the beautiful game: o reino da camisa canarinho

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Catálogo da Exposição The Beautiful Game: O Reino da Camisa Canarinho realizada em 2014 no Museu de Direitos Humanos do Mercosul, em Porto Alegre. A mostra reuniu trabalhos artísticos cujo tema era futebol, estudos realizados para a criação da camisa da seleção brasileira e outros documentos históricos.

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  • The Beautiful Game: O Reino da Camisa Canarinho

    Museu dos Direitos Humanos do MercosulPorto Alegre-RS10 de junho a 15 de julho de 2014

    RealizaoApoio

    USEU

    ERCOSUL

    DIREITOSHU ANOS

    Artistas convidados

    Almandrade Andr Petry Britto Velho Dudi Maia Rosa Felipe Barbosa Fernando Baril Gilberto Perin Mrio Rhnelt Rui Macedo Wilson Cavalcante

    Curador

    Jos Francisco Alves

    Homenageado

    Aldyr Garcia Schlee

  • 2poca de Copa do Mundo de Futebol. Tempo de o mundo parar de girar para que a bola possa rolar. Trata-se de um momento mais especial ainda para os brasileiros, afinal, outra vez o pas sedia o grande torneio do esporte breto, em sua vigsima edio, nada menos do que o maior evento do planeta. Ano tambm especial pois assinala os 100 anos da gloriosa Sele-o Brasileira de Futebol e os 60 anos de sua icnica Camisa Canarinho.

    Em 1950, quando a Copa do Mundo havia sofrido doze anos de interrupo, devido ao genocdio da Segunda Guerra, o Brasil foi escolhido para receb-la, em razo da Europa ainda estar em recons-truo. E o paraso tropical sul-americano tratou de preparar o campe-onato no s para receber bem os visitantes, mas para venc-lo. Porm, o Maracanazo veio tanto para comprovar a atualidade do mito de Davi e Golias quanto para mostrar que o futebol mgico por permitir que o absoluto favorito, contra todas as possibilidades, possa sofrer humi-lhante derrota por no ter o mnimo respeito por seu adversrio. A partir dessa tragdia nacional, o Brasil preparou-se mais a srio para a to so-nhada conquista. Em apenas vinte anos, veio a tornar-se simplesmente o soberano no esporte mais popular do mundo.

    Muito tempo, sessenta e quatro anos, separam realidades bem diferentes. Aquela velha promessa do Brasil como o pas do futuro, quase se concretizou. Afinal, nos tornamos a stima economia mundial, algo extraordinrio. Paradoxalmente, o abismo social e econmico entre os mais ricos e os que menos podem no pas ainda imenso, entre as piores divises de riqueza do mundo. No campo do esporte mundial, esse tempo tambm tratou de transformar o futebol numa poderosa indstria multibilionria, comandada pelas regras da onipotente FIFA, a Federao Internacional de Futebol, uma multinacional capaz de dobrar um pas inteiro com suas exigncias, a fim de que o mesmo venha a sediar a cobiada World Cup.

    Porm, esse Padro FIFA e muito mais, que promoveu incessantes mudanas no sistema produtivo e nas estruturas internas e externas futebol, por incrvel que parea, no foi capaz de diminuir a paixo por esse esporte, pois ela existe desde muito tempo antes dessa reali-dade. O que sabemos que o envolvimento apaixonado das massas, as vezes de uma forma exa-cerbada, cega, continua se processando justamente em meio a essas complexas e perturbadoras contradies do mundo futebolstico, pois todas essas relaes so esquecidas no momento em que a bola rola, na expectativa do gol, na torcida pela vitria do seu time.

    Mais do que nunca, hoje os dirigentes desse esporte disputam com os polticos o descrdito pblico, seja na Europa ou Amrica Latina. Os jogadores, por sua vez, so em sua maioria trabalhadores os que labutam dura realidade das divises de cima e de baixo, dos clubes precrios financeiramente. Afinal, os grandes times e os bons de bola precisam deles para se so-bressarem. Esses atletas no possuem maiores perspectivas, pois so propriedade de agentes, cartolas e federaes que tem sobre eles o poder total. O craque, o dolo, a exceo. Ele vem da mesma origem que os demais, ascende no funil por meio de um talento que sobreviveu s manipulaes, presso da imprensa e ao crivo intransigente da torcida. Se resistir bem ao estilo de vida do enriquecimento rpido, ele ter de suar muito mais para se manter por cima, at que o seu natural decrscimo fsico faa a torcida esquecer-se de tudo o que foi feito por ela. Por ser uma paixo, o futebol to e somente o momento.

    O jogador Scrates resumiu dessa maneira as expectativas com o jogador: nada mais normal no futebol do que passar da euforia decepo.1 Eduardo Galeano, ao falar sobre a glria efmera dos jogadores, nos diz: a fama, senhora fugaz, no deixa nem sequer uma cartinha de consolo.2

    O certo que este esporte converteu-se em paixo avassaladora em pases euro-peus e sul-americanos, os quais influenciam cada vez mais os africanos e asiticos a seguirem tais emoes. No caso brasileiro, o futebol foi mais alm. Para o bem ou para o mal praticamen-te um sinnimo do pas, estigmatizado pelo binmio Carnaval e Futebol. Aqui, o futebol superou, inclusive, o patriotismo. Esse aspecto chegou a tal ponto que a camisa da seleo brasileira, principalmente a partir do tricampeonato de 1970, imps-se como smbolo nacional mais que a prpria bandeira do pas. Isso simboliza um sentimento realmente estranho desse pas-conti-nente, na contramo das demais naes sul-americanas de igual paixo futebolstica, mas de fervoroso sentimento ptrio. Para muitos, fcil perceber que a maior parte da populao subs-tituiu o patriotismo, ou mesmo condiciona grande parte de sua felicidade, pela esperana, pelo sucesso que pode ser alcanado pelos jogadores, do que eles podem fazer com os ps e a bola.

    Essas idiossincrasias do futebol so realmente inquietantes. Para os que detes-tam o esporte elas soam como justificativas inequvocas. Como pode esse esporte dominar e ocupar tanto a opinio pblica? O que justifica o jogo da bola preencher mais do qualquer outro assunto as pginas dos jornais e as horas televisivas? Porm, o bom senso desses de bom senso que odeiam o futebol deveria fazer com que se dispusessem a refletir com mais prudncia diante de algo to complexo quanto o futebol. Eles e todos ns deveramos nos perguntar, afinal, se apesar de tudo o que cerca o futebol hoje, como essa paixo se mostra to viva? Certamente, esse questionamento seria to prolongado quanto as prprias e acaloradas discusses em torno do que se passa dentro das quatro linhas, nos noventa minutos de jogo.

    O Futebol e suas origens As consideradas origens do futebol chegam a ser curiosas. Remontam a eras mais

    antigas do que a maioria das culturas. Do termo ingls football ( foot, p, e ball, bola),3 via de re-gra o esporte apontado como tendo nascido na China, por volta de 3.000 a 2.500 a.C. Em vez de uma bola, inicialmente chutavam-se crnios de inimigos derrotados, a fim desses ultrapassarem duas estacas no cho, as ditas primeiras traves. Para a prtica do costume sem as guerras, os mesmos chineses teriam inventado uma bola de couro, para exerccios militares: a prtica do tsu-chu. Antes disso, a primeira bola teria sido de madeira, usada pelos egpcios. Outras manifes-taes ancestrais do esporte so tambm identificadas nas antigas Prsia, Sria e Polinsia. Em seguida, no Japo (kemari), Grcia (epyskiros) e Imprio Romano (harpastum). Em tempos mais recentes, com os maias (tlachtli), astecas (pok-ta-pok), franceses (soule) e florentinos (calcio).

    Mas foram definitivamente os britnicos os responsveis diretos pela prtica do ponta p em um corpo esfrico ter se transformado no moderno futebol. Chutar uma pe-lota pela primeira vez os habitantes da maior ilha europeia possivelmente o tenham feito por influencia dos exrcitos romanos. A partir da Idade Mdia, o jogo adquiriu vrias conotaes simblicas, cvicas, em festejos pblicos. No Sc. XVIII, partidas passaram a ocorrer como forma de desenvolvimento fsico em escolas, decorrendo da as origens do rugby (com as mos) e do football (com os ps). Em meados do sculo seguinte, separados rgbi e futebol, esse ltimo pas-sou a desenvolver suas regras, ainda no mbito da atividade universitria. Em 1871, tem-se como ocorrido o primeiro torneio entre times, surgido ento esse esporte tal qual o enxergamos hoje. Assim, os bretes no inventaram somente um esporte chamado football; criaram algo muito mais perene que o prprio Imprio Britnico, nos legaram uma cultura universal.

    Por isso, os britnicos so os donos do International Football Association Board, conclio que elabora e aprova as regras do esporte. integrado pela FIFA e quatro federaes: Inglaterra, Esccia, Pas de Gales e Irlanda do Norte. Mas at compreensvel que os praticamen-te sem ttulo continuem a fazer as regras; percebe-se que no o fazem para eles. Ali, os reis do futebol realmente no precisam colaborar. Afinal, o Brasil, maior pas catlico do mundo, no influencia em nada o Vaticano; no futebol, a experincia administrativa brasileira, por meio da CBF, de todos conhecida; nesse sentido, no teramos nada a contribuir. Optar por reinar dentro do campo j constitui-se em excelente feito.

    Nesse sentido, no importa no presente momento, nessa oportunidade da Copa do Mundo, sabermos a forma como o Brasil veio a se tornar a ptria de chuteiras, pois este caso para inmeras teses, todas sem perder de vista que trata-se de um fato consumado.

    O Rio Grande do Sul e o futebol Para a cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, o estado mais austral

    do pas que faz mais fronteiras com o estrangeiro (Argentina e Uruguai) do que com o prprio Brasil o futebol tambm uma das maneiras de perceber os modos de como os gachos enca-ram certas coisas. A rivalidade centenria e sem par denominada Gre-nal coloca frente frente clubes entre os mais laureados da Amrica Latina.

    O Internacional (1909) ou Colorado, o clube brasileiro com mais ttulos no Sculo XXI (todos internacionais, e aqui no possvel nomear todos); entre outros, Campeo Mundial Interclubes FIFA 2006 ocorrido no Japo, vencendo na final o poderoso Barcelona , Bicam-peo da Amrica (2006/2010) e Tricampeo Brasileiro (o nico time a vencer invicto o brasileiro, em 1979). O Gigante da Beira-Rio, seu estdio, a sede local da Copa do Mundo de 2014, com cinco jogos. Na Copa de 1950, seu estdio de ento, o Eucaliptos, recebeu dois jogos.4 Isso faz do Internacional um dos raros clubes a sediar sete jogos de Copa do Mundo.

    Bebeto Alves (Uruguaiana, 1954) Fotografia digital, 2012

    The Beautiful Game : O Reino da Camisa Canarinho

    Jos Francisco Alves

  • 3O Grmio (1903) ou Tricolor Imortal, tambm possui entre suas conquistas im-portantes ttulos nacionais e estrangeiros. Foi Campeo Mundial no Japo (1983), no confron-to entre os campees da Amrica do Sul e Europa, quando venceu o Hamburgo, Bicampeo da Amrica (1983/1995), Bicampeo Brasileiro (1981/1996) e Tetracampeo da Copa do Brasil (1989, 1994, 1997, 2001). Porto Alegre, com esses clubes, assim possui dois magnficos estdios de futebol (ambos particulares). O gremista o novssimo Arena, inaugurado em dezembro de 2012. O Beira-Rio (1969) recebeu extraordinria modernizao para a Copa do Mundo.

    O futebol do interior do Rio Grande do Sul procura sobreviver s glrias e o po-derio da dupla Gre-nal e reproduzem, a seu modo, clssicos tradicionais de grande rivalidade. Caxias do Sul, na serra gacha, tem o enfrentamento Caxias (1935) x Juventude (1913), o Ca-ju. Em Pelotas, em duelo to ou mais srio que o Gre-nal, vibram Brasil (1911) x Pelotas (1908), o Bra-pel. O Rio Grande do Sul tambm possui o mais antigo clube profissional de futebol em atividade no Brasil, o Sport Club Rio Grande, da cidade de Rio Grande, fundado no ltimo ano do Sc. XIX, a 19 de julho de 1900.

