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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE BIOLOGIA ANDRESSA RAYSA DA COSTA E SILVA EFEITO DE DIFERENTES GLICOSAMINOGLICANOS NO TEMPO DE TROMBOSE ARTERIAL E RE-ENDOTELIZAÇÃO DA ARTÉRIA CARÓTIDA DE CAMUNDONGOS APÓS LESÃO INDUZIDA POR CLORETO FERRICO CAMPINAS 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE BIOLOGIA

ANDRESSA RAYSA DA COSTA E SILVA

EFEITO DE DIFERENTES GLICOSAMINOGLICANOS NO TEMPO DE

TROMBOSE ARTERIAL E RE-ENDOTELIZAÇÃO DA ARTÉRIA CARÓTIDA

DE CAMUNDONGOS APÓS LESÃO INDUZIDA POR CLORETO FERRICO

CAMPINAS

2017

ANDRESSA RAYSA DA COSTA E SILVA

EFEITO DE DIFERENTES GLICOSAMINOGLICANOS NO TEMPO DE

TROMBOSE ARTERIAL E RE-ENDOTELIZAÇÃO DA ARTÉRIA CARÓTIDA

DE CAMUNDONGOS APÓS LESÃO INDUZIDA POR CLORETO FERRICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Biologia Celular e Estrutural do Instituto de Biologia

da Universidade Estadual de Campinas como parte dos

requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra

em Biologia Celular e Estrutural, na Área de BIOLOGIA

CELULAR

Orientadora: Profa. Dra. CRISTINA PONTES VICENTE

Este arquivo digital corresponde à versão final da

Dissertação defendida pela candidata Andressa Raysa da

Costa e Silva e orientada pela profa. Dra. Cristina Pontes

Vicente

BANCA EXAMINADORA

Dra. Cristina Pontes Vicente (Orientadora)

Dra. Joyce Maria Annichino Bizzacchi

Dra. Nicola Amanda Conran Zorzetto

Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

processo de vida acadêmica do aluno.

Campinas, 30 de março de 2017

Agradecimentos

Agradeço primeiramente ao meu Deus todo poderoso, que sempre está comigo e me dá

forças quando tudo parece contrário e me encoraja a seguir em frente.

Agradeço indiscutivelmente à minha orientadora Cris, por ter me dado uma oportunidade

tão incrível na minha vida, por ter confiado em mim desde a primeira vez que entrei em

sua sala para uma entrevista. Obrigada pelos seus ensinamentos, sua paciência, seus

conselhos e seu cuidado, jamais esquecerei o que você representa para mim, todo meu

crescimento pessoal e profissional durante esses dois anos eu devo muito a você.

Agradeço à minha mãe, pai e irmã por sempre torcerem por mim mesmo de longe com o

coração apertado, por sempre me amar e nunca me deixar desistir, eu amo vocês! A minha

vozinha, que sempre quando me vê se emociona de saudade e sempre me diz palavras de

encorajamento por quê sabe o quão difícil é...., às minhas tias e primas, cada uma com

sua personalidade fazem dessa família “muito unida e muito ouriçada!”, eu amo vocês!

Agradeço ao meu amado Almir Neto por acreditar em mim e me encorajar, mesmo

quando eu dizia que não era capaz, obrigada por me ensinar a ser persistente, hoje eu vejo

que posso chegar onde eu quero com muita luta e garra! Admiro sua confiança, sua garra

e sua paciência e me espelho muito em você, te amo!

Obrigada aos amigos de laboratório Maiara, Carol, Micheli, Luiz, Michel, vou sentir falta

das nossas inúmeras reuniões e das nossas gargalhadas, cada um tem um cantinho

guardado aqui no meu coração! Júlia, por algum motivo bom você entrou na minha vida

e vai ficar para sempre! Agradeço à Deus por essa amizade que me fez tão feliz, amo

você! Toni, obrigada pela excelente pessoa e profissional que és, vou sentir falta das

conversas, das belíssimas fotos e dos conselhos!

Ao professor Claudio, pela ajuda e suporte quando necessário, a Camila, pela pronta

ajuda, conselhos, pelos brigadeiros e bolos que me fizeram extremamente feliz, pelo seu

carinho! Ao neto, pela alegria cotidiana contagiante, pelo suporte durante a realização do

trabalho.

À Giane, professor Edson, Juliano e Júlio meu sincero obrigada pelos conselhos,

avaliações e observações.

À professora Joyce, Nicola e Fernanda Bassora por terem aceito simpaticamente o convite

de participação na banca de defesa.

Aos meus amigos de Manaus, Camila, Duda, Amanda e Fabrício, pelo apoio

incondicional e pela amizade! À Dona Solange pelo suporte, amor, conselhos e alegria.

À professora Ana Frazão, um anjo que a graduação me presenteou, tinha paixão pelo que

fazia, jamais esquecerei seus ensinamentos!

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES/Proex pelo

suporte financeiro,

Meu muito obrigada a todos que fizeram parte dessa caminhada árdua, meu coração se

enche de alegria pelas conquistas logradas pois “por mais longa que seja a caminhada, o

mais importante é dar o primeiro passo” (Vinícius de Moraes).

RESUMO

A trombose arterial é uma doença na qual ocorre interrupção do fluxo sanguíneo de uma

artéria, levando a isquemia do vaso. No caso de uma artéria que oxigena o cérebro, pode

levar ao acidente vascular cerebral isquêmico (AVC) e em uma artéria coronariana pode

levar ao infarto do miocárdio. A trombose ativa também o processo inflamatório e, depois

de alguns dias, pode promover a proliferação exacerbada de células musculares lisas da

camada média para a intima do vaso, ocluindo o lúmen do vaso e formando a camada de

neointima que pode obstruir o vaso (1). Agentes como o dermatan sulfato (DS), Heparina

e a Heparina de baixo peso molecular (HBPM) são glicosaminoglicanos (GAGs),

utilizados na clínica médica e que possuem atividade anticoagulante, antiinflamatória e

antitrombótica. No presente estudo, comparamos o efeito destes três agentes na prevenção

inicial de trombose e no processo inflamatório após a lesão vascular e na formação de

neointima quatorze dias após injúria arterial em camundongos C57BL/6 pelo modelo de

lesão arterial por cloreto férrico. O tempo de trombose foi determinado por medição do

fluxo sanguíneo no vaso lesionado. A resposta inflamatória e o remodelamento dos vasos

foram determinados quantificando-se por ensaio de imunofluorescência a presença da

molécula de adesão intercelular I (ICAM) e a molécula marcadora de leucócitos (CD11b).

O marcador CD34 foi analisado para se verificar a presença de progenitores endoteliais e

o CD31 para a presença de endotélio nos vasos. Além disso, analisamos se estes GAGs

interferem na coagulação sanguínea por análise de TTPA, tempo de protrombina e de

sangramento e verificamos se interferem na atividade de metaloproteinases. A formação

de trombo em animais é menor no tratamento com Heparina e o DS é mais eficiente que

a HBPM. O TTPA é prolongado cerca de 5 vezes pela heparina, 1,9 vezes pela HBPM e

1,7 pelo DS em 24 horas após lesão vascular; o tempo de sangramento foi prolongado em

cerca de 5 vezes pela heparina, cerca de 1vez pela HBPM e 3 vezes pelo DS. A presença

de células CD 11b positivas foi cerca de 3 vezes menor no tratamento com DS

comparando-se com Heparina e HBPM e a marcação com ICAM-1 não foi alterada em

animais tratados com DS e cerca de 40% maior que o controle em animais tratados com

Heparina e com HBPM. As artérias lesionadas de animais tratados com DS, Heparina e

HBPM apresentaram cerca de 3 vezes mais CPEs. O tratamento com DS diminuiu a

atividade de gelatinases no tempo inicial em relação a heparina e de forma semelhante

em 14 dias após a lesão e a HBPM foi a menos eficiente neste processo. A formação de

neointima analisada 14 dias após lesão foi menor nos animais tratados com DS que os

com Heparina e HBPM. Desde modo, pudemos observar que o tratamento com os

glicosaminoglicanos melhora de uma forma geral o processo trombótico inicial e o

remodelamento vascular permitindo uma recuperação melhor do endotélio lesionado com

diminuição da formação da neointima. No entanto, observamos que o DS foi o agente

mais eficiente na diminuição da neointima e, embora a heparina seja mais eficiente na

diminuição da formação do trombo inicial e prolongue acentuadamente o tempo para a

formação de trombo, o DS inibe mais eficientemente a migração de células inflamatórias

para o local da lesão e também proporciona grande migração de CPEs. Deste modo

podemos sugerir que o tratamento com DS pode ser adjuvante a lesão arterial, não só

diminuindo restenose vascular, mas também proporcionando a melhor recuperação do

endotélio após a lesão sem os riscos produzidos pelo tratamento com a heparina como

processo hemorrágicos e a trombocitopenia induzida por heparina.

ABSTRACT

Arterial thrombosis is a disease in which arterial blood flow ceases, leading to vessel

ischemia. In the case of an artery that oxygenates the brain, thrombosis can lead to

ischemic stroke (IS)) and in a coronary artery can lead to myocardial infarction.

Thrombosis also activates the inflammatory process and, after a few days, can promote

exacerbated proliferation of smooth muscle cells from the middle layer to the lumen of

the vessel, occluding it and forming the neointima layer that obstruct the vessel. Agents

such as dermatan sulfate (DS), heparin and low molecular weight heparin (LMWH) are

glycosaminoglycans (GAGs), used in medical practice that have anticoagulant, anti-

inflammatory and antithrombotic activities. In the present study, we compared the effects

of these three agents on the initial prevention of thrombosis and inflammatory processes

after vascular injury and in the formation of neointima fourteen days after arterial injury

in C57BL / 6 mice using the ferric chloride-induced thrombosis model. Thrombosis time

was determined by measuring the blood flow in the injured vessel. The inflammatory

response and vessel remodeling were determined by quantifying the presence of

intercellular adhesion molecule I (ICAM) and the leukocyte marker molecule (CD11b).

The CD34 marker was used to analyzed the presence of endothelial progenitors cells and

CD31 for the presence of endothelial cells in the vessels. In addition, we analyzed whether

these GAGs interfere with blood coagulation by APTT analysis, prothrombin time and

bleeding time, and we also verifed whether they interfere with the activity of

metalloproteinases (gelatinases). As a result we observed that thrombus formation in

animals is decreased after heparin treatment and DS is more efficient than LMWH.

Heparin, 1.9 fold by LMWH and 1.7 by DS within 24 hours after vascular injury prolong

about APTT 5 times. Bleeding time was prolonged 5 times by heparin, 1 time by LMWH

and 3 times by DS. The presence of CD 11b positive cells was about 3-fold lower in DS

treatment compared to Heparin and LMWH, and the ICAM-1 labeling was unchanged in

DS treated animals and about 40% higher than the control in animals treated with Heparin

and LMWH. The injured arteries of animals treated with DS, Heparin and LMWH

exhibited about 3 times more CPEs. DS treatment further decreased gelatinases activity

at time zero than heparin and similarly at 14 days post-injury and LMWH was the least

efficient in this process. The formation of neointima analyzed 14 days after injury was

lower in DS treated animals than those with Heparin and LMWH. Thus, it has been

observed that treatment with glycosaminoglycans generally decreases the initial

thrombotic process and vascular remodeling allowing better recovery of the injured

endothelium with decreased neointima formation. However, we observed that DS was the

most efficient agent in the reduction of neointima and that although heparin is more

efficient at decreasing initial thrombus formation and markedly prolongs the time to

thrombus formation. DS more effectively inhibits the migration of inflammatory cells to

the lesion site and also enhances extensive migration of CPEs. Thus we may suggest that

DS may be used as an arterial injury treatment, not only for decreasing vascular

restenosis, but also to provide better recovery of the endothelium after injury without the

risks produced by treatment with heparin, such as hemorrhage and thrombocytopenia

induced by heparin.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Morte por doenças cardiovasculares ............................................................................ 16

Figura 2. Proporção de óbitos por causa em 2012 no Brasil ....................................................... 17

Figura 3.Corte histológico de artéria de um camundongo .......................................................... 19

Figura 4. Recrutamento de plaquetas .......................................................................................... 20

Figura 6. Novo modelo da cascata de coagulação ....................................................................... 22

Figura 5.Leucócitos no processo inflamatório ............................................................................ 24

Figura 7.Sequência pentassacarídica de ligação entre HNF e AT............................................... 28

Figura 8.Inativação dos fatores de coagulação pelo complexo HNF + antitrombina ................. 29

Figura 9.Estrutura do Dermatan Sulfato...................................................................................... 32

Figura 10.Modelo de indução de lesão por cloreto ferrico .......................................................... 38

Figura 11. Tempo de formação do trombo na artéria carótida .................................................... 45

Figura 12. Análise da formação de trombo por histologia .......................................................... 46

Figura 13.Porcentagem de formação de trombo. ........................................................................ 47

Figura 14.Formação de trombo por microscopia intravital ......................................................... 48

Figura 16.Análise da porcentagem da área de neointima 14 dias após lesão arterial.................. 50

Figura 17.Área da camada média (μm2) ..................................................................................... 51

Figura 18.Tempo Parcial de Tromboplastina ativada (TTPa) ..................................................... 52

Figura 19.Tempo de sangramento ............................................................................................... 53

Figura 20.TP dosado em camundongos C57BL/6 no período de 12 e 24 horas após o

procedimento de lesão arterial..................................................................................................... 54

Figura 21.Extensão da lesão arterial provocada por cloreto férrico ............................................ 56

Figura 22.Contagem de células CD34+ na artéria após lesão provocada por cloreto férrico ..... 57

Figura 23.Contagem de células CD11b+ na artéria .................................................................... 59

Figura 24.Contagem de ICAM-1. ............................................................................................... 60

Figura 25.Atividade de metaloproteinases no vaso no tempo inicial após a lesão ...................... 63

Figura 26.Atividade de gelatinases no vaso 14 dias após a lesão. .............................................. 65

Figura 27.Agregação de plaquetas. ............................................................................................. 67

LISTA DE ABREVIATURAS

AT Antitrombina

CD11b Marcador leucocitário

CD31 Cluster of differentiation 31

CD34 Cluster of differentiation 34

CML Célula muscular lisa

CPE Célula progenitora endotelial

C57BL/6 Camundongos da linhagem black 6

DAPI 4’6 diamino – 2 fenilindole

DS Dermatan sulfato

FITC Isotiocianato de Fluoresceína (Fluorescein isothiocyanate)

FT Fator tecidual

GAG Glicosaminoglicano

GalNAC N-Acetilgalactosamina

Glc Glicoproteínas

HBPM Heparina de baixo peso molecular

HCII Cofator II da heparina

HNF Heparina não fracionada

ICAM-1 Molécula de adesão intercelular

LTA Ácido lipoteicoico

MAC-1 Antígeno de macrófago-1

MEC Matriz extracelular

MMPs Metaloproteinases

MNC Células mononucleares

NAc N-Acetilcisteína

NS Grupo sulfato

PA1 Ativador de Plasminogênio

PAF Fator de ativação plaquetária

PSGL1 Glicoproteína ligante de P-selectina

TFI Inibidor do fator tecidual

TFPI Inibidor da via do fator tecidual

TIMP Inibidor tecidual de metaloproteinase

Sumário

Agradecimentos ............................................................................................................................. 5

