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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES SCHILA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DECISO CAIO HENRIQUE DE ALMEIDA AÇÕES AFIRMATIVAS E LICENCIATURA: ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS COTISTAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SOBRE A DOCÊNCIA CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – SCHILA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DECISO

CAIO HENRIQUE DE ALMEIDA

AÇÕES AFIRMATIVAS E LICENCIATURA: ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS DE ALUNOS COTISTAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SOBRE A DOCÊNCIA

CURITIBA

2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CAIO HENRIQUE DE ALMEIDA

AÇÕES AFIRMATIVAS E LICENCIATURA: ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS DE ALUNOS COTISTAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SOBRE A DOCENCIA

Monografia apresentada como requisito parcial

a conclusão do Curso de Licenciatura e

Bacharelado em Ciências Sociais, Setor de

Ciências Humanas, Letras e Artes da

Universidade Federal Do Paraná.

Orientador: Prof. Drº Rafael Ginane Bezerra

CURITIBA

2014

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Para meu pai, Jair e minha mãe Orliete.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço ao professor Rafael por ter aceitado o desafio de orientar

este trabalho. Sua paciência e apoio foram fundamentais. Também agradeço o apoio do

professor Alexandro.

Aos camaradas do PIBID: Marisa, Paulo e Ramiro pelas parcerias e as conversas sobre

o ensino da Sociologia.

Aos colegas de graduação, onde as trocas de conhecimento e experiências de vida

deram importantes contribuições para a minha formação.

Ao Luis pela amizade, cafés e conversas dominicais que me ajudaram a resgatar minha

“humanidade” e a vontade para continuar. A querida Jessica pelo carinho, amor e

companheirismo ao longo da graduação.

Aos meus amigos e ex-colegas de banda: Bruno e José Lucas que me ensinaram a

cantar sobre “o principio da revolução”.

Ao pré-vestibular Em Ação pela oportunidade e por não deixar meu sonho morrer.

Ao Conhecimento em Luta pela oportunidade de iniciar minha tão desejada carreira

docente.

Aos amigos de longa data: Piter, Danilo, Eder e a Sil.

Agradecimento especial aos cotistas que contribuíram para a realização desse trabalho.

Por fim, ao meu pai, minha mãe e meu irmão. Este trabalho é para vocês. Obrigado.

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Haverá mais um retorno a partir daqui?

Não era o que queríamos: tudo vai ruir!

Pensei não existir nada além daqui

Me tornei estável sem estar bem

Pensava em engordar e envelhecer

Quando nos encontramos em nós

Em vida, viver, aqui!

Sentirei falta de todos vocês

Sabíamos que tudo tem um fim

Seremos homens melhores onde estivermos

O mundo é que está errado!

Bem-vindo ao clube – D. F.

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RESUMO

Este trabalho investiga as representações sociais de um grupo de alunos cotistas da

Universidade Federal do Paraná a respeito da docência. Discute as ações afirmativas e

problematiza a correlação entre a entrada na universidade através do sistema de cotas e a

escolha pela modalidade da licenciatura. Tendo como pano de fundo a Teoria das

Representações Sociais, tal como sugerida por Serge Moscovici, o trabalho pretende verificar

como os alunos cotistas atribuem sentido a essa correlação. Através de revisão bibliográfica e

de entrevistas qualitativas realizadas com sete alunos cotistas, o trabalho, sem pretender

explicações generalizantes, avaliando os dados empíricos levantados de modo circunscrito,

procura contribuir para a reflexão a respeito da formação de professores para a Educação

Básica no Brasil. Nesse sentido, argumenta que, para os alunos entrevistados, a opção pela

licenciatura e, consequentemente, pela carreira docente, está associada a um conjunto de

ideias que articula, de maneira peculiar, as noções de vocação, missão e dom.

Palavras-chave: Ações Afirmativas; Licenciatura; Representações Sociais.

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ABSTRACT

This work investigates the social representations of a group of quota students of the Federal

University of Paraná elaborate about the degree. Be part of the discussion of affirmative

action questioning the possible relationship between the fact of the shareholder and the

student choose the type of degree policy. This correlation was observed in studies that report

statistically the correlation between university entrance through quotas and the option for

licensure. Given the correlation, which would be the reasons that justify this choice? Through

literature review and qualitative interviews with quota students, the work intends to reflect on

the training of new teachers for Basic Education.

Key words: Affirmative Action; degree; Social Representations.

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SUMÁRIO

1.INTRODUCÃO .................................................................................................... 9-10

1.1. DA APROVAÇÃO DA LEI E DIAGNÓSTICOS ............................................ 10-12

1.2. DAS CLASSES SOCIAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: DA

ESCASSEZ AO NOVO PERFIL DO INTERESSADO .......................................... 12-14

2.AS AÇÕES AFIRMATIVAS: A POLÍTICA E SEUS SIGNIFICADOS ........ 15-16

2.1. DAS ORIGENS E JUSTIFICATIVAS .............................................................. 16-18

2.2 .DA CONSTITUCIONALIDADE E A LUTA POR DIREITOS ....................... 18-20

2.3 .DA RESERVA DE VAGAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

PARANÁ ................................................................................................................... 20-21

2.4 .DA EXPANSÃO DO SISTEMA DE ENSINO SUPERIOR E A DEMOCRACIA

RACIAL .................................................................................................................... 21-26

2.5 .OUTRAS EXPERIÊNCIAS: O CASO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SERGIPE E OS CAPITAIS IMPESSOAIS ..............................................................

3 .A LICENCIATURA: AS POLÍTICAS PARA A FORMAÇÃO

DOCENTE ............................................................................................................ 28-29

3.1. DAS MODALIDADES DE FORMAÇÃO ........................................................ 29-32

3.2 .DA ATRATIVIDADE DA CARREIRA ........................................................... 32-35

4 .AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: PRÁTICAS E IDEIAS ......................... 36

4.1. AS REPRESENTAÇÕES: SOCIAIS E COLETIVAS ...................................... 36-38

4.2 .DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: QUALIFICANDO O CONCEITO ...... 39-41

5.DO ESTUDO DE CASO REALIZADO ............................................................ 42

5.1 .DAS ASSOCIAÇÕES DE IDEIAS PRESENTES NO DISCURSO ................. 42

5.1.2. DAS AÇÕES AFIRMATIVAS ....................................................................... 42-46

5.1.3 .DA LICENCIATURA ..................................................................................... 46-49

5.1.4 .DA CARREIRA DOCENTE........................................................................... 49-54

6 .CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 55-57

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 58-63

ANEXOS .................................................................................................................. 64-145

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1.INTRODUÇÃO

“Não existe crítica social possível sem a articulação e a

dramatização do sofrimento humano que foi relegado ao silêncio

pelo domínio simbólico dos vencedores.” Jessé Souza

A problemática deste trabalho foi originada ao longo da minha trajetória no curso de

graduação em Ciências Sociais. Ingressei na UFPR pelo sistema de cotas sociais em 2010

depois de duas tentativas frustradas de ingresso no bacharelado em Ciências Economias, outra

tentativa igualmente frustrada de ingresso no curso vespertino de História, e logo nas

primeiras aulas vi que seria possível realizar o sonho de ser professor. Durante esse percurso

percebi a diferenciação feita pelos colegas entre o bacharelado e a licenciatura. Chamava a

atenção o fato de a licenciatura ser considerada como algo menor, inferior ou como um

complemento ao currículo de bacharelado. Minha turma foi a última a cursar o “currículo

velho” que mantinha as duas modalidades juntas. A partir de 2011, com a implantação de um

“currículo novo”, o bacharelado e a licenciatura foram separados e o aluno passou a optar pela

formação entre quatro linhas diferenciadas de profissionalização: licenciatura em Sociologia

ou bacharelado em Sociologia, Antropologia ou Ciência Política.

Mais tarde percebi que a diferenciação existente entre bacharelado e licenciatura, tal

como observada nas Ciências Sociais, caracteriza também os demais cursos da universidade.

Nesse sentido, um dos fatos que mais chamou a minha atenção foi a evidência de que os

alunos e alunas que optam pela licenciatura são, predominantemente, estudantes egressos de

escolas públicas e, de forma igualmente predominante, cotistas sociais e raciais. E foi a partir

de conversas informais com esses estudantes que encontrei várias trajetórias escolares

semelhantes à minha, bem como a mesma identificação com a carreira docente. Dada essa

primeira constatação baseada na minha experiência, o presente trabalho surgiu como uma

tentativa de refletir sobre as transformações que vêm ocorrendo no ambiente universitário

brasileiro, particularmente no que diz respeito à formação de professores para a Educação

Básica, e a sua relação com a minha própria trajetória.

Por conta disso, o presente trabalho parte da correlação entre o ingresso nas universidades

públicas através do sistema de cotas e a opção pela modalidade de licenciatura. O objetivo

que se apresenta, portanto, tendo como suporte alguns pressupostos da Teoria das

Representações Sociais, tal como elaborada por Serge Moscovici, consiste em verificar os

sentidos mobilizados por um grupo de alunos cotistas para compreender a correlação

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mencionada acima. Dado que as representações sociais sempre articulam ideias e práticas,

partimos do pressuposto de que esta análise pode oferecer algumas contribuições para a

reflexão a respeito dos sentidos presentes na escolha dos alunos cotistas pela carreira docente.

Assim, ao tomarmos as representações sobre cotas e licenciatura como um objeto de estudo,

buscaremos descrever as racionalizações que os agentes atribuem às suas práticas justamente

na medida em que comunicam suas expectativas em relação ao curso, aos desafios

encontrados durante a formação, às expectativas em relação à continuidade dos estudos e à

entrada no mercado de trabalho.

1.1. DA APROVAÇÃO DA LEI E DIAGNÓSTICOS

Procuramos fazer uma breve contextualização do debate sobre políticas de ações

afirmativas. Foram importantes as contribuições acadêmicas do Grupo de Estudos

Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) ligado ao Instituto de Estudos Sociais e

Políticos – IESP vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Seus estudos

demonstram que além das alterações ocasionadas no corpo discente das instituições de Ensino

Superior, outras mudanças estruturais também foram produzidas após a implementação da lei

nº 12.711/2012 (Lei de Cotas), regulamentada pelo decreto nº 7.824 e pela portaria normativa

18, publicada em 15 de outubro de 2012. Essa lei torna obrigatória a reserva de vagas para

pretos, pardos, indígenas, alunos de escolas públicas e de baixa renda em instituições federais

de Ensino Superior e técnico.

A Lei de Cotas, como ficou popularmente conhecida, regulamenta o sistema de

reservas de vagas que já existia em pelo menos 40 das 58 universidades que praticavam

alguma modalidade especifica de política afirmativa em seus vestibulares. Dentro desse

contexto, podemos afirmar que as ações afirmativas, além de causarem significativas

mudanças na estrutura do Ensino Superior com o ingresso das classes sociais historicamente

marginalizadas, ganharam bastante visibilidade na sociedade, repercutiram nacionalmente

através dos meios de comunicação e geraram acirrados debates.

Desses debates, é conveniente reter alguns argumentos básicos na medida em que nos

informam a respeito das ideias, valores e sentidos que vêm sendo mobilizados para se fazer

referência à Lei de Cotas e suas implicações para o Ensino Superior no Brasil. Podemos citar,

por exemplo, a visão de três instituições que sintetizam tais argumentos: ANDES-SN

(Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), ANDIFES

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(Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) e SINAPE

(Sindicatos dos Estabelecimentos Particulares de Ensino).

Durante seus últimos congressos nacionais, o Sindicato Nacional dos Docentes das

Instituições de Ensino Superior – ANDES – SN (2006) adotou um tom crítico em relação ao

sistema de cotas e ao Programa Universidade para Todos (PROUNI). Essa postura ficou

materializada em documento oficial publicado num momento anterior à aprovação da Lei de

Cotas, refletindo uma postura cautelosa com os desdobramentos de tal política, salientando

que a mesma deve ser complementada por iniciativas como a universalização da Educação

Básica, a universalização e gratuidade plena no Ensino Superior e o estabelecimento de

formas de articulação entre Educação Básica e Superior. A Associação Nacional dos

Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – ANDIFES (2014), em postura que

vai ao encontro da ANDES, tem salientado que a inclusão social deve levar em consideração

não apenas o acesso, mas também a permanência dos estudantes no Ensino Superior. Nos dois

casos citados, justiça e igualdade substantiva são os valores que se destacam nos

posicionamentos.

Por outro lado, os Sindicatos dos Estabelecimentos Particulares de Ensino se

mostraram contrários ao sistema de cotas porque o consideram injusto em relação aos alunos

que estudam em escolas particulares. O SINEPE – DF (2012) argumentou, de forma bastante

ilustrativa a respeito dos pressupostos que fundamentam essa posição, que o sistema de cotas fere

os princípios da meritocracia, únicos justos e adequados para verificar a competência dos alunos,

dessa forma prejudicando aqueles matriculados em instituições particulares. Nesse caso, observa-

se que a relação não ocorre entre justiça e igualdade, mas entre justiça e mérito.

Igualdade, justiça e mérito são, portanto, expressões recorrentes nas análises elaboradas a

respeito da Lei de Cotas. Tal como será demonstrado no capítulo dois do presente trabalho,

diferentes perspectivas de equacionamento entre esses três princípios, além de distinguirem as

posições em relação ao sistema de cotas, podem nos ajudar a contextualizar e compreender os

depoimentos dos alunos cotistas que foram entrevistados durante a pesquisa aqui relatada. Dito de

outra forma, no momento da análise, igualdade, justiça e mérito serão convertidos em chaves de

leitura para o tratamento do conteúdo derivado das entrevistas.

Ainda em relação aos desdobramentos da aprovação da Lei de Cotas, FERES

JUNIOR; DAFLON; RAMOS; MIGUEL (2013) informam que o número de vagas reservadas

a cotistas na rede pública de Ensino Superior chegou a 59.432 em 2013, correspondendo a

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31,5% do total de vagas de todo o sistema de ensino. Do total de vagas reservadas, 21.608

vagas (correspondendo a 11,4%) ficaram destinadas a estudantes de baixa renda ou/e oriundos

de escolas públicas e 37.028 vagas (correspondendo a 19, 6%) ficaram reservadas a

estudantes negros e indígenas. Na UFPR, segundo PORTO, L.; SILVA, V. P.; OTANI, M.

(2012) até o vestibular de 2010, aproximadamente 9.720 estudantes ingressaram pelo sistema

de cotas, 2.390 pelas cotas raciais e 7.339 pelas cotas sociais.

A expressividade desses números indica a relevância do sistema de cotas em conexão

com a expansão do Ensino Superior público no Brasil. Embora o objeto de reflexão do

presente trabalho derive desse universo, é conveniente ressaltar que não é nossa intenção

explorá-lo através de pesquisa quantitativa. Ao contrário, desenhamos uma pesquisa de

natureza qualitativa e de caráter exploratório. Nesse sentido, priorizamos um número reduzido

de entrevistas feitas em profundidade para possibilitar a identificação das associações de

ideias presentes nos depoimentos dos alunos cotistas. Também cabe salientar que o contato

inicial com esses alunos derivou do meu círculo de convívio dentro da universidade e das

interações que estabeleci em função de minha participação no Programa Institucional de

Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID).

1.2. DAS CLASSES SOCIAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: DA ESCASSEZ AO

NOVO PERFIL DO INTERESSADO

A articulação da Educação Básica e o processo de formação de professores também

foi um tema recorrente no debate posterior a aprovação da lei. Após 2012 alguns meios de

comunicação diversos, como por exemplo, o jornal Gazeta do Povo (2013) e a Revista

Educação (2013), publicaram matérias que alertavam sobre a escassez de professores na

Educação Básica e as dificuldades de atrair novos professores para as salas de aula. Também

chamaram a atenção para a evasão nas licenciaturas, questionando a qualidade da formação

dos professores. Já a revista Nova Escola (2012), a partir de um estudo sobre a baixa

atratividade da carreira docente no Brasil, defende que houve uma mudança no perfil de quem

escolhe a docência, sugerindo que a maior parte dos candidatos que optam por ela reúnem as

seguintes características: são oriundos de escolas públicas, pertencem a famílias de baixa

renda e com pouca escolarização e, em muitos casos, conciliam trabalho e estudo. Segundo a

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referida publicação, esses sujeitos se enquadram no que pode ser chamado de “fraco

repertório cultural” (SALLA & RATIER, 2012, p.12)1.

Assim sendo, seria pertinente perguntar: o que levaria jovens que estudaram a vida

inteira na escola pública, portadores de “fraco repertório cultural”, a optarem por cursos de

licenciatura? Ou ainda, admitindo-se como verdadeiro o diagnóstico apresentado acima, a

Educação ásica no Brasil estaria em risco por conta do processo de recrutamento dos novos

professores. Esses, na verdade, não fariam uma opção efetiva. Ao contrário, seguem por uma

das únicas carreiras que se apresentam como viáveis em função da sua ausência de

qualificação. Optamos por converter esse diagnóstico em questionamento para os cotistas que

foram entrevistados. O objetivo desse questionamento consistiu em verificar como os sujeitos

da pesquisa avaliam essa situação. Seus depoimentos nos ofereceram associações de ideias

muito distantes de algo que pode ser compreendido como ausência de escolha ou falta de

opção.

Jessé Souza (2012), em seu trabalho sobre a formação de uma nova classe

trabalhadora no Brasil recente nos oferece uma possibilidade sociologicamente fundamentada

para compreender o vínculo entre indivíduos integrantes de classes destituídas de capitais

impessoais e a opção por carreiras supostamente marcadas por baixa recompensa material e

simbólica. Esses indivíduos, apesar de não possuírem capital econômico ou cultural, passaram

por processos de socialização que os capacitaram a conciliar disciplina, tenacidade e uso

planejado do tempo. Para eles, aquilo que o senso comum – ou a simples falta de bom senso –

caracteriza como uma profissão de baixas recompensas materiais e simbólicas, em função da

trajetória que construíram, pode representar uma conquista que demanda esforço e mérito. Em

outras palavras, nas minhas próprias palavras, quem já trabalhou nos empregos que eu

trabalhei, tem motivos de sobra para enxergar na sala de aula e no magistério uma tremenda

experiência de ascensão social.

Nitidamente próximos às características dos integrantes dessa nova classe trabalhadora

descrita por Jessé Souza, os entrevistados da pesquisa aqui relatada mobilizam sentidos que

ressaltam o próprio mérito por terem chegado à universidade, cursado a licenciatura e

abraçado a profissão de professor. Assim fazendo, também mobilizam ideias amplamente

assentadas no imaginário social a respeito da profissão. Acreditam que vocação, dom e missão

1 A reportagem encontra-se na edição da revista Nova Escola (2012) mencionada.

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são elementos fundamentais para exercê-la. Essas ideias, no entanto, articuladas às suas

trajetórias, reforçam a representação de que a profissão de professor não é para qualquer um,

mas apenas para aqueles que reúnem as condições necessárias para enfrentar os desafios que

estão postos.

Essas questões orientaram a reflexão elaborada no presente trabalho e ajudaram a

orientar as entrevistas com os sete alunos cotistas. As entrevistas foram abertas e organizadas

através de um tópico de temas que segue anexado na parte final do texto. Os cotistas também

foram defrontados com a necessidade de avaliar quatro afirmações relacionadas ao que

poderia ser chamado de baixa atratividade da carreira docente: recrutamento de professores

entre indivíduos de rendimento escolar baixo, declínio do Ensino Superior em função do

sistema de cotas, inadequação do modelo que rege as licenciaturas nas universidades

brasileiras e precariedade das condições de trabalho dos professores. As entrevistas foram

conduzidas entre os dias dezoito de Setembro e quatro de Novembro de 2014, obedecendo aos

critérios de “bola de neve” e de redundância: o primeiro entrevistado sugeriu o contato do

segundo e assim por diante de modo a assegurar a interação com indivíduos que se conhecem

mutuamente; as entrevistas foram encerradas no momento em que determinadas associações

de ideias passaram a ser repetidas de maneira enfática.

As entrevistas foram transcritas e o seu conteúdo integral, atendendo ao princípio de

transparência que está associado à condução de pesquisas qualitativas, foi anexado ao final do

trabalho. Seguindo a metodologia de análise proposta por Mary Jane Spink (2000), as

representações sociais foram identificadas a partir da leitura do material transcrito em função

das seguintes chaves de leitura: mérito, cotas, licenciatura, carreira docente, refutações à baixa

atratividade da carreira docente e projeções de futuro. Feito isso, o segundo procedimento foi

caracterizado pela leitura flutuante das entrevistas, onde a escuta do material gravado foi

intercalada com a leitura do material transcrito. Por fim, o terceiro procedimento foi a

construção de um mapa de associações de ideias para possibilitar uma melhor visualização

das representações sociais em questão. Assim como o conteúdo das entrevistas, esse mapa que

representa o principal esforço analítico do trabalho segue em anexo.

Finalmente, em termos formais, o trabalho ficou assim dividido: no primeiro capítulo,

apresenta-se um breve histórico da política de ações afirmativas e discute-se algumas das

principais justificativas políticas, sociais e jurídicas para a sua implementação no sistema de

Ensino Superior brasileiro; no segundo capítulo, discute-se a política de formação docente no

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Brasil e problematizam-se algumas questões ligadas à atratividade da carreira docente; o

terceiro capítulo ficou reservado para a apresentação dos pressupostos teóricos e

metodológicos da Teoria das Representações Sociais; e por fim, no quarto capítulo, apresenta-

se a análise das entrevistas e os resultados obtidos através da pesquisa.

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2. AS AÇÕES AFIRMATIVAS: A POLÍTICA E SEUS SIGNIFICADOS

A partir da segunda metade do século XX e início do XXI as lutas históricas dos

movimentos sociais produziram transformações importantes no cenário politico das

democracias modernas. Algumas dessas mobilizações em prol a ampliação de direitos a

minorias e grupos marginalizados materializaram-se em políticas de ações afirmativas por

tudo o mundo.

No caso de pessoas ou grupos historicamente discriminados, a aplicação da ação

afirmativa precisa ser focalizada na tentativa de discriminar positivamente visando estabelecer

relações sociais mais igualitárias. A ação procura dar um tratamento diferenciado às pessoas

ou grupos marginais oferecendo a elas oportunidades de ascensão social, tendo como objetivo

desenvolver a equiparação em relação aos demais grupos sociais. Ela é temporária, possuindo

como meta a eliminação das desigualdades sociais, econômicas e culturais. Uma vez

eliminadas, a política não será mais necessária.

Segundo a definição do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa –

GEMAA (2011), as ações afirmativas são focalizadas no combate de discriminações de:

gênero, raça, religião, classe ou de casta. Também podem ter como objetivo o aumento da

participação política das minorias, a garantia de acesso à saúde, educação, emprego, proteção

social, e assegurar o reconhecimento cultural e identitário. Ou seja, são medidas centralizadas

na promoção da igualdade de oportunidades sociais, políticas e culturais que são colocadas

em prática pelo Estado que orienta a aplicação das políticas afirmativas através do

estabelecimento de metas, cotas, bônus, fundo de estímulos, bolsas de estudos, empréstimos,

preferências em contratos públicos, distribuição de terra e habitações, reparações financeiras e

etc. No caso das universidades públicas, as reservas de vagas destinadas aos afrodescendentes,

indígenas e estudante de escolas públicas configuram-se como uma destas modalidades.

Na reflexão desenvolvida neste trabalho, a ação afirmativa será compreendida a partir

da sua implementação e a operacionalização das denominadas políticas de “cotas raciais2” e

das “cotas sociais”. A ideia básica das “cotas” é garantir um benefício ao candidato

pertencente a setores desprivilegiados em suas trajetórias escolares. Refiro-me aos candidatos

negros e aqueles oriundos do ensino público. Aqueles são ligados a um passado de escravidão

2 Estamos nos referindo na já citada lei de N° 12.711, de 29 de agosto de 2012 que estabeleceu a obrigatoriedade

das reservas de vagas em todas as universidades federais.

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e discriminação racial. Esses acabam tendo acesso a um ensino de baixa qualidade (salvo as

exceções que tiveram a oportunidade de estudar nas escolas públicas de qualidade). Assim, na

concorrência por uma vaga no Ensino Superior público, quando comparados com indivíduos

que tiveram melhores oportunidades na formação escolar, os negros e estudantes de colégios

públicos estarão em desvantagens frente à disputa. Dessa forma, justifica-se o benefício

oferecido aos candidatos.

2.1. DAS ORIGENS E JUSTIFICATIVAS

De acordo com os autores João Feres Júnior e Jonas Zoninsein (2008) as origens,

causas, inspirações e as principais motivações para a existência das políticas de ações

afirmativas estão baseadas no conceito de igualdade substancial. Esse conceito postula que o

objetivo de qualquer sistema jurídico-politico é a promoção da igualdade de fato entre seus

membros e, não somente submete-los a critérios universais de igualdade.

Para facilitar a compreensão sobre a ação afirmativa os autores esclarecem que a

legalidade e a moralidade são duas condições necessárias para a garantia da operacionalidade

de tal política. Por um lado, o principio da legalidade é o que garante o caráter constitucional,

ou seja, a implantação da ação deve estar em consonância com o sistema legal do país. Por

outro lado, o principio da moralidade seria justificado conforme a relação que a política

afirmativa mantém com os valores morais centrais de determinada comunidade política. No

caso das sociedades capitalistas, igualdade e mérito são apresentados como valores morais

fundamentais para condução da vida e na gerencia das instituições como o mercado e o

Estado. A igualdade está ligada ao acesso a oportunidades, pois, ela garante o mínimo de

condições necessárias para os indivíduos conseguirem competir, viver e usufruir dos bens e

serviços da sociedade. Já o mérito está fundamentalmente ligado ao mercado que realiza as

distribuições de bens e recompensas de acordo com as habilidades e as competências de cada

pessoa.

Segundo FERES JÚNIOR & ZONIENSEIN (2008), entre esses dois princípios morais

existe uma hierarquia, onde historicamente a igualdade exerce um papel de regulamentação

do mérito:

A extensão do princípio da igualdade sobre o mérito é também o fulcro do Estado de Bem-Estar Social

(...) no qual o Estado garante a igualdade das leis e o mercado a premiação do mérito – corresponde ao

liberalismo clássico, ou mais precisamente, a uma forma pura de liberalismo. No Estado de Bem-Estar

Social reconhece-se que, sem um mínimo de garantias materiais e morais, parcelas da população

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ficariam incapacitadas de gozar, em pé de igualdade com os demais cidadãos, dos direitos garantidos

por lei. Portanto, faz-se necessário através de impostos e taxas, e a distribua para essas parcelas. Em

outras palavras, o princípio da igualdade, para melhor se realizar, justifica uma redução na esfera de

atuação do princípio do mérito.” (FERES JÚNIOR & ZONIENSEIN, 2008, p.16).

Cabe lembrar que a discussão segue pelo caminho da implantação de uma igualdade

substancial, ou, se preferimos, podemos denomina-la de material, no sentido de tornar

concreta a equidade nas condições de competição entre os indivíduos. Essa ideia de igualdade

material torna-se legitima dentro da ordem social democrática que constitucionalmente

garante liberdade e igualdade a todos os cidadãos.

Por sua vez, a lógica do mercado não se relaciona diretamente com o funcionamento

da ação afirmativa, pois se vincula essencialmente à lógica da desigualdade de acesso aos

bens e serviços produzidos pela sociedade. Então, a atribuição de mérito entre os concorrentes

perderia o sentido, já que os mais aptos a participarem do mercado serão sempre os

contemplados. Agora, quando o mérito é mantido, criam-se condições para a manutenção de

relações sociais entre privilegiados e desprivilegiados. Assim, é necessária uma compensação

social aos desprivilegiados.

Como por exemplo, se consideramos a concorrência entre um candidato de escola

pública e um candidato oriundo do ensino privado, constataremos que o ponto de partida para

essa disputa é desigual, ou seja, não existe uma igualdade material consumada. Se

consideramos que o candidato que tem sua origem no ensino básico público teve acesso a uma

qualidade de ensino inferior, as condições de concorrência tornam-se desiguais.

Tomados os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de

2013, constataremos que a média do ensino privado ficou acima do ensino público em todas

as modalidades de ensino. Se tomarmos os dados nacionais somente do ensino médio, vemos

que a educação privada obteve 5,4 pontos, enquanto a educação pública obteve 3,4 pontos. Ou

seja, o ensino privado ficou dois pontos acima. Ainda de acordo com os dados do IDEB

(2013), considerados aqueles referentes ao Estado do Paraná, temos o seguinte quadro: o

ensino médio privado obteve 5,7 pontos, enquanto o público ficou com 3,4 pontos. Percebe-se

que a diferença entre as médias das duas modalidades de ensino no Paraná ficaram acima da

nacional. Dessa forma, os processos seletivos baseados em uma estrutura de meritocracia

individual não oferecem uma oportunidade de igualdade de competição entre seus

concorrentes. Dada as distorções encontradas entre a qualidade do ensino ofertado pela rede

pública em contraste com a rede privada, a reserva de vagas torna a disputa mais democrática.

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19

2.2. DA CONSTITUCIONALIDADE E A LUTA POR DIREITOS

Como vimos, a igualdade é um principio democrático básico de competição, onde se

deve levar em conta as diferenças e desigualdades sociais e econômicas dos sujeitos que

participam do jogo. O que se procurou argumentar até aqui é que o caráter compensatório da

ação afirmativa ajuda a tornar o acesso às universidades públicas mais democráticas.

Para FERES JÚNIOR & ZONIENSEIN (2008, p.16), o Estado seria o ator central na

promoção e proteção da dignidade humana, sendo também de sua responsabilidade o

fortalecimento dos laços mais fracos (e desiguais) da sociedade, aplicando quando necessário

uma discriminação positiva, procurando defender os que mais necessitam da sua intervenção.

Este seria o “espírito” da lei incorporado à elaboração e prática da ação afirmativa. Em termos

práticos, a discriminação positiva deve ser orientada para indivíduos e/ou grupos

historicamente excluídos ou marginalizados dos processos institucionais que compõem a

sociedade, como por exemplo, o mercado de trabalho, a educação, a saúde e a política. Ela

também funciona como um mecanismo de superação de desigualdades materiais e imateriais,

incorporando o resultado das lutas históricas por direitos civis, afirmação de direitos e

cidadania por populações marginalizadas.

A esse respeito, serve como exemplo a luta do movimento operário reivindicando

melhores condições de trabalho e vida e pela redução da jornada de trabalho que se

concretizou em forma de lei que garantia uma jornada máxima de 8 horas trabalhadas.

Configurando-se assim em uma política que procurou reconhecer os direitos dos

trabalhadores. Outro exemplo que poderia ser mencionado é a luta pelos direitos civis do

movimento negro nos Estados Unidos na década de 60 e também as reivindicações do

movimento estudantil e feminista. As mobilizações e reivindicações feitas pelo movimento

negro nos Estados Unidos foram importantes para a história da política de ação afirmativa

porque foi a partir delas que surgiram as primeiras políticas públicas voltadas para um grupo

minoritário (MOEHLECKE, 2002, p.198). Os negros americanos da década de 1960 lutavam

por oportunidades iguais para todos e contra as leis segregacionistas, cobrando do Estado

melhores condições de vida para a população negra.

Vemos nesses exemplos o inicio das ações políticas de caráter compensatório que

ocorreram na história recente da sociedade moderna. Na Europa, por exemplo, as primeiras

políticas datam o ano de 1976, recebendo o nome de ação ou discriminação positiva e, no ano

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de 1982 a Comunidade Econômica Europeia insere o termo discriminação positiva em seu

primeiro “Programa de Ação para a Igualdade de Oportunidades”. Ou seja, são novos atores

pertencentes a minorias políticas que começam a participar do jogo democrático lutando pela

garantia de direitos, tendo como pano de fundo para as suas ações, a construção de uma

sociedade mais justa e igualitária, ou porque não dizer, por relações sociais mais equitativas.

Assim sendo, de acordo com o jurista Sérgio ABREU (2008, p.338) a competição

entre indivíduos livres e iguais deve acontecer em pé de igualdade, sem favorecimento de

grupo. Isso coloca o princípio de igualdade acima do mérito. Com isso, um dos grandes

desafios das sociedades modernas seria garantir a equidade de direitos de todos os cidadãos.

Esse princípio jurídico-político no constitucionalismo moderno, dado o ano de 1787 com a

Constituição americana e o de 1793 com a Constituição francesa.

Por exemplo, a “Declaração de direitos” do Estado da Virgínia, de 12 de Junho de

1776 dispõe no espirito de suas leis que: “todos os homens são por natureza igualmente livres

e independentes e têm certos direitos inerentes, dos quais ao entrarem em sociedade não

podem, por qualquer forma, privar ou desinvestir a sua posteridade.” (ABREU, 2008, pp.329-

330). Como se pode perceber, a ideia desses documentos é tornar legitima a igualdade entre

os indivíduos perante a lei, caracterizando-se como um valor central nas sociedades

modernas. Ressalte-se, no entanto, que a argumentação resenhada até aqui é de cunho

puramente formal, pois na contemporaneidade encontra-se a persistência da perpetuação da

desigualdade socialmente construída que precisa ser combatida pela sociedade com ações

concretas do Estado.

No cenário nacional, Sabriana Moehlecke (2002) esclarece que as primeiras políticas

focalizando a diminuição das desigualdades raciais, sociais e de gênero foram

operacionalizadas na década de 1990 com a reserva de até 20% das vagas dos partidos

políticos para mulheres. Em âmbito mundial temos um parecer de 1968 da Organização

Internacional do Trabalho – OIT, traçando diretrizes aos Estados com a intenção de diminuir

as desigualdades de gênero no mercado de trabalho e incentivando a incorporação de

mulheres às atividades produtivas. Cabe lembrar que tais políticas só ganharam força e

visibilidade graças a mobilizações dos movimentos feministas a partir da década de 1960.

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2.3. DA RESERVA DE VAGAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PORTO; SILVA; OTANI (2012) elaboram um panorama da implementação da

política na Universidade Federal do Paraná. De acordo com os autores a política afirmativa na

Universidade Federal do Paraná foi coloca em prática a partir da resolução 37/2004, aprovada

pelo Conselho Universitário – Coun, que definiu os parâmetros gerais de orientação para a

adoção de política de reserva de vagas. Conforme o artigo 1° dessa resolução, 20% das vagas

ofertadas em todos os cursos de graduação, cursos técnicos e ensino médio, ficam reservadas

aos candidatos afrodescendentes e outros 20% das vagas ficam reservadas para estudantes

oriundos de escolas públicas. Esta política afirmativa tem como objetivo garantir a inclusão

racial e a inclusão social, contados dez anos a partir de sua implementação.

O vestibular de 2005 foi o primeiro a apresentar o sistema de cotas raciais e sociais.

Os critérios ficaram estabelecidos da seguinte forma: o vestibular foi dividido em duas fases.

Na primeira fase não houve distinção entre os candidatos, isto é, todos competiriam como

iguais. O sistema de cotas passou a valer na segunda fase. Nela, os candidatos que se

inscreveram como cotistas raciais competiram pelas vagas reservadas (20%) aos candidatos

afrodescendentes. Já os candidatos que se inscreveram como cotistas sociais disputaram as

vagas destinadas (20%) a oriundos de escolas públicas. O restante das vagas (60%) ficaram

reservadas à concorrência geral, ou seja, aos candidatos que não optaram por nenhuma

modalidade de cotas. Dentro dos parâmetros gerais, decidiu-se pela não divulgação pública

nominal dos cotistas, onde os nomes dos aprovados apareceriam em lista única. Por fim, ficou

determinado a criação de uma comissão composta por membros da UFPR e do Movimento

Negro para conduzir o processo de avaliação e certificação da autodeclaração dos aprovados.

Dessa forma, os autores argumentam que desde o vestibular de 2005, quando se inicia

o sistema de costas na UFPR, foi possível constatar mudanças significativas no perfil dos

aprovados. No primeiro ano de implementação houve mais do que o dobro da presença

histórica de negros entre os ingressantes, passando de 9,30% em 2004 para 20,57% em 2005.

Esse percentual até o vestibular de 2010 oscilou entre 14,80% e 16, 46%, permanecendo

abaixo do percentual de negros entre a população do Estado do Paraná que, de acordo com a

Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) 2008, era de 26,89%.

O período analisado pelos autores equivale a cinco anos da implementação do sistema

de costas na UFPR. Desde o vestibular de 2005 até o de 2010, o número de estudantes que

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ingressaram na universidade pelas cotas raciais foi de 2.390 e os estudantes que acessaram as

graduações através das cotas sociais foram aproximadamente 7.339. Somando as duas

modalidades, são 9.229 alunos contemplados.

2.4. DA EXPANSÃO DO SISTEMA DE ENSINO SUPERIOR E A DEMOCRACIA

RACIAL

O sistema de Ensino Superior encontra-se em um período peculiar da sua história

desde a redemocratização do país. Sua expansão faz parte de um contexto de mudanças

estruturais na sociedade que demanda algumas considerações. O quadro será apresentado com

a ajuda de dados oficiais dos censos da Educação Superior3 disponibilizados pelo Ministério

da Educação (MEC) em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Acompanhando os documentos oficiais disponibilizados pelo INEP (2010; 2011;

2012), foi possível identificar a dimensão da expansão do Ensino Superior no Brasil conforme

a evolução dos números de matrículas nos cursos de graduação nas Instituições de Ensino

Superior (IES) públicas e privadas. Segundo o Censo da Educação Superior de 2010 o total

geral de matrículas foi de 6.379.299 nesse ano. Destas, 1.643.298 matriculas foram em IES

públicas e 4.736.001 em IES privadas. Segundo o documento, o aumento do número de

matrículas entre 2001 a 2010 foi de 110,1%. Em termos quantitativos, isso significa que em

2001 o total geral de matrículas foram mais de 3.000.000 e durante o período de uma década o

total geral de matrículas chegou a 6.739.689, chegando a 7.037.688 conforme os dados do

censo de 2012. Esse aumento foi acompanhado por um aumento no número de recursos

públicos disponibilizados para o Ensino Superior no país que, entre 2000 a 2010, passaram da

ordem de 0,7% para 0,9 % do PIB (FERES JÚNIOR et al, 2013, p.3).

Uma das explicações para essa expansão é dada em função da demanda. Devido ao

crescimento econômico alcançado pelo país nos últimos anos, criou-se um contexto favorável

ao aumento da oferta para a qualificação da força de trabalho. Expansão justificada pelas

políticas públicas implantadas pelo Governo Federal, incentivando o acesso e a permanência

de estudantes na Educação Superior através de financiamentos, bolsas permanência e

3 O Censo da Educação Superior é publicado anualmente e os dados são disponibilizados no portal no Inep

http://portal.inep.gov.br/web/censo-da-educacao-superior . Para está pesquisa utilizaremos os dados dos censos

de 2010, 2011 e 2012.

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subsídios através de políticas com o Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o

Programa de Financiamento Estudantil (FIES).

Dessa forma, com a sistematização dos dados, também foi possível acompanhar o

quadro do aumento progressivo da modalidade de licenciatura ao longo dos últimos dez anos.

Se retornarmos à década passada, em 2001 o número de licenciados no país foi da ordem de

648.666 matrículas. Esse número mais que dobra em 2011, chegando a um total de 1.356.329

matrículas. Evidencia-se um forte aumento na procura e na oferta de cursos de formação de

professores no Brasil.

Feita esta breve contextualização do sistema de ensino superior, cabe lembrar que o

contexto histórico-político da sociedade brasileira foi marcado fortemente pelo mito da

democracia racial. Esse mito sustentou a ideia de que não existiria preconceito étnico-racial

no Brasil, assim como as barreiras sociais baseadas na existência da diversidade cultural e

racial (MUNANGA, 2005, p.18). O debate em torno das desigualdades raciais sempre esteve

presente nas muitas vozes que representam o Movimento Negro e foi a partir delas que a

política de ação afirmativa começou a ganhar espaço no debate político. Juntamente com o

período de redemocratização, tornou-se possível retomar os debates sobre as desigualdades

sociais, políticas e econômica no país.

