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0 Maurício Quintino da Silva PROPOSTA DE REDUÇÃO DA TAXA DE FREQUÊNCIA DE ACIDENTES EM UM COMPONENTE AUTOMOBILÍSTICO Taubaté – SP 2003

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0

Maurício Quintino da Silva

PROPOSTA DE REDUÇÃO DA TAXA DE

FREQUÊNCIA DE ACIDENTES EM UM

COMPONENTE AUTOMOBILÍSTICO

Taubaté – SP 2003

1

Maurício Quintino da Silva

PROPOSTA DE REDUÇÃO DA TAXA DE

FREQUÊNCIA DE ACIDENTES EM UM

COMPONENTE AUTOMOBILÍSTICO

Monografia apresentada para obtenção do

Certificado de Especialização pelo Curso de Pós

Graduação MBA em Gerencia de Produção do

Departamento de Economia, Contabilidade,

Administração e Secretariado – ECASE da

Universidade de Taubaté,

Área de Concentração: Gerencia de Produção

Orientador: Profa. Dra. Olga Maria Panhoca da Silva

Taubaté – SP

2003

2

NOME DO AUTOR: Maurício Quintino da Silva

TÍTULO DO TRABALHO: Proposta de redução da taxa de freqüência de acidentes em

um componente automobilístico.

UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ, TAUBATÉ, SP

Data: ___________________________________________

Resultado: _____________________________________

COMISSÃO JULGADORA

Prof. Dr. _______________________________________

Assinatura _____________________________________

Prof. Dr. _______________________________________

Assinatura _____________________________________

Prof. Dr. _______________________________________

Assinatura _____________________________________

3

Agradeço a Deus pela minha saúde e disposição e a minha esposa

Waldeni pelo carinho e compreensão.

Aos meus pais, pelo incentivo constante na minha educação.

Dedico este trabalho aos mestres que nos conduziram durante este

aprendizado, e em especial a minha orientadora pelo prazer em

servir ao ser humano.

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço minha orientadora pela disposição em servir a educação de seus

alunos.

Ao Prof. Dr. Luiz Panhoca em auxiliar na formatação deste trabalho.

5

SILVA, Maurício Quintino da. Proposta de redução da taxa de frequência de

acidentes em um componente automobilístico. 2003. 52 f. Monografia

(Especialização, Gerencia de Produção MBA) –Departamento de Economia,

Contabilidade, Administração e Secretariado – ECASE, Universidade de Taubaté,

Taubaté.

RESUMO

Introdução A indústria automobilística brasileira é uma atividade produtiva em

expansão com estimavas de dois milhões de veículos fabricados até o ano 2.000, mas

apesar do sucesso de seu empreendimento alguns problemas permanecem sem

resolução. Os acidentes de trabalho aparecem como uma lacuna a ser solucionada e

tem sido alvo de esforços conjuntos da empresa, trabalhadores, governo e sociedade.

Objetivo. Este estudo faz a descrição e análise dos acidentes de trabalho ocorridos em

um componente automobilístico, em uma empresa sediada no Vale do Paraíba, estado

de São Paulo, estudando o período entre janeiro de 2001 a março de 2002, com a

finalidade de subsidiar o gerenciamento do programa de redução de acidentes do

trabalho. Material e método. Este estudo identifica, uma potencial forma dos

funcionários se acidentarem e descreve os acidentes segundo as variáveis: faixa etária,

tempo de função na empresa, turno de trabalho, dia da semana, causa e parte do corpo

mais atingida. Resultados. O índice de freqüência para o estudo de caso foi de 29

acidentes ocorridos para cada 1.000.000 homens hora trabalhadas, 41,6 % dos

acidentes ocorreram no primeiro ano do funcionário na função, quanto a idade

observou-se a maioria dos acidentes de 32 a 39 anos. Destacou-se a quinta feira como

sendo o dia mais propenso a acontecer os acidentes e turno do vespertino, das 15:02

horas às 00:27 horas, é o que apresenta maior número de acidentes, seguido pelo turno

noturno. Nos acidentes a parte mais lesada foi o membro superior durante a dinâmica

das operações no conjunto motor e câmbio, na fase de pré-montagem. Conclusão. Os

equipamentos de proteção de acidentes seguem uma dinâmica que não conseguem

suprir a falha no projeto. O treinamento e adequação dos funcionários devem levar em

conta as variáveis apreciadas neste estudo para melhor zelar pela integridade do ser

humano.

6

Palavras-chave: Saúde do Trabalhador; Acidentes do Trabalho;

Epidemiologia; Gestão de pessoas.

7

ABSTRACT

Introduction. The Brazilian automobile industry is a productive activity in

expansion with esteem of two million vehicles manufactured to the year 2.000, but in

spite of the success of its enterprise some problems stay without resolution. The work

accidents appear as a gap to be solved and it has been objective of efforts groups of the

company, workers, government and society. Objective. This study makes the

description and analysis of the work accidents with happened in an automobile

component; in a company in Vale do Paraíba, state of SãoPaulo, Brazil. It studied the

period among January of 2001 to March of 2002, with the purpose of subsidizing the

management of the program of reduction of accidents of the work. Material and

method. This study identifies the accidents and it describes the accidents according to

the variables: age group, time of function in the company, day of the week, causes and

localization of injuries in the body. Results. The frequency index for the case study

was 29 accidents/1.000.000 hours worked, 41,6% of the accidents happened in the

employee's first year in the function, to the age was observed most of the accidents for

32 to 39 years. It stood out the fifth fair as being the prone day to happen the accidents

in the afternoon. In the accidents appeared in arms and hands during the dynamics of

the operations in the group motor and exchange. Conclusion. The equipments of

protection of accidents follow a dynamics that you/they don't get to supply the flaw in

the project. The training and the employees' adaptation should take into account the

variables appreciated in this study for best to care for the human being integrity.

Key word: work’health, works of accident and epidemilogic

8

1 SUMÁRIO

.

RESUMO

ABSTRACT

1 SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE EQUAÇÕES

LISTA DE ABREVIATURAS

2 INTRODUÇÃO

2.1 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

2.2 DELIMITACÃO DO ESTUDO

2.3 OBJETIVO

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 INDICADORES UTILIZADOS PARA MEDIR O RISCO NO TRABALHO

3.2 BASES DE DADOS

3.3 COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO

3.4 ARRECADAÇÃO

4 MATERIAL E MÉTODO

4.1 FONTE DAS INFORMAÇÕES

5

7

8

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17

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9

4.2 DETALHAMENTO DO COMPONENTE CAUSADOR DOS ACIDENTES

4.3 DINÂMICA DO ACIDENTE

4.4 TRATAMENTO DOS DADOS

5 RESULTADOS

5.1 DESCRIÇÃO DOS ACIDENTES

5.2 MEDIDAS PREVENTIVAS ADOTADAS

6 DISCUSSÃO

7 CONCLUSÃO

8 BIBLIOGRAFIA

9 ANEXOS

9.1 ANEXO 1 – SÍNTESE DA INVESTIGAÇÃO

9.2 ANEXO 2 - FAT

30

30

31

32

34

39

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47

49

50

51

10

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 COMPARAÇÃO DAS TAXAS DE FREQUÊNCIA MENSAL DE ACIDENTES................33

FIGURA 2 TEMPO NA FUNÇÃO..........................................................................................36

FIGURA 3 IDADE DOS FUNCIONÁRIOS ACIDENTADOS .......................................................37

FIGURA 4 NÚMERO DE ACIDENTES POR DIA DA SEMANA .................................................37

FIGURA 5 ACIDENTES POR TURNO DE TRABALHO ............................................................38

FIGURA 6 ACIDENTES POR FATO GERADOR......................................................................38

FIGURA 7 ACIDENTES POR PARTE DO CORPO ...................................................................39

FIGURA 8 CONJUNTO DO EIXO DIANTEIRO DO VEÍCULO ...................................................41

FIGURA 9 PROTEÇÃO DO ESPELHO DO DISCO DIANTEIRO .................................................41

11

LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1- Índice de frequência 25

Equação 2- Índice de frequência descontaminado 26

12

LISTA DE ABREVIATURAS

MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social 15

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego 15

FIFO – First in First out 16

JIT – Just in Time 16

EPI – Equipamento de Proteção Individual 18

NB – Norma Brasileira 20

ABNT – Associação Brasileira de normas Técnicas 20

OIT – Organização Internacional do Trabalho 21

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho 21

ROCSS- Regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social 21

SAT – Seguro do Acidente do Trabalho 21

INSS – Instituto Nacional de Seguro Social 22

CAT – Comunicação de Acidente do Trabalho 22

OMS – Organização Mundial de Saúde 23

NR - Norma Regulamentadora 24

IF - Índice de Freqüência 25

CGC – Cadastro Geral de Contribuintes 26

CEI – Cadastro especifico do Instituto 26

CNIS – Cadastro Nacional de Informações Sociais 26

13

BEAT – Boletim Estatístico de Acidentes de Trabalho 27

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes 27

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas 27

GRPS - Guia de Recolhimento da Previdência Social 28

FAT – Ficha de Acidente do Trabalho 34

14

2 INTRODUÇÃO

A indústria automobilística brasileira é uma atividade produtiva em expansão , o país

