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UM olhar da bioética para a zooterapia

 ARTICLE · DECEMBER 2015

READS

13

1 AUTHOR:

Marta Fischer

Pontifícia Universidade Católica do…

62 PUBLICATIONS  177 CITATIONS 

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rev.latinoam.bioet. / ISSN 1657-4702 / e-ISSN 2462-859X / Número 1 / Enero-Junio / pp. 174-197 / 2016

UM olhar da bioética para a zooterapia*

Una mirada de la bioética para la zooterapia

A Bioethics view zootherapy

Fecha de recepción: 26 de junio de 2015

Fecha de evaluación: 14 de agosto de 2015Fecha de aceptación: 26 de octubre de 2015

Disponible en línea: 15 de diciembre de 2015

Marta Luciane Fischer**1

 Amanda Amorim Zanatta***2 

Eliana Rezende Adami****3

DOI: http://dx.doi.org/10.18359/rlbi.1460

Como citar:Fischer, M. L., Amorim Zanatta, A. y Rezende Adami, E. (2016). Um olhar da bioética para a zooterapia. Revista

Latinoamericana de Bioética, 16(1), 174-197. DOI: http://dx.doi.org/10.18359/rlbi.1460.

*  Artículo resultado de investigación.** Bióloga. Doutora em Zoologia. Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Programa de Pós-Graduação em Bioética. R. Imaculada Conceição, 1155, Curitiba – PR – Brasil,CEP: 80215-901. Telefone: (041) 3271.2292. E-mail: [email protected].

*** Bióloga pela Universidade Católica do Paraná. R. Imaculada Conceição, 1155, Curitiba – PR –Brasil, CEP: 80215-901. E-mail: [email protected].

**** Farmacêutica-Bioquímica e Bióloga. Mestre em Bioética. Mestranda em Farmacologia – UFPR.Rua Valdomiro Silveira, 380, Bairro Boa Vista, Curitiba – PR – Brasil, CEP: 82.560.280. E-mail:[email protected].

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Una mirada de la bioética para la zooterapia

ResumoOs animais podem auxiliar em inúmeras atividades humanas incluindo terapias com benefícios já reconhecidos,

contudo com algumas questões éticas. Logo, objetivou-se contextualizar social e eticamente o uso de animaiscomo co-terapeutas e refletir sobre a intervenção da Bioética na normatização de um problema complexo, globale plural, tendo como plano de fundo o estudo de caso envolvendo tutores, animais e crianças portadoras de dis-túrbios mentais. A revisão de literatura evidencia que a zooterapia tem sido aplicada mundialmente resultando embenefícios biopsicossociais para pacientes de todas as idades, e em crianças refletindo em melhorias no processoeducativo. Embora haja preocupação com as condutas direcionadas aos animais, a sua utilização como recursoainda é endossada por uma ética antropocêntrica utilitarista. Obviamente que a melhora do paciente é o objetivoda ação, contudo o ser humano não pode estar no centro de uma atividade que envolve o compartilhamento desentimentos. Existem questões relacionadas com instituições, profissionais, pacientes e animais que devem sernormatizadas, intermediadas e acompanhadas por um comitê de Bioética, ponderando as variáveis e projetandoestratégias e alternativas que resulte no bem-estar de todos. Atitudes corretas estimulam o processo de humanizaçãona saúde e recupera o paradigma do cuidado, prezando pelo bem-estar físico e mental do paciente e do animal quenão deve ser visto apenas como ferramenta, mas resultado de uma relação simbiótica consolidada evolutivamente.

Palavras-chave: Atividade assistida por animais; cinoterapia; ética antropocêntrica utilitarista; interação humano/ animal; terapia assistida por animais.

ResumenLos animales pueden auxiliar en innumerables actividades humanas, incluyendo terapias con los beneficios yareconocidos, sin embargo con algunas cuestiones éticas. Luego, se genera el objetivo de contextualizar social yéticamente el uso de animales como co-terapeutas y reflexionar sobre la intervención de la Bioética en la regulaciónde un problema complejo, global y plural, que tiene como plano de fondo el estudio del caso relacionado con lostutores, animales y niños con trastornos mentales. La revisión de la literatura evidencia que la zooterapia se haaplicado en todo el mundo y ha resultado en beneficios biopsicosociales en pacientes de todas las edades, y en losniños presentando mejoras en el proceso educativo. Aunque haya preocupación acerca de las conductas que tienenque ver con los animales, su uso como recurso todavía está respaldado por una ética antropocéntrica utilitarista.Obviamente, que el objetivo de la acción es la mejoría del paciente, sin embargo, el ser humano no puede estaren medio de una actividad en la que implica el intercambio de sentimientos. Hay cuestiones relacionadas con las

instituciones, los profesionales, los pacientes y los animales que deben ser regularizadas, negociadas y supervisadaspor un comité de Bioética, tomando en cuenta las variables y proyectando estrategias y alternativas que resultenen el bienestar de todos. Las actitudes correctas estimulan el proceso de humanización en la salud y recuperanel paradigma de la atención, valorando el bienestar físico y mental del paciente y del animal que no deben servistos sólo como una herramienta, sino el resultado de una relación simbiótica consolidada evolutivamente.

Palabras clave: Actividad asistida por animales; cinoterapia; ética antropocéntrica utilitarista; interacción humano/ animal; terapia asistida por animales.

Abstract Animals can assist in several human activities including therapies that result in acknowledged benefits, how-ever there are some ethical issues. Thus, we intended to contextualize social and ethically the use of animals asco-therapists and to reflect on the intervention of bioethics in the establishment of conduct rules for a complex,

global and plural problem, having as background the case study involving guardians, animals and children withmental disorders. The shows that zootherapy has been applied globally resulting in biopsychosocial benefitsfor patients of all ages, and particularly for children, reflecting improvements in the educational process. Notwith standing, we can it is notable that although there is a certain concern about the conduct with animals,their use as a resource is still endorsed in a utilitarian anthropocentric ethics. Clearly, even though the patients’improvement is the goal, human beings cannot be at the center of an activity that involves the sharing of feelings.There are issues related to institutions, professionals, patients and animals to be standardized, intermediated andaccompanied by a bioethics committee, considering the variables, alternatives and strategies that result in thewell-being of all. Correct attitudes stimulate the process of humanization in medicine and allow the recoverycare paradigm, valuing the physical and mental health of the patient and the animal, that should not be seenonly as a tool, but as the result of a consolidated symbiotic relationship.

Keywords: Animal assisted therapy; assisted activity for animals; anthropocentric utilitarian ethics; cinoterapy;interaction human/animal.

