super interessante portugal – abril 2015

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  • N. 204Abril 2015

    Mensal z Portugal

    3,50 (Continente)

    Sade I Natureza I Histria I Sociedade I Cincia I Tecnologia I Ambiente I Comportamento

    56

    01

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    30

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    0020

    4

    InformticaProgramar contra

    o desemprego

    DronesEstamos preparados para viver com eles?

    www.superinteressante.pt facebook.com/RevistaSuperInteressante

    O poder da MEDITAO

    Aumenta a concentrao Combate a dorAlivia a tenso Reprograma o crebro

    EspaoUma tangente

    a Pluto

    http://www.superinteressante.pt
  • 2 SUPER

  • 3Interessante

  • Observatrio 4O Lado Escuro do Universo 5Motor 8 Super Portugueses 10Histrias do Tejo 12Caadores de Estrelas 16 Flash 48Marcas & Produtos 97Foto do Ms 98

    Como no podia deixar de ser, tenho de me referir a pessoas que no cumprem as suas obrigaes contributivas porque acham que elas so facultativas. Refiro-me aos gregos, evidentemente. Como no conheo a situao ao ponto de poder acrescentar alguma coisa, limito-me a citar o que sobre o assunto tem sido di-to e repetido: de uma forma geral, os gregos consideram opcional o pagamento de impostos. Ter sido essa uma das razes (mas no a nica) que levaram a Grcia a uma situao de asfixia oramental, a que se seguiu o estertor provocado pela recei-ta austericida do eixo Berlim-Bruxelas-Washington. O documento que nesta edio dedicamos aos poderes da mente e aos estados alterados da conscincia parece uma alegoria da tragdia em que se viram metidos os gregos e, agora, o resto da Europa. A vitria eleitoral do Syrisa, em janeiro, fez entrar em transe a esquerda europeia (por c, at Antnio Costa ignorou que tinham sido os seus camaradas do PASOK a alimentar a subida da extrema esquerda). Depois, houve muitas massagens no ego, com o novo governo a afirmar que no se desviaria uma linha do seu programa, e os parceiros do Eurogrupo a dizer que a Grcia j tinha cedido muito mas ainda no era suficiente. Tudo isto no ambiente de hipnose que vigora no continente europeu h uma boa dzia de anos, e que a nica explicao para no se ver que o problema, antes de ser oramental, fiscal (o sr. Juncker sabe-o muito bem). Fi-nalmente, a meditao. Mantendo-me apenas no plano formal, parece interessante pesar um argumento do governo grego, segundo o qual tem um mandato eleitoral para rejeitar imposies externas. Sem dvida! E os outros governos europeus, no tm mandatos eleitorais? Isto mantendo-me apenas na forma, evidentemente. C.M.

    Ricas pegas Uma toxina est a dizimar a populao de uma espcie de morcego australiana. Soluo: salvar as crias, muito dependentes do calor materno. Pg. 84

    Nos confins do Sistema SolarPara Pluto e mais alm: esta a misso da sonda New Horizons, que dever fazer uma tangente ao planeta-ano antes de mergulhar na cintura de Kuiper. Pg. 20

    N. 204Abril 2015

    Mensal z Portugal

    3,50 (Continente)

    Sade I Natureza I Histria I Sociedade I

    Cincia I Tecnologia I Ambiente I Compo

    rtamento

    56

    01

    75

    30

    02

    09

    6

    0020

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    Informtica

    Programar contra

    o desempregoDrones

    Estamos preparados

    para viver com eles?

    www.superinteressante.pt facebook.

    com/RevistaSuperInteressante

    O poder da MEDITAO

    Aumenta a concentrao Combate a

    dor

    Alivia a tenso Reprograma o creb

    ro

    EspaoUma tangente

    a Pluto

    Transe, hipnose, massagensAbril 2015204

    SECES

    www.superinteressante.pt

    Movimentos cerebraisAtravs de melhores interfaces com o crebro, a medicina vence barreiras at agora intransponveis. Pg. 42

    TECNOLOGIA

    Viver com drones36

    Tangente a PlutoESPAO 20

    TECNOLOGIA

    Prteses mentais42

    www.assinerevistas.com

    Pontas de lana A estrutura regular microscpica dos cristais revela-se, no mundo macro a que temos acesso visual, em formas de acentuada geometria.Pg. 76

    TECNOLOGIA

    Descarregar e jogar70

    LIVROSMindfulness

    60

    O luxo do tempoTECNOLOGIA 30

    TECNOLOGIA

    Teclas com futuro26

    DOCUMENTO

    O poder da mente50

    MEDICINA

    Marcados a sangue64

    ANIMAIS

    Grandes frangos!92

    NA

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    / E

    SA

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    MINERALOGIA

    A cincia dos cristais76

    JOR

    GE

    NU

    NE

    S

    ANIMAIS

    Hospital para morcegos84

    HISTRIA

    O extermnio das baleias86

    TO

    UC

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    ICS

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  • SUPER4

    Observatrio

    Se os canhes espanhis e franceses no conseguiram afundar o HMS Victory, navio almirante da frota bri-tnica na batalha de Trafalgar, to pouco podero faz-lo a gua, a putrefao e os estragos do tempo. Um projeto de quase setenta milhes de euros de dinheiro pblico e privado vai restaurar o navio de linha no qual o almirante Horatio Nelson encontrou a morte naquele dia (21 de outubro de 1805) que selou o domnio ingls sobre os mares. Aps ter sido retirado do servio ativo em 1812 e de passar por diversos usos e reparaes, o Victory foi colocado em doca seca, no cais de Portsmouth, em 1922. Seis anos depois, foi aberto a visitas do pblico. Desde ento, mais de 25 milhes de pessoas passaram pelos seus histricos conveses. O lendrio navio, nico sobrevivente da engenharia naval inglesa de meados do

    sculo XVIII (foi lanado gua em 1765), foi objeto de uma anlise profunda do seu estado. As imagens tridimensionais obtidas revelaram que a sua quilha perdia meio centmetro de altura por ano devido gua da chuva, que estava a corroer as suas madeiras com 250 anos de idade. Alm disso, os conveses inferiores foram invadidos por humidade e estavam a apodrecer, e o cavername do casco ameaava implodir. Andrew Baines, conservador no Museu Nacional da Royal Navy e responsvel pelo res-tauro, cr que esta a ltima oportunidade de salvar o Victory e o material histrico que con-tm. Entre outras coisas, os trabalhos implicam calafetar as juntas das madeiras, para imper-meabilizar o barco, construir um novo picadeiro (o suporte sobre o qual descansa o navo) e recuperar as cores originais de um dos smbolos maiores de um imprio desaparecido.

    A ltima batalha

    O Victory descansa na doca seca de Portsmouth, no sul de Inglaterra. Para construir este barco de 69 metros de comprimento, foram necessrias 6000 rvores, 90 por cento das quais eram carvalhos. A popa albergava a cabina do comandante, o nico lugar a bordo onde no havia sobrelotao.

  • Interessante 5

    Aps a descoberta do boso de Higgs, no vero de 2012, o Grande Colisionador de Hadres (LHC, na sigla inglesa) sofreu manuteno e melhoramentos durante dois anos. Retomar agora as suas experincias com energias de 13 teraeletres-Volt (perto do seu limite mximo de 14 TeV), num ano que promete ser de vida ou de morte para muitas teorias em fsica de partculas. A parada de facto muito alta para a supersi-metria (SUSY, na ternurenta sigla inglesa), que at aqui ainda no deu sinais de vida irrefutveis. Ou ser que j deu?Nas verses mais simples da SUSY, o LHC j devia ter detetado partculas supersim-tricas. Como tal no aconteceu, muitos pro-clamaram a morte da SUSY, ou, no mnimo, que estaria a caminho do hospital. Em 2012, o LHC atingiu a energia mxima de 8 TeV nas colises dos seus feixes de pro-tes, longe ainda do que se pretende para 2015. Os irredutveis da SUSY defendem, assim, que ainda h reas no espao de parmetros por explorar, onde outras verses da SUSY podem existir. Efetivamen-te, a potencial grande notcia surgiu, em julho de 2014, com a conrmao de um excesso de eventos dibosnicos no LHC, quer na experincia CMS, quer na ATLAS. O boso de Higgs pode decair para pares de boses W, que so os mediadores das interaes nucleares fracas, responsveis pelos decaimentos radioativos e por alguns processos de fuso termonuclear no interior de estrelas. No LHC, a produo de pares W+/W d-se sobretudo pela aniquila-o de quarks-antiquarks, num processo relativamente simples e que se pensava bem conhecido, no mbito do modelo padro da fsica de partculas. A produo de pares de boses Z (o parceiro neutro dos W) e a produo de WZ d-se de acordo com o modelo padro, mas a produo dibosnica W est cerca de 20 por cento acima do espe-rado. Um artigo cientco chamado Parem a Ambulncia! Nova Fsica no LHC? ganhou notoriedade, ao defender que um modelo simples SUSY com quarks leves stop e neu-tralinos poderia explicar bem melhor do que o modelo padro os resultados da CMS e da ATLAS a 7 e 8 TeV. Anal, a SUSY ainda no morreu e devemos parar a ambulncia a caminho do hospital?Confuso? Para refrescar a memria, a ideia principal da SUSY fazer corresponder a cada fermio (partculas de spin semi-intei-ro, como +1/2, por exemplo) um parceiro supersimtrico bosnico (partculas de spin inteiro, como 0, 1, 2). Assim, ao eletro (um fermio) corresponde o seletro, ao proto o sproto, ao quark top o quark stop

    (parem em ingls tambm se diz stop, num trocadilho humorstico dos autores do artigo), e assim por diante.Os cticos questionam o seu signicado estatstico e preferem esperar pelo LHC em 2015, mas a importncia destes resultados grande, pois o desvio em relao ao previsto no modelo padro no pequeno, sendo conrmado por duas experincias distintas. Os resultados apontam ainda para uma mas-sa do neutralino de cerca de 150 GeV/c2, que o principal candidato massa escura.Se se conrmar a existncia da SUSY, poderemos ento igualmente renovar a procura das bolas-Q, outro dos unicrnios ainda por encontrar no mundo supersim-trico. Pensa-se que a grande maioria das partculas seja feita de quarks e leptes. No contexto SUSY, instantes aps o Big Bang, a seguir ao perodo inacionrio, os squarks e sleptes deveriam ser abundantes. Pequenas utuaes na distribuio da sua densida-de levariam formao de smontculos, chamados bolas-Q, eternamente estveis, sobrevivendo at hoje. Sendo boses, as bolas-Q no obedecem ao princpio da ex-cluso de Pauli, ou seja, um enorme nmero de spartculas pode ocupar uma pequena regio, do tamanho de dez vezes o ncleo de tomos de ferro, mas com massas escuras enormes, na casa dos miligramas.Dentro das bolas-Q, dadas as propriedades de squarks e seletres, no existiriam indivi-dualmente as foras nucleares forte e fraca, nem a eletromagntica, um dos contributos da SUSY para as teorias de grande unica-o das foras fundamentais da natureza.Para alm do LHC, onde procurar ento outros sinais da SUSY, como as bolas-Q? Com uma velocidade na ordem da centena de quilmetros por segundo, as bolas-Q atravessariam o Sol em menos de quatro minutos, sendo difceis de detetar. J as den-sas estrelas de neutres poderiam travar as bolas-Q, que, ao interagir com os neutres, produziriam mais squarks livres, neutrinos e talvez mesmo cascatas de pies. Pensa-se que o processo poderia dar origem a uma minissupernova ou mesmo explicar a causa de algumas exploses de raios gama (GRB, na sigla inglesa). Outras possibilidades apontam para interaes das bolas-Q com protes na atmosfera terrestre, mas at hoje nem o Super-Kamiokande nem os detetores de neutrinos na Antrtida deram com esta faceta escura da SUSY.

