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Poemas T. S. Eliot

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    POEMAS / T.S. ELIOT/1910 -1930

    l i JHM B BTraduo de IDELMA RIBEIRO DE FARIA

    WWkf.

    HH H

    MM

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    POEMAS1910 o 1930

    T. S. ELIOT

    TRADUZIDO PORIDELMA RIBEIRO DE FARIA

    MASSAO OHNO EDITOR

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    Capa:Litogravura sc. X VIII

    CIP-Brasil. Catalogao-na-FonteCmara Brasileira do Livro, SP

    Eliot, Thomas Stearns, 1888-1965.E43p Poemas = Poems: 1910-1930/T. S. Eliot; traduzido por Idelma Ribeiro

    de Faria. So Paulo 1985

    Pginas de rosto e texto em ingls e portugus.Tiragem de 500 exemplares.

    1. Poesia inglesa I. Faria, Idelma Ribeiro de. II. Ttulo.

    80-0697 CCD-821

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Poesia: Literatura inglesa 821.

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    TRADUO o RECRIAO

    H quem afirme que no possvel traduzir, em poesia. No ser possvel, creio, mili-metricamente.

    Tambm traduo como traio frase de

    velho gasto. Basta a opinio de que o tradutor - desde que entendedor do fenmeno potico e dosseus problemas pode mesmo atingir o nvel deco-autor da obra traduzida. Um Ezra Pound, traduzindo Proprcio, realiza tal performance, em co--autoria.

    A discusso iria longe, se a colocssemos nesses termos.

    Uma traduo, para a nossa lngua, da poesia

    de T. S. Eliot, ter de ser difcil por sua conta erisco porque difcil j ele mesmo, como todossabemos, sob vrios aspectos, no o sendo sob outros, dada a complexidade e diversidade dos seuspoemas.

    Ento se pergunta: a obscuridade favoreoe oudesfavorece a traduo?

    Em' T. S. Eliot, e isto j tem sido explicadopelos exegetas, a obscuridade decorre do seu estilo

    elptico e da sua concepo metafsica do destinohumano. J se notou, por ex., que o tema prevalen-te em Gerontion ou em The Waste Land o vazio da vida sem crena um vazio que redunda em medo e desesperao em The Hollow Men.

    O conceito metafsico eliotiano, em contraposio (diga-se) ao conceito lrico petrarquiano, epor certo j obrigando o tradutor a um trabalho deagudo pensamento, associa-se linguagem que o

    caracteriza, se o erudito quem fala e exige exact-

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    ness in the use of words. As aluses, que requerem do tradutor perfeita formao clssica, no deixamde dificultar o problema.

    Idelma Ribeiro de Faria est, entretanto, emcondies especiais para traduzir T. S. Eliot: seguroconhecimento da lngua inglsa, tcnica expressional

    correspondente a cada poema, sentimento potico filtrado pelo raciocnio, estudo das certezas e equvocos prprios de toda alta poesia digna desse nome.

    Em The Achievement of T. S. Eliot observaMatthiessen a tranqila segurana do trabalho em dois planos, o crtico e o potico e lembra que isso lhe d um sentido total (sensao de totalizao). Um plano ilustra o outro.

    Menciona ainda o exegeta norte americano adisciplina do sofrimento mas depois esclarece:quanto mais perfeito o artista, tanto mais estaroseparados nele o homem que sofre e a mente quecria. 0 prprio T. S. Eliot, emThe Use of Poetryand The Use of Criticism alude ao self-conscious-ness of things about poetry.

    Devoto da tradio (Brand Blanshard) quebrou o autor de La Figlia che Piange os moldes

    usados para dar novas formas poesia inglesa. Poetatradicional-inovador (Antnio Houaiss) o que servepara o viver potico necessrio, do passado no presente que j futuro.

    Ter Idelma transposto para a presente traduo esprito assim to complexo como o de T. S.Eliot em suas belas e contraditrias facetas, o seu ritmo, o seu mtodo de compor, o seu gosto peloobscuro, o que h de sbio ou de popular em sua

    dico, a sua viso do problema humano em termosde poesia e filosofia? Eis o que importa, m se tratando do autor de Gerontion, e Idelma bem ocompreendeu, com riqueza de informao a respeitodo grande instigante caso potico individual e universal eliotiano.

    Um pormenor, que vem a propsito:Algum, um ilustre algum, sugeriu, ao que

    sei, substituir Miguel ngelo por Plato na traduo

    brasileira do poema Love Song of Alfred Pruf-rock.

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    A solulo proposta:Na sala as mulheres vm e vo falando de

    Platopreenche a exigncia da rima do original:

    In the room women come and go

    Talking of Michelangelo

    O contexto do poema, porm, ( o que se meafigura) no autorizaria a substituio. T. S. Eliotope, em Love Song, o mundo da Renascena aocotidiano ingls imediatamente posterior primeiraguerra. Ope, por isso, Michelangelo mediocridadedesespiritualizada daquela Inglaterra vitoriosa, masburguesa.

    Plato a Grcia, a beleza pag de sua filosofia. T. S. Eliot catlico anglicano; e o forte do ingls no a filosofia mas o empirismo filosfico.

    Verdade, tambm, que a aluso quelas mulheres irnica. Explica-se a ironia: as convencionais, as rgidas inglesas daquela poca no entendiam, no sentiam os valores da forma, da escultura. Ainda eram filhas da esttica e da moral vitoriana.

    Idelma, quero crer, andou muito bem emmanter Michelangelo:

    v4s mulheres pr l e pra c na sala caminhandoe sobre Miguel ngelo pairando

    Esse pairando, ao invs de falando, acentua a ironia do poeta, com inegvel graa.

    A aluso em Love Song , sem dvida, mui

    to diversa das que pratica T. S. Eliot em Ash- -Wednesday, com a transcrio de passagens deGuido Cavalcanti ou de Um verso do 29P soneto de Shakespeare. Estas (no sei bem porque) me sugerem a idia de indagar como tero surgido as aluses, hoje um processo que Silva Ramos, citando E.M.Tillyard (Poetry Direct and Oblique) explicou claramente em seu O Amador de Poemas.

    No ter sido Montaigne (mera curiosidade

    minha) quem descobriu tal processo, e tambm porironia?

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    No s o descobriu como o praticou, maliciosamente. De propsito, dizia ele, transcrevo trechos de diversos autores no que escrevo e no lhescito os nomes. Quero que se riam de Plutarco pensando que se riem de mim e que escarneam Snecaem minha pessoa.

    A finalidade da aluso em poesia muito outra mas o processo vem a ser o mesmo. T. S. Eliottranscreve Guido e Shakespeare e no lhes cita osnomes no pressuposto de que o leitor os conhea ecompreenda a sua inteno.

    Enfim, a traduo feita por Idelma Ribeiro deFaria abrange aspectos e sutilezas que s ela um

    poeta da sua categoria seria capaz de perceber naspalavras ou alm das palavras.Trata-se de uma recriao brasileira de tudo o

    que o nunca assaz louvado T. S. Eliot fez em poesia e renovao.

    Um trabalho que, em alguns de seus grandes momentos, o autor de The Waste Land assinaria,em lfngua brasileira.

    CASSIANO RICARDO

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    APAULO VIZIOLIDlOGENES ROLIM DE ALBUQUERQUEALBERTO AMENDOLA HEINZL

    minha gratido e meu dbito pela ateno dispensada a este trabalho.

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    MOTIVO

    Na traduo dos poemas hoje reunidos neste volumeno tive, como fator de incentivo, apenas o interesseliterrio em si mesmo, mas ainda e antes de tudo um irresistvel anseio de aproximao, de compreenso,de integrao. Moveu-me, poder-se-ia dizer, um impulso de amor.

    Thomas Stearns Eliot me atraiu desde que, fragmentada, sua poesia foi entrevista por mim em publicaes de revistas e suplementos. No pude maisfugir a seu fascnio.

    rdua foi sua conquista com largos intervalos defuga e desistncia. Mas o fascnio persistia mesmo distncia, pois j me apaixonara por seu talento lcido e esquivo.

    Uma aproximao mais ampla se processou em dois planos: no da identidade, uma vez que suas inquietaes, dvidas e revoltas, assim como sua obsessodo eterno, exacerbada por uma pungente noo datransitoriedade temporal, eram tambm minhas e noplano da compreenso (que no se traduz apenas nasoma dos denominadores comuns, mas ainda noreconhecimento da validade dos fatores alheios ouantagnicos aos nossos) pela aceitao de sua filoso

    fia crist, diametralmente oposta a meus conceitos agnsticos.

    Em sua convivncia acometeram-me conflitos e dvidas: capt-lo em si mesmo e no todo universalque o forma sem despersonaliz-lo ou mutil-lo,

    colher suas mltiplas faces, a velha e a inaugural, atransitria e a eterna, a harmnica e a discordante, conservando-o autntico e uno, traz-lo ntimo de

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    meu eu, mantendo-o intocado em sua contexturaintrnseca, verter suas expresses em moldes inadequados de vocbulos mais longos e menos flexveis, procurando no perder de vista, dentro dopossvel, os quadrantes rtmicos, constituam-se em

    difceis, por vezes insuperveis requisitos para umaidentidade plena.

    No sei se consegui, em seu convvio, compreend-lodevidamente, no trair. Suas complexidades, refletindo-se por vezes mesmo no simples emprego dossinais de pontuao, eram propcias aos resvalos, squedas. E se quedas e resvalos houve, restar-me-pedir aos que de Eliot se aproximarem, se no com

    maior amor, com mais aguda capacidade de interpretao, que considerem este trabalho sob aspectomais amplo: o de haver contribudo para tornar umdos maiores, se no o maior poeta da lngua inglesadeste sculo, acessvel queles que no teriam possibilidade de conhec-lo no original.

    IDELMA RIBEIRO DE FARIA

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    Traduo - Recriao, Cassiano Ricardo ..................................................................................... ... M iAgradecim entos .................................................................................................................................................... X]Motivo ...................................................................................... .............................................................................. XII

    PRUFROCK E OUTRAS OBSERVAES - 1917 . ......................................................................... 3Cano de amor de J. Alfred Prufrock ...................................................................................................... 5

    Preldios ................................................................................................... .......................................................... 13La figlia che piange .......................................................................................................................................... 17

    ARA VOS PREC OU POEMAS - 1920 .................................................................................................. 19

    Gerontion .............................................................................................................................................................. 21O hipoptam o ....................................................................................................................................................... 25Sweeney entre os rouxinis ............................................................................................................................ 29

    A TERRA GASTA - 19 22 ............................................................................................................................. 33I. O enterro dos mortos ................................................................................................................................ 35II. Uma partida de xadrez ......................................................................................................................... ... 39III. O sermo de fo go ....................................................................................................................................... 45IV. Morte pela gua ........................................................................................................................................... 53V. O que disse o t r o v o .................................................... ....................................................................... 55

    Notas de T. S. Eliot sobre A Terra G a s ta ................................................................................................

