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Produçãodebiogáspordejetosderuminantesemonogástricosco-digeridoscommanipueira.
Thesis·April2016
DOI:10.13140/RG.2.2.11531.90402
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WillianRufinoAndrade
UniversidadeEstadualdeMatoGrossodoSul
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE AQUIDAUANA
CURSO DE ZOOTECNIA
WILLIAN RUFINO ANDRADE
PRODUÇÃO DE BIOGÁS POR DEJETOS DE RUMINANTES E MONOGÁSTRICOS CODIGERIDOS COM MANIPUEIRA
AQUIDAUANA 2016
WILLIAN RUFINO ANDRADE
PRODUÇÃO DE BIOGÁS POR DEJETOS DE RUMINANTES E MONOGÁSTRICOS CODIGERIDOS COM MANIPUEIRA
Orientadora: Profa. Dra. Tânia Mara Baptista dos Santos
AQUIDAUANA 2016
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Zootecnista, pelo Curso de Zootecnia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
ii
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por ter realizado grandiosas obras em minha vida.
Agradeço a Deus também por ter colocado em minha jornada pessoas maravilhosas, os
quais tem me ajudado a construir o que sou hoje.
As peças chaves de toda essa jornada, e principalmente, desse trabalho vem sendo meus
fiéis parceiros, Sueli Aparecida Rufino Andrade e Januário Andrade, os quais tem me
apoiado incondicionalmente.
Porém, amigos, colegas e professores foram essenciais para superação de desafios diários.
Sou grato a pesquisadora Dr.ª Cristiane de Almeida Neves Xavier (Cris) pela orientação,
conhecimento compartilhado, sincera amizade e companheirismo ao longo de minha
jornada não só pela UEMS, mas também quando estive em intercâmbio no Canadá, sempre
prestativa e orientado-me por e-mails.
Agradeço a minha orientadora Prof.ª Tânia Mara Baptista dos Santos por sempre ter
creditado em mim confiança, além de seus puxões de orelha, incentivos e valiosos
conselhos. Também, a Prof.ª Nanci Cappi por ter oferecido a oportunidade de trabalhar
com o grupo de pesquisa em resíduos.
Aos meus companheiros de laboratório por sempre terem colaborado para meu
desenvolvimento como profissional e pessoa, eles são: Paula Fatori, Fabiane Coca, Kelly
Carvalho, Daiana Arruda, Jessica Evangelista, Elaine Rosa, Simone, Stanley Avalo e
Larissa Vaso.
Aos meus amigos de turma: Jonathan Santos, Cris Luana Nunes, Kheyciane Viana,
Thainara Batista, Mayqueli Dorna, Paloma Franciscate, Talita Rocha e Anderson Ramires
pelo apoio e companheirismo.
Agradeço à Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul pela oportunidade de poder
concluir meus estudos e realizar pesquisas, assim como agradeço ao CNPq pela
fomentação do projeto desenvolvido.
Recue, mas só para pegar impulso!
iv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Composição dos dejetos utilizados nos substratos para os abastecimentos
diários dos biodigestores. ....................................................................................................... 3
Tabela 2. Componentes dos substratos (kg) utilizados nos abastecimentos .................. 4
Tabela 3. Reduções de sólidos de substratos de biodigestores contendo dejetos de
ruminantes e monogástricos codigeridos com manipueira ................................................... 5
Tabela 4. Produção acumulada semanal e rendimentos de biogás de dejetos de animais
ruminantes e monogástricos com manipueira em biodigestores semicontínuos .................. 6
Tabela 5. Valores médios de pH, nitrogênio (N) amoniacal (mg/L) e alcalinidade
devida a bicarbonatos (AP) (mg CaCO3/L-1) nos substratos e efluentes de biodigestores
semicontínuos operados com dejetos de ruminantes e monogástricos em codigestão com
manipueira ............................................................................................................................. 8
v
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Produções médias diárias de biogás (m3) em biodigestores semicontínuos
operados com dejetos de ruminantes e monogástricos codigeridos com manipueira. ........... 7
vi
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................. vii
ABSTRACT ....................................................................................................................... viii
Introdução .............................................................................................................................. 1
Material e Métodos ................................................................................................................ 2
Resultados e Discussão .......................................................................................................... 5
Conclusão .............................................................................................................................. 9
Referências Bibliográficas ................................................................................................... 10
vii
RESUMO
Objetivou-se avaliar o uso de manipueira na co-digestão anaeróbia com dejetos de animais
ruminantes e monogástricos por meio de parâmetros de monitoramento do processo e da
produção de biogás. Foram utilizados oito biodigestores semicontínuos com volume útil de
7,8 l de substrato em fermentação operados com tempo de retenção hidráulica de 30 dias.
