psicolinguística - elena godoy
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o léxico contém um número limitado de palavras, q·são repetidas, e exibe uma abundância de diminutivsão empregadas mais palavras de conteúdo e menos lavras funcionais;o discurso focaliza as circunstâncias do “aqui” e “ag·que são pertinentes para a criança; são utilizadas m
sentenças imperativas e mais repetições completas parciais; existe abundância de sentenças interrogativformadas com as palavras interrogativasquem, que, onde etc., que são bem complexas pela sua estrutura sintáto que contraria a ideia muito comum de que o “manhseria uma língua simplicada.
3.2 ABORDAGENS TEÓRICAS DA AQUISIÇÃO DA LIN
Os psicolinguistas que estudam o processo da aquisiçãolinguagem descreveram muitos fatos e propuseram muitasplicações desse fenômeno complexo, que, mesmo assim,
da parece “mágico” e “misterioso”. Uma teoria global e sistente da aquisição da linguagem deve dar conta tanto comportamento linguístico de crianças em qualquer pontodesenvolvimento como dos processos responsáveis por esssenvolvimento. Podemos caracterizar as abordagens, as ppectivas teóricas que existem atualmente e competem ensi e acolhem as teorias menores, “pontuais”, que explicamodelam certos conjuntos de fatos, como, por exemplo, o
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senvolvimento lexical em crianças pequenas com síndrome Down ou a aquisição da morfologia de línguas diferentes. Pabuscarmos entender e analisar as semelhanças e as diferençentre as perspectivas teóricas existentes, iremos nos basear nseguintes distinções fundamentais propostas por Berko Gleaso(1989): estruturalismoversus funcionalismo, competênciaversus performance e inatismoversus empirismo.
Estruturalismo versus funcionalismoUma descrição estrutural do comportamento, verbal ou não
procura descobrir os processos invariantes, nos quais se bseiam os dados observáveis. As regras de gramática postuladpor Chomsky, a quem já nos referimos várias vezes, ou as rgras comportamentais baseadas no mecanismo de estímuloresposta, de John Watson e Burrhus Frederic Skinner, que seaplica a todos os comportamentos, humanos ou não, e supõque todo estímulo desencadeia uma resposta, são exemplos destruturas que permitiriam explicar o comportamento obser vável. Já as abordagens funcionais de comportamento buscaestabelecer relações entre as variáveis situacionais e a linggem. O objetivo desse tipo de enfoque é a descrição e a prevsão do comportamento verbal em diferentes contextos e entrdiferentes indivíduos.
Podemos ilustrar essa diferença entre as perspectivas estr
tural e funcional com um exemplo. Uma criança diz: “Quro água”. Os estruturalistas analisarão a forma da sentença e
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descobrirão que ela está estruturada de acordo com a ordcanônica (básica) da língua portuguesa (sujeito-verbo-obje contém o sujeitoeu, que não aparece no enunciado, mas estápresente na estrutura, exigindo a concordância com o verbprimeira pessoa do singular (quero), seguido do objetoágua .Essa análise levará os estruturalistas a concluírem que, u vez que a criança sabe a regra básica, ela será capaz de crproduzir um número innito de sentenças do mesmo tipo. Já os funcionalistas examinarão a situação em que o en
ciado “Eu quero água” ocorreu. Eles se aterão ao fato de a ocorrência do enunciado está determinada pelo contextopresença da mãe) e pelas consequências que o enunciado
sencadeia: receber – ou não – um copo de água. A estrutexata do enunciado pode não ser importante, mas são imptantes os recursos linguísticos escolhidos ou os recursos qcriança tem à disposição nessa etapa de seu desenvolvimpara fazer seu pedido.
O que podemos notar é que, diante do mesmo enunciadestruturalistas e funcionalistas descrevem aspectos diferedo comportamento verbal: os estruturalistas enfatizam atrutura gramatical, a sintaxe, enquanto os funcionalistas excam o uso pragmático, social da linguagem. Parece claro nenhuma das duas perspectivas explica totalmente o comtamento linguístico da criança e que, de certo modo, elas complementares.
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Competência versus performance
A competência refere-se ao conhecimento individual da lin-guagem, das suas regras estritamente linguísticas: fonológicmorfossintáticas, semânticas e lexicais. A performance diz res-peito ao uso real da linguagem. Se o pesquisador prioriza conceito de competência, ele deve ser muito cuidadoso com enunciados que escolhe para determinar as regras gramaticaporque os enunciados reais podem conter alguns “deslizes”“erros” naturais na fala espontânea. Na pesquisa linguísticapsicolinguística, apenas os estruturalistas se preocupam uncamente com a competência. Os funcionalistas são mais cocentrados nos dados reais do uso da linguagem.
Inatismo versus empirismoEssa distinção diz respeito às escolhas do pesquisador: se e
privilegia as características biológicas, genéticas com as qua criança vem ao mundo ou, então, se dá mais importância àcondições sociais: meio social, educação, cultura etc. Os in
tistas armam que a linguagem é complexa demais para seaprendida por meio de quaisquer dos recursos de aprendizagem que conhecemos, como, por exemplo, a imitação, e qupor isso alguns aspectos fundamentais da linguagem devemser inatos. Os empiristas, pelo contrário, dão mais peso ao ambiente em que a criança está inserida. Para eles, não existem
diferenças essenciais entre a linguagem e outros tipos de comportamento humano. A aprendizagem de uma língua é, então
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sujeita a todos os princípios de aprendizagem que começcom o estudo dos comportamentos mais simples dos orgamos mais simples.
É verdade que os estudiosos da linguagem normalmente naderem a alguma posição extrema quanto às capacidades,conhecimentos e aos comportamentos inatos ou aprendido
As abordagens teóricas que propõem explicações de comcrianças aprendem a linguagem podem ser organizadas emgrupos: behavioristas (comportamentistas), “linguísticas” eracionistas. Examinemos a seguir essas três propostas centr
3.2.1 ABORDAGENS BEHAVIORISTAS
Como perspectiva teórica, o behaviorismo possui a cararística de levar em conta apenas os aspectos comportamenobserváveis e mensuráveis, evitando quaisquer possibilidde explicações mentalistas do comportamento verbal, tcomo intenções ou o conhecimento implícito (internalizade regras gramaticais: a competência. Os behavioristas curam registrar condições observáveis do meio (estímuque predizem comportamentos verbais especícos (resposEles não negam a existência de mecanismos internos e rnhecem que o comportamento observável tem uma base cológica interna. O que os behavioristas rejeitam é a existêde estruturas ou processos internos que não tenham correlafísicos especícos, como, por exemplo, as gramáticas inte
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zadas, e enfatizam a performance sobre a competência linguís-tica, justamente porque a competência seria um conhecimentseparado do comportamento observável. Pela mesma razão, obehavioristas não aceitam até mesmo as categorias linguístictradicionais, tais como sentença, verbo, advérbio etc.
O desenvolvimento da linguagem, que, para os behaviori
tas, não é nada mais que a aprendizagem do comportamento verbal, é entendido como uma aprendizagem das associaçõentre estímulos e respostas com adição de vários reforços e pnições proporcionados pelos agentes do ambiente, por exempos pais. Nessa perspectiva, pais e professores treinam criançpara estas executarem comportamentos verbais adequados. O
adultos oferecem a elas exemplos de fala adulta para seremimitados, como em “Tchau. Diga ‘tchau’ pra titia. Que bonitoEle falou ‘tchau’!”. Ao ter executado o comportamento corrto, a criança recebe um elogio, um reforço. Os behavioristareconhecem que, ao longo do desenvolvimento da linguageminfantil, aumenta a complexidade das unidades de resposta. A
combinações de palavras compõem unidades maiores que vãformando esquemas – mas não regras! – gramaticais. Como mencionamos, os behavioristas não reconhecem a existência regras que formariam a competência linguística, assim comnão reconhecem intenções e signicados: a aprendizagem dcomportamento verbal se resume em treinamento com baseem certos estímulos do ambiente que provocam e reforçamcertas respostas e inibem outras.
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Muitos psicolinguistas, ao contestarem a posição behavita, argumentam que, em situações reais, os pais normalmenão se comportam como cuidadosos e ecientes professorelíngua e, mesmo quando o fazem, se a criança não apreseuma maturação suciente, o treinamento não funciona a ctento. Vejamos um exemplo de tal treinamento infeliz:
Criança: Ninguém não gosta de mim.Mãe: Não. Diga: “Ninguém gosta de mim”.Criança: Ninguém não gosta de mim.(O diálogo se repete oito vezes)Mãe: Agora me escuta bem. Diga: “Ninguém gosta demim”.Criança (chorando): Ninguém não gosta de mim! Nemvocê não gosta de mim!!