    O Lado Escuro do Universo

    As bolas-Q SUSY

    PAULO AFONSO

    Astrofsico

    N.R. Paulo Afonso escreve segundo o novo acordo ortogrco, embora sob protesto.

    O navio transportava cem canhes, dos quais se conservam oito. O nmero foi decidido antes da construo e determinou todo o desenho.

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  • SUPER6

    Observatrio

    A Gronelndia, com uma superfcie gelada de 2,1 milhes de quilme-tros quadrados no oceano Glacial `rtico, o novo paraso das terras raras. Estes materiais, de extrao complexa e propriedades muito particulares, e escasss-simos no planeta, so bsicos para todos os tipos de dispositivos tecnolgicos: telemveis,

    baterias, ecrs planos... A China possui mais de 95 por cento deles, como o neodmio, o dispr-sio e o eurpio, o que chegou a gerar tenses, mas as suas reservas esto a esgotar-se. A Gronelndia (um territrio autnomo, embora sob soberania dinamarquesa) surge como o prximo grande fornecedor global, graas s suas ricas jazidas, com a de Kvanefjeld (na

    foto) cabea. O lantnio, o crio e o rbio so algumas das terras raras presentes na ilha. Entre outras utilizaes, a primeira usa-se nos ecrs das unidades de raios X; a segunda, nos motores e na indstria do petrleo; a terceira, em tecnologia nuclear. A extrao, j se sabe, vai ser difcil, num ambiente hostil, sempre gelado.

    A ilha dos tesouros

    Angela Dassow e Michael Coen, da Universidade de Wisconsin em Madison, relacionaram certos sons emitidos pelos gibes com situaes concretas nas quais estes smios do sueste asitico alertam a comunidade para perigos imi-nentes ou informam sobre o seu estatuto sexual (sobre a imagem, transcrio de algumas destas voca-lizaes e a sua interpretao). Esta investigao sugere que a lingua-gem no um exclusivo humano: pelo menos no caso dos gibes, parece haver uma codicao exata entre determinados sons e um sig-nicado especco.

    Academia de gibons Waoo-hoo-hoo-hoo-wa-waUm leopardo!Waoo-hoo-hoo-hoo-hoo-hooUma serpente!

    Waa-hoo-wa-waa-wa-waSou um macho

    e estou com ela

    Wa-waa-waoo-hoo-waa-hooSou uma fmea e estou com ele

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  • N os Estados Unidos, um dos aciden-tes mais comuns so as sadas de estrada, por distrao dos condu-tores, talvez um resultado do per-fil das redes virias norte-americanas, com as suas interminveis retas, mas tambm da baixa velocidade mdia a que se circula no pas e da utilizao muito frequente do Cruise Control, que acaba por abstrair o condutor. Isto leva a comportamentos ao volante que desviam a ateno do condutor, potenciando assim a probabilidade de ocorrer uma sada de estrada. O problema que muitas das estradas norte--americanas foram construdas num plano mais elevado do que o solo circundante, o que, em caso de sada de estrada, implica um voo e uma aterragem que pode ter consequn-cias graves nos ocupantes, nomeadamente ao nvel de leses na coluna vertebral. Para fazer face a este tipo de acidentes, a Volvo concebeu um sistema de absoro de energia integrado no prprio banco, que funciona de

    Aterragem perfeita

    Motor

    8 SUPER

    forma autnoma. Quando os sensores do XC90 detetam que o veculo saiu da estrada e perdeu o contato com o asfalto, ou seja, vai no ar, a caminho de uma aterragem que, com grande probabilidade, no ser suave, a primeira ao tomada o acrscimo de tenso dos cintos de segurana, que puxam o corpo contra o banco. Depois, quando o carro pousa as quatro rodas no solo, existe uma estrutura metlica, entre a almofada do assento e a sua arqui-tetura fixa, que se deforma sob o peso do ocupante, acelerado para baixo por efeito da aterragem forada, absorvendo a energia do impacto vertical e evitando que seja a coluna vertebral a sofrer o embate. O sistema no exige qualquer sistema eletrnico complexo, apenas um componente mecnico que ati-vado em paralelo aos usuais airbags. Uma boa ideia, que vai no sentido do anunciado obje-tivo da Volvo de ningum ter acidentes fatais ao utilizar um dos seus automveis, a partir do ano 2020.

    Raio X

    Audi Q7

    2

    4

    AAudi prepara o lanamento da segunda gerao do Q7, o seu maior SUV, na primavera, e j so conhecidas as principais caractersticas do modelo, que passa a utili-zar uma nova plataforma.1 precisamente a plataforma que permite ao novo Q7 reduzir uns apreciveis 325 quilos face ao modelo anterior, cando-se pelos 1995 kg. Para isto, contribui um contedo em alumnio que atinge os 41 por cento, o que permite fazer descer o centro de gravidade em 50 milmetros.2 A suspenso usa tringulos sobrepostos, frente, e sistema multibrao, atrs. H, como opo, uma suspenso pneumtica, mas a maior

    6

    Fiat 500X 1.6 Multijet II Feito na fbrica italiana de Melfi, o Fiat 500X oferece uma gama alargada, que inclui o 1.6 Multijet II de 120 cavalos. Custa 23 642 euros, um valor que no de arromba, porque a Fiat quer manter os membros da famlia 500 como subpremium. Em foto, o 500X sugere peque-nas dimenses, mas, na realidade, os seus 4,2 metros de comprimento colocam-no entre um Nissan Juke e um Qashqai, para captar clientes de ambos os segmentos, alm daqueles que tinham um 500 e cuja famlia cresceu. Basta abrir a porta e ocupar o lugar do condutor para perceber que a posio de conduo mais alta do que parece. A qualidade dos materiais a melhor dos atuais Fiat, a consola central tem

    um bom monitor ttil e os elegantes comandos de ar condicionado do Alfa Romeo Giulietta. H bastante espao frente e, nos lugares de trs, dois vo melhor do que trs, mas o tnel central baixo; a maior dificuldade entrar e sair, pois as portas traseiras so pequenas. A mala anuncia 350 litros e tem um piso regulvel em duas alturas, mas, no habitculo, h poucos porta-objetos. As bolsas das portas so largas mas curtas, e a Fiat diz que tm a forma do bico de um pelicano. Em marcha, o 1.6 Diesel no muito silencioso, mas tem fora desde as 1800 rotaes por minuto, e a caixa manual de seis velocidades tem relaes corretas. O condutor pode escolher entre trs modos de conduo

    CARRO DO MS

  • O novo Audi Q7, que estar venda a partir da primavera, mostra que os dinossauros entre os automveis, os seja, os maiores SUV feitos segundos conceitos convencionais e venda no mercado europeu, tm os dias contados. Se a primeira gerao do Q7 assentou parte do seu sucesso nas dimenses exageradas, que lhe davam um certo estatuto na estrada, a verdade que os clientes parecem estar a mudar as suas preferncias, ao mesmo tempo que os construtores ditam novas regras. Neste particular, nunca se sabe verdadeira-mente quem inicia a tendncia, tal como na moda. A verdade que h uma nova procura de modelos mais compactos, e a tendncia para que a nova gerao de um dado modelo seja mais pequena do que a anterior. Seja como for, o novo Audi Q7 mais curto e, sobretudo, muito mais leve, dois atributos que facilitam a conduo e reduzem os consumos e as emisses, um caminho a que todos os construtores esto obrigados, no hori-zonte de regulamentaes cada vez mais apertadas, a este nvel. A engenharia no se fica por aqui, para facilitar a conduo deste tipo de modelos XXL, no ambiente urbano que lhes serve de habitat natural, cada vez mais. Para isso, a Audi dotou o Q7 de direo tambm s rodas traseiras, o que facilita imenso as manobras em espaos apertados, ao mesmo tempo que aumenta a estabilidade quando se guia em autoestrada em dias de ventania. A procura da eficincia o mote para todos os construtores e para todos os segmentos, mas, para quem pensava que os maiores modelos tinham os dias contados, aqui est a demonstrao de que possvel encontrar solues para os tornar tambm eficientes.

    Opinio

    Dinossauros extintos outra vez

    novidade a direo s rodas traseiras, que viram num mximo de cinco graus, atravs da atuao de motores eltricos. A baixa velocidade, viram no sentido oposto s da frente e reduzem o dimetro de viragem em um metro; a alta velocidade, viram no sentido das da frente, para manter a estabilidade.3 Tal como tradio na marca, o Q7 mantm a trao s quatro rodas quaro, mas com um novo tipo de diferencial central, em vez da anterior caixa de transferncias. A distribuio percentual de potncia pelos eixos (dianteiro/traseiro) normal-mente de 40/60, mas, de acordo com as condies de aderncia, pode chegar a um mximo de 70%, para o eixo da frente, e de 85%, para o de trs. 4 O motor que dever ser mais vendido em Portugal o V6 3.0 TDI a gasleo que tem 272

    cavalos e acelera dos 0 aos 100 quilmetros por hora em 6,3 segundos, anunciando um consumo mdio de 5,7 litros aos 100 km e emisses de CO2 de 149 g/km. 5 O interior tem uma nova gerao de sistema de infotainment, chamado MMI All in Touch Control, alm de um painel de instru-mentos em monitor TFT e de tablets para os lugares traseiros. O sistema aceita integrao dos contedos de smartphones, tanto atravs do Google Android como do Apple Carplay.6 Para se chegar a um valor de coeciente aerodinmico de 0,32, foi preciso montar carenagens sob o piso e um spoiler junto do eixo traseiro, para diminuir o li . Na frente, merecem destaque os faris de matriz LED, e as luzes de dia, em forma de dupla seta. 7 O comprimento do Q7 diminuiu 37 mm, mas o espao interior aumentou, continuando a existir sete bancos individuais, com os trs da la do meio a poderem ser ajustados longi-tudinalmente numa amplitude de 37 mm.

    Interessante 9

    1

    5

    7

    FRANCISCO MOTA

    Diretor tcnico do Auto Hoje

    3

    no Mood Selector: Auto, Sport e All Weather. Em cidade, o primeiro modo d uma direo muito leve e uma boa resposta do acelerador. A visibi-lidade para diante boa, mas para trs a cmara de marcha-atrs um auxiliar precioso, ao contrrio das jantes de 18 polegadas com pneus 225/45 R18, que penalizam o conforto, e at o comportamento dinmico fica menos preciso, em pisos irregulares. Os pneus 215/55 R17 so melhor opo. No se pode dizer que o 500X seja o crossover mais divertido de conduzir, at porque, em modo Sport, a assistncia da direo fica mais pesada mas com pouca consistncia, e voltar ao modo Auto tambm no ajuda, pois fica muito leve. De resto, a Fiat anuncia um consumo de 4,4 litros aos 100 km, em cidade, um bom valor.

  • SUPER10

    Contemporneo da revoluo liberal, Joo Domingos Bomtempo no foi somente

    um pianista clebre e um grande compositor; foi ainda um discreto mas eficaz revolucionrio.