    Aldyr Garcia Canarinho Schlee Nascido em Jaguaro, a 22 de novembro de 1934, Aldyr Garcia Schlee poderia mui-

    to bem ser um personagem criado pelo rico imaginrio da cultura futebolstica brasileira, em razo de sua paixo com esse esporte e as consequncias dessa relao. Mas no . Trata-se de uma figura encantadora, dotado de clareza de ideias e reconhecida atuao na imprensa e no meio universitrio, como professor nas reas do Direito e Jornalismo. Nos ltimos tempos, fixou-se tambm como um dos eminentes escritores contemporneos brasileiros, e por tudo isso se justificaria o seu alcanado respeito pblico e notoriedade. Porm, a marca mais distintiva que a vida lhe coube fruto de sua criao intelectual quando ainda contava com apenas dezoito anos: a elaborao do uniforme da seleo brasileira de futebol.

    Jaguaro dessas tpicas cidades fronteirias do Rio Grande do Sul, produto da frico, do contato epidrmico entre dois pases, onde h uma mistura de fato, de cores e costu-mes, entra l e c, entre c e l. No caso de Jaguaro, na outra banda est Ro Branco, Uruguai.5 E a influncia maior, no passado, foi justamente das coisas castelhanas sobre as brasileiras, numa expressiva dependncia dos jaguarenses com o outro lado do rio. Dos mdicos ao cinema, das revistas aos jornais, o passeio, as compras, praticamente tudo se utilizava, se abastecia, em Ro Branco. Caso necessrio, ia-se capital uruguaia com mais facilidade, em razo de uma comuni-cao mais direta com Montevidu.

    Esta vivncia multinacional durante a infncia e adolescncia gerou tambm a sua curiosa preferncia, paixo publicamente declarada, tida como inaceitvel por muitos: Al-dyr Schlee torce pela seleo uruguaia de futebol, a clebre Celeste.6 Mas como no ser assim? Seu imaginrio futebolstico predominante foi castelhano e a seleo daquele pequeno pas que lhe nutria, quando ele contava com apenas quinze anos de idade, era to somente bicampe olmpica (1924/1928) e bicampe mundial (1930/1950). Para um jovem inapelavelmente apaixo-nado por esse esporte, como no amar a quem possua tais feitos heroicos, extraordinrios?

    Foi l mesmo, dividido entre o lado de l e o lado de c do Ro Yaguaron, que Aldyr Schlee apaixonou-se pelo futebol, no contato com um universo que conheceu por meio de revistas como El Grafico e Mundo Deportivo, assim como os lbuns ilustrados. Esta magia foi despertada antes mesmo dele conhecer jogadores de carne e osso e antes mesmo de tocar numa bola de verdade, quando convivia com as imagens fabulosas e as glrias inesquecveis dos campees de 30, sabia nomes inteiros e tinha decoradas suas biografias.7 O primeiro clube que viveu nas entranhas, o time que alimentou as suas emoes de guri, foi o Esporte Clube Mau. O time, cujos uniformes foram comprados, obviamente, em Montevidu, tinha na sua organizao o envolvimento do seio familiar. Foi este para Aldyr Schlee o mais importante de todos os times, aquele que o fez perder o sono em interminveis noites de sbado, sentir pela primeira vez angstia no almoo e dor no jantar, aquele em que a mgica da camisa tri-color transformaria todos os jogadores em craques, todas as jogadas em lances excepcionais e todos os maus resultados em renovadas esperanas de melhor sorte.8

    Em 1950, Aldyr Schlee transferiu-se para a aristocrtica e tradicionalista Pelotas, assim considerada pela tica de rico Verssimo. Pequena urbe que rivalizou com Porto Alegre a hegemonia da provncia no Sc. XIX, a cidade fica distante cerca de 150 quilmetros a nordeste de Jaguaro. No Ginsio Pelotense, durante o curso Cientfico, passou a desenhar cada vez mais. Produziu ali o boletim do grmio estudantil, fartamente ilustrado em cores: o Sensato o rgo que no atinge a sensibilidade alheia. Esta atividade artstica e intelectual tambm o ajudou em muito a superar as dificuldades escolares. Em 1952, j desenhava para si e para pu-blicaes os gols das partidas que ouvia pelo rdio ou dos jogos que assistia ao vivo, em duelos que envolvia times como o Brasil, Pelotas, Riograndense, Guarani, e outros. Em 1953, ingressou na Faculdade de Direito da cidade, pertencente a ento Universidade do Rio Grande do Sul. Ao

    Aldyr Garcia Schlee. Foto: Gilberto Perin 2011

    Nelson Boeira Fedrich (P. Alegre, 1912-1994)Gre-Nal, 1967. leo s/ madeira aglomerada68,5 x 120,5 cmColeo Carlos Jader Feldman

    Futebol, cultura e arteO objetivo da exposio que ora se apresenta trata das relaes entre arte e fu-

    tebol, futebol e arte, iniciativas lugar-comum em pocas de Copas do Mundo. Optamos, porm, em aproveitar o ensejo para contar algo importante nunca contado, obras relevantes nunca exi-bidas: seu ncleo constitui-se a partir de trs desenhos realizados em 1953, os esboos que so-breviveram do processo de elaborao da concepo de um verdadeiro smbolo ptrio a camisa da Seleo Brasileira de Futebol, mais conhecida como Camisa Canarinho. Este smbolo trata-se de fruto da criao intelectual de um jovem artista, Aldyr Garcia Schlee.

    Sobre ele, exibimos tambm alguns de seus desenhos relacionados ao esporte (dcada de 1950), documentos e outros materiais biogrficos. A Canarinho no nasceu por acaso, foi resultado de uma admirvel e abnegada campanha pblica, a qual tem a sua histria nes-sa exposio finalmente revelada em detalhes, ou melhor, resgatada, para usar uma expresso hoje banalizada, mas que no momento se mostra apropriada. Na exposio, documentos e fac-smiles ilustram a epopeia. Pela primeira vez, sua histria ento revela-se, restituda por comple-to, passados 60 anos em que a camisa pisou no gramado. Sobre o autor, presente tambm o seu vvido depoimento, por meio da exibio ininterrupta do documentrio Gachos Canarinhos (Rene Goya Filho, 2007).

    O ttulo da mostra, The Beautiful Game O Reino da Camisa Canarinho, refere-se ao consagrado termo britnico que designa o Futebol e ao fato de que nesse esporte, detentora das maiores conquistas, reina absoluta a equipe que enverga a Camisa Canarinho.

    Para apresentar esta homenagem a Aldyr Schlee e histria da Canarinho, acom-panham o camisa dez do time mais dez craques. So artistas convocados com trabalhos sobre o tema futebol, com vrios enfoques criativos e crticos, em diferentes suportes e linguagens, como pinturas, desenhos, fotografias, instalaes e objetos. Obras realizadas em outras oportu-nidades, a partir de 1978, quase sempre em funo das mostras paralelas s Copas do Mundo, e obras especialmente elaboradas para essa oportunidade.

    So artistas de vrias procedncias, os quais atenderam gentilmente a presen-te convocao: Almandrade (Salvador), Andr Petry (Porto Alegre), Britto Velho (Porto Alegre), Dudi Maia Rosa (So Paulo), Felipe Barbosa (Rio de Janeiro), Fernando Baril (Porto Alegre), Gil-berto Perin (Porto Alegre), Mrio Rhnelt (Porto Alegre), Rui Macedo (Lisboa, Portugal) e Wilson Cavalcante (Porto Alegre).

  • 4mesmo tempo, ainda muito jovem, comeou a colaborar seriamente para os peridicos locais Jornal da Tarde, A Opinio Pblica e Dirio Popular, em especial com ilustrao e nos assuntos de futebol. O seu domnio com as tcnicas artsticas o instigava tambm a tornar-se um grande artista, gravador, pintor, desenhista, ilustrador.9

    Ainda antes, para a Copa de 1950, Aldyr Schlee comeou um costume simples-mente notvel, que perdura at o presente, a elaborao de seus prprios lbuns ilustrados de Copa do Mundo. Tais lbuns, constituem-se em incrveis provas de sua paixo futebolstica. E no poderia ser mesmo qualquer um, qualquer paixo: os lbuns das copas so feitos realmente impressionantes. Este da Copa de 1950, certame que ocorreu quando ele tinha apenas 15 anos e cuja final inexplicavelmente nem sequer ouviu pelo rdio estava no cinema em Ro Branco cujo filme foi subitamente interrompido para que fosse noticiado que o Uruguai era o campeo do mundo ,10 o mais ilustrado e comentado dos lbuns que restaram.

    O lbum descreve em mincias alguns jogos, cada um numa pgina, em cores, com escalaes, gols desenhados, renda e comentrios. Na pgina os nacionais (Brasil), figuram as caricaturas dos jogadores (de corpo inteiro, em miniatura), com seus nomes esportivos, seus nomes completos entre parnteses, e um comentrio sobre cada um, mais ou menos como este: chico (fransisco arambur) gacho de uruguaiana, o ponta do vasco veterano da seleo, j apanhou muito na argentina, e muito!. No final dessa apresentao do escrete, o espao para curiosidades: no scra-tch temos 5 jogadores gachos, cinco cariocas, cinco paulistas, 4 do estado do rio, um baiano, um mineiro e um pernambucano. na nossa seleo, entram 10 jogadores negros e 12 brancos.

    Aldyr Garcia Schlee. Esquemas de gols. Nanquim sobre papel, 1953

    Acima e no alto, direita. lbum da Copa de 1950. lbum pessoal, realizado pelo prprio Aldyr Garcia Schlee como registro da Copa do Mundo no Brasil. Lpis, nanquim e guache sobre papel, pginas dobradas em brochura.

  • 5E assim, em setembro de 1953, Aldyr Schlee viu entre os peridicos do centro do pas que a ento Confederao Brasileia de Desportos (CBD) e o prestigiado jornal carioca Correio da Manh estavam promovendo um concurso para a escolha do novo uniforme da seleo brasi-leira. Dado ao seu conhecimento futebolstico e artstico, porque no participar?

    O concursoO uniforme da Seleo Brasileira em torno de 1950 era totalmente branco, gola e

    frisos das mangas em azul marinho, bem como a listra lateral do calo. Pela precariedade das fotografias antigas, e por no ter sobrevivido exemplares, difcil precisar se as duas (ou mais) faixas das bocas das meias eram de fato como se supe, azuis (em especial, essa observao vale para a Copa de 1950). A camisa azul era o uniforme reserva do selecionado e uma vez que outra utilizava-se um calo azul com a camisa branca; mais raramente, usava-se meias brancas com vrias listras azuis, ou mesmo meias totalmente azuis.

    esse motivo tenha realmente existido, junto as demais justificativas de mudana. Obviamente, em se tratando de lgica esportiva local. Afinal, o futebol no Brasil possui tambm, sem d-vida, como uma de suas caractersticas distintivas, a exacerbada religiosidade, numa mistura de mstica, misticismo e crendices que resultam em supersties das mais diversas. Nada mais natural, portanto. Ento, porque correr o risco? Ainda mais dado a nova dificuldade, a grande novidade da Copa, a criao das eliminatrias. Se foi ou no dentro do prprio Correio da Manh a ideia original da mudana do uniforme, o que importa que este jornal tomou para si a campa-nha de um modo extremamente abnegado, apesar de manifestaes contrrias, a ponto de pra-ticamente obrigar a CBD a organizar um certame artstico para a definio do novo fardamento.

    Foi no Correio da Manh de 13 de agosto de 1953 a largada da cruzada para a mu-dana do uniforme. Pretendia-se fazer comear uma vida nova para a seleo: Cerquemos de simbolismo, de amor, as nossas cores, a nossa camisa; O branco no nos diz coisa alguma. No pode representar o Brasil: um pas tropical, de cu muito azul, de vegetao muito verde, de muito sol, de sentimento latino. O branco no existe em nossa paisagem, no se identifica com nossas emoes. O branco pode ser o uniforme oficial dos finlandeses, dos suecos, dos norue-gueses. Nunca dos brasileiros.

