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Maio 2010
Celso Foelkel
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Um Guia Referencial sobre Ecoeficincia Energtica para a
Indstria de Papel e Celulose Kraft de Eucalipto no Brasil
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Empresas patrocinadoras
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Agradecimentos
Agradeo ABTCP Associao Brasileira Tcnica de Celulose e
Papel, em especial ao seu gerente tcnico engenheiro Afonso Moraes de
Moura pelo incentivo para que esse captulo sobre ecoeficincia energtica
para o setor de celulose e papel de eucalipto no Brasil fosse escrito como um
dos captulos de nosso Eucalyptus Online Book.
Agradecimentos tambm aos meus estimados amigos, engenheiro
Humberto Luis Alves Batista (Celulose Riograndense) e engenheiro
Vandir Francisco Zanchan (Cambar Produtos Florestais) pela ajuda em
me oportunizar conhecer alguns dados atualizados de processo para que
nossos exemplos prticos pudessem ser mais autnticos.
Um abrao e um muito obrigado a todos.
Celso Foelkel
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CONTEDO DO CAPTULO
DEFININDO ECOEFICINCIA ENERGTICA
DEFININDO O ESCOPO DESSE CAPTULO
ALGUMAS REFLEXES SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA PELO SETOR DE PAPEL E CELULOSE
TIPOS DE ENERGIA DEMANDADOS PELO SETOR DE PAPEL E CELULOSE
RELAES ENERGIA / MEIO AMBIENTE
PRINCIPAIS BARREIRAS ECOEFICINCIA ENERGTICA
TECNOLOGIAS & TECNOLOGIAS - COMO ESTAREMOS NS NESSE CONTEXTO ?
DEFININDO ENERGIA PRIMRIA E ENERGIA DE PROCESSO
EFICINCIAS TRMICAS, ELTRICAS E MECNICAS
ESTRATEGIANDO PLANOS DE ECOEFICINCIA ENERGTICA E USO RACIONAL DE ENERGIA NO SETOR DE CELULOSE E PAPEL
ENCONTRANDO OPORTUNIDADES TCNICAS PARA ECOEFICINCIA ENERGTICA EM NOSSAS FBRICAS
SELEO DE INDICADORES DE ECOEFICINCIA ENERGTICA
DESENVOLVENDO MEDIDAS PROFILTICAS E SANITRIAS PARA ECOEFICINCIA ENERGTICA
ENCONTRANDO PROJETOS VENCEDORES EM ECOEFICINCIA ENERGTICA
TENDNCIAS ECOENERGTICAS NO SETOR DE PAPEL E CELULOSE
CONSIDERAES FINAIS
REFERNCIAS DA LITERATURA E SUGESTES PARA LEITURA
Um Guia Referencial sobre Ecoeficincia Energtica para a
Indstria de Papel e Celulose Kraft de Eucalipto no Brasil
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Um Guia Referencial sobre Ecoeficincia Energtica para a
Indstria de Papel e Celulose Kraft de Eucalipto no Brasil
Celso Foelkel
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DEFININDO ECOEFICINCIA ENERGTICA
Ecoeficincia Energtica mais que uma necessidade uma obrigao
Matria, tambm conhecida como Massa, e Energia constituem-se
em recursos naturais altamente utilizados pelo ser humano. Nossas fbricas
esto sempre a converter matrias-primas em produtos e para isso precisam
utilizar energia. Matria e energia so coisas intimamente relacionadas. As
Leis da Fsica enunciam isso claramente. Muita energia est presente na
forma potencial e primria em materiais conhecidos como combustveis. Ao
se queimar um combustvel, ele libera pela primeira vez uma energia com
um certo nvel de rendimento e eficincia. Cabe ao usurio fazer o melhor
uso dessa energia liberada, procurando otimizar os rendimentos, tanto no
processo de liberao, como de utilizao. Quando um combustvel libera
pela primeira vez sua energia potencial para uso, essa energia a que tem
maior capacidade de gerar trabalho. Por essa razo, considerada a energia
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de melhor qualidade, a mais nobre. Isso porque a energia nunca aniquilada
ou se acaba, ela apenas vai-se transformando. A cada transformao, ela
perde qualidade, ou seja, passa a gerar menos trabalho. Essas duas simples
e importantes coisas constituem-se nas leis bsicas da termodinmica. A
primeira a Lei de Conservao da Energia, que diz que a energia no
pode ser criada ou destruda, apenas transformada. tambm conhecida
como a Primeira Lei da Termodinmica. Por outro lado, a Segunda Lei
da Termodinmica enuncia exatamente o que j comentamos: e energia
sempre se degrada de formas mais nobres (de melhor qualidade) para
formas de menor qualidade. A sua qualidade est associada capacidade de
gerar trabalho til.
Todo e qualquer fenmeno que ocorre na Natureza (e por
conseqncia, em nossas fbricas) necessita de energia para acontecer. A
simples movimentao de uma folha de papel de um lugar para o outro exige
energia ou trabalho para acontecer. Enfim, usar energia faz parte da Vida.
Nas nossas fbricas, as formas mais comuns de energia so: energia
trmica, eletricidade, fora motriz e energia eletroqumica. Elas garantem a
converso de nossas matrias-primas em celulose e depois em papel. Todas
as fbricas necessitam de matrias-primas a serem convertidas. So formas
de matria ou massa, como o so: madeira, gua, gases, produtos qumicos,
combustveis, etc. Todos exigiram energia para serem produzidos e
demandaro mais energia para serem convertidos.
Da mesma forma que a Energia, a Matria tambm no pode ser
aniquilada ou criada, apenas transformada. Essa tambm uma lei
importante da Fsica, conhecida como Lei da Conservao das Massas (ou
Lei de Lavoisier). Significa em resumo, que toda massa que entra em um
sistema, caso no se acumular nele, dever sair, na mesma forma ou em
formas modificadas.
Essas leis simples so muitssimo importantes, pois elas regem nossas
fbricas, lares e nossas atividades dirias.
Toda vez que usamos alguma coisa, ou transformamos algo, temos
rendimentos variveis para essas operaes. Por exemplo, ao usar um
combustvel, nunca conseguimos aproveitar toda a energia que ele dispe
potencialmente em suas molculas. Para liberar essa energia pela
combusto, teremos um certo rendimento ou eficincia. Em uma caldeira de
fora, transformamos energia de combustveis em vapor, uma forma de
energia que temos maiores controles e facilidades de manusear. Os
rendimentos das caldeiras so relativamente baixos. Uma caldeira de
recuperao do processo kraft possui rendimentos trmicos que variam de
60 a 80% ao queimar o combustvel licor preto concentrado produzido no
processo. J uma caldeira de biomassa, de leo combustvel ou de gs
natural pode ter rendimentos variando entre 75 a 90%. De uma ou de outra
maneira, sempre estaremos perdendo energia na gerao de calor (ou
vapor): pelos gases de combusto, pela irradiao da caldeira, pela pr-
secagem dos combustveis, pela m combusto, etc.
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O vapor superaquecido produzido nessas caldeiras dever ser usado
para produo de eletricidade e de vapores de menores presses (vapores de
mdia e baixa presso). Essas novas converses geram novos desperdcios
de energia e outros rendimentos. Logo, sempre existem perdas quando
convertemos uma forma de energia em outra. Quantas mais vezes
transformarmos a energia, mais ns agregamos perdas ao nosso processo
industrial. Ao gerar eletricidade, os turbo-geradores apresentam perdas e ao
se transmitir essa eletricidade, tambm existem perdas significativas. J no
lado do usurio, um motor acionado que se vale dessa energia a ele
fornecida tambm tem perdas importantes ao transformar a eletricidade em
fora motriz em seu eixo. Finalmente, um equipamento movido por esse
motor, por exemplo, um picador de toras a cavacos, tambm tem seu
rendimento de converso e de eficincia de utilizao da fora motriz
recebida. Resulta ento uma longa fieira de perdas e rendimentos.
O resultado final de tudo isso que usamos muito pouca da energia
contida primariamente nos combustveis. No caso da eletricidade gerada em
termeltricas sem cogerao, o consumo til no ponto final de uso pode ser
to baixo como 25 - 30% da energia primria oferecida pelo combustvel.
Difcil de aceitar isso, no mesmo?
As perdas em matria tambm so grandes nos processos. Perdemos
matria ao colher a floresta, ao picar a madeira, ao converter a mesma em
celulose e depois ao fabricar o papel. As perdas ocorrem na forma de toras
desperdiadas na floresta, serragem na produo dos cavacos, fibras
perdidas nos efluentes, matria orgnica como DQO (Demanda Qumica de
Oxignio) nos efluentes, refugos gerados na fabricao do papel, etc. Em
cada situao, perdemos massa e energia que foram usadas nas converses.
Como impossvel se aniquilar a matria e a energia, tudo o que foi
transferido e usado desses insumos e que no foi necessariamente
convertido em produtos, ter sido desperdiado em novas formas de matria
e energia. Terminam gerando os famigerados Resduos. A Natureza tenta
reincorporar esses resduos de volta, ciclando-os naturalmente. Na maioria
das operaes industriais, a Natureza espera que a ajudemos, fazendo algo
para acelerar esse efeito depurador. Para fazer esse papel depurador nos
valemos de processos de tratamento de efluentes, compostagem de resduos
slidos, queima de gases poluentes, etc. Quando no h equilbrio entre
consumo, gerao e reciclagem, poderemos ter srias degradaes
ambientais.
Como no existem processos com rendimentos de 100%, sempre
teremos algum resduo a processar. Esses resduos podem ser de matria ou
de energia. Os resduos de energia em geral se manifestam na forma de
calor (temperatura), ondas sonoras ou ondas luminosas. J os resduos de
matria so conhecidos como: lixos, lodos, efluentes, resduos slidos,
poluentes areos, etc.