    SUPER Portugueses

    En tendamo -nos: como m s ico , Bomtempo no propriamente um re volucionrio. A sua obra de grande qualidade, alis foi influen-ciada pelo com positor italiano Muzio Cle men ti, de quem foi amigo, e tem tambm como refe-rncia a Es cola de Viena, especialmente al guns dos seus mestres, como Haydn, Mozart e Bee-thoven; in se re-se, alis, na transio para o romantismo que este ltimo com positor pro-tagonizou. No en tan to, no deixou de ser um re volucionrio, em relao ao seu pas. Acima de tudo, porque introduziu e promoveu em Por tugal o gosto por novas formas musicais e tambm porque pen sou na msica em termos do grande pblico, quando, at ento, as for-mas musicais cul tas eram um quase exclusivo da corte e da aristocracia.

    sabido que a Casa de Bra gan a est intima-mente ligada msica; sem a ao de D. Joo V e de D. Jos I, por exem plo, talvez a msica bar ro ca no tivesse atingido entre ns o brilho que atingiu, porque aque les reis protegeram

    v rios jo vens compositores, a quem pa ga ram os estudos em It lia. Porm, de um modo ge ral, pe que nos burgueses e po pu la res man-tinham-se em boa par te alheios a esse gosto, no ou viam essa msica, com exce o, possivel-mente, das obras sa cras, executadas e ou vi das nas igrejas. Por outro la do, a nossa conhecida perife ria geogrfica e, em maus pe ro dos, tambm mental impe dira que fossem conhe-cidas as formas musicais que se desenvolviam nos grandes centros cultu rais da Europa.

    Foi, precisamente, nestes cam pos que Bomtempo lanou as bases da mudana e operou uma discreta revoluo: no s foi ele quem criou a moderna m sica instrumental por-tuguesa como promoveu o gosto pela m sica sinfnica e de cmara. Foi igualmente o funda-dor e o pri meiro diretor do Conserva t rio de Msica, estabelecimen to que hoje a Escola de Msica do Conservatrio Nacional.

    Sem dvida, h outros nomes im portantes para a histria mu si cal portuguesa, mas Bomtempo avulta entre todos eles, na pri meira

    A revoluo pela msica

    metade do sculo XIX, por que a sua ao foi de ci siva, quer como criador, quer co mo di vul-gador e pedagogo. Est por fazer (ver go nho-samen te, alis) a recuperao de mui tos dos nossos composito res pense-se em Augusto Ma cha do, Joo Arroio, outros ain da, in cluin do Marcos Portu gal e Al fre do Keil, dos quais pou cas obras se encontram no mer ca do, em gravao, ou nos con cer tos, em execuo; em rela o a Bomtempo, a situao , ape sar de tudo, diferente, mas ain da falta, digamos, reavivar a gratido que os portugueses lhe devem.

    XITO R`PIDOJoo Domingos Bomtempo nas ceu em Lis-

    boa, em dezembro de 1771 (ou 1775, segundo outras fontes). Era f i lho de Fran cesco Saverio Buontempo e de Mariana da Silva, sua mu lher. Buontempo, um msico ita lia no contratado por D. Jos I, to cava obo na real cmara e no Seminrio da Patriarcal; viria a aportuguesar o seu nome pa ra Francisco Xavier Bontempo e da que ainda hoje se en con tre o nome do seu filho, Joo Domingos, escrito quer com m quer com n.

    Fran cisco Xavier foi o primei ro mestre de msica do futuro com positor, a quem ensinou tam bm obo e contraponto. Mais tarde, o jovem prosseguiria os seus estudos no Semi-nrio da Patriarcal, onde ter re ce bido lies de Joo de Sousa Car valho, um outro nome grande da nossa msica. Depois, quan do ainda tinha treze anos, Joo Domingos ingressou na

    Se quer ouvir...Amsica de Joo Domingos Bomtempo no est, felizmente, esquecida, em bora no tenha a divul ga o que verdadeira-mente merece. De qualquer mo do, ain da em 2006, em Fran a, foi exe cu ta da uma das suas missas na Festa da M sica, em Bziers. V rias obras suas esto gravadas em CD. Entre elas, contam-se nume ro sas compo-sies pa ra piano e v rias para or ques tra. Para o leitor inte res sado, oferecemos aqui uma breve seleo de t tu los que fo ram

    lanados no mer cado. Claro, s os en con -traro (alguns, pelo me nos) nas melhores disco te cas, aque las que tm uma sec o de cls sicos. Recomendamos, antes de mais, o Requiem Op. 23, mem ria de Ca mes (de notar que foi exe cu ta do nas exquias do pr-prio com po sitor), mas tambm me re cem es pe cial aten o as duas sinfonias e os qua-tro con cer tos para pia no e orquestra, o Te Deum em F Maior, Kyrie e Gl ria, as Quatro Ab sol vies e o Li be ra Me em D Me nor.

  • Interessante 11

    fi lhas de Lady Hamilton, a lin ds sima e clebre amante de Nel son; executa, compe e pu bli ca. Tem, enfim, a sua reputa o bem firmada. um dos pri mei ros 25 membros da Sociedade Filarmnica de Lon dres, fundada em 1812.

    O APELO DE PORTUGALNo entanto, Joo Domingos Bom tempo

    nunca esquece que por tugus, e o seu sonho levar a nova msica para Portugal. Lo go que a situao poltico-mi litar parece estabilizada, em 1815, volta a Lisboa, tenta criar uma socie-dade filarmnica, se me lhante de Londres; ainda mui to cedo, as mentalidades no esto preparadas. Por isso, nos anos seguintes, Bomtempo cir cula entre Lisboa, Londres e Paris, e continua a compor: mar chas, uma missa de Requiem me m ria de Cames, um Te Deum Em todo o caso, mesmo se fica adia do o seu projeto da so cie da de de concer-tos, ele , sem dvida, o compositor da no va or dem cons ti tucional por tu gue sa e ga nha a estima e a consi de ra o de D. Joo VI, que tentar sem pre proteg-lo, du ran te os tempos crticos que se aproximam.

    Em 1822, a Sociedade Filar m nica est, enfim, em funcio na mento, e d uma srie de con certos. Sol de pouca dura: no ano seguinte, rebenta a Vila fran cada, movimento militar ab solutista chefiado por D. Mi guel, e a socie-dade extinta. No entanto, D. Joo VI vela pelo seu protegido e a instituio po de, pouco depois, retomar a sua atividade e muda-se, at, pa ra um palcio do duque de Ca da val. S que, logo em 1824, D. Miguel faz outra vez das suas: a Abrilada, novo pronun cia mento, que vem estragar tudo outra vez

    Depois disto, e at morte de D. Joo VI, a Sociedade Filarm ni ca tem altos e baixos, fun-ciona sempre que pode. Ento, com a morte do rei, comear em breve a guerra civil e D. Mi guel I reinar como soberano absoluto: tempo de eclipse para Bomtempo, que fiel

    JOO DOMINGOS BOMTEMPO (1771?1842)

    Ir man dade de Santa Ceclia, na qua lidade de cantor da capela real da Bemposta.

    A morte do pai, em 1795, quan do ele tinha ainda vinte (ou vinte e poucos) anos, obrigou-o a cuidar do sustento da fa m lia, isto , da me e dos ir mos; felizmente, foi-lhe poss vel tomar o lugar do pai na real c mara. Sabe-se, tambm, que, em 1798, o seu irmo Jos Maria era j mdico; talvez por is so, foi pos-svel a Bom tempo, em 1801, partir para Paris, pro cura de novos horizontes e de novos mestres. Naquela ci da de, encontra outros portugueses com quem se rela-ciona, como o morgado de Mateus, e nesta fase da sua vida que alcana um xito muito rpido, ao esta be le cer laos de amizade com Mu zio Clementi, John Field e Jan Ladislav Dussek, entre ou tros msicos que ento se en con tra vam na capital france sa. Cle men ti foi importante, sobre tu do, para a sua formao como pianista.

    As suas magnficas qualidades de exe-cutante no tardam a ser reconhecidas pelo pblico parisiense. tambm nessa fa se que publica as primeiras obras: uma Grande Sonata para piano, composta e

    dedicada a Sua Alteza Real a princesa de Por-tugal, e um primeiro con cer to para piano. Em 1804, este con certo foi executado em p bli co numa das melhores sa las de Paris, com Bomtempo ao pia no e Rodolphe Kreutzer di ri gindo a orquestra; teve logo enor me aceitao e seria to ca do vrias vezes aps a estreia. Cin co anos mais tarde, em 1809, sur-giu a sua primeira sin fo nia, que foi tocada em pblico no ano seguinte.

    Porm, esse ano de 1810 no se mostrou muito favorvel para os portugueses que resi-diam em Paris. Era, no esqueamos, a poca das invases francesas. Ora, nesse ano, para clera de Na poleo, o exrcito do marechal Massena era derrotado em Por tugal, na batalha do Buaco, e via bloqueado o acesso a Lisboa pelas inexpugnveis li nhas defensivas de Tor-res Ve dras. J no ano anterior a Guia na Fran-cesa fora atacada e ocupada por foras portu-guesas. O clima parisiense tornara-se, portanto, particularmente car regado, e Joo Domin-gos Bom tempo transferiu-se para Lon dres. Alis, por essa altura, o seu amigo Clementi estava igual mente instalado na capital bri-tnica, onde dirigia uma edi tora musical, o que facilitou mui to a publicao das obras de Bomtempo.

    Em Londres, conhece nova men te o xito e a popularida de o que no seria fcil, pois a so ciedade londrina estava ha bi tuada pre-sena e s obras de grandes msicos. Bom-tem po impe-se rapidamente, co mo pianista e compositor. Tor na-se professor de uma das

    ao ideal constitucionalista. S po de r retomar a sua atividade com a vitria liberal. D. Pedro IV que, recorde-se, j abdicara e exercia a regn-cia com o t tu lo de duque de Bragana chama o compositor, confere-lhe a comenda de Cristo e no meia-o professor da jovem rai nha, D. Maria II. A partir de en to, Bomtempo est consa gra do no seu prprio pas. Em 1835, criado o Conservatrio de Msica, que, numa fase inicial, fica anexo Casa Pia, na ala leste do Mosteiro dos Jerni mos; mais tarde, ser transferi do para o Convento dos Caeta nos. Bomtempo dirigi-lo- at sua morte, acumu-lando es se cargo com o de chefe de or questra da Corte.

    certo que o Conservatrio co nhecer algu-mas vicissitudes ad ministrativas por exemplo, em 1836 ser integrado, sob a de sig nao de Escola de Msi ca, no novo Conservatrio Geral de Arte Dramtica, uma cria o de Almeida Garrett; cer to que haver alguns atritos com Garrett, que assumiria a di re o do Conser-vatrio, enquan to Bomtempo se mantinha frente da Escola de Msica, mas, na sua subs-tncia, a obra es ta va feita e continuaria. Tam-bm o prestgio do compositor no seria amea-ado. D. Maria II e D. Fernando II foram padri-nhos de um dos seus filhos (Bom tempo casou em 1836). Quan do ele morreu, em agosto de 1842, a rainha ordenou que, du ran te as ex-quias solenes, o cor po fosse transportado num co che da casa real.

    Ser talvez altura para os por tu gueses rea-vivarem o pbli co re conhecimento que um homem com esta craveira teve na sua poca, e de fazerem isto co nhecendo o seu nome e a sua msica. Afinal de contas, h mais mundo e mais msica alm do rock, do heavy metal e do pimba.

