografias que acompanham estas linhas mostram á evidencia o quanto tem de belo em regionalismo este trecho do nosso Portugal.As suas margens cheias de arvoredo, as penedias escalavradas, os declives duros e no fundo os moinhos com as suas levadas, as moçoilas alegres com trajes garridos, e os velhos, de traços fisionomicos bem acentuados, no seu viver monotono, caracterisam perfeitamente esta bela região cantada pelos poetas e trasladada pelos artistas. Maio, 1918».Os moinhos e as pontes rústicas são elementos dominantes nas imagens desta página que media 19,5 x 29 cm.No final da ficha técnica, um pormenor dirigido aos leitores em rodapé: «Depois de lida a Ilustração Portugueza enviai-a á Junta Patriótica do Norte (Paços do Concelho – Porto) para esta a fazer chegar aos nossos soldados do front».

Por Filipe Vieira

Além de livros antigos a Biblioteca do Parque Biológico de Gaia reúne publicações actuais, estudos, monografias e brochuras ou DVD que versem essencialmente a temática ambiental. Esta pequena biblioteca, aberta ao público durante a semana entre as 10h00 e as 17h00 (fecha entre as 13 e14h00), tem uma sala de leitura onde os visitantes podem desfrutar de condições para estudar ou simplesmente consultar obras. As últimas publicações que deram entrada na biblioteca foram:- “Histórias da Vida na Terra”, um DVD filmado

exclusivamente em território nacional que inclui um guião de visionamento.- Editado em 2010 por Jurgen Ott, “Monitoring climatic change with dragonflies”. - “Floresta, muito mais que árvores”, um manual de educação ambiental para a floresta produzido no âmbito do protocolo existente entre a Autoridade Florestal Nacional, o Centro de Ecologia Aplicada Prof. Beata Neves do Instituto Superior de Agronomia e a Associação para o desenvolvimento do ISA, Editado por AFN – Autoridade Florestal Nacional em Março de 2011.

Títulos recentes

BIBLIOTECA 59

Page 60: Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes

60 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono

Para aderir a este projecto recorte o seguinte rectângulo e remeta para:

Junto se envia cheque para pagamento

Nome do MecenasRecibo emitido à ordem de

1 m2 = e 50 = menos 4 kg/ano de CO2

Telefone

Email

Endereço

N.º de Identificação Fiscal

O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo Sim Não

60 SEQUESTRO DE CARBONO

Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA

B3 • Alice Branco e Manuel Silva • Amigos do

Zé d’Adélia • Ana Filipa Afonso Mira • Ana Luis

Alves Sousa • Ana Luis e Pedro Miguel Teixeira

Morais • Ana Miguel Padilha de Oliveira Martins •

Ana Rita Alves Sousa • Ana Rita Campos, Fátima

Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e Cláudia

Neves do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária

de Oliveira do Douro • Ana Sofia Magalhães

Rocha • Ana Teresa, José Pedro e Hugo

Manuel Sousa • António Miguel da Silva Santos

• Arnaldo José Reis Pinto Nunes • Artur Mário

Pereira Lemos • Bárbara Sofia e Duarte Carvalho

Pereira • Bernadete Silveira • Carolina de Oliveira

Figueiredo Martins • Carolina Sarobe Machado •

Carolina Birch • Catarina Parente • Colaboradores

da Costa & Garcia • Colégio Efanor • Colégio

Paulo VI • Cónego Dr. Francisco C. Zanger •

Convidados do Casamento de Joana Pinto e

Pedro Ramos • Cursos EFA Básicos (2009/10) da

Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira

Alves • Deolinda da Silva Fernandes Rodrigues

• Departamento Administrativo Financeiro da

Optimus Comunicações, SA - DAF DAY 2010 •

Departamento de Ciências Sociais e Humanas da

Escola Secundária de Ermesinde • Departamento

de Matemática e Ciências Experimentais (2009/10)

