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EXPEDIENTE

Os artigos e reportagens assinados não representam,necessariamente, o ponto de vista das organizações parceirase da revista Primeiro Plano. A divulgação do material publicadoé permitida (e incentivada), desde que citada a fonte.

Diretor:Odilon Luís Faccio

Direção de Redação:Maria José H. Coelho (Mte/PR 930- JP)

Editora chefeAlessandra Mathyas (MTe/SC 755-JP)

Redação:Alessandra Mathyas

Edição de Arte:Maria José H. Coelho (Mte/PR 930-JP)Cristiane Cardoso (Mte/SC 634-JP)

Fotografia:Sérgio VignesJúlio Pavese

Colaboradores:Clemente Ganz Lúcio, Larissa Barros, Michelle Lopes,Roberta de Biasi, Paula Scheidt, Paulo Itacarambi,Ronaldo Baltar, Vanessa Campos

Secretaria e Distribuição:Lilian Franz

Parceiros InstitucionaisDepartamento Intersindical de Estatísticas e EstudosSocioeconômicos (Dieese) Fundação Vale do Rio Doce(FVRD) Instituto de Manejo e Certificação Florestal eAgrícola (Imaflora) Instituto Observatório Social InstitutoEthos de Empresas e Responsabilidade Social Rede deTecnologia Social (RTS)

Desde o segundo semestre do ano passado o mundovive uma expectativa quanto ao seu futuro. A tão comen-tada “crise econômica internacional” repercute tambémno Brasil, com contenção de gastos em diversas áreas. Noentanto há um setor em crescimento, sobretudo depois doanúncio do novo presidente dos Estados Unidos, BarachObama, de manter os incentivos às ações que contenhamas mudanças climáticas. Os “empregos verdes” em alta, enecessitando cada vez mais de mão-de-obra qualificada,são destaques nesta edição.

Diretamente ligado a esta demanda de novos profis-sionais, o mercado de carbono mundial, que desde o Pro-tocolo de Quioto vem gerando uma nova forma econômi-ca de compensação às emissões de gases do efeito estufa,apresenta-se como uma forma rentável ao Brasil, atravésdos projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo –MDLs. Quem nos conta esta história, suas polêmicas eperspectivas é a jornalista Vanessa Campos. Somam-se àtemática ambiental deste número da PP, o uso do hidrogê-nio como fonte de energia limpa e as iniciativas que acre-ditam no consumo responsável que pode levar-nos ao utó-pico – mas possível – controle de lixo, ou até mesmo, ao“lixo zero”.

Outro tema na pauta permanente em tempos de criseé a posição do sistema bancário com relação às açõessustentáveis. A maturidade dos grandes bancos brasilei-ros no trato a esta questão foi ressaltada na entrevistacom a Diretora de Sustentabilidade da Febraban, SoniaFavaretto. Ela, além da sua atividade profissional, contacomo é o seu dia-a-dia e sua contribuição para um mun-do melhor. Quem também nos fala de sua vida e seu com-prometimento social é o jornalista Chico Pinheiro, na se-ção MEU MUNDO.

A ação humana ao meio ambiente e suas repercus-sões sociais são o enfoque do ENSAIO fotográfico, quetraz uma visão sociológica da construção de uma barra-gem na Bahia. As imagens, que têm mais de 20 anos, sãoo único registro de uma das primeiras hidrelétricas dopaís: a Usina de Bananeiras, no Rio Paraguaçu.

Assim, a proposta desta edição é abordar passado,presente e futuro. Mostrar que problemas antigos, como asituação de atingidos por barragens, é bastante atual,mas que o horizonte não é pessimista. Afinal, acreditarno potencial verde e nas novas tecnologias nos dá a es-perança de dias melhores.

Boa leitura!

O futuro é verde

R. João Pinto, 30, Ed. Joana de Gusmão, s 803Florianópolis - SC - Brasil - 88010-420F: (48) 3025-3949 / Fax:[email protected]

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REVISTA

TREZE

06Consciência ambiental pode

alavancar negócios

30 52EMPREGOS VERDES ENTREVISTA

Sonia Favaretto: Sustentabilidadeé bom negócio

14 | ARTIGOClemente Ganz Lúcio |DIEESE

15 | DIÁLOGO SOCIAL

26 | PLANETA HIDROGÊNIO

30 | CO2: CARBONO QUEVALE EURO

38 | TECNOLOGIAS SOCIAIS EDESENVOLVIMENTO RURAL

42 | ENSAIO:DILEMA DAS ÁGUAS

46 | LIXO ZERO

50 | O PAPEL DO FÓRUMSOCIAL MUNDIAL

52 | ENTREVISTA

56 | MEU MUNDO:CHICO PINHEIRO

Créditos de carbono em destaquena esfera econômica

CARBONO QUE VALE EURO

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or se tratar de uma ques-tão nova, o conceito ouentendimento do que éa “economia verde” ain-da precisa ser melhor de-senvolvido. Seria algo

como a junção de uma consciência am-biental crescente, a adoção de políti-cas públicas que incentivam a susten-tabilidade e o aumento da produção euso de produtos ecológicos nas maisdiversas atividades econômicas mun-diais. Ainda não há parâmetros sóli-dos reconhecidos internacionalmen-te para comprovar que fazer negóciossustentáveis é mais rentável, porém hávários estudos e indícios concretos deque a “economia verde” vem sendo aresponsável pelo crescimento dosempregos verdes (green jobs). Sãoassim chamadas todas as atividadesgeradas diretamente a partir do ambi-

ente ou que se destinam a proporcio-nar uma melhor qualidade de vida aoser humano na sua relação com anatureza.São atividades profissio-nais, da construção civil à agricultu-ra, do mercado energético à recicla-gem, da educação básica às mudan-ças de legislação. Só no Brasil, estimaa OIT – Organização Internacional doTrabalho, já existe mais de um milhãode pessoas trabalhando nisso. E, aocontrário do que se possa pensar, acrise econômica ainda não chegou aeste pujante mercado de trabalho.

No olho do furacão da crise, oGoverno de Portugal acaba de anun-ciar medidas de promoção de energi-as renováveis e da eficiência energé-tica. Uma delas será o incentivo à ins-talação de painéis solares térmicos emresidências. A meta é que neste anomais de 65 mil casas instalem os siste-

P

Empregosverdes

Diante de uma perversa crise global,fortalecer a chamada “economia verde”

parece ser uma boa saída para enfrentar osefeitos de um modelo de produção e de

consumo insustentáveis e ao mesmotempo alavancar negócios.

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mas, gerando cerca de 2500 empregosdiretos. Para isso, os portugueses te-rão amplo apoio governamental quetotalizará 225 milhões de euros: paga-rão menos da metade do custo doequipamento, a fatura de energia teráuma redução anual de 20% e recebe-rão um benefício fiscal de 30% do cus-to de investimento no primeiro ano.Outra medida será a realização de au-ditorias nos 100 prédios públicos quemais consomem energia. A ordem, con-forme anunciou José Sócrates, Primei-ro-Ministro português, é ampliar a efi-ciência energética e associar a “recu-peração econômica à modernizaçãoestrutural da sociedade portuguesa”.Soma-se a isso o Programa de Mobili-dade Elétrica que irá massificar o usode veículos movidos à eletricidade.

Ações como esta em Portugal vêmsendo desenvolvidas em vários paí-ses do mundo. Praticamente toda aComunidade Européia, signatária doProtocolo de Quioto, está envolvidanesta causa. A energia eólica na Ale-manha, por exemplo, já responde por20% da matriz energética do país. OParlamento Alemão aprovou leis deinvestimento em renováveis para queaté 2020 o país consiga reduzir assuas emissões de carbono em 250milhões de toneladas. Para isso a tec-

nologia ambiental terá que ser qua-druplicada e irá, em 2030, superar aindústria automobilística e de máqui-nas e ferramentas. Em todo o mundo,a indústria da energia renovável jácriou cerca de 2,5 milhões de empre-gos e o potencial de crescimento estámantido. Segundo as associaçõesdas indústrias eólica e solar da Euro-pa (siglas em inglês EWEA e EPIA,respectivamente), num futuro próxi-mo ainda se vislumbra mais 2,1 mi-lhões de empregos em energia eólicae outros 6,3 milhões na solar.

China e Índia, os gigantes do ori-ente, também não ficam para trás. Aprimeira está se tornando a maiorprodutora de painéis fotovoltaicos ede energia térmica solar do mundo eo setor de reciclagem e gestão de de-jetos emprega dez milhões de pesso-as. Tudo isso é resultado da “Revo-lução Verde” chinesa. Já a AméricaLatina, ainda “patinando” no quesi-to energia renovável (a exceção sãoos biocombustíveis), é uma das gran-des apostas do setor, dada a insola-ção, a velocidade constante dos ven-tos, a ainda abundância de água (oque garante a matriz energética maislimpa do mundo em função das hi-droelétricas) e o potencial de biomas-sa para usinas térmicas.

Desde o Protocolo de Quioto e averdadeira encruzilhada global queiniciou para a descarbonização doPlaneta, a ecoeficiência energética en-trou de vez na pauta dos chamados“econegócios”. E para isso é precisomuita mão-de-obra especializada. Aconstatação foi apresentada no rela-tório Green Jobs no Worldwatch Ins-titute – WWI. Este estudo mostra,por exemplo, que só os investimen-tos para eficiência energética em edi-fícios deverão gerar 3,5 milhões deempregos na Europa e Estados Uni-dos. Para se ter uma idéia, atualmen-te a indústria da energia renovável jágera mais trabalhos que os combus-tíveis fósseis. E com os investimen-tos previstos de 630 bilhões de dóla-res até 2030, pelo menos 20 milhõesde novos empregos neste setor se-rão criados. Segundo EduardoAthayde, diretor do WWI no Brasil,as atenções e movimentos internaci-onais voltam-se agora para a Cúpuladas Nações Unidas sobre o Clima,que acontecerá em Copenhaguem, naDinamarca, no final de 2009. “Até lá,pesquisas, inventos e investimentosestarão no dia-a-dia das pessoas”.

Por aqui existem iniciativas pon-tuais bastante relevantes. Há leis mu-nicipais e estaduais determinando

A instalaçãode painéissolares emmais de 65 milcasasportuguesasvai gerar cercade 2500empregosdiretos

A instalaçãode painéissolares emmais de 65 milcasasportuguesasvai gerar cercade 2500empregosdiretos

EmpregosVerdes no Brasil

ALLA LEITUS

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que as novas construções levem emconta a sustentabilidade. O Governodo Estado do Rio de Janeiro e o mu-nicípio de São Paulo são bons exem-plos desta política. O Estado do Cea-rá é outro que vem apostando no cres-cimento sustentável. Atualmente umdos principais eixos da economiaestá voltado para a produção de ener-gia eólica, com mais de 50 Mw insta-lados em seis parques. Perde apenaspara o Rio Grande do Sul, que tem omaior parque eólico da América Lati-na, em Osório, com mais de 150 Mw eem fase de expansão. Ainda assim, aaposta é grande para as energias lim-pas no Nordeste, em função do queaponta o Atlas Brasileiro de EnergiaEólica. Por este estudo a região tem52% do potencial de geração de todoo país (75 Gw), o que equivale a seisvezes a produção da Usina Hidrelé-trica de Itaipu. Daí a instalação, emPernambuco, da segunda fábrica deturbinas eólicas do país. Até entãosomente uma, cuja matriz fica em So-rocaba/SP, atendia o mercado nacio-nal e exportava boa parte para a Eu-ropa. Soma-se a aos esforços de di-versificar a matriz energética com fon-tes renováveis, o potencial brasilei-ro de biodiversidade, que tambémprecisa de profissionais capacitados.

1 milhão no total500 mil em reciclagem500 mil em biocombustíveis

STEFAN KRILLA

SEAT GURSOZLU

A energia eólica naAlemanha já responde por

20% da matriz energéticado país. O Parlamento

Alemão aprovou leis deinvestimento em

renováveis para que até2020 o país consiga

reduzir as suas emissõesde carbono em 250

milhões de toneladas.Para isso a tecnologiaambiental terá que ser

quadruplicada e irá, em2030, superar a indústria

automobilística e demáquinas e ferramentas

A energia eólica naAlemanha já responde por

20% da matriz energéticado país. O Parlamento

Alemão aprovou leis deinvestimento em

renováveis para que até2020 o país consiga

reduzir as suas emissõesde carbono em 250

milhões de toneladas.Para isso a tecnologiaambiental terá que ser

quadruplicada e irá, em2030, superar a indústria

automobilística e demáquinas e ferramentas

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Assim o panorama nacional mos-tra-se bastante propício a uma novageração de empregos verdes. Comoo estudo do WWI, também a OITapresentou em dezembro de 2008 umrelatório sobre este tema: EmpregosVerdes: Trabalho decente em ummundo sustentável e com baixasemissões de carbono. O documen-to, que tem a parceria do PNUMA-Programa das Nações Unidas para oMeio Ambiente, da Cornell Univer-sity Global Labour Institute, da Or-ganização Internacional de Empre-gadores – OIE – e da ConfederaçãoSindical Internacional –CSI, mostraque mercados prosperam nos paísesonde há apoio político forte, incen-tivo a empresários qualificados e in-vestimentos em trabalhadores capa-citados. Uma demonstração dissofoi a declaração do conselheiro parao desenvolvimento sustentável daOIT na Alemanha, Peter Poschen.Segundo ele, a crise seria uma opor-tunidade favorável para as políticas

ambientais e a consequente criaçãode empregos verdes. “Em crises an-teriores, como a de 1929, as açõesdo governo para reverter os proble-mas econômicos acabaram se tor-nando as obras que alavancaram odesenvolvimento de países. Com acrise financeira, os investimentosgovernamentais vão se repetir e é aoportunidade de pensar no que vaiser a infraestrutura do século 21”.Para elo conselheiro a decisão não émeramente ambiental, mas econômi-ca: “A inconsciência energética é umdesperdício de recursos”, avalia. Edá um exemplo: “Quando um país in-veste em economia de energia naconstrução civil, está apostandonuma tecnologia que dará retorno fi-nanceiro ao longo dos anos, quan-do aquele prédio construído deixarde gastar”.

Os Estados Unidos, antes mes-mo da eleição do presidente BarachObama, já haviam anunciado um pa-cote para a geração de dois milhões

de novos postos de trabalho consi-derados “verdes”, num total de 100bilhões de dólares. Após a posse, opresidente norte americano ratificoua decisão do governo em ampliar estapolítica, destinando mais 50 bilhõesde dólares para o estímulo à geraçãode energia limpa. Também fixou limi-tes mais rígidos para o controle deemissão de gases poluentes na in-dústria automobilística. Estas medi-das têm um efeito cascata positivoem termos globais. A opinião é de umdos mais renomados ambientalistasdo mundo, o americano Lester Bro-wn, presidente da ONG Earth PolicyInstitute, que esteve no Brasil recen-temente. Para ele, a política ambien-tal de Barack Obama permitirá a cria-ção de empregos verdes, fortalecen-do a economia neste momento de re-cessão. Segundo Brown, a crise teráo seu lado positivo ao acelerar o pro-cesso de conscientização e também,com a desaceleração dos negócios,de provocar uma redução conside-

“Em crises anteriores, como a de 1929, asações do governo para reverter os problemaseconômicos acabaram se tornando as obras

que alavancaram o desenvolvimentode países. A decisão não é meramente

ambiental, mas econômica.A inconsciênciaenergética é um

desperdíciode recursos”

PETER POSCHENconselheiro para o

desenvolvimento sustentávelda OIT na Alemanha

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rável no consumo de energia. No en-tanto, ressalta: “O colapso da eco-nomia não é solução para o aqueci-mento global”.

E não é mesmo, pois temerososcom o futuro, alguns projetos vão terseus investimentos adiados ou ain-da reduzidos. Esta é a constataçãodo relatório Global Futures 2009, di-vulgado agora em março em Londrespela companhia New Energy Finan-ce (NEF). De acordo com o estudo, ataxa de crescimento dos investimen-tos em energias renováveis está es-tável o que poderá significar a redu-ção para U$350 bilhões dos U$500bilhões necessários para neutralizaras emissões dos gases poluidorespara 350 bilhões. “O relatório deve-ria ser encarado como um alerta, umdespertador para a sociedade. Não émais possível dizer que estamos nocaminho de minimizar as emissões deCO

2 até 2020. Alguma coisa tem que

acontecer,” afirma Michael Liebreich,presidente da NEF.

