raja yoga - yogue ramacharaca

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  • Titulo da edio inglesa: RAJA YOGAThe control of the Mental Faculties by the Will Traduzido por Ernesto de Carvalho Copyright by: L. N. Fowler & Co. Ltd. and J. CARVALHO BRANCO editor Composto e impresso na Coopertipo SCARLPORTO

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  • YOGUE RAMACHARACA

    R A J A Y O G A

    DESENVOLVIMENTO MENTAL E ESPIRITUAL PELAS FORAS DO PENSAMENTO

    BRASILIA EDITORA

    PORTO

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  • I LIO - o EU ...............................................................................................................................5

    Regras e exercidos que ajudaro o Aspirante na sua iniciao........................................................9 O conhecimento da independncia do Eu em relao ao corpo.................................................11 Convico da imortalidade e invencibilidade do Ego....................................................................12 Mantrams .......................................................................................................................................14

    II LIO - OS INSTRUMENTOS MENTAIS DO EGO.................................................................15 Exercido de treinamento mental ....................................................................................................17 Mantrams (afirmaes) ..................................................................................................................23

    III LIO - A EXPANSO DO EU.............................................................................................25 Exerccios de treinamento mental ..................................................................................................29 Mantram (afirmao) .....................................................................................................................34

    IV LIO - DOMNIO SOBRE A MENTE ....................................................................................35 Exerccios de treinamento mental ..................................................................................................38 EXERCCIO I ................................................................................................................................39 EXERCCIO II...............................................................................................................................40 A importncia da concentrao......................................................................................................41 Mantram (afirmao) .....................................................................................................................43

    V LIO - O DESENVOLVIMENTO DA ATENO..................................................................45 Exerccios de treinamento da ateno............................................................................................51 EXERCCIO I ................................................................................................................................51 EXERCCIO II...............................................................................................................................51 Mantram (afirmao) .....................................................................................................................53

    VI LIO - O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPO,............................................................54 Regras gerais de percepo ............................................................................................................60 Mantram (afirmao) .....................................................................................................................62

    VII LIO - O DESENVOLVIMENTO DA CONSCINCIA .......................................................63 Mantram (afirmao) .....................................................................................................................71

    VIII LIO - AS ALTURAS E PLANCIES DA MENTE .............................................................73 Mantram (afirmao) .....................................................................................................................81

    IX LIO - OS PLANOS MENTAIS ..............................................................................................82 Mantram (afirmao) .....................................................................................................................90

    X LIO - OPERAO SUBCONSCIENTE.................................................................................91 Mantram (afirmao) .....................................................................................................................99

    XI LIO - FORMAO SUBCONSCIENTE DO CARACTER ...............................................100 Mantram (afirmao) ...................................................................................................................108

    XII LIO - INFLUENCIAS SUBCONSCIENTES .....................................................................109 Mantram (afirmao) ...................................................................................................................118

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  • I LIO - o EU Para os que se iniciam na cincia do RAJA YOGA, tambm conhecido por Yoga Real,

    os Mestres Yogues preparam uma srie de lies destinadas a esclarecer-lhes a natureza do eu real e instrui-los na cincia secreta que os torna capazes de desenvolver a conscincia e realizar o conhecimento do Eu real que est dentro deles. Ensinam-lhes como podem livrar-se das opinies errneas e do saber imperfeito a respeito da sua identidade real.

    Ao Aspirante no se do novas instrues seno quando prova que aprendeu as que tem recebido ou, ao menos, que a verdade se fixou na sua conscincia, porque os Yogues so de opinio que, antes de atingir a realizao da conscincia da sua real identidade, ele no pode conhecer a fonte do seu poder. e, alm disto, no capaz de sentir em si o poder da Vontade, que forma a base de todos os ensinamentos do Raja Yoga.

    Os Mestres Yogues no se contentam com que o Aspirante forme s uma clara concepo intelectual desta real identidade, mas querem que ele sinta a sua verdade que perceba o Eu real que entre num estado de conscincia em que o perfeito conhecimento se torna parte do eu quotidiano num estado em que a conscincia conhecedora se torne a ideia predominante na sua mente, ao redor da qual giram todos os seus pensamentos e suas aces.

    A alguns Aspirantes este conhecimento vem como um raio de luz no momento em que a ele dirigem a sus ateno; ao passo que outros Aspirantes precisam seguir um rigoroso curso de treinamento antes de adquirir a realizao do conhecimento consciente.

    Os Mestres Yogues, ensinam que h dois graus deste despertar da conscincia do Eu Real. O primeiro, a que chamam conscincia do Eu, a plena conscincia de existncia real, que o Aspirante obtm e que o faz saber que ele uma entidade real possuindo vida independente do corpo vida que no desaparece quando o corpo cai vtima de destruio vida real, verdadeira. O segundo grau, a que chamam conscincia de Eu Sou, a conscincia da nossa identidade com a vida universal, nossa afinidade, nosso contacte-com toda a vida, manifestada ou no. Estes dois graus de conscincia sero conhecidos por todos os que buscam o Caminho.

    Alguns encontram-nos repentinamente; outros descobrEm-nos gradualmente; alguns chegam at eles por meio dos exerccios, das prticas do Raja Yoga.

    A primeira lio que os Mestres Yogues do ao Aspirante e que o conduz ao primeiro grau a seguinte: Que a Suprema Inteligncia do Universo o Absoluto manifestou o ser a que chamamos homem com a mais alta graduao neste planeta. O Absoluto manifestou uma infinidade de formas de vida no universo, com todos os distantes mundos, sis, planetas, etc., formas de que muitas so desconhecidas no nosso globo e insusceptveis de ser concebidas pela mente do homem ordinrio.

    Estas lies, entretanto, no se ocupam daquela parte da filosofia que trata destas inumerveis formas de vida; havemos de falar do desenvolvimento mental da verdadeira natureza humana e do seu poder.

    O homem, antes de querer achar a soluo dos segredos do universo exterior, deve saber governar o universo interior o reino do Eu. Quando conseguir isto, poder e dever ir procura do saber existir, como um senhor que quer desvendar os segredos deste saber, e no como um escravo que pede migalhas da mesa da cincia.

    O que o Aspirante deve conhecer em primeiro lugar o seu Eu. O homem, que a mais alta manifestao do Absoluto neste nosso planeta, um ser

    maravilhosamente organizado, embora o homem vulgar conhea s muito pouco da sua natureza real. Na sua constituio fsica, mental e espiritual, abrange o homem as formas inferiores como tambm as superiores, como explicamos nas nossas lies prvias (as Catorze Lies e o Curso Adiantado). Nos ossos representa-se a vida mineral e, com

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  • efeito, existem substncias minerais nos seus ossos, na construo do seu corpo e seu sangue. A vida fsica do corpo assemelhase da planta.

    Muitos desejos e muitas emoes corporais so afins aos instintos dos animais inferiores, e no homem no desenvolvido predominam estes desejos e emoes que oprimem a natureza superior que fica quase despercebida. Alm disso, possui o homem certas caractersticas mentais que lhe so prprias e no se encontram nos animais inferiores. (Ver as Catorze Lies de Filosofia Yogue). E ao lado das faculdades mentais, que so comuns a todos os homens, ou antes, que se podem ver, num grau maior ou menor em todos os homens, existem ainda outras faculdades superiores no Ente humano, que geralmente esto latentes, e que, uma vez manifestadas e expressas, fazem do homem um ser mais elevado que o homem ordinrio. O desenvolvimento destas faculdades latentes possvel a todos os que chegaram ao grau prprio para isso, e o desejo e a fome do estudante vido da instruo, so causados pela presso dessas faculdades latentes que se esto a desenvolver e se esforam por serem reconhecidas pela conscincia.

    E alm de tudo isto, h no homem ainda uma coisa maravilhosa que a vontade, muito pouco conhecida pelos que ignoram a Filosofia Yogue:. a vontade, esse poder do Eu, a sua primogenitura, a que tem direito como filho do Absoluto.

    Estas coisas mentais e fsicas pertencem ao homem, mas no so o homem mesmo. Antes que o homem possa dominar, controlar e dirigir estas coisas que lhe pertencem a sua ferramenta e os seus instrumentos h-de atingir o plano conhecimento de si mesmo. H-de ser capaz de distinguir entre o Eu e o No-Eu. Esta a primeira tarefa que espera o Aspirante.

    Aquilo que o Eu real do homem a centelha divina, emitida pela chama sagrada. E o filho do progenitor divino, e imortal, eterno, indestrutvel, invencvel. Possui em si mesmo o poder, a sabedoria e a realidade. Da mesma forma, porm, que a criana que contm em si o futuro homem, a mente humana inconsciente das suas qualidades latentes e potenciais, e no se conhece a si mesma; medida que se desperta e desenvolve no conhecimento da sua natureza real, manifesta as suas qualidades e realiza o que o Absoluto lhe tem dado. Quando o Eu real comea a despertar-se, a mente pe de lado as coisas que so meramente seus apndices, mas que o homem, no seu estado de imperfeito despertar, tomava pelo seu Eu. Pondo de lado isto e aquilo, desprendese de tudo o que constitui o seu No-Eu, tomando assim o Eu real line, no sendo mais sujeito senilidade dos seus apndices. Ento volta a estes apndices postos de lado e utiliza-se deles.

    Considerando a questo: Que o Eu real?, examinemos primeiro o que a gente pensa ordinariamente, quando diz: Eu.

    Os animais inferiores no possuem este sentido de Eu. So conscientes do mundo externo, dos seus prprios desejos, apetites e sentimentos animais; mas a sua conscincia no alcana o grau da conscincia de si mesmos. No so capazes de pensar de si como entidade e de reflectir sobre os seus pensamentos. No possuem uma conscincia da centelha divina o Ego ou Eu real. A centelha divina est oculta nas formas inferiores de vida at nas formas inferiores da vida humana por muitos envoltrios que obscurecem a sua luz.

    Contudo, ela existe sempre. Dorme na mente do selvagem; depois, quando ele se desenvolve, a centelha comea a irradiar a sua luz. Em vs, 6 Aspirante, ela se esfora por penetrar nos invlucros materiais. Quando o Eu real comea a levantar-se do seu sono, os seus sonhos desaparecem e comea a ver o mundo como ele e a reconhecer-se em realidade, no se identificando mais com o eu ilusrio dos seus sonhos.

    Os selvagens e os brbaros so muito pouco conscientes do seu Eu. Eles esto somente um pouco acima do animal, quanto conscincia, e conhecem o seu Eu apenas nas necessidades do corpo, na satisfao dos apetites e das paixes, segurana,

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  • bEmestar pessoal, expresso de concupiscncias, no poder selvagem, etc. No selvagem, a sede do Eu est na parte inferior da mente instintiva.

    Se o selvagem pudesse analisar os seus pensamentos, diria que o seu Eu o corpo fsico, e que este corpo tem certos sentimentos, necessidades e desejos. o Eu deste homem o seu Eu fsico, cuja forma e sustncia representada pelo corpo. E isto no verdade somente em relao ao selvagem, pois at no meio dos homens chamados civilizados encontramos muitos neste grau.

