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O impacto da atividade física na autoestima de mulheres diagnosticadas com câncer de mama
The impact of physical activity on the women self-esteem diagnosed with breast cancer
Claudiana Donato Bauman
José Mansano Bauman
Mariza Dias Xavier
Renê Ferreira da Silva Junior
Joanilva Ribeiro Lopes
Adélia Dayane Guimarães Fonseca
Celina Aparecida Gonçalves Lima
Priscilla Bernadina Miranda Soares
Resumo: objetivo: avaliar a autoestima de mulheres diagnosticadas com câncer de mama
antes e após a inserção de um programa de atividades físicas sistematizadas. Metodologia:
trata-se de um estudo epidemiológico quase-experimental, quantitativo e analítico,
desenvolvido no laboratório do exercício da Universidade Estadual de Montes Claros -
UNIMONTES. A amostra foi composta por 34 mulheres mastectomizadas, residentes no
município de Montes Claros-MG e região. Para a coleta de dados realizada antes e após a
2
intervenção do programa de atividade física, utilizou-se um questionário abordando dados
sociodemográficos e clínicos, e, para a avaliação da autoestima, foi aplicada a Escala de
Rosenberg. Para o cálculo dos escores da escala da Autoestima foi utilizado o programa de
software Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 20.0, e realizada uma análise
pautada no teste t de student para amostras independentes. Resultados: relacionando-se a
média dos resultados encontrados no pré e pós-testes dos dois grupos (GI e GC), torna-se
possível visualizar um resultado estatisticamente positivo (p 0,496 e p 0,016) para os
resultados da autoestima do grupo que participou da intervenção, verificando-se diferenças
significativas desde o pré-teste. Conclusão: a participação em um programa de atividades
físicas sistematizadas possui a capacidade de melhorar a autoestima de mulheres
diagnosticadas com câncer de mama.
Palavras-chave: câncer de mama. Atividade física. Autoestima.
Abstract: goal: Evaluate women self-esteem, diagnosed with breast cancer before and after
the insertion of a systematized physical activity program. Method: This is a quasi-
experimental, quantitative and analytical epidemiological study, developed in the laboratory
of the State University of Montes Claros - UNIMONTES. The sample consisted of 34
mastectomized women, living in Montes Claros-MG and region. A questionnaire about
sociodemographic and clinical data was used to collect data before and after the intervention
3
of the physical activity program, and the Rosenberg Scale was used to assess self-esteem. To
calculate the scores from the self-esteem scale, it was used the Statistical Package for Social
Science (SPSS) software version 20.0, and was carried out an analysis on the student-t test for
independent samples. Results: correlating the average of the results found in the pre and post-
tests of the two groups (IG and GC), it is possible to see a positive result, statistically
speaking (p 0.496 and p 0.016) on the self-esteem group whose participated in the Significant
differences since the pre-test. Conclusion: the participation in a program of systematic
physical activities has the capacity to improve the self-esteem of women diagnosed with
breast cancer.
Keywords: breast cancer. Physical activity. Self-esteem.
INTRODUÇÃO
Tendo como princípio o documento World câncer report 2014 da International
Agency for Researchon Cancer (Iarc), elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
o câncer é reconhecido como um problema de saúde pública, especialmente nos países em
desenvolvimento, sendo esperado que nas décadas seguintes, o acometimento da população
4
em relação à doença represente 80% dos mais de 20 milhões dos novos casos previstos para
2025.1
No Brasil, nos anos 2016 a 2017, são estimados 600 mil casos novos de câncer. Com
exceção do câncer de pele não melanoma, que corresponde a 180 mil casos novos, ocorrerão
aproximadamente 420 mil casos novos de câncer. O perfil de morbidade observado em muito
se assemelha com a América Latina e Caribe, sendo que na mulher o câncer de mama é o
mais frequente, com 58 mil casos, já no homem o câncer de próstata representa o maior
número de casos correspondendo a 61 mil.1
O câncer de mama é multifatorial, envolvendo fatores biológicos, endocrionológicos,
reprodução, comportamento e estilos de vida. Em relação aos fatores de risco, evidenciam-se
o envelhecimento, histórico familiar de câncer mamário, história reprodutiva, alta densidade
