unicom 01-2007

16

Upload: acervo-a4

Post on 23-Mar-2016

236 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Unicom n.01, outubro de 2007

TRANSCRIPT

Page 1: Unicom 01-2007

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:081

Page 2: Unicom 01-2007

Editor-chefeDemétrio de

Azeredo Soster

RepórteresCarina Weber

Daniela AzeredoDébora Nunes

Letícia Mendes PachecoMárcia MüllerMariane Selli

Marisa LorenzoniPoliana Pasa

Rodrigo NascimentoSancler Ebert

DiagramaçãoGelson Santos Pereira

Poliana Pasa

ImpressãoGraphoset

500 exemplares

UNISC - Universidade deSanta Cruz do SulAv. Independência, 2293Bairro UniversitárioSanta Cruz do Sul - RSCEP: 96815-900Curso de ComunicaçãoSocial - Jornalismo.Bloco 15 - sala 1506.Fone: 3717-7383Coordenadora do curso:Mônica Pons.

CapaLázaro Paz Fanfa

Este jornal foi produzidode forma interdisciplinar.O conteúdo editorial ficoua cargo das turmas de Jor-nalismo Especializado(professor Demétrio deAzeredo Soster), Técnicasde Reportagem e Jornalis-

expediente

LogotipoSamuel Heidemann

mo Impresso II (professorHélio Etges). As fotografi-as foram feitas pela turmade Fotojornalismo II (pro-fessor Alexandre Borges).Os anúncios da ediçãoforam criados pelas turmasde Redação em Publicida-de e Propaganda II (profes-sor Fábio Hansen) e Dire-ção de Arte I (professorRudinei Kopp).

IlustraçõesGelson Santos Pereira

Lázaro Paz FanfaGiuseppe Fontanari

O jornalismo vive, muito provavelmente,um dos momentos mais paradoxais de sualinha evolutiva, iniciada há pelo menos 300anos: se, de um lado, a tecnologia – emespecial a partir da transposição dos jornaispara a internet, em 1995 – passou acomprimir cada vez mais as relações espaço-temporais, sob outro ângulo o momento éparticularmente rico no que toca à produçãode reportagens. De um lado, a tecnologiaimprimindo novas formas de se pensar eelaborar jornalismo. De outro, a reportagemrecuperando um espaço que, ao final, semprefoi seu.

Mais que um contra-senso, quer nosparecer que este fenômeno é passível decompreensão para além dos determinismos,basicamente porque jornalismo e tecnologiasempre andaram de mão dadas, com o perdãoda má-figura. Sendo assim, e passadoseventuais furores e sentenças, as evidênciasnos sugerem que o jornalismo enquantoforma específica de conhecimento não apenasrespira como passa bem. Esta nova edição doUnicom, a terceira do ano de 2007, comprovaa afirmação.

O que você encontrará aqui são 16 páginaspermeadas por um esforço jornalístico dosalunos das disciplinas de Técnicas deReportagem, Jornalismo Especializado eImpresso II no sentido de dar corpo ao que háde mais caro à profissão: a elaboração dematérias de fôlego, cujo norte esteja centradono que é diferente; não no que é usual.

Mas não são apenas alunos de jornalismoos responsáveis: o pessoal da Publicidade ePropaganda – e o das turmas de Fotografia –uma vez mais se fizeram presentes em nossopropósito coletivo no sentido de não apenasse utilizarem do suporte jornal paradesenvolver suas habilidades. Suaparticipação, seja por meio de idéias, inserçãode anúncios, ilustrações ou fotografias foifundamental para o resultado que agora vocêrecebe em suas mãos. A isso chamamosinterdisciplinaridade, mas também parceria evontade de crescermos juntos, objetivos detodos nós.

Dito isso, resta-nos desejar-lhe, como dehábito, uma boa leitura, e o convite para que,da forma que for possível, você esteja junto denós nesta jornada e nas que estão por vir.

editorialeditorialUM MOMENTO DIFERENTE

Promoção: medo a R$ 1,99 o quilo!HELOÍSA POLL

Não gosto muito de ir ao supermercado. Nemsei por que decidi ir naquele sábado. Talvez pelaminha mãe. Coitada! Nunca tem alguém paraacompanhá-la nas compras. Márcio, meunamorado, foi junto. No estabelecimento, cadaum pegou seu carrinho e seguiu para os curtoscorredores entulhados de produtos e gente. Aestratégia deu certo. Em menos de trinta minutos,a maratona chegava ao fim, ou melhor, quase. Porsorte, havia um ponto de atendimento livre.Comecei a retirar as compras das pequenasgaiolas com rodinhas. Quando me abaixei parapegar mais um monte de pães, chocolates,sabonetes e não sei mais o que, senti que alguémsegurava meu braço: - Heloísa, isso é um assalto.

Olhei para o lado e vi que minha mãe deixarasua bolsa cair no chão. Levantei a cabeça mais umpouco e avistei a porta. Nesse momento, vi umacena crucial: havia um homem, um animal, umaarma e o medo. Meu corpo gelou, minhas pernascomeçaram a tremer e minha garganta secou. Semque eu pudesse evitar, as lágrimas começaram aescorrer. Avistei meu namorado que estava maisafastado do caixa e vi seu olhar desesperado.Lembrei das pessoas que havia visitado horasantes. Lembrei, também, que fiquei sem abraçarmeu pai e meu irmão durante toda a semana. Meucoração, num grande exagero, se contraiu. Minhamãe dizia para que eu não olhasse para a porta.Encarar o criminoso era a pior coisa a se fazernaquele momento. A sensação era terrível.

De repente, olhei para as centenas de pessoasao meu redor. Suas cestas estavam cheias demedo e incerteza. Em seus olhos dava para verque, assim como eu, procuravam paz nasprateleiras. Vi que elas começavam a recuar parao fundo do prédio. Essa reação me fez pensar queos criminosos - soube que eram dois! - estavamatacando todas as pessoas paradas nos caixas.Chorei ainda mais. Não vi nada. Minutos depois,ouvi algo (um pouco) relaxante: - Pegou o malote?Pegou o malote? Então vamo embora, vamoembora! Aquela frase soou como se fosse umanova versão do grito da independência. Mesmocom a fuga dos delinqüentes, empacotadores,caixas, fiscais e clientes permaneceram imóveis.Ouviam-se apenas os corações batendo forte epensamentos atordoados: - Isso foi um sonho?

Após a angústia, tive que esperar peloatendimento. A moça havia sumido. Será que foiseqüestrada? Não. Ficou apavorada com asituação e saiu às escondidas. Após um longotempo de espera - naquela situação, quaisquercinco minutos pareciam uma eternidade - voltouao ofício que naquele dia podia ter lhe custado avida. Finalmente, os preços foram computados, ocheque foi preenchido e as sacolas, com a frase“orgulho de ser santa-cruzense” estampada, foramcheias. Restou apenas, no supermercado, umpedaço da segurança que eu ainda sentia, quandosaía às ruas. Foi um sábado em que não enchi assacolas de Coca-cola e, sim, de lágrimas e medo.

ProduçãoMariane Selli

RevisãoCarina WeberLucas Nobre

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:082

Page 3: Unicom 01-2007

Veterinário descobrecarrapato diferenteCARINA WEBER

Poderia ser mais uma simplescoleta de material para fins ci-entíficos em um animal silvestrena clínica do doutor EdsonSalomão! Mas não foi isso o queocorreu. E se a pesquisa é cons-tante na vida do veterinário, oschamados para atender animaissilvestres maltratados e machu-cados também são.

Acostumado a receber ani-mais silvestres conduzidos pelaPatrulha Ambiental, bombeiros,cidadãos e moradores, o médicoveterinário Edson Salomão, ouapenas Salomão, como é maisconhecido, atende estes animaissem cobrar pelo serviço. “Nãocobro quando o animal não temdono. Depois de medicá-los, euos reintroduzo na natureza juntocom a Patrulha Ambiental”, ex-plica. São poucos os veterinári-os que trabalham com animaissilvestres. “Aqui na região, o úni-co veterinário que trabalha comsilvestres, há muitos anos, soueu”, relata.

Em um dos chamados da Pa-trulha Ambiental, a vítima eraum bugio. O animal, que estavamachucado, havia sido encontra-do no campo por um morador,que o prendeu e chamou a Patru-lha Ambiental. E como já é depraxe, o bugio foi conduzido atéa clínica do doutor Salomão.

Durante um processo cirúrgi-co no bugio (Alouatta guariba),o veterinário constatou que oanimal estava com um problemana mão, uma míase, espécie debicheira. Apresentava um cortee os ossos chegavam a aparecer.“Tive de amputar o braço deleporque estava todo infeccionado.Ao fazer a tricotomia (retirada eraspagem dos pêlos para a cirur-gia), encontrei um carrapato gru-dado nele”, relembra.

Depois de encontrado, o car-rapato foi enviado para o Insti-tuto de Pesquisas VeterináriasDesidério Finamor, aos cuidadosdo doutor João Martins, uma dasmaiores autoridades sobre carra-patos no Brasil. “Ao saber do meutrabalho com animais silvestres,o doutor João Martins entrou emcontato comigo para pedir queeu remetesse a ele todos os para-sitas que encontrasse”.

Alguns dias depois de enviaro carrapato, Salomão recebeuuma ligação do doutor JoãoMartins. E uma surpresa: aquelecarrapato, encontrado no bugio,era um achado, uma coisa mui-to rara e que, inclusive, o doutorJoão não havia conseguido clas-sificar. E lá se foi o carrapatonovamente. Desta vez, o encami-nharam ao Instituto Butantan,em São Paulo, que o fotografou

e classificou a espécie comoAmblyomma aureolatum.

E assim deu-se o primeiro re-gistro do caso de um carrapatoparasitando um bugio no Brasil.“O doutor João Martins acreditaque seja também o primeiro re-lato no mundo, mas como o tra-balho foi publicado no Brasil ficacomo primeiro caso de registrode um carrapato parasitando umprimata não-humano (bugio) nopaís”, afirma. O artigo foi publi-cado em português e inglês: oresumo em português e o traba-lho todo em inglês na RevistaBrasileira de Parasitologia Vete-rinária, na última edição de2006. Participaram do trabalhoJoão Martins, Edson Salomão eRovaina Doyle, além de MarianaTeixeira, Valeria Onofrio e DarciBarros-Battesti. Quando Salomãoencontra carrapatos em animaissilvestres também os fotografa.Inclusive, a foto do carrapato nobraço do macaco foi feita na clí-nica dele e publicada.

Além do diferencial de trataranimais silvestres, Salomão tam-bém investe na pesquisa. E, en-quanto a maioria, ao encontrarum animal silvestre morto, sim-plesmente o descarta, ele enviaas fezes destes animais para o La-boratório de Parasitologia Vete-rinária da UFSM (Universidade

E as raridades não param por aqui. Ao salvar um veado dosdentes de três cães, Salomão descobriu uma nova raridade: ocarrapato (Haemaphysalis juxtakochi), que estava consideradoextinto há 34 anos (data de seu último registro). “Elesachavam que esta espécie nem existia mais. E eu encontreiesta espécie de carrapato no veado bororó do sul (Mazamanana)”, explica. O veado foi encontrado por funcionários daFunasa (Fundação Nacional de Saúde) e conduzido até a clínicado doutor Salomão. O veterinário o medicou e notou quehavia muitos parasitas na pele do animal. O material foiremetido ao doutor João Martins. A equipe dele ficou duranteuma semana a classificar e pesquisar. Foram encontradospiolhos, uma espécie de mosca e carrapatos. É a primeira vezque esta espécie de carrapato parasita a espécie de veado(bororó do sul). Havia registros desta espécie de carrapato,mas em outras espécies de veado. A última aparição foi emum veado campeiro. O artigo, já aprovado, só está na esperada publicação.

Uma descoberta surpreendente

Federal de Santa Maria). O tra-balho de pesquisa desenvolvidopor ele conta com a parceria deoutros pesquisadores, que for-mam uma espécie de equipe, naqual cada um desempenha umaparte do processo.

O veterinário já enviou car-rapatos encontrados em outrosanimais, tais como graxaim etamanduá, em vários outros ani-mais silvestres, e até em pesso-as. Em razão de saber que osanimais silvestres possuem mui-tos ectoparasitas (carrapatos,piolhos), tudo o que encontra emsua clínica é remetido ao doutorJoão Martins. Quando já existealgum registro - quando não éuma raridade - os carrapatos sãodestinados à coleção científica.

Em função de trabalhar comcarrapatos e de existirem váriasespécies, o doutor João Martinsutiliza o recurso da coleção ci-entífica. Os carrapatos são colo-cados em vidros com álcoolacompanhados de uma ficha deidentificação completa. “Quantomais amostras de diferentes lu-gares, melhor. E quanto maior onúmero de carrapatos, mais va-lor ela tem”, diz Salomão.

