roda do leme nª 102

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N º 1 0 2 J U N H O 2 0 1 0 S E M E S T R A L N º 1 0 2 J U N H O 2 0 1 0 S E M E S T R A L

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Orgão de informação dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo

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Page 1: Roda do Leme nª 102

N º 1 0 2 J U N H O 2 0 1 0 S E M E S T R A LN º 1 0 2 J U N H O 2 0 1 0 S E M E S T R A L

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ANOS 15 SEMESTRAL 3ª SÉRIENº 102 JUNHO 2010

Editorial.............................................................03Novo Conselho de Administração .............04Ferries para a Hellenic Seaways...................05 | 06“Industrial Echo”..............................................07ENVC e Navios Militares ..............................08Reparação Naval..............................................09 | 10Entrevista...........................................................11 | 12Opinião: Eng.º Sergio Fonseca......................13 | 15Actividade Formativa......................................16 | 18Segurança e Higiene no Trabalho................19 | 20Cultura e Desporto ........................................21 | 24Humor ...............................................................25Social ..................................................................26 | 28Artes e Letras ..................................................29 | 31

Na defesa da empresa e do emprego

Trabalhadores Unidos 26

Conselho de Administração 4

COORDENAÇÃOVítor Calçada

REDACÇÃOAlfredo SilvaCarlos BalioFernando SilvaManuel Cadilha

COLABORAÇÃO DESTE NÚMEROAmérico MarquesCarlos do CarmoComissão de TrabalhadoresCristina MalhãoFabíola SousaFernando SilvaFrancisco BaptistaGonçalo FagundesJorge LimaLeonel São GilManuel RamosPaulo RibeiroRep. Trab. SHSTRui AlpuimSérgio Fonseca

PROPRIEDADEGrupo Desportivo e Culturaldos Trabalhadores dos ENVC

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃOEstaleiros Navais de Viana do Castelo, S.A.Apartado 530Av. Praia NorteTelef. 258 840 100 - 258 840 293Fax. 258 840 3854901-851 Viana do Castelo

Fotos da capaVítor Roriz

Fotos dos conteúdosENVC, GDCTENVC e Roda do Leme

Execução gráficaTwoDesign - Soluções Gráficas

Impressão e AcabamentoOFILITO

Tiragem1500 exemplares

“Industrial Echo”

Construção 257 7

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Nas páginas seguintes damos conta da entrega do últimonavio ao armador Jungerhans Maritime Services, tratando-sesimultaneamente de uma boa e menos boa notícia. Com aentrega desta construção n.º 257, encerrou-se o contrato comeste excelente cliente alemão, sem que nova encomenda fossepossível concretizar, facto lastimável na presente conjunturada empresa. Entretanto, este armador tem algumas construçõescontratadas e em execução com um estaleiro chinês.

Mesmo assim, registamos com apreço a forma satisfatóriacomo o acontecimento foi descrito na página Internet doarmador, onde recordam as três dezenas de navios construídosem Viana do Castelo nas últimas duas décadas. Esta satisfaçãonão nos pode levar a esquecer as dificuldades, antes pelocontrário, deve funcionar como estímulo para as ultrapassar.

Em matéria de dificuldades, em editoriais de ediçõesanteriores abordámos algumas em que a mais imediata e visívelse relaciona com o navio “Atlântida”, sendo para o cidadãocomum um autêntico enigma e imbróglio, sobre o qual nãoserão apuradas responsabilidades.

Na Comissão Parlamentar de Inquérito da AssembleiaLegislativa Regional dos Açores, e pelo que é noticiado nacomunicação social, mais uma vez se perdeu tempo e dinheirodos contribuintes para nenhuma conclusão relevante, ficandoa ideia de que ninguém pretende apurar a verdade eresponsabilidades, quer nos Açores, quer em Lisboa.

Sobre o navio “Atlântida”, surgiram entretanto em Maionotícias animadoras na comunicação social, aquando da visitado Primeiro-Ministro Português, dando conta do eventualinteresse de entidades venezuelanas neste ferry, o que estápor confirmar até ao momento do fecho desta edição darevista.

Das dificuldades e dos problemas existentes, relacionadoscom os ENVC, muito tem sido dito nos media, por vezes cominformação deturpada, imprecisa ou retirada de contexto, elamentamos que, frequentemente, os responsáveis pelaadministração da empresa não respondam de formaesclarecedora e defendendo o nome dos ENVC.

Estando os problemas identificados, interessa que se passea implementar as soluções, que estarão previstas no Plano deReorganização/Reestruturação citado na nossa edição deDezembro passado pelo anterior Presidente do Conselho deda Administração, bem como na comunicação proferida poreste, aos trabalhadores no plenário geral realizado em Setembrode 2009.

Dessa reestruturação organizativa, associada à parceriaestratégica empresarial nacional e internacional, não há aindasinais visíveis. A propósito, torna-se pertinente uma leituraatenta à reflexão feita pelo Eng.º Sérgio da Fonseca, publicadanesta edição, que num país e terra de marinheiros evoca apaixão pelo mar, para abordar importantes questões em tornoda cultura da empresa (ou falta dela); da atitude individual dosprofissionais na perspectiva da interacção em equipa; da missãodos ENVC e sua envolvente externa, incluindo a competitividade

no mercado; e ainda, sobre as responsabilidades do accionistaEstado na gestão.

Não devemos escamotear os problemas e vicissitudes danossa realidade, mas sim enfrentá-los com coragem edeterminação, construindo uma cultura organizacionalcompetitiva, onde imperem a motivação e capacidade paravencer desafios e adversidades.

A crise económico-financeira à escala mundial veio reduzira procura no mercado da construção naval, desde há muitobastante competitivo, devido à forte concorrência asiática,dificultando à empresa a angariação de contratos para aconstrução de navios mercantes.

A carteira de encomendas resume-se apenas aos contratosfirmados com a Marinha Portuguesa para a construção de 2Navios de Patrulha Oceânica (NPO), 5 Lanchas de FiscalizaçãoCosteira (LFC) e 2 Navios de Combate à Poluição (NCP), coma possibilidade de no futuro serem contratados 4 NPO, 3 LFCe 1 Navio Polivalente Logístico. Mas a carteira de encomendasdos ENVC não pode estar limitada à construção militar, sendoinsuficiente para ocupar a capacidade produtiva instalada, peloque urge conseguir novos contratos no mercado civil.

O contrato para a construção de dois ferries para umarmador grego estará em vias de entrar em vigor, podendoser relevante para os ENVC o acesso ao mercado do segmentodas embarcações de luxo na Europa. Trata-se do armadorHellenic Seaways que é o principal transportador marítimooperando com mais de três dezenas (3) de navios no tráfegointer-ilhas na Grécia.

Em situação semelhante de vir a efectivar-se, estará tambémo processo negocial de contrato para a construção de doisnavios de transporte de asfalto, com a empresa estatalvenezuelana Petróleos de Venezuela, S.A., de acordo comdeclarações do Vice-Ministro dos Hidrocarbonetos da Venezuela,Ivan Orellana, publicadas na comunicação social também nocontexto da visita acima referida no passado mês de Maio.

Entretanto, já se encontram em funções os membrosexecutivos da nova Administração, que irá ser composta por5 pessoas, sendo 3 residentes. E, de acordo com a informaçãoconhecida acerca de vários dos seus membros, quanto àexperiência de gestão e ligações ao ramo naval no passado,é expectável que a prazo sejam apresentadas medidas visandoultrapassar as principais dificuldades conhecidas, embora acrise económico-financeira internacional crie constrangimentosna implementação de algumas medidas em determinadas áreasda gestão.

Portanto, há razões para acreditar estarmos perante novasoportunidades de mudança e esperança, tanto mais que,segundo informação pública, o novo Conselho de Administraçãoterá de apresentar ao Governo um plano de viabilização daEmpresa nos próximos meses.

Com nova Administração e, simultaneamente, tambémuma nova Comissão de Trabalhadores que se afirma dispostaa “Mudar, Defender e Consolidar a Empresa”, será possívelcriar um clima e relação laboral propiciadores das soluçõesque garantam um futuro sustentável ao principal empregadorda região, e principal construtor naval do País, os EstaleirosNavais de Viana do Castelo.

A Redacção

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As Dificuldades geramOportunidades!

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O Contra-Almirante e Engenheiro Construtor Naval Vítor ManuelGonçalves de Brito, o Engenheiro Naval Francisco Gallardo Duran e oEconomista Dr. José Luís Serra Rodrigues constituem a equipa executivado novo Conselho de Administração.

Foi com o propósito referido em título que se apresentaram à Empresa,através de uma comunicação/saudação que publicamos na caixa ao lado.

A eleição destes administradores executivos por proposta do accionistaEstado teve lugar na Assembleia Geral dos ENVC, S.A., realizada a 5 deJulho de 2010, em que foram eleitos os novos titulares para os órgãossociais da Empresa para o mandato no triénio 2010/2012. Pelo que apuramos,do Conselho Administração farão parte 5 administradores, dos quais aindafalta nomear dois (2) com funções não executivas, o Presidente, Dr. CarlosAlberto Veiga Anjos, licenciado em finanças, e um Vogal, o EngenheiroNaval e Mecânico Óscar Napoleão Filgueiras Mota. Quanto aosadministradores já em exercício, apresentamos a seguir alguns dos aspectosmais relevantes dos seus currículos profissionais:

Eng.º Vítor Manuel Gonçalves de Brito

Tem 63 Anos, concluiu em 1967 o Curso deEngenheiro Maquinista Naval na Escola Naval, aoqual se seguiram mais tarde os Mestrados emArquitectura Naval e Engenharia Marítima e OceanEnginner (1976) pelo MIT em Bóston, nos EUA.

Nos últimos 39 anos, a sua actividade profissionalligada aos navios e indústria naval esteve virada para

áreas tão diversas como operação, manutenção, estudos e projectos denavios, direcção técnica e gestão da produção de estaleiro naval. Foi, ainda,Director do Projecto de Aquisição dos Submarinos para a Armada Portuguesa(1995-2001), docente convidado do IST (Instituto Superior Técnico (1981-2007) do Curso de Engenharia Naval, exerceu funções de consultoria emengenharia, manutenção industrial e peritagem marítima, formador emgestão e planeamento da produção industrial, Presidente do Conselho deAdministração do Arsenal do Alfeite (2002-2009), e é actualmente e desde2007, Vice Presidente da Ordem dos Engenheiros.

Dr. José Luís Serra Rodrigues

Tem 43 Anos, concluiu a Licenciatura emEconomia em 1993 na Universidade de Évora, émembro da Ordem dos Economistas e da Câmarados Técnicos Oficiais de Contas. Consta do seucurriculum experiência profissional nas áreas daeconomia e gestão, em particular funções no domíniodo serviço público. Foi Presidente do Conselho de

Administração da INTERMINHO - Sociedade Gestora de ParquesEmpresariais, Empresa resultante da parceria estratégica estabelecida pelaAssociação de Municípios do Vale do Minho com a AEP - AssociaçãoEmpresarial de Portugal e a Câmara de Valença, para desenvolver a actividadede construção e gestão de espaços industriais (1999-2002); Presidente daCâmara Municipal de Valença, assumindo, entre outras, a gestão das finançasmunicipais e dos contratos públicos; Presidente da Assembleia Geral daempresa Águas do Minho e Lima, S.A, com actividade centrada na concepção,construção e exploração dos subsistemas de abastecimento de água esaneamento do Distrito de Viana do Castelo e por fim Presidente daAssembleia Geral da empresa MINHOCOM - Gestão de Infra-estruturasde Telecomunicações, EIM, actividade de construção e exploração, emregime de serviço público, da rede comunitária de transmissão de dadosde alta disponibilidade, na região do Vale do Minho.

Eng.º Francisco Gallardo Duran

Tem 59 Anos e, quanto à sua formaçãoacadémica, concluiu o Curso de Engenheiro TécnicoNaval na Escola Universitária de Engenharia TécnicaNaval (1973) e mais tarde (1979), o curso deespecialidade em Arquitectura Naval, na EscolaSuperior de Engenharia Naval de Madrid, tendotambém participado em vários cursos de formação

na área técnica. Possui um vasto curriculum profissional na direcção deprodução e gestão dos sectores da construção e reparação naval. Exerceufunções em estaleiros navais espanhóis, dos quais se destacam, desde 1981,os IZAR/NAVANTIA. Foi responsável pela gestão de Doca Seca do PuertoReal Shipyard (1981-1990), com responsabilidade pelas áreas de CurvedBlock, Cutting Shop, Supervisão da Produção e Fitting. Para além disso, foimembro do Comité de Direcção, com responsabilidade na negociaçãocom sindicatos. Ascendeu a Director de Produção destes Estaleiros (1990-1994), com funções específicas de supervisão na produção de naviosContainers, Ro-Ro e Ferries, com responsabilidade sobre cerca de 2000pessoas, sendo por inerência membro do Conselho de Directores.

Mais tarde (1994-1997) viria a ocupar o cargo de Director Geral nosEstaleiros de Cadiz (Cadiz Shipyard), cujo negócio estava relacionado coma actividade de reparação e reconversão de todo o tipo de navios. Ocupoutambém neste período funções de liderança de projectos de Plataformaspara a Petrobrás (off-shore). Entre 1997/2000 o cargo de Director Geralno Cadiz Shipyard tornou-se extensível aos Estaleiros de Puerto Real, onde,tendo atingido o topo na Empresa, foi convidado a exercer funçõescorporativas na sua Sede em Madrid (2000).

Depois, também como Director Geral (2000-2007), assumiuresponsabilidades na gestão da AINTEC, Cádiz, grupo de sub-empreiteirosa operar essencialmente em estaleiros navais. Este grupo é formado poroito empresas, que prestam serviços nas áreas de electricidade, acomodação,hidráulica, tubagem, aço, hidráulica e engenharia, onde supervisionava ocontrolo da planificação do trabalho e geria a negociação com os sindicatos.

Desde 2007, igualmente como Director Geral, era responsável pelagestão dos Estaleiros de Sevilha (Sevilla Shipyard), especializados naconstrução de navios Ro-Ro, Ferries, Supply e Ro-pax’s, que empregamcerca de 275 trabalhadores do quadro e 1500 sub-contratados.

Pelos dados biográficos e curriculares, estamos perante profissionaismuito experientes, quer nas áreas da engenharia, quer da gestão, e queconhecem muito bem os sectores da construção e reparação naval.

Sabemos que o mercado destes sectores é muito difícil e competitivo,mas com uma equipa conhecedora do mercado e experiente, ENVC, S.A.poderão adquirir as tão esperadas condições de estabilidade, viabilidadee sustentabilidade.

A Roda do Leme expressa aqui, em nome da sua redacção, os votosde, muito sucesso e felicidades no exercício do cargo, a todos os elementosnomeados para a Comissão Executiva do Conselho de Administração dosENVC.

“…Contribuir para o sucessoempresarial”

Novo Conselho de Administração dos ENVC

Ao iniciar funções, O Conselho de Administração dos ENVC saúda todos quantosexercem funções profissionais no Estaleiro e afirma o propósito de contribuir parao sucesso empresarial desta importante unidade económica.

