serra da canastra - diversidade infinita

118

Upload: adriano-gambarini

Post on 22-Mar-2016

229 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

NOVA edição do livro fotográfico, bilingue, de autoria de Adriano Gambarini, Rogério Cunha de Paula e Laís Duarte, retrata as belezas naturais e culturais da Região da Serra da Canastra, MG. É a obra mais completa sobre esta região, onde nasce o Rio São Francisco e ainda guarda tradições mineiras seculares.

TRANSCRIPT

1

Serra da Canastra

2

3

4

Copyright © 2010 Gamba Produções Artísticas e Imagens Ltda.

Coordenação Editorial e Gráfica/Editorial Coordinator: AdriAno GAmbArini

Pesquisa e texto ambiental/Research and text – environment: roGério CunhA de PAulA

Pesquisa e texto cultural/ Research and text – culture: lAís duArte motA

Fotografia/ Photography: AdriAno GAmbArini

Direção de Arte e Projeto Gráfico/ Design and Art Supervision: silviA mAssAro

Revisão de Texto/ Edition: liA duArte motA

Tradução de Texto/Translation: renAtA CAPPellAno

Ilustração e Mapa/Illustration and Map: rodriGo CunhA

Impressão e Acabamento/Print: GráfiCA eskenAzi

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gambarini, AdrianoSerra da Canastra : diversidade infinita = Serra da Canastra : endless

diversity /fotografia/photography Adriano Gambarini ;[pesquisa e texto ambiental/research and text,environment] Rogério Cunha de Paula ; [pesquisa e texto cultural/research and text, culture]Laís Duarte Mota ; [tradução de texto/translation Renata Cappellano]. -- São Paulo : Gamba, 2010.

Edição bilíngue: português/inglês.

1. Serra da Canastra (MG) - Cultura 2. Serra da Canastra (MG) - Descrição 3. Serra da Canastra(MG) - Fotografias 4. Serra da Canastra (MG) - Meio ambiente I. Paula, Rogério Cunha de. II. Mota, Laís Duarte. III. Título. IV. Título: Serra da Canastra : endless diversity.

10-13029 CDD-779.99811512

Índices para catálogo sistemático:1. Fotografias : Serra da Canastra : Minas Gerais 779.998115122. Serra da Canastra : Minas Gerais : Fotografias 779.99811512

Todos os direitos deste livro são reservados/all rights reserved to:GAmbA Produções ArtístiCAs e imAGens

www.gambarini.art.br

6

7

8

9

10

11

18

Para as almas de luz que chamamos família; para o ser ‘capichoso’ que ilumina nossa vida,

para a vida em sua mais sutil, brilhante e pura essência. To the bright souls that we call family; to life in its

most subtle, shining, pure form and essence. Adriano Gambarini

Dedico este livro à magia da Canastra. Aos que fazem deste, um lugar de paz.

I dedicate this book to all the magic within Canastra. To the people who make of this land, a place of peace.

Rogério Cunha de Paula

Para o homem que me ensinou a ver a lua. Para o homem que vê a lua ao meu lado.

Para um amigo da cor da lua. Para minha lua cheia.To the man who taught me how to see the moon.

To the man who sees the moon by my side. To a moon-colored friend. To my full moon.

Laís Duarte Mota

19

20

21

22

23

Dizem lá nas bandas da Canastra que queimar é bom,

porque depois os campos ficam floridos. O que devemos lem-

brar é que se florescem os lírios é por conta da água que esfria

o fogo. A água é que faz rebrotar a vida. E, como fluida que

ela é, assim eu quis tornar as fotografias deste livro. Soltas,

transparentes, simples como a tudo que tive a oportunidade

de ver nos cantos encantados desta Serra. Nestes últimos quin-

ze anos, milhares de cliques foram disparados, rolos de filmes

cromo, P&B e digital foram meus cúmplices ao registrar a

emoção de vivenciar tanta luz, simplicidade e beleza que rei-

nam nestes campos. Campos estes que acolhem infindáveis

espécies de animais e plantas, muitas delas agora acompanha-

das por tristes adjetivos; vulneráveis, ameaçadas, palavras que

alertam o mundo para uma situação que poderia ter sido evi-

tada. Mas é na precisão que as pessoas se despertam para a

vida e, por conta desses adjetivos, surgem pessoas aptas a de-

dicar a sua própria por estas mesmas espécies.

Não tive a intenção de registrar para este livro apenas ce-

nas culturais esquecidas pelo tempo ou espécies ameaçadas.

Salvo o lobo-guará e o pato-mergulhão, a quem dedico inten-

sos períodos de documentação com o único intuito de tornar

minha fotografia uma ferramenta em prol do conhecimento

biológico e conservação dessas espécies, minha proposta foi

compartilhar o que é a fotografia para mim. Em sua essência,

a fotografia é sensorial. Assim, mais do que a documentação

precisa de bichos raros, típico anseio de fotógrafos de nature-

za, o que quis neste livro foi compartilhar algo mais profundo

e emocional: a beleza do simples, a sensação da liberdade de

aves voando num céu azul-anil, a tranquilidade de mamíferos

e a delicadeza das flores camufladas nos campos. Comparti-

lhar o cheiro da cultura, a simpatia do povo, o seu sorriso

genuíno. Quero que este livro seja fluido como as águas que

ainda correm puras e cristalinas e, como foi para nós, seja a

Canastra uma infinita e diversificada fonte de sensações. Adriano Gambarini

At the Canastra, they say that burning is good, because after the fire, flowers grow in the fields. We should keep in mind, though, that it is only because of the water that kills the flames, that the lilies are reborn. It’s water that brings life back. So I decided to photograph this book inspired by water. I wanted the pictures to feel fluid, unique, pure, simple, as everything that I saw in the marvelous hidden places of the Canastra’s mountains. In the last 15 years, thousands of shots, rolls of chrome and B&W films, digital pictures, witnessed my emotion to be registering and experiencing such light, simplicity and beauty present in the region’s open fields. Those fields are home of endless life, of plants and animals. Lots of them, however, are tagged with unpleasant adjectives such as vulnerable, endangered — words that call everyone’s attention to a situation that could have been avoided. But it is in necessity that most people act, and that is why many of us chose to dedicate our lives to protecting all this diversity.

I had no intention of only capturing a cultural scenario left behind covered by dust or threatened species. With the exception of the maned wolf and the Brazilian merganser, animals to which I dedicate a huge amount of work — for the sake of biological knowledge and provide support for their conservation — my aim was simply to share what I understand photography must be. To me, in its essence, photography is a sensorial experience. So, more than showing rare and exotic animals, as most nature photographers would, understandably, do, what I intended was to share something deeper, simpler and more emotional: the freedom of birds crossing the blue skies, the tranquility of mammals, and the softness of a flower hidden in the fields. I wanted to share the smell of tradition, the niceness of the people, their genuine smile. I wish this book be as fluid as the water that still runs pure and cristaline; and that the Canastra, as it has being to the three of us, continues to be an endless and diverse source of sensations.

AdriAno GAmbArini

24

I was born in São Paulo, but I have never recognized my own nature on this “concrete jungle”. I found my place when arrived in Serra da Canastra, in 1997. I wanted to go around the world, serving nature, but those mountains touched me. Then, when I was in the highlands of Garagem de Pedra, I realized that my life would never be the same again. I began to live for the Canastra Mountains, its animals. I moved there to breathe its air, to wake up with its sunrise, to see its sunset and to sleep by the starriest sky that I’ve ever seen. To walk with the wolves through the fields, to drink from its clear creeks, to sit in its highest peaks, listen to the sounds of silence and feel peaceful. The Canastra is magical, it grows, it magnifies, it soothes. It’s the place where I made honest friends, those that we carry in our hearts and minds forever. I found a brother, a piece of me, a partner of journeys and adventures. Together, we have been conducting research. Together, we have been fighting for Canastra’s nature. Together we have fun observing the slow pace of the giant anteaters and watching maned wolves hunting. Speaking of them, I am never tired of watching them walking through the fields, gilding under the sun. I started studying them in 1999, trying to make the people of the Canastra live in harmony with them. Protecting the wildlife is my mission and my job. But understanding and preserving the Canastra’s wolves is more than that: it’s my passion, something that involves reason and emotion besides whatever science demands. The Canastra is more than a scientific site of investigation for me. It’s where we feel extremely alive. There, my spirit finds its freedom. My legs are never tired and hope is renewed each day. My attachment to those lands is ethereal. My feelings for its animals, its fields, its people, go beyond words. This book was thought, planned and conceived with passion, to share a little of all that. It came to life through admiration and emotion, for all the richness that is kept inside this giant chest — the eternal Canastra.

roGério CunhA de PAulA

Nasci em São Paulo, mas nunca reconheci na grande “Sel-

va de Pedras” a minha natureza. Encontrei meu lugar ao

aportar na Canastra em 1997. Queria conhecer todos os can-

tos do mundo, servindo à natureza por onde passasse. Mas a

Canastra me balançou. E, no alto da Garagem de Pedras, per-

cebi que minha vida mudaria a partir daquele momento. Pas-

sei a me dedicar à Canastra, aos seus bichos. Mudei-me para

lá para respirar o ar da serra, acordar sob seu nascer do sol,

contemplá-lo se pôr e dormir sob o céu mais estrelado que já

vi. Também para caminhar com os lobos pelos campos, beber

de águas claras dos córregos, sentar no ponto mais alto da

região para ouvir o silêncio e me sentir em paz. A Canastra é

mágica, contagia, engrandece, sereniza. Lugar onde fiz ami-

gos sinceros, daqueles que carregamos em nosso coração e

em nossa mente para sempre.