A espécie que parasitou o bu-gio é mais comum em animaissilvestres. Já foram registradoscasos em outros animais silves-tres, mas em um bugio jamais ha-via sido encontrado algum tipode carrapato. Ectoparasitas (pa-rasitas que vivem no pêlo e peledos animais) são bastante conhe-cidos nas espécies domésticas.Tratando-se de animais silvestres,são pouco conhecidos. Quantoaos parasitas há uma diferença:enquanto os ectoparasitas vivemna pele (ecto = externo), osendoparasitas vivem dentro dointestino (endo = interno).

Para a comunidade científica,este relato é um achado. Todosos trabalhos que se referirem aalgum achado na área de carra-patos em primatas vão se referirao do doutor Salomão e de suaequipe. As pesquisas sobre ani-mais silvestres e carrapatos ain-da são poucas. “Nós, aqui emCachoeira, estamos descobrindocoisas, colaborando com pesqui-sas importantes. Os veterináriose biólogos devem se conscientizarde que todo o material de ani-mais silvestres é importante paraa pesquisa”, reflete Salomão.

Prevenir é o melhor remédioAntigamente, as doenças transmitidas por carrapatos levavamà morte sempre. Hoje, com o tratamento mais moderno, issomudou um pouco. Mesmo assim, o que dificulta é odiagnóstico. Os que forem lidar com animais silvestres devemter cuidado ao manipulá-los, mesmo que estejam mortos. Oanimal morto pode estar infestado por um ectoparasita. Estepode picar a pessoa, que estará sujeita a contrair uma doença.“Uma pessoa leiga é melhor nem mexer”, alerta Salomão.

Ectoparasita encontrado em umEctoparasita encontrado em umEctoparasita encontrado em umEctoparasita encontrado em umEctoparasita encontrado em umbugio originou primeiro registrobugio originou primeiro registrobugio originou primeiro registrobugio originou primeiro registrobugio originou primeiro registro

deste tipo de caso no Brasildeste tipo de caso no Brasildeste tipo de caso no Brasildeste tipo de caso no Brasildeste tipo de caso no Brasil

Doutor Salomão: Descobridor demuitas raridades

CARINA WEBER

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:083

Page 4: Unicom 01-2007

De Orestes a Orlando:reciclagem vira missão

Pioneirismo se reverte emPioneirismo se reverte emPioneirismo se reverte emPioneirismo se reverte emPioneirismo se reverte emresultados para a comunidaderesultados para a comunidaderesultados para a comunidaderesultados para a comunidaderesultados para a comunidadede Cachoeira do Sul. Um trabalhode Cachoeira do Sul. Um trabalhode Cachoeira do Sul. Um trabalhode Cachoeira do Sul. Um trabalhode Cachoeira do Sul. Um trabalhode mais de três décadas com ade mais de três décadas com ade mais de três décadas com ade mais de três décadas com ade mais de três décadas com areciclagem de lixo gera empregos,reciclagem de lixo gera empregos,reciclagem de lixo gera empregos,reciclagem de lixo gera empregos,reciclagem de lixo gera empregos,renda e obrasrenda e obrasrenda e obrasrenda e obrasrenda e obras

CARINA WEBER

Chovia em Cachoeira do Sul.Na tarde do dia 20 de dezembrode 2001, lá estava OrlandoAnony, no Hospital de Caridadee Beneficência. O motivo era avisita cotidiana ao monsenhorOrestes Paulo Trevisan, comquem conviveu e trabalhou du-rante 34 anos e seis meses à frenteda reciclagem. Mas aquela visi-ta foi diferente. Ocorreu dez diasantes do amigo, o monsenhorOrestes, vir a falecer. Orlandolembra das palavras sussurradasque ouvira naquela ocasião: “Eunão posso mais. Vê se vou dei-xar um fiel aqui na terra paraseguir o meu trabalho”. Num so-bressalto, Orlando respondeu: “Omundo dá voltas, quem sabe euvou seguir”. E, de fato, a promes-sa se cumpriu.

Após a morte do monsenhor,em 30 de dezembro de 2001,Orlando chegou a traçar outrosplanos. Pensou em trabalharcomo motorista de ônibus e diri-gir caminhão de carga pesada.Porém, as palavras ditas pelocompanheiro de tantas batalhasfizeram-no tentar. “A palavra deleme deu força. Até hoje não caí”,orgulha-se Orlando. A primeiraatitude que tomou foi ajudar oamigo Leandro Löbler em umdepósito de reciclagem – Comér-cio de Recicláveis Löbler Ltda. –,com a missão de cumprir o últi-mo desejo daquele que fez comque, há 41 anos, ele escolhesse areciclagem como profissão.

O processo continua o mes-mo: os materiais recicláveis sãobuscados em diversos locais edepois vendidos. Existe apenasuma diferença: hoje os materiaissão comprados. “Naquela épocaeram doados”, lembra Orlando,ao dizer que, para ele, o signifi-cado da reciclagem é o mesmo,porque teve um seguimento. “Fazde conta que estou lá na paró-quia ainda”, brinca. No entanto,a reciclagem, na vida de Orlandoe dos cachoeirenses, não teve iní-cio em tempos atuais. O padreOrestes Paulo Trevisan chegou àcidade em 1959 e foi nomeadopároco da Paróquia São José em3 de abril, em substituição ao pa-dre José Eduardo Bini. A primei-ra sede da paróquia localizava-se na rua Aparício Borges, esqui-na com a rua Ivo Becker.

Apesar de ter conseguido umterreno doado pelo Estado, ondefuncionava o campo de futeboldo Daer (Departamento Autôno-mo de Estradas de Rodagem), o

padre José Eduardo Bini não con-seguiu colocar em prática os seusplanos de construção de umanova igreja.

A missão ficou a cargo dopadre Orestes Trevisan. O primei-ro recurso utilizado: um jipe comum reboque. O trabalho se resu-mia em recolher ferro velho, vi-dros e outros materiais. A primei-ra conquista da reciclagem foium prédio (o Salão de Cinema),utilizado como templo até ainauguração da igreja oficial.Além de recolher sucatas e ma-teriais recicláveis nas casas,Orestes também comprava papelem uma gráfica de Santa Maria.Este papel era trazido até a pa-róquia para ser reclassificado eenfardado; depois, vendido emPorto Alegre. Como a paróquianão tinha um caminhão próprio,pagava-se frete.

Orestes era conhecido por serexímio na classificação dos pa-péis, o que o deixava com asmãos rachadas e as pontas dosdedos cortadas, mas não o im-pedia de realizar o trabalho.“Quando ele descarregava o pa-pel na Três Portos S/A Indústriade Papel não havia triagem. Elessabiam que o material era coisaboa”, relembra Eloi Sanmartin,primeiro presidente do ConselhoParoquial da Igreja São José, eum de seus melhores amigos.Odino Cerentini, que dirigiu poralguns anos a famosa Brasíliaverde do padre Orestes nas via-gens a Santa Maria, lembra que,em sua oficina, “uma vez a cadaseis meses ou um ano, o padreencostava um caminhãozinho elevantava até 500 quilos”. O fer-ro era doado.

A reciclagem, que começouem 1960, dava os seus primeirospassos, na cidade e na ParóquiaSão José. As pessoas ajudavamda sua maneira. “Eu e um amigosaíamos com o carrinho empres-tado de uma vizinha para arre-cadar garrafas. Devia ter uns 12anos”, lembra o advogadoOliberto Sanmartin, que convi-veu durante muito tempo comOrestes. O padre Orestes, aospoucos, tornava-se conhecido.Uma coisa ele nunca deixou deusar: a batina. Entretanto, duran-te as coletas com o jipe e nas vi-agens, ele abria mão da batinapreta e, em troca, vestia um tapa-pó cinza.

O jipe e o reboque

Parte dos resultados da reciclagemConfira algumas construções que, com o trabalho da reciclagem,passaram a fazer parte do patrimônio da Paróquia São José*:

Igreja provisória (Salão de Cinema) - área construída de 757m2 - R$ 300 mil

Igreja atual - área construída de 1.205m2 - R$ 700 mil

Casa Paroquial - área construída de 360m2 - R$ 200 mil

*Obras construídas. Valores referentes até dezembro de 2007. Avaliação realizada pelo técnico em transaçõesimobiliárias Paulo Gonçalves Machado, delegado do Creci-RS (Conselho Regional de Corretores de Imóveis doRio Grande do Sul).

Orlando Anony: a continuação de uma missão com muitas conquistas pelo trabalho desenvolvido

CARINA WEBER

NNNNN

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:084

Page 5: Unicom 01-2007

O homem das24 horas

Depois de alguns anos a diri-gir o jipe no recolhimento de ma-teriais nas casas e coordenar areciclagem, Orestes sentiu a ne-cessidade de uma ajuda. Ela che-gou em 1967. Secretário geral,motorista, diretor de propagan-da, responsável por serviços di-versos: “praticamente um homem24 horas”. Assim se defineOrlando Anony. Tudo começoucom um convite do padre Ores-tes para que ele fosse motoristada paróquia e arrecadasse suca-tas. Na época, passou a ser omotorista e ficou durante um anosem carteira assinada. Foi tem-po suficiente para que decidisseaceitar o convite. E, então, tor-nou-se funcionário da ParóquiaSão José. O trabalho de recolheros materiais agora era desempe-nhado por ele. As campanhas doOrestes eram mais ou menos as-sim: A senhora que tem na suacasa fios velhos, guarde, doe paraa igreja. E lá se ia Orlando como ajudante. Os fios eram trazi-dos até a igreja, queimados parase tirar o miolo de lucro, enrola-dos e colocados no caminhão. Odestino: Porto Alegre, onde sevendia o material.

Quando Orlando chegou àparóquia, a prensa ainda era demadeira. Depois de uns cincoanos, a prensa manual passou aser hidráulica elétrica. Ele traba-lhou por cerca de oito anos como jipe. E foi aí que, com a vendado jipe, comprou-se o primeirocaminhão. “O vermelhinho”,como ele classifica: o 608, comcapacidade para 4,5 mil quilos.Foram dez anos e três meses nadireção daquele caminhão. Como 608 se fazia as viagens e se re-colhia materiais nas casas portoda a cidade. O frete agora nãoexistia mais. Em 1977, Orestesganhou uma Brasília (a famosaBrasília verde) do irmão InácioTrevisan. Com ela, fez muitasviagens a Santa Maria – ele naBrasília e Orlando no caminhão.Depois de alguns anos, o 608 foivendido e surgiu a idéia de com-prar dois caminhões: o MercedesBenz 1516, com capacidade paradez mil quilos, destinado às via-gens, o qual Orlando dirigiu por15 anos; e o Agrale, ano 85-86,com capacidade para no máxi-mo 1,6 mil quilos.

Comerciante ou padreHomem à frente do seu tempo; um padre comerciante;administrador; homem de fé; operário. Opiniões diferentessobre o padre Orestes Paulo Trevisan: admirado por uns;nem tão benquisto assim por outros. Apesar do me ame ouodeie o povo ajudava, participava da reciclagem e daspromoções. Todo o material era ganho. Os objetos valiososencontrados, vendidos. O único lugar onde comprava: nagráfica Pallotti, em Santa Maria. Com o dinheiro dareciclagem, obtinham-se brindes: 200 faqueiros, dois carros,40 geladeiras, 40 fogões, e assim por diante. Tudo ficavaexposto na própria igreja. Eram as famosas rifas. A lista, detamanho ofício, tinha dois lados, dada a quantidade deprêmios.Além das rifas, existiam outros mecanismos que Orestesutilizou para construir todo o patrimônio da Paróquia SãoJosé: as novenas de 12 a 13 dias acompanhadas dequermesses. Nas festas havia, também, brincadeiras querendiam prêmios aos ganhadores como roda da sorte,aviãozinho e porquinho-da-índia.Em 6 de março de 1993, o padre Orestes Trevisan foinomeado monsenhor. A diabete, que o acompanhava, estavacada vez mais forte. Ele já não podia mais dirigir. Por cercade cinco anos, Odino Cerentini dirigiu a Brasília verde nasviagens a Santa Maria. Logo depois dele, no período de umano, Rubi Baumhardt ocupou este lugar. Orestesacompanhava as viagens: agora, apenas na carona da Brasília.As propostas da nova diretoria da Paróquia São José fizeramcom que a reciclagem perdesse força. “Tiraram aquilo queele sempre teve vontade de fazer: arrumar o dinheiro dacomunidade e fazer comunidade. A reciclagem forneciamuito dinheiro”, reflete Orlando Anony.Com o falecimento de Orestes, a reciclagem parou em2001. Três funcionários foram indenizados. Comoconseqüência da missão confiada a Orestes, os resultados dareciclagem foram as construções da Igreja provisória (Salão deCinema), do Salão Paroquial, da atual Igreja Matriz São José,da Casa Paroquial, da torre da Igreja Matriz São José e devárias capelas. Orlando lembra das palavras ditas pelo amigo:“Vamos seguir o nosso trabalho. Trabalhar no nosso lixo paravencermos mais uma batalha”. A missão seguiu. E reciclarvirou febre. Agora na cidade, e não mais na Paróquia SãoJosé. Hoje, existem nove depósitos de lixo espalhados nazona urbana de Cachoeira do Sul. Na maioria, os tipos demateriais mais recolhidos são papelão, ferro velho, plásticose materiais diversos. Um destes depósitos ganha até R$ 14mil por mês com a venda de papelão, ferro velho e plásticos,em que se destacam as garrafas pet.