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Marta Luciane Fischer • Amanda Amorim Zanatta • Eliana Rezende Adam

Introdução

 A legitimidade da utilização de animais

para suprir necessidades humanas per-meia sua existência alicerçada na crençaque a aquisição da razão foi um endossoà dominação das demais espécies (Fis-cher y Oliveira, 2012). Embora na EraClássica e Medieval tenham sido levan-tados questionamentos a respeito daidoneidade no tratamento aos animais,foi somente após o Iluminismo que Je-

remy Benthan logrou, ainda que tímida,a atenção da comunidade acadêmica,para a capacidade de sofrimento dosanimais. Essa concepção estimulou oquestionamento das condutas moraisdemarcadas por princípios filosóficos,religiosos, científicos e sociais tradicio-nalmente consolidados em uma éticaantropocêntrica. Paulatinamente novosconceitos e posicionamentos edificaram

movimentos pró-animal protecionistas,utilitaristas permissivos e restritivose abolicionistas (Fischer y Oliveira,2012). Na visão utilitarista a capacidadede sentir é determinante para o statusmoral e balizamento das condutas paraevitar o sofrimento físico e mental dosanimais cuja utilização pela sociedadepossui justificativa e para a qual não

há alternativa (Singer, 2004). Enquantoque a libertação animal prega a totalabolição do uso de animais pelos se-res humanos, defendendo o “direitomoral” que inclui a vida, a liberdadee a integridade física e que não exis-tem justificativas convincentes paraindeferir esta condição (Regan, 2006;Francione, 2013).

Os primordiais e principais usos dosanimais pela humanidade têm sido paraconsumo e geração de trabalho, consti-

tuindo a base da evolução tecnológica. A exploração animal só foi possíveldevido à domesticação, decorrentede alterações genéticas espontâneaspromotoras da adaptação ao homeme ao ambiente alterado (Grandin y Jhonson, 2010). As evidências antro-pológicas apontam aos cães como osprimeiros animais domesticados, há

cerca de 16.000 anos, provenientesde lobos cuja menor distância de fuga,viabilizou a aproximação e o esta-belecimento de confiança (Ribeiro,2011). Concomitantemente, o lobo foitornando-se útil auxiliando na caça,pastoreio, defesa e companhia, sendosucessivamente selecionados animaisdóceis e plausíveis de criarem vínculosemocionais com os humanos ao pontode serem considerados membros dafamília (Ribeiro, 2011). Recentementetem-se aprimorada a compreensãode que os animais podem auxiliarem outros contextos como atividadesassistidas em ambientes hospitalares,terapêuticos e educacionais (Crippa yFeijó, 2014).

 A cinoterapia ou terapia com cães é fun-damentada na sensibilidade, motivação,concentração e socialização (Ribeiro,2011). Contudo deve-se levar em contanão somente o vínculo sentimental,mas também o aspecto ético, respeitoe dignidade pela vida e bem-estar dosanimais (Ribeiro, 2011). Diante dessademanda, o presente estudo objetivou

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Una mirada de la bioética para la zooterapia

contextualizar social e eticamente o usode animais como co-terapeutas e refletirsobre a intervenção da Bioética no es-

tabelecimento de normas de conduta,tendo como plano de fundo o estudo decaso e a avaliação da percepção ética detutores de crianças e animais envolvidosem terapias.

Metodologia

O presente estudo foi dividido em três

partes: na primeira foi explorada a carac-terização do uso de animais em terapias;no segundo apresentado o estudo de casoconsiderando as crianças, educadores,tutores e animais; e por último foi rea-lizado um levantamento das questõeséticas envolvidas na atividade e a reflexãosobre o papel da Bioética.

Para o encaminhamento teórico foirealizada uma análise exploratória doconteúdo de artigos científicos sobrezooterapia, sendo incialmente realizada acaracterização dos tipos de terapias queutilizam animais, e após a apresentaçãodo estudo de caso, o levantamento dasquestões envolvidas, a fundamentaçãoética das mesmas e refletido sobre opapel da Bioética na intermediação da

resolução desse problema global, plurale complexo.

O Estudo de caso foi conduzido noInstituto o Cão Amigo e Cia, fundadoem 2003, de atuação em Curitiba eFlorianópolis, Brasil, é uma organi-zação não governamental, filantrópicae voluntária, que leva animais a asilos,

escolas especiais e regulares e larespara crianças, a fim de desenvolveratividades de TAA. Congrega como

voluntários, tutores de cães sociáveis esaudáveis, selecionados através de tes-tes de reação. Embora não demandemadestramento, os cães portam um lençoindicativo do momento do trabalho.Foram acompanhadas as atividadesem duas instituições, sendo uma es-cola de educação especial que atende,desde 1988, crianças com Transtornos

Invasivos de Desenvolvimento (TID),destacando-se o autismo, objetivandominimizar alterações nas áreas queatrasam o desenvolvimento, recebemensalmente a visita de dois cães te-rapeutas. A outra trabalha desde 1971com educação especial de crianças e jovens com Deficiência IntelectualLeve (DIL), adotando como propos-ta pedagógica o desenvolvimento deconhecimento e competências básicaspara a autonomia, trabalho e relaçõessociais pertinentes ao exercício dacidadania, contando bimensalmentecom três cães terapeutas.

 A fim de se conhecer a opinião e po-sicionamento ético sobre a terapia foielaborado e aplicado um instrumento

de investigação aos professores, orepresentante legal da criança e ostutores dos animais, contendo cincoquestões descritivas visando identificaro posicionamento quanto aos bene-fícios para as crianças e os animais, edez questões de pontuação em escalalikert de 1 a 9 visando verificar aidentificação do tutor com assertivas

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relativas a posicionamentos balizadospela ética antropocêntrica utilitarista,utilitarista permissiva, bem-estarista

e abolicionista. Foi analisado o com-portamento de cinco cães, atravésde observações individuais, por 30minutos antes e durante a terapia,com três repetições sempre no mesmoperíodo.

O presente estudo teve o aval do Comitêde Ética do Uso de animais (CEUA-PU-CPR) no816 e do Comitê de Ética emPesquisa (CEP-PUCPR), no449.814.

Resultados

Caracterização da Terapia Assistidacom Animais

O uso terapêutico da afetividade huma-no/animal tem atraído gradativamente a

atenção da academia. A Terapia Assistidapor Animais (TAA) foi implementadaem 1792 na Inglaterra por Willian Tuke,visando propiciar estímulos positivospara deficientes mentais através datarefa de cuidar de animais de fazenda(Ferreira, 2012). Desde então, o ins-trumento foi replicado motivando apesquisa sobre os efeitos. Conduzindo à

implementação nos Estados Unidos nadécada de 1950 através da cinoterapia,liderada pelo psicólogo Boris Levinson,e disseminado pela Europa continentala partir da década de 1980. No Brasilo marco oficial é a implementação do“Projeto PetSmile” pela psicóloga e vete-rinária Hannelore Fuchs  em 1997, umserviço comunitário filantrópico cons-

tituído de visitas de voluntários e seusanimais de estimação, às instituiçõesdestinadas às crianças portadoras de

deficiências físicas e mentais (Dotti,2005).

