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1 AVALIAÇÃO DO CICLO REPRODUTIVO DO SURURU Mytella guyanensis (Lamarck 1819) NA ILHA DO MARANHÃO Hugo Moreira Gomes 1* ; Aleff Paixão França 2 ; Derykeem Teixeira Rodrigues Amorim 2 ; Thaís Brito Freire 2 ; Thalison da Costa Lima 2 ; Ana Karolina Ribeiro Sousa 2 ; Ícaro Gomes Antonio 3 . 1 [email protected] . Graduando em Engenharia de Pesca/ UEMA. 2 [email protected] Engenheiro de Pesca/UEMA. 2 [email protected] . Graduando em Engenharia de Pesca/ UEMA. 2 [email protected] Graduanda em Engenharia de Pesca/ UEMA. 2 [email protected] . Engenheiro de Pesca/ UEMA. 2 [email protected] . Engenheira de Pesca. 3 [email protected] . Professor Dr° do curso de Engenharia de Pesca/ UEMA. RESUMO O trabalho teve por objetivo aprofundar o conhecimento científico da biologia reprodutiva de Mytella guyanensis, como também estabelecer programas de manejo desse organismo, uma vez que podem promover a manutenção das reservas naturais e assim contribuir para o desenvolvimento da mariscagem da espécie de uma forma sustentável. Os estágios de maturação foram estabelecidos através da análise histológica do tecido gonadal dos sururus por amostragem. Para isto foi fixado em uma solução de Davidson salino uma secção de carne que contém as gônadas durante aproximadamente 24 horas. Esta secção foi conservada em álcool 70º, para posterior desidratação mediante banhos sucessivos em álcool de diferente graduação. Os blocos de parafina, mantidos a 4ºC, foram cortados em duas profundidades em secções de 5 µm utilizando um micrótomo. As secções resultantes foram montadas sobre lâminas e tingidas com a coloração de Hematoxilina e Eosina, posteriormente realizando à montagem com meio sintético. Para cada indivíduo se analisaram duas lâminas contendo em cada uma delas duas secções de sururu. A proporção sexual foi estabelecida como a relação do número total de machos e fêmeas, a época de desova foi avaliada através da distribuição da frequência mensal dos diferentes estágios de maturação em relação ao índice de ocupação gonadal. A temperatura e salinidade aferidas entre os meses de estudo tiveram médias de 31,2ºC e 34,2, respectivamente, tendo os seus valores mais elevados nos meses de junho e outubro, respectivamente. Durante o período de estudo foram analisados 193 indivíduos, onde 50,26%

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AVALIAÇÃO DO CICLO REPRODUTIVO DO SURURU Mytella guyanensis (Lamarck 1819) NA ILHA DO MARANHÃO

Hugo Moreira Gomes1*; Aleff Paixão França2; Derykeem Teixeira Rodrigues Amorim2; Thaís Brito Freire2; Thalison da Costa Lima2; Ana Karolina Ribeiro Sousa2; Ícaro Gomes Antonio3.

[email protected]. Graduando em Engenharia de Pesca/ UEMA. [email protected] Engenheiro de Pesca/UEMA. [email protected]. Graduando em Engenharia de Pesca/ UEMA. [email protected] Graduanda em Engenharia de Pesca/ UEMA. [email protected]. Engenheiro de Pesca/ UEMA. [email protected]. Engenheira de Pesca. [email protected]. Professor Dr° do curso de Engenharia de Pesca/ UEMA.

