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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE MEDICINA Avaliação da interdependência entre histidinas cinases híbridas (BCAM0218, BCAM0227) e adesinas triméricas autotransportadas presentes no agrupamento genético TAA do microrganismo patógeno Burkholderia cenocepacia J2315 Eunice Jorge Penas Curso de Mestrado em Doenças Infeciosas Emergentes Lisboa, 2012 UNIVERSIDADE DE LISBOA

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE MEDICINA

Avaliação da interdependência entre histidinas cinases híbridas

(BCAM0218, BCAM0227) e adesinas triméricas autotransportadas

presentes no agrupamento genético TAA do microrganismo patógeno

Burkholderia cenocepacia J2315

Eunice Jorge Penas

Curso de Mestrado em Doenças Infeciosas Emergentes

Lisboa, 2012

UNIVERSIDADE DE LISBOA

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FACULDADE DE MEDICINA

Avaliação da interdependência entre histidinas cinases híbridas

(BCAM0218, BCAM0227) e adesinas triméricas autotransportadas

presentes no agrupamento genético TAA do microrganismo patógeno

Burkholderia cenocepacia J2315

Eunice Jorge Penas

Orientador: Doutor Arsénio do Carmo Sales Mendes Fialho, Instituto Superior

Técnico, Universidade Técnica de Lisboa

Co-Orientador: Professor Doutor José Augusto Gamito Melo Cristino, Faculdade de

Medicina da Universidade de Lisboa

Curso de Mestrado em Doenças Infeciosas Emergentes

Lisboa, 2012

Todas as afirmações contidas neste

trabalho são da exclusiva

responsabilidade do candidato, não

cabendo à Faculdade de Medicina da

Universidade de Lisboa qualquer

responsabilidade

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I

A impressão desta dissertação foi aprovada em Conselho Cientifico da Faculdade de

Medicina da Universidade de Lisboa dia 18 de Dezembro de 2012.

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II

1. Resumo

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III

As bactérias do complexo Burkholderia cepacia (Bcc) apresentam capacidade de

provocar infeções graves e persistentes em doentes com Fibrose quística (CF) e em

imunocomprometidos. A sua fácil transmissibilidade, a resistência intrínseca a

antimicrobianos e o conjunto de fatores de virulência que apresentam, tornam estas

bactérias emergentes.

Deste modo, o estudo aprofundado destas bactérias torna-se necessário para o

esclarecimento da patogenicidade associada a estas estirpes bacterianas.

Burkholderia cenocepacia elemento do Bcc, é uma estirpe epidémica pertencente à

linhagem ET-12 na qual foi identificado um agrupamento de adesinas triméricas

autotransportadas (TAA) com função determinante no processo de colonização do

epitélio respiratório. A compreensão da regulação destas adesinas apresenta-se

como uma oportunidade de novos alvos antimicrobianos.

Neste projeto realizaram-se várias análises no sentido de perceber se as histinas

cinases híbridas (HKs), BCAM0218 e BCAM0227, que flanqueiam o agrupamento

TAA apresentam funções de regulação nos genes das adesinas.

O estudo envolveu inicialmente análise computacional das HKs através da qual foi

possível identificar algumas semelhanças em termos de estrutura secundária e,

diferenças em termos de percentagens de identidade, principalmente na zona

codificante para o sensor. Posteriormente, após avaliação de níveis de expressão

dos genes do agrupamento TAA em cada um dos mutantes, B. cenopecacia K56-2

BCAM0218::Tp e B. cenopecacia K56-2 BCAM0227::Tp 0227, foi verificado através

de ensaios em modelos biológicos: Galleria mellonella e células de epitélio pulmonar

humanas 16HBE14o- e CFBE41o- (fenótipo não-CF e CF, respetivamente) e, de

ensaios de hemaglutinação e resistência ao soro que existe interdependência entre

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IV

as HKs híbridas e as adesinas do referido agrupamento TAA, quer a nível da

resposta transcricional quer a nível de resposta fenotípica.

Palavras-chave:

Complexo Burkholderia cepacia (Bcc), Burkholderia cenocepacia, Fibrose Quística,

Fatores de virulência, Histidinas Cinases, Adesinas triméricas autotransportadoras,

Hemaglutinação, Adesão a células do epitélio pulmonar

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V

2. Abstract

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VI

Bacteria of the Burkholderia cepacia complex (Bcc) have the capacity to cause

severe and persistent infections in patients with cystic fibrosis (CF) and

immunocompromised. It´s easy transmissibility, intrinsic resistance to antimicrobial

agents and the set of virulence factors present that make these bacteria emerging.

Thus, detailed study of such bacteria it is necessary for the clarification of

pathogenicity associated with these bacterial strains.

B. cenocepacia element of Bcc is an epidemic strain belonging to the ET-12 strain

was identified in which a group of trimeric autotransportadas adhesins (TAA) with

decisive role in the process of colonization of the respiratory epithelium.

Understanding the regulation of these adhesins presents an opportunity for new

antimicrobial targets.

In this project several analyzes were performed in order to understand if the hybrid

histidines Kinases (HKs), BCAM0218 and BCAM0227, flanking the TAA group have

regulatory functions in the genes of adhesins.

The first study involved computer analysis of HKS whereby it was possible to identify

some similarities in terms of secondary structure, and differences in terms of

percentages of identity, particularly in the area coding for the sensor. Subsequently

after evaluation of expression levels of genes in the cluster TAA each mutant B.

cenopecacia K56-2 BCAM0218 :: Tp and B. cenopecacia K56-2 BCAM0227 Tp ::

0227, was verified by testing in biological models: Galleria mellonella and human

lung epithelial cells 16HBE14o-and-CFBE41o (phenotype Non-CF and CF,

respectively), and hemagglutination assays and resistance to serum

interdependence that exists between the HKS and hybrid adhesins of that grouping

TAA, both at the transcriptional response both in terms of phenotypic response.

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VII

Keywords

Burkholderia cepacia complex (Bcc), Burkholderia cenocepacia, Cystic Fibrosis,

Virulence factors, Histidine Kinase, Trimeric autotransporter adhesins, Adhesion of

lung epithelial cells, Hemagglutination

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Índice

1. Resumo ................................................................................................................ I

2. Abstract .............................................................................................................. V

3. Abreviaturas ..................................................................................................... 15

4. Introdução ......................................................................................................... 19

4.1 Taxonomia de Burkholderia ......................................................................... 20

4.2 Complexo Burkholderia cepacia .................................................................. 21

4.2.1 Complexo Burkholderia cepacia patogénicos oportunistas ................... 24

4.2.2 Fatores e Mecanismos de Patogenicidade em Bcc .............................. 26

4.2.2.1 Pili e adesina 22KDa .............................................................................. 28

4.2.2.2 Flagelo ................................................................................................... 28

4.2.2.3 Lipopolissacarídeos ............................................................................... 29

4.2.2.4 Exopolissacarídeos ................................................................................ 30

4.2.2.5Quorum sensing ...................................................................................... 30

4.2.2.6 Biofilmes ................................................................................................ 32

4.3 Adesinas triméricas autotransportadas ....................................................... 36

4.4 Sistemas de regulação de dois componentes ............................................. 38

4.5 Histidinas Cinases ....................................................................................... 42

4.6 Modelos para estudos de infeção ................................................................ 46

5. Objetivos ........................................................................................................... 48

6. Materiais e Metodologias ................................................................................ 51

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6.1 Construção do mutante de inserção B. cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp

52

6.2 Condições de crescimento para B. cenocepacia K56-2 e mutantes .......... 53

6.3 Linhas celulares e cultura de células ........................................................... 53

6.4 Extração de DNA e Reação em Cadeia da polimerase (PCR) .................... 54

6.5 Extração de RNA total ................................................................................. 54

6.6 Reação da Polimerase em Cadeia em Tempo Real (RT-PCR)...................... 55

6.7 Ensaios de Infeção da Galleria mellonella ..................................................... 56

6.8 Ensaios de Hemaglutinação ........................................................................ 57

6.9 Resistência ao soro ..................................................................................... 57

6.10 Ensaios de adesão e invasão a células epiteliais 16HBE14o¯ e CFBE 410o¯

58

7. Resultados .......................................................................................................... 60

7.1 Análise computacional de HKs híbridas em membros de Bcc .................... 61

7.1.1 Histidinas Cinases BCAM0218 e BCAM0227 – Análise computacional ... 64

7.1.2 Análise da estrutura secundária e percentagem de identidade ................ 65

7.1.3 Previsão de estrutura ............................................................................ 70

7.2 Análise genética e funcional das HKs BCAM0218 e BCAM0227 de B.

cenocepacia K56-2 ................................................................................................ 76

7.2.1 Construção do mutante BCAM0227 .......................................................... 79

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7.3 Análise da expressão genética dos genes do agrupamento TAA nos mutantes

deficientes para os genes BCAM0218 e BCAM0227 e na estirpe selvagem ........ 80

7.4 Avaliação fenotípica dos mutantes de B. cenocepacia K56-2 deficientes para

os genes BCAM0218 e BCAM0227, os quais codificam histidinas cinases (HK) . 85

7.4.1 Efeito na virulência no modelo animal Galleria mellonella ........................ 85

7.4.2 Efeito na capacidade de hemaglutinação ................................................. 87

7.4.3 Efeito na capacidade de adesão a culturas de células epiteliais brônquicas

........................................................................................................................... 89

7.4.4 Efeito na resistência ao soro ..................................................................... 90

8. Discussão Final ................................................................................................ 92

9. Agradecimentos ............................................................................................. 100

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Índice de figuras

Figura 1. Árvore filogenética baseada nas sequências do gene 16s do rRNA de

todas as espécies do género Burkholderia………………………………………..…….22

Figura 2. Representação da localização dos fatores de virulência de B. cenocepacia

cuja função é conhecida…………………………………………………………………...27

Figura 3. Representação esquemática de uma adesina trimérica autotransportada

baseada no protótipo da YadA de Yersinnia enterocolitica

adapatado.…………………………………………………………………………...……...38

Figura 4. Representação esquemática da arquitetura modular de dois TCSs…….41

Figura 5. Árvore filogenética elaborada com base nas sequências das Histidinas

cinases híbridas de B. cenocepacia J2315 e arquitetura dos respetivos domínios

………………………………………………………………………………………………63

Figura 6. Alinhamento das sequências das Histidinas cinases BCAM0218 e

BCAM0227 com as regiões conservadas características da subfamília HPK 1b

(1)……………………………………………………………………………………….……64

Figura 7. Previsão de estrutura secundária da Histidina cinase BCAM0218 de

B.cenocepacia J2315………………………………………………………………………68

Figura 8. Previsão de estrutura secundária da Histidina cinase BCAM0227 de

B.cenocepacia J2315………………………………………………………………………69

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Figura 9. Representação esquemática das percentagens de identidade entre os

vários domínios que compõem as HKs BCAM0218 e BCAM0227…………..……….70

Figura 10. Resultado obtido do alinhamento das sequências das Histidinas cinases

BCAM0218 e BCAM0227 de B. cenocepacia J2315 …………………………………73

Figura 11. A) Previsão da estrutura tridimensional das HKs em estudo segundo o

programa I-TASSER………………………………………………………………….……74

Figura 12. Organização genética do agrupamento TAA em B. cenocepacia K56-

2………………………………………………………………………………………….…..78

Figura 13. Produtos de PCR resultantes da amplificação com os iniciadores de

oligonucleotidos 227Fwd2 e 227Rev2………………………………………………….80

Figura 14. Representação gráfica dos níveis relativos da expressão genética dos

diferentes genes do agrupamento TAA…………………………………………………82

Figura 15. Representação gráfica dos níveis relativos de expressão genética dos

genes BCAM0224 e BCAM0227 em B.cenocepacia K56-2………………………….83

Figura 16. Representação gráfica do crescimento de B. cenocepacia K56-2 e B.

cenocepacia K56-2 crescida com BDSF 50 μM………………………………………..85

Figura 17. Virulência no modelo Galleria mellonella………………………………….86

Figura 18. Resultados obtidos dos ensaios de hemaglutinação de B. cenocepacia K-

56-2 e mutantes B. cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp e B. cenocepacia K56-2

BCAM0218::Tp ……………………………………………………………………………88

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Figura 19. Representação gráfica da % média de adesão dos mutantes em estudo e

da estirpe selvagem B. cenocepacia K56-2……………………………………….…….90

Figura 20. Representação gráfica dos resultados obtidos dos ensaios bactericidas

com 30% de Soro Normal Humano (NHS)………………………………………………91

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Índice Tabelas

Tabela 1. Complexo Burkholderia cepacia………………………………………………23

Tabela 2. Exemplos de alguns sistemas de regulação de dois componentes………41

Tabela 3. Nome, localização e descrição de alguns domínios encontrados em

histidinas cinases…………………………………………………………………………...45

Tabela 4. Oligonucleótido utilizados para a amplificação por PCR…………………..56

Tabela 5. Localização e tamanho das sete HK híbridas descritas em B. cenocepacia

J2315……………………………………………………………………………………..….62

Tabela 6. Descrição dos valores e estruturas que permitiram prever as estruturas

tridimensionais das KHs BCAM0218 e BCAM0227…………………………………....75

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15

3. Abreviaturas

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16

aa - aminoácidos

ATP – Adenosina trifosfato

BDSF – ácido cis-2-dodecanoico

CA – Domínio catalítico e de ligação ao ATP do inglês Catalytic and ATP-binding

domain

CF – Fibrose Quística do inglês Cystic fibrosis

CFTR – regulador de condutância transmembranar de fibrose quística do inglês

cystic fibrosis transmembrane conductance regulator

CGD – doença granulomatose crónica do inglês chronic granulomatous disease

DHp – Domínio de dimerização e fosfotransferência do inglês dimerization and

histidine phosphotransfer domain

DO – Densidade óptica

Dominio PAS - do inglês PAS domain – (Per) – period circadian protein, (Arnt) - aryl

hydrocarbon receptor nuclear translocator protein e (Sim) - single-minded protein.

ET-12 – do inglês Edinburgh-Toronto epidemic Electrophoretic Type 12 clone

FBS – Soro fetal de bovino

HAMP – do inglês histidine Kinase, adenylyl cyclase, methyl-accepting chemotaxis

proteins and phosphatase ou P-type linker

HisKA – Domínio de Histidina cinase A fosfo-recetor do inglês Histidine Kinase A

phosphoacceptor domain

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HK – Histidina cinase do inglês Histidine Kinase

HPK – Proteína histidina cinase do inglês histidine protein kinase

Hyp – proteína hipotética do inglês hypothetical protein

LB – Meio de cultura Luria-Bertani

LPS - Lipopolissacarídeos

MEM – Meio essencial mínimo com sais Earle do inglês Minimum Essential Medium

with Earle’s salt

MOI – Multiplicidade de infeção do inglês Multiplicity infection

NHS – Soro Humano Normal do inglês Normal Human Sérum

OMP – proteína externa da membrana do inglês outer membrane protein

PBS – Solução salina tamponada com fosfato do inglês Phosphate buffered saline

PCR – Reação em cadeia da polimerase

RNA – Ácido ribonucleico

Rpm – rotações por minuto

RR – Regulador de resposta

TAA - Adesina trimérica autotransportada do inglês trimeric autotransporter adhesin

Tatac – Agrupamento de adesinas triméricas autotransportadas do inglês Trimeric

autotransporter adhesin cluster

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18

TCS – Sistema de regulação de dois componentes do inglês Two-component

regulatory system

Tp – Trimetropim

U – unidades

UFC – Unidades formadoras de colónias

VIH – Vírus da imunodeficiência humana

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19

4. Introdução

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20

4.1 Taxonomia de Burkholderia

O primeiro isolado de Burkholderia foi descrito nos anos 40 por Burkholder como

bactéria fitopatogénica capaz de causar podridão nos bolbos de cebola (5). Devido

às características fenotípicas dos isolados estes foram, durante muitos anos,

incluídos no género Pseudomonas (5). Só em 1992, com recurso a resultados

moleculares baseados na análise do gene que codifica para a subunidade 16s do

rRNA, valores de homologia DNA-DNA, composição de lípidos celulares e ácidos

gordos e características fenotípicas dos isolados, algumas espécies do género

Pseudomonas foram transferidas para um novo género, o género Burkholderia,

sendo Burkholderia cepacia considerada a espécie tipo (6).

