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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIAINSTITUTO DE FÍSICA
Walber Hugo de Brito
Estudo teórico da adsorção de ouro sobre Nanofitas
de grafeno
Uberlândia
2009
Walber Hugo de Brito
Estudo teórico da adsorção de ouro sobreNanofitas de grafeno
Monografia apresentada ao Instituto de Fí-sica da Universidade Federal de Uberlândiapara a obtenção do grau de Bacharel.
Orientador:
Profº Dr. Roberto Hiroki Miwa
Uberlândia
2009
Walber Hugo de Brito
“ Estudo teórico da adsorção de ouro sobreNanofitas de grafeno ”
Monografia apresentada ao Curso degraduação em Física de Materiais daUniversidade Federal de Uberlândia,como requisito parcial para a obten-ção do grau de Bacharel em Física deMateriais.
Área de Concentração: Física de ma-
teriais
Uberlândia, 15 de janeiro de 2010
Banca Examinadora:
Profº Dr. Roberto Hiroki Miwa
Profº Dr. Newton Martins Barbosa Neto
Profº Dr. Ricardo Kagimura
Dedico esta monografia
a minha família
e todos aqueles que tanto me apoia-
ram todo este tempo.
Agradecimentos
Agradecimentos
Ao professor Roberto Hiroki Miwa pela amizade, incentivo, paciência e orientação.
A todos os amigos e professores do INFIS.
Aos amigos do laboratorio de Estrutura Eletrônica pela amizade e ajuda.
Ao CENAPAD-SP pelo suporte computacional.
Ao CNPQ pelo suporte financeiro.
"Os homens e as mulheres não se contentam
com as hístorias de deuses e gigantes, ou com
a restrição de seus pensamentos aos problemas
da vida quotidiana; constróem também teles-
cópios, satélites e aceleradores e permanecem
horas sem fim nos seus gabinetes a procurar o
significado dos dados que conseguiram reunir."
Steven Weinberg
Resumo
Nesse trabalho, estudou-se a adsorção de átomos de ouro (Au) em folhas e nanofitas degrafeno com o intuito de se determinar principalmente quais são as influências do Au naspropriedades eletrônicas desses materiais. O estudo foi feito através de cálculos de primei-ros princípios os quais se baseavam na Teoria do Funcional da Densidade (DFT). As nanofitasestudadas foram a zigzag (ZGNR) e a armchair (AGNR), pois estas configurações além de játerem sido observadas experimentalmente, possuem uma grande variedade de fenômenos aindanão estudados. Em relação ao Au, estudou-se a adsorção de um átomo de Au e posteriormenteuma concentração maior tal que a interação entre os átomos de ouro era maior. Assim sendo,verificou-se que o Au se liga quimicamente com os átomos de carbono da borda, tanto paraas ZGNRs quanto para as AGNRs, em que as energias de ligação eram superiores a 1.0 eV.Em relação as propriedades eletrônicas, observou-se que a presença do ouro nas bordas tendea metalizar o sistema criando níveis semi-ocupados que são predominantemente das regiõesperturbadas. Além disso, calculou-se as barreiras de difusão e mínimos caminhos de energia(MEP) para a difusão do ouro sobre a folha e nanofitas de grafeno. Verificou-se que o ouro pos-sui uma baixa barreria de difusão sobre o grafeno, em torno de 0.025 eV. Ainda nesse contexto,obteve-se que o ouro sobre as nanofitas de grafeno tende a se difundir predominantemente paraas bordas apresentando barreiras de energia em torno de 0.08 eV sobre as AGNRs e 0.18 eVsobre as ZGNRs. Logo, o processo de nucleação de nanoestruturas de Au sobre as bordas é umprocesso favorável.
Palavras-chave: Teoria do Funcional da Densidade, Ouro, Nanofitas de grafeno, Adsorção.
Lista de Figuras
1.1 (a) Imagem de amostra de grafite. (b) Imagem de amostra de diamante. (c)
Ilustração da Estrutura cristalina do grafite. (d) Ilustração da estrutura cristalina
do diamante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.2 Modelo estrutural de uma molécula de Fulereno. . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3 (a) Modelo estrutural de CNT. (b) Imagem de microscopia eletrônica de trans-
missão (TEM) de um nanotubo de carbono feita por cientistas da IBM. . . . . . 17
1.4 Imagens de microscopia eletrônica obtidas por Iijima de nanotubos de carbono
de parede simples e multiplas (IIJIMA, 1991). . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.5 Ilustração de folha de hexagonos de carbono. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.6 Modelos estruturais de nanotubos zigzag, armchair e quiral, respectivamente. . 18
1.7 Modelo estrutural do grafeno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.8 Modelos estruturais do grafeno e outros materiais a base de carbono (KLEIN;
NOVOSELOV, 2007). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.9 Amostras de grafeno (NOVOSELOV; KLEIN, 2004). (A) Fotografia de amostra
contendo grafeno. (B) Imagem de AFM de amostra de grafeno. (C) Imagem de
AFM de uma única camada de grafeno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.10 Ilustração da célula unitária do grafeno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.11 Ilustração da primeira zona de Brillouin do grafeno (em cinza) e vetores primi-
tivos da rede recíproca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.12 Estrutura de bandas (SAITO; DRESSELHAUS; DRESSELHAUS, 1998) e su-
perfície de energia em função dos vetores de onda enfatizando a dispersão linear
próximo ao ponto K. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.13 Modelo estrutural de nanofita de grafeno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.14 Imagem de microscopia e modelos estruturais de nanofitas de grafeno. . . . . . 23
1.15 Ilustração de modelos estruturais das bordas das nanofitas de grafeno, as quais
são representadas pelos átomos superiores nas imagens. (a) Borda do tipo arm-
chair. (b) Borda do tipo zigzag. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.16 Imagens obtidas por microscopia mostrando as bordas do grafeno (GIRIT et al.,
2009). (A) Borda armchair. (B) Borda zigzag. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.17 Imagem obtida por STM da borda de uma folha de grafeno (KOBAYASHI et
al., 2006). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.18 Ilustração das configurações AF e FM para a ZGNRs monohidrogenadas, onde
as setas para cima simbolizam o estado up e a para baixo o estado down. (a)
Configuração AF. (b) Configuração FM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.19 Imagem de dispositivos FET feitos com GNRs. (a) Esquema de FET, onde
S é a fonte, D é o dreno e G é o gate. (b) Imagem AFM de uma GNR com
largura de aproximadamente 2 nm. (c) Imagem AFM de GNR com largura de
aproximadamente 60 nm. (d) Imagem de SEM de FET com GNRs de várias
espessuras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.1 Esquema do ansatz de Kohn-Sham. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.2 Esquema mostrando a idéia do ansatz de Kohn-Sham (KS) conjuntamente com
os teoremas de Hohenberg-Kohn (HK) (MARTIN, 2004). . . . . . . . . . . . . 34
2.3 Idéia do pseudopotencial (PAYNE et al., 1992), em que acima de rc tanto o
pseudpotencial e a pseudofunção de onda são iguais às reais. . . . . . . . . . . 43
2.4 Esquema de ciclo autoconsistente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.5 Ilustração de barreira de energia para uma transição entre estados. . . . . . . . 46
2.6 (a) Caminho inicial sobre uma PES. (b) Após otimização, o caminho converge
para o MEP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.7 Esquema de PES , imagens e o digrama de forças (SHEPPARD; TERREL;
HENKELMAN, 2008). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.1 Ilustração de célula unitária utilizada para o cálculo da folha de grafeno. . . . . 52
3.2 Estrutura de Bandas do grafeno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.3 Modelo estrutural onde se indica as regiões onde o átomo de ouro foi adsorvido. 54
3.4 Modelo estrutural do sistema Au/grafeno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
3.5 MEP e barreira de energia para a difusão do ouro sobre o grafeno. . . . . . . . 55
3.6 Micrografias de nanoclusters de ouro sobre grafite em função da temperatura
(JENSEN, 1999). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.7 Modelo estrutural da AGNR-5x3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.8 Estrutura de bandas do AGNR-5x3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.9 Densidade de estados do sistema AGNR-5x3. Linha preta representa a DOS
dos elétrons up enquanto a linha vermelha a DOS dos elétrons down. . . . . . . 59
3.10 Densidade parcial de carga do estado mais alto ocupado. . . . . . . . . . . . . 59
3.11 PDOS do orbital 2p do átomo 8, o qual pertence a borda. . . . . . . . . . . . . 60
3.12 Modelo estrutural da ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.13 Estrutura de bandas da ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.14 Densidade de estados da ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.15 Densidade parcial de carga do estado mais alto ocupado, onde em azul é a den-
sidade correspondente a polarização up e em vermelho a polarização down. . . 63
3.16 PDOS do orbital 2p do átomo 7, o qual pertence a borda. . . . . . . . . . . . . 63
3.17 Esquema ilustrando direção do campo elétrico externo. . . . . . . . . . . . . . 64
3.18 Estrutura de bandas da ZGNR-6x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.19 Densidade de estados da ZGNR-6x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.20 Estrutura de bandas ZGNR-6x2 submetida a um campo de intensidade 0.1 V/Å. 66
3.21 Densidade de estados do sistema ZGNR-6x2 submetido a um campo de inten-
sidade 0.1 V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.22 Estrutura de bandas da ZGNR-6x2 submetida a um campo de intensidade 0.15
V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.23 Densidade de estados da ZGNR-6x2 submetida a um campo de intensidade 0.15
V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.24 Modelo estrutural da ZGNR-10x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.25 Estrutura de bandas da ZGNR-10x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.26 Densidade de estados da ZGNR-10x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.27 Estrutura de bandas da ZGNR-10x2 submetida a um campo de intensidade 0.1
V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.28 Densidade de estados da ZGNR-10x2 submetida a um campo de intensidade
0.1 V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.29 Estrutura de bandas da ZGNR-10x2 submetida a um campo de intensidade 0.15
V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3.30 Densidade de estados da ZGNR-10x2 submetida a um campo de intensidade
0.15 V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3.31 Modelo estrutural da ZGNR-16x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
3.32 Estrutura de bandas da ZGNR-16x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
3.33 Densidade de estados da ZGNR-16x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
3.34 Estrutura de bandas da ZGNR-16x2 submetida a um campo de intensidade 0.1
V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.35 Densidade de estados da ZGNR-16x2 submetida a um campo de intensidade
0.1 V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.36 Estrutura de bandas da ZGNR-16x2 submetida a um campo de intensidade 0.15
V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.37 Densidade de estados da ZGNR-16x2 submetida a um campo de intensidade
0.15 V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.38 Esquema mostrando as configurações analisadas da Au/AGNR-5x3. . . . . . . 75
3.39 Modelo estrutural do sistema Au/AGNR-5x3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
3.40 Densidade de carga total para do sistema Au/AGNR-5x3. . . . . . . . . . . . . 76
3.41 Estrutura de bandas do sistema Au/AGNR-5x3. . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
3.42 Densidade de estados do sistema Au/AGNR-5x3 e do sistema AGNR-5x3. . . . 77
3.43 Densidade de estados projetada do sistema Au/AGNR-5x3. . . . . . . . . . . . 78
3.44 LDOS do nível semi-ocupado do sistema Au/AGNR-5x3. . . . . . . . . . . . . 78
3.45 Barreira de difusão e MEP do Au/AGNR-5x3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.46 Esquema de configurações analisadas para o Au/AGNR-5x1. . . . . . . . . . . 80
3.47 Modelo estrutural do sistema Au/AGNR-5x1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
3.48 Densidade de carga total do sistema Au/AGNR-5x1. . . . . . . . . . . . . . . 81
3.49 Estrutura de bandas dos sistemas AGNR-5x1 (a) e Au/AGNR-5x1 (b). . . . . . 81
3.50 Densidade de estados dos sistemas AGNR-5x1 e Au/AGNR-5x1. . . . . . . . . 82
3.51 Densidade de estados projetada do Au no sistema Au/AGNR-5x1. . . . . . . . 82
3.52 Densidade local do estado semi-ocupado do sistema Au/AGNR-5x1. . . . . . . 83
3.53 MEP e barreiras de eneriga para a transição Centro-Borda do Au/AGNR-5x1. . 83
3.54 Barreiras de energia para a transição Centro-Borda dos sistemas Au/AGNR-5x3
e Au/AGNR-5x1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
3.55 MEP e barreiras de energia para a transição Borda-Borda do Au/AGNR-5x1. . 84
3.56 MEP e barreiras de energia para a transição Borda interna-Borda interna do
Au/AGNR-5x1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
3.57 Esquema de configuração analisadas no caso Au/ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . 86
3.58 Modelo estrutural do sistema Au/ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
3.59 Densidade de carga total para o sistema Au/ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . . . . 87
3.60 Estrutura de bandas do sistema Au/ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
3.61 Densidade de estados dos sistemas Au/ZGNR-6x4 e ZGNR-6x4. . . . . . . . . 88
3.62 Densidade de estados projetada do sistema Au/ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . . 89
3.63 LDOS do nível semi-ocupado do sistema Au/ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . . . 89
3.64 Barreira de difusão e MEP do Au/ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
3.65 Esquema mostrando as configurações analisadas da Au2/ZGNR-6x2. . . . . . . 91
3.66 Modelo estrutural do sistema Au2/ZGNR-6x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.67 Densidade de carga total do sistema Au2/ZGNR-6x2. . . . . . . . . . . . . . . 92
3.68 Estrutura de bandas dos sitemas ZGNR-6x2 (a) e Au2/ZGNR-6x2 (b). . . . . . 93
3.69 Densidade de estados do sistemas ZGNR-6x2 e Au2/ZGNR-6x2. . . . . . . . . 93
3.70 Densidade de estados projetada do Au2 no sistema Au2/ZGNR-6x2. . . . . . . 94
3.71 LDOS do nível semi-ocupado do sistema Au2/ZGNR-6x2. . . . . . . . . . . . 94
3.72 MEP e barreiras de energia para a transição Centro-Borda do Au/ZGNR-6x2. . 95
3.73 MEP e barreiras de energia para a transição Borda-Borda do Au/ZGNR-6x2. . . 96
3.74 MEP e barreiras de energia para a transição Borda interna-Borda interna do
Au/ZGNR-6x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
3.75 Esquema ilustrando a direção do campo elétrico externo aplicado sobre o Au2/ZGNR-
6x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
3.76 Esrutura de bandas do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de -0.05
V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3.77 Densidade de estados do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de
-0.05 V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3.78 Estrutura de bandas do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de -0.1
V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
3.79 Densidade de estados do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de
-0.1 V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
3.80 Estrutura de bandas do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de 0.3
V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
3.81 Densidade de estados do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de
0.3 V/Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
Lista de Tabelas
3.1 Parâmetros estruturais para a AGNR-5x3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.2 Parâmetros estruturais para a ZGNR-6x4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.3 Diferença de energia entre as configurações analisadas no caso Au/AGNR-5x3. 75
3.4 Diferença de energia entre as configurações analisadas no caso Au/AGNR-5x3. 80
3.5 Diferença de energia entre as configurações analisadas no caso Au/ZGNR-6x4. 86
3.6 Diferença de energia entre as configurações analisadas no caso Au2/ZGNR-6x2. 91
Lista de abreviaturas e siglas
sp ORBITAL ATOMICO HIBRIDO FORMADO PELA MISTURA
DE UM ORBITAL s COM UM ORBITAL p
sp2 ORBITAL ATOMICO HIBRIDO FORMADO PELA MISTURA
DE UM ORBITAL s COM DOIS ORBITAIS p
sp3 ORBITAL ATOMICO HIBRIDO FORMADO PELA MISTURA
DE UM ORBITAL s COM TRÊS ORBITAIS p
2D DUAS DIMENSÕES
3D TRÊS DIMENSÕES
AF ANTIFERROMAGNÉTICO
AGNRs ARMCHAIR GRAPHENE NANORIBBONS
BSSE BASIS SET SUPERPOSITION ERROR
C60 FULERENO
CI-NEB CLIMBING IMAGE NUDGED ELASTIC BAND
CNT CARBON NANOTUBE
CVD CHEMICAL VAPOR DEPOSITION
DFT DENSITY FUNCTIONAL THEORY
DOS DENSITY OF STATES
DWCNT DOUBLEWALLED CARBON NANOTUBE
DZP DOUBLE ZETA POLARAZED
FET FIELD EFFECT TRANSISTOR
FM FERROMAGNÉTICO
GGA GENEREALIZED GRADIENT APROXIMATION
GNRs GRAPHENE NANO-RIBBONS
HOPG HIGHLY ORDERED PYROLYTIC GRAPHITE
hTST HARMONIC TRANSITION STATE THEORY
LCAO LINEAR COMBINATION OF ATOMIC ORBITALS
LDA LOCAL DENSITY APROXIMATION
LDOS LOCAL DENSITY OF STATES
MEP MINIMUM ENERGY PATH
MWCNT MULTIWALLED CARBON NANOTUBE
NAO’s NUMERICAL ATOMIC ORBITALS
NEB NUDGED ELASTIC BAND
PDOS PROJECTED DENSITY OF STATES
PES POTENTIAL ENERGY SURFACE
PWscf PLANE WAVE SELF-CONSISTENT FIELD
SEM SCANNING ELECTRON MICROSCOPE
SIESTA SPANISH INITIATIVE FOR ELECTRONIC SIMULATIONS
WITH THOUSANDS OF ATOMS
STM SCANNING TUNELLING MICROSCOPE
SWCNT SINGLEWALLED CARBON NANOTUBE
TST TRANSITIONS STATE THEORY
ZGNRs ZIGZAG GRAPHENE NANORIBBONS
Sumário
1 Introdução 15
1.1 O carbono e seus alotropos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2 Grafeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.3 Nanofitas de grafeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2 Metodologia 28
2.1 Teoria do Funcional da densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.1.1 Teoremas de Hohenberg-Kohn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.1.2 O ansatz de Kohn-Sham . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.1.3 As equações de Kohn-Sham . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.1.4 Funcionais para a troca e correlação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.1.5 Funções de Base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.1.6 Aproximação do Pseudopotencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.1.7 Resolvendo as equações de Kohn-Sham . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.2 Teoria de transição de estados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.2.1 Nudged Elastic Band . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.2.2 Climbing Image Nudged Elastic Band . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.3 Programas utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.3.1 SIESTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.3.2 PWscf . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3 Resultados e Discussões 51
3.1 Grafeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.2 Au/Grafeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.3 Nanofitas de grafeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.3.1 AGNR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.3.2 ZGNR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.4 Nanofitas de grafeno com ouro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.4.1 Au/AGNR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.4.2 Au/ZGNR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4 Conclusão 101
Apêndice A -- Equação de Schrödinger para um sistema de muitas partículas 103
Apêndice B -- Funcionais 105
Referências Bibliográficas 107
15
1 Introdução
1.1 O carbono e seus alotropos
O carbono é o elemento químico mais abundante na Terra. Este elemento está presente na
natureza em várias formas e em diversos materiais tanto orgânicos quanto inorgânicos. Nesse
contexto, sabe-se que o carbono é o elemento químico base para as moléculas orgânicas, como
o DNA e a hemoglobina; até os diversos minerais como o grafite, o carvão e o diamante.
