vida do padre jose de achieta

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VIDA DO PADRE JOSÉ DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU CONTEMPORÂNEO:Index. VIDA DO PADRE JOSÉ DE ANCHIETA ESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU CONTEMPORÂNEO Índice Geral  LIVRO PRIMEIRO. DA VIDA DO PADRE JOSÉ  DE ANCHIETA, DA COMPANHIA DE JESUS,  QUINTO PROVINCIAL QUE FOI DA MESMACOMPANHIA NO ESTADO DO BRASIL  LIVRO SEGUNDO. DAS VIRTUDES DO PADRE JOSÉ DE ANCHIETA  LIVRO TERCEIRO. DO ESPÍRITO DE PROFECIA QUE PARECE QUE TEVE O PADRE JOSÉ DE ANCHIETA  LIVRO QUARTO. DOS MILAGRES QUE DEUS OBROU PELO PADRE JOSÉ DE ANCHIETA file:///D|/Document a%20Chatolica%20Om nia/99%20-%20Provvisori/mbs%20Library/001%20-Da %20Fare/01/0-ANCH.htm2006-06-01 13:23:00

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    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU CONTEMPORNEO:Index.

    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETA

    ESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU CONTEMPORNEO

    ndice Geral

    LIVRO PRIMEIRO. DA VIDA DO PADRE JOSDE ANCHIETA, DA COMPANHIA DE JESUS,QUINTO PROVINCIAL QUE FOI DAMESMACOMPANHIA NO ESTADO DOBRASIL

    LIVRO SEGUNDO. DAS VIRTUDES DOPADRE JOS DE ANCHIETA

    LIVRO TERCEIRO. DO ESPRITO DEPROFECIA QUE PARECE QUE TEVE OPADRE JOS DE ANCHIETA

    LIVRO QUARTO. DOS MILAGRES QUE DEUSOBROU PELO PADRE JOS DE ANCHIETA

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    ANCH: LIVRO PRIMEIRODA VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETA, ... QUE FOI DA MESMACOMPANHIA NO ESTADO DO BRASIL, Index.

    LIVRO PRIMEIRODA VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETA, DA COMPANHIA

    DE JESUS, QUINTO PROVINCIAL QUE FOI DA MESMACOMPANHIA NO ESTADO DO BRASIL

    ndice

    CARTA DO PADRE PROVINCIAL FERNO CARDIM,PARA O NOSSO REVERENDO PADRE GERALCLUDIO ACQUAVIVA.

    CARTA DO PADRE PERO RODRIGUES

    PARECER DE MATEUS ABORIM

    CAPTULO PRIMEIRO. DAS CAPITANIAS DA BAHIAE PERNAMBUCO

    CAPTULO SEGUNDO. DAS CAPITANIAS DOS

    ILHUS, PORTO SEGURO, ESPRITO SANTO ESO VICENTE

    CAPTULO TERCEIRO. DAS PRIMEIRAS MISSESQUE SE FIZERAM DE PESSOAS DA COMPANHIA,AO ESTADO DO BRASIL

    CAPTULO QUATRO. DA ENTRADA DO PADREJOS NA COMPANHIA E VINDA AO BRASIL

    CAPTULO QUINTO. COMO LEU LATIM E FEZ AARTE DA LNGUA BRASLICA E A DOSMAROMOMIS

    CAPTULO SEXTO. DA FORTALEZA DOSFRANCESES NO RIO DE JANEIRO E GUERRA DO

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...visori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/01/1-ANCH0.htm (1 of 3)2006-06-01 13:23:0

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    ANCH: LIVRO PRIMEIRODA VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETA, ... QUE FOI DA MESMACOMPANHIA NO ESTADO DO BRASIL, Index.

    GENTIO TAMOIO, CONTRA OS PORTUGUESES NACAPITANIA DE SO VICENTE

    CAPTULO STIMO. VAI O PADRE MANUEL DANBREGA COM O IRMO JOS A FAZER ASPAZES COM OS CONTRRIOS

    CAPTULO OITAVO. DE COMO O PADRE MANUELDA NBREGA DEIXA S EM REFNS AO IRMOJOS, E SE CONCLUEM AS PAZES

    CAPTULO NONO. COMPE O PADRE JOS AVIDA DE NOSSA SENHORA EM VERSO E OUTRASOBRAS

    CAPTULO DCIMO. DA VINDA DO TERCEIROGOVERNADOR GERAL MEM DE S BAHIA, E DATOMADA DA FORTALEZA QUE OS FRANCESESTINHAM NO RIO DE JANEIRO

    CAPTULO DCIMO PRIMEIRO. CONQUISTA DORIO DE JANEIRO PELO CAPITO-MOR ESTCIODE S, E DEPOIS PELO MESMO GOVERNADORMEM DE S

    CAPTULO DCIMO SEGUNDO. DO NDIOCHAMADO MARTIM AFONSO, E DA TOMADA DANAU FRANCESA NO CABO FRIO

    CAPTULO DCIMO TERCEIRO. DA IDA DO PADREJOS AO SERTO E NAUFRGIO EM UM RIO

    CAPTULO DCIMO QUARTO. COMO FOI FEITOPROVINCIAL

    CAPTULO DCIMO QUINTO. DA MORTE ESEPULTURA DO PADRE JOS

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    ANCH: LIVRO SEGUNDODas virtudes do Padre Jos de Anchieta, Index.

    LIVRO SEGUNDODas virtudes do Padre Jos de Anchieta

    ndice

    CAPTULO PRIMEIRO. DE SUA ORAO EDEVOO

    CAPTULO SEGUNDO. DE SUA MORTIFICAO,POBREZA, CASTIDADE, OBEDINCIA

    CAPTULO TERCEIRO. DE SUA MANSIDO,PACINCIA E HUMILDADE

    CAPTULO QUARTO. DE SUA CARIDADE COM OSPRXIMOS EM COISAS TEMPORAIS

    CAPTULO QUINTO. DA CARIDADE COM OSPRXIMOS, E BEM ESPIRITUAL DELES

    CAPTULO SEXTO. DO ZELO DA CONVERSO DOGENTIO DO BRASIL E DO VELHO ADO

    CAPTULO STIMO. DE OUTROS DOIS CASOSQUE NA PRAIA DE NOSSA SENHORAACONTECERAM

    CAPTULO OITAVO. DO RESPEITO QUE TINHAMAO PADRE PESSOAS DE AUTORIDADE

    CAPTULO NONO. DAS OCUPAES DOSPADRES DA COMPANHIA QUE RESIDEM COM OSNDIOS EM SUAS ALDEIAS

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    ANCH: LIVRO SEGUNDODas virtudes do Padre Jos de Anchieta, Index.

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    ANCH: LIVRO TERCEIRODo esprito de profecia que parece que teve oPadre Jos de Anchieta, Index.

    LIVRO TERCEIRODo esprito de profecia que parece que teve o

    Padre Jos de Anchieta

    ndice

    CAPTULO PRIMEIRO. DE COISAS QUESUCEDERAM LONGE DONDE O PADRE JOSESTAVA

    CAPTULO SEGUNDO. PROSSEGUE A MESMA

    MATRIA COM OUTROS EXEMPLOS UMA FACAPERDIDA

    CAPTULO TERCEIRO. DOUTROS EXEMPLOS EMMATRIA DE PESCARIA E CHUVA

    CAPTULO QUARTO. DE OUTROSMARAVILHOSOS EXEMPLOS.

    CAPTULO QUINTO. DE PROFECIAS DE COISASQUE ESTAVAM POR VIR

    CAPTULO SEXTO. PROSSEGUE A MESMAMATRIA COM OUTROS EXEMPLOS RAROS

    CAPTULO STIMO. DO QUE PASSOU COM UMPEDREIRO DESTE COLGIO. PROFETIZA A JOOFERNANDES QUE H DE SER RELIGIOSO

    CAPTULO OITAVO. DIZ MISSA POR DOISDEFUNTOS NOS MESMOS DIAS EM QUEFALECERAM, MUI LONGE DE ONDE ELE ESTAVA

    CAPTULO NONO. PARECE QUE CONHECIA OS

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    ANCH: LIVRO TERCEIRODo esprito de profecia que parece que teve oPadre Jos de Anchieta, Index.

    PENSAMENTOS DAQUELES COM QUEMTRATAVA. PROFECIAS

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    ANCH: LIVRO QUARTODos milagres que Deus obrou pelo Padre Jos de Anchieta, Index.

    LIVRO QUARTODos milagres que Deus obrou pelo Padre Jos de Anchieta

    ndice

    CAPTULO PRIMEIRO. DE COISASMARAVILHOSAS TOCANTES SUA PESSOA

    CAPTULO SEGUNDO. DE MILAGRES SOBREENFERMOS

    CAPTULO TERCEIRO. EM QUE SE PROSSEGUE AMESMA MATRIA

    CAPTULO QUARTO. DO BARRIL DE AZEITE E DEDUAS TEMPESTADES

    CAPTULO QUINTO. DA GUA CONVERTIDA EMVINHO E DO NDIO RESSUSCITADO

    CAPTULO SEXTO. ALCANA AO PADREFRANCISCO PINTO SBITA SADE, E LHEPROFETIZA MORTE VIOLENTA POR MARTRIO

    CAPTULO STIMO. DE COMO OBEDECEM ASAVES AO PADRE JOS

    CAPTULO OITAVO. OBEDECEM AO PADRE JOSAS ONAS, BUGIOS E VBORAS, E DO CASORARO DA MAR

    CAPTULO NONO. DO RESPLENDOR E MSICADO CU

    DOS GOVERNADORES GERAIS DO ESTADO DO

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    ANCH: LIVRO QUARTODos milagres que Deus obrou pelo Padre Jos de Anchieta, Index.

    BRASIL

    PROVINCIAIS DA PROVNCIA DO BRASIL

    VISITADORES GERAIS DESTA PROVNCIA

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    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU: L.0, C.1.

    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETA

    Escrita por Pero Rodrigues, seu contemporneo

    LIVRO PRIMEIRO

    Da vida do Padre Jos de Anchieta, da Companhia deJesus, Quinto Provincial que foi da mesma

    Companhia no Estado do Brasil

    CARTA DO PADRE PROVINCIAL FERNO CARDIM, PARA O NOSSOREVERENDO PADRE GERAL CLUDIO ACQUAVIVA.

    Pax Christi.

    No ano de mil quinhentos e noventa e oito, fui eleito naCongregao Provincial para ir tratar com V. P. coisas deimportncia, para bem desta provncia do Brasil, e entre outrospapis levei um da vida do Padre Jos de Anchieta, cujusmemria in benedictiones est, escrita pelo Padre Quircio Caxaconforme as informaes muito certas, que o Padre Pero

    Rodrigues sendo provincial, lhe deu por escrito, de padresnossos que com o Padre Jos trataram, em diversas casasdesta costa..