Iniciaremos de imediato um período de levantamento da situação para podermosfixar um programa de acção destinado a gerir os recursos disponíveis face aoscompromissos assumidos com todas as entidades envolvidas: Trabalhadores, EstadoAccionista, Clientes, Fornecedores e Prestadores de Serviços, Entidades Credoras,etc. É legítimo esperar de todas essas entidades alguma compreensão no sentidode ser possível ultrapassar situações conjunturais difíceis.

Sabemos que os ENVC se debatem com dificuldades de diversa ordem etentaremos identificar as melhores soluções, cientes que o esforço colectivo detodos quantos trabalham na Empresa deve ser orientado numa única direcção quetem de ser clara e objectiva e, acima de tudo, tem de ser compreendida e aceite.

Os ENVC têm um passado prestigiante que serve de referencial e de estímulo.Mas é também de realismo e de procura de novas soluções para os novos problemasque a nossa acção será orientada.

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Ferries para a Hellenic SeawaysNovo Contrato, Novo Desafio!

Eng. Moreno de Sousa

(Gestor do Projecto)

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“Conseguiu-se assim abrir umaporta no difícil mercado dosnavios ferry para a Grécia...”

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Três dezenas de navios paraum clienteFernando Silva

Construção 257  "Industrial Echo"Último heavy-lift a navegar desde Viana do Castelo

Realizou-se no passado dia 13 de Janeiro de 2010 a Cerimóniade Bênção do "Industrial Echo", designado Construção 257, sendoo último navio�da última série de 4 encomendada aos ENVC peloArmador Jungerhans Maritime Services Gmbh & Co. KG., cujapartida de Viana do Castelo ocorreu dois dias depois, no dia 15.

Ficou sempre patente, �ao longo do período de construçãodesta e das outras séries de navios para este Armador, o seu realcontentamento com a qualidade do nosso produto e com o eficazdesempenho destas unidades no cumprimento das suas missões.

Este navio foi mais um fretado à companhia norte-americanaIntermarine Inc., e segundo informação pública deste operador,o navio partiu para Hamburgo, Bilbao e Gijon, onde efectuoucargas com destino ao Brasil e Uruguai.

É interessante recordar algumas palavras proferidas há trêsanos atrás pelo então Presidente desta companhia, Sr. RogerKavanagh, que afirmou “…nós encontramos neste versátil projectoe construção do tipo heavy-lift o navio ideal para as viagens em quenos especializamos. Cinco anos decorridos, esta classe de naviotransformou-se no workhorse da nossa frota, especialmente no comércioentre os EUA e o Brasil”, acrescentando ainda que “Estes novosnavios marcam apenas uma outra etapa de um programa continuadode modernização da frota ao serviço da Intermarine.” Estas declaraçõesrevelam a satisfação do fretador cliente da Jungerhans MaritimeServices.

Registe-se que no conjunto das várias encomendas destecliente alemão, entre os anos de 1990 e 2010 foram entregues30 navios porta contentores. Será de esperar que, a partir darecuperação do mercado naval internacional e da situação financeiraglobal, as relações da Jungerhans com os ENVC possam serretomadas através de novos contratos.

Supervisor HomenageadoCmdt. António Curto

No mesmo dia em que partiu o "Industrial Echo", e numainiciativa da Direcção do Grupo Desportivo e Cultural dosTrabalhadores dos ENVC conjuntamente com a Comissão deTrabalhadores, entenderam ser de justiça prestar uma singelamas merecida homenagem ao Comandante António Curto, quefoi supervisor residente dos navios em construção para estecliente alemão.

A Roda do Leme associou-se naturalmente a esta acção, querpela cordial relação existente com este representante do cliente,quer pela sua colaboração com a Revista, prestando esclarecimentosrelacionados com os navios quando era solicitado. No acto dehomenagem e entrega de uma lembrança (foto), para além demembros do GDCT, da Comissão de Trabalhadores e da redacçãoda Roda do Leme, estiveram ainda presentes elementosrepresentantes da estrutura sindical dos ENVC.

António A. Cosme Curto é Capitão da Marinha Mercante, edo seu percurso profissional consta a prestação de serviços paravários armadores: Companhia Nacional de Navegação, Portline,Secil Marítima, Naveiro, Hermann Buss e Juengerhans MaritimeServices. Por outro lado, desde 1987 que desempenhou funçõesde Comandante a bordo de vários tipos de navios, essencialmenteporta contentores, nas mais diversas rotas. Desde 2005,desempenhou a função de supervisor de novas construções aoserviço da empresa Juengerhans Maritime Services. E foi ao serviçodesta companhia que, em Fevereiro passado, voltou ao mar paracomandar um navio porta contentores.

Na edição n.º 97, de Dezembro de 2007, e a propósito daentrega então de mais um navio ao cliente, publicámos umaentrevista com o Cmdt. António Curto, em que este referia“…É de realçar o bom desempenho técnico-profissional por parte dostrabalhadores do Estaleiro nos vários sectores e nas diversas fases daconstrução do navio.” E afirmou ainda “…Quero aproveitar estaoportunidade para deixar uma palavra de agradecimento a todos ostrabalhadores e funcionários deste Estaleiro, sem excepções, com quemcontactei ao longo do período de construção dos navios da série D,pela forma única como fui recebido, como se relacionaram e mostrarama sua arte e saber, da maneira honesta e sincera com que ultrapassamosdificuldades e problemas no quotidiano, dando forma ao aço e expressãoao empenho de todos, na concretização de um projecto com sucesso.”

Também agora nesta homenagem, o Cmdt. Curto renovouos seus agradecimentos de forma simples como era seu timbre,e mesmo emocionado pela iniciativa de gratidão tambémmanifestada pelos representantes dos trabalhadores, que atravésdele agradeceram igualmente à Juengerhans Maritime Services.Nesta oportunidade, aproveitou para fazer um balanço breve àsua presença nos ENVC, dando ainda uma perspectiva sumáriadas dificuldades que atingem o mercado naval, deixando o seudesejo e esperança de que os ENVC se manterão como estaleirode referência nacional, e com novos contratos.

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Durante o primeiro semestre do ano de 2010, os ENVC receberamalgumas visitas importantes, não só pelo prestígio da nossa Empresa, mastambém pelo interesse crescente que os Projectos Militares em curso temsuscitado em diferentes entidades e instituições ligadas ao Mar e à ActividadeMarítima, pelo que consideramos justificar-se a sua publicação.

Adido Militar do Brasil, CMG Fernando Costa

Em 27 de Janeiro, o Comandante de Mar e Guerra FernandoCosta, na qualidade de Adido Militar do Brasil acreditado em Portugal,visitou os ENVC com o objectivo de conhecer a nossa Empresa e,mais especificamente, os Projectos Militares em curso.

Delegação Líbia da área das Indústrias de Defesa

Tratou-se de uma visita a Portugal de uma delegação do ComitéGeral de Defesa da Líbia, a 4 de Fevereiro.

De acordo com a agenda proposta, foram realizadas visitas acentros de treino, centros de reparação e manutenção, Indústrias deDefesa e Instituições de ensino militar.

Nesse sentido, a Delegação Líbia visitou os Estaleiros Navais deViana do Castelo, SA, focando o seu interesse nos navios militaresactualmente em construção.

Embaixador da Grécia – Sr. Vassilios Costis

Também em Fevereiro, no dia 18, verificou-se uma visita decortesia do Embaixador da Grécia à nossa Cidade, organizada pelaCâmara Municipal de Viana do Castelo e motivada pela vontadedemonstrada pelo Senhor Embaixador em conhecer o tecido industrialda região.

Nesta visita aos ENVC o Embaixador Vassilios Costis veioacompanhado pelo Presidente da Câmara Municipal de Viana doCastelo, Governador Civil do Distrito, Presidente da AssembleiaMunicipal e Vereadores.

Para além de uma Apresentação da Empresa, liderada pelo

Presidente do Conselho de Administração, Sr. Dr. Jorge Rolo, e deuma visita detalhada às instalações da Empresa houve, ainda, umalmoço de trabalho promovido pela Câmara Municipal, que contoutambém com a presença de outras entidades locais.

Capitão de Fragata da Marinha de Angola, AugustoAlfredo Lourenço

No dia 14 Abril, na qualidade de Auditor do Curso de DefesaNacional, o Capitão de Fragata da Marinha Angolana Augusto AlfredoLourenço mostrou, naturalmente, grande interesse em conhecer osProjectos Militares em curso nos ENVC, levando para o seu Paístoda a informação relevante sobre os NPO e as outras unidadesmilitares em carteira.

Nas suas palavras, o Capitão de Fragata Augusto Alfredo Lourençoconsiderou “muito proveitosa e útil a visita aos ENVC e aos NPO; todaa informação recolhida será divulgada, pessoalmente, junto das AutoridadesAngolanas”, e também através da “Revista da Marinha”, órgão decomunicação angolano, de que também é Director.

Adido de Defesa da Argélia, Coronel Mustapha Harrate.

Sendo o primeiro Adido de Defesa designado pela Argélia parao nosso País, o Coronel Mustapha Harrate mostrou grande interesseem visitar as empresas do Grupo EMPORDEF, designadamente osEstaleiros Navais de Viana do Castelo, o que aconteceu no dia 19 deAbril.

O CADM, na pessoa do Sr. Engº Delgado Araújo, acompanhouo Adido de Defesa da Argélia numa visita detalhada às instalações daEmpresa, e o Engº Domingos Moreira e a Engª Camilla Olsenencarregaram-se de mostrar a Construção Nº 238 – NRP “Viana doCastelo”, em todo o seu detalhe técnico e logístico.

No final da visita, COIC (Comunicação e Imagem Corporativa)teve ocasião de colher o testemunho do Coronel Mustapha Harrate,que nos transmitiu “ter apreciado o Navio de Patrulha Oceânica,considerando-o excelente para o desempenho da sua missão”.

ENVC e Navios MilitaresDespertam Interesse!Fabiola de Sousa

O Navio-Escola Sagres largou, no passado dia 19 de Janeiro,de Lisboa rumo a uma viagem de Volta ao Mundo, com duraçãode cerca de 11 meses. Esta é a terceira vez que a Sagres realizauma Circum-navegação, tendo as últimas viagens ocorrido em1978/79 e em 1983/84.

Durante esta viagem a Sagres irá visitar vários países. São eleso Brasil, o Uruguai, a Argentina, o Chile, o Peru, o Equador, oMéxico, os EUA, o Japão, a China (incluindo Macau), a Coreia doSul, a Indonésia, Timor-Leste, Singapura, a Tailândia, a Malásia, aUnião Indiana, o Egipto e a Argélia.

A EMPORDEF e as suas subsidiárias - ENVC, Arsenal doAlfeite, Naval Rocha, EDISOFT, EID, ETI, OGMA e IDD decidirampatrocinar este mega-evento: A “ SAGRES” VOLTA AO MUNDO– 2010.

De entre os objectivos da sua missão, aos quais a holding daIndústria da Defesa dá assim uma forte dinamização, destacam-se:

• A formação de cadetes da Escola Naval;• A promoção da imagem de Portugal no mundo;• O apoio à Diplomacia, Económica e Cultural;• A participação na SUDAMÉRICA;• A participação na EXPO 2010 em Xangai;• A comemoração dos 500 anos do tratado com o Japão;• O estreitar das relações com os Países Asiáticos;• O contacto com os portugueses na Diáspora.A bordo da “Sagres”, viaja também o modelo do “NRP Viana

do Castelo”, Navio de Patrulha Oceânica construído nos ENVC.Como manda a Tradição, continuamos a mostrar ao Mundo

a qualidade do produto dos nossos Estaleiros.

Navio-Escola “Sagres” efectua Volta ao Mundo

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A crise económico-financeira à escala mundial afectoudrasticamente a indústria da Construção Naval, que já sofriade enormes problemas estruturais, distorções do mercado,muitas provocadas pela concorrência desleal, nomeadamente,oriunda dos países do Continente Asiático.

Apesar dos ENVC estarem vocacionados e dimensionadospara a actividade construtora e reparadora, a ausência decontratos nos últimos anos para a construção de navioscivis tem relevado a nossa vertente da reparação. Temosefectivamente enfrentado esta crise persistente daconstrução, tirando o máximo partido das oportunidadesdo mercado da reparação, rentabilizando ao máximo osrecursos estruturais e humanos existentes.

É oportuno referir que em termos de valor acrescentadonacional, a actividade de construção representa cerca de40%, ao passo que, a da reparação pode atingir cerca de85%. Isto porque uma é caracterizada pela incorporaçãode matéria-prima e equipamentos, adquiridos em grandeparte no mercado internacional (bens importados) e a

segunda, caracteriza-se essencialmente por uma prestaçãode serviços (mão-de-obra) e alguns materiais em grandeparte adquiridos no mercado interno.

Nesta lógica, as duas são importantes tendo em contaa necessidade de revalorização da tradicional indústria navalportuguesa, mas mais do que isso, numa estratégia deexploração dos maiores recursos nacionais que têm origemno mar. Recursos que, para além de explorados, devem serprotegidos e aos quais devemos afectar maior vigilância.Neste sentido, o “hipercluster do mar” adquire aqui especialrelevo no contexto actual, pois deve ser entendido comouma oportunidade para sectores de indústrias a montante,que irão criar sinergias entre elas e lhe servirão de apoio,como entende também o Prof. Ernâni Lopes, e citamos:“As actividades de construção, reparação e manutençãodevem ser entendidas como actividades de apoio aos outroscomponentes do hypercluster do mar”. Para além disso,quer o mercado da construção quer o da reparação,dependem do tráfego marítimo que varia de acordo com

Em primeiro plano “Umiavut”, navio de carga geral

REPARAÇÃO NAVAL

OS ENVC enfrentam a crise e um mercado difícil, mas apesar disso mantêmdocas ocupadas!

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Entre os diversos navios reparados na primeira metadedo ano, entrou nos ENVC em 26 de Janeiro e partiu a 10de Fevereiro de 2010, o navio graneleiro “Marie O” doarmador Meridian Marine Management, do Reino Unido,e com as dimensões de 168,6 x 26 metros.

Entre os trabalhos de reparação realizados, mereceuma referência concreta a substituição dos vedantesexteriores do veio propulsor através do processo devulcanização ou, dizendo de forma mais simples, porcolagem, e que, por solicitação do armador, contou coma supervisão e assistência técnica de pessoal da empresafabricante dos vedantes.

O sistema de vedação é constituído por um conjuntode vedantes especiais que têm como principal funçãogarantir a estanquicidade na zona do veio propulsor, nãopermitindo a entrada de água do mar para o interior donavio.

Sendo uma intervenção frequente nas actividades dereparação naval realizadas na nossa empresa, habitualmenteé realizada com o navio em doca seca, e pela primeira vezfoi efectuada na bacia de aprestamento, isto é, com o navioa flutuar. Para essa circunstância houve necessidade decriar condições adequados no lastro do navio levando-oa mergulhar mais a vante para que o veio propulsor na réficasse fora de água e acessível à intervenção a realizar,como se pode verificar pela foto junta.

os ciclos económicos, o que reforça mais a necessidade deimplementação de medidas ajustadas à viabilização destaplataforma para a manutenção e criação de emprego.

