universidade federal do paranÁ stephanie bath de …
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
STEPHANIE BATH DE MORAIS
ANÁLISE DA ALTERAÇÃO DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE NTSR1 EM
CARCINOMAS MAMÁRIOS
CURITIBA
2014
1
STEPHANIE BATH DE MORAIS
ANÁLISE DA ALTERAÇÃO DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE NTSR1 EM
CARCINOMAS MAMÁRIOS
Monografia apresentada à disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso II (Bmed006) como requisito
parcial à conclusão do curso de Biomedicina,
Setor de Ciências Biológicas, Universidade
Federal do Paraná.
Orientadora: Prof.ª Enilze Maria de Souza
Fonseca Ribeiro
CURITIBA
2014
2
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida e pelo sustento durante todos esses anos. Pela graça e
misericórdia renovadas em mim todos os dias. Sem Ele eu não seria capaz de coisa
alguma.
À minha orientadora Profª Drª Enilze Maria de Souza Fonseca Ribeiro pela
orientação e oportunidade de desenvolver meu trabalho junto a ela. Foi uma grande
alegria e honra participar de sua linha de pesquisa durante este ano.
Ao Prof. Dr. Iglenir João Cavalli pela dedicação e paciência em me ensinar.
Aos membros da banca por aceitarem me avaliar e pelas contribuições ao
trabalho.
Aos colegas do Laboratório de Citogenética Humana e Oncogenética pela
amizade, pelos momentos de descontração e pelas várias ajudas durante este ano.
Às pacientes que estiveram envolvidas neste estudo, sem elas esta pesquisa
não seria possível.
À Drª Tatiana A. C. B. de Souza, minha supervisora do estágio obrigatório no
Instituto Carlos Chagas/Fiocruz-PR, pela amizade e pelos ensinamentos. Agradeço
por tantas vezes ter sido compreensiva nos momentos em que precisei me dedicar
um pouco mais ao TCC.
A meus colegas do Laboratório de Proteômica e Engenharia de Proteínas por
aquilo que me ensinaram e ajudaram durante esse ano.
A meus pais, Claudimir e Karin, pelo cuidado e amor. Por me ensinarem a
enfrentar todas as dificuldades, por serem meu exemplo de vida. Obrigada pela
compreensão e proteção. Obrigada por tantas vezes me ajudarem com minhas
necessidades. Obrigada por estarem sempre presentes em minha vida, sei que
posso sempre confiar em vocês. É uma honra ser sua filha, amo vocês!
A meu irmão Abner que esteve sempre ao meu lado para me incentivar e
fazer rir. Pela alegria em ter um irmão tão companheiro, protetor e querido. Obrigada
por sempre me fazer sentir capaz.
Ao Lucas pelo amor, carinho e incentivo. Mesmo estando distante sempre me
fez sentir amada e muitas vezes me ajudou em minhas dúvidas e dificuldades.
Obrigada por sempre se orgulhar de mim e por compreender quando eu precisava
estudar. Quero contigo crescer e aprender, eu te amo!
3
Às amigas do curso de Biomedicina com quem tive a oportunidade de estar
durante todos estes anos. Com quem aprendi e me diverti. Agradeço pelo
companheirismo e pela paciência comigo.
Aos amigos que me são como irmãos. Agradeço pela amizade, pelo amor,
pela preocupação e por toda a compreensão durante todos estes anos de estudo.
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RESUMO
O câncer de mama é a principal causa de morte por câncer em mulheres de todo o
mundo. A incidência dessa doença maligna vem aumentando a cada ano, de forma
que depois do câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente
na população feminina brasileira e mundial. A análise de genes envolvidos no início
e na progressão tumoral é uma das estratégias que pode ser adotada para auxiliar a
compreensão da doença e a orientação de pesquisas para o desenvolvimento
terapêutico. O gene do receptor de neurotensina do tipo 1 (NTSR1) tem sido descrito
como contribuinte da progressão tumoral do câncer de mama. A sua expressão
aumentada é considerada um marcador prognóstico desfavorável em diversos
tumores, incluindo carcinomas mamários e o ganho do número de cópias gênicas,
na maioria dos casos, associa-se ao aumento da expressão gênica. O objetivo deste
trabalho foi analisar a alteração do número de cópias do gene NTSR1 em 78
amostras de carcinomas mamários primários e associá-la à diferenciação e
progressão dos subtipos deste câncer presentes na nossa amostra. Essa análise foi
realizada por meio de ensaios de PCR quantitativa em tempo real em grupos de
amostras tumorais dos subtipos nomeados luminal A, luminal B, HER2 positivo e
triplo negativo. Os subtipos moleculares apresentam diferentes fatores de risco,
aspectos clínicos e patológicos e respostas aos tratamentos, evidenciando a
importância de marcadores que auxiliem na subclassificação dos tumores de mama.
Verificamos que a alteração do número de cópias do gene NTSR1 depende do
subtipo do câncer de mama e foi maior nos subtipos de maior agressividade (triplo
negativo e HER2 positivo). Além disso, foi verificada uma associação entre os
maiores números de cópias do gene e as amostras de maior grau histológico. O
gene NTSR1 e suas alterações do número de cópias podem ser um importante
marcador para os subtipos mais agressivos do câncer de mama, além de ser um
potencial alvo terapêutico para estes subtipos, que, no caso do triplo negativo, não
possui uma estratégia de tratamento específica.
Palavras-chave: Câncer de mama. Gene NTSR1. Classificação imunohistoquímica.
Alteração do número de cópias. Marcadores.
5
ABSTRACT
Breast cancer is the leading cause of cancer death in women worldwide. The
incidence of this malignant disease has been increasing every year, in a way that,
breast cancer is the most frequent cancer in the Brazilian and worldwide women,
after non-melanoma skin cancer. The analysis of genes involved in the emergence
and progression of tumors is one of the strategies that may be adopted to support the
understanding of the disease and the guidance of researches for therapeutic
development. The neurotensin receptor type 1 gene (NTSR1) has been described
as contributor to breast cancer’s tumor progression. Its overexpression is considered
a negative prognostic marker in various tumors, including breast carcinomas and the
copy number gain of NTSR1 gene, in most cases, is associated with increased gene
expression. The objective of this study was to analyze the copy number alterations of
the NTSR1 gene in 78 samples of primary breast carcinomas and relate it to the
differentiation and progression in the detected immunohistochemistry subtypes in our
sample. This analysis was carried out by real time quantitative PCR assay in tumors
sample groups denominated as luminal A, luminal B, HER2 positive and triple
negative subtypes. The molecular subtypes present different risk factors, clinical and
pathological aspects and responses to treatments, highlighting the importance of
markers which aid in the sub-classification of breast tumors. It was found that the
copy number alterations of the NTSR1 gene depends on the breast cancer subtype
and was higher in more aggressive subtypes (triple negative and HER2 positive).
Furthermore, it was observed an association between increase copy numbers of the
gene and the samples with higher histological grade. The NTSR1 gene and its copy
number alterations may be an important marker for more aggressive breast cancer
subtypes, as well as being a potential therapeutic target for these subtypes, which in
the triple negative’s case, does not have a specific treatment strategy.
Keywords: Breast cancer. NTSR1 gene. Immunohistochemistry classification. Copy
number alterations. Markers.
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................7
2 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................................9
2.1 CÂNCER DE MAMA...............................................................................................9
2.2 CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR DO CÂNCER DE MAMA.................................12
2.3 FATORES GENÉTICOS......................................................................................16
2.4 ALTERAÇÃO DO NÚMERO DE CÓPIAS............................................................17
2.5 GENE NTSR1 E PROTEÍNA NTSR1...................................................................17
3 JUSTIFICATIVA......................................................................................................24
4 OBJETIVOS............................................................................................................25
4.1 OBJETIVO GERAL...............................................................................................25
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................25
5 METODOLOGIA.....................................................................................................26
5.1 AMOSTRAS.........................................................................................................26
5.2 EXTRAÇÃO DE DNA...........................................................................................30
5.3 PCR QUANTITATIVA EM TEMPO REAL............................................................31
5.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA......................................................................................32
6 RESULTADOS........................................................................................................33
6.1 SUBTIPOS MOLECULARES...............................................................................33
6.2 IDADE...................................................................................................................37
6.3 METÁSTASE EM LINFONODOS AXILARES......................................................38
6.4 GRAU HISTOLÓGICO.........................................................................................39
7 DISCUSSÃO...........................................................................................................41
8 CONCLUSÃO.........................................................................................................45
REFERÊNCIAS..........................................................................................................46
7
1 INTRODUÇÃO
O câncer abrange mais de 100 doenças que têm em comum a proliferação
celular desordenada e constitui um problema de saúde pública mundial. Em 2012
foram registrados 14,1 milhões de novos casos mundiais e 8,2 milhões de mortes
por câncer. As perspectivas para o futuro revelam um quadro ainda mais
preocupante, é esperada a ocorrência de 21,4 milhões de novos casos no nível
global e 13,2 milhões de mortes por câncer para o ano de 2030. A prevenção, o
diagnóstico e o controle do câncer precisam receber uma significativa atenção, pois
o crescente número de novos casos poderá esgotar os recursos suficientes para seu
tratamento e acompanhamento (INCA, 2014).
O Brasil não apresenta um quadro diferente do mundial. Para este ano de
2014 as estimativas apontaram para o surgimento de 576 mil novos casos de
câncer. Desconsiderando o câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o
mais incidente e a principal causa de morte por câncer na população brasileira
feminina (INCA, 2014).
Atualmente, diversas pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de
identificar alterações genéticas que possam ser utilizadas como marcadores
capazes de facilitar o diagnóstico precoce e a compreensão das diversas vias de
sinalização intracelular que contribuem para a iniciação e a progressão do câncer de
mama. Além disso, os marcadores ideais são aqueles que possibilitam a realização
de testes pouco invasivos, possuem alta eficiência e sensibilidade e auxiliam na
criação de propostas de novas abordagens terapêuticas mais específicas para cada
caso identificado.