    Foi lida nos Colgios de Portugal, em Roma e outras partes comadmirao dos nossos, e causou novos desejos de perfeioouvirem to raros exemplos de virtude. Vendo eu isto fizmeno, por carta ao mesmo padre, que tornando SuaReverncia a visitar visse se se podiam aquelas coisas do PadreJos confirmar mais e autorizar com testemunhos autnticos,de pessoas de fora da Companhia, (ainda que os dos nossospadres e irmos no so menos certos), porque tornando-se aescrever a mesma vida, teria mais autoridade e causaria nosnimos dos que a ouvissem maior devoo.

    Pareceu ao padre o conselho, e quando tornei de Europa, acheiem sua mo cinco feitos de testemunhos autnticos, tirados

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    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU: L.0, C.1.

    juridicamente pelo prelado administrador do Rio de Janeiro, evigrios do seu distrito, todos de pessoas antigas e graves, queconheceram e trataram muitos anos com o Padre Jos, assim naCidade de So Sebastio do Rio de Janeiro, como em quatroCapitanias em que o padre mais residiu.

    Aos quais testemunhos ajuntando os dos nossos religiosos,

    autnticos tambm, e jurados diante de mim, com testemunhospresentes, entreguei ao mesmo Padre Pero Rodrigues, pedindo-lhe aceitasse o trabalho de escrever esta vida, conforme aospapis e informaes sobreditas. Aceitou o padre a empresa, eacabou com muita diligncia. Os originais autnticos, fizguardar no cartrio da Provncia.

    Com esta vai uma cpia para consolao de V. P. e de todanossa Companhia. Resta-me pedir ser encomendado nos

    Santos Sacrifcios, e a bno de V. P.

    Da Bahia oito de maio de seiscentos e seis.

    FERNO CARDIM

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    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU: L.0, C.2.

    CARTA DO PADRE PERO RODRIGUES

    Aos padres e irmos da Companhia de Jesus.

    Aceitei, com particular gosto, a ocupao de escrever a santavida e obras maravilhosas do Padre Jos de Anchieta, da nossaCompanhia, e dos primeiros que nesta Provncia do Brasiltrabalharam, mais pelas livras da injria do tempo, que oesquecimento, que no por me parecer que o podia fazer comsatisfao que elas merecem, por ser vida e obras de um varoilustre em virtudes, e privilegiado com graas de Deus NossoSenhor mui singulares, para cujos dignos louvores no capazmeu talento.

    Porm confio de Sua Divina Bondade, fonte de todo o bem, queser esta relao a toda a pessoa mui aceita, em especial aosnossos, por cujo respeito tomei este trabalho (se algum tive emordenar o que escrevo), porque vero aqui, no s pintado, masquase posto em obras, o instituto e esprito de nossa santaReligio, e, entre todos, os padres e irmos desta provnciaenxergaro as virtudes em que mais se esmeravam os antigosdela, aos quais temos particular obrigao de imitar, pois elestanto sua custa nos facilitaram os trabalhos, e abriram ocaminho, e mostraram o perigo de que nos havemos de guardar.

    Outra razo tive para tomar esta empresa com gosto particular,da qual eu s posso dar testemunho, que esta. Esse tempoque alcancei em vida este servo de Deus, no deram asocupaes de ambos, lugar para tratar mais familiarmente, nemalcanar muito de suas hericas virtudes, em especial por ele assaber mui bem encobrir, com o vu da humildade e santadissimulao. Porm, depois de sua morte, observei, dentro demim, que todas as vezes que falava e ouvia falar em suascoisas, saa da pratica outro, com novo amor virtude e desejoda perfeio, e os com que eu falava, creio levariam os mesmose maiores.

    Daqui comecei a ter mor conceito de suas virtudes, pois s comse falar delas parece que se pegavam na alma com amor eafeio, pelo que, quando o Rev. Padre Provincial FernoCardim me encarregou esta obra, a aceitei com particular

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    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU: L.0, C.2.

    devoo, com esperana em Deus Nosso Senhor, e naintercesso deste Santo, que sairia com ela para a glria domesmo Deus e de seu servo, e proveito especial de muitos.

    E pois sua santa vida foi tal, que ps em admirao a pessoasgraves seculares, e o que mais , aos mesmos ndios de tantomenos capacidade, tenho por certo que far maior impresso,

    naqueles que, por razo de seu estado, sabem pesas e estimar oser e valia das virtudes religiosas. E a ns os desta Provnciadar motivos para tambm seguirmos o caminho que nosdeixou aberto, do zelo da salvao do Genito destas partes, esteApstolo do Brasil, como lhe chamou, pregando em suasexquias, o Administrador Bartolomeu Simes Pereira, preladodo Rio de Janeiro, derramado muitas lgrimas volta deste e demuitos outros louvores.

    de confiar que o mesmo Deus que assim se comunicou a estesanto varo o faz e far a outros, para que, tambm desta partedo mundo saiam, e sejam conhecidos, vares ilustres noservio de Deus e converso da gentilidade, para a glria domesmo senhor.

    PERO RODRIGUES

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    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU: L.0, C.3.

    PARECER DE MATEUS ABORIM

    Mateus da Costa Aborim, Administrador da cidade de SoSebastio do Rio de Janeiro e das Capitanias da banda do Sul,certifico que, procurando eu ver a vida do Padre Jos deAnchieta, da Companhia de Jesus, composta pelo mui Rev.Padre Pero Rodrigues, da mesma Companhia, a li com muitaconsolao de minha alma, e achei mui conforme grande famae opinio de santidade, que em toda esta Provncia tem o ditoPadre Jos de Anchieta, de quem cada vou descobrindo novosexemplos de virtude e milagres, por testemunhos que de novovou tirando, com que consolo o grande sentimento que tenho,por no haver tratado em vida varo to santo.

    Do Rio de Janeiro, dez de maio de seiscentos e oito anos.

    MATEUS DA COSTA ABORIM

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    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU: L.0, C.4.

    CAPTULO PRIMEIRO. DAS CAPITANIAS DA BAHIA EPERNAMBUCO

    Os que escreveram vidas de vares santos, na Europa, tm portrabalho escusado, declarar a antigidade das provncias, e decomo foram povoadas as vilas e cidades que os Santosilustraram, com obras e exemplos de suas hericas virtudes,por ser coisa sabida e a todos manifesta. Porm, este trabalhoparece que no posso eu agora escusar, pois a provncia doBrasil nova e pouco conhecida, e somente de cem anos a estaparte descoberta, e suas cidades e vilas muitos anos depois secomearam a conquistar, e povoar, em especial aquelas em queo Padre Jos de Anchieta semeou os vivos exemplos de suasraras virtudes. Pelo que comearemos a tratar como forampovoadas as capitanias desta costa, apontando juntamente oestado em que de presente hoje esto, neste ano de seiscentose cinco, em que esta Vida se escreve.

    DA BAHIA DE TODOS OS SANTOS

    No ano de mil e quinhentos, reinando em Portugal El-Rei DomManoel de gloriosa memria, foi descoberta esta provncia doBrasil, por Pedro lvares Cabral, segundo governador da ndia,na viagem que ia fazendo por esta banda por fugir das calmariasde Guin.

    Dali a muitos anos El-Rei Dom Joo, o terceiro, mandou aMartim Afonso de Sousa, que viesse a demarcar e repartir emcapitanias, dando a cada uma cinqenta lguas por costa. E fezmerc desta da Bahia, a Francisco Pereira Coutinho, que apovoou no ano de mil quinhentos e trinta e cinco. E viveu nelaalgum tempo; mas, por sua morte, vendo o dito Senhor dequanta importncia podia vir a ser, satisfazendo aos herdeirosde Francisco Pereira, a mandou povoar e sustentar em seunome. E para isso, no ano de mil quinhentos e quarenta e nove,enviou o primeiro Governador Geral Tom de Sousa. Est aaltura de trs graus da linha para o sul, cem lguas dePernambuco, e duzentas do Rio de Janeiro. uma das maiores,mais formosas, e mais acomodadas para a vida humana, dequantas baas h no descoberto. Tem coisa de trinta lguas deroda, com obra de vinte ilhas, quase todas povoadas de

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    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU: L.0, C.4.

    fazendas. Tem mais de quarenta engenhos de acar, uns quefazem com gua como azenhas, outros com bois, a que chamamtrapiches. Entram nela dois rios caudais, e outros menores; aterra firme que a cerca est cortada com vrios braos eesteiros, muito acomodados para a serventia das fazendas, emantimento do marisco e pescarias.

    CIDADE DO SALVADOR

    A cidade, chamado do Salvador, est situada em uma lombada,que fica senhoreando a baa, cercada com quatro fortes; o portopor baixo dela, capaz de toda a sorte de navios. Esta a cabeado Estado, aonde residem os governadores gerais, os bispos, ocabido, com os Ministros da Justia, Fazenda e Milcia.

    Tem mais outros quatro fortes, no de menos importncia, que

    so quatro mosteiros de religiosos, de santa vida, letras eexemplo: S. Bento, Nossa S. do Carmo, S. Francisco, e oColgio da Companhia de Jesus, fundado por El-Rei DomSebastio, com dote para sessenta religiosos, no qual hestudos pblicos das faculdades que os padres costumamensinar, que so ler, escrever, contar, lies de humanidade,cursos em se graduam em mestres em artes, e teologia moral eespeculativa, donde saem muitos bons filsofos, casustas epregadores.

    BALEIAS

    Entram nesta baa do ms de julho em diante, e andam nela emmagotes, muita soma de baleias, grandes e pequenas, at o msde outubro, e do com sua vista muita recreao cidade,mantendo-se s vezes por entre os navios, e volteando ascrianas diante das mes, quando alguns arpoadores, em batisligeiros e bem equipados, se aventuram a comet-las, os quais,

    pregando-lhes os arpes e matando-as, as desfazem em azeite,montaria algum tanto perigosa, mas muito rendosa.

    MBAR

    Pelas praias desta capitania, assim para a banda do Norte comodo Sul se acham pedaos de mbar, s vezes grande quantidadejunta, do qual tem mostrado a experincia no ser outra coisa

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    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU: L.0, C.4.

    seno uma massa lquida, que vai pouco a pouco endurecendoe fazendo-se parda, tirando mais para preto. Gera-se dentro domar, pegando nos recifes, donde com as tormentas os vaiarrancando e vindo acima dgua; o que escapa dos peixes eaves marinhas, vem com a mar praia; ainda ali oscaranguejos, e outros bichos, se o topam, lhe no perdoam; eenfim no que se acha se faz mui bom dinheiro.