Actualmente, e apesar de alguma estagnação económica,os ENVC têm conseguido manter uma considerávelactividade reparadora, fruto da procura persistente nomercado nacional e internacional, da parte do sectorresponsável na empresa pela reparação naval.

A esta actividade e especialmente aos ENVC, fazreferência a revista Motorship de Junho de 2010, salientandoa total ocupação do cais e das duas docas existentes, bemcomo a plataforma das novas construções, actualmentetambém rentabilizada com a reparação de navios. A notíciapublicada naquela edição da revista referia ainda os principaisnavios reparados no mês anterior, e o essencial desse textoé o seguinte.

“A reparação do navio “Orange Sky”, transportador desumos de fruta, com 26,863 tdw, no qual, para além dos normaistrabalhos de reparação, está ainda a ser executada a decapageme pintura dos tanques de lastro; trabalhos de reparação nostanques em aço do navio de carga geral “Umiavut”, com9,682 dwt, e também decapagem e pintura dos tanques delastro; docagem de rotina e trabalhos de mecânica do naviotanque “Bow Braccaria”, de 5,846 dwt.

Recentemente o Estaleiro terminou a reparação do naviotanque “Multitank Badenia” de 5,846 dwt (construído nosENVC), o último de uma série de 5 navios químicos, nos quaisse instalaram sistemas de geradores N2 (sistema de gás inertepara os tanques de carga), para além de outros trabalhos dereparação. Os ENVC finalizaram também recentemente trabalhosde reparação no “Aurora” (navio de transporte de enxofre

líquido com 24.668 dwt construído nos ENVC), que incluíam ainstalação de 3 escotilhões dos tanques de carga, em açoinoxidável, e muitos outros trabalhos importantes de reparação.

Outros trabalhos de reparação foram realizados em doisnavios porta-contentores do armador Português S&C, Lda.: o“Lagoa” com 5,003 dwt e o “Ilha da Madeira” com 3,178dwt. E ainda o “Peter Ronna”, com 4.326 dwt e o “BBCFrance” com 4.310 dwt, ambos navios de carga geral depropriedade do Armador Briese Schiffahrts, que docaram parareparação de rotina.

Os ENVC afirmam que, embora o negócio tenha vindo adesenvolver-se de forma pacífica, existe uma grande pressãopara cortar nos preços, uma vez que os armadores se encontramnuma situação em que, claramente, evitam os trabalhos demanutenção e as grandes reparações.”

Após esta notícia da Motorship, mais cerca de outra dezenade navios entraram nos ENVC para reparação, permitindomanter uma considerável ocupação dos recursos.

Navio Químico “Aurora”

“MARIE O”Intervenção velha por método novo!

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Depois de, em Dezembro de 2008, a Roda do Leme, atravésde entrevista ao Eng. Sérgio Fonseca ter dado informaçãosobre o desenvolvimento do Programa de Modernização dosENVC – PROM XXI 1.ª Fase, será oportuno agora darconhecimento do estado da construção da Nova Oficina deBlocos, ouvindo o Sr. Carlos do Carmo, responsável peloServiço de Montagem e Instalação, recentemente nomeadocoordenador da fase de conclusão desta importante infra-estrutura produtiva.

RL: Sabendo da importância do programa de modernizaçãodos ENVC, para sua estratégia futura e competitividade no mercado,a Roda do Leme tem acompanhado a sua implementação. A Oficinade Blocos será porventura uma das mais importantes infra-estruturasque integram a 1.ª fase do programa. Para quando a conclusão daNova Oficina de Blocos?

C. Carmo: Quando assumi a coordenação desta obra noinício de Abril, após a aposentação do Director de ProduçãoEng.ª Manuel Castro iniciador da mesma, foi-me solicitado queestivesse concluída no final de Setembro. Essa data correspondiaao início previsto da nova encomenda dos navios ferry paraa Grécia. O programa destes navios sofreu atrasos, pelo queo respeitante à oficina deverá ser ajustado a fim de evitarsobrecustos uma vez que também sofre alguns atrasos na suaexecução. Irei colocar esta questão aos novos responsáveisda Administração em breve.

RL: Tivemos conhecimento de alguns constrangimentos duranteo processo de construção. Quais os que do seu ponto de vistainterferiram mais e dificultaram o bom andamento dos trabalhos?

C. Carmo: Os constrangimentos foram muitos e variadosaumentando o grau de exigência do desafio, mas à medida quese ultrapassavam contribuíram para melhorar a nossadeterminação e motivação.

O principal mantém-se desde o início, devido ao facto dese ter pensado que a firma que desmontou a oficina em Lubeckseria a responsável pela montagem em Viana. Esta alteraçãocriou-nos dificuldades acrescidas porque não ficámos comelementos de detalhe fundamentais.

A nível de estrutura existem desenhos do projecto originalmas a nível de redes de fluidos, electricidade, cobertura dotelhado, etc., existe mesmo muito pouco, pelo que exigiu umgrande esforço para compreendermos a forma do seufuncionamento. Muitos dos casos foram deslindados com oúnico recurso disponível, ou seja, algumas fotografias tiradaspor colegas que a tinham visitado.

Outro aspecto relevante deu-se com a transferência domaterial do parque fechado organizado pela ENDEL para outromenos resguardado e acessível, perdendo-se alguma lógicaque tinha presidido à sua organização e também algumas perdasde materiais. Esta mudança foi originada pela necessidade de

início da obra das fábricas da ENERCOM.As condições climatéricas adversas, com um ano muito

chuvoso, também não permitiram lançar em devido tempo orevestimento do telhado que é constituído por lã de rocha etela impermeável sobre chapa canelada em forma de ómega.Esta etapa aconteceu somente em Junho, atrasandosignificativamente o início de outras actividades como amontagem de equipamentos sensíveis e os respeitantes à áreade electricidade.

RL: A modernização das infra-estruturas produtivas pode serfactor diferenciador no desenvolvimento dos processos e no incrementodo índice de produtividade. Julga, na sua opinião, que a nova oficinaestará em condições de funcionar plenamente no âmbito das novasconstruções, ao que tudo indica a iniciarem o corte ainda estesemestre?

C. Carmo: O funcionamento da Nave de Blocos naconstrução dos navios para a Grécia foi o desafio que melançaram, aceitei e penso ser possível de concretizar. Comoatrás referi deverá ter ajustamentos no planeamento, quepermitam absorver o atraso verificado e evitar alguns custosadicionais, uma vez que o corte de material dessas construçõesjá não será no 2º semestre deste ano mas sim no 1º trimestredo próximo.

RL: As mudanças constituem desafios que raramente devemosdesperdiçar. A nova estrutura pode constituir um factor determinantepara a melhoria ou mudança do nosso processo produtivo. Qualo impacto, na sua opinião, desta nova infra-estrutura na dinâmicae na logística/planeamento de novas construções?

C. Carmo: O impacto vai ser grande, sem sombra de dúvidas,porque esta unidade tem uma área coberta de cerca de 6000m2, com meios de apoio à produção muito racionalizados eacessíveis, desviando a maioria dos trabalhos executados aotempo para o seu interior e aliviando a pressão da oficina dePré-montagem onde normalmente existe concentraçãoexcessiva de blocos.

PROM XXI:Conclusão da 1.ª Fase“Obra fundamental à Produtividade”

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A nível tecnológico não se vão produzir nela alteraçõesno processo construtivo dos blocos. Estes serão construídosda forma convencional, só que executados em melhorescondições.

A novidade desta oficina reside no facto de possuir umaponte rolante de 130 tons de capacidade e com a possibilidadede virar os blocos no interior da mesma. Esta facilidade émuito importante para a execução de trabalhos de soldadurana posição ao baixo, evitando as manobras de exterior comnecessidade de coordenação de meios de elevação com váriosguindastes.

RL: Esta oficina, para além de constituir uma alteração nadinâmica dos processos produtivos, vem dotar a Empresa de umasignificativa área coberta, importante para enfrentarmos algumasvicissitudes provocadas pelo microclima. Em que medida estas duasvariáveis podem influir na batalha da produtividade e competitividade?

C. Carmo: A produção de blocos em área coberta éfundamental no que se refere à produtividade. Um simpleschuveiro de alguns minutos pode estragar todo o dia detrabalho até que se reponha as devidas condições, para alémde implicar trabalho que não acrescenta nada ao produtocomo sejam as remoções de águas e limpeza, com custosacrescidos na obra.

Quando falamos em condições climatéricas adversas nestaactividade, temos tendência para pensar somente na chuva,mas acontece que existem outros factores importantes quevale a pena referir. O vento tão característico da nossa regiãoafecta seriamente a actividade de soldadura que na sua maioriaé executada por processo semi-automático com recurso a gásde protecção. Dificulta a execução, produz defeitos que épreciso reparar e obriga a gastos desnecessários na execuçãode protecções para evitar os seus efeitos.

Os efeitos da exposição directa ao Sol no Verão torna osBlocos autênticas salas de sauna com os reflexos inevitáveisnos índices de produtividade.

RL: Para a 2:ª fase do PROM XXI estavam previstas tambémuma nova linha de montagem de painéis e perfis e um novo parquede laminados. Considera estes investimentos necessários e relevantesno curto prazo ou acha que a nova oficina resolverá os problemasmais urgentes no processo produtivo?

C. Carmo: Eu não chamaria linha de montagem de painéise perfis mas sim montagem de blocos planos. Para além deachá-la necessária e relevante, acrescentaria a palavraimprescindível para caracterizar a sua importância se quisermosganhar a batalha da competitividade.

Para além de produzir todos os painéis necessários aonavio, esta linha evolui em três sentidos diferentes acrescentandoa montagem e soldadura de outros elementos estruturais dosblocos sobre os referidos painéis.

Os seus postos de trabalho são fixos, sendo essa uma dasgrandes vantagens sobre o processo tradicional com a grandemobilidade conhecida e os tempos mortos que origina.

Esta linha sim, provoca alterações tecnológicas significativaspois dispõe de postos de trabalho pensados e equipados paraa realização de tarefas específicas e, como linha de montagemque é, exige uma programação muito forte para não bloquear,imprimindo uma dinâmica muito propícia a ganhos deprodutividade que tanto precisamos.

Outro aspecto relevante é o facto de, quer esta Linhaquer a nova Nave de Blocos, por si sós, não resolverem oproblema mas antes se complementarem. Na primeira inicia-se a montagem com introdução de grande número de peçasgraças aos meios estudados para o efeito e à sua quantidade,na outra completa-se os blocos com os seus forros, etc., econstroi-se os Blocos atípicos de proa e popa, mais curvose morosos.

Para melhor ilustrar o atrás referido lembro que nos 200metros de comprimento de Nave só dispomos de 3 pontesrolantes como auxiliar de montagem, o que é manifestamentepouco se quisermos fazer dela uma utilização intensiva namontagem de componentes.

Quanto ao novo parque de laminados creio não estarcalendarizado devido às restrições financeiras que atravessamos.

Para finalizar gostaria de aproveitar esta oportunidadeque me deram para agradecer a todos que têm colaboradonesta obra, têm feito um trabalho excelente, executandotarefas fora da sua esfera normal de competência, têmcontribuído com ideias e sugestões que permitiram ultrapassarum grande número de obstáculos. Estão de parabéns. Quemtiver dúvidas sobre esta matéria passe pelo parque onde estáainda por montar a Oficina de Módulos e veja como umamontoado de ferro dá origem a uma oficina de semelhanteenvergadura.

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Recorro ao tema de campanha de Barack Obama no seupercurso mobilizador para a Presidência dos EUA. Adaptando parao nosso micromundo: podemos nós, ENVC, ser uma empresacompetitiva? Ou será que não podemos?

O nosso colega Vítor Calçada propôs-me escrever um artigopara a Roda do Leme. Questionei-o sobre o tema pretendido. Disse-me que escrevesse sobre o que entendesse. Respondi com hesitação.Que talvez viesse a escrever um texto mais tarde. Mas o Dr. VítorCalçada insistiu e quebrou a minha hesitação ao afirmar que nãoapreciava aqueles que dizem o que têm a dizer do lado de fora.Entenda-se, quando um dia estiver fora da empresa, quando ocorrer.

Decidi, portanto, escrever para a Roda do Leme e escolhi paratítulo aquela célebre frase mobilizadora da campanha eleitoral doactual Presidente dos EUA. O que também poderia ser na versãoshakespeariana: ENVC: “to be or not to be…competitive”.

ENVC: Yes, we can?Eng. º Sergio Fonseca

Encontro quatro ingredientes para dar resposta à questãoformulada: Paixão pelo mar. Cultura de empresa. Atitude. Missão.E dois elementos de contexto: Mercado. Accionista.

1) Os ingredientes

- Primeiro ingrediente: paixão pelo mar. O que tem estaindústria de particular? A paixão pelo mar e pelos navios.Quem, de entre nós, não sentiu uma pontinha de emoçãoquando, finalmente, uma nova construção parte rumo ao maraberto, assinalando com apitos o seu adeus ao estaleiro, paramarear os cantos do mundo? Estou certo que muitos de nósjá partilhámos este mítico sentimento, ao vermos reflectidonaquele navio um pouco das nossas ambições e frustrações,sucessos e insucessos, ilusões e desilusões. É este ingredienteque une muitos de nós, marinheiros de terra construindo paraos marinheiros do mar, e que interessa preservar e reforçar:a paixão partilhada pelo mar e pelos navios.

- Segundo ingrediente: cultura de empresa. Começo por umapequena história. A primeira reunião a que assisti nos ENVCcomo quadro deixou-me perplexo. Foi por altura de 2001 ou2002 e estava previsto debater 2 ou 3 pontos da agenda, numareunião coordenada pelo Presidente na época.

Pois bem, passámos uma manhã inteira e não concluímosnenhum ponto da agenda. Apesar dos esforços do Presidente,não se passou de uma sessão de recriminação mútua entre osquadros presentes sobre algo que tinha corrido mal na empresa.Como acima referi, fiquei perplexo por saber que a empresa,já nessa época, tinha assuntos relevantes a tratar e contrariamenteao que esperava ser um debate aprofundado dos assuntos daagenda, os presentes insistiam na recriminação mútua.

É certo que sendo um novato chegado à empresa poderiater aterrado num mau momento. É verdade, mas o tempo veioconfirmar-me a noção de que se recrimina demais dentro daempresa em vez de se ir ao fundo dos problemas com sentidode responsabilidade. Este sim, um valor que importavalorizar/aprofundar em qualquer organização.

Os japoneses, por exemplo, procuram debater os problemasque vão surgindo nas suas empresas através do que designarampor “círculos de qualidade”, esforçando-se de uma formaorganizada e estruturada na identificação de um problema, as

suas causas e as soluções para o remediar ou para o evitar nofuturo. Método aplicável a um grupo de trabalhadores, ou umgrupo de quadros ou de chefias.

Repito: responsabilidade. Peter Drucker, um dos fundadoresda moderna ciência de gestão, no seu livro ainda hoje referênciamundial “Management: tasks, responsabilities and practices”,aborda o tema responsabilidade de uma forma magistral eidentifica-o como um elemento central de uma organização.Responsabilidade, enquanto elemento gerador da autoridadeou da execução de tarefas que cada elemento da organizaçãoestá investido ou designado.

