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  • 0 CEFET. Campos dos Goytacazes - RJ

    Prevalncia do uso de suplementos alimentares por praticantes de musculao nas academias de Campos dos Goytacazes/RJ, BrasilThe use of food supplements by bodybuilders in the gyms of Campos dos Goytacazes/RJ, Brazil

    Tatiana C. Linhares*Rodrigo M. Lima**

    A utilizao de suplementos alimentares tem-se tornado cada vez mais popular entre praticantes de atividades fsicas. Esse aumento motivou o estudo realizado nas academias de Campos dos Goytacazes/RJ (2005). A suplementao alimentar indicada quando o organismo necessita de complementao na alimentao. No entanto, a suplementao feita sem necessidade e orientao de um profissional da rea especializada, pelo que se observou, mais comum do que se possa imaginar. Percebemos que a prevalncia do uso de suplementos alimentares, pelo grupo estudado, muito significativa e confirma a necessidade de mais informaes e estudos sobre as conseqncias da utilizao desinformada dos suplementos alimentares.

    Palavras-chave: Suplementos alimentares. Academias. Praticantes de musculao.

    The use of food supplements has become more and more popular among those who workout regularly to keep fit. This increase has motivated the study in the gyms of Campos dos Goytacazes/RJ. Food supplemention is indicated when the organism needs some sort of food complement; However, what we have actually noticed is that dietary supplements have been used without any necessity or guidance from a professional. We have noticed that the prevalence of the use of alimentary supplements for the studied group is very significant which confirms the need for more information and studies on the consequences of indiscriminate use of food supplements.

    Key words: Food supplements. Gyms. Bodybuilders.

    1 Introduo

    A grande ganncia por obter um timo desempenho numa atividade fsica e um corpo idealizado pela sociedade fez com que o conceito de Esporte e Sade fosse sendo enfatizado somente no esporte em detrimento da sade (BARRETO, 2003, p. 1).

    Segundo (BARRETO, 2003, p. 1-2), o esporte, como conceito, considerado uma atividade metdica e regular, que associa resultados concretos referentes anatomia dos gestos e mobilidade dos indivduos. J a sade, enquanto conceito, consiste em sentir-se bem em todos os aspectos: fsicos, motores, sociais, mentais e afetivos.

    * Licenciada em Cincias da Natureza Qumica pelo CEFET Campos.** Mestre em Biocincias e Biotecnologia UENF. Professor de Bioqumica do CEFET Campos e do ISECENSA.

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    Os suplementos foram projetados para eliminar quaisquer deficincias possveis ou existentes na dieta. Existe uma maior necessidade da ingesto de vitaminas, minerais e oligoelementos, devido s prticas nutricionais extremamente rgidas e a tenses que o treinamento e as competies impem s pessoas que praticam atividades fsicas. Os suplementos asseguram ao indivduo a obteno de todos os nutrientes necessrios para se manter saudvel (MEIRELLES, 2003, p. 1).

    Tambm segundo Meirelles, (2003, p. 1), os suplementos tambm so projetados para otimizar a performance humana em quaisquer nveis, isto , desde um atleta competitivo desejando ser campeo mundial no prximo ano, at um indivduo no atleta desejando longevidade e bem estar.

    O que acontece hoje o comprometimento da sade por meio do esporte que praticado de forma inadequada e, na maioria das vezes, sem orientao profissional. Existem pessoas que tomam suplementos alimentares para que, em pouco tempo, tenham a musculatura toda definida e acreditam que isto ser saudvel (BARRETO, 2003, p. 3).

    Os suplementos alimentares surgiram h quatro dcadas, destinados s pessoas que no conseguiam suprir suas necessidades nutricionais somente com a alimentao. No incio da dcada de 90, o qumico americano Linus Pauling, Prmio Nobel de Qumica em 1954 e, da Paz em 1962, divulgou a idia de que mega doses dirias de vitaminas, principalmente a C, prolongariam a juventude e combateriam inmeras doenas. Ele mesmo abusava das vitaminas e morreu em 1994 com cncer de prstata, aos 93 anos (VEJA, 2002 apud PHILIPP, 2004, p. 71).

    As pesquisas sobre suplementos foram iniciadas por Christensen et al. (1934 apud GARCIA; NAVARRO, 1991 apud PHILIPP, 2004, p. 71), que usaram, para estudo, um grupo de atletas em atividade com carga de 1.080 kg/min por 90 minutos, aps a ingesto de dieta com alto contedo em gordura. Utilizando este mesmo grupo de atletas aps a dieta com alto contedo de carboidratos, observou-se que suportaram a mesma carga durante 4 horas. A partir da, foi iniciado o estudo sobre o trabalho fsico induzido por manipulaes dietticas, demonstrando que a dieta pode afetar o rendimento do atleta devido ao restabelecimento rpido das reservas de glicognio no fgado e msculos.

    Na dcada de 50, descobriu-se que o exerccio fsico trazia benefcio ao corao. Com isso, a procura por atividade fsica aumentou muito, atingindo seu pice nos anos 80, resultando numa invaso nas academias incentivadas tambm pelo modismo e a busca por um corpo escultural imposto pela mdia. Essa procura por exerccios fsicos, constitui um importante componente teraputico para o controle e tratamento de doenas cardiovasculares, obesidade, distrbios msculo-esquelticos, doenas respiratrias, depresso e ansiedade. Mas, para que o exerccio fsico seja feito de forma adequada, visando benefcios sade, necessrio que professores e praticantes das atividades fsicas tenham conhecimentos relativos sua prtica (INTERNATIONAL FEDERATION OF SPORTS MEDICINE (IFSM), 1989 apud PHILIPP, 2004, p. 16).

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    Tambm tem sido bem difundida a utilizao de suplementos alimentares compostos base de carboidratos, lipdios, vitaminas e minerais e, principalmente, aminocidos, que esto no comrcio e so consumidos, de forma indiscriminada, sem orientao profissional, sem que se conheam seus efeitos, muitos dos quais ainda no foram comprovados (SAWADA et al., 1999; CARVALHO, 2003 apud PHILIPP, 2004, p. 16).