do tecido da mama, além de excesso de peso, consumo de álcool e tabaco, sedentarismo e
exposição à radiação ionizante.1
O câncer de mama é vivenciado pela paciente e seus familiares de forma angustiante,
permeado por sentimentos de sofrimento e ansiedade.2 Apesar dos avanços nos campos de
diagnóstico e terapêutica do câncer, ainda há muito a ser acrescido no cuidado a mulher com
câncer de mama, sobretudo, em relação ao suporte a essas mulheres, com valorização e
respeito as suas expectativas.3
Na sociedade ocidental, culturalmente, o câncer de mama é representado por uma
doença que leva a morte, de maneira ameaçadora acarretando constrangimento a mulher.4
Ressalta-se dessa maneira, que a mama traz consigo a simbologia do ser feminino, não se
restringindo sua figura apenas aos aspectos biológicos, é motivo de orgulho para as mulheres
e admiração para os homens, configurando seus significados nos campos afetivo e
psicológico. Contudo, o pensamento de estar com câncer de mama é permeado de estigmas
intensos, pois além de haver a associação com o fim da vida, pode acarretar a perda de uma
parte tão valorizada do seu corpo.5
Dessa forma, em muitos casos o emocional da mulher é pouco cuidado, até mesmo
pelos profissionais de saúde, que focam nos aspectos físicos e biológicos, pois são mais
perceptíveis. No entanto, o corpo e mente, são sinérgicos, não se dividem, são um só. Tendo
como ponto de partida essa afirmação, há uma maior desintegração para a mulher com câncer
e os membros de sua família, o que pode acarretar mudanças importantes em seu estilo de
vida.6
Em relação ao cuidado emocional da mulher com câncer de mama, sua autoestima é
muito afetada, sendo definida como ausência de afeto positivo que o indivíduo possui sobre si
5
mesmo, sendo importante, sobretudo, em sua relação com as pessoas e impulsionando seu
desempenho frente aos objetivos almejados.7
Quando essa autoestima é afetada por algum acontecimento negativo, como por
exemplo, o câncer de mama, o resultado pode ser o aumento dos níveis de ansiedade com a
procura de saídas para sanar a situação. Em várias situações, tais saídas, são inadequadas e
podem acarretar prejuízos à saúde, tal como o consumo de bebidas alcoólicas.8-9
Cuidar de pacientes com câncer não se restringe a mera prescrição desses cuidados, é
também acompanhar sua trajetória e de seus familiares, o que envolve desde os
procedimentos para diagnóstico, tratamento, remissão, reabilitação, recidiva e cuidados
paliativos, assim do momento do diagnóstico até a terminalidade, buscando-se estratégias que
ocasionem impactos positivos para a paciente com câncer, em todos os aspectos possíveis.10
Nesse sentido, ressalta-se que a está em evidência pela comunidade científica, a
prática de atividade física como meio de prevenção da doença oncológica e reabilitação de
indivíduos no decorrer e após o tratamento.11 Relacionam-se, especialmente, ao conhecimento
já estabelecido da função da prática de atividade física como minimizador dos processos
degenerativos do câncer, além do seu papel positivo nas alterações comportamentais no estilo
de vida, redução dos riscos de recorrência e a melhora dos aspectos psicossociais.12
Por conseguinte, esse estudo tem como objetivo avaliar a autoestima de mulheres
diagnosticadas com câncer de mama antes e após a inserção de um programa de atividades
físicas sistematizadas.
MÉTODO
Trata-se de um estudo epidemiológico quase-experimental, quantitativo e analítico,
desenvolvido no laboratório do exercício da Universidade Estadual de Montes Claros -
UNIMONTES. A população da pesquisa foi composta por mulheres diagnosticadas com
câncer de mama, participantes do Projeto de extensão Vida da UNIMONTES (Resolução
245/2008). Os dados foram coletados antes (pré-teste) e após (pós-teste) a intervenção de um
programa de Atividades físicas sistematizadas.
Amostra
A amostra foi composta por 34 mulheres mastectomizadas, submetidas à cirurgia
oncológica de mama há pelo menos seis meses, residentes no município de Montes Claros-
MG e região. Todas concordaram em participar do estudo mediante leitura, compreensão e
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Dentre as participantes, 24
6
compuseram o grupo intervenção (GI) e 10 mulheres fizeram parte do grupo controle (GC).
Como critérios de exclusão: mulheres que não apresentaram a liberação da oncologista
responsável, assim como mantiveram frequência inferior a 80%, para o programa de atividade
física.
