ribeiro, anely

Upload: luiz-ricardo-linch

Post on 03-Jun-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    1/240

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

    ANELY RIBEIRO

    ANLISE DE SITUAO NA CRISE ORGANIZACIONAL: ESPAO PARA

    TEORIA DA POLIDEZ LINGSTICA NA RELAO DE COMPLEXIDADE?

    CURITIBA2010

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    2/240

    ANELY RIBEIRO

    ANLISE DE SITUAO NA CRISE ORGANIZACIONAL: ESPAO PARA

    TEORIA DA POLIDEZ LINGSTICA NA RELAO DE COMPLEXIDADE?

    Tese apresentada ao curso de Ps-Graduao emLetras - Estudos Lingsticos - Setor de CinciasHumanas, Letras e Artes, Universidade Federal doParan, como requisito parcial obteno do ttulo

    de doutora em Letras.

    Orientadora: Prof Dr Elena Godoi

    CURITIBA2010

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    3/240

    Catalogao na publicaoSirlei do Rocio Gdulla CRB 9/985

    Biblioteca de Cincias Humanas e Educao - UFPR

    Ribeiro, AnelyAnalise de situao na crise organizacional: espao para

    teoria da polidez lingistica na relao de complexidade? /Anely Ribeiro. Curitiba, 2010.

    173 f.

    Orientadora:.Prof Dr Elena GodoiTese (Doutorado em Letras) Setor de Cincias Humanas,

    Letras e Artes, Universidade Federal do Paran.

    1. Comunicao nas organizaes crise. 2. Comu-nicao nas organizaes contexto. 3. Lingistica comunicao. I. Titulo.

    CDD 401.4

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    4/240

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    5/240

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    6/240

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    7/240

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    8/240

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    9/240

    SUMRIO

    1 INTRODUO ...................................................................................................132 CAPTULO I - COMUNICAO: ABORDAGENS DOS ESTUDOS

    LINGSTICOS E DA TEORIA DA COMUNICAO SOCIAL E SUASINTERFACES NA COMUNICAO ORGANIZACIONAL ...............................19

    2.1 PERSPECTIVAS E ABORDAGENS NOS ESTUDOS EM TEORIA DACOMUNICAOSOCIAL............................................................................19

    2.2 ALGUMAS TEORIAS SOBRE A COMUNICAO: ESTUDOSLINGSTICOS............................................................................................30

    2.3 PERSPECTIVAS TERICAS DA/SOBRE A COMUNICAO

    ORGANIZACIONALECONTRIBUIESSOBOFOCODAPRAGMTICALINGSTICA ..............................................................................................44

    2.3.1 Panorama de Investigaes no Brasil .................................................45

    2.3.2 Algumas abordagens sobre comunicao organizacional - mbitointernacional .........................................................................................51

    2.3.3 Linguagem e cultura: aproximaes tericas com a pragmticalingstica e a comunicao organizacional ......................................61

    2.4 CONFIRMAODEHIPTESE .................................................................70

    3 CAPTULO II - PARADIGMA DA COMPLEXIDADE: CAMINHADA DE

    COMPREENSO E INTERPRETAO NA PESQUISA SOBRECOMUNICAO (ORGANIZACIONAL) E OS ESTUDOS LINGSTICOS ....71

    3.1 ORIGENS E PRINCPIOS DO PARADIGMA DA COMPLEXIDADE EMMORIN.........................................................................................................71

    3.2 OSPRINCPIOSOPERADORESDOPARADIGMADACOMPLEXIDADE.75

    3.3 OPARADIGMAEOMTODO.....................................................................82

    4 CAPTULO III - ESTUDOS LINGSTICOS: PRAGMTICA - FOCO NAPOLIDEZ LINGSTICA ...................................................................................88

    4.1 NOES CONCEITUAIS DA PRAGMTICA LINGSTICA: FOCO NATEORIADAPOLIDEZ..............................................................................8888

    4.1.1 Teoria da Polidez Lingstica .............................................................102

    4.2 PRAGMTICA E POLIDEZ LINGSTICA: INVESTIGAES NO MBITODACOMUNICAOORGANIZACIONAL.................................................117

    4.3 O MAL-ENTENDIDOLINGSTICOE A VINCULAO EMSITUAO DECRISENACOMUNICAOORGANIZACIONAL ...................................1127

    4.3.1 Conceituaes, componentes e fatores que caracterizam o mal-entendido lingstico: complementaes tercias sobre conflito ecrise ...................................................................................................1127

    4.3.2 Ciclo de negociao e administrao do mal-entendido .................141

    4.3.2.1 A interface entre a polidez lingstica e o exerccio do poder .......144

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    10/240

    4.4 CRISE E COMUNICAO ORGANIZACIONAL: TERRENO PROPCIO AQUAIS ESTRATGIAS DA POLIDEZ E POSSIBILIDADE DO MAL-ENTENDIDOLINGSTICO? ....................................................................148

    4.5 CONFIRMAO DEHIPTESE...................................................................1581485 CAPTULO IV - POLIDEZ LINGSTICA CASO TAM 2007: VISO

    COMPLEXA ....................................................................................................160

    5.1 ANLISE DOCUMENTAL DA MDIA IMPRESSA COM AS ESTRATGIAS DA POLIDEZLINGSTICA: PROCEDIMENTOS DA AMOSTRA E FERRAMENTAS/INSTRUMENTOS E ACODIFICAO ...............................................................................................166

    5.1.1 Cdigos de subdiviso das estratgias da polidez ..........................168

    5.1.1.1 Cdigos de subdiviso das estratgias da polidez positiva............169

    5.1.1.2 Cdigos de subdiviso das estratgias de polidez negativa ..........1695.1.1.3 Cdigos de subdiviso off record uso indireto.............................170

    5.1.1.4 Subdivises das estratgias da polidez bald on redcord................170

    5.1.2 Anlise das estratgias da polidez lingstica nos discursos dosfalantes organizacionais na mdia impressa: 17.07.2007- acidentecom Airbus A320 - TAM.....................................................................184

    5.1.3 Hipteses e objetivos da pesquisa....................................................203

    6 CONSIDERAES E RECOMENDAES FINAIS .......................................206

    REFERNCIAS......................................................................................................................................... 215ANEXO 1 - CARTA DA TRANSDISCIPLINARIDADE ...........................................237

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    11/240

    RESUMO

    A investigao tem como tema a interface da pragmtica, com foco na teoria da

    polidez lingstica em Brown e Levinson (1987) no processo da comunicao

    organizacional, em situao de crise. Trata-se de pesquisa de cunho exploratrio

    bibliogrfico sobre teorias advindas dos Estudos Lingsticos que contribuem no

    desenvolvimento das pesquisas sobre/na comunicao, em especfico no campo da

    comunicao organizacional, com suporte no paradigma da complexidade.

    Utilizamos a pesquisa documental para a aplicao emprica da teoria da polidez

    lingstica na anlise de enunciados dos falantes organizacionais (representantes

    legitimados das organizaes), via mdia impressa nacional, envolvidos na situaode crise - acidente areo do Airbus A-320 TAM - em 2007. Nossos propsitos

    comprovam a hiptese central de que h nexos tericos da pragmtica e polidez

    lingstica com as abordagens que tratam da comunicao organizacional, sendo

    que tais investigaes so escassas no Brasil e no mbito internacional, sob o

    paradigma da complexidade. A teoria da polidez lingstica viabiliza anlise dos

    enunciados lingsticos no contexto da comunicao organizacional em

    comportamentos verbais escritos, veiculados na mdia impressa de circulaonacional, contextualizados na situao particular, tensa e complexa de crise.

    Interessa-nos a contribuio terico-emprica na transversalidade da teoria da

    polidez lingstica e o estudo no mbito da comunicao organizacional.

    Palavras-chave: comunicao; polidez lingstica; contexto; crise; comunicaoorganizacional.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    12/240

    ABSTRACT

    The investigation has as theme the pragmatic interface with focus on the linguistics

    politeness theory of Brown e Levinson (1987) in the process of organizational

    communication, in a crisis situation. This is an exploratory bibliographic research

    about the theories arising from the linguistics studies that contributes in the

    development of researches about/ in communication, especially in the field of

    organizational communication, with support in the complexity paradigm. We used the

    documental research for the empirical application of the linguistic politeness theory

    on the analysis of enunciates made by organizational speakers (legitimated

    organizational representatives), via national print media, involved in the crisissituation -air accident of Airbus A-320 TAM- in 2007. Our purposes prove the main

    hypothesis, that there are theoretical linkages in the pragmatic and in the politeness

    linguistics in the approaches about organizational communication, being these

    investigations rare in Brazil and in international context, under the complexity

    paradigm. The theory of politeness linguistics enables the analysis of the linguistics

    enunciated in the context of organizational communication on written spoken

    behaviors, disseminated in print media of national circulation, contextualized in aspecific situation, tense and complex crisis. We are interested in the theoretical-

    empirical contribution in the transversality of the theory of politeness linguistics and in

    the studies of organizational communication area.

    Key words: Communication; politeness linguistics; context; crisis; organizational

    communication.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    13/240

    13

    1 INTRODUO

    O presente trabalho est inserido no cmputo das indagaes, ansiedades e

    motivaes de cunho pessoal e profissional dessa autora. Na primeira pessoa do

    singular consigo expor que o questionamento sobre o processo da comunicao

    deve ter iniciado comigo na fase intra-uterina. Durante a adolescncia, no primeiro

    emprego, no interior do Rio Grande do Sul, numa empresa coureiro-caladista, o

    dialeto mais usado era derivado da lngua alem. Enquanto que na convivncia

    familiar, o dialeto italiano prevalecia. Havia o impacto, principalmente, nas

    manifestaes da oralidade nas interlocues com pessoas que empregavam o

    dialeto alemo em relao ao italiano, naquela poca. Agora, num balano maisamadurecido posso compreender melhor a minha prpria escolha ao ingressar na

    vida acadmica como aluna do curso de Comunicao Social, habilitao em

    Relaes Pblicas, numa tenra idade: estudar a comunicao que permeia os

    agrupamentos sociais. Creio que a motivao foi refinada pelo mestrado sobre o

    qual me debrucei na retrica situacional, voltada s aes de relaes pblicas, na

    comunicao integrada organizacional e no ingresso ao doutorado em Letras,

    concentrao em Estudos Lingsticos.A passagem para a fase profissional acadmica veio a fortalecer as

    motivaes pessoais devido aos encaminhamentos orientadores recebidos da Prof

    titular Dr Margarida Maria Krohling Kunsch, da Escola de Comunicaes e Artes da

    Universidade de So Paulo, durante e aps a realizao do mestrado, influenciando

    decisivamente na produo cientfica, principalmente nessa fase do doutoramento.