Devido a capacidade dos átomos de carbono formarem diferentes tipos de ligações quími-
cas, em que cada átomo pode se hibridizar como sp, sp2 e sp3 , esse elemento possui várias
alotropias e forma materiais com uma grande variedade de propriedades físicas distintas, como
o grafite e o diamante. O grafite é um material condutor elétrico, frágil e opaco diferentemente
do diamante que em geral é um material isolante elétrico, extremamente duro e translucido.
Esta diferença se deve principalmente às distintas estruturas eletrônicas de cada material, o
que reflete às diferentes ligações químicas entre os átomos de carbono que por fim dão ori-
gem às distintas estruturas cristalinas desses dois materiais, em que no grafite, os átomos de
carbono possuem hibridização sp2 e estão numa estrutura do tipo hexagonal e no diamante os
átomos de carbono possuem hibridização sp3 e estão numa estrutura cúbica de face centrada.
Na figura 1.1 estão ilustradas amostras de grafite e diamante conjuntamente com as respectivas
estruturas cristalinas.
Atualmente, tem-se conhecimento de cinco formas alotrópicas do carbono: grafite, dia-
mante, fulereno, nanotubo de carbono e o grafeno. Também pode-se citar as estruturas amor-
fas1 que comumente estão presentes em produtos da queima de alguns hidrocarbonetos, como
o etanol e o butano. O grafite e o diamente, são materiais que já estão presentes no cotidiano
de várias pessoas e são encontrados na natureza com mais frequência. Entretanto, o fulereno, o
nanotubo de carbono e o grafeno são materiais que raramente se encontram livres na natureza,
devido a isso grande parte desses materiais são produzidos em laboratório, por isto recebem a
classificação de materiais sintéticos.
1Estrutura sem ordem cristalina, ou seja, sem organização de longo alcance.
16
Figura 1.1: (a) Imagem de amostra de grafite. (b) Imagem de amostra de diamante. (c) Ilustra-ção da Estrutura cristalina do grafite. (d) Ilustração da estrutura cristalina do diamante.
O fulereno (C60) , descoberto na década de 80 por Robert Curl, Harold Kroto e Richard
Smalley (KROTO et al., 1985), é uma molécula que possui forma esférica composta por he-
xagonos e pentagonos de carbono, a qual possui um formato bem parecido ao de uma bola de
futebol, como é ilustrado na figura 1.2.
Figura 1.2: Modelo estrutural de uma molécula de Fulereno.
Cristais moleculares e filmes feitos com o C60 possuem propriedades eletrônicas de grande
interesse do ponto de vista tecnológico e científico, como a supercondutividade a altas tempera-
turas, o ferromagnetismo e a transição metal-isolante (OSAWA, 2002), devido a isto, e as outras
aplicações em potencial, atualmente esses materiais vêm sendo temas principais em pesquisas
científicas relacionadas a área de nanociência e nanotecnologia.
O nanotubo de carbono (CNT) , descoberto no ano de 1991 no laboratório da NEC por
Sumio Iijima (IIJIMA, 1991), é uma nanoestrutura tubular oca composta por hexágonos de
carbono, o qual pode ser entendido como sendo uma folha de hexagonos de carbono enrolada,
como é mostrado na figura 1.3.
17
Figura 1.3: (a) Modelo estrutural de CNT. (b) Imagem de microscopia eletrônica de transmissão(TEM) de um nanotubo de carbono feita por cientistas da IBM.
Os CNTs são classificados de acordo com sua forma geométrica, em que se tem nanotubos
dos tipos zigzag, armchair e quirais. Também de acordo com a quantidade de camadas que
eles são formados, em que se tem os nanotubos de parede única ou Single walled (SWCNT),
de parede dupla ou double walled (DWCNT) e até de parede múltipla, em que o número de
camadas é superior a dois, ou Multiwalled (MWCNT), como é mostrado na figura 1.4.
Figura 1.4: Imagens de microscopia eletrônica obtidas por Iijima de nanotubos de carbono deparede simples e multiplas (IIJIMA, 1991).
Essas classificações são justificadas pelas diferentes propriedades que cada tipo de nanotubo
apresenta. Quando se imagina uma folha de hexágonos de carbono e as maneiras de enrolá-la,
pode-se ter uma idéia de como são os tipos zigzag, armchair e quiral de nanotubos.
18
Figura 1.5: Ilustração de folha de hexagonos de carbono.
Da figura 1.5, pode-se considerar um vetor ~C que é uma combinação linear dos vetores da
base ~a1 e ~a2, ou seja, ~C = n~a1 +m~a2 = (n,m). Este vetor irá fornecer a direção em que se enrola
a folha, pois o eixo do tubo representado pelo vetor ~T será perpendicular ao vetor ~C. Assim
sendo, quando se tem um vetor em que m = 0, ou seja, ~C = (n,0), tem-se um nanotubo zigzag.
Os outros casos ocorrerão quando ~C = (n,n), nanotubo do tipo armchair, e quando ~C = (n,m)
tal que n 6= m, nanotubo do tipo quiral, os quais são ilustrados na figura 1.6.
Figura 1.6: Modelos estruturais de nanotubos zigzag, armchair e quiral, respectivamente.
Através de estudos teóricos e experimentais, sabe-se que as propriedades eletrônicas dos
nanotubos de carbono são determinadas tanto por seu diâmetro quanto por sua helicidade. Como
visto na figura 1.5, pode-se associar a essas duas grandezas os índices n e m do vetor ~C. Assim
sendo, através dos coeficientes n e m, os quais são parâmetros estruturais, pode-se determinar
as propriedades eletrônicas dos nanotubos (FAGAN, 2003).
Para os nanotubos zigzag em que n é múltiplo de três, tem-se nanotubos semimetálicos
ou semicondutores que possuem Egap2 quase nula. Caso n não seja múltiplo de três, esses
2Diferença de energia entre o máximo da banda de valência e o mínimo da banda de condução.
19
nanotubos zigzag serão semicondutores. Para os nanotubos armchair, não há uma regra dessa
pois esses tubos são sempre metálicos. Por fim, para os nanotubos quirais, quando n−m não é
múltiplo de três tem-se que estes serão semicondutores.
O controle sobre as propriedades eletrônicas, através dos parâmetros geométricos do na-
notubo, e a alta resistência mecânica dos CNTs faz com que esses materiais venham sendo
vastamente estudados e já sejam empregados em novas tecnologias.
1.2 Grafeno
O grafeno é o alotropo do carbono mais recente. Pode-se definir o grafeno como sendo um
material feito de uma monocamada atômica e plana em que átomos de carbono se encontram
numa estrutura do tipo hexagonal. No grafeno, os átomos de carbono possuem uma hibridização
do tipo sp2, formando uma estrutura análoga ao de uma colmeia, como é ilustrado na figura 1.7.
Devido ao grafeno ser uma folha da espessura de um átomo, este pode ser considerado um
material bidimensional (2D) e por isto um dos mais finos já existente.
Figura 1.7: Modelo estrutural do grafeno.
Devido a sua estrutura, o grafeno pode ser visto como sendo o material base para se formar
o grafite, o nanotubo de carbono e o fulereno, como é ilustrado na figura 1.8.
20
Figura 1.8: Modelos estruturais do grafeno e outros materiais a base de carbono (KLEIN; NO-VOSELOV, 2007).
Embora o grafeno possa ser considerado como o material base para os materiais citados
acima, os quais todos são tridimensionais (3D) (KLEIN; NOVOSELOV, 2007), a não existên-
cia de uma folha de grafeno livre era prevista por estudos previos feitos por Landau e Peierls
(PEIERLS, 1935). Devido a isto, o grafeno foi considerado por muito tempo como sendo um
material “acadêmico” que servia somente de material base para o aprendizado e estudo teórico
dos nanotubos de carbono e grafite. Porém, no ano de 2004 Kostya Novoselov e André Geim da
Universidade de Manchester conseguiram pela primeira vez obter experimentalmente o grafeno
em sua forma livre (NOVOSELOV; KLEIN, 2004). Essas primeiras amostras de grafeno foram
obtidas por esfoliação micromecânica do bulk3 de grafite e vistas por técnicas de microscopia
ótica e força atômica, como pode ser visto na figura 1.9, as quais mostram imagens de amostras
de grafeno isoladas sobre superfícies de silício oxidadas.
Atualmente, existem técnicas para a síntese do grafeno, sendo elas tanto químicas quanto
físicas. Nesse contexto, além da técnica de esfoliação micromecânica, o grafeno tem sido sin-
tetizado através de técnicas como a Chemical Vapor deposition (CVD), em que se deposita
hidrocarbonetos sobre superfícies metálicas, também pela decomposição térmica do carbeto de
silício (SiC) e por criação de suspensões coloidais (PARK; RUOFF, 2009). As sínteses por
deposição epitaxial como a CVD são as mais indicadas para a produção de grafeno para apli-
cações em eletrônica, pois estas proporcionam um maior controle sobre as amostras (KLEIN;
NOVOSELOV, 2007).3Amostra macroscopica cristalina do material, onde os efeitos de superfície são desprezíveis.
21
Figura 1.9: Amostras de grafeno (NOVOSELOV; KLEIN, 2004). (A) Fotografia de amostracontendo grafeno. (B) Imagem de AFM de amostra de grafeno. (C) Imagem de AFM de umaúnica camada de grafeno.
O grafeno tem atraido atenção do meio científico devido as propriedades físicas que este
possui. Dentre as propriedades, às eletrônicas são as que mais se destacam. Nesse contexto,
devido a sua peculiar estrutura eletrônica, amostras com uma boa qualidade cristalina exibem
altos valores de condutividade eletrônica que podem exceder 15.000 cm2/Vs, valor mais que 10
vezes a do silício que é de 1.350 cm2/Vs, em condições ambientes. Também pode-se citar novos
fenômenos físicos presentes no grafeno tais como o efeito Hall quântico, transporte balístico e
magnetoresistência (KLEIN; NOVOSELOV, 2007).
Do ponto de vista eletrônico, o grafeno pode ser classificado como sendo um semicondutor
que possui Egap quase nula, de forma que os elétrons se comportam como partículas relativís-
ticas obedecendo a equação de Dirac, fazendo com que o grafeno também seja um objeto de
estudo da Eletrodinâmica quântica (KLEIN; NOVOSELOV, 2007). O comportamento dos elé-
trons pode ser evidenciado na análise da dispersão da energia em relação a alguns vetores de
onda. Essa análise pode ser feita utlilizando-se métodos teóricos como o cálculo tight-binding
ou outros mais avançados como cálculos baseados na Teoria do Funcional da Densidade (DFT)
e também por medidas de fotoemissão de ângulo resolvido.
Sendo o grafeno uma rede de hexágonos, observa-se que a célula unitária do grafeno possui
como base dois átomos de carbono e é descrita pelos vetores primitivos ~a1 e ~a2, como é ilustrado
na figura 1.10.
Figura 1.10: Ilustração da célula unitária do grafeno.
22
Sendo os vetores ~a1 = (√
32 , 1
2)a e ~a2 = (√
32 ,−1
2)a, onde a = dC−C√
3 e dC−C é a distância
entre os átomos de carbono vizinhos no grafeno; os vetores primitivos da rede recíproca serão~b1 = (
√3
3 ,1)2π
a e ~b2 = (√
33 ,−1)2π
a . Com isso, a primeira zona de Brillouin do grafeno fica
definida como um hexágono, em que os pontos de alta simetria são o Γ, o M e o K, como é
ilustrado na figura 1.11.
Figura 1.11: Ilustração da primeira zona de Brillouin do grafeno (em cinza) e vetores primitivosda rede recíproca.
Quando se analisa a dispersão da energia nas direções de alta simetria (Γ→ K, M −→ K)
uma relação linear da energia próximo ao ponto K é evidenciada. Este comportamente, reflete
o fato de os elétrons se comportarem como partículas relativísticas, ou seja, como férmions de
Dirac o que confere a alta condutividade eletrônica ao grafeno. Essa dispersão é evidencidada
na figura 1.12.
Figura 1.12: Estrutura de bandas (SAITO; DRESSELHAUS; DRESSELHAUS, 1998) e super-fície de energia em função dos vetores de onda enfatizando a dispersão linear próximo ao pontoK.
Como pode ser visto no gráfico da estrutura de bandas, o grafeno possui um caracter se-
mimetálico. Devido a isto, certas aplicações são limitadas a este material, pois a falta de um
gap de energia impossibilita a aplicação desse material em dispositivos como transistores de
efeito de campo (FET) ou optoeletrônicos. Atualmente, existem propostas para se induzir um
gap de energia no grafeno. O gap de energia pode ser induzido de duas formas em geral. A
primeira é baseada no confinamento eletrônico, a qual pode ser provocado pelo confinamento
23
espacial do grafeno através da produção de nanofitas ou pontos quânticos de grafeno. A outra
maneira é baseada na quebra de simetria do sistema, a qual pode ser ocasionada pela aplicação
de um campo externo ou através da deposição do grafeno sobre um substrato sólido (KLEIN;
NOVOSELOV, 2007).
1.3 Nanofitas de grafeno
As nanofitas de grafeno (GNRs) podem ser definidas como sendo pequenas faixas de gra-
feno que possuem uma de suas dimensões da ordem de alguns nanometros, como é ilustrado na
figura 1.13.
Figura 1.13: Modelo estrutural de nanofita de grafeno.
As GNRs podem ser produzidas através de amostras de folha de grafeno ou grafite. Métodos
como litografia de folhas de grafeno e tratamento químico de amostras de grafite vêm mostrando
considerável potencial para a produção de GNRs de boa qualidade. O método químico além de
possuir a vantagem de ser eficiente na produção de GNRs com espessuras menores do que 5
nm, as bordas dessas GNRS possuem melhor qualidade do que as produzidas via litografia (LI
et al., 2008). A figura 1.14 ilustra fotos de microscopia de força atomica de amostras de GNRs
produzidas via métodos químicos (LI et al., 2008).
Figura 1.14: Imagem de microscopia e modelos estruturais de nanofitas de grafeno.
As nanofitas podem ser classificadas de acordo com a quiralidade de suas bordas, sendo as
principais do tipo zigzag e armchair como é ilustrado na figura 1.15.
24
Figura 1.15: Ilustração de modelos estruturais das bordas das nanofitas de grafeno, as quais sãorepresentadas pelos átomos superiores nas imagens. (a) Borda do tipo armchair. (b) Borda dotipo zigzag.
Atualmente, há vários trabalhos experimentais mostrando que estes tipos de bordas real-
mente estão presentes nas bordas de folhas de grafeno, o que confere indícios acerca da estabi-
lidade termodinâmica desses tipos de borda. Através do trabalho de Girit et al. (GIRIT et al.,
2009) foi possível observar pela técnica de microscopia de alta resolução resolvidada no tempo,
as bordas citadas acima, em que as imagens de microscopia são mostradas na figura 1.16.
Figura 1.16: Imagens obtidas por microscopia mostrando as bordas do grafeno (GIRIT et al.,2009). (A) Borda armchair. (B) Borda zigzag.
Sendo as bordas desse material uma região com alta densidade de ligações químicas pen-
dentes, trabalhos teóricos (JIANG; LU; BERNHOLC, 2008) e experimentais (KOBAYASHI et
al., 2006) mostram que estas regiões possuem uma alta densidade de estados. Devido a isto,
grande parte das amostras são passivadas por hidrogênio (KOBAYASHI et al., 2006). Isto pode
ser visto na figura 1.17 em que se tem uma imagem obtida por microscopia de tunelamento
com varredura (STM) da borda de uma folha de grafeno, em que se percebe um brilho mais
intenso nessas regiões do que nas regiões centrais, o que mostra a alta concentração de estados
na borda. Devido a isto, grande parte das bordas são passivadas com hidrogênio, o que reduz a
densidade de estados na borda e confere maior estabilidade às amostras.
25
Figura 1.17: Imagem obtida por STM da borda de uma folha de grafeno (KOBAYASHI et al.,2006).
Em relação as propriedades eletrônicas, as nanofitas de grafeno passivadas com hidrogênio
podem ser tanto metálicas quanto semicondutores. O fator que exerce grande influência nessas
propriedades, além das dimensões dos sistemas, é a estrutura das bordas. Como em certos casos
em que as propriedades eletrônicas de certos sistemas são influenciados por defeitos e estados
de superfície, nas GNRs as propriedades eletrônicas são determinadas pela largura e tipos de
bordas, as quais podem ser consideradas como defeitos topológicos. Sabe-se que as nanofitas de
grafeno armchair (AGNRs) são semicondutores e que as nanofitas de grafeno zigzag (ZGNRs)
são sistemas que possuem carácter semicondutor para o estado antiferromagnético (AF) e me-
tálico para o estado ferromagnético (FM) de suas bordas. Assim sendo, pode-se afirmar que
qualquer efeito relacionado a perturbação da borda influência drasticamente as propriedades
eletrônicas das GNRs (RITTER; LYDING, 2009).
Devido a esta grande influência das bordas sobre as propriedades eletrônicas das GNRs, vá-
rios estudos relacionados a estabilidade termodinâmica, propriedades magnéticas, propriedades
de transporte e propriedades estruturais vêm sendo feitos para as GNRs com diferentes bor-
das tanto por técnicas experimentais como teóricas. Em relação a estabilidade termodinâmica
dessas bordas, estudos mostraram que as bordas armchair monohidrogenadas e dihidrogenadas
são as estruturas mais estáveis (WASSMANN et al., 2008). Entretanto, um estudo recente (GI-
RIT et al., 2009) em que se analisa as propriedades estruturais através de microscopia de alta
resolução resolvida no tempo, observa-se claramente bordas do tipo zigzag. Com isso, pode-se
pensar que mesmo sendo menos estáveis, as bordas zigzag podem estar presentes nas amostras
de grafeno ou GNRs.
Motivados pela descoberta de partículas de grafite com propriedades magnéticas (SATO
et al., 2000), estudos relacionados a propriedades magnéticas das ZGNRs vêm indicando uma
26
possível explicação para as observações experimentais. As ZGNRs possuem duas configura-
ções magnéticas para as suas bordas, a AF e a FM. Na configuração AF os átomos de carbono
de cada borda possuem seus spins alinhados na mesma direção tal que se oponha a direção da
borda contraria, o que causa uma magnetização total nula para o sistema. Porém, na configura-
ção FM os átomos das duas bordas alinham seus spins na mesma direção, fazendo com que o
sistema nessa configuração possua uma magnetização total não nula. Um esquema relacionado
as configurações AF e FM pode ser visto na figura 1.18. Estudos previos, vêm mostrando que
para ZGNRs monohidrogenadas com largura menor que aproximadamente 6.6 nm (PISANI et
al., 2007), a configuração mais estável é a AF, porém a diferença de energia entre as duas con-
figurações para as ZGNRs diminui com a largura da nanofita, fato que contextualiza a possível
explicação acerca das partículas magnéticas de grafite.
Figura 1.18: Ilustração das configurações AF e FM para a ZGNRs monohidrogenadas, onde assetas para cima simbolizam o estado up e a para baixo o estado down. (a) Configuração AF. (b)Configuração FM.
Embora as GNRs sejam vistas como sistemas de grande interesse do ponto de vista de ciên-
cia básica, esses sistemas também vêm mostrando considerável potêncial para aplicações tec-
nológicas. Trabalhos experimentais recentes, onde se montam prototipos de transistores com as
GNRs, (CHEN et al., 2007) e (WANG et al., 2008), têm mostrado que GNRs são ótimas candi-
datas para substituir o silício nos transistores FET, que são empregados nos microprocessadores.
