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ORNITOWGIA NEOTROPICAL 8: 7-14, 1997 @ Tbe Neotropical Ornitbological Society PREDACAo DE NINHOS ARTIFICIAIS EM FRAGMENTOS DE MATAS DO BRASIL CENTRAL Celine Melo & Miguel Angelo Marini 1, 2 Departamento de Biociencias, Universidade Federal de Uberlandia, 38405-382 Uberlandia, MG, Brasil Abstract. Habitat fragmentation has some negative consequences to bird populations, including high nest predation rates due to the accessof predators to the interior of small fragments. Qur purpose was to test the hypothesis that nest predation rates is inversely related to forest fragment size in forests at 'Tri~ngulo Mineiro', Minas Gerais state, Brazil. We conducted two experiments with artificial nests, August 1994 and January 1995 at 6 and 10 forest fragments, respectively, of several sizes (5.5-230 ha). In each fragment we exposed artificial nests (5 to 10), for 14--15 days, each with one Japanese Quail egg. Our data on artificial nest predation rejected the hypothesis thatpredation rate increases as the area of the forest fragments decreases. We found, however, negative correlations, as expected, in both experiments. No difference between forest edge and forest interior was detected. An explanation with great importance to the conservation of birds from these forests, would be total edge effect in the forest fragments, suggesting similar and high predation levels in the forest interior and at the forest border. Once this hypothesis is supported, forest fragments from Central Brazil smaller than 230 ha may be suffering from high nest predation levels, and as a consequence facing population decreaseor local extinction of bird species. Resumo. A fragmenta~ao de habitats traz algumas consequencias negativas as popula~5es de aves, entre elas a elevas:ao na taxa de preda~ao de ninhos devido ao aumento na facilidade de acessodos predadores ao interior de fragmentos pequenos. A finalidade deste estudo foi testar a hip6tese de que a taxa de preda~ao aumenta a medida que a área do fragmento diminui para matas do Tri~ngulo Mineiro, Minas Gerais, Brasil. Foram realizados experimentos de campo utilizando-se matas de 5.5 a 230 ha, em duas etapas: agosto de 1994 (n = 6 matas) e janeiro de 1995 (n= 10 matas). Em cada mata forarn expostos ninhos artificiais (5 a 10), durante 14-15 dias, cada um contendo um ovo de codorna japonesa. Os dados de predas:aode ninhos artificiais nao suportaram a hip6tese de que a taxa de preda~ao aumenta com a diminui~ao de área dos fragmentos de mata. Entretanto, encontramos correla~5es negativas, como esperado, nas duas etapas conduzidas. As taxas de preda~ao nao diferirarn entre borda e interior de matas. Uma explica~ao com grande import~cia para a conserva~ao de aves destas matas, seria a ocorrencia do efeito de borda por toda a extensao dos fragmentos de matas, sugerindo pressao de preda~ao semelhante e alta no interior e na borda destas matas. Caso esta hip6tese seja corroborada, fragmentos de mata do Brasil Central de até 230 ha podem estar sofrendo elevadas taxas de preda~ao de ninhos e por consequencia, declinio ou extins:ao local de espéciesde aves. Aceito em 25 de Janeiro de 1996. Palavras chave: Cerrado, efeito de borda, florestas, fragmenta,ao, ninhos artificiais, predas:ao. INTRODu<:::Ao Fragmenta~ao de habitat ocorre quando uma grande extensao continua de um tipo de vegeta- ~ao é alterada restando somente resquícios (frag- mentos) espalhados da vegeta~ao original. Estes fragmentos ocupam menor área que na condi~ao inicial, sendo de tamanho, forma e localiza~ao variadas e separadas por habitats diferentes do original (Faaborg et al. 1992). A perda quantitati- va e qualitativa do habitat em áreas fragmentadas, resulta no aumento da quantidade de borda em rel~ao ao interior e consequentemente no aumento do "efeito de borda". Faaborg et al. (1992) definem borda como a jun~ao entre dois tipos de habitat em estágios sucessionaisdiferen- tes. Efeito de borda (revisoes em Paton 1994, Marini et al. 1995, Murcia 1995) é o conjunto de características ecológicas associadas com esta jun~ao que afetam algumas características bio- lógicas e que podem se estender por grandes dista.ncias dentro dos habitats. A fragment~ao de matas está associada a mudan~as que podem causar o declínio de po- pula~oes e diminui~ao das espéciesde aves. No Brasil, Willis (1979) registrou perda de espécies de 1 Bolsista Recém-doutor do CNPq. 2 Enderero atual: Departamento de Biologia Geral, C. P. 486, ICB, Universidade Federal de Minas Gerais, 30161-970 Belo Horizonte, MG, Brasil.