    OS HOMENS OCOS - 1925 ......................................................................................................................... 61Os homens ocos . ................................. - .................... ........................................................................... 63

    QUARTA-FEIRA DE CINZAS - 1927-1930___....................................................................................... ... 69I. Porque no espero voltar outra vez . ................................................................................................... 71II. Senhora, trs leopardos brancos se reuniram sob um zim b ro ..................................................... 75III. Na primeira volta do segundo lance ................................................................................................... 79IV. Quem seguia entre a viole ta e a vio leta ................................. .................................................... - . 81

    V. Se a palavra perdida est perdida, se a dissipada palavra dissipada e s t ................................. 33VI. Embora eu no espere voltar outra vez ................................................. ... ..................................... 85

    POEMAS DE ARIEL - 19 27 -193 0 ........................................... ............................................................. ... 87A viagem dos Magos ........................................................................................................................................... 89Cntico para S im eo .............................................................................................................................................. 93Animula ......................................................................................... ................................................................... ... 97Marina ........................................................................ - ..................................................................................... 99

    Notas da tradutora ..........................................................................................................................................

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    T. S. ELIOT o POEMAS c- 19101930

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    PRUFROCK E OUTRAS OBSERVAES o 1917

    PARA JEAN VERDENAL, 1889-1915, MORT AUX DARDANELLES

    Or puoi la qumtiiate comprender deli amor ch a te mi scalda,

    quando dismento nostra vanitate,

    trattando 1ombre come ccsa salda.

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    Sio credesse che mia risposta fosseA persona che mai tomasse ai mondo,Questa fiamma staria senza pi scosse.

    Ma per cio che giammai di questo fondoNort tom viva alcun, sTodo il vero,

    Senza tema d'infamia tirispondo}

    CANO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFROCK

    Vamos ento, tu e eu,

    Quando a tarde se estende contra o cu Como na mesa um doente sob anestesia;Vamos a caminhar nessas ruas vazias,

    Refgios murmurantesDe noites sem repouso em hotis baratos de pernoiteE desses restaurantesJuncados de conchas de ostra e serradura:Ruas que seguem qual tedioso argumentoNo insidioso intentoDe levar-te a uma tese opressiva e insegura . . .Oh, Qual? no procures saber.Vamos fazer

    Nossa visita.

    As mulheres pra l e pra c na sala caminhandoE sobre Miguel ngelo pairando.

    A neblina amarela que esfrega o dorso nos vidros da janela,A neblina amarela que esfrega o focinho nas vidraasA lngua insinuou nos recantos da tarde,Demorou-se nas poas das sarjetas,

    Nas costas recebeu a fuligem cada das chamins,Resvalou no terrao, fez sbita investidaE vendo que suave era a noite de outubroPela casa enroscou-se e adormeceu.

    E haver tempo, na verdade,Para a nvoa amarela que nas ruas deslizaAs costas a esfregar nos vidros das janelas;Haver tempo, haver tempoDe a face preparar para encontrar as faces que defrontas;

    Sio credesse che mia risposta fosseA persona che mai tomasse ai mondo,Questa fiamma staria senza pi scosse.

    Ma per cio che giammai di questo fondoNort tom viva alcun, sTodo il vero,

    Senza tema d'infamia tirispondo}

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    Para matar, criar, haver tempoE para os trabalhos todos e os dias de mosQue erguem e instilam em teu prato uma questo;Para ti, para mim tempo haverE para cem indecisesE um cento de vises e revises,

    Antes de uma torrada e xcara de ch.

    As mulheres pra l e pra c na sala caminhando E sobre Miguel ngelo pairando.

    E haver tempo, na verdade,Para me interrogar: Ousarei? e Ousarei? Para os degraus descer, retroceder caminho,Uma calva no meio dos cabelos . . .

    (Eles diro: Vo ficando to ralos seus cabelos!)Meu fraque, o.duro colarinhoSubindo at o queixo, gravata rica e discretaMantida com alfinete em posio correta . . .(Eles diro: Mas que finos seus braos, suas pernas!) Ousarei pertubar o universo?E haver tempo em um minutoPara resolues e revises que em um minutoTero o seu reverso.

    Pois eu j conheo todos, j os conheo . . .Conheci as manhs, tardes, noitinhas,Minha vida medi s colherinhas;Sei das vozes morrendo em mortio declnioSob msica a soar numa sala distante.

    Como ento me arriscar?

    E os olhos eu os conheo todos, j os conheo . . .Que te fixam em uma frase-frmulaE estando eu formulado, estatelado em um alfinete, Espetado, contorcendo-me parede.Como comeariaA cuspir os tocos de meus dias e vias?

    E como me atreveria?

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    E os braos j os conheo todos, j os conheo . . .Empulseirados e brancos e nus(Mas com uma penugem castanho-clara sob a luz!) o perfume de um vestido Que me faz to distrado?Braos por sobre a . mesa repousados,Ou em um xale enrolados.

    E ento me arriscaria?E como comearia?

    Direi que ao escurecer andei pelas vielas

    E vi erguer-se o fumo dos cachimbosDe homens ss e em mangas de camisa,DebVuados das janelas? . . .

    Devia eu ser um par de garras laceradasEm fuga pelo cho de mares silenciosos.

    E a hora vespertina, quo tranqilamenteDorme, por longos dedos serenada,Cansada . . . entorpecida . . . ou a se fazer doente,

    Estendida no cho, aqui junto a ns dois.Depois do ch e bolos e sorvetes, teria eu energiaDe o momento impelir at sua crise?Mas tenha eu chorado embora e jejuado e rezadoE visto minha cabea (levemente calva) ser trazida em um prato,No sou profeta . . . e isso pouco importa;Meu instante de grandeza eu senti vacilarE o eterno Lacaio vi meu casaco ir buscar a sorrir zombeteiro E enfim, tive medo.

    E valeria a pena, aps tudo,As xcaras, o ch, a marmelada,Por entre a porcelana e as palavras trocadas,Valeria a pena,Ter o caso trincado com um sorrisoE ter o universo espremido, transformado em bola,Rolado para uma questo esmagadora,Declarar: Sou Lzaro, de entre os mortos voltei,

    Venho para dizer-te tudo e tudo dir-te-ei . . .Se algum dissesse

    Ajeitando cabea uma almofada:

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    Nao o que eu tinha em mente, de maneira alguma,No isso, absolutamente.

    E valeria a pena, aps tudo,Valeria a pena,Aps o sol no poente e o ptio e as ruas irrigadasE os romances e o ch e as saias arrastadas pelo cho .E isso e quanto mais? . . . impossvel expressar-me exatamente!Mas como se os nervos fossem projetadosEm desenhos, por lanterna mgica:

    Valeria a pena se algum,Ajeitando a almofada ou afastando o xale, dissesseVoltando-se para a janela:

    No isso, absolutamente,No o que eu tinha em mente, absolutamente.

    No! no sou o Prncipe Hamlet e nem o pretendia;

    Sou um homem da corte, algum que serviriaPara inflar um cortejo, iniciar uma cena, informarO prncipe; um fcil instrumento,Respeitoso, contente de ser posto em uso,Poltico, meticuloso, cauteloso;Cheio de altas sentenas, mas um tanto obtuso;Ridculo, quase o diria, em alguns momentos . . .Em alguns momentos quase, na verdade, o Bobo.

    Envelheo . . . envelheo . . .As calas usarei enrolando as bainhas do avesso.

    Partirei meus cabelos junto nuca?Ousarei comer pssego? UsareiCalas de flanela branca e andarei pela areia.

    Cantando uma para as outras ouvi as sereias.

    No creio que para mim elas ho de cantar.

    Quando ao sopro do vento a gua negra e brancaEu as vi, mar a dentro, as ondas cavalgando E os cabelos das ondas, que voltam, penteando.

    Coroados de castanhas algas pelas jovens Do mar, nas cmaras do mar nos demoramos.Despertos pela humana voz, nos afogamos. 2

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    Atarde de inverno caik Cheirando a bif nas vielasSeis horas.Pontas queimadas de um dia fumarento. E agora o aguaceiro e o vento Enrascando em teus ps

    Pedaos sujos de folhas mortasE jornais de terrenos baldios;Cai a chuvaradaNas chamins, nas rtulas quebradas.A um ngulo da rua, solitrio,Um cavalo fumega os ps batendo.E ento as luzes se acendendo.

    2

    Vm a manh com a percepo

    De choco e vago cheiro de cervejaDa rua calcada com serraduraPor ps enlameados, apressados na procura

    Dos primeiros balces de caf.Com as outras mascaradas reiniciadasPela hora matutina,Imaginam-se todas as mosErguendo encardidas cortinasEm milhares de quartos alugados.

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    Da cama afastaste a cobertaE espera, de costas, deitada,Ficaste com sono a atentarPara as mil srdidas imagensQue tua alma estruturavame que noite se revelavam

    No teto a revolutear.E quando o mundo regressava:A luz filtrando pelas frestasNa calha chilreando os pardaisLigaste rua vises taisQue mal a rua compreende;No leito posta de travs,Teus papelotes retiravas,Ou com as mos sujas agarravasA planta amarela dos ps.

    Que atrs de um quarteiro se apaga,Ou por tenazes ps calcada

    Das quatro s cinco e cinco s seis;E os dedos curtos e os cachimbosE os jornais da tarde e o olharSeguro de certas certezas;E a conscincia de uma ruaEnegrecida e na impacinciaDe o mundo assumir, apresar.

    Movem-me sonhos que envolvem essasImagens e aderem: a nooDe algo suave infinitamenteE sofrendo infinitamente.

    Esfregue as mos na boca e ria;Os mundos giram como velhasCatando lenha em cho baldio.

    4ua alma fixada no cu

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    LA FIGLIA CHE PIANGE

    Detm-te no mais alto lance das escadas . . .

    A uma uma apoiada . . .Em teus cabelos tece, tece a luz do sol . . .Tuas flores une a ti com surpresa magoada . . .Arremessa-as no cho e volta-te,No olhar fugidia revolta:

    Mas nos cabelos tece, tece a luz do sol.

    Eu o teria feito assim partirE a ela assim estar de p a se afligir,Assim teria ele partidoComo a alma deixa o corpo macerado, rompido,Como o esprito abandona o corpo que exauriu.

    Eu deveria encontrarUm caminho incomparavelmente claro e sutilUm caminho de mtua compreenso, simplesE sem f como um sorriso ou um aperto de mo.

    Ela partiu, mas com a estao do outonoPor muitos, muitos dias, muitas horas,Meu pensamento veio dominar:Cabelos sobre os braos e entre os braos flores. Juntos e como? fico a imaginar.Eu devo ter perdido um gesto, uma atitude.Essas cogitaes me vm amide intrigarA meia-noite em tumulto e o meio dia em quietude.

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    ARA VOS PREC OU POEMAS o 1920

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    Thou hast nor youth nor ageBut as it were an after dinner deep

    Dreaming o f both. 1

    GERONTION

    Aqui estou, homem velho em um ms seco,^ Ouvindo a leitura que um jovem me faz

    E a esperar pela chuva.No estive nos portes ardentes, nem a lutar 2Na chuva quente ou na salina enterrado at os joelhos,Empunhando um cutelo, combatido e por moscas mordido.Minha casa uma casa em runa. E o judeuAcaapado ao peitoril o dono, geradoEm algum botequim de Anturpia, empustuladoEm Bruxelas, remendado e escamado em Londres.De noite a cabra tosse campo acima;Pedras, musgo, saio, ferragens, merds.

