terapêutica neoadjuvante e/ou adjuvante no cancro … · cancer, which means a poor prognosis with...
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Dissertação – Artigo de Revisão Bibliográfica
MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA
2010/2011
Terapêutica Neoadjuvante e/ou
Adjuvante no Cancro Gástrico
Rosa Andreia dos Reis Fernandes
6º ano Profissionalizante [email protected]
Porto, Maio de 2011
Orientador: Dr. Franklim Peixoto Marques Professor Auxiliar Assistente Hospitalar Graduado
TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE E/OU ADJUVANTE NO CANCRO GÁSTRICO
Rosa Andreia dos Reis Fernandes
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RESUMO Os adenocarcinomas com origem na junção gastro-esofágica e no
estômago constituem um problema de saúde major em todo o mundo. Na Europa
foram estimados 146 939 novos casos e 117 182 mortes em 2008. Estes números
fazem do cancro gástrico o 4º mais comum no mundo e o 3º mais mortal. Em
Portugal os números não são animadores, com 1786 novos casos e 1499 mortes
registados em 2008. Apesar da incidência global desta patologia ter vindo a
diminuir, tem sido detectada um aumento da incidência dos tumores da junção
gastro-esofágica e do cárdia, permanecendo desconhecido o motivo.
Ao diagnóstico, aproximadamente 50% dos doentes apresentam-se em
estadio avançado, o que lhes confere um mau prognóstico, com taxas de
sobrevivência aos 5 anos a rondar 20-30%. A ressecção gástrica é a pedra angular
do tratamento com intenção curativa, mas em apenas 30% dos casos se obtém
uma ressecção R0. Aqui a quimioterapia ou a quimioradioterapia, neo ou
adjuvante assumem especial importância, estando actualmente em pleno debate,
numa tentativa de melhorar o prognóstico destes doentes.
Este artigo pretende reunir a literatura mais relevante sobre a abordagem
multidisciplinar do adenocarcinoma gástrico localmente avançado, o papel da
terapêutica local, neoadjuvante e adjuvante, sendo complementado com a
apresentação de um caso clínico seguido e tratado no Centro Hospitalar do Porto-
Hospital de Santo António.
O trabalho teve a aprovação da Comissão de Ética do Centro Hospitalar do
Porto e o consentimento informado foi obtido do doente.
Conclui-se que vários avanços têm sido alcançados no tratamento do
adenocarcinoma gástrico, contudo, continua um desafio atingir o tratamento
ideal. Os benefícios da terapia (quimioterapia ou quimioradioterapia) pré e/ou
pós-operativa têm sido aceites e confirmados por grandes estudos globais
randomizados.
PALAVRAS-CHAVE: cancro gástrico, estadiamento, quimioterapia perioperativa,
quimioterapia adjuvante, quimioterapia neoadjuvante.
TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE E/OU ADJUVANTE NO CANCRO GÁSTRICO
Rosa Andreia dos Reis Fernandes
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ABSTRACT Adenocarcinoma of the esophagogastric junction and the
stomach are a major health concern worldwide. In Europe, there were an
estimated 146.939 new cases and 117.182 deaths in 2008. These figures mean
that gastric cancer has become the 4th most common type and the 3rd most deadly
in the world. In Portugal, the figures are discouraging, with 1786 new cases and
1499 deaths in 2008. Even though the overall rates of this pathology have
declined, the cases of carcinomas in the esophagogastric junction and cardia are
on the rise, for reasons which have yet to be identified.
Upon diagnosis, approximately 50% of patients have advanced-stage gastric
cancer, which means a poor prognosis with a five-year survival rate of about 20-
30%. Gastric resection is the cornerstone of potentially curative treatment, but R0
resection is only achieved in 30% of the cases. Here, neoadjuvant or adjuvant
chemotherapy or chemoradiotherapy play an essential role, currently at the
centre of heat debate, in the efforts to improve patients’ prognosis.
This article intends to review the most relevant literature on a
multidisciplinary approach to advanced gastric adenocarcinoma, the role of local
neoadjuvant and adjuvant therapy, and is complemented by the presentation of a
clinical case at the Centro Hospitalar do Porto – Hospital de Santo António.
The research was approved by the Centro Hospitalar do Porto’s Ethics
Committee and informed consent was obtained from the patient.
We concluded that several advances have been achieved in the treatment of
gastric adenocarcinoma, however, the challenge of attaining the ideal treatment
persists. The benefits of pre- or postoperative therapy (chemotherapy or
chemoradiotherapy) are generally accepted and confirmed in large-scale
randomized studies.
KEY WORDS: gastric cancer, staging, perioperative chemotherapy, adjuvant
chemotherapy, neoadjuvant chemotherapy.
TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE E/OU ADJUVANTE NO CANCRO GÁSTRICO
Rosa Andreia dos Reis Fernandes
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INTRODUÇÃO
Os adenocarcinomas da junção gastro-
esofágica (JGE) e do estômago constituem
um problema de saúde major em todo o
mundo, permanecendo uma importante
causa de morbilidade e mortalidade. Na
Europa, em 2008 foram estimados 146 939
novos casos e 117 182 mortes. Estes
números fazem do cancro gástrico (CG) o 4º
mais comum mundialmente e o 3º mais
mortal, sendo o sexo masculino mais
afectado (2:1). Em Portugal, as últimas
estatísticas (2008), mostram 1786 novos
casos e 1499 mortes(1). Apesar da
incidência global desta patologia ter vindo a
diminuir desde a 2ª Guerra Mundial, tem
sido detectado um aumento da incidência
dos tumores proximais (esófago distal, JGE
e cárdia), permanecendo o motivo
desconhecido(2, 3).
Existe uma marcada diferença na
distribuição geográfica do adenocarcinoma
gástrico, com as taxas de incidência mais
elevadas na Ásia Oriental, na América do Sul
e na Europa de Leste, e taxas mais reduzidas
nos Estados Unidos e na Europa
Ocidental(2-4), à excepção de Portugal.
O prognóstico desta doença mantém-
se desfavorável pela apresentação tardia,
altas taxas de recorrência local e
metastização linfática e sistémica
precoce(5, 6). Nos Estados Unidos, onde a
maioria dos doentes ao diagnóstico
apresenta um estadio avançado de doença,
a sobrevida global aos 10 anos é cerca de
20%(5). Na Europa, a sobrevida aos 5 anos
ronda os 24-27% e no Japão, após a
introdução do rastreio com endoscopia, a
sobrevida aos 5 anos aumentou para mais
de 50%(7).
A ressecção cirúrgica R0 do CG
permanece o único tratamento com
intenção curativa(6, 8). Quando o cancro é
localizado ao estômago e minimamente
invasivo, a cura cirúrgica é possível em
quase 90% dos casos. Infelizmente a
detecção neste estadio é incomum nos
países ocidentais, pelo que a maioria dos
casos são detectados num estadio
avançado, em que menos de 30% dos
doentes alcançam a cura com a
gastrectomia(9).
Existe portanto um interesse crescente
na terapêutica multimodal (quimioterapia
ou quimioradioterapia, neo e/ou adjuvante)
com o intuito de aumentar a sobrevivência
e diminuir o risco de recorrência, com
baixos níveis de toxicidade(6-8).
DEFINIÇÃO DA DOENÇA
O estômago está anatomicamente
dividido em três áreas principais: fundo,
corpo e antro. O CG pode surgir em
qualquer região do estômago. É mais
comum no antro gástrico e a pequena
curvatura é menos frequentemente atingida
relativamente à grande curvatura(10).
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Vários tipos de cancro podem atingir o
estômago. O adenocarcinoma, com origem
nas células glandulares é o mais comum,
representando 90-95% dos casos. Este pode
metastizar localmente (gânglios linfáticos
(GL)) ou sistemicamente (fígado, pâncreas,
cólon, pulmão, ovários e peritoneu). Nesta
revisão será abordado o adenocarcinoma
do estômago localmente avançado.
O CG, como outros cancros, resulta de
múltiplas interacções entre factores
protectores e factores favorecedores.
Factores genéticos e ambientais são os que
desempenham o principal papel na etiologia
desta patologia.
Entre os factores de risco destacam-se
uma dieta pobre em fruta e legumes, com
elevada ingestão de sal e alimentos em
conserva, químicos exógenos, síntese
intragástrica de carcinogéneos
(transformação de nitratos em nitritos), e
determinados agentes infecciosos (H.
pylori). Uma história familiar de CG e
mutações na caderina-E são factores
genéticos que aumentam o risco(2, 11).