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ORNITOWGIA NEOTROPICAL 8: 7-14, 1997@ Tbe Neotropical Ornitbological Society

PREDACAo DE NINHOS ARTIFICIAIS EM FRAGMENTOSDE MATAS DO BRASIL CENTRAL

Celine Melo & Miguel Angelo Marini 1, 2

Departamento de Biociencias, Universidade Federal de Uberlandia, 38405-382 Uberlandia, MG, Brasil

Abstract. Habitat fragmentation has some negative consequences to bird populations, including high nestpredation rates due to the access of predators to the interior of small fragments. Qur purpose was to test thehypothesis that nest predation rates is inversely related to forest fragment size in forests at 'Tri~ngulo Mineiro',Minas Gerais state, Brazil. We conducted two experiments with artificial nests, August 1994 and January 1995 at6 and 10 forest fragments, respectively, of several sizes (5.5-230 ha). In each fragment we exposed artificial nests(5 to 10), for 14--15 days, each with one Japanese Quail egg. Our data on artificial nest predation rejected thehypothesis thatpredation rate increases as the area of the forest fragments decreases. We found, however, negativecorrelations, as expected, in both experiments. No difference between forest edge and forest interior was detected.An explanation with great importance to the conservation of birds from these forests, would be total edge effectin the forest fragments, suggesting similar and high predation levels in the forest interior and at the forest border.Once this hypothesis is supported, forest fragments from Central Brazil smaller than 230 ha may be suffering fromhigh nest predation levels, and as a consequence facing population decrease or local extinction of bird species.

Resumo. A fragmenta~ao de habitats traz algumas consequencias negativas as popula~5es de aves, entre elas aelevas:ao na taxa de preda~ao de ninhos devido ao aumento na facilidade de acesso dos predadores ao interior defragmentos pequenos. A finalidade deste estudo foi testar a hip6tese de que a taxa de preda~ao aumenta a medidaque a área do fragmento diminui para matas do Tri~ngulo Mineiro, Minas Gerais, Brasil. Foram realizadosexperimentos de campo utilizando-se matas de 5.5 a 230 ha, em duas etapas: agosto de 1994 (n = 6 matas) e janeirode 1995 (n= 10 matas). Em cada mata forarn expostos ninhos artificiais (5 a 10), durante 14-15 dias, cada umcontendo um ovo de codorna japonesa. Os dados de predas:ao de ninhos artificiais nao suportaram a hip6tese deque a taxa de preda~ao aumenta com a diminui~ao de área dos fragmentos de mata. Entretanto, encontramoscorrela~5es negativas, como esperado, nas duas etapas conduzidas. As taxas de preda~ao nao diferirarn entre bordae interior de matas. Uma explica~ao com grande import~cia para a conserva~ao de aves destas matas, seria aocorrencia do efeito de borda por toda a extensao dos fragmentos de matas, sugerindo pressao de preda~aosemelhante e alta no interior e na borda destas matas. Caso esta hip6tese seja corroborada, fragmentos de matado Brasil Central de até 230 ha podem estar sofrendo elevadas taxas de preda~ao de ninhos e por consequencia,declinio ou extins:ao local de espécies de aves. Aceito em 25 de Janeiro de 1996.

Palavras chave: Cerrado, efeito de borda, florestas, fragmenta,ao, ninhos artificiais, predas:ao.