Vários investigadores dedicaram-se ao estudo da diversidade das estirpes de B.

cepacia e, verificaram que existe uma elevada heterogeneidade entre as mesmas

(7). Em 1997 Vandamme et al dividem as espécies de B. cepacia em cinco

genomovars, grupo de estirpes fenotipicamente semelhantes mas genotipicamente

distintas. O grupo de cinco genomovars é então mais tarde designado por Complexo

Burkholderia cepacia (Bcc- Burkholderia cepacia complex) (8)

O género Burkholderia compreende um grupo de bactérias Gram negativas, em

forma de bacilos não esporolados, móveis e aeróbios (7-9). Atualmente é constituído

por 60 espécies e candidatos a espécies, representadas na figura 1, árvore

filogenética elaborada com base no gene que codifica para a subunidade 16s do

rRNA (www.bacterio.cict.fr/b/burkholderia.html). Estas espécies apresentam uma

elevada e peculiar versatilidade no que concerne aos diferentes ambientes que

habitam, às aplicações biotecnológicas onde podem estar envolvidas e ao elevado

potencial infecioso que algumas apresentam (9, 10).

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21

As espécies do género Burkholderia podem ser isoladas de diferentes ambientes

como solo, água, plantas, rizosfera, animais, equipamentos hospitalares, soluções

farmacêuticas e humanos (11).

São dois os fatores que justificam a versatilidade ecológica deste género de

microrganismos, por um lado a polivalência metabólica devido à sua elevada

capacidade de codificação e multireplicação dos grandes genomas que apresentam,

de 6 a 9 Mb e, por outro os genomas apresentarem matrizes de elementos móveis

que promovem plasticidade genómica e adaptabilidade geral (10, 12).

4.2 Complexo Burkholderia cepacia

Atualmente as bactérias do designado Complexo Burkholderia cepacia estão

distribuídas por 17 espécies aparentadas, ver tabela 1,estas partilham um elevado

grau de identidade nas sequências do gene que codifica para a subunidade 16s do

rRNA (98% a 100%), no gene recA (94% a 95%) e níveis moderados de hibridação

DNA-DNA (30% a 50%) (7-9, 13, 14).

Segundo Vandamme 2003, ainda dentro do Bcc e de acordo com análises efetuadas

ao gene RecA B. cenocepacia e B. cepacia estão ainda divididas em quatro grupos

(A, B, C e D) e dois subgrupos respetivamente (13).

As espécies de Bcc são de natureza saprófita, vulgarmente encontradas a colonizar

o solo, plantas, ambientes aquáticos e terrestres.

Contudo, para além da sua distribuição generalizada no ambiente, algumas das

espécies do Bcc apresentam a capacidade de provocar infeções graves e

persistentes em doentes com Fibrose Quística (CF – do inglês cystic fibrosis) e em

doentes imunocomprometidos (15).

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22

Burkholderia andropogonis ATCC 23061

(X67037)

Burkholderia sacchari IPT101 (AF263278)

Burkholderia tropica Ppe8 (AJ420332) Burkholderia unamae MTl-641 (AY221956)

Burkholderia nodosa R-25486 (AM284972) Burkholderia oxyphila OX-01 (AB488693)

Burkholderia silvatlantica SRMrh-20 (AY965240)

Burkholderia ferrariae FeGI01 (DQ514537) Burkholderia mimosarum PAS44 (AY752958)

Burkholderia heleia SA41 (AB495123)

Burkholderia tuberum STM678 (AJ302311)

Burkholderia kururiensis KP23 (AB024310)

Burkholderia phenoliruptrix AC 1100 (AY435213)

Burkholderia acidipaludis SA33 (AB513180)

Burkholderia phymatum STM815 (AJ302312) Burkholderia sabiae Br3407 (AY773186)

Burkholderia caribensis MWAP64

(Y17009)

Burkholderia hospita LMG 20598 (AY040365) Burkholderia terrae KMY02 (AB201285)

Burkholderia bryophila LMG 23644

(AM489501)

Burkholderia fungorum LMG 16225

(AF215705)

Burkholderia megapolitana LMG 23650 (AM489502)

Burkholderia terricola LMG 20594 (AY040362) Burkholderia xenovorans

LB400 (U86373)

Burkholderia phytofirmans PsJN (AY497470)

Burkholderia graminis C4D1M (U96939)

Burkholderia caledonica LMG 19076

(AF215704)

Burkholderia sediminicola HU2-65W (EU035613)

Burkholderia phenazinium LMG 2247 (U96936)

Burkholderia sartisoli RP007 (AF061872) Burkholderia ginsengisoli KMY03

(AB201286)

Burkholderia sordidicola S5-B (AF512826) Burkholderia glathei LMG 14190 (U96935)

Burkholderia cepacia ATCC 25416 (AF097530)

Burkholderia lata R-15816

(AM905038)

Burkholderia latens R-5630 (AM747628)

Burkholderia metallica R-16017 (AM747632)

Burkholderia multivorans LMG 13010 (Y18703)

Burkholderia pyrrocinia LMG 14191 (U96930)

Burkholderia seminalis R-24196 (AM747631)

Burkholderia ubonensis EY 3383

(AB030584)

Burkholderia vietnamiensis TVV

75 (U96928)

Burkholderia ambifaria AMMD

(AF043302)

Burkholderia arboris R-24201 (AM747630)

Burkholderia diffusa R-15930 (AM747629)

Burkholderia stabilis LMG 14294 (AF148554)

Burkholderia cenocepacia LMG 16656 (AF148556)

Burkholderia anthina R-4183 (AJ420880) Burkholderia contaminans I29B (GQ397111)

Burkholderia dolosa LMG 18941 (AF175314)

Burkholderia gladioli pv. gladioli ATCC 10248 (X67038)

Burkholderia mallei ATCC 23344 (AF110188)

Burkholderia plantarii LMG 9035 (U96933)

Burkholderia thailandensis

E264 (U91838)

Burkholderia glumae LMG 2196 (U96931) Burkholderia oklahomensis C6786 (DQ108388)

Burkholderia pseudomallei ATCC 23343 (DQ108392)

Burkholderia caryophylli ATCC 25418 (X67039)

Burkholderia rhizoxinica HKI 454

(AJ938142)

Burkholderia soli GP25-8 (DQ465451)

Burkholderia endofungorum B5 (AM420302)

Bu

rkh

old

eria

cep

aci

a complex

Figura 1. Árvore

filogenética baseada nas

sequências do gene 16s

do rRNA de todas as

espécies do género

Burkholderia.

As 17 espécies do

designado complexo

Burkholderia cepacia

encontram-se delimitadas

a preto. O alinhamento

múltiplo foi efetuado

recorrendo ao programa

ClustalW2 e a árvore

filogenética através do

ClustalW2 e Neighbor

joining method (2)

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Nos doentes com CF, as infeções do trato respiratório com estirpes de Bcc revelam-

se muito difíceis de controlar dado à sua multirresistência aos antibióticos,

conduzindo frequentemente a uma rápida deterioração da função respiratória

caracterizada por pneumonia necrotizante e septicémia fatal – Síndrome da cepacia

(16, 17).

Tabela 1. Complexo Burkholderia cepacia adaptado de Lipuma et al 2010 (15)

Espécie Ano de identificação Referência

B. cepacia 1950 Vandamme et al., 1997

B. vietnamiensis 1995 Vandamme et al., 1997

B. multivorans 1997 Vandamme et al., 1997

B. cenocepacia 1997 Vandamme et al., 2003

B. stabilis 1997 Vandamme et al., 1997

B. dolosa 2001 Vermis et al., 2004

B. ambifaria 2001 Coenye et al., 2001

B. anthinia 2002 Vandamme et al 2002

B. pyrrocinia 2002 Vandamme et al., 2002

B. ubonensis 2000 Yabuuchi et al., 2000

B. metallica 2008 Vanlaere et al., 2008

B. lattens 2008 Vanlaere et al., 2008

B. arbores 2008 Vanlaere et al., 2008

B. seminalis 2008 Vanlaere et al., 2008

B. diffusa 2008 Vanlaere et al., 2008

B. late 2009 Vanlaere et al., 2009

B. contaminans 2009 Vanlaere et al., 2009

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4.2.1 Complexo Burkholderia cepacia patogénicos oportunistas

Todas as bactérias pertencentes ao Bcc à exceção de B. ubonensis já foram

isoladas de doentes com CF. Apesar das espécies de Bcc terem sido isoladas de

aproximadamente 10% dos adultos com CF, estes patogénicos não se limitam à

população com CF, são também agentes etiológicos de infeções em doentes com

granulomatose crónica (DGC), em doentes imunocomprometidos oncológicos e em

doentes com Vírus da imunodeficiência Humana (VIH) e, por vezes, até mesmo em

indivíduos imunocompetentes (12, 18, 19).

A DGC é uma doença hereditária rara provocada por uma mutação numa

subunidade do complexo NADPH oxidase dos fagócitos, levando à incapacidade de

formar compostos reativos de oxigénio para o combate a infeções (20). Infeções por

espécies de Bcc e pneumonia são a segunda causa de morte na DGC (20).

A CF é uma das doenças genéticas mais comuns na raça caucasiana e afeta

segundo Cystic Fibrosis Foundation 70 000 indivíduos em todo o mundo (21).

Estima-se que 1 em cada 2500 recém – nascidos seja afetado e 1 em cada 25

indivíduos seja portador do alelo mutado (22). A cada ano registam-se

aproximadamente 1000 novos casos. Sendo a esperança média de vida dos

doentes CF 37 anos e a idade média de morte de 24 anos (21).

Em Portugal, a incidência de CF estima-se ser na ordem de 1 em cada 400 recém-

nascidos (23). Um estudo recente envolvendo 506 isolados provenientes de 41

doentes CF infetados com Bcc, do Centro de tratamento de fibrose quística do

Hospital Santa Maria em Lisboa, revela que a estirpe de Bcc mais prevalente é B.

cepacia e B. cenocepacia. A CF é uma doença causada por mutações num gene

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com 590 Kilobases (Kb), gene cftr, localizado no cromossoma sete e, o qual codifica

a proteína designada por regulador de condutância transmembranar de fibrose

quística (CFTR – do inglês cystic fibrosis transmembrane conductance regulator),

com 1480 aminoácidos (24). Trata-se de uma proteína transportadora do ião cloreto,

localizada na membrana apical das células epiteliais (15). A sua não funcionalidade

condiciona o transporte eletrolítico nas células epiteliais afetando todos os órgãos

onde a proteína CFTR é expressa: pulmões, pâncreas, trato gastrointestinal e

glândulas submucosas, conduzindo a uma diminuição do conteúdo hídrico das

secreções e consequente obstrução de ductos (25).

O pulmão é um dos principais órgãos afetados em doentes com FQ. As secreções

são desidratadas, dificultando a limpeza mucociliar e os elevados teores de cloreto

de sódio levam à inativação de proteínas relacionadas com a resposta imunológica,

formando-se deste modo um ambiente favorável à colonização de microrganismos e,

consequentemente ao aumento da suscetibilidade a infeções respiratórias (16, 17).

Nos doentes com CF, as infeções mais comuns associadas ao trato respiratório são

causadas por espécies oportunistas tais como Pseudomonas aeruginosa, espécies

pertencentes ao Complexo Burkholderia cepacia e estirpes patogénicas comuns no

Homem como Staphylococcus aureus e Haemophilus influenzae (15, 26). O carácter

emergente das infeções com estirpes de Bcc em doentes com CF deve-se à elevada

transmissibilidade das estirpes, à sua resistência intrínseca a um largo espectro de

compostos antimicrobianos, bem como à ação concertada de um conjunto variado

de fatores de virulência.

Algumas estirpes do Bcc apresentam uma elevada transmissibilidade entre doentes

com CF, conduzindo a infeções epidémicas. Um caso particular de elevada

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transmissibilidade e virulência ocorreu com as estirpes epidémicas da linhagem

eletroforética tipo 12, ET-12 (Edinburgh–Toronto), estas estirpes foram responsáveis

pelo maior surto em doentes CF que ocorreu no Canadá e Reino Unido, no final dos

anos 80 início da década de 90 (27). A base para a híper-transmissibilidade das

estirpes B. cenocepacia ET-12 não é totalmente compreendida, no entanto sabe-se

que se trata de uma estirpe de Bcc, que apresenta em conjunto dois fatores de

virulência determinantes na sua colonização e transmissibilidade: pili e adesina 22-

KDa (28).

Outra estirpe também epidémica de B. cenocepacia é a B. cenocepacia PHDC que

foi isolada de doentes com CF na região média atlântica dos Estados Unidos da

América, Phyladelphia. Esta estirpe foi isolada de solos agrícolas e de doentes com

CF revelando desta forma o meio ambiente como reservatório e meio de aquisição

de estirpes de Bcc. (29)

4.2.2 Fatores e Mecanismos de Patogenicidade em Bcc

Devido à diversidade de nichos ecológicos que os membros de Bcc podem habitar e

à sua versatilidade, estas espécies têm de apresentar uma capacidade diversificada

de interações biológicas quer com o meio ambiente quer com as células hospedeiras

dos tecidos onde se tornam patogénicas.

Para a maioria das bactérias patogénicas, um passo crucial para estabelecer uma

infeção é o reconhecimento e colonização bem-sucedida do tecido do hospedeiro

(10, 12) . Desde que houve o reconhecimento das bactérias de Bcc como

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27

causadoras de infeções graves em doentes CF, muitos progressos têm sido feitos

na caracterização dos determinantes de virulência.

B. cenocepacia foi a espécie mais comumente isolada de doentes CF e associada à

disseminação de epidemias entre os mesmos (19). Devido a tal B. cenocepacia é a

espécie mais representativa de Bcc e melhor caraterizada.

São a especificidade e a capacidade de conjugação de múltiplos determinantes de

virulência, ver figura 2, que permitem a esta espécie causar doença, entre os vários

determinantes destacam-se: os sistemas de secreção, os sistemas de regulação da

expressão dos genes, vias metabólicas e de aquisição de nutrientes, moléculas

necessárias para a resistência a compostos antimicrobianos e proteínas cujas

funções ainda não são bem conhecidas (30).

Figura 2. Representação da localização dos fatores de virulência de B. cenocepacia cuja

função é conhecida adaptada de Lotet e Valvano, 2010.