RESUMO

O trabalho teve por objetivo aprofundar o conhecimento científico da biologia reprodutiva de Mytella guyanensis, como também estabelecer programas de manejo desse organismo, uma vez que podem promover a manutenção das reservas naturais e assim contribuir para o desenvolvimento da mariscagem da espécie de uma forma sustentável. Os estágios de maturação foram estabelecidos através da análise histológica do tecido gonadal dos sururus por amostragem. Para isto foi fixado em uma solução de Davidson salino uma secção de carne que contém as gônadas durante aproximadamente 24 horas. Esta secção foi conservada em álcool 70º, para posterior desidratação mediante banhos sucessivos em álcool de diferente graduação. Os blocos de parafina, mantidos a 4ºC, foram cortados em duas profundidades em secções de 5 µm utilizando um micrótomo. As secções resultantes foram montadas sobre lâminas e tingidas com a coloração de Hematoxilina e Eosina, posteriormente realizando à montagem com meio sintético. Para cada indivíduo se analisaram duas lâminas contendo em cada uma delas duas secções de sururu. A proporção sexual foi estabelecida como a relação do número total de machos e fêmeas, a época de desova foi avaliada através da distribuição da frequência mensal dos diferentes estágios de maturação em relação ao índice de ocupação gonadal. A temperatura e salinidade aferidas entre os meses de estudo tiveram médias de 31,2ºC e 34,2, respectivamente, tendo os seus valores mais elevados nos meses de junho e outubro, respectivamente. Durante o período de estudo foram analisados 193 indivíduos, onde 50,26% foram machos, 48,70% fêmeas e 1,04% hermafroditas. A proporção sexual durante o período de estudo foi de 1,02:1. As análises histológicas das lâminas, indicam um ciclo contínuo, com indivíduos maduros (IIIA) durante todo o ano e com eliminação de gametas (IIIB) em quase todos os meses, com três picos de maior liberação, nos meses de fevereiro, abril e setembro. Estes dados apresentam uma relação direta com os momentos do ano que apresentam as maiores variações de salinidade, indicando influência da mesma na indução de liberação de gametas. O presente trabalho nos apresentam importantes informações sobre o “sururu de dedo” Mytella guyanensis em Raposa-MA, para o desenvolvimento da mitilicultura no estado do Maranhão, uma vez que os estudos indicam momentos de maturação gonadal e liberação de gametas, onde são períodos propícios para obtenção de sementes. Logo essas informações se tornam essenciais para quem pretende trabalhar com cultivo dessa espécie que apresenta grande potencialidade para o Estado.

Palavras-chave: Município de Raposa, Molusco Bivalve, biologia reprodutiva.

ABSTRACT

The objective of this work was to deepen the scientific knowledge of the reproductive biology of Mytella guyanensis, as well as to establish management programs of this organism, since they can promote the maintenance of the natural reserves and thus contribute to the development of the mussel fishing in a sustainable way. Stages of maturation were established through histological analysis of the gonadal tissue of the mussels by sampling. A section of meat that covers the contain gonadas was fixed in a saline Davidson solution for approximately 24 hours. This section was preserved in 70º alcohol, for subsequent dehydration by successive baths in alcohol of different graduation. The paraffin blocks, kept at 4 ° C, were cut at two depths in 5 μm sections using a microtome. The resulting sections were mounted on slides and dyed with Hematoxylin and Eosin staining, after which the assembly was done with synthetic medium. For each individual, two slides containing two sections of mussel were analyzed. The sex ratio was established as the ratio of the total number of males and females, the spawning season was evaluated through the monthly frequency distribution of the different maturation stages in relation to the gonadal occupancy index. The temperature and salinity measured between the study months had averages of 31.2ºC and 34.2, respectively, and their values were higher in the months of June and October, respectively. During the study period, 193 individuals were analyzed, where 50.26% were males, 48.70% females and 1.04% hermaphrodites. The sex ratio during the study period was 1.02: 1. The histological analysis indicates a continuous cycle with mature individuals (IIIA) throughout the year and with elimination of gametes (IIIB) in almost every month, with three peaks of higher spawning in the months of February, April and September. These data present a direct relation with the moments of the year that present the greatest variations of salinity, indicating its influence on the induction of spawning. The present work presents important information about the mussel Mytella guyanensis in Raposa-MA, for the development of the mussel culture in the state of Maranhão, since the studies indicate moments of gonadal maturation and liberation of gametes, where are favorable periods to recruit seeds. These information becomes essential for those who intend to work with cultivation of this species that presents great potential for the State.