 A TAA é um processo terapêutico ado-tado mundialmente e padronizadopela organização americana sem finslucrativos Delta Society, a qual desde1997 fomenta a melhoria na saúde equalidade de vida humana através do

auxílio dos animais (Ferreira, 2012).Consolidada através da congregaçãode instituições, órgãos certificadores,voluntários e profissionais da área dasaúde humana e animal (Society, 2005).Posiciona o animal como o ator princi-pal do tratamento, objetivando promo-ver benefícios e auxiliar na recuperaçãosocial, emocional, física e/ou cognitivade crianças e adultos (Machado et al..,

2008).

Em poucas décadas diferentes de-nominações da TAA foram aplica-das: “Atividade Assistida com Ani-mal (AAA)”, “Pet Terapia”, “Terapiacom Animais”, “Terapia Facilitadapor Animais”, “Intervenção Assistidapor Animais”, “Visitas com Animais”,

“Educação Assistida por Animais” e“Zooterapia” (Dotti, 2005). Emboraessa diversidade possa remeter à abran-gência, para Lima e Souza (2004) atra-palha a divulgação da proposta. A AAAcorresponde às ações heterogêneas,flexíveis e informais na condução deanimais de companhia a lares, hospi-tais ou escolas. Sem a necessidade de

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obrigações, supervisões e vínculos comprogramas oficiais, visando priorita-riamente entretenimento, motivação e

melhoria da qualidade de vida (Dotti,2005). Já na TAA o animal precisa sercredenciado e a terapia dirigida pormetas, envolvendo profissionais como:fisioterapeutas, terapeutas ocupacio-nais, assistentes sociais, pedagogos,psicólogos, psiquiatras, veterinários,adestradores, biólogos e bioeticistasque direcionam intervenções formais

com procedimentos, metodologia, do-cumentação, planejamento e avaliação(Lima y Souza, 2004; Dotti, 2005; Walsh, 2009; Evans y Gray, 2012). Atua, assim, na área da saúde auxi-liando a reabilitação de pessoas comdeficiência física, mental ou genética;na escala social combatendo estresse oudistúrbios comportamentais (Machadoet al., 2008) e na educação, visandointervenções no aprendizado (Dotti,2005). Capote (2009) fez uma análisehistórica e social da TAA veiculadasentre 1973 e 2007, registrando comoabordagem: benefícios para melhoriafísica e mental (13%), na saúde deidosos (17%), na socialização e en-frentamento de condições adversas(13%), intervenções terapêuticas em

crianças (16%) e pacientes com dis-túrbios mentais (13%), em hospitais(11%) e no vínculo natural humanos/ animais (6%). Ressalva-se que até essemomento apenas o 0,4% das publi-cações questionaram a escassez deutilização de metodologias empíricaspara validar as constatações benéficas.

Os animais podem auxiliar atividadeshumanas envolvendo objetivos e proce-dimentos específicos que resultam em

benefícios já reconhecidos, contudo,todavia apresentam questões que devemser refletidas (Iannuzzi y Rowan, 1991). A indicação de animais para companhiade crianças, idosos e solteiros é recon-hecida em diferentes sociedades (Ribei-ro, 2011; Thompson, 2009; Ferreira,2012). Estudos recentes constataramque idosos tutores de animais são me-

nos estressados e, consequentemente,necessitam menos de atendimento mé-dico (Siegel, 1990). Porém, diante dedemandas mais complexas, tem sidoexigido do animal além da companhiatornando-os “Animais de Assistência”.Treinamentos complexos preparam-nospara auxiliar portadores de deficiências,atuando como suporte do órgão sen-sorial deficiente, como apoio durantea caminhada, empurrando cadeiras derodas, abrindo portas, manipulandoobjetos e acionando interruptores. Emcrianças com autismo pode orientara travessia de rua, alertar quando sedistancia dos pais, acalmar e dormircom a criança. O “Serviço de Alerta”visa antecipar quadros de epilepsia, dia-betes, pânico, cardíacos e hipoglicemia

alcançando medicamentos ou acionandoo sistema de emergência (Dotti, 2005).Diferentes animais podem ser utilizados,tais como os gatos, atualmente indica-dos para pacientes que necessitam demaior aquisição de equilíbrio e respeitoaos limites alheios. Contudo, são oscães os que apresentam efeitos com-

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provadamente positivos, estimulandoconversas e desenvolvendo sentimentosde segurança, amor e aumento de vigor

físico e mental (Siegel, 1990). Porém,segundo Lima e Souza (2004), não équalquer raça que pode ser destinadapara a assistência, devendo-se levar emconsideração a sua resistência, saúde,agressividade, motivação, concentraçãoe aprendizagem, destacando-se raçascomo Labrador, Golden Retriever ePastor Alemão.

Os animais têm sido amplamente dire-cionados para os idosos promovendomelhora física, no humor e na comu-nicação (Capote, 2009). Embora osresultados positivos sejam alcançadoscom a manipulação de plantas e visitasde voluntários motivados, animais,como cães, gatos, hamsters e pássa-ros, destacaram-se pela promoção do

contato físico suprindo a necessida-de do conforto tátil, e de um meiosocialmente aceitável de satisfazera necessidade de tocar e ser tocadomelhorando o bem-estar e a autoestima(Kaiser et al., 2002). A presença dosanimais ao longo da infância, seja nosbrinquedos, na literatura ou nos des-enhos, viabiliza a conexão da criança

com o terapeuta (Ferreira, 2012),estendendo os benefícios além docontexto doméstico, exercendo efeitode calmante, melhoria do aprendizado,comunicação, confiança e responsabi-lidade e fortalecimento de vínculos emautistas (Evans y Gray, 2012; Walsh,2009). Além disso, estimula os exer-cícios de mobilidade e fala auxiliando

na fisioterapia e na fonoaudiologia(LaFrance et al., 2005).