Actualmente estão descritas patologias
– lesões pré-cancerosas – que aumentam o
risco de desenvolvimento de CG. Nesta
definição estão incluídas a gastrite atrófica,
os pólipos gástricos, a úlcera gástrica, o
cancro no coto gástrico pós-gastrectomia, a
anemia perniciosa e a gastrite por
Schistosoma(11).
Os sintomas que caracterizam o CG são
muito vagos e inespecíficos, o que contribui
para o diagnóstico tardio. Os doentes
podem exibir um conjunto de sintomas ou
não apresentar qualquer sintoma. A perda
ponderal e a dor abdominal são os sintomas
predominantes. Disfagia e hemorragia
gastrointestinal oculta podem também
estar presentes. Hematemeses ou melenas
apenas surgem em menos de 20% dos
casos. Ascite, icterícia ou uma massa
palpável indicam doença em estado muito
avançado. Uma adenopatia supraclavicular
esquerda (nódulo de Virchow) ou um
nódulo periumbilical (nódulo de Sister Mary
Joseph) poderão indicar metastização
linfática. A disseminação peritoneal, poderá
apresentar-se como uma massa ovariana
(tumor de Krukenberg) ou uma massa no
fundo de saco rectal (prateleira de
Blummer). A ascite pode ser também um
sinal deste tipo de metastização(12, 13).
ABORDAGEM
MULTIDISCIPLINAR NO
DIAGNÓSTICO E
ESTADIAMENTO
Diagnóstico
Actualmente o diagnóstico do CG faz-se
com recurso à endoscopia digestiva alta
(EDA) com biópsia, seguida de confirmação
histológica de acordo com os critérios da
Organização Mundial de Saúde(6, 14).
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Estadiamento Pré-operatório
A avaliação da extensão do cancro
aquando do diagnóstico é essencial para
definir o tratamento adequado na tentativa
de alcançar a cura. Os sistemas de
estadiamento descrevem a gravidade de um
tumor baseando-se na sua extensão local e
à distância.
Duas classificações são actualmente
usadas. A Classificação Japonesa, mais
elaborada e baseada no envolvimento dos
GL, dividindo-os por grupos(15). O sistema
TNM (Tumor-Node-Metastasis)
desenvolvido pela American Joint
Committee on Cancer (AJCC) e pela
Tabela 1. Classificação TNM para o estadiamento do Cancro Gástrico (AJCC - 7ª Ed., 2010)
Tumor Primário (T) Gânglios Linfáticos
Regionais (N) Metástases à Distância (M)
Grau Histológico (G)
Estadio anatómico/Grupo de Prognóstico
TX Tumor primário não avaliado
NX Os GL não podem ser avaliados
M0 Inexistência de metástases à distância
GX Grau não pode ser avaliado
Estadio 0 Tis N0 M0
T0 Sem evidência de tumor primário
N0 Sem metástases nos GL*
M1 Presença de metástases à distância
G1 Bem diferenciado
Estadio IA T1 N0 M0
Tis Carcinoma in situ: tumor intraepitelial sem invasão da lâmina própria
N1 Metástases em 1-2 GL
G2 Moderadamente diferenciado
Estadio IB T2 N0 M0
T1 N1 M0
T1 Tumor invade a lâmina própria, a muscular da mucosa ou a submucosa
N2 Metástases em 3-6 GL
G3 Pouco diferenciado
Estadio IIA T3 N0 M0
T2 N1 M0
T1 N2 M0
T1a Tumor invade a lâmina própria ou a muscular da mucosa
N3 Metástases em ≥ 7 GL
G4 Indiferenciado Estadio IIB T4a N0 M0
T3 N1 M0
T2 N2 M0
T1 N3 M0
T1b Tumor invade a submucosa
N3a Metástases em 7-15 GL
Estadio IIIA T4a N1 M0
T3 N2 M0
T2 N3 M0
T2 Tumor invade a muscular própria
N3b Metástases em ≥ 16 GL
Estadio IIIB T4b N0 M0
T4b N1 M0
T4a N2 M0
T3 N3 M0
T3 Tumor invade o tecido conjuntivo subseroso sem invasão do peritoneu visceral ou das estruturas adjacentes
Estadio IIIC T4b N2 M0
T4b N3 M0
T4a N3 M0
T4 Tumor invade a serosa (peritoneu visceral) ou as estruturas adjacentes
Estadio IV Qualquer T,
Qualquer N,
M1
T4a Tumor invade a serosa (peritoneu visceral)
T4b Tumor invade as estruturas adjacentes
* A designação pN0 deve ser usada quando todos os gânglios examinados são negativos, independentemente do número de gânglios removidos e examinados.
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International Union Against Cancer (IUCC)
é o mais usado nos países ocidentais. A
última revisão (7ª edição) foi apresentada
em 2009(16).
Esta última edição, relativamente ao
CG, tenta colmatar a falta de
recomendações sobre os tumores com
origem na JGE ou no cárdia até 5 cm da
JGE, até então indiferenciadamente
classificados como cancros gástricos ou
esofágicos. Agora passam a ser
classificados com o sistema TNM para o
esófago, de acordo com os critérios
anatómicos de Siewert. Os critérios T, N e
M também sofreram alterações.
O parâmetro T foi modificado de
forma a corresponder às categorias T do
cancro esofágico e intestinal.
No parâmetro N, o cut-off de nódulos
positivos foi alterado, o que advém da
necessidade de homogeneizar o tratamento
cirúrgico com a linfadenectomia. O número
de gânglios mínimo a ser examinado passou
para 16.
No parâmetro M, a categoria Mx foi
eliminada, pois a falta de informação é
inapropriada e pode condenar um
tratamento curativo. Uma citologia
peritoneal positiva passa a estar incluída na
categoria M1. Esta mudança pode
acarretar o uso sistemático da laparoscopia
diagnóstica no estadiamento.
Consequentemente os estadios por
grupos foram também modificados(17)
(Tabela 1).
Até há relativamente pouco tempo,
após o diagnóstico, o estadiamento
standard do CG limitava-se a procedimentos
básicos (ecografia abdominal e radiografia
torácica), o que resultava numa má
descrição da extensão tumoral e numa má
detecção das metástases regionais e à
distância(6).
Ao longo dos anos o estadiamento tem
sofrido grandes melhorias, devidas em
grande parte à maior disponibilidade e
inovação dos meios complementares de
diagnóstico (MCD).
Actualmente, após o diagnóstico, o
estadiamento efectua-se com exame físico,
hemograma e perfil bioquímico. Estes não
contribuem para o diagnóstico, mas avaliam
o estado geral do doente. Quanto a MCD
estão definidos a tomografia axial
computorizada (TAC) abdominal com
contraste endovenoso, TAC pélvico ou
ecografia pélvica nas mulheres e
esofagogastroduodenoscopia(18). A
realização ou não da ecoendoscopia, da
tomografia por emissão de positrões (PET)
ou da laparoscopia continua por definir(2,
14). Uma radiografia torácica é
recomendada, sendo preferível a TAC
torácica, principalmente em doentes com
CG proximal(13).
A TAC é o MCD mais usado no
estadiamento pré-operatório. Auxilia na
identificação da invasão da camada serosa e
de órgãos adjacentes. É útil na detecção da
metastização hepática, esplénica e
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abdominal, além de identificar o
envolvimento dos GL(11, 13). Apresenta
contudo algumas limitações. Metástases
inferiores a 5 mm geralmente não são
detectadas. A acrescentar que 20-30% dos
doentes com uma TAC negativa
apresentarão metástases intraperitoneais
na laparoscopia ou na laparotomia(13). Tem
ainda grande incapacidade em avaliar
correctamente a profundidade de invasão
do tumor primário, especialmente em
tumores pequenos, assim como a invasão
dos GL. O estadio T só é correctamente
avaliado em 50-70% dos casos(13). Outros
estudos demonstram sensibilidades entre
43-82%(2). A principal causa para a baixa
precisão na avaliação do parâmetro T é a
dificuldade em observar as múltiplas
camadas da parede gástrica onde esta é
mais fina (pré-piloro). A avaliação da
invasão do tecido adiposo adjacente e a sua
diferenciação entre reacção inflamatória ou
envolvimento tumoral é também difícil, o
que deve acarretar precaução no
diagnóstico de cancro infiltrativo. O
diagnóstico de infiltração da camada serosa
também deve ser rodeado de cuidados,
especialmente em zonas nas quais esta não
está ligada à camada muscular externa
(pequena e grande curvatura).
