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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE PSICOLOGIA E FONOAUDIOLOGIA Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde ROBERTO ALLEGRETTI ESTUDO DOS EFEITOS DE PROGRAMA DE APOIO NA AGRESSIVIDADE REACIONAL DE POLICIAIS ENVOLVIDOS EM OCORRÊNCIAS GRAVES São Bernardo do Campo 2006

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE PSICOLOGIA E FONOAUDIOLOGIA

Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde

ROBERTO ALLEGRETTI

ESTUDO DOS EFEITOS DE PROGRAMA DE APOIO NA AGRESSIVIDADE REACIONAL DE POLICIAIS ENVOLVIDOS EM

OCORRÊNCIAS GRAVES

São Bernardo do Campo 2006

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ROBERTO ALLEGRETTI

ESTUDO DOS EFEITOS DE PROGRAMA DE APOIO NA AGRESSIVIDADE REACIONAL DE POLICIAIS ENVOLVIDOS EM

OCORRÊNCIAS GRAVES

Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Psicologia da Saúde

Docente Responsável: Profª. Dra. Eda Marconi Custódio

São Bernardo do Campo 2006

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FICHA CATALOGRÁFICA Allegretti, Roberto Estudo dos efeitos de programa de apoio na agressividade reacional de policiais envolvidos em ocorrências graves / Roberto Allegretti. São Bernardo do Campo, 2006. 169 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Psicologia e Fonoaudiologia, Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde. Orientação : Eda Marconi Custódio 1. Agressividade 2. Violência - Psicologia 3. Polícia 4. Programa de apoio I. Título.

CDD 157

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RESUMO

O objetivo do presente trabalho é estudar os efeitos de programa de apoio na

agressividade reacional de policiais envolvidos em ocorrências graves,

considerando-se como tal aquelas em que há confronto armado ou acidentes de

trânsito com viaturas em atividade operacional, qualquer que seja o resultado do

evento. Esse estudo é composto pela verificação da modificação da resposta

agressiva reacional de 77 policiais militares envolvidos em ocorrências graves,

utilizando-se, para esse fim, o Psicodiagnóstico Miocinético antes e depois da

execução do programa de apoio. Compõem, ainda, o estudo a caracterização sócio-

demográfica da amostra e a identificação dos níveis de agressividade nela

existentes no início do programa e após o seu encerramento, além da definição do

perfil de cinco categorias distintas, em função do tipo de resposta apresentada após

o programa: agressividade ampliada, reduzida, inalterada, estável e instável. É ainda

objeto da presente pesquisa o estudo clínico de um caso de cada uma das

categorias definidas, de acordo com o perfil apurado, utilizando-se, além dos dados

do Psicodiagnóstico Miocinético, outros levantados por intermédio de ficha de

cadastro, de entrevista individual, do Teste Palográfico e da Escala de

Personalidade de Comrey. Os resultados demonstram a modificação da resposta

agressiva reacional na maioria dos policiais militares envolvidos no estudo, após o

programa de apoio.

Palavras-chaves: agressividade, violência, polícia, programa de apoio.

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ABSTRACT

The purpose of the present work is the study about the effects of the supporting

program in the aggressive reaction of the police officers involved is severe

occurrences considering those situations where there is an armed confrontation or

traffic accidents with police cars during operational activity whatever might be the

result of the event. This study is compound by the verification of the modification in

the aggressive answer in reaction of 77 military policemen involved in these severe

occurrences, for this purpose, it was used Myocinetic Psycodiagnosis before and

after the execution of the supporting program. It is also part of the study the socio-

demographic feature of the sample and the identification of the levels of

aggressiveness existent in the beginning of the program and after its finishing as well

the definition of the profile of the five distinguished categories regarding the kind of

answer presented after the program: aggressiveness amplified, reduced, unaltered,

stable and unstable. Is still a subject of the present research the clinical study one

case of each mentioned category according to the verified profile using besides the

obtained results of the Myocinetic Psycodiagnosis, other results obtained through the

registered files, individual interviews, Paleographic Test and Comrey’s Personality

Scale. The results denote the modification in the aggressive answer in reaction of the

majority of the military policemen involved in this study after the supporting program.

Key-words: aggressiveness, violence, police, supporting program

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Civis e policiais militares mortos e feridos no Estado de São Paulo..........38

Tabela 2: Crimes por 100.000 habitantes no Estado de São Paulo..........................39

Tabela 3: Civis mortos em números absolutos e crimes por 100.000 habitantes nos

Estados Unidos da América.......................................................................................39

Tabela 4: Indicadores de agressividade....................................................................73

Tabela 5: Freqüência das respostas, intensidade e sentido dos desvios.................92

Tabela 6:.Freqüência em cada desvio.......................................................................93

Tabela 7: Freqüência em cada categoria de resposta...............................................93

Tabela 8: Variáveis e categorias de resposta............................................................94

Tabela 9: Níveis de significância das variáveis contínuas.......................................100

Tabela 10: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (1)..................104

Tabela 11: Validação do protocolo (1)......................................................................105

Tabela 12: Resultados por escala (1).......................................................................105

Tabela 13: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (2)..................109

Tabela 14: Validação do protocolo (2)......................................................................110

Tabela 15: Resultados por escala (2).......................................................................111

Tabela 16: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (3)..................115

Tabela 17: Validação do protocolo (3)......................................................................116

Tabela 18: Resultados por escala (3).......................................................................116

Tabela 19: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (4)..................119

Tabela 20: Validação do protocolo (4)......................................................................121

Tabela 21: Resultados por escala (4).......................................................................121

Tabela 22: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (5)..................124

Tabela 23: Validação do protocolo (5)......................................................................126

Tabela 24: Resultados por escala (5).......................................................................126

Tabela 25: Comparação da agressividade reacional em dois estudos....................130

Tabela 26: Comparação da modificação da resposta agressiva reacional

individual...................................................................................................................131

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Tipos de prescrição e período

Quadro 2: Distribuição de turmas e períodos

Quadro 3: Programação diária do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Gráfico de barras por sexo..........................................................................84

Figura 2: Histograma da idade, com alisamento pelo método de Kernel...................85

Figura 3: Boxplot da idade..........................................................................................85

Figura 4: Gráfico de quantil-quantil da idade..............................................................85

Figura 5: Gráfico de barras do estado civil/situação conjugal....................................86

Figura 6: Gráfico de barras do nível hierárquico........................................................86

Figura 7: Gráfico de barras do nível de escolaridade.................................................87

Figura 8: Histograma do tempo de serviço, com alisamento pelo método de

Kernel.........................................................................................................................87

Figura 9: Boxplot do tempo de serviço.......................................................................88

Figura 10: Gráfico de quantil-quantil do tempo de serviço.........................................88

Figura 11: Gráfico de barras do local de residência...................................................89

Figura 12: Gráfico de barras do local de trabalho......................................................89

Figura 13: Gráfico de barras do número de ocorrências............................................90

Figura 14: Histograma da taxa de ocorrências, com alisamento pelo método de

Kernel.........................................................................................................................90

Figura 15: Boxplot da taxa de ocorrências.................................................................91

Figura 16: Gráfico de quantil-quantil da taxa de ocorrências.....................................91

Figura 17: Diagrama de dispersão do número de ocorrências pela taxa de

ocorrências.................................................................................................................92

Figura 18: Boxplot da idade por categoria de oscilação de resposta.........................95

Figura 19: Gráfico de barras das proporções de cada nível de situação conjugal de

acordo com as categorias de oscilação de resposta..................................................96

Figura 20: Gráfico de barras das proporções de cada nível hierárquico de acordo

com as categorias de oscilação de resposta..............................................................96

Figura 21: Gráfico de barras das proporções de cada nível de escolaridade de

acordo com as categorias de oscilação de resposta..................................................97

Figura 22: Boxplot do tempo de serviço por categorias de oscilação de resposta....97

Figura 23: Gráfico de barras das proporções de cada local de residência de acordo

com as categorias de oscilação de resposta..............................................................98

Figura 24: Gráfico de barras das proporções de cada local de trabalho de acordo

com as categorias de oscilação de resposta..............................................................98

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Figura 25: Gráfico de barras das proporções do número de ocorrências de acordo

com as categorias de oscilação de resposta..............................................................99

Figura 26: Boxplot da taxa de ocorrências por categorias de oscilação de

resposta......................................................................................................................99

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SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE TABELAS

LISTA DE QUADROS

LISTA DE FIGURAS

APRESENTAÇÃO.....................................................................................................12

I – INTRODUÇÃO......................................................................................................16

1. AGRESSIVIDADE..................................................................................................16

1.1 Evolução e agressividade....................................................................................16

1.2 O instinto agressivo..............................................................................................18

1.3 A agressividade e o desenvolvimento emocional individual................................21

1.4 A agressividade transformada em violência.........................................................31

1.5 A agressividade pela ótica da teoria motriz da consciência.................................34

2. A AGRESSIVIDADE PRESENTE NO TRABALHO POLICIAL..............................38

2.1 A violência policial sob a ótica da sociologia.......................................................42

2.2 A violência policial sob a ótica da psicologia psicodinâmica...............................44

3. A IMPLANTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA DE APOIO

PARA POLICIAIS ENVOLVIDOS EM OCORRÊNCIAS GRAVES NO ESTADO DE

SÃO PAULO..............................................................................................................49

3.1 Histórico...............................................................................................................49

3.2 Primeira pesquisa sobre o programa de apoio....................................................54

3.2.1 Método utilizado na primeira pesquisa..............................................................55

3.2.2 Resultados da primeira pesquisa......................................................................57

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3.3 Segunda pesquisa sobre o programa..................................................................59

3.4 Existência de programas semelhantes................................................................59

3.5 Programa de apoio e mudança psíquica.............................................................63

4. OBJETIVOS...........................................................................................................67

4.1Objetivo geral........................................................................................................67

4.2 Objetivos específicos...........................................................................................67

II – MÉTODO.............................................................................................................68

1. AMOSTRA..............................................................................................................68

2. LOCAL....................................................................................................................69

3. INSTRUMENTOS...................................................................................................70

3.1 Ficha de cadastro e entrevista.............................................................................70

3.2 Psicodiagnóstico Miocinético (PMK)....................................................................71

3.3 Teste Palográfico.................................................................................................73

3.4 Escala de personalidade de Comrey (CPS)........................................................75

4. PROCEDIMENTOS................................................................................................76

4.1 Procedimentos de análise e tratamento de dados...............................................79

III – RESULTADOS....................................................................................................84

1. RESULTADOS DO ESTUDO QUANTITATIVO.....................................................84

2. RESULTADOS DO ESTUDO CLÍNICO...............................................................101

IV – DISCUSSÃO....................................................................................................128

1. DISCUSSÃO DO ESTUDO QUANTITATIVO......................................................128

2. DISCUSSÃO DO ESTUDO CLÍNICO..................................................................138

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3. DISCUSSÃO FINAL.............................................................................................144

V – CONCLUSÃO....................................................................................................146

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................149

ANEXOS..................................................................................................................156

ANEXO A.................................................................................................................157

ANEXO B.................................................................................................................158

ANEXO C.................................................................................................................159

ANEXO D.................................................................................................................160

ANEXO E..................................................................................................................163

ANEXO F..................................................................................................................168

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APRESENTAÇÃO

A população mundial convive hoje com cenas chocantes de violência,

decorrentes de guerras, atentados terroristas e massacres. Mais especificamente no

Brasil, essa violência está ligada à atividade criminosa e à forma como o Estado

reage a ela. São homicídios, chacinas, latrocínios, seqüestros, espancamentos e

tortura que expõem a violência criminal, a violência prisional e a violência policial. O

que se observa de uma forma geral, no campo da violência, é que, muito além dos

grandes efeitos dessas tragédias, tem se instalado nas pessoas um sentimento de

desesperança na possibilidade de reversão da atual situação. O resultado parece

ser devastador, na medida em que provoca a redução da capacidade de indignação

e o aumento da sensação de insegurança.

Essa sensação de insegurança, por seu turno, é influenciada pela forma

como fatos criminosos, impregnados de incompreensível violência, são levados

pelos meios de comunicação ao conhecimento da população, com comentários e

propostas que, longe de oferecer soluções factíveis, alimentam com farto material o

sentimento de medo e de impotência de cada cidadão.

Em verdade, colocada a questão em sua real dimensão, verifica-se que,

em termos de criminalidade, o que acontece hoje em grandes centros urbanos

brasileiros não está muito distante do que acontece em cidades de países

desenvolvidos. No ano de 2004, o número de homicídios por grupo de 100.000

habitantes na cidade de São Paulo foi de 31, 87, comparável aos índices de cidades

como Washington, DC e Nova Orleans, nos Estados Unidos que, no ano de 2003,

tiveram 44,04 e 57,68 homicídios por 100.000 habitantes, respectivamente, segundo

dados do Federal Bureau of Investigation – FBI (UNITED STATES OF AMERICA,

2005).

O que aumenta a sensação de insegurança do brasileiro, portanto, parece

ser a qualidade do crime, ou seja, a ousadia e a violência crescentes que vêm

caracterizando as ações criminosas e que incluem resgates de presos, seqüestros

indiscriminados, assaltos cada vez mais ousados e, infelizmente, a morte

desnecessária de muitas de suas vítimas, incluindo aí os próprios marginais, dentro

do ambiente prisional ou em disputas territoriais e os policiais.

Há poucas décadas, seria impensável a violência atual e, na imensa

maioria dos casos de atuação policial, a reação armada do marginal. Nem mesmo

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seria crível o enfrentamento à polícia que hoje se vê com alguma constância em

conflitos entre torcidas em praças desportivas, em manifestações reivindicatórias ou

mesmo em ações de reintegração de posse decorrentes de invasões de

propriedades. E não se diga que o respeito existente nessa época era fruto do

processo histórico por que passava o país, marcado por governos militares. Em

verdade, muito antes da vigência do regime militar, a simples presença do policial

fardado em uma situação de conflito era suficiente para acalmar os ânimos

exaltados e recompor a ordem pública rompida.

Hoje, o cenário é bem diferente na sociedade brasileira. Importantes

referenciais necessários a uma equilibrada convivência social foram perdidos.

Valores básicos foram esquecidos e, como conseqüência, o freio social natural,

resultante da internalização desses valores em cada cidadão, também foi

enfraquecido. Por falta de limites impostos no lar, crianças começaram a não mais

respeitar os pais e, na seqüência do processo, já na condição de adolescentes ou

adultos, passaram a desrespeitar os professores e os representantes da autoridade

constituída, incluídos aí os policiais e esses que já experimentam a sensação de

insegurança como cidadãos, vêm-na potencializada no exercício de seu trabalho

pelo desrespeito à figura do policial.

Assim, é de se esperar que o policial não passe incólume após um evento

com enfrentamento armado, especialmente se houver a morte do marginal, de outro

policial ou ferimento nele próprio. Esse fato representará, sem dúvida, significativo

conflito de natureza psíquica que, agregado a outros decorrentes da própria

natureza do trabalho, pode conduzi-lo a transtornos somatoformes, alcoolismo,

desajustes conjugais e, em situação extrema, ao próprio suicídio.

Em sentido inverso, é importante também destacar que, por vezes, as

características individuais do policial, especialmente no que concerne à

agressividade, podem ter influência decisiva no desencadeamento do evento crítico.

Afinal, ele é selecionado dentre os integrantes da comunidade e pode ter

desenvolvido, em função de todas as carências sociais, características não

recomendáveis para o exercício da função policial e que não foram detectadas no

processo seletivo de ingresso.

É este segundo cenário o campo de interesse do presente trabalho, ou

seja, como a agressividade individual que, em certa medida é necessária à

execução do trabalho policial, pode se transformar em violência e como essa

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violência pode ser controlada por meio de uma intervenção adequada, com ganhos

pessoais e institucionais.

Estudar os efeitos de um programa de apoio na agressividade reacional

de policiais envolvidos em ocorrências graves, objetivo maior deste estudo, significa

retirá-lo de sua formulação fática e conduzi-lo ao fecundo campo de seus

pressupostos teóricos, de sua dinâmica e de seus resultados.

Dentro dessa linha, o presente trabalho foi projetado como atualização,

particularização e aprofundamento de outro estudo sobre o tema desenvolvido pelo

autor, no ano de 1996.

A participação ativa do autor na implantação de programa de apoio a

policiais militares do Estado de São Paulo envolvidos em ocorrências graves e sua

experiência de mais de trinta e cinco anos no exercício de diversas funções no

quadro hierárquico da Instituição Policial Paulista serviram de motivação para buscar

novos resultados e abrir perspectivas de novas pesquisas.

Assim, buscando definir metodologia de apresentação que permita melhor

compreensão sistêmica, o trabalho foi estruturado da seguinte forma:

- Capítulo I: composto pela introdução, que engloba os aspectos teóricos

mais expressivos ligados à agressividade e sua vertente de violência, a partir das

perspectivas da etologia e da psicologia psicodinâmica. Faz parte ainda da

introdução o detalhamento do programa de apoio para policiais militares envolvidos

em ocorrências graves existente no Estado de São Paulo e as pesquisas sobre ele

realizadas, bem como a verificação da existência de programas semelhantes no

Brasil e em outros países. Compõem também esse capítulo, estudos relativos à

mudança psíquica, de forma a demonstrar que o programa pode funcionar como

facilitador de mudança psíquica, mas que essa mudança pode se manifestar em um

primeiro momento até por meio do aumento da agressividade reacional, por conta da

utilização de estratégias defensivas, sem que isso signifique ineficácia da

intervenção. Finalmente, integra o capítulo a descrição do objetivo geral e dos

objetivos específicos da pesquisa;

- Capítulo II: composto pelo método utilizado, com detalhamento da

amostra selecionada, do local em que foi realizada a pesquisa, dos instrumentos

utilizados e dos procedimentos para se alcançar os objetivos definidos, tanto na

parte quantitativa como na parte qualitativa da pesquisa;

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- Capítulo III: composto pelos resultados da parte qualitativa do trabalho e

pelo estudo clínico de 05 casos selecionados, a partir da análise quantitativa,

conforme previsão existente no capítulo referente ao método;

- Capítulo IV: composto pela discussão dos resultados obtidos na parte

quantitativa e no estudo clínico;

- Capítulo V: composto pela conclusão, tanto da parte quantitativa como

do estudo clínico e por proposta de desenvolvimento de novas pesquisas sobre o

tema;

- Partes pós-textuais do trabalho, abrangendo as referências bibliográficas

e os anexos julgados relevantes.

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I - INTRODUÇÃO

1. AGRESSIVIDADE

Conceituar e estabelecer os determinantes da conduta agressiva tem sido

desafio para diversos autores de diferentes linhas teóricas que procuram explicar

porque ela é fundamental para a própria sobrevivência humana e porque, muitas

vezes, transforma-se em instrumento de destruição.

O mundo dito civilizado convive, hoje, com cenas dramáticas de violência,

marcadas quase sempre pela inexistência plena de respeito à vida, à integridade

física e à dignidade das pessoas. E essa violência está intrinsecamente articulada a

um sentimento muito presente de egoísmo e pouca fraternidade, decorrente da

acentuada degradação de indicadores de desenvolvimento como a educação, a

família, a moral e o espírito de solidariedade.

Os atos agressivos com finalidade destrutiva, característicos da violência,

são praticados por indivíduos isoladamente, por grupos de indivíduos com diversas

motivações, por organizações criminosas e, até, pelo próprio aparelho do Estado.

Caracterizam, portanto, diversas formas de violência, inclusive a institucional e o que

se tem observado com freqüência é a incapacidade de reação organizada das

pessoas contra esses fatos e, mais do que isso, até a incapacidade de

demonstração da irresignação com tudo o que acontece, absorvendo essa violência

como algo que já faz parte do mundo moderno.

Como já dito, várias teorias se propõem a explicar a agressividade,

cabendo aqui trazer a visão de algumas delas.

1.1 Evolução e agressividade

Lorenz (1973), em seu livro A Agressão: uma história natural do mal,

procura explicar a agressão humana por intermédio do método etológico. Para ele,

apenas com o estudo das semelhanças e diferenças de muitas espécies de animais

se pode responder a perguntas sobre como a agressão influi nas possibilidades de

sobrevivência do organismo ou como foi a evolução dos sistemas de comportamento

das diversas espécies até alcançar a condição atual, ou uma terceira muito mais

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complexa: Por que o homem tem uma tendência tão singular para a agressão intra-

específica, ou seja, a agressão voltada para outros homens?

O autor sugere que a resposta está no fato de que, ao contrário do que

acontece com os animais que não têm linguagem, o rápido desenvolvimento

tecnológico do homem superou a evolução mais lenta das inibições inatas contra a

expressão de sua instigação agressiva. Na espécie humana, a agressão,

inicialmente, teria a função de defesa contra qualquer tipo de ameaça, mas depois,

com o desenvolvimento cultural, passou as ter outras funções, muitas delas

prejudiciais à sua própria sobrevivência, das quais a guerra é a maior expressão.

O grande perigo que o autor aponta com relação ao instinto agressivo é a

sua espontaneidade, pois, segundo ele, o sistema nervoso não depende só de

estimulação externa, podendo agir espontaneamente, ou então tendo uma redução

sensível de seu limiar na estimulação da resposta agressiva, quando colocado sob

privação.

Por outro lado, a natureza proporcionou o desenvolvimento de

mecanismos controladores das pulsões espontâneas para tornar a agressão intra-

específica menos perigosa. Dessa forma, desenvolveram-se comportamentos que

assumiram o caráter de cerimônias simbólicas para esvaziar funções primitivas. Um

exemplo característico dessa evolução é o comportamento de ameaça substituindo

ou mesmo precedendo a agressão real, dando condições para a fuga do mais fraco.

Essas cerimônias simbólicas, segundo Lorenz (1973), variam de acordo

com a cultura e normalmente são aprendidas e suas principais funções seriam a

adaptação ao meio, a comunicação e informação dentro de uma determinada

comunidade, a criação de laços de amizade entre componentes da mesma espécie

e, principalmente, a canalização da agressão para fins inofensivos.

Os mecanismos inibitórios descritos desenvolveram, em algumas

espécies, o chamado combate de honra, preâmbulo do combate real, mas que

permitiria o afastamento do mais fraco do local do combate ou ainda o

comportamento de submissão, em que aquele que se encontra em desvantagem no

combate real oferece a sua parte mais sensível ao adversário, pondo,

imediatamente, fim à luta.

Segundo Megargee e Hokanson (1976), caso esteja correta a posição de

Lorenz, pouco se alcançará na redução da violência, por meio da educação ou

eliminação das frustrações. Para Lorenz, contudo, as saídas para que a agressão

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inata não se transforme em violência seriam o redirecionamento das pulsões

agressivas para práticas socialmente aceitas como esportes, artes e ciências ou

ainda o estabelecimento de laços e relações pessoais incompatíveis com a

agressão.

Todos os grandes perigos que chegaram, inclusive, a ameaçar a

humanidade de extinção foram conseqüência direta do pensamento conceitual e da

linguagem verbal, já que tais padrões apareceram prematuramente, sem a

necessária adaptação dos instintos e das forças inibitórias. Dessa forma, a cultura

interrompeu o trabalho filogenético que criaria os mecanismos inibitórios da

destruição de semelhante, impossibilitando a reação às pulsões inatas da agressão.

As funções básicas do comportamento agressivo animal são reguladas

pelos instintos de hierarquia, territorialidade e defesa da prole, que irão agir ou serão

suprimidos, de acordo com a situação momentânea do animal. Assim, as pulsões

agressivas resultam da pressão da seleção intra-específica que permitiu surgir no

homem, há muito tempo, esse tipo de pulsão, para a qual não há escape adequado

na sociedade atual. (LORENZ, 1973).

1.2 O instinto agressivo

A partir das colocações de Lorenz, muitos autores têm discutido a teoria

da agressão como instinto, não como princípio que tem por finalidade a destruição e

a morte, mas como força que tem por objetivo preservar e organizar a vida

(KRISTENSSEN, 2003).

Storr (1970) ensina que não se pode dizer com exatidão se o

comportamento agressivo caracteriza ou não resposta instintiva do homem, no

entanto, pode-se afirmar que o homem, assim como outros animais, quando

estimulado, responde com sentimentos subjetivos de ira e com mudanças físicas

preparatórias para a luta. Para o autor, não há dúvidas de que existe um mecanismo

fisiológico que permite a um animal, na perspectiva da auto-conservação, levar

dentro de si o potencial necessário para a resposta agressiva.

Segundo Pinheiro (1992), há uma série de alterações que ocorrem com o

organismo durante o comportamento agressivo, com estimulação do sistema

nervoso simpático e conseqüente produção de adrenalina que promove um aumento

geral no nível de excitação e vigilância. Ainda segundo o autor, o comportamento

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agressivo é sempre mediado por processos fisiológicos que se desenvolvem na

estrutura do sistema nervoso e a agressividade pode ser alterada por modificação

da taxa metabólica dos neurotransmissores do sistema nervoso central. Caracteriza-

se como relevante o fato de que essas substâncias, que parecem mediar o

comportamento agressivo, são encontradas em grandes concentrações no sistema

límbico.

Por sistema límbico compreende-se o córtex cerebral – lobo temporal e

zonas inferiores do lobo frontal; a área septal; o complexo amigdalóide; o hipocampo

e o hipotálamo, contendo, assim, estruturas dos três cérebros descritos por

MacLean (1952 apud PINHEIRO, 1992), teoria segundo a qual a evolução do

cérebro humano se processou à semelhança de uma casa à qual novas alas e

superestruturas foram adicionadas no decorrer da filogênese. Assim, o homem, no

curso de sua evolução foi provido de três cérebros. O primeiro, mais antigo,

semelhante ao dos répteis. O segundo, herdado de mamíferos inferiores e o terceiro

como uma conquista de mamíferos superiores.

O estudo das funções cerebrais na agressão tem sido realizado por meio

da observação de lesões naturais e por lesões experimentais provocadas em

animais em laboratório, sendo que grande parte das pesquisas tem se concentrado

nas estruturas do sistema límbico. Mas, da mesma forma como têm sido

pesquisados os mediadores neurológicos da agressão, também têm sido estudados

os fatores inibidores, primeiro em animais e depois em seres humanos.

Constatou-se, por exemplo, que a incisão cirúrgica do rinencéfalo, feita em

instituições psiquiátricas, aliviou a síndrome de descontrole de pacientes

extremamente agressivos. Outros estudos puderam demonstrar a possibilidade de

controle do comportamento agressivo por meio da estimulação elétrica cerebral ou

da redução do hormônio sexual masculino, aumentando o limiar da agressão

(PINHEIRO, 1992).

Apesar de ficar demonstrado que o mecanismo fisiológico da agressão é

realmente instintivo, o que Storr (1970) questiona é a forma de acionamento desse

mecanismo, ou seja, se ele precisa de uma ameaça externa para se manifestar,

caracterizando, portanto um potencial que não precisaria ser utilizado ou se haveria

nos animais e nos próprios seres humanos um acúmulo interno de tensão agressiva

que demandaria uma descarga periódica. Se a primeira colocação for verdadeira, o

que se necessita para que a agressão não ocorra é evitar estímulos que possam

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provocar esse tipo de resposta. Já se for verdadeira a segunda, o que se deve

buscar são escoadouros adequados para ela.

Para Storr (1970), há autores que buscam demonstrar que não existe

nenhuma necessidade essencial para a exteriorização do comportamento agressivo,

citando Scott (1958) que, em seu livro Agression, escreve:

O fato importante é que, em todos os casos, a cadeia de causação

leva ao exterior. Não existe prova fisiológica de qualquer estimulação

espontânea para lutar originária de dentro do corpo. Isso quer dizer

que não há necessidade de lutar, na agressiva ou na defensiva, à

parte do que acontece no ambiente exterior. Podemos concluir que

uma pessoa suficientemente afortunada para existir num ambiente

que não tem estimulação para a luta não sofrerá dano fisiológico ou

nervoso porque ela jamais luta. Essa situação difere bastante da

fisiologia da alimentação, onde os processos internos do metabolismo

conduzem a mudanças fisiológicas definidas que finalmente produzem

a fome e o estímulo para comer, sem qualquer mudança no ambiente

externo.

Podemos também concluir que não existe algo chamado de simples

“instinto para a luta”, no sentido de uma força impulsionadora interna

que precisa ser satisfeita. Existe, contudo, um mecanismo fisiológico

interno que basta ser estimulado para produzir luta. Essa distinção

pode não ser importante em muitas situações práticas, mas leva a

uma conclusão promissora com relação ao controle da agressão. O

mecanismo interno é perigoso, mas pode ser mantido sob controle

através de meios externos. (SCOTT,1958 apud STORR, 1970, p.30).

Apesar da comparação feita por Scott entre a fisiologia da agressão e da

fome, Storr pondera que a primeira não pode ser descrita, em termos fisiológicos, da

mesma forma que a segunda, já que esta representa um estado de privação que

leva a uma ação para eliminá-lo. No entanto, essa comparação seria válida para o

instinto sexual que, para a descarga total da tensão, necessita de um parceiro, ou,

em outras palavras, como na agressão, existe um mecanismo fisiológico interno que

necessita de um estímulo externo para ser disparado.

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O que precisa ser demonstrado é se há diferenças fisiológicas

significativas entre um animal privado de satisfação sexual e outro que está sem

lutar há muito tempo. Para o autor, não há evidências, em nível fisiológico, de que a

resposta agressiva seja menos instintiva do que a resposta sexual e, portanto,

levando em conta que o termo agressão não deve se restringir à luta real, a

expressão da agressividade pode ser uma parte tão necessária do ser humano

como a expressão sexual.

1.3 A agressividade e o desenvolvimento emocional individual

Os estudos mais consistentes de Freud sobre o instinto da agressão

parecem ter iniciado, segundo comentário de Strachey (1930), com a obra Três

Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (FREUD, 1905), em que ele aparece apenas

como um dos instintos componentes ou parciais do instinto sexual. De fato, ao se

referir ao sadismo, Freud propõe a existência de um elemento de agressividade na

sexualidade masculina, uma espécie de desejo de subjugar, com a finalidade de

conseguir vencer a resistência do objeto sexual por meio de galanteios, estando aí a

sua importância biológica. O sadismo seria, portanto, esse componente agressivo do

instinto sexual que se tornou independente e exagerado e que, por deslocamento,

passou a ser dominante.

Esse componente cruel aparece na infância de forma independente das

atividades sexuais ligadas às zonas erógenas, presumindo-se que surja de um

instinto de domínio e dominando uma fase da vida sexual denominada pré-genital. A

ausência de piedade demonstra que a conexão entre os instintos cruéis e erógenos

havida na infância pode se tornar indestrutível na vida futura.

Ainda segundo Strachey (1930), em 1909, ao escrever capítulo da história

clínica do Pequeno Hans, Freud expressa a sua irresignação quanto à existência de

um instinto agressivo autônomo em situação de igualdade com os instintos de auto-

preservação e sexual e foi somente em 1920, ao escrever Além do Princípio do

Prazer, que coloca o instinto agressivo de forma independente, mas ainda assim

como algo secundário, derivado do instinto de morte, que é auto-destrutivo e

primário. Ao falar sobre a Teoria da Libido em Dois Verbetes de Enciclopédia, Freud

(1923) reconhece a existência de duas classes de instintos na vida mental, tendo

como base a teoria dos instintos na biologia, muito embora sempre tenha se

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preocupado em fazer com que a psicanálise desenvolvesse suas teorias

independentemente de outras ciências.

Levando em conta os processos que constroem a vida e aqueles outros

que conduzem à morte, é forçoso reconhecer a existência de duas classes de

instintos, ligadas, respectivamente, a dois processos contrários de construção e de

dissolução do organismo. Um conjunto de instintos tem por objetivo levar a criatura

viva à morte, sendo chamados, portanto, de instintos de morte. São resultados da

combinação de organismos elementares unicelulares e sempre dirigidos para fora,

manifestando-se como impulsos destrutivos ou agressivos. O outro conjunto é

composto por instintos sexuais, libidinais ou de vida, chamados, também, de Eros,

que teriam por finalidade constituir a substância viva em unidades cada vez maiores,

para que vida possa ser prolongada dentro de um processo evolutivo.

Os instintos de vida e de morte estão sempre presentes nas vidas das

pessoas em fusões regulares, podendo ocorrer, também, o processo de defusão. A

vida significa a vitória dos instintos sexuais e a morte significa a vitória dos

destrutivos (FREUD, 1923).

Em outro trabalho intitulado O ego e o id, Freud (1923) descreve de

maneira específica essas duas classes de pulsão. O primeiro conjunto se refere

àquelas que criam e mantém a unidade do indivíduo. São as pulsões sexuais e de

auto-conservação. Em oposição a estas, estão as pulsões de morte, que buscam a

redução completa das tensões. Voltadas inicialmente ao interior com o objetivo de

auto-destrutividade, voltam-se depois ao exterior, manifestando-se sob forma de

agressão ou destruição. Em razão desse redirecionamento da pulsão de morte, ela

acaba por servir à pulsão de vida, na medida em que destrói outro objeto e não o

próprio self. Decorre disso o fato de que, em havendo qualquer inibição à sua

expansão para o exterior, haverá um aumento da auto-destrutividade. As atividades

sociais, como válvula de escape para a energia armazenada, seriam a saída eficaz

para evitar a expansão da agressividade para o exterior e também evitar a auto-

destrutividade, tese também compartilhada pelos etologistas.

Para Fenicchel (1981), Freud propôs uma nova classificação para os

instintos, apoiando-se em uma base clínica e outra especulativa. A base

especulativa representa o caráter conservador dos instintos, que se caracterizam

pelo princípio da constância e tendem à eliminação das tensões. A base clínica

suporta a existência da agressão que constitui parte considerável dos impulsos

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humanos como resposta às frustrações e tem como objetivo superá-las. A partir da

integração das bases especulativa e clínica, foram estabelecidas duas qualidades da

psiquê: a primeira ligada ao instinto de vida – Eros – representando o esforço

construtivo e a segunda ligada ao instinto de morte – Thanatos – representando o

esforço destrutivo, cuja função primária seria a redução da vida à condição de

matéria inanimada. Essas forças em constante interação cumprem papel essencial

nos fenômenos da vida, não havendo, portanto, ação humana que seja obra de um

padrão instintual único.

A fusão dos dois instintos é produto da maturação, em que cabe ao

instinto de vida ir neutralizando o instinto de morte. Mais tarde, surge a diferenciação

amor e ódio, aparecendo como qualidades opostas entre si. O instinto de morte

torna-se destrutivo com o objetivo de destruir a vida alheia e preservar a sua própria

vida.