Programas de visitação e manutençãode animais em instituições tais comocasa de passagem, prisões e hospitaispsiquiátricos tem-se popularizado (Ian-nuzzi y Rowan, 1991; Walsh, 2009;Evans y Gray, 2012). Nos EstadosUnidos é permitido desde 1978, intro-duzir pequenos animais nas prisões, osquais auxiliam na reabilitação atravésda diminuição do isolamento, frus-tração, violência, conflitos, suicídios emelhora da autoestima e da cooperaçãoentre detentos e guardas (Founier etal., 2007). Já em crianças vítimas deviolência resgata a autoestima, o amorpróprio e a reestruturação emocional(Porto y Cassol, 2007). Atualmentecerca de 30% de psiquiatras e psico-terapeutas envolvem animais em suas

práticas clínicas (Ferreira, 2012), umavez que se constituem de catalisado-res e referência estável no mundoexterno viabilizando projeções, iden-tificações e aproximação da realidade(Silveira et al., 2011). A teoria do linké uma aplicação contemporânea dainteração animal/humanos. SegundoRobis e Nassaro (2013), maus-tratos

aos animais, além de indicar ambientefamiliar conturbado, podem ser utili-zados como diagnóstico do potencialcriminoso, assim os atendimentos deanimais vitimizados deveria envolveração de prevenção primária ao cometi-mento de outros delitos, demandandoe direcionando para órgãos de assis-tência social.

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 A prática de envolver animais em hos-pitais, comum na América do Nortee Europa, ainda engatinha no Brasil.

Embora existam registros de casos desucesso da prática tradicional de visitade cães de voluntários, alguns projetosde lei têm sido apresentados visandoconsolidar a atividade. O Hospital Albert Einstein em São Paulo é umdos pioneiros da América Latina, ten-do passado por testes e treinamentoscom equipes de certificação por uma

organização americana que reconheceo atendimento de saúde humanizado,para liberação de visita de animaisde estimação dos pacientes, mesmoàqueles internados em unidades se-mi-intensivas. A presença de animaisem instituições médicas tem diminuídoo tempo de internação e a percepçãoda dor, além de melhorar significa-tivamente no humor, socialização ereceptividade, principalmente diantede procedimentos dolorosos e demo-rados, refletindo no bem-estar de todaa equipe profissional (Crippa y Feijó,2014). Deve-se ressaltar, ainda, queneste ambiente, os atos de acariciar,pentear e brincar são excelentes exer-cícios de coordenação motora, alémde diminuir o estresse, pressão arterial

e riscos cardíacos e ativar o sistemaimunológico, diminuindo a ocorrênciade alergias e problemas respiratórios.Intervenções em pacientes terminaistem ganhado notoriedade como partede práticas humanizadas em cuidadospaliativos facilitando principalmente acomunicação e reavaliação da vida eda fé (Geisler, 2004). Uma inovação

tem sido o uso de animais em clini-cas odontológicas com o objetivo dereduzir a ansiedade dos pacientes com

necessidades especiais (Oliva, 2009).

 A equinoterapia é reconhecida pela me-dicina desde 1997 e monitorada pela Associação Nacional de Equoterapia(ANDE). Os programas demandamterapeutas com certificação e treina-mentos específicos, onde geralmenteusam-se cavalos de competição aposen-tados, justificando o benefício para oanimal, uma vez que é proporcionada aoportunidade de continuarem ativos eprodutivos (Iannuzzi y Rowan, 1991).Os resultados são instantâneos, sendo,por exemplo, registrada uma reduçãona gravidade dos sintomas do autismoapós três meses de tratamento (Kern et

al., 2011). Embora tradicionalmente seuse cavalos e cães para TAA, outros ani-

mais domesticados como gatos, alpaca,hunekune e porcos, assim como selva-gens como aves, tartarugas, golfinhos,peixes, répteis, anfíbios, artrópodes ecaramujos têm sido considerados há-beis em modificar seu comportamentoatravés do desenvolvimento de habili-dades relacionadas com aprendizado eautocontrole (Somervill et al., 2009).

Um exemplo interessante é o projetoDr. Escargot  (Martins, 2011) no qualcaramujos são auxiliares em atividadesdidáticas, prendendo a atenção dascrianças através de seus movimen-tos lentos, além de possibilitar novasinterações, quebra de paradigmas ereflexão de questões como respeito,ética e cidadania.

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Diante desse cenário é possível perce-ber que o envolvimento com animaisdesencadeia benefícios biopsicossociais

para pessoas de todas as idades. Porém,além dos benefícios para os humanosdeve-se considerar o bem-estar dosanimais. Segundo Odendaal (2000), aterapia também reverte em benefíciospara o cão atestado pelo aumento deendorfina, oxitocina, prolactina, ácidofenilacético e diminuição do cortisol epressão sanguínea. Porém, a indicação

de correlação entre o ato de lamber olábio e o aumento de cortisol, podefornecer insights  sobre o bem-estarde cães em TAA e contribuir paraaumentar os padrões de educação,certificação e da qualidade de vidadesses animais.

Estudo de Caso: As Crianças e osMétodos Terapêuticos

Durante as visitas grupos de dez a quinzecrianças estimuladas e familiarizadas como processo, interagiam com os animaisna maioria das vezes espontaneamentebuscando referências nos adultos. Po-rém sentiam falta dos mesmos quandonão podiam comparecer, chegando arecusarem a interagir com os animaispresentes.

 A entrevista com os educadores re-fletiu dados disponíveis na literatura,cuja maioria (94%) relatou melhorano processo pedagógico, destacan-do: desenvolvimento escolar (45%),transmissão de afeto (25%), contatosocial (10%), entusiasmo (10%) e

tranquilidade (10%), contudo alerta-ram que a zooterapia não deve ser aúnica atividade terapêutica (Oliveira,

2007) e que os benefícios podem iralém da cognição, elevando o nívelde leitura, motivação, autoconfiançae aceitação. Foi relatado que criançasautistas se acalmaram após a terapia,tornando-se mais receptivas e as por-tadoras de deficiências intelectuais,mais comunicativas. Esse resultado édecorrente do animal influenciar mais

na moderação de respostas estressoras,do que um adulto ou outra criança(Jalongo et al., 2004). Segundo Oli-veira (2007), a pelagem dos animaiscorresponde às texturas reconfortantese o simples carinho ajuda a eliminarcargas elétricas provenientes de si-tuações estressoras.