    Exlio russo... em LisboaJoo Domingos Bom tempo o msico do cons ti tu cionalismo em honra do qual, de resto, comps algu mas obras. Os seus esforos pa ra criar e manter uma Socieda de Fi lar mnica em Lis boa foram sem pre prejudicados pe las erup es ab so lutistas chefia das por D. Miguel e inspiradas pe la rai nha D. Carlota Joaquina, que exer cia grande influncia no seu fi lho mais novo. Assim, tanto a Vi la francada como a Abri la da amea aram seriamente a ao e a segurana de Bomtempo. Po rm, as coisas agravaram-se

    se ria men te quando, aps a morte de D. Joo VI, D. Miguel re gres sou a Portugal e, em pouco tem po, me teu a Carta Consti-tu cio nal no ces to dos papis para pro cla-mar-se rei absoluto. No tar da ram as per-se guies aos li be rais, e Bom tem po teve de fu gir. O seu refgio, segundo consta, foi o consulado da Rssia em Lis boa. Ali teve de car, durante qua se toda a guerra civil, ou seja, du ran te praticamente todo o rei na do de D. Miguel I. Reinado cur to, cer to, mas, ainda assim, uma longa permanncia numa ilha rus sa em plena Lisboa

    JOO AGUIAR

    Este artigo foi publicado originalmente na SUPER 114. Joo Aguiar faleceu em 2010.

  • SUPER12

    Da Ribeira das Naus, em Lisboa, saram alguns dos mais importantes navios da histria.

    Aqui nasceram a orgulhosa frota de Pedro `lvares Cabral, a gigantesca nau Madre de Deus

    e o galeo Botafogo, a rica Flor de la Mar, afundada com um tesouro incalculvel,

    e o poderoso So Martinho, que comandou a Armada Invencvel.

    Histrias do Tejo

    Do Tejo zarparam os homens que descobriram meio planeta e explo-raram a outra metade, mas o rio no serviu apenas de ponto de par-tida para a poca mais rica de Portugal. No seu lado direito, perto do Terreiro do Pao, nasce-ram as gloriosas embarcaes que ajudaram a dar novos mundos ao mundo. Foram os tem-pos ureos dos estaleiros lisboetas, durante dcadas os mais prestigiados da Europa.

    Nos primeiros anos dos Descobrimentos, os barcos portugueses eram construdos nas humildes tercenas reais, no local onde atual-mente fica a Rua do Arsenal (o Tejo no estava emparedado, naquele tempo, e a sua margem, feita de praias de areia e terra, encontrava-se umas largas dezenas de metros para dentro da cidade, comparando com os dias de hoje). Dali saram as duas singelas caravelas de 50 toneladas (sensivelmente o mesmo que trs ou quatro autocarros modernos) usadas por Bartolomeu Dias na histrica passagem do cabo das Tormentas, em 1488. Os estaleiros do Porto e de Aveiro tambm contribuam com uma fatia importante de embarcaes, mas a lucrativa aposta na explorao martima exigia uma indstria naval altura. Assim que chegou ao trono, em 1495, D. Manuel I decidiu investir num estaleiro que rivalizasse com os venezianos. Assim surgiu a Ribeira das Naus, paredes meias com o Pao da Ribeira, erguido na mesma altura.

    No foi preciso esperar muito para que os

    novos estaleiros estatais comeassem a encher--se de glria. No vero de 1499, D. Manuel mandou construir uma aprecivel esquadra, para aproveitar o caminho aberto por Vasco da Gama at ndia e transportar para a Europa uma inigualvel quantidade de especiarias, com enorme lucro para a Coroa. A ideia era levantar ncora no incio da primavera de 1500, o que obrigava a esforos redobrados dos trabalhadores. O mnimo atraso empurraria a expedio para o ano seguinte, por causa das correntes e das mones. No foi fcil, mas a Ribeira das Naus mostrou-se altura da tarefa. Em maro, j Pedro `lvares Cabral tinha sua disposio nove naus, trs caravelas e uma embarcao para levar os mantimentos. Todos sabemos como terminou essa viagem: com a descoberta (oficial) do Brasil, no ms seguinte.

    DE ALUNOS A PROFESSORESNo sculo XVI, os estaleiros reais entraram

    na sua fase mais brilhante. Os mestres lusos inspiraram-se e aprenderam com os italianos, a mais avanada indstria naval do seu tempo, sim, mas rapidamente os alunos se tornaram professores. Em poucas dcadas, a construo naval nas praias de Lisboa ganhou fama plane-tria. O Tejo, com o seu descomunal tamanho no esturio e enorme profundidade, propor-cionava as condies ideais para lanar gua os navios de grande porte que se tornariam a imagem de marca da marinha portuguesa na poca dos Descobrimentos. Algumas mentes

    visionrias e a perspetiva de amealhar fortuna nos mares fizeram o resto.

    A Ribeira das Naus vivia numa azfama inin-terrupta. A importncia desta nova indstria era tal que, em 1515, D. Manuel proibiu o muni-cpio de usar a zona ribeirinha entre o Pao da Ribeira e Santos para fins alheios aos estaleiros (o espao era essencial para espalmar as naus). Noite e dia, sbados, domingos e dias religiosos, uma imensido de gente labutava sem parar. Mais de 150 carpinteiros, 200 calafates e deze-nas de ferreiros sustentavam as famlias com o duro trabalho nos estaleiros.

    Ganhavam bem, para a poca segundo um documento de 1606, quando o nmero de carpinteiros j rondava os 650 homens, os oramentos das empreitadas dispensavam 39 por cento para a mo de obra (com o estado a pagar menos um tero do que as empresas particulares). As carreiras de mestre carpinteiro e de calafate estavam entre as mais prestigiadas a que um homem do povo podia aspirar. Muitos ficaram a morar num bairro

    Os melhores estaleiros

    Fragmento da representao de Lisboa includa na obra Civitates Orbis Terrarum, de Georg Braun (1572).

  • Interessante 13

    Tesouro ribeirinhoEm fevereiro de 2012, durante as obras para construir um parque de estacionamento subterrneo por baixo da Praa D. Lus, ao lado do Mercado da Ribeira, foi feita uma descoberta extraor-dinria, a seis metros de profundidade: uma rampa de lanamento de barcos do sculo XVI, ou seja, dos primrdios da Ribeira das Naus. Os especialistas do Instituto Portugus do Patrimnio Arquitetnico e Arqueolgico correram para o local, para coordenar as cuidado-sas escavaes, e puseram a descoberto uma estrutura com 300 metros quadra-dos constituda por troncos de madeira, colocados de forma a permitirem que os navios deslizassem em direo ao Tejo. Para l dos grandes toros de madeira (que devero apodrecer rapidamente, agora que foram resgatados ao lodo que lhes servia de invlucro protetor), en-contraram-se ainda uma bala de canho, uma enorme ncora, um pio, sapatos de homem com grandes taces, um cachimbo, uma casca de coco e imenso cordame. No momento das escavaes, os arquelogos ainda tinham esperana de encontrar um navio inteiro escondido no lodo, mas tal no viria a suceder. Os visitantes do parque de estacionamento encontram hoje ali alguns dos objetos descobertos, assim como apontamentos sobre a histria do local e do achamento das preciosidades. As escavaes revela-ram tambm importantes vestgios roma-nos, como as nforas da foto.

    Este artigo uma adaptao de um dos captulos do livro Histrias do Tejo, de Lus Ribeiro(A Esfera dos Livros, 2013)http://bit.ly/1hrY8Zc

    sobranceiro aos estaleiros, acabadinho de construir, de ruas generosamente largas e arejadas: o Bairro Alto.

    Nas areias do rio, chegavam a estar dois mil homens a cortar madeira para queimar e assim fazer carvo, imprescindvel nas fornalhas. Trabalhavam to perto da gua que, quando a mar subia, tinham de se afastar, arrastando consigo os toros. Entre eles, guardas reais patru lhavam a zona, dia e noite, para assegu-rar que a preciosa madeira usada nos cascos no acabava nas mos de larpios. Tudo isto por baixo das janelas do palcio real. No difcil imaginar o rei, sem grandes alternativas de entretenimento, a passar o dia de olhos postos no corrupio da Ribeira das Naus. Sobretudo D. Manuel, o maior entusiasta da explorao martima, que at escolhera fundar o pao naquele local para ficar perto das tercenas.

    CRISE MADEIREIRAO pas tinha outros estaleiros, mas nenhum

    atingia metade da produo da Ribeira das

    Naus todos os anos, deslizavam para o rio at 40 novas embarcaes. Cada nau com poucas centenas de toneladas (considerada de tama-nho mdio, para os parmetros portugueses) levava 3500 horas de trabalho e implicava o corte de mil rvores, entre sobreiros, pinhei-ros-mansos, pinheiros-bravos e carvalhos. No espanta que, em meados do sculo XVI, hou-vesse j graves problemas de abastecimento de madeira no reino. A acrescentar madeira, a nau levava ainda 600 quilos de linho, 1200 de chumbo, 20 barris de alcatro e 170 mil pregos.

    O custo de cada navio atingia o equivalente a 150 quilos de ouro, mas no final crescia para mais do dobro. O risco de os marinheiros no voltarem a casa fazia-se pagar, e o estado no se ficava a rir se eles no voltassem para rece-ber o ordenado: alm da missa que o reino organizava para os que partiam, as famlias dos homens do mar recebiam adiantado o soldo de um ano. Feitas as contas, o preo total de uma nau apontada ndia ultrapassava uns estratosfricos 300 quilos de ouro (mais

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    de dez milhes de euros, a preos atuais). O investimento, no entanto, compensava. Uma viagem bem sucedida dava facilmente lucros acima de 200%.

    Para espremer cada ida ndia at ltima gota, comearam a construir-se naus e galees cada vez maiores. Frei Nicolau de Oliveira, oli-sipgrafo e importante religioso do fim do sculo XVI e incio do sculo seguinte, dizia que as naus portuguesas eram to grandes e espa-osas que a carga que levavam no poderia caber em quatro das maiores [naus] da ndia de Castela. A ndia de Castela referia-se, claro, Amrica (Colombo julgava ter chegado ndia, e por causa desse equvoco que aos nativos do continente americano ainda hoje chamados ndios).

    RIQUEZAS AO FUNDOLogo em 1502, na alvorada da Rota das Espe-

    ciarias, saiu da Ribeira das Naus a Flor de la Mar, uma prola flutuante com 400 toneladas de peso que se tornaria um prottipo para as naus das dcadas seguintes e, literalmente, um tesouro flutuante. Em 1511, com um currculo enriquecido por duas viagens ndia e a par-ticipao nas batalhas que conquistaram Diu, Goa e Malaca, o navio demonstrava uma resistncia impressionante (seis a oito anos era a esperana de vida de uma boa nau meio sculo mais tarde, e muitas no duravam mais do que uma viagem). A rodagem e o peso dos anos j comeavam a dar sinais, mas o seu tamanho levou Afonso de Albuquerque a esco-lh-la para transportar para Lisboa toneladas de riquezas, roubadas em Malaca ou oferecidas pelo reino de Sio. O prprio conquistador portugus seguiu a bordo, no querendo apartar-se do tesouro.

    A ganncia sairia cara a Portugal. Ainda no estreito de Malaca, uma tempestade abateu-se sobre a velha nau. Atafulhada com umas 200 arcas de ouro, marfim, pedras preciosas e dia-mantes do tamanho de um punho, foi presa fcil para a tormenta. A 20 de novembro de 1511, a Flor de la Mar seguiu para o fundo do oceano ndico. Afonso de Albuquerque conse-guiu improvisar uma jangada e salvar-se, mas a maioria da tripulao e toda a carga perde-ram-se. O tesouro nunca foi encontrado, ape-sar de ter sido e continuar a ser incansavel-mente procurado ao longo de cinco sculos. Para se ter uma ideia do seu valor, diga-se que um caador de tesouros norte-americano gas-tou, nos ltimos anos, mais de 15 milhes de euros em busca dos destroos do mais valioso naufrgio da histria martima.