Marcadores como a superexpressão da proteína HER2 e presença dos
receptores hormonais (estrogênio e progesterona) representam importantes
ferramentas de classificação do câncer de mama e de seleção da melhor terapia
disponível (RAKHA et al., 2010). A subdivisão do câncer de mama através da
análise de expressão gênica (classificação molecular) foi primeiramente descrita por
Perou e colaboradores (2000) e Sorlie e colaboradores (2001, 2003). Em uma
versão atualizada da classificação original, podem ser identificados quatro subtipos
moleculares do câncer de mama descritos em ordem crescente de agressividade
tumoral: Luminal A, Luminal B, HER2 positivo e Basal (GOLDHIRSCH et al., 2011).
8
O gene do receptor de neurotensina do tipo 1 apresenta-se como um
potencial marcador para o câncer de mama. Assim como outros receptores de
peptídeos que promovem o crescimento celular, o receptor da neurotensina tem sido
descrito com expressão aumentada em alguns tumores atuando em proliferação
celular, sobrevivência, invasão, angiogênese e metástase (SOUAZÉ et al., 2006). No
câncer de mama a expressão aumentada deste receptor é um marcador prognóstico
desfavorável, sendo um provável marcador da progressão tumoral nos diferentes
subtipos moleculares (DUPOUY et al., 2014).
Considerando a importância da classificação molecular e o potencial papel
desempenhado pelo receptor de neurotensina do tipo 1 no câncer de mama, o
objetivo deste trabalho foi avaliar a alteração do número de cópias (CNA, do inglês:
Copy Number Alterations) do gene NTSR1 em amostras de quatro subtipos de
carcinoma mamário.
9
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Câncer de mama
O câncer de mama é o câncer mais frequentemente diagnosticado e é a
principal causa de morte por câncer em mulheres de todo o mundo, tanto em países
desenvolvidos como em países em desenvolvimento. É responsável por 23% dos
novos casos totais de câncer e por 14% do total de mortes por câncer (JEMAL et al.,
2011). De acordo com o INCA (2014), a estimativa de novos casos para o Brasil é
de 57.120 para o biênio de 2014/2015, com um risco estimado de 56,09 casos a
cada 100 mil habitantes. Em países da América do Norte e da Europa as taxas de
mortalidade do câncer de mama têm diminuído, devido à detecção precoce e aos
melhores tratamentos (JEMAL et al., 2011). Entretanto no Brasil as taxas de
mortalidade por câncer de mama ainda são altas, provavelmente porque o
diagnóstico ocorre em estágios mais avançados da progressão tumoral (INCA,
2014). O diagnóstico precoce do câncer permite que o tratamento seja iniciado
quando o câncer ainda não se espalhou e, desta forma, é possível observar uma
redução das taxas de mortalidade (IARC, 2002; LITAKER; TOMOLO, 2007; VOGT et
al., 2014).
O sintoma mais comum e palpável é a formação de nódulos de consistência
dura e irregular nas mamas, acompanhada ou não de dor. Além disso, podem
aparecer nódulos palpáveis na axila, secreção no mamilo, alterações na pele da
mama, como abaulamento ou retração e aspecto das mamas semelhante à casca
de uma laranja. As formas atuais mais frequentes de diagnóstico do câncer de
mama são o exame clínico e a mamografia. O exame clínico das mamas é realizado
por um médico ou por enfermeiros treinados na busca por nódulos superficiais e
deve ocorrer a cada um ano em mulheres a partir de 40 anos. A mamografia
consiste na radiografia da mama que permite a visualização de lesões ainda iniciais,
devendo ser realizada uma vez a cada dois anos em mulheres entre 50 e 69 anos
ou de acordo com a recomendação médica (INCA, 2014).
O carcinoma mamário não possui uma causa única, mas resulta de um
conjunto de fatores que podem contribuir para o desenvolvimento tumoral. Entre eles
estão os fatores endócrinos relacionados à exposição ao estrógeno, como menarca
precoce (antes dos 11 anos de idade), menopausa tardia (após os 50 anos), uso de
10
contraceptivos orais e da terapia hormonal pós-menopausa. Constituem-se ainda
como parte dos fatores de risco a nuliparidade, a primeira gravidez tardia (após os
30 anos), a idade avançada, a raça (mulheres brancas são aquelas que apresentam
maior suscetibilidade ao câncer de mama), o excesso de peso, o consumo
exagerado de álcool e a exposição a radiações ionizantes em idade inferior a 35
anos (NEWCOMB; WERNLI, 2010; JEMAL et al., 2011; SCHNEBLE et al., 2014;
INCA, 2014).
A predisposição genética também se apresenta como um fator de risco para o
câncer de mama. Embora represente menos de 10% dos casos, o histórico familiar
positivo é bem consolidado como sendo um fator de risco para este câncer.
Mulheres com casos de um parente de primeiro grau diagnosticado com câncer de
mama apresentam um aumento de aproximadamente duas vezes no risco para o
câncer de mama. Este risco aumenta de acordo com o número de parentes
afetados (DUMALAON-CANARIA et al., 2014).
O sistema mais utilizado para a classificação dos tumores malignos é o
sistema TNM, que categoriza o câncer dependendo da extensão do tumor primário
(T), da ausência ou presença de metástases em linfonodos regionais (N) e a
ausência ou presença de metástases à distância (M). A cada uma destas categorias
é adicionado um número para indicar a extensão da doença maligna (QUADRO 1).
Esta classificação é disponibilizada pelo INCA (2014) e está de acordo com os
padrões da União Internacional de Combate ao Câncer (UICC).
T- Tumor primário N - Linfonodos regionais M – Metástase à distância
TX - O tumor primário não
pode ser avaliado
NX - Os linfonodos regionais não
podem ser avaliados
M0 - Ausência de
metástase à distância
T0 - Não há evidência de
tumor primário
N0 - Ausência de metástase em
linfonodos regionais
M1 - Metástase à distância
Tis - Carcinoma in situ N1-N3 - Comprometimento crescente
dos linfonodos regionais
T1-T4 - Tamanho crescente
e/ou extensão local do tumor
primário
QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DE TUMORES MALIGNOS DE ACORDO COM O SISTEMA TNM FONTE: O autor (2014), http://www.cancer.org.br/tnm
11
Os carcinomas mamários podem também ser classificados de acordo com o
seu grau histológico. O sistema Nottingham Grandin, modificação do sistema Scarf-
Bloom-Richardson, é o mais recomendado para a realização da graduação
histológica. O grau histológico oferece um panorama das características biológicas e
dos comportamentos clínicos. Baseia-se no grau de diferenciação do tecido tumoral
e indica o potencial de malignidade dos tumores invasivos.
Grau I (baixo): bem diferenciado e com melhor prognóstico.
Grau II (intermediário): moderadamente diferenciado.
Grau III (alto): pouco diferenciado e com pior prognóstico.
O alto grau histológico, além de ser relacionado a um pior prognóstico,
também é descrito com maior probabilidade de recorrência mais precoce e de morte
(RAKHA et al., 2010).
A maior parte dos casos de câncer de mama acomete as células epiteliais
que revestem os ductos e os lóbulos mamários, sendo denominados de carcinomas
ductais e carcinomas lobulares, respectivamente. Há ainda outros subtipos
histológicos, como os mucinosos, os medulares, os tubulares e os papilares, mas
que correspondem a uma parcela muito menor dos casos (GUIMARÃES, 2008). O
primeiro estágio da neoplasia mamária é o carcinoma in situ (CIS), as células
apresentam atipia e possuem um significativo aumento das taxas mitóticas e das
alterações genéticas. O estágio mais avançado desta neoplasia é o carcinoma
invasor (CI), que é caracterizado pelo rompimento da membrana basal pelas células
epiteliais, resultando na invasão do estroma circundante (TLSTY et al., 2004).
Muitos aspectos contribuem para a grande importância clínica do câncer de
mama, entre eles está a alta taxa de recorrência da doença. Mesmo após o
tratamento curativo é necessário um acompanhamento das pacientes por toda a sua
vida, visto que cerca de 15% destas mulheres irão desenvolver uma segunda
neoplasia maligna dentro de dez anos. Estas recorrências ocorrem principalmente
na forma de metástases que atingem um órgão distinto do local original. No câncer
de mama, as metástases podem ser encontradas nos linfonodos regionais
(linfonodos axilares, infraclaviculares, mamários internos e supraclaviculares) e em
órgãos distantes. Conforme mostra a FIGURA 1 as metástases em locais distantes
para o câncer de mama estão preferencialmente localizadas no pulmão, no fígado e
nos ossos. A heterogeneidade das metástases dificulta a definição de cura e dos
12
fatores de risco do carcinoma mamário (UICC, 2004; WEIGELT et al., 2005;
SCHNEBLE et al., 2014).
FIGURA 1 - METÁSTASES MAIS COMUNS DO CÂNCER DE MAMA FONTE: WEIGELT et al. (2005)
2.2 Classificação Molecular do Câncer de Mama
A classificação molecular do carcinoma mamário é esquematizada tomando
como base a expressão gênica dos diversos fenótipos tumorais. Descrita
inicialmente por Perou e colaboradores (2000), foi demonstrado que os carcinomas
mamários podem ser classificados em quatro grupos de acordo com o perfil de
expressão gênica: luminal, basal, normal-like e HER2 positivo. Estudos posteriores
realizados por Sorlie e colaboradores (2001, 2003) subdividiram o grupo luminal em
luminal A e B. Algumas das diferenças entre os subtipos são relacionadas ao status
dos receptores hormonais de estrogênio (ER) e progesterona (PR) e à amplificação
do oncogene ERBB2 (também denominado HER2). Em alguns casos também têm
sido medida a expressão da proteína Ki-67 (marcador de proliferação celular) e de
marcadores basais como citoqueratinas de alto peso molecular, porém, a sua
utilização ainda não está completamente estabelecida (RAKHA, E. A et al., 2010).