Com certeza, cada leitor poderá lembrar vários casos selhantes a esse do nosso exemplo. Entretanto, como já dissemé bastante raro os pais corrigirem a forma gramatical do enciado de seu lho. O mais comum é os pais reagirem com aplicas como “Muito bom!” ou “Isso mesmo”, quando o contdo enunciado da criança é verdadeiro ou está de acordo comprincípios éticos adotados pela família, mesmo se a forma d
enunciado fere a gramaticalidade. E, pelo contrário, os paizem “Não” ou “Está errado”, quando o conteúdo do enunci
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é falso ou eticamente incorreto do seu ponto de vista, mesmapresentando uma forma gramaticalmente impecável.
3.2.2 ABORDAGENS LINGUÍSTICAS
As abordagens que por convenção são chamadas delinguís-ticas se fundamentam nas idéias gerativistas. Entretanto, nãoqueremos dizer que todos os estudiosos da linguagem seguetodos os postulados dos ensinamentos de Chomsky: de fatoexistem várias correntes teóricas dentro da ciência da lingutica Essas abordagens assumem que a linguagem tem uma etrutura, uma gramática, que independe do uso da linguageme assumem também que todos os falantes nativos adultos têmo conhecimento das regras dessa gramática e que estas nãprecisam ser ensinadas. Os falantes podem não se dar contdesse conhecimento e não ser capazes de descrever as regrNessa perspectiva, a aquisição da linguagem nada mais é quo processo de descoberta pela criança das regras de sua lígua materna. Por isso, é necessário assumir que a linguagem
tem uma base genética muito forte, o que explicaria a rapideda aquisição da linguagem. Ao contrário dos behavioristas, olinguistas argumentam que os dados linguísticos proporciondos pelo ambiente são insucientes para que a gramática posser descoberta pelos princípios de aprendizagem.
Os linguistas postulam a existência de uma capacidadelinguística inata, chamada pelo gerativismo chomskyano ddispositivo de aquisição da linguagem, que contém os princípios
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universais da estrutura de qualquer língua humana. Esse positivo permite à criança exposta a uma língua deduzir sparâmetros e regras especícas.
A abordagem linguística minimiza os efeitos de ambienlinguísticos variados e diferentes, armando que o ambieserve apenas como um desencadeador do dispositivo da a
sição da linguagem e que esse dispositivo permite construgramática a partir de qualquer apresentação linguística do biente, seja ela abstrata, complexa ou cheia de erros. Entretafoi observado que crianças expostas à linguagem “apenas”tindo à televisão sem ter outras fontes linguísticas adquiremnúmero menor de formas e regras da língua, pois, tal como
casos já mencionados de crianças de alguma maneira privdo convívio social, elas não têm possibilidades de intera verbal. Isso quer dizer que provavelmente a armação doguistas gerativistas de que a simples exposição à linguagemsuciente para o desenvolvimento linguístico normal podefalsa. Foi observado também que a aquisição de algumas re
gramaticais mais complexas pode acontecer até mesmo nade adulta, ou seja, passada a chamadaidade crítica .Por último, vale a pena mencionar que o postulado
Chomsky de que a linguagem é especíca do gênero humdevido à existência do dispositivo da aquisição da linguapróprio da espécie é controverso. Os numerosos estudos eperimentos feitos com chimpanzés e gorilas mostraram qesses primatas são capazes de aprender vários sistemas d
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municação, inclusive a linguagem dos surdos, adquirindo o xico e as regras gramaticais compatíveis com as de uma criande aproximadamente 2 anos e meio. Assim, é possível assumao contrário dos linguistas seguidores da posição chomskyanque a linguagem humana é apenas a ponta de um contínuo qué a comunicação simbólica.
3.2.3 ABORDAGENS INTERACIONISTASComo vimos, behavioristas e linguistas ocupam posições r
dicalmente opostas quanto aos postulados teóricos fundamentais. As abordagens interacionistas reconhecem e muitas vezaceitam os argumentos mais fortes de ambos os campos. Ointeracionistas assumem que muitos fatores interdependentesbiológicos, sociais, linguísticos, cognitivos etc. – afetam o cso do desenvolvimento: tanto os fatores sociais ou cognitivopodem modicar a aquisição da linguagem, como a aquisiçãpor sua vez, também pode modicar o desenvolvimento conitivo e social.
Analisemos dois tipos principais de abordagens interacionitas: o interacionismo cognitivo de Jean Piaget e sua escola einteracionismo social de Lev Vygotsky e seus seguidores.
INTERACIONISMO COGNITIVO OU CONSTRUTIVISMO
Os estudos de Jean Piaget compartilham muitas características importantes com a abordagem linguística da aquisiçãda linguagem: enfatizam as estruturas internas como deter
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minantes do comportamento e concordam sobre a natureda linguagem como um sistema simbólico para a expressãintenção e sobre a distinção entre competência e desempenEntretanto, existem também algumas fortes diferenças teórentre as duas perspectivas. A mais importante dessas difereé que, para Piaget, a linguagem não é independente das ouhabilidades humanas que surgem como resultado do amarecimento cognitivo. Assim, ao contrário de Chomsky, Piapostula que as estruturas linguísticas não são inatas. Contuao contrário de Skinner, para Piaget, a linguagem tampoucaprendida: as estruturas linguísticas “emergem” como resdo da interação incessante entre o nível do funcionamento nitivo da criança em uma certa etapa de seu desenvolvimenseu ambiente, tanto linguístico como extralinguístico. Deva essa concepção da aquisição da linguagem, a abordagemgetiana é conhecida comoconstrutivismo, que é oposto tanto aoinatismo estrito (linguístico) como ao empirismo. Essa abdagem sugere que a linguagem é apenas uma das expressõe
um conjunto geral das atividades cognitivas humanas. Por o desenvolvimento do sistema cognitivo deve ser consideum precursor necessário da linguagem. Assim, para explo desenvolvimento da linguagem, os construtivistas preciidenticar a sequência de amadurecimento cognitivo, do qa linguagem deriva.
Por outro lado, entre as posições linguísticas e as constr vistas existem divergências quanto aos dados relevantes
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explicar a aquisição da linguagem pela criança. A maioria dlinguistas insiste apenas na importância da competência linguística, enquanto, para os piagetianos, a performance , comsuas limitações naturais, também fornece dados importantes
Por último, existem algumas evidências que contrariam opostulados piagetianos. Vários psicolinguistas identicaram
situações nas quais as capacidades linguísticas e cognitivas recem separáveis. Assim, crianças com alguns sérios retardmentais que se saem pessimamente em tarefas cognitivas pdem exibir padrões linguísticos normais. Também crianças cograves deformidades anatômicas, que prejudicam o desenvolmento sensório-motor tido como precursor do desenvolvimen
to cognitivo e linguístico, chegam a desenvolver normalmentanto a cognição como a linguagem. Em resumo, a armaçãconstrutivista de que o desenvolvimento cognitivo determinalinguístico precisa ser mais testada empiricamente.
SOCIOINTERACIONISMO
Essa abordagem combina vários aspectos das perspectivabehaviorista e linguística. Os sociointeracionistas concordacom os linguistas quanto ao postulado de que a linguagem hmana tem uma estrutura e certas regras que a diferenciam doutros tipos de comportamento. Ao mesmo tempo, tal comoos behavioristas, eles privilegiam o papel do ambiente, dafunções sociocomunicativas da linguagem na produção desestrutura. Por outro lado, uma estrutura linguística mais ma
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dura e sosticada permite variar de modo mais sosticadrelacionamento social.
Para behavioristas, crianças são “receptores” passivos donamento linguístico e o resultado do desenvolvimento daguagem se deve exclusivamente a esse treinamento. Na adagem linguística, a criança é ativa e vista como um “pequ
cientista” que analisa a fala dos outros e descobre as regramaticais. A criança piagetiana interage com o ambienteacordo com as possibilidades cognitivas próprias do estágidesenvolvimento em que se encontra para “se construir” e pas-sar ao estágio seguinte. Já para os sociointeracionistas, a criança e seu ambiente
fala representam um sistema dinâmico: a criança se benedo ambiente e, ao mesmo tempo, exige dele mais dados cessários para se desenvolver linguisticamente. Tal comolinguistas, os sociointeracionistas entendem que o desenvmento linguístico da criança fundamentalmente se caractepela aquisição das regras gramaticais, mas, nessa perspecpresume-se que essas regras podem ser aprendidas dentrocontexto social por associações e imitações. Os sociointernistas reconhecem que os seres humanos são siologicamespecializados para o uso da linguagem e que a criança só adquirir a linguagem quando atinge um certo nível do de volvimento cognitivo. Por outro lado, é o ambiente que ofepara a criança os tipos de experiência linguística necessá
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para seu desenvolvimento e, assim, a interação social se torn vital para a aquisição da linguagem.