INTRODu<:::Ao

Fragmenta~ao de habitat ocorre quando umagrande extensao continua de um tipo de vegeta-~ao é alterada restando somente resquícios (frag-mentos) espalhados da vegeta~ao original. Estesfragmentos ocupam menor área que na condi~aoinicial, sendo de tamanho, forma e localiza~aovariadas e separadas por habitats diferentes dooriginal (Faaborg et al. 1992). A perda quantitati-va e qualitativa do habitat em áreas fragmentadas,

resulta no aumento da quantidade de bordaem rel~ao ao interior e consequentemente noaumento do "efeito de borda". Faaborg et al.(1992) definem borda como a jun~ao entre doistipos de habitat em estágios sucessionais diferen-tes. Efeito de borda (revisoes em Paton 1994,Marini et al. 1995, Murcia 1995) é o conjunto decaracterísticas ecológicas associadas com estajun~ao que afetam algumas características bio-lógicas e que podem se estender por grandesdista.ncias dentro dos habitats.

A fragment~ao de matas está associada amudan~as que podem causar o declínio de po-pula~oes e diminui~ao das espécies de aves. NoBrasil, Willis (1979) registrou perda de espécies de

1 Bolsista Recém-doutor do CNPq.2 Enderero atual: Departamento de Biologia Geral, C. P. 486,

ICB, Universidade Federal de Minas Gerais, 30161-970 BeloHorizonte, MG, Brasil.

MEW 8t MARTh

codorna japonesa (Coturnix coturnix). Esteprocedimento foi criticado por Roper (1992),entre outros, o qual afirmou a possibilidade deurna subestima~ao do nível de preda~ao dosninhos artificiais em rela~ao aos naturais. Entre-tanto, experimentos com ovos e ninhos artificiaissao apropriados para estimar taxas relativas, enao absolutas, de preda~ao entre diferentes trata-mentos. Embora existam possíveis problemas, autiliza~o de ovos de codorna tem sido a maisviável em experimentos de campo, pois: 1) sao defácil aquisi~ao em grande quantidade e em .boascondi~oes, 3 2) dos ovos disponiveis, sao os quemais se aproximam do tamanho de ovos de avespequenas e médias.

Nosso primeiro objetivo neste estudo foi detestar a hipótese de que a taxa de preda~ao deninhos artificiais é inversamente proporcional aotamanho dos fragmentos de matas, isto é, quantomaior o tamanho do fragmento menor a taxa depreda~ao. Segundo, avaliamos se níveis de preda-~ao de ninhos sao maiores nas bordas do que nointerior das matas.

METODOLOGIA

aves ero fragmentos de matas do sudeste doBrasil, e Bierregaard & Lovejoy (1986, 1989)registrararo o mesmo para espécies de aves ama-zOnicas. Fatores como competi~ao e preda~aotendero a aumentar a medida que o tamanho dohabitat decresce (Levenson 1981). Preda~ao é aprincipal causa de mortalidade de ninhada eexerce grande influencia no comportamentoreprodutivo das aves (Cody 1971). Diversosfatores influenciaro a taxa de preda~o, tais como:

.densidade dos ninhos (Coransson et al. 1975),estrutura da vegeta~ao que circunda o ninho(Martin & Roper 1988) e fase do ciclo daninhada (Ziromermann 1984). Dentre as váriascausas sugeridas por alguns autores para justificarperda de espécies de aves ero fragmentos defloresta, tem-se elevada taxa de preda~ao deninhos nestes pequenos fragmentos (Robbins1979, Arobuel & Temple 1983). A taxa depreda~ao na borda de matas muitas vezes é maiorque no interior, sugerindo que a elevada preda~aoero fragmentos de matas é devido aos predadoresque vivero nas proximidades do habitat e pene.traro nestas florestas fragmentadas (Wilcove et al.1986), selecionando a borda para forragear (Cates& CyselI978). Este acesso do predador por todaa mata é resultante do efeito de borda ao qualmatas pequenas esclo suveitas. O aumento dataxa de preda~o ero fragmentos é atribuído aosseguintes fenomenos: 1) a divisao e redu~oda mata é usualmente acompanhada por urnasubstancial mudan~a na fauna de predadoresaumentando a abundancia dos generalistas(Andrén et al. 1985), e 2) a redu~ao na áreaproduz uro proporcional aumento nas áreas deec6tono favorecendo as estratégias de forragea-mento e aumentando a preda~ao por determina-dos predadores (Wilcove et al. 1986).

