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REVISITAR O MITO | MYTHS REVISITED
Organização: Abel Nascimento Pena, Maria de Jesus C. Relvas,
Rui Carlos Fonseca, Teresa Casal
Capa: Sandro Botticelli, O Nascimento de Vénus, ca. 1485 (pormenor)
Conceito gráfico: Maria de Jesus C. Relvas
Paginação: Ângela Andrade
© EDIÇÕES HÚMUS, 2015
End. Postal: Apartado 7081
4764 -908 Ribeirão – V. N. Famalicão
Tel. 926 375 305
E -mail: [email protected]
Impressão: Papelmunde, SMG, Lda. – V. N. Famalicão
1.ª edição: Fevereiro de 2015
Depósito legal: 387047/15
ISBN 978 -989 -755-112-3
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PAIXÃO, SABEDORIA E NARRATIVA MÍTICA NA XILOGRAVURA DE HEIN SEMKE
Joanna Latka!
INÍCIO DO UNIVERSO
Este artigo tem como objectivo destacar a produção gravada em madeira (xilogra-vura) do escultor alemão Hein Semke, cuja “obra de notável coerência – ideoló-gica e estética [...] grito plástico, de cores e linhas, que é muitas vezes, e ao mesmo tempo, e necessariamente, um grito de angústia e de felicidade” (França 68), nos leva para uma viagem ora mística, ora lírica, ora satírica ao longo da qual, com o seu primitivismo expressivo, nos vai mostrando as suas paixões, crenças e interrogações.
Semke “a começo assusta, mas, por fim, convence. A forma esquemática e irregular nas suas traduções, é parte secundária nas ideias que ensaia exprimir e na realidade que plastiza” (Macedo 54). As xilogravuras destacam-se pela força dos traços gravados, com suas imagens de impacto imediato. Aqui deparamo-nos com narrativas míticas, repletas de curiosas criaturas fantásticas e sobrenaturais: seres magníficos criados a vigorosos golpes de goiva 1, figuras híbridas de animais ou corpos de mulheres com cabeças de bichos, serpentes, sátiros e outras criaturas – encaixadas dentro das histórias grotescas do quotidiano do artista, que no caso da obra gravada de Hein Semke, merece uma atenção particular.
Atendendo a que falta ainda “um estudo abrangente do diário de pedra, barro, madeira e papel, que é a obra integral do artista, e que faltam estudos específicos” (Balté 8), debruçar-me-ei, sobre uma área particular da sua notável produção plástica: a obra xilográfica, e, dentro dela, farei uma apresentação das séries As Amigas e Mitologia Satírica, que, como ele próprio escreveu, represen-tam interpretações memoriais das suas “viagens interiores [...] fragmentos do meu roteiro” (Semke n.pg.). Juntar-lhes-ei algumas gravuras do notável livro de artista Apocalipse à Portuguesa ou A Revolução dos Cravos, onde o autor, através das
* Instituto de História da Arte da Universidade de Lisboa.1 Instrumento cortante utilizado para talhar madeira.
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imagens gravadas, nos mostra as suas preocupações sobre a vida política da soci-edade portuguesa após a revolução de 1974.
A obra xilográfica de Semke, à excepção dos poucos trabalhos do período alemão, data sobretudo dos anos 70. Aqui, “tal como nas outras disciplinas, o artista criou um território expressivo, raro e contrastante no contexto da Gra-vura em Portugal do século XX, actualizando esta técnica ancestral num registo de imaginário fantástico” (Henriques n. pg.). A série As Amigas, de 1972, e a série Mitologia Satírica, do ano seguinte, tal como as gravuras do livro Apocalipse à Por-tuguesa, realizadas em 1974-75, são exemplos importantes da sua poderosa ima-ginação e expressividade.
