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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE
ISIS DA ROCHA NUNES
JANINE SILVA DA PENHA
WLIANE DA SILVA
AS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS DE PAISAGEM E LUGAR NAS
SÉRIES INICIAIS: A percepção das crianças da comunidade quilombola
de Araçatiba (Viana - ES)
VITÓRIA - ES
2014
ISIS DA ROCHA NUNES
JANINE SILVA DA PENHA
WLIANE DA SILVA
AS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS DE PAISAGEM E LUGAR NAS
SÉRIES INICIAIS: A percepção das crianças da comunidade quilombola
de Araçatiba (Viana - ES)
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao
Departamento de Educação, Política e Sociedade, do Centro de Educação, da Universidade Federal do
Espírito Santo, como requisito para a obtenção do
grau de licenciado em Geografia, sob orientação do Prof. Dr. Vilmar José Borges.
VITÓRIA - ES
2014
ISIS DA ROCHA NUNES
JANINE SILVA DA PENHA
WLIANE DA SILVA
AS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS DE PAISAGEM E LUGAR NAS
SÉRIES INICIAIS: A percepção das crianças da comunidade quilombola
de Araçatiba (Viana - ES)
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Departamento de Educação, Política e Sociedade, do
Centro de Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para a obtenção do
grau de licenciado em Geografia, sob orientação do Prof. Dr. Vilmar José Borges.
Aprovado em 20 de fevereiro de 2014.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dr. Vilmar José Borges
Universidade Federal do Espírito Santo
Orientador
Profª. Drª. Patrícia Gomes Rufino Andrade
Universidade Federal do Espírito Santo
Profª. Mestre Miquelina Aparecida Deina
Universidade Federal do Espírito Santo
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradecemos a Deus pelas oportunidades à nós concedidas, tornando
possível as realizações conquistadas. As nossas famílias e amigos que se mantiveram torcendo
pelo nosso êxito nessa jornada. Ao nosso professor orientador Vilmar José Borges que não
mediu esforços para nos motivar a escrever e com muita dedicação esteve acompanhando
nossos passos no decorrer desta pesquisa. E sem dúvida, nosso muito obrigado à equipe
pedagógica da EMEF de Araçatiba que nos recebeu com muito carinho. Finalmente,
agradecemos a Dona Nini da comunidade de Araçatiba que sempre nos acolheu todas as vezes
que se fez necessário.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 8
AS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS DE PAISAGEM E LUGAR PELAS CRIANÇAS DA
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE ARAÇATIBA (VIANA – ES) ...............................................10
1.1 Paisagem .................................................................................................................................13
1.2 Lugar ......................................................................................................................................16
1.3 O ensino da Geografia nas séries iniciais .................................................................................18
1.4 A construção e a importância dos conceitos geográficos nas séries iniciais: Paisagem e Lugar .22
1.5 Quilombolas no Brasil .............................................................................................................26
NOSSO CAMPO DE PESQUISA: ESPECIFICIDADES ..................................................................29
2.1 História da Comunidade de Araçatiba ......................................................................................29
2.2As raízes de Araçatiba ..............................................................................................................32
2.3 A Escola e seus sujeitos ...........................................................................................................38
2.4 Vozes da professora regente e da pedagoga..............................................................................39
2.5 Oficina de desenho: desvelando saberes... ................................................................................41
2.6 Análise dos desenhos: quando o desenho vira texto... ...............................................................43
TRILHANDO UM CAMINHO: ALTERNATIVAS DE ENSINO.....................................................51
3.1 O Planejamento Escolar: algumas reflexões... ..........................................................................51
3.2 Propostas metodológicas: sugestões... ......................................................................................53
3.2.1. Cartaz Interativo .............................................................................................................54
3.2.2. Pesquisa de campo ...........................................................................................................56
3.2.3 TV de Bolso .....................................................................................................................58
3.2.4 De História em história... ..................................................................................................59
3.2.5 Teatro de máscaras ...........................................................................................................60
3.2.6 Musicalizando a paisagem de Araçatiba ............................................................................62
3.2.7 Meu lugar no futebol ........................................................................................................63
3.2.8 Amarelinha de Araçatiba ..................................................................................................64
3.2.9 As paisagens do futebol ....................................................................................................66
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................68
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................70
ANEXOS..........................................................................................................................................73
RESUMO
A alfabetização é um processo fundamental na vida de cada criança. Para tanto, importante se
faz proporcionar a elas, nesse percurso, uma ponte com a realidade na qual se insere.
Ressalta-se que antes mesmo de ingressar à escola, a criança já é alfabetizada socialmente,
onde aprende com as brincadeiras do cotidiano novas lições, muitas das quais, relacionadas
com as categorias de ensino da Geografia. Nesse sentido, o estudo das categorias geográficas
nas séries iniciais é de extrema relevância, para que a criança compreenda o espaço no qual
está inserida. Assim, é intenção da presente pesquisa, sugerir e subsidiar aos professores das
séries iniciais, no seu trabalho com a disciplina de Geografia, atividades pedagógicas lúdicas e
de fácil elaboração, que possibilitem o resgate do saber dos próprios discentes, concernentes,
principalmente, às categorias de paisagem e lugar. Foi foco de atenção, na elaboração da
referida proposta, o cuidado para não ocorrer o equívoco da imposição de saberes, tendo em
vista que a proposta se direciona a uma comunidade tradicional: a Comunidade de
Remanescentes Quilombolas de Araçatiba. Neste sentido, baseados na necessidade de estudar
as categorias geográficas nas séries iniciais, deu-se voz às crianças da comunidade de
Araçatiba, por meio de atividades em sala e fora de sala, permitindo que a partir das noções
que trazem consigo, pudessem então construir um conhecimento em concomitância com as
propostas curriculares. Assim, observou-se que a criança tem muito a contribuir quando se
trata de experiências cotidianas.
Palavras-chave: Séries iniciais. Remanescentes de quilombo. Paisagem. Lugar. Raízes.
ABSTRACT
Literacy is a fundamental process in the life of every child. So, it is important to provide
them, in this way, a bridge with the reality in which it operates. It is noteworthy that even
before joining the school, the child is already socially literate, where you learn the tricks with
everyday new lessons, many of which related to the categories of teaching Geography. In this
sense, the study of geographical categories in the early grades is extremely important for
children to understand the space in which it operates. Thus, it is the intention of this research,
suggest and support to teachers in early grades, in their work with the discipline of
Geography, playful and easy to prepare educational activities that enable the recovery of
knowledge of students, concerning themselves mainly to categories landscape and place. Was
the focus of attention in drafting the proposal, care for the erroneous imposition of knowledge
does not occur, given that the proposal is directed to a traditional community: Community
Maroons Remaining Araçatiba. In this sense, based on the need to study the geographical
categories in the early grades, gave voice to children if the Araçatiba community through
activities in the classroom and outside the classroom, allowing the notions they bring with
them, they could then build knowledge in tandem with the proposed curriculum. Thus, it was
observed that the child has much to contribute when it comes to everyday experiences.
Keywords: Initial Series. Maroons Remaining. Landscape. Place. Roots.
8
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo central buscar caminhos alternativos que possam sugerir
mecanismos/recursos pedagógicos, frente às dificuldades do ensino infantil, especificamente
no tocante à abordagem de assuntos, conteúdos e categorias pertinentes à Geografia,
propiciando assim, minimizar a abstração a respeito do ensino da Geografia no imaginário
infantil, contribuindo para a melhoria da prática pedagógica.
Dessa forma, visa proporcionar aos professores das séries iniciais do Ensino Fundamental
alternativas de alfabetização geográfica, tendo por ponto de partida os saberes inerentes do
próprio cotidiano dos alunos, para trabalhar os conceitos de Paisagem e Lugar. Escolhemos a
comunidade de Araçatiba, que se localiza no município de Viana/ES, para realizar este
estudo.
A opção por desenvolver o presente estudo nesta comunidade, não se prendeu somente ao fato
de se tratar de mais uma proposta prática de ensino para a educação infantil, mas também, por
se tratar de uma comunidade tradicional onde residem remanescentes de quilombo. Teve-se
aqui a finalidade de desvendar um pouco da história da comunidade, das características e
identidade étnica presente na vida das crianças e entender como a escola se comporta diante
disso, se exerce ou não algum mecanismo mediador para interligar os traços culturais da
comunidade ao processo de ensino/aprendizagem.
Além disso, escolhemos trabalhar com turmas do ensino infantil, já que muitas vezes a
disciplina de geografia é pouco trabalhada neste início do processo da educação, em
detrimento a outras disciplinas. Considerou-se, ainda, os relatos informais de dificuldades que
os professores das séries iniciais apontam para trabalhar com os conceitos geográficos.
Assim, no capítulo I, buscamos enfatizar os conceitos das categorias geográficas trabalhados
na pesquisa: paisagem e lugar. Para tanto, pautados em uma pesquisa bibliográfica a respeito
do ensino de Geografia nas séries iniciais, bem como sua importância, enfatizamos,
principalmente, a importância de se trabalhar com as crianças partindo dos conhecimentos
inerentes que as mesmas já possuem.
No capítulo II definimos o nosso campo de pesquisa, traçando primeiramente um breve relato
da história da comunidade, buscando identificar sua localização, aspectos sociais, étnicos e
9
culturais desde o período escravocrata. Após este breve relato sobre a comunidade, partimos
para a definição do nosso campo de pesquisa empírica direta, que é a escola da comunidade.
Neste aspecto, caracterizamos o espaço físico, docente e discente para depois, no intuito de
captar as percepções, conceitos e saberes dos discentes acerca das categorias geográficas de
lugar e de paisagem, descrevemos uma atividade didático-pedagógica, especificamente
elaborada e implementada com as crianças: a oficina de desenho. Essa oficina teve como foco
principal analisar o conhecimento que os alunos já possuem sobre as categorias geográficas
em estudo (lugar e paisagem), utilizando de caminhos alternativos e didáticos, nesse caso, o
desenho.
Finalizando, no capítulo III, apresentamos propostas didático-pedagógicas alternativas de
algumas metodologias de ensino e/ou recursos pedagógicos, no intuito de contribuir,
beneficiar e auxiliar os professores das séries iniciais ao trabalhar os conceitos de Paisagem e
Lugar, tendo por ponto de partida os saberes inerentes de seus alunos.
10
CAPÍTULO I
AS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS DE PAISAGEM E LUGAR PELAS
CRIANÇAS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE ARAÇATIBA
(VIANA – ES)
Em consonância com o que defende Prado Júnior (1972, p.19) para entendermos as demandas
que permeiam o tempo presente é necessário recorrer a tempos remotos, aos possíveis
acontecimentos responsáveis por situações atuais observadas. Essa percepção não pode ser
desprezada pelos professores e educadores, principalmente ao trabalharem com comunidades
que possuem hábitos culturais bastante específicos, como é o caso das comunidades
quilombolas.
Especificamente no que se refere ao ensino de Geografia, vale aqui destacar a constatação
apontada por Fontanella (2007), ao afirmar que “... as maiorias dos alunos ao engressarem
(sic) na 5ª série do ensino fundamental apresentam aversão à disciplina de geografia” (p.6).
Dessa forma, a fim de conhecermos prováveis motivos, que em alguns casos, provocam
repulsa dos alunos à disciplina de Geografia, precisamos buscar respostas na base da estrutura
do sistema educacional brasileiro.
É comum, em encontros de formação continuada de professores que atuam nas séries finais do
Ensino Fundamental, as reclamações de que a geografia que tem sido, via de regra, ensinada
nas séries iniciais, pouco, ou nada, aproxima a realidade dos alunos aos conteúdos ensinados.
Associar as categorias de ensino ao cotidiano dos alunos possibilita ou facilita que eles
possam construir e entender os conceitos geográficos fundamentais. Essa prática, conforme
pode-se frequentemente ouvir nos encontros de professores atuantes nas séries finais do
Ensino Fundamental, contribui, enormemente, para o trabalho daqueles professores de
geografia, que se deparam, conforme constantes queixas, com alunos resistentes ao ensino-
aprendizagem da geografia, desinteressados e desestimulados desde o 6º ano do ensino
fundamental, antiga 5ª série.
É fato que, a maioria dos professores que trabalham com as séries iniciais do Ensino
Fundamental, possui habilitação em Pedagogia e, portanto, não são profissionais da
Geografia. Sabe-se que a Pedagogia não abarca apenas conteúdos de geografia, mas também
11
de todas as outras disciplinas, limitando a capacidade desse professor em trabalhar conceitos
geográficos, se comparados aos professores de Geografia. Daí a importância de desenvolver
trabalhos e pesquisas na área, visando subsidiar o exercício de tais profissionais.
No entanto, acreditamos que o ensino multidisciplinar pode se tornar muito mais
enriquecedor. Não se trata, portanto, de proposta em favor de engessar a educação aos
profissionais com habilitações específicas, para atuar nas respectivas áreas de formação, sob
alegação de serem considerados mais capacitados. Nosso objetivo é buscar caminhos
alternativos que possam sugerir mecanismos/recursos pedagógicos, frente às dificuldades
apresentadas pelos professores do ensino infantil, especificamente no tocante à abordagem de
assuntos, conteúdos e categorias pertinentes à Geografia, propiciando, assim, minimizar a
abstração a respeito do ensino da geografia no imaginário infantil, contribuindo para a
melhoria da prática pedagógica.
Explicita-se aqui, nosso objetivo central, que visa possibilitar aos professores das séries
iniciais do Ensino Fundamental, alternativas de alfabetização geográfica, propiciando aos
alunos subsídios para perceberem, interpretarem e compreenderem o lugar e a paisagem em
que estão inseridos, tornando-se críticos de sua realidade.
Segundo Fontanella (2007):
...cabe ao professor encontrar novas alternativas que irão mudar suas práticas em sala de aula, buscando analisar os conceitos que são estudados nas séries
inicias, juntamente com os conteúdos que podem ser abordados, tentando
sempre levar o que está sendo estudado para a realidade fora da sala de aula.
(p. 8).
Conforme defende Callai (2005), a leitura do mundo é de extrema importância para que nós,
que vivemos em sociedade, possamos exercitar a nossa cidadania.
Fazer a leitura do mundo não é apenas fazer uma leitura do mapa, ou pelo
mapa, embora ele seja muito importante. É fazer a leitura do mundo da vida,
construído cotidianamente e que expressa tanto as nossas utopias, como os limites que nos são postos, sejam eles do âmbito da natureza, sejam do
âmbito da sociedade (culturais, políticos e econômicos). (p. 228).
Para dar suporte aos alunos nesse constante aprendizado que é a leitura do mundo, torna-se
necessário que os conceitos fundamentais da geografia sejam bem trabalhados desde as séries
12
iniciais. A criança ao chegar à escola aprende a ler e a escrever, mas essa atividade na maioria
das vezes é trabalhada de maneira desconectada da vivência dessas crianças. Além de
aprender a ler e escrever, poderíamos acrescentar o que Callai (2005) chama de compreender
o significado social da palavra.
A criança desde muito cedo está em constante interação com o meio. Iniciando o processo de
compreender a complexidade do mundo muito antes de ingressar à escola.
Desde que a criança nasce, os seus contatos com o mundo, seja por
intermédio da mãe, seja pelo esforço da própria criança, buscam a conquista de um espaço. Um espaço que não é mais o ventre materno onde ela está
protegida, mas um espaço amplo, cheio de desafios e variados obstáculos, e
que, para ser conquistado, precisa ser conhecido e compreendido (CALLAI,
2005, p. 233).
Destaca-se, de imediato, a relevância da Geografia e de seu papel social neste aspecto, visto
que a ciência geográfica tem por finalidade compreender as relações entre o espaço e a
sociedade. Nessa mesma direção, encontramos em Corrêa (1995), citado por Fontanella
(2007), a afirmação de que a Geografia, como ciência social, tem como objeto de estudo a
sociedade que, no entanto, é objetivada via cinco conceitos-chave que guardam entre si forte
grau de parentesco, pois todos se referem à ação humana modelando a superfície terrestre:
paisagem, região, espaço, lugar e território. Esses conceitos, por serem chaves, tornaram-se
categorias de análise e estudo da Geografia.