Eu nãoEu nãoEu nãoEu nãoEu nãopossopossopossopossopossomais.mais.mais.mais.mais.Vê se vouVê se vouVê se vouVê se vouVê se voudeixardeixardeixardeixardeixarum fielum fielum fielum fielum fielaqui naaqui naaqui naaqui naaqui naterra paraterra paraterra paraterra paraterra paraseguir oseguir oseguir oseguir oseguir omeumeumeumeumeutrabalho.trabalho.trabalho.trabalho.trabalho.

A missão tomava o seu rumo.As conquistas da reciclagem au-mentavam. Mas, por que escolhera reciclagem? Uma pergunta semrespostas concretas. Na época emque Orestes pensou em reciclarjá se falava em reciclagem noestado. No final da década de 30,Henrique Roessler iniciou as ati-vidades em favor do meio ambi-ente na região do Vale do Rio dosSinos. Como pioneiro ecologistatornou-se patrono da Fepam(Fundação Estadual de ProteçãoAmbiental). Em Cachoeira doSul, o padre Orestes, como pio-neiro da reciclagem, enfrentouopiniões das mais diversas, inclu-sive pressões da própria igreja.Ao ser contrário a alguns pensa-mentos, um deles ser contra ofuncionamento do dízimo, a suafilosofia estava adaptada ao tra-balho. Para ele, as coisas que aspessoas davam à igreja eramtransformadas e se fazia dinhei-ro. O objetivo não era só o di-nheiro, mas a conscientização.

Na boléia docaminhão

O trabalho da reciclagem eralevado a sério. E muito. Três fun-cionários tinham carteira assina-da, e mais quatro trabalhavamcomo contratados nas viagens aSanta Maria. E, inclusive, foi re-gistrada uma firma no nome deMitra Diocesana de Santa Maria.A força motriz tinha origem naprodução. “Ele queria que, senum dia tu fizesses sete fardos,no outro deverias fazer dez”, con-ta Orlando. As viagens a SantaMaria aconteciam com freqüên-cia. E lá se ia Orlando a dirigiro caminhão (e dois funcionári-os) e Orestes na Brasília verde (equatro contratados) para com-prar o papel na gráfica Pallotti,que depois era reclassificado evendido. Um dos lugares onde sevendia o papel: a Três Portos.Outra indústria com a qual opadre costumava negociar mui-to papel foi a RioPel, durantenove anos.

Certa vez, rumaram paraUruguaiana. Lá, ganharam 10,5mil quilos de papel arquivo daExatoria Estadual. Mas a cargamais pesada foi para Gravataí.No dia em que se levou o papel(11,8 mil quilos) chovia muito eos fardos ficaram molhados. Aochegar à indústria RioPel a sur-presa: 12,6 mil quilos. A chuvatornou o papel mais pesado.

SULFOTO DIGITAL

Padre Orestes Trevisan: o pioneiro e uma missão

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:085

Page 6: Unicom 01-2007

Um problema e uma solução,não fosse um entrave legalMARISA LORENZONI

Fome. Segundo o dicionárioda língua portuguesa Houaiss, afome é um substantivo femininoque quer dizer “sensação causa-da pela necessidade de comer;carência alimentar; miséria”.Ora, isso qualquer pessoa sabe.É uma das primeiras coisas quese aprende. Os nenês já nascemcom ela. Não é preciso recorrerao dicionário para saber seu sig-nificado. O que se sabe tambémé que a fome, para muitos, é umproblema. A fome no sentido damiséria, de não ter o que comer.Não aquela fome em que a bar-riga ronca e logo se corre para acozinha e tudo está resolvido.

Santa Cruz do Sul tem hoje114 mil habitantes, conformeresultados preliminares da últi-ma contagem da população rea-lizada pelo IBGE. Segundo anutricionista Thaís Pereira, quetrabalha na Secretaria Municipaldo Desenvolvimento Social, nãohá dados que determinem aquantidade exata de pessoas quevivem em situação de inseguran-ça alimentar, mas a prefeitura

Procurei algunsrestaurantes da cidade,vinte ao todo, para saberse as sobras diárias decomida eram doadas. Aresposta foi a mesma emtodos: “Não”. Algunsalegaram que tinham umabase de consumo e quepouco sobrava, sendo boaparte dessa sobrareaproveitada. Mas forampoucos. A maioria revelouseu receio de terproblemas judiciais. Comoalguém, que em plenoexercício de solidariedade,poderia ter problemasdessa ordem? A resposta éque é possível mesmo. Sealguma pessoa receberalimento e, por ventura,vier a se intoxicar, aprópria vítima, seusfamiliares ou até mesmo aentidade à qual essa pessoapertença, poderãoingressar em juízo alegandoa responsabilidade civil dorestaurante.O artigo 186 do CódigoCivil diz que “aquele que,por ação ou omissãovoluntária, negligência ouimprudência, violar direitoe causar dano a outrem,ainda que exclusivamentemoral, comete ato ilícito”.Ato ilícito é aquilo que éproibido, vedado por lei. Jáo artigo 927 diz que“aquele que, por ato ilícito,causar dano a outrem, ficaobrigado a repará-lo”. Esseartigo embasa aresponsabilidade civil, ouseja, quando alguém forajuizar uma ação nessesentido, irá utilizá-lo comofundamento legal. Aindacom base nesse artigo, orestaurante estará obrigadoa reparar o danoindenizando a vítima.Quem correria esse risco?Vanderléia Grieger,proprietária doRestaurante Mafalda, alegaque, mesmo que a comidasaia em bom estado dorestaurante, não há comoacompanhar a maneiracomo ela será armazenadae aproveitada na entidadeque for beneficiada.

Lei inibe donosde restaurantes

Felizes e satisfeitos ficam os porcos da região. Segundo RonyPedro Beckenkamp, um dos sócios do Restaurante e ChurrascariaCentenário, toda comida que sobra, salvo algumas que podem serreaproveitadas, viram comida para suínos, a popular lavagem. Elelamenta, mas alega que também não pode correr o risco de “ter umprocesso nas costas”. E é esse destino que a maioria dos restaurantesprocurados dá às sobras. Os porcos, bem alimentados, agradecem.

A luta contra fome não é recente. Os governantes mudam, osprogramas sociais trocam de nome, mas o problema persiste. Quepaís é esse que desperdiça tanta comida? O que sentem essas pessoasque tem fome quando vêem aquilo que poderia alimentá-los virarlavagem para porcos? Porcos que certamente, depois da engorda,irão para a mesa do consumidor que não tem fome ou, quem sabe,de volta para o restaurante.

Porcos sem fomedesenvolve programas que ten-tam minimizar o problema dafome. O maior projeto é o “PratoForte”, que distribui mil refeiçõesdiárias, de segunda a sexta-fei-ra, para crianças de até 12 anos.Tudo com recursos públicos. Issotambém todo mundo sabe o queé: dinheiro do contribuinte.

Esse número de mil refeiçõesdiárias poderia ser bem maior.Bastaria que os restaurantes dacidade doassem sobras das suascozinhas às entidades necessita-das. E isso, com certeza, alimen-taria muitos. Conforme PauloCésar Rutkowski, coordenador deDepartamento de Vigilância eAções em Saúde, existem cercade 90 restaurantes em Santa Cruzdo Sul. O número não é precisoporque, segundo ele, apenas 70dos estabelecimentos estão cadas-trados no departamento de Vigi-lância Sanitária. Estes possuemalvará para o funcionamento esão supervisionados pela vigilân-cia. Independente de estarem le-galizados ou não, é um númeroexpressivo para a cidade.

Diariamente váriosDiariamente váriosDiariamente váriosDiariamente váriosDiariamente váriosquilos de comida, quequilos de comida, quequilos de comida, quequilos de comida, quequilos de comida, quepoderiam alimentarpoderiam alimentarpoderiam alimentarpoderiam alimentarpoderiam alimentarpessoas carentes, sãopessoas carentes, sãopessoas carentes, sãopessoas carentes, sãopessoas carentes, sãojogados aos porcosjogados aos porcosjogados aos porcosjogados aos porcosjogados aos porcos

O suinocultor Alcindo JoséAssmann recolhe as sobras nosrestaurantes e alimenta suacriação de porcos

MARISA LORENZONI

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:086

Page 7: Unicom 01-2007

A saga das três MariasUma é Cardoso de Oliveira

Schlemmer, tem três filhos, é ca-sada e vive bem com seus 44anos. A outra é Lurdes Xavier, 21anos, solteira, mora na casa dospais. Há ainda a que é Salete daSilva, mora sozinha, solteira, 46anos e sonha em ter uma flori-cultura só sua, porque é do quegosta. Em comum, o primeironome: Maria. Durante algunsmeses do ano, sete ou oito, de-pende, elas possuem mais umfato em comum: o trabalho. Nãoque elas sejam colegas, talveznem se conheçam. No entanto,todas trabalham por um períodonas indústrias do fumo de SantaCruz do Sul. Em agosto, maisuma vez elas tornam a ter algoem comum: o término do con-trato com o fim da safra. Juntodelas, mais seis mil pessoas en-contram no mês a incerteza, équando os safristas têm seu con-trato rescindido. Depois da safra,cada Maria segue o seu caminho.

Maria Lurdes (3) vê toda ci-dade a caminho de casa, no bair-ro Belvedere, enquanto retornade mais uma tentativa de empre-go. Há quatro anos ela trabalhana safra, há quatro anos que sevê desempregada no segundo se-mestre do ano e há quatro anosque tenta encontrar outro empre-go para a entressafra. Às vezesfaz um bico aqui, outro ali, masemprego mesmo, só no fumo.

Com ou sem emprego, as con-tas vão se acumulando e preci-sam ser pagas. No caso de Ma-ria Lurdes, quem acaba assumin-do as suas é seu pai. Durante aentressafra, a família vive ape-nas com a renda da aposentado-ria dele, cerca de R$500,00, va-lor que sozinha a filha ganha pormês na safra, somando o saláriocom o valor do ticket alimenta-

SANCLER EBERT

ção. Em 2007, aproximadamen-te 11.500 pessoas devem ter tra-balhado nas indústrias de fumoda cidade, estima o Sindicato dosTrabalhadores da Indústria doFumo e Alimentação (STIFA).Desses, de acordo com o sindi-cato, mais da metade vive a rea-lidade de Maria Lurdes.

Se a Maria que é Lurdes, con-fessa não gostar muito de traba-lhar na safra, o mesmo não podese dizer da Maria que é Cardoso(1). Não só gosta, como tambémse prepara para sua vigésima ter-ceira safra, dezoito delas comooperadora de máquina deempilhamento. Moradora doCorredor Goerck, Maria Cardo-so tem compartilhado o mesmoemprego com a filha de 21 anos.Juntas, recebem em torno de milreais por mês da empresa defumo, valor que faz grande dife-rença na renda familiar. O ma-rido de dona Maria é pedreiro epintor. Quando tem trabalho, che-ga a receber mil reais ao mês,mas quando não tem, passa omês sem nenhum centavo e é coma renda dele que a família se sus-tenta na entressafra.

Enquanto a filha busca em-prego e não consegue, MariaCardoso faz da faxina sua formade renda. Troca sua potenteempilhadeira de fumo por umavassoura e um pano de chão. Tra-balha em seis, sete casas e cobraR$5,00 a hora da limpeza. Parareceber a mesma quantia do sa-lário que recebe na safra, teriade trabalhar seis horas por dia,durante a semana inteira. Noentanto, a tarefa não é tão sim-ples para quem tem 44 anos. Porisso que ela também revende cos-méticos, como forma de aumen-tar a renda da casa. Neste ano, asafra acabou antes do esperado

para Maria. Como conseqüência,as prestações das roupas compra-das para a família ficaram to-das para pagar.