RESUMO ...................................................................................................................................... 7

ABSTRACT .................................................................................................................................. 9

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................. 11

I. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 16

1. Mortalidade por doenças cardiovasculares ...................................................................... 16

2. O processo de trombose: ............................................................................................... 18

3. A trombose ..................................................................................................................... 19

4. As Metaloproteinases e o seu papel no remodelamento vascular ............................. 25

5. Formação da camada neoíntima .................................................................................. 26

6. Os Glicosaminoglicanos e suas vias de atuação na trombose .................................... 27

7. A heparina não fracionada ........................................................................................... 27

7.1 Histórico ............................................................................................................................ 27

7.2 Estrutura e mecanismo de ação ......................................................................................... 28

8. Heparina de baixo peso molecular ............................................................................... 30

8.1 Estrutura e mecanismo de ação ......................................................................................... 30

9. O Dermatan Sulfato ...................................................................................................... 31

9.1 Estrutura de mecanismo de ação ....................................................................................... 31

10. Modelo de lesão arterial por cloreto férrico ............................................................... 33

II. OBJETIVO .......................................................................................................................... 35

Objetivo geral ........................................................................................................................ 35

Objetivos específicos ............................................................................................................. 35

III. MATERIAIS E METODOS ........................................................................................... 36

1. Animais ........................................................................................................................... 36

2. Grupos experimentais ................................................................................................... 36

3. Tratamentos com GAGs ............................................................................................... 36

4. Modelo de indução de trombose arterial ..................................................................... 37

5. Tempo de Trombose Arterial ....................................................................................... 38

6. Cálculo da área de trombo ........................................................................................... 39

7. Microscopia Intravital .................................................................................................. 39

8. Determinação do tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) ....................... 39

9. Determinação do tempo de protrombina (TP) ........................................................... 40

10. Determinação do Tempo de Sangramento (TS) ......................................................... 40

11. Análise Histológica ........................................................................................................ 41

12. Ensaio de Imunofluorescência ...................................................................................... 41

15. Agregação plaquetária .................................................................................................. 42

16. Análise Estatística ......................................................................................................... 43

IV. RESULTADOS ............................................................................................................... 44

1. Peso dos Animais ........................................................................................................... 44

2. Tempo de formação do trombo nos tratamentos com DS, Heparina e Heparina de

baixo peso molecular inicialmente após o procedimento cirúrgico .................................. 44

3. Área do trombo por histologia ..................................................................................... 45

4. Área do trombo por microscopia intravital ................................................................ 47

5. Formação de neoíntima é atenuada no tratamento com DS, Heparina e HBPM .... 49

6. GAGs alteram o TTPA, TP e TS ................................................................................. 51

7. Expressão de marcadores após tratamento com os GAGs ........................................ 54

7.2 Efeito de GAGs na migração de células progenitoras endoteliais ............................ 56

8. Expressão de moléculas marcadores de inflamação: CD11b e ICAM-1 .................. 58

9.1 CD11b .......................................................................................................................... 58

9.2 ICAM-1 ............................................................................................................................ 59

9. Análise da atividade gelatinolítica nas artérias carótidas .......................................... 61

10. Agregação plaquetária em diferentes tratamentos com GAGs ................................. 65

RESUMO DOS DADOS OBTIDOS .......................................................................................... 75

CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 77

ANEXO ....................................................................................................................................... 87

16

I. INTRODUÇÃO

1. Mortalidade por doenças cardiovasculares

De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde, aconteceram 17,5

milhões de mortes no ano de 2012 devido às doenças cardiovasculares, sendo que 7,4

milhões foram relacionadas a doenças cardíacas isquêmicas e 6,7 milhões ao acidente

vascular cerebral. Apenas em 1999, essas enfermidades representaram um terço da

mortalidade global, no qual os países mais pobres contribuíram com 78% do total

(Mackay et al., 2004). Segundo projeções para as próximas décadas, o número de mortes

por doenças cardiovasculares irá dobrar nos países em desenvolvimento (Boutayeb e

Boutayeb, 2005). O gráfico abaixo mostrado na figura 1 mostra a taxa de mortalidade por

doenças cardiovasculares no mundo no ano de 2012:

Figura 1. Morte por doenças cardiovasculares. Representam as maiores proporções de

morte no grupo de doenças crônicas não transmissíveis (NCDs) no mundo, ocorrendo

principalmente em países de baixa e média renda(Who, 2014).

17

Ainda de acordo com a WHO, a taxa de mortalidade por doenças crônicas não

transmissíveis no Brasil no ano de 2012 que incluem as doenças cardiovasculares,

doenças respiratórias, câncer, diabetes, entre outras, apresentaram como maior fator de

óbito as doenças cardiovasculares, como exemplificado na figura 2:

Figura 2. Proporção de óbitos por causa em 2012 no Brasil. As doenças

cardiovasculares foram e continuam a ser, apesar de sua diminuição, a principal causa de

morte no Brasil e geram o maior custo referente a internações hospitalares no sistema de

saúde nacional. Gráfico modificado do Atlas global do perfil de doenças crônicas não

transmissíveis por perfil de país, 2014.

(Http://www.who.int/nmh/countries/bra_en.pdf?ua=1).

A OMS destacou que aproximadamente 80% dos óbitos por doenças crônicas não

transmissíveis (doenças cardiovasculares, cânceres, doenças respiratórias crônicas e

diabetes) ocorreram em países de baixa ou média renda com 29% dos óbitos em adultos

com menos de 60 anos, menor renda e escolaridade, por serem exatamente a classe mais

exposta aos fatores de risco e com menor acesso às informações e aos serviços de saúde,

Injúrias; 12%

Condições

comunicável,mater

nal,perinatal e

nutricional ; 13%

Outras NCDs;

15%

Diabetes;

6%

Doenças

respiratórias; 6%

Câncer; 17%

Doenças

cardiovasculares;

31%

Proporção da taxa de mortalidade brasileira em 2012

18

acentuando ainda mais as desigualdades sociais enquanto naqueles de alta renda esse

percentual era de apenas 13% (Alwan et al., 2010).

Em consequência da gravidade das doenças cardiovasculares no atual cenário, essas

enfermidades são responsáveis por um grande impacto econômico nos sistemas de saúde

em todos os países (Roger et al., 2012). De acordo com os custos diretos dos sistemas de

saúde com as doenças cardiovasculares foi de aproximadamente € 106 bilhões em 2009

nos países da Europa; os custos totais levando em conta a perda de produtividade devido

à mortalidade e morbidade e os custos informais, chegam a € 195 bilhões.

2. O processo de trombose:

A Hemostasia é um processo fisiológico que garante o equilíbrio dinâmico da

forma fluida do sangue. Ao mesmo tempo em que previne que o sangue se solidifique

dentro dos vasos sanguíneos, impedindo a formação do trombo (trombose), a hemostasia

protege o organismo da perda sanguínea em um eventual rompimento de vasos

(hemorragia)(Zarbock et al., 2007). As células endoteliais formam o revestimento interno

da parede dos vasos da chamada íntima, esta camada deve estar íntegra pois sua função é

a regulação da homeostase do vaso e a troca de constituintes do sangue circulante para os

tecidos e órgãos, através das junções intercelulares, que, em geral, são impermeáveis às

grandes moléculas. As camadas de células endoteliais devem responder a uma variedade

de estímulos patológicos ajustando suas funções habituais e expressando novas

propriedades adquiridas quando há disfunção no vaso sanguíneo, onde ocorre um

desequilíbrio na produção endotelial de mediadores que regulam o tônus vascular,

agregação plaquetária, coagulação e fibrinólise.

A disfunção endotelial está presente em diversas doenças como obesidade,

diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia e em acidentes vasculares ou isquêmicos

como o acidente vascular cerebral (AVC) e a trombose. Estas doenças estão integradas a

fatores de risco herdados e/ou adquiridos, ou seja, algumas condições clínicas como

hipertensão, diabetes, câncer, inflamações, traumas e cirurgias podem aumentar a

incidência destes distúrbios hemostáticos (Lorenzi, 2006).

Nestas doenças as células endoteliais deixam de produzir as substâncias

responsáveis pela homeostase vascular que tornam o endotélio antitrombótico. Elas

passam a liberar então fatores pró-inflamatórios como moléculas de adesão celular e

19

citocinas que estimulam a migração e adesão de monócitos, linfócitos e neutrófilos para

o espaço subendotelial (Previtali et al., 2011) com consequente acontecimento de

processos inflamatórios e trombóticos.

Figura 3.Corte histológico de artéria de um camundongo. O vaso é composto por 3

túnicas (íntima, média e adventícia) sendo a camada íntima que reveste internamente o

vaso contém as células endoteliais. Corte corado com Hematoxilina e Eosina. Foto:

Andressa Costa

3. A trombose

Quando a integridade da parede vascular é interrompida, ocorre a ativação do

sistema hemostático. Este fenômeno envolve diversas interações entre componentes

endoteliais e subendoteliais, plaquetas e outras células sanguíneas periféricas e proteínas

pró-coagulantes circulantes (Hoffbrand et al., 2011) (Figura 4). Após a lesão vascular as

plaquetas encontram constituintes da matriz extracelular, especialmente o colágeno e são

ativadas. Em contato com a matriz, as plaquetas atuam de três formas: 1) aderem-se à ela;

2) secretam conteúdos de seus grânulos; 3) iniciam a agregação a outras plaquetas. As

plaquetas se aderem à matriz extracelular através do fator de von Willebrand (FvW) que

faz a ligação entre o colágeno e o receptor de glicoproteína Ib/IX-V plaquetário. A

secreção do conteúdo granular é promovida pela ligação de agonistas aos receptores de

superfícies nas plaquetas. O difosfato de adenosina (ADP) é um dos elementos secretados

e atua no recrutamento de mais plaquetas (Rondaij et al., 2006). A agregação plaquetária

induzida pelo ADP (contido no grânulo plaquetário), e pelo tromboxano A2 (também

sintetizado com a ativação plaquetária) leva a formação do tampão hemostático. Com a

Lúmen do vaso

Camada íntima do vaso

contendo células

Camada média do vaso

contendo células

musculares lisas

Camada adventícia

20

ativação de outros fatores da cascata de coagulação, a trombina gerada liga-se à superfície

plaquetária, resultando em mais agregação. O fibrinogênio é um outro fator atuante na

agregação plaquetária, que associa-se as plaquetas através de receptores de glicoproteínas

IIb/IIIa (Ruggeri e Mendolicchio, 2007). A Glicoproteína Ib/IX-V liga a plaqueta ao

FvW. (Alevriadou et al., 1993)

Figura 4. Recrutamento de plaquetas. A) A interação entre Gp plaquetária e o colágeno

é estabilizada pelo Fator de von Willebrand. A aderência plaquetária ocorre sobre o

colágeno da superfície subendotelial (endotélio lesado). B) Glicoproteínas da superfície

plaquetária são mediadoras da adesão e ativação plaquetária juntamente com o fator

tecidual (FT). Gp = Glicoproteína; FT = Fator Tecidual; FvW = Fator de von Willebrand.

Imagem: Andressa Costa.

Fibrinogênio Complexo II b-III a

A) Endotélio

Subendotélio

Camada média

GpIb/IX-V FvW

Plaquetas

Lesão vascular

FT FT

Fibrina

Camada média

B)

Adesão e agregação

(Plaquetas ativadas)

Lúmen

21

Simultaneamente a este processo, o sistema de coagulação se ativa através de

clivagens proteolíticas de zimogênios em enzimas. Recentemente foi proposto o novo

modelo de coagulação baseado em superfícies celulares, considerando a interrelação dos

processos físicos, celular e bioquímicos e não em duas vias (intrínseca e extrínseca) como

antes (Hoffman, 2003). O novo modelo propõe a ocorrência das fases de iniciação,

amplificação, propagação e finalização.

A fase de iniciação acontece quando células que expressam o fator tecidual (FT)

em sua superfície são expostas após lesão vascular (Vine, 2009). O FT liga-se ao FVII e

o ativa FVIIa, esse complexo é responsável pela ativação dos fatores FIX e FX. O fator

Xa em associação com o fator Va transforma pequenas quantidades de protrombina em

trombina. Na fase de amplificação pequenas quantidades de trombina produzidas por

células que expressam o FT interagem com as plaquetas e FVIII que está ligado ao fator

de von Willebrand. No processo de lesão as plaquetas interagem com componentes da

matriz extracelular exposta, onde são ativadas, resultando em um tampão plaquetário. A

trombina gerada é responsável pela ativação máxima de plaquetas. Dessa forma, inicia-

se a formação de fibrina estável, que consolida o tampão plaquetário inicial (Monroe e

Hoffman, 2009). As plaquetas também permitem a entrada de íons cálcio e expressão de

quimiocinas que atraem os fatores de coagulação para sua superfície, além de liberar o

FV parcialmente ativado. A fase de propagação é destacada pelo recrutamento de mais

plaquetas para o local lesionado e pela formação do complexo tenase e protrombinase na

superfície das plaquetas ativadas (Boucher e Traub, 2009). Nesse processo, o fator FIXa

liga-se ao fator FVIIIa na superfície de plaquetas (complexo tenase), este por sua vez

ativa o fator X em Xa, o qual associa-se com o fator Va que está ligado à plaqueta,

resultando no complexo protrombinase, que converte a protrombina em trombina, esta

quebra o fibrinogênio em fibrina, que é o principal componente de consolidação do

trombo (Riddel et al., 2007). O trombo de fibrina formado deve limitar-se ao local

lesionado para que não venha a ocorrer oclusão trombótica no vaso. Para isso,

anticoagulantes naturais agem nesse processo, como a antitrombina (AT), cofator II de

heparina, inibidor da via do fator tecidual (TFPI), a proteína C (PC) e proteína S (OS).

As células endoteliais produzem uma variedade de GAGs, que funcionam como sítios de

ligação, de alta afinidade, para a AT, que são importante na inativação da trombina

(Cerinic et al., 2003).

22

A atividade da coagulação sanguínea pode ser feita por análise laboratorial da

coagulação, in vitro, o teste de tromboplastina parcial ativada (TTPa) analisa os níveis de

fatores procoagulante envolvidos na produção de trombina na superfície de plaquetas e o

tempo de protrombina (TP) avalia os níveis de fatores procoagulante envolvidos na fase

de iniciação da coagulação (Spronk et al., 2003).

Figura 5. Novo modelo da cascata de coagulação. Representação do modelo da

coagulação baseado em superfícies celulares compreendendo as fases de iniciação,

amplificação e propagação. Fator tecidual (FT), ativado (a). (Ferreira et al., 2010)

Além da ativação de plaquetas e da cascata de coagulação, uma outra

característica da trombose é a inicialização de uma resposta inflamatória. Nesse processo

ocorre o recrutamento rápido de leucócitos do sangue para o local da lesão, sendo os

neutrófilos as primeiras células a chegarem no sítio (Muller, 2003). Na inflamação tanto

células endoteliais como leucócitos circulantes são ativados por citocinas inflamatórias

circulantes. A interação dos leucócitos ocorre por meio de seus receptores, L-selectinas

(presente em leucócitos e que promove a ligação leucócito e endotélio), com os receptores

P-selectinas (expresso pelo endotélio e plaqueta ativada), onde promovem uma adesão

fraca que produz a fase de rolamento dos leucócitos no endotélio (Mitchell et al., 2006).