Existero algumas dificuldades ero realizarestudos coro ninhos naturais, tais como: 1)grande esfor~o (rouitas horas campo) na coleta dedados, e 2) falta de controle dos fatores (i. e.,altura e tipo de ninho) que podero influenciar apreda~ao dos ninhos. A utiliza~ao de ninhosartificiais, entretanto, oferece vantagens como:1) manipula~o e controle de vários fatores,2) maior facilidade de condu~ao que o estudode ninhos naturais (menor tempo de campo), e3) maior número de ninhos utilizados (Marini1994). Ceralmente, experimentos que estimaro aDredaclo ero ninhos artificiais utilizaro ovos de

Á reas de estudo. Coletamos dados nos municí-pios de Uberlandia e Araguari (Fig. 1) em frag-mentos de matas de 5.5-230 ha (Fig. 2) circunda-das por campos de pastagens. As matas diferemno tipo de vegetas:io e na declividade do terreno(Tabela 1). Estes fatores nao foram controlados,pois o objetivo deste estudo foi avaliar os padroesde predas:io independentemente do tipo de mata.A localizas:io e o tamanho das matas utilizadasesclo na Tabela 1. Utilizamos as matas 1, 2, 3, 4,8 e 9 em agosto de 1994 e todas as dez matas emjaneiro de 1995.

No cálculo das áreas das matas utilizamosimagens de satélite (escala 1:100) feitas em julhode 1992. Através de papel vegetal milimetradofizemos o contorno das áreas de interesse, e poste-riormente calculamos a área dos fragmentos demata. As unidades de medida das áreas foramconvertidas de m2 para ha.

Experimento. Para a confec9ffo dos ninhos arti-ficiais, utilizamos feixes de grarníneas secasdispostos ern espiral, comprimidos contra urnaforma (urna concha) para que os ninhos adquiris-sern urn formato padronizado de aproximada-

PREDA<;;Ao EM FRAGMENTOS DE MATAS

~t30' .roo' N

18°30~

Ara~ari ~

.

-~ Faz. Exp. do Glória

...Res. Ecol. do Panga

,<> Granja Marileuza

.Cruz.dos Peixotos

Faz. da Mata

.Faz. Marimbondo

619°00'-

...

o 20I I I

Km

FIG. 1. wcaliza9ao das matas utilizadas na condu9ao do experimento com ninhos artificiais nos municipios deUberl~ndia e Araguari -MG.

mente 9 cm de dia.metro externo e 3 cm de altu-ra. Após a retirada dos ninhos das formas, estesforam alinhavados para evitar a desagrega~ao.Depois de prontos, os ninhos foram banhadosem barro e deixados ao sol para secar e reduziro odor humano. A partir deste momento osninhos e os ovos foram manipulados com luvasde borracha.

Realizamos os experimentos de campo emduas etapas: 1) durante o inÍcio da esta~ao repro-dutiva em agosto de 1994, e 2) durante o final daesta~ao reprodutiva em janeiro de 1995, com umintervalo de aproximadamente 5 meses entre asetapas. Para estimar a taxa de preda~ao colo-camos um ovo de codorna japonesa em cadaninho. Expusemos os ninhos com os ovos a

MELO&MARINI

Consideramos os ninhos predados quando osovos eram danificados ou removidos. Assim,estimamos I:\ível de preda~ao a partir da por-centagem de ninhos predados em cada uma dasdatas. Ao final de cada experimento removemosdo local os ninhos, ovos e restos dos ovos.