No caso das desigualdades raciais podemos citar como marco simbólico o ano de

1995.4 Nesse momento, o presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em fala

oficial, admitiu que o Brasil é um país racista. Foi a primeira vez que um representante do

poder executivo desmentiu oficialmente o mito da democracia racial. Na verdade, esse debate

já havia aparecido antes na história política e social do país, pois em 1968 o Ministério do

Trabalho, juntamente com o Tribunal Superior do Trabalho, manifestaram-se favoráveis à

criação de uma lei que obrigasse as empresas privadas a reservar um mínimo de vagas para a

população negra, visando diminuir a discriminação racial no mercado de trabalho. Ocorre, no

entanto, que a lei não passou de uma boa intenção.

Em 1980, com a ação do Deputado Federal Abdias do Nascimento houve um

movimento político concreto (MOEHLECKE, 2002, p.204), procurando compensar as

4 O debate sobre desigualdade racial no Brasil na espera pública é muito recente. Só para de ter uma ideia sobre a

novidade do tema foi somente no ano de 2010 que o Estado institui o “Estatuto da Igualdade Racial” a partir da

Lei de N°12.228, de 20 de julho de 2010. Lei que em seu primeiro artigo resume o caráter do Estatuto: “...

destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidade, a defesa dos direitos étnico

individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.”.

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desigualdades historicamente acumuladas. Com a elaboração de projeto de lei que, mais uma

vez não foi aprovado, o Deputado propôs garantir aos afrodescendentes mecanismos de

compensação, como reservas de vagas para mulheres e homens negros em concursos

públicos, bolsas de estudos e introduzir nas escolas o ensino da história das civilizações

africanas.

Sobre a trajetória histórica e institucional das políticas públicas voltadas para a

população negra, Marcia Lima (2010) apresenta as ações afirmativas como uma construção

histórica que pode ser dividida em três momentos distintos, caracterizados por diferentes

grupos de ações e programas implementados pelo Estado. O primeiro movimento foi

orientado por ações de caráter repressivo. Num segundo momento, as ações focalizaram no

reconhecimento e valorização identitários. No terceiro movimento, por fim, as ações

afirmativas configuraram-se como mecanismos de reconhecimento e redistribuição.

O primeiro grupo de políticas para a promoção da igualdade racial se caracterizou pelo

teor repressivo de formulações materializadas na Constituição Federal de 1988 que prevê a

criminalização do racismo. Conforme a lei nº 7.716/1989 se define como crime qualquer

discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Essas

primeiras ações do Estado tinham como objetivo o reconhecimento histórico e cultural das

populações negras e também uma resposta às reivindicações do Movimento Negro.

A segunda etapa do processo histórico ocorre a partir de 1990 com a aproximação

entre o Movimento Negro e o Estado brasileiro durante o governo do presidente Fernando

Henrique Cardoso. Esta etapa está relacionada com o segundo grupo de políticas públicas

classificadas pela autora como politicas de reconhecimento com intuito

valorativo/indentitário. Nessa segunda etapa do processo histórico- político as reivindicações

por ações concretas ganham espaço no cenário nacional e internacional. Dentro desse

contexto, dois eventos históricos são citados por LIMA (2010, p.79) devido à sua importância

para o contexto das ações afirmativas no Brasil. O primeiro evento foi local, ocorreu em 1995

e foi chamado de “A Marcha Zumbi de Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida”.

O segundo, de âmbito internacional, ocorreu em 2001no contexto da “Conferência de

Durban”.

O terceiro movimento se inicia em 2003, no primeiro mandato do Presidente Luis

Inácio Lula da Silva que, de acordo com LIMA (2010, p.82), marcou uma mudança profunda

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tanto na condução das políticas com recorte racial quanto na aproximação do Movimento

Negro com o Estado. Nessa etapa do processo histórico, as ações afirmativas a partir do

recorte racial são caracterizadas pelo reconhecimento, mas com um intuito redistributivo. Em

2002, em duas instituições de ensino no Estado do Rio de Janeiro, a Universidade do Estado

do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade do Estado Norte Fluminense (UENF) foram as

primeiras a disponibilizarem um percentual de suas vagas para candidatos oriundos da

população negra e parda. Foi dentro desse contexto que as ações afirmativas foram

implantadas nas universidades públicas, gerando intenso debate na sociedade e no meio

acadêmico.

De maneira geral, o contexto do debate acadêmico sobre as ações afirmativas no Brasil

foi polarizado entre duas visões: a primeira defendendo a ideia de reparação histórica

(QUEIROZ & SANTOS, 2006) e a segunda acreditando na acentuação do racismo e divisão

da sociedade entre brancos e negros (LEWGOY, 2005; MAGGIE & FRY, 2004).

Ao estudarem a inclusão de negros na Universidade Federal da Bahia (UFBA), nos

vestibulares de 2005 e 2006, Delcele Mascarenhas Querioz & Jocélio Teles Santos (2006)

apresentaram informações relevantes sobre a origem escolar dos acadêmicos ingressantes. De

acordo com os autores, foi possível observar a partir da origem escolar que

[...] o vestibular com reservas de vagas proporcionou uma revolução na UFBA, fazendo ingressar, nos

seus cursos mais competitivos, parcela considerável de estudantes oriundos de escolas públicas, que

estiveram, historicamente, excluídos desse espaço. A participação de estudantes oriundos das escolas

públicas, que era de menos de 27% em cursos como Medicina, Arquitetura e Urbanismo, Direito,

Comunicação, Odontologia, Ciências da Computação, Engenharia Civil e Engenharia Elétrica, cresceu

consideravelmente, ultrapassando os 43% das vagas a eles reservadas pelo sistema de cotas. (QUEIROZ

& SANTOS, 2006, pp. 726-727).

Em termos percentuais, os números quantitativos de vagas reservadas nos vestibulares

analisados se elevaram tal como relatado:

A participação dos estudantes oriundos de escolas públicas, na UFBA, que estava em torno de 38% de

cotas, elevou-se para 51% em 2005. Embora se verifique em 2006 uma redução deste patamar de

participação para 44,9%, ele se mantém num nível acima do que é pretendido pelo sistema de cotas.

(QUEIROZ & SANTOS, 2006, idem).

Ao compararam os rendimentos acadêmicos de alunos cotistas e não-cotistas,

QUEIROZ & SANTOS (2006, p.731) argumentam que as diferenças ou distâncias entre as

médias entre os grupos é baixa. Chegando, por exemplo, a menos de um ponto de diferença

num curso como o de Medicina, onde o desempenho médio dos cotistas foi de 6,7 numa

escala de 0 a 10 e, de 7,4 para o não-cotista. As diferenças entre os desempenhos acadêmicos

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em onze dos dezoito cursos de maior concorrência na UFBA revelaram que os cotistas

tiveram desempenho igual ou superior aos dos não-cotistas. (QUEIROZ & SANTOS, 2006,

p.733). Dessa forma, os argumentos apresentados pelos autores demonstram que o

desempenho acadêmico de alunos cotistas e não cotistas não apresentaram grande distorções.

Com isso, a qualidade de ensino nos cursos da Universidade Federal da Bahia permaneceram

estáveis após a implementação do sistema de cotas.

Representando outro posicionamento, o antropólogo Bernardo Lewgoy (2005)

desenvolve argumentos contrários à implantação do sistema de cotas com base na experiência

da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, a tentativa de objetivação da noção de raça

negra pela ciência seria falha, se restringindo ao campo ideológico e se configurando como

credo ou militância (LEWGOY, 2005, p.220). Para fundamentar o seu posicionamento, ele

argumenta que as cotas racializam o debate em torno das políticas públicas, quando na

verdade seria preciso desracializar o combate ao racismo e à exclusão social através de

políticas igualitárias baseadas no ideário universalista. De acordo com o autor:

Não cabe aos antropólogos cumprir o papel de peritos raciais em comitês de seleção de candidatos a

cotas por vários motivos, dentre os quais o mais relevante é o pífio significado científico e a iniquidade

ideológica da categoria “raça” como operadora de divisões sociais e de políticas públicas de promoção

de justiça social. Identidades raciais, sejam chamadas de construções “biológicas”, “sociais” ou

“étnicas” sempre forma construções arbitrárias, criadas e manipuladas pelo poder legítimo de plantão

(seja ele um Estado, seja ele uma elite colonial, seja ainda um movimento social, ou mesmo um comitê

de avaliação racial numa universidade) e não deveriam constar senão de um museu de ideias passadas.”

(LEWGOY, 2005, p.220).

Assim sendo, o autor desconsidera que as políticas de ações afirmativas foram criadas

exatamente para romper com o ideário universalista, dada a proposição de que o tratamento

igual aos desiguais levará à perpetuação da desigualdade social.

Corroborando o argumento de que as ações afirmativas são políticas “racialistas”,

Yvonne Maggie & Peter Fry (2004), ao discutirem a implementação da política de reservas de

vagas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Universidade do Estado

Norte Fluminense (UENF) em 2002, ponderam que a adoção de tal política marca a quebra de

uma longa tradição republicana pós-Constituição de 1988 que já condena e reconhece o

racismo. De acordo com os autores, as ações afirmativas não só rompem com esta tradição

republicana, mas também com a ideologia que definiria o Brasil como um país da mistura

(MAGGIE & FRY, 2004, p.68). Dentro dessa perspectiva, os autores são favoráveis à criação

de políticas públicas baseadas em princípios universalistas que acabariam por neutralizar a

“raça” entre as pessoas. Assim, a ideia de uma sociedade hibrida ou mista poderia prevalecer,

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pois com as políticas públicas com corte racial a reserva de vagas romperia com a tradicional

mistura de raças, dando lugar ao surgimento de “grupos estanques” de “negros” e “brancos”.

Assim sendo, MAGGIE & FRY (idem, p.77) não acreditam que as desigualdades entre

brancos e negros poderão ser corrigidas com o advento de tais medidas redistributivas e

compensatórias.

2.5. DE OUTRAS EXPERIÊNCIAS: O CASO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SERGIPE

Ao discutir a juventude e as expectativas de mobilidade social através da analise de

dados socioeconômicos de vestibulares realizados pela Universidade Federal de Sergipe –

UFS, Frank Marcon (2010) comprova a existência da correlação estatística entre a origem

social do candidato e a opção pelo curso. Dessa forma, os candidatos aprovados oriundos da

escola privada escolheram cursos de maior prestígio social, ligados principalmente às áreas de

saúde, engenharias e sociais aplicadas. Já os aprovados oriundos de escolas públicas

ingressaram nos cursos que possuem menor status profissional, como as licenciaturas e os

demais cursos distribuídos no período noturno (Idem, p.109).

Analisando quantitativamente os dados referentes aos vestibulares de 2007, 2008 e

2009 (Idibem, p.106), o autor mostra que 55% dos alunos, representado 6.477 aprovados que

ingressaram na universidade neste período, são oriundos da escola privada. Enquanto que

45% dos ingressantes, aproximadamente 5.984 aprovados, possuem sua origem no ensino

público. Com isso, do total de alunos que concluíram o ensino médio em Sergipe em 2005,

aproximadamente 16.419, o ensino público foi contemplado por 81,89% das matrículas. Por

outro lado, o ensino privado representou 19, 11 % das matriculas. Dessa forma, o autor

identificou uma super-representação da escola privada e uma sub-representação da escola

pública no interior da universidade.

As distorções encontradas na relação entre a origem escolar do candidato e a escolha

pelo curso se tornam ainda mais acentuadas ao analisar a composição social das profissões.

Ao analisar os de Direito, Medicina, Fonoaudiologia, Engenharia Mecânica, Nutrição,

Enfermagem, Relações Internacionais, Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo,

Administração, Odontologia e Geologia, MARCON (2010, p.106) percebeu que mais de 80%

dos alunos que ingressaram na UFS, no ano de 20095, eram oriundos de escolas privadas

5 O sistema de cotas já estava sendo utilizado pela instituição neste vestibular.

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(MARCON, 2010, p. 111-112). Ou seja, existe uma dominância das oportunidades de

formação profissional nessas áreas pelos alunos do ensino privado, filtrando as expectativas

profissionais de jovens provenientes do ensino público que acabariam desistindo de escolher

áreas de maior prestígio social e econômico, não só devido à concorrência, mas também pelo

turno em que são ofertados os cursos e pelo elevado grau de despesas com material e a

bibliografia para a formação, por exemplo. A partir disso MARCON (2010, p.118) chama a

atenção para a baixa diversidade social, econômica e étnico-racial que essa dominância

produz, questionando se realmente está havendo uma democratização na estrutura de

oportunidades nos cursos da Universidade Federal de Sergipe.

As reflexões colocadas por Frank Marcon (2010) a partir da experiência de Sergipe

vão ao encontro da discussão proposta por Jésse Souza (2012) que, estudando a formação de

uma nova classe trabalhado no Brasil e tomando como referência a teoria sociológica de

Pierre Bourdieu, argumenta que a produção do privilégio social entre as classes altas e média

é produzida a partir da acumulação de dois capitais impessoais. Esses capitais são

transmitidos através da socialização familiar e sua incorporação é indispensável para a

reprodução da estrutura social. Associado ao capital econômico, o capital cultural torna os

indivíduos mais ou menos aptos para acessar os bens e recursos escassos na moderna

sociedade capitalista. Portanto, na dinâmica das sociabilidades a transmissão e reprodução dos

capitais impessoais são fundamentais para a manutenção de posições privilegiadas. Dessa

forma, os privilégios de classes minoritárias são legitimados na sociedade através da violência

simbólica exercida sobre classes desprivilegiadas. Assim, a dominação social e a opressão de

uma classe sobre outra é aceita e consentida (SOUZA, 2012, p.21).

Acatando tais pressupostos, é possível propor que, almejando competir com maiores

chances de sucesso no mercado de trabalho, os jovens precisam possuir determinadas

precondições sociais, morais, emocionais e econômicas, incorporadas em práticas e

disposições sociais. Dito isso, seria pertinente conceber a seguinte questão: os jovens

destituídos de capitais impessoais, pertencentes às classes sociais menos favorecias, alheios às

precondições necessárias para a efetivação do sucesso no mercado profissional, optam

livremente pelos cursos superiores de menos prestigio, tal como são os cursos de

licenciaturas?

Ainda de acordo com SOUZA (2012), para conseguir compreender a existência de

classes sociais positiva e negativamente privilegiadas é necessário identificar as diferentes

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formas de apropriação de capital. Essa apropriação estrutura toda a hierarquia social, bem

como as condições para a reprodução da sociedade de classes. Nesse sentido, o capital

cultural pode ser traduzido por um conhecimento técnico e escolar, sendo fundamental para a

reprodução do mercado e do Estado. Na análise construída pelo autor, é justamente a

apropriação diferencial do capital cultural que possibilitou às classes médias colocarem-se em

posição dominante na sociedade moderna. Já as classes altas, por sua vez, apropriam-se

historicamente do capital econômico, principalmente em função dos mecanismos de herança.

A partir da dinâmica das classes sociais que assegura a manutenção do privilégio,

SOUZA (2012, p.50) argumenta que no interior da nova classe trabalhadora brasileira existem

setores capazes de ascensão social, desde que sejam dadas oportunidades de qualificação e de

inserção produtiva. São pessoas que internalizaram e incorporaram disposições de crer e agir

através de seu próprio esforço, usando disciplinadamente o tempo para almejar uma nova

posição na sociedade.

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3. A LICENCIATURA: AS POLÍTICAS PARA A FORMAÇÃO DOCENTE

A preocupação com políticas públicas estruturadas para preparar professores para a

Educação Básica é algo relativamente recente na história do Brasil. O inicio da política para a

formação docente é marcada pela consolidação da República e o interesse na escolarização

dos futuros cidadãos. Para Dermeval Saviani (2005) essa história se caracteriza por três

movimentos. O primeiro emerge após o período de independência quando se começa a pensar

a organização da instrução escolar da população. Com o Ato Adicional à Constituição

Imperial de 1823, aprovado em 1834, a responsabilidade do ensino básico foi descentralizada,

tornando-se obrigação das províncias que também passariam a cuidar do preparo dos docentes

(SAVIANI, 2005, p.12).

Dessa forma, a política de formação de professores para o ensino em instituições

escolares foi proposta no final do século XIX com a criação das Escolas Normais que na

época correspondiam ao nível secundário de ensino. A primeira Escola Normal do país foi

instalada na província do Rio de Janeiro, em 1835, na sua então capital Niterói, sendo fechada

ainda em 1849. Essa situação caracterizava a instabilidade institucional que as Escolas

Normais encontravam no contexto do Brasil Imperial. Essa instabilidade viria a ser

contornada com o advento da República. A partir desse novo contexto político, as províncias

se tornam Estados Federados e em 1890 o Estado de São Paulo inicia uma ampla reforma no

modelo de instrução pública, visando preparar professores através de uma ambiciosa

reformulação curricular, tal como refletido no conteúdo do Decreto nº 27 de 12 de março de

1890.6

É possível perceber que, na história sobre as políticas de formação (SAVIANI, 2005;

PEREIRA, 1999), a experiência de formação implantada em São Paulo serviu de modelo para

o restante do país, sendo reconfigurada apenas com as transformações que ocorreram na

década de 1930. Esse período marca o segundo movimento histórico fundamental para a

consolidação do modelo de formação que se conhece atualmente. Foi após esse período que

os primeiros acadêmicos começaram a obter a permissão para atuar no ensino secundário

6 Com esse decreto ficou instituído que as Escolas Normais do Estado de São Paulo ficaram responsáveis pela

formação de professores. Destaque para as áreas de: Escrituração Mercantil, Educação Cívica, Noções de

Economia e Política, com especialidade da rural, Organização e direção das Escolas e a de Exercícios militares e

escolares.

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como professores licenciados. Oriundos dos cursos de bacharelado, eles faziam a opção por

cursar algumas disciplinas de educação e pedagogia (GATTI, 2010, p.1356). Em termos

históricos, cabe ressaltar que nesse período foram realizadas as reformas de 1932 no Distrito

Federal e a de São Paulo em 1933. A primeira, liderada por Anísio Teixeira e a segunda por

Fernando Azevedo, ambos representantes do movimento da “Escola Nova”, caracterizado por

SAVIANI (2005, p.16) como de orientação renovadora.

Por fim, o terceiro movimento identificado pelo autor foi marcado pela

descaracterização das escolas normais (Idem, p.18-21). Essa mudança ocorreu em 1971 com a

aprovação da lei n° 5.662/71 que alterou o ensino primário e médio. A partir dessa legislação,

o curso primário, com duração de quatro anos, seguido de um ensino médio organizado

verticalmente em quatro séries e do curso colegiado de três anos, foi reconfigurado na forma

de ensino de primeiro grau com duração total de oitos anos. Na sequência, foi criado o ensino

de segundo grau com duração de três a quatro anos. Com essas mudanças na estrutura de

ensino, as escolas normais deixaram de existir, sendo substituídas pela habilitação específica

de 2º Grau que autorizava o exercício do magistério em nível de 1º Grau.

3.1. DAS MODALIDADES DE FORMAÇÃO

Segundo Júlio Emílio Diniz Pereira (1999), as discussões a respeito das políticas de

formação de professores no Brasil se tornaram recorrentes nas últimas três décadas com a

criação das faculdades de educação na segunda metade da década de 1960. Por outro lado, o

interesse acadêmico propriamente dito, com a elaboração de análises empíricas e teóricas,

começou a ganhar espaço nas universidades somente na década de 1990, no contexto da

aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), lei º 9.394/96.

De fato, a aprovação da LDB foi acompanhada de um contexto que estimulou uma

nova onda de debates sobre a formação docente no país. Nesse sentido, cabe destacar que a

LDB possui uma parte de seu texto voltada especificamente para os “profissionais da

educação” e em seu o artigo 61 diz que:

“A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e

modalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como

fundamentos:

I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço;

II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades.”

(LDB, art. 61).

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A LDB de 1996 estabeleceu os novos parâmetros sobre o modelo educacional

brasileiro e também sobre as orientações sobre a formação docente e a prática pedagógica. Por

outro lado, de acordo com PEREIRA (1999, p.110), o modelo das licenciaturas permaneceu,

desde o seu surgimento, na década de 1930, sem alterações significativas. Esse primeiro

modelo pensado para as licenciaturas ficou conhecido como “modelo 3 + 1” no qual o aluno,

durante os quatro anos de formação, cursaria três anos de disciplinas de conteúdos da sua área

de atuação profissional e um ano de disciplinas pedagógicas. Esta modalidade de licenciatura

também foi classificada como um “modelo de racionalidade técnica” (Idem, p.111), pois o

professor é visto como um técnico habilitado para aplicar praticamente o conhecimento

científico aprendido durante sua formação. Assim, a formação docente, secundária, consistiria

num complemento organizado fundamentalmente em torno das disciplinas de estágio

supervisionado, uma vez que a formação propriamente dita já teria ocorrido.

A crítica do autor a essa modalidade de formação enfatiza o seu distanciamento em

relação à realidade da futura prática profissional:

“[...] a separação entre a teoria e prática na preparação profissional, a prioridade dada à formação teórica

em detrimento da formação prática e a concepção da prática como mero espaço de aplicação de

conhecimentos teóricos, sem um estatuto epistemológico próprio. Um outro equívoco desse modelo

consiste em acreditar que para ser bom professor basta o domínio da área do conhecimento específico

que se vai ensinar.” ( PEREIRA, 1999, p.112).

De forma resumida, podemos afirmar que o modelo da licenciatura baseada na

racionalidade técnica inspirado nos cursos de bacharelado acabou supervalorizando as

disciplinas de conteúdo especifico em detrimento das disciplinas pedagógicas. E as

dificuldades em se articular os conhecimentos específicos com os conteúdos pedagógicos

durante a formação revelaram a pouca eficiência do modelo da racionalidade técnica.

Com a crítica a esse formato de licenciatura, chegou-se a um novo modelo para se

aplicar às políticas de formação docente: o da racionalidade prática.

Esse novo modelo, segundo PEREIRA (1999, p.113), é uma alternativa na medida em

que o professor é visto como um profissional autônomo que reflete por si próprio e que toma

e cria suas decisões a partir da sua própria experiência e ação pedagógicas. Ou seja, a prática

pedagógica não é mera aplicação de conhecimentos científicos ou pedagógicos em sala de

aula, mas um espaço de criação e reflexão que consequentemente abre a possibilidade para a

produção de novos conhecimentos. Com isso,

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“as propostas curriculares elaboradas desde então rompem com o modelo anterior [da racionalidade

técnica], revelando um esquema em que a prática é entendida como eixo dessa preparação. Por essa via,

o contato com a prática docente deve aparecer desde os primeiros momentos do curso de formação.”

(PEREIRA, 1999, p.113).

Como vimos no inicio desta discussão, o modelo da racionalidade prática dialoga com

as diretrizes encontradas na LDB sobre a formação de profissionais da educação no que diz

respeito à articulação entre a teoria apreendida e a prática desenvolvida a partir de

experiências de ensino. A dificuldade que se apresenta na formação de professores está

exatamente na relação que o profissional estabelece com teoria e prática, uma vez que

supervalorizar a prática não significa necessariamente tornar-se um bom professor e a

formação teórica também é parte fundamental na formação docente de qualidade. Dessa

maneira, a questão chave que se coloca é a articulação da teoria e da prática no contexto da

experiência docente.

Em relação aos fatores externos ligados à formação docente e às atuais condições da

educação, com desdobramentos na qualidade da formação inicial e continuada dos

professores, dois merecem destaque. O mais recorrente nas análises consultadas diz respeito

aos salários pouco atrativos e à precariedade do trabalho (PEREIRA, 1999, p.111). Esses

fatores, segundo o autor, desestimulam os jovens a escolherem a docência como carreira

profissional e desmotivam os professores em exercício a buscarem aprimoramento.

Ao discutir sobre a possível crise das licenciaturas, Antônia Vitória Soares Aranha &

João Valdir Alves de Souza (2013) chamam a atenção para a forma como esse diagnóstico é

realizado. Os autores lembram que a crise pela qual passamos não diz respeito somente à

formação de professores, mas também ao próprio sistema de ensino que foi constituído no

contexto de formação dos modernos estados nacionais no século XIX. A criação da escola e

do processo de escolarização para toda a população faz parte de um projeto de modernidade

que vê a educação como um direito de todo indivíduo e um dever do Estado.

Ao fazer referência à crise das licenciaturas, estamos falando de um processo que

atinge a toda a estrutura de ensino, refletindo as desigualdades sociais e econômicas que

encontramos na sociedade. No entanto, na atualidade, essa crise estrutural no sistema atinge

diretamente a profissão docente e o corpo discente que compartilham de um mesmo contexto

social, fruto de uma crescente demanda e oferta por escolarização, numa sociedade

caracterizada por desigualdades socioculturais e desigualdades socioeconômicas (ARANHA

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& SOUZA, 2013, p. 10), ao lado da promessa de uma educação inclusiva, capaz de respeitar

as particularidades sociais dos diferentes grupos sociais.

Contribuindo com os argumentos de PEREIRA (1999), ARANHA & SOUZA (2013)

apontam alguns elementos que ajudariam a compreender melhor o contexto no qual as

licenciaturas estão inseridas. Mencionando o baixo valor atribuído ao diploma de professor

para a Educação Básica, tanto no sentido econômico, quando nos referimos aos salários,

quanto no sentido simbólico, quando nos referimos ao prestigio social da profissão, os autores

delineiam a seguinte contradição: quanto mais a sociedade se torna escolarizada, mais alta é a

sensação de que a escola não corresponde às expectativas colocadas sobre ela. Dessa forma,

percebe-se que a demanda por formação de novos professores não consegue acompanhar a

crescente oferta por educação em todos os níveis de ensino.

No caso do Brasil, de acordo com o Ministério da Educação – MEC (2012), a carência

de professores para a educação básica, somente nas áreas de Matemática, Física e Química

chega a 170 mil. Da mesma maneira, segundo dados apresentados pela Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES (2008) através da sua diretoria para

assuntos relacionados à Educação básica, considerando-se as dez áreas de conhecimentos

ofertadas, a carência pode chegar a 246 mil professores.

Sobre o tema que envolve a atratividade da carreira de professor, corroborando os

estudos de MARCON (2012), um levantamento realizado na UFMG (Universidade Federal de

Minas Gerais) mostrou que o recrutamento dos estudantes dos cursos de licenciatura ocorre

justamente entre aqueles que possuem uma escolarização mais precária. Para ARANHA &

SOUZA isso evidencia que o acesso ao Ensino Superior não acorre da mesma forma entre as

classes sociais. Para aqueles indivíduos que conseguem romper com as barreiras econômicas,

por exemplo, realizando o sonho de estudar numa universidade, parece claro a opção pelas

carreiras que oferecem um diploma de menor valor. No vestibular de 2000, na UFMG, dos

dezessete cursos mais concorridos, seis eram de licenciatura e nos vestibulares de 2012 e

2013, os cursos de licenciatura ficaram de fora dos quinze mais concorridos. Com esse

cenário, evidencia-se o que vem ocorrendo com os cursos de licenciatura, indicando o

crescente desinteresse pela docência entre os candidatos, fato que gerou uma redução de

metade do quadro de professores formados pela UFMG nos últimos dez anos.

3.2. DA ATRATIVIDADE DA CARREIRA

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“Tem gente que fala... todo mundo aqui já ouviu uma frase que é:

‘Quem pode faz, quem não pode ensina’, eu discordo dessa frase

porque em mudaria para: ‘Quem é egoísta faz, quem é generoso

ensina’, porque um professor, no fundo, ele divide o conhecimento

dele com os alunos [...] eu acho que o professor não deveria ser

julgado daquela outra maneira.” André, escola particular, São Paulo

(GATTI, B. A.; TARTUCE, Gisela Lobo B. P.; NUNES, Marina M.

R. e ALMEIDA, P. C. A., 2010, p.186).

O estudo encomendado à Fundação Carlos Chagas (FCC), que contou com o

financiamento da Editora Abril, do Instituto Unibanco e do Itaú BBA, e realizado pelos

pesquisadores GATTI, B. A.; TARTUCE, Gisela Lobo B. P.; NUNES, Marina M. R. e

ALMEIDA, P. C. A. (2010), trabalhou com jovens matriculados nas séries finais do ensino

médio em municípios espalhados pelas cinco regiões do país. Tomando com base de análise

entrevistas e grupos de discussões com 1.501 jovens, esse estudo procurou compreender quais

os fatores que estariam relacionados à atratividade das carreiras profissionais. O objetivo da

pesquisa foi identificar os fatores que levariam a docência a deixar de ser uma escolha

profissional interessante para a juventude ingressar no mercado de trabalho e quais seriam as

justificativas para o baixo interesse pela carreira docente.

Dito isso, a problematização sobre escolhas profissionais precisa ser contextualizada

no interior de um mercado de trabalho que foi reestruturado ao longo das últimas décadas,

produzindo uma nova organização da estrutura de profissões. Um dos principais efeitos desse

processo de reestruturação foi a alta valorização de algumas carreiras em detrimento de

outras. Dessa forma, pelo menos desde a década de 1980 o mundo do trabalho vem passando

por transformações significativas no campo social, político, econômico e cultural. Um

exemplo dessas transformações é a tendência da substituição de empregos estáveis com boas

remunerações por contratos de trabalhos mais flexíveis de curto e médio prazo. Com isso,

qualquer estudo sobre os fatores ligados a uma escolha profissional tornou-se um processo

marcado por complexidades e contradições pessoais dentro de uma reconfiguração estrutural

do mercado de trabalho.

Assim, a escolha por uma profissão depende da representação social que é feita dela.

Além disso, qualquer escolha profissional também se relaciona com fatores socioeconômicos,

históricos e culturais. Esses critérios afetam diretamente as opções por determinadas

profissões e, para o momento histórico atual do país, fatores ligados a status e salário

representam a principal motivação interveniente sobre a escolha de uma carreira profissional

(GATTI et al., 2010, p. 143).

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Desse modo, os jovens analisados tendem a construir discursos e representações que

tencionam de um lado o desejo e de outro a possibilidade de realização concreta através da

escolha de uma profissão. Essa escolha é feita de forma deliberada e num primeiro momento

acaba refletindo a pressão da estrutura profissional da sociedade capitalista, interferindo nas

expectativas, nas motivações e nos interesses dos jovens por determinado posto de trabalho.

Dessa forma, as escolham acabam sendo orientadas de acordo com a perspectiva dos ganhos

econômicos.

Após essa primeira identificação, os jovens foram confrontados com a possibilidade

hipotética de “ser professor”. As associações que foram feitas caracterizaram o professor

como um profissional desvalorizado que recebe um baixo salário e possui uma carga horária

de trabalho excessiva. Outra associação importante a ser destacada diz respeito às correlações

feitas entre a diferença em “ser professor” do ensino público e “ser professor” do ensino

privado. Na visão dos entrevistados, o professor seria mais desvalorizado na escola pública

porque, além das dificuldades com a estrutura e o funcionamento da instituição, teria que

atender classes sociais mais desfavorecidas. Os entrevistados acreditam que na escola privada

o professor seria um pouco mais valorizado e trabalharia com alunos “mais educados” (idem,

2010, p. 164). De qualquer forma, a maior parte das ideias mobilizadas pelos estudantes que

participaram da pesquisa reflete uma visão positiva sobre a profissão docente. Nesse sentido,

elas fazem referência ao reconhecimento do papel social que o professor tem na formação do

indivíduo, na possibilidade de mudar pessoas e de formar opiniões. Ou seja, existe um

reconhecimento da importância da profissão, mas não o suficiente para gerar interesse em

seguir a carreira. Os jovens contornaram as dificuldades da profissão atribuindo à docência

adjetivos como “amor”, “paixão”, “paciência” e “dom”. Tais ideias acabam reforçando a

noção de que a vontade é suficiente para o exercício da docência, o que justificaria até mesmo

abdicar do salário para ensinar por amor. Logo, a docência não é vista como uma profissão,

mas como uma missão em resposta a uma vocação previamente construída.

Quanto ao perfil dos jovens que têm interesse pela docência, suas características

podem ser generalizadas: são, em sua grande maioria, estudantes de escola pública e os seus

pais têm no máximo o Ensino Fundamental completo. Nas palavras das autoras:

“a carreira docente mostrou-se mais atraente para jovens de um segmento social desfavorecido, o que,

muitas vezes, implica escolarização precária.” (idem, p.206).

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Tomando como base os resultados da pesquisa, as autoras argumentam que o perfil de

aluno que tem se interessado pela carreira docente mudou nos últimos anos. Elas sugerem que

a carreira tem gerado interesse entre as pessoas pertencente às classes C e D. Nas análises dos

resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2008, esses alunos encontraram

dificuldades com língua, leitura, escrita e compreensão de texto. Provenientes dos sistemas

públicos de ensino, eles têm apresentado um baixo desempenho nas avaliações.

“[...] trata-se de alunos que tiveram dificuldades de diferentes ordens para chegar ao ensino superior.

São estudantes que, principalmente pelas restrições financeiras, tiveram poucos recursos para investir

em ações que lhes permitissem maior riqueza cultural e acesso a leitura, cinema, teatro, eventos,

exposições e viagens. E essa mudança de perfil trouxe implicações para cursos de Licenciatura que

estão tendo que lidar com um novo background cultural dos estudantes.” (idbem, p.149).

Por fim, o que se pode concluir a partir dos argumentos apresentados é que a

identificação social com a profissão docente tende a se concentrar nas expectativas

profissionais de alunos e alunas pertencentes às classes populares que construíram suas

trajetórias escolares na rede de ensino público. Nas palavras das autoras:

“O baixo poder aquisitivo e o baixo capital intelectual dessas famílias seria o responsável pela aceitação

e até mesmo pelo desejo dos pais de que seus filhos se tornassem professores como forma de ascensão

social.” ( idem, 2010, p.192).

Considerada a pertinência dessa proposição, ela contribui para o desenvolvimento do

presente trabalho, uma vez que evidenciamos que os estudantes que entram na universidade

pelo sistema de cotas tendem a optar por cursos de licenciatura e a almejar a carreira de

professor. Essa pesquisa não possui o objetivo de comprovar essa proposição, tomando-a

como uma hipótese a ser verificada, mas compreender o que um grupo de alunos cotistas

pensa a respeito da docência. Foi a partir da problemática coloca por GATTI, B. A.;

TARTUCE, Gisela Lobo B. P.; NUNES, Marina M. R. e ALMEIDA, P. C. A. (2010) que

formulamos quatro afirmações e apresentamos aos entrevistados com a perspectiva de

verificar um eventual esforço de refutação: as cotas fazem com que a qualidade do ensino

caia; os professores são recrutados entre os alunos que têm o rendimento escolar mais baixo;

as diferentes licenciaturas não têm demonstrado capacidade para formar bons professores; a

carreira de professor não é atraente. Essas afirmações foram incorporadas ao conjunto de

tópicos usado nas entrevistas com os alunos cotistas.

4. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAS: PRÁTICAS E IDEAIS

Este capítulo abordará o conceito de representação social, tal como proposto por Serge

Moscovici (1978). Dado esse referencial teórico, procuramos argumentar a respeito das

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implicações de se tomar as ações afirmativas e a licenciatura como objetos de representação

social.

De acordo com Moscovici, toda representação é comunicada individualmente, mas

elaborada coletivamente. Quando compartilhada, a representação social, além de produzir

conhecimento, contribui para a construção de identidade e para a atribuição de sentido às

práticas cotidianas. Nesse sentido, se considera aqui os alunos cotistas entrevistados como

representantes de um grupo que produz coletivamente representações sobre a licenciatura e

sobre a carreira docente. Para os efeitos da pesquisa aqui relatada, esses alunos estão

vinculados a três diferentes cursos de licenciatura da UFPR: Ciências Sociais, História e

Física.

As representações sociais podem ser descritas como fenômenos sociais

(MOSCOVICI, 1978, p.25) que se tornam visíveis quando observadas as práticas

incorporados pelos sujeitos. Quando comunicada ou descrita, a incorporação garante a

representação de uma determinada realidade organizada socialmente.

4.1.AS REPRESENTAÇÕES: SOCIAIS E COLETIVAS

O conceito de representações sociais foi elaborado num campo de confluência entre a

Sociologia e a Psicologia Social. Na Sociologia, pelo menos desde Émile Durkheim, as

representações podem ser consideradas como objeto de análise. Ao estabelecer as bases do

método sociológico para o estudo objetivo dos fatos sociais, DURKHEIM (2007) apresenta

algumas referências a respeito das representações coletivas. De acordo com ele, as

representações coletivas tornam legíveis as maneiras como determinado grupo se pensa a

partir das relações que estabelece com os objetos que o afetam. Assim, essas representações

seriam responsáveis pela atribuição de sentido às ações práticas no mundo social.

“Com efeito, essas noções, ou conceitos, não importa o nome que se queira dar-lhe, não são os

substitutos legítimos das coisas. Produtos da experiência vulgar, eles têm por objeto, antes de tudo,

colocar nossas ações em harmonia com o mundo que nos cerca; são formados pela prática e para ela.

Ora, uma representação pode ser capaz de desempenhar utilmente esse papel mesmo sendo teoricamente

falsa.” (DURKHEIM, 2007, p.19).

Ainda dentro do campo de conhecimento da Sociologia clássica, Karl Marx (2008), ao

tratar a questão da ideologia pelo víeis do materialismo histórico, apresenta uma discussão a

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respeito das representações criadas pelos indivíduos em função do grau de desenvolvimento

da divisão do trabalho e do lugar que eles ocupam nessa divisão. De acordo com MARX

(2008), a posição que o individuo ocupa dentro do modo de produção determina a sua

consciência e, consequentemente, suas representações:

“A produção das ideias, das representações e da consciência está, a princípio, direta e intimamente

ligada à atividade material e ao comércio material dos homens; ela é a linguagem da vida real.”

(MARX, 2008, p.18).

Para MARX, a classe social dominante, por ser proprietária dos modos de produção,

tem o poder de controlar ideologicamente os pensamentos, valores e representações das

demais classes. Assim, as representações seriam uma abstração do mundo material orientadas

pela ideologia das classes dominantes.

Para Maria Cecilia de Souza Minayo (2010), certa noção de representação também

está presente na sociologia de Max Weber através de termos como “ideias”, “espirito”,

“concepções”, “mentalidade”, muitas vezes utilizados pelo autor como sinônimos. As

“ideias”, ou representações, seriam juízes de valor que o indivíduo utiliza na orientação da sua

conduta cotidiana no mundo social. Por um lado, essa conduta é marcada por uma

significação cultural. Por outro, a significação é condicionada dentro de uma relação mútua

entre base material e ideias.

Assim sendo, as representações para a sociologia clássica podem ser analisadas da

seguinte forma:

“Enquanto para Durkheim as representações sociais exercem coerção sobre os indivíduos e a sociedade,

para Weber os indivíduos é que são portadores de valores e de cultura que informa a ação social dos

grupos. Marx admite com Durkheim que os valores e crenças exerçam um papel coercitivo sobre “as

massas”, mas insiste no caráter de classe das representações e no papel da luta de classe que se dá no

modo de produção e determina o campo ideológico no qual se embatem dominadores e dominados.”

(MINAYO, 2000, p.108).

