sumário summar - cm-almeida.pt 4_miolo af.… · lauching of the “malwell” game o curso de...

124
Sumário Orgulho num Património Ímpar Proud of a Unique Heritage E vão três!... com este quatro Three!... Going on Four Dia dos Munícipios com Centro Histórico Jornadas do Instituto de História da Arte da Universidade de Coimbra The “Day of Municipalities with a Historic Centre” Journeys of the Institute of the History of Art of University of Coimbra O Lançamento do Jogo “Malwell” Lauching of the “Malwell” Game O Curso de Arquitectura da ESAP no CEAMA The Architecture Degree of ESAP at CEAMA Cartografia, Geodesia, Geografia e Fotografia Cartography, Geodesics, Geography and Photography Programa das Comemorações do “Cerco de Almeida” 2009 Program of the Commemorations of the “Almeida’ Siege” 2009 2.º Simpósio das Artes de Almeida – 2009 Sacralidade e Função na reabilitação dos Passos da Via Sacra 2 nd Art Symposium of Almeida – 2009 Sacredness and Function on Rehabilitation on the Steps of Via Sacra A Nomeação das Fortificações de Almeida como Património Mundial The Nomination of the Almeida Fortifications as World Heritage Patrimónios na (de) Fronteira Heritage on (of) the Frontier Almeida en la Raya Almeida on the Raia (Spanish & Portuguesse border line) Summary 3 5 6 8 10 11 12 19 31 34 39 CENTRO DE ESTUDOS DE ARQUITECTURA MILITAR DE ALMEIDA N.º 4 – 2009 Comemorações do “Cerco”/2009; D. João VI e as Inva- sões Francesas. Seminário Internacional: “A Fortifica- ção Abaluartada como Património de Valor Universal”. O 2.º Simpósio das Artes de Almeida: Sacralidade e fun- ção na Reabilitação dos Passos da “Via Sacra” Publicação Semestral Na Capa Baluarte de Santa Barbara, visto a partir do Revelim Doble – Fotografia de Paulo Veiga com tratamento plás- tico de Armando Alves Produção Editorial Câmara Municipal de Almeida Director Presidente da Câmara Municipal de Almeida Coordenação Editorial João Campos Equipa Editorial João Marujo Paula Sousa Colaboraram neste número Alberto Péssimo, António Filipe Pimentel, Fernando Cobos-Guerra, Jaime Campos, José Emidio, João Campos, João Marujo, Luís Calheiros, Milagros Flores Román, Paula Sousa, Paulo Veiga, Pedro Dias, Rui Carita, Rui Rasquilho e Teresa Andresen Revisão João Campos Pré-Impressão A. Alves – Artes e Edições, Lda Impressão e acabamento Greca Tiragem 1000 Exemplares ISSN 1646-9089 Depósito Legal n.º 272003/08 CEAMA Publicação da Câmara Municipal de Almeida ACEP – Área Cultural, Estudos e Património Quartel das Esquadras n.º 5 6350- 130 Almeida [email protected] Telefone: 271 571993 Os artigos da revista CEAMA são da exclusiva respon- sabilidade dos respectivos autores, e não reflectem, ne- cessariamente, o ponto de vista da direcção da publica- ção ou da Câmara Municipal de Almeida. Os textos e as imagens desta publicação não podem ser reproduzidos sem autorização prévia da Câmara Municipal de Almeida. 09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 1 4/16/12 10:12 AM

Upload: truongthu

Post on 30-Jul-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Sumário

Orgulho num Património ímparProud of a Unique Heritage

E vão três!... com este quatroThree!... Going on Four

Dia dos Munícipios com Centro Histórico Jornadas do Instituto de Históriada Arte da Universidade de CoimbraThe “Day of Municipalities with a Historic Centre” Journeys of the Institute of the Historyof Art of University of Coimbra

O Lançamento do Jogo “Malwell”Lauching of the “Malwell” Game

O Curso de Arquitectura da ESAPno CEAMAThe Architecture Degree of esAPat CeAMA

Cartografia, Geodesia, Geografia e FotografiaCartography, Geodesics, Geographyand Photography

Programa das Comemorações do “Cerco de Almeida” 2009Program of the Commemorations of the “Almeida’ siege” 2009

2.º Simpósio das Artes de Almeida – 2009Sacralidade e Função na reabilitação dos Passos da Via Sacra2nd Art symposium of Almeida – 2009sacredness and Function on Rehabilitation on the steps of Via sacra

A Nomeação das Fortificações de Almeida como Património MundialThe Nomination of the Almeida Fortifications as World Heritage

Patrimónios na (de) FronteiraHeritage on (of) the Frontier

Almeida en la RayaAlmeida on the Raia (spanish & Portuguesse border line)

Summary3

5

6

8

10

11

12

19

31

34

39

Centro de estudos de ArquiteCturA MilitAr de AlMeidA

N.º 4 – 2009

Comemorações do “Cerco”/2009; D. João VI e as Inva-sões Francesas. Seminário Internacional: “A Fortifica-ção Abaluartada como Património de Valor Universal”. O 2.º Simpósio das Artes de Almeida: Sacralidade e fun-ção na Reabilitação dos Passos da “Via Sacra”Publicação Semestral

Na Capa Baluarte de santa Barbara, visto a partir do revelim doble – Fotografia de Paulo Veiga com tratamento plás-tico de Armando Alves

Produção EditorialCâmara Municipal de Almeida

DirectorPresidente da Câmara Municipal de Almeida

Coordenação EditorialJoão Campos

Equipa EditorialJoão MarujoPaula sousa

Colaboraram neste númeroAlberto Péssimo, António Filipe Pimentel, Fernando Cobos-Guerra, Jaime Campos, José emidio, João Campos, João Marujo, luís Calheiros, Milagros Flores román, Paula sousa, Paulo Veiga, Pedro dias, rui Carita, rui rasquilho e teresa Andresen

RevisãoJoão Campos

Pré-ImpressãoA. Alves – Artes e edições, lda

Impressão e acabamentoGreca

Tiragem1000 exemplares

ISSN 1646-9089

Depósito Legal n.º 272003/08

CEAMAPublicação da Câmara Municipal de AlmeidaACeP – Área Cultural, estudos e Patrimónioquartel das esquadras n.º 56350- 130 [email protected]: 271 571993

os artigos da revista CeAMA são da exclusiva respon-sabilidade dos respectivos autores, e não reflectem, ne-cessariamente, o ponto de vista da direcção da publica-ção ou da Câmara Municipal de Almeida. os textos e as imagens desta publicação não podem ser reproduzidos sem autorização prévia da Câmara Municipal de Almeida.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 1 4/16/12 10:12 AM

Paisagem de AlmeidaThe Landscape of Almeida

D. João IV e as Invasões FrancesasKing D. João VI and the French Invasions

A Porta Central do Reino: Relevância epistemológica das Fortificações de AlmeidaThe Kingdom’s Central Gate: Epistemological Relevance of Fortifications in Almeida

Fortificações Abaluartadas de AlmeidaAlmeida’s Bulwarked Constructions

A Paisagem Histórica de AlmeidaThe Historic Landscape of Almeida

54

58

70

87

108

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 2 4/16/12 10:12 AM

Em torno do projecto CEAMA germina a sustentação de actividades que poderão dar a Almeida uma vertente de qualificação específica, no quadro dos sítios com interes-se patrimonial. A potenciação de actividades em torno da Fortaleza – Monumento maior de toda a nossa Região –, mas igualmente congregando as atenções para o que se passa no Concelho no quadro da Arquitectura Militar, é a direcção primeira da visão que importa ter para dinamizar actividades.Depois, explorando convenientemente a estratégica loca-lização de Almeida, em torno do CEAMA há que torná-la num pólo de atracção mais abrangente, dada a proximida-de dos monumentos dos Municípios vizinhos, portugue-ses ou espanhóis.As infraestruturas de que já dispõe capacitam o Centro de Estudos para acolher actividades baseadas em pro-tocolos que vêm sendo celebrados com parceiros que muito nos honram, seja o Instituto de História de Arte da Universidade de Coimbra ou o Curso de Arquitectura da Escola Superior Artística do Porto ou, noutro âmbito institucional, albergando uma Delegação da Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico e mantendo cooperação com o Arquivo Histórico Militar e outras estruturas especializadas. Neste número dá-se conta de algumas notícias a respeito, incluindo a chamada de atenção para um prometedor Seminário Internacional sobre o Valor Excepcional da Arquitectura Abaluartada.No programa das Comemorações do “Cerco” deste ano inclui-se, ainda, o 2º Simpósio das Artes de Almeida.O Centro de Estudos será acompanhado, a partir deste Verão, do novo Museu Histórico e Militar, instala-do num Baluarte de S. João de Deus profundamente acarinhado por um projecto vasto de reabilitação e refuncionalização. Será, sem dúvida, o complemento indispensável ao enquadramento da nossa riqueza histórica e patrimonial. Todos estes equipamentos ganharão trabalhando em consonância, aproveitando as sinergias que o Monumento, a Vila e as suas gentes oferecem.Finalmente, é meu desejo sobretudo assinalar, no quarto número deste projecto que se vem construindo de raiz, a coragem de avançarmos com o dossiê de candidatura das Fortificações de Almeida a Patri-mónio Mundial / UNESCO.Em 21 de Maio passado, no Palácio das Necessidades, comprometemo-nos perante os Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Cultura, o Embaixador de Portugal junto da UNESCO e o Presidente da Comissão Nacional da UNESCO, e agora é com muito orgulho que aqui registo a disponibilização e publicação dos materiais para integrar, no primeiro ciclo (e com Elvas, do lado português), a Candidatura em série das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola.Podemos ter cada vez mais orgulho na nossa Terra.

António Baptista RibeiroPresidente da Câmara Municipal

Orgulho num Património ímpar

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 3 4/16/12 10:12 AM

The CEAMA project originates the sustentation of activities that might provide Almeida with specific qualifica-tions, within the framework of places with a patrimonial interest. Potentiating activities around the Fortress – the biggest Monument in our Region –, but equally congregating attentions for the events taking place on the Municipality related to Military Architecture, is the first step of the vision one must have to promote activities.Afterwards, conveniently exploring the strategic localization of Almeida, one must transform it into a broad-er attraction pole, given the proximity with monuments in neighboring Portuguese and Spanish Councils.The already existing infrastructures provide the Study Centre with the capacity to welcome activities based on protocols that have been celebrated with highly honorable partners, such as the Instituto de História de Arte of the University of Coimbra or the Architecture Degree of Escola Superior Artística do Porto or, in an institutional scope, lodging a Delegation of the Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico (Portuguese Association of Municipalities with Historic Centre) and maintaining the cooperation with the Arquivo Histórico Militar (Military Historic Archive) and other expert structures. On this issue, some news on these matters is put forward, including a particular emphasis for the promising International Seminar on the Outstanding Value of the Bulwarked Architecture.Within the program of this year’s Commemorations of the “Siege”, there is also the 2nd Symposium of Arts of Almeida. The Study Center will be accompanied by, from this summer on, the new Historical and Military Museum), installed on S. João de Deus’ Bulwark, deeply cherished by a vast project of rehabilitation and refunc-tionalization. Undoubtedly, this will act as the indispensable complement for the framing of our historic and patrimonial wealth. All these equipments will gain if they work in consonance, taking advantage of synergies that the Monument, the Village and their people offer.Finally, it is my wish to highlight, on the fourth issue of this project that has been built from scratch, the cour-age of continuing with the application process of Almeida’s Fortifications to World Heritage / UNESCO.On last 21st May, on Palácio das Necessidades, we committed before the Ministers of Foreign Affairs and of Culture, the Portugal Ambassador to UNESCO and of the President of UNESCO’s National Commis-sion, and now, proudly, I register the availability and publishing of the materials to be integrated within the first cycle (and along with Elvas, on the Portuguese side), the Candidacy in series of the Bulwarked Fortifications of the Portuguese-Spanish Raia (border line).We are able to be prouder of our Land.

António Baptista RibeiroMayor

Proud of a Unique Heritage

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 4 4/16/12 10:12 AM

5

Com a saída do presente número da nossa revista deixaremos de referir o lançamento da edição an-terior. Ao fim da terceira prova alcançada, a nossa atitude é a de considerar normal e necessariamente útil a disponibilização desta produção especializada no panorama cultural português.A revista CEAMA tem feito um percurso de reco-nhecimento do seu interesse junto de um público exigente e motivado. A colaboração que tem inclu-ído garante-lhe um nível de aceitação assinalável por parte dos meios críticos e académicos.Queremos, porém, fazer melhor. Continuaremos a trabalhar com esse fito.Para o próximo número, o quinto, cujo conteúdo natural será o resultado do Seminário Internacio-nal previsto para as Comemorações do Cerco de Almeida de 2009, augura-se um valor superlativo, dada a qualidade e novidade das comunicações anunciadas.A apresentação da CEAMA 3 teve lugar em con-ferência de imprensa, no início das “Jornadas do Instituto de História de Arte da Universidade de Coimbra”, coincidindo com a comemoração do Dia dos Municípios com Centro Histórico. Na imagem, o Presidente da Câmara de Almeida e o Alcalde de Ciudad Rodrigo, respectivamente ladeados pelo Prof. Doutor Pedro Dias e pelo Coordenador da re-vista e Consultor do Município, Arq. João Campos.

E vão três!... com este quatroThree!... Going on Four

With the publishing of the current issue of our maga-zine, we will no longer make reference to the pub-lishing of previous editions. At the end of the third achieved test, our attitude is considering normal and necessarily useful to make this expert production, within Portuguese cultural panorama, available.The CEAMA magazine has witnessed its interest be-ing recognized by a demanding and motivated pub-lic. The collaboration that it has included ensures a great acceptance level near critics and scholars. We intend, nevertheless, to perform better. We will continue to work towards that goal. For our next issue, the fifth, the content of which will naturally result of the “International Seminar related to the Commemorations of Almeida’s Siege – 2009”, we foresee a superlative value, given the quality and novelty of the speeches announced. The presentation of CEAMA 3 took place during a press conference, in the beginning of “Jornadas do Instituto de História de Arte da Universidade de Coimbra” (Journeys of the History of Art Institute of University of Coimbra), which coincided with the cel-ebration of the Day of Municipalities with a Historic Centre. The image shows the Mayor of Almeida and the Alcalde of Ciudad Rodrigo, respectively standing side by side with Professor Pedro Dias and with the Magazine’s Coordinator and Consultant for the Mu-nicipality, Architect João Campos.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 5 4/16/12 10:12 AM

Dia dos Munícipios com Centro Histórico Jornadas do Instituto de História da Arte da Universidade de CoimbraThe “Day of Municipalities with a Historic Centre” Journeys of the Institute of the History

Como um dia não seria suficiente para um pro-grama tão extenso, o calendário foi antecipado para sexta-feira, 27 de Março, a juntar ao dia de sábado.O percurso guiado passou pelas fortificações abaluartadas de Almeida, Ciudad Rodrigo e Fuerte de la Concepción, bem como por Castelo Mendo, onde e em qualquer dos casos, as lições do passado e os contextos históricos se configu-rarão enquanto recursos singulares e poderosos alicerçadores das especificidades históricas dos territórios. Fez parte das Jornadas a visita aos dois interessantes tectos mudéjar das Igrejas de Escarigo e de Vilar Formoso. Embora noutro con-texto, a arte mudéjar é, igualmente, um poderoso fixador da identidade da Raia, fazendo parte do imenso patrimonio culural que a unifica.No sábado, na sessão solene, depois da interven-ção do Sr. Presidente da Câmara, Prof. Anónio Baptista Ribeiro, cuja ênfase foi colocada na im-portância e particularidades do Centro Histórico de Almeida, destacou-se a Conferência do Prof. Doutor Pedro Dias, chamando a atenção para a importância da preservação dos Centros Históri-cos e da História dos povos que neles habitam, ao mesmo tempo que doou, da sua colecção par-ticular, uma planta de Almeida anotada por ele e pelo Prof. Nogueira Gonçalves, numa das visitas de estudo realizadas a Almeida em 1973.

Paula Sousa.

28th March, the birthday date for Alexandre Herculano, the famous Historian, also marks the Day of Munici-palities with a Historic Centre; within this context, Al-meida’s City Hall, in collaboration with the Instituto de História da Arte (History of Art Institute) of University of Coimbra have celebrated the days with tours to several Historic Centers on the Frontier.Since a day would not suffice for such a long program, the schedule was extended to Friday and Saturday. The guided tour went through the bulwarked fortifica-tions of Almeida, Ciudad Rodrigo and Fuerte de la Con-cepción and Castelo Mendo, where and on each case, the lessons from the past and the historical contexts are transformed into unique and powerful resources,

O dia 28 de Março, dia de aniversário de Alexndre Herculano, insigne Historiador, assinala também o Dia dos Munícipos com Centro Histórico. Neste âmbito a Câmara Municipal de Almeida, em co-laboração com o Instituto de História da Arte da Universidade de Coimbra, celebraram o dia com visitas a vários Centros Históricos da Raia.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 6 4/16/12 10:12 AM

7

foundations of the historic specificities of territories. By taking part of the tour, participants were further able to contact and contemplate with the interesting Mudéjar ceilings of the churches in Escarigo and Vilar Formoso. Although in a different context, this type of art is equally a powerful landmark for the identity of the Raia (border line), being a part of the immense cultural heritage which unites it. On Saturday, after the Mayor’s intervention, Professor António Baptista Ribeiro, who placed an emphasis on the importance and uniqueness of the Historic Centre of Almeida, one should also highlight the intervention by Professor Pedro Dias, who drew attentions to the pres-ervation of Historic Centers and of the History of the people there residing and who also donated a plan of Almeida from his personal collection, featuring annota-tions by him and Professor Nogueira Gonçalves, taken during one of the field trips made to Almeida (1973).

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 7 4/16/12 10:12 AM

O Lançamento do Jogo “Malwell”Lauching of the “Malwell” Game

Já está disponível o jogo inventado pelo Grupo OHA (Oficina de História e Arqueologia, um clube escolar) da Escola EB 2, 3/S de Vilar Formoso. Desse traba-lho empenhado demos conta no anterior número da revista, assinalando a participação nos trabalhos ini-ciais do Seminário do ano passado, nas Comemora-ções do “Cerco de Almeida”.A bonita produção foi apresentada publicamente com a presença dos seus autores e dos responsá-veis escolares e municipais que, desde o início, aca-rinharam esta actividade em torno da compreensão e salvaguarda dos valores do nosso Património.A importância atribuída pelo Município às acções que possam representar valor acrescentado na aprendi-zagem da Cidadania, mereceu que a evocação do Dia Internacional dos Museus, que teve lugar no últi-mo dia 18 de Maio de 2009, tivesse como ponto alto a cerimónia em que foram mais uma vez protagonis-tas os alunos da Escola de Vilar Formoso, nomeada-mente o Bruno Filipe, o Paulo Seixas, o Rodrigo Teles e o Vítor Costa. Eles e os seus colegas fizeram a festa maior da cele-bração desse Dia, na Sala Polivalente do Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 8 4/16/12 10:12 AM

9

It is already available the game invented by the Group HAO (History and Archaeology Office, a students’ club) of the School EB 2, 3/S of Vilar Formoso. This engaged work was noticed in our last issue, pointing the participation in the initial session of the Seminar that took place last year, in the Commemorations of the “Siege of Almeida”.The pretty production was publicly demonstrated, in the presence of their authors and the respon-sible of the School and the Mayor, which, from the beginning, took a special care of that activity, promoting the comprehension and safeguarding of the values of our Heritage. The importance attributed by the Municipality to those actions that can represent added value in the learning process for Citizenship deserved that the ceremony of the evocation of the International Day of Museums, celebrated in the last 18th of May of 2009, had its highest point with the pro-tagonists Bruno Filipe, o Paulo Seixas, o Rodrigo Teles e o Vítor Costa. They, and their colleagues from de Vilar Formoso School, made the major celebration feast of that Day, in the Polyvalent Space of CEAMA - the Stu-dies Centre of Military Architecture of Almeida.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 9 4/16/12 10:12 AM

O Curso de Arquitectura da ESAP no CEAMAThe Architecture Degree of ESAP at CEAMA

O CEAMA foi anfitrião de um grupo de cerca de 40 alunos do Curso de Arquitectura da Escola Superior Artística do Porto, acompanhados pelos Professores Cidália Henriques e Nicolau Brandão, em visita de estudo aos sítios de interesse histórico e arquitectó-nico do Município.Na perspectiva de ser estabelecido um protocolo de relacionamento entre o Curso de Arquitectura daque-

la Escola e o CEAMA, esta jornada revelou-se muito promissora pelo interesse que despertou. Será opor-tuna a discussão de um programa de actividades preparadas com um sentido eminentemente prático, beneficiando ambas as Instituições e, sobretudo, tor-nando-se um instrumento de grande utilidade para os objectivos académicos e cívicos em presença.

CEAMA was the amphitryon of a group of some 40 students of Architecture of the Escola Superior Artís-tica do Porto, accompanied by Professors Cidália Henriques and Nicolau Brandão, visiting the sites of historical and architectonic interest in the Municipal territory.With the aim of getting a relationship protocol be-tween the Architecture Degree of that School and CEAMA, the journey accomplished look very promis-ing for the interest that was motivated. It will be time for the discussion of a program of activities prepared with an eminent practical sense, to benefit both insti-tutions and, mainly, becoming an instrument of great utility for the academic and civic purposes that are in presence.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 10 4/16/12 10:12 AM

11Cartografia, Geodesia, Geografia e FotografiaCartography, Geodesics, Geography and Photography

Uma excelente exposição temporária, patrocinada pelo Instituto Geográfico Português, ocupou nos meses de Primavera a bela sala do corpo da guarda das Portas Interiores de Santo António.A sua inauguração, que coincidiu com a comemo-ração do Dia dos Municípios com Centro Histórico (28 de Março), e a que se dignou estar presente o Director-Geral do Instituto, Cor. Eng. Geógrafo Armé-nio Castanheira, trouxe-nos o contacto com a visão científica da representação gráfica que importa ao registo do património edificado, para além de nos brindar com a presença de instrumentos e objectos científicos de grande valor histórico e artístico.

One excellent temporary exhibition, sponsored by the Portuguese Geographic Institute, has occupied, during the spring months, the beautiful space of the corps of guard of the Interior Gate of Santo António.For its inauguration, coincidently with the Day of the Municipalities with Historic Centre (28th of March), one could count with the presence of the Deneral Di-rector of the Institute, Col. Eng. Geographer Arménio Teixeira. The exhibition brought us the contact with the scientific vision of the graphical representation that interests built heritage, and also offered us the presence of scientific instruments and objects of gre-at historic and artistic value.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 11 4/16/12 10:12 AM

SEMINÁRIO INTERNACIONAL INTERNATIONAL SEMINARRECRIAÇÃO HISTÓRICA E 2.º SIMPÓSIO DAS ARTES HISTORICAL RE-ENACTMENT and 2nd SyMPOSIUM OF ARTS28 | 29 | 30 AGOSTO AUGUST 2009

28 AGOSTO AUGUST SExTA-FEIRA FRIDAy

09H30 – SEMINÁRIO INTERNACIONAL INTERNATIONAL SEMINAR: “A FORTIFICAÇÃO ABALUARTADA COMO PATRIMÓNIO DE VALOR UNIVERSAL” “BULWARKED FORTIFICATIONS AS HERITAGE OF UNIVERSAL VALUE”Local: CeAMA, Portas exteriores de santo António external Gate of santo António – recepção dos participantes reception of the participants

10H00 – 1.ª SESSÃO 1st SESSION– Abertura openning Presidente da Câmara Municipal the Mayor

10H10 – DANUTA KLOSEK KOzLOWSKA (POLÓNIA POLAND)Zamosc – Cidade ideal-Fortaleza ideal Zamosc – ideal City-ideal Fortress

10H30 – NUR AKIN (TURqUIA TURKEy)As Fortificações Costeiras de Constantinopla contra Bizâncio: as muralhas da cidade de Galata e a Fortaleza de rumeli Hisari the Coastal Fortifications of Constantinople against Byzance: Galata City Walls and rumeli Hisari Fortress

10H50 – ADRIANO VASCO RODRIGUES E / AND JOSé PAULO BERGER (PORTUGAL PORTUGAL)A Fortaleza de Alorna the Alorna Fortress

11H10 – PAUSA CAFé COFFEE BREAK

11H30 – MICHEL VAN DER MEERSCHEN (BéLGICA BELGIUM)As Fortificações da Cidade de Marraquexe the Fortifications of the City of Marrakesh

11H50 – PEDRO DIAS (PORTUGAL PORTUGAL)novos dados sobre a Fortificação da ilha de Moçambique new data about Mozambique island Fortification

Programa das Comemorações do “Cerco de Almeida” 2009Program of the Commemorations of the “Almeida’ Siege” 2009

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 12 4/16/12 10:12 AM

13

12H10 – ASTRID DEBOLD-KRITTER (ALEMANHA GERMANy)A Cidade-fortaleza de teresin the City-fortress of teresin

12H30 – DISCUSSÃO E NOTAS DEBATE AND NOTES

13H00 – ALMOÇO LUNCH

14H00 – HASTEAR BANDEIRAS NA CâMARA MUNICIPAL FLAGS HOISTING IN THE CITy HALL

15H00 – VISITA TéCNICA DO SEMINÁRIO TECHNICAL VISIT OF THE SEMINAR (FUERTE DE LA CONCEPCIÓN E CIUDAD RODRIGO)

18H30 – SEMINÁRIO: 2.ª SESSÃO SEMINAR: 2nd SESSION – SALEH LAMEI (EGIPTO EGyPT)Fortificações durante o estado Mameluco. A Cidadela qa’itbay de Alexandria Fortifications during Mamluk state. the qa’itbay Citadel of Alexandria

18H50 – GIORA SOLAR (ISRAEL ISRAEL)Fortificações dos Cruzados em israel Crusaders Fortifications in israel

19H10 – BRUNO MALDONER (ÁUSTRIA AUSTRIA)o caso de Hohensalzburg the case of Hohensalzburg

19H30 – DISCUSSÃO E NOTAS DEBATE AND NOTES

19H30 – ARREAR BANDEIRAS NA CâMARA MUNICIPAL FLAGS STRIKING IN THE CITy HALL

20H00 – JANTAR DINNER21H00/24H00 – RECRIAÇÃO HISTÓRICA HISTORICAL RE-ENACTMENTColocação de sentinelas nas portas da Vila. rondas Putting sentries in the Gates. Patrols

24H00 – ANIMAÇÃO MUSICAL NA ESCADARIA DO qUARTEL DAS ESqUADRAS MUSICAL ANIMATION IN THE STEPS OF THE qUARTEL DAS ESqUADRAS

29 AGOSTO AUGUST SÁBADO SATURDAy

09H00 – HASTEAR BANDEIRAS NA CâMARA MUNICIPAL FLAGS HOISTING IN THE CITy HALL

10H00/12H00 – RECRIAÇÃO HISTÓRICA HISTORICAL RE-ENACTMENTdeslocação do exército imperial Francês através do percurso assinalado raid by the French imperial Army trough the walkway marked in the map

Fuerte de la Concepción Cuidad Rodrigo

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 13 4/16/12 10:12 AM

14

Combates de infantaria e de Artilharia ao longo do percurso Combats of infantry and Artillery along the wayAssalto do exército imperial Francês à barricada situada no centro da aldeia de Freineda (ver figura)Assault by the French imperial Army to the barricade in the centre of the village of Freineda (see figure)Conquista da barricada e recuo do exército luso-britânico da aldeiaConquest of the barricade and retreat of the Portuguese-British Army from the village

12h00 – CerImónIA evoCAtIvA em FreInedA, junto à CASA WellInGton e Ao monumento ComemorAtIvo, COM A PRESENÇA DE TODAS AS FORÇAS PARTICIPANTES evoCAtIve Ceremony In FreInedA, In Front oF the houSe oF WellInGton And the CommemorAtIve monument, WIth the PArtICIPAtIon oF All PArtICIPAnt ForCeS

13H00 – ALMOÇO AO AR LIVRE NA ERMIDA DE FREINEDA OPEN-AIR LUNCH AT ERMIDA DE FREINEDA

14H30 – REGRESSO A ALMEIDA RETURN TO ALMEIDA

15H00 – SEMINÁRIO: 3.ª SESSÃO SEMINAR: 3rd SESSION – MILAGROS FLORES ROMÁN (E. U. DA AMéRICA U. S. OF AMéRICA)As Fortificações Abaluartadas de san Juan (Porto rico) san Juan Bulwarked Fortifications (Puerto rico)

15H20 – THOMAS DRACKy (REPúBLICA CHECA CzECH REPUBLIC)

15H40 – ANAND SIDI BAWA (íNDIA INDIA)Fortalezas Portuguesas na Costa ocidental da Índia Portuguese Forts on the West Coast of india

16H00 – SIDH MENDIRATTA E AND JOAqUIM SANTOS (PORTUGAL PORTUGAL)As Fortificações das ilhas de diu e tiswadi (1510-1961) the Fortifications of the islands of diu and tiswadi (1510-1961)

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 14 4/16/12 10:12 AM

15

16H20 – PAUSA CAFé COFFEE BREAK

16H40 – VASCO MASSAPINA (PORTUGAL PORTUGAL)Baluartes de Beja – estrutura e evolução das muralhas da cidade Beja bastions – structure and evolution of the city walls

17H00 – IAN HOCKING (AUSTRÁLIA AUSTRÁLIA)

17H20 – BETINA ADAMS (BRASIL BRAzIL)o sistema defensivo da ilha de santa Catarina: consolidando a presença portuguesa nas Américas the defensive sistem of santa Catarina island: consolidating the Portuguese presence in Américas

17H40 – FERNANDO COBOS-GUERRA (ESPANHA SPAIN)A Fronteira de Portugal e a raia luso-espanhola the Frontier of Portugal and the Portuguese-spanish Border-line

18H00 – DISCUSSÃO E FIM DO SEMINÁRIO DEBATE AND END OF SEMINAR

18H15 – ENCERRAMENTO PELO PRESIDENTE DO MUNICíPIO CLOSING By THE MAyOR

18H30 – INAUGURAÇÃO DO MUSEU HISTÓRICO-MILITAR INAUGURATION OF THE HISTORICAL-MILITARy MUSEUM Baluarte de são João de deus são João de deus Bulwark

19H00 – CERIMÓNIA DE ATRIBUIÇÃO DE MEDALHAS A ELEMENTOS DO GRHMA CEREMONy OF IMPOSING MEDALS TO THE GRHMA MEMBERS

19H30 – ARREAR BANDEIRAS NA CâMARA MUNICIPAL FLAGS STRIKING IN THE CITy HALL

20H00 – JANTAR DINNER

22H00 – RECRIAÇÃO HISTÓRICA HISTORICAL RE-ENACTMENTinstalação do exército imperial Francês nas posições de assalto. instalação do exército luso-Britânico nas posições de defesa das muralhas de Almeida Positions of the French imperial Army for the assault. Position of the Portuguese-British Army to the defence of the walls of Almeida FortressAssalto e defesa da Vila de Almeida. Fecho das portas de s. Francisco e retirada do exército imperial Francês Assault and defence of the Almeida stronghold. Closing of the são Francisco Gate and retreat of the French imperial Army

23H30 – FIM DAS ACTIVIDADES NOCTURNAS END OF NIGHT ACTIVITIES24H00 – FOGO DE ARTIFICIO FIREWORKSorganizado pela Comissão de Festas de n. sr.ª das neves, em colaboração com o Município organized by the Commission of the Festivities of our lady of neves, with the collaboration of the City Hall

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 15 4/16/12 10:12 AM

16

00H30 – ANIMAÇÃO MUSICAL COM OS “RILUFE” MUSICAL ANIMATION WITH THE “RILUFE”da responsabilidade da Comissão de Festas na Área Festiva, junto à Porta nova organized by the Commission of the Festivities, in the Party Area, near the “new Gate”

30 DE AGOSTO AUGUST DOMINGO SUNDAy

09h00 – CerImónIA oFICIAl de hASteAr bAndeIrAS nA CâmArA munICIPAl, Com A PreSençA dAS AutorIdAdeS CIVIS E MILITARES oFFICIAl Ceremony oF hoIStInG FlAGS In the CIty hAll, In the PreSenCe oF CIvIlIAn And MILITARy AUTHORITIES

09h30 – deSFIle e CerImónIA evoCAtIvA nA PrAçA AltA, bAluArte de SAntA bárbArA PARADE AND EVOCATIVE Ceremony In the hIGh ArmS SquAre, SAntA bárbArA bAStIon

10H30 – RECRIAÇÃO HISTÓRICA HISTORICAL RE-ENACTMENT

desfile das forças presentes até às portas de s. Francisco (ver figura) Parade of the military forces until the Gate of são FranciscoPosicionamento do exército imperial francês à entrada das portas de s. Francisco. Posicionamento do exército luso-britânico na defesa das muralhas e das portas Positions of the French imperial Army in front of the Gate of são Francisco. Positions of the Portuguese-British Army defending the curtains and the Gateobstáculos no percurso de combate (figura abaixo) e instalação do último reduto obstacles in the battle walk (figure bellow) and installation of the last redoubt

11H00 – RECRIAÇÃO HISTÓRICA HISTORICAL RE-ENACTMENT

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 16 4/16/12 10:12 AM

17

Combates de artilharia e mosquete; assalto e entrada do exército imperial Francês pelas Portas de s. Francisco; combates através das ruas e muralha da fortaleza. Assalto ao último reduto e explosão do paiol (ver figura na página anterior) Combats with artillery and muskets, assault and entry in the Gate of são Francisco by the French imperial Army; combats in the streets and curtains of the fortress. Assault to the last redoubt and explosion of the powder magazine (see figure in the previous page)

12H00 – FORMAÇÃO DAS FORÇAS PRESENTES. CERIMÓNIA DE AGRADECIMENTO AOS PARTICIPANTES E DISTRIBUIÇÃO DE MEDALHAS COMEMORATIVAS PRESENTATION OF THE FORCES IN PRESENCE. CEREMONy OF THANKS AND DISTRIBUTION OF COMMEMORATIVE MEDALS

12H30 – MISSA MASS

13h30 – Almoço (junto à PortA novA) LUNCH (NEAR PORTA NOVA)

16H00 – APRESENTAÇÃO PúBLICA DO DOSSIê DE CANDIDATURA DAS FORTIFICAÇõES DE ALMEIDA A PATRIMÓNIO MUNDIAL – UNESCO PUBLIC LAUNCHING OF THE DOSSIER FOR THE CANDIDACy OF ALMEIDA’S FORTIFICATIONS AS UNESCO WORLD HERITAGELocal: CeAMA, Portas exteriores de santo António external Gate of santo António– João Campos, Coordenador do dossiê Coordinator of the dossier– Adriano Vasco rodrigues, decano dos Professores do Município dean of the professors of the Municipality– José Miguel Correia noras, Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico Portuguese Association of the Municipalities with Historical Centres– António Baptista ribeiro, Presidente da Câmara Municipal MayorASSINATURA DO PROTOCOLO ENTRE A CâMARA MUNICIPAL DE ALMEIDA E A ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE MUNICíPIOS COM CENTRO HISTÓRICO PARA A CRIAÇÃO DA SUA DELEGAÇÃO NO CEAMA SIGNATURE OF A PROTOCOL BETWEEN THE munICIPAlIty oF AlmeIdA And the PortuGueSe ASSoCIAtIon oF the munICIPAlItIeS WIth hIStorICAl CentreS, to CREATE ITS DELEGATION AT CEAMA

17H00 – 2.º SIMPÓSIO DE ARTES DE ALMEIDA – “ICONOGRAFIA DO SAGRADO E ARTE PúBLICA” 2nd SyMPOSIUM OF ARTS OF ALMEIDA – “ICONOGRAPHy OF THE SACRED AND PUBLIC ART”Com a participação dos Autores dos retábulos, Pintores With the participation of the retables Authors, the PaintersJosé emídio, Alberto Péssimo e and luís CalheirosConferências pelas especialistas em História da Arte (docentes de Arquitectura da escola superior Artística do Porto - esAP) lectures by the specialists in History of Art (Professors of Architecture at esAP)Cidália da Cruz Henriques e and Fátima Marques Pereira

18h00 – InAuGurAção dAS PInturAS doS retábuloS doS PASSoS dA “vIA SACrA”, Com bênção doS 3 nIChoS Pelo PÁROCO DE ALMEIDA InAuGurAtIon oF the PAIntInGS oF the PAnelS oF “the StePS oF vIA SACrA”, WIth benedICtIon OF THE 3 NICHES By THE ALMEIDA’ PRIEST- rua Hintze ribeiro (às Portas interiores de santo António)- rua direita- Praça de são João

FIM DAS COMEMORAÇõES END OF THE COMMEMORATIONS

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 17 4/16/12 10:12 AM

18

A arquitectura abaluartada surgiu após a experimen-tação das inovadoras atitudes do Renascimento. A rápida estabilização das suas originaiscaracterísticas aconteceu numa conjuntura em que a arte da guerra conheceu uma rápida evolução.A excelência do “estilo” abaluartado, como resposta à função arquitectónica, impôs-se como um verda-deiro método internacional de construção. Por todo o lado, e praticamente da mesma maneira, europeus e mogóis, otomanos ou chineses organizaram os lu-gares estratégicos com formas canónicas que valida-ram a sua existência ao longo de quase quatro sécu-los. Podemos assim dizer que se trata, com algumas variantes regionais, da mais persistente presença de um tipo de Património, quer do ponto de vista tem-poral, quer pela abrangência da sua dispersão por todos os cantos do Universo. De facto, o Baluarte é o ícone, internacionalmente reconhecível, da Arqui-tectura da primeira era da Globalização, inaugurada por Portugal a partir do século XV. Durante séculos, o poder e a sua semiologia passaram pela capacidade de construir dessa forma.O Seminário Internacional tem lugar num dos mais qualificados exemplares portugueses de arquitectura abaluartada. Pretende-se sensibilizar os participan-tes para a importância e significado das fortificações de Almeida num contexto internacional e, simultane-amente, captar experiências e contributos de varia-das proveniências. Os convidados abrangem mais de uma dúzia de países, esperando-se um enrique-cedor progresso para todos sobre o tema escolhido.

The bulwarked architecture has appeared after the experiments of the innovative attitudes of the Renais-sance. The rapidity of the stabilization of its original characteristics happened in a circumstance when the art of war got a fast evolution.The excellence of the so-called “bulwarked style”, as response to the architectonic function, has imposed itself as a true international method of construction. Everywhere, and quite in the same manner, Europe-ans and Moguls, Ottomans and Chinese people or-ganised strategic places with canonical forms, which validated their existence during almost four centuries. We can therefore say that, with some regional vari-ants, we are in the presence of the most persistent type of Heritage, being from the chronological point of view, or by the one of its wider spread all over the world. In fact, the Bulwark is the icon, internationally recognized, of the Architecture of the first Globalisa-tion era, inaugurated by Portugal from the 15th Cen-tury. Throughout hundreds and hundreds of years, power and its semiotics were supported by the ca-pacity to build that way.The International Seminar takes place in one of the most qualified exemplars of Portuguese bulwarked architecture. We intend to induce the participants into the importance and significance of the Almeida fortifications, in an international context and, simulta-neously, to seize experiences and contributions from different provenances. Our guests come from more than a dozen countries, and we are sure that all of us will get a fruitful progress on the theme.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 18 4/16/12 10:12 AM

192.º Simpósio das Artes de Almeida – 2009Sacralidade e Função na Reabilitação dos Passos da Via SacraJoão Campos *

Localização dos NichosLocation of the Niches

A – Praça de S. JoãoB – Rua DireitaC – Rua do Jardim(a Santo António)

Via Sacra que subsistem no espaço urbano de Almeida.Ainda existem três elementos arquitectónicos, dos que fariam parte da marcação do percurso da procissão do Senhor dos Passos, nas ruas da Praça-forte. Não encontrámos dados explicativos para a escassez do número dos nichos e/ou de outras marcas que completariam o conjunto das estações do roteiro religioso. E, embora ainda hoje-em-dia se realize a grande procissão qua-resmal, tão pouco ela decalcará uma memória que se terá perdido, ou sequer mesmo utiliza os nichos existentes para a montagem do aparato cénico da manifestação religiosa.

Depois da experiência havida no ano passado, em que se realizou o 1º Simpósio das Artes em Almeida, dedicado à Escultura, propôs-se este ano a concretização de um motivo de congre-gação em torno da temática artística, desta vez centrada sobretudo na Pintura.Não se trata, porém, de uma expressão pictóri-ca qualquer, nem a intervenção se queda apenas pelo teor daquela arte. De facto, a proposta é mais abrangente, convocando na mesma acção os aspectos do Património construído e do Patri-mónio Imaterial, plasmados na Arte Pública que se pretende recuperar através da intervenção e recuperação estética e funcional dos Passos da

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 19 4/16/12 10:12 AM

20

O Nicho da Praça de S. JoãoNa Praça de S. João mantém-se, “adossado no ângulo sudeste um Passo da Via Sacra, última proposição religiosa do terreiro. Não se encon-trando centrado no alçado urbano e aproximan-do-se da Rua do Patinho, uma implantação rela-cionada com o conceito de Via, integra-se mais num percurso do que num espaço de tendência mais estática. No entanto, quando se entra na praça pelo lado oposto, o olhar concentra-se nes-te elemento, cujo volume granítico contrasta com o reboco branco da parede. Ignorando-se a data em que foi aí colocado, talvez já no século XIX, é uma derivação vernácula de um modelo classicis-ta, com um desenho muito pouco rigoroso.O Passo da Via Sacra é constituído por um nicho em arco, cujo desenho hesita entre o arco pleno e o arco abatido. É delimitado por duas pilastras coroadas por pináculos de base quadrada e re-mate curvilíneo. O arco é encimado pelo crucifixo de hastes rectas, assente sobre peanha rectangu-lar, com a glória solar gravada esquematicamen-te.”- Margarida da Conceição Tavares, in “Da Vila Cercada à Praça de Guerra, Formação do Espaço

Urbano em Almeida (séculos XVI-XVIII)”, C.M. de Almeida, 1997.A Autora citada sublinha o carácter vernáculo des-ta singular realização, atribuindo-lhe a hipótese de ser obra oitocentista. Não obstante, também é crível que seja da centúria anterior e, no que toca à sua plasticidade, não deixa de ser notável que seja este o exemplar que terá servido de modelo à execução dos outros dois que subsistem, um no caminho para as Portas de Santo António e o outro para Santa Bárbara. Atente-se, para a confirmação deste aspecto, no facto de ser o elemento arquitectónico da Praça de S. João aquele que se afirma com mais ele-gância e maior à-vontade construtivo, sendo de notar a segurança do talhe da pedra inteiriça do arco do nicho, prolongando-se na entrega do co-roamento do remate das pilastras.E apesar de talvez “muito pouco rigoroso”, é o mais perfeito dos três na segurança da estereoto-mia e na preocupação do pormenor, desde a gola do focinho do degrau da base à circunstância de a cruz estar colocada numa pedra decorada com a glória solar.

PLANTA AO NIVEL DA CHAMINÉ

0 5m ALÇADO

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 20 4/16/12 10:12 AM

21

O Nicho da Rua DireitaDos três elementos arquitectónicos em análise, o da antiga Rua Direita é o que se encaixa mais or-ganicamente no volume da construção a que se adossa. Visto dos diversos pontos de observação, confere ao alçado da habitação uma imponência e uma distinção que transferem para esta locali-zação da trama urbana uma carga imagética in-discutível.A forma como a composição neoclassicista se encaixa no alçado, ajudando poderosamente ao próprio movimento do percurso que a rua faz, é sublinhada pela profundidade excepcional que o nicho adquire, penetrando claramente na espes-sura da parede da habitação.A organicidade apontada está subtilmente reforça-da pelo reforço da perspectiva que as superfícies laterais do nicho adquirem devido à sua falta de paralelismo, antes convergindo ambas para o cen-tro da composição. O arco superior, muito abatido, é quase um desenho em “asa-de-cesta”, com uma resolução apressada do remate a eixo, onde pare-ce assumir-se alguma falta de destreza técnica do artífice como marca ou feitio do executante.

A superfície de fundo acaba por ter variações sen-síveis entre os três nichos subsistentes. A diferen-ciação entre eles será marcada pelo contorno da área da pintura artística que cada um virá albergar. No caso presente estaremos na presença de um rectângulo com os dois ângulos superiores for-temente boleados, enquanto que na Praça de S. João o topo da pintura é em volta perfeita e, por sua vez, no cimo da antiga Rua do Jardim, temos um simples formato quadrangular.Do ponto de vista da vivência do local, o facto de ser preservado um espécime vegetal que se encos-ta à pilastra esquerda é um sinal de estima e acari-nhamento que se regista.

O Nicho da antiga Rua do Jardim(a Santo António)Na proximidade das Portas Interiores de Santo António, na parede da casa da esquina da rua que conduz à Principal, encontramos o último dos três nichos dos antigos Passos da Via Sacra de Almeida. Em termos de fábrica técnica, este é o menos qualificado do conjunto, pelas dificulda-des que são manifestas no desempenho do artífi-

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 21 4/16/12 10:12 AM

22

truída do sítio. Na realidade, a habitação a que se encosta o nicho de pedra vem sendo maltratada, seja pela afectação dos vãos de fachada, seja pela alteração da linha de base, ou ainda pela falta de conjugação do remate da cobertura, a que se junta a adição de uma chaminé muito desenquadrada.Em virtude da dinâmica focalizadora que a peça ar-quitectónica da Via Sacra contém para quem circula na Praça em direcção ao seu canto Sul/Nascente, a forma como se percepciona o recorte do grande nicho na alvura do alçado ganha uma repercussão ampla. Esta, porém, não está devidamente acaute-lada, de modo a que se retire o melhor proveito do enquadramento urbanístico do objecto.Dada a situação presente do imóvel, a preocupação do projecto estende-se para lá da intervenção estri-ta no nicho de pedra, propondo-se que seja tomada a decisão de avançar mais extensamente.

ce ao nível da execução de todo o lintel superior, desde os capitéis de remate das pilastras ao de-senvolvimento do arco (quebrado a meio), até às flâmulas ou pinhas que ladeiam a cruz.É também o que apresenta menor altura (con-quanto todos tenham uma dimensão idêntica ao nível da largura).O nicho propriamente dito acaba por ter a super-fície de recepção da pintura (que na origem tanto podia ser “a fresco” como sobre tábuas) confina-da a uma área rectangular, dada a existência de uma padieira interna de verga recta.Voltado que está para a zona do Castelo Medie-val, assinala uma encruzilhada de caminhos in-teriores da cerca muralhada, num ponto notável do tecido urbano, dialogando intensamente com o padrão das comemorações dos Centenários e com a Porta de Santo António.

Acerca dos levantamentos arquitectónicos efec-tuadosNo caso da Praça de S. João, o desenho arquitec-tónico revela algumas dificuldades da inserção do elemento na evolução com a circunstância cons-

0 5m

PLANTA BAIXA

ALÇADO

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 22 4/16/12 10:12 AM

23

Dá-se assim o levantamento do alçado, revelando-se o flagrante contraste das escalas entre a habita-ção e o nicho de pedra. Esta dimensão remete claramente para a apropria-ção urbana e para a dinâmica do percurso inerente ao próprio conceito dos “Passos”. É por isso de su-blinhar a relevância da percepção que o observador tem da peça e, no caso de existir figuração, a im-portância da fixação dos pontos de fuga da com-posição.Do ponto de vista do registo do levantamento fica uma chamada de atenção para a circunstância de

o calcetamento ter sobreposto indevidamente o recorte do acabamento da base, apelando-se ao seu resgate.Na Rua Direita há sobretudo a sublinhar a circunstân-cia de o nicho se encontrar incrustado numa fachada que foi objecto de recentes trabalhos de manuten-ção. As caixilharias (de madeira) e as pinturas acham-se em boas condições, aparentando igualmente que alguma atenção terá sido dada à conservação do elemento arquitectónico que aqui nos importa.Já o nicho da Rua Hintze Ribeiro (antiga Rua do Jardim) encosta-se a uma habitação que apre-senta algumas alterações menos conseguidas do ponto de vista da adequação do sentido da con-tinuidade da valorização patrimonial aos trabalhos

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 23 4/16/12 10:12 AM

24

interna de argamassa, a partir de uma lajeta de base incrustada na elevação da parede da fachada.O topo da chaminé é também uma lageta fina em betão vibrado. Todo o conjunto deverá ser pintado à cor da pintura do alçado.Quanto às caixilharias, a proposta de projecto vai no sentido de a Câmara Municipal exercer o magisté-rio da propedêutica possível junto dos cidadãos, no sentido de estes serem sensibilizados para a manu-tenção de boas práticas e usos de materiais, como é o caso das caixilharias tradicionais. Este aspecto vai de par com a restituição da inteireza dos elementos de suporte das esquadrias, retirando-se as argamas-sas de cimento de cima das molduras de granito.Os vãos do alçado desta habitação constituem, efectivamente, um caso paradigmático de desade-quação, seja no que se refere aos materiais, seja no aspecto do desenho ou, ainda, do cromatismo. A intervenção deste Simpósio das Artes poderá servir para uma prática reflexiva positiva.É por isso que a extensão da intervenção à tota-lidade da fachada da habitação voltada à Praça de S. João constitui, para a Vila de Almeida, uma oportunidade única do ponto de vista da reflexão e da prática da salvaguarda do património. Alteando-se o remate superior e corrigindo-se as caixilharias, não fará sentido insistir em rebocos de cimento “Portland”, quando no nicho de pedra se deseja re-abilitar o uso de argamassas de cal. Demonstre-se, pois, a justeza e qualidade da redescoberta da cal nas argamassas a utilizar em compatibilização com património deste tipo.No que respeita aos nichos, independentemente da sua localização, a intervenção proposta em projecto é caracterizada por:1) – limpeza da pedra com água e solução de hipo-clorito, com remoção das juntas de cimento indus-trial e escovagem das mesmas;2) – infraestruturação eléctrica, segundo indicações para execução, com ligação à rede pública;3) – aplicação de reboco de cal e pintura compatível, onde indicado em projecto;4) – construção de base em carpintaria, de acordo com pormenorização apresentada;5) – colocação de suportes para suspensão de pin-tura artística;

de manutenção que os proprietários ou ocupantes têm vindo a realizar. A referência deve-se ao de-senho e material da substituição das caixilharias dos vãos, os quais estão à revelia de uma espera-da continuidade de atitude face às características do imóvel.Mas igualmente se poderá mencionar o uso de apressados rebocos / pinturas na fachada, de par com a subsistência de traçados de cabos eléctricos que, eventualmente, poderiam já ter sido motivo de correcção.E ainda poderá anotar-se a atitude de manter a irre-gularidade do frontal da mesa do nicho com pedra desqualificada à vista, e ainda por cima mostrando abusivo emprego de argamassa de cimento industrial.

Sobre as intervenções propostasPara além do que seja comum a todos os elementos da Via Sacra (e que a seguir referiremos), as medidas de projecto que se avançaram incluiram a integração de intervenção ao nível da fachada da habitação a que se encosta o nicho.Elencamos de seguida o conjunto de items suscep-tíveis de constituir o conjunto de medidas paralelas a levar a cabo:a) – correcção da composição da parte superior do alçado, para equilíbrio do conjunto, horizontalizando a linha do topo da parede e dissimulando a chaminé;b) – restituição de inteireza às molduras de pedra das janelas do piso superior, com remoção das argamas-sas de betão;c) – proposição de caixilharias de madeira devida-mente pintada para os vãos, seja ao nível do rés-do-chão, seja do 1ºandar;d) – picagem do reboco de cimento e do embasa-mento “tirolês” actualmente existente, com substitui-ção por rebocos de cal e pintura compatível.A elevação do alçado de forma contida constitui um prolongamento da parede existente, em alvenaria de pedra, a que se articula, num volume conjunto, a chaminé, a qual é refeita.A horizontalidade é sublinhada pela rufagem da pa-rede, por meio de chapa de zinco nº 14, conforme indicado nos desenhos.A grelha da chaminé é constituída por réguas em be-tão vibrado (do tipo “gracifer”) fixadas numa estrutura

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 24 4/16/12 10:12 AM

25

6) – previsão de estrutura metálica para fixação do painel da pintura em suspensão;7) – iluminação por meio de focos de luminárias “led” com lentes apropriadas;8)– aplicação de sirene anti-roubo;9) – aplicação de solução repelente incolor;10) – portas de vidro temperado fixadas com dobra-diças e fechaduras em aço inox, conforme desenho.