Além disso, devido a alta sensibilidade das propriedades eletrônicas com a estrutura das bordas,
novas potencialidades estão surgindo para GNRs funcionalizadas ou dopadas. Como exemplo,
pode-se citar os trabalhos de Son et al. (SON; COHEN; LOUIE, 2006), o qual observa o efeito
de Half-Metal para as ZGNRs sob campo elétrico externo, o de Martins et al. (MARTINS et
al., 2007) e Rigo et al. (RIGO et al., 2009), os quais mostram que através da dopagem de
ZGNRs com Boro e Níquel, pode-se criar filtros de spin, que são vistos como componentes
fundamentais no ramo da spintrônica.
Na arquitetura dos dispositivos feitos nos trabalhos de Chen et al. (CHEN et al., 2007) e
Wang et al. (WANG et al., 2008), os contatos são feitos depositando-se metais sobre as GNRs,
a qual é mantida sobre uma superfície de um material dielétrico. No trabalho de (CHEN et
27
al., 2007) utilizou-se Paládio (Pd) e no de (WANG et al., 2008) utilizou-se uma dupla camada,
onde a primeira era de ouro (Au) e a que cobria o ouro era de Titanio (Ti). As imagens dos
dispositivos podem-ser vistas na figura 1.19.
Figura 1.19: Imagem de dispositivos FET feitos com GNRs. (a) Esquema de FET, onde S é afonte, D é o dreno e G é o gate. (b) Imagem AFM de uma GNR com largura de aproximada-mente 2 nm. (c) Imagem AFM de GNR com largura de aproximadamente 60 nm. (d) Imagemde SEM de FET com GNRs de várias espessuras.
Nesse contexto, torna-se de extrema importância o entendimento da interação entre as
GNRs e os metais que possam formar os eletrodos. Sendo o ouro um dos principais candidatos
a esta função, este trabalho se propõem a entender através de cálculos de primeiros princípios a
influência de átomos de ouro nas propriedades eletrônicas das GNRs e também o estágio inicial
de nucleação de pequenos aglomerados de ouro nas GNRs. Isto se justifica não somente pela
perturbação que o ouro possa causar nas GNRs, mas também pela possível funcionalização das
GNRs através de nanoestruturas de ouro.
28
2 Metodologia
Atualmente a ciência dos materiais é uma área de pesquisa basicamente multidisciplinar
constituita pelas ciências básicas como a física, a química até as engenharias. O trabalho de
pesquisa no âmbito computacional, além da metodologia experimental e teórica, vêm tendo
grande destaque devido a eficiência e potencialidade que esta nova área possui.
Atualmente a modelagem e simulação atomística de materiais vêm conquistando espaço em
meio a várias técnicas de modelagem, pois através desta torna-se possível entender e estimar
grande parte das propriedades de certos materiais conhecendo-se somente seus constituintes
básicos, ou seja, seus átomos. Esse tipo de modelagem é feita através de cálculos de primeiros
princípios, em que a grande maioria se baseia na Teoria do Funcional da Densidade (DFT).
Devido a sua natureza, esses métodos trazem consigo grandes vantagens como possibilitar um
entendimento mais profundo e estimular “insights” acerca de determinado fenômeno. Além
disso, através desses métodos é possível ter o máximo controle de determinados parâmetros,
possibilitar a descoberta e design de novos materiais e propiciar um auxílio na otimização de
certos parâmetros afim de se obter um determinado material com as propriedades desejadas.
Devido a isto, cálculos de primeiros princípios vêm hoje sendo empregados por vários
grupos de pesquisa no mundo todo tanto em centros acadêmicos, quanto em indústrias como a
MOTOROLA, IBM e Intel (SHANKAR; SIMKA; HAVERTY, 2008).
2.1 Teoria do Funcional da densidade
A teoria do funcional da densidade (DFT) é uma teoria bem sucedida em relação ao seu
emprego em cálculos de primeiros principios4 para a descrição e entedimento das propriedades
dos materiais em seu estado fundamental. Fato este que fez com que Walter Kohn e John Pople
fossem agraciados com o prêmio Nobel de química de 1998.
O principal objetivo dessa teoria é substituir a função de onda usada para descrever os elé-
4Cálculos que não necessitam de parâmetros experimentais para serem feitos, por isso muitas vezes são cha-mados também de cálculos ab-initio.
29
trons em sistemas quânticos (ver Apêndice A) pela densidade eletrônica, ou seja, se reduz um
problema de 3N (três coordenadas espaciais para cada um dos N elétrons) variáveis para o de
três variáveis espaciais (coordenadas cartesianas no espaço) . Essa teoria baseia-se no conceito
fundamental de que qualquer propriedade de um sistema de muitas partículas interagentes pode
ser vista como um funcional da densidade eletrônica do estado fundamental (KOHN; HOHEN-
BERG, 1964). Por isto, a DFT pode-ser vista como uma teoria de muitos corpos para sistemas
quânticos.
A ídeia inicial dessa teoria, foi proposta em 1920 por Thomas e Fermi, os quais estudaram
em seus trabalhos um gás de elétrons interagentes. Porém, somente em 1964 com o trabalho
de Kohn e Hohenberg (KOHN; HOHENBERG, 1964), que a teoria começou a ser construita
através de dois teoremas fundamentais.
2.1.1 Teoremas de Hohenberg-Kohn
Teorema 1 (Primeiro Teorema). A densidade eletrônica do estado fundamental no(~r) de um sis-
tema de elétrons interagentes em um campo de potencial externo v(~r), determina univocamente
esse potencial.
v(~r) = v[no](~r) (2.1)
Como o Hamiltoniano do sistema fica definido conhecendo-se o potencial v(~r) devido aos
núcleos, torna-se possível determinar a função de onda do sistema, ou seja, há uma relação
direta entre a densidade eletrônica do estado fundamental com a função de onda para esse
estado. Logo, no deve conter as informações do sistema assim como a função de onda, ou seja,
a função de onda é um funcional de no , ψ[no], consequentemente todos os observáveis são
funcionais de no.
Com isso, torna-se perceptível a importância desse teorema que promove a troca de um
problema de 3N variáveis para um de três variáveis sem perda de informação do sistema. A
prova desse teorema pode ser feita por absurdo. Para isto, considera-se um Hamiltoniano H do
estado fundamental do sistema contendo um potencial externo v(~r) com uma função de onda
ψ . Logo da equação de Schrödinger:
Hψ = Eψ (2.2)
(T +U +V )ψ = Eψ (2.3)
Em que T é a energia cinética do sistema, U é a energia de interação entre os elétrons e V
30
é a energia potencial associada a v(~r).
Supondo agora um outro potencial externo v′(~r), diferente de v(~r), que origina um Hamil-
toniano H ′, o qual dará origem a outra função de onda do estado fundamental ψ ′. Admitindo
por hipótese que no(~r) seja igual para ambos potenciais, tem-se que:
E = 〈ψ|H|ψ〉< 〈ψ ′|H|ψ ′〉 (2.4)
E ′ = 〈ψ ′|H ′|ψ ′〉< 〈ψ|H ′|ψ〉 (2.5)
Reescrevendo as duas equações acima:
E = 〈ψ|T +U +V |ψ〉< 〈ψ ′|T +U +V |ψ ′〉 (2.6)
E ′ = 〈ψ ′|T +U +V ′|ψ ′〉< 〈ψ|T +U +V ′|ψ〉 (2.7)
Também, pode-se escrever:
〈ψ ′|H|ψ ′〉= 〈ψ ′|H ′|ψ ′〉+ 〈ψ ′|H−H ′|ψ ′〉 (2.8)
Como H−H ′ = V −V ′ :
〈ψ ′|H|ψ ′〉= 〈ψ ′|H ′|ψ ′〉+ 〈ψ ′|V −V ′|ψ ′〉 (2.9)
Portanto da equação 2.4 :
〈ψ|H|ψ〉< 〈ψ ′|H ′|ψ ′〉+ 〈ψ ′|V −V ′|ψ ′〉 (2.10)
Sendo a densidade eletrônica dada por (CAPELLE, 2006):
no(~r) = N∫
d3~r1
∫d3~r2 . . .
∫d3~rNψ
∗(~r1, . . . , ~rN)ψ(~r1, . . . , ~rN) (2.11)
E a energia potencial dada por:
V =N
∑i=1
v(~ri) (2.12)
31
Com isso, tem-se que:
〈ψ|V |ψ〉=N
∑i=1〈ψ|v(~ri)|ψ〉 (2.13)
=N
∑i=1
∫d3~r1 . . .
∫d3~rNψ
∗(~r1, . . . , ~rN)v(~ri)ψ(~r1, . . . , ~rN)
Sendo v(~ri) =∫
d3~rδ (~r−~ri)v(~r), da equação 2.13:
〈ψ|V |ψ〉=N
∑i=1
∫d3~r1 . . .
∫d3~rN
∫d3~rδ (~r−~ri)v(~r)ψ∗(~r1, . . . , ~rN)ψ(~r1, . . . , ~rN) (2.14)
=N
∑i=1
∫d3~r
∫d3~r1 . . .
∫d3~riδ (~r−~ri)v(~r) . . .
∫d3~rNψ
∗ψ
Como a matriz densidade é dada por:
n(~r) = 〈ψ|N
∑i=1
δ (~r−~ri)|ψ〉 (2.15)
Portanto:
〈ψ|V |ψ〉=∫
n(~r)v(~r)d3~r (2.16)
Com isso:
〈ψ ′|V −V ′|ψ ′〉=∫
n(~r)[v(~r)− v′(~r)]d3~r (2.17)
Analogamente para a equação 2.5:
〈ψ|H ′|ψ〉= 〈ψ|H|ψ〉+ 〈ψ|H ′−H|ψ〉 (2.18)
= 〈ψ|H|ψ〉+ 〈ψ|V ′−V |ψ〉
Sendo:
〈ψ|V ′−V |ψ〉=∫
[v′(~r)− v(~r)]n(~r)d3~r (2.19)
Logo:
E < E ′+∫
[v(~r)− v′(~r)]n(~r)d3~r (2.20)
E ′ < E +∫
[v′(~r)− v(~r)]n(~r)d3~r (2.21)
Somando a equação 2.20 com a equação 2.21:
E +E ′ < E ′+E (2.22)
32
Logo, vê-se que a desigualdade 2.22 é falsa. Portanto, se n(~r) é única tem-se que ψ = ψ ′.
Com isso, pode-se concluir que se duas funções de onda do estado fundamental dão origem a
uma mesma densidade eletrônica, obrigatoriamente as duas funções de onda serão iguais. Desta
forma, dada a densidade eletrônica, o Hamiltoniano fica unicamente determinado e com isso em
princípio, todas as propriedades do sistema.
Teorema 2 (Segundo Teorema). A energia do estado fundamental é minima para a densidade
eletrônica no exata.
Sendo a energia total do sistema dada por:
E[n] = 〈ψ|T +U +V |ψ〉 (2.23)
A qual pode ser escrita como:
E[n] = 〈ψ|T +U |ψ〉+ 〈ψ|V |ψ〉 (2.24)
Sendo F [n] = 〈ψ|T +U |ψ〉 um funcional universal, pois é o mesmo para qualquer sistema
de N elétrons. Tem-se que:
E[n] = F [n]+ 〈ψ|V |ψ〉 (2.25)
Para o estado fundamental:
E[no] = F [no]+ 〈ψo|V |ψo〉 (2.26)
Como no determina ψo e n determina ψ , tem-se que:
E[ψo] < E[ψ] (2.27)
〈ψo|T +U |ψo〉+ 〈ψo|V |ψo〉< 〈ψ|T +U |ψ〉+ 〈ψ|V |ψ〉 (2.28)
F [no]+ 〈ψo|V |ψo〉< F [n]+ 〈ψ|V |ψ〉 (2.29)
Logo:
E[no] < E[n] (2.30)
Portanto, quando se consegue minimizar a energia em relação a densidade eletrônica, esta
energia convergida será a energia do estado fundamental.
Assim sendo, a reformulação da teoria de muitos corpos proposta por Hohenberg-Kohn
insere a idéia dos funcionais da densidade eletrônica, os quais a priori são desconhecidos.
33
Embora esse primeiro trabalho retorna uma visão pioneira acerca dos funcionais, este ainda
não fornece uma forma de se escrever os operadores como função da densidade eletrônica.
Posteriormente, esse problema foi abordado por Kohn e Sham (KOHN; SHAM, 1965), que
propuseram um esquema para a obtenção dos operadores em função da densidade eletrônica.
Além disso, nota-se que a DFT não fornece uma maneira para se entender as propriedades
dos materiais meramente olhando-se a forma da densidade eletrônica. Embora em princípio a
densidade seja suficiente, a questão é encontrar uma maneira de extrair diretamente da densi-
dade “qualquer” propriedade, como as propriedades eletrônicas de um material, por exemplo.
2.1.2 O ansatz de Kohn-Sham
Kohn e Sham em seu trabalho de 1965, (KOHN; SHAM, 1965), propuseram uma maneira
de simplificar o problema de muitas partículas interagentes. A ansatz5 foi de se substituir o
problema original de muitas partículas interagentes por um problema análogo de partículas in-
dependentes com a mesma densidade eletrônica do sistema interagente, como é esquematizado
na figura 2.1.
Figura 2.1: Esquema do ansatz de Kohn-Sham.
O ansatz de Kohn-Sham possui as seguintes idéias fundamentais:
• A densidade exata do estado fundamental de um sistema de partículas interagentes pode
ser representada pela densidade do estado fundamental de um sistema auxiliar de partí-
culas não interagentes.
• O Hamiltoniano do sistema auxiliar é escolhido como tendo um operador energia cinética
usual e um potencial efetivo VKS atuando sobre cada elétron do sistema não interagente.
Logo, o ansatz possui a idéia principal e mais relevante de que a densidade eletrônica do
estado fundamental do sistema interagente pode-ser representada pela densidade de um sistema
5Palavra de origem Germânica que é usada quando se tem uma aproximação ou “insight” para a solução dedeterminado problema.
34
auxiliar de particulas não interagentes submetidas à um potencial efetivo VKS. Com essa aproxi-
mação, substitui-se um problema de 3N variáveis para um de N equações de uma partícula, ou
seja, de 3N variáveis para N equações de três variáveis, o que traz avanços para a aplicabilidade
da DFT. A figura 2.2, esquematiza essa idéia:
Figura 2.2: Esquema mostrando a idéia do ansatz de Kohn-Sham (KS) conjuntamente com osteoremas de Hohenberg-Kohn (HK) (MARTIN, 2004).
2.1.3 As equações de Kohn-Sham
Sendo a energia total do sistema de partículas interagentes dada por:
E = T +U +V (2.31)
Em que T é a energia cinética dos elétrons, U é a energia potencial dos elétrons, V é a
energia potencial da interação núcleo-elétron. Baseado no esquema de Kohn-Sham, pode-se
escrever T como:
T = T [n] = Ts[n]+Tc[n] (2.32)
Em que Ts é a energia cinética do sistema de elétrons não interagente e Tc é a parcela da
energia cinética devido a correlação eletrônica. Agora, para U :
U = U [n] = UH [n]+Ux[n]+Uc[n] (2.33)
Em que UH é a energia potencial da interação elétron-elétron, chamada de energia de Har-
tree, a qual é dada pela seguinte equação:
UH =e2
2
∫d3~r
∫d3~r′
n(~r)n(~r′)
|~r−~r′|(2.34)
35
O termo Ux é o termo de troca, comumente chamado de exchange, o qual é fornecido pela
seguinte equação:
Ux =−e2
2 ∑jk
∫d3~r
∫d3~r′
φ∗j (~r)φ∗k (~r′)φ j(~r′)φk(~r)
|~r−~r′|(2.35)
Onde φ(~r) são auto-estados de uma partícula. O termo Uc é o potencial devido a correlação
eletrônica, que é desconhecido. Logo, reescrevendo a energia total:
E[n] = Ts[n]+Tc[n]+UH [n]+Ux[n]+Uc[n]+V [n] (2.36)
Onde V [n] =∫
n(~r)v(~r)d3~r. Definindo a energia de troca e correlação como:
Exc[n] = Tc[n]+Ux[n]+Uc[n] (2.37)
Tem-se que a energia total:
E[n] = Ts[n]+UH [n]+V [n]+Exc[n] (2.38)
Assim sendo, somente o termo Exc da equação 2.38 não é conhecido. Logo, toda a ig-
norância sobre correções de troca e correlação eletrônica é colocada num único termo, que é
conhecido como energia de troca e correlação Exc. Ainda assim, só se conhece uma forma para
Ts que depende das funções de onda dos orbitais eletrônicos:
Ts[n] =− h2
2m
N
∑i
∫d3~rφ
∗i (~r)∇2
φi(~r) (2.39)
Através disto, percebe-se que todos os efeitos de muitos corpos (correlação e exchange) são
agrupados no termo de troca e correlação Exc. A correlação vem do fato que, como consequên-
cia da interação Coulombiana, a dinâmica de um elétron influência a dinâmica dos demais,
fazendo com que a dinâmica de um elétron seja correlacionada a dos outros. A expressão exata
para esse termo não é conhecida, nem em função de orbitais de uma partícula.
Da equação 2.38 nota que se o funcional Exc fosse conhecido, a energia total e a densidade
eletrônica do estado fundamental poderiam ser encontradas. Para que isto se torne possível,
motivado pelos teoremas de Hohenberg Kohn, a energia total do estado fundamental é obtida
através da minimização da equação 2.38 em relação a densidade eletrônica, levando em conta a
36
vínculo da ortogonalidade dos estados do sistema de partículas não interagentes:∫φ∗i (~r)φ j(~r)d3~r = δi j (2.40)
Essa minimização é feita utilizando-se multiplicadores de lagrange, tal que:
L = E[n]−∑i
εi
∫φ∗i (~r)φi(~r)d3~r (2.41)
Onde εi são os multiplicadores de lagrange. Assim resta minimizar L , ou seja:
δL
δφ∗i (~r)= 0 (2.42)
Com isso, tem-se que:
δE[n]δφ∗i (~r)
=δTs[n]δφ∗i (~r)
+[
δUH
δn(~r)+
δVδn(~r)
+δExc
δn(~r)
]δn(~r)
δφ∗i (~r)(2.43)
Sendo a densidade eletrônica para o sistema auxiliar dada por:
ns(~r) = ∑j
φ∗j (~r)φ j(~r) (2.44)
Conjuntamente com a equação 2.39 tem se que:
δn(~r)δφ∗i (~r)
= φi(~r) (2.45)
δTs[n]δφ∗i (~r)
=− h2
2m∇
2φi(~r) (2.46)
Onde o índice i é referente a um estado específico do sistema de elétrons não interagentes.