Este, portanto, o segundo ingrediente que teremos dereflectir: menos recriminação e mais responsabilidade entretodos nós. Errar é dos humanos. É também muito mais frequentedo que se poderá fazer crer, em organizações orientadas paraa tecnologia como a nossa. O importante é nunca perdermosa noção da responsabilidade de uma forma salutar, e deprocurarmos identificar a tempo problemas, causas e soluções.

Responsabilidade, Profissionalismo e Ética – UmaNova Cultura!

- Terceiro ingrediente: atitude. Nesta vertente o que importarelevar é uma atitude virada para o profissionalismo e para aética profissional. Quanto ao profissionalismo, tenho a noçãode que os ENVC dispõem de elementos de muita elevadaqualidade e profissionalismo quando vistos na óptica individual.Mas tê-la-ão quando vistos na óptica organizativa? Será quecada um contribui para que sejamos uma organização maiseficiente e mais eficaz? Organização mais eficiente para osprocessos e mais eficaz para os objectivos da empresa?

Quando assumi outras funções na empresa constatei queduas construções em curso já tinham ultrapassado largamenteo orçamento inicial. Um dos navios, cujo contrato havia sidoiniciado há mais de 3 anos, acabou por ser entregue com maisde 60% acima do orçamento inicial. Isto para além do largoatraso na entrega que acarretou penalidades para a empresa.Também acompanhei sucessos quando muitos afirmavam quenão era possível. Refiro-me a duas construções que foramconcluídas no prazo e com resultados. O que me surpreendeuacima de tudo foi, por parte de alguns, a falta de autocrítica

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ao que tinha corrido mal no primeiro caso e, no outro caso,a desvalorização do sucesso.

Para sermos mais profissionais teremos de premiar evalorizar mais os sucessos e, nos insucessos, avaliar se nãopoderemos melhorar este ou aquele aspecto da organização,que compreende os nossos métodos de comunicação interna,de delegação de tarefas e responsabilidades, de novas respostasorganizativas, ou seja, não só “o que se faz” mas também “ocomo se faz”. Por exemplo: alguns na empresa sabem que souum adepto da separação das tarefas funcionais das de “projectmanagement”, alocando àquelas as questões técnicas e àsúltimas as questões de cumprimento de prazos e de orçamentos.Não teremos aqui um longo caminho a percorrer?

Uma outra vertente da atitude é a de sermos humildes emreconhecer que há muitos aspectos que ainda não sabemosou não dominamos o suficiente. Por exemplo: estávamospreparados para assumirmos plenamente a execução desta oudaquela construção que parecia, mas não era, uma extensãodo que estávamos habituados a fazer? Porque humildadetambém é profissionalismo, isto é, reconhecermos em cadamomento os limites das nossas capacidades como empresa ede, em conformidade, recorrermos àqueles que de fora nospossam auxiliar. Nunca esqueçamos a frase de Einstein: “quantomais sei e estudo, mais me apercebo da dimensão da minhaignorância”.

Em matéria de atitude cabe também referir a éticaprofissional. Sermos exigentes connosco não basta. É essencialassumirmos a ética como um elemento chave do dia-a-dia ede sabermos estabelecer limites do aceitável quando os nossosvalores da ética profissional são postos em causa. Por exemplo:estamos dispostos a aceitar que as nossas responsabilidadessejam ultrapassadas por imposição arbitrária de escolhas,principalmente quando estão em causa pessoas com quemtrabalhamos e a nós reportam? Ou quando estão em causaprincípios que julgamos não aceitáveis quando um qualquerelemento é injustamente tratado? A minha resposta é umrotundo não. Cada um assumirá a sua posição mas creio queninguém aceita um prato maior de lentilhas em troca dosnossos valores éticos.

- Quarto ingrediente: a missão. Missão no sentido da lógicaa prazo de uma organização, ou seja a descrição do que sequer fazer hoje e no futuro, para quem e qual o significado doresultado final. No caso de a organização ser uma empresa éindissociável a referência aos produtos e tecnologias usadas,o mercado que se quer servir e ser-se competitivo (o resultadofinal). Não basta dizer-se que se quer produzir o que quer queseja para um certo mercado. É fundamental ser-se competitivo,condição essencial para a sobrevivência de uma empresa.

Estaremos cientes de que não o temos sido há mais de 15anos com sucessivos prejuízos acumulados e que conduz aque sejam os contribuintes a assumir as consequências?Queremos ser uma organização social ou uma empresa defacto? Sendo a resposta esta última, então isso significa quetodos teremos de assumir na nossa missão um resultado final.Por exemplo, faria sentido dizer-se que a missão dos ENVCé construir navios porque é importante para a região em que

se insere? Esta formulação seria um erro, porque só se contribuipara a região ou para o país, se se for competitivo enquantoresultado final.

Em conclusão, temos que ser competitivos parapreenchermos a nossa missão. E para isso temos, por exemplo,de ser menos virados para o interior e mais geocêntricos, nosentido de estarmos abertos às ideias, às pessoas e àsorganizações exteriores aos muros da empresa e da região.

2) Os factores de contexto.

Primeiro factor de contexto: o mercado.Há muitos anos que a Europa está ameaçada pela

concorrência asiática no mercado da construção naval. Depoisda crise dos anos 70 a indústria naval europeia entrou de formaindiscriminada numa rota descendente da sua capacidadecompetitiva em relação a outros espaços económicos. É issouma razão de preocupação a ponto de imaginarmos que nãohá saída?

Há duas formas de responder a esta questão. A primeira éafirmativa, mas ao mesmo tempo ineficaz porque derrotista econformista. Por isso, não deve merecer muito a nossa atenção.A segunda resposta possível é que não o será se soubermoscompreender o fenómeno, ajustar o nosso posicionamento eactuar em conformidade. Logo, apesar de ser muito mais difícilde apreender e de efectivar, merece um esforço. Qual é, portanto,o diagnóstico e quais as soluções para que na Europa se mantenhauma indústria naval competitiva? Coloco estas questões no planomais vasto da Europa, porque as soluções em Portugal não sãodiferentes das do espaço europeu.

Recorrendo aos dados da presente década observamosque a quota de mercado europeia (EU 27) no contexto mundialtem continuado uma evolução descendente quando expressoem volume (cgt). De uma quota de mercado de 23 % emtermos de novas encomendas em 2000, a Europa evoluiu paracerca de 5% em 2008 e 2009. No entanto, se medirmos aquota de mercado de novas encomendas expressa em valor,a posição europeia é bastante mais favorável. Emboradecrescente na década ainda alcança valores da ordem dos15% da quota mundial em média nos últimos 3 anos.

Quer isto dizer que a resposta que a indústria europeiatem dado é a da evolução na sofisticação dos navios construídos,isto é, concentrando-se nos navios mais complexos e de maiorvalor acrescentado. Este esforço requer inovação nos produtos,inovação e ajustamento organizacional, sendo largamenteconsensual na indústria.

Significa que é suficiente e que os estaleiros europeus estãono bom caminho? Aqui as opiniões não serão todasconcordantes. O elemento chave adicional é o de se sabercomo se vai estruturar a indústria naval europeia. Deixo aquiexpressa a minha opinião, que partilho desde há longo tempo:se a indústria naval europeia prosseguir com conceitos deestrutura exclusivamente nacionais terá sérias dificuldades emse manter competitiva no médio/longo prazo.

Isto não tem nada de novo. Já aconteceu com outrasindústrias tecnologicamente maduras tais como a aeronáuticae o sector automóvel. Só que souberam a tempo encontrarformas estruturais de dimensão europeia adequadas paraoperar no mercado mundial de forma competitiva. No casoda aeronáutica através de fusões e de cooperação estratégicaque deram dimensão ao sector, permitindo desenvolver epartilhar tecnologias, efectuar o “pooling” de aquisições, adispersão da produção por vários países, etc. O mesmo nocaso do sector automóvel embora a evolução tenha sido deforma diferente.

“Para sermos mais profissionais teremos de premiare valorizar mais os sucessos e, nos insucessos, avaliarse não poderemos melhorar…”

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O grande desafio que se coloca à indústria naval europeiaé o de encontrar formas organizativas de cooperaçãotransfronteiriça, seja pela via da cooperação estratégica emtermos de desenvolvimento de tecnologias, de sinergias nosaprovisionamentos, de abordagens comerciais conjuntas, oumesmo de fusões. Se não o fizer e, de novo, aqui deixo claroque se trata de matéria opinativa, a indústria naval europeiaevoluirá para patamares de sucessiva vulnerabilidade no contextoglobal. O que de algum modo já está a acontecer com o fechode unidades produtivas nalguns países europeus e com aentrada de outras lógicas empresariais. É o caso da empresacoreana STX que hoje, com estaleiros navais na Noruega, naFinlândia e em França, controla mais de 30 % da indústria navaleuropeia no segmento dos navios de cruzeiro. A dúvida quepersiste é a de saber se veio para ficar (e isso é positivo) ouse se trata de uma operação de transferência de tecnologiade um segmento chave para a Ásia.

As questões que acabo de enunciar aplicam-se mutatismutandis aos desafios futuros dos ENVC, enquantopequena/média empresa do sector naval à escala europeia.Porventura com maior acuidade porque de menor dimensãoque muitas das suas congéneres europeias e porque se encontramais atrasada no seu ajustamento às exigências do mercado.

A resposta é por consequência: maior especialização esofisticação nos produtos (navios), ajustamento organizacionale cooperação estratégica com outros parceiros europeus.

Reestruturação e Estratégia de Gestão, NecessidadesUrgentes!

Segundo factor de contexto: o accionista.Decorre do que acima referi que não sou apologista de

estruturas eternas de accionistas estatais exclusivos naconstrução naval. Isto não tem nada de ideológico, é apenasuma questão pragmática que decorre da leitura que faço dasrespostas que a Europa, Portugal incluído, tem de dar paramanter uma indústria naval competitiva em termos globais. Apermanência exclusiva do Estado na estrutura accionista nasempresas de construção naval na Europa fragmenta a indústria,confere uma visão excessivamente nacional e dificulta acooperação estratégica a que acima aludo.

No última década, tomou o accionista as medidas de fundonecessárias para que os ENVC se orientem para uma empresacompetitiva? Admitamos que essa intenção tem presididodesde sempre. No entanto, para lá da intenção, podemosinterrogar-nos se ela tem produzido os resultados pretendidos.Em minha opinião tem estado aquém do que seria necessáriofazer.

Quando, em Abril de 1998, foi publicada uma Resoluçãodo Conselho de Ministros a definir um plano para a viabilizaçãodos ENVC, fiquei, devo dizê-lo, esperançado que se estaria nobom caminho. À data não me encontrava nos ENVC mas,

noutras funções, acompanhava o esforço de adaptação daindústria naval na Europa e em Portugal. Foi por essa alturaque se operou, por exemplo, a reestruturação da Lisnave, naaltura com graves problemas de viabilidade e que, com otempo, se afirmou não apenas viável mas também próspera.Porque razão não se implementou nos ENVC o plano descritoem linhas gerais na referida RCM? Desconheço, mas não tenhodúvidas de que, se implementado, estaríamos hoje em situaçãobastante mais confortável.

Recordo que já nessa época o plano previa o início daprivatização dos ENVC com vista a encontrar um parceiroestratégico para o seu futuro. Mais tarde, o accionista entendeuque poderia resolver os problemas de viabilidade dos ENVCatravés da adjudicação de construções para a Marinha ebeneficiar do programa de contrapartidas para a suamodernização. Ou de proceder a um aumento de capitalisolado. No entanto, não preenchiam a condição básica depreparar os ENVC para esses desafios. A deficiente estruturade capitais, sempre prevalecente, dificultou a modernização ea preparação da empresa para os novos desafios, e nada foifeito em termos de negociação para a entrada de um parceiroestratégico que auxiliasse a empresa a operar a sua actualizaçãotecnológica, necessária para as exigentes novas contratações(navios militares, navios mercantes complexos).

Os problemas já complicados agravaram-se e hoje temosuma situação mais crítica. Os leitores poderão questionar queé fácil defender estas teses no presente momento. Pela minhaparte posso, no entanto, afirmar que desde os fins dos anos90 os defendo e que, sempre que me foi possível, os transmitiaos decisores, e publicamente.

3) Epílogo

Deixei propositadamente para o fim uma última questão:a gestão. Abstenho-me de opinar sobre esta matéria, emboraesteja convicto de que a visão e a estratégia integrando muitosdos elementos acima descritos são factores determinantespara o sucesso. Referir-me-ei apenas ao período em que integreifunções naquele âmbito. Um ou outro ponto já o mencioneino texto.

Tenho ouvido de muitos que nunca houve uma estratégiana empresa. Será que é conhecido que, há meia dúzia de anos,foi elaborado um plano estratégico para a empresa? Porqueé que, à época, não foi implementado ou sequer dado aconhecer na empresa? Outra questão pertinente: tendo emconta as dificuldades já emergentes e previsíveis para algunsda execução do projecto e construção dos patrulhas, será queé conhecido que foi proposta outra abordagem para a suaexecução baseada numa cooperação estratégica com umparceiro potencial?

Voltando ao presente, quero dizer aos leitores que nãodeveremos nunca desanimar. Tudo indica que, a fazer fé emnotícias publicadas ultimamente, as orientações para o futurodos ENVC voltaram a deixar uma esperança.

Saibamos, portanto, aguardar e confiar, não esquecendo onosso contributo que passa pela reflexão sobre os quatroingredientes que acima referi: paixão pelo mar, cultura deempresa virada para a responsabilidade, atitude orientada parao profissionalismo e a ética, missão de empresa competitivae aberta ao mundo.

Espero firmemente que possamos num prazo tão curtoquanto possível responder ao título deste artigo: Yes, we can.

Nota – Subtítulos da responsabilidade da Redacção.

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“É fundamental ser-se competitivo, condição essencialpara a sobrevivência de uma empresa.

Estaremos cientes de que não o temos sido há maisde 15 anos com sucessivos prejuízos acumulados e queconduz a que sejam os contribuintes a assumir asconsequências?”

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Bolsa de Estudo para Engenhariae Arqitectura Naval

“Os ENVC continuam a apostar na formaçãotécnico-profissional de jovens de Viana do Castelo”

Os ENVC instituíram umabolsa de estudo na década de80, com o objectivo depromover a formaçãotécnico-profissional de jovensde Viana do Castelo e daregião e no sentido demotivar opções de estudo,pela área de Engenharia eArquitectura Naval. Ao longodo tempo tem mantido esta

política, despertando e orientando vários jovens para esta áreavocacional, numa perspectiva de manter viva a actividade deConstrução Naval, com tradição local e nacional. A bolsa deestudo no ano lectivo de 2008/2009 foi atribuída ao jovemTiago Silva Rodrigues Castilho, o melhor aluno do 12.º ano,dos Estabelecimentos de Ensino Secundário da região de Vianado Castelo, que numa visita no âmbito da “Semana Europeiada Indústria Naval”, agarrou o desafio feito pelos ENVC atodos os jovens participantes. Tem 20 anos, é natural deCardielos e frequenta o 2.º ano do Curso de Engenharia eArquitectura Naval no Instituto Superior Técnico em Lisboa(I.S.T.).