Em relação ao parâmetro N, este é
avaliado tendo por base o tamanho dos GL.
A sensibilidade e especificidade para a
detecção de metástases ganglionares
rondam os 65-97% e 49-90%
respectivamente. Os falsos-positivos são
principalmente devidos a uma
linfadenopatia inflamatória(13).
Davies et al.(19) descreve uma
sensibilidade de 24% para gânglios N1
(gânglios localizados até 3 cm do tumor) e
de 43% para os gânglios N2 (gânglios
localizados a mais de 3 cm do tumor), e uma
especificidade de 100%. O autor justifica a
elevada especificidade com o cut-off
elevado (10mm) dos gânglios envolvidos.
Conclui-se que os GL N1 são mais
dificilmente detectados que os N2.
A baixa sensibilidade na avaliação do
parâmetro N é devida à incapacidade em
detectar GL metastizados de tamanho
normal assim como é impossível a destrinça
entre GL reactivos hiperplásicos de GL
aumentados pela metastização, ainda que
exista uma clara relação entre o aumento
dos GL e a sua invasão tumoral. A
quantidade de tecido adiposo perigástrico e
o grau de atenuação pela
hipervascularização são factores que
também interferem na avaliação do estadio
N.
Relativamente ao parâmetro M, a TAC
tem uma sensibilidade global de 76%(19). A
invasão pancreática, especialmente da
cápsula é particularmente difícil de
detectar, no entanto a TAC tem uma
sensibilidade de 50%. Já as metástases
peritoneais são identificadas com
sensibilidades de 30-71%(19, 20). A
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metastização hepática é detectada com
sensibilidades de 57-87,5%(19, 20).
Chen et al.(21), avaliou a precisão da
TAC contrastada e comparou-a com a TAC
com MPR (multiplanar reformation)
associada ou não a endoscopia virtual após
distensão gástrica com ar e água. Obteve
uma precisão para detectar CG de 91% e
uma sensibilidade para o estadio T e N de
73% e 71% respectivamente com o uso da
TAC contrastada. Usando a TAC com MPR,
estes valores sobem para 96%, 89% e 78%
respectivamente. Se a esta técnica
associarmos a endoscopia virtual, a precisão
para detectar CG aumenta para 98%. O
estudo mostra que a TAC com MPR melhora
a detecção tumoral, assim como a precisão
em detectar o estadio, principalmente o T.
Apresenta como limitações a detecção do
estadio T1 com grande invasão da
submucosa ou com ausência de
espessamento da parede, do T2 com
inflamação perigástrica ou do T3 com
inflamação mínima.
D’Elia et al.(20) avaliou a precisão da
TAC no estadiamento pré-operatório
através da detecção tumoral no CG precoce
e avançado, obtendo uma precisão de 80%
e 99% respectivamente. No que compete ao
estadio T, a precisão foi de 20% e 87% para
o CG precoce e avançado. Já em relação aos
GL regionais, obteve-se uma sensibilidade,
especificidade e precisão de 97,2%, 65,7% e
87% respectivamente.
Concluiu-se portanto que a TAC faz
uma melhor avaliação do parâmetro T num
estadio avançado da doença.
O papel da TAC no estadiamento pré-
operatório apesar de controverso em
algumas situações é fundamental na
definição da extensão local do tumor.
Apesar de algumas lacunas no
estadiamento, a TAC permanece um MCD
fundamental na avaliação da invasão local e
à distância. Continua a realizar-se
rotineiramente, sendo um exame de
primeira linha no estadiamento pré-
operatório. Em doentes nos quais se
verifique doença localmente avançada ou
invasão ganglionar é recomendada a
realização de uma laparoscopia(19).
A ecoendoscopia é um MCD muito
preciso na observação da infiltração
tumoral sendo considerado o mais preciso
na avaliação do estadio T com baixas taxas
de sobre e subestadiamento(11, 13, 22).
A precisão para diferenciar o estadio T,
varia de 68,3-87,5% (Tabela 2),
apresentando maior exactidão que a TAC e
que a laparotomia(23, 24). Este método
tenta colmatar as falhas da TAC na
identificação do estadio T com melhor
avaliação da invasão em profundidade
devida à superior identificação das 5
camadas da parede gástrica(20, 25). A
precisão diminui com o aumento do tumor
e com tumores ulcerados, pelo que lesões
com >30mm de diâmetro não são
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devidamente avaliadas por este método.
A localização tumoral, especialmente
no terço superior do estômago e na
pequena curvatura também diminui a
precisão da ecoendoscopia(22).
A principal razão para o sobre-
estadiamento com a ecoendoscopia no
estadio T1 é o espessamento da parede
gástrica, com reacção inflamatória peri-
focal, dificultando a destrinça entre tecido
inflamatório e neoplásico, sendo o estadio
T1 interpretado como um estadio T2. A
ausência da camada serosa em algumas
áreas gástricas é motivo para o sobre-
estadimento do estadio T2(26). Outras
causas de sobre-estadiamento são a
inflamação local, uma má interpretação do
tecido necrótico sobre a superfície de uma
úlcera, o edema e a presença de tecido
cicatricial ou fibrótico(25).
Quanto ao subestadiamento são
causas a micro-invasão tumoral e a
destruição focal, indetectáveis com a
ecoendoscopia.
A precisão da endoscopia em avaliar o
estadio T é superior no CG precoce (84-
92%) comparando com o avançado, sendo o
oposto observado com a TAC(27).
A sensibilidade em detectar metástases
ganglionares (estadio N) varia entre 64,2-
79,5% (Tabela 2). A inflamação em volta do
tumor ou nos GL justifica em parte estes
resultados(13).
Este método enfrenta as mesmas
limitações da TAC na diferenciação entre GL
reactivos ou metastizados usando critérios
como a sombra acústica, forma e margens
na tentativa de uma correcta
diferenciação(20).
A avaliação subóptima dos GL prende-
se também com a incapacidade do ecógrafo
avaliar em profundidade impedindo uma
boa visualização à distância. GL com uma
localização mais profunda que 5-6 cm não
serão alcançados pela ecoendoscopia. A
avaliação de metástases à distância é
também impossibilitada pela mesma
razão(20, 26).
Assim uma ecoendoscopia negativa
não confirma a ausência absoluta de
metastização ganglionar. Nestes casos a
ecoendoscopia com biópsia, caso esta
possibilidade exista, desempenha um papel
preponderante(25).
Poder-se-á concluir que a
ecoendoscopia é um MCD útil para um
preciso estadiamento no que compete aos
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parâmetros T e N locais. A avaliação dos GL
malignos é ainda insuficiente, sendo
necessários novos critérios que permitam
uma melhor destrinça entre GL benignos e
malignos(26).
Este MCD deve ser incluído em todos
os estadiamentos pré-operatórios nos quais
a TAC não demonstrou invasão da serosa ou
dos GL(30). O seu uso por rotina no
estadiamento pode alterar o plano
terapêutico, contudo actualmente não faz
parte das guidelines da National
Comprehensive Cancer Network (NCCN).
O uso combinado da ecoendoscopia e
da TAC, na obtenção de informação sobre
metástases à distância, é uma boa opção no
manuseamento de doentes com CG(26).
O actual exame gold standard na
detecção de metástases hepáticas é a
ecoendoscopia intra-operatória(19).
Em conclusão, a ecoendoscopia e as
suas vantagens, tornam-na um método
recomendado como indicador de
prognóstico e na decisão de tratamento,
tendo sempre em conta que não substitui
mas complementa outros meios de imagem
usados actualmente(25).
A PET é um MCD não invasivo que se
tem mostrado útil na previsão da resposta à
terapêutica no CG.
Está também em estudo a sua utilidade
na confirmação de metástases ganglionares
detectadas na TAC, sendo a sensibilidade na
detecção das mesmas inferior (56% vs 78%)
mas com maior especificidade (92% vs
62%)(2).
O principal benefício da PET reside na
superior sensibilidade em detectar
metástases à distância comparativamente à
TAC(13).