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4.2.2.1 Pili e adesina 22KDa

Os pili são apêndices filiformes grandes (2-4mm), existentes na superfície das

bactérias. Alguns estudos in vitro demonstram o efeito citotóxico dos pili tendo a

capacidade de iniciar a apoptose em linhas celulares epiteliais de pulmão humanas

(31) e de se ligarem a uma outra variedade de células epiteliais como as da

cavidade bucal humana, epitélio das vias aéreas, pneumócitos alveolares do tipo II,

à traqueia, entre outras (32, 33). Devido à débil depuração mucociliar no pulmão do

doente com CF a ligação através dos pili às células do epitélio torna-se mais fácil

(16).

As bactérias do Bcc ligam-se às células epiteliais através da ligação dos pili mediada

pela adesina 22 KDa. As células epiteliais por sua vez apresentam uma proteína de

superfície designada de CK13 que permite a ligação dos pili.

Segundo Sajjan et al, 2000, foi demonstrado existir um aumento da expressão da

CK13 em vias aéreas de doentes com CF, principalmente no epitélio brônquio

alveolar e respiratório, facilitando deste modo a infeção por estes organismos (32).

Dentro de Bcc, apenas as estirpes B. cenocepacia da linhagem ET12 são capazes

de apresentar ambos elementos patogénicos, pili e adesina 22KDa, sendo que o

potencial das bactérias para causar infeção aumenta quando possuem

conjuntamente pili e adesina 22 KDa (32).

4.2.2.2 Flagelo

O flagelo é um apêndice filiforme que proporciona a mobilidade às bactérias, este é

considerado um determinante de patogenicidade importante devido ao seu

envolvimento na disseminação da bactéria do local de infeção para outros órgãos.

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29

Este apêndice está envolvido na invasão de células epiteliais, na formação de

biofilmes e na indução da resposta do hospedeiro (34).

O flagelo é capaz de ligar-se e interagir com o recetor TLR5 do hospedeiro, que

reconhece padrões moleculares de microrganismos e inicia a resposta imunitária

inata. No entanto, o reconhecimento e ativação do sistema imunitário contribuem

para o aumento da inflamação e dos danos no pulmão (35).

De acordo com resultados publicados por Tomich et al, 2002 que através de

mutantes B.cenocepacia k56-2 com o flagelo bloqueado demonstrou uma redução

de 40% na morte de ratinhos C57BL/6j, foi verificado que a mobilidade é

fundamental para a invasão de células epiteliais (36).

4.2.2.3 Lipopolissacarídeos

Lipopolissacaríedos (LPS) são glicolípidos complexos compostos por três

segmentos: lípido A, polissacarídeo central e o antigénio O e estão localizados na

membrana externa das bactérias Gram negativas. Estas moléculas são

reconhecidas como importantes fatores de virulência.

Nos membros de Bcc, os LPS têm uma particularidade que os difere em parte das

outras bactérias Gram negativas. Os LPS destas bactérias segundo Albercht et al,

têm capacidade de neutralizar a carga iónica na superfície celular havendo indicação

de estarem envolvidos nos mecanismos de resistência aos antibióticos, como por

exemplo com as polimixinas e com péptidos antimicrobianos catiónicos (37).

Os LPS apresentam-se desta forma como um bom alvo para o desenvolvimento de

antimicrobianos no entanto, estudos estruturais demonstram uma grande

diversidade de LPS em estirpes de Bcc, dificultando o desenvolvimento de uma

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30

vacina eficiente contra LPS do Bcc. Os anti-soros produzidos contra os LPS de uma

estirpe do Bcc são normalmente incapazes de reagir com os LPS de outras estirpes

(38).

Outra capacidade específica dos LPS do Bcc é a capacidade de estimular os

neutrófilos humanos com o aumento consequente da expressão de CD11b na sua

superfície, estimulando a fagocitose da bactéria e a libertação de espécies reativas

de oxigénio. Desta forma as enzimas dos neutrófilos induzem danos nos tecidos

pulmonares (39).

4.2.2.4 Exopolissacarídeos

A produção de exopolissacarídeos (EPS) é uma característica comum entre os

isolados clínicos do Bcc (40-42). As estirpes de Bcc têm capacidade de produzir pelo

menos quatro tipos diferentes de EPS, sendo o mais comum designado de

cepaciano (41, 43)

A produção de EPS por membros de Bcc está envolvida em vários mecanismos

associados à virulência tais como: na interação com péptidos antimicrobianos (41),

na persistência no pulmão do doente CF (42, 44) e em modelos de infeção (45), na

formação de biofilmes (40) na quimiotaxia dos neutrófilos e, na capacidade de

sequestrar espécies reativas de oxigénio, havendo nestes dois últimos uma ação

direta e fundamental na defesa pulmonar do hospedeiro (46).

4.2.2.5 Quorum sensing

O quorum sensing (QS) consiste num processo de comunicação química que

permite regular a expressão genética a partir da densidade da população bacteriana,

através da síntese e deteção de moléculas QS (30, 47)

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Estes mecanismos permitem às bactérias uma adaptação rápida a um determinado

ambiente e tem-se demonstrado um importante fator de virulência em Burkholderia.

É responsável pela produção de toxina, protéase, produção de sideróforos, bem

como pelo fenótipo swarming e formação de biofilme (48, 49).

Para além da comunicação intra espécie, foi demonstrado que membros de Bcc têm

a capacidade de comunicar entre espécies, especificamente com Pseudomonas

aeruginosa, verificou-se que espécies de Bcc detetavam e respondiam a moléculas

de QS de P. aeruginosa, possibilitando a formação de biofilmes mistos entre duas

espécies. Esta capacidade de comunicação entre estas espécies demonstra

vantagem de adaptação por exemplo na invasão de pulmões que já foram

colonizados anteriormente por outra espécie (50).

Recentemente foi descrito que B. cenocepacia produz uma molécula de sinalização

célula-célula capaz de comunicar não só entre espécies mas também entre

organismos de diferentes reinos, designada por ácido cis- 2 dodecanoico (BDSF)

(51).

A síntese de BDSF em Burkholderia é efetuada através do gene BCAM0851, sendo

reconhecida intracelularmente através da histidina cinase BCAM0227 (51). Segundo

MacCarthy et al, 2010, uma mutação no gene BCAM0851 leva à redução da

mobilidade, à redução da capacidade de formação de biofilme e atenua a virulência

no modelo experimental Galleria mellonella.

O processo de comunicação entre as células, QS, tem levado a cabo muitos estudos

no sentido de encontrar compostos inibitórios. Já muitos compostos inibidores foram

descritos e, um crescente número de estudos demonstram a sua capacidade na

prevenção de formação de biofilmes, bem como no aumento da capacidade de

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rutura dos mesmos, diminuição da produção de fatores de virulência e das

dificuldades de resposta ao stress oxidativo a que estão sujeitas (52-55).

4.2.2.6 Biofilmes

Biofilmes são comunidades complexas de bactérias embebidas numa matriz e

aderidas a uma superfície (56). Este processo de adesão a superfícies e formação

de comunidades foi desenvolvido pelas bactérias com o intuito de se auto

protegerem. A formação de biofilmes proporciona proteção aos elementos que o

constituem não só em termos nutricionais mas também em termos de alterações

ambientais e na defesa contra o hospedeiro. Estas comunidades apresentam

proteção não só aos antibióticos mas também ao sistema imunitário do hospedeiro

(47, 56).

Bactérias do Bcc colonizam os pulmões dos doentes com CF através de biofilmes,

podendo estes serem mistos, isto é, formados por mais do que uma espécie de

bactérias, as quais comunicam entre si por QS. P. aeruginosa é um exemplo

frequente presente em biofilmes com elementos do Bcc (57).

A formação de biofilmes é afetada pela quantidade de ferro disponível pela síntese

de exopolissacárido e pela mobilidade das bactérias (40, 58).

A interrupção do crescimento dos biofilmes de B. cenocepacia é um alvo atrativo

para o desenvolvimento de novos antibióticos e inibidores de QS (59).

4.2.2.7 Proteínas extracelulares e sistemas de secreção

B. cenocepacia tem capacidade de produzir duas metaloproteases de zinco

distintas, ZmpA e ZmpB, com capacidade para atuar em diferentes substratos. A

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expressão das duas metaloproteases de zinco é controlada por QS e pelo regulador

ShvR sendo estas secretadas através do sistema de secreção tipo II (T2SS) (60).

Ambas as metaloproteases têm capacidade de degradar vários substratos de

importância biológica, ZmpA: neutrófilos, inibidores de proteínases, macroglobulina,

interferão ɣ, colagénio tipo IV e fibronectina e, ZmpB: transferrina, lactoferrina,

colagénio tipo IV e imunoglobulinas (61).

Em Burkholderia as duas metaloproteases atuam ao nível da destruição da

integridade do tecido hospedeiro e ao nível do sistema imunitário do hospedeiro,

levando consequentemente ao aumento da inflamação (60, 62).

A maioria dos organismos requer ferro como elemento essencial para uma

variedade de vias metabólicas celulares (63, 64).

O Pulmão possui lactoferrina intra e extracelularmente com capacidade de ligação

ao ferro. A presença desta proteína limita a disponibilidade de ferro, pois este ao

reagir com o oxigénio causa danos ao tecido pulmonar. A colonização deste órgão

por parte das bactérias implica estratégias para obtenção do mesmo uma vez que a

maioria dos organismos requer ferro como elemento essencial para uma variedade

de vias metabólicas celulares (63, 64).

Um dos potenciais fatores de virulência implicados na patogénese da infeção de B.

cepacia é a produção de sideróforos (65). Os sideróforos são moléculas de baixo

peso molecular, quelantes de ferro, utilizadas pelas estirpes de Bcc para obtenção

de ferro do meio ambiente (66).

As lípases são enzimas também secretadas por algumas espécies do Bcc. Estas

enzimas desempenham um papel importante no processo de invasão às células

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epiteliais. Um estudo desenvolvido por Mullan et al., 2007 revelou que quando B.

cenocepacia é submetida a um pré-tratamento com um inibidor de lípase, a sua

capacidade de invasão às células epiteliais diminuiu (67)

Os sistemas de secreção de proteínas visam não só cumprir funções celulares

básicas, mas também o desenvolvimento de estratégias de virulência essenciais

para as bactérias patogénicas durante a interação com as células hospedeiras

eucarióticas (68).

A maioria das bactérias Gram negativas apresenta mecanismos de secreção, estes

mecanismos consistem na produção e transporte de moléculas efectoras proteínas,

enzimas ou toxinas do interior celular para o exterior.

Dos sete sistemas de secreção descritos em Gram negativos o Sistema de secreção

tipo IV (T5SS) é o sistema mais difundido (68).

Dentro de Bcc estão descritos cinco tipos de sistemas de secreção: tipo II, III, IV, V e

VI que contribuem para a virulência.

4.2.2.8 Resistência a antibióticos

A rizosfera é o habitat de muitos microrganismos que produzem antibióticos,

sabendo-se que membros do género Burkholderia são simbiontes de plantas, fungos

e insetos, dentro do seu ambiente natural estas bactérias são expostas a péptidos

antimicrobianos, a polimixinas e outros compostos semelhantes. Esta exposição de

forma continuada exerce pressão seletiva promovendo a evolução de elevados

níveis de resistência a este tipo de compostos (30, 69).

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A capacidade dos membros do Bcc para resistir a vários antibióticos e compostos

antimicrobianos classifica-os como graves e preocupantes patogénicos oportunistas

(70).

Dentro dos mais variados compostos antimicrobianos aos quais os membros de Bcc

apresentam resistência, destaca-se a penicilina G a qual as bactérias deste

complexo conseguem utilizar como única fonte de carbono (71).

Do ponto de vista clínico, a resistência intrínseca a antibióticos por parte das

bactérias do Bcc é problemática no tratamento dos pacientes e no controlo da

infeção (72).

A alteração de permeabilidade da membrana foi classificada como o mecanismo de

defesa mais importante contra agentes antimicrobianos, devido à existência de LPS

modificados, bombas de efluxo, porinas e a habilidade de produzir EPS e/ou formar

biofilmes (73).

A expressão controlada de porinas conjuntamente com propriedades intrínsecas,

podem bloquear o acesso de moléculas antimicrobianas ao periplasma. A presença

de várias bombas de efluxo de antibióticos tem também implicação na resistência a

antibióticos (12).

A resistência intrínseca à polimixina, trimetoprim / sulfametoxazol, cloranfenicol,

antibióticos aminoglicósidos e a péptidos antimicrobianos catiónicos, incluindo as

defensinas parece estar associada à capacidade característica das bactérias do Bcc

apresentarem LPS com capacidade de neutralização da carga das células (37, 74-

76).

Apesar de todos os mecanismos moleculares por detrás da evolução espontânea de

resistência a antimicrobianos bem como as múltiplas vias de resistência de B.

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cenocepacia ainda não serem bem conhecidos, os mecanismos de resistência a

antibióticos apresentados pelas estirpes do Bcc

podem ser agrupados em três categorias: modificação enzimática, alteração dos

alvos das drogas e permeabilidade limitada (77).

A fim de solucionar a problemática da resistência a antimicrobianos tem-se

desenvolvido diferentes abordagens pelas comunidades hospitalares. Atualmente

utilizando a vantagem do efeito sinergético de drogas duas ou mais combinações de

fármacos podem permitir o controlo da infeção de estirpes do Bcc, (78). Todavia, a

existência de interações antagónicas e a manifestação de efeitos secundários

associados aos antibióticos constituem um problema.

4.3 Adesinas triméricas autotransportadas

As adesinas triméricas autotransportadas (TAAs) são um grupo de proteínas

produzidas por muitos patógenos Gram negativos e constituem um fator de

virulência muito importante (79, 80).

A adesão às proteínas da matriz extracelular das células do hospedeiro parece ser o

papel mais importante desempenhado por estas proteínas (80). No entanto, estas

estruturas proteicas apresentam outras capacidades funcionais no que concerne à

virulência, apresentam intervenção na formação de biofilmes, capacidade de

agregação célula-célula, hemaglutinação, capacidade de proteção à resposta imune

do hospedeiro e capacidade de invasão das células do hospedeiro (81, 82).

Todas as TAAs apresentam uma arquitetura comum, apresentam um domínio

ancorado à membrana interna da célula C-terminal composto por quatro cadeias

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beta, e uma superfície exposta subdividida em três domínios: pedúnculo, haste e

cabeça N-terminal (83).

Algumas TAAs de um elevado número de bactérias patogénicas já estão bem

caracterizadas em termos funcionais e estruturais são exemplos a YadA de Yersinia

enterocolitica (84), Hia de Haemophilus influenzae(85), NadA de Neissiria

meningitidis (86), Sad A de Salmonella enterica (87) entre outras.

Segundo um estudo elaborado por Mil-Homens e Fialho, 2011 a todos os genomas

do Bcc sobre a organização cromossomal das TAAs e respetivos genes vizinhos,

parece existir dentro de determinados grupos de bactérias do Bcc uma conservação

de organização genética e de regulação das TAAs, em que os genes efectores de

virulência, genes codificantes de TAAs, são regulados através de sistemas de

regulação de dois componentes.

Em B. cenocepacia J2315 estão anotadas sete TAAs. Dos sete genes que codificam

para as adesinas, cinco encontram-se no cromossoma dois: BCAM0219,

BCAM0223, BCAM0224, BCAM2418 e BCAM1115, e duas no cromossoma três:

BCAS0236 e BCAS0335 (79).

Um sistema de regulação bacteriano protótipo das TAAs de B. cenocepacia é o de

Bordetella pertussis BvgAS, que desempenha a regulação dos genes das adesinas

e de toxinas através de sistemas de regulação de dois componentes (88).