O Tiago visitou de novo a Empresa, no passado dia 7 deAbril, agora na condição de bolseiro e passou o dia no SEPB(Serviço de Projecto Básico) para familiarizar-se com estaárea complexa e tão crucial para o desenvolvimento daactividade numa empresa de construção naval. Neste contexto,quisemos ouvir o jovem Tiago para saber da sua satisfaçãosobre o curso e das suas expectativas para um futuro quedesejamos risonho.

RL: Antes da visita aos ENVC em 2008, durante a “SemanaEuropeia da Indústria Naval”, alguma vez tinha pensado em seguiros estudos na área da Engenharia e Arquitectura Naval?

Tiago: Não. Acontece que na altura dessa visita aos ENVC,no final do 12º ano, me encontrava ainda na dúvida sobre qualo curso que ia seguir. Tinha várias opções, todas elas no ramodas engenharias, mas o curso de Engenharia e ArquitecturaNaval não fazia parte delas, talvez por falta de informação.

RL: Aquela data parece que foi decisiva para o seu futuroprofissional. A palestra e a visita então realizadas proporcionaramuma reflexão sobre a actividade de construção naval e percepcionaro que significava abraçar o desafio lançado pelos ENVC a todosos jovens presentes?

Tiago: Exactamente. Através dessa visita, ficámos a conhecermelhor alguns aspectos da construção naval nos ENVC, assim

como dificuldades e perspectivas de futuro. Aceitar o desafiodos ENVC, pareceu-me, acima de tudo, contribuir para quea construção naval em Portugal não desapareça, para quePortugal continue a ser um país voltado para o mar.

RL: Uma Bolsa de Estudo é sem dúvida um grande incentivo.O que pesou mais na decisão da candidatura foi o aspecto monetário,ou as perspectivas de formação superior?

Tiago: Em primeiro lugar, foi a perspectiva de formaçãosuperior numa área pela qual comecei a sentir maior interesse,e que revela alguma escassez de quadros com qualificaçõessuperiores. No entanto, o factor monetário da bolsa tambémajudou na tomada de decisão, em relação a seguir o curso deEngenharia e Arquitectura Naval.

RL: Em visita mais recente passou no Projecto Básico, áreaextremamente vital para o negócio dos ENVC. Nesta curtapermanência foi possível percepcionar a complexidade técnica ea sua integração nas aprendizagens no I.S.T., com os conhecimentose competências exigidos naquela área? Foi esta visita uma experiênciapositiva?

Tiago: Sim, a visita foi sem dúvida uma experiência positiva.Foi possível ter uma melhor ideia sobre as tarefas que cabemao engenheiro naval, do seu grau de complexidade eresponsabilidade. Em relação aos conhecimentos adquiridosno IST, penso que sejam os adequados à futura vida profissional,principalmente os conhecimentos adquiridos nos dois últimosanos do curso.

RL: Está a frequentar já o 2.º ano e pressupõe-se que os estudosestejam a correr bem. O curso está a corresponder às expectativas?

Tiago: Sim, é verdade. Tenho conseguido acompanhar oprograma do curso com aproveitamento razoável, e esperocontinuar a fazê-lo. Quanto às expectativas iniciais, acho queforam superadas. Apesar dos primeiros três anos terem umacomponente de ciências de base, com pouco ênfase para aconstrução naval, penso que os alunos que acabam o cursosaem bem preparados para o mundo de trabalho, o que nãoacontece com outros cursos.

RL: Mesmo à distância de três anos para conclusão do curso,e sendo conhecida a carência de técnicos nesta indústria, quais assuas perspectivas futuras em termos de emprego?

Tiago: As perspectivas futuras, em termos de emprego,são boas. A carência de técnicos na indústria naval, aliada aofacto de abrirem poucas vagas anuais para este curso, faz comque os alunos finalistas não tenham grande dificuldade emencontrar emprego em Portugal.

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A cerimónia de entrega de diplomas de RVCC (9.º Ano)ao Grupo 83 realizou-se no dia 1 de Julho de 2010 no Serviçode Formação dos ENVC, onde decorreu todo o processoformativo destes colaboradores, com as presenças do Dr. JoséMonteiro Matos, Director do Centro de Formação do IEFPde Viana do Castelo, Dr. Faria Luciano, membro do entãoConselho de Administração da Empresa e responsável pelopelouro dos Recursos Humanos.

O Dr. Faria Luciano louvou, felicitou e reconheceu oesforço do grupo, recordando que, apesar de muitas vezesnão vermos o nosso esforço no imediato recompensadomaterialmente, ele vale sempre a pena, pois ter um diplomapoderá ser importante, sobretudo se pensarmos numaperspectiva de empregabilidade. Por conseguinte, lançou-lheso desafio de continuarem a sua formação e concluírem agorao 12.º ano.

Neste sentido, desejamos-lhes muito sucesso para os quejá aceitaram esse desafio, e que a formação e os conhecimentosadquiridos se reflictam nos desempenhos, comportamentose atitudes, materializadas na actividade profissional e no dia-a-dia da organização.

Formação: um desafio que vale a pena!

O então administrador dos ENVC Dr. Faria Luciano e o Director do Centrode Formação do IEFP entregam os Diplomas.

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ENVC: cultura solidária e cidadaniaactiva cimentam “Novas Oportunidades”Dr. Paulo Ribeiro – CNO IEFP de Viana do Castelo

Desde há algum tempo que alimentava alguma curiosidadepor conhecer os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, emconcreto, saber como seria o trabalho nesta empresa, e emespecial, qual o tipo e natureza de relações laborais queexistiriam entre os trabalhadores.

A possibilidade de participar na implementação do ProcessoRVCC de Nível Básico (Grupo 83) revelou-se uma oportunidadepara poder ficar um pouco mais consciente da importância daempresa na economia da cidade e constatar a partilha de algunsvalores humanos de que tanto me falavam (união, solidariedade).Aliás, parece-me ser importante referir que, apesar de tertrabalhado directamente com um grupo restrito, os elementosque o constituíram foram testemunhos desses valores decidadania, numa atitude que se estendeu por toda a EquipaFormativa.

Gostaria de aproveitar este espaço para lançar um apelo:Nos tempos que correm, deparamo-nos com uma progressivatendência para a regulamentação e certificação profissionais,sendo que, neste contexto, não poderá ficar alheia a realidadedo trabalho nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.

Refiro-me em concreto a algumas saídas profissionais,relativamente às quais os processos de certificação poderãoobrigar à conclusão do 9 º ano de escolaridade (como é ocaso do operador-manobrador de equipamentos de elevação).

Assim sendo, e em especial para aqueles profissionais, apossibilidade de frequentar um Processo de Reconhecimento,Validação e Certificação de Competências servirá não só para

concluir o Ensino Básico, como também é a via de obtençãode um dos objectivos terminais na actual certificação profissionalde nível 2 da EU: o 9 º ano de escolaridade.

Gostaria de, deste modo, apresentar os meus parabéns atodos os adultos do Grupo 83, pelo facto de terem concluídoo 9 º ano de escolaridade. Em especial, aos que, neste momento,frequentam o Processo RVCC de Nível Secundário, sob oacompanhamento da colega Dra. Cristina Malhão.

Pessoalmente, com estes resultados, é muito reconfortantereconhecer a qualidade do trabalho realizado pela EquipaFormativa, a dedicação e o empenhamento de todos.

Responsáveis pelo projecto com os formandos certificados.

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É inevitável, presentemente, face ao crescente desejo de tentar nivelaros índices de desenvolvimento económico e social dos países da UniãoEuropeia, estabelecer um paralelismo entre os níveis de escolarização donosso país e os demais parceiros comunitários. Neste contexto, atendendoao significativo atraso que Portugal apresenta neste domínio, tem sido desígnionacional aumentar os níveis de qualificação dos portugueses.

A iniciativa Novas Oportunidades, orientada para jovens e adultos,abrange um conjunto de medidas e ofertas ao nível da formação e (re)qualificação escolar e profissional. Utiliza metodologias pedagógicas inovadorasque partem do sujeito e o tornam (co) autor do seu percurso educativo.

O processo de Reconhecimento, Validação e Certificação deCompetências, quando aplicado à formação de adultos, pretende ser (oudeveria ser) um corte com os métodos utilizados pela escola tradicional, namedida em que se aproxima das teorias preconizadas pelos pensadorescríticos do processo educacional, próximas das linhas de argumentação dePaulo Freire e outros.

No RVCC, o adulto é o centro de todo o processo formativo. A riquezado processo reside na riqueza de vida do adulto e é o próprio que (re)orienta a linha condutora do seu percurso formativo, que se mistura como seu processo de vida.

A utilização pragmática destas metodologias na educação de adultos temsido materializada pelos Centros Novas Oportunidades que se têm dedicadoao incentivo da qualificação escolar e profissional de adultos menosescolarizados. Estes centros formados por equipas multidisciplinares têmchamado a si o desafio da motivação e envolvência dos adultos candidatosà frequência do RVCC e respectivo encaminhamento para formaçãocomplementar.

Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo estiveram desde o primeiromomento neste grande projecto, através da assinatura de um acordo decolaboração tripartido entre ENVC, Instituto de Emprego e FormaçãoProfissional e Direcção Geral de Formação Vocacional. Com a abertura doCentro Novas Oportunidades do Centro de Formação Profissional de Vianado Castelo, no dia 01 de Junho de 2006, iniciou-se a operacionalização desseacordo, desenvolvendo processos de reconhecimento, validação e certificaçãodos trabalhadores dos ENVC.

O Centro Novas Oportunidades do Centro de Formação Profissionalde Viana do Castelo tem pautado a sua actuação, orientando-se pelas linhasmestras que subjazem à concepção de todo este processo, mas tem-sedistinguido pela política de proximidade que tem adoptado junto dos adultosalvo da sua intervenção.

Sob o signo do aumento da produtividade e competitividade do tecidoempresarial português, princípios que estão na base da criação da iniciativaNovas Oportunidades, a nossa estratégia tem residido num entrosamentomútuo entre empresa e adulto como uma equipa interessada no mesmoresultado.

O ponto de partida é sempre a empresa, uma das principais interessadasna qualificação e formação dos seus colaboradores que se torna parte activae colaborante no sucesso de todo este percurso orientado pela equipatécnico-pedagógica. Neste sentido, todo o processo se tem desenrolado nocontexto empresarial dos ENVC, nas próprias instalações da empresa, entrepares e em estreita colaboração entre os diferentes intervenientes.

Os ENVC são uma empresa com 66 anos de existência, cujo domíniode actividade se centra na construção e reparação naval. Conta actualmentecom cerca de 800 trabalhadores e é seguramente a principal empresa dodistrito de Viana do Castelo, justificação que pode ser encontrada no seuhistorial, bem como na sua visibilidade nacional e internacional.

Os trabalhadores actuais, bem como todos aqueles que da história destaempresa fazem parte foram, outrora, crianças que foram obrigadascompulsivamente a entrar no mercado de trabalho. No seu tempo, a escola,infelizmente, era só para alguns, pois as parcas condições de vida das famíliasnão permitiam o prosseguimento de estudos, sendo a saída provável aprematura entrada no mercado de trabalho.

Muitas destas crianças, penso que posso utilizar o termo crianças, poisa média de entrada no activo rondava os 11-14 anos, ingressaram nos ENVC,continuando o seu percurso de aprendizagem na empresa. Muitos tiveram

a oportunidade de frequentar cursos de formação profissional preparatóriospara a profissão ou função que viriam a desempenhar, mas outros há quefizeram o seu percurso pela prática, pela aprendizagem com os mais velhos,cuja experiência fora já adquirida com outros que também os ensinaram.

Aprender CompensaPodemos afirmar que os ENVC para estas crianças e jovens foram mais

do que o local do seu trabalho. Assumiram-se, com efeito, como a sua escola.Foi na empresa que continuaram o seu percurso: continuaram o processode aprendizagem interrompido pela saída da escola, aprenderam e passarama exercer uma profissão e tiveram ainda oportunidade de ir adquirindo todoum conjunto de competências pessoais, profissionais, sociais e cívicas quecaracterizam de uma forma específica os trabalhadores dos ENVC.

Ser trabalhador desta empresa é estar imbuído de uma consciênciacrítica, quer de si, quer da sociedade e comunidade que o rodeia. É participarnos diferentes órgãos associativos que fazem parte da empresa e noutrosque a ela estão associados. É chamar a si a responsabilidade de decidir efazer mais pela comunidade e ser voz activa na produção e reprodução decultura. Todas estas crianças, hoje cidadãos activos e interventivos crescerampara e com a empresa, tornando-se co-autores no seu desenvolvimento.

É com estes trabalhadores que temos tido a oportunidade de trabalharao longo destes últimos 4 anos. Fazer o processo de reconhecimento decompetências, para os diferentes níveis de ensino (básico e secundário) comestes colaboradores é isso mesmo: reconhecer. Reconhecer as aprendizagensadquiridas pela escola da vida, reconhecer o seu posicionamento crítico ea sua participação cívica, reconhecer que a sociedade evoluiu e eles evoluíramcom ela. Mas não é este o desígnio maior da iniciativa Novas Oportunidades?Reconhecer as competências adquiridas ao longo da vida a todos aquelesque não tiveram oportunidade de continuar o seu percurso escolar,prosseguindo estudos?

Os profissionais do Centro Novas Oportunidades do Centro de FormaçãoProfissional de Viana do Castelo têm tido a oportunidade de orientar muitosdestes colaboradores desta empresa. Em articulação com a empresa, fomosconstruindo uma parceria saudável e de confiança, materializada nos muitosprocessos concluídos e em curso.

Consideramos que o balanço é extremamente positivo. Por um lado,a satisfação e a auto-realização visível em todos aqueles que conseguem acertificação, pelo nosso lado, o dos técnicos a sensação de missão cumprida,que sentem no momento de certificação o culminar de um longo trabalhode acompanhamento e monitorização de histórias de vida e experiênciasdíspares e vastas que a nós cabe orientar e convergir para os referenciaisde competências-chave que caracterizam os processos de reconhecimentoe certificação escolares.

Não obstante a aparente atractividade do processo e os benefíciosóbvios que constituem para cada um que nele participam, a adesão por partedos trabalhadores dos ENVC ainda está um pouco aquém do esperado. Esteprocesso é ainda encarado com alguma relutância por parte de algunsinteressados, na maioria das situações por motivo de desconhecimento daslinhas orientadoras que constituem o rumo de acção das equipas destesCentros.

Temos ainda muito caminho a percorrer, da parte do CNO do Centrode Formação de Viana do Castelo e da sua equipa fica a disponibilidade paradar continuidade ao trabalho já realizado e a intenção de fazer chegar umaNova Oportunidade a todos os trabalhadores dos ENVC, que não possuema certificação de nível básico e secundário.

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ENVC: Reconhecer o AdquiridoDra. Cristina Malhão - CNO do IEFP de Viana do Castelo

Responsáveis pelo projecto com os formandos certificados.

