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"A praxe é uma coisa m uito estranha" Perplexidade Que e isto da praxe, donde vem e como é possível que, com pelo menos uma morte, várias denúncias de abusos criminosos no palmares e até apelidada de fascista pelo anterior ministro do Ensino Superior, continue de vento em popa, com cada vez mais manifestações e entusiasmo, a ponto de haver professores a queixarem-se de ser praxados e de ter medo dos praxantes? Quando se discute a hipótese de as seis mortes de alunos da Universidade Lusófona no Meço terem sucedido num contexto de práticas "praxísticas", o DN tenta perceber FERNANDA CÂNCIO "Quando entras nem és caloiro, és verme." Maria Manuel Alves, 24 anos, acabou em 20110 curso na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa mas ainda não se esqueceu dos hematomas com que ficou de horas a fazer "granadas". "O que é? É mandares-te para o chão e tapares a cabeça com as mãos quando eles gritam granada. Ainda tentei prote- ger-me mandando primeiro os joe- lhos, mas fiquei bastante magoa- da." Até rebentou com um relógio na brincadeira. "A minha mãe via- -me chegar toda pintada (ainda tentava na estação do Campo Gran- de tirar aquilo, mas não saía tudo), magoada, chateada, eperguntava- -me: 'Porque é que te metes nisso?'" Porquê, de facto? Maria Manuel hesita, sorri. "Pois. É um bocado psi- cológico. Não me perguntaram se- quer se queria entrar. Entras no pri- meiro ano, és caloira, estás na pra- xe. E eu era muito timidita, aquele tipo de miúda que fez o secundário com 18 e tinha a ideia de que have- ria vantagens do ponto de vista aca- démico, supostamente os padri- nhos - cada caloiro tem um padri- nho ouumamadrinha-facilitavam apontamentos e testes anteriores e se não entrássemos na praxe não teríamos acesso a essas coisas (a iro- nia é que depois percebi que estava tudo nos computadores da escola) . Decidi por isso não me declarar contra. Logo no primeiro dia che- guei atrasada por viver no Montijo e tive de ir explicar a situação à mi- nha madrinha e ela percebeu por- que também vivia na Margem Sul e deu-me autorização para chegar mais tarde." Praxe com horário? Ri- -se: "Sim, até parecia que ia para as aulas. Mas isto passava-se uma se- mana antes do início das aulas, na semana da praxe. Era suposto an-

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Page 1: Press Review page · Porquê, de facto? Maria Manuel hesita, sorri. "Pois. É um bocado psi-cológico. Não me perguntaram se-quer se queria entrar. Entras no pri-meiro ano, és caloira,

"A praxe é umacoisa muitoestranha"Perplexidade

Que e isto da praxe,donde vem e como é

possível que, com pelomenos uma morte,várias denúnciasde abusos criminososno palmares e atéapelidada de fascistapelo anterior ministrodo Ensino Superior,continue de vento empopa, com cada vezmais manifestaçõese entusiasmo, a pontode haver professoresa queixarem-se de ser

praxados e de termedo dos praxantes?Quando se discutea hipótese de as seis

mortes de alunosda UniversidadeLusófona no Meçoterem sucedido numcontexto de práticas"praxísticas", o DNtenta perceber

FERNANDACÂNCIO

"Quando entras nem és caloiro, és

verme." Maria Manuel Alves, 24anos, acabou em 20110 curso naEscola Superior de Enfermagem deLisboa mas ainda não se esqueceudos hematomas com que ficou dehoras a fazer "granadas". "O que é? É

mandares-te para o chão e taparesa cabeça com as mãos quando eles

gritam granada. Ainda tentei prote-ger-me mandando primeiro os joe-lhos, mas fiquei bastante magoa-da." Até rebentou com um relógiona brincadeira. "A minha mãe via--me chegar toda pintada (ainda

tentava na estação do Campo Gran-de tirar aquilo, mas não saía tudo),magoada, chateada, eperguntava--me: 'Porque é que te metes nisso?'"