Essas expressões foram obtidas aplicando-se as definições de derivadas de um funcional (ver
Apêndice B). Posteriormente, para o termo envolvendo os multiplicadores de lagrange:
δ
δφ∗i (~r)
(∑
iεi
∫φ∗i (~r)φi(~r)d3~r
)= εiφi(~r) (2.47)
Logo, da equação 2.42 tem-se que:
− h2
2m∇
2φi(~r)+
[δUH
δn(~r)+
δVδn(~r)
+δExc
δn(~r)
]φi(~r)− εiφi(~r) = 0 (2.48)
[− h2
∇2
2m+ v(~r)+ vH(~r)+ vxc(~r)
]φi(~r) = εiφi(~r) (2.49)
37
Onde v(~r) ≡ δVδn(~r) , vH(~r) ≡ δUH
δn(~r) e vxc(~r) ≡ δExcδn(~r) . Consequentemente, pode-se calcular
a densidade eletrônica de um sistema interagente em um potencial v(~r), descrito pela equação
de Schrödinger de muitos corpos, pela solução da equação de um sistema não interagente num
potencial vs(~r). Logo, para o sistema auxiliar tem-se:[− h2
∇2
2m+ vs(~r)
]φi(~r) = εiφi(~r) (2.50)
n(~r)≡ ns(~r) =ocu
∑i|φi(~r)|2 (2.51)
Onde vs(~r) = v(~r)+vH(~r)+vxc(~r). As equações 2.50 e 2.51 são conhecidas como equações
de Kohn-Sham. Logo, torna-se possível obter a densidade eletrônica do estado fundamental de
um sistema de eletrôns interagentes pela densidade eletrônica do estado fundamental de um
sistema de eletrôns não interagentes submetidos a um potencial efetivo vs = VKS, resolvendo-se
de maneira auto-consistente as equações de Kohn-Sham.
Obtendo-se no, logo a energia total será dada por:
E[no] = Ts[no]+UH [no]+V [no]+Exc[no] (2.52)
Sendo V [no] dado por:
V [no] =∫
d3~rv(~r)no(~r) =∫
d3~r[vs(~r)− vH(~r)− vxc(~r)]no(~r) (2.53)
= Vs[no]−∫
d3~r[vH(~r)− vxc(~r)]no(~r)
Com isso, a energia total será:
Eo =ocu
∑i
εi−e2
2
∫d3~r
∫d3~r′
n(~r)n(~r′)
|~r−~r′|−∫
d3~r[vH(~r)− vxc(~r)]no(~r)+Exc[no] (2.54)
Onde a energia total do sistema de elétrons não interagentes será:
Es =ocu
∑i
εi = Ts[no]+Vs[no] (2.55)
Todo o problema acerca dos efeitos de muitos corpos foram inclusos no termo Exc. Portanto,
a sua determinação é crucial para a aplicação dessa metodologia. Como dito anteriormente, não
há uma expressão para esse termo. Assim sendo, aproximações para este termo se tornam
necessárias. Dentre as principais aproximações para o termo de troca e correlação pode-se citar
a Aproximação da densidade local (LDA) e a Aproximação generalizado do gradiente (GGA) ,
38
pois estas são as mais empregadas atualmente.
2.1.4 Funcionais para a troca e correlação
Aproximação da densidade local (LDA)
No trabalho de 1965 (KOHN; SHAM, 1965), Kohn e Sham propuseram uma aproximação
para o termo de troca e correlação baseada num gás de elétrons. Essa aproximação conhecida
como LDA, além de ser a mais simples, é a unica que tem sua motivação em um sistema físico.
Kohn e Sham afirmaram que sólidos podem frequentemente serem considerados como um
sistema que em seu limite tenderia a um gás homogêneo de elétrons. Baseados em um trabalho
anterior de Thomas-Fermi, o qual dizia que em um sistema homogêneo, tem-se que a energia
cinética por volume de um gás de elétrons não interagentes seria dada por:
thomos (n) =
3h2
10m(3π
2)23 n
53 (2.56)
Para um gás de densidade constante. Entretanto, em um sistema não homogêneo, ou seja,
n = n(~r), pode-se aproximar localmente:
ts(~r)≈ thomos (n) =
3h2
10m(3π
2)23 (n(~r))
53 (2.57)
Logo, a energia cinética seria:
T LDAs [n] =
∫d3~rthomo
s n(~r) =3h2
10m(3π
2)23
∫d3~r(n(~r))
53 (2.58)
Para a energia de troca “exchange”, a energia por volume do sistema é conhecida como:
εhomox (n) =−3e2
4
( 3π
) 13n
43 (2.59)
Logo:
ELDAx [n] =−3e2
4
( 3π
) 13∫
d3~r(n(~r))43 (2.60)
Para a energia de correlação εhomoc a situação é mais complicada pois não se conhece sua
expressão exata. Logo, através de métodos como Teoria de Pertubação e Monte Carlo Quântico,
proposto por Ceperley e Alder, é possível estimar numericamente εhomoc . Portanto:
ELDAxc =
∫d3~rε
homoxc
∣∣∣n→n(~r)
=∫
d3~rεhomoxc (n(~r)) (2.61)
39
Onde εhomoxc = εhomo
x + εhomoc . Também:
vLDAxc [n] =
∂εhomoxc (n)∂n
∣∣∣n→n(~r)
(2.62)
Tipicamente, a LDA subestima a energia de correlação, mas superestima a energia de troca,
resultando em um bom valor que não é esperado para a energia de troca e correlação. No en-
tanto, se a densidade eletrônica n(~r) for fortemente não uniforme, a aproximação LDA não
fornece bons resultados. Uma solução para esse problema é expressar o funcional Exc[n] tam-
bém em termos do gradiente da densidade de carga total, assim dando origem a GGA.
Aproximação generalizada do gradiente (GGA)
Para casos onde a densidade eletrônica não for uniforme, torna-se interessante expressar
o funcional Exc[n] em termos do gradiente da densidade eletrônica. Sendo para o modelo de
Thomas-Fermi:
Ts[n]≈ T LDAs [n]+
h2
8m
∫d3~r|∇n(~r)|2
n(~r)(2.63)
Com isso:
EGGAx [n]≈ ELDA
s [n]− 10e2
432π(3π2)13
∫d3~r|∇n(~r)|2
(n(~r))43
(2.64)
Logo, o termo de troca e correlação pode-ser escrito como:
EGGAxc [n] =
∫d3~r f GGA(n(~r),∇(~r)) (2.65)
O termo f GGA(n(~r),∇(~r)) é calculado numericamente através de parametrizações. Atual-
mente a parametrização mais utilizada na física é a que foi proposta por Perdew, Burker and
Enerzerhof (PBE).
2.1.5 Funções de Base
Para se resolver a equação 2.50 deve-se expandir as funções φi(~r) em uma determinada
base. Dentre as possíveis maneiras de se fazer a expansão pode-se citar algumas, as quais irão
depender do tipo de base escolhida (MARTIN, 2004). Para funções de base fixa tem-se os
seguintes tipos:
• Ondas planas (não dependentes da energia).
• Combinação linear de orbitais atômicos (LCAO).
40
• Linear Muffin tin orbitals (LMTO).
Para funções de base variável tem-se os seguintes exemplos:
• Augmented plane wave (PAW).
• Korringa-Kohn-Rostoker (KKR).
Uma boa escolha das funções de base é algo de extrema importância, pois cálculos precisos
exigem uma base de qualidade.
A expansão em ondas planas, para um sistema periódico, é feita utilizando-se o teorema
de Bloch, o qual afirma que em um sólido periódico cada função de onda eletrônica pode ser
escrita como um produto da parte que leva em conta a periodicidade da rede e uma outra parte
do tipo onda plana (PAYNE et al., 1992):
φi(~r) = ei~k~r fi(~r) (2.66)
O termo que carrega a periodicidade da rede fi pode ser expandido usando uma base discreta
de ondas planas, as quais carregam o vetor da rede recíproca ~G :
fi(~r) = ∑G
ci,~Gei~G~r (2.67)
Com isso, cada função de onda eletrônica pode ser escrita como uma soma de ondas planas:
φi(~r) = ∑G
ci,~k+~Gei(~k+~G)~r (2.68)
Como somente alguns coeficientes ci,~k+~G são tipicamente mais importantes para a expan-
são, pode-se truncar a base de ondas planas. Essa truncagem faz com que somente as ondas
planas que possuem energia menor do que uma determinada energia de corte formem a base. A
utilização de ondas planas como base possui algumas vantagens por ser uma base relativamente
simples, flexível e de fácil implementação computacional, uma vez que pode ser controlada por
um único parâmetro que é a energia de corte.
Outro tipo de base muito comum são as bases de orbitais atômicos localizadas. Essas
funções são formadas pelas funções de onda associadas a determinados orbitais atômicos de
cada átomo, por isso essas funções são localizadas sobre os sítios atômicos. Com isso, a função
41
de onda eletrônica pode ser representada por:
φn(~k,~r) = ∑µ
cnµ(~k)ψµ(~k,~r) (2.69)
Onde ψµ é uma combinação linear das funções atômicas, as quais satisfazem o teorema de
Bloch, e por isso sendo escritas como:
ψµ(~k,~r) = N−12 ∑
~R
ei~k~Rχµ(~r−~R) (2.70)
Onde ~R é o vetor posição do sítio ocupado pelo átomo. As funções χµ representam os
orbitais atômicos e tem uma dependência angular do tipo:
χ(~r)→ R(r)Ylm(θ ,ϕ) (2.71)
Em que Ylm são harmônicos esféricos e R(r) podem ser funções atômicas do tipo Slater,
funções Gaussianas ou soluções numéricas tipo Hartree-Fock (FAZZIO; VIANNA; CANUTO,
2004). Existem principalmente dois tipos de expansão que utilizam orbitais localizados, as tipo
Gaussiano e as do tipo orbitais atômicos numéricos (NAO’s). Devido aos NAO’s serem mais
flexíveis e bastante eficientes, estas são mais comumente empregadas. Há três características
principais de uma base de orbitais atômicos, as quais são: tamanho, alcance e forma radial.
O tamanho da base está relacionado com o número de orbitais por átomo. Nesse contexto,
há uma hierarquia que vai desde uma base single-ζ até uma base multiple-ζ com polarização.
Como exemplo, pode-se citar a single-ζ (SZ), a double-ζ (DZ) e a Triple-ζ (TZ) (MARTIN,
2004). Quando se inclui a polarização tem-se a SZP, DZP e assim por diante. A base single-ζ
tem apenas uma função radial por momento angular e apenas para momentos angulares com
ocupação eletrônica na valência do átomo na sua configuração isolada. Quando se flexibiliza
a função radial de uma base single-ζ , se obtêm a base double-ζ , em que foi adicionada uma
segunda função por momento angular. Com relação a polarização, é conveniente incluir orbitais
levemente polarizados afim de se capturar a essência do efeito da não esfericidade do mesmo
em um meio material (MARTIN, 2004).
O alcance da base é uma caractéristica controlado pelo raio de corte imposto aos orbitais,
em que acima desse raio os orbitais são nulos. Esse raio de corte, controla de maneira direta o
overlap de determinado orbital de um átomo com outro orbital pertencente a outro átomo. Um
esquema propõe que esses raios sejam definidos por um único parâmetro, o energy-shift, que
informa o aumento de energia do orbital devido a estar confinado pelo raio de corte (ARTACHO
42
et al., 1999).
A forma da base deve assegurar que os orbitais próximos ao núcleo sejam bem descritos. A
forma dos orbitais para raios maiores depende do raio de corte e da maneira pela qual se produz
o confinamento desses orbitais. A forma mais utilizada para um potencial que irá confinar os
orbitais é dada por (SOLER et al., 2002):
V (r) = Voe−
rc−rir−ri
rc− r(2.72)
Onde rc é o raio de corte e ri é o raio interno que descreve a região dos elétrons mais
internos. Esse potencial vêm obtendo sucesso devido a este evitar problemas de descontinuidade
e confinamento abruptos.
2.1.6 Aproximação do Pseudopotencial
A ideía por trás da aproximação do pseudopotencial é que as ligações químicas em molécu-
las e sólidos são “dominadas” pelos elétrons de valência de cada átomo. Em um ponto de vista
mais geral, é bem conhecido que a grande maioria das propriedades físicas dos sólidos são bem
mais dependentes dos elétrons de valência do que os elétrons mais ligados aos íons, comumente
chamados de elétrons de caroço.
Logo, esta teoria é uma aproximação para o potencial real sentido pelos elétrons em um só-
lido ou molécula. Com essa teoria, pode-se simplificar ainda mais a obtenção dos autoestados
de Kohn-Sham, pois ao invés da descrição de todos os elétrons pertencentes a um determi-
nado átomo, é necessário somente a descrição dos elétrons de valência, os quais sentiram um
potencial fraco devido a carga resultante dos elétrons de caroço e a carga nuclear.
O pseudopotencial é construido afim de que acima de um raio de corte, este potencial seja
igual ao potencial real, da mesma maneira para a pseudofunção de onda. Isso é ilustrado na
figura 2.3.
Existem essencialmente dois tipos de pseudopotencial, os pseudopotenciais empíricos e os
pseudopotenciais ab-initio. Os pseudopotenciais empíricos envolvem um conjunto de parâme-
tros experimentais, como energias de gap e potenciais de ionização, que servem para o ajuste
do pseudopotencial. Ao contrário, os pseudopotenciais ab-initio são construídos de maneira
que se obtenha a solução da equação de Schrödinger ou da equação de Dirac para o átomo.
Dentre esses pseudopotenciais, os mais usados são os pseudopotenciais de norma conservada,
formulados por Bachelet, Hamann e Schluter (BACHELET; HAMANN; SCHLUTER, 1982) e
43
Figura 2.3: Idéia do pseudopotencial (PAYNE et al., 1992), em que acima de rc tanto o pseud-potencial e a pseudofunção de onda são iguais às reais.
por Troullier-Martins (TROULLIER; MARTINS, 1991), e também os pseudopotenciais ultra-
suaves ou “ultrasofts” formulados por David Vanderbilt (VANDERBILT, 1990).
A geração do pseudopotencial geralmente é feita através de um cálculo atômico do tipo all-
electron. Utilizando-se a DFT, resolve-se a equação de Kohn-Sham de maneira autoconsistente
levando em conta a simetria esférica do sistema. Com isso, para um sistema com camada
fechada a equação radial de Kohn-Sham fica (MARTIN, 2004):[−1
2d2
dr2 +l(l +1)
2r2 + ve f
]φn,l(~r) = εn,lφn,l(~r) (2.73)
Onde ve f = vext(~r)+ vH(~r)+ vxc(~r). A densidade eletrônica será dada por:
n(~r) =ocu
∑n,l
(2l +1)r2|φn,l(~r)|2 (2.74)
Em geral, os pseudopotenciais de norma conservada são construídos tais que satisfaçam às
seguintes condições (MORBEC, 2006) (MARTIN, 2004):
• as pseudofunções de onda dos elétrons de valência não devem conter nós, assegurando
uma forma suave para a pseudofunção.
• acima de um raio de corte rc, a pseudofunção de onda radial deve ser igual à função de
onda radial real.
• a carga na região r < rc obtida para a pseudofunção de onda deve ser igual a obtida pela
função de onda real (conservação da norma).
44
• os autovalores para a valência gerada com o pseudopotencial e a valência gerada com o
cálculo all-electron deve concordar para uma configuração atômica escolhida.
Assegurando-se as propriedades acima, a transferibilidade se torna mais presente para os
pseudopotenciais e com isso cálculos mais precisos.
2.1.7 Resolvendo as equações de Kohn-Sham
As equações de Kohn-Sham (2.50 e 2.51) são resolvidas através de um ciclo auto-consistente,
em que primeiramente se supõe a densidade eletrônica inicial. Com isso, se calcula o potencial
vs e resolve-se a equação 2.50. Posteriormente calcula-se a densidade eletrônica via equa-
ção 2.51. Utilizando-se um critério de convergência para a densidade eletrônica se chega a uma
densidade final para o sistema, e com isso torna-se possível a obtenção de todos os observáveis.
Este ciclo é ilustrado na figura 2.4.
Figura 2.4: Esquema de ciclo autoconsistente.
2.2 Teoria de transição de estados
Nos campos da física dos materias e química há problemas pertinentes no estudo dos me-
canismos de mudanças de estado, os quais são ativados termicamente, que são:
45
• Cálculo da taxa de transição.
• Cálculo das barreiras de energia envolvidas nas transições.
• Cálculo do mínimo caminho de energia.
• Cálculo de energias de ativação.
• Cálculo dos tempos envolvidos nas transições.
Há vários exemplos de fenômenos relacionados a transição entre estados, como a difusão
de átomos no interior de sólidos ou superfícies, reações químicas e mecanismos envolvendo
catálise, nucleação e crescimento de materiais até o folding de proteínas. Além da motivação
científica, há também a motivação tecnológica que o esclarecimento desses mecanismos esti-
mulam. Como exemplo, pode-se citar o melhor controle na síntese de materiais via crescimento
epitaxial, o design computacional de melhores catalisadores e também um melhor controle na
sintese de nanomateriais.
A evolução temporal de um sistema pode ser classificada em duas classes, sendo uma em
que a evolução do sistema ocorre de maneira contínua com o tempo e a outra em que a evolução
do sistema ocorre de maneira discreta com o tempo. O ramo do conhecimento que trata da pri-
meira classe é chamado de cinética química, o qual estuda os mecanismos envolvendo reações
química até a difusão em sólidos. A segunda classe é estudada do ponto de vista da teoria de
transporte a qual estuda a cinética de moléculas em um gás até a condutividade elétrica.
Nesse contexto, Van’t Hoff e Arrhenius estudaram a cinética de determinadas reações quí-
micas. Desses estudos, eles propuseram uma lei empírica que quantifica a taxa em que ocorre
uma determinada reação, ou seja, a taxa em que ocorre uma mudança de estados de um rea-
gente para um produto, em função de alguns parâmetros como a temperatura. Sendo essa lei
explicitada pela equação 2.75.
k = Ae−Ea
kBT (2.75)
Onde k é a taxa em que ocorre a reação, A é uma constante dependente da natureza das
moléculas, Ea é a energia de ativação da reação, kB é a constante de Boltzmann e T é a tempe-
ratura. Essa transição entre um determinado estado inicial e um estado final se torna mais clara
através da figura 2.5.
Geralmente a escala de tempo em que ocorre uma mudança de estado é da ordem de fem-
tosegundos. Outro aspecto importante é a dependencia de determinadas transições que somente
ocorrem via flutuações energéticas. Desses fatos, pode-se concluir que geralmente as transições
46
Figura 2.5: Ilustração de barreira de energia para uma transição entre estados.
são eventos raros que podem levar alguns segundos ou até anos para ocorrerem. Por esse mo-
tivo, estudos utilizando dinâmica molecular são inviáveis para determinadas transições. Uma
alternativa para se este problema é usar uma teoria baseada em metodos estatíticos denominada
Teoria de Transição de Estados (TST).
A TST se baseia em duas aproximações:
• A taxa de uma determinada transição é pequena o bastante para se admitir uma distribui-
ção de Boltzmann na configuração dos reagentes.
• O sistema atravessa somente uma única vez o ponto de transição.
Com isso, e levando em consideração um regime tal que o sistema não esteja próximo ao
ponto de fusão, no caso de um sólido ou próximo da quebra da molécula, tem-se que a taxa
de transição entre dois estados será fornecida por uma aproximação harmônica, denominada
aproximação harmônica da teoria da transição de estados (hTST). Logo:
khT ST =∏
3Ni ν init
i
∏3N−1i ν
‡i
e−(E‡−Einit )
kBT (2.76)
Onde E‡ é a energia do ponto de transição, comumente chamado de Saddle Point, E init é a
energia inicial do sistema e v são as frequências dos modos normais de vibração das respectivas
configurações. Logo, para a descrição da transição resta encontrar os Saddle Points e o mínimo
caminho de energia (MEP)6.