Freud (1915), tratando das vicissitudes do instinto, procura estabelecer

relação entre instinto e estímulo. Para ele é possível afirmar que o instinto é um

estímulo aplicado à mente, no entanto, existem outros estímulos a ela aplicados,

além dos instintuais e que se comportam muito mais como fisiológicos.

Os estímulos instintuais não surgem de fora, mas, ao contrário, de dentro

do próprio organismo, atuando de forma diferente sobre a mente e sendo

necessárias diferentes ações para removê-los. Já os demais estímulos podem ser

removidos por uma única ação conveniente, na medida em que eles atuam como

impacto único, de caráter momentâneo. A fuga motora de uma fonte de estimulação

é um exemplo claro dessa colocação.

O instinto, portanto, atua sempre com um impacto constante e, por vir do

interior do organismo, não há como fugir dele, caracterizando, dessa forma, uma

necessidade que tem, como única possibilidade de remoção, a satisfação. Ele deve

ser visto, portanto, na fronteira entre o somático e o psíquico como representante

psíquico dos estímulos originados dentro do organismo e que alcançam à mente,

como uma medida de exigência a ela em conseqüência de sua ligação com o corpo.

Freud, no mesmo trabalho, define algumas características do instinto. São

elas: a pressão, a finalidade, o objeto e a fonte.

A pressão diz respeito ao fator motor, a quantidade de força ou a medida

de exigência de trabalho que essa força representa. É da essência do instinto

exercer pressão.

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A finalidade diz respeito à busca da satisfação, obtida por meio da

eliminação do estado de estimulação na fonte do instinto.

O objeto é algo no qual ou através do qual o instinto atinge a sua

finalidade. Ele não precisa ser, necessariamente, algo estranho, podendo ser parte

do próprio corpo do indivíduo. Pode ser modificado inúmeras vezes e um mesmo

objeto pode servir à satisfação de diversos instintos.

A fonte é o processo somático que ocorre em um órgão ou parte do corpo,

tendo o instinto por representante mental do estímulo desencadeado por esse

processo.

Em função das características básicas dos instintos, parece não haver

como eliminar as inclinações agressivas do homem, pois se tratam de

exteriorizações de motivos instintuais presentes no psiquismo humano. No entanto,

é possível interferir na ação do instinto de morte de tal forma que não necessite

exprimir-se por meio de violência extrema. A maneira adequada de alcançar esse

objetivo é o fortalecimento do instinto antagônico, com a facilitação de vínculos

emocionais. Tudo o que facilita à criação de vínculos emocionais atua contra a

guerra e agressão, pois fortalece o instinto de vida. Nessa linha, Freud (1930)

propõe:

A existência da inclinação para a agressão, que podemos detectar em

nós mesmos e supor com justiça que ela está presente nos outros,

constitui fator que perturba os nossos relacionamentos com o nosso

próximo e força a civilização a um tão elevado dispêndio (de energia).

Em conseqüência dessa mútua hostilidade primária dos seres

humanos, a sociedade civilizada se vê permanentemente ameaçada

de desintegração. O interesse pelo trabalho em comum não a

manteria unida; as paixões instintivas são mais fortes que os

interesses razoáveis. A civilização tem de utilizar esforços supremos a

fim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem e

manter suas manifestações sob controle por formações psíquicas

reativas. Daí, portanto, o emprego de métodos destinados a incitar as

pessoas a identificações e relacionamentos amorosos inibidos em sua

finalidade (...). A despeito de todos os esforços, esses empenhos da

civilização até hoje não conseguiram muito. Espera-se impedir os

excessos mais grosseiros da violência brutal por si mesma, supondo-

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se o direito de usar a violência contra os criminosos; no entanto, a lei

não é capaz de deitar a mão sobre as manifestações mais cautelosas

e refinadas da agressividade humana. Chega a hora que cada um tem

de abandonar, como sendo ilusões, as esperanças que, na juventude,

depositou em seus semelhantes e aprende quanta dificuldade e

sofrimento foram acrescentados à sua vida pela má vontade deles.

Ao mesmo tempo seria injusto censurar a civilização por tentar

eliminar da atividade humana a luta e a competição. Elas são

indubitavelmente indispensáveis. Mas a oposição não é

necessariamente inimizade; simplesmente, ela é mal empregada e

tornada ocasião para a inimizade (FREUD, 1930, p.134).

O autor coloca uma questão fatídica para a humanidade que é até que

ponto o desenvolvimento cultural conseguirá dominar a perturbação decorrente do

instinto humano de agressão e destruição na vida em comum. Os homens

adquiriram controle sobre as forças da natureza, o que permite que se aniquilem uns

aos outros sem dificuldades. É dessa verdade que decorre a inquietação,

infelicidade e ansiedade da humanidade.

Riviere (1975) também caracteriza o instinto da agressividade como algo

inato no homem e na maioria dos animais, pelo menos enquanto manifestação de

defesa. Qualquer pessoa normal sabe que diversos sentimentos estão sendo

experimentados ou manifestados o tempo todo ao seu redor e são responsáveis por

grande parte da infelicidade das pessoas, já que incluem o mau humor, o egoísmo, a

mesquinhez, a voracidade, a inveja e a hostilidade.

Para o autor, há uma ligação íntima entre os impulsos agressivos e o

prazer, de forma que esses impulsos, cruéis e egoísticos, provoquem sensações de

excitação, explicáveis, na medida em que são imperativos e difíceis de controlar.

Além disso, eles estão ligados, sob certos aspectos, à luta pela sobrevivência. Há

um reconhecimento claro de que indivíduos dotados de insuficiente agressividade

encontram dificuldade para fazer valer os seus direitos. Dessa forma, é lícito afirmar

que os instintos de auto-preservação e de amor sejam mesclados com certa dose de

agressividade e, nessa condição, a agressividade constitui parte importante para o

seu funcionamento.

A dificuldade de entendimento do vigor e da profundidade dos instintos

agressivos sempre prejudicou as diversas tentativas feitas, no sentido de melhorar a

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humanidade, tornando-a mais pacífica. Isto porque não buscaram outra coisa senão

estimular os impulsos positivos e tentando negar ou suprimir os agressivos. O

instinto agressivo não pode ser suprimido integralmente, mas o que pode ser feito é

diminuir a ansiedade que o acentua (KLEIN, 1970).

As sensações hostis estão sempre ligadas de alguma forma a

insatisfações e descontentamentos com situações específicas da vida, necessidades

ou prazer e que acabam representando uma sensação de perda. A reação agressiva

a uma situação de privação ou de agressão, como um assalto, por exemplo, é

perfeitamente compreensível. No entanto, há um outro sentimento de perda, cuja

fonte não é representada por uma agressão externa. Assim, qualquer desejo

insatisfeito, se suficientemente intenso, pode provocar sensação de perda de tal

ordem que despertará agressividade da mesma forma que um ataque externo o

faria, o que remete a questão da agressão também para a área econômica, pois a

carência de meios de subsistência em povos ou classes sociais pode despertar a

agressividade (RIVIERE, 1975).

Uma outra questão levantada por Riviere (1975) diz respeito à

dependência. De uma forma geral, nos sistemas políticos abertos o grau de

dependência da organização social não é sentido de forma ameaçadora. Contudo,

em casos excepcionais, como em uma guerra ou grande desastre, pode-se sentir o

grau de dependência das forças da natureza ou de outras pessoas e esse

sentimento assume um caráter ameaçador porque envolve a possibilidade de

privação. Neste caso, pode aparecer um desejo irrealizável de auto-suficiência

individual e a ilusão de liberdade pode ser sentida como um prazer.

A ansiedade de dependência é experimentada pelas pessoas desde as

situações mais primitivas que não a reconhecem nesse estágio. Em verdade, o bebê

não reconhece a existência do outro, creditando a si mesmo a satisfação de todas

as suas necessidades. Quando essas necessidades não são satisfeitas, contudo, o

bebê reconhece a sua dependência, já que não pode satisfazer a todas elas,

passando a gritar e a chorar, tornando-se, pois, agressivo e desencadeando uma

reação incontrolável que gera dor e sensações corporais explosivas e sufocantes o

que, por seu turno, ocasiona sentimentos adicionais de privação, dor e apreensão.

Para o autor, o bebê é incapaz de distinguir entre o eu e o não-eu,

caracterizando as sensações como seu mundo particular e suas privações como o

desaparecimento desse mundo particular de tudo o que precisa. E esse mundo se

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torna abrasador, quando ele é torturado pela ira e pelo desejo. Essa situação tem

enormes conseqüências psicológicas na vida adulta, pois se trata da primeira

experiência de algo sentido como morte, como reconhecimento da não existência de

algo, como uma perda essencial. No entanto, essa experiência permite o

conhecimento do amor - sob forma de desejo - e o reconhecimento da dependência

sob forma de necessidade, convivendo com os sentimentos e sensações de muita

dor e ameaça de destruição.

Dessa situação primitiva decorre a necessidade de buscar a auto-

preservação e os prazeres sem despertar as forças destrutivas capazes de destruir

os outros.

O ódio e a agressividade, o ciúme e a voracidade, experimentados e

manifestados por adultos, são todos derivativos, em geral

extremamente complicados, tanto dessa experiência original como da

necessidade de superá-la, se pretendermos sobreviver e retirar da

vida algum prazer. Isto significa que, por mais totalmente agressivas e

odiosas que tais emoções se possam apresentar na vida adulta, elas

são de fato até certo ponto modificações e ajustamentos inconscientes

de formas ainda mais simples e rudimentares desses sentimentos.

Ademais, todas as medidas por nós tomadas a fim de obter segurança

acham-se vinculadas a uma determinada utilização dos impulsos

amorosos (as forças vitais), embora também estes se possam

apresentar por vezes sob aspectos extremamente deturpados e

irreconhecíveis. (RIVIERE, 1975, p.22 – 23).

Segundo Winnicott (2000), antes mesmo da ocorrência da integração da

personalidade, já é possível encontrar a agressividade no bebê, na agitação

decorrente da não satisfação de suas necessidades ou na própria mastigação dos

mamilos com as gengivas, muito embora não se possa encontrar, no caso, o desejo

de destruir, significando essa agressividade muito mais uma atividade na condição

de função parcial. A organização futura dessas funções parciais, decorrente da

integração da personalidade, é que vai transformá-las, verdadeiramente em

agressividade.

A integração, contudo, não é alcançada em determinada data. Ela é um

processo que, eventualmente, pode ser revertido em função de uma adversidade

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ambiental, mas que, ainda assim, permite o surgimento do chamado comportamento

intencional, em algum momento. Pode-se afirmar, então, que, quando o

comportamento é proposital, a agressividade é intencional e sua fonte é a

experiência instintiva, fazendo parte, portanto, da expressão primitiva do amor.

O autor propõe, ainda, várias formas de expressão da agressividade, em

função dos estágios do desenvolvimento do ego. No estágio inicial ou de ausência

de concernimento, existente apenas enquanto estado teórico, a criança existe como

pessoa, com propósitos, mas ainda sem concernimento quanto aos resultados.

Nesse caso, o que é destruído nos momentos de excitação é exatamente aquilo que

ela valoriza nos momentos de tranqüilidade, ou seja, o amor excitado permite o

ataque imaginário à mãe, fazendo com que a agressividade integre o amor.

No estágio do concernimento, já há uma integração de tal ordem que é

possível o reconhecimento da existência da mãe como pessoa, o que determina o

sentimento de concernimento com relação às suas manifestações instintivas, tanto

concretas quanto ideativas. Esse sentimento provoca o aparecimento da culpa,

decorrente de dano supostamente causado à mãe nos momentos de excitação, que

por sua vez mobiliza um sentimento pessoal de reparação. É esse processo que

permite a transformação da agressividade em atividade social construtiva.

A raiva, sentimento que aparece nesse estágio, decorre, basicamente, da

frustração, em razão da impossibilidade de se evitar a frustração em todas as

experiências, o que acaba provocando situação dicotômica com relação à sua

manifestação. Por um lado, podem aparecer impulsos agressivos desprovidos de

culpa, em se tratando de respostas agressivas à experiência frustrante. De outro,

podem surgir impulsos agressivos carregados de culpa, quando são dirigidos ao

objeto amado. A frustração leva para a longe a culpa, mas acaba provocando, como

mecanismo de defesa, a separação do objeto bom do objeto mau, o que representa

uma perda valiosa para o amor, que é o seu componente agressivo e faz com que

as reações agressivas sejam mais explosivas.

No estágio da personalidade total, em que ocorrem as relações

interpessoais, a agressividade se expressa em situações triangulares, como

decorrência de conflitos conscientes ou inconscientes.

Winnicott (1987), ao escrever sobre a natureza e origens da tendência

anti-social, esclarece sobre a dificuldade em se identificar as origens da

agressividade, quando ela se manifesta, tendo em vista que, de todas as tendências

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humanas, a agressividade, em especial, é escondida, disfarçada, desviada. Em

outro texto, ao discorrer sobre a tendência anti-social, Winnicot (2000) demonstra

que a agressividade está diretamente relacionada com a resposta ambiental,

podendo seguir dois caminhos: o desenvolvimento normal da capacidade de

inquietude e o caminho patológico, consistente na não capacidade para a inquietude

e a formação do falso-self, ligado à tendência anti-social.

Para Adler (1957), o impulso agressivo se manifesta quando o objetivo de

predomínio e superioridade se torna patente ao indivíduo, como reação ao

sentimento de inferioridade, e o esforço para a conquista de consideração começa a

preponderar, produzindo um maior estado de tensão na vida psíquica que faz com

que o indivíduo procure atingir esse objetivo de predomínio com atos de grande

intensidade e violência.

Na perspectiva da denominada Psicologia Individual, o autor propõe que é

o sentimento de inferioridade que determina o alvo da existência individual. Desde

os primeiros dias de sua existência, a criança já tem a tendência de colocar-se em

evidência, de atrair a atenção dos pais, surgindo aí os primeiros indícios do desejo

de consideração e apreço que irá desenvolver-se sob o influxo do senso de

inferioridade e de uma determinação de alcançar posição individual aparentemente

superior ao seu ambiente.

Ao dar valor excessivo ao tamanho e à força de uma pessoa ou ao seu

direito de dar ordens e exigir obediência, a criança sente o desejo de crescer, ser tão

forte quanto aqueles que vê junto de si ou mesmo de dominá-los. Esse desejo a leva

a duas possibilidades de procedimento: a primeira, representada pela prática de atos

e emprego dos métodos utilizados, segundo sua compreensão, pelos adultos com

relação a ela; a segunda, representada pela ostentação de sua fraqueza, o que é

considerado pelos adultos uma inexorável exigência de seu auxílio. Assim, algumas

crianças se desenvolvem no sentido de aquisição do poder e de uma técnica de

coragem, impondo-se ao meio, enquanto outras parecem prevalecer-se das próprias

fraquezas.

Ainda segundo o autor, as principais dificuldades na contraposição ao

pendor para o predomínio são o estabelecimento com a criança de contato

esclarecedor acerca dos objetivos fundamentais de sua existência, no momento em

que o pendor se manifesta e o reconhecimento da existência desse pendor, já que o

esforço para a dominação por vezes é encoberto pela capa da afeição e da ternura.

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Nessa situação, todo o sentimento ou manifestação natural podem estar revestidos

de íntima hipocrisia, encobrindo intenção final de subjugar o meio.

Adler (1957) chama a atenção para o fato de que a luta pelo poder e pela

dominação poderá se tornar tão exagerada a ponto de ser definida como patológica.

Nesses casos, o impulso patológico de dominação leva o indivíduo a procurar

assegurar a sua posição no meio a custa de esforços extraordinários, com

precipitação e impaciência inconcebíveis e com violência exagerada na busca de

sua meta de dominação.

Friedman e Schustack (2004) sustentam que o impulso para a agressão é

particularmente importante para a linha teórica desenvolvida por Adler, na medida

em que se caracteriza como reação à percepção de inferioridade, representando,

portanto, ataque violento contra a incapacidade de alcançar ou dominar algo.

Sustentam, também, a importância, nessa teoria, dos aspectos teleológicos da

natureza humana, ou seja, a sua orientação para metas, sempre com o objetivo de

superação do senso de inferioridade, mas que podem criar um sentimento de

superioridade como forma de manter a auto-estima.

Ainda na linha da presença de impulso agressivo para a manutenção da

auto-estima, Fenichel (1981) propõe a existência de defesas caracterológicas com

essa finalidade. Entendendo caráter como conceito que vai além das modalidades

de defesa fixadas na personalidade para alcançar a organização dinâmica e

econômica dos atos positivos do ego e as maneiras pelas quais combina as suas

diversas tarefas, a fim de encontrar solução satisfatória, o autor propõe a existência

de dois tipos de traços caracterológicos que podem servir, respectivamente, ao fim

de descarregar algum impulso original ou de reprimi-lo. Aquele que serve à primeira

finalidade é chamado de traço caracterológico do tipo sublimado e o que serve à

segunda é denominado traço caracterológico do tipo reativo. No tipo sublimado, é

possível ao ego substituir um impulso instintivo primitivo por outro menos ofensivo,

compatível com ele, organizado e inibido em sua finalidade. No tipo reativo, existe

uma restrição à flexibilidade da pessoa que não consegue satisfação plena ou

sublimação dos seus impulsos instintivos, apresentando atitudes de evitação

(fóbicas) e de oposição (formações reativas). Em um caráter em que predomine a

índole reativa, as atitudes não se dirigem apenas contra impulsos instintivos, mas

também se relacionam a conflitos que giram em torno da auto-estima. Lutando

contra a percepção de profundos sentimentos de inferioridade, muitas pessoas

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desenvolvem comportamentos arrogantes e ambições pessoais elevadas e, por

vezes, desenvolvem extensa atividade para encobrir anseios passivos. O impulso

agressivo é, portanto, utilizado para alcançar esses objetivos da forma que for

possível, diante das condições ambientais impostas. Segundo o autor:

Compromisso muito freqüente entre um anseio superficial de

independência ativa e outro, mais profundo, de receptividade passiva

consiste na idéia de que uma receptividade temporária é necessária à

obtenção de independência futura, de modo que a independência

pode ser desfrutada na fantasia antecipatória, enquanto, na realidade,

se desfruta a dependência. Esta simultaneidade é uma das vantagens

emocionais da infância: o menino submete-se à masculinidade do pai

para tornar-se masculino. A tendência a manter esse afortunado

compromisso constitui uma das razões pelas quais tantos neuróticos

se empenham, inconscientemente, em permanecer no nível da

infância ou da adolescência (FENICHEL, 1981, p. 439).

1.4 A agressividade transformada em violência

Costa (1986) assinala que Freud não debitou ao instinto de agressividade

a responsabilidade por toda a violência presente no mundo, não existindo, portanto,

um instinto de violência, sendo certo que o instinto agressivo pode coexistir

perfeitamente com o desejo de paz, não sendo pertinente a afirmação de que a

causa da violência é o instinto agressivo presente no componente animal do homem.

Para o autor, fica evidente que não se pode confundir o comportamento animal, cuja

agressividade é mediada por instintos e tem por finalidade a sobrevivência, com a

violência dos homens, que traz consigo um atributo exclusivamente humano: o

querer fazer. Carrega, dessa forma, a marca de um desejo. Para o autor:

Violência é o emprego desejado da agressividade, com fins

destrutivos. Esse desejo pode ser voluntário, deliberado, racional e

consciente, ou pode ser inconsciente, involuntário e irracional. A

existência desses predicados não altera a qualidade especificamente

humana da violência, pois o animal não deseja, o animal necessita. E

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é porque o animal não deseja que seu objeto é fixo , biologicamente

pré-determinado, assim como o é a presa para a fera.

Nada disso ocorre na violência do homem. O objeto de sua

agressividade não é só arbitrário como pode ser deslocado. Este

pressuposto é indissociável da noção de irracionalidade que

acabamos de mencionar e corrobora a presença do objeto em

qualquer atividade humana, inclusive na violenta (COSTA, 1986, p.

30).

Para caracterizar bem essa diferença, Costa (1986) sustenta que, no ser

humano, há três formas de expressão da agressividade:

1. Agressividade como pura manifestação do instinto;

2. Agressividade sem desejo de destruição;

3. Agressividade com finalidade destrutiva.

Ao falar do primeiro tipo, o autor utiliza os ensinamentos de Winnicott

(2000), para demonstrar que a agressividade como pura manifestação do instinto

não inclui nenhum julgamento de valor. Nesse caso, a agressividade só existe como

um “estado teórico”, no qual a criança não tem concernimento com relação à mãe.

Dessa forma, a agressividade da criança para com a mãe não é boa ou má, moral

ou imoral, violenta ou não violenta, na medida em que a criança ainda não está

inscrita no mundo dos valores. Costa busca demonstrar que Winnicott, quando trata

da agressividade como pura manifestação do instinto, em estado teórico, está se

referindo a uma hipótese, a um construto teórico, com o objetivo de dar coerência e

consistência a outros fenômenos, clinicamente observáveis, que dele derivam.

Com relação à segunda forma, o que existe é uma manifestação agressiva

não percebida pelo agressor, pelo agredido ou por um observador como violenta. O

agente e o sujeito vêm na dor ou na coerção um meio para o alcance de um prazer

maior, não de natureza sexual e, portanto, sem a conotação sádica ou masoquista.

Esse prazer refere-se a predicados socialmente valorizados. Bettelheim (1979 apud

COSTA, 1986) dá exemplos de como esse fato pode ocorrer em sociedades tribais,

em que rituais truculentos como a castração ritual ou a circuncisão não são vividos

como experiências agressivas, mas como práticas que conferem poder aos órgãos

genitais. Em outro exemplo, mais próximo da cultura ocidental, o autor cita a cirurgia

plástica em que o que é buscado é o ideal de beleza tão valorizado socialmente,

apesar do sofrimento causado pelo ato cirúrgico.

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A terceira forma diz respeito à expansão da agressividade com finalidade

destrutiva, o que de fato caracteriza a violência, na forma anteriormente descrita.

Para o autor, admitir a violência como agressividade equiparada a um impulso

instintivo implica em trivializá-la, o que leva à sua reprodução e perpetuação. A

resignação com relação aos atos violentos decorre da idéia de que o “homem é

instintivamente violento” e, portanto, nada há a fazer com relação a esse fato, a não

ser aceitá-lo como algo inevitável.

A transição da agressividade natural para a violência passa, na visão de

Winnicott (2000), por uma falha ambiental, em função de um processo por ele

chamado de de-privação, em que houve a perda de algo bom, positivo, dentro da

experiência da criança até aquele momento. A retirada do objeto bom foi por tempo

superior àquele em que a memória da criança podia manter viva a experiência. Esse

fenômeno pode dar início ao ciclo da tendência anti-social. Primeiro a falha

ambiental; depois, o congelamento dessa falha como mecanismo de proteção do

verdadeiro self; após, a fase de neutralidade, em que a criança só pode ficar quieta;

e, finalmente, a fase de testar o meio e incomodar, quando ela percebe, no meio,

uma possibilidade de ser acolhida (WINNICOTT, 1994).

A falta de continuidade da provisão ambiental é, segundo o autor,

responsabilidade da família e qualquer manifestação de tendência anti-social deve

ser tratada com um ambiente firme e coeso que contenha a criança, quando de seus

ataques ao meio.

Para Vilhena (2002), a legitimidade das funções paterna e materna não

está tão presente na atualidade, criando uma situação de negligência decorrente da

inexistência de padrões de como lidar com os filhos. Como decorrência, a

agressividade normal e criativa pode se transformar em patológica e destrutiva, pois

a criança que deve ser mantida pela mãe, durante o período de dependência

absoluta e pelo pai, no período de dependência relativa, assume precocemente a

responsabilidade por seus atos, sendo isso feito de forma onipotente o que pode

levar à falta de fusão entre o impulso erótico e o agressivo. Nesse caso, pode haver

a expressão deste último por meio da tirania utilizada pela criança com relação a

seus pais, colocando-os em situação de igualdade com ela. O problema da falha é

resolvido pelo comportamento de querer sem limites.

Ainda segundo a autora, os filhos de hoje demonstram, com clareza, a

condição dos pais que têm medo de se posicionar como pais e o espaço vazio que

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resta dessa falta de posicionamento será preenchido por outros objetos,

perpetuando a onipotência, o narcisismo infantil e não permitindo que o princípio da

realidade se instaure de forma eficiente. Ainda segundo a mesma autora, parece

indiscutível estar havendo uma falha básica da família no seu papel de contenedor

de impulsos agressivos.

Segundo Sá (1999), a questão da violência e da agressividade tem levado

vários autores a posições diversas e, por vezes, até antagônicas, dentro de um

contexto de banalização ou de sacralização do tema. Utilizando o conceito de

Michaud (1989 apud SÁ, 1999), sustenta que existem no comportamento violento

dois atributos: o caráter de intensidade irresistível e o caráter de lesividade. Assim, a

ação será mais ou menos violenta, em função da intensidade de sua força e dos

danos por ela causados.

E essa força virá direta ou indiretamente de alguém identificável ou de

alguém não identificável e sempre terá como objetivo causar danos dentro de uma

idéia central de privação e então a violência será mais ou menos grave em razão

dos danos provocados ou, em outros termos, da privação imposta a qual pode ser

em forma de bens materiais, da própria identidade do indivíduo, de seu direito de

realização enquanto pessoa e de sua própria vida.

1.5 A agressividade pela ótica da teoria motriz da consciência

Depois de analisado o comportamento agressivo a partir de linhas teóricas

distintas, cumpre agora analisar esse comportamento no contexto da teoria motriz

da consciência, que serve de base ao Psicodiagnóstico Miocinético (PMK),

instrumento utilizado na presente pesquisa e detalhado no capítulo sobre método.

A teoria em pauta postula que toda a intenção ou propósito de reação é

acompanhado de uma modificação do tônus postural, facilitando a ação dos

movimentos envolvidos na obtenção do objetivo e inibindo os movimentos contrários

(GALLAND DE MIRA, 2002).

Muitos outros modelos teóricos serviram de base para a teoria motriz da

consciência. Galland de Mira (2002) cita os seguintes:

1. Positivismo francês: Teve como maiores expoentes Condillac e Conte.

Este último demonstrou haver elementos motores, musculares e ativos na

imaginação, antes considerada como atividade essencialmente intelectual. Madinier

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(1938), outro autor positivista, afirmou que a consciência pressupõe desnível

tensional e movimento visível e implícito;

2. Fisiognomistas: Lavater (1789), teólogo e filósofo suíço, utilizava o

princípio de que o indivíduo se reflete, através de sua estrutura corporal em contato

com o mundo;

3. Naturalistas: Estudos experimentais de Darwin (1872) procuraram

demonstrar que a expressão motriz era importante no estudo da personalidade;

4. Neo-humanistas: Goethe afirmava que qualquer movimento intelectual é

sempre precedido pela ação e que no princípio está a ação e não a palavra; está o

fato e não o verbo;

5. Fisiólogos: Carpenter (1852) se referiu ao princípio ideomotor ao afirmar

que a idéia não é outra coisa mais que a repercussão de um movimento consciente

que se inicia; Sechenov também demonstrou que não pode existir atividade global

sem que haja uma base tensional, tanto no homem quanto no animal;

6. Neurofisiologistas: Demonstraram a base fisiológica das ações em

projeto, a partir de descargas do córtex cerebral e da persistência de um estado de

contração postural de caráter latente.

No campo da Psicologia, a autora coloca conceitos de vários autores de

diversas linhas teóricas que, de alguma forma, sustentam a teoria motriz da

consciência:

1. William James: O autor norte-americano sustentou que a reação

muscular é o principal fator da emoção e que toda consciência é motora. Incorreu,

contudo, em falha, quando afirmou que, frente ao estímulo, surge primeiro a reação

muscular e depois a emoção;

2. Nina Bull: Corrigiu o equívoco de James, desenvolvendo a teoria

atitudinal, que sustenta a existência de um estágio preliminar, atitudinal ou postural,

em toda a ação. A teoria atitudinal considera, portanto, a existência de atitude

motora preparatória, impedida de completar-se, que dá origem a estados

sentimentais. Os sentimentos são, portanto, secundários à preparação do corpo

para a ação e são dela dependentes.

3. Freud: Estabeleceu o conceito de libido, que é considerada uma energia

instintiva, portanto, uma tensão;

4. Wallon: Declarou, em 1942, em Paris, que o indivíduo manifesta-se a

cada instante, globalmente e integralmente, por suas posturas, atitudes e mímicas;

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5. Rubinstein: Em 1922, na Rússia, declarou não haver vida psíquica sem

uma base postural de tensão e esta se localiza, nos organismos vertebrados, nos

músculos;

5. Vernon: Em Nova York, em 1933, afirmou que existe correspondência

entre os movimentos expressivos e as atitudes, os traços e os valores e demais

disposições da personalidade interna (GALLAND DE MIRA, 2002, p. 13 – 15).

Com base na teoria motriz da consciência e nas pesquisas sobre os

traçados desenvolvidos no PMK, Mira (1939 apud GALLAND DE MIRA, 2002, p. 37),

formulou diversos conceitos sobre tendências centrais de personalidade, dentre os

quais, o conceito de agressividade que seria a força propulsora que leva o indivíduo

a uma atitude de afirmação e domínio pessoal perante qualquer situação.

Mira, Galland de Mira e Oliveira (1949) procuraram demonstrar a validade

da utilização do PMK no estudo da agressividade, quer seja normal, quer seja

delituosa. A esse propósito, afirmaram que a agressividade delituosa não é

fundamentalmente diferente da normal, divergindo desta pelo seu grau de

intensidade e por se achar inibida pelo temor, além de só se manifestar livremente

na execução de seus atos potenciais de posse ou destruição. Segundo os autores,

toda a pessoa nasce com certa carga de agressividade que deve receber a ação

corretiva da educação nas primeiras fases do desenvolvimento, para a aquisição de

pautas de conduta ajustadas às normas jurídicas e sociais e, portanto, afastadas da

zona de delinqüência. No entanto, todo ser humano que tenha aumentada a carga

de seus impulsos agressivos ou diminuída a força de suas inibições terá propensão

a aproximar-se dessa zona. Essa carga agressiva aparece, em forma de desvios

específicos, em diversos estudos apresentados, com pessoas normais e com

delinqüentes, demonstrando a sensibilidade do teste na sua identificação.

Kussrow e Larez (1950) também elaboraram estudo específico sobre a

agressividade, apurada por meio do PMK e concluíram sobre sensibilidade e

consistência interna do teste para aferição das tendências agressivas.

È importante salientar a forma como o conceito de Mira sobre

agressividade – força propulsora que leva o indivíduo a uma atitude de afirmação e

domínio pessoal – se aproxima do conceito psicanalítico. Essa força pode estar

ligada a uma classe de pulsão que objetiva a criação e a manutenção da unidade do

indivíduo. São as denominadas pulsões sexuais ou de auto-conservação. Pode,

também, estar vinculada a redução completa das tensões, atuando em antagonismo

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às pulsões sexuais. São as pulsões destrutivas ou pulsão de morte (FREUD, 1923).

A agressividade expressa por meio do PMK, se contida nos limites da normalidade,

representa efetivamente força de propulsão ou forma de imposição do indivíduo ao

meio, na perspectiva de sua auto-conservação. Contudo, extrapolando esses limites,

pode adquirir intensidade de tal ordem que provoque lesividade, quando associada a

um desejo destrutivo, caracterizando, dessa forma, um ato violento (SÁ, 1999;

COSTA, 1986).

A aproximação entre o conceito psicanalítico de agressividade e o

conceito formulado por Mira ganha importância, na medida em que o modelo

explicativo para os resultados encontrados no presente estudo está fundamentado

na teoria psicanalítica.

Vários outros modelos teóricos buscam explicar a agressão humana,

desvinculando-a de aspectos ligados exclusivamente à carga instintiva e

questionando a etologia e a psicanálise que utilizam o instinto de agressão e a

pulsão de morte, respectivamente, para explicar o comportamento agressivo. Alguns

modelos são mais antigos, como o behaviorismo, a aprendizagem social e outros

modelos que fundamentam a agressão exclusivamente em estruturas sociais

perversas. Outros são mais recentes, como o cognitivismo neo-associacionista; o

processamento da informação social; o interacionismo social; e o modelo geral de

agressão (KRISTEENSEN et al, 2003). Contudo, por não estarem esses modelos

diretamente ligados ao objetivo do presente estudo, não serão discutidos.

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2. A AGRESSIVIDADE PRESENTE NO TRABALHO POLICIAL

O trabalho policial, na realidade brasileira, é sempre muito criticado e

pouco reconhecido. Acusações de violência, omissão ou corrupção freqüentam com

alguma constância o noticiário e são responsáveis pelo preconceito existente na

população com relação à figura do profissional de segurança pública.

No caso específico de policiais militares, a crítica maior diz respeito à

conduta violenta, levando em conta, principalmente, o número de pessoas mortas e

feridas em confronto armado e o número de policiais militares mortos e feridos

nesses confrontos. Os números a seguir, divulgados pela Secretaria da Segurança

Pública do Estado de São Paulo e referentes ao período 2000 – 2004, ilustram o que

foi afirmado:

Tabela 1: Civis e policiais militares mortos e feridos no Estado de São Paulo

EVENTO/ANO 2000 2001 2002 2003 2004

CIVIS

MORTOS

524

385

541

756

545

CIVIS

FERIDOS

298

357

373

335

361

POLICIAIS

MORTOS

33

40

42

19

25

POLICIAIS

FERIDOS

712

524

449

458

442

Fonte: Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo

Esses dados, contudo, precisam ser confrontados com os dados relativos

à criminalidade violenta, no mesmo período e local, que, segundo a Secretaria de

Segurança Pública do Estado de São Paulo, foram os constantes da Tabela 2:

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Tabela 2: Crimes por 100.000 habitantes no Estado de São Paulo

EVENTO/ANO 2000 2001 2002 2003 2004

HOMICÍDIOS

DOLOSOS

34,24

33,21

30,99

28,29

21,74

ROUBO 1075,48 1170,53 1207,13 1392,67 1347,65

FURTOS 583 584,69 584,65 641,57 568,53

ROUBOS/FURTOS

DE VEÍCULOS

638,80

572,30

500,59

480,79

453,18

Fonte: Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo

Os dados relativos à Cidade de São Paulo e à Região Metropolitana

(exceto a Capital), segundo a mesma fonte, ultrapassam os especificados na tabela

2, alcançando no ano de 2004, os índices de 31,87 e 28,56 homicídios dolosos por

grupo de 100.000 habitantes, respectivamente, para a Capital e Região

Metropolitana. Na Capital, a grande maioria dos bairros apresenta índices de

homicídios superiores ao do Estado, com destaque para a Zona Sul e Zona Leste

em que quase todos os bairros superam o índice estadual.