23

A adesão firme de leucócitos ao endotélio ocorre em seguida ao rolamento e se dá

através de proteínas transmembranas de superfície celular, as integrinas, as quais irão se

ligar as imunoglobulinas expressas por células endoteliais(Stewart et al., 1995) (figura

5). Cada integrina contém cadeias α e β, definidas em relação a sua cadeia β: β1-integrinas

expressas por leucócitos irão interagir com a molécula de adesão celular vascular

(VCAM-1); β2-integrinas conhecidas são as LFA (também denominadas de CD11a/

CD18 OU αLβ2) e MAC-1 (conhecidas como CD11b/CD18 ou αMβ2). A MAC-1 e LFA-

1 são as moléculas mais estudadas pois atuam na adesão e na transmigração de leucócitos

pelo endotélio (Simon et al., 2000). As imunoglobulinas expressas pelo endotélio como

VCAM-1 (molécula de adesão celular vascular) e ICAM-1 (molécula de adesão

intercelular-1) são os principais receptores para as β2-integrinas dos leucócitos. O ICAM-

1 possui cinco domínios extracelulares, um ligado ao LFA (CD11a/CD18) e outro a

MAC-1 (CD11b/CD18) (Diacovo et al., 1996). Essas moléculas de adesão são

importantes pois fornecem ancoragem firme aos leucócitos (Schneider e Sobel, 2007). A

adesão e transmigração leucocitária são afetadas por mediadores químicos, os quais

podem gerar uma cascata capaz de ampliar e liberar outros fatores estimulantes, esses

mediadores podem ser agentes vasoativos como a histamina, serotonina, prostaglandinas,

leucotrienos e lipoxinas, proteínas plasmáticas, fator de ativação das plaquetas (PAF),

TNF-α, Interleucina-1 e óxido nítrico (Marcos Da Silveira, 2004).

24

Figura 6.Leucócitos no processo inflamatório. Adesão leucocitária é um evento

fundamental para o processo inflamatório, culminando com o carreamento de células de

defesa mediante ação de citocinas e moléculas de adesão. Entre as moléculas de adesão,

três grandes são conhecidas: as integrinas, imunoglobulinas e selectinas. Essas moléculas

coordenam as várias fases da adesão, rolamento e transmigração leucocitária ao endotélio,

contribuindo na resposta inflamatória aguda, segundo (Francischetti, 2010)

Após a formação do trombo e a migração de células inflamatórias, se inicia o

processo de reabsorção do trombo e do remodelamento do vaso, com produção de células

endoteliais, células musculares lisas e matriz extracelular que irão propiciar a regeneração

do tecido vascular. Um dos principais agentes responsáveis pelo remodelamento do vaso

são as enzimas do tipo metaloproteinases. Estas enzimas podem participar do

remodelamento positivo estimulando a modificação da matriz extracelular, crescimento

de células endoteliais e a reconstituição do endotélio funcional ou um processo negativo,

onde ocorre maior proliferação de células musculares lisas e de matriz para o lúmen do

vaso, levando a oclusão deste (Bosman e Stamenkovic, 2003).

25

4. As Metaloproteinases e o seu papel no remodelamento vascular

A angiogênese é a formação de novos vasos a partir de vaso pré-existentes, sendo

um processo estritamente regulado necessário durante a reprodução, desenvolvimento,

inflamação e reparo de lesões (Arnold, 1991). O remodelamento da matriz extracelular é

um evento crucial durante a angiogênese, onde as células endoteliais estimuladas por

fatores angiogênicos produzem enzimas que degradam a matriz, incluindo as

metaloproteinases (MMPs). As MMPs são uma grande família de metaloendopeptidases

que degradam componentes proteicos da matriz extracelular (MEC) e da membrana basal.

Existe um delicado balanço fisiológico entre degradação, reconstrução e remodelamento

dos colágenos na MEC. As MMPs apresentam especificidade por substratos como,

colágeno, colágenos da membrana basal, proteoglicanos, elastinas e fibronectinas.

Algumas MMPs, como MMP-2, MMP-3, MMP-9 e MMP-12 hidrolisam elastina e tem

importância na parede vascular arterial (Busti et al., 2010). As MMPs podem ser

conhecidas como colagenases (MMP-1, 8, 13 e 18), gelatinases (MMP-2 e 9)

estromelisinas (MMP-3, 10 e 11), matrilisinas (MMP-7 e 26) e MMPs de membrana ou

MT-MMPs (MMP-14, 15, 16, 17, 24 e 25). Quanto maior a sinalização e ação das MMPs

na MEC mais robusto será o mecanismo de reparo da síntese de colágeno recém-formado

(Hayden et al., 2005).

O balanço entre os níveis de MMPs e os seus inibidores teciduais (TIMPs) é

conhecido por ter um papel central no remodelamento vascular (Visse e Nagase, 2003).

Sob condições patológicas associadas com um desequilíbrio das atividades das MMPs,

mudanças nos níveis de TIMPs são consideradas importantes porque afetam diretamente

os níveis das atividades das MMPs. O desequilíbrio entre MMPs e TIMPs pode levar a

um excesso do acúmulo ou degradação de MEC (Bode e Maskos, 2003).

A MMP-2 é uma das gelatinases mais expressas por células endoteliais e células

musculares lisas e possui importante papel na angiogênese. MMP-2 está envolvida

também na formação de lesão aterosclerótica e neointima (Kuzuya et al., 2003). A MMP-

9 possui um papel fundamental na neovascularização através do efeito direto no

deslocamento de células progenitoras endoteliais (CPEs) da medula óssea para o tecido

isquêmico. A inibição de MMP-9 promove redução na mobilização CPEs e

vasculogênese, comprovado em animais MMP-9 (-/-) (Huang et al., 2009).

26

Uma alteração na atividade das MMPs pode estar diretamente relacionada com o

remodelamento positivo ou negativo do vaso lesionado (Giagtzidis et al., 2015). Após a

ativação da trombose, do processo inflamatório e da ativação das enzimas de matriz

extracelular o vaso começa o processo de recuperação, no qual poderá ou não resultar na

formação de neointima como será descrito a seguir.

5. Formação da camada neoíntima

O procedimento cirúrgico mais utilizado na restauração do fluxo sanguíneo

vascular após obstrução das artérias coronarianas é a angioplastia por implante de

próteses medicamentadas (stents), com taxa de lesões residuais menores que 50% e

ausência de complicações maiores que 90% (Bauters et al., 1996). A reestenose é a

principal limitação desses procedimentos, ocorre em cerca de 20 a 40% das desobstruções

feitas com sucesso. A reestenose desenvolve-se, fundamentalmente, nos primeiros meses

após a angioplastia, tendo máxima incidência entre o 3º e o 6º mês após o procedimento

(Marquez-Gonzalez et al., 2017).

Inicialmente após o procedimento cirúrgico, plaquetas e fibrina são depositadas

no vaso lesionado e as plaquetas ativadas expressam moléculas de adesão como as p-

selectinas, que interagem com prostanglandinas-1 (PSGL-1) na superfície dos leucócitos,

ocasionando a adesão e rolamento dos mesmos na superfície do vaso. A migração dos

leucócitos pela camada de plaquetas ocorre também por agentes quimiotáticos que são

liberados por células musculares lisas e macrófagos que estão na parede do vaso (Gawaz

et al., 1996).

A próxima etapa é a de proliferação celular que ocorre quando plaquetas,

leucócitos e células musculares lisas liberam fatores de crescimento e estimulam a

migração de mais células musculares lisas da camada média para a camada íntima,

formando a neoíntima. Esta consiste na proliferação exacerbada de células musculares

lisas, matriz extracelular e macrófagos durante o período de várias semanas (Schwartz Rs

Fau - Holmes et al., 1992). Dependendo do estímulo que recebe, as CMLs podem assumir

dois diferentes fenótipos. O fenótipo contrátil, ou quiescente, é o aspecto normal da CML

da camada média arterial ou fenótipo ativado ou proliferativo, que é a forma

predominante em vasos lesionados (Kocher et al., 1991). Após o período de meses é

observado o remodelamento vascular com a degradação de matriz extracelular e sua re-

27

síntese no lúmen do vaso juntamente com as CMLs proliferativas, reduzindo o diâmetro

do vaso e bloqueando a passagem de fluxo sanguíneo, sendo o principal mecanismo da

formação de neoíntima em artérias tratadas com implante de stent (Carter et al., 1994). A

necessidade de procedimentos diagnósticos e terapêuticos repetitivos determina um

marcante prejuízo à evolução dos pacientes que desenvolvem reestenose e tornam altos

os custos do tratamento.

Uma variedade de agentes terapêuticos tem sido empregada para tentar modular a

função vascular e regenerar as células endoteliais nos estágios pós-operatórios de

pacientes submetidos à angioplastia, dentre estes agentes, pode-se destacar a utilização

de glicosaminoglicanos, que estão diretamente envolvidos em processos anti-

inflamatórios, antitrombóticos e anticoagulantes.

6. Os Glicosaminoglicanos e suas vias de atuação na trombose

Os glicosaminoglicanos são heteropolissacarídeos de caráter ácido, compostos de

cadeias lineares de unidades dissacarídicas repetitivas, formadas por unidades alternadas

de hexosamina e um ácido urônico. Dentre os GAGs presentes em tecidos animais estão

a heparina, heparan sulfato, dermatan sulfato, condroitin 4 e 6 sulfato, queratam sulfato e

o ácido hialurônico (Taylor e Gallo, 2006). Muitos glicosaminoglicanos são utilizados

como drogas antitrombóticas e anticoagulantes no tratamento de doenças

cardiovasculares, portanto o estudo comparativo dos efeitos destas moléculas na

trombose e na revascularização do endotélio são de grande interesse atualmente.

7. A heparina não fracionada

7.1 Histórico

A heparina não fracionada (HNF) foi descoberta por McLean em 1916 que a

caracterizou como um eficiente anticoagulante, (Mc, 1959) utilizado mundialmente em

muitos distúrbios trombóticos arteriais e venosos, até os dias atuais. Conhecida por ser

um dos anticoagulantes mais antigos, ela é amplamente utilizada em medicina desde 1930

(Jaques, 1979). O seu principal mecanismo de ação consiste em acelerar em cerca de 1000

vezes, a velocidade com que a antitrombina (AT), uma proteína anticoagulante circulante

no plasma atua sobre as serino-proteases da cascata de coagulação sanguínea, dentre elas

a trombina e o fator X ativo (Rosenberg e Damus, 1973).

28

7.2 Estrutura e mecanismo de ação

A HNF é constituída por uma cadeia linear de tamanho variável entre 10 e 200

unidades dissacarídicas de glucosamina e ácido urônico, ligados através de ligações

glicosídicas α ou β (1 → 4). O ácido urônico pode ser ácido β-D-glicurônico (GlcA) ou

α-L-idurônico (IdoA), enquanto que a glucosamina pode ser apenas α-D-glucosamina

(GlcN) (Silva, 1975). A presença de vários grupos sulfatos ligados a HNF, conferem a

ela a maior densidade de carga aniônica que qualquer outra molécula biológica conhecida

(figura 7). Ela apresenta em média 3,5 cargas negativas por unidade dissacarídica (Nader

e Dietrich, 1994). A HNF é encontrada exclusivamente em grânulos secretores no interior

de mastócitos, enquanto o heparan sulfato é abundante em superfícies celulares, ligado a

receptores de diversos tecidos (Sasisekharan e Venkataraman, 2000).

Ela atua aumentando a ação inibitória exercida pelas serpinas, como a

antitrombina (AT) e o cofator II da heparina, uma outra proteína anticoagulante presente

no plasma. (Rosenberg e Lam, 1979) demonstraram a presença de uma sequência

pentassacarídica, na molécula de heparina, importante para a ligação com a AT. Essa

sequência contém uma unidade glucosamina, com um único grupo O-sulfato na posição

3, que é crítico para o papel anticoagulante da heparina (Choay et al., 1983) (Figura 6).

Figura 7.Sequência pentassacarídica de ligação entre HNF e AT. Seta vermelha: pode

ser GlcNAc6SO3 ou GlcNSO3,6SO3; seta verde: GlcNSO3-3, 6SO3; seta laranja: Glc;

seta preta: IdoA2SO3. O asterisco na seta laranja indica o resíduo de glucosamina

supersulfatado característico dessa unidade. Círculo amarelo: grupo sulfato essencial para

a interação com AT. (Casu et al., 2007).

A ligação HNF/AT causa uma mudança conformacional neste cofator, resultando

em uma inativação acelerada das serino-proteases como os fatores IXa, Xa, XIa, XIIa e

IIa (trombina)(Linhardt, 2003). Neste processo é formado um complexo covalente

AT/trombina/HNF que inativa a enzima ligada permanentemente. Aproximadamente,

*

29

apenas um terço das moléculas de HNF se liga à AT as quais contêm a sequência

pentassacarídica.

Figura 8.Inativação dos fatores de coagulação pelo complexo HNF + antitrombina. A trombina e o fator Xa são as proteínas mais suscetíveis, sendo a trombina 10 vezes mais

sensível à inibição que o fator Xa. Adaptado de (Hirsh et al., 1995)

A HNF atua também através da interação com o cofator II da heparina, inibindo

apenas a ação da trombina e não outras enzimas da cascata de coagulação (Young, 2008).

No mecanismo antitrombótico da HNF também se observa redução da atividade do

complexo fator tecidual/fator VIIa, pois há aumento do inibidor da via do fator tecidual

(TFPI) pelo endotélio e, também, há redistribuição do TFPI, com sua diminuição por ser

direcionado a superfície celular. O TFPI forma um complexo com fator Xa, inativando-

o, e este complexo inativa o complexo fator VIIa + fator tecidual (Lupu et al., 1999).

(Nader et al., 1989) demonstraram outro mecanismo de inibição antitrombótica e

observaram que ela aumentava, em cerca de 2 a 3 vezes, a síntese de heparan sulfato pelas

células endoteliais da aorta de coelhos, em meio de cultura, e que esse aumento ocorria

imediatamente após a exposição das células endoteliais à HNF. Demonstraram também,

que ocorria aumento do grau de sulfatação nos resíduos de ácido urônico do heparan

sulfato proveniente destas células.

A HNF é efetiva para prevenção e tratamento das tromboses arteriais, venosas e

embolia pulmonar. É também empregada no tratamento de pacientes com angina e infarto

agudo do miocárdio e em alguns casos iniciais de coagulação intravascular disseminada.

É importante durante cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea, hemodiálise,

30

cirurgia vascular, angioplastia e colocação de stents e endopróteses vasculares (Hirsh et

al., 2001).