São cinco as categorias de análise geográficas. No entanto, por questões de delimitação do
nosso universo de pesquisa e limitados por questões de espaço-tempo para desenvolvimento
do presente estudo, nos propomos, a abordar neste estudo, as categorias de paisagem e lugar.
Nossa opção por enfatizar tais categorias de análise geográfica se prende, principalmente, ao
fato de que são categorias que se aproximam mais facilmente do processo de alfabetização
geográfica, instrumentalizando o educando para compreensão das demais categorias. Essa
concepção é compartilhada com os pressupostos do Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil, que ressalta
...a percepção dos elementos que compõem a paisagem do lugar onde vive é uma aprendizagem fundamental para que a criança possa desenvolver uma
compreensão cada vez mais ampla da realidade social e natural e das formas
de nela intervir (BRASIL, 1998, p. 182).
13
Assim, buscando fundamentar a análise dos dados empíricos, apresentamos, algumas
reflexões acerca de tais categorias geográficas.
1.1 Paisagem
Dos cinco sentidos tradicionais, o homem depende mais
conscientemente da visão do que dos demais sentidos para
progredir no mundo.
(Yi Fu Tuan)
Paisagem é tudo o que podemos ver, conforme bem explicita Santos (1988):
Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não
é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores,
sons, etc (p. 21).
Nesse sentido, pertinente se faz a posição de Tuan (1980), ao afirmar que para realizar a
leitura do mundo, a visão é o sentido que responde as nossas expectativas com maior
confiabilidade, pois costumamos desacreditar de informações que procedem de outra parte do
sistema sensorial.
Segundo o referido autor, “a resposta através da vista, para o mundo, é diferente, em vários
aspectos importantes, da resposta através dos outros sentidos. Por exemplo, ver é “objetivo”;
ver – como diz o ditado – é crer, mas tendemos a desconfiar da informação obtida através dos
ouvidos; é um “boato”...” (TUAN, 1980, p. 12).
Nessa mesma direção, encontramos em Santos (1988), a advertência de que
Nossa visão depende da localização em que está [...] A paisagem toma
escalas diferentes e assoma diversamente aos nossos olhos, segundo onde
estejamos, ampliando-se quanto mais se sobe em altura, porque desse modo desaparecem ou se atenuam os obstáculos à visão, e o horizonte vislumbrado
não se rompe. (SANTOS, 1988, p. 22).
No entanto, não obstante a relevância da visão é apropriado ressaltar, conforme bem explicita
Tuan (1980), que utilizamos e precisamos utilizar de todos os nossos sentidos
concomitantemente para obter uma compreensão mais completa da paisagem em que estamos
inseridos. “O mundo percebido através dos olhos é mais abstrato do que o conhecido por nós
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através dos outros sentidos. Os olhos exploram o campo visual e dele abstraem alguns
objetos, pontos de interesse, perspectivas” (TUAN, 1980, p. 12).
De acordo com Tuan (1980), um ser humano percebe o mundo simultaneamente através de
todos os seus sentidos, sendo essa percepção, uma maneira de entender o mundo. E, nessa
perspectiva, Santos (1988, p. 22), nos afirma que “a dimensão da paisagem é a dimensão da
percepção, o que chega aos sentidos”. Depreende-se daí que a compreensão é singular de cada
sujeito. Pessoas diferentes possuem formas diferenciadas de perceber a mesma realidade. Isso
porque, ainda que sejamos influenciados socialmente, nós ao observarmos uma paisagem,
selecionamos aquilo que julgamos mais interessante, importante e atrativo para nós em um
dado momento, sendo assim, uma análise individual. Reside aí, talvez, a relevância de se
buscar compreender quais as percepções de paisagem que nossos estudantes trazem consigo.
Isso se acentua ainda mais quando tratamos de comunidades que trazem enraizados em si,
fortes traços culturais bastante específicos, como é o caso de comunidades Quilombolas.
Para Santos (1988)
A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão. Se a realidade é
apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada; dessa forma, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada. Nossa tarefa é a de
ultrapassar a paisagem como aspecto, para chegar ao seu significado. A
percepção não é ainda o conhecimento, que depende de sua interpretação e
esta será tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de tomar por
verdadeiro o que é só aparência (SANTOS, 1988, p. 22).
Vale aqui também ressaltar, que quando falamos em influência social, acabamos por
explicitar o fato de que percebemos a paisagem, ou deixamos de percebe-la, mediante as
experiências que estabelecemos em sociedade num determinado espaço. Nesse sentido, Tuan
(1980) afirma que as crianças vivem no meio ambiente; possuem apenas um mundo e não
uma visão do mundo. Portanto, o referido autor enfatiza que a visão do mundo é a experiência
conceitualizada, sendo parcialmente pessoal e em grande parte social.
A produção em sociedade é o que produz o espaço geográfico. Apesar da evolução das
técnicas de produção, é a ação humana que produz o espaço geográfico. A paisagem é o
retrato do espaço, mas não é o espaço. As alterações realizadas no espaço geográfico tornam-
se possíveis apenas com a atuação humana sobre o meio.
15
As transformações que possibilitam a vivência em um espaço de natureza secundária1, só são
possíveis por meio da produção humana sobre o espaço.
O espaço trata das relações atuais entre sociedade e natureza, que estão acontecendo no
presente momento, enquanto que a paisagem é a junção de tempos diferentes, imprimindo as
consecutivas relações entre sociedade e natureza que existiram, em formas materializadas.
A paisagem se dá como um conjunto de objetos reais-concretos. Nesse
sentido a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e presentes, uma construção transversal. O espaço é sempre um presente, uma construção
horizontal, uma situação única. [...] A paisagem existe através de suas
formas, criadas em momentos históricos diferentes, porém coexistindo no momento atual. No espaço, as formas de que se compõe a paisagem
preenchem, no momento atual, uma função atual, como resposta as
necessidades atuais da sociedade (SANTOS, 2006, p. 67, grifos do autor).
Segundo Santos (1988), a paisagem se constitui por acréscimos e substituições, pois os
objetos feitos no passado eram necessidades de produção daquele momento. Para esse mesmo
autor, uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que tem idades
diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos. A paisagem não é homogênea, uma
vez que, em uma paisagem, observamos formas naturais e artificiais. Conforme mudam os
tempos históricos, mudam também as técnicas de produção mediante as inovações que
ocorrem. As inovações contribuem para as alterações da paisagem. Em tempos presentes,
muitos elementos dos tempos passados permanecem, e, além disso, surgem novos elementos.
Com a finalidade dos estudantes compreenderem o Espaço, enquanto objeto de estudo da
Geografia, considerando todas as suas relações de espacialidade, se faz necessária à
compreensão da categoria Paisagem. E, ainda, um caminho alternativo para a compreensão da
categoria de Paisagem, nas aulas de geografia voltadas para as séries iniciais do Ensino
Fundamental, seria a partir de outra categoria geográfica: o Lugar.
1 Similar à definição de paisagem artificial, entende-se como natureza secundária, o espaço de vivência e atuação
do ser humano. Portanto um espaço de constante transformação efetivada apenas com a presença humana, que
reflete na paisagem através das formas produzidas, diferentes tempos históricos. É o esforço e trabalho do homem que constrói o que chamamos de natureza secundária. Pode-se dizer que a natureza primária e/ou
paisagem natural, se é que ainda existe, é aquela que não sofreu esforço humano ou não conheceu alterações em
sua essência. Santos (2006, p. 66), afirma que “a paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento,
exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são
essas formas mais a vida que as anima”.
16
1.2 Lugar
A consciência do passado é um elemento importante no amor
pelo lugar.
(Yi Fu Tuan)
Lugar é o espaço no qual o homem se identifica, onde o homem situa sua identidade. De
acordo com Tuan (1983), “os lugares são centros aos quais atribuímos valor...” (p. 4). O valor
que atribuímos ao lugar advém das relações que constituímos em determinado espaço. Ao
longo do tempo, essas relações são responsáveis por construir a nossa história
concomitantemente com a história desse lugar. As heranças transtemporais e culturais se
caracterizam como elementos relevantes na efetividade do vínculo com o espaço,
desencadeando elos afetivos entre a pessoa e o lugar. Conforme Tuan (1980, p.5), topofilia é o
elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico.
Para Tuan (1983), “A cultura é desenvolvida unicamente pelos seres humanos. Ela influencia
intensamente o comportamento e os valores humanos” (p. 5-6). Nessa direção, vale ressaltar
aqui a contribuição de Moreira (2011, p. 9) a respeito da relação espaço-sociedade, em que ele
afirma que se tornou uma verdade acadêmica dizer que, a sociedade é o reflexo do seu espaço
e o espaço é o reflexo da sua sociedade. Acredita-se que cada lugar tem suas singularidades,
devido, também, à existência de diferentes culturas ao redor do mundo. Bem como os
diferentes espaços influenciam o desenvolvimento de diversas culturas. De acordo com o que
afirma Tuan (1980, p. 4) inclusive a forma de perceber os espaços/lugares são processos
influenciados pelas raízes culturais. Retomando assim, a ideia acima exposta de que a
percepção é imbuída de interesses pessoais, mas também responde a intervenções do coletivo,
portanto interferências culturais de cada sociedade.
O lugar antes de se constituir, é espaço. Como bem explicita Tuan (1983), o que começa
como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o
dotamos de valor. De acordo com o mesmo autor, espaço e lugar são conceitos geográficos
que precisam ser analisados em conjunto, pois a ideia de espaço dá sentido à de lugar. O autor
afirma que
A partir da segurança e estabilidade do lugar estamos cientes da amplidão, da liberdade e da ameaça do espaço, e vice versa. Além disso, se pensamos
no espaço como algo que permite movimento, então lugar é pausa; cada
17
pausa no movimento torna possível que localização se transforme em lugar.
(TUAN, 1983, p. 6).
Os seres humanos modificam o espaço geográfico constantemente, e para tanto também
alteram seu lugar de existência. O entendimento e pertencimento a um lugar, bem como o
sentimento de identidade com o lugar são mais explícitos para o adulto, pois ao longo da
história, desenvolve afeição pelo espaço de convivência. No entanto, a ideia de lugar para a
criança, como ressalta Tuan (1983), torna-se mais específica e geográfica à medida que ela
cresce.
O horizonte geográfico de uma criança expande à medida que ela cresce,
mas não necessariamente passo à passo a escala maior. Seu interesse e conhecimento se fixam primeiro na primeira comunidade local, depois na
cidade, saltando o bairro; e na cidade seu interesse pode pular para a nação e
para lugares estrangeiros, saltando a região. (TUAN, 1983, p. 35).
Já se mostra comum à curiosidade da criança, o que é normal, ao que é de fora, ao que é de
longe. Deslocando seu olhar para um lugar que nem sempre é o seu, porventura deixando de
perceber as peculiaridades existentes no lugar em que vive. Talvez, resida aí também, a
relevância de nossa pesquisa, em que se pretende aproximar o cotidiano, o lugar e a paisagem
em que nossos alunos estão inseridos aos conteúdos estudados na disciplina de geografia para,
quem sabe, ampliar o entendimento desses estudantes sobre as categorias geográficas aqui
abordadas.
Com as alterações nas técnicas de produção e a evolução tecnológica advinda da globalização,
os lugares estão cada vez mais próximos e é possível conhecer lugares distantes sem se quer
sair do lugar. Santos (1988) afirma que, “como a produção se mundializa, as possibilidades de
cada lugar se afirmam e se diferenciam em nível mundial” (p.11). E por meio das tecnologias
da informação é possível se aproximar e ter admiração por lugares distantes. Mas os lugares
não perdem suas singularidades ou funções, características de um dado momento da história,
por se tornarem globais. Nesse sentido Santos assegura que
Quanto mais os lugares se mundializam, mais se tornam singulares e
específicos, isto é, “únicos”. O lugar é um ponto do mundo onde se realizam
algumas das possibilidades deste último. O lugar é parte do mundo e
desempenha um papel em sua história. (SANTOS, 1988, p. 13).
18
Cada lugar tem um papel, uma função em determinado momento histórico. Para tanto Santos
(1988) argumenta que, se os lugares podem, esquematicamente, permanecer os mesmos, as
situações mudam. A história atribui funções diferentes ao lugar.
O lugar é um conjunto de objetos que têm autonomia de existência pelas coisas que o formam – ruas, edifícios, canalizações, indústrias, empresas,
restaurantes, eletrificação, calçamentos, mas que não têm autonomia de
significação, pois todos os dias novas funções substituem antigas, novas funções se opõem e se exercem. (SANTOS, 1988, p. 18-19).
Mediante as reflexões acerca das categorias de Paisagem e Lugar e suas potencialidades
enquanto caminho a ser percorrido para a alfabetização geográfica, acredita-se necessário o
desenvolvimento de novas reflexões acerca do ensino da Geografia nas séries iniciais,
buscando enfatizar as formas como tem sido proposto e desenvolvido o trabalho e abordagem
de tais categorias geográficas, com ênfase nas práticas pedagógicas. Esse é o nosso desafio a
seguir.
1.3 O ensino da Geografia nas séries iniciais
O estudo da Geografia nas séries iniciais do Ensino Fundamental é de extrema importância
para formação do aluno, assim como as demais disciplinas. No entanto, nota-se que muitas
vezes os professores das séries iniciais da educação básica têm priorizado outras disciplinas,
como por exemplo Português e Matemática. Com essas práticas, não é raro, verificarmos que,
conforme bem salienta Straforini (2002), conceitos fundamentais da disciplina geográfica
ficam, muitas vezes, esquecidos e relegados à segundo plano, ao afirmar que
Sabemos que nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental as aulas de
Geografia, assim como as outras disciplinas que não sejam Português e
Matemática, ocupam um papel secundário, muitas vezes irrelevantes no cotidiano escolar. (apud MARQUES, 2008, p. 208).
Em decorrência e reforçando constatações indicadas por Straforini (2002), é bastante comum,
nos discursos de professores de Geografia, atuantes nas séries finais do Ensino Fundamental,
as constantes reclamações no sentido de que muitos alunos ao chegarem à segunda etapa do
ensino fundamental, demonstram enorme dificuldade de aprendizagem, inclusive com notável
desinteresse quanto à Geografia.
19
Uma hipótese que pode explicar essa, não rara, prática de priorizar determinados conteúdos
em detrimento de outros, tão importantes e relevantes para a formação discente, nas séries
iniciais, se refere ao fato dos docentes atuantes naquelas séries iniciais não possuírem
formação nas áreas específicas do saber. Essa hipótese reforça a importância e relevância de
estudos com ênfase em tal abordagem, visando subsidiar a prática docente.
Assim, conforme a hipótese acima aventada, a Geografia fica relegada, muitas vezes, a um
segundo plano, não raro sendo transmitida de forma defasada, pouco atrativa e até mesmo
descontextualizada da realidade do aluno, gerando deficiência no aprendizado. Como afirma
Fontanella (2007 p.6):
[...] tenho analisado que a geografia que é ensinada por profissionais das
séries iniciais mostra-se tradicional, pouco atrativa e descontextualizada da realidade dos alunos. Essa prática gera uma grande deficiência no
aprendizado desta disciplina, na maioria dos alunos das séries iniciais.
Vale destacar, de imediato, que não é nossa pretensão aqui culpar os professores das séries
iniciais. Mesmo porque muitos deles, por não terem formação específica na área, acabam por
apenas reproduzirem o ensino que tiveram enquanto estudantes que não fazia sentido ou
ligação alguma com o cotidiano. Um modelo de geografia extremamente descritivo, que
baseava-se em conteúdos repetitivos e de memorização.
No Brasil, conforme bem salienta Cavalcanti (1988), esse modelo de Geografia foi
reproduzido até o final do século XX, ficando conhecido como Geografia Tradicional.