Realizou-se análises de pH, nitrogênio amoniacal, alcalinidade parcial (AP), sólidos totais
(ST), sólidos voláteis (SV), e rendimento do biogás (m3 kg SVadicionados-1). Os valores de pH
e concentrações de AP apresentaram-se na faixa ideal para a ocorrência do processo de
digestão, de 6,0 a 8,0 e acima de 1.200 mg/CaCO3/L-1, respectivamente. Durante o
processo não houve risco de falência por concentrações de nitrogênio amoniacal. As
produções médias de biogás acumuladas semanais foram de 0,00676; 0,1167; 0,01515 e
0,01856 m3, respectivamente para substratos formados por dejetos de bovinos de leite,
ovinos, aves e/ou suínos codigeridos com manipueira. Os rendimentos para os respectivos
substratos foram 0,122; 0,275; 0,535 e 0,843 m3 kg SVadicionados-1. Maiores produções de
biogás são obtidas na co-digestão anaeróbia de dejetos de suínos com 10%
(volume/volume) de manipueira.
Palavras-chave: alcalinidade, amônia, biodigestor, mandioca, pH
viii
ABSTRACT
The primary aim of this study was to evaluate ruminant and monogastric animal manure
co-digested with 10% of manipueira through monitoring parameters and biogas
production. In this study were used eight semi-continuous digesters with capacity of 7.8
liters (l) of substrate on fermentation operated with 30 days of hydraulic retention time.
Monitoring analyses were performed in order to assess: pH, total ammonia nitrogen (TAN)
concentration, partial alkalinity (PA), total and volatile solids content and the biogas yield
(m3 kg VSadded-1). There was no statistic difference for all pH values, which reached values
around 6.8 to 8.0. For PA all substrates reached values higher than 1.200 mg/CaCO3/L-1 as
recommended. During the process, there was no risk of failure based on TAN
concentration. The average biogas productions accumulated per week were 0.00676;
0.01167; 0.01515 and 0.01856 m3 for substrates composed by dairy cattle, sheep, poultry
and swine manure co-digested with manipueira, respectively. The biogas yield for those
respective substrates were 0.122; 0.275; 0.535 e 0.843 m3 kg VSadded-1. Highest biogas yield
was obtained in anaerobic co-digestion of swine manure with 10% (volume/volume) of
manipueira.
Keywords: alkalinity, ammonia, digester, cassava, pH
1
Introdução
O setor agrícola brasileiro produziu aproximadamente 24 milhões de toneladas de
mandioca na safra de 2015 (IBGE, 2015). Tal raiz tuberosa é considerada um produto
popular na alimentação dos brasileiros, com importância cultural, econômica e nutricional.
Tanto doméstica como industrialmente, o processamento e beneficiamento da
mandioca para geração de subprodutos, como a farinha de mandioca, tem gerado resíduos
em grandes quantidades (Souza & Otsubo, 2002), um dos quais, é conhecido popularmente
como manipueira. Segundo Ribas & Barana (2003) esse resíduo proveniente da prensagem
da mandioca ralada e lavada pode conter elevados teores de matéria orgânica, e sua
geração pode atingir a marca de 450 litros por tonelada de raiz processada.