 A frequência de professores que apro-

vam (38%) ou não (37%) a inclusãode crianças portadoras de deficiênciaem escolas convencionais foi a mes-ma, sendo que poucos (25%) condi-cionaram a aprovação com o grau dedeficiência. Dos que aprovaram, 29%acreditava que melhoras significativaspodem ser obtidas através de métodoscomplementares. O denso demográfico

(IBGE, 2010) indica cerca de 24% dapopulação brasileira possui algum tipode deficiência, sendo as intelectuais oumentais relativas a 2,6 milhões de bra-sileiros. Entre 2002 e 2005, a região suldo país apresentava 133 mil alunos por-tadores de deficiência matriculados eminstituição educacional, sendo a maioriaem escolas especiais (70%). Embora a

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inclusão desses estudantes ainda sejaalvo de debate, Ferreira (2012), acreditaque admitir deficientes nos meios sociais

representa um passo evolutivo em relaçãoà sociedade, contudo é necessário con-siderar a necessidade de infraestrutura.Nesse contexto, a aplicação de métodoscomplementares como a AAA, podecontribuir significativamente (Oliveira,2007), além da melhoria no currículo,proporcionando desenvolvimento depráticas como o respeito às diferenças,

afetividade e condutas éticas.

Estudo de caso: Os Tutores

O representante legal das crianças seidentificou principalmente com as asser-tivas antropocêntricas utilitaristas (52%),seguidas de bem-estaristas (25%) e uti-litaristas permissivas (21%). A análisecomparativa entre as duas instituições

revelou que os tutores de alunos comTID foram mais homogêneos quanto àidentificação as éticas do que os tutoresde crianças com DIL, sendo a única di-ferença estatística entre as duas quantoà identificação com a ética abolicionista(Figura 1).

O grupo voluntariado era profissio-nalmente heterogêneo composto por

psicólogo, pedagogo, arquiteto, auxi-liar em veterinária e assistente social,dedicando-se à prática de três meses aonze anos. Após seleção e treinamentopassaram a visitar regularmente umaou mais instituições envolvendo umou mais animais de estimação, ale-gando como motivação: realização

profissional e pessoal, promoção deunião de pessoas que comungam daintenção de contribuir para a socie-

dade, fazer algo para melhorar a vidadas pessoas e também como formade agradecimento à vida. Os tutoresdos cães-terapeutas acreditam que azooterapia revertem benefícios físicose emocionais tanto para as criançasquanto para os animais em decorrên-cia da troca de afeto, identificando-semais com a ética bem-estarista (58%)

quando comparada com a antropo-cêntrica utilitarista (32%) e utilitaristapermissiva (18%) (Figura 2).

 Ambos os grupos perceberam a AAAcomo benéfica para as crianças e con-cordam que os animais devem disporde boas condições para a promoçãodo bem-estar físico e emocional. Osentrevistados compartilham da crença

que os animais são detentores desentimentos e dignos de respeito,porém evidenciaram certo grau detolerância em relação à utilizaçãodestes, quando necessário, para obenefício do homem. Utilizando avertente antropocêntrica e utilitaristamediadora da avaliação entre o certoou errado (Hötzel y Machado-Filho,

2004), cuja senciência é tido comoo principal parâmetro de igualdademoral (Felipe, 2009). Os tutores doscães se identificaram mais com a éticabem-estarista, o que era esperado,tendo em vista estar apoiada no prin-cípio de igualdade de consideração,salientando os sofrimentos impostosaos animais (Singer, 2004).

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 Valor médio de pontuação atribuído pelo representante legal de crianças autistas (TID) e com deficiên-cia intelectual leve (DIL) para assertivas de cunho ético antropocêntrico utilitarista (AU), utilitaristapermissiva (UP), bem-estarista (BE) e abolicionista (Ab). Os valores absolutos foram comparadosentre as duas escolas através do teste t de student, sendo que os valores significativamente diferentes(P<0,05) acompanhados por letras distintas.

Figura 1.

Figura 2.

Frequência relativa das respostas de tutores de cães e representante legal de crianças autistas (TID)e com deficiência intelectual leve (DIL) para assertivas de cunho ético antropocêntrico utilitarista(AU), utilitarista permissiva (UP), bem-estarista (BE) e abolicionista (Ab). Os valores absolutos fo-ram comparados através do teste do qui-quadrado sendo os significativamente diferentes (P<0,05)acompanhados por letras distintas.

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Estudo de caso: Os Cães

 As instituições foram atendidas por

cães das raças Terra-Nova, YorkshireTerrier, cão sem raça definida e doisLabradores. Deve-se considerar que otemperamento do cão pode ser deter-minado tanto geneticamente quantodecorrente das experiências vividas.Para tal, é fundamental avaliar ambosos aspectos antes de se decidir peloanimal. Durante as observações não

foram registrados atos ou padrõesestereotipados indicativos de baixograu de bem-estar ou estresse, porémforam presenciadas duas reações possi-velmente ameaçadoras, decorrente dafalta de previsibilidade desencadeadapor um estímulo sonoro provavelmentenão reconhecido pelo cão. Ocorreramdiferenças em metade dos padrõesmotores exibidos antes e depois da

terapia, sendo que durante a terapiao animal ficou mais inativo, deman-dando gasto energético na manutençãodo autocontrole, além de ingerir maisdevido a forma de estímulo advindo dascrianças para a interação (Figura 3). Osdois registros de reações inesperadasdiante de estímulos ameaçadores é umponto que não deve ser negligenciado.

Segundo Burrows et al.  (2008), asnecessidades emocionais dos animaisestão intimamente relacionadas como bem-estar, sendo que os cães ten-dem a se tornarem instáveis quandosubmetidos à interrupção ou falta deprevisibilidade nas suas rotinas, re-duzindo a motivação para interagir

com a criança. Para Tompson (2009),o primeiro passo para maior grau debem-estar dos cães durante a zootera-

pia, consiste no treinamento básico deobediência e concentração (Burrows et

al., 2008) maximizando sua atenção àsexpressões e movimentos das criançase minimizando a ocorrência de atosinesperados e que podem assustar.

Friesen (2009) sugere que o tutor e ocão visitem previamente os locais deintervenção visando à familiarização e àhabituação. Para Gerger e Rossi (2011)propiciar novos estímulos, exercíciose sociabilização, tanto com outrosanimais quanto com humanos, alémde serem fundamentais para a saúdee o bem-estar do animal, inibem osurgimento de problemas comporta-mentais. De forma geral, a ocorrência decomportamentos defensivos constitui

um desafio em ambientes terapêuticos,potencializado pelo fato desta ser umaprática recente, demandando avaliaçõesmais precisas em todos os atores en-volvidos. Embora os cães tenham sidoavaliados quanto sua viabilidade nosucesso do procedimento, é fundamen-tal que os tutores sejam conscientesem relação às suas potencialidades

(Friesen, 2009), considerando tanto otemperamento quanto à aceitação darotina terapêutica (Thompson, 2009).Kruger e Serpell (2006) ressaltam queos critérios pelos quais os animaissão considerados adequados ou nãosão altamente variáveis, requerendoavaliações individuais, por isso há

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Frequência relativa das respostas de tutores de cães e representante legal de crianças autistas (TID)e com deficiência intelectual leve (DIL) para assertivas de cunho ético antropocêntrico utilitarista

(AU), utilitarista permissiva (UP), bem-estarista (BE) e abolicionista (Ab). Os valores absolutos fo-ram comparados através do teste do qui-quadrado sendo os significativamente diferentes (P<0,05)acompanhados por letras distintas.