    Eles desenvolveram poderes de pensar e raciocinar, mas no vivem nas suas mentes, como alguns dos seus irmos. Usam as suas faculdades mentais para a satisfa-o de seus desejos e apetites corporais e, na realidade, vivem no plano da mente instintiva.

    Uma pessoa nestas condies no pode falar da sua mente ou sua alma de uma posio elevada onde se observam estas coisas do ponto de vista de um mestre que tem pleno conhecimento do seu Eu real. Tal pessoa ocupa a posio baixa do homem que vive no plano da mente instintiva e v os atributos superiores acima de si. Para esta gente, o corpo o Eu. O seu Eu est ligado aos sentidos e com o que lhes vem por meio dos sentidos.

    Sem dvida, medida que o homem se adianta em cultura e civilizao, os seus sentidos so educados e encontram satisfao s em coisas mais refinadas, ao passo que o homem menos cultivado se contenta e satisfaz com os gozos sensuais mais materiais e grosseiros.

    Uma grande poro daquilo a que chamamos civilizao e cultura no seno uma forma mais refinada de gozos sensuais, e no um real adiantamento em conscincia e desenvolvimento.

    verdade que o estudante adiantado e o mestre possuem sentidos altamente desenvolvidos, os quais muitas vezes excedem os do homem vulgar, mas estes sentidos tm sido cultivados sob a direco da vontade, e longe de servirem de obstculo ao progresso da alma, antes so criados do Eu so criados e no senhores.

    Na proporo que o homem progride na escala da evoluo, faz uma concepo mais alta do Eu. Comea a fazer uso da sua mente e razo, e passa ao plano mental; a sua mente comea a manifestar-se no plano do intelecto. Acha que h nele algo que superior ao corpo. Acha que a sua mente parece ser-lhe mais real do que a sua parte fsica, e, nos momentos de profundo pensamento e e estudo, capaz de quase esquecer a existncia do corpo.

    Neste segundo grau, o homem vem a sentir-se perplexo. Encontra problemas que exigem uma resposta: mas apenas se lhes d uma resposta que parece conter a soluo, os problemas apresentam-se numa nova fase, e o homem. obrigado a explicar a sua posio.

    A mente, ainda que no seja controlada e dirigida pela vontade, tem uma extenso maravilhosa; mas, no obstante, o homem acha que se move num crculo e reconhece que continuamente confronta o desconhecido. Isto perturba-o; e, quanto mais alto chega nos seus estudos mais perturbado fica.

    O homem de pouco saber no v a existncia de muitos problemas que chamam a ateno de um homem de mais saber, pedindo a soluo. Quem no evoluiu ainda a este grau, no pode imaginar as torturas por que passa aquele que atingiu o grau de crescimento mental que torna possvel ver os novos problemas e a impossibilidade de os resolver.

    O homem neste grau de conscincia pensa no seu Eu como uma coisa mental que tem um companheiro inferior o corpo. Ele sente que se adiantou, mas o seu Eu no pode ainda dar-lhe a resposta aos enigmas e questes que o tornam perplexo. E o homem sente-se muito infeliz. Muitos que chegaram a este ponto tornaram-se pessimistas e consideraram toda a vida como o maior mal, considerandoa antes maldio que

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  • beno. O pessimismo pertence a este plano, porque alheio ao plano fsico e ao plano espiritual. O homem no plano fsico no se inquieta com tais pensamentos, porque est quase todo absorvido nos gozos da sua natureza animal; e o homem no plano espiritual reconhece a sua mente como um instrumento imperfeito no seu presente grau de crescimento. Ele sabe que tem em si a chave de todo o saber o qual est fechado no Esprito e que a mente treinada, cultivada, desenvolvida e guiada pela vontade desperta, pode utilizar-se desta chave medida que evolui. O homem adiantado, sabendo disto, no desespera e, reconhecendo a sua natureza real e as suas possibilidades, quando acorda conscincia de suas foras e capacidades, ri-se das velhas ideias de desespero e de pessimismo, e abandona-as como a uma veste que j no serve. O homem, no plano mental, como um enorme elefante que no conhece a sua fora. Poderia romper as barreiras e imporse a todas as condies e todo o ambiente mas, na ignorncia do seu verdadeiro estado e da sua fora, pode ser governado por um pequeno condutor ou assustado pelo rudo de um pedao de papel.

    Quando o Aspirante se tornou um iniciado isto quando tem passado do plano puramente mental ao plano espiritual reconhece que o Eu verdadeiro algo superior ao corpo e mente, e que ambos so usados como ferramenta e instrumentos pelo Ego ou Eu. Este saber no se alcana por meio de raciocnio puramente intelectual, ainda que tais esforos da mente sejam muitas vezes necessrios para favorecer o desenvolvimento, para que os Mestres os apliquem. O saber verdadeiro, entretanto, vem como uma forma especial de conscincia. O Aspirante chega a perceber o seu Eu real, e quando atinge esta conscincia, entra na ordem dos iniciados. Quando o iniciado passa pelo segundo grau de conscincia e comea a sentir a sua afinidade com o Todo quando comea a manifestar a expresso do Eu est no caminho do Mestrado.

    Na presente lio esforar-nos-emos por expor ao Aspirante os mtodos para desenvolver ou ampliar a realizao desta conscincia do Eu esta obra do primeiro grau.

    Apresentamos ao Aspirante os exerccios de treinamento que seguem, para os praticar. Ele achar que, se seguir cuidadosa e conscientemente estas direces, desenvolver em si a conscincia do Eu a grau suficiente para poder passar aos estudos superiores do desenvolvimento e do poder. Tudo o que necessrio que o Aspirante sinta em si o arrebol da conscincia que se desperta, ou a percepo do Eu real. Os estados superiores da conscincia do Eu viro gradualmente, porque, quem entrou uma vez no caminho, no pode retroceder. Pode haver pausas na jornada, mas nunca se pode perder realmente o que se obteve uma vez no caminho.

    Esta conscincia do Eu no mesmo nos seus estados mais elevados seno Um passo preliminar ao que se chama iluminado e que significa o despertar do iniciado ao vivo conhecimento da sua verdadeira conexo e a sua afinidade com o Todo. A plena vista da glria do Eu apenas um fraco reflexo da iluminao. Quando o Aspirante entra plenamente na conscincia do Eu, toma-se um iniciado. E o iniciado que entra no arrebol de iluminao, d o primeiro passo na vereda que conduz ao Mestrado. A iniciao o despertar da alma ao conhecimento da sua existncia real; a iluminao a revelao da verdadeira natureza da alma e da sua afinidade com o Todo. Quando o Aspirante chegou ao primeiro arrebol da conscincia do Eu, torna-se mais fcil compreender os meios de desenvolver a conscincia a um grau ainda mais alto; mais capaz de utilizar as foras latentes em si mesmo, controlar os seus prprios estados mentais, manifestar um centro de conscincia e influncia que irradiar ao mundo externo que procura sempre com esforo tais centros, para girar em redor deles.

    O homem h-de ser senhor de si mesmo antes que possa esperar exercer influncia sobre o seu ambiente. O caminho que conduz ao desenvolvimento e poder estreito e rduo; h-de ir-se passo a passo, e cada Aspirante h-de dar pessoalmente todos os passos com o seu prprio esforo. Pode, entretanto, ser e ser guiado pelas mos dos

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  • instrutores que antes dele passaram pelo caminho e que sabem quanto necessrio estender a mo para ajudar o Aspirante a passar por lugares speros.

    Pedimos ao Aspirante que preste muita ateno instruo que segue, pois muito importante. No devereis negligenciar algumas das suas partes, porque vos damos s o que necessrio, pois expomo-la com a maior conciso possvel. Prestai ateno e segui estritamente a instruo.

    Antes que possamos prosseguir, necessrio que aprendais bem esta lio. E devereis pratic-la no s agora, mas em muitos pontos da vossa jornada, at chegardes plena iniciao e iluminao.

    Regras e exercidos que ajudaro o Aspirante na sua iniciao A primeira instruo que se d ao Aspirante it iniciao tem por fim despertar a mente

    plena realizao e conscincia da individualidade do Eu. O Aspirante dever aprender a afrouxar o seu corpo, acalmar a sua mente e meditar sobre o Eu at que se apresente clara e definitivamente perante a sua conscincia. Vamos dar aqui instrues para produzir a desejada condio fsica e mental, em que se pratica mais facilmente a meditao e concentrao. Este estado de meditao ser mencionado em exerccios subsequentes; o Aspirante dever, pois, conhec-lo bem.

    Estado de meditao. Se for possvel, retirai-vos a um lugar ou quarto quieto, onde no tenhais de temer interrupo, de maneira que a vossa mente se sinta segura e calma. De certo no sempre possvel obter a condio ideal; neste caso devereis fazer o melhor que puder-des. Trata-se de ficardes capaz de abstrair-vos, quando for possvel, de impresses distraentes, e devereis estar isolado, s em comunho com o vosso Eu real.

    bom que vos senteis numa cadeira cmoda ou cama, de maneira que possais relaxar ou afrouxar os msculos e evitar a tenso dos vossos nervos. Devereis ser capaz de afastar a vossa ateno de tudo o que se passa ao redor de vs e deixar todos os msculos carem em imobilidade, at que um sentimento de perfeita paz, descanso e calma penetre em todas as partculas do vosso ser. Descansai o corpo e acalmai a alma. Esta condio a melhor no primeiro tempo da prtica; mais tarde, quando o Aspirante adquiriu um, certo desenvolvimento, ser capaz de obter o afrouxamento fsico e a calma mental quando e onde desejar.

    Cuidado, porm, que no adquira um hbito sonolento, entregandose meditao quando deve atender aos afazeres da vida. Lembrai-vos disto: O estado de meditao deve estar inteiramente sob o controlo da vontade e devereis entrar nele s quando deliberardes e quando o tempo for prprio. A vontade. deve governar este, como qualquer outro estado mental. Os iniciados no so sonhadores ambulantes e sim homens e mulheres que tm pleno controlo de si mesmos e dos seus hbitos. A conscincia do Eu, tendo sido desenvolvida por meio de meditao e conscincia, em pouco tempo fica sendo uma fixa propriedade da conscincia e no precisa ser produzida por meditao. No tempo de provao, dvida ou aflio, pode a conscincia ser esclarecida por um esforo da vontade (como explicaremos em lies subsequentes), sem entrar no estado de meditao.

    O Real Conhecimento do Eu. O Aspirante h-de familiarizar-se primeiramente com a realidade do Eu, antes que possa chegar a conhecer a verdadeira natureza deste Eu. Este o primeiro passo. Entre o Aspirante no estado de meditao, acima descrito. Em seguida, dever concentrar toda a sua ateno no seu Eu individual excluindo todos os pensamentos que se ocupam com o mundo exterior e com outras pessoas. H-de formar na sua mente a ideia de si mesmo como sendo uma coisa real, um ser que existe, uma entidade individual, um Sol ao redor do qual todo o mundo gira. Deve

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  • ver-se como um centro, ao redor do qual gira o mundo inteiro. Esta ideia no deve ser turbada por uma falsa modstia nem por um sentido de depreciao, pois no negais a outros o direito de se considerarem igualmente como centros. Com efeito, vs sois um centro de conscincia o Absoluto assim vos fez e estais a despertar para este facto.