Porquê, de facto? Maria Manuelhesita, sorri. "Pois. É um bocado psi-cológico. Não me perguntaram se-

quer se queria entrar. Entras no pri-meiro ano, és caloira, estás na pra-xe. E eu era muito timidita, aqueletipo de miúda que fez o secundáriocom 18 e tinha a ideia de que have-ria vantagens do ponto de vista aca-démico, supostamente os padri-nhos - cada caloiro tem um padri-nho ouumamadrinha-facilitavamapontamentos e testes anteriores ese não entrássemos na praxe nãoteríamos acesso a essas coisas (a iro-nia é que depois percebi que estavatudo nos computadores da escola) .

Decidi por isso não me declararcontra. Logo no primeiro dia che-guei atrasada por viver no Montijoe tive de ir explicar a situação à mi-nha madrinha e ela percebeu por-que também vivia na Margem Sul edeu-me autorização para chegarmais tarde." Praxe com horário? Ri--se: "Sim, até parecia que ia para asaulas. Mas isto passava-se uma se-mana antes do início das aulas, nasemana da praxe. Era suposto an-

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darmos naquilo das oito da manhãaté não sei que horas."

Natércia Luís, 37 anos, hoje pro-fessora de Educação Física, confron-tou-se com exigência semelhantequando entrou na Escola Superiorde Educação de Castelo Branco, em1998. "Eu era atleta e tinha treinos eeles convocavam as praxes para as

horas dos treinos. Claro que não pu-nha lá os pés. Uma tipa veio ter co-migo a perguntar porque não tinhaaparecido e disse-lhe que não tinha

grande interesse. Ela respondeu:'Então vai ser expulsa das praxes.'Isto num tom de arrogância incrível- o que mais me perturbava em tudo

aquilo era o tom agressivo e intimi-

datório. Perguntei: 'Mas vai-me ex-

pulsar da escola?' E ela disse quepara não ser expulsa da praxe podiaapresentar uma justificação do clu-be por causa dos treinos. A coisa aca-bou logo aí. Fui a única da minhaturma a declarar-se antipraxe. Co-mentávamos entre nós, havia quemquisesse fazer o mesmo, mas acaba-ram por desistir todos, porque per-diam coisas que eles achavam inte-ressantes: deixavam de poder trajar,de poderparticipar nas cerimónias,não lhes emprestavam apontamen-tos, ninguém dos mais velhos lhesfalaria." Nada que Natércia tenhaachado grande perda: "Olharam-mede alto a baixo, mandavam bocas,

mas nunca passou disso." Aquiloque à distância lhe surge inacreditá-vel parecia-lhe, confessa, "muito na-tural na altura. Lembro -me de vercolegas na aula com um paralelo[pedra da estrada] amarrado ao sa-

pato, tinham de andar o dia todocom aquilo." E reconhece que no iní-cio aindaparticipou: "Eram aquelascoisas tipo 'caloira apresente-se, po-nha-se de joelhos', andar arastejarem jardins e corredores. Pensei: 'Dei-xa-me cá experimentar, ver se é di-vertido.' Não quis ser desagradável,olhei para os outros e vi-os todos de

joelhos e pus-me também. Senti-meum bocado intimidada."

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O que mais meperturbava erao tom agressivo,intimidatório.Mas parecia muitonatural na altura.Lembro-me de naaula ver colegascom um paraleloamarrado aos pés,o dia todo assim"