A Vida se constitui basicamente de Matria e de Energia. Nossas
fbricas de celulose e papel tambm. Nossas fbricas podem usar de forma
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melhor ou pior tanto as matrias como as energias compradas. As eficincias
de utilizao das mesmas vo depender muito das tecnologias que as
fbricas dispem, da continuidade e eficincia operacional e da competncia
e comprometimento de quem as opera e gerencia. Quando uma fbrica tem
baixa eficincia no uso das matrias-primas, ela ter baixos rendimentos nos
processos e resultar em menos produtos finais prontos e convertidos. Ter
portanto maior gerao de resduos, maior poluio e maior consumo de
materiais e de energia. E custos unitrios mais altos tambm!
Cada fbrica consiste em um processo tecnolgico nico, resultante
de tecnologias que vo sendo agregadas ou modificadas. Fbricas mais
antigas, que vo crescendo e se modernizando com o tempo, possuem
tecnologias de diferentes idades e rendimentos. Em geral, so agregados
tecnolgicos mais complexos e menos eficientes do que as fbricas estado-
da-arte, construdas com altas escalas de produo e com simplificaes
processuais importantes.
muito importante se reconhecer que cada processo tecnolgico
possui limites de eficincia em converso de matria e uso de energia. No
conseguiremos em equipamentos antigos, s atravs de trabalhos em
melhoria contnua e por motivao dos operadores, atingir nveis de
rendimentos obtidos em equipamentos muito mais modernos, de idades
tecnolgicas recentes e com maiores escalas de produo. A cada
modernizao tecnolgica so incorporados nveis melhores de eficincias no
uso da energia e das matrias-primas. Por exemplo: por mais que o time
operacional se esforce, impossvel se conseguir nveis de eficincia trmica
em digestores descontnuos (batch), comprados nos anos 1980s,
comparativamente aos obtidos em digestores contnuos mais recentes, tais
como os conhecidos como Compact Cooking e Lo-Solids. Da mesma
forma, uma mquina tipo Fourdrinier clssica, comprada nos anos 1970s,
dificilmente ter um rendimento trmico e eltrico to bom quanto uma
mquina de telas duplas, prensas midas do tipo sapata (shoe presses) e
sistemas de condensados e vapores otimizados.
Evidentemente, isso no deve ser um fator desmotivador aos que
possuem fbricas mais antigas e de idades tecnolgicas mais avanadas.
Pelo contrrio, deve ser um estmulo aos que operam essas mquinas para
fazer isso com a maior eficincia possvel para tentar aumentar a sobreviva
das mesmas na difcil tarefa de competio com as fbricas mais modernas
que fazem o mesmo tipo de produto.
A avaliao da eficincia de uso das matrias-primas e da energia
costuma ser feita com base em alguns indicadores. Os mais comuns so os
consumos especficos por unidade de produto e os rendimentos de cada
operao ou unidade industrial. Por exemplo: o rendimento de converso da
madeira em celulose uma forma de mostrar a nossa eficincia em
converter a matria-prima (madeira) em produto (celulose). Esse mesmo
rendimento poder ser mostrado de outras maneiras, englobando ndices
relacionados matria-prima madeira (sua densidade bsica), como por
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exemplo o consumo especfico de madeira em metros cbicos de madeira por
tonelada seca ao ar de celulose.
Os consumos especficos de energia tambm costumam ser medidos
nas fbricas e em geral apresentados em unidades diferentes, conforme
estejamos falando em energia eltrica (kWh/t; MWh/t) ou energia trmica
(Gcal/t; GJ/t). Tambm so comuns os rendimentos ou eficincias
percentuais de aproveitamento da energia.
O termo Eficincia est associado ao bom uso dos insumos (massa e
energia) - em resultar em mais produtos com mesma quantidade de
insumos. Ou em usar menos insumos para mesma quantidade de produtos.
Acontece que, como na Natureza a Matria e a Energia so
fortemente inter-conectadas, nas nossas fbricas isso ocorre tambm.
Quando fazemos bom e eficiente uso das matrias-primas, com baixos
desperdcios de madeira, fibras, gua, etc.; tambm melhoramos os
indicadores de energia. Isso porque estaremos desperdiando menos energia
que em geral agregada inadequadamente na converso de insumos a
resduos e depois a energia necessria para tratar esses resduos. Ao mesmo
tempo, aumentamos nossa produo, pois desperdiamos menos materiais e
fomos mais eficientes no uso da energia.
Fica portanto muito claro a todos, assim espero, que qualquer
programa de melhoria do uso da energia no pode estar dissociado de
programas globais de ecoeficincia nas empresas, envolvendo racionalizao
no apenas no uso da energia, mas da matria tambm. muito importante
esse conceito, pois a base do entendimento da Ecoeficincia Energtica.
Vamos dar mais um exemplo muito simples. Nossas fbricas de papel geram
enormes propores de refugos (aparas ou broke) pelas mais diversas
razes: produtos que no atingem s especificaes, sobras em bobinas,
dificuldades na formatao das bobinas em relao largura da mquina,
perdas na converso (corte das folhas, etc.), etc. O refugo muito perverso,
ele precisa ser reprocessado e consome mais energia para isso. Tambm
reduz a capacidade de produo de produtos vendveis pelas mquinas de
papel. Basta que se execute uma otimizao nessa gerao de refugos para
se alcanarem ganhos expressivos em reduo de consumos de energia,
tanto de vapor, como de eletricidade. Portanto amigos, qualquer programa
de eficincia energtica para ser vencedor precisa ser realizado e includo
como parte de um programa geral de ecoeficincia nas operaes.
Entendido?
Caso uma empresa decida to somente por implementar um
programa de eficincia energtica, de um dia para o outro, poder quando
muito estar fazendo uma otimizao de custos de energia e de mudanas em
sua matriz de combustveis. Dificilmente conseguir sustentar um tipo de
programa como esse por muito tempo. Pode at mesmo ser difcil manter os
ganhos alcanados nos primeiros momentos da racionalizao do uso dos
combustveis. Por essa razo, mais uma vez recomendo que todo programa
de eficincia energtica nas nossas fbricas seja realizado como parte de um
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programa mais amplo de ecoeficincia global na empresa. Insisto nisso,
como vocs j devem ter notado.
O termo Ecoeficincia hoje muito bem aceito e praticado em
muitas empresas do setor. A denominao ecoeficincia surgiu em funo da
altssima relao entre as atividades industriais e o uso mais eficiente dos
recursos naturais. Como todas nossas matrias-primas e fontes de energia
so recursos da Natureza, ao us-los melhor, estaremos impactando menos
o Meio Ambiente. A ecoeficincia uma forma de aumentar o suprimento de
insumos a uma fbrica sem ter necessidade de se comprar mais deles. Ela
muito amiga do meio ambiente, pois resulta em menor uso de recursos
naturais e menor gerao de resduos a depurar. Esses resduos
economizados podem ser tanto de matria, como de energia.
Por essas razes enunciadas, passarei a me referir a partir desse
momento muito mais em termos de Ecoeficincia Energtica do que
simplesmente eficincia energtica. Prefiro reforar a vertente ecolgica do
termo, muito mais adequado nos dias de hoje, pois j vimos que as
economias e as eficincias no uso de todos os recursos naturais podem
resultar em menores utilizaes de energia nas nossas fbricas.
Ecoeficincia energtica uma forma nova, segura, barata e eficiente
para se disponibilizar nova energia til aos processos industriais. Ela muito
efetiva em oferecer energia de baixo custo e de melhor qualidade para
nossas fbricas. Resulta tambm em uma operao mais limpa, alm de
oferecer a mais limpa de todas as energias. Isso porque estar
disponibilizando exatamente a energia que estava virando resduo.
Vejam mais um exemplo muito simples: as antigas caldeiras de
recuperao de licor preto do processo kraft, com tecnologias dos anos 70s,
costumavam queimar licor concentrado a 55 a 65% de slidos secos, o
mximo que se alcanava nas sees de evaporao. Esse combustvel era
muito mido, a ponto de ser difcil de se sustentar a chama no interior da
fornalha em alguns casos. Os operadores eram obrigados a usar algum outro
tipo de combustvel auxiliar, em geral leo combustvel, para permitir melhor
combusto. Somente para aquecer e evaporar a gua contida no combustvel
licor preto se perdiam cerca de 15% da energia primria disponvel nos
slidos do licor preto combustvel. Hoje, com sees de evaporao e
caldeiras de recuperao modernas, queimando licores evaporados a cerca
de 80% de slidos secos, essa perda de energia devido gua presente no
combustvel caiu para apenas 6%. A energia perdida com a evaporao e
aquecimento da gua do combustvel dentro da caldeira um resduo a ser
evitado e diminudo ao mximo. As mudanas tecnolgicas do sistema de
evaporao e da caldeira de recuperao conseguiram ento adicionar
substanciais quantidades de energia limpa e do tipo renovvel para a fbrica,
atravs dos maiores rendimentos trmicos. O que antes eram valores de
60% de eficincia trmica nas caldeiras de recuperao, hoje esto acima de
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75% e em muitos casos em cerca de 80%. Esse ganho todo coloca disponvel
uma energia limpssima fabrica, pois se trata de uma adicionalidade
relevante de energia em relao energia potencial desse combustvel.
Teremos no apenas uma energia mais limpa, como tambm um muito
menor impacto ambiental do processo fabril ao meio ambiente.
Trabalhar por ecoeficincia no significa apenas efetuar saltos de
tecnologias, como no caso do exemplo recm citado dos novos e mais
ecoeficientes sistemas de evaporao e queima do licor preto. Basta que a
equipe operacional da fbrica consiga melhorar a performance dos processos
industriais que teremos redues nos consumos de energia pela reduo de
fugas e desperdcios de vapores, condensados, eletricidade, etc. Vamos
voltar ao nosso exemplo da fbrica dos anos 70s, com uma caldeira de
recuperao queimando licor preto concentrado a 55 a 65% de slidos secos.
Por uma mais adequada manuteno dos evaporadores, com um sistema
eficiente de lavagem dos efeitos e do condensador de superfcie e por um
estudo de distribuio mais efetiva do vapor vivo, podemos aumentar e de
forma mais consistente o nvel de concentrao do licor, no mais caindo a
valores baixos como 55%. Um ganho de 5% na concentrao do licor preto
pode representar um aumento de eficincia trmica da caldeira de
recuperao de at 3%. Ou seja, a cada 100 GJ de energia primria no licor
preto, quando a 60% de slidos secos estaremos disponibilizando ao
processo 3 GJ a mais em relao ao que se tinha com um licor a 55% de
slidos secos.