Luminal A: Este grupo apresenta um perfil de expressão semelhante ao das
células luminais do epitélio mamário normal e representa 50-60% dos carcinomas
mamários. Em geral apresenta alta expressão de ER e expressa genes regulados
pelo estrogênio. Além disso, os carcinomas enquadrados neste subtipo expressam
PR, não possuem amplificação do gene HER2 e têm baixa expressão de genes
13
relacionados à proliferação celular, como o gene da proteína Ki-67. Sua ocorrência
está associada a tumores de menor grau histológico, com o melhor prognóstico e
alta taxa de sobrevida (2,2 anos). Estes pacientes não possuem uma boa resposta à
quimioterapia, por isso o mais utilizado para eles é a terapia adjuvante com o
tamoxifeno (GOLDHIRSCH et al., 2011; REIS-FILHO & PUSZTAI, 2011; ALIZART et
al., 2012; EROLES et al., 2012).
Luminal B: Tumores com o perfil molecular do tipo luminal B representam 10
a 20% dos casos de câncer de mama. Assim como o grupo luminal A, eles
expressam ER e PR, porém possuem um fenótipo mais agressivo: prognóstico
inferior, maior grau histológico e menor taxa de sobrevida (1,6 anos). Além disso, o
grupo luminal B é definido como ER+/PR+/HER2+ ou ER+/PR+/HER2- e alto Ki-67.
Portanto, outra diferença encontra-se na amplificação do gene HER2 ou na
expressão de genes proliferativos. A terapia é realizada de forma satisfatória com
quimioterápicos (GOLDHIRSCH et al., 2011; REIS-FILHO & PUSZTAI, 2011;
ALIZART et al., 2012; EROLES et al., 2012).
HER2 positivo: A principal característica deste grupo é a alta expressão do
gene HER2. Mas também é encontrada uma alta expressão de genes relacionados
à proliferação celular, altos valores de Ki-67 e negatividade para os receptores
hormonais. A terapia é realizada através da combinação da quimioterapia com
drogas anti-HER2. Os tumores mamários deste tipo correspondem entre 15 e 20%
do total e são clinicamente caracterizados por possuírem um prognóstico
desfavorável e alto grau histológico. Outra característica observada neste grupo é a
presença de mutações no gene TP53 em mais de 40% das pacientes
(GOLDHIRSCH et al., 2011; REIS-FILHO & PUSZTAI, 2011; ALIZART et al., 2012;
EROLES et al., 2012).
Normal-like: Apresentam perfil de expressão semelhante às células do
parênquima mamário normal e aos fibroadenomas. São ER+/PR+/HER2- com alta
expressão de Ki-67. Seu prognóstico clínico é considerado intermediário e com
baixo grau histológico. Representando a minoria dos carcinomas mamários (5-10%)
são pouco caracterizados e existem dúvidas sobre a sua real existência, algumas
pesquisas sustentam a hipótese de que este grupo seja uma contaminação com
tecido normal durante os ensaios (REIS-FILHO; PUSZTAI, 2011; EROLES et al.,
2012).
14
Basal: Dentre os cinco grupos propostos por Perou et al. (2000) e Sorlie et al.
(2001, 2003) o grupo basal é considerado o mais agressivo, com o maior grau
histológico, prognóstico desfavorável e surgimento em idade precoce (antes dos 50
anos). Possui um fenótipo normalmente ER-/PR-/HER2- e alto Ki-67. A expressão é
semelhante ao das células basais mioepiteliais mamárias, composta de uma ou mais
citoqueratinas de alto peso molecular (CK 5/6, CK 14, CK 17), vimentina e EGFR
(receptor do fator de crescimento epidermal). Tem sido encontrada uma forte relação
do subtipo basal e mutações no gene BRCA1 e cerca de 85% das pacientes deste
subtipo são portadoras de mutações no gene TP53. Sua frequência é de 10-20% e o
tratamento mais indicado é a quimioterapia (TURNER; REIS-FILHO, 2006; BADVE
et al., 2011; GOLDHIRSCH et al., 2011; REIS-FILHO & PUSZTAI, 2011; ALIZART et
al., 2012; EROLES et al., 2012).
Com o objetivo de reduzir a heterogeneidade existente dentro dos subtipos já
definidos, nos últimos anos têm sido propostos novos subtipos moleculares com
base em suas características específicas, como claudina baixa (do inglês, claudin
low) e apócrino molecular (do inglês, molecular apocrine).
Claudina baixa: Identificado em 2007 por Herschkowitz e colaboradores, este
subtipo se particulariza pela baixa expressão das claudinas 3, 4 e 7 e da e-caderina
e alta expressão de marcadores de Transição Epitelial-Mesenquimal (EMT, do
inglês, epithelial-to-mesenchymal transition). Essa expressão gênica faz com que as
células tumorais deste subtipo apresentem características similares a células tronco
iniciadoras de tumor. Seu perfil molecular é descrito como ER-/PR-/HER2-. Abrange
aproximadamente 13% dos carcinomas mamários e possui um prognóstico
considerado intermediário e alto grau histológico (PRAT et al., 2010; REIS-FILHO &
PUSZTAI, 2011; ALIZART et al., 2012).
Apócrino molecular: Os tumores deste tipo são definidos como ER-/PR- e
HER2 positivo ou negativo. O prognóstico é desfavorável e o grau histológico é alto.
A característica peculiar deste subtipo encontra-se na alta expressão do receptor de
androgênio (AR) (FARMER et al., 2005; REIS-FILHO & PUSZTAI, 2011; ALIZART et
al., 2012).
Os subtipos moleculares do câncer de mama apresentam diferentes fatores
de risco, diferentes aspectos clínicos e patológicos e diferentes respostas às
terapias empregadas. Desta forma, a classificação molecular pode auxiliar na
determinação da melhor abordagem terapêutica específica para cada indivíduo, e
15
não simplesmente para a média das pacientes (GOLDHIRSCH et al., 2011;
EROLES et al., 2012). As principais diferenças entre os subtipos encontram-se
resumidas na TABELA 1.
TABELA 1 - CARACTERÍSTICAS DOS SUBTIPOS MOLECULARES DO CÂNCER DE MAMA
Subtipo Molecular
Marcadores imunohistoquímicos
Ki-67 Marcadores
basais Grau
histológico Prognóstico Frequência
Luminal A ER+ PR+ HER2- Baixo - I ou II Bom 50-60%
Luminal B ER+ PR+ HER2+ ER+ PR+ HER2-
Baixo Alto
- II ou III Intermediário/ Desfavorável
10-20%
HER2 positivo ER- PR- HER2+ Alto + II ou III Desfavorável 15-20%
Basal ER- PR- HER2- Alto -/+ III Desfavorável 10-20%
Normal-like ER+ PR+ HER2- Alto -/+ I Intermediário 5-10%
Claudina baixa ER- PR- HER2- Médio -/+ III Intermediário 12-14%
Apócrino Molecular
ER- PR- HER2+/- Alta -/+ II ou III Desfavorável -
FONTE: GOLDHIRSCH et al. (2011); REIS-FILHO & PUSZTAI (2011); ALIZART et al. (2012); EROLES et al. (2012).
Existe ainda um grupo heterogêneo definido como tumores triplo negativos
(TNBC) que são caracterizados pela ausência de expressão dos receptores ER, PR
e de amplificação do gene HER2, daí o termo ―triplo negativos‖. Eles não se
encaixam na classificação molecular atual, porém representam 10-17% de todos os
tipos de câncer de mama. Apesar de apresentarem-se semelhantes em nível de
transcrição aos tumores do grupo basal, não existe uma sobreposição completa
entre eles. No estudo desenvolvido por Bertucci e colaboradores (2008) apenas 71%
dos TNBC se encaixaram no subtipo basal e apenas 77% dos tumores basais foram
triplo negativos. Os TNBC possuem um histórico clínico ainda mais agressivo. Estão
associados a uma maior incidência de metástases viscerais e cerebrais do que
ósseas, uma baixa taxa de sobrevida, uma alta taxa de recidiva local e idade
precoce de início da doença. Devido a rotas alternativas de metastatização, a
maioria das mortes neste subtipo ocorre nos cinco primeiros anos de tratamento e
existe uma maior probabilidade de recorrência entre o primeiro e o terceiro ano. Por
falta de tratamento específico é aplicado o tratamento convencional com
quimioterápicos, mas isso deixa margens para o aparecimento da recidiva local
(CLEATOR et al., 2007; BADVE et al., 2011).
16
2.3 Fatores Genéticos
O câncer de mama, bem como outros carcinomas, resulta de um acúmulo de
alterações genéticas e epigenéticas, que transformam células normais em células
tumorais. As alterações genéticas acontecem devido a instabilidades no genoma e
podem ser perda de genes, amplificações gênicas, mutações de ponto e
translocações cromossômicas. A maioria destas alterações leva à morte celular, mas
o envolvimento de alguns genes chaves, como os proto-oncogenes e os genes
supressores de tumor, pode culminar na formação de um tumor (OSBORNE et al.,
2004).
Os proto-oncogenes são responsáveis por codificar proteínas que recebem e
processam sinais estimuladores do crescimento celular que surgem no meio
extracelular e têm a sua expressão regulada de acordo com as necessidades da
célula. Quando estes genes sofrem alguma mutação, são transformados nos
chamados oncogenes, promovendo uma proliferação celular desregulada
característica de tumores (WEINBERG, 2008). Os oncogenes mais frequentemente
encontrados no carcinoma mamário são ERBB2, MYC, CCND1 e PI3KCA (LEE;
MULLER, 2010).