[...] a geografia até o final do século XX era essencialmente tradicional,
baseava-se no positivismo, era um ensino voltado às idéias nacionalistas, utilizava uma metodologia descritiva e pouco questionadora. Esse modelo de
geografia, no Brasil, foi presente nas escolas até por volta do final da década
de oitenta (CAVALCANTI, 1998, apud FONTANELLA, 2007, p.9).
No entanto, ainda segundo Cavalcanti (1998), a Geografia Tradicional sofreu fortes
questionamentos, passando, em decorrência, por novas reformulações, que acabaram por
refletirem-se no âmbito escolar.
As reformulações do ensino da Geografia se deram através de críticas sobre
duas correntes utilizadas na época: a Geografia Tradicional e a Geografia
Quantitativa. Diante das críticas levantadas sobre as correntes do ensino da geografia surge uma nova visão dessa disciplina conhecida como Geografia
20
Crítica e difundida no Brasil pelo geógrafo Milton Santos. (CAVALCANTI,
1998, apud FONTANELA, 2007, p.10).
A partir de então, a Geografia passou a observar os interesses das classes populares e a ter um
papel mais questionador e político na formação dos alunos. Nessa perspectiva, no âmbito do
ensino de Geografia, torna-se necessário levar em consideração as vivências e a realidade do
aluno para o estudo do espaço geográfico. Sendo assim, a simples descrição dos lugares e os
dados numéricos já não atendem a esta nova visão de ensino.
É importante considerarmos que a transição de uma corrente epistemológica de determinada
área do saber, como foi o caso da Geografia Tradicional para a corrente epistemológica da
Geografia Crítica não se deu de forma tranquila e instantânea. Essa transição gerou uma certa
crise paradigmática, conforme aponta Guimarães (1995), visto que
Enquanto essas transformações se davam no meio acadêmico, as escolas e os
profissionais de Geografia viviam uma profunda crise implementada pela
reformulação das bases teóricas que fundamentavam o conhecimento geográfico. Os temas, o enfoque e a metodologia eram reformulados de uma
só vez (1995, p. 62).
Essa crise repercutiu e influenciou enormemente a/na prática de professores de Geografia que,
por possuírem formação específica, pressupõe-se estarem conectados com a produção do
saber na área. Se transpormos tais fatos para as práticas dos profissionais atuantes nas séries
iniciais do Ensino Fundamental, com formação em Pedagogia, pode-se deduzir que tais
profissionais por não estarem diretamente ligados à área específica, tiveram mais dificuldades
em compreenderem e aceitarem as mudanças. Portanto, muitos de tais profissionais
continuaram praticando a Geografia Tradicional, que foi a base de sua formação inicial,
enquanto estudantes do Ensino Fundamental e Médio.
É válido lembrar que, conforme nos aponta Marques (2008), a introdução da Geografia nas
séries iniciais como disciplina legal do currículo escolar, no Brasil, ocorreu somente na
década de 1990 com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Antes disso, ela era
vista de forma indireta, em conjunto com a disciplina de História, então denominado de
Estudos Sociais. Ou seja, a introdução, de fato, da disciplina geográfica no Ensino
Fundamental I é bastante recente, mas não menos importante na construção intelectual da
criança em fase de alfabetização. A partir de todas essas mudanças paradigmáticas pelo qual
21
passou o ensino de geografia, e outras que aqui não caberia falar, hoje acreditamos que esta
disciplina deve ser trabalhada explorando ao máximo a realidade vivida do aluno e o seu
cotidiano, pois, é nele que a criança está inserida e realiza suas atividades, brincadeiras e
constrói seus relacionamentos.
Para tanto, a figura do professor se mantém fundamental, pois ele será o mediador que
interligará as vivências e conhecimentos dos alunos adquiridos fora da escola, sendo ele o
responsável por propiciar aos seus alunos as condições de interligar esses saberes empíricos
aos conteúdos de geografia, resignificando a aprendizagem. Mediante o desenvolvimento e
domínio de tais habilidades, o aluno se sente mais próximo dos conteúdos e temas trabalhados
em sala de aula, e o conteúdo faz sentido para sua vida, construindo o aprendizado.
Conforme diz Lampert (2013)
[...] a formação do conhecimento se dá quando um conhecimento cotidiano,
que muitas vezes é empírico e que pode ser chamado de senso comum, o
qual o aluno já detém, entra em contato com o conhecimento científico, o qual o professor detém, resultando em uma reestruturação destes saberes, ou
em outras palavras, aprendizado. (2013, p. 134-135).
Para que esta reestruturação dos saberes aconteça, e ocorra, de fato a aprendizagem,
defendemos a formação continuada dos professores, pois acreditamos ser esta, uma das
formas de aprimoramento das práticas pedagógicas dos docentes, pois ainda conforme
Lampert (2013), “...o conhecimento acumulado nos anos de graduação (...) não garantem que
a prática docente seja significativa aos alunos” (p.133). Evidencia-se, portanto, como de
fundamental relevância, no exercício da sua prática de ensino, que o professor traga a
realidade do aluno para a sala de aula, utilizando exemplos que fazem parte de suas vivências,
enfatizando o lugar onde moram e a paisagem característica daquela região. Ao compreender
e identificar esses elementos, as crianças passam a construir uma relação de identidade e
pertencimento com seu espaço. No caso específico da comunidade de remanescentes
quilombolas, essa percepção ganha ainda mais relevância, visto ser de extrema importância
para promover a valorização da comunidade em questão estudada, que desde o início da
colonização brasileira vem tendo sua cultura desvalorizada e agredida pela imposição da
prática eurocêntrica.
22
Nesse sentido, justifica-se, a seguir, envidar esforços no sentido de enfatizar a construção e
importância de se trabalhar os conceitos de paisagem e lugar com as séries iniciais do Ensino
Fundamental, principalmente como forma de manter e valorizar as raízes da comunidade de
remanescentes quilombolas de Araçatiba.
1.4 A construção e a importância dos conceitos geográficos nas séries iniciais: Paisagem
e Lugar
Conforme discutido anteriormente, o ensino da ciência geográfica, enquanto componente
curricular tradicional nas séries de ensino infantil passou por profundas transformações de
acordo com a evolução e descoberta das ciências e das forças políticas, sendo, atualmente, os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o fio condutor de seu desenvolvimento.
Nesse sentido, os conceitos de paisagem e lugar, que são foco da presente investigação,
aparecem incluídos de forma bastante significativa na parte dos referidos Parâmetros
Curriculares Nacionais, voltados para o Ensino Infantil, quando se trata de natureza e
sociedade. De acordo com os referidos Parâmetros,
Nos primeiros anos de vida, o contato com o mundo permite à criança
construir conhecimentos práticos sobre seu entorno, relacionados à sua
capacidade de perceber a existência de objetos, seres, formas, cores, sons,
odores, de movimentar-se nos espaços e de manipular os objetos.
Experimenta expressar e comunicar seus desejos e emoções, atribuindo as
primeiras significações para os elementos do mundo e realizando ações cada
vez mais coordenadas e intencionais, em constante interação com outras
pessoas com quem compartilha novos conhecimentos. (BRASIL, 1998, p.
169).
É a partir do cotidiano da própria vivência da criança que vão se formando e transformando à
medida que elas amadurecem, os conceitos e as suas concepções a respeito do espaço. Neste
contato com o mundo é que inicia o reconhecimento e identificação do que existe em sua
volta, dos lugares, e suas respectivas paisagens e histórias. Esta característica possibilita, mais
do que tudo, construir não só os conceitos de “Paisagem” e de “Lugar”, como também de
vários outros conceitos geográficos primordiais, como espaço, território, territorialidade,
elementos naturais, sociais e culturais.
23
Nesse processo de construção e interpretação do mundo, a criança não só irá desenvolver e
sistematizar os seus conhecimentos como também, favorecer sua inserção no contexto social e
no seu papel e exercício de cidadania.
Portanto, pertinente se faz a contribuição de Callai (1999), ao afirmar que:
[...] a geografia que o aluno estuda deve permitir que este se perceba como participante do espaço em que estuda, onde os fenômenos que ali ocorrem
sejam resultados da vida e do trabalho dos homens e estejam inseridos num
processo de desenvolvimento. (p. 58).
Ações simples do seu dia-a-dia, como brincar, ir para escola, para igreja, se relacionar com
outras crianças e adultos, entre outras, permitem com que a criança interaja com o espaço,
despertando sua curiosidade e imaginação com o meio em que vive. Este exercício pode
auxiliar no processo de busca e interpretação do significado e funcionalidade dos objetos e de
sua própria história, oferecendo um maior contato afetivo com sua identidade. Esse exercício
possibilita
[...] uma articulação entre o ambiente físico e social e o processo de
construção das múltiplas identidades que nos constituem ao longo da
trajetória de vida (pessoal, social, cultural). Significa refletir sobre a
possibilidade de se proporcionar às crianças oportunidades de interação com
outros indivíduos, que as levem à independência, à cooperação e à
colaboração voluntária e não à competitividade, concorrência e
individualismo, ao perceberem que os outros, com os quais convivem,
também têm sentimentos, opiniões e direitos (HICKMANN, 2002, p. 910).
Porém, este processo de construção do conhecimento a partir da observação que as crianças já
trazem do seu dia-a-dia, dependerá de como ela se relaciona com o meio e como apreende e
absorve sua realidade. Pois este processo depende antes de tudo de como é o desenvolvimento
do processo de ensino/aprendizagem de cada criança.
Para Vygotsky (2000), o conceito:
24
[...] em sua forma natural e desenvolvida, pressupõe não só a combinação e a
generalização de determinados elementos concretos da experiência mas
também a discriminação, a abstração e o isolamento de determinados elementos e, ainda, a habilidade de examinar esses elementos discriminados
e abstraídos fora do vínculo concreto e fatual em que são dados na
experiência (p.220).
Bogo (2010), apoiado nos estudos desenvolvidos por Vygotsky (2000), nos aponta que a
aprendizagem obtida pelo sujeito, quando em contato com os signos encontrados na esfera
social, propicia a construção de dois grupos de conceitos: os designados de conceitos
cotidianos e aqueles denominados conceitos científicos. O primeiro grupo se desenvolve por
intermédio das diversas interações que a criança realiza diariamente no contato com outras
pessoas, objetos e fenômenos. Assim, conforme nos aponta Vygotsky (2000), nesse momento
(a partir dos dois anos), os conceitos, aqui considerados cotidianos, que são tomados dos
adultos e utilizados pela criança, por meio de sua linguagem, se voltam somente para nomear
objetos e episódios presentes em sua vivência imediata. Já os conceitos científicos envolvem
conhecimentos sistematizados e inter-relacionados a partir de um processo orientado, presente
no cotidiano escolar. Essa definição, por si, justifica, enfatiza e avaliza a necessidade de se
trabalhar a geografia a partir da realidade imediata e próxima dos alunos.
Sendo assim, o papel do professor ganha relevância e torna-se imprescindível neste momento,
pois estes conceitos científicos nada mais são, do que as propostas curriculares, e como tal,
podem se apresentar desinteressante e distante dos alunos. Dessa forma, o papel do professor
é entrecruzar as experiências da vivência da criança com os conceitos científicos. Neste
contexto, o trabalho docente é práxis, fundamentando-se de teoria e prática para realizar a
transformação social conjugada à ação humana, sobre a realidade vivida que ocorre através da
reciprocidade entre teoria e prática (PIMENTA, 2001).
O professor tem que criar maneiras e linhas de estudo que propicie este processo de
ensino/aprendizagem. Para tanto, um caminho possível e viável é a adoção de um bom
planejamento, ter uma ampla visão de mundo, e estar sempre atualizado quanto às questões
políticas, sociais, econômicas, ambientais e culturais, para democratizar os saberes
estimulando o caráter crítico e analítico dos alunos, tornando-os sujeitos ativos neste processo
de ensino/aprendizagem. Tudo sem desconsiderar o que nos adverte Bruner (1991), no sentido
de estar atentos para se “...aproveitar o potencial que o indivíduo traz e valorizar a curiosidade
natural da criança”. Esses cuidados se tornam extremamente necessários, principalmente ao
25
considerarmos que, conforme enfatiza o referido autor, “são princípios que devem ser
observados pelo educador” (p.122).
Nessa direção, observa-se que o processo de construção dos conceitos de Lugar e Paisagem
nas séries iniciais toma grande importância, pois possibilita conhecer a história do seu espaço
vivido, se identificando, e compreendendo as relações que ali aconteceram e acontecem. Uma
alternativa viável e possível, para tanto, seria a utilização de fotos antigas, dos monumentos
históricos e de relatos de pessoas mais velhas. Essas práticas podem possibilitar à criança
notar o que modificou com o passar do tempo dentro do lugar e da paisagem e, assim,
despertar a curiosidade dos alunos com algumas questões, por exemplo: Como foi o processo
de ocupação do lugar em que vivem? Como era a paisagem antigamente? Como foi o
processo de mudança da paisagem? O que ocorreu de significativo? Como eu (aluno) estou
inserido neste processo?
Ao possibilitar a construção destes conceitos e compreensão destas categorias geográficas,
partindo da experiência vivida pelos próprios alunos, que é basicamente a proposta deste
estudo, possibilitar-se-á, também, que o processo de ensino/aprendizagem ganhe mais sentido.
Ao relacionar o conceito (teoria) com a prática, os jovens estudantes estarão lendo sua própria
vida, a dos seus familiares e antepassados, se identificando, caracterizando e valorizando suas
relações de afetividade pelo o meio, tornando um instrumento potencializador na construção
da cidadania, conforme salienta Callai
Ao ler o espaço, desencadeia-se o processo de conhecimento da realidade
que é vivida cotidianamente. Constrói-se o conceito, que é uma abstração da
realidade, formado a partir da realidade em si, a partir da compreensão do
lugar concreto, de onde se extraem elementos para pensar o mundo (ao
construir a nossa história e o nosso espaço). (2005, p.241).
Salienta-se que a opção por realizar este estudo em uma comunidade quilombola, não se
prendeu somente ao fato de se tratar de mais uma proposta prática de ensino. Mas também,
por ser um meio de conhecer um pouco da história, das características e identidade étnica da
comunidade, presente na vida das crianças e como a escola se comporta diante disso, se
exerce algum mecanismo mediador para interligar seus traços culturais com o processo de
ensino/aprendizagem.
26
Na tentativa de compreendermos, ainda que superficialmente, os traços culturais e a
identidade étnica que permanecem na comunidade de Araçatiba, que mesmo com um grande
processo de miscigenação e globalização ainda se mostra resistente e autônoma aos moldes
europeus, abordaremos a seguir um resgate histórico das comunidades quilombolas no Brasil.
1.5 Quilombolas no Brasil
Para compreendermos o processo de surgimento dos quilombos no Brasil, torna-se
imprescindível fazer um breve relato sobre a presença dos africanos no país. O tráfico
africano foi a maior fonte de mão de obra ao Brasil e se constituiu a força de trabalho
principal nos séculos XVII, XVIII e XIX, primeiro no litoral e depois no interior. Os
negociantes brasileiros foram, na época, considerados os mais perseverantes no tráfico
negreiro e na utilização de africanos como mão de obra escrava.
Os traficantes portugueses e, posteriormente, os brasileiros, foram os mais
perseverantes e entusiastas negociantes de seres humanos da época moderna, sendo os primeiros a iniciar esse comércio na África para o Atlântico, e os
últimos a abandoná-lo. (LEWKOWICS, GUTIÉRREZ e FLORENTINO,
2008, p. 20).
Durante os três séculos, o fluxo de escravos provenientes da África para o Brasil foi
heterogênio, chegando à média anual de 30.100 no período auge, ocasião em que, por
pressões internacionais, sobretudo inglesas, se aboliu definitivamente o tráfico negreiro para o
Brasil. Os escravos eram trazidos de diferentes partes do continente africano.