    Cuida a mulher da cozinha, faz ch,Espirra ao anoitecer, cutuca a teimosa calha.Eu, um velho,Cabea lerda entre espaos batidos de vento.

    Sinais so tidos por milagres. Um sinal veramos!A palavra dentro da palavra, incapaz de dizer palavra,3Em cueiro de trevas. Na adolescncia do ano Veio Cristo o tigre

    Em maio corrupto: cornisos e castanhas, olaias floridas,

    Para ser comido, partilhado, bebidoEntre sussurros; pelo Sr. SilveroCom mos cariciosas, em LimogesQue no aposento vizinho andou toda a noite;Por Hakagawa, curvando-se entre os Ticianos;Por madame de Tornquist, no quarto escuroMovendo velas; fralen von KulpQue se voltou no hall, mo porta. Vazias laadeirasTecem o vento. No tenho espectros,

    Um velho em casa de correntes de arSob um cmoro batido de ventos.

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    Aps tal conhecimento, que perdo? Agora pensaTem a Histria passagens sutis, sadas,Corredores engendrados; ilude com murmurantesAmbies, guia-nos pela vaidade. Pensa agoraEla d quando nossa ateno distrada

    E o que d com to malevel confusoQue a ddiva o sfrego esfomeia. D muito tardeAquilo em que j no se cr, ou se ainda cridoNo mais que lembrana, paixo reconsiderada.D cedo demais a fracas mos, o que se julgavaPoder dispensarAt que a recusa gera o medo. PensaNo nos salvam coragem nem temor. Vcios anaturaisSo fruto do nosso herosmo. Virtudes nos so impostas

    Por nossos crimes impudentes.Foi esse pranto arrancado da rvore da clera.

    O tigre salta no novo ano. E nos devora. Pensa enfim'No chegamos a uma concluso, quando euMe entDrpeo em casa de aluguel. Pensa enfimEssa exposio no a fiz sem propsito Nem sob instigao de demnios decadentes.

    Nisso eu queria encontrar-te honestamente.Intimo de teu corao fui dali afastado

    Para a beleza perder no terror e o terror na inquisio.Perdi minha paixo: por que a guardariaSe o que guardado se adultera?Perdi vista, olfato, ouvido, paladar e tato:Como us-los para teu mais prximo contato?

    Tais consideraes e cem pequenas outrasProlongam o usufruir de seu frio delrio,Excitam a mucosa quando o sentido gelou,Com molhos acres, desdobrando aspectosEm um ermo de espelhos. A aranha que far,Suspender o trabalho, a broca tardar?De Bailhache, Fresca, a sra. Cammel, turbilhonadosAlm do crculo da Ursa trmulaEm fracionados tomos. Gaivota contra o vento,Nos tempestuosos estreitos de Belle Isle,Ou correndo no Hom, penas brancas na neve, o Golfo reclama, E um homem velho impelido pelos ventos alsios 4

    Para um canto letrgico.Ocupantes da casa,Idias de mente rida em rida estao.

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    And w h e n this epistle is read among you, cause thatit be read also in th e church o f th e Laodiceans. 1

    0 HIPOPTAMO

    go de costas o hipoptamo

    Conquanto nos parea rijo meramente carne e sangue.

    Carne e sangue: fragilidadeA choques nervosos sensvel;Enquanto a Igreja se aliceraNa prpria rocha. infalvel.

    O passo dbil do hipoptamoErra em demandas materiais;A Verdadeira Igreja colheSem se mover seus capitais.

    Jamais os frutos da mangueiraPode o hipoptamo alcanar;Roms, damascos, refrigeramA Igreja e chegam de alm mar.

    Trai o hipoptamo no cioA voz roufenha e singular;Cada semana a Igreja ouvimosNa unio com Deus rejubilar.

    De dia o hipoptamo dorme; noite caa e se alimenta;A ao de Deus misteriosa-Dormindo a Igreja se sustenta.

    Repousa, de ventre, no mangue.

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    Vi o hipoptamo com asasSubindo de midas savanas;Em torno dele um coro de anjosLouvava a Deus cantando hosanas.

    Divino sangue o lavar,Celeste abrao o envolver,Por entre os santos ficarTocando uma harpa de ouro.

    Lavado, branco, as virgens mrtiresTodas, no cu, o iro beijar;Enquanto a Igreja fica, embaixo,No velho miasma a se enroscar. 2

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    SWEENEY ENTRE OS ROUXINIS

    Apeneck Sweeney relaxa os joelhos 2E os braos pende, s gargalhadas;

    Abrem-se manchas de girafa

    Em sua mandbula zebrada.

    Flui a oeste a lua tempestuosa;O Prata sua direo,

    A Morte e o Corvo planam e SweeneyGuarda o corngero porto. 3

    Velam-se o Co e o rion sinistro;

    Silencioso reflui o mar;De capa espanhola, nos joelhosDe Sweeney, algum se quer sentar.

    Resvala e a toalha da mesaVem com ela; uma xcara vira.Se recompe sobre o assoalhoE bocejando a meia estira;

    Derreado, janela, boquiabre-se0 homem calado e de marrom;Figos, roms, uvas de estufa E pssegos traz o garom;

    O vertebrado de marromSe encolhe, atenta e sai; com garras

    Mortferas, Dbora neRabinovitch uvas agarra.

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    So ela e a senhora da capaSuspeitas, talvez formem liga;Por isso o homem de olhos pesadosRecusa o gambito: fadiga;

    Da sala sai mas reapareceDe fora, janela, inclinado,Por entre ramos de glicniaEnquadra-se um rctus dourado;

    Na porta, com algum indistinto,Conversa parte o anfitrio;Rouxinis cantam no Conven- 4

    to do Sagrado Corao;

    Tambm cantaram no sangrentoBosque onde Agammnon bradou;E salpicaram as fluidas tezesNo vil lenol que o amortalhou.

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    A TERRA GASTA o 1922

    "Nam Sibyllam quidem Cumis ego ipse oculis meis vidi in ampulla pendere, et cum illi pueri dicerent: t i Xeis;respondebat illa: -nodavev 0Xco. 1

    Para Ezra Poundil miglior fabbro

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    I - 0 ENTERRO DOS MORTOS

    Abril o mais cruel dos meses, germinando- tV Lilases na terra morta, misturando

    Lembranas e desejos, excitandoCom chuva primaveril a trpida raiz.Aquecia-nos o inverno recobrindoA terra de esquecedora neve, alimentandoCom tubrculos secos vida mnima.O vero nos surpreendeu, com chuvasSobre o Starnbergersee; na colunata paramos 1E com o sol prosseguimos Hofgarten a dentroE tomamos caf e conversamos.Bin gar keine Russin, stammaus Litauen, echt deutsch. E quando crianas, visitandoO arquiduque, meu primo, com ele andeiDe tren. E tive medo. Ele disse, Maria,Maria, segure firme. E descemos,Nas montanhas, l nos sentimos livres.Leio, quase toda a noite, e no inverno vou ao sul.

    Que razes brotam, que ramos grimpamDesse entulho pedregoso? Filho do homem,Dizer ou supor no podes, s conhecesUm feixe de imagens quebradas batidas de sol;E a rvore morta no d asilo, o grilo, alvioE a pedra seca nenhum murmrio de gua.H sombra apenas sob essa rocha vermelha,2(Vem para a sombra da rocha vermelha),E te mostrarei qualquer coisa diferente

    Da sombra que atrs de ti caminha de manhOu da que tarde se ergue ao teu encontro;O medo mostrarei em um punhado de p.

    Frisch weht der Wind

    Der Heimat zu:

    Mein irisch Kind,

    Wo weilest du?

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    H um ano me deste os primeiros jacintosE a moa dos jacintos me chamaram. - No entantoQuando voltamos, tarde, do jardim dos jacintos,Teus braos cheios, teus cabelos midos,Falar no pude, os olhos me faltaram,Nem vivo nem morto eu estava e nada sabia,

    No mago da luz contemplando o silncio.Oed und leer das Meer.

    Madame Sosostss, famosa clarividente,Estava seriamente resfriada, no obstante ser consideradaA mais sbia mulher em toda a Europa,Com um malicioso baralho. Aqui, ela diz, est sua carta,0 Marinheiro Fencio afogado, 3(Those are pearls that were his eyes. Olhe!)4

    Aqui est Beladona, a Dama dos Rochedos,A dama das circunstncias. Aqui estO homem com trs bordes e aqui a Roda

    E aqui o mercador caolho. Esta carta que branca alguma coisa que ele leva s costasMas que me proibido olhar. No encontro0 Enforcado. Tenha medo da morte pela gua.Vejomultides caminhando em um crculo.Obrigada. Encontrando a sra. Equitone

    - Diga-lhe que o horscopo eu mesma o levarei:Hoje em dia preciso ter cautela.

    Cidade irreal,Sob o escuro nevoeiro da aurora hibernai,Flua a multido sobre a Ponte de Londres, tantos,Jamais pensei que a morte tantos houvesse desfeito. Raros, curtos suspiros e cada homem Os olhos fixos nos ps.

    Fluam morro acima e King William Street abaixo,Para onde Saint Mary Woolnoth assinalava as horas Com surdo som no extremo soar das nove.5Eis vejo um conhecido; paro-o e grito: Stetson! 6Tu que estavas comigo nos barcos em Mylae!70 cadver que o ano passado em teu jardim plantasteComeou a brotar? Dar flores este ano?Ou a sbita geada o leito perturbou-lhe?Oh, guarda o Co distncia, amigo dos homens,8

    Ou com as unhas o desenterrar!Tu! hypocrite lecteur! mon semblable, mon frre!

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    II - UMA PARTIDA DE XADREZ

    The Chair she sat in, like a burnished throne,1Refulgia no mrmore onde o espelho,Em suportes lavrados com parras e uvasDe onde espreitava um Cupido dourado(E um outro escondia os olhos sob a asa)Duplicava de um lustre as sete chamasReverberando sobre a mesa a luzComo se ao encontro dessa luz se erguesseO resplendor das jias emanadoEm profuso de estojos de cetim.Frascos de vidro e de marfim, abertos,

    Ocultavam perfumes estranhos, sintticos,Em p, fluidos, em pasta pertubavam,Confundiam, afogavam os sentidos em aromasQue subindo com a brisa da janelaEncorpavam no lustre as sete chamasE espargindo vapores no laquearAnimavam os desenhos do teto de entalheToras vindas do mar, contendo cobre, flamejavam 2Alaranjado e verde, entre pedras de cor;

    Na luz triste nadava um delfim cinzelado.Sobre a antiga estrutura da lareira via-se,Como janela a abrir para cena silvestre,Filomena (a metamorfose) a violentadaPelo brbaro rei; no entanto o rouxinol Com voz inviolvel o deserto enchiaE sem cessar chorava e ainda segue o mundoJug Jug para ouvidos imundos. 3E outros fanados tronchos do tempo pendiam

    Das paredes; figuras de olhos fixos Inclinadas, o silncio impunham.Pela escada passos se enredavam. luz do fogo,Sob a escova, seus cabelos, dardos luminosos,Em expresses ardentes se espalhavamPara depois cair em quietao selvagem.