NATÉRCIALUÍSFOI A ÚNICA ANTIPRAXE DA TURMANO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO

"Olhos no chão,caloiro"Dez anos separam as entradas deNatércia e Maria Manuel no ensino

superior e as escolas são distintas.Numa não havia, pelo menos em1998, uma semana específica paraa praxe, na outra sim. Uma semana

que começava com a imposição de

compra de um "kit caloiro" (que in-cluía uma T-Shirte mais alguns ob-

jetos que Maria Manuel não recor-da bem) e que recusou comprar. Foio primeiro sinal de uma revolta quecresceu até hoje. "Dizem que aqui-lo é para integrar. Não me senti in-tegrada nem conheci ninguém,

porque é: 'Olhos no chão, caloiro.'"As "atividades" decorriam num par-

que de estacionamento em frente à

escola, mas a gritaria era tal que se

ouvia lá dentro. "Uma vez veio umaprofessora cá fora dizer para 'haver

alguma tolerância com os caloi-ros.'" A agora enfermeira ri-se. "Éin-crível, não é? Tudo aquilo que se

passa... Os professores e a faculda-

de não podem dizer que não têmconhecimento. E mesmo dentro dafaculdade permitiam, porque nodia da inscrição estávamos a fazergranadas ao pé da secretaria e veio

alguém de lá dizer que estávamos afazer muito barulho." Certo; mas se

é assim tão obviamente mau, por-

que é que os estudantes o supor-tam? "Amaioria das pessoas ade-rem, porque a informação que éveiculada é que quem não for estáexcluído de tudo. Mas muita gentenão sabe ao que vai. Claro que háquem ache piada, se calhar por fal-ta de capacidade crítica. É uma coi-sa muito estranha, realmente. Aqui-lo não é nada construtivo, é estúpi-do e há abuso físico e psicológico."Quando passou de ano recusoupraxar. "Ainda tive uma afilhada,mas só lhe passei apontamentos,não fiz mais nada. E nunca trajei,sempre achei uma idiotia." A expe-riência suscitou-lhe militância: "Háum tempo tomei uma posiçãoqualquer contra as praxes, já não sei

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bem em que circunstâncias. Acho

que deviam ser proibidas, não fa-zem sentido. Se querem integrar fa-

çam, sei lá, jogos que tenham a vercom os cursos. Pode ser totó, mas as

pessoas para se relacionarem têmde conversar. Não é a andar a ouvir

gritos com os olhos no chão e afazercoisas estúpidas e humilhantes."

Este ex- aluno da UniversidadePortucalense (Porto) , agora com 34? anos, que entrou no curso de Infor-

mática de Gestão em 2000 e prefereque o nome não seja citado - cha-memos-lhe então João - tem umavisão diferente. Não só garante quenão conhecia ninguém, por vir das

ilhas, e ao fim de uma semana de

praxe "já me dava com meia facul-dade", como frisa o carácter voluntá-rio e lúdico do ritual. "Quem quer vir

vem, ninguém é discriminado pornão ir. Ahumilhação só acontece se

se estiver a ser obrigado a fazer algu-ma coisa. E perguntamos sempre se

há algum problema físico ou psico-lógico. Queremos evitar problemasporque sabemos que se houver al-

gum vai serusado contra apraxe. Tí-nhamos casos de caloiros com pro-blemas cardíacos, não íamos pô-losa correr e a fazer flexões. A praxe nãotem o objetivo de agredir."

João, que afirma ter "uma grandenoção da história da praxe" e afirma

que "dantes era muito mais violen-ta", fez "a escada toda" : "Passei todos

os níveis da hierarquia. Fui desdecaloiro até fazer parte do Conselho

de Veteranos [a 'autoridade máxi-ma' da praxe] ." Enquanto "doutor"

oupraxador, garante, "nunca deixei

ninguém tocar nos caloiros" e asse-

gura mesmo que um dos motivospelos quais se integrou na direçãodas "festas" foi zelar para que nãohouvesse abusos- subentendendo

que abusos não eram raros (o quealiás se depreende daleiturade có-

digos de praxe de várias universida-des, nomeadamente a de Coimbrae a do Porto, em que se prescreve o

"rapanço" - tesouradas no cabelo -,a "sanção de unhas"- bater nasunhas com a famosa colher de pauou um sapato - e até a possibilidadede os caloiros desempenharem"serviços domésticos" aos doutores,com a particularidade de raparigassó poderem fazê-lo a mulheres) .