Já a Maria que é Salete (2),não pára nunca. Sai da empresade fumo e vai para a de metalur-gia e tem sido assim nos últimosanos. Da destala das folhas detabaco para a produção de ca-deiras de praia e tábuas de pas-sar roupa. Todavia, a vida deMaria nem sempre fora assim.Durante dez anos, foi funcioná-ria efetiva de uma empresa defumo. Na época, não precisavase preocupar em renovação decontrato, ou em qual mês ia saire ter de correr atrás de outroemprego. De repente, de um diapara o outro, vivia uma nova re-alidade. Não agüentou e ficoudeprimida. Não sabia o que iriaacontecer daquele momento emdiante. No seu primeiro anocomo safrista, enfrentou o desem-prego com o fim da safra, só noano seguinte conseguiu combinaras duas safras. Maria, que morano Arroio Grande, acredita queninguém gosta de ficar paradoem casa. Até porque tem as con-tas para pagar, lembra ela.

Maria Salete representa umgrande número de pessoas que saide uma safra para outra. Traba-lham de janeiro a agosto nasempresas de fumo e depois vãopara safras de cinco empresas nossetores de sementes, brinquedos,materiais escolares e metalurgia,cujas safras coincidem com o fimda de fumo (ver infográfico). Es-ses trabalhadores assumem o“safrismo” como sua profissão,garantindo renda para todo oano. De safra em safra é quemuitos santa-cruzenses seguem avida, assim como na saga dessastrês Marias.

SANCLER EBERT

1

2

3

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:087

Page 8: Unicom 01-2007

Angústia e depressãono corredor do hospital

“Começou com uma dor no“Começou com uma dor no“Começou com uma dor no“Começou com uma dor no“Começou com uma dor nopeito, que passou para o braço”.peito, que passou para o braço”.peito, que passou para o braço”.peito, que passou para o braço”.peito, que passou para o braço”.

Conheça a história de Vitória,Conheça a história de Vitória,Conheça a história de Vitória,Conheça a história de Vitória,Conheça a história de Vitória,nome fictício de um drama real:nome fictício de um drama real:nome fictício de um drama real:nome fictício de um drama real:nome fictício de um drama real:

a imprecisão médicaa imprecisão médicaa imprecisão médicaa imprecisão médicaa imprecisão médica

RODRIGO NASCIMENTO

Doloroso para uns, delicadopara outros, inclusive para a re-portagem, que encontrou dificul-dade em conseguir pessoas dis-postas a contar como é viver apósa possibilidade de morrer. Exis-tem ainda os que não querem secomprometer. Tanto que, parapreservar a vítima e sua família,os nomes foram trocados.

É o caso de Vitória de 48 anos,dos quais 13 dedicados a cuidarde pessoas doentes. Uma ironiada vida e do destino na profissãode técnica em enfermagem. Asaúde pessoal ficou muitas vezesem segundo plano.

Ela sofreu dois infartos namesma semana. O primeiro -que a sabedoria popular chamade ameaça, por ser mais fraco -aconteceu no dia 20 de março de2007. Menos de 24 horas depoisveio o segundo, mais forte, quelevou Vitória, desacordada, aohospital. O diagnóstico era difí-cil. O médico não sabia ao certoo que estava acontecendo com apaciente. E pediu um exame maisdetalhado.

Então, no fim de semana saia decisão. Para ter certeza danatureza da doença, Vitória te-ria que ser submetida a um pro-cedimento mais complicado cha-mado cateterismo. Trata-se deum fio de aço introduzido na cor-rente sangüínea do paciente quevasculha possíveis obstruções nasprincipais veias e artérias queirrigam o coração. Esse fio medea saturação do oxigênio e as pres-sões intracardíacas, que indicam,nesse caso, se os vasos estãoobstruídos ou não.

Após perfurar a veia aorta dapaciente, ao introduzir o fio emsua virilha – um procedimentocomum, mas que pode causarhemorragia quando a colocaçãonão é precisa – o médico consta-tou o que ainda era uma suspei-ta: não havia obstruções nos prin-cipais vasos dela. Apressado, fi-nalizou o procedimento e saiu.

“Eu senti um pouco de dor,mas ele disse que era normal”,relata Vitória, que desde o iníciodessa conversa mostrou-se mui-to corajosa. Característica co-mum de quem convive com a dor,o sofrimento humano, e a pró-pria morte, quando distantes dasua realidade.

Para Vitória, o que a separoudo diagnóstico e procedimentoadequados foram 15 minutos. Otempo a mais que o médico de-veria ter permanecido com elapara a conclusão do cateterismo,ou seja, pressionar a veia paraque a abertura feita pelo cateterpudesse ser fechada. Essa etapafundamental do atendimento quenão foi acompanhado por ele, foio início da agonia de Vitória.“Todos fazem isso, fecham o pa-ciente e saem”, - comenta deso-lada. Como estava com pressa,o médico ordenou à enfermeiraauxiliar que o fizesse. Erro gra-ve: imprudência.

Experiente no auxílio de pro-cedimentos como o cateterismo,Vitória diz que sentiu uma dormuito forte que não passava. Pelocontrário. Cada vez mais forte,a dor fez com que a enfermeiraacabasse comprimindo sua viri-lha. Além disso, Vitória tambémestranhou a duração da dor. 30infindáveis minutos. O dobro dohabitual para essas situações. Elasabia que alguma coisa não es-tava correta.

Ao lembrar daquela segunda-feira, 26 de março de 2007, sus-pira, olha para o teto da casaaconchegante, rodeada de fotosdas filhas e do casal. Reclamaque não deram atenção a ela: “Eudizia que estava doendo muito,mas ninguém me dava ouvidos”.A enfermeira que a acompanhousó viu que algo não estava bemquando Vitória passou a mostrarsinais de pressão baixa, comumem quem está com hemorragia.O relato da dor de receber o san-gue dentro do abdômen e o tem-

A noite não teve fim, nempara ela nem para o médico, queàquela altura precisou cancelarsua viagem. “As luzes estavamacesas, alguma coisa estava er-rada”, lembra. Enquanto tinhaconsciência, recorda ter escuta-do a frase que disparou o alar-me: “Chamem o médico dela”.

Quando acordou, depois docaos, com a hemorragia quasecontrolada, o abdômen inchado,com mais de dois litros de san-gue comprimindo seus órgãosinternos, um pensamento únicolhe veio à mente. Queria ver omarido, dizer a ele que estavatudo bem, conforme ela supunha.

No entanto, os médicos, nadainformavam. E o doutor, respon-sável, não foi mais visto por ela,até hoje.

Esperança (também nome fic-tício), marido e companheiro deVitória há 29 anos, fez plantãona porta do Centro de Terapia In-tensiva (CTI). “Enquanto não vique ela estava fora de perigo nãofui embora”, lembra.

O amor de Esperança e Vitó-ria foi fator fundamental para arecuperação dela. Esperança de-sabafa: “Ninguém comia, nin-guém dormia, emagreci oito qui-los nesses dias”. As filhas faziamvigília. Iam trabalhar e estudar.Quando deviam retornar paracasa, voltavam ao hospital. Maslá não havia ninguém da equipemédica. “Ninguém falava nada”,reclama Esperança.

Os familiares rezavam. Cató-lica, Vitória, que crê em Deus,não rezou. “Nem rezei, apenasacreditei”. Conta e diz que, an-tes da entrevista, acabara de vol-tar para casa, após cumprir opagamento de uma das muitaspromessas feitas pelos amigos epela família.

po incomum do procedimentonão foram suficientes paraconvencê-los de que algo estavaerrado. “Eu comecei a bocejar desono, aí é que eles perceberam”.

Mesmo sem informações, Vi-tória sabia intuitivamente quealgo de muito grave tinha acon-tecido. Mas a lei do silêncio im-perava e ninguém dizia nada,além da promessa de que, logoque melhorasse, iria para umquarto comum, dispensando cui-dados especiais. Assim, sabendoque alguma coisa estava errada,restava à Vitória apenas acredi-tar que algo maior agia em suarecuperação. “Acredito em Deus”,salienta ela.

ALINE SILVA

Depois do erro durante um exame, que causou hemorragia em Vitória, ela nunca mais viu o médico que a atendeu

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:088

Page 9: Unicom 01-2007

Na verdade, Vitória não sa-bia a real dimensão de seu pro-blema. “Em nenhum momentotive medo. Não pensei que fossemorrer. Pensava na minha famí-lia, que não podia estar ali”, diz,agora sorridente, com os olhosmarejados, mas sem derrubaruma lágrima.

Hoje, em casa, e ao lado dafamília em seu humilde lar -como classifica a filha mais ve-lha -, Vitória percebe que a vidaé frágil e que também ela neces-sita de repouso.

Depois do susto, a parada.“Agora não trabalho mais tanto,passei a cuidar mais de mim.Geralmente isso acontece em si-tuações extremas, quando passa-mos a observar que não somosde ferro, somos de carne e deosso”, completa. Como suas vei-as não estavam entupidas, a do-ença de Vitória, difícil de ser de-tectada, foi associada ao modode vida que levava.

Sem mágoas, ela fala do mé-dico: “Até hoje não vi mais ele”.Mesmo assim, Vitória não temraiva. Entende que o erro fazparte do ser humano e episódioscomo esse só certificam que ossemi-deuses não passam de sereshumanos. A família faz de contaque entende para não contrariá-la. Mas, Esperança é direto: “Seacontecesse o pior, não sei o queeu faria com ele”, dizendo quenão quer encontrar quem, poralguns momentos, quase lhe to-mou a crença.

Para que um procedimento seja classificado como erro médico,de acordo com o professor Pedro Lúcio de Souza, devem serobservadas algumas situações:Imperícia – ocorre quando o médico não tem a especializaçãonecessária para realizar o atendimento. Um exemplo deimperícia pode ser compreendido quando o profissional clínicogeral realiza uma cirurgia plástica, prometendo a melhoria daaparência do paciente e o que acontece, neste caso, é ooposto.Imprudência* – quando o doutor não cumpre todas as etapasprevistas na prática e na literatura para realizar oatendimento. Com isso, o doente pode morrer ou ficar comalgum problema físico ou de saúde.Negligência – é o erro mais freqüente. Ocorre quando omédico tem consciência de que não pode realizar oprocedimento porque não tem certeza absoluta do diagnósticoou não pode prever os resultados. Também ocorre quando elenão tem a instrumentação necessária (equipamentos).

* No caso de Vitória, seu cateterismo pode ser consideradoerro de imprudência do médico porque não realizou porcompleto seu atendimento. Em conseqüência disso, quasecausou a morte da paciente, que não quis se identificar parapreservar sua família da especulação.A legislação brasileira não obriga que para a prática damedicina o médico tenha alguma especialização. Basta terdiploma em medicina para exercer a prática de cuidar dasaúde das pessoas. Essa falta de controle, por parte da lei,facilita que aconteçam erros de imperícia, o que hoje é maisfreqüente no Brasil.

Entenda como se caracteriza oerro médico

“Todo médico é um poucoestóico”, alguém que gosta desofrer. A afirmação é do médico-cirurgião, professor e coordena-dor do Curso de Medicina daUniversidade de Santa Cruz doSul, Pedro Lúcio de Souza.

O médico conta que a vidade quem trata da saúde dos ou-tros é uma constante experiência.De dor, de sofrimento, quase umsacerdócio. “Sacerdote sim, Deusnão”, enfatiza. Para exercer amedicina, recorda ele, o primei-ro requisito é gostar de pessoas,isto é, ser humano.

A humanização fica distantequando os recursos são poucos ea demanda é muita. Correr naânsia de salvar vidas, correr naânsia de ter mais dinheiro. Cor-

Profissãode angústia

rer. Especialmente se o médicoquiser manter o que o professorchama de status. Acelerar o rit-mo significa atender mal, nãoprestar atenção no que o pacien-te tem. “Qual seu nome? O que osenhor sente?” Segundo Souza,essas são perguntas esquecidas nodia-a-dia. Alguns médicos trans-formam os pacientes em núme-ros, siglas ou doenças.

A possibilidade de erro per-segue o profissional sempre. “Àsvezes, a gente não tem tempo dediagnosticar com precisão”, diz.Nessas circunstâncias, o médicoé tomado de uma angústia semmedida. “O bem maior da pes-soa, seus segredos, sua honra estáem nossas mãos”. A falha, quan-do acontece, causa frustração,depressão, relata Pedro, olhandopara o alto, procurando, quemsabe, por Deus, já que tambémacredita na existência divina.

Por zelar por algo tão carocomo a vida, o médico passa aser, aos olhos da sociedade, umrepresentante de Deus na terra.E essa talvez seja a tarefa maisdifícil de administrar: lidar coma limitação humana, a possibili-dade de morte e de perda, umdesafio que instiga o médico alutar contra a fatalidade.

É como viver sob uma linhamuito estreita. De um lado omédico ser humano, que erra. Dooutro, o médico sacerdote, dequem não se espera o erro.

Ao contrário do marido, Vi-tória faz questão de lembrá-loque ela deixou o hospital umpouco antes da Páscoa, uma dataque celebra, na religião Católi-ca, o renascimento de Cristo. Vi-tória voltou para casa na Sexta-Feira Santa.