A principal força da abordagem sociointeracionista é sua ntureza eclética. Nessa concepção, a linguagem emerge a partde um jogo complexo entre as capacidades cognitivas e liguísticas da criança e seu ambiente linguístico-social.
ATIVIDADES
1. Como você pode interpretar o que uma criança deum ano e meio quer dizer com uma única palavra?Que procedimentos você pode usar nesse caso?
2. Por que o papel do ambiente linguístico poderiaser diferente na aquisição do léxico e na aquisiçãode sentenças?
3. Que papel desempenha o desenvolvimento cogni-tivo na aquisição de palavras relacionais?
4. Quais são os posicionamentos do behaviorismo,da linguística (chomskyana), do interacionismocognitivo e do sociointeracionismo quanto às di-cotomias: estruturalismo/funcionalismo, compe-tência/ performance e inatismo/empirismo? Façaum esquema ilustrativo.
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COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DA FALA
Como já observamos, um dos objetivos fundamentais psicolinguística é explicar o processamento da linguagou como compreendemos e produzimos os enunciados. Ugrande variedade de processos psicológicos participa do cessamento da fala oral e pode ser ilustrada, de uma forbastante genérica, com a gura a seguir.
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Figura 4 – Processos simplicados no processamento da fala or
onda sonora da fala
Representação do discurso
texto/discurso
Processos acústico-fonéticos Processos articulatórios
Input Output
sonsRepresentação fonética Representação fonética
percepção- compreensão produção
fonemassílabas
emissão verbal
Representação fonológica Representação fonológica
Decodicação fonológica Planejamento fonético
morfemaspalavras
Representação léxico-morfológica
Representação léxico-morfológica
Acesso ao léxico Codicação fonológica
sintagmassentençasRepresentação sintática Representação sintática
Análise sintática Seleção lexical
conceitosproposiçõesRepresentação semântica Representação semântica
Interpretação semântica Planejamento sintático
atos defalaRepresentação pragmática Representação pragmática
Interpretação pragmática Planejamento semântico
Integração no discurso Planejamento pragmático
FONTE: Adaptado de Anula Rebollo , 2002, p. 16
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Dada a complexidade desses processos, focaremos apenaprocessos psicolinguísticos centrais.
Como já observado, a grande diculdade para as ciêncque estudam a mente humana e o processamento da fala csiste no fato de que esses fenômenos não são observáveis, oobriga os psicolinguistas a elaborarem hipóteses que são
tadas por meio da observação ou da simulação. As abordaatuais das descrições do processamento linguístico se baseem três hipóteses: modular, conexionista e híbrida.
A concepção da mentemodular entende que a mente humananão representa um todo unitário, mas se divide em vários comnentes. Entre esses componentes, poderiam gurar, por exemo componente sintático para processar a gramática, o compote semântico para analisar signicados, o componente lexicaEsses componentes funcionariam autonomamente e em sequêda mesma maneira como a fala é processada por computador
Os modelosconexionistas representam o processamento dafala como uma estrutura em rede. Os nós dessa rede se entram conectados e o processamento acontece simultaneameem vários nós, que interagem entre si. As conexões entre ospodem ter graus variados de ativação ou bloqueio, e a ativçãopode ser transmitida de alguns nós para outros.
Nos últimos anos têm aparecido várias tentativas de associmodelos das redes de conexões com os sistemas modularesduzindo modelos de sistemashíbridos de processamento da fala.
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4.1 MODELOS DE PRODUÇÃO DA FALA
Nas primeiras etapas da existência da psicolinguística, fram elaborados os modelos do processo comunicativo comum todo. Com base na teoria geral da comunicação eram etudados os processos de codicação e decodicação, ou secomo as intenções dos falantes se transformam em sinais d
código convencional em uma dada cultura e como esses sinase transformam em interpretações nas mentes dos ouvintesCom o advento do gerativismo de Chomsky, os psicolinguitas se concentraram no modelo da geração da fala de acordcom os princípios da gramática gerativa, testando a “realidadpsicológica” da teoria. Hoje, como já foi dito, observa-se umtendência à construção de modelos de tipo híbrido que enfocam a análise dos processos da produção da fala para chegar estudo da comunicação humana como tal.
Um dos modelos mais inuentes da produção da fala é ode W. Levelt, que atualmente serve de referência para as dicussões sobre o processamento linguístico e sua modelagemtambém sobre a aquisição de segundas línguas. Levelt (198postula a existência de uma série de componentes no procesamento, cada um dos quais recebe alguma informação (input )e libera algum produto (output ). Ooutput de um componentepode servir comoinput para outro componente.
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Figura 5 – Modelo de produção da fala de Levelt (1989)
conceptualizador
Codicaçãofonológica
léxicolemasformas
Modelo do discurso,conhecimento da situação,
conhecimento enciclopédico etc.
sistema decompreensão de
fala
formulador
Mensagem pré-verbal
Geração damensagem
Codicaçãogramatical
Estrutura desuperfície
Sequência fonética
audição
Fala processada
Fala externa
articulador
Plano fonético(fala interna)
Monitor
FONTE: Adaptado deLevelt , citado porZalévskaia , 2000, p. 221.
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O processo de produção da fala inclui a intenção, a seleçãe a ordenação da informação, sua conexão como o que foi dianteriormente etc. Levelt chama esses processos mentais dconceptualização e o sistema que gera esses processos deconcep-tualizador . O produto nal dos processos de conceptualizaçãoé uma mensagem pré-verbal.
Para codicar a mensagem, o falante deve ter o acesso a dotipos de conhecimento. O primeiro deles é procedimental, qupermite formar a proposição, ou seja, o conteúdo da sentençe do enunciado. O procedimento é selecionado e extraído dmemória de longo prazo para entrar na memória de trabalho(ou memória de curto prazo) e ca disponível para o uso. Outr
tipo de conhecimento é o conhecimento declarativo. O falanttem acesso a um enorme volume de conhecimentos declara vos que são armazenados na memória de longo prazo: são oconhecimentos estruturados sobre o mundo e sobre si mesmacumulados ao longo da vida (conhecimento enciclopédicoExiste também um conhecimento declarativo especíco sobr
a situação atual em que acontece o discurso: sobre o interloctor, o lugar da conversação, o assunto etc. Além disso, o falanprecisa observar o que foi dito por ele e pelo seu interlocutodurante a interação. Essa pequena parte do discurso, focalizda e controlada, também se encontra na memória de trabalho
O sistema denominado formulador recebe a mensagem pré- verbal no seuinput e a transforma no chamado plano fonético ouarticulatório, ou seja, traduz uma certa estrutura conceptual
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em uma certa estrutura linguística. Isso se faz em dois pasO codicador gramatical ativa os procedimentos que pertem acessar os lemas e os procedimentos das construçõesestruturas sintáticas. A informação sobre os lemas é umnhecimento declarativo que está armazenado no léxico meEssa informação inclui o signicado da unidade lexical, é, o conceito relacionado com a palavra. Um lema é ativquando seu signicado entra em concordância com uma pda mensagem pré-verbal, o que, por sua vez, permite o acà sintaxe, ativando os procedimentos para a construção sinca. Como resultado, nooutput da codicação gramatical temosuma sequência de lemas gramaticalmente organizada. Ogundo passo é a codicação fonológica. Sua função é extraou construir o plano fonêmico ou articulatório para cada lee para o enunciado inteiro. Não se trata ainda de fala exterizada: o plano articulatório é uma representação interiorpronúncia do enunciado, ou seja, é uma espécie de um proma para a sua articulação. O produto nal do funcioname
do formulador representa oinput para o chamadoarticulador .Esse componente extrai da fala interna sequências de bloe as executa, ativando conjuntos de músculos. Nooutput doarticulador está a fala.
O modelo é interessante também porque leva em conta qo falante é ao mesmo tempo o ouvinte de si mesmo e temacesso simultâneo à sua fala interna e à externa. Para proceessas falas, o conceptualizador contém um componente
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madomonitor. Alem disso, e para o falante ouvir sua fala e afala do(s) (outro)s, no modelo está incluído o componenteau-dição. Por m, a interpretação dos sons de fala como palavras sentenças é realizada pelo denominadosistema de compreensãoda fala , cujo produto é a fala processada. O sistema de compre-ensão da fala tem vários componentes que não estão contemplados pelo modelo porque constituem outro processo.
4.2 ARMAZENAMENTO DO LÉXICO
Existem três principais abordagens para explicar o armaznamento e a organização mental do léxico. O modelo deredehierárquica postula que armazenamos o nosso conhecimentodas palavras em forma de uma rede semântica, em que algmas palavras são representadas nos nós mais altos da rede dque outras, como ilustrado pela gura a seguir.