    Enfatizo, tambm, que a transio do amadurecimento deveu-se a participao de

    2003 a 2008 no Grupo de Pesquisa Linguagem e Cultura, certificado pelaUniversidade Federal do Paran CNPq, sob a liderana de minha orientadora Prof

    Dr Elena Godoi que contribuiu, juntamente com meu esforo e dedicao para

    chegar s pginas dessa introduo, cujo trabalho se direciona tese de doutorado

    em Letras, concentrao nos Estudos Lingsticos.

    A indagao sobre o processo comunicativo, nessa tese, est motivada ao

    questionamento elaborado por Verschueren (2002, p. 28) O que a gente faz quando

    usa a linguagem? e a seqncia argumentativa do autor de que o uso da linguagem

    uma forma de comportamento fundada nos aspectos cognitivo, social e cultura.

    Com base nessas premissas introdutrias de reflexo, seguimos a linha

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    14/240

    14

    argumentativa de que o processo comunicacional, ao se referir linguagem em uso

    indissocivel dos processamentos e composies mentais e scio-culturais,

    portanto, abre novos direcionamentos aos estudos da linguagem no processo da

    comunicao organizacional.

    A pesquisa tem como tema a pragmtica com foco na teoria da polidez

    lingstica no processo da comunicao organizacional, partindo das noes

    conceituais sobre as teorias da comunicao nos estudos lingsticos e nos tericos

    da comunicao social, bem como possibilidades de dilogo entre as

    abordagens/perspectivas que tais teorias possam exercer no campo de estudos da

    comunicao organizacional, sustentados pelo paradigma da complexidade. Os

    objetos de investigao tericos so: a comunicao, a polidez lingstica e acomunicao organizacional. Os objetos empricos so os enunciados coletados na

    mdia impressa nacional, veiculados nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S.

    Paulo com as vozes dos falantes organizacionais, ou seja, representantes das

    organizaes envolvidos no Caso TAM 2007.

    Trata-se de uma investigao de cunho exploratrio bibliogrfico sobre a

    contribuio da teoria da polidez lingstica no processo da comunicao

    organizacional. A presente pesquisa, igualmente, de natureza emprica comutilizao de amostra documental, oriunda da mdia impressa de circulao nacional,

    com recortes de material jornalstico que tratou da situao de crise organizacional

    no acidente da TAM, em 2007. A tese est alicerada no paradigma da

    complexidade em Morin (1998; 2003; 2005; 2006; 2008), o qual se fundamenta na

    escolha do mtodo como percurso da pesquisa, conforme as estratgias e

    habilidades empregadas pelo pesquisador(a), a indissociabilidade do sujeito com o

    objeto, a incluso do sujeito no processo de construo do conhecimento, mantendoa coerncia dos propsitos, objetivos, mas sustentado na premissa de que o

    conhecimento trabalha com a incerteza e a conjugao dos saberes, de modo

    complementar e interdependente.

    As perguntas/questes norteadoras buscam investigar:

    a) Como esto delimitados o campo, o(s) objeto(s) e as caractersticas que

    representam os estudos da/sobre a comunicao, sob os enfoques

    tericos da pragmtica lingstica e da comunicao social?

    b) De que maneira as teorias desenvolvidas sobre caractersticas, natureza e

    fundamentos da/sobre a comunicao, com origem nos estudos

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    15/240

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    16/240

    16

    a) H escassa aplicao dos estudos lingsticos, com foco na polidez

    lingstica no mbito da comunicao organizacional, em particular na

    situao de crise;

    b) A polidez lingstica uma teoria, que ficar explicitado ao longo desse

    trabalho, com conceitos capazes de permitir anlise em situao de crise

    no processo da comunicao organizacional, recebendo a contribuio

    dos princpios norteadores do paradigma da complexidade para o

    amalgamento terico;

    c) H estratgias da teoria da polidez lingstca empregadas nos

    enunciados escritos pelos falantes organizacionais (representantes das

    organizaes), em particular na aplicao em situao de crise do casoTAM 2007, que comprovam a existncia de tenses complexas nas

    relaes hierrquicas, nveis de poder e distncia social dos

    interlocutores.

    O captulo I - Comunicao: abordagens da pragmtica lingstica e da

    teoria da comunicao social e suas interfaces na comunicao organizacional -

    descreve pesquisas desenvolvidas que contemplam caractersticas, natureza e

    campo da/na comunicao. O critrio para escolha dos tericos da comunicaosocial a produo em coletnea ou individual de pesquisadores vinculados

    Comps - Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em

    Comunicao1. Os estudos sobre/da comuncao, sob abordagens da pragmtica

    lingstica na presente tese, so derivados, principalmente do enfoque scio-cultural.

    A diviso que ainda prevalece entre estudos da/sobre a comunicao pelos

    tericos da comunicao social e dos estudos lingsticos, nessa pesquisa, pretende

    constatar que h o desconhecimento, separatismo e fragmentao de taisinvestigaes entre os prprios pesquisadores. O separatismo e a fragmentao

    exercem influncia nas escolhas das abordagens/perspectivas nos estudos que

    envolvem a camunicao organizacional. Descrevemos a situao em que se

    encontram os estudos que mencionam a pragmtica lingstica no campo da

    comunicao organizacional, no mbito internacional, tendo como critrio a busca

    em handbookse algumas produes independentes.

    1 Para maiores informaes sobre a Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao emComunicao ver www.compos.org.br

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    17/240

    17

    O Paradigma da complexidade: caminhada de compreenso e interpretao

    na pesquisa sobre comunicao (organizacional), linguagem e cultura, no captulo II

    apresenta as origens e os sete princpios operadores da complexidade em Morin.

    Para Morin, torna-se importante as noes de mtodo, metodologia e paradigma

    (interdisciplinar, multidiscplinar e transdisciplinar) na escolha que o investigador(a)

    realiza. Apresentamos alguns exemplos de estudos brasileiros elaborados mediante

    o emprego dos postulados transdisciplinares, em Morin, tendo como tema a

    comunicao organizacional. No encontramos em nosso levantamento

    bibliogrfico, investigaes que empregam o paradigma da complexidade associado

    teoria da polidez lingstica na aplicao em anlises de enunciados, no contexto

    da comunicao organizacional, em situao de crise.O captulo III Pragmtica e polidez lingstica contextualiza abordagens

    sobre a pragmtica lingstica que do o suporte para o conhecimento e uso das

    ferramentas e instrumentos tericos a serem empregados via teoria da polidez

    lingstica: noes de contextos, aspectos scio-culturais vinculados competncia

    comunicativa e intencionalidade. A teoria da polidez lingstica a partir de Brown e

    Levinson (1987) com as noes das super-estratgias, desmembradas e codificadas

    em subdivises so os instrumentos disponveis para anlise na presenteinvestigao dos enunciados em situao de crise no caso TAM 2007. Brown e

    Levinson (1987) sustentam que a teoria da polidez lingstica est alicerada no

    trip poder (P), distncia social (D) e nvel de imposio (I), os quais so

    complementados pelas noes conceituais de contexto e intencionalidade em

    Verschuren (2002) e Dascal (2006) para anlise dos enunciados. A interface da

    polidez com o poder, assim como a possibilidade de gerar mal-entendido lingstico

    recebe aportes de, Locher (2004), Bazzanella e Damiano (1999) e Weigand (1999).A maneira de re(tecer) as imbricaes conceituais dessas correntes tericas em

    situao de crise no processo da comunicao organizacional apontada e

    construda com as premissas da complexidade.

    O captulo IV Polidez lingstica caso TAM 2007: viso complexa trabalha

    com as condies para anlise documental da mdia impressa nacional, tendo como

    fontes os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, mediante utilizao dos

    enunciados proferidos pelos falantres organizacionais, ou seja, representantes

    legitimados pelas organizaes. As bases tericas sobre os fundamentos da

    pragmtica e polidez lingstica, tratados no captulo III, suas relaes com noes

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    18/240

    18

    conceituais sobre comunicao (organizacional), presentes no captulo I,

    sustentados pelos princpios da complexidade, em Morin oriundos do captulo II,

    compem a tessitura de nossa interpretao e anlise contidas no captulo IV.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    19/240

    19

    2 CAPTULO I - COMUNICAO: ABORDAGENS DOS ESTUDOS

    LINGSTICOS E DA TEORIA DA COMUNICAO SOCIAL E SUAS

    INTERFACES NA COMUNICAO ORGANIZACIONAL

    O captulo analisa a comunicao tanto pelas investigaes da

    comunicao social (principalmente nas obras vinculadas ps-graduao), em

    especfico Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduo em

    Comunicao e abordagens tericas dos estudos lingsticos, com nfase na

    pragmtica lingstica. A produo de Silvestrin; Godoi; Ribeiro (2006), no

    Congresso da Alaic2, publicao em paper, o qual foi traduzido por Luis Igncio

    Sierra Gutirrez (2007, p. 27-37) e editado pela Revista Signo y Pensamiento3sob ottulo Comunicacin, lenguaje y comunicacin organizacional desenvolve passos

    iniciais para a lincagem das noes conceituais sobre o respectivo tema.O ponto de

    vista da/sobre comunicao, sob os enfoques da pragmtica lingstica obteve

    avanos em Godoi; Ribeiro (2009). Nessa tese revisamos as abordagens tericas

    sobre a comunicao organizacional com o propsito de identificar as investigaes

    realizadas com foco nos estudos lingsticos, especialmente os que adotaram

    fundamentos tericos ancorados na pragmtica e na polidez lingstica.

    2.1 PERSPECTIVAS E ABORDAGENS NOS ESTUDOS EM TEORIA DA

    COMUNICAO SOCIAL

    Os questionamentos que delineamos apontam para a necessidade de busca

    dos fundamentos e nexos tericos dos estudos oriundos da Comunicao Social e

    das Cincias Lingsticas, em especfico da pragmtica e polidez, com vistas a suaextenso para o campo de estudos da/na comunicao organizacional:

    a) Como esto delimitados o campo, (o)s objeto(s) e as caractersticas que

    representam os estudos da/sobre a comunicao sob os enfoques

    tericos da lingstica e da teoria da comunicao?

    2As informaes sobre a Alaic Asociacin Latinoamericana de Investigadores de la Comunicacin eventos, peridicos e produes podem ser obtidas em www.alaic.net

    3A publicao do artigo foi realizada mediante convite e traduo do Prof. Dr. e Editor Adjunto Luis

    Igncio Sierra Gutirrez, da Revista de la Faculdad de Comunicacin y Lenaguaje de la PontifciaUniversidad Javeriana Bogot y del Departamento de Comunicacin y Lenguaje de la PontifciaUniversidad Javeriana Cali. Signo y Pensamiento 51. vol. XXVI, Julio-Diciembre 2007, p. 27-37,ISSN 0120-4823.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    20/240

    20

    b) De que maneira os estudos tericos desenvolvidos pela pragmtica e

    polidez lingstica podem contribuir para a anlise e interpretao dos

    fenmenos na comunicao organizacional, especialmente em situao

    de crise.