    O conhecimento cientfico, mesmo incompleto, sobre a relao entre suplementao alimentar e sade tornou-se parte de grande importncia das estratgias de marketing das indstrias alimentcias, induzindo o crescente lanamento de alimentos funcionais, enriquecidos com substncias consideradas benficas e/ou com teor reduzido de nutrientes, associados ao aumento do risco de doenas; estudos internacionais constataram que a televiso, rdio, jornais e revistas so as principais fontes de informao sobre alimentao mais usada pela maioria das pessoas, assim como familiares e amigos (SANTOS; BARROS FILHO, 2002b apud PHILIPP, 2004, 16-17).

    Segundo o Parlamento Europeu do Conselho de 2003, os suplementos alimentares so gneros alimentcios que tm por objetivo completar e/ou suplementar a alimentao normal e que constituem fontes concentradas de determinadas substncias nutrientes (vitaminas, minerais) ou outras, com efeito, nutricional ou fisiolgico, comercializadas em forma dosada, tais como cpsulas, pastilhas, comprimidos, plulas e outras formas semelhantes, saquetas de p, ampolas de lquido, frascos com conta-gotas e outras formas similares de lquidos ou ps que se destinam a ser tomados em unidades medidas de quantidade reduzida. Portanto, os alimentos suplementares nada mais so do que alimentos utilizados para reforo e complementao de uma dieta alimentar de esportistas e praticantes de atividades fsicas sejam para ganho de massa, para perda de peso ou outros objetivos especficos.

    . Classificao dos suplementos alimentares

    Podemos classificar os suplementos alimentares em: ergognicos, termognicos e anablicos.

    .. Suplementos ergognicos

    A literatura cientfica identifica os suplementos ergognicos como sendo as substncias ou fenmenos que melhoram o desempenho de um atleta (WILMORE; COSTILL, 1999 apud SANTOS, 2002, p. 175). O termo derivado de duas palavras gregas ergon (trabalho) e gennan (produzir). Diante desse conceito, uma substncia ergognica poder melhorar ou intensificar a capacidade de trabalho em indivduos

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    sadios e que eliminam a sensao dos sintomas de cansao e fadiga fsica e mental, resultando uma potencializao da performance. Existe no mercado uma quantidade enorme de substncias que prometem os efeitos acima relatados, porm os que realmente podem conter as propriedades ergognicas, ou fenmenos supostamente ergognicos, so muito poucos (FOX; BOWERS; FOSS, 1988 apud SANTOS, 2002, p. 175).

    Algumas substncias classificadas como ergognicas, no mercado de suplementao alimentcia, podem produzir um efeito chamado de ergoltico, prejudicial sobre o rendimento. Entretanto, para uma substncia ser legitimamente classificada como ergognica, ela deve, comprovadamente, melhorar o desempenho (WILMORE; COSTILL, 1999 apud SANTOS, 2002, p. 175).

    O uso dos chamados agentes ergognicos, no esporte de alto rendimento, iniciou um processo que representa, atualmente, uma das grandes preocupaes na rea das Cincias do Esporte, tanto no que diz respeito ao combate ao doping, como tambm na utilizao indiscriminada de drogas e suplementos nutricionais com objetivos puramente estticos. Foi estabelecido pela Medicina Esportiva um conceito para o termo agente ergognico que abrange todo e qualquer mecanismo, efeito fisiolgico, nutricional ou farmacolgico que seja capaz de melhorar as performances nas atividades fsicas esportivas, ou mesmo ocupacionais (NETO, 2001, p. 121).

    Ento, podemos subdividir os agentes ergognicos em 3 grupos:a) fisiolgicos; b) nutricionais; c) farmacolgicos. Os agentes ergognicos fisiolgicos incluem todo mecanismo ou adaptao

    fisiolgica para melhorar o desempenho fsico. O prprio treinamento pode ser visto como um agente ergognico fisiolgico, quando em altitudes percebe-se a adaptao do indivduo. E essa adaptao crnica altitude, ao promover um aumento de glbulos vermelhos no sangue, atua como um agente ergognico fisiolgico na medida em que a volta para baixas altitudes proporciona uma melhora do desempenho fsico aerbio nos primeiros dias subseqentes ao retorno, enquanto a capacidade de transporte de oxignio pelo sangue permanecer aumentada (NETO, 2001, p. 121).

    Os agentes ergognicos classificados como nutricionais caracterizam-se pela utilizao de estratgias e pelo consumo de nutrientes com grau de eficincia extremamente varivel. Na maioria das vezes, os consumidores de suplementos nutricionais, utilizam estas substncias em doses muito acima do recomendvel, o que tambm se constitui em uma preocupao, apesar de grandes divergncias quanto aos eventuais problemas sade conseqentes do abuso. Segundo Maehlum et al., (1999 apud NETO, 2001, p. 121) em seu estudo relatou que entre 100 atletas noruegueses de vrios esportes de nvel nacional, 84 usavam algum tipo de suplemento alimentar. Muitos atletas utilizavam vrios suplementos nutricionais, a grande maioria dos quais no apresenta qualquer comprovao cientfica de efeitos ergognicos.

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    Segundo Neto (2001, p. 121), apesar do uso de suplementos ser de maior incidncia de uso entre atletas de elite, o estudo feito por Sobal e Marquart (1994, p. 322) j relatava, em trabalho publicado, um ndice de 40% de consumidores de suplementos alimentares na populao no atleta de praticantes de atividades fsicas.

    Um dos suplementos ergognicos mais citados na literatura cientfica e largamente utilizado pelos praticantes de atividades fsicas a creatina. Da grande quantidade de suplementos alimentares encontrados no mercado, o nico que tem efeito ergognico comprovado, cientificamente, a creatina, que tem se constitudo, no recurso interativo com o treinamento, atualmente, como o mais utilizado para aumento de massa muscular. Em 1997 o seu consumo nos Estados Unidos j havia ultrapassado as 300 toneladas (NETO, 2001, p. 121-122).