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Figura 6 – Um fragmento do modelo de rede hierárquicainformação semântica relacionada a animais
Canário Salmão Avestruz Tubarão
Pode cantar
É amarelo
É cor-de rosa
É comestível
É alto
Não pode voar
Pode morder
É perigoso
AnimalPode se moverComeRespira
Pássaro Tem asasPode voar Tem penas
Peixe Tem guelrasPode nadar Tem escamas
FONTE: Adaptado deCollins ; Quillian , citados porCarroll , 1985, p. 153.
A abordagem baseada emtraços semânticos concebe a repre-
sentação lexical como um trabalho de um conjunto de traçomânticos que se baseia na estrutura semântica binária do lé
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Enquanto as abordagens e os modelos anteriores enfocama informação estrutural no léxico, os modelos mais recentereconhecem a necessidade de incorporaratributos estruturaise funcionais de palavras para chegar a um enfoque mais realís-tico do léxico. Assim, o modelo deativação por propagação éuma revisão da perspectiva hierárquica que enfatiza a diverdade de relações semânticas dentro da rede.
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Figura 7 – Um fragmento do modelo de ativação por progação do conhecimento semântico
Laranja
Amarelo
Verde
Rosa
Planta
Jasmim
AmanhecerNuvens
Pôr do sol
Maçã
UvaPera
Vermelho
Casa
Rua
Fogo
Ambulância
Ônibus
Veículo
Caminhão
Carro
Bombeiros
FONTE: Adaptado deCollins ; Loftus , citados porCarroll , 1985, p. 158.
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4.3 MODELOS DE COMPREENSÃO DA FALA
Atualmente existem várias abordagens e modelos das princpais etapas que analisam a compreensão do som/grafema relcionado ao sentido do enunciado/texto. Alguns desses modelose concentram nas etapas especícas da tomada de decisões nníveis acústico, fonético, fonológico, lexical, sintático, sem
tico e pragmático; outros enfocam a análise global do procesda percepção signicativa da fala. Entretanto, todos os estudocoincidem na distinção de duas etapas principais: apercepção da fala e suacompreensão , o que não exclui o reconhecimentode uma interação constante entre os dois processos envolvido
Pode parecer que a compreensão da fala acontece instantaneamente, mas os estudos mostram que isso ocorre graças um processamento complexo do sinal percebido (“de entradae reconhecido como um sinal signicativo que chega em formde uma cadeia de fala (sons) ou de uma sequência de grafemSabemos que existe uma série de diferenças entre a perceção da fala sonora (audível) e a percepção da escrita (visívQuando lemos, podemos controlar o tempo de recebimento dinformação e segmentar o sinal de entrada com maior facilidde. O enunciado que percebemos auditivamente é mais rico nsentido de que inclui a prosódia (a entonação), é acompanhadpela mímica (gestos) e é inserido em uma situação concret
Todas essas características facilitam a compreensão em uminteração face a face.
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Vale a pena observar aqui que a percepção não constitui usimples cópia da ação externa. Pelo contrário, a percepçãum processo ativo de conhecimento, intencional, dirigido solução de problemas. Durante esse processo, comparamoobjetos percebidos com as representações de objetos armnadas na memória para que possamos fazer o reconhecimePor isso, podemos caracterizar a percepção como umprocessode categorização em um sentido bastante amplo: da categorização de elementos isolados até a categorização signicae mesmo ética baseada nas crenças, valores e normas soarmazenados na nossa mente.
A compreensão linguística é um processo que consiste
interpretar um/ou mais enunciado(s) verbal(is) ouvido(s)lido(s). Quando ouvimos um enunciado, a nossa mente rliza uma série de procedimentos para analisar e interpretarenunciado. Em uma primeira etapa, precisamos decodifonologicamente o que foi percebido pela nossa audição pobtermos o acesso ao nosso “dicionário mental” e reco
cermos as palavras ouvidas. Simultaneamente procedemanálise sintática, que completa a semântica. Por m, fazema interpretação pragmática, que permitirá entender não sómensagem contida no enunciado como também a sua intcionalidade. Não esqueçamos que passamos por todas eetapas de compreensão inseridos em uma situação partice com a nossa “bagagem” do conhecimento de mundo, no
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valores, crenças etc., o que também inui nas nossas perceções, reconhecimentos e interpretações.
Embora todos esses processos sejam muito complexos, elesão realizados pelos seres humanos em frações mínimas dsegundo. Isso acontece porque não esperamos o enunciadser completado para efetuar a análise, que ocorre enquanto
nosso interlocutor continua seu discurso. A defasagem entre emissão de um enunciado e sua compreensão é de apenas umou duas sílabas.
Como mencionamos anteriormente, o reconhecimento depalavras é operado por meio de um “dicionário mental” qucontém informações sobre a pronúncia e a escrita das palavrsobre sua classe sintática e as indicações relativas a seu senti(mas não a informação completa sobre o sentido, porque estse completa com os dados provenientes do contexto). Normamente o reconhecimento se produz em duas etapas: a) o acesslexical, quando se escolhem vários candidatos e b) o reconhcimento lexical propriamente dito, quando a mente se decidpelo candidato mais conveniente. Assim, por exemplo, parcomeem “Teresinha come laranja”, podemos ter como candidatoscolhe , come , corta , cozinha , contempla , porque eles apresen-tam sequências fônicas e signicados bastante próximos emum dado contexto, e no m camos comcome . É verdade quepodemos fazer uma escolha inadequada e, com isso, pode sinstalar um mal-entendido.
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Existe uma série de peculiaridades da compreensão de p vras que qualquer modelo deve conseguir explicar:
o· efeito de frequência : o fato de que as palavras maisfrequentes encontradas nos discursos anteriores se renhecem antes;o· efeito de inclusão : o fato de que, no texto escrito, as
letras que se encontram no interior da palavra são mbem reconhecidas do que as letras iniciais e nais;o· efeito do contexto , que favorece a compreensão;o· efeito de degradação : a má audição ou visão − física oudevida a ruídos ou a manchas, rasgões ou outros defei
no texto escrito − diculta a compreensão;o· efeito de analogia , que leva a reconhecer palavras pos-síveis, embora não existentes na língua (por exemppode ser reconhecida como palavra a sequência * gome por existiremcomee gomo, mas não * gvolme ).
John Morton (1979) propôs o modelo de acesso direto nhecido comologogén. Esse modelo, bastante inuente, pos-tula que toda informação perceptual (visual, se se trata letras, e auditiva, se de sons) é armazenada diretamente compartimentos chamados delogogéns , que estabelecem cor-respondência biunívoca com as palavras ou morfemas qu
pessoa conhece:
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Figura 8 – Modelo delogogén de Morton (1979)
Resposta
Indícios Indícios
visuais visuais
I n d í c i o s
s e m
â n t i c o s
Análise visualde palavras
Análise acústicade palavras
Estímulo auditivoEstímulo visual
sistema LOGOGÉN
Memória de resposta s i s t e m a c o g n i t i v o
FONTE: Adaptado de Anula Rebollo , 2002, p. 53.
Os graus de sensibilidade potencial de cadalogogén são di-ferentes: as palavras mais frequentes alcançariam o nível dsaturação mais rapidamente que as demais (o efeito de freqência); graças ao contexto é possível sensibilizar certos traçdo logogén antes de começar a busca (o efeito do contexto); asensibilização desaparece depois de um certo tempo, o que e
plica o efeito analógico: durante algum período as sequêncisilábicas possíveis se mantêm ativas e criam a ilusão de sere
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uma palavra); os efeitos de inclusão e de degradação, nmodelo, estão relacionados com a qualidade da audição (vimas a explicação é bastante frágil.
Para compreendermos sentenças, não apenas reconhecemos sons e identicamos as palavras. Além dessas tarefas,lizamos outras que requerem a tomada de decisões duran
análise da estrutura de constituintes (componentes) da sença. Esse processo cognitivo é chamado de parsing .Começamos a analisar a estrutura da sentença logo que ve
ou ouvimos as primeiras palavras. Estas ativam as estratégiprocessamento de organização de palavras em sentenças. a determinação da estrutura sentencial não é a única tarefacessária para a compreensão de sentenças. Além de decidirse a sentença processada é aceitável gramaticalmente, temoidenticar o papel semântico de cada palavra na construçãum signicado coerente da sentença como um todo. Precmos também atribuir aos constituintes sintáticos um papelgumental (sujeito, objeto etc.) que identique qual é sua relsemântica com o predicado sentencial. A soma dessas tarleva à compreensão da sentença, ou seja, atribuímos categogramaticais às palavras, estabelecemos relações estruturais os constituintes e integramos a informação sintática em urepresentação dos acontecimentos descritos na sentença.