Para efeito de comparação, a seguir estão transcritos os dados referentes

a civis mortos pela polícia e os dados relativos à criminalidade violenta nos Estados

Unidos da América, no período 1999 – 2003, conforme o último relatório completo

divulgado pelo Federal Bureau of Investigation:

Tabela 3: Civis mortos em números absolutos e crimes por 100.000 habitantes nos

Estados Unidos da América

EVENTO/ANO 1999 2000 2001 2002 2003

CIVIS MORTOS 308 309 378 341 370

HOMICÍDIOS

DOLOSOS

5,7

5,5

5,6

5,6

5,7

ROUBOS 150,1 145 148,5 146,1 142,2

ASSALTOS 334,3 324 318,16 309,5 295

ROUBOS/FURTOS

DE VEÍCULOS

422,5

412,2

430,5

432,9

433,4

Fonte: Federal Bureau of Investigation – Estados Unidos da América

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Apesar de o relatório americano não apresentar dados sobre o número de

civis feridos nos confrontos com a polícia e nem mesmo sobre o número de policiais

mortos ou feridos, é bastante significativa a diferença existente entre o número de

civis mortos nos dois países, até porque os dados americanos se referem a todo o

país e os brasileiros apenas ao Estado de São Paulo.

Nesse cenário, cabe, então, analisar a questão da agressividade presente

no trabalho policial e como, eventualmente, ela pode ultrapassar os limites da

legalidade e se transformar em atos violentos, ou seja, atos agressivos praticados

com intensidade, lesividade e destrutividade (COSTA, 1986; SÁ, 1999).

O trabalho policial, por sua própria natureza, não pode prescindir da

agressividade para a sua execução, entendida esta como força de propulsão

necessária, para que o agente público que comparece a um local de conflito possa

resolver o impasse instalado e recompor a ordem pública rompida no mais curto

espaço de tempo e com o menor dano possível para todas as partes envolvidas.

Nesse sentido, ele deve ter condições de se impor como representante da

autoridade do Estado, usando a força física necessária para superar eventuais

resistências encontradas.

Mira (1956) estabeleceu pela primeira vez o perfil profissional para

policiais militares, integrado pelas seguintes características:

- Agressividade positiva, porém controlada;

- Capacidade de adaptação;

- Controle emocional;

- Atenção flutuante, mas capacitada a concentrar-se em detalhes;

- Resistência à fadiga e causas de distração;

- Inteligência lógica, intuitiva, reflexiva, criadora e criativa;

- Memória de identificação para pessoas, lugares e objetos;

- Ausência de sinais fóbicos;

- Moderada rigidez.

Com o advento do policiamento comunitário, implantado na Polícia Militar

do Estado de São Paulo, a partir de 1997 e que reformulou a forma de intervenção

policial, buscando trazer a comunidade como parceira nesse trabalho e fixando os

policiais em áreas específicas para que pudessem criar vínculos com a comunidade

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local, houve necessidade de reformulação desse perfil profissional, para adequá-lo a

essa nova filosofia. Dessa forma, o perfil profissional do policial comunitário, definido

pelo Centro de Alistamento, Seleção e Estudos de Pessoal da Polícia Militar do

Estado de São Paulo, passou a incluir as seguintes características básicas:

- Autonomia: capacidade de agir com iniciativa e decisão, conduzindo-se

sem a necessidade de constante supervisão e controles externos, decidindo com

presteza e segurança;

- Criatividade: habilidade para extrair conclusões e soluções da própria

experiência anterior e da vivência interna, destacando-se pelo ineditismo,

apresentando soluções novas para os problemas existentes, podendo assim buscar

formas cada vez mais eficazes de cumprir seu papel junto à comunidade, valendo-se

dos meios disponíveis no momento;

- Relacionamento interpessoal: capacidade para receber e emitir

conceitos, idéias, sugestões e críticas sem se deixar abalar em demasia e sem

reagir de forma brusca, podendo manter o envolvimento afetivo, sem perder a

capacidade cognitiva;

- Receptividade e assimilação: capacidade de ouvir o que os outros têm a

dizer e receber qualquer tipo de estímulo, agradável ou não, mantendo a capacidade

de reflexão, julgando o essencial desses estímulos, podendo ou não incorporá-los

ao seu próprio repertório;

- Disposição para o trabalho: capacidade de lidar de maneira produtiva

com as tarefas sob sua responsabilidade, colaborando com outras áreas por meio

de idéias e métodos seguros e confiáveis, mantendo energia disponível por período

prolongado;

- Capacidade de mediação de conflitos: habilidade para utilizar senso

crítico antes de agir ou emitir parecer, elucidando prós e contras, auxiliando no

processo decisório, com imparcialidade e isenção;

- Flexibilidade de conduta: capacidade de ser maleável na compreensão

da realidade que o cerca, demonstrando assertividade na análise, podendo

diversificar seu comportamento, atuando adequadamente de acordo com a

exigência de cada situação;

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- Autocrítica: capacidade de análise de seus próprios comportamentos,

pensamentos ou sentimentos, com o propósito de aprimorar sua linha de

intervenção;

- Liderança: capacidade para agregar forças existentes em determinado

grupo, canalizando-as na busca de trabalho harmônico e coeso, com objetivos pré-

definidos.

Fica evidente na descrição dos perfis profissionais, tanto o antigo como o

atual, a exigência de características pessoais complexas e, por vezes, antagônicas

que dificilmente são encontradas em uma mesma pessoa, pois refletem

ambivalência e, até mesmo, contradição pessoal. É certo que, quanto maior o risco

envolvido na atividade profissional, maior a exigência em termos de perfil pessoal,

mas, no caso específico de policiais, em função não só da situação de risco, mas

também de sua atuação abrangente e multifacetária, decorrente de carências sociais

múltiplas, o que se exige, a partir da perspectiva do perfil profissional, vai além do

que é normalmente encontrado em quem se dispõe a realizar esse trabalho.

Por essa razão, existe uma dificuldade natural de se recrutar pessoas que

atendam a todas as características definidas, não restando alternativa à Instituição

Policial que não a seleção daqueles que mais se aproximem delas. Ainda segundo o

mesmo perfil, apesar de o termo agressividade não ser utilizado de forma explícita,

pode-se perceber-lhe a presença nos conceitos de autonomia, capacidade de

mediação de conflitos e liderança, cabendo, portanto, analisar como essa

agressividade essencial ao trabalho policial se transforma em violência e até que

ponto um programa de apoio psicológico pode ajudar a controlá-la.

2.1 A violência policial sob a ótica da sociologia

Diversos modelos explicativos foram construídos para dar resposta ao

fenômeno da transformação da agressividade indispensável ao trabalho policial em

violência. Monjardet (2003) afirma que a ação policial é sempre iniciada de três

formas: a partir de uma ordem de instância hierarquicamente superior; a partir de

uma solicitação de qualquer cidadão; ou ainda, por iniciativa do próprio policial.

Essas três dimensões podem obedecer a lógicas distintas e concorrentes, gerando

tensões que podem ser canalizadas para atos violentos.

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Para Porto (2003), a própria sociedade se representa como violenta e as

políticas públicas voltadas para a segurança acabam involuntariamente inscrevendo

esse referencial no imaginário das pessoas, fazendo com que apareçam conteúdos

ambivalentes ligados, de um lado, ao desejo de que a violência seja enfrentada e

combatida com os rigores da lei e de outro, a contextos de retrocesso, de cunho

descivilizatório, ligados ao uso de mais violência no seu combate. Em função dessa

segunda representação, o controle social sobre a atuação do aparelho policial deve

ser intenso, na medida em que seus integrantes, percebendo a ambivalência e até

certo desejo de ver a situação resolvida com o uso da força, podem racionalizar o

uso descontrolado de sua agressividade como medida de forte aceitação social.

Costa (2004), ao falar da violência policial, cita Skolnick (1966) que articula

essa violência ao binômio perigo – autoridade. Segundo este último, é o perigo que

vai colocar em risco o exercício da autoridade e a adesão às normas legais por parte

do policial vai depender do perigo a que este é exposto ou do questionamento de

sua autoridade.

Costa (2004) sustenta, ainda, a existência de violência policial em todos

os estados brasileiros, como conseqüência da impunidade que acaba por disseminar

a idéia de que o uso ilegítimo da força é inerente à atividade policial. Para o mesmo

autor, a existência dessa violência parece estar também associada à ineficácia do

aparelho judicial. Essa ineficácia incentiva ações ilegais e truculentas de grupos de

policiais que se consideram acima da lei e acreditam que a solução para a violência

esteja no emprego ilegítimo da força, contando, ainda, com o apoio de parte da

população e com a perspectiva de jamais serem julgados e punidos.

Já para Neme (1999), existem, na legislação brasileira, causas

excludentes de ilicitude que legitimam o uso da força. Duas são as principais: a

legítima defesa e o estrito cumprimento do dever legal. Dessa forma, ações policiais

violentas que resultam em morte podem ser incluídas nessas causas de exclusão de

ilicitude, sem qualquer conseqüência de ordem penal para os seus executores.

A autora considera que a dificuldade consiste em avaliar como o emprego

da força foi realizado, se dentro dos parâmetros legais ou fora deles, até porque o

critério de avaliação desses parâmetros não se estabeleceu de forma razoável no

Brasil. No exercício de sua tarefa repressiva, o aparelho policial não se amolda às

normas legais, caracterizando, dessa forma, excesso normalmente não punido. Em

grande medida, a violência policial está ligada ao processo histórico do país, que

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obteve, a partir da redemocratização, inegáveis avanços em alguns setores, mas

manteve determinadas práticas em outros e a violência policial, que dificulta o

exercício de direitos fundamentais, é prática que ainda persiste.

Tavares, Souza, Menandro e Trindade (2004) estudaram as concepções

de policiais militares sobre categorias sociais que são alvo do trabalho policial no

Estado do Espírito Santo, visando conhecer possíveis diferenças de tratamento

adotado em relação a diferentes segmentos populacionais e partindo da premissa de

que as situações de violência, tensão e desconfiança, que fazem parte da rotina dos

policiais militares, constituem fator determinante da forma como desenvolvem suas

atividades. A partir dessas considerações, surge a relevância de se investigar as

suas concepções apriorísticas a respeito dos usuários do serviço policial, sob a

hipótese de que estereótipos e preconceitos determinam a forma de tratamento a

esses usuários.

Os resultados demonstraram a familiaridade do policial com pessoas de

baixa renda, que se encontram mais próximas de sua atividade profissional. Muito

embora os policiais pesquisados sejam também oriundos de camadas pobres da

população, o que os autores observaram foi a visão cristalizada de que existe

ligação natural entre pobreza e banditismo, até porque a maioria dos crimes que

chegam ao conhecimento desses policiais são praticados por pessoas de baixa

renda. Dentro dessa perspectiva, a forma de tratamento de pessoas pobres e

pessoas ricas também se altera, mesmo na eventualidade da prática de crime por

pessoa de maior poder aquisitivo.

Segundo os autores, a presença de estereótipos, tanto da polícia em

relação aos estratos sociais da população quanto destes em relação à polícia,

decorre do considerável grau de autonomia das instituições policiais relativamente

às transformações políticas e sociais havidas no país. Reforçando análise de

Pinheiro (1998, apud TAVARES et al, 2004), o processo de consolidação da

cidadania, objetivo maior da Constituição de 1988, não se refletiu nas práticas

policiais.

2.2 A violência policial sob a ótica da psicologia psicodinâmica

Para Zacharias (1994), a violência policial está articulada a um processo

que abrange desde a frustração frente à carreira até as características próprias da

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personalidade autoritária descrita por Adorno (apud ZACHARIAS, 1994). Esse tipo

de personalidade, que se caracteriza pela deferência para com os superiores e rigor

para com os subordinados, parece estar muito presente nos quadros policiais.

Segundo o autor, como há certa frustração nos valores terminais dos policiais

militares, decorrente da falta de realização profissional e como há compreensão dos

valores instrumentais – disciplina, hierarquia, dedicação e eficiência – há uma

tendência de o policial dirigir a agressividade gerada para outro foco que não a

própria Instituição. Dessa forma, a agressividade será dirigida a grupos, não de

forma aleatória, mas até certo ponto de forma indicada, recaindo sobre eles o

preconceito e a opressão.

Para o autor, o perfil do policial militar parece confirmar a existência, em

parte do grupo, da Síndrome de John Wayne, descrita por Lidgard e Bates (1989

apud ZACHARIAS, 1994) que, basicamente, consiste em negar valores pessoais,

em especial, aqueles ligados a relacionamento interpessoal e os comunitários e

dirigir a agressividade a grupos pré-determinados. O ponto central da síndrome é a

dicotomia bem e mal, havendo a necessidade de destruição do mal para que o bem

prevaleça, modificando-se, dessa forma, toda a percepção do mundo. O rigor da lei

deve estar sempre acima dos homens e das circunstâncias presentes. Conforme

descreve o autor:

Sem dúvida, John Wayne incorpora a figura arquetípica do herói,

aquele que, do lado da lei, cumpre a determinação de deter o mal e

impor a ordem social, recebendo a admiração da população. Porém

age com um sentido superior à aprovação social, pois nunca

permanece no lugar onde realizou o ato heróico, nunca recebe os

louros da vitória, exceto a satisfação da missão cumprida

(ZACHARIAS, 1994, p.199).

Em outras palavras, a Síndrome de John Wayne representa a utilização

de mecanismos de defesa, especialmente o deslocamento e a racionalização para

legitimar a conduta agressiva, acima da lei e sem possibilidades de controle efetivo.

Allegretti (1996) sustenta que a agressividade empregada com finalidade

destrutiva no trabalho policial e que aparece sem estar, à primeira vista, relacionada

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a uma eventual pressão exercida por esse trabalho, pode estar vinculada a dois

fatores:

1. Falha dos mecanismos inibitórios do superego; e

2. Existência de senso moral próprio divergente da moral dominante.

No primeiro caso, o que existe é a ineficácia dos mecanismos inibitórios do

superego, diante de uma situação real que estimule as pulsões agressivas do

policial. Nesse contexto, a expansão da agressividade violenta decorre da ansiedade

gerada pela situação que acaba por acentuá-la, na forma proposta por Klein (1970).

No segundo caso, a agressividade se manifesta com características

destrutivas por conta da desconfiguração de alguns valores fundamentais, como

vida e dignidade humana, permitindo a formação de senso moral particular,

divergente da moral dominante. Valores familiares frágeis são ainda mais

devastados com os efeitos das tragédias do dia-a-dia. A morte, assim como a vida, é

banalizada. O policial traz essa lógica do meio social de onde provém e a implanta

no trabalho policial que, em indesejável efeito perverso, pode, inclusive, ajudar a

solidificá-la e potencializar os seus efeitos.

Muito próximos desse segundo caso, aparecem os quadros de

dessensibilização, em que a violência é empregada sem que desperte sentimentos

com relação a seus resultados. O termo alexitimia tem sido empregado para indicar

o afastamento da pessoa dos próprios sentimentos, uma espécie de embotamento

afetivo, em que a esfera do pensamento, decisão e ação do indivíduo se encontra

totalmente separada da esfera dos sentimentos e emoções (SILVA, 1995).

O que se poderia perguntar é se a Instituição Policial, que tem como

valores fundamentais o respeito à vida, à integridade física e à dignidade da pessoa,

não conseguiria, através da transmissão desses valores aos novos policiais, evitar a

manifestação da agressividade violenta. Na verdade, esse movimento é muito difícil

de ser feito, porque, em razão da diferença entre valores pessoais e valores

institucionais, nasce o que Dejours (1988) denominou de ideologia defensiva. Para

ele, o choque entre uma história individual, portadora de projetos, esperanças e

desejo e uma organização do trabalho que não permite a realização desses projetos

pode determinar impacto no aparelho psíquico.

A ideologia defensiva seria, portanto, um mecanismo particular de defesa

contra as diferenças entre as aspirações profissionais e as condições de trabalho

encontradas.

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Transportado o conceito para a realidade da Polícia Militar, a ideologia

defensiva aparece não apenas como diferença entre aspiração individual e estrutura

organizacional, mas, acima de tudo, como divergência de valores, levando muitos

policiais a se ocultar de maneira radical, para poder agir segundo seus valores

pessoais. E se esses valores pessoais forem socialmente inadequados, as

manifestações agressivas de caráter destrutivo podem se manifestar com alguma

freqüência no trabalho policial. Além disso, o próprio grupo desempenha papel

importante nesse processo, pois, segundo Dejours (1988), a ideologia defensiva

para ser operatória deve obter a participação de todos e aquele que não participa,

cedo ou tarde, acaba sendo discriminado pelo grupo.

Assim, a utilização de agressividade exagerada no trabalho policial, dentro

do aspecto coletivo da ideologia defensiva passa pela aprovação de um significativo

número de integrantes que possui valores pessoais próximos entre si. Com essa

aprovação, não resta nenhum tipo de angústia pessoal posterior a uma ação

violenta, sendo esta considerada um resultado natural do trabalho policial.

Uma outra forma de pensar a agressividade exagerada no trabalho policial

é considerar a possibilidade de existência de um falso-self entre os policiais que

participam de ações violentas. Retomando o pensamento de Winnicott (2000), deve-

se considerar o falso-self como uma das organizações defensivas mais bem

sucedidas e que tem por finalidade proteger o verdadeiro self da falha ambiental,

que resulta em processo de de-privação com conseqüente congelamento dessa

falha, na esperança de tê-la corrigida futuramente. Se o ambiente não é

suficientemente bom para permitir a construção do verdadeiro self, o indivíduo reage

a essa intromissão ambiental e os processos de construção do eu são

interrompidos. Com isso, surge o falso-self, construído a partir de uma submissão

defensiva como reação à intrusão. Esse processo pode dar início ao ciclo de

tendência anti-social que, segundo Winnicott (2000), implica em esperança de

recuperar o que lhe foi retirado precocemente na primeira infância, ainda que por

vias transgressivas. O roubo – ou furto – caracteriza bem esse processo, em que a

criança não está em busca do objeto roubado – ou furtado – mas está atrás da mãe,

sobre a qual ela pensa ter direitos, já que, na sua vivência imaginária, existe a

crença de que a mãe foi criada por ela e não o contrário.

Já a destrutividade caracteriza processo em que o principal fundamento é

a falha ambiental decorrente da atitude paterna, no estágio de dependência relativa.

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A figura do pai, encarregada de dar a moldura em meio a qual a criança vai operar a

sua agressividade, falha nesse propósito, não estabelecendo limites definidos, o que

leva o indivíduo, em todo o seu desenvolvimento emocional, a procurar esses limites

no ambiente.

É possível pensar na existência dessa falha ambiental naqueles que

procuram a carreira policial, como forma de operar o falso-self e toda a sua

destrutividade de forma dissimulada, pelo pressuposto da legitimidade de sua ação

violenta. Para Winnicott (1987), os agentes de contenção devem estabelecer as

bases para um tratamento humano do infrator, não deixando que o crime produza

sentimentos de vingança pública em termos de sentimentalismo, o que poderia ser

perigoso por colocar em evidência o ódio. O policial que opera com um falso-self, em

que as características de destrutividade estão presentes, pode permitir a eclosão do

ódio como um pseudo-sentimento de vingança pública, mas que, em verdade, serve

apenas para permitir a expansão de tendência que lhe é inerente.

Belmont (2000), ao tratar do falso-self e violência, assegura que uma

polícia verdadeiro self é aquela em que a agressividade é usada de forma controlada

para conter a violência e o crime, enquanto um agente da lei falso-self é aquele que

está submetido à violência do ambiente, transformando-se ele mesmo em agente do

crime.

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3. A IMPLANTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA

DE APOIO PARA POLICIAIS ENVOLVIDOS EM OCORRÊNCIAS GRAVES NO ESTADO DE SÃO PAULO

3.1 Histórico

A Polícia Militar do Estado de São Paulo, de acordo com a Lei

Complementar nº. 960 de 09 de dezembro de 2004, possui em seu efetivo 93.056

homens e mulheres para o trabalho de polícia ostensiva e de preservação da ordem

pública. Desse total, 19.960 (21%) são oficiais e sargentos e 73.096 (79%) são

cabos e soldados (8050 do sexo feminino). Estes últimos são os profissionais de

segurança pública mais fortemente empregados em atividades operacionais e

sujeitos, portanto, ao envolvimento em ocorrências graves, fator de constante

preocupação para o Comando da Corporação.

A origem do programa de apoio para policiais envolvidos nesse tipo de

ocorrência em São Paulo remonta ao ano de 1994, época em que o Comando Geral

da Polícia Militar já manifestava sua preocupação com a participação de policias

militares em ocorrências onde houvesse o evento morte. Nesse ano, foi editada a

Nota de Instrução nº. Correg PM 001/150/94 que previa em seu item 2.c.:

2. SITUAÇÃO

.......................................................................................................

c. Por outro lado, o Comando Geral preocupa-se com os efeitos

estressantes do trabalho policial, danoso ao equilíbrio físico e mental

do policial militar e com certeza potencializados quando o profissional

se envolve em ocorrências nas quais faz uso de força ou de armas

contra pessoas.

O mesmo documento afirmava que o policial envolvido como participante

efetivo em cinco ou mais ocorrências com o evento morte, lesão corporal,

constrangimento ilegal, violação de domicílio e violência arbitrária, nos últimos

quatro anos, seria imediatamente afastado, até a manifestação da Corregedoria da

Corporação, das atividades de policiamento afetadas por maior potencial de uso de

força.

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Caso houvesse envolvimento em até quatro ocorrências nos últimos

quatro anos, o policial poderia ser movimentado pelo seu próprio Comando para

atividades com menor potencial de confronto armado, observando-se os resultados

dessa providência quanto à sua adaptação.

Nesse mesmo ano, o Programa de Apoio começou a ganhar forma no

âmbito do Comando de Policiamento Metropolitano (CPM), responsável pelo

exercício da polícia ostensiva na Região Metropolitana de São Paulo, por meio de

publicação inscrita no Boletim Geral da Polícia Militar nº. 217 de 18 de novembro de

1994. Por essa publicação, ele foi conceituado como um conjunto de ações que

objetivavam prevenir o aparecimento de desequilíbrios resultantes da participação

em ocorrências graves. Procurava enfatizar o estudo diagnóstico individual e as

ações preventivas de caráter informativo, aliadas ás ações de ordem administrativa,

quando necessárias. Nessa época, o programa tinha a duração de apenas cinco

dias e era, basicamente, composto das seguintes atividades:

1) Estudo diagnóstico individual;

2) Atividade física;

3) Dinâmica de grupo:

4) Palestras e visitas;

5) Avaliação final.

O policial militar com contra-indicação no exame psicológico era afastado

das atividades operacionais por um período mínimo de três meses, após o que era

submetido a novo exame, repetindo-se o procedimento até que estivesse novamente

em condições de retorno ao trabalho operacional.

Dessa forma, os principais objetivos dessa formatação inicial do programa

de apoio eram os seguintes:

a) Diagnosticar, verificando as condições de equilíbrio interno do policial,

para prosseguimento na atividade operacional;

b) Auxiliar, fornecendo suporte ou indicando formas de consegui-lo para

todos os policiais envolvidos em ocorrências graves e, em especial, para aqueles

que apresentassem certo grau de desequilíbrio ou dessensibilização;

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c) Controlar, verificando o número de ocorrências anteriores de cada

participante do programa, além de propor o afastamento das atividades operacionais

daqueles com problemas pessoais já detectados;

d) Pesquisar, buscando identificar perfil característico daqueles que mais

se envolvem em ocorrências graves e acompanhando os dados de cada Unidade

Policial Militar e os efeitos do programa no controle interno da própria atividade

policial.

No ano de 1995, o programa foi reestruturado, por meio da Nota de

Instrução nº. CPM – 007/3/95 de 28 de agosto de 1995, alterada pelas Ordens

Complementares nº. CPM – 007/3/95 de 29 de setembro de 1995; nº. CPM –

010/3/95 de 06 de novembro de 1995; nº. CPM – 013/3/95 de 28 de novembro de

1995 e nº. CPM – 003/3/96 de 06 de março de 1996, passando a ter as seguintes

características básicas:

1) O policial militar envolvido em ocorrência grave era afastado de sua

Unidade de origem e movimentado para outra, indicada pelo Comando;

2) Nessa nova Unidade, permanecia por período de seis meses;

3) Era empregado exclusivamente em policiamento a pé, em contato com

o público, por período de oito horas, sendo sempre as duas primeiras reservadas a

treinamento;

4) Participava, no período, de, no mínimo, três sessões de

acompanhamento psicológico, sendo a última delas nos últimos trinta dias do

programa;

5) Caso fosse considerado apto, era movimentado novamente para sua

Unidade de origem, podendo ser empenhado em qualquer atividade;

6) Diante da hipótese de novamente envolver-se em ocorrência grave,

todos os procedimentos eram repetidos, ampliando-se o prazo de afastamento de

sua Unidade de origem para doze meses;

7) Havia, no programa, uma fase inicial, desenvolvida na sede do CPM, da

qual fazia parte um estágio de reciclagem profissional especial, com duração de

quatro semanas e com cem horas de atividades diversas.

8) Foram incluídos no programa todos os policiais que se envolvessem em

ocorrências graves, inclusive no período de folga.

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Até essa época, eram consideradas ocorrências graves apenas aquelas

em que havia a morte do opositor, em decorrência de enfrentamento armado.

No ano de 1997, por intermédio da Nota de Instrução nº. PM3 – 002/02/97

de 26 de janeiro de 1997, o programa de apoio foi estendido a todos os policiais

militares da Corporação, já que, até então, era aplicado exclusivamente àqueles

subordinados ao CPM.

Além disso, foram incluídos como participantes obrigatórios os policiais

militares que tivessem efetuado disparo de arma de fogo, causando ferimento em

terceiros, independentemente do resultado morte, além de outros que,

eventualmente, apresentassem sinais de desequilíbrio emocional.

No ano de 1999, por meio da Nota de Instrução nº. PM3 – 001/03/99 de 03

de setembro de 1999, entraram em vigor novas regras para o programa de apoio,

coordenado, a partir daquele momento, pela Diretoria de Pessoal da Polícia Militar e

executado de forma descentralizada em todo o Estado.

Finalmente, no ano de 2002, o programa alcançou a sua configuração

atual, inicialmente, por intermédio da Nota de Instrução nº. PM3 – 001/03/02 de 15

de fevereiro de 2002 e, posteriormente, por meio da Nota de Instrução nº. PM3 –

003/03/02 de 15 de agosto de 2002, passando a incluir como participantes

obrigatórios não só os policiais militares que tivessem feito uso de arma de fogo e

causado ferimento, mesmo não letal, a outra pessoa, ou aqueles que

apresentassem sinais de desequilíbrio emocional, mas também aqueles outros que

tivessem se envolvido em acidentes com viaturas policiais na condição de condutor.

Os objetivos do programa, a partir desse ano, foram definidos da seguinte

forma:

a. agir preventivamente, em favor do restabelecimento da saúde

mental do policial militar;

b. readequar a atitude do policial militar que se envolveu em

ocorrências de alto risco, conduzindo-o aos padrões doutrinários da

atividade desenvolvida pela Corporação;

c. restabelecer o equilíbrio psico-emocional do policial militar,

favorecendo o desenvolvimento pessoal e o conseqüente uso

produtivo de suas potencialidades;

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d. promover a perfeita interação do policial militar com a sociedade, de

modo a garantir uma relação cordial e profissional com todos os

segmentos, enaltecendo os valores ligados à vida, à integridade física

e à dignidade humana e não aceitando o evento “morte” como

resultado natural do trabalho policial, quando do inevitável confronto

com os marginais;

e. fortalecer os princípios da hierarquia e disciplina, através da

depuração de valores contrários aos da Instituição, fortalecendo as

normas, regulamentos e leis que regem a atividade policial militar;

f. trabalhar para que se evite o resultado morte e/ou lesões corporais

nas ocorrências de grande vulto, buscando esgotar os meios

disponíveis e necessários para a segura detenção dos infratores (não

letalidade), salvaguardando assim a integridade do(s) policial(ais)

militar(es) e do(s) infrator(es); e

g. buscar a maximização da qualidade na prestação de serviço e,

principalmente, preservar a integridade física dos policiais militares e

das pessoas envolvidas em ocorrências policiais, minimizando o grau

de exposição ao risco, além de reduzir os efeitos traumáticos,

ocasionando aos policiais militares que, eventualmente, se envolvem

em acidentes de trânsito, quando da condução de viaturas PM (Nota

de Instrução nº. 003/3/02).

O programa passou, então, a ser composto por três fases distintas:

1) 1ª Fase, com duração de dois dias, para execução de toda a parte

burocrática de apresentação ao programa e a realização de testes psicológicos para,

conforme os respectivos resultados, inclusão no Estágio de Aprimoramento

Profissional (EAP) – Desenvolvimento Psico-Emocional;

2) 2ª Fase, com duração de dezessete dias letivos, destinada ao

desenvolvimento do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional, com disciplinas

curriculares ligadas à área de psicologia, condicionamento físico, assistência social,

saúde, teosofia, atualização profissional e atividades complementares;

3) 3ª Fase, destinada à avaliação e prescrições, em que são verificadas as

condições de retorno do policial à sua atividade normal. Para aqueles que não

apresentarem condições satisfatórias, são feitas prescrições de afastamento de

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atividades específicas por período definido, concomitantemente com proposta de

atendimento psicológico individual. Após o término do período de afastamento, o

policial é submetido a uma nova avaliação, repetindo-se os procedimentos.

As prescrições estabelecidas são as constantes do Quadro 1, a seguir

definidas:

Quadro 1: Tipos de prescrição e período

Nº. Tipo de Prescrição Modalidade Permitida Período

01 Atividade Supervisionada Atividade Administrativa 1 a 6 meses

02 Atividade Supervisionada Atividade Administrativa e

Operacional a pé

1 a 6 meses

03 Atividade Supervisionada Atividade Administrativa,

Operacional a pé e de rádio-

patrulhamento motorizado

1 a 6 meses

04 Atividade Supervisionada Todas as atividades 1 a 6 meses

Fonte: Polícia Militar do Estado de São Paulo (Nota de Instrução nº. PM3 – 003/3/02)

Em caso de o participante do programa ser oficial, a segunda fase será

composta de um Estágio de Especialização Profissional denominado Inteligência

Emocional na Liderança, com duração de 01 dia, que tem por objetivo a

sensibilização dos oficiais em função de comando sobre a doutrina de valorização

da vida e da dignidade humana. As demais etapas do programa são coincidentes.

A grade curricular do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional se

encontra no Anexo A do presente estudo.

3.2 Primeira pesquisa sobre o programa de apoio

Allegretti (1996) realizou a primeira pesquisa sobre o programa de apoio a

policiais envolvidos em ocorrências graves. Essa pesquisa teve, como objetivo geral,

verificar a validade do programa, tendo em vista os seus resultados e, como

objetivos específicos:

1. Do ponto de vista institucional:

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1.1 Verificar a existência de decréscimo de produtividade, decorrente de

possível retração como efeito perverso do programa;

1.2 Verificar a redução do número de civis e policiais militares mortos e

feridos em confronto armado

2. Do ponto de vista pessoal:

2.1 Definir perfil dos policiais militares que mais se envolveram em

ocorrências graves;

2.2 Comparar o estado emocional antes e depois do programa, por meio

de utilização de instrumentos técnicos específicos;

2.3 Verificar a opinião pessoal sobre o programa de parte do grupo que

dele participou.

3.2.1 Método utilizado na primeira pesquisa

Os dados relativos às variáveis institucionais referem-se aos períodos

compreendidos entre janeiro e agosto de 1995 e 1996, portanto, antes e depois da

vigência do programa, na versão que vigorava à época. São dados relativos à

atividade policial executada na área da cidade de São Paulo por Unidades

Operacionais subordinadas ao CPM. Foram as seguintes as variáveis estudadas:

1) Policiais militares mortos em confronto;

2) Policiais militares feridos em confronto;

3) Civis mortos em confronto;

4) Civis feridos em confronto;

5) Prisões em flagrante delito por crime de homicídio;

6) Prisões em flagrante delito por crime de roubo;

7) Prisões em flagrante delito por crime de furto;

8) Suspeitos conduzidos aos Distritos Policiais;

9) Ocorrências efetivamente atendidas pelas guarnições;

10) Localização de veículos furtados ou roubados;

11) Armas apreendidas (dados comparados entre os meses de janeiro e

julho de 1995 e 1996);

12) Ocorrências resolvidas no local;

13) Tempo de resposta das guarnições no atendimento de ocorrências;

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14) Média diária de viaturas em operação;

15) Total de ocorrências de homicídio doloso, furto e roubo na cidade de

São Paulo.

Para a realização da coleta de dados, foi utilizada a base de dados do

CPM sobre as variáveis estudadas.

No campo das variáveis pessoais, o grupo estudado foi composto por 158

policiais militares de diversas Unidades Operacionais subordinadas ao CPM,

distribuídos, por postos e graduações da seguinte forma:

1) Capitães: 01 (0,63%);

2) Tenentes: 17 (10,76%);

3) Subtenentes e Sargentos: 23 (14,56%);

4) Cabos e Soldados: 117 (74,05%)

O perfil daqueles que mais se envolveram em ocorrências graves foi

definido levando-se em conta o tempo de serviço, a idade, o estado civil e o número

de vezes no programa de apoio. Esses dados foram coletados em entrevistas

individuais realizadas na sede do CPM, logo após o início do programa.

Os dados relativos à opinião sobre o programa foram coletados por meio

de questionário específico e identificado, em que era solicitada a manifestação do

participante acerca de uma das seguintes alternativas: ótimo, bom, regular e ruim.

A comparação entre o estado emocional antes e depois do programa foi

feita com a utilização do Psicodiagnóstico Miocinético (PMK) de Mira Y Lopez e

levou em conta dados relativos à agressividade e emotividade nas vertentes

estrutural e reacional, de acordo com a sustentação teórica do instrumento. Levou-

se em conta, primeiramente, aqueles que alcançaram o terceiro desvio-padrão

positivo de agressividade (forte hétero-agressividade) em, pelo menos, um traçado.