A ecoeficincia energtica permite ento:
aparecimento de energia nova e limpa na fbrica; reduo nos custos energticos e nos custos de produo; ganhos ambientais (reduo de desperdcios de calor e eletricidade,
reduo no consumo de combustveis fsseis, reduo de emisses
poluentes, reduo de resduos slidos, reduo de perdas de gua
como efluentes, etc.);
reduo de gargalos operacionais; aumento de eficincia operacional; eliminao de vcios operacionais; maior produtividade; maior competitividade.
A ecoeficincia energtica uma atividade de alto grau de
sustentabilidade, no apenas para a empresa, mas para o planeta Terra.
Com o mais eficiente uso dos recursos energticos (sejam eles fsseis ou
renovveis) conseguiremos reduzir os impactos antrpicos causados pela
nossa Sociedade sobre os recursos naturais. Podem ser diminudas as
demandas de combustveis, a poluio hdrica e area, e tambm as
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demandas de outros insumos associados energia (gua, oxignio, ar, etc.).
Enfim, a ecoeficincia energtica algo a ser muito estimulado e praticado
dentro das empresas, preferencialmente associada a programas gerais de
ecoeficincia e de produo mais limpa, como sempre gosto de repetir. Ser
ecoeficiente portanto uma prtica de cidadania em relao ao planeta
Terra.
J escrevemos diversos captulos em nosso Eucalyptus Online Book
acerca de Ecoeficincia e P+L nas nossas fbricas e nas nossas florestas
plantadas. Esses captulos em ecoeficincia setorial esto todos
disponibilizados para vocs e citados como referncias da literatura e
sugestes para leitura. Todos podem ser obtidos de forma gratuita na web.
Em todos eles discutimos conceitos dessas ferramentas e temas relevantes a
serem trabalhados em nossas fbricas. Esse captulo atual foca mais os
temas energticos, mas os fundamentos conceituais so os mesmos, por isso
sugiro a leitura dos demais captulos, se tiverem interesse.
Vejam onde encontrar os mesmos:
Ecoeficincia na gesto das perdas de fibras de celulose e do refugo gerado
na fabricao do papel. Eucalyptus Online Book. Captulo 06. 97 pp. (2007)
Disponvel em: http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT06_fibras_refugos.pdf
Ecoeficincia e produo mais limpa para a indstria de celulose e papel de
eucalipto. Eucalyptus Online Book. Captulo 09. 86 pp. (2008)
Disponvel em: http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT09_ecoeficiencia.pdf
Oportunidades para ecoeficcia, ecoeficincia e produo mais limpa na
fabricao de celulose kraft de eucalipto. Eucalyptus Online Book. Captulo
10. 92 pp. (2008)
Disponvel em: http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT10_ecoeficiencia.pdf
Mil e uma maneiras de fazer sua fbrica de celulose e/ou de papel e sua
floresta plantada mais ecoeficazes e mais ecoeficientes. Eucalyptus Online
Book. Captulo 12. 125 pp. (2008)
Disponvel em: http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT12_P%2BL_final.pdf
Ecoeficincia energtica envolve conceitos bastante amplos, ntimo
conhecimento das operaes industriais e tecnologias setoriais, mas
tambm, requer muita motivao, entusiasmo e dedicao de quem a
pratica. A ecoeficincia oferece maior segurana em operaes mais limpas e
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eficientes, alm de se apoiar em um sistema de gesto de energia que se
integra ao plano de gerenciamento global da empresa. Estando integrada ao
plano de gesto de ecoeficincia da empresa, a ecoeficincia energtica ser
mais uma das ferramentas que a empresa dispor para ser mais eficiente em
suas operaes e com isso, mais competitiva e mais ambientalmente correta.
Inclusive os investimentos em energia devem ser avaliados
comparativamente a outros tipos de investimentos, sem se ter uma verba
especificamente disponibilizada para os temas energticos.
Os estudos realizados no Brasil e em outros pases como Canad,
Finlndia e Estados Unidos mostram potenciais para se disponibilizar entre 5
a 25% de energia adicional s fbricas de celulose e papel, sem necessidade
de compra de combustvel para essa energia nova a entrar no processo. Esse
percentual varia em funo da rea fabril, da idade tecnolgica, do tipo de
produto e do nvel de aplicao de ferramentas de eficincia e produtividade
nas empresas. Tambm depende muito do comprometimento da gesto das
fbricas.
Energia um tpico relevante para qualquer empresa do setor de
celulose e papel. Em geral, essa relevncia mais sentida nas fbricas no
integradas de fabricar papel, que precisam comprar energia eltrica e
possuem caldeiras com eficincias no muito elevadas. s vezes, sequer
possuem sistemas de cogerao (sistemas CHP - Combined Heat & Power
produo combinada de energia trmica e eletricidade), que so mais
eficientes em rendimentos.
Nas fbricas de celulose de mercado, o sentimento de urgncia para
ecoeficincia energtica no costuma ser to intenso. fcil entender: em
geral, so fbricas praticamente auto-suficientes em gerao de energia
trmica e eltrica. Nas fbricas mais modernas de celulose kraft de mercado,
o nico combustvel fssil necessrio o leo combustvel (ou ento gs
natural) usados na forno de cal para se produzir cal virgem. Toda a energia
provm de fontes renovveis como o licor preto concentrado e a biomassa
energtica (cascas das toras e resduos de madeira). Os eficientes sistemas
de cogerao (CHP = Combined Heat & Power) que dispem oferecem altos
rendimentos de converso da energia primria em calor (vapor) e
eletricidade. Com isso, a energia gerada nessas fbricas considerada como
sendo muito barata. Primeiro, porque quem paga a conta da biomassa do
licor preto a madeira de processo que vai para a fabricao da celulose.
Praticamente nenhuma empresa remunera a energia renovvel do licor preto
em termos de valor econmico, sendo que esses custos entram como
madeira no custo da celulose produzida e no da energia. Seria muito
interessante se dividir esse valor de madeira proporcionalmente entre fibras
(celulose) e energia (licor preto). Em segundo lugar, a casca das toras e os
cavacos de madeira obtidos como resduos da rea de preparao da
madeira (entre 2 a 5% do peso de madeira que entra na fbrica) raramente
so valorados como energia e entram no custo dos combustveis. Em geral,
13
os valores econmicos de descascamento, picagem, classificao de cavacos
so todos computados para o custo da celulose sendo fabricada. como se
esses combustveis fossem presenteados pela rea de fabricao de celulose
rea de converso/gerao de energia. A conseqncia desses dois fatos
perversa para a rea de energia. Acaba-se tendo um valor subestimado para
o custo da energia em muitas dessas fbricas. Com custo de energia
artificialmente baixo, os investimentos e o entusiasmo em relao
ecoeficincia energtica diminuem. Em funo disso, os valores de energia
em fbricas de celulose kraft de mercado de eucalipto so relativamente
baixos comparativamente s fbricas de papel no integradas que muitas
vezes pagam caro pela energia eltrica das concessionrias e pelos
combustveis fsseis que compram. Tambm as fbricas kraft integradas de
celulose/papel gozam do mesmo benefcio de energia artificialmente
barata.
Por essa e outras razes que em muitas dessas fbricas de celulose
unicamente de mercado ou integradas celulose/papel as oportunidades de
ecoeficincia energtica so abundantes. Em alguns casos, o consumo e o
desperdcio de vapor chegam a ser desastrosos, j que o valor econmico
dessa energia subestimado. Mesmo assim, existem muitas dessas fbricas
com interessantes programas de ecoeficincia energtica, focados no uso
racional da energia em programas de profilaxia e de preveno ao
desperdcio de energia. Entretanto, muitos investimentos para melhoria nas
tecnologias desperdiadoras de energia acabam no acontecendo, pelo baixo
valor da energia, insuficientes para resultar em taxas de retorno ou de pay-
back atrativos. Caso as fraes da madeira que resultam em licor preto
combustvel e em resduos lenhosos combustveis fossem cobradas como
combustveis, as anlises de pay-back poderiam ser melhoradas e
resultarem em maior nvel de atratividade.
Muitas fbricas de celulose de mercado privilegiam muito mais os
investimentos que aumentam a produo e/ou a eficincia operacional.
Como esses investimentos melhoram a operao da fbrica como um global,
acabam resultando tambm em melhorias nos consumos especficos de
energia (vapor e eletricidade). Isso acalma os tcnicos do setor energtico e
apazigua os nimos entre os que competem por recursos escassos para seus
investimentos em tecnologias fabris.
De qualquer maneira, existem muitas oportunidades latentes em
nossas fbricas para melhor uso e melhor gerao de energia. Afinal, nossas
fbricas so grandes usurias de energia. O setor de celulose e papel est
entre os cinco maiores consumidores de energia do setor industrial em
pases como Brasil, Canad, Estados Unidos, Finlndia e Sucia.
Independentemente de como a energia for valorada nas fbricas de celulose
e papel, h que se entender que o uso grande e os recursos energticos
estaro cada vez mais escassos. Qualquer crise no suprimento de
energticos poder impactar fortemente o nosso setor. Portanto, minimizar
14
e racionalizar o uso de energia uma sbia deciso para garantir segurana
de nossas operaes no presente e no futuro. Em termos ambientais,
ecoeficincia energtica muito mais que apenas isso, uma obrigao em
relao sustentabilidade.