    Estou com os nervos tensos esta noite. Sim, tensos.Fique comigo. Fale comigo. Voc nunca fala. Fale.

    Em que voc est pensando? Que pensa? Que?Eu nunca sei o que voc est pensando. Pense.

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    Penso que estamos na viela dos ratosOnde os mortos perderam os ossos.

    Que rudo esse?O vento sob a porta.

    Que rudo esse agora? Que est fazendo o vento? Nada outra vez nada. 120Voc

    Nada sabe? Nada v? De nadaSe lembra?

    Eu me lembroThose are pearls that were his eyes.Voc est vivo, ou no? Nada tem na cabea?

    Somente esse farrapo shakespeherian . . .4 to eleganteTo inteligente 130Que farei agora? Que farei?Correrei para fora como estou e andarei na ruaCom os cabelos soltos assim. Que faremos amanh?Que faremos sempre?

    gua quente s dez.

    E se chover, carro fechado s quatro.E jogaremos uma partida de xadrez,Comprimindo os olhos sem plpebras e esperando uma batida na porta.

    Quando o marido de Lil deu baixa eu disse . . .No duro, eu disse pra ela, eu,FAVOR EST NA HORA 5Agora que Alberto chega v se te arranja um pouco.Ele vai perguntar o que voc fez do dinheiro que te deuPros dentes. Deu, eu estava 11Arranque tudo Lii, pe uma dentadura bacana.Ele disse, juro: no aguento olhar pra voc.E eu disse: nem eu aguento mais; e pense no pobre Alberto Quatro anos de exrcito, quer aproveitar;E se voc no d o qu ele quer outras do, eu disse.Oh, assim, ela disse. Coisa que o valha, respondi

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    Muito obrigada, ela disse e me encarou.

    FAVOR EST NA HORAMesmo sem gostar v em frente, eu disse.Outras podem pegar o que voc nao quer.

    Mas se Alberto te d o fora no por falta de aviso.Voc devia ter vergonha, eu disse, de parecer to velha.E ela s com trinta e ura.E da? ela disse e fechou a cara. das plulas que eu tomei pra botar fora.(Ela j teve cinco e quase morreu do Jorginho)O farmacutico falou que ia dar certo mas nunca mais fui a mesma.Voc mesmo uma doida, eu disse.

    Se Alberto no te deixa em paz isso, eu disse,Pra que casou se no quer filhos?FAVOR EST NA HORABem, quando Alberto voltou, no domingo, tiveram um presunto quente6E me convidaram pra jantar, pra ver a beleza dele quente. . .FAVOR EST NA HORAFAVOR EST NA HORABa noite Bill. Ba noite Lou. Ba noite May. Ba noite.Tchau. Ba noite. Ba noite.

    Good night, ladies, good night, sweet ladies, good night, good night.7

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    III -0 SERMO DE FOGO

    Rompeu-se o dossel do rio: os dedos ltimos das folhas

    Agarram-se e na margem mida submergem. O ventoCruza silente a terra parda.. Foram-se as ninfas.Sweet Th ames, run softly, till I end my song.1No leva o rio caixas, papis de sanduches,Lenos de seda, garrafas vazias, pontas de cigarro,Testemunhos das noites de vero. Foram-se as ninfas.E seus amigos, os vadios herdeiros dos magnatas, 180Partiram sem deixar os endereos.s margens do Leman me sentei e chorei . . 2

    Sweet Thames, run softly, till I end my song,Suave, pois meu falar no ser alto ou longo.Mas em fria rajada em minhas costas ouoO riso que se estende de um ao outro ouvido e a matraca dos ossos.Entre a vegetao um rato deslizouRojando pela margem seu ventre viscosoEnquanto no canal me encontrava a pescar 3Numa tarde hibernai por detrs do gasmetro 190E a pensar no naufrgio do rei meu irmo

    E na morte, antes dele, de meu pai o reiNa terra mida e rasa corpos brancos despidosE em rido e baixo sto ossos atiradosChocalhados pelo p do rato, ano aps ano.Mas ouo vez por outra atrs de mim chegarSons de trompas e carros que na primaveraVm trazer Sweeney sra. Porter.O the moon shone bright on Mrs. Porter 4And on her daughter 200

    They wash their feet in soda waterEt O ces voix denfants, chantant dans la coupole!

    Tuit tuit tuit

    Jug, Jug, jug, jug, jug, jug 5

    To barbramente violada 6Tereu

    Cidade irreal

    Num meio-dia hibernai, sob escura neblina,O sr. Eugnides, comerciante de Esmima

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    A barba por fazer, bolsos cheios de passas,C.i.f. Londres: documentos vista, 7Convidou-me em demtico francsPara almoar no Hotel Cannon StreetE passar, a seguir, dois dias no Metrpole.

    hora violcea, quando os olhos e a espinhaSe erguem da escrivaninha e a mquina humana esperaComo um txi pulsando, esperando,Eu, Tirsias, embora cego, entre duas vidas palpitando,Homem velho de peitos feminis rugados, posso verNa hora violcea, a hora vespertina que impulsoRumo ao lar e do mar traz de volta o marinheiro;De volta a datilgrafa que, hora do ch,Limpa a mesa do almoo, o fogo acende, e prepara enlatados.

    Secam janela fora, perigosamente,Combinaes tocadas pelo sol poente;Empilhados na cama (durante o dia div)Meias, chinelos, camisolas, soutiens.Eu Tirsias, velho de tetas enrugadas,Percebi a cena e pressagiei o resto . . .Pelo hspede esperado fico eu tambm a esperar.Ei-lo que chega, o jovem carbunculosoEscriturrio de pequena agncia, de audacioso olhar,Um subalterno em quem a segurana assentaComo chapu de seda em milionrioDe Bradford. E propcia (e ele o presume) a ocasio: 8Ela enfadada e lassa aps a refeio . . .Atra-la procura com carciasQue se indesejadas no so reprovadas.Decidido e inflamado assalta de imediato;A sondagem das mos no encontra defesa;

    No reclama resposta a sua presunoE julga aprovao a indiferena.(E ante-sofri, eu Tirsias, tudo issoQue executado foi nesse sof ou cama; eu que Junto aos muros de Tebas me senteiE entre os ltimos mortos caminhei.)Um beijo complacente como despedidaE na escada sem luz vai tatear a sada . . .

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    Ela se volta e o espelho fita por um instante,Mal percebendo a partida do amante;Sua mente lhe permite um meio pensamento:Bem, j est feito e alegro-me, passou.

    When lovely woman stoops to folly e no momento 9Que anda a ss no quarto novamenteOs cabelos alisa automaticamenteE a vitrola vai por em movimento

    "r |~'his music crept by me upon the waters 10A E pela Strand subia Queen Victoria Street H

    Cidade cidade, alcanam-me os ouvidos 12Prximo a um bar na Lower Thames Street,

    O grato lamentar de um bandolinoE o alarido e o rudo vindos do interior L onde pescadores flanam sol a pinoE os muros de Magnus Martyr em jnico ouro e branco 13Brilham com inexplicvel esplendor.

    O rio transpira

    Alcatro e pezDerivam barcaasDa mar ao revsE velas rubrasTufadasOscilam a sotavento na verga pesada.As barcaas lavamToras derivandoRumo a Greenwich,

    A Ilha dos Ces ultrapassandoWeialala leiaWallala leialala

    Elizabeth e LeicesterOs remos batendo A popa formavalima concha douradaurea e vermelha

    A viva ondulao

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    As margens eriava0 vento sudoesteLevava rio abaixoRepiques de sinosAlvas torres

    Weialala leiaWallala leialala

    rvores poeirentas, carris.14Highbury me nutriu. Richmond e KewDestruiram-me. Ante Richmond os joelhos erguiNo fundo de estreita canoa, supina.

    Meus ps em Moorgate esto 15E sob os ps meu corao.Aps o evento ele chorou. Prometeu recomear.E eu nada dizia. Por que me ressentiria?

    Nas areias de Margate.Nada posso encadearA nada.As unhas partidas de mos no lavadas.

    Minha gente humilde gente que no esperaNada.l l

    A Cartago ento cheguei

    Queimando queimando queimando queimando Senhor me arrebatas Senhor arrebatas

    queimando

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    Flebas o fencio, h quinze dias morto,

    Esqueceu o grito da gaivota, o inflar do mar profundo E os lucros e perdas.

    Uma corrente submarina murmurandoSeus ossos rcolheu. Imergindo e aflorandoFlebas ultrapassou velhice e mocidade

    E na voragem se perdeu.

    Judeu ou gentioO tu que a roda giras e a barlavento olhas Pensa em FlebasUm dia teu igual em estatura e linhagem.

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    Depois da luz rubra do archote nas faces suarentas Depois do glacial silncio nos jardinsDepois da agonia nos stios pedregososBrado e clamorCrcere e palcio e reverberaoDo trovo da primavera nas serras distantesEle que vivia est agora mortoNs que vivamos estamos morrendo agoraCom um pouco de pacincia

    Aqui no h gua mas apenas rocha Rocha e no gua e a estrada de areiaEstrada que nas montanhas serpenteiaMontanhas de rocha sem guaSe houvesse gua poderamos parar e beberEm meio rocha impossvel deter-se ou pensarO suor seco e os ps entram na areiaSe ao menos gua houvesse em meio rocha Montanha morta cariada boca sem saliva

    Aqui no se pode parar sentar ou repousarNas montanhas no h nem ao menos silncioMas seco sem chuva estril o trovoNas montanhas nem mesmo h solidoMas rubras sombrias faces chacoteando, rosnando,Nas portas das casas de barro gretado

    Se gua houvesse

    E no rocha

    Se houvesse rochaE tambm guaE guaUma fonteUma poa em meio rochaSe ao menos som de gua houvesseNo a cigarraE a grama seca sibilandoMas murmrio de gua em um rochedo

    Onde entre pinheiros canta o tordo

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    Drip drop drip drop drop drop drop

    Mas gua no h

    3uem caminha a teu lado esse terceiro?

    Quando co nt o, h apenas jun tos eu e tu 360

    Mas se frente contemplo a estrada branca

    H sempre mais algum caminhando a teu lado

    Deslizando envolto em um manto pardo,

    Encapuzado, no sei se homem ou se mulherMas quem esse do teu outro lado?

    Que som esse nas alturasMurmrio de lamento maternal

    E essas encapuzadas hordas enxameandoEm infindveis plancies, tropeandoEm cho gretado circundado apenas do ho rizonte raso 370

    Qual a cidade alm montanhasQue se fende e refaz e explode no ar violceoTorres caindo

    Jerusalm Atenas AlexandriaViena LondresIrreal

    A mulher esticando os longos cabelos negrosVibrava nessas cordas msica em surdinaE morcegos com face de crianaSilvavam na luz viol cea e as asas batiam 380

    E muro negro abaixo a cabea arrastavam.

    No ar invertidas torres tangiamOs sinos evocativos das horasE vozes emergiam cantando de cisternas vazias e poos exaustos.