    A creatina geralmente ingerida na forma mono hidratada, que bem tolerada pelo organismo proporcionando rpido aumento de sua concentrao plasmtica (HARRIS et al., 1992 apud BARGIERI, 2005, p. 1). No incio dos anos 70, deu-se o incio ao uso da creatina como suplemento alimentar, e atletas da extinta Unio Sovitica utilizaram a creatina no intuito de melhorar o desempenho (KALINSKI, 2003 apud BARGIERI, 2005, p. 1). Mas, foi nos anos 90 que a popularidade da creatina cresceu significativamente, com a notcia de que os atletas ganhadores do ouro olmpico, Linford Christie (100 m rasos) e Sally Gunnel (400 m com barreiras), utilizaram creatina como recurso ergognico (HAWES, 1998 apud BARGIERI, 2005, p. 1-2).

    Apesar de a literatura no relatar efeitos colaterais relacionados ao seu uso, as conseqncias sobre sua utilizao, em superdosagens, ou por longos perodos de tempo, ainda requerem certo cuidado. A preocupao nestes casos no est restrita ao consumo por parte de atletas. O aumento de massa muscular proporcionado pela suplementao de creatina constitui-se em um efeito extremamente sedutor para os que objetivam prioritariamente a esttica e que, muitas vezes, deixam em segundo plano a sade. A creatina encontrada, naturalmente, no tecido muscular e se tornou popular entre praticantes de musculao (NETO, 2001, p. 121). Entretanto, alguns cientistas afirmam que a substncia tambm pode melhorar a capacidade mental mantendo nveis de energia cerebral (BBC, 2003, p. 1).

    A creatina utilizada com o objetivo de reduzir a fadiga e aumentar o peso corporal magro. Ela sintetizada naturalmente no fgado, nos rins e pncreas, a partir dos aminocidos glicina, arginina e metionina, sendo estes obtidos por meio da alimentao, da ingesto de carnes e peixes, entrando diretamente na corrente sangnea (CHIESA, 2003, p. 1-2).

    A cafena uma outra substncia ergognica que vem sendo utilizada com grande freqncia por praticantes de atividades fsicas. Tem sido utilizada previamente realizao de exerccios fsicos, com o intuito de diminuir a fadiga muscular e, conseqentemente, aprimorar o desempenho fsico, sobretudo em atividades de longa durao (DELBEKE; DEBACHERE, 1984; JACOBSON; KULLING, 1989; SPRIET, 1995 apud ALTIMARI, 2000, p. 142).

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    O uso de cafena por atletas tornou-se evidente nos Jogos Olmpicos de Los Angeles (1984), quando alguns membros da equipe de ciclismo dos Estados Unidos declararam, publicamente, ter utilizado esse suplemento alimentar como estimulante durante as competies (ROGERS, 1985 apud ALTIMARI, 2000, p. 142). O uso dessa substncia tem-se tornado mais comum nos ltimos anos, particularmente, por atletas que disputam provas de ciclismo e corredores de longas distncias.

    A cafena tem sido considerada um ergognico nutricional por estar presente em vrias bebidas consumidas diariamente, como o caf, alguns refrigerantes e chs (SPRIET, 1995; WILLIAMS, 1996 apud ALTIMARI, 2000, p. 142), sendo classificada como uma droga com efeitos farmacolgicos de ao estimulante.

    A cafena pertence ao grupo das drogas metilxantinas (1, 3, 7 trimetilxantina), do qual tambm fazem parte a teofilina, a tena, a guarana e a teobromina. As metilxantinas so alcalides estreitamente relacionados que se diferenciam pela potncia de suas aes farmacolgicas sobre o sistema nervoso central (SNC). Nesse sentido, a cafena uma substncia capaz de excitar ou restaurar as funes cerebrais e bulbares, sem, contudo, ser considerada uma droga teraputica, sendo comumente utilizada e livremente comercializada, por apresentar uma baixa capacidade de induo dependncia (RANG; DALE, 1993 apud ALTIMARI, 2000, p. 142-143).

    .. Suplementos termognicos

    So substncias que aumentam a temperatura corporal, ocasionando uma maior queima de calorias e reduzindo o apetite. Auxiliam na metabolizao de gorduras, convertendo-as em energia disponvel.

    A L-carnitina um suplemento termognico muito utilizado pelos praticantes de atividades fsicas em grande parte das academias. Esta um aminocido bastante utilizado, que atua no metabolismo dos cidos graxos de cadeia longa, transformando a gordura armazenada em energia (ALVES, 2002, p. 3).

    Para a gordura ser queimada ela deve, antes, ser dissociada em cidos graxos e glicerol. O glicerol metabolizado pela mesma via que a glicose, ou seja, via glicoltica. J os cidos graxos passam por diversas reaes at serem metabolizados nas mitocndrias. O primeiro passo para queima dos cidos graxos sua converso em acil-CoA que dever penetrar na mitocndria, porm existe um problema: a membrana mitocondrial impermevel a esta substncia, o que impede sua entrada espontnea e conseqente degradao. A carnitina surge exatamente para solucionar este impasse, ligando-se ao radical acila da acil-CoA, levando-o para dentro da mitocndria, onde h outra coenzima A (CoA) que o recebe e d prosseguimento s reaes (MEIRELLES, 2003, p. 3).

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    Figura 1: Mecanismo de ao da carnitinaFonte: LEHINGER; NELSON; COX, M. M., 1995.

    A carnitina realiza o transporte dos derivados da gordura para dentro das mitocndrias, onde eles sero oxidados. Ao tomar conhecimento destas reaes, alguns entusiastas da indstria farmacutica apressaram-se em produzir e vender Carnitina, afirmando que sua ingesto aumentaria a degradao de lipdeos e ajudaria a queimar a indesejvel gordura localizada. Estes compostos receberam o sugestivo nome de Fat Burners (Queimadores de gordura) (MEIRELLES, 2003, p. 3).

    Apesar da sua descoberta, em 1905, como um componente natural da carne, somente cerca de 20 anos depois a estrutura qumica (Figura 2) da carnitina foi conhecida (SANCHEZ, 1992 apud COELHO, 2002, p. 11).

    Por volta do ano de 1955, a carnitina foi relacionada oxidao de cidos graxos e, depois, na dcada seguinte (1967), descobriu-se que sua forma natural estava sob a configurao L (CERRETELLI; MARCONI, 1990 apud COELHO, 2002, p. 11).