    A partir dali, foram apresentadas sucessivas entrevistas e reportagens, quase que dirias, em campanha de destaque, nas capas do segundo caderno (Esporte), em insistncia s vista no jornalismo brasileiro em casos de perseguio poltica. As matrias eram praticamente todas favorveis mudana do uniforme, mas tambm, no h dvidas, o clima no fundo era propcio. A ideia era realmente muito boa. Foram ouvidas personalidades como o alegretense e presidente do Vasco da Gama, Cyro Aranha (irmo de Oswaldo Aranha), o ex-atleta, dirigente flamenguista e nacional, Alberto Borgerth, uns tantos outros, em srie concluda com Rivadvia Corra Meyer, outro gacho, o prprio presidente da CBD. Para Cyro Aranha, o uniforme atual era uma inexpressiva e oca camisa branca, que nada representa quando tudo devia representar. Mudemos o branco inexpressivo por um ouro, ardente como o sol brasileiro, ou um verde que nos faa lembrar a nossa tropicalidade, e sobre uma dessas cores coloquemos um Cruzeiro do Sul (C. M., 14 ago). Borgerth, por sua vez, insistiu na inexpressividade da camisa branca e que sua mudana era uma medida imperiosa (C.M., 20 ago).

    Mas basicamente a camisa branca foi a configurao predominante do uniforme, incluso desde a primeira partida da Seleo Brasileira, em 21 de julho de 1914, com vitria de 2 x 0 sobre o Exeter City, equipe inglesa que veio excursionar na Amrica do Sul. As variaes pontuais tiveram camisas hoje impensveis em se tratando da nossa seleo. Em 1916, teria havido uma verso com camisa listrada em verde e amarelo. Em 1918, dizem que usamos camisa vermelha, repetida em 1936. Em 1919, h quem afirme que tivemos uma camisa listrada, moda Penharol (preta e amarela), e que no ano seguinte surgiu outra, moda Boca Juniors (azul marinho com faixa peitoral amarela).11

    16 de julho de 1950. Seleo Brasileira na final da Copa do Mundo. ltima vez que o uniforme branco foi usado no Maracan.

    21 de julho de 1914. H 100 anos, o primeiro jogo da Seleo Brasileira. Vitria de 1 x 0 sobre o clube ingls Exeter. Partida realizada no Bairro Laranjeiras, Rio de Janeiro. Ao fundo, o Palcio Guanabara. O Brasil jogou de branco.

    No ano anterior ao mundial de 1954 (Sua), setores da imprensa e comunidade esportiva consideravam que o uniforme da seleo no representava nada, muito menos um pas vibrante como o nosso, sendo essa uma questo moral, psicolgica, de falta de simbo-lismo no uniforme que os nossos craques usavam nos certames internacionais (manifestaes do Correio da Manh). boca pequena, em aspecto nunca totalmente substanciado, havia a tese de que esse uniforme estava amaldioado, em razo da tragdia da Copa de 1950, com a derro-ta para o Uruguai.12 Sobre essa afirmao, h que se considerar uma certa lgica em se supor que

    14 de agosto de 1953. Correio da Manh publica a primeira entrevista pela mudana da camisa.

    No domingo, 16 de agosto, foram veiculadas opinies de craques que atuaram em Vasco 4 x 1 Botafogo. No vestirio vascano estavam lado a lado o zagueiro Augusto, usando uma camisa verde, e o goleiro Barbosa, amarela: Ambos ento declararam que dessas duas cores muito bem poderia sair a do futuro uniforme da CBD. Barbosa tambm sugeriu a mesma ideia inicial do Correio da Manh do dia 13, que o ponto de partida seria a camisa amadora do futebol olmpico, tendo o Cruzeiro do Sul como smbolo, e que a camisa poderia ainda ser verde com punhos e golas amarelas, calo azul. Para Santos (Botafogo), um bom ponto de partida seria a camisa azul, em combinao discreta com amarelo ou verde. O zagueiro Augusto afir-mou que no tinha competncia para opinar, mas arriscou um palpite: camisa azul com listras discretas na cor verde e golas ouro, ou ento uma camisa totalmente azul com o Cruzeiro do Sul estampado no peito. Nessa mesma edio, o Correio noticiou que comeava a receber cartas com sugestes de modelo. Um certo Sr. B. J. F. enviou desenhos, os quais seriam remetidos ao Conselho Tcnico de Futebol da CBD. A tnica das manifestaes das edies seguintes conti-nuou sendo a preferncia pela incluso do Cruzeiro do Sul. Outro smbolo mencionado inmeras vezes nesses dias, como exemplo do que o uniforme do pas deveria encarnar, foi a mstica que camisa da seleo uruguaia a Celeste evocava.

  • 6Com o decorrer dos primeiros dias da campanha o clima esquentou de vez, de modo a contagiar. A que ponto? A manchete indicou: em confeco os primeiros modelos. Nada menos do que o superintendente da CBD, Irineu Chaves, saiu-se com a iniciativa. Conforme de-clarou, ele mesmo havia mandado fazer algumas camisas, com predominncia do verde-ama-relo. Ao C.M. afirmou solenemente que vinha estudando o assunto h algum tempo e estava esperando uma oportunidade em concretiz-la, como a campanha em curso do jornal. Sobre os modelos que o prprio Chaves j vinha desenhando, o jornal perguntou a que ponto estavam, ao que foi respondido: Para falar com sinceridade no momento isso no possvel porque no possuo em meu poder os modelos, que j se encontram em fase de confeco. Mas, assim que os mesmos estiverem prontos, no criarei obstculos a sua divulgao (C. M., 21 ago.). Outro leitor, Carlos Falco, enviou ao jornal sua proposta: camisa com listras verticais verdes e amarelas, gola em verde; no lado esquerdo, a palavra Brasil encimada pelo Cruzeiro do Sul, cales de cetim azul-anil com uma faixa branca na costura do lado, meias brancas.

    Em 23 de agosto, o Correio da Manh publicou os apoios amealhados em seu pr-prio seio profissional: a imprensa carioca em sua quase totalidade apoia a campanha do uniforme simbolico para a cbd. Em outra chamada de destaque: Uma camisa com cores simblicas contribuir em muito para a criao de uma mstica em torno da seleo brasileira, o resumo das opinies dos cronistas das emissoras e jornais cariocas. Porm, o C. M. ressaltou que havia aqueles que de-fendiam o uniforme branco, assim como os indiferentes e os cticos.

    Na sua campanha, o Correio da Manh j mostrava ares de impacincia e usava a entrevista do ex-tcnico da seleo, Lus Augusto Vinhaes, para pressionar a CBD: espera luiz vinhais : deciso favorvel no conselho tcnico (C. M., 25 ago.). Nos dias seguintes, ouvidos os favor-veis mudana, Luiz Aranha e Alfredo Curvelo, este ltimo considerou tambm ser a matria de ordem tcnica, rigorosamente tcnica (C. M., 27 ago.). Em 28 de agosto, a manchete: impe-se a alterao, e o entrevistado do dia foi o presidente do Fluminense, Antnio Leite, favorvel mas com a ressalva de que o novo uniforme no resultasse em coisa espalhafatosa e fosse sbrio e expressivo. No dia seguinte, Mrio Polo, vice-presidente da CBD, mais que insuspeito para a poiar a campanha, deu uma entrevista favorvel: ouro e azul, o mais sugestivo. Gostaria ele de ver o novo uniforme do ponto de vista do jogador para o pblico. Um uniforme, por exemplo, camisa amarelo-ouro com calo azul, como j lembrado, porque seria realmente mais expres-sivo e mais esttico que o atual uniforme.

    Em 1. de setembro, se manifestou o presidente da Federao Mineira de Futebol, no dia 2, o da paulista, somando-se assim ao presidente da federao baiana, que tambm j ha-via se pronunciado a favor. Para o paulista Roberto Pedrosa a questo era assunto palpitante e acrescentou um novo adjetivo ao fardamento branco: incompatvel. O presidente do Flamen-go, Gilberto Cardoso, considerou a mudana imperiosa modificao, uma necessidade para criar a mstica (C. M., 3 set.). No dia seguinte, mais um novo reforo, o prefeito do ento Distrito Federal (a cidade do Rio de Janeiro), Dulcdio do Esprito Santo Cardoso, avisou oficialmente que a prefeitura iria ofertar CBD os novos fardamentos da seleo de futebol, em caso de mudana. No dia 5, foi a vez do apoio campanha do novo fardamento receber um reforo cultural: Jos Lins do Rego. Para o escritor e tambm Secretrio da CBD era preciso que se desse ao jogador brasileiro um uniforme mais expressivo, uma camisa, enfim, que lhe faa sentir que ostenta no peito um pedao da bandeira brasileira, de que se atire luta com redobrado esforo, e con-cluiu: a criao da mstica da camisa na seleo brasileira obra urgente.

    O desfecho esperado, o reconhecimento oficial da campanha por parte da CBD, mostrou-se muito prximo no domingo, 6 de setembro: xito imitente! rivadavia corra meyer tambm favorvel mudana da camisa. O presidente da Confederao recebeu o jornal e discorreu sobre a sua descrena em mstica quando o assunto fosse fardamento esportivo, mas aplaudia a ini-ciativa do C. M., pois tal proposio poderia ajudar a tornar o esporte uma verdadeira escola de civismo. Assim, mostrava-se vontade para considerar a possibilidade de uma substituio da camisa cebedense, sem antes deixar de fazer coro maioria, ao considerar tambm o uniforme branco como inexpressivo. O C. M. do dia 8 anunciou que chegava ao fim a campanha pelo novo uniforme e que a diretoria da CBD iria se manifestar, se encampava ou no a ideia, na ma-nh do dia 10. No dia 9, porm, o jornal insistiu mais um pouco: a campanha do novo uniforme a cbd estudar as sugestes. Certamente em tom irnico, o jornal lembrou: Aguardados os modelos do sr. Irineu Chaves. Tambm anunciou a chegada de outros modelos enviados por leitores, en-tre eles a proposta de um desenhista das lojas Mesbla. No dia 10, mais insistncia: decide a cbd a mudana das camisas, e o jornal destacava o otimismo em relao ao desfecho.

    Na manchete do dia 11 de setembro de 1953, a grande vitria do Correio da Manh: por unanimidade aprovada a modificao dos uniformes da seleo brasileira. A novidade foi que a CBD resolveu instituir um concurso para a escolha da nova camisa, aberto aos artistas nacionais, por sugesto do vice-presidente da entidade, Mrio Polo. A nicas questes ditas aprovadas a integrar o novo uniforme, cujo regulamento de concurso seria elaborado mais adiante, foi a proibio do uso da palavra brasil e a obrigatoriedade do uso do escudo da CBD. Os prmios vislumbrados eram nos valores de 10 mil cruzeiros, 5 mil, 3 mil, 2 mil e 1 mil, respectivamente do primeiro ao quinto colocado. No domingo, dia 13, o Correio da Manh reforou com a manchete definitivamente aprovada a proposta de uniforme da seleo brasileira. E o editor de esportes do C. M., Walter Mesquita, finalmente pode fazer a sua coluna em relao ao assunto, intitulada As ca-misas. Em tom de desabafo, Mesquita lanou crticas aos que foram contra a campanha da ca-misa: Os que acham que jornalista no pode ter ideia. Ideia coisa de paredro. Da a campanha ter nascido errada. Se viesse da cabea do Riva, ou do Alves de Morais, poderia ser elogiada ou criticada. Mas acabou sendo deturpada porque veio da cabea do jornalista. Quebraram a cara da verdade s porque a coitadinha nos deu um sorriso. A segunda parte do editorial foi uma crtica mais dura ainda, especialmente dirigida ao Conselheiro perptuo da CBD, Jos Maria Castelo Branco.

    Em 18 de setembro, o Correio da Manh anunciou que estava em vigor o concurso do novo uniforme, sob regulamento elaborado por Mrio Polo e aprovado pela CBD no dia ante-rior. Os interessados teriam at o dia 14 de novembro para o envio das propostas e os prmios seriam em valores abaixo do anteriormente pretendido: primeiro lugar, Cr$ 4.000,00 (quatro mil cruzeiros); os demais, trs, dois e mil cruzeiros. Para uma noo do valor desse prmio, nessa mesma edio do jornal constavam as premiaes do Campeonato Aberto de Golfe do Brasil (de nvel internacional), no Gvea Golfe: Aos profissionais, primeiro lugar 25 mil cruzeiros, e, suces-sivamente, 15 mil, 10 mil, 5 mil, 4 mil, 3 mil, 2 mil, ao oitavo, 1 mil. Aos profissionais radicados no Brasil, numa categoria especial, seriam distribudos 34,5 mil cruzeiros. Para a melhor volta do torneio, 50 mil cruzeiros.