A distinção entre os termos “coletiva” ou “social” se estabelece a partir da apropriação

crítica que MOSCOVICI (1978) faz do conceito originalmente formulado por Emile

Durkheim. O autor argumenta que a diferença entre o uso por ele sugerido e aquele proposto

pelo sociólogo francês estaria no status conferido ao conceito. Enquanto que para ele é

importante analisar a estrutura e a dinâmica interna do pensamento, para Durkheim era

prioritário analisar a estrutura social a partir da dinâmica externa ao fenômeno. Dessa forma,

as representações eram consideradas coletivas na medida em que eram tratadas como suportes

de ideias e palavras, constituindo-se como um instrumento explanatório direcionado a uma

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classe geral de ideias e crenças, tal como, a ciência, mito e religião (MOSCOVICI, 1978,

p.49). Por outro lado, as representações sociais se constituiriam como fenômenos relacionados

a modos particulares de compreensão e de comunicação que necessitariam ser descritos e

explicados. Para a perspectiva de Moscovici, as representações seriam modos para se criar

tanto a realidade como um conhecimento a partir do senso comum.

De acordo com Celso Pereira de Sá (1995, p.23), as diferenças em abordar o fenômeno

demonstram que Moscovici, ao tentar agregar propósitos de renovação, foi buscar na

sociologia durkheimiana um primeiro abrigo conceitual para suas objeções ao excessivo

individualismo da psicologia social de tradição americana. O maior desafio nesse processo de

renovação seria situar de maneira satisfatória a disciplina no encontro da psicologia com as

ciências sociais construindo e reiterando dessa forma a dupla natureza do fenômeno: o

psicológico e o social.

Como observa Rafael Ginane Bezarra (2003, p.70), para DURKHEIM as

representações coletivas ilustrariam grandes variáveis nas quais os indivíduos seriam

considerados como suportes do fenômeno. Enquanto que, em MOSCOVICI, as

representações sociais apareceriam como um ponto de cruzamento onde o conhecimento não

representaria mais que uma influência duradoura e estável da sociedade, da mesma forma que

também não se constituiria como um campo de livre produção pelos indivíduos. Dessa forma,

o senso comum para Moscovici seria o conhecimento produzido por indivíduos socialmente

localizados que seriam capazes de manipular elementos estáveis tal como cultura, tradição e

ideologia, tornando possível a produção e a comunicação de determinado conhecimento a

respeito de uma realidade que muda constantemente.

4.2. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: QUALIFICANDO O CONCEITO

Ao apresentar as bases teóricas e metodológicas da Teoria das Representações Sociais,

Sergi Moscovici (1978, p.30) esclarece que o seu trabalho constitui uma tentativa de estudar o

sistema cognitivo a partir de dois pontos. O primeiro ponto seria considerar que indivíduos

“normais” reagem aos fenômenos do mesmo modo que os cientistas ou os estatísticos. O

segundo ponto considera que a atividade de compreender pode ser traduzida como o ato de

processar informações. Dessa forma, o mundo que percebemos seria o resultado de todas as

nossas percepções, ideias e atribuições que estariam dispersos no nosso contexto de

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interações. Isto é, o contexto social no qual compartilhamos vivências e experiências

possibilita a produção de um conhecimento tácito materializado nas Representações Sociais.

De acordo com MOSCOVICI (apud BEZERRA, 2003, p.71-72), nas sociedades

modernas a construção do pensamento estaria dividida em duas diferentes ordens: o universo

consensual e o universo reificado. O universo consensual constitui o espaço por excelência

das representações propriamente ditas, permeadas de sentido e finalidade. Sem possuir um

rigor metodológico, elas apresentam uma voz humana que age de acordo com as necessidades

da existência humana. No universo reificado, o pensamento está relacionado ao discurso

técnico, cientifico e/ou erudito, onde o conhecimento é fruto da teorização abstrata

caracterizada pela observação dos princípios de objetividade e neutralidade. Dessa forma:

“Como em uma espécie de sistema, o universo reificado produz o conhecimento estranho e exótico que

perturba a ordem do universo consensual, ao passo que este último, para estabelecer a ordem, apropria-

se daquilo que é estranho através das representações.” (BEZERRA, idem, p.72).

Por outra lado, a lógica do universo consensual é transformar o estranho (não familiar)

em algo familiar. Essa seria a principal motivação para a elaboração das representações

sociais. Esse processo respeita uma dinâmica relacionada ao próprio funcionamento das

representações que consiste em familiarizar o estranho aproximando-o daquilo que já é

conhecido. É dentro dessa dinâmica que um grupo, ao ser confrontado com algo novo,

buscará elaborar suas representações a partir das imagens, linguagens e conceitos que

circulam em seu contexto de interação. Sobre essa dinâmica da transformação do

desconhecido em familiar Moscovici comenta:

“Não é fácil transformar palavras não-familiares, ideias ou seres, em palavras usuais, próximas e atuais.

É necessário, para dar-lhes uma feição familiar, pôr em funcionamento os dois mecanismos de um

processo de pensamento baseado na memória e em conclusões passadas.” (MOSCOVICI, 1978, p.60).

Esses dois mecanismos são chamados de ancoragem e objetivação. O mecanismo da

ancoragem reduz ideias estranhas a categorias e imagens comuns dentro de um contexto

familiar. Ancoramos ideias e imagens em um sistema de signos particulares para garantir

certa coerência entre o desconhecido e o conhecido. O processo de ancoragem das

representações ainda é constituído por dois aspectos: classificação e nomeação

(MOSCOVICI, 1978, p. 68). Ou seja, a operação de transformar o não familiar em familiar é

formado por processos que permitem uma rotinização, dando ao grupo a possibilidade de

orientar a sua conduta.

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“[...] sistemas de classificação e de nomeação (classificar e dar nomes) não são, simplesmente, meios de

graduar e de rotular pessoas e objetos considerados como entidades discretas. Seu objetivo principal é

facilitar a interpretação de caraterísticas, a compreensão de intenções e motivos subjacentes às ações das

pessoas, na realidade, formar opiniões.” (MOSCOVICI, idem, p. 70).

Por sua vez, a objetivação transforma o abstrato em algo próximo ao concreto, isto é,

tenta transferir o que esta no mundo das ideias para algo que exista no mundo físico

(MOSCOVICI, 1978, p. 60-61). Dessa forma, objetivar seria reproduzir um conceito em uma

imagem, ou seja, ao comparar uma imagem a uma palavra torna-se possível a criação de uma

representação. Dessa forma, podemos afirmar que os conceitos tornam-se imagens que, por

sua vez, são representações de determinada realidade social e as imagens formam-se com a

objetivação de um conceito:

“Se existem imagens, se elas são essenciais para a comunicação e para a compreensão social, isso é

porque elas não existem sem realidade (e não podem permanecer sem ela), do mesmo modo que não

existe fumaça sem fogo. Se as imagens devem ter uma realidade, nós encontramos uma para elas, seja

qual for. Então, como por uma espécie de imperativo lógico, as imagens se tornam elementos da

realidade, em vez de elementos do pensamento.” (MOSCOVICI, idem, p. 74).

A ancoragem e a objetivação são maneiras de lidarmos com nossas experiências e

principalmente com a memória. A ancoragem mantem a memória em movimento direcionado

para o interior do grupo ou pessoa, atuando como na seleção dos objetos, pessoas e

acontecimentos, classificando com um tipo e rotulando com um nome. Na objetivação a

memória opera para fora do grupo, ajudando na seleção das imagens e conceitos que

reproduzem o mundo externo. Esta função basicamente pode ser resumida na seguinte

operação: transformamos as coisas conhecidas a partir do que já sabemos (MOSCOVICI,

1978, p.78).

Como já foi apresentado, as Representações Sociais são ideias, palavras, experiências,

expectativas que são naturalizadas pelas pessoas em forma de conhecimento e realidade.

Segundo Moscovici, o vocabulário utilizado por uma pessoa, por exemplo, é um fator

importante na construção das representações feitas por ela. Ou seja, as palavras carregam

sentindo e são produtoras de realidade.

As Representações Sociais se tornam realidade no momento em que se tornam senso

comum. Isso que dizer que são ideias consentidas e naturalizadas pelo grupo. Nesse sentido,

postulam-se as seguintes questões: o aluno cotista teria uma experiência de vida e um

universo de sentidos que poderia favorecer a escolha pela licenciatura? Tomada como uma

representação social, quais associações de ideias e práticas adotadas em relação à licenciatura

pelos cotistas?

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5. DO ESTUDO DE CASO REALIZADO COM O GRUPO DE ALUNOS COTISTAS

5.1.DA ASSOCIAÇÃO DE IDEIAS PRESENTE NO DISCURSO DOS COTISTAS

Como foi dito na introdução, o problema desta pesquisa deriva da correlação entre as

cotas e a escolha pela modalidade da licenciatura. Dada essa correlação, a questão básica que

orientou a investigação consiste em identificar as associações de ideias construídas por um

grupo de estudantes comtemplados pela política de ações afirmativas na Universidade

Federal do Paraná a respeito dessa correlação. Através da análise qualitativa das entrevistas

coletadas essas associações refletem sentidos, racionalizações e práticas num espaço de

interação que pode ser descrito como consensual. Embora os resultados dessa análise não

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possam ser generalizados, ressaltamos a sua pertinência para fundamentar novas hipóteses de

pesquisa ou para corroborar os resultados obtidos através de outras pesquisas.

5.1.2 DAS AÇÕES AFIRMATIVAS

Tabela I: Associação de ideias sobre as ações afirmativas

A primeira associação de ideias que é feita a respeito das ações afirmativas está ligada

à elaboração cognitiva que ocorreu após a entrada na universidade. Os entrevistados relataram

ter pouco conhecimento a respeito do mecanismo de cotas no período correspondente à

realização do Ensino Médio. Descobriram a sua existência, por exemplo, no momento em que

faziam a inscrição para o vestibular, lendo a própria ficha de inscrição e se surpreendendo

com a possibilidade de indicar que cursaram todo o estudo em escolas públicas. Também

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ouviram falar delas por professores que estimularam a ambição de acessar o Ensino Superior

público, mas, apesar disso, compreendiam pouco a respeito do seu funcionamento.

“Acho que no momento, no ato da inscrição. ‘Cotas sociais para estudantes que estudaram a vida toda

em escola pública’. Ah, eu sou isso. Então foi ali, no ato da inscrição.” (A)

“[...] eu devo essa questão do sistema de cotas a um professor do ensino médio que era o professor de

geografia que ele sempre instigava os alunos a fazer curso superior.” (B)

Em relação a isso, cabe ressaltar que o conteúdo de uma das entrevistas destoa do

conteúdo das demais. Trata-se de entrevista realizada com um aluno que é cotista racial.

Nesse caso específico, observa-se que o vínculo com um movimento social e a participação

em várias mobilizações a favor da aprovação da reversa de vagas fez com que o conhecimento

das cotas e a atribuição de sentidos ao seu funcionamento estivessem associados a ideias

diferentes.

“[...] teve um acampamento aqui no pátio da reitoria do movimento negro onde a gente ocupou a pátio

com barracas, com tenda, com gente onde, o dia onde foi a reunião do conselho eu acho, pra votação

das cotas.” (C)

Apesar desse contraste, ainda é possível afirmar que a compreensão dos entrevistados

a respeito das ações afirmativas foi fortemente influenciada pela experiência possibilitada

pelo convívio acadêmico estabelecido dentro da universidade. Nesse sentido, cabe ressaltar

que o simples fato de estar cotidianamente acompanhando a rotina universitária já possui um

valor em si. Além disso, parece ser evidente que o ingresso no Ensino Superior também

contribuiu para o fortalecimento da autoestima desses alunos. Isso fica claro quando eles

comparam suas trajetórias com a de pessoas com a mesma origem social que não tiveram a

mesma oportunidade.

“[...] eu morava num bairro que era uma vila bem pobre e as minhas amigas que eu tinha lá elas

acabaram se envolvendo com os meninos da vila mesmo, nenhuma delas conseguiu entrar na

universidade, nenhuma delas terminou o ensino médio.” (D)

Oportunidade, diga-se de passagem, é a palavra central para se compreender o

discurso desses cotistas a respeito das ações afirmativas. Eles percebem que de outra forma

não teriam tido acesso ao Ensino Superior. Inclusive, relatam sucessivas experiências

frustradas de entrar na universidade. Da mesma forma, mobilizam argumentos para salientar

aquilo que percebem como uma inferioridade estrutural da escola pública em relação à

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privada. Então, consideram as cotas como um mecanismo de democracia que promove justiça

à medida que corrige desigualdades que se sobrepõem à capacidade individual.

“[...] fico pensando no aluno que estuda nesse colégio [público] como é que ele vai competir com outro

aluno ou aluna que estudou no Positivo a vida inteira, no Dom Bosco, no Bom Jesus, no Marista, no

Stella Maris.” (F)

Outra forma de dizer “oportunidade” consiste em tratar as cotas como mecanismo

facilitador de acesso. Dado o reconhecimento de que não seria possível ingressar na

universidade competindo diretamente com alunos egressos de escolas particulares, os

entrevistados mobilizaram a noção de facilitar o acesso como sinônimo de oportunidade.

Nesse caso, percebe-se o cuidado em demonstrar que a “facilidade” não deve ser tomada

como um elemento que exclui o mérito. Na verdade, apesar da facilidade, o que está em

evidência é que existe uma contrapartida apresentada por aquele que foi beneficiado com o

mecanismo de cotas.

“[...] não é só porque eu entrei por uma cota que era fácil, que vai ser fácil pra mim; também eu acho

que eu pelo menos tento dar o meu melhor ali dentro pra mostrar que eu merecia minha vaga, eu

merecia a cota que eu recebi [...]”(F)

Essa contrapartida pode ser percebida nos relatos que elencam uma série de

superações ou transposição dos obstáculos mais variados. Um dos entrevistados chega a

discorrer sobre a maneira como foi capaz de curar uma doença grave para evidenciar a sua

tenacidade.

“[...] eu fiquei sabendo que era um tumor maligno entre o pulmão e o coração. Veja, era algo grave

mesmo só que em nenhum momento eu peguei isso pra mim ‘que era algo grave’. Enfrentei a doença.”

(A)

Além disso, a contrapartida à facilidade de acesso também pode ser compreendida

como decorrente do esforço que o cotista faz ao longo da sua graduação para comprovar o seu

valor. Na verdade, ele considera que esse esforço precisa ser maior do que aquele

demonstrado pelo aluno que ingressou no Ensino Superior sem a intermediação das cotas. Ele

se percebe na posição de quem sempre está sendo cobrado a justificar o porquê da sua

permanência no Ensino Superior.

“[...] quando ele entra na universidade, e pela minha experiência que tive na graduação com meus

colegas cotistas, todos eles eram assim: professor passou um texto, recomendou um livro, a gente

acabou a aula já sai correndo para ir pegar o livro, ficava disputando pra ver quem vai pegar o livro,

ficava revezando.”(F)

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Finalmente, as ações afirmativas devem ser remetidas a um elemento que deriva de

suas trajetórias pessoais. Os entrevistados enfatizam aquilo que pode ser caracterizado como

uma ambição que os leva, ao contrário de outras pessoas, a almejarem voos maiores, a não se

conformarem com aquilo que um deles chamou de “destino social”.

“[...] consegui alterar um pouco esse meu destino social. Consegui ampliar esse leque de possibilidades

que tem dentro desse mercado de trabalho. Tendo uma origem semelhante de muitas pessoas de ensino

público [...]” (B)

Em resumo, seria possível caracterizar a representação desses cotistas a respeito das

ações afirmativas como uma tentativa de articular dois polos aparentemente opostos: de um

lado a oportunidade que lhes foi dada e de outro o esforço que nunca deixaram de fazer para

chegar aonde chegaram.

Partindo de dados semelhantes aos identificados nesta pesquisa, particularmente no

que diz respeito à relação entre oportunidade e mérito, João Feres Júnior & , Jonas Zoniensein

(2008, p.18) argumentam que os estudantes cotistas, quando corretamente incentivados,

demostram motivação para alcançar um desempenho escolar acima da média. Partindo desses

dados, os autores demonstram que o sistema de cotas, ao contrário do que muitos alertaram,

não promove a queda na qualidade do Ensino Superior.

5.1.3. DA LICENCIATURA

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Tabela II: Associações de ideias sobre a licenciatura.

As associações de ideias produzidas pelos cotistas a respeito da licenciatura estão

relacionadas primeiramente ao sentido de aquisição de trabalho. Eles percebem na opção por

essa modalidade a garantia de um futuro emprego como professor. Nesse caso, a licenciatura

é vista como a possibilidade de qualificação profissional que dará uma oportunidade de

ingressar no mercado de trabalho.

“[...] falando como trabalhador, me garante, digamos, o mínimo. [...] esse mínimo que eu disse aqui é no

sentido de eu sair daqui e ter uma garantia de emprego.” (A)

“[...] a possibilidade imediata de um emprego.” (B)

“[...] na prática, eu comecei a pensar que a licenciatura me daria um emprego.” (C).

Por outro lado, cabe lembrar, tal como já foi dito anteriormente, que a escolha pela

licenciatura não foi a primeira opção dos entrevistados. O ingresso num curso de licenciatura

demandou um período de reorientação, de avaliação de possibilidades e de familiarização com

outras carreiras profissionais em função de sucessivas tentativas infrutíferas em vestibulares

anteriores. Nesse sentido, a opção pela licenciatura ocorreu após se consolidar a percepção de

que o acesso à universidade seria facilitado devido à baixa concorrência.

“[...]eu tentei em 2008, eu tentei pra Enfermagem, não passei eu acho que linha de corte era 32 ou 25

alguma coisa assim e eu me lembro que eu não passei por um ponto da linha de corte. Dai eu fui tentar

fazer outra coisa da vida, dai tentei ser aeromoça, mas também não deu certo dai no finalzinho de 2012

eu escolhi... fiz o vestibular de Física.”(E)

“[...]foi uma certa frustração em relação ao resultado do Design. Mas depois eu fui me aprofundar mais

acerca do que era o curso de Design, as pessoas que faziam o curso de design, a finalidade das pessoas

que estão dentro do curso de Design, que me mudou um pouco e acabou me frustrando. Eu acabei

trabalhando com uma outra área que eu sempre tive muito prazer que foi a questão da historia, da

geografia, a sociologia[...]”(B)

“Nos dois primeiros anos eu tentei cursos de Direito, e acabava não passando, não chegava à nota que

precisava para passar para a segunda fase[...]” (C)

“Antes é que eu queria fazer Direito. Eu queria fazer Direito porque, por causa de dinheiro. Eu sempre

tive dificuldade financeira, eu até hoje, a minha mãe a gente não tem uma casa [...]. Então eu queria

fazer Direito justamente porque eu ai ganhar bem então eu ia poder mudar essa condição. Só que eu

escolhi fazer licenciatura porque minha mãe disse pra mim fazer uma coisa que eu gostava.”(D)

“Dai 2012 eu comecei a trabalhar no shopping [..]. Foi dai quando eu fui prestar vestibular pra federal.

Mas claro que na minha ideia principal era fazer Arquitetura e Urbanismo só que eu não teria a

capacidade de passar. Dai [...] eu fui eliminando os cursos pela linha de corte. Falei, ah! vou fazer Física

que Física pelo menos não é tão concorrido e eu passo.” (E)

Da mesma forma, quanto à permanência na universidade e à continuidade dos estudos,

os cursos de licenciatura foram avaliados como fáceis. A facilidade envolvendo as

licenciaturas é percebida com base na comparação com o bacharelado, dado o peso que é

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associado às disciplinas ofertadas. Ou ainda, o sentido que se dá à facilidade está relacionado

com as especificidades de formação nas duas áreas.

“[...] eu acho que o bacharel é mais puxado [...] eu acho por ser área de pesquisa da Física mesmo que é

mais puxado. Porque dai quando for fazer uma pesquisa na licenciatura é mais voltada pra educação né.

Então é mais...você pesquisa e corre atrás, fazer texto eu acho que é um pouco mais fácil.”(E)

A mobilização de argumentos em relação às licenciaturas também levou os

entrevistados a avaliarem a qualidade da formação recebida durante a graduação. A esse

respeito, é notório que do seu ponto de vista a formação é identificada como insuficiente e

precária. Por um lado, eles chamam a atenção para a forma como as licenciaturas estão

organizadas e para as poucas horas dedicadas às práticas de ensino. Por outro lado, os cotistas

também reconhecem que a participação em programas como o PIBID (Programa Institucional

de Bolsas de Incentivo a Docência) contribui para suas formações e ajuda na permanência na

universidade.

“[...] não porque a licenciatura seja algo ruim. Mas porque a licenciatura é mal, não mal vista ela é

muito bem vista. Mas ela é mal organizada.(F)”

“[...] a gente faz uma matéria de pratica de docência com quatro aulas de quatro horas. Isso é ridículo

saca? Você não vai aprender dar aulas assim? .Poderia ter um pouco mais de incentivo quanto à

docência também assim sabe.”(G)

“[...] o PIBID me ofertou a possibilidade de observar aulas ao longo da minha graduação, ao longo da

minha licenciatura, e é uma experiência que eu acho que talvez outro alunos não tiveram ao longo da

graduação[...]” (B)

“Eu recebo a bolsa do PIBID e a bolsa permanência que eu tinha pesquisado eu vi que quem tinha

menos 1,5 salários mínimos tinha direito, então, na verdade essa bolsa veio em boa hora, comecei a

receber ela mês passado porque atrasou um pouco. Porque minha mãe foi demitida, então essa bolsa

esta servindo para cobrir os gastos.” (D)

Nos depoimentos, aliás, o PIBID merece um espaço à parte. O interesse pela

licenciatura e pela carreira docente aparece associado às experiências pedagógicas

desenvolvidas em parceira com o programa. Os entrevistados ressaltam a importância de ter

participado dele, pois o mesmo permitiu mais familiaridade com a rotina de trabalho de outros

professores e com o ambiente escolar.

“No começo eu pensei se seria minha segunda opção. É o que resta. No começo eu pensava assim como

a maioria dos alunos na verdade: ‘a licenciatura vai ser o que restar, se não sobrar nada vou ser

professora’. Mas com o passar do tempo e a participação no PIBID [Programa Institucional de Incentivo

a Docência] eu vi que não era só o que resta e sim uma escolha. É sim, serei professora.” ( C).

“[...] eu pretendo nessa minha carreira de formação e entrar num programa de docência sabe? No

PIBID, pra entender como é a realidade numa sala de aula porque eu só tive do lado de lá sendo um

aluno não como um professor. Penso muito em entrar num PIBID pra isso, pra entender como funciona

esse sistema, pra entender como funciona essa relação professor e aluno.” (G).

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Dessa forma, as associações de ideias apresentadas aqui corroboram o trabalho de

Marília Claret Geraes Duran (2010). Estudando um grupo de professores em formação, a

autora alerta que a realização de trabalhos sobre representações sociais demanda atenção para

a dinâmica que tem orientado as suas escolhas profissionais. Segundo a autora, a escolha pelo

magistério está relacionada com as representações que o licenciando tem de si, da sua

inserção no mundo do trabalho e de sua função social. Portando, a opção pela licenciatura ou

pela carreira docente partiu de associações de ideias que os cotistas construíram antes de

ingressarem na universidade e que permaneceram em constante reelaboração no interior das

licenciaturas, durante suas trajetórias acadêmicas. Podemos perceber que essa reelaboração

está relacionada com as oportunidades de experiências de ensino que o cotista teve durante

sua formação. Durante as entrevistas, os cotistas citaram o PIBID (Programa Institucional de

Bolsas de Incentivo à Docência) como um projeto importante para o aperfeiçoamento de sua

prática docente. Sintomaticamente, os que só tiveram como experiência de ensino as

disciplinas de estágio supervisionado, tenderam a elaborar uma associação de ideias

orientadas para a precarização da profissão e para as dificuldades que o professor encontra,

seja pela dinâmica de uma sala de aula, seja pela falta de um plano de carreira.

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5.1.4. DA CARREIRA DOCENTE

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Tabela III: Associações de ideias sobre a carreira docente.

As associações de ideias feitas sobre a carreira docente estão contidas em formulações

ambivalentes. De imediato, os cotistas reconhecem que a carreira docente é cercada por

dificuldades e, fundamentalmente, pela baixa recompensa material.

“[...]eu acho que ela não é atraente em alguns pontos, mas em alguns pontos ela é bem atraente eu acho.

Financeiramente ela não é nem um pouco atraente[...]” (G)

Essas dificuldades e a baixa recompensa material, no entanto, são articuladas, em

seguida, a outras formas de recompensa que justificam a escolha pela carreira docente. Assim,

o professor é tomado como aquele que é capaz de fazer o que faz porque tem amor. Amor e

vocação são palavras usadas como equivalentes. Ambas substituem ou equilibram aspectos

negativos do trabalho.

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“Amor. Porque eu acho que para fazer licenciatura tem que ter amor no... tem que ter vontade mesmo

tem que gostar da profissão. Porque infelizmente o salário não é muito bom.” (E)

“[...] acho tem que ter uma vocação, não é qualquer um que pode ser professor.”(D)

Por outro lado, as associações de ideias elaboradas sobre a escolha pela carreira

docente mobilizam sentidos que vão ao encontro da ideia de missão. Nesse caso, o professor

seria aquele que possui uma missão importante, tanto no sentido de contribuir para a

consolidação da cidadania quanto no de solidarizar-se com quem precisa de apoio. A ideia de

consolidação da cidadania está ligada à representação do professor como responsável pela

formação do cidadão. Já a solidariedade tem o sentido de retribuição, pois, como professor,

posso mostrar para as pessoas que elas são capazes, assim como eu, de conseguir ultrapassar o

seu destino social. Assim, caso encontrem oportunidade, gostariam de trabalhar na escola do

seu bairro ou retornar para a cidade natal para contribuir com as pessoas do mesmo grupo

social de origem. O sentimento de pertencimento é particularmente evidente na fala do cotista

racial que associa a carreira docente a um desdobramento de sua ação junto ao movimento

social em que se filia.

“Tentar mudar o mundo. [...] eu tinha aquela visão [...] colocar uma sementinha em cada aluno[...]” (A)

[...]a ideia do educar, o individuo que acaba [...] construindo ou modelando ou desmodelando,

deformando e formando depende do termo que se queira usar, o cidadão. “(B)

“[...]eu particularmente queria me formar e quem sabe voltar para minha cidade para dar aula na escola

onde eu estudei por saber das dificuldades que é morar ali e das dificuldades que é de tentar ser

alguém[...]” (G)

“Represento uma comunidade que principalmente o movimento social que lutou para que essa politica

de ações afirmativas entrasse na universidade para que outras pessoas pudessem contribuir. Outras

pessoas pudessem representar. Então o que é ser negro aqui dentro [...]” (C)

Como já foi dito acima, o caráter de missão atribuído à docência se contrapõe à baixa

recompensa material oferecida pela profissão. Dessa forma, o salário não seria o principal

fator elencado pelos cotistas para justificar a atratividade da docência. Ao contrário, o

desapego material aparece como um sentido claro, inclusive associado à necessidade de se

ganhar apenas o suficiente para sobreviver. Ou que, quando comparado com outros empregos

anteriormente experimentados, o trabalho de professor oferece melhores condições. Assim, a

carreira docente não deixa de ser associada a uma oportunidade concreta de ascensão social.

“[...] um professor em média, trabalhando oito horas por dia no ensino médio ganha dois mil e pouco.

Pra mim tá bom”(A)

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“[...] o salário não seja tão importante quanto a minha atuação. Talvez eu trabalhasse até de graça [...]”

(D)

“Trabalhava na roça” (A)

“Eu era recepcionista de uma clínica.” (B)

Por fim, caberia também certa cautela para avaliar isso que está sendo classificado

como desapego material. Não deve passar despercebido o fato de que a carreira de professor

foi mencionada como uma ocupação possivelmente temporária.

“[...]eu não quero chegar ao 40 anos da minha vida tô com 24 pra 25 agora é tá dando aula [...]” (F)

“[...]ser professor é algo bem dramático ao mesmo tempo que vejo professores que tem uma relação

muito boa com a sua profissão, vejo professores que trabalham e acabando trabalhando [...] com a sua

profissão como se fosse algo passageiro, algo temporário.” (B)

Ou ainda, também não deve passar despercebido o fato de que, considerando os

próprios méritos, os cotistas se percebem em condições de almejar ocupações que lhes

parecem mais atrativas do que a docência na educação básica.

“Mas só que eu pretendo fazer mestrado também [...] Pode ser que eu vá fazer doutorado fora, e

asseguro minha vaga aqui [na UFPR]. Se eu não passar no doutorado [...] professor é sempre uma

garantia.” (A).

“[...] se eu for professor universitário, ir para acadêmica aí, seja também como pesquisar, coisa que é

muito difícil no Brasil, mas tudo bem. Eu vejo que eu vou trabalhar com alunos que estão em um

período de formação, de transição de pensamento é que estão aptos a modelar melhor várias condições

[...]” (F)

Dadas essas associações de ideias, percebe-se que a escolha pela carreira docente é

acomodada em função de racionalizações claras. Ainda que ambivalentes, essas

racionalizações demonstram que os entrevistados sustentam o interesse em trabalhar como

professores. Ao mesmo tempo, no entanto, deixam entreaberta a possibilidade de que esse

trabalho possa representar algo apenas temporário.

Investigando o abandono do magistério na Educação Básica, Flavinês Rebolo Lapo &

Belmira Oliveira Bueno (2001) trabalharam com ex-professores do ensino público de São

Paulo. Coletando depoimentos com pessoas que desistiram do magistério, procuraram

identificar quais os motivos que causaram tal situação. Além dos baixos salários, foi

identificada que a insatisfação com o trabalho docente foi acentuada devido a outros fatores

como sobrecarga de trabalho, falta de apoio dos pais e dos alunos, sentimento de inutilidade

em relação ao trabalho, a concorrência representada por outros meios de transmissão de

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informação e a crítica à organização do sistema educacional. O acumulo desses fatores ao

longo da trajetória profissional contribuiu para a constituição do processo de abandono da

profissão.

Tal como indicado acima, é notório que as pesquisas sobre o abandono da carreira

docente mobilizam a noção de desencanto. Ou seja, deixa-se de ser professor na Educação

Básica porque a atividade reúne um sem número de elementos que contribuem para repelir.

Sem pretender contestar o que é proposto por essas pesquisas, as representações sociais aqui

analisadas indicam a necessidade de se atentar para outra possibilidade: mesmo sabendo das

agruras que cercam a carreira docente, os cotistas – futuros professores – encontram razões

plausíveis para optar por ela; ainda assim, tal como em outros momentos de suas trajetórias,

não deixam de avaliar outras possibilidades e cogitam que possuem mérito suficiente para

buscar carreiras percebidas como mais atrativas.

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6.CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Refletindo sobre as representações sociais, Wolfgang Wagner (2000, p.169) afirma

que o sistema coletivo de entendimento, justificação e racionalização desenvolvido por

determinado grupo a respeito de suas práticas define a perspectiva na qual os indivíduos

conseguem alcançar uma compreensão através da sua situação social e da sua identidade.

Assim sendo, a partir das representações sociais elaboradas pelos alunos cotistas, foi possível

perceber as justificativas para a escolha pela licenciatura e como eles enxergam a carreira

docente.

É pertinente considerar que os alunos pertencentes às classes sociais desprivilegiadas

possuem uma visão positiva da licenciatura. A esse respeito, embora não encontre respaldo

neste trabalho para ser generalizada, a proposição de que tornar-se professor significa uma

possibilidade de ascensão social deve ser tratada como bastante significativa. Além disso, essa

possibilidade não deve ser tomada como uma etapa definitiva na formação ou na escolha

profissional dos entrevistados, dado que os mesmos julgam reunir as condições necessárias

para concretizar outros objetivos, tais como a pós-graduação e o possível ingresso no

magistério superior público.

Essas considerações, tratadas aqui como ponderações possíveis a partir de uma

pesquisa exploratória, podem oferecer orientações importantes para futuras pesquisas de

caráter quantitativo, capazes de mensurar em que medida esses sentidos encontram-se

distribuídos no universo de estudantes cotistas que atualmente frequentam o ensino superior

público. Da mesma maneira, os resultados aqui obtidos indicam a pertinência de se observar

as diferentes trajetórias individuais desses estudantes, dado que suas avaliações a respeito dos

temas problematizados demonstraram estar ancoradas em experiências e contextos de

interação que antecedem o ingresso no ensino superior.

Um exemplo de como essas experiências foram relevantes para os resultados obtidos

nesta pesquisa diz respeito à avaliação que os entrevistados elaboraram sobre o sistema de

cotas. Por um lado, ponderam a respeito da necessidade de uma intervenção compensatória

por parte do Estado para corrigir a desigualdade presente num processo seletivo. Por outro,

posicionando-se como os sujeitos beneficiários dessa intervenção, eles mobilizam argumentos

para salientar o seu mérito, identificado principalmente na sucessão de obstáculos e desafios

que superaram para chegar ao ensino superior. Além disso, suas experiências continuam se

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reconfigurando durante o período de graduação, processo que os leva a perceber a

necessidade de oferecer uma contrapartida concreta pela oportunidade que receberam. A

partir disso, pensando as políticas afirmativas de maneira mais ampla, seria pertinente

ponderar a respeito das consequências e implicações dessa autoimagem para a vida acadêmica

desses sujeitos. Afinal, não deve passar despercebido o depoimento de um aluno que se vê

numa espécie de dívida, tendo que provar o valor individual num espaço competitivo e

hierárquico como o acadêmico.

Os relatos dos entrevistados também sugerem, dado o fato de constituírem um grupo

com nítidos laços de interação, a pertinência de aproximá-los à caracterização feita por Jessé

Souza de uma nova classe trabalhadora que emergiu no Brasil da última década.

Considerando as políticas de renda mínima e as políticas afirmativas de caráter

compensatório, o autor pondera que o acesso à estrutura de oportunidades providenciadas pela

intervenção do Estado não é uma garantia de mobilidade social ascendente. Essa estrutura

deve ser complementada pela incorporação de hábitos compatíveis com a ética do trabalho,

ética socializada prioritariamente através de processos de socialização primária. Foi possível

observar a esse respeito que os entrevistados enfatizam o estímulo conferido por familiares

para seguirem adiante na escolha que fizeram, mesmo quando isso implica em acumular

compromissos de trabalho consecutivos aos de formação. Nesse sentido, tenacidade e

perseverança são elementos centrais para a caracterização dos sujeitos desta pesquisa.

Finalmente, foi um objetivo deste trabalho problematizar a formação de professores

para a educação básica em conexão com a trajetória de alunos cotistas matriculados em cursos

de licenciatura. Como foi argumentado em sua introdução, a minha trajetória pessoal se

confunde com a trajetória acessada através do conteúdo das entrevistas aqui apresentadas.

Nesse sentido, reconhecendo o caráter provisório das proposições estabelecidas aqui, cabe

ressaltar a necessidade de dar continuidade à investigação em momentos posteriores da minha

formação. Tal como os sujeitos desta pesquisa, acredito que as possibilidades abertas pelas

políticas afirmativas podem ser aproveitadas para se almejar novos objetivos. Afinal, parece

razoável admitir que qualquer processo de inclusão pressupõe que em associação às ações

compensatórias o esforço individual continua sendo necessário.

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ANEXOS I:

Bloco 1 – Trajetória:

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1.1 - Como era a sua vida estudantil antes de você entrar na universidade?

1.2 - O que você fazia durante esse tempo em que você tentava vestibular ?

1.3 - Qual foi a primeira vez que você soube das cotas?

1.4 - Você lembra qual foi a primeira vez que você ouviu falar das cotas?

1.5 - Você tinha conhecimento sobre o funcionamento do mecanismo das cotas?

1.6 - Quando você entrou na universidade você já tinha noção de qual era a diferença

entre o bacharelado e a licenciatura?

1.7 - O que representa para você ser professor?

1.8 - Por que você manteve a licenciatura em sua formação?

1.9 - O que você entende por carreira acadêmica?

Bloco 2 - O que você entende por:

2.1 - Cotas sociais/raciais

2.2 - Licenciatura

2.3 - Professor/Professora

Bloco 3 – Refutações:

3.1 - As cotas estão associadas ao declínio da qualidade de ensino.

3.2 - Os novos professores são recrutados entre os alunos de rendimento escolar mais

precário.

3.3 – A organização das licenciaturas é inadequada para a formação profissional.

3.4 - A carreira docente na educação básica não é atrativa.

ANEXOS II:

ENTREVISTA (A): 18/09/2014 – COTISTA SOCIAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS

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-Desde que eu era criança tal, desde o prezinho ensino fundamental. Eu tinha bastante orgulho

assim de sempre as professoras falavam para mim mesmo e quando tinha reuniões com os

pais falavam que o xxxxx era um menino super inteligente. Esse menino vai longe. Isso aqui

pra mim, eu tenho orgulho. Eu sempre tive um gosto pela leitura muito grande. Gostava de ler

os gibis, o pato Donald. Adorava ir na casa do meu primo é lá ele tinha monte de gibis, eu ia

na casa dele e ficava lento, lento, lento. “Onde tá o xxxxxxx?”. “Ah, ele tá lendo.” Ih, foi

assim, né. Quando era criança mesmo, ali pelos sete a onze anos de idade, meu grande sonho

era ser jogado de futebol. Acho que a grande maioria dos brasileiros é assim. Só que quando

eu fui para a 6º serie teve um exemplo que marcou a minha vida, o professor A. de história.

Eu sentinha que ele nosso esse cara ama o que faz mesmo. Ele sem dar provas, aquela coisas

chatas, objetivas “ah, o que é isso blá, blá, blá...”. Ele fazia as suas avaliações fazendo teatro,

nos fazíamos encenações sobre a revolução francesa. Dai a gente ficava se preparando para

fazer uma encenação sobre a revolução francesa adorava isso porque eu gosto de atuar

também. Na igreja onde eu fazia apresentações assim era elogiado por isso também, eu atuava

bem. E também dai. Eu vi, sempre gostei mais de estudar e ler coisas sobre história, geografia.

Não gostava muito de matemática assim. Eu nunca me dei bem com os cálculos, tal. Gostava

de ler assim. Tipo geralmente na 5º, 6º, 7º serie, 8º os professores, assim eles davam o ano

inteiro, tipo um livro. Esse ano vai ser trabalhado esse livro em uma semana, um livro de

história, eu lia por quanta própria. Grécia, Roma, dai eu decidi ali quando eu tinha doze, treze

anos, eu quero ser professor de história. E dai ai que esta, tal completei a 7º serie. Só que dai

quando estava na 8º serie tinha... foi descoberto em janeiro, fevereiro...estava entrando para a

8º serie, o momento mais terrível da minha vida se fez presente. Que foi o fato de foi constado

que eu tinha um câncer. Dai a questão é que eu enfrentei a doença sem saber que eu estava

enfrentando uma terrível doença. Sabia os médicos falavam você tem linfoma de Hodgkin. Só

que os meus pais conversaram com os médicos e só depois anos mais tarde que dai eu fiquei

sabendo pelos meus pais. Eles esconderam de mim, dos meus amigos próximos. De todo

mundo escondeu ninguém falava pra mim você tem câncer ou você teve câncer. Depois que

eu fiz uma psicoterapia que dai eu vi que foi uma estratégia que eu mesmo usei para enfrentar

a doença eu escondi de mim mesmo que tinha câncer. Foi algo assim que tá eu vou enfrentar

isso que é engraçado isso que eu sentia dores terríveis pelo tratamento de quimioterapia e

radioterapia só que eu nunca perdi aquela esperança eu sempre fui um menino divertido e

alegre nunca perdi a esperança “a eu tenho uma doença grave” não sempre alegre tal. Mas

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enfim, dai o meu pai chegou lá aqui no hospital pequeno príncipe e falou para mim “xxxxx

você vai ter que fazer um tratamento ai acho que bom você ficar por casa esse ano, não vá

para a aula.” Aquilo foi terrível para mim nossa a coisa que eu mais gosto de fazer que é ler e

estudar como é que eu não vou? Não pai, não eu quero estudar é isso não vai me impedir.

Mesmo a medica falando “ele não precisa pai parar de estuda. ele pode fazer o tratamento

normal e ir para a aula.” Só que dai o meu pai de tanto insistir e tal dai eu acabei aceitando

ficar um ano fora. Eu compreendo que meu pai e minha mãe queriam o meu melhor. Mas para

mim isso foi muito triste e terrível porque nosso ficar fora. Mas enfim, tenho a doença. Ótimo.