Em cada mata estabelecemos transectos de450 m, iniciando a 25 m da borda da mata, compontos equidistantes de 50 m marcados com fitascoloridas. Distribuímos os ninhos no campo deforma aleat6ria, delimitando 4 quadrantes ,(1, II,III e IV) por intervalo de 50 m Subdividimoscada um destes quadrantes em 4 quadrantesmenores (A, B, C e D) (Fig. 3). A cada 50 msorteamos um dos quadrantes maiores, e emseguida um dos quadrantes menores, dentro doqual colocamos o ninho. Adotamos 5 posis:5es deninhos variando substrato/altura (chao = 0 m,arbusto verde = 0.5 m arbusto seco = 1.0 m,forquilha = 1.5 m e galho alto = 2.0 m), cuja

ordem foi sorteada e a sequencia, repetida duasvezes ao longo do transecto. Cada posi~aoocorreu somente duas vezes em cala mata, vistoque, utilizamos 10 ninhos por mata (Tabela 1).No entanto, quando a área do fragmento erapequena(~ 7 ha) distribuímos apenas 5 ninhos,um em cada posis:ao sorteada, para controlar adensidade de ninhos e evitar efeitos negativos depredas:ao dependente da densidade (ex. Gi:irans-son et al. 1975, Reitsma 1992). Quando naohavia substrato adequado no quadrante (menor)sorteado utilizamos o quadrante imediatamenteanterior, paralelo ao transecto. Assim, cada matateve uma disposis:ao exclusiva de ninhos (locali-

preda~ao por 14-15 dias, tempo médio de incu-ba~ao de aves da regiao (Sick 1986). Checamos osninhos em rela~ao ao seu conteúdo (predado ouintacto) após 5, 10 e 15 dias de exposi~ao emagosto de 1994 e após 7 e 14 días em janeiro de1995.

TABELA 1. Principais características das matas e número de ninhos utilizados no experimento de preda9ao deninhos artificiais nos municípios de Uberlandia e Araguari, MG.

Área

(ha)

Coodenadas

geográficasMata I.ocaliza,ao

AltaMédia

Média

MédiaBaixa

Média

Baixa

Baixa

Baixa

Baixa

230

155

58

54

30

27

24

9

7

5,5

48 o30'W 18°30'548°21'W 18°46'548°21'W 18°42'548°13'W 18°52'548 ° 22'W 18°43'5

48°21'W 18°43'548°21'W 19°11'548°15'W 18°52'548°II'W 18°52'548°30'W 18°30'5

Fazenda da Mata -A

Cruzeiro dos Peixotos -A

Cruzeiro dos Peixotos -B

Fazenda Experim. de GI6ria

Cruzeiro dos Peixotos -C

Cruzeiro dos Peixotos -D

Reserva Ecol6gica do Panga

Granja Marileuza -A

Fazenda Marinbondo

Fazenda de Mata -B

10

10

10

10

10

19

5

5

10

10

0

0

0

10

5

9

Principalmente mata

Mata seca e cerradio

Mata seca

Mata alagada e seca

Mata seca

Mata seca

Mata seca

Mata seca/cerradao

Mata seca

Mata seca9

10

10

PREDA<;:Ao EM FRAGMENTOS DE MATAS

B

Of

.

zas:ao) mapeada. A finalidade deste metodo dadistribuis:ao ao acaso foi evitar o favorecimentode um resultado tendencioso que poderia sercausado pelo experimentador. Na determinas:aodestas posis:oes fizemos um levantamento dossubstratos e alturas utilizadas por passeriformesque constroem ninhos sob a forma de tas:a outigela, modelo de ninho utilizado neste experi-mento (Sick 1986). Determinamos a escolha das

, posis:oes dos ninhos utilizadas no experimentode campo com base naquelas que apresentaramurna maior frequ&ncia de ocorr&ncia nas famíliasde aves consultadas.

Para testar o efeito de borda, utilizamos dadosde predas:ao de ninhos da segunda fase apenas dostr&s maiores fragmentos (números 1, 2 e 3 daTabela 1) para evitar confusao do efeito de bordacom fragmentas:ao.

.;

Potenciais predadores de ninhos. Dentre os diver-sas espéCies que ocorrem na regiao, destacam-secomo potenciais predadores de ninhos: coati

(Nasua nasua), gambás (Didelphis sp.), raposas(Dusicyon sp.), cachorro doméstico (Canis fami-liaris), várias espécies de pequenos roedores, alémde aves ( ex. Rhampastos toco, Cyanocorax crista-

tellus).