comemorou a antecipação da meta de produção, que estimava fabricar dois milhões de

veículos até o final do ano 2.000, destacando que 1,7 milhão dos veículos produzidos,

foram comercializados no Brasil (RIBEIRO, 2003). Entre as dez indústrias

automobilísticas de grande porte de nosso país, que produzem mais de 5600 veículos

por dia, várias duplicaram sua produção recentemente, e outras, como a indústria

considerada neste estudo, pesquisam novas formas de aumentar sua produtividade e

reduzir seus custos a fim de permanecerem no mercado cada vez mais competitivo. Em

vista disso, estudos na área de saúde do trabalhador, poderão contribuir para que os

investimentos priorizem, além do aumento de produtividade e de melhorias na

qualidade do produto, processos e tecnologias não poluentes e saudáveis que priorizem

as pessoas.

Existe uma preocupação mundial sobre condições de trabalho e saúde na

indústria automobilística realizados principalmente em países do Primeiro Mundo, que

geralmente buscam relacionar, através de delineamentos complexos, agentes etiológicos

isolados e morbidades específicas. Esta preocupação enfoca, principalmente, doenças

ocupacionais crônicas e com longos períodos de latência, como doenças

cardiovasculares, câncer e problemas respiratórios, e sua associação com a exposição a

riscos. No entanto, ainda são escassos os estudos sobre a importância do trabalho na

determinação das morbidades comuns e acidentes não fatais, especialmente neste tipo

de indústria. As lesões por acidentes embora comuns, por não implicar um risco de vida

iminente, têm mostrado altas prevalências e forte relação com o trabalho, marcando o

grande desgaste de uma população jovem que está em atividade produtiva e sadia

(LAURELL et al., 1997).

Ao se retomar a problemática brasileira pode-se verificar que entre os anos 1981

e 1990 foram registrados junto à Previdência Social 10.374.247 acidentes do trabalho,

dos quais 254.550 resultaram em invalidez e 47.251, em óbito (IBGE, 1990), valores

que apontam para a necessidade de priorizar as ações de prevenção desses fenômenos.

Mesmo que se aponte para a precariedade das informações epidemiológicas disponíveis

15

(ALVES & LUCHESI, 1992; HIRATA & SALERNO, 1995), os acidentes do trabalho

ainda constituem importante problema de saúde pública em nosso país.

No Brasil, grande parte das investigações de acidentes, realizadas por força de

normas legais pela maioria das empresas, ainda baseia-se na concepção dicotômica de

ato inseguro e de condições inseguras, freqüentemente desembocando na atribuição de

culpa ao trabalhador pelo evento que o vitimou e recomendando medidas de prevenção

orientadas para mudanças de comportamento, sabidamente as mais frágeis (BINDER E

ALMEIDA, 1997).

Em contradição com esse enfoque, a partir de abril de 1994, tem havido

iniciativas do Ministério do Trabalho no sentido de tornar obrigatória a investigação de

todo e qualquer acidente do trabalho tendo em vista a necessidade de rever a situação

dos riscos nos ambientes de trabalho no Brasil. Considerando-se o número de acidentes

do trabalho verificados ano a ano, e considerando os prejuízos causados à qualidade de

vida dos trabalhadores brasileiros e os custos que estes acidentes acarretam para os

cofres públicos, o Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS em conjunto

com o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, tem priorizado a adoção de políticas

que permitam avaliar e controlar a atual situação, identificando os setores que devem

receber maior atenção do governo para fins de prevenção e fiscalização.

A partir dessa necessidade, a Portaria Interministerial n. 23, de 04 de junho de

1997, criou um Grupo de Trabalho, composto por técnicos do Ministério da Previdência

e Assistência Social e do Ministério do Trabalho e Emprego, com o objetivo de

assessorar o ministro da Previdência e Assistência Social na avaliação do

enquadramento dos ramos de atividade econômica por grau de risco, conforme as

atividades preponderantes e as condições ambientais. A primeira etapa de trabalho

desse grupo foi avaliar a situação dos acidentes de trabalho no Brasil e, a partir dessa

avaliação, propor uma metodologia de cálculo de indicadores, a partir dos quais seria

possível estabelecer uma classificação das ocorrências de acidente de trabalho por

setores de atividade econômica. Essa classificação, serviria como subsídio para o

acompanhamento da qualidade do ambiente de trabalho e para a avaliação do

reenquadramento das atividades por grau de risco.

O trabalho aqui apresentado é fruto de discussões internas dos setores

competentes pela redução de acidentes em uma empresa do setor automobilístico,

16

localizada na região do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo. Tem como proposição

um estudo de caso com acidentes que ocorreram com os operadores da montagem final

de um componente do processo produtivo, denominado protetor do espelho do disco

dianteiro do veículo.

Esse componente é agregado ao veículo na montagem final do processo de

produção. O processo de produção do automóvel consiste em receber a matéria prima

dos fornecedores de chapas para a estampagem dos componentes, como exemplo, portas

e tampas, e outras peças que outrora foram terceirizadas. Após o processo de

estampagem dos componentes estes são encaminhados a área de carroçaria através do

sistema FIFO (First in First out), sistema utilizado no gerenciamento de depósitos para a

circulação natural dos estoques, onde são soldados os pré-conjuntos e armados dando

forma à carroçaria através de dispositivos que garantem uma replicação aceitável. A

seguir são transportados por via aérea através de dispositivos ao setor de pintura para os

banhos químicos e a aplicação dos anticorrosivos e a pintura propriamente dita.

Novamente transportadas via aérea chegarão a ala da montagem final, onde são

montados os componentes de acabamento do veiculo, sejam faróis, motor, carpetes, etc.

Este estudo de caso, pretende analisar os acidentes causados pelo espelho do

disco dianteiro. Este componente é montado no eixo dianteiro do veículo, que chega do

fornecedor em forma de JIT (Just in Time) sendo que esse fornecedor tem a

responsabilidade de colocação do componente no ponto de consumo na linha de pré-

montagem de motores. O eixo dianteiro é descarregado por empilhadeira ao lado da

linha de montagem, onde o trabalhador fixa-o no motor do veículo com apertadeira

penumática, onde inicia-se este estudo de caso, logo a seguir o veículo prossegue na

linha de montagem e se eleva para receber montagens na parte inferior, como por

exemplo, a montagem do tanque de combustível.

A partir da fixação do eixo dianteiro com o motor o espelho do disco fica

exposto e percorre um trajeto acima do nível do piso, causando uma condição de risco.

Esta condição permanece até a montagem do escapamento traseiro, a partir da qual não

existe mais a possibilidade deste tipo de acidente, uma vez que o conjunto volta ao nível

do piso. Durante o percurso, encontramos 52 postos de trabalho, envolvendo 156

funcionários entre os três turnos envolvidos no risco de acidente deste componente. O

problema é agravado pelo fato de que a empresa, em funcionamento há mais de vinte

17

anos, produz diariamente cerca 1020 automóveis, fato que o tempo de realizar as

operações torna-se enxuto, devido a estudos e cronometragens freqüentes a fim de a

empresa se tornar competitiva nesta época de produção globalizada, onde os custos com

mão de obra tendem-se a reduzirem, gerando um certo desgaste emocional nos

trabalhadores, podendo ser uma causa de acidentabilidade.

1.1 Relevância do Estudo

Este tema é uma preocupação constante dos trabalhadores, empresários e

governo, todos empenhados para diminuir os danos materiais e imateriais decorrentes

desses infortúnios. O trauma e os custos de um acidente no local de trabalho são

imensos e devem ser pensados integralmente. Além do acidentado em si, existem os

envolvimentos dos peritos de segurança e medicina do trabalho, diretamente ligado a

este fato; ocasionalmente poderá ocorrer a diminuição da qualidade do produto, pelo

afastamento temporário ou permanente do funcionário de sua função, a substituição de

sua função por outro funcionário que pode não estar treinado adequadamente e

especializado na função, a utilização da infraestrutura de socorro com o ambulatório ou

pronto-socorro para seu atendimento, etc.