Genes supressores de tumor realizam a manutenção da integridade do
genoma e o controle da proliferação celular através de proteínas regulatórias, as
quais impedem a progressão do ciclo celular quando são encontrados danos ao
DNA a fim de repará-los. Dois eventos de mutação em um destes genes podem
desequilibrar o funcionamento normal da célula, levando-a a uma proliferação
desordenada sem que ocorra a checagem e o reparo dos danos ao genoma
(OSBORNE et al., 2004; WEINBERG, 2008).
Os genes supressores de tumor mais frequentemente envolvidos com o
câncer de mama podem ser divididos em dois grupos: de ―alto risco‖ e de ―baixo a
moderado risco‖ para o desenvolvimento tumoral. O grupo de ―alto risco‖ é
constituído principalmente dos genes BRCA1, BRCA2, PTEN, TP53, LKB1/STK11 e
CDH1; e no segundo grupo estão os genes CHK2, TGFB1, CASP8 e ATM
(OLDENBURG et al., 2007). Estes genes compreendem apenas 25% dos tumores
de mama de causa hereditária, pode-se então inferir que devem existir outros genes
ainda não identificados envolvidos na susceptibilidade ao câncer de mama
(BRADBURY & OLOPADE, 2007).
17
2.4 Alteração do número de cópias de DNA
CNA pode ser definido como alterações somáticas do número de cópias de
um segmento de DNA com tamanho variável entre 1 kilobase (kb) e 1 megabase
(Mb) que são encontradas em uma sub-população de células clonais. Ou seja,
apresentam uma alteração do número de cópias quando comparada ao DNA
genômico constitucional do mesmo indivíduo (BEROUKHIM et al., 2010). Essas
mudanças estão presentes no genoma humano na forma de ganhos ou perdas de
segmentos cromossômicos (COOPER et al., 2008). Análises genéticas e de
citogenética têm revelado muitas dessas alterações no genoma humano
desempenhando um importante papel na etiologia de doenças complexas (WEIR,
ZHAO e MEYERSON, 2004).
As alterações do número de cópias de DNA são comuns em câncer e alteram
a expressão e função dos genes localizados na região afetada. A identificação de
regiões de cromossomos com alteração no número de cópias e dos genes
envolvidos é de extrema importância na compreensão do desenvolvimento tumoral e
na busca por novos diagnósticos e alvos terapêuticos (KALLIONIEMI, 2008).
Um ganho em alterações do número de cópias de DNA está ligado a um pior
prognóstico em diversos tumores como câncer de ovário (BIRRER et al., 2007),
câncer colorretal (KIM et al., 2006), mieloma (CARRASCO et al., 2006),
meduloblastoma (MENDRZYK et al., 2005) e câncer de mama (JAIN et al., 2001).
2.5 Gene NTSR1 e proteína NTRS1
O gene humano NTSR1 está localizado no braço longo (20q13.33) do
cromossomo 20 (FIGURA 2) e é expresso principalmente no cérebro e no trato
gastrointestinal (TGI). O gene possui mais de 10 kb e contém 4 éxons e 3 íntrons
(FIGURA 3), sendo que todos os três íntrons estão localizados na região codificante
(LE et al., 1997; VINCENT et al., 1999). Na caracterização do gene realizada por Le
e colaboradores (1997) foram identificados polimorfismos de repetição
tetranucleotídea com pelo menos 23 alelos que têm sido relacionados a distúrbios
neuropsiquiátricos (LI et al., 2011; MA et al., 2013).
18
FIGURA 2 - CROMOSSOMO 20 FONTE: http://www.genecards.org/cgi-bin/carddisp.pl?gene=NTSR1 LEGENDA: Em vermelho, localização do gene NTSR1 no cromossomo 20 (20q13.33).
FIGURA 3 - ESTRUTURA DO GENE NTSR1 FONTE: http://refgene.com/gene/4923, adaptado pelo autor (2014)
O receptor de neurotensina do tipo 1 (NTSR1) (FIGURA 4) é uma proteína de
418 aminoácidos com sete domínios transmembrana que pertence à família dos
receptores acoplados à proteína G (FIGURA 5). Existem ainda outros receptores de
neurotensina descritos na literatura. O NTSR1 é o receptor de alta afinidade e o
NTSR2 de baixa afinidade, ambos são acoplados à proteína G. O NTSR3 é um
receptor não específico codificado pelo gene SORT1 (VINCENT et al., 1999).
FIGURA 4 - ESTRUTURA DO RECEPTOR DE NEUROTENSINA DO TIPO 1 (NTSR1) FONTE: O autor (2014), PyMol Molecular Graphics System
19
FIGURA 5 - REPRESENTAÇÃO DO NTSR1 COM OS SETE DOMÍNIOS TRANSMEMBRANA FONTE: LE et al. (1997) LEGENDA: I-VII, domínios transmembrana numerados.
A neurotensina (NTS) é o principal agonista do NTSR1 e foi descoberta em
1973 por Carraway e Leeman. A NTS exerce funções no sistema nervoso e em
órgãos periféricos. No cérebro ela atua como um neuromodulador da transmissão da
dopamina e da secreção hormonal da glândula pituitária anterior. Na periferia é um
modulador parácrino e endócrino no TGI e no sistema cardiovascular. Suas
atividades no TGI envolvem motilidade gastrointestinal, estimulação das secreções
pancreática e biliar, e age como facilitadora da translocação de ácidos graxos para o
lúmen intestinal. Além disso, a NTS é bem retratada por estimular o crescimento
celular de diversos tecidos normais e cancerosos (VINCENT et al., 1999; EVERS,
2006).
Devido a este papel no crescimento celular, a NTS e seu receptor NTSR1 têm
sido relacionados à progressão de diversas neoplasias como câncer pancreático,
câncer colorretal, câncer de próstata, câncer de pulmão, carcinoma de células
escamosas de cabeça e pescoço (Head and neck squamous cell carcinoma,
HNSCC) e câncer de mama (SOUAZÉ et al., 2006; EVERS, 2006; DUPOUY et al.,
2011). O NTSR1 possui um papel fundamental na ativação de inúmeros efeitos da
NTS relacionados à progressão e ao crescimento tumoral. Dentre estes efeitos
podem ser citados a proliferação, a sobrevivência, a propagação metastática, a
20
proteção contra apoptose, efeitos pró-migratórios e pró-invasivos (SOMAÏ et al.,
2002; SOUAZÉ et al., 2006; DUPOUY et al., 2011).
A contribuição da NTS e do seu receptor NTSR1 no crescimento celular de
tecidos normais e, principalmente, tecidos tumorais se inicia pela ligação da NTS ao
sítio de ligação do NTSR1, que está acoplado à proteína Gq (FIGURA 6). Este
evento leva à substituição de GDP (difosfato de guanosina) por GTP (trifosfato de
guanosina) na proteína Gq. A subunidade Gαq/11, ligada ao GTP, move-se até a
fosfolipase C (PLC) ativando-a. A PLC ativada cliva o fosfatidil-inositol-4,5-bifosfato
(PIP2) em inositol-trifosfato (IP3) e diacilglicerol (DAG). O IP3 se liga a um receptor
específico no retículo endoplasmático abrindo os canais de cálcio (Ca2+) que serão
liberados para o citosol. O Ca2+ juntamente com o DAG ativa a proteína quinase C
(PKC) (COX; NELSON, 2011; DUPOUY et al., 2011).
Existem outras cascatas de sinalização que podem resultar da ligação da
NTS com o NTSR1, porém a maioria dos efeitos oncogênicos do NTSR1 dependem
da ativação da PKC (DUPOUY et al., 2011).
As duas isoformas mais comuns da PKC (α e β1) inibem o NTSR1 quando são
ativadas. Porém, as isoformas δ e ε mantém o NTSR1 em funcionamento. São
através destas duas últimas isoformas que se dão os efeitos oncogênicos (DUPOUY
et al., 2011).
21
FIGURA 6 - CASCATA DE SINALIZAÇÃO DESENCADEADA PELA LIGAÇÃO DE UM LIGANTE A SEU RECEPTOR LIGADO À PROTEÍNA G FONTE: Adaptado de COX; NELSON(2011) NOTA: No caso estudado, o hormônio (H) corresponde à neurotensina e o receptor específico ao receptor de neurotensina (NTSR1).
A partir da PKC será ativada a cascata das MAPKs (proteínas quinases
ativadas por mitógenos), principalmente as ERKs (quinases ativadas por fatores de
crescimento) (FIGURA 7). ERKs são proteínas relacionadas com a ativação da
transcrição de genes da proliferação celular, do bloqueio da apoptose e da
diferenciação celular. A PKC ativada pode realizar a ativação das ERKs diretamente
pela fosforilação da enzima Raf-1, ou indiretamente pela ativação do proto-oncogene
SRC. A Src fosforila a Raf-1, que foi levada até a membrana plasmática pela
proteína Ras. A Raf-1 fosforila MEK (quinase regulada por mitógeno), que por sua
vez irá fosforilar ERK. Existe ainda outro mecanismo de atuação da PKC, porém ele
ainda não é completamente elucidado. Este mecanismo ocorre pela ativação de
EGFR (receptor do fator de crescimento epidermico) por ligantes ―EGF-like‖ que são
liberados na membrana plasmática por clivagem proteolítica de enzimas como as
MMPs (metaloproteinases de matriz). O EGFR irá ativar fosfatidil-inositol-3-quinase
22
(PI3K), que irá fosforilar AKT (ou proteína quinase B, PKB). A via MAPK resultará na
transcrição de genes como o gene de resposta precoce ao crescimento (ERG1), os
genes das proteínas Elk-1 do domínio Ets e do fator de transcrição AP-1 (LENZ,
2000; DUPOUY et al., 2011; WU et al., 2012).