Encontrei um irmão, uma parte de mim, companheiro de

andanças e aventuras. Juntos começamos pesquisas, lutamos

pela proteção da natureza, nos divertimos observando os pas-

sos dos tamanduás, as caçadas dos lobos-guarás. Nunca me

canso de admirá-los caminhando pelos campos, brilhando sob

o sol. Comecei a pesquisá-los em 1999 com o intuito de fazer

com que o povo da Canastra convivesse em harmonia com

eles. Proteger os bichos é meu ideal, minha profissão. Entender

e conservar os lobos da Canastra é minha paixão, envolve ra-

zão e emoção e não apenas o que a ciência me exige. A Canas-

tra é mais do que um lugar para investigação. É onde sentimos

a vida pulsar em nós. Na Canastra meu espírito encontra liber-

dade. Minhas pernas nunca se cansam e a esperança se renova

a cada dia. Meu vínculo com a Serra da Canastra é etéreo. Meu

sentimento por ela, seus bichos, campos, povo, transcende as

palavras. Este livro foi pensado, planejado, concebido com

paixão, retratando um pouco este sentimento. Foi criado pela

admiração e pela emoção em vista das riquezas que existem

dentro deste baú, a eterna Canastra.Rogério Cunha de Paula

25

If there’s anything we can learn from the Canastra Mountains, it is to start all over. A fire in 2010 destroyed what took mother nature centuries to build: rare plants, animals, flowers, food, riches that the world can no longer benefit from. For anyone who’s ever been there in this moment, it was so sad to see how helpless we are, sometimes. And it’s normal to feel like this. However, in its greatness and silence, the mountains prove, year after year, fire after fire that power of hoping. From the dark land, covered in dust, lilies are born again. The fields regain their color, the trees grow tall.

We learn to never give up. And from hope, from the will to make the Canastra immortal through the writings, this book was made. We hope it is a pleasure for you, an invitation to go on a real journey through the mountains of Minas Gerais. We hope our readers feel the same way the authors do; Inspiration to always begin again.

lAís duArte motA

Começar de novo. Uma lição repetida incessantemente

pela Canastra no rasgar dos séculos é que sempre é possível

começar de novo.

Um incêndio sem proporções, neste ano de 2010, jogou

por terra o trabalho de anos a fio feito com capricho e paci-

ência pela mãe natureza. Com as chamas, se foram plantas

raras, animais, flores, nutrientes, riquezas das quais o mundo

foi privado.

Para quem já esteve por lá, foi de encher os olhos de lágri-

mas, de mergulhar em tristeza e perceber o quanto somos, às

vezes, impotentes. É comum que nos sintamos assim. Porém,

em seu silêncio e sua imensidão, a Canastra prova, ano após

ano, incêndio após incêndio, o valor da perseverança. Na ter-

ra preta, engolida pelas cinzas, os lírios rebrotarão vigorosos,

os campos recriarão suas formas, as árvores, teimosas que só

elas, insistirão em crescer.

Aprendemos lá a não desistir. Este livro nasceu da perse-

verança, da vontade de tornar eterna, no papel, a singularida-

de da Serra da Canastra.

Que ele seja para você um prazer, um convite a fechar as

páginas e embarcar em uma viagem real pelas montanhas de

Minas. Que a Canastra seja para você o que é para os auto-

res: inspiração para recomeçar. Sempre.

Laís Duarte Mota

26

27

28

29

apresentação

Serra da Canastra é o nome. As rochas moldaram o destino desse lugar. Antigamente, baú era canastra, caixa grande que protegia tudo o que era importante: a muda de roupa, a comida para a viagem, as cartas de amor. Mas, desde muito antes do homem chegar ali, batizando as coisas como bem quis, a Canastra já guardava suas preciosidades, já era uma caixa segura, parte de um conjunto muito antigo de montanhas que pareciam levar a sério a missão de preservar. Um reduto que guarda, por exemplo, uma maternidade de bichos sem distinção de espécie ou tamanho. Um santuário onde se celebra o exercício diário da tole-rância entre os diferentes. Desde os minúsculos pás-saros aos gaviões, das emas aos gulosos tamanduás, dos tatus que desfilam apressados à paciência do lo-bo-guará.

A Canastra é a serra dos contrastes. É de todos e é para todos, pessoal. É uma só, mas concentra, quase

The place is called Serra da Canastra, for the way nature sculpted it. In old-fashioned Portuguese, canastra is the word for trunk, that big box that carries and protects everything that matters. Pieces of clothing, food, love letters. And long before men, the mountains knew how to hide its treasures. They were already safe boxes, part of a very ancient set of ranges, apparently designed with preservation purposes. A sanctuary of tolerance among the contrasting beings. A refuge representing a bed for all specimens despite their size, the species… From the tiny birds through the hawks, from rheas to the hungry giant anteater, from quick armadillos to the patient manedwolves.

The Canastra Mountains are a place of contrasts. So universal, and yet so personal. It can be, at the same time, great and intimate, vast and inviting. It has many environments within it, in an almost selfish way.

foreword

30

com egoísmo, ambientes diversos. Consegue ser, ao mesmo tempo, grande e íntima, demasiada e acon-chegante.

Os problemas existem: fogo, devastação, caça. Porém, há pureza e coragem de desabrochar mais co-lorida quando o incêndio se vai.

Não falta beleza jorrando matreira em meio às pe-dras. Não faltam nem fé, nem lendas, nem gente. Não falta aconchego para quem resolve dormir embalado pela sinfonia dos grilos na noite estrelada, nem pra-zer quando um festival de passarinhos parece querer acordar o sol. A Canastra é hospitaleira com aqueles que a apreciam.

Por reconhecer que poucos lugares são assim, sim-ples e complexos (mais uma vez o contraste), nasceu este livro. Não como um filhote de lobo que sai do ventre da mãe ávido por descobrir o mundo, mas como uma lagarta que, quando se vê pronta, fecha-se no casulo e revela-se no momento certo, com as cores certas, mostrando toda a poesia a que tem direito.

Foram anos de pesquisas e observações na tenta-tiva de entender a inteligência dos animais ao cuidar de seus filhotes, ao caçar apenas o suficiente para comer, ao escolher o exato local para construir uma casa, sabendo instintivamente que o local certo para viver é aquele onde se tem paz. Neste livro, cada foto, cada palavra exigiram o esforço de olhar várias vezes para o mesmo lugar e a gratificação de enxer-gá-lo diferente.

A Canastra tem, entre outros, o poder de transfor-mar-se, reconstruir-se e, quando respeitada, fazer-se ainda mais bela. É no convívio que se compreende que a região é uma arapuca dessas deliciosas de se entrar, que nos torna reféns das artimanhas da natu-reza e nos faz depender da aprumada linguagem lo-cal para decifrá-las. Por isso, a linguagem escolhida

There are problems: fire, devastation, hunting. But it is pure and brave enough to blossom even more colorful when the enemies are gone.

There is plenty of beauty, faith, people, legends. A cozy place to sleep to the sound of a cricket symphony; and then wake up before the sun, with dozens of birds welcoming the new day. The Canastra is generous to the ones who love it.

This book recognizes that very few places are like that, simple and complicated at once. Not like a newborn wolf, eager to explore the world, but like a caterpillar that, when ready, hides in its cocoon, waiting for the right time to come out, in its powerful colors, poetic as can be.

It took years of research and observation; hours hidden in the woods, trying to capture the wisdom of the animals when they are taking care of their families, hunting only enough to eat, choosing the exact location to build their homes — knowing that the best place to live is where it’s peaceful. Each picture, each word, were worth all the effort of going back to the same things over and over, trying to see them differently. The Canastra has the power of reinventing itself constantly and becoming even more beautiful, when respected.

Trying to understand it is a delicious challenge that only the locals can solve. That’s why we chose the language of simplicity, with a heavy local accent and all its metaphores and meanings. Part of the hard work — or, as they say there, “trabalho de cabresto puxado” — was to fully appreciate it, and all the life and feeling that it carries. The Canastra also teaches us how to be patient...

31

só poderia ser uma: a língua da simplicidade, o char-moso falar “caipira”, metafórico, de quem foi aben-çoado por nascer aqui. Parte do trabalho duro – como se diz na serra, “trabalho de cabresto puxado” – foi captar as expressões típicas, abarrotadas de significa-dos e de vida, assim como numerosos causos e histó-rias que correm à boca miúda por lá. A Canastra en-sina o valor da paciência...

Foi para aprender com ela que embarcamos na aventura de desbravar caminhos, de rever e redesco-brir o que já conhecíamos. No êxtase de entender como somos pequenos frente à tamanha exuberân-cia, surgiu a ideia de dividir nosso amor por essas terras com o mundo, porque só mesmo com amor podemos mantê-la assim, inigualável como hoje.

It was to learn from the Canastra that we decided to go on this adventure, to look back and revisit what we thought we already knew. From the pleasure of trying to understand how tiny we can be, compared to all that greatness, came the idea of sharing our love. Because the only way of keeping the Canastra as unique and beautiful as it is now is by loving it.

32

33

34

35

Sumário

carta do patrocinador 12sponsor letter

nota dos Autores 23authors note

apresentação 29foreword

ambiente 39nature

ambiente 44the nature of canastra

paisagem 50landscape

rochas e solos 56rocks and soils

sol e chuva 66sun and rain

água 74water

campos, cerrados e matas 84fields, savannas, forests

bichos e mais bichos 94wild wild world

cultura 135culture

o ser e a terra 140the people and the land

no trote dos cavalos 146trotting horses

terra dos homens de olhos azuis 150land of the blue-eyed men

nascido da fé 158born from faith

o ouro da canastra 172canastra’s gold

sementes do amanhã 180tomorrow’s seeds

cada retirada um recomeço 190for each journey, a new beginning

folia na serra 195three saints festival

os franciscos do santo 209são francisco’s children

quem conta um conto... 216a tale never loses in the telling

mineirês 220still portuguese

homenagem à Juca Chico 229tribute to Juca Chico

biografia dos autores 238authors biography

agradecimentos 240acknowledges

contents

36

37

38

39

ambientenature

40

41

44

A Região da Canastra está inserida em uma área pertencente ao bioma de Cerrado, mas ainda apresenta – na região do Vale da Babilônia – a influência de am-bientes de Mata Atlântica. Isso confere paisagens pecu-liares que se refletem em um ecossistema importantíssi-mo quando o assunto é a biodiversidade.