A identificação de possibilidades de acidentes de trabalho ou o acompanhamento

dos acidentes de trabalho para que de sua análise resultem ações que venham sanar as

falhas que propiciaram o acidente é um esforço constante para se manter as pessoas

trabalhando com segurança e vivendo bem a plenitude de suas vidas. É função da

empresa eliminar ou minimizar os fatores considerados nocivos ao trabalhador.

1.2 Delimitação do estudo

Este estudo de caso tem como objeto de investigação, os acidentes de trabalho

ocorridos com o protetor do disco de freio dianteiro, no setor de montagem final

específico de uma montadora na região do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo. A

descrição epidemiológica dos acidentes, têm o propósito de identificar as variáveis que

possam estar contribuindo para os funcionários se acidentarem. Serão analisadas além

dos acidentes as ações decorridas destes como uma contribuição para a diminuição da

18

taxa de frequência de acidentes nesta empresa. Apresentou-se neste estudo de caso,

algumas sugestões, no tocante a gerenciamento pela prevenção de acidentes e liderança

das áreas para o correto uso dos EPI.

1.3 Objetivo

Este estudo faz a descrição e análise dos acidentes de trabalho ocorridos em um

componente automobilístico, em uma empresa sediada no Vale do Paraíba, estado de

São Paulo, período estudado entre janeiro de 2001 a março de 2002, com a finalidade de

subsidiar o gerenciamento do programa de redução de acidentes do trabalho. Este

estudo identifica, uma potencial forma dos funcionários se acidentarem e descreve os

acidentes segundo as variáveis: faixa etária, tempo de função na empresa, turno de

trabalho, dia da semana, causa e parte do corpo mais atingida.

19

3 REVISÃO DA LITERATURA

O acidente do trabalho do ponto de vista legal é definido pelo Decreto-Lei n.

7.036, de 10 de novembro de 1944, como

“todo acidente que se verifique pelo exercício do trabalho provocando, direta ou

indiretamente, lesão corporal, perturbação funcional ou doença que determine a

morte, a perda total ou parcial, permanente ou temporária da capacidade de

trabalho”.

Tomando um conceito mais técnico, poder-se-ia considerar os acidentes de

trabalho como “todas as ocorrências não programadas, estranhas ao andamento do

trabalho, das quais poderão resultar danos físicos e/ou funcionais ou morte ao

trabalhador e ou danos materiais e econômicos à empresa” (ZOCCHIO, 1971).

HEINRICH, 1960 definiu o acidente como “... um fato no qual ocorre a lesão de uma

pessoa, ou se cria possibilidade de tal lesão por qualquer das seguintes causas ” :

• pelo contato da pessoa com um objeto, uma substancia ou com outra pessoa;

• por exposição do individuo aos riscos que envolvam objetos, substâncias ou

outras pessoas ou condições;

• e pelo movimento de uma pessoa ...(DELA COLETA 1989)

Os riscos de ocorrência de acidentes, especialmente do primeiro e terceiro tipos,

variam para cada ramo de atividade econômica, em função de tecnologias utilizadas,

condições de trabalho, características da mão-de-obra empregada e medidas de

segurança adotadas. A natureza do risco profissional, conforme definem BEDRIKOW,

BAUMECKER e BUSCHINELLI (1996) compreendem:

“... agentes mecânicos que em geral produzem efeitos de forma

súbita e lesões do tipo traumáticas - acidentes de trabalho - e agentes

físicos, químicos e biológicos, causadores de doenças profissionais.

Acrescentam-se os riscos ergonômicos e, com importância crescente,

fatores psico-sociais com repercussão em especial sobre a saúde

mental dos trabalhadores. Mudanças nas tecnologias e nas formas de

organização do trabalho, informatização, descaracterização da

empresa como único local de trabalho e trabalho em domicílio, criam

novas formas de risco”.

20

Ocorrido um acidente de trabalho, suas conseqüências podem ser categorizadas

em:

• Simples assistência médica - o trabalhador recebe atendimento médico e retorna

imediatamente às suas atividades profissionais;

• Incapacidade temporária - o trabalhador fica afastado do trabalho por um período, até

que esteja apto para retomar sua atividade profissional. Para a Previdência Social é

importante particionar esse período em inferior a 15 dias e superior a 15 dias, uma vez

que, no segundo caso, é gerado um benefício pecuniário, o auxílio-doença por acidente

do trabalho;

• Incapacidade permanente - o trabalhador fica incapacitado de exercer a atividade

profissional que exercia na época do acidente. Essa incapacidade permanente pode ser

total ou parcial. No primeiro caso o trabalhador fica impossibilitado de exercer

qualquer tipo de trabalho e passa a receber uma aposentadoria por invalidez. No

segundo caso o trabalhador recebe uma indenização pela incapacidade sofrida

(auxílio-acidente), mas é considerado apto para o desenvolvimento de outra atividade

profissional.

• Óbito - o trabalhador falece em função do acidente de trabalho.

A avaliação da incapacidade parcial permanente não segue um critério único em todos

os países. A atribuição de pesos ou taxas de invalidez, além de diferenciada, é, em alguns casos,

incompleta. A situação é ainda mais crítica para as ocorrências de lesões múltiplas e para os

acidentados com lesões preexistentes (ILO, 1971).

No Brasil, a Norma Brasileira de Cadastro de Acidentes, NB18 da Associação

Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (1975), cujo objetivo é fixar critérios para o

registro, comunicação, estatística e análise de acidentes de trabalho, discrimina algumas

situações de perda de membros, de visão e de audição. Essa norma determina que, para

efeito de contagem de dias perdidos de trabalho, quando houver lesões múltiplas, devem

ser acumulados os pesos atribuídos a cada ocorrência. O simples critério de acumulação

pode gerar situações em que a soma dos pesos para todas as lesões supera o peso

atribuído à morte.

A Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, instituiu o auxílio-suplementar e

estabeleceu coeficientes de 30%, 40% e 60% do salário-de-contribuição para o

21

pagamento ao acidentado que, após a consolidação das lesões resultantes do acidente,

permanecesse incapacitado para a atividade que exercia na época do acidente, pelo

benefício auxílio-acidente. A Lei n. 9.032, de 28 de abril de 1991, estabeleceu

coeficiente único de 50% do salário-de-contribuição para o auxílio-acidente.

Com vistas às normas brasileiras, uma vez ocorrido o acidente, pesquisados e

identificados os riscos, as empresas devem procurar minimizá-lo, implantando medidas

preventivas. O primeiro passo no sentido de prevenir os acidentes é reunir um conjunto

de informações confiáveis, que permita calcular indicadores e criar ações preventivas.

É reconhecido até mesmo por técnicos da Organização Internacional do Trabalho - OIT,

que conseguir retratar todos os acidentes ocorridos nas empresas é uma tarefa muito

difícil, uma vez que alguns empregadores, deliberadamente, não notificam as

ocorrências. Além disso, as estatísticas oficiais de acidentes de trabalho no Brasil são as

disponíveis no Ministério da Previdência e Assistência Social, ou seja, aqueles acidentes

ocorridos com empregados sob regime Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Fica

claro, portanto, que a estatística global de acidentes de trabalho é maior, porém não há

fontes para mensurá-la.

Segundo o Regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social –

ROCSS (Decreto 2.173 de 05 de março de 1997), as empresas são classificadas

conforme sua atividade preponderante em três níveis de risco de acidente de trabalho:

leve, médio e grave. A cada um desses riscos há alíquotas de contribuição associadas,

destinadas ao financiamento dos benefícios acidentários (aos acidentados) de

respectivamente, 1%, 2% e 3%. Essa contribuição é feita pelas empresas e incide sobre

o total das remunerações pagas ou creditadas pelos segurados empregados e

trabalhadores avulsos.

Fazendo um paralelo ao conceito atuarial de seguro, a determinação de alíquotas

diferenciadas de contribuição para o Seguro Acidente do Trabalho - SAT busca retratar

as diferentes probabilidades de ocorrência de acidentes de trabalho em categorias de

atividade econômica. Como em qualquer seguro, a observação estatística de um grande

número de registros permite fixar as bases de operação a serem estabelecidas (risco,

prêmio, etc.). Rever essas bases é uma tarefa fundamental e indispensável para o

correto funcionamento do seguro.