    Enquanto o Ego no se reconhecer como sendo um centro de pensamento, influncia e poder, no poder manifestar estas qualidades. E medida que reconhecer a sua posio como um centro, ser capaz de manifestar as suas qualidades. No necessrio que vos compareis com outros ou imagineis que sois maior ou mais alto do que eles. Tais comparaes seriam lastimveis, pois so indignas do Ego adiantado e indicam uma falta no desenvolvimento. Na vossa meditao, ignorai simplesmente toda a considerao das respectivas qualidades dos outros, e esforai-vos por reconhecerdes o facto de que sois um grande centro de conscincia um centro de influncia um centro de pensamento; e que, como os planetas rodeiam o Sol, assim o vosso mundo gira ao redor de vs que sois o centro do vosso mundo.

    No necessrio que argumenteis isto, nem que vos convenais de que isto verdade, por meio de raciocnio intelectual. O conhecimento no vir por este caminho; ele vir na forma de uma realizao da verdade que gradualmente resplandecer na vossa conscincia por meio de meditao e concentrao. (Realizao aqui significa reconhecimento intuitivo). Levai convosco este pensamento de vs mesmo como sendo um centro de conscincia influncia poder, pois ele uma verdade oculta e, medida que puderdes realizar (ou reconhecer intuitivamente) esta verdade, podereis manifestar as qualidades enumeradas.

    Por mais humilde que seja a vossa posio por mais dura que seja a vossa sorte, por mais deficiente que seja a vossa educao, no querereis permutar vosso Eu com o mais afortunado, o mais sbio e o mais respeitado homem (ou mulher) do mundo. Se duvidais, pensai um momento sobre isto e vereis que temos razo. Quando dizeis que querereis ser como este ou aquele, pensais somente que querereis ter inteligncia, poder, sade, bEmestar, posio, etc., como eles tm. Desejareis ter alguma coisa que eles possuem ou semelhante ao que possuem. No querereis, porm, nem por um instante perder a vossa personalidade, nem permutar o EGO (isto , aquilo que faz que eu seja eu, e vs sejais vs, etc.); pois para serdes a outra pessoa, havereis de deixar de ser vs, havereis de morrer vs e, em vosso lugar, existiria a outra pessoa. O que vs realmente sois, seria destrudo, cessaria de existir: no seria mais vs, mas seria o outro.

    Se podeis compreender esta ideia, vedes que no desejais tal permuta nem por um instante. E, na realidade, tal permuta impossvel. O vosso Eu no pode ser destrudo: eterno, e ir passando a estados cada vez mais elevados mas ser sempre o mesmo; o vosso Eu o mesmo que era na vossa infncia, Eu (personalidade), mesmo reconhecendo que houve certamente algumas mudanas na vossa pessoa, desde a infncia at vossa idade actual. Igualmente, no futuro, no obstante atinjais mais conhecimento, experincia, poder e sabedoria, o vosso Eu ser o mesmo. O Eu a centelha divina que no pode ser extinta.

    A maior parte do povo, no presente estado de desenvolvimento 'da raa, tem apenas uma fraca concepo da realidade do Eu. Muitos aceitam a afirmao da sua existncia e so conscientes de si mesmos como sendo criaturas que comem, dormem e vivem algo mais alto do que os animais. Mas no chegaram percepo ou realizao do Eu, que h-de vir a todos os que devem

    tornar-se centros de influncia e poder. Alguns homens cairam nesta conscincia, pelo menos parcialmente, sem terem conhecimento do assunto. Eles sentiram a sua verdade e retiraram-se das fileiras da gente vulgar do mundo, tornandose centros de poder para o bem ou para o mal. Isto bastante mau porque esta percepo sem o conhecimento que a deve acompanhar, pode trazer sofrimento ao indivduo e a outros.

    O Aspirante h-de meditar sobre o Eu e reconhec-lo, senti-lo como sendo um

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  • centro. Esta a sua pri-meira tarefa. Gravai bem na vossa mente a palavra Eu neste sentido e deixai-a cair profundamente na vossa conscincia, para que se tome uma parte de vs mesmo. E quando dizeis Eu, deveis acompanhar esta palavra com a imagem do vosso Ego como um centro de conscincia, pensamento, poder e influncia. Vdevos, rodeado pelo vosso mundo. Aonde quer que estejais, est o centro do vosso mundo. Vs sois o centro, e todo o vosso exterior gira ao redor deste centro. Esta a primeira lio na vereda da Iniciao. Aprendei-a!

    Os mestres yogues ensinam que os Aspirantes podero acelerar a realizao do Eu como um centro, se entra-rem no silncio ou estado de meditao, repetindo vrias vezes o seu nome, lenta, reflectida e solenemente. Este exerccio tem o fim de concentrar a mente na ideia do Eu, e muitos casos de aparecimento da aurora de iniciao resultaram desta prtica. Alguns pensadores originais descobriram este mtodo sem que lhes tivesse sido ensinado. Um exemplo notvel o de lorde Tennyson, que escreveu que tinha atingido um grau de iniciao por esta maneira. Ele repetia muitas vezes o seu prprio nome, meditando ao mesmo tempo sobre a sua identidade, e relatava que se tornou consciente e podia perceber a sua realidade e imortalidade em poucas palavras, reconhecia-se como um centro real de conscincia.

    Julgamos que vos foi dada a chave para o primeiro estdio de meditao e concentrao. Antes de irmos adiante, citaremos um dos antigos mestres hindus. Diz ele a respeito deste assunto: Quando a alma se v como um centro circundado pela sua circunferncia quando o Sol sabe que um Sol e que rodeado por seus planetas que giram em torno dele ento est preparado para receber a Sabedoria e o Poder dos Mestres.

    O conhecimento da independncia do Eu em relao ao corpo Alguns aspirantes encontram obstculos plena realizao do Eu (ainda que j

    tenham comeado a compreend-la), porque confundem a realidade do Eu com o sentido do corpo fsico. Este obstculo pode ser remo-vido facilmente por meio da meditao e concentrao, e a independncia do Eu manifesta-se ao Aspirante, num momento de lucidez, reflectida sobre o prprio pensamento que lhe serve como objecto de meditao.

    O exerccio que se d para este fim o seguinte: Pondevos no estado de meditao e pensai em vs mesmo no Eu real como sendo independente do corpo e usando o corpo como vossas vestes e vosso instrumento.

    Pensai no corpo como sendo uma muda de roupa. reconhecei que podeis deixar o corpo e, contudo, ser sempre o mesmo Eu. Imaginai que o estais fazendo, colocandovos acima do vosso corpo e olhando para ele, que est debaixo. Pensai que o corpo como uma casca de que podeis sair sem mudana da vossa identidade. Pensai que estais governando e controlando o corpo que ocupais e que dele fazeis o melhor uso possvel, tornandoo sadio, forte e vigoroso, mas que ele no passa, entretanto, de uma casca ou um invlucro do vosso verdadeiro Eu. Pensai no corpo, como sendo composto de tomos e clulas que se transformam incessantemente, mas que so conservados em unio com os outros pela fora do vosso Ego, e que podeis aperfeio-los por meio da vontade. Realizai o conhecimento que s habitais o corpo e que o usais para vossa convenincia, da mesma forma como usais uma casa.

    Continuando a meditar, ignorai o corpo totalmente e fixai o vosso pensamento no Eu real que comeais a sentir que sois vs, e achareis que a vossa identidade o vosso Eu algo totalmente distinto do corpo.

    Podereis agora dizer meu corpo com um novo significado. Bani a ideia de que sois um ser fsico e reconhecei que sois superior ao corpo. Esta concepo e este

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  • reconhecimento, porm, no vos devero seduzir a negligenciardes o corpo. Deveis considerar o corpo como um templo do esprito, e cuidar dele, para que seja uma boa morada para o Eu.

    No vos assusteis se, durante esta meditao, vos sobreviver a sensao de estardes, por alguns instantes, fora do corpo e que a ele voltais depois de concludo o exerccio. O Ego capaz (no caso do iniciado adiantado) de elevar-se acima dos limites do corpo, mas nunca dissolve a sua conexo em tais ocasies. O Ego estando assim parcialmente fora do corpo, pode ser comparado a quem abre a janela de um quarto e dela observa o que se passa fora, colocando a cabea no espao exterior e retirandoa para o interior quando quer.

    Assim como este observador no sai do quarto, embora sua cabea se ache fora dele, tambm o Ego no saiu, no caso acima mencionado, do corpo, apesar de ter-se elevado parcialmente acima dele. No aconselhamos ao Aspirante cultivar esta sensao; porm, quando ela vem por si mesma durante a meditao, no vos assusteis.

    Convico da imortalidade e invencibilidade do Ego Muitas pessoas aceitam a crena da imortalidade da alma, mas poucos sabem que ela

    pode ser demonstrada pela prpria alma. Os Mestres Yogues ensinam esta lio ao Aspirante, da seguinte maneira: O Aspirante deve pr-se no estado de meditao ou, ao menos, numa disposio pensativa de alma e, neste estado, deve esforar-se por imaginar que est morto, isto , tentar formar uma concepo mental de si como estando morto. No primeiro momento parece ser isto muito fcil, mas, na realidade, impossvel fazer tal comparao, porque o Ego recusa-se a sustentar a proposio, achando impossvel imagin-la: Experimentai por vs mesmos. Achais que podeis imaginar que o vosso corpo est deitado, sem movimento e sem vida; porm, ao mesmo tempo, achareis que fazendo esta imaginao, vs estais ao p do corpo e olhais para ele. Vedes, pois, que vs no morreis nem em imaginao, ainda que o corpo morra. Se no quereis separar-vos do vosso corpo, em imaginao, podeis pensar no vosso corpo como estando morto, mas vs, que no quereis abandon-lo, estais ainda vivo, e reconhecereis o corpo morto corno uma coisa fora do vosso Eu real. Por mais que tenteis, no podeis imaginar-vos como morto. Em todos estes pensamentos, o Ego insiste que est vivo e, assim, acha que em si mesmo tem o sentido e a certeza de imortalidade. Em sono ou no estupor causado por pancada, narcticos ou anestsicos, a mente est aparentemente apagada, mas o Eu est consciente de uma continuidade de existncia. Assim, quando quereis imaginar-vos como estando sem conscincia ou em sono, podeis facilmente faz-lo e vedes a possibilidade de tal estado; quando, porm, quiserdes imaginar que o vosso Eu est morto, a mente recusa-se absolutamente a faz-lo. Este maravilhoso facto que a alma traz em si mesma, a evidncia da sua imortalidade, Uma coisa gloriosa; mas necessrio ter-se atingido um certo grau de desenvolvimento antes de poder-se compreender a plena significao deste facto.