Conforme salientam Lewkowics, Gutiérrez e Florentino (2008), os homens, assim como as
mulheres negras, eram capturados inicialmente em territórios localizados na extensa costa da
África Ocidental e Congo-Angolana, e somente no século XIX começaram chegar também ao
Brasil, de maneira mais intensa, cativos procedentes de Moçambique. Já nos séculos XVI e
XVII, a maior parte dos escravos era oriunda da chamada Costa da Mina, havendo, nos
séculos XVIII e XIX, um deslocamento gradual das zonas de fornecimento para o Sul, com
destaque para a Angola.
Ainda segundo os referidos autores, os negros do noroeste africano eram conhecidos por
nomes como minas, nagôs (iorubás), jejes ou haussás, estes de religião muçulmana, e era
27
bastante comum encontrá-los em portos da Bahia, de Pernambuco e, em geral, em regiões
mais ao norte, de colonização mais antiga. Em contrapartida, os negros chamados congos,
angolas, bengueles ou moçambiques, originários da região central e austral da África, foram
enviados com mais frequência ao Rio de Janeiro, a São Paulo e a regiões sulinas, áreas com
demanda mais intensa de cativos nos séculos XVIII e XIX.
A viagem da África ao Brasil nos navios negreiros, conhecidos como tumbeiros, era das
piores condições higiênicas. Por vezes ocorria superlotação, maus tratos, má alimentação,
doenças, castigos e muitos escravos não completavam a viagem, pois morriam no decorrer do
percurso. Os que chegavam aos portos brasileiros passavam um período em quarentena para
evitar perdas de escravos devido ao novo ambiente epidemiológico. Os escravos vendidos
eram direcionados para trabalhar na grande lavoura, em que o funcionamento da Plantation2
demandava constante abastecimento de escravos.
O funcionamento da plantation requeria o abastecimento contínuo de escravos oriundos do tráfico. Nos séculos XVI e XVII, o principal destino
dos escravos no Brasil era o Nordeste, comprados pelos senhores de engenho
para sua inserção na produção de cana-de-açúcar. (LEWKOWICS,
GUTIÉRREZ e FLORENTINO, 2008, p. 24, grifo dos autores).
Ainda segundo os mesmos autores, a base do engenho foi o trabalho do escravo negro. O
índio aparece esporadicamente, sobretudo nos engenhos administrados por jesuítas, mas
desenvolvendo atividades externas ao engenho, como a de capitão-do-mato, na captura de
escravos fugitivos. Bem como os engenhos nordestinos, a atividade de mineração também
demandou vasta mão de obra escrava desde a descoberta de minas de ouro no final do século
XVII, em Minas Gerais. Em contrapartida, a pecuária foi um exemplo de atividade que era
realizada com menor número de escravos e condições de vida e de trabalho melhores. Assim
como as cidades ofereciam aos escravos oportunidades mais favoráveis.
2 Termo inglês para designar um tipo de organização da produção que tem a escravidão como relação de trabalho
principal. Suas unidades caracterizavam-se por produzir para o mercado, conjugar no mesmo estabelecimento o
cultivo agrícola e o beneficiamento do produto, inserir os escravos em um trabalho por equipes sob comando
unificado e executar as tarefas obedecendo a uma divisão específica de trabalho. (Lewkowics, 2008, p. 134). Isso
porque é a plantation, de acordo com Gorender (1978), citado por Moreira (2011, p. 46), o objeto dos
financiamentos de capital e do tráfico de força de trabalho escrava e da implantação do perfil de ocupação, que
daí se difunde para o todo da colônia.
28
Os escravos eram explorados, castigados e torturados independente do setor que trabalhavam
e os constantes maus tratos desencadeava nos escravos o desejo e a busca pela liberdade. De
acordo com Lewkowics (2008) independentemente da função produtiva ocupada pelo
escravo, os protestos, as fugas e as rebeliões foram uma constante durante a vigência da
economia escravista, emergindo modalidades diferentes conforme as possibilidades que os
escravos encontravam, mas tendo em geral o traço comum de brotarem em decorrência da
exploração ou da imposição de condições inaceitáveis de trabalho. Os escravos que se
negavam a viver nas condições determinadas por seus senhores fugiam e constituíam os
quilombos, uma das expressões mais conhecidas de resistência escrava.
Encontra-se em Lewkowics (2008) a seguinte definição para quilombo e quilombolas:
“Quilombo/quilombola – local onde se escondiam os escravos que fugiam. Quilombolas eram
os escravos que habitavam o quilombo” (p.134). Dessa definição, depreende-se que uma forte
e quase que natural característica do cidadão quilombola é a sua liberdade, a forte resistência
à imposição de outra cultura.
Conforme Lewkowics (2008) formaram-se vários quilombos no Brasil. Minas Gerais
caracterizou-se pela formação de inúmeros quilombos, mais de cem no século XVIII. No
entanto, o maior e mais conhecido quilombo do Brasil formou-se em Alagoas, o Quilombo
dos Palmares, que reuniu cerca de dez milhares de pessoas e perdurou ao longo de todo o
século XVII, resistindo a várias expedições punitivas e conseguindo um grau de
desenvolvimento interno bem mais sofisticado que qualquer outro.
Os quilombos no Brasil surgem então, a partir da resistência escrava às péssimas condições de
vida e trabalho oferecidas na época. Uma pausa dos constantes castigos. O quilombo talvez
significasse para os escravos um lugar de refúgio, quem sabe de recomeço, esperança e justiça
em meio a tantas desigualdades vividas no período escravocrata.
Feito esse breve relato sobre o surgimento de quilombos no Brasil, no próximo capítulo
adentraremos em nossa comunidade de estudo. Araçatiba é um lugar muito especial, que
possui suas singularidades por ser uma comunidade de remanescentes de quilombo.
29
CAPÍTULO II
NOSSO CAMPO DE PESQUISA: ESPECIFICIDADES
Nosso campo de pesquisa é constituído por uma comunidade remanescente quilombola, que
traz em sua rotina e em seus hábitos diários, muitas características e traços culturais
específicos das comunidades quilombolas. Nesse sentido, muitos desses hábitos e traços
culturais estão, também, enraizados nos seus jovens estudantes e, portanto, merecem atenção
especial dos educadores de uma maneira geral e, de forma bastante específica, dos professores
de Geografia, ao se proporem estudar o espaço e as relações de espacialidades nele/dele
inerentes.
Assim, justifica-se, em um primeiro momento, traçar um breve histórico da referida
comunidade.
2.1 História da Comunidade de Araçatiba
Araçatiba, atualmente uma comunidade pequena que abriga remanescentes quilombolas e
também imigrantes que para lá se mudaram em ocasiões posteriores, era no passado uma
grande fazenda produtora de cana de açúcar. A fazenda Araçatiba possuía importância
superior ao município de Viana, de onde faz parte atualmente. A mesma era responsável
também, por manter o Colégio de Santiago, atual Palácio Anchieta. Os jesuítas tiveram papel
importante no desenvolvimento da fazenda. Foram eles quem construíram um canal artificial,
que é hoje o rio Marinho, ligando a baía de Vitória ao rio Jucu, para fazer o escoamento da
produção da fazenda à baía de Vitória. Esse fato é confirmado por Fernandes Filho (2000), o
qual relata que
Várias obras foram executadas pelos padres da companhia nesta Capitania, suas grandes fazendas careciam de infraestrutura para que pudessem
funcionar a pleno vapor e ímpor (sic) sua presença e força, tanto ao gentio
quanto aos colonos. Serão construídos uma série de canais, dos quais o mais famoso e único que pode ser localizado, devido a perda de informações
sobre a localização exata dos outros, que pode ter sido ocasionado por um
incêndio no colégio dos jesuítas em Vitória no ano de 1749, é canal dos
jesuítas, que é conhecido hoje como rio Marinho. Este canal tem seu início
30
no rio Jucú, que cortava a fazenda de Araçatiba, possuidora de engenhos e
conhecida como uma das maiores pertencentes aos padres nessa Capitania, e
tinha como seu destino a baia (sic) de Vitória. Possuía aproximadamente duas léguas de exlenção (sic) (12 Kms) e tinha como principal finalidade o
escoamento da produção dessa fazenda até a ilha de Vitória. Por este canal
era possível escapar aos desconfortes c (sic) perigos proporcionados pelo
trajeto terrestre. (FERNADES FILHO, 2000, p. 17).
Conforme Oliveira (2008), a fazenda Araçatiba foi citada pelo príncipe Maximiliano como a
maior encontrada em sua viagem à Capitania do Espírito Santo. Ainda segundo o referido
autor, a fazenda Araçatiba era uma grande propriedade rural, de duas léguas quadradas, à
margem do rio Jucu.
Coerentemente com aspectos culturais das comunidades quilombolas, a história da
comunidade é, predominantemente, contada pelos seus moradores mais antigos e moradores
de arredores. A matriarca de Araçatiba, Emiliana Coutinho da Silva, mais conhecida como
Dona Nini, é referência viva da história da antiga fazenda Araçatiba e das fugas para o
quilombo.
Dona Nini não vivenciou a escravidão, nasceu no início do século XX. No entanto, conhece a
história da comunidade devido aos relatos dos seus antepassados. A construção da igreja de
nossa Senhora Da Ajuda foi um marco importante para a história do lugar. Segundo relatam, a
construção da igreja, sob supervisão de jesuítas, foi iniciada através do trabalho indígena por
volta do século XVII e XVIII. A presença indígena foi relevante para a denominação do lugar.
Até porque foi à junção do nome Tiba (filha do cacique) e da fruta araçá (muito comum na
época) que deu origem ao nome à comunidade de Araçatiba.
O principal objetivo dos jesuítas era desenvolver a agricultura e dar prosseguimento a
catequese indígena. No entanto, tempos depois os jesuítas foram expulsos de Portugal e de
seus domínios. De acordo com Oliveira
Ao despontar o ano de 1760, o Espírito Santo perdeu a poderosa força que, havia mais de dois séculos, vinha colaborando no seu desenvolvimento: os
jesuítas. [...] Era a execução do alvará de D. José, que expulsava de Portugal
e domínios todos os membros da Companhia de Jesus. (2008, p. 217).
Após a expulsão dos missionários jesuítas, Araçatiba passou a pertencer ao Coronel de
Ordenança Bernardino Falcão Gouveia Vieira Machado. Foi dado prosseguimento a
31
construção da igreja, bem como o trabalho na lavoura de cana de açúcar, por meio do trabalho
escravo de negros africanos. Na história contada pelos moradores consta que a fazenda, já sob
o comando de Sebastião Vieira Machado, descendente de Bernardino, recebeu 800 negros
para o trabalho escravo na lavoura de cana de açúcar já entre os séculos XVIII e XIX. Nessa
mesma direção, encontramos em Fernandes Filho (2000) o seguinte
Araçatiba era a responsável pela a produção de açúcar. Esta locaítzava-se
(sic) onde é hoje o município de Viana e ainda podem ser vistas suas ruínas. Além de engenho possuía também olaria e produzia também aguardente,
melado e mel. Tinha essa fazenda um número de 852 servos entre escravos e
livres. Esta fazenda ainda possuía sete datas de terra que eram Araçatiba, jucú que se dividia em duas, jucuna, Camboapina, Palmeiras e Ponta da
Fruta. (FERNANDES FILHO, 2000, p. 20).
Próximo à comunidade de Araçatiba, localiza-se um morro de mesmo nome, que no período
da escravatura era utilizado como abrigo aos escravos fugitivos. Escravos não somente de
Araçatiba, mas também de fazendas adjacentes, que fugiam dos castigos impostos por seus
senhores. De acordo com a história da comunidade, estes preferiam se refugiar na fazenda de
Araçatiba, pois Sebastião Vieira Machado era considerado um bom senhor porque tratava
melhor seus escravos.
Em 1849 a igreja é submetida a sua última reforma. Mesmo depois da escravatura, os
escravos de Araçatiba continuaram no local. De acordo com a história, os filhos de Sebastião
Vieira Machado doaram 21 hectares das terras para a Igreja Católica para que os negros
pudessem permanecer ali. Dessa forma, os negros tornaram-se então, herdeiros de nossa
Senhora Da Ajuda. Desses 21 hectares doados a igreja, atualmente os remanescentes
quilombolas ocupam aproximadamente 5 hectares.
Araçatiba, atualmente tornou-se uma comunidade urbana que abriga remanescentes
quilombolas, portanto, ainda possui traços do seu passado. Apesar das intervenções de outras
culturas e a uniformização eurocêntrica imposta à sociedade brasileira, sua identidade é
preservada e suas manifestações artísticas, raízes da cultura africana, permanecem vivas até os
dias atuais.
Assim, na perseguição dos objetivos iniciais da presente investigação, nosso desafio,
doravante, será o de relatar, mesmo que de maneira superficial, como se revela a identidade
32
de Araçatiba. E na medida do possível, identificar quais são as singularidades da comunidade,
as raízes que permanecem intactas e resistentes ao eurocentrismo.
2.2As raízes de Araçatiba
Araçatiba localiza-se no município de Viana, que por sua vez, faz parte da região
Metropolitana de Vitória, Espírito Santo. Visualiza-se abaixo no Mapa 1 a localização de
Araçatiba.
Mapa 1: Localização de Araçatiba, no município de Viana - ES
Fonte: Geobases 2010. Elaborado por Helena Amanda Faller Tagarro.
A tabela a seguir expressa os dados mais atualizados referentes ao município de Viana e
bairro Araçatiba, de acordo com o Censo de 2010 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). No entanto gostaríamos de fazer uma ressalva quanto à nomenclatura
utilizada pelo IBGE para designar o bairro e comunidade de Araçatiba. Onde está escrito
Distrito Araçatiba substitui-se por Bairro Araçatiba, enquanto que onde está escrito Bairro
Araçatiba substitui-se por Comunidade Araçatiba. Justifica-se essa alteração pautada em
nosso conhecimento empírico das dimensões geográficas da comunidade em questão.
33
Tabela 01: Dados censitários do Município de Viana e de Araçatiba
Fonte: Censo 2010/Sinopse por Setores – IBGE.
O bairro Araçatiba, embora considerado como urbano, ainda configura-se em área rural, como
podemos observar abaixo na Figura 1. De acordo com a Prefeitura Municipal de Viana o
bairro abrange os loteamentos de Mamoeiro, Seringal e Araçatiba. O mesmo possuía,
conforme Tabela 01, em 2010 uma população total de 1659 habitantes. Enquanto que a
população total da comunidade de Araçatiba era de 493 habitantes.
Reafirmamos que, embora a comunidade Araçatiba faça parte de uma área
predominantemente rural, pode-se considerá-la uma comunidade urbanizada, baseado nos
serviços oferecidos pela Prefeitura de Viana, como por exemplo, coleta regular de resíduos
sólidos e líquidos, rede de água potável, energia elétrica, escola de primeiro grau, posto de
saúde, ruas calçadas, transporte coletivo público e campo de futebol.
34
Figura 01: Localização do Bairro Araçatiba -Viana-ES
Fonte: Geobases 2010. Elaborado por Helena Amanda Faller Tagarro.
Como mencionado anteriormente, a comunidade de Araçatiba abriga nos dias atuais
quilombolas e também imigrantes que para lá se direcionaram em diferentes momentos e
movidos por diversas circunstâncias. O interessante em Araçatiba, além de sua magnífica
história, é que mesmo com o passar do tempo, apesar da homogeneidade europeia e embora
ocorra a presença de distintas culturas que foram agregando à cultura local, Araçatiba ainda
mantém os traços do seu passado.
As raízes de Araçatiba estão manifestas em seu patrimônio material e imaterial, que não
necessariamente estão tombados3. O patrimônio material de Araçatiba é constituído por um
3Segundo o IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o tombamento é um ato
administrativo realizado pelo Poder Público, nos níveis federal, estadual ou municipal. O objetivo do
tombamento é preservar bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo
para a população, impedindo a destruição e/ou descaracterização de tais bens. Pode ser aplicado aos bens móveis e imóveis, de interesse cultural ou ambiental. É o caso de fotografias, livros, mobiliários, utensílios, obras de
arte, edifícios, ruas, praças, cidades, regiões, florestas, cascatas etc. Somente é aplicado aos bens materiais de
interesse para a preservação da memória coletiva.