Resíduos da agroindústria como os dejetos de animais, palhas, cascas, polpas e
águas residuária (ex.: manipueira) são passíveis de reciclagem para o aproveitamento da
energia e dos nutrientes neles contidos. Uma das formas de reciclagem de resíduos é o
processo de digestão anaeróbia, que é uma alternativa por meio da qual se obtém o biogás
e o biofertilizante. O biogás pode ser utilizado para produção de calor ou energia elétrica e
o biofertilizante para a adubação e condicionamento de solo no cultivo de gramíneas e
cereais.
A produção de biogás com o uso de dois ou mais resíduos é chamada de codigestão
anaeróbia e apresenta as seguintes vantagens: a) balanceamento mais adequado de
nutrientes (Molinuevo-Salces et al., 2013); b) reduz o efeito de compostos tóxicos já
presentes nos resíduos ou formados durante o processo (Mao et al., 2015); c); pode
aumentar o poder de tamponamento do meio (Holm-Nielsen et al., 2009); d) e aumentar o
rendimento de biogás (Xavier et al., 2015).
O uso de manipueira em processos de digestão anaeróbia para produção de biogás
pode ser limitado por teores elevados de compostos facilmente solúveis (Panichnumsin et
al., 2012) levando ao acúmulo de ácidos graxos voláteis e instabilidade do processo. A
digestão anaeróbia de manipueira como substrato único nem sempre é conduzida com
sucesso e, quase sempre, são necessários o acréscimo de neutralizadores de pH, longos
tempos de retenção hidráulica, diluição em água, codigestão com outros resíduos e/ou
separação de fases.
Por outro lado, dejetos provenientes da produção pecuária, são ricos em compostos
com degradabilidade mais tardia em relação àqueles apresentados por resíduos como
manipueira, vinhaça e soro de leite. Além disso, contribuem para o aumento do poder de
tamponamento dos substratos (Molinuevo-Salces et al., 2013). Esses dejetos, quando
2
utilizados como substratos únicos de biodigestores dificilmente apresentam falência do
processo.
A utilização de manipueira e dejetos de animais como substratos de biodigestores,
numa proporção adequada que não ofereça risco ao desenvolvimento do processo, pode
facilitar o aproveitamento da manipueira e agregar a ela valor econômico, ambiental e
social, uma vez que a maior parte de produtores e processadores de mandioca são de
unidades do tipo familiar em pequenas comunidades rurais (Bringhenti & Cabello, 2005).
Portanto, objetivou-se avaliar o processo de codigestão anaeróbia e a produção de
biogás por dejetos de ruminantes e de monogástricos com manipueira em biodigestores
semicontínuos.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Laboratório de Resíduos de Origem Animal da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul/Unidade de Aquidauana (Latitude 20º28’S;
Longitude 55º48’W). O experimento foi conduzido durante o período chuvoso, no qual a
temperatura média foi de 29,02ºC.
O ensaio foi conduzido em duas fases, as quais consistiram de 35 dias para a
partida e 90 dias de abastecimentos diários, totalizando 125 dias. Os substratos das fases
de partidas continham 2% de sólidos totais (ST) e para os abastecimentos diárias foram de
4% de ST. Para a fase de abastecimentos diários adotou-se o tempo de retenção hidráulica
de 30 dias.
Os dejetos utilizados para a partida e as cargas diárias dos biodigestores foram
obtidos no setor de Bovinocultura Leiteira, Ovinocultura e Avicultura de postura da
referida unidade e no setor de Suinocultura da Fazenda Experimental da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul.
As vacas eram da raça “Pantaneira” em lactação, que recebiam dietas formuladas
com 60% de volumoso e 40% de concentrado (contendo milho, soja, ureia e
suplementação mineral). Os ovinos eram da raça Santa Inês e mestiços, mantidos em
sistema de pastejo rotacionado com dieta a base de capim Piatã, Massai e suplementação
mineral.