Todos os meus trabalhos (xilogravuras) são mais ou menos viagens – aponta-mentos. Viagens não para fora, em mundos estranhos, mas para dentro, em mim mesmo, no meu próprio desconhecido. [...] uma viagem, satírica embora, a quanto de mitológico em mim se foi acumulando [...] o primeiro impulso deu-o a viagem da memória pelos mundos das mitologias minhas conhecidas – e talvez até das conscientemente minhas desconhecidas. (Semke 252)
VIDA
Hein Semke nasceu em Hamburgo, Alemanha, em 1899. A sua primeira estadia em Portugal data de 1929, durante a qual trabalhou como operário numa fábrica de malhas em Chelas. No ano seguinte, regressou a Hamburgo devido a um esgo-tamento físico e psíquico. Na sua terra natal, dado o seu interesse pelas artes plás-ticas, inicia a sua formação em Escultura e em Cerâmica na Escola de Belas-Artes – primeiro em Hamburgo, em 1930, e depois em Estugarda, em 1931 –, sendo obri-gado a abandonar os estudos devido a razões políticas e de saúde.
Em 1932 estabelece-se definitivamente em Portugal e instala-se nos arredores de Lisboa. “A casa de Hein Semke [...] em Linda-a-Pastora, onde permanecerá até 1949, depressa se torna centro de convívio de intelectuais e artistas” 2 (Balté 16). Nesse ano muda-se para Lisboa, onde residirá e trabalhará até à sua morte, em 1995.
Ainda que fosse um Escultor por vocação e formação, “talhando a matéria [...] com rudeza, deixando planos toscos e linhas rígidas, por vezes, espiritualizados por uma certa intenção diabólica, patética, barbaresca” (Portela 55), Semke explo-rou diversas formas de expressão artística como o Desenho, a Aguarela, a Pintura e o Livro de Artista, além da Cerâmica, e da Gravura em análise neste artigo –, nas quais o interesse pelo volume e matéria plástica é claramente visível.
2 Entre os artistas e intelectuais que nos anos 30 e 40 frequentavam a casa de Linda-a-Pastora contam-se: Almada Negreiros, Sarah Afonso, Mário Eloy, Luís de Montalvor, Carlos Parreira, João Gaspar Simões, Manuel da Silveira, Diogo de Macedo, Abel Manta, Maria Helena Vieira da Silva, Arpad Szenes, Carlos Queiroz, Bernardo Marques, Vítor Falcão, Manuel Mendes e Mário Chicó.
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Figura 1: Mitologia Satírica VI, xilogravura, 75,3 x 61,7cm 1973.
Imagem cedida por Teresa Balté
Ele foi em Portugal o estrangeiro, o exótico, o intruso, pela circunstância quase fortuita de aqui ter chegado um dia, há muito tempo – há uma vida inteira. A sua arte essencial e vigorosa, a sua maneira directa de comunicar emoções e ideias incomodaram e ainda incomodam. (Balté 7)
Trabalhador incansável, este “artista místico, da maneira mais lata, ou mais heterodoxa, como convinha à liberdade expressiva dos anos 30, confessional e sonhadora” (França 68), conta com mais de uma centena de exposições no seu cur-riculum e está representado em museus e instituições, como o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Fundação Calouste Gulbenkian, Museu Nacional do Azulejo, Museu Nacional Soares dos Reis, Museu de José Malhoa, Fundação Mário Soares, Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa, Hotel Ritz, etc.; e no estrangeiro, sobretudo na Alemanha.
O seu mérito artístico e cultural foi igualmente reconhecido pelos governos alemão e português, que o distinguiram com graus honoríficos.
Em 1972, por ocasião dos 40 anos de actividade artística de Hein Semke em Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian organizou uma exposição retrospec-tiva da sua obra, mostrando cerca de duzentos e cinquenta trabalhos de escul-tura, cerâmica, desenho, pintura, monotipia 3, xilogravura e livros de artista. Em 2005, o décimo aniversário da sua morte foi assinalado por várias exposições realizadas em Lisboa, em espaços tão representativos como a Biblioteca Nacio-nal, o Museu Nacional do Azulejo, o Museu do Chiado, a Fundação Arpad Sze-nes-Vieira da Silva e o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão da Fundação Calouste Gulbenkian.
3 Trata-se de uma estampa realizada sem matriz, e portanto alheia a uma tiragem. Pinta-se ou desenha-se com uma qualquer tinta sobre uma superfície, para posteriormente se pressionar de forma manual ou mecânica até se conseguir uma estampa única e irrepetível (Ctafal e Olivia 158).