    A partir da dcada de 80 o uso de suplementos de L-carnitina passou a ser recomendado para o tratamento de deficincias primrias de carnitina, e por profissionais envolvidos com as reas de medicina desportiva, cardiologia e nefrologia (COELHO, 2002, p. 11-12). Na figura abaixo podemos observar a estrutura qumica da molcula de carnitina.

    Figura 2: Estrutura qumica da carnitina

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    Atualmente, a carnitina, amina quaternria (3-hidroxi-4-N-trimetilamino-butirato), tem sido estudada em funo de seus possveis efeitos, tanto em indivduos saudveis e, especialmente, nos praticantes de exerccios fsicos, quanto naqueles com necessidades especiais, principalmente, portadores de doenas renais e cardiovasculares (BRASS, 1998 apud COELHO, 2002, p. 1).

    Os principais locais de produo de carnitina, nos humanos, so o fgado e os rins. De toda a quantidade de carnitina armazenada no organismo (aproximadamente 20g ou 120 mmol) as concentraes maiores encontram-se nos msculos esquelticos e cardacos (~98%), fgado e rins (~1,6%) e fluido extracelular (~0,4%) (CERRETELLI; MARCONI, 1990; HEINONEN, 1996; MITCHELL, 1978b apud COELHO, 2002, p. 13).

    Esta concentrao resulta de vrios processos metablicos como ingesto, biossntese, transporte dentro e fora dos tecidos e excreo. Maiores quantidades so encontradas nos msculos esquelticos o que faz da carne vermelha sua principal fonte diettica (REBOUCHE et al., 1993; HEINONEN, 1996 apud COELHO, 2002, p. 14), embora outros alimentos de origem animal como aves, pescados, ovos e laticnios contenham menores quantidades (HEINONEN, 1996; MITCHELL, 1978 apud COELHO, 2002, p. 14).

    A carnitina considerada um queimador de gordura ou fat burner devido ao seu papel fundamental na oxidao de cidos graxos, (HEINONEN, 1996 apud COELHO, 2002, p. 27). A utilizao de carnitina em produtos alimentcios, como um suplemento nutricional, auxiliando no tratamento da obesidade, em esportes onde a perda de gordura importante (lutas, culturismo, etc.) e tambm para fins estticos, por freqentadores de academias de ginstica, tem sido bastante difundido. No entanto, seus efeitos na reduo dos depsitos de gordura corporal ainda no foram devidamente comprovados havendo, inclusive, controvrsias (COELHO, 2002, p. 28).

    .. Suplementos anablicos

    Em 1935, um suspeito efeito longo e positivo de andrgenos no anabolismo protico foi documentado (KOCHAKIAN et al., 1935 apud CAME, p. 534-539).

    Os anabolizantes so drogas que ajudam no crescimento das clulas musculares, geralmente o hormnio masculino, a testosterona (BISCAIA, 2004, p. 1).

    Os anablicos esterides andrognicos so associados a muitos efeitos adversos ou indesejados realizados em laboratrio e tratamentos teraputicos. Os efeitos que apresentam maior preocupao so aqueles observados no fgado, sistema cardiovascular, reprodutivo e na caracterstica psicolgica de indivduos que utilizam anablicos esterides andrognicos (CAME, p. 534-539).

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    O BCAA um suplemento anablico muito utilizado nas academias. Tem se tornado bastante popular com relao ao uso de suplementos. Branched-chain amino acids (BCAA) (aminocidos de cadeia ramificada: valina, leucina e isoleucina). Estes aminocidos so abundantes em carnes, e h uma hiptese que sugere que a sua utilizao reduz as chances do triptofano plasmtico chegar barreira hemato-enceflica, reduzindo a produo de serotonina no crebro e reduzindo os sintomas de fadiga. Mas, segundo RGNutri (2002, p. 84; SAWADA et al., 1999 apud PHILIPP, 2004, p. 83-84), o aspecto mais positivo, at o momento, o de preveno de infeces no trato respiratrio superior em at 40%. J ArtNutri (2002 apud PHILIPP, 2004, p. 84), afirma que os benefcios da suplementao com BCAA, durante exerccio prolongado, so confusos.

    Os BCAAs so recomendados como anticatablicos, aps treino pesado, para aumentar a capacidade de ganho de massa.

    Outro suplemento anablico de grande importncia a glutamina (Figura 3). A glutamina (gln) o aminocido livre mais abundante no corpo humano representando cerca de 20% do total de aminocidos livres no plasma.

    A glutamina considerada um aminocido condicionalmente essencial sob certas condies clnicas como traumas, estresse, septicemia, cncer e esforo fsico intenso. um importante substrato celular no s por ser um aminocido, mas por tambm ser fonte de energia, de nitrognio e de carbono, para a sntese de outras molculas. Atualmente, tambm por ser passvel de promover a melhoria de performance e crescimento da massa muscular magra, um dos suplementos alimentares mais utilizados por atletas e praticantes de atividades fsicas como suplemento ergognico (FONTANA, 2003, p. 91).

    Figura 3: Estrutura qumica da glutamina

    Dentre os supostos efeitos da glutamina no msculo est a valiosssima sntese protica, a qual potencializada pela presena de insulina. (RENNIE et al., 1994 apud GENTIL, 2002, p. 1). Existe um estudo em que apenas 2 gramas de glutamina elevaram as concentraes plasmticas de hormnio do crescimento (WELBOURNE,

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    1995 apud GENTIL, 2002, p. 1). Estes efeitos do hormnio do crescimento na hipertrofia muscular ainda so contestados e, at mesmo, segurar a respirao pode produzir aumentos nas quantidades deste hormnio (MATVEEV et al., 1986 apud GENTIL, 2002, p. 1).

    Apesar de ter se mostrado eficiente em animais e pacientes debilitados (queimaduras, inanio, cirurgias...), a glutamina no , indiscutivelmente, eficiente na melhora da atividade imunolgica em indivduos submetidos a exerccios (WALSH et al., 2000 apud GENTIL, 2002, p. 2). Assim como no h evidncias que possam levar as concluses positivas quanto aos seus efeitos ergognicos (HAUB et al., 1998 apud GENTIL, 2002, p. 2).