    O Aspirante deve investigar por si mesmo a afirmao acima enunciada para o que lhe servir a meditao e a concentrao, porque se o Eu deve chegar a conhecer a sua verdadeira natureza e suas possibilidades, h-de reconhecer que no pode ser destrudo nem morto. H-de saber o que , antes que possa manifestar a sua natureza. No passeis adiante, antes de haverdes aprendido o que esta lio vos ensina. E ser bom, ocasionalmente, a ela voltardes, para que graveis na vossa mente o facto de ser imortal e eterna a vossa natureza. J o simples vislumbre desta concepo da verdade vos dar um vivo sentimento de fora e poder, e achareis que a vossa personalidade se expandiu e cresceu, sendo mais forte e mais central do que outrora pensastes.

    Os seguintes exerccios ajudaro a reconhecer a invencibilidade do Ego a sua

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  • superioridade em relao aos elementos. Pondevos no estado de meditao e imaginai que o Eu saiu do corpo. Vedeo

    passando inclume pelo ar, pelo fogo e pela gua. Reconhecereis que, no sendo im-pedida pelo corpo, a alma pode andar pelo ar vontade, voar como uma ave, adejar, caminhar no ter. Pode ver-se como capaz de passar pelo fogo sem que este lhe faa mal, sem que o sinta, porque os elementos afectam s o corpo fsico e no o Eu real. Igualmente pode ver-se como capaz de passar pela gua, sem que lhe acontea algum desastre ou ameace algum perigo.

    Esta meditao dar-vos- um sentimento de superioridade e vigor, e mostrar-vos- algo da natureza do Eu real. verdade que estais limitado no corpo e o corpo pode ser afectado pelos elementos; porm, o conhecimento de que o Eu real superior ao corpo superior aos elementos que afectam o corpo e no pode ser ferido nem morto, milagroso e tende a desenvolver em vs a plena conscincia do Eu. Porque vs o Eu real no sois corpo. Vs sois esprito. O Ego imortal e invisvel; no pode ser morto nem vulnerado. Quando entrardes neste conhecimento e nesta conscincia, sentireis um influxo de fora e poder que no se pede descrever. O medo cair de vs como um manto rasgado e sentireis que nascestes de novo. A compreenso deste pensamento vos mostrar que as coisas que temeis no podem afectar o Eu real e ho-de contentar-se em fazer mal ao corpo fsico. E podem ser desviadas do corpo fsico por um conhecimento prprio e pela aplicao da vontade.

    Na lio seguinte aprendereis como separar o Eu do mecanismo da mente como podeis governar a mente, da mesma forma como agora realizais a vossa independncia do corpo. Podeis obter gradualmente este conhecimento e haveis de colocar os vossos ps firmemente num degrau da escada antes de dar outro passo.

    O objecto de que trata esta primeira lio o Eu. O Aspirante h-de compreender planamente o sentido desta palavra, antes de poder progredir. H-de conhecer a sus existncia real, independente do corpo. H-de ver--se como invencvel e inacessvel ao mal, inatingvel a qualquer vulnerao ou morte. H-de ver-se como um grande centro de conscincia, um Sol, em roda do qual gira o seu mundo. E se tiver realizado isto, uma nova fora lhe vir. Sentir uma dignidade calma e um poder que sero notados por aqueles com que vier a ter contacto. Ser capaz de olhar a face do mundo, sem vacilar, sem medo porque conhecer e sentir a natureza e o poder do Eu. Sentir-se- como um centro de poder, um centro de influncia. Saber, com toda a convico, que nada pode fazer mal ao seu Eu, e que o seu Eu real, a sua individualidade, permanecero inclumes, ainda que as tempestades da vida se desencadeiem sobre a sua personalidade.

    O Eu resistir s tempestades da vida da personalidade como uma rocha resiste tormenta. E saber que, quanto mais se adianta na realizao do conhecimento, mais apto estar para dominar estas tempestades e ordenar-lhes que cessem.

    Como diz o Mestre Yogue: O Eu eterno. Passa por fogo, ar e gua, ileso e sem impedimento. A espada e a lana no o podem matar nem ferir. O Eu no pode morrer. As provaes da vida fsica so para ele meros sonhos. Permanecendo seguro no conhecimento do Eu, pode o homem rir-se vista das piores coisas que o mundo lhe pode oferecer e, estendendo a sua mo, pode ordenar-lhes que desapaream nas trevas donde emergiram. BEmaventurado quem pode dizer Eu com o necessrio entendimento.

    Agora, caro Aspirante deixamo-vos estudar e aprender a primeira lio. No percais a coragem se o vosso progresso for lento. No vos aflijais se escorregardes um passo para trs, depois de vos terdes adiantado. Na prxima vez dareis dois passos avante. O xito e a realizao so-vos garantidos. Estais no caminho do Mestrado. Atingi-lo-eis, isto certo. A Paz seja convosco.

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  • Mantrams (afirmaes)

    Eu sou um centro. Em tomo de mim gira o meu mundo. Eu sou um centro de influncia e poder. Eu sou um centro de pensamento e conscincia. Eu sou independente do corpo. Eu sou imortal e no posso ser destrudo. Eu sou invencvel e nada me pode fazer mal.

    EU

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  • II LIO - OS INSTRUMENTOS MENTAIS DO EGO Na primeira lio demos instrues e exerccios destinados a despertar a conscincia

    do Aspirante para realizar o conhecimento do Eu real. As nossas instrues limitaram-se aos ensinamentos preliminares da realidade do Eu e aos meios pelos quais o Aspirante pode chegar ao conhecimento da interioridade real e da sua independncia do corpo e das coisas materiais. Temo-nos esforado por vos mostrar como podeis despertar conscincia da realidade do Eu; sua natureza real; sua independncia do corpo; sua imortalidade; sua invencibilidade e invulnerabilidade. Se obtivermos xito e at que grau, pode ser determinado apenas pela experincia de cada Aspirante, pois ns no podemos seno mostrar o caminho; ao Aspirante cabe trabalhar para realizar a sua obra.

    H, entretanto, ainda mais coisas para dizer e fazer, no intuito de despertar o conhecimento do Eu. At agora, s vos dissemos como distinguir entre os invlucros do Ego e o Eu mesmo. Temo-vos explicado que possus um Eu real; dissemos o que ele e como independente dos invlucros materiais que o encobrem, etc. Nesta anlise de si mesmo h-de dar-se, porm, mais um passo, um passo muito mais difcil. Ainda depois de se ter despertado o conhecimento da independncia do corpo e dos invlucros materiais, o Aspirante confunde, muitas vezes, o Eu com os princpios inferiores da mente. Isto um erro. A mente, nos seus vrios planos e fases, s um instrumento do Eu e est longe de ser o Eu. Nesta lio elucidaremos este facto e daremos exerccios apropriados. No nos ocuparemos do lado metafsico deste assunto, limitandonos apenas psicologia yogue. No falaremos de teorias, nem tentaremos explicar a causa, a natureza e o fim da mente o instrumento operante do Ego mas, em luar disso, esforar-nos-emos para indicar-vos a maneira de poderdes analisar a mente e depois determinar o que o No-Eu e o que o Eu real. intil sobrecarregar-vos com teorias ou tratados metafsicos, quando o meio de provar o facto est na vossa prpria compreenso. Analisando a mente, podereis separar as partes que a formam e obter dela mesma a resposta questo que dela trata.

    Nas segunda e terceira das nossas Catorze Lies de Filosofia Yogue dissemos que o homem tem trs princpios mentais ou subdivises da mente e que eles pertencem a um plano inferior ao do esprito. O Eu esprito, mas os seus princpios mentais so de ordem inferior. No querendo repetir sem necessidade o que j dissemos, julgamos que ser melhor explicar concisamente sobre estes trs princpios na mente humana.

    Em primeiro lugar, temos a mente instintiva, que comum ao homem e aos animais inferiores. o primeiro princpio mental que aparece na escala da Soluo. Nas suas fases mais baixas, a conscincia pouco perceptvel e a mera sensao ocupa o seu Iugar. Nos seus graus superiores, a mente instintiva atinge quase a razo ou o intelecto; podese dizer que ambos se entrelaam. A mente instintiva desempenha uma tarefa importante, dirigindo a manuteno de vida animal no nosso corpo, tratando de restaurar as suas partes e foras, substituir, mudar, fazer digesto, assimilao, eliminao, etc., tudo que pertence s actividades sob o plano da conscincia.

    Tudo isto, porm, apenas uma pequena parte da obra da mente instintiva; porque esta parte da mente armazena todas as experincias que temos feito ns e os nossos antepassados no decurso da evoluo das mais baixas formas de vida animal at ao presente estado de evoluo. Todos os velhos instintos animais (que foram todos bons no seu lugar e muito necessrios para o bEmestar das formas inferiores da vida) deixaram vestgios nesta parte da mente, os quais podem aparecer dianteira sob a presso de certas circunstncias, ainda que nos parea que j h muito tempo que nos temos liber-tado deles. Nesta parte da mente, encontram-se vestgios do velho instinto animal de

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  • combater; todas as paixes animais; todo o dio, inveja, chime e o resto, tudo isto nossa herana do passado. A mente instintiva tambm a sede dos habitos; nela esto armazenados todos os hbitos, pequenos e grandes, de muitas vidas, ou antes, todos aqueles que no foram extintos por hbitos novos, de natureza mais forte. A mente instintiva um interessante armazm, que contm muitas variedades de objectos, dos quais alguns so muito bons em si mesmos, mas outros pertencem pior espcie de lixo e varreduras.

    Esta parte da mente tambm a sede dos apetites,, paixes, desejos, instintos, sensaes, sentimentos e emoes de ordem inferior, que se manifestam nos animais inferiores, no homem primitivo, no brbaro e no homem actual, com a diferena que existe apenas no grau do domnio e controlo que as partes mais elevadas da mente exercem sobre eles. H tambm desejes superiores, aspiraes, etc., pertencentes parte superior da mente, os quais mais adiante descreveremos; mas a natureza animal pertence mente instintiva. Pertencem-lhe igualmente os sentimentos da nossa natureza emocional e apaixonvel. Todos os desejos animais, como a fome e a sede; os desejos sexuais (no plano fsico); todas as paixes, como o amor fsico; o dio, a inveja, a malcia, o cime, a vingana, etc., so partes da mente instintiva. O desejo de objectos fsicos (quando no serve como meio para fins mais altos) e a aspirao a coisas mate-riais pertencem a esta regio mental. A concupiscncia da carne; a concupiscncia da vista; o orgulho da vida, fazem parte da mente instintiva.