Podemos esquematizar os processos envolvidos no procemento sentencial como segue:
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Segmentação −1. A sequência de palavras fornecidas peloanalisador lexical é segmentada em unidades estruturai(sintagmas e sentenças) de maneira recursiva.Etiquetação sintático-funcional −2. Cada constituintesegmentado recebe uma etiqueta sintática (SN, SV etc.)e uma funcional, identicando a função (sujeito, objeto
etc.) que o sintagma cumpre dentro da sentença.Reconstrução do marcador sintagmático −3. O analisadorsintático estabelece as relações de dependência existenteentre os constituintes segmentados e etiquetados. Nes-ta etapa são realizadas várias operações sintáticas, taicomo a coindexação entre elementos que compartilhamtraços referenciais.
Acoplamento sintático-semântico −4. O processo de inter-pretação semântica integra a informação fornecida pelomarcador sintagmático da sentença e a informação contida nas representações lexicais e projeta o conjunto dessas informações para uma representação proposiciona(do conteúdo da sentença) em termos conceituais.
Acabamos de descrever o processamento estrutural de sentenças, mas cada sentença pode ser interpretada de várias mneiras. Vimos que o conhecimento da gramática de uma língunos permite, quando ouvimos a fala de alguém, determinar osignicados das sentenças do falante. Entretanto, isso não suciente para os propósitos de comunicação, porque norma
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mente estamos mais interessados naquilo que o falante qdizer ao usar uma sentença do que somente no signicadoguístico da tal sentença. Se alguém nos diz “Gostei da tuamisa”, podemos entender o enunciado de várias maneiras, dependerão dos tipos de pressuposições que fazemos na sa mente. A sentença pode ser entendida como uma simparmação de que o nosso interlocutor notou a camisa e agestá declarando sua aprovação. Mas também pode ocorrerter sido comunicada uma declaração mais complexa, com ou mais pressuposições implícitas: por exemplo, o falantegosta de outras camisas que costumeiramente usamos, ougosta, sim, da camisa que vestimos, mas não aprova as oupeças de roupa. Em outra situação, o mesmo enunciado pocomunicar um elogio; em alguma outra, pode indicar umteresse romântico, e assim por diante.
Assim, parece claro que as funções que uma sentença sempenha em uma conversa, em um discurso não são tomente determinadas pela sua estrutura. O que um determi
do enunciado “comunica” depende não só da decodicaçãestrutura linguística da sentença, mas também do contextoqual o enunciado é apresentado e das pressuposições feitas falante e pelo ouvinte. Atualmente, os estudiosos reconhecque a comunicação linguística tem uma natureza inferen(depois de termos decodicado o material linguístico, prsamos deduzir o que foi comunicado – lembremos o exemda camisa) e baseia-se no conhecimento das regras sociais
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subjazem à linguagem. É por isso que se faz necessário ideticar os tipos de inferências que fazemos e os processos quusamos para fazer essas inferências.
Os estudiosos postularam que existe uma espécie de con venção entre o ouvinte e o falante para que a comunicaçãlinguística possa acontecer. Essa convenção é um conjunto d
regras implícitas que assumimos (inconscientemente) ao usamos a linguagem em situações comunicativas, para que a noscomunicação tenha sucesso. As regras incluem a quantidadde informação necessária a ser comunicada, a veracidade dconteúdo do enunciado, a relevância do conteúdo do enunciado para a conversa em questão e a necessidade da clarez
do enunciado. Entretanto, o mais curioso é que, em nossasconversas e discursos, violamos constantemente a convençãcomunicativa e ainda assim nos comunicamos – às vezes cosucesso e às vezes não. Os estudiosos postulam, então, qunos valemos das convenções da seguinte maneira: assumimque o falante está empregando um enunciado de maneira con
vencional e usamos o contexto (os enunciados anteriores, a tuação em que a comunicação acontece e o comportamentnão verbal) para nós assegurarmos de que a nossa suposiçãé correta. Caso contrário, usamos o enunciado, o contexto a convenção para inferir (derivar) o signicado que o falanpretendia comunicar. O falante, por sua vez, usa a convençãpara manifestar sua intenção comunicativa, mas, além dissao avaliar a situação comunicativa, seu grau de intimidade co
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o interlocutor, as relações de hierarquia e de poder, escolhestratégias de construção do enunciado que considera adedas. O esquema geral da comunicação linguística seria eno seguinte:
Figura 9 – Esquema geral da comunicação linguística
EstruturaLignuística +
ConvençõesComunicativas +
Fatores +PresuposiçõesContextuais
= SignicadoInterpretado
FonologiaSintaxeSemântica
SignicadoliteralConvenção
ReferênciadeterminávelOutros
SituaçãoComportamentonão verbal
Discurso Prévio Tópico discursivoOutros
FONTE: Adaptado deCarroll , 1986, p. 181.
4.3.1 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA PERCEPÇÃO DA FAL
Três principais teorias competiam entre si nos anos 1950A teoria acústica defendia a percepção da fala passo a passocom o reconhecimento sequencial dos segmentos da cadeifala e com a posterior “reescrita” dessa sequência como
dade do nível superior: sons – sílabas, sílabas – palavrasA teoria motora , por sua vez, postulava maior atividade doindivíduo: o reconhecimento do som percebido seria obt
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por meio da modelagem, no sistema funcional auditivo/artculatório (motor), dos parâmetros tipológicos da cadeia de fapercebida. Já ateoria da análise por meio da síntese supunhao funcionamento de uma série de “blocos” que permitiriam reconhecimento via interação entre as regras da produção defala e as regras da comparação dos resultados obtidos com osinais percebidos.
As teorias atuais desenvolvem a teoria motora/ativa, reconhecendo tanto a dependência da percepção da fala em relaçãàquilo que ouvimos, como a dependência de tal percepção emrelação àquilo que inferimos sobre as intenções do falante. Asim, ateoria do renamento fonético postula que o ouvinte
parte de uma análise passiva do sinal acústico, mas passa quaimediatamente ao processamento ativo, identicando as pal vras por meio da seleção das possíveis candidatas ao reconhcimento com base em cada fonema percebido. Para podermodecidir que palavra estamos ouvindo, pode ser necessário recrer a um renamento consciente do sinal acústico percebido d
acordo com o contexto e com nossos conhecimentos prévios. Já conforme omodelo interativo , a percepção da fala come-
ça com o reconhecimento de traços especícos em três nívenível de traços acústicos, nível de fonemas e nível de palavrA percepção é entendida como um processo interativo: o prcessamento nos níveis “inferiores” inui sobre os níveis “suriores” e vice versa. Todas as teorias ativas têm a característ
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de reconhecerem a ação dos fatores cognitivos e do contesobre a nossa percepção do sinal sensorial. Vários estudocentes mostram que, na cadeia de fala, sílabas são identicmais rapidamente que fonemas. Se for assim, então é a síle não o fonema, que deve ser considerada como unidade báda percepção da fala.
Por m, os resultados das pesquisas mais recentes sobrpercepção da fala oral sugerem que:a informação contextual exerce uma forte inuência ·bre a percepção dos segmentos da fala;a prosódia (a linha melódica) serve para organizar·ajustar a percepção acústica dos sons da fala, transpoas “deixas” fonéticas diretas para classes gramaticasemânticas especícas, restringindo, assim, a busca eprocessos integrativos entre a interpretação acústica um segmento e as várias operações cognitivas que agsobre ela;
a informação sintática e semântica é usada para ge· expectativas sobre o que vem a seguir;a percepção dos segmentos da cadeia de fala é uma ·teração de vários níveis de análise que se processammultaneamente e talvez independentemente durante processamento da linguagem.
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4.3.2 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA PERCEPÇÃO DA FALA
Os textos que lemos podem ser impressos com os mais vriados tipos de letras, e os textos escritos manualmente exibeas particularidades da letra de seus autores, mas mesmo assinormalmente, executamos com sucesso a tarefa de traduzias “correntinhas” de grafemas para um texto que tem sentidPara tanto, é necessário reconhecer os grafemas e as palavrpor eles compostas. Diferentes teorias da percepção enfocamdiferentes particularidades desse processo tão complexo.
Existem teorias que postulam o uso de certos padrões, istoé, de estruturais mentais, que serviriam de base para o reconhecimento do percebido. Entretanto, se esse postulado foss
verdadeiro, a nossa memória teria que guardar uma quantidde imensa desses padrões. Por isso, atualmente, ganhou maiespaço a teoria que postula que o que é guardado na memórinão são padrões concretos, mas unidades mais abstratas: oprotótipos , que podem ser entendidos como a média de todosos objetos que pertencem ao mesmo conjunto ou como umcombinação de traços encontrada com a maior frequência emum conjunto de objetos.