    Teve esta capitania antigamente muito gentio, mas consumiu-secom guerras, doenas gerais e mau tratamento em serviospesados, porm ainda se conservam nas aldeias qque os padresda Companhia tm a cargo.

    PERNAMBUCO

    a Vila de Pernambuco chamada tambm de Marim e Olinda,

    mui nomeada por sua riqueza de pau-brasil, e comrcio dosmuitos acares que tem, que em muitas mil caixas cada anodeita carregado por sua barra afora, para o que sustenta emseus distrito e terras vizinhas, mais de cem engenhos de acar.Est em oito graus de altura para sul, na mesma altura queAngola. Foi povoada pelo primeiro senhor e governador geraldela, Duarte Coelho. O primeiro padre que naquela terra deunotcia dos ministrios da Companhia, e dos frutos que Deuspor eles faz, foi o Padre Manuel da Nbrega com outro

    companheiro, e depois continuaram outros o trabalhocomeado, donde se seguiu que muitos homens entraram em si,no grave negcio de suas conscincias, deixando uns o mautrato de cativar ndios por engano, e outros o mau estado emque viviam.

    O senhor da terra, deu aos padres a ermida de Nossa S. daGraa, em que est hoje situado o Colgio, dotado por El-ReiDom Sebastio para vinte religiosos. Nele se l uma classe de

    latim, outra de ler e escrever, e a terceira de caos deconscincia, quando h ouvintes. Daqui vo os padres, batizar econfessar aos escravos que esto pelas fazendas, e tambmajudam a converso dos pitiguares, ainda que por misso,visitando suas aldeias, at a fortaleza do Rio Grande, que estde Pernambuco cerca de cinqenta lguas. Alm de outrasaldeias em que os padres esto de morada, ensinando aosndios e conservando-os na f e costumes cristos.

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    CAPTULO SEGUNDO. DAS CAPITANIAS DOS ILHUS,PORTO SEGURO, ESPRITO SANTO E SO VICENTE

    CAPITANIA DOS ILHUS

    A Capitania dos Ilhus, est em altura de quatorze graus e doisteros; foi primeiro do Capito Jorge de Figueiredo Correia, naqual os padres da Companhia fazem muito servio a Deus,assim com os moradores portugueses como com o gentio daterra.

    CAPITANIA DE PORTO SEGURO

    Est a de Porto Seguro em dezesseis graus; foi povoada pelo

    Capito Pero de Campos Tourinho, no ano de mil quinhentos etrinta e seis. E da a anos foi enviado a esta vila o PadreFrancisco Pires, o qual no princpio residiu na ermida de NossaSenhora, que da Companhia, por ser edificada por ordem dodito padre e companheiros seus. Foi mui grande a merc que amesma Senhora lhes fez, em se abrir milagrosamente ali umafonte, mui afamada em toda a costa, na qual se fizeram e fazemmuitos milagres, sarando muitas pessoas de diversasenfermidades, umas que vo quela casa em romaria, e outras

    que mandam buscar a gua dela para o mesmo efeito.

    GENTIO AIMOR

    Ambas estas capitanias foram infestadas e perseguidas pelocrudelssimo gentio chamado aimor, por cerca de cinqentaanos, com mortes de portugueses, e de seus escravos e ndioscristos, e perdas das fazendas.

    A causa de durar tanto esta guerra, foi por eles no pelejaremem campo, quando eram acometidos, mas sempre debaixo domato espesso, cada um ao p de sua rvore, com o arcoarmado, aguardando o inimigo que o vem buscar, em ser vistoantes nem depois de empregar sua flecha. E tambm porque,como os ndios que conosco tm comrcio no entediam alngua deles, no havia esperana de concerto e de pazes.

    E assim chegaram estas duas Capitanias a ponto de se

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    acabarem de todo; e de fato, os mais dos moradores delas, quetinham alguma fazenda, largaram a terra, e se foram a viver emoutras partes. E o mesmo perigo corria esta Capitania da Bahia,porque j alguns homens tinham largadas fazendas e algunsengenhos, e eles vinham ganhando terra. Com a flecha e medodela, no distrito desta cidade.

    Neste aperto, quando todo remdio humano faltou, acudiu o doCu por meio de uma escrava crist da mesma nao, qualvindo fala com os seus, os desenganou que os nossosquando tomavam alguns dos seus, na guerra, no os comiam,(que esta brbara imaginao era toda a causa de seu dio),antes que eles perdiam muito por no tratarem com osportugueses. Estas e outras semelhantes palavras desta ndia,tomou Deus para comear a mudar e abrandar os coraesdeste bravo e feroz gentio, para que se fiasse de ns; e

    finalmente os aimors mais vizinhos, se vieram em grandenmero, cantando e bailando, e abraando a quantos homensachavam pelas ruas e sendo de todos mui bem agasalhados.Sucederam estas pazes e geral benefcio de Nosso Senhor, paratodo o Estado, no ano de mil e seiscentos, governado estacidade, o Capito-mor lvaro de Carvalho, que fez muito naconservao delas. No qual tempo o governador geral DomFrancisco de Sousa, por ordem de S. Majestade andava naCapitania de So Vicente, ocupado no descobrimento de novas

    minas de ouro e outros metais. A boa correspondncia aindadura de ambas as partes, com esperana de que se tornaro amelhorar aquelas duas capitanias, nas quais tambm esto aspazes celebradas.

    Para este efeito e principalmente para ajudar a salvar algumasalmas deste gentio, alguns padres da Companhia comeamaprender a lngua deles, e j os ajuntam em aldeias, e instruemna f e comunicam o santo batismo, pela qual porta a Divina

    Providncia tem j muitas almas recolhidas em sua glria, aomenos de inocentes e adultos in extremis. E com este gostotempera Deus Nosso Senhor, a falta das humanas consolaes,que nesta e semelhantes empresas padecem por estas partes osfilhos da Companhia, que tem tudo por bem empregado, porajudarem a salvar ainda que no fora mais que uma s alma, porsaberem que nisto contentam aquele Senhor que tanto nos temmerecidos, estes e maiores servios.

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    CAPITANIA DO ESPRITO SANTO

    A Capitania do Esprito Santo, uma das principais desteEstado. Est em vinte graus para o sul, cento e vinte lguas daBahia, e oitenta do Rio de Janeiro. Foi povoada por VacoFernandes Coutinho, Governador e Senhor dela, na era de milquinhentos e trinta e cinco anos.

    Da a muitos tempos enviou o Padre Manuel da Nbrega, sendoProvincial, alguns padres, os quais foram recebidos com muitoamor e agasalho. Deram-lhes stio para casa e cerca, e nelefundaram a Igreja da invocao do Apstolo Santiago Maior,com os mistrios que a Companhia exercita de pregar,confessar, fazer doutrinas na Igreja e ensinar os meninos naEscola, e iniciar a gente devoo, e a freuqentar osSacramentos. Fizeram nos moradores muito servio a Deus, e

    no menos no gentio, com o qual residem outros padres emquatro aldeias, e s vezes mandam buscar os parentes deles, eoutras vo em pessoa a busc-los a mais de cem lguas, porcaminhos mui speros e no seguidos, em que padecem muitostrabalhos de fome e sede, e outros perigos da vida, sem delespretenderem mais que a salvao de suas almas e a Glria deDeus.

    O mesmo que dizemos desta Capitania, acerca dos ministrios

    que nela exercitam os padres e do fruto espiritual que o povorecebe, se h de entender tambm das outras de que vimosfalando.

    Esta casa e Igreja nossa, da h muitos anos foi enriquecidacom uma insigne relquia de um osso do mrtir So Maurcio,por cuja intercesso Deus Nosso Senhor, faz naquela terra muiinsignes e evidentes mercs, e agora haver obra de dois anos,sendo Superior o Padre Manuel Fernandes, se acrescentou o

    tesouro das santas relquias na mesma casa, com um dente doglorioso Apstolo Santiago, enviado pelos nossos padres doColgio de Santiago de Galiza com seu instrumento autntico.

    CAPITANIA DE SO VICENTE

    A Capitania de So Vicente, est do Rio de Janeiro para o sulquarenta lguas, em vinte e quatro graus, a primeira que nesta

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    provncia se povoou; foi dela senhor, Martim Afonso de Souza, eo so hoje seus herdeiros.

    Tem em si uma ilha, e muita terra para o serto, com cinco vilas.A primeira a de So Vicente, situada em uma das barras daIlha. A segunda, Santos, na outra barra, com sua fortaleza. Aterceira de Nossa S. da Conceio, pelo nome da terra, de

    Itanham, dez lguas abaixo da praia, que dura e muitoesparcelada. A quarta, a Vila de S. Paulo, ou Piratininga, obra dequinze lguas da Ilha de So Vicente, pela serra e sertoadentro, serra fragosa de subir, mas depois de estarem em cimade tudo so campos, com pouco arvoredo, e rios mansos eplcidos; a terra em partes escalvada, com sinais de minas emetais de toda a sorte, mas o que at agora est descoberto,no mais que ferro e ouro de lavagem. A quinta Vila se chamade S. Amaro, que tem Capito por si, por ser no princpio de

    outro senhor que era Pero Lopes, irmo de Martim Afonso deSouza.

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    CAPTULO TERCEIRO. DAS PRIMEIRAS MISSES QUE SEFIZERAM DE PESSOAS DA COMPANHIA, AO ESTADO DOBRASIL

    Determinando El-Rei de Portugal, dom Joo o terceiro, mandasa estas partes do Brasil a Tom de Sousa, por GovernadorGeral, houve que, para satisfazer com o santo zelo que tinha deprocurar o bem espiritual de seus vassalos, nas provnciassujeitas sua Coroa, era necessrio enviar, com ele juntamente,alguns religiosos, para conservarem nos costumes cristos aosportugueses, e darem princpio converso, e conhecimento doSanto Evangelho, ao gentio.

    E lembrado do muito que na ndia Oriental faziam em ambasestas empresas, o santo padre Bato Francisco Xavier, e outrospadres da Companhia, que naquelas partes andavam, os quaisele tambm enviara havia j alguns anos, pediu ao Padre MestreSimo, Provincial em Portugal, alguns padres para esta misso,e particularmente insistiu lhe desse para Superior de todos oPadre Manuel da Nbrega, e quis fosse ele o primeiro quedeclarasse a f de Deus Nosso Senhor neste Estado, porque oconhecia e estava bem inteirado de sua virtude e letras, j dotempo que estudara em Coimbra, antes de ser religioso, quandoo doutor Navarro o apregoava pelo menor de seus discpulos.