Retratos da Crise no BrasilO freio a novos investimentos – ain-da que com a certeza do retorno – éprevisível num momento de crise. Aredação da PP entrou em contato comalgumas empresas do país, que atuamnos mercados energéticos, financei-ro, químico, automotivo e de constru-ção. A redação recebeu ainda infor-mes dos sindicatos ou das própriasempresas para verificar como está apolítica de recursos humanos. Os re-tornos foram diferenciados conformeos setores econômicos. Retrato da si-tuação atual. De um modo geral, o quese percebe é a contenção de gastosem patrocínios e projetos culturais, ex-ternos às empresas. Algumas, queprecisam de mão-de-obra especializa-da ou voltadas ao mercado internocujos contratos estão pré-estabeleci-dos (como no setor elétrico), têm man-tido os empregos verdes ou até aber-to vagas. Por mais controversas quesejam as hidroelétricas, o início daconstrução da usina Jirau no rio Ma-

deira está aquecendo o mercado detrabalho de Rondônia. Serão 8,8 milmoradores de municípios em torno dacapital Porto Velho que receberãoqualificação profissional. Nos EstadosUnidos há também um bom exemplo.No estado de Minnesota o governocriou uma zona livre de impostos paraas empresas criarem empregos verdes.Para compensar o aumento anuncioucortes para cursos de extensão de uni-versidades e em programas de saúderural. Tudo para criar fundos de in-centivo à criação de vagas ecologica-mente corretas estimados em 20 mi-lhões de dólares. Cobertor pequeno,não há como não deixar os pés de fora.Neste caso, a opção pelo “menos pior”é o que conta.

A própria ONU anunciou agora emmarço que os empregos verdes pode-rão conter o desemprego causadopela crise. A grande aposta da Orga-nização é no reflorestamento paraconter as mudanças climáticas. Comisso, a FAO (órgão da ONU nas áreas

“A crise terá o seu lado positivo aoacelerar o processo de

conscientização e também, com adesaceleração dos negócios, de

provocar uma redução considerávelno consumo de energia. No entanto,

o colapso da economia não ésolução para o aquecimento global”

LESTER BROWNpresidente da ONG Earth Policy Institute

TIM MEIJER

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de agricultura e alimentação) estima acriação de uns dez milhões de empre-gos ao redor do mundo. O diretor-ge-ral do Departamento Florestal da FAO,Jan Heino, acredita que os empregosverdes ajudarão também a reduzir apobreza. Estes dados estão no relató-rio feito pela instituição que avalia asituação das florestas do planeta.

Com tanta esperança nos greenjobs, as universidades estão tendo quese adequar à nova realidade. Aumen-tou a procura por cursos da área ambi-ental e técnica nas instituições de ensi-no superior de todo o país, como enge-nharias que se dedicam à pesquisa deenergias renováveis e ao saneamento.Novos cursos profissionalizantes e deensino superior nos níveis de gradua-ção e pós-graduação foram criados nosúltimos anos para atender a este merca-do. Até pouco tempo, especialistas emenergias renováveis para trabalhar noBrasil, por exemplo, vinham da Europa,o que também encarecia o investimen-to. Daí a necessidade de uma mão-de-obra nacional especializada. Até porqueo país tem muito a avançar em se tratan-do de empregos verdes.

Do total de um milhão de greenjobs no Brasil contabilizados no rela-tório da Organização Internacional doTrabalho, metade está na área da reci-clagem de resíduos e a outra parte atu-ando com biocombustíveis. Para oconselheiro Poschen da OIT, o Brasiltem uma situação curiosa: “é líder emáreas como biocombustíveis e recicla-gem, mas ainda não há políticas vol-tadas para a geração de empregos nasconstruções econômicas, ou na pre-servação da Amazônia, que trazem umbom retorno econômico”, analisa. Se-gundo ele, a energia economizada coma reciclagem de alumínio seria sufici-ente para sustentar uma cidade de ummilhão de habitantes por um ano. Aomesmo tempo, o investimento em la-vouras de cana-de-açúcar e em hidre-létricas não vai gerar muitos postosde trabalho “verdes”. O relatório daOIT apela para que haja uma transi-ção justa nas condições de trabalhoem atividades em expansão, como aagricultura e a reciclagem. Questõescomo baixos salários, insegurança noscontratos de trabalho e exposição amateriais perigosos são os pontos

destacados pela organização.O relatório mostra ainda que os tra-

balhadores pobres (os que sobrevivemcom dois dólares por dia) têm poucasoportunidades para atuar no mercadoverde. No mundo respondem por 43%da força de trabalho, somando algo emtorno de 1,3 bilhão de pessoas. Porisso, também a OIT defende a necessi-dade da criação de empregos que re-duzam a pobreza e ao mesmo tempoprojetem o meio ambiente. Somando-se essa necessidade social à perspec-tiva de que o mercado global de pro-dutos e serviços ambientais aumentedos atuais 1,370 bilhão de dólares/anopara 2,740 bilhões de dólares em 2020– em ações de eficiência energética,transporte sustentável, fornecimentode água, gestão de serviços sanitáriose de dejetos – teremos o quadro per-feito para uma nova cultura no traba-lho. Mas para isso será necessária asensibilização de governos, empresas,universidades e blocos econômicos, deque se não unirmos forças, as mudan-ças climáticas serão um caminho semvolta. E, pelo menos por enquanto, nãotemos como nos mudar de planeta.

Fonte: Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza de Portugal

- advocacia ambiental- marketing ambiental- arquitetura ambiental (gestão de

espaços verdes)- engenharia civil ambiental- saúde ambiental (epidemiologia)- agricultura biológica (ou mais sustentável em

termos econômicos)- cozinha/restauração (produtos macrobióticos,

vegetarianos e slow food)- comércio (produtos biológicos e macrobióti-

cos, roupas e produtos ecológicos, lojas decomércio justo)

- forças de segurança (formação de sub-agru-pamentos de controle a crimes ambientais)

- sistemas de informação e investigação (audi-torias e diagnósticos ambientais, avaliaçãode impactos)

- ecoeficiência e ecodesign (promoção de produ-tos mais duráveis e recuperáveis, menoruso de substâncias perigosas e desacelera-ção no uso dos recursos ambientais)

- planejamento energético e uso de energiasrenováveis

- gestão de áreas protegidas, recursoshídricos e zonas costeiras

- jardinagem e floricultura- monitorização do ruído e isolamentos

acústicos- jornalismo (cobertura mais ampla e especiali-

zação na área do ambiente)- psicossociologia do ambiente (avaliação das

atitudes e condutas individuais e coletivaspara a sensibilização e novas formas de ação)

Profissões VerdesAlgumas das áreas profissionais associadas ao ambiente que já atuam em todo o mundo

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OPINIÃ

O O Brasil já sente os efeitos da crise internacional e não sabemos aocerto por quanto tempo sentiremos os efeitos desta fase difícil. Conhece-mos as graves consequências de uma desaceleração cíclica do nível deatividade econômica para o tecido social e para as estratégias em cursopara enfrentar os problemas que temos no Brasil. A convicção que nos ori-enta é a de minimizar a queda do nível de produção e de emprego por meiode medidas de investimento produtivo e de apoio ao consumo, já anuncia-das por governos de todo o mundo.

Temos que envidar todos os esforços nacionais nesse mesmo sentido,para desviar ao máximo o país da crise. A gravidade deve nos orientar atomar as decisões radicais de mobilização da vontade política, da capaci-dade econômica e do desejo social. Assim poderemos encontrar alternati-vas que exigem, sem sombra de dúvida, o aumento do gasto público; aaposta das empresas em investir e não demitir; que os bancos voltem aoferecer crédito.

Podemos e devemos transformar as nossas fraquezas em oportunida-des. Temos uma situação de extrema desigualdade que se materializa emdéficits sociais de grande tamanho: habitacional, saneamento, educação,saúde, entre outros. Nos espaços urbanos e no meio rural, há inúmerascarências urgentes.

Assim, é essencial que sejam tomadas as seguintes medidas:• garantir e avançar nos investimentos do PAC• promover crédito às empresas, com destaque aos investimentos;• recuperar o crédito ao consumidor;• priorizar obras e serviços públicos que gerem ocupações e possam receberinversões rápidas;• olhar com atenção para as demandas das micro e pequenas empresas,proporcionando ágil capital de giro, oferta de qualificação e possibilidadepara o fluxo dos negócios;• mobilizar os agentes financeiros públicos, em especial o BNDES, paragarantir minimamente a taxa de investimento, inclusive em inovação, já queeste ano chegamos a uma taxa correspondente a 17,7% do PIB;• agilizar a alocação dos recursos já disponíveis do FGTS para habitação, emespecial para os trabalhadores de baixa renda e para o saneamento;• viabilizar o financiamento das safras, com garantia de preços mínimos, eum cuidado especial para as dívidas, diante de situações de perdas, entretantas outras medidas cuja base é também o orçamento fiscal.O medo da recessão ou do baixo crescimento e do desemprego já se faz

presente. Existem, do ponto de vista dos trabalhadores, uma prioridade euma oportunidade. A prioridade deve ser a preservação do nível de empre-go. Os desafios são conceber e viabilizar, por meio de complexas negocia-ções, um arranjo político, econômico e social capaz de mobilizar a vontadeda nação em usar seu forte mercado interno para manter o nível de ativida-de econômica.

Existe ainda oportunidade de se investir para avançar na revisão do mo-delo de crescimento econômico assentado na exaustão dos recursos natu-rais e no uso da energia fóssil. Existe uma nova economia a ser criada, queexige investimento e criação, na qual manter, preservar e recuperar possaser mais vantajoso que poluir e destruir. Criar tecnologia limpa, valorizar amata em pé, os biomas, ver o rio limpo, o ar saudável, o esgoto tratado,entre tantas outras dimensões de uma sociedade que descobre a riquezaem outros sentidos econômicos, podem ser a base e a oportunidade para ageração de milhares de novos empregos.

Ações para enfrentar a crise

Diretor técnico do DIEESE

CLEMENTE GANZ LÚCIO

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PARA AMPLIAR A CULTURADEMOCRÁTICA NO BRASIL

DIÁLOGO SOCIAL

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Apresentação 17

Objetivos 19

Condições 20

GRUPO DE TRABALHOGRUPO DE TRABALHOGRUPO DE TRABALHOGRUPO DE TRABALHOGRUPO DE TRABALHO- DIÁLOGO SOCIAL

E D I Ç Ã OE D I Ç Ã OE D I Ç Ã OE D I Ç Ã OE D I Ç Ã O- - - - - SECRETARIA DO GT - DIÁLOGO SOCIAL

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃOPROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃOPROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃOPROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃOPROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO- INSTITUTO PRIMEIRO PLANO

FOTOGRAFIASFOTOGRAFIASFOTOGRAFIASFOTOGRAFIASFOTOGRAFIAS- Sindicato dos Químicos ABC- CONSEA- INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL- ETHOS

INFORMAÇÕESINFORMAÇÕESINFORMAÇÕESINFORMAÇÕESINFORMAÇÕESRUA JOÃO PINTO, 30 SALA 803FLORIANÓPOLIS - SC(48) 3025-3949

Março 2009

EXPEDIENTE

SUMÁRIOAs entidades que atualmente compõemo Grupo de Trabalho Diálogo Social são:Abong – Associação Brasileira de OngsLuana VilutisE-mail: [email protected]

Dieese – Departamento Intersindical deEstatística e Estudos SocioeconômicosCrystiane PeresE-mail: [email protected] BiavaE-mail: [email protected] Roberto Arantes do ValleE-mail: [email protected]

FES – Fundação Friedrich EbertJochen SteinhilberE-mail: [email protected] MeleiroE-mail: [email protected]

IDEC - Instituto de Defesa do ConsumidorLisa GunE-mail: [email protected] Ethos de Responsabilidade SocialEmpresarialPaulo ItacarambiE-mail: [email protected] Letícia SilvaE-mail: [email protected]

Instituto Observatório SocialAmarildo Dudu BolitoE-mail: [email protected] Yara PaulinoE-mail: [email protected] QueirozE-mail: [email protected]

Instituto Primeiro PlanoOdilon Luís FaccioE-mail: [email protected]

OIT - Organização Internacional do TrabalhoLais AbramoE-mail: [email protected] Beatriz CunhaE-mail: [email protected] MelloE-mail: [email protected]

Oxfam InternacionalNathalie BeghinE-mail: [email protected]

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Este documento apresenta o ponto de vista inicial de instituições quepretendem promover o diálogo social para fortalecer a democracia no Brasil.

Vivemos uma realidade que passa por grandes mudanças nos mercados, nasempresas, nos governos, na sociedade civil e na atitude das pessoas. Ascrises econômicas ou crescimento econômico insuficiente, muitas vezesexcludente ou insustentável, debilitam a confiança na democracia. Os estudossobre as mudanças climáticas, e atual crise econômica global confirmam eindicam a necessidade de um novo padrão de produção e consumo maissustentável. A realização de diálogo social envolvendo os principais atores dasociedade pode ser um importante caminho para encontrar soluções conjuntasfrente a esses desafios. No mesmo tempo histórico novos e velhos dilemasdesafiam a agenda das organizações. Um deles é como aprimorar agovernança democrática que seja capaz de incorporar as expectativas dasociedade nos rumos do país. Prescindimos de uma democracia que, aomesmo tempo, seja capaz de ampliar a participação da sociedade em geralcom o diálogo sistemático com os cidadãos, com grupos sociais que queremmelhorar suas condições de vida e de direitos, ou que querem um padrãosustentável de desenvolvimento e consumo.No Brasil a democracia avançou nos últimos anos, mas ainda é precisoconsolidar uma cultura democrática entre governos, empresas e a sociedade.Nosso horizonte é uma sociedade democrática e plural, onde a promoção e ainstitucionalização do diálogo social entre os atores, crie um ambiente favorávelpara que os diversos interesses sejam tratados de maneira equilibrada.Quando o diálogo existe, os conflitos e as disputas de interesse não terminam,mas podem se desenvolver em padrões democráticos. Ao garantir aparticipação, a cooperação e a negociação com diferentes atores, a realizaçãodo diálogo social é uma forma de garantir a governabilidade e a ampliação dademocracia. É a fusão da quantidade com a qualidade. Ao mesmo tempo, namedida em que o diálogo social ocorre, abrem-se algumas “janelas” para queoutros temas não previstos sejam tratados, criando novas agendas depossibilidades. O diálogo social possibilita ter metas de cooperação e/ou aconvergência de objetivos, inclusive entre atores antagônicos. Tal mecanismo,a depender de como é implementado, pode ajudar a resolver questõescomuns, resultando em ganhos concretos para os grupos sociais envolvidos:comunidades, cidadãos, empresas, governos, sociedade e, em últimainstância fortalecer a democracia.

Para que as mudanças socioeconômicas sejam duradouras e promovam asustentabilidade, é decisiva a sua legitimação. O processo do diálogo socialpode contribuir para uma maior legitimidade e qualidade das políticas públicas,na gestão dos negócios das empresas e, principalmente, na maior participaçãoda sociedade civil nos rumos do país.

Grupo de TrabalhoDiálogo Social

APRESENTAÇÃO

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CRIAÇÃO DO GRUPO DE TRABALHO

Considerando a importância de valorizar a dimensão dodiálogo social enquanto meio eficaz para fortalecer a culturademocrática na sociedade brasileira e, ao mesmo tempo, tor-nar-se uma ferramenta promotora de mudanças na gestão daspolíticas públicas ou das empresas, diversas organizações to-maram a iniciativa de constituir um Grupo de Trabalho (GT)com a clara intenção de investir energia e recursos para criaruma cultura em favor do diálogo social e da democracia. Aconsolidação de uma cultura democrática trará dividendos paratodos os segmentos envolvidos, especialmente para aquelesque querem deixar um legado democrático para as próximasgerações.

ENTENDIMENTO SOBRE DIÁLOGO SOCIALO Grupo de Trabalho parte do pressuposto de que há vá-

rios entendimentos legítimos sobre o significado do que seja odiálogo social. Diálogo é negociação ou é cooperação? É pos-sível a convivência de diálogo com o conflito e a tensão? Seria odiálogo social uma tensão em processo? Outro assunto impor-tante a ressaltar é que, na medida em que o diálogo avança, osconflitos tendem a diminuir, porém não desaparecem os diver-sos interesses das partes envolvidas. É uma visão de longo pra-zo, onde deverão ser ouvidas as partes para formular propostasde consenso. Mas, independente de existir diferentes entendimen-tos, o GT considera que o mais importante, neste momento, é con-tribuir para formular e apoiar as condições ou pressupostos essen-ciais que possam favorecer a realização do diálogo social.

CONCEITO DE DIÁLOGO SOCIAL DO GRUPO DE TRABALHO

Diálogo social é o processo no qual atores sociais, eco-nômicos, políticos, ou grupos sociais, legitimamente reconhe-cidos, se reúnem institucionalmente para compartilhar ideias,cooperar, buscar convergência de objetivos ou negociar as-suntos de interesse comum. Apesar das frequentes tensões edos diversos conflitos que, muitas vezes permeiam o diálogo,este pode resultar no alinhamento de propósitos, em troca deinformações, em novas agendas de possibilidades não plane-jadas ou pode proceder em acordos ou projetos compartilha-dos, fortalecendo a governança democrática e a sustentabili-dade das instituições envolvidas.