Uma PET negativa não é útil. No CG
localmente avançado, a imagem
contrastada é insuficiente para a análise
quantitativa em aproximadamente 20-40%
dos doentes (31, 32), o que limita o valor da
PET no diagnóstico e monitorização da
terapia. A acrescentar que os carcinomas
gástricos não intestinais, principalmente os
que contêm células em anel de sinete,
devido à baixa expressão do transportador
de glicose Glut-1(33, 34) têm baixa avidez
para a 18-fluordesoxiglicose, o que diminui
a taxa de detecção(32).
A combinação PET-TAC tem vantagens
sobre a PET ou a TAC isoladas, com maior
precisão no estadiamento pré-operatório
(68% vs 47% e 53%)(2).
A utilidade da PET na avaliação do grau
de resposta metabólica após a utilização de
quimioterapia neoadjuvante é um tema de
actual interesse.
Apenas 30-40% dos doentes
respondem à quimioterapia, sendo os não
respondedores submetidos aos efeitos
tóxicos da mesma, sem benefício. Assim,
um exame que permita prever a resposta ao
tratamento é de extrema utilidade(31).
Definiu-se como uma resposta
metabólica positiva, uma diminuição da
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captação de 18-fluordesoxiglicose igual ou
superior a 35%(35).
Nos doentes com resposta metabólica
positiva a sobrevida livre de doença (SLD) é
superior (29,7 vs 14,1 meses), assim como a
taxa de ressecção R0 (96% vs 74%) e a
resposta histopatológica(31, 34, 35).
Conclui-se que a PET tem especial
indicação em doentes com doença
localmente avançada com metástases
ganglionares que poderão beneficiar de
uma ressecção curativa(6).
A sua utilidade na avaliação da
resposta metabólica precoce no
adenocarcinoma localmente avançado
continua em estudo, carecendo de novos
ensaios clínicos, existindo contudo
viabilidade para que seja inserida num
algoritmo de tratamento com quimioterapia
neoadjuvante.
O seu uso por rotina não é
recomendado(14).
Esta nova vertente da aplicação da PET
pode permitir a adaptação de um
tratamento multimodal de acordo com a
biologia individual e poderá evitar o uso de
quimioterapia desnecessária, os efeitos
laterais da mesma, o tempo perdido e os
custos para os sistemas de saúde.
O papel da laparoscopia em oncologia
permanece controverso. Os críticos
advogam que os benefícios a ela devidos
seriam supérfluos nos doentes com cancro,
enquanto alguns estudos apontam
vantagens no diagnóstico, estadiamento e
tratamento de neoplasias gástricas.
A TAC contrastada é o MCD mais usado
no estadiamento do CG, porém 20-30% dos
doentes considerados potencialmente
curáveis, revelam doença metastática na
laparotomia(36).
A laparoscopia tem aqui especial
importância, pois permite visualizar
directamente a superfície hepática, o
peritoneu e os GL locais. Permite ainda
realizar uma lavagem peritoneal com
obtenção de material para análise
citológica, que pode melhorar o
estadiamento através da identificação de
carcinomatose peritoneal.
Esta vantagem tem especial
importância, pois a existência de células
tumorais na cavidade peritoneal, mesmo na
ausência de doença metastática evidente é
factor de mau prognóstico(37, 38). Acarreta
uma diminuição da sobrevida global de 14,8
vs 98,5 meses após ressecção R0(39), o que
faz com que uma cirurgia curativa esteja
contra-indicada nestes casos(38, 40).
Burke et al.(41), num estudo que avalia
o valor da laparoscopia na detecção de
doença metastática no adenocarcinoma
gástrico, obteve uma precisão de 94%, uma
sensibilidade de 84% e uma especificidade
de 100%. Os falsos-negativos deveram-se
principalmente à não detecção de GL à
distância. A maioria da doença metastática
foi devida a disseminação peritoneal. A
laparotomia foi evitada em 24% dos
TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE E/OU ADJUVANTE NO CANCRO GÁSTRICO
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doentes. As complicações foram mínimas
(2%).
Munteau et al.(39), num estudo
semelhante obteve uma precisão,
sensibilidade e especificidade de 95,5%,
89% e 100% respectivamente.
Relativamente à detecção de metástases
ganglionares alcançou uma sensibilidade de
54,5% e uma especificidade de 100%. O
valor preditivo positivo para a
ressecabilidade foi de 96% e de 50% para o
valor preditivo negativo.
Conclui-se que a laparoscopia é
altamente precisa na detecção de
metástases ocultas e identifica uma
população única de doentes no estadio IV
(doentes assintomáticos, sem obstrução ou
hemorragia gastro-intestinal), que pode
beneficiar de novas abordagens de
quimioterapia evitando laparotomias
desnecessárias(41).
Lavonius et al.(37) demonstra que a
laparoscopia é extremamente sensível na
detecção de metástases intra-abdominais,
evitando a realização de laparotomias
desnecessárias em 21-41% dos doentes.
Feussner et al.(42) observou que a
laparoscopia alterou o estadiamento de
51% dos 100 doentes após estadiamento
com TAC e ecografia, dos quais 26%
apresentavam doença metastática
peritoneal. A terapêutica foi alterada em
45% dos doentes.
Yano et al.(43) examinou um grupo de
doentes com CG T3 ou T4 comprovado com
biópsia e estadiado com ecografia, TAC e
RMN. Metade dos doentes alterou o
estadiamento com a laparoscopia. Dos 32
doentes deste estudo prospectivo, 13 (41%)
apresentavam doença metastática
peritoneal não diagnosticada previamente.
Um estudo retrospectivo(44) com 151
doentes demonstrou que a laparoscopia
apresenta uma sensibilidade de 98,4% e
uma especificidade de 62% relativamente à
probabilidade de ressecção.
Tendo por base a literatura disponível,
infere-se que devido à sua avaliação bi-
dimensional, a identificação de metástases
hepáticas(2, 41) e nos GL permanece
limitada(2). Já a sensibilidade para detectar
carcinomatose peritoneal varia de 21-52%,
sendo superior à da TAC(37, 39, 41-43, 45).
As indicações da laparoscopia
permanecem controversas. Alguns autores
recomendam a laparoscopia para doentes
com estadio superior a T1, sem estenose ou
hemorragia, pois mais de 1/3 destes
doentes apresenta metástases apenas na
cirurgia. Deve também ser realizada em
doentes nos quais se considera terapia
neoadjuvante como uma opção de
tratamento(13, 39). Alguns estudos apenas
a recomendam nos tumores T3, T4 ou
subdiafragmáticos(14). Em doentes com
estadio T1, em que se opte por realizar
laparoscopia, a pesquisa do gânglio
sentinela tem obtido uma precisão de
100%(46).
TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE E/OU ADJUVANTE NO CANCRO GÁSTRICO
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Os estudos publicados sobre a
laparoscopia têm indicado resultados
superiores aos restantes exames. Os custos
adicionais da técnica devem ser
balanceados com o facto de diminuir a
morbilidade e o custo da hospitalização nos
doentes em que a laparotomia foi evitada.
Outros estudos contrapõem que tem pouco
valor alegando que a maioria destes
doentes necessitará de uma laparotomia
paliativa por hemorragia ou obstrução(41).
Pode-se portanto afirmar que a
laparoscopia pode ser associada a métodos
de imagem no estadiamento de todos os
doentes com CG potencialmente ressecável
ou curável, com vantagem e segurança,
assumindo um papel emergente na
abordagem da terapêutica multidisciplinar.
TRATAMENTO
O resultado do tratamento em
doentes com CG depende do estadio da
doença na apresentação. Em CG operáveis,
a extensão da cirurgia e o regime de
quimioterapia a administrar permanecem
áreas de controvérsia(47).
A maioria dos ensaios clínicos inclui
carcinomas da JGE e carcinomas gástricos.
Devido às dificuldades em distinguir estas
entidades, as recomendações de
tratamento em ambos os casos são
praticamente sobreponíveis(48).
A doença localizada, limitada à
mucosa e submucosa, consegue um bom
tratamento através da ressecção mucosa
endoscópica, obtendo taxas de sobrevida
aos 5 anos de 70-95%. Assim que as células
tumorais alcançam ou ultrapassam a
submucosa, que é a forma mais comum de
apresentação, a taxa de sobrevida cai para
os 20-30%(49).
O actual desafio consiste em
melhorar ou modificar a técnica cirúrgica
(nível de dissecção nodal) e testar vários
esquemas terapêuticos e fases de
administração (quimio/quimioradioterapia
neoadjuvante, adjuvante ou perioperativa)
na procura de um tratamento ideal.