35
sítio arqueológico composto pela Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, construída no século
XVII, que é, atualmente, o único patrimônio histórico e cultural de Araçatiba tombado pelo
IPHAN. Aos arredores da igreja existe um cemitério que data da construção da igreja. Ao lado
da igreja as ruínas do Casarão e um pouco mais distante da igreja, já na parte baixa de
Araçatiba, encontra-se as ruínas do Entreposto Comercial.
Foto 01: Igreja de Nossa Senhora da Ajuda Foto 02: Ruínas do Antigo Casarão
Fonte: arquivo das pesquisadoras, 2013.
Foto 03: Cemitério de Araçatiba Foto 04: Ruínas do Antigo Entreposto
Comercial
Fonte: arquivo das pesquisadoras, 2013.
36
Ainda nos domínios do que foi a Grande Fazenda Araçatiba é possível encontrar outras ruínas
de edifícios que compunham o cenário no período colonial. Em meio ao patrimônio material e
imaterial de Araçatiba, existe uma banda de congo chamada Mãe Petronilha que fora fundada
entre os séculos XIX e XX e permanece em atividade até hoje.
Segundo o Diagnóstico de Araçatiba (2006), realizado pelo Ibase - Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas,
Petronilha era a parteira de Araçatiba. As crianças a chamavam de Mãe
Teotó. Ela fez o parto de muitas crianças inclusive dos congueiros; Além deste fato, ela era a guardadora dos instrumentos e também uma
incentivadora e continuadora do congo para que não viesse a acabar.
(IBASE, 2006, p. 16).
Consta no Diagnóstico de Araçatiba (2006, p. 16) que as atividades de congada existiam em
Araçatiba desde a escravidão, na ocasião em que os senhores tomavam o vinho e jogavam
fora os barris. Então, os negros pegavam os barris, colocavam couro e tocavam para festejar.
Atualmente o mestre de congo mais antigo da comunidade é o senhor Alício Machado, que
era neto de Mãe Petronilha.
Segundo o Diagnóstico de Araçatiba4 (2006)
O congo é realizado para São Benedito. Os (as) moradores (as) realizam sua festa no primeiro domingo após o natal onde dançam o congo e realizam a
fincada do mastro de São Benedito. Festejam também o dia de Nossa
Senhora D’Ajuda que é padroeira da comunidade. (IBASE, 2006, p. 11).
4 O Documento Diagnóstico Social da comunidade Araçatiba – remanescente de um Quilombo, situada no município de Viana, no estado do Espírito Santo - se insere como etapa inicial da criação de um núcleo de
integração comunitária, que se constitui a partir da implantação de um projeto de referência, construído e
estabelecido em conjunto com essa comunidade. O IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Econômicas e
Sociais), em parceria com FURNAS Centrais Elétricas S. A. e COEP (Comitê de Entidades no Combate à fome
e pela Vida) é o responsável pela facilitação da implementação da proposta.
37
Foto 05: Fincada do mastro de São Benedito em Araçatiba
Fonte: Rubens Teixeira da Silva, 2013.
Além da banda de congo e das festas que permeiam a congada, também merece destaque a
existência de um prato tradicional de Araçatiba: o sotêco. Trata-se de um prato típico feito
com banana cozida e outros ingredientes não revelados pela comunidade a terceiros, cuja
receita é repassada de geração a geração através das moradoras mais antigas, como Dona
Nini. Outra característica marcante em Araçatiba são os penteados afros, que através de
tranças embelezam os cabelos das jovens e anciãs da comunidade.
Por último, mas de grande relevância para a história da comunidade, vale destacar que
Araçatiba tem time de futebol próprio. O Guarani Futebol Clube que foi fundado em meados
da década de 1950. A história contada pelo presidente do time, Lauro Ribeiro, mostra como o
time é importante para a comunidade. O Guarani Futebol Clube de Araçatiba possui campo
próprio. Segundo relatos de Lauro, o local do atual campo de futebol era um porto que
escoava para Vila Velha o café produzido na região em meados de 1960. É importante
destacar que o campo já esteve em cinco locais diferentes da comunidade, mediante a
dinâmica que ocorreu na paisagem de Araçatiba.
Lauro conta que é proveniente de Iconha, mas migrou para Araçatiba em 1958 com a
finalidade de trabalhar na fazenda. Ele ressalta que nesse momento o clube já existia, mas
estava fora de atividade, pois não tinha quem o assumisse. Nesse contexto histórico, o então
fazendeiro Francisco Palassi convida Lauro, que era seu cunhado, para dirigir o time. Em
1960 o Guarani Futebol Clube de Araçatiba retomou suas atividades, e permanece ativo até os
dias atuais. O time participa de torneios e campeonatos da região e já possui vários títulos,
como o de campeão do "I Torneio Circular Quilombola de Futebol", que ocorreu em 2009,
38
com a participação de times de outras comunidades de remanescentes quilombolas, como:
Roda D`Água (Cariacica), São Mateus (Anchieta) e Retiro (Santa Leopoldina).
Depois de conhecer um pouco da comunidade de Araçatiba de uma maneira geral, voltamos
nossos olhares para o nosso campo de pesquisa direta, propriamente dito, que foi a Escola
Municipal de Ensino Fundamental de Araçatiba. Para tanto, será exposto a seguir informações
que foram coletadas na escola por meio de entrevistas e observações de campo.
2.3 A Escola e seus sujeitos
As informações referentes à caracterização da escola foram coletadas através de observação a
campo e por meio de entrevista pessoal com a pedagoga regente, Deislaine Mandato Morais,
no primeiro contato com a EMEF Araçatiba. É válido lembrar que a equipe pedagógica nos
recebeu muito gentilmente, o que facilitou a realização da presente pesquisa. Inclusive,
conforme já mencionado anteriormente, a referida equipe e instituição escolar autorizou a sua
identificação na presente pesquisa, não necessitando recorrer aos critérios de invisibilidade.
Assim, ancorados nas orientações e pressupostos defendidos por Ribeiro (2004) julgamos
importante caracterizar o espaço escolar por ser neste ambiente que se desenvolve a prática
pedagógica, constituindo-se num espaço de possibilidades ou de limites, que deve propiciar
condições mínimas quanto ao bem-estar docente e discente. Partimos, pois, do pressuposto de
que, conforme nos afirma o referido autor:
Analisar o ambiente escolar é uma necessidade premente, uma vez que esse tem sido negligenciado, [...] na maioria das vezes, não completam sequer as
condições básicas de conforto ambiental e de segurança. A inobservância
dessa unidade [...] tem reflexos muito negativos para os alunos. Estudos
revelam que o ambiente físico, a sua estrutura e as significações simbólicas determinam, em grande parte, as experiências da criança, seu aprendizado e
desenvolvimento. (RIBEIRO, 2004, p. 108).
a) Quanto ao espaço físico da escola
A Escola Municipal de Ensino Fundamental de Araçatiba atende o primeiro segmento do
Ensino Fundamental (do 1° ao 5° ano). Esta possui três salas de aula, uma sala de música
39
improvisada, um espaço para livro inapropriado junto ao refeitório, dois banheiros que estão
em reforma, uma secretaria, uma cozinha, um laboratório de informática que não funciona por
falta de técnico e uma quadra de esportes.
Devido à escola estar passando por reforma, no momento de realização da presente pesquisa,
notamos que algumas paredes estão sem reboco, o chão da sala de música está no concreto
grosso e a quadra de esportes não possui alambrados para impedir que a bola saia do espaço
da escola. Também não há muros em volta da instituição e os ruídos da obra de reforma são
constantes.
b) Quanto à equipe de professores
O corpo docente da escola é constituído por um total de dez professores no seu todo, sendo
seis regentes, todos formados em Pedagogia, dois professores de Educação Física, um
professor de Artes e um professor de Musicalidade que ensina flauta e congo aos alunos. Dos
funcionários da escola, apenas um professor, uma faxineira e uma cozinheira moram na
comunidade.
c) Quanto à quantidade de alunos
A escola possui um total de 83 (oitenta e três) alunos regularmente matriculados e frequentes,
sendo que 40 destes alunos estão matriculados no turno matutino e os demais 43 no turno
vespertino. O turno matutino atende as turmas do 1° e 2° ano infantil. Já o turno vespertino
atende o 3°, 4° e 5° ano. Segundo a pedagoga, cada turma, de ambos os turnos, possui em
média 14 alunos, todos moradores da própria comunidade.
O Projeto Político Pedagógico da escola não foi finalizado devido à troca da administração na
instituição, conforme informações verbais da pedagoga.
2.4 Vozes da professora regente e da pedagoga
A professora regente da turma em que realizamos a oficina possui graduação de Pedagogia,
cursada na modalidade à distância. Reside no município de Viana e conhece a comunidade de
Araçatiba desde pequena.
40
Conforme a mesma nos informou, ela não tem o hábito de elaborar planos de aulas todos os
dia, utilizando-se de uma sequência didática, que segundo a mesma é de caráter
interdisciplinar. Nos informou, ainda, que busca sempre seguir a Proposta Curricular
Pedagógica adotada pela rede de ensino do município de Viana.
Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentem as ciências naturais como
fundamentais para o educação infantil, a professora regente enfatiza que trabalha mais com as
disciplinas de Português e Matemática, que segundo ela é o que prevalece no ensino Infantil.
Apesar desta afirmação, quando perguntamos se trabalha com o ensino de Geografia, ela
afirmou que trabalha, porém muito superficialmente, pois não teve uma formação mais
aprofundada acerca da disciplina, e que, portanto, tem buscado outros meios de estudos para
sua prática pedagógica, tais como a internet.
Quando perguntamos sobre qual assunto geográfico a mesma considera mais difícil para se
trabalhar em sala de aula, ela respondeu que é referente à Localização e Escala. Estes dois
assuntos estão relacionados com a alfabetização cartográfica, que é acima de tudo
indispensável para o ensino da Geografia, pois, possibilita inicialmente a construção das
noções básicas de representação e compreensão da realidade, do espaço vivido.
A dificuldade relatada pela professora para ministrar as aulas desses conteúdos do ensino
geográfico não é surpresa. Isso reforça ainda mais o nosso objetivo de envidar esforços no
sentido de subsidiar tais professores, propondo atividades que possam oferecer práticas
pedagógicas e instrumentos eficazes para o processo de ensino/aprendizagem da criança. No
caso específico da presente investigação, há que se ponderar, ainda, a busca por considerar o
próprio cotidiano de vivência da criança, tanto no âmbito da escola, como também as
especificidades da comunidade de remanescentes quilombolas onde a mesma se insere.
Ressalta-se, de imediato, que o fato de a comunidade ser remanescente quilombola interfere
muito na aprendizagem, no modo de vida e de cultura das crianças. Segundo a professora e a
pedagoga da escola, os alunos conhecem e admiram a história da comunidade. A maioria dos
estudantes, conforme relata a professora, já conhecia a história da comunidade e seus traços
culturais, antes mesmo de chegar à escola. Aprenderam com os familiares, com os amigos,
pessoas mais antigas e em outras instituições sociais presentes na comunidade, como igreja e
o centro comunitário.
41
A escola busca trabalhar a história e a cultura da comunidade principalmente na semana da
consciência negra, resgatando as culturas negras afro brasileiras do Espírito Santo. Porém, de
acordo com a professora e a própria pedagoga da escola, esta questão da comunidade ser
quilombola não é devidamente explorada nas atividades educacionais, durante o ano letivo. A
escola segue o padrão curricular oferecido pelo município, ou seja, não proporciona um plano
de ensino particular trabalhando os conhecimentos científicos com a identidade étnica das
crianças.
Segundo a pedagoga da escola, são principalmente nas aulas de música que se buscam
trabalhar com a cultura da comunidade, utilizando de instrumentos, ritmos e danças típicas da
cultura escravocrata, ou seja, da comunidade de remanescentes de quilombo. As crianças,
segundo ela, adoram participar, e a maioria, já traz consigo, o “molejo” e o “rebolado” que
aprendem com os familiares. Elas fazem apresentações em outros locais além da escola, e isso
acaba despertando ainda mais a vontade de participar das aulas.
Diante do exposto e, no intuito de captar as percepções, conceitos e saberes dos discentes
acerca, principalmente das categorias geográficas de lugar e de paisagem, buscando propor
atividades didático-pedagógicas que possam contribuir para o ensino da Geografia,
considerando a realidade desses estudantes, houve uma delimitação do/no nosso campo de
pesquisa empírica. Para tanto, a coleta de dados, via “Oficina de desenho”, teve como foco
principal a turma do segundo ano do Ensino Fundamental 1, no turno matutino, ou seja,
trabalhamos diretamente com crianças que estão ingressando ao ensino fundamental, ainda na
fase inicial de alfabetização.
2.5 Oficina de desenho: desvelando saberes...
A oficina foi realizada no dia 24 de outubro de 2013. Inicialmente, buscando subsidiar as
atividades a serem desenvolvidas, foi realizada uma pesquisa de campo, percorrendo os
principais pontos da comunidade de Araçatiba, retirando fotos e conversando com os
moradores, sobre os aspectos principais da história e da cultura da comunidade.
Após esta breve pesquisa de campo, para entender um pouco da história e formação da
comunidade, partindo de dados empíricos e das entrevistas, fomos para o nosso local de
aplicação da oficina, que é a escola da comunidade. Nossa recepção foi muito amistosa e
42
agradável. Realizamos, na oportunidade, entrevistas com a pedagoga e com a professora
regente da turma em que foi aplicada a oficina, além de retirar fotos no interior da escola.
Ao entrar na sala de aula, abordamos as crianças nos apresentando e destacando o caráter
principal da nossa oficina que seria o processo de ensino/aprendizagem partindo do
conhecimento que elas trazem do seu dia-a-dia. Para isso, explicamos que cada uma deveria
desenhar o que elas acham que significa ou representa paisagem e o lugar no seu dia-a-dia.
Conforme explicitado anteriormente, utilizamos a metodologia de desenho, por julgar ser esta
uma atividade lúdica e recreativa que as crianças gostam de fazer e que ao mesmo tempo,
pode constituir-se em uma forma/atividade eficaz para se trabalhar os conceitos de paisagem e
lugar propostos nesta pesquisa.
Disponibilizados os materiais necessários para as atividades práticas, tais como lápis de
escrever, papel A4 e lápis de cor, procuramos deixar as crianças bem à vontade para
realização da tarefa: representar por meio de desenho o que elas entendem ser paisagem e
lugar. O empenho para realização da atividade foi notório, conforme pode-se observar pelas
fotos 06 e 07. Ressalta-se que, aparentemente, as crianças não demonstraram dúvidas ou
dificuldades para a representação do que seriam estes conceitos.
Fotos 06 e 07: Alunos “A e B” participando da oficina de desenhos
Fonte: arquivo das pesquisadoras, 2013.
Espontaneamente, durante a realização da atividade, os alunos conversavam entre si, quando
era possível ouvir comentários do tipo: “a paisagem daqui é muito bonita”; “Aqui há muitas
árvores, pássaros, montanhas”; “Eu gosto daqui, do lugar onde eu moro”; “Paisagem é o que é
43
bonito e lugar é onde eu moro”; “Eu gosto daqui porque aqui não tem muito barulho como na
cidade”. A partir de tais comentários, nota-se que os aspectos naturais da paisagem, a
princípio, foram os mais assinalados pelos alunos. E aos poucos, podemos perceber em seus
desenhos outros traços característicos da região de Araçatiba, como por exemplo, a igreja de
Nossa Senhora da Ajuda, construída pelos negros, e o morro de Araçatiba, onde os escravos
se refugiavam de seus exatores, elementos estes correlatos à cultura e história da comunidade.
Os desenhos também revelam a importância e o valor do espaço vivido pelos alunos, pois,
através deles expressam o sentimento de pertencimento e identidade com o lugar. Isso ajuda a
promover a valorização da comunidade quilombola de Araçatiba.