    Notai, porm, que no estamos a condenar as coisas que pertencem a este plano da mente. Todas elas tm o seu lugar; muitas foram necessrias no passado e algumas ainda so necessria para a continuao da vida fsica. Todas so boas no seu lugar e para os que se acham no plano particular de desenvolvimento a que essas coisas pertencem; elas so ms s quando nos deixamos dominar por elas ou quando algum torna a entregar-se a alguma delas depois de a ter j abandonado, por ser indigna dele no seu desenvolvimento individual. Esta lio no se ocupa do bom e mau uso destas coisas (de que j temos tratado em outro lugar); mencionamos esta parte da mente para que compreendais que tendes essas coisas no vosso depsito mental e para que vos seja conhecido o pensamento que dali provm, quando chegarmos a analisar a mente mais adiante nesta lio. Por era pedimos unicamente que fiqueis compenetrados da convico de que esta parte da mente vos pertence, mas no vs mesmo: no parte do vosso Eu.

    Logo acima da mente instintiva est o intelecto, isto , aquela parte da mente de que nos servimos para raciocinar, analisar, pensar, etc. Dela vos servis, estudando esta lio. Porm, notai isto: servi-vos dela, mas ela no vs mesmo. igualmente como no o foi a mente instintiva que consideramos um momento antes. Podereis fazer a separao, se pensardes um s instante. No ocuparemos o vosso tempo com a considerao do intelecto ou razo. Em qualquer boa obra elementar de psicologia encontrareis uma boa descrio desta parte da mente, que ns mencionamos somente para poderdes fazer a classificao e para podermos mostrar-vos mais adiante que o intelecto no o Eu real mesmo, como muitos pensam, mas apenas um instrumento do Ego.

    O terceiro e o mais alto princpio mental a mente espiritual, aquela parte da mente que quase desconhecida maioria da humanidade, mas que se desenvolve na conscincia de quase todos os que lem esta lio, porque o facto de o assunto desta lio vos atrair uma prova de que esta parte da vossa natureza mental se est a desenvolver na conscincia. Esta regio da mente a fonte daquilo que se chama gnio, inspirao, espiritualidade, e de tudo aquilo que consideramos como o mais alto do nosso depsito mental. Todas as grandes ideias e pensamentos elevados fluem ao campo da conscincia, emanando desta parte da mente. Toda a grande evoluco da raa provm daqui. Todas as mais altas ideias mentais que vieram ao

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  • homem na sua jornada evolucionria ascendente, que tem por fim aces nobres, verdadeiro sentimento religioso, afabilidade, humanidade, justia, amor altrusta, graa, simpatia, etc., vieram-lhe atravs da sua mente espiritual que se desenvolve pouco a pouco. Dela lhe vem o amor de Deus e o amor do prximo. O conhecimento das grandes verdades ocultas lhe vem por este canal. O perfeito conhecimento do Eu , que nos esforamos por vos ensinar nestas lies, h-de vir-vos por meio da mente espiritual que desenvolve as suas ideias at ao campo da conscincia.

    Mas tambm esta grande e maravilhosa parte da mente no seno um instrumento muito perfeito, verdade, mas apenas um instrumento do Ego ou Eu.

    Queremos dar-vos um pequeno exerccio de treinamento mental, com o fim de vos tomardes capaz de distinguir prontamente o Eu da mente ou dos estados mentais. Mas advertimos o estudante de que toda a par-te, todo o plano e toda a funo da mente so bons e necessrios, sendo errneo pensar que, porque lhe dizemos que deve deixar de se ocupar primeiro com esta e depois com aquela parte da mente, a estejamos menos-prezando ou que a consideramos um lastro ou obstculo. Longe disso, ns sabemos e reconhecemos que servindose da mente que o homem se torna capaz de chegar ao conhecimento da sus verdadeira natureza e que ainda em muitos graus o seu progresso depender do desenvolvimento das. suas faculdades mentais.

    O homem serve-se actualmente apenas das partes mais baixas e inferiores da mente, tendo no seu mundo mental regies ainda inexploradas de que no pode fazer ideia nem a mais forte imaginao. E um dos propsitos de Raja Yoga ajudar no desenvolvimento destas faculdades e regies mentais superiores. E longe de desacreditarem a mente, os instrutores de Raja Yoga reconhecem os seus poderes e as suas possibilidades e estimulam o estudante a aproveitar as foras latentes que so inerentes sua alma.

    E somente por meio da mente que podeis entender e compreender as lies que agora vos estamos a dar e que delas podeis tirar proveito e vantagem. Estamos agora a falar directamente vossa mente e fazemos-lhe apelo, para que se interesse e se abra ao que est pronto a vir at ela de suas prprias regies superiores.

    Exortamos o intelecto a dirigir a sua ateno a este importante assunto, para pr menos resistncia s verdades que aguardam para serem projectadas da mente espiritual at ele, que conhece a verdade.

    Exercido de treinamento mental Pondevos num estado de calma e tranquilidade, para poderdes meditar sobre os

    assuntos que apresentamos vossa considerao. Fazei com que as matrias apresen-tadas encontrem de vossa parte uma recepo hospitaleira e que a nossa atitude mental seja animada pela vontade de receberdes o que vos aguarda nas regies superiores da vossa mente.

    Chamaremos a vossa ateno para vrias impresses ou condies mentais, uma aps outra, a fim de que reconheais que so s acidentais para vs, e no vs mesmo - que podeis p-las de parte e observ-las, da mesma forma como qualquer coisa de que vos tendes servido. No podeis pr de parte o vosso Eu e assim o observar, mas as vrias formas do no-Eu podem ser postas de parte e observadas.

    Na primeira lio obtivestes a percepo do Eu como independente do corpo, sendo este apenas um instrumento para seu uso. Agora chegastes ao ponto onde o Eu vos aparece como uma criatura mental, um conjunto de pensamentos, sentimentos, hbitos, etc. Mas necessrio irdes mais adiante. Haveis de tomar-vos capaz de distinguir o Eu destas condies mentais, que so igualmente ferramentas ou instrumentos do Eu, como o o corpo e as suas partes.

    Consideremos primeiro os pensamentos que so mais relacionados com o corpo, e

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  • depois passaremos aos estdios mentais superiores. As sensaes do corpo, como fome, sede, dor, sensaes agradveis, desejos fsicos,

    etc., etc., no podem ser tomadas por qualidades essenciais do Eu pela maioria dos Aspirantes, porque j esto fora deste estdio e tm aprendido a pr de parte estas sensaes, a um ponto mais ou menos adiantado, por um esforo da vontade, e no mais so escravos delas. Com isto no queremos dizer que no sintam estas coisas, mas que se acostumam j a consider-las como acidentes da vida fsica bons, no seu lugar mas teis ao homem adiantado s quando os domina e no os identifica com o Eu. Muitas pessoas identificam, porm, estas sensaes com a sua concepo do Eu, de maneira que, quando falam de si mesmas, pensam somente num conjunto dessas sensaes. No so capazes de as pr de parte e consider-las como coisas distintas de si, de que podem fazer uso quando necessrio e conveniente, mas que no fazem parte integrante do Eu.

    Quanto mais se adianta o homem, tanto mais cresce a distncia entre ele e estas sensaes. No quer dizer isto que no sinta fome, por exemplo. No; ele reconhece a fome e a satisfaz razoavelmente, sabendo que o seu corpo fsico pede ateno e que o seu pedido deve ser respeitado. Porm notai a diferena em vez de sentir que Eu estou com fome, o homem sente que o meu corpo est com fome, da mesma forma como quando percebe que o seu cavalo e o seu co querem comer. Entendeis o que queremos dizer? E que o homem no mais identifica a si mesmo o Eu com o corpo, e, consequentemente, os pensamentos que tm relao com a vida fsica parecem, em comparao, como separados da concepo do Eu. Este homem pensa: o meu estmago sente isto ou ea minha perna sente aquilo ou o meu corpo est assim, em vez de pensar: Eu sinto isto ou aquilo. capaz, quase automaticamente, de pensar no corpo e suas sensaes como em coisas que lhe perten-cem e que exigem ateno e cuidado, mas que no so partes reais do Eu. capaz de formar uma concepo do Eu como existindo sem todas essas coisas sem o corpo e suas sensaes e assim tem dado o primeiro passo na realizao do conhecimento do Eu.

    Antes que prossigamos, pedimos aos estudantes que se detenham um momento e percorram mentalmente estas sensaes do corpo. Formai delas uma imagem mental e reconhecei que so meros acidentes do Eu no seu presente grau de crescimento e experincia e que no formam parte real dele. Podero ser e sero deixadas para trs nos planos superiores de adiantamento do Eu. Pode ser que j h muito tempo tenhais realizado perfeitamente esta concepo mental, mas pedimo-vos faais agora este exerccio de treino mental, para se firmar na vossa mente este primeiro passo.

    Reconhecendo que podeis pr de lado mentalmente estas sensaes que podeis afast-las ao comprimento de um brao e consider-las como coisas exteriores determinais mentalmente que elas sae No-Eu e pondeas na coleco de coisas que formam o No-Eu. Permiti que vo-lo explique ainda mais claramente, ainda que corramos o perigo de vos aborrecermos com repeties (porque necessrio que fixeis esta ideia bem na vossa mente). Para poderdes dizer que alguma coisa No-Eu, haveis de reconhecer que se trata de duas coisas: 1 do No-Eu, e 2 do Eu, e que estas duas coisas so to diferentes como diferente a ideia que fazeis de vs mesmo e de um pedao de acar ou de um monte. Compreendeis o que queremos dizer? Pensai sobre isto at que se vos tome claro.

    Em seguida, considerai algumas das emoes, como ira, dio, amor em suas formas ordinrias, cime, ambio e as centenas de vrias emoes que cruzam vosso crebro. Achareis que podeis pr de parte cada uma destas emoes ou estes sentimentos e que podeis estud los; analis-los, observ-los. Podereis compreender o princpio, o progresso e o fim de cada Uma destas emoes, como vieram a vs e como as invocais na vossa memria ou imaginao, da mesma forma como se observsseis a sua

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  • ocorrncia na mente de um amigo. Achareis que todas estavam depositadas em alguma parte do vosso armazm mental e que podeis cit-las perante vs e indicar-lhes os seus lugares. Vedes, pois, que no so vs mesmos que so s algo que vs levais convosco no vosso cesto mental. Podeis imaginar-vos como vivendo sem elas e, no obstante sendo vs mesmo o vosso Eu pode subsistir sem elas, no verdade?

    O prprio facto de que podeis p-las de parte e examin-Ias e observ-las, uma prova que essas emoes so No-Eu; porque se trata aqui de duas coisas: 1.o Vs que estais examinando e observando-as; e Aquilo que o objecto do vosso exame e observao, que est se-parado de vs. Estas emoes, tanto as agradveis como as desagradveis pertencem, pois, coleco daquilo que o No-Eu. Esta coleco est a aumentar fortemente e, em breve, atingir formidveis propores.