FIGURA 7 - CASCATA DE SINALIZAÇÃO INICIALIZADA PELA LIGAÇÃO NTS-NTSR1 FONTE: DUPOUY et al. (2011), adaptado pelo autor (2014)
O NTSR1 tem sido relacionado não só à progressão tumoral, mas também à
tumorigênese, principalmente em câncer de mama. Isso porque o gene NTSR1 é um
alvo das vias oncogênicas Wnt/APC relacionadas com o complexo de transcrição de
h-catenina/Tcf, o qual ativa genes envolvidos na proliferação e transformação
celular. Genes Wnt possuem uma regulação positiva em câncer de mama e estão
associados com a sua tumorigênese (SOUAZÉ et al., 2006).
O uso do NTSR1 como um potencial marcador para a progressão tumoral
pode ser justificada no nível transcricional. Em diversos tipos de câncer têm sido
observadas altas expressões de NTSR1, como tumor pancreático, HNSCC,
carcinoma de pulmão e câncer de mama (DUPOUY et al., 2011). No câncer de
mama, a alta expressão de NTSR1 tem sido relacionada a um pior prognóstico em
carcinoma mamário ductal (DUPOUY et al., 2009), a tumores mais agressivos com
23
parâmetros clínicos e histopatológicos desfavoráveis, como tamanho do tumor, grau
histológico, número de metástases em linfonodos e mortalidade (DUPOUY et al.,
2014). É ainda interessante observar que não é detectada expressão do gene
NTSR1 no epitélio mamário normal (SOUAZÉ et al., 2006), corroborando as
evidências da participação do gene NTSR1 no câncer de mama.
24
3 JUSTIFICATIVA
O número de novos casos mundiais do câncer de mama vem aumentando
nas últimas décadas e as estimativas para os próximos anos expõem a possibilidade
de uma ampliação na ocorrência de novos casos. A população feminina de países
em desenvolvimento é a mais afetada, possuindo as maiores incidências da doença
e as maiores taxas de mortalidade por câncer de mama, principalmente devido a
ausência de screening adequado.
Os diversos subtipos moleculares do câncer de mama (Luminal A, Luminal B,
HER2 positivo e Basal) apresentam diferentes características de expressão dos
receptores hormonais de estrogênio e progesterona e do oncogene HER2. As
pacientes classificadas em cada um dos subtipos possuem diferentes quadros
clínicos e, portanto, necessitam de terapias específicas. A agregação de novos
marcadores que aprimorem a classificação molecular é importante para
compreender a iniciação, progressão e/ou melhor abordagem terapêutica para os
diferentes subtipos do câncer de mama.
Dentro do contexto da busca por identificar regiões cromossômicas
potencialmente portadoras de genes relacionados com a iniciação e progressão
tumoral desenvolvida pelo nosso grupo de pesquisa, TORRESAN (2011) realizou
em estudo genômico que objetivou investigar CNAs do DNA em amostras de
tumores de mama primários e metástases em linfonodos axilares. Através da técnica
de CGH-array foi verificado que as alterações mais frequentes estavam localizadas
em diversas regiões cromossômicas, dentre elas a região 20q13.33, onde foi
identificado o gene NTSR1.
As CNAs do gene NTSR1 podem contribuir na diferenciação dos subtipos
moleculares do câncer de mama, facilitando a compreensão dos processos de
iniciação e progressão tumoral.
25
4 OBJETIVOS
4.1 Objetivo Geral
Analisar a associação da alteração do número de cópias do gene NTSR1 com
a diferenciação e progressão de quatro subtipos imunohistoquímicos de carcinomas
mamários.
4.2 Objetivos Específicos
Avaliar as alterações do número de cópias do gene NTSR1 dos subtipos
Luminal A, Luminal B, HER2 positivo e Triplo Negativo de carcinomas
primários de mama;
Correlacionar as alterações do número de cópias do gene NTSR1 com
fatores clínicos e prognósticos como idade da paciente, grau do tumor e
presença ou ausência de metástases em linfonodos axilares;
Comparar os resultados obtidos com os descritos na literatura.
26
5 METODOLOGIA
5.1 Amostras
As amostras de carcinomas mamários são rotineiramente coletadas após o
procedimento cirúrgico no Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), Curitiba,
Paraná. Para obtenção das amostras, cada uma das pacientes recebeu as
informações sobre os objetivos da pesquisa e assinou o Termo de Consentimento
Informado Livre e Esclarecido. A coleta foi realizada com aprovação do Comitê de
Ética do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG).
Foram utilizadas neste trabalho 78 amostras de pacientes portadoras de
carcinoma mamário primário não tratado, das quais, 74 amostras (95%) foram
classificadas como carcinoma ductal invasor. As amostras estão caracterizadas de
acordo com o seu quadro clínico e histopatológico no QUADRO 2. Foram tabuladas
as informações encontradas relativas à idade, diagnóstico do carcinoma mamário,
presença de metástase em linfonodos axilares, grau do tumor, status dos receptores
de estrogênio e progesterona e amplificação do gene HER2.
As amostras foram divididas em quatro grupos baseados em análise
imunohistoquímica, de acordo com o status dos receptores hormonais (ER e PR) e a
amplificação do gene HER2. Esta classificação foi baseada na definição clínico-
patológica dos subtipos de câncer de mama de Goldhirsch et al., 2011. O QUADRO
3 mostra os parâmetros clínicos e histopatológicos gerais para cada um dos quatro
grupos, sendo eles:
Triplo Negativo: ER negativo, PR negativo e HER2 negativo. Devido à falta
de dados como a identificação das citoqueratinas CK 5/6, CK 14 e CK 17, não
foi possível diferenciar os tumores triplo negativo dos tumores do subtipo
basal, por isso todo o grupo foi denominado apenas como triplo negativo.
HER2 positivo: ER negativo, PR negativo e HER2 positivo.
Luminal A: ER positivo, PR, positivo e HER2 negativo. Não foi possível
diferenciar o subtipo Luminal B (HER2 negativo) em virtude da falta de
informações referentes ao grau expressão da proteína Ki-67. Considerando
que a porcentagem dos carcinomas mamários do subtipo Luminal A é maior
que do Luminal B, os tumores com este perfil de expressão foram nomeados
como Luminal A.
27
Luminal B: ER positivo, PR positivo e HER2 positivo.
Após a coleta as amostras foram submetidas à remoção do tecido adiposo, do
tecido estromal e dos vasos sanguíneos através de tesouras e pinças esterilizadas e
de placas de Petri descartáveis. O material foi estocado em tubos tipo eppendorfs a -
80°C.
Paciente Idade Diagnóstico L G ER PR HER2
1 59 Carcinoma Ductal Invasor P II NEG NEG NEG
2 42 Carcinoma Ductal Invasor A III NEG NEG NEG
3 45 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal (>5%) P II NEG NEG NEG
4 79 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal (>5%) A I POS POS POS (3+)
5 69 Carcinoma Ductal Invasor, associado a Doença
de Paget A III NEG NEG POS (3+)
6 53 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal (5%) P III POS POS POS (3+)
7 51 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal (5%) A II NEG NEG NEG (0)
8 63 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal (20%) P III NEG NEG POS (3+)
9 70 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal (9%) A I POS POS POS (3+)
10 53 Carcinoma Ductal Invasor A II NEG NEG POS (3+)
11 72 Carcinoma Ductal Invasor P III NEG NEG POS (3+)
12 51 Carcinoma Ductal Invasor A III POS POS POS (3+)
13 71 Carcinoma Ductal Invasor P II POS POS POS (3+)
14 45 Carcinoma Ductal Invasor P III POS POS NEG (1+)
15 46 Carcinoma Lobular Invasor A II POS POS POS (3+)
16 43 Carcinoma Ductal Invasor A II NEG NEG POS
17 44 Carcinoma Ductal P - NEG NEG POS
18 40 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal P II POS POS POS
QUADRO 2 CONTINUA - CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS DE CARCINOMA MAMÁRIO FONTE: O autor (2014) LEGENDA: Idade, idade da paciente em anos no momento do diagnóstico; L, presença ou ausência de metástases nos linfonodos axilares; P, presença; A, ausência; G, grau do tumor; T, tamanho do tumor em mm; ER, status do receptor de estrogênio; PR, status do receptor de progesterona; HER2, amplificação do oncogene HER2; SOE, sem outra especificação.
28
19 72 Carcinoma Ductal Invasor Multicêntrico,
associado a Carcinoma Intraductal A I POS POS POS
20 55 Carcinoma Ductal Invasor P III NEG NEG POS
21 54 Carcinoma Ductal Invasor P II POS POS NEG
22 63 Carcinoma Ductal Invasor A II POS POS POS (+2)
23 56 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal (5%) P II POS POS POS (+3)
24 51 Carcinoma Ductal Invasor A III POS POS POS (+3)
25 79 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal (5%) A III NEG NEG POS
26 47 Carcinoma Ductal Invasor P III POS POS POS
27 33 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal P - POS POS NEG
28 43 Carcinoma Ductal Invasor P III NEG NEG NEG
29 38 Carcinoma Ductal Invasor P II POS POS NEG
30 59 Carcinoma Ductal Invasor P II NEG NEG NEG
31 65 Carcinoma Ductal Invasor P III POS POS NEG
32 54 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal (5%) P II POS POS POS
33 47 Carcinoma Ductal Invasor A III POS POS POS
34 89 Carcinoma Ductal Invasor P II POS POS NEG (2+)
35 60 Carcinoma Ductal Invasor A III POS POS POS (3+)
36 44 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal A II POS POS POS (3+)
37 82 Carcinoma Ductal Invasor A II POS POS POS
38 60 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal P I POS POS POS(2+)
39 61 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Intraductal (10%) P II POS POS POS(3+)
40 - Carcinoma Ductal Invasor (core biopsy) P - POS POS NEG
41 76 Carcinoma Ductal Invasor A I POS POS NEG
42 44 Carcinoma Ductal Invasor A II POS POS POS (2+)
43 70 Carcinoma Ductal Invasor multifocal P - POS POS POS
(2+/3+)
44 58 Carcinoma Ductal Invasor SOE associado a
CDIS e comedocarcinoma P II NEG NEG POS (1+)
45 66 Carcinoma Ductal Invasor SOE P II NEG NEG NEG
QUADRO 2 CONTINUA - CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS DE CARCINOMA MAMÁRIO FONTE: O autor (2014) LEGENDA: Idade, idade da paciente em anos no momento do diagnóstico; L, presença ou ausência de metástases nos linfonodos axilares; P, presença; A, ausência; G, grau do tumor; T, tamanho do tumor em mm; ER, status do receptor de estrogênio; PR, status do receptor de progesterona; HER2, amplificação do oncogene HER2; SOE, sem outra especificação.