Análises estatísticas. Conduzimos correla~oes naoparamétricas de Spearman (rho) para relacionaras taxas de preda~ao com o tamanho dos frag-mentos de matas. Utilizamos o teste do Qui-qua-drado (X2) para verificar se as taxas de preda~aoocorreram ao acaso em rela~ao ao tipo de substra-to. O efeito de borda foi testado através de um te-ste do Qui-quadrado (X2) com corr~ao de conti-nuidade de Yates entre preda~ao de ninhos maisproximos da borda ( <250 m da borda vs. ninhosmais distantes da borda (>250 m da borda). Umsegundo teste foi feito com urna correla~ao de Pe-arson (r) com taxas de preda~ao transformadas(arcsen V; Ott 1988).

I.~

FIG. 3. A -Transecto de 450 m: a cada 50 m há 4quadrantes maiores, sendo cada um destes constituidosde 4 quadrantes menores; B -Disposi~ao aleatória dosninhos para o experimento realizado na Mata {Tabela1) em agosto de 1994.

nao foi significativa (rho = -0,371; P>0,50;

n=6).Dos 90 ninhos artificiais distribuidos nos 10

fragmentos em janeiro de 1995, 63,3% forampredados após 14 dias de exposi~ao em índicesque variaram entre 0 e 100 %. A correla~ao deSpearman entre o tamanho do fragmento e a taxade preda~ao também nao foi significativa (rho =-0,074; P>0,50; n = 10) (Fig. 4). Observamos

que o fragmento número 10 (Tabela 1), apre-sentou um resultado diferente do esperado, poisapesar de ser a menor área de estudo teve a

RESULTADOS

Dos 52 ninhos distribuídos em agosto de 1994,46,2 % foram predados ap6s 15 diasde exposi~ao,em índices que variaram entre 20 e 80 %. Acorrela~ao de Spearman entre o tamanho dofragmento e a taxa de preda~ao em agosto de 1994

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MEW & MARINI

[] n~ 10

X n~9

rh!~-0342,~JO.n~9

-rh!~-0.074.~50,n~10

100 ra a

t 80

%< 60

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B

. a

~

R

a 9

DISCUssAo

Os dados de preda~ao de ninhos artificiais naosuportaram a hipótese de que a taxa de preda~aoaumenta com a diminui~ao da área dos fragmen-tos de mata. Entretanto, encontramos correla-~oes negativas, como esperado, nas duas etapasconduzidas. Dados semelhantes encontrados porSmall & Hunter ( 1988) sugerem que preda~ao emmatas nao é determinada exclusivamente pelotamanho do fragmento, mas também por outrosfatores tais como densidade e diversidade depredadores (Reitsma et al. 1990), ou característi-cas da vegeta~ao (Martin & Roper 1988). O quan-to cada um destes fatores tem prejudicado aspopula~oes de aves é desconhecido. Contudo, sea preda~ao de ninhos age em conjunto comoutros fatores entao um crescimento relativa-mente pequeno na preda~ao de ninhos poderiaaumentar a probabilidade de extin~ao de algu-mas aves (Wilcove 1985). Uma outra explica~aopara o padrao encontrado foi levantada porHaskell (1995) que sugere que estudos de preda-~ao de ninhos com de codorna em fragmentos deflorestas nao refletem os verdadeiros padroes depreda~ao, pois pequenos mamíferos seriam osprincipais predadores de ninhos em florestasgrandes se eles conseguissem predar ovos decodorna.