    Podemos concluir apenas que a suplementao de glutamina pode auxiliar em estados crnicos como patologias e possivelmente no excesso de treinamento, porm sua atividade em organismos humanos normais submetidos ao treinamento fsico ainda duvidosa e certamente no trar os benefcios prometidos, sem esquecer dos possveis prejuzos (alm dos financeiros), visto que a ingesto desequilibrada de um aminocido pode levar ao desequilbrio na absoro dos demais (GENTIL, 2002, p. 2).

    . Finalidades da utilizao de suplementos alimentares

    Recentemente, ocorreu uma exploso de novos dados de pesquisa demonstrando o valor dos suplementos alimentares em praticamente todas as reas da sade. Do cncer s doenas cardacas, da AIDS s dores de cabea, os suplementos alimentares esto mostrando seu valor. Eles esto ajudando as pessoas a consumirem menos remdios e esto reduzindo os custos dos cuidados com a sade, tanto em termos financeiros quanto em relao aos efeitos colaterais indesejados (MEIRELLES, 2003, p. 1).

    A eficcia da ingesto de alimentos ricos nos diversos macro nutrientes (glicdios, lipdios e protenas), micro nutrientes (vitaminas e minerais) e lquidos, baseada numa correta educao nutricional garante tudo aquilo de que o praticante de atividades fsicas necessita para preservar a sade e melhorar seu rendimento (CNAD, 2004, p. 1).

    Estudos cientficos realizados em diversas partes do mundo tm demonstrado que uma significativa porcentagem de suplementos alimentares, comercializada atualmente est contaminada, intencionalmente ou no, com algumas substncias includas na lista de substncias e mtodos proibidos pela Agncia Mundial Antidopagem (CNAD, 2004, p. 1).

    Esses suplementos entram no mercado para serem comercializados, sem passar por nenhum tipo de controle, o que no acontece, habitualmente, com qualquer medicamento que comercializado nas farmcias (CNAD, 2004, p. 1).

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    Uma variedade de pessoas pode precisar de suplementao alimentar. A suplementao, em determinados casos, pode causar um desequilbrio trazendo como conseqncia toxicidade ao organismo. Muitos problemas, associados com altas doses de um nico nutriente, podem refletir interaes que resultam em deficincia relativa de outro nutriente (ALVES, 2002, p. 1).

    . Riscos do uso indiscriminado de suplementos alimentares

    A busca desequilibrada por um corpo escultural, e o baixo nvel de conhecimento dos praticantes de musculao e outras atividades fsicas, mantm o mercado negro em pleno crescimento. Todos os dias, milhes de pessoas, tanto atletas como no atletas, procuram lojas especializadas em suplementos alimentares, na busca de produtos para melhorar sua performance e sua esttica, motivados por propagandas e indicaes de vendedores, mesmo havendo divergncias cientficas a respeito da melhora da performance e o prometido resultado de alguns produtos. Ainda falta a garantia dos efeitos pelos laboratrios e uma regulamentao especfica sobre os produtos, surgindo dvidas sobre sua eficcia, e o mais importante, no se garante a inexistncia de efeitos colaterais adversos sade (ALVES, 2002, p. 1).

    Tem sido detectada a presena de esterides em suplementos alimentares e produtos vegetais, tais como vitaminas, creatinas e aminocidos, sem que este fato seja indicado em seus rtulos. A comisso mdica do COI, tendo em vista as deficincias da legislao de vrios pases, que repercutiam em deficiente controle da qualidade de produo, decidiu alertar para os riscos do consumo destes produtos. Um estudo financiado pelo COI, mostra que, de 634 suplementos analisados pelo Laboratrio Antidoping de Colnia, provenientes de 215 fornecedores, de 13 pases, 94 (14,8%) continham precursores de hormnios, no declarados em seus rtulos e que poderiam gerar casos positivos para doping. Dentre eles, 24,5% continham precursores de testosterona e 24,5% precursores de nandrolona. Existem, claro, como j citado, benefcios na utilizao de suplementos alimentares, mas existem tambm riscos potenciais nessa utilizao (CARVALHO, 2003, p. 9).

    Com a utilizao de estimulantes do sistema nervoso central pode ocorrer segundo Carvalho, (2003, p. 10) um aumento da presso arterial, da freqncia cardaca, propenso a arritmias cardacas, espasmo coronariano e isquemia miocrdica em pessoas suscetveis. Ocasionam distrbios do sono. Causam, ainda, tremores, agitao, incoordenao motora. Em ambientes midos, h o risco de morte por insuficincia cardaca, e possibilidade de desencadearem dependncia psicolgica.

    Os esterides anablicos andrognicos tm efeitos txicos e estes so: reteno hidrossalina com formao de edema; hipertenso arterial, aumento do LDL colesterol, diminuio do HDL colesterol, disfuno tireoidiana, alteraes do humor e do sono.

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    Com esterides modificados na posio 17 alfa, podem ocorrer alterao da funo heptica, ictercia e adenocarcinoma heptico. Todos os esterides andrognicos aumentam a agressividade. No existe qualquer condio na qual esterides anablicos andrognicos devam ser administrados a indivduos sadios (CARVALHO, 2003, p. 10).

    fundamental que a suplementao seja indicada e acompanhada por um profissional qualificado, pois o efeito pode ser contrrio ao esperado e ainda, pode trazer conseqncias srias e irreversveis. Tambm importante conhecer a composio e a indicao do produto e ter conscincia de que todo suplemento deve ser fabricado dentro de certos padres de qualidade para que sejam preservadas suas caractersticas e garantida sua eficcia e inocuidade (ALVES, 2002, p. 4).

    A aparncia da musculatura do homem, ao longo do tempo, tem sido super valorizada. A busca pelo corpo perfeito, sarado, tem favorecido a utilizao de substncias, tais como, suplementos alimentares.

    O uso destes est se tornando cada vez mais popular e de fcil acesso. A utilizao destes produtos, de forma indiscriminada e leiga, vem provocando uma srie de problemas clnicos que, por vezes, assumem conseqncias fatais. Logo, de suma importncia pesquisar a prevalncia da utilizao de suplementos alimentares por praticantes de musculao nas academias da cidade de Campos dos Goytacazes.