22

A contribuição da empresa para o seguro acidente de trabalho nos molde hoje

praticados (3 graus de risco) foi estabelecida na Lei n. 6.367, de 19 de outubro de 1976.

O Decreto Lei n. 79.037, de 24 de dezembro de 1976, complementou essa lei, e instituiu

o novo Regulamento do Seguro de Acidentes do Trabalho no Brasil1, (PREVIDÊNCIA

SOCIAL, indicadores acidentes do trabalho). Desde então, a classificação só foi

modificada em 1997, quando da publicação do Decreto Lei n. 2.173, de 05 de março de

1997. Entretanto, a modificação não foi fruto de uma revisão dos graus de risco, porém

uma necessidade de compatibilidade de códigos de atividade. Desta forma, ao longo

desses 22 anos passados os graus de risco se mantiveram inalterados.

O artigo 27 do mesmo Decreto Lei n. 2.173 determina que o MPAS pode

autorizar a empresa a reduzir em até cinqüenta por cento essas alíquotas de

contribuição, desde que a empresa invista na melhoria das condições de trabalho,

buscando a prevenção e a redução dos agravos à saúde no trabalho. Para avaliar esse

processo de enquadramento das empresas nas alíquotas de contribuição, o Instituto

Nacional do Seguro Social - INSS , tem como base as informações da CAT -

Comunicação de Acidente de Trabalho.

Para tanto, é preciso que o MPAS disponha de uma rotina bem definida, que

permita avaliar, controlar e acompanhar esse processo de enquadramento das empresas,

a partir de indicadores que possibilitem medir os gastos do sistema previdenciário com

acidentes de trabalho, a perda de homens-hora não trabalhada e a gravidade dos

acidentes.

Os setores de engenharia de segurança e de medicina do trabalho têm em comum

o compromisso com a promoção e preservação da saúde e da integridade física dos

trabalhadores. O exercício profissional dessas duas áreas não se confunde mas,

complementa-se, na aplicação de um conjunto de conhecimentos técnicos e científicos

(1) - 1 O regulamento do Seguro de Acidentes do Trabalho estabeleceu os três graus de risco com

base em uma classificação própria de atividades econômicas denominada código SAT - Seguro Acidente

de Trabalho. Essa classificação não era compatível com o Código Nacional de Atividades Econômicas

(CNAE), utilizado pelo Ministério do Trabalho e por todas as pesquisas sob a coordenação do IBGE -

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Desta forma, ficava inviabilizada qualquer tipo de análise

que envolvesse o cruzamento com bases de dados de outras instituições e, portanto, prejudicados os

estudos buscando uma revisão dos graus de risco.

23

que objetivam o cumprimento do seu compromisso comum. Esse compromisso com a

Saúde dos Trabalhadores demanda um conhecimento daquilo que, efetivamente,

significa saúde, assim como de tudo aquilo que possa afetá-la no ambiente de trabalho

ou fora dele. Desta forma, o binômio saúde e doença geralmente associada apenas à

medicina, passa também a integrar o exercício profissional dos gestores do setor.

A forma mais abrangente de apresentar o conceito de Saúde é utilizando a

definição da Organização Mundial de Saúde - OMS (1978 Conferência de Alma), que a

expressa como o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a

ausência de enfermidade. É evidente o caráter subjetivo dessa definição pois é difícil

quantificar o bem-estar, entretanto, isso favorece a compreensão de que é necessário

atuar sobre todos os fatores que venham a interferir nesse estado. No ambiente de

trabalho, esses fatores são chamados de riscos ocupacionais.

As doenças do trabalho, ou doenças ocupacionais/profissionais, são aquelas

decorrentes da exposição dos trabalhadores aos riscos ambientais, ergonômicos ou de

acidentes. Elas se caracterizam quando se estabelece o nexo causal entre os danos

observados na saúde do trabalhador e a exposição a determinados riscos ocupacionais.

Dessa forma, se o risco está presente, uma conseqüência é a atuação sobre o organismo

humano que a ele está exposto, alterando sua qualidade de vida. Essa alteração pode

ocorrer de diversas formas, dependendo dos agentes atuantes, do tempo de exposição,

das condições inerentes a cada indivíduo e de fatores do meio em que se vive.

A prevenção de riscos ocupacionais é a forma mais eficiente de promover e

preservar a saúde e a integridade física dos trabalhadores. Uma vez conhecido o nexo

causal entre diversas manifestações de enfermidades e a exposição a determinados

riscos, fica claro que, toda vez que se atua na eliminação ou neutralização desses riscos,

está-se prevenindo uma doença ou impedindo o seu agravamento.

Na etapa de antecipação dos riscos é fundamental a atuação do gestor de

pessoas. Essa etapa envolve a análise de projetos de novas instalações, métodos ou

processos de trabalho, ou de modificação dos já existentes, visando identificar os riscos

potenciais e introduzir medidas de proteção para sua redução ou eliminação. A atuação

eficaz dos gestores irá garantir projetos que eliminem os riscos antecipados e

neutralizem aqueles inerentes à atividade ou aos equipamentos.

24

Outra etapa do processo de prevenção, é o reconhecimento dos riscos. Nesse

caso, o risco já está presente e será preciso intervir no ambiente de trabalho. Reconhecer

os riscos é uma tarefa que exige observação cuidadosa das condições ambientais,

caracterização das atividades, entrevistas e pesquisas. Infelizmente, há ocasiões em que

os riscos são identificados após o comprometimento da saúde do trabalhador. Quando

existe um Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, conforme previsto em

norma específica (NR-7) do Ministério do Trabalho, é possível obter um diagnóstico

precoce dos agravos à saúde do trabalhador. Nesses casos, enquanto a Medicina do

Trabalho cumpre o seu papel preventivo, ao rastrear e detectar o dano à saúde, caberá

aos gestores intervirem com rapidez no ambiente para impedir que outros trabalhadores

sejam expostos ao risco.

A adoção das medidas de controle, que representam uma outra etapa da

prevenção, será antecedida pela etapa de avaliação dos riscos, quando eles serão

quantificados para subsidiar seu controle. A requerida intervenção se fará, na maioria

das vezes, nas fontes geradoras dos riscos, nas possíveis trajetórias e nos meios de

propagação dos agentes. Sendo assim, o gestor deverá especificar e propor

equipamentos, alterações no arranjo físico, obras e serviços nas instalações,

procedimentos adequados, enfim, uma série de recomendações técnicas pertinentes a

projetos e serviços de engenharia. (DELA COLETA, 1989)

Em todas estas etapas, os gestores devem estar atentos para a prevenção das

doenças do trabalho e, atuantes, para a condição de promover a saúde do trabalhador.

3.1 Indicadores utilizados para medir o risco no trabalho

Há uma série de indicadores que podem ser construídos visando medir o risco no

trabalho e permitir comparações entre diferentes momentos de tempo. A OIT utiliza

três indicadores para medir e comparar a periculosidade entre diferentes setores de

atividade econômica de um país: o índice de freqüência, o índice de gravidade e a taxa

de incidência (ILO, 1971).

Já a NB 18 (ABNT, 1975), sugere a construção dos seguintes indicadores: (i) taxas

de freqüência (total, com perda de tempo e sem perda de tempo), (ii) taxa de gravidade e

medidas de avaliação da gravidade (número médio de dias perdidos em conseqüência de

25

incapacidade temporária total, número médio de dias perdidos, em conseqüência de

incapacidade permanente e tempo médio computado).

É importante ressaltar que a recomendação internacional é que, no cálculo dos

indicadores, da taxa de freqüência ou gravidade se for o caso, os acidentados cuja

ausência da sua função tenha sido igual ou superior a uma jornada normal,além aqueles

que exercem algum tipo de trabalho temporário ou informal, situação em que o

acidentado não se ausenta formalmente do trabalho, porém fica impedido de executar

sua atividade habitual .

Os indicadores de acidentes de trabalho, além de fornecer indícios para a

determinação de níveis de periculosidade por área profissional, são de grande

importância para a avaliação das doenças profissionais e, absolutamente indispensáveis,

para a correta determinação de programas de prevenção de acidentes e conseqüente

melhoria das condições de trabalho no Brasil.

Devido à peculiaridade dos acidentes deste estudo de caso, adotou-se o índice de

freqüência conforme será justificado mais adiante.