Ocorrem, na região, espécies que só existem ali e ou-tras que se refugiam em lugares de grande preservação de áreas naturais com pequena interferência do ser hu-mano. O “Homem da Canastra”, talvez por instinto, ou mesmo necessidade de viver na dependência dos recur-sos naturais, sabe ler as leis da natureza. Alguns pou cos as ignoram, outros muitos as cumprem. Todos, de uma forma ou de outra, as respeitam. É neste balanço favo-rável às plantas e aos animais que o ambiente da Canas-tra se equilibra.

Os diversos níveis de degradação ambiental, em al-guns pontos, intimidam, porém não suprimem a alta di-versidade de riquezas naturais, de espécies de plantas e animais. É uma região agraciada pelos tempos longín-

The Canastra region is located under the boundaries of the Cerrado Biome. However, it still carries — at Vale da Babilônia — the influence of Atlantic Forest characteristics. That duality provides the Canastra with its peculiar landscapes, that reflects high importance on its biodiversity.

Some species can be found only there, others migrate to the Canastra every season. It is a place of little human interference. The men who live there, by instinct or because they know they depend on it, learned how to read nature’s laws. Very few choose to ignore them, most live by them. That’s how the place finds its balance.

Although many places show various levels

ambientethe nature of canastra

45

quos que moldaram a base – terra, pedra, água – para explosão da vida em várias representações. Tudo por ali permanece em sintonia e o resultado é único: a natureza da Serra da Canastra.

of degradation, most areas are well preserved, with great variety of vegetal and animal species that reflects the Canastra Mountains unique ecosystem.

46

47

50

O complexo da Canastra é formado por um conjunto de serras e vales, apresentando uma grande variedade de solos que, consequentemente, oferecem condições à as-sociação de vegetação diversificada. Tal composição só é possível dada à enorme ramificação de corpos d’água, oriundos de um sistema hídrico que algumas vezes vêm à superfície e outras se encontram escondidos no subso-lo. São os elementos primários que formam a base de toda biologia local.

Na formação desta região, cada monte e cada vale recebem nomes específicos, mas têm em seu todo o reco-nhecimento da mais importante massa de rocha que é a Serra da Canastra. Tal região é composta principalmen-te de duas serras: a da Canastra e a da Babilônia. Entre ambas existe o Vale dos Cândidos, onde se encontra um dos maiores blocos de diamante bruto da América do Sul. Parte do vale é banhada pelo Rio São Francisco e, dada às características minerais, até o fim dos anos 1980, abrigava garimpeiros em busca do sonho de en-contrar a “grande pedra”. Muitos enriqueceram com os

In the Canastra’s complex, each mountain, each valley has its own name, but are mostly referred to as a single thing — the Canastra Mountains. But in reality, the Canastra’s complex consists of a set of mountain ranges and valleys, with great soil variety. Because of that, vegetation is also very diverse. But such composition is only possible due to a big ramification of waterbodies that sometimes surface, sometimes remain underground. Those primary elements constitute the basis of the entire local biology.

The region is primarily defined by two mountain ranges, the Canastra’s and the Babilônia’s, and a valley called Vale dos Cândidos, where one of South America’s

paisagemlandscape

51

“pedriscos” desmembrados do grande diamante, lapi-dado pelo tempo.

A Babilônia é um complexo composto por um con-junto de pequenas serras que a oeste se “transforma” nas serras das Sete Voltas e do Cemitério e, pouco mais ao sul destas, na Serra da Gurita e, próxima a ela, na Serra Preta. Os vales da Gurita, dos Cândidos e, sobre-tudo, o da Babilônia, representam as áreas de maior de-senvolvimento econômico e agropecuário em função da combinação da facilidade de captação de água dos mui-tos rios que abastecem a região, das temperaturas favo-ráveis ao plantio e dos solos férteis.

biggest diamond blocks is located. Until the end of the 1980’s, mining was an important activity there, attracting people from all over the country. Also, part of the valley is under São Francisco river’s influence.

The Babilônia Mountains is a complex of smaller mountain ranges - Sete Voltas and Cemitério in the west, Gurita and Serra Preta in the South. The Gurita, Cândidos and Babilônia’s valleys are the most economic developed areas, especially Babilônia, due to its unique combination of climatic conditions, easy access to water and fertile soils.

52

53

56

A imensa beleza das serras possui uma origem com-plexa, antiga. A composição da região se deu graças a um simples movimento nas profundezas do planeta, ge-rando vida e condições a toda paisagem que observa-mos atualmente. Tipos específicos de rochas, como, por exemplo, o quartzito, o calcário, o arenito e os xistos – encontrados separados ou associados – compõem todas as serras em cristas ou placas; eixos maciços compostos há muito, muito tempo. O início da formação da Serra da Canastra é estimado em 1,5 bilhões de anos. Já o complexo da Babilônia, que é um pouco mais recente, surge no mínimo 500 milhões de anos depois. Nessa época, os continentes nem haviam se formado. Améri-cas e África eram mais que vizinhas, eram uma coisa só, a Pangea. A gênese da região levou milhares de anos e o complexo maciço se completou há aproximados 500 milhões de anos.

O resultado final, este complexo de montanhas e va-les com altitudes que variam de 680 metros, como no vale da Gurita, aos quase 1500 metros da Serra da Ca-

The region’s amazing beauty has complex and ancient origins. Every mountain range is made of a different combination of rocks, like quartzite, limestone, sandstone and shales, arranged in crests or plates. These arrangements happened thousands of years ago and they constitute the basis of the local environment.

It is estimated that the Canastra Mountains are 1,5 billion years old. The Babilônia Mountains may be 500 million years younger. At that time, there were no continents. North, Central, South America and Africa were more than neighbours — they were the same thing, the Pangea. It took thousands of years for the genesis of the Canastra region to be

rochas e solos rocks and soils

57

nastra, é de tirar o fôlego de quem sobe e desce ou de quem simplesmente contempla. Há quem diga que fal-tam árvores; há quem diga que a uniformidade da pai-sagem é melancólica. Há quem diga que a simplicidade natural do lugar torna a composição esplêndida; há quem diga que observar a Canastra seja encontrar a paz. Esse maciço, de pouco menos de 650 quilômetros qua-drados, de importância única por guardar uma das maiores riquezas do Brasil – as nascentes do Rio São Francisco – empresta o nome à região.

O relevo é montanhoso, antigo, mas em infinita mo-dificação. Foi moldado, ao longo dos séculos, por diver-sos fatores. Um desenho resultante de formas químicas e ações externas: o vento, as chuvas, os rios. A água molda, remonta, destrói. A paisagem que vemos hoje se formou com o tempo. Anos à frente, é possível que seja paulatinamente modificado por ações físicas diversas e por alterações climáticas. As características principais que diferem a Canastra da Babilônia estão relacionadas a essas ações sofridas pelo meio. A primeira, um platô maciço; a segunda, uma alternância de escarpas alinha-das no sentido Noroeste-Sudeste e vales profundos que acompanham as serras. Ambas alternam áreas de altos e baixos, nas quais divisores de águas, de bacias hidrográ-ficas e sub-bacias estão ali representados. A conforma-ção geomorfológica da Serra da Canastra, associada à composição mineral, torna o altiplano uma imensa cai-xa d’água.

completed. It became what it is today 500 million years ago.

The final result, this vast complex of mountains and valleys, that range from 680 meters at Vale da Gurita to almost 1.500 meters at the Canastra Mountains, is of stunning beauty. Some say there are too few trees; others say the landscape is so uniform that it is depressing. Some people find the simplicity of the place overwhelming. And there are those who go there just to contemplate and find peace.

A massif of about 650 square meters, uniquely important, for it bears one of Brazil’s most valuable assets — the São Francisco River headwaters — lends its name to the region.

Its relief is full of mountains, ancient, but ever changing, designed throughout the centuries by the wind, the rain, the rivers. The water molds, rebuilds, destroys, meaning that, years from now, the Canastra that we know today may have changed completely.

Those environmental actions play an important role on marking the differences between the Canastra and the Babilônia regions. The first is a huge plateau; the latter, a collection of slopes aligned from northwest to south east, and deep valleys that accompany each range. Both alternate high and low areas, where water divisors, of hydrographic basins and sub-basins, are represented. The geomorphological conformation of the Canastra Mountains, associated to its mineral composition, makes the elevated plain a huge water tank.

58

59

62

63

80

81

76

77

86

87

100

101

110

111

112

Pato-mergulhãoO pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) é, talvez, a mais misteriosa e procurada espécie da região da Canas-tra. Se não for, sem dúvida é a mais ameaçada, pois é listada como um animal criticamente ameaçado de extin-ção. Estrangeiros observadores de aves, ornitólogos e fo-tógrafos do Brasil e do mundo se deslocam para lá em busca do pato-mergulhão, como se este fosse uma relí-quia. Também pudera, ele é um pato com bico de biguá, pontudo e serrilhado, de pés vermelhos, que mergulha para se alimentar de peixes e, ainda por cima, possui uma reluzente cabeça verde-metálica quando está sob o sol. É mais um tesouro da Canastra. Um dos principais, pois, na verdade, o pato revela os locais mais puros, mais lím-pidos. É uma espécie altamente indicadora de qualidade ambiental por habitar somente águas cristalinas, sem dis-túrbios, rios com peixes abundantes. É uma ave aquática do mais alto rigor. Sua morada deve possuir águas nestas condições e trechos de rios movimentados com algumas corredeiras de pequeno porte e com pedras. Quando está fora d’água, sempre está alerta para possíveis investidas de predadores ou para a aproximação do homem. É um animal arisco, não gosta muito de companhia e, em de-corrência disso, não foi muito estudado até hoje. Não se sabe muito da sua biologia e somente há poucos anos atrás se encontrou o primeiro ninho desta espécie no Bra-sil. E não poderia ter sido em outro lugar: foi na Serra da Canastra. Tal fato foi o incentivo necessário para o início de um amplo programa de pesquisa e de conservação para a proteção da espécie e seu habitat – o rio! Nos úl-timos anos, os pesquisadores encontraram novos locais de nidificação no Vale dos Cândidos e no entorno da Ser-ra da Canastra. Sem dúvida, a população existente na região da Canastra é a mais conhecida e estudada em toda América do Sul. Desde 2001, foram detectados em torno de 50 casais residentes. A estimativa é que existam no mundo apenas 250 indivíduos da espécie. Ou seja, quase metade dos patos-mergulhões que habitam nosso planeta está na região da Canastra. Esta é uma confirma-ção de que os rios locais são de águas puras e que a Ca-

and serrated cormorant beack, red feet, and a bright green head that shines under the sun. It dives in to catch fish. It’s another Canastra treasure, that only inhabits clear, undisturbed waters, full of fish. For that, the Brazilian merganser serves as an indicator of environmental quality. Its refuge also indicates fast moving waters, and stones.