Key word: Municipality of Raposa, Bivalve Mollusc, reproductive biology.

1- INTRODUÇÃO

A zona costeira maranhense revela uma expressiva ocorrência de manguezais relativamente preservados (UFMA, 2003). Ao longo do seu litoral alternam-se mangues, restingas, campos inundáveis, dunas, estuários, recifes de corais e outros ambientes importantes do ponto de vista ecológico, sendo assim o maranhão possui sua zona costeira em cerca de 640 km de extensão e abriga um mosaico de ecossistemas de alta relevância ambiental.

O “sururu de dedo” Mytella guyanensis (LAMARCK, 1819) é uma das espécies que habita os estuários do Maranhão sendo muito extraído pelas marisqueiras na Ilha do Maranhão, entretanto, pouco se sabe sobre esta espécie. Essa extração ainda é realizada de uma forma bastante rudimentar pelas comunidades tradicionais, sem que existam medidas de manejo que garantam o uso sustentável destes recursos (MONTELES et al., 2009).

No município de Raposa, os moluscos são recursos de extrema importância na pesca artesanal que auxiliam como complemento da alimentação da população litorânea como também por apresentarem papel importante gerando complemento da renda familiar. As principais espécies de moluscos comestíveis capturadas nos municípios de Raposa são: a ostra nativa (Crassostrea gasar), os sururus (Mytella guyanensis e Mytella falcata), o sarnambi (Anomalocardia brasiliana) e a tarioba (Iphigenia brasiliensis) (Monteles et al., 2009). A extração desses recursos, de forma geral, é feita por mulheres e filhos de pescadores, denominados de marisqueiros (GIL et al., 2007).

O estudo da reprodução é de interesse básico no conhecimento da biologia de uma espécie, particularmente se o animal é comestível e exista interesse econômico no seu cultivo (NASCIMENTO 1978).

Existem diferentes maneiras de avaliar o desenvolvimento gonadal em moluscos bivalves, baseando-se: 1) na observação macroscópica do tamanho relativo, coloração e forma da gônada (MASON, 1958); 2) no índice gonadal (HUGHES-GAMES, 1977, GRANT e TYLER, 1983, BODOY et al., 1986); (3) no diâmetro médio dos ovócitos e na área de ocupação da gônada por gametas (KENNEDY e BATTLE, 1964, MURANAKA e LANNAN, 1984, LANGO-REYNOSO et al., 2000, DELGADO e PÉREZ CAMACHO, 2003); e (4) nos estágios de desenvolvimento (histologia) (QUAYLE, 1969; YAKOVLEV, 1977; STEELE, 1998).

As técnicas histológicas podem aportar uma informação precisa sobre o desenvolvimento gonadal. Por exemplo, as variações estacionais dos diferentes estágios de desenvolvimento gonadal podem ser determinadas através de observações histológicas, permitindo a identificação de fatores determinantes sobre a atividade reprodutiva dos moluscos bivalves (PAULET, 1990).

Os métodos utilizados para avaliar a gametogênese em moluscos bivalves possuem vantagens e desvantagens. Barber e Blake (1991) mencionam que o método mais completo consiste na aplicação de pelo menos duas técnicas, uma das quais pode ser quantitativa ou qualitativa, enquanto a outra seria realizada através da análise histológica, necessária para verificar os eventos reprodutivos relacionados com o desenvolvimento dos gametas.

Esses estudos de reprodução de bivalves marinhos podem ser utilizados como a base para o estabelecimento de programas de manejo para estes organismos, uma vez que podem promover a manutenção das reservas naturais e assim contribuir para o desenvolvimento da mariscagem de uma forma sustentável (ARAÚJO, 2001; ARRUDA e AMARAL, 2003; BOEHS et al., 2004; ANEIROS et al., 2014).