da Escola Secundária de Oliveira do Douro •

Dinah Ferreira • Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos

• Eduarda e Delfim Brito • Eduarda Silva Giroto •

Escola Básica da Formigosa • Escola Dominical

da Igreja Metodista do Mirante • Escola EB 2,3

de Valadares • Escola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto

Vasconcelos Projecto Pegada Rodoviária Segura,

Ambiente e Inovação • Escola EB 2,3 Escultor

António Fernandes de Sá • Escola Secundária

Almeida Garrett - Projecto Europeu Aprender a

Viver de Forma Sustentável • Escola Secundária

do Castelo da Maia • Família Carvalho Araújo •

Família Lourenço • Fernando Ribeiro • Francisco

Gonçalves Fernandes • Francisco Saraiva •

Francisco Soares Magalhães • Graça Cardoso

e Pedro Cardoso • Grupo ARES - Turma 12.º B

(2009/10) da Escola Secundária dos Carvalhos •

Grupo Ciência e Saúde no Sec. XXI - Turma 12.º

B (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim

Gomes Ferreira Alves • Guilherme Moura Paredes

• Hélder, Ângela e João Manuel Cardoso • Inês,

Ricardo e Galileu Padilha • Joana Fernandes da

Silva • Joana Garcia • João Guilherme Stüve •

Joaquim Pombal e Marisa Alves • Jorge e Dina

Felício • José Afonso e Luís António Pinto Pereira

• José António da Silva Cardoso • José António

Teixeira Gomes • José Carlos Correia Presas

• José Carlos Loureiro • José da Rocha Alves

• José, Fátima e Helena Martins • Lina Sousa,

Lucília Sousa e Fernanda Gonçalves • Luana e

Solange Cruz • Manuel Mesquita • Maria Adriana

Macedo Pinhal • Maria Carlos de Moura Oliveira,

Carlos Jaime Quinta Lopes e Alexandre Oliveira

Lopes • Maria de Araújo Correia de Morais Saraiva

• Maria Guilhermina Guedes Maia da Costa, Rosa

Dionísio Guedes da Costa e Manuel da Costa

Dionísio • Maria Helena Santos Silva e Eduardo

Silva • Maria Joaquina Moura de Oliveira • Maria

Manuela Esteves Martins Alves • Maria Violante

Paulinos Rosmaninho Pombo • Mariana Diales da

Rocha • Mário Garcia • Mário Leal e Tiago Leal

• Marisa Soares e Pedro Rocha • Miguel Moura

Paredes • Miguel Parente • Miguel, Cláudia e

André Barbosa • Nuno Topa • Paula Falcão •

Pedro Manuel Lima Ramos • Pedro Miguel Santos

e Paula Sousa • Professores (2010/11) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Professores e

Funcionários (2009/10) da Escola Secundária de

Oliveira do Douro • Regina Oliveira e Abel Oliveira •

Ricardo Parente • Rita Nicola • Sara Pereira • Sara

Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa Silva Ramos do

11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira

do Douro • Serafim Armando Rodrigues de

Oliveira • Sérgio Fernando Fangueiro • Tiago José

Magalhães Rocha • Turma A do 8.º ano (2008/09)

da Escola EB 2,3 de Argoncilhe • Turma A do 9.º

ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do

Douro • Turma A do 11.º ano (2010/11) da Escola

Secundária de Ermesinde • Turma A do 10.º ano

e Professores (2010/11) da Escola Secundária de

Oliveira do Douro • Turma A do 12.º ano (2010/11)

da Escola Secundária de Ermesinde • Turma C

do 10.º ano (2010/11) da Escola Secundária de

Ermesinde • Turma D do 10.º ano e Professores

(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do

Douro • Turma D do 11.º ano (2010/11) da Escola

Secundária de Ermesinde • Turma E do 10.º ano

(2008/09) da Escola Secundária de Ermesinde

• Turma E do 12.º ano (2010/2011) da Escola

Secundária de Ermesinde • Turma G do 12.º

ano (2010/11) - Curso Profissional Técnico de

Gestão do Ambiente do Agrupamento de Escolas

Rodrigues de Freitas • Turma IMSI do Curso EFA

- ISLA GAIA (2008/09) • Turmas A e C do 10.º

ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira

do Douro • Turmas A e C do 11.º ano; A e B

do 12.º ano e Professores (2010/11) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro •Turmas B e C

do 12.º ano - Psicologia B (2009/10) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Turmas B e D

do 11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de

Oliveira do Douro • Turmas B e G do 12.º ano; G

e H do 11.º ano e F do 10.º ano (2010-2011) da

Escola Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha

Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confiarem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono

Parque Biológico de Gaia • Projecto Sequestro do Carbono • 4430 681 Avintes • V. N. Gaia

apoiando a aquisição de

Procedeu-se à transferência para NIB 0033 0000 4536 7338 05305

euros.