Outros arranjos pontuais Por exemplo, no que se prende com a alimentação eléctrica a partir da rede pública (para iluminação nocturna por “leds” e para eventual accionamento de aviso anti-roubo), deverá observar-se a melhor forma de alcançar os objectivos nas três situações. No que se refere ao nicho da Rua Hintze Ribeiro, o objecto da intervenção abarca uma tarefa pontual ao nível da fachada, visto propor-se que seja desloca-da a passagem dos cabos de electricidade fixados ao alçado para junto do beirado, sendo as marcas advenientes da retirada das fixações devidamente emassadas e a pintura retocada.

Os Autores das Obras de ArteNa reflexão que se impunha para a escolha dos Artistas que julgamos poderem corresponder

aos objectivos pretendidos, pensámos sugerir Autores com maturidade, em plena actividade e vitalidade na sua carreira, abertos ao desa-fio que a Arte Sacra sempre representa para a Criação do Belo, procurando transmitir uma nova expressão através da linguagem plástica pessoal.Ao projectar-se este 2º Simpósio das Artes de Almeida pensou-se na dotação de um conjunto de pinturas públicas que, embora diferentes na individualidade da sua concepção, se pretende que contribuam para alcançar uma maior coesão urbanística e cultural, fazendo ressaltar a sua uni-dade patrimonial, mesmo que apoiada na própria diversidade. Os Artistas propostos são Pintores de cariz figu-rativo com grande experiência nas mais diversas vertentes das Artes Plásticas, e plenamente dis-postos a aceitar os pressupostos que lhes foram colocados, na base do desafio lançado para a apresentação dos temas solicitados.

ALBERTO PÉSSIMONasceu em Benfeita, Arganil, em 1953. Bacharel formado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, como o seu íntimo amigo Carlos

Estudos para o Painel da “Verónica” (Nicho da Rua Direita), por Alberto PéssimoStudies for the Retable of “Verónica” (Niche in Rua Dire-ita), by Alberto Péssimo

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 25 4/16/12 10:12 AM

26

máscaras na Cooperativa “Fio de Ariana”, no Por-to. Trabalhou como cenógrafo na RTP, onde foi responsável pela cenografia e bonecos em pro-gramas infantis como “A Árvore dos Patafúrdios” e “Os Amigos de Gaspar”.Tem desenvolvido igualmente actividade como ilustradorÉ Professor dos Cursos Livres da Cooperativa de Actividades Artísticas Árvore, no Porto.

JOSÉ EMÍDIO Nasceu em Matosinhos, em 1956.Licenciatura em Artes Plásticas, pela ESBAP, em 1981.Professor efectivo do ensino secundário desde 1979 (actualmente em regime de licença sem vencimento). Professor do Curso Superior de De-senho da ESAP (1982/97).Presidente da Direcção da Coop. de Ensino Supe-rior Artístico do Porto – CESAP (1991/97). É Vice-Presidente da “Árvore Cooperativa de Actividades Artísticas, CRL”, onde exerce o cargo de respon-sável técnico e artístico das Oficinas de Cerâmica, Fotografia, Gravura, Litografia e Serigrafia.Participa desde 1978 em exposições colectivas, tendo realizado a sua primeira exposição indivi-dual em Matosinhos em 1982. Enquanto artista plástico tem participado em diversas publicações literárias na área da ilustração. Tem ainda desen-volvido trabalho na tecnologia da cerâmica, com particular destaque na criação de painéis, bem como na tecnologia do vitral. Parte do seu traba-lho é igualmente repartida pela obra em gravura, litografia e serigrafia.

LUÍS CALHEIROSNascido em Viseu, a 9 de Junho de 1952.Artista Plástico, pintor, desenhador e gravador a água-forte. Com ainda alguma experiência como ceramista. Tem dedicado grande à investigação teórica, à crítica de arte e ao ensino superior ar-tístico. É público o reconhecimento do valor da sua obra, quer pelos seus pares quer pela crítica especializada. Trabalha em atelier em Viseu, ida-de onde exerce a docência na Escola Superior de Educação.

Dias, expõe regularmente, individual e colectiva-mente, desde 1977. Em 1984 ganhou o Prémio de Escultura e o Pré-mio Presença na 1.ª Exposição de Artes Plásticas da Câmara Municipal do Porto. Orientou diversos cursos de Teatro de bonecos e de construção de

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 26 4/16/12 10:13 AM

27

Pinta a óleo e têmpera e desenha a nanquim. Edi-tou várias serigrafias, e tirou provas de gravuras a ponta seca e água-forte (e água tinta). Define-se como um neo-figurativo da geração afirmada nos anos oitenta do passado século XX. Tem produ-

Cartões de José Emídio e Luís Calheiros, respec-tivamente para o “Encontro” (Praça de S. João) e a “Cruci-ficação” (Rua Hintze Ribeiro).Sketches by José Emídio and Luís Calheiros, respectively for the panels of the “Meet-ing” and the “Crucifixion”

zido obra paralela, circunstancial e esporádica, que define como cripto-abstracção lúdica, sob heterónimo. 1

* Arquitecto, Doutor em História da Arte, Consultor da Câmara Municipal de Almeida.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 27 4/16/12 10:13 AM

2nd Art Symposium of Almeida – 2009Sacredness and Function on Rehabilitation ON THE STEPS OF VIA SACRAJoão Campos *

After last year experience, when the first 1st Art Sympo-sium of Almeida was held, dedicated to Sculpture, this year there is a reason to be gathered around art, this time focused on Painting. It is not, nevertheless, a random pictorial expression and the intervention is not just about the meaning of that art. In-deed, the proposal is more comprehensive, calling simul-taneously on the same action aspects of the built Heritage and of the Intangible Heritage, reflected on the public art to be recovered through the aesthetic and functional inter-vention and restoration of the Passos da Via Sacra (Steps of the Via Sacra) which endure on Almeida’s urban space.There are still three architectural elements, which were a part of the route markings of the procession in honor of Senhor dos Passos, on the streets of the Stronghold. No explanato-ry data were found for the shortage in the number of niches and / or other marks that would complete the group of sta-tion on the religious route. And, while today the great Lenten procession is still held, it does not represent a supposedly lost memory, or even uses the same niches available for the assembly of the scenic apparatus of religious expression.

The Niche on Praça de S. João In the Praça de S. João still retains, “leaned on the south-eastern angle, a Step of the Via Sacra, the last religious proposition of the courtyard. It is not centered on the town and it gets closer to the Rua do Patinho, an implementa-tion connected with the concept of Via, it is more integrated within a route, a path than in a more static space. However, when you enter the square at the opposite side, the eye focuses on this element, whose granite volume contrasts with the white plaster wall. Without a precise implementa-tion date, perhaps already in the nineteenth century, it is a vernacular derivation of a classical model, with a very loose design. The Step of the Via Sacra is composed of an arched niche, with a design alternating between the round arch and the segmental arch. It is limited by two pilasters, crowned with pinnacles featuring a square base and a curved cap. The arch is topped by a cross with straight rods, settled on a rectangular supporting base, having the glory embossed schematically.” - Margarida da Conceição Tavares, in “Da Vila Cercada à Praça de Guerra, Formação do Espaço Ur-bano em Almeida (séculos XVI-XVIII)”, C.M. de Almeida, 1997.The author underlines the vernacular character of this unique accomplishment, stating the hypothesis of being from the 19th century. Nevertheless, one can also believe that it belongs to the previous century and, in what plastic-ity is concerned, it is quite remarkable that this exemplar served as a model for the execution of the other two that still endure, one on the way to Santo António’s Doors and the other to Santa Bárbara.For the confirmation of this aspect, one should consider that the architectonical element of Praça de S. João is the one showing more elegance and constructive easiness, being that the safety of the entire stone of the niche’s arch

is quite noticeable, being prolonged in the crowns finishing the pilasters.And while perhaps “very little rigorous strict”, it is the most perfect of the three in the safety of stereotomy and in the concern for detail, from the nose’s neck of the base step snout to the fact that the cross is placed on a stone deco-rated with the solar glory.

The Niche of Rua DireitaOf the three architectural elements in question, the one from the ancient Rua Direira is more organically fitted in the volume of construction it leans on. Given the various points of view, it gives the house’s façade magnificence and a distinction that are transferred to this location of the urban background an insurmountable pictorial charge. The way of the neoclassical composition is fitted on the fa-çade, powerfully helping the movement of the street’s path, is underlined by the exceptional depth that the niche ac-quires, clearly penetrating the thickness of the house’s wall.The organicity pointed is subtly reinforced by the strength-ening of the view that the lateral surfaces of the niche ac-quire due to its lack of parallelism, rather converging to the center of the composition. The superior arch, very much segmented, has a hasty resolution of the finishing in an axis, where the lack of the architect’s technical skills seems to be a mark or shape of the performer.The background surface has sensitive variations between the three remaining niches. The differentiation between them is marked by the contour of the artistic painting area that each niche will hold. In this case we stand before a rectangle with two strongly rounded upper angles, while than on Praça de S. João the top of the painting is a per-fect arch and, on its turn, on top of the ancient Rua do Jardim, we witness a quadrangular format. The fact that a vegetal species was preserved, which leans on the left pilaster, is a sign that the population nourishes and esteems it.

The Niche of the ancient Rua do Jardim(Santo António)Near the interior doors of Santo António, on the wall of the house which corners and leads to the main street, is the last of the three niches of the ancient Steps of the Via Sa-cra Passos of Almeida. In terms of technical works, this is the least qualified of all, the difficulties that are manifested in the performance of the architect in the implementation of the entire superior lintel, from the finishing capitals on the pilasters to the development of the arch (pointed), to the pennant or cones that flank the cross.It is also shorter (although all show an equal dimension across the width). The niche itself has the area receiving the painting (which originally was fresco on wooden boards) confined to a rectangular area, given the existence of an internal dintel with a straight lintel.Since it is facing the area of the Medieval Castle, it marks a crossroads of interior paths of the walled fence, on a re-

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 28 4/16/12 10:13 AM

29

On the interventions proposedBeyond what might be common to all the elements on the Via Sacra (which will be referred later), the project mea-sures proposed will include the integration of an interven-tion on the façade of the house supporting the niche.Next, a group of items which could be the set of parallel measures to be carried out is listed:a) – correction of the composition of the façade’s upper part, towards the set’s balance, thus making the wall’s top line more horizontal and disguising the chimney;b) – restitution of the wholeness to the stone frames of the upper floor windows, removing the concrete grout;c) – proposition of wooden joinery, properly painted for the spans, on the floor level and on the first floor;d) – picking of the cement plaster and of the Tyrolean base, currently present, replacing them with lime plaster and compatible painting.The elevation of the façade, in a restrained fashion, is an extension of the existing wall, in stone masonry, which will be linked to the rebuilt chimney, within a whole volume.The horizontal traits are underlined by the wall’s covering with no. 14 zinc plates, according to the drawings.The chimneys grid is constituted by (gracifer) vibrated con-crete rules, fixated on a mortar internal structure, from a base slab incrusted on the elevation of the façade’s wall.The chimney’s top is also made of a fine slab of vibrated concrete. The entire set should be painted in the façade’s color.As for joineries, the project’s proposal asks the City Hall to possibly teach the citizens to become sensitive towards the maintenance of good practices and uses of materials, such as the use of traditional joineries. This aspect goes hand in hand with the restitution of the wholeness of the elements supporting the squares, destroying the cement mortars on top of granite frames.This house’s façade spans are effectively a paradigmatic case of inappropriateness of material, of design and of colors. The intervention of this Art Symposium might be useful towards a positive reflexive practice. Therefore, the intervention should be extended to the en-tire façade of the house facing the Praça de S. João, be-cause this is a unique opportunity for Almeida to reflect and practice the safekeeping of heritage. By rising the up-per finishing and correcting the joineries, it will not make any sense to insist in Portland cement plasters, when the rehabilitation of the use of lime mortars is intended on this stone niche. Therefore, one should demonstrate the fair-ness and the quality of rediscovering lime on mortars used on the heritage of this type.Regarding the niches, regardless of their location, the pro-posed intervention in project is characterized by:1) – cleaning of the stone with water and hypochlorite solu-tion, removing and brushing of industrial cement joints;2) – electrical infrastructures, according to guidelines, with connection to the public network;3) – implementation of lime plaster and compatible paint-ing, when the projects indicates so;

markable point of the urban fabric, intensively dialoguing with the monument celebrating the Centenaries and the Door of Santo Antonio.

On the performed architectonical surveys On the case of Praça de S. João, the architectonical de-sign reveals some difficulties in inserting the element on the evolution with the circumstance built on site. In reality, the house supporting the stone niche has been battered by the implementation of spans on the façade, by the al-teration of the baseline and by the lack of harmony on the roof’s finishing, featuring a very unsuitable chimney.In virtue of the focalizing dynamics provided by the Via Sacra’s architectonical piece to those transiting on the Square towards its South/East corner, the way the outline of the big niche is perceived on the whiteness of the fa-çade has an ample repercussion. This, nevertheless, is not properly provided for, to obtain a better use of the project’s urban frame.Given the present situation of the property, the project’s concern is extended beyond the strict intervention on the stone niche, suggesting making a decision to extend it even further.Thus, the survey of the façade takes place, which reveals the striking contrast of the scales between the house and the stone niche.This dimension clearly reflects the urban appropriation and the dynamics for the path behind the concept of the “Steps”. Therefore, one should underline the relevance of perception that the observer has on the piece and, in case there is a figuration, the importance of fixating vanishing points on the composition.From the point of view of the survey’s record, one should draw attention to the fact that the pavement improperly overlapped the outline of the base’s finishing and it should be rescued.On the Rua Direita one should emphasize the fact that the niche is incrusted on a façade that was the object of recent maintenance works. The (wooden) joinery and the paint-ings are in good condition, showing signs that some atten-tion was given to the conservation of the architectonical element under study. The niche on the Rua Hintze Ribeiro (ancient Rua do Jardim) leans on a house that shows some changes, not so well achieved from the adequateness point of view, considering the continuity of heritage appreciation on the maintenance works that the owners or residents have performed. The reference is due to the design and to the materials replac-ing the spans’ joinery, which are against continuity in the attitude towards the building’s characteristics.But one could also mention the use of plaster/paintings on the façade, together with the subsistence of façade of electrical cables that eventually should already have been corrected. And one could even note the attitude of maintaining the ir-regularity of the frontal part of the niche’s table which shows some ruin and an abusive use of industrial cement grout.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 29 4/16/12 10:13 AM

30

4) – construction of a wooden base, according to the pre-sented details;5) – placement of supports for the suspension of the ar-tistic painting;6) – metallic structure for the fixation of the suspended painting panel;7) – lighting by led light luminaires, with proper lenses;8) – implementation of the burglar-proof siren;9) – implementation of a colorless repellent solution:10) – temperate glass doors fixated with stainless steel hinges and locks, according to the drawing.

Further isolated worksFor example, considering the electrical source, coming from the public network (for the night lights, powered by “leds” and for the burglar-proof system), and one should observe the best way to achieve results on the three situations.In what the niche on Rua Hintze Ribeiro is concerned, the intervention object encompasses an isolated task on the façade, because it’s supposed to displace the electrical cables away from the façade and towards the roof’s edge, being that the marks left by the destruction of the fixating system should be properly covered in mass and repainted.

THE AUTHORS OF THE ART WORKSOn reflection about the choice of Authors able to cor-respond to the proposed objectives, one thought of suggesting Authors with maturity, in full activity and vitality in their careers, opened to the challenge that Sacred Art always represents towards the creation of Beauty, trying to transmit a new expression through a personal artistic language.While planning this 2nd Art Symposium of Almeida, one considered the improvement of a group od public paintings that, although different in the individuality of their conception, they are expected to contribute to-ward the achievement of a greater urban and cultural cohesion, emphasizing their heritage unit, even if sup-ported on diversity.The Proposed artists are figurative Painters, highly expe-rienced on the most different areas of Art and fully avail-able to accept the assumptions places, based on the challenge for the presentation of the desired themes. ALBERTO PÉSSIMOHe was born in Benfeita, Arganil, in 1953.Bacharel degree by Escola Superior de Belas Artes do Porto; like his close friend Carlos Dias, he has regular exhi-bitions, individually and collectively, since 1977.In 1984, he own the Prémio de Escultura and the Prémio Presença on the 1st Exposição de Artes Plásticas of Porto’s City Hall. He guided several courses on Puppet Theatre and mask construction on the Cooperativa “Fio de Ariana”, in Porto. He worked as a scenographer at RTP, where he was responsible for the scenography and puppets for chil-dren shows such as “A Árvore dos Patafúrdios” and “Os Amigos de Gaspar”.

He has also worked as an illustrator.He is a teacher of Free Courses on Cooperativa de Activi-dades Artísticas Árvore, in Porto. JOSÉ EMÍDIO He was born in Matosinhos, in 1956.Degree in Fine Arts, by ESBAP in 1981.Secondary education teacher since 1979 (currently on a leave of absence). Teacher on ESAP’s Superior Course in Drawing (1982/97).President of the Board of the Coop. de Ensino Superior Artístico do Porto – CESAP (1991/97). Vice-president of the “Árvore Cooperativa de Actividades Artísticas, CRL”, where he’s the techincal and artistic supervisor of the Workshops on Ceramics, Photography, Engraving, Lithog-raphy and Serigraphy.Since 1978, he has participated in collective exhibitions and his first individual exhibition was made in Matosinhos in 1982. As an artist, he has been a part of several liter-ary editions on the illustration area. He has also developed some work on ceramics’ technology, with a particular em-phasis in panel creation, as well as technology of stained glass. Part of his work is equally divided on engraving, li-thography and serigraphy.

LUÍS CALHEIROSBorn in Viseu, on 9th June 1952.An artist, painter, draughtsman and etcher. He also has some experience as a ceramist. He is largely dedicated to theoretical research, art critique and artistic higher educa-tion. His works are publicly recognized, both by his pears and by experts. He works on his workshop in Viseu, where he teaches on Escola Superior de Educação.He paints with oil and tempera and he draws with Indian ink. He edited several serigraphies and he took proof of etchings with a pointed needle and nitric acid (and aqua-tint). He defines himself as a neo-figurative of the genera-tion affirmed during the 80s of the past 20th century. He has produced a parallel work, circumstantial and random, under an alias, which he defines as a playful crypto-ab-straction.

* Arquitecto, Doutor em História da Arte, Consultor da Câmara Municipal de Almeida.Architect, Doctorate in History of Art, Consultant of the Almeida Municipality.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 30 4/16/12 10:13 AM

31A nomeação das Fortificações de Almeida como Património mundialMilagros Flores Román *

O Município de Almeida possui uma das duas maiores fortalezas que, em conjunto com uma série de outras cidadelas fortificadas, estrategi-camente dispostas, guardavam a fronteira Portu-guesa com Espanha.A missão primordial de Almeida era a de proteger a fronteira natural do Rio Côa, que separava Por-tugal de Espanha.Ao visitarmos a cidadela de Almeida, a primeira grande impressão a chamar-nos a atenção é a paisagem em torno. A cidadela ainda apresenta, desimpedida desde as origens, a sua paisagem cultural, conjuntamente com uma área de protec-ção bem conservada, o que permite a interpre-tação, a compreensão e a preservação das es-planadas não afectadas e os cenários históricos. Ao aproximarmo-nos, é quase impossível não imaginar as batalhas históricas que tiveram lugar nesses terrenos consagrados.A segunda impressão forte é o sentido de domina-ção, quando passamos através das suas impres-sivas portas. Em pleno século XXI, ao atravessar-mos tais portas somos imediatamente remetidos para outro Tempo, inserindo-nos num ambiente urbano, fortificado e antigo, quase intacto.

Esta impressão demonstra como Almeida tem sido bem sucedida para manter a sua integridade e au-tenticidade como recurso cultural de classe mundial.Almeida é um bom exemplo de cidade fortificada preservada, com as suas muralhas ainda intac-tas, e na qual a componente da compreensão das suas estruturas militares está bem conservada. Estas fortificações que em tempos se impuseram aos exércitos inimigos, continuam hoje-em-dia a impressionar-nos num tempo diferente da sua importante história, permitindo que os visitantes e os turistas que chegam possam desfrutar das maravilhas da engenharia militar, da história, e de uma experiência cultural efectiva.A municipalidade de Almeida tem sido diligente no desenvolvimento de um planeamento de ges-tão que tem em consideração a importância deste recurso único de classe mundial. As prioridades e os planos são aplicados no terreno com vista ao melhoramento da interpretação do património militar único, providenciando um complexo mu-seológico localizado numa das suas casamatas, o que permitirá a interpretação da artilharia da ci-dadela, a construção e a vida dos soldados, entre outros e importantes temas de carácter histórico.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 31 4/16/12 10:13 AM

32

Os impositivos sistemas da mancha de fortificação de Almeida, juntamente com as suas componentes, são exemplo da excepcional engenharia militar de-fensiva que um dia foi concebida por Portugal, um pequeno país defendendo-se de Espanha, e que na época era a primeira potência militar do mundo. Hoje estas fortificações são um exemplar inestimá-vel da adaptação da engenharia militar portuguesa à geografia natural para defesa dos habitantes, e tornando esses habitantes nos componentes mais importantes, não apenas na construção das fortifi-cações, como pedreiros e artífices, mas participan-do também na defesa da cidade e do país.Cada sector das fortificações de Almeida constitui um exemplo genuíno da excepcional engenharia militar portuguesa, planificada e desenhada como parte de um sistema de protecção da fronteira entre

Portugal e Espanha. A sua utilização como sistema defensivo, com qualificações arquitectónicas ímpa-res, a sua importância para a história da região e a sua funcionalidade no particular conjunto geográfi-co premeiam as fortificações de Almeida com valor excepcional.Em conclusão, tendo em consideração a história das fortificações de Almeida, e depois de termos vi-sitado o sítio e apreendido a paisagem e observado a integridade das fortificações e os planos de gestão para o futuro, é nossa opinião que as fortificações de Almeida possuem valor universal e merecem vir a ser consideradas como um sítio com estatuto de Património Mundial.1

* Historiadora – Perita em Fortificações. Directora do Caribbean Parks (U. S. Department of the Interior).Presidente do ICOFORT-ICOMOS.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 32 4/16/12 10:13 AM

33

The Municipality of Almeida houses one of the two major Portuguese fortresses that along with a series of other strategically located fortified cities guarded the Portu-guese border with Spain. Almeida’s primary mission was to protect the natural boundary of the River Coa which separated Portugal from Spain. When visiting the city of Almeida, the first major feature capturing ones attention is the landscape surrounding the city. The city still retains its original unobstructed cultural landscape along with a well conserved buffer zone that allows for the interpretation, understanding and preservation of pristine esplanades and historic scenes. As one approaches the city it is almost impos-sible not to visualize the historic battles that took place on these hallowed grounds. The second feature is the sense of stronghold once passes through its impressive city gates. To be able in today’s 21st century, by crossing through these city gates immediately you go back in time and you are in an almost intact ancient fortified town. This impression shows how Almeida has been successful in keeping its integrity and authenticity as world class cultural re-source. Almeida is a well preserved example of fortified town, with all its walls still intact, and in which the compo-nent of its inclusive military structures is well conserved. These fortifications that once awed the enemy army’s, continues today to impress a different period in their im-portant history which is to provide visitors and tourists that comes to enjoy such wonders of military engineer-ing, history, and a real cultural experience.The Almeida municipality has been diligent in develop-ing a Management Plan that takes into consideration the importance of this unique work class resource. Pri-orities and plans are in place for the improvement on the interpretation of the city’s unique military heritage by providing a Museum complex located at one of its casemates that allows for interpretation of the city artil-lery, construction and life of the soldiers, among other important historic themes.Almeida’s bulk ward fortification systems together with its components are example of the unique defensive military engineering conceived by the once small coun-try of Portugal defending itself from Spain, the primary military power of the world. Today this fortifications are unique example of Portuguese military engineering ad-aptation to the natural geography for defending the in-habitants, and on making this inhabitants becoming ma-jor component themselves not only in the construction of the fortifications as masons and craftsmen’s, but also participating in the defense of the town and country. Every section of Almeida’s fortifications constitutes a genuine example of exceptional Portuguese military engineering that was planned and designed as part of a defensive system to protect the frontier between Portugal and Spain. Their use as a defensive system,

with unique architectural features, their importance to the history of the region, and its functionality to these particular geographic setting awards the fortifications of Almeida with exceptional value. In conclusion, an after reviewing the history of the Al-meida fortifications, and after visiting the sites and un-derstanding the landscape and seeing the integrity of the fortifications and future management plans, it is my opinion that the fortifications of Almeida are of universal value and deserve further consideration for World Herit-age sites status.

* Historian - Expert on Fortifications. Director of Caribbean Parks (U. S. Department of the Interior). ICOFORT-ICOMOS President

the nomination of the Almeida Fortifications as World heritageMilagros Flores Román *

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 33 4/16/12 10:13 AM

As lições do passado e o contexto histórico, projecta-das no campo do património cultural, configuram um recurso singular e alicerçam a matriz de especificida-de dos territórios. (Paulo Carvalho)

Os Patrimónios que emergem ao longo dos territó-rios e que enformam a fronteira Portuguesa, vincam de forma particular as fisionomias das comunidades, fazendo com que delas despontem realidades muito

Patrimónios na (de) FronteiraPaula Sousa *

próprias ao nível do seu património construído e ima-terial. A malha de castelos, fortalezas, igrejas, artes decorativas, danças e cantares, ou festas, consti-tuem verdadeiros símbolos de memória e identidade, reflexos de mérito e tenacidade que avolumam a ri-queza patrimonial da raia. Esta soma de fragmentos, também designados de “paisagem cultural”, consti-tuem um melhor e mais completo entendimento dos lugares-monumento, entendimento esse que está muito para além da sua tridimensionalidade.Pese embora o imenso corpus patrimonial que ins-titui os cerca de mil anos de formação da fronteira, cujo impacto cultural e social ainda hoje é visível e reconhecível nos vários lugares, são sem dúvida as construções militares que mais marcadamente ca-racterizam o Património Raiano. Estes vários lugares, fortificados e estruturados em rede, apresentam tra-ços comuns e uma identidade própria, gerada a par-tir de uma matriz fundacional que, depois, na esteira dos séculos e com o articular de soluções impostas pelas circunstâncias nacionais, levou ao despontar de cambiantes significativas, motivadas pelo venci-mento da topografia dos próprios lugares ou pelas diferentes especificidades e conjunturas, politicas ou económicas. Encarando uma fisionomia específica para o Territó-rio Raiano até finais do século XIII, não podemos dei-xar de referir a acção de D. Dinis, enquanto principal responsável pelo início da uma nova fase da história de fronteira (com a incorporação dos territórios riba-cudanos e sequente assinatura do tratado de Alcani-zes1 [Gonçalves: 2008, 14]), e de D. Manuel, enquan-to visionário e guionista de novas soluções técnicas e formais para a arquitectura militar e, consequente-mente, para as imagens urbanas do panorama edi-ficado nacional.A partir daqui é uma nova fase para a fronteira e, a uma raia visualmente marcada sobretudo por caste-los e muralhas contrapôs-se outra, menos altaneira

1 O vale profundo do Côa deixou de ser o limite natural e político de Portugal, avançando para o rio Águeda – Ribeira de Tourões, absor-vendo a faixa riba-cudana que passou a integrar território Português e, do mesmo modo, as fortificações antes Leonesas mudam de pro-tagonistas e vigiam agora o território antes inimigo. Para além da incorporação das terras de Riba-Côa em território Português, anexaram-se ainda algumas povoações Alentejanas. Olivença, Campo Maior e São Félix, por troca com Arroche e Ara-cena. (Silva:1989; 62)

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 34 4/16/12 10:13 AM

35

e evidente, mas que seria igualmente povoada de estruturas possantes e ajustadas a uma nova forma de fazer a guerra, onde as novas exigências técnicas vieram alterar substancialmente a feição das vilas acasteladas.Após a Restauração e dentro de um novo ciclo de conformação de identidade nacional, a decisão de fortificar a Raia “à maneira moderna” veio clamar, e desta vez de forma mais profunda e radical, no-vas funções e reconversões para os velhos caste-los raianos: urgia de novo garantir a integridade do território2. E se à data de 1640, no panorama militar internacional, a arte da guerra e todo o conceito de-fensivo se tinha modificado e as fortificações abalu-artadas tinham há muito ultrapassado um período de experimentação, não existia ainda ao longo de toda a linha da Raia Portuguesa, uma única estrutura desse tipo. Perante a pressão e precipitação dos aconteci-mentos, e defronte a uma faixa territorial demasiado 2 Aos ensinamentos da Idade Média, onde se definiam as formas dos castelo e das muralhas, somam-se aspectos que exigiam maior e mais precisão – a artilharia, a qual tem como componente principal a eficiência do tiro, daí que a trajectória do projéctil e a disposição dos canhões tenham condicionado a nova imagem da fortificação (Menezes: 1999, 363). As configurações e silhuetas das fortificações modificam-se radicalmente – à altura sobrepôs-se a horizontalidade e “à guerra por praças sobrepôs-se a guerra pelos territórios e pelos seus recursos”(Rossa: 1995; 312).

extensa, verificou-se a impossibilidade de se faze-rem adaptações modernas em todas as estruturas medievais existentes (Conceição; 828), o que levou a uma selecção criteriosa de pontos centrais e es-tratégicos, estabelecidos nas principais vias de pe-netração do território português: “não era apenas a localização em altura e a conveniente dimensão da muralha ou de outros elementos com ela relaciona-dos mas, e então essa era a exigência principal, a segura localização da fortificação e sua relação com outras em um intrincado sistema geométrico” (Me-nezes, 363). Séculos depois, as desactivadas praças, constituí-das monumentos nacionais, ainda conservam ves-tígios da importância que assumiram nos períodos mais conturbados da História Nacional ou, dito de outro modo, ainda hoje as fortificações melhores e mais complexamente fortificadas, continuam a ser verdadeiros manuais de engenharia militar, de téc-nicas construtivas, de ciência urbana e, apesar de inevitavelmente, significarem “arqueologia de uma realidade da qual nos distanciámos (…), a longa lição da história não nos permite torná-la definiti-vamente afastada” (Rossa; Conceição; Trindade: 2008; 20).

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 35 4/16/12 10:13 AM

36

Hoje tal como outrora, os complexos sistemas defensivos materializados nas cinturas muralha-das dos sítios, selam vários patrimónios e várias realidades que enformam o núcleo urbano que o definem e o particularizam: referimo-nos à dis-posição das habitações, aos módulos que com-põem as fachadas, às praças e aos elementos que as notabilizam, às igrejas e às artes decorati-vas que as tornam únicas. Todo este conjunto pa-trimonial facilita e permite uma leitura uníssona e esta é de facto a leitura mais completa e coerente da história militar portuguesa, “a legibilidade do que releva em defesa da valia cultural da raia (…) só é amplamente possível e verdadeiramente es-timulante quando as percepcionamos no todo,” (Rossa; Conceição; Trindade: 2008; 20), quando conectamos sítios e património. Apologistas que somos de que um lugar deve trans-mitir e elucidar sobre as alterações verificadas ao longo do tempo, sabendo sem dúvida que qualquer monumento marca o lugar onde está implantado recriando íntimas relações com o sítio, acreditamos que este património arqueológico constitui um re-curso documental único e não renovável instituindo, em última análise, num desafio dialogante da sedi-

mentação histórica que promoverá a consciência pública do valor patrimonial e, acima de tudo, da educação para a cidadania.

BIBLIOGRAFIA:AA.VV – Colóquio Internacional Univrso Urbanístico Portugûes, 1415-1822, Carita (org); Comissão Na-cional para as comemorações dos desvobrimentos Portugueses; Coimbra, 1999;Campos, João de Sousa; Almeida, Portas e Poter-nas da Praça-Forte, CMA, 2007Conceição, Maria Margarida Simão Tavares; Do Espaço Urbano em Almeida (séculos XVI-XVIII) Da Vila cercada à Praça de Guerra, UNL, 1997Rossa; Conceição; Trindade: 2008; Raia e Cidade; Sousa, Luís Macedo (dir), Monumentos 28, IHRU, 2008 Quinta, Ana Luisa; A Fortaleza de Almeida - Uma perspectiva de Almeida, CMA, 2008Rossa, Walter, A Cidade Portuguesa, em História da Arte Portuguesa; (Pereira, Paulo, dir)Moreira, Rafael, (dir), História das fortificações Por-tuguesas no Mundo, Lisboa, Publicações Alfa, 1989

* Licenciada em História. Técnica Superior da C. M. de Almeida.

Tecto mudéjar da capela-mor da Igreja de Escarigo.

“Mudéjar” ceiling of the main-chapel of the Church

of Escarigo.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 36 4/16/12 10:13 AM

37

The lessons from the past and the historical context, pro-jected onto the field of cultural heritage, compose a singular resource and build the foundation of the specificity matrix of territories. (Paulo Carvalho)

The Heritage that emerge across the territories and that shape the Portuguese border particularly state the physi-ognomy of communities and make turn blossom unique realities, in what built and immaterial heritage is concerned. The network of castles, fortresses, churches, decorative arts, dances and songs or celebrations, are true symbols of memory and identity, reflections of merit and tenaciousness which increase the heritage richness of the border. This sum of fragments, also called cultural landscape, constitutes a better and more complete understanding of the places-monument, understanding that goes further beyond their your three-dimensionality. Although this great heritage corpus weighs on the institu-tion of the almost one thousand year of the border forma-tion, of which the cultural and social impact can still be seen today and recognizable from many locations, the military constructions, with usually less permeable physi-cal supports, are the ones remarkably characterizing the border’s heritage. These several places, fortified and struc-tured in a net, present common lines and a unique identity, generated from a foundational matrix, that later the trail of centuries and linkage of solutions, imposed by national cir-cumstances, originated meaningful variations, motivated by the expiration of topography of the places or by differ-ent regional or local, political or economic characteristics and conjunctures. Facing a specific physiognomy for the border territory, until late 18th century, one must refer the actions of King Dinis as the true responsible for the beginning of a new phase of the history of the border, (with the incorporation of Riba Côa’s territories and later signature of the Treaty of Alcañices 1 [Gonçalves: 2008, 14]), and the actions of King Manuel, as a visionary and writer of new technical and formal solutions for military architecture and, as a consequence, for the ur-ban image of villages. From here one, a new phase for the border was created and the frontier mainly marked by castles and walls is compared to another, less soaring and evident, but equally populated by mighty structures, fitted for new ways of war-making, 1 Côa’s deep valley stopped being the natural and political limit of Portugal, advancing towards river Águeda _ Ribeira de Tourões, thus absorbing the strip of land around Riba Côa, which then began inte-grating Portuguese territory and, as so, the previous Leonese fortifi-cations changed roles and now watched over former enemy territory. Apart from the incorporation of the land surrounding Riba Côa into Portugal, Alentejo’s villages such as Olivença, Campo Maior, and São Félix, traded for Arroche e Aracena. (Silva:1989; 62).

when the technical demands of the time substantially al-tered the face of castled villages. After the Restoration and within a new cycle of conformation of national identity, the decision to fortify the Frontier “in a modern manner” called upon, and this time more profound-ly and more radically, for new functions and reconversions for old frontier castles; there was again the need to assure the territory’s integrity2 and, if around 1640 the art of war and the entire defensive concept changed significantly and bulwarked fortifications had long passes their experimenta-tion period, there was not be found one single structure of the kind in the entire line of Portuguese frontier. Faced with the pressure and quickness of events, and in front of a very much extensive territorial strip, it was virtually impossible to perform modern adaptations to all existent medieval struc-tures (Conceição; 828), which caused a shrewd selection of central and strategic points, established on the main pen-etration routes on Portuguese territory, “it was not just the location in height and the convenient dimension of the wall or of other elements related to it but also, and this was the most important demand, the safe location of the fortifica-tion and its relationship with others, in an intricate geometric system” (Menezes; 363). Centuries later, the strongholds that were deactivated, transformed into national monuments, still preserve some vestiges of the importance they had during troubled periods of National History or, on the other hand, today the better and most complexly fortified fortifications remain true mili-tary engineering textbooks, of constructive techniques, of urban science, and although they inevitably represent “the archaeology of a reality which grew apart from us (…) his-tory’s long lesson does not allow us to put them definitely apart” (Rossa; Conceição; Trindade: 2008; 20).Today, just as in ancient times, the complex defensive sys-tems materialized on the places’ walled belts keep several heritages and several realities that shape the urban nucleus that define it and make it unique; this reference is made to the disposition of houses, the modules composing their façades, the squares and elements that emphasize them, the churches and decorative arts that make them unique. This whole patrimonial group facilitates and allows for a unison reading and this is, in fact, the more complete and coherent reading of the Portuguese military history, “the leg-

2 To the teachings of Middle Age, when the shape of castles and walls were defined, are added aspects which called for more and better precision – artillery, which is mainly focused on shot efficiency; hence, the appearance of new fire weapons, the bullet’s path and the cannons’ disposition conditioned the new image of fortification (Menezes: 1999, 363). The settings and silhouettes of fortifications radically change – height is surpassed by horizontality and “the war for strongholds was surpassed by the war for territories and their resources” (Rossa: 1995; 312).

Heritage on (of) the FrontierPaula Sousa *

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 37 4/16/12 10:13 AM

38

ibility of what raises in defense of the cultural value of the frontier (…) it is only widely possible and truly stimulating when we perceive it as a whole” (Rossa; Conceição; Trin-dade: 2008; 20), when we connected places and heritage.Advocating that a place should transmit and elucidate over the changes performed over time, undoubtedly knowing that a given monument marks the place where it is implemented, recreating intimate relations with the place, we believe that this archaeological heritage, as a memorial, constitutes a unique and non-renewable resource, ultimately posing a dialoguing challenges of historic sedimentation, which will promote public conscience on the value of heritage and, above all else, the value of education for citizenship.

BIBLIOGRAPHY:AA.VV – Colóquio Internacional Universo Urbanístico Por-tugûes, 1415-1822, Carita (org); Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; Coimbra, 1999;Campos, João de Sousa; Almeida, Portas e Poternas da Praça-Forte, CMA, 2008Conceição, Maria Margarida Simão Tavares; Do Espaço Urbano em Almeida (séculos XVI-XVIII) Da Vila cercada à Praça de Guerra, UNL, 1997Rossa; Conceição; Trindade; Raia e Cidade; Sousa, Luís Macedo (dir), Monumentos 28, IHRU, 2008 Quinta, Ana Luisa; A Fortaleza de Almeida - Uma perspec-tiva de Almeida, CMA, 2006Rossa, Walter, A Cidade Portuguesa, em História da Arte Portuguesa; (Pereira, Paulo, dir)Moreira, Rafael, (dir), História das fortificações Portuguesas no Mundo, Lisboa, Publicações Alfa, 1989

* Degree in History. Technician of the Municipality of Almeida.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 38 4/16/12 10:13 AM

39Almeida en la RayaFernando Cobos-Guerra *

INFORME PARA SU INCLUSIÓN EN LA CANDI-DATURA DE LAS FORTIFICACIONES DE LA RAYA PORTUGUESA COMO PATRIMONIO MUNDIAL

1. LA FORTIFICACIÓN COMO SISTEMA:en torno a la caracterización y valorización de los sistemas territoriales patrimoniales (STP)“Itinerarios culturales”, “declaraciones seriadas”, “sistemas territoriales patrimoniales”, “paisajes cultu-rales”, son nuevos conceptos de caracterización del patrimonio, algunos no tan recientes, que responden a criterios de clasificación, más o menos reglados en las distintas doctrinas al uso, en los que intentamos encajar fenómenos culturales y patrimoniales que no necesariamente responden a los criterios apriorísti-cos de clasificación que hemos fijado. Curiosamente, algunas de estas características que sirven para ca-racterizar cada una de estas categorías proceden de convertir en leyes generales casos específicos con-cretos. Es difícil, por ejemplo, encontrar un itinerario cultural que reúna el conjunto de valores que atesora el Camino jacobeo a Santiago de Compostela. La fortificación, y específicamente la fortificación moderna, es el fenómeno arquitectónico que más posibilidades tiene de entenderse como sistema. Una fortaleza sola por sí misma no tiene realmente

sentido dentro de la estrategia que le dio origen y que la hace comprensible en el territorio. Además, la caracterización del sistema permite entender el valor de cada una de sus piezas (con independencia de que estas piezas, una a una, no sean excepcio-nales) como partes indispensables para la excep-cionalidad del conjunto. Es decir, que el valor del conjunto es mayor que la suma del valor de cada una de sus partes. El sistema se integra también con las relaciones territoriales y espaciales de cada una de las partes, con la coherencia del funciona-miento conjunto, con la marca cultural que sobre el territorio genera la implantación del sistema con in-dependencia, incluso, de la degradación o desapa-rición de alguno de los elementos del mismo. Las diferentes doctrinas sobre los criterios a em-plear para el reconocimiento y valorización de un sistema se han basado normalmente en es-tudios comparativos que acentuaban los aspec-tos excepcionales del objeto que querían valorar en relación con los otros objetos con los que se comparaban. Recientemente, sin embargo, se han realizado algunos avances serios para establecer unos criterios objetivos de reconocimientos y valo-rización de sistemas. Los estudios y debates que llevaron a la concreción de la candidatura de las

Ilustração do comentário ao texto do Tratado de Escrivá (1538): “No se puede en ninguna manera tirando a batería (A) embocar la tronera y tirando a embocar (B) no se puede hacer batería”.Debate sobre uma fortaleza a construir na Barra do Tejo, Portugal. (A.G.S., M.P. Y D. XII-162, c. 1581).

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 39 4/16/12 10:13 AM

40

fortificaciones de Vauban o el Plan Director de las Fortificaciones Transfronterizas de rio Miño, a los que luego haremos referencia, y la elaboración del Plan Estratégico de las fortificaciones de Castilla y León son algunos de los apoyos que permiten fi-jar estos criterios objetivos. Siguiendo los criterios que desarrollamos recientemente para este Plan Estratégico, la caracterización y valorización de un sistema territorial patrimonial partía de una distin-ción inicial básica: un sistema territorial patrimonial podía ser propio o impropio. Entendíamos que era un sistema propio aquél que fue concebido como sistema cuando fue construido. Era impropio el que se reconocía como sistema a partir del estu-dio y clasificación del patrimonio conservado. Por ejemplo, nosotros podríamos considerar un siste-ma (que podría propiciar una declaración seriada), compuesto por todas las iglesias románicas a las que se les añadió una sacristía barroca. El conjun-to de edificios incluidos en el sistema, repartidos por toda Europa, no sería obviamente un sistema propio ya que su inclusión dependen de una clasi-ficación arbitraria nuestra y, además, ni cuando se construyeron las iglesias románicas, ni cuando se añadieron las sacristías barrocas, sus constructo-res eran conscientes de pertenecer a ningún siste-ma. Podríamos considerar, sin embargo y aunque el ejemplo es deliberadamente exagerado, que este sistema impropio tiene coherencia cronológi-ca (muy abierta) y estilística (muy forzada) aunque no tiene ninguna coherencia geográfica. Por el contrario, podríamos establecer un marco geográfico preciso, un itinerario cultural incluso, y considerar el sistema formado por todos los edificios monumentales situados a lo largo del Camino de Santiago o del rio Danubio. No sería tampoco un sistema propio puesto que para el caso del Camino de Santiago, algunos edificios sí serían propios del uso del camino (puentes, hospitales, albergues, algunos castillos) construi-dos al servicio del camino durante la época de fundación histórica del mismo. Otros edificios por el contrario, sin menoscabo de su inmenso valor artístico (Capilla de los Condestable de la Cate-dral de Burgos o el Castillo artillero renacentista de Grajal de Campos), están en el Camino por ra-

zones ajenas la naturaleza del propio Camino. En este caso tendríamos un sistema territorial patri-monial impropio con coherencia geográfica pero sin coherencia histórica o tipológica. El valor excepcional de un conjunto está pues relacionado con la coherencia interna de dicho conjunto y es dicha coherencia la que permite reconocerle como sistema. Las fortificaciones di-señadas por Vauban, por ejemplo, objeto de una declaración seriada, son un sistema coherente en la medida en que responden a un periodo históri-co concreto y a una tecnología y autoría concreta. Y aunque el conjunto no es coherente desde el punto de vista geográfico, pues Vauban atendió a los distintos frentes de la Monarquía francesa, constituye un referente previo de gran valor a te-ner en cuenta. Llegados a este punto podríamos considerar que en la valorización de un sistema territorial patrimonial parece lógico asignar más valor a los sistemas propios que a los impropios y dentro de estos a aquéllos que tienen coheren-cia geográfica, que tienen coherencia histórica y, además, que tienen coherencia tipológica, estilís-tica y/o tecnológica.

2. SINGULARIDAD Y EXCEPCIONALIDAD DE LA FORTIFICACION DE LA RAYA PORTUGUESALa fortificación de la raya portuguesa puede consi-derarse con todo derecho un sistema propio, pues fue concebido como tal cuando se construyó. Ve-remos que además tiene coherencia geográfica en cuanto a su implantación en la raya, coherencia cronológica pues se trata de un proyecto global definido en muy pocos años y coherencia tecno-lógica o tipológica por cuanto responde perfec-tamente a unos principios concretos de la fortifi-cación de mediados del siglo XVII. Es la suma de estos factores la que convierte a la fortificación de la raya portuguesa en un patrimonio singular y ex-cepcional; hay otras fronteras con fortificaciones, otros conjuntos de fortificaciones coetáneas entre sí y, obviamente, otros ejemplos sobresalientes de la fortificación del siglo XVII, pero éste es un caso en el que la coherencia del sistema hace que su valor sea mayor que la suma de los valores de to-dos los elementos que lo componen.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 40 4/16/12 10:13 AM

41

a. COHERENCIA Y SINGULARIDAD GEOGRÁ-FICA: la raya como proyecto culturalLas fronteras tienen mala prensa, suelen separar comunidades humanas que se consideran distintas y marcan un límite entre ellas u obedecen a la impo-sición de un poder externo que dividen comunida-des de una misma cultura. Si observamos el mapa político de la Península Ibérica la línea fronteriza que separa Portugal del resto de la Península parece ser una traza arbitraria que recuerda al reparto de los territorios africanos que hicieron los colonizadores del siglo XIX. Y sin embargo, la línea fronteriza por-tuguesa es posiblemente una de las demarcaciones fronterizas más antiguas del mundo y con seguri-dad de Europa. Es tan antigua que existía antes de que los territorios que separa fueran realmente Por-tugal y Castilla. No es casual que desde su origen la frontera de Portugal y Castilla se llame la raya. Si para el mundo ibérico, púnico, romano, visigodo y

andalusí, la Península Ibérica constituía una unidad geográfica y política evidente, para los incipientes reinos cristianos del Norte la idea de Hispania era también un ideal más o menos utópico cuando se plantearon la reconquista de los territorios bajo el dominio musulmán de Al Andalus. La raya que en-tonces proyectaron sobre un territorio que no do-minaban establecía las obligaciones de conquista que cada reino del Norte asumía en la ingente tarea de recuperar Hispania para la cristiandad. Cuando la raya se fijó, los hispanos que habitaban Sevilla o Lisboa, Mérida o Évora (que por entonces habla-ban árabe y practicaban la religión islámica), no se plantearon que sus descendientes acabarían siendo castellanos o portugueses en función de a qué lado de la raya quedaba su ciudad. La raya significaba por tanto, un proyecto cultural o de formación de una cultura, y curiosamente un compromiso de no litigar entre ambas futuras comunidades.

Debates sobre traçados nas fortificações do Império, c. 1580: Projecto de Cascais (Portugal), por Leonardo Turriano, englobando o forte triangular e o castelo velho.(A.G.S., M.P. Y D. XLII-61).Implantação da bateria de assalto à Fortaleza de S. Julião da Barra (Portugal), perto de Lisboa, em 1581. (A.G.S., M.P. Y D. XVI-7).