Figura 3.

quem acredite que animais sem raçadefinida ou de raças pequenas sejaminadequados.

Questões Éticas Envolvidas no Uso

de Animais em Terapias e o Papelda Bioética

Embora a zooterapia apresente resultadosanimadores têm-se pontuado questõesque devem ser debatidas, uma vez quedecisões, tanto relacionadas às pessoasquanto aos animais, possam refletir be-nefícios assimétricos, inclusive quanto

aos aparentemente óbvios privilégioshumanos, devido à demanda de estudoscientíficos. Assim, se faz necessária ainterferência da Bioética como media-dora de um debate plural e global,

cujos problemas complexos demandamintervenções conjuntas (Kruger y Ser-pell, 2006).

Inicialmente deve-se ater na tendên-cia à mercantilização da prática. Avalidação dos benefícios da interaçãoanimal/humano atraiu a atenção daindústria que se mobilizou para su-

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prir as necessidades dos animais e oscaprichos dos tutores. Resultando emum explosivo desenvolvimento do seg-

mento envolvendo desde o comérciode animais e acessórios à prestaçãode serviços (Evans y Gray, 2012),incluindo o suprimento de demandasdo animal de serviço. A necessidade deprofissionalização e normatização irádesencadear demandas de prestação deserviços voltados para adestramento,certificação, monitoramento, cuida-

dos sanitários e transporte, os quaisdevem ser conduzidos com seriedadepara suprir e efetividade da técnica enão a intenção exclusiva de geraçãode lucros.

 A zooterapia deve ser encaminhada deforma ética e segura para trabalhadores,clientes e animais, cujo planejamentovisa minimizar riscos e maximizar

benefícios. Incialmente deve-se iden-tificar potenciais riscos como proble-mas respiratórios, alergias, zoonoses edesconforto dos pacientes decorrentesde fobias ou experiências traumáticascomo consequências de mordidas oucoices (Odendaal, 2000; Burrows et

al., 2008; Walsh, 2009; Evans y Gray,2012). Contudo, é consenso de que a

transmissão de zoonoses é muito pe-quena se foram tomadas as precauçõesnecessárias e que a transmissão deinfecções é mais frequente entre ospróprios humanos do que entre ani-mais e humanos (Iannuzzi y Rowan,1991). Ressalta-se a importância deestudos mais aprofundados e o fatoque a ANVISA ainda não possui reco-

mendações sobre a presença de animaisem instituições de saúde.

Deve-se considerar que experiênciasindividuais e aspectos culturais influen-ciam nos resultados da intervenção,sendo contraindicada para pacientesque não aceitam o animal reagindoagressivamente comprometendo suaintegridade (Jalongo et al., 2004). Nocaso de presídios deve-se considerarcomo requisito fundamental o histó-rico de detentos quando maus-tratosaos animais (Founier et al., 2007). Ascrianças com hiperatividade tendem ase excitarem, o que segundo os terapeu-tas é positivo, mas não almejado pelostutores e educadores (Somervill et al.,

2009). À parte dos benefícios deve-seconsiderar a possibilidade de que oapego ao animal pode desencadear expe-riências negativas com a separação, seja

por mudança de endereço, morte e/ouausência do animal na terapia (Iannuzziy Rowan, 1991; Somervill et al., 2009).Segundo Lima e Souza (2004), tambémse devem considerar as expectativas e areceptividade da família à proposta, aqual ainda é pautada por incredulidade.É importante estimular conjuntamentecom a terapia a compreensão da comu-

nicação da perspectiva animal, refletindosobre o seu bem-estar.

Os animais muitas vezes são excessi-vamente explorados, em alguns ca-sos possivelmente inconscientemente,em decorrência de suas condiçõesde bem-estar não serem explícitas emascaradas pelo próprio condiciona-

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mento. O protocolo de treinamentodifere com a espécie e a terapia, ha-vendo casos de denúncias de reforço

negativo, excesso de trabalho, fadiga,limitação ao acesso à água e expo-sição às temperaturas estressantes,resultando até mesmo em diagnósticode síndrome de Burnout (Burrows etal., 2008y Iannuzzi y Rowan, 1991). A falta de previsibilidade da rotina eoportunidades insuficientes recrea-tivas desfavorece a restauração física

(Burrows et al., 2008). Haubenhofer eKirchengast (2006) relacionaram umaelevada produção de cortisol com aduração e intensidade das atividades,maximizada pelo deslocamento até olocal, exposição a novos ambientese a estranhos, além do trabalho te-rapêutico em si. Embora as autorasnão concluam o que esse aumentohormonal signifique, classificam aatividade como estressante e sugeremque períodos maiores entre as sessõespoderiam prevenir o estresse crônico. Assim, a duração das visitas de pre-ferência deveria limitar-se a cerca de30 minutos e no máximo três sessõessemanais. Deve-se considerar, ainda,a exposição aos estímulos estressores,tais como pacientes portadores de

determinadas deficiências intelectuaisou perceptivas (Burrows et al., 2008; Walsh, 2009), assim como excesso deatenção e cuidados, típicos de insti-tuições como prisões, lares e hospi-tais psiquiátricos (Iannuzzi y Rowan,1991). A aplicação do princípio éticoda precaução embasa a exclusão dasterapias de fêmeas no cio, grávidas

e com filhotes, assim como animaisantissociais, agressivos e com sinaisde infeções (Silveira et al., 2011).

Lima e Souza (2004) sugerem alémda aplicação de métodos validadospara aferir o temperamento do filhote,mantê-lo com os pais durante os trêsprimeiros meses de vida e com umafamília humana até seis meses, paradesenvolverem socialização, e, então,serem encaminhados para treinadoresque apliquem condicionamento po-

sitivo. O uso de animais de abrigospode gerar questões éticas (Iannuzziy Rowan, 1991), pelo fato de muitosapresentarem medo extremo e serempassados para os treinadores sem testesprévios (Weiss, 2002). Segundo Weiss(2002), a avaliação e seleção de cãesde serviço em abrigos são possíveisatravés de critérios de obediência erecuperação, diminuindo as desistên-cias e aumentando os beneficiados. Avulnerabilidade dos animais deve sermeticulosamente ponderada em cadasituação e se ater a aplicação dos prin-cípios éticos do cuidado (Boff, 1999).