Depois, aqueles que alcançaram o segundo desvio-padrão positivo de agressividade

(aumentada/acentuada hétero-agressividade), também, em, pelo menos, um

traçado. Finalmente, aqueles que permaneceram na zona de normalidade

(agressividade normal). A mesma metodologia foi utilizada com relação à

emotividade. Os testes foram aplicados em gabinete adaptado às suas exigências,

na sede do CPM.

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Vale, neste ponto, ressaltar que o PMK é o instrumento também utilizado

no presente estudo e será detalhado no capítulo referente a método.

3.2.2 Resultados da primeira pesquisa

Os resultados dessa pesquisa, no campo das variáveis institucionais,

foram os seguintes:

1) Policiais militares mortos em confronto: redução de 58,14%;

2) Policiais militares feridos em confronto: redução de 48,33%;

3) Civis mortos em confronto: redução de 54,86%;

4) Civis feridos em confronto: aumento de 2,87%;

5) Prisões em flagrante delito por crime de homicídio: aumento de 7,69%;

6) Prisões em flagrante delito por crime de roubo: aumento de 7,69%;

7) Prisões em flagrante delito por crime de furto: redução de 27,77%;

8) Suspeitos conduzidos aos Distritos Policiais: aumento de 52,10%;

9) Ocorrências efetivamente atendidas pelas guarnições: aumento de

14,28%;

10) Localização de veículos furtados ou roubados: redução de 0,10%;

11) Armas apreendidas: aumento de 8,47%;

12) Ocorrências resolvidas no local: aumento de 1,20%;

13) Tempo de resposta das guarnições no atendimento de ocorrências:

aumento de 19,1% de atendimentos com tempo superior ao recomendado (dez

minutos);

14) Média diária de viaturas em operação: redução de 9,49%;

15) Total de ocorrências de homicídio doloso, furto e roubo na cidade de

São Paulo:

a) homicídio doloso: aumento de 2,70%;

b) furto: redução de 7,43%;

c) roubo: aumento de 21,79%.

Com relação ao perfil de policiais militares que mais se envolveram em

ocorrências graves, os resultados da pesquisa demonstraram que os que mais se

envolveram foram os cabos e soldados com 74,05% do efetivo total pesquisado.

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Desses, a maioria é casada (43,67%) e com tempo de serviço de até 10 anos

(65,82%). Deve-se ressaltar que 60,12% desses cabos e soldados passaram pelo

programa uma única vez e 62,65% têm entre uma e três ocorrências com mortes.

O contingente de cabos e soldados envolvido em confronto armado foi

maior do que o dos demais postos e graduações, segundo os dados dessa

pesquisa, porque representavam o maior percentual do efetivo global da Instituição.

Sobre a pesquisa de opinião sobre o programa, 70,88% dos pesquisados

consideraram-no ótimo ou bom contra 29,12% que consideraram regular, ruim ou

não emitiram opinião.

Com relação ao estado emocional antes e depois do programa, verificado

por meio da oscilação da agressividade e da emotividade, em suas vertentes

estrutural e reacional, os resultados apresentados a seguir referem-se apenas à

agressividade reacional, por ser essa a tendência que efetivamente interessa ao

presente estudo:

1) Agressividade reacional medida antes do programa:

- 15% apresentavam forte hétero-agressividade reacional;

- 61% apresentavam hétero-agressividade reacional aumentada ou

acentuada;

- 24% apresentavam agressividade reacional normal.

2) Agressividade reacional medida após o programa:

- 17% apresentavam forte hétero-agressividade reacional;

- 55% apresentavam agressividade reacional aumentada ou acentuada;

- 28% apresentavam agressividade reacional normal.

3) Modificação da resposta agressiva reacional:

- 15,03% apresentaram agressividade ampliada;

- 27,06% apresentaram agressividade reduzida;

- 57,90 apresentaram agressividade estável.

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3.3 Segunda pesquisa sobre o programa de apoio

Xavier (2001) realizou nova pesquisa sobre o programa de apoio a

policiais militares de São Paulo envolvidos em ocorrências graves, que teve por

objetivo aferir a sua eficiência e eficácia como instrumento de mudança

comportamental. Contudo, o método utilizado incluiu apenas o uso de questionários,

como forma de aferição de expectativas dos policiais que se apresentavam para o

programa e de sua avaliação por outros que o concluíram, não havendo qualquer

referência à verificação da agressividade, razão pela qual não será detalhado no

presente estudo.

3.4 Existência de programas semelhantes

No mês de julho de 2005, o autor, por meio de correspondência eletrônica,

solicitou ao Comando das Polícias Militares de todos os Estados da Federação

informações acerca da existência de programa de apoio para policiais envolvidos em

ocorrências graves e de pesquisas sobre ele. Apenas a Polícia Militar do Estado do

Acre e a Polícia Militar do Estado do Espírito Santo responderam à correspondência,

sendo a primeira para noticiar a inexistência de programa de apoio e a segunda para

encaminhar material a respeito do programa implantado naquele Estado e que

vigorou de fevereiro de 2000 a dezembro de 2004, sendo interrompido por falta de

pessoal técnico especializado.

Criado pela Lei Estadual nº. 6.130 de 08 de fevereiro de 2000, o programa

tinha por objetivo proporcionar acompanhamento psicológico a todo o policial militar,

policial civil ou bombeiro militar do Estado do Espírito Santo que se envolvesse em

ocorrências que resultassem em morte de outro militar ou de civil.

O acompanhamento, contudo, não era feito através de um programa

estruturado, com participação simultânea de vários policiais, ficando restrito a

sessões individuais ou em grupo, cuja freqüência era definida para cada caso pela

equipe técnica.

Também não foram encontradas publicações sobre o tema em periódicos

de divulgação científica no Brasil. Há muitos artigos sobre violência policial, a partir

de diversas perspectivas, assim como há, também, diversas publicações acerca do

stress profissional decorrente do trabalho policial, inclusive com propostas

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específicas para o seu controle, mas estudos específicos acerca da agressividade

presente nos profissionais de segurança pública e as formas de controle de sua

expansão, para que não se transforme em violência, efetivamente não existem.

Em nível internacional, sites de diversas instituições policiais foram

consultados, sem que a referência a esse tipo de programa fosse encontrada.

Pesquisa feita na rede mundial apontou a existência de diversos programas de apoio

desenvolvidos por órgãos policiais isoladamente ou em parceria com organizações

não-governamentais, destinados às vítimas da violência criminal. Os programas

destinados aos policiais, desenvolvidos por organismos policiais ou fundações a eles

ligadas referem-se basicamente à dependência química – álcool e drogas – e os

casos mais graves de desajustamento merecem atendimento psicológico ou

psiquiátrico individualizado.

A inexistência de publicações a respeito e a falta de divulgação de

programas de apoio como forma de controle da violência policial podem ser

explicadas pelo caráter estratégico e de confidencialidade desses programas, cujos

dados, se usados indevidamente, podem prejudicar a imagem institucional das

organizações policiais.

Amador, Santorum, Cunha e Braum (2002), em artigo, argumentam sobre

a importância de políticas de saúde e segurança públicas que sustentem programas

voltados à saúde do trabalhador na Brigada Militar do Rio Grande do Sul. No

entanto, destacam as dificuldades para sua implantação, decorrentes da

organização e da lógica de funcionamento daquela Instituição, que dificultam desde

a expressão livre dos problemas encontrados no trabalho até o desenvolvimento de

uma metodologia no campo da promoção e prevenção em saúde mental.

Apesar da pouca divulgação dada aos programas de apoio, a Associação

Internacional de Chefes de Polícia definiu algumas linhas mestras de atuação com

policiais que passaram por ocorrências graves, todas voltadas para o forte

componente estressante do confronto armado. São elas:

1) No local e hora do acontecimento, mostre preocupação e

compreensão. Preste primeiro socorro mental e psíquico;

2) Depois de obter a necessária informação no local, promova uma

parada psicológica, retirando o policial do local e mantendo-o a

alguma distância do cenário. O policial precisa estar com um

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amigo ou supervisor que o apóie e só voltar ao cenário se

necessário. Esta parada deve ser de natureza não estimulante,

com discreto uso de bebidas contendo cafeína, uma vez que o

policial já está bastante tenso;

3) Para alguns policiais é importante explicar que procedimentos

administrativos ocorrerão nas próximas horas e por que. Isto

ajudará o policial a constatar que a investigação do incidente é um

procedimento operacional padrão e não uma caça às bruxas;

4) Quando a arma for apreendida, substitua-a assim que possível.

Essa linha pode ser modificada, dependendo das circunstâncias e

do nível de estresse do policial;

5) O policial deve ser aconselhado a tomar um defensor profissional

para salvaguardar seus interesses pessoais;

6) Antes de ser submetido a um interrogatório detalhado, o policial

deve ter um tempo de recuperação, num lugar seguro onde esteja

isolado da imprensa e de colegas curiosos;

7) Isolar totalmente o policial alimenta os sentimentos de

ressentimento e alienação. O policial pode ficar com um amigo

que possa apoiá-lo ou um colega que tenha passado por

experiência semelhante. Para evitar complicações legais, o

incidente não deve ser discutido antes da investigação preliminar.

É crucial, nessa ocasião, mostrar ao policial apoio e preocupação;

8) Se o policial não estiver ferido, ele ou o departamento deve

contatar a família (por telefone ou por visita pessoal) e faze-la

saber o que aconteceu, antes que ouça boatos ou receba

telefonemas de outras pessoas. Se o policial estiver ferido, um

membro conhecido do departamento deve apanhar a família e

conduzi-la ao hospital. Certifique-se de que a família está

recebendo apoio (por exemplo, chame amigos, capelães, etc);

9) Uma entrevista pessoal de apoio com algum ocupante de alto

posto administrativo é muito eficaz para aliviar o medo do policial

em relação à reação do departamento. Muitas vezes os

administradores relutam em dizer algo ao policial, com medo de

que seus comentários sejam interpretados como um endosso da

ação do policial. O administrador não precisa fazer comentários

sobre o incidente; o que é importante é que ele mostre

preocupação e simpatia em relação ao policial;

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10) O policial deve receber algum tipo de licença administrativa – não

uma suspensão com pagamento – para que possa lidar com o

impacto emocional. De uma maneira geral, três dias são

suficientes, embora alguns dias a mais ou a menos possam ser

apropriados. Alguns policiais preferem um serviço mais leve do

que uma licença. É melhor evitar a volta do policial às ruas, a

serviço, antes de obter a resolução legal ou do departamento em

relação ao tiroteio. Os demais policiais da cena do tiroteio deverão

ser avaliados em relação às suas reações emocionais e deve ser

dado a eles o restante do turno de serviço livre ou o que for

necessário, devendo isso ser examinado caso a caso. Muitas

vezes os policiais que participaram da ação (o policial que atirou e

não acertou, o policial que não atirou, etc) podem sofrer um

trauma ainda maior do que o do policial que atirou e acertou o

suspeito. Os supervisores, após algum tempo, têm capacidade

para discernir sobre isso.

11) Para os policiais que dispararam a arma, antes de retornarem ao

serviço rotineiro, deverá haver uma sessão confidencial com um

profissional competente de saúde mental. Essa sessão deve

ocorrer tão logo seja conveniente e possível; o ideal é que seja

entre 24 e 72 horas após o tiroteio. O profissional de saúde mental

determinará se o policial está apto a retomar a sua rotina de

trabalho ou se são necessárias outras sessões. Todas as pessoas

que participaram de alguma forma do tiroteio, até mesmo o policial

que enviou a rádio-patrulha, deverão ter uma sessão (que pode

ser em grupo) com profissional de saúde mental. O próprio policial

que atingiu o suspeito talvez não deva participar dessa sessão

conjunta, porque as implicações legais para ele criam itens de

discussão deferentes do que para os demais. É importante para os

envolvidos poder contar com o apoio de colegas que já

atravessaram situações similares e que receberam treinamento

especial para dar esse tipo de apoio;

12) Deverá ser possibilitado o aconselhamento família (cônjuge, filhos

ou ente significativo);

13) Se o número do telefone do policial estiver na lista telefônica, é

aconselhável que um amigo ou familiar do policial ou mesmo uma

secretária eletrônica filtre os telefonemas recebidos;

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14) Um administrador ou supervisor deverá informar ao resto do

departamento ou da equipe o ocorrido, a fim de que o policial não

seja bombardeado com perguntas e fofocas;

15) Envie ap policial os resultados da investigação administrativa e

criminal;

16) Leve em consideração os interesses do policial ao fornecer

informações aos meios de comunicação;

17) Permita que o policial retorne ao serviço lentamente, isto é,

trabalhar com um colega nos primeiros dias ou trabalhar num

outro turno se assim o desejar. (SOLOMON, 1993, p.34 – 36).

É marcante, portanto, a preocupação da Associação Internacional dos

Chefes de Polícia com os efeitos adversos do confronto armado para a saúde

mental o policial. Não há, contudo, qualquer orientação objetiva sobre como lidar

com a agressividade do policial e sua vertente de violência. Obviamente, o ideal

seria a avaliação periódica e por meio de instrumentos sensíveis de todos os

policiais, em especial, daqueles que desenvolvem atividades operacionais. Como

isso não é factível, devido ao elevado efetivo das instituições policiais, a ocorrência

grave, entendida como tal aquela em que há confronto armado, acaba sendo a

ocasião oportuna para verificar se a agressividade individual pode estar

influenciando o resultado do trabalho policial.

3.5 Programa de apoio e mudança psíquica

Um dos principais pontos a considerar na aplicação de um programa de

apoio a policiais é o de que a mudança pretendida pode não ocorrer após o período

relativamente curto a ele destinado. Isso não significa, contudo, que o programa não

tenha alcançado o seu objetivo, mas deixa patente que as mudanças provocadas

por esse tipo de intervenção variam de pessoa para pessoa, com necessidade de

acompanhamento individualizado de maior ou menor intensidade, após a fase

coletiva da intervenção. Nesse sentido, torna-se importante ressaltar os

ensinamentos de Winnicott (1984) de que uma única entrevista, por vezes, já é

suficiente para se alcançar certo grau de mudança psíquica, pois pode despertar o

paciente para a realidade de sua vida mental.

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Freud (1937) identificou dificuldades para que a mudança psíquica seja

consistente, ligadas basicamente às características da energia sexual, às

dificuldades de estruturação do ego, à compulsão à repetição e à impregnação de

energia em determinado conflito.

Klein (1957) propõe que a grande mudança psíquica que ocorre no curso

do desenvolvimento normal é a passagem da posição esquizo-paranóide para a

posição depressiva, segundo o seu modelo de evolução baseado na integração do

ego, a partir da reintegração das partes cindidas do self.

Joseph (1992), por seu turno, deixa claro que mesmo os psicanalistas

utilizam o conceito de mudança psíquica com alguma ambigüidade. Por vezes

consideram-na como qualquer tipo de mudança que ocorre nos processos mentais

ou no funcionamento dos pacientes submetidos à análise; outras vezes consideram

apenas as mudanças mais consistentes e profundas. Para a autora, o conceito deve

ser considerado em sua forma mais ampla, abrangendo os dois aspectos citados e a

própria relação entre eles. Dessa forma, a mudança não é um fim em si mesma, pois

está sempre ocorrendo e a função do profissional é acompanhar esse processo,

sem a preocupação de ser ela positiva ou negativa. Segundo ela:

Se ficarmos presos em preocupações quanto a se os movimentos

(shifts) revelam ou não progresso, procurando provas em apoio,

podemos ficar entusiasmados com aquilo que sentimos como

progresso ou desapontados quando há aparente regressão.

Descobriremos então que nos desligamos do percurso e ficamos

incapazes de escutar plenamente (...) (JOSEPH, 1992, p. 195).

No caso do programa de apoio, pode-se ter, ao final, portanto, resultado

diverso do esperado, com alterações emocionais mais significativas do que as

encontradas no seu início, inclusive no que diz respeito à agressividade reacional.

Esse fato deve ser até esperado em parcela significativa dos participantes, como já

demonstrou Allegretti (1996). O que se revela mais preocupante é a inexistência de

mudança psíquica após a execução do programa e também do acompanhamento

individual posterior, ou seja, a inocorrência de pequenos movimentos (shifts) em

qualquer direção. Nesse caso, pode-se estar diante de defesas rigidamente

estruturadas, eventualmente alcançando a forma de organizações defensivas, que, a

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partir de base de personalidade que facilitaria a sua estruturação, seriam utilizadas

contra a experiência de culpa, mesmo que simultânea e paradoxalmente gerem essa

culpa, em função da impotência do policial em lidar com uma realidade tão

desfavorável e de todo quadro de miséria humana que, diariamente, desfila à sua

frente. Essas organizações defensivas, segundo Steiner (1986), teriam a finalidade

de neutralizar impulsos ligados à destrutividade e permitir relativo equilíbrio à vida

mental da pessoa, permitindo, no caso do policial, a continuidade de seu trabalho no

cenário descrito.

No entanto, atenção especial deve ser dada a eventuais efeitos perversos

decorrentes da atuação dessas organizações defensivas que, em grau máximo,

podem conduzir a quadros de dessensibilização, estreiteza mental e crueldade,

quadros esses que, longe de auxiliar o policial no processo de ordenação dos

conflitos sociais, podem acabar por prejudicá-lo, com ações desproporcionais e

desprovidas de amparo legal que só fazem aumentar a sensação de insegurança

das pessoas e o seu descrédito na instituição policial.

Um cuidado adicional deve ser tomado na análise diagnóstica da presença

dessas organizações defensivas. Trata-se de verificar a possibilidade de se estar

diante do mecanismo denominado ideologia defensiva, descrito por Dejours (1988)

que, sem as características patológicas das organizações defensivas, atua contra as

diferenças entre as aspirações profissionais e as condições de trabalho encontradas.

A inocorrência de mudança psíquica pode estar ligada, também, a

aspectos regressivos da personalidade do policial não detectados no momento do

ingresso. Características autoritárias e senso moral específico precisam ser vistos

com cautela, eis que podem ser reveladores de personalidade de cunho narcísico.

Essa estrutura, apesar de, no dizer de Rosenfeld (1989), apresentar aspectos

libidinais construtivos com idealização do self mantida por identificações projetivas e

introjetivas, pode apresentar, também, aspectos destrutivos que se dirigem tanto a

qualquer relação de objeto libidinal positiva quanto a qualquer parte libidinal do self

que tem necessidade de um objeto e deseja depender dele. Nessa linha, há o risco

de aparecimento de condutas funcionais indesejáveis ligadas a um sentido muito

particular de justiça que faz com que o policial se situe acima do bem e do mal, com

o dever, por conta de sua onipotência, de separar, organizar, julgar e punir, na forma

descrita por Zacharias (1994).

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Vistos, portanto, os principais aspectos teóricos ligados à agressividade e

sua transformação em violência e vistos também os aspectos relativos ao programa

de apoio ao policial envolvido em ocorrências graves, inclusive os ligados à

mudança psíquica e os seus efeitos na agressividade reacional, cumpre, agora,

descrever os principais objetivos deste estudo.

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4. OBJETIVOS

O presente trabalho foi projetado como atualização, particularização e

aprofundamento de outro estudo desenvolvido pelo autor, no ano de 1996 e já

relatado em capítulo precedente.

A participação ativa do autor na implantação do programa de apoio a

policiais militares do Estado de São Paulo envolvidos em ocorrências graves,

também já descrito no presente estudo e a sua experiência de mais de trinta e cinco

anos no exercício de diversas funções no quadro hierárquico da Instituição Policial

Paulista serviram de motivação para buscar novos resultados e abrir perspectivas de

novas pesquisas.

Dessa forma, foram estabelecidos para este estudo os seguintes

objetivos:

4.1 Objetivo geral:

Estudar os efeitos de programa de apoio na agressividade reacional de

policiais envolvidos em ocorrências graves;

4.2 Objetivos específicos:

4.2.1 Caracterizar sócio-demograficamente o grupo de policiais

participantes do programa de apoio e integrantes do grupo pesquisado;

4.2.2 Identificar o nível de agressividade reacional do grupo antes e depois

do programa de apoio;

4.2.3 Verificar a modificação da resposta agressiva reacional individual

dos policiais, após intervenção por meio do programa de apoio, em relação àquela

que apresentavam antes dessa intervenção, classificando-a em 05 categorias:

agressividade ampliada, reduzida, inalterada, estável e instável;

4.2.4 Definir o perfil do grupo integrante de cada uma dessas categorias;

4.2.5 Realizar o estudo clínico de 01 caso de cada uma das 05 categorias

estabelecidas que se enquadrem no perfil definido.

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II – MÉTODO

O presente trabalho tem por finalidade verificar os efeitos de

programa de apoio na agressividade reacional de policias militares

participantes de ocorrências graves, entendidas como tal aquelas em que há

morte ou ferimento de terceiros ou de policiais em confronto armado. São

também consideradas ocorrências graves, para os fins deste trabalho, os

acidentes com viaturas policiais em serviço operacional.

Tendo em vista os objetivos definidos, o estudo desenvolvido utiliza

métodos combinados. Assim, para caracterizar sócio-demograficamente o

grupo de policiais participantes do programa de apoio e definir o perfil de cada

uma das categorias estabelecidas como decorrência da alteração da resposta

agressiva reacional, após a intervenção por meio desse programa, o estudo é

descritivo e de natureza quantitativa. Para a identificação do nível de

agressividade reacional do grupo antes e depois do programa e verificação da

alteração da resposta agressiva reacional individual em relação àquela

apresentada inicialmente, classificando-a em 05 categorias, o estudo é

experimental e de natureza quantitativa. Já, para aprofundar o conhecimento

acerca das características de 01policial em cada uma das 05 categorias, o

estudo é clínico.

1. AMOSTRA

Compõem a amostra 77 policiais militares que participaram do

programa de apoio nos meses de julho, agosto, setembro e outubro de 2005.

Essa participação está dividida da seguinte forma:

Quadro 2: Distribuição de turmas e períodos

TURMA PERÍODO PERÍODO

LETIVO

TOTAL DE

INTEGRANTES

PARTICIPANTES

DA PESQUISA

50 Manhã 05/07-29/07 19 05

51 Tarde 05/07-29/07 17 07

54 Manhã 19/07-12/08 19 08

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TURMA PERÍODO PERÍODO

LETIVO

TOTAL DE

INTEGRANTES

PARTICIPANTES

DA PESQUISA

55 Tarde 19/07-12/08 15 06

58 Manhã 02/08-26/08 20 04

59 Tarde 02/08-26/08 14 06

62 Manhã 16/08-09/09 21 08

63 Tarde 16/08-09/09 17 06

66 Manhã 30/08-23/09 20 05

67 Tarde 30/08-23/09 17 07

69 Manhã 13/09-07/10 24 08

70 Tarde 13/09-07/10 15 07

TOTAL - - 218 77

(35,32%)

São todos policiais militares, do serviço ativo, que desempenham

suas atividades na Região Metropolitana de São Paulo. Não houve restrição

quanto ao nível hierárquico, idade, sexo, estado civil ou grau de instrução. Os

critérios de inclusão estabelecidos foram os seguintes:

1) Ter participado de ocorrências graves, na forma descrita neste

capítulo;

2) Ter recebido recomendação para freqüência ao programa, após

avaliação inicial;

3) Ter concordado em participar da presente pesquisa, assinando

termo de consentimento livre e esclarecido;

4) Estar em condições físicas de participar de todos os eventos do

programa e de realizar os testes necessários.

Para a parte qualitativa do estudo, foram escolhidos 05 sujeitos pelo

critério de conveniência.

2. LOCAL

A pesquisa, em todas as suas fases, foi desenvolvida na sede do

Centro de Assistência Social e Jurídica da Polícia Militar do Estado de São

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Paulo, (CASJ) situado à Av. Cruzeiro do Sul nº. 260, Canindé – São Paulo –

SP.

Os espaços utilizados para a aplicação dos testes foram:

1) Sala de aula, para os testes coletivos; e

2) Sala de aplicação individual para testes individuais.

Os locais apresentavam ótimas condições de ventilação e iluminação

e obedecem a todas as recomendações técnicas, já que o programa é

fiscalizado pelo Conselho Regional de Psicologia – 6ª Região.

As atividades do programa foram realizadas em sala de aula, ginásio

desportivo e salas de atendimento individual e coletivo que também atendem a

todas as exigências técnicas. As atividades externas (visitas) foram realizadas

nos locais previstos no planejamento do programa.

3. INSTRUMENTOS

Para alcançar os objetivos propostos, foram utilizados os seguintes

instrumentos:

1) Ficha de cadastro e entrevista individual;

2) Psicodiagnóstico Miocinético (PMK);

3) Teste Palográfico;

4) Escala de Personalidade de Comrey (CPS).

3.1 Ficha de cadastro e entrevista individual

A ficha de cadastro, cujo modelo encontra-se no Anexo B, foi

elaborada pela equipe do CASJ com o objetivo de levantar dados básicos

acerca do policial envolvido em ocorrência grave, servindo também como

instrumento para realização de entrevista semi-dirigida conduzida por

psicólogo. A partir dos dados preenchidos pelo próprio policial, o psicólogo

entrevistador aprofunda as informações com perguntas diretas e ainda permite

a manifestação livre do entrevistado.

Os dados constantes da ficha de cadastro serviram de base para

caracterizar sócio-demograficamente o grupo de policiais participantes do

programa de apoio e definir o perfil de cada uma das categorias estabelecidas,

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de acordo com a resposta agressiva reacional apresentada após a sua

execução. Juntamente com a entrevista, forneceram elementos para o estudo

clínico realizado.

3.2 Psicodiagnóstico Miocinético (PMK)

O PMK é uma prova de expressão gráfica destinada a explorar a

personalidade em sua forma atitudinal, mediante análise de tensões

musculares involuntárias reveladoras de tendências fundamentais de reação.

Criada por Emílio Mira Y Lopez, em 1940, a prova é baseada na

chamada teoria motriz da consciência que, em síntese, estabelece que toda a

intenção ou propósito de reação é sempre acompanhado de modificação do

tônus postural tendente a favorecer os movimentos necessários a alcançar os

objetivos e inibir os contrários (GALLAND DE MIRA, 2002).

Como os braços realizam a maior parte das atividades motoras do

indivíduo, foi considerada pelo PMK a ação dos seguintes grupos musculares

antagônicos neles presentes:

1) Extensores e flexores;

2) Adutores e abdutores;

3) Elevadores e depressores;

Para o PMK, os planos do espaço onde se realizam os movimentos

guardam relação com características específicas da personalidade. Assim, os

movimentos realizados no plano sagital, com atuação dos grupos musculares

extensores e flexores estão ligados à agressividade, ou seja, à força propulsora

que leva o indivíduo a uma atitude de imposição ao meio ambiente em

qualquer situação; os movimentos realizados no plano horizontal, com atuação

dos grupos musculares adutores e abdutores, estão ligados à reação vivencial,

ou seja, à energia psíquica dirigida para fora ou para dentro, representando

uma maior ou menor comunicação emocional com o ambiente; e os

movimentos executados no plano vertical, com atuação dos grupos musculares

elevadores e depressores, estão ligados ao tônus vital, ou seja, ao nível de

energia disponível e circulante para ser empregado em situações de

emergência.

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Outras tendências, também ligadas ao tipo de movimento, podem ser

identificadas pelo instrumento, citando-se, a título de exemplo, a excitabilidade

ou inibição; a ansiedade ou angústia; o nível ideomotor; a impulsividade e mais

um significativo número de dados decorrentes da avaliação qualitativa do

instrumento.

Galland de Mira (2002) esclarece que a técnica utilizada pelo PMK é

a expressiva, ou seja, dado determinado movimento padrão, feito sobre um

modelo, verifica-se quanto o indivíduo dele se afasta, após a interrupção do

controle visual. Esse afastamento denota a sua expressividade individual e é

medido por meio de dois tipos de desvios:

1) Desvio primário (DP): resultante do afastamento no mesmo

sentido do plano do movimento original;

2) Desvio secundário (DS): resultante do afastamento no sentido

contrário ao do plano do movimento original.

Assim, os movimentos no plano sagital terão desvios primários nesse

plano e desvios secundários no plano horizontal e vice-versa, o que significa

que o desvio primário sagital de um movimento equivale ao desvio secundário

horizontal de outro, na medida da agressividade.

Para obtenção desses desvios e respectivos significados, o teste é

composto por uma série de movimentos nos três planos que procuram

confirmar as tendências apresentadas. São eles:

1) Lineogramas, nos planos sagital, horizontal e vertical;

2) Zigue-Zague, no plano sagital, executado simultaneamente com

as duas mãos;

3) Escadas e círculos, no plano vertical;

4) Cadeias sagitais e verticais, nos planos sagital e vertical;

5) Paralelas egocífugas e egocípetas, no plano sagital;

6) Us verticais, no plano vertical;

7) Us sagitais, no plano sagital.

O PMK utiliza como unidade de medida o tetron, que equivale a 1/4

do desvio-padrão. A tabela reproduzida adiante estabelece os tetrons e

respectivos significados com relação à agressividade:

O instrumento foi aplicado por equipe de psicólogos do CASJ e teve

por finalidade, no presente trabalho, avaliar a agressividade reacional, antes e

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73

depois da execução do programa de apoio. Teve, ainda, por finalidade fornecer

outros dados necessários ao estudo clínico desenvolvido.

Tabela 4: Indicadores de agressividade

Desvio-Padrão Tetron Significado

+3 +11 e +12

+9 e +10

Intensa hétero-agressividade

Forte hétero-agressividade

+2 +7 e +8

+5 e +6

Acentuada hétero-agressividade

Aumentada hétero-agressividade

+1 +1 a +4 Agressividade normal

ZM Zona Média Agressividade normal

-1 -1 a -4 Agressividade normal

Auto-agressivo

-2 -5 e -6

-7 e -8

Aumentada auto-agressividade

Acentuada auto-agressividade

-3 -9 e -10

-11 e -12

Forte auto-agressividade

Intensa auto-agressividade

Fonte: Manual do Psicodiagnóstico Miocinético (2002)

3.3 Teste Palográfico

O Teste Palográfico foi criado pelo psicólogo Salvador Escala Milá,

do Instituto Psicotécnico de Barcelona na Espanha e desenvolvido e divulgado

no Brasil por Agostinho Minicucci.

Segundo Alves e Esteves (2004), o instrumento pode ser

considerado um teste expressivo de personalidade, ou seja, destina-se a

avaliar o estilo de resposta pessoal, considerando-se como tal a forma como

cada pessoa, diante de uma mesma tarefa, analisa a situação de maneira

individual e emprega o material ou organiza a situação de forma específica.

O teste consiste na realização de traços verticais de 07 mm de altura,

com espaço de 2,5 mm entre eles e é aplicado em duas partes. A primeira,

com duração de 2 minutos e 30 segundos, não é avaliada e destina-se a

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adaptar o examinando ao teste. A segunda, com duração de 5 minutos,

constitui a parte avaliada da prova.

Os autores sustentam que a parte de treino do Palográfico avalia

mais aspectos adaptativos e instrumentais, pois o sujeito sempre busca, no

início da tarefa, adaptar-se às instruções. Com o desenrolar da prova, a tarefa

vai se revelando mais espontânea e menos controlada e, por conta disso,

apresentando aspectos expressivos do sujeito.

Por se tratar de prova expressiva gráfica, ela leva em conta, assim

como o PMK, o simbolismo do espaço, de acordo com o impulso apresentado

na realização do movimento.

O Teste Palográfico avalia, basicamente, os seguintes aspectos:

1) Produtividade: Em função do número de traços realizados, refere-

se à quantidade de trabalho que o sujeito é capaz de realizar no campo

profissional ou em outros campos;

2) Ritmo: Verificado pelo nível de oscilação rítmica na realização do

teste, refere-se às flutuações de produtividade no desenvolvimento das tarefas.

3) Qualidade do rendimento no trabalho: Identificada pela relação

entre produtividade e ritmo, está ligada à qualidade do rendimento no trabalho

e propensão à fadiga;

4) Distância entre palos: Caracterizada pelo espaço deixado entre os

traços, refere-se à necessidade de contato com o exterior ou, ao contrário, a

necessidade de liberdade, isolamento, concentração;

5) Inclinação dos palos: Medido de acordo com o ângulo de

inclinação do traço em relação à linha horizontal, relaciona-se com a

espontaneidade afetiva e com o grau de vínculo com objetos e pessoas;

6) Tamanho dos palos: Representado pela altura dos traços,

representa simbolicamente a auto-estima e a confiança que o sujeito tem em

seus próprios valores pessoais;

7) Direção das linhas ou alinhamento: Identificada pela direção das

linhas dos traços em relação à linha horizontal, revela flutuações do ânimo, do

humor e da vontade na manutenção do esforço nas tarefas e objetivos

pessoais;

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8) Distância entre as linhas: Verificada pelo afastamento entre as

linhas de traços, refere-se ao relacionamento interpessoal, ou seja, a maior ou

menor distância que o indivíduo quer manter em relação aos outros;

9) Margens: Caracterizada pelo espaço deixado entre a borda da

folha e os traços, indica a capacidade de organização do indivíduo e como ele

se adapta ao ambiente;

10) Pressão e qualidade do traçado: Avaliada pela pressão ou força

que o sujeito coloca no lápis sobre o papel, revela o grau de firmeza nas

atitudes que equivale ao grau de vitalidade, segurança e tensão da

personalidade e sua eficiência, nos diversos ambientes.

11) Irregularidade do traçado: Verificada pela existência de tremores,

ganchos, quebra de linha, linhas espelhadas, correções, retoques, entre outros,

refere-se a diversas características de personalidade ou mesmo a alterações

neurológicas;

12) Organização ou ordem: Caracterizada pela forma geral de

execução da prova, com palos ordenados e organizados, indica maturidade

psicológica e capacidade de organização, adaptação às normas, realização de

deveres sociais e classificação das coisas de forma hierarquizada de acordo

com os valores predominantes.

Tendências específicas como a emotividade, a depressão e a

impulsividade podem ser identificadas pela avaliação qualitativa de diversas

características do teste (ALVES E ESTEVES, 2004).

O Teste Palográfico é utilizado, de maneira rotineira pela equipe

técnica do CASJ, para avaliar a necessidade de o policial envolvido em

ocorrência grave participar do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional. É

também utilizado ao final do programa, para verificar as prescrições

necessárias.