O Índice de Frequência (If) mede o número de acidentes ocorridos para cada

1.000.000 de homens-hora trabalhadas. ( NB 18 ABNT,1975)

000.000.1×××

=TJH

ATf (equação 1)

Onde:

Tf = Taxa de frequência

A = Número de acidentes

H = Homens expostos ao perigo

J = Jornada de trabalho

T = Tempo estudado em dias

A fórmula original do índice de frequência, apresentada anteriormente, demanda

uma reflexão. Algumas empresas apresentam maior grau de declaração de acidentes de

trabalho, registrando todas as ocorrências, sejam elas graves ou não. Outras, porém,

26

registram apenas a parcela de acidentes mais graves que resultam na concessão de

benefícios previdenciários. Ao computar no numerador, todos os acidentes registrados,

o índice de frequência acaba por penalizar as empresas com boa declaração de

sinistralidades, favorecendo aquelas que só declaram o obrigatório.

A fim de contornar esse problema, O Ministério do Trabalho alterou a

formulação original do indicador, de tal forma, que sejam considerados apenas os

acidentes de trabalho que geraram algum tipo de benefício previdenciário

(aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, auxílio-acidente e pensão por morte).

Desta forma, pode-se reescrever o índice de frequência o qual será denominado índice

de frequência descontaminado.

1.000.000astrabalhadhora-homensdetotalNúmero

benefício geraram que trabalhode acidentes de totalNúmero×=fdI

(equação 2)

3.2 Bases de dados

Os dados utilizados para cálculo dos indicadores devem ser extraídos de quatro

bases de dados distintas, as informações necessárias são, principalmente, relativas a

trabalhadores, empresas, gastos com pagamento de benefícios por acidentes de trabalho,

arrecadação para o SAT e acidentes de trabalho registrados e liquidados por CNAE,

(Classificação Nacional de Atividade Econômica). Isto se aplica, principalmente, para

as ocorrências de CNAE ignorado, que são distintas para cada base de dados. Como na

CAT a informação declarada é o CGC (Cadastro Geral de Contribuintes), CEI (Cadastro

Específico do INSS), a partir do qual se obtém o CNAE, a má declaração dessa

informação invalida a associação entre as duas fontes de dados. Já no Cadastro

Nacional de Informações Sociais - CNIS, como a informação de CNAE é de

fundamental importância para a estrutura interna do banco de dados, sua qualidade é

muito superior àquela obtida da CAT. Desta forma, é possível verificar ocorrências de

CNAE ignorado, em determinadas faixas etárias e Unidades da Federação, em que o

número de acidentes registrados é superior ao número de trabalhadores expostos ao

risco, o que levaria ao cálculo de indicadores absurdos.

27

3.3 Comunicação de Acidente do Trabalho

Até meados de 1996 as informações de acidentes de trabalho eram

contabilizadas através do BEAT - Boletim Estatístico de Acidentes de Trabalho. A

partir de sua desativação, a CAT passou a ser digitada nos postos de benefícios do INSS

e as informações guardadas em um sistema próprio.

Desse sistema são obtidas as informações de total de acidentes registrados,

detalhados por motivo do acidente (doença, trajeto e típico). A tabulação utilizada neste

trabalho foi elaborada com os seguintes detalhamentos: clientela, idade, Unidade da

Federação, CNAE e data do acidente. A variável sexo, embora declarada no momento

do registro da CAT no posto, não era transmitida para o sistema central e, desta forma,

não estava disponível para tabulação. Esse problema foi solucionado e, para tabulações

de acidentes registrados a partir de 1997 é possível obtê-la.

Atualmente a associação entre CAT e benefícios decorrentes de acidentes de

trabalho ainda não é perfeita. Com as alterações implementadas no PRISMA (sistema

para entrada de dados e alimentação do sistema SUB) em meados do corrente ano

espera-se que esse problema seja solucionado. Desta forma, será possível separar,

dentre os acidentes que geraram algum tipo de benefício previdenciário, aqueles que

foram causados por uma doença profissional, por um acidente típico ou de trajeto. Essa

distinção é de extrema relevância, uma vez que a natureza do acidente determina o tipo

de ação preventiva a ser adotada. Além disso, dependendo do tipo de análise que se

deseje fazer sobre as condições de segurança de uma determinada empresa ou atividade

econômica, é fundamental distinguir os acidentes típicos e decorrentes de doença

profissional, dos acidentes de trajeto. Neste estudo de caso, o procedimento para o

devido preenchimento do CAT a um funcionário acidentado, procede-se no momento da

apresentação do funcionário ao setor do ambulatório para as providencias de socorro. O

médico do trabalho faz as análises devidas e preenche os campos da área médica,

liberando o funcionário ou para o trabalho ou dispensa se for o caso. O formulário é

enviado ao setor de origem do funcionário para a análise da Cipa, do líder da célula e do

setor de prevenção de acidentes dando-se aí o preenchimento dos demais campos para

as providencias corretivas e ou prevenção deste ocorrido, vide anexo 2.

28

3.4 Arrecadação

O Sistema GRPS (Guia de Recolhimento da Previdência Social) reúne

informações sobre o valor arrecadado pelas empresas e entidades equiparadas. Embora

não haja um campo separado que discrimine o valor da contribuição para o SAT, é

possível calculá-lo considerando a alíquota associada a cada código de atividade

econômica (1%, 2% ou 3%).

Desta forma, a tabulação realizada fornece o valor total da arrecadação, segundo

o mês de competência, detalhado por CNAE, a partir do qual calculou-se a contribuição

para o SAT.

29

4 MATERIAL E MÉTODO

Há vários métodos desenvolvidos para se abordar os acidentes, cabendo ressaltar

um enfoque que antecede o acidente e outro o precede. Para sistemas de menor

complexidade, o método de escolha é constituído pelas inspeções de ambientes e de

condições de trabalho capazes de identificar perigos decorrentes, entre outros, de

problemas de segurança de máquinas, postos de trabalho, lay-out, limpeza, ambiente

físico, presentes e visíveis de maneira permanente nos ambientes de trabalho

(MONTEAU & FAVARO, 1990; MONTEAU, 1992).

Por outro lado, se há alguns fatores da organização do trabalho e gerenciais,

identificáveis à inspeção, como ritmo intenso, trabalho em turnos e noturno, seqüência

irracional de operações, existem vários outros que dificilmente são evidenciados por

inspeções, por ocorrerem de forma eventual e limitada no tempo, como, por exemplo,

designação improvisada de trabalhadores para execução de tarefas, uso de materiais por

várias equipes sem designação de responsável, falta de ferramentas e materiais

adequados à execução de tarefas eventuais ou não rotineiras. Tais fatores, na medida

em que os problemas mais críticos de insegurança vão sendo superados, adquirem

importância crescente no desencadeamento de acidentes (MONTEAU & PHAM, 1987;

MONTEAU, 1992), situação em que a investigação precede os acidentes e evidencia

riscos reais para se poder solucioná-los (MONTEAU, 1980). Optou-se neste estudo

pelo enfoque precedente ao acidente e a busca dos gestores por soluções.

Os dados desta pesquisa, foram coletados das fichas dos acidentes do arquivo do

setor de Relações Humanas da empresa estudada. Foram estudados somente os

acidentes que ocorreram em um único componente denominado espelho do disco

dianteiro, peça essa em formato circular, confeccionada em material de chapa de aço de

fina espessura, estampada contendo arestas vivas. Os dados correspondem ao período

de 01 de janeiro de 2001 até 14 de março de 2002.

Foram observadas as variáveis: componente que ocasionou os acidentes, tempo

do trabalhador na empresa, idade, dia da semana, turno , parte do corpo atingida.

30

4.1 Fonte das informações

O setor de prevenção de acidentes emite um formulário denominado Formulário

de Síntese da Investigação (anexo 1) para cada acidente ocorrido na fábrica. O

formulário é constituído por itens que detalham:

• parte do corpo atingida,

• agente da lesão,

• acidente – meio

• acidente – tipo

• ato inseguro

• condição insegura

• fator material de risco.

• Fator pessoal de risco.

O procedimento da fábrica determina que posteriormente ao preenchimento do

formulário citado anteriormente, seja realizada a análise das possibilidades para se

eliminar as causas. Além disso, são acionados os setores competentes, discutidos com

os gestores de cada área a fim de se tomar as providencias cabível.

4.2 Detalhamento do componente causador dos acidentes

O componente objeto dos acidentes de trabalho deste estudo é denominado

espelho do disco dianteiro, pode ser descrito como uma peça estampada em chapa de

1,5 mm em formato circular que é montada no eixo dianteiro do veículo. A função

técnica deste componente, é proteger contra impactos e detritos o disco de freio

dianteiro do veículo, pois se trata de um item de segurança para os ocupantes e que deve

sempre estar em perfeitas condições de funcionabilidade.