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Este emigrante cultural [...] foi o que hoje chamaríamos de legítimo cidadão da Europa, inscrevendo na serenidade do modernismo em Portugal um expressio-nismo anti-amável, de violentas convicções místicas e poderosos posicionamentos éticos e sociais, assumindo a actividade artística como estrutura primeira da vida, em diluição com o próprio acto de viver. (Henriques 2005)
O MISTÉRIO DO TRABALHO
Semke concentra-se no trabalho sobre papel devido a uma silicose que o obriga a suspender em 1963 a prática da cerâmica. Na pesquisa de outras formas de expressão plástica, e “é precisamente [...] nessa insatisfação permanente de ultrapassar o que já se fez, que o verdadeiro artista realiza obra positiva” (Oliveira 62), o escultor e cera-mista volta a explorar as suas visões, agora sobre um suporte diferente, recorrendo a diversas disciplinas (Desenho, Gravura, Aguarela, etc.), numa “atitude que revela a integralidade do ser realizada na pluralidade expressiva” (Henriques n.pg.). Desta procura resultaram inúmeras séries de trabalhos e vários livros de artista de grande formato – onde o autor, para além da imagem, usa a palavra, em textos poéticos, satíri-cos, filosóficos ou autobiográficos. Desde logo e de maneira consistente, Semke con-tinua a trazer ao “panorama artístico português um brutalismo ingenuista, o impulso do que há a dizer sobrepondo-se às elegâncias formais de como é dito, aproximando-se por aí de vias abstractas informais bem contemporâneas” (Henriques n. pg.).
Apesar do grande desenvolvimento técnico dos anos 70 e 80, com a possibili-dade de fazer gravura com mistura de técnicas, antes impensáveis, Hein Semke tra-balha à “moda antiga”, tal como aprendera na Alemanha nos anos 30, dedicando-se à produção gráfica em monotipia e xilogravura. Nesta modalidade, “entre 1972 e 1976 talhará cerca de 140 matrizes, algumas delas de grandes dimensões” (Balté 238), que integram séries como Movimentos ou Pequenos Torsos, Tentação, Catedrais de Flores, As Amigas, Flores e..., Mitologia Satírica e Apocalipse à Portuguesa, entre outras.
Para dar corpo às suas obsessões, fantasmas, visões ou fábulas o artista utiliza matérias básicas: tintas de o�set, cartolinas simples, papel de cenário e de jornal, reciclando sempre que possível, aproveitando os dois lados das tábuas para talhar matrizes ou talhando-as lado a lado, reutilizando-as por vezes em relevos pinta-dos – demonstrando que com materiais menos sofisticados e economia de meios é possível produzir um excelente trabalho gráfico.
Efectivamente o que caracteriza toda a obra de Semke é [...] a sua subjectividade – e por tal razão é que toda a obra deste artista e em todos os ramos da sua actividade é uma obra profundamente sincera, e verdadeira, porque é realizada através dos fortes impulsos emocionais do seu singular mundo interior, onde cada vivência artística leva o selo inconfundível da sua personalidade. (Oliveira 19)
Note-se que Semke tinha um entendimento muito particular da prática da gravura, e, se escolhia “o primitivismo da gravura em madeira pelo seu poder
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expressivo” (Semke 252), considerava as suas provas quase como originais, impres-sas por ele manualmente e em tiragens reduzidas, indo assim contra a corrente do mercado artístico português de então, que acabava de descobrir na filosofia demo-crática da arte acessível a todos e nos múltiplos uma fonte de lucro.
Semke reduziu significativamente as suas edições, chegando a limitar as tiragens a apenas 20 exemplares, embora a maior parte das matrizes impressas não tenha mais de 4 ou 5 provas, algumas até menos. À excepção de duas gravu-ras adquiridas em 1973 pela Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses – GRAVURA (Lisboa), com uma tiragem de 200 provas, de uma gravura enco-mendada em 1974 pela Galeria Grafil (Lisboa), com uma tiragem de 40 provas, e de outras três aí impressas, com tiragens de 5 e 7 exemplares, todas as restantes matrizes foram estampadas pelo artista sem recurso à prensa, só com a força das próprias mãos. Semke recorria a este modo tradicional mesmo para a estampagem de gravuras de grandes dimensões, que podiam atingir os 178 cm ou 194 cm de altura ou largura. “Os resultados obtidos são surpreendentes, tornando-se cada prova um exemplar único” (Gil 252).