    No julgueis, entretanto, que esta lio seja destinada a ensinar-vos como vos livrareis destas emoes, embora ela vos possa tornar capaz de vos libertardes das desagra-dveis, o que seria muito bom. Agora trata-se, porm, de pr as agradveis junto com as desagradveis, para reconhecerdes que o Eu superior, mais alto e independente destas coisas mentais; depois, quando tiverdes realizado o conhecimento do Eu, podereis voltar a fazer uso destas coisas (como senhor delas), ao passo que outrora elas faziam uso de vs como escravos. No receeis, pois, pr estas emoes (boas e ms) na coleco das coisas que formam o No-Eu. Depois de terdes feito o exerccio mental, podeis voltar a elas e vos servirdes das boas. Por mais ligado que vos parea que estejais a alguma destas emoes, analisandoa cuidadosamente reconhecereis que no pertence ao que forma o vosso Eu, porque o Eu existia j antes que a emoo aparecesse no campo de aco e existir ainda quando a emoo houver desaparecido. A prova principal o facto de que a podeis pr parte de vs e examin-la: pois disto se segue que ela no o Eu.

    Percorrei toda a lista dos vossos sentimentos, emoes, hbitos, etc., como se observsseis estas qualidades em algum dos vossos amigos ou conhecidos, e achareis que todas elas, e cada uma por si, pertencem ao que forma o No-Eu e que podereis p-las todas de parte ao menos para a experincia cientfica.

    Depois, passando ao intelecto, podereis fazer exame em qualquer processo e princpio mental. Direis talvez que no o acreditais. Neste caso l-la e estudai alguma boa. obra sobre psicologia e aprendereis a dissecar a analisar todo o processo intelectual e a classific-lo e p-lo na estante a que pertence. Estudai psicologia, servindovos de algum bom manual e achareis que todos os processos intelectuais so classificados e tratados minuciosamente da mesma maneira como uma coleco de flores. Se isto no vos satisfaz, abri as folhas de alguma obra sobre lgica e vereis que podeis pr parte, separandoos de vs, esses processos intelectuais, podendo examin-los e falar deles a outrem. Disto, pois, segue-se que estes maravilhosos instrumentos do homem, os poderes intelectuais pertencem coleco do No-Eu; pois o Eu pode separar-se deles, p-los de lado e observ-los. O mais notvel neste facto que reconheceis que o Eu faz uso destas mesmas faculdades intelectuais, para passar por cima delas. Qual o Senhor ou Mestre que obriga estas faculdades a fazerem isto ou aquilo? o Senhor da Mente o Eu.

    Ainda quando fordes atingido nas regies superiores da mente at mesmo a mente espiritual havereis de admitir que aquilo que vos veio conscincia daquela regio, pode ser observado e estudado, da mesma forma que qualquer outra coisa mental e, por isso, ho-de incluir-se at estas coisas elevadas na coleco do No-Eu. Podeis objectar que isto no prova que tudo que faz parte da mente espiritual pode ser assim tratado que podem haver ali coisas que pertencem ao Eu. Ns no discutiremos esta questo porque vs no conheceis da mente espiritual seno aquilo que ela vos revelou e as regies superiores dessa mente so como a mente de um Deus, quando comparadas com aquilo que vs chamais mente. Mas a evidncia dos iluminados daqueles

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  • homens em que a mente espiritual chegou a um maravilhoso desenvolvimento, conta-nos que, ainda nas mais altas formas de evoluo, os iniciados, e at os mesmos Mestres reconhecem que, acima dos seus mais elevados estados mentais sempre h aquele eterno Eu, que est acima deles, como o Sol acima do lago; e que at a mais alta concepo do Eu conhecida s almas desenvolvidas, no seno um fraco reflexo do Eu que passa pela mente espiritual, embora esta mente espiritual seja to clara como o mais claro dos cristais, quando comparada com os nossos estados mentais, relativamente opacos. E o mais alto estado mental s um instrumento do Eu, e no o Eu mesmo.

    No obstante, porm, encontra-se este Eu at na mais insignificante forma de conscincia e anima at a vida inconsciente. O Eu sempre o mesmo, mas o seu aparente crescimento o resultado do desenvolvimento mental do indivduo. Conforme descrevemos numa das lies do Curso Adiantado, como uma lmpada elctrica coberta de muitas capas ou envoltrios de pano. Quando se retira um envoltrio aps outro, a luz parece difundir-se mais, mais clara e forte e, no obstante, no mudou porque a mudana consiste no acto de se retirar os envoltrios que a limitavam e obscureciam. No esperamos ser possvel ensinar a realizardes o conhecimento do Eu em sua plenitude o que impossvel humanidade actual mas queremos ensinar-vos o caminho para chegardes realizao da mais alta concepo do Eu, possvel a todos vs no presente grau de desenvolvimento, e o processo que vos leva a retirardes algumas das capas que envolvem o vosso Eu, as quais j no vos servem mais no vosso estado actual. Estas capas, estes envoltrios esto prontos a cair, e o que necessrio para que caiam o contacto de uma mo amiga que os retire de vs. Desejamos conduzir-vos ao mais claro conhecimento possvel do Eu, para fazer de vs um indivduo para que possais entender e ter coragem para aproveitardes os instrumentos e ferramentas que esto sob a vossa mo e fazerdes a vossa obra.

    E agora, voltemos ao treinamento mental. Quando ti-verdes concludo a vossa coleco de tudo que podeis reconhecer como No-Eu como instrumento para o vosso uso perguntareis: E agora, que que nos restou, que no possa ser includo na coleco do No-Eu? A esta pergunta responderemos: O Eu mesmo. E se pedis uma prova, diremos: Experimentai, se podeis se-parar-vos do vosso Eu e p-lo parte, para observardes! Podeis tent-lo por sculos e sculos, e nunca podereis separar-vos do vosso Eu; nunca podereis pr o vosso Eu real de lado, para o observardes. Se pensais que podeis faz-lo, reflecti e achareis que s pondes de lado algumas das vossas qualidades ou faculdades mentais. E que que o Eu faz neste processo? Est a observar-se simplesmente de lado e. observando estas coisas.

    No podeis ver que o Eu no pode ser ao mesmo tempo o observador e a coisa observada o examinador e a coisa examinada? Poder o sol iluminar a si mesmo com a prpria luz? Vs podeis observar o Eu de alguma outra pessoa, mas quem est observando o vosso Eu. Porm, vs no podeis, como um Eu, colocar-vos de lado e ver-vos como um Eu. E qual a prova que temos de que h um Eu que nos pertence? E esta: que sempre sois consciente de ser observador e examinador, e no a coisa observada e examinada; e tendes a evidncia da vossa conscincia. E qual a notcia que a conscincia nos d? Simplesmente e somente esta: Eu sou. Isto tudo de que o Eu consciente em relao sua natureza verdadeira: Eu sou; mas esta conscincia vale todo o resto, porque o resto s no-Eu, instrumentos que podem ser aproveitados e usados.

    E assim, pela anlise final, achareis que h algo que se ope e no admite que seja posto de lado e examinado pelo Eu. E que este algo o Eu mesmo aquele Eu eterno e imutvel aquela gota do grande oceano de esprito aquela centelha da Chama Sagrada.

    Da mesma maneira como achais que impossvel imaginar o Eu como morto, igualmente achareis que impossvel pr o Eu de lado para o observar; tudo que

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  • encontrareis o testemunho: Eu sou. Se vs pudsseis pr o Eu de lado para ser observado, quem haveria para observ-

    lo? Quem poderia ser, seno o Eu mesmo; e se ele est aqui, como poderia estar alit O Eu no pode ser o no-Eu, nem nos mais atrevidos voos da imaginao. A imaginao, com toda a sua to gabada liberdade e potncia, confessa-se vencida, quando se trata deste ponto.

    estudantes, reconhecei o que sois. Acordai e reconhecei o facto de que sois deuses que dormem que em vs tendes o poder do universo, que aguarda a vossa palavra para se manifestar em aco. Por longos sculos de pesados trabalhos chegastes ao ponto em que agora estais e longa ainda ser a vossa peregrinao para o primeiro grande templo; mas agora mesmo j estais a entrar no estado consciente da evoluo espiritual. Os vossos olhos no mais estaro fechados enquanto caminhardes pela vereda. Desde agora vereis mais claro e, a cads passo, aumentar esta certeza, que o nascer da conscincia.

    Estais em contacto com toda a vida e a separao do vosso Eu em relao ao grande Eu universal s aparente e temporria. Falar-vos-emos disto na terceira lio; porm, antes que possais entend-lo, necessrio que tenhais desenvolvido em vs mesmos a conscincia do Eu. No deixeis de lado este assunto como coisa sem importncia. No repudieis a nossa fraca explicao, qualificandoa de palavras, palavras e s palavras, como muitos tm a inclinao de fazer. Ns vos apontamos uma grande verdade. Por que no devereis seguir o esprito que agora mesmo neste momento que estais a ler se esfora por conduzir-vos ao Caminho da Realizao? Pensai sobre os ensinamentos desta lio e praticai o treinamento mental at que a vossa mente compreenda a sua significao; e depois deixai que fique gravada na vossa conscincia interna. Assim vos tornareis pronto para as lies que se seguiro.

    Praticai este treinamento mental at que fiqueis plenamente convencido da realidade do Eu e da relatividade do no-Eu na mente. Quando tiverdes compreendido esta verdade, achareis que podeis servir-vos da mente com um poder e efeito muito maiores, porque reconhece-reis que ela vosso instrumento, prprio e apto para fazer o que ordenais. Sereis capaz de vencer os vossos hbitos e as vossas emoes, quando fr necessrio, e elevar-vos-eis da posio de escravo de senhor.

    As nossas palavras parecem ser insignificantes e pobres, quando consideramos a grandeza da verdade que por meio delas nos esforamos por expor. Porque, quem pode achar palavras para expressar o inexprimvel? Tudo o que ns podemos fazer, despertar um vivo interesse e ateno por vossa parte, para que pratiqueis o treinamento mental e assim obtenhais a evidncia da verdade na vossa prpria mentalidade. A verdade no verdade para vs, enquanto no a tenhais provado na vossa prpria experincia; porm, uma vez assim provada, nada vo-la pode roubar e ningum a destri.

    Haveis de chegar ao pleno conhecimento do facto de o vosso Eu ter todo e qualquer esforo mental. Vs estais atrs dele. Vs ordenais mente que trabalhe e ela obedece vosso vontade. Vs sois o senhor, o amo, e no o escravo da vossa mente. Vs sois quem manda e no o que mandado. Sacudi de vs a tirania da mente que vos oprimia por tanto tempo. Sede firme e sereis livre. Ns ajudar-vos-emos neste sentido durante o curso destas lies, mas antes de tudo haveis de vos mostrar como senhor da vossa mente. Assinai a declarao mental da vossa independncia em relao aos vossos hbitos, s vossas emoes e pensamentos no controlados, e afirmai o vosso domnio sobre eles. Entrai no vosso reina, vs que sois uma manifestao do Esprito!

    Esta lio tem por fim esclarecer na vossa conscincia o facto de que o Eu uma realidade, separada e distinta dos seus instrumentos mentais; o controlo (ou o domnio) das faculdades mentais, exercido pela vontade, far parte de uma das lies futuras; mas, no obstante, julgamos que ser bom apontar-vos agora as vantagens que provm da realizao do verdadeiro conhecimento do Eu e do aspecto relativo da mente.