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 41 4/16/12 10:13 AM

42

Una curiosa circunstancia en la degeneración de la lengua latina, aportaría un ingrediente cultural deter-minante a los proyectos culturales de ambos lados de la raya. En el reducto del Norte de la Península en el que se había confinado el latín, se concretaron tres nuevas lenguas que se extenderían hasta el Sur siguiendo las rayas pre-marcadas; el galaico-portu-gués en occidente, el catalán en oriente y el caste-llano en la parte central de la Península Ibérica. De esta forma la raya que delimitaba la frontera pre-cedió a la cultura que sustentaría la identidad de cada reino. Siglos más tarde, cuando a finales del siglo XV, ambos reinos, Castilla y Portugal, habían acabado la reconquista peninsular (se les había acabado la raya), acordaron, en el Tratado de Tor-desillas, fijar otra mucho más grande que repartía el mundo. Con independencia de la ironía del Rey de Francia cuando preguntó al Papa que en qué parte del testamento de Adán decía que el mundo debía repartirse entre castellanos y portugueses, la nueva raya, hija de la vieja raya, determinaría con los años

que en Brasil o Timor, que en Chile o Filipinas se terminara hablando portugués o castellano.

b. COHERENCIA Y SINGULARIDAD HISTÓRICA: una frontera fortificada ex -novo La aparición de las armas de fuego y el desarrollo de la fortificación moderna obligaron a una actualización permanente de las fortificaciones de las fronteras de los estados europeos. La frontera entre España y Francia, por ejemplo, presenta magníficas fortifica-ciones de cada periodo evolutivo de este proceso, desde la fortaleza de Salsas construida en 1497 hasta la fortaleza de San Fernando de Figueras de mediados del siglo XVIII. Pero la historia de la raya portuguesa es muy distinta. Desde finales del siglo XV Castilla y Portugal son aliadas, solventados sus problemas de límites en sus exploraciones por la raya del Tratado de Tordesillas, relacionadas sus familias reales hasta el punto de haber tenido un heredero común a principios del siglo XVI, el infante Miguel, muerto cuando era un niño, ambas coronas compar-

Forte dos Três Reis Magos, Natal (Brasil), 1596, cópia

de gravura holandesa, meados do séc. XVII.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 42 4/16/12 10:13 AM

43

ten incluso los ingenieros militares que fortifican sus dominios exteriores y en 1580 el rey Felipe II de Cas-tilla y Aragón recibe en herencia el reino de Portugal comenzando el periodo de la Unión Ibérica. Durante todo el siglo XVI y casi la mitad del siglo XVII la raya portuguesa es solo una delimitación ad-ministrativa e incluso la raya de Tordesillas se diluye hasta el punto que gran parte de la ocupación de Brasil, propiciada por Felipe II y sus descendientes, se realiza sin respetar su demarcación. Durante todo este tiempo las estrategias defensiva de la Corona Hispánica (el término España incluía originalmente toda la Península Ibérica) se centra en las costas atlánticas tanto europeas como ame-ricanas y los mejores proyectos de fortificación se ejecutan con una estrategia común ya sea en Cádiz o en Setúbal, en Cuba o en Brasil. Cuando en 1640 se produce la Secesión portuguesa de la Corona Hispánica (en Portugal lo llaman lógica-mente guerra de Restauración), coincidiendo con la sublevación de Flandes, Milán, Nápoles, Sicilia y Ca-taluña, con la guerra contra Francia y contra Holanda y con la amenaza turca, la raya que separa adminis-trativamente Castilla de Portugal no tiene ninguna fortificación operativa. La decisión de la Corona es-pañola de acudir a sofocar todas las sublevaciones y guerras menos la de Portugal (considerada poten-cialmente menos peligrosa) permitirá a los portugue-

ses plantear un proyecto global de fortificación de la raya, ejecutado en sus fases iniciales en muy pocos años y con una visión general del territorio y una ex-tensión que era completamente inédita en Europa y precedía en muchos años a los procesos de fortifica-ción sistemática de fronteras que Vauban llevaría a cabo en Francia. La fortificación de la raya supondrá, además de la garantía de supervivencia del nuevo Estado portugués, la garantía de supervivencia de la otra raya que dividía el mundo ya que sin la pequeña no tendría sentido la grande. Se producía además un fenómeno realmente singu-lar en la frontera, generándose una fuerte asimetría entre el lado portugués y el lado castellano. Para la Monarquía Española (a partir de la Secesión portu-guesa el término España empezó a usarse para de-signar la parte no portuguesa de la Península Ibérica), no tenía sentido fortificar una frontera que no se reco-nocía como tal y desde la que no era previsible sufrir una invasión. Por el contrario, para Portugal, la raya debía fortificarse para ser capaz de resistir el ataque de la que entonces era la primera potencia militar del mundo. Esta asimetría se traducía también en la propia estrategia de ambos bandos. Para España, la campaña de Portugal era, en el mejor de los casos, la consolidación de posiciones para cuerpos de ejér-cito que llegado el caso pudieran reconquistar el te-rritorio portugués y por tanto las pocas obras que se

Projectos para Grol e para Dama, na Flandres, 1617. Valladolid, Archivo General de Simancas, Mapas, Planos y Dibujos, IV-85 y IV-86.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 43 4/16/12 10:13 AM

44

plantearon eran básicamente fuertes. Para Portugal la defensa de la frontera recaía sobre el conjunto de la población y el sistema defensivo se basaba en ciuda-des fortificadas que aprovechaban núcleos previos existentes pero en los que las nuevas defensas, nor-malmente mucho más extensas que las medievales, supusieron grandes fenómenos de transformación y crecimiento urbano. Aún siendo una raya teórica, proyectada en la Edad Media, a medida que avanzó la Reconquista la de-limitación fue buscando cierto acomodo a los acci-dentes geográficos. Los grandes ríos peninsulares que en dirección Este-Oeste llegaban a Portugal, giraban bruscamente en dirección Sur al llegar a la raya marcando una especie de frontera natural a la que la raya se había ido acomodando; desde la cesión a Portugal de los territorios de la Ribera del Coa en el siglo XIII hasta la incorporación a España de Olivenza (situada al Este del Guadiana) en el siglo XIX, este ajuste fue un proceso casi natural. De esta forma, salvo el citado caso de Olivenza, el proyecto de defensa de la raya portuguesa es un prodigio de

racionalidad y economía de medios y son varios los aspectos especialmente singulares que presenta, al-gunos sorprendentes incluso, si intentamos encajar-los en la idea común que podemos tener de una línea fortificada antigua. El primer aspecto novedoso es el carácter trasversal o de defensa en profundidad con el que se concibe la fortificación. El conjunto de accidentes geográfi-cos, ríos no vadeables o montañas infranqueables convertían la defensa de la frontera en la defensa de un conjunto de pasos y normalmente se repetía el esquema de un fuerte avanzado en territorio enemi-go, una ciudad fortificada que cerraba el paso y una defensa en retaguardia, normalmente otro núcleo pe-queño. Este mecanismo, unido a la inicial pasividad española explica que la mayor parte de los fuertes situados en el lado español fueran construidos por los portugueses. Es el caso de los fuertes de Goyan, adelantado de Vilanova de Cerveira, o Salvatierra, adelantado de Monçao, en Galicia, del fuerte de San Carlos, adelantado de Bragança, en Sanabria o de las fortificaciones de San Felices de los Gallegos, adelantado de Almeida, en Salamanca. Caso apar-te, aunque también adelantado en alguna medida, al otro lado del Guadiana, es la fortificación de Olivença, que responde a un núcleo medieval ya portugués ini-cialmente. Hay también fuertes de defensa de pasos españoles como el de la Concepción en Salamanca o Amorín en el Miño, que además en este caso pro-piciaron la construcción de otro fuerte español en el lado portugués de apoyo al paso, y ambos tenían la misión de permitir la incursión en territorio al otro lado de la frontera evitando los pasos mejor protegidos. Todos estos elementos responden en el fondo a una disposición de plazas fuertes principales tan pobla-das que una frente a otra impedían el paso directo de la frontera: Valença do Minho, frente a Tuy, Almeida frente a Ciudad Rodrigo, Elvas frente a Badajoz. La singularidad portuguesa radica en que mientras en el lado español las ciudades fronterizas tenían un tama-ño e importancia significativa desde la Edad Media (las tres citadas son sede episcopal), las poblaciones portuguesas enfrentadas al otro lado de la frontera eran respectivamente mucho más pequeñas, y la fortificación que en ellas se construyó fue extraordi-nariamente más potente que la que se hizo en las

Ypres, c. 1666, por Salomón van Es, “Resumen de todas las

plantas de las villas y lugares de los Países Bajos…”, Madrid, Biblioteca Nacional de España.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 44 4/16/12 10:13 AM

45

ciudades españolas. El efecto de esta operación fue que todos los núcleos urbanos se ampliaron enor-memente y se construyó ciudad con todos los edifi-cios militares que la frontera necesitaba (hospitales, intendencias, parques de artillería, cuarteles, caser-nas ). De esta forma mientras en ciudades como Tuy, Ciudad Rodrigo o Badajoz los planes de fortificación siempre suponían la destrucción de parte del caserío existente, en las “nuevas” ciudades fortificadas por-tuguesas el problema era rellenar con nuevo caserío el espacio existente entre las murallas medievales y las mucho más amplias murallas modernas. Se daba además la paradoja de que la estrategia defensiva portuguesa necesitaba de la participación directa de la población mientras que la estrategia ofensiva es-pañola se encomendó, en las pocas ocasiones que esto ocurrió, a cuerpos de ejército. Podría pensarse que las nuevas ciudades fronterizas se concibieron como una especie de repoblación o reordenación de la población de la frontera con la intención de tener núcleos urbanos potentes que sirvieran de tapón fronterizo.

c. COHERENCIA Y SINGULARIDAD TECNO-LÓGICA: un proyecto excepcional del siglo XVII. Desde antes incluso de la Unión Ibérica en 1580, la fortificación portuguesa no era tecnológicamente distinta de la del resto del Imperio español. La es-trategia, aplicada por la monarquía hispánica desde 1580, de defensa de las costas atlánticas había do-tado a Portugal, a sus islas y a sus colonias de algu-nas de las fortificaciones más avanzadas del mundo pero nada distintas a las que se levantaba simultá-neamente en las otras fronteras del Imperio. Fortifica-ciones filipinas como las construidas en Setúbal, en Azores, en Cabo Verde o en Natal en Brasil, en nada distintas a las construidas a veces por los mismos ingenieros en Ibiza, Cádiz, Orán o Cuba. De hecho durante el periodo que va desde finales del siglo XVI hasta 1640, las academias y escuelas del Imperio español, principalmente en Milán y Bruselas, habían desarrollado un corpus de fortificaciones que se ex-tendían y se pusieron en uso desde Malta a Flandes, pasando por la Lombardía o la frontera de los Piri-neos, y que incorporaban obras avanzadas y el con-junto de soluciones que luego muchos historiadores

llamarían impropiamente el modelo Vauban. Podría decirse incluso que durante el periodo de la Guerra de los Treinta Años, las potencias católicas, especial-mente el Imperio español y el austriaco pero también Francia, habían desarrollado un saber común, nor-malmente al amparo de las escuelas de matemáti-cas y también normalmente bajo el paraguas de los colegios de los jesuitas, ya fuera en Lisboa, en Sala-manca, en Madrid, en Roma, en París o en Lovaina1. 1 ver F. COBOS: «La formulación de los principios de la fortificación abaluartada: de la “Apología” de Escrivá (1538) al “Tratado” de Ro-jas (1598)”, en M. SILVA (coord.): Técnica e ingeniería en España. I. El renacimiento, Zaragoza, 2004 F.COBOS “la fortificación espa-ñola en los siglos XVII y XVIII: Vauban sin Vauban y contra Vauban “en M. SILVA (ed.) Técnica e ingeniería en España II: el siglo de las luces. Zaragoza 2005. págs. 469-519;

Planta de Novara (Itália), in Joseph Chafrion, “Plantas de las Fortificaciones de las ciudades, plazas y castillos del Estado de Milán”, Milán, 1687, Madrid, Biblioteca Nacional de España.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 45 4/16/12 10:13 AM

46

Fruto de esta actividad científica son todos los grandes tratados de matemáticas y fortificación que se publican en estos años y que culminarán en los grandes tratados de las escuelas españolas de Milán (Escuela de Palas, 1693), Bruselas (Medrano, 1700) y en todos los otros tratados que desarrolla-rían la práctica de Vauban. De esta forma cuando poco antes de 1640 Francia y España entran de nuevo en guerra y en ese año Portugal proclama su independencia, todos los ingenieros de las po-tencias católicas beben de las mismas fuentes. En esos años, el español Santans y Tapia publicaba su tratado en Bruselas y el portugués Enriques de Villegas el suyo en Madrid2; uno de los principales artífices de la fortificación de la frontera portuguesa era un jesuita profesor de la universidad de Lovaina,

2 Juan de SANTANS Y TAPIA: Tratado de fortificacion militar des-tos tiempos breve e intelegible puesto en uso en estos estados de Flandes, Bruselas, 1644. ENRÍQUEZ DE VILLEGAS, Diego: Acade-mia de fortificacion de plazas y nuevo modo de fortificar una plaza real diferente en todo de todos que se hallan en los autores que desta ciencia y arte escrivieron, Madrid, 1651.

y los ingenieros franceses y españoles compartían experiencias en la fortificación de Malta contra el peligro turco3. Puede decirse que la fortificación que nosotros asimilamos al primer y segundo sistema de Vauban ya estaba de hecho inventada y aparece no solo en los tratados de Pagan o los citados de Santans y Villegas, sino además en las fortificaciones pro-yectadas por los ingenieros de la Corona españo-la Garay, Médicis o el jesuita Francisco Isasi en la frontera pirenaica, en Flandes, en Milán o en Mal-ta. Y es esta tecnología la que por primera vez se aplicará de forma sistemática a toda una frontera en un proyecto que antecede con mucho a la sis-tematización de las defensas fronterizas francesas durante el reinado de Luis XIV y la dirección del Marqués de Vauban.

3 Sobre este particular ver F. COBOS y J.J. de CASTRO “los ingenieros, las experiencias y los escenarios de la arquitectura militar española en el siglo XVII” en A. CÁMARA (coord.) los ing-enieros militares de la monarquía hispánica en los siglos XVII y XVIII. Madrid 2005 págs. 70-94;

Nesta página / In this page

Traçado geométrico de uma fortificação pentagonal, in “Escuela de Palas, o curso

Mathematico...”, Milão, 1693. Madrid, Biblioteca Nacional

de España.

Construção geométrica da fortificação, por Antoine de Ville, in “Escuela de Palas, o

curso Mathematico…”, Milão, 1693. Madrid, Biblioteca

Nacional de España.

Na página seguinteIn the next page

Projecto para Ciudad Rodrigo (Espanha), por Pedro Moreau, 1735. AGS. MP. Y D. XIII-136

Fortaleza de Zamora (Espanha), proposta de fortificação, Juan Martín Cermeño, 1766. Centro

Cartográfico del Ejército, Archivo Cartográfico y Estudios Geográficos

E-7-2-341

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 46 4/16/12 10:13 AM

47

3. ALMEIDA EN LA RAYALa fortificación de la raya portuguesa puede realmen-te dividirse en tres grandes subsistemas. La frontera gallega, asociada principalmente al rio Miño, la fron-tera sur, asociada fundamentalmente al rio Guadiana hasta su desembocadura en el atlántico, y la frontera, llamada de Castilla la Vieja, coincidente con el valle del Duero. Los tres subsistemas son muy distintos por diversas causas. Así, mientras la frontera galle-ga presenta la singularidad de dividir un país rico y que paradójicamente tiene casi el mismo idioma, las fronteras del Duero y la de Guadiana dividen territo-rios culturalmente distintos (y mucho más pobres) y, en el caso Portugués, protegen las entradas direc-tas hacia Lisboa. Sobre el subsistema de la frontera del Miño hemos realizado recientemente un estudio global y un plan estratégico que permite reconocer el conjunto de las fortificaciones que pertenecen a los distintos grupos estratégicos4. El entendimiento global de este sector de la frontera y la valoración de sus elementos, desde grandes ciudades fortificadas como Valença do Minho a perdidos fuertes de tie-rra en mitad del bosque como el de Amorín, dibuja un marco global en el que cada parte no es nece-sariamente menos importante por sus condiciones constructivas originales. Es decir, el conjunto, fruto fundamentalmente de las guerras entorno a 1660 y de la presencia de importantes tropas Portuguesas y, en el caso de España, de los tercios viejos de Flan-des, solo tiene sentido si se conserva cada una de las piezas y de las relaciones espaciales entre ellas que conforman el conjunto.Para la frontera castellana, tanto en la de Castilla la vieja como en la Extremadura y Andalucía, no hay un estudio ni un plan equivalente que analice el conjunto de las fortificaciones fronterizas. Ya he-mos dicho que parte de los fuertes Portugueses se sitúan actualmente (e incluso entonces) en territorio Español y no tiene sentido ningún análisis que no implique ambos lados de la frontera. De esta forma la parte fronteriza del Guadiana capitaneada por El-4 Una síntesis de este Plan en O Plan director das fortalezas transfronteirizas do Baixo Miño. Xunta de Galicia 2006 (http://media.culturaedeporte.org/cultura/PATRIMONIO/Fortalezas.pdf). También puede verse COBOS F. y HOYUELA A. “metodo-logía de estudio e intervención en el plan director de las fortale-zas fronterizas del bajo Miño” Actas del congreso de castellolo-gía ibérica. Guadalajara 2005

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 47 4/16/12 10:13 AM

48

vas no puede entenderse sin incluir a Extremóz en tierras Portuguesas y a Olivença, ahora en España.Dentro de la raya, Almeida es por derecho propio la pieza clave de la frontera del Valle del Duero y curiosamente la que más relevancia relativa tiene respecto a las otras obras singulares secundarias de su territorio. Se ha dicho que su diseño estaba realizado o inspirado en los diseños de Antoine de Ville, pero realmente su tendencia a la regularidad, la no siempre posible búsqueda del ángulo recto flan-queado o sus obras exteriores con contraguardias son ejemplo paradigmático de la fortificación de mediados del siglo XVII y se puede rastrear igual-mente en el francés de Ville, en el español Santans o en el portugués Villegas. No es en el fondo muy distinta de las soluciones empleadas en Elvas o en Valença do Minho por más que se atribuya aquellas fortalezas a otros autores. Es más, podría conside-rarse incluso que Almeida es casi el paradigma del modelo de la fortificación de la época y del conjunto de la frontera en la medida en que ni su situación to-pográfica ni la disposición de la ciudad previa con-dicionaron tanto su traza como en los casos citados de Valença y Elvas .Podríamos intentar establecer el grado de novedad de las soluciones empleadas en Almeida; algunos historiadores se sentirían más felices si estableciéra-mos una vinculación inequívoca entre el tratado de de Ville o cualquier otro tratado con lo construido en Almeida; podríamos incluso aceptar que la incorpo-ración de grandes reformas en los años siguientes a su construcción ( cuarteles, puertas,..) enriqueció significativamente el patrimonio de la ciudad forti-ficada Pero todo ello serían solo argumentos vali-dos si pretendiéramos establecer una poco práctica competencia con las otras ciudades fortificadas de la raya, con las otras ciudades fortificadas de las otras rayas, con cualquier otra ciudad fortificada de la época. En realidad el único argumento verdadera-mente importante es que la fortificación de Almeida es una de las piezas claves de un sistema de carác-ter propio que es la fortificación Portuguesa de la raya, que puede ser dividido y analizado en diversos subsistemas pero que no tiene ningún sentido si no se valora en su conjunto, que no tiene ningún sen-tido sin Almeida.

Bibliografía básica:ALMEIDA - Actas das jornadas de arquitectura militar abaluartada CEAMA nº 1, Almeida, 2008 COBOS, Fernando. – “Dessins de fortification dans “Os desenhos das antigualhas” du portugais Francisco de Holanda (1538 -1540)”. Actas de las jornadas de estudio Atlas militaires manuscrits européens, Paris 2004; – “la formulación de los principios de la Fortifica-ción abaluartada” en SILVA, M. (ed.)Técnica e inge-niería en España: El renacimiento, Zaragoza 2004; – “La Fortificación Española en los siglos XVII y XVIII: Vauban sin Vauban y contra Vauban” en SILVA, M. (ed.) Técnica e ingeniería en España: El Siglo de las Luces, Tomo II, Zaragoza 2005; COBOS, Fernando y CASTRO, Javier de– “Los Ingenieros, las Experiencias y los Esce-narios de la Arquitectura Militar Española en el S.XVII” en CAMARA, A. (Coord.) Los Ingenieros Militares de la Monarquía Hispánica en los Siglos XVII y XVIII, Madrid 2005.COBOS, Fernando, CASTRO, Javier de, y SáN-CHEZ-GIJóN, Antonio. – Luis Escrivá, su Apología y la Fortificación Impe-rial, Valencia 2000 NAVARRO BROTONS, V.– “la renovación de la actividad científica en la España del siglo XVII y las disciplinas físico-ma-temáticas” en M. SILVA (ed.) Tecnica e ingeniería en España II: el siglo de las luces, Zaragoza 2005. págs. 33-73

* Arquitecto – Investigador

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 48 4/16/12 10:13 AM

49Almeida on the Raia (Spanish & Portuguesse border line)Fernando Cobos-Guerra *

REPORT ON THE FORTIFICATIONS OF THE PORTU-GUESE “RAIA” (BORDER LINE) FOR ITS DESIGNA-TION AS A CANDIDATE FOR WORLD HERITAGE SITE

1. THE FORTIFICATION AS A SYSTEM: regarding the characterisation and valuation of the Territorial Her-itage Systems. “Cultural itineraries”, “serial declarations”, “territorial herit-age systems” and “cultural landscapes” are new concepts for characterising our heritage, some not so recent, which correspond to criteria of classification to a greater or lesser extent regulated by the different doctrines used, in which we attempt to fit cultural and heritage phenomena that do not necessarily correspond to the aprioristic criteria of clas-sification which we have established. Curiously, some of these characteristics which serve to characterise each of these categories come from converting specific, concrete cases in general laws. It is difficult, for example, to find a cul-tural itinerary which includes the whole set of values which abound on the Pilgrims´ Road to Santiago de Compostela. The fortification, and specifically the modern fortifica-tion, is the architectural phenomenon which is best suited to being understood as a system. A single for-tification on its own does not really make sense within the strategy which gave rise to it and which makes it comprehensible in the territory. Furthermore, the char-acterisation of the system allows us to understand the value of each of its parts (independently of the fact that these parts, taken one by one, are not exceptional) as an indispensable part of the uniqueness of the whole. That is to say: the value of the whole is greater than the sum of the values of each of the individual parts. The system is also integrated with the territorial and spatial relationships of each of the parts, with the coherence of the functioning as a whole, with the cultural framework which the implantation of the system generates within the territory, independently even of the degradation or disappearance of some of the elements of the system. The different doctrines concerning the criteria to be used for the recognition and valuation of a system have nor-mally been based on comparative studies which accen-tuated the exceptional aspects of the object which they wanted to valuate in relation to the other objects with which they were compared. Recently, however, some important advances have taken place in order to estab-lish certain objective criteria for recognising and valuat-ing the systems. The studies and debates which led to the acceptance of the candidature of the fortifications constructed by Vauban or the Master Plan for the Cross-Border Fortifications of the River Minho, to which we will refer later, and the elaboration of the Strategic Plan for the fortifications of Castile and Leon are some of the aids which allow us to establish these objective criteria. Fol-lowing the criteria which we recently developed for this Strategic Plan, the characterisation and valuation of a territorial heritage system began with a basic initial dis-tinction: a territorial heritage system could be “proper

or improper”. We understood that a proper system was that which was conceived as a system when it was con-structed. It was improper that which was recognised as a system when starting from the study and classification of the heritage conserved. For example, we could consider a system (which could give rise to a serial declaration) which was composed of all the Romanesque churches to which a Baroque sacristy was added. The group of buildings included in the system, distributed throughout Europe, would obviously not be a proper system since their inclusion depends on our arbitrary classification and, moreover, neither when the Romanesque churches were built, nor when the Baroque sacristies were added, were the builders aware of belonging to any system. We could consider, however, (even though the example is deliberately exaggerated) that this improper system has a (very open) chronological and (very unnatural) stylistic coherence, although it has no geographical coherence. On the other hand, we could establish a precise geograph-ical framework, even a cultural itinerary, and consider the system formed of all the monumental buildings located along the Pilgrims´ Road to Santiago or along the River Danube. Neither would these be a proper system given that, in the case of the Road to Santiago, some buildings would be proper to the use of the Road (bridges, hospitals, hostels, some castles, etc), constructed to service the road at the time of its historical creation. Other buildings, on the other hand, without underestimating their immense artistic value (the Constables´ Chapel in Burgos Cathedral or the Renaissance gunnery castle in Grajal de Campos), are on the Road for reasons other than those related to the true nature of the Road itself. In this case, we would have an improper territorial heritage system with geographical co-herence but without a historical or typological coherence. The exceptional value of a group of buildings is thus re-lated to the internal coherence of the whole and it is this coherence which allows us to identify it as a system. The fortifications designed by Vauban and the object of a serial declaration, for example, are a coherent system insofar as they correspond to a specific historical period and to a par-ticular technology and authorship. And although the group of buildings is not coherent from the geographical point of view, given that Vauban attended to the different fronts of the French Monarchy, they constitute an antecedent of great value to be taken into account. Having reached this point, we could consider that in the valuation of a territorial heritage system it appears logical to assign more value to the proper systems than to the improper ones and, within the former, to those which have a geographical and histori-cal coherence and which, furthermore, have a typological, stylistic and/or technological coherence.

2. SINGULARITY AND UNIQUENESS OF THE FORTI-FICATION OF THE PORTUGUESE “RAIA” (BORDER LINE).The fortification of the Portuguese border line can be considered quite rightly as a proper system, since it was

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 49 4/16/12 10:13 AM

50

conceived as such when it was constructed. We will see that it is also geographically coherent as regards its implantation on the border line, chronologically coher-ent since we are dealing with a global project defined over very few years and technologically or typologically coherent insofar as it responds perfectly to certain spe-cific principles of fortification from the middle of the 17th century. It is the sum of these factors which makes the fortification of the Portuguese border line a singular and unique heritage site. There are other frontiers with forti-fications, other groups of coetaneous fortifications and, obviously, other outstanding examples of 17th century fortification but this is a case in which the coherence of the system means that its value is greater than the sum of the values of all the elements which comprise it.

A. GEOGRAPHICAL COHERENCE AND SINGULAR-ITY: the “raia” as a cultural projectFrontiers have had a bad press. They usually separate human communities who consider themselves different and mark a limit between them or they are the result of the imposition of an external power which divides com-munities belonging to the same culture. If we observe the political map of the Iberian Peninsula, the frontier which separates Portugal from the rest of the peninsula appears to be an arbitrary line which recalls the parti-tioning of Africa carried out by the imperialists in the 19th century. However, the Portuguese border line is possibly one of the oldest frontier demarcations in the world and certainly in Europe. It is so old that it existed before the lands that it separates were really Portugal and Castile. It is no coincidence that, since its origin, the frontier be-tween Portugal and Castile has been called the “Raia” (line). If, for the Iberian, Punic, Roman and Andalusian world, the Iberian Peninsula constituted an obvious ge-ographical and political unit, for the incipient Christian Kingdoms of the north the idea of Hispania was also a more or less utopian ideal when the Reconquest of the lands under the Arab domination of Al Andalus was first mooted. The border line which was then projected onto a territory which the Christians did not dominate estab-lished the obligations which each northern Kingdom as-sumed in the enormous task of regaining Hispania for Christianity. When the line was fixed, the Hispanics who inhabited Seville or Lisbon, Merida or Evora (who at that time spoke Arabic and professed the Muslim religion) could not have imagined that their descendants would end up being Castilians or Portuguese according to what side of the line their city was situated. The border line meant, therefore, a cultural project or the formation of a culture and, curiously, a commitment between the two future communities not to dispute it. A curious circumstance in the break up of the Latin lan-guage would add a cultural ingredient essential for the cultural projects of both sides of the border line. In the pocket of the Northern Peninsula to which Latin had been confined, three new languages sprang up and spread

southwards following the pre-marked border lines: Gali-cian-Portuguese in the west, Catalan in the east and Cas-tilian in the central part of the Iberian Peninsula. In this way, the line which delimited the frontier preced-ed the culture which would sustain the identity of each kingdom. Centuries later, at the end of the 15th century, when both Kingdoms (Castile and Portugal) had com-pleted the Reconquest of the Peninsula (the border line had run out) they agreed, in the Treaty of Tordesillas, to fix another, much longer line which divided the World. Independently of the irony of the French King when he asked the Pope in which part of Adam’s testament it said that the World should be divided between Castil-ians and Portuguese, the new border line, child of the old line, would, over the years, determine the fact that in Brazil or Timor, in Chile or the Philippines, the people spoke either Portuguese or Spanish.

B. HISTORICAL COHERENCE AND SINGULARITY: an ex-novo fortified frontierThe appearance of fire arms and the development of the modern fortification forced a continuous updating of the fortifications of the frontiers for European countries. The frontier between Spain and France, for example, presents magnificent fortifications from every evolu-tionary period of this process, from the Salsas Fortress constructed in 1497 to the San Fernando de Figueras Fortress from the middle of the 18th century. But the his-tory of the Portuguese “Raia” is very different. From the end of the 15th century Castile and Portugal were allies with the problems of delimiting their explorations in the New World resolved by the Treaty of Tordesillas and their royal families interrelated to such an extent that the two countries had a common heir at the beginning of the 16th century (Prince Miguel) but who died in infancy. Both crowns even shared military engineers who fortified their foreign domains and in 1580 King Philip II of Castile and Aragon inherited the Kingdom of Portugal, thus begin-ning the period of Iberian Union. Throughout the entire 16th century and almost half of the 17th century the Portuguese border line was only an ad-ministrative delimitation and even the divisional line of the Treaty of Tordesillas was blurred to such an extent that a large part of the occupation of Brazil, promoted by Philip II and his descendants, was carried out without respecting its demarcation. Throughout this time the defensive strategies of the His-panic Crown (the term “Spain” originally included all the Iberian Peninsula) was centred on the Atlantic seaboards, both European as well as American and the best fortifi-cation projects were executed with a common strategy whether it be in Cadiz or in Setubal, in Cuba or in Brazil. When, in 1640, the Portuguese Succession to the His-panic Crown took place (in Portugal, logically, they call it The War of Restoration), coinciding with the uprisings in Flanders, Milan, Naples, Sicily and Catalonia, with the war against France and Holland and with the Turkish

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 50 4/16/12 10:13 AM

51

threat, the border line which administratively separated Castile from Portugal had no operative fortifications. The decision of the Spanish Crown to try to put down all the uprisings and wars except the one in Portugal (considered potentially the least dangerous) would allow the Portuguese to draw up a global project for fortifying the border line, executed in its initial stages in very few years and with a general vision of the territory and an extension that was completely unheard of in Europe and which predated by many years the processes of sys-tematic fortification of the frontiers which Vauban was to carry out in France. The fortification of the “Raia” would mean, as well as guaranteeing the survival of the new Portuguese nation, the guarantee of survival of the other border line which divided the World since, without the short line, the long one would make no sense. Furthermore, a really extraordinary phenomenon took place on the frontier, generating a strong asymmetry be-tween the Portuguese side and the Castilian one. For the Spanish Monarchy (after the Portuguese Succes-sion the term “Spain” began to be used to designate the non-Portuguese part of the Iberian Peninsula) it made no sense to fortify a frontier which was not recognised as such and across which they were unlikely to suffer an in-vasion. On the other hand, for Portugal the line had to be fortified in order to resist any attack from what was then the greatest military power in the world. This asymmetry was also translated into the strategy of both sides. For Spain, the Portuguese campaign was, in the best-case scenario, the consolidation of the positions for the army corps which, if the situation occurred, could reconquer the Portuguese territory. Therefore, the few works which were proposed were basically forts. For Portugal the defence of the frontier fell to the whole population and the defensive system was based on fortified cities which took advantage of previously existing population cen-tres but in which the new defences, normally much big-ger than the medieval ones, involved great changes as well as considerable urban growth. Even though it was still a theoretical border line, drawn up in the Middle Ages, as the Reconquest advanced, the de-limitation sought a certain adaptation to the geographical reality. The great rivers of the peninsula, which flowed in an east-westerly direction into Portugal, turned abruptly in a southerly direction when they reached the border, creating a kind of natural frontier to which the border line had slowly adapted. From the time of the cession to Portugal of the lands of the Ribera del Coa in the 13th century to the incor-poration of Olivença into Spain (situated to the east of the River Guadiana) in the 19th century, this adjustment was an almost natural process. In this way, except for the previ-ously mentioned case of Olivença, the defensive project of the Portuguese “Raia” was notable for its rationality and economy of means and there are several especially ex-traordinary aspects which it displays, even some surpris-ing ones, if we try to fit them into the common idea which we might have of an ancient fortified border.

The first novel aspect is the transversal nature or deep defence according to which the fortification was con-ceived. The set of geographical circumstances, the unfordable rivers or the insurmountable mountains con-verted the defence of the frontier into the defence of a group of passes and normally the plan of a forward fort in enemy territory, a fortified city which blocked off the pass and a rearguard defence, normally another small population centre, was repeated. This mechanism, linked to the initial Spanish passivity, explains why the majority of the forts located on the Spanish side were built by the Portuguese. This is the case of the forts of Goyan, the forward fortifications of Vilanova de Cerveira, or Salvati-erra, the forward fort of Monçao, in Galicia, of the fort of San Carlos, the forward fort of Bragança, in Sanabria or of the fortifications of San Felices de los Gallegos, the forward fort of Almeida, in Salamanca. A case apart, al-though also somewhat forward, on the other side of the river Guadiana, is the fortification of Olivença, which cor-responds to an initially Portuguese medieval settlement. There are also defensive forts protecting the Spanish passes such as that of La Concepción in Salamanca or Amorin on the River Minho which, moreover, in this case propitiated the construction of another Spanish fort on the Portuguese side to back up the defence of the pass. Both had the mission of permitting the incursion into lands on the other side of the frontier, thus avoiding the better protected passes. All these elements essentially correspond to the layout of strong principal emplacements so populated that, one in front of the other, they prevented the direct cross-ing of the frontier: Valença de Minho facing Tuy, Almeida facing Ciudad Rodrigo and Elvas opposite Badajoz. The Portuguese uniqueness lies in the fact that, whilst on the Spanish side the frontier towns had been of con-siderable size and importance since the Middle Ages (the three towns mentioned were Episcopal sees), the Portuguese settlements facing them on the other side of the frontier were respectively much smaller and the for-tifications built there were extraordinarily more powerful than those constructed in the Spanish towns. The effect of this situation was that all the population centres grew enormously and a town was constructed with all the military buildings which the frontier needed (hospitals, town halls, arsenals, barracks, etc.). In this way, whilst in towns such as Tuy, Ciudad Rodrigo or Badajoz the forti-fication plans always involved the destruction of part of the outer quarters, in the “new” fortified Portuguese cit-ies the problem was to fill up the existing space between the medieval walls and the much bigger modern walls with new quarters. Moreover, it was paradoxical that the Portuguese defensive strategy was reliant upon the di-rect participation of the inhabitants while the Spanish offensive strategy was entrusted, on the few occasions that this occurred, to military corps. It might be thought that the new frontier towns were conceived as a type of repopulation or redistribution of the inhabitants of the

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 51 4/16/12 10:13 AM

52

frontier with the intention of having powerful settlements which would serve to block the frontier.

C. TECHNOLOGICAL COHERENCE AND SINGULAR-ITY: an outstanding 17th century project. From even before the Iberian Union of 1580, Portuguese fortification was not technologically different to the rest of the Spanish Empire. The strategy, applied by the His-panic monarchy, since 1580, of defending the Atlantic coasts had endowed Portugal, its islands and colonies, with some of the most advanced fortifications in the world but nothing distinct from those which were be-ing built simultaneously on other frontiers of the Empire. The Philippine fortifications such as those constructed in Setubal, the Azores and Cape Verde or in Natal in Bra-zil, were no different to those constructed, sometimes by the same engineers, in Ibiza, Cadiz, Oran or Cuba. In fact, in the period from the end of the 16th century until 1640, the academies and schools of the Spanish Empire, mainly in Milan and Brussels, had developed a corpus of fortifications that extended and were put into use from Malta to Flanders by way of Lombardy and along the Pyrenean frontier and which incorporated ad-vanced works and a set of solutions which many histo-rians would later incorrectly call the “Vauban model”. It could even be said that, during the period of the Thirty Years War, the Catholic Powers, especially the Spanish and Austrian Empire but also France, had developed a common pool of knowledge, normally under the influ-ence of the schools of mathematics but also, very often, under the umbrella of the Jesuit colleges, whether in Lis-bon, Salamanca, Madrid, Rome, Paris or Leuven1. One of the results of this scientific activity are all the great mathematical and fortification treatise which were published in those years and which would culminate in the great treatise of the Spanish schools of Milan (Palas School, 1693), Brussels (Medrano, 1700) and in all the other treatise which were to develop the practices of Vauban. In this way, when a little after 1640 France and Spain again went to war and in that same year Portugal proclaimed its independence, all the engineers of the Catholic powers drew upon the same sources. In those years, the Spaniard Santans y Tapia published his trea-tise in Brussels and the Portuguese Enriques de Villegas his own in Madrid2. One of the principal architects of the fortification of the Portuguese frontier was a Jesuit 1 See F. COBOS: «La formulación de los principios de la fortificación abaluartada : de la “Apología” de Escrivá (1538) al “Tratado” de Ro-jas (1598)”, in M. SILVA (coord.): Técnica e ingeniería en España. I. El renacimiento, Zaragoza, 2004 F. COBOS “la fortificación española en los siglos XVII y XVIII: Vauban sin Vauban y contra Vauban”, in M. SILVA (ed.) Técnica e ingeniería en España II: el siglo de las luces. Zaragoza 2005. pages 469-519; 2 Juan de SANTANS Y TAPIA: Tratado de fortificacion militar des-tos tiempos breve e intelegible puesto en uso en estos estados de Flandes, Brussels, 1644. ENRÍQUEZ DE VILLEGAS, Diego: Academia de fortificacion de plazas y nuevo modo de fortificar una plaza real diferente en todo de todos que se hallan en los autores que desta ciencia y arte escrivieron, Madrid, 1651.

professor of the University of Leuven and the French and Spanish engineers shared their experiences in the fortification of Malta against the Turkish threat3. It could be said that the fortifications which we assume to be Vauban´s first and second system had in fact already been invented and they appeared not only in the treatise of Pagan or those previously cited of Santans and Vil-legas but also in the fortifications drawn up by the engi-neers of the Spanish Crown: Garay, Médicis or the Jesuit, Francisco Isasi along the Pyrenean frontier, in Flanders or in Milan. And it is this technology which, for the first time, was to be systematically applied to an entire frontier in a project which considerably predates the systemisation of the French frontier fortifications during the reign of Luis XIV and the designs of the Marquis of Vauban.

3 ALMEIDA ON THE “RAIA” (BORDER LINE).The fortification of the Portuguese border line can re-ally be divided into three large subsystems: the Galician frontier, principally associated with the River Minho; the southern frontier, associated fundamentally with the Riv-er Guadiana down to its estuary in the Atlantic and the Old Castile frontier, coinciding with the Duero Valley. The three subsystems are very distinct for several reasons. Thus, while the Galician frontier displays the singularity of dividing a rich country which, paradoxically, had almost the same language, the Duero and the Guadiana frontiers divided culturally different territories (and much poorer) and, in the Portuguese case, they protected direct entry towards Lisbon. Regarding the Minho frontier subsystem, we have recently carried out a global study and a strate-gic plan which allows us to identify the group of fortifi-cations which belong to the different strategic groups4. The global understanding of this sector of the frontier and the evaluation of the different elements, from large forti-fied cities such as Valença do Minho to lost earth forts in the middle of the forest such as that of Amorín, paint a global picture in which each part is not necessarily less important because of its original building conditions. That is to say, the whole group, fundamentally the con-sequence of the wars around the year 1660 and of the presence of an important number of Portuguese troops and, in the case of Spain, of the veteran “tercios” (infantry regiments) from Flanders, only makes sense if each one of the parts is conserved as well as the spatial relation-ships between them which comprise the whole system.

3 See in this case F. COBOS and J.J. de CASTRO: “Los ingeni-eros, las experiencias y los escenarios de la arquitectura militar española en el siglo XVII” in A. CÁMARA (coord.) los ingenieros militares de la monarquía hispánica en los siglos XVII y XVIII. Ma-drid 2005 pages 70-94;4 A summary of this Plan in: O Plan director das fortalezas trans-froteirizas do Baixo Minho. Xunta de Galicia, 2006: (http://media.culturaedeporte.org/cultura/PATRIMONIO/Fortalezas.pdf). Also to be seen: COBOS F. and HOYUELA A. “Metodología de estudio e intervención en el plan director de las fortalezas fronterizas del bajo Minho” . Minutes of the Castellogía Ibérica Congress, Guadalajara, 2005.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 52 4/16/12 10:13 AM

53

For the Castilian frontier, both in Old Castile as well as in Extremadura and Andalusia, there is no study or an equivalent plan which analyses the whole group of frontier fortifications. We have already said that part of the Portuguese forts are currently situated (and even back then) in Spanish territory and an analysis which does not involve both sides of the frontier makes no sense. In this way, the frontier part of the River Guard-ian commanded by Elvas cannot be understood without including Extremóz in Portuguese territory and Olivença, now in Spain. Within the “Raia”, Almeida is in its own right the key piece on the Duero Valley frontier and, curiously, the one which has the most relative importance with respect to the other unique, secondary works in the region. It has been said that its design was carried out or inspired by the designs of Antoine de Ville, but really its tendency towards regularity, the not always possible search for the straight flanked angle or its outworks with counter-guards are paradigmatic examples of the fortifications from the middle of the 17th century and they can be traced not only to the Frenchman de Ville but also to the Spaniard Santans or the Portuguese Villegas. In fact, it is no different to the solutions employed in Elvas or Valença do Minho, however much those fortresses may be attributed to other authors. Moreover, it could even be considered that Almeida is almost the paradigm of the model of the fortifications of the period and the whole group on the frontier, insofar as neither its topographical location nor the previous layout of the town conditioned its design or that of the previously mentioned cities of Valença and Elvas. We could try to establish the degree of originality in the solutions employed in Almeida: some historians would feel happier if we established an unequivocal link be-tween de Ville´s treatise or any other treatise and the buildings constructed in Almeida. We could even ac-cept that the incorporation of large-scale reforms in the years after its construction (barracks, gates, etc.) sig-nificantly enriched the heritage of the fortified city. But these would only be valid arguments if we wished to establish unproductive competition with the other forti-fied cities of the border line, with the other fortified cities of the other borders or with any other fortified city of the age. In fact, the only truly important argument is that the fortification of Almeida is one of the key elements of a system with its own character which are the Portuguese “Raia” fortifications. They can be analysed and divided into diverse subsystems but it makes no sense if they are not valued as a whole and this can not be under-stood without Almeida.

* Architect – Researcher

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 53 4/16/12 10:13 AM

Paisagem de AlmeidaTeresa Andresen *

sendo os valores médios anuais da ordem dos 600 mm podendo atingir os 300mm.Território outrora bastante povoado, hoje apresen-ta uma baixa densidade populacional e os sinais do abandono agrícola estão bem patentes. O pa-drão da paisagem regista grande heterogeneida-de de parcelas tendo por base a agricultura de sequeiro onde a cultura do centeio prevalece lado a lado com extensas áreas ocupadas por matos e algumas manchas de áreas florestais. É cons-tituída por vários tipos de habitates naturais tais como os cursos de água corrente com comunida-

Almeida insere-se numa paisagem essencialmente planáltica, rematada a poente pelo vale encaixado do rio Côa que atravessa o concelho correndo de sul para norte. Na fronteira com Espanha, corre a ribeira de Tourões, afluente do rio Águeda. Predo-minam as formações graníticas de texturas varia-das mas com grande uniformidade sob o ponto de vista da composição mineralógica. A fortaleza encontra-se sobre o bordo de um complexo xisto-migamatítico que se estende em direcção ao vale do Côa e apresenta uma extensão de cerca de 5 km e 2 km de largura. A precipitação é escassa

Almeida vista a partir do plateau da “Meseta” que termina na margem

direita do rio Côa

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 54 4/16/12 10:13 AM

55

Diagramas da compreensão da estrutura geomorfológica da paisagem.

des de macrófitos dulciaquícolas (3260), cursos de água mediterrânicos permanentes com arrelvados higronitrófilos de Paspalo-Agrostion verticillati la-deados por cortinas arbóreas ribeirinhas de Salix e Populus alba (3280), matos baixos espinhosos mediterrânicos (4090); arrelvados xerófilos (6220), prados de fenos dominados por Arrhenatherum elatius Subsp. Bulbosum (6510), freixiais (91BO), carvalhais de Quercus pyrenaica (9230) e bosques ripícolas ou paludosos de amieiros e salgueiros (91EO)É de registar a presença de valores florísticos e faunísticos de interesse comunitário sendo que o concelho de Almeida se insere nos Sítios da Rede Natura do Douro Internacional e da Malcata.A fortaleza ou a cidadela de Almeida é um marco notável numa paisagem onde a vista se perde no céu tal a extensão da planura. Pinho Leal (1873) refere que “ Do castello da villa desfructa-se uma

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 55 4/16/12 10:13 AM

56

linda vista. D’elle se vê a cidade da Guarda, as villas de Castello Rodrigo, Castello Bom, Trancoso e ter-ritórios de 11 bispados portugueses e hespanhois: Lamego, Guarda, Coimbra, Vizeu, Braga, Miranda, Porto, Coria, Ciudad Rodrigo, Placencia e Sala-manca.”A fortaleza é um marco na paisagem mas é tam-bém ela a paisagem pois confere significado e constrói distinção própria de um território de fron-teira marcado pela planura imensa, de cor sazo-nal que oscila entre os ocres dourados e os ver-des cinzas sobre a qual pousa a vastidão celeste. A marca do homem na paisagem é muito antiga embora discreta e traduz-se num verdadeiro pu-zzle de parcelas onde pontuam árvores isoladas, pedregulhos, bosques, pombais, muros, aldeias. Almeida é mais do que uma fortaleza é de facto uma paisagem cultural que testemunha a relação do homem com os elementos naturais onde a soli-dão humana, a escassez de recursos e a abundân-cia de espaço se confrontam e convivem. Em Al-meida, paisagem de fronteira numa terra que mais parece de ninguém, a fortaleza simboliza a arte de saber esperar pelo desconhecido em permanente atitude de alerta. Aqui, a paisagem, como o tempo, não tem idade. 1

* Professora Catedrática da Universidade do Porto – Investigadora

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 56 4/16/12 10:13 AM

57The Landscape of AlmeidaTeres Andresen *

Almeida can be included in an essentially plateau-like land-scape, topped to the west by river Côa’s fitted valley, which goes across the council, streaming from south to north. On the frontier with Spain, the Tourões’ streamlet runs free, a secondary river of Águeda. The formations in granite are abundant, with varied textures but greatly uniform in what concerns the mineralogical composition. The fortress lies on the edge of a schist-migmatitic complex, which flows towards Côa’s valley and which is 5 km long and 2 km wide. Rain is quite scarce and the average annual values go around 600 mm and they might even reach 300 mm.A territory highly populated on the past, today it has a low population density and the signs for rural abandonment are quite evident. The landscape’s pattern records a great heter-ogeneity of parcels, which the predominance of dry farming, where the culture of rye still prevails side by side with wide areas taken over by the wilderness and some spots of forest. It is made up by several types of natural habitats, such as water courses featuring cultures of fresh water macrophytes (3260), permanent Mediterranean water courses of Paspalo-Agrostion verticillati grasslands, framed on the sides by riv-erside tree curtains of Salix and Populus alba (3280), low Mediterranean thorny bushes (4090), xerophile grasslands (6220), hay meadows dominated by Arrhenatherum ela-tius Subsp. Bulbosum (6510), groups of ash trees (91BO), groups of oaks of the Quercus pyrenaica type (9230) and ripiculous and swampy woods of alders and willows (91EO).One should register the presence of flora and fauna values bearing a communitarian interest, since Almeida’s council is included on the Sites of Rede Natura of Douro Internacional and Malacata. The fortress and the stronghold of Almeida is a remarkable landmark within a landscape where the view is lost on the plateau’s reach. Pinho Leal (1873) refers that “From the Cas-tel of the village, a beautiful view is enjoyed. From it, one can see Guarda, the villages of Castello Rodrigo, Castello Bom, Trancoso and the territories from 11 Portuguese and Spanish bishoprics: Lamego, Guarda, Coimbra, Vizeu, Braga, Miran-da, Porto, Coria, Ciudad Rodrigo, Placencia and Salamanca.” The fortress is a landmark on the landscape but it is, in itself, the landscape, because it adds meaning and it constructs a own distinction of a frontier territory marked by an immense plainness, with a color changing with seasons and oscil-lating between golden earth tones and grey greens, over which the celestial vastness resides. Man-made marks on the landscape are ancient, although discrete, and there are translated into a true puzzle of parcels, punctuated by lonely trees, boulders, woods, pigeon house, walls, and villages. Almeida is much more than a fortress; in fact, it is a cultural landscape that testifies the relation of mankind with natural elements, where human loneliness, the lack of resources and the abundance of space are confronted and forced to live together. In Almeida, a frontier landscape on a land that seems to belong to no one, the fortress is the symbol of art of knowing to wait for the unknown in a permanent alert at-titude. Here, landscape, as time, has no age. * Chair Professor of the University of Porto – Researcher

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 57 4/16/12 10:13 AM

pensar que desgosto eu senti por ter visto escapar tão perto de mim o objecto de tanta fadiga e de tantas privações de todos os géneros” (página 102, Diário de Junot).Enquanto Junot se apropria de Lisboa, encontrando o trono vazio e a armada fora do estuário, as tropas napoleónicas estacionadas em Espanha avançam com dificuldade sobre a Catalunha e Navarra. “Sire, a Espanha que nos dificultou a marcha tanto quan-to pôde, irá compartilhar daquilo que não nos quis ajudar a conquistar?” Nesta observação dirigida ao Imperador pressentia a impossibilidade da aliança com Espanha na ocupação de Portugal.Efectivamente, um mês antes da partida do príncipe regente, a 27 de Outubro, Portugal fora partilhado na mesa de negociações de Fontainebleau entre espanhóis e franceses. O Príncipe da Paz Godoy, ambicioso Primeiro-minis-tro de Espanha, pensou poder garantir um principado no sul de Portugal, mas os acontecimentos ultrapas-saram a sua cobiça e, claro está, também os desejos de Napoleão: “Conforme é verdade que o Príncipe da Paz é odiado em Espanha, ele é também objecto de execração da nação portuguesa”. Junot no seu movimento militar em Portugal começa a duvidar da partilha de Fontainebleau quando refere: “os planos do Príncipe da Paz já não são executáveis” (Diário de Junot, carta de 1/12/1808, página 105).Uma palavra para assinalar que desde 1805 os in-gleses eram a maior potência naval do mundo, de-pois de haverem dizimado em Trafalgar as esqua-dras espanhola e francesa…Este permanente jogo de contar navios levará a ou-tros movimentos no xadrez europeu. A Dinamarca perderá a sua armada sob custódia in-glesa e Copenhaga arderá após intenso bombarde-amento por decisão de Kenning. Com este golpe os ingleses evitaram que a armada dinamarquesa ca-ísse em mãos francesas. A 7 de Setembro de 1807 a Royal Navy recebe mais 68 navios vindos da Di-namarca. Poderia Lisboa sofrer o mesmo destino? Entretanto, Inglaterra oferece 10.000 soldados ao Príncipe Regente para suster os franceses, mas D. João recusa a proposta para manter a neutralidade.A 17 de Março de 1808, já com a Família Real e Corte no Rio de Janeiro e o governo do Príncipe

A decisão de transferir a capital de Portugal de Lis-boa para o Rio de Janeiro, salvou o Reino da ocu-pação francesa e a colónia da ocupação inglesa, longínquo desejo, aliás, dos britânicos que desde a segunda metade do século XVIII pretendiam esta-belecer casas comerciais no Brasil e exportar teci-dos de algodão para os domínios portugueses.O Príncipe Regente, convencido pelos ingleses e sob pressão militar francesa, guardou deste modo a soberania do reino e salvaguardou a integridade territorial do Império.Em 1810, a imprensa régia no Rio de Janeiro publi-cava uma edição já apresentada em Lisboa no ano anterior, da autoria de Soares Francos “Memória em que se examina qual seria o estado de Portugal se por desgraça os franceses o chegassem a dominar”. Se recuarmos à primeira invasão, a de Junot, e ain-da longe de pensar que Massena avançaria sobre Lisboa, o que só fará em Junho de 1810, a bondade da decisão do regente começa a clarificar-se. Aliás, o modelo de domínio francês na vizinha Espanha era um significativo sinal de sobressalto.Quando Junot entra em Lisboa a 30 de Novem-bro de 1807, onde fora embaixador, após um difícil avanço de um mês em território português, a Famí-lia Real, a Corte e milhares de portugueses, trans-portando um significativo volume dos seus perten-ces, navegavam desde a véspera ao longo da costa lusitana sob intensa tempestade. ”Sire, V.M. deve

D. João IV e as Invasões FrancesasRui Rasquilho *

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 58 4/16/12 10:13 AM

59

Regente constituído, o general Murat avança sobre Madrid. Godoy, o putativo príncipe do sul alentejano e al-garvio, havia-se colocado desde o final de 1807 ao lado de Fernando VII, obrigando o seu pai, Carlos IV, a abdicar, debilitando ainda mais o governo de Espanha.O avanço de Murat deve compreender-se na de-cisão de Napoleão de tornar Madrid capital de um estado dependente do Império, sem grandes pro-blemas militares.O grande erro de Napoleão, na opinião de José Luís Comellas foi ter julgado os súbditos pelos seus reis, Carlos IV e Fernando VII. O povo irá lutar contra o governo do francês José I, irmão do Imperador, assim que este se sentou no trono dos Bourbons espanhóis. Apesar de José I contar desde o início com os afran-cesados, normalmente intelectuais moderados, a maioria dos espanhóis considerava o rei francês um usurpador protegido por tropas estrangeiras.Comellas considera que esta luta do povo contra as tropas francesas ocupantes é o primeiro caso concreto, na história moderna, de “guerra total”. A Espanha conclamou todas as classes sociais, demonstrando coesão e valor de grupo. Refira-se contudo que a burguesia comerciante luta contra o francês ateu e o guerrilheiro camponês luta coberto de imagens piedosas. “La Virgen Del Pilar dice que no quiere ser francesa” , como salienta Pierre Vilar...A força popular foi de tal envergadura que os fran-ceses não conseguem conquistar a Andaluzia, con-trariando o povo à “estratégia de conquista pacífica traçada por Napoleão” como sublinham Fernando Cortazar e José Vesga.Com esta situação de revolta em várias regiões de Espanha, os franceses correm o risco de ficar iso-lados em Portugal com tremendas consequências para os seus exércitos.Napoleão em pessoa vem a Espanha acompanhado de 250.000 homens, vencendo em Ocaña (1809). O que resta da liderança espanhola vai refugiar-se na cidade de Cádis, depois de uma breve e insegura passagem por Sevilha. Só Múrcia e Huelva resis-tem, impondo a guerrilha que atormentava o exérci-to de linha francês até ao seu desastre final, quando

Wellington vence as tropas de ocupação em Arapil-les, no início do Verão de 1812.A 19 de Março de 1812, os últimos resistentes pro-mulgam a Constituição de Cádis, documento que quase foi imposto a D. João VI no Rio de Janeiro antes de regressar a Lisboa. Fernando VII ao regres-sar a Madrid assina esta constituição e inicia o seu governo absoluto que, aos poucos, foi perdendo a América.Estes acontecimentos são um excelente indicativo das contradições da Revolução Francesa e do abis-mo entre as ideias e a guerra.No final de 1806, após perder o seu poder naval em Trafalgar, Napoleão decreta o bloqueio continental, procurando com esta decisão económica fazer ajo-elhar a Inglaterra. A 22 de Outubro, o governo português assina em Londres uma convenção secreta o preparada por Domingos Sousa Coutinho e George Kenning, onde

D. João VIJosé Inácio S. Paio(a.,d., 1824)óleo sobre tela210x215 cm Mafra, PNM, invº1645

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 59 4/16/12 10:13 AM

60

No dia 16 de Novembro Sidney Smith bloqueia o porto de Lisboa e no dia seguinte a primeira invasão francesa avança pela fronteira de Segura, na pro-víncia da Beira. Junot vinha disposto a cumprir, no terreno, as decisões de Fontainebleau: “ os habitan-tes das aldeias que o meu destacamento atravessou receberem-nos bem e disseram ter ouvido falar de um exército francês, mas ainda supunham muito longe, também se tinha falado da guerra com os ingleses mas nada mais sabiam acerca disso. São extremamente miseráveis e a sua região não ofere-ce praticamente quaisquer recursos (…) V.M. deseja que esteja em Lisboa a 1 de Dezembro, e lá estarei” (Diário de Junot, página 97, 10/11/1807).É evidente a pressão política e militar sobre o go-verno português, agora no limite do seu bailado neutral. A França queria o confisco e expulsão dos ingleses e a posse da armada portuguesa, a Inglaterra não queria sobretudo que a armada pudesse cair nas mãos de Napoleão, e entendia dever apressar a sa-ída do Regente e da Corte.Sydney Smith e Lord Strangford esperam no Tejo a decisão de D. João. Junot, a 1 de Dezembro, no seu Diário refere um desembarque inglês em Peniche, manifestando ao Imperador a impossibi-lidade de o suster. Mais tarde, em carta de 6 de Dezembro, afirma ter sido a notícia apenas um bo-ato. Sabemos também pelo Diário que a 2 de De-zembro os portos de Setúbal e do Porto não estão ocupados. Junot, aliás, refere que a ocupação da cidade do Porto cabe a Espanha pelo Tratado de Fontainebleau. Sousa Coutinho, o embaixador português em Lon-dres, garante aos ingleses um sonho antigo, a aber-tura de um porto no Brasil para comércio directo - o algodão era importantíssimo para a indústria ingle-sa, mais do que o açúcar -, e garante também a ocupação da Ilha da Madeira, como já foi referido.A 25 de Novembro, o Conselho de Estado pede ao Regente que embarque. A este propósito Junot es-creve de Abrantes, a 25 de Novembro, ao Impera-dor dizendo: “ O príncipe ainda estava em Lisboa no sábado passado e não se falava lá da sua partida; ignoro o que ele decidiu depois disso” (página 99, Diário de Junot). No Tejo, 67 navios estavam prepa-

se decide que a corte seria transferida para o Brasil, bem como a ocupação da Ilha da Madeira, caso hou-vesse invasão do reino pelos franceses. Pretendia-se ainda com esta convenção “impedir que nem as co-lónias nem a marinha militar e mercante de Portugal, no todo ou em parte, caíssem nas mãos da França”.Cinco dias depois é assinado o Tratado de Partilha de Portugal em Fontainebleau, como já se referiu.