Muitas das oportunidades que existem nas nossas fbricas so muito
simples e requerem apenas medidas de manuteno, adoo de novos
procedimentos ou eliminao de vcios operacionais (s vezes causados por
desconhecimento ou falta de treinamento). Essas oportunidades so
conhecidas como quick-fixes (consertos rpidos). Elas mostram resultados
rpidos e imediatos praticamente sem investimentos de capital. Uma coisa
certa: no podemos estar sempre transferindo para a rea de manuteno a
responsabilidade por perdas de eficincia energtica. A operao deve fazer
a sua parte e cuidar de fazer muito bem. A limpeza de equipamentos que
transferem calor, a limpeza de telas e feltros na fabricao do papel,
tambm a limpeza dos efeitos dos evaporadores, etc. so todos fatores
operacionais relacionados ecoeficincia energtica. Muitos operadores se
descuidam disso, e a conta da energia ficar sendo paga pelo produto e no
por eles. Uma sugesto adequada seria incluir desempenhos energticos nos
programas de pagamento de gratificaes por resultados aos operadores e
tcnicos.
Energia um tpico cada vez mais estratgico para o setor de
celulose e papel, no apenas sob o ponto de vista das empresas, como dos
prprios governos interessados em otimizar seus balanos energticos
nacionais. Apesar de todos os avanos tecnolgicos que o setor brasileiro de
celulose e papel conseguiu, com modernas e eficientes fbricas estado-da-
arte no setor de celulose de mercado de eucalipto, esse tema est a
demandar novas posturas e atitudes empresariais para otimizao e
racionalizao energtica nas fbricas. As perdas de calor na forma de altas
temperaturas dos efluentes brutos e dos gases de exausto dos processos de
combusto so ainda enormes. Vejam to somente esse novo exemplo: uma
fbrica moderna de celulose tem um consumo de gua captada que varia
entre 25 a 40 m/tonelada de celulose seca ao ar (tsa), gerando cerca de 20
a 35 m de efluente por tonelada de produto. Essa gua entra na fbrica
com temperaturas da gua do rio (cerca de 25C) e sai do processo fabril
com temperaturas de mais de 65C. Ainda mais que, desde que se
descobriram os terrveis cidos hexenurnicos formados na polpao kraft,
as temperaturas foram elevadas em estgios de destruio dos mesmos a
valores acima de 85C. Os efluentes, alm de serem superaquecidos, ainda
gastam energia para seu resfriamento em torres de refrigerao ou em
trocadores de calor. Imaginem que a quantidade de energia que se perde na
forma de calor em efluentes quentes de aproximadamente 5 GJ/tsa.
Quanto maior a quantidade de gua que a fbrica consumir por tonelada de
15
produto, maior sero as perdas de energia, uma regra simples e vlida a
todas as empresas do setor.
Outra grande perda so as demandas de energia eltrica para
bombeamento: mais de 50% de toda energia eltrica usada nas fbricas de
celulose e papel so gastas em bombeamento de suspenses de fibras ou de
filtrados e efluentes.
Finalmente, para despertar ainda mais a voracidade energtica esto
os gases de exausto das caldeiras e incineradores, inclusive do forno de cal.
Uma caldeira de recuperao precisa eliminar gases a temperaturas acima de
140C para evitar a condensao de cidos (sulfrico, carbnico, sulfuroso,
etc.). Acontece que esses volumes de gases so fantsticos. Uma caldeira de
recuperao expele cerca de 3.500 4.500 Nm de gases midos de
exausto por tonelada de slidos secos queimados. A perda se d
principalmente pelo inerte nitrognio, que est presente para nada nos gases
de combusto, ou ento, apenas para desperdiar calor. Tambm a umidade
do ar de combusto grande desperdiadora da energia primria dos
combustveis. Essa umidade vem tanto da umidade dos combustveis como
pela queima da matria orgnica dos combustveis. Lembrem-se que como
resultado de qualquer combusto de material contendo carbono, conforme a
nossa conhecida Lei de Conservao das Massas de Lavoisier, formam-se
quantidades correspondentes e balanceadas em massa principalmente de
gs carbnico e gua.
Enfim amigos, as oportunidades esto s nossas portas, precisamos
apenas desvend-las e trabalhar nelas.
=============================================
16
DEFININDO O ESCOPO DESSE CAPTULO
O frase Ecoeficincia Energtica tem significado muitssimo vasto,
afinal tudo na Natureza envolve o uso da energia com rendimentos variveis.
Portanto, temos vertentes econmicas, polticas, ambientais, sociais, etc.
definitivamente um tema a ser tratado de forma estratgica por empresas,
pases e at por ns mesmos, em nossos lares. Esse captulo no tem o
propsito de esgotar o assunto, mas tampouco queremos abord-lo de forma
superficial. Dentro da prpria indstria de celulose e papel h muitas formas
e maneiras de se trabalhar a ecoeficincia energtica, conforme o tipo de
produto sendo fabricado, se o foco mais ambiental, poltico, econmico ou
tcnico. Apesar das diferenas entre os indicadores para fbricas de celulose
de mercado, fbricas de papel, fbricas de pasta de alto rendimento, fbricas
de papel reciclado, etc., os conceitos bsicos so vlidos em quaisquer
dessas situaes. Enfim, como j mencionamos, cada fbrica do setor tem
sua configurao prpria, s vezes com diferentes insumos, equipamentos,
matrizes energticas, etc. A complexidade e a individualidade so prprias
de cada unidade fabril, por essa razo a importncia de se conhecer bem o
que deve ser otimizado.
Assim sendo, procurei definir o escopo e abrangncia desse captulo
no que tem sido a fora motriz do Eucalyptus Online Book, que o
processo de fabricao de celulose e papel de eucalipto para essa indstria
no Brasil. Como a madeira do eucalipto tem sido a principal matria-prima
17
fibrosa para a fabricao de celulose kraft branqueada de mercado e papis
brancos (impresso e escrita, sanitrios e papis especiais), coloquei mais
nfase nesses processos. Trata-se portanto muito mais de um captulo de
cunho tecnolgico, do que um captulo para discutir polticas pblicas,
indicadores globais de mudanas de clima e energia, fontes de
financiamento, etc. Isso definitivamente no faz parte do escopo desse
captulo em questo. Pode eventualmente ser inserido em outros no futuro,
mas no nesse.
Esse captulo entretanto, oferece oportunidades muito claras para se entender os conceitos de ecoeficincia energtica a nvel setorial, aplicando-se por isso mesmo a diversos tipos de processos de fabricao de celuloses e papis. Esse captulo tem tambm a misso de criar um banco de dados amplo e abrangente sobre ecoeficincia energtica para esse setor industrial. Disponibilizamos uma ampla e relevante literatura, a maior parte dos textos sendo disponibilizados para downloading grtis na web. Alguns documentos importantes e clssicos de ecoeficincia so citados como fontes de leitura e mesmo que no possam ser descarregados para leitura, h indicaes de onde podem ser obtidos para compra ou emprstimo. O autor possui praticamente todas as referncias sugeridas - caso alguma fonte bibliogrfica no seja encontrada pelo leitor, sempre possvel se contatar [email protected] para negociar uma cpia ou emprstimo, ou via ABTCP Associao Brasileira Tcnica de Celulose e Papel ([email protected]) .
Matria orgnica Energia Matrias Inorgnicas
Fbrica ecocclica com altos fechamentos de circuitos e rendimentos verso STFI
(atualmente Innventia - http://www.innventia.com )
=============================================
mailto:[email protected]:([email protected])http://www.innventia.com
18
ALGUMAS REFLEXES SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA PELO
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
Madeira de eucalipto fonte de fibras e de energia renovvel para nossas fbricas
de celulose e papel
A indstria de celulose e papel grande consumidora de energia. Em
pases grandes produtores desses itens como Brasil, Estados Unidos,
Canad, Finlndia e Sucia consiste em um dos 5 maiores segmentos
industriais de consumo. Nos Estados Unidos a terceira usuria de energia
na indstria, ficando atrs somente da indstria do petrleo e da indstria
qumica. No Brasil, o mesmo modelo acontece terceira colocada na
indstria de manufatura, sendo superada apenas pela indstria de alimentos
e bebidas e pela indstria do ferro/ao. De acordo com as estatsticas
governamentais, a indstria brasileira de celulose e papel consumiu em 2008
cerca de 4% de toda a energia primria consumida no Pas. Em relao ao
setor industrial, esse percentual sobe para 8 a 10%. Pelos dados do BEN
Balano Energtico Nacional 2009 (Ano base 2008), editado pelo MME
Ministrio de Minas e Energia do Brasil, o Pas consumiu em 2008 cerca de
236.511.000 tep (toneladas equivalentes de petrleo). Desse total, cerca de
48% eram provenientes de fontes renovveis (hidreletricidade, lenha,
bagao de cana, carvo vegetal, biogs, etanol, etc.). O setor de celulose e
papel consumiu 8.957.000 tep, tendo uma matriz muito apoiada em fontes
renovveis de energia. De acordo com a BRACELPA Associao Brasileira
de Celulose e Papel, em 2009 a matriz energtica setorial tinha 66% de sua
composio energtica como sendo de licor preto gerado nas fbricas de
celulose kraft (integradas ou de celulose de mercado); 19% de biomassas
energticas (cascas, lenha, resduos de madeira, etc.); 9% de gs natural e
6% de leo combustvel. Portanto, apenas 15% de combustveis fsseis e
85% de recursos energticos renovveis.
19
Por outro lado, o BEN 2009 (Ano base 2008) relata dados
ligeiramente diferentes para o setor, pois engloba tambm a energia eltrica
comprada pelo setor, que significativa nas fbricas no integradas de
papel. Das 8.957.000 tep (375.000 TeraJoules TJ; ou 375 PetaJoules - PJ)
consumidas pelo setor em 2008, um percentual de 45,5% foram originados
do licor preto concentrado; 15,3% de biomassas; 5,8% de leo combustvel
e 5,7% de gs natural. Os restantes 17,1% da energia foram de energia
eltrica comprada do fornecimento pblico ou de redes de concessionrias de
energia eltrica. Ainda de acordo com o BEN 2009, o setor utilizou 0,403
tep/tonelada total de produo (celulose mais papel no ano = 22.212
toneladas). Caso transformemos esse consumo especfico unitrio em GJ (1
tep = 41,9 GigaJoules), teremos um consumo especfico mdio para o setor
de 16,9 GJ/tonelada. Evidentemente, esses dados carecem de melhor
embasamento tecnolgico, pois para as fbricas integradas as toneladas de
celulose so contadas duas vezes: uma vez como celulose e outra entrando
na composio do papel. Entretanto, servem de base de monitoramento e de
aferies de performances histricas.