4.3 Dinâmica do acidente

Após o conjunto do disco dianteiro, ter sido montado no eixo do veículo, os

trabalhadores que realizam esta montagem e aqueles que dão seqüência nas operações

seguintes, ficam expostos ao risco de cortes nos dedos, mãos e braços. Quando o

31

veículo prossegue na linha de montagem e se eleva para receber montagens na parte

inferior, o protetor do disco fica exposto e alguns operadores têm se ferido batendo a

cabeça na referida peça.

4.4 Tratamento dos dados

Os dados foram coletados no setor de Relações Humanas desta empresa,

tratados de forma quantitativa, sendo analisados e apresentados de uma forma

estruturada para gerar subsídios para os gestores implementarem ações de

conscientização e motivação para se evitar esses acidentes.

32

5 RESULTADOS

Os acidentes em geral são fenômenos altamente complexos, com um número

muito elevado de variáveis envolvidas na sua ocorrência e com multiplicidade de

enfoques e interpretações. Essa complexidade determina a necessidade de redobrados

cuidados do ponto de vista metodológico em seu estudo, para que possam ser garantidos

níveis mínimos de operacionalidade, confiabilidade, replica e generalidade da

investigação.

Neste estudo de caso considerou-se o período de janeiro de 2001 até março de

2002. Nesse período ocorreram 12 acidentes que causaram lesões corporais leves.

Considerou-se um total de 156 funcionários que participam do processo descrito e

portanto estavam sujeitos ao risco desses acidentes.

A figura 1 representa a taxa de frequência mensal de acidentes do estudo de caso

(156 trabalhadores), da montagem final (2500 trabalhadores) e da fábrica toda (6500

trabalhadores). A taxa de frequência dos acidentes do estudo de caso apresentou-se alta

em relação ao montante da montagem final e fábrica, levando a considerar a

periculosidade do componente descrito, onde a taxa de frequência é de 29, conforme a

equação:

000.000.1×××

×=TJH

ATf (equação 1)

Onde:

Tf = Taxa de frequência

A = Número de acidentes

H = Homens expostos ao perigo

J = Jornada de trabalho

T = Tempo estudado em dias

33

0

10

20

30

40

50

60

70

jan/01

fev/01

mar/01

abr/0

1

mai/01

jun/01

jul/01

ago/0

1se

t/01

out/0

1

nov/0

1

dez/0

1jan

/02fev

/02

mar/02

MÊS/ ANO

TAXA

DE

FREQ

UEN

CIA

MEN

SAL(

%)

Montagem Final Fábrica Estudo de caso

Figura 1 Comparação das taxas de frequência mensal de acidentes

A figura 1 apresenta a situação da taxa de frequência entre o estudo de caso, a

montagem final e a fábrica como um todo.

O índice de frequência para o estudo de caso foi de 29 acidentes ocorridos para

cada 1.000.000 homens hora trabalhadas como se segue:

000.000.1×××

=TJH

ATf

• Onde:

• A (Número de acidentes) ocorreram no período estudado 12 acidentes.

• H (Homens expostos ao perigo) no período estudado este número

permaneceu fixo em 156 trabalhadores.

• J (Jornada de trabalho) a jornada de trabalho, descontando-se as paradas,

refeições, etc. é de 8 horas

• T (Tempo estudado em dias) durante o período estudado, 15 meses e

considerando-se a média de 22 dias úteis por mês, o número de dias trabalhados foi de

330.

Então 29000.000.13308156

12=×

××=Tf

Este resultado, compreende o acumulado dos 15 meses do estudo de caso.

34

Para um melhor entendimento dos acidentes pode-se descrever a dinâmica dos

casos.

5.1 Descrição dos acidentes

A seguir transcreveu-se a FAT obtida junto ao setor de relações Humanas, de

cada um dos acidentes foco deste estudo de caso.

Acidente 1: em 21 de janeiro de 2001, o funcionário ao executar um retrabalho

em um dia de domingo, sem as luvas de segurança, bateu o dedo no espelho do disco,

vindo a sofrer um ferimento corto-contuso. Este funcionário possuía na época 3 meses

de experiência na empresa e na função, idade de 24 anos, estava no 2º turno onde sofreu

este acidente às 23 horas.

Acidente 2: em 2 de abril de 2001, o funcionário estava em seu tacto de

montagem, o veículo que estava montando, estava elevado por recomendação de

ergonomia de operações, onde executava as operações na parte inferior, abaixou para

recolher um componente no solo, e ao levantar bateu a cabeça no espelho do disco,

ocasionando um ferimento corto-contuso no couro cabeludo. Este funcionário possuía

na época 3 anos de experiência na função e 21 anos na empresa, idade de 45 anos,

estava no 2º turno onde sofreu o acidente às 23:50 horas.

Acidente 3: em 17 de abril de 2001, o funcionário ao torquear um sub-conjunto,

bateu o cotovelo no espelho do disco, vindo a sofrer um corto-contuso, foi liberado

então proteção individual denominada mangote de raspa. Este funcionário possuía na

época 5 anos de experiência na função e 19 anos na empresa, idade de 55 anos, estava

no 1º turno onde sofreu este acidente às 14:30 horas.

Acidente 4: em 23 de maio de 2001, o funcionário estava em seu tacto de

montagem, o veículo que havia montado, estava elevado por recomendação de

ergonomia de operações, onde executava as operações na parte inferior, ao girar para se

dirigir ao próximo veículo, bateu a cabeça no espelho do disco, ocasionado um

ferimento corto-contuso na cabeça. Este funcionário possuía na época 1 ano de

experiência na função, e 6 anos na empresa, idade de 36 anos, estava no 3º turno onde

sofreu o acidente às 3: horas.

35

Acidente 5: em 5 de julho de 2001, o funcionário estava em seu tacto de

montagem, o veiculo que havia montado estava elevado por recomendação de

ergonomia de operações, onde executava as operações na parte inferior do veiculo, ao

passar por baixo deste veiculo atravessando a linha para obter um componente, bateu a

cabeça no espelho do disco, ocasionando um ferimento corto-contuso na cabeça. Este

funcionário possuía na época 11 anos de experiência na função e empresa, idade de 34

anos, estava no 2º turno onde sofreu o acidente às 18:50 horas.

Acidente 6: em 14 de setembro de 2001, o funcionário estava em seu tacto de

montagem, o veiculo que havia montado estava elevado por recomendação de

ergonomia de operações, onde executava as operações na parte inferior do veiculo, ao

passar por baixo deste veiculo atravessando a linha para obter um componente, bateu a

cabeça no espelho do disco, ocasionando um ferimento corto-contuso na cabeça. Este

funcionário possuía na época 6 anos de experiência na função e 11 anos na empresa,

idade de 40 anos, estava no 3º turno onde sofreu o acidente às 3:30 horas.

Acidente 7: em 1 de novembro de 2001, o funcionário torqueava um

componente em seu tacto de montagem, e ao terminar a operação girou a mão vindo a

bater seu dedo contra o espelho do disco, ocasionando um ferimento corto-contuso. Este

funcionário possuía na época 2 meses de experiência na função e 19 anos na empresa,

idade de 59 anos, estava no 3º turno onde sofreu o acidente às 5:30 horas.

Acidente 8: 21 de novembro de 2001, o funcionário após terminar a operação de

montagem, bateu o pulso no espelho do disco, ocasionado um ferimento corto-contuso.

Este funcionário possuía na época 12 meses de experiência na função e empresa, idade

de 29 anos, estava no 2º turno onde sofreu o acidente às 18:30 horas.

Acidente 9: em 11 de dezembro de 2001, ao terminar a operação em seu tacto de

montagem, o funcionário ao retirar a proteção do espelho do disco, bateu o dedo contra

o espelho do disco ocasionando um ferimento corto-contuso no dedo. Este funcionário

possuía na época 11 anos de experiência na função e empresa, 37 anos de idade, e

estava no 2º turno onde sofreu o acidente às 17: horas.

Acidente 10: em 30 de janeiro de 2002, ao passar por baixo dos veículos da linha

de montagem que estão elevados para montagens inferiores, o funcionário bateu a

cabeça no espelho do disco ocasionando um ferimento corto-contuso. Este funcionário

36

possuía na época 18 meses de experiência na função e 20 meses na empresa, idade de

25 anos, e estava no 3º turno onde sofreu o acidente às 1:30 horas.