É importante referir que Semke olhava para a matriz como uma peça inte-grante da sua produção gráfica e não apenas como uma base produtiva. Deste amor de um escultor pela madeira resultou, em 1978, uma notável exposição de matri-zes, que intitulou Em busca de mim e onde mostrou ao público português cerca de cinquenta matrizes das xilogravuras realizadas entre 1972 e 1976. O número de peças expostas testemunha a quantidade de obra produzida nesta disciplina e a sua grande qualidade e riqueza artística.
Hein Semke expõe matrizes de gravura como quem pretende transcender a comunicação imediata para alcançar a plenitude de uma revelação integral e directa. Assim, o objecto de arte é ali, a placa de madeira esventrada a golpes de goiva quase lineares, construindo uma harmonia inquietante que vive do registo meditado e da pesquisa. Tudo isto visando a transmissão da sua verdade vestida de símbolos mas acessível a todos os que, dotados de vivência próxima da sua, reco-nhecem [...] a problemática desta linguagem xilográfica. (Xavier n. pg.)
A VIAGEM SATÍRICA PELOS MUNDOS DAS MITOLOGIAS
Olhando atentamente para as séries As Amigas e Mitologia Satírica e para as xilo-gravuras do livro Apocalipse à Portuguesa descobrimos uma forte relação do artista com o discurso mitológico. Observando-as deparamos mais uma vez com a sua extraordinária linguagem gráfica, articulada por figuras imaginárias e outros seres inventados, em cerimónias de dança, oração ou sacrifício, de cariz predominan-temente grotesco e por vezes erótico. Através deles, o gravador apresenta-nos os seus mitos próprios, em episódios que pintam “a obsessão da fé, a alegria e a tris-teza do amor, abordam a crítica política e a caricatura social, contam [...] histórias mágicas e memórias remotas da biografia do autor” (Saial n. pg).
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Diz Rotko, referindo-se à representação dos deuses nas artes da Grécia e da Índia, que “mesmo quando estes assumiam cada vez mais características humanas [...], nunca é uma tentativa de reproduzir a aparência do homem, é antes uma refe-rência ao género humano” (Rothko 213). O mesmo acontece com as personagens de Semke. Numa herança da Antiguidade, as suas divindades e figuras mitológicas, par-tindo embora de experiências ou observações pessoais assumem um valor geral de exemplaridade de situações e comportamentos humanos individuais ou colectivos.
A série xilográfica Mitologia Satírica, como escreve Teresa Balté (n.pg) no inventário inédito que fez e a que tivemos acesso, é composta por 12 pranchas, 12 matrizes talhadas dos dois lados de 6 tábuas, medindo 70,5 x 57 cm cada, onde se confrontam personagens mitológicas recriadas e torsos femininos. Realizada em 1973, nela o gravador retoma os motivos desenhados no seu livro de artista Cyrano de Barnabé spricht ou, em tradução, As Sentenças de Cyrano de Barnabé, de 1970. Note-se que a temática, a representação de máscaras e de figuras fantásticas, monstru-osas, caricaturais e por vezes carnavalescas, é recorrente no artista. No quadro da relação homem-mulher, vista da perspectiva masculina, encontramos uma suces-são de imagens onde nos surgem personagens ou alusões a mitologias identificá-veis. Assim, além daquelas onde o torso da mulher ideal também está presente, abundam as outras “mulheres”, fatais, tentadoras ou demoníacas, representadas por figuras femininas híbridas. Por exemplo: na gravura II 4 um sátiro abraça duas “ninfas”; na gravura IV, inscritas num ouroboros, a serpente mordendo a própria cauda, símbolo do eterno retorno, duas “mulheres”, numa visão irónica do eterno feminino; na gravura V, uma cobra-demónio, a paradisíaca tentadora, de onde a “mulher” emerge num mordaz quase “nascimento de Vénus”; na gravura VIa, em contrapartida, um “nascimento de Vénus”, ascendendo de uma flor; na gravura VI (Fig. 1), um Minotauro com duas “Europas”.
A mesma figuração está presente nas gravuras da série As Amigas, realizadas em 1972 e próximas do mesmo livro, onde, a par de torsos perfeitos, da mulher ideal, surge todo um bestiário feminino, “uma humanidade inquietante, seres híbridos com corpos de mulheres e cabeças fantasiadas de animais, entre cães e aves, confrontando-se em diálogos e frenéticas conversas” (Henriques n. pg.).