“Nos países com diálogo socialpodemos observar váriasmodalidades de diálogo, emfunção dos atores envolvidos noprocesso, seja ele bipartite(quando envolve apenasempresários e trabalhadores) outripartite (quando conta tambémcom a participação do governo).O caráter do diálogo social ésempre o resultado das lutassociais concretas e por issotambém muda constantemente.Portanto, não há um únicosentido do diálogo social. Odiálogo social pode significar odireito de instalar representaçõesdos trabalhadores e dos sindicatosna empresa, um diálogo entrechefias e comissões de fábrica,entre sindicatos e o Estado etc.Pode significar um diálogo sobreum problema concreto na empresaou sobre o futuro modelo dodesenvolvimento de um país. Emsuma, há muitos canais possíveisde diálogo social nos diferentesníveis”.

Jochen Steinhilber- Representante da FES no Brasil

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OBJETIVO GERALO Grupo de Trabalho Diálogo Social é uma articulação quereúne diferentes instituições que têm por objetivosistematizar, refletir, formular conteúdos e realizaratividades, visando à promoção do diálogo social comoelemento essencial para a consolidação de uma sociedadedemocrática, plural e justa.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:O Grupo de Trabalho pretende alcançar os seguintesobjetivos específicos:

1) Conhecer e acompanhar as diversas experiênciasexistentes, sistematizando e identificando osprincipais avanços e dificuldades, objetivandodesenvolver orientações que contribuam paraconsolidar novas experiências de diálogo social.

2) Formular e disseminar conteúdos para os meios decomunicação e eventos relacionados ao tema,contribuindo para a associação de entidadesinteressadas no diálogo social.

3) Realizar atividades, encontros ou semináriosespecíficos, para o aprofundamento temático e aanálise de experiências nacionais ou internacionaisque possam gerar subsídios para o desenvolvimentodo diálogo social no Brasil.

OBJETIVOS

“Compreendemos o diálogo socialcomo um processo que deveproporcionar a ampliação daparticipação social e o aprofundamentoda democracia. O diálogo social étambém um espaço de aprendizagem, detransformação da cultura política dasociedade. Embora as experiências dediálogo social sejam diversas e ocorramem níveis diferenciados, podemosidentificar pressupostos comuns entreelas. Tanto no contexto de negociaçõesentre capital e trabalho, quanto naefetivação de políticas públicas, odiálogo social requer uma açãopermanente, continuada e coletiva quecontribua intencionalmente com ainstitucionalização de espaços departicipação social. Acreditamos que ainteração dialógica deve ser permeadapor relações de cooperação e confiança,pois o diálogo social ganha sentido sehouver uma escuta efetiva dos sujeitosenvolvidos e uma construção coletivadas condições do diálogo. A formaçãopara o diálogo, a sistematização de suaspráticas e a transparência na suadifusão são requisitos para a suarealização. Por atuar no campo daconstituição e expansão de direitos e dapromoção da justiça social, a Abongaposta no diálogo social como ummecanismo de ampliação do espaçopúblico, partilha de poder efortalecimento das lutas sociais”.

Luana Vilutis– Representante da Abong

2a Conferência Nacional de Segurança Alimentar- CONSEA - Março 2004

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“O diálogo social representa aintegração no ambiente detrabalho de um dos maisrelevantes direitos de cidadania,possibilitando quetrabalhadores e empregadoresobtenham um maiorcomprometimento com osobjetivos da empresa, peladecisão comum de resultados aatingir. O diálogo socialrepresenta uma oportunidadepara a obtenção decompromissos que envolvammotivações de cada uma daspartes sobre oportunidades dedesenvolvimento das pessoas,das organizações e dasociedade”.

Lais Abramo– Diretora da OIT Brasil

O Grupo de Trabalho identificou pressupostos que devemorientar a prática do diálogo social no Brasil. São eles:

Com relação aos atores sociais envolvidosÉ importante que as experiências de diálogo social consi-

derem a grande diversidade da sociedade brasileira e dos gru-pos que a representam. Assim, ao lado do Estado, trabalhado-res e empresários, atores sociais protagonistas em uma socie-dade capitalista, é importante que se assegure espaço para amanifestação e posicionamento de grupos como consumidores,academia (universidades e instituições de pesquisa), organiza-ções não governamentais de defesa de direitos e mídia. Dessaforma, esses grupos estarão desempenhando papel importantena promoção dessa modalidade de diálogo.

Embora a diversidade seja um elemento fundamental parao êxito do processo, é fundamental também que se leve emconta a legitimidade do espaço do diálogo e dos participantes.Assim, a observação ou não de aspectos como a pertinênciadas questões colocadas, os interesses das entidades nas dis-cussões propostas, a capacidade técnica e a representatividadepolítica das entidades podem resultar em êxito ou fracasso doprocesso.

Não menos importante é a necessidade de se considerar apossibilidade de que atores sociais, organizações ou entidadesque não estejam diretamente envolvidas possam ter um papelde indutores, facilitadores e apoiadores do processo. Assim, oapoio da academia e da mídia, por exemplo, pode contribuircom informações para a tomada de decisão e para a divulgaçãosocial das questões tratadas no espaço do Diálogo Social.

Os promotores do diálogo social devem considerar, tam-bém, o desequilíbrio em termos de correlação de forças pre-sentes, por exemplo, em decorrência de fatores como podereconômico, poder político, mobilização, entre outros.

Destaca-se o papel peculiar que cabe ao Estado nesseprocesso, dado que esse ator social expressa o resultado dadisputa de interesses presentes na sociedade em um dado mo-mento. Dessa forma, o Estado tem no diálogo social um instru-mento para envolver os principais agentes sociais e econômicosnas discussões da gestão pública.

CONDIÇÕES NECESSÁRIAS À

REALIZAÇÃO DO DIÁLOGO SOCIAL

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“Lidar com o diálogo social do ponto de vistade negociação é prática do trabalho quedesenvolvemos no IOS no acompanhamentode algumas redes de trabalhadores em empresasmultinacionais. Entretanto, como instituiçãode estudos e pesquisas sobre condições detrabalho, entendemos que o diálogo social étambém um processo de amadurecimento nabusca de soluções consensadas para conflitosde interesses. Sendo assim, ora como umaexplícita negociação ora como processo, se faznecessário estabelecer metodologiasdiferenciadas para que o objetivo seja atingido.Se, para um momento negocial as técnicas emetodologias já são bastante conhecidas edifundidas, para o processo de diálogo queobjetiva uma construção de solução entre partes(pode ser a própria negociação tradicional)ainda merece maior estudo e muita troca deexperiências entre instituições predispostas acriar novos caminhos. A atual consciência doentroncamento das dimensões econômica,social e ambiental traz para dentro da relaçãotrabalho/capital um desafio que poderá sermelhor orquestrado por meio do diálogo social.Para o IOS, participar e contribuir com o GTDiálogo Social também é uma forma deconsolidar seu trabalho sobre a agenda doTrabalho Decente junto ao movimentosindical. Diálogo social é um dos quatropilares do Trabalho Decente, o mais falado naatualidade e o mais desconhecido: sabe-se quenão se resume a negociação coletiva, masmuitas vezes somente esse indicador élembrado. Ultrapassar essa visão restrita ealargar as bases do diálogo, sem perder aidentidade, pode também ser uma estratégiapara o movimento sindical.”

Amarildo Dudu Bolito– Supervisor Institucional do Observatório Social

Ana Yara Paulino– Pesquisadora Observatório Social

Regina Queiroz– Responsável pelo projetoResponsabilidade Social Empresarial

A importância do ator social Estado destacada anterior-mente não implica, necessariamente, sua participação nos di-versos espaços do diálogo social. Nesse sentido, há situa-ções, inclusive, em que os demais atores sociais podem nãodesejar a intervenção estatal, caso típico, por exemplo, desituações relacionadas a certos temas da relação capital etrabalho.

COMPROMETIMENTO, ABERTURA PARA A DIVERSIDADEE CONFIANÇA NA PRÁTICA DO DIÁLOGO SOCIALÉ importante que cada um dos atores sociais partici-

pantes do processo esteja comprometido com o diálogobuscando acordos e entendimentos com os demais. O res-peito à diversidade das organizações amplia a possibilidadeda leitura da realidade e de seus problemas, contribuindopara a busca do atendimento de determinados objetivos.Nesse sentido, é fundamental que as representações este-jam cientes das situações de alta complexidade que nor-malmente estão envolvidas na prática do diálogo social, comvisões de mundo diferenciadas, fortes expectativas e inte-resses contraditórios.

É importante ainda, que essa complexidade seja vistacomo algo enriquecedor. Cada ator contribui e reconheceno outro um interlocutor que, mesmo com diferentes visões einteresses, vê a realidade e as ações para transformá-la demaneira distinta. Nesse sentido, o diálogo social é um pro-cesso de aprendizado que envolve se posicionar frente a umproblema, ouvir o que o outro tem a dizer, refletir sobre asvisões distintas e avaliar possibilidades de resultados que se-jam de interesse dos atores sociais.

Finalmente, é importante que os atores reconheçam nodiálogo social um instrumento para se chegar a resultadosque tenham maior densidade, o que poderá, no futuro, gerarpolíticas mais sustentáveis.

Diálogo social como processoO diálogo social é um espaço de construção contínua,

inclusive entre os pares. Dada a pouca prática dessa modali-

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dade de diálogo em nossa sociedade, as atividades planeja-das para sua efetivação devem ser cuidadosamente prepara-das, com a organização prévia dos atores envolvidos no diá-logo por meio de encontros, diálogos internos e reuniões.Além do conteúdo a ser discutido, as regras do processo e aparticipação dos atores envolvidos devem ser definidos.

Além disso, o acesso à informação de forma equânimeentre os participantes do processo associado a mecanismosque facilitem a comunicação, a exemplo das redes apoiadaspor tecnologias de informação, são elementos fundamentaisque devem ser cuidadosamente observados pelos promoto-res do diálogo social.

Destaca-se ainda, que o trabalho para se avançar emassuntos mais gerais pode influenciar positivamente o trata-mento conjunto de outras questões, não necessariamente as-sociadas às questões iniciais. Assim, o contato entre os ato-res pode gerar o início de novos compromissos e iniciativasconjuntas para tratar de novas questões que, direta ou indi-retamente, tenham surgido a partir da reunião inicial dos ato-res. Estabelece-se, dessa forma, um processo de diálogo per-manente que tem em vista a institucionalização de espaços departicipação social. Nesse sentido, o diálogo social pode servisto, também, como um tipo especial de aprendizagem ondeos participantes aprimoram sua capacidade de intervir coti-dianamente nos temas sociais que lhes dizem respeito.

É importante que os espaços para o diálogo social per-maneçam abertos à participação de novas representaçõesque, por qualquer motivo, tenham optado por não participa-rem do começo do processo ou que tenham sido posterior-mente identificadas pelo grupo como entidades importantespara o trabalho.

A complexidade do trabalho com os atores sociais re-quer que as atividades que envolvam o diálogo social sejamobjeto de constante reflexão dos responsáveis pela imple-mentação do trabalho. Nesse sentido, há a necessidade deaprofundar os passos metodológicos que podem aprimoraro processo de diálogo social, envolvendo apoio institucio-nal às iniciativas, suporte técnico externo para apoiar oprocesso de diálogo e o apoio à reflexão, à busca de con-vergências entre os participantes e à sistematização do tra-balho dos atores. De forma particular, há a necessidadede avanços no sentido de examinar como se dá a discussãode problemas da realidade social e de como este pode setornar momento importante para a mobilização social.

“Nossa instituição está envolvidacom a organização do Grupo deTrabalho por considerar que arealização de diálogos sociaiscontribui muito para ademocratização das relaçõessociais e econômicas. A realizaçãode diálogos sociais provoca einduz a maior cooperação entre asorganizações participantes. Se odiálogo ocorre efetivamente, ajudaa equilibrar o poder. Quando oprocesso de diálogo alcançaalgum nível deinstitucionalização e, os atores sãovalorizados como representantesdos segmentos envolvidos, atendência é produzir mudançaspositivas para as partes duranteum período maior de tempo. Semdúvida, processos maisdemocráticos sempre são maisdemorados, mas sempre sãomelhores porque, de algumaforma, as diferentes expectativasdos atores envolvidos, em grandemedida, são contempladas. Isto dámaior qualidade e estabilidadeaos processos de decisão e demudanças. No Brasil, por diversasrazões, sabemos que não é umassunto ainda devidamenteconsiderado. No fundo, é uminvestimento no futuro”.

Odilon Luís Faccio– Instituto Primeiro Plano

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Acerca dos problemas identificados pelo grupoA identificação dos problemas deve ser feita de forma

cuidadosa, de tal maneira que os atores se concentrem na-queles que sejam primordiais para a realidade que está sen-do discutida. É importante que os promotores do diálogosocial trabalhem os problemas como desafios colocados pelarealidade aos participantes do processo, algo que requer umaintervenção para que se atinja uma situação desejada. Issoserá fundamental para os momentos posteriores de identifi-cação dos objetivos do grupo em relação ao problema e dasações a serem implementadas.

Acerca dos objetivos propostos paraatacar o problema

Identificado o problema, cuidado especial deve ser dadoà identificação dos objetivos propostos para sua solução. Éfundamental que a atividade caminhe no sentido de que se-jam definidos objetivos alcançáveis e mensuráveis. Atençãoespecial deve ser dada à governabilidade do grupo em rela-ção a o que for estabelecido como objetivo. É importanteainda que se evitem metas muito ambiciosas, pois podem re-sultar em entraves à formação de consensos ou frustraçãodiante da baixa resolutividade do colegiado. Nesse sentido,é importante que se busque sempre equilíbrio entre deman-das sociais, expectativas do grupo e respostas públicas àsdemandas. Quando da identificação das ações para se al-cançar os objetivos propostos, é importante que as atribui-ções e responsabilidades dos participantes do grupo estejamclaramente estabelecidas e que possam ser acompanhadaspor todos. O cumprimento do pactuado é fundamental paraconsolidar a confiança entre os participantes e para criar pro-gressivamente uma cultura de diálogo social. Sistematizadosos resultados do trabalho, é importante que se assegure atransparência das informações aí geradas, de tal maneira quetodos tenham acesso ao resultado do mesmo e que possamacompanhar o trabalho dos demais nos momentos seguintes.

Acerca dos resultados do processoUm aspecto fundamental para assegurar que uma expe-

riência de diálogo social seja referência para experiênciassemelhantes, é a implementação efetiva das ações propostaspelo grupo. Dessa forma, é muito importante que as entida-

“Entendemos o diálogo com outroobjetivo que não somente anegociação. Pensamos no diálogopara mudança de visão de sociedade,porque não podemos fazerincrementos sem mensurar osimpactos, caso contrário fica tudoigual. Nosso entendimento sobrediálogo é o de um espaço deaprendizagem. Um espaço deabertura onde os atores estãodispostos a novas reflexões. Seagirmos apenas como espaço decompromissos, os atores já vão compropostas fechadas e isto dificultaavanços. Pensamos o diálogo com opropósito de legitimação e deconstrução da confiança entre aspartes envolvidas. Concebemos que odiálogo pode ser espaço deaprendizagem, que proporcionemudanças do padrão de mercado, denovas relações na sociedade, visandoatingir os seguintes objetivos: a) ocontrole social – o diálogo socialfacilita que a sociedade exerça ocontrole social por meio deregulamentos e leis; b) retorno paratodos – a competição e os conflitosnão trazem resultados bons, porquehá desequilíbrio entre as partes; c)cooperação – o diálogo deve ser umespaço de cooperação”.

Paulo Itacarambi– Diretor executivo do InstitutoEthos

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des envolvidas no processo se empenhem na transformaçãodo resultado do trabalho em ações efetivas, sob o risco deque o resultado seja visto como negativo pelos participantes,e se torne uma referência negativa para outros processos se-melhantes.

Finalmente, é importante que haja, entre as ações pro-postas, iniciativas que visem assegurar a ampliação e disse-minação do diálogo, de tal forma que a experiência seja vistacomo parte de um processo que não termina aí, mas que temcontinuidade e que tem como um de seus resultados contínu-os o aumento da participação social na definição dos rumosda sociedade.

EXPERIÊNCIASExiste um leque diversificado de experiências de diálo-

go social que contempla distintos objetivos e modalidades departicipação dos atores: governos e empresas, governos, em-presas e sindicatos, governos, empresas e sociedade civil ou,empresas e sindicatos. Algumas dessas experiências são ini-ciativas de governos, de empresas ou fruto das conquistassociais. O diálogo social é um instrumento que favorece ademocracia participativa e negociada. É um espaço de dis-cussão onde cidadãos têm a possibilidade de expressar livre-mente suas opiniões e de influenciar a elaboração, implemen-tação e monitoramento das políticas públicas. É um espaçode aprendizagem e de negociação, que pode trazer resulta-dos benéficos para os atores envolvidos.