Cirurgia
No CG, uma cirurgia com intenção
curativa implica a realização de uma
gastrectomia pelo menos parcial associada
a uma dissecção em bloco das cadeias
ganglionares regionais(50). O debate reside
na extensão da dissecção linfática. Esta está
definida de três formas: D0, onde há uma
ressecção incompleta dos GL N0; D1, onde
se removem os GL N1 e D2, onde se
removem os GL N1 e N2(51).
A maior polémica permanece entre o
Oriente e o Ocidente. Uma cirurgia limitada
(D0/D1) continua a ser uma prática comum
em muitos países ocidentais. Os
especialistas recomendam pelo menos uma
dissecção D1, com remoção de no mínimo
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15 GL e com margens livres(52). Já no
Japão, uma cirurgia D2 é o tratamento
cirúrgico standard, sendo obtidas taxas de
sobrevida aos 5 anos superiores a 60%,
enquanto que nos EUA este tipo de cirurgia
apenas alcança sobrevidas de 15-30%(53).
No ocidente vários estudos falharam
em comprovar o benefício da
linfadenectomia D2 sobre a D1(54, 55). Não
evidenciaram vantagem da D2 em termos
de sobrevida global (SG), com maior taxa de
complicações pós-operatórias, maior
hospitalização e maior mortalidade. A
esplenectomia e a pancreatectomia distal
parecem contribuir para a maior
mortalidade operatória(56). Uma meta-
análise chinesa(57) confirma os dados
anteriores. Na comparação da dissecção D2
com a D3, não se verificaram diferenças
significativas entre os dois grupos
relativamente aos parâmetros referidos
anteriormente(58). É importante referir que
este tipo de ressecção favorece um melhor
estadiamento operatório.
Já outros estudos, randomizados e não
randomizados, tanto no Japão como na
Europa mostraram melhoria na sobrevida
com dissecções D2 relativamente a D1(59,
60).
Um estudo Holandês comparou a
linfadenectomia D1 e D2 em 711 doentes
com CG ressecável. Na primeira
publicação(61), a sobrevida aos 5 anos foi
de 45% para a dissecção D1 e de 47% para a
dissecção D2. O seguimento continuou,
sendo a sobrevida aos 11 anos para D1 de
30% e para D2 de 35%(62). Uma análise de
subgrupos onde se excluiu os doentes
submetidos a esplenectomia e a
pancreatectomia, verificou que houve
benefício na sobrevida nos doentes
submetidos a D2 e nos doentes com invasão
do grupo N2. A mais recente publicação(63),
mostra uma sobrevida aos 15 anos de 21%
para D1 e de 29% para D2, sendo esta
última publicação a única a demonstrar
benefício na dissecção D2. Observou-se
menor recorrência local e de mortes
relacionadas com o cancro. Os resultados
demonstram que a longo prazo a dissecção
D2 promove melhor controlo local e
superior sobrevida comparada com a D1.
Um estudo no Reino Unido(64)
também confirmou semelhantes taxas de
mortalidade entre D1 e D2 (8,3% vs 7,3%)
com taxas de sobrevida aos 5 anos de 32% e
59% para D1 e D2 respectivamente. Um
estudo randomizado italiano(65) obteve
resultados semelhantes aos estudos
japoneses, com taxas de morbilidade e de
mortalidade de 17,9% vs 12% e de 2,2% vs
3% para uma dissecção D2 e D1
respectivamente.
Wu et al.(66) demonstrou vantagem
em termos de sobrevida global aos 5 anos
(59,5% vs 53,6%) nos doentes que
realizaram uma cirurgia D3 em detrimento
de uma cirurgia D1, concluindo que com
cirurgiões experientes uma linfadenectomia
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extensa poderá ser uma vantajosa opção de
tratamento.
Sano et al.(67) que compara a
dissecção D2 com uma dissecção D2 mais
remoção dos GL para-aórticos demonstra
que nesta última a taxa de mortalidade foi
apenas 1%. Ainda sobre a mesma
comparação, uma meta-análise(58)
demonstra que a técnica é tão segura como
a D2, não acrescentando contudo nenhum
benefício em termos de sobrevida.
Desde que a dissecção D2 possa ser
executada com preservação do baço e da
cauda pancreática, esta pode ser
recomendada tanto a oriente como a
ocidente como cirurgia standard no CG(68).
Quimioterapia/Quimioradioterapia
Embora um elevado número de
regimes de quimioterapia tenham sido
testados, assim como a melhor fase para os
administrar, não há uma aceitação
internacional de um tratamento standard, e
muitas incertezas ainda rodeiam a escolha
do tratamento.
Perioperativa
Cunningham et al.(69), no ensaio
MAGIC, tentou determinar se o regime EFC
(epirubicina, 5-FU e cisplatina) dado antes e
após a cirurgia melhorava os resultados no
CG ressecável. O estudo incluiu 503 doentes
com adenocarcinoma gástrico ou do terço
inferior do esófago no estadio II ou
superior. 25% dos doentes tinham
adenocarcinomas esofágicos ou da JGE. Os
doentes foram randomizados de forma a
receberem quimioterapia perioperativa
mais ressecção cirúrgica ou apenas cirurgia.
A quimioterapia consistiu em 3 ciclos antes
e 3 ciclos após a cirurgia. Cada ciclo incluiu
epirubicina (50 mg/m2) e cisplatina (60
mg/m2) no primeiro dia e 5-FU
(200mg/m2/dia) por infusão contínua
durante 21 dias. Os doentes submetidos à
quimioterapia realizaram a ressecção
cirúrgica 3-6 semanas após completarem a
quimioterapia neoadjuvante. A
quimioterapia adjuvante foi realizada 6-12
semanas após a cirurgia. A extensão da
ressecção ficou ao critério do cirurgião. 88%
dos doentes completaram os 3 ciclos de
quimioterapia pré-operatória e 40%
completaram os 6 ciclos. Verificou-se um
aumento de 13% da taxa de sobrevivência
global aos 5 anos no grupo da
quimioterapia perioperativa
comparativamente ao grupo cirúrgico (36%
vs 23%). Esta melhoria de 13% acarreta uma
diminuição do risco de morte de 25%(9). A
taxa de ressecção curativa foi superior no
grupo submetido a quimioterapia
perioperativa (69,3% vs 66,4%). A taxa de
complicações pós-operatórias foi
semelhante nos dois grupos. O tamanho
médio do tumor ressecado foi inferior no
grupo da quimioterapia perioperativa (3cm
vs 5cm). O grupo de quimioterapia
perioperativa tinha uma proporção superior
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de estadio T1 e T2 (51,7% vs 36,8%).
Observou-se menor invasão ganglionar no
grupo com quimioterapia perioperatória
(84,4% vs 70,5%). Durante o seguimento
(cerca de 4 anos) verificou-se uma taxa de
recorrência local inferior no grupo com
quimioterapia perioperatória (14,4% vs
20,6%). A metastização à distância foi mais
comum no grupo com apenas cirurgia
(36,8% vs 24,4%). As taxas de efeitos
adversos foram aceitáveis. 12% dos doentes
apresentaram grau 3 e 4 de toxicidade e
somente 6% descontinuaram o tratamento
pelos efeitos tóxicos.
Conclui-se que há benefício no uso de
quimioterapia perioperatória, com melhoria
da SG e da SLD, constituindo uma nova
opção de tratamento no CG localmente
avançado.
Um estudo randomizado publicado por
Boige et al.(70) abordou esta temática e
avaliou a quimioterapia neoadjuvante
seguida de cirurgia em 113 doentes
comparando-os com 111 doentes que
apenas realizaram cirurgia. O protocolo
consistiu em cisplatina e 5-FU.
Quimioterapia adjuvante foi recomendada a
doentes com uma resposta notável à
quimioterapia neoadjuvante. A sobrevida
aos 5 anos e a SG foi superior no grupo
tratado com quimioterapia (21% vs 34% e
24% vs 38% respectivamente).
Os resultados são animadores mas há
críticas a apontar. Em ambos os estudos
incluíram doentes com adenocarcinoma da
JGE. A falta de estadiamento pré-operatório
(com ecoendoscopia e laparoscopia com
citologia peritoneal), impossibilita
determinar quais os estadios que mais
beneficiaram desta abordagem.