When the Brazilian merganser is outside the water, it is always alert to avoid being caught by its own predators and even men. It doesn’t like company and maybe that’s why there is so little knowledge about it. Not much is known about its biology — the first nest was found only a few years ago — in the Serra da Canastra, of course.

With this finding, a program for the study and conservation of the species and its habitat — the river — started. Recently, other nesting sites were spotted at Vale dos Cândidos and in the Serra da Canastra’s surroundings. Undoubtedly, the Canastra’s population is the best known and the most studied in all South America. Since 2001, around 50 resident couples were found. It is estimated that there are only 250 individuals worldwide — which means that almost half of them are in the Canstra region.

A confirmation that the region is still a place of pure waters, extreme biodiversity and environmental balance. And the Brazilian merganser, that used to be a legend, became well known and protected.

MammalsAs in Africa, in the Canastra’s region safari tours to observe wildlife is becoming more and more common. But instead of an exotic megafauna, the main attractions there are curious, delicate, beautiful animals: giant anteaters, armadillos, maned wolves, pampas deers, pumas...

In general, Canastra mammals are very

113

nastra ainda é sinônimo de alta biodiversidade, de natu-reza em equilíbrio. E o pato-mergulhão que, durante muito tempo, fora considerado uma lenda, passou a ser conhecido e protegido nas águas da região.

MamíferosNeste grupo, animais de grande porte conferem à região um grande atrativo, o da observação da vida selvagem. Como na África, na Canastra se faz safáris para a apre-ciação desses animais. Ao invés de se buscar a megafau-na exótica, ali os animais não são tão grandes, mas são mais curiosos, belos. Quem procura no lugar e na hora certa encontra tamanduás, tatus, lobos-guarás, veados-campeiros, onças-pardas.

De forma geral, a Canastra apresenta uma alta di-versidade, com 38 tipos diferentes de mamíferos de mé-dio e grande porte. Os carnívoros representam 1/3 deste total. São animais vistosos, que chamam a atenção tan-to pela furtividade, quanto pela dificuldade em serem observados.

A diferença no número de espécies presentes na Serra da Canastra ao se comparar com outras áreas preserva-das do Cerrado demonstra a sensibilidade de algumas delas às intensas atividades humanas na região. Boa par-te dos mamíferos residentes na Canastra apresenta certa tolerância à ocupação humana, como é o caso de muitas espécies de carnívoros locais. Este processo vem ocorren-do devido ao crescimento econômico e à diminuição das áreas naturais. Entretanto, algumas espécies têm perdido seu espaço, ou já desapareceram, ou estão em vias de serem extintas na região. É o caso dos queixadas (Tayas-su pecari), da anta, que não existe mais na Canastra há décadas, e do tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), que talvez seja o mamífero mais ameaçado por ali. Os mamíferos também confirmam sua opção por áreas onde o ambiente encontra-se melhor preservado.

Algumas espécies se destacam especialmente devido ao status de conservação, à fragilidade e riscos de suas popu-lações locais. São considerados, então, entre os mamíferos

diverse, with 38 different species, of medium and bigger sizes. A third of them are carnivores. It’s not easy to spot them, which only adds in interest.

There’s a difference in the number of species when comparing to other cerrado areas. This could be due to the level of susceptibility to human activities shown by some animals. From all mammals, a significant number shows good levels of tolerance towards human occupation — many carnivore species, especially. This process has been happening for economic reasons, at the expense of the environment. Nevertheless, some species have already lost their habitats and others have disappeared completely — or are in danger of extinction. Good examples are the white-lipped peccaries (Tayassu pecari), the tapir (that have disappeared from the Canastra decades ago) and the southern tamandua (Tamandua tetradactyla), maybe the most threatened mammal there. So, to observe the local mammals, it is necessary to search for well preserved lands.

Some species are especially relevant for being at risk of extinction. The most important ones are the giant armadillo (Priodontes maximus), the giant anteater (Myrmecophaga tridactyla), the black-fronted titi monkey (Callicebus nigrifrons), the maned wolf (Chrysocyon brachyurus), the little spotted cat (Leopardus tigrinus), the margay (Leopardus wiedii), the pampas cat (Leopardus colocolo), the ocelot (Leopardus pardalis), the puma (Puma concolor), and the pampas deer (Ozotoceros bezoarticus).

Some species, on the other hand, are more representative for their importance both to the local ecosystem, as well as for being symbols of the Canastra’s biodiversity. They are the armadillos, the giant anteater, the maned wolf.

114

115

116

de maior importância da Canastra, o tatu-canastra (Prio-dontes maximus), o tamanduá-bandeira (Myrme co phaga tridactyla), o macaco-sauá (Callicebus ni gri frons), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), o gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus), o gato-mara cajá (Leopardus wie-dii), o gato-palheiro (Leopardus colocolo), a ja gua tirica (Leopardus pardalis), a onça-parda (Puma con color), o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus).

Algumas espécies apresentam maior representativi-dade e importância na região tanto para o ecossistema quanto no sentido de figurarem como espécies-símbolo da Canastra. São elas: os tatus, o tamanduá-bandeira, o lobo-guará.

TatusA região é uma das poucas no Brasil, senão a única, a apresentar um número tão grande de espécies de tatus. São 6 tipos diferentes no total. O tatu-canastra (Prio-dontes maximus), maior de todos, chegando a pesar 35 quilos – não recebeu o nome devido à região, mas por causa do formato da carapaça; dois tipos de tatu-rabo-de-couro (Cabassus tatouay e C.unicinctus), que cavam suas tocas geometricamente redondas, perpendiculares ao nível do solo; o tatu-peba (Euphractus sexcinctus) e o tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), os mais comuns de todo o país e da região; e o tatu-china (Dasypus septem-cinctus), o menor de todos, pesando em torno de 3 quilos. Com exceção do tatu-canastra, listado no Brasil como criticamente ameaçado de extinção, as outras espécies são relativamente abundantes, podendo ocorrer todas si mul-ta neamente em algumas áreas, como nos altos da Serra da Canastra. Possuem uma alimentação à base de insetos e, especificamente no caso da espécie mais ameaçada, a dieta é quase que exclusivamente à base de cupins, o que reduz muito sua área de distribuição local.

Antigamente, os moradores relatavam uma caça in-discriminada de tatus. Hoje, esta prática foi deixada de lado e, apesar de haverem atropelamentos esporádicos e um animal ou outro que finda na panela sobre um fogão

ArmadillosThe region is one of the few, if not the only one, to have such a large number of tatu species. There are six of them. The giant armadillo (Priodontes maximus) is the largest and heaviest of all (almost 35kg). Curiously, its name refers to the shape of its back and not to its place of residence. There are two types of naked-tailed armadillos (Cabassus tatouay e C.unicinctus), that dig their den geometrically rounded perpendicular to the ground; the six-banded armadillo (Euphactus sexcinctus) and the nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus), common not only in the Canastra, but also in the rest of the country; and the seven-banded armadillo (Dasypus septemcinctus), the smallest of all, weighing just three kilos.

With the exception of the giant armadillo, enlisted as critically endangered of extinction, all other species are relatively abundant. They can co-inhabit more than one area, like the higher plateau of Serra da Canastra. Their diet basically consists of bugs, and in the case of the giant armadillo, termites — which very much reduces the mammal’s distribution.

Many years ago, armadillo hunting was a tradition. Today, such practice no longer exists and despite some running overs and isolated cases of animals that end up as the main course for some exotic dish, the mortality levels are smaller than the birth levels.

So, maybe we can say the Canastra is the land of the armadillos.

Giant AnteaterThe giant Anteater (Myrmecophaga tridactyla) is a very curious species, for its old-fashioned looks. It’s medium sized and feeds on ants, despite the local belief that many of them also eat chickens. It has a long snout, with a small mouth at the end, that only allows its sticky tongue to come out, to search the ants’ nests.

117

de lenha, a mortalidade não supera os nascimentos. Tal-vez seja este um dos motivos da alta abundância destas espécies. Portanto, pode-se dizer que a Canastra é tam-bém a terra dos tatus.

Tamanduá-bandeiraO tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) é uma espécie que desperta curiosidade em todos que o obser-vam, pois parece um animal que saiu dos contos antigos. Possui um porte médio e se alimenta de formigas e cupins, apesar de muitos moradores da região acreditarem que eles ataquem galinhas. Possui um focinho longo, com uma boca pequena na ponta deste, que permite a abertu-ra somente para projetar sua língua pegajosa nos ninhos dos insetos sociais. É um animal muito tímido, mas difi-cilmente percebe a presença de opressores se estes se aproximam contra o vento. São praticamente cegos e surdos, sendo o seu olfato a sua maior qualidade. Suas patas dianteiras são muito fortes, com três unhas robus-tas e moldadas para destruir os cupinzeiros e “raspar o chão” para desenterrar seu alimento.

Possivelmente, a Canastra é umas das áreas mais im-portantes para a conservação dos tamanduás no Brasil. A espécie não é somente abundante nas áreas dos cha-padões da Canastra e Babilônia, é observada também em áreas preservadas das fazendas da região. Eles po-dem ser vistos em campos limpos e rupestres.