Análises de reações da polimerase em cadeia em tempo real (RT-PCR), revelaram

que as adesinas BCAM0219, BCAM0223 e BCAM0224 eram sobre expressas

quando as bactérias eram crescidas em condições ambientais especiais,

consideradas de stress: elevada osmolaridade, oxigénio limitado e stress oxidativo

(17).

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Figura 3. Representação esquemática de uma adesina trimérica autotransportada baseada no

protótipo da YadA de Yersinnia enterocolitica adapatado de Mil-Homens e Fialho 2011 (79).

4.4 Sistemas de regulação de dois componentes

Os organismos coabitam em ecossistemas dinâmicos onde ocorrem constantemente

alterações de parâmetros físico-químicos: temperatura, luz, concentração de

oxigénio, entre outros. As variações quer bióticas quer abióticas no meio circundante

dos mesmos, implicam direta e indiretamente alterações metabólicas celulares de

forma a proporcionar homeostasia entre o organismo e o meio ambiente.

Dependendo da complexidade/organização celular do organismo as alterações

ambientais tornam-se mais ou menos dramáticas sendo mais difícil alcançar o

equilíbrio celular quando se fala de organismos procarióticos (89, 90).

Uma grande variedade de processos moleculares adaptativos dos seres

procarióticos têm vindo a evoluir, no entanto a resposta bacteriana a sinais

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ambientais está concentrada maioritariamente em sistemas de regulação de dois

componentes (TCS).

A análise de diversos genomas bacterianos tem demonstrado que as bactérias

apresentam em média 52 sistemas de regulação de dois componentes, sendo estes

utilizados como mecanismos primários de resposta rápida a alterações ambientais,

ver tabela 2 (91).

Tipicamente nos TCSs estão envolvidas duas famílias de proteínas: Histidinas

Cinases (HK), dependentes de estímulo e reguladores de resposta (RR),ver figura 4,

(90, 91). A química da sinalização celular destes sistemas consiste na receção de

um sinal ambiental pela HK e o processamento deste por uma sequência de reações

que envolve a fosforilação de resíduos de histidina e aspartato (92).

Geralmente as HKs possuem uma extremidade N-terminal que recebe o estímulo

ambiental e um domínio transmissor C-terminal que se autofosforila após ser

estimulado (91).

Por seu lado os RRs possuem um domínio efetor C-terminal e um domínio recetor

N-terminal que é fosforilado após interação com o domínio transmissor da HK. Esta

fosforilação provoca alterações na conformação do RR, modulando a afinidade do

domínio efetor para os seus alvos, tipicamente, promotores de genes (93).

Estudos genéticos evolutivos têm demonstrado que ao longo dos tempos tem

existido alterações, fusões/fissões, nos genes dos sistemas de regulação de dois

componentes (91). Nos genomas bacterianos os genes das HKs e dos RRs,

separadamente, codificam para sistemas de regulação de dois componentes típicos,

todavia, em alguns casos, aparentemente, ocorre a junção de dois genes originando

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histidinas cinases híbridas, que compreendem numa só estrutura domínios

transmissores e recetores.

Nos TCSs a ativação das HKs leva à autofosforilação de um resíduo de histidina

conservado, o grupo fosfato é transferido para um resíduo de aspartato, que está

localizado no domínio recetor de um regulador de resposta, ativando-o e tornando-o

competente para a ligação ao DNA e para a transcrição do gene alvo, ver figura 4A.

Nos TCSs híbridos o grupo fosfato é transferido de uma HK para um regulador de

resposta que está acoplado e, de seguida através de um intermediário conhecido

por histidina fosfotransferase, domínio Hpt, é transferido a um regulador de resposta

final, ver figura 4B (94). Estes sistemas híbridos ao invés de exibirem um mecanismo

de fosfotransferência simples, fazem o mecanismo designado por “phosphorelay”,

em que o grupo fosfato é transferido através de múltiplos passos até chegar ao

regulador de resposta. A complexidade global da estrutura das HKs híbridas permite

a integração de vários pontos de entrada e de controlo numa só via de sinalização

(1).

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Figura 4. Representação esquemática da arquitetura modular de dois TCSs. A. Sistema de dois

componentes típico onde se observa uma histidina cinase e um regulador de resposta: H – resíduo de

histidina pertencente ao domínio de dimerização (DHp), P – grupo fosfato, D – resíduo de aspartato

do domínio recetor. B – Sistema de dois componentes híbrido que para além da HK típica apresenta

um domínio recetor C-terminal. Representação do sistema de “phosphorelay” adaptado de Cock,

2007 e Skeker,2004 (91, 94).

Tabela 2. Exemplos de alguns sistemas de regulação de dois componentes, função

correspondente e moléculas sinal adaptado de Krell et al, 2010 (89)

Sistema Função Molécula sinal

ArcB/ArcA Detecção de oxigénio e estados redox Quinonas que refletem o estado redox

NarX/Narl Respiração nitritato e nitrito Nitrato e nitrito

CitA/CitB Transporte e metabolismo anaeróbico de citrato Citrato

CheA/CheY Quimiotaxia Quimio-atrativos ex: serina e aspartato

FixL/FixJ Fixação de azoto O2, CO, NO

LovK/LovR Fixação às células Luz azul

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Sistema Função Molécula sinal

TodS/TodT Degradação de derivados de benzeno Compostos monoaromáticos

NtrB/NtrC Utilização de azoto 2-cetoglutarato, glutamina

KdpD/KdpE Fornecimento de K+ K

+

VanS/VanR Antibióticos Vancomicina

EnvZ/OmpR Osmolaridade ?

KinB/Spo0F Esporulação ?ATP como co-sinal?

BvgS/BvgA Virulência Temperatura, iões sulfato, ácido nicotínico

LuxQ/LuxO Quorum sensing AI-2

DesR/DesK Modificação lipídica Temperatura

4.5 Histidinas Cinases

Em termos globais são vários os processos fisiológicos dos microrganismos que

envolvem a deteção de sinais através de HKs. Estes processos incluem a

diferenciação e regulação do ciclo celular, quimiotaxia, motilidade, homeostase de

fosfato e azoto, produção e resistência a antibióticos, quorum sensing e competência

genética, estabelecimento dos ciclos circadianos e amadurecimento dos frutos,

regulação da turgescência e do transporte de açúcar, virulência, patogenicidade

entre outros (1).

Segundo a análise das suas sequências as histidinas cinases podem ser divididas

em 11 subfamílias: HPK1-HPK11. A classificação destas proteínas em diferentes

subfamílias depende da existência e localização de grupos específicos de resíduos

conservados, que podem desempenhar funções a diferentes níveis: na ligação a

substratos, na catálise e na própria estrutura das proteínas. A divisão em subfamílias

é baseada nesses mesmos grupos de resíduos também designados por boxes: H-,

N-, G-, D- e F- (1).

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Funcional e estruturalmente as HKs apresentam duas regiões, uma região no N-

terminal que funciona como sensor, capacitado para regular a taxa de

autofosforilação e, um núcleo cinase conservado no C-terminal que contém o

resíduo de histidina aceitador de fosfato.

Apesar da elevada conservação dos domínios funcionais destas proteínas, em

termos de arquitetura estas são muito variáveis, podem estar ligadas à membrana

celular, com uma ou mais hélices transmembranares (podendo apresentar até oito

hélices transmembranares) ou podem mesmo ser solúveis, estando dispersas no

citoplasma (1).

Todavia, a maioria das histidinas cinases é composta por um domínio sensor amino-

terminal, extra-citoplasmático variável, que está conectado a um domínio

citoplasmático, conservado, de dimerização e de fosfotransferência, denominado por

DHp (dimerization and histidine phosphotransfer) que, por sua vez, está ligado a um

domínio catalítico de ligação ao ATP, adenosina trifosfato, (CA) (95).

O domínio DHp contém um resíduo de histidina (H), local de fosforilação na boxe –

H. Este domínio forma um dímero estável e pode ser fosforilado na presença de ATP

pelo CA. Nas subfamílias HPK1-HPK4 apresenta também um resíduo de prolina

altamente conservado na quinta posição após o resíduo de histidina. O domínio CA

é o domínio onde se liga o ATP que fosforila o resíduo de histidina presente no

domínio DHp. Trata-se de um domínio monomérico e compreende as boxes (N-, G-,

D- e F-) (1, 96).

Na ligação entre a região sensor e o domínio catalítico ocorre um segmento

estrutural típico na subfamília HPK1 que é variável em comprimento e em sequência

designado por HAMP (adenilato ciclase, proteína metil-portadora de fosfatase, do

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inglês histidine kinase, adenylyl cyclase, methyl-accepting chemotaxis proteins and

phosphatase) ou domínio PAS (97). Este segmento é constituído por 40-180

resíduos e, funcionalmente supõe-se que será responsável por transmitir sinais entre

o domínio de entrada externa e o módulo citoplasmático de saída (98).

As HKs têm uma arquitetura estrutural semelhante, todavia mediante o contexto

genético, TCSs onde se inserem e os sinais aos quais são sensíveis, estas

proteínas podem apresentar na sua constituição modular variações de domínios

como descrito na tabela 3 (99).

Funcionalmente as HKs ao receberem um sinal autofosforilam-se, num resíduo de

histidina, presente no DHp utilizando ATP como dador do grupo fosfato,

posteriormente o fosfato é transferido ao resíduo de aspartato do RR. O RR

consequentemente altera a atividade do domínio efetor, aumentando a sua atividade

catalítica, promovendo ou inibindo a sua ligação ao DNA e influenciando a

transcrição de genes alvo (1).

Nas HKs híbridas o processo de transferência do grupo fosfato é efetuado através

de múltiplos passos para o próprio regulador de resposta interno das da proteína,

sistema “phosphorelay”, em que ao invés do grupo fosfato ser transferido para um

RR, ocorre a passagem do fosfato para o domínio fosfotransferase, Hpt, e só então

posteriormente para o RR (98).

Sumariamente as HKs podem participar em três reações de fosfotransferência

distintas: autofosforilação (transferência do grupo fosfato (P) do ATP para um

resíduo de histidina), fosfotransferência, fosforilação de uma proteína reguladora

de resposta reconhecida (RR) (fosfotransferência de um P ligado a uma histidina

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(P~His) para um resíduo de aspartato (Asp) do RR) e desfosforilação do P~RR

(fosfotransferência do P do resíduo Asp (P~Asp) para a água) (98).

Tabela 3. Nome, localização e descrição de alguns domínios encontrados em histidinas

cinases, adaptado de Mascher 2006 (99)

Domínio Nome Localização Descrição

HisKA/Dh

p

Domínio histidina cinase A /

Domínio de dimerização e

fosfotransferência Citoplasma

Domínio de dimerização e

fosforo aceitador de histidina

cinase, comporta a boxe H

com o resíduo de histidina

invariante. Local de

autofosforilação nas HK’s.

ATP-

biding

Domínio de ligação ao ATP Citoplasma

-

Hpt

Domínio de histidina

fosfotransferência

Citoplasma

Domínio presente na

extremidade N-terminal em

proteínas que se submetem a

autofosforilação, contem um

resíduo de histidina que medeia

reações de fosfotransferência

HAMP

Adenilato ciclase, proteína

metil-portadora de fosfatase Citoplasma

Domínio de ligação da zona

periplasmática para a zona

quinase citoplasmática

PAS

Per – period circadian protein

Arnt – aryl hydrocarbon

receptor nuclear translocator

protein

Sim – single-minded protein

Citoplasma

Domínio sensor redox

conservado e largamente

distribuído. Recebe os sinais

heme, flavina e adenina, é

sensível à luz e ao oxigénio

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Domínio Nome Localização Descrição

MA Domínio envolvido na

quimiotaxia metil-aceitação Citoplasma

Domínio que sofre metilação

reversível em resposta a

atrativos ou repelentes durante

a quimiotaxia bacteriana.

4.6 Modelos para estudos de infeção

Uma variedade de modelos de infeção in vivo têm vindo a ser desenvolvidos com

vista a investigar quer mecanismos conservados quer mecanismos específicos de

patogenicidade ao hospedeiro. Modelos biológicos como nematodes: Galleria

mellonella e Caenorhabditis elegans, embriões de peixe-zebra, ratinhos, porcos e

linhas celulares eucarióticas são modelos de infeção utilizados no estudo de fatores

de virulência de bactérias do Bcc e na resposta imunitária do hospedeiro (11).

Neste trabalho serão utilizados dois modelos biológicos distintos: larvas de Galleria

mellonella e linhas celulares de epitélio pulmonar humano não CF 16HBE14o- e CF

CFBE41o-.

As linhas celulares de epitélio pulmonar humano, não CF 16HBE14o- e CF

CFBE41o-, são homozigóticas para delta F508O, mutação correspondente às vias

aéreas de doentes com CF. Ambas as linhas celulares foram

imortalizada e caracterizadas segundo Gruenert e colaboradores, 2002 (100, 101).

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O ciclo de vida do modelo Galleria mellonella é mantido no laboratório 37ºC, estas

são alimentadas durante o decorrer do ciclo com pólen, sendo as análises/infeções

efetuadas na fase larvar do nematode (102).

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5. Objetivos

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A colonização pulmonar com Bcc em doentes CF é associada a um prognóstico

grave e, a um risco elevado de morte, sendo maioritariamente excluída logo de início

a consideração de transplante pulmonar (35).

Reconhecendo a extrema importância das estirpes de Bcc dentro da população de

doentes CF, o estudo destes microrganismos tornou-se emergente dentro da

comunidade científica.

Dentro do Bcc, B. cenocepacia é a espécie mais isolada de doentes com CF em

todo mundo (2, 103). Devido à sua importância dentro desta comunidade de doentes

e ao seu carácter virulento é urgente encontrar mecanismos eficazes para o

combate das infeções provocadas por esta espécie.

B. cenocepacia J2315, é uma estirpe epidémica pertencente à linhagem ET-12 que

apresenta um agrupamento de 24-Kb localizado a jusante de uma ilha genómica de

patogenicidade B. cenocepacia Island (cci) (104). Trata-se de um agrupamento de

genes único exclusivo à linhagem epidémica ET-12, constituído por três adesinas

triméricas autotransportadas (BCAM0219, BCAM0223 e BCAM0224), uma

lipoproteína (BCAM0220), duas histidinas cinases (BCAM0218 e BCAM0227) e três

reguladores de resposta (BCAM0221, BCAM0222 e BCAM0228).

Dados publicados confirmam a organização genética deste agrupamento e atribuem

a estas adesinas um papel fundamental na adesão às células epiteliais de pulmão

humano, na capacidade de resistência ao soro, na hemaglutinação das células

vermelhas do sangue e capacidade de virulência em Galleria mellonella (17, 105,

106).

Assim sendo, estando o agrupamento TAA a ser regulado através de um sistema de

dois componentes híbrido, torna-se pertinente verificar o efeito das histidinas cinases

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BCAM0218 e BCAM0227 na regulação dos genes das adesinas triméricas

autotransportadas: BCAM0219, BCAM0223 e BCAM0224.

É então objetivo deste projeto uma análise computacional preliminar das histidinas

cinases híbridas, BCAM0218 e BCAM0227, seguida de uma avaliação de níveis de

expressão genética dos genes do agrupamento TAA, nos mutantes para cada

histidina cinase. Por último pretende-se verificar o efeito da ausência das histidinas

no fenótipo.