As aves de postura eram da linhagem Hy Line mantidas em sistema de gaiolas
convencionais, recebendo dietas formuladas a base de farelo de milho e soja. Os suínos
eram da linhagem Pietran/Duroc x Large White/Landrace, mantidos em baias recebendo
dietas formuladas a base de milho e soja.
3
Os dejetos dos animais ruminantes foram colhidos por raspagem do piso das
instalações logo após serem produzidos. Destaca-se que os dejetos de ovinos coletados
para a fase de partida forma diferentes daqueles de cargas diárias. Os dejetos de suínos
foram provenientes de animais mantidos em cama sobreposta, coletados logo após serem
produzidos.
Para os dejetos de aves foram realizadas duas coletas, para a fase de partida, onde
foi utilizado sacos plásticos alocados abaixo das gaiolas por um período de 24 horas, sendo
possível portanto, coletar apenas os dejetos. Já para a fase de abastecimentos diários, os
dejetos das aves de postura foram colhidos na Fazenda da Granja Suzuki, no município de
Terenos – MS. Os dejetos foram colhidos após decorrido um tempo de produção quando se
apresentavam na forma de “castelos”, típicos de dejetos obtidos em sistemas de produção
convencionais.. A manipueira foi obtida em casa de produção de farinha na Zona Rural de
Anastácio – MS. Todo o material colhido foi embalado em sacos plásticos, identificados
conforme a espécie animal e acondicionados em freezer até o momento do uso.
Foram utilizados oito biodigestores contínuos de bancada, construídos em
policloreto de polivinila (PVC), com volume útil de 7,8 litros de substrato em fermentação.
Os biodigestores possuíam duas partes distintas, uma câmara de fermentação e o
gasômetro, os quais foram dispostos em bancada e mantidos em temperatura ambiente,
abrigados de luz solar e chuva.
Para a fase de partida dos biodigestores utilizou-se dejetos de bovinos, ovinos, aves
e suínos que apresentaram teores de sólidos totais (ST) de 19,46; 36,74; 6,05 e 37,99%,
respectivamente. Para os abastecimentos diários, os biodigestores receberam dejetos de
bovinos, ovinos, aves e suínos cujos teores de sólidos totais (ST) e sólidos voláteis (SV)
estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Composição dos dejetos utilizados nos substratos para os abastecimentos diários
dos biodigestores.
Sólidos totais (%, na matéria natural)
Sólidos voláteis (%, na matéria seca)
Sólidos voláteis (%, na matéria natural)
Bovinos 19,46 79,46 15,46 Ovinos 37,03 76,49 28,32 Suínos 37,99 60,66 23,04 Aves 60,21 59,31 35,71
Na Tabela 2 estão apresentados os componentes dos substratos utilizados para a
fase de partida e de abastecimentos diários.
4
Tabela 2. Componentes dos substratos (kg) utilizados nos abastecimentos.
Dejetos Água Manipueira Bicarbonato de sódio
Partida Bovinos 0,79 6,71 0,000 0,039 Ovinos 0,42 7,08 0,000 0,039 Suínos 0,41 7,09 0,000 0,039 Aves 2,58 4,92 0,000 0,039 Cargas diárias Bovinos 0,05 0,21 0,026 0,0013 Ovinos 0,03 0,23 0,026 0,0013 Suínos 0,03 0,23 0,026 0,0013 Aves 0,02 0,24 0,026 0,0013
O percentual de manipueira como cosubstrato foi determinado em ensaios
preliminares. A manipueira acrescida nos substratos das cargas diárias (10%, massa/massa)
continha teores médios de ST de 5,5%, pH de 4,87 e concentração de nitrogênio amoniacal
de 175 mg/L-1.