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No âmbito da campanha “Locais de Trabalho Segurose Saudáveis 2010-2011”, coordenada pela Agência Europeiapara a Segurança e Saúde no Trabalho ( EU – OSHA )(1) estáa desenvolver-se uma série de actividades e iniciativas destinadasà promoção da segurança dos trabalhos de manutenção ereparação, a nível nacional e europeu.

O sucesso destas campanhas depende muito da divulgação,o mais generalizada possível, dos seus objectivos e da informaçãoque é disponibilizada sobre o assunto. É necessário o apoioactivo e colaborante de um vasto grupo de intervenientes eparceiros:

• entidades empregadoras dos sectores público e privado;• sindicatos e representantes de entidades ligadas à SST;• associações patronais e profissionais:• instituições e profissionais ligados à SST;• formadores e comunidade educativa;• serviços locais, regionais e nacional no domínio da SST

Nesse sentido, consideramos oportuno aproveitar estetexto para divulgar os aspectos que nos pareceram maisrelevantes sobre esta matéria.

A reparação e a manutenção são essenciais para preveniros riscos no local de trabalho, mas constituem actividades deelevado risco para os trabalhadores que as executam. Estima-se que na Europa, 10 a 15% dos acidentes de trabalho mortaispossam ser atribuídos a operações de reparação e manutenção e que em alguns países europeus, 20% dos acidentes detrabalho estão associados a trabalhos de reparação emanutenção, ascendendo esta percentagem a 50% em algunssectores de actividade(2). É, pois, fundamental que estes trabalhossejam realizados em boas condições e que tenham em contaa saúde e segurança dos trabalhadores.

ManutençãoDe acordo com a norma europeia EN13306, a manutenção

é a “combinação de todas as acções técnicas, administrativas e degestão durante o ciclo de vida de um objecto, com a finalidade deo manter ou restaurá-lo para um estado em que seja capaz deexecutar a função exigida”.

Genericamente, o termo Manutenção é utilizado para umavariedade de tarefas em sectores diversos e para todos ostipos de ambiente de trabalho. As actividades de manutençãoincluem: inspecção, ensaio, medição, substituição, ajustamento,reparação, detecção de avarias, substituição de peças, revisão(lubrificação, limpeza, etc.).

Manutenção significa, pois, conservar o local de trabalho,as suas estruturas, equipamentos, máquinas, mobiliário einstalações em condições de funcionar com segurança,garantindo, simultaneamente, que não se deterioram.

Manutenção preventiva e correctivaApesar dos conceitos, práticas e métodos da manutenção

terem sofrido uma profunda evolução ao longo das últimas

décadas, podemos referir que há duas possíveis abordagensda manutenção:

Manutenção preventiva ou proactiva:Prevenir antecipadamente a falha, normalmente através de

uma acção planeada e calendarizada em conformidade com asinstruções dos fabricantes dos equipamentos e a política degestão.

Manutenção correctiva ou reactiva:Actuar em caso de falha ou avaria súbita.Este tipo de manutenção é normalmente mais perigoso do

que a manutenção preventiva. Efectivamente, estudos realizadosrevelam que a maior parte dos acidentes ocorridos na actividadede manutenção ocorrem durante operações de manutençãocorrectiva.

Impacto da manutenção na segurança e saúde dostrabalhadores

A manutenção é essencial para manter a segurança efiabilidade do equipamento, das máquinas e do ambiente detrabalho, condições fundamentais para garantir a qualidade,produtividade e competitividade de uma empresa.

Porém, também tem um impacto na segurança e saúde notrabalho.

A manutenção (de fábricas, oficinas, equipamentos, máquinasou locais de trabalho) é essencial para eliminar os perigos eriscos no local de trabalho e criar um ambiente de trabalhoseguro. Mas, por sua vez, a manutenção é uma actividade derisco, pelo que tem de ser efectuada em segurança, com aprotecção adequada dos trabalhadores que a realizam e dasrestantes pessoas presentes no local de trabalho

Perigos e Riscos associados à manutençãoDado que a manutenção é feita em todos os sectores e

locais de trabalho e envolve várias tarefas, está associada a umgrande número de perigos. É, pela sua natureza, uma actividadede risco. Os trabalhadores que realizam trabalhos demanutenção têm mais probabilidade de ficarem expostos aum nível de risco superior aos dos outros trabalhadores. Osperigos e riscos são de vários tipos podendo ser físicos,químicos, biológicos e psicossociais.

Perigos físicos:• ruído, vibração;• temperaturas extremas (calor e frio excessivos);• radiação (radiação ultravioleta, Raios X);• carga de trabalho físico elevada;• trabalhos em altura e espaços limitados.Consequências potenciais para a saúde:Surdez, lesões músculo-esqueléticas.

Perigos químicos:• vapores, fumos, poeiras;• tintas, solventes;

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Trabalhos de Manutenção SegurosEng.º Francisco Batista

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Consequências potenciais para a saúde:problemas do foro respiratório, asma profissional, alergias,

amiantose.

Perigos biológicos• Bactérias (legionella, salmonella)• Bolor e fungos

Consequências potenciais para a saúde:Problemas de respiração, asma, alergias, doença do

legionário.

Factores de risco psicossocial:• Pressão de tempo;• Trabalho por turnos, trabalho nocturno e ao fim de

semana;• Trabalho com pessoal subcontratado / problemas de

comunicação

Consequências potenciais para a saúde:Stress relacionado com o trabalho, fadiga, risco de acidentes

aumentado.

Para além dos riscos associados a todos os ambientes detrabalho, as operações de manutenção envolvem riscosespecíficos.

Estes incluem trabalhar com um processo em funcionamentoe em contacto próximo com a maquinaria.

A manutenção envolve frequentemente trabalhos poucohabituais, tarefas não rotineiras e é frequentemente executadaem espaços limitados ou confinados.

As operações de manutenção incluem a desmontagem eremontagem de equipamentos complexos, aumentando o factorde risco de erro humano.

A manutenção envolve mudar tarefas e o ambiente detrabalho. Isto é especialmente relevante nos casos dostrabalhadores contratados. A subcontratação é um factoragravante em termos de segurança e saúde e vários acidentese incidentes estão relacionados com a manutençãosubcontratada.

Trabalhar com pressão de tempo também é normal nasoperações de manutenção, especialmente quando estãoenvolvidos períodos de paragem e reparações de alta prioridade.

Os acidentes verificados nos trabalhos de manutençãoestão relacionados com as ferramentas / equipamentos detrabalho, os processos e métodos utilizados e com as máquinas/ sistemas em manutenção.

Originam, geralmente, os seguintes tipos de lesões:

• Traumatismos, fracturas e esmagamentos por ferramentase equipamentos em movimento, ou arranque inesperado;

• Quedas em altura, acidentes que envolvem queda deobjectos ou carga;

• Electrocussão, choques eléctricos, queimaduras;• Explosão, incêndio

Manutenção – Princípios comuns

Apesar dos trabalhos de manutenção variarem entre osdiversos sectores de actividade e de acordo com a especificidadede cada tarefa, existem cinco regras básicas para umamanutenção segura:

- PlanificaçãoA manutenção deve começar por um planeamento adequado

que deverá incluir a obtenção de informações sobre as máquinas,

a realização de uma avaliação de riscos e a definição dasmedidas necessárias para os controlar. A informação e formaçãodos trabalhadores, a qual tem particular relevância, quandoa manutenção é efectuada por subcontratantes.

- Tornar a intervenção seguraOs procedimentos definidos na fase de planeamento têm,

necessariamente, de ser aplicados. A área de trabalho tem deser sinalizada ou vedada a pessoas estranhas. Há que definirtrajectos seguros para os trabalhadores entrarem e saírem dolocal de trabalho. Se necessário obter as autorizações de trabalho,garantir o corte de energia e impedir o arranque ou accionamentoinvoluntário das máquinas durante a manutenção, etc.

- Utilizar o equipamento apropriadoOs trabalhadores devem estar munidos de ferramentas e

equipamentos apropriados e devem usar equipamentos deprotecção individual adequados.

- Trabalhar de acordo com o planoRespeitar o plano de trabalho, mesmo nas situações de

aperto de tempo. Não ultrapassar os limites das suasqualificações e competências.

- Fazer as verificações finais.O processo de manutenção termina obrigatoriamente com

verificações que confirmem a conclusão, com êxito, da tarefa,a segurança da máquina ou equipamento sujeito a manutençãoe a limpeza dos resíduos gerados durante a operação.

Em conclusão, as regras comuns a uma boa manutençãoconsistem na necessidade de se começar por um bomplaneamento, abrangendo os aspectos ligados à prevenção esegurança, com uma definição clara das funções eresponsabilidades dos trabalhadores de manutenção, directrizesclaras, formação e equipamentos adequados e inspecçõesregulares para atestar que o trabalho está a ser devidamenteexecutado e que não surgiram novos riscos.

Notas:(1) A Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho ( EU – OSHA)

é um organismo da União Europeia, sedeado em Bilbau, Espanha, que tempor missão promover a melhoria da qualidade de vida no trabalho e ointercâmbio de informação de carácter técnico, científico e económicoentre todos os implicados nas questões de segurança e saúde no trabalho.Ao reunir os representantes dos governos, das organizações de entidadespatronais e de trabalhadores, bem como peritos na área de SST de cadaum dos 27 Estados – Membros da UE, a Agência é uma fonte fiável, equili-brada e imparcial sobre SST.http://osha.europa.eu

(2) Maintenance and OSH: a statistical picture. UE-OSHA, 2010

Referências- Folhetos e documentos disponibilizados pela Agência Europeia para a SST.http://hw.osha.europa.eu

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Nos antigos Paços do Concelho, na Praça da República,de 19 a 31 de Julho, esteve patente ao público em geral umaexposição temática sobre máquinas e ferramentas, que desdea fundação da Empresa há 66 anos foram utilizadas na concepçãoe fabrico de navios.

A iniciativa, organizada pelo Grupo Desportivo e Culturaldos Trabalhadores dos ENVC, contou com o apoio da CâmaraMunicipal de Viana do Castelo e outras entidades, tendo merecidoo interesse de mais de quatro mil visitantes. Na sessão de abertura,estiveram presentes representantes de diversas entidades convidadas,nomeadamente, o Eng.º José Maria Costa, Presidente da CâmaraMunicipal e o Eng.º Victor Manuel Gonçalves de Brito, Membro doConselho de Administração dos ENVC, S.A.

“Quantos rostos, quantas mãos, quantos braços!”São palavras de Maria José Ribeiro, Vereadora da Cultura

da Câmara Municipal de Viana do Castelo, incluídas no catálogode apresentação da exposição, onde se pode ler:

“As fotografias desfilam perante os nossos olhos e vão-nosrevelando momentos captados à plenitude de uma vida dedicadaà construção naval. Desde o desenho de peças quase artísticas,passando pelos moldes em madeira ou papel, o corte preciso, amoldagem em aço, a ligação dos materiais, a calafetagem, até aoscomplementos e retoques finais. E eis que surge, imponente, bravo,desafiador, o navio! Quantos rostos, quantas mãos, quantos braços!

Aguçamos o olhar e descobrimos mais um pormenor damáquina, uma expressão do operário. São imagens do passado,de um passado – presente, de um passado ainda vivido, aindasentido! É um desfilar de memórias, em cada gesto, em cadaobjecto, em cada peito! É Viana do Castelo quem lá está!”

Com esta breve e bela descrição, Maria José Ribeiro resumee exprime o sentimento que a exposição pretende transmitiraos visitantes.

Por seu lado, o Presidente da Direcção do GDC, Bernardode Sousa, fundamentou esta exposição sobre ferramentas quefizeram história, da seguinte forma:

“As unidades industriais, como tudo na vida, estão sujeitas aconstantes mudanças, tendo na devida conta o princípio do

ajustamento à evolução da sociedade, já que nesta vão marcandopresença novas culturas e novos conceitos de funcionamento dasactividades, em função dos novos saberes e do progresso tecnológico.Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, desde que foram fundadosem 1944, jamais deixaram de percorrer o caminho dodesenvolvimento, apostando na formação permanente do seucolectivo de trabalhadores e recorrendo a novos processos de fabrico,novas ferramentas e novos equipamentos para a construção dosnavios que os Armadores lhes adjudicam.

E foi este permanente progresso que ditou o afastamento deinstrumentos de trabalho que, na altura própria, se revelaram desaliente importância, mas em relação aos quais se impunha odesuso, por força do surgimento de novas máquinas e novas técnicasque, para além de contribuírem para o aumento dos níveis deprodutividade, facilitaram e amenizaram o trabalho duro e ásperoda indústria naval.

Algumas dessas ferramentas são agora expostas. Através delase dos registos fotográficos que as acompanham é possívelcompreender quão difícil era construir um navio, apesar do saberalargado que sempre existiu sobre construção naval nos ENVC. Notempo presente, outros desafios e outras exigências se colocam,dada a complexidade tecnológica de que são dotadas as construções.Porém, heróis eram os homens que moldavam e ligavam o aço porprocessos quase manuais, construindo navios que ainda são dignosda nossa admiração.”

Máquinas e Ferramentasdo Passado

Primeira construção a sair dos ENVC, em 10 de Julho de 1948

O GDCTENVC agradece o apoio a todas as entidades, que tornaram possível a realização deste evento: CÂMARA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO; ENVC,SA; CERTUGAL; INTERNATIONAL PAINTS; MONTACO; O2; PT/PRIME; VIANADECONAVAL; VIANANDAIMES e HEMPEL.

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Visita ao Navio Gil EannesManuel Ramos

Integrada no plano das actividades culturais, a nossacolectividade levou a efeito uma visita guiada ao emblemáticonavio Gil Eanes, que muita história tem para contar a todosquantos o visitam.

O encontro ocorreu no Domingo 13 de Junho à entradado navio, onde após as boas vindas aos visitantes, todos subirama bordo.

À nossa espera estava a simpática Guia, trabalhadoralocal, disponibilizando parte do seu dia de lazer, lá teve aindatempo para nos acompanhar e explicar todos os sectoresdo navio. Fomos então guiados para a sala de reuniões,localizada na antiga sala de jantar dos oficiais e convidadosa ver um filme com cerca de 30 minutos, apresentado peloProf. José Hermano Saraiva, o qual narrava a história donavio até ao seu final antes de receber as profundas obrasa que foi sujeito nos ENVC.

Findo o visionamento do filme, os visitantes continuaramcom o seu trajecto, percorrendo os vários locais do navio.Da casa das máquinas à ponte de comando, das enfermariasà renovada capela, cozinha, padaria, consultório médico, salade tratamentos, gabinete de radiologia, diversos camarotes esalas de exposições, da proa à ré do navio, pudemos observaras pessoas deslumbradas com o que presenciavam.

Da história deste navio muito haveria que contar, noentanto, interessa referir algumas das funções importantesque desempenhou. Foi construído em 1955 nos ENVC, coma missão de apoiar a frota bacalhoeira nos mares da TerraNova e Gronelândia. Embora a sua principal função fosse

prestar assistência hospitalar a todos os pescadores e tripulantes,a embarcação foi também navio capitania, navio correio, naviorebocador e quebra gelos. A partir de 1963 passou a fazerviagens de comércio como navio frigorífico e de passageiros.