Napoleão I e os seus Marechais (Soult, Masséna,

Ney e outros)Litografia

76,5x57 cmLisboa, BNL, invº E – 2 P

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 60 4/16/12 10:13 AM

61

rados para zarpar e, no meio deles, a Armada Russa composta por dez navios com 610 canhões. Como termo comparativo refira-se que o forte de São Ju-lião da Barra tinha apenas 100 peças de artilharia e o de Cascais 56.Nos dias 27, 28 e 29, sucessivamente, a Família Real embarca, aguarda na barra que o vento sopre, e no 3º dia inicia a viagem atlântica.A 3 de Dezembro a frota luso-britânica, que fora obrigada a rumar para norte devido a um grande temporal, volta para sul passando em mar alto à la-titude de Lisboa.No Tejo continuava, em rigorosa neutralidade, a es-quadra russa sob o comando do Almirante Sinia-vin. Se este tivesse sabido em tempo útil do corte das relações entre Moscovo e Londres (o que havia ocorrido antes do embarque) talvez a história da tra-vessia não tivesse sido o que foi.Os russos jamais interferiram na política anglo-lusa. É Junot quem nos diz: ” têm mantido uma impas-sível neutralidade; calculo que não poderiam fazer outra coisa”. Junot, aliás, queixa-se ao Imperador a 2 de Dezembro por ter de alimentar a tripulação russa, o que prejudica naturalmente as tropas fran-cesas: “todos os dias nos comem 8000 rações que muito úteis nos seriam”.Em suma, a Família Real não foi aprisionada por Ju-not e o intendente Herman terá dito: “ Nous avons manqué nôtre affaire”. E Junot em 2 de Dezembro em carta a Napoleão refere: “ V.M. já sabe que a fro-ta portuguesa me escapou apesar da minha marcha rápida; só o vento nos podia favorecer mas foi-nos contrário.” A esquadra portuguesa, excepto três navios de linha e duas fragatas, todos em boas condições que ficaram em Lisboa, e um número significati-vo de navios mercantes, não foi arrestada pelos franceses. Nem a esquadra nem 150 milhões de cruzados levados pelo Príncipe Regente: “Eu não emigrei; transferi a minha corte de uma parte do meu reino para outra”, diria oportunamente o Re-gente de Portugal.Desprovidos de artilharia para dar espaço a milha-res de passageiros e toneladas infindáveis de carga (refiro 8 carruagens, a nova máquina da imprensa real, os arquivos do reino, os móveis, tapetes e qua-

dros de Mafra, Queluz e Ajuda), os navios fizeram a viajem atlântica e concluíram-na sem naufrágios ou falta de mantimentos. Hoje sabemos muito mais sobre a história da via-gem atlântica que trouxe para o Brasil o seu primei-ro rei e o seu primeiro Imperador. Kenneth Ligth – “A Transferência da Capital e Corte para o Brasil”, re-centemente editado pela editora portuguesa “Tribu-na da História”, acabou com alguns tabus.Ficámos por exemplo a saber que no dia 21 de De-zembro, o príncipe regente decidiu navegar sem escalas para o Brasil, e que no dia 16 de Janeiro entendeu rumar para Salvador. Todas estas decisões foram comunicadas pelos meios usados na época aos navios de escolta e, antecipadamente, aos portos de chegada.A higiene a bordo era caótica; por isso, admira que apenas os piolhos, que aparecem antes do Natal, a

Apoteose de Lord WelligtonDomingos António de Sequeirac. 1812Desenho a guache branco e cinza sobre papel acastanhado52,5x40,3 cmLisboa, MNAA, invº 1310 Des.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 61 4/16/12 10:13 AM

62

tamento neste país (…) sairei dele sem mancha (…) impedirei todas as lapidações” (Diário de Junot, 2 de Dezembro, página 109). Depois foi o que se sabe, com a conveniência dos ingleses que ocuparão to-dos os locais que haviam sido franceses. Jobson Arruda sublinha que as autoridades portuguesas foram figurantes passivos, ardilosamente manipula-dos pela diplomacia inglesa sob a liderança do ce-rebral Kenning. (“uma colónia entre dois impérios”).Quanto aos espanhóis, esses, após a abdicação dos Bourbons, presos por Napoleão algum tempo antes, já haviam regressado ao seu país. A 6 de Junho, na cidade do Porto, o Marechal Ballesta destitui o general comandante francês e proclama a restauração da dinastia de Bragança.A formação da Junta do Porto e a revolta de Olhão, que enviará ao Brasil um grupo de pescadores num frágil caíque para anunciar ao regente a restaura-ção, são momentos significativos do ressurgimento nacional. A 18 de Setembro, os ingleses restauram o Con-selho de Regência que Junot destituíra. O Con-selho irá tentar a estabilização social, no meio de uma precária situação económica, provocada pelo abandono dos campos por via da guerra e da trans-ferência para o Brasil do erário público. A tudo isto, e em consequência, acrescia um estado de anar-quia generalizada, e a distância das instituições ad-ministrativas que estavam agora no outro lado do Atlântico.Alguns meses antes, a 28 de Janeiro de 1808, D. João enviara ao Conde da Ponte, governador e ca-pitão General da Capitania da Bahia, a carta Régia que abre todos os portos do Brasil (e não apenas um, como já foi referido) aos navios das potências que se achavam em paz e harmonia com a Real Co-roa. Apenas o pau-brasil ficava preservado para uso da Coroa, conjuntamente com outros “devidamente estancados”.A Escola Médico Cirúrgica é fundada a 18 de Fe-vereiro, criaram-se entretanto reforços militares e abriram-se estradas em particular para o Sul. Foram estas medidas de alcance menor, mas pro-vam que o Príncipe Regente, que havia desembar-cado sem conselheiros, sabia bem que iniciativas deveria tomar. A administração joanina iniciava o

22, tenham sido o único transtorno sanitário colec-tivo da longa viagem.Estas investigações dos diários de bordo, em par-ticular da esquadra inglesa, permitem-nos concluir que se constituíram duas frotas por vontade de D. João: a pequena, escoltada pelo Beresford, trará a Salvador a 21 de Janeiro a Rainha, o Regente, Carlo-ta Joaquina e o futuro Imperador do Brasil, D.Pedro; a frota grande seguiria para o Rio, onde fundeia a 17 de Janeiro. A frota pequena alcançará o Rio de Janeiro muitas semanas depois, procedendo-se ao desembarque protocolar a 7 de Março.No cais da partida, no reino, na ausência da Corte, o povo vivia horas amargas de fome e violência.Junot abandona Portugal após a assinatura da con-venção de Sintra a 30 de Agosto de 1808. Portugal não intervirá no acordo franco-inglês. Os franceses só sairão em Outubro, com direito a saque e em navios ingleses: “ no respeitante ao meu compor-

Marechal BeresfordDês. Francisco da Cunha

Grav. Constantino de Fontes1811

Gravado a buril21,5x18,5

Reprodução ZincogravadaLisboa, BNL, invº E – 353 P.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 62 4/16/12 10:13 AM

63

segundo período da sua acção governativa que só terminará em 1821.Até ao final do ano que percorremos, 1808, as Jun-tas multiplicam-se em Portugal e são, por ausência de governo, investidas de poderes civis e militares, sendo facilmente entendido que deste modo foram origem de muitos excessos e contradições.Pequenas vinganças, julgamentos arbitrários que levaram a chicoteamentos públicos, confisco de bens, enforcamentos e fuzilamentos tornaram-se comuns, em desfavor dos que foram considerados afrancesados.Pouco a pouco as Juntas do Governo Supremo do Porto, no Norte, e o Supremo Conselho do Reino do Algarve, no Sul, conseguem sobrepor-se a outras Juntas Provisionais que mantiveram, contudo, a sua jurisdição local – como sublinha Ana Canas Martins.Todos conhecemos a dificuldade do exercício polí-tico, por vezes hipócrita, por vezes cínico, por vezes despótico: por isso compreende-se que as Juntas, embora tivessem sido eleitas em Congresso e sob a autoridade do Príncipe Regente, nunca encontra-ram uma linha de actuação comum. Aliás as difí-ceis comunicações internas e de transporte para tal contribuíram também. Por outro lado, as decisões reais demoravam, entre o ir e vir ao Rio de Janeiro, no mínimo 6 meses.Sr. Arthur Wellesley desembarca na foz do Mondego e, conjuntamente com o General Bernardim Freire de Andrade derrotarão na Roliça e no Vimeiro as tropas do Junot, embora a 23 de Agosto a propaganda fran-cesa dê as suas tropas como vencedoras. Restaurada a Regência, as Juntas perderiam influên-cia restando agora aos ingleses perseguir os afran-cesados, afinal todos os que ficaram e que, a pedido do Regente, colaboraram com o ocupante francês.No Brasil, a abertura dos portos, com as suas taxas, seria um dos pilares da Independência a garantia do funcionamento do Banco do Brasil, e um prece-dente para a circulação de pessoas que em breve ocorreria no Brasil.Em Fevereiro de 1810, no dia 19, são assinados entre Portugal e a Inglaterra dois desequilibrados Tratados, o de Comércio e Navegação e um outro, mais diplomático, de Aliança e Amizade. Pelo meio assinou-se a Convenção sobre Paquetes.

Talvez o conteúdo do primeiro documento pudesse ter sido menos favorável para Portugal, ou menos generoso para os ingleses: é certo que em causa estava a revogação do gasto Tratado comercial de Meetween, assinado no século XVIII, mas o Tratado estava previsto na alínea sétima da Convenção Se-creta de Londres.Seria por isso difícil a D. Rodrigo de Sousa Coutinho e Lord Strangford assinarem em nome do Regente D. João e do Rei Jorge III, alterando o Consulado estabelecido.Os ingleses tinham então toda a força diplomática que lhe era dada pela fraqueza da França e pela nossa dificuldade em reagir entre duas invasões, a de Soult e a de Massena.Não sei se a liberdade de consciência e do exercício do culto anglicano pelos britânicos em todo o espa-ço do Império português deve ser vista como imposi-ção, ou como o exercício prático da Declaração dos Direitos do Homem. A mancha estará nos tribunais próprios que alteraram a igualdade de deveres e di-reitos dos cidadãos, sobretudo no Rio de Janeiro, e a crua realidade no modelo de liberalismo económico.Mas a crua realidade deste modelo de liberalismo económico, reflexo do poder britânico ou da fra-queza da administração portuguesa está no paga-mento dos direitos alfandegários “ad valorem”, 15% para os ingleses, 16% para os portugueses e 24% para os outros países;Cinco meses irá durar a segunda invasão, mas Soult não atravessará o Douro. Wellesley e Beresford, o primeiro comandando o exército inglês, o segundo o português, forçarão a saída dos franceses por Mon-talegre após uma violenta e dramática campanha, entre Março e Maio de 1809, em que o desastre na ponte das barcas no rio Douro contribuiu significati-vamente para aumentar o número de vítimas.Massena invadirá Portugal em Junho de 1810, um ano após a retirada de Soult. Os critérios tácticos adoptados, quer pelos france-ses quer pelo comando inglês de Wellesley, levaram à “desertificação” da agricultura e à deslocação das populações entre Almeida e Torres Vedras.Ney ainda vence no Côa, Almeida será ocupada, Massena que provará a derrota no Buçaco, nunca entrará em Lisboa devido às Linhas de Torres Vedras

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 63 4/16/12 10:13 AM

64

que iam do mar ao Tejo, onde operava uma arma-da inglesa preparada para bombardear as tropas francesas. Massena terá que recuar penosamente, acampando na região de Rio Maior junto à Serra dos Candeeiros, vigiado pelos ingleses acampados no Cartaxo. Saiu por onde entrara, por Almeida e Ciudad Rodrigo sempre acossado pelas tropas Anglo-lusas e praticando barbaridades junto das populações in-defesas na sua retirada para Espanha que, por sua vez, se vingavam nos soldados de retaguarda ou nos que se perdiam no terreno serrano.Portugal e Rússia serão os únicos países, ambos periféricos, que farão entre 1810-1812 retroceder as tropas napoleónicas. Em Portugal as Linhas de Tor-res Vedras pararão 200.000 mil homens. Na Rússia, o rigoroso inverno, matará 500.000 soldados e 1500 cavalos.Entre Novembro de 1814 e Junho de 1815 realiza-se o Congresso de Viena e constitui-se a Santa Alian-

ça. Napoleão esfuma-se na História, depois do go-verno dos 100 dias, mas o Ancien Régime também estrebucha. Portugal foi, todavia, humilhado por es-panhóis e franceses monárquicos nesse fórum, que ignoraram as contribuições aí decididas em nosso favor, e jamais nos será devolvida Olivença.A 16 de Dezembro, D. João cria o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.Será já com a arquiduquesa Leopoldina de Áustria no Rio que D. João, se torna VI. O primeiro Rei acla-mado na América, rei de “governadores absolutos” como refere Lúcia Pereira das Neves: “O sonho dele era fazer do Brasil o maior Império do mundo. Preten-dia mandar vir famílias de agricultores para as diver-sas províncias reservando Portugal para um príncipe sujeito ao seu governo. Pretendia estabelecer uma colónia de pescadores na enseada das garoupas em Sta. Catarina, outra de lavradores portugueses nas margens do Itajahy e outra em Canta-Gallo”.

Batalha das Guerras Peninsulares

Joaquim Gregório da Silva Rato1821

óleo sobre tela102x158 cm

Mafra, PNM, invº 1644

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 64 4/16/12 10:13 AM

65

Em 1820, na cidade do Porto há uma revolução de ideologia liberal que em breve se estende a Lisboa. Em 1822, uma avançada Constituição seria promul-gada (como acontecerá no Brasil em 1824). O desti-no do Rei ficou traçado nestes dois acontecimentos consequentes em Portugal (Revolução e Constitui-ção) que levarão ao afastamento dos ingleses e ao regresso do agora rei D. João VI a Lisboa. No dia 25 de Abril, quarta-feira, do ano de 1821, o rei e a rai-nha embarcam numa Nau de linha para uma viagem sem história de mais de 2 meses, desembarcando no Cais das Colunas em Lisboa, a 3 de Julho, onde o “Vintismo” obrigará o rei ao exercício da sua curta experiência liberal, curta, aliás, porque entre 1823 e 1826 volta à sua vocação absolutista, iluminada. D. João era agora Rei de Portugal e Imperador Hono-rário do Brasil. Ao olharmos cuidadosamente a História verifica-mos que D. João Regente e D. João Rei foi sempre o “eixo em torno do qual girou a história de Portu-gal” uma história também de franceses e ingleses, e destes ainda teremos que suportar mais tarde, em 1890, o Ultimatum que nos obrigará a perder os di-reitos de posse entre Angola e Moçambique, que estimulará o caminho da República.O que fica para concluir, se a História não pára?A Revolução Francesa foi o grande motor das ideias de emancipação na América.As independências americanas, de Norte a Sul, do promissor continente ajudarão à construção alar-gada do constitucionalismo. Lentamente, na visão contemporânea, mas de forma irreversível, quando hoje as analisamos no resguardo da distância de dois séculos.Os documentos constitucionais foram a maior vitó-ria do século XIX, a Revolução Industrial Inglesa a porta para o liberalismo económico – e aqui de novo lembro a Abertura dos Portos pelo Príncipe Regen-te, de extraordinárias consequências para o futuro do Brasil independente.Houve avanços e recuos, no remoinho das certezas e das dúvidas. Dos textos constitucionais apenas o americano do Norte seguiu um caminho sem pedras, porque as outras leis fundamentais foram perturba-das por relâmpagos absolutistas: Cadiz, em 1812, foi ensombrada por D. Fernando VI em 1814; Lisboa, em

1822, foi aviltada por D. Miguel e o Rio de Janeiro em 1824 – embora de inspiração inglesa ensombrou-se com o tráfico negreiro, mas foi a mais durável após a dos EUA e, se usarmos o critério de análise de Octa-ciano Nogueira, a mais eficaz.O congresso pan-americano do Panamá em 1826 fracassará nas suas propostas federativas e as co-lónias espanholas pulverizam-se em 15 repúblicas.Os Estados-nações florescem na América, Portugal em 1850 vê surgir a Regeneração e logo depois, o acto adicional à Carta Constitucional, o documento que mais perdurou como sustentação do Liberalis-mo lusitano.O Brasil primeiro, e Portugal depois, tornar-se-ão repúblicas. Hoje, mais de 200 milhões de homens e mulheres falam português no mundo, na Europa, na África, na América, na Ásia, na Oceânia, distancian-do-se da História comum, mas guardando-a como alicerce no seu percurso autónomo de países sobe-ranos de língua portuguesa.

* Comissário das Comemorações dos 200 anos da Ida da Família Real para o Brasil

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 65 4/16/12 10:13 AM

King D. João VI and the French Invasions

Rui Rasquilho *

The decision to transfer Portugal’s capital city from Lisbon to Rio de Janeiro saved the Kingdom from French occupa-tion and from becoming an English colony, an ancient de-sire: indeed, from the second half of the 18th century, the British wanted to establish commercial establishments in Brazil and to export cotton fabrics to Portuguese reigns.The Regent Prince, under British influence and under the French military pressure, thus ensured the kingdom’s sover-eignty and safe kept the Empire’s territorial integrity.In 1810, the royal press in Rio de Janeiro published an edi-tion already presented in Lisbon during the previous year, by Soares Francos “Memória em que se examina qual seria o estado de Portugal se por desgraça os franceses o chegas-sem a dominar” (Lit. “Memory on which the state of Portu-gal is analysed if, by misfortune, the French would come to dominate”).If we go back to the first invasion, made by Junot, and far from thinking that Massena would advance towards Lisbon, which would only happened on June 1810, the kindness of the regent’s decision starts to become clear. Indeed, the French model of domination in our neighbouring Spain was a meaningful alarm signal.When Junot enters Lisbon in 30th November 1807, where he had been an ambassador, after a month-long hard advance over the Portuguese territory, the Royal Family, the Court and thousand of Portuguese, carrying a great volume of belongings, navigated, since the night after, along the Lusi-tanian shore under a great storm. “Sire, Your Lordship must think that I felt grief for seeing the cause of such an intense fatigue and of such privations of all sorts getting away so close from me” (page 102, Junot’s Diary).While Junot becomes appropriated of Lisbon, finding the throne empty and the armada out of the estuary, the Napo-leonic troops settled in Spain move forward with difficulty over Catalonia and Navarra. “Sire, Spain made our march as hard as possible, will it profit from what it did not help us conquer?” This observation, directed at the Emperor, fore-sees the impossibility of the alliance with Spain for the oc-cupation of Portugal.In truth, a month before the prince regent’s departure, on 27th October, Portugal had been shared in the Fontaineb-leau’s negotiations table, among Spanish and French.The Prince of Peace, Godoy, the ambitious Spanish Prime-Minister, thought he could ensure a Principality on the south of Portugal, but events surpassed his greed and, of course, Napoleon’s desires. “As it is true that the Prince of Peace is hated in Spain, he is also the object of abhorrence on the Portuguese nation.” Junot, during his military movement in Portugal, starts to question Fontainebleau’s sharing when he says: “the plans of the Prince of Peace are no longer executable” (Junot’s Diary, letter from 1st December 1808, page 102). A note to say that, since 1805, the English were the biggest naval potency on the world, after having decimated, in Tra-falgar, the Spanish and French armada…This permanent game of counting ships will produce other movements on the European chess game.

Denmark will lose their armada under British custody and Copenhagen will burn after an intense bombing, decided by Kenning. With this blow, the British avoid the Danish armada to be taken over by French troops. In 7th September 1807, the Royal Navy receives more than 68 ships from Denmark. Could Lisbon suffer the same destiny? Meanwhile, England offers 10,000 soldiers to the Regent Prince, to hold back the French, but King D. João refuses the proposal of maintain-ing the neutrality of the country. In 17th March 1808, being already the Royal Family and the Court on Rio de Janeiro and the government of the Regent Prince in force, general Murat advances over Madrid.Godoy, the optional prince of the south of Alentejo and Al-garve, had been, since late 1807, on the side of Fernando VII, forcing his father, Carlos IV, to relinquish, thus further de-bilitating the Spanish government. Murat’s advance must be understood within Napoleon’s de-cision of taking Madrid, the capital of a dependent state of the Empire, with great military issues.Napoleon’s big mistake, according to José Luís Comellas was judging the subjects for their kings, Carlos IV and Fern-ando VII. The people will fight the government of French Joseph I, the Emperor’s brother, as soon as he occupied the Spanish throne.Although Joseph I relied on the French aficionados, normal-ly moderate intellectuals, most Spanish saw the French king as an usurper protected by foreign troops.Cornellas considers this fight of the people against the oc-cupying French troops to be the first real case, in Modern history, of “total war”. Spain call all social classes, dem-onstrating cohesion and group value. Nevertheless, one should refer that the commercial bourgeoisie fights against the atheist French and the peasant warrior fights covered in religious images. “La Virgen Del Pilar dice que no quiere ser francesa”, as Pierre Vilar refers...The people’s strength was such that the French failed to conquest Andalusia and the people became an obstacle to the “pacific conquest strategy outlined by Napoleon”, as Fernando Cortazar and José Vesga emphasize. With this rebellious situation across several Spanish regions, the French start considering the risk of becoming isolated in Portugal, with tremendous consequences for their armies.Napoleon himself comes to Spain accompanied by 250,000 men, wining in Ocaña (1809). The remains of the Spanish leadership take refuge on Cadiz, after a brief and insecure passage by Seville. Only Murcia and Huelva resist, impos-ing guerrilla methods which tormented the French army until their final disaster, when Wellington wins over the occupying troops in Arapilles, early on the summer of 1812.In 19th March 1812, the last men standing promulgate Con-stitution of Cadiz, a document which was also forced on King D. João VI at Rio de Janeiro, before returning to Lisbon. Fernando VII, after returning to Madrid, signs this constitu-tion and starts his absolutist government which, little by lit-tle, lost America.These events are excellent indicators of the contradiction of French Revolution and the abyss between ideas and war.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 66 4/16/12 10:13 AM

67

Late 1806, after losing his naval power in Trafalgar, Napo-leon decrees a continental blockage, trying to bend England with this decision.On 22nd October, the Portuguese government signs in Lon-don a secret convention, prepared by Domingos Sousa Coutinho and George Kenning, which decides that the court would be transferred to Brazil and the occupation of Ma-deira, if the French invaded the kingdom. This convention also intended to “to prevent that the colonies or the navy or merchant ships of Portugal, in a whole or only a part, capitu-lated to France”.Five days later, in Fontainebleau, the Treaty Sharing Portugal is signed, as was already mentioned.On 16th November, Sidney Smith blocks Lisbon’s Port and, on the following day, the first French invasion moves towards through the frontier of Segura, on Beira’s prov-ince. Junot was willing to fulfill, on the terrain, Fontaineb-leau’s decisions: “my deployment is very well received by the residents of the villages that we came across and they told us that they had heard of a French army, but they thought we were still far away, they had also heard of war against the British but they did not know anything on that. They are extremely miserable and their region is scarce in resources (…) Your Lordship wants me to be in Lisbon by 1st December and so I shall” (Junot’s Diary, page 97, 10/11/1807). The political and military pressure on the Portuguese gov-ernment is quite evident, now on the limit of its neutral dance. France wanted the escheat and the deportation of the English and to take over the Portuguese armada, England mainly wanted to prevent to armada to fall under Napoleon’s dominium and understood that the Regent and the Court should leave quickly. Sydney Smith and Lord Strangford waited at Tagus for King João’s decision. On 1st December, Junot writes on his Di-ary of an English landing in Peniche, expressing the inability to stop it to the Emperor. Later, in a letter of 6th December, he states that the news were only a rumor. We also know, from his Diary, that on 2nd December the ports of Setúbal and Porto are not occupied. In fact, Junot refers that the occupation of the city of Porto is the responsibility of Spain, according to the Treaty of Fontainebleau.Sousa Coutinho, the Portuguese ambassador in London, gives the English an ancient dream, the opening of a port in Brazil for direct trade - cotton was extremely important for the English industry, more than sugar – and also provides for the occupation of the island of Madeira, as was already mentioned.On 25th November, the Council of State asks to Regent to board. Over this matter, Junot writes from Abrantes, on 25th November, to the Emperor referring: “The prince was still in Lisbon last Saturday and his departure was not discussed there: I do not know if he decided after that” (page 99, Ju-not’s Diary). On Tagus, 67 vessels were ready to leave and, among them, the Russian armada, composed of ten ships with 610 cannons. As a comparison, let us say that the fort

of São Julião da Barra only had 100 pieces of artillery and the one of Cascais 56.On 27th, 28th and 29th, respectively, the Royal Family boards, waits for the wind to blow on the bar and on the 3rd day, the Atlantic voyage is started.On 3rd December, the Portuguese and British fleet, which was forced to sail north due to a great storm, returns south, passing, in deep water, around Lisbon’s latitude.On Tagus, the Russian squad remained in rigorous neutral-ity, under command from Admiral Siniavin. Had he known in proper time of the cut of the relationships between Moscow and London (which occurred previous to the landing) per-haps the story behind the crossing would have been quite different.The Russians never interfered on the British-Portuguese politics. Junot says so: “they have maintained impassible neutrality; I understand that they could not do anything else”. In fact, Junot complains, to the Emperor, on 2nd De-cember, for having to feed the Russian crew, which naturally impairs the French troops: “every day, they eat 8000 rations, which would be very useful to us”. In a nutshell, the Royal Family was not imprisoned by Junot and the Intendant Herman would have said: “Nous avons manqué nôtre affaire”. And Junot on 2nd December, in a let-ter to Napoleon, refers: “Your Lordship already knows that the Portuguese fleet fled me, regardless of my quick march; only wind could favor us, but it was against us.” The Portuguese squad, except for three line vessels and two frigates, all in good conditions that would remain in Lis-bon and a significant number of trading ships, was not ar-rested by the French. Neither the squad nor the 150 million cruzados taken by the Regent Prince: “I did not emigrated; I transferred my court from part of my kingdom to another”, he would timely say. Without any artillery giving way to thousands of passengers and endless tones of cargo (I refer 8 wagons, the new ma-chine of the royal press, the kingdom’s archives, furniture, rugs and paintings from Mafra, Queluz and Ajuda), the ves-sels crossed the Atlantic and concluded it with wrecks or lack of supplies. Today, we know more of the history of the Atlantic voyage which brought to Brazil its first king and first emperor. Ken-neth Light – “A Transferência da Capital e Corte para o Bras-il”, recently published by Portuguese publishers “Tribuna da História”, broke some tabus.We know, for instance, that on the 21st December, the regent prince decided to navigate, without scale, to Brazil and that on 16th January, he decided to travel to Salvador.All these decisions were communicated by the means of the time to the convoy vessels and, in time, to the destination ports.On board, hygiene was chaotic; therefore, it is quite surpris-ing that only lice, which appear before Christmas, on the 22nd, were the single collective sanitarian concern of the voyage. These investigations performed on the journals, particularly those from the English squad, allow us to conclude that

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 67 4/16/12 10:13 AM

68

two fleets were made, according to King D. João’s will: the smaller one, escorted by Beresford, would bring the Queen, the Regent, Carlota Joaquina and the future emperor of Bra-zil, D. Pedro, to Salvador on 21st January; the fleet would follow to Rio, where it settles on 17th January. The small fleet reaches Rio de Janeiro many weeks later and the protocol disembark happened on 7th March. On the dock, on the kingdom, while the court was absent, the people lived rough periods of hunger and violence.Junot abandons Portugal after the signing of Sintra’s con-vention in 30th August 1808. Portugal would not intervene on the French-English deal. The French only left in October, with the right to plunder and in English vessels: “concerning my behavior on this country (…) I will leave untainted (…) I will stop all loots” (Junot’s Diary, 2nd December, page 109). Afterwards, the events followed, with the English occupying the places that were once French. Jobson Arruda under-lines that the Portuguese authorities were passive extras, smartly manipulated by English diplomacy under leadership from Kenning. (“A colony between two empires”). As for the Spanish, after the House of Bourbon renounced, arrested by Napoleon some time before, they had already returned to their country. On 6th June, on Porto, Marshall Ballesta deposed the French Commandant General and proclaims the restoration of the dynasty of Braganza.The formation of Junta do Porto and the rebellion in Olhão, which will send to Brazil a group of fishermen on a frail caïque to announce the restoration to the regent, are mean-ingful moments of national comeback.On 18th September, the English restored the Council of Re-gency that Junot had deposed. The Council would try social stability, in the middle of a precarious economic situation, provoked by the abandonment of crops, a consequence of war and of the transfer of the Public Treasury to Brazil. To all this, and as a consequence, there was a generalized state of anarchy and the distance from administrative institutions, which were now across the Atlantic.Some months before, in 28th January 1808, King D. João would send to the Conde da Ponte, governor and Captain General of the Port Authority of Bahia, the Royal letter open-ing every port in Brazil (and not only one, as was mentioned) to the ships of the countries that were in peace and harmony with the Royal Crown. Only brazilwood was reserved to be used by the Crown, together with other “properly defined.”The Escola Médico Cirúrgica is founded on 18th February, military reinforcements are, in the meantime, created and roads were opened, particularly to the south. These measures had a lesser range, but they are proof that the Regent Prince, who had disembarked without coun-cilors, was well aware of the initiatives he should take. His administration would thus begin the second period of his government actions, which would only end on 1821.Until the end of the year we are analyzing, 1808, the Juntas become more and more in Portugal and are, because the government is absent, invested of civil and military powers, thus becoming the source of many excesses and contradic-tions, as is easily understandable.

Small vengeances, arbitrary trials leading to public whip-pings, forfeiture of goods, hangings and firings became common, against those considered French-like. Little by little, the Juntas of the Supreme Government of Por-to, on the North and of the Supreme Council of the Kingdom on the Algarve, on the south, are able to impose themselves onto other Provisional Juntas which kept, nevertheless, its local jurisdiction – as is underlined by Ana Canas Martins. We all know the difficulties of political exercise, many times hypocritical, sometimes cynical, sometimes despotic: there-fore, one might understand that why the Juntas, although elected in Congress and under the authority of Regent Prince, were never able to find common action guidelines. In fact, the difficult internal and transportation communica-tions also contributed to this fact. On the other hand, royal decision took their time, coming and going from Rio de Ja-neiro, at least 6 months. Sir Arthur Wellesley disembarks on Mondego’s mouth and, together with General Bernardim Freire de Andrade, will de-feat Junot’s troops at Roliça and Vimeiro, although, on 23rd August, the French propaganda announces victory.After the regency was restores, the Juntas started to lose influence and now the British were the only ones chasing the French-like or all the people who endured and, at the regent’s request, collaborated with the French occupier. In Brazil, the opening of ports, with taxes, would be one of the main pillars for Independence, a guaranty that the Ban-co do Brazil would be able to function and a predecessor for the circulation of people that soon would occur in Brazil. On February 1810, on the 19th, two uneven Treaties are signed between Portugal and England, one related to Com-merce and Navigation and other, more diplomatic, of Alli-ance and Friendship. In between, the Convention on Packet boats.The content of the first document was probably less fa-vorable to Portugal or less generous for the English: it is known that the revocation of the worn Commercial Treaty of Meetween, signed on the 18th century, was at stake, but the Treaty was foreseen by the seventh clause of the Secrete Convention of London.Therefore, D. Rodrigo de Sousa Coutinho and Lord Strangford had a difficult task signing their name on behalf of Regent D. João and King George III, altering the Consu-late previously established. At the time, the English had full diplomatic force, provided by France’s weakness and by our inability to react between two invasions, Soult’s and Massena’s.I do not know if the freedom of conscience or the exercise of Anglican cult by the British across the Portuguese empire should be seen as impositions, as well as the put into prac-tice of the Declaration of the Human Rights. The stain will be on the courthouses which changed the equality of duties and rights of the citizens, mainly in Rio de Janeiro, and the raw reality on the economic liberalism model.But the raw reality of this economic liberalism model, a reflection of the British power or of the weakness of Por-tuguese administration, is in the payment of “ad valorem”

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 68 4/16/12 10:13 AM

69

duties, 15% for the English, 16% for the Portuguese and 24% for other countries;The second invasion would last five months, but Soult never passed the Douro. Wellesley and Beresford, the first lead-ing the British army and the second leading the Portuguese army, will force the French army out by Montalegre, after a violent and dramatic campaign, between March and May 1809, during which the disaster on the boat bridge over river Douro significantly contributed to increase the number of victims.Massena will invade Portugal on June 1810, a year after Soult retreated.The tactical criteria adopted both by French and by Welle-sley’s command caused the desertification of farming and the displacement of population between Almeida and Torres Vedras.Ney manages to win on Côa, Almeida will be occupied; Massena, who will experience defeat at Buçaco, will never enter Lisbon due to the Lines in Torres Vedras, which went from the sea to Tagus, where an English armada operated, ready to bombard French troops. Massena will have to pain-fully drawback, camping on Rio Maior’s near Serra dos Can-deeiros, under English surveillance, camped on Cartaxo. His exit was his entry, through Almeida and Ciudad Rodrigo, always taunted by British-Portuguese troops and commit-ting atrocities to the helpless people during their retreat to Spain that, on its turn, took vengeance on the soldiers on the fallback positions and on those who got lost on moun-tain terrains.Portugal and Russia will be the only countries, both periph-eral, to cause the retreat of Napoleonic troops, between 1810 and 1812. In Portugal, the Lines in Torres Vedras will stop 200,000 men. In Russia, the harsh winter will kill 500,000 soldiers and 1500 horses.Between November 1814 and June 1815, the Congress of Vienna is held and the Holy Alliance is made. Napoleon be-comes a shadow in History, after the 100 days government, but the Ancien Régime also seems to perish. Portugal was, notwithstanding, humiliated by monarchical Spanish and French at that forum, who ignored the contributions decided to their favor and Olivenza would never more be ours.On 16th December, King João created the United Kingdom of Portugal, Brazil and the Algarves.Being the archduchess Leopoldina of Austria already in Rio, D. João becomes the VI. The first king acclaimed on America, the king of “absolute rulers” as Lúcia Pereira das Neves refers: “His dream was to transform Brazil into the biggest Empire of the world. He wanted to send families of farmers to several provinces, reserving Portugal to a prince subject to his government. He wanted to establish a colony of fishermen on grouper’s cove in Sta. Catarina, another of Portuguese farmers on the banks of Itajahy and another one in Canta-Gallo”.In 1820, on the city of Porto, a liberal revolution takes place, which is soon extended to Lisbon. In 1822, a futuristic Con-stitution would be promulgated (as had already happened in Brazil in 1824). The King’s fate was set on these two con-

sequent events in Portugal (Revolution and Constitution) which will cause the English to draw back and the return of D. João VI, now a king, to Lisbon. On 25th April, Wednesday, of the year 1821, the king and the queen board a Carrack for a smooth 2 months journey, disembarking on Cais das Colunas in Lisbon, on 3rd July, where “Vintismo” forces the King to briefly practice his liberal experience; brief indeed, because between 1823 and 1826 he will return to his abso-lutist, illuminated manner. D. João now was King of Portugal and Honorary Emperor of Brazil. By carefully looking to History, we are able to see that D. João Regent and D. João King was always “the axis around which the Portuguese history turned”, a story also made of French and British; the latter will force us to further endure, in 1890, the Ultimatum, which will lead us to the loss of pos-session rights between Angola and Mozambique, which will lead the way to Republic. What is then to conclude, if History does not stop?The French Revolution was the great motor for the ideas of emancipation in America.The American independences, from north to south, of the Promised Land, will help the broaden construction of consti-tutionalism. Slowly, on a contemporary vision, but irrevers-ibly, when analyzed today in the aftermath of two centuries.The constitutional documents were the greatest victory of the 19th century, the British Industrial Revolution was the threshold for economic liberalism – and here, once again, I recall the opening of the Ports by the Regent Prince, which had extraordinary consequences for the future of an Inde-pendent Brazil. There were steps forward and steps backwards, within the whirlpool of certainties and doubts. Of all constitutional texts, only the northern American went on a flawless path, because other fundamental laws were disturbed by absolut-ist lightings: Cadiz, in 1812, was threatened by D. Fernando VI in 1814; Lisbon, in 1822, was humiliated by D. Miguel in 1822 and Rio de Janeiro in 1824 – although of an English influence, the Atlantic slave trade was a stain, but it was the one which lasted the most after the one from the USA and, if we use Octaciano Nogueira’s criterion, the most effective. The Pan-American congress of Panama, in 1826 will fail on its federalist proposals and the Spanish colonies are trans-formed into 15 republics.The States-nations flourish across America, Portugal wit-nesses, in 1850, the Regeneration and, right after that, the additional act to the Constitutional Charter, the most ever-lasting document sustaining the Portuguese Liberalism. First Brazil and then Portugal will become republics. Today, more than 200 million men and women speak Portuguese around the world, on Africa, America, Asia, and Oceania, growing distant from common History but becoming a foun-dation of its autonomous path of Portuguese speaking sov-ereign countries.

* Commissionaire for the Commemorations of the 200th anniversary of the Royal Family’s Departure to Brazil

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 69 4/16/12 10:13 AM

A Porta Central do reino: relevância epistemológica das Fortificações de AlmeidaAntónio Filipe Pimentel *

Objecto de classificação como Monumento Nacio-nal sucessivamente em 1928 e 1938 — atenta uma relevância desde cedo reconhecida — o complexo que define o sistema fortificado de Almeida cons-titui, seguramente, com Elvas e Valença, um dos mais impressivos e significantes marcos dessa ex-traordinária coroa que, no decurso dos séculos, for-maria o sistema defensivo da fronteira terrestre, ao abrigo do qual Portugal lograria vingar e sobreviver como projecto colectivo e além do qual, por seu tur-no, se modelaria pouco a pouco (nessa contenção) o outro em relação ao qual, como toda a identidade, o País se conformou. Com Elvas, porém, desempe-nharia um papel de relevo no complexo processo que enquadrou a Restauração de 1640 (novo ci-clo de conformação da identidade) e num quadro onde a prática construtiva da fortificação — essa Arte de Príncipes, como era entendida desde o Re-nascimento — colhia o fruto, a um tempo da tradi-ção consolidada no decurso do período imperial e dos novos ventos de permanente actualização das técnicas construtivas que se entrechocavam nessa ultra-conflitiva Europa seiscentista, enquadrando o processo de recuperação da autonomia portugue-sa. Nesse sentido — que é também simbólico e se-miótico —, mas de igual modo no plano concreto da própria História da Fortificação em Portugal e no Mundo, impõe-se e justifica-se que lhe seja presta-da uma atenção particular, vincando a sua relevân-cia e sublinhando a sua clara singularidade.

O local onde, aparentemente ao menos desde tempos romanos, viria a brotar Almeida, avulta, implantado a 750m de altitude, no extremo do pla-nalto de Castela-Leão que avança sobre a Guarda, penetrando em território português, em plena terra de Riba-Côa. Gerando, desde cedo, um fenómeno de centralidade, articulado com uma micro-região, ostentaria, no seu devir (e, por conseguinte, no sis-tema de fortificações de que seria sucessivamente dotada), as marcas de desígnios geoestratégicos que rapidamente a transcenderiam: desde logo os da expansão islâmica e/ou da Reconquista, onde assentará a base remota das suas primeiras es-truturas defensivas, depois os que enquadrariam o processo de formação e consolidação de Portugal e, neste, em particular, os que decorrem do quadro definido pelo Tratado de Alcanizes, de 1297, que integraria a povoação em definitivo (juntamente com os castelos de Riba-Côa: Sabugal, Alfaiates, Vilar Maior, Castelo Bom, Castelo Rodrigo e Mon-forte) nos domínios da Coroa Portuguesa — por essa via reforçando o seu valor estratégico, mas onerando com novas responsabilidades uma for-tificação de altura, originada em contextos de ex-pansão Norte/Sul e assim recontextualizada (com os respectivos ónus do ponto de vista da eficácia defensiva) por força da incorporação nacional pro-movida por D. Dinis.Será essa fortificação original que Duarte d’Armas retrata, em inícios do século XVI: castelo para-qua-

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 70 4/16/12 10:13 AM

71

drangular, provido de torre de menagem e reforçado por torres nas esquinas, onde a transição da neuro-balística para a piro-balística se encontra ilustrada na edificação da segunda linha defensiva, rebaixa-da e provida de troneiras. E será, assim, em fim de contas, essa estrutura militar — grandemente alte-rada no decurso dos séculos imediatos, por virtude da explosão de 1696 e da necessidade objectiva de eliminar a incómoda visibilidade resultante do seu sistema original passivo (torres e muralhas altas) — e a despeito da sua definitiva destruição, em 1810, no enorme desastre que, com a explosão do paiol, arrasaria igualmente parte substancial da vila intra-muros, a responsável pela contumaz viabilidade histórica da praça de Almeida. E, desde logo, pelo seu papel no quadro das Guerras da Restauração e dos conflitos militares que, até ao século XIX, se lhe seguiriam e onde faria prova, a um tempo do seu valor estratégico e de inconvenientes de situação que os sucessivos estrategos militares lhe comina-riam, especialmente no decurso das centúrias de Setecentos e de Oitocentos.Efectivamente, serão esses os casos do marechal de Campo João Alexandre Charmon que, em 1762, em Memória adrede redigida sobre obras a execu-tar, sublinharia a coroa de elevações que a rodeiam como factor sempre impeditivo da sua perfeição e de um documento de 1767, publicado por Vilhena de Carvalho. Apesar disso a defesa da sua susten-tabilidade seria inversamente assumida pelos rela-tores oitocentistas de 1853 (quando estava em cau-sa o seu futuro militar), os quais peremptoriamente opinariam ser “esta Praça como uma das mais for-tes do Reino, e talvez a mais forte dellas, por não depender de obras destacadas para sustentar um sítio em regra, conforme acontece à praça d’Elvas. Diz mais a comissão que, não obstante haver quem despreze a praça d’Almeida, notando-lhe o grande defeito de estar situada além do rio Côa, em relação ao centro do Reino (…), todavia julga a comissão que a situação d’Almeida não é tão má como a que-rem pintar, e isto porque o Côa não tem a importân-cia que lhe querem dar”. Com efeito e num quadro intermédio, as virtuali-dades de Almeida, decorrentes justamente da si-tuação onde se implanta (ainda no século XVIII, a

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 71 4/16/12 10:13 AM

72

estrada Ciudad Rodrigo-Almeida-Viseu-Coimbra constituiria a grande alternativa ao eixo Almaraz-Badajoz-Elvas na ligação entre Lisboa e Madrid), justificariam a defesa que o conde de Lippe faz da sua relevância estratégica na defesa do acesso a Porto e Coimbra, em 1762, outro tanto sucedendo, em fim de contas, na prática dos sucessivos teatros militares, no quadro das invasões francesas e mes-mo no da guerra civil que se lhe seguiria. É, pois, afinal, esta condição natural de principal acesso a toda a província da Beira (e, dela, ao coração do território nacional) que justifica a um tempo a pre-coce fortificação da eminência onde se situa e a sua conservação no decurso dos séculos: e, já no quadro da Restauração, o esforço espontâneo de fortificação que localmente se desenvolve e, bem assim, a rápida atenção que lhe ministra o governa-dor de armas da província da Beira, origem de um processo sistemático que haveria de estender-se pelos séculos XVII e XVIII e em cujo seio (e não é de-certo menor virtude) o local haveria de impor-se aos homens, no decurso das gerações: mesmo que daí resultasse, em conluio com a vertiginosa evolução que a Arte dos Príncipes nessas centúrias ressen-tiria, uma ingente tarefa para quem, na sequência das vicissitudes, devesse arcar com a sua defesa.Como quer que seja, é com a Restauração de 1640 — e no quadro que dela emerge — que a povoação adquire o seu incontroverso valor estratégico, como porta de acesso que era ao coração do Reino, be-neficiando já de um investimento antigo de fortifica-ção, em torno do qual rápida e improvisadamente se concentram os esforços locais, face à iminência do conflito. De facto e a despeito da atenção parale-lamente prestada ao reforço da barra do Tejo — de-fendendo a capital — e, em geral, da orla marítima, o grande investimento defensivo concentrar-se-á então em atalhar as grandes vias de invasão ter-restre, essencialmente constituídas pelo acesso mi-nhoto (entre Valença e Monção), pelo transmontano (pela veiga de Chaves), pelo do Vale do Tejo (atra-vés de Segura) e pelo Alentejo (na linha Badajoz-Elvas-Estremoz): além, como fica dito, do vale do Mondego, defendido por Almeida e que igualmente abria o acesso à capital. A vila beirã exprime neste contexto o seu relevo, num quadro onde o Alentejo

(com Elvas) ocupará o papel central, a um tempo pelo acesso fácil que franqueia a Lisboa e por ser território fundiário da Casa de Bragança. E nele, com efeito, se concentrarão os esforços militares e o material de guerra logo em 1641, bem como, no imediato, o essencial do esforço desenvolvido de projecção de fortificações abaluartadas, que fariam do período da Restauração o verdadeiro núcleo da escola portuguesa de engenharia militar, assente então (tanto da parte portuguesa como da espa-nhola) nos princípios estáticos que impunham uma malha cerrada de fortificações, com comunicação constante entre praças de vanguarda e retaguarda, que deveriam propiciar os abastecimentos. É, pois, neste quadro que igualmente se deve entender o valor estratégico de Almeida, com a sua coroa de fortificações articuladas de raiz medieval.É certo, porém, que a escassez de fontes (gráficas ou documentais) torna difícil seguir de perto o seu processo construtivo nesta primeira fase, constituin-do o relato exarado, em 1644, por João Salgado de Araújo (Sucessos militares das armas portuguesas em suas fronteiras) a principal base para a recons-tituição cronológica das fortificações de defesa da porta beirã. Por ele se sabe que a primeira estrutu-ra seria erguida por determinação de D. álvaro de Abranches, governador de armas da província da Beira, provavelmente em decurso da sua decisão de estabelecer na povoação o seu quartel-general: e constaria ela de “quatro ou cinco redutos, meten-do dentro della Igreja, & castello”. Na verdade, tudo indica tratar-se de um simples entrincheiramento, rapidamente realizado, com vista à protecção da pequena povoação (não ultrapassando então as trezentas almas) e dos contingentes militares, com recurso a materiais locais, como terra e faxinas. En-tretanto e logo em 1642, o novo governador militar, Fernão Teles de Meneses (e provavelmente no qua-dro da sua igual instalação em Almeida e da ofensi-va que delineia e redundaria na tomada do castelo de Guardião), determinaria a construção de um pri-meiro forte em Vale da Mula, em articulação com os de Castelo Rodrigo, Pinhel e Alfaiates, sobre cujas rudimentares estruturas (inter-relacionadas com as fortificações fronteiras castelhanas) se apoiaria a defesa numa primeira fase. E, do mesmo passo,

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 72 4/16/12 10:13 AM

73

empreende em Almeida, em 1642 a execução de uma “fortificação real”, a qual manda “intrincheirar de pedra e barro” e se encontra em execução à data do relato de Araújo — que escreve: “& sua Mages-tade a manda agora fortificar de fortificação real em que dizem se vay obrando, esta hoje inexpugnauel, & o ficara muyto mais feitos sete reductos que sua Magestade manda”.Com efeito, o conceito de praça real (ou fortificação real) aludiria, no jargão dos engenheiros militares da escola francesa, às fortificações de maiores dimen-sões (com reparo mais largo, logo mais longamente resistentes ao fogo do inimigo). E, em particular, sa-be-se que, nesse mesmo ano, incumbiria D. João IV o engenheiro-mor Charles Lassart de “desenhar e reconhecer as fortificações de Entre Douro e Minho e Beira”, com essa decisão se articulando o despa-cho de 28 de Fevereiro de 1643 onde o monarca or-dena que, na sequência da sucessiva projecção das fortificações, ficasse cada obra a cargo de um ofi-cial que orientasse a sua execução. É neste quadro que o engenheiro francês Pierre Gilles de Saint-Paul recebe o encargo de assumir a direcção das forta-lezas da Beira, tudo indicando (entre fontes gráficas

espanholas contemporâneas e o próprio registo de Araújo — nas duas versões recenseadas) não ter tido avanço a execução da obra antes dos inícios de 1644. Esta arrancaria sob a projecção de Charles Lassard (ou de Saint-Paul) e com base nos sete re-dutos referenciados por Araújo, conhecendo-se as ordens de pagamento a este último até 1646, altura em que é substituído pelo tenente-general Rodrigo Soares Pantoja — informando fonte tardia (mas não necessariamente indocumentada) que, nesse ano, o governador da província conde de Serem orde-naria a activação dos trabalhos, porém “reduzindo consideravelmente as dimensões do recinto que fora primitivamente” e que “em 1657, D. Rodrigo de Castro, governador do partido de Almeida, deu grande incremento à fortificação, que ainda desta vez sofreu profundas modificações no seu traçado e perfil”.Neste contexto, afigura-se que os primeiros ba-luartes a serem edificados terão sido os de São Francisco e São João de Deus (os mais afastados do castelo), ainda em acordo com o projecto origi-nal, que chegaria a ser implantado no terreno, mas com escassa obra de pedraria executada antes da