Nos ensaios preliminares verificou-se a necessidade de uso de bicarbonato de sódio
(NaHCO3) em ambos substratos contendo dejetos de monogástricos e ruminantes para a
manutenção de pH em faixa ótima devido o acréscimo de manipueira cuja natureza é ácida.
Buscando a imparcialidade, em todos os substratos foi adicionado NaHCO3 (0.5%
massa/massa).
As determinações dos teores de ST e SV foram realizadas segundo metodologia
descrita por APHA, AWWA, WEF (2012).
Para determinação dos volumes de biogás produzidos diariamente, mediu-se o
deslocamento vertical dos gasômetros. O resultado foi multiplicado pela área da secção
transversal interna dos gasômetros de 0,00785 m2.
Para a correção do volume de biogás à pressão e temperatura de 1atm e 25˚C,
respectivamente, utilizou-se a equação resultante da combinação das leis de Boyle e Gay-
Lussac como descrito por Caetano (1985), onde:
V0 = volume do biogás corrigido, m3;
P0 = pressão do biogás corrigida, 10332,72 mm de H2O;
T0 = temperatura do biogás corrigida, 298,15 (Kelvins);
V1 = volume do biogás no gasômetro;
P1 = pressão do biogás no momento de leitura, 22 mm de coluna d’agua;
T1 = temperatura do biogás no momento de leitura K.
5
Considerando a pressão atmosférica de 10293 mm de coluna d’agua, obteve-se
como resultado a seguinte equação para correção do volume do biogás
Os rendimentos de biogás foram calculados utilizando-se dos dados de produção de
biogás diária de cada biodigestor e as quantidades de sólidos voláteis adicionados. Os
valores foram expressos em m3 de biogás por SV adicionados.
As variáveis avaliadas semanalmente foram a produção acumulada semanal de
biogás, os potenciais de produção de biogás, as reduções de sólidos totais (ST) e de sólidos
voláteis (SV), pH, N amoniacal e alcalinidade parcial (AP). Os dados obtidos foram
submetidos à ANOVA pelo delineamento de blocos, onde o principal fator avaliado foi o
tipo de dejeto codigeridos com a manipueira, tendo como cofator as semanas de análises.
Quando necessário, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade.
Resultados e Discussão
Houve diferença quanto às reduções de ST e SV para os diferentes tipos de dejetos
codigeridos com manipueira (Tabela 3). As maiores reduções de ST e SV ocorreram nos
biodigestores que receberam dejetos de animais monogástricos e manipueira.
Tabela 3. Reduções de sólidos de substratos de biodigestores contendo dejetos de
ruminantes e monogástricos codigeridos com manipueira
Substratos Reduções (%)
Sólidos totais Sólidos voláteis Dejetos de bovinos + manipueira 39,20 b 41,85 b Dejetos de ovinos + manipueira 37,60 b 44,56 b Dejetos de suínos + manipueira 61,01 a 68,30 a Dejetos de aves + manipueira 60,40 a 69,90 a Valor de P <0,001 <0,001 Coeficiente de variação (%) 18,90 14,75 Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade
As diferenças nas reduções de SV dos diferentes dejetos com manipueira podem ser
explicadas pela diferença na composição dos dejetos. Dejetos de ruminantes são ricos em
297,65151
10 xTVV =
6
lignina, composto fenólico de difícil degradação que complexada com a celulose e a
hemicelulose impede a conversão desses compostos em precursores de metano (Angelidaki
& Ahring, 2000; Vanholme et al., 2010; Sawatdeenarunat et al., 2015; Xavier et al., 2015).
Em dejetos de monogástricos, os nutrientes estão mais prontamente disponíveis e a
formação de metano pode ocorrer mais rapidamente e em taxas maiores. Além disso, a
codigestão anaeróbia desses dejetos com manipueira pode ter melhorado a relação
carbono: nitrogênio (C:N) do substrato, o que contribui para maiores rendimentos de
biogás.
Maiores reduções de SV estão correlacionadas com maiores produções de biogás.