Page 61: Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes

Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 61

Para mais informações pode contactar pelo n.º (+351) 227 878 120 ou em [email protected]

Parque biológico de gaiaProjecto Sequestro do Carbono

4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia

CONFIE AO PARQUE BIOLÓGICO DE GAIAO SEQUESTRO DE CARBONO

Ajude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área de floresta em Vila Nova de Gaia com a garantia dada pelo Município de a manter e conservar e de haver em cada parcela

a referência ao seu gesto em favor do Planeta.

1 m2 = e 50 = menos 4 kg/ano de CO2

Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confiarem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono

Page 62: Portfolio: Dunes Interview: Lichens Report: Natural soundscapes

Cheguei a Coimbra

em Julho de 1949, vindo

de Angola, onde nasci

e vivi no seio da floresta

tropical de chuva,

actualmente designada

por pluvisilva (do latim

pluvia = de chuva

e silva = floresta)

Razões de ser biólogo, botânico e ambientalista

62 • Parques e Vida Selvagem Verão 2011

Por Jorge PaivaBiólogo, Centro de Ecologia Funcionalda Universidade de [email protected]

62 CRÓNICA

Foi junto e no seio deste tipo de floresta que passei toda a minha infância até ir para Luanda a fim de fazer a preparação para o exame

de admissão ao liceu. A partir dessa altura, passei todos os períodos de férias nesse ambiente florestal, até vir para Coimbra. Minha Mãe passou tormentos e frequentemente me admoestava por eu ir brincar para o interior da floresta e subir às árvores, algumas altíssimas (ali atingiam 70-80 m de altura). O pior é que arrastava comigo irmãos e irmãs. Recordo-me de ver de perto macacos (ex.: Chlorocebus cynosuros) e “pacaças” ou búfalos-da-floresta (Syncerus caffer subsp. nanus). A nossa casa estava tão “integrada” nessa região florestal, que alguns antílopes atravessavam em correria o espaço fronteiro à casa, como, por exemplo um antílope muito pequeno, ali conhecido por “seixa” (Cephalophus monticola). Tinha medo era dos leopardos (Panthera pardus), ali designados por onças, pois não só nos dizimavam a criação (particularmente o gado caprino e, uma vez, um conseguiu entrar na capoeira e não sossegou enquanto não matou toda a criação: galinhas, patos e gansos), como caçavam qualquer cão que ficasse na rua por esquecimento. Por outro lado, como o quarto onde dormia com um dos meus irmãos era coberto a zinco, eu ouvia-os à noite a “passearem” por cima das chapas de zinco a ver se conseguiam encontrar algumas fresta para entrarem nas capoeiras que ficavam na mesma correnteza dos nossos quartos. Lembro-me também de uma vez ir sozinho por um caminho de terra batida e estar um leopardo sentado ao lado do caminho, a olhar atentamente para mim. Com todo o cuidado rodopiei e afastei-me lentamente, como me haviam ensinado os habitantes daquela região. Talvez por isso, ainda hoje, o leopardo é o animal selvagem que mais respeito.Algumas vezes fui castigado por subir às

árvores muito altas da floresta. Lembro-me de dois enormes embondeiros, termo talvez derivado do vernáculo “mbondo” (Adansonia digitata), aos quais também “trepava” quando podia, para colher os frutos (“mucuas”), parti-los e chupar a polpa seca, agridoce, que envolve as sementes. Outro “divertimento” que tinha era vir para a rua, durante as tempestades, para ver se conseguia vencer a força do vento que empurrava o meu pequeno e leve corpo (sempre fui magro) de encontro às paredes da nossa casa de habitação. Também gostava de ouvir o ribombar dos trovões e ir para as janelas observar o céu pleno de relâmpagos. À noite, então, era um espectáculo digno de observação. Lembro-me de ir para uma janela das traseiras da casa, ver se alguma faísca caía na árvore mais alta que ali havia, uma mafumeira (Ceiba pentandra), pois dizia-se que os raios atingiam preferencialmente as árvores mais altas das florestas. Nunca tive essa “sorte”. Por isso, ainda hoje uma forte tempestade não me provoca apreensão.