Conforme previsto no planejamento das atividades iniciais, ao terminar o trabalho de desenho
livre proposto, as crianças trocaram seus desenhos entre si. Então, cada criança analisou e
pontuou no desenho do colega os objetos que para elas compõem as categorias paisagem e
lugar de Araçatiba.
Destacamos, de imediato, a constatação de um fato curioso: notamos que os próprios alunos
não se viam como fazendo parte da paisagem de sua região e como agentes de transformação
da paisagem e do espaço geográfico onde moram. Tal constatação reforça a importância e
relevância de se trabalhar os conteúdos de Geografia desde as séries iniciais, propiciando aos
estudantes as condições de se sentirem e se perceberem agentes ativos, atuantes e partes do
meio em que vivem.
Assim, nosso próximo desafio, gravita em torno dos esforços por fazer a análise dos seus
desenhos, e propor aos professores ferramentas/métodos que facilitem a compreensão dos
alunos quanto a estes conceitos de forma a promover uma melhor compreensão geográfica
dessas categorias e a valorização da cultura e história local.
2.6 Análise dos desenhos: quando o desenho vira texto...
Como já discutido anteriormente, Tuan (1988) destaca que o ser humano percebe o mundo
simultaneamente através de todos os seus sentidos. Logo, o perceber e se relacionar com o
espaço ocupado, estão além do empirismo. A criança que mora no meio rural, em uma rua
ainda não asfaltada, conhece com mais propriedade o cheiro de terra molhada em dias de
44
chuva, que uma criança que mora na cidade, que não terá essa mesma sensação, pois as ruas
em alguns casos já estão asfaltadas. Da mesma forma, a criança que estuda longe de casa e
precisa percorrer o trajeto até a escola caminhando, sabe o que é sentir a poeira no rosto e o
calor do sol sobre a cabeça, enquanto a criança que faz esse trajeto de carro terá uma
percepção diferenciada desse mesmo trajeto.
Perceber é uma forma de entender e se posicionar no mundo. Conforme bem ressalta Tuan
(1980). “uma pessoa que simplesmente “vê” é um espectador, um observador, alguém que
não está envolvido com a cena” (p. 12).
Existem, portanto, maneiras variadas de perceber o mundo. Cada pessoa pode observar o
mesmo lugar de formas diferentes, priorizando o que se tem interesse em um dado momento e
desprezando o que é julgado como desinteressante. Nesse sentido, segundo Tuan (1980), os
seres humanos, individualmente ou em grupos tendem a perceber o mundo com o “self” 5,
como o centro. Ainda salienta que mesmo o egocentrismo e etnocentrismo tendo intensidades
diferentes entre os grupos sociais e os indivíduos, parecem ser traços humanos universais. E
salienta que
Duas pessoas não veem a mesma realidade. Nem dois grupos sociais fazem exatamente a mesma avaliação do meio ambiente. [...] corremos o risco de
não notar o fato de que, por mais diversas que sejam nossas percepções do
meio ambiente, como membros da mesma espécie, estamos limitados a ver as coisas de uma certa maneira. (TUAN, 1980, p.6).
Partindo desses pressupostos e por meio da atividade sugerida às crianças, percebemos que
mesmo tendo pouca idade, as crianças envolvidas com a oficina de desenho demonstraram ter
capacidade de selecionar da paisagem o que para elas tinha mais importância naquele dado
momento. De fato, a percepção de uma criança não pode ser igualada a realidade observada
por um adulto. Conforme a criança cresce, adquire maior habilidade de perceber o mundo e
encontrar seu lugar no espaço.
De acordo com Tuan (1980, p. 64), ver a paisagem requer, antes de tudo, a habilidade de fazer
distinção nítida entre o eu e os outros, uma habilidade ainda pouco desenvolvida nas crianças
5 Que traduzido da Língua Inglesa quer dizer “eu”.
45
de seis ou sete anos, como as crianças participantes da nossa Oficina de desenho. No entanto,
embora a criança não tenha desenvolvido de fato todas as suas habilidades de compreensão à
cerca do eu e do outro, e mesmo sem ainda ter perfeito entendimento da complexidade do
mundo e da leitura da paisagem que ela se insere, ela já sabe fazer distinção entre os vários
componentes da paisagem. Nessa direção afirma Tuan que “apesar de a paisagem escapar à
criança pequena, ela está bem ciente dos vários componentes: um toco de árvore, um grande
matacão, água borbulhando num trecho de córrego”. (1980, p.64).
De maneira geral, pode-se considerar que o espaço e tudo o que esta contido nele são
elementos que, de uma forma ou de outra, acabam por condicionar a atividade e prática social
do homem. Desta maneira, estes diversos pontos que fazem parte do cotidiano das pessoas
precisam e devem ser analisados e discutidos, para compreender os processos que foram
responsáveis por construí-los: sua gênese e organização no espaço.
Partindo de tal pressuposto é que o objetivo principal deste estudo gravita em torno dos
esforços de se utilizar deste conhecimento prévio que as crianças já trazem do seu dia a dia
sobre o espaço que elas vivem, para trabalhar os conceitos geográficos de Lugar e Paisagem.
Como foi descrito anteriormente, utilizamos, como recurso didático o desenho, uma vez que,
em se tratando de crianças das séries iniciais do ensino infantil, é um dos recursos mais
utilizados.
Ao fazer o desenho, a criança acaba por fazer uma seleção de informações dos dados que
considera mais importante e relevante para serem destacados. A partir daí ela elabora seu
pensamento e sua visão de mundo, perante o que foi proposto. Esse fato indica que o desenho
não é um reflexo da realidade em si, ele passa por leituras particulares que alteram sua
dimensão. Nesse sentido, o que examinaremos a seguir é se o que eles destacaram contribui
como mecanismo para o processo de ensino/aprendizagem sobre os conceitos de Paisagem e
Lugar.
Para exemplificarmos nossa proposta de estudo e expor as perspectivas diferentes da leitura
espacial que cada criança traz consigo sobre Paisagem e Lugar dentro de sua comunidade,
expressas nos respectivos desenhos, a seguir serão apresentados, três desenhos produzidos
pelos alunos.
46
PRIMEIRO DESENHO
Ao analisar um desenho não se pode deixar de notar nenhum aspecto, pois cada representação
expressa alguma emoção ou pensamento. O que mais chama atenção no contexto deste
primeiro desenho são as cores fortes e alegres utilizadas, o esboço das representações
escolhidas pela criança para representar Lugar e Paisagem e principalmente o caráter
emocional afetivo pelo lugar expresso pelos corações na parte superior do desenho.
Os elementos que a criança autora do referido desenho escolheu para representar a Paisagem e
o Lugar em sua comunidade foram, a construção de uma casa baixa, que provavelmente é a
sua residência, da igreja, patrimônio histórico e cultural dos habitantes da comunidade
escolhida, e ainda, alguns aspectos naturais presentes na comunidade, desenhando a árvore, a
flor e os animais. Ao desenhar sua casa e a igreja, conclui-se a importância e afetividade
destes dois lugares para sua vida, mostrando o lado religioso, cultural e social da criança, e
quando se insere, a árvore, a flor, e os animais, destacados pelo tamanho, expressa o caráter
natural, até mesmo rural, da comunidade.
47
Levando em consideração apenas a utilização deste desenho, observa-se alguns conteúdos que
podem ser trabalhados para o processo de ensino/aprendizagem da criança, além de paisagem
e lugar, como os aspectos naturais e artificiais presentes na comunidade, o ambiente que a
comunidade esta inserida, sua história, partindo do marco da fundação da igreja, e ainda
outros aspectos, como localização e biodiversidade.
SEGUNDO DESENHO
Observamos que as crianças costumam desenhar aquilo que elas sabem sobre o objeto
trabalhado. Nesse caso específico, as categorias geográficas de Paisagem e Lugar. No
segundo desenho, seguindo as orientações propostas para que a criança representasse a
paisagem de Araçatiba, a criança não se ateve apenas em imaginar aspectos naturais ou
artificiais da paisagem. O desenho contém elementos de ambos os tipos de paisagem, tanto da
paisagem natural como da paisagem artificial.
48
No que se refere à representação do lugar em que a criança se insere, é interessante destacar
que a criança registrou em seu desenho aquilo que para ela teve mais relevância para ser
representado, caracterizando de maneira clara o lugar dessa criança na comunidade. Na
reprodução cartográfica acima, podemos observar o desenho de uma casa que nos remete a
pensar que essa criança encontra nesse espaço, o seu lugar, onde porventura passa mais tempo
e realiza suas atividades diárias, sendo ali então um espaço de aconchego e apoio, onde a
criança sente maior afetividade, ou nas palavras de Tuan (1980), ali é para a criança a pausa
em meio aos movimentos intensos que ocorrem ao redor desse lugar, no que ainda podemos
denominar de espaço.
Sem muita fidelidade a paisagem real, a criança não se importa com proporcionalidade ou
escala, dá as borboletas o mesmo tamanho que tem as janelas da igreja. Sem dúvida, a igreja
de Nossa Senhora da Ajuda tem para essa criança uma importância fundamental, isso porque
na representação, a mesma ocupa o plano central e praticamente metade do espaço trabalhado.
Em frente à igreja a criança desenha uma escada demonstrando que a mesma localiza-se em
um terreno superior ao da rua.
Confirmando o fato de que a criança desenha aquilo que para ela tem significado em um
momento peculiar, observamos no plano inferior esquerdo do desenho, a reprodução de uma
amarelinha, brincadeira que consiste em pular de um ou dois pés até chegar ao final do jogo.
Por algum motivo a criança preferiu apaga-la, ou ao menos tentou, mesmo depois de ter
arriscado desenhar duas vezes o jogo no que para ela seria o chão. Araçatiba não possui
muitas opções de lazer, salvo o campinho de futebol, para tanto, amarelinha deve ser a
brincadeira preferida da criança que a desenha.
Em conformidade com o que afirma Santos (1988), a altura em que se observa a paisagem ou
o ponto de observação da mesma, influencia grandemente no momento da representação.
Nota-se que a criança em primeiro lugar faz os objetos, que para ela compõem a paisagem de
Araçatiba, no plano horizontal, ou seja, o plano que é observado pela criança quando anda
pela comunidade. Mas ao desenhar o jogo de amarelinha, a criança representa-o no plano
vertical, ou seja, o que é visto de cima quando a criança está jogando amarelinha, que é
desenhada no chão.
É importante dizer, que a criança traz em seus desenhos muitos aspectos de uma paisagem
natural, que não necessariamente fazem parte apenas da paisagem de Araçatiba, mas que são
49
também observados em Araçatiba, como os pássaros voando acima da igreja, as borboletas, as
estrelas, as nuvens, a flor, uma espécie de animal no plano inferior da imagem, a grama e por
fim uma árvore de maçãs de amor. Para nós, a árvore é representada com sentimento,
corações são os frutos da árvore, quem sabe uma árvore de amor.
TERCEIRO DESENHO
Podemos observar neste desenho, como a paisagem natural de Araçatiba sobressai à paisagem
artificial, pelo menos na visão desta criança. Como dito anteriormente, cada indivíduo observa
o mesmo lugar de formas diferentes, priorizando o que se tem interesse em um dado momento
e desprezando o que é julgado como desinteressante.
Nesta representação de Paisagem e Lugar, observamos que a criança priorizou mostrar o
relevo de sua região. Ela desenha cinco morros, dentre os quais, quatro deles possuem um
tamanho reduzido, se comparado com o morro central. Nota-se também que no topo do maior
50
morro estão postos alguns pequenos quadradinhos que por sinal representam, para a criança
que os desenha, as casas da sua comunidade. Então podemos compreender a importância dada
pela criança ao lugar ao qual se insere, tendo em vista que a comunidade configura-se sobre o
maior morro representado no plano. Essa paisagem é característica do município de Viana,
inclusive há também grandes planícies em Araçatiba e as margens do rio Jucu. Isso explica,
porque os elementos da paisagem que mais chamaram a atenção desta criança foram os
elementos naturais, sobretudo o relevo.
Uma característica climática de Araçatiba também é exposta no desenho, se observado o
tamanho do grande sol representado no alto da tela. O sol está posto bem próximo da
comunidade, dando a entender o quanto Araçatiba é considerada quente embora se localize
em uma área predominantemente rural. Observa-se também, o céu azul sem nuvens, poucas
árvores sobrepostas nos topos dos morros, o que parece dar mais intensidade ao calor
representado pela criança. E por fim pássaros voando, paisagem bem típica de clima tropical.
Os três desenhos selecionados e apresentados anteriormente exemplificam com bastante
nitidez que as crianças trazem consigo, noções e conceitos acerca do Lugar e da Paisagem.
Tais noções são construídas no convívio diário com os demais membros da comunidade e,
portanto, estão prenhes dos aspectos socioculturais na qual se inserem.
No caso específico, trata-se de uma comunidade quilombola, que traz arraigada aspectos
culturais próprios e que heroicamente tem resistido às imposições e mesmo violência
eurocêntrica, de superposição de uma cultura sobre a outra.
Nesse sentido, evidencia-se a relevância de se trabalhar conteúdos e categorias geográficas
que visem contribuir para a formação cidadã de seus jovens estudantes, partindo e respeitando
tais aspectos, de maneira verdadeiramente cidadã. É nessa direção e com essa preocupação
que, no próximo capítulo, pautados nos dados empíricos e embasados na fundamentação
teórica discutidas no primeiro e segundo capítulo, que apresentaremos propostas alternativas
de ensino/aprendizagem de tais categorias, elaboradas a partir das vivências, concepções,
saberes e não-saberes das próprias crianças. Esse é o desafio do próximo capítulo.
51
CAPÍTULO III
TRILHANDO UM CAMINHO: ALTERNATIVAS DE ENSINO...
No capítulo anterior, buscamos caracterizar a comunidade de Araçatiba, bem como traçar uma
descrição da oficina realizada com os alunos, no intuito de captar as percepções e saberes dos
mesmos acerca das categorias geográficas de lugar e de paisagem. Nossa intenção ao propor
esta atividade era exatamente destacar a importância e a necessidade de trabalhar os
conteúdos científicos partindo do conhecimento prévio dos alunos, mas principalmente,
mostrar que de alguma maneira, mesmo que superficialmente, os alunos já compreendem o
espaço e alguns de seus aspectos desde cedo.
Assim, na perseguição de nosso objetivo principal, é intenção, no presente capítulo,
apresentar propostas didático-pedagógicas de algumas metodologias de ensino e/ou recursos
pedagógicos alternativos, que contribuam, beneficiem e auxiliem os professores das séries
iniciais ao se trabalhar os conceitos de Paisagem e Lugar, tendo por ponto de partida os
saberes inerentes de seus alunos.
3.1 O Planejamento Escolar: algumas reflexões...
O planejamento escolar, encarado na perspectiva aqui defendida, tem o objetivo de organizar,
estruturar e preparar meios para a prática educacional, a fim de facilitar e melhorar a
qualidade do trabalho docente. O plano de ensino deve buscar atingir as propostas curriculares
sempre respeitando a realidade concreta da escola, da criança e da comunidade, e é
imprescindível haver uma reflexão da/na ação e, a partir daí, analisar, avaliar e replanejar as
ações previamente determinadas nos planos ou projetos, estabelecendo uma didática de ensino
que permita relacionar o conhecimento científico com o conhecimento popular, do cotidiano
da própria vivência do aluno.
Nesse sentido, é válido ressaltar que, no processo de ensino/aprendizagem, de acordo com
Proposta Pedagógica Municipal de Viana (2011)
a criança traz consigo uma bagagem cultural, sendo necessário valorizar,
respeitar suas limitações e contribuir para a formação de um indivíduo
52
crítico e participativo na sociedade como um ser único, com características e
ritmos próprios, que interage com o meio (p.45).
E, ainda, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, Lei
9.131/95. Art. 3º [...]
II – As Instituições de Educação Infantil ao definir suas Propostas
Pedagógicas deverão explicitar o reconhecimento da importância da identidade pessoal de alunos, suas famílias, professores e outros
profissionais, e a identidade de cada Unidade Educacional, nos vários
contextos que se situem.