    MEMRIA FUTEBOLSTICASe a Flor de la Mar valia, mais do que tudo,

    pela sua carga, o galeo So Joo Batista era um portento por si mesmo. Encomendado por D. Joo II e lanado ao Tejo a 24 de julho de 1534

    (por curiosidade, 299 anos exatos antes do desembarque em Lisboa do exrcito liberal, sensivelmente no mesmo stio), o navio pesava mil toneladas, algo nunca antes visto no mundo. Alm disso, estava armado com uns inditos 366 canhes de bronze, o que, aos olhos inimigos, acrescentava susto ao medo. No navegava pelos oceanos uma nica embarcao que lhe fizesse frente.

    A sua capacidade blica granjeou-lhe a alcunha de Botafogo e viria a revelar-se decisivo para as pretenses do espanhol Carlos I. O monarca (tambm dono do ttulo de imperador Carlos V , lder do Sacro Imprio Romano-Germnico) pediu o galeo emprestado a D. Joo II para ata-car Tunes e expulsar os otomanos. Integrado

    na frota, o Botafogo massacrou as defesas da cidade com uma chuva de fogo e depois arremeteu contra os grilhes que impediam a entrada no porto. O esporo do navio conse-guiu rebentar as grossas correntes e permitiu que os outros barcos avanassem e os seus 60 mil homens conquistassem Tunes em nome do cristianismo.

    A reputao do grande navio portugus fez o seu nome sobreviver ao tempo de uma forma bem original e muito, muito longe das guas que o acolheram nascena: hoje, Botafogo um popular clube de futebol brasileiro. A histria comea com o encarregado pela artilharia do galeo, um tal Joo de Sousa Pereira, que, por causa da sua carreira a bordo, passou a ser

    Histrias do Tejo

    Rplica da mtica Flor de la Mar no Museu Martimo de Malaca (Malsia).

  • Interessante 15

    conhecido pela mesma alcunha; emigrado para o Brasil, recebeu de oferta terras no sul da cidade do Rio de Janeiro; a zona e a enseada herda-ram-lhe o nome; no final do sculo XIX, ali nasceu o clube desportivo que daria origem ao Botafogo de Futebol e Regatas.

    EM SOCORRO DE ESPANHAA indstria naval de Lisboa continuou a

    fazer jus aos seus cintilantes crditos, e Espa-nha voltaria a beneficiar deles. Em 1580, ao mesmo tempo que a morte de D. Sebastio provocava a Unio Ibrica, a Ribeira das Naus dava luz o So Martinho, o galeo com 55 metros de comprimento e 48 gigantescas bocas de fogo que serviria de lder da Armada

    Invencvel, no ataque a Inglaterra, oito anos mais tarde. Durante a batalha, o So Martinho viu-se rodeado de navios ingleses, com o cor-srio Francis Drake a comandar pessoalmente o cerco. O galeo portugus foi atingido por meia centena de balas de canho, mas con-seguiu responder na mesma moeda, fugir e sobreviver para contar a histria. O poder de fogo deste e de outros navios portugueses, no entanto, no impediu a derrota da Armada Invencvel.

    Em 1589, os estaleiros do Tejo voltaram a produzir um mastodonte nutico: a Madre de Deus, um navio com perto de 1600 toneladas, 50 metros de comprimento e sete pisos, feito de propsito para a Rota das Especiarias. No

    durou muito nas mos ibricas: no regresso da sua segunda viagem ndia, quando seguia ao largo dos Aores, meia dzia de navios cors-rios ingleses tomaram e saquearam a Madre de Deus, aps uma longa e mortfera troca de tiros. O ataque subtraiu ao reino de Portugal centenas de toneladas de valiosssimas espe-ciarias, ouro, seda, pedras preciosas e marfim, mas a nau foi poupada, contra os costumes da poca: os ingleses ficaram to deslumbrados com a sua imponncia (trs vezes maior do que o maior navio britnico) que decidiram lev-la para casa.

    A chegada ao porto de Dartmouth foi um circo. A populao das redondezas acorreu a ver a nau, mais alta do que qualquer edifcio na zona, e os bucaneiros que tinham enchido os bolsos com o lucrativo saque (um dos maiores das crnicas martimas) tornaram-se, eles pr-prios, vtimas de assaltos em massa. Justia potica

    REI DO MUNDOA Ribeira das Naus no perdeu fulgor com a

    passagem dos anos e continuou a gerar navios histricos para Portugal. Como a fragata Santa Rosa, herona na batalha contra os turcos de 1717, apenas para sucumbir uma dcada mais tarde a um terrvel naufrgio perto do Brasil (apenas sete dos 700 homens que iam a bordo sobreviveram aos tubares), ou a nau Nossa Senhora da Conceio, combatente na mesma batalha e companheira de destino, num trgico naufrgio na costa portuguesa, ou a nau Prncipe Real, considerada por muitos a mais intimidante de sempre do seu gnero, ou a primeira nau Vasco da Gama, em 1792, uma das principais na esquadra que transportou a famlia real para o Brasil em 1807, para fugir ao exrcito de Junot, ou o cruzador Rainha D. Amlia, de 1901, o primeiro navio em ao construdo em Lisboa, que teria um papel pre-ponderante na revoluo de 5 de outubro de 1910, logo renomeado de NRP Repblica, ou os trs contratorpedeiros Tejo, feitos entre 1904 e 1935 e batizados com o nome do rio que os viu nascer, ou, finalmente, o aviso de segunda classe Joo de Lisboa, o ltimo navio a sair dos estaleiros da capital, em 1936.

    Nessa altura, h muito que a Ribeira das Naus mudara de nome. Em 1759, passara a Arsenal Real da Marinha, e, em 1910, simplesmente Arsenal da Marinha. Foi j com essa designao que serviu de palco a um dos mais sangrentos episdios da turbulenta juventude da Rep-blica: aqui acabaram executados vrios heris da revoluo, na infame Noite Sangrenta de 1921.

    A decadncia dos ltimos anos no apagou a ilustre histria da Ribeira das Naus. A mesma Ribeira das Naus que levou o todo-poderoso imperador Carlos V a dizer, certa vez: Fosse eu rei de Lisboa e em pouco o seria do mundo.

    L.R./A.R.

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    Quinze dias depois do eclipse solar de dia 20 de maro, um eclipse da Lua a 4 de abril completa a primeira estao de eclipses deste ano, mecanismo percebido ainda antes do incio da nossa era e cujo conhe-cimento foi sendo aperfeioado ao longo dos sculos seguintes. pra-ticamente consensual a ideia de que a interpretao cientfica dos eclipses e a explorao das suas inter-relaes com ou tros fen menos na tu -rais comeou com Hiparco, astr nomo , gegrafo e matemtico g rego que viveu no sculo II a.C. Para alm de contributos que levaram determinao da distncia entre a Terra e a Lua, da classificao das estrelas em grandezas e da elaborao do primeiro catlogo estelar, foi Hiparco quem mediante observaes e clculos minuciosos des-cobriu o movimento de preces-so dos equincios, refletiu sobre as suas possveis causas e percebeu algumas consequncias. Era j conhe-cido o caminho dos planetas pelo cu ao longo de uma faixa que ainda hoje designa-mos por zodaco, em cuja parte central passa uma linha imaginria (a eclptica) que percorre todo a esfera celeste. Conhecia-se tambm a inclinao entre o equador celeste (como que uma imagem do equador da Terra na esfera celeste) e, por no coincidirem, era certo que eles se cruzariam em dois pontos, designados por pontos equinociais ou, sim-plesmente, equincios. Um deles o ponto vernal marcava o incio da primavera, numa data em que o Sol era visto nascer exatamente a este e em que a durao do dia era igual da noite. Sendo atribuda uma data ao momento em que o Sol passava no ponto vernal e sabendo que constelaes se encontravam por detrs dele (o ocaso helaco das estrelas constitua, ento, um notvel mtodo de o conhecer indiretamente), era fcil afirmar que determinada estao do ano comeava com o Sol no Touro, nos Peixes ou na Balana, e saber em que direo ele se encontrava em determinada data.

    Um eclipse da Lua j se sabia s podia ocorrer em fase de Lua Cheia, ocasio em que ela se encontra numa posio diametralmente

    oposta do Sol. Assim, sabendo em que posio da esfera celeste se encontrava a nossa estrela, era possvel esperar pelo eclipse lunar e saber, antecipadamente, que estrelas se encontrariam nas proximidades da Lua. O que Hiparco verificou foi que a posio da Lua estava deslo-cada relativamente ao previsto, deslocamento esse que deveria ser igual quele que o Sol apresentaria relativamente ao ponto tido como certo, na data em que o fenmeno ocorria. De tal constatao tornava-se bvio que tinha havido um deslocamento das datas relativa-mente s estrelas, ou, o que o mesmo, que o ponto equinocial (o equincio) se havia deslo-cado. Tal movimento dos equincios (acontecia o mesmo com o equincio oposto), designado por precesso dos equincios, apresenta um valor anual extraordinariamente pequeno, mas, apesar disso, Hiparco conseguiu calcul--lo. Cerca de 50 segundos de arco (menos de um minuto!) muito pouco, mas, ao fim de

    Caadores de Estrelas

    Eclipse total da Lua

    M`XIMO FERREIRA

    Diretor do Centro Cincia Viva de Constncia

    milhares de anos, tem consequncias consi-derveis.

    Tendo-se explicado que a precesso conse-quncia de um movimento cnico da Terra de

    que resulta uma orientao do seu eixo de rotao, a qual vai variando ao longo de

    milhares de anos (o crculo de pre-cesso descrito em perto de 26

    mil anos), que tem como conse-quncia a variao da posio do polo. Atualmente, o Polo Celeste Norte fica muito perto da Estrela Polar, mas, na poca dos Descobrimen-tos, por exemplo, estava a 3,5 graus; h 12 mil anos, situava-se perto da estrela Thuban, da constelao do Drago, e daqui a mais 12 mil anos ficar nas proxi-midades de Vega, a estrela mais brilhante da Lira.Para alm da alterao das

    posies dos polos, alteram--se tambm as constelaes

    em frente das quais o Sol passa em cada data. Se certo que, de

    ano para ano, ou mesmo de sculo para sculo, a diferena no facil-

    mente detetvel, ao fim de mil ou dois mil anos ela j considervel. Parece haver coin-

    cidncia entre a citao bblica da adorao do bezerro de ouro com o facto de a prima-vera comear quando o Sol se encontrava em frente da constelao do Touro, do carneiro pascal com o Sol na mesma data na cons-telao do Carneiro e o smbolo utilizado pelos cristos para se identificarem, como resultado do conhecimento de que a primavera come-ava com o Sol nos Peixes.

    O eclipse lunar de 4 de abril deste ano, apesar de no ser visvel a partir de Portugal, poder muito bem servir para evocar o con-tributo dos estudos das suas causas e efeitos para a evoluo do conhecimento, mediante trabalho cuidado e persistente, ao longo de sculos e sculos. Poder, igualmente, servir de pretexto para estudo de histrias e lendas que em torno do fenmeno (e suas inter--relaes) se estabeleceram e avaliar quais delas podero, eventualmente, ter explicao cientfica ou, outras, em que apenas termos e fantasias se podero associar aos reais meca-nismos da natureza.