    Somente em 24 de setembro o Regulamento do Concurso da CBD foi devida-mente publicado na ntegra, na ltima pgina do C. M. Em resumo, estipulou: 1. Os originais seriam realizados, preferencialmente em carto, com 20 x 25 cm, no podendo ser enrola-dos; 2. Deveriam ser distribudos na composio camisa, cales e meias as cores e o estado [escudo] da CBD; 3. O nome do pas e a Bandeira Nacional no poderiam constar; 4. Os projetos deveriam estar apresentados sob pseudnimo, com os nomes dos autores e endereo em enve-lope lacrado (sobrecarta); 5. Prazo de entrega das propostas: 14 nov., sede da CBD; 6. O jri seria presidido pelo presidente da CBD e composto por representantes da Sociedade de Belas Artes, Correio da Manh o rgo promotor da alterao do uniforme, imprensa (que no o C.

    M.) e mais trs membros da CBD. 7. As premiaes e valores; 8. Um concorrente no poderia receber mais de um prmio; 9. Procedimentos em casos de empate; 10. Os trabalhos no seriam devolvidos; 11. Casos omissos a cargo do presidente da CBD. Rio, 23 de setembro de 1953.

    importante se frisar, conforme expresso no primeiro pargrafo do regulamento, o mesmo foi realizado com o objetivo de escolher para a CBD o uniforme para o seu quadro oficial de futebol. Com o tempo, alguns espor-tes seguiram essa configurao, j que a CBD representava todos os esportes profissionais e amadores.

    Os esboos para o concursoPouco a pouco, o jovem Aldyr Schlee foi se

    acostumando com a prpria vontade de participar do con-curso. A grande dificuldade que se apresentava era a exi-gncia de que o novo uniforme deveria possuir quatro cores. Outra potencial dificuldade acabou sendo uma vantagem, o fato de ser um concorrente de uma cidade do interior de provncia. Longe do Rio de Janeiro, Schlee passou margem do contexto que possivelmente houve em torno dos subter-rneos do concurso, a exemplo de comentrios internos ao meio artstico e cultural, as fofocas entre possveis e impor-tantes inscritos, profissionais do ramo, bem como a presso mais direta em relao a importncia do objetivo e os pr-mios em dinheiro.

    11 de setembro de 1953. Correio da Manh noticia a deciso: Concurso para a nova camisa.

  • 7Entre os inmeros desenhos que Aldyr Schlee realizou como esbo-os para a definio do projeto a ser apresentado, sobreviveram poste-ridade apenas trs folhas de papel. A primeira delas [Esboo 1], em car-tolina, tem nada menos do que oito estudos em guache e lpis (nove no total, mas um modelo est repeti-do). Porm, esse material por pouco no resistiu a um emaranhado de inscries e outros desenhos des-contextualizados, ali introduzidos, em verdadeiros rabiscos e inmeras anotaes. Mas h que se considerar que o pequeno caos desse pedao de papel tem l o seu charme como do-cumento original.

    [Esboo 1]

    Aldyr Garcia Schlee. Esboos. Guache e lpis

    sobre cartolina, 1953. Com o tempo, o desenho sofreu

    uma srie de interferncias, rabiscos diversos, sem

    relao ao contexto.

  • 8A segunda folha [Esboo 2] um desenho verdadeiramente artstico, por sua fina elaborao, realmente um belo trabalho de arte. Trata-se da mais conhecida imagem veiculada dos esboos, em vrias reportagens de jornais e revistas, bem como em documentrios de TV e cinema. Possivelmente, este desenho especfico tenha obtido sua maior notoriedade a partir de sua utilizao na capa do livro Futebol: The Brazilian Way of life, do jornalista ingls Alex Bellos, editado na Inglaterra (2002). O desenho mostra quatro modelos completos, com distintos joga-dores, em posies diferentes. Figuram retratados em suas caractersticas fsicas, reconhecveis, a fino e elegante trao de nanquim, colorizados em guache: Luisinho (ento jogador do Corin-thians), Pinheiro (Fluminense), Ademir (Vasco) e Baltazar (Corinthians).13

    [Esboo 2]

    Aldyr Garcia Schlee. Esboos. Guache, nanquim e lpis sobre cartolina, 1953

  • 9Em ambos desenhos, os estudos mostram as camisas da seleo com hipotticos distintivos, diferentes do utilizado pela CBD, e ainda num dos uniformes consta a palavra brasil ao peito, em descumprimentos claros do regulamento. Possivelmente mostrem que Aldyr Sch-lee tenha explorado alternativas proibidas, para tentar entender o porqu de tais limitaes. Em outra curiosidade, observamos que os dois desenhos utilizaram a mesma folha de papel cartolina, cortada, reaproveitada, cujo anverso era um cartaz de conferncia do escritor Moiss Vellinho, Apontamentos sobre a cultura Norte-Americana, na Biblioteca Pblica de Pelotas (10 de outubro de 1953). Cartaz feito mo, possivelmente pelo prprio Aldyr Schlee.

    No terceiro desenho-esboo [Esboo 3], feito num fragmento de folha to frgil quanto papel de embrulhar po, constam dois conjuntos camisa e calo e uma camisa sozinha. E foi justamente nesse pequeno rascunho que nasceu a nova e hoje clebre camisa da Sele-o Brasileira, pois ali esto os modelos escolhidos por Aldyr Schlee para o seu privado triangular final, com vistas escolha da base do desenho a ser inscrito. Assim sendo, faz do significado desse pedao de papel para a iconografia do futebol brasileiro o mesmo que os Manuscritos do Mar Morto em relao Bblia. direita, figura uma camisa amarela com uma faixa transversa (como a do Vasco da Gama, mas a partir do ombro direito), em trs cores (azul, amarelo e verde). No centro, uma camisa verde, golas e mangas amarelas, calo branco com linha lateral azul. esquerda, finalmente, a celulla mater do futuro modelo, conhecido para a posteridade como Canarinho: camisa amarela, gola e frisos verdes, calo azul.

    [Esboo 3]

    Aldyr Garcia Schlee. Esboos. Guache e lpis sobre papel, 1953

  • 10

    Para a elaborao do projeto final, seguindo as regras, o desenho foi realizado em papel carto. As quatro cores obrigatoriamente empregadas no uniforme, como mencionado, as do escudo da CBD, ou seja, as mesmas da Bandeira Nacional; portanto, o amarelo ouro, o verde bandeira, o branco e o azul. Porm, o azul utilizado foi o cobalto, o nico disponvel na paleta de cores do artista aproximado ao tom do azul da esfera celeste. E assim foi.

    O desfecho do concursoA notcia seguinte veiculada pelo Correio da Manh sobre o concurso apareceu

    somente em forma de um imenso ttulo, sem reportagem: At o fim do ms surgir o novo uniforme da Seleo Brasileira (C. M., 19 nov.). Em 28 de novembro, uma matria mais extensa, Em poucos dias a primeira seleo das camisas. Nela, o relato de que a CBD havia procedido a um balano das inscries: Depois de tudo catalogado, constatou-se que eram em nmero de 301 as inscries, conforme declarou o representante da entidade. Mas ainda faltava ser oficial-mente composta a comisso julgadora, cuja homologao s foi divulgada no Correio da Manh de 3 de dezembro, a saber (alm do prprio presidente da CBD), nomeados: Alfredo Pessoa (pela Prefeitura do Distrito Federal), Alberto Lima (pela Sociedade Brasileira de Belas Artes), Castro Fi-lho e Walter Mesquita (C. M.); pela CBD, Mrio Polo (vice-presidente), Castelo Branco (presidente do Conselho Tcnico de Futebol) e Jos Lins do Rego (secretrio).

    Em princpios de dezembro Aldyr Schlee j contava com 19 anos, completados h alguns dias (22 de novembro), e aumentavam as suas expectativa sobre o resultado do concurso, motivo pelo qual ele se ps a conferir com mais frequncia o Correio da Manh, que chegava da capital federal por avio. Em 10 de dezembro, o jornal noticiou sobre a reunio da comisso e informou que o projeto vencedor j estava praticamente escolhido, bem como descreveu em mincias as dificuldades em se apreciar a quantidade de 301 propostas. Numa primeira anlise, ficaram 30 trabalhos; em seguida, 10. Mas a chamada da matria j adiantava que o destino do concurso estava selado: praticamente escolhido o novo uniforme da cbd Destacados, porm, dez modelos para o crivo definitivo uma sugesto ganha unanimidade e ser a provvel vencedo-ra. A respeito da matria, aos olhos do presente no deixa de ser cmico a forma, quase literal, que este jornal de grande importncia nacional relatava os fatos:

    quase vencedor: aps essa primeira fase, houve um como que entrevero entre o presidente da CBD, e o professor Castro Filho. O primeiro, dando seus apartes mencionando a camisa do Botafogo e o professor fazendo referncia sobre tudo que era modelo que trazia faixa no peito, a exemplo do Vasco. Enquanto que o professor Alberto Barbosa lamentava a falta de inspirao da maioria, j que a quase totalidade dos modelos realmente eram dignos de lstima, tal o mal gosto apresentado. Isto, todavia, foi a parte pitoresca da reunio e serviu para sua-vizar o srio problema que se debatia e que trar funda repercusso no nimo dos torcedores brasileiros. Foi nesse ambiente, e quando parecia que pouco se iria aproveitar, que surgiu o modelo que de pronto galvanizou a opinio dos presentes que foram unnimes em ach-lo como preenchendo totalmente o objetivo a que se propunha a Comisso (grifo nosso). A no-tcia mencionou a opinio dos presentes, concluda por Alfredo Pessoa, o mais entusiasmado: J estou vendo o selecionado brasileiro entrando em campo com esse vitorioso uniforme. Ser um sucesso, no tenham dvidas. realmente o melhor trabalho apresentado (grifo nosso).

    Mais uma vez conferindo as edies do Correio da Manh, em 15 de dezembro Aldyr Schlee sentiu o seu corao quase parar, na mais pura emoo. Ali, na pgina 3 do segundo caderno, o jornal finalmente reproduzia o novo uniforme escolhido, e nada menos do que a sua proposta constava estampada. A nota omitia o nome do vencedor, mas para ele e os demais 300 candidatos isso no era mais necessrio. Ento, foi somente esperar o desenrolar dos aconteci-mentos.

    Dois dias depois, a capa do segundo caderno do Correio da Manh dedicou con-sidervel destaque cobertura da divulgao do resultado, anunciado na sede da CBD, no dia anterior. A manchete: escolhida oficialmente a nova camisa da cbd. A segunda grande chamada mencionou que o novo uniforme seria apresentado em uma grande festa, a ser realizada em pleno Maracan. Tambm figurou em letras garrafais que o tal uniforme branco permanecia apenas para os casos de emergncia (sic). A notcia relatou em mincias os acontecimentos, novamente em detalhes hoje impensveis de serem veiculados, sobre o desenrolar das discus-ses da comisso julgadora. Para esta segunda e ltima reunio, uma pequena alterao na co-misso nomeada: Rivadvia Corra Meyer (presidente), Alfredo Pessoa, Walter Mesquita, Mrio Polo, Alberto Lima, Castro Filho e Ricardo Serran. Nessa oportunidade, no esteve presente um representante da CBD, Castelo Branco, e Ricardo Serran, de O Globo, obviamente ocupou o lugar de Jos Lins do Rego (desde a primeira reunio).