Linfoma Hodgkin era um linfoma e tal. Dai sai uns módulos aqui. Dai eu que pegar fazer uma

biopsia dai foi constatado que, ai depois mais tarde tal que eu fiquei sabendo que era um

tumor maligno entre o pulmão e o coração. Veja era algo grave mesmo só que num momento

eu peguei isso para mim “que é algo grave” enfrentei a doença. Sem colocar isso na cabeça e

fiquei com aquela alegria de viver. Como eu tenho até hoje assim. E foi dai que fiquei um ano

dai voltei a estudar. Quero ser professor de história, professor de história, eu amo isso e quero

ser. Só que na escola lá onde eu estudava no ensino médio principalmente, área rural os

professor não vinham tinham professores que não estavam nem ai também com aquilo ali, ou

seja, o ensino era péssimo. Eu vou falar a verdade era péssimo mesmo. Só que eu tentar

federal tal. Durante o meu prezinho foi lá área urbana de Araucária, mas de 1º a 4º serie já foi

na área rural de Araucária. Capinzal o nome. De 5º a 8º seria no Rio Abaixinho outra

comunidade rural de Araucária. E o ensino médio também foi nesta mesma escola. Só que

durante a tarde era Municipal e a noite era Estadual. Era muito ruim assim, as condições de

ensino precárias mais eu quero fazer federal, federal. Tinha muitos amigos meus que tinha

essa coisa “que federal cara, federal é coisa de rico. Como é que você vai tentar federal?”. Eu

tinha essa ideia nem que eu tenha que prestar vestibular 10 vezes eu vou entrar lá um dia. Dai

foi que, eu queria História. Eu completei o ensino médio em 2005. Tentei, não passei. Faltou

uma questão para passar para a segunda fase. Naquele ano foi 32 a linha de corte e eu acertei

31 questões. O outro ano. Acertei 34 questões, só que dai aumentou a linha de corte para 36.

Não passei também. Também tinha uma cobrança muito grande da minha família “você que

isso?” “blá, blá, blá” “tem que se esforçar mais” rolava também uma pressão da minha

família. Ok! Terceiro ano tentando vestibular para História. Passei para a segunda fase. Nosso

foi uma alegria imensa. É agora, agora vai. Não foi também. Dai eu acabei eu sou inteligente,

como é que pode o que é isso? Eu chego lá. Enfim na quarta vez. Tentar para História. Passei

para a segunda fase, também não. Dai no quarto ano já, poxa federal é algo quase impossível

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mesmo. Dai eu tentei outra estratégia, eu vou tentar esse ano sem pressão nenhuma, vou fazer

por fazer a prova. Só que eu vou fazer Ciências Sociais que é mais fácil de passar , dai eu faço

para História com um “Provar” ai tal. Dai foi que eu passei e aquela alegria de ver o meu

nome lá, fiquei muito alegre e tal. Mas eu tive comigo que, alegria se eu tivesse passado em

História seria muito maior. Mas então, entrei lá, agora estando lá vai ser mais fácil de fazer lá.

Só que com duas semanas de Ciências Sociais eu me apaixonei e foi assim. O que eu sempre

gostei na minha vida estou vendo aqui agora, eu acho que a História não ia me dar isso. Eu

sempre gostei de, claro que a História trabalhava com humano também e tal, mas poxa

antropologia aqui, sociologia nossa que massa e isso mesmo que estava procurando esse

tempo todo. Foi o curso que me escolheu não eu que escolhi o curso. Foi assim. E foi assim

dai. A minha trajetória até entrar aqui na UFPR.

-Trabalhava na roça.

-Não ai que tá.

-O meu pai trabalhou na agricultura até os 32 anos de idade. Depois entrou na prefeitura de

Araucária. E minha mãe é do lar , assim. Dai eu ia trabalhar para outras pessoas por dia.

Porque lá tinha que quebrar milho, ai cobrava por pacote que eu fazia. Arrancar feijão, as

vezes era por linha. As vezes era por dia. Juntar batata era por saco. Era essas coisas assim.

Trabalhar para outros para ter dinheirinho para final de semana poder ir para o baile dança.

-Usava as cotas sim.

-Eu sempre usei as cotas.

-Sempre usei.

-Das cotas, deixa eu ver, a primeira vez foi lá em 2005. A primeira vez. Não tinha computador

foi lá na minha tia. Foi eu sabia das cotas raciais. Acho que no momento, no ato da inscrição.

Cotas sociais “para estudantes que estudaram a vida toda em escola pública.” Ah, eu sou isso,

então foi ali, no ato da inscrição.

-Cota social não. Só das cotas raciais.

-Não. Nenhuma ideia. Nem sabia que tinha cotas sociais.

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-Não.

-Quando eu já estava aqui. Para se ter uma ideia, eu pensava que as Ciências Sociais não era

antropologia, ciência política e sociologia. Eu pensava que era Ciências Sociais e mesmo

nome para sociologia. Eu entrei aqui tipo assim, não vou dizer perdido, mas totalmente

desconhecendo totalmente o mecanismo, assim, tal. Eu entrei realmente em outro mundo para

dizer a verdade.

-Essa é uma questão difícil de responder assim. Pode ser que eu tivesse entrado. Mas, não sei

te responder mesmo.

-Minha família sim. Eu não. Elas falaram “a gente paga” mas não eu bati o pé “eu quero

federal”.

-Tinham lá em Araucária. Uma PUC ali acho que eles não tinham. Mas, tinha uma faculdade

em Araucária, tem ainda a Facial. Ai, eles falavam pagavam para mim um curso de

Administração. A é tem uma outra coisa que eu não falei que é, antes de entrar em Ciências

Sociais, eu consegui uma bolsa integral no PUC de Psicologia. E eu não quis. Não, eu quero

federal.

-A federal.

-Não, para ser professor mesmo.

-Naquela época antes de entrar? Tentar mudar o mundo. Mas sabia, eu tinha aquela visão

assim colocar uma sementinha em cada aluno assim. “Porque ah tal essas coisas assim.”

-Naquela época, é eu via assim, ah o mundo tem muita exploração e eu saber expor essas

minhas ideias para os alunos, se numa sala lá de 20 alunos se eu conseguir colocar na cabeça

de três assim dai esses três já podem mudar outras coisas. Mas, na época eu tinha essa visão

que o papel do professor é alguém que esta ali para mudar a vida das pessoas. Do sofrimento

delas. Não, você pode você consegue. É tipo o professor como um agente de transformação.

-Não. O professor como um agente de transformação isso não mudou. Mas mudar o mundo

assim, ah porque se sair daqui vai da uma boquinha lá como se fosse uns tentáculos não, esse

sentido não. Mas como agente de transformação sim. Porque eu sei, eu tenho ideia que numa

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sala de aula e humanamente mesmo, não vou e nem devo mesmo fazer a cabeças dos alunos.

Mas se eu for, se alguém ali escutar o que digo e falo das teorias mesmo ali se aquilo que eu

disse e falar ai e puder ajudar um aluno que seja tarefa comprida. Seria uma missão comprida.

-Os dois. Eu sou de 2010. Que ainda era as suas juntas.

-Porque eu queria ter os dois. Porque eu tinha ideia que bacharelado e que eu sempre fui

assim tipo me cobrei demais nos aspectos dos estudos estou aqui vou fazer os dois.

Licenciatura me garante, agora falando no trabalhador mesmo, me garante na digamos assim

no mínimo. Digamos assim, o ensino médio, dar aula no ensino médio. Bacharelado em

antropologia vai me dar a oportunidade de um dia dar aula na universidade. De antropologia.

Falando assim como um...

-Porque, hoje em dia o meu objetivo é seguir uma carreira acadêmica, hoje em dia. Mas

vamos supor se eu tivesse optado somente pelo bacharelado eu não poderia fazer esse

concurso agora que eu passei. Me formaria bacharel tá, sou bacharel em antropologia e

agora? Eu vou para o mercado de trabalho não vai adiantar. Acho que até para ser professor

universitário tem que ter a licenciatura se eu não me engano, hoje em dia. Eu não sei. Isso eu

não sei dizer. Mas porque tem muitos professores nossos ai que só tem bacharel e dão aula

para nós. Mas eu não sei realmente como é que funciona hoje. Mas esse mínimo que eu disse

aqui é no sentido de eu sair daqui e ter uma garantia de emprego. É isso.

-É dar aula numa universidade pública.

-Primeira coisa?

-Oportunidade.

-Chance.

-Sim.

-Alegria.

-Aulas.

-Amor.

-Comunicação.

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-Minha comunicação com outros seres humanos.

-Vocação.

-Vou utilizar mais de uma palavra: Amar o que faz.

-Amor pelo que se faz é fazer algo que ao mesmo tempo de dá satisfação e é importante para

um outro também.

-Duas vezes.

-Sim.

-A primeira fez foi quando no concurso que eu tive que dar aula para uma banca. Fiquei muito

nervoso antes assim, muito, muito. Só que depois que começo, ali vai. Como se fosse algo

assim tão natural mesmo. Nossa porque ficar tão nervoso porque é algo que eu lutei assim

tanto para estar aqui. Então vai. Algo parecido quando eu também ia apresentar algumas

peças de encenação e de teatro. Da aquele nervosismo mas a partir daquele momento em que

se abrem as cortinas pronto, ferrou agora tem que ir pra frente. E naquela vez também que eu

dei aquela aula lá no Estadual que eu fiquei nervoso também muito, muito antes assim. Será

que vai dar certo? Será que vai dar certo? Mas depois que eu comecei a falar ali, foi

fantástico. É também receber elogios dos próprios alunos depois é muito gratificante. Não,

que legal que a coisa que mais me deixou feliz naquela oportunidade foi me chamarem de

professor pela primeira vez. Professor, professor, nossa que bacana isso.

-Mística no sentido de como se fosse uma inverdade?

-Penso na antropologia como se mito fosse...

-Eu não concordo. Porque de maneira alguma tal, vai diminuir a qualidade do ensino tal,

porque veja, eu foi um exemplo e tal, e teve ter outros exemplos espalhado pelo Brasil de

pessoas que querem aquilo para suas vidas e eu falo por mim como professor, mas pode ser

por qualquer outra área do conhecimento que uma criança ou jovem tem aquele sonho “eu

quero ser x coisa”. E dai não tem a oportunidade necessária, o suporte para entrar numa

universidade pública, gratuita e de qualidade. Pode ser que, não eu era tão chato e teimoso que

por mais que não tivesse as cotas eu iria tentar até um dia pegar e passar. Mas a qualidade do

ensino em si, pelo menos eu falo pela uma experiência minha, das escolas públicas assim na,

não eram boas salvo exceções de algum outro professor que dai tornavam aquilo legal. Ah ir

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para escola porque vou ter aula com aquele professor legal. Mas de forma alguma eu

concordo que as cotas diminuem a qualidade do ensino porque elas tão oportunidades para

pessoas magnificas que tem muito o que contribuir com a educação do Brasil é não tem essa

oportunidade.

-Você poderia repetir? Desculpe.

-Ah, entendi.

-Olha infelizmente é uma realidade que está ai mesmo. Porque geralmente assim quem é de

classe mais abastadas é uma questão social já de status. Ah, você vai fazer medicina, direito.

E eu falo pela minha experiência que eu nunca quis ser médico, e advogado. Mas, tenho

certeza absoluta que pessoa da minha idade que crianças na época, jovens tinham vontade de

ser médicos e professor. Só que o sistema ali não da essa oportunidade para eles serem

médicos, advogados, engenheiros. E eu enxergo potencial, muito nas pessoas. Mas por não

ter. As vezes é pura falta de informação também. E é isso geralmente, mas não quer dizer que

e que eu tinha o sonho de ser professor. Mas não vejo isso como uma máxima também sabe,

porque rendimento mais baixo vai se tornar professor. Não, não concordo com isso também

porque e eu tinha um rendimento escolar alto e escolhi ser professor.

-Isso tem um pouco de verdade também. É porque eu já ouvi relatos de experiências de

pessoas que também começam a dar aulas tal, que foi até engraçado eu vi um amigo meu

falando assim numa palestra que ele deu assim, dai uma pessoa perguntou “e as matérias que

você teve aqui na UFPR em licenciatura no que te ajudaram quando você foi enfrentar uma

sala de aula?” Ele falou, “nenhuma”. Essas teorias que a gente houve aqui, nada. Cada sala de

aula, é um, digamos é um mundo diferente. E não é uma teoria psicanalítica da educação, não

que, claro, que não tem relevância nenhuma, claro que não, não isso que estou querendo dizer.

Mas acho que falta algo a mais. Falta algo a mais nas matérias de licenciaturas.

-Só pela licenciatura? Que eu tive aqui?

-Não 100%.

- Porque no meu caso faltou mais aquela vivência em sala de aula, eu tipo assim, tive

experiências assim em sala de aula de observação durante três semestres é uma aula. Eu acho

que a gente deveria ter um maior contado com as salas de aulas. Porque geralmente eu até

falei isso um dia com o xxxxx com outras pessoas que fazem parte do PIBID que geralmente

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e só esse programa que dá tipo assim, os alunos que fazem parte dele é que tem mais acesso a

sala de aula, tal. A mais alguém fala é falta de interesse você pode ir lá também. Mas, pode

ser que tenho um pouco isso. Mas, não acredito que seja falta de interesse das pessoas. A

própria licenciatura em si tinha que estimular isso. não só fazer parte de um programa de

aluno x,y e z participar. Todos que fazem licenciatura tinham que ter, digamos, o programa

PIBID tinha que ser para tudo mundo.

-Olha, sim. Eu tinha interesse fazer parte de PET, PIBID, tal. Mas para poder me manter aqui

na faculdade eu tive que continuar no meu estágio que é aqui na biblioteca. Que ganho

seiscentos e pouco reais por mês. Eu , tenho, preciso desse dinheiro para me manter aqui.

-Uma questão puramente econômica, mesmo.

-A sim ,ai sim nossa. Se fosse se eu tivesse uma grana, tal que não precisasse trabalhar nada,

pra isso, com certeza.

-De mim mesmo ou da licenciatura?

-O que a licenciatura me deu? Nesta porcentagem. Bom o contato mínimo que seja com a sala

de aula eu tive. Ir lá ter que dar uma aula, ir lá. O que me ajudou muito nestas observações.

Eu que vou para a antropologia, anotava tudo, tudo, tudo. E uma coisa que eu percebi tal, que

aquele, não vou dizer um romantismo, mas eu vi ali que a sala de aula, não diria nem a sala de

aula, mas a escola em si e um local as vezes muito hostil. Não é só a relação professor-aluno é

pedagoga, e direção, outros professores, pais de alunos. É um oficio que esta o tempo todo

que vai também se frustrar as vezes. Não digo frustrar, largar essa profissão, não. Mas

também não é um mar de rosas assim, tem também seus lados, não diria negativos. Mas saber

que eu vou entrar lá é não vou estar no paraíso assim que tem, que é um local de trabalho

como qualquer outro sim, que tem os seus sims e os seus nãos. É nesse sentido.

-Impedir, ele não impede, mas é. Eu já comentei isso com vários colegas meus já aqui. Que já

começaram a dar aula, eles “olha, ih xxxxxxx, não é esse mar de rosas”. Eu sei cara, eu já fiz

observações em sala de aula, mas meus, eu acho que apesar de todas as intemperes, pode soar

um pouco romântico mais eu sou assim mesmo, o prazer, o amor ali é maior que uma

desavença com um colega de trabalho porque não tem local perfeito, não é. Tá bom a escola

não é um local perfeito, mas também, uma fábrica não é, a universidade não é. Nada é

perfeito, então acho que essa vocação. Essa vontade, é o que faz superar essas...

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-Financeiramente mesmo, eu sempre falo se quisesse ficar rico eu tinha feito outro curso. Mas

também eu faria um curso lá que eu ganharia muita ganha mais seria infeliz sabe. Eu não

pretendo ficar rico, mas eu pretendo fazer algo que eu goste. E eu costumo brincar também

fazer algo que eu goste e ganhar dinheiro com algo que eu gosto, não é milhares, mas é fazer

algo que eu gosto.

-Com certeza. É precária.

-Sim para pode, é para sempre mas isso não que dizer , é que eu não tenha ideia de dar aulas

na universidade, ou seja, vou exercer o cargo o oficio de professor. Quanto tempo eu vou dar

aula no ensino médio? Não sei. No mínimo três anos. Porque eu passei no concurso agora tal.

É são três anos de estágio probatório. Mas só que eu pretendo fazer mestrado também.

Durante esse tempo. Daí depois eu não sei. Pode ser que eu vá fazer doutorado fora, e

asseguro minha vaga aqui. Se eu não passar no doutorado, mas ser professor é sempre.

-Bom. No mestrado aqui eu vou tentar aqui. Se não me engano me disseram que dá para

conciliar as duas coisas. Você ganha a bolsa do mestrado e contínua dando aula. Eu sou fazer

isso mesmo. Vou fazer mestrado ok! Eu fico os três anos, me formo no mestrado tal.

Pretendo fazer o doutorado se ganhar uma bolsa com o doutorado, se for numa outra cidade,

outro estado. Eu tenho isso, não sei se isso é possível, mas eu tenho isso uma ideia, um

objetivo de ir para outra cidade. E por ter passado os três anos de estágio probatório, ou ter

dado aula durante quatro ou cinco anos que seja. Eu queria saber, porque e uma coisa que eu

tenho que pesquisar melhor. Porque fazer o doutorado não é garantia de emprego na

universidade, tal. Eu faço doutorado e volto aqui para dar aulas. Isso é uma coisa que eu tenho

que me informar melhor se é possível isso. Mas, na minha cabeça é isso que eu tenho em

mente atualmente.

-Olha, de maneira nenhuma, eu acho que dar aula no ensino médio é menos é inferior, de que

professor universitário. De maneira nenhuma. Eu Conheço muito professor no ensino médio

que é, digamos, não vou dizer que é melhor, mas ele dá aula que professor universitário aqui

não dá. Mas, a questão também não é também como tem exceções também, professor

universitário, que eu vou “ganha mais” não, é porque eu gosto da antropologia. Não tem

antropologia no ensino médio. Eu quero estudar aula eu gosto. E que financeiramente eu

ganhei como eu falei antes, não porque eu vou ganhar muito, não mais ganhar dinheiro com

algo que eu goste.

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-Pode. Mas se eu pegar passar no concurso para ser professor na universidade eu vou estudar

na universidade porque eu gosto de antropologia. Sim o antropólogo não vai dar aula ele fala

sobre a antropologia lá, só que eu gosto de fazer etnografia e isso não tem no ensino médio,

mas é não uma questão financeira assim não. Porque ganhando, um professor em média,

trabalhando oito horas por dia no ensino médio ganha dois mil e pouco. Pra mim tá bom

assim. Só que pela questão de gostar mesmo, eu gosto de antropologia. Eu aprendi a gostar

desse mundo acadêmico também assim. Mas isso não quer dizer também que tem que se

desvencilhar do ensino médio de maneira nenhuma, sabe tem que ter esse dialogo com o

ensino médio tal. Mas ai que tá acho que você deve pelo o que eu te conheço assim achar que

eu quero ser professor universitário porque eu acho menos que uma carreira de professor de

ensino médio. Não de maneira nenhuma é que eu gosto da antropologia mesmo. Sabe? É isso.

ENTREVISTA (B): 28/09/2014 – COTISTA SOCIAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS

-A com relação ao ensino médio? Ou com relação a preparação para o vestibular?

-Bem, a minha trajetória, ela é um pouco engraçada porque eu vim de Santa Catarina para cá e

nunca tive essa questão definida de fazer um curso superior. Essa ideia ela veio crescendo na

minha cabeça a partir do momento que eu arranjei um emprego. Quando eu estudava no

ensino médio também. Falar bem a verdade as vezes estudar é uma incógnita. Porque a gente

nunca sabe pra que vai servi aquilo tem sido uma obrigação. Mas, conforme eu ia trabalhando

,eu ia descobrindo que aquilo tipo função não era o que eu queria fazer. Ao mesmo tempo que

eu via que em meu entorno tinha muita gente resignada com aquele tipo de atividade. A partir

desse momento de certa forma eu comecei a pesquisar quais eram as outras possibilidades.

Lembrando que também antes do curso superior tinha o curso técnico. A maioria do pessoal

que estudou comigo optou por curso técnico. Alguns fizeram curso superior principalmente na

área de Direito e alguns sequer se deram ao trabalho de fazer algum tipo de curso pós-médio

que eles chamam. Com relação as Ciências Sociais eu sempre tive uma afinidade muito

grande com a área de Ciências Humanas e conforme eu ia pesquisando o curso de ciências

sociais eu via que ele era o mais amplo em relação a possiblidade de estudos de história,

geografia, filosofia era um curso que englobava muitas coisas o mesmo tempo tinha um corte

reflexivo muito grande. Esse debate entre licenciatura e bacharelado confesso que eu vira a ter

só aqui dentro da faculdade eu nunca tinha imaginado essa questão de dar aula antes de entrar

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na faculdade principalmente porque eu via o quão trabalhoso era isso no contexto da sala de

aula. Eu mesmo um dos alunos que não colaborava muito para o professor dar aula as vezes.

Aula de matemática era muito maçante e difícil você ficar parado simplesmente observando o

que se passa e tentando compreender aquela abstração as vezes. E, eu achei esse oficio

interessante na medida que os próprios professores iam apresentando a riqueza do processo de

aprendizado foi é muito legal, muito interessante. Mas confesso que as vezes me incomoda

um pouco, não só a questão da remuneração que eu acho que não é umas das piores mas o

status simbólico do professor dentro da sala de aula e as vezes fora da sala de aula. Muitas

pessoas as vezes perguntam: “mas você está estudando cinco anos para dar aula?” E tem

aquela questão: “mas você só dá aula?” Eles acabam colocando o aspecto de aula como uma

coisa menor é isso me incomoda muito. E essas pessoas as vezes conseguem elencar também

a importância de um professor e lembra de bons professores que tiveram em sala de aula. E

uma correlação muito estranha mais, eu não sei se eu respondi sua pergunta eu vou fazer umas

digressões isso vai um pouco longe. Mas para falar bem a verdade, essa questão de dar aula

veja como uma coisa muito mais concreta como o metier do pesquisador neste momento. E,

eu não sei se isso esta na minha cabeça mais um pesquisador de ciências sociais ele tem que

ter uma especialização muito grande, uma pessoa não puder se dizer sociólogo sem ter antes

pelo menos um mestrado. E a ideia que ela já tem um aprofundamento na questão de método ,

já tem uma consciência maior acerca daquilo que ela tá pesquisando. Tanto que muito gente

trata a monografia como um esposo do mestrado as vezes. Enquanto que na licenciatura e

também a segunda questão da licenciatura, eu vejo a licenciatura como uma maneira de você

aperfeiçoar aquilo que você aprender na sala de aula . O desafio da transmissão do

conhecimento apreendido as vezes é muito mais complexo que o desenvolvimento de uma

dissertação de mestrado. Acho que por hora é isso.

- O sistema de cotas , eu fiquei, na verdade eu devo essa questão do sistema de cotas a um

professor do ensino médio que era o professor de geografia que ele sempre instigava os alunos

a fazer curso superior. Ele falava que a gente tinha um potencial muito grande, que estuda na

federal também que ele tinha uma trajetória muito parecida com a minha nesse sentido acho

que eu me identificava muito com ele que era o rapaz que fazia o ensino médio trabalhando e

ele falou “eu fiz o ensino médio trabalhando e juntei dinheiro para pagar um cursinho pré-

vestibular ai eu entrei na faculdade para fazer o curso superior de geografia e vi que o pessoal

que estavam lá dentro não era tão capacitado ou não era tão intelectualmente superior quanto

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eu pensava. Eu conseguia debater de igual pra igual com eles e por vezes em função do meu

empenho em relação aquilo que estudava eu conseguia me sopresai a eles.” Eu vi que a partir

desse momento a universidade não era algo tão distante eu não, num certo sentido a elitização

ao entorno dela era algo muito mais imaginário do que algo realmente real. E neste sentido eu

agradeço muito ao professor que foi um dos professores que como eu posso dizer que fez eu

aceitar o desafio de tentar o curso superior de tentar o vestibular e fazer uma universidade

pública. Que até então no imaginário dos alunos da época que era um espaço muito elitizado,

espaço para poucos. Não deixa de ser mas, não é tão inacessível quanto a gente pensava. E eu

acho que desse ano três ou quatro alunos que eu estudei juntos passaram na Universidade

Federal do Paraná.

- Para falar bem a verdade eu sabia muito pouco os esclarecimentos que eu tive a partir dessa

politica de cotas foram a partir do professor ele falou que porque ate então eu sabia das cotas

raciais eu não me enquadrava neste aspecto. Eu sempre foi estudante de escola pública sempre

é como eu posso dizer acho que isso, eu estudei em colégio público mais não sabia que tinha

esse beneficio de estudante de colégio público mas dessa maneira o professor foi explicando é

o vestibular ele tem, acho que foi um pouco antes do vestibular se transformar em duas etapa,

sistema de múltiplas escolhas das opções, somatória. Ele falou recentemente foi instaurado

também o sistema de cotas social e ele tem justamente a finalidade de fazer a ingressão dessas

pessoas que estão no ensino médio público uma espécie de compensação socio-histórico com

relação as classes menos abastadas.

-Isso.

-Professor de putz, eu só me lembro do primeiro nome dele, professor Patrick, ele era um

professor muito jovem pra falar a verdade. Acho que na época ele tinha uns 25 anos ele era

um professor que ele uso a sala de aula ele dava uma aula muito pontual muito resumida no

sentido de apresentar muito bem o que ele tinha finalidade a cerca dos temas elaborados. Era

um professor muito claro. E ele falava “gente o que eu tô ensinando não é algo muito difícil”;

“não é algo muito complicado” “é e mais ou menos assim que eles ensinam na universidade

também e mais ou menos esse conteúdo. Vocês tem que ter a clareza que por mais difícil que

seja as vezes por função das questões sociais, as questões históricas que tem na trajetória de

cada um , existe a possiblidade de ingressar num curso superior. Tanto quanto a possibilidade

de um curso técnico. Ou de um como é que eles chamam, pós-médio. Só que a questão que

você tem que ter claro na sua cabeça a possiblidade de você escolher entre essas opções não

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de você isso pré-determinado pra si.” Era um professor muito bom, eu me lembro que quando

a gente começou a fazer um certo movimento com relação a fazer curso superior ele dava

aulas a tarde pra gente, dando aula de reforço, geografia, de língua portuguesa e dentro do que

ele conseguia de história também. Nesse sentido teve alguns professores de matemática do

colégio que se empolgaram com a ideia e também ajudaram muito a gente. Em especial um

que era o professor Toninho, professor... acho que era esse mesmo o nome dele, professor

Toninho que era professor de Física que ele dava aula em dois colégios e ele disponibilizava

tempo, uma ou duas vezes por semana pra ir dar aula de reforço pra gente numa sala na

biblioteca do colégio. Assim, eram lembranças muito boas de professores, profissionais que

eram engajados nesta ideia de ensinar.

- Não, não confesso que na verdade foi a terceira vezes. A primeira fez que tentei vestibular

foi a primeira e a segunda, a primeira vez foi na Universidade Tecnologia Federal do Parará

que eu tentei para Design de produtos essa é uma época que eu estava bem aminado em

relação ao desenho eu tinha muita facilidade e até hoje tenho facilidade em mexer em

software de programação, software de desenho, mesmo pra desenhar fazer desenho de

observação. Minha professora de educação artística ela tinha me levado para uma serie de

eventos e de, não é bem um congresso, estou acostumado com o termo congresso, de

exposições de artes porque ela falou que eu tinha uma grande potencial. Eu acho que até hoje

eu acredito um pouco nisso não sei se erra mentira dela. Mas que eu tinha um grande

potencial com relação a artes e, como artes visuais eu achava que era uma coisa muito teórica

e também não fazia muito a minha praia de ficar fazendo pesquisa em cima de questões

artísticas. Eu acabei optando por Design. Ela me ajudou muito com relação a parte de desenho

de produção, incentivo também que as vezes eu acredito que seja uma das partes mais

importantes. E da primeira vez que eu tentei CEFET eu foi muito bem na prova. Só que era

um curso com vagas limitadas se não me engano era 22 vagas para curso integral. Eu não

lembro a posição que eu devo ter ficado, mas devo ter ficado entre os 30 primeiros. E é depois

que na verdade esse curso é que meio um preparatório para o da federal. Ai no final do ano

tentei design de produtos na federal também só que não tive o mesmo desempenho que tive

no CEFET acho que não passei nem na primeira fase. Dei uma desanimado por um certo

tempo porque querendo ou não você se prepara por um ano pra quilo você tem um conjunto

de aulas, um conjunto de expectavas que são elas elaboradas, construídas ao longo desse

trajeto ai quando você não passa são frustrados mais logo depois eu foi observando outros

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curso , não sei se foi um certa frustração em relação ao resultado do design. Mas depois eu foi

se aprofundar mais a cerca do que era o curso de design as pessoas que faziam o curso de

design a finalidade das pessoas que estão dentro do curso de design que me mudou um pouco

e acabou me frustrando. Eu acabei trabalhando com uma outra área que eu sempre tive muito

prazer que foi a questão da historia, da geografia, a sociologia que eu não tive no ensino

médio mas sempre acabava pegando um pedaço ou outro do professor de geografia ele ai

discutindo. E juntei isso as Ciências Sociais pra falar bem a verdade, bem a verdade foi um

curso que eu ingressei sem ter concretamente o conhecimento do que se tratava assim. Porque

as vezes o pessoal se confunde com os Estudos Sociais. E uma vertente mais não é de fato

Ciências Sociais que a gente tem aqui na faculdade. Mas apesar de parecer ter sido um

escolha meio, como eu passo dizer, meio que nas escuras foi um curso que eu gostei que eu

gostei muito nos últimos 4, 5 anos, não 6.

- Exato.

-Na verdade o conhecimento da licenciatura e bacharelado ele veio através da discussão da

separação do curso dessas duas áreas de competência né. Se não me engano no primeiro ano

que eu ingressei já teve um debate muito que agente veio foi o ultimo ano da dupla

licenciatura e enfim um debate construindo um discurso que essa separação era muito

negativa. E eu acabei tentando compreender em que sentido essa questão entre formar apenas

bacharéis e formar apenas licenciados era negativas. De certa forma eu acho que eu posso

elencar o PIBID quanto um espaço onde esse debate teve um aprofundamento muito grande.

Poderia ter ido muito além mas foi um aproveitamento muito bom e justamente ele veio no

caminho inverso em pensar que licenciatura não é tão somente licenciatura porque um

professor também pesquisa e essa as vezes essa ideia de você elencar a separação entre

licenciatura e bacharelado pode ser algo um tanto quanto negativo porque efetivamente você

acaba tendo um discurso bacharelesco que a ideia de você formar um professor sem

bacharelado vai formar um professor incompleto quanto na verdade pelas experiências que eu

tive ao longo do PIBID eu vi professores com a capacidade de pesquisa muito maiores que a

de um pesquisador efetivamente. Professores que tem que construir um plano de aula as vezes

em uma ou duas horas que é o tempo que eles tem. A licenciatura enquanto oficio, pra falar

bem a verdade acho que e algo que ate hoje não parece algo enquanto muito concreto. Eu vejo

que eu preciso um pouco mais de maturidade para chegar na sala de aula e dar uma boa aula.

Dizem que isso vem com a certa experiência mais as vezes o que mais me assusta na questão

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do contexto de sala de aula mas é de não produzir uma boa aula para aquelas pessoas estão ali

ou acabar trabalhando com a, os alunos como se fossem cobaias. Acho que isso é um pouco

mais preocupante para mim.

- Olha acho que neste momento a figura do professor em primeiro lugar representa a ideia de

você se formar num curso e de atual nele que é justamente a ideia de você ter uma formação a

qual você vai utilizar futuramente. Num segundo momento é a ideia do educar, o individuo

que acaba é, construindo ou modelando ou desmodelando, deformando e formando depende

do termo que se queira usar, o cidadão. Acho que assim em termo bem rasos.

-Olha ser professor é algo bem dramático ao mesmo tem que vejo professores que tem uma

relação muito boa com a sua profissão vejo professores que trabalham e acabando trabalhando

com, com a sua, com a sua profissão com se fosse algo passageiro, algo temporário. Eu

imagino que isso reflete um pouco na forma em que ele se porta em sala de aula. Mas, eu vejo

que pra mim ser professor é um profissão muito importante, muito relevante a qual eu atuaria

com muito prazer neste momento.

- Sinceramente poderia.

- Eu optei em manter o bacharel e a licenciatura justamente por pensar de maneira oposta ao

discurso da separação, eu acho que da mesmo forma que você faze a licenciatura sem o

bacharelado seja algo incompleto. Eu penso que fazer um bacharelado sem uma experiência

de sala de aula se uma experiência didática, sem uma experiência de saber reproduzir aqui que

você aprender ao longo da faculdade e algo tão pobre ou ainda mais que a própria que própria

ideia de você ter uma licenciatura sem um bacharelado ou um bacharelado sem uma

licenciatura que eu vejo isso em muito professores em nosso curso a dificuldade que tem da

transposição do conhecimento. Penso eu que seja uma dificuldade, não vou pensar que isso

seja uma má vontade.

- Eu acho que o bacharel acaba vendo a licenciatura com um osso do seu oficio como uma

questão complementar ao fato dele esta trabalhado com pesquisador na Universidade Federal

do Paraná. Lembro um pouco a discussão do Weber da ideia de... é, nossa lembrar agora do

Weber, mas a ideia da...a gente. A não lembro o nome do texto mais enfim... Ciência e

política com vocação. Lembra essa ideia da vocação. Eu vou recomeçar um pouco depois

você edita essa parte.

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- Dentro da faculdade? Ou pra além da faculdade?

-Olha, eu vejo que depois da separação houve uma opção por parte dos alunos pelo mesmo

pelo que tenho percebido da ideia deles ingressarem na licenciatura como a possibilidade mais

imediato de aquisição de emprego. E o que mais as vezes me deixa como posso dizer

apreensivo em relação a licenciatura e que parece que a cada novo gestor do Estado parece ela

fica um pouco, um pouco dúbia esse ultimo governo do Beto Richa, ele acabou sendo um

pouco complicado não só para os profissional de sociologia mas para o professorado, para os

professores de uma forma geral parece que foi um ano não muito bom. Eu vejo a licenciatura

de certa forma como uma possibilidade, ou talvez a possibilidade imediata de um emprego

realmente de uma forma geral. Infelizmente ela ocorre atrás do PSS (Processo de Seleção

Simplificado) parece ser uma forma do Estado omitir sua obrigação com relação a educação

de qualidade contratar de forma emergencial professores sem ter um vinculo mais profundo.

Criando também uma serie de divergências dentro das escolas eu já observei algumas vezes a

relação entre concursado e PSS como ela acaba sendo um pouco mais tensionada

principalmente em eleição de diretor e... O que mais que eu posso elencar neste momento.

-Eu vejo como uma opção muito boa. Eu vejo que alguns cursos se quer essa opção tem

Ciências Humanas eu acho que de modo geral quase todos os cursos tem se não me engano.

Alguns cursos de Letras por não serem de Espanhol ou do inglês acaba não tendo essa mesma

possibilidade. Talvez para os alunos de origem social pouco mais humildade esse termo é um

ótimo, um ótimo eufemismo e seja um pouco mais complicado principalmente pela questão

moral de você ter uma faculdade ao qual não vai lhe dar um retorno profissional ou ao menos

um emprego seria uma coisa muito dramática. E ai num segundo momento que você pensar

que para além desse emprego você acaba dento situações relativamente precárias as vezes a

questão do PSS é algo que muito, e muito desconfortável. Não sei se ele pelo fato de você ver

seus colegas de profissão tendo concurso publico e tendo uma situação mais estável dentro do

Estado mais eu vejo que as vezes que o PSS se quer ganha decimo terceiro? Se eu não estou

equivocado em relação a isso. Tem que ver as relações trabalhistas PSS em relação ao

concursado.

- Neste momento não. Acho que ainda falta muito para adquirir este status pelo menos no meu

caso.

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- Olha, eu tive uma experiência diferenciada que foi o PIBID desta forma eu posso dizer que

com o PIBID eu tive uma serie de situações que me permitiram ter uma visão mais concreta a

cerca do que é realmente o ensino médio a cerca de quais são as questão que estão ali dentro e

qual e a vida cotidiana do professor. Eu penso que a licenciatura em si e tão somente é algo

que não me ofereceria isso. As duas disciplinas que seriam estágios, estágios supervisionados

eles dão uma visão as vezes muito superficial a cerca do é o metiê do professor a cerca do

seu trabalho. O que eu tive de uma experiência acho que foi em estagio supervisionado I foi

justamente a dificuldade de ingressar em alguns colégios por que parece que eles tem medo de

mostrar o que se passa ali dentro. mas nos colégios que eu tive a oportunidade de ver eu vi

justamente o professor é alguns momentos do professor ali na sala de professores ele indo

para a sala de aula geralmente tem turmas boas né, quem tem essa ideia de turmas boas e

turma ruins mais eu peguei turmas que são relativamente tranquilas de se observar na minha

experiência de estagio supervisionado II eu tive uma turma muito tranquila para dar uma aula

que era uma turma do médio técnico. E eu sei que comportamento as turmas que eu observei

em relação ao comportamento das turmas que geralmente são das salas de aulas elas divergem

um pouco principalmente pensando que observei turmas de terceiro ano e da noite que essas

pessoas tem um idade um pouco mais avançada em detrimento a turmas do primeiro ano da

manha que tão lá com 14 , 15 anos que tem um comportamento diferente tem uma forma de

ser expressar diferente e justamente em função da diferença de trabalho tão um pouquinho

mais de dificuldade em relação a tradução a cerca daquilo que esta querendo se passar. E

nesse sentido eu sei disso justamente porque o PIBID me ofertou a possibilidade de observar

aulas ao longo da minha graduação ao longo a minha licenciatura e é uma experiência que eu

acho que talvez outro alunos não tiveram ao logo da graduação ou talvez não quiseram ter

também. Tem sempre que pensar um pouco nisso que ponto que você quer saber o que se

passa até que ponto então tão somente o necessário para a sua formação.

- Justiça social.

- Penso eu talvez agora falta um pouco de algum espirito militante. Mas penso eu que justiça

social no Brasil e uma forma justamente de você tenta reverter ou atenuar aspectos históricos

que ocorreram que justamente ocorreram para o inverso para a acentuação da acumulação de

riqueza da acumulação não só financeira como cultural também ao longo do processo de

formação do pais. Eu penso na justiça social talvez direitos humanos agora seja a palavra mais

utilidade. Mas justiça social como a conscientização das classes menos favorecidas que elas

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tem direito de acesso a educação ela tem acesso de direito ao acesso a educação plena elas

tem um direito a intervenção a cerca do processo que esta ocorrendo politicamente,

financeiramente porque eles incidem na vida concreta dessas pessoas.

- Trabalho.

- Olha, eu penso em forma de mim me sustentar. De ganhar a vida. Sendo mais objetivo

possível.

-Como professor eu tive breve experiências é acho que ao longo desses anos de licenciatura

eu devo ter ministrado cinco ou seis aulas , as quais eu tive acesso a todo o processo de

construção da aula desde de elaboram do tema a construção dos objetivos principais e

secundários em relação a construção do plano de aula, a execução do plano de aula, a da

avaliação do plano de aula. Foram poucos experiências mais foram experiências que tive a

oportunidade de trabalhar desde o começo do processo elaborativo da aula até o seu ultimo

estagio que seria a avaliação.