    Nesse arruinado fosso entre montanhasSibila a relva ao plido luar,Sobre campas revoltas, junto da capela

    A capela vazia, onde s habita o vento.

    A porta oscila, no h ianela,

    A ningum causam danos ossos secos. 390

    S um galo pousado no telhadoCocoric cocoricAo claro de um relmpago. Ento

    Trazendo chuva, mida rajada

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    Baixara o Ganga e as lnguidas folhas 1Aguardavam a chuva enquanto nuvens negrasCongregavam-se ao longe por sobre o Himavant. 2A jngal se abaixava, corcoveava em silncio.Ento disse o trovoDADatta: que demos ns?Amigo, sangue pulsando em meu corao,

    A ousadia terrvel da renncia de um momentoQue um sculo de prudncia no pode revogarPor isso, e isso apenas, existimos

    O que no encontrado em nosso obiturio

    Ou nas memrias que a aranha caridosa drapejaOu sob os selos rompidos pelo esguio procuradorEm nossos quartos vaziosDADayadhvam: Ouvi a chaveGirar na porta uma vez e apenas umaPensamos na chave, cada um em seu crcerePensando na chave, cada um confirma um crcereSomente ao crepsculo, rumores etreos

    Revivem um momento um Coriolano vencidoDADamyata: 0 barco respondeuJovial, mo experiente em remo e velaTranqilo estava o mar e ao convite, alegremente,Teu corao teria respondidoPulsando obediente a mos controladoras

    A pescar na margem me sentei

    Atrs de mim a rida planciePorei ao menos ordem em minhas terras?London Bridge is falling down falling dow falling down 3Poi sascose nel foco che gli affinaQuando fiam uti chelidon 0 andorinha andorinhaLe Prince dAquitaine la tour abolieNesses fragmentos apoiei minhas runas4Why then 11c fit you. Hieronymos mad againe.5

    Datta. Dayadhvam, Damyata

    Shantih shantih shantih

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    NOTAS SOBRE A TE RRA GASTA *

    No somente o ttulo, mas o plano e boa parte do simbolismo incidental do poema foram sugeridospelo livro de miss Jessie L. Weston sobre a lenda do Gral: From Ritual to Romanc e (Cambridge). Em verdade sou to devedor que o livro de miss Weston elucidar as dificuldades do poema muito melhor do que o podero fazer as minhas notas e eu o recomendo (alm do grande interesse do prprio livro)

    a quem julgar que tal elucidao valha o esforo. A um outro trabalho de antropologia, que influenciou profundamente a nossa gerao, tambm sou, de modo geral, devedor: refiro-me a The Golden Bough;usei particularmente os dois volumes Adonis , A tti s , Osiris. Os que esto familiarizados com esses trabalhos reconhecero imediatamente no poema certas referncias s cerimnias da vegetao.

    I. ENTERRO DOS MORTOS

    Linha 20. Cf Ezequiel, 11, i.23. Cf. Eclesiastes, XII, v.31. V. Tristan undIsolde, I, versos 5-8.

    42. Id em III, verso 24.46. No estou familiarizado com a exata constituio do baralho Tarot, do qual obviamente me afas

    tei, adaptando-o minha convenincia. O Enforcado, uma figura do baralho tradicional, serviu, por duas razes, ao meu intento: por estar em meu pensamento ligado ao Hanged God,de Frazere porque eu o associo figura encapuzada na passagem dos d iscpulos em Emas na Parte V. O Marinheiro Fen -cio e o Mercador aparecem mais tarde; tambm as multides, e Morte pela gua que se opera na parte IV. O Homem dos Trs Bordes (autntica figura do baralho Tarot) est muito arbitrariamente associado ao prprio Rei Pescador.

    60. Cf Baudelaire:Fourmillante cit, cit pleine de rves,O le spectre en piein jour raccroche le passant.

    63. Cf. Inferno, III, 55-57:

    si lunga trattadi gente, chio non avrei mai creduto che morte tanta navesse disfatta.

    64. Cf. In ferno, IV, 25-27:Quivi, secondo che per ascoltare, non avea pianto, mache di sospiri,

    che 1aura eterna facevan tremare.

    68. Um fenmeno que muitas vezes notei.

    74. Cf. a endecha em White Devil, de Webster.

    76. V. Baudelaire, prefcio de Fleurs du Mal.

    II. UMA PARTIDA DE XADREZ

    77. Cf. A n to n y and Cleopatra, II, ii, 1. 190.

    * Essas notas so d T .S . Eliot e foram sempre publicadas nas edies inglesas de The Waste Land.Relacionam-se com a numerao das margens. Os nmeros unidos aos versos correspondem s notasda tradutora.

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    92. Laquearia. V. Eneida, I, 726: dependant lychni laqueaiibus aureis incensi, et noctem flammis funalia vincunt

    98.Cena silvestre. V. Milton, Paiadise Lost, IV. 140.

    99. V. Ovdio, Metam orfoses, VI, Filomela.

    100. a . Parte III, 1. 204.

    115. a . Parte III, 1. 195.

    118. Cf. Webster. Is the w ind in that doo r still? Est o vento ainda nessa po rta ?

    126 . a . Parte 1 ,1 .3 7 ,48 .

    138. Cf. o jogo d e xadrez em Women beware Women,de Middleton.

    III. O SERMO DE FOGO

    176. V. Spenser, Pro thalam ion.

    192. Cf. The Tempest, I, ii.

    196. Cf. Marvell, To His C oy Mistress.

    197. Cf. Day, Pa rliament o fB ees:When of the sudden, listening, you shall hear, / A noise of homs and hunting, which shall bring /

    Actaeon to Diana in the spring, / Where ali shall see her naked skin.. .(Quando, de sbito, ouvirs/ um rudo de caa e trompas que trar/ na primavera Acteo a Diana/cuja pele todos vero nu a .. . )

    199. No conheo a origem da balada da qual foram extradas essas linhas: dela tive conhecimento de Sdnei, Austrlia.

    202. V. Veriame,Parsifal.

    21 0. As passas eram cotadas com frete e seguro pagos para Londres ; e o conhecimento de embarque,etc. eram entregues ao comprador contra pagamento de saque vista.

    218. Tirsias, conquanto mero espectador e no verdadeiramente um personagem", contudo amais importante figura no poema, unindo todas as outras. Da mesma forma que o mercador caolho , vendedor de passa, se funde no Marinheiro Fencio e este ltimo no inteiramente distinto de Fernando, Prncipe de Npoles, todas as mulheres so uma nica mulher e os dois sexos se encntram em Tirsias.O que Tirsias v, realmente, a substncia do poema. A passagem toda de Ovdio de grande interesse antropolgico:. . . Cum Iunone iocos et maior vestra profec to est

    Quam, quae contingit maribus, dixisse, voluptas.Illa negat; placuit quae sit setentia docti Quaerere Tiresia: venus huic erat utraque nota.

    Nam duo magnorum viridi coeuntia silvaCorpora serpentum baculi violaverat ictuDeque viro factus, mirabile, femina septem

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    357. esse o tu rdus aonalaschkae pallasii, o tordo ermito, que eu ouvi na provncia de Quebec. Diz Chapman (Handbook o f Birds o f Eastern N orth A merica): habita, de preferncia, as matas solitrias e os retiros do s bosques cerrados. . . Suas notas no se destacam pelas variaes ou volume; mas pelapureza, primorosa modulao e suavidade tonal so inigualveis. Seu canto de gotas de gua , com justia, famoso.

    360. Os versos que se seguem foram inspirados pela descrio de uma das expedies antrticas (no

    me recordo qual, mas creio tratar-se de uma de Shackleton): foi narrado que parte dos exploradores,no limite de suas foras, tinham a_constante iluso de que havia mais um elem en to que poderia, realmente, ser contado.

    366-76. Cf. Hermann Hesse, Blick ins Chaos: Schon ist halb Europa, schon st zumindest der halbe Osten Europas auf dem Wege zum Chaos, fhrt betrunken im heiligen Wahn am Abgrund entlang und singt dazu, singt betrunken und hymnisch wie Dmitri Karamasoff sang. Ueber diese Lieder lacht der Brger beleidigt, der Heilige und Seher hrt sie mit Trnen.

    401. Datta, dayadhvam, damyata (D, comparticipa, controla). A fbula sobre o significado do

    trovo encontrada no Brihadaranyaka Upanishad, 5,1. H uma traduo em Sechzig Upanishadsdes Veda (p. 489), de Deussen.

    407. Cf. Webster, The White Devil, V, vi:. . theyI] remarry

    Ere the worm pierce your winding-sheet, ere the spiderMake a thin curtain for your epitaphs.(. . . casar-se-o outia vez antes que o caruncho perfure vossa mortalha, antes que a aranha tea uma tnue cortina para vossos epitfios.)

    411. Cf. In ferno, XXX1I1, 46:

    ed io sentii chiavar luscio di sot to airorribile torre.

    Tambm F.H. Bradley, Appearance and Reali ty , p, 346.

    Minhas sensaes exteriores no so m enos restritas a minh pessoa do que o so meus pensamentos e sen timentos. Em qualquer dos casos minha experincia acontece dentro de meu prprio crculo, um crculo fechado para o exterior; e, com todos os seus elementos similares, cada esfera c opaca para as outras que a rodeiam. . . Em resumo, considerado como existncia em uma alma, o mundo todo, para cada um, peculiar e privativo dessa alma.

    424. V. Weston: From Ritual to Rom ance; captulo sobre o Rei Pescador.

    427. V. Purgatrio, XXVI, 148.Ara vos prec pei aquella valorque vos guida al som de 1escalina, sovegna vos a temps de ma dolor.Poi sascose nel foco che gli affina.

    428. V. Pervigilium Veneris.Cf. Filomela nas Partes II e III.

    429. V. Grard de Nerval, soneto E l Desdichada.

    431. V. Kyd: Spanish Tragedy.

    433. Shantih. Repetido como aqui o termo a concluso ritual de um Upanishad. A Paz qu e trans- cede o en tend im en to seria o equivalente, entre ns, a essas palavras.

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    Egerat autumnos; octa vo rursus eosdem Vidit et est vestrae si tanta potentia plagae,Dixit ut auctoris sortem in contraria mutet,Nunc quoque vos feriam! percussis anguibus isdemForm a prior rediit genetivaque venit imago.Arbiter hic igitur sumptus de lite iocosa Dieta lovis firmat; gravius Saturnia iusto

    Nec pro matria fertur doluisse suique Iudicis aetema damnavit lumina n octe,At pater omnipotens (neque enim licet inrita cuiquam Facta dei fecisse deo) pro lumine adempto Scire futura dedit poenamque levavit honore.

    221. Isso pode no parecer to preciso como os versos de Safo, mas eu tinha em mente o pescador costeiro ou do barco a remo, que volta ao anoitecer.

    253. V. Goldsmith, a cano em The Vicar o f Wakefield.

    257. V. The Tempest, como acima.

    264. O interior de St. Magnus Martyr , em minha opinio, um dos mais belos interiores de Wren.Ver The Proposed Dem olition o f Nineteen City Churches: (P. S. King & Son, Ltd.).