    A proposta de Aldyr Schlee foi assim escolhida, por unanimidade, em confirma-o ao indicativo da primeira reunio da comisso, em 9 de dezembro. Em segundo lugar, ficou a proposta de Ney Damasceno, do Rio de Janeiro, o mesmo autor do cartaz da Copa do Mundo de 1950. Em terceiro, Onady Barbosa, de Jundia-SP. Em quarto lugar, para a surpresa de todos os presentes no ato da divulgao, Rivadvia Maciel Corra Meyer, sobrinho do presidente da CBD. A premiao em dinheiro obviamente seguiu o regulamento (Cr$ 4.000,00, Cr$ 3.000,00, Cr$ 2.000,00, e Cr$ 1.000,00). Aos olhos do presente, muito estranha a pouca diferena entre o primeiro colocado e os demais, uma vez que estes receberam um bom valor por nada. Ainda fo-ram atribudas menes honrosas a dez outras propostas, Cr$ 200,00 cada, tambm nomeados na reportagem.

    No sequncia dos fatos, na primeira pgina do Correio da Manh natalino foi anunciado que em 27 de dezembro seria publicado um Suplemento Esportivo especial (um ca-derno em formato de revista, como Manchete e O Cruzeiro), em rotogravura e em cores, apre-sentando o novo uniforme da seleo brasileira de futebol, bem como notcias sobre o mundial da Sua. E foi na capa desse Suplemento que ficou para a posteridade a nica imagem em cores conhecida do projeto original de Aldyr Schlee, e ainda por meio de uma reproduo no total-mente fiel, dado a impreciso da reproduo em cores do sistema rotogravura. Isto porque, pos-teriormente, as propostas e os documentos do concurso foram considerados descartados pela CBD (ou sucessora).

    No suplemento tambm foram acrescidas mais informaes sobre os acontecimentos, desde aquele 13 de agosto, incluso um box sobre o autor da camisa. Em duas pginas, foram apre-sentados relatos da grande campanha, porm, muitos deles em desconformida-de com o veiculado poca, no prprio C. M. Um exemplo a informao de que te-riam chegado sede da CBD nada menos que 351 modelos, procedentes de todos os estados do Brasil. Como as edies anteriores mencionam 301 inscritos por vrias vezes, 351 deve ter sido um erro grfico. Mas passados sessenta anos dos acontecimentos, sem documentos mais confiveis para embasamento, sabe-se l o nmero de propostas realmente anali-sadas. Optamos aqui em aderir a verso mais corrente do jornal, ou seja, que fo-ram analisados 301 projetos, em 9 de de-zembro de 1953.

    Ainda ao analisarmos esse icnico Suplemento Esportivo, na contra-capa h um grupo de jogadores cariocas, fardados com os uniformes de seus clu-bes, Fluminense, Flamengo, Vasco, Bangu e Botafogo. Eles esto reunidos no centro do gramado do Estdio das Laranjeiras e manipulam o que parece ser o novo fardamento nacional. Caberia aqui uma pergunta: Seria possvel em dez dias a CBD produzir um conjunto do novo fardamento da seleo, para a apresent-lo a esses craques? A imagem quer fazer que creiamos que sim.

    O semanrio carioca Esporte Ilustrado, n. 821 (31 dez. 1953), por sua vez, dedicou a pg. 15 para noticiar e cumprimentar os colegas do C. M. pela notvel campanha para a mo-dificao do uniforme da seleo brasileira de futebol, a fim de que suas cores simbolizassem a nossa terra. Em quase toda a pgina, um desenho esquemtico em P&B, nanquim, passado por cima do desenho de Aldyr Schlee, com indicaes didticas para a aplicao das cores. Um comentrio bem curioso constou: o nosso colega Alberto Lima, paginador do Esporte Ilustra-do, que tambm fez parte da comisso julgadora, opinou que deveria se atentar tambm para a questo das meias, atravs das quais os jogadores de cada time se reconhecem. Acha que de-vero ser do modelo que apresentamos abaixo, pois a parte branca igual em todas as meias. E ali, abaixo, figurava em detalhe as pernas do jogador com meias amarelas com trs listras verdes; ou seriam meias verdes com listras amarelas? O fato de o jurado no aceitar as meias conforme o vencedor apresentou, o fez plantar uma repescagem infrutfera na revista em que trabalhava, mas a questo das meias no colou. J pensaram? Pel ou Garrincha usando o nosso uniforme com essas meias?

  • 11

    A proposta vencedoraH que se considerar que a combinao elaborada para a distribuio das quatro

    cores, o que na base interessava, foi parte e no o todo do mrito do autor para alcanar a conquista do certame. Isto porque muito provvel ter sido apresentada por outros dos 300 candidatos a mesma distribuio de cores, e ainda assim igualmente possvel que tais propos-tas nem sequer tenham sido percebidas pelos jurados, em razo de suas formas de apresenta-o. Qualquer leitor mais atento s opinies de membros da comisso poderia propor uniformes similares s declaradas preferncias. Porm, a deciso do certame provou que somente isso no foi suficiente, se que ocorreu. A combinao bsica do projeto escolhido, camisa amarela com golas e punhos verdes, calo azul e meias brancas, custou muito a Aldyr Schlee para ser defini-da. A forma de exerccio mental que utilizou para a simulao das alternativas foi manual, por meio de desenhos, desenhos e mais desenhos, com base em seu conhecimento esportivo, o qual era, nada mais nada menos, do que uma relao visceral com o universo do futebol.

    Nesse sentido, o ponto principal, mais significativo na apresentao da proposta Aldyr Schlee foi certamente a escolha em pintar uma elaborada cena, singela na descrio: um jogador em primeiro plano conduzindo a bola, o estdio ao fundo. A fim de ressaltar o farda-mento, destac-lo no conjunto, foram realizados em spia parte do campo e a arquibancada lotada do Maracan, incluso o corpo do atleta. As cores foram aplicadas somente no uniforme, em destaque evidente do que interessava, a tal configurao camisa-calo-meias. Esta deciso do autor, portanto, foi sem dvida o fator mais determinante para a escolha do seu projeto, tanto ou mais importante que a originalidade da distribuio das cores: a opo pela realizao de uma obra de arte. Isto sim, passou longe de ser uma deciso pragmtica. Foi uma percepo criativa, realmente notvel por parte do jovem proponente.

    Para incrementar a expressividade do seu desenho ou pintura , Aldyr Schlee usou muito bem o movimento, na conduo da bola e na forma de retratar realisticamente o jo-gador, este com base num atleta real, ndio, do So Cristvo,14 tpico jogador da poca, incluso pelo uso do bigodinho caracterstico. E o regulamento j deixava claro (item 9) que um critrio decisivo seria por ideias e concepes resolvidas pela melhor forma artstica ou originalidade da apresentao ou confeco dos trabalhos (grifo nosso).

    muito provvel que dentre as trs centenas de propostas, as mais diversas, es-druxulas e curiosas formas de apresentao devem ter surgido, bem como combinaes inte-ressantes e belos desenhos. Infelizmente, com o desaparecimento dos originais nos escaninhos da CBD, no possvel analisar com maior base as propostas, uma obviedade. Porm, entre as fotografias ruins que registram o julgamento, h duas propostas em que pelo menos a forma de apresentao das mesmas identificada. A primeira (C. M. 17 dez. 1953) consiste em desenhos esquemticos frontais da camisa, calo e meias (e um esquema menor do atleta, ao lado, em p): camisa escura com uma faixa mais clara na transversal (tipo Boca Juniors), cales brancos e meias escuras. Na outra imagem (C. M. 10 dez.), percebe-se que a proposta de natureza artsti-ca, num belo desenho que retrata um atleta agachado, em pose tpica, junto com a bola: cales e meias brancas, camisa listrada similar ao Fluminense, golas claras. Ambos desenhos, porm, com fundo branco, seco, sem vida.

    Conforme relatado anteriormente, nas manifestaes pblicas dos dois momen-tos do julgamento, a proposta de vencedora encantou de imediato, de forma unnime. Em meio aos esquemas criativos, exticos, bem ou mal elaborados, ressaltou desde o princpio, definiti-vamente, a obra de arte do jovem Aldyr Garcia Schlee.

    A apresentao ao mundo do novo uniformeConforme j anunciado com destaque no Correio da Manh, a concretizao da

    epopeia da camisa iria ser finalizada com chave de ouro, em grande espetculo cvico-esportivo, naquele que j era, sempre foi e sempre ser, o grande palco do futebol mundial, o Maracan. Na tera-feira, 12 de janeiro de 1954, o C. M. reiniciou a publicao de matrias sobre a camisa, dessa vez causando expectativas sobre a festa de apresentao. Estampava o ttulo carioca de 1953, conquistado pelo Flamengo no ltimo domingo. No centro da pgina, outra manchete: festa dos campees no maracan. Mas a notcia no era somente sobre o Flamengo: Na apresentao do novo uniforme da CBD: os campees Sul-americanos de 19, Pan-americanos de 51 (sic), e a consa-grao do Flamengo Dia 20, no encerramento do campeonato carioca. Estava armado o pano de fundo da apresentao da nova camisa da seleo, com o intuito de o ltimo jogo do certame ser precedido de oportunidade rara. Seriam reunidos atletas campees do Sul-Americano de 1919,15 o primeiro ttulo da Seleo Brasileira, poca liderada pelo clebre craque Arthur Frie-denreich, e tambm os integrantes do mais recente ttulo, o Pan-Americano de 1952,16 a maior conquista de nosso futebol at ento, liderada pelo atacante Ademir Marques de Menezes.

    A edio seguinte do Correio da Manh repetiu a dose, com manchetes sobre a festa do novo uniforme, afirmando que a oportunidade ficaria registrada na histria do espor-te nacional como uma data de rara significao. Sobre o triunfo da campanha do C. M. este teria sido, em verdade, nada mais do que a vitria dos prprios torcedores, que ansiavam pela medi-da; assim pensando, idealizamos o entrosamento dos grandes campees e de duas msticas: os campees do passado e do presente. A mstica da camisa rubro-negra e da camisa da CBD, que viver seus primeiros instantes. Em 15 de janeiro, em matria de muito maior destaque que a convocao da Seleo Brasileira para aquele dia, veio a confirmao do reforo militar ao evento, a Academia da Agulhas Negras iria participar tambm como protagonista na festa da apresentao. Na grande foto da pgina esportiva do dia, nada mais, nada menos, do que o General Jair Dantas Ribeiro passando ao cadete Jos Luiz Gameiro Sarahyba a bandeira [do Brasil] que ser hasteada nas concentraes dos brasileiros no exterior, por ocasio das disputas da Copa do Mundo. A bandeira seria entregue seleo no Maracan, ao tcnico Zez Moreira, na festa da camisa. Isto demonstra que o assunto futebol [Seleo Brasileira], mesmo antes de

    o Brasil ser a maior potencia mundial do esporte, j era assunto patritico de primeira grandeza. Mas essa oportunidade assinalaria tambm o incio de outra passagem, pois em 20 de janeiro de 1954 comeava sem se saber a substituio cultural da Bandeira do Brasil como o mais querido smbolo nacional pela camisa da Seleo Brasileira de futebol.

    Numa saudvel competio, no outro dia o Correio da Manh anunciava mais um reforo: presente a marinha a grande festa. Tambm o jornal aproveitou para registrar a prpria comemorao pela sua vitria na campanha pela mudana do uniforme, o grande almoo de confraternizao do dia anterior, com a presena de autoridades, imprensa geral e caciques do C. M., entre os quais o redator-chefe em exerccio, o escritor Antnio Callado, e o diretor-presidente do matutino, Paulo Bittencourt. O Correio da Manh de 19 de janeiro publicou pela primeira vez fotografias mostrando o novo uniforme. No dia anterior, na sede do Departamento de Turismo e Certames da cidade do Rio de janeiro, a Prefeitura havia realizado a doao CBD dos novssimos uniformes que haviam prometido confeccionar, os quais foram produzidos em So Paulo.17 Na cerimnia, por escolha do tcnico Zez Moreira, vestiu o manto sagrado brasileiro pela primeira vez o cearense Dequinha (Jos Mendona dos Santos), centromdio do Flamengo, convocado para a seleo. No dia da festa, o destaque foi a chegada ao Rio de Janeiro do grande nmero de homenageados, os jogadores de conquistas anteriores da seleo (1919, 1952). E o reforo blico que faltava, a Aeronutica, confirmou a presena e seria mais um feito indito daquela dia.