29
46 97 Carcinoma Ductal Invasor (luminal) - - POS POS NEG
47 33 Carcinoma Ductal Invasor A II POS POS NEG
48 42 Carcinoma Intraductal subtipo Comedocarcinoma P III POS POS POS (3+)
49 62 Carcinoma Ductal Invasor A II NEG NEG NEG
50 72 Carcinoma Ductal Invasor SOE P II POS POS POS (2+)
51 67 Carcinoma Ductal Invasor SOE associado a
carcinoma intraductal comedocarcinoma P III POS POS NEG (1+)
52 44 Carcinoma Ductal Invasor SOE P II POS POS NEG
53 57 Carcinoma Ductal Invasor A II POS POS POS (3+)
54 62 Carcinoma Ductal Invasor P II POS POS NEG (1+)
55 72 Carcinoma Ductal Invasor associado a carcinoma
intraductal comedocarcinoma A II POS POS NEG
56 62 Carcinoma Invasor Mucinoso, associado a
carcinoma ductal invasor SOE A I POS POS POS (3+)
57 86 Carcinoma Ductal Invasor assiciado a CDIS
padrao sólido A III POS POS NEG
58 45 Carcinoma Ductal Invasor P II POS POS POS (2+)
59 73 Carcinoma Ductal Invasor P II POS POS NEG
60 46 Carcinoma Ductal Invasor, associado a
Carcinoma Ductal in situ sólido cibriforme P III POS POS NEG
61 89 Carcinoma Ductal Invasor P III NEG NEG POS (2+)
62 42 Carcinoma Ductal Invasor SOE - II POS POS POS (3+)
63 50 Carcinoma Ductal invasor (40%) com áreas
mucinosas (60%) A I POS POS POS (3+)
64 84 Carcinoma Ductal Invasor; comedocarcinoma P III NEG NEG POS (3+)
65 81 Carcinoma Ductal Invasor A II POS POS NEG
66 58 Carcinoma Ductal Invasor P II POS POS NEG
67 42 Carcinoma Ductal Invasor; associado a
carcinoma in situ cribriforme A II POS POS NEG (2+)
68 - Carcinoma Ductal Invasor A II POS POS NEG (1+)
69 78 Carcinoma Ductal Invasor A III POS POS NEG (0)
70 50 Carcinoma Ductal Invasor A II POS POS NEG (1+)
71 - Carcinoma Ductal Invasor A I POS POS NEG (1+)
72 48 Carcinoma Ductal Invasor A II POS POS NEG (0)
QUADRO 2 CONTINUA - CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS DE CARCINOMA MAMÁRIO FONTE: O autor (2014) LEGENDA: Idade, idade da paciente em anos no momento do diagnóstico; L, presença ou ausência de metástases nos linfonodos axilares; P, presença; A, ausência; G, grau do tumor; T, tamanho do tumor em mm; ER, status do receptor de estrogênio; PR, status do receptor de progesterona; HER2, amplificação do oncogene HER2; SOE, sem outra especificação.
30
73 - Carcinoma Ductal Invasor A III NEG NEG NEG (0)
74 35 Carcinoma Ductal Invasor A III NEG NEG NEG (0)
75 59 Carcinoma Ductal Invasor A II POS POS NEG (+1)
76 68 Carcinoma Ductal Invasor A I POS POS NEG
77 41 Carcinoma Ductal Invasor P (II/III) NEG NEG NEG (0)
78 - Carcinoma Ductal Invasor A I POS POS NEG
QUADRO 2 CONCLUSÃO - CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS DE CARCINOMA MAMÁRIO FONTE: O autor (2014) LEGENDA: Idade, idade da paciente em anos no momento do diagnóstico; L, presença ou ausência de metástases nos linfonodos axilares; P, presença; A, ausência; G, grau do tumor; T, tamanho do tumor em mm; ER, status do receptor de estrogênio; PR, status do receptor de progesterona; HER2, amplificação do oncogene HER2; SOE, sem outra especificação.
Subtipo Número de amostras
Idade (Média) Grau histológico Metástase em
Linfonodos
Triplo Negativo
11 50,3 Grau I (0%)
Grau II (60%) Grau III (40%)
Ausente (45%) Presente (55%)
HER2 positivo 11 64,5 Grau I (0%)
Grau II (30%) Grau III (70%)
Ausente (36%) Presente (64%)
Luminal A 28 61 Grau I (16%) Grau II (60%) Grau III (24%)
Ausente (52%) Presente (48%)
Luminal B 28 56,8 Grau I (23%) Grau II (50%) Grau III (27%)
Ausente (56%) Presente (44%)
QUADRO 3 - PARÂMETROS CLÍNICOS E HISTOPATOLÓGICOS GERAIS DOS SUBTIPOS MOLECULARES DAS AMOSTRAS DE CÂNCER DE MAMA DESTE ESTUDO FONTE: O autor (2014)
5.2 Extração de DNA
A extração de DNA de tumor mamário foi realizada a partir de um fragmento
de cada amostra que foi homogeneizado no vórtex em 130 µL de tampão de
proteinase K e 70 µL de proteinase K 10 µg/mL e incubado em banho-maria a 55°C
por 16 horas. Em seguida a proteinase K sofreu inativação por 10 minutos em banho
seco a 95°C. Foi então adicionado 1 volume de fenol:clorofórmio:álcool iso-amílico
(25:24:1 v/v), seguido de homogeneização no vórtex por 15 segundos e
centrifugação a 14.000 rpm por 15 minutos. Após a retirada do sobrenadante da
solução resultante, as etapas de adição de fenol, homogeneização e centrifugação
31
foram repetidas. Posteriormente à retirada do sobrenadante, foram adicionados 2
volumes de etanol absoluto e 0,2 volumes de acetato de amônio 7,5 M. A solução foi
mantida a -20 °C por 16 horas. Sendo em seguida centrifugada a 14.000 rpm por 15
minutos e seu sobrenadante descartado. Houve então adição de 1 mL de etanol
70% e centrifugação a 14.000 rpm por 5 minutos. O sobrenadante foi descartado e o
DNA ressuspendido em 40 µL de água ultra pura.
As soluções de extração de DNA tiveram suas concentrações e qualidades
determinadas pelo equipamento Nanodrop® 2000, e diluídas até uma concentração
de 5 ng/µL.
5.3 PCR quantitativa em tempo real
Para determinação do número de cópias do gene NTSR1 nas 78 amostras de
DNA extraídos de tumor mamário foi empregada a técnica de PCR quantitativa em
tempo real (qPCR).
A avaliação do número de cópias do gene NTSR1 foi realizada através do
ensaio TaqMan® Copy Number Assays da empresa Life Technologies™. Esta
metodologia é baseada em uma reação dupla de PCR em tempo real que detecta a
sequência do gene alvo do estudo e a sequência de um gene de referência (RNASE
P) conhecido por apresentar duas cópias em um genoma diplóide. Este método de
detecção relativa é usado para determinar o número de cópias do gene de interesse
em um DNA de referência. Neste trabalho, para fins de simplificação, este ensaio
(TaqMan® Copy Number Assays) será referido como qPCR.
Em todas as placas, contendo as amostras tumorais, foi incluído um DNA
controle com o número de cópias dos genes de interesse conhecido. Este DNA
controle é um DNA genômico composto por um pool de amostras de indivíduos que
não apresentam a doença. Para cada reação foram utilizados: 5 µL de Master Mix, 2
µL de DNA (na concentração de 5 ng/µL), 0,5µL de mix do gene de estudo
(contendo o par de primers e a sonda TaqMan®), 0,5 µL de mix do gene RNASE P
(contendo os primers e a sonda TaqMan®) e 2 µL de água ultra pura, totalizando 10
µL de volume final de reação. Todas as amostras, incluindo o DNA controle, foram
analisadas em triplicatas na placa. Os reagentes utilizados nestas reações de qPCR
encontram-se descritos na TABELA 2. O equipamento utilizado para a realização
deste trabalho foi o Viia 7 (Applied Biosystems™).
32
TABELA 2 - COMPONENTES DA REAÇÃO DA qPCR PARA ANÁLISE DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE EM ESTUDO
Componente Volume por reação (µL)
TaqMan Genotyping Master Mix (2x) 5,0
TaqMan Copy Number Assay (20x) 0,5
TaqMan Copy Number Reference Assay (20x) 0,5
Água ultra pura 2,0
DNA (5ng/µL) 2,0
Volume total da reação (µL) 10,0
FONTE: TaqMan® Copy Number Assays Protocol (Applied biosystems by life technologies)
As análises foram realizadas através do software Copy Caller (Life
Technologies™). Foram desconsideradas as amostras que apresentaram valor de
CT > 33 ciclos e valor de z-score ≥ 2.65. O número de cópias do DNA alvo foi
calculado pelo método da quantificação relativa: 2– ΔΔCT multiplicado por 2 (indivíduos
diploides). Este método é adotado devido à padronização prévia dos ensaios dos
primers e das sondas comercializados pela empresa que fornecem uma eficiência
de reação de 100% possibilitando que as curvas de amplificação entre os genes
alvos e o gene de referência possam ser comparadas com alta precisão.