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6. Materiais e Metodologias

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6.1 Construção do mutante de inserção B. cenocepacia K56-2

BCAM0227::Tp

Um fragmento do gene BCAM0227 de 1353pb e contendo os locais de restrição

KpnI e Hind III, foi amplificado a partir de DNA genómico de B. cenocepacia K56-2,

por PCR (Platinium Taq DNA polimerase, Invitrogen) recorrendo aos

oligonucleótidos iniciadores 227Fwd1 e 227Rev1 ver tabela 4.

Posteriormente, através da utilização das enzimas KpnI e Hind III os fragmentos

resultantes da amplificação foram digeridos e, clonados no plasmídeo pDrive

(Qiagen) também previamente digerido, originando o plasmídeo pEP1.

De seguida um fragmento de 1010pb retirado do plasmídeo pUC-Tp contendo uma

cassete de resistência ao Trimetropim (Tp), foi inserido no único local de restrição da

PstI do fragmento de BCAM0227 clonado em pEP1, na mesma orientação do gene

BCAM0227, criando o plasmídeo, pEP2. Este plasmídeo foi introduzido em B.

cenocepacia K56-2 por eletroporação.

A seleção dos mutantes foi conseguida através da análise da resistência ao Tp e à

Kanamicina (Km) tendo sido utilizado placas réplicas de meio LB sólido

suplementado com Km 600 mg mL-1 e Tp 150 mg mL-1.

Os candidatos a mutantes foram confirmados recorrendo à técnica de PCR

utilizando os oligonucleótidos iniciadores 227Fwd2 e 227Rev2.

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6.2 Condições de crescimento para B. cenocepacia K56-2 e mutantes

As condições de crescimento utilizadas para as culturas de B. cenocepacia K56-2 e

mutantes: B. cenocepacia K56-2 BCAM0218::Tp e B. cenocepacia K56-2

BCAM0227::Tp, intervenientes nos diferentes ensaios permitiram não só a

mimetização das condições fisiológicas do pulmão Humano como também segundo

Mil-Homens 2010, um aumento da expressão das adesinas triméricas

autotransportadas (17).

As culturas foram crescidas durante 17 horas em meio líquido Luria-Bertani (LB)

(Pronadisa) suplementado com NaCl 300mM e H2O2 10%, partindo de um inóculo

(DO640 0,2). A incubação realizou-se em placas de 24 poços de poliestireno, em

condições de microaerofilia (concentração de oxigénio <5%) e, temperatura de 37ºC

com agitação orbital de 60 rpm.

6.3 Linhas celulares e cultura de células

Neste trabalho foram utilizadas duas linhas celulares diferentes de epitélio pulmonar

humano: 16HBE14O- células de epitélio pulmonar humano normal com expressão

funcional do regulador de condutância transmembranar de fibrose quística e

CFBE41O- células de epitélio pulmonar humano com fibrose quística, homozigóticas

para a mutação delta F508 (100, 101).

Ambas as linhas celulares foram mantidas em frascos revestidos com fibronectina

em Meio essencial mínimo com sais Earle (MEM) do inglês Minimum Essential

Medium com sais Earle (Gibco) suplementado com 10% de soro fetal de bovino

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(FBS) (Lonza), L-Glutamine 0.292 g/L (Sigma) e Penicilina/Streptomicina 100 U/mL

(Gibco), a 37ºC em atmosfera húmida com 5% de CO2.

6.4 Extração de DNA e Reação em Cadeia da polimerase (PCR)

O DNA total foi extraído utilizando o DNeasy Blood & Tissue Kit (Qiagen), de acordo

com o protocolo do fabricante.

As reações de amplificação por PCR das diferentes amostras de DNA foram

realizadas com o volume total de 50µl, tendo cada uma 20ng de DNA molde, 0,2 µM

de cada primer, 0,2 µM de cada nucleótido trifosfato, 1,5 mM de MgSO4 e 2,5

Unidades (U) de DNA polimerase Taq platinium (Invitrogen)

6.5 Extração de RNA total

Após 17h de incubação, nas condições acima descritas, das culturas de B.

cenocepacia K56-2 e dos mutantes em estudo, recolheram-se as células e fez-se o

tratamento com RNAprotect Bacteria (Qiagen).

Posteriormente procedeu-se à lise enzimática e digestão das células com lisozima e

proteinase K (Qiagen) respetivamente, tendo o RNA total sido isolado através da

utilização do sistema RNeasy Mini Kit (Qiagen) seguindo as indicações do

fabricante.

Para evitar contaminações com DNA genómico as amostras foram tratadas com

DNase do sistema RNAse-free DNA digestion set (Qiagen), no decurso do processo

de extração/purificação do RNA, tendo a enzima sido aplicada em coluna durante 1h

à temperatura ambiente.

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Após a recolha das amostras de RNA fez-se um segundo tratamento com a mesma

DNase (Qiagen), 1h a 37ºC seguida de 5 min a 65ºC para inativação da enzima. A

concentração do RNA extraído foi determinada através de espectrofotometria de UV

(ND-1000 UV-Vis, NanoDrop Technologies, USA).

6.6 Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real (RT-PCR)

O RNA total foi isolado segundo procedimento descrito em 6.5.

O cDNA foi sintetizado a partir de uma reação com 150ng de RNA total, 2,5 mM de

hexâmeros aleatórios, tampão de amplificação de PCR a 1x, 500 mM de cada

desoxinucleótido trifosfatado, 0,4 U/µl de inibidor de RNase e 1,25 U/µl de

transcriptase reversa (Applied Biosystems, Roche) perfazendo um volume total de

reação de 10 µl.

Para realizar os ensaios de PCR quantitativo em tempo real foram utilizados 25 ng

de cDNA de cada amostra e uma mistura de reagentes SYBR green master (Apllied

Biosystems) com os diferentes pares de oligonucleótidos (10µM) descritos na tabela

4. As reações foram desenvolvidas num sistema de PCR em tempo real Applied

Biosystems 7500 real time PCR system, tendo as curvas de fusão sido realizadas

em triplicado para cada gene e em cada ensaio, seguindo os seguintes parâmetros:

10 minutos a 95ºC seguidos de 60 ciclos de PCR a 95ºC durante 15 segundos e

60ºC durante 1 minuto. O gene endógeno utilizado foi o fator sigma – sigA

(BCAM0918).

A quantificação relativa da expressão dos diferentes genes foi calculada utilizando o

método ΔΔCT (107).

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Tabela 4. Oligonucleótido utilizados para a amplificação por PCR. As abreviaturas A, C, G, e T

significam respetivamente Adenina, Citosina, Guanina e Timina

Gene Nome do Oligonucleótido

Sequência (5’ – 3´)

BCAM0218 218 Fwd GACGGGCAGAAGCATTTCATGACT

218 Rev ATGTTCAGGTCGGTCAACACCA

BCAM0227

227Fwd1 GGGGTACCTGCTGCTCGATCTGATCAACGACA

227 Rev1 TTTAAGCTTCATCACGAAAATGGGCTCCGGATA

227Fwd2 GGGGTACCTGCTGCTCGATCTGATCAACGACA

227Rev2 TTTAAGCTTCATCACGAAAATGGGCTCCGGATA

BCAM0219 RT0219Fwd TCTCGGGTACGCGATTGAC

RT0219Rev TGTTATACAGCTGAAACGACCYYACG

BCAM0220 RT0220Fwd CCGCAACGTGATGAACTACCT

RT0220Rev GCCTTCGGAGACGAACGA

BCAM0221 RT0221Fwd CCTATCTCCAGCGCAATCATC

RT0221Rev CGGGTTGTCGAGCATGGT

BCAM0223 RT0223Fwd GCAATCGGCCGGAACTC

RT0223Rev TCGTCTATGCCTCGGTCCAT

BCAM0224 RT0224Fwd TCACGAGGCGAATTGTCAAC

RT0224Rev GAGACGTTCACGACATCCGTATC

BCAM0228 RT0228Fwd ACACGCACGTCGCGTATCT

RT0228Rev AACCCGTACATCGTCATCATCTT

Endógeno RTSigAFwd GCGGATGCGTTTCGGTAT

RTSigARev GCGTGACGTCGAACTGCTT

6.7 Ensaios de Infeção da Galleria mellonella

As culturas de B. cenocepacia K56-2 e dos mutantes foram crescidas nas condições

acima referidas. Após as 17 horas de crescimentos as células foram recolhidas e

diluídas numa razão de 1:10, sucessivamente, em MgSO4 10mM suplementado com

1,2 mg/ml de ampicilina, até obter-se uma suspensão bacteriana de 1x104 células

por volume de injeção. Com o auxílio de uma micro-seringa foram injetadas

alíquotas de 3,5 µl da suspensão bacteriana no lado esquerdo do último segmento

(sentido anteroposterior) da G. mellonella. Para cada ensaio foram utilizados 10

larvas de G. mellonella, tendo o controlo sido efetuado com uma solução de MgSO4

10 mM suplementado com 1,2 mg/ml de ampicilina. Após a injeção as larvas foram

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colocadas em placas de Petri de vidro e mantidas ao abrigo da luz a 37ºC. A

sobrevivência e o aspeto das larvas foram avaliados em intervalos de 24h durante

72h. Foram consideradas mortas as larvas que não apresentavam qualquer

movimento aquando o toque com uma ponta de pipeta.

6.8 Ensaios de Hemaglutinação

As culturas de B. cenocepacia K56-2 e dos mutantes foram crescidas nas condições

estabelecidas e já especificadas em 6.2.

As suspensões de bactérias foram obtidas por centrifugação durante 2 minutos a

8000 rpm, lavadas com tampão fosfato (PBS), pH 7,4 e ressuspendidas em PBS

obtendo-se uma DO640nm final de 5. Em placas de 96 poços foram colocados 30 µL

de suspensão de hemácias de sangue de carneiro a 3% (v/v), tendo estas sido

inoculadas com igual volume das suspensões bacterianas, de cada estirpe em

estudo, com 10, 5 e 0.5 de DO640nm. Com o auxílio de uma pipeta agitou-se

cuidadosamente as soluções contidas em cada poço. Após 1h de incubação à

temperatura ambiente, os poços foram observados e comparados com o controlo

negativo, poço com suspensão de hemácias e PBS.

6.9 Resistência ao soro

Os ensaios de resistência ao soro foram realizados de acordo com o descrito na

metodologia em Attia et al., 2005 (108).

As culturas das bactérias em estudos, B. cenocepacia K56-2 e mutantes, foram

recolhidas e diluídas em PBS até uma concentração final de 106 UFC/mL. Num tubo

de microcentrifuga colocou-se 10 µL da suspensão celular anteriormente preparada

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(104 UFC/mL), 30 µL de soro humano normal (NHS do inglês Normal Human Serum)

(Sigma Aldrich) e 60 µL de PBS obtendo-se uma concentração final de soro de

30%.A mistura foi incubada em banho de água a 37ºC durante 1h, sendo de seguida

colocada em gelo. Posteriormente através de diluições seriadas e plaqueamento em

meio sólido, de 10 µL da solução determinou-se as UFC/ mL. A concentração inicial

da suspensão de bactérias foi também determinada através de diluições seriadas

seguidas de plaqueamento em meio sólido, tendo sido utilizada uma mistura igual à

acima descrita, sendo o NHS substituído por PBS. Como controlo da experiência foi

efetuado paralelamente todo o procedimento descrito utilizando NHS inativado pelo

calor (30 minutos a 56ºC). Os resultados foram expressos em percentagem de

sobrevivência das bactérias comparativamente à concentração inicial de bactéria

utilizada.

6.10 Ensaios de adesão e invasão a células epiteliais 16HBE14o¯ e CFBE

410o¯

As células foram inicialmente crescidas em placas de 24 poços (5x105 células/poço)

em meio MEM suplementado com FBS e L-Glutamina sem antibióticos, durante 24h

a 37ºC numa atmosfera húmida contendo aproximadamente 5% de CO2. Após as

24h foram lavadas com PBS e mantidas com meio MEM não suplementado. As

estirpes bacterianas foram crescidas segundo as condições acima referenciadas, em

microaerofilia durante 17h, tendo sido utilizada uma multiplicidade de infeção de 50

células bacterianas para cada célula epitelial (MOI de 50:1). Para os ensaios de

adesão as células, já infetadas, foram incubadas a 37ºC numa atmosfera com 5% de

CO2 durante 30 minutos de forma a proporcionar a adesão das bactérias às células.

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Findo o tempo de adesão as células foram lavadas 3 vezes com PBS e lisadas com

tampão de lise (10 mM EDTA, 0.25% Triton X-100) durante 30 minutos à

temperatura ambiente. As células aderidas foram quantificadas através do

plaqueamento de diluições seriadas do lisado. Os resultados foram expressos por %

de adesão sendo estes corrigidos com base na quantidade inicial de bactérias

utilizadas para a infeção. Nos ensaios de invasão as células foram igualmente

infetadas com uma MOI de 50:1 no entanto, a fim de proporcionar a internalização

das bactérias nas células epiteliais, o tempo de incubação é maior, 2h a 37ºC com

5% de CO2. Após o tempo de incubação as células foram lavadas três vezes com

PBS e, adicionou-se uma solução de antibióticos amicacina e ceftazidina (2mg/mL

de cada) deixando-se incubar por mais 2h nas mesmas condições, a fim de eliminar

todas as bactérias que não tenham sido internalizadas. Findo este tempo 50 µL do

sobrenadante foram plaqueados para verificar a eficácia dos antibióticos na morte

bacteriana. Por último as células foram novamente lavadas três vezes com PBS e

lisadas com tampão de lise, 30 minutos à temperatura ambiente. A quantidade de

células com capacidade invasiva foi determinada através do plaqueamento de

diluições seriadas do lisado obtido. Os resultados foram expressos por % de

invasão, comparativamente à estirpe selvagem, sendo estes corrigidos com base na

quantidade inicial de bactérias utilizadas para a infeção.

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60

7 .Resultados

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61

7.1 Análise computacional de HKs híbridas em membros de Bcc

De acordo com o descrito no ponto 4.2 o Bcc é composto por 17 espécies de

Burkholderia nas quais existem 151 HKs híbridas.

Focando-nos apenas na espécie B. cenocepacia J2315 encontram-se 62 HKs

anotadas, dispersas pelos três cromossomas. No entanto, apenas sete destas são

HK híbridas. Analisando a localização, o tamanho e as sequências das sete HK

híbridas de B. cenocepacia J2315, ver tabela 5, verifica-se que apesar de serem

proteínas pertencentes à mesma família e com princípios catalíticos semelhantes,

genética e funcionalmente apresentam alguma variabilidade, ver figura 5.

A ausência de HKs híbridas no cromossoma 1 e a presença de sete nos

cromossomas dois e três poder-se-á relacionar com o facto do cromossoma 1 ser

composto maioritariamente por genes que codificam para funções básicas da

bactéria e, os cromossomas 2 e 3 apresentarem um elevado número de genes de

virulência (109).

Na árvore filogenética, figura 5, verifica-se a divisão das sete HKs em dois grupos,

sendo que o primeiro contém duas HKs, onde é notório apenas a presença dos

domínios DHp e CA e um domínio sensor na HK BCAS0234. Verifica-se a ausência

do domínio PAS em ambas as proteínas e ausência de RR no BCAS0234. A HK

BCAM0820 apesar de apresentar os domínios básicos de uma HK híbrida, Dhp, CA

e RR é de referir que é a única do grupo das sete que não está ancorada à

membrana celular (http://www.enzim.hu/hmmtop/html/submit.html, Janeiro2012).