“Oxfam Internacional aposta emprocessos e mecanismos que auxiliemno combate à desigualdade e à pobreza.O diálogo social é um deles, na medidaem que pode contribuir para fortalecercidadãos ativos e Estados efetivos.Entendemos que existem diversosformatos de diálogo social que vãodesde o processo preparatório de umanegociação entre trabalhadores eempregadores, passando por mesasredondas sobre determinados temas queinteressam trabalhadores, empresários,governos e organizações nãogovernamentais, até conselhos depolíticas que são espaços de deliberaçãoonde cidadãos acreditados têm apossibilidade de expressar livrementesuas opiniões e de influenciar aelaboração, implementação emonitoramento de políticas públicas. Aqualidade do diálogo depende doequilíbrio de forçasdos atores envolvidos. Neste sentido,entendemos que alguns requisitosmínimos devem ser observados para queum diálogo social possa efetivamenteser chamado de diálogo, tais como:ampla participação das partesinteressadas; autonomia dosparticipantes; regras e normas defuncionamento claras, conhecidas erespeitadas por todos os participantes;objetivos alcançáveis e mensuráveis;atribuições e responsabilidades dosparticipantes claramente estabelecidos etransparência das ações”.

Nathalie Beghin- Assessora de Advocacy de OxfamInternacional

Reunião do Diálogo Social entre empresa e sindicatosda BASF/América do Sul - Santiago do Chile/maio 2008

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Na primeira etapa de trabalho, o GT identificou 4 tiposdiferentes de Diálogo, e vem sistematizando e analisando es-tas experiências:

a - Participação social na implementação emonitoramento de políticas públicas: aexperiência do Conselho Nacional deSegurança Alimentar e Nutricional –CONSEA e os fóruns de participação socialdo Plano PluriAnual – PPA 2004-2007(multipartismo): Oxfam Internacional eABONG.

b - Diálogo social entre empresas privadas etrabalhadores (bipartismo), em âmbitosnacional e internacional (BASF e BAYER):Instituto Observatório Social e FundaçãoFriederich Ebert.

c - Elaboração de diagnósticos participativossobre problemas do mercado de trabalho(tripartismo): DIEESE.

d - Conexões Sustentáveis - experiência que visacomprometer as empresas a não compraremprodutos (soja, madeira etc.) que utilizam otrabalho escravo na cadeia de produção:Instituto Ethos.

“Entendemos o diálogo socialcomo um espaço onde os atoressociais são ouvidos ereconhecidos enquantorepresentantes da diversidade deinteresses e de visões de mundopresentes na sociedade. Osatores envolvidos têm diferentesinteresses e visões de mundo, oque dificulta, porém nãoimplica, na maioria dos casos,em restrições ao diálogo. Pelocontrário, essas diferenças dãoriqueza ao processo. Opressuposto é que estasdiferenças sejam respeitadas epreservadas, daí privilegiarmosem nosso trabalho a busca depontos de convergência, e nãonecessariamente de consenso.Embora o modelo mais comumde diálogo social seja otripartismo, consideramos anecessidade de outros agentesque podem contribuir para odebate ao serem envolvidos nodiálogo, aumentando aindamais a riqueza do processo”.

Crystiane Leandro Peres– Técnica

Seminário Conexões SustentáveisSão Paulo / dezembro 2008

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As células a combustível foraminventadas em 1839 por William Gro-ve, antes mesmo das máquinas acombustão. No entanto as últimasforam as primeiras a cair no gosto daindústria, já que a gasolina, além dagrande energia gerada quando emcombustão, apresentou-se comocombustível barato, abundante , defácil transporte e abastecimento. Emcomparação à gasolina, o hidrogênionão é fonte de energia, mas uma ba-teria, um transportador de energia.Em temperatura e pressão ambientes,ele ocupa 300 vezes mais espaço quea gasolina para conter a mesma quan-tidade energética.

Ainda assim, ele já é utilizado hámuito tempo, basicamente de duasformas: a partir de combustíveis fós-seis (96%) e com água (4%). Suas apli-cações mais comuns são na fabrica-ção de fertilizantes, na conversão deóleo líquido em margarina, na fabrica-

ção de plásticos e resfriamento degeradores e motores.

O desafio é mudar os números aci-ma, pois com o anúncio do fim da erado petróleo para as próximas décadas,chega a ser uma provocação usar com-bustível fóssil (gás natural, por exem-plo) para produzir hidrogênio. Atéporque, desta forma continuará a de-pendência aos combustíveis fósseis.Então as pesquisas agora se centramno uso de fontes renováveis para aprodução de hidrogênio através daeletrólise da água, o que não é, emtermos de eficiência energética, algoainda produtivo. Por exemplo: para seter uma unidade de hidrogênio são ne-cessárias três turbinas eólicas ounove células fotovoltaicas.

Outra forma de se obter a energiado hidrogênio é com biomassa, mastambém com esta fonte existem ospontos contrários. Em primeiro lugarhá a sazonalidade. Na sequência, o que

PlanetaHidrogênioO hidrogênio podeser encontrado emdiferentes fontesrenováveis deenergia: no sol, novento, na biomassa,no biogás e na água.Mas ele sozinho nãoé energia, precisapassar portransformaçõesquímicas. E essastransformaçõescustam caro.

Por Alessandra Mathyas

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pesa é a umidade, que impõe a neces-sidade da estocagem, secagem e ga-seificação. Além disso é preciso umagrande quantidade de terra para pro-duzir biomassa (cerca de 10 toneladaspor hectare). E, para preservar o solo,não se deve retirar grandes quantida-des desta matéria orgânica. Por isso aoferta de biomassa não é grande osuficiente para a produção de hidro-gênio em larga escala. Soma-se a issoos custos de transporte até a centralde produção de energia e a perda ener-gética com o uso de fertilizantes.

Outros obstáculos técnicos aoavanço de hidrogênio são a esto-cagem e o transporte. Por ser o maisleve dos gases, sempre está sujeitoa “escapar” do armazenamento, oque força que os tanques tenhamum reforço. Esse gás também cos-tuma deixar os metais quebradiçose pode gerar vazamentos, sobretu-do em encanamentos. O uso de

metais fortes para conter o hidro-gênio, com certeza custa mais caroque o normal. Quanto ao transpor-te, a comparação com os combustí-veis fósseis é cruel ao nobre gás.Um mesmo caminhão tanque, porexemplo, pode transportar combus-tível para 800 veículos (cerca de 38mil litros) enquanto para o hidro-gênio – por conta da estrutura dearmazenamento mais reforçada –levaria 400 kg do gás liquefeito, eeste poderia ser usado em apenas60 carros. Já o uso de dutos, comoos que cruzam o Brasil com gás na-tural, tornar-se-ia ainda mais one-roso. Nos Estados Unidos, onde há322 mil quilômetros de gasodutosao preço médio de um milhão dedólares por 1,6km, a construção deum sistema de dutos para hidrogê-nio similar ao usado pelo gás natu-ral não sairia por menos de 200 bi-lhões de dólares.

Investimento presente,aposta no futuro

Todo pioneirismo custa caro. E é issoque a necessidade pela busca de ma-trizes energéticas limpas, forçada pe-los tempos de aquecimento global emudanças climáticas, vem motivan-do governos e empresas a investirem novas tecnologias como a do hi-drogênio. Os estudos e experimen-tos em andamento dão conta de queele pode vir a se consolidar como umcombustível sustentável e limpo uti-lizado em automóveis, residências,indústrias, robôs, laptops e outrosequipamentos portáteis. Países comoEstados Unidos, Japão, Alemanha eFrança vêm se destacando neste seg-mento. Neste último, o Comissariadode Energia Atômica da cidade de Ri-pault, estabeleceu metas para até2010 reduzir pela metade a quantida-de de platina, elemento bastante caroe usado na composição de pilhas de

O Elding, que levaturistas para a Islândiapara observar as balei-as em seu habitat, é oprimeiro navio com umsistema de propulsãoa hidrogênio. Ele forne-cerá energia elétricapara a embarcação esilêncio absoluto (oque favorece a obser-vação de cetáceos eaves marinhas), alémde ter reduzida emis-são poluente. O navioé abastecido na pri-meira estação de rea-bastecimento de hi-drogênio renovável domundo – a Reiliavík,na capital islandesa.Esta estação está emoperação e aberta aopúblico desde 2003.

FOTO DIVULGAÇÃO

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hidrogênio. Segundo esta instituição,nos últimos anos o custo da matériaprima permitiu que a PSA PeugeotCitröen trabalhasse na fabricação deuma pilha compatível com a tecnolo-gia dos veículos.

Outras empresas mundiais do se-tor automobilístico também experi-mentam a tecnologia do combustívellimpo à base de hidrogênio. A GeneralMotors, por exemplo, aposta que parao ano que vem, ou no mais tardar em2012, estará produzindo veículos com-petitivos e não poluentes à pilhasde hidrogênio. A Honda também jádesenvolve um veículo com esta tec-nologia. É o FCX Clarity, que prometeoferecer três vezes mais eficiência emcombustível que os carros convenci-onais à gasolina. Até o momento, ameta é concluir a construção de 200unidades, cuja venda está sendo feitapor leasing de três anos, a um valorde USS 600 por mês. Além disso aHonda, que já produziu dez geraçõesde carros movidos a células de ener-gia, tem veículos em fase experimen-tal em vários países. As motocicletassão outra aposta do setor automoti-

vo. A Suzuki já desenvolveu uma motoconceito cuja propulsão é feita por umsistema de células de combustível dehidrogênio. A Crosscage, no entanto,ainda está longe de estar desfilandopelas estradas do mundo.

Outra instituição internacionalmen-te reconhecida que vem apostando nohidrogênio é a NASA, a Agência Es-pacial dos Estados Unidos. Perceben-do que o hidrogênio quando é quei-mado com oxigênio puro produz, comosub-produtos apenas calor e água, aagência tem usado esta associaçãopara a propulsão de foguetes em subs-tituição a outros combustíveis fósseis.O baixo peso, a compactação e a capa-cidade de grande armazenamento deenergia também influenciaram nestadecisão. Quando o hidrogênio é usa-do em células a combustível, a águaresultante deste processo é consumi-da pelos astronautas.

Além dos ônibus, carros,motos eem foguetes, as células a combustí-vel já fornecem energia limpa e efici-ente a fazendas, hospitais e shoppin-gs em vários países do mundo, in-clusive no Brasil.

Na segunda meta-

de do século XVIII, Jú-

lio Verne, um dos mai-

ores escritores da

França, apostava em

uma matriz energética

limpa, a partir do ele-

mento mais abundan-

te no planeta: o hidro-

gênio. Naquela época,

disse Verne: “Acredito

que a água será em-

pregada um dia como

combustível. A decom-

posição da água em

seus elementos primi-

tivos, naturalmente se

dará através da eletri-

cidade, que tornar-se-

á uma poderosa força

manejável. Acredito

que o hidrogênio e o

oxigênio proporciona-

rão uma fonte inesgo-

tável de calor e luz.

Acredito que, quando

os depósitos de car-

vão se exaurirem, nós

nos aqueceremos

com hidrogênio. O hi-

drogênio será o carvão

do futuro.”Mais de cem anos

após a sua morte, o fu-

turo que já chegou

aponta para as muitas

possibilidades do uso

deste elemento como

combustível sustentá-

vel e limpo. Mas sua

grande disponibilida-

de na atmosfera não

significa que esta ca-

minhada seja fácil.

Honda FCX Clarity: três vezes mais eficiência

Ônibusfuturista

inglês

De Júlio Verne aos novos temposFOTO DIVULGAÇÃOFOTO DIVULGAÇÃO

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www.hydrogencarsnow.com

SAIBA MAIS SOBRE CARROSMOVIDOS A HIDROGÊNIO EM:

Hidrogêniono Brasil

osso país também vem sededicando à temática dohidrogênio. Na prática, jáestão sendo usados ôni-

bus híbridos em várias linhas muni-cipais, como no Rio de Janeiro, SãoPaulo e Curitiba. O fabricante é a ga-úcha Marcopolo e os modelos sãoViale Híbrido e Viale Articulado Hí-brido. Estes ônibus possuem baixonível de emissão de poluentes, baixoconsumo e índices reduzidos de po-luição sonora.

O transporte com uso de hidro-gênio é apenas um dos temas quevêm sendo debatidos no país. Tantoque existe o Centro Nacional de Re-ferência em Hidrogênio e o ProgramaBrasileiro de Sistemas de Célula aCombustível, mantidos pelo Minis-tério da Ciência e Tecnologia. Desdesua implantação, no início da déca-da, já foram realizados diversosworkshops. As discussões que vi-sam introduzir o hidrogênio na ma-triz energética nacional vêm tratandobasicamente dos marcos legais – nor-mas, padrões, regulação, a produção,

logística, sistemas de conversão, apli-cações e atividades transversais, jáque, como visto anteriormente, o hi-drogênio é utilizado em inúmeras ati-vidades econômicas. O Brasil inte-gra ainda a Parceria Internacionalpara a Economia do Hidrogênio(IPHE). Trata-se de um fórum de dis-cussão e fomentador da colaboraçãointernacional, composto por 14 paí-ses e a Comissão Européia.

Desde o início a Itaipu Binacio-nal vem participando destes deba-tes. No seu parque tecnológico emFoz do Iguaçu iniciou pesquisas decélulas a combustível e veículos elé-tricos e apostou num Programa doHidrogênio. Esta iniciativa foi in-cluída no Plano Empresarial 2004-2011 destacando, no objetivo ener-gético nº 9, a intenção com esta fon-te: “constituir-se como referência nodesenvolvimento de investigaçãotecnológica de hidrogênio, comofonte alternativa de energia.” Entreas ações previstas neste programaestão o estudo para produção indus-trial, a implantação de planta gera-

dora, o desenvolvimento de projetoe aquisição de infra-estrutura, utili-zação de veículos a hidrogênio eanálise de viabilidade econômica eambiental. Para isso firmou convê-nio com a Unicamp, onde está insta-lado o Centro de Referência do Hi-drogênio, para assessoria técnica ecientífica.

A empresa já apresentou seu ve-ículo híbrido – elétrico e a hidrogê-nio – e pretende que em 2011 esteautomóvel tenha características deum popular e com preço equivalente.O próximo passo será o veículo total-mente a hidrogênio. Aliás, um desa-fio não só dos pesquisadores brasi-leiros, mas de todo o mundo, poiscom custos de infraestrutura aindaaltos, o gás mais abundante do pla-neta ainda espera novas descober-tas para que possa ser aproveitadoao máximo em termos energéticos.

NO presidente Luiz Inácio Lula da Silva testa protótipo de carro elétrico da Fiat em

parceria com a Itaipu Binacional, no Palácio do Planalto.

ROOSEWELT PINHEIRO/AB R

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2COCARBONO QUE VALE EURO

2COFO

TO C

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carbono tornou-sealvo não somentedos comprometidoscom o Protocolo deQuioto, mas tambémdo mercado voluntá-

rio, no qual a comercialização dos cré-ditos existe, porém com valor inferioraos que são gerados por projetos apro-vados pela Organização das NaçõesUnidas (ONU). Surgiu em pararelo aomercado formal, o mercado voluntário,que incentiva entidades públicas, pri-vadas, ONG´s e cooperativas a buscarneutralização de carbono emitida, porexemplo, em eventos, festas, palestrasou até mesmo em partos. Os resulta-dos desses projetos são mudas plan-tadas, fundos sociais criados com avenda dos créditos, remunerações para

Por Vanessa Campos

Em 36 anos de debates ambientais, desde aConferência das Nações Unidas sobre oAmbiente Humano, em 1972, até o início doprimeiro período de compromisso deredução de emissões dos gases de efeitoestufa, em 2008, estabelecido pelo Protocolode Quioto, o meio ambiente passou a terdestaque na esfera econômica. Hoje, omercado de créditos de carbono, fruto destetratado internacional, já movimenta63 bilhões de euros.

O pessoas que vivem em torno de flores-tas e não desmatam, e inúmeras outrasações que provêm do objetivo de secapturar, reduzir ou neutralizar o gáscarbônico.