5.4 Análise Estatística
Os resultados obtidos foram analisados por testes não paramétricos Teste t
de Student ou Teste de Kruskal-Wallis seguido da comparação entre os grupos pelo
método de Dunn. Os resultados significativos alcançados pelos testes mencionados
foram submetidos a uma análise de regressão linear. Para todas as análises foi
utilizado o sotware GraphPad Prism version 6.01 para Windows (Disponível em:
www.graphpad.com).
33
6 RESULTADOS
A análise da CNA do gene NTSR1 nas 78 amostras de câncer de mama
utilizadas neste estudo revelou, de forma geral, um ganho no número de cópias
(número de cópias >2) em 48 amostras (62%) (GRÁFICO 1). Observando-se, dessa
forma, uma significativa influência do gene NTSR1 em alguns parâmetros do câncer
de mama apresentados a seguir.
GRÁFICO 1 - ALTERAÇÃO DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE NTSR1 EM CARCINOMAS MAMÁRIOS FONTE: O autor (2014)
6.1 Subtipos Moleculares
A avaliação da CNA do gene NTSR1 nas 78 amostras dos quatro subtipos
moleculares do câncer de mama (luminal A, luminal B, HER2 positivo e triplo
negativo) foi realizada através da técnica de qPCR usando o ensaio TaqMan® Copy
Number Assays. Os GRÁFICOS 2, 3, 4 e 5 mostram o número de cópias do gene
NTSR1 para cada um dos subtipos. As médias do número de cópias para cada um
deles foi de 2,46 para luminal A, 2,68 para luminal B, 4,65 para HER2 positivo e 4,93
para triplo negativo.
62%
33%
5%
Ganho
Normal
Perda
34
14 21 27 29 31 34 40 41 46 47 51 52 54 55 57 59 60 65 66 67 68 69 70 71 72 75 76 78 NC
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Amostra Tumoral
Nú
me
ro d
e c
óp
ias
GRÁFICO 2 - NÚMERO DE CÓPIAS DAS AMOSTRAS TUMORAIS MAMÁRIAS DO SUBTIPO MOLECULAR LUMINAL A FONTE: O autor (2014) LEGENDA:NC, DNA controle.
4 6 9 12 13 15 18 19 22 23 24 26 32 33 35 36 37 38 39 42 43 48 50 53 56 58 62 63 NC
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Amostra Tumoral
Nú
me
ro d
e c
óp
ias
GRÁFICO 3 - NÚMERO DE CÓPIAS DAS AMOSTRAS TUMORAIS MAMÁRIAS DO SUBTIPO MOLECULAR LUMINAL B FONTE: O autor (2014) LEGENDA: NC, DNA controle.
35
5 8 10 11 16 17 20 25 44 61 64 NC0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Amostra Tumoral
Nú
me
ro d
e c
óp
ias
GRÁFICO 4 - NÚMERO DE CÓPIAS DAS AMOSTRAS TUMORAIS MAMÁRIAS DO SUBTIPO MOLECULAR HER2 positivo FONTE: O autor (2014) LEGENDA: NC, DNA controle.
1 2 3 7 28 30 45 49 73 74 77 NC0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Amostra Tumoral
Nú
me
ro d
e c
óp
ias
GRÁFICO 5 - NÚMERO DE CÓPIAS DAS AMOSTRAS TUMORAIS MAMÁRIAS DO SUBTIPO MOLECULAR TRIPLO NEGATIVO FONTE: O autor (2014) LEGENDA: NC, DNA controle.
36
Mediante a submissão dos dados obtidos ao teste de Kruskal-Wallis foi
possível averiguar uma diferença significativa entre os grupos (p<0,0001). O
GRÁFICO 6 mostra a CNA para os grupos com as medianas e os percentis 25% e
75% (TABELA 3). Com o intuito de identificar entre quais grupos se encontravam
esta diferença foi aplicado o método de Dunn, pelo qual se observou que houve
diferença significativa (p<0,05) entre os números de cópias das amostras dos grupos
triplo negativo/luminal A, triplo negativo/luminal B, HER2 positivo/luminal A e HER2
positivo/luminal B. Não sendo verificada diferença entre os subtipos luminais e entre
os subtipos triplo negativo e HER2 positivo.
Uma análise de regressão linear permitiu ainda, inferir que a CNA do gene
NTSR1 depende do subtipo de câncer de mama (b=0,9045, r2=0,4271, p<0,0001).
Os maiores ganhos do número de cópias do gene estão relacionados a subtipos
moleculares mais agressivos de carcinoma mamário (triplo negativo e HER2
positivo) (GRÁFICO 7).
Triplo
Neg
ativ
o
HER
2 Posi
tivo
Lumin
al A
Lumin
al B
0
2
4
6
8
10
Nú
me
ro d
e c
óp
ias
GRÁFICO 6 - ALTERAÇÃO DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE NTSR1 DOS SUBTIPOS MOLECULARES DE CARCINOMA MAMÁRIO FONTE: O autor (2014)
37
TABELA 3 - DADOS DO TESTE DE KRUSKAL-WALLIS DA ANÁLISE DE VARIÂNCIA DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE NTSR1 NOS SUBTIPOS MOLECULARES DO CÂNCER DE MAMA
Subtipo Mediana Percentil 25% Percentil 75% Mínimo Máximo Valor de p
Triplo Negativo 4,260 3,870 6,530 3,290 8,740 HER2 positivo 4,330 4,110 5,700 2,920 6,030 <0,0001
Luminal A 2,130 1,908 2,975 0,940 4,960 Luminal B 2,535 2,353 4,960 1,580 4,890
FONTE: O autor (2014)
1 2 3 40
2
4
6
Subtipo Molecular
1) Luminal A
2) Luminal B3) HER2 positivo
4) Triplo Negativo
Subtipo Molecular
Nú
mero
de c
óp
ias
GRÁFICO 7 - ANÁLISE DE REGRESSÃO LINEAR DAS ALTERAÇÔES DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE NTSR1 NOS SUBTIPOS MOLECULARES DO CÂNCER DE MAMA FONTE: O autor (2014)
6.2 Idade
A CNA do gene NTSR1 foi também avaliada em dois grupos de idade,
pacientes em pré-menopausa e pacientes em pós-menopausa. Havia informações
sobre a idade em que se iniciou a menopausa de algumas pacientes, mas para a
grande maioria foi utilizado como critério de divisão a idade de 50 anos (idade média
em que as mulheres entram na menopausa).
Excluindo-se cinco amostras, das quais não havia informação relativa à idade,
a maioria das pacientes encontra-se em idade considerada pós-menopausa (68%
conforme mostra o GRÁFICO 8).
b=0,9045 r2=0,4271 p<0,0001
38
GRÁFICO 8 - DISTRIBUIÇÃO POR IDADE DAS PACIENTES ESTUDADAS NESTE TRABALHO FONTE: O autor (2014)
A relação entre a CNA e a menopausa foi avaliada pelo teste t de Student,
porém não houve significância estatística (p=0,2840). O GRÁFICO 9 mostra esta
relação.
Pré-menopausa Pós-menopausa0
2
4
6
8
10
Nú
me
ro d
e c
óp
ias
GRÁFICO 9 - ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE NTSR1 NOS GRUPOS PRÉ E PÓS-MENOPAUSA DAS PACIENTES DESTE ESTUDO FONTE: O autor (2014)
6.3 Metástase em Linfonodo Axilar
As amostras das pacientes deste estudo foram divididas entre presença ou
ausência de metástase em linfonodo axilar. Cada um dos dois grupos contou com 38
pacientes, sendo que não foi possível classificar duas das 78 pacientes. Através do
teste t de Student concluiu-se que não existe relação significativa entre a CNA do
gene NTSR1 e a presença ou ausência de metástase no linfonodo axilar (p=0,5356)
(GRÁFICO 10).
Pré-menopausa
32%Pós-menopausa
68%
39
Presente Ausente0
2
4
6
8
10
Nú
me
ro d
e c
óp
ias
GRÁFICO 10 - ANÁLISE DA ALTERAÇÃO DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE NTSR1 QUANTO A PRESENÇA OU AUSÊNCIA DE METÁSTASE NOS LINFONODOS AXILARES EM PACIENTES COM CARCINOMA MAMÁRIO FONTE: O autor (2014)
6.4 Grau histológico
O grau histológico foi inserido como categoria 1 entre os fatores prognósticos
para o câncer de mama por Fitzgibbons et al. (1999) e Hammond et al. (1999),
sendo considerado, portanto, um importante parâmetro de avaliação da
agressividade tumoral. Por isso, as pacientes foram classificadas em dois grupos:
aquelas com tumor em grau histológico I e II (47 pacientes) e aquelas com grau
histológico III (26 pacientes). Não havia informações sobre o grau histológico de
cinco pacientes.
Após a submissão ao teste t de Student dos dados encontrados referentes à
CNA do gene NTSR1, observou-se uma diferença significativa (p=0,0015) entre os
grupos, com um maior ganho do número de cópias nas amostras de grau histológico
III (regressão linear, b=1,1111, r2=0,1327, p=0,0015) (GRÁFICOS 11 E 12).