As HKs BACM0218 e BCAM0227 são do grupo das sete HKs as mais semelhantes

em termos de tamanho, localização e com arquitetura em termos de domínios igual.

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62

Tabela 5. Localização e tamanho das sete HKs híbridas descritas em B. cenocepacia J2315

HK híbridas de B. cenocepacia de J2315 Localização Tamanho (aa)

BCAM0218 cromossoma 2 1010

BCAM0227 cromossoma 2 1011

BCAS0234 cromossoma 3 776

BCAM0820 cromossoma 2 364

BCAM2354 cromossoma 2 589

BCAS0632 cromossoma 3 1380

BCAM1505 cromossoma 2 661

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Figura 5. Árvore filogenética elaborada com base nas sequências das Histidinas cinases híbridas de B. cenocepacia J2315 e arquitetura dos

respetivos domínios. Para o alinhamento múltiplo das sequências foi utilizado o programa ClustalW 2.0.12 e a árvore filogenética foi obtida utilizando o

método Neighbor Joining method (Fevereiro 2012), para obtenção da arquitetura dos domínios recorreu-se ao SWISS-MODEL (109).

BCAM1505

BCAS0632

0.601

1.131

BCAM2354

BCAM0218

BCAM0227

0.601

0.592

1.948

0.392

0.120

0.253

BCAM0820

BCAS0234

0.856

1.827

0.261

0.251

1010 aa

1011 aa

588 aa

1380 aa

776 aa

364 aa

588 aa

Domínio PAS

Domínio HisKa/DHp

Domínio de ligação ao ATP/CA

Domínio regulador de resposta

Domínio Hpt

Che-type

Domínio glutamato metiltransferase

Região 7TM recetor extracelular

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7.1.1 Histidinas Cinases BCAM0218 e BCAM0227 – Análise computacional

As histidinas cinases podem ser agrupadas em 11 subfamílias, segundo a análise das suas sequências: HPK1-HPK11 (1).

Membros de diferentes subfamílias apresentam sequências específicas de resíduos conservados associados a diferentes

funcionalidades: receção de estímulo, catálise e na própria estrutura 3D das proteínas. A divisão em subfamílias é baseada nesses

mesmos grupos de resíduos também designados por boxes: H-, N-, G-, D- e F-. A boxe H- pertence ao domínio de dimerização

(DHp – dimerization and histidine phosphotransfer domain) e as restantes boxes ao domínio catalítico (CA – Catalytic and ATP-

binding domain) das Histidinas cinases (1, 96).

Na subfamília HPK1 estão incluídas todas as Histidinas cinases híbridas que apresentam as boxes altamente conservadas, tal

como é possível verificar com as duas HKs em estudo BCAM0218 e BCAM0227, ver figura 6.

BCAM0218 H-box

N-boxKFT D-box, F-box G-box

FhxxhSHEhRTPL xxh D xxx h xx hhxNL hx NAh KFT hxhxhxDxG xG hxx xxxxx h F xxF GGxGLGLxhh xxhh xx xx Gxhxh x xx xx xG xxFx hxh I I I I I I I II I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I II FLATIS HEI RTPLNAM DPMRVRQIAVNLVSN AI KFT VTIRVSDSGIG MTADQLAHVFEPF GGTGIGLALSYKLAESMGGRI EADSVPGVGSTFVVTL

BCAM0227 H-box

N-boxKFT D-box, F-box G-box

Fhxxh S HEhRTPL xxh Dxxxhxxh hx NL hx NAh KFT hxhxhx DxGxG hxxxxxxx h F xxF GGxGLGL xhhxx hhxx xx Gxhxhx xx xx xG xxFx hxh I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I II I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I II I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I FLATMSH EI RTPLNAI DPTRIRQIAANLVGNAI KFT IAIGVSDTGIGMTDAQRAALFRPF GGTGLGLALTKQLTQMMHGTVDVKSEPGKGSTFVVTL

Figura 6. Alinhamento das sequências das Histidinas cinases BCAM0218 e BCAM0227 com as regiões conservadas características da subfamília HPK 1b (1), x

corresponde a resíduos variáveis e h a qualquer resíduo hidrofóbico. As regiões que flanqueiam as diferentes boxes: H, N-, G-, D- e F- foram removidas.

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65

7.1.2 Análise da estrutura secundária e percentagem de identidade

A informação revelada pela previsão de estrutura secundária das proteínas permite

não só identificar, estruturalmente, a presença de regiões com funções catalíticas

especificas e a sua conformação bem como, localizar regiões estruturais que

definem a posição da proteína no contexto celular, isto é, se uma determinada zona

está intra ou extracitoplasmática.

Através da previsão da estrutura secundária das duas HKs, BCAM0218 e

BCAM0227, pôde-se verificar que ambas apresentam duas hélices

transmembranares antiparalelas, estruturas que possibilitam a coneção entre o

sensor periplasmático e a parte citosólica das HKs. Estas encontram-se assinaladas

a tracejado vermelho nas figuras 7 e 8. Entre as hélices transmembranares

encontra-se uma região variável denominada de região sensor. Nas duas HKs esta

região apresenta estrutura secundária equivalente aproximadamente nos primeiros

120 aminoácidos sendo depois notável uma variação de estrutura secundária até à

segunda hélice transmembranar.

Admitindo que a última hélice transmembranar na HK BCAM0218 termina no resíduo

373 e que na HK BCAM0227 termina no resíduo 384, constata-se que ambas as

HKs apresentam um segmento, entre a segunda hélice transmembranar e a região

catalítica, que obedece a uma estrutura secundária muito aparentada. Apesar de no

interior deste segmento ser detetado através da análise de domínios, o domínio

PAS; segundo Aravind e Pointing, 1999 é característico da subfamília HPK1, a

existência de um elemento estrutural denominado de HAMP do inglês histidine

Kinase, adenylyl cyclase, methyl-accepting chemotaxis proteins and phosphatase

que, vulgarmente, neste tipo de proteínas faz a coneção entre a região sensor

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extracitoplasmática e dos domínios intracelulares de sinalização. Este segmento é

variável em tamanho (40-180 resíduos) e em sequência (99).

Deste modo o segmento HAMP das histidinas BCAM0218 e BCAM0227 apresenta

135 e 145 resíduos respetivamente.

Após o segmento HAMP encontra-se uma zona também conservada nas duas

proteínas que obedece a um esquema de estrutura secundária muito idêntico, o

domínio DHp. O domínio DHp apresenta a box-H, zona que possuí o resíduo de

histidina (H) (delimitado a vermelho na figura), que é o primeiro aceitador de fosfato

no processo catalítico da HK (p-His). Este domínio está em ambas as figuras

circunscrito com uma linha castanha e obedece a uma estrutura secundária

conservada, duas hélices. O domínio seguinte, CA, composto pelas restantes boxes

(N, D, F e G) apresenta-se também com uma estrutura secundária típica composta

por quatro folhas β e três hélices, estando em ambas as figuras delimitado a verde.

Apesar de existir uma conservação de estrutura secundária aparentada entre as

duas Histidinas cinases BCAM0218 e BCAM0227, em termos de sequência global

de aminoácidos é interessante verificar que apenas numa região, correspondente ao

DHp e ao CA, é detetada uma percentagem de identidade significativa, zona que

corresponde a aproximadamente 57% da sequência das proteínas (E-value 2-111),

nas restantes zonas codificantes não é detetada homologia, segundo o programa

Basic Local Alignment Search Tool NCBI Janeiro2012 (110).

Da análise comparativa dos diferentes segmentos, domínios, das duas sequências

das HKs BCAM0218 e BCAM0227 não foi detetada identidade significativa no

domínio PAS e o domínio Hpt, enquanto nos domínio HisKa, domínio de ligação ao

ATP e domínio regulador de resposta observou-se 75, 71 e 72% de identidade

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respetivamente, o que vai de encontro ao já referido anteriormente, ver figura 9.

Refletindo a ampla variedade de sinais aos quais as HKs respondem, a região

periplasmática, região sensor, apresenta homologia reduzida em termos de

sequência, ver figura 9. No que respeita às HKs em estudo esta região está

representada sensivelmente entre o resíduo 42 e o 390.

Existe deste modo uma especificidade singular elevada em toda a região sensor e

transmembranar e uma conservação de identidade no que concerne às regiões

catalítica e de ligação ao ATP.

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H-box

N-box-KFT

D-box – F- box G-box

Figura 7. Previsão de estrutura secundária da Histidina cinase BCAM0218 de B.cenocepacia J2315 em que: - α-hélice e outras hélices

54.26%, - folha β 13.47%, -coil 28.12%, - hélices transmembranares, - região sensor. POLYVIEW-2D:

http://polyview.cchmc.org e NPS@: Network Protein Sequence Analysis Janeiro2012.

α1 α2 α3 α4

α7

α5 α6

α8 α9 α10

α11 α12

α13 α15 α14

α17 α18

α20

α19

α16

α24 α27

α23

α29 α28

α30

α26 α25

α21 α22

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Homologia entre as sequências BCAM0218 e BCAM0227

N-box-KFT

H-box

D-box – F- box

G-box

ox

Figura 8. Previsão de estrutura secundária da Histidina cinase BCAM0227 de B.cenocepacia J2315 em que: - α-hélice e outras hélices

52.13%, - folha β , - coil 30.96%, - hélices transmembranares, - região sensor. POLYVIEW-2D:

http://polyview.cchmc.org e NPS@: Network Protein Sequence Analysis, Janeiro 2012.

α1 α2 α3

α4 α5

α7 α9 α8

α11 α10

α12

α16 α17

α13 α14 α15

α18

α19

α23

α20

α25 α22 α24

α21

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Figura 9. Representação esquemática das percentagens de identidade entre os vários

domínios que compõem as HKs BCAM0218 e BCAM0227, segundo alinhamento das duas

sequências no programa Basic local alignment seach tool. Domínio PAS, Domínio HisKa,

Domínio de ligação ao ATP, Domínio regulador de resposta, Domínio Hpt (110).

7.1.3 Previsão de estrutura

Para verificar a organização tridimensional das histidinas cinases em estudo foi

efetuada uma análise de previsão de estrutura utilizando o programa I-TASSER.

Através do programa foram obtidas cinco previsões de estrutura com diferentes c-

scores, tendo sido selecionada a estrutura que apresentava o c-score superior.

C-score é uma pontuação de confiança para estimar a qualidade dos modelos

previstos pelo I-TASSER. É calculado com base no significado de alinhamentos de

modelo de segmentação e com os parâmetros de convergência. O valor de c-score

pode variar entre -5 e 2, onde um c-score de valor mais elevado significa um modelo

com uma confiança também mais elevada. Na tabela 6 estão descritos os valores de

c-score, bem como as estruturas que o programa utilizou para fazer a previsão. É de

notar que as estruturas moldes utilizadas correspondem apenas a fragmentos de

HKs e, que os valores de RMSD são relativamente elevados, ambos superiores a 10

Å, significando este valor uma dissociação entre os modelos utilizados e as

estruturas em estudo.

BCAM0227

BCAM0218

75% 71% 72%

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Com esta previsão era pretendido identificar as zonas extracitoplasmáticas e/ou

periplasmáticas, as regiões transmembranares, o domínio DHp e o domínio CA das

HKs BCAM0218 e BCAM0227 ver figura 11. Através da análise foi também possível

identificar regiões das proteínas às quais estão associadas funções especificas,

como por exemplo os domínios já anteriormente abordados PAS, HisKA, ATP-

Binding, Response – reg e Hpt.

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73

Figura 10. Resultado obtido do alinhamento das sequências das Histidinas cinases BCAM0218 e BCAM0227 de B. cenocepacia J2315 através da utilização do programa

CLC Protein Workbench 5.5.2. As regiões com homologia mais elevada estão delimitadas com diferentes cores, respeitando aproximadamente as coordenadas dos

diferentes domínios, obtidos através da análise das sequências no SWISS-MODEL.

HisKA ATP-binding Response-reg Hpt HisKa HisKa HisKa HisKa

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1)

2

)

A)

B)

1)

2)

α3 α10 PAS HisKA ATP-Binding Response – reg Hpt

α2 α9 PAS HisKA ATP-Binding Response – reg Hpt

Figura 11. A) Previsão da estrutura

tridimensional das HKs em estudo segundo o

programa I-TASSER. 1) BCAM0218, 2)

BCAM0227.Cada domínio identificado está

representado com uma cor, sendo a mesma

utilizada em ambas as representações. PAS –

domínio PAS (amarelo), HisKA – domínio de

Histidina cinase A fosfo-recetor (rosa), ATP-

Binding – domínio de ligação ao ATP (verde),

Response – reg – domínio regulador de

resposta (roxo), Hpt – domínio que contém um

resíduo de histidina que medeia a

fosfotransferência (azul), a vermelho estão

representadas as regiões transmembranares e a

azul-escuro as regiões extracitoplasmáticas. B)

Representação esquemática dos domínios das

HKs BCAM0218 1) e BCAM0227 2). As regiões

transmembranares (α3,α10,α2 e α9),

extracitoplasmáticas bem como os domínios

estão representados com as cores utilizadas em

A)(3, 4).

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Tabela 6. Descrição dos valores e estruturas que permitiram prever as estruturas tridimensionais das

KHs BCAM0218 e BCAM0227. RMSD - root-mean-square deviation; PDB – Protein data bank (3, 4)

Previsão de estrutura Modelos

C-score RMSD Z-score PDB Descrição da estrutura

BCAM0218 -2.27 14.7 ± 3.6 Å

1.32

3dgeA

Regulador de resposta de

histidina cinase envolvido na

sinalização de sistema de

dois componentes de

Thermotoga maritima

2.52

3a0rA

Estrutura de Histidina cinase

ThKA (TM1359) com

complexo de regulador de

resposta TrrA (TM1360) de

Thermotoga maritima

3.79 2c2aA

Estrutura do sensor

citoplasmático de histidina

cinase de Thermotoga

maritima

BCAM0227 -2.44 15.2 ± 3.5 Å

1.31 3dgeA

Regulador de resposta de

histidina cinase envolvido na

sinalização de sistema de

dois componentes de

Thermotoga maritima

2.47 3a0rA

Estrutura do sensor

citoplasmático de histidina

cinase de Thermotoga

maritima

3.62 2c2aA

Estrutura do sensor

citoplasmático de histidina

cinase de Thermotoga

maritima

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76

7.2 Análise genética e funcional das HKs BCAM0218 e BCAM0227 de B.

cenocepacia K56-2

O trabalho desenvolvido focou-se na análise genética e funcional de dois genes

BCAM0218 e BCAM0227, de Burkholderia cenocepacia K56-2 pertencentes a um

agrupamento único de adesinas triméricas autotransportadas designado por trimeric

autotransporter adhesin (79, 106).

Este agrupamento de 24-Kb está localizado a jusante de uma ilha genómica de

patogenicidade B. cenocepacia Island (cci) que alberga vários genes de virulência

(104). Trata-se de um agrupamento de genes único estrito à linhagem epidémica

ET-12, constituído por três adesinas triméricas autotransportadas (BCAM0219,

BCAM0223 e BCAM0224), uma lipoproteína (BCAM0220), duas histidinas cinases

(BCAM0218 e BCAM0227) e três reguladores de resposta (BCAM0221, BCAM0222

e BCAM0228), ver figura 12 A (79, 106).