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  • Muitos de ns supnhamos que as nossas mentes eram senhoras de ns mesmos e permitamos que nos atormentassem e perturbassem com pensamentos que nos levavam consigo e que nos apresentavam em momentos inoportunos. O iniciado est livre deste incmodo, porque aprende a afirmar o seu domnio sobre as diferentes partes da mente, controlando e regulando os seus processos mentais, da mesma forma que o faria com um delicado mecanismo. Ele capaz de dominar as suas' faculdades e de pensar conscientemente; e pode dirigir o trabalho destas foras para produzir o melhor possvel, aprendendo tambm como deve dar ordens regio mental subconsciente e faz-la trabalhar, quando ele dorme ou aplica a sua mente consciente em alguma outra matria.

    Trataremos destes assuntos, quando o tempo fr prprio no curso destas lies. Aqui vos citaremos o que Eduardo Carpenter disse acerca ao poder que tem o

    indivduo de dominar os seus pensamentos. No seu livro From Adam's Peak to Elephanta (Do Pico de Ado Elefanta) assim se exprime descrevendo a sua experincia durante a visita que fez a um Jani Yogue hindu:

    E se no estamos dispostos a acreditar neste domnio interno sobre o corpo, talvez estejamos quase igualmente desacostumados ideia de domnio sobre os nossos pr-prios pensamentos e sentimentos. Geralmente julga-se que o homem precisa servir de presa a todo e qualquer pensamento que se lhe apodera da mente e que isto inevitvel. E lamentvel que o homem no possa dormir toda a noite por pensar com ansiedade no xito de um processo que o espera de manh, mas parece ser extravagncia exigir que ele determine pelo poder da sua prpria vontade, se quer dormir ou no. Sem dvida detestvel a imagem de uma iminente calamidade, mas esta odiosa imagem dizemos persegue a mente com toda a pertincia e intil esforar-se por a dominar.

    Mas isto uma posio absurda para o homem, o herdeiro de todos os sculos; ser enfeitiado pelas criaturas fantsticas do seu prprio crebro. Se um seixo nos incomoda na nossa bota, tiramo-lo para fora. Quando temos o necessrio conhecimento, podemos, com igual facilidade, tirar da nossa mente uma ideia nociva que a invade. Sobre isto no deveria haver dvida, nem duas opinies. A coisa evidente, clara e bem compreensvel. Deveria ser-vos to fcil expulsar da vossa mente um pensamento intruso e desagradvel, como sacudir da vossa bota uma pedrinha; e enquanto o homem no puder faz-lo, insensato falar dele como de um senhor sobre a Natureza todos os demais. Ele um mero escravo e presa dos fantasmas alados que lhe voam pelos corredores do crebro.

    As faces tristes e cheias de cuidados, das quais encontramos milhares at no meio das classes ricas e civilizadas, provam-nos muito claramente como raro obter-se o referido domnio sobre a mente. Com efeito, como raro encontrar-se um homem! E como comum ver-se uma criatura perseguida por pensamentos tirnicos de cuidados ou desejos, que se curva sob o seu domnio ou talvez se orgulhe de correr alegremente em obedincia quele que segura as rdeas, julgandose e considerando que est livre; uma criatura com quem no possvel conversar confidencialmerte, por causa dessa presena de um estranho na sua mente que no cessa de espiar.

    E uma das mais importantes doutrinas de Raja Yoga a afirmao de que necessrio adquirir-se o poder de dominar pensamentos ou mat-los instantaneamente, quando for necessrio. Esta arte exige, naturalmente, certa prtica; mas, como outras artes, no apresenta mistrios ou dificuldades, quando a pessoa chegou a manej-la. E merece ser praticada. Podemos at proclamar solenemente que a nossa vida comea a ser verdadeira vida somente quando temos adquirido esta arte. Na realidade, quando, em vez de sermos dominados por pensamentos individuais nos tornamos senhores deles, na sua imensa multido, variedade e capacidade, e os podemos dirigir, despachar e empregar vontade (porque Ele faz os ventos Sens mensageiros e o fogo flamejante Seu ministro), a vida vem a ser Uma coisa to vasta e grande que, comparandoa com o que foi anteriormente, achamos que o estado anterior aparece como antenatal, como

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  • existncia de uma criana antes do nascimento. Se podeis matar um pensamento, podeis tambm fazer dele tudo que vos apraz. Por

    isso, to importante este poder, que se no limita somente a libertar o homem do seu tormento mental (que constitui nove dcimos de todos os sofrimentos da vida), mas ainda lhe d a possibilidade de executar trabalho mental com uma concentrao e fora que antes lhe foram desconhecidas. Estas duas coisas so correlativas uma com a outra. Como j dissemos, este um dos princpios de Raja Yoga.

    Enquanto estais a trabalhar, o vosso pensamento deve estar absolutamente concentrado no vosso trabalho, no deve distrair-se por nada que no pertena ao vosso assunto seguindo o exemplo de um grande engenho, com gigantesco poder e perfeita economia, em que no h frico nem deslocamento de peas pelo facto de diferentes foras trabalharem ao mesmo tempo. Depois, quando a obra est feita e a mquina no tem mais que fazer, h-de parar igualmente, parar inteira e absolutamente sem se quebrar (como se uma poro de rapazes brincasse com uma locomotiva quando esta entrou no ptio) e o homem deve retirar-se quela regio da sua conscincia, onde mora o seu verdadeiro Eu.

    Digo que a capacidade da prpria mquina mental aumenta enormemente, quando a empregamos com concentrao e s para um trabalho a um tempo, como quando a deixamos tambm parada, depois de concludo o respectivo trabalho. Ela vem a ser assim um verdadeiro instrumento que o mestreoperrio pe de lado depois de se ter servido dele, mas que somente um trapaceiro carrega consigo a toda a hora para mostrar que o possui.

    Pedimos aos estudantes que leiam com ateno a citao do livro de Carpenter, acima dada, porque est cheia de sugestes que podem ser utilizadas pelos que se esto a emancipar da sua escravido em relao mente no dominada, e esto agora comeando a exercer domnio (ou controlo) do Eu sobre a mente por meio da vontade.

    A nossa prxima lio tratar da afinidade ou conexo do Eu com o Eu Universal, e ter o titulo: A Expanso do Eu. Tratar este assunto no do ponto de vista terico, mas da posio do instrutor que se esfora por despertar os seus estudantes praticamente para se torna-rem conscientes da verdade da proposio. Neste curso no queremos fazer dos nossos estudantes conhecedores de teoria, mas desejamos coloc-los numa posio em que eles mesmos se tornaro sabedores e experimentaro as coisas que lhes ensinamos.

    Por isso vos repetimos que no basta ler esta lio, mas deveis estud-la e meditar sobre os ensinamentos mencionados sob o titulo de Treinamento Mental, at que as distines se tornem claras na vossa mente e at que no s acrediteis que so verdadeiras, mas chegueis a ser consciente do Eu e dos instrumentos mentais. Sede paciente e perseverante. A tarefa difcil, mas o prmio grande. Tornar-vos consciente da grandeza e majestade, da fora e do poder do vosso ser real, vale anos de duros estudos. No pensais assim? Estudai, pois, e praticai seriamente, com f e aplicao.

    A Paz seja convosco.

    Mantrams (afirmaes) Eu sou uma entidade a minha mente meu instrumento de expresso. Eu existo independente, da minha mente e no dependo dela na minha existncia

    ou no meu ser. Eu sou senhor da minha mente e no seu escravo. Eu posso pr de lado minhas sensaes, emoes, paixes; meus desejos, minhas

    faculdades intelectuais e todo o resto da minha coleco mental de instrumentos, como

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  • coisas pertencentes ao No-Eu e ainda permanece alguma coisa: o Eu que no pode ser psto de lado, porque a minha verdadeira personalidade, a minha nica conscincia, o meu ser real Eu. Aquilo que resta depois de ser posto de lado, tudo que se pode pr de lado, o Eu sou Eu mesmo eterno, constante, imutvel.

    EU SOU

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  • III LIO - A EXPANSO DO EU Nas primeiras duas lies deste curso esforamo-nos por Ievar o Aspirante

    realizao do Eu, e a torn-lo capaz de distinguir entre personalidade au Eu mesmo e suas envolturas fsicas e mentais. Nesta lio chamaremos a sua ateno afinidade ou parentesco com o Eu Universal e esforar-nos-emos por dar-lhe uma ideia de um Eu maior que transcende a personalidade, e o pequeno eu que tantas vezes tomamos erradamente pelo nosso Eu real.

    A base desta nossa lio a Unidade de Tudo e todos os nossos ensinamentos aqui tero por fim a realizao do conhecimento consciente desta grande verdade. Queremos, porm, gravar na mente do Aspirante que no o ensinamos a pensar que ele o Absoluto. No ensinamos a frmula: Eu sou Deus e julgamos que ela errnea e conduz a mau caminho, sendo uma perverso do verdadeiro ensino original dos yogues. Muitos instrutores e estudantes hindus se deixaram seduzir por esta falsa doutrina que, ao lado da concepo de Maya ou a completa iluso ou no-existncia do universo, reduziu milhes de pessoas a uma condio mental passiva, negativa, retardando assim, incontestavelmente, o seu progresso.

    Isto no verdade somente em relao ndia; tambm entre os instrutores ocidentais se podem observar os mesmos factos, onde eles abraaram esta parte negativa da filosofia oriental. As pessoas de que falamos confundem os absolutos e relativos aspectos do Uno e, no podendo reconciliar os factos da vida e do universo com as suas teorias, baseadas em Eu sou Deus, so compelidas ao expediente desesperador de negar ousadamente a existncia do universo e declarar que ele apenas uma iluso ou Maya.

    No vos ser difcil distinguir os discpulos dos instrutores que ensinam esta teoria. Eles exibem a mais negativa condio mental, que um resultado natural produzido pela constante absoro da sugesto do seu evangelho de negao: Todo o Universo um nada. Podese porm notar que, em contraste condio mental dos discpulos, os instrutores so geralmente exemplos de fora mental positiva, vital, capaz de insuflar a sua doutrina nas mentes dos discpulos, transmitindoa pela fora de vontade despertada. O instrutor, em regra, tem adquirido um sentido de conscincia do Eu e desenvolve-o por meio dessa mesma frmula: Eu sou Deus, porque, por meio desta atitude mental, capaz de expulsar a influncia das envolturas dos princpios mentais inferiores, e a luz do Eu irradia brusca e fortemente, s vezes com tanta veemncia que ofusca e queima a mentalidade do discpulo menos adiantado. Apesar, porm, deste valor da conscincia do Eu, o instrutor embaraado pelas falsas concepes intelectuais. E a sua nebulosa metafsica incapaz de transmitir aos seus discpulos a conscincia do Eu e, em vez de lev-los a compartilhar o esplendor que ele irradia, na realidade atira-os a uma sombra, pela razo da sua doutrina.