Ainda de acordo com o BEN 2009, o setor de celulose e papel
produziu 8.536 GWh de eletricidade em suas prprias instalaes,
especialmente por queima de licor preto (5.453 GWh/ano) e biomassa
energtica (1.275 GWh/ano). As fontes hidreltricas prprias do setor so
pequenas cerca de 89,4 MW de potncia hidreltrica instalada, para
1.216,1 MW de potncia termeltrica instalada. Por isso, a demanda eltrica
ainda insuficiente, diferentemente do caso do calor (energia trmica).
Apenas cerca de 50% do consumo de eletricidade provm de fontes prprias,
sendo o restante adquirido de concessionrias de energia eltrica. O total de
energia eltrica demandada pelo setor em 2008 foi de 17.764 GWh. Os
grandes usurios a comprar energia eltrica tm sido: fbricas de papel
reciclado, fbricas integradas de celulose/papel, fbricas no integradas de
papel.
Graas s modernas termeltricas e sistemas de cogerao, o setor
de celulose de mercado gera a maior parte da energia eltrica consumida
nessa rea de fabricao, plantando assim um fator importante de
competitividade setorial. A cogerao representa parcela importante da
energia eltrica gerada no setor, sendo que ainda est crescendo em novas
instalaes. Frente a isso, a energia um insumo importante e relativamente
dominado no setor. As fbricas modernas de celulose de mercado (e as no
to modernas, tambm) so praticamente auto-suficientes em energia,
valendo-se de fontes de combustveis prprias e renovveis, como licor preto
e biomassas energticas. Apenas o forno de cal consome ainda cerca de 1 a
1,5 GJ de combustvel fssil por tonelada seca ao ar de celulose. Pequenas
quantidades de leo diesel so usadas em arranques de fbricas e em
geradores de emergncia, mas esse percentual desprezvel em termos de
balanos nacionais.
20
O gs natural e o leo combustvel so importantes fontes energticas
para as fbricas no integradas de papel e fbricas de papis reciclados (com
preparao da massa a partir de aparas). Opostamente s fbricas de
celulose de mercado, que possuem inclusive excedentes de energia eltrica
para venda a terceiros, as fbricas integradas e no integradas de papel so
deficitrias em sua gerao de eletricidade. Geram vapor suficiente para
suas mquinas trmicas, mas a quantidade de energia eltrica associada a
essa gerao trmica insuficiente, mesmo pelo uso de cogerao. Em
geral, so quase sempre dependentes de fontes externas de eletricidade.
por essa e outras razes que as fbricas integradas e no integradas de
papel conseguiram criar uma cultura mais firme em termos de ecoeficincia
energtica.
Outra concluso importante a ser aprendida desses dados que a
integrao de fbricas de celulose e papel uma oportunidade muito mais
sbia e ecoeficiente do que as fabricaes em separado desses dois
produtos. A integrao do cluster papeleiro definitivamente agrega
ecoeficincia energtica ao setor. Enquanto sobra energia eltrica na fbrica
de celulose de mercado, falta eletricidade na fbrica integrada. A integrao
desses dois tipos de produo equaliza, otimiza e consolida em uma nica
unidade produtora e consumidora essas duas manufaturas. Alm disso, a
fbrica de celulose de mercado no mais precisar consumir vapor e
eletricidade para formar e secar a folha de celulose e depois embalar os
fardos. So economias de cerca de 0,14 a 0,16 MWh/tsa de eletricidade e de
1,7 a 2,5 GJ/tsa de energia trmica. A integrao um importante fator a
promover reduo de consumo de energias, tanto eltrica como trmica.
Tambm a produo de papel reciclado mais eficiente
energeticamente do que a fabricao de papel de fibras virgens, mesmo que
aqueles manufaturados em fbricas integradas.
Em alguns pases, como o Chile por exemplo, a integrao vai alm
da fabricao de celulose e papel. So formados verdadeiros clusters de
base florestal, englobando fbrica de celulose, fbrica de papel, serrarias,
fbrica de aglomerados, etc. com uma nica central de gerao de energia
trmica e eltrica por cogerao. Tambm a simplificao ocorre a nvel de
tratamento de efluentes, guas, sistemas gerenciais, etc. A integrao no
cluster (agregados ou arranjos produtivos, como chamam alguns)
oportuniza redues de custos de produo, simplificao nos investimentos
de capital, melhores distribuies de energia e reduo de perdas de
transmisso, bem como simplifica reas administrativas, gerenciais,
laboratoriais, de marketing, etc. Resultam ganhos em consumos especficos,
redues de custos unitrios, e aumentos de resultados financeiros.
Raramente um cluster bem equilibrado e projetado demandar fonte
externa de energia, tanto trmica como eltrica. Mesmo que haja alguma
sobra de vapor, as turbinas de condensao/extrao (CEST =
21
Condensing/Extracting Steam Turbines) daro conta do excesso de vapor de
forma eficiente, sem ter que se desperdi-lo.
Enquanto no Chile a opo tem sido agregados ou arranjos produtivos
mais complexos na base florestal, em Portugal a meta estratgica a
integrao das fbricas de celulose e papel em sua totalidade, sem
necessidade de combustveis fsseis auxiliares e que ainda sobre nessa
integrao energia eltrica excedente para venda ao mercado. Tudo isso a
partir de 100% de recursos energticos renovveis ( licor preto concentrado,
biomassas e hidreletricidade).
At o momento, o modelo brasileiro tem sido diferente do chileno e do
portugus. H uma forte nfase na construo de fbricas extremamente
eficientes de celulose de mercado, tirando todas as vantagens possveis da
economia de escala em unidades de produo estado-da-arte. Os baixos
consumos especficos de energia so conseguidos pela instalao de fbricas
com as melhores tecnologias disponveis e de idades tecnolgicas muito
recentes. Infelizmente, esse no o modelo mais ecoeficiente em termos
energticos, apesar de oferecer consumos especficos baixos em funo da
economia de escala e das excepcionais eficincias operacionais. Hoje no
Brasil, as fbricas de celulose de mercado mais recentes esto sendo
projetadas e construdas para produo de 1,0 a 1,5 milhes de toneladas de
celulose de mercado por ano. Essas fbricas acabam sempre tendo um
excedente de vapor a ser condensado e um excedente de energia eltrica
para venda a terceiros. Esse excedente de energia eltrica para venda pode
atingir entre 0,2 a 0,4 MWh/tsa.
Apenas devemos lembrar duas coisas para completar esse tema: a
energia eltrica sofre significativas perdas com sua transmisso e
distribuio; as turbinas de condensao apesar de eficientes, tambm so
menos ecoeficientes do que se todo o vapor fosse utilizado no processo, sem
necessidade de condensao. Caso esse vapor e energia eltrica excedentes
fossem usados no prprio cluster, a ecoeficincia energtica seria maior,
acho que est claro para todos, no mesmo?
Apesar dessa busca pela eficincia operacional e escala de produo,
h ainda muita diversidade no setor de celulose e papel brasileiro. Nem
todas as fbricas so estado-da-arte e tambm o estado-da-arte
transitrio. Em pouco tempo, as tecnologias se aperfeioam e as exigncias
energticas mudam tambm. H um consenso de que as fbricas futuras
demandaro cada vez menos vapor, mas o consumo especfico de
eletricidade poder aumentar ligeiramente, pela busca de tecnologias que
trabalhem em consistncias mais elevadas e com menos gua e pela
introduo de equipamentos tipo kidney (rins depuradores) que iro
demandar consumos adicionais de eletricidade. As modernizaes
22
tecnolgicas resultaro em fbricas que vo trabalhar a consistncias
maiores e com muito menos gua. Ser muito menos vapor para aquecer
esses fluxos de massa e filtrados, mas as potncias dos equipamentos
motrizes podero aumentar ligeiramente.
De qualquer maneira, essa ampla diversidade tecnolgica que temos
no Brasil oferece distintas e variadas possibilidades de implementaes e
ganhos em ecoeficincia energtica. A ecoeficincia energtica est
mostrando potenciais de ganhos que variam entre 5 a 25% no consumo
unitrio de energia, dependendo da configurao industrial e cultura
energtica de cada unidade produtiva. As oportunidades so maiores para
economias em vapor do que para eletricidade. Isso porque a famosa crise
eltrica que o pas viveu no incio dos anos 2000s por carncia de chuvas fez
com que a indstria se mobilizasse para ecoeficincia energtica no setor
eltrico. Frente s presses causadas naquela poca, foram incorporadas
medidas profilticas e sanitrias em conservao de energia eltrica
processual com muito sucesso em nossas fbricas, em especial nas fbricas
de papel no integradas. Com isso, as oportunidades em racionalizao no
uso da energia eltrica de processo mostra oportunidades de ganhos
inferiores aos de economias em vapor (calor ou energia trmica). Como
esses nmeros so variados conforme a fonte, vamos apenas fornecer o
dado mdio relatado pela CNI Confederao Nacional da Indstria, que
sugere ganhos potenciais em ecoeficincia energtica de 19,3% para o setor
de celulose e papel como um todo (aferidos por avaliaes feitas em 2009).
As maiores oportunidades so relatadas pela CNI para as fbricas no
integradas de papel, onde muitas no Brasil ainda no dispem de cogerao
de energia. As oportunidades de ganhos em conservao de energia para as
fbricas de celulose de mercado, papel reciclado e integradas de papel
variam entre 13,3 a 16,2% em mdia por segmento. As plantas de papel
reciclado e as integradas de celulose/papel esto sendo mais ecoeficientes
em gerao e consumo de energia, seguidas pelas fbricas de celulose de
mercado.
Esses dados reforam conceitos j vistos anteriormente: a cogerao
uma tecnologia vital para fazer parte da vida das fbricas do setor; a
integrao papel/celulose melhora a eficincia energtica das fbricas; as
fbricas de celulose por terem energia barata e disponvel em excesso
desperdiam mais vapor e energia eltrica. Nada mais natural, onde h
excesso e abundncia costumam ocorrer desperdcios maiores, j que no
existem presses causadas por restries.