    Andava neste tempo o Padre Manuel da Nbrega pelo Reinofazendo muito servio a Deus, no bem das almas, com pregar,confessar e fazer os mais ministrios de que a Companhia usapara este fim. Foi logo mandado vir, mas por mais diligncia quese fez, j as naus com o Governador eram partidas, com cincoda Companhia, todos debaixo da obedincia do Padre Manuelda Nbrega, ausente. Ficou s a nau do provedor-mor, AntonioCardoso de Barros, esperando pelo padre, e tanto que chegouse partiu, e foi alcanar a frota no mar, com grande alegria doGovernador, dos padres e de toda a armada. De maneira que aprimeira misso dos padres da Companhia que se fez a estaspartes, foi petio del Rei dom Joo, e por ordem do nossobeato Padre Incio de Loiola, fundador e primeiro Geral daCompanhia.

    Partiu a armada de Lisboa no ano de mil quinhentos e quarenta

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    e nove, no primeiro dia de fevereiro, que dia do santo bispo emrtir Incio. Vinham nela seis da Companhia: o Padre Manuelda Nbrega, o Padre Leonardo Nunes, o Padre Joo deAspilcueta Navarro, sobrinho do Doutor Navarro, o PadreAntonio Pires e os irmos Vicente Rodrigues e Diogo Jcome.

    No ano seguinte, de mil quinhentos e cinqenta foram enviados

    de Portugal, para ajudarem aos obreiros desta vinha, quatrosacerdotes: Salvador Rodrigues, Francisco Pires, Manuel dePaiva e Afonso Brs.

    PADRE LUIS DA GR

    Depois sendo informado ao Padre Miguel de Torres, visitador daProvncia de Portugal, da falta que havia nestas partes depessoas da Companhia, para as muitas ocupaes que tinham,

    e novas empresas da converso a que era necessrio acudir,declarou por Superior da terceira Misso, ao Padre Luis da Gr,que fora reitor do Colgio de Coimbra, e nestas partes do Brasilfoi o segundo provincial.

    Deram-lhe por companheiros dois padres e quatro irmos: osPadres Brs Loureno e Ambrsio Pires, os irmos GregrioSerro, Joo Gonalves, Antonio Blques, e Jos de Anchieta,que era o mais moo de todos. Partiram de Lisboa a oito de

    maio de mil quinhentos e cinqenta e trs anos, chegaram Bahia aos treze de julho do mesmo ano, em companhia dosegundo Governador Geral, Dom Duarte da Costa, que os tratouna viagem com muita benignidade e respeito.

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    CAPTULO QUATRO. DA ENTRADA DO PADRE JOS NACOMPANHIA E VINDA AO BRASIL

    O PADRE JOS ENTRA NA COMPANHIA

    Nasceu o Padre Jos de Anchieta, na Ilha de Tenerife, uma dasque chamam Canrias, no ano de mil quinhentos e trinta e trs;(engana-se Pero Rodrigues: Anchieta, de acordo com a certidode seu batismo, nasceu a 19 de maro de 1543) seu pai erabiscainho, e a me dos naturais da terra, pessoas tementes aDeus, de famlia nobre e principal naquela ilha, onde aprendeu aler e escrever e os princpios de latim.

    Foi mandado aos estudos de Coimbra com um seu irmo mais

    velho, aonde em breve tempo, dando mostras de sua rarahabilidade e felicssima memria, veio a ser dos melhoresestudantes da primeira classe, em prosa e em verso, em que eramuito fcil; ouviu dialtica e parte de filosofia.

    Neste tempo, juntamente com as letras, comeou tambm amostrar sua inclinao virtude, branda condio e modstia,edificando com seu exemplo a todos os com que tratava. E DeusNosso Senhor comeou por sua parte, a plantar em sua alma as

    vvirtudes, das quais, crescendo depois com a divina graa,haviam os fiis e gentios de recolher muito fruto espiritual,como a experincia mostrou.

    A primeira destas plantas foi um eficaz desejo da pureza dalmae corpo, com aborrecimento de todos os vcios, e em particulardos torpes e desonestos. Em sinal do qual desejo, estando umdia na S de Coimbra, de joelhos diante de um altar, em queestava uma imagem de vulto de Nossa Senhora, fez voto de

    perptua virgindade, em que Deus Nosso Senhor o conservoupor toda vida.

    Outro desejo teve tambm muito grande, de assegurar mais opartido de sua salvao; para este fim se determinou entrar emalguma religio. Pediu a Companhia, e por suas boas partes, foinela recebido sendo de dezessete anos de idade. Nos primeirosanos que esteve em Portugal que foram trs, foi sempre um vivoexemplo de virtude, especialmente de devoo, humildade e

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    obedincia.

    VEM AO BRASIL

    Sua vinda a estas partes se azou (de azo o verbo azar, queno consta dos dicionrios. Sentido: ensejar, possibilitar,ocasionar) desta maneira. Sucedeu cair em uma grave

    enfermidade, em que foi curado com a caridade e diligncia quea Companhia em toda parte costuma; mas o doente noalcanava perfeita sade, pelo que andava mui desconsolado,cuidando que no tinha foras para continuar com osministrios da Companhia, mas acudiu Nosso Senhor destamaneira:

    Encontrou-o o padre mestre Simo, e chamando-o, disse:

    - Vinde c, Jos; como estais?

    - Mal estou, respondeu ele.

    Acudiu o padre:

    - No tomeis pena por essa m disposio, que assim vos querDeus. Com esta palavra se aquietou e consolou muito.

    Depois, por conselho dos mdicos, pareceu ao superior mand-lo a esta terra de que havia fama ser mais sadia por causa dosmantimentos leves e dos ares mais benignos. E na verdadeassim , porque os mantimentos ainda que no pem tantasforas, no so de tanta resistncia ao calor natural, como os deEuropa; e os ares so mais temperados, em frio e quentura, queos de outras regies, sem embargo de estar esta dentro da zonatrrida, e passar o sol duas vezes no ano por cima das cabeas

    dos moradores, uma quando vai para o sul, e outra quando d avolta; o que nesta Bahia de Todos os Santos acontece, aos vintee oito de outubro, a ida do sol para baixo, e aos quatorze defevereiro a tornada. Porm acudiu a Divina Providncia comchuvas e viraes que temperam estas calmas. Por estaocasio, embarcado o Irmo Jos para estas partes, entrandono mar, sentiu logo em sua disposio mais alento e melhoria,como natural de ilha. No navio aceitou a ocupao, que diziamais com o desejo de humuildade, e teve a cargo a dispensa,

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    cozinha e fogo, servindo aos Nossos com muita caridade.

    E desta maneira transplantou Deus Nosso Senhor esta frutosaplanta das Canrias ao Brasil, sendo de vinte anos. E da apouco tempo foi enviado deste Colgio (da Bahia) para a casade So Vicente, aonde estava o Padre Manuel da Nbrega.

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    Provincial Manuel da Nbrega se aproveitava de sua diligncia,indstria e conselho, comeou a aprender a lngua da terra e tode propsito se deu a ela, alm da facilidade que Deus lhe tinhacomunicado para lnguas, que no somente chegou a entend-lae a fal-la com perfeio, mas tambm a compor a Arte dela, emespao brevssimo de seis meses, segundo da a muitos anosele mesmo disse a um padre.

    Esta Arte, pelo tempo em diante, sendo por ele e por outrospadres lnguas, examinada e aperfeioada, se imprimiu emPortugal e o instrumento principal de que se ajudam osnossos padres e irmos, que se ocupam na converso dagentilidade, que h por toda a costa do Brasil.

    Esta lngua a geral, comeando acima do Rio do Maranho ecorrendo por todo o distrito da Coroa de Portugal, at o

    Paraguai, e outras Provncias sujeitas Coroa de Castella. Aquientram os pitiguares at Pernambuco, os tupinambs da Bahia,os tupiniquins e tuminins da Capitania do Esprito Santo e ostamoios do Rio de Janeiro e muitas outras naes, a quem servea mesma lngua com pouca mudana de palavras. Desta Arte hno Colgio da Bahia lio em casa, para os que de novocomeam aprender a lngua. Trasladou mais o Irmo Jos oCatecismo, deu princpio ao Vocabulrio, fez a Doutrina eDilogo das coisas da f, e a Instruo das perguntas para

    confessar, e a que serve para ajudar a bem morrer.

    E com este bom exemplo meteu fervor e emulao aos nossos,para irem por diante no desejo da salvao do gentio, comosempre foram com a divina graa, por toda esta costa, assimnas cidades e vilas em que os nossos residem, que so oito,como nas aldeias em que esto de assento, que so dez, almde outras muitas que tm a cargo, por visita, e tambm asmisses que fazem ao serto, para trazerem gentio para as

    Igrejas, quando so enviados por seus superiores.

    MAROMOMIS

    No cessou com a idade o santo zelo que tinha de procurar, portodas as vias a converso do gentio; antes da a muitos anos,sendo superior da casa de So Vicente, ajudou a fazer a arte dalngua dos maromomis, (no original so vrias as grafias deste

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    apelativo. Fixar-nos- emos nesta maromomis, de acordo com afixao estabelecida em Latim, antigos missionrios daCompanhia) dos quais, para dar alguma notcia, me ajudarei doque o mesmo Padre Jos escreve, no livro que fez da Vida dosprimeiros padres desta Provncia, captulo quarenta e trs.Alm dos ndios que moram pela costa do Brasil, h peloserto adentro muitas outras naes de diferentes lnguas, com

    as quais os que tm comrcio com os portugueses trazemcontnua guerra e lhes chamam tapuias, como quem dizselvagens. Entre estes h uns chamados maromomis, que somuitos; mas a maior fora deles vive pelos matos e serras dacapitania de So Vicente, obra de duzentas lguas pelo sertoadentro, e obra de outro tanto at a capitania do Esprito Santo.A lngua fcil de aprender a quem sabe a geral da costa. Soamigos dos portugueses, e ordinariamente no tm mais queuma mulher; no curam de criaes, porque vivem pela flecha

    da caa do mato. E quando ao comer carne humana passa o quedirei: geral fama ou infmia do gentio do Brasil, que comecarne humana, mas isto no fazem os que tm trato com osportugueses, ainda que gentios, nem usam as naes que tmpazes umas com outras, mas somente com seus contrrios, quetomam em guerra, como por honra e brbara vingana. E nopor mantimento ordinrio, cortada em aougue, como se diz dealguma gente de Guin, nem sacrificando primeiro os homens aseus dolo e depois comendo-os, como usavam os brbaros

    motaumas, antigos reis do Mxico (trata-se de Montezuma esua dinastia. As Canrias constituram elo da navegaoespanhola para o Mxico. A, donde saiu Anchieta para Coimbraem 1548, bem se conhecia o Mxico a recente histria de suaconquista por Ferno Cortez). Porm os maromomis nem aindacom este ttulo de vingana, nem com outro, comem a seuscontrrios, antes se honram e prezam de serem nissoparticulares. Desceram una poucos destes da serra barra deSo Vicente, chamada Bertioga; acudiu logo a os agasalhar o

    Capito da Vila. Veio tambm com ele o Padre Jos, que entoera Superior e por seu companheiro, o Padre Manuel Viegas, eem quinze dias que ali esteve, por meio de uma escrava,intrprete, fez o padre um pedao de vocabulrio e tambm oprincpio da arte, mas como por ocupao do cargo, e outrasque lhe sobrevieram, no podia ali assistir, deixou o negcio aoPadre Manuel Viegas, que tomou esta nova empresa to depropsito e comeou a tratar este gentio com tanto amor e zelo,que aprece que no cuidava nem tratava de outra coisa.