    266. A cano das (trs) filhas do Tmisa aqui se inicia. Do verso 292 ao 306 inclusive, elas falamalternadamente. V. Gotterdmmerung, III, i: as filhas do Reno.

    279. V. Froude, Eliza be th , vol. I, cap. iv, carta de De Quadra a Filipe de Espanha: tarde estvamos em uma embarcao, assistindo aofe jogos no rio. (A rainha) achava-se sozinha comigo

    e lorde Robert, na popa, quando os dois comearam a gracejar e to longe foram que lorde Robert por fim disse, enquanto eu me sentia em posio difcil, no haver razo por que no se casassem, se isso fosse do agrado da rainha.

    293. Cf. Purgatrio, V. 133:Ricorditi di me, che son la Pia;Siena mi fe, disfecemi Maremma.

    307. V. Santo Agostinho, Confisses: chequei ento a Cartago onde uma caldeira de amor profano zumbia de todos os lados em meus ouvidos.

    308. O texto completo do Sermo de Fogo, de Buda (que corresponde em importncia ao Sermo da Montanha) de onde foram tiradas essas palavras, poder ser encontrado em traduo para o ingls em Buddthism in Translation (Harvard Oriental Series), de Henry Clarke Warren, um dos grandes pioneiros dos estudos budistas no Ocidente.

    309. De Santo Agostinho, Confisses, outra vez. A utilizao desses dois representantes do ascetismo do oriente e do ociden te c omo culminao dessa parte do poema no acidental.

    V. O QUE DISSE O TROVO

    Na primeira seo da Parte V trs temas so utilizados: a jornada a Emas, a aproximao da CapelaPerigosa (ver o livro de miss Weston) e a atual decadncia da Europa oriental.

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    OS HOMENS OCOS o 1925

    Mistah Kurtz - he dead1

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    A penny for the Old Guy 2

    OS HOMENS OCOS

    1

    Ns somos os homens ocos Os homens estofadosUns aos outros apoiadosCrnio recheado d palha. Ai de ns!Em mtuos cochichosNossas vozes secasFrouxas sem sentidoS vento em capim secoPs de. rato pisandoVidro partidoEm nossa adega seca

    Figura sem forma, sombra sem cor,Fora entorpecida, gesto sem expresso;

    Os que cruzaram de olhos fixosPara o outro reino da morteLembram-se de ns se o fazem - No como almas perdidas, violentas,Mas como os homens ocos Os homens empalhados.

    2

    Olhos que encontrar no ousoEm sonhos, no aparecemNo reino-viso da morte:Ei-los, os olhos, luz do solNuma coluna em pedaosEis, uma rvore oscilando.E as vozes soNo cantar do ventoMais longnquas, mais solenesQue um estrela se apagando.

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    No me deixem entrar mais fundoNo reino-viso da morteE me permitam usarDeliberados disfarcesPelo de rato, pele de corvo,Varas cruzadas num campoAgindo como age o ventoNo mais fundo . . .

    No o encontro finalNo reino crepuscular

    3

    Esta a terra morta

    Esta a terra do cactoAqui imagens de pedra .

    So erguidas e recebemAs Splicas da mo de um morto luz de estrela fanada.

    assimNo outro reino da morteDespertando solitriosNa hora em que nos sentimosEstremecer de ternuraLbios ansiando por beijosOram pedra quebrada.

    4

    Os olhos no esto presentes

    Pois no h olhos aquiNo vale de astros agnicosNesta baixada vaziaNesta queixada partida de nossos perdidos reinos

    Neste lugar, o ltimo de encontros,

    Tateamos agrupadosE evitamos falarReunidos margem do rio tmido

    Cegos, a menosRessuijam-nos olhosComo a estrela imperecvelMultifoliada rosaDo reino crepuscularDa morte. A esperana nicaDos homens vazios.

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    qui vamos girar em tomo do cacto*. Em tomo do cacto em tomo do cactoAqui vamos girar em tomo do cactos cinco horas da manh.

    Entre o pensamentoE a realidadeEntre o impulsoE o atoCai a Sombra

    Pois Teu o Reino

    Entre a concepoE a criao

    Entre a emooE a respostaCai a Sombra

    Muito longa a vida

    Entre o desejoE o espasmoEntre a potnciaE a existnciaEntre a essnciaE a decadnciaCai a Sombra

    Pois Teu o Reino

    Pois Teu A vida Pois Teu o

    Assim que o mundo acaba

    Assim que o mundo acabaAssim que o mundo acabaNo com estrondo; com lamria. 3

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    QUARTA-FEIRA DE CINZAS o 1930

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    Porque no espero voltar outra vez 1Porque no esperoPorque no espero voltarE desse invejo os dons e daquele o alcance

    No mais porfiarei na porfa a tais coisas(Por que a velha guia estenderia as asas? )Lamentaria eu por queO extinto poder do reinado habitual?

    Porque outra vez conhecer no esperoA glria frgil da hora positivaPorque no conceboPorque bem sei que no conhecereiO verdadeiro poder transitrioPorque beber no possoL onde fontes fluem e rvores florescem, Pois nada se repete

    Porque sei que tempo sempre tempo

    E lugar sempre e somente lugarE o que real o apenas para um tempoE para um s lugarRejubilo-me de que as coisas sejam como soE renuncio face benditaRenuncio vozPorque um retorno esperar eu no possoRejubilo-me, tendo algo a edifcarCom que me rejubile

    rogo a Deus que se apiade de nsRogo que me permita esquecerQuestes comigo mesmo muito debatidasMuito explicadasPorque no espero voltar outra vezQue estas palavras fiquem em respostaPelo que est feito e feito no o ser outra vez

    Que a sentena no pese demasiado sobre ns

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    Porque estas asas j no so mais asas para o vo Mas simples batedores agitando o arO ar agora todo seco e limitadoMais seco e limitado que a vontadeFaze-nos no ter cuidados e cudar-nosEnsina-nos a calma.

    Roga por ns pecadores agora e na hora da nossa morte Roga por ns agora e na hore da nossa morte.

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    Senhora, trs leopardos brancos se reuniram sob um zimbroNa frescura do dia e saciedade se alimentaramDe minhas pernas, meu corao, meu fgado e do que estava contido No vazio esfrico de meu crnio. E Deus disseVivero esses ossos? Vivero

    Esses ossos? E o que estivera contidoNos ossos (j agora secos) afirmou chilreando:Pela bondade dessa SenhoraE por sua beleza e porque elaReverencia a Virgem em meditaoBrilhamos radiosamente. E eu que aqui estou dissimuladoMinhas obras oferto ao esquecimento e meu amor posteridade do deserto e aos frutos da cabaa. isso que resgata

    Minhas entranhas, as fibras de meus olhos e as partes indigestasQue os leopardos rejeitam. A Senhora afastou-seVestida de branco, para a meditao, vestida de branco.Para a brancura dos ossos a reparao no esquecimento.Neles no h vida. Como sou esquecidoE queria ser esquecido, tambm desejaria esquecer,Devotado, concentrado em meu desgnio. E Deus disse:Profetizai ao vento, ao vento apenas, pois s O vento ouvir. E os ossos cantaram chilreandoCom o estribilho dos gafanhotos, dizendo

    Senhora dos silncios Calma e angustiadaDilacerada e ntegraRosa da memria 2Rosa do esquecimento

    Exaurida e fonte de vidaAtormentada e tranqilaA nica RosaE agora o Jardim ondeFindam todos os amoresTormento terminadoDo amor insatisfeitoO tormento maiorDo amor satisfeito

    Fim do infindvel

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    Jornada ao sem fimConcluso de tudoO que inconclusvelLinguagem sem palavra ePalavra sem linguagemGraas Me

    Pelo JardimOnde todo amor termina.

    Sob um zimbro os ossos cantaram dispersos e brilhandoEstamos contentes dispersos, pouco bem fizemos uns aos outros, Sob uma rvore, na frescura do dia, com a beno da areia, Esquecidos de si e uns dos outros, unidos

    Na quietude do deserto. Essa a terra que vs Por sorteio dividireis. E nem diviso nem unidadeImportam. Essa a terra. Temos nossa herana.

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    Voltei-me na primeira curva do segundo lance 3

    E embaixo, ao alcance do olhar,Sob os vapores ftidos do arEstava a mesma forma ao corrimo cingida

    A lutar com o demnio das escadas que usa A enganosa face da esperana e da desesperana.

    Na segunda curva do segundo lanceDeixei-os a enroscar-se e a girar l embaixo;No havia mais faces e na escurido a escadaEra mida, dentada,Qual boca de ancio babujando, irreparvel,

    Ou a fauce eriada de velho tubaro.

    Havia na primeira curva do terceiro lanceUma seteira bojuda como um figoE alm do espinheiro em flor e da cena campestreO dorso largo de um vulto de verde e azul trajado 4Enfeitiando maio com uma flauta antiga.Suave o cabelo esvoaando, castanho a esvoaar sobre a boca

    Lils e cabelos castanhos;Abstrao, msica de flauta, a mente em paradas e passos rumo ao terceiro lance, A apagar-se, apagar-se; o esforo alm da esperanaE da desesperana escalando o terceiro lance.

    Senhor, eu no sou dignoSenhor, eu no sou digno

    mas dize a palavra, apenas.

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    Quem seguia entre a violeta e a violeta

    Quem seguiaPor entre as filas vrias de variados verdesDe azul e branco, as cores de Maria,

    De coisas triviais falandoIgnorando e conhecendo a eterna dorQuem entre os caminhantes se movia,Quem deu vigor s fontes, pureza s nascentes

    Deu rocha frescor, firmeza areiaDe azul delfim, azul cor de Maria,Sovegna vos

    Os anos sobrevm e levam para longeAs flautas e violinos, recompondoQuem se move no tempo entre sono e viglia trajando

    Luz branca em dobras, envolvida cm luz.Novos anos perpassam recompondobm uma nuvem~de pranto, iluminada,Os anos, recompondo

    Com um verso novo a rima ultrapassada.Redime o tempo. RedimeA viso indecifrada do sonho sublimeEnquanto o unicrnio ajaezado arrastaO atade dourado.

    A silenciosa irm de branco e azul velada Entre os teixos, alm do gnio do jardimCuja flauta sem hausto, a cabea inclinou, fez sinal

    Mas nenhuma palavra articulou

    Mas a fonte fluiu e o pssaro cantou Redime o tempo, redime o sonhoO penhor da palavra no ouvida, no falada

    At que do teixo o vento agite mil murmrios

    E depois desse nosso desterro

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    Se a palavra perdida est perdida,

    Se a dissipada palavra dissipada estSe a no ouvida, no faladaPalavra, est no falada nem ouvida;

    ainda a palavra no dita, o Verbo no ouvido,O Verbo sem palavra, o Verbo dentroDo mundo e para o mundo;E a luz brilhou na treva eContra o Verbo o inquieto mundo girou sem cessarEm redor do centro do Verbo silente.

    meu povo, que te fiz.