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 73 4/16/12 10:13 AM

74

alteração, por virtude, desde logo, do amplíssimo movimento de terras que exigiria a sua cabal im-plantação. Nesse sentido — e também em razão de ainda se trabalhar na respectiva esplanada em 1762 —as alterações ao plano ter-se-ão concentra-do nas faces de noroeste e de poente. Em simultâ-neo com a edificação dos baluartes ter-se-á levado a cabo a edificação da porta magistral da Cruz (ou São Francisco), ostentando a respectiva abóbada a data média de 1661 — ano em que, informaria o conde de Mesquitela, a praça se não encontrava ainda cercada de muros, nem dispunha de fosso. Enquanto isso, uma planta espanhola, datada de 1664, conservada em Simancas, ilustraria, para Al-meida (e a par do forte de Vale da Mula, dotado de quatro baluartes) um reparo abaluartado de cinco pontas, que poderá ser uma cortina ainda de carác-ter rudimentar, só consolidada após a construção do baluarte em falta, em acordo com as orientações doutrinárias vigentes. Como quer que seja, estas in-formações consolidarão a noção de não estar ainda completo o muro de defesa em 1664, situação que corrobora a adjudicação das obras de fortificação, no ano seguinte, aos empreiteiros António Francis-co Maio e Domingos Vaz Heredes, aos quais have-riam de suceder João Gonçalves e Manuel Fernan-des, pertencendo ainda a esta fase dos trabalhos a conclusão das portas de São Francisco.Todavia, a celebração da paz com a Espanha em 1668 ditaria o abrandamento do ritmo dos traba-lhos, a despeito da recuperação do valor estraté-gico de Almeida no quadro da Guerra da Sucessão de Espanha — e da decisão do marquês de Minas, em 1705, de promover, a partir da região, a sua mar-cha fulminante sobre Madrid. Apesar disso, e após a conclusão do reparo, avançariam as obras de abertura do fosso e consequente delineamento dos revelins (começando pelos que ficavam diante das portas), bem como a construção da porta de San-to António (que ostenta as datas de 1674 e 1676). Noutros sectores — como as abobadas das portas da Cruz e casa da guarda contígua — sabe-se que em 1738 se procedia a reparos de danos causados ainda na Guerra da Restauração, ao mesmo tempo que outras intervenções (como o encurvamento do trânsito da porta magistral, posterior à sua edifica-

ção em traçado recto: concluído em 1728) indiciam decisões alimentadas pela própria evolução da arte da fortificação. Do mesmo modo, sabe-se que em 1680 prosseguiam os trabalhos de edificação dos muros, por isso que se procede então à demolição da capela de Vera Cruz “para no lugar dela passa-rem as muralhas” — e, finalmente, um grave desas-tre provocaria ainda perturbações aos trabalhos em curso: a grande explosão no castelo, ocorrida em 1696.Com o século XVIII, contudo e a reorganização do exército a que se procederia no período posterior à participação portuguesa na Guerra da Sucessão de Espanha, a qual redundaria na formação de cor-pos regulares, com as consequentes necessidades de alojamento, mas sobretudo, no quadro da de-cisão estratégica de reforço do sistema defensivo das praças de fronteira, recupera-se o sentido da intervenção construtiva de fortificação de Almeida. O qual, provavelmente, terá produzido localmente alguns efeitos: quanto mais não fosse, os que ilustra a produção, em 1736, da Planta da Praça de Almei-da, com as obras interiores, e exteriores addicionais, e deliniadas pelo Engenh.ro Mor do Reino Manoel de Azevedo Fortes, cujo título indica a atitude pró-activa que presidia a essa nova atenção, por modo algum reflectiva da mera execução dos projectos delinea-dos quase um século atrás. Ao invés, todo um con-junto de obras se programa, destinadas a melhorar o sistema defensivo, introduzindo, nomeadamente, as casernas à prova de bomba: mesmo que, pela maior parte, o plano não tivesse real execução — mas radicam nele a construção de aquartelamentos e, em particular, a do paiol do castelo, que haveria de ditar, mais tarde, a sua total destruição.Em todo o caso, em 1746 e 1747 registam-se novas expropriações, que parecem documentar a conti-nuidade das obras de implantação da fortaleza, en-quanto, poucos anos volvidos, o terramoto de 1755 haveria de provocar fendas nos muros exteriores (denunciando a sua deficiente construção), além de arruinar os quartéis de infantaria. Assim e até 1762 prosseguirá o movimento de terras em torno ao fosso, para a organização dos revelins e esplana-da, bem como a execução dos revestimentos das escarpas em cantaria — enquanto, em paralelo, se

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 74 4/16/12 10:13 AM

75

executam as obras de urbanização da praça e as construções de apoio militar. Sabe-se, com efeito, que nesse ano já a fortaleza ostentaria a sua forma completa, ainda que prosseguissem os trabalhos de conclusão, dirigindo os trabalhos, durante cur-tos meses, Jean-Alexandre de Charmont: não sem notar à praça algumas imperfeições, que procuraria corrigir com obras complementares, que vivamente recomenda ao seu sucessor, António Carlos An-dreis, capitão de engenharia — mas que não se-riam consensualmente aceites pelos engenheiros militares que se sucederiam, num quadro a que a pressão do conflito aberto com o vizinho espanhol imprimia uma indeclinável urgência.Assim, em Junho de 1762 começariam a ser cober-tas as casamatas do baluarte de São João de Deus, ao mesmo tempo que ia sendo aberta uma poterna, já funcionando a do arsenal no mês de Agosto. E sabe-se, por um relatório elaborado em 1790, que as poternas originais dos baluartes de São Pedro e São Francisco seriam “feitas de abobeda”, sendo abertas mais duas durante o cerco de 1762, mas “feitas em madeira e abertas em forma de galeria”, por isso que a “brevidade com q se precizavão fei-tas não permitia a fazer-se em cantaria”. No período que se segue até ao final do século XVIII e restabe-lecida a paz, diversas vistorias e intervenções se-riam levadas a cabo, seja para reparação dos danos causados pelo assédio, seja com vista a introdução de melhorias, numa praça que parecia resistir à per-feição. E data desse período uma intensa produção iconográfica, ilustrada em plantas que documentam as destruições mas onde, de igual modo, por pri-meira vez se presta uma eficaz atenção aos aspec-tos mais estritamente ligados ao urbanismo — isto é, onde a vila emerge com personalidade própria, dotada dos seus edifícios emblemáticos, no con-texto de uma produção icónica até aí centrada na fortificação.Assim, nova campanha de obras se empreende en-tre Julho de 1764 e Outubro de 1765, sob a orien-tação do governador da praça Francisco Maclean, centrada na reparação dos estragos da guerra, mas de que emergiria a porta magistral da Cruz (que “se reedificou de novo de boa cantaria lavrada, segun-do a ordem da Architetura que tinha, que he à Tos-

cano”), alem da reconstrução dos edifícios militares: quartéis, cavalariça, trem e armazéns de munições e pólvora do castelo. Em Janeiro de 1766, porém, Francisco Maclean endereçaria a D. José I, por in-termédio do conde de Oeiras, uma exposição so-bre a necessidade de mais obras, a que o monarca daria o seu acordo: tratava-se da reedificação do hospital real e da vedoria (destinada a casa do go-vernador), da construção de latrinas para o exército e da conversão em quartel da convento das freiras, entretanto desactivado. E a seu pedido, seriam en-viados para Almeida Jacques Funck, coronel de engenharia e Miguel Luís Jacob, sargento-mor de infantaria, respectivamente para elaborar um plano que eliminasse os defeitos da praça e para dirigir as correspondentes intervenções.É do Plano Geral das Obras Adicionais Necessárias à Defesa da Praça de Almeida, então elaborado, que data a opção estratégica por obras “feitas de terra apenas”, além de outras intervenções, como a urgente conclusão das casamatas, que desde 62 se conservavam incompletas, a construção de uma caserna capaz de albergar seiscentos homens e, em geral, obras de índole higienista e sanitária, como o hospital e a latrina. O ritmo de execução do plano, todavia, parece ter sido lento, documentando-se, porém, uma avultada mão-de-obra empregue con-secutivamente nos anos de 1776 a 1787. Um novo documento, todavia, parece ilustrar uma nova fase de trabalhos: trata-se do Estracto de apontamentos sobre o estado actual desta fortificação, dos Reparos e Obras novas de q. necessita, feito por Ordem do Ill.mo e Exmo S.nr Conde de Oeynhausen, Marechal de Campo dos Exércitos de Sua Mag.de e encarre-gado da Inspecção das Tropas, e Fortificações das Províncias do Norte, datado de 3 de Março de 1790 e assinado por Anastácio António de Sousa Miran-da, sargento-mor engenheiro, que então dirigia as obras e no lugar se conservaria até à conquista da praça pelo exército de Massena, em 1810.Documenta ele a continuidade da insistência em obras de reparo de estragos, de correcção das im-perfeições e de acomodação da guarnição, além das preocupações higienistas que são um dos tra-ços mais impressivos da cultura contemporânea. De novo, propunha-se a construção de uma prisão

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 75 4/16/12 10:13 AM

76

(em substituição da existente), de novos quartéis e de um edifício para o corpo da guarda principal. E deste afã resultaria o milésimo de 1790 inscrito na porta do revelim da Cruz, do mesmo passo que se atesta a invasão das estruturas militares (inactivas) pela prática da agricultura por parte dos habitan-tes e mesmo de uma pressão urbana que conta-minava (e comprometia) as suas defesas. Enquanto isso e ainda que com intermitências (provocadas por questões administrativas e meteorológicas) as obras prosseguiriam pelo decurso da década, sem-pre com o objectivo de pôr a praça mais defensável. Mas é certo que, em 1801, em previsão de novo conflito, as fontes indicam que o governador da vila, o marechal de campo Gustavo Adolfo Hércules de Chermont, “tomou providências para acelerar a execução do complemento do plano já anterior-mente apresentado em 1795 e 1796”, insistindo na conclusão das obras nele delineadas.A guerra chegaria, com efeito, escassos anos mais tarde e, com ela, a mais violenta destruição sofrida pelas fortificações da praça: a explosão do castelo, em 26 de Agosto de 1810, determinada pelo ocu-pante francês, agravada pela acção devastadora das minas colocadas durante a retirada — e os reflexos na povoação não seriam menores pois, segundo o levantamento dos estragos então efectuado, “de 718

moradas de Cazas, comprehendidas antigamente no Recinto desta Praça, so existem 180 habitaveis”. A ruína, na verdade, atingiria igualmente a fortificação moderna, com ampla destruição entre os baluartes de São Francisco e Santo António, bem como nou-tros pontos, produzindo estragos avulsos por todo o conjunto. Neste contexto e ante o receio de novo assédio, empreendem-se rápidos projectos de rea-bilitação, a cargo do coronel Pedro Folque, execu-tados de modo sumário, a partir do ano de 1812, ante a pressão do tempo e a escassez de mão-se-obra disponível, obras essas cuja suspensão ditaria o termo da guerra com França, em 1814. E datam do ano imediato as primeiras ideias concretas de suspensão da praça (com o seu desmantelamento e remoção da respectiva artilharia), enquadradas em proposta do ministro da guerra, o inglês Beresford.Doravante e apesar da não consumação do ditame, as intervenções dos engenheiros militares reduzir-se-ão a intervenções de manutenção e reparo, já sem a chama da perpétua reelaboração do plano (e consequente exercício reflexivo) que havia alimen-tado as intervenções do último século e meio: e os trabalhos empreendidos em 1816 seriam mesmo interrompidos, no ano imediato, por instruções de Beresford, que, voltando ao seu projecto, determi-nava se minasse a fortificação: tarefa esse que, a despeito da resistência do governador da praça, chegaria a ter começo de implementação. Os re-latórios conhecidos, porém, atestam uma geral de-gradação das estruturas, que a guerra tinha violen-tamente maltratado, do mesmo passo que data de 1819 a demolição final do que restava da muralha do velho castelo. Assim, em 1824, os trabalhos de uma comissão nomeada com o fito de “examinar, e propor que Praças deverão ser abandonadas, e quaes conservadas”, desabonava sobre a eficácia da fortaleza real de Almeida. Apesar disso, era-lhe outorgada a função (e o estatuto menor) de “posto forte de campanha”, que justificaria, pelo menos, a suspenseo da sentença antes lavrada e daria azo a nova continuidade de reparações, apoiadas nas no-vas funções cometidas a Almeida de depósito geral de munições da província da Beira. E tal justifica-ria o papel que viria a desempenhar no decurso da guerra civil, último episódio da sua história militar.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 76 4/16/12 10:13 AM

77

No seu seguimento, com efeito e também por virtu-de das convulsões internas que marcariam o adven-to da Monarquia Constitucional, somente em 1853 a atenção das chefias voltaria a pousar sobre a praça de Almeida, no quadro dos trabalhos da comissão acima referida, destinada a indagar da viabilidade técnica das suas fortificações e de que resultaria o surpreendente veredicto de ser “esta Praça como uma das mais fortes do Reino, e talvez a mais forte dellas, por não depender de obras destacadas para sustentar um sítio em regra”. Em consequência do que, no ano imediato seria recomendadas repara-ções várias, tanto nos muros e portas como nos edi-fícios da logística militar, do mesmo paço que chega a defender-se a construção de um novo quartel de infantaria e de um paiol, protegendo as serventias militares, com restabelecimento das antigas espla-nadas e demolição dos avanços urbanos e de ocu-pação rural entretanto ocorridos contra os muros.Neste contexto, em 1888 a fortaleza real de Almeida recuperaria a categoria de praça de guerra de pri-meira classe — mas por breve tempo. Com o virar do século e em resultado de novas vistorias, seria fi-nalmente consumada a sua desclassificação. Dela, todavia, emergiria um olhar novo sobre o complexo fortificado da antiga porta central do Reino, que re-dundaria nas classificações oficiais de Monumento Nacional, atribuídas em 1928 e 1938, num quadro ideológico que justamente valorizava agora, mais que a sua valia no plano estritamente operacional, a sua história longa, de defesa militar e o seu va-lor semiótico e representativo, enquanto marco da nacionalidade, cujo duplo centenário em breve se comenmoraria. E delas emergiriam trabalhos de re-abilitação e valorização que, com espíritos diversos, se prolongariam até aos dias de hoje.Na verdade, Almeida vale pelo seu conjunto militar e urbano: sendo desta cumplicidade que nasce uma das peças mais notáveis e melhor preservadas do património nacional. Infelizmente mal documenta-das, as obras de fortificação da vila que hoje sub-sistem — as que decorreriam do ciclo empreendido com a Restauração (após a destruição do castelo, de que restam, todavia, importantes vestígios ar-queológicos) — terão começado por 1643, com o lançamento do programa da fortaleza real, dinami-

zado com a chegada de Pierre Gilles de Saint-Paul, depois substituído por Rodrigo Soares de Pantoja.É certo que a reconstituição viável do processo de edificação atesta que o traçado completo que hoje é possível contemplar, longamente adiado, apenas seria concluído a partir de 1736, no quadro do am-plo programa de melhoramento das fortificações nacionais então dinamizado (no âmbito de um pro-cesso, mais vasto, de reformulação das estruturas militares), em cujo epicentro avulta a reflexão reali-zada por Manuel de Azevedo Fortes e pelos enge-nheiros militares que o rodeavam, como Miguel Luís Jacob a Anastácio António de Sousa Miranda. Po-rém, a despeito de inúmeras tentativas — em fim de contas, contudo, sempre menores — de correcção das suas decantadas imperfeições (em especial e além das edificações de logística já setecentistas, o encurvamento dos trânsitos das portas magistrais) e em boa parte decorrentes da rápida evolução de conceitos e escolas que ressente a Arte dos Prínci-pes no decurso dos séculos XVII e XVIII, parece ser claramente a base seiscentista a sustentá-las, no essencial, no século que se seguiria, prosseguindo, a despeito das correcções pontuais, a execução do plano traçado nos anos críticos da Restauração.Com efeito, são as orientações da escola francesa, codificadas no recente tratado de Antoine Deville (1596-1657), que se consagram no próprio conceito de fortaleza real, numa opção clara pela bondade do traçado regular (perfeito) — aliás de modo al-gum incontroversa na teorética da especialidade —, expresso num hexágono quase absoluto, don-de emergem os seus seis baluartes: Santo António, São Pedro, São Francisco (ou da Cruz), São João de Deus, Santa Bárbara e Senhora das Brotas, interca-lados de outros tantos revelins correspondentes às cortinas intermédias. Como são elas que emergem no traçado dos quatro portais de acesso à vila, na sua exibição exemplar de uma severidade clássica de base igualmente francesa (a despeito do original toque fantasista fornecido pelas guaritas apruma-das sobre o eixo) que era então, objectivamente, uma novidade em Portugal, nesse limbo cultural (e estético) que se estabelecera entre o Maneirismo e um Barroco que haveria de seguir outros cami-nhos: e onde já foi reivindicado para a Porta de São

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 77 4/16/12 10:13 AM

78

Francisco (1646-1661), com claras afinidades com a fachada da igreja parisiense de Saint-Gervais (Sa-lomon de Brosse, 1616), “um lugar de charneira na história da arte portuguesa” (Rafael Moreira).E em todo o traçado (e seria essa, aliás, opção con-trovertida na teorética da especialidade), se promo-ve uma ostensiva e barroca exibição de cantaria, destinada a sublinhar o carácter régio da fortifica-ção — com especial aparato nas duas portas ma-gistrais, de Santo António e São Francisco (Cruz), de dupla face, como a regra mandava — que con-tribui poderosamente para o carácter exemplar que detém do ponto de vista estético e cultural, fazendo de Almeida, incontroversamente, a praça-forte de maior originalidade no contexto da arquitectura mi-litar seiscentista portuguesa e a mais emblemática do ponto de vista do respectivo capítulo do Barroco.De facto, sede do quartel-general do governador de armas da província da Beira e chegando, no século XVIII, a albergar três mil soldados, Almeida conver-ter-se-ia, com a estrela de seis pontas que a cingia e o seu poderosíssimo aparato militar, provido de mais de cem bocas de fogo — e uma vez concluído o seu plano com as obras dinamizadas por Miguel

Luís Jacob no contexto bélico de 1762 —, na pri-meira praça-forte de Portugal: num investimento consolidado na sua fortificação que denunciará a controvérsia longamente alimentada sobre a sua perfeição, mas que explica o peremptório veredicto da comissão oitocentista encarregue da sua avalia-ção. Nela se reflecte, com efeito, de forma paradig-mática, a prestigiosa tradição portuguesa do cultivo da Arte dos Príncipes, consolidada desde o ensino áulico do século XVI e alimentada, no declinar da centúria, pela chegada dos engenheiros militares de origem italiana e que, já na viragem para o novo século, produzira obras como a Doctrina Militar, de Bartolomé Scarion de Pavia (Lisboa, 1598), a Arte Militar, de Luís Mendes de Vasconcelos (Alenquer, 1612) ou o Abecedário Militar, de João Brito de Le-mos (Lisboa, 1633) e se projectava nos magistérios dos jesuítas, respectivamente flamengo e italiano, João Cosmander e Simão Falónio, na aula da Esfe-ra ou Astronomia do Colégio de Santo Antão, sendo o primeiro responsável directo por obras de fortifi-cação logo no ciclo pós-Restauração (Oeiras, Paço de Arcos, Santiago de Sesimbra).Com a Restauração, porém e beneficiando do apoio imediato de Richelieu à revolta portuguesa, assiste-se a uma imediata reorientação francófila da engenharia militar portuguesa — no momento em que a própria França assume a sua própria lide-rança teórica, que justificaria a designação popula-rizada de fortificações à Vauban —, explicando por essa via a importação de levas sucessivas de enge-nheiros militares gauleses, oriundos do corpo dos ingénieurs du Roy, que ultrapassaria a centena, do mesmo passo que a Arte dos Príncipes ocupava a formação da elite nobiliárquico-política de então (de que seriam exemplos os embaixadores portugue-ses em Versailles, D. Francisco de Melo e conde da Vidigueira) ou que, muito sintomaticamente, Manuel Fernandes de Vila Real editava em Paris, em 1649, a sua Architectura militar ó fortificación moderna, aliás tradução da obra do padre Georges Fournier. É neste contexto que se enquadra a vinda (com a armada do marquês de Brézé), em 1641, de Charles Lassart, no ano seguinte elevado a engenheiro-mor e de uma plêiade de jovens engenheiros militares, onde se inseriria Pierre Gilles de St. Paul — e é nes-

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 78 4/16/12 10:13 AM

79

se quadro que merece reparo a edição em Paris (1671) da obra Les Travaux de Mars, de Alain Ma-nesson Mallet, engenheiro com rápida passagem lusitana (1666) mas cuja detalhada descrição (es-crita e icónica) das novas fortificações levantadas em Portugal (cuja autoria reivindica) exemplarmente reflecte o interesse que suscitavam do ponto de vis-ta da cultura da guerra europeia desse período.Ao trabalho destes, porém — na verdade, mercená-rios, oferecendo os seus serviços no mercado bélico de então — corresponderia o desenvolvimento de uma escola portuguesa de fortificação, assente na criação por D. João IV, em 1647, da Aula de Fortifica-ção e Arquitectura Militar, regida durante mais de três décadas por Luís Serrão Pimentel e que haveria de converter-se, no decurso do século e meio imediato, no centro propulsor de toda a teoria e prática da ar-quitectura militar em todo o espaço português, con-densada pelo seu próprio mentor na sua obra Méto-do Lusitânico de desenhar as fortificações das praças regulares e irregulares (Lisboa, 1680) e responsável, nas suas próprias palavras por criar “discípulos scientes na navegação e desenhar das fortificações” e, no decurso dos anos, “deitando da aula engenhei-

ros que hoje estão servindo com satisfação na Beira, Minho, Alentejo, Setúbal, Peniche e nesta cidade”. E daqui emergiria um esforço de reflexão autónomo em relação às matrizes teóricas internacionais (com rápida incorporação de outros contributos, nomea-damente holandeses e alemães), que justifica a pró-pria designação de método lusitânico: e que, com a sua difusão pelo espaço imperial (e as repercussões que detém no plano da própria projecção urbanísti-ca), em particular no século seguinte (com a própria multiplicação de aulas de fortificação, seja no Reino, seja no Brasil), haveria de repercutir-se — tanto no plano técnico como no estético — na criação de uma verdadeira escola portuguesa de arquitectura militar, cuja importância central no século XVIII exemplificam paradigmaticamente as figuras dos engenheiros-mores Manuel de Azevedo Fortes e Manuel da Maia: o primeiro justamente autor de um tratado em dois volumes intitulado O Engenheiro Português, (Lisboa, 1728-1729); o segundo responsável pela planifica-ção da reconstrução e Lisboa e, antes dela, por toda a reflexão teórica que a precedeu.No decurso do século XVIII, são os caminhos (e o debate) suscitados por essa escola portuguesa de

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 79 4/16/12 10:13 AM

80

arquitectura militar que se projectam nas interven-ções realizadas em Almeida, por isso justamente fomentadas pela problemática em torno da sua per-feição. E por isso nela perpassam nomes centrais das estruturas da arquitectura militar portuguesa contemporânea, como é exemplo Guilherme Els-den, responsável pela planta de 1765 e, menos de uma década volvida, pela transformação da colina universitária de Coimbra num paradigma urbano da aliança do poder e do saber, como em outra sede defendemos — depois de ter prestado a sua co-laboração às obras de reconstrução da capital. E por isso também em Almeida se projectam — com a implantação dos edifícios exigidos pela logística militar — os caminhos do urbanismo que a mesma escola paralelamente desenvolvia em todo o espa-ço imperial: e de que a reconstrução de Lisboa ou a cidade universitária de Coimbra (mas também Vila Real de Santo António e outras mais) seriam a um tempo expoentes e balizas, entre a projecção ex novo e o pragmatismo imposto pela necessidade de conservação de antigas estruturas. Praça-forte no sentido total do termo, fundido im-plantação urbana e fortificação — é esta a relevân-cia central (a um tempo para o património e para a ciência) daquela que, muito justamente afinal, os membros da comissão oitocentista (simbolicamen-te em vésperas da sua desafectação e ulterior clas-sificação como Monumento Nacional) não tiveram pejo em reputar de “uma das mais fortes do Reino, e talvez a mais forte dellas”: com a autoridade que lhes advinha da longa cadeia de reflexão e prática em que inquestionavelmente entroncavam. Nisso resumindo, em fim de contas, aquele que é o seu valor essencial: a ilustração pedagógica — e exem-plarmente conservada — das virtualidades de uma escola (de reflexão e prática) que nela, justamente, exemplarmente se demonstra.1

* Historiador – Professor Auxiliar e Pró-Reitor da Universidade de Coimbra/Área do Património e Candidatura da Universidade a Património Mundial (UNESCO)

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 80 4/16/12 10:13 AM

81

Being successively classified as National Monument be-tween 1928 and 1938 – attesting a relevance recognised precociously – the complex defining the fortified system in Almeida is, undoubtedly, along with Elvas and Valença, one of the most impressive and meaningful landmarks of this extraordinary Crown that, throughout centuries, would come to form the defensive system of land frontier, under which Portugal would desire to withstand and survive as a collective project and beyond which, on the other hand, the other would slowly be modelled (within that refrain), in relation to which, as did an entire identity, the Country ac-cepted. In Elvas, nevertheless, it would play a relevant part in the complex process in which the 1640 Restoration hap-pens (a new cycle of conformation of identity) and within a framework where the constructive practice of fortifications – the Art of Princes, as it was perceived since the Renais-sance – harvested the gains, some time from the tradition settled during the Imperial period and from the new winds of a permanent update of constructive techniques inter-twining in the ultra-conflicting 16th-century Europe, which serves as a background for the process of recovering the Portuguese autonomy. In that sense – which is also sym-bolic and semiotic –, but equally in the concrete plan of the History of Fortification in Portugal and in the World, it is mandatory and justifiable that close attention is paid to it, stating its relevance and underlining its clear uniqueness.The place where, apparently at least since Roman times, Almeida would rise from, increases, standing 750 meters high, on the summit of Castile-León plateau which ad-vances towards Guarda, penetrating in Portuguese terri-tory, on lands of Riba-Côa. Generating, from early on, a phenomenon of centrality, joint to a micro-region, it would display, during its mutation (and, therefore, in the fortifi-cations system that would later be given to it), the marks of geo-strategic intentions which rapidly transcended it: since the intentions of the Muslim Conquest and/or of the Reconquista, where the remote basis for the first defen-sive structures would be settled; after that, the intentions that framed the formation and consolidation process of Portugal, and, on this particular case, the intention occur-ring from the framework defined by Treaty of Alcanizes, of 1927, which definitely integrated this hamlet (together with the castles of Riba-Côa: Sabugal, Alfaiates, Vilar Maior, Castelo Bom, Castelo Rodrigo and Monforte) within the territory of the Portuguese Crown - which thus reinforced its strategic value, but it was also burdened with new re-sponsibilities a proper fortress, originated in contexts of expansion from North to South, and that now had a new context (with the respective obligations deriving from a defensive effectiveness’ point of view), by force of the na-tional incorporation promoted under King Dinis. This original fortification was the one portrayed by Duarte d’Armas, in the beginning of the 16th-century: para-quad-rangular castle, with a keep and reinforced with towers in the corners, where transition from torsion artillery to gun-powder artillery is illustrated by the building of the second defensive line, embanked and embrasures. And this military

structure, at the end, will endure – greatly changed over the subsequent years, a consequence of the 1696 explosion and of the objective need to eliminate the troubling visibility which resulted from its original passive system (tall towers and walls) – and against its definitive destruction, in 1810, during the enormous disaster that, with the magazine’s explosion, would equally devastate a substantial part of the intra-walls village, the true responsible factor for the stubborn historical viability of Almeida’s stronghold. And, from the start, for the role it played during the Restoration War and other military conflicts that, until the 19th century, would follow, proving its stance, during the strategic values and punctual inconveniences that were caused by succes-sive military strategists, particularly during the seventeen-hundreds and the eighteen-hundreds. Effectively, these are the cases of Field Marshal João Al-exandre Charmon who, in 1762, in Memória, written previ-ously on the works to be performed, would highlight the crown of surrounding elevations as an ever obstructive element of its perfection, and of a 1787 document, pub-lished by Vilhena de Carvalho. Nevertheless, the defence for its sustainability would be inversely assumed by the 18th-century reporters in 1853 (when its military use was at stake), who peremptorily states that “this Stronghold [is] one the strongest of the Kingdom, and quite probably the strongest of them, because it does not depend on impor-tant works to sustain the site being governed, as had hap-pened in the stronghold of Elvas. This commission further states that although some despise Almeida’s stronghold, pointing out the flaw of being located beyond river Côa, in relation to the centre of the Kingdom (...); nevertheless, this commission has the opinion that the situation of Almeida isn’t as bad as some intend, and this because Côa doesn’t receive the attention it should.” In effect and on an intermediate level, Almeida’s virtues, precisely originating from the situation where it was settled (even in the 18th century, the road Ciudad Rodrigo-Almei-da-Viseu-Coimbra was still a Great alternative to the axis Almaraz-Badajoz-Elvas, in connecting Lisbon to Madrid), justify the defence made by Count of Lippe of its strategic relevance on defending the access to Porto and Coimbra, in 1762, which eventually happened, at the end, in practise on different military theatres, during the French invasions and even during the following civil war. Therefore, this natural condition of being the main access route to the entire province of Beira (and, from it, to the national territory) justifies, at a time, the precocious fortifi-cation of this elevation its stands on and its presence on the course of centuries; and, already within the Restora-tion framework, it justifies the spontaneous fortification effort, locally developed and, consequently, the rapid at-tention given by the Governor of arms of the province of Beira, the origin of a systematically process that would be extended through the 17th and 18th centuries, and, on this bosom (and on its virtue), the place would transcend men, over generations: even if this resulted, according to the im-mense evolution suffered by the Art of Princes on these

the Kingdom’s Central Gate: epistemological relevance of Fortifications in AlmeidaAntónio Filipe Pimentel *

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 81 4/16/12 10:13 AM

82

centuries, in a colossal task for who, considering the vicis-situdes, had to take responsibilities for its defence. Come as it may, the Restoration of 1640 – and the frame-work it creates – allow the hamlet to acquire its categori-cal strategic value, as an access route to the Kingdom’s heart, benefiting from an ancient investment in fortification, around which the local efforts, rapidly and in an improved fashion, are concentrated, in the brink of conflict. In fact and against the attention which was paid, simultane-ously, to the reinforcement of Tagus’ bar – defending the capital – and, in general, to the coast, the great defensive investment would then be focused on strengthening the large land invasion routes, essentially composed of the access of Minho (between Valença and Monção), of Trás-os-Montes (by Chaves’ plain), of Vale do Tejo (through Segura) and of Alentejo (in the Badajoz-Elvas-Estremoz route); apart from Mondego’s valley, defended by Almei-da, which equally opened the access to the capital. The Beira’s village expresses its relevance within this context, within a framework where Alentejo (with Elvas) would oc-cupy a central role, first because it clears an easy access to Lisbon and secondly because it was a tenancy of the House of Braganza. And, in effect, military efforts and war-fare material will immediately be located there in 1641, as well as, immediately, the essential efforts developed dur-ing the projections of bulwarked fortifications, which trans-formed the Restoration period into the true nucleus of the Portuguese school of military engineering, which was then settled (both in the Portuguese, as in the Spanish part) in static principles that imposed a close net of fortifications, with a constant communication between front and rear strongholds, which should provide for victuals. Therefore and also within this framework, one must understand Al-meida’s strategic values, with its crown of linked fortifica-tions, with a medieval background. It is quite true, nevertheless, that the lack of (graphic and documental) sources makes difficult to closely follow its constructive process during this first phase, being that the account registered, in 1644, by João Salgado de Araújo (Sucessos militares das armas portuguesas em suas fron-teiras) is the main basis for the chronological re-enactment of defensive fortifications of the Beira’s door. Through it one knows that the first structure would be build following the order of D. Álvaro de Abranches, governor of arms of the province of Beira, probably after his decision of estab-lishing his general headquarter on the hamlet: and it would be made of “four or five redoubts, and, in them, a Church & Castle”. In truth, everything seems to point to a simple entrenchment, quickly built, with the objective of protect-ing the small hamlet (not bigger than three hundred souls) and the military contingents, using local materials, such as soil and wood. Meanwhile and as early as 1642, the new military governor, Fernão Teles de Meneses (and probably related to his settlement in Almeida and to the offensive that would draw and cause the taking of Guardião’s castle), would determine the construction of a new first fort in Vale da Mula, which would be connected to the castles in Cas-

telo Rodrigo, Pinhel, and Alfaiates, being that the defence would be supported by such rudimentary structures (inter-connected with the Spanish frontier fortifications) on a first phase. And, at the same time, he initiates in Almeida, in 1642, the performance of a “royal fortress”, ordered to be “entrenched of stone and clay”, which was being executed during Araújo’s account – who writes “And His Royal High-ness now orders the royal fortification of this construction being built today, to make it invincible and seven other re-doubts will be built according to his Majesty”. In effect, the concept of royal stronghold (or royal fortifica-tion) would be related to, according to the jargon of military engineers of the French school, bigger fortifications (with wider gun platforms and, therefore, more resistant to en-emy fire). And, in particular, it is known that, in this same year, King João IV would order chief engineer Charles Las-sart of “drawing and recognizing the fortifications of Entre Douro e Minho and Beira”, being the dispatch of 28th Feb-ruary 1643 linked to this decision, in which the monarch orders that, after the successive projection of fortifications, each work should be handed to an official who would guide its execution. Within this framework, the French en-gineer Pierre Gilles of Saint-Paul receives the responsibil-ity of leading the fortresses in Beira, everything pointing to the fact that (among contemporaneous Spanish graphic sources and Araújo’s account – in both registered versions) the works only started in early 1644. This would start under Charles Lassard’s (or of Saint-Paul) projection and based on the seven redoubt mentioned by Araújo, being that payment orders were issued on his name until 1646, when he’s replaced by Lieutenant-general Rodrigo Soares Pan-toja – a later (but not necessarily unfounded) source would inform that, that year, the province’s governor, Conde de Serem, would order the works’ activation, without “con-siderably reducing the initial dimensions of the enclosure” and “in 1657, D. Rodrigo de Castro, governor of the party of Almeida, was responsible for an intensification of the fortress’ works, which suffered profound alterations to its layout and profile”. Within this context, one presumes that the first bulwarks to be built were São Francisco and São João de Deus (more apart from the castle), still according to the origi-nal project that would be implemented on site, but with scarce masonry works performed prior to the alteration, as a consequence, from the start, of the quite ample move-ment of land that their perfect implementation demanded. In this sense – and because some works were still being performed in the esplanade in 1762 – the alterations to the plan would have been concentrated in the northeast and south sides. Simultaneously to the bulwarks’ construction, the edification of the magisterial door of the Cruz (or São Francisco) was also carried out and its vault shows the av-erage date of 1661 – the year on which, has the Conde de Mesquitela informs, the stronghold was still not sur-rounded by walls or still didn’t have a ditch. Meanwhile, a Spanish plant, dated back to 1664, kept in Simancas, would illustrate for Almeida (and also to the fort in Vale da

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 82 4/16/12 10:13 AM

83

Mula, with four bulwarks) a bulwarked gun platform with five tips, which could become a curtain of a rudimentary character, only consolidated after the construction of the missing bulwark, according to the doctrinal orientations in force. Come as it may, this information would consolidate the notion that the defence wall still wasn’t completed by 1664, a situation that corroborates the contracting, on the following years, of contractors Francisco Maio and Do-mingos Vaz Heredes for the fortification works, who would succeed to João Gonçalves and Manuel Fernandes and this was also the phase for the conclusion of the works in the doors of São Francisco. Nevertheless, the celebration of peace with Spain in 1668 would force a slower rhythm of the works, against the re-covery of Almeida’s strategic value in the context of the War of the Spanish Succession – and also against the de-cision of the Marquês de Minas, in 1705, to promote, from this region, his striking march on Madrid. In spite of this, and after the conclusion of the gun platform, the works for the opening of the ditch and consequent design of the ravelins (beginning with those that stood in front of the doors), as well as the construction of the door of Santo António (which bears the dates of 1674 and 1676). In other sectors – such as the vaults of the doors of the Cruz and the continuous Guard’s House – one knows that, in 1738, some damages done during the Restoration War were be-ing repaired, while other interventions (such as the bowing of the transit of the magisterial door, which was posterior to its construction with a straight layout: concluded in 1728) indicate some decisions springing from the evolution of the art of fortification. In the same manner, one knows that, in 1680, the walls’ construction works were being performed and, therefore, the chapel of Vera Cruz is then demolished “for the walls to pass in its site” – and, finally, a grave dis-aster would further disturb the works in progress: the great explosion in the castle, in 1696. With the 18th century, nevertheless, and with the reorgani-zation of the army, carried out after the Portuguese par-ticipation on the War of the Spanish Succession, which would be concluded in the formation of regular bodies, with the consequent need for lodging facilities, but mainly within the context of the strategic decision of reinforcing the defensive system of frontier strongholds, the sense of the constructive intervention of Almeida’s fortification was recovered. Which, probably, produced some effects on a local level: if not more, at least the ones illustrated, in 1736, in the production of Planta da Praça de Almeida, com as obras interiores, e exteriores addicionais, e deliniadas pelo Engenh.ro Mor do Reino Manoel de Azevedo Fortes (“Plant of Almeida’s Stronghold, with interior works and external additional works, stated by the Kingdom’s Chief engineer Manoel de Azevedo Fortes”), the title of which indicated the pro-active attitude presiding over this new attention, which in any way is a reflection of the mere execution of the plans designed almost a century ago. Instead, an entire set of works is programmed, meant to improve the defen-sive system, introducing, particularly, bomb-proof caserns:

even if, for the most part, the plan wasn’t fully executed – but in it dwells the construction of cantonments and, in particular, the construction of the castle’s magazine, which would later be the cause for its total destruction. Anyway, in 1746 and 1747, new expropriations took place, which seem to document the continuity of the works of the fortress’ implementation, while, some years later, the 1755 earthquake would cause cracks on the external walls (which denounces its poor construction), besides also ru-ining the infantry barracks. Like so and until 1762, the land movements around the ditch will continue, towards the organization of the ravelins and of the esplanade, as well as the execution of the brickwork escarpments’ coating – while, simultaneously, some works are performed for the stronghold’s urbanization and for the construction of mili-tary facilities. In fact, it is well known that, during the year in question, the fortress already had its complete shape, even if some conclusion works were still in progress, led by Jean-Alexandre de Charmont, over a few months, with-out, nevertheless, pointing out some imperfections to the stronghold, that he tried to correct with later complemen-tary works, strongly recommended by his follower, António Carlos Andreis, Captain of engineering – which would not be consensual among the following military engineers, within a context where the pressure of open conflict with the Spanish neighbour would print a indeclinable urgency. Thus, on June 1762, the bunkers of São João de Deus’ bulwark started to be covered, while a postern began to be opened, being that the arsenal’s one was already in func-tion on August. And it is known that, according to a report written in 1790, that the original posterns of São Pedro and São Francisco’s bulwarks would be “made of vaults”, while two other posterns were opened during the 1762 siege, but “made of wood and opened in such a way as to resemble a gallery” and, therefore “the urgency of their construc-tion didn’t allow for the construction in ashlars masonry”. During the period following until the 18th century, and after peace had been resettled, several inspections and inter-ventions were carried out, regarding the repair of damages caused by harassment or regarding improvement works, in a stronghold hat seemed to resist perfection. And that period creates an intense iconographical production, illus-trated in plans documenting the destructions but where, equally and for the first time, a close attention is paid to aspects more strictly related to urbanism – that is, where the village is granted a personality of its own, gifted with symbolic buildings, within the context of an iconic produc-tion that, so far, had been focused on fortification. Thus, a new works campaign is begun between July 1764 and October 1765, under the guidance of the Stronghold’s Governor, Francisco Maclean, focused on the repair of war damages, but producing the Cruz’ magisterial door (that was “built once again in a good embroidered ashlars ma-sonry, according to the Architecture’s order it had, which was the Tuscan one”), apart from reconstructing some military buildings: barracks, stable, train and gunpowder and arsenal magazines of the castle. On January 1766,

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 83 4/16/12 10:13 AM

84

nevertheless, Francisco Maclean would send to King José I, using Conde de Oeiras as an intermediary, a bill on the need for more works, to which the monarch would acqui-esce: this dealt with the reconstruction of the royal hospital and of the Controller General’s House (meant to become the Governor’s House), the construction of latrines for the army and the reconversion of the barracks into a nuns’ convent, which meanwhile became extinct. And, upon his request, Jacques Funck, colonel of engineering, and Miguel Luís Jacob, chief sergeant of infantry, would be sent to Almeida, in order to, respectively, elaborate a plan that could eliminate the stronghold’s flaws and to direct the corresponding interventions. From the Plano Geral das Obras Adicionais Necessárias à Defesa da Praça de Almeida (“General Plan for the Nec-essary Additional Works for the Defence of Almeida’s Stronghold”), elaborated at the time, came the strategic option for works “performed only with earth”, apart from other interventions, such as the urgent conclusion of the bunkers, unfinished since 62, the construction of a casern able to lodge six hundred men and, in general, hygiene and sanitation related works, such as the hospital or the latrine. Notwithstanding, the rhythm of plan execution seemed to be slow, being, nevertheless, documented the use of large quantities of manpower during 1776 and 1787. A new doc-ument, however, seems to illustrate a new phase of works: this is the Estracto de apontamentos sobre o estado ac-tual desta fortificação, dos Reparos e Obras novas de q. necessita, feito por Ordem do Ill.mo e Exmo S.nr Conde de Oeynhausen, Marechal de Campo dos Exércitos de Sua Mag.de e encarregado da Inspecção das Tropas, e Forti-ficações das Províncias do Norte (“Notes extract on the current state of this fortification, of the new Repairs and Works it needs, performed under the Order of the Honour-able and Illustrious Conde de Oeynhausen, Field Marshal of the armies of His Majesty and in charge of the Supervi-sion of Troops and Fortification in the Northern Provinces”), with the date of 3rd March 1790 and signed by Anastácio António de Sousa Miranda, chief sergeant in engineering, who was then in charge of the works and who would en-dure on site until the stronghold was conquered by Mas-sena’s army, in 1810. He documented the continuity in in-sisting in damage repair works, in correcting imperfections and in establishing the garrison, apart from the concerns with hygiene, which is one of the most impressive traits of contemporary culture. Again, the construction of a prison was proposed (substituting the existing structure), of new barracks and of a building for the regiment of the main guard. And this hustle and bustle would result on the date of 1790, engraved on the door of Cruz’ ravelin, while one can witness the invasion of (inactive) military structures by farming activities, performed by locals, and even an urban pressure which contaminated (and compromised) its de-fence. Meanwhile and even if with intermittencies (caused by administrative or weather issues), the works continued through the decade, always with the intention of making the stronghold more defendable. But it is quite true that, in

1801, for fear of a new conflict, the sources indicate that the village’s governor, Field Marshal Gustavo Adolfo Hér-cules de Chermont, “made some provisions to accelerate the execution of the plan’s complement, previously pre-sented in 1795 and 1796”, insisting on the conclusions of the works presented. The war would effectively come, only a few years later and, along with it, the most violent destruction ever suffered by the stronghold’s fortifications: the castle’s explosion, in 26th August 1810, determined by the French occupier, aggra-vated by the devastating action of the mines places during the retreat – and the reflections on the hamlet wouldn’t be any smaller because, according to a survey on the dam-ages made at the time, “of 718 buildings of Houses, pre-viously encompassed in the Stronghold’s Enclosure, only 180 are habitable.” The ruin, in fact, would also smite the modern fortification, being amply destructed between the bulwarks of São Francisco and Santo António, as well as in other points, producing random damage in the entire set. In this context and facing the fear of a new harassment, quick rehabilitation projects are started, the responsibility of Pedro Folque, performed swiftly, from 1812 on, in front of time pressure and the lack of available labour; these works would later be suspended upon the end of the war with France, in 1814. And the first concrete ideas to sus-pend the stronghold appear the next year (with its disman-tling and removal of artillery), framed by the proposal of the Minister of War, Beresford, who was English.From now on and although the command wasn’t fulfilled, the interventions performed by military engineers would be reduced to maintenance and repair interventions, already without the flame of the perpetual plan reformulation (and consequent reasoning exercise), which had fed interven-tions for the last century and a half: and the works started on 1816 would be interrupted once again on the follow-ing year, by Beresford’s order, who, returning to his initial project, called for the mining of the fortification; this task, against the stronghold governor’s resistance, would be ac-tually initiated. The known reports, nevertheless, attest a general decay in structures, which had been violently mis-treated by war and, in 1819, the final demolition of the re-mains of the old castle’s wall took place. Thus, in 1824, the works of a commission appointed to “examine and pro-pose Strongholds that should be abandoned and almost preserved” downgraded the effectiveness of the royal for-tress of Almeida. Notwithstanding, it was given the func-tion (and lesser statute) of “campaign strong post”, which would at least justify the suspension of the sentence previ-ously given and which would allow for a new continuity in repairs, supported in the new functions given to Almeida as a general ammunition deposit for Beira’s province. And such would come to justify the role it would play during the civil war, the last episode of its military history. Following this, in effect and also for the internal convul-sions that would mark the coming of a Constitutional Mon-archy, only in 1853 the attention of the headships would once again be drawn to Almeida, within the context of the

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 84 4/16/12 10:13 AM

85

works of the previously mentioned commission, destined to question the technical viability of fortifications and which would result in the surprising verdict that “this Stronghold [is] one the strongest of the Kingdom, and quite prob-ably the strongest of them, because it does not depend on important works to sustain the site being governed”. In consequence of this fact, several repairs would be recom-mended during the following year, on the walls and doors and on buildings of military facilities, by the same palace that actually defends the construction of new barracks for the infantry and a magazine, protecting military services, with the reestablishment of the ancient esplanades and the demolition of urban advances and of rural occupations that, in the meantime, had happened against the walls. Within this context, in 1888, the royal fortress of Almeida would recover the category of first class stronghold – but only for brief moments. With the turn of the century and as a consequence of new inspections, it would be finally declassified. With it, nevertheless, would come a new look on the fortified complex of the ancient kingdom’s central door, which would culminate in the official classifications as National Monument, attributed in 1928 and 1938, within an ideological framework that now appreciated, more than the strictly operational plan, its long history of military de-fence and its semiotic and representative value, as land-mark of nationality, which would soon celebrated its dou-ble centennial. And for them, rehabilitation and apprecia-tion works came forward that, with different spirits, would endure until today. In truth, Almeida is worth for its military and urban set: be-ing that this complicity is born from one of the most re-markable and well preserved pieces of national heritage. Although poorly documented, the village’s fortification works endured until today – the works occurring during the Restoration cycle (after the castle’s destruction, of which, notwithstanding, some archaeological vestiges can still be found) would have started around 1643, with the launching of the programmed of the royal fortress, made more lively with the arrival of Pierre Gilles of Saint-Paul, who was later replaced by Rodrigo Soares de Pantoja. It is quite certain that the viable reconstitution of the build-ing process attests that the complete today (which can be contemplated today), largely postponed, would only have been concluded from 1736 onwards, within the ample pro-gramme of enhancement of national fortifications (within an even broader scope of reforming military structures) and this epicentre motivates the reflection performed by Manuel de Azevedo Fortes and the military engineers around him, such Miguel Luís Jacob and Anastácio António de Sousa Miranda. Nevertheless, against numerous at-tempts – always minor, at the end of the day – to correct its celebrated imperfections (particularly and beyond the 18th century logistic construction, the curving of the magisterial doors’ transits) and, for the most part, coming from the rapid evolution in concepts and schools within the scope of the Arte dos Príncipes during the 17th and 18th century, the17th century basis seems to clearly sustain it, in what is

essential, during the following century, being that, despite occasional correction, the plan drawn during the critical years of the Restoration went forth. In effect, these are the guidelines of the French School, coded on Antoine Deville’s recent treaty (1596-1657), which are consecrated in the concept of royal fortress in a clear option for the kindness of the (perfect) regular lay-out – indeed quite controversial in the speciality’s theory –, expressed in an almost absolute hexagon, from where the six bulwarks are born: Santo António, São Pedro, São Francisco (or of the Cruz), São João de Deus, Santa Bárbara and Senhora das Brotas, intertwined with same number of ravelins, corresponding to the middle curtains. With them comes the layout of the four access doors to the village, in their exemplar display of a classical sever-ity of an equally French basis (against the original fanciful touch given by the plumbed bartizans over the axis) which was, at the time, a novelty in Portugal, on that cultural (and aesthetical) limbo established between a Mannerism and a Baroque that would follow other paths: and which was already attribiuted to São Francisco’s Door (1646-1661), with striking similarities with Saint-Gervais’ church façade, in Paris (Salomon de Brosse, 1616), “a true turning point of Portuguese history of art” (Rafael Moreira). And throughout the entire design (and this would, in fact, be a contested option on the theory of this specialty) there is an ostensive and Baroque exhibition of ashlar masonry, meant to underlined the royal character of the fortification – with special force for both magisterial doors, of Santo António and São Francisco (Cruz), double-faced, accord-ing to the rules – which powerfully contribute towards the exemplar character it holds from an aesthetical and cul-tural point of view, transforming Almeida undoubtedly into the stronghold with the greatest originality of 17th century Portuguese military architecture and the most emblematic from the respective Baroque point of view. In fact, being the main location for the general barracks of Beira’s province Governor of Arms and, during the 18th century, serving as the home for 3,000 thousand soldiers, Almeida would be converted, with the six-pointed stars that limited it and its mighty military apparatus, with more than 100 gun platforms – and upon completion of the plan with the works materializes by Miguel Luís Jacob within the war context of 1762 -, on the first Portuguese strong-hold: in an investment consolidated in its fortification that will denounce the avidly fed controversy on its perfection, which explains, nevertheless, the strong verdict by the 19th century commission in charge of its assessment. In it, in effect and paradigmatically, it is reflected the prestigious Portuguese tradition in cultivating the Arte dos Príncipes, consolidated since the 16th century aulic teaching and fed, at the end of the century, by the arrival of Italian military engineers who, at the turn of the new century, would write works such as Doctrina Militar, by Bartolomé Scarion de Pavia (Lisbon, 1598), Arte Militar, by Luís Mendes de Vas-concelos (Alenquer, 1612) or Abecedário Militar, by João Brito de Lemos (Lisbon, 1633) and that was projected on

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 85 4/16/12 10:13 AM

86

the classes given by Flemish and Italian Jesuits João Cos-mander and Simão Falónio, named Sphere or Astronomy of Colégio de Santo Antão, being that the first was the di-rect responsible behind the fortification works immediately after the Post-Restoration Cycle (Oeiras, Paço de Arcos, Santiago de Sesimbra).With the Restoration, nevertheless and benefiting from Richelieu’s immediate support to the Portuguese rebel-lion, there is an immediate French-oriented reorientation of Portuguese military engineer – in the moment that France assumes a theoretical leadership, which would justify the popular name of Vauban fortifications – thus explaining the import of successive takes of French military engi-neers, coming from the ingénieurs du Roy, more than one hundred, while the Arte dos Príncipes would occupy the formation of the political-noble elite of that time (the Por-tuguese ambassadors in Versailles, D. Francisco de Melo and Conde da Vidigueira were true examples of that elite) or that, very adequately, Manuel Fernandes de Vila Real edited in Paris, in 1649, his Architectura militar ó fortifi-cación moderna, in fact a translation of the works by the priest Georges Fournier. Within this context, one is able to frame the arrival (with Marquis Brézé’s armada), in 1641, of Charles Lassart, promoted, on the following year, to Chief Enginner and of a group of young military engineers, where Pierre Gilles of St. Paul is included – and within this context, one should comment on the edition, in Paris (1671) of Les Travaux de Mars, by Alain Manesson Mallet, who stayed in Portugal for a brief period (1666) but whose detailed (writ-ten and image) description of the new fortifications built in Portugal (he claims to be the author behind them), exem-plarily reflects the interest that they had from the cultural point of view of the European War of that period. To these works, nevertheless, – in truth, mercenaries to offered their services to the war market at that time – a development of a Portuguese fortification school would correspond, based on the creation, by King D. João IV, in 1647, of the Class in Fortification and Military Architecture, directed for more than three decades by Luís Serrão Pi-mentel and that would become, during the next century and a half, the true propelling centre for the theoty and practice of military architecture I Portugal, condensed by its own master on Método Lusitânico de desenhar as for-tificações das praças regulares e irregulares (Lisbon, 1680) and responsible for, in his own words, creating “disciples instructed on navigation and design of fortification” and, over the years, “producing in that class engineers that are now professionally serving at Beira, Minho, Alentejo, Setúbal, Peniche and on this city”.And for here, an autonomous reflection effort would be developed, concerning international theoretical matrixes (with the rapid incorporation of other contributions, par-ticularly Dutch and German), which justifies the name of Lusitanian method: and that, with the diffusion through-out the imperial space (and the repercussions on urban projects), especially during the following century (with the spreading of fortification classes, on the Kingdom or on