Existem vários métodos para se obter o MEP, dentre eles pode-se citar o dimer method, o
drag method, o Nudged elastic band (NEB) e a Climbing image nudged elastic band (CI-NEB)6Caminho mais provavél de ser percorrido em uma transição entre estados.
47
(SCHWARTZ, 2001).
2.2.1 Nudged Elastic Band
O NEB é um método baseado na discretização de um determinado caminho entre um estado
inicial e um estado final, o qual após um algoritmo de minimização converge o caminho inicial
para o MEP. A discretização do caminho se dá através de imagens, que representam diferentes
configurações do sistema, as quais são conectadas através de “molas” (SHEPPARD; TERREL;
HENKELMAN, 2008). Na figura 2.6 é exemplificado uma superfície de energia potencial
(PES) e um caminho discretizado através de imagens, o qual após a otimização converge para
o MEP.
Figura 2.6: (a) Caminho inicial sobre uma PES. (b) Após otimização, o caminho converge parao MEP.
Sobre cada imagem atua uma força que pode ser escrita como:
~FiNEB
= ~Fi⊥
+~Fis‖
(2.77)
Onde ~Fi⊥
é a componente perpendicular da força devido ao potencial, que pode ser escrita
como:~Fi⊥
=−∇E(~Ri)+∇E(~Ri)τiτi (2.78)
Onde ~Ri localiza a posição da imagem i e τi é o versor tangente ao caminho. Sendo a força
exercida pela mola sobre cada imagem escrita como:
~Fis‖
= k(|~Ri+1−~Ri|− |~Ri−~Ri−1|)τi (2.79)
O diagrama de forças é esquematizado na figura 2.7.
48
Figura 2.7: Esquema de PES , imagens e o digrama de forças (SHEPPARD; TERREL; HEN-KELMAN, 2008).
Onde k são as constantes elástica das molas. Afim de se descrever bem as componentes,
uma boa descrição dos versores tangentes é essencial. Dentre as melhores maneiras de se esti-
mar essa tangente (SCHWARTZ, 2001), a que apresente maior precisão, é a que leva em conta
as variações de energia que é dada por:
τi =
{τ
+i ∆Emax
i + τ−i ∆Emin
i se Ei+1 > Ei−1
τ+i ∆Emin
i + τ−i ∆Emax
i se Ei+1 < Ei−1
Onde τ+i = ~Ri+1− ~Ri, τ
−i = ~Ri−~Ri−1, ∆Emax
i = max(|Ei+1−Ei|, |Ei−1−Ei|) e ∆Emini =
min(|Ei+1−Ei|, |Ei−1−Ei|).
Com isso, o MEP é obtido quando ~Fi⊥
é nula sobre cada imagem, que é o portanto a
condição de otimização. Também, percebe-se que a energia e seu gradiente tem que ser obtido
para cada imagem. Isso é feito geralmente através de cálculos de primeiros princípios que
fornecem uma boa descrição energética do sistema. Após atingir a convergência das forças, tal
que as imagens pertençam ao MEP, o MEP é interpolado via um polinômio.
O NEB por ser um método de simples implementação e mais barato computacionalmente
do que o drag method e o dimer method vêm sendo vastamente empregado. Entretanto, a sua
limitação para sistemas mais complexos e a não boa descrição do MEP em torno do ponto de
transição fez que surgisse uma modificação do NEB chamada CI-NEB.
2.2.2 Climbing Image Nudged Elastic Band
A CI-NEB é essencialmente uma modificação da NEB em que a otimização é alterada. A
CI-NEB faz com que uma das imagens, a que represente a configuração de mais alta energia,
49
pertencentes a discretização do caminho, seja deslocada até o máximo de energia do caminho.
A imagem que representa a configuração de mais alta energia (Climbing image), é deslo-
cada via uma força que não inclui a força das molas, e leva em conta somente a componente
paralela ao caminho da força real. Em relação as outras imagens, todas elas são deslocadas
como no NEB através do caminho obtido pela Climbing image. Com isso, torna-se possível
após a otimização, que a Climbing image se localize no Saddle Point e todas as outras imagens
consigam descrever o MEP.
A força sobre a Climbing image pode-ser escrita como (HENKELMAN; UBERUAGA;
JóNSSON, 2000):~FCI
i = ~Fi−2~Fiτiτi (2.80)
Ou ainda:
~FCIi =−∇E(~Ri)+2∇E(~Ri)|‖ =−∇E(~Ri)+2∇E(~Ri)τiτi (2.81)
Assim sendo, quando ~FCIi for nula, a Climbing image estará exatamente sobre o Saddle
Point. Devido a isto e ao fato que pode-se ter molas com constante elástica diferentes (HEN-
KELMAN; UBERUAGA; JóNSSON, 2000), uma maior resolução em torno do Saddle Point
é obtida e com isso uma melhor estimativa para a energia necessária para ocorrer determinada
transição.
2.3 Programas utilizados
2.3.1 SIESTA
O SIESTA (Spanish Initiative for Electronic Simulations with Thousands of Atoms) é um
software destinado a cálculos de estrutura eletrônica e cálculos de dinâmica molecular ab-initio
baseados na DFT (SOLER et al., 2002).
Além da DFT, o SIESTA utiliza outras aproximações como condições periódicas de con-
torno para a expansão da base e pseudopotenciais de norma conservada para a descrição da
interação elétron-íon. Em relação a aproximação para os termos de troca e correlação, o SI-
ESTA usa a LDA ou a GGA as quais irão descrever a interação elétron-elétron. Em relação a
base, o SIESTA utiliza NAO’s e desta forma os autoestados de Kohn-Sham são escritos como
uma combinação linear de orbitais atômicos (LCAO) e também o confinamento das mesmas é
controlado utilizando-se o parâmetro energy-shift. Devido a sua base, cálculos com o SIESTA
50
constumam ser mais rápidos do que cálculos que utilizam como base ondas planas. A rela-
xação dos átomos é feita utilizando um algoritmo que faz uso das forças e stress calculadas
via Teorema de Hellman-Feymann com correções de Pulay (ORDEJóN; ARTACHO; SOLER,
1996).
2.3.2 PWscf
O PWscf (Plane Wave self-consistent field) é um software pertencente ao pacote QUAN-
TUM ESPRESSO (Open Source Package for Rsearch in Electronic Structure, Simulation, and
Optimization) (GIANNOZZI et al., 2009), que realiza cálculos de estrutura eletrônica baseados
na DFT.
O PWscf utiliza ondas planas como funções de base e condições periódicas de contorno para
a expansão dos autoestados de Kohn-Sham. Logo, controlando-se a energia de corte, controla-
se o tamanho da base. Além das aproximações usuais para o termo de troca e correlação, LDA
e GGA, o PWscf pode utilizar funcionais mais complexos como DFT+ Hubbard U e funcionais
Hibridos como o B3LYP. A aproximação do pseudopotencial também é utilizada pelo PWscf,
em que este pode fazer uso de pseudopotenciais de norma conservada, pseudopotenciais ultra-
soft e também de pseudopotenciais do tipo PAW (projected augmented waves). A relaxação
dos átomos é feita utilizando-se um algoritmo, Broyden-Fletcher-Goldforb-Shanno (BFGS)
ou damped dynamics, os quais utilizam as forças e stress obtidas via Teorema de Hellman-
Feynmann. Além disso, o PWscf possui rotinas para cálculos de minimo caminho de energia,
barreiras de difusão, energias de ativação, e transição de estados utilizando o método CI-NEB.
51
3 Resultados e Discussões
3.1 Grafeno
Como dito anteriormente, o grafeno é um material que vêm atraindo cada vez mais atenção
do meio científico devido a suas propriedades eletrônicas. Dentre essas, a condutividade ele-
trônica desse material é a que mais chama atenção, pois esta condutividade pode atingir valores
superiores a 10 vezes a condutividade do silício. Devido a essa propriedade, o grafeno vêm
sendo apontado como um ótimo candidato para dispositivos que operam em alta frequência, da
ordem de giga Hertz.
A alta condutividade eletrônica do grafeno está relacionada com o comportamento que os
elétrons possuem nesse material. Devido a sua estrutura eletrônica, no grafeno os elétrons
possuem um comportamento análogo a partículas relativísticas de massa nula, sendo por isso
comumente chamados de férmions de Dirac. Como consequência disso, verifica-se que a dis-
persão da energia próxima do ponto K da primeira zona de Brillouin é uma dispersão linear,
como é ilustrado na figura 1.12.
Afim de se determinar as propriedades estruturais e eletrônicas desse sistema, foram fei-
tos cálculos de primeiros princípios baseados na DFT utilizando-se o SIESTA. Desta forma, as
equações de Kohn-Sham são resolvidas de maneira autoconsistente fazendo uso de um conjunto
de bases DZP compostas por pseudo-orbitais atômicos numéricos, em que para o confinamento
da base utilizou-se um energy-shift de 0.025 eV. Para se calcular a interação elétron-elétron foi
utilizada a aproximação da densidade local (LDA), parametrizada por Perdew-Zunger (PER-
DEW; ZUNGER, 1981), para o termo de troca e correlação. Para a descrição da interação
elétron-núcleo foi utilizada a aproximação do pseudopotencial, em que utilizou-se pseudopo-
tenciais de norma conservada de Troulier Martins. A descrição da primeira zona de Brillouin foi
feita utilizando-se 54 pontos-k (FAZZIO; VIANNA; CANUTO, 2004), que ja é suficiente para
uma boa descrição dos níveis próximos ao nível de fermi. A relaxação dos átomos foi feita via
cálculo de forças via teorema de Hellman-Feynmann até se atingir uma força residual de 0.025
eV/Å. A descrição do sistema foi feita utilizando-se a aproximação da supercélula (PAYNE et
al., 1992), em que a supercélula adotada era o dobro da célula primitiva, como ilustrado na
52
figura 3.1.
celula unitaria
Figura 3.1: Ilustração de célula unitária utilizada para o cálculo da folha de grafeno.
Em relação aos parâmetros estruturais, obteve-se que a folha de grafeno possui uma geo-
metria planar em que para a distância carbono-carbono obteve-se um valor de 1.44 Å que está
de bom acordo com o valor de referência encontrado na literatura que é de 1.42 Å (SAITO;
DRESSELHAUS; DRESSELHAUS, 1998). Em relação às propriedades eletrônicas desse sis-
tema, verificou-se através da estrutura de bandas, figura 3.2, que este material além de ser um
semimetal, possui uma dispersão aproximadamente linear próximo ao ponto K, o que está de
bom acordo como o esperado (SAITO; DRESSELHAUS; DRESSELHAUS, 1998).
Assim sendo, dos resultados acima verificou-se a boa descrição para o sistema tanto para
as propriedades estruturais e eletrônicas. Logo em seguida, iniciou-se o estudo da adsorção de
um átomo de ouro no grafeno com a finalidade de se compreender a interação entre os mesmos.
3.2 Au/Grafeno
A funcionalização da folha de grafeno via átomos metálicos é algo muito importante quando
se tem em vista aplicações relacionadas a catálise, baterias elétricas e nanoeletrônica (AVOU-
RIS; CHEN; PEREBEINOS, 2007). Além disso, a deposição de clusters sobre superfícies vêm
permitindo a sintese de materiais nanoestruturados que possuem propriedades que podem ser
otimizadas para determinadas aplicações tecnológicas como em dispositivos optoeletrônicos e
magnéticos.
53
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
E-E
f (e
V)
Γ M K Γ
Figura 3.2: Estrutura de Bandas do grafeno.
Nesse contexto, alguns trabalhos tanto experimentais quanto teóricos, vêm mostrando que
a interação ouro-grafite é fraca o que faz com que as nanopartículas de ouro tenham uma rápida
difusividade sobre amostras de grafite pirolítico (HOPG) (LEWIS et al., 2000). Neste contexto,
estudou-se a adsorção de um átomo de ouro na folha de grafeno com finalidade de se esclarecer
os sítios de adsorção e obter a energia de ligação do átomo sobre a folha. Além disso, o estudo
da difusão do átomo foi feita com a finalidade de se esclarecer a difusão desse átomo sobre o
grafeno.
O estudo foi feito utilizando-se as mesmas condições periódicas utilizadas no estudo do
grafeno e também a mesma metodologia empregada para o uso do SIESTA. Contudo, para os
cálculos utilizando o PWSCF, utilizou-se a LDA para o potencial de troca e correlação, a apro-
ximação dos pseudotenciais, em que utilizou-se pseudopotenciais ultrasoft. Para a limitação da
base de ondas planas, utilizou-se um energy cutoff de 30 Ry.
Inicialmente, adsorveu-se o átomo de ouro nas posições atop, bridge e hollow, como ilus-
trado na figura 3.3. Como a região de maior probabilidade de o átomo adsorver é aquele em
que a energia é mínima, obteve-se que a configuração do sistema quando o átomo de ouro esta
sobre o átomo de carbono é a mais provável, ou seja, a configuração atop.
Assim sendo, obteve-se a configuração final ilustrada na figura 3.4, onde a distância de
ligação entre os átomos de ouro e carbono é igual a dC−Au = 2.22 Å.
54
Atop
Bridge
Hollow
Figura 3.3: Modelo estrutural onde se indica as regiões onde o átomo de ouro foi adsorvido.
C
Au
2.22
Figura 3.4: Modelo estrutural do sistema Au/grafeno.
A energia de ligação para esse sistema foi calculada da seguinte maneira:
Eb = E[gra f ]+E[Au]−E[Au/gra f ]+δBSSE (3.1)
Onde E[gra f ] e E[Au] são as energias dos sistemas isolados, E[Au/gra f ] é a energia do
sistema Au sobre o grafeno e δ BSSE é o termo para corrigir o erro devido a superposição de base
(HOBBS; KANTOROVICH; GALE, 2005). Com isso, obteve-se Eb = 0.63 eV para a energia
de ligação, a qual está de bom acordo com valores teóricos encontrados na literatura, como no
trabalho de Jensen et al. (JENSEN; BLASE; ORDEJóN, 2004), em que obteve-se um valor de
0.66 eV. Desse valor, percebe-se que a ligação carbono-ouro é uma ligação química, mesmo ela
sendo relativamente baixa.
Para investigar a difusão do átomo de ouro no grafeno, o mínimo caminho de energia (MEP)
55
e a energia da barreira de difusão foram calculados. Esse cálculo foi realizado com o software
PWSCF o qual utiliza o método CI-NEB para o estudo da difusão, em que foi utilizado um
conjunto de oito imagens para a discretização do caminho. Nesse contexto, adotou-se uma
tolerância de 0.02 eV/Å para as forças ortogonais ao caminho. A figura 3.5 ilustra a barreira de
difusão e o MEP obtidos.
Figura 3.5: MEP e barreira de energia para a difusão do ouro sobre o grafeno.
Logo, da metodologia acima obteve-se que o átomo de ouro se difunde vias as seguintes
configurações: Atop→Bridge→Atop e sendo a energia da barreira de difusão de Ed = 0.028
eV. Com isso, pode-se afirmar que o átomo de ouro se difunde com relativa facilidade sobre o
grafeno, pois além de sua energia de ligação ser relativamente baixa, a barreria energética obtida
para a difusão é de aproximadamente 0.025 eV , a qual é a energia térmica a 300 K. Além disso,
através de simulações usando o método cinético de monte carlo, Lewis et al. (LEWIS et al.,
2000) verificaram que a difusão de nanoclusters de ouro sobre o grafite é comparável com a
difusão de um único átomo. Portanto, dos resultados acima também pode-se inferir que o ouro
tenderá a se aglomerar na superfície formando clusters cada vez maiores. Esse fato, vêm sendo
observado em estudos relacionados a difusão de nanoclusters de ouro sobre amostras de grafite
pirolítico, em que se nota o mesmo comportamento, como é ilustrado na figura 3.6.
3.3 Nanofitas de grafeno
As nanofitas de grafeno podem ser classificadas como sistemas quase unidimensionais. Es-
ses materiais são classificados de acordo com o tipo de borda que elas possuem, em que essa
classificação além de ser útil na análise estrutural é útil também na relação com as proprieda-
56
Figura 3.6: Micrografias de nanoclusters de ouro sobre grafite em função da temperatura (JEN-SEN, 1999).
des eletrônicas do sistema, pois cada tipo de nanofita possui propriedades eletrônicas distintas.
Dentre esses tipos as principais são as fitas armchair, AGNR, e as fitas zigzag, ZGNR.
Geralmente após a síntese das nanofitas os átomos de carbono pertencentes as bordas ficam
com ligações químicas pendentes. Isto faz com que o sistema possua pouca estabilidade e com
isso seja extremamente reativo. Devido a isso, após a síntese das nanofitas é comum haver
a presença de impurezas adsorvidas em suas bordas o que confere determinada estabilidade
ao sistema. Contudo, a passivação dessas ligações químicas pendentes com hidrogênio em
amostras de grafite já era utilizada e devido a isto também se passiva as ligações pendentes
das nanofitas com hidrogênio (KOBAYASHI et al., 2005), fato que confere maior estabilidade
às nanofitas. Por este motivo, nesse trabalho foi estudado somente nanofitas de grafeno que
possuem suas bordas passivadas com hidrogênio.
3.3.1 AGNR
As nanofitas do tipo armchair recebem esse nome devido a configuração estrutural de suas
bordas, que é semelhante ao formato de um braço de poltrona, como pode ser visto na fi-
gura 1.15. Devido a isto, as AGNRs apresentam uma maior estabilidade do que as nanofitas do
57
tipo zigzag (WASSMANN et al., 2008), o que faz com que em amostras de nanofitas de grafeno
e bordas de folhas de grafeno apareçam regiões de maior comprimento com bordas armchair
em relação a regiões com bordas zigzag (KOBAYASHI; FUKUI; ENOKI, 2006) . Além disso,
todas AGNRs possuem carácter semicondutor em que a energia do gap decai com o inverso da
largura da nanofita (ZHENG et al., 2007).
Nesse trabalho, estudou-se nanofitas do tipo armchair passivadas com hidrogênio. Esse
estudo foi realizado através de cálculos de primeiros princípios utilizando-se o SIESTA. A des-
crição do sistema foi feita utilizando-se uma célula unitária três vezes maior do que a célula
primitiva na direção de crescimento da nanofita e uma largura composta por no máximo quatro
hexágonos, justificando assim a nomenclatura (5x3) adotada. Além disso, utilizou-se a LDA
para o potencial de troca e correlação, aproximação dos pseupotenciais de norma conservada
de Troulier Martins, base DZP e um energy shift de 0.10 eV para o confinamento da base.
Utilizou-se 6 pontos especiais para a descrição da primeira zona de Brillouin e para a relaxação
dos átomos adotou-se um valor de 0.01 eV/Å para as forças residuais.
Através da geometria de equilibrio obtida, figura 3.7, observa-se que os comprimentos das
ligações entre os carbonos da borda é menor do que os comprimentos das ligações entre os
átomos de carbono centrais. Na tabela 3.1 é sumarizado os parâmetros estruturais obtidos.
c1
2
3
4
5
6
7
8
Figura 3.7: Modelo estrutural da AGNR-5x3.
Dos resultados acima, verifica-se que a diminuição das distâncias das ligações próximas à
borda é uma consequência da reconstrução dessa borda que é causada pela tentativa de estabili-
zação da mesma.