Por serem animais lentos e com visão e audição pou-co desenvolvidas, não percebem os veículos e são facil-mente atingidos nas estradas locais, por isso, o atropela-mento é um dos problemas mais sérios à sobrevivência de tamanduás. Incêndios também representam um alto impacto para estes animais. Levam muito tempo para perceberem o fogo se aproximando e, quando tentam fugir, às vezes já é muito tarde. Como possuem pelagem densa e calda muito peluda facilmente se incendeiam. Quando ocorrem incêndios de grande porte na região, é comum alguns tamanduás serem encontrados ainda vi-vos, parcial ou inteiramente queimados.

It’s a very shy animal, that rarely notices its predators when they attack against the wind. They’re practically blind and deaf, but their sense of smell is highly developed. Their front paws are very strong, equipped with three robust nails which are used to destroy the térmite nests and search the ground to find the insects.

Possibly, the Canastra is one of the most important areas of giant anteaters preservation in Brazil. The species not only inhabits the canyons of the Canastra and the Babilônia range, but is also found in preserved areas of local farms. They can be spotted easier on open grasslands and rock fields of the Serra da Canastra.

For being slow animals, with very poor sense of hearing and vision, they are easily hit on the roads. For that, running overs are a serious threat to their survival. Fires also cause a huge impact. Anteaters take so long to notice the flames that when they try to escape, sometimes it’s too late. Also, their furs are so dense and their tails are so long that they usually catch fire. It is common, when a huge fire occurs in the region, to find some anteaters still alive, but partially or entirely burned.

Despite being considered endangered of extinction by the Brazilian Red List, in the region they are protected in its preserved fields.

Maned wolfThe maned wolf (Chrysocyon brachyurus) is the largest South American canid, a symbol of the cerrado. It feeds of almost everything: medium and smaller sized mammals, birds, reptiles, anphibians, insects, fruits. It inhabits open spaces, like fields, cerrados, but still prefers forest areas. It is an animal that have been adapting to change — when not very drastic.

132

133

134

135

culturaculture

136

137

138

139

156

157

172

A receita persiste decorada na rotina dividida por vá-rias gerações. É preciso amanhecer antes do galo cantar para iniciar a dura lida da roça, ordenhar as vacas no raiar do dia. Nos latões antigos, patrimônios das fazen-das, o leite de hoje recebe o pingo de ontem – água que escorre do leite ressecado com sal grosso. Coalhado, vira massa envolta no pano. Haja força para espremer o teci-do incessantemente, deixar o queijo sequinho.

À medida que a mistura talhada vai sendo compri-mida na forma, acrescenta-se nova porção e mais espre-mida ela é. O trabalho braçal dura até que a forma fique cheia de uma massa compacta. Porções generosas de sal cobrem então a parte superior do queijo e assim ele é deixado, descansa após tanto apanhar. Quando chega a noite é virado ao contrário, pulverizando-se também com sal a parte agora exposta.

Mais algumas horas na forma, castigo necessário para entregar o queijo às vontades do clima, e está pronta a mais tradicional iguaria mineira. Para ficar no ponto, o tempo é o melhor ingrediente e, por isso, mineiro da Ca-

There’s a reason why people wake up so early in the Canastra MountainS: work, loads of it, and it begins before sunrise, by milking the cows. Then, inside those old, traditional metal containers, the milk is dried with salt — a vintage touch. What is left is squeezed into a piece of cloth.

As the mixture gets more and more comprised, more milk is added, until the mold is full with a hard mass. Large amounts of salt then cover its upper side, and it is left to rest. When evening comes, the cheese is turned upside down, covered in salt again, and rests a little more.

A few hours later, the most famous dish from Minas Gerais is ready. Time is the most

o ouro da canastracanastra’s gold

173

174

175

176

nastra aprende a cozinhar a paciência em banho-maria. Esperar é arte herdada junto com o talento gastronô-

mico. Queijo bom é aquele que o queijeiro permitiu curar. Reza a lenda que os segredos de fazer do leite queijo

chegaram a esse lado escondido de Minas por volta de 1850, trazidos pelas famílias Costa, Faria e, claro, Leite, da longínqua São João del Rei.

Logo após o período de queimadas no cerrado, o ca-pim nativo brotava forte nos campos. Era alimento farto para as vacas que produziam leite além da conta. Da pro-dução excessiva, rejeitada pelo bezerro, surgia o queijo.

Na receita original, era preciso esperar até 40 dias para provar um taio – uma fatia grossa, farta na lingua-gem local. E aí estava o mistério: com o armazenamen-to, o queijo ganhava textura, acidez; ganhava até uma cor dourada e raro aroma, graças à altitude e à tempe-

important ingredient, so patience is one of Canastra’s people’s most admired virtues.

The art of waiting is inherited along with gastronomic talent. A good cheese is the one that rested enough.

It is believed that the art of cheese making arrived in the Canastra mountains around the year 1850, when three families, Costa, Faria and, of course, Leite (Milk) moved from São João Del Rey.

They taught the locals not to waste the extra milk produced by the cows right after the draught period, when grass started to grow back.

177

ratura. Quanto mais velho, mais picante, mais duro. Era alimento nutritivo e saboroso que resistia às adversida-des da estrada, ao longo trajeto no carro de boi.

No escambo que ainda vigorava, qualquer bugigan-ga era trocada por um autêntico canastra. Espelho, pa-no, objetos de cozinha, adornos para as mulheres.

A fama veio com o tempo. Reconheceu-se o valor do trabalho do homem aliado ao toque da natureza. Os produtores perceberam que poderiam ganhar dinheiro com o que antes era só subsistência. Ser queijeiro era, então, honraria, status.

A partir da década de 1970 as pastagens diminuíram e a demanda pelo canastra cresceu. Passou-se a vender o queijo meia-cura, 30 dias após o preparo. Depois, 21 dias. Depois 14...

Se a pressa é inimiga da perfeição, foi-se embora o segredo do queijo canastra, a arte de esperar o momento certo para degustá-lo. A receita do queijo curado ficou apenas na memória dos mais velhos.

Anos depois, o preço do queijo fresco, recém produ-zido, caiu. E para fugir da crise, a saída foi voltar às origens. Renasceu o desejo de retomar a tradicional culi-nária da região.

Hoje, alguns dos 900 produtores da região redescobri-ram o valor incalculável da paciência, ingrediente crucial na fabricação artesanal do Canastra real, uma delícia que chega a pesar sete quilos, temperada pelo meio-ambiente.

Originally, you had to wait for 40 days to taste a taio — a big fat chunk. With storage, the cheese gained texture, acidez, even a light shade of gold and a rare smell, depending on height and temperature. The older, the stronger, the harder. It was a super rich and tasty food that resisted the adversities of the road, riding in a cow car.

Anything would be traded for an authentic canastra cheese. Mirrors, fabric, kitchen tools, earrings, necklaces.

Fame came with time. To be a cheesemaker was a sign of status back then.

But from the 1970s on, the amount of grass diminished and the demand for the Canastra cheese grew. The producers proceeded to sell the meia-cura version, ready after 30 days. Then, 21. Then, 14...

So the art of waiting until the right moment to taste the cheese died. It became just a memory.

But years later, the price of fresh dropped. To escape the crisis, the solution was to go back in time and reemulate the region’s culinary traditions.

Nowadays, some of the 900 local cheesemakers are discovering again the true value of being patient. It’s the main ingredient of an authentic, seven-kilogram canastra cheese.

178

179

180

O homem da Canastra conhece, ao nascer, duas se-veras lições: apreciar a natureza que o cerca e trabalhar de rédea curta, na labuta de aproveitar o que a terra tem de melhor.

Aos poucos os frutos da interação das mãos com o solo brotam. Plantações de milho, café, manga sempre existiram. Em torno dos anos de 1920, segundo fontes oficiais, além da pecuária, a região dedicava-se ao culti-vo da cana, produzindo açúcar e aguardente, e à produ-ção de laticínios, especialmente queijo e manteiga.

Mas humildade também se aprende cedo e o que se colhia era apenas destinado a matar a fome dos que, como as plantas, nasciam ali.

Em 1993, as terras férteis de São Roque de Minas, de acordo com dados da cooperativa dos produtores, aco-lhiam somente 350 mil pés de café, insuficientes até mesmo para manter no campo a mão-de-obra rural. En-tretanto, os grãos cresciam fortes, sadios, apreciados pelo mais refinado paladar.

Se a união faz a força, fazendeiros uniram-se sonhan-

To live in the mountains, a person should learn to love nature and to work hard. Slowly, the results of such interaction blossom.

Corn cultures, coffee, mango always existed there. Around the 1920s, besides animals, there were sugarcane cultures, producing sugar and alcohol, and dairy, especially cheese and butter.

But for a long time, all that production was only for self consumption, to meet the needs of the people that, like plants, were born in those lands.

In 1993, São Roque de Minas, according to the local farmers’ union, was producing only 350 thousand coffee trees. That amount barely paid for the salaries of the men who worked

sementes do amanhãtomorrow’s seeds

181

182

183

184

185

do alto. E do poder da cooperação, 700 mil mudas fo-ram distribuídas.

As montanhas que bem receberam as primeiras fa-mílias abraçaram novos moradores enraizados no solo, forneceram nutrientes e viram os cafezais tomarem con-ta de 2500 hectares. São cerca de 8 milhões de covas que, na época da florada, parecem cobrir de algodão o verde das plantações até onde a vista alcança.

Do trabalho e do desejo do povo ampliou-se a pro-dução: 70 mil sacas por ano, também de acordo com números orgulhosos da cooperativa local.

A cidade que exportava trabalhadores rurais para outras roças, de novo seduz gente para “as panha” – jei-to mineiro de definir quem ganha o pão de cada dia nas colheitas de café. São Roque já fora município que mor-ria devagar. Nas redondezas era conhecido como “a ci-dade do já teve”. O motivo? São Roque já teve banco, já teve cinema, já teve telégrafo, banda de música. Depois, não tinha mais.