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    Andava em busca deles para os ajuntar e ensinar, por serras,campos, vales e praias; levava casa os filhos deles pequenos,para que aprendendo a lngua geral, depois lhe servissem deintrpretes. Venceu muitas dificuldades, sofreu muitascontradies, e incomodidades nesta santa obra, por lhedizerem que trabalhava debalde, por ser gente que anda sempre

    inquieta, nem se ajuntar em aldeias.

    Mas a tudo resistia prosseguindo seu intento; e entretanto nofazia seno batizar e mandar glria muitos inocentes quemorriam batizados, e alguns adultos que batizava in extremis. Epouco a pouco com sua pacincia e continuao, sem nunca seenfadar de os tratar, acabou com eles, depois de muito tempo etrabalho, que fizessem assento em alguns lugares da mesmacapitania.

    E da mesma maneira vindo ao Rio de Janeiro, da h muitosanos, fez com eles se ajuntassem em outro lugar, junto aldeiade So Barnab, onde esto quietos, fazendo suas roas oulavouras de legumes e mantimento da terra, a seu modo, ondetem deles cuidado o Irmo Pero de Gouveia, de nao alem, ede muita facilidade para aprender estas lnguas, no que fazmuito servio a Deus h muitos anos.

    O Padre Manuel Viegas trasladou nesta nova lngua, a doutrinaque estava feita para os ndios da costa, fez vocabulrio muitocopioso, e ajudou ao Padre Jos a compor a arte da gramtica,com que facilmente se aprende, e com isto vai por diante aconverso e salvao destes pobres. (o trecho que colocamosentres aspas de estilo nitidamente anchietano. Contmafirmao que contraria a opinio de Rodrigues, a respeito dequem autor principal da gramtica dos maromomis. Cita onome do Ir. Pero de Gouveia, que depois veio a sair da

    Companhia. de Anchieta, sem dvida).

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    VIDA DO PADRE JOS DE ANCHIETAESCRITA POR PERO RODRIGUES, SEU: L.0, C.9.

    CAPTULO SEXTO. DA FORTALEZA DOS FRANCESES NORIO DE JANEIRO E GUERRA DO GENTIO TAMOIO, CONTRAOS PORTUGUESES NA CAPITANIA DE SO VICENTE

    o Rio de Janeiro est no cabo da zona trrida, da banda do sul,em vinte e trs graus de baixo do trpico de Capricrnio, peloque participa mais do frio, que todas as outras terras que nacosta do Brasil so habitadas.

    A baa grande, cheia de muitos ilhotes; tem em sua comarcapau-brasil e muitos engenhos de acar, e terras para criaes emantimentos, e mostras de minas e metais em que os homensconfiam. A barra to estreita que uma meia espera (termoobsoleto: pea de artilharia) alcana a outra banda; tem seisfortes: dois na entrada, e quatro que cercam a cidade. Tem maishoje outras quatro fortalezas, que so quatro mosteiros dereligiosos de no menos importncia: So Bento, NossaSenhora do Carmo, So Francisco e o nosso Colgio, em que sel uma classe de ler e escrever, outra de Latim, e a terceira decasos de conscincia, quando h ouvintes, alm de seexercitarem os mais ministrios, que na Companhia secostumam, de pregar, confessar e doutrinar os escravos endios. Foi esta terra a mais trabalhosa de conquistar e aquietarque houve em todo o Estado, como se ver na presente relao,que foi tirado, no principal, do livro do Padre Jos pouco antesalegado, do captulo vinte e dois por diante.

    NICOLAU DE VILLEGAINON

    Reinando em Portugal El-Rei dom Sebastio, e governando oReino, sua av, a Rainha dona Catarina, por no ter El-Rei idade,pelos anos de mil quinhentos e cinqenta e seis (fins do ano de1555), veio de Frana uma capito, com grossa armada, eganhando a vontade dos naturais com ddivas e bomtratamento, foi deles ajudado a fundar uma fortaleza, com suacisterna e duas casas, de que uma servia de plvora, tudo feitona piarra ao pico, em uma ilha pequena dentro da baa, comboa artilharia e presdio de soldados. Chamava-se este CapitoNicolau Villegainon.

    E os naturais, moradores daquelas costa eram os tamoios,

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    gentio, feroz e guerreiro que povoava desde o Cabo Frio atabaixo do Rio de Janeiro.

    Tiveram estes comrcio e boa correspondncia com osportugueses que moravam na Capitania de So Vicente, queest quarenta lguas abaixo do Rio, porm sendo delesinjustamente salteados e cativos algumas vezes, facilmente

    fizeram amizade com os franceses, que, ajudando aos tamoioscom armas e ardis, e valendo-se da multido deles, sombra danova fortaleza comearam a molestar e perseguir a Capitania deSo Vicente com dois gneros de guerra: uma de armas contra avida corporal, outra de heresias contra a vida da alma, e demaior perigo. E desta diremos primeiro.

    JOO DE BOLS, CALVINISTA

    Posto que este capito era catlico, e comendador de Malta,contudo muitos dos seus eram hereges calvinistas; e entre elesJoo de Bols, ao qual o seu general castigar por esta causa, oherege com outros trs fugiu para So Vicente.

    Era ele bom humanista latino e grego, e tocava de hebraico,muito visto na Sagrada escritura, mas entendia conforme aperversa interpretao dos hereges. Comeou logo, meio emsegredo e meio em pblico, a falar com pessoas ignorantes,

    desfazendo na santidade e uso dos sacramentos e das imagens,e na autoridade das Bulas, indulgncias e do Sumo Pontfice; ecomo falava bem espanhol, e entremetia suas graas, com ogosto de conversao ia tambm lavrando o veneno de suapssima doutrina, de modo que j tinha ganho com o vulgoignorante, e teve nome de grande sbio. Quis Deus que seachasse naquela comarca o Padre Luiz da Gr, na sua casa deSo Paulo, o qual sabendo o que passava, acudiu logo s vilasde Santos e So Vicente, e comeou assim com pregaes e

    disputas pblicas, como em prticas particulares, avisar a todosse guardassem do herege, com que o povo tornou em si e oinimigo se recolheu. O qual vindo um dia a visitar o padre outra vila, achou-o que estava para subir ao plpito; e o padreem o vendo, subitamente mudou a pregao, acomodando-a aonovo ouvinte, como se toda a semana estudara para aquele fim.Depois praticou familiarmente com ele, e achou que se lhemostrava em tudo catlico, porm sabendo por outra parte quea peonha ia lavrando e tomando mais foras, fez com a justia

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    eclesistica o mandasse preso cidade da Bahia, comomandou, e desta maneira se apagou este fogo da Capitania deSo Vicente.

    CANOAS DE GUERRA

    A guerra temporal continuavam os tamoios em suas canoas de

    guerra. Das quais bem digamos aqui uma palavra.

    Canoa de guerra uma embarcao muito ligeira toda de umpau, cavado por dentro, de cinco at sete palmas de boca, e deum comprimento de sessenta at oitenta palmos; as ordinriaslevam at quarenta remeiros; remam em p com remos de p ecada um leva seu arco, e seu massaro de flechas, com quepelejam quando tempo, e se amparam com os remos, alm deoutros ndios que vo na proa e popa, e alguns pelo meio, com

    suas espingardas; e assim so muito temidos dos inimigos,porque acometem qualquer lancha e navio que no andammuito longe de terra.

    Com estas canoas, como digo, salteavam os inimigos daCapitania de So Vicente, levando homens, mulheres, escravose crianas que estavam pelas fazendas descuidados do perigo;a uns matavam, a outros levavam para os matarem nas aldeiasem suas cruis e brbaras festas.

    CASTIGO DE DEUS

    Sucedeu que uma vez tomaram dois ndios, pai e filho. E oslevaram vivos para os comerem, em terreiro. Rogou-lhe o pai osno matassem, dando por razo que eram dos padres quefalavam as coisas de Deus, e os havia de consumir. Zombaramdisso os prfidos brbaros, e os mataram e comeram; mas notardou muito o castigo do cu, porque entrou a mortandade comeles, comeando pelo seu capito, de modo que, brevemente, seconsumiu toda esta aldeia e se despovoou aquela parte doserto.

    Serviu esta guerra dos brbaros para muitas pessoas sechegarem mais a Deus, e freqentarem mais os sacramentos,em especial mulheres casadas, que andavam com muito fervorcontinuando a doutrina, confessando-se e comungando cada

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    CAPTULO STIMO. VAI O PADRE MANUEL DA NBREGACOM O IRMO JOS A FAZER AS PAZES COM OSCONTRRIOS

    Tinha o Padre Manuel da Nbrega largado o cargo de Provincial,ao Padre Lus da Gr, por ordem do nosso muito Rdo. Padregeral Diogo Lanes, e por ordem do padre provincial era superiordas casas de So Vicente, pelos anos de mil quinhentos esessenta e trs. O qual considerando como Deus ajudava ostamoios contra os portugueses, entendeu ser justo castigo daDivina mo, pelas muitas sem-razes que homens de poucaconscincia tinham feitas contra eles, de mortes e injustoscativeiros; assim lhes pregavam muitas vezes, que enquanto oscontrrios no perdessem o direito da justia, que contra nstinham, no havamos de levar o melhor deles. E por outra partetrabalhava com meios espirituais, de oraes e penitncias,aplacar a ira de Divina, nem cessava de pedir a Deus desseremdio a tantos males.

    Mais de dois anos andou neste requerimento, e o Senhor lhedava a sentir intentasse ir a suas terras a fazer pazes com eles.Comunicou este meio com os da governaa da vila, e a todospareceu coisa do cu e de muito servio de Deus, e ltimoremdio para a Capitania, porque apertados do inimigo tratavamj de despejar a terra.