    Elaboramos alguns recortes na produo cientfica nacional/internacional

    que servem ao propsito de nossa descrio e anlise. Inicialmente, Duarte4(2003,

    p 46-48) caracteriza o(s) objeto(s) e o campo da comunicao, com nfase na

    fenomenologia da percepo e na abordagem cognitivista, desenvolveu o conceito e

    caracterizao da comunicao com base em Merleau-Ponty (1945), o qual

    denomina o ato de comunicar como sendo o encontro de fronteiras perceptivas,

    sendo que o outro e a outra conscincia s possvel de acessar ou conceber porser o homem tambm um ser cultural. A interao do ser humano culturalmente e

    os objetos culturais fazem com que se desenvolvam motivos e percepes de um

    com o outro que compartilham e criam entendimentos comuns, nos quais a

    linguagem promove o dilogo entre as conscincias. fundamental nesse ponto,

    mencionar o que Merleau-Ponty define sobre comunicao, citado por Duarte (2003,

    p. 47):

    [...] O sentimento de partilha o que define a comunicao, construir como outro um entendimento comum sobre algo. o fenmeno perceptivo noqual duas conscincias partilham na fronteira. O entendimento comum noquer dizer concordncia total com os enunciados envolvidos na troca. Oentendimento pode ser a concluso das conscincias que discordam dosenunciados uma da outra. A linguagem desponta, ento, como objetocultural de percepo do outro. A linguagem torna-se o plano no qual a zonade encontro pode ser desenhada mediante o dilogo.

    Nesta abordagem, Duarte explica que algo do eu passa a compor o outro

    e o eu passa a ser composto pelo outro, formando um terceiro plano cognitivo,

    como uma das caractersticas da comunicao, ou seja, as conscincias envolvidasdeixam partes de si mesmas, sem se fundirem numa s, mantendo as experincias

    de cada ser, mas traz algo comum aos que esto na relao e redefine suas

    percepes pela partilha e comunicao. Referente localizao dos objetos da

    comunicao atravs do caminho da proposio filosfica em ressonncia com a

    definio etimolgica Duarte (2003, p.51, grifo do autor) declara:

    4Trata-se de captulo publicado em livro e para maiores informaes verificar em DUARTE, Eduardo.Por uma epistemologia da comunicao. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. (Org.).Epistemologia da comunicao. So Paulo: Loyola, 2003, p.41-54.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    21/240

    21

    Torna-se objeto da comunicao o fenmeno do encontro de planoscognitivos que pela percepo do outro so arrastados para uma fronteiracriativa de novas formas cognitivas. Torna-se objeto da comunicao esta

    interface e suas propriedades, o processo de estabelecimento de vnculoque permite o desenho de uma fronteira. Torna-se objeto da comunicao oque emerge, o terceiro plano que no havia antes do encontro de todas aspartes dialogantes. Torna-se objeto da comunicao o estar em relao, oumelhor, a troca.

    O campo da comunicao para o autor, na obra mencionada acima, pode

    ser terico quando analisa a ontologia desses encontros e se preocupa com os

    processos que tornam comum um pensamento a um grupo que troca informaes. O

    campo pode ser emprico quando a mesma discusso ontolgica considera a

    relao com os suportes nos quais os planos cognitivos esto atrelados. Tais

    suportes no so, necessariamente, objetos da mdia ou miditicos, tais como

    televiso, jornais, rdio, etc, mas outros objetos da comunicao situados em

    manifestaes artsticas, em linguagens de grupos especficos. Nesse ponto, Duarte

    (2003, p. 52) distingue objetos de mdia, conforme exemplos j citados e objetos de

    comunicao, mediante argumentao de que se tomarmos a comunicao como

    um fenmeno de percepo e troca: [...] no podemos reduzi-la a transmisso de

    informao, ou seja, os meios no so necessariamente de comunicao. Os meios

    podem veicular informao e a veiculao da informao uma das etapas do

    estabelecimento da comunicao [...].

    Podemos observar nos estudos de Duarte que o objeto da comunicao

    permite investir metodologicamente em possibilidades de anlises, no sentido de

    percepo e troca dos sujeitos envolvidos na interao em contextos diversos,

    considerando os motivos que movimentam tal partilha. As situaes tambm so

    extensivas aos contextos da vida humana na comunicao organizacional.Frana5 (2002) faz reflexes tericas ao afirmar a existncia de certa

    negligncia e ostracismo no tratamento terico sobre a rea da comunicao, alm

    da falta de consenso que demarque essa rea do conhecimento. Postula a

    necessidade de ter um consenso mnimo da comunidade cientfica em nossos

    estudos. Quanto ao objeto da comunicao, Frana (2002, p. 14-16) aponta dois: a)

    os meios de comunicao e b) o processo comunicativo. O primeiro um objeto

    5A autora faz parte da coletna publicada em FRANA, Vera. Paradigmas da comunicao:conhecer o que? In: MOTTA, et al. Estratgias e culturas da comunicao. Braslia:Universidadede Braslia, 2002, p. 13-29.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    22/240

    22

    emprico de grande visibilidade e impacto com aparncia de objetividade e

    simplicidade. O objeto emprico da comunicao traz problema tambm como objeto

    definidor da rea porque se desdobra em mltiplas dimenses da vida na sociedade

    contempornea, ao tratar de vrias disciplinas, no um terreno especfico.

    Considera, inclusive, que os processos comunicativos, enquanto objeto entendido

    como processos humanos e sociais de produo, circulao e interpretao dos

    sentidos, fundados no simblico e na linguagem precisa ser refinado, ou seja, o

    recorte do recorte, pois ainda tem amplitude, podendo ser encontrada nas

    dimenses biolgica, social e fsica. Falta solidez e articulao para que este objeto

    permita anlises em diferentes situaes comunicativas. Podemos apontar que o

    processo comunicativo, teoricamente, ou deveria ser o primeiro, o ponto departida, o objeto como tal. Os meios de comunicao, que so importantssimos, so

    como que derivados do processo comunicativo.

    Segundo Frana (2002, p. 17-18), um dos problemas da delimitao do

    objeto da comunicao que sua definio vem apoiada no emprico e os objetos

    do conhecimento so leituras e construes do conhecimento que demarcam

    perspectivas que recortam e indicam a especificidade, permitindo, com isso, analisar

    a natureza das prticas comunicativas. Considera que a natureza interdisciplinar nosestudos da comunicao fundada no cruzamento de diversas reas do

    conhecimento indiscutvel, mas tambm serve de argumento para camuflar o

    debate sobre o estudo da rea. O carter interdisciplinar deve ser considerado

    transitrio, pois se for duradouro d origem a uma nova disciplina. O que natureza

    interdisciplinar? De acordo com Frana, os temas e objetos da realidade so

    apreendidos e tratados por diferentes cincias. No acontece a um deslocamento

    ou alterao no referencial terico das disciplinas, o objeto que sobre diferentesolhares. Nesse sentido, a autora chama a ateno ao questionarmos se so estudos

    da comunicao ou se so estudos sobre a comunicao, ou seja, se o objeto

    comunicativo marca a confluncia de inmeras contribuies ou se ele se v

    retalhado e distribudo entre as vrias disciplinas (FRANA, 2002, p. 18, grifos da

    autora).

    Conforme perspectiva terica sobre o carter e natureza interdisciplinar

    abordados por Frana expostos acima, devemos enfatizar que h a tendncia atual

    voltada para um novo paradigma cientfico que comporte o fortalecimento de

    entrelaamentos e inter-relaes que perpassam as disciplinas e reas dos saberes,

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    23/240

    23

    sem que estas sejam fragilizadas em si mesmas. Trata-se do paradigma da

    complexidade, o qual ser discutido, a seguir, no captulo II. Morin (1998, p. 119)

    enfatiza que a hiperespecializao dos saberes disciplinares reduziu a migalhas o

    saber cientfico e acrescenta que:

    [...] o destroado processo do saber/poder tende a conduzir, se no forcombatido no interior das prprias cincias, total transformao do sentidoe da funo do saber: o saber j no para ser pensado, refletido,meditado, discutido por seres humanos para esclarecer sua viso do mundoe sua ao no mundo, mas produzido para ser armazenado em bancos dedados e manipulados por poderes annimos.

    Ao evocar o paradigma, entendido como esquema organizador das teorias e

    que conduz o processo de conhecimento ordenado, Frana (2002, p.25-26) faz

    referncia contribuio de Mauro Wolf (1995) ao descrever os seguintes

    paradigmas:

    a) informacional que analisa os resultados e efeitos das mensagens

    transmitidas, com elementos fixos, pr-determinados, tido como

    unilateral e mecnico, certamente, o modelo mais identificado com a

    comunicao praticada nas organizaes;

    b) semitico-informacional acrescenta ao primeiro, movimento analtico

    centrado nas estruturas de significao das mensagens;

    c) semitico-textual procura ler a intertextualidade das mensagens com a

    presena dos sujeitos sociais e nfase na dimenso simblica e sentidos

    produzidos. Frana acrescenta o modelo dialgico que enfatiza a

    comunicao a partir da bilateralidade do processo e igualdade das

    condies e funes estabelecidas entre os interlocutores.

    Os estudos que definem os paradigmas da comunicao, ainda, contmfragilidades e simplificaes, conseqentemente podemos antever que ao fazer

    ligaes possveis com a comunicao organizacional, partindo-se da base

    comunicao pode-se encontrar dificuldades semelhantes. Frana (2002) advoga a

    necessidade de um paradigma mais consistente e complexo, diante da insuficincia

    do paradigma clssico e que traga elementos capazes de tratar e consolidar a rea

    da comunicao. A autora considera relevante para o tratamento da comunicao as

    seguintes caractersticas:

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    24/240

    24

    - um processo de troca, ao compartilhada, prtica concreta, interao eno apenas um processo de transmisso de mensagens;- ateno presena de interlocutores, interveno de sujeitos sociaisdesempenhando papis, envolvidos em processos de produo einterpretao de sentidos mais do que simples emissores e receptores;

    - identificao dos discursos, formas simblicas que trazem as marcas desua produo, dos sujeitos envolvidos, de seu contexto e no exatamentemensagens;- apreenso de processos produzidos situacionalmente, manifestaessingulares da prtica discursiva e do panorama sociocultural de umasociedade em lugar do recorte de situaes isoladas. (FRANA, 2002, p.26).