No âmbito do presente estudo, foi utilizado na parte clínica do

trabalho.

3.4 Escala de Personalidade de Comrey (CPS)

A Escala de Personalidade de Comrey (CPS), desenvolvida a partir

de estudos iniciados há mais de 25 anos por Andrew L. Comrey, é um

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inventário construído com fundamento na proposta teórica estruturalista e

baseado na autodescrição para identificação dos principais fatores de

personalidade (COSTA, 2003).

Introduzida no Brasil em 1973, caracteriza-se como instrumento

multidimensional, para avaliar oito dimensões de personalidade, a saber:

1) Confiança versus Atitude Defensiva (Escala T);

2) Ordem versus Falta de Compulsão (Escala O);

3) Conformidade Social versus Rebeldia (Escala C);

4) Atividade versus Passividade (Escala A);

5) Estabilidade Emocional versus Neuroticismo (Escala S);

6) Extroversão versus Introversão (Escala E);

7) Masculinidade versus Feminilidade (Escala M);

8) Empatia versus Egocentrismo (Escala P).

Segundo Costa (2003), os mais importantes construtos fatoriais para

a descrição da personalidade estão incluídos nessas oito escalas de

personalidade.

O CPS é também utilizado, de forma rotineira pela equipe técnica do

CASJ, para avaliar a necessidade de o policial envolvido em ocorrência grave

freqüentar o EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional. É utilizado, ainda, para

avaliar as prescrições necessárias, ao final do programa. No presente trabalho,

foi utilizado para o estudo clínico de forma complementar aos outros

instrumentos, em razão da técnica que utiliza.

4. PROCEDIMENTOS

Os procedimentos rotineiros existentes no programa de apoio, assim

como aqueles outros introduzidos especificamente para viabilizar a presente

pesquisa, podem ser descritos da seguinte forma:

1) Todo o policial militar envolvido em ocorrência grave, na forma

descrita no presente capítulo, é apresentado por seu Comandante ao CASJ no

primeiro dia útil subseqüente à ocorrência que deu origem à apresentação,

respeitado o período de descanso regulamentar. Simultaneamente, o mesmo

Comandante encaminha ao CASJ resenha do fato, contendo os dados

completos do policial envolvido e as informações administrativas sobre ele;

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2) Nesse mesmo dia, o policial militar apresentado preenche a ficha

de cadastro e realiza o Teste Palográfico e o CPS;

3) Após esses passos, ainda no mesmo dia, é submetido à entrevista

individual com psicólogo do CASJ, para aprofundar as informações constantes

da ficha de cadastro e complementar dados necessários à correta interpretação

do Teste Palográfico e do CPS;

4) Terminado esse procedimento, o policial é liberado para retorno às

suas atividades normais, caso não se detecte nenhuma alteração emocional

significativa ou recebe, caso essa alteração seja evidente, orientação para

retornar ao CASJ, em data estabelecida em programação anual daquele órgão,

para iniciar o EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional. No período

compreendido entre a avaliação inicial e o retorno ao CASJ para início do EAP,

o policial não pode ser empregado em atividades operacionais;

5) Ao retornar ao CASJ, inicia o EAP – Desenvolvimento Psico-

Emocional, com duração de 17 dias letivos e programação diária definida no

quadro 3.

6) Os policiais convidados a participar da presente pesquisa foram

informados a respeito de sua realização na data de apresentação para início do

programa. Os que concordaram em participar leram e assinaram o termo de

consentimento livre e esclarecido, após o que foram submetidos à primeira

parte do PMK – Lineogramas, Zigue-Zague, Escadas e Círculos e Cadeias

Sagitais;

7) No 3º dia do programa, foram submetidos à segunda parte do

PMK – Cadeias Verticais, Paralelas Egocífugas e Us Sagitais e Paralelas

Egocípetas e Us Verticais.

8) Nos 15º e 17º dias, ainda durante o EAP – Desenvolvimento

Psico-Emocional, foram novamente submetidos ao PMK, dividido em duas

partes, tal como realizado quando da sua chegada ao programa.

Quadro 3: Programação diária do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional

DIA ATIVIDADE NÚMERO DE HORAS

1º Arteterapia – Ikebana

04 h

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DIA ATIVIDADE NÚMERO DE HORAS

Dinâmica de grupo

Palestra sobre stress

Palestra sobre ética

01h 30 min

01h 30 min

01h 30 min

Palestra sobre nutrição

Palestra sobre direitos e vantagens

Palestra sobre inteligência emocional

01 h 30 min

01 h 30 min

01 h 30 min

Dinâmica de grupo

Palestra sobre direitos e vantagens

Palestra sobre dependência química

01 h 30 min

01 h 30 min

01 h 30 min

5º Visita ao MASP 05 h

6º Arteterapia – Ikebana 04 h

Palestra sobre nutrição

Palestra sobre teosofia

Educação Física

01 h 30 min

01 h 30 min

01 h 30 min

8º Visita à área de preservação ambiental 05 h

Palestra sobre nutrição

Dinâmica de grupo

Palestra sobre doutrina de

policiamento comunitário

01 h 30 min

01 h 30 min

01 h 30 min

10º

Palestra sobre stress

Técnicas de relaxamento

Educação Física

01 h 30 min

01 h 30 min

01 h 30 min

11º Arteterapia – Ikebana 04 h

12º

Técnicas de relaxamento

Dinâmica de grupo

Educação Física

01 h 30 min

01 h 30 min

01 h 30 min

13º

Palestra sobre teosofia

Dinâmica de grupo

Palestra sobre inteligência emocional

01 h 30 min

01 h 30 min

01 h 30 min

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DIA ATIVIDADE NÚMERO DE HORAS

14º

Dinâmica de grupo

Palestra sobre dependência química

Técnicas de relaxamento

01 h 30 min

01 h 30 min

01 h 30 min

15º

Palestra sobre inteligência emocional

Dinâmica de grupo

Educação Física

01 h 30 min

01 h 30 min

01 h 30 min

16º Arteterapia - Ikebana 04 h

17º Palestra sobre stress

Dinâmica de grupo

01 h 30 min

03 h

Fonte: CASJ

4.1 Procedimentos de análise e tratamento de dados

Do ponto de vista específico da pesquisa, os objetivos propostos

foram alcançados com a utilização dos instrumentos descritos, na seguinte

conformidade:

1) Os dados necessários para a carcterização sócio-demográfica do

grupo de policiais participantes do programa e integrantes do grupo pesquisado

foram retirados da ficha de cadastro. A caracterização foi feita por meio da

análise descritiva das variáveis por nível hierárquico, sexo, faixa etária, estado

civil ou situação conjugal, nível de escolaridade, tempo de serviço, local de

residência e local de trabalho, número de ocorrências e taxa anual de

ocorrências graves, esta resultante da divisão do número de ocorrências

graves pelo tempo de serviço em anos, com a freqüência relativa de ocorrência

de cada uma das modalidades.

2) A identificação do nível de agressividade reacional do grupo antes

e depois do programa foi feita com a utilização do PMK, observando-se a

classificação descrita na tabela 5. Com base nessa tabela, foi considerada a

freqüência das respostas agressivas reacionais na zona de normalidade e fora

dela e, ainda, a intensidade e o sentido dos desvios de cada uma delas,

observando-se a seguinte equivalência:

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80

- Freqüência das respostas:

a) FR/0: nenhum traçado com desvio fora da zona de normalidade

(agressividade normal);

b) FR/1: até dois traçados com desvios fora da zona de normalidade

(agressividade eventual/oscilante);

c) FR/2: três ou mais traçados com desvios fora da zona de

normalidade (agressividade efetiva/predominante).

- Intensidade dos desvios:

a) IR/0: nenhum traçado com desvio fora da zona de normalidade;

b) IR/1: traçado(s) com desvio(s) apenas no 2º. D.P. (entre 5 e 8

tetrons);

c) IR/2: traçados com desvios nos 2º. e 3º. D.P. sendo a

predominância no 2º. D.P. (entre 05 e 12 tetrons);

d) IR/3: traçados com o mesmo número de desvio(s) no 2º. e no 3º.

D.P. (entre 05 e 12 tetrons);

e) IR/4: traçados com desvios nos 2º e 3º. D.P. sendo a

predominância no 3º. D.P. (entre 5 e 12 tetrons);

f) IR/5: traçados com desvios apenas no 3º. D.P. (entre 9 e 12

tetrons);

- Sentido dos desvios:

a) SR/0: nenhum traçado com desvio fora da zona de normalidade;

b) SR/1: traçados com desvios positivos, indicando hétero-

agressividade;

c) SR/2: traçados com desvios negativos, indicando auto-

agressividade;

d) SR/3: traçados com o mesmo número de desvios positivos e

negativos;

e) SR/4: traçados com desvios positivos e negativos, sendo a

predominância dos positivos;

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f) SR/5: traçados com desvios positivos e negativos, sendo a

predominância dos negativos.

3) A verificação da modificação da resposta agressiva reacional

individual, após o programa de apoio, em relação àquela apresentada antes

dessa intervenção, foi feita por meio da comparação dos dados obtidos na

segunda aplicação do PMK com os obtidos na primeira aplicação, levando em

conta a freqüência das respostas, a intensidade e o sentido dos desvios na

forma descrita anteriormente e classificando a segunda resposta em cinco

categorias, de acordo com os seguintes critérios:

a) Resposta agressiva reacional ampliada: quando houve, no

segundo exame, aumento da freqüência de respostas agressivas fora da zona

de normalidade, com aumento ou manutenção da intensidade dessas

respostas ou quando houve manutenção da freqüência, com aumento da

intensidade;

b) Resposta agressiva reacional reduzida: quando houve, no

segundo exame, diminuição da freqüência de respostas agressivas fora da

zona de normalidade, com diminuição ou manutenção da intensidade ou

quando houve manutenção da freqüência, com diminuição da intensidade;

c) Resposta agressiva reacional inalterada: quando houve, no

segundo exame, reprodução dos resultados do primeiro exame, quanto à

freqüência de respostas, intensidade e sentido dos desvios, desde que fora da

zona de normalidade;

d) Resposta agressiva reacional estável: quando houve, no segundo

exame, oscilações dentro da zona de normalidade;

e) Resposta agressiva reacional instável: quando houve, no segundo

exame, oscilação contrária de freqüência e intensidade ou quando houve

modificação do sentido predominante da agressividade (de auto para hétero ou

vice-versa).

4) Para a definição do perfil dos integrantes de cada uma das

categorias, foram utilizados os dados da ficha de cadastro relativos a nível

hierárquico, sexo, faixa etária, estado civil ou situação conjugal, nível de

escolaridade, tempo de serviço, local de residência, local de trabalho, número

de ocorrências e taxa anual de ocorrências graves. O perfil foi definido para

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82

cada categoria, levando-se em conta a predominância em cada uma das

variáveis. Os resultados de cada categoria foram comparados com os

resultados das demais categorias geradas, sendo também efetuada a análise

estatística de cada variável em cada categoria com a finalidade de identificar e

caracterizar possíveis relações entre a variável considerada e o tipo de

oscilação de resposta.

5) Para a realização de estudo clínico de 01 caso de cada categoria,

foram utilizados os dados levantados por meio do PMK, do Teste Palográfico,

do CPS, da ficha de cadastro e da entrevista realizada ao início do programa.

Foram escolhidos para o estudo clínico os policiais com perfil mais próximo ao

definido para a categoria;

6) A análise estatística dos dados do estudo quantitativo foi

desenvolvida da seguinte forma:

a) A caracterização sócio-demográfica da amostra estudada, como

forma de revelar o perfil individual de cada variável, foi feita por meio de

gráficos e técnicas apropriadas. Para as variáveis contínuas (idade, tempo de

serviço e taxa anual de ocorrências), foram utilizados gráficos de boxplot,

histograma com alisamento pelo método de Kernel e gráfico de quantil-quantil.

O gráfico de boxplot ressaltou a medida de centralidade das variáveis e

caracterizou a sua dispersão. O histograma com alisamento pelo método de

Kernel caracterizou graficamente a distribuição de probabilidade dos dados,

enquanto o gráfico de quantil-quantil permitiu comparar a distribuição dos

dados em relação à distribuição normal. Já para as variáveis discretas (sexo,

situação conjugal, nível hierárquico, nível de escolaridade, local de residência,

local de trabalho e número de ocorrências), foram utilizados gráficos de barras.

Foi utilizado, ainda, o diagrama de dispersão para analisar conjuntamente a

taxa anual de ocorrências e o número de ocorrências;

b) Para comparar o nível de agressividade do grupo antes e depois

do programa, levando em conta a intensidade do desvio com qualquer

freqüência de resposta e sem considerar o sentido do desvio, foi utilizado teste

de proporções para duas distribuições multinomiais;

c) A análise das variáveis em cada categoria de resposta agressiva

reacional, por seu turno, foi feita de forma descritiva e de forma inferencial. Do

ponto de vista descritivo, as variáveis contínuas foram analisadas por meio de

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83

gráficos boxplot e as variáveis discretas o foram por intermédio das proporções

de cada nível em cada categoria de oscilação de resposta. Do ponto de vista

inferencial, foi utilizado o teste exato de Fisher, para verificar quais variáveis

categóricas exerceram algum tipo de influência sobre a variável de interesse

oscilação de resposta. Utilizou-se, também, o teste t-Student para a mesma

verificação no que diz respeito às variáveis contínuas;

d) Finalmente, para comparar o estudo atual com outro feito pelo

autor, no ano de 1996, foi utilizado teste de proporções para duas distribuições

multinomiais.

7) Como suporte ao tratamento estatístico dos dados, foram

utilizados os textos de Morettin e Bussab (2004) e Magalhães e Lima (2002).

Para a representação gráfica, foi utilizado o programa R de R Development

Core Team (2005).

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84

III – RESULTADOS

1. RESULTADOS DO ESTUDO QUANTITATIVO

Os resultados da parte quantitativa deste estudo, que abrangeram a

caracterização sócio-demográfica, a identificação da agressividade reacional do

grupo antes e depois do programa e a modificação da resposta agressiva reacional,

foram os seguintes:

1) Caracterização sócio-demográfica:

a) Sexo:

- masculino: 75 (97%)

- feminino: 02 (3%)

Figura 1: Gráfico de barras por sexo

b) Idade:

Distribuição por faixas:

- 21 a 25 anos: 08 (10%)

- 26 a 30 anos: 24 (31%)

- 31 a 35 anos: 22 (29%)

- 36 a 40 anos: 15 (19%)

- 41 a 45 anos: 05 (07%)

- 46 a 50 anos: 03 (04%)

Mediana: 32 anos

As figuras 2, 3 e 4 representam a distribuição por faixas de idade:

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Figura 2: Histograma da idade, com alisamento pelo método de Kernel

Figura 3: Boxplot da idade

Figura 4: Gráfico de quantil-quantil da idade

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c) Estado civil/situação conjugal:

- casado: 39 (50%)

- solteiro: 17 (22%)

- separado/divorciado: 07 (09%)

- convivente: 14 (19%)

Figura 5: Gráfico de barras do estado civil/situação conjugal

d) Nível hierárquico:

- soldado/cabo: 62 (81%)

- sargento/oficial: 15 (19%)

Figura 6: Gráfico de barras do nível hierárquico

e) Nível de escolaridade:

- ensino fundamental: 07 (09%)

- ensino médio: 57 (74%)

- ensino superior: 13 (17%)

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Figura 7: Gráfico de barras do nível de escolaridade

f) Tempo de serviço:

Distribuição por faixas:

- 01 a 05 anos: 24 (31%)

- 06 a 10 anos: 22 (28%)

- 11 a 15 anos: 12 (16%)

- 16 a 20 anos: 13 (17%)

- 21 a 25 anos: 06 (08%)

Mediana: 09 anos

As figuras 8, 9 e 10 representam a distribuição por faixas do tempo de

serviço:

Figura 8: Histograma do tempo de serviço, com alisamento pelo método

de Kernel

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Figura 9: Boxplot do tempo de serviço

Figura 10: Gráfico de quantil-quantil do tempo de serviço

g) Local de residência:

- Capital – zona norte: 07 (09%)

- Capital – zona sul: 06 (08%)

- Capital – zona leste: 20 (26%)

- Capital – zona oeste: 02 (03%)

- Grande São Paulo: 34 (44%)

- Outros locais: 08 (10%)

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Figura 11: Gráfico de barras do local de residência

h) Local de trabalho:

- Capital – zona centro: 06 (08%)

- Capital – zona norte: 05 (07%)

- Capital – zona sul: 13 (17%)

- Capital – zona leste: 14 (18%)

- Capital – zona oeste: 11 (14%)

- Grande São Paulo: 28 (36%)

Figura 12: Gráfico de barras do local de trabalho

i) Número de ocorrências:

- 01ocorrência: 49 (64%)

- 02 ocorrências: 10 (13%)

- 03 ocorrências: 03 (04%)

- 04 ocorrências: 08 (10%)

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90

- 05 ocorrências: 03 (04%)

- 06 ou mais ocorrências: 04 (05%)

Figura 13: Gráfico de barras do número de ocorrências

j) Taxa anual de ocorrências:

Distribuição por faixas:

- 0,01 a 0,20: 42 (54%)

- 0,21 a 0,40: 16 (21%)

- 0,41 a 0,60: 14 (18%)

- 0,61 a 0,80: 02 (03%)

- 0,81 a 1,00: 02 (03%)

- 1,01 a 1,20: 00 (00%)

- 1,21 a 1,40: 01 (01%)

Mediana: 0,20

As figuras 14, 15 e 16 representam a distribuição acima:

Figura 14: Histograma da taxa de ocorrências, com alisamento pelo

método de Kernel

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Figura 15: Boxplot da taxa de ocorrências

Figura 16: Gráfico de quantil-quantil da taxa de ocorrências

A figura 17 representa o diagrama de dispersão do número de ocorrências

pela taxa anual de ocorrências, que objetiva definir o padrão de associação entre as

duas variáveis:

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92

Figura 17: Diagrama de dispersão do número de ocorrências pela taxa de

ocorrências

2) Agressividade reacional do grupo antes do início do programa e

depois de sua execução, quanto à freqüência das respostas (FR), intensidade dos desvios (IR) e sentido dos desvios (SR):

Tabela 5: Freqüência das respostas e intensidade e sentido dos desvios

Nº. FR/IR/SR ANTES % DEPOIS %

01 0/0/0 25 32 30 39

02 1/1/1 17 22 21 27

03 1/1/2 18 24 12 16

04 1/1/3 02 03 04 05

05 1/3/1 03 04 02 03

06 1/3/3 00 00 01 01

07 1/5/1 02 03 02 03

08 1/5/2 03 04 00 00

09 2/1/1 01 01 01 01

10 2/1/2 03 04 02 03

11 2/1/5 01 01 00 00

12 2/2/1 01 01 00 00

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Nº. FR/IR/SR ANTES % DEPOIS %

13 2/2/2 00 00 01 01

14 2/2/5 01 01 00 00

15 2/4/1 00 00 01 01

TOTAL 77 100 77 100

A tabela 6 apresenta a freqüência encontrada em cada desvio,

independentemente da freqüência de respostas e dos sentidos dos desvios:

Tabela 6: Freqüência em cada desvio

DESVIOS ANTES % DEPOIS %

Z.N. 25 32 30 39

2º. D.P. 42 55 40 52

3º. D.P. 10 13 07 09

TOTAL 77 100 77 100

A análise estatística dessa tabela, efetuada pelo teste multinomial,

retornou um nível descritivo de 0,42. Esse resultado demonstra não haver

significância estatística nas diferenças encontradas em cada desvio antes e depois

da aplicação do programa.

3) Modificação da agressividade reacional individual:

A tabela 7 demonstra a freqüência apurada em cada categoria de

resposta:

Tabela 7: Freqüência em cada categoria de resposta

CATEGORIA FREQÜENCIA %

AMPLIADA 14 18

REDUZIDA 24 31

INALTERADA 12 16

ESTÁVEL 15 19

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CATEGORIA FREQÜÊNCIA %

INSTÁVEL 12 16

TOTAL 77 100

4) Perfil por categoria de resposta agressiva reacional:

A tabela 8 apresenta o perfil predominante em cada categoria de resposta.

Tabela 8: Variáveis e categorias de respostas

VAR/CATEG AMPLIADA REDUZIDA INALTERADA ESTÁVEL INSTÁVEL

Sexo Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino

Faixa etária

(Q1 – Q3)

Mediana

29 – 40

33

29 – 33

30

34 – 38

37

28 – 36

32

25 – 33

28

Estado civil

ou

Situação

conjugal

Casado

Casado

Casado

Casado

Casado

Nível

hierárquico

Soldado

Cabo

Soldado

Cabo

Soldado

Cabo

Soldado

Cabo

Soldado

Cabo

Nível de

escolaridade

Ensino

Médio

Ensino

Médio

Ensino

Médio

Ensino

Médio

Ensino

Médio

Tempo de

serviço

(Q1 –Q3)

Mediana

6,5 – 19

9,5

05 – 11

09

11 – 17

15,5

6,5 – 16

09

03 – 5,5

3,5

Local de

residência

Capital

Zona Leste

Grande

São Paulo

Grande São

Paulo

Grande

São Paulo

Grande

São Paulo

Local de

trabalho

Capital

Zona Sul

Grande

São Paulo

Grande

São Paulo

Capital

Zona Leste

Grande

São Paulo

Capital

Zona Oeste

Grande

São Paulo

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VAR/CATEG AMPLIADA REDUZIDA INALTERADA ESTÁVEL INSTÁVEL

Número de

ocorrências

(faixa)

01 – 03

01 – 03

01 – 03

01 – 03

01 - 03

Taxa anual

de

ocorrências

(Q1- Q3)

Mediana

0,0825

a

0,3100

0,1450

0,1100

a

0,3700

0,1600

0,0575

a

0,3025

0,1000

0,0850

a

0,4700

0,2500

0,2150

a

0,5000

0,3300

Os resultados da análise descritiva das variáveis para cada categoria,

estão representados nas figuras 18 a 26. Esses resultados procuraram identificar

possíveis associações entre cada variável de interesse estudada e a oscilação de

resposta apresentada. Nos gráficos de barras, que representam as variáveis

discretas, as barras têm tamanhos diferentes entre si, para indicar o tamanho

amostral de cada nível. Desconsiderou-se, na análise, a variável sexo, em razão do

pequeno número de mulheres que compõe a amostra.

Figura 18: Boxplot da idade por categoria de oscilação de resposta

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Figura 19: Gráfico de barras das proporções de cada nível de situação

conjugal de acordo com as categorias de oscilação de resposta

Figura 20: Gráfico de barras das proporções de cada nível hierárquico de

acordo com as categorias de oscilação de resposta

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Figura 21: Gráfico de barras das proporções de cada nível de escolaridade

de acordo com as categorias de oscilação de resposta

Figura 22: Boxplot do tempo de serviço por categorias de oscilação de

resposta.

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Figura 23: Gráfico de barras das proporções de cada local de residência

de acordo com as categorias de oscilação de resposta

Figura 24: Gráfico de barras das proporções de cada local de trabalho de

acordo com as categorias de oscilação de resposta

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Figura 25: Gráfico de barras das proporções do número de ocorrências de

acordo com as categorias de oscilação de resposta

Figura 26: Boxplot da taxa de ocorrências por categorias de oscilação de

resposta.

Os resultados da análise inferencial serviram para identificar e caracterizar

relações entre as variáveis estudadas e as categorias de oscilação de resposta.

Esses resultados procuraram avaliar se as evidências apresentadas na análise

descritiva foram estatisticamente significativas. O teste exato de Fisher foi utilizado

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100

para verificar quais variáveis categóricas exerceram alguma influência na oscilação

de resposta apresentada. Tendo em vista a limitação do número de níveis desse

teste, houve necessidade de agrupar as zonas leste e oeste da variável local de

residência e as zonas leste e oeste além de centro e norte da variável local de

trabalho. Para as variáveis contínuas, foi utilizado o modelo t-Student, por ser mais

robusto, no sentido de não modificar inferências ao se retirar da amostra os pontos

discrepantes (extremos), permitindo, assim, resultados menos sensíveis a

observações extremas. Vale ressaltar que, neste trabalho, foram retirados os pontos

discrepantes das variáveis contínuas. Os níveis de significância (p) encontrados

foram os seguintes:

a) Variáveis discretas:

- nível hierárquico: 0,0836 (p<0,10)

- estado civil/situação conjugal: 0,5665;

- nível de escolaridade: 0,1810;

- local de residência: 0,1964;

- local de trabalho: 0,825.

b) Variáveis contínuas:

Tabela 9: Níveis de significância (p) das variáveis contínuas

CATEGORIAS IDADE TEMPO DE

SERVIÇO

TAXA ANUAL DE

OCORRÊNCIAS

AMPLIADA - REDUZIDA 0,06* 0,24 0,53

AMPLIADA - INALTERADA 0,28 0,13 0,38

AMPLIADA – ESTÁVEL 0,51 0,78 0,18

AMPLIADA – INSTÁVEL 0,03** <0,01** 0,01**

REDUZIDA – INALTERADA <0,01** <0,01** 0,12

REDUZIDA – ESTÁVEL 0,25 0,37 0,38

REDUZIDA - INSTÁVEL 0,49 <0,01** 0,03**

INALTERADA – ESTÁVEL 0,08* 0,07* 0,03**

INALTERADA – INSTÁVEL <0,01** <0,01** <0,01**

ESTÁVEL - INSTÁVEL 0,11 <0,01** 0,22

* p<0,10 e ** p<0,05

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2. RESULTADOS DO ESTUDO CLÍNICO

Caso nº. 1 – Categoria: Agressividade Ampliada

1) Dados gerais e histórico pessoal:

Trata-se de Cabo PM, do sexo masculino, com 34 anos de idade e ensino

médio completo. É casado há 05 anos e a esposa tem 30 anos de idade e atividade

profissional regular. Freqüenta curso superior e está grávida do primeiro filho. O

casal reside em imóvel alugado na região sul da Cidade de São Paulo. O pai do

policial é falecido e ele tem 07 irmãos. Está há 08 anos na corporação policial,

exercendo, atualmente, atividades operacionais em unidade sediada na região sul

da Cidade de São Paulo. Nas horas vagas, exerce trabalho paralelo como forma de

complementação salarial. Tem, em seu histórico profissional, 03 ocorrências de

enfrentamento armado, sendo 01 sem nenhum tipo de lesão, outra com lesões

corporais do oponente e a terceira, mais recente, com morte do oponente. Do ponto

de vista disciplinar, seu comportamento é classificado como excelente. Como

atividade de lazer, gosta de ir à praia e, como atividade esportiva, pratica

musculação. Não possui qualquer espécie de vício e o seu projeto inclui formação

acadêmica em nível superior.

Ao psicólogo entrevistador, relatou que o relacionamento conjugal é ótimo,

mas o contato com a mãe e irmãos é apenas regular. Argumentou que, no momento,

está procurando reaproximação com os irmãos para melhorar o vínculo entre eles.

Sobre o evento que determinou sua ida ao programa de apoio, afirmou tratar-se de

enfrentamento armado com morte do oponente. Não percebeu alterações

emocionais em razão desse fato.

O parecer do entrevistador indicou, em síntese, ser o policial

aparentemente tranqüilo, mas um pouco manipulador.

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2) Resultados do PMK:

a) Primeiro exame:

No conjunto, os traçados apresentaram boa configuração geral, pressão

normal e ausência de tremores, saltos, torções de eixo ou outros sinais sugestivos

de patologia, com boa orientação e capacidade adequada de elaboração de

comportamentos. Não apareceram no teste sinais evidentes de ansiedade ou

angústia. O nível de coerência intra-psíquica estava satisfatório.

Sobre as principais tendências do policial, apuradas pela avaliação

quantitativa do instrumento, verificou-se o seguinte:

- agressividade: apresentou, tanto em termos estruturais como em termos

reacionais, nível normal de agressividade, indicando adequada capacidade de se

impor ao ambiente;

- reação vivencial: no plano estrutural, apresentou tendência à intratensão,

com potencial para apresentação de respostas que variam da intratensão acentuada

até a intensa intratensão, significando dificuldade evidente de comunicação

emocional com o ambiente. No plano reacional, compensou, em parte, essa

tendência, já que continuou apresentando potencial para respostas eventuais com

acentuada intratensão;

- tônus psicomtor: no plano profundo, apresentou tônus psicomotor

normal, com possibilidade de oscilação eventual para tônus psicomotor diminuído.

Já no plano atual, esse tônus se apresentou normal e estável, com nível normal de

energia vital para emprego nas tarefas normais e no enfrentamento de situações

novas;

- emotividade: apresentou emotividade predominantemente normal em

nível estrutural, com oscilação eventual para emotividade diminuída. Em nível

reacional, apresentou emotividade normal;

- excitação-inibição: no plano estrutural, apresentou tendência à inibição

com potencial para exibição de comportamentos que podem variar da leve à forte

inibição, indicando baixa capacidade de resposta à estimulação exterior. No plano

reacional, revelou nível tensional normal;

- impulsividade-rigidez: revelou, no plano profundo, disposição para

posturas mais rígidas. Já no plano atual, essa característica não estava presente.

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b) Segundo exame:

De forma geral, reproduziu as características dos traçados do primeiro

exame, com boa configuração práxica, pressão normal e ausência de tremores,

saltos, torções de eixo ou outros sinais indicativos de eventual quadro patológico.

Confirmou-se, ainda, no segundo exame, a boa orientação, a capacidade adequada

de elaboração de comportamentos e o grau de coerência intra-psíquica. Também

não apareceram sinais evidentes de ansiedade ou angústia.

Com relação às principais tendências do policial, verificadas pela

avaliação quantitativa do teste, apurou-se o seguinte:

- agressividade: de forma diversa da ocorrida no exame anterior,

apresentou tendência à hétero-agressividade nos dois planos, com potencial para

respostas hétero-agressivas aumentadas, no plano estrutural e respostas hétero-

agressivas acentuadas, no plano reacional;

- reação vivencial: confirmou a tendência à intratensão estrutural

apresentada no primeiro exame, com potencial para respostas indicativas de

intratensão aumentada, mas, no plano reacional, apresentou tendência à

normotensão;

- tônus psicomotor: modificando em parte o resultado encontrado no

exame anterior, apresentou, no plano profundo, tônus psicomotor oscilando de

normal a bom e, no plano atual, tônus psicomotor normal;

- emotividade: também modificando em parte o resultado do primeiro

exame, apresentou, no nível estrutural, emotividade intensamente reduzida,

conservando emotividade normal no nível atual;

- excitação-inibição: confirmou o resultado anterior, com tendência à

inibição aumentada, de caráter eventual, no plano estrutural e equilíbrio tensional, no

plano reacional;

- impulsividade-rigidez: diferentemente do primeiro exame, não apresentou

sinais de impulsividade ou rigidez.

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3) ResultadosTeste Palográfico:

a) Produtividade:

Tabela 10: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (1)

TEMPOS 1º. 2º. 3º. 4º. 5º. TOTAL

1ª PARTE 27 27 26 29 29 138

2ª PARTE 68 68 68 64 67 335

A produtividade apurada por intermédio do número de traçados

executados na segunda parte do teste, levando em conta o grau de escolaridade do

policial, foi classificada como sendo de nível médio inferior, indicando rendimento

abaixo da média em qualquer tarefa executada.

b) Nível de oscilação rítmica:

- NOR da 1ª Parte: 1,0

- NOR da 2ª Parte: 1,7

O nível de oscilação rítmica das duas partes do teste, classificado como

muito baixo, apontou para um equilíbrio entre os ritmos consciente e inconsciente e

foi indicativo de alta regularidade na execução de tarefas, com tendência à rigidez.

O distanciamento entre os palos (média de 2,8 mm) foi considerado

normal, indicando equilíbrio, ponderação e boa capacidade de organização e a

inclinação vertical dos traçados indicou atitude firme e estável. O tamanho dos palos

(média de 5,7 mm) foi considerado normal, indicando também equilíbrio e

ponderação e a direção retilínea normal dos traçados também revelou conduta

equilibrada, eventualmente associada à reação pouco emotiva.

A distância entre as linhas (média de 1,8 mm), considerada diminuída,

apontou para a falta de percepção de limites em relação aos outros. Já, a margem

esquerda (média de 10,2 mm), foi considerada normal, indicando equilíbrio e

autocontrole; a margem direita (média de 4 mm), também normal, indicou boa

adaptação ao meio e, finalmente, a margem superior (média de 3,5 mm)

considerada média, revelou tendência ao comportamento de respeito para com os

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outros e para com figuras de autoridade. A pressão estava normal, indicando

vitalidade e segurança e a organização foi considerada boa, indicando adequada

capacidade de organização. Não foram identificados outros dados merecedores de

destaque.

4) Resultados do CPS:

Tabela 11: Validação do protocolo (1)

ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL CONTROLE

ESCALA V 9 40 VÁLIDO

ESCALA R 46 60 VÁLIDO

Tabela 12: Resultados por escala (1)

ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL FATOR FAIXA

ESCALA T 57 97 Confiança Extrema

ESCALA O 67 96 Ordem Extrema

ESCALA C 28 1 Inconformidade

social

Extrema

ESCALA A 62 75 Atividade Elevada

ESCALA S 52 20 Instabilidade

emocional

Elevada

ESCALA E 66 96 Extroversão Extrema

ESCALA M 56 97 Masculinidade Extrema

ESCALA P 33 1 Egocentrismo Extremo

O teste do policial foi considerado válido e sem tendenciosidade nas

respostas, em função dos valores obtidos nas escalas V e R, respectivamente.

Os valores obtidos na escala T demonstraram extrema confiança nos

outros, com crença na fidedignidade, honestidade e boa intenção alheia. O resultado

obtido na escala O indicou extrema inclinação à ordem, à cautela, à meticulosidade

e ao seguimento de rotinas. Já com relação à escala C, o valor alcançado

demonstrou tendência extremada à contestação de normas e instituições.

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Na escala A, o valor alcançado demonstrou ser o policial possuidor de

energia e perseverança, empregando o máximo esforço para atingir o máximo de

sua capacidade. O resultado obtido na escala S demonstrou instabilidade emocional

elevada, com constantes oscilações de humor e o obtido na escala E demonstrou

extrema facilidade de contato com desconhecidos, expansividade e sociabilidade. O

escore encontrado na escala M revelou tendência à pouca sensibilidade e à teimosia

e, finalmente, o valor alcançado na escala P indicou extrema inclinação ao

egocentrismo e à preocupação com os próprios objetivos.