    Equincio de setembro

    Equincio de maro

    Equador celeste

    Eclptica

    Polo Celeste Norte (e Estrela Polar)

    Polo Celeste Sul

  • Interessante

    O cu de abrilO s dois planetas de maior brilho que podemos ver no cu Vnus e Jpiter so agora observveis, simulta-neamente, ao princpio das noites, e vo proporcionar uma conjuno interessan-te de ver, daqui a cerca de trs meses. At l, perceberemos que Vnus se aproxi-mar de Jpiter, dado que este se desloca muito mais lentamente, em consequncia de a sua rbita se situar muito mais longe do Sol. Se certo que o deslocamento referido se processa de oeste para este (da direita para a esquerda), em relao s estrelas (que parecem manter as suas posies relativas), muito mais evidente que, de-vido ao movimento de rotao da Terra, todo o cu roda da esquerda para a direi-ta, fazendo com que, ao m de algumas horas, os planetas citados e as regies do cu em que se projetam mergulhem no horizonte, a oeste. Assim, poderemos vericar, no princpio deste ms de abril, que Vnus tem o seu ocaso cerca de cinco horas antes de Jpiter e que essa diferena diminuir progressivamente, at que quando se encontrarem lado a lado ambos cruzaro o horizonte no mesmo instante. Como curiosidade, rera-se o facto de,

    em cerca de duas semanas, Vnus passar da direita do enxame das Pliades para a sua esquerda e que nesta ltima posio (no dia 21) poder tomar-se como o vrtice de um pequeno tringulo que ter a estrela Aldebar (da constelao do Touro) num outro vrtice e, no terceiro, a Lua, que ento se apresentar como um no crescente.Este movimento aparente da esfera ce-leste, a que costuma chamar-se rotao diria do cu, far com que, com o pas-sar das horas, as constelaes observveis no quadrante de sudoeste como Touro, Orionte, Cocheiro, Gmeos, Co Menor e Co Maior se aproximem do hori-zonte e acabem por se esconder abaixo dele, enquanto as do quadrante sudeste como, por exemplo, Leo, Virgem, Corvo e Boieiro se elevam at passar na direo de sul, trazendo consigo outras que, no sendo visveis s primeiras horas da noite, aparecero mais tarde, como a Balana e o Escorpio.Um observador voltado para norte perceber tambm esta consequncia da rotao diria do cu em torno de um ponto xo que se encontra muito perto da Estrela Polar e a que muitas vezes se chama Polo Celeste Norte ou, simples-

    mente, PCN. Todas as outras estrelas giram em torno do PCN, descrevendo arcos de tanto maior amplitude quanto mais longe se encontrarem dele. Por exemplo, as guardas da Ursa Maior des-crevem arcos de maior amplitude do que as da Ursa Menor, mas, em ambos os ca-sos, sucientemente pequenos para que em latitudes idnticas s de Portugal no intersetem o horizonte, razo por que se designam circumpolares ou de perptua apario. No entanto, outras angularmente mais afastadas da Polar como Capela, da constelao do Cochei-ro, ou Arcturo, do Boieiro , descrevem arcos mais amplos, razo por que cruzam o horizonte nos quadrantes de nordeste, no momento do seu nascimento, e de noroeste, quando tm o ocaso.Ao princpio das noites de abril, veremos sempre a Cassiopeia a rasar o horizonte (culminao inferior), sem, no entanto, o intersetar, praticamente em simultneo com a culminao superior (a passa-gem na sua maior altura) da Ursa Maior. Quanto a estrelas (ou constelaes) que no sejam circumpolares, veremos, por exemplo, Aldebar a descer para o ocaso, enquanto Arcturo caminha para a culminao superior.

    ES

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    17

    A Ursa Maior e alguns dos objetos celestes mais interessantes da sua vizinhana.

  • SUPER18

    Mapa do Cu

    Vire-se para sul e coloque a revista sobre a cabea, de modo que a seta que apon ta da para norte. Se se voltar em qual quer das outras direes (norte, este, oeste), pode ro dar a revista, de modo a facilitar a leitura, desde que mantenha a seta apontada para norte. Os planetas e a Lua estaro sempre perto da eclptica. O cu representado no mapa (no que se refere s estrelas) corresponde s 21.30 horas do dia 5. A alterao que se verica ao longo do ms, mesma hora, no muito importante. No entanto, com o decorrer da noite, as estrelas mais a oeste iro mergulhando no horizonte, enquanto do lado este vo surgindo outras, inicialmente no visveis.

    Como usar

    As fases da LuaLua Cheia Dia 4 s 13h06Quarto Minguante Dia 12 s 03h44Lua Nova Dia 18 s 19h57Quarto Crescente Dia 26 s 00h55

  • Interessante 19

    NORTE

  • SUPER20

    Espao

    Aps ter percorrido 4000 milhes de quilmetros durante nove anos,

    uma nave da NASA dispe-se a estudar pela primeira vez na histria o planeta-ano e os seus satlites. A expedio terminar

    na enigmtica cintura de Kuiper.

    A odisseia da New Horizons

    Tangente a PLUTO

    Pluto est, literalmente, envolto numa nuvem de mistrio. Neve de metano, criovulces e uma atmos-fera que aparece e desaparece so algumas das hipteses avanadas pelos cien-tistas sobre o pequeno corpo celeste, de tama-nho inferior Lua. Descoberto h 85 anos, a Unio Astronmica Internacional decidiu, em 2006, retir-lo da lista dos planetas do Sistema Solar e catalog-lo como ano. Pela mesma altura, a NASA lanava para o espao a misso New Horizons, a primeira a explorar aquele astro e o seu maior satlite, Caronte. Nove anos depois, com mais de 4000 milhes de qulmetros no currculo, comeou a contagem decrescente para a grande aventura cientfica: o encontro, fugaz (na realidade, uma tan-gente), ter lugar no prximo dia 14 de julho.

    Pluto um novo tipo de planeta. Ter neve de metano? Vulces de gelo? Oceanos subterrneos? As possibilidades so infinitas, afirma Alan Stern, astrofsico do Southwest Research Institute (Estados Unidos) e investi-gador principal do projeto: A New Horizons a primeira misso de reconhecimento a pene-trar na classe de planetas mais numerosa do Sistema Solar.

    Estes corpos espaciais, denominados trans-neptunianos, tm uma rbita situada para l da de Neptuno. Pluto o maior deles, mas h dezenas de outros, disseminados pela cintura de Kuiper, uma regio do cosmos que tam-bm ser visitada pela New Horizons. Trata-se

    de dois feitos sem precedentes nas viagens espaciais. Temos muitas expectativas, no s porque se aproximar de Pluto, mas porque, posteriormente, explorar outro objeto trans-neptuniano. Falamos dos pais dos cometas de curto perodo, como o 67P, visitado pela mis-so Rosetta, explica o astrnomo Jos Luis Ortiz. tambm ali que dever ter-se formado o cometa que acabou com os dinossauros.

    UM MISTRIO COMPLETOA nave que vai explorar o pequeno mundo

    gelado tem 2,5 metros de lado, pesa 478 quilos e leva a bordo sete instrumentos de medio. Com estas ferramentas, tratar de cartogra-far as superfcies de Pluto e do seu satlite Caronte, que mede quase metade do planeta (1200 km de dimetro). Alm disso, ficaremos a saber como so a composio e a tempera-tura dos dois mundos.

    No sabemos que aspeto poder ter. Ima-ginamos uma paisagem quase completamente de gelo, talvez parecida com a Antrtida. No entanto, os seus componentes so diferentes: no se trata de neve e gelo de gua, mas de azoto molecular e metano, sobretudo, pre-cisa Ortiz.

    A sonda fotografar os do is corpos, incluindo as suas atmosferas. No caso do pla-neta, julga-se que que esta camada desaparece periodicamente. Os astrnomos creem que, quando o astro se encontra na parte da sua rbita mais prxima do Sol, recebe calor sufi-

    Objetivo principal. Em meados de julho, este veculo no tripulado passar a apenas 9600 quilmetros do distante e gelado Pluto. Os seus instrumentos proporcionaro dados sobre a superfcie, a composio e a estrutura daquele mundo descoberto em 1930 pelo astrnomo norte-americano Clyde Tombaugh.

  • Interessante21

    JOHNS HOPKINS UNIVERSITY / SOUTHWEST RESEARCH INSTITUTE

  • SUPER22

    ciente na superfcie para que os gelos subli-mem, passando diretamente do estado slido a vapor, o que explicaria a sua enigmtica atmosfera.

    Quando se afasta do Sol e se encontra na parte mais distante da sua rbita, arrefece, e esses gases atmosfricos condensam, um fenmeno que produziria algo parecido com neve sobre a superfcie, adianta Ortiz. No obstante, segundo um estudo seu publicado na revista Icarus, a envoltura gasosa no che-garia a desaparecer completamente.

    PERIGO NO HORIZONTEA New Horizons tambm se prope procu-

    rar anis como os de Saturno e novos satli-tes em torno de Pluto. J depois de a sonda ter sido lanada, o telescpio espacial Hubble

    Uma cmara de alta resoluoobter imagens da superfcie

    descobriu dois novos satlites plutonianos, o que colocou em estado de alerta os respon-sveis do projeto: A descoberta acidental da quarta lua de Pluto, em 2011, batizada como Crbero, revelou a possibilidade de os perigos no sistema serem maiores do que tnhamos previsto, reconhece Michael Buckley, inves-tigador do Laboratrio de Fsica Aplicada da Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos) e porta-voz da misso.

    Como se fosse pouco, em 2012, o Hubble detetou uma quinta lua, Estgia, o que obrigou a equipa a esquadrinhar em pormenor a regio espacial em volta do planeta, para descobrir se teriam de fazer alteraes na rota prevista ou modificar a estratgia da passagem: As nos-sas investigaes mostram que, a menos que algo inesperado surja at julho, o plano de voo

    que tramos seguro, tranquiliza Buckley. Em todo o caso, os responsveis continuam muito atentos quela zona do cosmos, para ten-tar descobrir se h novos corpos que tenham escapado ao Hubble e aos observatrios terrestres, o que poderia comprometer o sucesso da ambiciosa odisseia.

    A ser necessrio fazer alguma correo, entraria em jogo a grande distncia que nos separa do planeta, a ninharia de 4800 milhes de quilmetros (Pluto orbita a uma distn-cia mdia do Sol 39 vezes superior que nos separa do astro-rei). Um sinal de rdio da New Horizons, mesmo viajando velocidade da luz no vcuo espacial, leva quatro horas e meia a chegar Terra, o que impede qualquer tenta-tiva de controlo da nave em tempo real. Por isso, a sonda foi concebida para funcionar de forma autnoma, com base em comandos enviados com muita antecedncia.

    A todos estes riscos, h que somar o p interestelar e o material que rodeia as luas de Pluto, fruto do impacto de meteoroides

    20072014 Durante a maior parte dos quase oito anos

    que decorreram desde que abandonou as imediaes de Jpiter, a sonda avanou em estado de hibernao, enviando sinais semanais Terra para assegurar que tudo funciona como previsto. Durante cinquenta dias por ano, despertou para enviar dados

    cientcos e realizar calibraes.

    Fevereiro-maro de 2007 Como se fosse uma funda gigante,

    a gravidade de Jpiter d um impulso nave, o que permite aumentar

    a sua velocidade em 14 400 km/h e poupar trs anos de viagem.

    19 de janeiro de 2006 A nave de 478 quilos lanada por um

    Atlas V 551 de cabo Canaveral, na Flrida.