Desta forma, o objetivo do trabalho foi aprofundar o conhecimento científico do ciclo reprodutivo do “sururu de dedo” Mytella guyanensis e a partir desse conhecimento estabelecer programas de manejo desse organismo, uma vez que podem promover a manutenção das reservas naturais e assim contribuir para o desenvolvimento da mariscagem da espécie de uma forma sustentável e para o início da mitilicultura.

2- MATERIAL E MÉTODOS

O banco de coletas para o estudo do ciclo reprodutivo do “sururu de dedo” Mytella guyanensis no município de Raposa-MA foi o local denominado de “banco 1” que está localizado nas proximidades da Ilha das Ostras, entre as coordenadas geográficas latitude 2°25’40,50’’S e Longitude 2°4’12,97’’O (Figura 1). É área de manguezal que de acordo com a legislação ambiental é uma Área de Preservação Permanente, porém o local sofre grande pressão antrópica.

Para o estudo da biologia reprodutiva os sururus foram coletados mensalmente no município de Raposa com intervalos de aproximadamente 30 dias, no período de janeiro a dezembro de 2015. Uma vez coletado, os animais foram levados até a Universidade Estadual do Maranhão, aonde é realizado o processamento, que consiste na medição (comprimento e largura) com um paquímetro com uma precisão de 0,1 mm e pesado (peso total, peso fresco das valvas e peso fresco das partes moles) utilizando uma balança com uma precisão de 0,01 g. Para o peso fresco das partes moles, estas foram deixadas em papel absorvente, para retirar o excesso de água, antes de proceder à pesagem. As variáveis ambientais (temperatura e salinidade) também foram obtidas no momento da coleta.

Os estágios de maturação foram estabelecidos através da análise histológica do tecido gonadal dos sururus por amostragem. Para isto foi fixado em uma solução de Davidson salino uma secção de carne que contém as gônadas durante aproximadamente 24 horas, dependendo do tamanho do animal. Esta secção foi conservada em álcool 70º, para posterior desidratação mediante banhos sucessivos em álcool de diferente graduação. A eliminação dos restos de álcool foi realizado em um meio solúvel em parafina (xilol) e posteriormente incluídas em parafina.

Os blocos de parafina, mantidos a 4ºC foram cortados em duas profundidades em secções de 5 µm utilizando um micrótomo. As secções resultantes foram montadas sobre lâminas e tingidas com a coloração de Hematoxilina e Eosina (HE). Posteriormente realizando à montagem com meio sintético (Entellan).

Para cada indivíduo se analisaram, utilizando um microscópio binocular, duas lâminas contendo em cada uma delas duas secções de sururu. A determinação dos estágios de desenvolvimento gonadal foi realizada utilizando a escala descrita por Lubet (1959), com uma modificação, aonde se agruparam os estágios IIIA1 e IIIA2 em um único estágio IIIA.

A proporção sexual (sex-ratio), foi estabelecida como a relação do número total de machos e fêmeas, onde é comparada em cada amostragem e como a média total durante o período de estudo, aplicando-se o teste não paramétrico de χ² com um nível de significância α = 5%. A época de desova era avaliada através da distribuição de frequência mensal dos diferentes estágios de maturação em relação ao índice de condição e ao índice de ocupação gonadal.

Figura 1. Localização da área de estudo da biologia reprodutiva do Mytella guyanensis.

Fonte: Google Earth

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os dados obtidos em relação as variáveis ambientais, a temperatura aferida entre os meses de janeiro a dezembro de 2015 teve média de 31°C, sendo que o mês de junho obteve o maior valor de temperatura no valor de 35°C, seguido do mês de setembro e outubro com os valores 34,7°C e 32,6°C, respectivamente. A temperatura mostrou-se baixa nos meses de janeiro e março no valor de aproximadamente 28°C (Figura 2).