Vários estudos indicam que a capacidade de ver e de reconhcer letras e palavras é um processo ativo de busca de objetos memória, visto que as representações destes já estariam arm
zenadas nela. A observação dos movimentos dos olhos de uindivíduo que está lendo permite concluir que o olho realiz
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alguns “saltos” ao seguir o texto e que o volume do percedepende de múltiplos fatores. Os atos de xação do olho palavras são descritos pelos estudiosos como sequências dtos momentâneas”. Foi constatado que o olho demora maispalavras mais compridas e também naquelas menos conhecA última palavra de uma sentença exige a maior xação. Aguir, vamos resumir os principais resultados das pesquisas so processamento visual de letras e palavras durante a leitura
O processamento da linguagem durante a leitura aconteem três principais níveis: o traço, a letra e a palavra. Essaspeças de informação visual são extraídas por meio de uma de movimentos oculares. A velocidade da leitura é determ
da pela duração de xações (paradas) oculares, pelo volummaterial escrito que é xado e pela proporção dos movimeoculares regressivos (a volta do olhar). As regressões reuma reanálise do material processado, enquanto a duraçãoxação é um barômetro da diculdade que encontramos pintegrar o material xado ao processado anteriormente.
De acordo com omodelo hierárquico de reconhecimento depalavras , as três peças de informação (traços, letras, palavrsão extraídas em etapas sucessivas de reconhecimento delavras sob o “efeito da superioridade da palavra”, isto é, acepção de letras é facilitada na presença do contexto da palOs signicados mais frequentes de palavras ambíguas psam de uma xação muito menor do que os pouco frequen
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o contexto prévio à palavra que está sendo processada exero mesmo efeito. O contexto em que a palavra está inseridpode tanto facilitar como inibir a ativação de signicados: apalavras e os signicados apropriados são ativados, e os inpropriados são inibidos.
Atualmente é reconhecido que, quando se trata da compre
ensão de textos, é necessário levar em conta os conhecimentextralinguísticos do indivíduo e seus processos psíquicos recionados com a representação, a organização, o armazenameto e a seleção dos conhecimentos. Existe um grande númerde estudos baseados em dados que provam que um indivíduencontra no texto em primeiro lugar aquilo que ele espera o
deseja encontrar de acordo com suas motivações, a situação leitura, orientações pessoais etc. Um papel especial na compreensão de texto é reservado à capacidade do indivíduo de apoiar nos esquemas de conhecimentos sobre o mundo, qupermitem que ele se oriente no texto, faça sua interpretaçãpessoal, julgue a veracidade do descrito no texto etc. Existe
estudos sobre as variações na compreensão do mesmo textsobre as especicidades da compreensão de textos de caracrísticas diferentes (ccionais, poéticos e acadêmicos), sobrecompreensão de textos em língua materna, estrangeira ou deconhecida para o leitor, sobre os papéis do título, do subtítule das palavras-chave etc.
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ATIVIDADES
1. Vamos imaginar a seguinte situação: você está as-sistindo a uma palestra e o sistema de som doauditório está com problemas ou se ouve muitobarulho nesse local. Se você sabe bastante sobreo assunto que está sendo abordado, você prova-
velmente entenderá mais do que o conferencistaestá dizendo, ou mais do que você está podendoouvir. Por quê?
2. Suponha que você encontrou no texto que estálendo uma palavra nova e está tentando identi-car seu signicado. Usando os conceitos destecapítulo, faça um esboço de como poderia ser suarepresentação.
3. Explique por que o signicado literal de uma sen-tença é importante para sua interpretação, masnão determina exatamente o que se quer dizer
com essa sentença.4. Pense em algum mal-entendido que lhe aconteceu
em uma conversa. Usando a convenção comuni-cativa, identique a causa desse equívoco.
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As perguntas que os psicolinguistas formulam sobre o bguismo e as respostas obtidas são de dois tipos:
experimentais, quando o interesse recai principalmen·
sobre o grau de bilinguismo, eteóricas, quando a preocupação dos estudiosos se c·centra nos mecanismos da mente do indivíduo bilíngem comparação com o monolíngue.
Quem pode ser considerado bilíngue? A pergunta parece m
to simples. Qualquer brasileiro terá sua opinião sobre a cadade de alguém não nativo de se expressar: “X fala portumuito bem/bastante bem/mal...”. Mas, se examinamos essesunto mais de perto, veremos que os fatos não são tão simpl
Em primeiro lugar, não existem indivíduos absolutamente nolíngues. Isso é verdadeiro não só para as sociedades ocidedo século XXI, em que qualquer cidadão, queira ou não, inpora estrangeirismos e, na maioria das vezes, bem ou mal, re
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alguma instrução em língua estrangeira, ouve músicas em outrlínguas etc. Vale a pena lembrar que nas sociedades que algude nós impensadamente chamam de “não civilizadas”, como africanas, as asiáticas, a indiana, todos os indivíduos têm o cnhecimento em maior ou menor grau de pelos menos uma língualém da sua língua materna. Essa situação de bi ou multilingumo é simplesmente vital e, portanto, natural para eles. Outroaspecto importante é que, do ponto de vista linguístico, é difíc– se não impossível – decidir onde começa uma língua e termium dialeto, seja ele geográco, social, juvenil etc.
Porém, mesmo supondo que alguém esteja falando uma língua reconhecidamente diferente de sua língua materna, quand
podemos armar que esse indivíduo é bilíngue? Muitos de nónegariam que um turista alemão que arranha quatro frases emportuguês em um quiosque de uma praia brasileira possa seconsiderado bilíngue. E, se já é difícil determinar onde se encotra o início do bilinguismo, não menos difícil é decidir sobre s“produto nal”. Isso porque não existe ninguém no mundo qu
se expresse com a mesma perfeição em duas línguas. O biliguismo absoluto é uma abstração teórica, pois qualquer falanbilíngue sempre apresentará diferenças no domínio e no uso dlínguas. Essas diferenças podem ser estruturais e/ou funcionade tal modo que uma das línguas é usada mais e melhor sempou em algumas situações especícas. Assim, por exemplo, um
pode ser falada no trabalho e outra na vida familiar. Também são muito variáveis os graus de bilinguismo confo
me o componente linguístico que examinamos: acontece com
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frequência que, embora o indivíduo fale cada uma das dlínguas dentro das normas fonológicas e lexicais, a gramátende a ser comum para as duas. Outras vezes se observhábitos articulatórios compartilhados, enquanto a gramático léxico são bem separados. Por m, existem pessoas que uidez idêntica nas duas línguas, mas são incapazes de e ver em uma delas, ou por não serem alfabetizadas, ou mequando são alfabetizadas e leem naturalmente nessa língu
Poderíamos nos perguntar também se o conhecimento, o ue a aquisição de duas línguas teriam algum efeito sobre a cção do indivíduo? Se sim, esse efeito seria positivo ou nega
Embora as pesquisas sobre o bilinguismo tenham aument
dramaticamente nos últimos anos, ainda permanecem mais guntas do que respostas nesse campo da psicolinguística. Aé necessário determinar os paralelos entre o processamentolinguagem por bilíngues e o realizado por monolíngues etre a aquisição de primeira língua e a de segunda(s) línguembora pareça que existem mais semelhanças do que dife
ças. É preciso também descobrir as consequências linguísticognitivas positivas e/ou negativas do bilinguismo, bem cas vantagens e as desvantagens da aquisição simultânea ocessiva de duas (ou mais) línguas. Essas questões permaneem boa parte não resolvidas porque as metodologias existese mostram insucientes e porque é difícil, se não impossencontrar um grande número de crianças que estão aprendeas mesmas línguas e que começaram essa aprendizagem comesma idade e nas mesmas condições. Apesar dessas dic
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des, a única conclusão que repetidamente aparece nas pesquissobre o bilinguismo é que crianças e adultos que dominam made uma língua demonstram capacidades incríveis para usar entender diferentes línguas.
Os primeiros estudos sobre o bilinguismo, realizados no cmeço do século XX, em sua maioria intuitivos e sem fund
mentação teórica e metodológica, supuseram que ele diminuíainteligência em geral, causando confusão intelectual e cansamental. Só nos anos 1960, quando a psicolinguística começoa consolidar-se como disciplina, é que surgiram os primeiroestudos de caráter cientíco sobre os efeitos do bilinguismo sbre a inteligência. Esses estudos foram realizados com crianç
canadenses de 10 anos de idade que falavam inglês e francês maneira equilibrada, ou seja, demonstravam possuir domínisemelhante de uma e outra língua. A pesquisa mostrou que osujeitos bilíngues, comparados com os monolíngues, saíram-melhor nos testes verbais e não verbais que testavam a exilidade mental de formação de conceitos e as habilidades mat
máticas, o que comprova a existência de efeito positivo do bilguismo sobre o desenvolvimento das capacidades cognitivas. Adesenvolverem os conceitos dos objetos e fenômenos do mundem termos de propriedades gerais sem ligação com os símbollinguísticos únicos, os bilíngues se tornam mais capazes de tabelecer relações e conceitos abstratos.