Hoje, ela tem duas datas deaniversário para comemorar: 21de abril de 1959 e 6 de abril de2007. E, mais do que uma ques-tão de fé, cuidar da saúde daspessoas representa ter responsa-bilidade com a vida.

Para o médico-cirurgião Pedro Lúcio de Souza, a possibilidade do erro sempre persegue o profissional

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:089

Page 10: Unicom 01-2007

No campo dos sonhosvale de tudo, até jogar bola

Os torcedores lotam oOs torcedores lotam oOs torcedores lotam oOs torcedores lotam oOs torcedores lotam oEstádio Olímpico. O dia éEstádio Olímpico. O dia éEstádio Olímpico. O dia éEstádio Olímpico. O dia éEstádio Olímpico. O dia édecisivo para Internacionaldecisivo para Internacionaldecisivo para Internacionaldecisivo para Internacionaldecisivo para Internacionale Grêmio. Mas no campoe Grêmio. Mas no campoe Grêmio. Mas no campoe Grêmio. Mas no campoe Grêmio. Mas no campohá 42 jogadores desconhe-há 42 jogadores desconhe-há 42 jogadores desconhe-há 42 jogadores desconhe-há 42 jogadores desconhe-cidos pela torcidacidos pela torcidacidos pela torcidacidos pela torcidacidos pela torcida

LETÍCIA MENDES PACHECO

venceu o consulado a deixá-loparticipar do jogo.

Às três horas e quinze minu-tos da tarde o jogo se inicia. As-sim, aos 25 minutos do primeirotempo, o lateral esquerdo próxi-mo à bandeira de escanteio lan-

Assim como Cleber, Valente,Gilmar, Marco, Daniel, Roseli,João, Paulo, Cristian vieram deSanta Catarina, Caxias do Sul,Bento Gonçalves, Canoas, RioGrande, São Paulo e Estados Uni-dos, entre outros lugares, apenaspara realizar esse sonho. E as ho-ras de viagem não acabaram coma disposição do mineiro AdilsonMartins, que promete voltar.

Todos os jogadores, antes anô-nimos, puderam voltar para casacom a medalha de participaçãoe o gosto da vitória por um a zeroem cima do Internacional. Maspara alguns, como o nosso desa-creditado atacante, o sabor demarcar dois gols dentro do Está-dio Olímpico foi inesquecível.“Quando eu era garoto, era apai-xonado por futebol, mas nuncaimaginei assistir a um jogo den-tro do Olímpico, ainda mais jo-gar aqui com o Estádio lotado.”

Quem são eles

A escalação

Os cônsules são os representantes dos times em diversascidades do Rio Grande do Sul, e algumas do Brasil, como oconsulado do Grêmio de Formosa, Goiás. Durante o ano, oscônsules organizam os sócios nas excursões para assistir aosjogos. É nesse dia, do jogo de cônsules, que os dirigentes dotime esclarecem ao consulado quais e o porquê das medidasadministrativas tomadas durante o ano. Além disso, oscônsules têm a oportunidade de expressar sua opinião sobre oque deve ser modificado no clube.

Domingo, quinze de setembrode 2007. O clima é de mistério.Nuvens escuras anunciam chuva,mas pequenos raios de sol insi-nuam um dia ensolarado. O des-tino é incerto. São três horas datarde. Dentro do vestiário o cli-ma é de tensão. Uma sensaçãoestranha. Uma mistura de eufo-ria, medo, alegria. Coração ba-tendo acelerado. As mãos suam.As pernas tremem levemente. Agarganta engasga. O coraçãoacelera ainda mais. É chegada ahora. A equipe entra no corredorescuro. O grito de guerra estácada vez mais forte. O som datorcida aumenta. E finalmente aluz . O tão esperado gramado. Éhoje o dia da estréia. Os torce-dores gritam. Estádio Olímpicolotado. Azul e vermelho dividemo cenário.

Uma equipe de 42 jogadoresentra em campo. Eles têm umdiferencial. O salário milionárionunca entrou em suas contas. Osrepórteres não divulgam cadapasso dado. Os times não dispu-tam seus passes. Não havia tor-cedores gritando seus nomes. Es-ses atletas estão ali, apenas, porum sonho. Eles desembarcaramem Porto Alegre dividindo a mes-ma expectativa: entrar no Está-dio vestindo a camiseta do timeque representam durante todo oano, organizando excursões paraassistir aos jogos. Hoje eles rea-

lizaram o sonho de atravessar ocercado. Sem precisar invadir ogramado, porque são torcedoresconscientes. Todos estréiam emuma única partida. É o jogo decônsules no Estádio Olímpico.

Um de nossos jogadores tem31 anos, porte não atlético, suaespecialidade é o chute de es-querda. Nas horas de trabalho,chama-se Cleber Air MotaSilveira, advogado. Hoje ele éClebinho, centroavante do time.A euforia pode ser inimiga.Cleber mora em Rio Pardo, masnão perde um jogo no Olímpi-co. O nosso personagem não fazparte do consulado, chegou aquidriblando um e outro obstáculo.Paulo Roberto Rodenbusch dosSantos é cônsul de Rio Pardo econvidou o amigo para jogar emseu lugar. A expectativa foi tan-ta que os amigos apenas esque-ceram de fazer a inscrição deCleber e nosso atacante quase fi-cou de fora.

Ainda assim, sem a certezada escalação, o jogador, confi-ando na sorte, seguiu para PortoAlegre no domingo pela manhã,com a esperança da baixa de al-gum outro jogador. Com ginga,raça e persistência, Cleber con-

LETÍCIA MENDES PACHECO

ça a bola para o bico da grandeárea. Ali o centroavante (Cleber)domina com a perna direita ebate forte com a perna esquer-da, no ângulo esquerdo do go-leiro. O coração bate mais forte.A torcida grita, mesmo sem sa-ber seu nome. É gol!

Mas o placar não pára por aí.Aos 36 minutos do segundo tem-po o lateral direito dribla o za-gueiro esquerdo e, parte paracima do goleiro, que também édriblado pelo lateral, e lança abola para a pequena área, ondeo atacante mais uma vez domi-na e amplia o placar. O jogo se-gue. Placar final: 6 para a equi-pe branca e 4 para a equipetricolor. Total de gols marcados:dez. Total de gritos de euforia:incontáveis. Valor pago para jo-gar: R$ 200,00. Valor recebidoem dinheiro: R$ 0,00. Valor daemoção: impossível quantificar.

Cleber: após o jogo, o registro de um dia inesquecível e a comemoração da vitória

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:0810

Page 11: Unicom 01-2007

Obras de revitalização marcamObras de revitalização marcamObras de revitalização marcamObras de revitalização marcamObras de revitalização marcamo início de uma nova etapa parao início de uma nova etapa parao início de uma nova etapa parao início de uma nova etapa parao início de uma nova etapa paraa Casa de Artes Ra Casa de Artes Ra Casa de Artes Ra Casa de Artes Ra Casa de Artes Regina Simonis,egina Simonis,egina Simonis,egina Simonis,egina Simonis,mantida pela Associação Pmantida pela Associação Pmantida pela Associação Pmantida pela Associação Pmantida pela Associação Pró-ró-ró-ró-ró-Cultura de Santa Cruz do SulCultura de Santa Cruz do SulCultura de Santa Cruz do SulCultura de Santa Cruz do SulCultura de Santa Cruz do Sul

MARIANE SELLI

O prédio é um símbolo deimponência. Não há como negara grandiosidade da Casa das Ar-tes Regina Simonis. No entanto,durante certo período, ela esteveem silêncio, vazia. Pela grandeporta via-se apenas uma salaampla e escura. Rachaduras naparede sem vida e um forte chei-ro de mofo roubavam o brilhodo ambiente. Mas isso tudo devemudar. Na verdade, a mudançajá começou. Um dos principaispontos turísticos e a mais impor-tante referência de cultura deSanta Cruz do Sul volta a ter aatenção merecida.

A Associação Pró-Cultura dacidade, mantenedora da casa,quer tornar o prédio visível e atra-ente. Quer movimento. Para isso,foram iniciadas as revitalizaçõesde diversos espaços e uma novaidentidade visual está em proces-so final de criação. O prédio, quedata de 1922, não possui nenhumproblema de estrutura, está ape-nas desgastado pelo tempo e pelafalta de manutenção. Por isso, oprimeiro passo na revitalizaçãofoi a lavagem da parte externa ea restauração de esculturas doalto do prédio. Pequenas açõesque, aos poucos, rejuvenescerame renovaram a fachada do local.

Uma verba mensal de mil re-ais mantém a Pró-Cultura. Partedaí a justificativa de se fazer umarevitalização ao invés de umarestauração. Restaurar o prédiosignificaria mais de 15 anos deobras e gastos não inferiores a 2milhões de reais. “Toda a nossaverba vem da comunidade. Nóstemos 500 associados, mas, des-tes, somente cem são ativos epagam a mensalidade de dez re-ais”, explica Lú Kurtz Gonçalvez,presidente da Associação.

Principal espaço para expo-sições da casa, a Sala GilbertoDassow também recebeu cuida-dos. “Essa é sala que todo mun-do freqüenta, precisava ser me-lhorada. Estamos fazendo, naverdade, uma limpeza. Nós reti-

ramos os painéis antigos e colo-camos um revestimento novo deMDF (placa de fibra de madei-ra). Mudamos também a ilumi-nação. Vamos deixar a sala comum ar mais bonito, mais jovial”,conta Lú.

E as mudanças não param poraí. No segundo piso do prédio –ainda desconhecido por muitos– fica o acervo permanente daRegina Simonis. O espaço é aber-to para visitação e pertence àAssociação Pró-Ensino de SantaCruz do Sul, Apesc, e foi por elareformado. Da mesma forma, aUnisc se encarregou das reformasde outras salas do prédio, ocu-padas pelos alunos do projetoUniarte em diversas oficinas. É osegundo andar o responsável poruma das vistas mais privilegia-das da cidade. Da sacada do pré-dio, enxerga-se a rua principal etoda a movimentação do centrosanta-cruzense.

Com o final da revitalizaçãoda Sala Gilberto Dassow, a Casadas Artes reabriu na noite de 26de setembro. Agora, a Associa-ção quer trazer, de fato, a comu-nidade para dentro da casa. Paraisso, a equipe voluntária quecompõe a Pró-Cultura já pensouem alternativas. A primeira, se-gundo Lú, é “prostituir a casa. Éexpor, colocar a casa na rua. Nãofaz sentido tu fazeres qualquercoisa se não tem gente paraprestigiar. É isso que a gente pre-cisa mostrar para as pessoas:estamos trabalhando e temoscapacidade de tornar a casa umambiente melhor”. Outra possi-bilidade é o prédio permaneceraberto ao meio-dia e oferecer,além de exposições, opções demúsica e promoção de eventosespeciais. “Mas vamos fazer umacoisa de cada vez, senão perde-mos o foco. Quando terminarmostudo vamos estudar a melhor for-ma de mostrar para as pessoasque a Casa tem muito mais a ofe-recer”, determina a presidente daAssociação Pró-Cultura.

Prédio embeleza uma das esquinas mais movimentadas da cidade, entre as ruas Marechal Floriano e Júlio de Castilhos

A Casa das Artesganha um novo brilho

CAMILA BORGES CORRÊA

Um prédio cheio de históriaA construção é de 1922. Já foi sede do Banco Pelotense, filialdo Banco do Estado do Rio Grande do Sul, e já foi ocupadopela Secretaria da Fazenda. Hoje, é palco cultural daAssociação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul. Lú KurtzGonçalvez é taxativa ao dizer que a Casa das Artes é o prédiomais nobre de toda a região. Ele foi cedido para a AssociaçãoPró-Cultura pela Secretaria da Fazenda do Estado, em 1994.Em 2000, com o apoio da Universidade de Santa Cruz do Sul epor meio de recursos captados pela Lei de Incentivo à Culturado Governo do Estado, iniciam-se as obras de restauro. Nofinal de 2001, após a liberação de valores de um convênio coma Unisc e de doações de empresas, são feitas obras no telhadoe no acervo de Regina. Outubro de 2002 representa mais umperíodo marcante: obras da artista plástica são doadas peloempresário Geraldo Koehler à Associação Pró-Ensino de SantaCruz do Sul. A Apesc recebe 15 telas, 20 estudos em crayon,um exemplar original do Jornal Folha da Manhã – no qual estáregistrada a primeira exposição dos alunos do Instituto deBelas Artes – e o diploma do curso de Regina Simonis. Em2005 é inaugurada a exposição permanente destes trabalhos.Nascida em 1900, a artista foi uma das primeiras mulheres aingressar no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul.