Programas de conservao de energia e de racionalizao desse uso
costumam ser muito favorveis s empresas do setor. Em diversas pocas
passadas o setor se mobilizou para melhores resultados em conservao de
energia. interessante citar o importante papel de duas associaes de
classe: a BRACELPA Associao Brasileira de Celulose e Papel e a ABTCP
23
Associao Brasileira Tcnica de Celulose e Papel. So fortes braos a apoiar
o setor na elaborao de estudos, diagnsticos, desenvolvimento de
indicadores, programas de benchmarking energtico, etc. Outro importante
parceiro do setor nos anos 70s a 90s foi o IPT Instituto de Pesquisas
Tecnolgicas do Estado de So Paulo. Ainda existem vivos e dinmicos em
muitas bibliotecas do setor alguns manuais de conservao de energia
editados pela esforo tcnico do IPT nos anos de 1978 (3 volumes) e 1985 (2
volumes). Essas obras esto referenciadas na literatura desse captulo.
Um programa organizado e institucional para ecoeficincia energtica
setorial pode colaborar para melhorias das operaes de nossas fbricas
como um todo e no apenas nos aspectos energticos. Existem
oportunidades para reduo de custos de produo, aumento de
produtividade, otimizaes de performances, venda de excedentes
energticos, etc. Enfim, tudo que nossos executivos apreciam ouvir e ver
acontecer. Infelizmente, alguns ainda no perceberam as vantagens desse
tipo de programa.
Quando a conta de energia alta, como no caso das fbricas no
integradas de papel ou nas de papis reciclados (inclusive papis sanitrios
reciclados), as pessoas so mais sensveis a mudanas, pois o bolso ajuda a
pressionar aes de melhoria de custos (e de performances, por
conseqncia). Portanto, as fbricas no integradas devem continuar
priorizando mais intensamente a gesto da energia, especialmente no caso
de fbricas existentes em processos de modernizao.
J as fbricas de celulose de mercado, essas esto sempre atentas a
expanses de capacidade produtiva, com modernizaes e construes de
novas linhas de fibra integradas ou no s antigas. Nesses casos, muito
comum a busca pela melhor tecnologia disponvel para essas novas linhas,
com novas instalaes modernas e j comprovadas tecnologicamente. O
setor de papel e celulose, at mesmo pelos altos custos de investimentos e
longos prazos para maturao financeira, muito ligado a tecnologias
eficientes, mas j devidamente comprovadas. Portanto, para o caso
brasileiro, podemos no momento esperar sempre por novas e modernas
fbricas, com elevadas eficincias operacionais. Elas devero ter eficincias
melhores em consumos de gua, energia eltrica, vapor e demais insumos.
Entretanto, dificilmente teremos instalada no Brasil uma gerao tecnolgica
absolutamente inovadora em conceitos produtivos, antes de que j esteja
comprovada industrialmente em alguma outra parte do mundo (em geral na
Escandinvia ou Amrica do Norte, por exemplo). Por exemplo: fala-se muito
em fbricas associadas a biorefinarias para gerao de biocombustveis
renovveis; ou ento com gaseificao de biomassa para uso de energia
limpa no forno de cal; fala-se tambm em secagem da folha mida de papel
por impulsos (impulse drying); como tambm se fala em precipitao de
lignina do licor preto para gaseificao da mesma e gerao de gases
combustveis. Esses saltos tecnolgicos devero certamente acontecer
24
primeiramente em outros locais, para depois serem implementados nas
nossas fbricas disso eu no tenho dvidas. H at certo ponto uma
averso a saltos tecnolgicos considerados perigosos ou arriscados como
seria o caso das biorefinarias (produo integrada de celulose e
biocombustveis), muito badaladas atualmente nos pases desenvolvidos.
Mais uma vez, isso perfeitamente compreensvel em um Pas que tem
escassez e custo caro para o capital, alm de tributao excessiva sobre os
investimentos.
Eucaliptos raiz do sucesso da produo industrial brasileira de celulose e papel
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TIPOS DE ENERGIA DEMANDADOS PELO SETOR DE PAPEL E
CELULOSE
O setor de papel e celulose utiliza basicamente os seguintes tipos de
energias em suas operaes:
25
Calor para cogerao (vapor superaquecido de alta presso para movimentar turbo-geradores e produzir energia eltrica e trmica);
Calor de processo (vapores de mdia e baixa presses para aquecimentos diversos);
Calor recuperado ou calor secundrio (calor trocado em trocadores de calor, economizadores, transferncias de condensados, etc.);
Fora motriz (energia resultante da ao de motores sobre um eixo mvel em bombas, picadores, refinadores, etc.);
Energia de refrigerao (energia usada em refrigerao de gua para plantas qumicas e sistemas de ar condicionado);
Energia para processos eletrolticos (energia usada em clulas de cloro-soda, gerao de clorato de sdio, etc.);
Iluminao: iluminao de interiores e exteriores;
Outros tipos: energia eltrica usada em escritrios, equipamentos de controle, etc.
Em cada uma dessas situaes podemos ter ndices de eficincia
diferentes e variados, muitas vezes com baixos resultados no
aproveitamento e na utilizao dessas energias. Frente diversidade
tecnolgica setorial, muitas vezes encontramos uma situao de excepcional
eficincia em uma fbrica onde existem alguns usos desastrosos para o
mesmo tipo de energia. por essas razes que o envolvimento de terceiros
em programas de diagnsticos e auditorias energticas pode ser considerado
bastante recomendvel para nossas fbricas.
As razes para se trabalhar um programa de uso racional de energia
no setor so muito claras e dentre elas podemos citar:
H forte tendncia de dificuldades futuras no suprimento de energia, mesmo das nossas admiradas biomassas energticas, que comeam a
ser disputadas por outros setores (biocombustveis, gerao de calor por
outras indstrias, produo de carvo vegetal siderrgico, etc., etc.);
H fortes possibilidades de uma competio global mais intensa pelos recursos energticos renovveis;
26
H tendncias seguras para crescimento da participao dos custos de energia nos produtos, principalmente pelo encarecimento dos recursos
energticos;
H ainda fortes tendncias para reduo nos preos de venda de produtos de celulose e papel em funo de competitividade acirrada nos
mercados;
As presses ambientais sero cada vez mais intensas sobre a gerao de gases de efeito estufa, no apenas sobre o gs carbnico fssil, mas
tambm sobre o metano, xidos de nitrognio, monxido de carbono,
etc.
Frente a isso tudo, o percentual de participao da energia nos custos
de fabricao da celulose e do papel tendero a aumentar na composio dos
itens mais expressivos da planilha de custos industriais.
Apesar de termos no setor fontes de energia muito limpas e
renovveis, como o licor preto concentrado e as biomassas florestais; alm
de processos de gerao muito eficientes como a cogerao; no podemos
nos acomodar e nos dar por satisfeitos. Mesmo os energticos limpos e
renovveis podem ser otimizados em seus usos, obtendo-se assim ganhos
expressivos em economias de recursos naturais e em recursos econmicos.
Definitivamente, a ecoeficincia energtica para nossas fbricas resultar em
menores necessidades de combustveis, sejam eles fsseis ou renovveis.
So recursos naturais que podem ser economizados, ajudando a
Conservao, no apenas da Energia, mas da Natureza.
Ecoeficincia energtica: uma rede de resultados prticos em favor da Natureza
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27
RELAES ENERGIA / MEIO AMBIENTE
O grande debate ambiental a nvel global deixou de ser a poluio
industrial para se concentrar nas mudanas climticas e nos temas
relacionados ao aquecimento global. A busca de um desenvolvimento limpo,
com menos uso de combustveis fsseis passou a ser prioritria para muitos
povos e inmeros governos, causando interesse e despertando fortes
emoes. As respostas ainda variam em intensidade, mas as presses
devero crescer, sobre isso no existem dvidas. A preocupao com os
gases de efeito estufa (GHG Green House Gases) est sendo uma das
grandes foras motrizes para mudanas tecnolgicas e de comportamento de
nossa sociedade. Essas mudanas sero imperiosas e devero ser
estimuladas pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Elas podem
ser vistas como oportunidades ou ameaas. Isso vai depender da postura e
da proatividade dos setores industriais envolvidos.
Os gases causadores do efeito estufa no so apenas os gerados na
queima de combustveis fsseis. Outros gases at mesmo muito piores que o
gs carbnico da combusto podem existir em nossas fbricas, tais como o
metano (resultante de decomposies anaerbicas de resduos orgnicos), os
xidos de nitrognio (formados nos processos de combusto), bem como os
gases de unidades de refrigerao.
Existe todo um foco hoje sobre o gs carbnico e sobre as enormes
possibilidades que ele oferece quando seqestrado (pelas nossas florestas
plantadas, por exemplo). Definitivamente, ter-se materiais renovveis como
matria-prima fibrosa e como biomassa energtica, ambas originadas em
nossas florestas plantadas uma ddiva, uma beno para todos ns do
setor de celulose e papel no Brasil. Essa ddiva foi conquistada com muito
esforo tecnolgico do setor e hoje colhemos alguns frutos, graas a ela.
Entretanto, essa uma vantagem competitiva transitria, pois outros pases
28
tambm podem plantar florestas eficientes e produtivas. Fotossntese no
um privilgio brasileiro, concordam?
Hoje, pelos dados disponibilizados em balanos globais de energia, as
emisses de gs carbnico fssil equivalente no caso do setor de celulose e
papel no Brasil correspondem a cerca de 0,3 0,4 toneladas de CO2
equivalente por tonelada de celulose+papel. Entretanto, esses valores no
esto entre os melhores do mundo. Existem pases como Sucia e Noruega,
com muitas fontes de hidreletricidade, em que esses valores so bem
menores (entre 0,15 a 0,2 toneladas de CO2 equivalente por tonelada de
celulose+papel). Por isso mesmo, nosso setor tem grandes oportunidades a
conquistar nesse particular. A vantagem oferecida est ligada s
possibilidades de comercializao de crditos de carbono, conforme alguns
critrios estabelecidos pelos conceitos do MDF Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo. O carbono limpo muito valorizado e oferece novas
oportunidades de receitas s empresas.