Segundo Mil-Homens, 2012 os quatro genes de virulência efectores deste

agrupamento estão organizados em dois sub-clusters divergentes, agrupando

respetivamente, duas TAAs (BCAM0224 e BCAM0223) e uma TAA junto com a

lipoproteína (BCAM0219 e BCAM0220). Em Burkholderia cenocepacia J2315 o gene

BCAM0227 codifica uma histidina cinase, encontra-se no cromossoma 2 e é

composto por 3035 nucleótidos (284665 – 281630pb – locus BCAM0227). Este gene

está localizado na vizinhança, a jusante, de três adesinas triméricas

autotransportadas (BCAM0224, BCAM0223 e BCAM0219), ver figura 12 A.

O gene BCAM0218, também codifica para uma histidina cinase, é composto por

3032 nucleótidos (255662 – 258694pb – locus BCAM0218) e encontra-se

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igualmente na vizinhança do agrupamento TAA mas, a montante dos genes das

adesinas, ver figura 12 A.

Em termos funcionais as HKs estão descritas como sendo responsáveis pela

receção de sinais ambientais e comunicação dos mesmos, via fosforilação, ao

regulador de resposta, o qual por sua vez irá proceder à tradução do sinal, com

consequente promoção ou repressão do(s) gene(s) alvo. De modo geral estas

proteínas estão envolvidas na repressão ou ativação de genes que direta ou

indiretamente estão associados a fenómenos de virulência. Vários estudos atribuem

à proteína HK0227 a capacidade de reconhecer uma molécula envolvida na

comunicação célula-célula entre espécies (111). Segundo McCarthy e seus

colaboradores o ácido gordo cis- 2-dodecanoico (BDSF) é produzido por B.

cenocepacia e está envolvido na sinalização de sistemas que regulam genes de

virulência (51). Uma mutação no gene BCAM0581, cuja função foi associada à

síntese de BDSF é conducente a múltiplos efeitos fenotípicos nomeadamente:

redução da capacidade de formação de biofilmes, alteração da aderência às

mucinas das células hospedeiras, redução na mobilidade e atenuação da virulência

nos modelos de infeção Galleria mellonella e peixe zebra (51).

Assim sendo, atendendo à organização do agrupamento TAA e aos resultados

publicados por Mil-Homens e Fialho 2012 propomo-nos, através de análises de

respostas fenotípicas, como virulência em Galleria mellonella, hemaglutinação,

adesão a células de epitélio pulmonar e resistência ao soro humano, comprovar que

a HK0218 participa na regulação da adesina BCAM0219 e a HK0227 participa na

regulação das adesinas BCAM0223 e BCAM0224.

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Para verificar qual a relação, receção de sinal/efetivação de resposta, existente entre

as histidinas cinases e a expressão genética e fenotípica das adesinas triméricas

autotransportadas, foram construídos dois mutantes de inserção nos genes

sensores do agrupamento TAA, BCAM0218 e BCAM0227. Os mutantes obtidos: B.

cenocepacia K56-2 BCAM0218::Tp e B. cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp, ver

figura 12.B), foram usados em vários ensaios, comparativos, de respostas

fenotípicas.

Figura 12. Organização genética do agrupamento TAA em B. cenocepacia K56-2. A)

Organização genómica e mapa operónico do agrupamento de genes TAA. As regiões co-transcritas

estão indicadas com setas a tracejado. Hyp – do inglês hypothetical protein, HK- histidina cinase,

TAA- adesina trimérica autotransportada, OMP – proteína externa da membrana, RR – regulador de

resposta. B) Representação esquemática da estratégia utilizada para obtenção dos mutantes de

inserção das duas histidinas cinases em estudo: B. cenocepacia K56-2 BCAM0218::Tp e B.

cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp Adaptado de Mil-Homens e Fialho, 2012 (106).

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7.2.1 Construção do mutante BCAM0227

Devido à dificuldade de manuseamento em laboratório e à resistência a antibióticos

utilizados na construção dos mutantes de B. cenocepacia J2315, todo o trabalho

experimental foi desenvolvido com B. cenocepacia K56-2 em vez de B. cenocepacia

J2315.

A estratégia experimental envolveu a utilização de dois mutantes B. cenocepacia

K56-2 BCAM0218::Tp e B. cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp, no entanto apenas o

mutante B. cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp foi construído no âmbito deste

trabalho. Tal como é representado na figura 12.B), para construção dos mutantes foi

utilizada a estratégia de inserção de uma cassete de antibiótico, Trimetropim, no

gene. A utilização desta cassete prende-se com o facto de não induzir polaridade

genética. No caso particular do gene BCAM0227 a não polaridade é reforçada pela

posição que o gene ocupa no operão sendo este gene o último.

Para obtenção de um mutante, em alternativa à metodologia utilizada, poder-se-ia

ter utilizado a estratégia de eliminação todavia, em Burkholderia torna-se muito difícil

a sua construção.

Através dos procedimentos já descritos em 6.1, foram obtidos 3 mutantes para o

gene BCAM0227: D, F e G, ver figura 13, escolheu-se o mutante D, a partir de agora

designado por B. cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp.

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80

Figura 13. Produtos de PCR resultantes da amplificação com os iniciadores de oligonucleotidos

227Fwd2 e 227Rev2, para os diferentes candidatos a mutantes B. cenocepacia K56-2

BCAM0227::Tp.

Comparativamente à estirpe selvagem verificou-se nos dois mutantes diminuição

ligeira na capacidade de crescimento em cultura, principalmente nas condições

específicas utilizadas nos vários ensaios. Quanto ao fenótipo das colónias não

existia diferenças entre os mutantes e a estirpe selvagem.

7.3 Análise da expressão genética dos genes do agrupamento TAA nos

mutantes deficientes para os genes BCAM0218 e BCAM0227 e na estirpe

selvagem

A análise da expressão dos genes foi efetuada através da reação da polimerase em

cadeia em tempo real, do RNA extraído das culturas dos dois mutantes e da estirpe

selvagem. As condições de crescimento das culturas bem como a técnica de

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extração de RNA foram realizadas de acordo com o descrito nos pontos 6.2 e 6.5 do

capítulo Material e Métodos.

Conforme ilustrado na figura 14 A), a eliminação do gene BCAM0218, conduz ao

aumento dos níveis de expressão genética nos genes BCAM0219, BCAM0220,

BCAM0221, BCAM0224 e BCAM0228. Esta variação apresenta-se mais significativa

para o gene BCAM0219, em que há um aumento de expressão comparativamente à

estirpe selvagem de 24 vezes. Em contraste com estes resultados verifica-se que a

inativação do gene BCAM0227 conduz a uma diminuição dos níveis de expressão

genética nos genes BCAM0219, BCAM0220, BCAM0221, BCAM0224, ver figura 14

B).

Estes resultados evidenciam uma inter-relação entre os sensores, HK BCAM0218 e

HK BCAM0227 e os genes de virulência BCAM0219 e BCAM0224, adesinas

triméricas autotransportadas. No entanto, verifica-se que através dos mutantes não

se consegue silenciar os genes das adesinas consegue-se apenas alterar os seus

níveis de expressão num ou noutro sentido.

A)

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B)

Figura 14. Representação gráfica dos níveis relativos da expressão genética dos diferentes genes do

agrupamento TAA A) Variação da expressão genética do mutante B. cenocepacia K56-2

BCAM0218::Tp em relação à estirpe selvagem. B) Variação da expressão genética do mutante B.

cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp em relação à estirpe selvagem.

Com estes resultados a proposta de existência de dois sub-clusters publicada por

Mil-Homens e Fialho 2012, é sublinhada por eventuais processos de regulação

também eles circunscritos aos respetivos sub-clusters e coordenados por cada uma

das HK.

Deste modo pretendemos demonstrar a afetação da expressão do gene BCAM0227

quando é adicionado à cultura BDSF e por sua vez verificar se quando a expressão

do gene recetor do sinal é afetada, a expressão do gene que o recetor controla é

também afetada, neste caso a adesina BCAM0224.

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Da avaliação da expressão genética do gene BCAM0227 e BCAM0224, das culturas

crescidas com e sem BDSF, verificou-se que às 8 horas de crescimento existiu um

aumento acentuado na expressão de ambos os genes, respetivamente 5 e 7 vezes

superior à estirpe crescida sem BDSF, ver figura 15. Constata-se deste modo uma

interligação entre a histidina cinase 227, proteína receptora do sinal BDSF e a

adesina autotransportada trimérica 224, gene efector de resposta ao estímulo

ambiental.

Figura 15. Representação gráfica dos níveis relativos de expressão genética dos genes BCAM0224 e

BCAM0227 em B.cenocepacia K56-2 crescida com e sem BDSF ao longo de 12 horas.

O crescimento de Burkholderia K56-2 com e sem adição de BDSF permitiu ainda

constatar que a presença deste ácido gordo proporcionava um aumento da

população microbiana. Conforme a representação gráfica, figura 16 foi então

possível verificar um incremento da população microbiana após a fase de

crescimento logarítmica, 12h de crescimento, o que pode ser interpretado como uma

resposta modular ambiental de virulência, uma vez que havendo maior concentração

de BDSF existe comunicação entre células no sentido de aumentar a sua população.

0

2

4

6

8

10

12

2 3 5 8 12

Nív

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tivo

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e ex

pre

ssão

Tempo (h)

B. cenocepacia K56-2

B. cenocepacia K56-2 geneBCAM0224 BDSF 50µM

B. cenocepacia K56-2 geneBCAM0227 BDSF 50µM

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Este aumento de população poderá conduzir a um aumento da capacidade da

bactéria formar biofilme, aumentando a capacidade de adesão aos tecidos do

organismo hospedeiro e em paralelo contribuindo para o incremento da resistência a

antimicrobianos.

Figura 16. Representação gráfica do crescimento de B. cenocepacia K56-2 e B. cenocepacia K56-2

crescida com BDSF 50 µM.

Após avaliação dos níveis relativos da expressão genética dos diferentes genes do

agrupamento TAA, nos mutantes em estudo, pretendeu-se verificar se as tendências

de regulação das diferentes adesinas autotransportadas, se verificavam

efetivamente, em termos fenotípicos. Para tal recorreu-se a um conjunto de ensaios

que permitiram estudar a virulência associada a cada uma das adesinas

supostamente reguladas pelas histidinas cinases em estudo.

ácido cis-2-dodecanoico

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Os ensaios fenotípicos estudados são de acordo com os ensaios utilizados por Mil-

Homens e Fialho 2011 e 2012 para comprovar a virulência associada às adesinas

do agrupamento em estudo BCAM0224 e BCAM0223.

7.4 Avaliação fenotípica dos mutantes de B. cenocepacia K56-2 deficientes

para os genes BCAM0218 e BCAM0227, os quais codificam histidinas cinases

(HK)

7.4.1 Efeito na virulência no modelo animal Galleria mellonella

A Galleria mellonella é um modelo biológico de infeção utilizado em estudos de

fatores de virulência de membros do Bcc.

Conforme ilustrado na figura 17A os resultados obtidos evidenciam uma atenuação

significativa na virulência do mutante B. cenocepacia K56-2 BCAM0218::Tp

comparativamente com a estirpe selvagem. Após 72h de infeção aproximadamente

65% das larvas estavam vivas, demonstrando maior capacidade de sobrevivência

comparativamente à estirpe selvagem.

O mutante B. cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp apresentou um comportamento

similar à estirpe selvagem, o que leva a concluir que neste modelo biológico, a

mutação na histidina cinase BCAM0227 não interfere diretamente na virulência da

estirpe B. cenocepacia K56-2 (ver figura 17 B)).

Em ambos os ensaios às 72h todas as larvas infetadas (n=10) com a estirpe

selvagem estavam mortas.

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A)

B)

Figura 17. Virulência no modelo Galleria mellonella.

Curva de sobrevivência de Kaplan Meier para a infecção de G. mellonella com estirpe selvagem B.

cenocepacia K56-2, mutantes e controlo. A) B. cenocepacia K56-2 BCAM0218::Tp e B) B.

cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp.

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Apesar do mutante BCAM0218, levar ao aumento da expressão da adesina

BCAM0219 houve diminuição da virulência em G. mellonella. Contudo, resultados

com mutantes para a adesina BCAM0219 demonstraram que a não funcionalidade

da adesina permitia um aumento da sobrevivência da G. mellonella. Os resultados

nos ensaios com o mutante da HK0218 demonstram o contrário. Deste resultado

verifica-se que a adesina BCAM0219, de forma isolada, não contribui para a

virulência. Contudo é de salientar que em modelos biológicos ocorrem fenómenos

complexos que envolvem múltiplos fatores afetando involuntariamente o resultado

observado e, que a mutação da HK0218 poderá estar a afetar a expressão de outros

genes que poderão levar à diminuição da expressão de outros genes de virulência.

Quanto ao mutante BCAM0227 os resultados comprovam os já submetidos, por Mil-

Homens 2012, para a adesina BCAM0224, em que através do mutante da adesina,

é comprovado que esta é necessária para a virulência em Galleria mellonella.

Verificando-se através dos resultados já acima descritos que o mutante da HK227

leva à diminuição dos níveis de expressão da adesina 224, era esperado que o

mesmo mutante BCAM0227 em G. mellonella aumentasse a sobrevivência das

larvas o que foi comprovado.

7.4.2 Efeito na capacidade de hemaglutinação

De acordo com Kapperud et al, 1987 e Pearson, 2002 e como comprovado por Mil-

Homens a hemaglutinação é uma das múltiplas funções atribuídas às TAAs,

implicada na virulência de Burkholderia (112, 113). Segundo Mil-Homens, 2012 a

adesina BCAM0223 apresenta capacidade de hemaglutinar sangue de carneiro,

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tendo sido já comprovado a perda da capacidade de hemaglutinação através do

mutante para o gene BCAM0223 (2).

Através dos ensaios efetuados com os mutantes B. cenocepacia K56-2

BCAM0227::Tp e B. cenocepacia K56-2 BCAM0218::Tp e de acordo com os

resultados expostos na figura 18, verifica-se que há um aumento da capacidade de

hemaglutinação do mutante BCAM0218 e uma diminuição da capacidade de

hemaglutinação no mutante BCAM0227 comparativamente à estirpe selvagem.

De acordo com os resultados obtidos da análise da expressão genética no mutante

B. cenocepacia K56-2 BCAM0218::Tp dos vários genes do agrupamento TAA, que

demonstraram um aumento da expressão do gene que codifica para a adesina

BCAM0219 e, tendo em conta o elevado número de motivos de hemaglutinina que a

adesina BCAM0219 apresenta, verifica-se concordância entre os resultados obtidos

nestes ensaios e a proposta apresentada neste trabalho que defende a divisão do

agrupamento em dois sub-clusters, tendo o sub-cluster BCAM0219/BCAM0220 a

intervenção da HK BCAM0218 na sua regulação.

Figura 18. Resultados obtidos dos ensaios de hemaglutinação de B. cenocepacia K-56-2 e mutantes

B. cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp e B. cenocepacia K56-2 BCAM0218::Tp. Foi utilizado uma

suspensão a 3% de células vermelhas de sangue de carneiro e três concentrações diferentes de

bactérias (DO:10; 5 e 2.5). Como controlo negativo foi utilizado PBS.