    SWAP

    NA

    SA

    Asonda New Horizons o objeto mais veloz jamais enviado para o espao pela humani-dade. A uns 58 500 km/h, percorre diariamente quase um milho e meio de quilmetros. Mes-mo assim, levou mais de nove anos a alcanar o seu principal objetivo, o sistema Pluto-Caron-te, e passaro mais trs at se aproximar dos ob-jetos da cintura de Kuiper, que dever estudar a seguir. Para chegar to longe, foi fundamental o impulso gravitacional de Jpiter, que em 2007 fez a nave ganhar velocidade. Nesta infografia, podem ver-se as principais etapas da viagem da New Horizons e o instrumental que transporta, para analisar diferentes caractersticas de Pluto e dos seus satlites.

    A longa viagem de um recordista espacial

  • Interessante 23

    Outono de 2014 Comeam a levar-se

    a cabo monitorizaes de forma regular,

    uns 200 dias antes da data marcada

    para a maior aproximao a Pluto.

    Alice Espectrmetro ultravioleta, utilizado para medir a composio do gs atmosfrico.Ralph Combina um espectrmetro infravermelho (LEISA), para fazer mapas da composio da superfcie, e uma cmara tica a cores (MVIC), para elaborar os mesmos mapas e registar a geologia e a morfologia do planeta.REX Radiotelescpio para medir a composio e a temperatura da atmosfera.LORRI Telescpio tico que proporcionar imagens de alta resoluo da superfcie dos dois corpos.

    PEPSSI Detetar e analisar partculas que se escapem da atmosfera plutoniana. SWAP Desenhado para registar as propriedades do vento solar (o uxo de partculas carregadas que emanam do Sol a grande velocidade), tambm ser utilizado para procurar a magnetosfera que, em teoria, rodeia Pluto. SDC Dispositivo utilizado para medir os impactos de p na nave durante toda a sua trajetria, e para analisar a sua densidade e composio. Foi concebido e construdo por uma equipa de estudantes da Universidade do Colorado.

    Julho de 2015A New Horizons passar a 9600 quilmetros

    da superfcie do planeta-ano. Enquanto se aproxima, os cientistas esperam que

    a nave envie continuamente dados das suas observaes, vinte e quatro horas por dia.

    20182019 Se a NASA aprovar o prolongamento da misso, a New Horizons visitar

    um ou mais corpos da cintura de Kuiper, situados para l de Pluto.

    PEPSSI

    REX

    Alice

    Ralph

    Student Dust Counter (SDC)

    LORRI

    Os sete magnficos da New Horizons

    NA

    SA

    A aventura est servidaO astrofsico norte-americano Alan Stern dirige esta misso com destino a Pluto, que, segundo ele, pode ser comparada mtica aproximao a Neptuno pela sonda Voyager 2, em 1989.

  • SUPER24

    Pela primeira vez, estaremosem plena cintura de Kuiper

    (mais pequenos do que os asteroides), que poderiam danificar a nave.

    NOVE ANOS DE CAMINHODesde que foi lanada de cabo Canaveral, na

    Flrida, em 9 de janeiro de 2006, a New Hori-zons atravessou as rbitas de Marte, Jpiter, Saturno, Urano e Neptuno. A gravidade de Jpiter impulsionou-a como uma funda na sua viagem s fronteiras do Sistema Solar. Para gastar o mnimo de energia, hibernou durante 1873 dias, o que a tornou pioneira deste modo de voo, que reduz simultaneamente os custos e o desgaste dos instrumentos.

    Nos seus nove anos de trajetria, a sonda foi registando medies com os seus diver-sos instrumentos, como o SDC: Recolhemos dados ao longo dos anos, graas ao que temos hoje informao sobre o tamanho, a densi-dade e a distribuio do p interestelar no nosso sistema, diz Erin Wood, coordenadora educativa no Laboratrio de Fsica Atmosf-rica e Espacial (LASP) da Universidade do Colo-

    LEX

    ICO

    N

    rado em Boulder. A localizao e a densidade deste p ajudar-nos-o a decifrar como se formou e evoluiu o Sistema Solar. O SDC o primeiro instrumento de uma misso da NASA integralmente desenhado e construdo por estudantes universitrios, que esto agora encarregues de analisar os dados enviados pela nave.

    Outro dos instrumentos, o Ralph, tambm j comeou a trabalhar: obteve imagens infra-vermelhas e visveis da superfcie de Jpiter em 2007, quando a sonda se aproximou do planeta. Alm disso, graas sua cmara teles-cpica de alta resoluo, a LORRI, a New Hori-zons j conseguiu fotografar Pluto e Caronte separadamente, algo nunca antes conseguido.

    Os maiores feitos cientficos da aventura ocorrero nos prximos meses. O dia 14 de julho ser aquele em que a New Horizons passar perto de Pluto, a 9600 km; nesse momento, estar a 27 mil km de Caronte. Antes e depois, a nave ter apenas meia hora para obter as melhores imagens dos dois mundos,

    no espectro visvel e no infravermelho, com uma resoluo que, no caso do planeta, chegar aos 60 metros por pxel.

    As datas escolhidas para este encontro to breve quanto histrico no surgiram por acaso. Uns meses mais tarde, o planeta estaria demasiado longe do Sol, devido sua rbita excntrica (muito elptica), o que, como se viu, arrefeceria a sua superfcie. Fruto desta baixa da temperatura, a atmosfera condensaria e tornaria mais difcil a obteno de fotografias. Mesmo assim, medida que se afasta do astro--rei, vai mergulhando numa espcie de noite rtica sem fim, onde h cada vez menos luz e se torna praticamente impossvel a obteno de imagens de astros no luminosos.

    Ainda antes do encontro crucial, as cmaras comearo a disparar em meados de maio, e chegaro Terra as primeiras imagens com alguma resoluo. Um dia de Pluto equivale a 6,4 terrestres. Por isso, duas semanas (isto , dois dias plutonianos) antes do encon-tro, os cientistas estaro atarefados a recolher imagens de 12 em 12 horas, para poder com-par-las e verificar quais as alteraes durante uma rotao completa.

    Enquanto a sonda estiver perto do planeta, receber-se-o dados durante 24 horas por dia,

    Eris

    Disnomia

    Pluto Makemake Haumea

    Sedna 2007 OR10 Quaoar Orcus

    Estgia

    NixCrbero

    Caronte

    Hidra

    Namaka

    Hiiaka

    Weywot

    Vanth

  • Interessante 25

    pelos gigantes gasosos, mais exterior) provo-cou a emergncia, h apenas 23 anos, de um novo paradigma na explorao espacial.

    Com a ajuda do telescpio Hubble, os inves-tigadores escolheram trs possveis candida-tos a estudar, e cabe agora NASA aprovar uma extenso da misso. Os trs aspirantes medem entre 20 e 55 km de dimetro, e esto situados a mais de 1600 milhes de quilmetros de Pluto. 2018 e 2019 so os anos avanados para a aproximao a um deles: Este vero, depois do encontro com Pluto, a equipa da New Horizons trabalhar com a NASA para escolher o melhor dos trs, diz Buckley. A seguir, ser feita uma proposta formal para que a agncia espacial norte-americana amplie o prazo e o mbito da misso.

    Hoje em dia, Pluto e os seus companhei-ros da cintura de Kuiper marcam a fronteira da explorao e do conhecimento humanos, afirma Stern, diretor deste programa da NASA. Embora ainda parea invivel fazer pousar neles um rob como o Curiosity, os astrofsi-cos confiam que a New Horizons proporcionar informao suficiente para poder conceber futuras incurses quelas zonas mais remotas do Sistema Solar.

    L.C.

    que chegaro rede do Espao Profundo da NASA, com estaes em Camberra (Austrlia), na Califrnia e perto de Madrid. De cada uma das estaes recetoras, os dados sero envia-dos para o centro de operaes da misso, no Laboratrio de Fsica Aplicada da Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos). Ao fim de, no mximo, nove meses, toda a informao ser arquivada no N de Pequenos Corpos do Sistema de Dados Planetrios da NASA, para poder ser usada pela comunidade cientfica.

    DEPOIS DO ENCONTROA viagem no ter chegado ao fim no

    momento da mxima aproximao e nos minutos imediatamente a seguir (devido velocidade extraordinria a que viaja, a sonda ficar rapidamente demasiado longe de Pluto

    para poder fazer mais observaes diretas do planeta ou dos seus satlites). A seguir, j na sombra projetada pelos dois astros, a sonda procurar descobrir se existem anis, e de que forma a luz solar atravessa as suas atmosferas. Tambm ser mais fcil, nessa posio, apre-ciar se as superfcies de Pluto e Caronte so lisas ou rugosas. Feitas estas ltimas anlises, a New Horizons continuar o seu caminho em direo cintura de Kuiper: Pensvamos que Pluto era o final do nosso sistema planetrio, mas verificou-se que apenas um marco que indica a existncia de uma nova zona de plane-tas-anes gelados, a cintura de Edgeworth, explica Stern.

    A descoberta desta terceira zona do Sistema Solar (alm da dos planetas rochosos interio-res, que inclui a Terra e Marte, e da formada

    NA

    SA

    / E

    SA

    / G

    . BA

    CO

    N (

    ST

    SC

    I) Um pouco de sol. Pluto o maior objeto do Sistema Solar avistado para

    l da rbita de Neptuno, mas h outros (pgina oposta, em comparao com

    a Terra). Fazem parte da cintura de Kuiper, que ca a 6500 milhes de

    quilmetros do Sol (no centro da imagem). Em baixo, a New Horizons na sala limpa

    do Centro Espacial Kennedy, pronta para ser lanada na sua incrvel viagem.

    NA

    SA

  • SUPER26

    Teclas com FUTURO

    Tecnologia

    Aprender a programar

    O mundo j no faz sentido sem computadores e internet. Contudo, a Europa no est a gerar os profissionais necessrios para manter viva a

    indstria das tecnologias da informao. Soluo? Ensinar linguagem de cdigo nas escolas

    bsicas e transformar os jovens desempregados nos programadores informticos do futuro.

    Eis o que est a fazer a Academia de Cdigo, um novo projeto que quer chegar a todo o pas.

    A pesar de as taxas de desemprego estarem no vermelho, principal-mente entre os mais jovens, a Comis-so Europeia lana o aviso: em 2020, a Unio Europeia ter menos pessoas a traba-lhar na rea das tecnologias da informao e da comunicao (TIC) do que o necessrio. Ao todo, e se tudo se mantiver como est agora, haver 900 mil profissionais em falta, colo-cando em risco o crescimento do Velho Conti-nente no setor digital. A sempre imparvel evo-luo tecnolgica, o nmero crescente de dis-positivos mveis e a difuso das redes sociais criou novas necessidades que precisam de ser supridas. Em Portugal, a fora de trabalho dentro das TIC chegava, em 2012, s 97 mil pessoas, mas o nmero acabou por cair para os atuais 95 mil. Um grande problema que tem de ser resolvido, pois sero precisos, pelo menos, mais 15 mil programadores at 2020, embora o ideal fosse haver mais 75 mil do que os que temos agora.

    Este desajuste entre a grande procura de profissionais e a pouca oferta levou Joo Magalhes e Domingos Guimares a criarem a Academia de Cdigo, com o intuito de preparar e formar os programadores informticos das prximas dcadas. Quem so os alvos? Os licen-

    ciados desempregados que no encontram trabalho em outras reas e os alunos do primeiro ciclo do ensino bsico.