Brazil) and which have consequences – both technically and aesthetically – on the creation of a true Portuguese school of military architecture, whose central importance on the 18th century are paradigmatic examples of the char-acters of the Chief engineers: Manuel de Azevedo Fortes e Manuel da Maia. The first was precisely the author of a two-volume treaty called O Engenheiro Português, (Lis-bon, 1728-1729); the second was responsible for the plan-ning of the reconstruction of Lisbon and, before that, for all the theoretical thought that antecede it. During the 18th century, the path (and the debate) provoked by this Portuguese school of military architecture is pro-jected on the interventions performed in Almeida, rightly originated by the problem around perfection. And, for that reason, sounding names of the structures of Portuguese military architecture of the time leave their mark there, such as Guilherme Elsden, responsible for the 1765 plant and, under a decade after, for the transformation of Coimbra’s campus hill into a urban paradigm of an alliance of power and knowledge, as one has defended in other grounds – after he collaborated on the reconstruction of the capital. And, for this reason, in Almeida – with the implementation of the buildings demanded by military logistics – the urban-ism path projected are similar to those being developed by the same school throughout the Empire and for which the reconstruction of Lisbon and Coimbra’s campus (but also Vila Real de Santo António and others) would serve as highest point and also as boundaries, between the ex novo projection and the pragmatism imposed by the need to preserve old structures. Stronghold in the full sense of the words, fusion between urban implementation and fortification – this is the central relevance (at some time for heritage and science) for the asset that, justly, the 19th commission members’ (symboli-cally the night before being fired and posterior classification as a National Monument) was honestly reported as “one of the strongest of the kingdom and probably the strongest”: with the authority that would come from the long period of reflection and practice that they undoubtedly engrossed. With that summarizing, alas, its essential value: the peda-gogical illustration – and exemplarily preserved – of the vir-tues of a school (of reflection and practice) which is clearly demonstrated in it.1

* Historian – Assistant Professor and Pro-Rector of the Univer-sity of Coimbra/Department of Heritage and Candidacy of the University to the Wold Heritage (UNESCO)

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 86 4/16/12 10:13 AM

87Fortificações Abaluartadas de AlmeidaPedro Dias *

1. Algumas considerações preliminaresUma das disciplinas menos estudadas, menos co-nhecidas e menos divulgadas do vasto campo das Ciências do Património é a concepção e construção de fortificações da Época Moderna, designada por Arte Militar ainda em 1571, por Girolamo Blondel, no seu Dell’arte militare libri tre, dado à estampa por Tomaso Bozzola, em Brescia. No entanto, são várias as formas que os diferentes tratadistas utilizaram, a partir do século XVI para a designar, designações que não são arbitrárias, mas que assentam em sóli-dos pressupostos e em formas próprias de encarar as actividades dos projectistas e dos construtores.Alexandre Pierre Juliene de Belair chamou-lhe sim-plesmente Fortificação, num livro impresso pem Paris, em 1792, na tipografia de Firmin Didit, cujo título é Élements de fortification, refermant ce qu’il étoit nécessaire de conserver des ouvrages de Le Blond, Deidier et autres… O mesmo fez Guillaume Le Blond, nos Elements de Fortification, de 1756, da oficina parisina de Charles Antoine Jombert. Po-rém, este autor usou igualmente a designação de Castramentação, nomeadamente no Essai sur la Castramentation, ou sur la mesure et le tracé des camps, de 1748, impresso pelo mesmo tipógrafo, e no mesmo local, mas dez anos antes. Outros op-taram por Arquitectura Militar, palavras que Michel

Achielli inscreveu na folha de rosto do seu tratado impresso em Veneza, em 1725. Mathias Dogen chamou-lhe Arquitectura Militar Moderna ou Fortifi-cação, e este é o título do seu famosíssimo manual de 1648, dado à estampa em Amsterdão, por Louys Elzevier, no fundo, os mesmos termos por que Louis de Cormontaigne optou, Arquitectura Militar ou Arte de Fortificar, num livro que conheceu a força dos prelos em Haia, em 1741, a Architecture Militaire ou Art de Fortifier qui enseigne d’une manière courte & facile la Construction. O nosso engenheiro-mor do Reino do tempo de D. João V, Manuel de Azevedo Fortes, na linha da Adam Fritach – que tanto o influenciou com L’Architecture Militaire ou la Fortification Nouvelle. Enrichie de forteresses reguliers, irreguliers et de dehors, le tout a la pratique moderne, de Paris e de 1640 – no tratado que formou as gerações seguin-tes de construtores portugueses de aquém e de além-mar, e todos os seus discípulos contenporâ-neos, O Engenheiro Portuguez, impresso em dois volumes, na oficina de Manuel Fernandes da Cos-ta, nos anos de 1728 e 1729, optou também por Fortificação, mas acrescentando-lhe o designativo “Regular”, para a distinguir da dos tempos anterio-res à divulgação da tratadística. Seja qualquer a de-signação que entendamos como a melhor, a mais

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 87 4/16/12 10:13 AM

88

adequada, facto é que esta disciplina está entre a Arquitectura e a Engenharia, e nisso é claro Manuel de Azevedo Fortes, ao designar como engenheiros os especialistas no planeamento das fortificações, quer as defensivas quer as ofensivas. Serve este intróito para recusar a designação de for-tificação à Vauban, muito comum, que se lê não só em roteiros turísticos, mas por vezes até em biblio-grafia cujos autores deviam ser mais cuidadosos. Não é inédito ver mesmo tal designação em cons-truções muito anteriores ao tempo em que viveu o erudito Sebastien Le Preste, o cantado marquês de Vauban. Vem-nos agora dar força, e ainda por cima a propósito da praça de Almeida, Luís Callabuig para quem apenas “…un análises ligeramente rigu-roso puede descubrirnos como es inadecuada esa denominación…” 1. Para nós, a forma mais correcta é também a designação de Fortificação Abaluarta-da, já que o baluarte é o elemento essencial de to-das as gerações de fortificações, desde o início das formas adaptadas à Pirobalística, até aos sistemas consagrados por Marc-René de Montalembert.Mas há outra questão pertinente: como se explica que seja tão reduzida a bibliografia especializada, não só entre nós, mas também na generalidade dos países ocidentais, já para não falar na praticamente inexistente nos outros pontos do Globo?Julgamos que a resposta pode encontrar-se, desde logo, em alguns títulos de tratados muito populares nos séculos XVII, XVIII e XIX. Vejamos. Em 1680, Théodoric Luders publicou o Traicté Mathematique contenant les principales definitions, problemes et theoremes d’Euclides. L’Arithmetique decimale. La Trignometrie. La Longimetrie. La Plasnimetrie. Et Ste-reometrie. La Fortification holandaise, françoise, ita-lienne et espagnole. La perspective militaire. Et la Ge-ographie Universelle; a obra foi dada à estampa em Paris, na tipografiia do Quay des Augustins. O já cita-do Guillaume Le Blond escreveu L’Arithmétique et la Geometrie de l’officier, em 1767, impresso em Paris; e o nosso José Fernandes Pinto Alpoim, que tam-bém fez carreira no Brasil, deu à estampa, em Ma-drid, em 1748, uma obra com o título absolutamente 1 Luis Callabuig, “Glosario de fortificación abaluartada. Glosario de términos de fortificación en el contexto de la fortaleza de Almeida”, Revista do Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, n.º 1, p. 99 e segs.

elucidativo: Exame de Bombeiros que compreende dez tratados: o primeiro de Geometria, o segundo de huma nova Trignometria, o terceiro de Longemetria, o quarto de Altimetria, o quinto dos morteiros, o sexto dos pedreiros, o sétimo dos obuz, o oitavo dos pe-tardos, o nono das baterias dos morteiros, com dous appendix. Já quatro anos antes, no seu Exame de Ar-tilheiros, de Lisboa, tinha como matérias a Aritmética, a Geometria, a Artilharia e mais quatro apêndices.Julgamos que isto é mais do que suficiente para provar que não é possível fazer estudos sérios so-bre Fortificação Abaluartada, ou Moderna, Regular ou Engenharia Militar, se preferirmos qualquer des-tas designações, sem conhecimentos muito alarga-dos no vasto âmbito das Matemáticas, e algo que apenas foi aflorado, e mesmo assim indirectamen-te, nos títulos evocados, que é a Balística. Curiosamente, o nosso colega Fernando Cobos de-signa o período que vai de 1640 até 1710 como o do Império das Matemáticas, “… tal a importancia que adquiere las academias y escuelas de matemá-ticas, especialmente las jesuíticas en España, Portu-gal o Flandes…” 2. A evolução das armas de fogo foi constante, ao longo dos séculos, e paulatinamente foram-se tornando mais potentes e mais precisas, capazes de causar danos maiores nas cortinas e nos baluartes, e também a distâncias cada vez maiores. A consulta dos manuais, se seguirmos uma ordem cronológica, mostra tabelas que comprovam o que acabamos de dizer, obrigando as técnicas de defe-sa estática a avançar a par e passo com as técnicas e tácticas ofensivas. O alcance dos canhões, em meados do século XVIII, pode ser compreendido com a leitura atenta do já citado tratado Exame de Artilheiros de José Fernandes Pinto Alpoim.Sem desprimor para outro ramo desta área das Ciên-cias do Património e para os seus eruditos cultores, a Castelologia é incomparávelmente mais simples, pois as construções das defesas medievais não obedeciam aos mesmos preceitos das abaluartadas, posto que, ao longo dos séculos, e dado o avanço do armamento, mesmo da Neurobalística, nunca se atingiu a complexidade dos tempos da Pirobalística.

2 Fernando Cobos, “Los inginieros y las Escuelas de Fortificación Hispánicas en Europa y América”, Revista do Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, n.º 1, p. 43

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 88 4/16/12 10:13 AM

89

Também o gosto pela História Medieval, que este-ve tão em voga a Europa durante o século XIX e até no início do século XX, levou a que os castelos, com tanto do seu pitoresco, fossem mais valorizados e alvo de uma atenção que conduziu inclusivamente a profundos restauros, quando não mesmo recons-tituições, a maioria das vezes completamente fanta-sistas. Veja-se o que Viollet-le-Duc fez em França, entre outros casos com a cidadela de Carcassone, e atente-se na “re”construção do Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, uma total invenção, ou ainda nos projectos de Ernesto Korrodi para o caste-lo de Leiria, que felizmente não foram por diante. A Fortificação Abaluartada, e particularmente a sua fase mais avançada, que é a Fortificação Regular, exige uma atenção muito especial, e não dispensa o conhecimento de todos os saberes que acima apon-támos, na esteira do que disse o engenheiro José Fernandes Pinto Alpoim. Assim, houve um afasta-mento desta temática por parte dos profissionais da História da Arte, que tendo ainda vastos campos por explorar, nunca encararam este como uma priorida-de, salvo, evidentemente, raras e honrosas excep-ções, autores quase todos com formação militar, ou que se viram envolvidos no restauro de fortalezas, quer no território actual de Portugal, quer nos dos nossos antigos domínios de além-mar.

2. Almeida no contexto da Fortificação Abalu-artada portuguesaA construção da fortaleza de Almeida integra-se no movimento de edificação e reconstrução de praças-fortes, que se iniciou logo após a revolta de 1 de Dezembro de 1640, quando D. Filipe III foi deposto e um grupo de nobres portugueses colocou no Tro-no o duque de Bragança, que veio a ser aclamado como D. João IV. A guerra que se seguiu, conhecida como Guerra da Restauração, durou tempo mais do que suficiente, de facto até 1668, para que o pa-norama defensivo português, quer na fronteira ter-restre quer na costa, mudasse substancialmente 3.

3 Carlos Callixto, “A Fortificação Barroca. As fortificações marítimas do tempo da Restauração”, História das Fortificações Portuguesas no Mundo, direcção de Rafael Moreira, Lisboa, 1989, p. 207 e segs.; Amilcar Morgado, “A Fortificação Barroca. A defesa da fronteira ter-restre”, História das Fortificações Portuguesas no Mundo, direcção de Rafael Moreira, Lisboa, 1989, p. 221 e segs.

Logo em 11 de Dezembro foi instituído o Conselho de Guerra, cuja função era, obviamente, preparar o Reino para as hostilidades que se adivinhavam. Uma das prioridades do novo monarca e dos seus conselheiros foi o provimento da fronteira terrestre no Alentejo, nomeando, no dia seguinte, Matias de Albuquerque, que vencera os holandeses no Brasil, como mestre-de-campo-geral do exército que aí se devia formar, e mandando para lá todo o material que tinha disponível; fortificou Elvas, Campo Maior e Olivença, como primeiras medidas 4. D. João IV enviou prontamente a França, inimiga tradicional de Espanha, o embaixador D. Francisco de Melo, que conseguiu o apoio do cardeal Riche-lieu e, em Setembro de 1641, chegava a Lisboa, na armada de Brezet, o engenheiro Charles Lassart, que veio desempenhar o cargo de engenheiro-mor do Reino, e que começou logo por fazer uma visita de inspecção à zona costeira do Porto. Trouxe cin-co jovens engenheiros seus contemporâneos, dois

4 Rafael Moreira, “Do rigor teórico à urgência da prática: a Arqui-tectura Militar”, História da Arte em Portugal. O Limiar do Barroco, direcção de Carlos Moura, Lisboa, 1987, p. 67 e segs.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 89 4/16/12 10:13 AM

90

dos quais destinados a servirem nas construções da raia alentejana, e outros nas fronteiras de Trás-os-Montes, das Beiras e do Algarve. Foram traçados planos muito ambiciosos, tão ambi-ciosos que muitas das vilas mais importantes, e até mesmo cidades, nunca foram concluídos, poden-do incluir-se nesta longa listagem Beja, Bragança, Chaves e Évora. No entanto, já Elvas foi por diante, constituindo hoje uma das cidades com mais im-portante património neste campo. É evidente que a capital mereceu uma atenção muito especial, o mesmo é dizer, toda a barra do Tejo e o seu curso a juzante do Terreiro do Paço. Logo a 19 de Dezem-bro já Martim Afonso de Melo era encarregado de reparar e acrescentar as fortificações de Cascais. Uma das fortalezas que então foi mais ampliada foi a de São Julião da Barra, importantíssima para ga-rantir a defesa da capital. Das muitas outras que não distavam muito de Lis-boa que poderíamos citar salientamos apenas mais a fortaleza de Peniche, intervencionada em 1641 pelos engenheiros Simão Falónio e João Balleste-ros, estando aí no ano seguinte Charles Lassart, e

concluindo-se as obras em 1645. Das grandes de-fesas marítimas meridionais, podemos salientar as de Sagres, que tem apenas a cortina e os baluartes virados a norte, necessários para defender a parte do promontário do lado de terra, e outra mais pequena, a de Cacela, no Algarve, que teve uma reforma gran-de por volta de 1770. O Alentejo foi um território onde a Fortificação Aba-luartada teve um enorme desenvolvimento, pois a configuração do terreno tornava mais fácil o avanço espanhol por aí, do que pela zona norte, fosse pelo Minho e Trás-os-Montes, fosse por grande parte das Beiras. Não são de estranhar, pois, as grandes empreita-das de modernização de Juromenha, com projecto desenhado por Nicolau de Langres, e que era a ver-dadeira chave das ribeiras do Guadiana, e sobretu-do Estremoz, cujo papel como praça-forte central de toda a Província não pode passar em claro. À fortaleza medieval, que já era importante, e que ti-nha uma área considerável, foram acrescentadas, no século XVII, baluartes poligonais, fortíssimas cortinas, fossos, e outros dispositivos canónicos. O projecto inicial foi de Cosmander, mas devido à sua morte, 1648, foi concluído por Nicolau de Langres, mas não pode esquecer-se o trabalho que aqui teve o engenheiro-mor do Reino, o matemático e trata-dista Luís Serrão Pimentel.Voltando um pouco atrás, lembremos que um dos homens que teve maior importância desse primeiro grupo foi Saint-Paul, que trabalharia em Almeida, como veremos. Em 1643 chegou a Portugal Michel Lescole, e, no ano seguinte, foi a vez de Nicolau de Langres, que ficou entre nós por quase vinte anos. Em 1648 veio Pierre de Sainte Colombe e, final-mente, só para citar os mais importantes, ainda em 1666, a dois anos do fim da guerra, desembarcava em Lisboa Alain Manesson Mallet, que era além do mais um tratadista e que, em 1671, publicaria em Paris um livro onde foram reproduzidas as plantas de muitas das fortificações que entretanto se edifi-caram em Portugal. É claro que estes engenheiros vieram por dinheiro, e não por qualquer ideal, e não será pois de estranhar que alguns se tenham passado para o lado dos es-panhóis, como Nicolau de Langres, Sainte Colombe

Retrato inserto no Tratado “O Engenheiro Português” –

gravura de Rochefort, a partir de óleo pintado por Quillard.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 90 4/16/12 10:13 AM

91

e até Cosmander, que acabaria por ser abatido em 1648, quando acompanhava o marquês de Lega-nes no ataque a Olivença, fortificada por Gillot, que foi discípulo de Renée Descartes, mas cujo projecto ele mesmo tinha desenhado, anos antes.Almeida foi sempre, desde o período de afirmação da nossa Independência, um ponto importante, pois ficava junto da fronteira, numa das principais vias de penetração, para quem se deslocava de Leste para Oeste, consolidada desde a Época romana. Durante o reinado de D. Manuel (e está abundantemente do-cumentado e bem estudado), o castelo foi ampliado e reforçado, como o provam os vestígios arqueoló-gicos que subsistem e também se pode constatar através dos desenhos e da planta levantada, ainda antes de 1510, por Duarte Darmas, e que hoje se guardam na Torre do Tombo. Era, então, uma das mais eficazes fortificações do reino, e manteve-se íntegra, mesmo depois da construção da praça-forte abaluartada, no século XVII. Apenas desapareceu quando uma bomba incendiária o fez explodir duran-te um dos asédios, dado que tinha sido usado como depósito de pólvora e de munições.A obra que agora nos interessa foi construída nes-te contexto, e o velho castelo manuelino trans-formado em paiol, sendo feito um novo projecto, ambicioso e muito evoluído para o tempo, da auto-ria de Pierre Gilles de Saint-Paul, um dos homens que, como vimos atrás, chegou logo na primeira vaga, em 1641, com o consagrado Lassart. Esteve em Almeida durante quinze anos, e deixou a sua marca impressiva, de modo a que todas as obras posteriores, e foram muitas, tiveram que se sujeitar ao projecto inicial. Julgamos que as grandes por-tas foram desenhadas por Pierre Garsin, que tinha servido no Brasil, na Capitania de Pernambuco, baseado em protótipos de Antoine de Ville. Po-rém, o traçado definitivo, o que sofreu as Invasões Francesas, no início do século XIX, só foi concluído durante o século XVIII, sobretudo após o ano de 1736, quando foram introduzidas grandes obras de acrescentamento e melhoramento, que estive-ram a cargo do engenheiro-mor do Reino, Manuel de Azevedo Fortes, de Miguel Luís Jacob e de Anastácio de Sousa Miranda. Após as reformas in-troduzidas por este último, tornou-se a praça mais

forte do Reino, e chegou a ter uma guarnição de três milhares de soldados. Uma das mais importantes personalidades no pa-norama da nossa Fortificação Abaluartada, não só durante a primeira metade do século XVIII, quando viveu, mas de sempre, e que teve um contributo decisivo na modernização de Almeida, foi Manuel de Azevedo Fortes, que ocupou por largos anos os cargos de engenheiro-mor do Reino e de professor da Aula de Fortificação, e a quem antes já fizemos alusão. Relembremos que ele teve uma relevante in-tervenção nas principais obras públicas executadas por iniciativa da Coroa ou dos seus representantes nas várias partes do Mundo onde chegava a sobe-rania portuguesa. Se alguma dúvida houvesse a este respeito, bastaria atentar no texto do decreto régio de 10 de Novembro de 1734, pelo quel foi isenta-do de assinar pelo próprio punho e permitia-se-lhe o uso de chancela, devido “... ao grande numero de assignaturas por ser mandado enformar por todos os Tribunaes sobre tudo o que se offerecia pertencente as fortificações do Reino e conquistas....”. É patente o seu domínio sobre toda esta actividade, o controlo apertado que exercia sobre as obras de fortificação joaninas. A doença debilitara-o a tal ponto que os auxiliares tinham que lhe pegar na mão, para que ele pudesse assinar ou rubricar a documentação, como se explicita no mesmo diploma legal, onde igualmen-te é confirmada a sua função na direcção da Acade-mia Militar. Faleceu a 28 de Março de 1749, com a idade de oitenta e nove anos.Sabe-se que nasceu em Lisboa, em 1660, indo dez anos depois para Madrid, para estudar para o Colé-gio Imperial. Mais tarde frequentou a Universidade de Alcalá, passando a França, onde ingressou no Colé-gio de Plessis. Depois fez o caminho de Itália, esta-belecendo-se em Siena, onde concorreu à docência de uma cadeira de Filosofia, alcançando o seu desi-derato. Foi após este longo périplo, durante o qual contactou com mestres eminentes, frequentou as melhores bibliotecas e viu o que de mais moderno se fazia, na Europa, no campo do Urbanismo, da Enge-nharia e da Arquitectura, que regressou a Portugal Foi professor e formou gerações de engenheiros, além de se dedicar à tradução, vertendo para Por-tuguês o tratado de Antoine de Ville, e ele mesmo

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 91 4/16/12 10:13 AM

92

escreveu várias obras com sentido eminentemente prático. Em 1722, publicou também O Tratado do Modo Mais fácil e exacto de fazer as cartas geográ-ficas, que teria grande importância depois, quando da expedição de 1750, para a demarcação dos li-mites do Brasil. Há outra figura incontornável na história da praça-forte de Almeida, o conde-reinante de Shaumberg-Lippe, Friedrich Wilhelm Ernst, nascido em Lon-dres em 1724, filho segundo do príncipe reinante daquele estado alemão, que herdaria o título por morte do irmão mais velho, e que o marquês de Pombal contratou, em 1762, para vir reorganizar o nosso exército, dadas as perspectivas negras de uma derrota face à Espanha. Foi ele que socorreu Almeida, e que acabou por descercá-la, fazendo desta fortaleza o centro das operações contra os nossos vizinhos, a par de Elvas, onde, como aqui, introduziu importantes melhorias. Ainda hoje são visíveis os grandes quartéis da guarda, com quase

120 metros de comprimento, uma das obras que se lhe deve.Outras obras decorreram após as Invasões France-sas. Lembremos que em finais de 1807, por ordem do Governo de Lisboa, as portas foram abertas às tropas napoleónicas comandadas pelo general Jean-Angoche Junot, mas após a sua retirada atri-bulada para França, os portugueses readquiriram o seu comando. No entanto, durante a Terceira Inva-são, ocorrida em Agosto de 1810 e comandada pelo general André Massena, obrigaram o comandante à capitulação, depois de abertas várias brechas nas muralhas e sobretudo após a explosão do castelo manuelino, onde estava guardado o essencial da provisão de pólvora. Os estragos obrigaram a Co-roa a fazer aqui muitas obras de reparação.A posse de Almeida foi outra vez decidida de forma violenta, entre 1832 e 1834, quando se digladiaram aqui os partidários de D. Miguel I e de D. Pedro IV, que haveria de virar costas à sua Pátria e ir viver dissolutamente para os Trópicos, até que a morte precoce o levou. Regressando à análise da fortaleza de Almeida, anote-se que ela tem não só uma área que a coloca entre as mais vastas do Mundo, como possui uma complexidade de estruturas defensivas que a trans-formam num verdadeiro catálogo de soluções ide-ais, consoante o tempo em que foram concebidas e projectadas. Acresce que, apesar dos ataques que sofreu, nomeadamente no início do século XIX, se encontra em excelente estado de conservação, estando a decorrer trabalhos de recuperação que temos que considerar exemplares, quer pela meto-dologia quer pelo envolvimento de um conjunto de entidades com responsabilidades políticas na salva-guarda do nosso Património e da nossa Memória. O que se vê na fortaleza desta vila raiana pode ser considerado como o produto de uma arquitectura militar eclética, como lhe chamou Fernando Cobos, que incorpora experiências de variados cenários bélicos, particularmente da guerra na Europa 5, mas não é menos verdade que há também que ter em conta a vastíssima experiência dos fortificadores

5 Fernando Cobos, “Los inginieros y las Escuelas de Fortificación Hispánicas en Europa y América”, Revista do Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, n.º 1, p. 39 e segs.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 92 4/16/12 10:13 AM

93

portugueses, desde o século XV, em África, na Amé-rica do Sul e na ásia 6. A Historiografia Internacional tem tido uma enorme tendência para valorizar as chamadas “escolas” italiana, francesa e holandesa, mas a verdade é que, já no século de Quinhentos, a construção de fortalezas regulares era uma ciência globalizada, pelo menos no âmbito europeu e das áreas geográficas de sua directa influência. Não só os tratados eram muitos e comuns nas mãos dos fortificadores, impressos em distintos pontos da Europa, como era frequentíssima a participação de engenheiros de uma nacionalidade noutros países ou nos seus territórios extra-europeus, homens que muitas vezes voltavam à sua pátria, então enrique-cidos com outras experiências, e sobretudo aptos para resolverem problemas que só a prática os fazia enfrentar, bem diferentes dos que aprenderam nos compêndios ou nas Aulas e Academias.A praça-forte de Almeida constituiu um marco na evolução da Fortificação Abaluartada, e temos que enquadrá-la devidamente, tendo em conta que em Portugal e nos seus domínios de além-mar, a partir do século XV, foram construídos centenas de forta-lezas, fortes, fortins ou grandes construções defensi-vas, que consumiram um tal volume de cabedais ao Erário Régio, que hoje nos parece quase impossível que tenha efectivamente acontecido. Temos a felici-dade da generalidade destas obras estarem docu-mentadas, e muitas também ainda existirem, posto que a maioria tenha desaparecido, nomeadamente por causa da sua conquista por potências europeias, como a Inglaterra, a Holanda e até a Espanha, em épocas em que eram nossas inimigas, e de outros po-vos orientais, sobretudo no Golfo Pérsico e na Índia. Desde o Magreb até ao Mato Grosso do Sul, a Ocidente, e no lado oposto do Mundo, até Timor e Solor, os portuguesese ergueram mais de um mi-lhar de fortalezas abaluartadas, umas canónicas e outras não, distintas nas suas dimensões e na qua-lidade do material empregue, devido sobretudo aos terrenos em que foram implantadas, pois a adapta-ção aos sítios era fundamental e mais importante do que a fidelidade aos modelos dos tratados. 6 Pedro Dias, “De Mazagão a Almeida: A Fortificação Regular no Reino e nos domínios portugueses de além-mar”, Revista do Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, nº 1, p. 115 e segs.

Lembremos que mesmo a muitos milhares de qui-lómetros de Lisboa, a Coroa controlou a edificação de todas estas obras, através dos governadores, ou dos vice-reis, no caso do Estado Português da Índia, que tinham autoridade sobre as terras que íam de Moçambique até às Molucas, e no caso do Brasil, quando os capitães-gerais ou os governado-res-gerais foram substituidos também por vice-reis, depois da elevação do território de Vera Cruz à ca-tegoria de Vice-Reino.A Fortificação foi para os os monarcas portugueses e para o Conselho Ultramarino, e depois para a a Se-cretaria de Estado, uma prioridade, mas a dimensão e dispersão do território, alguma falta de recursos e o esgotamento do Erário Régio, além de outros factos políticos internos, impediram que se construissem de imediato todas as grandes fortalezas ou sistemas complexos que se pretendia ou que chegaram mes-mo a ser projectados, sendo então o restauro das antigas fortificações, muitas vezes conquitadas aos inimigos, uma solução frequente.Do ponto de vista técnico, o período de maior evolu-ção no campo da Fortificação Abaluartada, no qual se integra Almeida e durante o qual os engenheiros mais se especializaram, afastando da área do pro-jecto os mestres-de-obras que durante tanto tempo lhes fizeram concorrência, foi iniciado em 1541, com a construção da praça-forte ou cidadela de Maza-gão, em torno da qual nasceu e cresceu a moderna e próspera cidade marroquina de El-Jadida. O projecto deveu-se ao italiano Benedetto de Ravena, e a direc-ção das obras ao biscaínho João de Castilho.Uma das páginas mais brilhantes da afirmação da supremacia da Fortificação Abaluartada, no espaço sob soberania portuguesa, ocorreu em Ormuz e no Barhein, pela mão de Inofre de Carvalho, enviado para a Índia, em 1551, com o cargo de mestre-real, como atesta o cronista Diogo do Couto. Além de ter traçado estas duas fantásticas fortalezas, que eram as mais avançadas do seu tempo, e mesmo conside-rando as que se faziam na Europa, também auxiliou D. Antão de Noronha na expedição de 1559, cons-truindo máquinas de guerra. O que fez no Golfo Pér-sico, particularmente na gigantesca praça-forte de Ormuz, entre 1558 e 1562, marca uma viragem acen-tuada na forma de projectar as defesas da Pirobalís-

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 93 4/16/12 10:13 AM

94

Almeida à cabeça, e onde podemos incluir outras, como Elvas e Valença, a população civil tinha lugar dentro da praça. Na Índia, em fortificações igualmen-te canónicas, também se verificou este fenómeno, como aconteceu em Damão. As outras praças cujas cortinas e baluartes englobavam povoações, cida-des ou vilas, nunca foram perfeitamente regulares, adaptando-se às pré-existências e, por isso, não se podendo desenvolver como os engenheiros deseja-riam. Goa, Macau, Cochim, Moçambique, Luanda, Rio de Janeiro, Recife e Salvador da Baía tiveram for-tificações regulares, mas ou eram apenas cidadelas ou fortes independentes, posto que concatenados uns com os outros, e eventualmente com muralhas de tipo tradicional ou até acidentes de terreno, lagos ou linhas de água.De um ponto de vista teórico, os engenheiros nacio-nais, e podemos por começar por referir as opiniões do engenheiro-mor seiscentista Luís Serrão Pimen-tel, previram a construção ou manutenção de núcle-os urbanos dentro das praças, mas sempre condi-cionados ao funcionalismo castrense. Mais ainda, este tratadista explicitou claramente que em locais onde já existia uma povoação, uma nova fortaleza não poderia ter a regularidade e a racionalidade de outra que fosse feita num local completamente de-simpedido. Voltando ao sistema que agora evocamos, pode-mos constatar que nos ângulos as fortalezas de-viam possuir baluartes, e a cercar tudo um fosso e um caminho coberto na contra-escarpa dele. Como complementos, podiam ser feitas obras exteriores, que tiveram desenvolvimentos vários, consoante as situações: cada caso era um caso. Um dos elemen-tos essenciais era o conjunto das cortinas, ou seja, a parte recta que fica entre dois flancos de um ba-luarte, e que com eles constituia unidade geratriz de toda a fortaleza. A cortina, como bem sabemos, é composta pelo reparo, um maciço de terra erguido com uma altura conveniente, o parapeito, com mer-lões e as canhoneiras, a banqueta, a escarpa interior, a escarpa exterior com o respectivo cordão que a delimita e une ao referido parapeito. Normalmente, acima do cordão e abaixo das canhoneiras, fazia-se o caminho das rondas, com parapeito e ligado nos ângulos dos baluartes a guaritas.

tica, como aliás bem provou João Campos, na sua magistral e recente dissertação de Doutoramento.No Reino, destacam-se muito claramente de en-tre todas as fortalezas abaluartadas as de Valença, Estremoz e Elvas; e no Brasil as de Santa Cruz de Itamaracá, com projecto de António Correia Pinto, do Príncipe da Beira, com projecto de Sambucheti, e de São José de Macapá, traçada por Galuzzi 7. A estas podem acrescentar-se outras situadas noutros Continentes, nomeadamente em África, como as for-talezas de São Miguel de Luanda, de São José de Bissau e de São Sebastião de São Tomé, e na Índia e Macau, com destaque para a regularidade das for-talezas da Aguada, na foz do Zuari, a escassos qui-lómetros de Goa, e de Damão Grande, ambas com traça de Giovanni Battista Cairato 8, e da fortaleza do Monte de Macau, projectada por Inácio Moreira ou por Jerónimo Rho e Francisco Lopes Carrasco 9. Foi também neste tempo que a Coroa criou Aulas de Fortificação em cidades importantes de além-mar; várias no Brasil, a mais importante das quais em Sal-vador da Baía, e também em São Tomé e Príncipe e na Índia.A estrutura da praça de Almeida é, entre as portu-guesas, das mais complexas de quantas chegaram até aos nossos dias, só tendo comparação com El-vas e Valença. Na verdade, salvo raras excepções, possui todos os elementos que eram típicos desta fase evolutiva. Normalmente as fortificações abaluartadas regulares são compostas essencialmente pelo miolo ou nú-cleo, o polígono, que pode ser regular ou irregular, e que deve cercar toda a praça, onde nalguns casos em que a dimensão o permitiu se desenvolveram povoações e não só aquartelamentos. Em algumas destas grandes fortalezas, no entanto, nunca se pre-viu para o seu interior mais do que aquartelamentos, como as legendas de projectos que são conhecidos, e feitos no momento das obras ou mesmo alguns levantamentos posteriores comprovam. Mas nal-gumas outras que são exemplos de purismo, com

7 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. Brasil. Urbanização e For-tificação, Lisboa, 2008, p. 71 e segs.8 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. Índia. Urbanização e For-tificação, Lisboa, 2009, p. 35 e segs.9 Pedro Dias, A Urbanização e Arquitectura dos Portugueses em Macau. 1557-1911, Lisboa, 2005, p. 98.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 94 4/16/12 10:13 AM

95

O baluarte é a chave de todo este conjunto. É cons-tituido por faces, que variam na forma e dimensões relativas de autor para autor, e que foram tema dos mais acesos debates da tratadística dos séculos XVII e XVIII. Os flancos tinham por missão defender as cortinas, as faces dos baluartes opostos e o fos-so. A sua orientação variou. O flanco perpendicular à cortina, por exemplo, começou a ser muito usual, sendo comuns nas obras de Serrão Pimentel e Bar-le-Duc. No entanto, parece-nos que sendo oblíquo dava maior defesa. No tratado do conde Pagan foi desenhado perpendicularmente à linha de defesa que vinha do baluarte oposto, tendo Sebastien Le Preste, mais conhecido como marquês de Vauban, dado um ângulo de 100º em relação à cortina, forma que se popularizou e teve acolhimento generalizado em toda a Fortificação da Europa e dos domínios ul-tramarinos dos países europeus.Também o “ângulo flanqueado” variou e foi alvo de discussão, sobretudo quando tinha de se projectar uma fortificação irregular, dado que cada ângulo in-terno teria forçosamente uma abertura diferente.Outros elementos em evolução foram a “linha rasan-te” e a “linha fixante”, pois era necessário reservar nas cortinas um espaço que se destinava a defender o “flanco segundo”. Cada face tinha de ser pensada independentemente das restantes. Esteve também em uso o orelhão, que até vinha já do século XVI, recorrentemente. Assim, o flanco do baluarte era construído de modo a formar o que se chama “flanco retirado”, e a parte saliente era arredondada, donde lhe adveio o nome. Este flanco devia acolher uma bateria com o “canhão traditore”, que deveria atingir o inimigo no momento em que este eventualmente atravessasse o fosso. Se é verdade que no Reino são raros, são frequentes em todo o espaço ultramarino, logo a começar em Ceuta, cujas reformas foram le-vadas a cabo também em 1541, pelo italiano Bene-detto de Ravena, que estava então a trabalhar para o imperador Carlos V, em Gibraltar, logo do outro lado do Estreito homónimo.Não encontramos em Almeida qualquer baluarte com orelhões, como já se tinham feito em 1541 em Ceuta e Mazagão, orelhões que tinham por finalida-de esconder os flancos e proteger as suas baterias. No entanto, os flancos de todos eles são suficiente-

mente grandes para poderem ter um número muito elevado de canhõesAos baluartes eram dados nomes, sobretudo por questões funcionais, pois era necessário designá-los quer em situação de quietude quer em momento de guerra, e sobretudo nestas ocasiões era conveniente que não houvesse confusões, quando se faziam des-locar tropas ou armamento. Assim, os comandantes ou outra entidade baptizavam-nos com designações que fossem facilmente reconhecíveis, a maioria das vezes com nomes de santos, não raramente por ha-ver por perto alguma igreja ou capela da mesma in-vocação. Os baluartes em Almeida têm os seguintes nomes: Santo António, junto do revelim homónimo e onde fica a porta com a mesma invocação, e de-pois os de São Pedro, da Cruz ou de São Francisco (com nova entrada), de São João de Deus, de Santa Bárbara e finalmente do Trem ou de Nossa Senhora de Brotas.Uma das partes mais importantes das fortificações abaluartadas seiscentistas e setecentistas são as obras exteriores. Destinavam-se a tornar mais difícil o acesso à praça, a partir do interior da qual tudo o que dizia respeito à defesa tinha que ser coordenado. A mais relevante das peças que se integram nas di-tas obras exteriores, já em uso na nossa arquitectura militar em meados de Quinhentos, como se compro-va através do que foi construído em Mazagão, era o revelim, que servia para cobrir as portas e corti-nas, e que era construído no fosso, em frente delas, possuindo contraguardas ou conservas; é uma peça arquitectónica composto por faces, flancos e gola. Almeida, como praça canónica, possui revelins de grandes dimensões e poder defensivo, posto que nem todos exactamente com o mesmo desenho. Uma obra parecida com o revelim é a meia-lua, que servia para cobrir os baluartes e podia ser mais extensa, ganhando nesse caso a denominação de contra-guarda. Um dos mais notáveis dos que ain-da restam e que era também um dos mais podero-sos, situa-se na Amazónia, em São José de Maca-pá. Também os revelins de Almeida, como os das outras praças, à semelhança do que acontecia com os baluartes, tinham designações, dadas também segundo o mesmo tipo de critérios. Aqui existem os de Santo António, como dissemos, onde fica a

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 95 4/16/12 10:13 AM

96

fortes eram as portas, pois como muito bem escre-veu João Campos, “ são estruturas em que, por se tratar de um núcleo de fragilização da cortina da mu-ralha, se reforçam com unidades integradas nas fun-ções de passagem e de segurança …”. Assim, ”…os cuidados com o projecto são vastos…”12. Luís Ser-rão Pimentel também entendia as portas – aliás na sequência de outros tratadistras – como elementos emblemáticos, como símbolos de poder ou domínio, o que implicava a adopção de ordens adequadas, concretamente a toscana ou a dórica 13. As portas da praça-forte de Almeida eram originalmente apenas duas, a porta de São Francisco ou da Cruz, e a porta de Santo António. Actualmente há mais uma entrada, mas que foi feita há cerca de duas décadas, aprovei-tando o caminho consolidado da antiga poterna do baluarte de São João de Deus para permitir a viação moderna, rompendo-se então a muralha primitiva. Interessam-nos, naturalmente, apenas as duas que resultaram do planeamento inicial, e que foram as que efectivamente estiveram em serviço enquanto a fortificação teve importância estratégca. Sendo das mais complexas, compõem-se de duplo sistema de controlo, ou seja, de portas externas e de portas inte-riores. A sua estrutura é excepcionalmente robusta e também teve uma clara função de reforço defensivo, pois de outro modo não teriam sido realizadas com aquartelamentos dotados de casamatas 14. A localização destas duas portas não pode ser atri-buída a uma intenção de livre planeamento do en-genheiro que traçou o perímetro muralhado, pois de facto elas correspondem a outras que existiam na fase anterior, e que estão bem documentadas no levantamento feito por Duarte Darmas, logo nos pri-meiros anos do século XVI.Na praça-forte de Almeida ainda existem diversas poternas, duas completas, uma que talvez nunca tenha sido completada, e há ainda notícia de uma quarta. Estas poternas eram entradas ou saídas que apenas deveriam funcionar quando as portas princi-pais da fortaleza estavam fechadas, nomeadamente em situação de guerra, tendo por isso uma serventia 12 João Campos, Almeida. Portas e Poternas da Praça-Forte, Al-meida, 2007, p. 18.13 Luís Serrão Pimentel, Methodo Lusitanico de Desenhar as Fortifi-caçoens das Praças Regulares, & Irregulares, Lisboa, 1680, p. 147.14 João Campos, Almeida. Portas e Poternas da Praça-Forte, p. 23.

porta homónima, e que é o de maiores dimensões, o da Brecha, o da Cruz, onde se abre a porta com o mesmo nome, dos Amores, o revelim Doble ou reducto, exactamente por ser composto por um re-duto interior e por uma contraguarda de protecção, e finalmente o revelim do Paiol.Uma obra de engenharia que era destinada a ocu-par pontos salientes, a tenalha simples, compõe-se de dois ramais e dois ângulos salientes. Quando os ramais estreitam para o centro da praça dá-se-lhes o nome de “cauda de andorinha”. Já a tenalha com-posta é uma variante também usada, mas com três ângulos salientes. É curioso notar que nas plantas conservadas de fortificações do Reino e de além-mar há a indicação da existência e sobretudo de projectos de tenalhas, quase sempre projectos mui-to ambiciosos, mas a sua construção, na maioria dos casos não saiu do papel, não passou de meras intenções.Neste sistema abaluartado regular, em que a praça-forte de Almeida se integra e até se destaca, tiveram grande voga os hornaveques, ou “obra corna”, a na-cionalização do nome original em holandês, constitu-ída por uma grande composição avançada com dois ramais, com um baluarte inteiro e com dois meios baluartes dos lados. Como elementos integrantes possuía também uma tenalha, em frente das corti-nas, no fosso que lhe ficava mais baixo e que po-dia ter flancos, mas que não foi muito usado pelos engenheiros portugueses. Uma das “obras cornas” mais divulgadas, mas só através de plantas, é a do Forte das Cinco Pontas do Refice, obra do período de domínio holandês, que foi substituída por outra de estrutura mais sólida, e com um programa mais tardicional, com quatro baluartes de ângulo, projecto levado a cabo por Alves de Sousa, a mando do go-vernador António Luís Gonçalves da Câmara, pouco depois da sua chegada a Pernambuco em 1689 10. Outra é a que Gregório Taumaturgo de Brito projec-tou, cerca de 1755, para a fortaleza de São Sebastião da Ilha de Moçambique, mas que também não foi executada, mas da qual também há um projecto 11.Outros elementos de grande importância das praças-10 Pedro Dias, História da Arte Luso-Brasileira. Urbanização e Forti-ficação, Coimbra, 2004, p. 164 e segs.11 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. África Oriental e Gorlfo Pérsico, Lisboa, 2008, p. 27.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 96 4/16/12 10:13 AM

97

entre os 18 e os 120 m2, e com uma largura média de 4,4 metros, com excepção do compartimento que fica do lado noroeste, que tem cerca de 7 metros, enquanto o comprimento varia entre os 3,8 e os 27 metros. Praticamente metade têm acesso a partir de um pátio rectangular, com 22 por 11 metros, que tem comunicação com a zona interna da fortaleza atra-vés de um corredor abobadado com 28 metros de extensão. Para se fazer uma ideia da grandiosidade deste dispositivo, note-se que estamos em presença de algo com uma área de 9000 m2 a que correspon-dem os limites exteriores do pentágono, e 2700 m2 da área bruta abobadada. A área útil do interior das referidas divisões é de 1180 m2, a que tem que se somar mais 120 m2 do corredor 16.Devemos ter em conta que a Fortificação Abaluarta-da era apenas uma parte de um conjunto mais vasto de saberes que enformavam a guerra moderna, que não se bastava apenas com construções que pode-mos designar como passivas, mas também tinha a componente da construção activa. Não só os sitiados faziam as suas defesas, como era essa a prática dos sitiantes. A duração dos cercos levou a que fossem construídas estâncias, baterias e verdadeiras forta-

16 João Campos, Almeida. As coberturas das casamatas, Almeida, 2006, pp. 21-22.

restrita, permitindo ao mesmo tempo uma rápida co-municação entre o perímetro interior da fortaleza e os revelins avançados, tudo isto feito com bastante segurança. Anote-se que Antoine de Ville, na edição de 1628, chama “portas falsas” a estes dispositivos 15, e em 1680 Luís Serrão Pimentel designa-os como postigos, na linha de uma tradição medieval.Encontramos aqui outras construções, como é o caso dos grandes quartéis, que ficam junto do balu-arte de São Pedro e o palácio do comandante. Ou-tras dependências estão incorporadas em revelins ou em baluartes: é o caso das fontes ou nascentes que ficam no baluarte de Nossa Senhora de Brotas, ou do Trem, já que aí também foi edificado o trem de artilharia, o armazém da pólvora, situado no revelim que ficou assim conhecido, e as casernas acasama-tadas, situadas no baluarte de São João de Deus. Estas já foram alvo de um magnífico estudo mo-nográfico da autoria de João Campos, são um ele-mento de primeiríssimo interesse para a História da Fortificação Abaluartada, e não apenas portuguesa mas europeia. De facto, trata-se de um conjunto com 20 salas, todas abobadadas, com áreas que variam

15 Antoine de Ville, Les fortifications du Chevalier Antoine de Ville, contenant la manière de fortifier toute sorte de places tant regulie-rement, qu’irregulierement, Lyon, 1628, p. 167.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 97 4/16/12 10:13 AM

98

e para ver a obra cultural que, paulatinamente, se vai erguendo, com alicerces tão fortes como os da própria fortaleza.Um Museu de Sítio, um Centro de Interpretação, um picadeiro, um conjunto de publicações, nome-adamente uma revista especializada que é dada à estampa em Português e em Inglês, são outros fac-tores de valorização. O Turismo – com a existência de uma Pousada de grande qualidade, de um co-mércio tradicional ainda não maculado por impor-tações que descaracterizaram já a maioria do país – é aqui factor de um desenvolvimento sustentado. A existência de outros pólos de interesse, quer no campo artístico quer no campo paisagístico, disper-sos por uma área envolvente de várias dezenas de quilómetros, pode e deve potenciar Almeida como um polo aglutinador e, simultaneamente, irradiador, criando empregos especializados, ao mesmo tem-po que preserva a identidade regional.Outro elemento da maior importância são as obras de restauro que têm estado a ser levadas a cabo nos últimos anos, nomeadamente nas casamatas a que acima nos referimos, e que causam espanto e ad-miração, e que em muitos pormenores técnicos são verdadeiramente únicas. Estes trabalhos, dirigidos e acompanhados por técnicos altamente especializa-dos, podem e devem servir na formação daqueles que desejam desempenhar idênticas tarefas nas muitas outras fortificações abaluartadas do nosso país, e até de outros, que necessitam de cuidados urgentes e semelhantes. E não menos importante é a integração de Almeida num vasto grupo de cidades e vilas que possuem monumentos do mesmo género, de grande relevo, a começar pela vizinha e fronteira Ciudad Rodrigo, cuja colaboração intermunicipal é exemplar e tem dado frutos bem visíveis, em ambos os lados da raia beirã.Porém, não podemos descontextualizar a praça-forte de Almeida, pois ela é uma peça só que se integra num vasto conjunto de fortalezas que se estendem da foz do Rio Guadiana até à foz do Rio Minho, e cujos pontos altos são, para além dela, Elvas e Valença, do lado português. Esta realidade tem como um espelho à sua frente, e praticamente, a cada grande fortificação lusa corresponde outra

lezas, em torno da praça que se atacava. Também se faziam estruturas mais leves, como barreiras ou tranqueiras de madeira, de pau-a-pique, e trincheiras de terra, criando-se caminhos que ficavam a salvo do inimigo através da conjugação da profundidade do leito com a altura feita com a terra retirada do solo. Mas este é um tema que interessa mais ao estudo da tática militar e menos ao nosso caso em estudo, que é a fortaleza de Almeida.