Os resultados dessa pesquisa foram conrmados por outroestudos. Foi demonstrado também que os indivíduos bilíngue
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de 11 a 17 anos resolvem melhor que os monolíngues promas de reestruturação perceptiva dos dados. Isso foi explicconsiderando-se o fato de que os bilíngues habitualmenteperimentam mudanças inevitáveis de perspectiva de apreende dados acarretadas pela mudança de sistema linguístico.
Outros estudos sugerem que os efeitos do bilinguismo negativos se o indivíduo não atinge um alto nível de compecia em pelo menos uma das línguas; são neutros se for atinessa condição e são positivos se esse alto nível de competfor atingido nas duas línguas. Entretanto, tais estudos nãodicam o que acontece no caso de uma aquisição simultânealínguas nem quais seriam os fatores que permitiriam a aq
ção de um alto nível de competência nas duas línguas.Atualmente se supõe que a relação entre as propriedades do ma cognitivo e a evolução da aquisição dos sistemas linguísticinterativa, ou seja, que o desenvolvimento das atividades inteais tira proveito da aquisição e do uso de duas ou mais línguas
O estudo do bilinguismo, e principalmente de um bilingumo com alto nível de competência em duas línguas, relacioncom quase todos os assuntos que mencionamos anteriormeComo está organizada a memória do indivíduo bilíngue? Coé o desenvolvimento ontogenético de um bilíngue e em princípios ele se apoia para a aprendizagem linguística? Eria algum fundamento biológico especial que dê conta da dição bilíngue? São assuntos muito complexos e existem vhipóteses e teorias que procuram responder a essas pergunta
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Quanto ao problema da memória do bilíngue, foram propostos dois modelos: o da independência e das “memórias sparadas” e o da interdependência e da “memória única”.
A tendência observada em falantes bilíngues equilibradoe de alto nível de competência em ambas as línguas parecinclinar-se claramente para a interdependência mnemotécnica .
O estudo do desenvolvimento ontogenético do bilinguismoprincipalmente da aquisição simultânea de duas línguas na pmeira infância – de 0 a 5 anos, é um dos assuntos mais “cultivdos” na psicolinguística. Algumascaracterísticas fundamentaisda aquisição de duas línguas pela criança são as seguintes:
O bilinguismo não atrapalha e não atrasa o desenvolvi·mento psíquico e cognitivo da criança. Muitas pesquisamostram que, além da aceleração no desenvolvimentocognitivo (antecipação da entrada no pensamento operatório), a criança bilíngue tem uma antecipação na percepção da relatividade dos nomes. Por exemplo, ela sabe quuma cadeira pode se chamar
cadeira ,
silla(espanhol),
stul(russo),chair (inglês) ou ter outro nome. A criança enten-de que o objeto independe do nome que lhe é dado.A aquisição dos diferentes componentes de cada língua·(fonológico, morfológico, sintático etc.) é paralela.A criança bilíngue já é capaz de traduzir em uma idade·bastante tenra.
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cem à mesma categoria, demonstram diculdades para identicpalavras quando existe maior barulho no ambiente e experimentamaior interferência na decisão da escolha do léxico.
No entanto, o bilinguismo apresenta signicativas vantagentambém. Uma pesquisa relacionada ao bilinguismo, à idade ao processamento cognitivo buscou determinar se o bilingu
mo poderia atenuar os efeitos negativos da idade. Um dos ob jetivos foi vericar se o incremento cognitivo sucientemenforte na criança, produzido e estimulado pelo bilinguismo, pderia continuar a inuenciar a cognição ao longo da vida adulOutro objetivo era comprovar se o bilinguismo poderia provuma defesa contra o declínio dos processos executivos que oc
rem normalmente na terceira idade, como a diculdade de sconcentrar e manter a atenção. De acordo com os resultadodos estudos feitos, idosos bilíngues, de uma média de idade daproximadamente 80 anos, apresentaram um melhor desempnho em testes de inteligência verbal, espacial, de vocabulárreceptivo, de atenção e de seleção quando comparados com se
pares monolíngues. Seu nível de desempenho foi equivalenao de jovens monolíngues e bilíngues, de uma média de idadde 43 anos. Foram efetuados três estudos com jovens e adultoidosos monolíngues e bilíngues, similares cognitivamente e dsemelhantes condições econômicas e sociais. Foram formaddois grupos de língua, ou seja, monolíngues e bilíngues, e dogrupos de idade, os mais jovens e os mais velhos. Os dois grupforam relacionados por idade: um com idade média de 43 anos
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outro com idade média de 71,9. A pesquisa foi oferecida no de residência dos pesquisados e com total igualdade de coções quanto ao seubackground(origem, classe social, educaçãoou experiência prossional) e ao sexo.
No primeiro estudo, um dos testes-padrão, o da pesquisa vocabulário receptivo, que consiste em pedir ao entrevis
que identique um objeto mostrado em uma série de placada uma contendo quatro guras, o pesquisador nomeia udas guras e o pesquisado indica qual gura da placa resenta a palavra citada. Os itens propostos tornam-se gradatmente mais difíceis. A outra avaliação analisa a habilidade verbal argumentativa abstrata. O teste se baseia em itens o
nizados em cinco grupos de objetos de algum modo similEm cada item falta um objeto e, no nal da página, uma pdeve ser escolhida como a que melhor completa a gura.adultos monolíngues tiveram desempenho diferente dos bgues. Nos dois testes, o grupo dos mais velhos bilíngues o mesmo nível de desempenho que o grupo dos mais jov
Ao se compararem somente os dois grupos – bilíngues e nolíngues – de informantes mais idosos, foi concluído qugrupo de bilíngues obteve um desempenho melhor em relaao grupo de monolíngues. A vantagem do bilinguismo resnum complexo processamento que requer controle executi
Assim, pode-se concluir que os bilíngues demonstraram uampla vantagem sobre os seus pares monolíngues ao lidar o aumento de complexidade − precisão e tempo de reação.
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que os bilíngues foram mais rápidos nos testes com um maiocontrole da memória de trabalho? Uma das respostas possíveseria que os processos executivos requeridos para administras duas línguas envolvem atenção e seleção. São justamenesses componentes executivos centrais mais acentuados e egidos na experiência de vida de um bilíngue.
Os estudos mostram claramente que a experiência do sehumano em processar duas línguas tende a amenizar o declnio relativo à idade no que diz respeito, também, àeciênciado processo inibitório , ou seja, aquele processo que permite àpessoa descartar as opções irrelevantes de uma tarefa e cocentrar a atenção nos seus aspectos mais relevantes. Assim,
vantagens do bilinguismo se estendem até a idade avançadpois proporcionam defesas contra o declínio dos processocognitivos e atenuam os décits em muitas tarefas cognitivanormalmente observados em pessoas idosas.
ATIVIDADES
1. Como o desenvolvimento da linguagem poderia serdiferente em crianças bilíngues, comparando-ascom crianças monolíngues?
2. Dena o termometalinguístico.
3. Quais são as vantagens de ser bilíngue?
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PATOLOGIAS DA LINGUAGEM
O campo das patologias linguísticas compreende pelo nos quatro aspectos diferentes:
deciências propriamente linguísticas, como a afasia·comportamentos cognitivos desviantes que produze·alguma manifestação linguística especíca, como a guagem dos esquizofrênicos;deciências mentais gerais que têm manifestações c·nitivas não diretamente linguísticas, mas vericáveis meio da linguagem;deciências anatômicas e/ou siológicas e/ou neurol·cas que se reetem no uso da linguagem, como a linggem dos surdos.
Neste capítulo, trataremos brevemente de cada um desassuntos.
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6.1 AFASIA
O fenômeno da afasia foi observado desde a Antiguidadepois as pessoas notavam a relação entre certas lesões cerebrae alguma “deformidade” dos enunciados linguísticos. Entrtanto, os estudos cientícos sobre esse fenômeno começaramno século XIX, quando o médico francês Paul Broca constato
que uma lesão na região da divisão superior da artéria cerbral média do hemisfério esquerdo produz sistematicamentdeciências na produção linguística. Desde aquela época, esregião do cérebro é conhecida comoárea de Broca , a qual, talcomo a área de Wernicke, já foi mencionada aqui, quando trtamos dos fundamentos biológicos da linguagem (capítulo 2O médico alemão Karl Wernicke deu mais um passo nessainvestigação ao determinar em que consistiam as deciênciacomparando as lesões em várias regiões e os problemas da lguagem correspondentes. Enquanto os traumatismos na áreade Broca se traduziam em desordens da produção (fala entrcortada, articulações defeituosas), os traumatismos no lóbultemporal (lateral), na região desde então chamada deárea deWernicke , originavam desordens da percepção, a incapacidadepara entender a linguagem oral ou escrita. Posteriormente foram feitas sérias objeções à “localização” das diferentes funçlinguísticas em partes concretas do cérebro − observaçõesexperimentos demonstraram que as zonas cerebrais suscetívede produzir afasia são muito mais amplas.