    A conta que o padre fez era esta: se os inimigos aceitarem aspazes tudo se aquieta, e quando as no aceitem, ao menosficar nossa causa justificada diante de Deus, os cristosedificados de verem como arriscamos as vidas por seu remdio,e os mesmos contrrios, com nossa estada, sempre tomaroalguma notcia das coisas de sua salvao, o que tudo resultarem glria de Deus Nosso Senhor.

    Com esta resoluo se partiu o Padre Manuel da Nbrega, comseu fiel companheiro, o Irmo Jos, e outro homem por nomeAntonio Lus, para a terra dos tamoios, que era de So Vicentepara a banda do Rio de Janeiro vinte e sete lguas..

    Levou-os no seu navio um homem de muito respeito e virtude, egrande amigo dos padres, por nome Jos Adorno, da

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    nacionalidade italiana, da principal nobreza de Gnova, tio donosso Padre Francisco Adorno , o qual estudou o curso dasartes e teologia no Colgio de Coimbra, e depois veio a serprovincial da Provncia de Gnova. Por este tempo tinham oscontrrios feito mais de duzentas canoas de guerra, paracometerem por diversas os moradores de So Vicente, econtinuarem os assaltos, uns indo e outros vindo, at os

    acabarem.

    Porm atalhou Deus Nosso Senhor a estes males com a jornadados padres, que se puseram por rodela a todos os combates,porque sabendo os inimigos do Rio de Janeiro que vieram osportugueses sua fronteira, fizeram prestes suas canoas paraos virem matar, e ganhar entre os seus a honra desta vitria..

    Mas pela bondade Divina, em vendo a venervel presena do

    Padre Manuel da Nbrega, e ouvindo a suave prtica do IrmoJos, logo se amansaram os bravos coraes, e diziam uns paraos outros: tais homens como estes so espias, bem nospodemos fiar deles. Entre outros veio um principal muitosoberbo, (Simbir o nome deste principal) com muita gente emdez canoas, com o intento que digo, e falando fingidamente naspazes metia por condio que lhe dessem trs principais quecontra eles ajudaram a defender os protugueses e ndioscristos, em um assalto que foram dar na vila de So Paulo.

    Resistiu-lhe o padre com boas razes; mas como no era capazdelas, foi-se agravando e tanto que faltou pouco para matar aospadres, que no estavam menos aparelhados para darem a vidapor causa to justa, como era no consentirem que fossemmortos homens inocentes, amigos e defensores nossos. Eassim escreveu o padre ao capito de So Vicente e a toda aterra, que tal no consentissem, ainda que soubessem de certoque haviam de matar e comer a ele e a seu companheiro, porqueisto era o que l foram buscar. Mas tudo converteu Deus Nosso

    Senhor em bem, porque o ndio feroz entrou em So Vicente depaz, e foi mui tratado dos portugueses, e tornou-se contentepara sua terra.

    FALAM OS NDIOS COM O PADRE SOBRE A CASTIDADEPRTICA DE UM NDIO VELHO

    Os ndios daquela aldeia se ajuntaram em casa do hspede dospadres, que era um velho mui respeitado dos outros, (chamava-

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    se Pindobuu o hospedeiro dos padres) e tratavam os padresassim das pazes como de sua maneira de viver, perguntandopor tudo muito miudamente.

    E posto que com as razes que lhes davam em suas perguntas,em todas as matrias se davam por satisfeitos, s na matria dapureza no podiam tomar p seus brutos entendimentos, nem

    cuidar que havia pessoas que guardassem a castidade;ofereciam suas parentas, conforme a seu costume, como emconfirmao das pazes, mas vendo a diferente maneira da vidados padres, mostravam grande espanto, e cobravam muitocrdito de sua virtude.

    ainda neste particular incrdulos, chegaram uma vez a lheperguntar pelos pensamentos e desejos, dizendo assim:

    Nem quando as vedes as desejais?

    Ao que respondeu o Padre Manuel da Nbrega, mostrando umasdisciplinas: Quando nos salteiam tais pensamentos acudimoscom esta mezinha. De que ficaram muito mais espantados,cobrando maior respeito aos padres. Pregava o velho, aos quevinham do Rio e de outras partes, com intento de matar ospadres, dizendo que aqueles padres eram amados de Deus, e sealgum os agravasse logo havia de vir sobre eles a morte, comque os maus entravam em si, e deixavam o mau propsito quetraziam de os matar, e aos mesmos padres dizia: rogai a Deuspor mim, pois vedes que eu vos defendo. E no foi em baldesua petio, porque da h muitos anos o trouxe Deus a viverentre os fiis, foi batizado e morreu cristo. Quanto s pazesdizia este mesmo ndio: Antigamente fomos muito amigos dosportugueses, mas eles tiveram toda a culpa de nossas guerras,porque nos comearam a saltear e tratar mal, pelo que, aindaque os de sua parte eram muitos, Deus nos ajudou, por saber

    que ramos injustamente maltratados.

    O padre lhe respondia: e porque eu sei que Deus est iradocontra os meus, pelos males que vos tm feito, vim c a fazer aspazes com vs outros, para amansar a Deus, e fazer que perdoeaos meus, os quais de sua parte no ho de quebrar as pazes,que por isso pus eu agora minha vida em perigo; mas se vsoutros as quebrais, entendei que a ira de Deus se h- de virar

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    contra vs, e haveis de ser destrudos de todo.

    Isto lhe dizia o padre no por ameaas e feros, (Feros, palavraobsoleta que significa o que hoje se chama bravatas) mas comtanta certeza, que parecia ter-lhe Deus revelado; porque estestamoios daquela comarca nunca quebraram as pazes, e seusparentes do Rio de Janeiro e Cabo Frio, que as quebraram, de

    todo so acabados com guerras que lhes deram, assim oGovernador Geral Mem de S, por duas vezes, como osgovernadores particulares da cidade de So Sebastio do Rio deJaneiro, tirando uns poucos que se fizeram cristos. E assim secumpriu a profecia do padre Manuel da Nbrega, o qual esteveali com o Irmo Jos cerca de dois meses, dizendo cada diamissa de madrugada; e aos ndios que a vinham ver, dava oirmo razo de algumas coisas conforme sua capacidade deles.

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    CAPTULO OITAVO. DE COMO O PADRE MANUEL DANBREGA DEIXA S EM REFNS AO IRMO JOS, E SECONCLUEM AS PAZES

    Sucedeu que outros ndios da mesma nao deram na torrechamada da Bertioga, situada em uma das barras da ilha de SoVicente, e pondo logo fogo s portas, a entraram, e mataram aum homem com sua mulher, e destruram toda a famlia,matando e levando os que quiseram.

    Na mesma noite que isto aconteceu, o revelou Deus ao IrmoJos, que estava em orao quase toda a noite, comocostumava. E logo o disse ao padre diante de Antonio Lus, quedepois o referiu em seu testemunho.

    Pediu mais o Irmo Jos ao padre se tornasse para So Vicente,a consolar a gente, e continuar com seu cargo, que ele lheficaria em refns, porque de outra maneira no queriam oscontrrios, deixar ir o padre.

    Aceitou o Padre Manuel da Nbrega o conselho, e chegando aSo Vicente soube serem verdadeiras trs coisas que o IrmoJos lhe tinha dito, entre os tamoios, em vinte e sete lguas de

    distncia: da morte da gente, e cativeiro da Bertioga, e como umhomem conhecido era morto de um desastre, por passar umcarro por cima dele, e que havia de chegar quele porto umnavio, como de fato chegou dali a cinco dias, do que deram oshomens muitas graas a Deus, e tiveram ao Irmo Jos emmaior reputao, como estas obras mais que humanasmereciam.

    Partido o padre durou o cativeiro do Irmo Jos mais trs meses

    em que esteve s por no ser possvel outra coisa, e o padreconhecer bem a virtude de quem tanto confiava. Ocupava-se emfazer prticas quela fera gente, de coisas de sua salvao, ecom isto, e com seu exemplo, e de sua santa vida, muitosfizeram tal conceito das coisas da f que bem puderam serbatizados, se estiveram em parte mais segura, para no searriscarem a tornar strs. Tinham-lhe os brbaros granderespeito, por dizerem que o irmo falava com Deus e tambmporque os curava em suas enfermidades.

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    O demnio que no dorme e nem perde ocasio para tentar aosservos de Deus sofria mal ver a uma mancebo metido naschamas da Babilnia, e no se lhe chamuscar nem um cabelo,porm o soldado espiritual no largava as armas prpriasdaquela batalha, orao e jejum.

    Na orao e familiaridade com Deus foi sempre muito contnuo,e em especial no tempo de to evidente perigo, ajudando-se dadisciplina e aflio da carne, tendo-a por principal remdio paratoda a doena espiritual, e principalmente para esta to contnuae importuna. Sobretudo se ajudava da intercesso da VirgemSenhora, de quem sempre foi mui devoto, e em especial de suapurssima conceio.

    DESENTERRA E BATIZA UMA CRIANA

    Temperou Deus Nosso Senhor este seu voluntrio cativeiro,com muitas consolaes que fez a seu servo, umas interioresem seu esprito e outras exteriores que se deixam ver de fora.Por muito certo temos comunicar Deus ao Irmo Jos muitogosto dalma em todo este tempo, porque o costuma fazer comtodos os que, por seu amor e bem das almas, pem a risco suasvidas, porm deste no podemos dar f, por ser das portasadentro, entre Deus e a alma pura a quem sua divina bondade se

    comunica.

    Das outras consolaes exteriores, em que um servo de Deusv que o toma o mesmo Senhor por instrumento para salvaralguma alma, apontarei duas. Uma menina nasceu quase morta,e batizando-a tornou de todo em si, mas depois de alguns diasse foi ao cu. Ouviu acaso falar umas ndias, que uma velhaenterrara viva uma criana, neto seu, por no ser de legtimomatrimnio, ( criana, considerada ilegtima, davam o nome de

    marab) que tambm a seu modo, entre estas h aborrecimentoao adultrio, que com seu fraco lume da razo o aborrecem;mas como cegos castigam com rigorosa pena a quem no teveculpa no malefcio.

    Ouvindo, este caso, como digo, perguntou pelo lugar e foi-odesenterrar; e com haver mais de meia hora que assim estava, oachou ainda vivo e o batizou e fez com algumas ndias lhedessem de mamar, com que viveu algumas semanas e se foi ao

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    cu, para aquele Senhor que o guardou com vida na cova, e otinha predestinado para tanto bem. Com estes e outros bonssucessos, aliviou Deus o cativeiro do Irmo Jos, e sobretudoquando, no fim dos trs meses que esteve s, alm dos dois dacompanhia do Padre Manuel da Nbrega, alcanou o quepretendia, que era concluir as pazes com os contrrios, comopela bondade de Deus concluiu.