    Onde ser encontrada a palavra, onde a palavraRessoar? No aqui, no h bastante silencio No no mar, nas ilhas e noNos continentes, no deserto ou na regio da chuva.Pois para os que andam em meio s trevasSeja durante o dia seja durante a noiteNo aqui o tempo certo e o lugar certoNo h lugar da graa para os que evitam a faceNem tempo de alegrar-se para os que andam no tumulto e negam a voz

    Rogar a irm velaa per aquelesQue andam nas trevas, que te escolheram e a ti resistem,Os que esto dilacerados no corno entre estao e estao, tempo e tempo, Hora e hora, palavra e palavra, poder e poder, os que esperamNas trevas? Rogar a irm veladaPelas crianas n portoQue ir-se embora no querem e no podem rezar;

    Roga pelos que escolheram e resistem

    meu povo, que te fiz.

    Rogar a irm velada entre os esguios teixos Pelos que a ofenderamE esto aterrorizados e no podem capitularE ante o mundo afirmam e entre os penhascos negamNo ltimo deserto entre os azuis e ltimos penhascosO deserto no jardim o jardim no deserto

    Da sede, cuspindo da boca a ressequida semente de ma.

    meu povo.

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    Embora eu no espere voltar outra vez

    Embora eu no espereEmbora eu no espere voltar

    Flutuando entre lucros e perdas

    No breve transitar onde os sonhos se cruzamCrepsculo entrecruzado de sonhosEntre o nascer e o morrer (abenoa-me pai)Conquanto eu no deseje desejarDa ampla janela que defronta a praia de granitoAs brancas velas ainda voam para o mar,Asas no partidas demandando o mar

    E se alegra e enrijece o corao perdido

    Com as vozes do mar perdidas e o lils perdidoE o esprito fraco se anima a reivindicarA virgurea curva e o perdido perfume do marSe apressa a reaverO pio da codorna e o rodopio da narcejaE o olho cego criaEntre ebrneos portes formas vaziasE o olfato renovaO salino perfume da terra arenosa

    Esse o tempo-tenso entre a morte e o nascerLugar de solido cruzado por trs sonhos Entre azuis penediasMas quando as vozes vibradas do teixoAo longe vo terQue o outro teixo vibre a responder.Me santa, irm bendita, esprito da fonte, esprito do jardim, No permitas o enganar-nos com o ilusrio Ensina-nos a calma,A cuidar-nos e a no ter cuidados.E mesmo entre essas rochas,Nossa paz em Sua vontadeMesmo entre essas rochasMe, irm,Esprito do rio, esprito do mar,No me deixes segregado

    E chegue a Ti o meu clamor.

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    POEMAS DE ARIEL o 1927 - 19301

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    A VIAGEM DOS MAGOS

    "Tornada fria tivemos 1

    J Exatamente o pior tempo do anoPara viagem; e que longa viagem:Caminhos em barrancos e tempo cortante,O verdadeiro corao do inverno.E camelos indceis, esfolados, estropiados,Deitando-se na neve a derreter-se.Lamentvamos, por vezes, ter deixadoAs manses estivais nas colinas, os terraosE as jovens de seda trazendo refrescos.Cameleiros queixando-se e praguejando

    E fugindo e querendo suas bebidas e mulheres;E o fogo se apagando nos bivaques e a falta de abrigos E cidades hostis e inamistosos burgosE aldeias sujas, preos extorsivos:Duros dias tivemos.Afinal preferimos viajar noiteE dormir aos bocadosCom vozes sibilando-nos no ouvidoQue tudo era loucura.

    E ento ao amanhecer descemos a um temperado vale,mido, com cheiro vegetal e distante da neve;Um veio de gua, um moinho golpeando a sombraE trs rvores contra o baixo cuE um velho cavalo branco a galopar no prado.A uma taberna (trepadeiras sobre a verga) fomos ter:Seis mos a uma porta aberta apostando nos dados

    Peas de prataE ps chutando odres vazios.Mas nada de informaes e assim continuamosPara ao anoitecer e no exato momento encontrar o lugar;Foi (podes dizer) satisfatrio.

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    Tudo isso h muito tempo, lembro-meE outra vez eu o faria, contudo considera Isso consideraIsso: fizemos todo esse longo caminho paraNascimento ou Morte? Havia um Nascimento, certamente,Era evidente, sem dvida. Eu tinha visto nascimento e morte,

    Mas pensara fossem diferentes; era esse NascimentoAmarga e difcil agonia para ns, qual Morte, nossa morte.Aos lares retomamos, esses Reinos,Mas no mais vontade aqui, na antiga dispensa,Com um povo estranho apegado a seus deuses.Alegrar-me-ia uma outra morte.

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    CNTICO PARA SIMEO

    S

    enhor, nos vasos florescem os jacintos romanosE o sol hibernai se roja nos montes de neve;

    Teimosa perdura a estao.Espera o sopro da morte a minha vida leveComo pena no dorso de minha mo.O p na luz do sol e a memria nos cantos aguardamO vento que enregela rumo terra, morta.

    Concede-nos a tua paz.Muitos anos andei nesta cidade,

    Guardei jejum e f, os pobres socorri.Dei e recebi honra e tranqilidade.Jamais de minha porta algum eu repeli.Quem lembrar minha casa, onde vivero os filhos de meiis filhos Quando chegar o tempo da aflio?Tero tomado o caminho de cabras da toca de raposasFugindo estrangeira espada e s faces estrangeiras.

    Antes do tempo das cordas, dos flagelos, das lamentaes Concede-nos a tua paz.Antes das estaes na montanha da desolao,Antes da hora infalvel da aflio maternal,Agora, nesta quadra em que a morte nasce,Conceda o Infante, o Verbo que ainda no fala nem falado,A consolao de IsraelA quem tem oitenta anos e no tem amanh.

    Segundo a tua palavraEles Te ho de exaltar e sofrer em cada gerao,Com glria e escrnio,Luz sobre luz, subindo os degraus dos santos.No para mim o martrio, o xtase do pensamento e da orao,No para mim a ltima viso.

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    Concede-me a tua paz.(E uma espada transpassar teu corao,0 teu tambm).Cansado estou da minha vida e da vida dos que viro depois de mim,Estou morrendo minha prpria morte e a morte dos que viro depois de mim.

    Deixa teu servo partirTendo visto a tua salvao. 1

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    ANIMULA

    Transporta-se da mo de Deus a alma inocente;

    Para um mundo vulgar, de luz e sons cambiantesmido ou seco, escuro ou claro, frio ou quente Movendo-se entre ps de cadeiras, de mesas,Erguendo-se ou caindo, ansiosa de brinquedosE beijos, audaciosa caminhando frentePara subitamente se alarmar, buscandoO refgio de um brao ou de um joelho, ansiando Por ser reconfortada, fruindo jubilosaO brilho perfumado da rvore de natal,A alegrar-se com o vento, a luz do sol, o mar,Estudando no assoalho os desenhos do sol

    E o galope dos gamos na salva de prata;Confunde o imaginrio com o real, contenteCom cartas de baralho e rainhas e reis,E o que fazem as fadas e dizem os servos.O duro fardo da lma em desenvolvimentoIntriga e incita mais dia a dia, semanaAps semana incita e desconcerta maisCom os imperativos do e do pareceE do pode e no pode, desejo e controle.A pena de viver e a narcose dos sonhos

    Ocultam a almazinha atrs da ENCICLOPDIABRITNICA, enroscada em um poial de janela.Desprende-se da mo do tempo a alma singela Irresoluta e egosta, informe o passo incerto,Incapaz de ir adiante, incapaz de recuar,Temendo a realidade morna, o bem oferto,Recusando a importunao do sangue, sombraDe suas sombras, espectro em sua prpria treva,Deixando papis soltos num quarto empoeirado;

    Vivendo no silncio que se segue ao vitico.

    Roga por Guiterriez, vido de velocidade e poder,Por Boudin, feito em pedaos,Pelo que fez grande fortunaE pelo que seguiu o seu caminho.Roga por Florest, morto pelos sabujos entre os teixos,

    Roga por ns agora e na hora em que nascemos.

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    Quis hic locus, quaeregio, quae mundi plaga?

    MARINA

    Que mares que praias que penhas cinzentas que ilhas

    Que gua a lamber a proaE perfume de pinho e o trucilar do tordo atravs da neblina Que imagens retomam minha filha.

    Aqueles que afiam o dente do co, significandoMorteAqueles que fulgem com o brilho do beija-flor, significandoMorteAqueles que se instalam na pocilga da satisfao, significandoMorteAqueles que toleram o xtase dos animais,, significando

    Morte

    Tomaram-se insubstanciais, vencidos por um sopro,Um hlito de pinho e a nvoa-cano da selva

    Por essa graa no espao dissolvida

    Que face essa menos clara e mais claraNo brao o pulso, menos forte e mais forte. . .

    Ddiva ou emprstimo? mais longe que os astros e mais perto que os olhos

    Sussurros e risinhos entre folhas e cleres ps

    Sob o sono onde todas as guas se encontram.Gurups partido pelo gelo, pintura fendida com o calor.Eu fiz isso, me esqueciE me lembro.As amarras dbeis, as rustidas velasEntre um junho e um outro setembro.Esse desconhecido, semi consciente, estranho, fiz meu.Vazam as tbuas de rebordo, as emendas pedem calafeto.

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    Essa forma, essa face, essa vidaVivendo para viver em um mundo-tempo alm de mim; quisera Minha vida ceder por essa vida, meu falar pelo no articulado,A desperta, lbios entreabertos, a esperana, os novos barcos.

    Que mares que praias granticas ilhas defrontam-me as vergasE o tordo chamando atravs da neblinaMinha filha.1

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    NOTAS DA TRADUTORA

    CANAO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFROCK

    pginas 4 e 5

    1. No contraste entre a epgrafe (palavras de Guido de Montefeltro a Dante: cf. Inferno, canto XXVII) e o ttulo leve, quase jocoso, j se espelha o tratamento sutil do poema, onde levity intended to intensify the serious, a leveza visa a intensificar o grave.

    2. Segundo F. O. Matthiesscn,Prufrock , pelo movimento dos versos, pelas repeties e ecos, assim como pelo tema, o poema de Eliot que mais se aproxima de Laforgue (cf. The Achievement of TS. Eliotj com o qual o prprio Eliot se confessa em dbito: "The form in which I began to write

    was directly drawn from the study of Laforgue. . .. A fo rm a pe la qual co mec ei a escrever fo i diretamente ex trada dos estudos de Laforgue. . .

    LA F1GLIA CHE PIANGE

    pginas 16 e 17

    1. O poema, que se desenvolve em clima irnico-emo cional e traz com o epgrafe um verso de Virglio(cf. Eneida, canto I), apresenta, como observa D. E. S. Maxwell, ntima afinidade com trechos de

    Verlane (cf. La Bonne Chanson, poemas IX e XV).

    GERONTION

    pginas 20 e 21

    1. No tens nem mocida de nem velhice. co mo se dorm in do aps jantar sonhasses com am bas as.idades (cf. Shakespeaxe:jWe

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    pginas 24 e 25

    1. E quando esta ep s to la fo r lida entre vs, fa zei com qu e tambm seja lida na igreja dos laodicenos (cf. Bblia : epstola de Paulo aos colossenses).