    Os nossos estudantes compreendero, de certo, que escrevemos estas linhas sem querer fazer crtica, zombar ou apontar erros dos outros. No temos tal inteno, nem podemos t-la, se queremos permanecer fiis nossa concepo de verdade. Mencionamos isso somente para que o estudante possa evitar esta armadilha de Eu sou Deus, que o Aspirante encontra logo que firmou os seus passos no caminho. Este assunto no seria to srio se se tratasse simplesmente de uma questo de erro metafsico, porque mais tarde poder-se-ia corrigi-lo. , porm, muito mais srio, porque este ensino conduz inevitavelmente ao ensino de que tudo iluso ou maya, e que a vida um sonho, uma coisa falsa, uma mentira, um pesadelo; que a jornada no caminho mera iluso; que tudo nada, que no h alma, que vs sois Deus em ms-cara, e que Ele se engana a Si mesmo, fazendo crer que Ele vs; que a vida s uma, divina

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  • mascarada ou arte prestidigitatria; que vs sois Deus, mas que vs (Deus) vos enganais a vs mesmos para vos divertirdes. E tudo isto no horrvel? Pois isto vos mostra onde pode chegar a mente humana, se se deixa seduzir por alguma teoria favorita de metafsica, que a hipnotiza. Pensais que exageramos? Lede, pois, alguns dos ensinamentos dessas escolas da filosofia oriental ou ouvi algum dos mais radicais instrutores ocidentais que pregam essa filosofia. A maioria destes falta a coragem dos instrutores hindus que Levam as suas teorias a uma lgica concluso e, consequentemente, velam as suas doutrinas com subtilidade metafsica. Alguns dentre eles, porm, so mais corajosos e pregamnas s claras e sem restrio.

    Alguns dos modernos instrutores ocidentais desta filosofia explicam o assunto dizendo que Deus se mascara nas diferentes formas de vida, inclusive o homem, a fim de obter a experincia que disso resulta, porque, apesar de ter Ele infinito e absoluto conhecimento e sabedoria, falta-lhe a experincia que se obtm somente vivendo a vida das formas inferiores e que, por isso, Ele desce para obter a necessria experincia. Podeis imaginar o Absoluto, sentindo a necessidade dessa mesquinha experincia e vivendo a vida das formas inferiores (inclusive o homem), para obter experincia? A que princpios nos conduzem estas vs teorias? Um outro clebre instrutor ocidental, que absorveu os ensinamentos de certos ramos da filosofia oriental e que tem a coragem das suas convices, declara-vos ousadamente que vs mesmos sois a totalidade do ser e, com a vossa mente, s criais, preservais e destruis o universo, que vosso prprio pro-duto mental. E o mesmo instrutor afirma: O universo inteiro apenas uma pequena, insignificante ilustrao do vosso prprio poder criativo, que vs mesmos agora exibis para a vossa prpria inspeco. A todas estas doutrinas deve aplicar-se a regra: Por seus frutos os conhecereis. A filosofia que ensina que o Universo uma iluso perpetrada por vs (Deus) para divertir,

    entreter ou enganar a vs mesmo (Deus), pode ter somente um resultado, a saber: a concluso de que tudo nada e tudo o que precisais fazer sentar-vos, cruzar as mos e alegrar-vos com a divina exibio do prestgio que estais a fazer para vosso entretenimento; depois, quando o espectculo se acabar, voltar ao vosso estado de divindade consciente e recordar-vos com um sorriso da interessante exibio ou prova mgica que criaste para vos enganar durante alguns bilies de sculos. A isto conduz a referida teoria, e o resultado que os que aceitam esta filosofia que lhes implantada por instrutores que possuem a fora da sugesto, conhecendo no seu interior que no so Deus, mas absorvendo as sugestes de que tudo nada, caem num estado de mental apatia e negatividade, porque a sua alma se imerge no estupor de que se no pode elevar por um longo perodo de tempo.

    Desejamos que fique claro que o nosso ensino no deve ser confundido com os que acabamos de mencionar. Queremos ensinar-vos que sois um ser real no Deus mesmo, que o Absoluto mas uma das Suas manifestaes. Vs sois um filho do Absoluto, se preferis o termo, possuidor da herana divina, e a vossa misso desenvolver qualidades de que o vosso Pai vos dota. Evitai o grande erro de confundir o relativo com o Absoluto, esta armadilha em que muitos caram. No vos metais no lodaal do desespero; no vos atoleis no pantanal do niilismo filosfico; no cometais a loucura de no reconhecer a realidade a no ser na pessoa de algum imponente instrutor que toma o lugar do Absoluto na vossa mente. Levantai, porm, a cabea e proclamai o vosso parentesco divino e a vossa herana que vos dada pelo Absoluto, dando firmes e ousados passos no caminho, afirmando o Eu.

    (O Aspirante dever tornar a ler 14 Lies de Filosofia Yogue, para lhe ficar clara a distino entre o Absoluto e o relativo, que foi exposta nas trs ltimas lies daquele curso. No queremos repetir aqui as referidas explicaes para no perdermos espao necessrio para esta lio).

    O Eu no Deus, mas infinitamente maior do que temos imaginado antes do

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  • aparecimento da luz em ns. O Eu estendese muito alm daquilo que pensamos que eram os seus limites. Ele toca o Universo em todos os seus pontos e est em unio mais estreita com toda a vida. Ele est em estreitssimo contacto cam tudo o que emanou do Absoluto com todo o mundo de realidade. Encarando o universo relativo, o Eu tem as suas razes no Absoluto e dele tira o seu alimento, como a criana que est no ventre materno recebe da me a alimentao. O Eu , em verdade, uma manifestao de Deus e nele est a verdadeira essncia divina. Esta afirmao, de certo, to alta como aquela: Eu sou Deus, ensinada pelos supra-mencionados instrutores mas como diferente! Entremos em consideraes minuciosas deste ensinamento, para o que nos servir esta lio e partes das que seguem.

    Comecemos com um atento exame dos instrumentos do Ego e do material com o qual e por meio do qual o Ego age. Sabemos que o corpo fsico do homem idntico, na substncia, a todas as outras formas de matria; que os seus tomos continuamente mudam e so substitudos; que o material tirado do grande armazm de matria; e que, sob todas as aparentes diferenas de forma e substncia, h uma unidade de matria. E saibamos que a energia vital ou prana de que o homem se utiliza no seu processo vital, no seno uma poro daquela grande energia universal que penetra tudo e em toda parte, e que a poro desta energia que empregamos em qualquer momento particular tirada do depsito universal e de ns retorna ao grande oceano de fora ou energia.

    E saibamos que at a mente, que est to estreita-:rente unida ao Eu real que muitas vezes tomada por Ele. Que at aquela coisa admirvel a que chamamos pensamento, no mais do que uma poro da Mente Universal, a mais alta emanao do Absoluto abaixo do plano do esprito e que a substncia mental ou Chitta que empregamos neste momento, no uma parte nossa se-parada e distinta, mas simplesmente uma poro do grande depsito universal, que constante e imutvel. Saibamos tambm que at aquilo que sentimos que pulsa em ns aquilo que est to intimamente ligado ao esprito que quase inseparvel dele aquilo a que chamamos vida no seno uma partezinha do Grande Princpio Vital que enche o Universo e que no admite nem subtraco. Quando tivermos compreendido conscientemente tudo isso e comearmos a sentir a nossa conexo (nestas particularidades) com a Una Grande Emanao do Absoluto, ento chegaremos a formar a ideia da unidade de esprito, da relao do Eu a todo o outro Eu e da imerso do nosso Eu no grande Eu universal, imerso esta que no a extino da individualidade, como alguns supem, mas sim o alargamento e a extenso da conscincia individual que aumenta at abraar o Todo.

    Nas lies X e XI do Curso Adiantado chamamos a vossa ateno para os ensinamentos yguicos sobre a matria ou Akasa, e mostramos que todas as formas daquilo a que chamamos matria no so seno diferentes formas de manifestao do princpio chamado Akasa ou, como os cientistas ocidentais dizem, ter. Este ter ou Akasa a mais fina, a mais tnue, a mais subtil forma de matria; com efeito, ele a matria na sua forma final ou fundamental, e as diferentes formas do que denominado matria, so s manifestaes deste Akasa ou ter, resultando a aparente diferena dos diferentes modos de vibrao, etc. Mencionamos apenas este facto aqui para apresentar claramente vossa mente o facto da universalidade da matria, para que compreendais conscientemente que toda a partcula do vosso corpo fsico s Uma poro deste grande princpio do universo, que vos vem do grande depsito universal e que a ele retorna, pois os tomos do corpo esto em constante mudana. Aquilo que hoje vos aparece como vossa carne, foi talvez, poucos dias antes, parte de uma planta e, daqui a alguns dias, poder ser parte de outro ser vivo. H uma incessante mudana e o que hoje vosso, pertenceu ontem a outrem, e amanh pertencer a um outro ainda. No possus pessoalmente nenhum tomo de matria; ela toda uma parte do armazm comum; uma corrente que vos penetra a vs e toda a vida, sempre e sempre.

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  • E assim acontece tambm com a energia vital que Empregais a todo o momento da vossa vida. Constantemente tirais Prana do grande depsito universal, servindovos do que vos dado e deixando, em seguida, a fora passar para assumir outra forma. Ela propriedade de todos e todos vs a podeis usar quando precisais, deixandoa sair depois. No h seno uma fora ou energia, e esta encontra-se por toda a parte e a todo o tempo.

    E at aquele grande princpio (que denominamos substncia mental) est submetido mesma lei. E-nos difcil compreend-lo. Estamos de tal maneira acostumados a pensar das nossas operaes mentais como exclusivamente nossas alguma coisa que nos pertence pessoalmente que achamos dificuldade em compreender que esta substncia mental um princpio universal do mesmo modo que a matria e a energia, e que nas nossas operaes mentais apenas nos servimos do depsito universal.

    Alm disto, a poro particular de substncia mental, de que nos servimos, ainda que esteja separada da substncia mental usada por outros individuos por uma fina parede da mais subtil qualidade de matria, est na realidade em contacto com as outras mentes, aparentemente separadas; e com a mente universal, de que forma uma parte.

    Como igualmente a matria de que esto compostos os nossos corpos fsicos, est em contacto com toda a matria, e como a fora vital que empregamos est, na realidade, em contacto com toda a energia, assim a nossa substncia mental est verdadeiramente em contacto com toda a substncia mental. O Ego, no seu progresso, move-se, podemos dizer, em grandes oceanos de matria, energia e substncia mental, fazendo uso de tudo aquilo que lhe necessrio e o rodeia, e deixando tudo atrs de si mesmo, como se se movesse no grande volume do oceano.

    Esta comparao grosseira; pode, porm, servir para elevar a vossa conscincia ao claro conhecimento de que o Ego a nica coisa que realmente vossa, imutvel e inaltervel, e que tudo o mais meramente aquela poro do depsito universal que tirais para a necessidade do momento. A mesma comparao pode tambm per com mais clareza diante da vossa mente a grande Unidade d