Apesar de ser efetiva como droga e amplamente utilizada, seus efeitos adversos

levam a procura de outros substitutos. Dentre esses efeitos adversos pode-se citar a

hemorragia e a trombocitopenia induzida por heparina (TIH) (Gupta et al., 2015). A TIH

é uma resposta imunológica devido ao uso da HNF. Essa reposta é atribuída a anticorpos

que identificam a formação do complexo heparina mais fator plaquetário 4, os quais

ligam-se a esse complexo levando à formação de lesões no vaso, trombose e coagulação

disseminada podendo se expressar depois de cinco a sete dias ou até mesmo no primeiro

contato com o fármaco (Warkentin et al., 2008). A HNF também liga-se a proteínas

plasmáticas durante sua administração e células endoteliais, resultando em uma resposta

anticoagulante variável (Barzu et al., 1986). Além disso, o tratamento anticoagulante

com demanda monitoramento diário de sua atividade que, em geral, demanda

internação para a observação do paciente.

8. Heparina de baixo peso molecular

8.1 Estrutura e mecanismo de ação

Em 1980 teve início a introdução das heparinas de baixo peso molecular. As

HBPM são porções da heparina não fracionada produzidas pela despolimerização de

cadeias de polissacarídeos, seja quimicamente ou por uma reação enzímica, processo que

reduz seu peso molecular cerca de 4.000 a 6.000 Da. As HBPM são extraídas de mucosa

intestinal porcina (Fareed et al., 2004) e também do tecido pulmonar bovino (Andréo

Filho, 2009).

A interação da HBPM ocorre pela antitrombina, sendo mediada por uma

sequência de pentassacarídeo, a qual ocorre em menos de um terço das moléculas das

HBPM que está distribuída de forma aleatória ao longo de sua cadeia. Possuindo peso

molecular menor, a capacidade para inibir a trombina diminui, pois moléculas com menos

de 18 sacarídeos não são capazes de formar o complexo ternário heparina-AT-trombina

(Harenberg, 1990). Esta interação entre pentassacarídeo e antitrombina é também

responsável pelo efeito anticoagulante das HBPM, via inibição do fator Xa.

31

A redução do peso molecular reflete no mecanismo de inibição sobre a trombina

e o fator Xa. A trombina, além de converter o fibrinogênio, promove uma

retroalimentação positiva ativando os fatores V e VIII. Como as HBPM possuem baixa

atividade inibitória de trombina devido ao seu tamanho reduzido, não são capazes de

impedir a formação dos fatores V e VIII, importantes complexos procoagulante (Holmer

et al., 1986). Há, portanto, diferença entre a potência das HBPM e HNF, cuja atividade

anticoagulante permanece maior.

As HBPM possuem menor interação com as plaquetas, fator de von Willebrand,

endotélio e atuam menos sobre a permeabilidade vascular, o que proporcionaria menor

ocorrência de processos hemorrágicos em relação as heparinas não fracionadas

(Horlocker e Heit, 1997). Possuem uma meia-vida plasmática duas a quatro vezes maior

do que as heparinas não fracionadas, além de maior absorção subcutânea, o que permite

a aplicação de doses mais espaçadas. O monitoramento laboratorial é dispensável na

maioria dos pacientes, consequência da sua relação dose-efeito (Hull et al., 1992). Este

melhor perfil de desempenho das HBPM reflete-se em seu custo que é cerca de 10 a 20

vezes maior. A meia-vida da atividade de inibição do fator Xa das HBPM varia entre 3 e

10 minutos após injeção intravenosa e entre 3 e 5 horas após injeção subcutânea

apresentando variação também entre uma e outra HBPM (Andrassy e Eschenfelder, 1996)

9. O Dermatan Sulfato

9.1 Estrutura de mecanismo de ação

O dermatan sulfato é um glicosaminoglicano composto de cadeias lineares

polissacarídicas formadas por unidades dissacarídicas contendo uma hexosamina, N-

acetil galactosamina (GalNAC) ou ácido idurônico (GlcA) unidos por ligações β 1→4 ou

β 1→3 respectivamente.

O dermatan Sulfato possui um mecanismo de ação na coagulação como inibidor

seletivo da trombina através da catálise do cofator II da heparina (Tovar, M. F. et al.,

2005). Diferente das heparinas não fracionadas e de baixo peso molecular, o dermatan

sulfato não influencia na antitrombina III e, portanto, não inibe o Fator Xa. Ele é efetivo

não somente na trombina livre, mas também na trombina ligada à fibrina. O dermatan

sulfato não interfere com as plaquetas ou na função plaquetária. Assim, quando complexo

32

cofator II de heparina e DS é formado, o efeito anticoagulante é aumentado em até 1000

vezes (Tollefsen, 2007).

Figura 9.Estrutura do Dermatan Sulfato. Possui alta afinidade para o cofator II de

heparina. Um pequeno fragmento de DS que se liga ao HCII com alta afinidade é um

hexassacarídeo contendo 3 unidades dissacarídicas de IdoA2SO3 → GalNAc4SO3

(Maimone e Tollefsen, 1990).

Foi observado que o DS é o principal polissacarídeo antitrombótico e

anticoagulante nas paredes dos vasos sanguíneos de artéria aorta humana e veia safena

em relação aos outros GAGs, em tecidos afetados pela aterosclerose. Foi observado haver

uma mudança entre a proporção de heparan sulfato/dermatan ao longo do

desenvolvimento da doença no vaso afetado (Tovar, A. M. et al., 2005). Foi demostrando

por (He et al., 2008) que o DS está localizado principalmente na camada adventícia da

artéria carótida e que após a injúria arterial o HCII é capaz de se difundir do plasma para

esta camada onde é ativado.

Um estudo de nosso laboratório demonstrou que o DS foi capaz de diminuir a

presença de P-selectina (moléculas de adesão presente no endotélio que promove a adesão

de leucócitos às células endoteliais ativadas durante a resposta inflamatória) no local da

lesão vascular, indicando uma possível função antiinflamatória desse GAG (Godoy et al.,

2015). (Vicente et al., 2007) demonstraram que a administração de dermatan sulfato 48

horas após a injúria vascular inibiu a formação da neointima em camundongos normais,

mas não em camundongos deficientes de HCII. Em outro trabalho de nosso laboratório

observamos que a administração de células mononucleares da medula óssea de

camundongos C57BL6 juntamente com o DS ajudou a prevenir formação da neoíntima

após lesão arterial e aumentou a migração destas células para o local da lesão arterial

(Godoy et al., 2011).

33

10. Modelo de lesão arterial por cloreto férrico

Estudo in vivo em modelos de animais são críticos para melhor entendimento dos

mecanismos envolvidos em desordens trombóticas (Bayes-Genis et al., 2000). Dentre os

diversos métodos utilizados para induzir a formação do trombo em modelos de animais,

encontra-se o modelo químico utilizando o cloreto férrico (FeCl3).

Em 1994, o FeCl3 foi inicialmente utilizado na veia cava inferior de coelhos a fim

de induzir a trombose (Reimann-Hunziker, 1944), este método foi adaptado para carótida

de ratos em 1990 por Kurz e colaboradores mostrando que uma solução de FeCl3 aplicada

na artéria carótida exposta de ratos, induzia trombose oclusiva. Em 1998, o modelo de

trombose arterial causada pelo FeCl3 foi adaptado para camundongos no estudo da

deficiência do inibidor do ativador do plasminogênio (Konstantinides et al., 2001).

Um dos benefícios desse modelo é que diferentes concentrações de cloreto férrico

geram lesões de níveis diferentes e consequentemente, tempo de oclusão do vaso

sanguíneo variado. Dessa forma, com estabelecimento da concentração de FeCl3 e tempo

de aplicação, a técnica tem se mostrado reprodutível (Ciciliano et al., 2015).

Este modelo é simples e sensitivo, tanto a drogas anticoagulantes como

antiplaquetárias, motivo pelo qual foi escolhido como modelo para estudo neste trabalho.

Tem sido realizado em artérias carótida e femoral, veia jugular, arteríolas e vênulas

mesentérica e cremastérica em ratos, camundongos, mini pigs e coelhos (Wiedermann et

al., 1994; Hehrlein et al., 1996; Day et al., 2004)

A técnica consiste na colocação de um papel filtro com medida de um mm²

embebido em FeCl3 sobre o vaso e deixado por alguns minutos. A lesão é devida à

capacidade do cloreto férrico de penetrar a parede vascular, causando desnudação de

células endoteliais e expondo o subendotélio juntamente com fibras de colágeno. A

exposição ativa a cascata de coagulação, culminando com formação de trombo e posterior

crescimento da camada neointimal (Eckly et al., 2011)

Neste modelo o tempo de oclusão é considerado como o tempo ocorrido após o

início da lesão vascular até a completa oclusão do vaso através da interrupção do fluxo

sanguíneo, que pode ser medido por um equipamento de aferição de fluxo de Doppler ou

análise com microscopia intravital. Trabalhos anteriores utilizando camundongos

C57BL6 observaram um tempo de oclusão variando de 5 a 30 minutos, devido as

34

diferentes concentrações de FeCl3 que são utilizadas, tempo de exposição, tipos de

anestesia, técnicas cirúrgicas, a idade e o background genético dos animais, o método de

medição do fluxo sanguíneo, e outras variáveis ambientais surtirão efeito significativo

neste modelo (Robertson et al., 2009; Owens e Mackman, 2010).

35

II. OBJETIVO

Objetivo geral

Analisar o efeito do dermatan sulfato, heparina e heparina de baixo peso molecular

na formação e dissolução do trombo na artéria carótida, remodelamento e reendotelização

do vaso após lesão arterial promovida por cloreto ferrico in vivo.

Objetivos específicos

1. Determinar o tempo de trombose e o tamanho de trombo arterial no tempo

imediatamente após a lesão química com cloreto férrico nos diferentes grupos

tratados com GAGs (tempo zero);

2. Avaliar a influência dos tratamentos dos diferentes GAGs no tempo de

sangramento, tempo de trombina e tempo de tromboplastina parcial ativada no

plasma obtido dos animais tratados;

3. Observar o processo de recuperação do vaso após lesão arterial através da

quantificação de células progenitoras endoteliais para o local da lesão (células

CD34) e de células endoteliais (CD31) nos diferentes grupos tratados com GAGs;

4. Avaliar a influência dos GAGs na inflamação inicial pela presença células

inflamatórias no vaso (CD11b e ICAM-1);

5. Analisar a influência dos diferentes GAGs na formação da camada neointima

quatorze dias após a lesão química;

6. Quantificar a atividade das metaloproteinases (gelatinases) no remodelamento

vascular, observando a atividade destas nos vasos em diferentes tratamentos com

GAGs.

36

III. MATERIAIS E METODOS

1. Animais

Foram utilizados camundongos machos selvagens de linhagem C57BL/6

adquiridos no CEMIB/UNICAMP, mantidos em biotério do Departamento de Biologia

Celular e Estrutural da UNICAMP sob responsabilidade da Profa. Dra. Cristina Pontes

Vicente. Este trabalho teve a aprovação do comitê de ética da UNICAMP (CEUA n°

3892-1).

2. Grupos experimentais

Neste estudo foram testadas quatro condições de tratamento em camundongos

C57BL/6: i) animais lesionados e não tratados ii) animais lesionados e tratados com

dermatan sulfato iii) animais lesionados e tratados com heparina não fracionada iv)

animais lesionados e tratados com heparina de baixo peso molecular.

Os quatro grupos de animais foram analisados sob as circunstâncias:

3. Tratamentos com GAGs

Nos grupos de animais com lesão arterial (LA) e analisados imediatamente após

a lesão (tempo 0) a administração foi realizada da seguinte forma:

HNF – administração intravenosa (Cristália, SP) (1 mg/kg animal), 10 minutos

antes do procedimento de lesão arterial ocorrer;

37

HBPM – administração intravenosa (Clexane) (1 mg/kg animal), 10 minutos antes

do procedimento de lesão arterial ocorrer;

DS – administração intravenosa (Sigma, Saint Louis, MO) (10 mg/kg animal), 10

minutos antes do procedimento de lesão arterial ocorrer;

Nos grupos de animais com lesão arterial e analisados 14 dias após a

administração foi realizada da seguinte forma:

HNF – administração intravenosa (1 mg/kg animal), 10 minutos antes do

procedimento de lesão arterial ocorrer; 12 horas, 24 horas e 48 horas após a lesão

arterial ocorrer;

HBPM – administração intravenosa (1 mg/kg animal), 10 minutos antes do

procedimento de lesão arterial ocorrer; 12 horas, 24 horas e 48 horas após a lesão

arterial ocorrer;

DS – administração intravenosa (10 mg/kg animal), 10 minutos antes do

procedimento de lesão arterial ocorrer; 12 horas, 24 horas e 48 horas após a lesão

arterial ocorrer.

4. Modelo de indução de trombose arterial

Camundongos pesando 25g entre 6-7 semanas de idade foram anestesiados com

16 mg/kg de cloridrato de xilazina 2% e 100 mg/kg de ketamina. Após uma incisão na

cervical média e após isolar a artéria carótida comum direita (figura 10A e 10B), foi

provocada a lesão química (figura 10C). Colocou-se sobre a artéria um papel de 1mm²

(Whatmann 3MM) previamente preparado com 15% de concentração de cloreto férrico,

por 2 minutos (figura 10C), após este tempo o papel foi removido e o vaso lavado com

PBS para evitar lesões em locais indesejados. Depois desse procedimento, foi posicionada

uma sonda de ultrassom abaixo do vaso para medição do fluxo sanguíneo. A mensuração

do fluxo foi registrada usando um modelo de ultrassom (Transonic System TS 420)

(figura 10D). Foram utilizados 6 camundongos por grupo.

Para a preparação do papel com cloreto férrico, cortou-se papeis filtro no tamanho

de 1 mm², sendo estes embebidos em uma solução de 15% de cloreto férrico por 24h.

Após este tempo estes papeis foram secos em estufa por um período de 1h, e utilizados

então, para o procedimento de lesão arterial.

38

Figura 10.Modelo de indução de lesão por cloreto ferrico. (A e B) Isolamento da

artéria carótida comum, (C) indução da trombose arterial com papel saturado com cloreto

férrico, (D) posicionamento da sonda de ultrassom para medição do fluxo sanguíneo.

5. Tempo de Trombose Arterial

Após a denudação arterial por modelo de cloreto férrico mencionada

anteriormente, foi posicionada uma sonda de ultrasson (Transonic Flowprobe MAO 5

PBS) no vaso lesionado, e o fluxo sanguíneo registrado pelo programa DATAQ. O tempo

entre a retirada do papel contendo a solução de cloreto férrico e o posicionamento da

sonda de ultrasson na artéria carótida não ultrapassou o tempo de 1 minuto nos animais

analisados.

Para o tempo de oclusão foi utilizada uma medida do tempo entre o fluxo inicial

e o tempo onde o fluxo parou por oclusão do vaso pela formação do trombo. Foi medido

o tempo de oclusão nos animais lesionados sem tratamento, lesionado e tratados com

heparina, lesionados e tratados com HBPM, lesionados e tratados com DS.

39

6. Cálculo da área de trombo

A área de trombo analisada no tempo inicial após lesão arterial foi calculada pela

subtração da área oclusa de lúmen da área total encoberta pela lâmina elástica interna. A

área média foi calculada, em μm², pela subtração da área encoberta pela lâmina elástica

interna da lâmina elástica externa.