Caso nº. 2 – Categoria: Agressividade Reduzida

1) Dados gerais e histórico pessoal:

Trata-se de Soldado PM, do sexo masculino, com 30 anos de idade e

ensino médio completo. É casado há 08 anos e a esposa tem 29 anos de idade e

atividade profissional regular. O casal tem uma filha de 04 anos e reside em imóvel

cedido em município da Grande São Paulo. Os pais do policial são vivos e ele tem

04 irmãos. Está há 07 anos na corporação policial e exerce atividades operacionais

também em município da Grande São Paulo. Nas horas vagas, exerce trabalho

paralelo como forma de complementação salarial. Tem, em seu histórico

profissional, 04 ocorrências de enfrentamento armado, sendo 03 com morte e 01

com lesões corporais. Do ponto de vista disciplinar, o seu comportamento é

classificado como ótimo. Como atividade de lazer, gosta de viajar e como atividade

esportiva, gosta de correr. Não possui vícios de qualquer natureza.

Ao entrevistador, referiu que o seu relacionamento conjugal encontra-se

desgastado e bastante instável com constantes discussões e agressões verbais.

Relatou que a esposa reclama de que é muito inafetivo em locais públicos; não é

romântico e esquece datas importantes. Negou a existência de qualquer problema

de saúde, mas referiu dificuldades para dormir, com sono oscilante. Argumentou que

pretende realizar concurso interno para promoção à graduação imediatamente

superior, para o qual se prepara freqüentando curso preparatório. Argumentou,

ainda, que pretende concluir a construção de imóvel próprio, pois reside em moradia

cedida. Sobre o evento que determinou sua ida ao programa de apoio, alegou que

foi um enfrentamento armado que resultou na morte do oponente e no qual teve

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participação direta. Não percebeu alterações emocionais em razão desse fato, no

entanto, no momento, não está bem, pois absorve em demasia problemas dos

outros e se irrita com facilidade.

O parecer do psicólogo entrevistador apontou para a existência, no

presente, de dificuldades afetivas, com exagerada auto-exigência nos campos

profissional e pessoal, mas com manifestação de vontade de reverter a atual

situação.

2) Resultados do PMK:

a) Primeiro exame:

De forma geral, os traçados apresentaram boa configuração práxica,

pressão normal, sem tremores, saltos, torções de eixo ou outros sinais sugestivos de

qualquer tipo de patologia, demonstrando assim uma boa conformação geral da

personalidade, com orientação satisfatória e adequada capacidade de elaboração de

comportamentos. Não ficaram evidenciados sinais de ansiedade ou angústia e o

teste demonstrou existir nível satisfatório de coerência intra-psíquica.

Com relação às principais tendências do policial, aferidas de forma

quantitativa pelo instrumento, verificou-se o seguinte:

- agressividade: do ponto de vista estrutural, apresentou tendência à auto-

agressividade, com potencial para respostas eventuais indicativas de auto-

agressividade aumentada. Reacionalmente, confirmou a tendência para auto-

agressividade, eventualmente, aumentada;

- reação vivencial: em termos estruturais, apresentou bom potencial para

contato emocional satisfatório com o ambiente. Reacionalmente, confirmou as

condições estruturais, apresentando, no entanto, necessidade de contato social mais

intenso a partir de iniciativa própria;

- tônus psicomotor: tanto estrutural como reacionalmente, apresentou

tônus psicomotor normal, com eventual elevação no plano profundo, indicando nível

satisfatório de energia vital para ser empregada nas atividades diárias e na solução

de problemas;

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- emotividade: revelou nível de emotividade dentro dos parâmetros da

normalidade, tanto em suas disposições mais latentes como em suas manifestações

mais atuais, podendo, eventualmente, apresentar hipo-emotividade;

- excitação–inibição: do ponto de vista estrutural, a tendência observada

foi de adequação das respostas aos estímulos externos. Já, reacionalmente,

apresentou-se mais excitado, com potencial para resposta à pequena estimulação

exterior;

- impulsividade-rigidez: não evidenciou sinais de impulsividade ou rigidez

nos dois planos.

b) Segundo exame:

No conjunto, os traçados apresentaram boa configuração práxica,

superando, inclusive, a configuração apresentada no primeiro. Tal como no exame

anterior, a pressão dos traçados estava normal e não havia tremores, saltos ou

torções de eixo ou qualquer outro dado sugestivo de patologia. Também não foram

detectados sinais de ansiedade ou angústia. A orientação estava adequada e a

capacidade de elaboração de comportamentos preservada. Este segundo exame

confirmou a boa estruturação de personalidade, com grau adequado de coerência

intra-psíquica.

A análise quantitativa dos dados apontou os seguintes resultados:

- agressividade: em termos mais profundos, apresentou tendência à auto-

agressividade e potencial para respostas agressivas eventuais com aumentada

auto-agressividade. Em termos reacionais, apresentou agressividade normal;

- reação vivencial: do ponto de vista estrutural, apresentou condições

satisfatórias para contato emocional, com leve tendência à intratensão, exceto em

situações de contato social por iniciativa própria em que essa intratensão foi intensa.

Reacionalmente, compensou essa tendência, apresentando até potencial para

resposta eventual com extratensão acentuada;

- tônus psicomotor: tanto do ponto de vista estrutural quanto do reacional,

apresentou bom tônus psicomotor, com tendência a se elevar eventualmente, em

especial, no plano reacional, o que garante suficiente nível de energia para as

atividades comuns e para enfrentamento de situações novas;

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- emotividade: apresentou emotividade reduzida no plano profundo, com

potencial para hipo-emotividade eventual. Essa emotividade escassa, contudo, é

compensada no plano consciente, já que nesse plano ela se apresentou dentro dos

parâmetros da normalidade;

- Excitação–inibição: do ponto de vista estrutural, apresentou tendência

geral à inibição, com potencial para atitudes levemente inibidas ou mesmo inibidas,

o que significa uma diminuição da responsividade à estimulação exterior. Mais uma

vez, no plano reacional, compensou essa baixa responsividade estrutural com

equilíbrio tensional.

3) Resultados do Teste Palográfico:

a) Produtividade:

Tabela 13: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (2)

TEMPOS 1.º 2º. 3º. 4º. 5º. TOTAL

1ª PARTE 53 42 51 58 42 246

2ª PARTE 91 90 95 90 88 454

A produtividade apurada por meio do número total de traçados executados

na segunda parte do teste, levando em conta o nível de escolaridade do policial, foi

classificada como média, significando capacidade normal de trabalho em qualquer

atividade executada.

b) Nível de oscilação rítmica (NOR):

- NOR da 1ª. Parte: 17,4

- NOR da 2ª. Parte: 2,8

O nível de oscilação rítmica da 1ª parte do teste pode ser classificado

como muito alto, significando grandes variações no rendimento do trabalho.

Contudo, o nível de oscilação rítmica da 2ª parte pode ser considerado como baixo,

revelando estabilidade em seu ritmo de produção, permitindo a execução de tarefas

com certa uniformidade. A diferença entre o NOR da 1ª fase, que revela disposições

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110

mais conscientes e o NOR da 2ª fase, que revela disposições mais involuntárias,

demonstra o esforço consciente de adaptação do policial a novas tarefas. Depois de

adaptado, o trabalho torna-se mais natural com ritmo mais equilibrado e

produtividade maior.

Com relação ao distanciamento entre os traçados, o que se observou foi

certa tendência à diminuição (média de 2,0 mm), indicando tendência à introversão e

à limitação de sentimentos.

A inclinação vertical dos traçados indicou atitude vigilante, com firmeza,

estabilidade e constância. O tamanho dos palos (média de 9 mm) foi considerado

médio, indicando equilíbrio, ponderação e adequada adaptação ao meio. A direção

retilínea normal dos traçados observada no teste indicou também conduta

equilibrada. A distância entre as linhas (média de 5,2 mm), considerada normal,

revelou, basicamente, respeito aos limites no convívio com outras pessoas.

As margens esquerda (média de 9,8 mm), direita (média de 4,6 mm) e

superior (média de 4,0 mm), classificadas como médias, revelaram no policial

equilíbrio e autocontrole, boa adaptação social e comportamento de respeito para

com os outros e para com representantes de autoridade. A pressão foi considerada

normal, indicando vitalidade e segurança e a organização foi considerada boa,

indicando adequada capacidade de organização. Não apareceram tremores, ou

outros sinais de emotividade desequilibrada, depressão ou impulsividade. A

ausência de ganchos revelou que a agressividade estava controlada.

4) Resultados do CPS:

Tabela 14: Validação do protocolo (2)

ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL CONTROLE

ESCALA V 12 65 VÁLIDO

ESCALA R 44 50 VÁLIDO

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Tabela 15: Resultados por escala (2)

ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL FATOR FAIXA

ESCALA T 53 90 Confiança Acentuada

ESCALA O 48 5 Falta de

Compulsão

Extrema

ESCALA C 41 30 Inconformidade

Social

Elevada

ESCALA A 64 85 Atividade Elevada

ESCALA S 64 85 Estabilidade

Emocional

Elevada

ESCALA E 62 90 Extroversão Acentuada

ESCALA M 46 60 Masculinidade Média

ESCALA P 49 45 Egocentrismo Médio

O teste do policial foi considerado válido e sem tendenciosidade nas

respostas, em função dos resultados alcançados nas escalas V e R,

respectivamente.

Na escala T, o resultado alcançado revelou, basicamente, elevada

confiança nos outros, vendo-os como pessoas honestas, fidedignas e com boas

intenções.

O escore obtido na escala O demonstrou inclinação ao descuido, à

imprudência e à não sistematização em seu estilo de vida. Já na escala C, os

valores revelaram certa tendência à inconformidade social e não aceitação de

sistemas de controle.

Na escala A, o valor alcançado demonstrou ser o policial possuidor de

energia e perseverança, empregando o máximo esforço para atingir o máximo de

sua capacidade.

Com o escore alcançado na escala S, revelou estabilidade emocional,

calma e confiança em si mesmo. O escore também elevado na escala E revelou

facilidade de contato, expansividade e sociabilidade.

Finalmente, o resultado alcançado na escala M revelou expressão normal

de sensibilidade e o obtido na escala P revelou nível regular de altruísmo e

generosidade.

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Caso nº. 3 – Categoria: Agressividade Inalterada

1) Dados gerais e histórico pessoal:

Trata-se de 2º. Sargento PM, do sexo masculino, com 35 anos de idade,

ensino médio completo, tendo iniciado e depois interrompido o curso superior de

Educação Física. É casado há 13 anos e a esposa tem também 35 anos de idade e

emprego regular. O casal tem uma filha de 12 anos e um filho de 08 anos e reside

em imóvel próprio, adquirido por meio de financiamento, em município da Grande

São Paulo. O pai do policial é falecido e ele tem 02 irmãos. Está há 16 anos na

corporação policial, exercendo, atualmente, atividades operacionais em unidade

sediada na região central da Cidade de São Paulo. Nas horas vagas, exerce

trabalho paralelo como forma de complementação salarial. Tem, em seu histórico

profissional, 02 ocorrências de enfrentamento, ambas com morte do oponente. Do

ponto de vista disciplinar, o seu comportamento é classificado como ótimo. Como

atividade de lazer, prefere passear com a família e como atividade esportiva, gosta

de correr e jogar futebol. Não possui vícios de qualquer natureza.

Durante a entrevista, relatou ao psicólogo que o seu relacionamento

conjugal e familiar é bastante satisfatório e que tem contato esporádico com a mãe

que reside no interior do Estado de São Paulo. Negou a existência de qualquer

problema pessoal e alegou gostar muito do trabalho que executa, em que pese a

distância entre sua residência e o local de trabalho. Apontou, como aspiração futura,

a compra de alguma propriedade no interior do estado e, como dificuldade pessoal,

o desejo de querer resolver os problemas dos outros. Sobre o evento que

determinou sua ida ao programa de apoio, alegou ter sido um enfrentamento armado

que resultou na morte do oponente e no qual teve participação direta. Não percebeu

alterações emocionais em razão desse fato.

O parecer do psicólogo entrevistador apontou para a existência de falta de

motivação profissional atual, em razão das mudanças no trabalho decorrentes da

necessidade de freqüentar o programa de apoio, apesar da boa verbalização e do

bom contato verificados durante a entrevista.

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2) Resultados do PMK:

a) Primeiro exame:

De forma geral, o teste apresentou boa configuração práxica, com

traçados bem configurados e pressão firme, sem tremores, saltos ou outros sinais

sugestivos de comprometimento neurológico. Apresentou torção de eixo nas cadeias

egocífugas de mão não dominante, que apareceu como dado isolado no conjunto do

teste. A orientação e a capacidade geral de elaboração de comportamentos estavam

satisfatórias. Não apresentou sinais de ansiedade ou angústia e exibiu bom nível de

coerência intra-psíquica.

Com relação às principais tendências do policial, aferidas de forma

quantitativa pelo instrumento, verificou-se o seguinte:

- agressividade: em termos estruturais, apresentou agressividade

oscilante, com potencial para, eventualmente, apresentar hétero-agressividade

aumentada. No plano reacional, confirmou essa tendência, podendo apresentar,

inclusive, intensa hétero-agressividade eventual;

- reação vivencial: no plano profundo, apresentou tendência geral à

intratensão, com dificuldades para o estabelecimento de contato emocional com o

ambiente. Apresentou ainda potencial para, de maneira eventual, assumir postura

fortemente intratensa. No plano consciente, compensou essa tendência, revelando

características de normotensão com capacidade normal de manifestação emocional

mais espontânea;

- tônus psicomotor: tanto no plano estrutural quanto no plano reacional,

apresentou tônus psicomotor normal, com nível adequado de energia vital para

enfrentar situações novas ou realizar atividades rotineiras;

- emotividade: tanto no plano estrutural quanto no reacional, apresentou

escassa emotividade, podendo chegar, inclusive, a exibir hipo-emotividade;

- excitação-inibição: nos dois planos, revelou capacidade de responder de

forma satisfatória aos estímulos exteriores, com equilíbrio tensional adequado.

- impulsividade-rigidez: não evidenciou sinais sugestivos de impulsividade

ou rigidez nos dois planos.

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b) Segundo exame:

Da mesma forma que no primeiro, os traçados estavam bem configurados,

sem tremores, saltos ou outros sinais sugestivos de patologia. A torção de eixo,

verificada no primeiro exame, não apareceu no segundo, contudo, a pressão que era

firme no início do teste, passou a ser forte na parte final, indicando postura agressiva

decorrente de impaciência diante de situação de avaliação. Tal como no primeiro

exame, constatou-se bom nível de orientação e boa capacidade de elaboração de

comportamentos. Não foram evidenciados sinais de ansiedade ou angústia. A

coerência intra-psíquica estava adequada.

Com relação às tendências do policial apuradas por meio dos dados

quantitativos, verificou-se o seguinte:

- agressividade: reproduziu, de forma geral, os resultados do exame

anterior, com agressividade estrutural oscilante e potencial para apresentar hétero-

agressividade aumentada. No plano reacional, confirmou essa tendência, podendo,

inclusive, apresentar, de forma eventual, intensa hétero-agressividade;

- reação vivencial: em termos estruturais, reproduziu os resultados do

exame anterior, com tendência à intratensão e potencial para assumir,

eventualmente, postura fortemente intratensa. Em termos reacionais, da mesma

forma que no exame anterior, compensou essa tendência, apresentando respostas

predominantemente normotensas, expressando capacidade normal de comunicação

emocional;

- tônus psicomotor: confirmou os resultados do primeiro exame, com nível

satisfatório de energia vital, tanto no nível estrutural quanto no reacional;

- emotividade: também confirmando os resultados obtidos no primeiro

exame, apresentou, nos dois planos, escassa emotividade, com tendência para

hipo-emotividade estrutural;

- excitação-inibição: no plano profundo, apresentou, diferentemente do

que ocorreu no primeiro exame, tendência à inibição que procura compensar em

termos conscientes, com adequado equilíbrio tensional;

- impulsividade-rigidez: não apresentou sinais sugestivos de impulsividade

ou rigidez nos dois planos.

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3) Resultados do Teste Palográfico:

a) Produtividade:

Tabela 16: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (3)

TEMPOS 1º. 2º. 3º. 4º. 5º. TOTAL

1ª PARTE 26 31 34 35 34 160

2ª PARTE 91 91 85 97 97 461

A produtividade apurada na segunda parte do exame, levando-se em

conta o nível de escolaridade do policial, pode ser classificada como média,

significando capacidade normal de trabalho para execução de qualquer tipo de

atividade.

b) Nível de oscilação rítmica (NOR):

- NOR da 1ª Parte: 6,2

- NOR da 2ª Parte: 3,9

O nível de oscilação rítmica da primeira parte do teste, classificado como

médio, revelou a busca de adaptação às tarefas propostas, apesar da instabilidade

do ritmo de produção. Já o NOR da 2ª parte indicou regularidade, bom controle e

estabilidade nas tarefas.

A distância média entre os traçados (3,1 mm) indicou equilíbrio e boa

capacidade de organização. Já a leve inclinação à esquerda dos traçados e a

direção ascendente das linhas indicaram falta de necessidade de contato social e

afetivo e tendência à combatividade e ao idealismo e até certo grau de ambição e

arrogância.

A distância entre as linhas (média de 3,6 mm), considerada normal,

indicou a existência de respeito a limites e as margens esquerda (média de 12,6

mm), direita (média de 4,6 mm) e superior (média de 2 mm) revelaram equilíbrio e

boa adaptação, mas com alguma dificuldade no relacionamento com autoridades. A

pressão estava normal, indicando vitalidade e segurança e a organização estava

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boa, indicando adequada capacidade de organização. Não apareceram no teste

outros dados merecedores de destaque.

4) Resultados do CPS:

Tabela 17: Validação do protocolo (3)

ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL CONTROLE

ESCALA V 11 55 VÁLIDO

ESCALA R 40 35 VÁLIDO

Tabela 18: Resultados por escala (3)

ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL FATOR FAIXA

ESCALA T 49 80 Confiança Elevada

ESCALA O 54 25 Falta de

compulsão

Elevada

ESCALA C 38 15 Inconformidade

Social

Elevada

ESCALA A 60 65 Atividade Média

ESCALA S 53 25 Instabilidade

Emocional

Elevada

ESCALA E 54 60 Extroversão Média

ESCALA M 42 35 Feminilidade Média

ESCALA P 42 15 Egocentrismo Elevado

O teste do policial foi considerado válido e sem tendenciosidade nas

respostas, em função dos valores obtidos nas escalas V e R, respectivamente.

Os valores obtidos na escala T demonstraram elevada confiança nos

outros, com crença na fidedignidade, honestidade e boa intenção alheia.

O resultado obtido na escala O revelou inclinação ao descuido e à

imprudência. Já o resultado alcançado na escala C revelou inclinação à contestação

a normas e instituições e à não aceitação de controles.

O escore obtido na escala A indicou a existência de grau médio de energia

e perseverança. Na escala S, os valores obtidos apontaram elevada instabilidade

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emocional com freqüentes oscilações de humor. Os resultados das escalas E e M

demonstraram capacidade normal de contato com outras pessoas e sensibilidade

normal em todas as situações.

Finalmente, o resultado obtido na escala P indicou a existência de forte

egocentrismo, com preocupação voltada aos próprios objetivos.

Caso nº. 4 – Categoria: Agressividade Estável

1) Dados gerais e histórico pessoal:

Trata-se de Soldado PM, do sexo masculino, com 32 anos de idade,

ensino médio completo, tendo iniciado e depois interrompido curso superior de

Turismo. É casado há 10 anos, tendo a esposa 29 anos de idade e atividade

profissional regular. O casal tem uma filha de 08 anos e um filho de 08 meses e

reside em imóvel próprio na zona norte da Cidade de São Paulo. Os pais do policial

são vivos e ele tem 02 irmãos. Está há 04 anos na corporação policial, exercendo,

atualmente, atividades operacionais em unidade sediada na região norte da Cidade

de São Paulo. Exerce, nos períodos de folga do trabalho policial, atividade paralela

remunerada. Tem em seu histórico profissional uma ocorrência de enfrentamento

armado, que resultou em morte do oponente. Do ponto de vista disciplinar, o seu

comportamento é classificado como bom. Como atividade de lazer, gosta de praticar

esporte, sendo a ginástica o seu favorito. Não possui vícios de qualquer natureza.

Em entrevista, relatou ao psicólogo entrevistador que o seu

relacionamento com esposa e filhos é bom, assim como também o é o

relacionamento com os pais, a quem vê com freqüência. Negou a existência de

qualquer problema de ordem pessoal. Sobre o evento que determinou sua ida ao

programa de apoio, alegou ter sido um enfrentamento armado com morte do

oponente que era policial civil. Em razão da condição profissional do oponente, o

policial percebeu alterações emocionais imediatas, apresentando insônia desde o

dia do fato.

O parecer do psicólogo indicou a existência de quadro de ansiedade,

preocupação excessiva com o evento e cansaço físico aparente.

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2) Dados do PMK:

a) Primeiro exame:

O conjunto do teste apresentou configuração práxica muito boa, pressão

normal e sem tremores, saltos, torções de eixo ou outros sinais sugestivos de

qualquer patologia. Apresentou bom nível de orientação e de elaboração geral de

comportamentos, sem sinais de ansiedade ou angústia. Revelou, ainda, bom grau

de coerência intra-psíquica.

Com relação às tendências do policial aferidas pela avaliação quantitativa

do instrumento, verificou-se o seguinte:

- agressividade: estruturalmente, apresentou potencial para respostas

eventuais indicativas de hétero-agressividade aumentada. Já reacionalmente,

apresentou nível adequado de agressividade, indicando forma equilibrada de

imposição ao ambiente;

- reação vivencial: no plano profundo, apresentou características de

extratensão, evidenciando necessidade de contato emocional mais intenso com o

ambiente. Essas características, no entanto, não apareceram no plano consciente,

situação em que a normotensão ou necessidade normal de contato emocional se fez

presente;

- tônus psicomotor: apresentou, nos dois planos, tônus psicomotor normal,

com nível satisfatório de energia vital para ser empregado nas atividades cotidianas

e no enfrentamento de situações novas;

- emotividade: tanto nas disposições mais latentes como em suas

manifestações mais atuais, revelou emotividade normal;

- excitação-inibição: apresentou, nos dois planos, tendência à inibição,

com leve diminuição da responsividade à estimulação exterior;

- impulsividade-rigidez: não apresentou, nos dois planos, qualquer sinal

sugestivo de impulsividade ou rigidez.

b) Segundo exame:

Reproduziu, basicamente, as características gerais dos traçados

encontradas no primeiro exame, quanto à configuração práxica, capacidade de

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orientação e elaboração, coerência intra-psíquica e ausência de sinais sugestivos de

patologia, ansiedade ou angústia.

Sobre as tendências do policial, apuradas por meio dos dados

quantitativos, verificou-se o seguinte:

- agressividade: reproduziu os resultados do primeiro exame, exibindo

potencial para respostas eventuais indicativas de hétero-agressividade aumentada

no plano profundo e agressividade normal, no plano atual;

- reação vivencial: no plano estrutural, apresentou características de

extratensão, mas com intensidade menor do que no primeiro exame. Já no plano

reacional, apresentou características de normotensão, com possibilidade de

apresentar, eventualmente, intratensão, especialmente quando recebe o contato do

ambiente;

- tônus psicomotor: reproduziu, basicamente, os resultados do exame

anterior, com bom tônus psicomotor no plano estrutural e tônus psicomotor normal

no nível reacional;

- emotividade: revelou emotividade normal nos dois planos, também

reproduzindo os resultados do primeiro exame;

- excitação-inibição: diferentemente do exame anterior, revelou equilíbrio

tensional em suas disposições mais profundas e leve inibição em suas disposições

mais atuais.

- impulsividade-rigidez: reproduziu, nos dois planos, o resultado do exame

anterior, sem sinais indicativos de impulsividade ou rigidez.

3) Resultados do Teste Palográfico:

a) Produtividade:

Tabela 19: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (4)

TEMPOS 1º. 2º. 3º. 4º. 5º. TOTAL

1ª PARTE 39 51 47 46 47 230

2ª PARTE 134 134 138 139 164 709

A produtividade apurada por intermédio do número total de traçados

executados na segunda parte do teste, considerando-se o nível de escolaridade do

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policial, pode ser classificada com sendo de nível médio superior, o que significa

rendimento aumentado em qualquer atividade executada.

b) Nível de oscilação rítmica (NOR):

- NOR da 1ª Parte: 7,8

- NOR da 2ª Parte: 4,2

O nível de oscilação rítmica nas duas partes do teste foi considerado

médio, o que significa adaptação adequada às atividades rotineiras, em que pese

certa instabilidade no ritmo de produção, havendo equilíbrio entre o ritmo

inconsciente e o consciente.

A distância entre os traçados (média de 2,1 cm), considerada média,

indicou equilíbrio, ponderação e capacidade de organização. A inclinação vertical

indicou firmeza e estabilidade nas atitudes, com controle sobre as emoções. O

tamanho dos palos (média de 7,3 mm) foi considerado médio, também indicando

equilíbrio e ponderação. A direção retilínea normal dos traçados reafirmou a

tendência à conduta equilibrada. A distância aumentada entre as linhas (média de

8,9 mm) indicou tendência à precaução e cautela no campo relacional, com aumento

da formalidade nas relações interpessoais e atitudes respeitosas.

A margem esquerda (média de 3,3 mm), considerada muito diminuída,

revelou sinais acentuados de timidez, recato e prudência, além de agressividade

bastante reduzida nos contatos iniciais. A margem direita (média de 4,5 mm),

considerada média, revelou boa adaptação social, sem atitudes agressivas. A

margem superior (média de 4,5 mm), considerada normal, indicou comportamento

de respeito e deferência para com os outros e para com figuras de autoridade. A

pressão normal indicou vitalidade e segurança e a ordem, considerada boa, revelou

boa capacidade de organização. Não apareceram outros sinais indicativos de

características merecedoras de destaque.

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4) Resultados do CPS:

Tabela 20: Validação do protocolo (4)

ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL CONTROLE

ESCALA V 8 30 VÁLIDO

ESCALA R 42 45 VÁLIDO

Tabela 21: Resultados por escala (4)

ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL FATOR FAIXA

ESCALA T 40 30 Atitude

defensiva

Elevada

ESCALA O 52 15 Falta de

compulsão

Elevada

ESCALA C 43 45 Inconformidade

social

Média

ESCALA A 46 5 Falta de

energia

Extrema

ESCALA S 46 4 Instabilidade

emocional

Extrema

ESCALA E 39 8 Introversão Acentuada

ESCALA M 45 55 Masculinidade Média

ESCALA P 46 30 Egocentrismo Elevado

O teste do policial foi considerado válido e sem tendenciosidade nas

respostas, em função dos valores obtidos nas escalas V e R, respectivamente.

O resultado alcançado na escala T demonstrou atitude defensiva

acentuada, com desconfiança e retraimento. O valor obtido na escala O indicou a

inclinação ao descuido, à imprudência e à não sistematização em seu estilo de vida.

Já na escala C, o escore encontrado denotou equilíbrio quanto à aceitação de

normas e instituições sociais. Na escala A, o resultado indicou extrema falta de

energia, com tendência à inatividade física e na escala S, o valor obtido apontou

para extrema instabilidade emocional, com freqüentes oscilações de humor. O

escore obtido na escala E indicou acentuada timidez e dificuldade para

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estabelecimento de contato, enquanto o alcançado na escala M demonstrou nível

normal de sensibilidade. Finalmente, o valor atingido na escala P revelou elevada

inclinação ao egocentrismo, com preocupação voltada aos próprios objetivos.

Caso nº. 5 – Categoria: Agressividade Instável

1) Dados gerais e histórico pessoal:

Trata-se de Soldado PM, do sexo masculino, com 28 anos de idade e

ensino médio completo. É casado há 04 anos e a esposa tem 31 anos de idade e

atividade profissional regular. O casal tem uma filha de 04 meses e reside em imóvel

cedido em município da Grande São Paulo. Os pais do policial são vivos e ele tem

02 irmãos. O pai reside sozinho em outro estado, na região nordeste do país. Está

há 02 anos na corporação policial e exerce atividades operacionais também em

município da Grande São Paulo. Não executa nenhum tipo de atividade profissional

paralela. Tem em seu histórico profissional apenas 01 ocorrência de enfrentamento

armado que provocou lesões corporais no oponente. Do ponto de vista disciplinar, o

seu comportamento é classificado como bom. Com atividade de lazer, gosta de

praticar esportes, ouvir músicas e visitar sites na rede mundial. Pratica esportes com

freqüência e não possui vícios de nenhuma espécie.

Ao entrevistador, relatou que o seu relacionamento com a esposa e filha é

bom, o mesmo acontecendo com relação à mãe. Já com relação ao pai, referiu

contato difícil, pois este nunca o apoiou. Negou a existência de qualquer problema

de saúde ou dificuldade financeira e alegou gostar do trabalho que executa. Indicou

como aspiração futura evoluir na carreira policial e trabalhar como professor de

Educação Física. Sobre o evento que determinou sua apresentação ao programa de

apoio, disse ter sido enfrentamento armado que resultou em lesões corporais do

oponente. Não percebeu alterações emocionais decorrentes desse fato.

O parecer do psicólogo entrevistador indicou a existência de situação

conflituosa evidente em relação à figura paterna e atitude de reserva e sinais de

impulsividade.

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2) Resultados do PMK:

a) Primeiro exame:

Os traçados se apresentaram, de forma geral, com boa configuração

práxica, pressão normal, sem tremores, saltos, torções de eixo ou outros sinais que

pudessem indicar a presença de qualquer tipo de patologia. A orientação estava

satisfatória e a capacidade de elaboração de comportamentos adequada. Não havia

sinais evidentes de ansiedade ou angústia e o nível de coerência intra-psíquica

estava satisfatório.

Sobre as principais tendências do policial, apuradas de forma quantitativa

pelo instrumento, verificou-se o seguinte:

- agressividade: No plano estrutural apresentou agressividade normal. Já,

no plano reacional, revelou tendência para respostas eventuais indicativas de auto-

agressividade aumentada;

- reação vivencial: tanto no plano estrutural como no reacional, apresentou

tendência à oscilação e à instabilidade, no que diz respeito ao contato emocional

com o ambiente, alternando, nos dois planos, atitudes de intratensão e de

extratensão;

- tônus psicomotor: apresentou tônus psicomotor aumentado no plano

profundo e normal no plano reacional, indicando bom nível de energia para o

enfrentamento de problemas e desenvolvimento das atividades rotineiras;

- emotividade: revelou emotividade normal, tanto em suas disposições

mais latentes como em suas manifestações mais atuais;

- excitação-inibição: do ponto de vista estrutural, apresentou nível normal

de equilíbrio tensional. Já do ponto de vista reacional, apresentou tendência à

inibição, com responsividade à estimulação externa eventualmente diminuída;

- impulsividade-rigidez: não apresentou, nos dois planos, traços de

impulsividade ou rigidez.

b) Segundo exame:

As características gerais dos traçados assemelharam-se às características

encontradas no primeiro exame, com boa configuração práxica, pressão normal,

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sem tremores, saltos, torções de eixos ou outros sinais sugestivos de patologia. A

orientação continuou adequada, assim como a capacidade de elaboração de

comportamentos. Novamente, não havia sinais de ansiedade ou angústia e o nível

de coerência intra-psíquica continuava satisfatório.

Sobre as principais tendências do policial, apuradas pela análise

quantitativa do teste, verificou-se o seguinte:

- agressividade: diferentemente do verificado no primeiro exame, no plano

estrutural, apresentou potencial para respostas agressivas eventuais indicativas de

hétero-agressividade aumentada. No plano reacional, houve confirmação dessa

tendência, invertendo tendência apresentada no exame anterior;

- reação vivencial: no plano profundo, de forma diferente do que foi

verificado no primeiro exame, apresentou disposição para respostas eventuais

indicativas de intratensão aumentada ou mesmo forte intratensão. Já no plano atual,

reproduziu a instabilidade encontrada naquele exame;

- tônus psicomotor: reproduziu de maneira semelhante o resultado

encontrado no exame anterior, com tônus psicomotor aumentado no nível estrutural

e normal no reacional;

- emotividade: seguindo tendência já revelada no primeiro exame,

apresentou nível normal de emotividade nos dois planos;

- excitação-inibição: reproduziu o resultado anterior, com equilíbrio

tensional normal no plano profundo e tendência à inibição eventual no plano atual;

- impulsividade-rigidez: não evidenciou sinais de impulsividade ou rigidez

em termos estruturais, contudo, em termos reacionais, apresentou tendência a

respostas indicativas de rigidez aumentada.

3) Resultados do Teste Palográfico:

a) Produtividade:

Tabela 22: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (5)

TEMPOS 1º. 2º. 3º. 4º. 5º. TOTAL

1ª PARTE 67 72 75 73 73 360

2ª PARTE 69 64 62 64 64 323

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125

A produtividade apurada, considerando-se o grau de escolaridade do

policial, foi classificada como sendo de nível médio inferior, indicando tendência para

rendimento abaixo da média em qualquer atividade realizada.

b) Nível de oscilação rítmica (NOR):

- NOR da 1ª Parte: 2,7

- NOR da 2ª Parte: 2,7

O NOR da 1ª parte foi idêntico ao da 2ª parte, ambos considerados muito

baixos, indicando equilíbrio entre o ritmo consciente e o inconsciente e, ainda, alta

regularidade na execução de tarefas, com tendência à rigidez.

O distanciamento dos traçados (média de 2,8 mm), considerado normal,

indicou equilíbrio, ponderação e capacidade de organização e a inclinação vertical

revelou firmeza e estabilidade nas atitudes, com controle sobre as emoções. O

tamanho dos palos (média de 8 mm) foi considerado médio, também indicando

equilíbrio e ponderação. A direção retilínea normal dos traçados confirmou tendência

à conduta equilibrada.

Com relação à distância entre as linhas, o resultado encontrado (média de

4,3 mm) também foi considerado normal, indicando respeito aos limites no convívio

com outras pessoas. A margem esquerda (média de 12 mm) foi considerada

aumentada, indicando extroversão e facilidade de comunicação. A margem direita

(média de 5 mm) foi considerada normal, revelando boa adaptação social e a

margem superior (média de 6 mm) também foi considerada normal, indicando

respeito para com os outros e para com as figuras de autoridade.