Variáveis
No presente estudo a variável dependente foi atribuída à autoestima de mulheres
participantes da pesquisa, e a independente, a atividade física proporcionada ao grupo.
Instrumentos
Para a coleta de dados que foi realizada em dois momentos, antes e após a intervenção
do programa de atividade física, foi utilizado um questionário abordando dados
sociodemográficos e clínicos, e, para a avaliação da autoestima, foi aplicado a Escala de
Rosenberg. O instrumento original, versão em inglês, foi elaborado por Rosenberg, em 1965,
e sua versão foi traduzida e validada para o português em 2001. 9A aplicação foi por uma
psicóloga e supervisionada pela coordenadora da pesquisa. A escala de Rosenberg é composta
por dez questões com as seguintes opções de resposta: concordo plenamente, concordo,
discordo e discordo plenamente. Para cada resposta, foi atribuída uma nota de importância
que varia de 1 a 4, sendo que nas afirmativas 1, 3, 4, 7 e 10 este valor é decrescente e nas
outras o inverso. Para a classificação da autoestima, foram somados todos os itens que
totalizaram um valor único para a escala. De acordo com o resultado, a autoestima pode ser
classificada como satisfatória ou alta (escore maior que 31 pontos), média (escore entre 21 e
30 pontos) e insatisfatória ou baixa (escores menores que 20 pontos). Nessa perspectiva,
quanto maior a somatória, maior os níveis de autoestima.
Procedimentos
O programa de atividades físicas teve a duração de 16 semanas (30 encontros),
realizados duas vezes na semana com a duração de 60 minutos cada sessão. Todas as
participantes realizaram duas avaliações físicas, uma antes do início e outra avaliação
dezesseis semanas meses após o início do programa. As aulas foram planejadas contendo10
minutos de alongamentos, 40 minutos de atividades aeróbicas e 10 minutos de exercícios
destinados para a volta à calma, ministrado por um profissional de Educação Física e
supervisionado pela coordenadora do estudo. Este estudo foi conduzido de acordo com os
preceitos determinados pela resolução 466/12, com a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa da UNIMONTES nº. 2.024.271.
7
Tratamento estatístico
Para o cálculo dos escores da escala da Autoestima foi usado o programa de software
Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 20.0, e foi realizada uma análise pautada
no teste t de student para amostras independentes, com o objetivo de avaliar as variáveis
quantitativas, verificando-se se os resultados obtidos estatisticamente significativos (p≤0,05)
antes e após a intervenção dos dois grupos (GI e GC), assim como a diferença entre as
médias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 34 pacientes estudadas, 14 (41,2%) se concentraram na faixa etária de 48 a 60
anos e 20 (58,8%) apresentaram mais de 60 anos, corroborando com os dados do INCA
(2016), que pontua a maior prevalência do câncer de mama em mulheres com idade acima dos
50 anos. Todas as participantes realizaram a mastectomia, o que têm sido relatado na
bibliografia como uma das consequências emocionais mais graves(juntamente com o
diagnóstico), por apresentar uma abrangência representativa no aspecto íntimo e feminino da
mulher.13
Quanto ao estado civil, mais da metade da amostra, 61,8% (21) era casada, 26,4%
(09) viúva ou divorciada e 11,8% (04) caracterizada por solteiras. Em relação à escolaridade,
35,3% (12) possuíam o ensino fundamental incompleto, 29,4% (10) ensino médio completo,
20,6% (07) ensino superior/pós-graduação, 8,8% (03) ensino fundamental completo e
5,9%(02) ensino médio incompleto. No que se refere ao número de filhos, 41,2% (14)
possuíam entre 3 a 4 filhos, 32,3% (11) 1 a 2 filhos, 17,7% (06) 05 ou mais e 8,8 %(03) não
possuíam nenhum filho. Do total das entrevistadas, 100% (34) possuíam alguma religião,
sendo 79,4% (27) católicas, 17,7% (06) evangélicas e 2,9% (01) espírita (tabela 1). A