7. Microscopia Intravital

A análise da formação de trombo nas artérias carótidas por meio da microscopia

intravital foi realizada nos 4 grupos: 1) Lesão arterial e não tratado, 2) Lesão arterial e

tratado com DS, 3) Lesão arterial e tratado Heparina e 4) Lesão arterial e tratado com

HBPM.

A administração dos fármacos nos respectivos grupos foi feita como descrito no

item 3, 10 minutos antes do procedimento de lesão ocorrer por cloreto férrico acontecer.

Após esse período, foi aplicada na veia da cauda desses animais uma solução de

Rodamina 6G na concentração de 0,1% em água (Sigma Aldrich, St Louis-USA). A

Rodamina 6G é um corante fluorescente que tem afinidade pela membrana mitocondrial,

que cora plaquetas e glóbulos brancos, excluindo os eritrócitos. Injetada a solução, os

animais foram lesionados na artéria carótida direita com o papel embebido em solução de

cloreto ferrico 15% por 2 minutos. As imagens foram captadas com auxílio de câmera

Axiocam HSm e o experimento foi realizado no microscópio modelo Carl Zeiss Imager.

A.2 gentilmente cedido pelo prof. Fábio Maranhão Costa. A filmagem foi feita por 12

minutos e as fotos obtidas nos tempos 0, 5 e 10 min foram analisadas para a verificação

do tamanho do trombo. Após a captura de imagens, o software ImageJ foi utilizado para

medição da fração do trombo formado no vaso nos três tempos analisados (0, 5 e 10

minutos).

8. Determinação do tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA)

O TTPa é o tempo medido entre a adição de cálcio, na presença de uma cefalina

(fator de contato) e a coagulação do plasma. A presença de um fator de contato (cefalina)

ativa as reações da via intrínseca da coagulação. O TTPa corresponde ao tempo gasto para

ocorrer a coagulação do plasma recalcificado em presença de cefalina. Esta substitui o

fosfolipídio da membrana plaquetária. O TTPa foi medido no plasma com citrato de sódio

3,8% de camundongos selvagens nos grupos controle, lesão tratados com DS, lesão

40

tratados com Heparina e lesão tratados com HBPM utilizando o kit TTPA Clot (Bios

Diagnostica, SP). Em cada grupo foi feita a análise 12 e 24 após a lesão arterial, avaliada

em triplicata. Para cada grupo foi utilizado n=3 animais.

O teste é usado na avaliação da via intrínseca de coagulação e monitoramento de

terapias com agentes anticoagulantes. O ensaio foi realizado da seguinte maneira: 50 uL

de amostras foram pré-aquecidas à 37°C durante 2 minutos em um bloco térmico; foram

adicionados 50uL de reagente de TTPA clot ao tubo e incubou-se por 2 minutos à 37°C.

Em seguida, adicionou-se 50 uL de cloreto de cálcio (CaCl2 pré-aquecido à 37°C) e

iniciou-se a medição do tempo no coagulômetro CLOTimer (Clot, S.P, Brasil).

9. Determinação do tempo de protrombina (TP)

O TP avalia a atividade extrínseca do sistema de coagulação. O reagente para

análise contém fator tecidual, fosfolipídios e cálcio. A determinação do tempo de

protrombina é adequada para acompanhamento de terapias com drogas antitrombóticas.

O tempo de protrombina foi dosado em plasma citratado (1 parte de citrato de sódio 3,8%:

9 partes de sangue venoso) de camundongos nos 4 grupos citados anteriormente neste

estudo. A análise foi feita utilizando-se o kit TP Clot (Bios Diagnostica, SP). O ensaio

foi realizado da seguinte maneira: pipetou-se em uma cubeta pré-aquecida à 37°C 50uL

de plasma e incubou-se por 1 minuto à 37°C; adicionou-se 100uL de reagente para teste

de protrombina previamente preparado e também pré-aquecido à 37°C. Com a adição do

reagente, iniciou-se a medição no coagulômetro (tempo medido em segundos). As

amostras foram feitas em triplicata para cada grupo de animal, onde foi utilizado n=3

animais.

10. Determinação do Tempo de Sangramento (TS)

Realizou-se uma incisão longitudinal de 3 mm de comprimento por 2 mm de

profundidade, na face ventral da cauda do animal, entre 1,5 cm do final desta, evitando-

se grandes veias. A cauda foi mergulhada em uma proveta com solução salina a 37ºC

(Dejana et al., 1979). O tempo de sangramento foi mensurado desde o momento da incisão

até o final do sangramento (Liu et al.; Broze et al., 2001).

41

11. Análise Histológica

As artérias carótidas obtidas nos diferentes tempos foram coletadas e embebidas

em OCT (Tissue Tek Optimal Cutting temperature compound, Torrance – USA), e

armazenadas no biofreezer a -80°C. Em seguida foram feitos cortes transversais de 8 µm

de espessura em criostato, com 20 lâminas de cada vaso com 5 cortes por lâmina, também

armazenados em biofreezer a -80°C. Os cortes foram descongelados e as lâminas 1, 5, 10,

15 e a 20 foram coradas com hematoxilina-eosina. As lâminas foram montadas com

Cytoseal 60 (Richard Allan Scientific) e examinadas em microscópio Olympus BX600.

As imagens foram feitas com câmera Olympus Optical U-ULH e analisadas com o

programa ImageJ. Para a área de trombo foi escolhido o corte com maior obstrução ao

longo do vaso, e a área do trombo foi calculada pela subtração da área ocluída do vaso

pela área total do vaso delimitada pela lâmina elástica.

12. Ensaio de Imunofluorescência

Realizou-se imunohistoquímica para a análise de marcadores expressos pelas

células no vaso. Para isso, foram utilizados os anticorpos rat anti-mouse CD 31

(Invitrogen), para a visualização das células endoteliais maduras, para que houvesse uma

análise da capacidade dos glicosaminoglicanos na proteção dessas células após a

denudação endotelial, rat anti mouse CD 34 (eBioscience), um marcador para células

progenitoras endoteliais para que se identificasse a mobilidade destas para o vaso após

lesão, o rat anti-mouse CD11b, característicos de células leucocitárias envolvidas na

inflamação e anti-ICAM-1 (eBioscience, San Diego, CA), molécula de adesão

intercelular envolvida na transmigração de leucócitos. Os anticorpos foram diluídos

conforme instruções do fabricante, e depois de incubados por pelo menos 2 horas, lavou-

se para retirar o excesso de anticorpo e incubou-se com o anticorpo secundário anti-rat

FITC (eBiocience) por 45 minutos. Em seguidas as amostras foram lavadas e os núcleos

corados com DAPI por 15 minutos. As lâminas foram montadas e examinou-se em

microscópio Olympus BX600. As imagens foram feitas com câmera Olympus Optical U-

ULH. Após revelação das imagens, utilizou-se o programa ImageJ para quantificação

das marcações fluorescentes dos cortes de artérias carótidas. Uma lâmina sem o anticorpo

primário (controle negativo) foi feita para subtração da autofluorescência das artérias. Em

cada lâmina contendo cinco cortes, foi escolhido o corte com mais marcações. Para cada

grupo analisado, foram utilizadas três lâminas diferentes de animais.

42

13. Cálculo área da neoíntima

A área de neoíntima analisada 14 dias após lesão arterial foi calculada pela

subtração da área de neoíntima formada no lúmen da área total encoberta pela lâmina

elástica interna. A área média foi calculada, em μm², pela subtração da área encoberta

pela lâmina elástica interna da lâmina elástica externa.

14. Zimografia ‘in situ’

Metaloproteinases (MMPs), como as colagenases, gelatinases degradam

colágeno, gelatina e outros componentes da matriz extracelular, contribuindo no processo

inflamatório e mediando o remodelamento vascular. As principais gelatinases envolvidas

no processo de remodelamento tecidual são MMP-2 e MMP-9. A atividade destas

enzimas foi analisada artérias carótidas obtidas dos diferentes grupos de tratamento.

Considerou-se o aumento da fluorescência como proporcional a atividade proteolítica das

gelatinases. As artérias carótidas foram obtidas como descrito anteriormente; os cortes

foram incubados em câmara úmida escura por 2 horas com 100 μg/mL de DQ gelatina

em solução tampão de acordo com as instruções do fabricante. Depois os cortes foram

analisados com microscópio de fluorescência (Observer Z1, Zeiss) usando lentes

objetivas de 20x e câmera AxioCam MRm (Zeiss) e as imagens capturadas usando o

programa AxioVision Release 4.8.2.0. A atividade proteolítica foi detectada por um

aumento da intensidade de fluorescência devido à atividade gelatinolítica, e a intensidade

de fluorescência nos diferentes cortes foi quantificada no programa Image J (NIH). O

corte apresentando maior fluorescência foi selecionado. Foi feita lâmina sem a solução

de DQ-gelatina como controle negativo. Foram utilizados n=3 animais em cada grupo. A

análise de zimografia ‘in situ’ foi feita no tempo inicial após lesão arterial e 14 dias após

lesão arterial.

15. Agregação plaquetária

Realizou-se a coleta de sangue venoso periférico humano de doador em jejum

(período de 12 horas) em tubos contendo citrato de sódio a 3,2%. Após a centrifugação

do sangue por 15 minutos a 100xg foi obtido o plasma rico em plaqueta (PRP) e por 20

minutos a 2400xg para obtenção do plasma pobre em plaqueta (PPP). Para medição da

agregação foi utilizado um agregômetro de dois canais (490-2D, Chrono-log Corporation,

Havertown, PA, USA). A calibração inicial do aparelho foi feita com concentração de

43

500 μL de PPP. Em cada amostra foi utilizado 500 μL de PRP, o qual foi mantido em

37°C antes de iniciar o ensaio. Após isso, adicionou-se o agente agonista trombina na

concentração de 0,25 U/ml no plasma e mediu-se a agregação plaquetária por 14 minutos.

Os grupos analisados foram controle: PRP+ trombina; DS: PRP + dermatan sulfato +

trombina; Heparina: PRP + Heparina+ trombina e HBPM: PRP + HBPM + trombina.

16. Análise Estatística

A análise de cada grupo individual foi expressa pela média ± desvio-padrão. A

avaliação da média entre os grupos foi realizada através do teste Mann Whitney, com

critério de significância estatística p≤ 0,05.

44

IV. RESULTADOS

1. Peso dos Animais

Não houve diferença estatisticamente significativa no peso dos animais, entre os grupos

experimentais (p < 0,05).

2. Tempo de formação do trombo nos tratamentos com DS, Heparina e

Heparina de baixo peso molecular inicialmente após o procedimento cirúrgico

A trombose foi induzida no vaso conforme descrito anteriormente, através da

lesão por cloreto férrico a 15% de concentração na artéria carótida comum direita. Após

a lesão, posicionou-se uma sonda de ultrassom no local para medição do tempo de oclusão

do vaso (figura 11). A formação de trombo no grupo lesionado e não tratado com GAG

foi de 5,5 minutos ( ± 0,5); nos animais lesionados e tratados com a heparina de baixo

peso molecular 10,3 minutos ( ± 0,51 com p=0,02); em animais tratados com dermatan

sulfato ocorreu no tempo de 14,6 (± 0,51 com p=0,02) e nos animais lesionados e tratados

com heparina (30,8 ± 2,0 com p<0,01). Todos os grupos foram significativamente

maiores que o controle com p<0.05. (Figura 10).

O DS aumentou o tempo de oclusão em 2,8x em relação ao controle e 1,4x mais

que a HBPM. A Heparina aumentou o tempo de oclusão 6x em relação ao controle, cerca

de 2x mais que o DS e em 3x mais que HBPM. A HBPM prolongou em 2x o tempo de

oclusão em relação ao controle.

45

Figura 11. Tempo de formação do trombo na artéria carótida. O tempo de formação

do trombo foi medido através da colocação da sonda de ultrassom na artéria carótida

direita dos animais e retirada após completa oclusão do vaso pela lesão por cloreto férrico.

Média do tempo de oclusão da artéria em animais controle, tratados com HBPM, tratados

com DS e tratados com Heparina, sendo n= 6 em cada grupo. Diferença significativa com

p<0,05 em relação ao controle representada por (*).

3. Área do trombo por histologia

Para medição da formação de trombo no vaso, as artérias carótidas foram

coletadas no tempo inicialmente após a lesão com cloreto férrico e mantidas em OCT.

Depois, foram realizados cortes histológicos e coloração HE (Hematoxilina e Eosina)

para posterior análise da área do trombo através do programa Image J (figura 12).

O grupo de animais lesionados e não tratados obtiveram média de porcentagem

de trombo arterial imediatamente após a lesão de 86,5% ± 4,72 (figura 12A). No grupo

de animais lesionados e tratados com a HBPM a média observada foi de 80,4% ± 5,0

(figura 12B). Em animais lesionados e tratados com o dermatan sulfato, essa média foi

de 50,8% ± 4,33 (figura12C). A média nos grupos lesionados e tratados com a heparina

foi de 30% ± 3,47 (figura 12D).

O tratamento no grupo de animais lesionados e injetados com HBPM foi capaz de

diminuir a formação de trombo em aproximadamente 20% (p=0,03 16433,48 vs.

132125,17); no grupo lesionado e tratado com o DS houve diferença significativa (p=

0

5

10

15

20

25

30

35

Lesão sem

tratamento

Lesão + DS Lesão+ Heparina Lesão + HBPM

Min

uto

s

Tempo de oclusão arterial

*

*

*

46

0,02), onde o tratamento conseguiu a diminuição na formação de trombo em

aproximadamente 45% em relação à formação de trombo no grupo controle (164334,8

vs. 90055,47); no grupo lesionado e tratado com heparina houve diferença significativa

em relação ao grupo controle sendo a formação de trombo aproximadamente 67% menor

(p=0,01 16433,48 vs. 53737,47). A heparina, portanto, mostrou maior eficiência em

diminuir o trombo arterial e o tratamento com HBPM mostrou menor capacidade neste

processo. O tratamento com DS obteve formação de trombo nos vasos em cerca de 1,4x

menor (43% p=0,02) em relação a HBPM.

Figura 12. Análise da formação de trombo por histologia. Corte transversais de vasos

arteriais de camundongos C57BL/6 foram analisados pela técnica de coloração

Hematoxilina e Eosina. (A) artéria lesionada e não tratada, (B) artéria lesionada e tratada

com 1 mg/kg de HBPM, (C) artéria lesionada e tratada com DS em concentração de 10

mg/kg, (D) artéria lesionada e tratada com heparina com concentração de 1 mg/kg. Seta

azul indica deposição de Fe3+ decorrente do processo de lesão. Barra= 50 μm

A B

A

A

C

A

D

A

47

Figura 13.Porcentagem de formação de trombo. Porcentagem da área do trombo

quantificada através de cortes transversais de vasos com maior incidência de trombo em

cada grupo de animais e analisados pelo programa ImageJ. As colunas representam os

valores médios de cada grupo e o desvio padrão n = 6. Diferença estatística representada

por (*) com p≤0,05. Barra = 50μm.

4. Área do trombo por microscopia intravital

Após analisar o tempo de oclusão arterial com a sonda de ultrasson e a área do

trombo mediante o corte histológico dos mesmos, optou-se por analisar a dinâmica de

formação e desenvolvimento do trombo através da microscopia intravital sob diferentes

tratamentos com GAGs em três momentos: tempo inicial (tempo 0), 3 minutos e 10

minutos após lesão arterial com FeCl3 (figura 14).