40
Grau I ou II Grau III0
2
4
6
8
10
Nú
me
ro d
e c
óp
ias
GRÁFICO 11 - ANÁLISE DA ALTERAÇÃO DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE NTSR1 QUANTO AO GRAU HISTOLÓGICO EM AMOSTRAS DE CARCINOMA MAMÁRIO FONTE: O autor (2014)
1 20
1
2
3
4
5
Legenda:1 - Grau I ou II2 - Grau III
Grau histológico
Nú
mero
de c
óp
ias
GRÁFICO 12 - ANÁLISE DE REGRESSÃO LINEAR DA ALTERAÇÃO DO NÚMERO DE CÓPIAS DO GENE NTSR1 NOS DIFERENTES GRAUS HISTOLÓGICOS DO CÂNCER DE MAMA FONTE: O autor (2014)
b=1,1111 r2=0,4271 p<0,0001
41
7 DISCUSSÃO
O avanço de tecnologias em ensaios com genes e seus produtos têm
permitido a criação de novas classificações do câncer de mama baseadas em
padrões de expressão gênica e CNAs de genes (RAKHA et al., 2010). O
aprimoramento da classificação do câncer de mama em diversos subtipos possui
grande relevância na realização de diagnósticos e desenvolvimento de tratamentos
mais específicos de acordo com as características apresentadas por cada grupo. A
necessidade de marcadores específicos é justificada inclusive pela epidemiologia da
doença. O câncer de mama é o tipo de câncer mais frequente em mulheres no
mundo, contribuindo com 23% dos novos casos de câncer por ano, sendo
responsável por 14% do total de mortes por câncer (JEMAL et al., 2011).
Através de seus receptores a NTS atua em diversas funções no sistema
nervoso e periférico; em cânceres sua principal atuação é no crescimento celular
(WU et al., 2012). Embora existam outros receptores da NTS, o NTSR1 é o principal
mediador da sua atuação na proliferação, migração, invasão e sobrevivência dos
tumores (SOUAZÉ et al., 2006). DUPOUY et al. (2009) concluíram que a NTS
isolada não pode ser considerada um marcador no câncer de mama, pois seus
efeitos oncogênicos só ocorrem em tumores que possuem expressão do NTSR1.
Dessa forma, na última década, o NTSR1 tem sido associado à progressão tumoral
em diversos tecidos (YOUNES et al., 2014). A ação tumoral deste receptor envolve a
ativação da rota Ras→Raf→Mek→Erk da cascata de sinalização das MAPKs. A Erk
no final desta cascata atua na fosforilação de fatores de transcrição que irão regular
genes reguladores do crescimento, além de conferir independência de ancoragem e
perda de inibição por contato (WEINBERG, 2008; DUPOUY et al., 2011).
O NTSR1 não é expresso constitutivamente nas células normais do epitélio
mamário, porém nas células tumorais são encontradas inclusive altas expressões
desse gene. Uma hipótese para essa expressão anormal é a influência da via
oncogênica de sinalização Wnt/APC na ativação do controle transcricional do gene
NTSR1 (DUPOUY et al., 2009, 2011). A expressão protéica de NTSR1 pode ser
aumentada pela alteração do número de cópias do segmento do cromossomo que
contém o gene NTSR1. Os processos que dão origem a essas aberrações ainda não
são completamente elucidados, porém sabe-se que segmentos de cromossomos
com um ganho do número de cópias podem fazer com que os genes contidos na
42
região afetada tenham uma expressão amplificada (WEIR et al., 2004; POLLACK et
al., 2002).
CHIN et al. (2006) encontraram uma relação entre a amplificação do número
de cópias da região cromossômica 20q13 e a alta expressão de genes localizados
na região em tumores de mama primários. Como continuidade do trabalho de
TORRESAN (2011), que também encontrou alterações no número de cópias desta
região cromossômica em câncer de mama, nós estudamos a alteração do número
de cópias do gene NTSR1 e encontramos um ganho do número de cópias em 62%
das amostras de carcinoma mamário.
Esse resultado está em concordância com as pesquisas que vêm relatando
expressão do gene NTSR1 em câncer de mama (SOUAZÉ et al., 2006; DUPOUY et
al., 2009, 2014). Estes estudos demonstram que o NTSR1 participa da progressão
neoplásica em câncer de mama em pelo menos 35% de todos os casos da doença.
A presença do NTSR1 está fortemente relacionada com o carcinoma mamário
ductal invasivo. Dentre as 78 amostras analisadas, 74 eram do tipo carcinoma ductal
invasivo, e dentre essas 45 amostras (61%) apresentaram ganho do número de
cópias do gene NTSR1. SOUAZÉ et al. (2006) observaram que 91% dos carcinomas
ductais invasivos expressavam o gene; e DUPOUY et al. (2009) estimou positividade
para NTSR1 em 50-100% das amostras ductais invasivas.
Através do presente estudo foi possível demonstrar a relação do gene NTSR1
com subtipos moleculares mais agressivos do câncer de mama, os tumores triplo
negativos e os HER2 positivos, os quais apresentaram as maiores alterações do
número de cópias do gene. DUPOUY et al. (2014) e YOUNES et al. (2014)
constataram que, nos carcinomas de mama e pulmão, respectivamente, o complexo
NTS/NTSR1 estimula a expressão de HERs e EGFR, corroborando a relação entre o
NTSR1 e os tumores do subtipo HER2 positivo. Além disso, a baixa expressão de
NTSR1 é correlacionada à positividade de ER (DUPOUY et al., 2009), característica
comum dos subtipos luminal A e B, que apresentaram uma menor alteração do
número de cópias do gene.
Além de estar relacionado aos subtipos de pior prognóstico, o NTSR1 é
também associado a outros parâmetros de prognóstico desfavorável. Nós
observamos uma relação entre as maiores alterações do número de cópias do gene
e grau histológico III do câncer de mama. Esta constatação corroborou outros
estudos que verificaram a alta expressão do gene NTSR1 em graus histológicos
43
mais avançados (SOUAZÉ et al., 2006; DUPOUY et al., 2009). Estes estudos
demonstraram ainda que a alta expressão de NTSR1 é plausivelmente encontrada
em carcinomas mamários de maior tamanho tumoral, com alta mortalidade e grande
número de metástases em linfonodos. Porém, nós não encontramos relação
significante entre a alteração do número de cópias do gene NTSR1 e metástases em
linfonodos axilares.
Os métodos convencionais de tratamento do câncer de mama incluem
cirurgia, radioterapia, quimioterapia e terapia hormonal. Mas na maioria dos casos,
esses tratamentos somente oferecem às pacientes um suporte. Por isso, novas
opções de tratamento são bem vindas no desenvolvimento terapêutico do câncer de
mama (WU et al., 2012). Além disso, novas abordagens terapêuticas podem
solucionar a demanda por tratamentos específicos que esteja de acordo com as
características de cada tipo tumoral. Como é o caso dos carcinomas mamários com
fenótipo triplo negativo, que possuem uma carência por tratamentos específicos. O
sistema da neurotensina representa um potencial alvo terapêutico no câncer de
mama devido a frequente expressão do NTSR1, evidenciada por trabalhos de
expressão gênica e alteração do número de cópias do gene NTSR1, e a sua relação
com a progressão e a malignidade do tumor, verificados também neste trabalho.
Alguns estudos já demonstraram que uma interferência negativa sobre o
NTSR1 resulta em redução do potencial de progressão tumoral. O tratamento de
células de câncer colorretal injetadas em camundongo com um antagonista
específico do NTSR1 (SR 48692) promoveu o controle do crescimento tumoral. Após
o tratamento foi observada uma redução de 38% do volume tumoral (MAORET et
al., 1999). Moody e colaboradores (2001) demonstraram que este mesmo
antagonista do NTSR1 é capaz de reduzir o número de colônias de uma linhagem
de carcinoma de pequenas células de pulmão (Small cell lung cancer, SCLC) e
também inibir a proliferação dessas células quando injetadas em camundongo. A
inibição da expressão de NTSR1 em células da linhagem MDA-MB-231 injetadas em
camundongo diminuiu o desenvolvimento tumoral comparado aos animais em que a
expressão do NTSR1 não foi inibida (SOUAZÉ et al., 2006). Um experimento
semelhante a este foi realizado em células de câncer de pulmão e observou-se
redução do crescimento tumoral e de metástases (YOUNES et al., 2014).
Recentemente, Castillo-Rodríguez e colaboradores (2014) realizaram o
tratamento de um modelo animal para câncer de mama triplo negativo com células
44
MDA-MB-231 com NTS-polyplex, o qual resultou em inibição do crescimento
tumoral. NTS-polypex são nanopartículas sintéticas que podem transferir um DNA
plasmidial contendo como inserto um gene de interesse a células que possuam
NTSR1 em sua membrana plasmática, incluindo células cancerosas. Neste estudo o
gene inserido no DNA plasmidial foi o HSVtk, o qual está envolvido com a indução
de apoptose. Diante destes estudos, é possível inferir que abordagens terapêuticas
que incluam a inibição da expressão e função do NTSR1 apresentam um promissor
potencial em pesquisas e na terapia do câncer de mama, particularmente no subtipo
de fenótipo triplo negativo.
45
8 CONCLUSÃO
O gene NTSR1 apresenta-se em diferentes níveis de alterações do número
de cópias dependendo do subtipo do câncer de mama: luminal A, luminal B, HER2
positivo e triplo negativo.
O número de cópias é maior para os subtipos mais agressivos e de pior
prognóstico, os tumores triplo negativos e HER2 positivos.
A relação do gene NTSR1 com um pior prognóstico no câncer de mama pode
ser evidenciada também pelo significativo ganho do número de cópias em
tumores com grau histológico III em relação aos tumores com grau histológico
I e II. A associação entre a alteração do número de cópias do gene em estudo
e os fatores de idade da paciente e presença ou ausência de metástases em
linfonodos axilares não é estatisticamente significante.
Os resultados encontrados corroboram aqueles descritos na literatura, visto
que a maioria dos tumores analisados possui relação com o gene NTSR1,
principalmente os tumores de pior prognóstico clínico. A alteração do número
de cópias contribui para a sinalização desencadeada pela ativação da NTSR1
que está envolvida na progressão tumoral do câncer de mama.
46
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