Esta série é composta por 4 pranchas de grandes dimensões, 4 matrizes talha-das dos dois lados de 2 tábuas, duas na horizontal e duas na vertical, medindo 71 x 178 cm e 178 x 71 cm cada. Escreve Teresa Balté:
Em cada uma das pranchas está patente o confronto entre as duas espécies ou aspectos da mulher, mas a tónica ou a predominância de cada um deles alterna rigorosamente, parecendo equilibrar a mensagem. Porém se formalmente a harmonia da série se resolve numa disposição simétrica dos formatos, em que os largos enquadram os altos, esta mesma disposição dá um sentido final ao “debate” que, partindo da consideração da “questão” pelas máscaras masculinas que observam as figuras circunscritas como que por uma lente de microscópio,
4 As gravuras da série não têm títulos, estando apenas identificadas por numeração romana.
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conclui com a imagem do grande torso jacente rodeado por minúsculas criaturas híbridas. (Balté n.pg)
A assinalável organização da obra xilográfica e a sua sistematização por séries ajuda-nos a compreender o método de trabalho do artista que, após uma primeira tiragem monocromática de cada prancha ou conjunto de pranchas, normalmente a negro, imprimia, por vezes muito mais tarde, em diferentes cores monocromá-ticas – vermelho, ocre, rosa, azul, verde, etc. – ou em misturas que chegavam a incluir três cores na mesma matriz. Exemplo deste procedimento é esta série As Amigas, em que as matrizes, depois de talhadas, foram impressas inicialmente a negro, em 1972, e posteriormente reimpressas a várias cores, em 1974. De sali-entar ainda a existência, na série Mitologia Satírica, de notáveis provas impressas a branco, neste caso usando como suporte cartolina preta, que nos propõem uma leitura completamente distinta das outras gravuras da mesma matriz e cujo efeito cromático “tem aquele poder que entra pelos olhos abaixo e nos inunda em com-binações maravilhosas” (Leitão 59).
Todas as figuras [...] surgem como fantasmas de sonhos profundamente enraizados a um mistério e a uma mística, não como análise estrutural do visual, mas antes como um procedimento denso, onde as figuras se agitam no espaço como fumara-das de cor e labaredas de ritmos, mantendo no espaço um carácter profundamente místico e dramático. (Oliveira 62)
Consideremos agora um último conjunto de xilogravuras de Semke: a série que integra o livro de artista Apocalipse à Portuguesa, realizada entre 1974-75. Aqui o autor abandona as questões de âmbito mais íntimo para, através da gravura e do desenho e na sua linguagem plástica característica, abordar a situação política em Portugal após o 25 de Abril de 1974: “a história da revolução [...] com as suas pessoas e os seus monstros, os seus fantasmas e os seus ideais, as suas esperanças e fraquezas, hipocrisias, traições, manipulações e ironias, numa iconografia de lei-tura imediata e numa figuração ora satírica ora mística” (Balté n. pg.).
Figura 2: As Amigas III, xilogravura, 178x71 cm, 1972.
Imagem cedida por Teresa Balté
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A obra é constituída por 30 pranchas de dimensões entre 100 x 70 cm e 70 x 80 cm, impressas nas cores principais da bandeira portuguesa, verde e vermelho, sobre cartolina cinzenta. Posteriormente, em 1979, o artista aguarelou e desenhou o verso das estampas.
Para além das xilogravuras que integram o livro existem ainda três séries com-pletas e algumas provas soltas, na mesma gama cromática, impressas entre 1974-75.
Apesar deste livro de Semke, definido a partir da sua necessidade de cruzamento da expressão mística e da social (Pinharanda 12), nunca ter sido exposto, refira-se que, em Novembro de 1974, treze das suas pranchas foram apresentadas a público com o título genérico Reflexões sobre um Tema Partidário e Político, no então Ministério da Comunicação Social, em Lisboa.