No estudo MAGIC, existem mais
tumores T1 e T2 no grupo da quimioterapia,
o que pode reflectir a diminuição tumoral
decorrente do tratamento, mas esta não
pode ser comprovada pela ausência de
estadiamento pré-operatório com
ecoendoscopia(71). Apenas 42% dos
doentes completaram o protocolo, devido à
precoce progressão da doença, a pedido do
doente ou a complicações pós-operatórias.
Ainda assim, a sobrevida manteve-se
elevada, o que nos leva a questionar se
poderemos omitir a quimioterapia
adjuvante e conseguir os mesmos
resultados. Outras críticas apontadas são o
desconhecimento do tipo de cirurgia
efectuado e a limitada capacidade para
analisar subgrupos a partir dos resultados
do estudo(72).
No estudo de Boige não houve
diferenças no estadio T entre os grupos,
embora a ecoendoscopia não fosse
realizada em todos os casos.
A citologia peritoneal é um exame
importante nestes doentes, pois sendo
positiva, é factor de mau prognóstico e
inviabiliza que seja efectuado tratamento
neoadjuvante(73, 74).
Assim, não foi possível determinar se o
estadio precoce, avançado ou ambos
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beneficiariam da quimioterapia
perioperativa, pelo que o estadiamento é
um elemento fundamental para avaliar a
utilidade deste tratamento(75, 76).
Um estudo retrospectivo
norueguês(77) reuniu os dados de todos os
doentes no país submetidos a
quimioterapia perioperativa num período
de dois anos e meio. O tratamento teve por
base o protocolo MAGIC, substituindo o 5-
FU por capecitabina. Dos 169 doentes, 90%
realizaram pelos menos um um ciclo de
quimioterapia pré-operatória e 40%
completaram todos os ciclos. A ressecção
R0 foi conseguida em 86% dos doentes. A
taxa de efeitos tóxicos foi superior à do
estudo MAGIC e a taxa de
morbimortalidade foi inferior. Estes dados
confirmam o benefício deste tipo de
tratamento.
Neoadjuvante
A quimioterapia neoadjuvante
continua em estudo no tratamento do
CG(78).
Desde a publicação do estudo
MAGIC(69), evidência científica sugeriu os
benefícios da terapia neoadjuvante, após
longos anos de tentativas falhadas na
obtenção de melhoria da sobrevida com
este método. A cirurgia pode ser atrasada
com o objectivo de aumentar a taxa de
ressecção curativa(79).
Este tipo de tratamento tem vários
objectivos, nomeadamente uma melhor
tolerância à quimioterapia
comparativamente à terapia adjuvante,
redução tumoral que aumenta a
ressecabilidade, possibilita avaliar
precocemente a resposta ao tratamento,
inicia mais prematuramente o tratamento
de micrometástases e ainda permite um
melhor cumprimento do tratamento, dado
que estes doentes não estão sujeitos às
comorbilidades da cirurgia(75, 79-81).
Os críticos advogam como
desvantagem os efeitos secundários da
quimioterapia, que se reflectem no estado
geral dos doentes, principalmente no
estado nutricional, podendo comprometer
o sucesso da cirurgia, com maior
morbimortalidade perioperativa, o que faz
com que muitos cirurgiões não adoptem
este tipo de abordagem(79). Todavia
verifica-se que apenas 1% dos doentes
deterioraram o seu estado geral de modo a
impossibilitar a cirurgia e que as taxas de
morbimortalidade obtidas foram
semelhantes às observadas nos doentes
tratados sem quimioterapia
neoadjuvante(79). Mesmo sob
quimioterapia os doentes podem progredir
com crescimento tumoral, o que também
reflecte a agressividade tumoral. Aqui a
avaliação precoce da resposta ao
tratamento é importante, de modo a que
estes doentes sejam intervencionados antes
que se tornem inoperáveis.
TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE E/OU ADJUVANTE NO CANCRO GÁSTRICO
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A PET poderá ter aqui um papel
relevante(82).
Os candidatos à quimioterapia
neoadjuvante, são aqueles que não
apresentam sintomas que obriguem a uma
cirurgia paliativa (hemorragia, perfuração
ou obstrução) e sem metastização à
distância. Devem possuir um bom estado
geral, para que tolerem a quimioterapia.
Yoshikawa et al.(83), num estudo fase
II, submeteu 55 doentes com CG com
extensa invasão ganglionar, a quimioterapia
neoadjuvante (irinotecano, 70 mg/m2 e
cisplatina, 80 mg/m2) e a gastrectomia com
D2. O estudo terminou devido à elevada
taxa de mortalidade relacionada com o
tratamento (> 5%). A taxa de resposta
patológica completa (RPC) foi de apenas 5%,
contudo observou-se uma elevada taxa de
ressecção R0 (65%) e a sobrevida aos 3 anos
alcançou 27%.
Infere-se que apesar das baixas taxas
de resposta terapêutica observadas em
vários estudos, também é verdade que o
número de doentes capaz de realizar uma
cirurgia R0 é elevado, o que é factor de bom
prognóstico (Tabela 3).
No Oriente, os cirurgiões conseguem
controlar as metástases ganglionares
através da dissecção D2. Aqui a
quimioterapia neoadjuvante tem
importância em doentes de alto risco. A
associação de cisplatina com S-1 é a
quimioterapia mais largamente usada(88).
O uso da quimioradioterapia
neoadjuvante também está sob estudo.
Vários estudos fase II demonstram a
sua eficácia em termos de RPC (até 30%) e
de sobrevida(84, 85, 89) (Tabela 3).
Ajani et al.(85) avaliou 49 doentes
(estadio IB-III), após tratamento
neoadjuvante com quimioradioterapia (5-
FU, leucovorina e cisplatina seguidas de 45
Gy, 5-FU e paclitaxel). A RPC foi de 26% e a
ressecção R0 foi 77%. A toxicidade grau 4
atingiu os 21%. Como esperado, os doentes
com superior RPC obtiveram melhores taxas
de sobrevida no primeiro ano (82% vs 69%
respectivamente para RPC e menos que
RPC).
A RPC foi muito superior à obtida em
doentes tratados apenas com
quimioterapia, sem significativo aumento
da morbimortalidade pós-operatória.
O benefício da quimioradioterapia
neoadjuvante em termos de sobrevida aos
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5 anos é também demonstrado numa meta-
análise(90).
Stahl et al.(91) comparou um grupo
submetido apenas a quimioterapia
neoadjuvante seguida de cirurgia com um
grupo submetido a quimioradioterapia
neoadjuvante, (etoposídeo, cisplatina e
radiação), seguida de cirurgia. Este estudo
foi restrito a doentes com adenocarcinoma
da JGE. A radioterapia aumentou
significativamente a toxicidade, e para mais
do dobro a taxa de mortalidade pós-
operatória (10,2% vs 3,8%). A taxa de
sobrevida aos 3 anos foi superior no grupo
submetido a quimioradioterapia (47,7% vs
27,7%).
Fugitani et al.(89) relatou uma
percentagem superior a 15% de doentes
que não realizaram cirurgia após a
quimioterapia devido a progressão tumoral.
Conclui-se portanto que ainda não há
gold standard no que respeita à
quimioterapia neoadjuvante, e novos
estudos fase II e III são necessários para que
o seu papel seja integrado num regime
multimodal de terapêutica para o CG.
Adjuvante
O papel da quimioterapia adjuvante
tem sido extensamente estudado nas
últimas três décadas, com resultados
controversos. Até 2004 ainda não haviam
sido relatados resultados positivos nesta
área.
No passado várias meta-análises e
alguns estudos randomizados demonstram
um modesto ou mesmo nenhum benefício
na SG com uma redução no risco de morte
entre 12-18%, considerado insuficiente para
alterar a prática clínica(92-94). Os
resultados mais favoráveis surgiram nos
estudos asiáticos, comparativamente aos
ocidentais, mas diferenças como a
localização tumoral, a prevalência de
estadios mais precoces e a extensão da
linfadenectomia influenciam estes
resultados(80, 95).
As mais recentes meta-análises(96, 97)
já mostram um benefício com significado
estatístico em termos de SG (HR de 0,82) e
de SLD (HR de 0,82). A taxa de sobrevida
aos 5 anos aumentou de 49,6% para 55,3%
com a quimioterapia, com uma diminuição
do risco de morte de 17%. Analisando os
subgrupos, verifica-se que o benefício é
superior em estadios avançados da doença
(III e IV). Demonstrou-se também que os
doentes asiáticos tendem a ter melhores
taxas de sobrevivência, embora não fossem
encontradas interacções entre a área
geográfica e o efeito da quimioterapia.