Serra da Estrela, Torre, 28-12-1954 – Francisco Keating, Jorge Paiva e Nuno Ferrand de Almeida

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Razões de ser biólogo, botânico e ambientalista

Fui também admoestado muitas vezes pela minha Mãe, por comer frutos silvestres (que via os macacos comerem) e outros que diziam poderem provocar doenças (que nunca tive), como as gajajas ou “minguengues”, frutos saborosíssimos de uma árvore originária da América tropical (Spondias mombin); uma espécie de formiga termiteira na fase voadora, a “ginguna” (Macrotermes bellicosus), que o meu irmão mais novo, ainda na fase infantil (saiu de lá aos quatro anos), apreciava imenso; gafanhotos verdes assados (Ruspolia nitidula) e lagartas das palmeiras do óleo de palma (Elaeis guineensis), cruas ou assadas na brasa. Estas lagartas (“katatu”) são grossas e grandes, mais ou menos como o dedo polegar de um adulto e constituem a fase larvar de um coleóptero (Rhynchophorus palmarum), que é o vector de uma praga mortal para a palmeira, pois a lagarta transporta no aparelho digestivo, um nemátode (Rhadinaphelencus cocophilus) que provoca uma doença conhecida por “anel vermelho” da palmeira. Já adulto comi

outras lagartas, esta de um lepidóptero, uma borboleta diurna (Imbrasia belina), que se alimenta das folhas de uma árvore da família das Leguminosas (Colophospermum mopane, “mutiati”, no Sul de Angola), muito apreciadas, particularmente no Botswana, onde já se vendem enlatadas em conserva (Mopani magdtsa). Durante as minhas campanhas mais longas nas regiões tropicais (chegaram a durar 6 meses, sempre acampando), a minha alimentação tinha como base conservas; pouca carne comia, pois nunca usei uma arma. No entanto, algumas vezes aproveitei animais acabados de caçar por leões (afugentávamos os leões com o camião, buzinando e colocando o antílope morto por baixo do veículo) ou pelos leopardos, indo buscar os antílopes (já sem as vísceras, comidas pelo leopardo) que estes predadores penduram nas árvores para que os outros carnívoros (leões, hienas, chacais, etc.) não comam o que ele não consegue comer de uma vez e que quer guardar para mais tarde comer, sem gastar energias a caçar constantemente.Em São Tomé e Príncipe, onde já estive mais de uma dúzia de vezes, também experimentei comer carne de macaco (Cercopithecus mona), ali muito apreciados, mas de que não gostei, talvez por saber o que estava a comer, e morcegos (Rousettus aegyptiacus), as “raposas voadoras” que, sendo frugívoros (alimentam-se apenas de fruta), não me causou repulsa nenhuma comê-los.Ainda hoje gosto imenso destas lagartas e de “funge” (papa de farinha de mandioca) de “cacusso” ou kikuso” (Oreochromis niloticus) seco, uma tilápia (peixe de água doce, comum nos lagos africanos) saborosíssima. Sempre que vou a Angola, como “cacusso” e, quando as encontro, as lagartas das palmeiras.Quando, em 2008, voltei ao local onde vivi a minha infância, Quilombo dos Dembos