Depois de terminar a sua actividade em 1984, andou decais em cais no porto de Lisboa, até ser vendido a um sucateiropara abate no ano de 1997. Perante este inglorioso destino,a comunidade Vianense, apoiada por várias instituições, pelosENVC e outras empresas da região mobilizou-se para o trazerem 1998 à cidade e aos estaleiros onde nascera, com o intuitode o reabilitar e transformar no navio com valências de museue pousada, que vemos actualmente.

Pela notória satisfação dos associados visitantes registadano final, com certeza que daremos continuidade a este tipode iniciativa cultural e de lazer.

No dia 05 de Fevereiro de 2010, na Sede Social daColectividade, realizou-se a apresentação do Sítio naInternet do GDCTENVC, após reestruturação da imageme conteúdos. A apresentação deste importante meio decomunicação e informação electrónica, para além do seucarácter social e cultural, que tem como objectivoaproximar cada vez mais os sócios da sua AssociaçãoDesportiva e Cultural, visou também assinalar de formasimbólica o seu 43.º aniversário que teve lugar no dia 9de Fevereiro de 2010.

Para os associados e leitores que ainda não conhecemo sítio da Internet, ou ainda não o visitaram, poderãoaceder através do endereço:http://www.grupoestaleirosviana.com/ ,onde podem encontrar toda a informação relativa a estacolectividade, desde a sua localização, órgãos sociais,contactos, historial, até às suas actividades recreativas,editoriais, culturais, desportivas e de lazer. Inclui, ainda,a designada Comunidade do GDCT dos ENVChttp://grupoestaleirosviana.ning.com/ ,que permite aos utilizadores registados a comunicaçãoem rede nos termos das redes sociais conhecidas na Web.Vista parcial da página http://www.grupoestaleirosviana.com/

43.º ANIVERSÁRIODO GDCTENVC

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Com partida dia 3 e regresso no dia 6 de Junho passado, oGrupo Desportivo levou a cabo mais um passeio anual. O destinodesta vez foi Barcelona. Saiu-se de Viana do Castelo de autocarro,para apanhar o avião em Vigo e rumar á capital da Catalunha.

Nesta cidade esperava pelos passeantes outro autocarro, queiria proporcionar uma visita estudada pelos lugares mais belos eemblemáticos desta cidade. Desde o Parque Guell, Casa Milá,Casa Batló e todos os majestosos e fascinantes edifícios de Gaudí,a vista do Tibidabo deu-nos uma fantástica panorâmica de Barcelona!A Praça de Espanha com o chafariz (fonte luminosa de Montjuic),à noite com o jogo de luzes foi deslumbrante! Ninguém ficouindiferente a tanta beleza arquitectónica!

Os visitantes ainda se passearam pelas Ramblas, onde oaglomerado de gente facilmente se confundia com a Srª d’Agonia!Uma visita à cidade de Figueres permitiu-nos conhecer o museuSALVADOR DALI. O trabalho de Dalí chama a atenção pelaincrível combinação de imagens bizarras com excelente qualidadeplástica.

A visita a Empuriabrava foi uma surpresa para todos! Nestalocalidade as principais artérias são canais de água onde osresidentes têm á sua porta um barco. Foi de espantar, poisconfigurava Veneza! Depois de visitas após visitas, sempreacompanhadas pela guia Silvia Oliveira, que, demonstrando sempreboa vontade em esclarecer as várias dúvidas que se iam pondo,denotava bom conhecimento e profissionalismo. No último diaa visita esperada: a catedral inacabada, a Sagrada Família! Obra dedeixar qualquer um de boca aberta, pela arte que ainda hoje seimpõe, para terminar o trabalho que Gaudi não conseguiu acabar,mas que no final será mais um monumento que a humanidadeherdará para assim relembrar os grandes homens.

Depois de todas estas visitas, ainda foi possível passar juntoao Camp Nou, para ver este magnífico e mítico estádio. Entretantoo regresso acontecia e deixava-se a cidade! Muito mais haveriapara ver, ela é fascinante e atractiva, mas o avião esperava parao transporte de volta e já alguns diziam: Barcelona é cidade para

voltar! Era a partida triste mas inevitável e num pulo estávamosde novo em Vigo. Mas antes de voltar a Viana “O Braseirão doMinho” foi paragem obrigatória para um jantar leve, pois as horasjá iam adiantadas. Uma vez mais imperou a boa disposição parafazer o último percurso até casa com a promessa de para o Ano,“CÁ ESTAREMOS PARA, SE CALHAR, TERRAS DE ÁFRICA…”

Passeio a Barcelona

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Dia Mundial da Criança No dia 30 de Maio o Grupo Desportivo e Cultural assinaloueste dia com mais uma iniciativa muito especial, dirigida a todasas crianças. Foram cerca de 50 crianças e outros tantos pais eacompanhantes que nos brindaram com a sua presença paraparticipar nas muitas actividades disponíveis.

Desta vez foi o jardim público o local escolhido para presenteartodos os miúdos com os jogos tradicionais, que muito os entu-siasmaram, como aliás se pôde constatar por todos os presentes.

Do jogo da garrafa ao jogo do copo, da corrida de sacos àcorrida da colher, do salto à corda, à corrida do arco e motas,até ao jogo da pilha, este último terá porventura despertado uminteresse e uma competitividade ainda maior, a julgar pelos váriospedidos de muitas crianças ao júri para repetir as participações.

A alegria reinava entre todos, sendo patente nos rostos muitoinfantis de alguns, bem como uma enorme vontade de receberas medalhas, simbolizando a participação nos jogos tradicionaise na brincadeira. Por fim foi distribuído um lanche a todas ascrianças e a promessa de que para o próximo ano outras surpresassurgirão, desejando a direcção do Grupo ainda uma maiorparticipação.

Museu Salvador Dali

Templo da Sagrada Família (Antoni Gaudi)

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Torneios de Inverno2009/2010

Depois de algumas noites de convívio no bilhar e na suecachegaram ao fim os torneios, em que a presença dos associadosanimou o ambiente da Sede. As classificações, que não eramo mais importante, ficaram assim ordenadas:

ENTREGADE PRÉMIOS

A entrega dos prémios realizou-se numa noite deconvívio familiar, com a animação do amigo Tinó, quedeclamou alguns versos, e acompanhado pelaconcertina cantou as marchas da Rua da Bandeira.No passado dia 11 de Junho, fez-se o fecho oficial daépoca, numa Noite de Fado, com participação musicalde Rui Cunha e da fadista Maria Cunha, que foramacompanhados à guitarra pelo Francisco Vieira, tendona viola o Costa Pereira e no baixo acústico oHenrique Rabaçal. Foi mais uma noite aprazível e arepetir no futuro.

12ª Meia Maratona Manuela Machado

Torneio de Bilhar

1.º Manuel Araújo

2.º Carlos Brito

3.º Joaquim Costa

4.º Joaquim Silva

Torneio de Sueca

1.º Carlos Xavier e Manuel Soares

2.º Bernardo Sousa e Sérgio Xavier

3.º José Teixeira e João Gonçalves

4.º Joaquim Costa e Carlos Brito

AtletismoA equipa veterana de atletismo deu continuidade ao seu

trabalho de promoção da modalidade e do nome do GrupoDesportivo, e durante o primeiro semestre do ano em cursoparticipou nas seguintes provas:

DATA

24 Janeiro

14 Fevereiro

14 Março

18 Março

1 Maio

16 Maio

23 Maio

20 Junho

4 Julho

PROVA

12ª Meia Maratona Manuela Machado – Viana

do Castelo Cidade Saudável

1ª Corrida Cidade de Braga

Corrida do Dia do Pai - Porto

20 ª Meia Maratona de Lisboa

Grande Prémio 1º de Maio em Viana do Castelo

Grande Prémio da Marginal Póvoa de Varzim

/ Vila do Conde

5ª Meia Maratona do Douro Vinhateiro

11ª Corrida Festas Cidade do Porto

22º Grande Prémio de S. Pedro – Póvoa de

Varzim

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No passado dia 14 de Abril, teve lugar o acto eleitoral que levouà eleição dos membros da Comissão de Trabalhadores (CTRA) parao biénio 2010/2012, que após publicação oficial do acto no Boletimdo Trabalho e Emprego n.º 20, de 29/05/2010 viria a tomar posseem 02 de Junho.

Apresentaram-se a sufrágio duas candidaturas. A lista A sob olema “Consolidar a Unidade, em Defesa do Futuro”. Por seu lado, a listaB apresentou-se com a insígnia “Mudar, Defender e Consolidar aEmpresa”.

Nas linhas programáticas de ambas, incluíam um aspecto relevanteem comum, quanto à preocupação na defesa da empresa e suaviabilização futura.

De um total de 801 trabalhadores naquela data, que poderiamvotar, exerceram esse direito 703, registando-se o seguinte resultado:lista A – 287 votos; lista B – 369 votos; brancos – 29 votos; nulos– 18 votos. Consequentemente, a CTRA ficaria constituída por 3eleitos da lista A e 4 da B.

Aquando da tomada de posse em 2 de Junho, António GomesBarbosa, primeiro eleito pela lista B, proferiu algumas palavrasenaltecendo os 66 anos da história dos ENVC, e agradeceu o trabalhoda Comissão Eleitoral, bem como a presença dos convidados,nomeadamente dos representantes das estruturas sindicais regionaise das Comissões de Trabalhadores de outras instituições e empresasda região. Salientou ainda o empenho no acto eleitoral do colectivode trabalhadores, traduzido na participação responsável de cerca de90 % de votantes, que demonstra a sua vontade de vencer asdificuldades presentes, para garantir o futuro.

“…rumo ao sucesso dos ENVC…”

Após iniciar funções a nova CTRA desejamos saber, do seu novocoordenador eleito, quais as principais preocupações e linhas deorientação que nas circunstâncias actuais irão marcar a acção desteórgão, e que no essencial citamos:

“Sabemos que os problemas a enfrentar são difíceis, as dificuldadesenormes, mas também sabemos que com inteligência, transparência,informação e esperança, vamos assertivamente ultrapassá-las.

Todos são necessários. Somos tripulantes do mesmo navio que

só pode ter um rumo. Não pode navegar em duas direcções. Temosde em conjunto trabalhar o rumo do Sucesso.

Estamos dispostos a tudo fazer, no sentido de contagiar a nossacomunidade laboral para, juntos, Mudar, Defender e Consolidar aEmpresa.

O que nos une é, sem dúvida, mais forte do que aquilo que nossepara. Pelos ENVC, temos de trabalhar em conjunto. A defesa esucesso dos ENVC, é nossa preocupação constante, que temospermanentemente em cima da mesa.

Igualmente a reestruturação da empresa, tantas vezes adiada, éoutra das grandes preocupações que devido à delicadeza do assuntovamos acompanhar com muita atenção.

Desejamos que não se limite à simples dança de cadeiras, que alado algum tem levado, tendo sido já ensaiado em outras alturas.Não acreditamos nas pessoas que tendo sido parte do problema,possam agora ser parte da solução.

Outro ponto de honra da CTRA é, sem dúvida, a relação decompra e venda. Nos últimos anos, nas relações comerciais dosENVC com clientes ou fornecedores, temos saído muitas vezes aperder enquanto a outra parte ganha no negócio.

Surpreende ver os ENVC, possuindo condições para produzirnavios, disponibilizando também financiamento ao cliente, ficardependente deste quanto à definição do prazo de entrega, assimcomo dos fornecedores do projecto, do aço, dos equipamentosprincipais e de outros subcontratos.

Outro processo que vamos acompanhar com atenção especialé o cumprimento de todos os compromissos assumidos e acordados,que honramos, não aceitando decisões unilaterais em nenhumasituação.”

Segurança, Higiene e Saúde no TrabalhoRepresentantes dos Trabalhadores para SHST

Decorrido um ano após a data do último acto eleitoral,onde foram eleitos os representantes dos trabalhadorespara a segurança, higiene e saúde no trabalho (RT-SHST), aequipa eleita empenhada em defender melhorias nas condiçõesde trabalho, de forma a prevenir acidentes de trabalho edoenças profissionais, entende o balanço da sua intervençãopositivo.

Feita uma análise do trabalho efectuado neste curtointervalo de tempo, este órgão congratula-se pela formarealista como abordou várias questões que se encontrammenos bem na empresa, às quais corresponderam a aberturae resposta positiva do órgão de gestão, no sentido deminimizar os problemas apresentados.

Para reforçar todo este trabalho conjunto, mas numâmbito mais abrangente, verificamos que ultimamente em

todo o espaço europeu têm surgido alterações dos aspectoslegais, que visam a defesa das condições nos locais de trabalho,alterações que a empresa deve acompanhar e implementar.

Sendo o trabalho a forma nobre de ganhar a vida e nãoo veículo para a perdermos, os trabalhadores têm umconjunto de “ferramentas” ao seu dispor, cuja divulgaçãotem crescido, mas a sua aplicação deve ser um trabalho daresponsabilidade de todos e participado por todos.

Vamos intensificar a acção dos RT-SHST, no sentido detornar os locais de trabalho mais seguros e saudáveis, poissabemos que a construção e reparação naval são actividadesde risco e muito agressivas para quem as desenvolve. Coma colaboração de todos, podemos colocar os ENVC numaposição de destaque, promotora da segurança e saúde dosseus colaboradores, empresa referência nesta actividade.