"As mulheres como choque é vulgarchorarem"Afinal, o que João descreve como a

sua experiência de ser praxado aca-ba por corroborar os relatos de Na-tércia e Maria Manuel: "Cantáva-mos muito. Fazíamos algumasbrincadeiras, em que nos manda-vam fazer coisas, recados, mas o

que mais fazíamos era cantar músi-cas para incutir o orgulho da facul-dade, do curso. Nunca houve aque-la coisa de pintar caloiros, há pes-soas alérgicas e deve-se evitar [oConselho de Veteranos da Universi-dade de Coimbra fez em março de2013 uma adenda ao Código da Pra-

xe proibindo as pinturas] . E a partenormal de pormo-nos de quatro,fazer flexões quando fazíamos coi-sas mal. . . Andar pelas ruas do Por-to comlatas amarradas aos pés. . .

Casos de má praxe foram resolvi-dos." Por exemplo? "Aconteceu co-migo um doutor atirar balões de

água aos caloiros. Não achei muitagraça. Mas ele foi repreendido porum veterano à minha frente." Joãoconfessa até que "quando fui para a

praxe ia um pouco receoso. É nor-mal, aliás as mulheres com o cho-

que é vulgar chorarem. Às vezes há

situações agressivas." Suspira."Acho que a praxe é muitas vezes

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mal entendida. Vê-se isso quandolevamos os caloiros para a rua, as

pessoas mais velhas não gostam da

linguagem ordinária, acham que osmiúdos estão a ser forçados. Mas amim serviu para me desinibir emmuitos aspetos. Eramuito envergo-nhado e recatado e achei libertadorestar a fazer e dizer certas coisas. Fi-

quei muito mais sociável. Aliás, tí-nhamos lá um rapaz que tinha tidouma depressão muito grande, e a

praxe fez-lhe muito bem. Claro quehá pessoas a quem não fez bem enão a vejo como a integração ideal."Dizendo-se "de esquerda", ressalva:"Não vou dizer que a praxe é umacoisa revolucionária, longe disso. E

estou de acordo em que se debata,mas sem histerias. E agora, com istodo Meço, está-se a assistir a umahisteria completa."

Igualmente um estudioso da

praxe, Luís Pedro Mateus, 26 anos,a acabar o curso de Engenharia nafaculdade do mesmo nome da Uni-versidade do Porto, tem a ideiaoposta à de João quanto à evoluçãodos rituais. Acha que são muitomais violentos agora do que há dé-

cadas. Mais: acha que muito do quese apelida e defende como praxenão o é. "Quando, aos 17 anos, em2004, entrei no Instituto Superior de

Engenharia, de onde me transferimais tarde para a faculdade ondeestou agora, já tinha uma ideia do

que era a praxe e a tradição acadé-mica, das histórias que ouvia aomeu avô e aos meus pais. Não haviaesta coisa de pintar e sujar caloiros,nem cenas de cariz sexual, nem an-dar em rebanho na rua. De talmodo que quando a minha irmãentrou para a faculdade, antes demim, e começou a narrar o que lá se

passava, os meus pais ficaram es-

pantadíssimos. Aquilo era tudo alie-

nígenaparaeles, que tinham vividoo ressurgimento da praxe, nos anos80, na Faculdade de Letras do Por-to." Luís Pedro, que criou um bloquesobre praxe e tradição académica,entretanto transformado num site

(www.praxeporto.com), dedicou--se não só a ler mas também a bus-car história viva. "Encontrei pessoasdos anos 80 e 90 que me contaram

que o chamado 'gozo ao caloiro' nãotinha hora nem sítio marcado e

constava mais de piadas como darindicações erradas ou pedir a umcaloiro que fizesse uma dissertação

para os doutores sobre a importân-cia do escaravelho na cultura da ba-tata. E asseguravam- me que os ca-loiros resistiam." Suspira. "Se calhara minha geração não questiona tan-to, entrou numa zona de conforto."