    20 de janeiro de 1954: a grande festa no MaracanNaquele dia, Maracan lotado, o que menos importou foi a vitria de escore m-

    nimo do j campeo Flamengo sobre o Botafogo: vibrou o maracan com a grande festa cvico-des-portiva; xito sem precedentes assinalou a apresentao oficial do novo uniforme, foram as manchetes do Correio da Manh do dia seguinte, que deu grande e detalhada cobertura ao

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    evento. Antes do jogo, Flamengo e Botafogo perfilaram-se boca do tnel; para passar entre eles, uma seleo brasileira, fardada com o novo uniforme: os craques brasileiros campees pan-americanos pisaram o gramado. Vivia assim, a camisa amarelo-ouro, seus primeiros instantes, ante a emoo do Maracan que a aplaudiu delirantemente. Entraram assim, com a com o novo uniforme, alguns campees de 1952, Nilton Santos, Ademir, Djalma Santos, Araty, Brandozinho, Gerson, Didi, Julinho e o capito Ely. Para completar o time, entraram junto os jogadores da atual seleo, convocada para as eliminatrias, ndio, Rubens e Dequinha. Depois foram chamados os campees de 1919 presentes, Pindaro, Amilcar, Neco, Bianco, Heitor, Arnaldo e Friedenreich. Tam-bm compareceu um convidado especial, um dos mais importantes jogadores que defenderam a seleo at ento, Lenidas, grande destaque do Brasil na Copa de 1938 (Frana).

    A festa teve em seguida um momento guardado em segredo, a forma de parti-cipao da Fora Area. Foi quando surgiu sobre o Maracan um helicptero, causando imenso frisson. Foi pousado prximo a uma das goleiras e baixou o cadete Sarahyba com o Pavilho Na-cional. Escoltada com guarda de honra por mais trs cadetes, a bandeira foi entregue ao tcnico Zez Moreira, como programado; em seguida hasteada, sob o Hino Nacional, conduzido pela Banda da Companhia de Guarda do Exrcito. Ainda sob emoo, deu-se o derradeiro momento: a providncia de uma a icnica Volta Olmpica, de um trio admirvel: o recm-aposentado jogador Ademir, fardado com o novo uniforme; vestindo ternos, Lenidas e Friedenreich. Estava apresen-tado ao mundo o novo uniforme da Seleo Brasileira.

    mesmo dia para a viagem dos jogos de ida, eliminatrias da Copa da Sua, no Chile e Paraguai. E assim a Seleo Brasileira enfrentou a sua primeira partida com o novo uniforme, num domingo 28 de fevereiro de 1954, tarde, no Estdio Nacional de Santiago. Foi tambm uma bela estreia em eliminatrias de Copa do Mundo. Venceu com tranquilidade o Chile, com dois gols de Balta-zar, o Cabecinha de Ouro; assim sendo, o primeiro jogador a fazer gol com a nova camisa. No domingo seguinte, 7 de maro, contra o Paraguai, em Assuno, nova vitria brasileira, nova-mente com um gol de Baltazar.

    O batismo da camisa como Canarinho, o reforo de Aldyr SchleeA primeira partida da nova camisa no Maracan, igualmente foi o primeiro jogo

    do Brasil em eliminatrias, no prprio pas. Tambm era a primeira vez que a seleo jogava no estdio, desde aquele fatdico 16 de julho de 1950.

    Na mesma oportunidade, Aldyr Schlee j se encontrava no Rio de Janeiro. Com o concurso, o vencedor ganhou alm do dinheiro um estgio no Correio da Manh; mais ain-da, o incrvel direito de ficar concentrado com os jogadores, nos alojamentos do estdio So Janurio. O jornal de 14 de fevereiro, dia do jogo, voltou-se a falar do assunto das camisetas: envergando as novas camisas volta ao maracan a seleo do brasil. Na matria, estava estampada uma fotografia de Aldyr Schlee com jogadores: Autor do desenho das novas camisas da sele-o brasileira, esteve ontem em So Janurio com a nossa reportagem. E, como bom gacho,

    passou a maior parte do tempo com Paulinho e Salvador, estes acompanhados de Djalma Santos. Tambm o C. M. passou a chamar o uniforme de as invictas camisas. Outro espetculo indito ser a nova roupagem da seleo nacional. Como se sabe, nos jogos de Santiago e Assuno, a seleo atuou com o seu novo e expressivo uniforme. At agora, porm, os brasileiros ainda no tiveram o ensejo de v-lo em ao. Desta maneira, alm das emoes que a partida entre os brasileiros e chile-nos certamente provocar, alm do pitoresco que ser o retorno da nossa seleo ao Maracan, ter tambm o pblico nacional a feliz oportunidade de ver em ao as camisas amarelas e cales azuis que formam o uniforme invicto do Brasil.

    A denominao da camisa da sele-o como Canarinho creditada de forma unni-me ao radialista paulista Geraldo Jos de Almeida (1919-1976). Ele foi um dos principais narradores de futebol que o pas j teve, criador de bordes como Linda! Linda! Linda!, Que que isso, minha gen-te!, na Copa de 1970. As referncias do a entender que o termo surgiu nesse mesmo 14 de fevereiro de 1954,18 jogo acompanhado pela imprensa nacional em peso, o pas a dois jogos da Copa do Mundo da Sua. Assim como todos no estdio, a impresso de ver o selecionado sem o branco de sempre, agora com um fardamento bastante colorido, deve ter sido um misto de estranheza, emoo e encantamento. Ao ver os nossos craques voando com o novo unifor-me em campo, o narrador saiu-se com essa, pensou num pssaro nacional amarelo e chamou a camisa de Canarinho (canrio, o Serinus canaria). E pegou.

    O primeiro ttulo do uniformeNa Copa do Mundo da Sua, mais

    uma vez o cobiado ttulo parecia estar prximo. O Brasil prometia mas enfrentou no terceiro jogo a sensao Hungria, do clebre centroavante Pusks, e foi eliminado. O primeiro campeonato vencido

    pela Seleo Brasileira com a Canarinho foi o Pan-americano de 1956, no Mxico, quando a seleo foi representada por um combinado gacho. A proeza tema do documentrio Ga-chos Canarinhos (15 min., 2007), dirigido por Rene Goya Filho e produzido pela RBS TV e Es-tao Eltrica. O pano de fundo do filme trata-se da prpria histria da Camisa Canarinho, com precioso protagonismo do seu autor, Aldyr Garcia Schlee. Em 2014, o documentrio e seu protagonista foram homenageados no Festival de Cinema de Futebol (Cinefoot), no Rio de Janeiro. Em 1958, o Brasil apresentou ao mundo Pel e finalmente sagrou-se campeo da Copa. A ironia foi que o Brasil jogou as cinco partidas anteriores final (quatro vitrias e um empate) com a Canarinho. O adversrio, a dona da casa Sucia, no abriu mo de jogar com a sua ama-relinha e fez os coitados dos brasileiros a catar camisas alternativas em Estocolmo, a recortar escudos e costur-los em camisas totalmente azuis, que felizmente foram encontradas (s faltava termos levado um conjunto reserva, as antigas brancas... no que daria?). Foi muito des-respeitoso por parte dos suecos, cujo amarelo em sua bandeira significa generosidade... Mas prevaleceu no jogo o time cujo ouro significa ouro mesmo, e trouxemos para o Brasil a taa Jules Rimet, de ouro macio. A sequncia das conquistas canarinhas tambm so plenamente conhecidas de todos.

    A estreia do uniformeA seleo estava em concentrada no estdio do Vasco da Gama, So Janurio, e o

    Correio do Manh vinha registrando tudo, como toda a imprensa esportiva carioca. Foi noticiado que havia muito esprito de competio, o que impressionava a Zez Moreira. Para o jornal, entusiasmo at excessivo demonstraram os jogadores ante a possibilidade de defenderem as cores do Brasil (10 fev. 1954). Como sinal dos tempos, viu-se nas fotografias do dia 9 de fevereiro de 1954 o time brasileiro em treinamento, usando o antigo uniforme branco oficial, completo... O treino oficial do dia 10 contra um combinado que incluiu juvenis do Fluminense, o Brasil jogou fardado, mas com o uniforme azul; guardava-se, assim, a nova camisa, certamente ainda com cheiro de engomado, esperando o primeiro suor.

    Em 14 de fevereiro anunciava-se para o dia seguinte, segunda feira, uma cerim-nia atrasada, a vez da apresentao oficial da nova camisa mais uma ... desta vez diretamente no Palcio Guanabara, no gabinete do governador do Distrito Federal, a cidade do Rio de Janeiro. Era tambm uma forma despedida, o desejo de sucesso para a seleo que iria embarcar no

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    Os destinosAldyr Garcia Schlee, como mencionado, desenvolveu carreiras prestigiadas em

    diferentes reas. s vsperas de completar 80 anos, em franca atividade na literatura, plena capacidade intelectual, vem sendo um nome de prestgio cujos contos e romances so permea-dos por um imaginrio forjado por sua cultura fronteiria. Figura muito requisitada em palestras e simpsios, somente em tempos recentes, relutantemente, ele passou a aceitar a importncia de sua criao quase juvenil, a Canarinho. Antes, entre os anos 1960 a 90, declarava coisas mal humoradas a respeito de seu projeto vencedor. Principalmente em pocas de Copa do Mundo, quase no consegue atender imprensa brasileira e internacional, devido aos tantos pedidos de entrevistas. s vezes, equipes brasileiras, japonesas, inglesas, dinamarquesas, mexicanas, ou mesmo a TV FIFA, conseguem achar o no muito simples caminho do stio onde vive, em Capo do Leo, prximo Pelotas (na grande Jaguaro), e obtm dele sempre a mesma histria da camisa, mas cada vez com uma pitada de novidade, a mesma de sempre, de forma diferente. Suas histrias sobre o futebol todas absolutamente interessantes podem ser contadas por horas fio.

    Quando esteve concentrado com a Seleo Brasileira em 1954, aos 19 anos, dividiu quarto com jogadores como Dequinha (o primeiro a vestir o uniforme por ele criado), Paulinho de Almeida e Salvador. L, viu de tudo, coisas impressionantes das farras dos atletas, que o dei-xaram realmente traumatizado. Um dia, em meio aos atletas de carne e osso que ele j conhecia e admirava em cromos de lbuns, como Pinheiro, Ademir, Nilton Santos e Rubens, ele se mos-trou realmente nervoso e intimidado. Percebendo isso, Zizinho lhe tranquilizou, e com aquele forte sotaque acariocado lascou: no esquenta, tudo isso uma merda.19 Porm, esse contato epidrmico com o universo profissional no abalou em milmetro algum a sua relao com o esporte, pois da parte dele no se trata de uma paixo comum, de qualquer um, de todo o brasileiro, ou de todo o uruguaio. Mas uma paixo excepcional, obsessiva e doentia, abrangente, permanente com o futebol.20

    O Correio da Manh poca da campanha da camisa estava em sua maturidade editorial, como um influente jornal, considerado como aqueles de opinio prpria, praticamen-te sempre na oposio. Mostrou um prestgio notvel ao convencer a CBD, governos e sociedade para a sua ideia, a qual teve realmente o sucesso estrondoso por ser uma proposta feita no con-texto certo. O jornal apoiou o Golpe de 1964 mas muito cedo foi para a oposio Ditadura, em razo dos militares no convocarem eleies presidenciais. Com a perseguio, o jornal sofreu a ponto de ser arrendado em 1969 e finalmente fechado em 1974. Restou posteridade como o seu principal legado a ideia da mudana da camisa da seleo, a qual veio a tornar-se o unifor-me mais reconhecvel do mundo esportivo. Este feito, porm, restou como algo praticamente esquecido. Talvez por no ser uma iniciativa de um veculo de imprensa de maior e permanente poder, a histria da prpria Canarinho perdeu-se em muito. Os enormes relatos da epopeia da camisa aqui presentes servem para divulgar os aspectos realmente incrveis que envolveram a criao do consagrado uniforme, os quais s podem ser levados tona por meio desse levanta-mento, haja visto no constarem em quase lugar algum da historiografia do futebol brasileiro.

    Um exemplo disso, que no fosse a presente pesquisa no seria resgatada 60 anos depois aquela memorvel tarde no Maracan, a 20 de janeiro de 1954. Mrito para O Globo (Rio de Janeiro) e o Metro Porto Alegre, nicos a relembrar a efemride, o nascimento da Camisa Canarinho.