    Maia e Frana (2003, p.187-203) retomam a discusso conceitual sobre a

    perspectiva relacional da comunicao como processo de produo de sentidos

    entre sujeitos interlocutores, processo marcado pela situao e interao pelo

    contexto scio-histrico. As autoras mencionam a contribuio das cincias dalinguagem para a base conceitual e metodolgica, mas adverte que se ater somente

    ao estudo dos signos limitante. Destaca a existncia do fora do texto, remetendo

    para o sujeito da comunicao, como sujeito social e da linguagem, um sujeito em

    relao, uma vez que estudar a comunicao estudar a relao entre sujeitos

    interlocutores.

    Martino, (2003, p. 11-25) parte da anlise do sentido etimolgico do termo

    comunicaoe faz referncia ao comum como aquela realizada sobre outrem;

    aquela cuja inteno realizar o ato de duas (ou mais) conscincias com objetos

    comuns. No tocante distino conceitual entre comunicao e informao, a

    comunicao refere-se ao processo de compartilhar um mesmo objeto de

    conscincia, ela exprime a relao entre conscincias, enquanto a informao diz

    respeito organizao dos traos materiais para uma conscincia, ou seja, a

    comunicao exprime a totalidade do processo. Nesse sentido, no temos

    comunicao sem informao, e por outro lado, no temos informao seno em

    vista da possibilidade dela se tornar comunicao. Observamos que a afirmao de

    Martino (2003) sobre a ao comunicativa, entre dois ou mais interlocutores,

    envolvida com objetos comuns aproxima-se da noo conceitual defendida por

    Duarte (2003), considerando que o encontro das fronteiras perceptivas no ato da

    comunicao entre as conscincias envolvidas tem como eixo central o ser humano

    que interage culturalmente. Para o autor, algo comum que se compartilha com o

    outro tem a linguagem como promotora do dilogo e, ao mesmo tempo, a linguagem

    o objeto cultural de percepo do outro. Tambm para Marcondes Filho (2004, p.

    15-16) a simples difuso de informaes no comunicao. A comunicao

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    25/240

    25

    tampouco instrumento [...] esclarece o autor, defendendo a comunicao como

    um processo (grifo do autor), reforando a idia de troca:

    A comunicao um acontecimento, um encontro feliz, o momento mgicoentre duas intencionalidades, que se produz no atrito dos corpos (setomarmos palavras, msicas, idias tambm como corpos); ela vem dacriao de um ambiente comum em que os dois lados participam e extraemde sua participao algo novo, inesperado, que no estava em nenhumdeles, e que altera o estatuto anterior de ambos, apesar de as diferenasindividuais se manterem. Ela no funde duas pessoas numa s, pois impossvel que o outro me veja a partir do meu interior, mas o fato deambos participarem de um mesmo e nico mundo no qual entram e queneles tambm entra.

    Discusso semelhante sobre distines e aproximaes sobre o que

    significa comunicao e informao foi desenvolvida por Stumpf e Weber (2003). As

    autoras afirmam que os conceitos de comunicao e informao necessitam da

    sociologia para explicar seus fenmenos. Para Stumpf e Weber (2003, p.122), numa

    perspectiva hermenutica, trata de relacionar a matria-prima da informao e

    comunicao ao sentido gerado pelos diferentes modos de registrar (informao) e

    interpretar (comunicao) realidade e suas representaes. As autoras afirmam

    que h um vis pelos especialistas da teoria da informao que deixa de lado a

    dimenso scio-cultural, inerente prpria sociedade. Para elas, a interdependncia

    entre comunicao e informao, no que diz respeito diferenciao entre os dois

    campos do conhecimento pode residir no carter persuasivo do processo

    comunicativo. A argumentao persuasiva tambm estudada nas aes e

    discursos estratgicos da comunicao organizacional, em situaes com seus

    diversos interlocutores.

    Martino6 (2001) contribui ao analisar os elementos para uma epistemologia

    da comunicao. De acordo com Martino, o estatuto do campo da comunicaosocial varia entre o status de cincia ou um campo de interseo dos diversos

    saberes. O estudo da comunicao teve entrada na cena intelectual de maneira

    contrastante dos outros saberes. A entrada da comunicao nesse contexto foi sem

    consistncia em sua fundamentao terica, devido forte demanda social, fundada

    no apelo que a comunicao suscita nas diversas camadas sociais e grupos de

    6A publicao do autor daz parte da coletnea elaborada por FAUSTO NETO, Antnio et al.(Orgs.).Campo da comunicao: caracterizao, problematizaes e perspectivas. Joo Pessoa: EditoraUniversitria/UFPB, 2001.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    26/240

    26

    interesse, principalmente devido s relaes estabelecidas entre os meios de

    comunicao, sociedade e o indivduo.

    Diante da possibilidade da comunicao constituir um saber especfico ou,

    se ao contrrio, um campo atravessado pelos diversos saberes, Martino (2001, p.

    59-62) argumenta que no atravessamento pelos diversos saberes, a comunicao

    vista como um campo interdisciplinar. O campo interdisciplinar para o autor

    consiste em: (1) o concurso de vrias disciplinas cientficas que se debruam sobre

    uma matria emprica comum e (2) constitui-se de uma disciplina contendo um

    objeto de estudo singular, a partir das contribuies de outras disciplinas.

    Considerando as duas condies acima mencionadas, Martino (2001)

    argumenta sobre a designao da comunicao como Cincias da Comunicao,no plural, adotada por vrios pesquisadores, que consideram a comunicao no

    como uma disciplina, mas como uma sntese dos diversos saberes, os quais tomam

    a comunicao como objeto. No entanto, adverte que essa denominao plural de

    Cincias da Comunicao no exclui a possibilidade de haver uma disciplina

    especfica denominada Comunicao. Nessa ltima acepo disciplinar, Martino

    enfatiza que a disciplina especfica frente a um objeto nico, equivale tomar a

    comunicao como sendo um processo emprico e no como uma construoterica, conforme requer o tratamento cientfico ou filosfico.

    Para que a comunicao se constitua em uma disciplina com objeto de

    estudo especfico, a partir das contribuies de outras disciplinas, segundo Martino

    (2001, p. 61-62), deve-se colocar o problema ao nvel terico, sendo que o mesmo

    reclama a colaborao entre as disciplinas, com dependncia mtua entre certos

    saberes. Para Martino trata-se de um saber meta, ou seja, quer dizer que as

    contribuies de um ou mais saberes na gerao de outro no significa a reduo doprimeiro em detrimento do segundo. Portanto, o apoio terico que a disciplina

    Comunicao recebe de outros saberes (Psicologia, Sociologia, Lingstica,

    Antropologia, etc.) no representa algo, em si, contrrio a sua autonomia, mas indica

    necessidade de formulao adequada do que viria a ser meta saber na disciplina

    Comunicao. A noo terica de Martino leva para o encaminhamento analtico

    sobre a contribuio das teorias da pragmtica lingstica para e/ou na combinao

    s teorias da Comunicao, tendo como fundamentos as premissas e os princpios

    do paradigma da complexidade em Morin, contidos no captulo II

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    27/240

    27

    A discusso sobre o campo da Comunicao retomada por Martino (2005)

    ao enfatizar a existncia da diversidade de saberes que cruzam os processos

    comunicacionais, de maneira que o campo de estudo reflete uma complexidade com

    base nesse tipo de cruzamento, o que decorrente de vrios fatores, entre os quais

    esto a prpria complexidade do processo comunicativo; as foras macro/micro

    polticas que interferem nesse processo e a a heterogeneidade das lgicas sociais

    procedente dos agentes vinculados s investigaes, fazendo com que muitos

    autores aceitem a diversidade do campo comunicacional, sem discusso crtica.

    Esse panorama nos faz refletir, consequentemente, sobre a identidade do

    campo da Comunicao. Nesse contexto terico, Martino no define o que ele

    entende por complexidade dos processos comunicacionais. Cabe a ns tratarmos,nessa tese, com o paradigma da complexidade com discernimentos que detalhem

    os vises epistemolgicos que diferenciam as investigaes

    inter/trans/multidisciplinarmente.

    H discordncia sobre o significado da Comunicao como campo

    interdisciplinar. Um dos argumentos est na abordagem terica exposta por Braga

    (2001, p. 12-13) o autor considera que todos os campos do conhecimento so

    interdisciplinares, da Fsica Biologia, ou seja, no tem existncia isolada eestanque, o que equivale dizer que a denominao enftica para a Comunicao

    como campo interdisciplinar bvia e redundante, logo ociosa. Braga tem

    preferncia pela compreenso dos conhecimentos na interface disciplinar, o que

    significa segundo o autor, a interface no mbito de conhecimentos que se realiza na

    confluncia de duas ou mais disciplinas estabelecidas, por exemplo, a

    Psicossociologia e a Bioqumica. Quando trata do objeto de conhecimento da

    comunicao, Braga (2001) despreza as vises holsticas de que tudo comunicao ou o direcionamento reducionista lgico que identifica o ncleo do

    campo de acordo s preferncias pessoais ou de grupos de enfoques, banindo

    outras perspectivas. O autor adere perspectiva que faz referncia ao objeto na

    teoria da Comunicao entendido como conversao, tendo como base os

    fundamentos de Rdiger (1998). A perspectiva por Rdiger (2004) denominada

    conversao constitui o seu fundamento geral sobre a teoria da comunicao. Na

    compreenso de Rdiger, a conversao est sujeita ou se nutre de vrias fontes

    compondo, dessa maneira, uma espcie de mediao cotidiana no conjunto das

    relaes sociais ao difundir idias e contribuindo na formao das condutas sociais.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    28/240

    28

    Conforme Rdiger (2004, p. 18) a comunicao no uma cincia, mas um campo

    de estudo multidisciplinar, cujos mtodos de anlise no tm qualquer

    especificidade, foram desenvolvidos pelos diversos ramos do conhecimento

    filosfico, histrico e sociolgico.