    Eles mesmos o levaram em uma canoa a So Vicente, dondeforam mui bem agasalhados, e desta maneira o Irmo Jos comsua presena de extraordinria alegria no s ao Padre Manuelda Nbrega, e aos mais padres da casa, mas tambm a toda aCapitania, por ficarem todos com esta obra mui obrigados.

    E os tamoios dali por diante entravam na Capitania, sem fazermal algum.

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    CAPTULO NONO. COMPE O PADRE JOS A VIDA DENOSSA SENHORA EM VERSO E OUTRAS OBRAS

    Para o Irmo Jos compor a vida de Nossa Senhora, em verso,teve esta ocasio. Tanto que se viu metido naquele cativeiro,ainda que voluntrio, antevendo os perigos que o haviam decercar, tomou por veladora Virgem me de Deus, de quem eramuito devoto, e prometeu de lhe compor sua vida, para que olivrasse no corpo e alma de todo o perigo de pecado, quequanto aos perigos da vida corporal bem pouco os temia, quempedia a Deus lhe fizesse a merc que acabasse ali a vida detormentos por seu amor.

    Cumpriu seus votos discorrendo por todos os passos daSenhora desde sua purssima conceio, at gloriosacoroao no cu, tudo em verso elegaco, tocando as figuras eas profecias de cada mistrio com muita graa e devoo. E taiseram todas as obras que compunha.

    O modo de compor era este: depois de cumprir com Deus emmuitas horas de orao de dia e de noite, e tambm com aobrigao de ensinar a doutrina a seus amigos, e lavrar com apalavra divina aquelas duras pedras, ia-se praia passear, e ali,sem livro nenhum de que se pudesse ajudar, nem tinta nempapel, andava compondo a obra, valendo-se somente de suarara habilidade e memria extraordinria, e sobretudo do favorda Senhora, por cuja honra tomara aquela devota empresa.

    E desta maneira comps a obra toda, e a encomendou oufechou no cofre da memria, para da a alguns meses, depois desair de cativo, a desenrolar e escrever, como escreveu, na nossacasa de So Vicente. Tem esta obra dois mil oitocentossessenta e seis dsticos, que fazem cinco mil setecentos e trintae dois versos (com as Pices laudes, publicadas em conjunto,somam os versos 5.902. Sem elas, 5.786).

    Confirmam trs graves testemunhos, esta histria. O primeirode mais momento, o do mesmo autor que, depois de escrevera obra, fez a epstola dedicatria mesma Senhora, dizendo queali lhe oferecia a obra que lhe prometera escrever, estandocercado das armas dos inimigos Tamoios, e tratando com eles o

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    negcio de paz desarmada. Confessa tambm que com seumaternal amor, fora sempre amparado de maneira que noperigou a pureza de sua alma nem do corpo. E acrescenta quemuitas vezes pediu a Deus lhe concedesse acabar a vida comtormentos por seu amor, mas que no foi ouvido, porque aglria do martrio guarda Deus para seus grandes santos eespeciais amigos.

    Este o sentido dos seus versos que se seguem:

    En tibi quaevovi, Matersanctissima,

    quondam

    Carmina,cum saevo

    cingererhoste latus.

    Dum meaTamuyas

    proesentiamitigathostes

    Tractoquetranquillum

    pacisinermis

    opus.

    Hic tua

    materno megratia fovitamore,

    Te corpustutum

    mensquetegente fuit.

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    Saepiusoptavi,Domino

    inspirante,dolores

    Duraque

    cum saevofunere

    vincla pati.

    At sunpassatamen

    meritammea vota

    repulsam,

    ScilicetHeroas

    gloria tantadecet.

    CONSELHO CONTRA A GUERRA DOS MAUS PENSAMENTOSO segundo testemunho de um padre que se queixava ao PadreJos que era perseguido de importunos e feios pensamentos, epedia-lhe o encomendasse a Deus que o livrasse de totentao. O padre lhe respondeu, dizendo; no boa estapetio; no peais a Deus que vos tire a guerra, porque dissotem ele cuidado, e sabe o que h-de fazer por vs, e em queocasies nos h-de meter. Mas pedi-lhe que vos ajude, porque

    esta petio lhe mui agradvel, e ainda nesta vida d oprmio.

    E acrescentou mais, falando de si (como se deixa ver): comoaconteceu, ao que no meio de assaz forosa e contnua ocasio,com ajuda do Filho e da Me, no somente no caiu, mas antesfoi certificado de ambos, que nunca mais semelhantes ocasieslhe seriam causa de cada. E bem se v que fala deste tempo deseu cativeiro. E da a trs dias chamou ao mesmo padre e lhe

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    disse: no tereis mais tais imaginaes, mas no afrouxeisnunca na cautela necessria. O que este padre depois sempreexperimentou em si, da maneira que lhe dissera o Padre Jos.

    O terceiro testemunho este: dali a muitos anos contou o PadreJos a um religioso nosso este seu cativeiro, e como os tamoiosdeterminavam de o matar e comer suas festas, e lhe diziam:

    Aparelha-te, Jos e farta-te de ver o sol, porque tal dia tehavemos de matar. Ao que ele respondia:

    No me haveis de matar, porque no ainda chagada minhahora. Acudiu aqui o religioso, a quem o padre contava:

    Com que certeza dizia V. R. isso, a esses gentios?.

    Respondeu:

    Com a certeza da Me de Deus, que no queria que eumorresse, sem primeiro lhe escrever a sua vida, que eu tinha jtoda composta, passeando pela praia. Outras muitas obrascomps em diversos tempos, porque tinha para isso muitagraa e facilidade, em todas as quatro lnguas que sabia, latina,portuguesa e braslica. Mudava cantigas profanas ao divino, efazia outras novas, honra de Deus e dos santos, que secantavam nas Igrejas e pelas ruas e praas, todas mui devotascom que a gente se edificava, e movia ao temor e amor de Deus.

    NUVEM CARREGADA DE GUA SOBRE O TEATRO POR TRSHORAS

    Entre outras muitas, fez uma obra que se representou emdiversas partes, com grande aplauso; e a primeira vez que se

    apresentou, que foi em So Vicente, mostrou Deus com umaevidente maravilha, quanto lhe contentava.

    E foi desta maneira: desejando o Padre Provincial Manuel daNbrega, evitar alguns abusos, que com atos poucos decentesse faziam nas Igrejas, encomendou ao Irmo Jos, que fizesseuma obra devota, para se representar na vspera daCircunciso. E como, entre o portugus, tinha alguns passos nalngua da terra, ajuntou a ouvi-la toda a Capitania. Seno quando

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    sobre-vm uma grande tempestade, e sobre o teatro se pe umanuvem negra e temerosa, que despedia de si algumas gotasbem grossas, com que a gente comeou a se inquietar edespejar os lugares em estavam. O que vendo o Irmo Josassomou a uma janela, e disse: aquietem-se todos e ningumse v, porque no h-de chover at se no acabar a obra.Tornaram-se a sentar pelo respeito que lhe tinham; fez-se a

    obra, e a nuvem sempre em cima, muito quieta por espao detrs horas que a obra durou, com muita devoo e lgrimas doauditrio. E acabada ela e a gente recolhida em suas casas,comea tambm a nuvem a dizer seu dito, com tal tormenta devento e gua que a todos ps espanto, e deu nova matria delouvar a Deus, e de terem a seu servo em maior reputao.

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    CAPTULO DCIMO. DA VINDA DO TERCEIRO GOVERNADORGERAL MEM DE S BAHIA, E DA TOMADA DA FORTALEZAQUE OS FRANCESES TINHAM NO RIO DE JANEIRO

    EL-REI D. JOO MENCOMENDA A CONVERSO DOS GENTIOS- O GOVERNADOR MEM DE S

    Acabando o Governador Geral Dom Duarte da Costa seu tempo,proveu El_Rei Dom Joo Terceiro a Mem de S , homem letrado,prudente e de grande nimo, no ltimo ano de sua vida, que foio de mil quinhentos e cinqenta e sete.

    E estando informando dos graves impedimentos que havia paraa converso, assim da parte dos portugueses, como do mesmo

    gentio, entre os captulos do Regimento que lhe deu, para o bemda terra, foi um em que lhe encomendava muito, tudo o quetocava converso do gentio.

    Comeando Mem de S, a governar, mandou chamar osprincipais (que assim chamam aos ndios que regem suasaldeias) que moravam ao redor da Bahia. E assentou pazes comeles, metendo por condio, que no haviam de comer carnehumana de seus contrrios, e que haviam de consentir lhes

    pregassem os padres o Santo Evangelho e Lei do verdadeiroDeus, o que aceitaram.

    Acabou tambm com eles deixassem algumas aldeiaspequenas, e se ajuntassem em outras grandes, e que fizessemIgrejas para mais comodamente poderem ser ensinados,residindo com eles os padres da Companhia, como at agora seguarda. Ele oferecia com sua presena os batismos gerais queos padres faziam e folgava de ser padrinho de alguns ndios de

    mais nome, e assim como era pontual em fazer que os ndiosguardassem as condies capituladas, assim, era rigoroso emos defender de quem lhes queria roubar a liberdade, ou molestarsuas famlias.

    Donde veio, mandar uma vez, com mo armada, a pr por terraas casas de um homem poderoso que prendera em suas casasuns ndios como de feito se houvera de executar se o culpadono .................................................(ilegvel na xerox - pag. 46) Aos

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    gentios da comarca de Paraguassu, que molestavam aos ndiosque estavam nas igrejas, e tinham mortos alguns homens, semquererem entregar os matadores, confiados em sua ferocidade emultido, fez guerra to de propsito, que foi a ela em pessoa,por assim necessrio, e matando a muitos deles, e queimando-lhes cento e sessenta aldeias, os sujeitou e fez que pedissempazes, que lhes concedeu, com eles primeiro edificarem igrejas

    onde pudessem ser doutrinados dos padres.

    At que as injrias do tempo, doenas gerais e outras ocasiesos consumiram, depois de serem muitas almas mandadas aocu. Isto quanto ao gentio da Bahia. Entretanto as coisas no Riode Janeiro estavam no mesmo estado e pior, porque o poderdos franceses calvinistas, ia muito por diante, com naus quevinham de socorro, e com a multido do gentio tamoio, amigoseu e inimigo dos portugueses, que sombra da fortaleza nos

    perseguiam, como j se disse no captulo sexto; pelo que ogovernador se determinou a ir conquistar aquela fora, que depresente tanto mal fazia, e por tempo podia vir ameaar a todo oEstado.