    O fundamental entendermos que o simbolismo dessa camisa, a sua tremenda fora, vem do fato que ela representa, encarna, nada mais nada menos do que o maior vitorioso no esporte mais popular do mundo, o time da Seleo Brasileira de Futebol. Fossem as cores que tivesse, no alteraria o que o destino reservou aos brasileiros em relao ao football. Porm, o curso da histria tambm escolheu propiciar que esta camisa tivesse a sua criao no como uma camiseta qualquer, como qualquer fardamento esportivo. Ela fruto de uma histria en-cantadora; no fosse verdadeira, seria o dcimo segundo dos Contos de Futebol de Aldyr Garcia Schlee, disso no resta a menor dvida. Foi, felizmente, um cone forjado numa poca muito distante da atual indstria televisiva-esportiva dos produtos-marcas, num tempo em que foi per-mitido a sua criao atravs do encontro do esporte com o meio artstico, escolhida por ser uma obra de arte. Talvez por isso um monumento e smbolo erguido em um pas que julga que o Futebol, afinal, uma Arte.

    Notas1 Revista Placar, n. 968, 1988, pg. 17. Apud Albuquerque, 1992.2 El Ftbol a sol y sombra. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2010, pg. 3.3 No ingls dos Estados Unidos, o futebol referido pela anomalia soccer, em razo desse pas designar como tal o american football, um esporte praticado localmente, com as mos...4 Iugoslvia 4 x 1 Mxico, Sua 2 x 1 Mxico. 5 Outras cidades, entre as mais conhecidas que possuem esta marca da dualidade fronteiria: Santana do Livramento, com Rivera (Uruguai), Uruguaiana e So Borja, respectivamente com Paso de los Libres e Santo Tom (Argentina).6 No Brasil, seus clubes: o Brasil, de Pelotas, o conhecido Xavante, fundado em 1911; na capital gacha, esnoba os grandes Internacional e Grmio e torce para o Cruzeiro, fundado em 1913. Ambos, recentemente, voltaram a disputar a primeira diviso do campeonato gacho.7 Em Encanto de futebol, pgs. 173 a 184. ltimo dos seus Contos de futebol, livro de Aldyr Schlee publicado em sua segunda edio pela Ardotempo (Porto Alegre, 2011, 188 p.). A publicao ori-ginal do livro foi em espanhol, no Uruguai.8 Schlee, idem, p. 179.9 Depoimento ao documentrio Gachos Canarinhos, dirigido por Rene Goya Filho, 2007.10 Ver Aquela tarde impossvel, primeiro dos Contos de Futebol, pgs. 19-31. 11 Estas so configuraes que aparecem em vrias stios da internet, de conceituados jornais brasileiros a pginas e blogs futebolsticos, nacionais e estrangeiros. Muitos deles apresentam-se muito bem elaborados e ilustrados, de forma atrativa e interativa. Porm, muitas informa-es so diferentes e mesmo conflitantes, sem apresentar qualquer referncia. Est a uma dica para a realizao de uma pesquisa mais sria, com bases mais slidas, j que as fontes on-line realmente ainda mostram-se pouco confiveis, uma obviedade muitas vezes esquecida. So in-meras as prprias referncias on-line a respeito da histria da Camisa Canarinho, com equvo-cos, os quais igualmente pudemos perceber na elaborao da presente pesquisa.12 No custa lembrar, a respeito da merecida e heroica vitria uruguaia do maracanazo, para aquela fatdica partida o Brasil havia disputado antes cinco jogos (quarto vitrias e um empate) e o Uruguai apenas trs (duas vitrias e um empate). O Uruguai foi um dos beneficiados pela desistncia de trs dos dezesseis pases previstos para o mundial e sua primeira fase resumiu-se a apenas um jogo, contra a Bolvia. A tida final do mundial, em verdade, foi a ltima partida de uma etapa final quadrangular, para a qual, no ltimo jogo, os brasileiros precisavam apenas do empate para serem campees, pois haviam ganhado de 7 x 1 da Sucia e de 6 x 1 da Espanha (o Uruguai fez 2 x 2 com a Espanha e 3 x 2 na Sucia). O terceiro colocado na Copa, a Sucia, jogou cinco vezes, a Espanha, quarto lugar, seis. O resultado da final todos sabem; como j menciona-do por outros autores, aquelas imagens do gol de Ghiggia, quadro-a-quadro, equivalem para os brasileiros o mesmo que os fotogramas do filme de Zapruder para os americanos (Roberto Muylaert, apud bellos, 2014:55); para Paulo Perdigo, foi um Waterloo dos trpicos (apud bellos, idem).13 Em depoimento reportagem How Brazil got their famous uniforms, FIFA TV, 2012.

    14 Depoimento em Folha da Tarde, Porto Alegre, 25 maio 1982, pg. 40.15 Certame organizado no Rio de Janeiro pela Conmebol, com mais as selees da Argentina, Chile e Uruguai.16 Campeonato realizado no Chile, em 1952. Alm de Chile e Brasil, o Uruguai, Peru, Mxico e Panam.17 O Correio da Manh de 22 de janeiro de 1954, porm, trouxe uma meno quase despercebida a esse respeito. No uniforme produzido para a CBD, em So Paulo, houve um erro na confeco dos cales e isentou-se de culpa a Prefeitura do Rio de Janeiro (Departamento de Turismo). Em razo disso, na entrega dos uniformes CBD, e para a apresentao do Maracan, foram provi-denciados outros cales azuis. Foram comprados em loja? Algum clube carioca emprestou? O Madureira? O So Cristvo?18 Esta a uma outra dica de pesquisa fundo, em assunto aberto, que precisa ser definitivamen-te confirmado, para o bem da seriedade da historiografia do futebol brasileiro. 19 Em Gachos Canarinhos, idem, 2007.20 Contos de futebol, p. 173.Bibliografia consultada

    albuquerque, Jos Carlos Fontes de. O Jogador de Futebol: o surgimento, o apogeu, o ostracismo. Brusque, 1992, Edio do Autor.assaf, Roberto. Banho de Bola. Rio de Janeiro: Relume Dumar, 2002.bellos, Alex. Futebol O Brasil em campo. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.drummond de andrade, Carlos. Quando Dia de Futebol. (Pesquisa e seleo de textos Luis Mau-rcio Graa Drummond e Pedro Augusto Graa Drummond). So Paulo: Cia. das Letras, 2014. galeano, Eduardo. El Ftbol a sol y sombra. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2010.manzolillo, Luiz. Futebol: Revoluo ou Caos. Rio de Janeiro: Gol, 1969.morris, Desmond. A Tribo do Futebol. Lisboa: Publicaes EuropaAmrica, 1981.schlee, Aldyr Garcia. Contos de Futebol. Porto Alegre: Ardotempo, 2011.trigo, Mrio. O Eterno Futebol. Braslia: Thesaurus, 2002.

    Porto Alegre, 10 de junho de 2014

  • 14

    Aldyr Garcia Schlee Jaguaro, 1934

    Desenhos/crnicas esportivas (ca. 1950)Nanquim e guache

    sobre papel.

    Na concentrao da Sele-o Brasileira. Os jogadores Paulinho, Salvador e Djalma Santos ( mesa) conversam

    com o jovem Aldyr Schlee, acompanhado pelo reprter

    do Correio da Manh.

  • 15

    Caricatura do Jogador Baltazar e esquema de seu gol em Brasil 1 x 0 Chile, assistido ao vivo das cadeiras do Maracano, 14 de maro de 1954. Nanquim sobre papel.

    Esquemas dos gols de Brasil 4 x 1 Paraguai, assistido ao vivo das cadeiras do Maracano, 21 de maro de 1954. Nanquim sobre papel.

    Desenhos feitos no perodo do seu convvio com os jogarores da Seleo

    Brasileira, em maro de 1954, Rio de Janeiro. Nanquim sobre papel.

    Detalhe das figurinhas, caricaturas feitas no lbum pessoal personalisado da Copa do Mundo no Brasil. Nanquim sobre papel, 1950.

  • 16

    Caricatura do Jogador Pel, no transcorrer da Copa de 1958, Fac-smile do desenho publicado em dirio pelotense, 1958.

    Guache e nanquim retratando o jogador Romrio. lbum pessoal personalizado da Copa do Mundo nos Estados Unidos, 1994.

    Guache e nanquim retratando o jogador Maradona. lbum pessoal personalizado da Copa do Mundo no Mxico, 1986.

    Guache e nanquim retratando o jogador Milla. lbum pessoal

    personalizado da Copa do Mundo na Itlia, 199o.

  • 17

    Guache e nanquim retratando a seleo dos melhores da Copa dos Estados Unidos.

    lbum pessoal personalizado da Copa de 1994.

    Tabela de Jogos e Resultados. Detalhe do lbum pessoal personalizado da Copa do Mundo de 1970.Datilografia, caneta e hidrocor sobre papel.

    Esquema do gol do Brasil x Inglaterra. Detalhe do lbum pessoal personalizado da Copa do Mundo de 1970.Caneta e hidrocor sobre papel.

  • 18

    Almandrade Antnio Lus Morais Andrade (So Felipe-BA, 1953) Vive em Salvador-BA

    MAN GARRINCHA UM CRAQUE DO RISOO personagem mais singular da histria do futebol, Man Gar-rincha, no era um atleta, talvez um artista, com certeza um craque da humildade, virtuoso e estilista, que encontrou no drible uma forma de encantar a vida. Mais do que um jogador genial, ele transformou o futebol num espetculo delirante cujo objetivo principal no era ganhar ou perder, e sim o riso. O prprio declara numa entrevista: Para ser sincero eu preferia driblar do que fazer gol, mas como a nica maneira de ganhar os jogos era colocando a bola na rede, de vez em quando eu fazia meus golzinhos. Quando Garrincha jogava o estdio parecia mais um teatro ou um circo.Chamou a ateno do mundo com seus dribles precisos e desconcertantes, improvisados na hora certa de suas pernas tortas que bailavam contrariando a anatomia, um Charlie Cha-plin alegrando multides. Sempre cordial e imarcvel, ingnuo at. Deixava o marcador perdido, sem saber o que fazer no gramado, era certo sua passagem pela direita, mas ningum tinha certeza do momento. Para as torcidas que no economi-zavam gargalhadas, at mesmo a adversria, no interessavam mais o resultado do jogo, e sim contemplar o show do craque. Um santo do riso, alegria dos que tiveram o privilgio de assisti-lo. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um pas inteiro a sublimar suas tristezas, palavras do poeta maior Carlos Drummond de Andrade.

    Garrincha foi um caso aparte, uma exceo. Sua relao potica e ldica com a bola, era de um deus brincando com o mundo para divertir seus santos. Na elegante crnica do escritor, dramaturgo e jornalista esportivo Nlson Rodri-gues, Garrincha no precisava pensar: Tudo nele se resolve pelo instinto, pelo jato puro e irresistvel do instinto. E, por isso mesmo, chega sempre antes, sempre na frente, porque jamais o raciocnio do adversrio ter a velocidade genial do seu instinto. Um bailarino? Desafiou, subverteu as concepes do futebol europeu e solicitou do espectador uma outra ateno e sensibilidade para o jogo. Man uma referncia indita para um futebol que no mais existe.Jogar bola para ele era uma forma de encarar a vida, no importava a partida, fosse da copa do mundo ou uma pelada entre amigos, o prazer era o mesmo. E a vida, uma brincadeira que passa rpido, como passou a agilidade de suas pernas, vencido pelo cansao, pela boemia e pelo l-cool, a alegria foi finalizada pelo apito do tempo. A tristeza no tem fim, felicidade sim. diz a indiscutvel perfeio da voz de Joo Gilberto na brilhante interpretao da cano de Tom e Vincius.