    Diante das questes apontadas no incio desse captulo, dentre os vrios

    tericos da Comunicao na literatura internacional, torna-se imprescindvel

    contextualizar o artigo de Otero Bello na revista Intercom Revista Brasileira de

    Cincias da Comunicao, v. 29 (2006, p. 57-83) em que analisa o estado da arte

    na teoria da Comunicao, resgatando antecedentes que possam sustentar a tese

    de que os fenmenos da Comunicao formam um conjunto intelectual fragmentado

    e disperso, com propostas que no dialogam entre si. A anlise da produointelectual em Comunicao feita por Otero Bello est fundada na proposio terica

    de Thomas Kuhn (2002) de que a linha central que abrange as disciplinas imaturas,

    caracterizada pela carncia de consenso, aplica-se aos estudos da Comunicao. A

    cronologia de estudos desenvolvida por Otero Bello (2006, p. 59) parte do

    levantamento do Journal of Communication (1983, p. 4-5), no qual o tom otimista

    sobre o estudo da Comunicao a denominava como emergncia de uma nova

    disciplina, com muita vitalidade, com rpido desenvolvimento e um fecundo dilogode perspectivas. Em 1993, dez anos aps essa investigao, o mesmo peridico

    reaplicou o levantamento com diversos investigadores sobre o tema, apontando

    resultados nos quais os estudos da Comunicao precisam de status de disciplina

    porque no possui ncleo de conhecimento e, desse modo, sua legitimidade

    institucional e acadmica constitui-se uma quimera. Alm disso, o estudo revelou

    que o nmero crescente das investigaes sobre a Comunicao carece de pr-

    condies bsicas, ou seja, teorias sustentveis, modelos formais e dadosempricos.

    Otero Bello (2004, p. 61) enfatiza que os pesquisadores sobre as teorias da

    Comunicao divulgaram os trabalhos em peridicos, por exemplo, na revista

    Communication Theory, Craig (1999, p. 119-161) analisou sete livros sobre as

    teorias da Comunicao, identificando 249 diferentes teorias, mas sem uma matriz,

    um propsito comum que unam as teorias, nem disputas de questes que dividam

    tais teorias. Segundo Craig (1999, p. 120-121) inevitvel dizer que a teoria da

    comunicao no , no entanto, um campo coerente de estudo, sendo que o

    desenvolvimento da pesquisa no/sobre o campo da Comunicao no leva a uma

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    29/240

    29

    teoria unificada, mas segundo o autor a uma matriz disciplinar dialtica dialgica

    com um conjunto de questes/assuntos discutidos em comum, o que possibilitaria

    argumentao produtiva que atravessa as diversas tradies da teoria da

    comunicao. (trad. nossa). Nesse artigo, Craig prope uma matriz disciplinar que

    possa ser desenvolvida usando um meta-modelo de comunicao, o qual abre um

    espao conceitual, possibilitando a interao com os diversos modelos, a partir da

    concepo sobre a teoria da comunicao como meta-discurso, engajada ao meta-

    discurso prtico da vida cotidiana.

    Na continuao do levantamento sobre o estado da arte na teoria da

    comunicao, Otero Bello (2006, p. 71-72) analisa os resultados comparativos

    obtidos nas pesquisas elaboradas pelo Journal of Communication, em 2004 comrelao aos de 1983, com viso otimista. Em 2004, o peridico solicitou aos autores

    a focalizao da pesquisa em quatro temas, segundo International Communication

    Association:

    a) revisar as teorias chave e a investigao recente sobre essas teorias;

    b) as tendncias recentes de investigao sobre as teorias;

    c) avaliao de suas foras e debilidades e;

    d) sugestes sobre futuras direes dos estudos.De acordo com Otero Bello (2006, p. 73-76), dentre os diversos autores que

    publicaram suas pesquisas no Journal of Communication (2004, p.663), Bryant e

    Miron destacaram o trao pluralstico das epistemologias e metodologias em voga,

    a proliferao de fontes de estudo (revistas) e a presena extensiva de mini-teorias

    mal concebidas e mal definidas, sendo que tais mini-teorias desafiam a qualidade da

    produo cientfica e a potencialidade da nossa compreenso. Bryant e Miron

    revelam debilidades em termos de delineamentos das investigaes, envolvendotestes de hipteses, anlises dos dados e conseqncias dos resultados, dentre

    outras questes metodolgicas.

    Ao questionarmos se a discusso terica sobre a comunicao teve alguma

    abordagem inovadora e, que tenha redefinido o pensamento terico no campo de

    estudos da comunicao organizacional, podemos argumentar conforme os estudos

    de Otero Bello expostos acima que no houve avanos. Tal argumentao se

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    30/240

    30

    confirma na afirmao de Kunsch7 (2006, p. 176) de tudo o que foi pesquisado e

    analisado sobre a evoluo das correntes dos estudos tericos da comunicao se

    aplica na prtica do processo comunicativo nas organizaes.

    Na mesma linha de crtica ao estancamento e tradicionalismo que ainda

    media as interfaces entre a(s) teoria(s) da comunicao e o dilogo com o campo de

    estudo da comunicao organizacional so enfatizados por Oliveira (2008, p. 10)

    quando afirma que as discusses assim, foram em direo a outras reas, a saber

    a poltica, a linguagem, a sociologia, a filosofia e a comunicao propriamente dita

    que, estranhamente, parece ser timidamente incorporada compreenso dos

    processos de comunicao organizacional. Concordamos com as afirmaes de

    Oliveira ao destacar que o entendimento sobre o que comunicao foi e, ainda ,em certa medida muito prximo aos estudos lineares e mecanicista, mas que na

    complexidade do contexto das organizaes h necessidade de avanos com

    abordagens tericas advindas de outras reas do saber, que tratam o fenmeno da

    comunicao.

    Nossa tese visa contribuir com os aportes tericos contidos na seo a

    seguir, 2.2 e no captulo III sobre a pragmtica e polidez lingstica, o qual propicia

    fundamentos para anlise do captulo IV, com agrupamentos de enunciadoscontidos nos jornais impressos de circulao nacional, em situao de crise no

    acidente areo da TAM, ocorrido em 2007, no Brasil. Diante da natureza relacional

    complexa que ocorre no processo comunicativo organizacional cotidiano, acentuado

    pela situao de crise, a anlise das estratgias da polidez e as abordagens

    calcadas na pragmtica lingstica apontam a necessidade do caminho e mtodo

    seguindo o paradigma da complexidade.

    2.2 ALGUMAS TEORIAS SOBRE A COMUNICAO: ESTUDOS LINGSTICOS

    Pelos estudos lingsticos, as discusses sobre a comunicao, conceitos,

    caractersticas, componentes e anlises so, com freqncia, problematizados em

    diversas correntes de pensadores. Um dos estudiosos que subsidia a anlise com

    7 Para maiores detalhes que enfocam tal argumento ver em _____. Comunicao organizacional:

    conceitos e dimenses dos estudos e das prticas. In: MARCHIORI, Marlene. (Org.). Faces da culturae da comunicao organizacional. So Paulo: Difuso Editora, 2006, p. 167-187.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    31/240

    31

    um composto terico frutfero dentro da lingstica aplicada a vrias reas da

    atividade verbal humana Canale (1995, p. 63-81) ao tratar da competncia

    comunicativa e da comunicao real. Canale entende a comunicao como o

    intercmbio e negociao da informao entre ao menos dois indivduos por meio

    do uso de smbolos verbais e no verbais, de modo oral e escrito/visual e dos

    processos de produo e compreenso (p. 65). A informao caracterizada pelo

    contedo conceitual, sociocultural, afetivo ou de outros tipos. Alm disso, Canale

    enfatiza que a informao muda constantemente conforme o contexto da

    comunicao e as escolhas do comportamento verbal e no verbal. Portanto, a

    comunicao implica avaliao contnua e negociao do significado por parte dos

    participantes. A perspectiva apresentada por Canale permite abranger osinterlocutores das mediaes organizao-pblicos, bem como as significaes e

    intencionalidades que variam nos contextos especficos das situaes comunicativas

    organizacionais.

    Referente natureza da comunicao, Canale apresenta, com base em

    diversos autores, as seguintes caractersticas:

    (a) uma forma de interao social e, em conseqncia, se adquirenormalmente e se usa mediante a interao social; (b) implica em alto graude imprevisibilidade e criatividade na forma e contedo; (c) tem lugar noscontextos discursivos e socioculturais que regem o uso apropriado da lnguae oferecem referncias para a correta interpretao das expresses; (d)realiza-se sob limitaes psicolgicas e outras condies como restriesde memria, cansao e distraes; (e) sempre tem um propsito (porexemplo, estabelecer relaes sociais, persuadir ou prometer); (f) implicauma linguagem autntica, oposta linguagem inventada dos livros e textose (g) julga-se que se realiza com xito ou no sob a base de resultadosconcretos. (CANALE , 1995, p. 64).

    Diante das caractersticas sobre a natureza comunicativa defendida porCanale podemos realizar reflexes transpondo-as para o contexto especfico da

    comunicao organizacional. A forma de interao social que se adquire e se usa

    normalmente pode ser inserida na perspectiva de que a comunicao organizacional

    parte do processo de construo social da realidade em seu cotidiano,

    possibilitando a criao de identidade e credibilidade da organizao perante o

    conjunto da sociedade. A flexibilidade demandada pelo alto grau de imprevisibilidade

    e criatividade na forma e contedo encontra ressonncia em situaes

    comunicativas organizacionais mesmo diante de aes planejadas, em que podem

    ocorrer margem de risco, conforme o comportamento dos pblicos, suas

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    32/240

    32

    interpretaes e pela gerao de significados que os enunciados produzem nas

    mentes humanas. Devido a isso, h a necessidade de muitas doses de criatividade

    dos interlocutores organizacionais e seus pblicos em distintas situaes.

    A comunicao tem lugar nos contextos discursivos e scio-culturais

    buscando o uso apropriado da lngua, tanto nas interaes cotidianas, quanto na

    dimenso da comunicao organizacional. Na dimenso da vida organizacional, a

    comunicao requer conhecimento e habilidade em relao aos anseios e

    expectativas dos pblicos. Mapear o perfil dos pblicos, a priori fundamental para

    aplicao e adaptao dos discursos organizacionais, inclusive em situaes de

    relacionamento intercultural. Aqui, podem ocorrer mal-entendidos nas interpretaes

    discursivas por no partilhar interesses, crenas e valores culturais entre osinterlocutores em situaes dirias aparentemente normais, no debate de idias e

    conflitos de posies e nas situaes de crise. As limitaes psicolgicas podem

    envolver adequaes/inadequaes. Para atender um propsito, devemos

    considerar os objetivos e intencionalidades que possam promover o dilogo e as

    trocas comunicativas no contexto organizacional. At que ponto a linguagem

    empregada nas organizaes autntica ou camufla interesses unilaterais e

    escusos? Os resultados concretos em relao s conscincias envolvidas noprocesso da comunicao organizacional so obtidos pela interao contnua,

    participativa e motivadora com seus interlocutores, ou seja, os pblicos? Como foi

    tratada na situao comunicativa a relao pblicos-organizao-pblicos

    considerando o comportamento verbal e no-verbal? Portanto, as caractersticas

    apresentadas por Canale sobre a natureza da comunicao transportada para o

    contexto da comunicao organizacional demonstram plena adaptabilidade e so

    geradoras de importantes questes para investigaes e anlises.Canale (1995, p. 65) retoma estudos que realizou com Swain (1980) para

    conceituar a competncia comunicativa entendida como sistemas subjacentes do

    conhecimento e habilidades requeridas para a comunicao (por exemplo,

    conhecimento do vocabulrio e habilidade para usar convenes sociolingsticas de

    uma lngua). Por comunicao real entende a realizao de tais conhecimentos e

    habilidades sob limitaes psicolgicas e ambientais como restries e de memria,

    cansao, nervosismo, distraes e rudo de fundo.