 A utilização de animais selvagens comoco-terapeutras gera argumentos con-trários apoiados no princípio ético

da responsabilidade (Jonas, 2006). Aretirada do animal do seu ambientenatural e forçado ao contato com hu-manos geram baixos graus de bem-es-tar, embora as pessoas sejam atraídaspela oportunidade de tocar um animaldiferente. Mesmo animais criados emcativeiro e adestrados tendem a estres-sarem-se mais do que os domésticos,

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selecionados por centenas de geraçõesquanto à tolerância ao contato humano(Iannuzzi y Rowan, 1991) e cujo uso

para zooterapia pode ser apoiado noprincípio ético do mal-menor (Taylor,1981). Alguns programas são reconhe-cidos, como as terapias com golfinhos,porém não são apoiados por ativistasnem treinadores, devido à desconsi-deração dos princípios éticos da igualconsideração de interesse e alteridadeao se administrar alimentação artificial,

limitar a liberdade, forçar realização demovimentos incongruentes com suabiologia, desconsiderar sensibilidadeacústica e promover estresse, além denão se justificar diante da existência dealterativas (Iannuzzi y Rowan, 1991;Singer, 2004; Regan, 2006; Francione,2013). Outra polêmica são programasque condicionam macacos-prego comoauxiliares domésticos para tetraplégicos. Além da agressividade e desconhe-cimento de zoonoses (Silveira et al.,

2011), o estresse, excesso de cargade trabalho e esforço, exodontia, equestionáveis métodos de treinamentonão endossam a atividade (Iannuzzi yRowan, 1991).

Publicações de casos questionáveis

demandam a reflexão de quais prin-cípios éticos e legais que devem serutilizados para balizar as condutasno encaminhamento da zooterapiae, assim, estimular a elaboração poruma equipe multidisciplinar de dire-trizes para o uso de animal-assistente(Iannuzzi y Rowan, 1991). No Brasillegalmente os animais são protegidos

pela Lei de Crimes Ambientais (Brasil,1998) que penaliza todo ato de cruel-dade e maus-tratos contra qualquer

animal, além de considerar ilegal acaptura e manutenção de animais sel-vagens sem a autorização dos órgãoscompetentes. A utilização de animaisem atividades acadêmicas é norma-tizada pela Lei Arouca (Brasil, 2008)que considera ilegal toda atividadecom animais que tenha alternativasou que haja promoção de sofrimento,

sem justificativa e aval de um comi-tê de ética consolidado. Contudo, asociedade tem-se mobilizado a favorde uma normatização mais específicapara promoção do bem-estar animal epenalização contra o marketing e o co-mércio abusivos e abandono de animais(White, 2009). Deve-se considerar,porém, que a utilização de animaispara companhia e assistência demandadiretrizes éticas e educativas voltadaspara tutela responsável (Santana yOliveira, 2006), com aplicação dosprincípios éticos da alteridade, cuidadoe responsabilidade, na compreensão esuprimento das necessidades reais doanimal (White, 2009), mediadas pelaadministração pública no auxílio nadecisão e planejamento ao se tutelar

um animal (Santana y Oliveira, 2006).

 A base moral da zooterapia visa garantiro direito dos animais levando em con-sideração se são usados ou explorados,ressaltando que é repudiado injuriá-losna manipulação; não promover seubem-estar básico; e forçá-lo a gostarda visita (Zamir, 2006). Segundo Ian-

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nuzzi e Rowan (1991), enquanto oganho para o animal não for conclusivodeve-se atribuir o princípio do bene-

fício da dúvida e considerar a práticainapropriada e que há exploração. A princípio os participantes de AAAtendem a se posicionar favoráveis aobem-estar, direito e suporte as ativi-dades pró-animal (Iannuzzi y Rowan,1991), sendo esta a base do código deética para TAA.

Para a consolidação das diretrizes oponto de partida é libertar a zooterapiado balizamento pelas condutas éticasantropocêntricas. Obviamente que amelhora do paciente é o objetivo daação, contudo o ser humano não podeestar no centro de uma atividade queenvolve o compartilhamento de senti-mentos. Também não é mais aceitávelo argumento de que os animais se be-

neficiam da convivência com humanosque lhes asseguram alimentos e abrigo,que nem sempre estão disponíveisna natureza (Evans y Gray, 2012).Logo, é necessária uma combinaçãode princípios éticos. Deve-se refletirna viabilidade da aplicação de umantropocentrismo utilitarista, apoiadonos ideais defendidos por pensadores

como Singer (2004), em que a utilizaçãode um animal para benefício humanoé moralmente aceitável desde que nãoexista alternativas e que os animaisusados estejam isentos de qualquersofrimento físico ou mental. O princípiodefendido é o da igual consideração deinteresses, no qual seres sencientes,têm interesses em não sofrer, logo é

imoral proporcionar sofrimento paraesses seres. Contudo, para promoçãode boas condições de manutenção,

manipulação e transporte necessita-sede métodos de avaliação do grau debem-estar através de parâmetros in-dicadores de dor e sofrimento. Asideias de Singer (2004) são apoiadasno grau de consciência, considerandoque seres mais conscientes possui maisinteresse na vida, pois fazem planos.Na contramão dessa visão têm-se os

ideais biocêntricos (Taylor, 1981) queatribuem o status moral a todos os seresvivos, independente da complexidadede seu sistema nervoso. Assim comoos ideais libertacionistas (Regan, 2006;Francione, 2013), nos quais os ani-mais nunca deveriam ser usados parasatisfazer interesses humanos, nemserem tratados como propriedades ourecursos. Sendo considerado imoral ouso dos animais para qualquer benefíciohumano, mesmo para terapia. Uma vezque há limitação da liberdade, determi-nação da vida, treinamento, desconexãosocial, injúria e instrumentalização.

Terapia assistida comrobôs é uma alternativa?