A amplitude de efeito de borda é indefinida,variando de 10 a 600 m (Wilcove et al. 1986,Murcia 1995) de acordo com a vegeta~ao e o tipode organismo em considera~ao. As matas utili-zadas neste experimento, possivelmente naopossuem uma área central isenta do efeito deborda, visto que as áreas da maioria destes frag-mentos sao relativamente pequenas. Deste modo,os predadores provavelmente tiveram acesso atoda área das matas, ou as comunidades de preda-dores nao diferiram nas bordas e no interior.Wilcove ( 1985) atribuiu a elevada taxa de preda-~ao em pequenos fragmentos ao aumento dadensidade de predadores em pequenas áreas, vistoque estas nao suportam grandes predadores queregulam a popula~ao dos de menor porte. Entre-tanto, como testes de efeito de borda possuemvários problemas metodológicos (Paton 1994,Murcia 1995) e as taxas de preda~ao de ninhospodem variar muito entre bordas (Marini et al.1995) os resultados aqui relatados ainda sao

preliminares.

menor taxa de preda~ao (O %). Retirando-se estamata da análise o coeficiente de correla~aoaumenta, porém, continua nao significativo(rho = -0,342; ?>0,10; n = 9) (Fig. 4).

As taxas de preda~ao dos ninhos nao forammenores no interior do que nas bordas dasmatas. O primeiro teste revelou taxas de pre-da~ao semelhantes (X2 = 0.139; ?= 0.709; g.l. = 1)entre o grupo de ninhos (N = 15) da borda( <250 m da borda) e o grupo de ninhos (N = 15)

do interior das matas (>250 m da borda). Osegundo teste também revelou falta de correla-~ao entre distancia da borda e taxa de pre-da~ao (r2 = 0.000; ?= 0.98; n = 5), com a maior

taxa de preda~ao (83.3 %) nas distancias inter-mediárias (125-175 m e 225-275 m) e as meno-res taxas de preda~ao (33.3 e 50.0 %) respect-ivamente nos ninhos mais próximos da borda(25-75 m) e mais distances da borda (325-375 m

e 425-475 m).Com rela~ao a posi~ao do ninho no substrato,

nao houve diferen~a estatística significativa (X2= 2.681; ?= 0,613; g.l. = 4) de preda~ao de acor-

do com a altura em janeiro de 1995. Dentre osninhos predados, alguns sinais de preda~ao foramregistrados com maior frequ&ncia tais como:remo~ao do ovo sem deixar vestigios (78,9 %) epresen~a do ovo inteiro nas proximidades doninho com ou sem perturba~5es (7,0 %). Ovoscom maiores danos foram encontrados em14.1% dos ninhos.

PREDA<;:Ao EM FRAGMENTOS DE MATAS

Concluímos que as taxas de preda~ao emninhos artificiais nao variaram significativamenteem rela~ao ao tamanho do fragmento de mata,nas matas estudadas no Brasil Central. Estastaxas de preda~ao podem estar sendo afetadas poroutros fatores nao estudados aqui. Nao controla-mos outras características das matas (ex. rela~aoperímetro área, tipo de vegeta~ao, declividade;Tabela 1) que podem afetar a taxas de preda~ao.de ninhos, pois o nosso objetivo era de avaliar astaxas de preda~ao de ninhos para qualquer tipode mata da regiao.

Urna explica~ao com grande importanciapara a conserva~ao de aves destas matas, seria oefeito de borda total nos fragmentos de matas dostamanhos utilizados, sugerindo pressao de preda-~ao semelhaÍlte no interior e na borda destasmatas. Nao encontramos diferen~as nas taxas depreda~ao entre borda e interior nas matas estuda-das, porém, nao sabemos se as taxas totais depreda~ao (~50 %) encontradas sao normais paraa regiao, ou se já sofreram influencia da fragmen-ta~ao. Caso a hipótese do efeito de borda totalseja corroborada, fragmentos de mata do BrasilCentral de até 230 ha podem estar sofrendoelevadas taxas de preda~ao de ninhos. Com altapreda~ao, o sucesso reprodutivo das aves quenidificam em matas do Brasil Central pode estardiminuindo, podendo causar declínio ou extin-~ao de espécies como está ocorrendo atualmenteno interior do estado de sao Paulo (Willis &Oniki 1993). Futuros testes da hipótese de que astaxas de preda~ao de ninhos sao inversamenterelacionadas com o tamanho de matas do BrasilCentral devem utilizar matas maiores (i. e. > 500ha), as quais nós nao utilizamos por naoexistirem mais nos municípios estudados (Uber-landia e Araguari), e serem comparados comtaxas de preda~ao de locais pouco ou nao altera-

dos.

REFERENCIAS

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