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Nas últimas décadas do século XX, a primeira caracterizado fenômeno de afasia foi substituída por distinções mais sForam propostas classicações mais elaboradas que combias descrições puramente funcionais com uma análise detada das desordens linguísticas especícas, a saber:
Afasia de Broca1) (afasia gramatical ou afasia expressiva)
Caracteriza-se por um discurso agramatical, no qual seliminados os morfemas e as palavras funcionais (artipreposições, conjunções, exões, auxiliares) e permcem quase unicamente os nomes (substantivos, pronmes), os verbos em suas formas nominalizadas (intivos, particípios) e os advérbios, como em: “Sobrin
chegar hoje”. O discurso habitual e formulaico (cummentos, despedidas, agradecimentos) é mais bem rezado do que enunciados espontâneos. Sua origem mafrequente é alguma lesão na área de Broca.
Afasia de Wernicke2) (afasia semântica) − O discurso éuente e gramaticalmente correto, mas carece de termespecícos, que são substituídos por palavras gencas ou por longas e complicadas paráfrases, como e“Comprou a coisa, a máquina de fazer comida”, “Ebuscando a coisa para escrever”. Às vezes são substitu-ídos fonemas ou sílabas:drajem portrajem, captechoporcapricho. Origina-se em lesões na área de Wernicke.
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Afasia central3) (afasia fonêmica) − Consiste em umafalha especíca da habilidade para reproduzir material verbal e produz desordens na leitura em voz alta e naescrita, principalmente quando se trata de palavras longas, plurissilábicas, como em: “Veio um cir... mm... ciromm.. cirão...” porcirurgião. Sua origem são as lesões naregião tempo-parietal (lateral-posterior).
Anomia −4) Caracteriza-se pela falta de termos concretos,que não são substituídos por paráfrases, como na afasia de Wernicke. O discurso é interrompido por longaspausas e é de difícil compreensão, como em: “Meu amgo... mm... trouxe um... mm... para comer”. Não é fácil
precisar sua localização. Afasia global −5) É um transtorno gravíssimo que afeta afala, a leitura e a escrita de maneira que o paciente se tona praticamente incapaz de usar a linguagem. Origina-se em lesões generalizadas que afetam simultaneamenteos lóbulos frontal, temporal e parietal do hemisfério esquerdo.
Afasia motora transcortical6) (afasia dinâmica) − Ca-racteriza-se por diculdades para começar a falar, masquando superadas, o discurso se produz sem problemas
Tem origem em lesões na zona do lóbulo frontal anterior
à área de Broca.
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Alexia −7) É um transtorno que afeta a capacidade de lemas não atinge a capacidade de escrever. É provocapor lesões no corpo caloso (que liga os dois hemisfériinterrompendo particularmente a ligação entre a zonda visão no hemisfério direito e as áreas da linguagem
Agraa −8) Uma lesão no giro angular pode levar à agr
a, que consiste na inabilidade de escrever, mas tambpode provocar a alexia. Afemia −9) É uma diculdade para articular sons que temsua origem em lesões das bras subcorticais que unemsistema articulatório à área de Broca.
6.2 OUTRAS DESORDENS DA LINGUAGEM
Até as últimas décadas, as demais desordens da linguageram consideradas de menor interesse do ponto de vista daguística, embora fossem de reconhecida importância neurgica e clínica. Esse desinteresse se deve ao fato de que algudessas patologias não se manifestam nos níveis tradicionailinguagem (fonologia, fonética, morfossintaxe, semântica),se relacionam com as competências pragmática e discursiva
A linguagem dos esquizofrênicos, por exemplo, faz partesintomatologia geral da esquizofrenia, em associação com
cinações, ansiedade, paranoia, misantropia, xação, hiperhipoatividade etc. O termoesquizofrenia signica “mente divi-
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humano progridem em paralelo e só ocasionalmente apretam padrões dissociados. É possível que as característicahabilidade linguística e do uso da linguagem de crianças cdeciência mental não se originem nos décits cognitivos,na orientação cognitiva que produz padrões de comportamto social e motivacional diferentes dos padrões observadocrianças com desenvolvimento normal. Assim, a passividprópria das crianças com deciência mental pode ser a cado lento desenvolvimento cognitivo e linguístico.
É importante observar, entretanto, que uma grande parte dcrianças que demonstram retardo ou desordem da linguagnão têm deciências auditivas ou cognitivas e não são autis
O último aspecto que mencionaremos rapidamente, emboneste caso não se trate exatamente das patologias da linguarefere-se àquelas deciências anatômicas e siológicas podem interferir de forma negativa na expressão linguíscomo a surdez, a mudez, a cegueira e a má formação dosgãos articulatórios. Essas deciências dicultam ou impeda produção ou a recepção da fala oral ou escrita, mas em gnão dicultam a aquisição de um sistema linguístico operacomo a linguagem de sinais e o alfabeto Braille. O estudo sas questões é da competência de educadores, mas linguistpsicolinguistas, principalmente quando se trata das línguasinais, têm sua parcela de contribuição para o desenvolvimde tais estudos.
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As línguas de sinais são línguas humanas com estrutura e orgnização próprias e são especícas de cada comunidade, tal comas línguas orais. Isso quer dizer que, assim como existem o porguês brasileiro e o inglês americano, por exemplo, existem a língde sinais americana (Aslan) e a língua de sinais brasileira (LibrCada uma delas tem suas variações dialetais e, do mesmo modque o português brasileiro é diferente do português peninsularo inglês americano é diferente do inglês britânico, são diferenttambém as respectivas línguas de sinais.
É importante observar ainda que, durante os primeiros meses de vida, uma criança surda se comporta exatamente comuma criança não surda: ela chora, ri e balbucia. No entanto
como não consegue relacionar uma determinada posição doórgãos articulatórios com um determinado efeito acústico, dpois de algum tempo ela vai abandonando as tentativas de babucio e ca irremediavelmente muda. A partir desse momentessa criança passa a valer-se de outros procedimentos, normmente cinésicos (gestuais), para se comunicar.
Adisfasia é uma forma de patologia da linguagem que acon-tece em ausência de impedimentos cognitivos, sensórios, emcionais ou socioculturais óbvios. As crianças disfásicas apsentam retardos em todos os aspectos da linguagem, embora fonologia e a sintaxe se mostrem mais atingidas. Às vezeos distúrbios podem ser qualitativos, não existindo retardoMesmo quando a criança disfásica adquire alguma estrutur
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linguística na mesma sequência em que as crianças normo fazem, ela pode evitar o uso dessa estrutura, preferindoestruturas mais simples ou, então, os recursos não verbaicomunicação.
Outra deciência que tem uma origem constitucional e depende do grau de instrução, da inteligência ou das opo
nidades socioculturais do indivíduo é adislexia , que consiste
em uma diculdade maior que a normal para aprender a ledislexia é mais frequente em meninos que em meninas e é sível que tenha condicionamentos genéticos. É acompanhde um atraso de amadurecimento do cérebro e pode ser curpor meio de um tratamento adequado.
ATIVIDADES
1. Suponha que seu tio-avô sofreu um derrame e suacapacidade de articular a fala compreensível estámuito limitada. Como você poderia determinar
os limites de sua compreensão?2. Por que é importante estudar as patologias da lin-
guagem?3. Como poderiam as particularidades físicas, tais
como os traços faciais em crianças com síndrome
de Down, inuenciar a fala dos pais e de outrosadultos que convivem com essas crianças?
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NOTA SOBRE A AUTORA
Nasci em Leningrado, União Soviética, regiões que, paradmente, para minha biograa pelo menos, não existem mCorrespondem hoje a São Petersburgo e Rússia, respectivame
Cheguei a me formar em Música no Conservatório Pedagógde São Petersburgo, e em Enfermagem no Instituto A. Hertzmas, felizmente, descobri que o caminho da minha vida era oe me graduei, nalmente, em Línguas Estrangeiras pela Unsidade Pedagógica Estatal de São Petersburgo. Trabalhei cotradutora e intérprete na Rússia, em Cuba e Moçambique.
Concluí o mestrado na Universidade Federal do Para(UFPR), pesquisando sintaxe e semântica, e o doutorado na
versidade de Campinas (Unicamp), investigando a semânticaspecto verbal. Nesta mesma instituição, z o pós-doutor
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