As propriedades eletrônicas desse sistema foram analisadas através do estudo da estrutura
58
Parâmetros Distâncias (Å)c 4.3021-2 1.4382-3 1.4253-4 1.4344-5 1.4324-6 1.4236-7 1.4157-8 1.3818-H 1.1097-H 1.109
Tabela 3.1: Parâmetros estruturais para a AGNR-5x3.
de bandas e densidade de estados (DOS) calculadas. Na figura 3.8, está ilustrado a estrutura de
bandas obtida. Através dessa, verifica-se que este sistema é um semicondutor de gap direto no
ponto Γ. Observa-se também que a massa efetiva dos elétrons é bem próxima a massa efetiva
dos buracos, pois as dispersão do último nível ocupado e do primeiro nível desocupado são bem
próximas.
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.8: Estrutura de bandas do AGNR-5x3.
O gráfico da DOS, figura 3.9, mostra que esse material além de ser um semicondutor pos-
sui magnetização total nula. Verifica-se também que a DOS dos últimos estados ocupados é
relativamente baixa, fato esse que sugere que nem todos os átomos contribuem para a forma-
ção desses estados. Afim de se obter os átomos que contribuem para esse estado, calculou-se
a densidade local de estados (LDOS) , figura 3.10. Logo, verifica-se que esses estados são
59
predominantemente oriundos dos carbonos da borda.
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (a
rb. u
nits
)
Figura 3.9: Densidade de estados do sistema AGNR-5x3. Linha preta representa a DOS doselétrons up enquanto a linha vermelha a DOS dos elétrons down.
Figura 3.10: Densidade parcial de carga do estado mais alto ocupado.
Calculando-se a densidade de estados projetada (PDOS) de um dos átomos da borda (átomo
8) foi possível verificar que são os orbitais átomicos p que formam os estados mais alto ocu-
pados e também os estados mais baixo desocupados, conferindo uma característica π para o
orbital mais alto ocupado e π∗ para o orbital mais baixo desocupado. Como pode ser visto na
figura 3.11.
Portanto, observa-se que a AGNR é um material semicondutor em que os estados mais alto
ocupados e mais baixo desocupados são formados predominantemente pelos orbitais 2pz dos
átomos de carbono pertencentes a borda.
60
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
PDO
S (a
rb. u
nits
)
Figura 3.11: PDOS do orbital 2p do átomo 8, o qual pertence a borda.
3.3.2 ZGNR
As nanofitas de grafeno do tipo zigzag (ZGNRs) recebem esse nome devido a configuração
estrutural de suas bordas, como pode ser visto na figura 1.15. Esse tipo de nanofita é o que vêm
mais recebendo atenção do meio científico. Fato este devido às propriedades eletrônicas desse
material que além de dependerem da configuração estrutural das bordas também dependem das
propriedades magnéticas desse sistema. Diferentemente das AGNRs as ZGNRs podem possuir
uma magnetização total não nula, pois os átomos de carbono de suas bordas possuem uma
hibridização tal que permite a esses orbitais alinharem os respectivos spins em determinados
sentidos, surgindo assim a configuração ferromagnética e anti-ferromagnética.
Nesse trabalho estudou-se as nanofitas do tipo zigzag (ZGNRs) com suas bordas passi-
vadas com hidrogênio. Esse estudo foi realizado através de cálculos de primeiros princípios
utilizando-se o SIESTA. Além disso, utilizou-se a LDA para o potencial de troca e correla-
ção, aproximação dos pseupotenciais de norma conservada de Troulier Martins, base DZP e
um energy shift de 0.10 eV para o confinamento da base. Utilizou-se um conjunto de 16 pontos
especiais para a descrição da primeira zona de Brillouin. Para a relaxação dos átomos adotou-se
um valor de 0.01 eV/Å para as forças residuais. A descrição do sistema foi feita utilizando-se
uma célula unitária quatro vezes maior do que a célula primitiva na direção de crescimento da
nanofita e uma largura composta por seis linhas de carbono, justificando assim a nomenclatura
(6x4) adotada.
Afim de se determinar qual a configuração magnética das bordas que minimiza a energia do
sistema, calculou-se a diferença de energia da ZGNRs para as configurações FM e AF, em que
61
obteve-se 0.01 eV. Logo, a configuração AF é a configuração magnética mais provável para as
ZGNRs e devido a isso nesse trabalho estudou-se somente as ZGNRs na configuração AF.
Através da geometria de equilibrio obtida, figura 3.12, observa-se que determinados com-
primentos de ligação são menores próximos a borda e outros são maiores próximos a borda,
como as ligações 1-2 e 5-6 que aumentam e as ligações 2-3 e 6-7 que diminuem. Na tabela 3.2
é sumarizado os parâmetros estruturais obtidos.
c
12
34
56
7
Figura 3.12: Modelo estrutural da ZGNR-6x4.
Parâmetros Distâncias (Å)c 2.461-2 1.4322-3 1.4233-4 1.4334-5 1.4225-6 1.4456-7 1.4117-H 1.113
Tabela 3.2: Parâmetros estruturais para a ZGNR-6x4.
Com o objetivo de se determinar as propriedades eletrônicas desse sistema, calculou-se a
estrutura de bandas e a DOS. Da estrutura de bandas, figura 3.13, observa-se que a ZGNR no
estado AF, é um semicondutor de gap direto próximo ao ponto X , o que está de bom acordo com
outros resultados teóricos (MARTINS et al., 2007). Além disso, verifica-se que a dispersão da
energia é menor do que a dispersão para a AGNR, fato este que reflete a maior massa efetiva
dos elétrons e buracos nas ZGNRs.
Através da DOS, figura 3.14, verifica-se que além de este sistema apresentar uma magne-
62
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.13: Estrutura de bandas da ZGNR-6x4.
tização total nula, a ZGNR é um semicondutor que possui um gap de energia menor do que a
AGNR. Também, verifica-se uma maior densidade de estados ocupados próximos ao nível de
Fermi em relação a AGNR. Como a reactividade química de um sistema pode ser quantitativa-
mente expressa como sendo diretamente proporcional a densidade de estados próximo ao nível
de Fermi, verifica-se então que as ZGNRs são mais reativas do que as AGNRs, e sendo por isso
menos estáveis (WASSMANN et al., 2008).
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (a
rb. u
nits
)
Figura 3.14: Densidade de estados da ZGNR-6x4.
Com o objetivo de se obter quais são os átomos responsáveis pelos estados mais alto ocu-
pados, calculou-se a LDOS dos níveis mais alto ocupados. Como pode ser visto na figura 3.15,
63
esses níveis são predominantemente oriundos dos átomos de carbono da borda. Portanto, as
bordas desse material são as regiões mais reativas do ponto de vista químico.
Figura 3.15: Densidade parcial de carga do estado mais alto ocupado, onde em azul é a densi-dade correspondente a polarização up e em vermelho a polarização down.
Calculando-se a PDOS de um dos átomos de carbono da borda (átomo 7), figura 3.16,
verificou-se que os orbitais atômicos pz desse átomo que contribui para o estado mais alto
ocupado. Logo, pode-se afirmar que os estados mais alto ocupados são originados pelos orbitais
2pz dos átomos de carbono da borda, o que confere uma natureza do tipo π para esses estados.
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
PDO
S (a
rb. u
nits
)
Figura 3.16: PDOS do orbital 2p do átomo 7, o qual pertence a borda.
64
Portanto, a ZGNR é um material semicondutor em seu estado AF, além de possuir uma
magnetização nula. Entretanto, como a diferença energética entre os estados AF e FM é pe-
quena, as ZGNRs podem assumir a configuração FM com uma certa facilidade. Além disso, as
bordas da ZGNR se mostram como regiões altamente reativas, como pôde ser visto pela análise
da LDOS e da DOS. Nesse contexto, pode-se afirmar que a maioria das impurezas irão interagir
com as bordas das ZGNRs.
ZGNRs semi-metálicas
Estudos teóricos baseados na DFT (SON; COHEN; LOUIE, 2006) (DUTTA; MANNA;
PATI, 2009), vêm sugerindo que as ZGNRs em seu estado AF apresentam um comportamento
semi-metálico (Half metal) quando essas são submetidas a campos elétricos externos transver-
sais com relação a direção de crescimento da nanofita, como pode ser visto na figura 3.17. Os
semi-metais são materiais em que a corrente elétrica transportada por esses, é completamente
polarizada, ou seja, a corrente elétrica transportada por esses materiais é devido somente à elé-
trons com spin up ou spin down. Com isso, verifica-se que para uma determinada polarização o
material é um metal e para a outra o material é um isolante ou semicondutor.
E
Figura 3.17: Esquema ilustrando direção do campo elétrico externo.
Com o objetivo de se verificar esse fenômeno, calculou-se a DOS e a estrutura de bandas
para ZGNRs de diferentes larguras submetidas a campos elétricos transversais de diferentes
intensidades e sentidos. Inicialmente foi obtida a estrutura de bandas e DOS para uma ZGNR-
6x2 sem campo elétrico aplicado. A estrutura de bandas obtida está ilustrada na figura 3.18, e a
DOS na figura 3.19. Desses resultados verifica-se o comportamento descrito na seção anterior,
a ZGNR-6x2 é um material semicondutor em que há uma simetria em relação a ocupação dos
elétrons com spin up (linha preta) e down (linha vermelha).
Posteriormente, aplicou-se um campo elétrico de intensidade 0.1 V/Å obtendo com isso a
65
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.18: Estrutura de bandas da ZGNR-6x2.
-5 0 5E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.19: Densidade de estados da ZGNR-6x2.
estrutura de bandas ilustrada na figura 3.20 e a DOS ilustrada na figura 3.21.
Com isso, é possivel ver que a simetria do sistema é quebrada, pois como se observa na
estrutura de bandas, alguns níveis para elétrons down (linhas pontilhadas) estão separados do
respectivos niveis para elétrons up (linha contínua). Consequentemente, verifica-se também
pela DOS uma maior aproximação dos níveis dos elétrons down e um pequeno afastamento dos
66
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.20: Estrutura de bandas ZGNR-6x2 submetida a um campo de intensidade 0.1 V/Å.
-5 0 5E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.21: Densidade de estados do sistema ZGNR-6x2 submetido a um campo de intensidade0.1 V/Å.
elétrons up dando início assim a um comportamento semi-metálico.
Agora, para um campo de intensidade 0.15 V/Å obteve-se a estrutura de bandas ilustrada
na figura 3.22 e a DOS ilustrada na figura 3.23.
Com isso, vê-se que com o aumento da intensidade do campo externo o comportamento
semi-metálico fica mais pronunciado pois verifica-se uma aumento densidade de estados de
elétrons down e uma anulação completa da densidade de estados de elétrons up em torno do
nível de Fermi.
67
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.22: Estrutura de bandas da ZGNR-6x2 submetida a um campo de intensidade 0.15V/Å.
-5 0 5E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.23: Densidade de estados da ZGNR-6x2 submetida a um campo de intensidade 0.15V/Å.
A largura da nanofita também pode ser um parâmetro influente nesse tipo de fenônemo.
Devido a isto, foi também calculado a estrutura de bandas e a DOS de uma ZGNR-10x2, a qual
é ilustrada na figura 3.24.
Para se obter suas propriedades eletrônicas, foi calculado a estrutura de bandas e a DOS, as
quais são ilustradas na figura 3.25 e figura 3.26, respectivamente.
Posteriormente, realizou-se o mesmo procedimento para o cálculo com os campos elétricos
68
Figura 3.24: Modelo estrutural da ZGNR-10x2.
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.25: Estrutura de bandas da ZGNR-10x2.
-5 0 5E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.26: Densidade de estados da ZGNR-10x2.
externos. Primeiramente, calculou-se a estrutura de bandas, figura 3.27 e DOS, figura 3.28 para
um campo elétrico de intensidade 0.1 V/Å. Desses resultados verifica-se um maior pronuncia-
69
mento do fenômeno do que para a ZGNR-6x2.
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.27: Estrutura de bandas da ZGNR-10x2 submetida a um campo de intensidade 0.1V/Å.
-5 0 5E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.28: Densidade de estados da ZGNR-10x2 submetida a um campo de intensidade 0.1V/Å.
Para um campo elétrico de intensidade 0.15 V/Å, obteve-se a estrutura de bandas, fi-
gura 3.29, e a DOS, figura 3.30.
Posteriormente, repetiu-se o mesmo procedimento para uma nanofita de maior largura,
ZGNR-16x2, que é ilustrada na figura 3.31. A estrutura de bandas e DOS desse sistema foi
70
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.29: Estrutura de bandas da ZGNR-10x2 submetida a um campo de intensidade 0.15V/Å.
-5 0 5E-Ef (ev)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.30: Densidade de estados da ZGNR-10x2 submetida a um campo de intensidade 0.15V/Å.
calculada da mesma maneira como os anteriores, em que se obteve a estrutura de banda, fi-
gura 3.32, e a DOS ilustrada na figura 3.33.
Após isso, repetiu-se o mesmo procedimento, calculou-se a estrutura de bandas e DOS para
a ZGNR-16x2 submetida a campos de intensidade 0.1 V/Å e 0.15 V/Å. Para a ZGNR-16x2
submetida a um campo de intensidade 0.1 V/Å, obteve-se a estrutura de bandas ilustrada na
figura 3.34 e a DOS ilustrada na figura 3.35.
71
Figura 3.31: Modelo estrutural da ZGNR-16x2.
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.32: Estrutura de bandas da ZGNR-16x2.
-5 0 5E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S(u.
a.)
Figura 3.33: Densidade de estados da ZGNR-16x2.
Para a ZGNR-16x2 submetida a um campo de intensidade 0.15 V/Å, obteve-se a estrutura
de bandas ilustrada na figura 3.36 e a DOS ilustrada na figura 3.37.
72
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.34: Estrutura de bandas da ZGNR-16x2 submetida a um campo de intensidade 0.1V/Å.
-5 0 5E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.35: Densidade de estados da ZGNR-16x2 submetida a um campo de intensidade 0.1V/Å.
Portanto, dos resultados obtidos verificou-se o comportamento semi-metálico para as ZGNRs
submetidas a campos elétricos transversais. Verificou-se também que esse comportamento é
acentuado com a intensidade do campo e também que é mais fácil ter nanofitas ZGNRs semi-
metálicas de acordo com o aumento da largura, ou seja, precisa-se de um campo menos intenso
para o pronunciamento do comportamento semi-metalico para ZGNRs de maior largura. Esse
fato é devido a menor interação entre os estados das duas bordas com o aumento da largura
(SON; COHEN; LOUIE, 2006).
73
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.36: Estrutura de bandas da ZGNR-16x2 submetida a um campo de intensidade 0.15V/Å.
-5 0 5E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.37: Densidade de estados da ZGNR-16x2 submetida a um campo de intensidade 0.15V/Å.
3.4 Nanofitas de grafeno com ouro
Como foi dito anteriormente, as GNRs são materiais que possuem suas propriedades ele-
trônicas dependentes de suas bordas. Assim sendo, as propriedades eletrônicas, de transporte e
magnéticas são bem sensíveis com relação a estrutura atômica e química das bordas.
Nesse contexto, a adsorção de átomos ou moléculas em suas bordas pode ser visto como
uma possibilidade de alterar determinadas propriedades de interesse, ou seja, uma funcionaliza-
74
ção. Como exemplo pode-se citar alguns trabalhos teóricos que vêm mostrando que é possível
funcionalizar determinadas nanofitas via metais de transição como Níquel (RIGO et al., 2009)
e Titânio (KAN et al., 2007). Além disso, vários grupos experimentais vêm construindo dispo-
sitivos utilizando GNRs como meio semicondutor e eletrodos metálicos, como Ti/Au (WANG
et al., 2008) e Pd (CHEN et al., 2007).
Portanto, o estudo da influência do ouro nas propriedades eletrônicas, estruturais e magné-
ticas desses materiais é importante não somente do ponto de vista de uma possível funcionali-
zação, mas também da análise das possíveis influências desse metal nos dispositivos feitos de
GNRs.
3.4.1 Au/AGNR
Após o estudo nanofitas armchair em seu estado puro, estudou-se a adsorção do ouro nesses
sistemas. Primeiramente estudou-se a adsorção de um átomo de ouro nas nanofitas AGNR-5x3
e posteriormente nas nanofitas AGNR-5x1, refletindo assim duas concentrações distintas.
Esse estudo foi realizado através de cálculos de primeiros princípios utilizando-se o SI-
ESTA e o PWSCF. Para os cálculos via o SIESTA , utilizou-se a LDA para o potencial de troca
e correlação, aproximação dos pseupotenciais de norma conservada de Troulier Martins, base
DZP e um energy shift de 0.10 eV para o confinamento da base. Utilizou-se um conjunto de
6 pontos especiais para a descrição da primeira zona de Brillouin. Para a relaxação dos áto-
mos adotou-se um valor de 0.01 eV/Å para as forças residuais. Para os cálculos via o PWSCF,
utilizou-se novamente a LDA para o potencial de troca e correlação, a aproximação dos pseu-
dotenciais, em que utilizou-se pseudopotenciais ultrasoft. Para a limitação da base de ondas
planas, utilizou-se um energy cutoff de 30 Ry.
Au/AGNR-5x3
Com o intuito de se determinar os sítios de maior probabilidade da adsorção de um átomo
de Au sobre a AGNR, calculou-se a energia total de algumas configurações do Au/AGNR-5x3.
Na figura 3.38, está ilustrado as configurações analizadas.
Para as configurações Hollow e BridgeC verificou-se uma instabilidade, logo o átomo de
ouro que foi adsorvido inicialmente nessas configurações migrou para configurações do tipo
AtopSSE e AtopC, respectivamente. A tabela 3.3 mostra as diferenças de energia entre as
configurações analisadas, em que se adotou a configuração de mais baixa energia como sendo
a referência.
75
AtopC
BridgeC
Hollow
AtopSE
AtopE
AtopSSE
Figura 3.38: Esquema mostrando as configurações analisadas da Au/AGNR-5x3.
Configurações ∆E (eV)AtopC 0.33AtopSE 0.28AtopSSE 0.33AtopE 0
Tabela 3.3: Diferença de energia entre as configurações analisadas no caso Au/AGNR-5x3.
Desses resultados, pode-se afirmar que a configuração mais provável é a que o átomo de
ouro se adsorve sobre um átomo de carbono, pois é esta configuração a de mínima energia. Os
parâmetros estruturais para essa configuração foram extraidos da configuração final, a qual é
ilustrada na figura 3.39. Dessa configuração final, obtem-se uma distância de ligação carbono-
ouro de dC−Au = 2.10 Å, a qual é muito próxima da soma dos raios covalente7 do ouro e carbono,
1.43 e 0.77 Å, respectivamente, o que sugere a formação de uma ligação química.
H
2.10
Au
C
Figura 3.39: Modelo estrutural do sistema Au/AGNR-5x3.
7Metade da distância entre dois núcleos de átomos do mesmo elemento químico.
76
Além disso, obteve-se a densidade eletrônica total, figura 3.40, e calculou-se a energia de
ligação do átomo de ouro com a AGNR-5x3, que foi calculada através da equação 3.2.