-Olha, não sei se é a palavra correta mas acho que foi bem divertido num certo sentido. Eu

acho que é tão interessante quanto mais que você elaborar uma pesquisa pra alguma disciplina

com relação a algum tema que a gente pensa ser suspostamente relevante e você vê a

confecção dele no seu estágio final. Eu acho que indiferença a esse processo que eu explicitei

e mais interessante na medida em que você vê que pessoas estão ali tendo certa forma acesso

a aquele conteúdo mais interessante quanto você vê que as pessoas acham aquele conteúdo

interessante na medida em que você pensa enquanto a pessoa capaz de fazer aquele conteúdo

ser interessante a aquele indivíduos e você ter o retorno que não é só o retorno com relação a

avaliação mas e o retorno da pessoa ir até você falar: eu achei seu conteúdo muito

interessante” ou “eu gostei muito foi uma boa aula”. E eu acho que isso e muito positivo neste

sentido. Porque dos artigos que eu escrevi ou mesmo da produção que eu fiz ao longo do

curso a gente não tem o mesmo retorno ou quanto a gente tem a gente acha que é um retorno

meio que vazio sem a mesma espontaneidade.

- Bem eu acho que na medida em que as cotas tiveram uma certa polemica com relação a sua

instauração que eu acho que a polemica veio muito mais dos estabelecidos dos que justamente

de quem ai beneficiados com relação a esse tipo de cotas. Eu penso que ela se apresenta

enquanto uma forma de justiça social na media que primeiramente ela causa um incomodo

nas pessoas que estão estabelecidas neste sistema. Ah, antes de ver o acesso é muitos vezes

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esse discurso de que está ocorrendo uma espécie de precarização do ensino superior e muitas

vezes eles veem por partidos de extrema esquerda e ao mesmo tempo você vê que ele tem

uma caráter carregado por um certo elitismo das pessoas que estão aqui eu vejo com uma

espécie de justiça social ainda assim como um justiça social parcial porque as pessoas

conseguem tão somente ingressar na faculdade dos colegas eu acho que talvez seja uma

questão muito interessante de se pesquisar, dos colegas cotistas que entraram quantos estão

concluídos o curso superior em relação a aqueles que entraram por “meritocracia”. E, porque

a faculdade ao longo do seu percurso ela geral ou demanda dos seus alunos uma serie de

como eu posso dizer, abrir mão, produz uma serie de escolhas nas quais as pessoas que estão

aqui dentro tem que abrir mão de algumas coisas. No meu caso foi abrir mão de uma renda

um pouco superior que eu tinha antes de entrar aqui e eu tenho que ainda ficar muito feliz que

eu consegui bolsas ao longo do percurso da faculdade eu tive conhecimento de pessoas que

não tiveram a mesmo sorte. A gente deve duas greves um pouco longas e eu tive

conhecimento de pessoas que desistiram do curso, não de ciências sociais mais de outros

cursos exatamente por não ter condições matérias de se manter ao longo desse período. Então

a gente vê que uma justiça social que pensa na ingressam desses alunos mas acaba

esquecendo na questão da permanência desses alunos. Eu penso que isso esteja mudando um

pouco talvez a faculdade seja um pouco resistência a essa politicas por pensar que elas

acabam privilegiando excessivamente os alunos. Eu penso que privilegiar alunos que sempre

foram desprivilegiados nada mais e do que da oportunidade deles mostrarem que tem algo

diferencial.

-Olha, eu tenho pra mim e sempre um valor muito grande de certa forma talvez passado pelos

meus pais que antes do aspecto financeiro vem o aspecto cultural. Talvez uma questão que ao

longo do curso se desenvolveu que essa questão cultural a gente sempre tem. E mas acaba

associando a essa ideia de cultura à intelectualidade. Então intelectualidade é algo que a gente

não tem aqui ao longo do tempo. Pelo menos não na forma como as pessoas imaginam. Mas

eu sempre tive um inventivo muito grande com relação a estudar dentro de casa. E Isso foi

muito positivo pra mim na medida em que essa ausência de retorno financeiro se veio de

forma com que meus pais viam meu esforço e eles sempre me apoiarem muito com relação a

fazer um curso superior a ter essa disposição de estudar por cinco anos pra ter um diploma

talvez por eles não saberem aquilo que eu vou fazer com esse diploma ou que, no que é

ciências sociais mais eu sempre vi assim um orgulho muito grande por parte deles por essa

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iniciativa minha de estudar então fez falta sim com relação ao material com relação ao aspecto

material. As vezes não tinha dinheiro para comprar uma roupa ou pra compara um tênis da

mesmo forma que eu tinha antes as vezes eu não tinha dinheiro pra RU(Restaurante

Universitário) o pessoal me emprestava mais a gente vai se virando e mais ou menos não sei

se esse é o slogan da federal mais entrou aqui se vira, e fui fazendo ao longo do curso.

- Olha, a primeira bolsa que eu recebi foi uma bolsa SIB da biblioteca de ciências jurídicas

depois foi a bolsa do PIBID que eu trabalhei um tempo como voluntario e posteriormente foi

a bolsa da biblioteca pública, bolsa do Estado. Eu penso que essas bolsas foi que permitiram

primeiramente a ter dinheiro, pro transporte que e essencial eu moro relativamente longe com

relação a faculdade a passagem ao longo desse período foi aumento eu diria

consideravelmente pensando que a passagem que eu pego e 3,10 e o RU 1,30 já tem um

pouco um peso e uma medida. E não só isso permitiu que comprasse material apesar da

biblioteca. Vamos reformular esse começo, apesar do cientista social demanda apenas de

livros e a internet ter facilitado muito isso a questão de você ter um contato com os livros,

adquirir livros e ter os livros em casa para estudar para você bem entender é algo assim, e

penso eu pelo menos não sei ou outros alunos mais novos ai, é algo essencial ao longo do

curso e foi algo que eu investir muito assim bolsas do PIBID, as bolsas que eu tive ao longo

do curso me permitiram comprar grande parte do acervo que eu tenho hoje de livros. E não

são baratos os livros as vezes agente compra um livro de cem páginas que é 60 reais, 70 reais

porque é um edição esgotada, porque é uma edição especial, porque é tradução nova e o

pessoal não se preocupa muito se você e estudante ou não se você é cotista ou não tem que

comprar o livro quer dizer e que desenvolve essa ideia que você tem que comprar o livro pelo

mesmo.

- Eu acho que isso é não é nem um mito é uma besteira pra falar a verdade, justamente pelo

fato que eu vi ao longo desse curso muitos alunos cotistas que eu não sei se tinha algo para

provar pra si pro os outros para os professores, um envolvimento, uma vontade de estudar tão

grande. Nossa isso fica parecendo discurso de jogador de futebol enfim. É tinha um

envolvimento tão grande com o curso que por vezes eu vi o desempenho ser superior que os

dos alunos “normais”, alunos normais desculpe esse termo, dos alunos que tinham um

ingressam supostamente normal.

- Acho que provavelmente talvez seja pra não dizer é, penso que seja um grande equivoco eu

vi... Não verdade esse rendimento baixo é rendimento baixo em relação a que?

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-Porque sinceramente eu nunca tive um rendimento excepcional no ensino médio em

detrimento da faculdade e uma questão de envolvimento e uma questão de interesse. Eu acho

que a pessoa que formulou essa frase teve um pensamento muito leviano eu vi profissionais

que vão para a sala de aula com um rendimento escolar, desculpe eu acho esse termo é pouco

pobre, mais com uma capacidade intelectual muito grande excepcional até em relação as

pessoas que estão na faculdade. Eu acho que isso é justamente você reificar a ideia de que o

professor e aquela pessoa que ensina o que não sabe fazer.

- Olha, talvez ele esteja em parte correta. Eu digo por que eu vejo que a licenciatura em

ciências sociais ainda é algo que está se construindo justamente porque é uma ideia que

parece que esta sendo construída nos professores de Ciências Sociais que é, pelo o que eu vi

algum tem uma resistência formar professores ao invés que formar uma elite intelectual. Essa

pretensão talvez seja um pouco estranha mais e, talvez foi uma resistência muito grande pelos

professores que eu vi em alguns momento dando algumas disciplinas da licenciatura e o

descaso com que faziam isso. Eu me lembro de uma disciplina que tive, que foi a disciplina

“x” em que ela foi dividida em três professores cada um ensina o que queria, falava o que

queria e ia embora e dava um trabalho simplesmente para dizer que teve uma avaliação ao

longo disso. E eu tive o conhecimento antes de começar essa disciplina que foi uma disciplina

que ninguém queria dar de certa forma demostrando um desinteresse com relação ao próprio

departamento em relação à licenciatura. As matérias de educação que a gente teve fazendo no

departamento de educação talvez em função da concepção do departamento ou das

concepções que a gente também tem que entender que e é um departamento muito

heterogêneo em relação aos profissionais que tem lá dentro as vezes foram disciplinas um

pouco estranhas um pouco bizarras em contrapartida também tivemos disciplinas

excepcionais em função dos profissionais. O que eu acho um pouco complicado porque a

gente tem aquela ideia que as coisas devem ser feitas é, de forma não pessoalizada a relação

entre profissional e seu trabalho é a gente vê dentro da faculdade exatamente o contrario o

profissional que parece que construir a disciplina. Eu me lembro de didática que foi uma

disciplina excepcional que foi uma professora que tinha uma proposta muito diferente que

justamente chegou a sala de aula fazendo piada com a ideia que ia ensinar a gente a escrever

no quadro e apagar corretamente e em contrapartida professores, eu acho que tem uma

disciplina de psicologia da educação que as vezes vinha as vezes não vinha as vezes chegava

na hora as vezes não e que as vezes fazia certa piada daquilo que estava ensinando. Não sei,

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eu acho que talvez falte um pouco de monitoramento a cerca daquilo que esta se ensinado. O

currículo na teoria sempre costuma ser muito bom eu digo isso porque eu fiz um trabalho

recentemente sobre o currículo de Ciências Sociais e vi que ao longo dos últimos anos ele foi

se transformando de forma a se atentar um pouco mais para esse mercado que esta surgindo

que é o da educação, que é da licenciatura. E quando a gente via na prática, a gente via

primeiramente um conjunto muito pequeno de alunos que ingressava na licenciatura e que

terminava justamente por intenções a de adquiri tão somente bacharelado no menor tempo

possível e que no segundo momento uma certa dificuldades, professores em elencar o que

deve se ensinar na licenciatura. Como que se deve se manter a licenciatura da UFPR. Tanto

que em certa medida a gente vê muitos professores que trabalham com esse tema sempre com

vistas a UEL (Universidade Estadual de Londrina) que é o ponto referencia neste assunto pelo

menos no Estado.

-Em me vejo. Talvez precise de um pouco mais de preparação. Mas eu me vejo seria um

grande prazer para mim é ter aquele retorno que eu tive com o professor de Geografia assim.

A forma com que ele e, com que ele trabalhava em sala de aula o profissionalismo que ele

tinha em relação com a profissão dele. Ele nunca negou que ele não ganhava bem em relação

ao que ele fazia. E ao mesmo tempo ele sempre afirmava que isso não era motivo pra ele

deixar de trabalhar e fazer bem feito o oficio dele. Eu penso que de certa parte os professores

reclamas dos salários, mas também faltam com o profissionalismo quando usam esse discurso

tão somente pra não dar uma boa aula porque não dar uma boa aula também é sonegar uma

boa educação pro alunos que estão em sala de aula.

- Eu acho que depende muito de quem olha para a carreira de professor. Talvez pra uma

pessoa que vá para o bacharelado ela tenha os mesmos problemas. É eu diria mais problemas

porque financiamento pra pesquisas de ciências humanas eu penso que não seja algo fácil

conseguir. Não é a mesma coisa que, pensando na mesma quantidade que um pessoa que vá

trabalhar com tecnologia do cimento consiga pra sua pesquisa. Não é algo fácil tem pessoas

com especializações absurda nas áreas eu vejo isso porque geralmente o Lattes dos bons os

pesquisadores de saída já tem um doutorado. Então eu não imagino que uma pessoa saia de

uma graduação de bacharelado é vai conseguir arranjar alguma coisa a não ser que já tenha

uma seria de contatos muito bem elaborada em si. Mas eu penso que essa pessoa vai ter que

sair vai ter dedicar mais dois anos para o mestrado se passar direto, prova de mestrado e vai

ter que dedicar mais quatro anos pra doutorado isso vai demandar entorno de seis anos pra

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além da graduação que ele teve. E então, é um trabalho muito, muito grande para as pessoas

que realmente gostam, pesquisa é algo muito bom, vai dar a possibilidade dessa pessoa se

aprofundar um pouco mais no metiê da pesquisa mas em contrapartida é uma pessoa que vai

ficar praticamente dez anos dependendo de uma bolsa que as vezes pode aparecer e as vezes

não. Nesta conjuntura de governo as bolsas parece que estão em abundância, mas isso até eu

chegar no doutorado talvez isso não exista mais. Então é algo que também é muito, como eu

posso dizer é algo, muito passageiro. Sempre me faltam uns bons adjetivos.

- Eu penso. Talvez não da mesma forma que eu estudei na faculdade. Talvez a principio uma

preparação boa na ideia de desenvolvimento de material para se trabalhar em sala de aula que

eu penso que algo muito importante você vir com o mínimo de preparo para além daquele que

a gente teve na faculdade não desmerecendo aquilo que eu já tive ao longo desses últimos

anos. E posteriormente eu penso realmente na ideia de fazendo um mestrado se essa

possibilidade não me aparecer antes do trabalho em sala de aula.

- Exatamente.

-Acho que tá na minha cabeça da mesma forma que você demorou pra processar na sua. E

algo assim um pouco é não tá tão concreto como deveria algumas pessoas que eu vejo ao

longo do curso já tem essa ideia “eu vou sair para um mestrado”; “eu vou sair para dar aula”.

Ainda não tenho muito certeza disso eu tô na elaboração da minha monografia e de certa

forma eu vejo quando complicado, o quando delicado é esse processo de produção do

conhecimento por mais que as pessoas pensam em fazer um monografia mais ou menos nas

“coxas” como é o termo mais correto eu tenho certo cuidado em relação a isso porque de certa

forma uma monografia seria o resultado daquilo que nos aprendemos ao longo dos anos, não

só em termos de Sociologia, de pesquisa sociológica, mais de conteúdo e justamente com

relação ao cuidado que se produz material cientifico algumas pessoas não tem esse mesmo

cuidado pelo o que eu tenho visto em função do dá possibilidade que ninguém venha ler isso.

Que eu acho isso muito possível para além das pessoas que vão estar avaliando na banca

avaliadora. Mas sei lá, parece que ao mesmo tempo isso e resultado daquilo que eu fiz logo eu

estou naquele processo aquilo diz muito sobre mim. Então tem um peso muito grande. Eu

penso que um metrado vai aumentar ainda com um doutorado ainda mais. Então esse cuidado

metodológico que estou tendo, esse cuidado com relação ao que eu estou escrevendo, como

estou escrevendo o que eu tô colocando as vezes me faz me questionar a cerca até que ponto

eu vou fazer isso enquanto minha profissão. Não que não venha ter esse tipo de tratamento

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como profissional da educação eu acho que da mesma forma que eu tenho cuidado com aquilo

que eu estou escrevendo eu tenho cuidado com aquilo que eu estou falando para as pessoas

que estão dentro da sala de aula. Mas de certa forma é uma equação que eu não resolvi ainda.

-Olha, eu sempre fiz talvez nem sempre, mas sempre na medida do possível o melhor que eu

pude em termos de dedicação em termos de trabalho e nesse sentido eu avalio a minha

trajetória dentro da faculdade quanto a algo muito positivo. Porque ao mesmo tempo que

alguns professores descredenciavam o fato da gente sermos alunos em função da nossa

origem em função de não ter o domínio pleno da língua portuguesa, outras questões que a

gente teve. Acho que expressar uma disciplina, a disciplina x, disciplina y mas acho que você

sabe tão bem quanto eu como foi esse drama que reifica a ideia que a gente não é capaz aqui

dentro. Tivemos exemplos opostos também ao longo da graduação mais, eu sinceramente eu

não consigo elencar um adjetivo, eu acho que foi algo muito bom porque ao mesmo tempo em

que você consegue provar para um conjunto, para um determinado conjunto que você tem

capacidade, potencial e tal qual igual eu não diria mais você tem um potencial diferenciado

que por vezes e superior as das pessoas que tem uma trajetória digamos que “normal” dentro

da faculdade. Você, que dizer, eu, eu fiquei muito realizado porque eu também consegui

provar isso para mim. Provei que eu tinha capacidade intelectual é de me manter dentro da

faculdade que apesar das dificuldade que é apesar penso eu apesar da origem das pessoas

todo mundo me passa aqui dentro é um espaço de transformação e uma espaço de descoberta

de autodescoberta. E penso eu estou concluindo talvez os avaliadores avaliaram isso de uma

outra forma mais eu gostei muito desse, dessa possibilidade de ingressar e concluir o curso

dentro daquilo que eu tinha antes.

-Perspectiva de mercado de trabalho, simplesmente terminar o ensino médio, fazer um técnico

na melhor das hipóteses no campo da logística, trabalhar no comercio, eu vejo muitas pessoas

que sempre acabam planejando fazer algo mais em função da realidade que se encontra ou por

vezes por um certo comodismo acabam permanecendo nesse espaço. Eu talvez com relação as

ajudas que eu tive dentro e fora de casa consegui não posso dizer agora, com certeza, mas

consegui alterar um pouco esse meu destino social. Consegui ampliar esse leque de

possibilidades que tem dentro desse mercado de trabalho. Tendo uma origem semelhante de

muitas pessoas de ensino público, não sei.

ENTREVISTA (C) : 30/09/2014 – COTISTA RACIAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS

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-Uma linha de historicidade. Então, morei no Fazendinha meu é C. . Eu mora lá no bairro com

minha família no Fazendinha, nos temos um especifico eu acho, com referencial que é minha

família, principalmente minhas tias são de movimentos sociais. É, o, movimento negro,

movimentos de mulheres. Então desde de pequena eu aprendi acompanhei elas nesses espaços

e sempre tinha como referências sabendo que no futuro eu estarei na universidade. No começo

quando eu terminei, quando eu tava no 2 ano, no 3 ano eu ganhei um bolsa de um projeto pra

bolsas no curso pré-vestibular no Positivo do Ipad que é Instituto de Pesquisa da

afrodescendência que, me deu essa bolsa de 100%. A contrapartida do curso, da Ong Ipad era

que a gente tentasse a vestibular pelas ações afirmativas, pelas cotas. Então na minha época

tinha 30 alunos. Os 30 alunos eram negros, a gente fez uma prova pra conseguir a bolsa e o

Positivo também tinha essa contrapartida. Acho que fala ação social uma coisa assim né? Das

empresas que tem que fazer uma contribuição para a sociedade sabe? Dai beleza, fiz três de

cursinho e a partir desse instituto, dessa Ong fiz lá no Positivo. Nós todos os alunos negros lá

daquele curso. Nos dois primeiros anos eu tentei cursos de Direito, e acabava não passando,

não chegava à nota que precisava para passar para a segunda fase. E era eu é meu primo o

xxxxxx é a gente também, ele também queria Direito. Ai um ano ele passou e eu não. Ai eu

comecei a pesquisar outros cursos e minha tia fez Ciências Sociais aqui e eu fui perguntar

para ela como era o curso e tal, e ela falou que era legal que tinha áreas de consultoria, de

politica, antropologia, sociologia e falou da oportunidade de ser professora. Se eu quisesse ser

professora algum dia, estudar movimentos sociais, estudar a sociedade. No começo eu não

sabia muito né, mas a gente entra neste curso sem saber muito o que fazer. Ai eu fui ver a

nota de corte, não era tão alta e tal e fui fazer vestibular. Me inscrevi, não contei para ninguém

que eu ai tentar Ciências Sociais, a minha família achou que era Direito. No dia que saiu o

resultado tinha acertado 47 dava para ter passado em Direito. Num primeiro momento eu

fiquei um pouco triste na verdade porque eu fale a acertei mas vou ir para esse curso. Fui para

a segunda fase dai fiz a prova na verdade não sabia muito sobre sociologia, a redação eu sabia

que eu aprendi bastante sobre redação e eu vi lá os cotistas que passaram eu fiquei em

segundo ligar eu acho. Tinha lá a x, o y tudo. Ai entrei no curso, eu tenho histórico de família

que tem já cinco tios que tem curso superior, meus primos também tem. E a escolha pela

licenciatura veio durante o curso. Eu vi que o bacharelado não dava muito pra mim, muito

teoria, muita coisa dai eu fui para a licenciatura. Fui para a bolsa do PIBID, agora estou na

escola.

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- Eu trabalhava, estudava, fazia estágio, no ultimo ano só que eu não trabalhei. No ultimo ano

que eu tentei. Eu fazia cursinho a noite ai meu pai e minha mãe conseguiram me manter em

casa, mas sem luxo sem nada né, ficar em casa estudante e a noite ir para o cursinho. Porque

os outros anos que eu não passei, eu trabalhava o dia todo. Trabalha na? Onde eu trabalhei?

Trabalhei no Ipad nesta Ong que eu fiz o curso e trabalhei...agora eu não lembro. Fui

estagiaria aqui d a Federal quando estudava no terceiro ano do CEP, no Colégio Estadual do

Paraná, terceiro ano, ai a tarde fazia estagio aqui na Procuradoria ai a noite eu ai para o

cursinho Positivo. Ai, logicamente não passei né porque não tinha nem condição de estudar de

acompanhar o cursinho, acompanhar o vestibular todo. Ai passei no momento da letra (?).

- Lembro. Foi em 2004, 2003. De 2003 para 2004. Eu como eu citei minha família sempre foi

de movimentos sociais eu vim junto em 2003 pra 2004 teve um acampamento aqui no pátio

da reitoria do movimento negro onde a gente ocupou a pátio com barracas, com tenda, com

gente onde, o dia onde foi a reunião do conselho eu acho, pra a votação das cotas. Aqui no

conselho, ai eu sabendo ou não sabendo mas sabendo. Vim junto, dormi nas barracas fazendo

gritos de ordem tal, foi neste primeiro momento. Ai depois que eu fui percebendo o que era

exatamente. Ai quanto que passei no vestibular participei da banca de verificação racial.

Antes de entrar nos vestibular eu acompanhava as bancas de verificação racial aqui da Federal

junto com o pessoal do movimento negro fica participando do lado, via os que passavam e os

que não passavam. Via como era fazia a forma de verificação se a pessoa tinha os traços

negroides ou não, é dai foi aprendendo.

- Sabia que era só para a segunda fase que os cotistas se enfrentavam entre si somente na

segunda fase que a primeira fase era geral. Agora mudou mais eu não sei explicar como é.

-Não, não tinha.

-Eu descobri na verdade quando começou as disciplinas de licenciatura. Assim quando eu

entrei. Quando começo? Acho que foi no segundo ano. Já no primeiro ano eu dei uma

identificada eu vi que tinha um pessoal que era mais da pesquisa com o pessoal que se

identificava com a antropologia que pesquisava mais coisa, tinha um pessoal com a sociologia

que ia para a escola. Mas foi assim no final do primeiro ano assim que me identifiquei quando

eu escolhi licenciatura foi na metodologia nas disciplinas de métodos que dai eu vi que eu

queria estudar escola, estuda aluno e tal.

- Identificação de que? Entre o bacharel e a licenciatura?

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-Então eu entendia assim que na verdade na pratica eu comecei a pensar que a licenciatura me

daria um emprego. Eu poderia entrar pra licenciatura por conta do emprego. Falei “ não, eu

não posso desperdiçar já estou aqui dentro é não vou desperdiçar essa chance de fazer

disciplinas que possa habilitar que no futuro eu tenha emprego como professora”. No começo

eu pensei se seria minha segunda opção. É o que resta. No começo eu pensava assim. Como a

maioria dos alunos na verdade. “ A licenciatura vai ser o que restar, se não sobrar nada vou

ser professora.” Mas com o passar do tempo e a participação no PIBID eu vi que não era só

que resta e sim uma escolha. E sim, serei professora.

- Olha, na verdade representa um diferencial tanto pensando no meu coletivo, da comunidade

negra onde querendo ou não, eu não tive muitos professores negros no meu ensino mesmo na

periferia quando eu estudei no Fazendinha tinha um ou dois professora de educação física mas

não tive muito professores negros e nem disciplinas ou temas que a abordavam a comunidade

negra. Mas não necessariamente porque sou eu sou negro sou ser professora, mas sim porque

é uma carreira, e sim porque eu gosto da escola, porque eu gosta dessa função de ser

professora de ensinar de educar de ta junto. Mas poderia também fazer pesquisa eu acho que

eu posso também trabalhar em outras áreas acho que não impede também.

- Tenho, quero fazer mestrado quero fazer doutorado. Mas não sei se já assim. Terminar a

graduação e entrar no mestrado, mas sim no futuro.

-Diferencial porque eu tô pensando na questão mais familiar porque na minha família as

pessoas que seguiram carreira de educação que foram para a escola não são professores. São

pedagogos, tenho três tios pedagogos. Na verdade uma não exerce mas dois exercem a

pedagogia. Ai eu pensei nessa relação mesmo de ser uma pessoa da minha família que vá para

a escola que seja professora que tenha uma carreira. Na minha casa meu pai e minha mãe não

tem curso superior não estudo completo só tem o ensino fundamental e meus irmãos, agora eu

tenho um irmão que também faz Federal que faz curso, minha irmã tá tentando.

- Acho que sim. Se eu não fosse pensar nessa parte mais prática da vida e profissionalização

mesmo da sociologia de ser socióloga. Acho que sim, mas não.

-Eu escolhi manter. Olha no começo foi por conta do coletivo, amigos e colegas de curso que

me incentivaram é que... como a gente era um grupo, e a gente é um grupo até hoje, colegas,

vamos fazer as disciplinas, todo mundo foi fazer as disciplinas. Acho que a coletividade do

grupo auxilia bastante para você continuar a licenciatura, mesmo que outras pessoas decidam

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sejam amigos e tudo. Mas eu acho que a confiança e a amizade contribui pra continuar. Eu

acho.

-Coletividade do grupo.

-Na verdade acho que a primeira matéria de licenciatura foi fundamentos né? Se eu não me

engano, Fundamentos do ensino médio e comecei fui bem a professora era, eu gostei da

professora apesar do pessoal não ter gostado muito e apesar da galera, dos colegas falarem

muito mal da licenciatura, todo mundo que estava no grupo continuou na licenciatura, fez as

disciplinas de licenciatura. Apesar de falar do professor, falar mal da disciplina, falar mal dos

textos não sei o que, todo mundo continuo. Então eu acho que, eu pensava muito nisso da

força que um ou outro dá aqui neste curso, dos amigos tão essa força para gente continuar.

Acho que...

- Tá.

-Negros.

-(Pensativa) É uma pergunta boa. É que tem que falar uma palavra. O que é ser negro?

Aonde? Aqui? Na minha experiência nesse espaço ou minha experiência histórica, do

contexto? Eu acho que persistir muito assim, resistir, é não olhar muito para o lado.

-Persistência é teimosia e quase uma teimosia assim, de achar que eu posso né, que posso

aqui, que esse é um lugar de direito que é um lugar conquistado que é um lugar de uma

comunidade que não é um lugar que representa só eu, que eu represento um coletivo aqui

dentro. Represento uma comunidade que principalmente o movimento social que lutou para

que essa politica de ações afirmativas entrasse na universidade para que outras pessoas

pudessem contribuir. Outras pessoas pudessem representar. Então o que é ser negro aqui

dentro, por exemplo, talvez seja como uma sombra assim porque é eu sou, eu tô junto não

quer dizer que eu seja o foco não quer dizer que eu seja o tema não que dizer que eu seja a

referencia mas eu tô junto entendeu? Pode ser que eu não esteja na frente mas eu estou de

lado porque eu achei antes, antes de entrar eu achei que eu ia sofrer, que as pessoas ia me

apontar, que você é cotista racial, você entrou pelas portas do fundo mas eu nunca ouvi isso

aqui dentro. Na verdade uma vez eu ouvi mais não foi pra mim mais foi para uma colega da

nossa sala, foi uma pessoa aleatória que falou um negócio mas num primeiro momento eu não

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soube reagir, eu acho que é uma estratégia não reagir. Eu aprendi isso muito na vida de não

reagir, mas eu acho que isso é um problema não reagir. O que mais...

-Essa relação?

-Na verdade, pensando na minha trajetória eu acho que não tinha muito outro caminho pra

mim, não tinha outro caminho de não entrar na universidade eu tinha que entrar de alguma

forma, seja no Direito, seja sociais seja em qualquer outro curso. Porque já esta meio que eu

era uma pessoa meio pressionada, assim no meu contexto social, familiar do meu espaço onde

vivi então eu já foi um pouco pressionada “você tem que estar na universidade.” Então

quando eu comecei a acompanhar as discussões, os debates sobre as cotas raciais foi um ápice

foi um foco. Então já que tenho a oportunidade você tem que aproveitar essa oportunidade. Eu

e outras pessoas que também conviviam com essas discussões entraram nessa leva. “Porque

não vocês vão entrar.” Eu participei desse curso do Ipad que se chama curso Akeko Dudu que

é uma palavra de ioruba africana que significa aluno preto. Ai la a gente tenha curso de

formação a cada 15 dias sobre relações raciais, sobre o racismo, direitos humanos e cotas

raciais, ações afirmativas então eu fui quase que pressionada a entrar. Não que eu não queira,

eu tive uma força entendeu? Pra entrar aqui dentro.

-Não cogitei. Na verdade eu passei na PUC uma vez em Direito, na PUC, mas dai não tinha

dinheiro. A mensalidade, de matricula já era tipo muito dinheiro. Ai desistimos eu falei não

vamos tentar mais uma vez mais um ano de cursinho. Ai passei.

-Queria UFPR, tava focada queria por que queria entrar aqui, não entraria em outra particular,

entraria aqui.

-Todas, primeiro ano eu foi muito mau, mau não, é reprovei algumas disciplinas, assim, direi

notas medianas para passar e tal. No segundo ano comecei a estabilizar melhor assim, tipo não

tava acostumada com leitura não estava acostumado com a escrita, a prestar atenção duas

horas uma pessoa falando sobre o que é ciência, Durkheim, não sei o que lá...blábláblá.

Mesmo tento todo esse histórico de discussões que eu já ouvi de palestra que eu já participei

de aula no cursinho eu senti aqui dentro o quanto eu não sabia né? O quando eu não sabia

sobre os corredores , sobre onde vou procurar atrás do que, sobre as oportunidades que tem

aqui dentro. Bolsa eu descobrir, bolsa porque eu vi um papel na parede do xxxxx tava escrito

exclusivo para cotistas raciais: bolsa de iniciação cientifica. Dai eu foi lá falar com ele dai ele

ok! Dai eu fiquei um tempo com ele, trabalhando com ele, ai depois eu vi a bolsa do PIBID ai

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participei do PIBID. A mas eu participei um pouco do bacharel bolsa de iniciação com o

xxxx.

- Demais. Nos dois primeiros anos na verdade eu trabalhei porque não tinha condições.

Trabalhei não porque não tinha condições. Eu trabalhei minha vida inteira dai quando entrei

aqui parecia que eu já estava habituada a trabalhar o dia inteiro e estudar a noite. Já era certo

na minha cabeça entendeu? Ai nos dois primeiros anos eu trabalhei bastante. Só de manhã

trabalha, mas vi que não tava para acompanhar muito ai resolvi viver só de bolsa.

-Eu era recepcionista de uma clinica.

-Ah era cansativo porque eu chegava 09h30min da noite 10 horas dai tinha que ler textos,

tinha que fazer trabalhos, estudar para prova, final de semana. Eu tenho muito que agradecer

na verdade muito e acho que a palavra é agradecer mesmo aos meus colegas aqui desse curso.

Posso até citar nomes a., b., c., d., f. Que assim né, eu coloco seu nome no trabalho, aqui o

resumo, texto no Xerox, xxxx não sei o que lá.

- Antes do PIBID? No curso? Já tive com o PIBID né, participando ano passado que a gente

participou de um projeto lá no Pedro Macedo que foi a primeira vez que eu dei aula. Eu e uma

colega do PIBID também. Que agente deu aula sobre racismo, discriminação e preconceito.

- Foi marcante. Principalmente em quesito oratória e argumentação porque é um desafio dar

aula é simplesmente um desafio. Desafio de conteúdo, desafio de tá ali com os alunos que

acompanhar a linguagem de acompanhar a argumentação de dar junto ali na frente saber o que

falar, saber o que não falar. Eu senti muito nesse coisa do falar de saber o que falar. Mas foi

no primeiro dia foi um pouco pesado assim, mas no segundo dia já foi mais leve dai consegui

terceiro também. Agora parece que eu estou mais tranquilo mais foi um pouco tenso no

começo.

- A eu fiquei nervosa né. É porque mesmo umas das dificuldades maiores da universidade de

fazer um curso, um curso superior pra mim é seminário. Se chama seminário. Eu já tive cenas

marques aqui em seminários. Eu travei total, seminário Habermas que não saiu. Se lembra?

Não saiu, não saiu. Não sei se eu não estudei o suficiente. Até sei , na hora de falar não sei se

eu não estou acostumado a falar de teoria, não sei se eu não estou acostumado de conceitos,

explicar conceitos, não sei o que. Uma turma de 60 pessoas, dois professores ns sala, dai eu

falei travou não deu. Já outros seminários das disciplinas de licenciaturas eu fui bem melhor.

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Mas os seminários que tem conceito, autor, não sei o que da política, principalmente não. Dai

eu peguei um pouquinho esse trauma assim de falar em publico. Eu não falo em público

muito. Até eu tenho essa tensão porque a minha tia e meus colegas do movimento social todo

mundo fala bem em público e se articula bem e tal tem toda uma oratória e eu já não consigo

muito fala uma coisinha e outra mas não uma palestra. Entendeu?

- Mentira. É mentira porque já tem estudos já tem pesquisa já tem experiência vivida e própria

de que não cai. Assim, pode ser que sejam alguns cursos eu não sei falar agora. Mas nos

cursos os alunos não desistem, são os últimos a desistirem do curso. Não tem, por conta acho

que principalmente pela oportunidade de estar aqui dentro. Os que desistem são por conta de

trabalho, conta que mora longe talvez. Até a gente tem experiência aqui no curso de cotistas

que desistiram. Mas eu acho que não decaio o nível da universidade, muito pelo contrario

aumenta a diversidade, aumenta a discussão, aumenta o tema, aumenta a cor e diferenciar a

cor, diferencia a voz, a linguagem o discurso, a gíria né então pra mim não esse mito não, é

mito. Não é verdade.

-(Pensativa) Nem sabia, não sabia disso. É verdade? Que os professores do ensino médio...não

os professores da escolas são ex-alunos que tiveram...Da universidade? Por exemplo, no

nosso curso. Acho que é mentira também, a gente exemplo de nosso, de colegas que são super

10, super 9,5 super 9 que fizeram a licenciatura são professores eu acho que a deficiência da

escola, deficiência no sentido de dificuldade não explica por isso, acho que não, não sei na

verdade explicar isso mas acho que não tem relação com a má, a má, não má, mais (pensativa)

não, não tem relação. Quer dizer talvez, mas acho que não. Eu não escolhi a licenciatura por

que eu sou aluna mediana.

-Porque eu tive experiências com programa de extensão, com as disciplinas que a gente teve

aqui, com a escola da onde eu sai por isso eu escolhi a licenciatura. Não é porque eu tiro nota

mediana. Que nem por isso os alunos do bacharel são 10. Tiram dez , não, tiram também 7,

tiram 5 vão para a final, não fazem trabalho faltam na prova, desmerecem o professor. Nem

por isso.

-Não, é possível talvez não no modelo que seja o perfeito, não o perfeito mais o desejado para

a escola, mas é possível. Na verdade eu penso muito que a insistência e muito individual

também, faz parte do coletivo mais e individual porque, por exemplo, a gente fez disciplinas

de praticas, praticas na escola. Que era muito do individual não era o professor de cobrando se

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você foi na escola fazer observação, se você fez seu relatoria, se você fez o plano de aula e

praticou na escola. Isso partiu muito de mim, muito da pessoa ir na escola toda semana ir lá

fazer observação e pessoas que eu vi que não contribuíram que não foram na escola falaram

mal da disciplina. Até um dia eu questionei como você pode falar mal da disciplina se você

nem foi para a escola então as vezes as pessoas acha que deveria ter uma cobrança. A porque

o professor da licenciatura tinha que ser mais presente. Mas por exemplo essa disciplina a

pessoa simplesmente não foi na escola. Ai que falar mal da licenciatura quer falar mal da

escola nem você mesmo fez por você então não tem como. Qual é a pergunta mesmo?

Repete.

-Não, concordo que falta, falta disciplina para a escola, falta também um pouco mais de

prática porque a gente aqui estuda uma coisa, estuda texto, estuda metodologia, chega lá na

escola não é nada disso, não é nada desse sonho que acontece aqui dentro. Desse plano de

aula maravilho, com uma aula com nome, metáforas, assim códigos maravilhosos “o queijo

da democracia.” Lembra daquela aula que menina deu um titulo pra aula é tal. Eu acho que é

um pouco imaginação tem umas disciplinas da licenciatura que é viagem, que não acontece, o

que acontece na escola no chão, no “Protasio” lá do Itatiaia lá não tem nada haver com isso.

Entendeu.

- A foi boas assim mais, algumas foi meio não sei se é por conta do professor por conta do

texto por conta da preguiça, dos colegas as vezes que estão as vezes desmotivados dai a gente

também fica um pouco. Mas teve algumas disciplinas que eu gostei que foram boas para mim

que eu pude aperfeiçoar assim, e organização, aperfeiçoar descrição aperfeiçoar, a minha

escrita a minha argumentação sobre um plano de aula especifico assim, mais eu gostei. A

principio algumas foram mais ou menos assim mas outras foram boas.

- Concordo. Não é muito atraente. Pelo menos ai a gente vê o início de carreira ganha pouco

pelo tanto que a gente estuda, tanto que a gente fica aqui na universidade 5 , 6 anos chegasse

na escola ganhasse muito pouco. As vezes a má valorização da própria escola da sociedade do

Estado dos alunos não vou falar mau de aluno mais querendo ou não a gente, da diretora da

escola da pedagogo. Acho que não é muito atraente por conta disso porque as pessoas

colocam muito responsabilidade em cima do professor da educação, a meu filho é, a pessoa é

assim meu filho e mau educado por conta da escola, a escola não ensino isso, a escola não fala

daquilo, então muitas responsabilidades é colocada em cima do professor e em cima da

escola. Acho que por isso não é atraente. As pessoas pensam não vou ficar lá ensinando filhos

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dos outros a se comportar, por exemplo, não vou lá ganhar mil reais, por exemplo, ficar 40

alunos em sala brigando, viajando e fazendo um monte de coisas e tento que corrigir provas

em casa, fazer trabalho, plano de aula. Eu acredito que não é muito atraente. Só pra quem

acredita na escola.

-Eu acredito na escola. E estamos aqui, como eu não posso acreditar. Acredito na escola.

-Acredito que a escola tem um papel muito importante né e de incentivo, de ter alunos que

dispostos a seguir pro um futuro seja na academia seja no mercado de trabalho seja para

consciência pessoal mesmo, individual acho que a escola tem essa função de numa fase da

vida de contribuir com a formação com a identidade do aluno e principalmente a sociologia

tem um papel importantíssimo no papel de construção da identidade pessoal coletiva e

familiar, escolar tudo mais.

-Ixe, olha vou me escrever no PSS ai mês que vem acho que provavelmente pegaremos alunos

ano que vem vou ter que estar preparada né, entrar na sala no primeiro dia me preparar antes,

preparar uma aula, preparar um texto, uma fala, sei lá, tenho que prepara alguma coisa, mas

acho que vou conseguir sim.