Hoje, até o asfalto chegou. Internet e telefone estão devagarzinho à disposição dos moradores. O celular também não é mais novidade. Muita gente já saracoteia com o aparelho preso à cintura, ao lado do tradicional e inseparável canivete, claro.

the land. However, coffee flowers grew strong, healthy, appreciated for their fine taste.

To change that, the farmers united, dreaming big. They offered smaller producers 700 thousand mudas.

A little later, the mountains welcomed new guests, attached to the ground, supported them with food and water and watched as coffee culture took over 2.500 hectares. Almost 8 million beds, that when flowering, seem to cover in cotton the vast green lands.

Due to hard work and the will to grow, production grew to 70 thousand sacks a year. Now, when it’s time to harvest, the city needs extra hands. Many people who left because there were no jobs, are coming back.

São Roque was slowly dying. It was known as the “used to be” city: there used to be a bank, there used to be a cinema, there used to be a telegraph, there used to be a marching band. Then, there wasn’t.

Today, even the roads are paved. Internet, telephones are slowly being incoporated. Mobile phones are no longer a novelty. Many people now carry them around, attached to their waists, together with the traditional penknife, of course.

194

195

Para celebrar os três Reis Santos ainda se atravessa a pé qualquer distância pelos mais sinuosos caminhos.

O canto forte, marcado, ouve-se ao longe. Carregan-do a bandeira, lá se vão os devotos. E como pode haver lugar mais sagrado do que as montanhas da Canastra? Um altar a céu aberto...

Na tradição católica, a passagem bíblica mostra que o Messias anunciado foi visitado por Belchior, Baltazar e Gaspar, três reis depois adorados como santos. Feste-já-los sem descanso é herança portuguesa, cantada em verso no Brasil desde o século XVIII.

Originalmente, celebra-se o nascimento de Jesus Cristo até o dia 6 de janeiro, mas no sopé do morro, a fé de um torna-se a fé de todos. Basta um membro da com-panhia de reis – ou ternos, como são conhecidas – con-quistar uma graça para pôr a folia na rua, com sons e fitas coloridas em qualquer época do ano.

Qualquer dia é dia de comemorar a benção, de rezar a uma só voz os versos decorados em um mantra coletivo.

Violões, violas, sanfona, pandeiro, cavaquinho e bum-

The strong, rhythmic singing can be heard far away.

Holding their flags, there go the believers. How can there be a more sacred place than the Canastra Mountains? An altar in the open sky.

According to catholic tradition, the Messiah had three visitors when he was born: Belchior, Baltazar and Gaspar, three kings adored as saints, known as the three wise men. To celebrate them is a tradition inherited from the Portuguese, sang in verse in Brazil since the 18th century.

Originally, the birth of Jesus Christ is celebrated only until January 6th. But by the mountains, one’s faith is everybody else’s

folia na serrathree saints festival

202

203

198

bo – aqui apelidados de caixas – ajudam a companhia de reis entoar cada oração. Primeiro canta o capitão, com a voz grave de quem comanda o culto. O restante da com-panhia responde, em tons diferentes, mas com a mesma emoção.

É honroso fazer parte daqueles que doam suas vozes à religião. Cada terno tem primeiro, segundo e terceiro capitães; contralto; três retintas, homens responsáveis pelas vozes mais finas e tradicionais da folia.

Há também os palhaços, vestidos com roupas colo-ridas e máscaras enormes, carregando a histórica res-ponsabilidade de proteger o menino Jesus dos soldados de Heródes.

O ponteiro marca o itinerário. Todos juntos são um só. E passam de fazenda em fazenda, de casa em casa, arrastando o povo dali. Quem recebeu a graça, recebe a folia com satisfação, mesas cheias de pães de queijo e carne desfiada na panela. Entre uma reza e outra, pausa para o almoço da santa comitiva, preparado no fogo de chão em enormes tachos. Quilos de arroz, feijão com farinha, couve refogada na banha para dar sustância aos fiéis depois de tamanha caminhada.

O destino da reza só muda duas vezes por ano: nos dias 15 e 16 de agosto. No primeiro, devotos dos santos reis enviam suas preces a Nossa Senhora do Rosário. A cidade se veste a caráter para homenagear a Virgem. Di-zem por aqui que, quando se deseja um milagre, é preci-so pedir à mãe, então, o filho atenderá. Entretanto, dia especial mesmo e o mais esperado, com todo respeito a Nossa Senhora, é o dia seguinte.

São meses de preparação na igreja, em cada rua ou casa para a festa do padroeiro, São Roque de Minas. Em homenagem a ele, os devotos cruzam a serra para rezar pelos enfermos e necessitados. Cultuam o padroei-ro com um respeito arraigado, até porque é considerado pela comunidade católica o protetor do gado contra do-enças contagiosas.

A oração ao santo é entoada em coro:“Deus, nosso Pai, nessa procura continuada do pão

de cada dia, nesse cansaço cheio de desconforto, nesse

faith, also. It takes only one member of the company to have their prayers answered to celebrations begin again, any time of year.

Every given day is the day to celebrate someone’s blessings, to pray as a collective voice. It goes as a mantra.

Guitars, violas, acordeons, the ukelele and the drums guide the company through each song. The captain is the first to sing, with that low, powerful voice. The rest of the company sing back, in different tones, but with the same emotion.

It’s an honour to be one of that men. Each company (terno) has a first, a second and a third capitain, a bass, and three retintas — the most high-pitched, traditional voices of the company.

There are also the clowns, who wear masks and dress in color. They have the enormous responsibility of protecting baby Jesus from Herodes’ soldiers.

People join the carnival along the way, as the company moves from house to house, farm to farm. They are greeted with satisfaction, a table full of bread, cheese, meat. And yet they stop to have lunch — a traditional meal, prepared the old fashioned way: rice, beans, powder, leaves cooked in the fat, as the companions need to be well fed, so they can bear the walking.

However, twice a year, there’s a detour. On August 15th, those who pray for the holy kings send their requests for the Virgin Mary. The city dresses to honour her — if you want your prayers to be heard, if you need a miracle, ask the mother, so the son will answer. But the most anticipated day is the next.

It’s the day the city celebrates its patron, São Roque. It is a time of joy, but also a time of concern and hope, as the devotees walk miles through the mountains to pray for the sick and needy.

Also, according to Catholic tradition, São Roque is the protector of cattle against

199

padecimento cheio de torturas, nesse começo de revolta calada que se estampa em nossos semelhantes, dai-nos forças para carregar até o fim o peso que, às vezes, a vida nos impõe. E, pelo amor que em Jesus nos revelas-tes, tornai todo o peso leve e enchei de júbilo os nossos dias presentes e vindouros. Favorecei essas nossas mãos com um pouco de alimento quente, com um copo de água fria, com um pouco de conforto, para que aqueles que sentarem à nossa mesa olhem o contente de nosso rosto, sintam o gosto de viver mesmo assim, atribulado, e cheio de cansaço pelo trabalho de cada dia.”

Ao retornar à matriz, a imagem de São Roque é fes-tejada com fogos de artifício. A noite faz-se clara e pe-quena para tantos pedidos, tanta devoção.

A matriz, erguida no centro da cidade, não é apenas reduto da fé. Permanece ao longo do tempo como ponto de encontro, local de diversão, início de tantos roman-ces e também de reuniões sérias.

Qualquer notícia urgente, como a morte de um mo-rador, a volta às aulas, vacinação do gado ou das crian-ças, é anunciada com exatidão pelo alto-falante da igreja e chega com precisão, em tempo real, a todos os bair-ros.

Mas, se dizem que santo de casa não faz milagre, na hora de batizar os filhos, filhas, na hora de apelidar al-guém querido, o santo escolhido é outro.

diseases. So everyone pray, as a choir: “Dear father, in this endless search for

bread, in this tiredness full of discomfort, in this suffering full of dizziness, in this beginning of a silent riot that we see in our brother’s faces, give us strengh to carry the weight that life sometimes brings. And for the love that you showed us in Jesus, make this weight lighter and fill our days with joy, in the present and in the future. Give us some warm food, some cold water, some comfort, so those who sit with us at our table can look into our eyes and see happiness, and feel the will to live, despite being full and tired from another working day”.

As they march back to the church, São Roque’s image is greeted with fireworks. The night becomes too clear and small for so many requests, so much devotion.

But the church, built in the middle of the city, is not only a place of faith. It is a meeting point, fun, romantic. And it can also be quite serious.

Any urgent announcement, such as the death of a dear neighbour, the day school starts, or when vaccination begins, is delivered through the church’s speaker, reaching every corner of the city. In a way, it’s the patron taking care of its people.

But when it comes to naming the children, it is a fellow saint who is chosen.

206

207

208

209

Se vem das águas a vida, e se aqui as águas vêm do Velho Chico, é para ele que a população se ajoelha. Todo mundo é Francisco: Chico Chagas, Chico Melo, Chico Silva, Chico Faria, Francisquinho, Franciscão, Chiqui-nho Luíz.

É tanto xará do rio que o cartório tem livros de re-gistros reservados apenas a eles. Quem se chama Fran-cisco se reúne em um grande caderno. Os agraciados com outros nomes, poucos frente à multidão de homô-nimos, são excluídos de tão importante documento.

A assinatura enche de vaidade, mas, caso os pais já tenham se comprometido a batizar o pupilo com nome de outro cristão, problema não. O recém nascido nessas bandas ganha o apelido de Chico ou Chica, torna-se com o passar dos anos Chicão, Chiquinho, até Chiqui-nho Inho.

Pode procurar pelas redondezas: quem não é Fran-cisco é casado com Francisca, ou irmão de Francisco, ou filho de Francisco. E ainda trabalha com um ou mais Franciscos; mora em rua Francisco de Tal; tem mais de

It’s funny to realize that almost everyone in the Canastra Mountains is called Francisco: Chico Chagas, Chico Melo, Chico Silva, Chico Faria, Francisquinho, Franciscão, Chiquinho Luíz. At the city’s registration department there are entire books dedicated only to them, whose names had been borrowed from the region’s most beloved provider: the São Francisco River. It makes one proud to figure in the pages of such an important document.