    2 Material e mtodos

    A pesquisa foi realizada em 4 academias de Campos dos Goytacazes. Estas foram escolhidas porque so as maiores e mais freqentadas na cidade e tambm porque esto localizadas em pontos centrais. As academias oferecem diversas atividades fsicas para vrias faixas etrias, dentre elas a musculao.

    Segundo dados fornecidos pelas academias, a quantidade de alunos matriculados no perodo da pesquisa era de 1000 a 1500 alunos na atividade fsica objeto desta pesquisa. Este nmero total de alunos estava distribudo em 3 turnos: manh, tarde e noite.

    Foram entrevistados 334 praticantes de musculao, a maioria no horrio noturno, j que, neste horrio, a quantidade de alunos maior. Todos os participantes desta pesquisa responderam a um questionrio com questes sobre o consumo de suplementos alimentares, freqncia do uso, sintomas da utilizao e outros itens. Os entrevistados eram conscientizados de que sua colaborao era sigilosa e de que isso no os comprometeria em nada.

    O estudo foi realizado por meio de um questionrio sobre o uso de Suplementos alimentares, com uma amostragem representativa dos praticantes de atividades fsicas nas academias de Campos dos Goytacazes, com a finalidade de quantificar os que usam como foram orientados e porque os utilizam. Esses dados foram analisados,

  • CEFET. Campos dos Goytacazes - RJ

    estatisticamente, de forma grfica percentual, na qual se verificaram os dados coletados. A anlise estatstica foi feita pelo mtodo de Sturges-1926.

    3 Resultados

    Foram entrevistados, aleatoriamente, na roleta de entrada para a rea de musculao, em cada academia, o praticante da modalidade. No houve restrio quanto idade porque sabemos que a utilizao de suplementos alimentares no est restrita a uma faixa etria e como veremos nos dados a seguir esta utilizao abrange adolescentes, jovens e adultos.

    A figura 4 mostra que, na cidade de Campos dos Goytacazes, a prevalncia de pessoas que utilizam suplementos alimentares menor do que as que no os utilizam, sendo os casos positivos de 35% e os casos negativos 65%. Mesmo assim, um ndice preocupante e, por isso, razo para a elaborao deste trabalho. Este ndice bastante significativo o que justifica a continuidade dos estudos.

    Figura 4: Percentagem de usurios de suplementos alimentares

    Figura 5: Variao das idades dos usurios de suplementos alimentares

    35%

    65%

    SimNo

    Analisando a Figura 5 podemos verificar que a predominncia da utilizao dos suplementos alimentares se encontra na faixa etria de 18 a 23 anos, representando uma percentagem de 49% aproximadamente. Outra faixa etria de grande utilizao de 24 a 29 anos na qual 26% dos praticantes de musculao utilizam suplementos. Podemos ainda perceber nesta figura que, aps os 30 anos, ocorre um decrscimo na utilizao dos suplementos.

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    A Figura 6 nos mostra que a maioria dos usurios de suplementos alimentares nas academias de Campos dos Goytacazes possui nvel superior (63%). Os usurios que possuem 2 grau correspondem a uma percentagem de aproximadamente 34%, um ndice bastante representativo. Somente 2,5% dos usurios de suplementos nas academias de Campos dos Goytacazes possuem o 1 grau.

    2,52%

    34,45%

    63,03%

    1 Grau2 Grau3 Grau

    Figura 6: Grau de escolaridade dos usurios de suplementos alimentares

    A Figura 7 nos permite concluir que 47% dos usurios de suplementos alimentares na cidade de Campos dos Goytacazes praticam musculao entre 1 semana a 2 anos e meio. 30% aproximadamente dos usurios de suplementos malham no perodo que varia de 2 anos e 7 meses a 5 anos e 1 ms. 11% dos usurios malham no perodo entre 7 anos e 9 meses e 10 anos e meio. A percentagem de pessoas que malham mais de 10 anos e meio bem menor como nos mostra a Figura 7.

    Figura 7: Tempo de prtica de musculao dos usurios de suplementos alimentares

    Os suplementos alimentares citados foram divididos em 4 classes como mostra a Figura 8. Esta figura nos mostra que 78% dos usurios utilizam protenas como Suplemento alimentar. 13% aproximadamente utilizam aminocidos como Suplementos e 4,2% e 5% dos usurios utilizam energticos e complexos vitamnicos respectivamente como suplementos. Foram classificados como complexos vitamnicos todos aqueles que no se encaixam na definio e que no so reconhecidos como suplementos alimentares artificiais.

    47,06%

    30,25%

    6,72% 10,92% 0,84% 0,84% 0,84% 2,52%

    0%

    20%

    40%

    60%

    1 a 30 meses 31 a 61 meses 62 a 92 meses 93 a 123 meses

    124 a 154 meses 155 a 185 meses 186 a 216 meses 217 a 248 meses

    .

    .

    .

    .

    .

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    Figura 8: Tipos de suplementos utilizados

    Com o objetivo de investigar o motivo da utilizao dos suplementos pelos praticantes de musculao nas academias, na cidade de Campos dos Goytacazes, os entrevistados foram perguntados com que finalidade utilizam os suplementos alimentares. A Figura 9 mostra que 69% dos usurios tm o objetivo de aumentar a massa muscular. 13% dos usurios relatam que usam os suplementos com o objetivo de aumentar a resistncia fsica. 4,65% dos usurios o fazem para complementar a alimentao. 8,53% e 4,65% dos usurios tm o objetivo de perder calorias e manter a massa muscular, respectivamente.

    Figura 9: Finalidades do uso de suplementos alimentares

    A Figura 10 mostra que a maioria dos usurios de suplementos alimentar obteve informao sobre o uso destes, de seus prprios amigos (41%). 24% dos usurios foram orientados por nutricionistas, profissionais da rea de sade. 18% dos usurios foram orientados, quanto ao uso de suplementos, pelos prprios professores das academias e 16,5% obtiveram suas informaes pela TV ou internet.

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    Figura 10: Fonte de orientao para a utilizao de suplementos alimentares

    O sintoma mais observado foi o aumento de cravos e espinhas, que perfez um total de 5,88% dos usurios de suplementos. Outro sintoma bastante relatado foi o aumento da euforia, em 4,2% dos usurios de suplementos alimentares.