    2. O poema, conforme comenta D. E. S. Maxwell (cf. P oet ry o f T. S. Eliot) , embora exprima insatisfao e zombaria ante a atitude operante negativa da igreja, no inclui nenhuma condenao a seus objetivos religiosos. Tendo sido escrito em 1917 refere-se, provavelmente, igreja puritana da Nova Inglaterra, bero dos princpios cristos de Eliot que somente dez anos mais tarde ingressou na igreja anglicana.

    SWEENEY ENTRE OS ROUXINIS

    pginas 28 e 29

    1. N o apenas a epgrafe: A i de mim , fu i ferido de um go lpe mor ta l! e a quadra final, mas ainda o clima

    do poema, sugerindo conspirao, estabelecem o paralelismo entre o drama de Agammnon e de Swee

    ney, o homem macaco moderno. O passado assim trazido para o presente, no evidente propsito

    de unificar o tempo, o que freqentemente se verifica na poesia eliotiana.

    2. Apeneck: pe scoo de bugio.

    3. O propsito referido na nota 1 tambm se patenteia nessa transposio, para o momento atual, deuma expresso de Virglio, a porta do corno, pela qual as sombras verdadeiras encontrariam fcil

    sada.

    4. A relao estabelecida pelos rouxinis entre o conventQ e o bosque parece refletir condenao igreja, que supomos ser, no caso, a puritana. (Ver nota 2 para o Hipoptamo).

    ATERRA GASTA

    pginas 32 e 33

    1. Na resposta de Sibila: Quero morrer,aos jovens que lhe perguntam: O que queres? D, E. S. Maxwellaponta a aceitao paradoxal crist da conquista da vida atravs da morte (cf. Poetry o f T. S. Elio t). Contudo acreditamos que a epgrafe, em coerncia com o esprito de The Waste Land, antes assinalaria anseio niilista justificvel, no obstante os sentimentos msticos de Eliot, ante o espetculo da vida contempornea, em um mundo de "broken fragments of systems, pedaos fragm entados de sistemas.

    O ENTERRO DOS MORTOS

    pginas 34 e 35

    1. no sul da Alemanha Ocidental que se desenvolve essa cena. Starnberg um lago nos arredores de Munique.

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    2. Apontam os exegetas aqui uma referncia lenda do Gral.

    3. O Marinheiro Fencio , que volta na parte IV na figura de F lebas, personifica o deus da fertilidadeque lanado anualmente ao mar, simbolizando a morte do outono, segundo esclarece John Hayward em suas notas para a traduo francesa de Pierre Leyris.

    4. Aqu elas so as prolas que fo ram seus olh os (cf. Shakespeare, A Tem pestade, cano de Ariel).

    5. A hora em que comercirios e empregados de escritrios devem estar a postos para o trabalho, esclarece John Hayward.

    6. Stetson: interessante observar-se o sentido de universalidade que a esse personagem empresta a associao com Miles. No ele apenas um indivduo entre muitos; mas antes o homem de todos os tempos, a prpria espcie humana.

    7. Mylae: Miles, hoje M ilazzo: local onde se desenrolou a batalha que marcou a primeira vitria naval

    dos rotaanos sobre os cartagineses na primeira guerra pnica, 260 anos a.C. e que Eliot traz para o presente. O tempo uno.

    8. No havendo em nosso idioma o pronome neutro, aqui se torna impossvel uma traduo exata, poisno texto original o tratamento para o Co he, como se se tratasse de um ser humano, ao passo que nara o cadver it, designativo do neutro ou animal. Segundo George Williamson o Co talvez esteja relacionado com Anbis, o deus egpcio de cabea de chacal que presidia ao embalsamamentoe sepultura (cf. A Readers Guide to T. S. Eliot ).

    UMA PARTIDA DE XADREZ

    pginas 3 8 e 39

    1. Sua cadeira, com o um trono brunido. (ver nota 77 de T. S. Eliotj.

    2. Fed with copper: tratadas com cobre. o cobre utilizado na preservao da madeira contra a deteriorao produzida pelo contato com a gua (cf. Kirk-Othmer, Encyclopedia of Chemical Technology, vol. 15, pg. 90).

    3. Jug Jug : ver a nota 5 para O Sermo de Fogo.

    4. Na opinio de alguns estud iosos de E liot a palavra rag est relacionada com ragtime. Contudo tambm o est idia de coisa usada, de trapo, farrapo, igualmente expressiva e que adotamos, embora nos parea que a modificao do adjetivo: shakespeaxean talvez se ligue ao propsito de imitaro ritmo sincopado que predominou no perodo aps a primeira grande guerra.

    5. Hurry up please it s tim e : Favor, est na hora, a expresso que usualmente ouvem os retardatrios quando nos bares se aproxima a hora de fechar.

    6. Quer-nos parecer que a expresso hot gammon foi usada com duplo e intraauzvel sentido: de pernil curado quente e de gamo animado, violento. O xadrez, que surge na primeira parte do poema, encontraria assim, na segunda, uma correspondncia em jogo de nvel mais popular, o gamo.

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    7. Boa noi te, senhoras, boa noite, caras senhoras, boa noite, boa noite. Palavras de despedida de Oflia (cf. Hamlet. IV, 5).

    O SERMO DO FOGO

    pginas 44 e 4 5

    1. Doce Tmisa, corra suavem ente at que eu finde minha cano. (V er nota 183 de T. S. Eliot ).

    2. Parte do poema foi escrito em Lausana, localizada na margem setentrional do Lago Leman, informa George Williamson.

    3. Referncia ao personagem da lenda do Gral, de miss Weston, o Rei Pescador, que transmite sua si

    tuao de impotncia s suas prprias terras, que se tornam estreis e desoladas (cf. D. E. S. Maxwell: P oetr y o f T. S. Eliot) . F. L. Lucas, apontando no poema tratamento teosfico, de parecei que o rei doente e a terra estri l simbolizam a alma enferma e a deso lao da vida m a.erial.

    Oh, a lua resplandeceu sobre a senhora Porter e sua filha que com soda lavam os'ps. (Ver nota 199 de T. S. Eliot).

    5. Segundo esclarece Cleanth Brooks em Modem Poetry and the Tradition, a expresso jug jug, reproduo convencional do canto do rouxinol no teatro dos sculos 16 e 17, contm sugestes pornogrficas relacionadas com o assunto dos versos. Preferimos por isso deix-la no original.

    6. Fo i a correspondncia que encontramos para so rudely forc d onde a rotura da palavra fo rced (licena potica) d aqui, graficamente, nfase violao de Filomena.

    7. c. i. f.: co st, insurance and freight :custo, seguro e frete.

    8. Bradford: centro de lanifcios onde os industriais enriqueceram subitamente graas guerra de 1914,informa George Williamson (A reade rs Guide to T. S. Elio t). A traduo de Bradford millionaire seria, aproximadamente, novo rico.

    9. Quando uma bela mulher se abandona loucura. (Ver nota 2 53 d e T. S. Eliot).

    10. Essa msica arrastava-se at m im po r sobre as guas. ( Ver nota 2 57 de T. S. Elio t).

    11. Strand: rua comercial que bordeja o Tmisa e onde outrora se erguiam as manses dos nobres dacorte de Elizabeth.

    12. City: o centro comercial de Londres.

    13. A igreja de St. Magnus Martyr foi edificada por Christopher Wren (construtor de mais de cinqenta templos de Londres) em substituio da que foi destruda pelo grande incndio de 1666.

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    14. As canes das filhas do Tmisa mencionam trs subrbios de Londres: Richmond, Kew e Highbury(este ltimo contrastando com os dois primeiros, mais opulentos e salubres); um de seus bairros financeiros, Moorgate; e uma praia freqentada por gente humilde, Margate, no extremo leste do condado de Kent e bem distante da capital.

    15. John Hayward, numa das nota s j citadas para a traduo de Pierre Leyrus, informa que Moorgate,

    originalmente nome de uma das portas de Londres, passou a designar um bairro de seu centro financeiro e que Eliot, quando trabalhava em um banco, tomava o metr em Moorgate. Uma empregada de escritrio, uma datilografa, poderia portanto se identificar com a segunda filha do Tmisa.

    O QUE DISSE O TROVO

    pginas 54 e 55

    1. Ganga: Ganges, o rio sagrado indiano.

    2. Himavat: personificao da cordilheira do Himalaia considerada, na mitologia indiana, como o paide Devi, denom inao dada s deusas em geral mas, pelos civatas, especialmente s esposas de Civa.

    3. A Torre de Londre s est ru indo , est ruindo , est ru in do: o estribilho de uma cano de ninai: London Bridge is broken down/Dance over my ladys lee.

    4. Observa George Williamson em A Reader s Guide to T. S. Eliot, haver aqui uma referncia cultura do passado (com Safo, Virglio, Ovdio, Santo A gostinho, D ante. Shakespeare, Goldsmith, Webster,

    Baudelaire, Nerval, Wagner, Verlaine, miss Weston etc. etc.) cuja substncia po tica Eliot absorveu etransformou em sua prpria substncia.

    5. Aproximadamente: Pois ento eu te aje ito, Jernimo est louco ou tra vez.

    OS HOMENS OCOS

    pginas 60 e 61

    1 . A pr ox i m adam en t e : Seu K u rtz . . . e le est morto.

    2. Esm ola para o ve lho Guy Nas epgrafes de The Hollow Men, traduzidas nas notas 1 e 2, Eliot utiliza-se de dois personagens vigorosos e violentos - Kurtz, o heri de Heart o f Darkness de Joseph Conrad, e Guy Fawkes, conspirador catlico executado por Jaime I - por antagonismo com os homens sem gritos, ocos, sofredores, com os quais ele se identifica intensificando, conforme observa Paulo Vizioli (cf. Paterson e o Problem a do Poema pico American o), o efeito dramtico do poema. A segunda epgrafe tem conexo com uma brincadeira tradicional em que a frase: A penny for the old Guy assim como a efgie cheia de palha de Guy Fawkes so usadas pelas crianas para obteno de moedas para fogos (cf. George Williamson: A Reader s Guide to T.S. Eliot ).

    3. A esperana de salvao que se delineia na quarta estncia: estrela imperecvel, multifolicda rosa, parece desvanecer-se na ltima com a repetio do verso: cai a sombra e com a quadra final.

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    pginas 68 e 69

    1. O volume Ash-Wednwsday foi publicado, reunindo seis poemas como um todo, em 1930. Nos anos anteriores j haviam surgido separadamente as partes I, II e III. A primeira trazia o ttulo

    PerchIo Non Spero , do poem a de Cavalcanti, transformado em balada por Ro ssetti, segundoinforma G. Williamson em A R eaders Guide to T. S. Eliot.

    2. D. E. S. Maxwell, baseando sua opinio em Dante, sugere que Rosa s i m b o l i z a Maria; Duncan Jones, autor de An Essay on Ash-Wednesday, tambm invocando Dante, de parecer que Rosa se ligaa Cristo: Rose of Sharon e s bem-aventuradas almas do paraso. Numa investigao distncia, porquanto em rea estrangeira e no em lngua ptria, ousamos acreditar que Rosa sugeriria antes

    a morte. E o