De fato, maiores produções e potenciais de produção de biogás foram obtidos com dejetos
de animais monogástricos codigeridos com manipueira (Tabela 4). Dentre estes, os dejetos
de suínos codigeridos com manipueira apresentaram o maior potencial para produção de
biogás (0,843 m3/SVadicionados-1). Dejetos de ovinos apresentaram os maiores rendimentos
de biogás (0,275 m3/SVadicionados-1) entre os dejetos de ruminantes codigeridos com
manipueira.
Tabela 4. Produção acumulada semanal e rendimentos de biogás de dejetos de animais
ruminantes e monogástricos com manipueira em biodigestores semicontínuos
Substratos Produção semanal Rendimento de biogás de biogás
m3 m3 kg SV adicionados-1
Dejetos bovinos + manipueira 0,00676 d 0,122 d Dejetos ovinos + manipueira 0,01167 c 0,275 c Dejetos suínos + manipueira 0,01856 a 0,843 a Dejetos aves+ manipueira 0,01515 b 0,535 b Valor de P <0,001 <0,001 Coeficiente de variação (%)* 8,34 12,09 Coeficiente de variação; Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. * Fator principal.
De acordo com a literatura, os rendimentos de produção de biogás para dejetos de
cabras (similar ao de ovinos), suínos, vacas leiteiras e aves de postura como único
substrato de biodigestores são em média 0,218; 0,645; 0,254 and 0,627 m3 kg de
SVadicionados-1 (Orrico et al., 2004; Xavier et al., 2010; Sakar et al., 2009; Miranda et al.,
2012), respectivamente. Portanto, a manipueira incrementou nos rendimentos de biogás em
26 e 31% quando codigerida com dejetos de ovinos e suínos, respectivamente. No entanto,
uma redução de 52% e 15% foi encontrada para dejetos de bovinos e aves codigeridos com
manipueira comparando com os dados da literatura. Ressalta-se que valores de produção e
7
potenciais de produção de biogás são afetados diretamente pela composição do dejeto
como espécie animal, conteúdo energético, proteico e fibroso na dieta, digestibilidade,
estágio fisiológico, idade, sistema de produção, condições ambientais (Sakar et al., 2009),
assim como a adição de outro substrato (codigestão anaeróbia).
Constatou-se que, logo após o início das cargas diárias, a produção de biogás por
dejetos de aves foi maior em relação aos demais substratos e nos próximos 30 dias,
semelhante a dos dejetos de suínos codigeridos com manipueira, após o que, houve um
declínio e a produção de biogás foi aproximadamente a metade daquela apresentada
anteriormente (Figura 1).
FIGURA 1. Produções médias diárias de biogás (m3) em biodigestores semicontínuos
operados com dejetos de ruminantes ou monogástricos codigeridos com manipueira.
As variações na produção de biogás de todos os substratos podem ser explicadas
pela variação na temperatura ambiente e variação na qualidade da manipueira ao longo do
experimento. A composição e o perfil químico da manipueira pode variar de acordo com a
variedade, idade de corte, qualidade do solo, fatores ambientais como temperatura e
umidade e também o método de processamento da mandioca nas casas de farinha (Fioretto,
1994).
Durante a maior parte do experimento, substratos contendo dejetos de ruminantes e
manipueira apresentaram cerca de metade da produção de biogás em relação àqueles
contendo dejetos de monogástricos e manipueira. Dentre eles, os dejetos de bovinos
apresentaram os menores rendimentos de biogás, provavelmente porque esses animais
aproveitam melhor os nutrientes da dieta em relação aos suínos e aves, excretando dejetos
0.0000 0.0005 0.0010 0.0015 0.0020 0.0025 0.0030 0.0035 0.0040 0.0045
0 25 50 75 100 125
Bio
gás (
m3 )
Tempo (Dias)
Bovinos Aves Ovinos Suínos
8
ricos em fibras de difícil degradabilidade, o que implica em menos nutrientes prontamente
disponíveis para os microrganismos da digestão anaeróbia. De fato, a digestão nos
ruminantes ocorre de forma mais lenta do que nos monogástricos, mas os substratos são
muito mais alterados (Cunningham, 2004).