O motivo pela disputa na reduçãode emissões não está somente ligadoa preocupações ambientais, mas simna criação de um mercado promissor ede crescimento econômico. O carbonoserá a futura commodity (termo utiliza-do no mercado globalizado para carac-terizar produtos de alto consumo e dealcance global em negociações finan-ceiras) mais valiosa do planeta. No re-latório do Painel Intergovernamentalsobre Mudanças Climáticas (IPCC) ela-borado em 2007, constatou-se quehouve o aumento relevante de 70% deemissão de GEE (gases de efeito estu-

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fa) nos últimos 150 anos. As princi-pais emissões decorrentes de ativida-des humanas são resultados do usoexcessivo de combustíveis fósseis emprocessos industriais, geração de ener-gia e transporte, desmatamento, expan-

são urbana e agricultura.Os gases que estão nas primeiras

colocações do ranking de poluição são:dióxido de carbono - CO

2 (resultante

da queima de combustíveis fósseiscomo carvão, petróleo e derivados),

metano - CH4 (produzido pela decom-

posição da matéria orgânica, geralmen-te proveniente de aterros sanitários elixões) e óxido nitroso - N

2O (produzi-

do a partir de compostos agrícolas,pela atividade das bactérias no solo).Desde então, discussões e estratégiassobre como reduzir o potencial do efeitoestufa tomaram frente no combate aoaquecimento global.

É importante ressaltar que o efeitoestufa é um fenômeno natural e es-sencial para a manutenção da vida noplaneta. Os gases de efeito estufa sãoresponsáveis por capturar o calor, oque permite refleti-los na atmosfera.Porém, o aquecimento global, assun-to em pauta na mídia, nas conferênci-as e nos encontros mundiais sobre omeio ambiente, nada mais é que o au-mento significativo da concentraçãodesses gases na superfície atmosféri-ca, resultado de atividades antrópicas(humanas).

Ainda segundo dados do IPCC, atemperatura da Terra está 0,7ºC maisquente em relação ao que era há 140anos, e é responsável pelos eventosclimáticos que têm ocorrido em todo

O desmatamento representa hoje de 15% a 20% das emissões de gases de efeitoestufa no planeta, segundo dados do Painel Intergovernamental sobre MudançasClimáticas (IPCC). No Brasil, esse valor sobe para 75%.

O Protocolo de Quioto foi criado em1997, durante a Terceira Conferênciadas Nações Unidas sobre MudançasClimáticas (COP 3), em Quioto, no Ja-pão. O tratado internacional é um acor-do estabelecido por 166 países, cujoobjetivo é implantar medidas para di-minuir a emissão de GEE. Foi deter-minado que os países desenvolvidose grandes poluidores reduzam em5,2% a poluição ambiental provocadapelos GEE (com base em dados de1990). O prazo para o cumprimento doprimeiro período de compromisso éentre os anos 2008 e 2012.

Brasil, China e Índia, consideradospelo tratado países em desenvolvi-mento, não possuem meta de redu-ção de emissão e, portanto, não sãoos maiores responsáveis pelos esto-ques de GEE na atmosfera do plane-ta. A poluição acumulada ao longo dosanos, entre a revolução industrial e os

dias de hoje, é conseqüência do ele-vado crescimento dos países desen-volvidos.

Os países que mais emitem CO2 erepresentam 76% do total de emissãosão: Estados Unidos, Rússia, Japão,Alemanha, Reino Unido, Canadá, Itá-lia e China. Na época da assinatura dotratado, o considerado maior poluidorficou fora da obrigação de redução deemissão. Para os Estados Unidos, terqualquer compromisso em relação àprodução de gases de efeito estufa,seria prejudicial ao seu crescimentoeconômico. Vale destacar que agoraquem mais polui é a China. Devido aodisparo de seu crescimento econômi-co, passou a ser responsável por 24%das emissões globais de dióxido decarbono. Os EUA estão em 2º lugar,com 22%. União Européia, Índia eRússia produzem, respectivamente,12%, 8%, e 6%.

Metas do Protocolo de Quioto

O acordo em nívelmundial procuraestabelecer metasaos paísesdesenvolvidosquanto àsemissões de algunsgases poluentes,que ajudam aprovocar oaumento datemperatura naatmosfera.

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o mundo, como enchentes, furacõese tornados. Cenários futuros, até 2050,que simulam sociedades com um altoprocesso de industrialização global ecom crescimento econômico acelera-do, ou sociedades preocupadas coma sustentabilidade ambiental e solu-ções econômicas sociais, foram cria-dos e estudados pelo IPCC para tratara questão do futuro da humanidadeem relação à mudança global do climacomo otimista ou pessimista.

Para Gustavo Mozzer, assessortécnico da Coordenação de Mudan-ças Globais do Clima, do Ministérioda Ciência e Tecnologia, energia é oponto chave na tentativa de se esta-bilizar a concentração de gases de efei-to estufa na atmosfera, pois vivemosnuma sociedade eminentemente de-pendente do petróleo. “Hoje não exis-te substituto nem a médio, nem emlongo prazo para o petróleo, e o aque-cimento global está intrinsecamenterelacionado ao nosso modo de viver”,afirma Mozzer.

Brasil, MDL e o mercadoUm dos mecanismos de mercado cria-

dos em 2003 (artigo 12 do Protocolode Quioto) para diminuir o aquecimen-to global é fruto de uma ideia brasilei-ra. O Mecanismo de Desenvolvimen-to Limpo (MDL) contribuiu para queos países desenvolvidos, com metade redução de emissões de GEE, pos-sam comprar créditos de carbono ge-rados a partir de MDLs feitos em paí-ses em desenvolvimento, sobretudoBrasil, China e Índia. Os projetos deMDL sempre envolvem metodologi-as aprovadas pela Organização dasNações Unidas (ONU), que visam aredução da emissão de GEE e a difu-são de tecnologias ambientalmentesaudáveis.

Para Roulien Paiva Vieira, mestreem economia ambiental e diretor téc-nico da Mar Assessoria Ambiental eInternacional, as pessoas precisam emprimeiro lugar entender que o proces-so de créditos de carbono é um pro-cesso meio e não fim. “Trocar com-bustível fóssil por renovável é exer-cer uma atividade, que ao trocar porcréditos de carbono, ganha-se o di-reito econômico no processo de im-plantação da atividade, e no auxílio

da manutenção do projeto”, explica.Ele afirma ainda que se no próximoregime climático fosse imposto a mes-ma meta de redução de emissão para aChina, a Ìndia, a Rússia e o Brasil, onosso país não teria condições eco-nômicas de suportar tal exigência pelaparte de infraestrutura. “Do ponto devista industrial, sistemas de transpor-te e de energia, se o Brasil desenvol-

“Trocar combustívelfóssil por renovável éexercer umaatividade que, aotrocar por créditos decarbono, dá direitoeconômico noprocesso deimplantação daatividade e no auxílioda manutençãodo projeto”Roulien Paiva Vieira,mestre em economia ambiental

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ver mais e crescer, vai gerar uma quan-tidade maior de GEE para a camada deozônio”, diz Roulien.

O especialista também criticaquem fala que o mercado de créditosde carbono veio somente para dar odireito de poluir aos países desenvol-vidos. “Enquanto a Alemanha e a In-glaterra têm capacidade de desenvol-ver e compensar a poluição geradadentro do próprio país, o Brasil preci-sa de ajuda financeira para que esseprocesso de crescimento e desenvol-vimento sustentável ocorra, e issopode ser resolvido pela negociaçãodos créditos de carbono. Então não ésimplesmente uma postura de “esta-mos dando o direito a outros paísesde poluir”. É uma questão de incenti-var financeiramente o crescimentosustentável de países em desenvol-vimento, enfatiza Roulien.

Já Guarany Osório, coordenadorda Campanha de Clima do Greeanpea-ce Brasil, acredita que o mercado de

carbono pode aumentar a eficiênciaeconômica de algumas reduções deemissões, mas ele não é suficientepara alcançar as reduções globais deGEE necessárias. Afirma ainda, que omercado de carbono deve ser suple-mentar aos esforços internos dos pa-íses para reduções de emissões.

Como ambientalista, Osório expli-ca que esse novo mercado deve serestruturado para garantir que o desen-volvimento sustentável realmente sejaefetivo. “O mercado de carbono sozi-nho não é capaz de dar o suporte su-ficiente e de transferência de recur-sos aos países em desenvolvimentopara adotarem medidas de mitigaçãoe de adaptação. É necessário que se-jam desenvolvidos também mecanis-mos de financiamento para que se al-cance realmente a transferência finan-ceira visando a mitigação, a adapta-ção e a redução do desmatamento,conforme propostas que o Greenpea-ce vem desenvolvendo”, diz. Segun-

do Osório, as negociações internaci-onais no combate às mudanças climá-ticas apresentam avanços. Entretan-to, o aperfeiçoamento do atual siste-ma, a entrada dos EUA, o comprome-timento dos países em desenvolvi-mento (principalmente Brasil, China eÍndia) em reduzir suas emissões e oaumento dos índices de redução paraatingir os 50% até 2050, são objetivosextremamente urgentes.

Críticas à propostaOs projetos voltados ao Protocolo deQuioto geralmente visam a redução oucompensação dos gases de efeito es-tufa, e não a eliminação do que aindaé produzido. A questão problemáticaé o excesso de CO2 já existente na at-mosfera. Para o presidente da Carbo-no Brasil Tecnologia e Serviços Am-bientais, Rui Fernando Muller, esse éo grande equívoco do tratado inter-nacional. “O problema deve ser trata-do na sua origem para que realmente

Mercado Oficial de Carbono

Os países que mais poluem, os industrializados, têm três alternativasoficiais (veja no quadro à esquerda) para cumprir a meta de redução deemissão dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera por eles.

1 - Comércio de emissõesVenda ou transferência de reduçãoou remoção de emissões entrepaíses desenvolvidos.

2 - Implementação conjuntaProjetos nos quais créditos e dívi-das são somente negociados entrepaíses desenvolvidos. Conhecidacomo contratos de gaveta. Um poluioutro não, mas dividem a conta.

3 - Mecanismo dedesenvolvimento limpoProjetos somente elaborados porpaíses em desenvolvimento, porémnegociados com os desenvolvidospara o cumprimento das metas deredução. Nesse mecanismo degases poluentes entram, por exem-plo, o Brasil, a Índia e a China, quevendem créditos aos países desen-volvidos para que reduzam suasemissões em 5,2%, referentes àsemissões geradas em 1990. Essameta deve ser cumprida até 2012,quando acaba o primeiro período decompromisso do Protocolo.

Países desenvolvidos

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haja efeito”, afirma Rui. Segundo ele,a metodologia da ONU é muito com-plexa e pesada. As empresas não con-seguem se habilitar e a demora é gran-de para o projeto ser aprovado.

Já para o pesquisador da Univer-sidade Federal de Santa Catarina, NitoDebacher, é um grande avanço que oProtocolo de Quioto levante o proble-ma dos gases de efeito estufa. Porém,sugerir que o mercado de créditos decarbono irá ajudar a combater o aque-cimento global é ilusão. “É uma idéiasimples de fazer um toma lá dá cá Eutenho aqui uma montanha de carbo-no e você não tem nenhuma, então eupasso um pouco para você e ficamosfelizes. Mas isso não resolve o pro-blema. É paliativo”, garante o quími-co. Debacher afirma ainda que o mer-cado de créditos não é uma estratégiaeficaz para solucionar o problema dapoluição no planeta, pois a Terra é fi-nita. “Se eu produzo duas toneladasde CO

2 e a África não produz nada, e

nós dividimos essa conta, a média dospaíses abaixa, mas o total de CO

2 no

planeta não. A Terra continua com amesma quantidade total”, explica.

O pesquisador diz que os projetoselaborados para o mercado de crédi-tos de carbono não são voltados paraeliminar o gás. Exemplo disso são osprojetos de aterros sanitários, quepropõem reduzir metano, mas conti-nuam jogando carbono na atmosfera.“Ganha créditos, mas o problema con-tinua. A verdade é que o mercado decréditos de carbono foi criado simples-mente para amenizar o problema dequem está produzindo muitos gasesde efeito estufa”, completa.

O valor das florestas preservadasPreservar as florestas e mantê-las empé ainda não é considerado um meca-nismo para gerar créditos de carbono.Motivo relevante quando o assuntoé cumprir metas de redução de emis-são para os países desenvolvidos.

Nos países em desenvolvimento, as negociações sópodem ser feitas pelo MDL, terceiro mecanismo.Esse mercado é extremamente criteiroso e rigoroso.

Os projetos para gerarem créditosde carbono precisam passar poretapas exigidas pela ONU paraassim serem aprovados.

Países em desenvolvimento

“Sugerir que omercado de créditosde carbono irá ajudara combater oaquecimento global éilusão. É uma ideiasimples de fazer umtoma lá dá cá. Eutenho aqui umamontanha decarbono e você nãotem nenhuma, entãoeu passo um poucopara você e ficamosfelizes. Mas isso nãoresolve o problema.É paliativo”

Nito Debacher,pesquisador da UFSC

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Sem créditos, não há interesse eco-nômico em evitar o desmatamento.Em contrapartida, alianças de enti-dades não governamentais e empre-sas privadas trabalham em prol dodesmatamento evitado, e bolsas devalores, como a Chicago Climate Ex-change (CCX), investem em proje-tos voltados à preservação das flo-restas no mercado voluntário.

O desmatamento representa hojede 15% a 20% das emissões de ga-ses de efeito estufa no planeta, se-gundo dados do Painel Intergover-namental sobre Mudanças Climáti-cas (IPCC). Sendo que, no Brasil,esse valor sobe para 75%. Já é umaboa razão para se investir na manu-tenção das florestas e frear sua der-rubada. No último relatório do IPCC,os pesquisadores chegaram à con-clusão de que a diminuição do des-matamento tropical nos próximosanos é o investimento mais baratoentre todas as opções para diminuiras emissões mundiais, pois não háimpedimentos técnicos. O potencialeconômico da venda de créditos decarbono das 34 unidades de conser-vação do Amazonas, por exemplo,pode chegar a 100 milhões de dólarespor ano, segundo dados da Funda-ção Amazônia Sustentável (FAS).

Os pesquisadores Josep Canadelle Michael Raupach, do Global CarbonProject, afirmam no artigo “Managingforests for climate change mitigation”(Manejo das florestas para a mitiga-ção das alterações climáticas), publi-cado em junho de 2008 na revista Sci-ence, que a redução das emissõesdecorrentes do desmatamento e dadegradação tem o maior potencial para“contribuir de maneira custo-efetiva”para a proteção do clima no combateao aquecimento global. Eles destacamque 4 bilhões de hectares de ecossis-temas florestais, o que corresponde a30% da área terrestre do globo, esto-cam o equivalente a duas vezes a quan-tidade de carbono na atmosfera.

Porém, o maior impasse no palcodas discussões é quem vai pagar aconta da redução de emissão sem os

créditos no bolso. Afinal, custa caropreservar as florestas, combater a ex-ploração ilegal de madeiras e apoiarusos alternativos para agricultura. De330 milhões a 1 bilhão de dólares é ocusto estimado, levantado a partir dosatuais preços de carbono no mercado,num estudo recente caso cessem odesmatamento em quase todo o esta-do do Amazonas e em dois terços dasterras de Mato Grosso. Essa conta cor-responderia a reduzir 360 milhões detoneladas de gases de efeito estufa emdez anos, por exemplo. Outro estudodo Center for International ForestryResearch (Cifor), realizado pelo econo-mista Sven Wunder em parceria comJan Börner, economista agrícola, indi-ca ainda que a conta para se evitar aemissão de 6,3 bilhões de toneladasde carbono na Amazônia brasileira,chegaria a 8,2 bilhões de dólares.

A visão então fica clara. De um ladoestá quem defende o crédito de carbo-no para aqueles que mantiverem as flo-restas sem queimadas e derrubadas, ede outro a cúpula de cientistas e políti-cos que consideram inviável pagar aconta do desmatamento evitado emqualquer parte do planeta sem o meca-nismo de mercado regulado para geraros créditos. Entretanto, no mercado vo-

luntário existem vários projetos emtramitação, mas poucos geram cré-ditos. O preço pago pelos compra-dores que não estão no mercado deQuioto na tonelada de redução variaentre 1 a 3 dólares, sendo que nasbolsas voluntárias, quando o proje-to é aprovado, esse valor é de 6 a 7dólares. Comparando ainda ao mer-cado oficial de créditos de carbono,no caso do projetos de Mecanismode Desenvolvimento Limpo, o valorsobe para 31 dólares.

Os reflorestamentos e floresta-mentos são aceitos como mecanis-mos de flexibilidade na redução dosgases de efeito estufa. Nesse caso,entram no cenário de linha de base,ou seja, com metodologias aprova-das pela Organização das NaçõesUnidas (ONU). O desmatamentoevitado, não. Ou ainda não, como

afirmam seus defensores.Para Mariano Colini Cenamo, secre-

tário executivo da ONG Idesam (Insti-tuto de Conservação e Desenvolvimen-to Sustentável do Amazonas), o merca-do de créditos de carbono é uma ferra-menta essencial para a inclusão do des-matamento evitado no mercado regula-do de créditos, “principalmente comoforma de envolvimento do setor priva-do nos esforços mundiais de reduçãode GEE”, no qual também se destacamas iniciativas voluntárias”, afirma.