Acidente 11: em 31 de janeiro de 2002, o funcionário torqueava um componente

em seu tacto de montagem, e ao terminar a operação girou a mão vindo a bater contra o

espelho do disco, ocasionando um ferimento corto-contuso, no momento estava sem as

luvas de proteção. Este funcionário possuía na época 5 anos de experiência na função e

7 anos na empresa, idade de 33 anos, estava no 2º turno onde sofreu o acidente às 20:50

horas.

Acidente 12: em 14 de março de 2002, o funcionário ao executar uma operação

que necessitava de sensibilidade nos dedos, retirou as luvas, ao terminar a operação

bateu a mão no espelho do disco, ocasionando um ferimento corto-contuso. Foi então

liberada uma luva que possibilite uma sensibilidade dos dedos para executar a operação

e mantenha a segurança.

O conjunto de acidentes pode ser observado segundo as variáveis escolhidas.

A figura 2, apresenta 3 acidentes ocorridos entre 0 e 3 meses na função, 2

acidentes entre acima de 3 meses a 1 ano, 4 acidentes entre acima de 1 ano e 5 anos, 1

acidente entre acima de 5 anos a 10 anos e 2 acidentes entre acima de 10 a 15 anos de

tempo na função.

0

1

2

3

4

5

0 até 3 meses acima de 3 mesesaté 1 ano

acima de 1 ano até 5anos

acima de 5 anos até10 anos

acima de 10 anosaté 15 anos

TEMPO NA FUNÇÃO

AC

IDE

NTE

S

Figura 2- número de acidentes segundo tempo do funcionário na função

37

Variável idade do trabalhador. A figura 3 apresenta a relação entre a idade e a

quantidade de acidentes ocorridos. Observou-se que entre 19 e 25 anos ocorreram 2

acidentes, entre acima de 25 a 32 anos, acorreram 2 acidentes, entre acima de 32 a 39

anos ocorreram 4 acidentes, entre acima de 39 a 46 anos ocorreram 2 acidentes e acima

de 46 anos, ocorreram 2 acidentes.

0

1

2

3

4

5

19 até 25 anos acima de 25 até 32anos

acima de 32 até 39anos

acima de 39 até 46anos

acima de 46 anos

IDADE

AC

IDE

NTE

S

Figura 3- Número de funcionários acidentados segundo idade

A figura 4 apresenta a relação entre o dia da semana que houve acidentes com a

quantidade ocorrida. Observou-se que ocorreram 2 acidentes no domingo, 2 acidentes

na segunda –feira, 2 acidentes na terça-feira, 1 acidente na quarta-feira, 4 acidentes na

quinta-feira, nenhum acidente na sexta-feira e 1 acidente no sábado.

0

1

2

3

4

5

domingo segunda terca quarta quinta sexta sábado

DIA DA SEMANA

AC

IDE

NTE

S

Figura 4: Número de acidentes por dia da semana

38

Variável turno de trabalho. A figura 5 representa a relação entre os turnos e a

quantidade de acidentes ocorridos. Observou-se que no primeiro turno ocorreram 2

acidentes, no segundo turno 6 acidentes e no terceiro turno 4 acidentes.

0

1

2

3

4

5

6

7

1° Turno 2° Turno 3° Turno

Nº A

CID

EN

TES

Figura 5 Acidentes por turno de trabalho

Variável investigação. A figura 6 apresenta a relação do fato gerador de

acidentes e a sua quantidade. Observou-se que 1 acidente ocorreu por desvio ou falha no

processo, 8 acidentes ocorreram por falha no projeto, 2 acidentes ocorreram por uso

incorreto de EPI e 1 acidente ocorreu por falta do uso do EPI.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Desvio/ falha no processo Falha no projeto Uso incorreto do EPI Falta do uso do EPI

FATO GERADOR

AC

IDE

NTE

S

Figura 6 Acidentes por fato gerador

39

Variável parte do corpo atingida. A figura 7 apresenta a relação entre a parte do

corpo atingida no acidente e a sua quantidade. Observou-se que ocorreram 2 acidentes

nos dedos, 5 acidentes na cabeça, 1 acidente no cotovelo, 2 acidente nas mãos e 1

acidente no pulso.

Figura 7 Acidentes por parte do corpo lesada

5.2 Medidas preventivas adotadas

Iniciou-se um trabalho de desenvolvimento em novembro de 2001 de uma

proteção para o espelho do disco, a princípio em courvim com velcro e elástico com o

formato circular da peça, a fim de proteger os funcionários envolvidos com operações

próximas a esta peça cortante. Devido o fato do componente possuir arestas cortantes,

os protótipos da proteção em courvim não resistiram e foi descartada a experiência

com este material.

Dando seqüência no desenvolvimento da proteção para o espelho do disco, foi

criado um modelo em parceria com um fornecedor especializado , utilizando um

material derivado do petróleo denominado abs, adquirido em mantas, aquecido e por

ação de vácuo toma a forma perfeita na contra peça denominada, espelho do disco.

Feito os testes com a cipa, medicina do trabalho e prevenção de acidentes, este modelo

0

1

2

3

4

5

6

dedo cabeça cotovelo mão pulso

PARTE DO CORPO ATINGIDA

AC

IDE

NTE

S

40

foi aprovado e adquirido 400 peças o que gerou uma ausência temporária dos acidentes

neste componente automobilístico.

Dado o fato deste componente ser cortante a proteção desenvolvida não obteve

a durabilidade desejada, novamente foi contatado o fornecedor para aplicar um

material mais resistente para esta proteção, enquanto o desenvolvimento de estudos e

projetos financeiros do produto reavaliem a possibilidade de modificação definitiva

neste componente, inibindo o risco de acidentes por corte na extremidade deste

componente automobilístico. Conforme apresentado nas ilustrações a seguir, está

apresentada a proteção em seu estado funcional no espelho do disco do freio dianteiro,

figura 1, eliminado totalmente a possibilidade de causar algum tipo de acidente

cortante seja nos dedos, nas mãos, na cabeça, ou cotovelo. A figura 2 seguinte mostra

detalhes da proteção quanto as seus detalhes de concepção, no processo de vácuo, que

a tornam exatamente idênticas a contra-peça que foi utilizada como modelo para

confecção das 400 proteções adquiridas no fornecedor desenvolvido para esta

finalidade. Em fevereiro de 2003, o fornecedor apresentou a versão da proteção em

material denominado, polipropileno de alta densidade, maleável o suficiente para

resistir a aresta cortante do espelho do freio, elevando então a durabilidade da

proteção, construída também no processo de vacum form, conforme a anterior.

Como medida de abstinência, para os acidentes cortantes nos dedos, mãos e

pulso, a verba destinada à segurança para as células, deverá ser recalculada, levando-se

em consideração, que o setor de prevenção de acidentes libera para os operadores, dois

tipos de luvas, devido a versatilidade de operações em que os trabalhadores estão

sugeitos, e nas demais operações, onde não há o risco de corte nestes membros. Desta

forma, quando o trabalhador está na operação de fixação do eixo no motor, deverá

utilizar a luva tricotada em nylon, com banho superficial de poliuretano nas áreas de

contato, dorso, palma e dedos, protegendo do corte do espelho do disco, a um custo de

R$ 5,50 o par. Nas operações que não demonstram riscos de corte nas mãos, é liberada

a luva de lona em brim, felpada internamente e costurada com fios de nylon e punho

sanfonado. Para efeito de performance da célula, o líder requisita a luva em lona

41

Figura 8 Conjunto do eixo dianteiro do veículo

Figura 9: Proteção do espelho do disco dianteiro

42

O setor de prevenção de acidentes, em paralelo com a supervisão da área, deve

monitorar as variáveis estudadas e apontadas neste estudo de caso, com a relação do

uso dos EPI’s. O que se observa freqüentemente são deliberações isoladas dos setores

de segurança no trabalho, sem nenhum comprometimento das chefias imediatas e da

direção superior a respeito desse relevante tema, com repercussões nas normas de uso

do equipamento e nas providencias sobre os servidores que deles não se utilizam.

No Brasil ocorre freqüentemente um abuso do emprego de EPI como forma de

prevenção de acidentes no trabalho, substituindo todas as outras alternativas, sendo

assim entendido que um sistema que comporte grande número de sujeitos usando EPI

é um sistema seguro, quando na verdade os EPI’s devem ser utilizados somente

naqueles sistemas em que existe o perigo e outras soluções não podem eliminar o

risco. Recomendar o uso geral e indiscriminado de EPI como forma de garantir a

segurança no trabalho é, em boa parte das vezes, uma forma cômoda de gastar

dinheiro, iludir-se com a segurança e tentar demonstrar a incautos observadores que ali

existe segurança.