O uso de robôs tem configurado comouma alternativa para a substituição deanimais como companhia, principal-mente em locais cujo estilo de vidaimpossibilita atender suas necessidadesbiológicas, como os países orientais(Banks et al., 2008). Concomitantemen-te, têm sido indicados como auxiliarespara idosos institucionalizados com

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impedimentos físicos e cognitivos ouem monitoramento doméstico (Banks et

al., 2008) e instrumentos educacionais

ou ferramentas terapêuticas (Kerepesiet al., 2006). Os robôs sociais ou deserviços podem ser encaminhados paraatividades assistidas (RAA) ou terapiasassistidas com robôs (TAR) em hospitaise intervenções clínicas com criançastrazendo esperança para o comércio eos ativistas. Por fim, os robôs podemser direcionados para o entretenimento,

induzindo relações afetivas, destacan-do-se no cenário mundial o robô cão AIBO da Sony, o qual, além de sensorpara toque, reconhece mais de 50 co-mandos verbais e é hábil para aprender(Kerepesi et al., 2006). O avanço datecnologia tem disponibilizado robôsque respondem aos estímulos am-bientais simulando emoções, fazendocontato visual e licitando imaginação,cognição e afeto, tal como um filhotede cão (Kerepesi et al., 2006). Estu-dos com crianças têm mostrado queembora conceituem em animais vivoscom essências físicas, estados mentais,sociabilidade e posição moral e gastemmais tempo tocando, também intera-giram com o robô como um cão vivo(Melson et al., 2005; Melson et al.,

2009). A capacidade inata humanade projetar sentimentos e atributosaos objetos propicia a relação comos robôs, gerando novos conceitosa respeito de categorias como vivo enão vivo (Melson et al., 2009). Sendoas crianças especialmente aptas a acei-tarem animais de estimação robóticossem as responsabilidades morais, com-

panheirismo recíproco e cooperaçãoconceituando robôs como cães vivos,ao contrário de adultos que tendem

a relacioná-los mais com máquinas(Friedman et al., 2003). O uso do robôpode ser fundamental em situaçõesem que os cães não são indicados, taiscomo ambientes hospitalares, paracrianças com determinadas doenças oumuito violentas (Melson et al., 2009,Dautenhahn, 2004). Contudo se faznecessário que haja continuidade do

desenvolvimento da tecnologia paraaprimorar as capacidades sociais intera-tivas, bem como o design com texturasmais confortáveis (Dautenhahn, 2004).

Considerando o aumento da populaçãode idosos, os robôs sociais surgem comoalternativa para auxiliar cuidadoresao interpretarem expressões faciais emovimentos, auxiliando na memória

lembrando-se de atividades de rotinacomo a medicamentação, alimentação,hidratação e eliminação, também comocom exercícios físicos. Embora os ido-sos possam apegar-se ao animal utili-zado na zooterapia e diante do robôapresentar melhora física, no humor,nas conexões sociais e diminuição doestresse (Bemelmans et al., 2012), a

solidão não foi aliviada, em nenhumdos casos (Banks et al.,2008). Existindoainda o questionamento da limitaçãocientífica (Bemelmans et al., 2012) eética (Sharkey y Sharkey) relacionadascom a potencial redução de contatohumano; aumento de sentimentos decoisificação e controle; perda de priva-cidade e liberdade pessoal; decepção e

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infantilização e na determinação de emquais circunstâncias os idosos poderãocontrolar os robôs. Logo, deve haver

um equilíbrio entre os benefícios e oscustos éticos, também na utilizaçãode robôs.

Considerações Finais

No Brasil a atuação da Bioética naspráticas terapêuticas envolvendo ani-mais é notória e urgente, uma vez que

no cenário internacional já se destacao documento elaborado pelo ComitêNacional de Bioética da Itália que con-templa a normatização “Pet Terapia”(Santori, 2011). A Bioética conduza reflexão da zooterapia ponderandocustos, benefícios e alternativas, bemcomo estimulando a autonomia dopaciente ou seu responsável legal. Para

minimizar os efeitos das imprevisibili-dades faz-se necessária à existência deum protocolo de implementação doprograma, tal como o exemplificadopelo Hospital Universitário da USP, cujacomprovação do sucesso se consolidouna ausência de ocorrência de zoonoses,acidentes ou questionamento jurídico(Silveira et al., 2011). Para balizar comresponsabilidade aplicando o princí-

pio ético da precaução na tomada dedecisão são necessários: a) estudosempíricos com avaliação de parâme-tros físicos e mentais dos pacientes;b) consideração tanto dos benefíciosquanto dos riscos; c) promoção daqualidade de vida para os animaissem prejudicar os resultados; d) não

usar animais selvagens; e) animais decanis, abrigos ou abandonados devemser apropriadamente selecionados e

treinados; f) usar técnicas humanísticasde adestramento; g) garantir a possi-bilidade do animal de manter relaçãocom seu tutor; h) a atividade deveser aprovada por comitês de Bioéticahumana e animal; i) levar em conside-ração aspectos culturais e o momentohistórico; j) refletir sobre a necessidadede diretrizes éticas e requerimentos

regulatórios tanto da prática em siquanto da atuação de cada profissional,validação de protocolos de avaliação,análise dos custos e financiamentos e obem-estar dos animais. A intermediaçãoentre a terapia e os hospitais deve sedar através de comitês de Bioética, aqual deve ponderar todas as variáveise projetar a melhor estratégia que leveem consideração o bem-estar de todosos envolvidos.

 A atuação de voluntários deve ser am-plamente discutida, uma vez que sealmeja equilíbrio entre os componentesprofissionais, comunicação eficienteentre as autoridades da saúde humana,animal e ambiental, assim como a pro-fissionalização da atividade. Se por um

lado o voluntariado diminui os custosda manutenção de uma equipe quali-ficada, também fragiliza a garantia documprimento de protocolos validadose manutenção do bem-estar animal.Contudo, a zooterapia deve ser apli-cada balizada pelos princípios éticosda responsabilidade, do cuidado e da

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alteridade que promovam experiênciaspositivas recíprocas.

Com relação aos animais é condiçãosine qua non  é que haja uma claracompreensão de seus interesses sematribuições antropomórficas ou ressig-nificações, as quais devem ser mediadaspor um comitê de bioética do animal. A responsabilidade com os animaisdeve ser normatizada e fiscalizadadurante a prática, assim como nasfases precedentes e posteriores, noque envolve todos os aspectos da vidado animal, incluindo um protocolode finalização da vida. O risco diantede comportamentos imprevisíveis de-manda a necessidade de indicadoresanalíticos, fisiológicos, patológicos ecomportamentais, a fim de se identificarcondições que promovam bem-estar.Destaca-se, ainda, a necessidade de

uma certificação e registro oficial doanimal como co-terapeuta, além deconstantemente estimular a inovaçãodas técnicas de adestramento e pro-moção de ambientes adequados paraterapia. Atitudes corretas com o animalestimulam o processo de humanizaçãona medicina e recupera o paradigmado cuidado, prezando pelo bem-estar

físico e mental do paciente e do animalque não deve ser visto apenas comouma ferramenta, mas resultado deuma relação simbiótica consolidadano processo de co-evolução inerentena história evolutiva de ambos.

Agradecimentos

 Agradecemos à colaboração de profis-

sionais e tutores envolvidos na terapiaassistida por animais conduzidas pelaONG Cão amigo.

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