3. Uma obra exemplarPor tudo o que acima dissemos, parece que terá fi-cado claro que a fortaleza de Almeida é uma obra exemplar, não só pela sua dimensão, mas também pela excelência do seu traçado, que constitui um ver-dadeiro reportório do que de mais avançado se fazia no Ocidente e nos territórios ultramarinos das potên-cias europeias, desde a primeira metade do século XVII até ao início do século XIX. São muitas as so-luções que engenheiros portugueses e estrangeiros ao serviço da Coroa Portuguesa aqui construiram, e foram ainda muito mais as soluções extraordinárias que chegaram a ser projectadas, e de que há docu-mentação nos nossos arquivos, mas que, por uma razão ou outra, não foram por diante. Não é indiferente o excelente estado em que se en-contra todo o conjunto de Almeida, e também não o é o facto de, dentro do perímetro defensivo, exis-tir uma urbe que convive de forma modelar com as estruturas antigas, respeitando-as, conservando-as, estudando-as e dando a conhecê-las, e restaurando-as constantemente, além de que o Município tem ci-clicamente actividades que congregam milhares de nacionais e de estrangeiros, para evocar momentos marcantes da história almeidense.A fortaleza de Almeida não é um monumento mor-to, cristalizado, um simples objecto de admiração e veneração, o que já não seria pouco. Mas vai muito mais além. Aqui podemos constatar como, sem grandes recursos económicos, numa zona tradicionalmente deprimida, só há dois ou três anos com boas acessibilidades, é possível manter viva uma obra destas características e dimensões. E não falta mesmo um Centro de Estudos de Ar-quitectura Militar, que vem congregando especia-listas de todo o Mundo, para ver a obra em pedra

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 98 4/16/12 10:13 AM

99

espanhola, numa dialética típica da guerra estática, que se praticou durante toda a Época Moderna.Em Almeida deram-se igualmente acontecimentos importantes no campo militar, alguns imensamente trágicos, nomeadamente durante as Invasões Fran-cesas, cujas refregas são anualmente relembradas, em cuidadas reconstituições que ocorrem em finais de Agosto, e em que participam contingentes de participantes internacionais organizados. Porém, não foi menor a importância, e até simbólica, que esta fortaleza teve durante as Lutas Liberais, já em pleno século XIX.A criação de uma rede de fortalezas raianas por-tuguesas e espanholas, exemplares, de qualidade técnica e modernidade indiscutíveis, possuidoras de projectos de conservação, recuperação, quando fôr o caso, e de animação cultural, além de projec-tos de estudos académicos aprofundados, multi-disciplinares e transnacionais, apresenta-se-nos como uma prioridade, que, no entanto, poderia ser cimentada, com a elevação de todo este riquíssimo espólio da memória colectiva a Património da Hu-manidade, classificação atribuída pela UNESCO a monumentos e sítios de especial significado. Não temos dúvidas de que Almeida será neste processo uma mais-valia, uma das mais fortes razões para todo o programa que aparece delineado acima, e que está já a ser posto em prática.A classificação como Património da Humanidade dá aos monumentos e sítios visibilidade, funcionando como chancela de qualidade e, ao mesmo tempo, responsabiliza as autoridades nacionais e regionais, pois alarga-se o sentido patrimonial que, sendo de uma pequena comunidade, passa a pertencer a uma região ou mesmo a um país, e a todo o Orbe.17

* Historiador – Professor Catedrático da Universidade de Coimbra

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 99 4/16/12 10:13 AM

Almeida’s Bulwarked ConstructionsPedro Dias *

1. Some preliminary thoughtsOne of the least studied, least known and least promoted disciplines within the vast field of Heritage Sciences is the conception and construction of Modern Age fortifications, called Military Art still in 1571, by Girolamo Blondel, in his Dell’arte militare libri tre, published by Tomas Bozzola, in Brescia. Nevertheless, different authors used different ways, from the 16th century onwards, to designate these constructions, which were not arbitrary, but rather sup-ported by solid assumptions and own ways of facing the activities of designers and constructors. Alexandre Pierre Juliene de Belair simply called Fortifica-tion, on a book printed in Paris, in 1792, in Firmin Didit’s typography, under the title Élements de fortification, refer-mant ce qu’il étoit nécessaire de conserver des ouvrages de Le Blond, Deidier et autres… The same was done by Guillaume Le Blond, in Elements de Fortification, of 1756, of the Parisian workshop of Charles Antoine Jombert. Nev-ertheless, this author also used the term Castramentation, namely on Essai sur la Castramentation, ou sur la mesure et le tracé des camps, of 1748, printed by the same topogra-pher and on the location, only ten years later. Others chose Military Architecture, words that Michel Achielli wrote on the cover page of his treaty printed in Venice, in 1725. Mathias Dogen called Military Architecture or Fortification and this is the title of his most remarkable manual of 1648, taken for press in Amsterdam, by Louys Elzevier; in the end, the same terms were used by Louis de Cormontaigne Military Architecture or Art of Fortifying, in a book that be-came familiar with the presses in The Hague, in 1741, the Architecture Militaire ou Art de Fortifier qui enseigne d’une manière courte & facile la Construction. The Kingdom’s chief engineer during King João V’s reign, Manuel de Azevedo Fortes, in line with Adam Fritach – who influenced him so much with L’Architecture Militaire ou la Fortification Nouvelle. Enrichie de forteresses reguliers, ir-reguliers et de dehors, le tout a la pratique moderne, Paris, 1640 – in the treaty forming the next generations of Por-tuguese builders, here and beyond the sea, and of their contemporary disciples, O Engenheiro Portuguez, printed into two volumes, in Manuel Fernandes da Costa’s work-shop, in 1728 and 1729, also opted for the term Fortifica-tion, but he added “Regular” to distinguish it from the ones previous to the treaty’s promotion. Whatever designation is perceived as better or more appropriate, the fact is that this discipline lies between Architecture and Engineering, and Manuel de Azevedo Fortes is quite clear when he calls “engineers” to the experts planning fortifications, both de-fensive and offensive. This foreword serves to refuse the designation of Vauban fortification, very much common, that can be read not only in tourist guides, but even sometimes in bibliography of less careful authors. It is not unprecedented to see that same designations in constructions much previous to the time in which the remarkable Sebastien Le Preste lived, the ac-claimed Marquis de Vauban. Luís Callabuig now comes to breathe a new life on this matter, further still on Almeida’s

stronghold, “…un análises ligeramente riguroso puede descubrirnos como es inadecuada esa denominación…”1. For us, the most correct term is the name Bulwarked For-tification, since the bulwark is an essential element to all generations of fortifications, since the beginning of adapted forms to powder artillery to the systems consecrated by Marc-René of Montalembert. But there is another pertinent issue: how does one explain that the expert bibliography is so reduced, not only in Por-tugal, but in most western countries, not to mention its non-existence on other parts of the Globe?The answer could probably be found, from the start, in some of the titles of the highly popular treaties in 17th, 18th and 19th centuries. Let us see. In 1680, Théodoric Luders pub-lished Traicté Mathematique contenant les principales defi-nitions, problemes et theoremes d’Euclides. L’Arithmetique decimale. La Trignometrie. La Longimetrie. La Plasnimetrie. Et Stereometrie. La Fortification holandaise, françoise, itali-enne et espagnole. La perspective militaire. Et la Geogra-phie Universelle; the works was given to press in Paris, in Quay des Augustins’ typography. The already mentioned Guillaume Le Blond wrote L’Arithmétique et la Geometrie de l’officier, in 1767, printed in Paris; and our José Fern-andes Pinto Alpoim, who built a career in Brazil, ordered the printing, in Madrid in 1748, of a work with an extremely educative title: Exame de Bombeiros que compreende dez tratados: o primeiro de Geometria, o segundo de huma nova Trignometria, o terceiro de Longemetria, o quarto de Altimetria, o quinto dos morteiros, o sexto dos pedreiros, o sétimo dos obuz, o oitavo dos petardos, o nono das baterias dos morteiros, com dous appendix. Four years earlier, in his Exame de Artilheiros, of Lisbon, discussed subjects such as Arithmetic, Geometry, Artillery and four appendixes.We think that this is sufficient to prove that we cannot make serious studies on Bulwarked or Modern, Regular or Military Engineering Fortification, if we prefer any given name, with-out deep knowledge on the broad area of Mathematics and on something that was only briefly mentioned, even so indi-rectly, on the titles which we mentioned that is Ballistics.Curiously, our colleague Fernando Cobos calls the period ranging from 1640 to 1710 as The Empire of Mathematics “… such is the importance that the academies and schools of Mathematics acquire, particularly the Jesuits in Spain, Portugal or Flanders…”2. The evolution of fire weapons was a constant throughout the centuries and slowly they became more powerful and precise, capable of causing bigger dam-age on curtains and bulwarks and to increasingly longer dis-tances. The research in manuals, if a chronological order is followed, shows tables backing up what was just said, forc-ing static defence techniques to push forward side by side

1 Luis Callabuig, “Glosario de fortificación abaluartada. Glosario de términos de fortificación en el contexto de la fortaleza de Almeida”, Magazine of Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, nr. 1, p. 99.2 Fernando Cobos, “Los inginieros y las Escuelas de Fortificación Hispánicas en Europa y América”, Magazine of Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, nr. 1, p. 43

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 100 4/16/12 10:13 AM

101

with offensive tactics techniques. The range of cannons, in the middle of the 18th century, can be better perceived with a close reading of the mentioned Exame de Artilheiros by José Fernandes Pinto Alpoim. Without any contempt to any other field of the area of Herit-age Sciences and for its educated mentors, the Study of Castles is much more simple, without comparison, because medieval defence constructions don’t obey the same princi-ples as bulwarked, given that, throughout the centuries and the advances in weapons, even in Torsion Artillery, never reached the complexity of the powder artillery period. Also the taste for Medieval History, which was so hip during the 19th century in Europe and even early 20th century, forced castles, with their picturesque elements to be appreciated and the target of an attention that led inclusively to deep restorations, even some reconstitutions, which, for the most part, were completely fantasized. Let us consider what Vio-llet-le-Duc did in France, among others, with the citadel of Carcassone, e pay attention to the “re”construction of the Paço dos Duques de Bragança, in Guimarães, a complete invention, or even Ernesto Korrodi’s projects for the Castle of Leiria, which fortunately were not executed.The Bulwarked Fortification, and particularly in its more ad-vanced stage, which is the Regular Fortification, calls for a very special attention and does not go by without knowl-edge on the areas mentioned above, according to what the engineer José Fernandes Pinto Alpoim. Therefore, the pro-fessionals of History of Art began to pull away from this mat-ter, which because they have other fields to explore, never regarded this one as a priority, except, evidently, rare and honourable exceptions, authors with military training and education or who were somehow involved in the restoration of fortresses, whether on the Portuguese current territory or on our over-seas conquests.

2. Almeida within the context of the Portuguese Bul-warked FortificationThe construction of Almeida’s fortress is integrated within the movement of construction and reconstruction of strong-holds, which was started immediately after the revolt of 1st December 1640, when King Filipe III was dethroned and a group of Portuguese noblemen gave the Throne to the Duke of Braganza, who was later acclaimed as King João IV. The following war, known as the Restoration War, lasted more than enough time, until 1668, for the Portuguese defensive panorama to be substantially changed, whether in the land frontier or the coastal one�3. Already on 11th December a War Council was constituted with the obvious function of preparing the Realm for the coming hostilities. One of the priorities of the new king and his councillors was providing Alentejo’s land frontier, nominating the following day Mat-ias de Albuquerque, who had won the Dutch on Brazil, as 3 Carlos Callixto, “A Fortificação Barroca. As fortificações marítimas do tempo da Restauração”, História das Fortificações Portuguesas no Mundo, dir. Rafael Moreira, Lisboa, 1989, p. 207; Amilcar Morga-do, “A Fortificação Barroca. A defesa da fronteira terrestre”, História das Fortificações Portuguesas no Mundo, dir. Rafael Moreira, Lis-boa, 1989, p. 221.

general-field-marshal of the army which was there formed and, shipping the available material to that place; he fortified Elvas, Campo Maior and Olivença, as first measures4. King João IV probably swiftly sent to France, the traditional enemy of Spain, the ambassador Francisco de Melo, who obtained to support of Cardinal Richelieu and, in Septem-ber of 1641, the engineer Charles Lassart would arrive in Lisbon, with Brezet’s armada, who came to fill in the po-sition of Kingdom’s Chief engineer and who immediately started by inspecting Porto’s coastal area. He brought five young engineers along, two of which were to serve in the constructions of the frontier in Alentejo, and the other on the frontiers of Trás-os-Montes, Beiras and Algarve. Highly ambitious plans were sketched, so ambitious that even in bigger villages, and even in cities, they were never concluded and Beja, Bragança, Chaves and Évora may be included on this list. Nevertheless, the plan was ac-complished in Elvas and today it is one of the cities with more important heritage on this field. It is quite evident that the capital received a particular attention, that is, the en-tire Tagus’ bar and its course to the side of the Terreiro do Paço. On 19th December, Martim Afonso de Melo became in charge of repairing and increasing the fortifications in Cascais. One of the fortresses then amplified of São Julião da Barra, utterly important within the capital’s defence. The many others which were not far away from Lisbon could be highlighted; however, one will only mentioned the Pen-iche fortress, worked on in 1641 by the engineers Simão Falónio and João Ballesteros, followed by Charles Lassart on the following year and being the works concluded in 1645. From all the great southern maritime defences, one might highlight Sagres, which only has the curtains and the bulwarks facing north, which were needed to defend the promontory from the land and a small one, Cacela’s fortress, in the Algarve, which suffered a big makeover around 1770.The Alentejo was a territory where Bulwarked Fortifications had a huge development, because the terrain’s configura-tion enable Spanish attacks more easily than through the North, whether through Minho and Trás-os-Montes or the most part of Beiras. Therefore, the great modernisation works in Juromenha can’t be a surprise, with a project drawn by Nicolau de Langres; that site was the true key to Guadiana’s brooks, and mainly Estremoz, whose role as a central stronghold of the entire Province cannot go unmentioned. The medieval fortress, which already was very important and occupied a considerable area, was given, during the 17th century, po-lygonal bulwarks, strong curtains, ditches and other canonic devices. The initial project was by Cosmander, but, upon his death, Nicolau de Langres completed the work, but one mustn’t forget the work of the Kingdom’s Chief engineer, the mathematician and writer Luís Serrão Pimentel. Going a little further back, let us recall that one of the most important men of the group was Saint-Paul, who apparently

4 Rafael Moreira, “Do rigor teórico à urgência da prática: a Arquitec-tura Militar”, História da Arte em Portugal. O Limiar do Barroco, dir. Carlos Moura, Lisboa, 1987, p. 67.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 101 4/16/12 10:13 AM

102

worked in Almeida, as we will see. In 1643, Michel Lescole arrived in Portugal and, during the following year, it was Nicolau de Langres turn, who remained in Portugal for more than twenty years. In 1648, Pierre de Sainte Colombe came, and finally, only to name the most important, still in 1666, two years before the war comes to an end, Alain Manesson Mallet would dock in Lisbon, who above all else was a writer of treaties and who, in 1671, would publish in Paris a book where some plants of the fortifications being built in Portu-gal were reproduced. These engineers naturally came for the money, not for any ideal and it is not uncommon that some went to work for the Spanish side, such as Nicolau de Langres, Sainte Co-lombe and even Cosmander, who would end up being killed in 1648, while accompanying marquis de Leganes in the attack to Olivenza, fortified by Gillot, who was Renée Des-cartes’ disciple, but whose project he had drawn himself, years before.Almeida always was, since the period during which our In-dependence was affirmed, an important site, for it was lo-cated near the frontier, in one of the main penetration routes, for those going from East to West, consolidated since the Roman period. During King Manuel’s reign (which is abun-dantly documented and well studies), the castle was ex-tended and strengthened, as the archaeological evidences prove and that can also be seen through the designs and by plan surveyed, even before 1510, by Duarte Dharma, that are kept in Torre do Tombo. This was, at the time, one of the most effective fortifications of the kingdom and was kept intact, even after the construction of the bulwarked strong-hold in the 17th century. It only disappeared when an arsonist bomb exploded it during one of its assaults, given that it was used as a deposit for gunpowder and ammunitions. The work now under analysis was built within this context and the old Manueline castle was transformed into a maga-zine, being that a new project, ambitious and highly evolved for its time, was performed by Pierre Gilles de Saint-Paul, who, as was already mentioned, arrived during the first wave, in 1641, along with the famous Lassart. He was in Al-meida for fifteen years and left an impressive mark, in such a way that all posterior works, and these weren’t only a few, had to succumb to the initial project. We believe that the great doors were drawn by Pierre Garsin, who had served in Brazil, in Pernambuco’s Port Authority, based on Anto-ine de Ville prototypes. Nevertheless, the definitive layout, which suffered the French Invasions in the beginning of the 19th century, was only concluded during the 18th century, mainly after 1736, when some big works of expansion and improvement were introduced, a responsibility of the king-dom’s chief-engineer, Manuel de Azevedo Fortes, and of Miguel Luís Jacob and Anastácio de Sousa Miranda. After the reforms made by the latter, it became the Kingdom’s strongest stronghold and, at some point, it served as a gar-rison for three thousand soldiers. One of the most important personalities within out Bul-warked Fortification, not only during the first half of the 18th century, when he lived, but forever, and who made a

decisive contribution in the modernization of Almeida, was Manuel de Azevedo Fortes, who, for some years, held the title of Kingdom’s chief-engineer and teacher of the Forti-fication Class, which was already mentioned. Let us recall that he had a relevant intervention in the main public works performed by the Crown or its representatives across the different parts of the world under Portuguese sovereignty. If ever one was to doubt of such fact, one would only need to pay attention to the text of the royal decree of 10th Novem-ber 1734, which exempted him of signing by his own hand and which allowed him to use a stamp, consequence “… of the great number of signatures because the Courts have to inform him about all matters related to fortifications on the kingdom and provinces…”. It is quite clear his dominium over this activity and also the tight control he exerted over the fortification works performed during King João’s reign. He was ill that his deputies had to hold his hand so that he could sign or mark the documentation, as the same legal document makes explicit, which also confirms his function in the direction of the Military Academy. He passed away on 28th March 1749, with eighty-nine years of age. It is known that he was born in Lisbon, in 1660, and ten years later he went to Madrid, to study in the Colégio Im-perial. Later, he attended to University of Alcalá, going to France, where he enrolled on Plessis’ College. After that, he went to Italy, where he fixated in Siena, where the applied to teach a Philosophy subject, thus achieving his desire. After this long journey, during which he contacted with imminent masters, he attended the best libraries and witnessed the most modern things being made in Europe, in what con-cerns Urbanism, Engineering and Architecture, he returned to Portugal. He was a teacher and he trained generations of engineers, apart from translating some works, reproducing in Portu-guese Antoine de Ville’s treaty and writing several works, offering imminently practical insight. In 1722, he also pub-lished O Tratado do Modo Mais fácil e exacto de fazer as cartas geográficas that would come to be of great impor-tance during the 1750 expedition for the limiting of Brazil’s frontier. There is another insurmountable figure in the history of Al-meida’s stronghold, Shaumberg-Lippe’s reigning Count, Friedrich Wilhelm Ernst, born in London in 1724, son of the second reigning prince of that German state, who would in-herit the title after his older brother passed away and who was hired by Marquis of Pombal in 1762 to reorganise the troops, given the dark perspectives of a defeat against Spain. He was the one helping Almeida and the one eventu-ally remove the fence around it, transforming this fortress into the centre of the operations against our neighbours, side by side with Elvas where, as in here, he introduced important improvements. We can still today see the great Guard’s barracks, almost 120 metres long, one of the works he performed. Other works were performed after the French Invasions. Let us remember that, at the end of 1807, by order of the Gov-ernment in Lisbon, the doors were opened to the Napoleon-

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 102 4/16/12 10:13 AM

103

ic troops under General Jean-Angoche Junot’s command, but after their troubled retreat to France, the Portuguese acquired once again its command. Nevertheless, during the Third Invasion, which took place on August 1810 and under General Andre Massena’s command, the commander was forced to capitulate, after several breaches were opened on the walls and mainly after the explosion on the Manueline castle, where the essential of the gunpowder provisions were kept. The damages forced the Crown to perform many repair works. Almeida’s possession was once again violently decided, between 1832 and 1834, when the partisans from Prince Miguel I and Prince Pedro IV, who would turn his back to his Homeland and live sinfully for the Tropics, until death took at a young age. Returning to the analysis of Almeida’s fortress, let us note that it not only has an area placing it among the largest of the world, it also has a complexity of defensive structures which transforms it into a real catalogue of ideal solutions, according to the time in which they were conceived and de-signed. One might also add that, in spite of the attacks it suffered, particularly in the beginning of the 19th century, it is in a remarkable state of preservation and that some recov-ery works are being performed, which must be considered a true example, both by the methodology being used and by the involvement of a group of political responsible entities in safekeeping our Heritage and our Memory.What is seen in the fortress of this frontier village may be considered a product of an eclectic military architecture, as Fernando Cobos called it, which incorporates experiences from different war scenarios, particularly of the war in Eu-rope5, but it is not less true that we must also keep in mind the enormous experience of Portuguese fortifiers, since the 15th century, in Africa, South America and Asia6. The Inter-national Historiography has had an enormous tendency of overrating the so-called Italian, French and Dutch schools, but it is true that, already in the 16th century, the construction of regular fortresses was a globalised science, at least within Europe and the geographical areas under its influences. Not only the treaties were many and common by the hand of fortifiers, printed all across Europe; the participation of for-eign engineers in other countries or in their extra-European territories was also highly common. These were men that many times returned to their homeland, enriched with other experiences and mainly fitted to solve problems that could only be learned through practice, very different from those learned in Companions, Classes or Academies. Almeida’s stronghold is a mark on the evolution of the Bulwarked Fortifications and we have to frame it properly, bearing in mind that on Portugal and on its overseas ter-

5 Fernando Cobos, “Los inginieros y las Escuelas de Fortificación Hispánicas en Europa y América”, Magazine of Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, nr. 1, p. 39.6 Pedro Dias, “De Mazagão a Almeida: A Fortificação Regular no Reino e nos domínios portugueses de além--mar”, Magazine of Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Almeida, 2008, nr. 1, p. 115.

ritories, from the 15th century on, hundreds of fortresses, forts, fortalices or great defensive constructions were built, which consumed a great amount of money from the Royal Treasure and it seems almost impossible that it actually hap-pened. We are fortunate enough to have documents on the majority of these works and many still exist today, although the majority went missing, particularly for being conquest by European potencies, such as England, Holland and even Spain, during periods when they were our enemies and oth-er Eastern peoples, mainly Persian Gulf and India.From Maghreb to Mato Grosso do Sul, to the west, and on the opposite side of World, to Timor and Solor, the Portu-guese built over a thousand bulwarked fortress, some ca-nonic, other not so much, distinct in their dimensions and in the quality of the material used, mostly due to terrain char-acteristics, since the adaptation to sites is fundamental and more important that the loyalty to the models of the treaties. Let us remember that even thousands miles away from Lis-bon, the Crown controlled the building of all these works, through governors, or viceroys, like the case of the Indian Portuguese State, who had authority over the lands rang-ing from Mozambique to the Maluku Islands, and, in Brazil, when the general-captains were also replaced by viceroys, after the territory of Vera Cruz was elevated to the category of Vice-Kingdom. The Fortification was a priority for Portuguese monarchs and for the Overseas Council, and later for the Secretariat of State, but the dimension and dispersion of the territory, lack of resources and the depletion of the Royal Treasure, apart from other internal political facts, stopped the immedi-ate construction of all great fortresses or complex systems which were intended or which were even projected, being that the restoration of ancient fortifications, usually con-quered to the enemy, a frequent solution. From a technical point of view, the period of greatest evo-lution within the Bulwarked Fortification field, of which Al-meida is a part and during which the engineering became expert, pulling away from the project area of foremen, their competitors for a long time, was initiated in 1541, with the construction of the stronghold or citadel of El Jadida, around which the modern and prosperous city was born and brewed. The project was by the Italian Benedetto de Ravena and the Biscayan João de Castilho was in charge of the works’ supervision. One of the most brilliant pages of the affirmation of suprem-acy in Bulwarked Fortification, within the space under Por-tuguese sovereignty, occurred in Ormus and in Bahrain, by Inofre de Carvalho, sent to India, in 1551, as a Royal Fore-man, as the chronicler Diogo do Couto attests. Apart from drawing these two fantastic fortresses, which were ahead of their time, even considering those being built in Europe, he also helped D. Antão de Noronha in the 1559 expedition, building war machines. What he performed on the Persian Gulf, particularly the gigantic stronghold in Ormus, was the turning point between the ways to project the defence of powder artillery, as João Campos well proved in his mag-nificent and recent PhD thesis.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 103 4/16/12 10:13 AM

104

Within the kingdom, among all the bulwarked fortresses, one can clearly highlight the ones from Valença, Estremoz and Elvas; and, in Brazil, the one from Santa Cruz de Ita-maracá, with a project by António Correia Pinto, the one from Príncipe da Beira, project by Sambucheti, and the one from São José de Macapá, designed by Galuzzi7. One might add others located at other continents, particularly in Africa, such as the fortresses of São Miguel de Luanda, of São José de Bissau and of São Sebastião de São Tomé; in India and Macau, with an emphasis for the regularity of the fortresses of Aguada, in the mouth of river Zuari, only a few kilometers from Goa, and of Motidaman, both with a project by Giovanni Battista Cairato8, and of the fortress of Monte de Macau, designed by Inácio Moreira or by Jerónimo Rho and Francisco Lopes Carrasco�9. During this period, the Crown created Classes on Fortification in some important cities overseas; several in Brazil, the most impor-tant of which in Salvador da Baía, and also in São Tomé and Príncipe and in India. The structure of Almeida’s stronghold is, among the Por-tuguese structures, one of the most complex fortifications that survived to our days, only being comparable with Elvas and Valença. In truth, except a few exceptions, it has all the typical elements of this evolutionary phase. Normally, regular bulwarked fortifications are essentially composed by the core or nucleus, the polygon, which can be regular or irregular, and that must circle the entire square, where, in some cases and whenever the dimensions were convenient, some villages, and not only cantonments, were developed. In some of these great fortresses, nevertheless, their interior was never projected to be used for anything other than cantonments, as the legends of known projects prove, and that were performed during the works or even during some later surveys. But in other, examples of purism, with Almeida topping the list and where other might also be included, such Elvas and Valença, the civilian population occupied a place inside the stronghold. In India, in similar canonic fortifications, this phenomenon could also be ob-served, as in Daman. Other strongholds with curtains and bulwarks circling settlements, cities or villages, were never perfectly regular, adapting to the pre-existences, and, there-fore, failing to develop according to the engineers’ plan. Goa, Macau, Kochi, Mozambique, Luanda, Rio de Janeiro, Recife, and Salvador da Baía featured regular fortifications, but they were either simple citadels or independent forts, since they were intertwined with each other and eventually with traditional walls or even with terrain incidents, lakes or water lines. From a theoretical point of view, the national engineers, and we might start by referring the opinions of the 17th-century Chief Engineer Luís Serrão Pimentel, which foresee

7 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. Brasil. Urbanização e For-tificação, Lisboa, 2008, p. 71.8 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. Índia. Urbanização e For-tificação, Lisboa, 2009, p. 35.9 Pedro Dias, A Urbanização e Arquitectura dos Portugueses em Macau. 1557-1911, Lisboa, 2005, p. 98.

the construction or maintenance of urban nuclei within the strongholds, although always conditioned to martial func-tions. Furthermore, this author clearly explained that in sites already featuring a settlement, a new fortress could not have the regularity and rationality of another that built in a com-pletely vacant place. Going once again back to the system now being evoked, we may see that, at their angles, the fortress must feature bulwarks and circle everything with a ditch and covered pathways on its counterscarp. As a complement, some external works could be performed, which had several de-velopments, according to situations: every case was a par-ticular case. One essential element was the curtains’ set, meaning, the straight part that lies between two flanks of a bulwark, which, with them, constituted the fortress’ line unit. The curtain, as we well know, is composed of the rampart, an embankment of earth raised to a convenient height, the parapet, with merlons and gun platforms, the banquette, the interior scarp, the external scarp with its line which delimits it and unites it with the parapet. Normally, above the line and below the gun platforms, the round path was built, fea-turing a parapet and connected at the bulwarks’ angles to bartizans. The bulwark is the key to the all set. It is made up of faces, which vary in shape and dimensions, according to their authors and which were the object of lively debates in the 17th and 18th century treaties. The flanks had the mission to defend the curtains, the opposite bulwarks’ faces and the ditch. Their orientation changed. The perpendicular flank to the curtain, for instance, started to be very usual, very com-mon in the works by Serrão Pimentel and Bar-le-Duc. Nev-ertheless, it seems that the oblique type provided a bigger defense. In Count Pagan’s treaty, it was drawn perpendicu-larly to the defense line originating in the opposite bulwark, being that Sebastien Le Preste, commonly known as Mar-quis de Vauban granted it with, granted it with an angle of 100º in relation to the curtain, a shape that become popular and that was welcomed in every Fortification in Europe and in the overseas domains of European countries. The “flanked angle” also varied and was an object of discus-sion, mainly when an irregular fortification, given that every internal angle would mandatorily have a different opening. Other elements in evolution include the “grazing line” and the “fixating line”, because the curtains needed to have a space reserved for the defense of the “second flank”. Each face was thought of independently. There was also the use of the flanking wall, which had been a recurrent practice since the 16th century. Thus, the bulwark’s flank was built as to form the so-called “retired flank” and the protuberant part was round, which gave it its name. This flank was supposed to lodge a battery with the traditore cannon, which should strike the enemy when the ditch was eventually crossed. If it is true that these are scarce in the Kingdom, they are pretty frequent throughout the overseas territory, starting in Ceuta, whose reforms were also accomplished in 1541 by the Ital-ian Benedetto de Ravena, who was working for Emperor Charles V, in Gibraltar, right across the homonymous Strait.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 104 4/16/12 10:13 AM

105

In Almeida, we are not able to find any bulwark with a flank curtain, as those performed in 1541 in Ceuta and Mazagan, flank curtains that had the objective of hiding the flanks and protected the batteries. Nevertheless, all flanks are big enough to hold a considerable amount of canons. The bulwarks were given names, mainly for functional is-sues, because one needed to call for them during peace and during war and particularly during the latter situa-tions, there wasn’t any room for confusions, when troops and weapons are being moved. Thus, commanders or other entities would baptize them with easily recogniz-able names, most of the times with the name of saints, because usually a church of chapel of the same name could be found near the site. Almeida’s bulwarks have the following names: Santo António (Saint Anthony), next to the homonymous ravelin and where the door with the same name is located, and then the names of São Pedro (St Peter), of Cruz (Cross) and of São Francisco (St Fran-cis) (with a new entrance), of São João de Deus (John of God), of Santa Bárbara (St Barbara) and finally of Trem (Train) or Nossa Senhora de Brotas (Our Lady of Light). One of the most important parts of the bulwarked forti-fications of 16th and 17th century are the external works. They were meant to difficult the access to the stronghold and, from its interior, everything related to the defense would have to be coordinated. The most relevant of the pieces integrating these Works, already being used in our military architecture in the 16th century, as can be seen by the works in Mazagan, was the ravelin, which covered the doors and curtains and which was built on the ditch, featuring counterguards; it is an architectonical piece composed of faces, flanks and neck. Almeida, as a canonic stronghold, has ravelins of great dimension and defensive power, given the fact that not all have exactly the same design. A work similar to the ravelin is the demi-lune, which covered the bulwarks and which could be more ample, thus gaining the name of counterguard. One of the most remarkable examples, which was also one of the most powerful, is located in Amazon Rainforest in São José de Macapá. Almeida’s ravelins, as in other strongholds and in other bulwarks, also had names given according the same type of criteria. Here, we can find the ravelins of Santo António (Saint Anthony), as we said, next to the homonymous door and which is the biggest, of Brecha (Breach), of Cruz (Cross), where a door is opened shar-ing this name, of Amores (Loves), the Doble ravelin or redoubt, precisely for being composed by an interior re-doubt and by a protection counterguard, and, finally, the ravelin of Paiol (Magazine). An engineering work which was meant to occupy the bulged points, the simple tenaille, has two redans and two bulged angles. When the redans grow narrower to-wards the stronghold’s centre, they’re called Laisne’s line. In the composed tenaille, we can see three salient angles. It is quite remarkable to see that in the conserved plans

of fortifications in the Kingdom and overseas, there is the indication of the existence and mainly of projects of tenailles, very ambitious projects most of the times, but their construction never left the paper, was never more than a mere motivation. Within this regular bulwarked system, where Almeida’s stronghold can be integrated and emphasized, horn-works were highly popular, the English form from the Dutch, made up of two long curtains, with an entire bul-wark or with two demibastions on the sides. It also fea-tured a tenaille, in front of the curtains, on the lower ditch and which could have flanks; nevertheless, it was not very used by Portuguese engineers. One of the most famous hornworks, although only though plans, can be found in Forte das Cinco Pontas do Refice, a work from the Dutch domain period, which was replaced for another solider structure, obeying a more traditional plan, with four angle bulwarks, projected by Alves de Sousa, according to the orders of governor António Luís Gonçalves da Câmara, soon after he arrived in Pernambuco in 168910. Another example is the one projected by Gregório Taumaturgo de Brito, around 1755, for the fortress of São Sebastião da Ilha de Moçambique, which also failed to be executed, but which also features a plan11. Other elements of great importance in strongholds were the doors, because as João Campos superbly explained: “… these are structures that, because they are a nucleus of embrittlement of the walls’ curtain, are reinforced as in-tegrated units when fulfilling the functions of passage and safety….”. Therefore, “… the cares with the project are ample…”12. Luís Serrão Pimentel also perceived doors – as well as other writers of treaties – as being emblematic elements, symbols of power and mastery, which forced the adoption of orders, such as the Tuscan or the Doric orders13. Almeida’s stronghold doors were originally only two, São Francisco’s door and Santo António’s door. Cur-rently, there is one more point of entrance, built over two decade ago, taking advantage of the existing path of the old postern of São João de Deus’ bulwark to allow for modern road traffic, breaking, at the time, the primitive wall. We’re particularly interested in the two resulting from the initial planning and which effectively served while the fortification had a strategic importance. Very complex in structure, they are composed of a double control system, that is, of external doors and interior doors. Their struc-ture is exceptionally robust and also had a clear func-tion of defensive reinforcement, because, otherwise, they would not feature cantonment with casemates14.

10 Pedro Dias, História da Arte Luso-Brasileira. Urbanização e Forti-ficação, Coimbra, 2004, p. 164.11 Pedro Dias, Arte de Portugal no Mundo. África Oriental e Gorlfo Pérsico, Lisboa, 2008, p. 27.12 João Campos, Almeida. Portas e Poternas da Praça-Forte, Almeida, 2007, p. 18.13 Luís Serrão Pimentel, Methodo Lusitanico de Desenhar as Fortifi-caçoens das Praças Regulares, & Irregulares, Lisboa, 1680, p. 147.14 João Campos, Almeida. Portas e Poternas da Praça-Forte, p. 23.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 105 4/16/12 10:13 AM

106

The location of these two doors can’t be attributed to a free planning intention by the engineer responsible for the walled perimeter, because, in fact, they correspond to others which previously existed and which are well docu-mented in the survey performed by Duarte Darmas, early 16th century. Almeida’s stronghold further has several posterns, two complete, one probably unfinished and there is also notice of a fourth one. These posterns were entries and exits, which should only function when the main fortress doors were closed, particularly during war situation, thus having a restrict access, while allowing, at the same time, for a quick communication between the fortress’ interior perimeter and the advanced ravelins, all actions per-formed under great security measures. Let us mention that Antoine de Ville, in 1628 edition, calls “fake doors” to these devices15 and, in 1680, Luís Serrão Pimentel calls them “manholes”, obeying a medieval tradition. We are able to find other constructions here, as the Great Barracks, next to São Pedro’s bulwark and the Coman-der’s Palace. Other dependencies are incorporated into the ravelins or on the bulwarks: this is the case of the fountains or springs located at Nossa Senhora de Brotas (or Trem’s, because an artillery train was built here) bul-wark, the gunpowder magazine, located at the ravelin that took this name, and the casemated caserns, located at São João de Deus’ bulwark. These were already the object of a wonderful monographic analysis conducted by João Campos; they are an element of key importance for the History of Bulwarked Fortification, not only Portu-guese, but also European. In fact, we are talking about a set of 20 vaulted rooms, which areas ranging from 18 to 120 m2 and with an average width of 4.4 meters, with the exception of the northwestern compartment, which is about 7 meters, while the length ranges from 3.8 to 27 meters. Virtually half of these compartments can be accessed through a rectangular patio, 22 by 11 meters, which communicates with the fortress’ internal area, through a 28 meters long domed corridor. To have an idea of how big this device is, let us notice that we stand before something with an area of 9000 m2, corresponding to outer limits of the pentagon and 2700 m2 of domed gross area. The interior useful area of these divisions is of 1180 m2, which can be increased with more 120 m2 from the corridor16. We must bear in mind that the Bulwarked Fortification was just part of a wider set of knowledge which shaped modern war, which couldn’t be satisfied with construc-tions which might be called passive; it also had the com-ponent of active construction. Not only those under siege made their defenses; the besiegers also had that practice. The duration of sieges forced the construction of fortal-

15 Antoine de Ville, Les fortifications du Chevalier Antoine de Ville, contenant la manière de fortifier toute sorte de places tant regulie-rement, qu’irregulierement, Lyon, 1628, p. 167.16 João Campos, Almeida. As coberturas das casamatas, Almeida, 2006, pp. 21-22.

ices, batteries and true fortresses, around the stronghold under attack. Lighter structures were also built, such as wooden barriers or walls, of wattle and daub, and earth trenches, thus creating path that would be safe from enemies by conjugating the bed’s depth with the height made with the collected earth. But this is a theme more interesting to military tactics, rather to our study case, the fortress of Almeida.

3. An exemplar work For all mentioned above, it seems quite clear that Almei-da’s fortress is an exemplar work, not only for its dimen-sion, but also for the excellence of its display, which is a true repertoire of the most advanced techniques per-formed on the West and on the overseas territories of European nations, from the first half of the 17th century to the beginning of the 19th century. Many are the solu-tions presented that Portuguese and foreign engineers serving the Portuguese Crown built on this site and many others were the extraordinary solutions projected, which are documented in our archives that, for one reason or another, didn’t follow through. The excellent preservation state of the entire set of Al-meida is remarkable, as is the fact that, within the defen-sive perimeter, there is a conurbation happily living to-gether with ancient structures, respecting them, studying them and making them noticed and constantly repairing them, apart from the fact that the Municipality cyclically promotes activities that gather thousands of national and foreign citizens to celebrate extraordinary moments of Al-meida’s history. Almeida’s fortress is not a dead, crystallized monument, a simple object of admiration and veneration, which would already be sufficient. But it soars even higher. Here, we may see how, without great economic resources, in a tra-ditionally beaten area, with good accesses since two or three years now, it is possible to maintain alive a work with these characteristics and dimensions. And there is even a Centro de Estudos de Arquitectura Militar (Military Architecture Studies Department), which has gathered world experts, who come to see the stone works and to witness the cultural work that gradually begins to grow, with foundations as strong as the fortress’. A Site Museum, an Interpretation Centre, a riding arena, a group of publications, particularly a specialized maga-zine, which is printed both in Portuguese and in English are other appreciation factors. Tourism – along with the existence of a high quality Hostel, of traditional shops still untainted by importations that have already disfigured the majority of the country – is a factor of a sustained development. The existence of other poles of interest, both artistic and landscape, scattered around a surrounding area which occupies several tens of kilometers, will and should po-tentiate Almeida as a gathering and, simultaneously, irra-diating pole, creating specialized jobs, while maintaining its regional identity.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 106 4/16/12 10:13 AM

107

Another major element is the restoration works carried out for the last years, particularly on the casemates, which we mentioned earlier, that cause shock and awe and that, in many technical details, are truly unique. These works, directed and accompanied by highly qual-ified technicians can and should serve in the training of those who desire to perform similar tasks on other bul-warked fortifications of our country or even other coun-tries, which are in need of urgent and similar cares. And it is not less important the integration of Almeida within a vast group of cities or villages that have iden-tical monuments, of great emphasis, starting by the neighboring and frontier city of Ciudad Rodrigo, whose intercity collaboration is a true example and has paid off on both sides of the frontier at Beira.Nevertheless, we can’t take Almeida’s stronghold out of its context, for it is a piece that can only be integrated within a vast group of fortress going from Guadiana’s mouth to Minho’s mouth, with highlights in, apart from Almeida, Elvas and Valença, on the Portuguese side. This reality has a mirror in front and every great Portu-guese fortification has virtually a Spanish correspond-ent, in a typical binary of static war, which was active during the Modern Age.Almeida was also the stage for important events within the military scope, some of which deeply tragic, particu-larly during the French Invasions, whose confrontations are celebrated every year in careful re-enactments that take place at the end of August, with the participation of tons of international organized participants. Neverthe-less, the importance that this fortress had during the Portuguese Civil War, already in the 19th century, was also extremely great and even symbolic. The creation of a network of Portuguese and Spanish frontier fortresses, of insurmountable technical qual-ity and modernity, having preservation, rehabilitation (whenever needed) and cultural recreation projects, apart from deep academic, multidisciplinary and tran-snational studies, appears as a priority that, neverthe-less, could be cemented with the elevation of this rich collection of collection memory to World Heritage, a classification given by UNESCO to monuments and sites with a particular meaning. Undoubtedly, Almeida will serve, in this entire process, as an added value, one of the strongest reasons for the program outlined above and which is already being put into practice. The classification as World Heritage grants visibility to monuments and sites, functioning as a quality stamp and, at the same time, it makes national and regional authorities responsible, because it broadens the sense of heritage that, being within a small community, starts to belong to a region or even to a country and to the entire Orb.

* Historian – Chair Professor of the University of Coimbra

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 107 4/16/12 10:13 AM

A Paisagem Histórica de AlmeidaRui Carita *

Histórica, a Historic Urban Landscape. O conjunto é ainda dotado de um magnífico conjunto de portas de aparato e de instalações militares de apoio, hoje adaptadas a funções civis, de Centros de Estudo e de instalações museológicas, e outras. Todo o tecido urbano interior tem igualmente merecido uma muito especial atenção em não alterar a volumetria e en-quadramento geral, adaptando-o progressivamente a uma vivência de contemporaneidade que continue a permitir a sua habitabilidade e sustentabilidade neste século XXI.A classificação do complexo da Praça-forte de Al-meida como Património da Humanidade justifica-se assim pela qualidade geral do conjunto abaluartado, isolado e sobrelevado na paisagem, como Paisagem Urbana Histórica, assim como ainda apoiado em re-velins dobrados ou meias-luas e alguns dos anti-gos caminhos cobertos, com especial relevo para a qualidade do conjunto de Portas Monumentais e complexas instalações de guarda das mesmas. Acresce ainda a qualidade geral do conjunto edifi-cado urbano interior, que conseguiu manter a maior parte das outras instalações militares, com especial destaque para os paios, quartéis, edifício da Câmara Municipal, da antiga Misericórdia, Igreja e Capelas, roda-dos-expostos, assim como residências senho-

A construção do actual complexo da Praça-forte de Almeida insere-se nas concepções de defesa alar-gada da centralização dos Estados Modernos Euro-peus dos meados do século XVII aos inícios do XVIII, constituindo um soberbo exemplo de conservação, manutenção e disponibilização como património edi-ficado vivo de grande qualidade formal. O trabalho de manutenção e conservação geral levado a efeito nos últimos anos do perímetro amuralhado e do tecido edificado urbano interior, apoiado na constituição de um Centro de Estudos de Arquitectura Militar, já com inúmeras publicações de grande qualidade, servida por um dos mais importantes acervos de cartogra-fia manuscrita, elaborado ao longo de séculos e dos núcleos museológicos do Museu Militar de Almeida, assim como de meios informáticos de comunicação, enquadra-se num contexto geral destinado a dotar todo o conjunto edificado de condições de susten-tabilidade, de inovação e desenvolvimento, que pos-sam fazer face à actual tendência de desertificação das zonas mais interiores do Continente Europeu.O conjunto hoje existente de perímetro fortificado encontra-se em grande parte isolado de construções anexas dissonantes, como teria sido na sua concep-ção militar dos séculos XVII e XVIII, constituindo as-sim o que se designa por uma Paisagem Urbana

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 108 4/16/12 10:13 AM

109

Massena, em mais uma tentativa de invasão de Por-tugal continental, iniciaram o cerco à praça de Almei-da nesse dia 26 de Agosto e os primeiros tiros caíram dentro do antigo castelo medieval. Encontrava-se ali alguma da pólvora a céu aberto, para servir para a defesa imediata da praça, que incendiando-se, provocou a explosão de toda a restante que se en-contrava armazenada. O conjunto seria, no entanto, rapidamente reconstruído nos anos seguintes, dada a importância estratégica desta praça para a época, mantendo as suas iniciais características formais.

O ensino da fortificaçãoA fulgurante expansão portuguesa iniciada em 1415 com a conquista da praça magrebina de Ceuta e continuada nos anos seguintes com o povoamento dos arquipélagos atlânticos, assim como com a ocu-pação de novas praças na costa de África, levou à criação de novas necessidades no campo da defesa e do urbanismo dos novos núcleos urbanos. Se as antigas técnicas práticas de arruar acompanharam os descobrimentos portugueses, as novas técnicas militares decorrentes do desenvolvimento das novas armas de fogo tiveram de dar origem a novos conhe-cimentos. Já nos finais do século XV se ensaiaram novas disciplinas de apoio ao poder e à decisão ré-gia, patentes no desenvolvimento da cartografia e, muito especialmente, na fantástica operação que representou o planeamento em Lisboa da ocupação de São Jorge da Mina, em 1482, no golfo da Guiné, a muitos milhares de quilómetros de distância.O ensino da fortificação em Portugal processara-se de forma mais ou menos empírica até aos meados do século XV, mas progressivamente, esse assunto teve de ser encarado de uma forma diferente. Face à nova situação passaram a ser chamados a reunirem-se na corte portuguesa vários grupos de técnicos, a fim de darem parecer sobre essas matérias e, dessas reuniões, se fez sentir a necessidade de uma maior troca de conhecimentos. A partir dos finais do sécu-lo XV passaram a leccionar-se aulas nas instalações da Casa da Mina e da Índia, de certo e de início, de forma algo informal, mas passando nos meados do século XVI para o Paço da Ribeira já numa uma outra forma, onde receberam aulas os moços fidalgos da corte e o próprio príncipe D. Sebastião. A institucio-

riais e outras de menos aparato, e parte da pavimen-tação dos séculos XVII e XVIII.A classificação apresenta assim o reconhecimento geral para um espírito de construção defensiva de longa duração, o estilo abaluartado, que perdurou por vários séculos, para além do apoio ao esforço de conservação e manutenção desenvolvidos, e ainda a motivação para a continuação dos trabalhos em curso, servindo de exemplo às largas faixas das vá-rias raias europeias, que passam hoje por idênticos e complexos problema de desertificação, face à ca-pacidade de captação da população pelos grandes centros urbanos.

A Praça-forte de AlmeidaA fortificação de Almeida encontra-se documentada desde os inícios do século XVI, quando foi dese-nhada e levantada, a mando do rei D. Manuel, nos meados do ano de 1509, por Duarte de Armas, filho de Rui Lopes de Vieiros, um dos escrivães da Torre do Tombo. O castelo e a povoação de Almeida são desenhados com duas vistas e já com a nova barba-cã, indicada com tendo sido feita de novo, o que de facto acontecera em 1508. Essa obra foi executada pelo mestre Francisco Danzilho e vistoriada depois por Mateus Fernandes, mestre da Batalha e Martim Lourenço de Évora. Como curiosidade, num dos de-senhos do exemplar da Torre do Tombo, Duarte de Armas faz-se representar a cavalo, frente a Almeida, com um criado a pé, que parece sempre o ter acom-panhado nesta longa peregrinação pela raia, pois que aparecem ambos em outros desenhos, sempre empunhando longos piques. Estas lanças parecem ter servido de bitolas, devendo corresponder a uma braça craveira, cerca de dois metros e vinte centíme-tros, embora nos desenhos ainda pareçam maiores. Os desenhos das vistas das fortalezas são acompa-nhados no final do trabalho de quase todas as res-pectivas plantas, com a indicação do comprimento dos vários panos de muralha e das alturas das torres, tudo em braças.Esta fortaleza tardo-medieval resistiu muitos anos, como cidadela da nova fortificação maneirista e bar-roca dos séculos XVII e XVIII, mas haveria de perecer com o célebre cerco de Almeida, em 26 de Agosto de 1810. As forças franco-espanholas do general

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 109 4/16/12 10:13 AM

110

trabalho, hoje na Biblioteca Nacional de Lisboa, con-tém uma tabla com 58 definições de fortificação e um capítulo intitulado De la Architectura Militar. Ao longo dessas décadas os portugueses foram le-vantando cidades fortificadas ao longo das costas dos oceanos Atlântico e Índico, assim como, pro-gressivamente, nas ilhas atlânticas. O domínio teó-rico desses conhecimentos eram das várias cidades italianas, eternamente em guerra entre si e com os vários poderes instalados no Mediterrâneo, mas a efectiva prática em Portugal era quase sempre entre-gue aos técnicos locais. A primeira grande reforma da construção defensiva ocorreu nos domínios ultramarinos da corte portu-guesa nos meados do século XVI, com a constru-

nalização desta Aula foi feita em 1577, tendo sido no-meado para lente, em 1594, o italiano Filipe Terzio.A aula de fortificação do Paço da Ribeira funcionou assim entre os finais do século XVI e os meados do seguinte com Filipe Terzio e Mateus do Couto, tio e sobrinho. Paralelamente, algumas aulas seriam tam-bém dadas no colégio jesuíta de Santo Antão, como as de matemática e era também no Colégio que se davam muitos dos pareceres sobre a fortificação. Por essas datas, por exemplo, leccionava em Santo Antão, o padre Ignacio Stafford, autor de Várias obras mathematicas compuestas por El P.Ignacio Stafford, Mestre de Mathematica en El Colegio de S.Anton de La Compañia de Jesus y no acabadas por causa de la muerte del dicho padre. Lisboa, añno 1638. Este

Duarte de Armas, “Livro das Fortalezas”, códice

A, fl. 128v e fls. 73v e 74 (Fac-símile do Ms.159

da Casa Forte do IAN/TT, c. 1508-1510).

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 110 4/16/12 10:13 AM

111

A estruturação da provedoria das obras e fortifica-ções deve ter surgido na sequência da reestrutura-ção da Mesa do Desembargo do Paço, sucessiva-mente pela legislação de 1534 e de 1553, de que vieram a resultar os regimentos de 1564 e de 1568, situação que não foi de modo algum passível, levan-do, inclusivamente, alguma resistência dos velhos desembargadores, que, mediante a nomeação de um presidente da Mesa, se sentiam de certa forma afastados da figura real. No entanto a data chave da reestruturação dos sistemas defensivos ultramarinos portugueses ocorreu com a queda da praça magre-bina de Santa Cruz do Cabo de Guer em 1541. A perca de Santa Cruz representou uma total viragem na política militar em Marrocos e se até então o ga-binete real havia hesitado nas medidas a tomar em relação à presença portuguesa no Norte de África, a partir daqui opta-se indiscutivelmente pela fortifica-ção de Mazagão, constituída em verdadeira “praça de guerra”. As actividades específicas e diferenciadas desta provedoria devem ter-se iniciado em 1551, quando se enviou o famoso arquitecto Inofre de Carvalho ao Oriente, “por mestre das obras que lá mandar fazer o Viso-rei e governador das ditas partes” e em 1552, com o envio de Isidoro de Almeida aos Açores, onde se planearam as fortalezas de São Brás em Ponta Delgada e São Sebastião em Angra. No entanto as fortalezas que se vieram a levantar não correspon-dem ao espírito de Isidoro de Almeida e datam com certeza de alguns anos depois, decorrentes do se-guinte grande desastre militar, que se deu na cidade do Funchal, na ilha da Madeira com o ataque francês de Outubro de 1566. Se até então as incursões francesas no Brasil não tinham despertado convenientemente a corte portu-guesa, o ataque à primeira cidade da expansão e a poucos dias de viagem de Lisboa, lançou o pânico na capital e teve mesmo repercussões em Valado-lid e Madrid. Para o Funchal foram de imediato des-pachados vários fortificadores com experiência nas fortalezas do Norte de áfrica e num curto espaço de tempo procediam-se a obras da responsabilidade do novo órgão da provedoria das fortificações e obras reais, sendo toda a correspondência assinada por Álvaro Pires.

ção do complexo de Mazagão, no Norte de África, a actual El Jadida, mas já se ensaiava igualmente no Estreito de Ormuz, frente ao Oceano Índico. Face ao crescente poder do Império Turco, igualmente por esses anos se inicia a fortificação da foz do Rio Tejo, na entrada da barra de Lisboa, com a construção da fortaleza de São Julião da Barra, sinal da mudança de paradigma da segurança da coroa portuguesa.

A Provedoria das Obras ReaisPara fazer face a tão complexos e distantes estalei-ros de obras, houve mesmo necessidade de criar um órgão para controlo de todas essas obras, igualmen-te responsável pela circulação e pagamento dos téc-nicos de fortificação no espaço dos domínios portu-gueses. Nesse sentido se reestruturaram as funções do provedor das obras reais, lugar entregue em 1525 a Pero de Carvalho e depois aos seus descendentes, João de Carvalho e Gonçalo Pires de Carvalho, as-sim como foi criado um órgão central, uma provedo-ria-mor das obras reais, à frente da qual veio a ser co-locado Álvaro Pires e que passou a coordenar toda a circulação documental desse imenso esforço. A provedoria ficou entregue a Álvaro Pires, que ha-via trabalhado no Norte de África, onde fora armado cavaleiro pelo conde de Redondo e que passara em Lisboa a escrivão da Casa da Mina. Seguia assim as pisadas do pai, André Pires, que fora também “es-crivão das terças”, capelas, hospitais, albergarias e mercearias, imposto municipal destinado às ques-tões de defesa, assim como encargos pios, de que produziu o Regimento das Obras Terças, publicado em 1515 pelo impressor Valentim Fernandes. Supe-rintendia já então este influente funcionário sobre um certo número dos projectos de arquitectura em curso pelos dinheiros da fazenda real e também sobre os vários arquitectos encarregados de os levar acabo. André Pires aparece na época de D. Manuel a despa-char os assuntos referentes a importantes mestres-de-obras, como o mestre das obras do mosteiro da Batalha, Mateus Fernandes (I), quando em 1508 foi mandado inspeccionar com Martim Afonso o serviço que Francisco Danzilho fazia em Almeida, como já referimos, assim como Castelo Bom e Castelo Ro-drigo, e quando em 1514 tratou da reformulação da fortaleza de Salvaterra.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 111 4/16/12 10:13 AM

112

[Autor desconhecido] Almeida: Planta da Praça de Almeida na qual estão marcados os

ataques de 1762.– Escala [não determinada].