As maiores fontes de gs carbnico fssil no setor de celulose e papel
so: leo combustvel (cerca de 50%), gs natural (aproximadamente 30%),
leo diesel para transporte de insumos e madeiras (cerca de 5%), e outras
fontes menores (carvo mineral, gs liqefeito de petrleo, etc.). Temos
ainda a considerar que toda empresa que compra energia eltrica atravs
abastecimento por concessionrias precisa ter conhecimento da matriz de
combustveis e de emisses de carbono fssil, caso esteja determinada a
calcular as suas pegadas de carbono ou a vender crditos de carbono. O
grid energtico no Brasil predominantemente de hidreletricidade, mas a
participao de termeltricas est aumentando gradualmente, conforme o
Brasil est descobrindo mais fontes fsseis de petrleo e gs natural. Por
outro lado, o potencial de hidreletricidade est-se exaurindo rapidamente e
as presses ambientais contra mega-projetos de usinas hidreltricas so
enormes por parte da sociedade organizada.
Os temas ambientais para uso da energia crescem em importncia. A
concesso de rtulos ambientais ao papel em diversos pases europeus j
englobam critrios tanto de consumos especficos de energias trmica e
eletricidade, como de gerao especifica de gs carbnico fssil pelas
fbricas de celulose e de papel. Com isso, novos indicadores passam a ser
demandados pelos clientes do papel e da celulose, tais como:
Toneladas de gs carbnico fssil equivalente por tonelada de celulose ou papel;
Toneladas de gs carbnico fssil equivalente por GWh de energia eltrica gerada e/ou consumida.
29
Nossas fbricas brasileiras apresentam valores entre 0,20 a 0,5
toneladas de gs carbnico fssil equivalente por tonelada de papel,
englobando nesse valor as emisses da celulose, proporcional participao
da celulose no peso do papel. Afetam esses resultados tambm as fontes
energticas usadas na gerao da energia eltrica, seja prpria ou
comprada. No importa quem produza a celulose utilizada na fabricao do
papel ou a energia que se usa nessa produo todo o carbono fssil precisa
ser avaliado, referenciado e calculado, por isso o termo Pegadas de Carbono
(Carbon Footprints).
Existem trs outros fatores ambientais relevantes associados
fabricao de celulose e papel, e que afetam a ecoeficincia energtica:
Consumo especfico de gua; Gerao de refugos na fabricao do papel; Gerao de resduos slidos em todo o processo produtivo.
A gua um dos grandes venenos na atual forma de se fabricar
celulose e papel. Definitivamente, o excesso de gua desastroso em
termos energticos para o setor. Uma tonelada seca ao ar de celulose na
forma de fardos corresponde a um volume de menos de 2 metros cbicos.
Porm, para se fabricar isso se usam mais de 30 metros cbicos de gua,
que entram na fbrica apenas para veicular as fibras em suspenses que
roubam calor e demandam energia eltrica para bombeamento. Quando
transferimos uma massa fibrosa de um local para outro em consistncia de
3%, significa que para cada 3 unidades de peso de gua, acompanham mais
97 de gua. A gua passeia pelas nossas instalaes fabris, evaporando
calor e distribuindo energia trmica para tubulaes, paredes de tanques,
etc., etc. Alm disso, existem filtrados e guas servidas a bombear, no
apenas massa fibrosa. Fbricas de celulose consomem cerca de 25 a 40
metros cbicos de gua por tonelada seca ao ar de celulose vendvel. A
manufatura de papel na fbrica no integrada de papel consome menos:
cerca de 3 a 15 metros cbicos por tonelada de papel vendvel.
Praticamente 30 a 50% de toda energia trmica agregada ao processo pode-
se perder com os efluentes; mais os 50% de energia eltrica desperdiada
no bombeio de massas e filtrados. J vimos isso, mas bom reforar para
consolidar muito bem essa enorme fonte de desperdcio energtico.
Torna-se portanto cada vez mais vital que as tecnologias migrem para
sistemas que trabalhem com consistncias mais altas em todas as suas
fases; desde lavagens, depuraes, etapas de branqueamento, at mesmo
nas caixas de entrada das mquinas de formar folhas de papel ou celulose.
O fechamento dos circuitos de gua mais um forma de desenvolver
ecoeficincia energtica nas fbricas de celulose e papel. Mas preciso saber
fazer essa otimizao muito bem, com adequados balanos de massa e de
energia. Caso isso no seja feito, muito provvel que consigamos
30
economizar gua em um setor da fbrica e que essa gua economizada v
sobrar em outros setores da mesma fbrica. Otimizar consumo de gua no
apenas transferir gua de uma rea para outra, entendido?
Redues de 10 a 15% de consumo de gua nas fbricas impacta em
ganhos ambientais e de consumo energtico nas operaes. Os valores
econmico e ambiental vo depender de onde a economia est sendo
implementada e qual tipo de gua est sendo economizado. O mesmo
raciocnio vlido para vapores e condensados limpos de vapor vivo, outros
tipos de gua de grandes valores econmicos.
Um outro fator ambiental relevante em relao ecoeficincia
energtica a gerao de resduos slidos nas fbricas. Enormes
quantidades de cinzas de caldeiras, partculas, dregs/grits, lodos, etc. se
perdem em nossas fbricas. Todos levam alguma energia e alguma gua
com eles. Como muitas empresas no colocam especificaes de qualidade
para esses resduos, em geral eles so muito ricos em guas e em
temperaturas. Se alguns desses resduos forem destinados a caldeiras para
queima (exemplo: lodos orgnicos, cascas, palitos e ns da depurao, etc.)
eles prejudicaro a ecoeficincia global. Ao invs de gerarem energia til nas
caldeiras, estaro isso sim consumindo energia e estragando a eficincia
trmica dessas caldeiras.
Finalmente, (e eu sempre deixo esse tema para falar duramente e
deixar meu recado) temos os refugos da fabricao do papel. Refugos ou
aparas internas (broke) so outros dos grandes venenos da ecoeficincia
energtica. Eles so na verdade uma das maiores doenas ou vcios de
nossos processos de fabricao. Escrevi um captulo todo sobre refugos do
papel e sua perversidade. Se quiserem l-lo, ficarei muito grato. Visitem:
Ecoeficincia na gesto da perda de fibras de celulose e do refugo gerado na
fabricao do papel . Eucalyptus Online Book. Captulo 06. 97 pp. (2007)
Disponvel em: http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT06_fibras_refugos.pdf
Os refugos para serem reprocessados e manejados consomem
enormes quantidades de energias trmica e eltrica, alm de gua.
Imaginem que eles precisam de energia para desagregao, movimentao
em fluxos internos e depois calor e energia eltrica para formar novas folhas,
que em parte virar refugo de novo. Um desperdcio e uma perversidade sem
tamanho.
A reduo da gerao de refugos internos do papel contribui decisiva
e significativamente para: melhorar consumo de gua, de energia trmica,
de energia eltrica, de poluentes orgnicos (lodos). Impacta ainda positiva e
decididamente sobre produtividade e sobre a felicidade dos trabalhadores,
31
que acabam tendo que fazer esse grande e desmotivador servio de
retrabalho.
Baixa ecoeficincia energtica no privilgio de alguns poucos pelo contrrio, h
muitos precisando de ajuda, mesmo que acreditem que ela no necessria!
As estratgias de ecoeficincia energtica precisam estar alinhadas a
estratgias gerais de ecoeficincia, com as quais ganhos ambientais
relevantes sero alcanados em:
Redues em consumos de gua; Redues de efluentes gerados; Redues nas perdas de gua; Redues em gerao de resduos slidos; Redues gerais de retrabalhos, desperdcios, reprocessamentos, etc.; Redues no uso de matrias-primas e insumos energticos; Aumento das eficincias trmicas, rendimentos de converso
energtica, e continuidade operacional;
Aumento da utilizao de calores secundrios; Etc.
sempre importante que se faam valoraes ambientais,
econmicas e sociais de todas as oportunidades que acreditemos possam
resultar em vantagens energticas. Pela intima correlao entre os fatores
ambientais, energticos e econmicos, essas valoraes so vitais e devem
fazer parte de qualquer atividade objetivando ecoeficincia, qualquer que
seja ela.
Outros ganhos ambientais podero ser alcanados pela ecoeficincia
energtica, a saber:
32
Maiores facilidades para atendimento dos requisitos legais aplicados empresa;
Melhor desempenho global da empresa; Melhoria da imagem em funo do reconhecimento de suas aes pela
sustentabilidade e ecoeficincia;
Mais fcil dilogo com as partes interessadas; Melhor qualidade de vida das comunidades interna (trabalhadores) e
externa (vizinhos);
Etc.
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PRINCIPAIS BARREIRAS ECOEFICINCIA ENERGTICA
Um fato curioso e que chama a ateno que todos nas empresas
consideram que a busca da ecoeficincia energtica algo importante e que
deve acontecer. No h quem negue isso. Entretanto, no so muitos os
que mergulham pr valer em programas de racionalizao do uso da
energia. H quase sempre uma obsesso empresarial em aplicar recursos
financeiros em projetos que resultem em aumento de produo e de
eficincia operacional. A ecoeficincia energtica deve-se dar por satisfeita se
ganhos energticos surgirem desses investimentos em produtividade e
capacidade produtiva. Muitas vezes eles at que resultam importantes, pois
o aumento de produo pode pedir algum tipo de investimentos em
disponibilizao de novas quantidades de energia e elas serem buscadas por
racionalizao de consumo. Portanto, em grande maioria das vezes, a
ecoeficincia energtica no a fora motriz das mudanas, mas afetada
positivamente por conseqncias de outros drivers.
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H algumas razes bsicas que podem ser consideradas barreiras ao
processo de implementao de programas de gesto da energia. Dentre elas
destacam-se:
A cultura dos executivos no est voltada para o melhor uso da energia, mas para o menor custo da energia;
H grande desconhecimento dos indicadores setoriais, especialmente em termos de indicadores de performances energticas mais vitais nas
diversas reas de produo. Algumas empresas possuem quando muito
indicadores de consumos globais de energia por tonelada de produto
saindo das mquinas de papel.