Membro da Juventude Popular,o que será, adianta, em parte res-ponsável porandar há 10 anos paraconcluir um curso de três, Luís Pe-dro tenta proceder a uma difícilequação, a de defender a tradiçãoacadémica rejeitando amaioriadascoisas que hoje em dia são com elaidentificadas - sobretudo por quemalega ser seu representante. "Tenhoum amigo que acha que a alteraçãoa que se assistiu no final dos anos 90tem a ver com duas coisas: o surgirdas universidades privadas -já re-parou que quase todos os casos gra-ves que surgem têm a ver com pri-vadas? - e o Bigßrother, com aque-la espécie de treino militar e abanalização de uma certa ordinari-

ce." O facto, porém, de os códigos de

praxe de Coimbra e Porto (os maisantigos, sendo o segundo uma có-

pia do primeiro) instituírem a vio-lência e o abuso, além de glorifica-rem a embriaguez, de mortes nocontexto de praxe académica re-montarem ao século XVIII (D. JoãoV ordenou a suspensão da praxepor esse motivo) edejánoséculoXX, em 1903, Eça de Queirós e Ra-malho Ortigão terem subscrito umprotesto antipraxe, desmente aideia de uma "tradição académica"devotada à lisura. Luís Pedro assen-te. Mas insiste na ideia de uma no-breza ultrajada. "Irrita-me ser a fa-vor de uma tradição e haver tão

pouca gente a defendê-la. Há mui-ta gente que critica excessos paradentro, mas para fora defende o si-lêncio. Acham que se falarem vãoenfraquecer a instituição praxe."

A existência de códigos de praxe,como é o caso do da Escola de Vete-rinária da Universidade de Lisboa ,

que, com data de 201 1, prevê para

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quem não queira ser "praxado" anecessidade de apresentar "um re-querimento" ao conselho de vete-ranos deixa-o a espumar, como ofacto de na maioria das universida-des se dizer aos caloiros que se rejei-tarem ser "praxados estão excluídosde tudo e não podem sequer usar o

traje. "É só absurdidades. Apraxenão se reduz à interação entre estu-dantes apretexto de hierarquia. NoCódigo da Universidade do Porto,por exemplo, não está que se não se

for praxado não se pode usar traje.O que diz é que estar na praxe é es-tar trajado. E essa atitude tem feitomuita gente afastar-se. Gostariamde trajar, etc, mas não estão para

aturar o resto." O próprio, que acha"ridícula a idade de alguns dux [che-fes supremos da praxe]

" - "O doPorto podia ser quase meu avô, jáestá reformado e ainda se matricu-la na universidade, o que é aquilo?"

-, afastou-se da organização da pra-xe na sua faculdade. "Tentei fazer al-

guma coisa, mas fiquei desencora-

jado. Havia pessoas que achavamque mandavam, que estavam ilu-minadas e tinham um ascendentesobre os colegas. Háumfundamen-talismo, umaindisposição para ad-mitir os erros, para debater aberta-mente. Entra-se naquela atitude'isto é assim porque é assim.' "

O avesso absoluto, afinal, do que

é suposto ser o espírito académico.De tal modo que Luís Pedro nãodespede a possibilidade de o ocor-rido no Meço ser mesmo um episó-dio horrível de algo que já ninguémsabe o que é nem o que é supostoser. "As associações académicas de-veriam promover a investigação da

tradição e o esclarecimento. Deve-riam criar-se regras de comporta-mento. Não chega dizer que humi-lhação e violência física não sãoaceitáveis [como faz a nova versãodo Código de Praxe de Coimbra] - é

preciso ser muito mais específico."A ser assim, será preciso reescre-

ver todos os códigos. Se é que têmemenda.

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