A salinidade obteve média de 34,2, sendo elevada no mês de outubro com valor de 38, seguido do mês de dezembro com o valor de 37 e os meses de setembro e janeiro com salinidade de 36. O menor valor de salinidade foi no mês de junho e julho no valor de 28 (Figura 2).

Figura 2. Variáveis ambientais, nos meses de janeiro a dezembro de 2015 em Raposa-MA.

Das analises histológicas, durante o período de estudo foram analisados 193 indivíduos, onde 50,26% foram machos, 48,70% fêmeas e 1,04% hermafroditas (Figura 3). A proporção sexual durante o período de estudo foi de 1,02:1 (fêmeas:machos) e de acordo com o teste do qui-quadrado (α=5,0%) não houve diferença significativa entre a proporção sexual de machos e fêmeas. Em estudos com Anomalocardia brasiliana em Raposa-MA com 240 indivíduos analisados Souza (2015), relata a proporção de 1,12:1 (fêmeas:machos), valor aproximado ao encontrado para o Mytella guyanensis no presente estudo.

Figura 3. Proporção sexual de sururu de dedo coletados entre os meses de janeiro a dezembro de 2015, no município de Raposa-MA.

Com relação aos estágios de desenvolvimento gonadal, organismos em estágio II (gametogênese), momento em que estão com células em desenvolvimento, foram encontrados nos meses de outubro (15%), janeiro (25,3%) e em maior frequência no mês de dezembro com 33,3% dos indivíduos analisados. Já organismos em estágio de maturação (estágio IIIA) foi frequente em todos os meses de coleta, apresentando maiores percentuais nos meses de novembro, maio e janeiro com valores de 72,22%, 71,42% e 63,13%, respectivamente. Indivíduos em estágio de liberação de gametas (IIIB), também foram encontrados em todos os meses tendo maiores valores nos meses de abril (52%), setembro (45%) e em fevereiro com (40%). Sousa (2015), também relata que em todos os meses de coleta houve presença de organismos em estágios (IIIB) para Crassostrea rhizophorae, sendo mais frequentes no mês de abril, outubro e novembro. O estágio (IIIC) que representa liberação de gametas e início de um novo ciclo gametogênico, foi praticamente encontrado em todos os meses analisados, tendo maiores valores nos meses de julho (42%), março (41%) e fevereiro com (40%). Já indivíduos em estágio (IIID), estágio que representa fim do período reprodutivo, onde os organismos realizaram uma liberação total de gametas, foram observados em pequena proporção apenas nos meses de março (20%) e junho com 12,5% (figura 5).

Observa-se o mês de fevereiro e julho com maior porcentagem de organismos em estágio IIIB e IIIC. Nestes períodos foram verificadas altas salinidades e temperaturas, bem como uma diminuição no índice de condição. Este conjunto de informações nos indica que estes meses seriam os principais momentos de liberação de gametas do sururu de dedo em Raposa-MA. Em estudos com Mytella guyanensis do manguezal do Rio Tavares na Ilha de Santa Catarina, Paternoster (2003), destaca vários meses com época de desova, tendo o mês de julho época de desova parcial e fevereiro em período de desova total. Já em estudos com Anomalocardia brasiliana em Raposa-MA, Souza (2015), relata para essa espécie o mês de janeiro como época de desova parcial e julho período de desova total.

Figura 4. Evolução dos estágios de desenvolvimento gonadal de Mytella guyanensis de janeiro a dezembro de 2015 no município de Raposa-MA

Em relação ao desenvolvimento gonadal por sexo, os machos apresentaram organismos em estágio de maturação (IIIA) em todos os meses do ano, tendo o mês de junho com 100% dos organismos neste estágio. Os meses de maio e janeiro também apresentaram elevado percentual em estágio (IIIA). Já machos em estágio (IIIB), de liberação de gametas, apresentaram maior percentual nos meses de abril e julho e organismos em estágio (IIIC) foram encontrados em poucos meses, tendo maior percentual no mês de fevereiro (Figura 5).