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7.4.3 Efeito na capacidade de adesão a culturas de células epiteliais

brônquicas

De acordo com os resultados publicados por Mil-Homens e Fialho, 2012, existe

envolvimento das adesinas triméricas autotransportadas BCAM0223 e BCAM0224

nos processos de adesão e invasão de células epiteliais brônquicas (106).

Mais uma vez com o objetivo de avaliar a capacidade das HKs na regulação dos

dois sub-clusters (BCAM0223/BCAM0224) e (BCAM0219/BCAM0220) recorreu-se a

ensaios de adesão a células epiteliais.

Para a avaliação, in vitro, da capacidade de adesão dos mutantes BCAM0218 e

BCAM0227 de B. cenocepacia K 56-2, foram utilizadas duas linhas celulares de

epitélio pulmonar humano, 16HBE14o- e CFBE41o-, fenótipo sem CF e com CF

respetivamente. Os ensaios foram efetuados com base na diferença das contagens

de UFCs antes e após a infeção da monocamada de células.

Verifica-se um aumento da capacidade de adesão em ambos os mutantes

comparativamente à estirpe selvagem, sendo este aumento mais significativo no

mutante B. cenocepacia K56-2 BCAM0218::Tp, ver figura 19. Ao contrário do que

seria espectável, comparando as duas linhas celulares, verifica-se um aumento da

capacidade de adesão à linha celular não CF, 16HBE14o-. Segundo os resultados

publicados por Mil-Homens e Fialho, 2012 quando os genes BCAM0223 e

BCAM0224 estão inativos ocorre uma diminuição da capacidade de adesão

comparativamente à estirpe selvagem. No que respeita à HK BCAM0227, sensor do

sub-cluster onde se inserem as adesinas BCAM0223 e BCAM0224, é notório um

aumento na capacidade de adesão de cerca de 20% na linha celular não CF e de

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35% na linha celular CF. Este resultado não é coerente com os já publicados pelos

autores acima referenciados no entanto, presume-se que o facto de se provocar

uma mutação num sensor, neste caso na HK227, pode-se também estar a induzir

alteração da expressão de genes codificantes de outras proteínas de superfície, ou

outros elementos estruturais bacterianos que poderão desempenhar função nos

processos de adesão a células eucarióticas (56, 114).

(A) (B)

Figura 19. Representação gráfica da % média de adesão dos mutantes em estudo e da estirpe

selvagem B. cenocepacia K56-2. A) Adesão às células de epitélio pulmonar –16 HBE14o- B) Adesão

às células de epitélio pulmonar mutadas -CF BE 410-ΔF.

7.4.4 Efeito na resistência ao soro

Sabendo-se da capacidade multifuncional das adesinas e do seu envolvimento na

resistência ao soro já comprovada por resultados obtidos por Mil-Homens e Fialho,

2012, para a adesina BCAM0224, pretendeu-se verificar mais uma vez a implicação

da HK0227 na regulação desta adesina (79).

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

120,00

16HBE14o- cells

% A

de

são

K56-2

Δ227

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0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

CF BE 410 - ΔF

K56-2

Δ227

Δ218

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Os resultados revelam uma sobrevivência do mutante para o gene BCAM0224 de

15% comparativamente aos 97% da estirpe selvagem o que revela um envolvimento

muito acentuado da adesina BCAM0224 na resistência ao soro (2). Apesar dos

resultados obtidos nos ensaios com o mutante B. cenocepacia K56-2

BCAM0227::Tp não serem tão evidentes, a tendência é mantida, utilizando Soro

Humano Normal (NHS) a 30% e após 1h de incubação, o mutante apresenta

capacidade de resistência ao soro inferior à estirpe selvagem com uma diferença de

aproximadamente 2%, ver figura 20.

Figura 20. Representação gráfica dos resultados obtidos dos ensaios bactericidas com 30% de Soro

Normal Humano (NHS). O mutante B. cenocepacia K56-2 BCAM0227::Tp demonstrou uma

diminuição de 2% de resistência ao soro comparativamente à estirpe selvagem. Como controlo foi

utilizado soro inativado pelo calor.

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8. Discussão Final

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A base da notável diversidade ecológica apresentada pelo Bcc parece residir nos

seus invulgares genomas, raros no tamanho e na organização, permitindo a estas

bactérias crescer numa grande variedade de substratos, utilizar diferentes fontes de

carbono e sobreviver nas mais diversas condições de stress. Embora as estirpes de

Bcc possam desenvolver um papel importante em termos ambientais como na

agricultura e na biotecnologia, a sua utilização nestas áreas representa risco clínico

para os membros suscetíveis da comunidade (115).

Várias estirpes de B. cenocepacia estão associadas a fugas epidémicas entre os

pacientes com CF, tais como as estirpes da linhagem ET12, que são consideradas

altamente transmissíveis e virulentas (103). Por todos estes motivos B. cenocepacia

tem sido o foco principal de muitos grupos de investigadores que procuram

compreender a patogénese destas bactérias.

As infeções provocadas por elementos do Bcc em doentes com CF podem variar

desde a eliminação espontânea das bactérias, à colonização assintomática e

declínio gradual do estado do doente até síndrome da cepacia com consequente

agravamento rápido da função pulmonar levando até à morte (116). Estima-se que a

colonização pulmonar por bactérias do Bcc em doentes com CF reduza

significativamente a sua sobrevivência e que cerca de 20 a 30% dos doentes atinjam

o estádio de síndrome de cepacia (16). Acresce a toda esta problemática o carácter

patogénico das estirpes Bcc a sua multiresistência intrínseca a antibióticos e a sua

facilidade de transmissibilidade e persistência entre doentes com CF.

Apesar de já se ter identificado vários determinantes de virulência na linhagem B.

cenocepacia ET12 e, de estudos já publicados evidenciarem a extrema importância

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das adesinas triméricas autotransportadas na aderência às células do hospedeiro

(17, 106), é necessário identificar quais os genes que regulam a expressão dessas

mesmas adesinas. No nosso caso específico, através de dados já publicados sobre

a organização do agrupamento TAA, do conhecimento funcional das histidinas

cinases que o compõem, HKBCAM0218 e HKBCAM0227 e, do estudo

bioinformático efetuado, foi possível associar funções de regulação a estas proteínas

(106). Considerando a posição das HKs no agrupamento TAA e os resultados

obtidos através de análise computacional, foi possível verificar que apesar das duas

HK apresentarem conservação de estrutura secundária não apresentam identidade

significativa na globalidade das zonas codificantes, tendo sido apenas possível

detetar similaridade na região designada catalítica, domínio DHp e domínio CA.

Desde então, e conscientes da multiplicidade de sinais e de genes aos quais cada

uma das HK pode responder e regular respetivamente (99), verificou-se também que

a zona designada de sensor não apresentava qualquer similaridade, o que leva a

concluir que HKs diferentes rececionam sinais diferentes. Em termos de organização

funcional em ambas as histidinas foi possível identificar os mesmos domínios: PAS,

HisKA, CA, RR e Hpt. Após esta análise preliminar, pretendeu-se verificar

efetivamente qual o papel das HK 218 e 227 na regulação genética das adesinas

triméricas autotransportadas. Estando já publicado que os três genes codificantes

das TAAs do agrupamento estão organizados como dois sub-clusters, que

consistem em dois operões bicistrónico orientados divergentemente (106) e

acreditando-se que a regulação destes genes obedece a esta divisão do

agrupamento TAA, partiu-se do pressuposto que a HK218 tinha por função regular a

adesina trimérica autotransportada a jusante BCAM0219 bem como a porina

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BCAM0220 e a HK227 regular as adesinas triméricas autotransportadas a montante

BCAM0223 e BCAM0224. Dos resultados da análise dos níveis relativos de

expressão dos mutantes da HKs verificou-se que existe, em termos de regulação,

uma tendência da expressão genética dos genes do agrupamento TAA dividida

também em dois sub-clusters. É de salientar, no entanto, que nenhum dos mutantes

permitiu o silenciamento dos genes das adesinas do agrupamento, o que torna

avaliação dos resultados mais complexa. Para além da análise dos níveis de

expressão dos genes do agrupamento, verificou-se tendo por base resultados já

publicados por McCarthy que a HK227 era sensível a uma molécula de QS, BDSF e,

que para além de aumentar a expressão da HK227 aumentava também a expressão

da adesina 224 (51). Com este resultado reforçou-se a nossa convicção sobre o

processo de regulação do sub-cluster BCAM0223/BCAM0224, todavia trabalhos

posteriores deverão ser executados no sentido de identificar qual ou quais os

demais sinais envolvidos na resposta das HKs.

Após esta primeira análise computacional e genética pretendia-se verificar se as

alterações dos níveis de expressão dos genes efectores, genes das adesinas, se

refletiam efetivamente em termos de fenótipo nos dois mutantes. Para tal recorreu-

se a um conjunto de ensaios, utilizados recorrentemente por Mil-Homens nas suas

pesquisas para as TAAs.

Começou-se por verificar no modelo biológico Galleria mellonella a virulência dos

mutantes comparativamente à estirpe selvagem onde foi verificado no mutante

BCAM0218 perda de virulência e no mutante BCAM227 níveis de virulência

semelhantes aos da estirpe selvagem. Como num modelo biológico o resultado

obtido reflete um conjunto de reações que ocorrem dentro do modelo e não apenas

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o resultado do fator que se está a fazer variar, neste caso a mutação de uma das

histidinas, por vezes torna-se difícil interpretar isoladamente os resultados.

Sendo a hemaglutinação uma das funções atribuídas às TAAs (112, 113), foi

verificado o efeito das mutações das duas HKs individualmente na capacidade de

hemaglutinação. Nos ensaios de hemaglutinação verificou-se o fenótipo esperado

para o mutante B. cenocepacia K56-2 BCAM0218::Tp, isto é, aumento da

hemaglutinação. Quando o gene BCAM0218 é mutado aumentam os níveis de

expressão da adesina BCAM0219 que por sua vez devido ao elevado números de

motivos de hemaglutinina apresentados (2) leva a um aumento da capacidade de

hemaglutinação das células vermelhas do sangue. O mutante da HK227 comprovou

o resultado já obtido por Mil-Homens, para a adesina BCAM0224, em que a

ausência do gene BCAM0224 leva a uma diminuição na capacidade de

hemaglutinação.

Membros do Bcc são capazes de suportar os efeitos bactericidas dos componentes

do sistema imunitário inato, como péptidos antimicrobianos, lisozimas, lactoferrina e

a fosfolipase A2, entre outros (117).

Outra atividade de virulência desempenhada pelas adesinas é a fuga à capacidade

bactericida do sistema do complemento, no entanto os resultados obtidos para a

resistência ao soro evidenciam uma fraca participação da HK0227 neste fator de

virulência, uma vez que entre o resultado do mutante BCAM0227 e a estirpe

selvagem existe apenas uma diferença de resistência de 2%.

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A ligação das bactérias às células epiteliais do pulmão é o primeiro passo para a

colonização deste órgão por estirpes de Bcc. Na adesão às células para além das já

caraterizadas adesinas triméricas estão também envolvidos os píli e a adesina

22KDa (32). Com base nos resultados é verificado um importante envolvimento da

HK0218 no processo de adesão. Para o mutante desta histidina cinase a capacidade

de adesão comparativamente à estirpe selvagem é muito superior, o que indica que

a expressão aumentada da adesina BCAM0219 leva a um aumento na capacidade

de adesão às células epiteliais. Já para HK0227 o mesmo foi constatado, mas a

níveis mais baixos.

Após análise detalhada dos vários ensaios e considerando a multiplicidade de sinais

aos quais as HKs respondem, verifica-se então que apesar de em termos genómicos

as HKs BCAM0218 e BCAM0227 parecerem estar a regular as adesinas triméricas

autotransportadas BCAM0219, BCAM0223 e BCAM0224, através de dois operões

bicistrónicos orientados divergentemente, funcionalmente estas duas proteínas

podem em simultâneo controlar outros genes, não necessariamente circunscritos

aos genes das TAAs, mas também eles envolvidos na virulência de Burkholderia

cenocepacia.

A base do tratamento da CF inclui o apoio nutricional e a limpeza dos mucos

mecanicamente, suplementado com agressivos regimes de antibióticos destinados a

suprimir ou erradicar colonizações bacterianas, agentes anti-inflamatórios, e novas

abordagens que melhoram a limpeza mucociliar (www.cff.org/treatments/pipeline/).

Do ponto de vista clínico, o Bcc apresenta as espécies bacterianas mais resistentes

encontradas na infeção humana, tornando o controlo da infeção muito difícil.

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Bactérias do Bcc são intrinsecamente resistentes a agentes antimicrobianos, tais

como aminoglicosidios, cefalosporinas de primeira e segunda geração, penicilinas

anti-Pseudomonas e polimixinas (78). Para resolver a problemática das

multirresistências utiliza-se combinações de duas ou mais drogas para atingir

atividade bactericida e, aproveitar efeitos sinérgicos das drogas (78). Uma

abordagem mais recente e promissora é a quimioterapia fotodinâmica

antimicrobiana quimioterapia que apresenta níveis elevados de morte de bactérias

de Bcc (118).

Os sistemas de regulação de dois componentes são essenciais para a

sobrevivência, crescimento e virulência das bactérias. Sendo estes típicos ou

híbridos, as histidinas cinases neles envolvidas autofosforilam-se em resposta a

alterações ambientais e desencadeiam uma cascata de

fosforilações/desfosforilações no sentido de ativar o regulador de resposta que por

sua vez ativa ou reprime a transcrição do gene alvo (90, 119). Apesar das histidinas

cinases não serem consideradas fatores de virulência, estas estão maioritariamente

envolvidas em sistemas de regulação de fatores de virulência (tabela 2). Assim

sendo, uma opção de tratamento de infeções por bactérias do Bcc poderá passar

pela utilização de compostos inibidores da atividade de cinase das HK (119). Vários

estudos já foram desenvolvidos neste sentido, no entanto o facto de se interferir com

proteínas que também são essenciais aos Humanos, confere-lhes alguma

incapacidade para a sua utilização terapêutica (119). Apesar de todos os avanços no

que respeita aos antimicrobianos, é importante salientar que um organismo com

tanta plasticidade e versatilidade genómica dificilmente poderá ser utilizado no seu

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todo como um recurso uma vez que o seu sucesso evolutivo como patogénico

oportunista representará sempre uma ameaça.

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9. Agradecimentos

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101

Para chegar a este momento muitas foram as Pessoas que me apoiaram e

incentivaram a continuar nos momentos de dúvidas e anseios.

Ao meu orientador Professor Arsénio Fialho pela oportunidade que me concedeu ao

permitir a minha integração na sua equipa, assim como toda a disponibilidade

demonstrada para me ajudar e orientar;

Ao Professor Melo Cristino pelo acompanhamento do processo de co-orientação

deste projeto;

À Dalila Mil-Homens pela sua permanente prontidão para me auxiliar e pelos

inúmeros conhecimentos que me foi transmitindo ao logo do projeto, pois sem a sua

amizade, ajuda e força não teria sido possível a realização deste trabalho;

A todos os colegas do BSRG que sempre se prontificaram para me auxiliar e em

especial ao Nuno Bernardes, à Bruna Mota, à Teresa Estevens, à Fátima Gil e à

Sofia Ferreira;

À minha família pelo apoio que me deu, em especial ao meu Filho que sempre me

acompanhou nas idas ao laboratório fora de horas e aos fins de semana e à minha

irmã pela força que me transmitiu;

O meu MUITO OBRIGADO.

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10. Bibliografia

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