Desta forma, fica evidente que se o espelho do disco do freio for modificado na

sua borda, eliminando o fator gerador de risco de acidente por corte, estes doze

acidentes seriam evitados, somando os gastos com os custos ambulatoriais e dispensas

médicas, mais os EPI’s que não mais serão necessários, o retorno da modificação da

peça será depreciada em um tempo razoavelmente curto.

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6 DISCUSSÃO

Pudemos observar na figura 1, que para cada acidente ocorrido neste estudo de

caso a taxa de frequência foi de 29, taxa esta relativamente alta em relação a montagem

final e fábrica como um todo, desta forma considera-se a periculosidade ou seja, a

condição insegura gerada pelo espelho do disco do freio dianteiro.

A figura 2, mostra que se os acidentes são tidos como sintomas de inadaptação

ou de desajuste do trabalhador à empresa e se, com o passar do tempo e a troca

permanente de informações entre o homem e o meio ambiente, neste caso o trabalho, os

trabalhadores conseguiriam melhor adaptação, podendo-se afirmar que os trabalhadores

mais experientes seriam mais adaptados ao seu trabalho e aprenderiam a evitar os

acidentes e os perigos. Tal fato se deveria à não execução de certas tarefas de maior

risco ou ao desenvolvimento de uma serie de comportamentos seguros pelo acúmulo de

vivências em situações inabituais que estariam ocorrendo no seu dia a dia. Pode-se notar que 5 acidentes ou 41,6 % dos acidentes ocorreram no primeiro

ano do funcionário na função enquanto que entre 1 e 5 anos ocorreram 4 acidentes ou

33,3 % e entre acima de 5 anos a 15 anos ocorreram 3 acidentes ou 25 % do total

relacionado neste estudo de caso. (DELA COLETA). Em relação à idade (figura 3) pode-se discutir que existe maior rotatividade entre

os funcionários com idade mais jovem em relação aos mais velhos, mas isso não foi

verificado neste estudo uma vez os funcionários na faixa etária de 19 a 25 e de acima de

25 a 32 anos sofreram 2 acidentes em cada faixa, enquanto que na idade de acima 32 a

39 anos eles foram mais sujeitos a eles, ou seja 4 acidentes. Já funcionários de maior

idade sofrem menos acidentes que os de idade intermediária, devendo estar contribuindo

para isso a maior experiência de vida para serem prudentes e as habilidades adquiridas

durante a vida.

Entretanto, percebeu-se que os mais jovens, com mais estudos e rotatividade

maior de mão de obra, tanto em se tratando de buscar novos desafios em outras

empresas, como na própria empresa, em postos de trabalho melhores ou promoções,

ficam então mais distantes deste risco de acidente.

44

Na figura 4, destacou-se a quinta feira como sendo o dia mais propenso a

acontecer os acidentes, conclui-se que seja devido ao cansaço acumulativo da jornada

da semana, somando-se o stress da repetibilidade na operação em que realiza, os

sentidos perdem a sensibilidade principalmente quanto ao perigo. Destaca-se a sexta

feira, com zero acidentes, devido a proximidade do final de semana, onde o descanso

com a família ou uma viagem programada pode acontecer, então o trabalhador realiza

suas operações de modo mais natural, e sabendo que em poucas horas mais, estará em

companhia de sua família, para o descanso desejado. Nesta empresa, o pagamento é

quinzenal, e quando a data de pagamento coincide com o final de semana, o crédito do

salário é depositado na sexta-feira, gerando uma motivação no quadro de trabalhadores,

perante suas operações.

Na figura 5 verificou-se que o turno do vespertino, das 15:02 horas às 00:27

horas, é o que apresenta maior número de acidentes, seguido pelo turno noturno, das

21:36 horas às 6:00 horas, colaborando para a consideração do funcionamento

fisiológico do ser humano. O período de sono sofre modificações importantes em varias

situações de trabalho em turno noturno. As mudanças nos horários de repouso

relevantes trazem alterações à maioria das funções fisiológicas e cognitivas, que se

expressam de maneira rítmica, e são significativamente perturbadas quando o

trabalhador dorme fora do período normal de repouso, que é o período noturno,

associado ao fato do trabalhador deste turno iniciar suas tarefas à tarde e terminá-las de

madrugada, fato que a visão fica prejudicada pela sobreposição da claridade natural à

artificial no transcorrer de sua jornada.(FISCHER).

A figura 6, mostra que a maior causa dos acidentes, identificada neste estudo, é a

falha no projeto onde o desejo do homem de dominar o ambiente e o mundo, de adaptar

o meio e modificar as suas características às suas conveniências, de encontrar extensões

para sua capacidade limitadas e de diminuir os esforços na complementação de tarefas

do trabalho, de aumentar a produção e de incrementar o desenvolvimento econômico,

ainda constrói máquinas e ambientes impróprios para o trabalho, com falhas em sua

concepção e que provoca ainda com a tecnologia se dispões lesões nos trabalhadores.

As demais causas mostram que mesmo sob treinamentos ainda persistem acidentes por

falta de uso de proteção ou utilização inadequada. Pode-se suspeitar que as empresas

satisfazendo suas ambições trazem, por outro lado, crescente exposição do trabalhador à

45

fadiga física e mental com conseqüente carência de motivação e principalmente

incremento nos níveis de risco com elevação no numero de acidentes, absenteísmo,

rotatividade de mão de obra entre outros, fica então, a negação do auto cuidado e a

transgressão das normas institucionais.

Ao se caracterizar as variáveis deste estudo fica clara a condição insegura da

peça citada. A figura 7 demonstra a periculosidade da peça em estudo expondo a

fragilidade dos trabalhadores durante essa parte do processo produtivo, que ao

executarem suas tarefas na parte inferior do veiculo, pode o trabalhador tocar sua cabeça

no protetor do disco, gerando o ferimento corto-contuso, por vezes, somente de encostar

a cabeça é o suficiente para provocar o corte expondo o membro superior também ao

risco. Nos acidentes onde a parte lesada foi o membro superior a dinâmica das

operações no conjunto motor e câmbio se encontram na fase de pré-montagem, ou seja

ainda não se encontrava com a carroçaria, portanto está na parte baixa da linha de

montagem.

46

7 CONCLUSÃO

Analisando este estudo de caso, pode-se concluir que:

Até meados do século passado a maior preocupação era com a construção de

máquinas, às quais os operadores deveriam adaptar-se com altos custos, em termos de

esforços físicos, riscos de vida e perdas para a sociedade. Analisando mais

cuidadosamente os fatos: se as máquinas são construídas pelos homens, e para os

homens operá-las, não se justifica mais esta preocupação unicamente com as variáveis

da máquina, mas sim em levar-se em conta as capacidades e limitações humanas ao

construí-las, no sentido de diminuir a probabilidade de acidentes, reduzir a fadiga e

aumentar a satisfação no trabalho.

Neste estudo de caso a Engenharia do Produto definiu a peça, que é a causa dos

acidentes de trabalho, denominada espelho do disco dianteiro, relevando a discussão

do potencial de risco de acidentes no ambiente de trabalho como um todo,

principalmente a ergonomia dos trabalhadores que a essa fase do processo estão

expostos.

Os equipamentos de proteção de acidentes seguem uma dinâmica que não conseguem

suprir a falha no projeto, uma vez que o setor de prevenção de acidentes libera um

determinado tipo de luva denominada tricotada, que resiste a cortes, e estas não são

requisitadas em quantidade suficiente, para os trabalhadores envolvidos neste estudo

de caso, pela administração do líder da área, devido à verba liberada pela empresa para

a sustentabilidade da célula tornar-se incompatível pelo custo desta luva, ser quatro

vezes maior, que a tradicional luva de lona, utilizada nos outros postos de trabalho.

A compra, após a identificação da necessidade de equipamentos de prevenção devem

ter orçamentos prioritários e com controles rigorosos de especificações levando em

conta o risco humano e seu custo, e não o custo do material de proteção.

O treinamento e adequação dos funcionários devem levar em conta as variáveis

apreciadas neste estudo para melhor zelar pela integridade do ser humano.

47

8 BIBLIOGRAFIA

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ZOCCHIO, A. Prática de prevenção de acidentes. Rio de Janeiro, Atlas, 1971.

49

9 ANEXOS

50

9.1 anexo 1- Síntese da Investigação.

51

9.2 anexo 2- FAT