H pouca disposio para fortes mudanas tecnolgicas no setor energtico das fbricas existentes (existing mills);
Falta competncia tecnolgica para identificar quais as tecnologias que podem ser implementadas com sucesso, principalmente para fbricas em
operao (existing mills);
Existem muitos vcios de operao arraigados no setor, no apenas por parte de operadores, mas de gestores tambm;
H alguma incapacidade para desenvolver eficientes estudos de viabilidade tcnica, econmica, ambiental e social, de forma
concomitante, inclusive valorando adequadamente todas as vertentes da
ecoeficincia energtica. Essa valorao ainda mais deficiente em
empresas com diversas mquinas de papel e inmeros produtos, onde
sequer so conhecidos de forma adequada os consumos especficos de
energia de cada produto.
H pouca capacidade de investimentos nas pequenas e mdias empresas, logo os itens de performance energtica acabam ficando em segunda ou
terceira prioridades;
No existem polticas energticas em muitas empresas, com metas estratgicas claramente definidas para energia;
Energia no vista como prioritria, pois a empresa tem outros problemas muito maiores a se preocupar;
Etc.
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TECNOLOGIAS & TECNOLOGIAS
COMO ESTAREMOS NS NESSE CONTEXTO?
As alternativas para aumento da ecoeficincia energtica muitas
vezes esbarram na falta de domnio tecnolgico e na prpria incapacidade de
fazer resultar a tecnologia disponvel. Muitas empresas possuem ainda
dificuldades enormes para fazer suas mquinas serem mais eficientes,
atingindo ndices de performance melhores do que os praticados em
operao industrial rotineira. Outras empresas possuem um espectro de
produtos variado e complexo, sendo fabricado em mquinas e setores fabris
com diferentes idades tecnolgicas. Com essa complexidade instalada, os
sistemas de avaliao so dificultados. Mesmo os balanos trmicos e
mssicos so difceis de serem elaborados por falta de medies de fluxos,
temperaturas, presses, etc. Com isso, a criao de indicadores energticos
ainda mais difcil.
A ecoeficincia energtica para ser um programa vitorioso requer que
tenhamos bons conhecimentos sobre:
O projeto da unidade a ser otimizada, desde a concepo de engenharia do mesmo, como de seus desenhos como foi efetivamente construdo
(as built);
A forma como as diversas reas so operadas; As intrnsecas interligaes entre as reas produtivas;
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As limitaes energticas e de performance de cada processo produtivo, suas restries, gargalos, dificuldades de manutenes, peas, eficincias,
etc.;
O desempenho ambiental da fbrica e de reas vitais da fbrica; O conhecimento quantitativo das principais perdas e desperdcios dos
processos em termos de gua, vapor, eletricidade, resduos, refugos,
rejeitos, etc.;
Os rendimentos das fases vitais dos processos: digestor, evaporao, caldeira de recuperao, caldeira de fora, mquinas de formar e secar
folhas, etc.;
Os principais consumos de energia eltrica e calor em fases vitais do processo produtivo.
Conhecidas as tecnologias disponveis em nossa fbrica e seus nveis
sustentados de performance, suas limitaes, seus pontos fortes/fracos, etc.
poderemos caminhar para uma fase seguinte de avaliao tecnolgica que
a comparao de nossos indicadores com os obtidos pela adoo das
chamadas BAT (Best Available Technologies = Melhores Tecnologias
Disponveis). Em geral isso exige um benchmarking (comparao crtica)
com dados de indicadores disponibilizados por algumas entidades
especializadas. Dentre elas podemos citar: IEA - International Energy
Agency; EERE Energy Efficiency and Renewable Energy, do DOE
Department of Energy do governo norte-americano; CIPEC - Canadian
Industry Program for Energy Conservation; PAPRICAN Pulp and Paper
Research Institute of Canada; Berkeley National Laboratory (USA);
CanmetEnergy (Canad); ABTCP Associao Brasileira Tcnica de Celulose
e Papel (Brasil), dentre outros. Na seo sobre referncias da literatura e
sugestes para leitura apresentamos para vocs os websites de diversas
dessas instituies para navegao. Com isso, possvel uma atualizao
sobre o que vem acontecendo em outros pases lderes em produo de
papel e celulose em termos de ecoeficincia energtica. Essas instituies
publicam no apenas os indicadores de melhores performances, como
tambm indicam o status tecnolgico em termos de melhores tecnologias
disponveis setor a setor produtivo para nossas fbricas.
Os dados disponibilizados de consumos energticos referenciais
servem para comparar nossas fbricas no apenas com as fbricas estado-
da-arte (BATs), mas tambm com fbricas referncias ou modelo de mesma
idade tecnolgica (por exemplo: fbricas referenciadas como possuindo boas
prticas energticas e construdas nos anos 80s, 90s, 2000s, etc.).
Vamos ver um exemplo simples de como fazer esse tipo de
comparao. No caso do forno de cal de uma fbrica de celulose kraft, os
melhores valores relatados como consumo de energia trmica so de 1 a 1,2
GJ/tsa e de 0,025 a 0,030 MWh/tsa para eletricidade. Em geral, a maioria
das publicaes se referem a GJ/tsa para calor e em MWh/tsa. Algumas
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padronizam todas as energias em GJ/tsa. ( 1 GJ = 0,278 MWh). Recordemos
que tsa = tonelada seca ao ar, que corresponde ao equivalente a 10% de
umidade)
Para a avaliao comparativa foi desenvolvido um ndice denominado
IEE ndice de Eficincia Energtica. Consiste na razo entre o valor
mostrado como referncia pelas entidades internacionais (para as BATs ou
para fbricas referncias do ano tecnolgico em questo) e o valor mdio
efetivamente praticado na nossa fbrica.
Suponhamos que no forno de cal da fbrica que deseja o
benchmarking o consumo de energia trmica (combustveis do forno) seja
de 1,5 GJ/tsa e o de energia eltrica 0,040 MWh/tsa. De imediato se notam
valores piores que os valores referenciados, o que fornecer valores de IEE
inferiores unidade.
IEE calor forno de cal = 1,1 GJ/tsa : 1,5 GJ/tsa = 0,73
IEE eletricidade forno de cal = 0,0275 MWh/tsa : 0,040 MWh/tsa = 0,69
A primeira concluso a de que nosso forno de cal est sendo
energeticamente menos eficiente do que os fornos existentes em fbricas de
melhores tecnologias de performance. Quanto mais baixo forem os valores
de IEE, pior est sendo o desempenho energtico da rea em questo (ou da
fbrica como um todo). Tambm indicam que existem possibilidades de
ganhos energticos, tanto maiores quanto menores forem os valores de IEE.
No caso desse forno de cal, h que se entender e interpretar os
dados encontrados para pior performance. Algumas perguntas precisam ser
respondidas:
O forno estaria superdimensionado para a sua produo de cal? O forno estaria subdimensionado para essa produo atual de cal? O forno tem manuteno adequada e trabalha em boas condies
operacionais?
O forno tem idade tecnolgica atrasada (por exemplo, tem secagem interna da lama ao invs de um secador do tipo LMD Lime Mud
Dryer)?
O forno de cal tem baixa eficincia operacional muitas paradas e perdas devido no apenas s suas operaes, mas s da fbrica toda?
A fbrica de celulose tem baixa escala de produo (fbrica muito pequena em comparao s fbricas de melhores tecnologias)?
Etc., etc.
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Recomenda-se ainda que essas comparaes sejam feitas com valores
representativos da operao de cada unidade em comparao, que mostrem
dados mdios de pelo menos 15 dias de produo estvel e sustentada da
unidade em avaliao.
Quando os valores de IEE so muito baixos, menores do que 0,5; a
unidade em questo est muito distante das melhores tecnologias
disponveis. Mais do que um projeto de melhoria energtica por otimizaes
de operaes, talvez seja o caso de uma mudana tecnolgica imediata, se a
empresa tiver condies de implementar.
No caso do forno de cal em avaliao, os valores no so to
dramticos e indicam que possvel se otimizar algo de sua performance
energtica atuando em alguns itens tais como:
Melhor atomizao do combustvel nas zona de combusto; Reduo da umidade da lama na entrada do forno; Melhoria da relao ar de combusto/calor do combustvel; Pr-aquecimento do combustvel e do ar de combusto; Enriquecimento em oxignio do ar de combusto; Limpezas mais freqentes das incrustaes; Melhoria no isolamento interno (refratrios) para reduo de perdas
por irradiao;
Melhoria na qualidade do make up de calcreo ou cal comprada; Etc.
Em comparaes entre pases, existe uma recente avaliao feita pela
IEA International Energy Agency, em 2007, para o setor de papel e
celulose (http://www.iea.org/textbase/nppdf/free/2007/tracking_emissions.pdf). Nessa
comparao, o setor de papel e celulose brasileiro tem mostrado evolues
ao longo da anlise dos dados histricos, mas seus dados de IEE de calor
(energia trmica) so de apenas 0,83 quando os pases de melhor
performance esto prximos a 0,90. Portanto, existe um potencial de
melhoria em energia trmica de cerca de 8,5% para nosso setor, em relao
aos pases melhores performantes. J para a eletricidade, nossos valores de
IEE foram ainda mais baixos (de 0,73), quando os pases com melhores
desempenhos tinham valores acima de 0,84. A situao energtica do Brasil
foi considerada similar do Canad. No caso brasileiro, atribuiu-se a
performance energtica no to satisfatria em funo da energia muito
barata sendo produzida por cogerao dentro das fbricas a partir de
biomassas de baixo custo. Com uma energia artificialmente barata, os
estmulos para economia energtica so reduzidos.
Nesse mesmo estudo existe uma avaliao da gerao de gs
carbnico de origem fssil. O valor relatado para o Brasil de 0,4 toneladas de
gs carbnico fssil por tonelada de produto setorial mostra potencial de
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melhoria em relao aos de pases como Noruega e Sucia, com valores
abaixo de 0,2.