Dessa maneira, é indispensável que o professor e a escola adotem um bom planejamento,
pautado na proposta curricular e que permita a integração de práticas educacionais que
considerem acima de tudo um cuidado e respeito enorme por cada criança e comunidade, pois
cada criança e comunidade respectivamente, pensa, sente, e tem alguma especificidade
cultural ou social especial.
Conforme afirma Menegola e Sant’Anna (2001, p. 25)
Planejar o processo educativo é planejar o indefinido, porque educação não é o processo, cujos resultados podem ser totalmente pré-definidos,
determinados ou pré-escolhidos, como se fossem produtos de correntes de
uma ação puramente mecânica e impensável. Devemos, pois, planejar a ação
educativa para o homem não impondo-lhe diretrizes que o alheiem. Permitindo, com isso, que a educação, ajude o homem a ser criador de sua
história.
No nosso caso, a comunidade em questão é remanescente de Quilombo, e as crianças,
precisam e devem integrar e preservar este aspecto em suas vidas.
Nessa direção é que se defende que os professores e a escola devem elaborar currículos e
programas para a Educação Infantil da Comunidade de Araçatiba que façam pontes ligando a
vida dos alunos e de suas famílias aos acontecimentos do Brasil, do Espírito Santo e dos seus
antepassados, utilizando de metodologias e recursos de ensino pedagógicos eficazes, que para
além de auxiliar no processo de ensino/aprendizagem, auxiliem no processo de inserção da
criança na sociedade.
53
Entende-se, desta forma, que a escola tem um grande papel na formação e desenvolvimento
do homem e que o grande desafio da escola hoje é contribuir para a formação de cidadãos
críticos, conscientes e atuantes na sua esfera social.
Outro grande desafio a ser enfrentado nas escolas, no tocante ao planejamento escolar e as
didáticas de ensino se refere à necessidade dos mesmos possuírem caráter interdisciplinar e de
serem constantemente discutidos e analisados pelo o corpo docente e até mesmo pela própria
comunidade. É lamentável observar que tem sido prática comum entre os docentes, o hábito
de tomarem como rotina, quase que mecânica, as atividades de planejamento e,
consequentemente, a aula, se torna algo sem expressão, ou reflexão acerca das
intencionalidades e mesmo das metodologias utilizadas. Em decorrência, surge o hábito de
adotar quase sempre do livro didático, seguindo-o mecanicamente, sem utilizar de outros
ambientes que a escola ou a comunidade oferece. Nesta perspectiva, Fusari (1998), aponta
que a ausência de um processo de planejamento, aliado às demais dificuldades enfrentadas
pelos docentes em seu trabalho, geram uma prática pedagógica sustentada pela improvisação
e mecanização das aulas.
Dessa forma, o ensino acaba não se definindo como um ideal do grupo docente e muito menos
caracterizando, abordando e relacionando o conhecimento científico com o conhecimento
prévio pelos alunos, do seu dia-a-dia.
É nesse sentido que, na intenção de auxiliar e subsidiar futuras ações de professores da
Educação Infantil, ao se proporem trabalhar conteúdos da geografia escolar, que apresentamos
algumas propostas metodológicas de ensino.
3.2 Propostas metodológicas: sugestões...
Diante de todos os desafios para o professor de relacionar o conteúdo científico com o
conteúdo trazido pelos os alunos, vistos durante o capítulo 1 e 2 a respeito do ensino das
categorias de paisagem e lugar para as séries infantis, buscamos a partir de agora propor
metodologias de ensino aplicáveis que possam ser usadas ou auxiliar os professores não só da
comunidade de Araçatiba, como o de outras escolas.
54
Elaboramos as propostas buscando promover metodologias que sejam didáticas, de baixo
custo, que promovam uma interação com toda a escola e comunidade, sendo, portanto
multidisciplinar, que atenda as categorias geográficas de Paisagem e Lugar, e que
principalmente sejam atividades oriundas da própria vivência da criança, respeitando e
preservando seus aspectos socioculturais.
Ressalta-se, de imediato, que não temos a pretensão, aqui, de propor receitas prontas e
acabadas, como verdades absolutas, mas, ao contrário, nossa intenção é de apresentar
sugestões que possam ser debatidas, discutidas, enriquecidas e adaptadas pelos professores
regentes no exercício de suas respectivas funções. Reforçamos, mais uma vez, tratar apenas
de sugestões, as quais devem ser adaptadas e adequadas à realidade escolar na qual será
executada.
3.2.1. Cartaz Interativo
O Cartaz Interativo consiste em uma prática pedagógica que procura despertar a participação
dos alunos, para que expressem por meio da construção do cartaz, seus conhecimentos acerca
de determinado conteúdo. No caso específico, abordamos as categorias geográficas de
paisagem e lugar.
Disponibilizaremos duas maneiras para produção do cartaz interativo, conforme pode-se
observar pelas fotos abaixo:
55
Fotos 08, 09 e 10: Alunos participando da oficina de Cartaz interativo.
Fonte: Arquivo das pesquisadoras, 2013.
Em primeiro lugar, pode-se utilizar isopor, como plano de fundo do cartaz. É necessário,
também a utilização de algumas figuras que exemplificam o tema proposto: paisagem e lugar,
além de papel camurça, para encapar o isopor, cola, tesoura sem ponta, e para fixar
temporariamente as figuras ao cartaz utilizamos alfinetes, porém, recomendamos o uso de
tachinhas que possuam proteção na parte superior do alfinete para não ocorrer nenhum
acidente e, ainda, que a manipulação dos alfinetes ou tachinhas sejam efetuada pela própria
professora regente.
Em segundo lugar, a forma mais simples de montar o cartaz interativo, é através do uso de
uma cartolina e as próprias figuras, em que cada uma delas pode ser afixada na cartolina por
meio do uso de fita crepe. Aqui também será necessário o uso de tesoura, que, reforçamos,
deve ser do tipo sem ponta para evitar acidentes.
As atividades práticas do cartaz interativo podem ser desenvolvidas da seguinte maneira:
diversas e diferentes figuras de paisagens e lugares são disponibilizadas aos alunos para que
cada um deles se encarregue de escolher quais serão as figuras que mais se assemelham a
56
paisagem e lugar observados por eles em Araçatiba. Essas figuras deverão ser fixadas nos
cartazes e podem ser mudadas de acordo com a imaginação e conhecimento do próprio aluno.
A alternativa de modificação das figuras tem por objetivo proporcionar aos alunos
flexibilidade para que cada um possa montar um cartaz de acordo com a sua vontade. Essa
atividade pode ser realizada em grupos ou dependendo da quantidade de alunos que
contenham na turma, pode ser realizada individualmente. No caso de Araçatiba, a turma de
segundo ano, onde testamos essa atividade, conta com apenas nove alunos. Para tanto não
seria uma atividade tão dispendiosa se realizada de maneira individual.
Após o término da atividade, a proposta é que cada aluno ou grupo apresente seu cartaz para
os colegas da turma, justificando porque as figuras selecionadas se encaixam com a paisagem
e lugar de Araçatiba. O interessante do cartaz interativo, mesmo se as figuras forem, a priori,
selecionadas pelo professor, é deixar as crianças à vontade para montarem o cartaz da maneira
que elas acharem melhor. Para tanto, vale ressaltar, que é importante, seja qual for a opção do
professor quanto aos materiais utilizados, que se ofereça muitas figuras e imagens aos alunos.
Imagens de prédios, casas, árvores, igrejas antigas, pessoas, animais, etc.
Uma possibilidade viável, também, é que o professor solicite, em um encontro anterior com a
turma, que os alunos levem revistas e jornais sem utilidade para realizar essa atividade. Assim
haverá mais figuras para os alunos deixarem a criatividade fluir e expor seus conhecimentos
sem muitas restrições.
Em um momento posterior, o professor pode e deve incentivar aos alunos que falem de outras
figuras que possivelmente colocariam no cartaz, mas que não encontraram nas revistas,
jornais ou dentre as figuras levadas pelo professor. A intenção dessa atividade é compartilhar
saberes trazidos pelos alunos do seu cotidiano. De forma que abarque os conteúdos propostos
no currículo, mas sem perder as singularidades de cada lugar.
3.2.2. Pesquisa de campo
Com o objetivo de tornar a aprendizagem mais agradável aos alunos, e tentando sair da rotina
pedagógica (quadro, giz e livro didático, limitação do espaço da sala de aula), propomos aqui
aos professores, uma aula de campo dentro da comunidade de Araçatiba, julgando ser esta
57
uma atividade lúdica, recreativa e que ao mesmo tempo, contribui muito, para o
desenvolvimento da criança na percepção dos conceitos de lugar e paisagem.
Para a realização desta atividade, recomenda-se a utilização de câmara fotográfica, podendo
ser utilizado até mesmo o celular, se neste houver o aplicativo foto. Também será necessária
uma impressora, folhas de papel A4, lápis, borracha, tesoura e cola.
O trabalho consiste em sair à campo com os alunos, solicitando à cada um deles que registre,
com o auxílio da câmera, o que eles consideram paisagem e lugar. Após esta etapa, já em sala
de aula, os alunos podem ser agrupados em duplas para selecionar as fotos que mais lhes
chamaram a atenção. Posteriormente, o professor regente providencia a impressão das
imagens selecionadas previamente pelas respectivas duplas. Em seguida, estas imagens
podem ser coladas na cartolina, para posterior explicação e exposição. Poder-se-á também
solicitar às crianças que façam a legenda das imagens, como expressado pelo produto do
trabalho das crianças.
Fotos 11 e 12: Resultado da oficina de Pesquisa de campo.
Fonte: Arquivo das pesquisadoras, 2013.
Para tanto, vale ressaltar que o papel do professor de geografia será de fundamental
importância para o êxito desta atividade. Isso, tendo em vista a necessidade de interligar,
problematizar e mediar os dados empíricos coletados no campo (imagens), com os conceitos
de paisagem e lugar.
O professor poderá ampliar a discussão nas seguintes vertentes: Espaço rural e espaço urbano;
paisagem natural e paisagem artificial; paisagem cultural de Araçatiba, etc. Em fim, de acordo
58
com as imagens, surgirão propostas para outras temáticas importantes que poderão ser
exploradas pelo professor.
3.2.3 TV de Bolso
A oficina de TV de Bolso é outra simples prática pedagógica que tem como principal objetivo
explorar o conhecimento que o aluno traz de seu cotidiano sem a intervenção do professor
regente. Trata-se de uma atividade que consiste na produção de vídeos caseiros, gravados
pelos próprios alunos.
Para a realização dessa atividade, cada aluno deverá possuir um aparelho eletrônico que
permita a gravação de curtos vídeos, como por exemplo, câmera digital ou celular. Tendo em
vista que a maioria das crianças já possui, de alguma forma, acesso a alguns meios
eletrônicos, como é o caso do aparelho celular, consideramos que não haverá dificuldades
para efetivação dessa atividade. Cada aluno deverá gravar um vídeo de Araçatiba
apresentando a paisagem e o lugar em que estão inseridos na comunidade de acordo com o
ponto de vista deles, como ilustrado abaixo. Para tanto eles estarão fazendo a narração do
vídeo no momento da gravação. Após cada aluno ter feito seu breve vídeo, o material
produzido será levado para sala de aula, em que acontecerá uma discussão sobre o assunto
proposto. O trabalho final será um documentário com a junção de todos os vídeos.
Foto 13: Aluna “C” participando da oficina de TV de Bolso.
Fonte: Arquivo das pesquisadoras, 2013.
59
Assim, cada aluno terá sua própria percepção sobre a paisagem e lugar de Araçatiba, sem
limitar o entendimento ao hábito de decorar conceitos. O aluno irá reconhecer, que sua
percepção sobre o mundo é única, e que é importante, assim como os conceitos já registrados
nos livros didáticos. Não é o simples fato de decorar o que está no livro didático que
enriquecerá a aprendizagem, e sim a troca de conhecimentos. É necessário, portanto, que o
professor propicie ao seu aluno as condições para que o mesmo possa entender que o
conhecimento que ele possui pelas vivências e experiências do dia a dia podem e muito,
contribuir para a aprendizagem em sala de aula.
E são a partir de atividades como essa que o aluno compreende qual é o seu lugar no espaço e
como existem diferentes maneiras de ler o mundo. Não existe certo e errado quando se trata
de aprendizagem. O que existe é um longo caminho para que o indivíduo alcance o
conhecimento, mas cada aprendizagem, cada experiência, cada vivência contribui nesse
constante processo.
3.2.4 De História em história...
Quando se trata de lugar e paisagem em uma comunidade histórica, como é o caso de
Araçatiba, a memória existente tem muito a contribuir para o entendimento dessas categorias.
É, também, por intermédio da memória que a história da comunidade permanece viva e ativa.
Assim, em uma tentativa de proporcionar as crianças de Araçatiba uma proximidade e
reconhecimento de sua história, pode-se desenvolver uma aula de campo na própria
comunidade. Essa aula de campo acontecerá sob a supervisão dos professores, porém
mediante o acompanhamento dos moradores mais antigos da comunidade.
Após caminhar por alguns locais estratégicos da comunidade e conhecer um passado que
ainda se faz presente por meio da memória, a intenção é acomodar as crianças e os moradores
mais antigos da comunidade em uma “roda de memória viva”. Sentados em círculo de
conversa, os moradores mais antigos da comunidade estarão compartilhando com as crianças
suas histórias e experiências: a história de Araçatiba, solicitando que seja enfatizada a
memória acerca da paisagem observada pelos moradores, ainda quando eram mais jovens, que
não necessariamente será a natureza primária ou paisagem natural do lugar. Como ilustrado
60
abaixo, em ocasião de visita à comunidade, conduzimos as crianças até a casa de Dona Nini6,
a qual compartilhou com elas um pouco da história de Araçatiba.
Foto 14: Dona Nini com as crianças de Araçatiba.
Fonte: Arquivo das pesquisadoras, 2013.
Com esse tipo de atividade, as crianças tem contato com relatos sobre as alterações que
ocorrem na paisagem local, ao longo do tempo (pois a paisagem constitui-se numa conexão de
formas de diferentes tempos históricos), além de conhecer a importância de tal lugar para cada
morador antigo. Conforme descrito acima, para o desenvolvimento deste tipo de atividade não
é preciso nenhum material didático específico. Contudo, torna-se interessante que no decorrer
da atividade seja oferecido um lanche as crianças.
3.2.5 Teatro de máscaras
Na infância o “faz de conta”, a simulação da realidade e a imaginação são aflorados
principalmente ao brincar. A escola pode contribuir para a criança se desenvolver melhor em
relação a isso, proporcionando propostas metodológicas que incentive essa criatividade, e
6 Matriarca da comunidade, e até onde se tem conhecimento é a moradora mais antiga de Araçatiba. Referência
viva da história da comunidade. Quem com muito zelo tem propagado ao longo de gerações as raízes de
Araçatiba.
61
consequentemente outros aspectos como a coordenação motora, a memorização e
principalmente o vocabulário. Nesse sentido, uma proposta pedagógica que pode ser
explorada refere-se ao o Teatro de Máscaras.
Parte-se do pressuposto de que o teatro e suas atividades pode estimular na criança o desejo
de aprender e interagir com o meio. Para tanto, a ideia é propor inicialmente para as crianças
da comunidade de Araçatiba, que elas pesquisem com os moradores mais antigos, sejam seus
pais e avós, as danças, as histórias, e principalmente as peculiaridades da paisagem, do lugar e
da cultura que mudaram com o tempo.
Após este primeiro passo, com o auxílio e supervisão do professor, as crianças irão
confeccionar as máscaras para fazer o teatro. Os personagens serão os próprios moradores
mais lembrados da comunidade. Esta metodologia de representar com o rosto oculto, permite
a criança viver o próprio enredo e cotidiano social do personagem. Para a confecção das
máscaras pode-se usar sacos de papel, cartolinas, tecidos, tintas, pratos de papelão, jornal,
lápis de cor, tesoura, cola, etc.