    Alguns usurios de suplementos relataram outros sintomas tais como, estresse e, clculo renal, dores abdominais, presso alta, sonolncia (0,84%). 1,68% dos usurios relataram uma reduo da imunidade durante a utilizao dos Suplementos alimentares como mostra a Figura 11.

    Figura 11: Sintomas advindos da utilizao de suplementos alimentares

    4 Discusso

    Freqentadores de academias de ginstica so, em geral, indivduos com alto nvel de escolaridade (PEREIRA et al., 2003, p. 268). Atualmente, as evidncias cientficas incentivam a prtica de exerccios fsicos e a adoo de uma alimentao equilibrada.

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    Muitos dos freqentadores de academias de ginstica buscam, nos suplementos alimentares, uma maneira de aumentar a massa muscular ou de melhorar a resistncia fsica.

    Nos resultados da pesquisa realizada vimos que a percentagem de usurios de suplementos alimentares foi de 35%. Segundo Arajo, 1999 (apud ARAJO et al., 2002, p. 15) em pesquisa realizada entre desportistas de academias, 30% de indivduos consumiam suplementos e havia casos em que uma mesma pessoa consumia at seis tipos diferentes de suplementos. Em outro trabalho realizado por Arajo et al. (2002, p. 15) 34% dos indivduos que praticavam musculao nas academias de Goinia consumiam suplementos alimentares. Em pesquisa realizada em academias de ginstica em So Paulo por Pereira et al., (2003, p. 270) constatou-se que 23,9% dos 309 entrevistados nas academias de ginstica consumiam suplementos, o que nos mostra uma variao dos resultados em estudos sobre suplementos. Em outra pesquisa realizada no Estado do Rio de Janeiro, com 51 indivduos de 16 academias 32%, ou seja, 51 indivduos, faziam uso de algum tipo de suplemento (ROCHA et al., 1998, p. 79).

    A variao de idade entre os usurios de suplementos alimentares nas academias de Campos dos Goytacazes foi de 12 at os 58 anos de idade com maior incidncia entre 18 a 23 anos o que representou aproximadamente 49,58% dos usurios (Figura 5). Outra faixa etria em que se percebe muita utilizao de Suplementos foi entre 24 a 29 com 26,05% de usurios. O trabalho de Arajo et al. (2002, p. 15) mostrou que nas academias de Goinia a faixa etria em que se observou maior utilizao de suplementos foi de 18 a 20 anos e de 21 a 23 anos, embora no tenha sido observada diferena estatisticamente significante entre dados.

    Entre os participantes deste estudo, 63% dos usurios de suplementos estavam cursando o nvel superior ou j eram formados (Figura 6). Isto foi alarmante, pois se espera que quanto maior seja o grau de instruo, melhor seja a compreenso sobre os danos que a utilizao no recomendada de substncias medicamentosas possa trazer ao organismo. Devemos, no entanto, levar em considerao que a cidade de Campos dos Goytacazes tem grande quantidade de universidades, o que justificaria a grande percentagem de usurios de curso superior, mas tambm tendo o cuidado de ressaltar que a pesquisa foi feita na rea central da cidade e no nas periferias. Arajo et al. (2002, p. 16) observou que, nas academias em Goinia, a maioria dos usurios de suplementos possua Ensino Mdio incompleto ou completo.

    A freqncia na prtica da musculao dos usurios prevaleceu entre 1 semana e 5 anos aproximadamente, e uma menor percentagem entre os 5 anos e 10 anos (Figura 7). E uma menor percentagem dos 10 anos aos 20 anos que apesar de serem ndices bem menores so bons, pois temos pessoas que praticam a musculao h muito tempo. Devemos tambm considerar que a pesquisa foi realizada nos meses de setembro a dezembro, perodo em que as academias ficam mais cheias, pois no vero as pessoas buscam um corpo perfeito para satisfazer o apelo de corpos sarados que a sociedade exige.

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    Os suplementos mais utilizados neste estudo foram as protenas (78,15%) (Figura 8). Esta prevalncia da utilizao de protenas, provavelmente, se justifica por ser o suplemento mais conhecido como sendo capaz de aumentar a massa muscular, que o desejo da maioria dos usurios de suplementos. Estes dados corroboram com os dados obtidos por (ARAJO; SOARES, 1999, apud ARAJO et al., 2002, p. 15), em que o suplemento mais utilizado pelos desportistas foi base de protenas e aminocidos (27%). Segundo Arajo et al. (2002, p. 15) a ingesto excessiva de protenas e aminocidos por meio da alimentao ou da suplementao protica tem trazido efeitos danosos ao organismo. Protenas em nveis superiores a 15% das calorias totais pode levar ao quadro clnico de cetose, gota e sobrecarga renal. Este excesso de protenas pode, ainda, segundo Margen et al. (1979, apud ARAJO et al., 2002, p. 15) promover aumento da gordura corporal, desidratao, balano negativo de clcio e induzir perda de massa ssea.

    O segundo grupo de suplementos mais utilizados foi o grupo dos aminocidos (12,61%). Para Dohm (2000 et al., ARAJO, 2002, p. 15) durante uma atividade fsica 3 fontes possveis de aminocidos devem ser consideradas: as protenas das fontes possveis de aminocidos devem ser consideradas: as protenas da dieta, o pool de aminocidos circulantes e as protenas teciduais. Destas trs fontes, as mais utilizadas como fonte energtica so as ptns teciduais, que suprem os aminocidos para oxidao e converso para glicose. Christensen et al. (1934 apud GARCIA; NAVARRO, 1991 apud PHILIPP, 2004, p. 75) afirma que os aminocidos de cadeia ramificada e glutamina so os mais utilizados para produo de energia durante exerccios intensos, principalmente, para evitar o acentuado catabolismo protico muscular. Os dados mostrados na figura 10 diferem dos resultados obtidos no trabalho de Rocha et al. (1998, p. 82) em que os suplementos mais citados foram os energizantes e estimulantes seguidos dos produtos com composio predominante de aminocidos e protenas.