No grupo controle de animais lesionados e não tratados, notamos que no tempo

inicial há presença de trombo, o qual aumenta no vaso no tempo de 3 minutos. Em 10

minutos, este trombo ocupa a totalidade no lúmen. Nos animais lesionados e tratados com

dermatan sulfato, observamos que no tempo 0 não há evidência da formação de trombo,

porém aos 3 minutos vemos um indício da formação desse trombo na artéria; aos 10

minutos vemos a formação do trombo de forma não oclusiva, com a área

significativamente menor em relação ao grupo controle. No grupo de animais lesionados

e tratados com heparina no tempo inicial não observamos a processo de formação de

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Lesão sem

tratamento

Lesão + DS Lesão + Heparina Lesão + HBPM

% P

orc

enta

gem

Área do trombo arterial

*

*

*

48

trombo, aos 3 minutos não há evidência da presença do trombo. Aos 10 minutos vemos o

início do trombo ser formado, com a área deste significativamente menor em relação ao

grupo controle e ao grupo lesionados + DS. Em animais lesionados e tratados com HBPM

notamos que no tempo 0 há presença de trombo. Este aumenta ao longo do tempo, aos 3

minutos ocupa grande parte do lúmen e aos 10 minutos o trombo apresenta indícios de

embolização como representado na seta abaixo:

Figura 14.Formação de trombo por microscopia intravital. Após a lesão química com

cloreto férrico, a formação de trombo nas artérias carótidas foi observada por 12 minutos

nos grupos lesionados sem tratamentos, lesionados tratados com DS, lesionados tratados

Lesão sem

tratamento

Lesão + DS

Lesão +Heparina

Lesão + HBPM

0 minutos 3 minutos 10 minutos

10x

5x

5x

5x

49

com heparina e lesionados tratados com HBPM. Aumentos de 5x e 10x. Microscópio

Intravital Zeiss – Imager A2.

5. Formação de neoíntima é atenuada no tratamento com DS, Heparina e

HBPM

Dados anteriores observados em nosso laboratório (Sielski, 2015) demonstraram

que 14 dias após a lesão arterial, a proliferação de células musculares lisas já está

estabelecida, ocupando cerca 90% do lúmen do vaso, com células musculares lisas. Por

isso optamos por utilizar este tempo em nossos experimentos. Por análise histológica

escolhemos o corte com a maior formação de neointima ao longo do vaso e a partir destes

foi calculada a área de neointima. (figura 16.I). Em nossos resultados observamos que a

área média de neoíntima ocupada no lúmen do vaso nos animais controle foi de 88%

(figura 16B), em animais tratados com DS 12,79% (figura 16C); com heparina 22,35%

(figura 16D) e com HBPM 71,4%. (Figura 16E). O DS obteve média de inibição de

neoíntima 13,7% maior que Heparina (p=0,04) e 58,8% maior que o HBPM (p=0,02).

Apesar de observar intensa proliferação de células musculares lisas no lúmen do

vaso, representada pelas setas pretas nas imagens abaixo, em nenhum dos tratamentos

houve aumento significativo da camada média do vaso, indicando que o método de lesão

arterial que utilizamos não lesiona a lâmina elástica o que em geral pode promover um

aumento significativo da camada media. (Figura 17).

A B

I)

50

Figura 15.Análise da porcentagem da área de neointima 14 dias após lesão arterial.

Figura I) Cortes transversais de artérias carótidas esquerdas coradas com Hematoxilina

e Eosina. Camundongos C57BL/6 tratados e não tratados com os glicosaminoglicanos 14

dias após lesão arterial com cloreto férrico. (A) artéria não lesionada sem presença de

trombo, (B) artéria lesionada e não tratada, (C) artéria lesionada e tratada com DS em

concentração de 10 mg/kg, (D) artéria lesionada tratada com Heparina com concentração

de 1 mg/kg e (E) artéria lesionada tratada com HBPM com concentração de 1 mg/kg.

Barra= 50 μm. Figura II) Porcentagem da área de neointima quantificada como descrita

em materiais e métodos. As colunas representam os valores médios de cada grupo e o

desvio padrão. Utilizado n=6 animais em cada grupo. Diferença estatística representada

por (*) p≤0,05. Barra = 50μm

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Lesão sem

tratamento

Lesão + DS Lesão + Heparina Lesão + HBPM

% P

orc

enta

gem

Área da neoíntima

* *

C D E

II)

51

Figura 16.Área da camada média (μm2). Quantificada através da subtração da medida

da lâmina elástica interna pela lâmina elástica externa do vaso. As colunas representam

os valores médios para cada grupo ± desvio padrão; n=6 para cada grupo.

6. GAGs alteram o TTPA, TP e TS

Como o tratamento com os três GAGs aumentam o tempo de formação de trombo

nas artérias, optou-se por realizar testes de coagulação in vitro para o acompanhamento

da capacidade anticoagulante e antitrombótica dessas drogas. Realizamos três testes,

TTPA, TP e TS.

Observou-se um prolongamento do TTPa em todos os grupos analisados no

período de 12 horas após a lesão arterial quando comparados aos animais do grupo

controle: animais tratados com heparina prolongaram o TTPA em 5 vezes (503%) (240

vs. 39,8 segundos p <0,05); animais tratados com DS prolongaram o TTPA em 1,7 vezes

(73,4%) (69,03 vs. 39,8 segundos p <0,05) e animais tratados HBPM prolongaram o

TTPA em 1,9 vezes (90%) (75,68 vs. 39,8 segundos p<0,05). Em 24 horas, os animais

injetados com heparina apresentaram aumento do TTPa em 1,4 vezes (146%) em relação

ao grupo de animais lesionados e não tratados (89,6 vs. 36,3 segundos p<0,05); em

animais injetados com DS houve aumento do TTPA em 1 vez aproximadamente (8,8%)

em relação ao grupo de animais sem tratamento (39,5 vs. 36,3 p>0,05) considerado não

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

90000

Lesão sem

tratamento

Lesão + DS Lesão + Heparina Lesão + HBPM

Esc

ala

m2

Área da camada média

52

significativo; animais tratados com HBPM diminuíram o TTPa em 10,8%. (32,4 vs. 36,3

p > 0,05) e não obtiveram diferença significativa (figura 18).

Figura 17.Tempo Parcial de Tromboplastina ativada (TTPa). O TTPa foi dosado em

plasma de camundongos C57BL/6 12 e 24 após lesão química provocada por cloreto

ferrico na artéria carótida comum. Os grupos analisados foram: Lesão (sem tratamento),

Lesão tratados com Heparina, Lesão tratados com DS e Lesão tratados com HBPM. (*).

Representa significância estatística entre os grupos. Experimento feito para n=3 animais

em cada grupo feito em triplicata. (*) Representa significância em relação ao grupo

controle (p≤0,05).

Em relação ao tempo de sangramento (TS), no tempo de 40 minutos após o

procedimento de lesão arterial o aumento foi de 370% no grupo de animais injetados com

heparina (p≤0,01 400 vs. 85 segundos), nos animais tratados com DS o aumento foi de

48% (p =0,02 126,3 vs. 85 segundos), animais tratados com HBPM o aumento foi de

22,3% (p=0,07 104 vs. 85 segundos) considerado não significativo. No período de 12

horas observou-se um aumento em todos os grupos analisados: em animais tratados com

heparina o TS prolongou em 305% em relação ao grupo de animais lesionados sem

tratamento (p=0,01 381,3 vs. 94 segundos); animais tratados com DS o TS prolongou-se

em 39% considerado não significativo (p >0,05 131,4 vs. 94 segundos) e em animais

tratados com HBPM o TS prolongou-se em 20%, considerado não significativo (p>0,05

113,3 vs. 94 segundos). No período de 24 horas houve um aumento do TS em 269% em

animais tratados com heparina (p<0,05 339,5 vs. 92 segundos), considerado significativo;

0

50

100

150

200

250

300

12 horas 24 horas

Tem

po

-se

gu

nd

os

Tempo de Tromboplastina parcial ativada

(TTPA)

Lesão sem tratamento

Lesão + DS

Lesão + Heparina

Lesão + HBPM

*

* * *

53

animais tratados com DS o aumento foi de 46% (p <0,05 135 vs. 92 segundos) houve

diferença significativa e em animais tratados com HBPM o aumento foi de 30,4% (p >

0,05 120 vs. 92 segundos) considerado não significativo (figura 19.II).

Figura 18.Tempo de sangramento. Figura I) Imagem dos tubos obtidos durante a

medida do tempo de sangramento nos grupos tratados e não tratado. (A) grupo lesionado

e não tratado, (B) grupo lesionado e tratado com DS, (C) grupo lesionado tratado com

heparina e (D) grupo lesionado tratado com HBPM. Figura II) O tempo entre a incisão

e a interrupção do sangramento foi cronometrado e considerado como o TS. O TS foi

calculado em camundongos C57BL/6 40 minutos, 12 e 24 horas após lesão química

promovida por cloreto férrico. Experimento feito para n=3 animais em cada grupo. (*).

Representa significância estatística em relação ao grupo controle (p≤0,05)

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

40 minutos 12 horas 24 horas

Tem

po

-se

gun

do

s

Tempo

Tempo de sangramentoLesão sem tratamento

Lesão + DS

Lesão + Heparina

Lesão + HBPM

* *

*

*

C

A

D

A

A

A

B

A

I)

II)

*

54

O tempo de protrombina (TP) foi dosado e apenas nos grupos de animais tratados

com heparina foram observados aumentos do TP (22,8%), porém esse aumento não foi

considerado significativo comparado ao grupo controle (figura 20).

Figura 19.TP dosado em camundongos C57BL/6 no período de 12 e 24 horas após o

procedimento de lesão arterial. Experimento feito para n=3 animais em cada grupo feito

em triplicata.

7. Expressão de marcadores após tratamento com os GAGs

Após o tempo imediato do procedimento de lesão arterial, as artérias carótidas dos

diferentes grupos foram coletadas, emblocadas e feito cortes histológicos nos grupos.

Realizou-se a técnica de imunofluorescência nos cortes usando os seguintes marcadores

CD31 conjugado com anti rat FITC (Figura 19), CD34 conjugado com anti rat FITC

(Figura 21), CD11b conjugada com anti rat FITC (figura 22) e ICAM-1 conjugada com

anti rat FITC (Figura 23).

7.1 Extensão da lesão arterial por lesão com cloreto férrico

Utilizamos a marcação com o anticorpo anti CD31 para identificar presença de

células endoteliais após os tratamentos com os GAGs, deste modo podemos verificar a

extensão da lesão arterial em cada grupo e se o tratamento prévio com os GAGS altera a

0

5

10

15

20

25

12 horas 24 horas

Tem

po

-se

gun

do

s

Tempo

Tempo de protrombina

Lesão sem tratamento

Lesão + DS

Lesão + Heparina

Lesão + HBPM

55

extensão da lesão. De acordo com os resultados, o processo de injúria nos vasos

demonstrou a perda de 64,7% de células endoteliais em animais lesionados e não tratados

(figura 21B), em animais tratados com DS a perda foi de 51,2% (figura 21C), com HBPM

23,4% (figura 21D) e com Heparina 31,4% (figura 21E). Assim, a média de desnudação

endotelial do grupo DS não foi significativamente diferente do controle. Entretanto,

apresentou vasos com maiores perdas de endotélio em comparação aos tratados com HNF

e HBPM (p= 0.008). Embora apresente maior lesão arterial o DS conseguiu diminuir a

velocidade de formação de trombo em comparação com o grupo controle (ver Figura 12).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Sem lesão Lesão sem

tratamento

Lesão + DS Lesão +

Heparina

Lesão + HBPM

Inte

nsi

dad

e d

e F

luore

scên

cia

Expressão de células CD31+ após lesão

* *

E

A

A

D

D

A

A

F

A

A

A C

A

A

B I)

I)

II)

56

Figura 20.Extensão da lesão arterial provocada por cloreto férrico. Figura I) Imunofluorescência da artéria carótida usando anticorpo anti-CD31 conjugado com FITC

no tempo imediatamente após a lesão. (A) Artéria não lesionada. (B) Artéria lesionada de

animais sem tratamento; (C) Artéria lesionada de animais tratados com DS; (D) Artéria

lesionada de animais tratados com HBPM; (E) Artéria de animais lesionada e tratados

com Heparina; (F) Artéria sem adição de anticorpo primário (F). Figura II) A quantidade

de células CD31 foi determinada através da contagem das mesmas. Resultados de

expressão com valores médios ± desvio padrão. Barra = 50μm. Contagem para n = 4

animais em cada grupo. (*). Representa em relação ao grupo controle (p<0,05)

7.2 Efeito de GAGs na migração de células progenitoras endoteliais

Após quantificar a perda de células endoteliais nas artérias carótidas após lesão

química, nós analisamos a migração de células progenitoras endoteliais (CPEs) para o

local de lesão. Utilizou-se corte das artérias carótidas inicialmente após o procedimento

de lesão química de animais tratados com dermatan (figura C), tratados com heparina

(figura D), animais tratados com HBPM (figura E) e compararam-se os resultados com

cortes de artérias carótidas de animais lesionados e não tratados (Figura B).

De acordo com os dados, os vasos arteriais de animais lesionados e tratados com

DS acumularam 3 vezes mais células progenitoras marcadas para o local de injúria em

comparação ao grupo de animais lesionados e não tratados ( p <0,005 n=4); o grupo de

animais lesionados e tratados com HBPM acumularam cerca de 2,5 vezes mais células

progenitoras na parede arterial (p<0,005 n=4); animais lesionados e tratados com HNF

acumularam cerca de 3,5 vezes mais células progenitoras no local da lesão (p<0,005 n=4)

arterial em relação ao animais não tratados (figura 22.II). Em relação aos três GAGs, não

houve diferença significativa nos resultados (p=0,08).

57

Figura 21.Contagem de células CD34+ na artéria após lesão provocada por cloreto

férrico. Figura I) Imunofluorescência da artéria carótida usando anticorpo anti-CD34

conjugado com FITC no tempo imediatamente após a lesão. (A) Artéria sem adição de

anticorpo primário; (B) Artéria lesionada de animais sem tratamento; (C) lesionados e

tratados com DS; (D) lesionados e tratados com Heparina e (E) Artéria lesionada de

animais tratados com HBPM. Figura II) A quantidade de células CD34 foi determinada

através da contagem por marcações de intensidade de fluorescência no programa Imagej.

Resultados expressão como valores médios ± desvio padrão. Barra = 50μm. Contagem

para n = 4 animais em cada grupo. (*). Representa significância estatística em relação ao

grupo controle (p<0,05).

0

10

20

30

40

50

60

70

Lesão sem tratamento Lesão + DS Lesão + Heparina Lesão + HBPM

Inte

nsi

dad

e d

e Fl

uo

resn

cên

cia

Expressão de células CD34+ após lesão arterial

E

*

*

*

A C B

D

II)

58

8. Expressão de moléculas marcadores de inflamação: CD11b e ICAM-1

9.1 CD11b

O recrutamento de células CD11b+ foi determinada contando-se a quantidade de

células presente no local da lesão no tempo inicial após o procedimento de injúria arterial

na presença ou ausência de glicosaminoglicanos. O anticorpo anti-CD11b usado nos

ensaios imunohistoquímicos detecta leucócitos em diferentes estágios de maturação.