Deter o poder, exercer o poder ou disputar o poder nada têm a ver com liberdade nem com ser-se humana e socialmente livre. Só é livre quem nos diversos planos da existência garante e respeita a integridade de todos os demais e age de acordo. As 30 páginas que se seguem partem deste princípio básico da existência humana e reflectem uma visão, ou melhor, uma percepção da situação actual. (Semke 257)
Neste seu manifesto político, e tal como nas duas séries xilográficas de que já anteriormente nos ocupámos, o artista inventa as suas criaturas mitológicas, gra-vando em madeira simbioses de animal e humano, ou só animais – dinossauros, gorilas, rinocerontes, dromedários, polvos –, alusões históricas ou fabulísticas, caricaturas de políticos, partidos ou situações. Sugere e estimula assim a quem olha, a confrontação com um perfeito ideal desejável, enraizada na sua intenção ética intrinsecamente ligada à estética.
Porque os mitos da Antiguidade relacionam todas as suas abstracções com expres-sões da personalidade humana, e fazem-no sistematicamente, proporcionam ao artista o mais invejável veiculo para a representação das suas concepções plásticas [...] nele vemos o relato a utilizar formas sensíveis em relações dramáticas, refor-çando o movimento plástico tanto através da sua própria unidade como através da memória que a pessoa tem da integridade do próprio mito. (Rothko 190-191)
Na gravura intitulada Reacção deparamos, por exemplo, com o busto de um militar de monóculo, de cuja cabeça irradiam sete ameaçadoras serpentes, numa clara alusão ao popular “bicho de sete cabeças” e mais remotamente à grega Hidra de Lerna, de nove. Noutra gravura, intitulada 25 de Abril, assistimos ao auspicioso nascimento do par primordial, um bíblico Adão e Eva ou Ask e Embla, que dará início a um novo tempo de esperança.
A necessidade de um mito, o desejo de o possuir, renasce periodicamente nos que dele se reapropriam por razões nostálgicas [...]. A procura de um mito revela uma insatisfação com verdades parciais e segmentadas, bem como um desejo de mer-gulhar na unidade toda-abrangente. Esta procura continua ainda, neste precioso momento. (Rothko 107)
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Como mencionei no início deste artigo, o meu objectivo é dar a conhecer a notá-vel obra gráfica de um artista que “não estabelece nenhuma teologia pessoal” – apre-sentando apenas uma introdução ao estudo da sua enorme produção gráfica, onde “o cristianismo primitivo, os mitos arcaicos, as religiões caldaicas ou taoísmo são inte-grados de uma forma livre, segundo uma articulação absolutamente difusa, intuitiva, visual sem necessidade de qualquer expressão verbal corrente” (Pinharanda 14).
AGRADECIMENTOS
Não posso deixar de agradecer a Teresa Balté, o apoio que me deu para a elaboração deste artigo.
Bibliografia
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museus.pt/pt/node/224?page=3> (consultado em Outubro de 2012).LEITÃO, Ruben. Catálogo de uma Exposição de Cerâmica de Hein Semke (1953): Hein Semke 40 Anos de Acti-
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ÍNDICE