(província de Quanza Norte), assim se chama, a casa ainda lá está, mas os embondeiros e as mafumeiras já lá não estão.Para se ter uma noção da primitividade da região onde nasci, acrescento que eu ainda conheci fenómenos de canibalismo. Claro que hoje interpreto esses fenómenos de outra maneira. Eram casos de canibalismo plenos de misticismo, pois o canibal (“kinzary”), camuflado com uma pele de leopardo, normalmente matava a última mulher da fila indiana em que se deslocava por um estreito caminho. Aos gritos desta, as outras fugiam. Então o “kinzary” matava-a, abria-lhe o peito e levava o coração, que, segundo presumo actualmente, lhe serviria para actividades de feitiçaria ou qualquer outro sortilégio ou misticismo. Hoje, ao pensar em tudo isso, que a minha memória de infância fixou para sempre, admito que o “kinzary” era alguém da população local que sabia das actividades das mulheres, para ter conhecimento que elas estavam fora dos agregados populacionais e que se dirigiam a algum lado (normalmente para recolha de alimento ou de água) através de veredas na floresta.Admito que essa vivência infantil tão intensa no seio da Natureza e das florestas tenha contribuído fortemente para a minha formação estudantil e profissional e para a minha consciência e actividade ambientalista.Para terminar esta resenha justificativa do meu ambientalismo, recordo-me que, ainda caloiro universitário de Coimbra (1954), contra a opinião dos meus Pais, que a muito custo me autorizaram, fui passar 5 dias (26 a 30 de Dezembro) para o topo da Serra da Estrela com o Francisco Ferrand de Almeida (na altura estudante universitário de Biologia, mais tarde Professor da Universidade de Coimbra), um irmão dele, o Nuno Ferrand de Almeida (na altura estudante universitário de Geologia, mais tarde geólogo e geofísico) e o Francisco

Elefantes, mãe e filho – Masai Mara, Quénia,14-8-1999 Paisagem com elefantes e zebras – Amboseli, Quénia, 17-8-1999 Leões em “namoro” – Masai Mara, Quénia, 15-8-1999

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64 CRÓNICA

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Keating (aluno universitário, que, infelizmente, deixou a vida ainda jovem). Nessa altura ainda não havia por cá sacos-cama e fomos sem barracas de campanha, pois as que nos interessavam eram incomportáveis para os nossos parcos recursos económicos. Assim, dormimos em palheiros e em pequenos abrigos. Fomos de camioneta até Loriga e daqui, sempre a pé, subimos até à Torre, daqui fomos para Manteigas, regressámos à Torre e fomos para a Covilhã, onde apanhámos o comboio para Coimbra. Foram cinco dias duros, de longas caminhadas, com frio e neve, de mochilas carregadas com alimentos e cobertores e noites desconfortáveis e mal dormidas. Foi a minha primeira experiência ambientalista na Serra da Estrela. Eu sou dos que ainda vi lobos na Serra da Estrela.Com estes Amigos e alguns outros, durante alguns anos, subíamos a Serra da Lousã sempre que ela aparecia coberta de neve. Íamos de comboio de Coimbra até à Lousã e daí, a pé, ao Trevim e regresso à Lousã. Voltávamos para Coimbra de comboio novamente. Tudo no mesmo dia.Durante os meus estudos universitários em Biologia, ia frequentemente para o campo, com o Armando Reis Moura (na altura estudante de geologia, mais tarde geólogo e biólogo). Nessas intensas viagens campestres, colhia plantas para herbário e ele, rochas, minerais e fósseis. Mais tarde, voltámos a andar juntos no campo, num curto período de tempo em Moçambique e depois durante muitos fins-de-semana na região Centro de Portugal, quando ele resolveu licenciar-se em Biologia e precisou de apresentar um herbário. Nunca um aluno de Biologia apresentou um herbário tão grande (tinha cerca de 800 plantas, a maioria delas com duplicados).Assim, quando terminei a minha licenciatura em Biologia, era já um amante e defensor da Natureza. Foi assim que se iniciou a minha intensa actividade cívica ambientalista, sem quaisquer vantagens económicas e profissionais e da qual não estou nada arrependido.