(figura 23 A,B,C,D).

O tratamento com DS diminuiu o recrutamento de células CD11b+ na parede

vascular após a injúria arterial em aproximadamente 39,6% (figura 23C) (p=0,03).

Animais que foram lesionados e receberam injeções de HBPM obtiveram redução das

células leucocitárias em aproximadamente 14,11% (figura 23E) (p > 0,005); animais que

foram tratados com HNF obtiveram redução de células leucocitárias em 10,89% (23D) (p

> 0,005 n=3 animais). Esses dados indicam que o DS mostrou grande capacidade em

inibir células inflamatórias até o local da lesão arterial, no tratamento com HBPM a

inibição ocorreu de modo inferior ao DS e interessantemente, no tratamento com heparina

essa inibição não aconteceu.

I)

A B

A

C

D

A

E

A

59

Figura 22.Contagem de células CD11b+ na artéria. Resultados de expressão como

valores médios ± desvio padrão. Contagem para n = 4 animais em cada grupo. Figura

I) Imunofluorescência da artéria carótida usando anticorpo anti-CD11b conjugado com

FITC no tempo imediatamente após a lesão. (A) Artéria sem anticorpo primário (controle

negativo); (B) Artéria lesionada de animais sem tratamento. (C) Artéria lesionada de

animais tratados com DS; (D) artéria de animais tratados com Heparina; (E) artéria de

animais tratados com HBPM e (E) artéria de animais sem adição de anticorpo primário

(controle negativo). Figura II) A quantidade de células CD11b foi determinada através da

contagem por marcações de intensidade de fluorescência no programa Imagej. Setas

vermelhas indicam leucócitos ao redor, lúmen e fora do vaso. Resultados de expressão

como valores médios ± desvio padrão. Barra = 50 μm. (*). Representa significância

estatística em relação ao grupo controle (p≤0,05)

9.2 ICAM-1

A presença das moléculas de adesão intercelular-1 (ICAM-1) foi determinada

contando-se a quantidade de células presentes no vaso no tempo inicial após o

procedimento de injúria arterial na presença ou ausência de glicosaminoglicanos. Este

tempo foi escolhido pois a expressão dessa molécula ocorre nas primeiras horas após

lesão e promove o recrutamento das células inflamatórias neste local. O anticorpo anti-

ICAM usado nos ensaios imunohistoquímicos identifica a molécula de ICAM que é

expressa na superfície de células endoteliais, epiteliais, macrófagos e fibroblastos em

condições inflamatórias aguda. As alterações dos níveis destas moléculas podem indicar

0

20

40

60

80

100

120

Lesão sem

tratamento

Lesão + DS Lesão + Heparina Lesão + HBPM

Inte

nsi

da

de

de

flu

ore

scên

cia

Expressão de células CD11b+ após lesão arterial

E

II)

*

60

um aumento ou diminuição do processo inflamatório na parede dos vasos lesionados. Em

relação ao grupo de animais controle, o tratamento com DS foi capaz de diminuir a

marcação de ICAM-1 nas artérias em 37,5%, porém essa diminuição não foi significativa

(p=0,08) ; animais tratados com HNF diminuíram 15,6% e animais tratados com HBPM

diminuíram a expressão de ICAM-1 em 25,1%, ambos não significativo (p= 0,1).

0

20

40

60

80

100

120

140

Lesão sem

tratamento

Lesão + DS Lesão + Heparina Lesão + HBPM

Inte

nsi

dad

e d

e fl

uore

scên

cia

Expressão de ICAM-1

A E

I)

61

Figura 23.Contagem de ICAM-1. Resultados de expressão como valores médios ±

desvio padrão. Contagem para n = 4 animais em cada grupo. Figura I)

Imunofluorescência da artéria carótida usando anticorpo anti-CD11b conjugado com

FITC no tempo imediatamente após a lesão. (A) Artéria sem adição de anticorpo primário

(controle negativo); (B) Artéria lesionada de animais sem tratamento. (C) Artéria

lesionada de animais tratados com DS; (D) artéria de animais tratados com Heparina; (E)

artéria de animais tratados com HBPM. Resultados de expressão como valores médios ±

desvio padrão. Barra = 50 μm. Figura II) A quantidade de moléculas de ICAM-1 foi

determinada através da contagem por marcação de intensidade de fluorescência no

programa Imagej.

9. Análise da atividade gelatinolítica nas artérias carótidas

A análise da atividade de gelatinases ‘in situ’ foi feita após o procedimento

cirúrgico e após 14 dias. Para tal utilizamos a DQ gelatina, que é um substrato

fluorogênico usado para a identificação da atividade de proteases com alta sensibilidade.

Esse substrato é composto por gelatina conjugada com fluoresceína (FITC); caso ocorra

a digestão proteolítica, há revelação de uma fluorescência verde, a qual pode ser usada

para medir a atividade enzimática. Para medição de tal atividade, analisamos os cortes

corados e determinamos a intensidade de fluorescência com o programa ImageJ. Foi

utilizado n=3 animais em cada grupo. Para a determinação da fluorescência específica,

subtraímos a fluorescência natural da lâmina elástica, pois estas apresentam uma

autofluorescência característica, do valor encontrado nas artérias incubadas com DQ

gelatina, figura 24.I (M). A administração de DS promoveu uma diminuição de 41,5% na

atividade gelatinolítica nas artérias carótidas (figura D-F) quando comparado ao controle

(A-C) (30824,6 vs. 52675,5 p=0,04). Nos grupos com heparina houve diminuição em

11,8% dessas gelatinases (figura G-I) (465053,3 vs. 526755 p=0,2) e com HBPM houve

diminuição em 12,1% (figura J-L)(463300,3 vs. 526755 p=0,2). Em relação aos três

GAGs, o DS diminuiu a expressão de MMPs 29,7% a mais que a HNF (p=0,05) e 29,3%

a mais que a HBPM (p=0,05).

62

M

B

A

Lesão + sem

tratamento

Lesão + DS

Lesão + Heparina

A B C

G

F

Lesão + HBPM

E D

H

K L

Atividade de gelatinases – tempo inicial

I

J

I) DAPI DQ-Gelatina DAPI + DQ-Gelatina

Sem adição de

DQ-Gelatina

L N

L

M

63

Figura 24.Atividade de metaloproteinases no vaso no tempo inicial após a lesão.

Figura I) Zimografia realizada com o uso de DQ-gelatina conjugada com fluoresceína

(FITC) (Invitrogen); a expressão foi analisada subtraindo-se a auto-fluorescência do

tecido da fluorescência presente nas lâminas submetidas à técnica. 1a coluna: núcleos

corados com DAPI (A, D, G); 2a coluna: Artérias com DQ-gelatina; (B, E, F); 3a coluna:

sobreposição de imagens (C, F, I) e artéria sem adição de DQ-gelatina para análise da

subtração fluorescência natural da lâmina elástica (J, K, L). Barra = 50μm. Figura II)

Análise de densidade integrada da atividade proteolítica de gelatinases quantificada no

software ImageJ. (*). Representa significância estatística em relação ao grupo controle

(p≤0,05).

No período de 14 dias após lesão química nas artérias carótidas, observou-se que

a atividade de gelatinases diminuiu 71,44% (p=0,02) no grupo administrado DS; nos

grupos administrado HNF houve diminuição da atividade de gelatinases em que alcançou

78,44% (p=0,02) e nos grupos de animais em que foi administrado HBPM não houve

diferença significativa (figura 25.II). O DS e a Heparina não apresentaram diferença

estatística entre eles quanto a atividade de gelatinases (p=0,09). Em animais tratados com

DS houve diminuição significativa da atividade de MMPs em 29,4% em comparação a

animais tratados com HBPM (p=0,03).

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Lesão sem

tratamento

Lesão + DS Lesão + Heparina Lesão + HBPM

Den

sid

ad

e In

teg

rad

a (

DI)

II)

*

64

Atividade de gelatinases -14 dias

M N O

Sem adição de

DQ-gelatina

Lesão + HBPM

Lesão + sem

tratamento

Lesão + DS

Lesão + Heparina

A B C

DAPI

I) DQ-Gelatina

F

DAPI + DQ-Gelatina

E D

G H I

J K L

65

Figura 25.Atividade de gelatinases no vaso 14 dias após a lesão. Figura I) Zimografia

in situ realizada com o uso de DQ-gelatina conjugada com fluoresceína (FITC), os vasos

foram contracorados com DAPI para a visualização dos núcleos. Figura II) Análise de

densidade integrada da atividade proteolítica de gelatinases quantificada no software

ImageJ. (*) Representa significância em relação ao grupo controle (p≤0,05). N=3 animais

em cada grupo.

10. Agregação plaquetária em diferentes tratamentos com GAGs

Com a finalidade de monitorar o efeito da terapia com os GAGs, analisou-se a

atividade agregante das plaquetas na presença de dermatan sulfato, heparina e heparina

de baixo peso molecular. O ensaio foi realizado in vitro utilizando-se a trombina como

agonista do processo de agregação na concentração de 0,25 U/ml. A trombina é uma

serina protease conhecida por ser o mais potente indutor da agregação e ativação

plaquetária, sendo responsável pela conversão do fibrinogênio em fibrina na coagulação.

O perfil de agregação das plaquetas foi analisado ao longo de 14 minutos e pode

ser observado nas imagens abaixo: o gráfico com curva de agregação destacado em cor

preta representa o grupo controle, onde há presença do plasma rico em plaqueta (PRP) e

trombina. A média dos controles de todos os grupos obteve agregação em 97,4%. O

tratamento com DS apresentou valor de agregação em 46,7% durante o tempo estipulado

(figura 15A) com diferença estatisticamente significativa (p<0,05). Em contato com a

0

50

100

150

200

250

Lesão sem

tratamento

Lesão + DS Lesão + Heparina Lesão + HBPM

Den

sid

ad

e I

nte

gra

da

(D

I)Atividade de gelatinases - 14 dias

*

*

II)

66

heparina, a agregação plaquetária mostrou-se evidentemente menor chegando ao valor de

2% com diferença significativa em relação ao grupo controle (p<0,05) (figura 15B).

Ensaios com a HBPM mostraram uma taxa de agregação plaquetária em 79%, sendo que

esta taxa não apresentou diferença estatística em relação ao grupo controle (p>0,05)

(figura 15C).

0

20

40

60

80

100

120

Controle DS Heparina HBPM

% P

orc

enta

gem

de

agre

gaç

ão

Agregação plaquetária

a) Dermatan sulfato c) HBPM

*

*

b) Heparina

67

Figura 26.Agregação de plaquetas. I) Representação da curva de agregação das

plaquetas sob tratamento com DS, Heparina e HBPM em 14 minutos na presença de

trombina. A linha azul do gráfico indica o plasma rico em plaquetas + drogas analisadas

+ trombina e a linha preta do gráfico indica o grupo controle (plasma rico em plaqueta +

trombina). II) Porcentagem em gráfico da agregação plaquetária, a imagem abaixo do

gráfico indica plaquetas agregadas após os ensaios. a) plasma + trombina; b) plasma+

DS+ trombina; c) plasma + heparina trombina; d) plasma + HBPM + trombina. (*) indica

diferença estatística em relação ao grupo controle (p≤0,05). N=1 em triplicata.

A

A B

A

C

B

A

A

D

B

A

A

68

DISCUSSÃO

Uma variedade de agentes terapêuticos tem sido empregada para tentar modular a

disfunção vascular e regenerar o endotélio após a lesão vascular. Neste trabalho, nós

utilizamos a terapia com três diferentes glicosaminoglicanos heparina não fracionada,

heparina de baixo peso molecular e dermatan sulfato em camundongos C57Bl6/J como

forma de modulação na trombose arterial, com possível atuação na diminuição do trombo

e da formação de neoíntima com restenose do vaso.

Para isso, nós usamos o modelo físico e químico para a perda do endotélio por

cloreto férrico, devido à ampla aplicabilidade do mesmo em diversos modelos animais, a

facilidade de reprodução da técnica, uma vez estabelecida a concentração do cloreto

férrico, além de não exigir equipamentos específicos ou caros (Tseng et al., 2006) e ainda

segundo (Farrehi et al., 1998) trombos induzidos por esta técnica em camundongos são

ricos em plaquetas e são muito semelhantes aos trombos arteriais humanos. A

concentração de FeCl3 utilizada para denudação endotelial varia muito, podendo ser de

2,5 % a 80%. Em nosso laboratório utilizamos o modelo de denudação endotelial com

uma concentração de 15% (Sielski, 2015).

Este trabalho estabelece pela primeira vez em nosso laboratório o uso da técnica

de denudação endotelial para indução da trombose por cloreto férrico em artérias

carótidas em grupos de animais C57Bl6 que foram tratados com Heparina e Heparina de

baixo peso molecular, visto que não há dados descritos em literatura com este modelo.

Em nosso trabalho nós analisamos o tempo de formação completa do trombo

inicialmente após a lesão por cloreto férrico em cada grupo de animais tratados com

glicosaminoglicanos e observamos que no grupo de animais em que foram aplicadas

injeções de heparina na concentração de 1 mg/kg, o tempo de formação do trombo ocorreu

em trinta minutos e no grupo tratado com injeções de HBPM na concentração de 1 mg/kg

o tempo de formação do trombo ocorreu em dez minutos. Quando comparamos as 2

heparinas com o DS vimos que este prolonga o tempo de trombose para 14,6 min,

apresentando um valor intermediário entre a heparina e a HBPM. Nós também

observamos que a área do trombo formado no lúmen dos vasos sanguíneos em todos os

grupos, foi estatisticamente menor no grupo de animais tratados com heparina; no grupo

de animais tratados com HBPM a área do trombo observada foi maior em relação ao

69

tratamento com os demais GAGs e o tamanho do trombo com DS foi intermediário

também, assim como o tempo de trombose. O dermatan sulfato atua como agente

antitrombótico através da interação com o cofator II de heparina, uma molécula da família

das serpinas que inibe a trombina e que ao ligar-se com o DS, inibe a trombina pelo menos

mil vezes mais rápido(He et al., 2008). Estudos anteriores demonstraram que a injeção

de DS é capaz de inibir a atividade de trombina presente na parede vascular após injúria

arterial (Vicente et al., 2004) e que o HCII migra do sangue circulante para a camada

adventícia após lesão arterial, onde ele se co-localiza com o DS na parede arterial (Vicente

et al., 2007). Outro estudo em coelhos evidenciou que o DS previne trombose venosa

com um menor efeito hemorrágico que a heparina: observou-se que o máximo de efeito

de antitrombótico se obtinha com 70 μg de DS e 500 μg de Heparina e que um aumento

de 20 vezes na dose de heparina causava sangramento. Em contraste, um aumento de 40

vezes na dose de DS não aumentou o sangramento(Bendayan et al., 1994). Utilizamos

concentração de dermatan sulfato de 10 mg/kg peso do animal e observamos que o tempo

de formação do trombo ocorreu em aproximadamente quinze minutos, a área do trombo

observada estatisticamente mostrou-se menor quando comparada aos animais tratados do

grupo controle e aos animais tratados com HBPM e não foi observado efeito hemorrágico.