“É importante respeitar os aspectosrelacionados à adicionalidade e manu-tenção dos objetivos de longo prazo doProtocolo de Quioto, pois isso é garan-tir que a emissão de créditos não gereum “balanço neutro” em termos de re-dução de emissões. As emissões atin-gidas por créditos devem estar sempreacompanhadas de metas mandatóriasaos países industrializados”, enfatiza.Cenamo também destaca programas defundos criados a partir de projetos vol-tados à proteção das florestas que aju-dam comunidades carentes. “A geraçãode benefícios para as comunidades ésempre ponto fundamental em qualquerprojeto relacionado ao uso da terra. OPrograma Bolsa Floresta, da Amazônia,é exemplo disso”, diz o ambientalista.

“A diminuição dodesmatamento tropicalnos próximos anos é oinvestimento maisbarato entre todas asopções para diminuiras emissões mundiais,pois não háimpedimentostécnicos”.

“A diminuição dodesmatamento tropicalnos próximos anos é oinvestimento maisbarato entre todas asopções para diminuiras emissões mundiais,pois não háimpedimentostécnicos”.

Dados do último relatório do IPCC

B ILL SILVERMINTZ

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Depois de crescimentos espetaculares nos últimos três anos, adúvida agora é se o mercado de carbono terá fôlego para enfrentar osreflexos da crise econômica e continuará em ascensão em 2009. Es-pecialistas deixam claro que o volume de negociações seguirá em alta,porém o ritmo será bem menor do que o alcançado no ano passado,quando o aumento, em termos financeiros, foi de 84% em relação a2007. As negociações no mercado de carbono mundial chegaram aUS$118 bilhões em 2008.

O principal impacto da crise econômica está relacionado com as emis-sões das empresas que participam no sistema de comercio de emis-sões da União Européia (EU ETS). Com a desaceleração da produção,há uma diminuição no volume de gases do efeito estufa lançados naatmosfera. “Isto significa uma redução na demanda por licenças de emis-sões e, portanto, no seu preço”, alerta o gerente sênior de créditos decarbono da filial latino-americano da Suez Energy, Philip Hauser.

No entanto, em um relatório de análise do mercado para este primei-ro trimestre do ano, o banco francês Societe Generale afirma que asemissões da União Européia ficarão acima das cotas distribuídas no EUETS. A previsão é de falta de permissões (chamadas de EUAs), porém aimportação de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs) deve sersuficiente para suprir esta demanda. Com isso, nenhuma redução deemissões precisará ser promovida dentro das indústrias e prestadorasde serviço do bloco.

Hauser diz que, para fazer uma avaliação do mercado, é preciso enten-der os fatores que influenciam três variáveis: o volume de créditos de carbo-no disponíveis, os preços e o giro. “No caso das permissões, não acho quehaverá grande impacto no volume ou no giro. Portanto o montante negocia-do em 2009 deve ser inferior ao do ano passado, simplesmente porque opreço médio deve se manter bem abaixo da média do ano anterior”.

Apesar de um pouco tardio se comparado com o início da crise, colapsodos preços das RCEs e das EUAs foi comparável ao que aconteceu comoutros ativos financeiros por todo o mundo, assim como o aumento davolatilidade que atingiu o EU ETS.

Como em qualquer bolsa de valores, com o grande volume de ofertas, opreço dos créditos de carbono está caindo vertiginosamente desde o iníciodo ano. Em fevereiro foi registrada uma baixa recorde de • 8,05, o menorvalor desde a criação do EU ETS, que já alcançou • 31 no ano passado.

BRASIL E PROJETOS MDLPara os desenvolvedores de projetos de redução ou mitigação de emis-sões de gases do efeito estufa sob o Mecanismo de DesenvolvimentoLimpo (MDL), que estão nos países em desenvolvimento, esta baixatraz o risco de inviabilidade financeira para o projeto e, mais do queisso, leva os proprietários a preferirem segurar os créditos à espera deuma futura recuperação do mercado

O diretor comercial da consultoria Mundus Carbo, Felipe Bittencourt,ressalta que os países com metas a cumprir no Protocolo de Quiotoestarão mais dispostos a pagar um preço maior pelas RCEs quantomais próximo de 2012, quando termina o acordo climático. “Por isso, atendência é que os projetos sejam vendidos a médio prazo”, explicaBittencourt.

Comércio de carbononão ficará imuneà crise em 2009

PAULA SCHEIDTEditora do portalCarbono Brasil

OPINIÃ

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INCLUI

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Tecnologias Sociais existem no Brasil diver-sas experiências eminovação técnica e soci-al. Entretanto, nem

sempre são devidamente conhe-cidas. A fim de registrar e difundirpossíveis soluções para o incre-mento da produção na agricultu-ra familiar, o Núcleo de EstudosAgrários e Desenvolvimento Ru-ral (Nead) do Ministério do De-senvolvimento Agrário (MDA)criou o Fórum de Difusão Cientí-fica sobre Tecnologia Social.

O Fórum é virtual, permitindoa constituição de ampla rede departicipantes. A idéia é disponibi-lizar estudos, relatos e experiên-cias. Ao longo do tempo, seráorganizado um sistema de ges-tão e difusão de conhecimentosobre inovação e TecnologiaSocial na agricultura familiar emassentamentos e nos Territóriosda Cidadania.

Por meio de uma chamadade trabalhos, o Nead/MDA reuniucontribuições de pesquisadores,gestores, técnicos em redes deassistência e extensão e asses-sorias populares. Tais informa-ções têm a função de gerar asbases conceituais e empíricasdo Fórum. Os trabalhos foramhabilitados por uma comissãotécnica, com base nos seguintescritérios: efetiva adesão social emobilização, potencial de inova-ção sociotécnica pelos própriosatores e de construção de redes,associação, cooperativa e orga-nização de empreendimentoeconômico solidário.

Em fevereiro foram divulga-dos os 50 trabalhos habilitados.Veja ao lado alguns exemplos.

O projeto Inovar, Empreender eReciclar surgiu de chamada públi-ca, no âmbito da Rede de Tecnolo-gia Social (RTS). Discute a organi-zação dos catadores e catadorasno cenário das preocupações am-bientais, utilizando os princípios daeconomia solidária para organizar,criar empreendimentos que pro-

Amazonas

Organização dos catadores de materiais reciclados de Manaus

movam transformação social, in-clusão e melhoria econômica. Oprojeto sempre teve como metacriar oportunidades para os cata-dores se organizarem em rede decomercialização.

Ao longo de dois anos, a equi-pe realizou troca de saberes naterritorialidade da cadeia dos re-

EA ideia do Kit Diversidade surgiu

a partir da constituição da Associa-

ção de Desenvolvimento da Micro-

bacia Hidrográfica Rio Flores, em

2004, com 145 famílias associadas.

O Kit é formado por um con-

junto de sementes de diferentes

espécies locais produzidas e dis-

tribuídas entre famílias de agricul-

tores. Visa estimular a produção

de alimentos para autoconsumo.

Além disso, é uma ferramenta para

promover a segurança e a sobe-

rania alimentar, compreender os

elementos da territorialidade e

promover a agroecologia como

estratégia do desenvolvimento

sustentável. Essa experiência, re-

alizada no Brasil e construída de

forma participativa, permite contri-

buições na dimensão ecológica e

de sustentabilidade social, econô-

mica, político-institucional, geo-

gráfica e cultural.As ações ligadas ao Kit inte-

gram a produção e o consumo de

alimentos livres de agrotóxicos

para a melhoria da saúde das pes-

soas e do ambiente. O cultivo de

diferentes espécies manejadas

pelos agricultores conserva e

amplia a agrobiodiversidade en-

contrada, estimulando a preserva-

ção do equilíbrio natural.

A distribuição e troca de se-

mentes entre as famílias também

provoca a manutenção e amplia-

ção das relações sociais existen-

tes nas comunidades, bem como

a disseminação dos saberes po-

pulares relacionados ao cultivo e

conservação de sementes. O as-

pecto econômico é destacado,

pois quando as famílias produzem

o próprio alimento, ocorre uma

melhoria da renda por meio da

redução de gastos com compras

em mercados. A difusão do Kit Di-

versidade é facilitada no meio ru-

ral devido à sua relação com a agri-

cultura familiar, mas também pode

ocorrer no espaço urbano onde se

destacam as hortaliças, as frutí-

feras nativas e plantas exóticas.

Contato: [email protected] / (49) 3645-0249

Kit Diversidade: a experiência de Guaraciaba

na produção de alimentos para o autoconsumo

Santa Catarina

Fórum de Difusão Científica

www.nead.org.br/tecnologiassociaishttp://comunidades.mda.gov.br

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desenvolvimento rural

O projeto Rede Ribeirinha de Comunicação tem,como objetivo, a ampliação e o fortalecimento daatuação de jovens das comunidades em açõeseducativas por meio de sua capacitação como co-municadores populares. Eles são responsáveispela produção de entrevistas e notícias para a co-munidade e a transmissão destas nas RádiosPostes e no programa de rádio Ligado no Mami-rauá, alcançando uma grande extensão de ouvin-tes na Amazônia.

As ações do projeto alcançam populações tra-dicionais ribeirinhas, moradoras e do respectivo entorno, de duas Unida-des de Conservação de Uso Sustentável (as Reservas de DesenvolvimentoSustentável Mamirauá e Amanã), localizadas no Estado do Amazonas. Asatividades foram iniciadas em 2006, pelo Instituto de Desenvolvimento Sus-tentável Mamirauá (IDSM), em parceria com a Universidade Federal do Ama-zonas (Ufam).

A rede de informação interliga 17 comunidades através do “O Comuni-cador”, jornal comunitário idealizado pelos comunicadores populares. Novecomunicadores de diferentes comunidades possuem rádios gravadores eenviam informações e entrevistas ao programa Ligado no Mamirauá. Ou-tras três comunidades - Boa Esperança, Boca do Mamirauá e Porto Braga -utilizam as Rádios Postes, possibilitando um espaço de fortalecimento daorganização e da cidadania, por meio do acesso e construção de informa-ções sobre a conservação da floresta amazônica.

É importante lembrar que a população envolvida possui baixo índice deescolaridade, um grande desafio para o desenvolvimento de projetos destanatureza. A proposta do projeto inclui o uso de energia fotovoltaica, atravésde placas solares, uma vez que essas comunidades ainda não foram con-templadas com a universalização da energia elétrica.Contato: [email protected] / (91) 3222-7800

ciclados em Manaus. Pesquisou-se as principais fontes geradoras,o perfil dos catadores, os atraves-sadores e as empresas recicla-doras. Foi possível trabalhar commais de 200 catadores, sendo que109 deles participaram de capa-citações, 68 realizam comerciali-zação em rede e 58 encontram-se organizados em duas associ-ações: Arpa e Aliança. Tal organi-zação é considerada um dos prin-

cipais resultados obtidos.O projeto também viabilizou o co-

nhecimento das rotas de comerciali-zação dos produtos reciclados emManaus, incluindo a sua cadeia pro-dutiva, desde a catação até a recicla-gem, assim como os preços pratica-dos e a sua constante variação. Osresíduos sólidos são commodities.

Como metodologia para a imple-mentação da tecnologia da organi-zação do trabalho social, foram rea-

lizados cursos, oficinas, reuniõese acompanhamento sistemáticoaos livros, controles internos e do-cumentação do empreendimento.Houve, ainda, orientação técnicasobre as condições de armazena-mento e manuseio dos resíduoscoletados.

Contato:[email protected](92) 3648-6134

Amazonas

Projeto Rede Ribeirinha de ComunicaçãoFOTOS DIVULGAÇÃO

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Bahia

A Cooperativa Agropecuária Fami-liar de Canudos, Uauá e Curaçá(Coopercuc) desenvolve ações apoi-adas na convivência com o Semiári-do brasileiro, com uma proposta decontextualização do saber produzir,viver e conceber o bioma a partir desuas limitações e potencialidades.

A Coopercuc, por meio de seuprograma de aproveitamento e pro-cessamento de frutas nativas dacaatinga, coloca em prática uma dasdiretrizes da convivência, que é aconservação e utilização sustentá-vel da biodiversidade e da agrobiodiversidade da região. Utiliza-seainda de ações sociotécnicas (edu-cação, formação e comunicação)com agricultores familiares coope-rados para manter a rede de produ-ção entre a fábrica central e um con-junto de minifábricas estabelecidasnas comunidades rurais dos trêsmunicípios de sua atuação.

A mobilização de dezenas de agri-cultores familiares se faz tanto paraviabilizar a sustentabilidade dessaatividade quanto para estimular o bomuso da biodiversidade da caatinga.Nesse sentido, promove uma nova re-lação entre comunidades rurais e opatrimônio físico, cultural e simbólicodo semiárido.

O modo de produzir aponta for-mas de Tecnologia Social desenvol-vidas pela Cooperativa, num senti-do de afirmar uma diferença no re-sultado dos produtos, inserí-los nomercado orgânico, sustentável e so-lidário e afirmar a proproposta deconvivência como modelo de desen-volvimento rural. A produção vai des-de a coleta dos frutos, o manejo nafabricação dos produtos (doces, su-cos e geléias) até a água que se uti-liza, que é proveniente das cisternasde captação da água de chuvas.

Contato: [email protected](75) 9952-1400

Inovação sociotécnica eTecnologia Social no

processamento de frutasnativas da Caatinga

Habitação social, rural e popularRio Grande do Sul

A questão da moradia popularé um dos mais graves problemassociais brasileiros. O projeto apro-pria uma moderna tecnologia arqui-tetônica e construtiva à necessida-de de prover solução de baixo cus-to para a construção de habitaçõespopulares. O objetivo é reduzir o dé-ficit habitacional e atender deman-das dos movimentos sociais vin-culados à agricultura familiar, aosassentamentos da reforma agrária,aos Territórios da Cidadania, às co-munidades carentes localizadasem territórios rurais e periferias ur-banas e aos movimentos popula-res organizados sob regime coo-perativado e associativista.

O módulo habitacional propos-to reúne grande simplicidade

construtiva e baixo custo, o quepermite ampliar o nível de imple-mentação das políticas de habita-ção popular a serem desenvolvi-das por Estados, por entidades ci-vis da sociedade organizada e pe-las redes sociais já mencionadas.

O projeto em questão ofereceuma proposta de uma habitaçãocom 45 m² de área construída, ela-borada com modulação arquitetôni-ca, inovação tecnológica e racionali-zação no uso dos materiais. O valorinvestido ou financiado na constru-ção por unidade habitacional propos-ta é de cerca de R$ 10.000,00 (dezmil reais). A proposta arquitetônicacontempla funcionalidade e lay outalternativo, permitindo a ampliaçãoou exclusão de peças.

Contato: [email protected] / (53) 3275-7236

Aproveitamento de resíduos de sisal

A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical implementou ações

junto às unidades de produção familiar, focadas na promoção e for-

mação de agricultores multiplicadores, com resgate do saber local e

sua integração com o saber técnico.O projeto teve, como ponto de partida, a demanda apresentada por

mulheres moradoras da comunidade rural Boa Fé, localizada no Se-

miárido baiano. A comunidade situa-se no município de São Domin-

gos, cuja economia se baseia no cultivo do sisal. O produto de maior

valor é a fibra de suas folhas, base para o fabrico de cordas, barban-

tes, tapetes etc. Apesar desse uso, apenas as folhas eram explora-

das, abandonando-se no campo o bulbo central, chamado de “sapa-

ta”, pela população local e a “seta”, que é o pedúnculo floral.

Verificou-se a possibilidade de aproveitamento dos resíduos do

sisal na elaboração de produtos para paisagismo e jardinagem, cons-

tituindo-se em uma nova atividade econômica que aproveitaria a mão-

de-obra familiar nos períodos de menor demanda.

Consultados os agricultores e agricultoras, foram realizadas ações

de sensibilização seguidas de cursos de capacitação com a finalida-

de de demonstrar que, por meio de um processamento mínimo, era

possível transformar resíduos em objetos de beleza rústica e de alto

valor agregado.

Contato: [email protected] / (75) 3621-5760

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estores de instituições pú-blicas e privadas, lideran-ças comunitárias, empre-endedores sociais e repre-

sentantes de organizações de pes-quisa de oito países (Argentina, Bra-sil, Canadá, Espanha, México, Peru,Uruguai e Venezuela) participarão,entre os dias 15 e 17 de abril, emBrasília/DF, da 2ª Conferência Inter-nacional de Tecnologia Social.

Fundada em 2005, a RTS reúne,articula e integra um conjunto de 695instituições com o propósito de con-tribuir para a promoção do desen-volvimento sustentável mediante adifusão e a reaplicação em escalade tecnologias sociais, que compre-endem “produtos, técnicas ou me-todologias reaplicáveis, desenvolvi-das na interação com a comunida-de e que representem efetivas solu-ções de transformação social”. Inte-gram a Rede organizações não go-vernamentais, centros de pesquisa,cooperativas, empresas, escolas deensino médio, fundações e institu-tos, sindicatos, universidades e ór-gãos de governo nos níveis federal,estadual e municipal.