Eb = E[AGNR−5x3]+E[Au]−E[Au/AGNR−5x3]+δBSSE (3.2)
Onde E[AGNR− 5x3] e E[Au] são as energias dos sistemas isolados, E[Au/AGNR− 5x3]
é a energia do sistema Au sobre a AGNR-5x3 e δ BSSE é o termo para corrigir o erro devido a
superposição de base (HOBBS; KANTOROVICH; GALE, 2005), em que nesse caso obteve-se
δ BSSE = 0.48 eV. Com isso, obteve-se Eb = 1.01 eV, lembrando que na folha era 0.63 eV.
Figura 3.40: Densidade de carga total para do sistema Au/AGNR-5x3.
Logo, da densidade eletrônica total e do valor da energia de ligação pode-se afirmar que de
fato a ligação carbono-ouro é uma ligação química. Com o objetivo de se determinar a influência
do ouro nas propriedades eletrônicas da AGNR-5x3, calculou-se a estrutura de bandas e a DOS.
Com relação a estrutura de bandas obtida, figura 3.41, verifica-se que a presença do ouro faz
com que apareça um nível quase não disperso bem próximo ao nível de Fermi.
A DOS, figura 3.42, além de ilustrar a mudança da densidade com a adsorção do ouro,
deixa explícito a presença do nível semi-ocupado. Afim de se verificar quais são os estados do
ouro nesse sistema, calculou-se a PDOS desse átomo, figura 3.43, onde é possível verificar a
contribuição de cada orbital na DOS.
Logo, vê-se que o orbital 5d do ouro entra ressonante na banda e não contribui para o nível
semi-ocupado próximo ao nível de Fermi. Entretanto, o orbital 6s do ouro possui uma contri-
buição quase nula dentro da banda com relação ao orbital 5d, embora o nível semi-ocupado
seja composto majoritariamente por esse orbital. Além disso, obteve-se que a hibridização do
ouro na configuração é modificada de 5d10 e 6s1 para 5d9.6 e 6s1.2. Para um maior detalhamento
77
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.41: Estrutura de bandas do sistema Au/AGNR-5x3.
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (a
rb. u
nits
)
Au/AGNR
AGNR
Figura 3.42: Densidade de estados do sistema Au/AGNR-5x3 e do sistema AGNR-5x3.
acerca do nível semi-ocupado, calculou-se a LDOS, figura 3.44, em que através dessa é possível
localizar os átomos que contribuem para a formação desse nível.
Portanto, nota-se claramente que grande parte da contribuição para esse estado semi-ocupado
vem dos átomos da região onde ocorre a adsorção do Au. Além da contribuição do ouro,
verifica-se também a contribuição dos átomos de carbono vizinhos.
Após a obtenção das influências do átomo de ouro nas propriedades eletrônicas da AGNR-
5x3, calculou-se também o MEP e as barreiras de difusão associadas com a difusão do átomo
de ouro adsorvido na AGNR-5x3. Assim sendo, calculou-se o MEP e a barreira de difusão
para o Au partindo da configuração AtopC para a configuração AtopE. Esse cálculo foi feito
78
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-12
-6
0
6
12
PDO
S (a
rb. u
nits
)
Au/AGNR
Au(6s)Au(5d)
Figura 3.43: Densidade de estados projetada do sistema Au/AGNR-5x3.
Figura 3.44: LDOS do nível semi-ocupado do sistema Au/AGNR-5x3.
utilizando-se 12 imagens fazendo uso da CI-NEB, em que adotou-se uma tolerância de 0.05
eV/Å para as forças ortogonais ao caminho. A barreira de difusão e MEP obtido está ilustrado
na figura 3.45.
Desses resultados, vê-se que a difusão do Au sobre a AGNR-5x3, do centro para a borda,
ocorre via as seguintes configurações: AtopC→Bridge→Atop→ . . .→ AtopE, como pode ser
visto na figura 3.45. Nesse contexto, para a difusão do ouro da configuração AtopC para o
próximo Atop obteve-se uma barreira de energia de 0.045 eV, a qual é maior do que a barreira
energética para a mesma difusão sobre a folha de grafeno, que era de 0.028 eV. Embora fica
explícito vários mínimos e máximos locais, as quais refletem configurações metaestáveis, a bar-
reira de energia é calculada pela diferença de energia entre a configuração de mínima energia
e a configuração de máxima energia. Assim sendo, obteve-se que a barreira de energia para a
79
Figura 3.45: Barreira de difusão e MEP do Au/AGNR-5x3.
difusão do Au do centro para a borda é de 0.08 eV e da borda para o centro de 0.42 eV. Esses
resultados deixam claro que quando o ouro é depositado sobre a AGNR-5x3, o Au tenderá a se
difundir para a borda, o que ocorrerá com relativa facilidade. Entretanto, a transição inversa, da
borda para o centro é menos provável pois esta envolve uma barriera de energia aproximada-
mente cinco vezes maior do que para a difusão do centro para a borda.
Au/AGNR-5x1
Com o objetivo de se analisar as mesmas influências do ouro sobre a AGNR levando em
conta uma concentração maior de ouro, repetiu-se os mesmos cálculos da seção porém para
uma AGNR-5x1, ocasioando assim uma maior interação Au-Au, em que a distância entre do
Au a sua imagem era de aproximadamente 4.3 Å. Como para uma concentração menor de
ouro obteve-se o sítio AtopE como sendo o mais provável para a adsorção do Au, adimitiu-se
apenas algumas configurações para a análise da região de maior probabilidade da adsorção. A
figura 3.46 ilustra os sítios analisados.
Após a relaxação do sistema, o Au nas configurações AtopC e AtopE se deslocou um
pouco para configurações quase Bridge, devido a maior interação Au-Au. Na tabela 3.4, estão
as diferenças de energia entre as configurações finais.
Sendo a configuração mais provável para o Au em que este se encontra na borda, figura 3.47,
obteve-se para as distâncias de ligação d1C−Au = 2.14 e d2C−Au = 2.51 Å.
80
AtopCAtopSE
AtopE
Figura 3.46: Esquema de configurações analisadas para o Au/AGNR-5x1.
Configurações ∆E (eV)AtopC 0.19AtopSE 0.16AtopE 0
Tabela 3.4: Diferença de energia entre as configurações analisadas no caso Au/AGNR-5x3.
H
2.14
C
Au2.51
Figura 3.47: Modelo estrutural do sistema Au/AGNR-5x1.
Além disso, calculou-se a energia de ligação do Au sobre a AGNR-5x1 através do mesmo
procedimento que foi usado para o cálculo da energia de ligação do Au sobre a AGNR-5x3.
Assim sendo, obteve-se Eb = 1.15 eV. Logo, em conjunto com a densidade de carga total,
figura 3.48, verifica-se que a ligação do ouro com a AGNR-5x1 é uma ligação química em que
o ouro se hibridiza como tendo suas camadas da valência na seguinte configuração 5d9.6 e 6s1.2.
Posteriormente, analisou-se a estrutura de bandas e a DOS desse sistema em relação a
estrutura de bandas e DOS do AGNR-5x1. Em relação a estrutura de bandas, figura 3.49, vê-
se que além da considerável perturbação dos níveis mais próximos ao nível de Fermi, há o
surgimento de um nível semi-ocupado bem disperso que atravessa o nível de Fermi. Isso faz
com que o sistema que era um semicondutor, agora passe a ser um metal, como também pode
81
Figura 3.48: Densidade de carga total do sistema Au/AGNR-5x1.
ser observado na DOS, figura 3.50.
(a) (b)
Figura 3.49: Estrutura de bandas dos sistemas AGNR-5x1 (a) e Au/AGNR-5x1 (b).
Com o intuito de se obter quais são os átomos que contribuem para a formação do nível
que atravessa o nível de Fermi, calculou-se a PDOS e a LDOS. Através do gráfico da PDOS,
82
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-10
-5
0
5
10
DO
S (a
rb. u
nits
)
AGNR
Au/AGNR
Figura 3.50: Densidade de estados dos sistemas AGNR-5x1 e Au/AGNR-5x1.
figura 3.51, observa-se que o mesmo comportamento do caso Au/AGNR-5x3 é mantido para o
Au/AGNR-5x1. Porém, da LDOS, figura 3.52, observa-se que a localização desse estado irá se
estender por toda a borda. Portanto será o ouro da borda que fará o papel de um canal condutor.
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-10
-5
0
5
10
E-E
f (e
V)
Au/AGNR
Au(5d)
Au(6s)
Figura 3.51: Densidade de estados projetada do Au no sistema Au/AGNR-5x1.
Após isso, repetiu-se o mesmo procedimento para o cálculo do MEP e as barreiras de difu-
são. Entretanto, além de somente estudar a difusão do Au do centro para a borda, estudou-se a
difusão na borda e também na borda interna. No caso da difusão centro borda, obteve-se a MEP
e a barreira ilustrada na figura 3.53. Desse gráfico, verifica-se que o comportamento observado
83
Figura 3.52: Densidade local do estado semi-ocupado do sistema Au/AGNR-5x1.
para a difusão do Au/AGNR-5x3 é mantido principalmente com relação ao MEP, ou seja, a di-
fusão ocorre via as seguintes configurações: AtopC→Bridge→Atop→ . . .→ AtopE. Porém,
as barreiras energéticas sofrem alterações principalmente em relação a uma maior definição de
estados meta-estáveis e aos valores de energia associados às transições, como é observado na
figura 3.54. Nesse contexto, verifica-se que a energia associada à difusão do Au do centro para a
borda se mantem a mesma com o aumento da concentração de ouro. Porém, a transição inversa,
borda para o centro, se torna mais provável pois a respectiva barreira de energia diminui de 0.07
eV.
Figura 3.53: MEP e barreiras de eneriga para a transição Centro-Borda do Au/AGNR-5x1.
84
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1Coordenada de difusao
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
Ene
rgia
(eV
)
Au/AGNR−5x3
Au/AGNR−5x1
Figura 3.54: Barreiras de energia para a transição Centro-Borda dos sistemas Au/AGNR-5x3 eAu/AGNR-5x1.
Considerando agora a difusão do Au sobre a borda, obteve-se o MEP e as barreiras energé-
ticas como está ilustrado na figura 3.55. Desse gráfico, obteve-se que a difusão do Au na borda
ocorre via as seguintes configurações:AtopE→Bridge→AtopE→ . . .→ AtopE. A barreira de
energia obtida para a transição foi de 0.22 eV, o que mostra que a difusão na borda é mais difícil
de ocorrer do que a difusão da borda para o centro.
Figura 3.55: MEP e barreiras de energia para a transição Borda-Borda do Au/AGNR-5x1.
85
Para a difusão do Au sobre a borda interna (sub-edge), obteve-se o MEP e as barrei-
ras energéticas como está ilustrado na figura 3.56. Desse gráfico, obteve-se que a difusão
do Au na borda interna ocorre via as seguintes configurações:AtopSE→Bridge→AtopSE→. . .→AtopSSE. A barreira de energia obtida para a transição direta (AtopSE→AtopSSE) foi
de 0.068 eV e 0.088 eV para a transição inversa.
Figura 3.56: MEP e barreiras de energia para a transição Borda interna-Borda interna doAu/AGNR-5x1.
Logo, vê-se que a difusão do Au sobre a borda externa e a borda interna é um evento mais
raro de ocorrer do que a a difusão do Au do centro para a borda.
3.4.2 Au/ZGNR
Após o estudo das nanofitas zigzag em seu estado puro, estudou-se a adsorção do ouro nes-
ses sistemas. Primeiramente, estudou-se a adsorção de um átomo de ouro nas nanofitas ZGNR-
6x4 e posteriormente nas nanofitas ZGNR-6x2, proporcionando assim duas concentrações de
ouro diferentes.
Esse estudo foi realizado através de cálculos de primeiros princípios utilizando-se o SI-
ESTA e o PWSCF. Para os cálculos via o SIESTA , utilizou-se a LDA para o potencial de troca
e correlação, aproximação dos pseupotenciais de norma conservada de Troulier Martins, base
DZP e um energy shift de 0.10 eV para o confinamento da base. Utilizou-se um conjunto de
16 pontos especiais para a descrição da primeira zona de Brillouin. Para a relaxação dos áto-
mos adotou-se um valor de 0.01 eV/Å para as forças residuais. Para os cálculos via o PWSCF,
86
utilizou-se novamente a LDA para o potencial de troca e correlação, a aproximação dos pseu-
dotenciais, em que utilizou-se pseudopotenciais ultrasoft. Para a limitação da base de ondas
planas, utilizou-se um energy cutoff de 30 Ry.
Au/ZGNR-6x4
Com o objetivo de se determinar os sítios de maior probabilidade da adsorção de um átomo
de Au sobre a ZGNR, calculou-se a energia total de algumas configurações para o sistema
Au/ZGNR-6x4. Na figura 3.57, está ilustrado as configurações analizadas.
AtopE
AtopSE
Hollow
Bridge
AtopC
Figura 3.57: Esquema de configuração analisadas no caso Au/ZGNR-6x4.
Para as configurações Hollow e Bridge verificou-se uma instabilidade tal que o átomo de
ouro migrava para as configurações Atop mais próximas. Devido a isso quando o ouro era
adsorvido nas configurações AtopSE e Bridge o Au migrava para as configurações AtopE e
AtopC, respectivamente. A tabela 3.5 contém as diferenças de energia entre as configurações
finais, em que se adotou a configuração de mais baixa energia como sendo a referência.
Configurações ∆E (eV)AtopC 1.32AtopE 0
Tabela 3.5: Diferença de energia entre as configurações analisadas no caso Au/ZGNR-6x4.
Com isso, pode-se afirmar que a região mais provável de ocorrer a adsorção de um átomo
de ouro sobre uma nanofita ZGNR é a do átomo de ouro sobre um dos átomos de carbono da
borda. Os parâmetros estruturais obtidos para essa configuração foram extraídos da estrutura
final do sistema, a qual é ilustrada na figura 3.58. Dessa estrutura, obteve-se a distância de
87
ligação carbono-ouro de dC−Au = 2.03 Å, a qual é muito próxima da soma dos raios covalente
do ouro e carbono, 1.43 e 0.77 Å, respectivamente.
2.03
HC
Au
Figura 3.58: Modelo estrutural do sistema Au/ZGNR-6x4.
Além disso, calculou-se a energia de ligação através da equação 3.3.
Eb = E[ZGNR−6x4]+E[Au]−E[Au/ZGNR−6x4]+δBSSE (3.3)
Onde E[ZGNR− 6x4] e E[Au] são as energias dos sistemas isolados, E[Au/ZGNR− 6x4]
é a energia do sistema Au sobre a ZGNR-6x4 e δ BSSE é o termo para corrigir o erro devido a
superposição de base (HOBBS; KANTOROVICH; GALE, 2005), em que obteve-se δ BSSE =
0.37 eV. Com isso, obteve-se Eb = 2.18 eV, o qual é muito próximo do valor obtido de Eb = 2.19
eV que foi calculado utilizando-se o PWSCF. Desse valor de energia de ligação, conjuntamente
com a densidade eletrônica total, figura 3.59, pode-se afirmar que de fato a ligação carbono-ouro
é uma ligação química.
Figura 3.59: Densidade de carga total para o sistema Au/ZGNR-6x4.
88
Para a análise da influência do Au nas propriedades eletrônicas da ZGNR-6x4, calculou-se
a estrutura de bandas, figura 3.60, e DOS , figura 3.61.
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
v)
Γ X
Figura 3.60: Estrutura de bandas do sistema Au/ZGNR-6x4.
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (a
rb. u
nits
)
Au/ZGNRZGNR
Figura 3.61: Densidade de estados dos sistemas Au/ZGNR-6x4 e ZGNR-6x4.
Desses resultados, percebe-se que ocorre uma quebra dos níveis de energia quando ocorre
a adsorção do ouro e também os níveis de energia sofrem uma considerável perturbação dos
níveis próximo ao ponto Γ. Da DOS, pode se afirmar que o sistema Au/ZGNR-6x4 possui uma
magnetização não nula, a qual é a responsável pela quebra dos níveis e por esse comportamento
quase semi-metálico. Com o intuito de se verificar qual é a contribuição do ouro nos estados do
sistema Au/ZGNR-6x4, calculou-se a PDOS desse átomo, figura 3.62, onde fica evidente que
89
além de não contribuir para o nível semi-ocupado, somente os orbitais 6s contribuem para os
mais próximos ao nível de Fermi e os orbitais 5d entram ressonante na banda.
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (a
rb. u
nits
)
Au(6s)
Au(5d)
Au/ZGNR
Figura 3.62: Densidade de estados projetada do sistema Au/ZGNR-6x4.
Para se obter quais são os átomos que corroboram para a formação dos níveis semi-ocupados
e mais alto ocupados, calculou-se a LDOS desses estados, figura 3.63.
Figura 3.63: LDOS do nível semi-ocupado do sistema Au/ZGNR-6x4.
Com isso, fica evidente que o nível semi-ocupado são oriundos dos átomos de carbono da
borda oposta.
Após isto, calculou-se também o MEP e as barreiras de difusão associadas com a difusão
do átomo de ouro adsorvido na ZGNR-6x4. Nesse contexto, calculou-se a MEP de uma posição
em que o ouro inicialmente se encontrava na configuração Hollow para a configuração final que
90
era a configuração AtopE. Esse cálculo foi feito utilizando-se 12 imagens fazendo-se uso da
CI-NEB, em que adotou-se uma tolerância de 0.05 eV/Å para as forças ortogonais ao caminho.
A barreira de difusão obtida para essa transição está ilustrada na figura 3.64.
Figura 3.64: Barreira de difusão e MEP do Au/ZGNR-6x4.
Portanto, vê-se que a difusão do Au sobre a ZGNR-6x4, do centro para a borda, ocorre via
as seguintes configurações:Hollow→Atop→Bridge→ . . .→AtopE, como pode ser através do
MEP obtido. Além disso, dos resultados obtidos pode-se afirmar que o ouro se difunde espon-
taneamente do centro para a borda, pois não há barreira de energia para tal difusão. Entretanto,
para uma transição entre um determinado estado Atop, não pertencente a borda, para o estado
AtopE há sim barreiras de energia associadas, em que a mais alta possui o valor de 0.20 eV,
correspondente a transição AtopC→AtopE. Entretanto, para a transição inversa, obteve-se uma
barreira de energia de 1.53 eV, o que deixa claro a baixa probabilidade de tal transição.
Au2/ZGNR-6x2
Com o objetivo de se obter a mesma análise levando em conta uma concentração maior de
ouro, como foi feito para a AGNR, repetiu-se os mesmos cálculos da seção anterior porém para
uma ZGNR-6x2 em que foi utilizou-se dois átomos de ouro por célula unitária da ZGNR. Como
para uma concentração menor de ouro obteve-se o sítio AtopE como sendo o mais provável para
a adsorção do Au, adimtiu-se apenas algumas configurações para a análise da região de maior
probabilidade da adsorção, as quais são ilustradas na figura 3.65.
Assim sendo, analisou-se três configurações. A primeira é quando os dois átomos de ouro
91
AtopE(2)
AtopE(1)
AtopSE
Figura 3.65: Esquema mostrando as configurações analisadas da Au2/ZGNR-6x2.
estão sob o mesmo átomo de carbono das bordas e com isso somente um dos átomos de ouro
que interage com o átomo de carbono, ou seja, um dímero de ouro na configuração AtopE(1).