– [post 1762]. – 1 documento: ms., color.;

46 x 35 cm.29-1-2-2 (DIE/GEAEM)

às grandes obras reais de fortificação. São assim mandados escrever por si os documentos de aqui-sição de uma série de terrenos junto da fortaleza de São Julião da Barra, a pedido dos proprietários, pois que com as obras ali a decorrerem, os não podiam semear. A provisão de autorização para a venda, de 1562, encontra-se assinada pela rainha D. Catarina e na carta de venda, aparece como testemunha o en-genheiro-mor Miguel de Arruda, “cavaleiro fidalgo da minha casa e mestre e vedor das ditas minhas obras”. Do seguinte ano de 1567 é o envio à cidade do Porto de Simão de Ruão, para “para tirar o sítio do porto dela e tomar as informações que para isso forem ne-cessárias”, assinando depois de Álvaro Pires, o Car-deal Infante em nome do jovem rei D. Sebastião. A actividade da provedoria das obras reais passava pelo controlo sobre a circulação e o pagamento dos técnicos militares de fortificação, mas também pelos projectos dos mesmos, todos controlados em Lisboa e só susceptíveis de alteração mediante autorização

Logo nos finais de 1566 ou inícios de 1567 estava na Madeira o mestre das obras reais Mateus Fernandes (III), com um alvará preliminar de fortificação, passa-do por Álvaro Pires e, na Primavera seguinte vinham à Madeira mais dois habilitados fortificadores de origem italiana, para trabalharem com ele, capitão Pompeu Artidi, irmão do célebre cartógrafo Cúrzio Arditi e de Fábio Arditi, secretário do cardeal Farnésio, e o enge-nheiro Tomás Benedito, ambos de Pézaro. Estes mi-litares seguiram depois para os Açores, onde Tomás Benedito dirigiria as obras de construção da fortaleza de São Brás de Ponta Delgada com o mestre Pe-dro de Maeda e que seria a primeira fortaleza regular abaluartada portuguesa. Dos trabalhos realizados na Madeira, em princípio, a três, ficou uma admirável planta do Funchal, hoje na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e surgiria depois o regimento de fortifica-ção do Funchal enviado por Álvaro Pires em 1572.Nestas décadas temos já indicações de Álvaro Pires centralizar grande parte dos assuntos respeitantes

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 112 4/16/12 10:13 AM

113

As alterações da Restauração de 1640A situação estratégica e política portuguesa ao longo do século XVI e início do XVII não afectou a pacata Almeida, primeiro, porque as grandes directivas da expansão e dos interesses portugueses estavam virados para as novas conquistas e domínios ultra-marinos e, em segundo, porque todo o século XVI registou no contexto da península uma perfeita apro-ximação dos reinos de Portugal e Castela, levando, inclusivamente, as duas coroas a terem o mesmo rei nos finais do século. A segurança das fronteiras entre um e outro reino não foi assim questão que se colo-casse. A situação, no entanto, viria a mudar radical-mente em 1640 com a separação das duas Coroas. Com a aclamação de D. João IV em Dezembro de 1640 abriu-se um novo quadro político-militar, onde a principal preocupação foi a afirmação da soberania sobre o território metropolitano, levando, inclusiva-mente, a que toda a situação dos restantes domínios ultramarinos passasse quase para um segundo pla-no. Para o controlo das principais medidas militares constituiu-se o Conselho da Guerra, órgão formado por homens de franca experiência castrense. Os conselheiros trabalhavam no Paço e preparavam consultas de carácter militar, que submetiam à de-

Adaptação do Convento das Franciscanas de Nossa Senhora do Loreto a Hospital Militar

régia. Em breve igualmente passam à responsabili-dade da provedoria a circulação dos bombardeiros, como em Abril de 1560, quando se manda passar a confirmação de Francisco Dias como bombardeiro de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel nos Açores, anulando uma nomeação local para António Fernan-des. Álvaro Pires assina a documentação em nome do rei, como “fidalgo de minha casa e escrivão de mi-nha fazenda e da Provedoria Mor de meus reinos”. Deve ter sido, entretanto, durante o cerco de Maza-gão de 1562, que esta organização viu o seu empe-nhamento verdadeiramente reconhecido. A notícia do descerco, inclusivamente, foi euforicamente sau-dada pelo Concílio então reunido em Trento. Saliente-se que no cerco de Mazagão, onde 500 portugueses conseguiram resistir a 150.000 marroquinos, se por um lado afirmou o crédito das fortificações portu-guesas, por outro também revelou o reino de Mar-raquexe como potência militar, dispondo já também de “um ytaliano gramde emgenheiro de guerra de combater fortallezas”, como se informou na época para Lisboa. A circulação dos técnicos internacionais não deixou de levantar problemas, dado colocar em oposição o sentido prático construtivo local, apurado ao longo de séculos, às novas concepções teóricas da fortifi-cação internacional. Os técnicos italianos encontra-vam-se de passagem e desconheciam por completo as realidades locais, criando continuamente proble-mas aos comandos e, não poucas vezes, seriam mal recebidos, como aconteceu com Pompeu Arditi e Tomás Benedito em Mazagão, motivando uma quei-xa do governador de que os técnicos portugueses ali em serviço eram tão ou mais competentes que os engenheiros italianos.A provedoria das fortificações tinha passado assim a controlar todas as obras do vasto império português, distribuindo regimentos, directivas e plantas por to-dos os engenheiros militares, recebendo depois as várias propostas e respondendo com as suas correc-ções. Data assim dos meados e finais do século XVI a internacionalização do maneirismo internacional, numa divulgação até então nunca atingida, podendo dizer-se que pela primeira vez na história internacio-nal, foi possível divulgar directivas arquitectónicas e urbanísticas quase à escala universal.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 113 4/16/12 10:13 AM

114

dres jesuítas e professores no colégio de Santo An-tão, Simão Fallonio e João Pascásio Cosmander, en-carregados dos primeiros projectos de fortificação. O padre Simão Fallonio teria ficado essencialmente em Lisboa a coordenar os primeiros trabalhos, tendo o padre Cosmander sido enviado para as praças do Alentejo, onde foi assistido por Jean Gillot, contra-tado em 1641. Sendo ambos oriundos da Flandres, Gillot deve ter sido contratado por indicação daquele padre jesuíta, talvez pela fama de que gozava de ter sido discípulo de Descartes. Em finais de 1641 também se teria contratado o en-genheiro francês Charles Lassart, que em Fevereiro do ano seguinte vistoriava a fortificação de Lisboa, sendo nomeado engenheiro-mor em Março e seguin-do pouco depois para o Alentejo. Igualmente para o Alentejo e entre muitos outros, ainda seria contratado outro engenheiro francês, Nicolau de Langres, onde se haveria de confrontar com o padre Cosmander e ambos com o engenheiro-mor. Em causa estavam os desenhos para os perfis das novas cinturas aba-luartadas das principais praças fronteiriças e as enor-mes despesas que as mesmas acarretavam. Alguns destes engenheiros acabariam por morrer em com-bate e entre Vila Viçosa, Badajoz e Olivença, onde trabalhavam. Acresce que Cosmander e Langres foram mortos ao serviço de Castela, para onde se tinham transferido, enquanto Gillot morreu ao serviço de Portugal, em 1657, demonstrando assim a fragili-dade e o perigo do contrato destes mercenários.Os principais projectos de fortificação foram assim entregues a técnicos estrangeiros, embora o seu acompanhamento tivesse sido levado a efeito de co-laboração com portugueses. Como seria de esperar os confrontos foram imensos, não só com os gover-nos de armas das diversas províncias, colocados perante megalómanas obras para as quais não havia disponibilidades económicas para a sua concretiza-ção, como entre os próprios técnicos, muitas vezes enfeudados a puras questões de prestígio pessoal. Acrescia ainda que a maior parte destas obras en-volviam pesados custos para as populações locais, com largas expropriações e demolições de tecido urbano, assim como com a cativação de largas fai-xas de terrenos limítrofes de cultivo, a partir de então sujeitos a serventias militares.

cisão do Monarca. Este Conselho recebia também os decretos e outras resoluções reais para efeitos de execução, como sejam as nomeações de oficiais e alistamento de tropas, projectos de arranjo das forti-ficações e outras matérias, que se prendiam à orga-nização militar.As primeiras directivas foram assim para a reforma em larga escala do sistema defensivo continental europeu, com uma ampla campanha de fortificação da raia terrestre, à época ainda com castelos me-dievais, principalmente na fronteira mais exposta: a alentejana e a beirã, mas também nas zonas vitais de Lisboa e do Porto, assim como a reformulação das principais fortificações ao longo da restante costa. O território continental foi dividido em pro-víncias militares, concentrando assim nas sedes de governo de armas os principais meios. Para a pro-víncia da Beira foi de imediato nomeado um gover-nador, D. Álvaro de Abranches e um dos principais esforços foi a nova fortificação de Almeida, traba-lho então entregue ao tenente-coronel de Cavalaria João Saldanha e Sousa.Para este vasto esforço foram chamados a Portugal vários engenheiros militares franceses e holandeses. Os primeiros técnicos a que se recorreu foram os pa-

Quartel projectado para Praça de Almeida,

dois alçados e um corte (a).Tinta sobre papel aguarelado,

42 x 32 cm.Miguel Luís Jacob (?), 1762 (c.)

Direcção do Serviço de Engenharia, GEAEM,

cota 561-1-2-2.Estado-Maior do Exército.

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 114 4/16/12 10:13 AM

115

Com a implantação da dinastia de Bragança, logo em 1641 passou a trabalhar no Paço o então cos-mógrafo Luís Serrão Pimentel, antigo aluno do co-légio de Santo Antão e, por decreto de 13 de Maio desse ano, foi instituída uma Aula de Artilharia e Esquadria e, a 12 de Julho de 1647, uma aula de fortificação, então designada Aula de Fortificação e Architectura Militar. Esta Aula começou por fun-cionar entre as traseiras do Paço Real e a Ribeira das Naus, mas pouco depois, entre 1651 e 1675, a aula passaria a designar-se Academia Militar da Corte. Luís Serrão Pimentel foi nomeado para reger a Aula de Fortificação e Arquitectura Militar em 1647, vindo a editar no fim da vida o material recolhido para as suas aulas, pronto para publicação em 1678, quando faleceu por acidente e onde constam apostinhas de lições, orçamentos, pareceres sobre obras e críticas aos engenheiros militares estrangeiros. A ideia era a criação de um método lusitano de fortificação, de certa forma original, no que não teria sido muito bem sucedido, dada a amálgama de dados apresentada. No entanto, não deixa de apresentar em linhas gerais a originalidade dos métodos portugueses, capazes de beber na experiência dos demais, adaptando-se continuamente a novas situações, ao contrário da maioria dos especialistas internacionais, que preten-diam alterar as condições locais para implantação dos modelos teóricos de que eram portadores. As congéneres aulas jesuítas no colégio de Santo Antão mantiveram-se, entretanto, leccionaram ao longo desse século o já citada padre Simão Fallonio, autor da fortaleza de Santiago de Sesimbra, em 1642 e do Compendio spiculativo das Spheras Arteficial,..., editado em Lisboa, no ano de 1639, assim como mais tarde o padre Luis Gonzaga, autor do Tratado da Architectura Militar, “Mandado ditar por ordem do Augustim. Dom Pedro 2º em sm. de Sto. Antão e mandado ensinar a todos os seus filhos”.

A construção da nova Praça-forte de AlmeidaO projecto de fortificação de Almeida, que deve ter sido iniciado logo pelos anos 40, com o governador de armas conde de Abranches e o mestre de cam-po Fernão Teles Cotão, tendo o inicial projecto de João Saldanha e Sousa sido depois reformulado por Charles Lassart e registando a obra também a pre-

sença de um outro engenheiro francês, Pierre Jules de Saint-Paul. As dificuldades foram, por certo, mui-tas e não só de verbas, pelo que numa informação do conde de Mesquitela, em 1661, era apontado que a fortificação ainda não possuía fosso, assim como a vila ainda não estava toda amuralhada, o que só deve ter acontecido nos anos seguintes. Nos anos seguintes as obras de Almeida prosseguiram em rit-mo mais acelerado, tendo o engenheiro Pierre Jules de Saint-Paul, entretanto, sido substituído por Dio-go Truell, que se manteria à frente das obras por 15 anos. Seria então substituído por Jerónimo Velho de Azevedo, que ficaria em Almeida até pouco depois de 1701, assistindo à destruição parcial da praça com a explosão corrida em 1695.O projecto seguiu as grandes linhas da fortificação abaluartada internacional, com um polígono de seis lados, rematado por seis baluartes que formam uma estrela quase regular e envolvem a antiga povoação, mas adaptando-se muito bem ao terreno e manten-do no interior, inclusivamente, o antigo castelo tardo-medieval, que passou a funcionar como cidadela. Foram utilizados vários projectos de autores interna-cionais, como, muito provavelmente, de Antoine De-ville, dadas as semelhanças das portas levantadas

Nicolau de Langres

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 115 4/16/12 10:13 AM

116

com alguns desenhos do mesmo técnico francês. O projecto geral, no entanto, foi de vários técnicos, como sempre acontecia, sofrendo ainda alterações nas épocas seguintes. Ao longo da segunda metade do século XVII foram assim chamados a Portugal inúmeros técnicos mili-tares e as obras produzidas devem ter sido efectiva-mente inovadoras, pois não só o país veio a resistir às sucessivas invasões espanholas, como algumas plantas das obras levadas a cabo passaram a figurar nos principais trabalhos então editados em França. Entre 1642 e 1643 esteve em Portugal o marechal de campo francês Blaise François de Pagan (autor de Les Fortifications du Comte de Pagan, Paris, 1645), assim como mais tarde, Allain Manesson Mallet, tam-bém francês, onde teria sido “Ingenieur des Champs & Armées du Roy de Portugal, nomé Sergent Major d’Artilherie dans la Province d’Alentejo”, como de-pois se intitulou, tendo editado ambos os trabalhos que viram em Portugal, sinal de serem então o que de mais actualizado se fazia.As linhas gerais das fortificações levantadas encon-tram-se dentro das directivas da escola holandesa, na qual à época se filiava a escola de fortificação francesa, mas adaptados localmente pelos técnicos portugueses, na sequência de uma longa prática de fortificação que vinha do século anterior. Ao longo da segunda metade do século XVII a fortificação francesa foi incorporando as inovações holandesas, depois teorizadas pelo célebre Sebastian Le Preste, marquês de Vauban, nos seus trabalhos de 1680 e 1706. As fortificações levantadas, especialmente na fronteira portuguesa da Beira, como é exemplo a praça-forte de Almeida, mas também na do Alentejo, como Beja, Campo Maior e Elvas, apresentam assim características mistas das chamadas escolas holan-desa e francesa, mas e ao mesmo tempo, uma certa flexibilidade e adaptação ao terreno específicas da tradição portuguesa.

As reformas dos finais do século XVII e ao longo do XVIIINos finais do século XVII uma explosão destruíra parcialmente as muralhas de Almeida, obrigando à reformulação de toda a cintura, embora se manti-vessem algumas das obras anteriores, como parte

das portas. O início da reconstrução, no entanto, deve datar de alguns anos depois, na sequência do decreto de 24 de Dezembro de 1732, que criou a academia militar de Almeida. A campanha de obras deve ter tido início em 1735, tendo para tal estado na praça-forte o engenheiro-mor Reino Manuel de Aze-vedo Fortes, principal responsável pela reformulação e cujo projecto foi então passado ao papel por um dos seus adjuntos, José Fernandes Pinto de Alpoim, depois um dos mais influentes engenheiros da época seguinte no Norte de Portugal. A importância de Almeida para a corte portuguesa levou mesmo à estadia ali por oito meses do En-genheiro-Mor, entre 1737 e 1738, embora em 1747 saibamos que as obras ainda não estivessem termi-nadas. A engenharia militar e a fortificação foram li-deradas nos inícios do século XVIII pela figura de Ma-nuel de Azevedo Fortes, que estudara em Espanha, no Colégio Imperial de Madrid e na Universidade de

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 116 4/16/12 10:13 AM

117

e o mais exacto de fazer as cartas geográficas, cuja divulgação teve uma excepcional importância, não só no âmbito da cartografia, mas também na do urbanismo em geral. Passou-se de uma certa depen-dência dos meios náuticos, bússola e corda, e daí a ligação do ofício engenheiro-mor ao de cosmógrafo-mor, para a utilização de outro tipo de meios mais modernos.No final dessa década editavam-se os dois volumes O Engenheiro Português, em 1728 e 1729, já so-mente da autoria de Azevedo Fortes e num formato próximo dos anteriores, deixando-se assim defini-tivamente os pomposos álbuns de fortificação dos séculos XVI e XVII, para se passarem a utilizar ver-dadeiros manuais, capazes de serem manuseados no campo e transportados na mochila. A cópia dos desenhos era um trabalho amplamente utilizado des-de sempre na prática da fortificação, da arquitectura e do urbanismo, e recomendado nos manuais em causa, procedimento didáctico essencial em todos os tempos para a compreensão da teoria. O reforço dado então a esta prática, indicam que o trabalho do engenheiro militar tinha deixado de ser predominan-temente de gabinete, situado nas cidades costeiras e passava para o interior.A reformulação da praça de Almeida que chegou aos nossos dias é assim, provavelmente, muito mais devedora do trabalho de Azeredo Fortes nas pri-meiras décadas do século XVIII, que das anteriores

Quartel das Esquadras. Século XVIII

Alcalá, seguindo para França, onde frequentou a Uni-versidade de Paris e daí para Itália, onde chegou a concorrer e ser aceite na cadeira de Filosofia da Uni-versidade de Siena. Regressado a Portugal, sucedeu em 1720 a Serrão Pimentel no cargo de engenheiro-mor do Reino. Estabelecida a paz com Castela, quase nos finais do século XVII, os interesses portugueses tinham-se voltado essencialmente para o Brasil e para a tenta-tiva de manutenção das fantásticas fronteiras dese-nhadas pela expansão bandeirante e que definiam para Portugal um terço da América Latina. Vai ser essencialmente nesse quadro que se vai desenvol-ver a engenharia e a arquitectura militar portuguesas, o que teve depois importantes reflexos no entendi-mento do território continental português.Data assim da época de D. Pedro II e depois do en-genheiro-mor Manuel de Azevedo Fortes a alteração fundamental da prática do ensino em geral e da for-tificação e do urbanismo português, que passa da anterior “cultura de latitude” que informara o período anterior, de fixação essencialmente costeira, para uma nova “cultura de longitude”, teorizada como já referido por Jaime Cortesão e onde se iria privilegiar a penetração no imenso território ultramarino do Bra-sil. Essa época era já anunciada militarmente com a organização da Junta dos Três Estados, da qual passaram a ficar dependentes esses assuntos. Se-ria esta Junta, por exemplo, a determinar a tradução e publicação de dois importantes trabalhos dessa área: o Governador de Praças de Antoinne Deville e o célebre manual de Fortificação de Johann Frie-drich Pfeffinger, com a compilação dos principais métodos de fortificação utilizados na Europa e ainda acompanhado com um glossário. As traduções e edições na primeira década do sécu-lo XVIII foram entregues a Azevedo Fortes e a Manuel da Maia, como consta dos processos individuais de ambos e o formato final de publicação vulgarizou a uma nova maneira de trabalhar muito mais prática. As edições saíram em verdadeiros “livros de bolso”, ou manuais e sem especiais luxos gráficos, anuncian-do já uma época nova para os engenheiros militares. Com a instituição da Real Academia da História, em 1721, integrada por Manuel de Azevedo Fortes, ain-da editou, em 1722, o Tratado do modo mais fácil

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 117 4/16/12 10:13 AM

118

campanhas de obras e espelha uma outra forma de entender a fortificação e a urbanização. Em 1744, Azevedo Fortes ainda editou uma Lógica Racional, Aritmética e Geométrica, dois anos antes do Ver-dadeiro Método de Estudar de António Verney, edita-do em 1746, sendo já uma verdadeira obra polémica e de fins especificamente didácticos e filosóficos, combatendo a cada passo a velha lógica escolás-tica tradicionalmente ensinada nas escolas jesuítas portuguesas e abrindo caminho para a extinção da Companhia e para a reforma geral do Ensino em Por-tugal empreendida três décadas depois.Nos meados do século XVIII alteram-se as condições políticas europeias, com a constituição do Pacto de Família, passando, uma vez mais, a configurar-se novo confronto entre Portugal e Espanha e voltando a praça-forte de Almeida a constituir uma das princi-pais preocupações de segurança do território portu-guês. Em meados de 1762 chamava-se a Portugal o conde-reinante Guilherme de Schaumbourg Lippe, que assumiu o comando do exército, embora não conseguindo impedir a entrada de tropas espanho-las pela fronteira de Trás-os-Montes e ocupação de Almeida, que se revelou um dos pontos estratégicos de toda manobra militar desses meses de guerra.Com a seguinte reforma do conde de Lippe, surgem a partir do decreto de 10 de Maio de 1763 aulas de artilharia, sempre associadas à arquitectura militar, nas sedes dos principais regimentos e, a 9 de Maio de 1764, o conde visitava pessoalmente Almeida para se inteirar das obras em curso. A praça-forte de Almeida já havia sido objecto de um relatório do brigadeiro engenheiro João Alexandre de Chermont, em Maio de 1762, altura em que se critica o comple-xo caminho de ronda, revestido de “parapeitos inte-rior e exteriormente de toscas e mortais alvenarias de pedra e barro e quase rasos”. Mais tarde o marechal de campo Francisco Mac-Lean citaria que as obras para reparar os estragos de 1762 já haviam custado mais de vinte e nove contos de réis, a que se teria então de somar a construção dos novos quartéis e outras então em curso, vindo ali a trabalhar o enge-nheiro Jacques Funck, que passaria no final da dé-cada para o Brasil.A importância de Almeida é patente nos finais do século XVIII com a presença de uma série de impor-

tantes engenheiros ali a trabalharem, como Anastá-cio António de Sousa Miranda e Martinho de Sousa Albuquerque Alves, assim como em 1801, ali traba-lhava Maximiano José Serra, depois um dos mais importantes engenheiros portugueses das futuras Linhas de Torres. A fortificação portuguesa dos me-ados do século XVIII, colocada várias vezes à prova numa série de conturbadas situações políticas e em-bora nem sempre capaz de responder às ameaças colocadas, mostrou-se no entanto sumariamente eficaz. A situação mudou, no entanto, nos inícios do século seguinte, essencialmente pela total alteração dos pressupostos políticos para que foram edifica-das as fortificações em causa. As alterações políticas europeias que levaram à invasão do território nacional por desproporciona-das forças conjuntas da França e da Espanha eram uma premissa que até então não se tinha coloca-do como possível. Com a 3.ª Invasão Francesa e a Corte Portuguesa já refugiada no Brasil, os pri-meiros tiros das forças do general Massena, a 26 de Agosto de 1810, iriam atingir o velho castelo medieval de Almeida, no qual estavam os paióis, provocando a destruição quase total do mesmo e, consequentemente, o colapso da praça-de-guerra. Nos anos seguintes, no entanto, os estragos viriam a ser minimamente reparados.Ao longo do século XIX o interesse militar da pra-ça de Almeida foi diminuindo progressivamente e, com o mesmo, também o povoamento de toda esta zona, ligado que estava, directamente, à guarnição da antiga praça-forte. Este aspecto, no entanto, pre-servou de certa forma o conjunto, que não foi assim objecto de especial pressão urbanística, mas, ao mesmo tempo, também sem o seu total abandono, conseguindo chegar aos nossos dias num estado de conservação deveras invejável. Basta comparar-se o seu estado de conservação com a congénere forta-leza de Nossa Senhora da Conceição, em território castelhano, totalmente abandonada, para se avaliar o esforço de manutenção dispendido.1

* Historiador – Professor Catedrático da Universidade da Madeira

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 118 4/16/12 10:13 AM

119The Historic Landscape of AlmeidaRui Carita *

The construction of the current complex of Almeida’s gar-rison town can be associated with the conception of a broaden defence of the centralization of European Modern States during the 17th century and early 18th century, thus becoming a superb example of preservation, maintenance and availability of living built heritage of great formal qual-ity. The general maintenance and preservation works car-ried out over the last year on the walled perimeter and on the urban interior buildings, supported by the constitution of a Military Architecture Studies Department and numer-ous high quality publications, having with of the most im-portant collections of handwritten cartography, which was elaborated over the centuries, and the museological nuclei of Museu Militar de Almeida (Almeida’s Military Museum), as well as information technology means. Thus, it can be framed with a general context meant to provide the all built set with sustainability, innovation and development conditions that may invert the current desertification trend in more interior areas of the European Continent. Today’s set of fortified perimeter is greatly isolated from dissonant additional constructions, as it would have been in its military conception during the 17th and 18th centuries, thus becoming what is called as Historic Urban Landscape. The set is also gifted with a magnificent group of apparatus doors and supporting military facilities, which today have been adapted to civilian functions, such as the Studies De-partment, museum facilities, among others. The entire inte-rior urban fabric has also been getting a special attention by not allowing changes to the volume and general framing, be-ing progressively adapted to a contemporary life, which still allows it to be inhabited and sustained on the 21st century.The classification of the complex of Almeida’s Fortress as World Heritage is thus justified by the general quality of the bulwarked set, isolated and raised on the landscape, as His-toric Urban Landscape, as well as still supported in ravellins or demilunes and in ancient covered pathways, with a spe-cial emphasis for the quality of the Monumental Gates sets and the complex guard facilities in them. The general quality of the interior urban built set must also be added, which was able to maintain a great part of other military facilities, such as magazines, barracks, the building of the City Hall, of the ancient Misericórdia, Churches and Chapels, the foundling wheel, as well as noble residences and other less great and part of the 17th and 18th centuries pavements.The classification is, therefore, the general recognition of a defensive long term construction spirit, the bulwarked style, which endured for centuries, beyond the support and efforts made towards its preservation and maintenance and be-yond the motivation to continue the works in progress, thus acting as an example for other broad strips of the numerous European frontiers, which now face identical and complex desertification problems, consequence of the effect big ur-ban centres have on the population.

Almeida FortressThe fortification of Almeida has been documented since early 16th century, when it was projected and erected, by

order of King D. Manuel, around 1509, by Duarte de Armas, son of Rui Lopes de Vieiros, one of the clerks in Torre do Tombo. The castle and the hamlet of Almeida are drawn with two views and already a new barbican, with the indica-tion of being made once again, as in fact happened in 1508. This work was executed by Master Francisco Danzilho and later supervised by Mateus Fernandes, Batalha’s master, and Martim Lourenço, from Évora. An interesting fact is that, in one of the drawings kept in Torre do Tombo, Duarte de Ar-mas is represented on horse, facing Almeida, with a servant standing next to him, who apparently followed him through this long pilgrimage over the frontier, since they both appear in other drawings, always armed with long pikes. These spears seem to have been used as measures, correspond-ing to a fathom or two meters and twenty centimetres, al-though they seem even bigger in the drawings. The draw-ings from the fortress’ views are followed, at the end of the work, by almost all respective plans, indicating the length of different curtain walls and height of the towers, using fath-oms as a measure unit.This Late Medieval fortress endured for many years as the citadel of the new Mannerist and Baroque fortification of the 17th and 18th centuries, but it would eventually perished under the notorious siege to Almeida, on 26th August 1810. General Massena’s French and Spanish troops, in yet an-other attempt to invade Continental Portugal, began the siege to Almeida’s garrison on that day and the first shots fell inside the ancient medieval castle. There was some unprotected gunpowder there, to be used for the town’s immediate defence, which caught fire and caused an ex-plosion of the rest of the gunpowder in store. Nevertheless, the set would be rapidly rebuilt over the following years, given the strategic importance of this town at the time, maintaining its initial formal characteristics.

The teaching of fortification The staggering Portuguese expansion, initiated on 1415 with the conquest of the Maghrebi trade centre in Ceuta and continued over the following years with the coloniza-tion of the Atlantic archipelagos, as well as with the occu-pation of new positions over the African coast, lead to the creation of new necessities in the areas of the defence and urbanism of new urban nuclei. If the ancient road-making techniques accompanied the Portuguese Discoveries, the new military technical caused by the development of new fire weapons originated new knowledge. At the end of the 15th century, new disciplines to support the royal power and decisions were already being rehearsed, which can be seen in the development of cartography and, particularly, in the fantastic operation which represented the planning in Lisbon of the conquest of São Jorge da Mina, in 1482, in Guinea’s Gulf, many miles away. The teaching of fortification in Portugal occurred in a more or less empirical fashion until the middle of the 15th century, but this matter was progressively perceived differently. Con-sidering the this new situation, several groups of technicians were summoned for meetings on the Portuguese Court, in

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 119 4/16/12 10:13 AM

120

order to give opinions on these matters and these meetings caused a growing need for a bigger exchange of knowl-edge. From late 15th century on, some lessons began to be taught in Casa da Mina e da Índia, most certainly in an in-formal fashion in the beginning, but, in the middle of the 16th century, they started to be taught in the Paço da Ribeira, in a completely different fashion, being that these were at-tended by noble young men of the Court and by prince D. Sebastião himself. This Subject became official in 1577 and the Italian Filipe Terzio was nominated the teacher in 1594. The fortification class held in Paço da Ribeira remained in functioning until the end of the 16th century and the mid-dle of the following century, with Filipe Terzio and Mateus do Couto, uncle and nephew. In parallel, some classes were also held in Colégio Jesuíta de Santo Antão, such as mathematics and also many opinions on fortification were given here. Around these dates, for example, father Ignacio Stafford taught in Santo Antão, the author of Várias obras mathematicas compuestas por El P.Ignacio Stafford, Mestre de Mathematica en El Colegio de S.Anton de La Compañia de Jesus y no acabadas por causa de la muerte del dicho padre. Lisbon, year of 1638. This work, today exhibited in Biblioteca Nacional de Lisboa, contains a table with 58 definitions on fortification and a chapter called De la Architectura Militar (“On Military Architecture”). Over the decades, the Portuguese rose fortified cities throughout the coast of the Atlantic and Indic Oceans, as well as in the Atlantic islands. The theoretical mastery of this knowledge belonged to the several Italian cities, in an eter-nal war amongst themselves and with several powers insti-tuted along the Mediterranean, but the effective practice in Portugal was always the responsibility of local technicians. The first great reform in defensive constructions took place in the overseas dominium of the Portuguese court, in the middle of the 16th century, with the construction of the Ma-zagan complex, on the North of Africa, currently El Jadida, but some works were already being rehearsed on the Strait of Hormuz, in front of the Indic Ocean. In face of the grow-ing power of the Turkish Empire, these years witnessed the beginning of the construction of the fortification in Tagus’ mouth, in the entrance to Lisbon’s bar, with the construc-tion of the Fortress of São Julião da Barra, a sign of a shift on the safety paradigm of the Portuguese Crown.

The “Provedoria” (manager) of Royal Works To meet the challenges of many and distant construction sites, there was the need to create a body able to control these works, also responsible for the movements and pay-ments to the fortification technicians within the Portuguese dominium. In this sense, the functions of the “Manager” of Royal Works (Provedor das Obras Reais) were restruc-tured, a place occupied by Pero de Carvalho in 1525 and, later, by his descendents João de Carvalho and Gonçalo Pires de Carvalho. In the same way, the Major Commission for the Royal Works was created, lead by Álvaro Pires who starting to supervise the movement of documents related to this immense effort.

The Commission was handed to Álvaro Pires, who had worked in the North of Africa, where he was made a knight by Conde de Redondo, later to become a clerk in Lisbon’s Casa da Mina. He followed his father’s footsteps, who was also “the clerk of terças”, chapels, hospitals, hostels and grocers, a municipal tax for defence-related issues, as well as religious charges, thus producing the Regimento das Obras Terças, published in 1515 by the printer Valentim Fernandes. This influent worker already supervised, at the time, a certain number of architecture projects in course with public moneys and some of the architects in charge of their execution. André Pires appears during King D. Manuel’s reign, in charge of matters related to important master builders, such as Mateus Fernandes (I), the master builder for Monastery of Batalha, when, in 1508, he was sent to supervise, together with Martim Afonso, the works Francisco Danzilho had been performing in Almeida, as was already referred, as well as Castelo Bom and Castelo Rodrigo and, in 1514, he was in charge of the renovation works in Salvaterra’s fortress. The structure of the Commission of Works and Fortifica-tions must have followed the restructuring of the Mesa do Desembargo do Paço, by the legislation of 1534 and 1553, which resulted with the ordinances of 1564 and 1568, a situation than was less than pacific, because it had to face the resistance of some old judges that face with the nomination of a President would pull them apart from the Court. Nevertheless, the key date from the restructuring of the overseas Portuguese defensive systems was the loss of the Maghrebi trading post of Santa Cruz do Cabo de Guer, in 1541. Santa Cruz’ loss represented a turning point on the military policy developed in Morocco and if the royal cabinet hesitated in the measures it took regard-ing the Portuguese presence in Northern Africa, from here on there is the clear option for the fortification of Mazagan, transformed into a real “war garrison”. The specific and diversified activities of this commis-sion must have started in 1551, when the famous archi-tect Inofre de Carvalho was sent to the East “to be the master builder of the works the Viceroy and Governor of those parts demands” and, in 1552, after Isidoro de Al-meida was sent to the Azores, where the fortresses of São Brás in Ponta Delgada and São Sebastião, in Angra, were planned. Nevertheless, the fortress later built don’t cor-respond to the spirit of Isidoro de Almeida and are most certainly from some years later, a consequence of the great military disaster that occurred in Funchal, in the island of Madeira, when the French attack in October 1566. If until this point the French incursions on Brazil were im-portant enough to draw the attention of the Portuguese Crown, the attack made to the first city of the expansion, only a few days of journey from Lisbon, spread the panic in the capital and had repercussions in Valladolid and Ma-drid. Several fortifiers were immediately sent to Funchal, who had some experience in the fortresses of the North of Africa and, in a short period of time, some works started to be performed under the responsibility of the new body of

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 120 4/16/12 10:13 AM

121

the “Manager” of fortifications and royal works, being that all letters were signed by Álvaro Pires. On late 1566 or early 1567, the royal master builder, Ma-teus Fernandes (III), was in Madeira, with a preliminary permit of fortification, written by Álvaro Pires and, the next spring, another two skilled Italian fortifiers arrived in Madei-ra, to work with him: Capitan Pompeu Artidi, brother of the well-known cartographer Cúrzio Arditi and of Fábio Artidi, secretary for Cardinal Farnesio, and engineer Tomás Ben-edito, both from Pézaro. These militaries then went to the Azores, when Tomás Benedito became the foreman on the construction works of the fortress of São Brás de Ponta Delgada, along with the Master Pedro de Maeda, which would become the first Portuguese regular bulwarked fortress. Of all the works performed in Madeira, by three people, an admirable chart of Funchal endured, today lo-cated at Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, and later the ordinance of Funchal’s fortification, by Álvaro Pires in 1572, was also found. On these decades, one already knows that Álvaro Pires centralized a great deal of the subjects related to great royal works of fortification. Thus, he orders the writing of the documents acquiring a number of terrains next to the fortress of São Julião da Barra, following the owners’ requests, who were unable to farm the land because of the works taking place. The sales’ authorization, in 1562, is signed by Queen D. Catarina and, in the sales’ permit, the chief engineer Miguel de Arruda acts as a witness, “a noble knight of my house and master and inspector of my works”. On the following year, 1567, Simão de Ruão is sent to Porto “to study the location of its port and to obtain in-formation deemed as necessary”, then signed by Álvaro Pires, the Prince Cardinal on behalf of King D. Sebastião. The activity of the Comission of royal works was related with the control on the movements and payments of the military fortification technician, but also for their projects, all controlled in Lisbon and which could only be changed with a royal consent. Soon, the “Manager” would also be responsible for the movements of bombers, as of April 1560, when Francisco Dias becomes the bomber of Ponta Delgada, in the island of São Miguel in the Azores, thus annulling a local nomination of António Fernandes. álvaro Pires signs the documentation on the king’s behalf, as “no-ble of my house and servant of my Exchequer and of the Main “Manager” of my kingdom”. During the 1562’s siege to Mazagan, the organisation’s commitment was truly recognised. The news of the relief was inclusively euphorically celebrated by the Council gathered at the time in Trento. One must emphasise that, during Mazagan’s siege, 500 Portuguese managed to re-sist 150.000 Muslims; if, on the one hand, the credit of Por-tuguese fortifications was recognised, on the other hand, it reveal Marrakech as a military potency, which already has “a great Italian war engineer able to fight fortress”, as was then informed in Lisbon. The movements of international technicians were still a prob-lem, because it opposed local constructive practical sense,

which has grown stronger over the years, to new theoretical conceptions of international fortifications. The Italian techni-cians were only passing by and were completely unaware of local realities, creating continuous problems with the super-visors and, often, they were poorly received, as happened to Pompeu Arditi and Tomás Benedito in Mazagan, a visit that motivated a complaint by the Governor stating that the Portuguese technicians located there were as or more com-petent than the Italian engineers. The “Manager” of fortification thus began to control the works in the entire and vast Portuguese empire, distribut-ing ordinances, directions and plants to military engineers, later receiving some proposal and answering back with their corrections. Therefore, in the middle and late 16th century, the internationalisation of international mannerism began and, in a never before witnessed divulgation proc-ess, even on international history, it became possible to publicize architectonical and urban instructions, almost on a global scale.

The alterations of 1640’s RestorationThe Portuguese strategic and political situation throughout the 16th century and early 17th century went by without af-fecting quiet Almeida first because the great instructions for the Portuguese expansion and interests were focused on new overseas conquests and domains and then because the 17th century was witness, within the Peninsula, to a per-fect approach between the kingdoms of Portugal and Cas-tile, which even culminated in both kingdoms sharing the same king at the end of the century. Thus, the issue of fron-tier safety between one kingdom and the other was not even a problem. This situation, however, would radically change on 1649, with the separation between both Crowns. With King João IV acclamation on December 1640, a new political-military framework was opened, where the main concern was affirming the sovereignty over the metropolitan territory, putting the entire situation of the overseas colonies out of active consideration. To control some of the major mil-itary policies, a War Council was instituted, a body formed by men with an ample experience in warfare. The council-lors worked on the Palace and prepared military proposals that were later put for the monarch’s approval. This Council also received the decrees and other royal resolutions that needed to be performed, such as the nomination of officials and troops enlistments, fortification repair projects and oth-er subjects also related to military organization. The first instructions were, therefore, made towards the large scale reform of the European continental defensive system, with a broad campaign of fortification of land frontier¸ which still featured, at the time, medieval castles, particularly on the more exposed frontier: in Alentejo and Beiras, but also in vital areas such as Lisbon and Porto, as well as the reformu-lation of the rest of the main coastal fortifications. Continen-tal territory was divided into military provinces, thus focusing the main means on the headquarters of the government of arms. A governor was immediately nominated for Beira’s province, D. Álvaro de Abranches, and one of the main ef-

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 121 4/16/12 10:13 AM

122

forts was a new fortification in Almeida, a work then given to Lieutenant-Colonel of Cavalry João Saldanha e Sousa. Towards this vast effort, several French and Dutch military engineers were summoned to Portugal. The first technicians being consulted were the Jesuits priests and the teachers of Colégio de Santo Antão, Simão Fallonio and João Pascásio Cosmander, in charge of the first fortification projects. Father Simão Fallonio was essentially in Lisbon supervising the first works, while father Cosmander was sent to the strongholds in Alentejo, where Jean Gillot, hired in 1641, assisted him. Being that both came from Flanders, Gillot would have been appointed by that Jesuits priest, maybe because he was known for being a disciple of Descartes.At the end of 1641, the French engineer Charles Lassart was also hired, who on February of the following year was supervising Lisbon’s fortification, being appointed Chief Engineer in March and, after a while, he departed to Alen-tejo. Another French engineer, among many others, was also hired for Alentejo – Nicolau de Langres – where he had an argument with priest Cosmander and both with the chief engineer. The cause was the sketches for the profiles of the new bulwarked belts of the main frontier strongholds and the enormous costs they represented. Some of these engineers would end up killed in battle, between Vila Viço-sa, Badajoz and Olivença, where they worked. One must also add that Cosmander and Langres were killed while working for Castile, to where they were transferred after Gillot was killed while working for Portugal, in 1657, thus demonstrating the frailty and peril associated with the con-tracting of these mercenaries. The main fortification projects were, thus, handed to foreign technicians, although their follow-up was made with the Portuguese collaboration. As expected, the confrontations were enormous, not only with the governments of arms of different provinces, faced with megalomaniac works which simply couldn’t be afforded, but also within the technicians themselves, many times related to mere issues of personal prestige. One might also add that the majority of these works involved heavy costs for the locals, with large land expropriations and demolitions on the urban fabric, as well as the capture of large strips of the surrounding farming fields, subjected, from then on, to military services.With the implementation of the House of Braganza, in 1641, the then cosmographer Luís Serrão Pimentel, a former stu-dent of the Colégio de Santo Antão, started working on the Palace and, by a decree of 13th of May of the same year, a Class on Artillery and Framing was instituted and, on 12th July 1647, a class on fortification, back then called Class on Fortification and Military Architecture. This Class started off by functioning at the back of the Royal Palace and on Ribei-ra das Naus, but a little after that, between 1651 and 1675, the class started to be called Court’s Military Academy.Luís Serrão Pimentel was nominated to regulate the Class on Fortification and Military Architecture in 1647, later, at the end of his life, editing the material he collected for his classes, which was ready to be published in 1678, when he was killed in an accident, and contained lessons’ anno-

tation, budgets, opinions on works and critiques to foreign military architectures. The idea was to create a Lusitanian method of fortification, somewhat original, which wasn’t very successful, considering the amalgam of presented data. Nevertheless, it still presents, in broad notions, the originality of Portuguese methods, able to retrieve the ex-perience of others, being continuously adapted to new situations, as opposed to the majority of international ex-perts, which always wanted to change local conditions to implement the theoretical models they carried. The homologous Jesuits classes in Colégio de Santo Antão were kept and, throughout the centuries, many were the teachers: the already mentioned priest Simão Fallonio, author of the fortress of Santiago in Sesimbra, in 1642, and of Compendio spiculativo das Spheras Arteficial, edited in Lisbon on 1639, and, later, priest Luis Gonzaga, author of Tratado da Architectura Militar, “The dictation of which was ordered by Augustim. Dom Pedro 2nd in Santa Maria de Sto. Antão and ordered to be taught to all his children.”

The construction of the new Stronghold in AlmeidaThe project of fortification of Almeida, probably initiated during the 40s, with Conde de Abranches, as the Gover-nor of arms, and Fernão Teles Cotão, as the field master, being that the initial project by João Saldanha e Sousa was later reformulated by Charles Lassart; the presence of another French engineer should also be noted - Pierre Jules de Saint-Paul. The difficulties were plenty, for certain; not only related to money, since that in information com-ing directly from Conde de Mesquitela in 1661, it was said that the fortification still didn’t have a ditch and the village was not yet walled, which only happened in the following years. On the following years, Almeida’s works registered a faster pace, being that the engineer Pierre Jules de Saint-Paul was replaced by Diogo Truell, who would be in charge of the works for 15 years. He then was replaced by Jerónimo Velho de Azevedo, who would remain in Almeida until 1701, having witnessed the partial destruction of the stronghold during the 1695’s explosion.The projected obeyed the great guidelines of international bulwarked fortification, with a six-side polygon, closed by six bulwarks forming an almost regular star and involving the ancient hamlet, while being very well adapted to the terrain and keeping inside the ancient Late medieval castle, which began to function as a citadel. Several projects by interna-tional authors were used, as, quite probably, of Antoine Dev-ille, given the similarities of the doors with some drawing by the French technician. The general project was, neverthe-less, by several technicians, as they always were, suffering further alterations in the following periods of time. During the second half of the 17th century, several military technicians were, therefore, summoned unto Portugal and the works produced must have been effectively innovative, because not only the country was able to resist the suc-cessive Spanish invasion attempts, some of the work plans were also now featured on the main French publications. Between 1642 and 1643, the French field marshal Blaise

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 122 4/16/12 10:13 AM

123

François de Pagan (author of Les Fortifications du Comte de Pagan, Paris, 1645) was in Portugal, and later it was Al-lain Manesson Mallet’s turn, also French, where he would have been “Ingenieur des Champs & Armées du Roy de Portugal, nomé Sergent Major d’Artilherie dans la Province d’Alentejo”, as he later called himself, having published both works they saw in Portugal, which is a clear signal that they were the most modern elements of their time. The general guidelines for built fortifications were according to the instructions of the Dutch School, which was at the time affiliated with the school of French fortification, but locally adapted by Portuguese technicians, after a long practice of fortification inherited from the previous century. Throughout the second half of the 17th century, French fortifications be-gan incorporating the Dutch innovations, later theorised by the famous Sebastian Le Preste, marquis de Vauban, in his works of 1680 and 1706. The built fortifications, particularly on the Portuguese frontier of Beira (a clear example is the stronghold in Almeida) but also the one of Alentejo (such as Beja, Campo Maior and Elvas), thus present mixed charac-teristics from the Dutch and French schools, but and at the same time, a certain flexibility and terrain adaptation, very specific of Portuguese tradition.

The reforms of late 17th century and throughout the 18th century At the end of the 17th century, an explosion would partially destroy Almeida’s walls, thus imposing a reformulation of the entire belt, although some elements of previous works were kept, such as part of the doors. The beginning of the reconstruction, nevertheless, dates back to a few years later, after the decree of the 24th December 1732 was pub-lished, which created Almeida’s military academy. The work campaign should have begun on 1735 and, for that reason, the Chief engineer of the Kingdom – Manuel de Azevedo Fortes – was present in the stronghold, who was the main responsible for the reform and whose project was then put into paper by one of his assistants, José Fernandes Pinto de Alpoim, who later became one of the most influent engi-neers in the following years in the North of Portugal. Almeida was so important to the Portuguese Crown that the Chief engineer, between 1737 and 1738, stayed there for eight months, although the works weren’t concluded by 1747. Military engineering and fortification were lead, in the beginning of the 18th century, by Manuel de Azevedo Fortes, who had studied in Spain, in Colégio Imperial de Madrid and in Universidade de Alcalá, later moving to France, where he attended the university in Paris and from there on to Italy, where he applied and was accepted on the subject of Phi-losophy in the University of Siena. After coming back to Portugal, he succeeds, in 1720, to Serrão Pimentel on the position of Chief engineer of the Kingdom. After peace was established with Castile, almost at the end of the 17th century, the Portuguese interests changed their focus unto Brazil and unto the attempt to maintain the fantastic borders drawn during the bandeirante’s expan-sion and which defined Portugal has being a third of Latin

America. Within this framework, the Portuguese military engineering and architecture are developed, which later had important repercussions on the understanding of the Portuguese continental territory. Therefore, during King Pedro II and after the Chief engineer Manuel de Azevedo Fortes, the fundamental alteration in teaching methods, in general, and in Portuguese fortification and urbanism takes place, which goes from the previous “latitude culture”, which shaped the previous period, with a mainly coastal fixation, towards a new “longitude culture”, theorised by Jaime Cortesão and privileging the penetration of the immense overseas territory of Brazil. This period had already been military announced with the organisation of the Junta dos Três Estados, which began supervising these affairs. This Junta was responsible, for example, for the translation and publication of two important works on this area: Antoinne Deville’s The Governor of a Fortress and the famous manual on Fortification by Johann Friedrich Pfeffin-ger, featuring a collection of the main fortification methods used in Europe and accompanied by a glossary.The translations and publications during the first decade of the 18th century were given to Azevedo Fortes and Manuel da Maia, as stated by the information on the in-dividual processes, and the final publication format guar-anteed a new way of working, much more practical. The editions were true “pocket book”, or manuals, without special design luxuries, already announcing a new age for military engineers. With the institution of Real Academia da História, in 1721, of which Manuel de Azevedo Fortes was a member, still published, in 1722, the Tratado do modo mais fácil e o mais exacto de fazer as cartas geográficas, the promotion of which had an remarkable importance, not only on the scope of cartography, but also in urban-ism in general. A certain degree of dependence on nautical means, compass and rope, and, therefore, the connec-tion between the position of Chief Engineer and of Chief Cosmographer, was abandoned in detriment of the use of other more modern means. At the end of the decade, two volumes were published – O Engenheiro Português – in 1728 and 1729, now only by Azevedo Fortes and in a format close to the previously published books, thus leaving behind the fancy fortification albums of the 16th and 17th centuries in detriment of the use of true manuals, which could be handled on field and carried in a bag. The copy of the drawings had been widely used in fortification, architecture and urbanism and it was recommended on the manuals being discussed, which is an essential didactical procedure for the understanding of theory. The reinforcement given to this practice indicates that the work of the military engineer was no longer done from cabinets on coastal cities, but rather inland. The reformulation of Almeida’s stronghold, which can be seen today, is probably a mark of the work of Azevedo Fortes during the first decades of the 18th century, rather than a mark from the previous work campaigns and it shows another way of understanding the fortification and the urbanization process. In 1744, Azevedo Fortes further

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 123 4/16/12 10:13 AM

124

published Lógica Racional, Aritmética e Geométrica, two years before the Método de Estudar of António Verney, published in 1746, being already a truly polemic work and with specifically didactic and philosophical purposes, fight-ing at each step the old scholastic logic traditionally taught in the Portuguese Jesuit schools and opening the way for the Company’s extinction and for the general reformulation of Education in Portugal, performed three decades later.In the middle of the 18th century, the European political conditions have changed, with the constitution of the Pac-to de Família, thus arising, once again, a new confronta-tion between Portugal and Spain and Almeida’s stronghold becoming once again one of the main security concerns on Portuguese territory. In the middle of 1762, Portugal summoned the reining count Guilherme de Schaumbourg Lippe, who took control of the army’s command, although he was not capable of stop the entrance of Spanish troops from the Trás-os-Montes frontier and the occupation of Al-meida, which turned out to be one of the strategic points of all the military maneuvers in those months of war. With Lippe’s reform, the decree of 10th of May of 1763 causes the appearance of artillery classes, always asso-ciated with military architecture, in the main regiments’ headquarters and in 9th of May of 1764, the count visits Almeida to become aware of the works in progress. Al-meida’s stronghold had already been submitted to a re-port by Brigadier Engineer João Alexandre de Chermont, in May 1762, on which the complex watchman path was criticized, with “parapets, on the inside and on the out-side, made of rough and deadly brickworks of stone and clay, and almost flat”. Later, the Field-Marshall Francisco Mac-Lean will quote that the works to repair the wreckage of 1762 had already cost more than twenty-nine contos de réis, to what one should also add the construction of new barracks and others still in progress, where engineer Jacques Funck came to work, who would spend the final part of the decade in Brazil. The importance of Almeida becomes clear at the end of the 18th century, with the presence of a series of impor-tant engineers working there, such as Anastácio António de Sousa Miranda and Martinho de Sousa Albuquerque Alves, as well as in 1801, with the presence of Maximiano José Serra, who would later become one of the most im-portant engineers of the future Linhas de Torres. The Por-tuguese fortification in the middle of the 18th century was tested for several times in a series of disturbing political situations and, although it failed to respond to all threats, it showed, nevertheless, to be summarily effective. This situation was, nevertheless, changed in the beginning of the following century, especially as a consequence of the complete shift on the political assumptions that first built those fortifications.The European political alterations, which led to the inva-sion of the national territory by the disproportioned joint armies of France and Spain, were a premise considered impossible until that time. With the 3rd French Invasion, having the Portuguese Court already fled to Brazil, the first

shots of General Massena’s troops, on 26th August 1810, would hit the ancient medieval castle of Almeida, where the magazines were located, almost causing the entire de-struction of the site and, as a consequence, the collapse of the stronghold. During the following years, however, the damages were minimally repaired. Throughout the 19th century, the military interest of Almei-da’s fortress progressively diminished and the hamlet also grew smaller, which was directly connected to the garrison of the old fortress. Nevertheless, the set was somehow preserved by this reason, not being the object of a special urban pressure but, at the same time, without being com-pletely abandoned, enduring until now in a truly remarka-ble preservation state. A comparison with the preservation state of its homologous fortress of Nossa Senhora da Con-ceição, in Spain, now completely abandoned, is enough to assess the efforts spent with its maintenance.

* Historian – Chair Professor of the University of Madeira

09_0611_Miolo Revista CEAMA 4 Af.indd 124 4/16/12 10:13 AM