    Na prtica, quer-se ensinar aos mais velhos as linguagens de programao mais usadas nas empresas tecnolgicas. Para os mais novos, o que se pretende que consigam criar histrias animadas, programas interativos e pequenos jogos, usando uma interface simples, adaptada para quem nada percebe de programao. O mais importante desmistificar um conjunto de preconceitos que existe em torno de quem trabalha nas TIC. No so pessoas aborrecidas e de aspeto tristonho, nem to pouco antisso-ciais com culos de massa e faces bexigosas, alm de que vai longe o tempo em que se tra-balhava em cubculos parecidos com prises: os ambientes de trabalho nas novas empresas tecnolgicas so autnticos parasos, quando comparados com os de outras profisses, e preciso no esquecer que se ganha acima da mdia.

    Por agora, o projeto destinado s crian-as do ensino bsico tem o apoio da Cmara Muni cipal de Lisboa e da Fundao Calouste Gul ben kian, que investiu 120 mil euros na ini-ciativa.

    PROGRAMADORES DE PALMO E MEIOA ideia viu a luz do dia em 2014, quando foi

    apresentada StartUp Lisboa, a incubadora tecnolgica criada pela autarquia lisboeta, que apoia o surgimento de novos projetos empresariais na cidade. No incio deste ano, uma das partes da iniciativa, a Academia de Cdigo Jnior, arrancou finalmente, junto de trs escolas da capital. um projeto-piloto de 12 meses e abranger 65 alunos, do terceiro e do quarto anos, explica Joo Magalhes: Vamos comear com pequenos exerccios em papel e, aos poucos, eles comearo a interagir com os computadores, para construir pequenos jogos e histrias. Acaba por ser algo que puxa pela lgica e pela capacidade de resolver problemas, pelo que, espera-se (e isso ser depois medido), ter um impacto na aprendizagem da matemtica e, ainda, do portugus, salienta.

    No se pense que as crianas vo ser atiradas aos lees e obrigadas aprender complexos, e quase hermticos, cdigos para mquinas. A sua principal ferramenta ser o Scratch, uma interface grfica que permite criar programas interativos. Basicamente, o Scratch consiste em linhas de comando que esto organizadas

  • 27Interessante

    por blocos, bastando pegar neles com o rato do computador, arrast-los para a rea de tra-balho e montar o que se pretende. Criar uma animao em que, por exemplo, um gato corre da esquerda para a direita, dando um salto pelo meio? Fcil! Basta usar os blocos (os comandos) que permitem as aes desejadas e mont-los no ecr do computador como se

    fossem peas de LEGO, criando-se o resultado pretendido. Dvidas? Nesse caso, o melhor experimentar aqui: http://scratch.mit.edu.

    Criado em 2003, pelo Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o Scratch destina-se a jovens entre os oito e os 16 anos, embora tambm possa ser usado por pessoas de outras idades. No fundo, serve para

    Olhos postos no futuro. So trs as escolas de Lisboa que acolheram o projeto-piloto Academia de Cdigo Jnior.

    Ao todo, foram abrangidos 65 alunos do primeiro ciclo do ensino bsico, com o intuito de lhes colocar o bichinho

    pela programao e estimular o raciocnio lgico.

    ensinar, de forma divertida e criativa, o bsico da linguagem de cdigo para computadores, ao mesmo tempo que estimula a capacidade de resolver problemas.

    PASSADO E FUTUROO objetivo da Academia de Cdigo Jnior

    que as crianas no sejam meras utilizadoras de jogos e programas de telemveis e tablets, mas que aprendam a ser programadoras e adquiram competncias fundamentais para o seu futuro, diz Graa Fonseca, vereadora da Educao do municpio de Lisboa, no website da cmara. Para Joo Magalhes, a aposta nas escolas faz sentido, pois vai ao encontro do que j se faz em alguns pases europeus, para debelar a escassez de futuros programadores: O problema no est apenas na falta de pro-fissionais qualificados, tambm reside no facto de haver poucas pessoas a sair das universida-des com essas qualificaes, avisa. inevit-vel que se aprenda cdigo de programao nas escolas, e cada vez mais cedo. A Estnia, em 2012, integrou o seu ensino em grande parte do currculo escolar. No Reino Unido, desde o ano passado, obrigatrio aprender progra-ma o nos ciclos escolares dos seis aos 17 anos.

    Os nmeros do problemaDe acordo com os dados da Comisso Europeia, precisamos, neste momento, de mais 9000 profissionais para a rea das tecnologias da informao e da comuni-cao, sendo que em 2020 essa exigncia suplementar chegar aos 15 mil. No entan-to, ser preciso ultrapassar, e em muito, os nmeros que a Unio Europeia aconselha, caso se queira estar ao nvel da Sucia e da Finlndia, onde 6,6 por cento da populao ativa trabalha na rea: Portugal fica-se pe-los 2,2%. S para chegar mdia europeia (3,7%), necessitaremos de mais 75 mil espe-

    cialistas. Tudo isto se conjuga num pas em que a taxa de desemprego jovem se cifrava, em dezembro de 2014, nos 34% (cerca de 126 mil jovens, entre os 15 e os 24 anos). J a taxa de jovens adultos sem emprego (entre os 25 e os 34 anos) est nos 14,5%: quase 160 mil pessoas. Para dar mais dramatismo ao cenrio, juntem-se outros nmeros pou-co simpticos: em 2014, dos 42 408 jovens que se candidataram ao ensino superior, s 201 (0,5% do total) colocaram como primeira opo uma licenciatura na rea da informtica.

    http://scratch.mit.edu
  • SUPER28

    Quem tem um diploma do ensino superior continua em vantagem no mercado de traba-lho. Todavia, o canudo deixou de ser uma esp-cie de via verde para o emprego, com a crise a piorar tudo: no incio de 2014, havia 146 mil desempregados com uma licenciatura, sendo que 81 mil no tinham emprego h mais de um ano. Estamos a formar muitas pessoas que no encontram oportunidades quando acabam os cursos. Ao mesmo tempo, temos a rea das TIC com enormes necessidades, comenta Joo Magalhes.

    Quais os motivos para os jovens no se candidatarem aos cursos ligados a este setor? Essencialmente, querem fugir matemtica. O pior, talvez, que ainda hoje se julga que uma rea chata, na qual s os nerds encontram prazer, encerrados entre quatro paredes. Uma viso do passado que teima em manter-se no imaginrio dos mais novos. As empresas tec-nolgicas so as mais inovadoras no local de trabalho, revela o responsvel da Academia de Cdigo. Veja-se o caso da Google e de outras empresas do gnero. Encontramos a um ambiente familiar e descontrado. Erra-damente, julga-se que isso s acontece nos

    caber-lhe- a tarefa de medir o impacto do programa nos alunos.

    Como ir saber-se se a ideia resultou e deu frutos? Para a chegar, foram escolhidas outras trs turmas, do mesmo ano, de cada escola: a diferena que no tero aulas de programa-o, servindo somente como termo de com-parao. De incio, foi feito um conjunto de testes s seis turmas, o qual ser repetido no final do programa: Desta forma, conseguire-mos comparar, entre si, as turmas gmeas, no que se refere ao raciocnio lgico e matem-tico que desenvolveram, assim como as notas que tiveram nas disciplinas de matemtica e de portugus, diz Joo Magalhes.

    Porque escolheram, em especfico, estas trs escolas? Queramos escolas com caractersti-cas socioeconmicas distintas, aponta. No Jardim Escola So Joo de Deus, por exemplo, a taxa de reteno escolar quase zero, enquanto nas outras duas ronda os 15 e os 30 por cento. Alm disso, e isto algo que entre-tanto fomos descobrindo, no estabelecimento h alunos cujos pais brincam com eles, usando o Scratch, pelo que quando chegam aula esto completamente vontade. Nas outras escolas, h crianas que, em casa, no tm qual-quer tipo de contacto com computadores. Com o tempo, pretende-se adaptar o que se ensina s condies especficas de cada grupo.

    Caso se verifique que a Academia de Cdigo

    Estados Unidos, por exemplo. Os midos no percebem que algo prprio desta rea.

    Para enterrar de vez este mito, os 65 alunos abrangidos pelo projeto-piloto tambm vo receber a visita de jovens programadores por-tugueses, para ouvirem o seu testemunho e terem uma ideia daquilo que os pode esperar.

    COMPARAR ESCOLAS As trs instituies de ensino abrangidas,

    nesta fase experimental, todas em Lisboa, so as escolas bsicas do Bairro do Armador e de Alda Vieira, a que se junta o Jardim Escola So Joo de Deus. A Academia de Cdigo Jnior comeou em janeiro deste ano, com dois pro-gramadores, os quais trabalharo com trs turmas (uma em cada escola) ao longo do segundo e do terceiro perodos do terceiro ano, com as aulas a prosseguirem no primeiro perodo do prximo ano letivo.

    A Universidade de Aveiro, uma das parceiras deste projeto, ajudou a desenvolver os con-tedos que esto a ser ensinados, ao mesmo tempo que fornecer formao aos progra-madores recrutados. Quanto Universidade Nova de Lisboa, tambm ligada iniciativa,

    Nas empresas tecnolgicas, ganha-se sempre acima da mdia

  • Interessante 29

    Jnior teve sucesso e que a ideia tem pernas para ir mais longe, o passo seguinte consistir na expanso desta oferta formativa a outras escolas do pas, procurando chegar aos jovens dos seis aos 17 anos.

    VIDA NOVA PARA DESEMPREGADOSA crer num estudo da recrutadora de recursos

    humanos Hays, realizado em 2013 junto de 70 empresas portuguesas a operar na rea das TIC, 78% destas companhias consideram que faltam profissionais qualificados no mercado. Quais os dois cargos para os quais pretendem contra-tar, nos prximos tempos? Os de programador e programador-analista so, de longe, as maiores urgncias.

    Tendo em conta o pequeno exrcito de jovens desempregados do pas, a Academia de Cdigo tambm vai comear, em abril, a dar formao a quem pretenda uma nova opor-tunidade profissional. Numa primeira fase, os candidatos tero um curso intensivo de trs meses, de oito horas por dia, no qual iro aprender e treinar as tcnicas bsicas de programao, mas preciso no ter iluses: Aprender programao difcil e pesado, diz Joo Magalhes. O que vamos ensinar so os pilares essenciais para que se saia da academia como junior developer, ou seja, algum que tem capacidade para desempenhar as funes ini-ciais, quando chega a uma equipa. No ser logo

    um programador autnomo, pelo que ter de ser muito autodidata. preciso, portanto, ter uma grande motivao e desejo de aprender.

    Os formados no sero abandonados sua sorte, garante o responsvel. Depois do curso, seguem-se trs a seis meses de estgio numa empresa, onde aperfeioaro as suas capacida-des. Aps esta fase, acrescentem-se mais trs meses de acompanhamento, por parte da academia. O objetivo, at 2020, conseguir integrar no mercado de trabalho dez mil licen-ciados que no tinham emprego.

    O modelo, que no novo, baseia-se no que j se faz nos Estados Unidos. No entanto, este gnero de academias ainda um fenmeno muito recente nesse pas, s estando formadas, por agora, seis mil pessoas. No obstante, a cada ano que passa, quase duplica o nmero de for-mados. Em Portugal, comearam a surgir algu-mas ofertas neste sentido, embora nenhuma tenha a forte estrutura e os apoios que a Aca-demia de Cdigo conseguiu reunir.

    RUBY E JAVA PARA COMEARHoje em dia, h cerca de 30 linguagens de

    programao, sem incluir a longa lista das que, entretanto, caram em desuso. Em suma: preciso saber qual, ou quai