A pressão dos traçados foi considerada normal, apontando para vitalidade

e segurança e a organização foi considerada boa, revelando adequada capacidade

de organização. Não apareceram outros sinais sugestivos de características

merecedoras de realce.

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4) Resultados do CPS:

Tabela 23: Validação do protocolo (5)

ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL CONTROLE

ESCALA V 23 98 VÁLIDO

ESCALA R 40 35 VÁLIDO

Tabela 24: Resultados por escala (5)

ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL FATOR FAIXA

ESCALA T 37 15 Atitude

defensiva

Elevada

ESCALA O 47 3 Falta de

compulsão

Extrema

ESCALA C 34 4 Inconformidade

social

Extrema

ESCALA A 43 2 Falta de

energia

Extrema

ESCALA S 44 3 Instabilidade

emocional

Extrema

ESCALA E 40 10 Introversão Acentuada

ESCALA M 41 30 Feminilidade Elevada

ESCALA P 43 20 Egocentrismo Elevado

O teste do policial foi considerado válido e sem tendenciosidade nas

respostas, em função dos valores obtidos nas escalas V e R, respectivamente.

O resultado encontrado na escala T revelou tendência elevada à

desconfiança e ao retraimento. Na escala O, o resultado obtido indicou inclinação

extrema ao descuido e à falta de sistematização em seu estilo de vida. Já com

relação à escala C, o valor alcançado demonstrou tendência extremada à

contestação de normas e instituições.

O escore alcançado na escala A evidenciou inclinação à inatividade física,

com falta de vigor e energia. O resultado alcançado na escala S demonstrou

instabilidade emocional extrema, com constantes oscilações de humor. Já na escala

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E, o valor obtido indicou tendência acentuada à timidez e dificuldade de contato

social, enquanto o obtido na escala M apontou para uma elevada sensibilidade.

Finalmente, o resultado da escala P evidenciou tendência elevada ao egocentrismo

e preocupação com os próprios objetivos.

Descritos os resultados da parte quantitativa e da parte qualitativa do

estudo, cabe agora discuti-los, o que será feito no capítulo seguinte.

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IV – DISCUSSÃO

1. Discussão do estudo quantitativo 1) Caracterização sócio-demográfica:

Os resultados da caracterização sócio-demográfica do presente estudo

demonstraram que houve predominância, na amostra pesquisada, de policiais

militares com nível hierárquico de cabo ou soldado (81%), do sexo masculino (97%),

casados (50%), e com nível de escolaridade correspondente ao ensino médio (74%).

Esses resultados são compatíveis com a formação geral do efetivo policial em que

há 79% de cabos e soldados em relação ao efetivo total e, desses, 89% são do sexo

masculino. O nível de escolaridade predominante é aquele exigido no processo

seletivo de ingresso, reproduzindo, basicamente, os resultados de estudo anterior

com a mesma população (ALLEGRETTI, 1996).

Com relação à idade, a mediana apurada foi de 32 anos, estando a

grande concentração (79%) na faixa compreendida entre 26 e 40 anos. A

distribuição da idade parece não fugir muito da distribuição normal, como

comprovam as figuras 2, 3 e 4. A concentração na faixa etária citada pode ser

explicada pelo fato de o policial com idade mais avançada ser empregado em

atividades administrativas, em razão de sua experiência profissional e de sua

condição física, que já não responde com a mesma efetividade às exigências do

trabalho operacional, diminuindo, assim, a probabilidade de seu envolvimento em

confronto armado.

Já no que diz respeito ao tempo de serviço, a mediana foi de 09 anos,

estando a grande concentração na faixa compreendida entre 01 e 15 anos de

serviço (75%), também reproduzindo, de maneira semelhante, resultados

encontrados por Allegretti (1996), em que 65,82% da amostra tinham entre 01 e 10

anos de serviço. Deve-se ressaltar o fato de que a distribuição da amostra com

relação ao tempo de serviço é levemente assimétrica, conforme demonstram as

figuras 8, 9 e 10. O tempo de serviço apresenta correlação direta com a idade e o

modelo explicativo do evento segue, de forma geral, aquele utilizado para a idade.

Os locais de trabalho predominantes para esse grupo foram a Grande São

Paulo (36%) e a Zona Leste da Capital (18%), que também correspondem aos locais

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predominantes de residência. O fato pode ser explicado em razão de essas regiões

apresentarem elevados índices de violência: 28,56 homicídios dolosos por grupo de

100.000 habitantes na Grande São Paulo (exceto a Capital) e 31,87 na Capital como

um todo, índices que superam, inclusive, a média estadual de 21,74 homicídios

dolosos para o mesmo grupo populacional, conforme dados da Secretaria da

Segurança Pública, o que faz aumentar, significativamente a probabilidade de

confrontos armados.

Com relação ao número de ocorrências graves, a maioria do grupo (81%)

oscilou entre 01 e 03 ocorrências. Se, ao invés do número absoluto, for utilizada a

taxa anual de ocorrências (número/anos de serviço), tem-se a maior freqüência

(75%) na faixa compreendida entre 0,01 e 0,04 com mediana de 0,20 ocorrências

por ano de serviço por policial. A distribuição dessa taxa é bem assimétrica, como

evidenciam as figuras 14, 15 e 16. Esses números, mais uma vez, confirmam os

resultados encontrados por Allegretti (1996), em que 62,65% do contingente

pesquisado possuíam entre 01 e 03 ocorrências.

2) Identificação do nível de agressividade reacional do grupo antes e

depois do programa:

No tocante à agressividade reacional do grupo pesquisado, antes e depois

do programa de apoio, chamou a atenção o baixo percentual encontrado na zona de

normalidade: 32% antes e 39% depois, índices muito distantes dos 68,26%

esperados para essa faixa em uma distribuição normal, mesmo sendo a amostra

retirada de uma população especial. Em sentido inverso, foi também significativo o

elevado percentual encontrado no 2º. D.P. em todas as freqüências de respostas:

49% em até 02 traçados e 6% em 03 ou mais traçados, no primeiro exame e 48%

em até dois traçados e 4% em 03 ou mais traçados, no segundo exame, ante os

27,18% esperados em uma distribuição normal, apontando assim para um leve

decréscimo após o programa. O percentual que alcançou o 3º. D.P. também merece

destaque, pois chegou a 11% em até 02 traçados e 2% em 03 ou mais traçados, no

primeiro exame e 7% em até 02 traçados e 2% em 03 ou mais traçados, no segundo

exame, representando, também, pequeno decréscimo, mas sem ainda se aproximar

dos 4,29% esperados para essa faixa. A tabela 25 compara os resultados obtidos no

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presente estudo com os obtidos por Allegretti (1996), levando em conta a freqüência

relativa acumulada de todas as freqüências de respostas:

Tabela 25: Comparação da agressividade reacional em dois estudos

ESTUDO ALLEGRETTI – 1996 ALLEGRETTI - 2005

DESV. ANTES DEPOIS ANTES DEPOIS Z.N. 38 (24%) 44 (28%) 25 (32%) 30 (39%) 2º. D.P. 96 (61%) 87 (55%) 42 (55%) 40 (52%) 3º. D.P. 24 (15%) 27 (17%) 10 (13%) 07 (09%) TOTAL 158 158 77 77

(100%) (100%) (100%) (100%)

Os dados comparados demonstram ter havido similitude entre os

movimentos havidos na zona de normalidade e no segundo desvio-padrão. Já com

relação ao terceiro desvio-padrão, houve inversão de tendência nas duas pesquisas,

com aumento da freqüência no estudo de 1996 e redução no estudo atual.

Comparando-se as freqüências encontradas antes do programa nos dois

estudos, o teste multinomial para duas distribuições multinomiais retornou um nível

de significância de 0,38. Na comparação das freqüências encontradas depois do

programa, o mesmo teste retornou um nível de significância de 0,11. Dessa forma,

restou demonstrado que não há diferenças estatisticamente significativas, ou seja, a

variação da agressividade se comportou de maneira semelhante nos dois estudos.

Em síntese, levando-se em conta o resultado geral da amostra atual,

verificou-se ter havido, após o programa, um aumento discreto da freqüência na

zona de normalidade e uma redução também discreta das freqüências do segundo e

do terceiro desvio-padrão. Finalmente, chama a atenção o baixo percentual de

freqüência de resposta de 03 ou mais traçados (FR/2), indicativa de agressividade

efetiva ou predominante. Foram apenas 09% antes do programa e 05% depois dele,

apontando, portanto, para uma prevalência no grupo pesquisado de respostas

agressivas oscilantes ou eventuais.

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3) Modificação da resposta agressiva reacional:

Com relação à modificação da resposta agressiva reacional individual,

ficou demonstrado que a agressividade reduzida foi a categoria de resposta com

maior freqüência, englobando 31% da amostra. Seguiu-se a estável, com 19% e a

ampliada, com 18%. As categorias inalterada e instável tiveram, cada uma,

freqüência correspondente a 16% do grupo pesquisado. A tabela 26 apresenta

dados comparativos entre o estudo atual e o realizado por Allegretti (1996):

Tabela 26: Comparação da modificação da resposta agressiva reacional individual

CATEGORIAS/ESTUDO ALLEGRETTI

1996

ALLEGRETTI

2005

AMPLIADA 24 (15)% 14 (18%)

REDUZIDA 43 (27%) 24 (31%)

INALTERADA/ESTÁVEL 91(58%) 27(35%)

INSTÁVEL AUSENTE 12 (19%)

TOTAL 158 (100%) 77 (100%)

Para efeito de comparação, as categorias estável e inalterada do estudo

atual foram agrupadas, tendo em vista o estudo anterior tê-las considerado como

única. Esse mesmo estudo também não considerou a categoria instável.

Do ponto de vista descritivo, os dados demonstraram ter havido

semelhança entre os percentuais encontrados na categoria ampliada, considerados

relativamente baixos nos dois estudos. No que concerne à agressividade reduzida,

também houve semelhança, sendo que, em ambas, os percentuais foram mais

expressivos. Já no que diz respeito à agressividade inalterada/estável, os

percentuais encontrados foram expressivos, mas diferentes nos dois trabalhos.

Finalmente, o percentual encontrado na categoria instável, sem correspondente no

estudo anterior, foi considerado relativamente baixo.

Para verificar estatisticamente a possível semelhança entre os resultados

das duas pesquisas, utilizou-se o teste de proporções de duas multinomiais, que

retornou um nível de significância de 0,31, confirmando, assim, que a modificação

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da resposta agressiva reacional apresenta tendência semelhante em ambos os

trabalhos.

É importante destacar que 71% dos que apresentaram resposta ampliada

estavam na zona de normalidade e oscilaram para cima em freqüência de resposta

e intensidade do desvio. Apenas 29% se encontravam fora da zona de normalidade

e oscilaram em freqüência de resposta ou intensidade do desvio.

Esse dado é bastante relevante, eis que pode sugerir eventual efeito

perverso do programa de apoio, com relação àqueles que se encontravam com a

agressividade normal. A base teórica que sustenta essa possibilidade é bastante

densa e pode ser sintetizada da seguinte forma:

- nem o trabalho policial, nem a ocorrência grave teriam gerado pressão

suficiente para despertar a instigação agressiva, na forma proposta por Dejours

(1988) e Riviere (1975), já que a agressividade reacional se encontrava normal;

- o programa de apoio, contudo, teria funcionado como uma espécie de

adversidade ambiental, revivendo experiências anteriores e gerando sentimento de

perda e impulsos agressivos (WINNICOTT, 2000);

- o sentido de perda em razão da adversidade ambiental seria decorrente

da frustração frente à carreira, especialmente frente às diferenças entre as

aspirações individuais e a realidade do trabalho policial (DEJOURS, 1988).

Alternativamente, poderia também ser decorrente do objetivo de dominação a ser

alcançado por meio do trabalho (ADLER, 1957), do qual o policial é

momentaneamente afastado ou, ainda, das características próprias da

personalidade autoritária (ADORNO apud ZACHARIAS, 1994), que,

obrigatoriamente, permaneceriam inativas até o final da execução do programa de

apoio ou por período ainda superior, caso fossem aplicadas restrições ao trabalho

operacional;

- a sensação de perda decorrente dessa adversidade despertaria a

agressividade, da mesma forma que um ataque externo ao self o faria (RIVIERE,

1975);

- a ansiedade gerada pela perda imposta pelo programa acentuaria o

instinto agressivo (KLEIN, 1970);

- eventual índole reativa do caráter levantaria defesas de oposição

(formação reativa), na linha da preservação da auto-estima, ampliando a carga

agressiva (FENICHEL, 1981);

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- a agressividade seria dirigida para o exterior, como forma de proteção do

próprio self (FREUD, 1923).

Dos que reduziram a agressividade, 62,5% ingressaram na zona de

normalidade e 37,5%, mesmo sem ingressar nessa zona, apresentaram redução na

freqüência de resposta ou intensidade do desvio.

Esses resultados, vistos como altamente positivos em função dos

benefícios pessoal e institucional imediatos, também estão articulados a diversos

modelos teóricos explicativos:

- a agressividade reacional estaria elevada por conta das características

próprias do indivíduo aliadas às pressões exercidas pelo trabalho policial e pelo

envolvimento em ocorrência grave (DEJOURS, 1988; RIVIERE, 1975);

- o programa de apoio, nesse caso, não teria sido percebido como

intromissão ambiental a gerar reação agressiva (WINNICOTT, 2000);

- não sendo visto como fator de frustração em relação ao trabalho

(DEJOURS, 1988), o instinto agressivo não teria sido despertado (RIVIERE, 1975) e

nem mesmo teria sido estimulada a ansiedade que o acentuaria (KLEIN, 1970);

- a existência de defesas caracterológicas do tipo sublimado (FENICHEL,

1981) teria permitido que as atividades sociais existentes no programa funcionassem

como válvula de escape para a agressividade (FREUD, 1923) e que os vínculos

emocionais que nele se formaram ou que, por seu intermédio, foram ampliados ou

resgatados, pudessem fortalecer o instinto de vida, enfraquecendo o instinto

agressivo (FREUD, 1930).

Dos que permaneceram com a agressividade inalterada, 83% estavam

inicialmente e depois se mantiveram no segundo desvio-padrão e 17% alcançaram e

permaneceram no terceiro desvio-padrão, sendo que, em 100% dos casos, a

freqüência de resposta foi de até 02 traçados, indicando agressividade oscilante ou

eventual. Esse fato é especialmente importante porque, de alguma forma, remete à

impossibilidade de o programa promover a mudança psíquica necessária à redução

da agressividade. Alguns modelos teóricos explicativos também podem ser

utilizados:

- a agressividade já estaria presente ao início do programa, em função das

características de personalidade, bem como da reação à pressão exercida pelo

trabalho (DEJOURS, 1988) ou pela ocorrência grave (RIVIERE, 1975).

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- o programa teria sido percebido como uma tentativa mal-sucedida de

intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000), rechaçada por defesas mais

cristalizadas;

- essas defesas estariam organizadas como defesas caracterológicas de

índole reativa com atitudes de evitação, como forma de preservar a auto-estima e

impedir a expansão do instinto agressivo, na linha proposta por Fenichel (1981), ou

até mesmo, estruturadas em forma de organizações defensivas, cuja finalidade seria

neutralizar impulsos destrutivos e permitir relativo equilíbrio psíquico (STEINER,

1986). A qualquer dessas possibilidades, estariam associadas as estratégias

defensivas, utilizadas coletivamente como forma de proteção contra as pressões

exercidas pelo trabalho (DEJOURS, 1988);

- inexistindo frustração ou ansiedade, em razão das defesas existentes

que promovem resistência passiva ao programa, não haveria motivo para que o

instinto agressivo fosse acentuado (KLEIN, 1970);

- pela atuação das defesas, o sentido de domínio sobre a situação estaria

assegurado, sem necessidade de qualquer contestação (ADLER, 1957), operando o

indivíduo com o objetivo de conseguir a superação da intromissão ambiental

representada pelo programa (FRIEDMAN e SCHUSTACK, 2004).

Já os que permaneceram com a agressividade estável oscilaram apenas

dentro da zona de normalidade, podendo esse fato ser explicado a partir da seguinte

base teórica:

- o programa não teria despertado resposta agressiva por não ter

funcionado como intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000; RIVIERE, 1975);

- bem ao contrário, teria facilitado novos vínculos emocionais, fortalecendo

o instinto de vida (FREUD, 1930);

- não haveria, portanto, defesas rigidamente estruturadas no plano

individual (FENICHEL, 1981) ou estratégias defensivas coletivamente organizadas

(DEJOURS, 1988).

Finalmente, dentre os que apresentaram agressividade instável, é

imperioso destacar que 100% deles, no segundo exame, ou inverteram totalmente

ou modificaram parcialmente o sentido da agressividade. Assim, 59% passaram de

auto para hétero, 17% fizeram o movimento inverso e 24% modificaram

parcialmente o sentido. O modelo teórico para explicar esse fenômeno pode ser

expresso da seguinte maneira:

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- a agressividade já estaria presente ao início do programa, por força das

características individuais, das pressões exercidas pelo trabalho (DEJOURS, 1988)

e pelo envolvimento em ocorrência grave (RIVIERE, 1975);

- o programa de apoio teria sido percebido como intromissão ambiental

com forte teor de pressão, gerando respostas agressivas, na forma proposta por

Winnicott (2000) e Riviere (1975), que foram acentuadas pela ansiedade gerada por

essa intromissão (KLEIN, 1970);

- para aqueles que inverteram o sentido da agressividade de auto para

hétero, haveria prevalência das defesas caracterológicas de índole reativa,

objetivando a preservação da auto-estima (FENICHEL, 1981), e a agressividade

seria dirigida para o exterior como forma de defesa do próprio self (FREUD, 1923);

- para aqueles que fizeram o movimento contrário, a intromissão ambiental

representada pelo programa teria gerado culpa por dano supostamente causado a

outro (WINNICOTT, 2000) e provocado o redirecionamento da agressividade contra

o próprio eu.

Além dos modelos explicativos para cada categoria de resposta agressiva

reacional, merece destaque, também, a linha teórica proposta por Joseph (1992)

sobre mudança psíquica. Ao analisar-se a modificação das respostas individuais,

verifica-se que o programa conseguiu promover mudança psíquica na grande

maioria dos policiais que o freqüentaram, mesmo que essas mudanças tenham

provocado, em um primeiro momento, a ampliação ou a instabilização da

agressividade, pois, segundo a autora, a mudança psíquica está sempre ligada a

pequenos movimentos (shifts) do indivíduo na direção de uma maior

responsabilidade pelos próprios impulsos; na direção da emergência de sentimentos

de consideração e de culpa ou na direção da percepção do que está ocorrendo,

enfrentando a ansiedade decorrente. Contudo, os movimentos podem também

ocorrer na direção inversa a isso tudo.

Pelos fundamentos teóricos defendidos pela autora, mesmo um programa

de apoio de curta duração é capaz de promover alguma mudança, reafirmando o

pensamento de Winnicott (1984) de que, por vezes, uma única entrevista é

suficiente para alcançar certo grau de mudança psíquica, pois pode despertar o

indivíduo para a realidade de sua vida mental.

No entanto, em função da natureza do trabalho exercido pelo grupo

estudado, que envolve o direito à vida, à integridade física e à dignidade das

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pessoas, é fundamental a redução imediata dos níveis de agressividade e sua

estabilização, até porque se trata de agressividade reacional. Fosse só considerado

o aspecto pessoal ligado à saúde mental do policial, o programa, funcionando como

local de acolhimento (holding) e terapia poderia facilitar o processo de busca e

integração do verdadeiro self.

4) Perfil por categoria de resposta agressiva reacional:

De uma forma geral, o perfil definido descritivamente para as cinco

categorias de resposta não diferiu significativamente. Em todas elas, a

predominância foi de policiais do sexo masculino, casados, com nível hierárquico de

cabo ou soldado e nível de escolaridade correspondente ao ensino médio. Algumas

diferenças foram notadas nos locais de trabalho e residência, no entanto, as mais

expressivas foram as ligadas à idade, ao tempo de serviço e à taxa anual de

ocorrências.

Observe-se que, nas categorias ampliada, estável ou reduzida, as

medianas com relação à idade – 33; 32 e 30 anos, respectivamente – ficaram muito

próximas da mediana de toda a amostra, que foi de 32 anos. Já nas categorias

inalterada e instável, as medianas – 37 e 28 anos, respectivamente – afastaram-se

consideravelmente daquela encontrada para todo o grupo.

O mesmo fenômeno pôde ser observado com relação ao tempo de

serviço, em que as categorias ampliada, estável e reduzida apresentaram medianas

próximas entre si – 9,5 anos; 09 anos e 09 anos, respectivamente – e também muito

próximas da verificada para toda a amostra. A categoria inalterada apresentou

mediana bem mais alta – 15,5 anos – e a instável apresentou-a bem mais baixa –

3,5 anos.

Já com relação à taxa anual de ocorrências, merece destaque a relação

inversa dessa taxa com o tempo de serviço, para as categorias inalterada e instável.

A primeira, com 15,5 anos para o tempo de serviço, apresentou mediana de 0,1000

para taxa de ocorrências. A segunda, com 3,5 anos para o tempo de serviço,

apresentou mediana de 0,3300 para a taxa de ocorrências. Comportamento

semelhante apresentaram as categorias ampliada e reduzida. A exceção foi a

categoria estável, em que a taxa de ocorrências não obedeceu a essa lógica, com

medianas de 09 anos para o tempo de serviço e 0,2500 para a taxa de ocorrências.

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137

Do ponto de vista inferencial, as variáveis contínuas idade, tempo de

serviço e taxa anual de ocorrências foram importantes para dar significado

estatístico às diferenças encontradas descritivamente entre as diversas categorias

de resposta. Assim, para a variável idade, observado o nível de significância de

10%, são consideradas diferentes no presente estudo as seguintes categorias:

- ampliada e reduzida: 0,06;

- ampliada e instável: 0,03;

- reduzida e inalterada: <0,01;

- inalterada e estável: 0,08;

- inalterada e instável: <0,01.

Para a variável tempo de serviço, observado o mesmo nível de

significância, são consideradas diferentes as seguintes categorias:

- ampliada e instável: <0,01;

- reduzida e inalterada: <0,01;

- reduzida e instável: <0,01;

- inalterada e estável: 0,07;

- inalterada e instável: <0,01;

- estável e instável: <0,01.

Já para a variável taxa anual de ocorrências, ainda observado o nível de

significância anterior, são consideradas diferentes as seguintes categorias:

- ampliada e instável: 0,01;

- reduzida e instável: 0,03;

- inalterada e estável: 0,03;

- inalterada e instável: 0,01

Observe-se que a categoria agressividade inalterada, no que diz respeito à

idade, só não apresenta diferença estatística da categoria agressividade ampliada.

Esse quadro permite afirmar que, em função da idade, é possível estimar quem

poderá apresentar, após o programa, resposta agressiva reacional inalterada, ou,

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eventualmente, ampliada. Essas mesmas diferenças são observadas nessa

categoria com relação à variável tempo de serviço.

Por seu turno, a categoria agressividade instável, no que se refere ao

tempo de serviço, apresenta diferença estatisticamente significativa de todas as

outras categorias, permitindo estimar quem, em função do tempo de serviço, poderá

apresentar após o programa resposta agressiva reacional instável.

O gráfico de boxplot do tempo de serviço para cada categoria de oscilação

de resposta (Figura 22) realça bem as diferenças relatadas. Nesse gráfico, o

primeiro quartil da categoria ampliada aparece bem acima das medianas das demais

categorias, enquanto o terceiro quartil da categoria instável aparece bem abaixo das

medianas de todas as outras categorias.

No campo das variáveis categóricas, ainda mantendo a significância em

10%, verifica-se que o nível hierárquico, com nível de significância de 0,0836, é a

única variável a influenciar a oscilação de resposta.

Observando a Figura 20, pode-se notar que, embora do ponto de vista

absoluto o nível hierárquico de soldado ou cabo tenha predominado em todas as

categorias de resposta, proporcionalmente, esse nível é o que mais reduz a resposta

agressiva e o único que a instabiliza. Já o nível hierárquico de sargento ou oficial é o

que mais a amplia e o que mais a mantém estável ou inalterada.

Associando as diferenças encontradas entre as variáveis idade, tempo de

serviço e nível hierárquico, é possível compor o perfil daqueles cujo prognóstico de

modificação da resposta agressiva reacional, após a intervenção por meio do

programa de apoio, não seja o desejado, do ponto de vista da saúde mental

individual e enquanto objetivo institucional, fato que será analisado na parte final

desta discussão.

2. Discussão do estudo clínico 1) Síntese dos resultados:

Os dados apurados permitiram a elaboração de síntese de cada caso, em

que se procurou comparar os resultados dos diversos testes, buscando a definição

de um perfil específico para cada categoria de resposta agressiva reacional,

ressalvado o fato de que, diferentemente do PMK e do Teste Palográfico, que

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utilizam a técnica expressiva, o CPS utiliza técnica inventariante, baseada no

método da auto-descrição para identificação dos principais fatores de constituição do

indivíduo. Assim, para reduzir inconsistências, o teste foi utilizado de forma

complementar e comparado apenas com as características mais conscientes

(reacionais) apresentadas pelo PMK.

a) Caso nº. 1 – Agressividade Ampliada:

Trata-se de participante do programa de apoio, com 34 anos de idade e 08

anos de serviço policial, que relata bom vínculo familiar atual, adequada adaptação

ao trabalho, inexistência de problemas de saúde ou financeiros e alguma dificuldade

no relacionamento com o grupo familiar de origem, em especial, com os irmãos.

Possui, em seu histórico, 03 ocorrências de enfrentamento armado.

A segunda aplicação do PMK, além da ampliação da hétero-agressividade

estrutural e reacional, revelou redução na intratensão reacional e manutenção da

intratensão estrutural. Revelou, ainda, emotividade intensamente reduzida no plano

estrutural.

O Teste Palográfico não apresentou dados significativos que pudessem

confirmar as tendências apresentadas no PMK, inclusive quanto à agressividade.

Deve-se salientar, contudo, o rendimento abaixo da média no trabalho e a tendência

à rigidez em qualquer atividade, apontados pelo teste.

O CPS apresentou todos os fatores de personalidade em faixas altas

(elevada/extrema) que parecem acompanhar apenas em parte as tendências

reacionais apuradas pelo PMK. Assim, a instabilidade emocional elevada e a

inconformidade social extrema acompanharam a tendência à hétero-agressividade

acentuada, mas a atividade elevada e a extroversão extrema não acompanharam o

tônus psicomotor normal e a normotensão, respectivamente.

Em síntese, a característica de reagir ao programa de apoio com

ampliação da agressividade reacional pode estar associada a uma personalidade

aparentemente bem ajustada, mas que revela, em sua estrutura, intensa dificuldade

de contato emocional com o ambiente, emotividade escassa, rendimento abaixo da

média no trabalho, com tendência à rigidez, além de instabilidade emocional e

inconformidade social no plano mais consciente. Nessa situação, o programa foi

percebido como intromissão ambiental que reavivou experiências anteriores

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(WINNICOTT, 2000) e reacendeu algum sentimento de perda decorrente de

frustração em razão das pressões do trabalho (DEJOURS, 1998), contra a qual o

sujeito reagiu com expansão de sua agressividade em direção ao ambiente

(RIVIERE, 1975; FENICHEL, 1981; FREUD, 1923).

b) Caso nº. 2 – Agressividade Reduzida:

Trata-se de participante do programa de apoio, com 30 anos de idade e 07

anos de serviço policial, que relata dificuldades afetivas em função de

relacionamento conjugal desgastado e instável. Descreve, também, problemas em

relação ao sono, irritabilidade e exagerada auto-exigência nos campos pessoal e

profissional. Considera-se bem adaptado ao trabalho e com disposição para superar

as dificuldades que vem encontrando. Possui, em seu histórico profissional, 04

ocorrências de enfrentamento armado.

O segundo PMK apresentou, além da redução da auto-agressividade

reacional, redução da intratensão estrutural e aumento da extratensão reacional.

Apresentou, ainda, emotividade escassa e inibição no plano estrutural.

O Teste Palográfico indicou rendimento normal no trabalho com ritmo

adequado. A introversão apontada pelo instrumento acompanhou a intratensão

estrutural, não havendo, contudo, sinais de agressividade.

O CPS revelou a presença de extroversão acentuada, acompanhando a

tendência à extratensão reacional do PMK. Revelou, ainda, estabilidade emocional e

inconformidade social elevadas, além de extrema falta de compulsão, fatores que,

no entanto, não foram identificados nos outros instrumentos ou na própria história

pessoal recente.

Em suma, a característica de reagir ao programa de apoio, reduzindo a

agressividade reacional, pode estar relacionada a problemas objetivos de

relacionamento, principalmente no campo familiar, e a características de

personalidade que incluem dificuldades de contato emocional, com inibição e hipo-

emotividade no plano profundo, mas com intensa necessidade desse tipo de contato

em termos mais conscientes. Nesse caso, o programa não foi percebido como

intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000) a gerar frustração por pressão do

trabalho e conseqüente resposta agressiva (DEJOURS, 1988; RIVIERE, 1975), mas

como ambiente de acolhimento cujas atividades funcionaram como válvula de

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escape para a agressividade (FREUD, 1923) que permitiu o estabelecimento de

novos vínculos de que tanto o sujeito necessitava (FREUD, 1930).

c) Caso nº. 3 – Agressividade Inalterada:

Trata-se de participante do programa de apoio, com 35 anos de idade e 16

anos de serviço policial, que relata estar bem ajustado do ponto de vista familiar,

sem problemas pessoais de ordem médica ou financeira e bem adaptado ao

trabalho, com desmotivação circunstancial em razão da freqüência ao programa.

Possui, em seu histórico profissional, 02 ocorrências de enfrentamento armado.

Os resultados do segundo PMK apresentaram, além da manutenção da

hétero-agressividade estrutural e reacional, aumento da inibição estrutural.

Revelaram, ainda, intratensão estrutural e escassa emotividade nos dois planos.

O Teste Palográfico indicou capacidade normal para o trabalho que tende

a ser sempre executado com regularidade. Não apareceram sinais indicadores de

agressividade, mas o teste revelou falta de necessidade de contato social e afetivo,

corroborando a intratensão estrutural encontrada no PMK, e ainda tendência à

combatividade e ao idealismo, até com certo grau de ambição e arrogância, além de

dificuldade no relacionamento com autoridades.

O CPS revelou falta de compulsão, inconformidade social e instabilidade

emocional em grau elevado, podendo, as duas últimas, estar relacionadas à

agressividade reacional encontrada no PMK.

Em resumo, a resistência ao programa de apoio, representada pela

manutenção da agressividade reacional elevada, não encontra sustentação na

história pessoal apresentada, mas está relacionada a uma personalidade com

dificuldades evidentes de contato emocional com o ambiente e escassa emotividade.

Também podem estar tendo influência nesse processo as características de

combatividade, idealismo e dificuldades no relacionamento com autoridades e

aspectos mais conscientes ligados à instabilidade emocional e inconformidade

social, assim como a idade e o tempo de serviço. Dessa forma, o programa foi

percebido como tentativa de intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000) que não

obteve êxito em função das defesas mais consolidadas presentes, de cunho

caracterológico (FENICHEL, 1981) ou até mesmo estruturadas em organizações

defensivas (STEINER, 1986). A qualquer dos casos, podem estar associadas

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estratégias defensivas coletivamente organizadas (DEJOURS, 1988) também

relacionadas à idade e tempo de serviço.

d) Caso nº. 4 – Agressividade Estável:

Trata-se de participante do programa de apoio, com 32 anos de idade e 04

anos de serviço policial, que relata estar bem ajustado do ponto de vista familiar,

bem adaptado ao trabalho que executa e sem problemas de ordem médica ou

financeira, apresentando, no entanto, quadro de ansiedade decorrente do

enfrentamento de que participou. Possui, em seu histórico profissional, uma única

ocorrência de enfrentamento armado.

Os resultados do segundo PMK, além da manutenção da agressividade

reacional dentro da zona de normalidade e redução da inibição estrutural, revelaram

hétero-agressividade e extratensão estrutural, além de intratensão e inibição

reacional.

O Teste Palográfico revelou capacidade para o trabalho acima da média e

adaptação adequada a qualquer atividade. Revelou, também, precaução, cautela e

formalidade nas relações interpessoais com atitudes respeitosas. Não ficaram

evidentes sinais de agressividade.

O CPS indicou atitude defensiva elevada e introversão acentuada, que

podem corroborar a intratensão reacional apresentada no PMK. Revelou, ainda,

extrema instabilidade emocional e falta de energia e elevada falta de compulsão,

não confirmadas na história pessoal ou nos outros instrumentos.

Sintetizando, a característica de reagir ao programa de apoio, mantendo a

agressividade reacional dentro da zona de normalidade, parece estar associada a

um bom ajustamento familiar e a uma adequada adaptação ao trabalho. Parece,

também, estar relacionada a uma personalidade que tem, em sua estrutura,

necessidade de contato emocional mais ativo e, ao mesmo tempo, tendência ao

formalismo e ao respeito nos relacionamentos. Por conta disso, apresenta em

termos conscientes retração desse contato, falta de expansividade afetiva e até

inibição. Assim, o programa de apoio não foi percebido como intromissão ambiental

(WINNICOTT, 2000), mas sim como ambiente que lhe deu acolhimento em razão da

ansiedade provocada pelo evento e permitiu a construção de novos vínculos

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emocionais (FREUD, 1930), apesar de suas características reacionais de

intratensão e inibição.

e) Caso nº. 5 – Agressividade Instável:

Trata-se de participante do programa de apoio, com 28 anos de idade e 02

anos de serviço policial, que relata ter bom vínculo com o grupo familiar atual, mas

que apresenta dificuldades no relacionamento com o grupo familiar de origem,

especialmente com o pai. Nega problemas de saúde ou financeiros e considera-se

bem adaptado ao trabalho que executa, apresentando, contudo, situação conflituosa

evidente com relação à figura paterna. Tem, em seu histórico profissional, uma única

ocorrência de enfrentamento armado.

Os resultados do segundo PMK, além da inversão no sentido da

agressividade, revelaram instabilidade da reação vivencial no plano reacional,

acompanhada de intratensão estrutural, além de tônus aumentado nos dois planos e

rigidez estrutural.

O Teste Palográfico indicou capacidade para o trabalho abaixo da média,

com tendência à rigidez na sua execução. Revelou, também, tendência à

extroversão. Não apareceram no teste sinais de agressividade.

