tempo de repensar

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Tempo de repensar Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd .com.br), diretor-geral da GS&MD Gouvêa de Souza Ao aproximar-se o final do ano, as empresas refazem seus projetos a partir de visões, perspectivas e dos cenários possíveis para os próximos períodos. O exercício de revisão de Planejamento Estratégico deve conter uma visão de mais longo prazo e, necessariamente, deve ser muito mais do que um conjunto de ações que serão adotadas em continuidade aos esforços habituais de expansão do negócio. Essa prática cresceu de importância nos últimos tempos, de economia e mercado estáveis e razoavelmente previsíveis, em contraponto a um período anterior, quando esse exercício havia perdido sua razão de ser, por conta das grandes flutuações derivadas dos problemas inflacionários; das crises globais afetando de forma mais direta o mercado; e pelas reações dos governos buscando formas heterodoxas de ajustes. Nos exercícios de Planejamento Estratégico, necessariamente deve-se partir de uma visão de fora para dentro da organização, ao mesmo tempo em que se faz uma reflexão profunda do momento do negócio, suas virtudes e fraquezas, suas características e perspectivas. Mas é fundamental o exercício isento de olhar o negócio com a visão mais independente possível, buscando enxergar tendências e perspectivas do ambiente (incluindo concorrência) e como tais elementos podem impactar a realidade da empresa, seus produtos, serviços, canais de distribuição, preços praticados, estrutura de distribuição, comunicação com o mercado, etc. A análise de cenários é um dos instrumentos habitualmente utilizados para esse exercício, sendo seu maior mérito identificar e antecipar situações e reações passíveis de serem adotadas.

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Page 1: Tempo de Repensar

8/3/2019 Tempo de Repensar

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Tempo de repensar

Marcos Gouvêa de Souza ([email protected]), diretor-geral daGS&MD – Gouvêa de Souza

Ao aproximar-se o final do ano, as empresas refazem seus projetos a

partir de visões, perspectivas e dos cenários possíveis para os próximos

períodos. O exercício de revisão de Planejamento Estratégico deve conter

uma visão de mais longo prazo e, necessariamente, deve ser muito mais

do que um conjunto de ações que serão adotadas em continuidade aos

esforços habituais de expansão do negócio.

Essa prática cresceu de importância nos últimos tempos, de economia e

mercado estáveis e razoavelmente previsíveis, em contraponto a um

período anterior, quando esse exercício havia perdido sua razão de ser,

por conta das grandes flutuações derivadas dos problemas inflacionários;

das crises globais afetando de forma mais direta o mercado; e pelas

reações dos governos buscando formas heterodoxas de ajustes.

Nos exercícios de Planejamento Estratégico, necessariamente deve-se

partir de uma visão de fora para dentro da organização, ao mesmo tempo

em que se faz uma reflexão profunda do momento do negócio, suas

virtudes e fraquezas, suas características e perspectivas.

Mas é fundamental o exercício isento de olhar o negócio com a visão mais

independente possível, buscando enxergar tendências e perspectivas doambiente (incluindo concorrência) e como tais elementos podem impactar

a realidade da empresa, seus produtos, serviços, canais de distribuição,

preços praticados, estrutura de distribuição, comunicação com o mercado,

etc.

A análise de cenários é um dos instrumentos habitualmente utilizados

para esse exercício, sendo seu maior mérito identificar e antecipar

situações e reações passíveis de serem adotadas.

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Algumas questões básicas envolvem as profundas transformações de

cenário que ocorrem no Brasil e deveriam estar presentes em qualquer

exercício de Revisão Estratégica para empresas ligadas aos setores de

consumo.

* Como a evolução do nível de emprego, renda, crédito e confiança do

consumidor podem afetar os negócios nos próximos anos;

* Como deverá ser a participação das diferentes classes sócio econômicas

no futuro do consumo dos produtos e serviços;

* Como irá variar a participação de cada região e Estado no potencial de

consumo de produtos e serviços nos próximos anos;

* Como a crescente atratividade do mercado brasileiro poderá trazer

aumento do número de competidores globais e qual será o impacto no

negócio direto;

* Como os novos comportamentos emergentes de segmentos mais jovens

de mercado, cada vez mais digitais em suas atitudes e referências, podem

impactar a percepção das marcas, produtos, formatos e canais nos

próximos anos;

* Como a pressão pela redução da informalidade irá afetar a capacidade

competitiva de algumas marcas e negócios;

* Como os novos canais digitais de relacionamento, promoção e vendas

irão alterar a matriz de distribuição de produtos e serviços;

* Como o aumento da massa de crédito poderá afetar a incorporação de

novos segmentos consumidores. Qual é o eventual impacto de umaumento da inadimplência;

* Como o aumento da pressão competitiva poderá afetar os preços e as

condições praticadas;

* Como desenvolver alternativas para incorporar os novos potenciais de

consumo nos segmentos emergentes de mercado, como as classes B/C e

em especial nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país;

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* Como enfrentar a tendência à concentração dos mais diversos

segmentos de negócios, inerente ao aumento do nível de competitividade,

pressão sobre informalidade e relevância do crédito e dos instrumentos

de relacionamento, reposicionando o cenário competitivo.

A lista de questões é ampla e vamos prosseguir nas próximas edições, mas

o fato central é que o conjunto de transformações que o cenário global e

local determina no ambiente gera uma profunda necessidade de revisão

de tudo que se faz e do que se pretende fazer para que oportunidades

possam ser capitalizadas e ameaças neutralizadas, sob o risco de se

imaginar a condução de negócios de forma independente da realidadeexterna.

Algo tão inconsequente quanto entregar o comando isolado de um avião a

um piloto exclusivamente formado em simuladores de voo, por mais

aperfeiçoados que possam ser.