Sakuramoto et al.(98), num estudo fase
III, com 1059 doentes analisou a utilidade
da quimioterapia adjuvante com S-1, uma
fluoropirimidina oral. Todos os doentes
realizaram uma gastrectomia com extensa
dissecção ganglionar (D2). Após a cirurgia
um grupo recebeu quimioterapia adjuvante
(80mg/m2/dia de S-1). Verificaram superior
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SG e SLD no grupo tratado com S-1 (HR de
0,68 e 0,62 respectivamente). A taxa de
sobrevida aos 3 anos foi de 80,1% no grupo
tratado com S-1 e de apenas 70,1% no
grupo tratado apenas com cirurgia.
Após a publicação deste estudo, este
tratamento tornou-se standard no Japão,
mas não na Europa ou nos Estados Unidos,
pois tem sido difícil replicar estes dados no
Ocidente(82).
Dois estudos em fase III avaliam os
resultados da S-1 em monoterapia. No
estudo SPIRITS(99) a S-1 é comparada com
uma associação de S-1 e cisplatina. A
associação mostrou-se vantajosa em termos
de SG e de SLD (13 meses vs 11 meses e 6
meses vs 4 meses respectivamente). No
estudo IRIS(100) a S-1 foi comparada com
uma associação de S-1 com irinotecano.
Demonstrou-se que a associação não foi
superior à S-1 em monoterapia em termos
de SG.
Após estes ensaios a associação de S-1
com cisplatina tornou-se o tratamento de
primeira linha no Japão.
Os regimes baseados nas
fluoropirimidinas orais mostraram ser bem
tolerados e tornaram-se opções
terapêuticas razoáveis, contudo a sua
aplicação no ocidente permanece incerta.
A radioterapia foi recentemente
estabelecida como parte integral da
quimioterapia adjuvante em doentes de
elevado risco. Está documentado que
aproximadamente 60% dos doentes com GL
positivos ou com invasão para além da
camada serosa irão recidivar (leito gástrico,
GL, e menos frequentemente na
anastomose, estômago remanescente ou
coto duodenal)(101), e destes, 20%
recorrem apenas localmente. Esta
percentagem é o principal alvo da
radioterapia, pois é capaz de esterilizar a
doença local diminuindo a recorrência e
tem demonstrado resultados animadores,
acrescidos contudo de maior toxicidade(75,
93, 102).
Macdonald et al.(103), no ensaio
SWOG/INT-0116, foi o primeiro a
demonstrar no ocidente o benefício da
quimioradioterapia adjuvante em doentes
com CG, tornando-o o tratamento standard
nos Estados Unidos. Este ensaio dividiu 556
doentes pós-cirúrgicos com estadio entre
IB/IV (M0) em dois grupos, nos quais um
grupo recebeu quimioradioterapia
adjuvante. Cerca de dois terços dos doentes
em cada grupo apresentavam T3/T4 e 85%
tinham metástases ganglionares. 20% dos
doentes tinham adenocarcinoma da JGE. No
dia 1 de tratamento é iniciada a
quimioterapia com 5-FU, 425mg/m2/dia e
leucovorina, 20mg/m2/dia durante 5 dias e
no dia 28 a quimioradioterapia (45 Gy
durante 5 semanas) associada a 420
mg/m2/dia de 5-FU e a 20mg/m2/dia de
leucovorina nos primeiros 3 e últimos 4 dias
de radioterapia. Após 1 mês do término da
radioterapia, os doentes receberam 2 ciclos
de quimioterapia (5-FU, 425 mg/m2/dia e
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leucovorina, 20mg/m2/dia), com 28 dias de
intervalo. A taxa de toxicidade grau 3/4 foi
de 79% nos doentes tratados com
quimioradioterapia.
Após um seguimento de 5 anos, a SLD
e a SG foi superior no grupo tratado (30
meses vs 19 meses e 36 meses vs 27 meses
respectivamente). A taxa de recorrência foi
superior nos doentes não tratados (64% vs
43%).
Concluiu-se que a quimioradioterapia
adjuvante melhora a SG e a SLD, devendo
este tipo de tratamento ser considerado em
todos os doentes com CG avançado. É
importante denotar que neste estudo 54%
dos doentes realizaram uma dissecção
ganglionar D0, o que é objecto de crítica,
pelo que se coloca a hipótese de a
quimioterapia complementar uma cirurgia
mal executada.
Sung et al.(104), estudou 990 doentes
com CG após dissecção D2, divididos em 2
grupos, com cirurgia mais
quimioradioterapia vs apenas cirurgia. No
grupo tratado observou-se superior SG e
SLD, respectivamente 95,3 meses vs 62,6
meses e 75,6 meses vs 52,7 meses, o que
parece excluir a interferência da dissecção
no estudo INT-0116.
Ainda assim, a extensão da
linfadenectomia e a necessidade de
quimioradioterapia quando é realizada uma
dissecção adequada permanece uma área
em plena discussão na cirurgia oncológica.
O estudo de Macdonald prolongou-se
com um seguimento de mais de 10 anos e
confirmou a superior SG e a SLD no grupo
tratado com quimioradioterapia adjuvante.
Efectuou uma análise por subgrupos (sexo,
etnia, estadio T e N, nível de dissecção
cirúrgica, localização tumoral, histologia
intestinal ou difusa) e verificou que em
todos os subconjuntos este tratamento
acarreta benefício, excepto no subgrupo de
histologia difusa(105).
Uma meta-análise recente(90)
demonstra melhoria na sobrevida aos 3 e
aos 5 anos com a quimioradioterapia
adjuvante.
Bamias et al.(106), num estudo
randomizado, comparou a eficácia da
quimioterapia adjuvante com docetaxel e
platinum com o mesmo regime de
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quimioterapia à qual adicionaram
radioterapia. Não se observaram diferenças
estatisticamente significativas entre os dois
grupos no que compete à SG e à SLD,
havendo uma ligeira superioridade na
sobrevida aos 3 anos no grupo apenas com
quimioterapia (Tabela 4).
Conclui-se que a adição de radioterapia
a este regime de quimioterapia não
melhora a sobrevivência, não descartando a
possibilidade da radioterapia acrescentar
benefício que não fosse possível
demonstrar devido ao reduzido poder do
estudo.
Apesar do grande número de ensaios,
ainda não há evidência científica que
suporte a quimioterapia adjuvante como
um regime terapêutico estabelecido. O
papel da radioterapia nestes regimes
precisa também de ser definido(107).
CASO CLÍNICO
Homem, caucasiano, de 45 anos de
idade, previamente saudável, não fumador,
sem antecedentes pessoais ou familiares
relevantes nomeadamente doenças
oncológicas.
Adenocarcinoma do antro gástrico
diagnosticado na sequência da investigação
de quadro de enfartamento pós-prandial.
Para esclarecimento da clínica, foi
realizado a 13-10-2009 uma radiografia
torácica que não revelou alterações e uma
ecografia abdominal que demonstrou um
espessamento da parede gástrica.
A 04 de Novembro de 2009 efectuou
uma EDA que demonstrou uma lesão
úlcero-infiltrativa do antro gástrico, cuja
biópsia confirmou adenocarcinoma gástrico
de células em anel de sinete.
Para o estadiamento realizou: TAC
abdomino-pélvico que confirmou um
espessamento da parede do antro gástrico
e demonstrou adenopatias perigástricas;
ecoendoscopia que estadiou a neoplasia
como uT3/T4 N1; laparoscopia que revelou
um tumor gástrico infiltrativo no antro, com
tradução na serosa e múltiplas adenopatias
pericentrimétricas perigástricas na pequena
curvatura, sem evidência de metástases
hepáticas ou carcinomatose peritoneal, que
permitiram classificar a neoplasia como cT3
N1 M0 – Estadio IIB.
Em Consulta de Grupo Oncológico
Multidisciplinar a 17-12-2009 foi decidido
fazer três ciclos de quimioterapia
neoadjuvante segundo o protocolo MAGIC.
Fez quimioterapia de 31 de Dezembro
de 2009 a 12 de Fevereiro de 2010.