Finalmente, as razões que me levaram a cursar Biologia e tornar-me num botânico.No ensino secundário tive cinco grandes professores que me marcaram profundamente e que recordo com imensa admiração e saudade. Eram professores no Liceu D. João III, em Coimbra, actualmente Escola Secundária José Falcão.O Dr. Álvaro da Silveira, o “Silveirinha”, por ser de baixa estatura, professor brilhante e dotado de elevado humanismo, ensinou-nos a raciocinar em Matemática de tal maneira que, na Universidade, eu fiz a disciplina de matemáticas gerais sem nenhuma dificuldade, com o “feroz” Prof. Manuel Esparteiro.O Dr. Alberto Martins de Carvalho homenageado com a atribuição do seu nome à Biblioteca Municipal de Coja (Arganil), que dava umas aulas de Filosofia tão clarividentes que, no exame nacional final, dispensei da oral com 16, praticamente sem ter aberto o livro adoptado.O Dr. António Leitão de Figueiredo, o “Good morning”, porque dava as aulas em inglês, homenageado com a atribuição do seu nome a uma sala desta Escola Secundária, ensinou-nos inglês de tal modo que, quando fui trabalhar para o Museu de História Natural (British Museum) em Londres, não precisei de ter lições desta língua.O Dr. Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (o poeta António Gedeão), homenageado pela Escola Secundária Pedro Nunes (Lisboa), onde foi professor durante muitos anos, com a atribuição do seu nome ao respectivo Laboratório de Físico-Química, pelas suas excepcionais qualidades como pedagogo, investigador, escritor, historiador e poeta. Este memorável professor tinha umas qualidades didácticas e humanas tão extraordinárias que fez com que eu tivesse lido, enquanto seu aluno, todos os livros de divulgação científica, sob a forma de interessantes histórias, que

publicou nessa altura (1952…) (ex.: A história do telefone; da fotografia; da electricidade estática; do telefone; dos balões; do átomo…), e com que eu tivesse ensinado diversos ramos de Química desde estudante universitário (ex.: Química Geral, Química Inorgânica, Química Orgânica, Química Orgânica Complementar Análise Química, Análise Química Complementar, Química Média, Química Fisiológica…).Por último, a Dr.ª Raquel Braga, a D. Raquel, como a tratávamos, tão bondosa que não se importou de ficar com a nossa turma, considerada uma turma dificílima (de “corrécios”), que foi também uma excelente professora de elevadas qualidades humanas e pedagógicas. Foi esta saudosa professora de Biologia, que recordo com veneração, que me ensinou a olhar para os seres vivos com compreensão e respeito, quer fossem animais, quer fossem plantas. Lembro-me bem da maneira delicada como pegava nos animais e nas plantas para nos ir mostrando as respectivas características diferenciais e comportamentais. Foi por causa desta santa professora, que escolhi cursar Biologia.Ainda não estava licenciado e já dava aulas de Biologia no Colégio S. Pedro, em Coimbra. Quando já licenciado, fui convidado para ir trabalhar no Instituto Botânico da Universidade de Coimbra, na Flora Africana, pelos professores Abílio Fernandes e José de Barros Neves. Ainda por cima, logo no início da minha actividade profissional, efectuei, com o saudoso Dr. António Rocha da Torre e com o Manuel Correia, uma ampla exploração botânica pela África Oriental (4 de Dezembro de 1959 a 4 de Maio de 1961), particularmente por Moçambique, onde se percorreram cerca de 30 mil quilómetros, acampando, por vezes, em locais habitados por leões, que rosnando praticamente toda a noite, não nos deixavam dormir.Foi assim que me tornei num botânico, estudioso de plantas vasculares europeias e tropicais e num activista na defesa da Natureza e do Ambiente.

Conserva de lagartas, Imbrasia belina, Botswana

Morcego (raposa-voadora), São ToméLeopardo, Quénia

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Parques e Vida Selvagem Verão 2011 • 65

Parques e Vida SelvagemParque Biológico de Gaia | 4430 - 757 AvintesTelemóvel: 916 319 197 | e-mail: [email protected]

Quer fazer parte deste projecto?Quer divulgar os seus produtos a mais de um milhão de leitores?

Garanta a sua presença na próxima revista!

COLECTIVISMO 65

Atlas das aves migradorasO Atlas das Aves Invernantes e Migradoras procura voluntários por todo o país e tem como objectivo obter informação acerca da distribuição e abundância relativa de todas as espécies de aves invernantes e migradoras no espaço geográfico português.O projecto consiste numa parceria entre o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, a Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves, a Universidade de Évora, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar (Açores) e o Serviço do Parque Natural da Madeira. Esta obra permitirá colmatar uma importante lacuna de informação sobre a avifauna portuguesa em fases importantes do ciclo de vida desse grupo e o seu resultado constituirá uma importante obra de referência, de inegável utilidade.Adicionalmente, pretende-se ainda realizar amostragem dirigida a aves nocturnas.