Lú: trazer as pessoas para dentroda Casa das Artes

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:0811

Page 12: Unicom 01-2007

O que os olhos vêem,o corpo sente

O fetiche ganha as ruas e sugere umaO fetiche ganha as ruas e sugere umaO fetiche ganha as ruas e sugere umaO fetiche ganha as ruas e sugere umaO fetiche ganha as ruas e sugere umamoda cada vez mais arrojada, que mesclamoda cada vez mais arrojada, que mesclamoda cada vez mais arrojada, que mesclamoda cada vez mais arrojada, que mesclamoda cada vez mais arrojada, que mesclaestilo e ousadia. Essa tendência visaestilo e ousadia. Essa tendência visaestilo e ousadia. Essa tendência visaestilo e ousadia. Essa tendência visaestilo e ousadia. Essa tendência visavalorizar generosamente o corpo.valorizar generosamente o corpo.valorizar generosamente o corpo.valorizar generosamente o corpo.valorizar generosamente o corpo.

DANIELA AZEREDO

A ousadia está nas ruas. Asmulheres expõem, cada vez mais,seu lado sensual através de rou-pas que salientam o corpo. E oshomens? Onde está a sensualida-de masculina de se vestir? Asmulheres expressam sua preferên-cia nos figurinos masculinos maisousados. Afinal, mesmo em meioà correria do dia-a-dia, com vi-trines chamativas das lojas, pre-ocupações domiciliares e profis-sionais, não é difícil uma mulherolhar, nem que seja com o cantodos olhos, homens interessantesna rua, seja pela beleza facial oufísica. Muitas têm preferência porroupas diferentes, que alimentamum certo desejo. Pois bem, issotem um nome: chama-se fetiche.

Pecado?Fantasia?Loucura?Não, isso não é nenhuma anor-malidade. Pelo contrário, todasessas preferências servem paradespertar atenção, interesse. Amoda aproveitou o gancho e re-solveu criar uma sintonia finacom o fetiche. Ousou, e buscoumisturar as peças dos mais vari-ados figurinos para compor umestilo mais audacioso, que mes-cla um pouco do atrevimento edo moderno.

Para entender o fetichismo eanalisar o que de fato o conectaà moda, resolvemos buscar umarazão para tal questão. Para isso,basta percorrer os lugares “ocul-tos” da noite em São Leopoldo eperceber o que atrai as mulhe-res. Não precisa procurar muito,pois logo se enxerga o lugar pre-ferido por elas, afinal, a longafila já explica o fenômeno.

Por trás das cortinas, arma-das sobre um palco, é possívelnotar o que está mexendo com acabeça feminina. Não se preci-pite em dizer que é somente a fi-gura masculina que atrai as aten-ções delas. Pelo contrário, o ima-ginário se centra nas roupas usa-das pelos dançarinos. Roupas?Isso mesmo, nas roupas. Noivo,terrorista, cafajeste, bombeiro,motoqueiro, são alguns dos esti-los usados nas apresentações.Aliás, alguma vez, você já se per-guntou o porquê dos dançarinosusarem esses figurinos para atra-ir as atenções das mulheres?

Isso tem uma explicação,como conta Patrick*, 26 anos,dançarino da casa de shows. “Aminha roupa é de cafajeste e estáinspirada nos modelos de filmeshollywoodianos, onde os homensagem de forma infame, tanto nosentido profissional, como amo-roso. As mulheres gostam e se

divertem com esse figurino”, ar-gumenta.

Já Monrat*, de 27 anos, tam-bém dançarino, acredita que hojenão precisa mais ser vulgar parachamar a atenção. “Nós não bus-camos somente atrair a mulherpelo nu, mas sim pelas roupas.Elas gritam mais quando entra-mos com o figurino, do quequando saímos pelados”, afirma.

As luzes se apagam. Cria-seuma expectativa para cerca deduzentas pessoas que se encon-tram no lugar. Ouve-se um somde música latina. Surge umasombra negra no palco. É ele, oZorro. Vestido com uma capapreta, um gorro, cinto de courolargo e máscara, ele entra comtoda ginga de um excelente dan-çarino. Logo se escutam os pri-meiros gritos. “Nossa!” “Loucu-ra!” Os rostos das mulheres pre-sentes se fixam num ponto só.Elas fazem uma análise ocularde cima a baixo. É possível no-tar os sussurros entre elas. Usan-do de uma faceta mais malicio-sa, o dançarino utiliza todas asartimanhas possíveis para atraira atenção delas. No fim do show,é nota-se um silêncio no clube.

Chega a vez do cafajeste. Comestilo mais despojado, ele enca-ra os presentes com um ar maissutil. A roupa, um terno sem gra-vata, chama a atenção. Óculosescuros para compor o ar de ho-mem romântico. Ouvem-se gri-tos. “Dança!” “Rebola!” Com umadança mais romântica, ele puxaalgumas mulheres e ensaia umadança mais sensual. Alguém ládo fundo berra “que roupa sexy”.Após o show, ouvem-se conver-sas paralelas, em que as mulhe-res começam a elencar o figuri-no que mais gostaram.

Sandra*, 35 anos, casada efreqüentadora assídua do local,é uma das mulheres que mais seexalta e conversa durante osshows. Ela acredita que o perfilsensualidade não está mais res-trito aos dançarinos de boates.Para ela, os estilistas estão apos-tando na delineação do corpo ea inspiração vem das própriasfantasias sexuais. “Acho maravi-lhosa essa composição usada poreles (dançarinos). Isso mexe como imaginário. Já dei alguns to-ques para o meu marido e ele atépassou a usar roupas mais des-pojadas, como calças mais jus-tas, por exemplo. Estamos numanova era, onde não é mais ridí-culo um homem sair na rua decalça justa”.

Outra moda que estáganhando muitos adeptossão os chapéus e as boinas.Criado em 4.000 a.C, noantigo Egito, o acessóriopromete subir a cabeça demuitas mulheres ehomens. Antigamente oacessório buscava comporum estilo mais elegante,porém, agora, é usado paradar um ar mais exótico efashion ao figurino. Nãoimporta a cor, nem oformato, pois de acordocom estilistas, o chapéudenota a personalidade dapessoa que o usa. Mas,cuidado! O uso doacessório deve estar emconexão com a roupa, poiseles agem de forma acomplementar o estilodando um ar maisharmônico ao visual. Outradica: evite-o em lugaresfechados!

A moda subiuà cabeça

Não é difícil entender porqueas novelas influenciam direta-mente a moda. Afinal, a ousadiaestá cada vez mais evidente nastransparências e justíssimas pe-ças a que as atrizes estão aderin-do. Isso é notável com o sucessoda personagem Bebel, de CamilaPitanga, em Paraíso Tropical. Asensualidade marca a composi-ção da personagem, que abusa econsolida o estilo “mulher fatal”.Talvez seja por isso que as saiasjustas estão tão em voga.

No caso dos homens, a modajá começa a sinalizar algumasmudanças. O uso de roupas mas-culinas transparentes no verão2008, já demonstra que as mu-lheres terão muito que apreciarnas ruas. No caso delas, a modafetiche continua, com o uso deespartilhos em vestidos e blusas,botas de cano alto, o couro e arenda. Segundo especialistas, aapropriação do fetichismo estáem alta na moda e tem cresci-mento gradativo, conforme asmudanças em relação à expres-são sexual e ao entendimento dosestilos eróticos diversos.

Com estilo esem pudor

Se antigamente era vergonha usar tigrado, zebrado ou estilooncinha, porque era considerado vulgar, agora esse paradigmamudou. Cada vez mais, a moda está se apropriando desseestilo. Hoje em dia, as coleções estão apostando nessa moda,que ao que tudo indica, veio para ficar. Seja como sobreleg,vestidos, legging, biquínis ou até mesmo nas sandálias e bolsas,o estilo está sendo usado por muitas mulheres que buscam umestilo alternativo do comum. Os mais renomados estilistasvibram com essa quebra de estereótipo, que recebe uma forçaincessante das novelas – a maior propaganda da moda.

Bichos à solta

*Os nomes são fictícios.

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:0812

Page 13: Unicom 01-2007

A cura que nascepor meio das agulhas

TTTTTratamento milenarratamento milenarratamento milenarratamento milenarratamento milenar, a acupuntura, a acupuntura, a acupuntura, a acupuntura, a acupunturatem sido bastante utilizada pelatem sido bastante utilizada pelatem sido bastante utilizada pelatem sido bastante utilizada pelatem sido bastante utilizada pelamedicina moderna. O método naomedicina moderna. O método naomedicina moderna. O método naomedicina moderna. O método naomedicina moderna. O método naocausa dor pode ser a cura paracausa dor pode ser a cura paracausa dor pode ser a cura paracausa dor pode ser a cura paracausa dor pode ser a cura paramuitos malesmuitos malesmuitos malesmuitos malesmuitos males

MÁRCIA MÜLLER

A medicina, muitas vezes,volta ao passado para resolverdoenças atuais. A acupuntura,bom exemplo dessa teoria, é umdos tratamentos mais antigos eteve sua origem na China, hácerca de 5 mil anos.

A acupuntura é um métodonatural, porém alguns médicosrecorrem às alopatias, medica-mentos vendidos sob prescriçãomédica, para auxiliar a técnica.O acupunturista Pedro MüllerJúnior conta que aplica somenteterapias naturais. A dona-de-casa,Luciane Fehn, é adepta da tera-pia desde maio e já percebe efei-tos positivos, “principalmente nomeu joelho e na coluna”.

A acupuntura está sendo usa-da para tratar algumas doenças,ajudando a medicina tradicional.“A medicina aceita a acupuntura,inclusive pela Organização Mun-dial da Saúde, mas alguns médi-cos ainda colocam em dúvida a

eficiência, fundamentos, teoriase os mecanismos da acupuntura”,explica Müller.

Foi por meio de um diagnós-tico de acupuntura que a obste-tra Teresinha de Almida, especi-alizada em medicina chinesa,pôde levar adiante a quarta gra-videz de uma paciente, prestes aabortar mais uma vez, sem quea medicina tradicional tivesse ex-plicação para o caso. “Havia umadeficiência nos canais que susten-tam a gestação. Apliquei o tra-tamento usado nas orelhas, pe-quenas agulhas de aço. Depoisde 30 dias, ela saiu do repouso eficou bem até o fim da gestação”,conta a médica.

Outro caso bem-sucedido deacupuntura é da administradorade empresas Andréia Mendonça.“Cheguei à acupunturista doismeses antes de ser operada de umtumor na mama direita, comuma reação inflamatória. Fiz

aplicações no corpo e na orelha.Quando a cirurgia aconteceu, ainflamação havia desaparecido eo tumor diminuído. Hoje, trêsanos depois, estou curada e con-tinuo levando agulhadas.”

O acupunturista, Pedro, escla-rece que a eficácia de um trata-mento depende do paciente. “Jáfui procurado muitas vezes porpessoas que não tiveram êxito nostratamentos de outros profissio-nais da saúde e, na maioria doscasos, obtivemos sucesso. Muitasvezes, para pessoas que não se-guem recomendações médicas, oresultado não será satisfatório eo paciente procurará outra alter-nativa: a acupuntura”.

Pedro diz que não existe po-der nas agulhas: “o poder está nocorpo do paciente. A acupuntura,no corpo e na orelha, é respon-sável por acionar o poder curati-vo de cada um”. Luciane, satis-feita com a técnica, aconselha o

uso: “Vale muito a pena pois nãose toma remédio”.

A acupuntura dói? “Sim enão, na maioria das vezes a sen-sação de dor é mínima e não pro-longada”, afirma Müller. “Não,até pelo contrário, o meu corporelaxa”, justifica Luciane.

Segundo o DicionárioMédico Blakiston,acupuntura é a puntura deórgãos ou tecidos comagulhas finas e longas. Éuma técnica de inserção deagulhas para melhorar aqualidade de vida e curardisfunções orgânicas epsicológicas. Usa somentemétodos naturais comonutrição, iridologia,quiropraxia, hidroterapia egeoterapia. Os primeirosacupunturistas utilizavamagulhas feitas com pedras eossos, posteriormentecomeçaram a criar agulhasde metais, como bronze,ouro e prata. No Brasil,esta técnica milenarchegou na década de 50.

O que éacupuntura?

Você já cuidou dosseus pés hoje?

Pés saudáveis não são sinônimo dePés saudáveis não são sinônimo dePés saudáveis não são sinônimo dePés saudáveis não são sinônimo dePés saudáveis não são sinônimo deunhas bonitas e bem feitas. E ounhas bonitas e bem feitas. E ounhas bonitas e bem feitas. E ounhas bonitas e bem feitas. E ounhas bonitas e bem feitas. E osalto também é um grande vilão:salto também é um grande vilão:salto também é um grande vilão:salto também é um grande vilão:salto também é um grande vilão:dddddois centímetros de altura é oois centímetros de altura é oois centímetros de altura é oois centímetros de altura é oois centímetros de altura é omáximo para não prejudicar os pésmáximo para não prejudicar os pésmáximo para não prejudicar os pésmáximo para não prejudicar os pésmáximo para não prejudicar os pés

DÉBORA NUNES MORALES

O simples fato de botar o pépara fora da cama e caminhar étão natural como respirar ou fa-lar. Caminhar, aliás, é uma dasfunções mais complexas do cor-po humano. De acordo com otraumatologista João FrankeNeto, são necessários 650 mús-culos e cerca de 80% dos ossosde todo o esqueleto para que issoseja possível. Por isso, deve-se cui-dar dos pés. Não adianta usar umsalto alto para ficar bonita eprejudicá-los. Calçados bonitos econfortáveis estão cada vez maisà disposição no mercado.