Being the river’s namesake is a true honour, such a privilege that if someone happens to be called something else, they are given a Francisco nickname. As soon as a baby is born, it becomes a Chico or Chica. Growing up,

os franciscos do santosão francisco’s children

210

um primo, cunhado, nora com o mesmo nome e conhe-ce uma incontável lista de Franciscos.

Se hoje o Velho Chico representa 60% das águas do Nordeste do Brasil, representa também 100% da cora-gem de quem, como ele, nasce aqui. Todavia, estudos mostram que o São Francisco tem outra nascente, no rio Samburá, que passa ao norte da Serra da Canastra e po-deria desbancar a célebre cabeceira, pertencente ao muni-cípio de São Roque. Mas por aqui não há discussão: pode aparecer o papa, o presidente afirmando categoricamente que o tão querido leito de água doce não começa ali entre as pedras, ao lado da cidade. Ninguém nunca vai acredi-tar. É no alto da Canastra que a pedra pintada com tinta preta indica “Nascente do Rio São Francisco”.

E para seus conterrâneos, o rio não só nasce espre-mido nos chapadões, mas também cresce e despenca nas paisagens da Canastra. Reza a lenda da época do Brasil colônia que, após a nascente cristalina, em determinado ponto, o rio desaparecia só ressurgindo uma légua de-pois. E surge aí, esplendoroso: uma parede d´água que seduz muitos na mistura conflitante de calmaria e vigor. Inaugura-se em uma piscina transparente, segue seu cur-so em 186 metros de cachoeira. É a Casca D´anta, bati-zada brejeiramente porque, há tempos, era cercada por árvores cuja casca alimentava os animais de mesmo nome. Elas, as antas, já não estão mais por aqui. Foram-se com a caça e a degradação. Já a cachoeira continua a atrair forasteiros para as águas do Velho Chico.

Chicão (big Chico), Chiquinho (little Chico), even Chiquinho Inho (little little Chico).

Those who are not Franciscos or Franciscas, either are married to one of them, or have a Francisco brother, or are Francisco’s children. And work with some other Franciscos, live in a Francisco street, have more than one cousin, brother-in-law, daughter-in-law with the same name and know lots of Chicos and Chicas.

Today, the river, known as the Old Chico, provides 60% of all water consumed in the Northeast of Brasil. But it’s inspired 100% of the people who, like “him”, are born in those lands.

However, studies have shown that the river has in fact another source. It derives from the river Samburá, North of the Canastra Mountains.

But in São Roque de Minas, nobody believes that crazy theory. Even if the Pope was to say otherwise; it is there, by the rocks alongside the city that the river is born. It’s at the Canastra’s mountaintops that the sign, painted in black, reads: “Nascente do Rio São Francisco” (São Francisco River’s Headwaters).

To its people, the river doesn’t only emerge from between the canyons, but also grow and fall in the Canastra’s landscape. Nobody knows if it’s true, but there’s a tale that tells that, a little ahead of its crystal headwaters, the river disappears, to come to life again a mile further. There, it reemerges in all its beauty: as an enourmous and powerful waterfall. It’s the Casca D’Anta, who got its name from the nearby trees that used to serve as food for the animals. Thanks to hunting and degration, they’re gone. But the fall keeps on attracting strangers to the waters of the “Old Chico”.

211

218

219

220

O tempo caminha aqui na toada mineira. Segue sem pressa nos confins das Minas Gerais. Até no maior mu-nicípio, São Roque de Minas, fugacidade é artigo que nunca esteve à venda. O ritmo da vida é sereno como o andar manhoso do carro de boi.

O ritmo do sotaque imita o ranger dos mesmos car-ros, pedaços do passado que resistem firmes como as rochas da Canastra. Mesmo com ar primitivo, eles ain-da cortam estradas puxados pelos passos mansos da boiada e puxando junto as lembranças de cada um.

Vez por outra se juntam para perambular pela cida-de em festa. E a festa são eles. Uns grandes, arrastados morro acima por animais fortes. Outros, pequenos, tra-zidos por bodes. Alegria da criançada.

E o canto da carreata ressoa bairros afora arreba-nhando a multidão. A maior parte da população nunca saiu daqui, nunca esteve na capital. Acostumou-se à tranquilidade da rotina protegida pelas montanhas.

Talvez por isso a fala por ali também continue man-sa como os dias... Mansa ao ponto das palavras quase

There’s no need to hurry in the far corners of Minas Gerais. Even in its biggest city, São Roque de Minas, the pace is as smooth as a ride in a cow car.

The local accent sounds like their whining wheels, reminders of a past that is very much there, like the rocky Canastra’s mountains. They carry not only goods and people, but memories, wherever they go. Sometimes, many cars ride together. It’s like a fun parade, with the bigger ones being led uphill by strong animals and the smaller ones being pulled by goats. Kids love them.

There’s singing, everyone joins along the way. Most people in São Roque have never left the city, never been to the capital,

mineirêsstill portuguese

222

221

nunca estarem completas.A ordem “pode parar” ganha jeito brejeiro: “pó pa-

rar”. A pergunta de qualquer turista perdido em cada cur-

va serrana, “onde estou?”, torna-se com prazer “on-côtô”?

Sujeitos amontoados ao pé da serra e nas adjacências são “bons de sirviço” até na fala. Tão bons que tentam até “amontoar biloscas no cimento”, ou seja, fazer algo tão difícil quanto empilhar bolinhas de gude, aquele brinquedo de criança, conhecido aqui por “bilosca”.

Se encontram um senhor na rua, seja ele de onde for, questionam sorrindo:

— “Cê tá bão, sô??” E se bravo ele estiver é bem capaz de “dar um reio”,

o que, em bom canastrês, significa “bater com uma vara presa a um chicote”.

Um amigo pode acalmar a fera com a sonora frase:— “Mexe com isso não, sô”. Em outras palavras:

“deixa disso”. Nesta parte do Brasil, ninguém consegue nada. To-

dos “dão conta” de tudo o que o cotidiano exige.Se a festa foi boa, foi até o “galho cair a folha” ( no

sotaque local “o gaio caí a fôia”). Se teve confusão, bri-ga, foi “miada. Que manota!!!” Ou seja, “Que gafe!!!”

Aqui, certas regras não entram. São barradas pelas montanhas. “Vamos” é “vão”. “Não preciso” é “num ca-rece” ou “num gasta”. Andando, correndo, partindo: “andano, correno, partino”.

“Não”, muitas vezes, é nem. E se, quando espanta-do, um mineiro pronunciar um prolongado “núuuuu”, não parece, mas é só a síntese de “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro da Água Suja, por favor, me proteja”.

Quando chove muito, é comum ouvir que choveu até “cachorro beber água em pé”. E se, por causa da água em excesso, a estrada estiver intransitável, “não passa nem tatu de corrente”. Ou o carro pode atolar, que aqui é “pregar no barro”.

A pergunta, “Você não vai?” soa um singelo “cê não anima de ir?”

Belo Horizonte. They’re used to their quiet routine, protected by the mountains.

Maybe that’s why they speak with such a particular accent, often hard to understand even by native Brazilians.

The order “pode parar!” is given with missing silables: “pó parar” (stop)!

The question that every tourist asks when lost in the mountains, “onde estou?”, becomes “oncotô” (where am I)?

By the mountains, everyone is “bons de sirviço” (really competent). They’re even able to “amontoar biloscas no cimento”, meaning to try something as hard as making a pile of marbles.

When coming across an elderly man in the street, whether knowing him or not, it is polite to ask how he’s doing: — “Cê tá bão, sô” (are you doing well, sir)? Chances are, if he’s never heard such an accent before, he probably won’t understand a word.

If someone is angry, they may express it by hitting something with a whip — “dar um reio”. A friend may try to calm them down:

— “Mexe com isso não, sô” (leave it!). In standard Portuguese: “deixa disso!”.

In this corner of Brasil, to achieve something is “dar conta”.

If a party is good, it goes on “até o galho cair a folha” (for hours). If there’s a riot, a fight, than the party is forever “miada” (screwed). “Que manota” (Shame on you, people!)!

Some spelling rules don’t apply here. They’re blocked by the mountains. “Vamos” (come on) is “vão”. “Não é preciso” (there’s no need) is “num carece” or “num gasta”. “Andando, correndo, partindo” (walking, running, leaving): “andano, correno, partino”.

“Não” (no), usually, is “nem” (neither). And, to express surprise, people may turn the expression “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro da Água Suja, por favor, me proteja” (something like “Holy Mary Mother of God, please help me”) into a sound monossilable,

223

224

E se alguém sente pena, fatalmente dirá:— “Ô dó dôcê!!!”Não se importar com nada, ser simples, é estar “como

toucinho no saco... Tem base???”Diz-se da pessoa desprovida de beleza que é “desin-

xavido” ou que está “dos avessos”.Pensando bem, é melhor ser feio do que estar doente.

“Estoporar” é sofrer um enfarto. Uma pessoa gripada, resfriada, pode estar “difruçada”. Se já é moribundo, está “pitiguento”. Se for apenas cansaço, está “na capa da gaita”.

Tanta criatividade linguística não surge da noite para o dia. Faz-se necessário “machucar um cadim” (se esforçar) para produzir tão largo vocabulário. E com

that cannot even be considered a word: — Nuuuuu!When it rains, it’s common to hear the

expression “choveu até cachorro beber água em pé” (it rained till the dogs could drink water standing on their feet). And if, because of the heavy rains, the roads are impossibly crowded, then, “não passa nem tatu de corrente” (there’s not even room for an insect). Also, cars might “atolar, ou pregar no barro” (get stuck in the mud).

The question “você não vai?” becomes “cê não anima de ir” (aren’t you coming)?

If someone takes pity on you, you wil hear: — “Ô dó docê!!!”

225

Being reckless, being simple is being “como toucinho no saco... tem base???”

Those who are not so pretty are “desinxavidos” (standard portuguese: “feios”), or “dos avessos” (inside out).