O CPS revelou atitude defensiva elevada, além de falta de compulsão,

inconformidade social, falta de energia e instabilidade emocional extremas. Revelou,

ainda, elevada sensibilidade.

Em síntese, a inversão do sentido da agressividade reacional, após o

programa de apoio, pode estar relacionada a uma estrutura de personalidade

instável, que apresenta labilidade na expansão da afetividade e que precisa ser

equilibrada com reações de fechamento ao contato emocional e atitudes defensivas.

Além da idade e do tempo de serviço, esse quadro pode, também, estar associado

ao conflito identificado com a figura paterna, funcionando o programa como

representação simbólica de uma autoridade que o sujeito deseja contestar, até

porque ela já faz parte de seu mundo interno e é responsável pela rigidez de

superego, representada pela auto-agressividade inicial e pela própria rigidez

estrutural encontrada no PMK. Utilizando defesa caracterológica do tipo reativo

(FENICHEL, 1981), o sujeito transformou a auto-agressividade em hétero-

agressividade como forma de proteger o próprio self (FREUD, 1923).

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3. Discussão final

Analisando-se os resultados da modificação da resposta agressiva

reacional após o programa, verifica-se que as categorias agressividade reduzida,

com 31%, e agressividade estável, com 19%, representaram, em conjunto, 50% da

amostra, estando os outros 50% divididos entre as categorias agressividade

ampliada, com 18%, agressividade inalterada, com 16%, e agressividade instável,

também com 16%.

Esses dados, que caracterizam de forma ampla os efeitos do programa de

apoio na agressividade reacional de policiais envolvidos em ocorrências graves,

permitem concluir que, do ponto de vista exclusivo da saúde mental do policial, o

programa está apresentando resultados satisfatórios, pois mesmo aqueles que

ampliaram ou instabilizaram a agressividade sinalizaram algum grau de mudança

psíquica, dentro da linha teórica sustentada por Joseph (1992) de que a mudança

psíquica ocorre por meio de pequenos movimentos (shifts) e de que, portanto, a

ampliação ou instabilização da agressividade representam resposta inicial à

intervenção feita, mas que abrem caminho a mudanças mais consistentes, na forma

proposta por Winnicott (1984) de que, por vezes, uma única entrevista é suficiente

para alcançar certo grau de mudança psíquica, pois pode despertar o indivíduo para

a realidade de sua vida mental. A preocupação, dentro desse modelo, seria apenas

com aqueles que mantiveram a agressividade inalterada, por ser sugestiva da

existência de defesas mais cristalizadas.

Contudo, em razão do risco envolvido na atividade policial; da exigência

de atuação abrangente e multifacetária do profissional de segurança pública,

decorrente de carências sociais múltiplas; da conseqüente necessidade de utilização

de sua agressividade como força propulsora necessária para que se imponha como

representante da autoridade do Estado; e, ainda, em razão dos pressupostos

básicos de atuação da instituição policial, que são o respeito à vida, à integridade

física e à dignidade das pessoas, é fundamental que o programa também realize o

controle da agressividade individual, como forma de reduzir a possibilidade de a

agressividade presente no trabalho policial ultrapassar os limites da legalidade e se

transformar em violência, ou seja, em atos agressivos praticados com intensidade,

lesividade e destrutividade (COSTA, 1986; SÁ, 1999).

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Nessa linha, os resultados dos estudos quantitativo e qualitativo

demonstraram que é possível, através da associação das variáveis idade, tempo de

serviço e nível hierárquico, fazer o prognóstico de quais policiais permanecerão com

a agressividade inalterada ou instável após a execução do programa de apoio. As

demais variáveis, por não apresentarem diferenças estatisticamente significativas

entre as categorias de resposta, têm relativo valor preditivo.

Assim, para aqueles com idade entre 34 e 38 anos, tempo de serviço

superior a 11 anos e nível hierárquico de sargento ou oficial, perfil típico dos que

mantêm a agressividade inalterada, há necessidade de se estudar alguma forma de

intervenção alternativa, que promova a mudança psíquica necessária ao bem-estar

individual e ao controle da violência policial. O mesmo cuidado deve ser adotado

para aqueles com idade entre 25 e 30 anos, tempo de serviço de até 05 anos e nível

hierárquico de soldado ou cabo, por ser esse o perfil daqueles que apresentaram

resposta agressiva reacional instável.

Em todos os casos, é, ainda, aconselhável o aprofundamento da avaliação

inicial, com a utilização do Psicodiagnóstico Miocinético e de técnicas projetivas.

Essa avaliação aprofundada, associada às variáveis de interesse identificadas,

permitirá definir, em cada situação e com maior precisão, o modelo mais adequado

de intervenção.

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V – CONCLUSÃO

O presente trabalho teve por finalidade estudar os efeitos de programa de

apoio na agressividade reacional de policiais envolvidos em ocorrências graves, por

meio de pesquisa quantitativa e qualitativa.

Do ponto de vista quantitativo, foram estudados 77 policiais que passaram

pelo programa de apoio entre os meses julho e outubro de 2005. A caracterização

sócio-demográfica da amostra indicou que o grupo foi composto,

predominantemente, por policiais do sexo masculino, com nível de escolaridade

correspondente ao ensino médio e com nível hierárquico de soldado ou cabo.

A faixa etária foi a compreendida entre 26 e 40 anos e o tempo de serviço

variou entre 01 e 15 anos. Os locais predominantes de trabalho e residência foram a

Grande São Paulo e a Zona Leste da Capital. O número de ocorrências de

enfrentamento armado variou entre 01 e 03 para a maioria absoluta do grupo.

No tocante à agressividade reacional do grupo, aferida pelo

Psicodiagnóstico Miocinético, constatou-se que, após o programa, houve um

aumento de freqüência dentro da zona de normalidade e conseqüente diminuição no

segundo e no terceiro desvio-padrão.

Com relação à modificação da resposta agressiva reacional, os resultados

demonstraram que a resposta reduzida foi a de maior freqüência (31%), seguindo-se

a estável (19%), ampliada (18%), inalterada (16%) e instável (16%). O estudo

procurou especificar os diferentes modelos teóricos explicativos de cada uma

dessas categorias.

O perfil definido descritivamente para as cinco categorias de resposta não

diferiu significativamente e, basicamente, reproduziu aquele definido para toda a

amostra. As exceções foram as variáveis idade, tempo de serviço e taxa anual de

ocorrências que apresentaram diferenças mais expressivas. Nas categorias de

resposta inalterada e instável, as diferenças de idade e tempo de serviço foram mais

vigorosas, com idade na faixa compreendida entre 34 e 38 anos e tempo de serviço

entre 11 e 17 anos para a primeira, e idade entre 25 e 33 anos e tempo de serviço

entre 03 e 5,5 anos para a segunda.

A parte qualitativa do trabalho envolveu o estudo clínico de um sujeito por

categoria de resposta, utilizando, além do Psicodiagnóstico Miocinético, o Teste

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Palográfico, a Escala de Personalidade de Comrey e os dados levantados por meio

da ficha de cadastro e de entrevista.

Para a categoria de resposta ampliada, os resultados demonstraram, em

síntese, que a característica de reagir ao programa de apoio com ampliação da

agressividade reacional pode estar associada a uma personalidade aparentemente

bem ajustada, mas que revela, em sua estrutura, intensa dificuldade de contato

emocional com o ambiente, emotividade escassa, rendimento abaixo da média no

trabalho, com tendência à rigidez, além de instabilidade emocional e inconformidade

social no plano mais consciente.

Os resultados apurados na categoria reduzida demonstraram, em síntese,

que a característica de reagir ao programa de apoio, reduzindo a agressividade

reacional, pode estar relacionada a problemas objetivos de relacionamento,

principalmente no campo familiar, e a características de personalidade que incluem

dificuldades de contato emocional, com inibição e hipo-emotividade no plano

profundo, mas com intensa necessidade desse tipo de contato em termos mais

conscientes.

Na categoria inalterada, os resultados, em resumo, indicaram que a

resistência ao programa de apoio, representada pela manutenção da agressividade

reacional elevada, não encontra sustentação na história pessoal apresentada, mas

está relacionada a uma personalidade com dificuldades evidentes de contato

emocional com o ambiente e escassa emotividade. Também podem estar tendo

influência nesse processo as características de combatividade, idealismo e

dificuldades no relacionamento com autoridades e aspectos mais conscientes

ligados à instabilidade emocional e inconformidade social, assim como a idade e o

tempo de serviço.

Já para a resposta estável os resultados mostraram, de forma sintética,

que a característica de reagir ao programa de apoio, mantendo a agressividade

reacional dentro da zona de normalidade, parece estar associada a um bom

ajustamento familiar e a uma adequada adaptação ao trabalho. Parece, também,

estar relacionada a uma personalidade que tem, em sua estrutura, necessidade de

contato emocional mais ativo e, ao mesmo tempo, tendência ao formalismo e ao

respeito nos relacionamentos. Por conta disso, apresenta em termos conscientes

retração desse contato, falta de expansividade afetiva e até inibição.

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Finalmente, para a resposta instável, os resultados evidenciaram, em

síntese, que a inversão do sentido da agressividade reacional, após o programa de

apoio, pode estar relacionada a uma estrutura de personalidade instável, que

apresenta labilidade na expansão da afetividade e que precisa ser equilibrada com

reações de fechamento ao contato emocional e atitudes defensivas. Além da idade e

do tempo de serviço, esse quadro pode, também, estar associado ao conflito

identificado com a figura paterna, funcionando o programa como representação

simbólica de uma autoridade que o sujeito deseja contestar, até porque ela já faz

parte de seu mundo interno e é responsável pela rigidez de superego, representada

pela auto-agressividade inicial e pela própria rigidez estrutural encontrada no PMK.

Utilizando defesa caracterológica do tipo reativo, o sujeito transformou a auto-

agressividade em hétero-agressividade como forma de proteger o próprio self.

Levando em conta os resultados das duas partes do estudo e as

características do programa que objetiva não só a busca de equilíbrio emocional

individual, mas também o controle da agressividade para que ela não se transforme

em violência policial, a pesquisa demonstrou que é possível, por meio da associação

das variáveis idade, tempo de serviço e nível hierárquico, fazer o prognóstico de

quais policiais permanecerão com a agressividade inalterada ou instável após a

execução do programa de apoio.

Os dados indicaram, também, que é aconselhável o aprofundamento da

avaliação inicial, com a utilização do Psicodiagnóstico Miocinético e de técnicas

projetivas, a fim de definir com maior precisão o modelo mais adequado de

intervenção.

Para pesquisa futura, ficam registradas as seguintes sugestões de

estudo:

1. Avaliação da agressividade reacional de policiais com idade baixa e

pouco tempo de serviço e de policiais com idade mais avançada e maior tempo de

serviço, em dois tempos, com intervalo mínimo de dois meses, independentemente

de participação em confronto armado ou em programa de apoio;

2. Estudo longitudinal da agressividade reacional de policiais envolvidos

em ocorrências graves e que participaram de programa de apoio;

3. Estudo da correlação entre a agressividade medida por meio do

Psicodiagnóstico Miocinético e a agressividade apurada por intermédio do Teste

Palográfico em grupo de policiais.

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ANEXOS

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Nº S I SC NH NE TS LR LT OC TAO DPSLL-11 1 46 1 1 1 25 4 4 1 0.04 -22 1 40 3 2 1 12 4 4 1 0,08 03 1 27 2 1 1 6 6 6 6 1 04 1 35 1 3 2 17 4 4 1 0,05 -45 1 40 4 2 2 18 6 6 8 0,44 -46 1 21 2 1 1 2 6 3 1 0,5 07 1 31 2 1 1 2 7 3 1 0,5 18 1 30 1 1 1 8 6 6 4 0,5 09 1 28 4 1 1 3 6 5 1 0,33 310 1 36 1 1 2 5 4 4 1 0,2 -111 1 29 1 1 1 9 6 6 1 0,11 012 1 44 1 2 1 24 2 1 2 0,08 813 1 37 1 1 1 17 7 6 1 0,06 314 2 29 2 1 1 7 4 4 1 0,14 215 1 40 1 1 1 18 6 6 4 0,22 -516 1 44 1 1 1 23 6 6 1 0,04 417 1 35 1 1 1 15 6 6 1 0,06 018 1 28 1 1 1 5 2 3 1 0,2 -1019 1 27 4 1 1 9 6 6 6 0,66 020 1 38 1 1 1 15 4 4 7 0,46 221 1 23 4 1 1 2 6 5 1 0,5 022 1 26 2 1 2 3 6 3 1 0,33 -123 1 33 3 1 1 3 4 4 1 0,33 024 1 27 2 1 2 4 5 5 1 0,25 325 1 24 2 1 1 4 7 3 5 1,25 -626 1 36 3 2 1 16 7 5 1 0,06 027 1 26 1 1 1 5 7 6 2 0,4 228 1 29 1 1 2 8 4 1 1 0,12 029 1 30 1 1 1 9 2 4 1 0,11 130 2 30 2 1 2 9 4 4 1 0,11 -131 1 35 1 1 3 12 4 4 1 0,08 -432 1 32 1 1 2 4 2 2 1 0,25 133 1 37 1 2 1 18 6 5 2 0,11 434 1 28 1 1 1 2 6 6 1 0,5 235 1 39 4 1 3 15 6 6 2 0,13 -636 1 23 2 1 1 2 6 5 1 0,5 -437 1 23 2 1 1 3 7 2 1 0,33 038 1 27 2 1 1 3 7 5 1 0,33 -239 1 33 2 2 1 13 7 5 1 0,07 -440 1 43 4 2 1 17 4 3 1 0,05 041 1 29 2 1 1 8 3 6 1 0,12 -342 1 40 1 1 3 21 4 6 2 0,09 -143 1 34 1 1 1 8 3 3 3 0,37 -444 1 42 1 1 3 20 4 3 1 0,05 -345 1 33 1 1 3 4 6 1 2 0,5 -446 1 30 1 2 1 11 4 6 2 0,18 447 1 28 4 1 2 8 4 6 4 0,5 -448 1 27 2 1 1 5 6 6 1 0,2 649 1 24 1 1 1 1 6 3 1 1 -550 1 34 1 1 1 6 4 4 1 0,16 851 1 38 4 1 1 10 6 6 1 0,1 452 1 31 3 1 1 12 6 5 5 0,41 -653 1 32 4 1 3 7 6 6 4 0,57 054 1 33 1 1 1 12 6 6 2 0,16 055 1 46 2 2 1 24 5 5 1 0,04 256 1 31 2 1 2 4 4 2 1 0,25 357 1 31 1 2 1 11 6 6 4 0,36 158 1 32 4 1 3 13 3 1 1 0,07 059 1 31 4 1 1 7 2 1 1 0,14 260 1 30 1 1 1 9 2 2 1 0,11 -561 1 35 1 2 1 16 6 1 2 0,12 562 1 37 1 1 1 14 6 4 1 0,07 363 1 34 1 1 1 8 4 3 4 0,5 464 1 24 1 1 1 5 4 4 1 0,2 265 1 46 3 2 1 25 4 6 1 0,04 -266 1 27 2 1 1 3 6 4 1 0,33 -167 1 29 4 1 1 8 3 3 2 0,25 068 1 32 4 1 1 5 3 3 1 0,2 -369 1 41 1 1 1 20 6 6 3 0,15 -470 1 31 1 1 1 9 6 2 1 0,11 -671 1 29 3 1 1 9 6 6 4 0,44 -372 1 30 1 1 1 8 6 6 5 0,62 173 1 36 1 2 2 16 2 5 4 0,25 -374 1 38 3 1 1 18 6 6 3 0,16 375 1 34 1 1 2 6 6 6 1 0,16 -276 1 24 4 1 1 3 6 6 1 0,33 -277 1 38 1 2 2 17 3 3 1 0,05 -3

32,5974 10,16883 1,974026 0,2736846,035552 6,493727 1,638147 0,23631

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Nº DSHLL-1 DPSZZ-1 DPSCC-1 DPSPP-1 DPSUU-1 DPSLL-2 DSHLL-2 DPSZZ-2 DPSCC-2 DPSPP-2 DPSUU-21 -3 9 -4 -4 1 3 0 5 1 -3 -22 1 8 1 -1 0 -4 0 6 3 4 -33 3 1 2 1 -3 0 2 0 2 0 -14 -4 1 0 -6 -2 -1 -6 2 0 -8 15 0 -6 -6 -5 1 0 0 0 -8 -5 -16 1 0 4 -1 2 0 0 -2 4 -2 57 -4 1 3 -4 9 4 2 0 4 1 98 -1 -5 -4 2 1 -4 -1 -1 -4 -1 -39 10 7 2 -2 -2 0 4 4 -3 -7 310 0 -4 -10 99 2 -1 0 2 -6 99 311 0 7 -7 4 -2 0 0 2 -2 2 012 11 0 -3 -1 3 9 12 0 1 -1 013 6 0 3 99 0 6 4 -5 2 99 114 0 5 1 6 12 5 5 4 4 8 615 1 -6 3 0 4 8 2 0 1 0 116 0 0 4 -4 0 4 -4 -1 4 0 317 1 -4 -3 99 -3 0 -1 -2 0 99 -318 -4 -4 -4 -3 -2 -6 -2 -1 -5 -3 019 0 -3 1 0 4 0 0 -3 -3 0 020 0 3 7 3 1 6 2 7 0 3 421 0 -5 3 2 1 6 2 0 4 4 122 -1 -5 3 -3 -3 0 0 -3 7 -3 123 0 0 3 0 4 9 4 0 99 5 624 0 -4 -2 -5 -1 2 0 -5 0 -5 -225 -5 -2 -5 -1 -2 -3 0 2 -4 -6 026 0 -2 2 -3 0 -2 2 -2 -1 -2 327 4 7 -2 4 5 -2 -1 3 1 2 128 0 1 0 -1 -3 1 -4 -5 -6 -5 -129 2 8 1 0 -3 -3 0 0 0 3 030 -1 -9 0 99 0 -1 -3 -6 -6 99 031 -2 4 -7 99 -2 0 0 2 0 -3 -132 0 0 -3 3 1 3 0 0 0 -2 133 1 -2 1 99 1 0 0 -1 0 3 434 -1 -5 3 3 0 4 7 2 0 1 335 -5 -2 99 -3 1 -5 -8 -6 0 -6 -436 0 0 -3 7 -7 -6 0 4 -1 3 -237 0 -7 -11 5 -3 0 0 -3 -5 5 038 1 6 -1 3 -2 -7 0 -1 4 5 -239 -1 7 0 1 0 4 0 -2 0 -2 240 2 0 -1 -2 -2 -3 0 99 0 -4 -441 1 -2 -6 3 3 0 -2 -2 2 -3 242 0 1 0 -1 0 12 3 -2 -4 -6 243 3 0 0 4 0 7 3 0 3 3 144 -2 -4 -2 -7 -6 -4 -6 -5 -4 -6 -745 0 -3 -5 99 4 1 3 2 0 99 746 4 -3 4 -3 2 0 4 -3 3 2 547 0 0 2 2 -2 0 -2 0 -1 0 -248 5 5 5 -1 1 2 2 7 0 -3 249 -4 -4 -4 -2 -1 -2 -2 -2 -1 -2 -150 0 5 4 2 2 12 3 5 4 -3 051 0 2 5 5 1 4 4 2 4 2 252 -4 -6 -8 -5 -3 0 0 -3 -5 -3 053 -1 3 -2 2 6 0 -2 -5 2 2 354 2 2 2 4 7 3 0 0 1 0 355 1 3 0 99 6 4 0 0 -3 -2 656 -3 -1 0 -2 0 0 0 1 1 -2 057 2 3 -4 -2 -7 1 0 2 0 -2 -358 0 -3 4 2 -2 1 0 -4 5 6 159 2 2 0 99 3 1 0 1 0 3 160 -1 -4 0 -1 0 -1 4 -2 -4 3 061 0 0 -2 -2 11 11 3 2 2 2 662 4 2 6 7 3 3 2 -2 1 6 263 2 2 3 1 1 4 0 -1 0 -2 364 -4 4 -3 2 5 -1 -1 7 -5 -1 065 -1 -3 -1 -1 2 -6 0 -3 3 -4 166 0 0 -4 -3 2 -6 0 4 2 2 067 2 2 3 3 0 -3 1 6 4 4 -268 0 5 0 2 -2 0 0 0 2 -2 -469 1 -5 0 -4 0 0 4 -2 8 1 170 -2 6 -5 2 -2 -4 -4 2 2 -2 -271 1 -1 -2 1 4 4 0 -1 0 -1 172 3 5 -1 4 -6 1 0 5 0 2 -573 0 -3 2 99 3 3 0 0 -4 -2 -374 0 5 3 1 0 2 0 7 3 2 175 -5 1 4 -1 -3 4 0 0 -4 4 -176 -1 -3 1 99 4 -2 0 -3 1 99 -277 8 8 0 1 -3 -3 6 6 0 1 -3

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Nº FR-1 IR-1 SR-1 FR-2 IR-2 SR-2 OSC1 1 5 1 1 1 1 22 1 1 1 1 1 1 33 0 0 0 0 0 0 44 1 1 2 1 1 2 35 2 1 2 1 1 2 26 0 0 0 1 1 1 17 1 5 1 1 5 1 38 1 1 2 0 0 0 29 1 3 1 1 1 2 510 1 5 2 1 1 1 511 1 1 1 0 0 0 212 1 3 1 1 5 1 113 1 1 1 1 1 1 314 2 2 1 2 1 1 215 1 1 2 1 1 1 516 0 0 0 0 0 0 417 0 0 0 0 0 0 418 1 5 2 1 1 2 219 0 0 0 0 0 0 420 1 1 1 1 1 1 321 1 1 2 1 1 1 522 1 1 2 1 1 1 523 0 0 0 2 4 1 124 1 1 2 1 1 2 325 2 1 2 1 1 2 226 0 0 0 0 0 0 427 1 1 1 0 0 0 228 0 0 0 2 1 2 129 1 1 1 0 0 0 230 1 5 2 1 1 2 231 1 1 2 0 0 0 232 0 0 0 0 0 0 433 0 0 0 0 0 0 434 1 1 2 1 1 1 535 1 1 2 2 2 2 136 1 1 3 1 1 2 537 2 2 5 1 1 3 238 1 1 1 1 1 3 539 1 1 1 0 0 0 240 0 0 0 0 0 0 441 1 1 2 0 0 0 242 0 0 0 1 3 3 143 0 0 0 1 1 1 144 1 1 2 2 1 2 145 1 1 2 1 1 1 546 0 0 0 1 1 1 147 0 0 0 0 0 0 448 2 1 1 1 1 1 249 1 1 2 0 0 0 250 1 1 1 1 3 1 151 1 1 1 0 0 0 252 2 1 2 1 1 2 253 1 1 1 1 1 2 554 1 1 2 0 0 0 255 1 1 1 1 1 1 356 0 0 0 0 0 0 457 1 1 2 0 0 0 258 0 0 0 1 1 1 159 0 0 0 0 0 0 460 1 1 2 0 0 0 261 1 3 1 1 3 1 362 1 1 1 1 1 1 363 0 0 0 0 0 0 464 1 1 1 1 1 3 565 0 0 0 1 1 2 166 0 0 0 1 1 2 167 0 0 0 1 1 1 168 1 1 1 0 0 0 269 1 1 2 1 1 1 570 2 1 5 0 0 0 271 0 0 0 0 0 0 472 1 1 3 1 1 3 373 0 0 0 0 0 0 474 1 1 1 1 1 1 375 1 1 2 0 0 0 276 0 0 0 0 0 0 477 1 1 1 1 1 1 3

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CASO 1: AGRESSIVIDADE AMPLIADA

DADOS DO 1º. PMK

AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US

M.D -4 3 0 0 4 0

M.N.D 1 0 -1 3 0 -1

R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US

M.D -6 2 -5 1 1 1 -2 0 0

M.N.D -5 -8 2 -2 0 -2 -5 -11 -4

TÔNUS LLV CI EE CC UV

M.D 3 2 -2 0 3

M.N.D 0 -5 0 0 2

EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV

M.D -2 -2 -3 0 -2

M.N.D 0 0 -2 0 -9

EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP

M.D -2 -2 -2 -3 -1 -2 -3 -2 -3

M.N.D -2 -5 -7 -6 -6 -5 -9 -7 -7

IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP

M.D 0 0 -1 0

M.N.D 0 -6 -2 -5

DADOS DO 2º. PMK

AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US

M.D 7 3 0 3 3 1

M.N.D 0 -2 0 5 5 1

R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US

M.D 3 -4 1 -3 0 -3 -3 -3 -1

M.N.D -3 -6 -1 -2 -1 -1 -1 -7 -3

TÔNUS LLV CI EE CC UV

M.D 2 0 3 -2 1

M.N.D 5 -1 -2 3 2

EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV

M.D 0 0 0 -1 -2

M.N.D 0 -2 -6 0 -12

EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP

M.D -3 0 5 5 2 -1 -1 0 -3

M.N.D -5 -2 -3 0 -3 -1 -2 -4 -5

IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP

M.D -3 1 -2 1

M.N.D -3 -4 0 1

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CASO 2: AGRESSIVIDADE REDUZIDA

DADOS DO 1º. PMK

AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US

M.D. 0 -1 -5 -4 2 1

M.N.D. -1 0 -6 -4 1 0

R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US

M.D 4 4 -5 -4 6 -1 9 2 6

M.N.D. 4 0 3 -1 3 3 -4 -4 -3

TÔNUS LLV CI EE CC UV

M.D 2 0 -2 0 1

M.N.D 5 1 3 4 3

EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV

M.D 3 2 -4 -1 -4

M.N.D 3 1 0 2 -4

EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP

M.D 0 0 -5 -1 -4 1 3 1 0

M.N.D 5 -4 -7 -4 -4 3 -1 2 0

IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP

M.D. -1 -3 2 5

M.N.D 0 -5 -3 -1

DADOS DO 2º PMK

AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US

M.D -4 -1 -1 -4 -1 -3

M.N.D -1 -1 -1 -6 -3 -2

R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US

M.D 0 0 0 -2 3 -3 3 -2 5

M.N.D -2 -1 -3 -3 2 -1 -10 0 -2

TÔNUS LLV CI EE CC UV

M.D 3 -1 5 2 0

M.N.D 2 4 3 4 1

EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV

M.D 0 -1 0 -2 0

M.N.D -4 -2 -2 -8 -2

EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP

M.D 0 0 -2 0 0 -1 -4 -1 -3

M.N.D 0 -8 -6 -2 -4 1 -1 1 -2

IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP

M.D 0 -2 -1 -4

M.N.D -8 -6 -1 2

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CASO 3: AGRESSIVIDADE INALTERADA

DADOS DO 1º. PMK

AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US

M.D. 5 0 0 -2 -2 11

M.N.D 6 -2 -1 -2 -3 2

R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US

M.D -1 0 3 4 1 -1 1 -4 -4

M.N.D 4 -2 4 0 -11 -6 -4 -7 -3

TÔNUS LLV CI EE CC UV

M.D 3 1 99 -3 4

M.N.D 3 -1 -3 0 -2

EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV

M.D -4 -2 -2 0 -3

M.N.D -11 -4 -2 -4 -2

EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP

M.D 0 -1 1 1 1 -1 -1 -1 -2

M.N.D 0 3 0 1 -1 -2 0 0 0

IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP

M.D -1 -3 0 0

M.N.D -3 0 -4 -2

DADOS DO 2º. PMK

AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US

M.D 11 3 -2 2 2 6

M.N.D 2 5 -2 -2 -3 3

R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US

M.D 2 0 3 3 -2 -1 -1 -2 3

M.N.D -1 -4 -2 -2 -7 -4 -1 0 0

TÔNUS LLV CI EE CC UV

M.D 1 3 99 4 -1

M.N.D 0 4 -5 0 0

EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV

M.D -2 -3 -1 2 -3

M.N.D -5 -1 0 -2 -6

EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP

M.D 0 -2 0 0 0 -1 0 0 -1

M.N.D 3 -6 0 -5 0 -1 -2 1 0

IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP

M.D -3 0 -1 0

M.N.D -4 -1 -3 -3

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CASO 4: AGRESSIVIDADE ESTÁVEL

DADOS DO 1º. PMK

AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US

M.D 1 0 0 -3 3 1

M.N.D 0 6 -1 -1 -3 3

R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US

M.D 0 0 4 -4 0 0 -2 0 -2

M.N.D 3 8 3 -2 6 2 -2 -1 -4

TÔNUS LLV CI EE CC UV

M.D -1 2 -2 -3 4

M.N.D 2 0 -1 -2 2

EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV

M.D. -2 0 0 -2 0

M.N.D -4 -3 -1 -3 -4

EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP

M.D. -2 -3 -5 -3 -4 0 -6 -4 -6

M.N.D -4 -4 -2 -4 -6 -4 -3 -3 -5

IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP

M.D -1 -4 3 -3

M.N.D -2 -6 -2 -1

DADOS DO 2º. PMK

AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US

M.D 3 0 0 0 -2 1

M.N.D 0 2 -1 2 2 5

R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US

M.D 0 0 -2 -2 2 -3 -2 -5 -2

M.N.D 3 5 0 2 4 -1 0 0 -1

TÔNUS LLV CI EE CC UV

M.D 3 0 -3 -2 4

M.N.D 2 3 1 0 6

EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV

M.D 0 0 -2 -1 -1

M.N.D 0 -2 -3 -1 -3

EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP

M.D -2 -3 -4 -4 -2 -1 -2 1 -5

M.N.D 0 -3 -4 -2 -3 -1 -3 1 -3

IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP

M.D 0 -3 -3 -2

M.N.D -3 -4 -3 0

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CASO 5: AGRESSIVIDADE INSTÁVEL

DADOS DO 1º. PMK

AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US

M.D -1 2 -5 3 3 0

M.N.D 4 2 -3 2 2 3

R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US

M.D 2 -1 1 5 0 0 -6 -4 0

M.N.D -2 -3 -5 1 3 5 -3 4 -3

TÔNUS LLV CI EE CC UV

M.D 3 2 0 0 0

M.N.D 6 7 0 2 7

EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV

M.D -4 -3 -2 -3 0

M.N.D -4 -3 -2 -2 0

EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP

M.D -2 -3 0 -1 1 -1 -1 -2 -6

M.N.D -2 0 2 0 0 0 -2 -2 -3

IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP

M.D -2 1 0 4

M.N.D -2 4 1 0

DADOS DO 2º. PMK

AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US

M.D. 4 7 2 0 1 3

M.N.D 3 2 -2 4 5 6

R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US

M.D 7 2 3 2 -4 0 0 -5 0

M.N.D 5 1 0 2 3 2 -1 0 8

TÔNUS LLV CI EE CC UV

M.D 1 1 3 3 3

M.N.D 5 5 0 6 5

EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV

M.D -2 -1 -2 -1 0

M.N.D -4 -4 0 -3 -4

EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP

M.D -5 -1 2 -1 3 0 0 4 -3

M.N.D 0 2 0 1 0 -1 -2 0 -1

IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP

M.D 0 1 -5 3

M.N.D 1 0 -2 -4

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168

ANEXO F – Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO, aceito participar, de forma voluntária, de pesquisa a ser realizada

sobre “A Eficácia de Programa de Apoio na Redução da Agressividade Reacional de

Policiais Envolvidos em Ocorrências Graves”, nas condições abaixo estabelecidas:

1. O pesquisador responsável é ROBERTO ALLEGRETTI, RG

4.524.645 – SSP - SP, da UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO – UMESP.

2. A presente pesquisa tem por objetivos: a) estudar a eficácia de

programa de apoio na redução da agressividade reacional de policiais envolvidos em

ocorrências graves; b) estudar, qualitativamente, casos em que agressividade

reacional não foi reduzida, após o programa de apoio, ou mesmo tenha aumentado; c)

definir o perfil do profissional que apresenta a agressividade reacional aumentada,

após um evento crítico; d) descrever o funcionamento do programa de apoio.

3. O tema escolhido justifica-se pela relevância social de questões

ligadas à violência, criminalidade e trabalho policial e pela importância do bem estar

físico e mental do profissional de segurança pública.

4. O procedimento a ser observado na pesquisa será o seguinte: o

policial indicado a freqüentar o programa de apoio, após a participação em algum

evento crítico, será submetido a um instrumento denominado “Psicodiagnóstico

Miocinético” (PMK) de Emílio Mira Y Lopez, para aferição de sua agressividade

reacional. Após a participação no programa, o policial será novamente avaliado, por

intermédio do mesmo instrumento, comparando-se os resultados. Os resultados das

duas avaliações serão comunicados aos interessados com as devidas explicações e

orientações. Após, os policiais participantes serão divididos em três grupos – os que

tiveram a agressividade reacional reduzida; os que permaneceram no mesmo nível; e

os que tiveram a agressividade reacional aumentada. Serão convidados dois policiais

de cada grupo para aprofundamento da pesquisa, por meio de entrevistas individuais.

As conclusões dessas entrevistas também serão comunicadas aos interessados.

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169

5. Não há riscos de qualquer espécie e o desconforto será mínimo –

submissão ao PMK e, para alguns, à algumas entrevistas. Já os benefícios serão

claros, pois permitirá avaliar os resultados do programa e, eventualmente, propor o

seu aprimoramento como forma de preservar a saúde física e mental dos policiais.

6. Durante a execução da pesquisa, os participantes receberão os

esclarecimentos sobre a metodologia e a assistência necessária, em função de

qualquer intercorrência. Há métodos alternativos para alcançar os mesmos resultados

da presente pesquisa (acompanhamento do trabalho, após o programa de apoio, por

exemplo), mas todos mais onerosos do que o proposto.

7. Fica assegurada a liberdade de o convidado se recusar a participar

ou, estando participando, retirar o seu consentimento em qualquer fase da pesquisa,

sem qualquer tipo de penalização ou prejuízo.

8. O participante autoriza o pesquisador a publicar os resultados da

pesquisa com a garantia do sigilo que assegure a sua privacidade quanto aos dados

confidenciais levantados.

9. Não existirá ressarcimento de qualquer espécie, por não haver

despesas decorrentes da participação na pesquisa.

10. Caso haja dano de qualquer espécie, especialmente moral, fica

assegurada ao participante a possibilidade de acionamento judicial, para a devida

indenização.

E, por concordar com o conteúdo, assino o presente termo, em duas

vias de igual teor para um mesmo efeito.

São Paulo,

Nome e Assinatura do Participante