    A utilizao de Suplementos alimentares, freqentemente, est associada aos benefcios que estes proporcionam, isto , aos desejos que os usurios querem alcanar. Neste trabalho, dentre os indivduos que utilizam suplementos, 69% o fazem com o intuito de aumentar a massa muscular (figura 9). Os mecanismos pelos quais os suplementos agem para promover este ganho de massa muscular variam de acordo com o tipo de suplemento. Segundo o trabalho de Arajo et al. (2002, p. 15) a suplementao com creatina pode aumentar a massa muscular, a fora e a capacidade aerbica nos exerccios de alta intensidade. O aumento da massa muscular pode ser resultado da sntese de ptns miofribrilares e da hipertrofia das clulas musculares, mecanismos estes que, provavelmente, contribuem para o aumento da fora muscular.

    Ainda com relao ao desejo dos usurios por suplementos para aumentar a massa muscular, o trabalho de Pereira et al. (2003, p. 269) tambm revelou este tipo de anseio dos usurios j que este foi o motivo mais citado. No entanto, o trabalho de Sobal et al. (1994, p. 323), mostra que os atletas consumiam suplementos com o

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    objetivo de aumentar a performance atltica, o que no depende sempre do aumento da massa muscular.

    Quando foram questionados sobre a orientao utilizada para o uso de suplementos, os mais citados foram os amigos (41%) seguidos de nutricionistas (24%), professores ou instrutores (19%) e Tv ou internet (17%). So dados preocupantes porque a percentagem das orientaes indevidas muito grande se comparadas com a orientao de um nutricionista, que um profissional especializado. Segundo Pereira et al. (2003, p. 270) a fonte mais utilizada foi a de professores e instrutores (31,1%) seguida pela orientao dos amigos (15,6%), ficando em menor percentagem a orientao por nutricionista (10%). Em estudo feito por Rocha et al. (1998, p. 323) dos 32 alunos que foram orientados, 41% foram por profissionais de sade e os 59% restantes foram por instrutores, amigos, consultas sobre o assunto. Contudo, no estudo realizado por Arajo et al. (2002, p. 270) a orientao para uso de suplementos foi, na maioria, feita por nutricionistas ou professores.

    Os praticantes de musculao responderam tambm sobre os sintomas advindos do uso de suplementos alimentares, e a maioria (84%) respondeu que no teve nenhum sintoma; na percentagem restante (16%) os entrevistados afirmam que tiveram algum sintoma, sendo o mais citado o aumento de cravos e espinhas(5,88%) como mostra a Figura 11. Outros sintomas tambm foram relatados como: euforia, clculo renal, sonolncia, estresse, presso alta, dores abdominais e baixa imunidade. Na pesquisa feita por Arajo et al. (2002, p. 16) o aumento do sono foi relatado por 17% dos consumidores. Pereira et al. (2003, p. 271) relatou em seu trabalho que os usurios de suplementos nas academias em So Paulo afirmaram que tiveram problemas renais e hepticos, diminuio do desempenho sexual, tontura, enjos, irritao, insnia e acne, entre outros distrbios.

    O surgimento dos suplementos no mercado tem aumentado e emergente a necessidade de pesquisas cientficas para comprovar seus efeitos e determinar a segurana de seu uso em longo prazo (PEREIRA et al., 2002, p. 271).

    A moda que prevalece na rea da atividade fsica, no momento, essa utilizao de suplementos alimentares, que tem por objetivo maior, como visto na pesquisa aumentar a massa muscular. Estes usurios de suplementos acreditam que tero vantagens, tanto com relao beleza externa, quanto no desempenho fsico, o que na verdade pode trazer conseqncias drsticas sade.

    Segundo Pereira, (2003, p. 271) a elaborao de regulamentaes sobre a utilizao de suplementos, facilitaria a educao do pblico sobre a forma segura e adequada desses suplementos alimentares e a atuao de profissionais de sade nesta rea.

    Diante das controvrsias entre os pesquisadores e da falta de dados cientficos conclusivos, no se pode afirmar que o uso de suplementos seja necessrio e aumente o desempenho fsico em pessoas sadias e bem nutridas (ARAJO et al., 2002, p. 15).

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    Segundo Pereira et al. (2003, p. 271) o consumo de suplementos alimentares um assunto recente, o que explica a falta de estudos suficientes e conclusivos sobre o assunto, fazendo com que sejam necessrios programas de educao alimentar em conjunto com esclarecimentos sobre os efeitos, prejudiciais ou benficos, garantindo a sade e prevenindo doenas.

    Essa percentagem significativa de usurios de suplementos alimentares nas academias da cidade de Campos dos Goytacazes/RJ (2005), mostra que os suplemento esto em alta no mercado de esttica e que se necessita, com urgncia, de estudos mais aprofundados e orientaes educativas sobre o assunto.

    Essas orientaes sero dadas aos alunos de musculao nas academias selecionadas para participar dessa pesquisa por meio de palestras, em que sero expostos os dados e esclarecidos os efeitos da utilizao de suplementos.

    5 Concluso

    Por meio da pesquisa realizada pde-se concluir que a utilizao de suplementos alimentares em praticantes de musculao nas academias de Campos dos Goytacazes/RJ (2005) foi bastante elevada (65%);

    - os usurios, em sua maioria, obtiveram orientaes sobre a utilizao de suplementos em conversa com amigos;

    - a maioria dos usurios do sexo masculino;- a maior faixa etria de usurios de suplementos est entre 18 e 23 anos;- a maioria dos usurios cursa nvel superior;- o tempo de utilizao de suplementos varia, chegando at um perodo de 128

    meses (10 anos). Os consumidores de suplementos alimentares praticam a musculao em grande parte de 1 ms at 5 anos;

    - a maior parte dos usurios de suplementos tem por objetivo aumentar a massa muscular;

    - os suplementos mais utilizados foram as protenas e, logo em seguida, os aminocidos;

    - os sintomas mais relatados que foram provenientes da utilizao de suplementos foram o aumento de cravos e espinhas;

    - so necessrios mais esclarecimentos nas academias de Campos dos Goytacazes/RJ (2005) sobre a utilizao inadequada de suplementos alimentares para a sade dos usurios.

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