5 PREFÁCIO7 PREFACE
1. MITOS NA LITERATURA ANTIGA
MYTHS IN ANCIENT LITERATURE
11 THE APOLLONIAN FEATURES OF PINDAR’S PYTHIAN ODES Emilio Suárez de la Torre
31 O RETRATO DE CLITEMNESTRA NA LITERATURA GREGA Joaquim Pinheiro
41 IPHIGENEIA PARTHENOS Nuno Simões Rodrigues
49 CONSIDERAÇÕES DE COMO OS MITOS ESCATOLÓGICOS DIRIGEM-SE MUITO MAIS À VIDA DO QUE À MORTE Izabela Bocayuva
59 “NÃO FOI DESTA MANEIRA QUE O TOURO CARREGOU SOBRE O DORSO O PESO DO AMOR” (BATRAC. 78-79) Rui Carlos Fonseca
69 O MITO DE TAGES NO DE DIVINATIONE Giuseppe Ciafardone
75 MATERNIDADES MALDITAS Cristina Santos Pinheiro
85 VICIMVS VICTI PHRYGES: EQUIPARAÇÃO ENTRE VENCIDOS E VENCEDORES, TROIANOS E DÁNAOS, NO AGAMÉMNON DE SÉNECA Ricardo Duarte
99 AMOR MORBUS EM PHAEDRA: O MITO E A DOUTRINA ESTÓICA DOS AFFECTUS Ana Filipa Isidoro da Silva
107 THYESTES DE SÉNECA: O TEATRO DA FRUSTRAÇÃO DA ALMA HUMANA. ENTRE A TRANQUILLITAS ANIMI E O FUROR REGNI Mariana Montalvão Horta e Costa Matias
119 READING CLASSICAL MYTHS IN LATE ANTIQUITY: MACROBIUS’ PROPOSAL OF LITERARY IDENTITY IN COMMENTARII IN SOMNIUM SCIPIONIS Julieta Cardigni
2. MITOS NA LITERATURA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
MYTHS IN MODERN AND CONTEMPORARY LITERATURE
133 MITOLOGIA E MUNDIVIDÊNCIA MANEIRISTA EM O LIMA DE DIOGO BERNARDES José Cândido de Oliveira Martins
145 O MITO DE DON JUAN E LES LIAISONS DANGEREUSES DE LACLOS Ana Isabel Moniz
155 SERVINDO A CIRCE Margarida Vale de Gato
165 A PRESENÇA DO MITO NA POESIA DE JULES LAFORGUE Guacira Marcondes Machado
171 TRAÇOS DE UMA REFLEXÃO MÍTICA SOBRE O FEMININO EM O LIVRO DE ALDA DE ABEL BOTELHO Rui Sousa
187 APOLLINAIRE E A RELEITURA DOS MITOS EM ALCOOLS Silvana Vieira da Silva
199 THE RECEPTION OF MYTH IN FERNANDO PESSOA Maria João Toscano Rico
217 BABEL AND MERLIN REVISITED IN C.S. LEWIS’S THAT HIDEOUS STRENGTH Maria Luísa Franco de Oliveira Falcão
225 O MITO DE NARCISO E A LITERATURA DE INTROSPECÇÃO Anna Faedrich Martins
239 ULISSES E O VELHO SANTIAGO Maria Mafalda Viana
251 RECEÇÃO MÍTICA EM AGUSTINA BESSA LUÍS Maria do Carmo Pinheiro e Silva Cardoso Mendes
261 RESSIGNIFICAÇÕES DO MITO CLÁSSICO DO MARAVILHOSO NO LIVRO FITA VERDE NO CABELO, DE JOÃO GUIMARÃES ROSA Nerynei Meira Carneiro Bellini
273 O MITO REVISITADO NA FICÇÃO DE ANGOLA: O DESEJO DE KIANDA E A PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO, DE PEPETELA Maria Cristina Batalha
283 O RESSURGIMENTO DE VÉNUS Joana Marques de Almeida
291 “THE MYTH TO END ALL MYTHS” Alexandra Cheira
299 REVISITING THE TUDOR MYTH IN SANDRA WORTH’S THE ROSE OF YORK TRILOGY Susana Paula de Magalhães Oliveira
307 DO CAOS AO COSMOS Helena Malheiro
317 A INEXORABILIDADE DO DESTINO DO MITO GREGO NA MODERNIDADE ATRAVÉS DA POESIA DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN Maria da Conceição Oliveira Guimarães
3. MITOS NAS ARTES
MYTHS IN ARTS
331 RECYCLING MYTHS IN BYZANTINE ART Livia Bevilacqua
343 AFRODITE E EROS, REVISITADOS POR FRANCISCO DE HOLANDA Teresa Lousa
351 EROS PLAYING WITH WALNUTS IN THE COMEDIES OF JORGE FERREIRA DE VASCONCELOS Silvina Pereira