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Trabalhadores Unidos –Na Defesa da Empresae do Emprego

Comissão de Trabalhadores em Reunião de Trabalho

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Reformaram-se

José Fernando Silva Martins58 Anos – Serralheiro de Tubos,24 anos de Empresa.Reformado em Dezembro de 2009

José Miguel Alves Dantas Couceiro60 Anos – Técnico Administrativo,45 anos de Empresa.Reformado em Janeiro de 2010

Ilídio Silva Vaz52 Anos – Técnico Fabril,33 anos de Empresa.Reformado em Março de 2010

Manuel Luís Fernandes Nunes Silva58 Anos – Serralheiro de Tubos,33 anos de Empresa.Reformado em Janeiro de 2010

Rafael Domingos S. A. Freixo60 Anos – Técnico Industrial,34 anos de Empresa.Reformado em Abril de 2010

Carlos Alberto Vaz Cunha58 Anos – Serralheiro de Tubos,32 anos de Empresa.Reformado em Janeiro de 2010

João Teixeira Elias59 Anos – Montador de Construções Metálicas,44 anos de Empresa.Reformado em Junho de 2010

Mário Augusto Silva Barros60 Anos – Empregado Balcão,35 anos de Empresa.Reformado em Junho 2010

Manuel Enes Marques60 Anos – Serralheiro de Tubos,37 anos de Empresa.Reformado em Junho de 2010

Joaquim Carlos Amorim Almeida Costa59 Anos – Assentador de Isolamentos,37 anos de Empresa.Reformado em Março de 2010

António Manuel Miranda Sousa52 Anos – Operador Máquinas Reprografia,36 anos de Empresa.Reformado em Novembro de 2009

José Rui Gonçalves Costa59 Anos - Técnico Fabril,44 anos de Empresa.Reformado em Junho de 2010

Agostinho Machado Vieira58 Anos - técnico Fabril,34 anos de Empresa.Reformado em Abril de 2010

Fernando Lima Mendes50 Anos – Escriturário,36 anos de Empresa.Reformado em Abril de 2010

Fernando Rodrigo Araújo Fontinha65 Anos – Prof. Engenharia,37 anos de Empresa.Reformado em Junho de 2010

Marcelino Natálio Martins Mendes59 Anos – Agente de Produção,43 anos de Empresa.Reformado em Março de 2010

José Augusto Dias Sousa57 Anos – Montador de Construções Metálicas,43 anos de Empresa.Reformado em Maio de 2010

Avelino Dias Barros57 Anos – Técnico Fabril,40 anos de Empresa.Reformado em Fevereiro 2010

José Manuel Casanova Cambão56 Anos – Soldador,39 anos de Empresa.Reformado em Dezembro 2009

Vítor Manuel Alves Oliveira Dantas57 Anos – Serralheiro Mecânico,40 anos de Empresa.Reformado em Fevereiro de 2010

Marinho Lima Costa Carvalho60 Anos – Raspador-Picador,36 anos de Empresa.Reformado em Fevereiro de 2010

José Carlos Batista Oliveira59 Anos – Operário Limpezas Industriais,35 anos de Empresa.Reformado em Dezembro de 2009

José Manuel Almeida Silva60 Anos – Bombeiro Naval,28 anos de Empresa.Reformado em Março de 2010

Armando Pires Rodrigues Cunha53 Anos – Condutor Máquinas Elevação,27 anos de Empresa.Reformado em Dezembro de 2009

Manuel Lima Castro58 Anos – Prof. Engenharia,43 anos de Empresa.Reformado em Março de 2010

José Carlos Lima Mendes56 Anos – Prof. Escritório,42 anos de Empresa.Reformado em Junho de 2010

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Por conseguinte, o viajante vai deixar de estar posicionadona horizontal, preso a sonhos clandestinos. Porém, como osonho comanda a vida, o viajante sente desafio perante tãoprofunda proposição. Por isso, bem desperto tem que estar– para assumir comando e dar início a nova jornada, rumo auma viagem que o surpreenda. Em que irá recolherrepresentações e sensações, que lhe alimentem o modeloestético. Provocando-lhe um espanto, que o impulsionará parao lado de lá do domínio dos sentidos, gerando um poente denovos horizontes do lado de cá! Com esta maneira de estar,o viajante será cúmplice da irreverência do pensamento. Queé libertino antes de tudo. Sem ter vocação para a libertinagem.

Todo este intróito serve para recordar ao viajante que jáé tempo de arrancar, com uma atitude audaz, para arredarsortilégios, que se possam cruzar nos seus caminhos. Caminhosque na realidade deve utilizar (para tonificar músculos e asarticulações dos pés), em detrimento do asfalto. Então, se nofim da primeira etapa o viajante se quedou por Cardielos,agora, reinicia o segundo roteiro – com o ir tomar o pequeno-almoço às revigorantes Terras de Torre. Com a vontade dequerer estar bem, aonde não está… como alguém dissecantando – a olhar o poisar do sol, na linha indelével do mar.

Torre (S. Salvador) tem desde sempre associado à suaidentidade o Convento Beneditino de S. Salvador, fundado nosfinais do século IX ou início do seguinte (cuja regra mandaOrar e Labutar), e era a entidade administrativa ou orientadorado modo de vida e de ser das gentes desta Terra. Terra quetem campos abertos e lavrados com gosto, que mais pareceestarem penteados. Fazendo singular contraste com as gotasprateadas de orvalho, que bordam a renda verde da margemdo rio – parecendo este, não querer ser castelhano, dada apressa com que corre a resmungar com os escolhos. Devidoa estes vislumbres, sons e muito mais, se sentia cativado FreiBartolomeu dos Mártires por estas paragens, que frequentementevisitava, para levar pedaços de humanidade e sobre o Homemreflectir. E reflectindo estará também o viajante, sobre o queviu e o que poderá descobrir a seguir, como por exemplo –observar a técnica generosa e paciente, aplicada na construçãode Palmitos! Outrora manifestação artística relacionada coma comemoração da Páscoa. Mas como no momento, o viajantenão quer cumprir com a regra Beneditina, sente estar na horade marchar à porfia com a sua própria argúcia, para atingir ameta seguinte. Que será Vila Mou.

Em Vila Mou, o viajante não pode entrar como invasor,como o fez um tal Paio Bermudes no IX século, que vindo daGaliza lhe deitou a unha. Portanto, o viajante deve no muito,

ser um visitante, e no pouco um estranho – sem no entanto,deixar de ser um montanhista e um explorador, para tirarbom proveito da missão – que consta primeiramente, da subidaao Alto do Lombo, para abarcar quanta paisagem possa, e nãose deixar confundir com miragens. Então, para manter odiscernimento há que cuidar de se alimentar! Para isso, bastaconsumir alimentos leves e energéticos. E uma dose de Sarapatelvinha mesmo a calhar, pois é de digestão pacífica. Bom, voltandoao andamento – após a descida da elevação atrás nomeada,o viajante deve caminhar com passo estudado, porque o chãoque irá pisando pode ser o caminho (medieval) que serviuperegrinos, e na mesma o levará a minas que romanosescavaram. Minas que têm nomes e lendas, tecidas em redorde serpentes guardiãs! Enigma que durante séculos animouserões conversados, e regalados em frente de lareiras comfogo estaladiço e com cheiro a enchidos. Esta lenda, tambémo viajante vai querer ouvir narrar, pelo contador de históriase fábulas, que sempre aparece. Se o ouvinte ficar a pedirmais…só tem que meter pés ao carreiro ou rodas à estradae ir depressa devagarinho, ao encontro de outro povoado,para provavelmente escutar versão diferente e novos enredos!O que só poderá acontecer quando chegar à elegante eempreendedora freguesia de Lanheses.

Lanheses nem sempre foi freguesia! Em tempos do séculoXIX tivera o estatuto de Vila e pelos vistos bem fidalga! Comoatesta o magnífico palácio ou Casa do Paço, que deslumbrantese artísticos jardins tem e cujos Senhores desta Casa, tinhamposição próxima do Monarca. Por isso não é de estranhar,que um dos referidos fidalgos tenha desempenhado funçõesde 1º Ministro do Rei João V. Nessa época, o nome destapovoação era composto por Santa Eulália de Lanheses. Ora,perante estes e outros pergaminhos, o viajante (se ainda tema companhia do sol) não pode arrumar já a mochila. Antes,aventure-se a descobrir o local onde se localiza uma capelaexteriormente magnífica, de nome Capela do Senhor doCruzeiro e das Necessidades. O seu estilo artístico e formatonão se descrevem aqui. Só sei que a mesma, é uma imitaçãoduma outra, existente numa localidade a norte da cidade. Ouseja, a Capela em questão tem uma irmã gémea, meia dúziade anos mais velha e existe a vinte km de distância.

Quanto ao local onde está erigido o monumento inspiradorda arte e da forma – será actividade a enfrentar para a próximademanda. Necessitando o viajante de se aplicar com engenhode investigador, pois terá canseira abundante! Porque, todosos grãos de informação que a mente obtém têm que passarprimeiro pela peneira dos sentidos.

Viagens de Culto(Roteiro II)

Américo Marques

Vá lá Viajante, upa! Que o acordar é chegado!Pois nas frinchas das janelas já espreitamcentelhas de sol, a anunciar a alvorada.

Casa do Paço (Lanheses)

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José Saramago está “vivo”!

“Mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia”

Esta frase do "Memorial do Convento" estaráinscrita em pedra de Pero Pinheiro, no Campo dasCebolas, onde José Saramago repousará, apósremodelação no local, em frente à Casa dos Bicos,sede da Fundação José Saramago, à sombra de umaoliveira centenária que será transplantada da sua aldeianatal, Azinhaga, para Lisboa, segundo informação daFundação.

Nesse local, um banco de jardim possibilitará queos seus amigos leiam fragmentos da sua obra ouobservem a paisagem que o Escritor teria da sua janela.

José Saramago está em Lisboa, nos seus livros, mas,sobretudo, nos nossos corações.

Também assim, pretenderá a Fundação atrairvisitantes e manter viva a obra do Homem.

José Saramago nasceu a 16 de Novembro de 1922,em Azinhaga, Golegã, e faleceu a 18 de Junho de 2010aos 87 anos, em Tías, na ilha espanhola de Lanzarote,no arquipélago das Canárias, Província de Las Palmas,onde residia com Pilar del Rio sua companheira e talcomo o nome indica e Saramago assumia-a como umpilar na sua vida.

Saramago foi um escritor, argumentista, jornalista,dramaturgo, contista, romancista e poeta português,e para além do conjunto e qualidade da sua obra, foipremiado em 1995 com o Prémio Camões, e em 1998a Academia Sueca atribuiu-lhe o Prémio Nobel daLiteratura.

É inevitável uma referência nestas páginas aodesaparecimento físico deste intelectual, que para alémda controvérsia que suscitava na abordagem de algunstemas, e pelo tipo de escrita, ficará na memória e nocoração dos portugueses como um humanistainconformado e justo.

Mas, ao nos associarmos à homenagem realizada,a primeira ideia foi publicar um texto do homenageado,

sendo difícil escolher um poema ou parte de textonecessariamente curto para este espaço, dada aqualidade da sua obra. Então, pela importância erepresentatividade institucional, transcrevemos emseguida o discurso da Ministra da Cultura, GabrielaCanavilhas, na cerimónia de homenagem a JoséSaramago, que antecedeu o seu funeral.

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Sr. Primeiro-MinistroSenhores membros do GovernoSr. Presidente da Câmara de LisboaSra. Vice-Presidente do Governo de EspanhaIlustres individualidades presentesCaras Pilar Del Rio, Violante Saramago, e seus filhos,Senhoras e Senhores,Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um

convento em Mafra, um soldado maneta, uma mulher quetinha poderes, e um padre que queria voar numa Passarola eque morreu doido;

Era uma vez Jesus, que disse a Maria Magdalena - “queroestar onde a minha sombra estiver, se lá é que estiverem osteus olhos”;

Era uma vez um cão que lambeu as lágrimas a uma mulherdesesperada num mundo de cegos, desejando também cegarpara ser poupada aos horrores que a vista lhe trazia;

Era uma vez a morte, que tinha um plano e que o cumpriu– abraçou-se ao homem sem que ele compreendesse o que lheestava a suceder, e ela, a morte, que nunca dormia, deixoudescair suavemente as pálpebras enquanto adormecia; no diaseguinte, ninguém morreu;

Era uma vez um homem, que quando morreu, partiram 2pessoas: saiu ele, de mão dada com a criança que foi – talcomo o próprio José Saramago previu, nas suas próprias palavras.

Era uma vez e tantas outras vezes, o respeito à terra e aoshomens, a luta contra as injustiças, a defesa dos direitoshumanos, a denúncia contra a guerra do Iraque ou contra aocupação palestiniana, as causas dos Sem Terra, do movimentoanti-globalizante, da preservação do ambiente, ou do anti-clericalismo desassombrado.

Estas e tantas outras, foram as histórias com que o ateumístico, religioso laico, interrogador de Deus e dos homens, JoséSaramago, “comunista hormonal” nas suas palavras, questionouPortugal e o mundo incessantemente, directa ou metaforicamente.

A liberdade do pensamento define o criador: Saramago foivoz lúcida, inconformada, firme, insubmissa na luta contra adesigualdade entre os homens – esta sim “a verdadeira miséria”,dizia.

Parte da imensa receptividade que as suas obras têmmerecido em todo o mundo, e que a atribuição do Nobelcimentou e glorificou, deve-se a esse carácter humanista, àesperança que a sua obra impõe ao Homem.

Recebeu o Prémio Nobel da Literatura «...pela sua capacidadede tornar compreensível uma realidade fugidia, com parábolassustentadas pela imaginação, pela compaixão e pela ironia»,segundo a Academia Sueca.

Fiel ao seu compromisso com a consciência, usou a escrita

para uma reflexão sobre as grandes causas da humanidade,edificando uma obra coerente, ousada, sólida, moldada pelaética, visando, sempre, a dignificação do Homem.

E fê-lo por vezes subvertendo normas - quer de narrativa(o seu estilo é inconfundível, nas suas frases longas e depontuação singular), quer enfrentando dogmas - não tinha féem Deus (mas certamente Deus teve fé nele).

Para ele a escrita, enquanto forma de expressão dopensamento e de intervenção intelectual, foi instrumento, foiarma, foi agente provocador e plataforma de interrogaçãopermanente do indivíduo e da sociedade.

Com a sua actividade cívica aliada à criação literária, cumpriuaquilo que é mais caro aos criadores e aos artistas – conseguiucom a sua obra fazer pensar os destinatários, perturbar osconformados, incomodar as consciências e aguçar a lucidez.

Deixa a Fundação José Saramago, à qual se dedicará acompanheira e musa da sua vida, Pilar Del Rio, força inabalávelque foi determinante na sua alma e na sua obra, a quemtambém prestamos aqui homenagem. Fundação José Saramagoque assume, entre os seus objectivos principais, a defesa e adivulgação da literatura contemporânea, a defesa e a exigênciade cumprimento da Carta dos Direitos Humanos e o cuidadodo meio ambiente.

Enquanto escritor português, José Saramago deu umincontestável contributo para a afirmação e difusão da LínguaPortuguesa, para a divulgação da Literatura Portuguesa e paraa união do mundo lusófono. Embaixador da cultura portuguesano mundo, a influência da sua obra estendeu-se a um amploespectro de outras expressões artísticas - na ópera, no cinema,nas artes visuais, sublinhando a universalidade da sua linguagem.

A Literatura Portuguesa, as Literaturas em Português, comSaramago, adquiriram ressonância internacional e prestígioglobal, pela universalidade das questões que o Escritor agarrae reflecte com tenacidade e vigor, e pelo génio sísmico com queas dá a ler, a pensar, através da sua escrita.

Portugal homenageia hoje o homem, simples, sensível ecorajoso;

Portugal celebra em Saramago, a sua humanidade, grandezae universalidade;

Portugal orgulha-se do Escritor e engrandece-se com a suaobra, poliédrica, ímpar e seminal.

Portugal agradece, sentida e sinceramente, o encontromágico de Saramago com a Literatura, e o lugar único e pereneque José Saramago ocupará para sempre na Literatura e naCultura do mundo.

Como escreveu ontem um amigo a Pilar, - Não há palavras.Saramago levou-as todas…

Obrigado José Saramago.

Concluímos tal como no início, com palavras do homenageado que perdurarão na nossa leitura, no casoum poema.

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POEMA A BOCA FECHADA

Não direi:Que o silêncio me sufoca e amordaça.Calado estou, calado ficareiPois que a língua que falo é doutra raça.

Palavras consumidas se acumulamSe represam, cisterna de águas mortas,Ácidas mágoas em limos transformadas,Vasa de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,Palavras que não digam quanto seiNeste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,Nem só animais bóiam, mortos, medos,Túrgidos frutos em cachos se entrelaçamNo negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,Crispadamente recolhido e mudo,Que quem se cala quanto me calei,Não poderá morrer sem dizer tudo.

Os Poemas Possíveis, 2ª edição, Editorial Caminho, Lisboa, 1982

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