No calçado, o pé deve ficarfirme, mas mantendo uma totalliberdade de movimento. DoutorFranke explica que existem trêstipos de pé: o pé normal, o péchato e o pé cavo. Todo o pesorecai sobre o pé, esse peso se dis-tribui entre o calcanhar e a par-te dianteira do pé. 90% do pesofica no calcanhar e 10% na par-te dianteira explica o médico.

Há quem ande de salto altopara ficar bonita, as mulheres,que fazem de tudo para ficar demoral alta. Existe quem ande desalto o dia todo. Greis Daniela

Campos, crediarista de uma lojade calçados, não quer nem sa-ber, anda de salto o dia todo sópara se sentir bem, sem saber dosriscos que está correndo. O queela não sabe é que sapatos ina-dequados são responsáveis por90% das doenças dos pés. Ter emmente este fato na hora da com-pra significa prevenir o incômo-do de pisar sentindo dor.

Mas não são apenas as mu-lheres que precisam se preocuparcom os pés, os homens também.Sapatos adequados para os ho-mens que ficam muito tempo em

pé são bastante procurados hoje,explica a consultora de modaCassiana Marlusi. “Eles têm umapalmilha de gel para manter oconforto do pé e não doer”, diz.Cliente da loja onde Cassiana tra-balha, João Gabriel Vicentinicompra seguidamente calçadosque fazem bem para os pés. “Es-ses calçados com palmilha gelcustam mais caro, mas não meimporto, acho que devemos pen-sar um pouco na saúde também”,conta entusiasmado por ter maisuma opção de mercado.

O doutor Franke explica queo pé já era motivo de preocupa-ção para os nossos antepassados.Na Europa do século XIV, os sa-patos tinham bico tão fino e lon-go, que para caminhar era pre-ciso amarrá-lo à cintura ou àcoxa. As francesas elegantes dacorte do rei Henrique IV, parapoder calçar os sapatos estreitos,ficavam pelo menos uma horacom os pés mergulhados em águagelada. Na China, as mulheresusavam sapatos medindo no má-ximo 15 centímetros, para que

Quando for comprar um calçado você deve optar mais pelo conforto doque pela beleza. Os calçados muito apertados comprimem os vasossanguíneos e podem causar problemas circulatórios. Já os muito folgadospodem causar bolhas. Os calçados que não possuem espaço para osdedos se movimentarem ao caminhar, também pode ser um agravante.Eles impedem o movimento adequado dos dedos e deformam os ossos.As solas duras ou muito flexíveis, podem ocasionar torções nos pés. Porisso, antes de comprar sapatos, tenha bastante cuidado.

Cuidados

coubessem nos sapatos. Os péseram amassados e enfaixadosdesde que nasciam.

A parte genética pode ajudar,explica o doutor Franke. “Se vocêficar muito tempo em pé no sal-to ajuda a prejudicar o formatodo pé. O peso proporcional tam-bém faz parte, não adianta sergorda e querer usar um saltão.O pé esborracha, pois o peso émuito. Quem tem o pé deforma-do pelo tempo, a solução é man-ter o peso corporal e evitar usarsalto”, conclui o especialista.

Para o profissional que arru-ma sapatos, Daniel Ferreira daSilva, as mulheres estão maispreocupadas com a saúde dospés. Ele explica que tem aumen-tado a procura pelas mulherespara cortar o salto dos sapatos.

Em reportagem publicada noCorreio do Povo em março desteano, pesquisas científicas garan-tem que calçados altos podem serum mal à saúde. Estudos euro-peus garantem ainda que 80% dapopulação terá problemas nospés em algum momento da vida.

Acupuntura promete cura sem dor

DANIELE HORTA

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:0813

Page 14: Unicom 01-2007

“A gente não sabe falar direito”Uma herança de quase 160 anos de colonização alemã pairava entre a família Klein e eu. Isso porque sou“brasileira”, como eles dizem, e não falo alemão. Devido a essa barreira da língua, havia mais um fator para queeu pudesse conversar com dona Nadir e seu João: a filha deles. Liadete trabalha na cidade e já aprendeu a falarmelhor o português. Foi ela quem traduziu para mim tudo o que a mãe disse, pois eu não entendia quase nada.O pai é mais seguro quanto ao português, mas, envergonhado, admite: “A gente não sabe falar direito”. Eu e afamília Klein vivemos na mesma cidade do Brasil – eles há muito mais tempo. A diferença é que eu aprendi a falara língua portuguesa e eles não. Os Klein falam outro idioma, herdado dos pais, imigrantes alemães. Em SantaCruz do Sul, a língua é uma tradição que sobreviveu até a leis que a proibiram. É um costume que enfraquece como tempo, pois os netos deles já não falam alemão. Mesmo assim, prestes a presenciar mais uma reforma ortográ-fica da língua portuguesa, os Klein continuam à margem da sociedade brasileira.

POLIANA PASA

A língua portuguesa está pres-tes a mudar. Em dezembro doano passado, a Comunidade dosPaíses de Língua Portuguesa(CPLP) decidiu alterar diversasregras ortográficas, para que alíngua siga um padrão nas oitonações (ver box) que a utilizam.São itens como a trema, o acen-to circunflexo e até o número deletras do alfabeto que, a partirdo ano que vem, começam a sertrocados no registro escrito. OMinistério da Educação quer queaté 2009 os livros didáticos jáestejam reformulados. Os auto-res do Acordo Ortográfico da Lín-gua Portuguesa admitem que aadaptação às novas regras nãoserá tão fácil, mas acreditam quea sociedade vai se acostumar.

Para seu João Alberto Klein,no entanto, a mudança não vaifazer a mínima diferença. Issoporque ele mal sabe falar o por-tuguês – e muito menos escrever.Ele e a esposa, dona Nadir, fa-zem parte de um grupo de habi-tantes da região de Santa Cruzdo Sul cuja língua mãe ainda é oalemão. O casal vive numa pro-

priedade de cerca de 20 hecta-res, em Linha Antão, a mais oumenos 20 quilômetros do centroda cidade. Segundo eles, toda avizinhança tem dificuldades parafalar português. Lá, o alemão épraticamente a língua oficial.

Essa cultura tão arraigada doidioma germânico data de 1849.Nesse ano, chegaram os primei-ros imigrantes alemães à Colô-nia de Santa Cruz. Depois deles,viriam mais - e quase somente -alemães: era a primeira colôniaplanejada pelo governo da Pro-víncia de São Pedro do Rio Gran-de do Sul para ser colonizada sópor alemães. De acordo com apesquisadora Maria H. Kipper,uma das principais preocupaçõesdos imigrantes, passados os pri-meiros obstáculos da coloniza-ção, foi a educação dos filhos.Uma lei provincial previa a ins-talação de escolas nas colônias,mas a norma não era cumprida.Por isso, como conta a pesquisa-dora, os próprios colonos cria-ram escolas. Eram escolas comu-nitárias católicas e evangélicas.Com aulas em alemão.

Os professores eram escolhi-dos entre os imigrantes e quasenenhum deles sabia falar portu-guês. Porém, o ensino do alemãofoi bastante eficiente. Maria H.Kipper aponta que já em 1890,Santa Cruz do Sul tinha 54% dapopulação alfabetizada, o segun-do maior índice do estado na épo-ca. A escritora Lissi B. Azambujareforça: em 1930 a taxa de anal-fabetismo nas regiões de coloni-zação germânica era quase zero,enquanto a média nacional esta-va acima dos 80%. Só que essaalfabetização era toda em ale-mão, pelo menos até a quarta ouquinta série. Os pais do seu JoãoAlberto e da dona Nadir, que vi-eram numa das levas de imigran-tes, viveram essa realidade. Fo-ram educados em alemão e essaera a única língua que domina-vam. João conta que o pai atésabia algumas palavras em por-tuguês, mas a mãe não conseguiafalar nada.

Entretanto, a educação san-ta-cruzense só pôde manter ostraços germânicos até o final dadécada de 30, quando Getúlio

Vargas instituiu a Campanha deNacionalização. A partir daí, oportuguês era obrigatório em to-das as escolas e era proibido oensino de idioma estrangeiro atodos os menores de 14 anos.Quando chegou a hora de seuJoão e dona Nadir irem para ocolégio, levaram um choque.Não podiam falar alemão na es-cola, mas só haviam aprendidoessa língua em casa.

Dona Nadir e seu João Klein moram em Linha Antão, um lugar da cidade onde o alemão ainda parece ser a língua oficial

Língua resistiuà proibição

Seu João lembra que passoupor alguns sufocos. Conta que osprofessores até batiam em quemfalasse alemão na escola. A re-pressão era tanta que a mãe delemal saía de casa para não serflagrada pela polícia. Segundo apesquisa de Maria Hoppe Kipper,os anos de 1942 e 1943 foram osmais difíceis para a populaçãogermânica. O medo do nazismoera tanto que a língua alemã foireprimida por completo, tanto emlocais públicos quanto privados.A vigilância policial ficava à es-cuta inclusive nas casas dos co-lonos. Mas a paranóia do gover-no não era inteiramente sem fun-damento. Em todo o Rio Grandedo Sul havia núcleos de apoio aoIII Reich. Em Santa Cruz do Sul,uma sede do Partido Nacional-socialista dos Trabalhadores Ale-mães foi fundada em 1937.

Apesar dos focos de ameaçanazista, Kipper considera exage-rada a ação do Estado Novo. Elaacredita que se a aplicação daCampanha de Nacionalizaçãotivesse sido mais lenta, os resul-tados seriam melhores e menostraumáticos à população. Acon-teceu que a cultura germânica foireprimida, mas não silenciada.Em família, seu João e donaNadir continuaram falando sóalemão, já que seus pais não sa-biam falar português. Nem mes-mo no comércio a repressão foisuficiente. Os lojistas continua-ram atendendo clientes em ale-mão. Em alguns estabelecimen-tos havia até uma sala especial

para esses atendimentos, longeda fiscalização. Até hoje, quan-do vai para o centro da cidade,dona Nadir entra nas lojas emque sabe que é falado o alemão.

Para Lissi Bender Azambuja,a repressão representa uma per-da em termos de cultura. Segun-do ela, o Estado Novo semeou umsentimento de vergonha e menos-prezo em relação ao idioma ale-mão. Com a diminuição da falae a abolição do ensino, ela acre-dita que a língua perdeu um pou-co de representatividade na re-gião. Seu João concorda com oque diz respeito à vergonha. Con-ta que conhece muita gente quesabe falar, mas não fala. Na fa-mília dele, porém, todos os oitofilhos aprenderam o alemão e,junto da família, é só o que fa-lam. Uma das filhas do casal,Liadete Klein, diz que até prefe-re falar alemão do que portugu-ês. O que não é o caso de doisdos seus irmãos, que, segundoela, “casaram com brasileiros” edesaprenderam a língua.

Passado de geração em gera-ção, o alemão tem sobrevividoem Santa Cruz do Sul. Mas tudoindica que essa tradição pára naprole de seu João e dona Nadir.Isso porque dos 12 netos, nenhumaprendeu o alemão. E seu Joãojá sabe de quem é a culpa: datelevisão. O professor ElenorSchneider concorda com essaposição. De acordo com ele, asfamílias de origem alemã são

Seu João teve dificuldades no colégio

POLIANA PASA

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:0814

Page 15: Unicom 01-2007

Outro nívelde analfabetos

atropeladas por alguns fatoresirreversíveis, como a televisão.Ele aponta que, por mais arrai-gada que seja uma cultura, a te-levisão acaba se infiltrando e osdistancia do alemão. Dona Nadirgosta de assistir a novelas, poisela entende mais o português doque sabe falar. Para aprender asnovas regras da língua portugue-sa, então, ela acha que teria devoltar para a escola, porque nãosabe escrever.

Dona Nadir e seu João estãonum limbo. Falam bem o ale-mão, arranham no português,mas não sabem escrever nenhu-ma das línguas. Seu João contaque seus pais tinham 12 filhos emuito trabalho a fazer. Por isso,não tiveram tempo de ensinar aescrita aos pequenos. Na escola,o português era muito difícil, poisfora de lá eles não usavam a lín-gua. O professor Elenor Schneiderclassifica o casal como analfa-betos. “Muitas vezes procuramosanalfabetos nas classes pobres,quando na verdade temos outronível de analfabetos”, diz ele.