But it’s sure better to be ugly than sick. “Estoporar” is to have a heart attack — nothing to do with the standard word, “enfartar”. If you have a cold, you are “disfuçado” (rest of the country say “gripado, resfriado”). If you’re almost dying, instead of “moribundo”, you are “pitiguento”. If you’re just tired, “cansado”, then you’re “na capa da gaita”.

Such linguistic creativity doesn’t came easy. You have to “machucar um cadim” (work hard) to come up with so many different words. And be proud, beacuse being like this is “bão demais da conta” (so nice)!

But if you fail to entertain your guests only by talking to them, there’s no need to be “imbirrado” (upset), or “esgarranchar o cavalo” (ride a horse) and leave. They won’t resist the food: hidden in the mountains are the sweet taste of joão-deitado, a pamonha cooked in time; galo pé — chicken, cooked with pig foot and lots of pepper.

After eating more than you can bear (“afogar a égua”), comes some more talking (“um dedim de prosa” and “a conversinha com o travesseiro” (something like “having a word with your pillow”, meaning a nap). For it’s so good to be taken by the tastes, smells and joys of the mountains. A place that once you know, you can’t forget. And you might want to stay for good.

And to say the end: “O arroiz secô” (the rice is dry). That’s it!

orgulho, porque ser assim sempre foi “bão demais da conta!!!”

Se a prosa não agradar um forasteiro, não é preciso ficar “imbirrado” (chateado), nem “esgarranchar” o ca-valo (ou montar o pobre do animal) e fugir. Ele é pego pelo estômago: encravados nas montanhas estão o gos-to doce do joão-deitado, a pamonha cozida na hora, o galo-pé – receita de frango cozido com pé de porco e muita pimenta. Depois de “afogar a égua” num bom prato de comida, vem um “dedim de prosa” e uma “con-versinha com o travesseiro” (ou um cochilo). Bom mes-mo é deixar-se levar pelos sabores, aromas e prazeres da serra. Um lugar aonde se chega para nunca mais pensar em partir.

E pra dizer que chegou o fim: “O arroiz secô”. Pron-to, uai!

226

227

238

biografias dos autoresRogéRio Cunha de Paula, 37 anos, é bi-ólogo, natural de São Paulo. É analista am-biental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CE-NAP), do Instituto Chico Mendes de Con-servação da Biodiversidade – Ministério do Meio Ambiente (ICMBio/MMA). Desenvolve atividades para a conservação de carnívo-ros brasileiros, entre elas projetos com lo-bo-guará, na região da Serra da Canastra, e com onça-pintada, no sertão baiano. É o supervisor do Programa Nacional de Con-trole a Conflitos com Carnívoros de âmbito nacional. Ainda, é pesquisador associado da (OSCIP) Instituto Pró-Carnívoros, envol-vido em seus projetos de pesquisa desde 1997, atuando em diferentes ecossistemas do Brasil. Possui experiência em técnicas de captura e manejo de vida selvagem e métodos de identificação e levantamentos de espécies de mamíferos. É membro de comitês nacionais e internacionais para a conservação de espécies de carnívoros, entre eles os Grupos de Especialistas de Canídeos e de Felídeos da IUCN (União In-ternacional pela Conservação da Nature-za), sendo respectivamente coordenador do Grupo de Trabalho do Lobo-Guará na América do Sul e consultor mundial para questões ligadas a conflitos entre grandes felinos e a população humana. Desenvol-ve pesquisas na região da Canastra desde 1997. É casado com Laís Duarte Mota e pai de Luna Mota de Paula.

laís duaRte Mota é jornalista forma-da pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora em 2000. Anos depois especializou-se em Jor-nalismo Econômico e Meio Ambiente e De-sen volvimento Sustentável. Passou pelas redações mineiras da Rede Globo, traba-lhando em reportagens especiais para Glo-bo Repórter, Esporte Espetacular, Globo Esporte, Globo Rural e Globo News.

Há 5 anos é repórter da TV Cultura em São Paulo, onde compõe os quadros dos pro gramas Jornal da Cultura, Repórter Eco, Cartão Verde e Roda Viva.

Cobriu de tudo um pouco: campanhas eleitorais, crescimento da economia, des-matamento na Amazônia, jogos da Seleção Brasileira de futebol. Esteve presente em tragédias, como a queda do vôo da TAM em Congonhas e em espetáculos como o últi-mo show de BB King no Brasil. Viu muita gente sorrir e chorar em mais de 10 anos de reportagens.

Atua como colaboradora das revistas Cláudia, Brasileiros, Piauí, Globo Rural, Go Outside e Almanaque Brasil com ma-térias no Brasil e exterior.

Desde 2004 é assessora de comunicação voluntária e vice-presidente do Instituto Pró-Carnívoros, que trabalha pela prote-ção de animais como onças, lobos, jagua-tiricas, em todo o território nacional.

Laís também é autora dos livros Serra da Canastra e Uma ponte para o futuro.

adRiano gaMbaRini é fotógrafo desde 1992 com vasta experiência em fotografia de regiões remotas. Como viajante há mais de 20 anos pelo Brasil, escreveu extensos ‘diários de bordo’. Publicou dois livros de poesias, é autor fotográfico de 8 livros de arte, documenta Planos de Manejo de Uni-dades de Conservação, Projetos de Estudo de Impacto Ambiental e Expedições Cientí-ficas. Licencia, para editoras e agências, seu banco de imagens com mais de 100 mil fotografias do Brasil, da Antártida e de mais 17 países, com ênfase na biodiversi-dade, ecossistemas, cavernas, vida selva-gem, mo dos de vida e cultura de grupos étnicos, arquitetura e cidades históricas. Colunista do Blog da National Geographic Brasil e do site ambiental OECO, produz artigos para as principais revistas nacio-nais e estrangeiras. Trabalhou como fotó-grafo still de cinema para Discovery Chan-nel na França e Rússia, realizou coberturas jornalísticas on-line na Tailândia, Cambo-ja, Laos, China e Quirguistão, foi editor fotográfico e articulista de guias de turis-mo. Documenta expedições ambientais de organizações como WWF, Conservation In-ternational, The Nature Conservancy, Ter-ra Brasilis e Pró-Carnívoros. Formado em Geologia pela Universidade de São Paulo, é espeleólogo e mergulhador desde 1987. Documentou grandes expedições para ex-ploração e mapeamento de cavernas secas e submersas, assim como pesquisas de bio-espelelogia. Tornou-se referência em foto-grafias de cavernas, produzindo as princi-pais matérias para revistas e exposições fotográficas nos últimos quinze anos.

authors biography

239

RogéRio Cunha de Paula is a biologist from São Paulo, working as a government agent for National Research Center for Carnivores Conservation (Cenap), at Instituto Chico Mendes of Biodiversity Conservation within the Environmental Ministry (ICMBio/MMA). He is responsible for designing activities for the protection of Brazilian wild carnivores, like the maned wolf, in Serra da Canastra region; and the jaguar, in Bahia state. He supervises the Human-Carnivores Conflict Control National Program. He is also an associate researcher within the non-governmental Pro-Carnivoros Institute, involved on its research projects since 1997. His expertise goes through techniques for wildlife capturing and management, and methods for ecological and inventory surveys and population sampling and estimating. He is part of both national and international committees for carnivore conservation, as the Canid and Cat Specialist Groups within the IUCN (International Union for the Conservation of Nature), respectively coordinating in South America the Maned Wolf Working Group and being a world consultant for issues on conflicts between large felids and humans. He has been conducting research on Serra da Canastra region since 1997. He is married to Laís Duarte Mota and is the father of Luna Mota de Paula.

Journalist laís duaRte Mota is known for her careful and delicate writing. After graduating, in 2000, at the prestigious Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), she specialized in Economy, Environmental and Sustainable Development journalism. She has worked for the biggest TV network in Brazil, Rede Globo, in Minas Gerais, performing in special programs and reports for Globo Repórter, Esporte Espetacular, Globo Esporte, Globo Rural e Globo News. Since 2005, she is part of the staff of TV Cultura, in São Paulo, conducting reports on Jornal da Cultura, Cartão Verde, Repórter Eco and Roda Viva, some of the most important shows in this TV. Among important reports, she collects good reviews on some involving the National Soccer team, Brazil’s president interviews, economy oscillation, Amazon deforestation. She covered tragedies such as the TAM’s airplane crash in São Paulo, but also lived historical moments such as the last performance of BB King in Brazil. She had in front of her eyes many people smiling, laughing, and crying in 10 years of field reports. She also writes as freelance journalist for Cláudia, Brasileiros, Piauí, Globo Rural, Go Outside and Almanaque Brasil magazines. Since 2004 is the communication advisor of the non-governmental Instituto Pro-Carnivoros (IPC), an institution that works for the conservation of jaguars, wolves, ocelots throughout the country. For the institute she has been the vice-president for 4 years. Laís has also written two books: Serra da Canastra and Uma ponte para o futuro.

adRiano gaMbaRini is photographer and writer since 1992, with large experience in documenting isolated places. He has published two poetry and eight photography books. His activities include providing photographic material for environmental impact studies, ONG’s scientific expeditions and conservation units management. He is also a geologist, graduated from Universidade de São Paulo (USP); a speleologist and a diver. Because of that, he has photographed huge exploratory expeditions at both dry and wet caves, and actually he documents biospeleological researches. In the last 15 years, his work with caves has become reference, with many publications and expositions. Gambarini keeps an image bank of more than a hundred thousand photos of Brazil, Antarctica and other 17 countries; emphasizing biodiversity, ecosystems, caves, wildlife, culture, architecture and history. He regularly writes for National Geographic Brazil and the Website OECO, as well as contributing for various national and international magazines. Besides, he has worked as cinema still photographer for Discovery Channel in Brazil, France and Russia. He also has been part of many online reports in Thailand, Camboja, Laos, China and Kyrgyzstan. He is the editor of many tourist guides and scientific expeditions for the WWF, Conservation International, The Nature Conservancy, Terra Brasilis Institute and Pró-Carnívoros Institute.

Adriano Gambarini, Laís Duarte Mota, Rogério Cunha de Paula.