Após 2 ciclos de quimioterapia foi
reavaliado por TAC, que não revelou
progressão da doença, mas ficando a dúvida
relativamente a um nódulo com 12mm
hipodenso e hipocaptante no segmento
V/VI hepático.
Gastrectomia total com anastomose
esófago-jejunal em 12-03-2010. Durante o
acto cirúrgico foi explorada toda a cavidade
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abdominal e realizada ecografia hepática
intra-operatória não havendo evidência de
metástases.
A análise anátomo-patológica da peça
cirúrgica revelou um carcinoma pouco
diferenciado, de tipo difuso, com células em
anel de sinete, que atinge a subserosa. Não
se observou invasão vascular ou peri-
linfática. As margens de ressecção estavam
livres (R0).
Foram removidos 12 gânglios linfáticos
os quais apresentavam alterações reactivas
(histiocitose sinusal). Esta informação
permitiu classificar a neoplasia como yT3 N0
M0 – Estadio IIA.
A decisão da Consulta de Grupo
Oncológico Multidisciplinar a 8 de Abril de
2010 foi fazer três ciclos quimioterapia
adjuvante, a qual terminou a 4 de Junho de
2010.
A TAC de reavaliação a 06-08-2010 não
revelou evidência de doença.
Mantém-se em vigilância, sem
evidência de doença até à actualidade, com
15 meses de seguimento desde a cirurgia.
Encontra-se clinicamente bem a fazer
suplementos de vitamina B12 por via
parentérica.
Discussão
Este doente, aparentemente sem
factores de risco, apresenta-se com um
adenocarcinoma gástrico localmente
avançado.
O estadiamento inicial, de acordo com
as guidelines actuais, foi realizado com TAC,
ecoendoscopia e laparoscopia, classificando
o tumor como cT3N1M0 – Estadio IIB.
A realização da laparoscopia foi
fundamental, pois a presença de
adenopatias locoregionais aumenta o risco
de metastização hepática e peritoneal,
tendo esta que ser descartada para que a
possibilidade de quimioterapia
neoadjuvante se mantenha.
A realização de uma PET foi também
ponderada. Tratando-se de um caso no qual
os MCD diagnosticaram metastização
ganglionar, a PET poderia confirmar este
achado, contudo, a atitude terapêutica não
seria alterada. Por outro lado, a PET permite
estudar todo o corpo, o que é útil na
pesquisa de metástases à distância, mas
tendo em conta que já havia sido realizada
uma radiografia torácica que era normal, e
que se tratava de um carcinoma de células
em anel de sinete, que fixa pouco a 18-
fluorodesoxiglicose, optou-se por não
realizar a PET.
O doente iniciou quimioterapia
neoadjuvante segundo o protocolo MAGIC e
no final do segundo ciclo avaliou-se a
resposta terapêutica por TAC. Verificou-se
que não houve progressão da doença, mas
fica a dúvida relativamente a um nódulo de
12mm no segmento V/VI hepático.
A PET surge novamente como possível
MCD, pois caso o nódulo fixasse o
radioisótopo, seria necessária uma biópsia
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para confirmar a suspeita, o que obrigaria à
mudança do plano terapêutico.
Optou-se por continuar com a
quimioterapia sem recorrer à PET pelas
razões acima mencionadas e programando-
se a ecografia hepática intra-operatória que
é o gold standard na avaliação do fígado.
É de frisar que o número de GL
removidos é insuficiente. Uma cirurgia com
intenção curativa implica uma
linfadenectomia D2 sem ressecção da cauda
do pâncreas e baço e com remoção de no
mínimo 15 GL.
O exame anátomo-patológico
demonstrou tratar-se se uma ressecção R0
e a neoplasia foi classificada como
yT3N0M0, concluindo-se assim que houve
regressão de estadio IIB para IIA.
O doente prosseguiu com
quimioterapia adjuvante, sem
complicações. A reavaliação por TAC, após o
fim do tratamento não revelou evidência de
doença.
Actualmente com um seguimento de
15 meses, não tem evidência de recidiva,
mantendo-se em vigilância clínica e
imagiológica.
CONCLUSÃO
Tem havido muita especulação no que
toca às diferenças na sobrevivência no CG
entre o Ocidente e o Oriente. Hipóteses têm
sido propostas como a maior precisão no
estadiamento patológico, a extensão da
dissecção ganglionar, o tipo histológico, a
meticulosa avaliação histopatológica da
peça cirúgica e também o sexo, a idade e a
classe social dos doentes(59, 108).
Em termos de estadiamento inicial este
é realizado com TAC (Figura 1).
Quando o tumor primário é superior a
T3 ou metástases nodais são visíveis, o risco
de doença M1 aumenta significativamente.
Este grupo de doentes necessita de uma
laparoscopia para descartar a presença de
micro e macrometástases. O diagnóstico de
doença M1 pela presença de metástases
viscerais ou peritoneais opõe-se a uma
gastrectomia em doentes assintomáticos,
devendo estes doentes ser referenciados
para quimioterapia standard ou ensaios
clínicos. Os doentes sem evidência de
metastização serão encaminhados para
quimioterapia neoadjuvante com a intenção
de uma futura ressecção curativa.
Os doentes nos quais a TAC não
evidencie invasão da serosa ou dos GL
deverão realizar uma ecoendoscopia para
confirmação do estadio T e N. Os doentes
com um estadio T2 profundo são aqueles
onde existe maior erro no estadiamento,
pelo que estes e todos aqueles acima de T3
serão candidatos à quimioterapia
neoadjuvante. Doentes com verdadeiras
lesões precoces não visualizadas na TAC
mas confirmadas na ecoendoscopia
realizarão uma gastrectomia. Se durante a
cirurgia forem descobertos GL metastizados
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Figura 1 – Algoritmo de tratamento de doentes com CG localmente avançado. QT-quimioterapia; EUS-ecoendoscopia; QRT-quimioradioterapia. Modificado a partir de Mezhir et al.(75).
estes doentes deverão ser referenciados
para quimioradioterapia adjuvante.
O único tratamento potencialmente
curativo no CG é cirúrgico, com remoção de
toda a doença, tanto macroscópica como
microscópica, contudo a cirurgia por si só
não cura muitos dos doentes.
Estamos actualmente numa fase de
rápida transição, onde em 3 diferentes
regiões do mundo se preconizam três
tratamentos diferentes. Nos Estados Unidos
é preferida a quimioradioterapia adjuvante,
na Europa, a quimioterapia perioperativa
com 3 fármacos é a mais usada, e no
oriente, a quimioterapia adjuvante com um
único fármaco após uma dissecção D2 é o
tratamento de escolha(82, 109), o que nos
leva a questionar qual é o melhor
tratamento, estando este dilema longe de
ser resolvido. A resposta à questão não é
simples e não pode ser dada pela simples
comparação entre os principais estudos
randomizados que originaram estas opções
terapêuticas. Apenas se poderá afirmar que
o factor que determinará a estratégia a
seguir é os padrões de referência do centro
para o qual o doente foi encaminhado.
Novos estudos são necessários para
esclarecer as dúvidas subjacentes, mas para
já é claro que a cirurgia como único
tratamento do CG localmente avançado não
será a melhor opção.
Há ainda muitas questões em aberto:
futuros meios de diagnóstico, avaliação do
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prognóstico e marcadores preditivos, das
características moleculares, das estratégias
de tratamento e de novos fármacos. Novos
agentes biológicos (inibidores da
angiogénese, inibidores dos factores de
crescimento) podem também contribuir
para melhorar os resultados no futuro, de
modo a adaptar a terapia ao perfil
molecular do doente(81).
O nosso doente apresentava um
adenocarcinoma gástrico localmente
avançado, estadio IIB, sendo esta a forma
mais comum de apresentação. Foi
administrada quimioterapia perioperativa, a
mais usada a nível europeu, segundo o
protocolo MAGIC. A regressão tumoral no
pós-operatório, para estadio IIA, comprovou
o benefício da quimioterapia neoadjuvante.
Com um seguimento de apenas 15 meses,
este é um caso de sucesso terapêutico.
AGRADECIMENTOS
Pretendo aqui expressar a minha
gratidão ao Dr. Franklim Marques,
orientador deste trabalho, por todo o
percurso formativo, empenho e
compreensão, contributos científicos,
disponibilidade, paciência infindáveis e
motivações constantes.
A todos os que de alguma forma
contribuíram para a realização deste
projecto e a quem não mencionei.
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