    A reformulao do conceito de competncia comunicativa defendida por

    Canale (1995) compreendida como parte essencial da comunicao real, porm

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    33/240

    33

    refletida pela ltima, apenas indiretamente, e em condies imperfeitas que limitam

    a produo. A competncia comunicativa refere-se tanto ao conhecimento (o que

    algum sabe, consciente ou inconscientemente) como habilidade (que utiliza - bem

    ou mal - os conhecimentos) quando se participa da comunicao real.

    Segundo Canale, o marco terico da competncia comunicativa inclui quatro

    reas do conhecimento e habilidade: competncia gramatical, competncia scio-

    lingstica, competncia discursiva e competncia estratgica. As quatro divises

    expostas acima servem para incorporar, minimamente, o que se inclui na

    competncia comunicativa, mas a questo como os componentes das reas

    interagem uns com os outros e se a competncia comunicativa teria outros

    componentes adicionais um tema a ser discutido pelos lingistas, mas ignoradapelos pesquisadores que atuam em outros campos da atividade humana que, como

    o nosso, tm na linguagem e na comunicao verbal uma parte importante do objeto

    de estudo, merecendo, assim novas interpretaes e investigaes.

    Em nossa tese, a teorizao de Canale atravs das especificaes das

    quatro reas do conhecimento e habilidade que compem a competncia

    comunicativa traz contribuies que podem ser usadas na anlise do entendimento

    das teorias da comunicao implicadas na formulao conceitual da/sobrecomunicao organizacional. Explicitaremos, portanto, conforme Canale (1995, p.

    66-70) tais delimitaes, num sentido didtico, mas que so complementares e

    interdependentes entre si quando utilizadas para anlise dos processos

    comunicativos. A competncia gramatical est relacionada ao domnio do cdigo

    lingstico (verbal e no-verbal). Inclui caractersticas e regras da linguagem, tais

    como o vocabulrio, a formao de palavras e frases, a pronunciao, a ortografia e

    a semntica. Centra-se no conhecimento e habilidade para empreender e expressaradequadamente o sentido literal dos enunciados. O tema sobre o sentido literal

    controverso, atualmente, mas no vamos nos ater nesse trabalho.

    A competncia sciolingstica ocupa-se de estudar a maneira pela qual as

    expresses so produzidas e entendidas, adequadamente, em diferentes contextos

    sciolingsticos, dependendo de fatores contextuais, tais como a situao dos

    participantes, os propsitos da interao e as normas convencionais. Canale

    defende que a adequao dos enunciados est relacionada adequao do

    significado e da forma. Por sua vez, a adequao do significado est relacionada ao

    alcance das funes comunicativas determinadas (por exemplo, ordem, reclamao,

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    34/240

    34

    pedido, convite, etc), s atitudes (incluindo estratgias de cortesia e a formalidade) e

    s idias (mundo mental) que so julgadas conforme caractersticas de dada

    situao comunicativa. A adequao de forma trata da medida em que o significado

    (includas funes comunicativas, atitudes e proposies/idias) est representado,

    atravs de uma manifestao verbal e/ou no verbal, que caracteriza um contexto

    scio-lingstico.

    A competncia discursiva est relacionada ao modo de combinar formas

    gramaticais e significados para obter um texto falado ou escrito em diferentes

    gneros. Por gnero, entende-se o tipo de texto, por exemplo, uma narrativa oral ou

    escrita, um ensaio argumentativo, um artigo cientfico, uma carta comercial e o

    conjunto de instrues representam diferentes gneros. Aqui, segundo Canale, aunidade de um texto obtida por meio da coeso na forma e da coerncia no

    significado. A coeso implica no modo em que os enunciados (frases) se unem

    estruturalmente e facilitam a interpretao do texto, por exemplo, no uso de

    pronomes, sinnimos, elipses, conjunes e estruturas paralelas que servem para

    estabelecer conexes entre frases tanto individuais como em um grupo de frases ao

    formarem um texto. A coerncia faz referncia s relaes entre os diferentes

    significados literais (assunto polmico), funes comunicativas e atitudes. Ainterao das regras gramaticais, sciolingsticas e discursivas nos faz pensar na

    complexidade da competncia comunicativa.

    O paradigma da complexidade em seu conjunto de princpios e de

    premissas, contidos no captulo II, nos fornece possibilidades tericas de anlises do

    todo contido nas partes e das partes em seu todo, ou seja, como cada uma das

    quatro reas do conhecimento e habilidades complementar, ao mesmo tempo, as

    reas necessitam das noes de contexto, negociabilidade, adaptabilidade evariabilidade compondo um amalgamento terico interdependente e dialgico das

    partes e do todo.

    A competncia estratgica faz parte do domnio das estratgias de

    comunicao verbal e no verbal que pode ser empregada para compensar as

    falhas na comunicao devido s condies limitadoras da comunicao real, por

    exemplo, a incapacidade momentnea de lembrar de uma idia ou forma gramatical

    ou a insuficincia ocorrida em uma das reas da competncia, alm de possibilitar a

    efetividade da comunicao, tais como ao falar de maneira lenta e baixa,

    deliberadamente, com uma inteno retrica.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    35/240

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    36/240

    36

    pblicos, no mbito da comunicao organizacional, podem ter variao para

    compreender e interpretar os enunciados da linguagem em uso. Os fatores que

    geram interpretaes diferenciadas nos sujeitos dessas comunidades esto

    vinculados aos conhecimentos e habilidades, ou seja, a competncia comunicativa,

    associada aos valores e condies culturais, construdos socialmente, dentre os

    quais influenciados pelo status, etnia, nvel educacional, idade, sexo, condies

    geopolticas, ocupao, etc.

    Saville-Troike (2003, p. 20,trad. nossa), embora no seja lingista, adotar o

    ponto de vista etnogrfico da comunicao, ao estudar a competncia comunicativa

    defende a formao do trip dos conhecimentos: (a) lingstico, (b) de interao e (c)

    cultural, conforme exposto abaixo:

    1. Conhecimento lingstico:(a) elementos verbais;(b) elementos no-verbais;(c) configuraes de elementos em eventos de fala especfica;(d) mbitos de possveis variaes ( seus elementos e sua organizao) e;(e) significado das variaes em situaes especficas.

    2. Conhecimento de interao:

    (a) percepo dos traos salientes nas situaes comunicativas;(b) seleo e interpretao de formas apropriadas para situaes, papis erelacionamentos especficos;(c) organizao dos processos discursivos;(d) normas de interao e interpretao e;(e) estratgias para realizao de metas de interao.

    3. Conhecimento cultural:(a) estrutura social (status, poder, falas adequadas);(b) valores e atitudes;(c) mapas cognitivos/esquemas e;(d) processos de aculturao (transmisso de conhecimento e habilidades).

    Com base em Saville-Troike (2003, p. 20), Godoi8(2008, p. 63-64) modifica

    o trip acrescentando: (1) ao conhecimento de interao o significado das variantes

    (dos componentes lingsticos) em situaes particulares; (2) no conhecimento

    cultural refora com elementos no-verbais e cenrios (scripts), contextos fsicos.

    8 Para aprofundar tais modificaes aplicadas verificar em GODOI, Elena. O que as cincias dalinguagem podem dizer para os estudos em comunicao organizacional? In: ORGANICOM- Revista

    brasileira de comunicao organizacional e relaes pblicas. So Paulo: Gestcorp-ECA-USP,2008, ano 5, n.9, p. 49-66.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    37/240

    37

    Alm disso, Godoi cria o (3) Conhecimento operacional pressuposies,

    inferncias, etc..

    imprescindvel considerar que os sujeitos pertencentes s comunidades de

    fala so membros de mltiplas comunidades, desempenhando papis nem sempre

    semelhantes em cada uma delas. Os membros dessas comunidades, por terem

    papis multifacetados, recebem e compartilham orientaes, valores, crenas,

    regras e expectativas, dependendo das funes e posies de cada sujeito nas

    diversas comunidades de pertencimento. Isso exerce influncia sobre as escolhas

    lingsticas, de modo individual, mas permanentemente em relao ao agrupamento

    coletivo de pertencimento. Nesse sentido, Godoi (2008, p. 64) explica que a

    competncia comunicativa pragmtica ao se referir ao conhecimento dasnormas socioculturais de comunicao em uma comunidade de fala, devendo ser

    compartilhada em certo grau pelos interlocutores, porm enfatiza que de natureza

    individual, portanto, no processo interacional, os indivduos estaro sujeitos s falhas

    e desentendimentos.

    Os estudos lingsticos contribuem com o campo de estudos da

    comunicao (organizacional), principalmente, nas investigaes que tratam da

    pragmtica lingstica ao delimitar conceitos, funes, categorias e formasestruturais que fazem parte da composio do comportamento verbal e no-verbal

    humano. Nessas abordagens e perspectivas encontramos, entre outros, os trabalhos

    de Moeschler e Verschueren. Segundo Moeschler ([20--], p. 20), a pragmtica o

    estudo da linguagem em uso, dos processos cognitivos envolvidos na interpretao

    dos enunciados e, tambm o estudo dos aspectos inferenciais da comunicao

    humana. O autor afirma que a relao crucial aqui est entre linguagem e

    comunicao e, mais precisamente o modelo de comunicao envolvido nalinguagem em uso. Moeschler ([20--], p. 20, trad. nossa) conceitua: pragmtica

    define comunicao como um processo misto, baseado em dois modelos de

    comunicao, o modelo cdigo e o modelo inferencial. Ento, a comunicao verbal

    est, em ambos modelos, nos processos de codificao e decodificao lingstico e

    inferencial pragmtico.

    Moeschler (2004, p. 52) retoma a discusso e especifica melhor o processo

    misto, reafirmando a existncia dos dois modelos mencionados acima para delinear

    a comunicao lingstica, mas destaca que o conhecimento do cdigo no

    condio suficiente para a comunicao obter xito. Tal condio implica o

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    38/240

    38

    conhecimento de mundo entre os interlocutores, como tambm, o conhecimento

    sobre a situao da comunicao que so cruciais para o enriquecimento do

    significado lingstico decodificado dentro dos enunciados.