-Me vejo, indo para a escola de manhã, preparando os livros, fazendo lá umas chamadinhas,

fulano de tal me vejo dando aula sim ainda mais com a experiência do PIBID, me vejo na

escola. Queria dar aula no “Estadual” na verdade ou no “Protasio” lá perto de casa no

coleginho onde eu estudei.

-Da licenciatura ou da...?

-eu acho que o PIBID foi muito importante não só para mim aprender o chão da escola, para

mim aprender a dinâmica de uma escola, a dinâmica da profissionalização do professor. Mas,

é contribui com o aprendizado mesmo pessoal de perceber que aqui a gente é um discurso,

aqui a gente é um enunciado é lá na escola a gente leva um choque quase, os alunos falam

coisas fazem coisas que a gente parece que esquece assim. As vezes quando eu vou para a

escola eu lembro que foi adolescente que tavo no terceiro ano, que eu era daquele jeito lá,

talvez não igual mais era muito parecido com aqueles alunos que refletem o que a sociedade é

né. É que aqui dentro a gente tem todo um enunciado de coisas parece que não é o que a

sociedade faz, acontece lá fora, lá na escola é, é o que eles falam eles estão sentindo, eles

estão pressentindo, estão ali no gás da informação no gás das coisas, no gás da vida e aqui

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dentro não, a gente simplesmente não acontece, acontece mas não no sentido da escola, parece

que lá é mais realidade, aqui parece um discurso um enunciado, de uma verdade. Entendeu.

-Estamos terminado.

-Olha, eu tenho acho que muita pra pensar que eu podia ter ido melhor acho que poderia ter

me esforçado mais em diversos momentos. Mas acho que cresci muito pessoalmente assim,

intectualmente, li coisas que eu nunca imaginei, escutei coisas que eu nunca imaginei e

escute, li coisa que eu não queria, tive que estudar coisas que eu não queria também senti a

ausência de vários temas, senti a ausência de vários coisas, mas acho que pra mim eu podia ter

ido melhor, eu sinto assim. Mas ok! Pra mim tá ok! Vamos ver quando eu terminar a

monografia. Se tiver ok a monografia eu vou falar beleza passou bora para a próxima.

-Ir para a escola, fazer um mestrado, tentar um mestrado não sei se aqui, em outro lugar

talvez.

-Acho que é só. Na verdade. Acho que tá bom.

ENTREVISTA (D) : 09/10/2014 – COTISTA SOCIAL DE FISICA

- Acho que era normal. Como todo mundo no ensino médio . Eu tinha as aulas normais no

turno da manhã colégio público. É era daquele jeito, estudava só pra prova mesmo. Igual a

qualquer outro meu colega fazia então no ano do vestibular não. No ano do vestibular

estudava mais, mais minha especifica que era exatas. Mas fora os outros anos era normal, eu

ai para as aula normal. Nunca tive problemas com nota nem nada assim mas só estudava

mesmo o conteúdo da prova lá não era muito interessante estudar outras coisas.

- Sempre, sempre porque a minha mãe ela não tem o ensino médio nem meu pai. E ela

sempre falava pra mim assim: “ah olha pra mim”. Olha , ela trabalhava na produção então ela

se matava de trabalhar com peças de carros coisa acho que não é tanto para mulher. E ela

sempre falava que ela não queria que nenhum das filhas delas fosse igual a ela. Então, a

minha irmã fez magistério, junto com o profissionalizante e faz jornalismo. Como faculdade

eu faço Física também escolhi fazer faculdade. Então as duas filhas dela graças a deus, estão

bem encaminhadas.

- A eu não...é que eu sempre, nunca fui de sair, nem nada assim, então eu sempre fui de ficar

em casa, não precisei trabalhar, nunca pensava em trabalhar então a minha vida e sempre

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foquei em estudar. Não tinha outra visão. Então eu acho que eu tô feliz assim porque era o

que eu imaginava antes. Que eu ia fazer a minha faculdade sem precisar trabalhar para paga e

só focar nos estudos mesmo. Sempre tive a minha vida voltada para o estudo.

-Sempre, sempre eu fiz o ENEM e Universidade Federal, e a única que eu tentei foi a PUC

porque a minha mãe estuda na PUC, ela não conseguiu passar na Federal. Porque eu tinha

muito medo eu não queria perder um ano de estudo. Ai minha mãe falou “a gente vai pedir

dinheiro pro teu pai”. O meu pai não tem contado comigo. “A gente vai pedir dinheiro e a

gente vai pagar. Mas você não vai ficar sem fazer faculdade”. Era mais por pressão dela, de

eu não perder um ano de faculdade. Mas sempre foi a universidade pública mesmo.

-Isso.

- Eu cursava o ensino médio e fazia o curso pro vestibular.

- Foi no cursinho. Eu não sabia sobre cotas porque no ensino médio eles não falam sobre o

vestibular porque eles falam que a função deles é preparar para o ENEM. E isso que os meus

professores falavam, não para o vestibular. Ai no cursinho que eu fiz eu fiquei sabendo que a

gente tinha cota. Tanto a cota racial como cota social. Mas como cota racial acho que eu não

entrava tanto como cota social, e como eu não trabalho nem minha irmã só minha mãe

trabalhava. Dai eu fiz aquele cálculos que eles pedem lá pro salário, a renda mínima lá. Eu vi

que eu podia e conseguir cota social além de eu só ter estudado em colégio público, nem

cursinho particular nem nada sempre foi público.

- Não. Eu não tinha conhecimento nenhum. Eu tive conhecimento atrás do cursinho mesmo

que eles explicaram que seria. Na verdade eu nem sabia que sabia tinha vagas destinadas para

cotas, separadas das vagas normais, então se eu me inscreve por cotas não ai saber se ia ter

uma possibilidade a mais de passar do que se fosse por vagas normal. E minha mãe sempre

tentava fazer cursor técnico na federal também e ela não sabia das cota social, mesmo a gente

tendo o direito da cota, lá na minha casa ela se inscrevia no vestibular normal, então ela

concorria com os outras pessoas normal e ela nunca conseguiu passar porque ela não sabia da

cota. Então foi mais no cursinho que eu comecei a...

-Não. Nunca soube de cota. A minha irmã também nunca tentou por cota no vestibular dela.

Então acho que é até por isso que ela não conseguiu passar na universidade, nunca tentou por

cota nenhuma.

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-Eu acho que eu sempre tive vontade de ser professora então apesar de que eu também vi

pelo vestibular que o bacharelado era muito mais concorrido que a licenciatura então eu já fui

mais voltada pra licenciatura porque eu não tenho condição de pagar uma universidade

particular, não que eu não tenha vontade de seguir pra área de estudo, de pesquisa da Física.

Mas é eu sempre tive uma vocação digamos para ser professor.

-Eu acho que, eu acho incrível você passar o seu conhecimento para outra pessoa. Eu acho

que faz eu ser uma pessoa melhor porque de alguma forma a gente está ajuntado os outros, a

gente está passando nosso conhecimento. Então, eu não tive bons professores mesmo eu tendo

vontade de ser professora eu não tive nenhum bom professor que eu possa falar: “nossa por

causa dele que eu escolhi fazer licenciatura”. Mas, eu queria melhorar isso, então eu sempre

falo que, meus colegas da faculdade eles querem seguir na área de astronomia, área de pericia

criminal, eu não quero, eu quero fazer toda minha formação voltada pra o ensino médio. Pra

educação. Porque eu acho que não dá pra fazer muito, mas eu acho que eu posso melhor um

pouco.

-Eu antes é que eu queria fazer Direito. Eu queria fazer Direito porque, por causa de dinheiro.

Eu sempre tive dificuldade financeira, eu até hoje, a minha mãe a gente não tem uma casa.

Então a gente mora com o namorado da minha mãe. Então eu queria fazer Direito justamente

porque eu ai ganhar bem então eu ia poder mudar essa condição. Só que eu escolhi fazer

licenciatura porque minha mãe disse pra mim fazer uma coisa que eu gostava. E ela, claro, ela

fala que eu ia ganhar mal e tudo só que eu acho que eu nasci pra isso porque eu comecei dar

aula particular e comecei a gostar e minha mãe quando eu falei que ia fazer Física ela foi meio

que contra porque ela já não ganhava muito bem, não tinha nem o ensino médio completo. A

minha irmã também não trabalhava, ela faz um estagio hoje, mas tipo, dizem, que profissional

jornalismo começa ganhando pouco também e professor de ver a questão da educação pública

que é precária, tudo, a minha mãe foi muito contra. Então, foi difícil colocar na cabeça dela

que eu queria fazer licenciatura mesmo ela falando “você tem que fazer o que você gosta”.

Mas, antes eu não queria ser professor, eu não queria ser professor porque os alunos não

respeitam, os alunos não respeitam o professor, na minha turma tinha colegas meus que

batiam boca, eu acho que o professor tem que ser impor na sala pra receber respeito então eu

pensava nisso e quando comecei a gostar de dar aula eu decidi mudar isso. Então eu não sei,

eu tive muitos professores que não eram tão bons que não tinham o controle e eu pensava que

ia ser igual mas eu acho que não foi eu já tive experiência e graças a deus deu tudo certo.

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- Como assim?

-Entender como uma carreira acadêmica?

- Acadêmico , universidade né. Eu penso muito, na verdade, eu sempre falo para minha mãe

que eu quero fazer um mestrado um doutorado tudo seguido. Porque eu poder estudar até os

meus 60 anos eu que estudar até meus 60 anos porque eu gosto, a gente sempre tem a

oportunidade de aprender mais.

- Isso.

- Primeiro por causa de Física se fosse qualquer outra coisa acho que ela não ia implicar tanto

quando Física. Porque ela falou, e que ela tem aquela visão senso comum: “ai você vai ficar

louca daquele jeito vai ficar com os cabeços brancos, os alunos vão jogar bolinha de papel em

você, vão gritar com você. É isso que você quer?” Então ela foi contra. Talvez se eu tivesse

escolhido fazer Pedagogia, alguma coisa assim igual conhecidos meus fazem ela até que

apoia, mas eu acho que ela não teve oportunidade de estudar ela não teve Física na época que

ela estudava. Então eu acho que ela não sabe como é que é, ela não sabe o que é Física.

Porque até as vezes eu brinco com ela , faço umas perguntas: “ai mãe se fosse levar um gelo

até a esquina você enrolaria numa blusa de lã?” ela fala que não porque uma blusa de lã é

quente. Só que eu sei que não tem nada haver com isso, então eu brinco. Então ela não sabe o

que é Física, ela nunca teve essa experiência. Pra ver que a Física é uma coisa legal. Eu acho

que ela sempre falou pra mim fazer o que gosta mas quando eu falei que eu queria fazer Física

ela não esperava. era a ultima coisa que ela esperava. E ela tentou, tentou fazer eu mudar de

ideia assim: “ a não tem uma outra coisa?” Ela fui meio contra, mesmo sendo na minha vida

toda falando que era, que eu tinha que fazer o que gostava.

- Já.

- Eu já tive experiência como professora particular com meus colegas, eu trabalhei com um ex

-presidiário também. Que queria concertar a vida, como diz. Graças a deus ele conseguiu

terminar o ensino médio. Eu ajudava ele em Matemática e Física que é minha área e eu

trabalhei num cursinho voluntário também que foi muito bom mas por causa da federal, os

horários não batem, eu tive que sair. Só me deu mais certeza que eu tavo no caminho certo.

Que era uma coisa que eu gostava. O PIBID também, apesar de eu não estar o momento todo

dando aula, eu to a todo momento, os alunos me chamam: “a professora” ou “ai moça” eles

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não tem como chamar, mas é muito bom, eu tenho certeza que é isso que eu quero. Eu tenho

certeza que eu não vou mudar igual tem gente que entra na Física pra ficar pensando “ai vou

mudar para engenharia ou coisa assim”. Eu tenho certeza que eu não vou mudar.

- A minha, uma prima minha que mora perto do presidio ela soube, não sei como ela soube

que tinha um presidiário que queria terminar o ensino médio. E que ele queria ter aula, que ele

não tava entendo. É CEEBJA? Que fala quando quer terminar o ensino médio mais rápido. Só

que ele não tava entendendo nada. Era uma coisa básica aquela expressões com parêntese que

ele não sabia fazer. Ela era conhecida desse ex- presidiário e ela levava ele lá em casa e a

gente tinha aula lá. Só que eu não cobrei. Eu momento algum eu não cobrei dele. Porque ele

não tinha um emprego. Ele não conseguia um emprego justamente por não ter o ensino médio

completo e por ter um histórico. Ele foi preso então... ele ai lá em casa, a gente tem uma mesa

de estuda lá em casa e eu ajudava ele lá mesmo. Mas foi por uns dois, três meses até aquela

prova do ENEM que eu acho que é 400, 450 pontos você passa, você consegue concluir. Ai

ele conseguiu concluir pela prova do ENEM e saiu da CEEBJA, mas eu não cobrei dele, foi

totalmente voluntário, eu tinha medo é claro. Mas, a minha mãe sempre falava pra ir sempre

quando tinha muita gente lá em casa, a gente ai com essa minha parente lá, ela ficava junto o

momento todo e eu ai explicando pra ele as matérias.

- Conseguiu. Não sei se foi por causa da parte de Matemática e Física porque no ENEM dá

pra dar uma chutada ali, mas ele conseguiu. Mas eu acho que foi bom minha participação pra

ele conseguir.

- Eu espero muito poder voltar. Eu tive uma relação muito boa com alunos não sei se é porque

eles tem a mesma idade que eu, eles são um ano mais novo. Mas eles vinham, contavam as

coisas pessoal deles, e perguntavam se podiam ter aula na em casa, se podiam ir na casa deles

explicar. No meu primeiro dia de aula foi muito nervosismo porque eu não tinha nenhum

contato então foi difícil mas depois eu tive um laço muito bom com eles era uma relação

muito boa mesmo. Tinha vezes que eu chegava antes ficando conversando, meia hora, 40

minutos perdia o horário da aula e ai correndo dar aula porque a gente cria um vinculo muito

grande a gente fica triste por ter se afastado deles.

- Eu sinto falta de tá mais participativa ali. Na sala de aula porque no PIBID você desenvolve

um projeto dai você entra intervir na sala de aula. Eu sinto de falta de ficar fazendo meu

projeto e não poder estar lá na sala de aula. Eu tenho um carrinho muito grande por uma aluno

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meu, meu entre aspas, lá do PIBID que ele é cego então eu fico do lado dele o tempo todo, eu

dito as coisas para ele e as vezes que eu não tô lá que a professora manda fazer o projeto eu as

vezes acho que ele não tá conseguindo desenvolver tanto quando eu tanto do lado dele,

ajudando ele falando: “ não, não é assim pense por esse jeito” e a gente tá trabalhando

astronomia agora pra ele, a gente teve que perguntar mesmo, sendo indelicada, se ele tinha

nascido cego ou se ele tinha perdendo a visão. Ai a gente descobrir que ele nasce cego. Então

como é que vamos explicar como é o sol, ou a lua, se ele nunca tinha visto. Então é um

desafio, então ser professor também é desafiador. Porque quem sabe eu quando for professor

não vou ter um aluno cego e como é que vou explicar. Tem coisa que não tem como explicar.

Mas é um desafio pra mim, pra minha vida toda. Eu sei que na minha carreira eu vou

enfrentar isso.

- Ser professor. Eu acho que é ser um segundo pai, uma segunda mãe, porque você da ali

interferindo na vida do aluno, você tá encaminhando ele, você tá ensinando a ele, as vezes

eles falam: “ai mais o que é vou usar isso na minha vida”. Tudo bem eles não vão usar

dinâmica na vida deles, eles não vão ficar observando essas coisas. Mas estimula o cérebro

porque quem sabe se na carreira que eles vão seguir eles vão precisar. Raciocínio lógico, por

exemplo, eu não tive muito, então eu tenho uma dificuldade muito grande. Porque eu não

aprendi essas coisas. Mas eu acho que ser professor é você ser um segundo pai mesmo e você

estar ajudando. Eu li um artigo, de um professor, se não me engano Alberto Gaspar que ele

fala que é só o amor, só o amor dos pais não vai fazer com que os alunos siga uma carreira

profissional que eles sejam diferente dos pais trabalhadores rural, por exemplo, que tem uma

dificuldade. Que é o professor que tem que mostrar as possibilidades que ele tem, ele que vai

mostrar que o aluno pode chegar a mais que ele tem uma capacidade de conseguir o que ele

quer que ele poder sair daquela situação. Então eu acho que esse artigo é a minha base, saber

que eu posso mudar o destino de um aluno.

-Posso. A educação pode.

- Desigualdade.

-Indiferença. Exclusão talvez.

-E que acho assim , a cota tudo bem ela é uma oportunidade a mais, mas é uma forma de

exclusão também porque de certa forma você está separando as pessoas normais das pessoas

que tem um dificuldade financeira. Quer dizer, a eles precisam de uma carreira de uma coisa

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diferencia para conseguir entrar na universidade. Então, a você entrar pelas cotas você tem

uma chance maior do que se você entrar normal .Mas por que? Por que você entrar pelas cota

eu vou ter mais chances de passar se eu tentar normal? Por que minha renda é mais baixa?

Então é uma forma de desigualdade sim. Mas, eu entrei por cota, eu agradeço por ter entrado

cota, talvez eu não tenha conseguido se não tivesse entrado por cota. Mas eu acho que não é

necessário cota. Acho que ela é um meio de exclusão é como se fosse a homofobia também

você exclui os homossexuais. Eu não sei como explicar porque eu entrei por cota mas, eu

acho que é uma forma de desigualdade sim. Ela me trouxe beneficio sim, a cota, só que talvez

tirasse o meu mérito de conseguir entrar num...se fosse concorrer com pessoas normais sabe.

-Pessoas que tem uma... ai me fugiu a palavra. Uma condição melhor que eu. Uma condição

social talvez que ganhe mais que eu que tenha uma situação financeira estável. Eu não tenho

uma situação financeira estável. Minha mãe foi demitida e eu não sei se é, eu realmente não

tenho uma opinião formada sobre cota, não sei se bom ou ruim, eu acho que é uma forma de

exclusão mas eu entrei por cota como eu vou ser contra de algo que eu estou participando

talvez não tenho o que mudar não tem como mudar as cotas elas talvez sempre vão existir mas

as pessoas talvez não encarrem como exclusão, igual eu encarro.

- Segundo.

- Não.

-Eu recebo a bolsa do PIBID e a bolsa permanência que eu tinha pesquisado eu vi que quem

tinha menos 1,5 salários mínimos tinha direito então na verdade essa bolsa veio em boa hora,

comecei a receber ela mês passado porque atrasou um pouco. Porque minha mãe foi demitida,

então essa bolsa esta servindo para cobrir os gastos lá de casa, fora a passagem, comer, eu

costuma não comer na faculdade, então eu venho bem em cima da hora pra mim ter comido

em casa assistir as aulas e não precisar comer na faculdade, estudar raramente eu venho para a

faculdade eu procuro estudar em casa. Então, as bolsas é mais para isso. Elas estão cobrindo

os gastos lá de casa, minha mãe foi demitida porque o seguro demora pra vim. E é mais para

os meus gastos, que nem mês passado eu gastei 230 com os livros da faculdade.

-Eu acho se eu não tivesse com essa bolsa, a minha mãe teria colocado meu pai na justiça, que

foi que ela já tinha falando. Meu pai nunca me ajudou a minha vida todo ele só participou

acho que até meu um ano que foi quando minha mãe tava com ele ainda e depois disso ele

sumiu. Ele chegou umas dar duas vezes dinheiro pra mim comprar material escolar no ensino

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médio porque eu não tinha dinheiro mesmo. Mas a minha mãe falou até antes de eu passar na

federal que se eu conseguisse passar na federal ela ia colocar ele na justiça porque ele tinha

que me dar pensão porque o pai da minha irmã é pai diferente ele dá dinheiro para ela se ela

precisar ir em algum lugar ele vem buscar ela porque ele tem carro e tudo. Agora, meu pai

não, meu pai tem três filhos cada um com uma mulher diferente. Ele tá com outra mulher

agora deus o livre se ela tiver um filho também, porque ele já não ajuda os outros, que eu sei

que ele não ajuda. Ele acabou me afastando dos meus irmãos também porque ele tinha que

me levar eu não sei onde eles moram, eu não sei como eles estão. Eu soube que minha irmã

foi pressa ela tem 12 anos então e difícil mas minha me eu não queria eu sempre dizia para

minha mãe que eu não quero que ela tenha uma contado com ele porque eu não quero. Eu

aprendi a viver sem ele mas, ela falou se não tivesse conseguido ela teria colocado ele na

justiça pra consegui o dinheiro da pensão seria pra minha faculdade.

-Tá sendo ótimo, acho que eu gosto de estar aqui então é eu me sinto realizada mesmo com

todos esses problemas parece que estar na faculdade eu esquece porque tenho meus amigos

estou estudando uma coisa que eu gosto eu não falto quase nunca falto porque eu não gosto de

faltar, eu gosto de estar, eu amo tá aqui, pra mim esta sendo ótimo e um meio de eu me

desligar desse problemas todos que tem pra fora da universidade, meu ponto de paz digamos

eu gosto de estar aqui.

-Graças a deus. Graças a deus. Se não tivesse eu estaria trabalhando. Minha mãe já tinha

falando pra mim depois que fizesse 18 anos eu teria que trabalhar agora recebendo as bolsas

da universidade ela não toca nem no assunto pra mim é só estudando.

-Assim eu morava num bairro que era uma vila assim bem pobrezinha e as minhas amigas que

eu tinha lá elas acabaram se envolvendo com os meninos da vila mesmo, nenhumas delas

conseguir entrar na universidade, nenhumas delas terminou o ensino médio, elas estão

grávidas, ou estão casadas. Então a minha mãe começou a namorar com um cara, a minha

casa era casa de herança então quando a ultima herdeira faltou todos os netos e sobrinhos

vieram dividir o valor da casa. Ai como minha mãe tinha conhecido um cara que ela estava

namorando fazia pouco tempo agente foi correndo lá morar com ele. Era o que a gente tinha

que fazer e quando eu me mudei para lá eu consegui uma vaga no Colégio São Paulo

Apostolo que um dos melhores colégios até então estudava num colégio era muito precário

não tinha internet, não tinha muitos professores tinha pouco aluno, então eu acho a aonde eu

estou agora é porque eu me mudei porque eu falo para minha mãe que eu podia estar gravida,

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eu podia estar casada, eu podia não ter seguido o que eu escolhi fazer. Eu sempre falo para

mim que eu agradeço muito ela ter conhecido o namorado dela que agora a gente esta

morando lá com ele. Se eu não tivesse na universidade e se eu não tivesse mudado talvez eu

tivesse casada por ai. Mas acho que estaria trabalhando porque a minha irmã demorou 2 anos

para entrar na universidade depois que entrou no ensino médio. Um ano de magistério que e a

mais por causa da profissionalização e um ano ela ficou “ai meus deus será que quero isso”

que ela começou a trabalhar no magistério viu que não gostava. Então talvez eu tivesse

trabalhando. Trabalhando fazendo cursinho a noite. E uma amiga minha ela não conseguiu

passar ela queria fazer Matemática só que o pai dela mandou ela fazer Administração e ela tá

trabalhando num salão e fazendo cursinho a noite então eu acho que estaria fazendo a mesa

coisa trabalhando o dia interior e estudando a noite até eu passar. Minha irmã fez cursinho

durante o ano todo até ela passar no outro ano só que ela consegui passar. Então eu estaria

trabalhando porque lá em casa os meus irmãos que não são irmãos são os filhos do meu

padrasto que a gente é em cinco lá, eles trabalham só que eles não terminaram o ensino

médio. A minha mãe que sempre falou sobre faculdade o meu padrasto ele não falava com os

filhos dele, os três não terminaram o ensino médio e trabalha numa vidraçaria. Então eu acho

que estaria trabalhando mas estaria fazendo cursinho sim porque a minha mãe se eu não

fizesse deus o livre pra ele também porque eu acho que ela ia obrigar a fazer porque ela

sempre quis um futuro melhor pra gente.

-Vejo. Eu quero muito continuar seguindo eu quero me especializar, eu quero ser melhor, não

só pelo salário que eu sei, quando mais você se especializar. Mais por questão de

conhecimento mesmo. Eu gosto de Física eu vejo reportagem eu vejo as coisa eu acho

maravilhoso e ser professora eu queria passar isso que eu sinto. Por mais que os alunos

odeiem Física porque na minha turma lá de 35 alunos só eu queria fazer Física e uma colega

minha que ai fazer Matemática. O resto ia tentar fazer Engenharia, Administração, Pedagogia

essas coisa assim. Então, eu sendo professora eu quero mostrar que ser professora é bom. Por

mais que tudo mundo, o senso comum e terrível porque o que eu ouvi de ser professor é

péssimo, professor e mal remunerado, professor sofre na sala, tem professor ai que foi

esfaqueado sei lá. Então, a minha mãe falava muito sobre isso minha família também sobre

que professor e uma profissão boa que professor não tem direito ou que professor não é bem

visto, não é bem remunerado. Ele não tem o valor que ele tem o professor e o cara que forma

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todos os outros profissionais, professor e a base e mesmo assim aqui no Brasil ele não é tão

bem visto como o real valor dele.

- Um bom professor? E saber lidar com a turma e saber você não impor não pode só deposita

a informação querer ir lá e passar coisa no quadro passar formula e é isso. Você tem que se

preocupar. Você tem que ver aluno por aluno se tá conseguindo entender. A minha professora

do PIBID, a minha supervisora ela não passa formulas pro os alunos delas. Ela passa toda a

teoria ai no final ela passa a formula ai a prova deles dez questões sete são teoria e três é a

formula rapidinha lá. Porque tá a formula é fácil você vai colocar os valores vai isolar uma

incógnita pronto. Você achou o valor da incógnita. Que isso que pode no vestibular coisa

assim. Mas e a teoria? Você sabe o que a força da grávida? Sabe o que é isso? Pra que ela

serve? Ou você só sabe calcular o valor dela lá? Então você tem que saber explicar

exatamente o que é. E não querer jogar qualquer coisa lá, você tem que ver se o aluno esta

entendendo. Então, ser um bom professor e você saber se o aluno esta saindo do colégio

sabendo exatamente o que você sabe o que você aprendeu. Não que você vai passar todas as

coisas que você vê na universidade porque são muitas coisa para o currículo do ensino médio

que é bem pouco, bem pincelado. Mais é, o aluno tem que, não tem que...eu sai do meu ensino

médio sabendo formula então uso oque era formula eu sabia usar eu não sabia nenhuma

teoria. Agora na universidade eu to aprendendo a teoria então e ser um bom professor e você

conseguir passar tudo para o aluno não só o que ele precisa para passar no ENEM como

falavam pra min no ensino médio. Você tem que...

-Tive. Tive politicas né que só sobre a educação e tive to tendo metodologia só que eu ainda

estou na parte teórica da metodologia a gente da aprendendo sobre a historia da Física, como

a Física surgiu essas coisas assim. Mas eu ainda não tive didática essas coisas assim mais

voltada mesmo pra...

- O que acho a respeito dessa frase?

-Dessa afirmação?

- Eu acho que não tem fundamentos e uma afirmação sem fundamentos. Porque um aluno que

não teve uma situação financeira boa que precisa de cota vai fazer a educação cair? Eu tenho

colegas meu que vieram do cursinho positivo que é um cursinho muito bom fazem Física não

fazem as matérias só reprovam eu que vim da cota social eu reprovei numa matéria no

primeiro semestre já estou fazendo no contra turno porque eu quero terminar minha faculdade

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e eu quero ser uma boa professora. Então eu quero me dedicar muito a isso. Então eu por

saber que tem gente que não entrou em cota e que não dá nem ai pra a universidade que vem

pra universidade pra festa, pra fica lá o dia interior sentado no sofá igual tem nesses centros

acadêmicos que eu também não sou muito a favor. Mas acho que não cai não acho que é o

contrário que vem lá de baixo ele quer subir, ele quer se graduar, ele quer uma condição

melhor. Então ele vai se dedicar ao máximo pra melhor a educação a educação não vai, a

qualidade não vai cair só porque ele veio lá de baixo.

- Não entendi a afirmação.

- Eu to entendendo o recrutados.

- A afirmação acho que é mais real digamos porque todo mundo sabe que pra ser professor

todas os cursos de licenciaturas a nota de curte e baixa então é muito mais fácil passar. Falta

professor então é muito mais fácil você entrar para ser professor. Então, não que eu escolhe

ser professor por causa disso, mas talvez só para entrar na universidade. Então é por isso a

gente tem pouco professor porque a maioria do professor entra para ser professor, entra na

licenciatura pra trocar de curso dentro da universidade que foi umas dez pessoas já que eu

conheço que já, ou que conseguiu segunda chamada ou conseguiu Provar pra trocar de curso.

Então, não que seja os piores alunos vão ser professor mais eles vão, tende a vir pra tentar

universidade, a faculdade para ser professor porque é mais fácil .Mas fácil de entrar. Talvez

não seja valorizado assim, porque professor é muito importante, não que algum possa ser

professor mais eu acho tem que ter uma vocação não é qualquer um que pode ser professor.

Não é qualquer aluno que é ruim entra na universidade pra ser professor porque eu tenho

péssimos professores eu acho que eles nem deviam ser professor então talvez isso de

tenderem a entra na... seja formando esse professor que deixam a educação tão ruim conto ela

é.

- Assim, pessoalmente assim em me sinto muito preparada, mas na questão de conteúdo não.

Porque eu não vi tudo mais eu acho que sim eu acho que eu seria uma boa professor eu estaria

preparada com o ensino médio porque eu sei que o estado manda a gente dar aluna para

crianças e eu não tenho paciência com criança não penso em ter filho assim não tenho

paciência. Então sei como seria se fosse para dar aula para criança mas para o ensino médio

eu estaria preparada.

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-Realmente não é atraente. Se eu não gostasse eu não faria licenciatura ninguém na minha

família e professor. E realmente o professor não tem condições para que ele seja visto de uma

forma melhor então ele é um profissional muito mal remunerado. Eu trabalho tudo também,

todo mundo fala que o professor é o profissional que menos trabalha. Trabalha de segunda a

sexta pega o feriado normal que os alunos pegando dois meses lá no final do ano. pega o

feriado de julho lá. Falam que o que menos trabalha, mas na verdade é o que mais trabalha, é

o que mais trabalha. E as pessoas elas, olham o que os outros dizem, todo mundo diz, me

disseram que o professor ele é mal remunerado eu não sabia quanto um professor ganhava até

eu entrar na universidade. Então, pra mim o salário do professor é ruim pelo fato que a gente

da formando o aluno o professor vai formar todas as outras profissões como eu tinha tido.

Mas é gratificante ser professor então pra mim eu to recebendo...talvez o salário não seja tão

importante quando a minha atuação talvez eu trabalhasse até de graça por eu gosto, acho que

tem uma frase que diz alguma coisa assim né se você fizer aquilo que você ama você não vai

trabalhar nenhum dia. Algo assim. Então eu não concordo com essa frase não.

- Sim. Além do conhecimento, muito conhecimento. Ela vai, na verdade eu não me vejo

fazendo outra coisa que não seja física eu não me vejo nem terminado a universidade porque

eu gosto tanto daqui. Então acho que a faculdade é meu lugar e ser professor mesmo. Então é

o que eu quero, e o que eu gosto, pra mim tá sendo ótimo.

ENTREVISTA (E): 10/10/2014 – COTISTA SOCIAL DE HISTÓRIA

-Cara eu não gostava na minha vida estudantil antes da universidade. Não sei por que, sei lá,

eu não gostava das pessoas não gostava do local onde eu estudava. Me sentia não como um

outsiders mais não que aqui me chamava muita atenção sabe, não era meu foco não gostava

não me dava bem com as pessoas então preferia muito mais tá na rua tanto um role do que tá

estudando os visigodos assim saca? Não gostava mesmo assim sabe? Tipo...achava que

aquilo não era pra mim, eu gostava de algumas coisa mais assim muito pontuais, sabe? Tipo,

não era uma coisa que eu porra vou seguir isso para a minha vida sabe? Não sei acho que mais

ou menos isso.

- Cara, a escola que eu estudava era bem estruturada, sabe? Tipo não era uma coisa porra foda

assim não era um IFPR assim saca? Mas era, tinha sua estrutura boa. Era não se talvez por ser

a única escola da cidade existia um pouco de, não sei, o investimento ia só para aquela escola

tipo quando a estrutura eu não posso reclamar sabe?

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- Eu sou de Rio Negrinho, Santa Catarina.

- Até onde eu, na minha época existia duas escolas de ensino médio, seria uma particular que

era o São José e a minha que era um colégio publico, ai depois que sai de lá, depois que eu me

formei por causa, sei lá, devido o crescimento da cidade surgiram mais escolas com ensino

médio assim público.

- Po então cara eu tive uma prima que fez jornalismo da UFSC e teve muito influência pra

mim assim sabe? Como ela morava comigo, a gente era praticamente irmão, morava na

mesmo casa, então eu via ela empenhando em querendo entrar numa universidade pública,

vendo ela tentar entrar num curso de graduação isso muito me espelhou isso sabe? Então

porque ela sempre me motivou fazer alguma coisa além do ensino médio.

-Não, porra, eu tentei bastante vestibular ai. O primeiro vestibular que eu tentei foi quando eu

me formei então tipo .Como eu não gostava da escola, não gostava de nada da escola eu foi

tipo cagando assim saca? Ai depois eu revolvi estudar porque eu tavo trabalhando e eu não

queria tipo...ai eu vi que trabalhar também não era muito meu forte, trabalhar naquilo que eu

estava. Ai eu pensei vou estudar então pra ver se eu me encontro assim saca? Ai não passei de

novo ai depois que eu estudei mais, eu fiz cursinho dai meus pais me ajudaram ai eu consegui.

-Aqui foram duas, três, foram umas... só aqui foram duas vezes, ai teve mais a UFSC, UEPG,

vestibulares mais de interior assim.

-Sempre o mesmo curso.

-Então, eu acho que foi muito dessa questão da minha prima mesmo me incentivar assim

sabe? Cara, sei lá, ela sempre buscou de algum modo que eu tive essa mente de ai tente

alguma coisa sabe? Tipo, não precisa você só ganhar dinheiro. Mas porra continue estudando

que isso é importante para a sua vida no decorrer.

- Sim. Sim.

-Sim. Eu acho que sim.

- Não cara, até onde eu sabia era, porra você estuda numa escola pública a vida inteira, pelo

menos era assim até minha., até onde eu estudava é por ter, por estudar numa escola pública a

vida inteira você tinha a oportunidade de entrar por cotas sociais.

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- Porra então cara, antes de expandir isso eu queria porra, eu sempre pensei a sei lá, a única

coisa que eu gosto seria história sabe? Então eu vou fazer história porque eu quero dar aula de

história. Ai entrando aqui que você tem essa noção a eu queria ser um pesquisador, qual é o

oficio de um pesquisador, o que é ser um historiador, o que é um historiador, mas antes disso

eu não tinha noção do que é isso pra mim o que tava escrito no livro era verdade e porra se tá

escrito ali porque é isso sabe? Então eu acho que tipo se diferenciou a partir do momento que

eu entendi que existem pesquisas diferentes sobre o mesmo assunto sabe? Acho que é isso

mesmo.

-Então é que aqui são dois cursos separados. Existe o curso da tarde que seria bacharel e

licenciatura e curso a noite que seria só bacharel mais isso são demandas diferentes, são

propostas diferentes. Porra eu não sei, como eu queria ser professor, como e ainda quero ser

professor eu optei por esse curso porque existe essa questão vamos ter, sei lá um bônus na sua

carreira como graduando sabe.

-O bônus seria o diploma de bacharel. Entendeu?

-Cara você ter uma carreira acadêmica e difícil pra caralho assim eu acho, cara você tem

que...porra...como vou dizer isso, eu acho que quando eu pensei em ter uma carreira

acadêmica foi muito tipo porra eu vamos lá, vou tentar ver o que é isso, vou ver se eu me dou

bem com isso, se eu posso ser isso, se eu ter a oportunidade sabe? Pra você ter uma carreira

acadêmica você necessita abrir mão de muito coisas tipo tempo, trabalho pra você sei lá,

continuar estuando você precisa ter um tempo, você precisa ter o seu sustento como você vai

ter isso saca? Então, me chamou atenção ter essa carreira acadêmica partir do momento em

que eu soube poderia estudar ganhando meu dinheiro por quanta assim sabe?

-Sim.

- Eu tô no quarto período.

Agora?

-Então cara a principio quando eu entrei eu queria ser professor eu acho uma profissão massa,

eu acho uma profissão muito legal e cara como eu disse pra você não me via fazendo outra

coisa porque sei lá montando alguma coisa uma oficina mas eu tavo querendo estudar alguma

coisa de história , lendo alguma coisa de história assim sabe? Qual era o resto da pergunta?

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- A partir dai eu vi que essa carreira de pesquisa e muito tentadora também a gente sabe que

tem seus percalços, suas dificuldade para conseguir isso, sei lá, financeira, seja enfim, mas

que ela é tentadora ela é. É legal você querer pesquisar alguma coisa, você produzir

“conhecimento” alguma coisa assim saca?

- Porra então cara, eu acho que eu, assim, eu não vou dizer que eu nunca tive um professor

bom, porque seria mentira, ser professor e você conseguir botar na cabeça de um aluno, meu

você sei lá, se você quiser você consegue ser o que você quer sabe? Você não tá fadado a ser

alguma coisa. Você pode querer ser alguma coisa a mais, você pode querer ser outra coisa

sabe? Tipo, tá eu moro numa cidade pequena eu estou fadado a trabalhar numa fabrica, não

você pode escolher ser outra coisa também sabe. Tipo e você quiser estudar você pode estudar

ter essa capacidade de induzir, induzir não, colocar na cabeça desse aluno se ele quiser ser

outra coisa, ele pode ser sabe?

-Cara eu acho que qualquer professor você consegue isso sabe? Pô você fica no mínimo um

ano inteiro com um professor só quando não mais sabe? Então eu acho que você vendo uma

mesma pessoa te podando pilha “porra vão ser alguma coisa ali “você consegue e tal” eu acho

que ajuda sabe? Como professor eu acho que é a profissão que mais ajuda você a moldar sua

mentalidade quanto a isso sabe?

-Não.

-Po, teve ser difícil né mano porque po a gente sabe...eu particularmente queria me formar e

quem sabe voltar para minha cidade para dar aula na escola onde eu estudei por saber das

dificuldades que é morar ali e das dificuldades que é de tentar ser alguém...tentar ser alguém é

difícil mais sabe tipo...sei lá almejar alguma coisa diferente de sei lá além de “vou ser um

trabalhador de uma fabrica sabe?”.

-Sim. Sim. Eu fiz psicologia da educação e politicas, psicologia e politicas educacionais eu

acho.

- E mais isso é uma deficiência da universidade também saca? Tipo eu acho que uma pauta de

os estudantes deveriam lutar porque tipo é...cara querendo ou não dentro dessa

universidade...o campo da pesquisa é muito limitado se você tem oportunidade de dar aulas no

caso deveriam ter muito mais matérias de licenciatura mesmo porque sabe...sei lá...a gente

deve discussões aqui dentro do departamento que era do departamento não...dos alunos que

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tipo a gente faz uma matéria de pratica de docência com quatro aulas de quatro horas. Isso é

ridículo saca? Você não vai aprender dar aulas assim .Poderia ter um pouco mais de

inventivo quanto a docência também assim sabe. Mais isso é uma deficiência sei lá, do

departamento de História da UFPR saca?

- Democracia.

-Tudo mundo ter seu direito igual. Todo mundo ter direito no caso.

-Eu acho que as cotas é uma ferramenta de democratização assim sabe? Não que ela e uma

forma de deixar a democracia igual pra todo mundo que isso é basta a gente olhar pra fora que

não é assim...e uma ferramenta. Eu acho.