Elenor acredita que as auto-ridades nunca souberam lidarcom a questão do bilingüismo.Hoje, segundo ele, os profissio-nais da área das Letras já sabemcomo ensinar uma segunda lín-gua. Por falta de orientação, co-

lonos como seu João, dona Nadire seus pais misturaram as lín-guas, para encontrar uma formade se fazer entender. É isso queestuda a escritora Lissi BenderAzambuja. Ela investiga o San-ta-cruzense Deutsch, uma espéciede nova língua, com vários tra-ços do alemão padrão. Como oalemão foi transmitido somentede forma oral, Lissi afirma quehouve muita perda vocabular.Privados de aspectos lingüísticosimportantes, como a renovaçãoe a ampliação do idioma, osimigrantes encontraram algunsvazios na hora de se comunicar.Para preenchê-los, Lissi conta queeles emprestaram diversos termosdo português e criaram novosverbetes. Um exemplo é a pala-vra namorieren, que significa na-morar no dialeto santa-cruzense.

A pesquisa da escritora servepara preservar essa forma de lin-guagem, pois ela sabe que há umgrupo cada vez menor a falar oSanta-cruzense Deutsch. ElenorSchneider, inclusive, não temdúvida de que esses teuto-brasi-leiros estão em extinção.

Mas aponta que o fenômenodo idioma dos imigrantes temsido muito valorizado pela cha-mada sociolingüística, que é oestudo das línguas usadas na so-ciedade. Ele lembra ainda quehoje as variedades lingüísticassão consideradas riquezas. Emanda um recado ao seu João eà dona Nadir: ninguém fala er-rado. Todos falam simplesmentedo jeito que aprendem.

As mudanças ortográficasDona Nadir acha que a mudança do português é coisa de quem não tinha mais oque inventar. Há uma grande polêmica em torno do Acordo Ortográfico da LínguaPortuguesa. Mas o professor Elenor Schneider concorda com a dona Nadir. Eleacredita que é impossível unificar a diversidade cultural de tantos países. A alteraçãosignifica desatualizar todos os livros. Portanto, todas as bibliotecas terão que sercompletamente renovadas e correm o risco de não reencontrar diversosexemplares, pois muitos livros já nem têm editora. De qualquer forma, o Ministérioda Educação brasileiro apóia o acordo e quer implantá-lo. Então, é melhor você sepreparar. Veja abaixo as principais mudanças na língua portuguesa:

w O alfabeto passa a ter 26 letras, pois k, w, e y serão incorporados ao português;

w A trema deixa de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados;

w O hífen não será mais usado quando o segundo elemento começa com “s” ou “r”,e aí a consoante deve ser duplicada (antirreligioso, contrarregra). Também não seráutilizado o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começacom uma vogal diferente (extraescolar, aeroespacial);

w O acento diferencial não será mais usado, por exemplo, para diferenciar o verbo“pára” da preposição “para”;

w O acento circunflexo desaparece da terceira pessoa do plural, como é usado em“têm” e “lêem”. Nas palavras terminadas em hiato “oo”, como vôo, o acentotambém será eliminado;

w E o acento agudo deixa de existir nos ditongos abertos “ei” e “oi”, a exemplo de“assembléia” e “jibóia”. Sai também de paroxítonas com “i” e “u” tônicosprecedidos de ditongo, como “feiúra”. O acento desaparece ainda das formasverbais que têm o acento tônico na raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” eseguido de “e” ou “i”. É o exemplo de “averigúem” e “apazigúem”.

Dona Nadir: mudança é coisa de quem não tinha mais o que inventar

Oito línguas portuguesasRepública de Angola – África13,9 milhões de habitantes. A línguaoficial é o português, mas também sãofalados idiomas como Umbundo,Quimbundo, Quicongo e Tchokwe.

República de Cabo Verde – África511 mil habitantes. Além doportuguês, fala-se o crioulo.

República da Guiné-Bissau – África1,5 milhão de habitantes. Utiliza-seo crioulo, o mandjaco e a mandinga,entre outros

República de Moçambique – África19,4 milhões de habitantes. Há vári-as línguas nacionais, como o Lomué,Makondé, Shona, Tsonga e Chicheua.

República Democrática de SãoTomé e Príncipe – África162 mil habitantes.Também se fala crioulo.

República Democrática deTimor-Leste – Ásia

924 mil habitantes. Aslínguas oficiais são oportuguês e o tétum

República Portuguesa – Europa10,5 milhões de habitantes

República Federativa do Brasil186,7 milhões de habitantes

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:0815

Page 16: Unicom 01-2007

Às 13h25min estamos devolta à sucursal. Ana Amélia seprepara para entrar ao vivo noCanal Rural, programa Mercadoe Cia. Escova os dentes, penteiao cabelo e retoca a maquiagem.Às 13h40min entra ao vivo. Às14 horas, encerra a participação.Para finalizar a rotina, dá maisuma olhada no e-mail e encerraas atividades do dia às 14h30min.A próxima parada é a academia.Ana Amélia se despede e chamaMessias, seu motorista. Amanhã,a rotina será a mesma, porémcom fatos novos ou exclusivos.Essa correria já dura 28 anos.Parar? Não está em seus planos.

A partir de agora até às12h15min são leituras e respos-tas de e-mails. Em meio às deze-nas de correspondências eletrô-nicas, a jornalista faz a triagemdo que poderá ser pauta na colu-na de Zero Hora. Em meio a tan-tas ligações, profissionais e pes-soais, Ana Amélia aproveita paraligar para uma conceituada flo-ricultura de Porto Alegre e enco-menda um presente. Quem vai re-ceber será um casal gaúcho quelhe deu carona até o aeroportoSalgado Filho. Aproveita e ligapara sua enteada, que mora nacapital gaúcha, e comunica quelhe comprou uma passagem aé-rea para estar na quarta, dia 12,em Brasília para uma festa sur-presa de aniversário que vai rea-lizar para Otávio, seu marido.

Com a coluna de ZeroHora fechada às 12h10min, AnaAmélia retoca novamente amaquiagem e se prepara paraentrar ao vivo no Jornal do Al-moço. Após dois minutos no ar,encerra sua participação. Umapausa para o almoço. Como es-távamos no primeiro dia deacompanhamento de seu traba-lho, Ana Amélia nos convidou

André Machado dá uma notíciade interesse regional, a colunistaaproveita para ir ao toalete.Como algumas entrevistas sãogravadas, resta um tempo paradar mais uma lida nos jornais,assistir ao noticiário na televisãoe fazer uma refeição rápida damanhã. Frutas.

Às 8h50min, a produtoraKely, nos bastidores, avisa AnaAmélia que a primeira sugestãode entrevistado ao vivo “caiu”. Afonte não foi encontrada. A jor-nalista sugere outro entrevistado.Também não teve êxito. Maisum, sem sucesso. Outro nometambém não foi encontrado. So-mente na quinta indicação obtémsucesso. Foram quase dez minu-tos, numa busca por possíveis en-trevistados. O nome: Luiz Anto-nio Fleury Filho – ex-deputadofederal, autor da proposta deemenda constitucional, em 2001,que extinguia o voto secreto emdecisões importantes no Congres-so, como cassações. A entrevistasegue até o fim do programa. Às9h30min, os apresentadores fina-lizam os trabalhos. 1h20min deprograma. Mais uma pausa paraágua e para o toalete.

para uma atividade atípica a suarotina: almoçar no restauranteCarpen Dien, no shopping PátioBrasil. Afinal, ela está acostuma-da a levar uma marmita diáriapara a RBS, invariavelmentemassa estilo japonês.

No restaurante, ela se mos-tra espontânea. Cumprimentainúmeros jornalistas e nos deixaà vontade para falar sobre a hos-pitalidade de Brasília e os servi-ços oferecidos na capital. Apro-veita e conta sobre sua trajetóriaprofissional. Na hora de servir,mostra os melhores pratos do res-taurante. Arrisco-me a experi-mentar a batata sotê com bacon.Parecia picante, mas, ao prová-la, pude sentir o gosto de um tem-pero, que até então não haviaprovado. Até hoje me perguntoqual era o tempero. A jornalista,em sua perspicácia, pergunta-meque tipo de batata era aquela.Logo me pronuncio: “É sotê”. Elaolha para mim, pede um “comlicença” e ataca com as mãos abatata que estava no meu prato.A pessoa que eu conhecia pormeio da televisão não era a mes-ma que encontrei em Brasília:aqui ela parece mais humana.

Os bastidores deAna Amélia LemosDANIELA AZEREDO

A profissional faz sua própria maquiagem antes de entrar ao vivo nos programas da RBS TV

Segunda-feira, 10 de se-tembro de 2007.

São 5h25min. Um táxi pratapára em frente a sucursal da RBSem Brasília. É Messias, há oitosanos o taxista–motorista da jor-nalista. De dentro sai uma mu-lher dinâmica, falante, perspicaz.É Ana Amélia Lemos, vestidanum terno rosa, pronta para ini-ciar suas atividades às 5h30 damanhã. O primeiro jornal emmãos é o Correio Braziliense, tra-zido pelo porteiro do prédio. Oprimeiro olhar é para a colunado Cláudio Humberto. Uma rá-pida lida nas demais notícias ejá toca o telefone. Chegou a vezde entrar ao vivo na Rádio Ru-ral. Depois da rádio, uma para-da para a maquiagem. De den-tro da bolsa, Ana Amélia puxauma nécessaire marrom e apro-veita para fazer alguns retoques.Afinal, em televisão a imagem éimportante e personaliza a pes-soa. Depois se inicia uma pere-grinação nos principais veículosde comunicação do grupo RBS.CBN de Santa Catarina, CanalRural, Bom dia Santa Catarina,Bom Dia Rio Grande.

Hora de dar uma pausa.Pausa para tomar água. Em cimada mesa do estúdio da rádio Ga-úcha, uma garrafa pet de três li-tros de água, para confortar asede, provocada pela seca quecastiga a capital federal. São7h30min, quando entra a mani-cure da jornalista no estúdio darádio. Entre uma unha e outra,Ana Amélia entra no ar, para darseu comentário do dia no Gaú-cha Hoje. Mesmo com as mãosocupadas, ela não se intimida emdar suas notícias ao vivo para osouvintes assíduos da manhã. Afi-nal, a vaidade é outra compa-nheira da rotina da colunista. Amanicure é rápida: 30 minutossão suficientes para dar conta dorecado. O valor do serviço, R$20,00. Mais uma rápida lida nosprincipais jornais nacionais, des-ta vez, trazidos pela recepcionis-ta do grupo.

São 7h50min, os âncorascomeçam a produzir e a gravaras entrevistas que serão transmi-tidas no Gaúcha Atualidade. Pas-sados 20 minutos de produção,inicia-se o programa, que entrano ar às 8h10min. O bom dia ini-cial dos apresentadores AndréMachado, Rosane de Oliveira eAna Amélia Lemos. Enquanto

DANIELA AZEREDO

Mais de AnaAmélia Lemosw Nasceu em LagoaVermelha, no Rio Grandedo Sul;

w Tanto no Ensino Médioquanto na faculdade, AnaAmélia dependeu de bolsaspara concluir os estudos;

w Formou-se no curso deJornalismo da PUCRS noano de 1970. A turma delafoi a primeira a se formarna Faculdade dos Meios deComunicação da PUCRS;

w Trabalhou comoprodutora na Rádio Guaíba,como repórter no Jornal doComércio, na TV Difusorae no jornal Correio daManhã. Foi tambémcorrespondente da revistaVisão. Hoje ela faz partedo grupo RBS;

w Estreou na RBS em1977, como repórter deeconomia. Tambémproduzia e apresentava oprograma “PanoramaEconômico”. Considera-sea primeira coluna deeconomia da televisão dosul do país;

w Mudou-se para Brasíliano final da década de 70,pois seu marido havia sidotransferido para lá. Em1982, assumiu a diretoriada sucursal da RBS nacapital brasileira.

O dia-a-dia da jornalistaO dia-a-dia da jornalistaO dia-a-dia da jornalistaO dia-a-dia da jornalistaO dia-a-dia da jornalistamultimídia que, há 28 anos,multimídia que, há 28 anos,multimídia que, há 28 anos,multimídia que, há 28 anos,multimídia que, há 28 anos,enfrenta uma rotina ativa naenfrenta uma rotina ativa naenfrenta uma rotina ativa naenfrenta uma rotina ativa naenfrenta uma rotina ativa nasucursal da RBS TV de Brasíliasucursal da RBS TV de Brasíliasucursal da RBS TV de Brasíliasucursal da RBS TV de Brasíliasucursal da RBS TV de Brasília

02111_unicom.p65 18/10/2007, 16:0816