    Outro autor dedicado ao tema da comunicao lingstica Verschueren

    (2002, p. 43), partindo das bases conceituais sob a perspectiva da pragmtica

    lingstica entendida como [...] uma perspectiva geral cognitiva, social e cultural dos

    fenmenos lingsticos em relao com seu uso nas formas de comportamento.

    Observamos que nesta perspectiva, a pragmtica lingstica est enlaada, de modo

    interdisciplinar, com as diversas cincias sociais e das humanidades, enfatizando a

    relao funcional da linguagem nos vrios aspectos do processo comunicacional.

    Destacamos que a obra de Verschueren (2002) desenvolve a linhaconceitual e a operacionalizao metodolgica sobre a perspectiva pragmtica a

    partir de conceitos tais como as escolhas lingsticas, desmembrando-se na

    teorizao da variabilidade, negociabilidade e adaptabilidade. O aspecto

    metodolgico aprofundado pelo autor ao tratar do contexto, a partir da viso global

    do mundo fsico, mundo social e mundo mental. O estudo da perspectiva

    pragmtica que, resumidamente, descreveremos e analisaremos nesse trabalho

    relevante para aplicao na comunicao humana desde um ponto de vista darelao dos interlocutores no cotidiano em geral, como tambm, incluindo a

    comunicao organizacional.

    Compreendemos que na perspectiva pragmtica, para Verschueren (2002,

    p. 110-114), o uso da linguagem consiste na contnua escolha lingstica,

    envolvendo razes internas ou externas linguagem. Isto significa que as escolhas

    podem estar situadas em qualquer nvel lingstico, ou seja, na fontica/fonologia, na

    morfologia, na sintaxe, no lxico e/ou na semntica, supondo tipos de variaesregional, social ou funcional. Observamos que no mbito organizacional, o fenmeno

    das escolhas lingsticas para a comunicao, estabelecida na relao pblicos-

    organizao-pblicos necessita ser bem pontualizada, sistematicamente de modo

    metodolgico, ao analisar os enunciados, o contexto e seus respectivos pblicos na

    fase do planejamento da comunicao estratgica denominada de levantamento de

    dados e informaes, bem como elaborar consideraes aprofundadas sobre as

    escolhas lingsticas, em seus diversos nveis, no diagnstico servindo de base para

    o plano estratgico da comunicao organizacional.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    39/240

    39

    Diante dos nveis lingsticos mencionados acima, devemos considerar as

    razes externas que envolve o mbito organizacional, o conhecimento concreto que

    os comunicadores organizacionais tm sobre os pblicos que esto vinculados

    organizao. O conhecimento concreto desvela os valores, crenas, nvel de

    envolvimento social, cultural, meio ambiental, poltico, educacional, dentre outros

    que possam caracterizar o mapeamento dos pblicos. A partir disso, analisar,

    criticamente, os nveis que tais conhecimentos concretos esto permeando as

    posturas, atitudes, aes e valores de maneira semelhante ou divergente por parte

    dos pblicos e da organizao.

    Verschueren (2002, p. 110-116) elaborou explicaes que contribuem para o

    melhor entendimento do sentido atribudo ao fazer escolhas, que consideramosimportantes no estudo da comunicao:

    a) as escolhas so feitas em qualquer nvel da estrutura, por exemplo,

    escolhas para determinados gneros desencadeiam a construo de

    oraes com palavras e formas gramaticais, dentre outros elementos,

    considerando quem so os ouvintes/leitores;

    b) os falantes no, apenas, selecionam as formas, mas tambm escolhem

    estratgias, isto , as escolhas so feitas de modo que inclua o nvel daestrutura dentro do seu mbito. Significa que ao fazer a escolha da(s)

    estratgia(s) lingstica, por exemplo, de deferncia, como uma escolha

    especfica, considera-se uma gama de nveis estruturais, tais como estilo

    e lxico para dirigir-se a determinado grupo de interlocutores. Nesse

    sentido, de suma importncia a compreenso das teorias da polidez

    lingstica, a serem abordadas em captulo sequencial;

    c) o processo das escolhas lingsticas pode mostrar qualquer grau deconscincia, ou seja, algumas escolhas so mais conscientes, outras

    so mais automticas;

    d) as escolhas lingsticas so feitas na produo e na interpretao de

    um enunciado, sendo ambos de igual importncia para o fluxo

    comunicativo e para o modo que se gera significado;

    e) o usurio da linguagem no tem liberdade para fazer ou no escolhas

    lingsticas, exceto se decide permanecer em silncio (mesmo que a

    ltima deciso seja significativa em algumas circunstncias),

    considerando que sempre h srios riscos no uso da linguagem,

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    40/240

    40

    podendo ocorrer situaes comunicativas permeadas por mal-

    entendidos;

    f) as escolhas no so equivalentes, o que pode ser exemplificado diante

    de uma situao de oferta, pode-se responder tanto com uma aceitao,

    como com um rechao e;

    g) as escolhas lingsticas trazem consigo alternativas que, em outras

    palavras, so motivadas por sua localizao na dimenso do significado,

    evocando tambm a dimenso completa. Isto pode ser observado nas

    escolhas lxicas e os efeitos comunicativos provocados, por exemplo, no

    uso dos tempos verbais: passado, presente e futuro.

    Partindo das explicaes que as escolhas lingsticas carregam em si osmesmos elementos que contribuem na gerao do significado e compreenso no

    processo comunicativo, precisamos definir o processo da escolha como descrio

    bsica do uso da linguagem. Para tanto, os conceitos chave so a variabilidade, a

    negociabilidade e a adaptabilidade.

    Segundo Verschueren (2002, p. 115), a variabilidade a propriedade da

    linguagem que define a gama de possibilidades dentro das quais se podem

    selecionar. A noo de variabilidade deve ser levada a srio diante da gama deaes possveis, sem ser algo esttico ou estvel, mas em contnua mudana. As

    variveis contidas nessa propriedade podem ser internas e acessveis aos usurios

    da linguagem para realizarem as escolhas, igualmente, podem ser externas de

    modo geogrfico, social e funcional. Portanto, em qualquer momento do transcurso

    do processo comunicativo, uma escolha pode descartar alternativa ou criar nova,

    atendendo aos propsitos do intercmbio, no obstante, que os efeitos so

    negociveis.A prpria variabilidade lingstica nos leva ao conceito chave de

    negociabilidade definida por Verschueren (2002, p. 116) como propriedade da

    linguagem responsvel pelo fato de que as escolhas no sejam feitas

    mecanicamente, seguindo regras restritas ou relaes de forma-funo fixas, mas

    baseadas em princpios e estratgias altamente flexveis. Para o autor, a

    negociabilidade implica uma indeterminao de vrios tipos: h indeterminao por

    parte do produtor da linguagem que opera sob restries ao tomar decises, mesmo

    que estas correspondam ou no as suas necessidades. Por exemplo, no uso

    cotidiano, as escolhas que fazemos so oriundas de opes convencionais e no

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    41/240

    41

    nos damos conta que estamos restringidos e que poderamos criar outras

    possibilidades, com suas novas restries. Em segundo lugar, ocorrem

    indeterminaes ao fazer escolhas, por parte do intrprete. A este respeito,

    identificamos na linguagem em uso, a ancoragem ao contexto, atribuindo o

    significado implcito, diante da impossibilidade de termos a explicitude completa do

    que dito nos modos lingsticos convencionais. Tal situao comunicativa

    depende, altamente, do contexto e do conhecimento comum ou informao de

    fundo compartilhado pelo enunciador e pelo intrprete. Outro tipo de indeterminao

    est relacionado escolha feita pelos interlocutores que pode ser continuamente

    negociada.

    A noo de adaptabilidade respaldada no conceito de Verschueren (2002, p.119) como a propriedade da linguagem que capacita aos seres humanos de

    fazerem escolhas lingsticas dentro de uma gama de possibilidades variveis de

    modo que se aproximem da satisfao das necessidades comunicativas. O autor

    esclarece diante do conceito exposto, que com referncia s necessidades

    comunicativas no implicam que o termo necessidades no uso da linguagem infira

    que todas as necessidades sejam comunicativas, bem como, que tais necessidades,

    embora sejam geradas, em sua maioria no contexto, podem ser de carterespecfico. Diante disso, a adaptabilidade deve ser interpretada como uma

    propriedade que permite fazer escolhas, diante de circunstncias que podem sofrer

    mudanas ou adaptar-se a tais circunstncias.

    As propriedades da variabilidade, negociabilidade e adaptabilidade esto

    inter-relacionadas ao objeto da investigao global da pragmtica lingstica ou

    funcionamento significativo da linguagem. A proposta apresentada por Verschueren

    nos faz raciocinar sobre o que e como funciona o estudo do contexto lingstico eextralingstico. Nesse sentido, so identificados os correlatos contextuais da

    adaptabilidade para explicar, numa viso global, os ingredientes do contexto

    comunicativo englobando o mundo mental, mundo social e mundo fsico.

    Verschueren (2002, p. 154-158) argumenta que a interao verbal a

    comunicao de mente a mente, tendo como perspectiva a relao do enunciador

    com o intrprete. Para tanto, o enunciado requer a adapatao do mundo mental do

    enunciador, mediante as escolhas lingsticas ao mundo mental do(s) intrprete(s).

    Devido ao processo mental, os julgamentos sobre as caractersticas da

    personalidade do intrprete, o envolvimento pessoal, os padres de crenas,

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    42/240

    42

    sonhos, desejos, as motivaes e intenes esto relacionados nesse processo,

    considerando que os conflitos so inerentes na comunicao. necessrio fazer

    escolhas lingsticas buscando a sintonia do estado mental do intrprete e

    enunciado. Os estados mentais tm ocupado posio central em certos projetos da

    pragmtica lingstica, levando em conta uma variedade de fenmenos inter-

    relacionados os quais se aproximam e se separam do centro de um espao mental,

    em movimento. O mundo mental ativado devido linguagem em uso contm

    elementos cognitivos e emotivos, vinculados noo de adaptabilidade que baliza a

    relao enunciado-enunciador-intrprete. um tema tratado pelos estudos na

    pragmtica lingstica visando interpretar a realidade social e o fenmeno que

    envolve o afeto e grau de participao no processo comunicativo.Na perspectiva pragmtica do comportamento lingstico, Verschueren

    (2002, p. 161) enfatiza o argumento que a variabilidade social no processo de

    desenvolvimento do mundo social e suas dimenses contribuem na formao das

    identidades sociais dos interlocutores. A dimenso cultural comporta o contraste que

    caracteriza diferentes sociedades orais e alfabetizadas, padres de vida rural e

    urbana, dentre outras, cruzando com as dimenses da variabilidade social, que situa

    a classe social, etnia, nacionalidade, comunidade lingstica, idade, nveleducacional, profisso, parentesco e gnero. Tais dimenses e suas especificidades

    so relevantes na realizao das escolhas lingsticas em determinadas situaes

    porque correlacionam grupos e repertrios, mas tambm necessita ser investigada,

    de forma expansiva e ampla, na perspectiva pragmtica dos processos de uso da

    linguagem.