As instituições mantenedoras daRTS já investiram, desde a fundaçãoda Rede, mais de R$ 220 milhõesem TSs geradoras de trabalho e ren-da em áreas como agroecologia, re-ciclagem, bioenergia, incubação deempreendimentos solidários e cap-tação de água da chuva para a pro-dução de alimentos, entre outras. Osrecursos foram aplicados na Amazô-nia Legal, no semiárido e em perife-rias de grandes centros urbanos.

Entre os temas a serem deba-tidos na 2ª Conferência Internacio-nal, estão as relações entre ciên-cia e democracia, as novas opor-tunidades abertas às tecnologiassociais diante da crise econômicamundial e a necessidade de apro-ximar o conhecimento científicodos saberes populares. Os idio-mas oficiais da Conferência serãoportuguês, inglês e espanhol. Du-

Evento internacional debate papel datecnologia para a inclusão social

Com o tema“Caminhos paraSustentabilidade”,o encontro trarápalestras emesas-redondas,além de painéis ondeserão apresentadasexperiênciasnacionais einternacionais nocampo dasTecnologias Sociais(TSs), tanto na áreaurbana comona rural.

rante o evento, estarão à disposi-ção dos participantes equipamen-tos de tradução simultânea. A ins-crição custa R$ 70.

A 1ª Conferência Internacional deTecnologia Social foi realizada de 17 a19 de novembro de 2004, em São Pau-lo (SP), patrocinada pela FundaçãoBanco do Brasil, Petrobras, Ministérioda Ciência e Tecnologia, Financiadorade Estudos e Projetos (Finep) e Asso-ciação Brasileira das Instituições dePesquisa Tecnológica (Abipti). Duran-te três dias, estiveram reunidas cercade 400 pessoas, em mesas-redondase outras atividades, para discutir con-ceitos e apresentar propostas de ope-racionalização da RTS, que viria a seformar no ano seguinte.

2º FórumO 2º Fórum Nacional da RTS será

realizado também em Brasília, en-tre os dias 13 e 15 de abril. Comcaráter consultivo e propositivo, o en-contro orientará o planejamento daRede para 2009 e 2010.

Está previsto para este fórum arealização dos encontros regionais.O objetivo é articular debates sobreo papel das tecnologias sociaispara o desenvolvimento das cincograndes regiões do país, de acor-do com suas respectivas peculiari-dades e potencialidades. A progra-mação prevê ainda momentos departilha como forma de estímulo àinteração entre as instituições as-sociadas à RTS.

O últ imo dia do Fórum serádestinado à discussão em eixostemáticos, incluindo a articulaçãode tecnologias sociais à geraçãode trabalho e renda nos seguin-tes temas: Segurança Alimentar eAgroecologia; Energias Renová-veis; Cidades Sustentáveis; Águae Agroextrativismo.

http://conferencia.rts.org.br

http://forum.rts.org.br

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úlio Pavese é sociólogo por formaçãoe fotógrafo por opção. Prestes a seaposentar, depois de trabalhar pormais de 35 anos com populações atin-

gidas por barragens e usinas hidrelétricas, acu-mula um acervo fotográfico privilegiado dos rin-cões do Brasil. Neste ensaio, mostra a realidade de uma transi-ção, ocorrida nos anos 80, na Bahia. Na época,para a construção da barragem Pedra do Cavalo,cuja promessa era de acabar com qualquer pos-sibilidade de inundação nas cidades ribeirinhasde São Félix e Cachoeira, na Chapada Diamanti-na, sumiu do mapa uma das primeiras usinas hi-drelétricas do país. A Usina de Bananeiras, queentrou em operação no início do Século XX, eraum ícone da energia elétrica até então. Mas delanada sobrou para contar a história.

JAgricultores observam projeto parafuturos lotes....

... e o lugar de suas futuras casas édecidido em sorteio nos seus chapéus

Dilema das águas

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As cidades de São Félix eCachoeira, divididas pelo RioParaguaçu e ligadas pela ponteinaugurada por Dom Pedro, foramo cenário de progresso e tristezadas famílias que tiveram que serremovidas às pressas. Abaixo,morador posa orgulhoso em frenteà Casa de Máquinas da antigausina. Hoje toda esta região estáembaixo d’água.

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O maquinário que não foi ven-dido “a preço de banana” estáhá 70 metros da lâmina d’águado atual reservatório da Pedrado Cavalo. E além da perdamaterial, o fotógrafo/sociólogoregistrou a vida das dezenas defamílias que deixaram suas ca-sas, algumas até sem necessi-dade. “Tivemos que trabalharrápido para salvar as pessoas,pois por um erro no manuseiodas compotas da barragem, olago que deveria levar um anopara encher, ficou praticamentecom sua capacidade máximaem apenas dez dias. Precisa-mos de helicóptero para retirarfamílias, ajudar doentes a sairde suas casas”, relembra Pave-se. O que ficou para a históriadesta obra, no entanto, foi o efei-to inverso. Em vez de conterinundações, as duas cidades li-gadas pela ponte inauguradapelo próprio Dom Pedro, fica-ram totalmente embaixo d’águajá no primeiro ano da constru-ção. Depois, o problema foi sa-nado. Em 2005 a barragem, queainda é a responsável peloabastecimento de água à Re-gião Metropolitana de Salvador,cedeu uma parte de sua estru-tura para a construção da UsinaHidrelétrica Pedra do Cavalo.

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Por Alessandra Mathyas

Há pouco mais de um ano emFlorianópolis, a empresa NovoCiclo Ambiental é exemplo de quelixo zero é possível. Em parceriacom duas empresas – uma de co-municação e outra de energia elé-trica – a Novo Ciclo está apos-tando na educação ambiental eatuando concomitantemente emquatro frentes: engenharia, design,marketing e educação. O mentorda ideia é o engenheiro RodrigoRibeiro Sabatini. Viajando pelomundo, ele encontrou experiênci-as muito interessantes e acreditaque no Brasil é possível adotar me-didas que aos poucos irão se tor-nar uma rotina.

Como primeira orientação,está a eliminação das lixeiras. “Li-xeira chama lixo e ninguém gostade lixo. Quando algo vai para alixeira, estamos inconscientemen-te dizendo: isso não é mais minharesponsabilidade. Então, sem ondedepositar seus resíduos, o cidadãoprecisa pensar o que fazer comeles” explica o engenheiro. E é aíque estão as primeiras ações daNovo Ciclo.

Para acabar com o descartee dar um destino aos papéis ve-lhos como revistas, jornais, livrose apostilas, a empresa apostou naEstante do Saber para uso emcondomínios. Trata-se de um mó-vel simples e bonito, “decorado”com orientações ambientais, ondeos moradores depositam o queantes iria para o lixo. Ali, segundoSabatini, há uma experiência detroca muito interessante. “As pes-

É possível pensarem lixo zero, numasociedadecapitalista econsumista? Paramuitos isso éimpossível quandose sabe que cadapessoa produz emmédia um quilo deresíduosdiariamente. Paraoutros, que tratamesses resíduoscomo material a serreutilizável, o lixozero deixa de seruma utopia.

Lixo Zero:realidade ou utopia?

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soas levam o material e trocam poroutros disponíveis na estante. Oque sobra – que não interessou àspessoas que circulam nesse ambi-ente – nós recolhemos e doamospara hospitais e escolas. Afinal,ninguém se incomoda de ir ao den-tista e esperar pelo atendimentolendo uma revista velha!” A vendapara a reciclagem é a última op-ção para os papéis da Estante doSaber, que no mês de março, jáestará implantada em 250 condo-

mínios da capital catarinense.Outra iniciativa da empresa é

o coletor de pilhas. Para isso foidesenvolvido um recipiente comdesign moderno, que, assim comoa Estante, divulga os apoiadores eatua como uma ferramenta demarketing direto. “Pilhas, lâmpa-das e baterias são os resíduos queprecisamos pagar para dar um fim.E são coisas que geralmente aspessoas não colocam no lixo co-mum, querem um lugar adequado

para depositá-las. Oferecemosesta oportunidade e, quando o“coletor” está cheio, encaminha-mos à única empresa no país quetrabalha com este tipo de materialdescartado”. Além destas ações jáem andamento, entre as próximasiniciativas da Novo Ciclo está ainstalação de Bibliotecas Livres,mantidas com o material arreca-dado nas Estantes do Saber.

Para a Novo Ciclo é precisoir além do que pensar os resíduos

“Lixeira chama lixo eninguém gosta de lixo.Quando algo vai para a

lixeira, estamosinconscientemente

dizendo: isso não é maisminha responsabilidade.

Então, sem ondedepositar seus resíduos,o cidadão precisa pensar

o que fazer com ele”

ILUSTRAÇÃO DANIEL WILDMAN

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www.novocicloambiental.com.brwww.naturvardsverket.se

SAIBA MAIS EM:

como algo descartável, sem valor.“Na nossa casa, no nosso traba-lho, tudo é selecionado, separa-do, organizado em algum lugar. Porque com o material que foi usadonão continuamos com este proce-dimento? Já sabemos como se faz,basta praticar”, sugere Sabatini.

O que é lixo?“Temos que entender que

nem tudo é lixo. O resíduo lava-do, como latas, recipientes plásti-cos e de vidro, deixam de ser lixoe assim podem ser armazenadosem lugares próprios sem o riscode infestação de insetos ou trans-missão de doenças”, explica Ro-drigo Sabatini. E por isso, defen-de o engenheiro, as pessoas po-dem manter este material em casaaté que se dê uma destinação cor-reta. Segundo ele, as pessoas têmboa vontade em ajudar, em pre-servar o meio ambiente, precisamdos instrumentos para isso.

Um exemplo ocorre na Chi-na. Lá não existe coleta de lixo.As pessoas entregam os seus re-síduos e recebem dinheiro porisso. Incentivadas, não acumulammaterial nocivo à saúde em suasresidências e, por fazerem o trans-porte até os pontos de coleta, se-param e limpam os resíduos. É apolítica dos três Rs em prática:Reduzir, reutilizar, reciclar.

Diferente daqui, onde os cida-dãos pagam uma taxa anual pelo ser-viço ligado ao lixo e o poder públi-co tem a obrigação de coletar e darum destino final, via de regra os ater-ros sanitários, na China as pessoasbuscam aproveitar ao máximo osmateriais para não terem que ficartransportando. Afinal, tanto aquiquanto lá, o preço pelo material aser reciclado é ainda baixo.

Outro país que está cami-nhando para uma nova forma detratar os resíduos é a Suécia. Ogoverno decidiu acabar com osaterros sanitários. Sem ter ondedepositar, governos e populaçãoterão que atuar com força paraevitar o desperdício e no máximoreaproveitamento de materiais.Esforço que já começou. Cercade 5% da energia consumida nopaís vem da energia térmica pro-duzida com a queima de resíduos(as já conhecidas usinas de lixo).Associado a uma série de instru-mentos legais de incentivo à sus-tentabilidade, o volume de lixodoméstico para aterros sanitári-os na Suécia diminuiu de1.380.000 toneladas em 1994para 226.000 toneladas em2006. Não à toa que o país ago-ra quer se ver livre dos lixões.

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A crise vem trazendo de volta à economia a “mão forte” do Estado que, aliás,nunca foi “leve”, nem mesmo no auge do neoliberalismo. Os esforços eram destinadospara outros segmentos, não o consumo direto. Agora, com o colapso do sistemafinanceiro e a escassez de crédito, os agentes públicos governamentais passam aatuar diretamente em setores que podem gerar trabalho, emprego e renda, mantendoa atividade econômica aquecida. Um dos setores mais visados, nesta estratégia deevitar recessão profunda, é a construção civil, pois gera milhares de empregos emantém uma extensa cadeia produtiva funcionando, de fabricação de telhas a eletro-domésticos. No entanto este é talvez o setor que mais impacto ambiental cause. Porisso, atualmente, estão sob escrutínio da sociedade, em qualquer país, as grandesobras de infraestrutura e os projetos habitacionais. Não se trata de “não construirmais”, e sim de construir levando em conta o tripé da sustentabilidade.

No Brasil, os governos também vêm atuando para evitar desemprego em massa edesaceleração econômica, incrementando obras públicas. O mais recente exemplo éa compra de imóvel subsidiada, novo plano que o governo federal anunciou em marçosua parceria com os governos estaduais e municipais.

Espécie de “Bolsa-Habitação”, programa dará subsídio para mutuários pobres(renda até R$ 1.345,00) , que pagariam entre R$ 15 e R$ 20 reais pela prestação dacasa própria, sendo o restante coberto com recursos do orçamento da União. Oscálculos de especialistas em habitação indicam que 85% do déficit de 7 milhões demoradias do país concentram-se nesta faixa de renda. Por isso, o governo federal,além de subsidiar, quer a construção de unidades habitacionais mais baratas.

Independente das controvérsias geradas pelo simples anúncio deste programa,vale a pena comentá-lo do ponto de vista da responsabilidade social empresarial.

Este programa pode ser uma excelente oportunidade para os governos federal,estaduais e municipais estabelecerem um novo padrão de habitação popular, levandoem conta quatro dimensões:

- O próprio conceito de habitação popular. Mesmo de baixo custo, a moradia paraa população de baixa renda pode seguir padrões mais saudáveis, como pé direitomais alto, melhor aproveitamento da luz natural e mais arejamento. Os locais des-tas construções também deveriam ser escolhidos levando em conta a proximida-de com equipamentos públicos já existentes (redes elétrica e de água, saneamen-to, transporte público, ruas já abertas e asfaltadas, escolas, comércio, etc), paraevitar maior impacto ambiental- Utilização de materiais de menor impacto ambiental e de resíduos da própriaconstrução, bem como reuso de água, aproveitamento de água da chuva e insta-lação de placas solares para aquecimento e iluminação; prioridade à madeiracertificada;- Estímulo à inovação, usando as tecnologias sustentáveis já existentes (comotelhado verde, torres de água que captam água da chuva e são movidas a energiasolar, etc), promovendo pesquisas em construção civil para o surgimento de no-vas tecnologias.- Incentivo à participação desta população nos projetos de construção, priorizan-do o emprego e a capacitação dos trabalhadores que morem nas regiões benefi-ciadas pelos projetos.Com isso, a casa popular, além da moradia, vai garantir a inclusão social e o equilíbrioambiental, tão necessários ao desenvolvimento sustentável que buscamos.O debate sobre os critérios socioambientais, infelizmente, nem começou e já per-deu espaço para a arenga “analítica” sobre os impactos desta iniciativa nas elei-ções de 2010.

oportunidade para aconstrução sustentável

Subsídio à compra de imóveis:

Diretor executivodo Instituto Ethos

PAULO ITACARAMBI

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e volta ao Brasil, anona edição do Fó-rum Social Mundiallevou para o norte dopaís uma cesta detemas que afligem a

atualidade, com destaque para o fu-turo da Amazônia. Naquela sema-na quente de janeiro, o FSM emBelém foi palco para diversas tri-bos e envolveu mais de 130 mil pes-soas. Lá se reuniram cinco presi-dentes latino americanos, entreeles o do Brasil. Pesquisadores,pensadores e militantes sociais de-bateram da crise econômica à pro-dução de alimentos e energia re-novável. Como sempre, um espa-ço rico de manifestações, e quemantém ainda viva, mais como in-

D dagação que afirmação: Um outromundo é possível?

O colapso financeiro, que aos pou-cos dá sinais de melhora, foi para osparticipantes do Fórum Social, o“gancho” para mostrar que, ou se re-pensa os modos de consumo e deprodução mundiais, ou não haverá ou-tro mundo possível. E nisso, as opi-niões foram as mais diversas.

Para o pesquisador MichaelLöwy, do Centre National des Re-cherches Scientifiques (CNRS) daFrança, é preciso pensar alterna-tivas radicais, “que arranquem omal pela raiz”. Essa é a respostaque vê às três grandes crises atu-ais apontadas por ele: a econô-mica, a alimentar e a ecológica.“A solução não é uma versão mais

O papel doFórum Social Mundial

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verde, mais civilizada, mais éticae regulada do modo de produçãocapitalista. Nós temos que pen-sar em uma alternativa revolucio-nária”, apregoa.

Independente do teor rico dosdebates, o que foi bastante ques-tionada é a forma como o eventovem acontecendo. Verificou-se anecessidade de mudanças pro-fundas na estrutura da organiza-ção. O sociólogo Emir Sader éum dos que quer a mudança.“Para os que acreditam que o fimdo FSM é o intercâmbio de expe-riências, devem estar contentes.Para os que chegaram angustia-dos com a necessidade de res-postas urgentes aos grandes pro-blemas que o mundo enfrenta, a

frustração, o sentimento de quese o FSM não quer se diluir naintranscendência, tem que mudarde forma e passar a direção paraos movimentos sociais.”