A segunda, se refere a um dos átomos de ouro adsorvido na configuração AtopSE e o outro na
configuração AtopE(1). E a terceira, por fim, se refere a um dos átomos de ouro adsorvido na
configuração Atop(1) e o outro na configuração Atop(2). Sendo essas configurações estados
iniciais do sistema, após a relaxação, a primeira e segunda configuração se tornam uma Bridge-
Bridge na borda e uma AtopE(1)-f, em que um dos átomos de ouro está adsorvido sobre um
dos átomos de carbono da borda e outro não está mais ligado a um átomo de carbono; res-
pectivamente. Entretanto, a configuração AtopE(1)-AtopE(2) permanece estável. A tabela 3.6
mostra as diferenças de energia entre as configurações finais, em que se adotou a configuração
de mais baixa energia como sendo a referência.
Configurações ∆E (eV)Bridge-Bridge 1.02AtopE(1)-f 0.01AtopE(1)-AtopE(2) 0
Tabela 3.6: Diferença de energia entre as configurações analisadas no caso Au2/ZGNR-6x2.
Desses resultados, pode-se afirmar que a configuração mais provável é a que os átomos de
ouro se ligam aos átomos de carbono da borda, ou seja, a configuração AtopE(1)-AtopE(2).
Os parâmetros estruturais para essa configuração foram extraidos da configuração final, que
é ilustrada na figura 3.66. Dessa configuração, calculou-se as distâncias de dC1−Au1 = 2.33 ,
dC2−Au2 = 2.31 e dAu−Au = 2.50 Å. Desses resultados, pode-se sugerir que as ligações entre os
átomos de ouro e entre os átomos de ouro e carbono são ligações químicas.
Além disso, obteve-se a densidade eletrônica total, figura 3.67, e calculou-se a energia de
ligação dos átomos de ouro com a ZGNR-6x2. Esse cálculo foi feito utilizando-se a equação 3.4.
Eb = E[ZGNR−6x2]+E[Au2]−E[Au2/ZGNR−6x2]+δBSSE (3.4)
92
2.50
2.33
2.31Au
Au
CH
Figura 3.66: Modelo estrutural do sistema Au2/ZGNR-6x2.
Onde E[ZGNR−6x2] e E[Au2] são as energias dos sistemas isolados, E[Au2/ZGNR−6x2]
é a energia do sistema Au2 sobre a ZGNR-6x2 e δ BSSE é o termo para corrigir o erro devido a
superposição de base (HOBBS; KANTOROVICH; GALE, 2005). É interessante destacar que
houve uma mudança de referência para o cálculo da energia de ligação com relação aos casos
anteriores. Anteriormente o termo E[Au] era referente a um átomo de Au isolado, porém, agora
o termo E[Au2] se refere ao dímero de Au isolado. Com isso, obteve-se Eb = 1.10 eV.
Figura 3.67: Densidade de carga total do sistema Au2/ZGNR-6x2.
Logo, da densidade eletrônica total e do valor da energia de ligação, pode-se afirmar que
de fato a ligação carbono-ouro é uma ligação química. Após isto, calculou-se as influências do
Au2 nas propriedades eletrônicas das ZGNR-6x2 através da estrutura de bandas, figura 3.68, e
da DOS, figura 3.69. Em relação a estrutura de bandas, pôde-se verificar que a presença de uma
alta concentração de ouro na borda além de fazer com que apareça níveis semi-ocupados, faz
com que ocorra a quebra a degenerescência dos níveis em relação ao spin.
93
Figura 3.68: Estrutura de bandas dos sitemas ZGNR-6x2 (a) e Au2/ZGNR-6x2 (b).
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (a
rb. u
nits
)
Au/ZGNR
ZGNR
Figura 3.69: Densidade de estados do sistemas ZGNR-6x2 e Au2/ZGNR-6x2.
Através da DOS, verifica-se o aparecimento de uma maior densidade de níveis semi-ocupados
para os elétrons com spin down do que spin up, o que além de sugerir uma contribuição dos
átomos de ouro para esses estados, mostra que o sistema posui uma magnetização total diferente
de zero. Com o intuito de se obter quais são os átomos que contribuem para a formação desses
níveis semi-ocupados, calculou-se a PDOS e a LDOS do sistema Au2/ZGNR-6x2. Através da
PDOS, figura 3.70, verifica-se que o nível semi-ocupado não é formado somente pelos orbi-
tais do ouro. Devido a isto, para a visualização dos átomos que contribuem para esse estado,
94
calculou-se a LDOS, figura 3.71.
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3E-Ef (eV)
-12
-6
0
6
12
PDO
S (a
rb. u
nits
)
Au/ZGNR
Au1(5d)+Au2(5d)
Au1(6s)+Au2(6s)
Figura 3.70: Densidade de estados projetada do Au2 no sistema Au2/ZGNR-6x2.
Figura 3.71: LDOS do nível semi-ocupado do sistema Au2/ZGNR-6x2.
Desses resultados, verifica-se que o ouro conjuntamente com alguns átomos de carbono
formam o nível semi-ocupado que atravessa o nível de Fermi. Além disso, verifica-se que esse
estado está localizado sobre os átomos de carbono e mais delocalizado nos átomos de ouro, o
que sugere que os átomos de ouro na borda desempenham o papel de um canal condutor.
Após isso, calculou-se a MEP e as barreiras de difusão associadas com a difusão de um
átomo de ouro sobre a ZGNR-6x2. Primeiramente, calculou-se a MEP e a barreira de difusão
para o Au partindo da configuração Hollow para a configuração AtopE, a qual possui uma
95
energia de ligação de 2.02 eV. Obteve-se o MEP e as barreiras de difusão ilustrada na figura 3.72.
Figura 3.72: MEP e barreiras de energia para a transição Centro-Borda do Au/ZGNR-6x2.
Desse resultado, verifica-se o mesmo comportamento da difusão do ouro sobre a ZGNR-
6x4. Vê-se que a difusão ocorre via as seguintes configurações: Hollow→Atop→Bridge→. . .→AtopE, como pode ser visto no gráfico do MEP. Além disso, observa-se também que essa
difusão é espontânea, pois não há barreira energética associada. Entretanto, para uma transi-
ção entre um determinado estado Atop, não pertencente a borda, para o estado AtopE há sim
barreiras de energia associadas, em que a mais alta possui o valor de 0.17 eV, correspondente a
transição AtopC→AtopE. Entretanto, para a transição inversa, obteve-se uma barreira de ener-
gia de 1.30 eV. Portanto, verifica-se que conforme aumenta-se a concentração de ouro sobre a
ZGNR-6x2, esse tipo de difusão envolve barreiras de energia menores.
Posteriormente, calculou-se o MEP e as barreiras para a transição desse átomo na borda e
borda interna da ZGNR-6x2. Para a difusão na borda, obteve-se a MEP e as barreiras de energia
ilustradas na figura 3.73.
Desse gráfico, observa-se que a difusão do ouro na borda ocorre via as seguintes configu-
rações: AtopE(1)→Bridge→Atop→ . . .→AtopE(2). A barreira de energia associada a essa
transição foi de 0.80 eV, o que mostra que a difusão do ouro na borda fica mais difícil de ocor-
rer do que para concentrações menores de ouro. Para a difusão do ouro sobre a borda interna
96
Figura 3.73: MEP e barreiras de energia para a transição Borda-Borda do Au/ZGNR-6x2.
(sub-edge), obteve-se o MEP e as barreiras energéticas como está ilustrado na figura 3.74.
Figura 3.74: MEP e barreiras de energia para a transição Borda interna-Borda interna doAu/ZGNR-6x2.
Desse gráfico, observa-se que a difusão do ouro na borda interna ocorre via as seguintes
configurações: Atop→Bridge→Atop-I→ . . .→Atop, em que a configuração Atop-I é refe-
97
rente ao átomo de ouro sobre o carbono da borda entre os carbonos com hidrogênio. A barreira
de energia associada a transição Atop-I→Atop foi de 0.40 eV. Logo, verifica-se que o ouro
tende a se difundir para a borda e que a difusão sobre a borda externa e interna é um evento raro
devido as altas barreiras de energia envolvidas.
Em outro contexto, como foi mostrado nas seções anteriores, as ZGNRs possuem um com-
portamento semi-metálico quando essas estruturas são submetidas a campos elétricos transver-
sais externos. Com o objetivo de verificar quais as influências do ouro sobre esse fenômeno,
calculou-se as estruturas de bandas e DOS para o sistema Au2/ZGNR-6x2, em que aplicou-se
os campos elétricos na direção esquematizada na figura 3.75.
E
Figura 3.75: Esquema ilustrando a direção do campo elétrico externo aplicado sobre oAu2/ZGNR-6x2.
Assim sendo, primeiramente aplicou-se um campo de -0.05 V/Å. Repetindo-se o mesmo
procedimento das seções anteriores, obteve-se a estrutura de bandas, figura 3.76, e a DOS,
figura 3.77.
Logo, verifica-se que para esse campo as influências sobre a estrutura de bandas e DOS do
sistema Au2/ZGNR-6x2 são ínfimas. Posteriormente, aplicou-se um campo de -0.1 V/Å. Para
esse campo, obteve-se a estrutura de bandas, figura 3.78, e DOS, figura 3.79.
Por fim, aplicou-se um campo de 0.3 V/Å. Assim sendo, obteve-se a estrutura de bandas e
DOS ilustrados na figura 3.80 e figura 3.81, respectivamente.
Logo, desses resultados, verificou-se que a formação de uma nanoestrutura de ouro na
borda da ZGNR-6x2 não torna mais expressivo o comportamento semi-metálico das ZGNRs,
pelo contrário, a presença de ouro tende a diminuir o nível de polarização dos níveis que cruzam
o nível de fermi.
98
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.76: Esrutura de bandas do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de -0.05V/Å.
-5 0 5E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.77: Densidade de estados do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de -0.05V/Å.
99
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.78: Estrutura de bandas do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de -0.1V/Å.
-5 0 5E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.79: Densidade de estados do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de -0.1V/Å.
100
-2
-1
0
1
2
E-E
f (e
V)
Γ X
Figura 3.80: Estrutura de bandas do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de 0.3V/Å.
-4 0 4E-Ef (eV)
-20
-10
0
10
20
DO
S (u
.a.)
Figura 3.81: Densidade de estados do sistema Au2/ZGNR-6x2 submetido a um campo de 0.3V/Å.
101
4 Conclusão
Nesse trabalho foi feito o estudo ab-initio da interação do ouro com a folha e as nanofitas
de grafeno dos tipos armchair e zigzag.
Dos resultados obtidos, pode-se concluir que a interação do ouro com a folha de grafeno
é uma interação relativamente fraca em que o ouro adsorve preferencialmente sobre um dos
átomos de carbono, ou seja na configuração Atop. Além disso, verificou-se que a difusão do
mesmo é um evento que demanda pouca energia, pois a barreira energética envolvida para a
difusão é relativamente baixa, de 0.028 eV. Desses resultados, foi possível explicar o aumento
da aglomeração de nanoclusters de ouro sobre uma superfície de grafite pirolítico conforme se
aumentava a temperatura do sistema. Com relação a interação do ouro com as nanofitas de
grafeno, verificou-se que o ouro adsorve preferencialmente nas bordas das nanofitas de grafeno,
preferencialmente na configuração Atop. Isso é devido que a maior parte dos estados mais alto
ocupados se localizam nessas regiões. Nesse contexto, também verificou-se que as ZGNRs são
mais reativas do que as AGNRs o que explica os valores maiores das energias de ligação para
os sitemas Au/ZGNRs do que para os sistemas Au/AGNRs.
Em relação as influências nas propriedades eletrônicas, pode-se concluir que a presença
do ouro nas nanofitas cria estados semi-ocupados, o que reflete uma metalização dos sistemas.
Geralmente observou-se que além dos orbitais 5d entrarem ressonânte na banda, esses perdem
elétrons, enquanto os orbitais 6s contribuem majoritariamente para os níveis semi-ocupados e
ganham elétrons.
Em relação às ZGNRs verificou-se que estas possuem um comportamento semi-metálico
quando são submetidas a campos elétricos transversais. Entretanto, com a adsorção do ouro essa
propriedade fica prejudicada, pois a presença de ouro tende a diminuir o nível de polarização
dos níveis que cruzam o nível de fermi.
Com relação a difusão do ouro sobre as nanofitas de grafeno, verificou-se que este tende a se
difundir com relativa facilidade das regiões centrais para as bordas, pois as barreiras de energia
para tais transições são bem menores do que para as transições da borda para o centro. Além
disso, verificou-se que tanto para maiores quanto menores concentrações de ouro, a difusão do
102
ouro ocorre com mais facilidade sobre as nanofitas do tipo armchair do que sobre as nanofitas
do tipo zigzag, pois as barreiras de energia envolvidas diferem de uma ordem de grandeza.
Contudo, o mesmo comportamento é observado para a difusão nas bordas externas e internas
em que para as AGNRs sempre se tem barreiras de energia uma ordem de grandeza menores do
que para a difusão sobre as ZGNRs. Logo, pode-se afirmar que a nucleação de nanoestruturas
de ouro sobre as bordas das nanofitas é um processo bem provável de ocorrer em experimentos
de deposição de ouro em GNRs.
Portanto, de um âmbito geral, pode-se afirmar que a adsorção de ouro sobre as nanofitas
de grafeno irá criar nanoestruturas sobre as bordas, as quais tenderam a metalizar o sistema e
devido a isto a presença do ouro nas bordas pode atrapalhar de maneira considerável o funci-
onamento de qualquer dispositivo eletrônico que utilize as nanofitas como canais condutores.
Devido a isso um maior controle da deposição dos eletrodos sobre as nanofitas de grafeno é
essencial, pois com isso pode-se assegurar que as propriedades eletrônicas das GNRs serão
mantidas.
103
APÊNDICE A -- Equação de Schrödinger para umsistema de muitas partículas
A teoria que trata um sistema físico de muitos elétrons e íons interagentes é a mecânica
quântica. Da equação proposta por Schrödinger, tem se que para um sistema de muitos corpos
(KAXIRAS, 2003):
HΨ(~RI;~ri) = EΨ(~RI;~ri) (A.1)
Em que os índices maiúsculos se referem aos íons e os índices minusculos aos elétrons. Na
equação acima, H é o Hamiltoniano do sistema, Ψ é a função de onda que descreve o estado
de todo o sistema e E é a energia do sistema. A energia cinética do Hamiltoniano é a energia
cinética devido aos íons conjuntamente com a energia cinética devido dos elétrons, logo a parte
cinética do Hamiltoniano será:
T =−∑I
h2
2MI∇
2−∑i
h2
2me∇
2 (A.2)
Onde MI e me são as massas dos íons e dos elétrons, respectivamente. A contribuição da
energia potencial para o Hamiltoniano será devido a interação elétron-elétron, entre elétron-íon
e íon-ion. Assim sendo, pode-se escrever a energia potencial como sendo:
U = Ue−e +UZ−e +UZ−Z (A.3)
Sendo dois elétrons indicados pelos vetores ~ri e ~r j, sabe-se que a energia potencial é dada
por:
U ′ =e2
|~ri−~r j|(A.4)
Onde e é a carga eletrônica. Analogamente para a interação elétron-íon e para a interação
íon-íon, respectivamente:
U ′′ =− ZIe2
|~RI−~ri|(A.5)
104
U ′′′ =ZIZJe2
|~RI− ~RJ|(A.6)
Com isso, a energia potencial para todo o sistema:
U =−∑iI
ZIe2
|~RI−~ri|+
12 ∑
i j( j 6=i)
e2
|~ri−~r j|+
12 ∑
IJ(J 6=I)
ZIZJe2
|~RI− ~RJ|(A.7)
Logo, o Hamiltoniano desse sistema será:
H =−∑I
h2
2MI∇
2−∑i
h2
2me∇
2−∑iI
ZIe2
|~RI−~ri|+
12 ∑
i j( j 6=i)
e2
|~ri−~r j|+
12 ∑
IJ(J 6=I)
ZIZJe2
|~RI− ~RJ|(A.8)
Em relação ao constituintes do sistema, ou seja, aos íons e elétrons. Sabe-se que a massa
de cada íon é muito maior do que a massa de cada elétron. Assim sendo, o movimento dos íons
pode-ser considerado muito lento em relação aos elétrons, ou seja, o núcleo é visto praticamente
estático pelos elétrons. Logo, pode-se afirmar que Ψ possui uma dependência explicita somente
em relação aos graus de liberdade eletrônicos, aproximação esta conhecida como aproximação
adiabática ou aproximação de Born-Oppenheimer. Com isso, a dinâmica do sistema de elétrons
será governada pela equação de Schrödinger com a Hamiltoniana eletrônica que será dada por:
H(~r;~R) =−∑i
h2
2me∇
2 +∑i
VZ(~ri)+12 ∑
i j( j 6=i)
e2
|~ri−~r j|(A.9)
Em que cada elétron sentira um potencial VZ , que será um potencial externo para os elétrons.
Também, na equação A.9 a parte envolvendo a interação íon-íon foi negligenciada, pois em
relação aos graus de liberdade eletrônicos, este termo é visto como uma constante.
Logo, utilizando a aproximação de Born-Oppenheimer, simplicou-se o problema. Pois, ao
ínves de se calcular uma função de onda que depende tanto dos graus de liberdade eletrônicos
quanto iônicos, calcula-se somente a função de onda do sistema eletrônico. Ou seja, passa se
de um problema de 6N variáveis para um problema de 3N variáveis (Ψ(~RI;~ri).→Ψ(~ri)).
105
APÊNDICE B -- Funcionais
Um funcional pode ser definido como sendo uma lei ou aplicação que leva uma função a
um número (CAPELLE, 2006). Há varios exemplos na física, como o funcional ação analisado
na mecânica clássica.
S =∫
L(q,q′, ..., t)dt (B.1)
Onde L(q,q′, ..., t) é o Lagrangeano do sistema dinâmico, que é uma função das coordena-
das e velocidades generalizadas e do tempo, porém S é um número, por isso um funcional.
Quando uma função qualquer f (x) sofre uma variação dx em seu domínio, tem-se que:
f (x+dx) = f (x)+d fdx
dx+d2 fdx2 dx2 + . . . (B.2)
Analogamente, para um funcional:
F [ f (x)+δ f (x)] = F [ f (x)]+∫
s(x)δ f (x)dx+ . . . (B.3)
Onde s(x) ≡ δF [ f ]δ f (x) é a derivida do funcional F [ f ]. A derivada de um funcional é um
ferramental essencial no estudo da análise funcional e outras teorias que se baseam em fun-
cionais, como a DFT. Uma expressão geral para a obtenção da derivada de um funcional
F [n] =∫
f (n,n′,n′′, ...;x)dx em que n = n(x) e ni indica a i-ésima derivada ordinária com rela-
ção a x é dada por:
δF [n]δn(x)
=∂ f∂n− d
dx∂ f∂n′
+d2
dx2∂ f∂n′′− d3
dx3∂ f
∂n′′′+ . . . (B.4)
Como exemplo, sendo o funcional ação S[q] =∫
L(q,q′; t)dt, do princípio de Hamilton, a
equação que descreve a evolução do sistema dinâmico será dada quando se minimizar a ação,
ou seja, δS[q]δq(t) = 0, aplicando a definição de derivada de um funcional:
δS[q]δq(t)
=∂L∂q− d
dt∂L∂q′
= 0 (B.5)
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Com isso, tem-se que a equação B.5 é a equação de lagrange que será a equação de movi-
mento quando o lagrangeano for determinado.
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