    Almandrade(artista plstico, poeta e arquiteto)

    AlmandradeHomenagem a Garrincha, 2014Instalao. Bola usada, campo desenhado na parede com giz de cra. Texto Man Garrincha um craque do povo

  • 19

    AlmandradePense o Jogo 1, 1979. 30 x 20 x 6cm

    AlmandradePense o Jogo 2, 1979. 50 x 30 x 6 cm

  • 20

    Andr PetryAndr Petry de Abreu(Porto Alegre, 1958) Vive em Porto Alegre

    Andr PetrySem ttulo, 2013. Bola de couro e

    acrlico. 14 x 35 x 35 cm

    Andr PetryTransportvel, 2013. Objeto em manta acrlica, garrafas pet, madeira, rodzios e corda

  • 21

  • 22

    Andr PetryPGINA ANTERIORLimites, 2014. Instalao com alumnio, polister, papel de seda e tinta esmalte. Dimenses variveis

    Andr PetryEra uma bola, 2013. Bola de plstico

    partida. 4,5 x 18,3 x 4,1 cm

    Andr PetryCentro, 2014. Carimbo e esmalte em spray

    sobre papel de seda. 89,5 x 88,7 cm

    Andr PetryCorner, 2014. Carimbo e esmalte em spray sobre papel de seda. 92,2 x 92,4 cm

  • 23

    Andr PetryO jogador, 1993 [Refeitura/2014]. Manipulao digital a partir de fotografia e impresso jato de tinta em filme adesivo sobre placa de PVC recortada. 198 x 128 cm

  • 24

    Britto VelhoCarlos Carrion de Britto Velho(Porto Alegre, 1946) Vive em Porto Alegre

    Britto VelhoAcrlia s/tela, 1994. 60 x 40 cm

    Britto VelhoObjetos. Couro e MDF, 2006

  • 25

    Britto VelhoAcrlia s/tela, 2014. 120 x 80 cm

  • 26

    Britto VelhoDesenho sobre papel, 2014220 x 110 cm

  • 27

    Dudi Maia RosaRafael Maia Rosa (So Paulo-SP, 1946) Vive em So Paulo

  • 28

    Dudi Maia RosaResina polister pigmentada e fibra de vidro, 1990

    49 x 81 x 2,5 cmAcervo Museu de Arte Contempornea do RS

    Dudi Maia RosaResina polister pigmentada e fibra de vidro, 2002191 x 143 x 14,5 cmAcervo Museu de Arte do Rio Grande do Sul

  • 29

    Dudi Maia RosaResina polister pigmentada e fibra de vidro, 2007200 x 200 x 7 cm

  • 30

    Dudi Maia RosaResina polister pigmentada e fibra de vidro, 2002160 x 180 x 16 cmAcervo Museu de Arte do Rio Grande do Sul

  • 31

    Felipe BarbosaFelipe do Nascimento Barbosa (Niteri RJ, 1978) Vive no Rio de Janeiro

    Felipe BarbosaKlim, 2007-2008

    Bolas de futebol abertas e recosturadas193 x 252 cm

  • 32

    Felipe BarbosaSuper pill, 2009Bolas de futebol abertas e recosturadas165 x 22 x 22 cmColeo Luciano Vinhosa

    Felipe BarbosaJardin II, 2011

    Bolas de futebol abertas e recosturadas92 x 144 cm

  • 33

    Felipe BarbosaAmerican Cube, 2008

    Bolas de futebol abertas e recosturadas172 x 354 cm

  • 34

    Felipe BarbosaStripes, 2011

    Bolas de futebol abertas e recosturadas

    125 x 75 cm

    Felipe BarbosaCurdo, 2008Bolas de futebol abertas e recosturadas160 x 181 cmColeo Sergio Gonalves Galeria

  • 35

    Felipe BarbosaBola cbica, 2007-2012 (edio 5/50)22 x 22 x 22 cm

    Felipe BarbosaEgg ball, 2007Bolas de futebol abertas e recosturadas22 x 22 x 40 cm

  • 36

    Fernando Baril(Porto Alegre, 1948)

    Fernando BarilAssalto, 2006. Acrlica s/tela. 40 x 40 cm

    Fernando BarilCopa USA, 1994. Acrlica s/tela. 57 x 47 cm

    Fernando BarilAcrlia s/tela, 2002. 57 x 47 cm

  • 37

    Fernando BarilAcrlia s/tela, 2014. 130 x 140 cm

  • 38

    Gilberto PerinGilberto Lus Perin (Guapor-RS, 1953) Vive em Porto Alegre

    Gilberto PerinFotografia da Srie Camisa Brasileira, 2010.

    Figuras de gesso e outros objetos.

  • 39

    Gilberto PerinFotografia da Srie Camisa Brasileira, 2010

    44o x 220 cm

  • 40

    Gilberto PerinFotografias da Srie Camisa Brasileira, 2010

  • 41

    Mrio RhneltMrio Alberto Birnfeld Rhnelt (Pelotas, 1950) Vive em Porto Alegre

    Mrio RhneltAcrlica s/tela, 1994 147,5 x 290 cm

  • 42

    Mrio RhneltColagem - papel contact sobre papel, 199446 x 30 cm

    Mrio RhneltNanquim, lpis de cor, grafite e aquarela, 1978 51 x 50 cm

    Mrio RhneltNanquim, lpis de cor e grafite, 197955 x 50 cm

    Mrio RhneltNanquim, lpis de cor, grafite e aquarela, 1978 51 x 50 cm

    Pg. 43.Mrio Rhnelt

    Nanquim, lpis de cor, grafite e aquarela, 1978

    51 x 50 cm

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    Rui MacedoAcrlica sobre papel, 2014. 66 x 65 cm (Pl. XI, fig.59 de Artes Militares: Evolues de Infantaria da L Encyclopdie Diderot & D Alembert)Acrlica sobre papel, 2014. 98 x 63 cm (Pl. I, fig.2 de Artes da Marinha: Evolues Navais da L Encyclopdie Diderot & D Alembert)Estratgias de Futebol, 2014. 64 x 97 cm. Acrlica sobre papel

  • 45

    Rui MacedoRui Alexandre Amador Macedo(vora, Portugal, 1975)

    Rui MacedoAcrlica sobre papel, 2014. 66 x 96 cm (Pl. VI, fig.40 de Artes Militares: Evolues

    de Infantaria da L Encyclopdie Diderot & D Alembert: quart de converfion)Estratgias de Futebol, 2014. 64 x 97 cm. Acrlica sobre papel

    Acrlica sobre papel, 2014. 64 x 85 cm (Pl. I, fig.1 de Artes da Marinha: Evolues Navais da L Encyclopdie Diderot & D Alembert)

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    Rui MacedoEstratgias de Futebol, 2014. 64 x 97 cm. Acrlica sobre papel Acrlica sobre papel, 2014. 64 x 85 cm (Pl. I, fig.1 de Artes da Marinha: Evolues Navais da L Encyclopdie Diderot & D Alembert)Acrlica sobre papel, 2014. 66 x 96 cm (Pl. IV, fig.23 de Artes Militares: Evolues de Infantaria da L Encyclopdie Diderot & D Alembert)

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    Wilson CavalcanteWilson Furtado Cavalcante(Pelotas RS 1950)

    Wilson Cavalcante. Instalao, 2014. Janelas de demolio, grama. 150 x 220 cm

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    Wilson CavalcanteDesenhos, 1982. Nanquim e acrlica sobre papel. 60 x 42 cm

    Wilson CavalcanteGool, 2006. Terra, aglutinante,

    tinta acrlica sobre madeira.38 x 28 cm

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    Wilson CavalcanteSem ttulo, 2014. Terra, carvo, tinta

    acrlica e objetos sobre madeira.120 x 40 cm

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    The Beautiful Game :O Reino da Camisa Canarinho

    A EXPOSIO

    Museu dos Direitos Humanos do MercosulPorto Alegre-RS

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    Cerimnia de abertura (10 jun. 2014). Fotos: Wagner Patta

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    Iniciou seus estudos artsticos com Vasco Prado. Cursou tambm Arquite-tura na UFRGS e Desenho e Pintura no Atelier Livre de Porto Alegre. Estudou pintura na Academia San Fernando (Madri, 1978-80) e tambm residiu e manteve produo em pases como Estados Unidos, Israel e Canad. Mi-nistrou cursos temporrios de pintura em atelis e vrias instituies, entre elas o MARGS. Destacou-se inicial-mente em desenho e pintura, numa linha mais abstrata, at princpios da dcada de 1980. Posteriormente, ca-racterizou-se por uma pintura realista de composio surreal, mgica, de cunho irnico e crtico, a partir de auto referncias e com apurado e incomum domnio tcnico.

    Fotgrafo, diretor de cena, ator, ro-teirista, jornalista, radialista e tcnico cinematogrfico. Formado em Comu-nicao Social (PUC-RS), paulatina-mente, a atividade em fotografia tem-se incrementado, com participaes em mostras no Brasil e exterior, com obras em colees pblicas e privadas, entre elas MARGS e MAC-RS. Em 2011, publicou o livro autoral fotogrfico Brasil Camisa Brasileira, com textos de Aldyr Schlee e Joo Gilberto Noll (Editora Ardotempo), srie sobre os bastidores dos vestirios do time de futebol Brasil (Pelotas), em jogos pela segunda diviso do RS.

    Com carreira artstica desenvolvida como autodidata, atua tambm em design grfico. Trata-se de um dos artistas icnicos do desenho contem-porneo do Rio Grande do Sul, com produo iniciada no final da dcada de 1970. Durante boa parte de sua vida e carreira, manteve ateli com Milton Kurtz (1951-1994). Seu trabalho de notvel domnio tcnico em de-senho e pintura encontrou tambm, por volta de 2000, uma interessante variante na arte digital, em obras reali-zadas em computador e impressas em vrias mdias. Sua carreira de exposi-es em galerias e instituies das mais intensas entre os profissionais radicados no RS. Em 2014, foi realizada no MARGS uma grande mostra retros-pectiva de sua obra.

    Artista plstico e doutorando em Pintura, na Universidade de Lisboa. Comeou a expor desde a dcada de 1990. Sua produo atual enfoca relaes entre pintura e instalao, explorando conceitos a partir do si-te-specific e nos dilogos da sua obra com outros acervos museolgicos, artsticos ou no. Tem apresentado importantes mostras individuais, em museus e instituies de Portugal, Espanha e Brasil.

    Gravador, desenhista, pintor e impres-sor. Iniciou em desenho e gravura no Atelier Livre de Porto Alegre, ainda na adolescncia, e estudou com Danbio Gonalves, Paulo Peres e Carlos Mar-tins, entre outros. Comeou a expor a partir de 1974. Desde l, desenvolveu intensa produo, em especial na gravura. Em 1997, foi Secretrio de Cultura de Viamo-RS. Desde 1996, ministra cursos de gravura (metal e xilogravura) e desenho no Atelier Livre da Prefeitura, onde professor concursado.

    Fernando Baril(Porto Alegre, 1948)Vive em Porto Alegre

    Gilberto PerinGilberto Lus Perin (Guapor-RS, 1953)Vive em Porto Alegre

    Mrio RhneltMrio Alberto Birnfeld Rhnelt (Pelotas, 1950) Vive em Porto Alegre

    Rui Macedo Rui Alexandre Amador Macedo(vora, Portugal, 1975)Vive em Lisboa

    Wilson CavalcanteWilson Furtado Cavalcante (Pelotas RS 1950)Vive em Porto Alegre

    artista plstico, arquiteto e poeta. J participou de quatro Bienais de So Paulo, alm de vrias outras expo-sies no pas e no exterior. Editou em 1974 a revista Semitica. Seus poemas procuram dar s palavras in-tensidade plstica, forma. Publicou os livros O Sacrifcio dos Sentidos, Obs-curidade do Riso, Poemas, Suor Noturno e Arquitetura de Algodo. um dos grandes nomes brasileiros do poema visual. Em 2014, participa tambm da Bienal da Bahia.

    Artista plstico e arquiteto. Professor de Histria das Artes e Projeto de Pro-gramao Visual nos cursos de Artes Visuais e Desenho Industrial Design, na Universidade Federal de Santa Maria entre 983 e 1998. Desde 1985, realiza pesquisa na rea de novos meios tcnicos para a representao artstica, explorando inicialmente os recursos da fibra de vidro e, a partir de 1988, em computao grfica, xerox, fotografia e diversos meios eletrni-cos e digitais. Nesse perodo, partici-pou de inmeras mostras individuais e coletivas, no Brasil e ext