João

L. T

eixe

ira

Todas as observações realizadas noutras alturas e/ou noutras áreas poderão ser submetidas como registos adicionais, desde que tenham ocorrido dentro do período de amostragem. Os colaboradores voluntários do Atlas terão à sua disposição um manual de apoio

e serão enquadrados pela coordenação geral de voluntários e pelos coordenadores regionais nomeados. Para mais informações e inscrição como voluntário consulte directamente a página da internet www.spea.pt/pt/como-ajudar/voluntariado/accoes-de-campo.

Abibe

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O programa 11 caminhos + 1 | Percursos na biodiversidade convida todos os interessados a participar na inauguração de 12 Estações da Biodiversidade. Cada estação corresponde a um percurso pedestre onde se encontram instalados painéis informativos com imagens e comentários sobre plantas e animais comuns. Nas inaugurações, após uma breve introdução ao projecto, será feita uma visita guiada por investigadores convidados.O programa começou em Bragança, no dia 18 de Junho, com um passeio pelo Caminho de Carrazedo, em pleno sítio Natura 2000 Montesinho/Nogueira. Até Outubro, e sempre ao fim-de-semana, serão percorridos 12 caminhos, para conhecer a biodiversidade e usufruir de paisagens naturais muito diferentes. Esta é uma iniciativa promovida pelo Tagis – Centro de Conservação das Borboletas

de Portugal, pelo Museu Nacional de História Natural e pelo Centro de Biologia Ambiental, e está integrada no programa de Comemorações do Centenário da Universidade de Lisboa. Os passeios têm uma duração aproximada de 3 horas, são gratuitos e acessíveis a todos os públicos. Não são necessárias inscrições prévias.Mais informações: http://bioeventos2010.ul.pt/index.htmlContactos: [email protected]. 919 515 693 / 966 972 205

66 COLECTIVISMO

Tagis – centro de conservação das borboletas de PortugalMuseu Nacional de História NaturalRua da Escola Politécnica, 58 • 1250-102 LisboaTel. + Fax: 213 965 [email protected] • www.tagis.org

Sociedade Portuguesa para o Estudo das AvesAvenida João Crisóstomo, n.º 18 - 4.º - Dir.1000-179 [email protected] • www.spea.pt

Congresso de Ornitologia

Percursos na Biodiversidade

Mantenha-se a par dos estudos mais recentes desenvolvidos sobre ornitologia e não falte ao VII Congresso de Ornitologia da SPEA, que integra, pela primeira vez este ano, as I Jornadas Macaronésicas de Ornitologia. O evento, que decorre entre 29 e 31 de Outubro, vai ter lugar na ilha da Madeira, em Machico. Os interessados poderão apresentar o seu trabalho e trocar experiências e conhecimentos nas diversas áreas da ornitologia e da conservação da natureza com especialistas nacionais e internacionais. Esta edição irá também atribuir algum destaque às aves da Macaronésia, com as I Jornadas Macaronésicas de Ornitologia, abrangendo assim não só as ilhas da Madeira e Açores, mas também as Canárias e Cabo Verde. A ecologia e conservação de aves florestais; a monitorização das aves comuns e a sua utilização como indicadores do estado dos

ecossistemas; a ecologia e conservação de espécies endémicas e espécies globalmente ameaçadas; perspectivas socioeconómicas e conservação da natureza e a ecologia alimentar de aves marinhas, são alguns dos temas de destaque deste congresso, que pretende reunir cerca de 200 ornitólogos profissionais e amadores, bem como estudantes e outros interessados.A completar o programa científico fazem ainda parte as já habituais saídas de campo, este ano com a novidade de uma delas ser uma saída de barco, que terá como intuito observar aves pelágicas e talvez alguns cetáceos. Não poderia também faltar o jantar de convívio e o leilão silencioso. Mais informações: www.spea.pt/pt/participar/congresso-2011/ Por Joana Domingues (SPEA)

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