Figura 5. Evolução dos estágios de desenvolvimento gonadal de machos de Mytella guyanensis de janeiro a dezembro de 2015 no município de Raposa-MA.

As fêmeas apresentam praticamente os quatro estágios em todos os meses com algumas exceções. Diferentemente dos machos, as fêmeas apresentaram organismos em estágio (IIID), fim do período reprodutivo, nos meses de março (37,5%) e junho (28,57%), já o estágio (IIB), de liberação de gametas, foram encontrados em todos os meses do ano, tendo maiores percentuais no mês de fevereiro e maio. Os organismos em estágio de maturação (IIIA) foram observados em maiores percentuais no mês de novembro e maio e organismos em estágio (IIIC) em maiores percentuais nos meses de junho e julho (Figura 6).

Figura 6. Evolução dos estágios de desenvolvimento gonadal de fêmeas de Mytella guyanensis em porcentagem de janeiro a dezembro de 2015 no município de Raposa-MA.

4- CONCLUSÃO

Os resultados obtidos indicam uma frequência contínua de organismos em gametogênese (IIIA), uma vez que essa afirmação é confirmada pela presença desse estágio em todos os meses coletados. Também pode-se afirmar que ocorre liberação de gametas praticamente em todos os meses do ano através da presença de organismos em estágio (IIIB), sendo mais frequente nos meses de fevereiro, abril e setembro, sendo períodos favoráveis para obtenção de sementes através de coletores artificiais, ou momento para remoção de reprodutores do ambiente natural para laboratórios para a obtenção de larvas e sementes em laboratórios.

O presente trabalho nos apresentam importantes informações sobre o “sururu de dedo” Mytella guyanensis em Raposa-MA, para o desenvolvimento da mitilicultura no estado do Maranhão, uma vez que os estudos indicam momentos de maturação gonadal e liberação de gametas, onde são períodos propícios para obtenção de sementes. Logo essas informações se tornam essências para quem pretende trabalhar com cultivo dessa espécie que apresenta grande potencialidade para o estado.

5- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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temperaturajaneirofevereiromarçoabrilmaiojunhojulhosetembrooutubronovembrodezembro28.429.328.23231353334.70000000000000332.629.630.4salinidadejaneirofevereiromarçoabrilmaiojunhojulhosetembrooutubronovembrodezembro3633323432282836383537

Temperatura (ºC)

Salinidade (‰)

MACHOJaneiroFevereiroMarçoAbrilMaioJunhoJulhoAgostoSetembroOutubroNovembroDezembro0.450.50.466666666700000010.555555555600000030.61538461540.56250.526315789500000020.50.40.550000000000000040.611111111100000050.33333333329999998FÊMEAJaneiroFevereiroMarçoAbrilMaioJunhoJulhoAgostoSetembroOutubroNovembroDezembro0.50.50.533333333299999990.388888888900000010.38461538460.43750.473684210499999980.50.60.450.388888888900000010.66666666669999997HERMAFRODITAJaneiroFevereiroMarçoAbrilMaioJunhoJulhoAgostoSetembroOutubroNovembroDezembro0.05005.5555555559999997E-200000000IIjanfevmarabrmaijunjulsetoutnovdez26.315789473684209000000015033.333333333333343IIIAjanfevmarabrmaijunjulsetoutnovdez63.15789473684203918.752035.29411764705886271.42857142857138856.2521.05263157894732556072.22222222222222944.444444444444358IIIBjanfevmarabrmaijunjulsetoutnovdez5.263157894736841643.7526.66666666666667152.94117647058820428.5714285714285696.2536.842105263157897451527.77777777777777911.111111111111111IIICjanfevmarabrmaijunjulsetoutnovdez5.263157894736841637.533.33333333333334311.7647058823529402542.10526315789474010011.111111111111111IIIDjanfevmarabrmaijunjulsetoutnovdez00200012.500000

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