A apresentação irá consistir em cada aluno apresentar sozinho ou em grupo, os aspectos mais
importantes que pesquisaram com os moradores: as danças, músicas, histórias, monumentos,
construções, etc, como ilustrado abaixo. Eles podem contar com a ajuda não só do professor
regente da turma, como também com o auxílio de professores de música, educação física,
artes, enfim, tornar a atividade interdisciplinar.
Fotos 15 e 16: Alunos participando da oficina de Teatro de máscaras.
Fonte: Arquivo das pesquisadoras, 2013.
62
O mais interessante e importante, da realização de atividades didáticas, como o Teatro de
máscaras é que esse tipo de atividade pode propiciar a melhoria do aluno em vários aspectos,
pois promove a recreação, a socialização, melhorando consequentemente, as relações de
convívio com os amigos, a fala e promovendo a desinibição dos alunos mais tímidos.
3.2.6 Musicalizando a paisagem de Araçatiba
Outra atividade passível de ser trabalhada com as crianças de Araçatiba, de forma a tornar a
aula mais dinâmica e interessante para os alunos, é em concomitância com a disciplina de
musicalidade, versando assim um trabalho multidisciplinar. Sabe-se que a música inspira e
colabora para disseminar conteúdos. Sendo assim, objetiva-se, com este tipo de proposta
didática, que o conhecimento seja propagado e compartilhado por intermédio do som, tendo
por finalidade resgatar nas crianças a valorização pelas raízes históricas da comunidade.
Depois de trabalhados os conceitos de paisagem e lugar de forma lúdica com as crianças, as
mesmas podem ser organizadas em pequenos grupos. Cada grupo deverá, com o auxílio dos
professores de geografia e musicalidade, compor uma música sobre os temas trabalhados. No
entanto tais composições deverão ser embaladas com as batidas do congado.
Para desenvolvimento desta atividade será necessária a utilização de instrumentos da banda de
congo, basicamente tambor e casaca como ilustrado nas fotos abaixo. A intenção é que as
próprias crianças façam suas composições a partir do conhecimento que elas já possuem
acerca da paisagem e lugar de Araçatiba, para tanto é importante deixar a imaginação fluir.
63
Fotos 17 e 18: Crianças de Araçatiba tocando os instrumentos da banda de congo.
Fonte: Rubens Teixeira da Silva, 2013.
3.2.7 Meu lugar no futebol
Conforme mencionado anteriormente, Araçatiba possui um time de futebol: o Guarani
Futebol Clube. Portanto, tem um campo de futebol, que é uma das poucas formas de lazer,
senão a principal, das crianças de Araçatiba. O campo de futebol está localizado, atualmente,
às margens de onde antigamente passava o rio Claro, hoje apenas um córrego. Era o porto de
Araçatiba que se encontrava à frente do Entreposto Comercial da Fazenda.
Assim, considerando a importância que o time de futebol tem para a comunidade, como
também a história acondicionada pela a paisagem anterior de onde fica o atual campo de
futebol, esse tipo de atividade torna-se de fundamental importância, principalmente por
possibilitar uma aproximação dos conteúdos ensinados em sala de aula com o dia a dia dos
alunos.
Um time de futebol é composto por onze jogadores, sendo que cada um possui sua função e
lugar definido dentro do espaço do campo. Vence o jogo o time que conseguir fazer mais
gols. Nesse sentido, o professor pode estimular as reflexões dos alunos, com analogias com a
grande fazenda como era o caso de Araçatiba. Para a mesma funcionar, contava com o
trabalho de várias pessoas, nesse caso, escravos durante muito tempo. E um dos objetivos da
fazenda era o escoamento da produção para a Baía de Vitória.
E continua a professora, no desenvolvimento da proposta de ensino: vamos pensar que no
campo de futebol temos duas grandes fazendas antigas. Um time será a fazenda de Araçatiba
64
e o outro time a fazenda de Muribeca7. O time que fizer mais gols atingiu o término do
processo de escoamento e conseguiu abastecer o colégio dos padres.
Para desenvolver a atividade, cada aluno se posicionará na quadra da maneira que melhor se
adaptar, escolhendo assim o lugar que eles mais se identificam. É interessante pedir aos
alunos que expliquem a preferência deles por tal posição inicial no campo, pois assim quem
sabe, conseguimos explorar razões justificada pelos vínculos, identidades ou ainda
habilidades próprias de cada aluno. Como material será necessário apenas uma bola de
futebol.
Entendemos que é melhor para um atleta quando ele joga no seu lugar de origem, na sua terra
natal, mais ainda quando representa seu time de coração. Mas a intenção da atividade
proposta não está em promover competições, muito menos autenticar um time melhor que o
outro. O objetivo é apenas trazer para aula um pouco da história da comunidade por meio das
alterações que poderão ser observadas na paisagem e conhecer os diferentes lugares de um
mesmo espaço.
3.2.8 Amarelinha de Araçatiba
Outra tentativa de atividade para se trabalhar com os conceitos geográficos de paisagem e
lugar pode ser por meio da brincadeira de amarelinha. Tendo em vista que essa é, conforme
discutido no capítulo anterior, outra brincadeira que compõe o quadro das diversões das
crianças de Araçatiba.
Para tanto, a ideia é que em cada quadrado da amarelinha conste uma pergunta sobre a
comunidade de Araçatiba. Tais perguntas vão desde histórias mais antigas até acontecimentos
mais atuais. Para isso, o professor necessitará de fazer antes da atividade uma breve pesquisa
na comunidade, pois será o professor o responsável por compor as perguntas. É necessário
lembrar que as perguntas devem ser elaboradas levando em consideração aspectos da
paisagem e lugar de Araçatiba. As questões devem remontar a história da comunidade para
conectar as raízes que permanecem intactas até os dias atuais, dando significado ao conceito
de lugar e demonstrando a dinamicidade da paisagem.
7 Assim como Araçatiba, Muribeca também foi uma grande fazenda. Conforme Oliveira (2008, p. 157) Muribeca
era fazenda de criação de gado, foi célebre e rica propriedade dos jesuítas.
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Exemplifica-se aqui tipos possíveis de perguntas: quem construiu a igreja de Nossa Senhora
da Ajuda? O que eram as ruínas localizadas ao lado da igreja? Onde se localizava o
Entreposto Comercial da Fazenda Araçatiba? O que é um quilombo? O cemitério faz parte da
paisagem de Araçatiba? Qual o principal ingrediente do sotêco? Por que o nome da
comunidade é Araçatiba? Qual o nome do time de futebol de Araçatiba? Qual campeonato o
time já venceu? Como era o nome de um dos antigos fazendeiros de Araçatiba? Para onde era
escoada a produção de Araçatiba? O que a fazenda Araçatiba produzia? Qual o nome do
mestre mais antigo da banda de congo de Araçatiba? Quem era Mãe Teotó? Como é o nome
da banda de congo de Araçatiba? Quando acontece a fincada e retirada do mastro de São
Benedito? E assim por diante.
Na brincadeira tradicional, a amarelinha é desenhada no chão e composta por alguns números
que representam degraus para chegar ao céu, que é o fim da brincadeira. A criança joga a
pedra no primeiro número da amarelinha e tem o direito de pular para os números seguintes e
voltar para retirar a pedra. Dependendo da quantidade de crianças que estiverem participando
da brincadeira, o jogador da vez precisa esperar algumas rodadas para poder continuar as
jogadas. O jogador lança a pedra nos quadrados consecutivos, em ordem crescente dando
seguimento a brincadeira, mas a pedra não pode cair fora do quadrado para que o participante
tenha direito a pular.
Fotos 19 e 20: Ilustração da proposta e perguntas.
Fonte: Arquivo das pesquisadoras, 2013.
66
No entanto, na adaptação da brincadeira, propomos que a mesma aconteça de maneira
semelhante, mas com alguns acréscimos. A primeira criança joga a pedra no primeiro
quadrado e a professora faz uma pergunta sobre Araçatiba. Se a criança acertar a resposta,
poderá continuar a brincadeira. Se errar a resposta à criança deve esperar a rodada se
completar, ou seja, que cada criança da turma tenha feito o mesmo procedimento. Em cada
quadrado a professora fará uma pergunta sobre Araçatiba. O que determinará se o aluno irá
continuar brincando ou não é o próprio conhecimento que ele possui do seu cotidiano e a sua
própria habilidade de pontaria, visto que, conforme mencionado anteriormente, a pedra não
deve cair fora do quadrado ao ser lançada pelo aluno. Com essa atividade, pode-se trabalhar
os conceitos geográficos em questão, a partir da própria paisagem e lugar de Araçatiba.
3.2.9 As paisagens do futebol
O futebol faz parte da cultura brasileira e é, naturalmente, um assunto que desperta o interesse
dos alunos de todas as partes do país, não sendo diferente na comunidade de Araçatiba. A
mídia influencia muito na promoção desse esporte e cada aluno possui o seu time do coração.
Sendo assim, também podemos utilizar o futebol para explicar o conceito de paisagem. E para
quem não gosta de jogar, é fato que assistir ou torcer é sempre divertido, ainda mais se for
para a seleção brasileira. Tal esporte estará ainda mais em evidência no ano em curso, pois o
Brasil sediará nesse ano de 2014 a copa do mundo.
Diante do exposto, os professores regentes e o professor de educação física podem organizar
um campeonato de futebol entre as turmas do fundamental I. O objetivo é estimular nos
alunos a observação de como a paisagem pode se transformar em curto prazo através da
interferência humana mediante o jogo de futebol na escola, assim como também acontece nos
grandes estádios.
Cada turma deverá ser dividida em três grupos. O primeiro grupo será o time, o segundo a
torcida e o terceiro serão vendedores ambulantes (como aqueles que trabalham em estádios
durante jogos). O dinheiro arrecadado com as vendas pode ser investido em um passeio para a
turma campeã. Para tanto é importante que cada turma tenha um professor responsável, a fim
de organizar as crianças de maneira satisfatória.
67
É interessante salientar que antes do campeonato, os professores devem reservar um momento
com os alunos e procurar diagnosticar o que os mesmos entendem sobre o conceito de
paisagem e suas transformações. Depois disso, é efetivar o campeonato. O grupo que
constituir o time irá ao campo participar do campeonato de fato. A torcida deve elaborar
cartazes com a ajuda do professor regente e também fotografar o campo ou quadra, antes,
durante e depois do campeonato. E o grupo dos vendedores ambulantes é responsável por
vender algum tipo de guloseima durante o campeonato. Cada turma terá esses três grupos:
time, torcida e vendedores ambulantes.
Depois de finalizada toda essa programação, os professores em sala devem discutir com os
alunos as transformações da paisagem que ocorreu na quadra ou campo da escola. Essa
discussão pode ser subsidiada pelas seguintes perguntas: Como estava a quadra ou campo da
escola antes dos jogos? Como ficou a quadra ou campo da escola após os jogos? E a partir daí
explicar para as crianças as alterações que ocorreram na paisagem com o campeonato de
futebol na escola. Da mesma forma, nos estágios acontece o deslocamento de pessoas,
gerando mudanças na paisagem, aumentando o fluxo de pessoas e veículos, movimentando o
comércio, promovendo o lazer e valorização do lugar, etc.
É interessante chamar a atenção dos alunos para que eles observem também, como cada grupo
ainda que estejam no mesmo lugar, desenvolvem atividades diferenciadas, fazendo com que o
significado daquele espaço se torne diferente para cada grupo. Os vendedores ambulantes não
estavam torcendo e sim trabalhando, ou seja, o lazer para alguns, pode ser oportunidade de
fonte de renda para outros. São dois elementos diferentes em uma mesma paisagem. Sem
contar, a paisagem posterior ao campeonato, em que o maior fluxo de pessoas gerou um
aumento na produção de lixo da escola. Nessa atividade, torna-se visível como a ação humana
é capaz de alterar a paisagem em um pequeno espaço de tempo.
Estas são algumas das inúmeras possibilidades de se trabalhar os conceitos geográficos,
partindo e considerando os saberes e não-saberes dos alunos, da comunidade na qual se
inserem. Tratam-se de sugestões didático-pedagógicas que podem e devem ser adaptadas,
repensadas, replanejadas. A intenção reafirma-se, não foi a de apresentar uma receita pronta e
acabada, mas de desvelar caminhos, possibilidades e perspectivas para o ensino crítico da
Geografia na formação cidadã dos nossos jovens estudantes.
68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino da Geografia é fundamental para se entender as transformações que ocorrem no
espaço ao longo dos tempos. Esse processo pode ser melhor compreendido por meio das
categorias geográficas de Paisagem e Lugar, que despertam e estimulam nos alunos da
educação infantil a compreensão dos elementos presentes na organização do espaço.
Conforme buscamos enfatizar ao longo do presente estudo, para facilitar essa compreensão, é
essencial e de extrema importância partir do espaço vivido do aluno. Essa aproximação do
conteúdo científico com a vivência da criança facilita a promoção de afinidades entre
professor e aluno. O aluno se sente como elemento importante no processo de
ensino/aprendizagem e se torna mais crítico, observador e participativo na sala de aula. Neste
processo, a criança não só irá desenvolver e sistematizar os seus conhecimentos como
também, compreender sua inserção no contexto social, seu papel e exercício de cidadania.
Por isso é importante que professor e a escola planejem suas propostas e currículos
pedagógicos em conjunto. Cabe a eles, pensar, planejar, ousar, ser criativo na perspectiva de
tornar as aulas, o convívio e a relação com os alunos mais prazerosos. O ensino é algo
dinâmico, que prepara o aluno não só para o mercado de trabalho, mas principalmente para a
vida. Então, é importante que o ensino não seja cansativo, com conteúdos maçantes e
distantes dos alunos, em sala de aula. As aulas devem ser preparadas levando em
consideração as diversidades presentes nas salas de aula, seja por questões sociais, culturais,
econômicas, raciais, de gênero, dentre outras, que tornam a prática docente um desafio.
Para tanto, cabe ao professor assumir uma postura investigativa, que lhe permita conhecer
seus sujeitos/alunos/cidadãos e a partir de então planejar suas posturas epistemológicas e
metodológicas. Deve acima de tudo, não só adotar alternativas de aprendizagem didáticas,
como as exemplificadas, principalmente no terceiro capítulo deste trabalho. Mas também
torna-se importante, que o professor estimule a capacidade de comunicação e afetividade da
relação aluno-professor, para instigar a participação e a desinibição do aluno frente às aulas.
Aceitar, respeitar, valorizar e trabalhar com a multidiversidade presente nos espaços escolares
não é uma tarefa fácil, principalmente porque os docentes possuem ideias e princípios
próprios que nem sempre são semelhantes aos dos demais sujeitos da escola. Como foi
observado e discutido, o grande desafio está em desmistificar a ideia que a escola é algo
padrão, onde todos os alunos devem receber tratamento e um “currículo” igual. Conforme
69
amplamente mencionado, a escola-campo onde foram desenvolvidas as atividades empíricas
da presente investigação, situa-se em uma comunidade de remanescentes quilombolas.
Portanto, trata-se de uma comunidade com características muito fortes: traz bastante
arraigada, em seus membros, aspectos da cultura e dos saberes de seus antecessores. Nesse
sentido, a escola e seus profissionais, para não continuarem perpetuando o eurocentrismo
historicamente imposto à população local, deve considerar tais aspectos culturais e seus
respectivos saberes ao planejarem as atividades de ensino.
Reafirmamos, pois, que a educação e o processo de ensino/aprendizagem é algo que deve ser
muito bem elaborado e planejado, pelos professores, pela escola e também pelo governo, de
maneira que seja possível caracterizar e pensar o ensino e a diversidade, de forma conjunta.
Um caminho, portanto, visível e possível é partir do próprio cotidiano da criança, adotando
propostas didático-pedagógicas e recursos que facilitem a compreensão e a discussão dos
conteúdos, e principalmente, para que sirva como inserção do aluno crítico na sociedade.
70
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