    Levou consigo a armada, que para este fim mandara do Reino aRainha Dona Catarina, que ento governava, e outros navios dacosta, com soldados e alguma gente nobre da Bahia e de outraspartes, que o quis acompanhar, afora a que viera na armada.

    Chegou a frota ao Rio de Janeiro no princpio do ano de milquinhentos e sessenta. Combateu-se a fortaleza que pareciainexpugnvel e com a ajuda divina, se rendeu. E para que sevisse como isto fora obra de Deus (cujo favor invocaram os fiispor toda a costa, com sacrifcios e procisses), quando j ia anosso exrcito faltando a plvora para a artilharia, entraram osnossos por uma ponta de ilha, desviada e mui fragosa, eganhando a casa da plvora, os inimigos, assim franceses comotamoios largaram tudo e fugiram por uma rocha abaixo, e se

    puseram em cobro nas canoas; e logo se disse missa nafortaleza in gratiarum actionem, da qual em poder doscalvinistas no havia memria. No se povoou desta vez o Riode Janeiro, mas mandou o governador guardar a artilharia, queera muita, e o mais que podia servir aos nossos, e destruda afortaleza se foi a So Vicente dar ordem s coisas daquelaCapitania.

    E isto feito deu volta para esta Capitania da Bahia a vinte e cinco

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    de junho do mesmo ano. Veio com ele o Padre Provincial Lusda Gr, que fazia a doutrina aos portugueses na nau, por toda aviagem, a que acudia tambm o governador e estava a eladesbarretado dando exemplo aos outros.

    Deu logo conta rainha do que fizera na jornada, o que a S. A.agradeceu muito; porm de ele deixar a terra sem presdio a

    risco de entrar outra armada inimiga que fizesse ali assento,com maior poder e perigo nosso, mostrou descontentamento,pelo que lhe mandou a tornasse a povoar, para o que lhe envioudali a algum tempo novo socorro. Dos franceses uns se forampara suas terras, outros se passaram a seus amigos os tamoiose os ajudavam com ardis, de maneira que fizeram depois outraguerra aos portugueses, to contnua, e porfiada que nobastou para a concluir uma boa armada que viera do Reino, como Capito-mor Estcio de S, mas foi necessrio tornar o

    mesmo Governador em pessoa da Bahia com novo socorro,como logo se ver.

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    CAPTULO DCIMO PRIMEIRO. CONQUISTA DO RIO DEJANEIRO PELO CAPITO-MOR ESTCIO DE S, E DEPOISPELO MESMO GOVERNADOR MEM DE S

    No ms de fevereiro de mil quinhentos e sessenta e quatro,chegou da Bahia ao Rio de Janeiro uma armada: parte que tinhavindo de Portugal e parte dos navios da costa que oGovernador, por ordem de El-Rei, mandava a povoar o Rio deJaneiro. Era capito-mor seu sobrinho Estcio de S, a quemele, pelo grande conceito que tinha do Padre Manuel da Nbregaacerca de sua virtude, prudncia e zelo do bem comum eservio del El-Rei, encomendou muito se ajudasse de seuconselho, como sempre fez. No havia ali em que pr olhos,nem no mar nem na terra, seno em tamoios de guerra na terra,e no mar canoas armadas. E vendo o capito-mor que lhefaltavam mantimentos, canoas e socorro de ndios cristos, e deoutros amigos, o que tudo era muito importante para aconquista, se foi o capito-mor com toda a armada a SoVicente, a refazer e prover de todo o necessrio.

    E chegou at Vila de So Paulo, no campo, onde fez pazescom outro gentio que molestava aquela vila; em tudo oacompanhou o Padre Manuel da Nbrega, que persuadia a gentee animava a que tornassem com o capito a conquistar e povoaro Rio de Janeiro, acudindo a uns com esmolas, e outrospersuadindo e animando com boas razes. Partiu esta frota dabarra da Bertioga, no ano seguinte de mil quinhentos e sessentae cinco, a vinte de janeiro, dia de So Sebastio, que logo alitomaram por capito da empresa, e padroeiro da cidade, e oragoda S, que depois se edificou.

    Iam seis navios grandes e nove canoas de guerra, com muitosndios cristos e gentios amigos, e outros naturais filhos deportugueses, todos esforados e exercitados naquele modo depelejar, em canoas, alm da principal gente portuguesa dosnavios. Mandou com eles o padre Manuel da Nbrega ao PadreGonalo de Oliveira e ao Irmo Jos, sem cujo conselhoordenou que no fizesse o padre nada; ambos sabiam a lnguada terra para confessar, consolar e animar a todas as canoas;tomavam cada dia terra com que o padre tinha lugar de dizermissa de ordinrio, e confessar aos que tinham disso devoo.

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    Desta maneira chagaram s ilhas que esto perto da barra doRio, no princpio de maro, por virem esperando pela naucapitnea. Neste lugar comeou Deus Nosso Senhor a mostrarque era servido, se povoasse esta terra, e depois o confirmoucom favores extraordinrios, que no sucesso da guerraaconteceram.

    PROFECIA

    O caso foi que vinham nesta frota de socorro muitos ndios daCapitania do Esprito Santo, que dista oitenta lguas do Rio paraa Bahia, e, por falta de mantimentos, determinavam de se irsecretamente em suas canoas para suas casas o dia seguinte,porque a nau no chegava, nem uns barcos, que por ordem docapito-mor tinham ido a buscar provimento, mesma Capitaniado Esprito Santo.

    Nisto quis Deus que o padre e o irmo sem saberem o quedeterminavam, os foram buscar e visitar, a quem elesdescobriram seu desgnio, mas o irmo Jos os consolou,dizendo que confiassem em Deus, que ao seguinte dia lhesmandaria remdio. Estando nestas prticas, eis seno quandoaparecem trs barcos do Esprito Santo, com proviso donecessrio. E ao dia seguinte pela manh aparece a anucapitnia, com que os ndios ficaram espantados, e deram

    muitas graas a Deus, e se determinaram ajudar naquelaempresa aos portugueses.

    E desta maneira, toda a frota entrou no Rio em uma mar, e serecolheram pela banda da mo esquerda da barra, em umaenseada detrs de um penedo altssimo, a que chamam o Pode Acar, onde se diz agora a cidade velha.

    Durou esta conquista alguns anos, com guerra contnua, muita

    fome e outros apertos. Viviam os homens como religiosos,confessando-se e comungando amide, pelejavam com grandenimo, com a confiana em Deus, sombra do seu capito, quede esforo e virtude era a todos um vivo exemplo.

    E assim lhe metia Deus nas mos insignes vitrias. Porque comserem os nossos muito poucos, assim portugueses comondios, umas vezes com alguma perda, e outras sem nenhuma,

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    ordinariamente levavam a melhor dos tamoios, ainda quesoberbos e confiados nas vitrias passadas e em sua multido,e nos arcabuzes dos franceses que os acompanhavam.

    DO OS PELOUROS NOS PEITOS, E CAEM AOS PS DOSSOLDADOS

    Dos nossos saravam muitos de flechadas mortais com poucacura, e a outros dava o pelouro no peito nu, e como se fora deprova, lhe caa aos ps, como aconteceu a lus de Almeida, e aum ndio de So Vicente, que pelejava nu, da sua canoa,conforme a seu costume, por nome Marcos, e a outros.

    MILAGRE

    Algumas vezes deram os inimigos assalto na cidade que no eramais que uma cerca de pau a pique e casas de palha. Em umadelas, ajuntando-se muitos inimigos, estava o padre junto doaltar de joelhos em orao, e as flechas que vinham de maisalto, passando o telhado de palha, se pregavam no cho aoredor dele, sem lhe tocarem. Os soldados defendiam a cerca, ede quando em quando alguns chegavam Igreja, e vendo opadre naquela postura, cercado de flechas cobravam nimo etornavam ao combate, com mais esforo, at que de todofizeram fugir os inimigos.

    VITRIA NAVAL DE CINCO CANOAS CONTRA CENTO EOITENTA, SENDO CAPITO ESTCIO DE S

    De muitas maravilhas, que nosso Senhor obrou em favor dosnossos, uma s contarei e muito insigne. Enfadados os Tamoiosde se verem levar sempre a pior, ajuntaram por espao detempo uma grande frota de canoas de guerra, que chegaram acento e oitenta, para conclurem com a guerra de uma vez. Epara fazerem a coisa mais a seu salvo, no quiseram acometer acidade, mas tomar os nossos no meio de uma cilada,escondendo as canoas em uma enseada, uma lgua de nossapovoao.

    Mas para mais se ver que Deus tinha tomado esta empresa sua conta, permitiu que alguns naturais da terra, moradores naCapitania de So Vicente, receiando o combate se fossem com

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    suas canoas, deixando o capito-mor somente com cincocanoas; mas nem por isso os mais perderam o nimo econfiana em Deus.

    Nisto saem da cilada umas poucas de canoas, o nosso capitod-lhes caa com as cinco; do volta os inimigos, como quefugiam, e metem os nossos dentro da cilada sem nenhum

    remdio humano; e o pior foi que pondo os nossos fogo a tiroque a canoa capitania levava, toma fogo a plvora da canoa, ed com alguns soldados no mar, meio queimados; mas logo serecolhem a ela.

    Acode aqui por seus soldados a Divina Misericrdia, meteespanto mulher do capito tamoio, e comea a bradar:grande fogo vem sobre ns, para nos queimar a todos. A estavoz mete Deus grande terror e medo nos contrrios que do em

    fugida voga arrancada, a quem mais podia remar, e aparece amultido das que estavam na enseada, fugindo tambm com asmais.

    Os nossos os seguem um pedao, mas logo se recolhem cidade, dando muitas graas a Deus Nosso Senhor, autor devitria to maravilhosa, e no esperada, em lugar da morte queto certa tinham.

    APARECEU O MRTIR S. SEBASTIO AOS INIMIGOS

    Acudiu a esta vitria tambm o favor do glorioso mrtir SoSebastio, que foi visto dos tamoios, que depois perguntavamquem era um soldado que andava armado, muito gentil homem,saltando de canoa em canoa, que os espantara e fizera fugir.Com este bom sucesso amainou a fria dos tamaios, at quedepois, com o socorro que foi da Bahia, se comearam asujeitar e pedir pazes.

    O Pe. INCIO AZEVEDO, PRIMEIRO VISITADOR

    No ano de mil quinhentos e sessenta e sete, vspera de SoSebastio, chegou da Bahia com outra armada, o GovernadorMem de S, a povoar o Rio de Janeiro, como por S. Alteza lheera mandado.

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    Foram em sua companhia o Bispo Dom Pero Leito, que iavisitar seu bispado, e o padre Incio d