Como observamos um prolongamento dos tempos de trombose nos animais

tratados com os GAGs, verificamos o efeito destes no tempo de sangramento, TTPA e

TT. O TTPA foi prolongado no tratamento com heparina, HBPM e DS nas primeiras 12

horas após lesão arterial. Esses dados demonstram que a heparina e a hbpm exerceram

seus efeitos através da ligação com a antitrombina. No caso da heparina sabe-se que seu

efeito culmina com a inibição de fatores de coagulação como IXa, Xa, XIa, XIIa e da

trombina através da formação do complexo antitrombina-heparina que se liga as serina

proteases da cascata de coagulação deste modo produzindo seu efeito (Danielsson et al.,

1986). No caso da HBMP seu efeito está diretamente relacionado a inibição do fator Xa,

por isso seu efeito é mais controlado que o observado com a heparina. O DS também

mostrou efeito anticoagulante ao prolongar o TTPa nas doses administradas. No período

de 24 horas, o TTPa apresentou uma diminuição em todos os grupos, voltando aos níveis

controle no DS e HBPM pois os níveis desses GAGs no organismo diminuem, logo a

capacidade anticoagulante diminui. Como a dose de heparina utilizada é considerada alta,

espera-se que seu efeito anticoagulante no teste de TTPa ainda se mantivesse alto.

70

O TP mostrou-se prolongado no grupo de animais lesionados e tratados com

heparina. A ação anticoagulante da heparina baseia-se fundamentalmente no efeito

inibidor sobre a trombina e o fator X ativado. A heparina de baixo peso molecular que

não apresenta longevidade suficiente para catalisar a inibição da trombina, produz efeito

anticoagulante por inibição do fator Xa pela antitrombina. Em concordância com alguns

estudos anteriores, não foram evidenciadas alterações do TP nos grupos tratados com

HBPM (Palareti et al., 1989; Monreal et al., 1993; Decarolis et al., 2012). O tratamento

com DS não prolongou o TP, evidenciando que a ação inibitória de DS ocorre pela

interação com o cofator II de heparina presente.(Sie et al., 1993)

O tempo de sangramento (TS) foi avaliado aos 40 minutos com o intuito de se

observar os valores dos mesmos no momento inicial após a trombose, 12 e 24 horas após

lesão endotelial. Observou-se aumento em todos tempos analisados nos grupos de animais

tratados com heparina, sugerindo a atuação da heparina na diminuição plaquetária,

consequente à inibição da trombina (Colman et al., 1994). Não houve alteração

significativa do TS nos animais tratados com HBPM em relação ao grupo controle.

Resultados similares com HBPM foram encontrados nos trabalhos de (Carter et al., 1982)

analisando o TS em coelhos, (Andriuoli et al., 1985) observou em ratos,(Nimmerfall e

Mischke, 1999) analisaram o TS em cachorros tratados com HBPM e (Lim et al., 2004)

em pacientes humanos com insuficiência renal que estavam sob o procedimento de

hemodiálise. Animais tratados com DS obtiveram prolongamento no tempo de

sangramento 40 minutos e 24 horas após lesão, porém esse efeito mostrou-se menor em

relação a heparina. Iacoviello et al. (1996) mostraram efeito similar do DS em modelo de

lesão arterial abdominal em ratos, onde o TS foi significativamente menor em relação aos

animais tratados heparina em dosagens iguais de 8 mg/kg.

Os testes de coagulação dessa forma, demonstram dados interessantes que

podemos associar aos experimentos do tempo de trombose arterial: os animais tratados

com HNF obtiveram maior tempo de formação e menor área de trombo como já citado

anteriormente, em contrapartida apresentaram de forma drástica um aumento nos testes

de TTPA e TS considerado fora do padrão médio para os valores apresentados. Animais

tratados com DS aumentaram o tempo de formação e diminuíram a área de trombo

significativamente em relação ao grupo controle e a HBPM apresentaram um aumento

significativo nos testes de coagulação, porém, em comparação com a HNF mostrou-se

significativamente baixo. E em animais tratados com HBPM o tempo de formação do

71

trombo foi maior e a área mostrou-se menor e nos testes de coagulação observamos que

apenas no período de 12 horas após lesão arterial houve um prolongamento do TTPA.

Os dados dos testes de coagulação e do tempo de trombose arterial podem ser

também correlacionados com os resultados de agregação plaquetária, onde os animais

tratados com a HNF apresentaram significativamente menor agregação de plaquetas em

relação ao grupo controle e em relação aos demais grupos de animais. O grupo tratado

com DS demonstrou menor agregação de plaquetas e diferentemente do aumento do

tempo de trombose em animais tratados com HBPM, não foi observada diferença

significativa na agregação plaquetária neste grupo em relação ao grupo controle.

A reação vascular à lesão endotelial ocorre após a denudação endotelial e está

associada a deposição de plaquetas e leucócitos e outras moléculas inflamatórias. Após

algumas semanas, células musculares lisas iniciam a migrar e a proliferar para a camada

íntima com deposição de matriz extracelular no lúmen do vaso. A trombose pode servir

de base para a formação de neoíntima(Waller et al., 1991). Em nosso trabalho observamos

que em animais C57BL6 lesionados na artéria carótida, a formação de neoíntima foi

maior nos grupos que receberam injeções de HBPM. Por outro lado, animais que

receberam injeções de DS apresentaram menor formação de neoíntima. Vicente et. al

(2007) observaram que a administração de DS no período de 48 horas foi capaz de inibir

o crescimento da neoíntima em artérias de camundongos positivos para HCII mas não em

artérias de animais deficientes no cofator II de heparina.

Uma explicação possível para neoíntima acentuada nos grupos injetados com

HBPM seria a grande expressão de metaloproteinases nos vasos arteriais destes grupos

de animais comparado com os outros tratamentos de GAGs nos dois tempos analisados

(tempo inicial e 14 dias após a lesão). A degradação e o remodelamento da matriz

extracelular contribuem na alteração vascular e no comportamento funcional das células

musculares lisas através da atuação de MMPs (Cho e Reidy, 2002). Jhonson et al.,

observou que a deficiência da MMP-2 resultou na diminuição de CMLs e atenuação da

neointima em artérias carótidas in vivo. Em outro trabalho resultados similares foram

vistos em CMLs da veia safena, onde a replicação de CMLs é significativamente

diminuída em camundongos MMP-9 (-/-)(Turner et al., 2007). Assim, a menor proporção

de neointima observada nos grupos de animais tratados com DS pode ser explicada pela

menor expressão de MMPs nos vasos desses animais nas duas situações analisadas

(tempo inicial e 14 dias após a lesão).

72

Mensuramos a perda de células endoteliais nos vasos arteriais após lesão química

de animais C57BL6 através do ensaio de imunofluorescência com o anticorpo anti-CD31

no tempo inicial após a injúria e observamos que essa perda se mostrou maior no grupo

de animais tratados com DS. Grupos de animais tratados com heparina apresentaram

menor perda endotelial no vaso. O intuito desse experimento foi o de avaliar a capacidade

dos GAGs na proteção das células endoteliais no momento da lesão, provavelmente

inibindo a apoptose após a lesão ou diminuindo o processo inflamatório, que pode

estimular esta perda e alterar o recrutamento e regeneração endotelial no vaso após o

processo inflamatório inicial. Após observarmos a porcentagem de perda endotelial nos

grupos, realizamos o ensaio de imunofluorescência com o anticorpo anti-CD34, um

marcador de células progenitoras endoteliais (CPEs). Essas células são capazes de

proliferar, migrar e diferenciar-se em células endoteliais (Kirton e Xu, 2010). Notamos

que os animais tratados com heparina acumularam maior número de CPEs no vaso,

seguido de animais tratados com DS e por último no grupo de animais tratados com

HBPM. O recrutamento de CPEs para o local da lesão pode contribuir para atenuar a

resposta trombótica e promover a reendotelização e reparo vascular (Napoli et al., 2011),

o que poderia explicar a menor formação de trombo nos vasos de animais tratados

heparina já que obtiveram maior número de CPEs. Por outro lado, os animais tratados

com DS obtiveram dentre os demais tratamentos, maior perda de células endoteliais no

tempo inicial após lesão, porém, apresentaram grande expressão de CPEs indicando,

portanto, maior capacidade no reparo vascular. A presença dos glicosaminoglicanos no

local da lesão pode criar um ambiente atrativo para a migração das CPEs alterando

positivamente a recuperação do endotélio.

Investigamos também o efeito anti-inflamatório dos glicosaminoglicanos após

lesionar as artérias carótidas desses animais. Para isso, foi realizada a técnica de

imunofluorescência nos vasos para identificar presença do marcador relacionado à

inflamação, que neste caso foi o CD11b, uma glicoproteína encontrada na membrana de

leucócitos incluindo monócitos, neutrófilos, granulócitos e macrófagos. O recrutamento

de leucócitos é um evento de extrema relevância para uma resposta adequada do

organismo à invasão de patógenos ou danos teciduais, uma vez que a participação dessas

células tem papel fundamental nos mecanismos de reparo tecidual(Mitchell et al., 2006).

Em nosso modelo de lesão arterial, foi observada grande quantidade de marcação

de células CD11b positivas na parede do vaso no grupo de animais que receberam

73

injeções de HNF e Heparina de baixo peso molecular nas concentrações de 1 mg/kg. Uma

das limitações do uso de heparina é causada pela ligação desta com proteínas plasmáticas,

proteínas liberadas pelas plaquetas e por células endoteliais, levando a uma resposta

anticoagulante variável, além disso a heparina não consegue ativar o fator X do complexo

protrombinase (fator X/fator V), a trombina ligada à fibrina ou a superfícies

subendoteliais(Glimelius et al., 1978). Assim, a heparina nas dosagens utilizadas neste

trabalho possivelmente pode ter estimulado o recrutamento de moléculas pró

inflamatórias como CD11b, devido a sua propriedade de se ligar às células citadas, no

qual a maior expressão de leucócitos foi identificada em animais tratados com heparina.

Em relação aos animais tratados com DS, a expressão de CD11b é significativamente

diminuída em relação aos outros GAGs. O DS também causa a diminuição da geração de

trombina através de sua ligação com o cofator II da heparina (HCII)(Tollefsen, 1995).

Como o complexo HCII-DS pode inibir trombina livre e ligada ao tecido, isto pode

explicar sua maior eficiência em inibir a trombina tecidual e a inibição do crescimento da

neointima. A trombina atua em uma série de processos que abrangem reparo tecidual, na

permeabilidade vascular, tônus vascular, inflamação e processos que afetam a migração

leucocitária (Schuepbach et al., 2009). Assim, por diminuir a geração de trombina, o DS

pode estar afetando o recrutamento de células inflamatórias de forma independente das

moléculas de adesão.

A ativação de leucócitos é capaz de promover a expressão da molécula de adesão

intercelular-1 (ICAM-1), a qual provoca a ligação de leucócitos as células endoteliais

através da interação com o complexo MAC-1 (CD11b/CD18) e ajuda na transmigração

desses leucócitos através dos vasos ao local lesionado. O ICAM-1 ativo também pode

recrutar monócitos do sangue até a parede vascular, aumentando a expressão de citocinas

pró inflamatórias (Pacurari et al., 2014). Em nosso trabalho, observamos que em animais

tratados com DS houve menor expressão de ICAM-1 em relação aos animais tratados

com heparina e a HBPM. Esses dados demonstram que o DS ao inibir o recrutamento de

leucócitos ao local da lesão no tempo inicial, provavelmente interferiu na expressão de

ICAM-1 no vaso. Godoy et. al (2015) observaram a diminuição da expressão de ICAM-

1 no período de 3 dias após lesão arterial em animais C57BL6J, porém essa diminuição

não foi observada em 24 horas. O tratamento com HBPM obteve maior expressão de

ICAM-1 dentre os GAGs, possivelmente devido à grande expressão de leucócitos nas

74

artérias desses animais no tempo inicial após lesão, o que induziu a expressão de ICAM-

1 no processo inflamatório inicial.

75

RESUMO DOS DADOS OBTIDOS

Dermatan sulfato

(10 mg/kg)

Heparina

(1 mg/kg)

HBPM

(1 mg/kg)

Tempo de

oclusão arterial

Área do trombo

Células CD31+

no vaso após

lesão

Células CD34+

após lesão

TTPA

12 horas após

lesão

12 e 24 horas após

lesão

12 horas após lesão

TT

TS

40 min e 24 horas

após lesão

40 min, 12 e 24 horas

após lesão

40 min e 24 horas

após lesão

Neoíntima

Atividade de

gelatinases tempo

inicial

Atividade de

gelatinases 14

dias após lesão

CD11b

ICAM-1

= Aumenta = Diminui = Não houve diferença significativa

76

CONCLUSÃO

Neste estudo, o dermatan sulfato foi capaz de proporcionar menor formação de

trombo nos vasos sanguíneos em comparação com a HBPM e diminuir o recrutamento

leucocitário, obteve maior resposta na prevenção da formação de neointima comparado

ao tratamento com Heparina e HBPM e além disso, pelo modelo físico e químico de

denudação endotelial foi o GAG que obteve maior capacidade de perda endotelial e por

sua vez, mobilizou mais células progenitoras para o vaso lesionado, o que significa que o

tratamento com este GAG possivelmente as mobilizou para os locais lesionados afim de

promover o remodelamento vascular positivo, de forma a atuar no processo de reparo dos

vasos. Os dados de TTPA e TS mostraram que houve aumento desses tempos após 24

horas da lesão arterial em animais tratados com DS, porém este foi menor em relação aos

animais tratados com heparina (3,5 vezes menor).

A heparina em contraste, obteve melhor ação antitrombótica após a indução de

denudação arterial inicial por cloreto ferrico pela menor formação de trombo nas artérias

carótidas e ainda, obteve maior expressão de células progenitoras endoteliais no vaso.

Apesar da heparina ter promovido evidências anticoagulantes satisfatórias, uma de suas

principais limitações durante o uso são a probabilidade de processos hemorrágicos, o qual

tem sido frequentemente relacionado ao seu efeito anticoagulante, podendo estar

relacionado a dose, com a resposta anticoagulante do indivíduo, doenças, entre outros

fatores. Além disso, há necessidade de monitorização laboratorial durante sua utilização

e seu uso constante pode provocar a trombocitopenia induzida pela heparina. Os dados

de teste de coagulação de TTPA e TS em animais tratados com heparina neste projeto

mostraram um amplo prolongamento (5 vezes) nos tempos de 12 e 24 horas após lesão

arterial, considerado um tempo de prolongamento anormal nesses testes.

O DS dessa forma, pode ser considerado como um possível agente na atuação de

injúrias vasculares devido a sua propriedade antihemorrágica, antitrombótica na inibição

de trombo inicial nos vasos e antiinflamatória na formação de neointima, promovendo

maior remodelamento positivo através do recrutamento de CPEs para o vaso lesionado,

podendo ser considerado como uma droga alternativa ao tratamento com HNF e HBPM.

77

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