-Aprendizado.

-Quando eu penso eu aprendizado?

-Construção de uma mentalidade.

-Então cara, seria assim, eu acho que você sendo um licenciado, sendo um professor você

teria a oportunidade de moldar essa mentalidade de um aluno de um...levando em

consideração toda a sua vivencia a lugar onde essa pessoa mora mas, você tem a oportunidade

de sei lá de colocar alguma na cabeça de alguém pra que ela questione sei lá, o que tá

acontecendo na vida dela sabe? E democracia né? Querendo ou não isso leva você a

questionar o que tá acontecendo agora seja politicamente seja socialmente sabe?

-Então, cara sei lá, é engraçado mais minha família me pagou um cursinho é foda, tipo sei lá

mais porra eu levo em consideração que eles se foderam tá ligado em levo em consideração

que eles arrancaram de algum lugar sair esse dinheiro para que eu estivesse aqui. Como não é

uma cidade muito longe daqui, eu sempre pra cá. Curti a cidade e tal, como eu tenho uns

parentes que mora aqui eu morei com eles um ano e depois que eu passei no vestibular aqui

que eu fui descobrir que existia casa de estudantes aqui. Dai pra mim foi um passo muito

largo assim porque eu já queria sair da casa da minha família porque não são meus pais eu

não devo nada a eles , eles não devem nada a mim e sempre fica aquela e foda: cara morar

com o tio é foda. Ai eu pensei porra vou morar sozinho e mais perto da onde estudo não vou

pagar transporte, e não vou pagar alimentação já que vou estudar...como eu conseguir passar

no vestibular de uma escola pública eu vou ter RU. Então, tipo como é uma cidade perto eu

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tipo sempre fui habituado com a cidade e quando eu descobrir essas coisas de casa de

estudantes pra mim foi muito mais fácil de ficar aqui. Ai após isso foi essa questão de porra

fazer os corres de bolsas, entender essa burocracia que é conseguir essas bolsas e como

conseguir isso sabe? Ai eu acho que isso eu foi construindo depois tanto que tipo até sei lá

ano passando meus pais me sustentava hoje em dia tipo eu já não devo financeiramente mais

nada a eles.

-Cara eu recebo as bolsas de auxilio sociais que são a bolsa permanência , o auxilio moradia e

tem a bolsa de iniciação cientifica que eu consegui esse ano agora, neste semestre.

- Eu não estaria aqui, não mesmo, cara eu acho assim, eu tive alguma coisa que me chamou a

atenção de sair daquela vida de pensar numa coisa melhor. Ai depois que eu descobrir esse

sistema de bolsas e me informei e vi que dava para sobreviver apenas estudando não

precisando trabalhar, sem as bolsas eu não estaria aqui sabe? Estaria na minha cidade e estaria

na mesmo coisa de sempre.

- Cara eu acho que não. Porque assim, bom, até onde eu li isso é besteira isso é burrice porque

alunos de cotas depois de um tempo ou no mesmo tempo se equivalem a alunos não cotistas.

E comparando com a minha sala sei lá meu IRA não é tão baixo quando uma galera ai sabe?

Meu IRA (Indice de Rendimento Acadêmico) é bom tanto que eu consegui um programa de

iniciação cientifica conquistado coloque por favor( sinal de aspas) “mérito”.

- Então, aqui em historia existe muito essa questão se você tem notas boas sei lá se persiste se

você presta atenção de você se atenta a questão você consegue alguma coisa. Mas tem muito

essa questão de apadrinhamento também, eu acho sabe? E foda mais eu não considero um

aluno cotista diferente de um aluno que não é cotista sabe? Tanto que porra na minha sala a

maior nota se for considerado a nota geral e a nota quando entraram no vestibular a nota de

um cotista foi maior como nota geral sabe? Então assim pra mim isso é muito burrice, dizer

que as notas, que o ensino caiu com as cotas, acho que muito pelo contrario existe um

crescimento sabe não existe essa diferença.

-Pra universidade? Ou pra mim? Cara, pra universidade eu não sei, eu acho que os caras não

muraram, talvez mudou porque sei lá, não existe uma questão persistente no social sabe? No

que vem junto. Pra mim pelo menos veio. Agora pra mim mudou bastante cara porra eu disse

em Rio Negrinho estaria ainda sei lá fodido cara financeiramente sabe não que a profissão sei

lá de proletário numa fabrica de moveis seja ruim. Não porque meu pai, minha mãe, meu

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irmão e minha família são dali não conseguiria vir pra cá, não conseguira construir esse

capital intelectual. Entendeu?

- Pra universidade eu não sei. Pra universidade eu acho que bem no fim eles cagam sabe eles

estão pouco se importando pra isso. Talvez para alguns professores não, pra alguns...uma

pena que não dá para citar nomes. Porque né?

-Pra alguns eu acho que faz diferente, mas para alguns não, pra alguns é sabe foda-se. Por

exemplo, pra mim, eu acredito que sei lá às vezes uns professores se espelham nessa galera

também sabe? Mas para a universidade não, agora para os alunos sim pra os alunos eu acho

que faz muita diferença.

- Cara então veio, como disse pra você a construção que eu tive depois que eu entrei aqui foi

muito grande sabe? Meu jeito de pensar mudou, porra, minha vivencia mudou sabe tive

contato com coisas que eu nunca ia ter se eu não tivesse aqui dentro sabe? A universidade traz

as coisas sabe? A universidade da a oportunidade de você sei lá apenas estudar e conseguir

ganhar seu dinheiro entendeu contribuiu muito para a minha vida sim.

- (Risadas) Existe fonte pra isso? E a Veja? Você pode falar qual é?

-Caralho mano.

- Eu acho que não mano. Talvez assim, como eu tive para você a coisa de pesquisa e muita

atraente sabe. Talvez o pessoal que... a existe essa questão...porra eu tive um professor uma

vez aqui dentro dessa universidade que olhou pra gente e disse “cara você tem que ter o maior

IRA do mundo porque isso é muito ótimo para sua pesquisa não sei o que, para você ter, sei

lá, “méritos”.” Entendeu? Talvez pra isso seja mais é, cara você faz um curso de licenciatura

vai dar fadado a isso, fadado não mais consequentemente você vai dar aula ou você vai tentar

outra coisa, você vai ser empresário, você vai ser traficante, o diabo a quatro. Pode ser, não

sei, nunca parei para pensar nisso, eu não sei, se dependesse de mim não seria isso, eu acho.

- Eu acho que sim cara. Porque eu disse pra você a nossa matéria no nosso curso de história,

pelo menos pela minha realidade ela é muito ridícula assim sabe? As horas pra você formar

um professor são pequenas comparadas com as de um historiador sabe. Mas é justamente por

isso porque a UFPR privilegia você ser formar um historiador porque a UFPR é um pelo

menos o curso de história é um curso elitista sabe? Sei lá quer mais elitista que ter um curso a

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tarde você não poder trabalhar período integral sabe? Eu acho assim, eu acho que é certo pelo

menos no curso de história é assim, não forma professores,

-Porra então cara é, foda mais, é que assim tipo, não sei como funciona no seu curso mais é,

geralmente eles colocam os professores não menos capacitados que estão aqui dentro mais os

mais falcatruas entende? “Ai caguei para o que você ta fazendo” sabe? Se você não correr

atrás para saber o que Vygotsky , o que Piaget e o que é essas pessoas todas o Freud você não

aprende, bom eu não aprendi com o professor porque as vezes falta um pouco de talvez uma

questão mais de Inter departamentos assim sabe? Ou sei lá professores de história dando

licenciatura também. Sei lá cara acho que um professor de história também poderia ensinar

muita coisa pra gente como é lecionar eu tive um professor durante esse dois anos uma hora

ele falou “olha gente assim que é uma sala de aula”, “e assim que você tem que suportar”

sabe? Cara em dois anos cara, metade do curso é assim eu acho.

- Correr atrás seria o seguinte, cara eu não deu muita atenção para as matérias de licenciatura

talvez. Correr atrás seria sei lá, você aprender por conta entendeu, você estudar como os caras

que eu citei o Vygotsky, Piaget, Freud tipo lendo eles não com a obrigação de você fazer uma

prova entendeu? Mas porque você tá interessado em saber mas porque você tá interessado em

dar aula sabe? Mas isso não é deficiência apenas do departamento não, vamos deixar bem

claro . Os alunos são parte disso também.

- Não cara, não me sinto. Porque eu acho que eu nunca tive uma matéria de pratica sabe? Por

isso mesmo e umas das coisas que eu pretendo nessa minha carreira de formação e entrar num

programa de docência sabe? No PIBID, pra entender como é a realidade numa sala de aula

porque eu só tive do lado de lá sendo um aluno não como um professor. Penso muito em

entrar num PIBID pra isso pra mim intender como funciona esse sistema pra mim entender

como funciona essa relação professor e aluno. Eu não me sinto preparado agora para dar aula.

Tá muita gente diz que você aprender dar aula na prática pode ser cara, mais eu acho que um

pouco de preparo antes ajuda também sabe. Não sei, e você, enfim...

-Cara como eu disse é uma carreira atraente não sei cara que eu gosto dessa coisa eu gosta de

você produzir conhecimento sabe é uma coisa legal mais...po eu quero entrar numa sala de

aula ainda sabe é um objetivo vamos supor que mais tarde eu consiga entrar nesse

departamento de história eu quero entrar nesse departamento de historia se um dia eu

conseguir. Mas que quero ter essa experiência de docência numa escola pública sei lá, na

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periferia ou no interior da puta que pariu pra ter um pouco de experiência pra chegar e...eu

vejo muito gente que como pesquisador e muito bom e como professor são uns bostas, assim

sabe? Como teve professor que chegou é disse “eu não sou professor eu sou um pesquisador”.

Cara se você tá numa universidade que é o “templo do conhecimento” você tem que da aula

da ligado você ta aqui para ensina em primeiro e acima de qualquer coisa você ser pesquisar e

apenas mais um pré-requisito para você entrar. Mas aqui dentro sua função e dar aula

também. Assim como, sei lá, é produzir “conhecimento”.

- Cara, eu não sei, eu acho que ela não é atraente em alguns pontos mas e porém em alguns

pontos ela é bem atraente eu acho. Financeiramente ela não nem um pouco atraente eu acho a

não ser que você continue sei lá fazendo mestrado e entre num instituto federal ou num Cefet

ela vai ser muito legal dai que lá ganha bem. Não cara, ela não ganha bem mais assim como

varias outras profissões. Mas ela tá alguns benefícios, sei lá, você folgar no dia de Santo

Gonçalo no dia de São Longuinho entendeu? Existem esses benefícios de você ter duas férias

anuais. Eu particularmente gosto muito disso de ter dias de férias a mais de ter férias de não

trabalhar. Mas por outro lado existe essa questão financeira que é meio injusta sem duvida

mais. Você entrando num curso de licenciatura você já tem meio que noção que vida não é

tão fácil assim ,ou sei lá, entrando na vida do mundo.

-Como eu disse, a única matéria que eu gostava. Eu não gostava nem de sociologia em veio?

Sei lá acho que eu era muito cabaço. História é uma parada que eu gosto pra caralho. Eu acho

muito interessante você poder fazer essa relação entre passado e futuro entender o que tá

acontecendo agora com argumentos históricos. Entender o qual é o racismo hoje em dia

entender porque isso acontece isso aqui no Brasil. Entender tendo algumas repostas Freyre e o

racismo e a abolição. Eu acho interessante essa relação sabe?

-Cara mais uma observação? Acho que não.

ENTREVISTA (F) : 28/10/2014 - COTISTA SOCIAL PÓS-GRADUAÇÃO

- As primeiras coisas que eu penso se relaciona na forma como, como a escola era conduzida

né. Então eu entrei com seis anos na primeira serie e tinha aquela coisa de professores que

sempre tem muita atenção a gente chama de tia né. Quando eu entrei na quinta serie uma

outra realidade, era diferente, mas uma necessidade que se faz na vida da gente que a gente

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tem que começar desde de quando tem 10 anos de ter uma responsabilidade, de ter uma

maturidade, a ter organização por cada disciplina por cada matéria né. Agora, quando fala, eu

lembro muito da questão da estrutura das escolas e eu tive uma estrutura muito boa, por

exemplo, quando eu tavo no ensino médio no primeiro, segundo e terceiro ano eu não tive

professor de Química, nem professora. Eu tinha professor ou professora assim um semestre

um bimestre só e essa pessoa vinha fazer avaliação com a gente fazia toda avaliação do ano

inteiro valia o bimestre dai toda a nota que nos tirávamos em tal bimestre, aquele último

bimestre valeria para os outros bimestres. Então se eu tirei 8 no primeiro eu teria 8 no terceiro

e no quarto trimestre. Isso faz lembrar que infelizmente era uma situação muito ruim, muito

precária ao ponto de eu ir pro o vestibular sem condições nenhum de entender química, por

exemplo. Eu fui aprender química no pré-vestibular. Quando vem a imagem, a imagem que

me vem mais e essa assim. Um colégio que eu estudei num colégio de periferia, lá em

Colombo, com pouquíssimos alunos interessados em dar continuidade aos estudos depois de

terminar o ensino médio. A maioria dos meus colegas que terminaram não fez faculdade, os

poucos que fizeram , fizeram pelo Prouni numa particular e da minha turma de terceiro ano

pelo o que eu sei, eu sou o único que veio para a federal então o interesse assim... eu penso

muito que essa estrutura e isso ai e resultado desse desinteresse ou dessa despreocupação do

Estado em relação ao ensino dentro do colégio. Falta de professor, por exemplo, desestímulos

meus colegas a entrar. Eles pensavam eu não tenho base nenhuma para entrar na federal por

exemplo. Então eu não vou me arriscar lá se eu consigo fazer uma particular ótimo se eu não

conseguir fazer eu me viro com o que der ai. ´É essa esperança que eu tenho.

- Quando eu tavo no terceiro ano do ensino médio eu não fiz pré-vestibular eu não tinha noção

nenhuma de como fazer isso não sabia nem se quer o que era um vestibular para que que era.

Eu sabia que ele servia para admissão mais como correr atrás eu não sabia, então eu não fiz

pré-vestibular. Eu tinha uma colega que fazia o “Dom Bosco” mas eu nem sabia como que

era o “Dom Bosco” como fazer matricula, quanto era, eu não sabia que era caro. Eu só

lembrava que minha mãe falava que a gente não tinha condições. Então o primeiro vestibular

que eu fiz em 2006 eu tavo no terceiro ano é não tinha noção nenhuma de nada. Minha foi,

tanto é que minha mãe foi fazer minha inscrição, ela foi na véspera de fechar o prazo e ela me

ligou e falou: olha você tem que decidir um curso. Eu fale mas agora já, eu não consigo

pensar assim, então decide até amanhã, amanhã é o último dia você tem que decidir. Ai que

eu fui pensar o que eu tinha que fazer dai eu conversei com minha vó. Minha vó não entendia

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nada, era analfabeta, mas ela me convenceu a ser professor. A tentar uma matéria que desse

pra ser professor ai eu fiquei entre Física e História duas coisas que não tem nada haver mais

eu optei por História e no primeiro vestibular eu não passei, sem pré-vestibular sem nada. No

segundo vestibular eu fiz um pré-vestibular gratuito que eu não tinha condição de pagar um

pré-vestibular um “Dom Bosco” , por exemplo. Então eu fiz pré-vestibular “Em Ação”. No

segundo vestibular eu também não passei isso foi em 2007. E não fui nem pra segunda fase,

tanto no primeiro quanto no segundo não fui nem para a segunda fase. Ai em 2008 eu voltei

para o “Em Ação”, voltei fazer um extensivo, no primeiro eu fiz um semiextensivo só. Eu fiz

extensivo no “Em Ação” ai foi aprovado em História na Federal, foi aprovado em Letras na

UTFPR que era a primeira turma tava acabando, o curso tinha acabado de ser aberto e

consegui uma bolsa ProUni integral em História pela [Universidade] Tuiuti, Então essa foi a

trajetória para eu entrar, não só para eu entrar mais pro eu saber digamos assim a estrutura de

um vestibular, a estrutura de uma universidade eu precisei de uma ajuda previa que foi um

pré-vestibular. Porque sinceramente eu nem sabia para que servia as cotas por exemplo.

- A primeira vez que eu soube mesmo assim que eu soube, a primeira vez que eu soube foi

quando eu fui fazer o vestibular a primeira vez de 2006 né. Eu já fiz como cotista. Mas a

primeira vez que eu entendi como funcionava as cotas que tinha uma porcentagem destinada

tudo mais ai só foi em 2007 quando tavo fazendo pré-vestibular, ai lá no pré-vestibular que

daí lá no pré-vestibular eles explicaram. Porque eu pensava assim como a universidade é

pública, como eu estudei em colégio público as cotas não era pra mim era pra quem não

era...pra quem estudou em colégio particular entende. Eu pensava que era o inverso. Quando

então eu pensava “caramba mas com tanta vaga e eu não consegui então eu tõ muito ruim né.”

Ai quando eu fui para o vestibular que eles explicaram que era o contrario: há uma

concorrência geram e a uma porcentagem para alunos oriundos de escolas públicas e uma

porcentagem para alunos que sejam afrodescendentes né. Então eu só fui entender, eu sabia de

cotas em 2006, mas eu só fui entender o que era uma cota, o que era cotas mesmo em 2007.

Porque isso é um outro problema que eu vejo nos não temos uma explicação...no colégio

mesmo a gente não teve explicação. Nos não temos uma explicação pública das cotas, para

que serve. Então , por exemplo , esse ano que estou dando aula neste pré-vestibular o “Em

Ação” tive pelo menos cinco casos de alunos que vieram desesperados véspera de fechar lá o

prazo de inscrição perguntar “o que eu faço”; “é cotas, não é cotas o que eu faço.” Porque eu

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tenho que fazer cotas, o que é cotas como se faz isso. Então eu vejo que é algo que não

explicado de forma alguma. É uma falha enorme isso ai.

-É verdade.

- Olha, ser sincero é ser conservador, ter o pensamento conservador é o mais fácil e o primário

de todos porque é o mais acessível até por conta das novas meios de informação de

comunicação né. E até mesmo a nossa educação. Tanto no colégio que eu vejo como a

educação é extremamente conservadora quanto em casa que também é conservadora. A visão

que eu tinha antes quando eu entrei aqui na universidade de cotas era que por mais que fosse

cotista era uma forma de você diminuir a pessoa de você dá quase um atestado de

incapacidade. Hoje o que eu vejo pela minha própria trajetória e tentando romper um pouco

esse pensamento conservador é que as cotas ela tudo bem ela até de esse atestado que falei,

mas ela é uma forma de demostrar que infelizmente a gente tem um ensino público falho um

ensino público que ao invés de pluralizar, democratizar a universidade ele elitiza a

universidade porque os mais bens preparados estão em colégios particulares ao invés de

colégios públicos e quando essas pessoas vão tentar vestibular elas não tem condições de

concorrer com as pessoas que estudou a vida inteira num colégio particular que deve bons

professores, professores extremamente capacitados, com mestrado, doutorado, pós-doutorado

até mesmo, como alguns colégios aqui em Curitiba tem. É professores que podem se dedicar

inteiramente a isso. Então, por exemplo, em tive professores que davam aula pra mim e

tinham que sair correndo para dar aula em outro colégio pra não chegar atrasado né. Então,

não tinha tempo de ir lá conversar com ele, de ir lá dúvida e não tinha professor a tarde para

fazer um reforço, uma revisão de conteúdo e tal. Então as cotas eu vejo que ela vem como

uma forma de realmente justificar que o Estado, o ensino público oferecido pelo Estado é

fraco, e debilitado muito por conta dessa estrutura difícil de organizar de professores. E só que

eu não vejo ela como forma de demonstrar incapacidade de alguém, não é incapacidade da

pessoa é incapacidade do Estado. Porque eu, por exemplo, eu não tive química não significa

que porque eu não aprendi química que eu era completamente, um burro, completamente,

completo burro, completo ignorante naquele assunto. Eu quando aprendi química eu entendia

muito bem química, eu gostava muito de química. O problema é que eu não tive quem quando

era necessário de passar aquele conteúdo. História, por exemplo, que é a matéria que eu faço

né, que eu estudo hoje eu tive professores no colégio bons, mas no pré-vestibular que eu tive

professores que fizeram realmente: “é isso que eu quero, dessa forma que eu quero ser.” Então

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eu não me vejo hoje, diferentemente de quando eu me vi quando entrei na universidade, muito

por quanta desse pensamento conservador eu não me vejo como uma pessoa incapaz. Me vejo

como uma pessoa que não tive oportunidades. O que eu vejo nas cotas é: pessoa que não teve

a oportunidade, pessoa que não teve aquele ensino primeiro da matéria mas ele não é incapaz

de desenvolver um aprendizado sobre aquilo. Tanto é que nada me impediria mesmo não

tendo química no colégio de fazer química, de ser um professor de química por exemplo. Que

eu tive química no pré-vestibular eu poderia me apaixonar por aquilo. Mas é o que eu vejo é

exatamente isso com as cotas: uma forma de justificar que o Estado é ineficiente e incapaz

que a prova que é aplicada de um concurso público para alunos ingressantes numa

universidade ela é uma prova elitista, uma prova que não leva em consideração as

fragilidades. Porque eu não posso chegar é falar: “olha não tive química, então corta minha

prova de química ai.” E as cotas sociais que é da onde eu vim serve pra isso. Agora as cotas

raciais pelo o que vejo é basta, sempre meus alunos perguntam também lá: “porque eu vou

fazer para cotas raciais. Isso ai é me chamar de negro burro.” Eu falo: basta você ir num

colégio, tudo bem vai num colégio público, já tem cotas sociais não precisa de cotas raciais

né. Eu falo: então faz o seguinte vai num colégio público central, pode ser aqui o Colégio

Estadual do Paraná. E vai num colégio, sei lá num bairro distante, num bairro , não sei, como

por exemplo CIC, por exemplo , veja compare os dois colégios. Veja qual colégio tem mais

alunos negros. A eles falara: “isso não se aplica não sei o que.” Você vai que no colégio

Estadual que atende alunos de várias regiões não só da região central aqui que tem um

número altíssimo de alunos é raro você encontrar um aluno negro. É difícil você encontrar.

Agora você vai num colégio de periferia, que ele atende só uma região assim, a região ali do

CIC, algumas regiões aos redores ali você vai encontrar muito aluno negro. Eu vejo que as

cotas raciais ela veio além de demostrar que o ensino é falho, ela veio para mostrar o seguinte:

o ensino é falho e os colégios quem tem a maior falha ainda são colégios frequentados pela

classe mais pobre que infelizmente em nosso país é negra.

-Já. Na universidade eu entrei com a ideia. Durante a universidade eu fui perdendo um pouco

a vontade. Hoje eu ainda tenho vontade mais já tive momentos assim de repensar muito bem

isso.

- É eu comecei a fazer pesquisa na graduação muito cedo. Comecei a fazer pesquisa já no

segundo semestre. Então eu praticamente assim, meus quatro anos de graduação três anos e

meio foi de pesquisa mesmo assunto. Fiz pesquisas sobre outros assuntos mais o tema

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principal sempre foi aquele foi o que me levou a monografia. É ai quando eu fiz pesquisa, que

eu vi que como era o ambiente de pesquisa digamos assim, quando eu fui para a sala de aula

mesmo que fosse pra assistir aula não para dar aula mais para fazer acompanhamento dos

professores. Eu vi o que ambiente de pesquisa seria muito mais fácil, muito menos doloroso

digamos assim que o ambiente de trabalho na escola. Porque eu vejo que o trabalho na escola

pelo o que vi, não são só os alunos são também as relações entre professores, que são relações

muito desgastadas são relações com as pedagogas, com os pedagogos, com supervisores, com

diretores, ou seja, tem a estrutura do colégio que as vezes dificulta. Então não tem acesso ao

multimídia, não tem isso, não tem aquilo, sem contar a rotina dos professores. Professores, eu

vi lá professores extremamente cansado, extremamente, mal conseguia falar. E professores

que reclamava que não tinha condições de ter preparado uma aula, por exemplo. Que ele tava

já no limite. Então, vê o ambiente de pesquisa, ver que eu poderia ficar um dia inteiro sem

escrever apenas pensando naquele trabalho, pensando naquele texto para no outro dia escrever

e vê que eu teria que pegar uma rotina de manhã e tarde dando aula , voltar pra casa a noite,

corrigir prova, corrigir trabalho, preparar aula. Pra no outro dia a cedo dá aula, enfrentar todo

aquele problema e tal. Eu vi que de repente só essa vontade de dar aula, só essa vontade de

transmitir o conhecimento e de formar pessoas não era suficiente. Que muito pior que do que

isso que nos, do que nos é transmitidos que os alunos não tem interesse é essa estrutura

desgastante, desumana que nos professores temos. O stress que nos passamos de rotina eu

acho que muito pior supera em muito, o que é o stress com os alunos por exemplo.

-Eu ainda me vejo, mais eu me vejo assim, eu não estou dando aula agora mais eu acho se eu

fosse para a sala de aula passado um tempo eu acabaria me engajando para tentar acabar com

essa rotina. Não digo acabar, fazer um movimento revolucionário. Mas, eu acho que em

algum momento da gente começar a pensar, a repensar a rotina do professor. Porque o

professor, não é um professor 20 horas. Não é um professor 40 horas. A rotina do professor

ela não tem horário para o professor dormir, ela não tem horário para o professor, ela tem

horário para o professor acordar e ir dar aula. Mas tem horário para o professor tem um lazer

no final de semana. Professor tem que prepara aula, tem que preparar prova, tem que corrigir

prova, tem que preparar trabalho, tem que preencher livro do Estado. Ou seja, isso tudo faz

com que a qualidade de vida do professor seja péssima e o salário junto faz com que não...o

sonho e a vontade de dar aula por si só não basta. Eu quando tava na graduação criticava

muito os professores que reclamavam disso. Hoje, eu vejo que, viver de sonho não adianta,

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não enche a barriga de ninguém, muito mais do que isso não preenche a vida de ninguém só

preenche o imaginário.

- Olha, diante desse quadro que eu passei eu ainda vejo que o papel do professor detro da sala

de aula é o papel do humanista. Que acredita no potencial humano aquele que acredita na

formação humana, e acredita que essa formação humana é o que vai influenciar que vai

produzir o futuro. Pra mim quando falo de humanista em penso lá naqueles humanistas

clássicos lá da renascença mesmo lá do século XV, XVI, XVII aqueles que pensavam que o

papel do homem, o papel final de nos uns com os outros é promover a dignidade humana. Pra

eles a dignidade humana dos renascentistas era fazer com que o homem chegasse até deus né.

De alguma forma conseguisse chegar até deus. Deus deveria ser atingido. Hoje eu vejo que

diante de uma situação desacralizada e que de questionamentos se deus existe ou não, eu não

sou ateu mais enfim, a respeito de pluralidade. Eu vejo que essa dignidade humana que temos

hoje e uma forma de que a pessoa seja capaz de produzir valores humanos dentro de uma

sociedade de mercado que não produz valores humanos que muito mais do que isso produz

valores mercadológicos com interesses humanos. Então você pega , por exemplo, hoje ai, é

nos chegamos ao cumulo de vender cachorro de brinquedo que parece cachorro de verdade.

Boneca que parece boneca...parece uma criança realmente que tem estrutura facial, que tem

gestos que tem tudo...ou seja, isso vendida a preços de ouro assim, muito caro. Então você

pegou uma valor que é humano, um valor uma empatia que você tem que ter pela criança ,

que você tem por um animalzinho e transformou em uma mercadoria, ai você vende aquela

mercadoria que vai ser reificada o tempo todo , vai reproduzir o tempo todo a mesma coisa,

vai reproduzir o mesmo comportamento , não vai ser igual a uma criança, vai chorar, vai

sorrir , vai fazer isso vai fazer aquilo mas não espontaneamente mas, você humaniza aquilo

né. Então eu vejo que o nosso papel de professor é produzir pessoas que consigam romper

com esse pensamento. Esse pensamento de desumanização que esse mercado que nos

vivemos, essa sociedade que nos vivemos de mercado produzem nos. As relações de trocas

que nos temos, troca econômica, troca monetária e extremamente desumanizadora, tira nossa

humanidade, ela tira nosso potencial de transformação e faz de nos consumidores. A maior

transformação que nos produzimos é consumir. É comprar, é comprar, é comprar porque?

Porque isso, gera na economia, porque isso gera mais emprego, porque isso gera mais

produção, porque isso entende? Ai aquela coisa de você poder conversar com as pessoas, de

perdoar as pessoas, de encontrar com as pessoas isso está se perdendo, então nos professores

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temos uma função muito mais que ficar falando datas, de ficar falando nomes, ficar falando

isso, ficar falando aquilo... é promover essa humanidade nas pessoas.

- Olha pelo o que, pela qualidade, não digo qualidade de ensino, mas pela qualidade que nos é

proposta para nos professores de carreira isso no público, não só no público mais no privado

também fundamental e médio penso que seguir carreira acadêmica é melhor ela é mais solida.

Eu não vou...porque uma das coisas que eu penso é: eu não quero chegar ao 40 anos da minha

vida tô com 24 pra 25 agora é tá dando aula para meninos e meninas com 10, 12, 15 anos.

Porque meu pensamento e muito diferente da minha mãe que é 22 anos mais velha que eu,

meu padrasto é 25[anos]. É mais eu penso que daqui 15 anos meu pensamento será bem

diferente, talvez eu seja mais conversador que meus alunos. O que eu vejo é que eu vou

acabar rompendo essa geração, vou acabar reproduzindo os meus valores para essa geração,

ou seja, vou quer abordar essa geração. Agora, se eu for professor universitário, ir para

acadêmica ai, seja também como pesquisar, coisa que é muito difícil no Brasil mais tudo bem.

Eu vejo que eu vou trabalhar com alunos que estão em um período de formação, de transição

de pensamento é que estão aptos a modelar melhor várias condições, inclusive conseguir

julgar melhor os meus valores e dizer o valor dele não é valido para a nossa geração. A partir

dessa invalidação criar valores novos. Agora, se eu for falar, por exemplo, pro um menino de

13 anos que tal coisa tem que ser assim, ele vai reproduzir aquilo, e ai pode ser que ele vai

reproduzir aquilo e pode ser que o amiguinho dele lá seja aquilo que eu falei que não pode ser

e ele vai criar um preconceito em cima do amigo dele. Ai pronto, ai a gente começa ter esse

contexto caótico que a gente tem hoje de homofobia, racismo que nada mais é eu vejo que

uma reprodução de nos professores em cima dos alunos. Então eu vejo que ser professor

universitário, tirando toda aquela estrutura da falta de interesse do Estado em preparar melhor

a condição de professor também me permite fazer não chamo, não digo, não trato como

preconceito que os alunos de ensino fundamental e médio são burros ou são incapazes mais

traz uma reflexão um pouco maior da nossa sociedade e de uma produção maior de

conhecimento. É isso que eu espero por enquanto.

- Oportunidade.

-Acesso [pensativo].

- Uma forma de produzir um conhecimento próprio.

- Humanista.

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- Infelizmente uma profissão.

- Porque assim como médico eu penso que a relação que a gente tem dentro da sociedade não

devia se, dentro de uma lógica de trabalho que nós trabalhamos um limite de horas para ter

um mínimo de descaso não deveria ser assim. É claro que nos nascemos nessa sociedade nos

que conhecemos minimamente as outras, o que nos podemos esperar a não ser isso, a gente

não consegue romper isso. Mas eu penso que tanto o médico ou outra coisa, outra profissão

que trabalhei com o público mais amplo nos não deveríamos trabalhar pensando no salário,

mais pensando na formação. Assim como o médico deveria trabalhar pensando em salvar

vidas, nos deveríamos trabalhar pensando na formação. E formação não significa é, eu penso

que, pelo menos minha definição de formação , não é formatar alguém mais é preparar, de

várias formas, de forma mais plural possível para que ela possa agir perante o mundo. Porque

, cada um de nos eu penso é uma ilha. De uma forma ou de outra de um tocar o outro é um se

aproximar do outro. Eu acho que a formação deveria ser essa não uma formação que formata

um pensamento na cabeça de alguém seja qual for esse pensamento. Não pense que a gente

não tenha que ter ideologias, por exemplo, que a gente tenha que ser apartidário. Não, a gente

tem que ter tudo isso ai, isso é fundamental para a nossa formação, mas os alunos tem que ser

formados para que eles possam encarar o mundo. Para que eles possam...encarar o mundo

significa que eles estejam apertos a pluralidade não que eles estejam fechados neles mesmos e

falarem: eu tenho razão, eu vou dessa forma, então tudo o que é contrário a mim não presta.

Eu acho que é muito pelo contrário eu vou dessa forma é quem é contrário a minha tem que

me tocar porque eu tenho que aprender a conviver com eles. Conviver não significa tolerar,

significa conviver mesmo, respeitar, ter harmonia, ter proximidade. Que tolerância eu vejo

ainda como uma forma de você estar acima da pessoa você consegue colocar-se distante dela.

Eu acho que tolerância não é o correto, o correto é estar próximo. Qual o nome disso, qual o

conceito disso não sei, também não tenho interesse em...dar um conceito preparado pra isso.

Prefiro que a gente crie isso ao longo do tempo.

- Eu sou professor do pré-vestibular que eu estudei né o Em Ação há cinco anos. Comecei lá

em 2010 como professor assistente que era o professor que tirava dúvidas. 2012 eu comecei

como professor, aquilo que eles chamam lá, de professor de final de semana porque lá é pré-

vestibular gratuito então só pode dar aula durante os finais de semana que é quando a grande

maioria dos professores tem tempo. Porque a maioria dos professores, maioria não, mas todos

professores são voluntários. E eu também fui aluno lá, meus professores foram todos

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voluntários eu aprendi com eles então eu estou retribuindo, mas não só isso tô fazendo um

trabalho que eu vejo que é extremamente importante a sociedade. E a minha experiência foi

desde a mais frustrante possível de ver que as vezes é bom preparar uma aula para não chegar

perdido até aquela de você ver que aquilo que você faz é extremamente, extremamente

importante, extremamente reconhecido, as vezes até mais reconhecido que você espera ou do

que você acredita que mereça. E então, por exemplo, eu tô há três anos dando aula aos finais

de semanas. Sou um professor modéstia parte reconhecido pelos os alunos. Eu tenho meu

valor reconhecido não preciso impor nada aos alunos, os alunos ao longo do tempo vão

retribuindo isso, vão me digamos recompensando isso vão reconhecendo meu trabalho. Eu

digo que dentro desse pré-vestibular eu sou uma pessoa extremamente realizada com meu

trabalho. Claro, tem uma coisa aqui e ali, que incomoda não só dentro da sala de aula mas

fora, burocracia, conflitos com outros colegas né, conflitos dentro de ideias. Mas eu penso que

dentro da sala de aula alguns, tirando raras exceções eu sou uma pessoa privilegiada, eu

consigo fazer com que o meu conhecimento possa ser... e discordado, tem alunos que

discordam, e discordam com argumentos, eu exijo que tenha argumentos mesmo, e por ai vai.

Mas eu me sinto que eu sou uma pessoa bem sucedida porque eu consigo fazer com que eles

pense a própria história deles, em que eles pense na trajetória de vida mesmo né. Porque a

gente pode chamar isso de história mesmo e que eles tenham vontade de construir algo, não

que eles sintam-se fracos e abortam aquela vontade de ter faculdade, de ter uma profissão, de

ter um reconhecimento, de ter uma vida mais digna. Então dentro da sala de aula, tirando o

conhecimento que eu estou sempre me modelando, estou sempre aprendendo e sempre

correndo atrás, pelo menos com os alunos eu sinto que eu consigo passar aquilo que é meu

interesse que é: forma-los para o mundo.

- Bom, quanto a isso sou, eu vejo que essa é uma opinião preconceituosa. Extremamente

preconceituosa, de um preconceitos dos mais baixos possíveis dos mais...quando eu falo baixo

assim, do mais desumano possível e ao mesmo tempo do elitista possível. Que só vem a

comprovar aquilo que é visto as cotas até hoje e aquilo que é visto o aluno cotista como

aquele aluno que nunca teve capacidade de nada como aquele aluno que nunca deve esforço,

mais quem fala isso não teve conhecer um colégio de periferia, um colégio que professor não

quer dá aula. Colégio que professor se nega a dar aula porque lá não tem alunos bons, se lá

não tem alunos bons a estrutura é horrível e a situação de segurança mesmo é ruim então, por

exemplo, já vi caso de colegas professores que não querem dar aula, por exemplo, ali no

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[bairro]Parolim alunos que não querem dar aluno no [bairro] Prado Velho ali perto da favela

que tem ali...perto da PUC né perto da avenida das torres, eles não querem dar aula não

porque não acreditam nos alunos mais porque eles sabem que entra no colégio e não sabe se

sai. Eles falam assim mesmo: eu não sei se saio tal...tô lá dando aula daqui a pouco um

tiroteio. A gente pensa que essa realidade não existe mais ela existe. Ai fico pensando o aluno

que estuda nesse colégio como é que ele vai competir com outro aluno ou aluna que estudou

no positivo a vida inteira no Dom Bosco, no Bom Jesus, no Marista, no Stella Maris. Não tem

como, não tem condições. Então falar que coloca aluno que não tem qualidade e que a

qualidade diminua e falar que aquela pessoa não condições de ter qualidade de adquirir

qualidade ao longo do curso. E como eu falei no inicio dessa entrevista eu não tinha

condições, eu não tive química mais isso não fez que quando eu fosse lá aprender química eu

não soubesse que não entendesse o que, que é uma função orgânica, uma função inorgânica. E

entender o que que é uma relação química, não me fez não aprender isso, não me fez ser uma

pessoa incapaz. Nos não somos pessoas incapazes, a única coisa que eu falo é cotista é aquele

aluno que não teve oportunidade por um serie de falhas que vem desde a estrutura do Estado

até a falta de interesse dos próprios professores que nos sabemos, nos conhecemos muitos

casos que tem professor que e formado em engenharia e da aula de Português da aula de

História né a gente conheci isso. Professor que é formado em economia e vai dar aula de

História, a gente conhece isso. E então quando falam que colocam, eu ouvi, eu li um texto de

um ex-colega que trabalhou comigo um tempo atrás que ele escreveu isso sendo cotista é

porque ele disso que as pessoas não tem base até concordo que não tem base agora falar que

vai diminuir eu acho que já é demais. Eu acho que muito pelo contrário, eu vejo o cotista

como aquele aluno que como ele não deve oportunidade nenhuma ele se abraça em qualquer

oportunidade que vê. Ele não vai sei aquele... porque o aluno e acostumado a passar de ano,

costumado a entender a matéria, ser professor de assistência, ser professor que pega na mão e

faça a lição pra ele. Então ele tem que quando ele entra na universidade e pela minha

experiência que tive na graduação com meus colegas cotistas todos eles eram assim professor

passou um texto, a recomendou um livro a gente acabou a aula já sai correndo para ir pegar o

livro ficava disputando pra ver quem vai pegar o livro, ficava revezando. E eu, por exemplo,

terminei como cotista o meu desempenho foi bom, modéstia parte, uma amiga minha também

a N. também cotista. Ela ficou...eu fiquei em terceiro lugar, ela em quarto no processo seletivo

do vestibular. E nos tivemos, nos dois fomos considerados melhores alunos da turma.

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Tivemos melhor desempenho, nos dois cotistas, então vejo isso, diminuir a qualidade um

preconceito extremamente desumano.