Os valores médios de pH para os substratos e efluentes dos biodigestores variaram
de 6,92 a 7,95 (Tabela 5). Embora os dejetos de aves e de ovinos misturados com
manipueira tenham apresentado pH inicial elevados, todos os efluentes apresentaram pH
dentro da faixa recomendada para a digestão anaeróbia, de 6,0 a 8,0 (Aragaw et al. 2013).
O maior valor médio de pH foi encontrado para os efluentes de biodigestores operados
com dejetos de aves e manipueira, de 7,55.
Tabela 5. Valores médios de pH, concentração de nitrogênio amoniacal e alcalinidade
parcial de substratos e efluentes de biodigestores semicontínuos alimentados com dejetos
de ruminantes e monogástricos codigeridos com manipueira
Substratos pH N amoniacal (mg/L)
Alcalinidade (mg CaCO3/L-1)
Substrato Efluente Substrato Efluente Substrato Efluente Dejetos bovinos + manipueira 7,18 c 7,39 c 109 c 131 c 3847 b 5293 c Dejetos ovinos + manipueira 7,95 a 7,42 b 86 c 169 c 5350 a 6527 b Dejetos suínos + manipueira 6,92 d 7,41 bc 170 b 370 b 3431 c 5603 c Dejetos aves + manipueira 7,90 b 7,55 a 305 a 719 a 5212 a 7715 a Valor de P <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 CV (%)* 0,76 0,44 14,95 0,76 0,44 14,95 *Coeficiente de variação; Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
Tanto o substrato como o efluente de biodigestores operados com dejetos de aves e
manipueira apresentaram maiores concentrações de N amoniacal em relação aos demais
tipos de substratos. Entre os substratos contendo dejetos de ruminantes e manipueira, não
houve diferença entre as concentrações de N amoniacal. Para todos os substratos, as
concentrações de N amoniacal foram abaixo do limite de inibição de microrganismos
anaeróbios, de 1.000 mg/L (Chernicharo, 1997).
A alcalinidade parcial é uma medida da concentração de bicarbonatos e pode
indicar a estabilidade do processo de digestão anaeróbia (Ward et al., 2011). No presente
estudo, a AP presente nos substratos variaram entre 3431 e 7715 mg CaCO3/L-1, superiores
ao limite mínimo operacional para sistemas de digestão anaeróbia, de 1.200 mg CaCO3/L-1
(Jenkins et al. 1991). Os dejetos de aves codigeridos com manipueira apresentaram
maiores valores de AP em relação aos demais substratos.
9
O fato dos dejetos de aves codigeridos com manipueira apresentarem maior pH e
maiores concentrações de N amoniacal e AP pode ser decorrente de uma relação C:N
diferente nesses substratos, já que os dejetos de aves são ricos em nitrogênio (ácido úrico)
e a manipueira é rica em carboidratos solúveis. Normalmente, o pH torna-se elevado com o
aumento da concentração de N amoniacal que por sua vez, aumenta a AP devido o
aumento da concentração de bicarbonatos de amônio, naturalmente formados durante o
processo de degradação anaeróbia da matéria orgânica. Dessa forma utilizada, os riscos de
inibição por amônia livre tornam-se reduzidos.
Conclusão
Dejetos de animais monogástricos codigeridos com manipueira apresentaram
maiores rendimentos de biogás. Biodigestores abastecidos com dejetos de suínos
codigeridos com manipueira alçaram 0,843 m3 SVadicionados-1. Todos substratos
apresentaram reduzido risco operacional, com pH, concentrações de nitrogênio amoniacal
e alcalinidade parcial dentro dos limites ideais para o processo de codigestão anaeróbia.
10
Referências Bibliográficas
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