    Uma vez que a adaptabilidade da linguagem sob o enfoque do mundo social

    pode ser considerada ampla, generalizada e flexvel, argumentamos que asescolhas lingsticas vinculadas, particularmente, aos atos comunicativos que se

    processam na relao organizao-pblicos abrem possibilidade de investigao no

    que diz respeito aos enunciados orais e escritos, associado ou no comunicao

    no-verbal, tendo como base as propriedades mentais, sociais e fsicas,

    considerando a localizao de uma organizao em determinada nao (sua lngua,

    cultura, identidade), bem como as relaes e expanso que tal organizao amplia

    transfronteira, passando desse modo, ao processo de comunicao organizacional

    intercultural.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    43/240

    43

    O mundo fsico constitui o trip na viso global na gerao do contexto para

    anlise pragmtica da linguagem em uso. Segundo Verschueren (2002, p. 164-176)

    esta propriedade dedica-se ao estudo da dixis espacial e temporal. O que dixis?

    Os conceitos de dixis em Yule (1996, p. 9) e Escandell Vidal (1999, p. 20-22),

    definem que, do ponto de vista da comunicao, para compreendermos um

    enunciado devemos identificar os referentes que indicam quais so os objetos, os

    fatos ou situaes a que se referem. A dixis ajuda-nos a compreender as formas

    especiais que faz referncia aos elementos dentro da situao, ou seja, so

    significados apontados por meio de formas lingsticas e identificados tambm

    como expresses diticas. Encontramos nas expresses diticas os pronomes

    pessoais, demonstrativos, possessivos, advrbios de lugar e tempo, formas detratamento e expresses anafricas e catafricas, dentre outras. Destacamos que

    todas as expresses diticas dependem do contexto compartilhado pelos

    falantes/escritores e os ouvintes/leitores.

    A comunicao em Brown e Levinson (1987, p. 3-6) parte da questo sobre

    como se compe a teoria da implicatura (implicature) conversacional de Grice (1975)

    em relao estrutura de trabalho das mximas conversacionais para a

    compreenso do que dito e o que comunicado. A implicatura preenche lacunasque perpassa quilo que possvel dizer mais do que efetivamente dito. Grice

    (1975) estabelece o Princpio da Cooperao que est calcado na hiptese de que

    a base da comunicao a cooperao. Para tanto, a cooperao tem princpios

    gerais que regulam a conversao entre interlocutores e, devem contribuir na

    gerao de significados que realizam a mediao do processo comunicativo.

    Segundo Brown e Levinson (1987, P. 5), o Princpio da Cooperao em

    Grice desenvolve status completamente diferente dos princpios da polidez(trad.nossa). Nesse sentido, os autores afirmam que o Princpio da Cooperao define

    uma estrutura para a comunicao presumvel, socialmente no marcada ou neutra,

    uma vez que a suposio essencial no desviar da eficincia racional, sem uma

    razo. Brown e Levinson argumentam que os princpios da polidez lingstica

    apresentam razes para desvios comunicativos, cujas motivaes para os desvios,

    possivelmente, tenham um statusespecial na interao humana.

    A polidez comunicada e os vazios podem ser tomados como atitudes

    polidas. Para Brown e Levinson (1987, p. 5-6), o modelo de polidez lingstica

    adotado para as aes comunicativas est centrado na sensiblidade da face, ou

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    44/240

    44

    seja, a imagem pblica e os tipos de raciocnios que induz, em conjunto ao Princpio

    de Cooperao possibilita realizar inferncias nas implicaturas via estratgias da

    polidez lingsitca. A partir das falhas e/ou deficincias encontradas nas mximas

    conversacionais relacionadas ao valor da imagem pblica entre falantes e ouvintes,

    adicionadas aplicao das estratgias de preservao da face (imagem pblica),

    faz com ocorra a gerao das inferncias. Os autores chamam a ateno que

    alguns trabalhos recentes com esse modelo da polidez lingsitica demonstram

    detalhes de formas lingsticas, em especial suas estruturas semnticas, que podem

    conduzir aos mecanismos das implicaturas conversacionais generalizadas.

    Brown e Levinson (1987, p. 7-8) destacam a grande contribuio de Grice

    (1971) em relao a natureza comunicativa, especialmente no que diz respeito aotipo de inteno a ser reconhecida pelo destinatrio da ao comunicativa na

    interlocuo com o falante. Advertem, no entanto, as dificuldades conceituais na

    teoria da comunicao que envolve o destinatrio da mensagem na tentativa em

    reconhecer a inteno do falante e o qu pode inferir no comportamento

    comunicativo em questo, Diante disso, h vrias tentativas de investigaes

    psicolgicas, especialmente focalizando o envolvimento do conhecimento

    compartilhado sobre os quais as inferncias nas intenes comunicativas tmdependncia acentuada. Consideramos importante tal questionamento e busca de

    mais detalhes cientficos que do conta dessas questes. No esto em nossos

    objeticos e hipteses de pesquisa, nessa tese, tal levantamento nesse momento,

    no entanto, poderemos desenvolver melhor em pesquisas futuras.

    2.3 PERSPECTIVAS TERICAS DA/SOBRE A COMUNICAO

    ORGANIZACIONAL E CONTRIBUIES SOB O FOCO DA PRAGMTICALINGSTICA

    Os propsitos nessa seo visam o levantamento dos estudos bibliogrficos

    sobre as principais perspectivas que tratam sobre a comunicao organizacional e

    se tais perspectivas tm vnculos ou no com as teorias da comunicao, abordadas

    acima nesse captulo. Alm disso, investigamos quais as principais posies

    adotadas pelos tericos da comunicao organizacional em relao aos estudos

    lingsticos, em especfico sobre a pragmtica e polidez lingstica.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    45/240

    45

    2.3.1 Panorama de Investigaes no Brasil

    No Brasil, a comunicao organizacional originou-se sombra do

    jornalismo empresarial, a partir da Revoluo Industrial, houve o incremento da

    expanso empresarial, o que viria a provocar mudanas nos relacionamentos e

    gerenciamentos administrativos e de comercializao. O relato sobre o enfoque

    histrico da comunicao organizacional no Brasil encontra-se em Kunsch9(1997, p.

    55-72). A autora apresenta os registros dos estudos pioneiros de Torquato do Rego

    (1987) sobre jornalismo empresarial e as diversas entidades voltadas ao

    desenvolvimento das investigaes e relacionamento com os profissionais do

    mercado, que por ora no mencionaremos aqui, mas merece ser consultado no

    original.

    Foi a partir das publicaes empresariais na dcada de 1960, trabalho

    desenvolvido com a expanso dos departamentos de relaes pblicas que houve a

    necessidade de aprimoramento daquilo que seria denominado de comunicao

    organizacional, a qual segundo Kunsch (1997, p.57) passaria, sucessivamente, por

    uma era do produto (dcada de 1950), imagem (dcada de 1960), da estratgia

    (dcadas de 1970 e 1980) e da globalizao(dcada de 1990) (grifos no original).

    Segundo Kunsch o boom na comunicao organizacional atingiu o auge na

    dcada de 1980 com a reabertura poltica no Brasil. Com o passar dos anos e a

    criao de linhas de pesquisas nos cursos de ps-graduao e de eventos com

    publicaes que abordam o tema comunicao organizacional houve crescimento da

    produo terico-metodolgica. As denominaes, no entanto, ainda diferem entre

    pases, o que provoca significaes e compreenses distintas, variando como

    comunicao social, comunicao empresarial ou comunicao organizacional. A

    autora, com base em conceitos da literatura estrangeira, apresenta definiesclssicas da comunicao organizacional segundo Goldhaber, Kreeps e Cees van

    Riel, o que demonstra no ter uma teoria nica sobre o tema.

    Ao tratar a empresa como sistema, Torquato do Rego (1986, p.15) descreve

    a comunicao como um sistema aberto, semelhante empresa. Por sistema, o

    autor compreende que a comunicao organizada pelos elementos: fonte,

    9A autora realizou reviso histrica aprofundada. Para maiores detalhes ver em KUNSCH, MargaridaMaria Krohling.Relaes pblicas e modernidade: novos paradigmas na comunicaoorganizacional. So Paulo: Summus, 1997.

  • 8/12/2019 Ribeiro, Anely

    46/240

    46

    codificador, canal, mensagem, decodificador, receptor, ingredientes que vitalizam o

    processo. O autor considera o processo dividido em duas partes: transmisso da

    mensagem e, a segunda, de recuperao, necessria para o controle da

    comunicao por parte da fonte. Argumenta que essa viso torna-se rgida,

    aproximando-se do modelo matemtico-ciberntico de Wiener, preferindo identificar

    nos elementos que formam o processo comunicacional os condicionantes

    sociolgicos e antropolgicos. Ao descrever as modalidades da comunicao

    organizacional, Torquato do Rego (2002, p. 34-76) apresenta quatro formas

    consideradas estratgicas: comunicao cultural, comunicao administrativa,

    comunicao social e de sistema de informao. O autor entende que a

    comunicao organizacional , portanto, a possibilidade sistmica integrada, querene as quatro grandes modalidades, cada uma exercendo um conjunto de

    funes.

    Pelos artigos publicados nos ltimos anos nos congressos da Intercom

    Sociedade Brasileira de estudos Interdisciplinares da Comunicao - destacamos

    dois que estudam as perspectivas tericas da comunicao organizacional, com os

    quais podemos estabelecer relao com nossa investigao. No primeiro,

    Scroferneker (2000) faz reviso da literatura e dentre os vrios autores apontaDaniels, Spiker e Papa (1997) que descrevem trs modelos ou perspectivas para a

    comunicao organizacional: (a) tradicional a comunicao pode ser medida,

    padronizada e classificada; (b) modelo interpretativo as organizaes so vistas

    como cultura e espao de negociao das transaes e discursos coletivos. A

    comunicao um processo por meio do qual ocorre a construo social da

    realidade organizacional. Os smbolos e as significaes so fundamentais nas

    diversas formas de manifestao do comportamento organizacional. (c) Aperspectiva crtica, a organizao vista como espao de opresso e a

    comunicao tida como instrumento de dominao.