- E bom ai já parece um pouco o FHC falando ai, em entrevista recende dele ai, que professor

é o pesquisador frustrado né. Professor é aquele que não tem condições de seguir adiante dai

ele vai dar aula porque e algo mais e porque onde tem mais mercado, mais demanda de

mercado. Eu penso muito pelo contrario, penso que esse negocio... até na verdade, não penso

nem ao contrario, não penso assim, muito, não lembro qual é a expressão...lembrei “não

concordo, nem discordo muito pelo contrario” né. O que eu penso que essa questão de

rendimento é uma coisa extremamente meritocracia que não faz sentido para a nossa realidade

porque o que você quer discutir rendimento com uma pessoa... você quer discutir rendimento,

por exemplo, comigo é...vamos supor que nos dois estamos aqui discutindo, então tá faltando

rendimento aqui, falando sobre rendimento você trabalho o dia todo, ou melhor, você estuda

aqui comigo a tarde ai você sai daqui da faculdade vai jantar, vai pro trabalho vira a

madrugada, lê o texto né. Volta pra casa cedo, e vem pra aula. Ai eu não faço nada tô em casa

então eu vou pra aula, acabou a aula a tarde eu vou pra casa ler o texto, durmo numa boa,

durma as oito horas certinho, no horário certinho tal. Com a disciplina certinho na hora de

dormir, acordo no outro dia cedinho, leio de novo os textos dou uma revisada tem uma prova

hoje chega na hora da prova você não leio o texto e eu li e ai? Qual é o rendimento maior

entende? Então isso é uma forma que eu vejo, rendimento é quase que fosse sinônimo de

meritocracia. E falar então o “aluno que tem baixo rendimento ele vai ser professor” é quase

que você criar o seguinte: professor é burro, incompetente, incapaz então se você não tem

condições de ser um pesquisador não tem condições de fazer alguma coisa então vai ser

professor porque professor é fácil né. Onde eu dou aula parece que é mais fácil ainda porque

parece Engenheiro dando aula de História. Então parece que ser professor é muito fácil você

chega fica quarenta e cinco minutos falando a mesma frase, repetindo na cabeça dos seus

alunos entenderem e decorarem pra prova pronto pode ir embora tranquilo. Sendo que

professor é muito mais do que isso né. Professor que eu já tô falando se preocupa com a

formação do aluno professor não é passar um texto no quadro não é ficar falando sobre o que

aconteceu em 1850 e não sei o que império do Brasil não sei o que. Professor é aquele que

sabe que o aluno esta com uma dificuldade vai lá e conversa com o aluno. Vai lá e se

preocupa. Vai lá e forma realmente o aluno e faz com que ele se sinta capaz de fazer algo. E

quando fala isso de rendimento, rendimento é uma palavra que não az sentido nenhum

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.porque ela cria uma competição que não existe. Ou melhor, ela cria uma competição que não

deveria existir, que é a competição de que é melhor, de quem é mais capaz. Então se eu sou

mais capaz vou ser pesquisador, se eu for menos capaz vou ser professor. E ser professor é

mais fácil, não concordo e acho que professor ao meu ver não querendo hierarquizar ele tem

uma preocupação muito forte que é: todos os anos readaptar, repensar, repensar as aulas que

ele deu no ano anterior. Então se esse ano eu dei aula lá revolução francesa para todas as

minhas turmas sei lá do sétimo ano e não foi boa ou foi boa mas ano que vem eu vou dar aula

vou ter que repensar não vou pegar a mesma aula e falar todo ano porque? Porque minha

experiência mudou, porque eu mudei, porque sou capaz de colocar a minha experiência ali

para dar aula. Então disso dessa pergunta eu não concordo que os alunos que tenham menor

rendimento eu acho que simplesmente não tem como comparar isso.

- Concordo. Concordo não porque...concordo de duas formas na verdade. Primeiro não porque

a licenciatura seja algo ruim. Mas porque a licenciatura é mal, não mal vista ela é muito bem

vista. Mas ela é mal organizada. Professor não tem plano de carreira. Professor de

fundamental e médio, não tem plano de carreira. Ele entra, começa a dar aulas com sei lá, 22

anos e chega aos 50 sendo professor do mesmo jeito. As vezes ganhando um pouquinho mais

de salário porque realmente tem que fazer uma grave lá pra aumentar o salário né. As vezes

acaba sendo a mesma pessoa, a mesma coisa ao longo de 30 anos. Então não tem isso. E

dentro da nossa universidade aqui é nos somos pessoas...é uma coisa extremamente

cientificizada da forma mais inconsciente possível. Por exemplo, a gente vai fazer práticas de

ensino no quarto ano, eu fui fazer no meu último semestre a minha prática de ensino foi dar

três aulas num colégio público lá perto da minha casa a professora que é responsável foi

assistir apenas uma aula. É ainda nem me deu um parecer sobre como foi minha aula. Então

eu me prevaleci, eu me avali das aulas que eu já dava no pré-vestibular antes, por isso que eu

conseguia dar aula, mas a nossa licenciatura é ensinada, feita, passada aqui na universidade é

tão assim cienfitizada de forma consciente que ela não permite que nos irmos as salas de aula

porque parece que a gente estamos agindo como se os alunos fosse cobaias né. É isso faz nos

tenhamos um mínimo de qualidade porque eu vou lá dou três aulas beleza ok! eu posso a

partir de três aulas dadas com uma turma que mal me conhece que me viu entrando no meio

do ano ali que sabe eu não se não me conhece não vai se comportar mal não vai criar uma

intimidade alguma coisa assim vai ficar quietinho, copianinho ali. Pronto a partir disso no

ano seguinte posso dar aula ficar o ano inteiro como uma turma que mal vai me respeitar

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entende. Então eu vejo que a nossa licenciatura a nossa formação é muito mais teórica que

prática e as vezes essa teoria não atinge a prática né. As vezes a teoria é escrita por alguém

que nunca foi para a sala de aula de ensino fundamental e médio e uma pessoa que pegou

experiências de alguém ai formou um conhecimento ai esse conhecimento chega lá na hora

você fala “pô não deu certo”. Realmente não deu certo porque não se aplica.

- Pela experiência que eu tenho do pré-vestibular eu me sinto. Claro, preciso aprender muita

coisa, não digo de...aprender não de...conteúdo porque isso é uma coisa que a gente vai ter

que aprender pelo resto da vida né. Professor assim como qualquer outra profissão tem que

estar se atualizando ele não pode se fechar numa retoma e achar que pronto ele sabe de tudo,

tem todo material pronto. Mas, eu, por exemplo, sinto que eu tenho que perder um pouco a

timidez, ainda que eu tenho bastante, preciso assim...as vezes eu penso que eu preciso que ser

um pouco mais rígido em sala de aula mais realmente eu não consigo adotar essa estrutura

que tem que dar bronca em aluno, de ter que fazer o aluno se sentir humilhado, de fracassado

para que ele veja o erro que ele fez. Eu prefiro que muitas vezes o aluno faça tudo o que bem

entender até ele ter consciência que ele tá atrapalhando a ele mesmo e os demais entende. E o

que eu vejo não sei, pelo menos assim pra sala de aula se hoje eu fosse dar uma aula eu acho

que tô bem preparado mais não por quanta da licenciatura por conta dos cinco anos que eu tô

dando aula lá no pré-vestibular. Que me ensinaram bastante.

- Desvalorizado. Se há... se fosse para definir com uma palavra seria essa: desvalorizado. Nos

professores somos desvalorizados pelo governador do Estado, pelos deputados do Estado,

pelos vereadores do munícipio, pelo prefeito do munícipio. Falo em caráter estadual porque é

o que me atinge agora não posso falar em federal porque eu...né a única forma federal que eu

tenho é o ensino federal é pra mim ele tá muito bom né. Claro temos todo ainda mais perto do

Estado tá muito melhor. A carreira de professor não...a gente sabe não tem carreira, professor

não tem carreira nenhuma ele entra dando aula e continua dando aula da mesma forma é não

tem importância nenhuma. Hoje em dia nossa profissão é mal vista, mal vista de várias

formas. Os conservadores ainda mais nos professores de História nos vem como aquele que

vão ensinar a ser subversivos, a ser revolucionários, a ser... e os pais compram esse discurso,

os pais vão e reclamam; porque você tá passando isso pro meu filho, porque você tá falando

isso. Esse assunto aqui não tem nada haver. Isso aqui já acabou. Isso aqui já não existe mais.

Como coisa que nos professores de História devemos esquecer o que não deu certo na

História. E abortar tudo o que não deu certo e ponto. Vamos partir para o que deu certo.

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Contar a história dos vencedores, esquecer dos vencidos. Então começa ai os pais, muitos pais

preferem agir de uma forma ignorante ao invés de ver o professor como aquele que vai formar

o aluno, o filho dele né. Nos não estamos lá para educar, estamos lá para formar. Não pra

formatar né. No próprio colégio muitos professores se quer tem a consciência de classe

digamos assim, eles são os primeiros a colocar o dedo um na cara do outro e falar que

professor e vagabundo mesmo. Professor gosta de fazer greve mesmo. Vi isso aqui dentro da

própria universidade, professor chamando o outro de grevista vagabundo. Não na frente,

claro, pelo departamento, ali dentro da sala no gabinete. Mas, agora quanto a carreira em

caráter de burocracia ou de administração digamos assim, nos professores...essa

administração atual e as ultimas administrações foram um fracasso. Nos não temos

perspectivas de futuro, perspectiva de futuro é dar aula o ano inteiro que nem uns loucos, final

do ano fazer um conselho de classe, passar quase todo mundo porque tem um índice lá para

aprovar mesmo. No ano que vem a mesma coisa. Então, a de vez em quando o Estado oferece

um curso de formação. Ai o curso de formação é você voltar para o ensino superior né. Igual

eu fiz aqui matéria com muita gente que vinha dos cursos de formação do Estado ai eles

tinham que fazer a mesma matéria com a gente. Então eu fazia história do Paraná, a pessoa

tinha que fazer História do Paraná como se fosse um aluno regular do curso de História. Isso

não é curso de formação. Eles tem a formação precisa de uma atualização, de um novo

pensamento, de novas bibliografias, de novas metodologias de aulas, de novas tecnologias de

aula. Mas nos professores... as vezes eu tenho a impressão é: o investimento ali...ai eu vou

falar de uma forma bem conservadora mesmo, da que forma que não entende nada do que tá

falando mais tá falando. E parece que o investimento tudo para outro lugar dai se sobrar vai

para nos professores, vai para a educação. Porque a impressão que tenho é se nos...se isso

acontece é porque nos se preocupamos, as vezes a impressão que tenho é que nos

preocupamos justamente essa sociedade de mercado que tem medo de ser rompida. Que eu

penso de maneira meio utópica que nos professores somos capazes de romper essa sociedade.

-Sinceramente não. Não me sinto nem um pouco...não vou dizer nem um pouco acho isso um

exagero mas não me sinto atraído por conta de tudo isso que eu falei né. Salas de aulas, sem

estrutura, salário ruim, falta de interesse do Estado em promover condições melhores, de

promover uma condição mais humana, uma formação mais humana. Formação que seja

menos burocrática e mais direta, mais participativa. Então sinceramente carreira de professor

enquanto não mudar isso imagino que diminuir a vontade das pessoas serem professores.

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ENTREVISTA (G) : 04/11/2014 - COTISTAS RACIAL DE FÍSICA

- Bom, quando eu comecei... eu morava em São Paulo então a educação lá por ser interior eu

acho que era bem precária foi a primeira coisa que reparei quando entrei na faculdade,

porque...não primeiro eu sai de lá eu 10 anos de idade então quando em vim morar pra cá tava

na quarta série então em vi na metade do ano então eu senti aquele baque no ensino. Que aqui

era bem mais puxado do que lá. No interior de São Paulo então eu acho assim que foi pra mim

foi a coisa mais difícil não sei realmente como eu reprovei de ano quando eu cheguei aqui. Na

faculdade eu não fiz cursinho pré-vestibular, pra entrar na faculdade eu chegou o dia assim,

no ultimo dia do vestibular eu fui lá falei vou me inscreve. E me inscrevi, dai dei uma

olhadinha assim vídeos aulas no “youtube” mas nada que fosse igual a um ano inteiro de

prepara pro vestibular. Dai, a primeira...minha primeira aula foi de calculo, então foi aquele

baque porque não lembrava de trigonometria, matemática básica, acho que o principal pelo

menos no meu curso foi a matemática básica que me fez falta.

-Não eu demorei seis anos, eu tentei em 2008, eu tentei pra Enfermagem, não passei eu acho

que linha de corte era 32 ou 25 alguma coisa assim e eu me lembro que eu não passei por um

ponto da linha de corte. Dai eu fui tentar fazer outra coisa da vida, dai tentei ser aeromoça,

mas também não deu certo dai no finalzinho de 2012 eu escolhi...fiz o vestibular de Física.

- Então, quando tavo no ensino médio, eu tavo aquela confusão o que eu vou fazer da minha

vida dai eu fui na feira de profissões da UFPR. E me apaixonei por Fisioterapia, nossa que ser

fisioterapeuta, que eu quero cuidar dos idosos, dai chegou no vestibular não tinha Fisioterapia

pra Curitiba era só no litoral e era só no meio do ano né no vestibular de inverno. Dai gente o

que, que eu faço? Dai eu olhei o que chegava um pouco mais perto que era de cuidar de

idosos já que eu não tinha preparo pra medicina né porque também não tinha feito cursinho

naquela época. Foi Enfermagem. Dai eu prestei, dai só que não lembro a linha de corte ou era

25 ou 32 só que não passei. Dai eu fui tentar as particulares passei na Uniandrade só que eu

sinceramente não queria fazer lá porque não é uma faculdade que eu vô...sei lá vou lá no

nordeste eu vou falar dela a eu estudo na Uniandrade ninguém vai lembrar dela aqui, ninguém

vai saber onde que é essa faculdade nem nada. Dai no outro ano seguinte eu tentei um curso

completamente diferente. Tentei Arquitetura e Urbanismo como primeira opção na PUC e

Direito como segunda opção. Dai eu fiz o ENEM só que a minha...eu passei na PUC só que

dai eu não teria condições pra pagar mensalidade e eu cabei conseguindo uma bolsa se eu não

engano de...meia a bolsa de Design de moda. Eu consegui. E pelo SISU eu acho eu consegui

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Quimica. Só que não aquela coisa que me chamou a atenção assim “nossa eu vou fazer” ai eu

deixei de lado. Dai foi em 2010 eu fiz o curso de comissária de voo dai eu fui lutando com

esse sonho até 2012 porque eu queria voa, eu queria passar, que eu queria cada dia tá num

canto do Brasil. Dai eu fiz só uma entrevista na Tam acabei reprovando no idioma. Dai eu

larguei dai esses anos todos eu fiquei sem trabalhar. Dai 2012 eu comecei a trabalhar no

shopping “São José”. Foi dai quando eu fui prestar vestibular pra federal. Mas claro que na

minha ideia principal era fazer Arquitetura e Urbanismo só que eu não teria a capacidade de

passar sem estudar. Dai eu fui lá e olhei Fisica dai eu...eu fui eliminando os cursos pela linha

de corte: tipo foi lá note de corte do curso. Fale a vou...então vou fazer Fisica que Fisica pelo

menos não é tão concorrido e eu passo. Dai eu prestei e a minha ideia era de fazer o Provar

porque todo mundo acho que no final...lá por julho, agosto tem o Provar né que você tem a

opção de mudar de curso. Então minha ideia principal era entrar em Fisica fazer um semestre

inteiro e depois mudar pra Arquitetura. E isso não aconteceu (risos). Não porque eu acabei

num...antes de começarem as aulas porque as aulas ano passado começaram em abril. Eu vi

uma entrevista de um caso de assassinato que um filha matou o pai e a madrasta e o perito

desse caso era um físico dai eu falei nosso já lembrei logo do CSI né. Então me chamou muita

atenção essa parte da Fisíca. Dai só que eu tavo fazendo licenciatura, mas pra fazer isso

precisa ser bacharel. Dai eu não tentei o Provar continuei na Fisíca. Mas dai com a ideia de no

meio do curso já começar a pegando as matérias do bacharel pra me formar na licenciatura e

no bacharel. Pra ser perita, não queria ser professora de jeito nenhum. Que pra mim era o...a

acho que eu não me via numa sala de aula como professora me matando de estudar quatro

anos e meio fazendo Fisica pra isso. Dai em junho desse ano a T. ai no caso falou pra mim

que ela tava fazendo PIBID. E uma galera de amigo meu boa parte dos calouros falando do

PIBID: a eu faço PIBID, ganha quatrocentos reais só assiste aula. Dai eu falei nossa que jeito

mais fácil de ganhar dinheiro né. Então eu vou fazer PIBID. Dai só que no primeiro dia de

aula e...já era quase perto das férias então eu não fiz muita coisa só acompanhava a professora

então pra mim tanto faz como tanto fez. Tipo eu tavo ali tavo ganhando meu dinheiro, Dai no

retorno das aulas eu comecei a...umas das turmas da professora era de um aluno que

era...deficiente visual. Era não ele é o A. e eu me encantei ao tentar ensinar Fisica pra aquele

menino. Dai eu falei...dai lá no PIBID a gente tem que ter um projeto pra passar pros alunos e

eu falei assim pra T. “não, vamos pegar essa turma porque eu quero ensinar Fisica pra esse

menino.” Dai foi ai que eu comecei, que eu gostei da ideia de ser professora. Porque eu me

interessei com a parte de ensinar pessoas com deficiência. Que até então os alunos

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com...como eu posso dizer normais assim não me chamavam muita atenção. Dai foi tendo

trabalho, fui conhecendo o A. conhecendo a vida dele tentando entrar um pouquinho na vida

dele que me interessei pela licenciatura. Dai eu comecei a gostar das turmas que eu tavo

participando que são turmas do segundo e terceiro ano do ensino médio. E eu não sou tão

velha assim então eles, acho que eles tem mais uma intimidade comigo por eu ser mais nova.

Então foi assim um pouco da minha história (risos).

- Quando a primeira vez que eu vi as cotas? Falei...o jeito mais fácil de você entrar na

faculdade.

- O jeito mais fácil de conseguir entrar.

- Eu só...eu tinha visto que era cotas social pra acho que alunos que estudaram a vida inteira

em escolas públicas né e a racial. Dai eu falei “bom eu me enquadro na racial” não tem

porque tentar a social mesmo eu tendo estudado a minha vida inteira na escola pública. Dai

fui lá e me matriculei na racial. Só que dai eu tive que ir lá fazer uma entrevista pra

comprovar mesmo que eu era negra que eu não tavo mentindo pra eles. E algumas perguntas

chegaram a ser bem absurdas. Porque igual, eu tenho, eu faço progressiva no meu cabelo mas

meu cabelo não enroladinho ele é ondulado é a mulher me questionou porque se eu tenho o

cabelo enrolado porque que que é que eu tenho que alisar ele se ele e enrolado. Se eu tinha

vergonha de...do jeito que eu nasci ai eu falei: não porque pra mim é jeito mais fácil porque eu

acordo é só prendo eu só passo a mão assim já tá arrumado. Já...e por ele ser ondulado...ele

era aquele ondulado armado porque meu cabelo é grosso era aquela coisa assim tipo “Maria

Bethânia” sabe? Então não me sentia bem então foi por isso. Foi umas das coisas assim

que...é perguntaram como era...o tom do meu pai e o tom da minha mãe, os cabelos deles

umas perguntas que nada haver eu acho na minha opinião.

-Sim passei, eu falei nossa já dá pra ver assim que o meu tom de pele já é escuro o que eu faço

e o que eu não faço com meu cabelo...

- Dos outros das outras universidades não. Só na federal que sim Na federal sempre tentei por

cotas.

- Essa diferença... é que o bacharel pela e que pelo o que vi na...nos primeiros semestres o

bacharel no começo ele é mais fácil que a “Fisica”... que a licenciatura. Porque a carga horária

da licenciatura bem maior que a do bacharel. Não sei se nos outros cursos são assim mais pelo

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menos na Física os dois primeiros semestres pelo menos eu não posso estudar com o pessoal

do bacharel porque eu posso que dai eu não pego equivalência na matéria. Igual calculo I da

licenciatura a noite é 90 horas o da manhã é 60. Então eu não consigo equivalência a mesma

coisa nas fisicias básicas. A física básica do bacharel é mais difícil que a física básica da

licenciatura. Que a física básica I deles é equivalente a física I e II nossa. Então tem essa

diferença assim no começo mais depois completamente matérias diferentes da licenciatura é

bem mais voltada para a educação que no caso...eu particularmente acho mais fácil que você

precisa ser o texto, interpretar, fazer uma resenha e as vez fazer uma apresentação em sala de

aula. Já no bacharel não é tudo número você não tem...a única matéria que eles não tem que

envolva número é seminários. Que pra eles eu acho que conta como optativa. Ai são aulas que

eles só assistem palestras.

- Sim. Eu acredito que sim porque eu acho que o bacharel é mais puxado que eu acho por ser

pela área de pesquisa da Fisíca mesmo eu acho que é mais puxado. Porque dai quando for

fazer uma pesquisa na licenciatura é mais voltada para a educação né. Então é mais você

pesquisar e correr atrás, fazer textos eu acho que é um pouco mais fácil.

- Pelo Provar. Só pelo Provar. Ou você presta vestibular de novo. Porque as matérias não

são...igual conforme for passando os períodos se você for pegando as matérias do bacharel dai

no final você pode se formar na licenciatura é no bacharel. Mas tá na licenciatura é pular para

o bacharel não tem como. Que dai vai interferir nas matérias porque dai como eu falei o

calculo I e diferente do calculo I deles. Então se eu for com calculo...se tiver no calculo II e

for para o calculo...for pra bacharel tenho que fazer de novo calculo I e fazer o calculo II pra

continuar.

- Já pensei. Antes do PIBID. Eu pensei. Agora eu tenho vontade de fazer os dois: fazer a

licenciatura e o bacharel porque eu quero fazer meu TCC ou envolvendo alunos cegos, ensino

para alunos cegos ou ensino para alunos quilombolas.

- A eu acho que ser...é como se fosse um livro aberto. Chegar ali e mostrar o conhecimento,

mostrar tudo o que sei. Eu acho que é ser um livro. Ter uma forma diferente de ensinar o

aluno. Porque eu particularmente não gosto daquele professor que só escreve. Eu quero ser

uma professora mais prática, uma professora experimental. Que mostre pro aluno que faça

com que ele tenha vontade de aprender. Eu quero chegar assim quando eu tiver dando aula e

vou chegar: tá como vocês querem que eu trabalhe com vocês. Não chegar vai ser assim,

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assim, assim. Eu quero chegar e falar: como você querem que eu trabalhe com vocês. Dai

mostrar uma parte também que eu quero que tenha disciplina. Porque as vezes um erro que eu

vejo assim não tanto dos professores mais também da equipe pedagógica da escola é que eles

tão muito chances pro alunos. Igual “a aluno não entregou uma trabalho na segunda-feira

entregou na terça mais vai valer a mesma nota”.Eu acho que não teve ser isso. Acho que o

aluno deve ter uma disciplina. E é uma disciplina, não que eu tenha que pegar agora no ensino

médio mas eu acho que é uma coisa que vem lá do comecinho. Lá do pré, primeiro ano. Ele

tem que ensinar ter uma disciplina. Porque eu acho que é uma coisa que falta muito.

- Bom, eu tenho vontade de fazer uma projeto de iniciação cientifica o que me chama mais

atenção por enquanto. Mais eu tenho vontade sim pelo fato de ter dito esse aluno cego. Que eu

quero tentar achar um jeito com que ele consiga se encachar na sociedade por eles dizem que

o aluno que o cego tem o mesmo direito como qualquer outro aluno mais você na sala de aula

você vê que não tem isso. Porque igual, livro didático, não tem livro didático em braile pro

aluno. Não tem um CD para que ele possa colocar no computador para escutar, pra ele

entender a aula. Fora que eu acho que os professores agora eles não tem bom preparo igual no

faculdade a gente não tem, não aprende é...braile. a gente só aprende libras. Então eu acho

que esse é um erro também que tem, uma coisa que também deve ser consertada.

- Um bom preparo? Por enquanto eu acredito que não. Eu acho se for pra mim assumir uma

turma agora talvez seria como professora de Ciências alguma coisa assim. Mas para ensino

médio, pré-vestibular ou até mesmo como professora de universidade eu ainda não. Eu acho

que ainda falta algumas melhoras.

- Eu acho que falta ter uma, não no meu caso eu acho que mais tempo. Porque igual os

professores de metodologia eles tão é uma aula por semana sendo que dependendo da aula a

gente tem que ler quatro, cinco textos. Eu acho que é uma coisa que afoba muito o aluno.

Igual porque eu tenho outras matérias que são mais complicadas que são as matérias de

exatas. Então, eu pelo menos não daria conta de fazer mais de três matérias da educação

porque seria muito coisa, muito texto. Eu acho que essas aulas deveriam nem que fosse

ministrado duas vezes por semana alguma coisa assim em outros períodos não só noturno eu

acho que ajudaria mais o aluno. Porque dai a gente... eles jogam o conhecimento e a gente tem

que agarrar e ir puxando outro e vai, chega uma hora que esgota.

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- Não a gente tem que vir aqui na reitoria esse é o grande problema. Porque a maioria das

nossas disciplinas são no politécnico. Mas dai tem que vir pra reitoria. Eu acho que seria tão

mais fácil um professor ir pro politécnico do que 40 alunos vir pra a reitoria. Eu acho só que

infelizmente não tem sala no politécnico porque o curso de Física não tem nem um bloco para

o curso de Física. Física divide o bloco com as Engenharias, divide o bloco com Arquitetura.

Então no meu primeiro ano eu tive que assistir aula no bloco de Química de calculo. Então é

uma bagunça essa parte (risos).

- É só uma palavra?

- Fácil. Acho que é fácil porque cotas raciais é assim: num sei porque mais não são tantas

pessoas negras que conseguem fazer faculdade. Não sei o que acontece pelo menos no meu

curso eu vejo igual no meu período eu sou a única pessoa mais de pele assim que tá fazendo o

curso. Não sei se é porque eles não tem, não sei se é a falta de oportunidade. Mais igual pra

mim eu acredito que fui a única pessoa que se candidatou no meu ano pra cota racial. Então

foi muito fácil porque eu passei em primeiro lugar. Então eu acho que não tem muita procura.

Então eu acho que é fácil.

- Professor? Acho que um mestre. Vamos dizer assim um...num posso dizer bem...como se

fosse um segundo pai ou mãe talvez. Alguém da família, isso família. Porque a primeira

educação a gente recebe em casa né. Mas a segunda eu acredito que a gente recebe na escola.

Porque igual tem alguns professores assim que são um absurdo e tem outros que você pode

acolher como pai como mãe. Como tia.

- Amor. Porque eu acho que para fazer licenciatura tem que ter amor no...tem que ter vontade

mesmo tem que gostar da profissão. Porque infelizmente o salário não é muito bom. É muitas

vezes você num consegue ensinar tudo aquilo que você aprendeu fora que você também não é

reconhecido. Então eu acho que licenciatura é amor. Porque a pessoa tem que ter amor

realmente pra fazer licenciatura.

- Amor é um sentimento é algo que você gosta muito que você não possa viver sem eu acho.

Se você não tem aquilo te faz falta.

- Professor e amor? Cara você complica hein? Professor e amor (pensativa). Eu acho que ter

aquela vontade de estar ali de ensina uma pessoa, de independente das coisas, dos obstáculos

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que tem você vai dá ali, você vai dá ajudando. Vai tá ensinando. Olha a próxima pergunta

(risos).

- Se eu me vejo ensinando? Sim. Só que igual eu tenho que começar pelo ensino médio,

pelo...só que a minha vontade mesmo assim é ensinar Ciências não sei porque mais eu tenho

vontade mais de ensinar crianças. Porque não sei se é porque eu tenho mais intimidade com

crianças porque eu adora criança então eu acho... só que eu não daria certo de fazer

pedagogia. Eu já vou falando de antemão, eu não dou certo pra pedagogia. Mas eu acho que

seria interessante de ensinar crianças.

- Não. É que uma vez na Igreja que eu vô eu tive que ficar responsável pelas crianças. Gente

foi a melhor coisa do mundo ficar responsável por crianças porque eles obedecem você,

diferente igual, é bem difícil igual, é eu tenho uma conversa com os alunos da ensino médio

pela minha idade. Mas eu acho que por ter essa intimidade não é sempre que eles vão querer

me respeitar, é já uma criança pequena se eu falar “não” vai ser “não” pra ela porque ela sabe:

não ela é maior, ela é a tia. Então acredito que seria bem melhor.

- É mais o A. é que assim a gente... eu não apliquei o nosso projeto com ele ainda a gente

ficou acho que só um mês na sala de aula. Só a professora escrevia no quadro e a gente ditava

pra ele só que tem que ficar muito esperto com aluno que é cego porque as vezes ele contorna,

contorna do jeito que você...igual a gente tinha um questionário pra responder ele contornava,

contornava, ele fazia a gente dar a resposta pra ele então tem que tomar muito cuidado eles

são muitos ligeiros. Mais eu ainda não tive a oportunidade de dar aula pra ele, eu vou dar aula

semana que vem que vai começar a matéria de astronomia com ele, dai com a turma inteira no

caso.

- Sério isso? (risos). Eu acredito que não tanto a social quanto a racial eu acho que o

aluno...talvez ele não tenha se esforçado tanto ali pra entrar no vestibular mas eu acho que

como qualquer outra cota eu acho ele que ser mostrar, ele quer mostrar que ele pode, que ele

não é só porque eu entrei por uma cota que era fácil vai ser fácil pra mim também eu acho que

eu pelo menos tento dar o meu melhor ali dentro pra mostrar que eu merecia minha vaga, eu

merecia a cota que eu recebi.

- Não. Eu não durmo direito a muito tempo já é difícil, é difícil você querer se destacar entre

os outros.

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- Os professores são recrutados...pelos alunos?

- Eu acho que não, tipo os professores no caso do ensino público assim ou dá faculdade

alguma coisa assim?

- Ai gente eu acho que não porque é tão difícil você conseguir principalmente Fisíca um

curso tão...por ano é baixo o índice de formandos. Igual esse ano eu acho que foi muito, eu

acho que foi uns 23 alunos que se formaram juntando o bacharel e a licenciatura. Eu acho se

se formou ali é porque a pessoa realmente é capaz de dar aula não é só porque foi escolhido

entre os piorzinhos ali pra...entre os piores.

- Hoje eu ainda não. Eu acho que eu tenho muita coisa que aprender ainda.

- Porque eu não quero ter os professores que eu tive quando era criança. Tinha professor que

só jogava as coisas no quadro sabe. Tá ali ou a tua prova era baseado no exercício que ele

passou, mesmo exercício era a prova. Não. Eu quero que meus alunos...eu quero ser o

diferente. Eu quero mostrar pra eles que a Fisica não é chata. Que a Fisicia não é só aquilo ali

que eles mostram é cinemática, mecânica, dinâmica. É muito além, eles... porque tem tanto na

Física, Química, matemática os alunos falam assim: tá pra que eu vou aprender isso se eu não

vou usar isso na minha vida. Mas tudo envolve Física na sua vida. Então eu acho, eu quero

mostrar que a Física está até quando eles estão correndo na rua ou empinando uma pipa.

Qualquer coisa assim.

- Eu acho que a licenciatura de antigamente não era capacitada. Capacitada o suficiente

pra...formar professores. Porque, eu acredito assim que pelo menos deveria ter uma

reciclagem de professores todo ano. Porque o professor que se formou a trinta anos atrás em

Fisica e diferente da formação de uma aluno que tá se formando agora em 2014. O aluno que

2014 vai estar muito mais preparado que o professor de trinta anos atrás porque as coisas

mudaram. Então eu acredito que a licenciatura de agora é sim para formar professores. Eu

acho que o certo era ter essa reciclagem, mudar e... porque eles falam tanto em educação: a

vamos mudar a educação, vamos mudar a educação, vamos mudar a educação. Ok! Vamos

mudar a educação, mas não tem como você mudar uma coisa que veio de cinquenta, sessenta

anos atrás. Você tem que começar agora porque, porque que eu vo...vamos pular um pouco

o...sei lá Português eles ensinam varias regras assim no português que eu acho

necessariamente desnecessário porque era coisa que era da família real. Quando a família real

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veio pro Brasil. Quantos anos já faz isso. Então eu acho que não é uma coisa tão necessária de

se aprender agora. Então é isso.

- Como eu vejo a licenciatura? Em que sentido?

- Eu acho que tem, não só, eu acho que começa na pedagogia, eu acho que tem que já ir

diferenciando isso porque o erra no tá aqui o erro, na universidade, no ensino. Eu acho que o

erro já tá lá no começo. Então tem que vir acertando todos os cursos, porque tem igual tem

matérias que eu acho desnecessárias o aluno aprender no ensino médio uqe talvez ele

realmente não já usar na vida dele. Então eu acho que são coisas assim que ele tem a opção de

aprender quando ele for pra faculdade.

- O inicio: pré, primeiros anos, o ABC de tudo ali. No comecinho na raiz mesmo. Eu acho que

é dali que teve começar a mudança. Só que obvio que não vai ser assim, um, dois anos que vai

mudar isso é uma coisa que vai levar tempo pra conseguir mudar. Porque meus...como ei falei

é a questão dessa reciclagem porque eu não vo, vou chegar lá eu meu professor de Física se

mete a cara numa professora que tá lá a trinta anos dando aula, a dez anos dando aula. Ela vai

falar: sai daqui menina você tá a menos tempo que eu dando aula que mandar em mim. Você

que mudar o jeito que eu tô fazendo. Se todos os anos eu tô fazendo certo.

- Ai...aquele colégio eu acho que ele é um pouco desorganizado pra ser bem sincera. Igual

teve um conselho de classe que a professora foi obrigada a passar o aluno porque a escola tava

com medo acho que da secretária da educação mais o aluno não aprendeu mas ela teve que

passar ele. Teve que surgir uma nota não sei da onde. Agora colocando o A. como exemplo, a

professora esses dias foi ensinar pra ele ondas e ela perguntando pra gente e demos a ideia pra

ela ensinar ondas pra ele com cola e relevo. E depois passou a aula esses dias ele falou: se a

professora de matemática tivesse feito isso comigo eu teria aprendido a matéria. Então eu

acho que falta preparação. E eu pelo menos quero fazer uma diferença quando eu tiver

fazendo PIBID naquela escola. Tanto que eu quero se eu tiver a oportunidade eu quero passar

pelas outras turmas porque agora são por blocos né. Então não são todas as turmas que eu

posso pegar. Mas eu ainda tenho vontade de pegar uma turma de Ciências na vida seja

crianças de tarde mais eu quero, e o meu desafio para o ano que vem (risos).

- Olha pra falar bem a verdade eu tava com medo, pra falar bem a verdade eu ainda tenho

medo porque eu não dei a minha primeira aula. Eu tenho medo assim do aluno chegar e fazer

uma pergunta que eu não sei responder. Então, igual no PIBID a gente faz esse treino: a gente

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vai lá dar a aula e fica lá a professora e a coordenadora ali e elas fazem todas as perguntas

mesmo que sejam absurdas que a gente sabe que vai sair da boca do aluno. Então é que dai da

um...a gente consegue relaxar ainda. Mas eu só vou dizer se eu estou preparada pra dá aula

depois da semana que veem que vai ser minha primeira aula.

-Vou ainda na dei minha primeira aula.

- Então, eu tô melhorando, igual nas primeiras aulas de metodologia eu tive que apresentar lá

na frente e eu ficava morrendo de vergonha começava a gaguejar e eu falava muito rápido

então era o nervosismo eu sou, eu morro, eu sou tímida. Só que depois de um tempo que eu

me solto depois ninguém mais me segura. Porque dai eu falo mesmo e igual ontem eu já fiz

outra apresentação e foi bem melhor que eu não fiquei lendo no papel, não fiquei tremendo. E

a minha voz saiu de uma maneira mais suave não saiu aquela coisa atropelada então eu

acredito que eu vo tá minha primeira aula na segunda-feira eu acredito que a primeira aula eu

vou ficar um pouco nervosa talvez eu gagueje um pouquinho que fique meio travada mas eu

acho que depois nas outras aulas eu já vou tá me soltando mais.

-Eu acho que vai...isso vária de pessoa pra pessoa eu realmente antes eu não achava professor,

a carreira de professor atraente porque meu estudar quatro anos e meio, ganhar um salário

“merreca” pra ficar escutando grito de aluno. Esse era meu pensamento antigamente. Só que

depois que eu entrei na faculdade que eu comecei o projeto eu comecei a achar interessante a

carreira de professor mesmo ganhando pouco (risos). Eu acho que eu...esses tempos em vi um

filme de uma professorinha, eu acho que era “uma professora muito maluquinha” alguma

coisa assim. E eu me cativei pelo jeito que ela tava aula, porque ela tava aula, era uma matéria

chata, algumas coisas chatas e ela tava de um jeito tão extrovertido, tão...querendo trazer,

trazendo os alunos pra história como se eles estivessem naquela época. Eu acho que se trazer,

eu tenho vontade de trazer isso. Igual explicar as leis de Newton, trazer eles na época de

Newton mostrar o jeito que foi. Então eu acho que é interessante. É uma brincadeira. É uma

forma de você brincar pra sempre. Que você pode fazer...e a sua sala de aula. Você vai poder

inventar você vai poder fazer o que você quiser. Então mesmo ganhando pouco eu acho que

vale a pena. E fora que tem benefícios né. Não trabalha final de semana, não trabalha feriado.

Então não é tão ruim assim ser professor também.

- Sim e não. Porque é uma brincadeira, você pode trazer em forma de brincadeira pros alunos.

Mas eles precisam aprender porque você vai ser cobrado se eles não tirarem boas notas. Então

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eu acho que não tão...tem a parte seria como eu falei no começo eu quero dar a opção deles

escolherem o que eles, como eles querem aprender a matéria. Mas também eles vão ter que

obedecer as minhas regras na parte quando é pra estudar, quando é prova é prova, trabalho é

trabalho. Quando eu tô passando...eu vô ter que...vai ter dia que realmente eu vou ter que

escrever no quadro. Hora de explicação é hora sagrada tem que ficar quito. Celular, talvez por

ser Física algumas aulas eles vão poder usar o celular, tablet qualquer coisa que seja mais eu

acho que o grande vilão ai e o uso do celular, whattsapp, essas coisas assim que. Até na

faculdade você vê isso mais a diferença é que na faculdade o professor não se importa porque

você tá ali pra aprender, você tá ali porque você que aprender. É já na escola não, na verdade

boa parte dos alunos vão porque são obrigados porque eles precisam ter uma formação,

precisam do terceiro ano do ensino médio completo pra você conseguir entrar numa

faculdade. Sem aquilo você não vai pra frente então é difícil os que vão com a intenção de

realmente querer aprender, eles vão assim “a eu tô indo pra escola porque eu preciso”. Então é

isso, é ai que eu quero fazer a diferença. Ai que eu quero mostrar que a Física não é só uma

obrigação pra aprender. Que a Física pode ser legal.

- Cara, mudou tudo. Primeiro que queria ser arquiteta, dai eu queria ser perita e agora eu vou

ser professora (risos). Claro que eu ainda não abandonei a ideia de ser perita porque eu não sei

eu tenho tanta sorte de conhecer as pessoas nas horas certas porque eu tenho um professor na

faculdade que ele é professor e ele também é perito. Então eu vi que eu posso tentar conciliar

as duas coisas que eu tenho vontade de ser. Então fora que eu comecei a me dedicar mais as

matérias porque eu entrei assim: a eu vou entrar não precisa se dedicar tanto porque eu vou

mudar pelo Provar. Fazer uma provinha lá e mudo. Então agora eu tenho que aprender, tenho

que saber as coisa por dai como, se não eu vou ser uma péssima professora quando eu chegar

lá na frente porque eu não sou sabe explicar pro meu aluno porque aquilo acontece porque

não acontece.

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ANEXOS III:

MAPA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS I: MÉRITO, COTAS E LICENCIATURA

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MAPA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS II: CARREIRA DOCENTE, REFUTAÇÕES E PROJEÇÕES DE FUTURA