Este debate promete continuar.Afinal o próximo FSM será somen-te em 2011, “em algum país da Áfri-ca”. Esta indefinição já aponta al-gumas dificuldades.

A agência Carta Maior mantémno seu sítio da internet, uma am-pla cobertura sobre todas as edi-ções do Fórum Social e destacabastante esta encruzilhada que oevento se encontra. É uma boafonte para comparações, verificaravanços, retrocessos, discursose práticas.www.cartamaior.com.br

1 - Participante assina uma faixa da delegaçãojaponesa presente na UFPA para o primeiro diados debates e apresentações do FSM

2 - O representante do Instituto Paulo Freire,Moacir Gadotti, fala durante debate no FórumMundial de Educação, realizado paralelamente aoFSM. Ao lado, a senadora Marina Silva e oteólogo Leonardo Boff

3 - Participante da Guatemala faz uma evocaçãodo espírito da terra em homenagem à Amazônia.

Emir Sader, um dos idealizadores do FSM

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FOTOS : FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/ABR

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PP: Como o tema “responsabilidade social” vemsendo pautado junto às instituições bancáriasnacionais pela Febraban? Há um planejamento paraeste segmento orientado pela federação ou cadainstituição define o que e como fazer?

Sonia: A Federação não tem um papel regulador, masde articulação, de alinhamento de conceito. Lá reco-mendamos, sugerimos, mas cada banco é autônomoem suas decisões. Na estrutura da Febraban há 25comissões técnicas onde são abordadas todas as te-máticas relativas às instituições. Estas comissões es-tão divididas em três Comitês. A comissão que dirijo fazparte do Comitê de Relações Institucionais. Todos osdiretores de comissões trabalham voluntariamente naFederação, mas cada comissão tem um assessor téc-nico, este sim funcionário. Temos reuniões mensais ea cada dois meses nos reunimos nos comitês. Nocaso da Comissão de Responsabilidade Social e Sus-tentabilidade, temos um planejamento anual. Adotamosalgumas ações, como o Café com Sustentabilidade,onde todo mês convidamos dois especialistas para dis-cutir determinado tema. Cada “Café” gera uma publica-ção e então constituímos a memória do debate e envi-amos a pessoas e instituições que buscam semprenovas informações. Isso é disseminar conhecimento.Na Febraban há um projeto próprio de operação direta,que é o Projeto Cisternas, em onze estados do semiá-rido nordestino. Nesta iniciativa, somos o principal in-vestidor. Também desenvolvemos uma campanha anu-al pelos direitos da criança e adolescente, estimulando

Sustentabilidade é bom negócioA jornalista paulistana Sonia Consiglio Favaretto encontrou naárea de sustentabilidade um grande desafio profissional epessoal. Especializada em comunicação empresarial, atualmenteé a responsável pela área de Sustentabilidade e ComunicaçãoInterna e Institucional do Banco Itaú e também DiretoraSetorial de Responsabilidade Social e Sustentabilidade daFederação Brasileira de Bancos – Febraban. Nesta entrevista, elafala das ações da Federação, dos avanços nesta temática e doreconhecimento dos clientes pela adoção de práticas sustentáveisno sistema bancário

... o banco tem que terlucro comsustentabilidade. E asinstituições estãopreocupadas emprestar contas àsociedade

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Sonia FavarettoSuperintendente de Sustentabilidade e Comunicação Interna e Institucional do Banco Itaúe Diretora Setorial de Responsabilidade Social e Sustentabilidade da Febraban

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os bancos a repassar recursosaos conselhos municipais de in-fância. E também temos uma par-ceria com o Instituto Ethos nos In-dicadores Setoriais de Respon-sabilidade Social. Está no plane-jamento deste ano a realização deworkshops sobre os Indicadorespara orientar e estimular os ban-cos a utilizarem este instrumentoem sua gestão. Com ações comoessas, acreditamos que estamospromovendo o tema e estimulan-do o sistema financeiro nacionala adotar cada vez mais ações desustentabilidade.

PP: Vários bancos já adotarampráticas sustentáveis. Algunsbrasileiros, inclusive já têmdestaque internacional nestequesito (como na edição 2008do FT Sustainable BankingAwards e no relatório defevereiro da FundaçãoBrasileira para oDesenvolvimento Sustentável –FBDS). Mas que trabalho vemsendo desenvolvido para quesustentabilidade e ganhoscapitais possam andar lado alado?

Sonia: Há uns três ou quatro anostemos sentido que essa dicotomiavem perdendo a força. Agora já seentende que um não é oposto aooutro: o banco tem que ter lucrocom sustentabilidade. E as insti-tuições estão preocupadas emprestar contas à sociedade.

PP: Como se dá a relação entreos bancos que tomaraminiciativas socioambientais debastante relevância (Banco doPlaneta do Bradesco, Usoconsciente do dinheiro do Itaú,Sistema de Gestão Ambientaldo Banco Real, oDesenvolvimento RegionalSustentável do Banco do Brasil,entre outros)? Você acha queações como estas interferemna escolha dos clientes aooptar por um banco?

Sonia: Ainda não é uma práticacorrente a escolha de um bancoporque ele adota mais práticassustentáveis do que outro, este é

um caminho em evolução. Damesma forma, por exemplo,quando vamos ao supermercado,muitas vezes é o preço que definea escolha do produto, e não ca-racterísticas “ecológicas”. Este éum processo demorado, de mu-dança de atitude, mas que já co-meçou. Hoje, os clientes já ques-tionam o que os bancos estão fa-zendo e se sentem felizes quandosabem que o seu banco se preo-cupa com questões sociais eambientais. Ou seja, as políticasde sustentabilidade sem dúvidaajudam da fidelização do cliente.Em relação à publicidade, cadainstituição tem sua lógica, o quetambém ajuda na visibilidade desuas ações. Porém a eficácia daspropagandas é questionada pelopúblico. O Instituto Ibope fez umapesquisa onde cerca de 45% dosentrevistados disseram que, paraelas, as empresas desenvolvemações sustentáveis apenas parafazer marketing. Ou seja, açõescomo acesso ao crédito, financia-mento sustentável e inúmerasimportantes ações nesta área,para boa parte da população, nãopassam de discurso, quando, naverdade, as instituições que ado-tam tais práticas estão sim com-prometidas com a causa.

PP: E a “crise econômicainternacional”.... isso teminfluenciado nas ações desustentabilidade dos bancos?

Sonia: É nessa hora que se per-cebe se a sustentabilidade estáarraigada na instituição ou apenasse é uma ação de marketing. Issoé mais fácil de avaliar em projetossociais. Se a empresa está comuma agenda inicial de sustenta-bilidade, é possível que haja umfreio. Isso tem acontecido. Masesse momento difícil da economiamundial também serve para tes-tar o comprometimento das açõescom a sustentabilidade. Institui-ções que tratam a temática comuma visão estratégica, de médioe longo prazo, não cortam investi-mentos. No Itaú estamos manten-do, pois aqui a sustentabilidadetem valor agregado, faz parte daestratégia, do negócio. Toda crise

Ainda não é umaprática corrente aescolha de um bancoporque ele adota maispráticas sustentáveisdo que outro, este é umcaminho em evolução.

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impacta, mas é um novo momen-to.

PP: Falando agoraespecificamente do BancoItaú... quais foram asconseqüências imediatas paraa instituição após o lançamentoda Cartilha Uso Consciente doDinheiro?

Sonia: Este é um projeto que lan-çamos pioneiramente em 2004.Entendemos que devemos em-prestar dinheiro sim, mas não aqualquer custo. É exatamente omote desta campanha: o dinheiroé para realizar sonhos, e não paravocê ter pesadelos. Este é umtema que incluímos como parte donosso papel de instituição finan-ceira: o de conscientização. E estásendo muito interessante. Os cli-entes enviam e-mails, retiram ascartilhas, ficam felizes em saberque o seu banco se preocupa comisso. E é claro que a campanhatambém ajuda a mantermos umelo de fidelidade na relação insti-tuição-cliente.

PP: O relatório anual desustentabilidade do Itaú foirecentemente avaliado pelaFBDS como um dos dezmelhores do Brasil. Quaisforam as sugestões destafundação para a melhoria dorelatório do banco?

Sonia: Uma das principais reco-mendações da FBDS é que a sus-tentabilidade tenha um tratamen-to transversal ao longo do relató-rio, pois assim é na prática. Queela não deve ficar “confinada” aapenas um capítulo, pois permeiaas ações de todos os setores.

PP: O que a fusão Unibanco/Itaú significará para os projetosde responsabilidade social jáem andamento?

Sonia: Há naturalmente uma ex-pectativa de mudança de patamar.Tínhamos duas agendas de sus-tentabilidade importantes e mui-to complementares. O microcré-dito é um exemplo disso. Agorateremos uma atuação mais “par-

ruda”, mais ampla, à altura domaior banco do Hemisfério Sul eum dos vinte maiores do mundo.

PP: Falamos de instituiçõesgigantes responsáveis pelacirculação diária de bilhões dereais.... Mas do público para oprivado... Como é a vida dacidadã Sonia.... Seu dia-a-dia...

Sonia: Atuar na área de susten-tabilidade é estar em um nível

de tensão permanente, neces-sário para que a agenda evo-lua. Pessoalmente é um desa-fio muito grande. Escrevo arti-gos a respeito, tenho a preocu-pação com os recursos natu-rais no meu dia a dia, com aeconomia de água, luz, com-pras etc. Faço e também cobroda minha família. Pode parecerpouco, mas se cada um fizer asua parte podemos, sim, me-lhorar o mundo.

...ações como acesso ao crédito, financiamentosustentável e inúmeras importantes ações nestaárea, para boa parte da população, não passamde discurso, quando, na verdade, as instituiçõesque adotam tais práticas estão simcomprometidas com a causa.

Café com Sustentabilidadee cartilha Orçamento

Familiar: ações quedisseminam conhecimento

sobre desenvolvimentosustentável

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Sou um homemde esperança

O jornalista Chico Pinheiro, 55anos, nasceu Francisco deAssis. Apresenta suanaturalidade como “mineiro deSanta Maria da Boca doMonte”. O nascimento nacidade gaúcha, brinca, foi um“acaso de rota”, pois cresceu eformou-se em jornalismo nasMinas Gerais. Na infânciaconheceu muitos estados,acompanhando o trabalho dopai, que era topógrafo. Ogosto pela música brasileira,retratado no programa Sarauda Globo News, herdou damãe. Profissionalmente,trabalhou em rádio, jornal, emassessoria de imprensa (com ocantor MiltonNascimento),além de ter sidoSuperintendente deDesenvolvimento Cultural doGoverno de MG. Foi professorde jornalismo na UniversidadeFederal de Minas Gerais e háanos atua como âncora detelejornais da TV Globo. Pelaatuação profissional foireconhecido como jornalistaamigo da criança pela Unicef/Andi, é cidadão honorário deSão Paulo, entre outrosdestaques.

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LEMBRANÇA INESQUECÍVELDA INFÂNCIA

“Em 1958, antes de existir a cidade ou qualquer vestí-gio dela, eu morei em Brasília. Meu pai foi fazer o trabalhode topografia para a construção. Só havia um acampamento,barracas de lona, luz de lampião. A única coisa que tinhaera o céu iluminado só de lua e muita estrela. O céu maislindo que já vi em toda a minha vida. Tinha lobo guará eonça pintada.”

O JORNALISMO“Quando jovem, fiz um teste vocacional e deu comuni-

cação. Pensei que era para a parte técnica, telecomunica-ções. Achei legal e entrei na faculdade de jornalismo. Nãofoi nada pensado, nenhuma influência da infância ou famí-lia. Mais de 30 anos de profissão e para mim o jornalismotem que ser mais que registrar fatos. Precisa contribuircom a formação da sociedade, ajudar as pessoas a tomardecisões, a formar opinião.”

DESVALIDOS“Em 1976, eu trabalhava no Jornal do Brasil e o bispo de

Minas Gerais falou de outro, considerado comunista. Era DomPedro Casaldáglia, em São Félix do Araguaia (desde 1971 naregião, o religioso apoiou declaradamente a guerrilha). Fui lá,para ouvir a versão do bispo e, ao final da entrevista ele meudeu um anel de tucum. Eu perguntei: é um desafio? E elerespondeu: não, apenas é para testar sua consciência. Nun-ca mais tirei o anel do dedo. O significado para mim é omesmo de todos os que o usam: compromisso com os des-validos, opção preferencial com todas as pessoas que preci-sam de ajuda. Naquela época, pouca gente usava.”

ALÉM DA PROFISSÃO“Não tenho tido tempo para praticar esporte, tenho que

corrigir isso. Mas me orgulho de ser conselheiro vitalíciodo Atlético Mineiro, o Galo. Tento ainda contribuir com insti-tuições como o Instituto Sou da Paz, o qual fui um dosfundadores, sou conselheiro do Instituto Ayrton Senna eainda mantenho ligação ao Ibase (Instituto Brasileiro deAnálises Sociais e Econômicas), do Betinho. A nossa cor-reria só tem sentido se for para um mundo melhor . Porisso me envolvo com as coisas que nos cercam”.

PARA ONDE CAMINHA O MUNDO“Por uma questão de fé, acredito no ponto ômega, para

onde tudo converge, de uma maneira irresistível (a refe-rência é ao pensamento do padre jesuíta, teólogo, filósofoe paleontólogo francês Pierre Teilhard de Chardin). O finaljá foi dado na história. E é um final feliz porque é a vitória doamor, que se fundamenta na ternura, no cuidado e, claro,na justiça. Sou um homem de esperança. Se não fosse,não teria cinco filhos. Aliás, meus filhos e meus amigossão os prêmios que ganhei na minha vida”.

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A empresa China NationalOffshore Oil Corporation(CNOOC) está, desde 2007,transformando o CO2 que emi-te em plásticos biodegradá-veis. O produto é um copolí-mero, matéria-prima utilizadana indústria, na agricultura eaté na medicina. A estimativaé que a cada ano sejam reutili-zadas 2,1 mil toneladas de CO2

Empréstimo Programático de Po-líticas de Desenvolvimento emGestão Ambiental Sustentável.Esta é a operação lançada na pri-meira semana de março peloBanco Mundial (Bird) para finan-ciar projetos ambientais no Bra-sil. Serão R$ 1,3 bilhão, o maiormontante de crédito já repassa-do pela instituição ao país. Ocombate ao desmatamento da

Crédito para o meio ambiente

Já é bastante divulgada areciclagem de garrafas PETno país e o crescimentoneste setor impulsionaboas e criativas iniciativas.Aliando a necessidade deredução de sacolas plásti-cas com a conscientizaçãoda reciclagem das garrafasPET, a empresa WantageLtda, conhecida comoSacolaRetornavel.com.apostou neste tipo de con-fecção e tornou-se até omomento a única do paísa desenvolver este produ-to. Os fornecedores da ma-téria-prima são cooperati-vas de catadores. Hoje 250mil famílias no Brasil têma captação de materiais re-cicláveis como principalfonte de renda.O país descarta sete bi-lhões de garrafas PET anu-almente. Sua aplicação emtecidos, como o usado nafabricação nestas sacolas,economizam 76% daenergia e reduzem em71% a emissão de CO².

Do lixo paraos ombros

Plásticos e refrigerantespara a produção de três mil to-neladas do plástico. Outro pro-jeto industrial da CNOOC pro-mete reciclar 24 milhões demetros cúbicos do gás anual-mente para a produção de be-bidas carbonadas, como refri-gerantes e energéticos. O pri-meiro lote das bebidas já teriasido comercializado em HongKong em janeiro de 2009.

Amazônia, à falta de proteção aoque restou do bioma Mata Atlân-tica e questões relacionadas àqualidade e disponibilidade daágua deverão ser os principais fo-cos de investimentos deste pro-grama de crédito. A liberação efe-tiva dos recursos depende deaprovação do Senado Federal,que avalia as operações de em-préstimos internacionais ao país.

Farol do SolO Instituto para o Desenvolvimento de

Energias Alternativas e da Auto Sus-

tentabilidade – IDEAAS – recebeu em

março o Prêmio Eco Mudança do Itaú,

pelo Projeto Farol do Sol. Este traba-

lho visa substituir por lâmpadas à

energia solar os “liquinhos” a quero-

sene dos barcos usados na pesca de

camarão na Lagoa dos Patos (RS).

Com o prêmio de R$ 90 mil o IDEAAS

irá criar um fundo de aval e tornar-se o avalista dos peque-

nos pescadores que querem fazer a substituição por energia

renovável em seus barcos. A pesca do camarão é a fonte de

renda de mais de duas mil famílias desta região gaúcha.

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