363 O MITO INSTÁVEL DE ORESTES E HAMLET Henrique Miguel Carvalho
373 A PRESENÇA DE ALCESTE NA MÚSICA ERUDITA Ana Alexandra Alves de Sousa
383 TRISTÃO E ISOLDA: O MITO DO AMOR IMPOSSÍVEL Gianmarco Catacchio
391 OS MITOS ARTURIANOS NA PINTURA DO SÉCULO XIX Ana Margarida Chora
403 PAIXÃO, SABEDORIA E NARRATIVA MÍTICA NA XILOGRAVURA DE HEIN SEMKE Joanna Latka
413 ALGUNS APONTAMENTOS NA MITOLOGIA DAS “LOUCAS” Isabel Henriques de Jesus
423 CAGE WAKES UP JOYCE Ana Luísa Valdeira
433 MARGARET ATWOOD’S THE PENELOPIAD Sara Paiva Henriques
445 PERCY JACKSON: O LADRÃO DE MITOS João Peixe
453 BITE ME! BUT PLEASE BE SEXY ABOUT IT – O MITO DO VAMPIRO NO CINEMA José Duarte
4. MITOS NA HISTÓRIA E NA FILOSOFIA
MYTHS IN HISTORY AND PHILOSOPHY
471 THE THEBAN MYTHS IN HERODOTUS: NOT YET A NEGATIVE PARADIGM Pierpaolo Peroni
483 SCIPIO AEMILIANUS AND ODYSSEUS AS PARADIGMS OF PRÓNOIA Breno Battistin Sebastiani
495 RECONFIGURAÇÕES MEDIEVAIS E MODERNAS DO MITO DE ATLÂNTIDA Margarida Santos Alpalhão
503 A CHEGADA DO CARDEAL ALEXANDRINO A LISBOA (1571) André Simões
517 FROM OBSCURITY TO THE PANTHEON OF PORTUGUESE AMERICAN HEROES: RECYCLING PETER FRANCISCO FOR ETHNIC MINORITY ‘FEEL GOOD’ AND UPLIFT Reinaldo Francisco Silva
529 IRACEMA PARA ALÉM DAS EXPECTATIVAS Tito Barros Leal
539 CASSANDRA REVISITADA Sandra Pereira Vinagre
551 O MITO COMO LEITURA DA HISTÓRIA Ivone Daré Rabello
559 A ERÓTICA DO ÊXTASE Lolita Guimarães Guerra
575 DEVOLVER O FOGO AOS DEUSES Sofia Santos
5. MITOS NA CULTURA POPULAR
MYTHS IN POPULAR CULTURE
587 RARIDADE E DIVERSIDADE COMO FACES DA MESMA MOEDA Marina Pelluci Duarte Mortoza
595 MITOLOGIA NA FÁBULA Ana Paiva Morais Teresa Araújo
607 TEMAS MÍTICOS NOS CONTOS POPULARES PORTUGUESES Cristina Abranches Guerreiro
615 “A SERRANA” E “A GALHARDA”, DOIS RETRATOS DA MULHER DEVORADORA NO ROMANCEIRO DE TRADIÇÃO PORTUGUESA Ana Sirgado
625 A LENDA DAS ÁGUAS SANTAS DO VIMEIRO Natália Albino Pires
637 O HERÓI MÍTICO E A IMAGEM DO PRÍNCIPE NOS CONTOS DE JOSÉ LEITE DE VASCONCELOS Teresa M. Gonçalves de Castro
651 MITO E CONTO POPULAR Maria Auxiliadora Fontana Baseio
659 AS MÃOS DOS PRETOS, DE LUÍS BERNARDO HOWANA Maria Zilda da Cunha
671 ANGELA CARTER E BARBA-AZUL Cleide Antonia Rapucci
6.MITOS NA RELIGIÃO E NAS CIÊNCIAS
MYTHS IN RELIGION AND SCIENCE
685 THE JUDGMENT BETWEEN HORUS AND SETH AS A PARADIGM FOR THE JUDGMENT OF THE DEAD André de Campos Silva
697 REVISITANDO O MITO EGÍPCIO DAS LUTAS ENTRE HÓRUS E SET José das Candeias Sales
715 DA PALAVRA AO ACTO Miguel Pimenta-Silva
727 LILITH: FROM POWERFUL GODDESS TO EVIL QUEEN Maria Fernandes
737 ENTRE MITO E CIÊNCIA Abel N. Pena
749 A MIGRAÇÃO DOS PORTENTOS Isabel de Barros Dias
763 O MITO DA CRIAÇÃO NO CORÃO E O SEU REFLEXO NA MÍSTICA SUFI Natália Maria Lopes Nunes
777 REVISITAR A CATÁBASE Daniela Di Pasquale
789 REMINISCÊNCIAS DE VERGÍLIO NA OBRA POÉTICA DE PEDRO JOÃO PERPINHÃO Helena Costa Toipa
805 NARCISO E LEONARDO NA PERSPETIVA DE FREUD Isabel Castro Lopes
815 À PROCURA DE UM FINAL FELIZ, OU A NARRATIVA ADÂMICA REVISITADA POR LLANSOL Cristiana Vasconcelos Rodrigues
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