descoberta do câncer de mama tende a favorecer a sensação de incerteza do prognóstico e
insegurança quanto ao futuro. Em paralelo, surgem a esperança e a fé, pautadas na
espiritualidade que direciona e auxilia no enfrentamento da doença.A tradição sociocultural,
expressa nas práticas religiosas, constitui um aspecto fundamental para a autoestima e para a
imagem corporal e, ainda, para que os indivíduos sejam capazes de tomar decisões que lhes
proporcionem bem estar.14-15
Tabela 1- Características sociodemográficas das pacientes incluídos no estudo Montes Claros – MG, 2017
Variáveis n %
8
Idade48 a 60 anos 14 41,2Acima de 60 anos 20 58,8
Estado civilSolteira 4 11,8Casada 21 61,8Viúva/divorciada 9 26,4
Nível de escolaridadeEnsino fundamental incompleto 12 35,3Ensino fundamental completo 3 8,8Ensino médio incompleto 2 5,9Ensino médio completo 10 29,4Ensino superior/pós-graduação 7 20,6
Número de filhosNenhum 3 8,81 a 2 11 32,33 a 4 14 41,25 ou mais 6 17,7
Possui alguma religiãoSim
34 100,0ReligiãoEvangélica 6 17,7Católica 27 79,4Espírita 1 2,9
Fonte: autoria própria
No tocante à ocupação das pacientes, conforme pode ser visto na tabela 2, foi
possível verificar que 38,2% (13) das pacientes são donas de casa, seguidas de 23,5% (08)
aposentadas, 5,9% (02) comerciantes e 5,9% (02) professoras. Ressalta-se que as pacientes
que trabalhavam como auxiliar de serviços gerais, bordadeira, confeiteira, cozinheira,
doméstica, doméstica e artesanato, produtora de eventos, serviços gerais e setor financeiro de
escritório representaram 2,9% (01) em cada categoria de trabalho.
Tabela 2 - Tipo de ocupação das pacientes do estudo Montes Claros – MG, 2017
Ocupação n %Aposentada 8 23,5Auxiliar de Serviços Gerais 1 2,9Bordadeira 1 2,9
9
Comerciante 2 5,9Confeiteira 1 2,9Cozinheira 1 2,9Doméstica 1 2,9Doméstica e artesanato 1 2,9Dona do lar 13 38,2Produtora de Eventos 1 2,9Professora 2 5,9Serviços Gerais 1 2,9Setor financeiro de escritório 1 2,9
Fonte: autoria própria
De uma forma geral, como demonstrado na tabela 3, verifica-se que os escores do
grupo controle (GC - composto por 10 pacientes), mantiveram um padrão, dado não
constatado no grupo da intervenção, onde é possível se verificar-se as mudanças ocorridas na
autoestima pré comparadas com o pós-teste. No grupo controle (GC), a autoestima manteve-
se classificada como média e satisfatória ou alta, com valores que se repetiram no pós-teste. Já
no grupo intervenção (GI) as médias que se classificavam em insatisfatórias e baixas, médias
e satisfatórias ou altas, e migraram 100% para o status de médias e satisfatórias/altas no pós-
teste.
Tabela 3- Escore total da Autoestima segundo o grupo de intervenção e controle
Autoestima GrupoControle n (%) Intervenção n(%) Total n(%)
Autoestima pré-teste
Insatisfatória ou baixa 2(100,0) 2 (100,0)
Média 7(33,3) 14(66,7) 21(100,0)
Satisfatória ou alta 3(27,3) 8(72,7) 11(100,0)
Autoestima pós-teste
Média 7(38,9) 11(61,1) 18(100,0)
Satisfatória ou alta 3(18,8) 13(81,3) 16(100,0)
Fonte: autoria própria
Ao longo dos tempos, a autoestima tem sido bastante estudada, e determinada pelas
avaliações que fazemos em relação a nosso corpo, o que torna importante estudar as relações
existentes entre as percepções que temos de nosso corpo e como elas são influenciadas e
determinadas pelos fatores socioculturais.15
10
Ressalta-se que o processo de alteração da percepção de si mesma como mulher e a
baixa autoestima, inicia-se quando a mulher recebe a notícia do câncer, pois essa doença
carrega consigo estigmas e não apenas quando as mulheres passam pela mastectomia.16
Algumas mulheres passam pela experiência de sentirem preconceito com a sua própria
imagem e seu corpo, o que pode acarretar entraves no pós-operatório no que concerne a
existência pautada na mutilação do símbolo da feminilidade, sexualidade e maternidade das
mesmas.17
A redução da autoestima pode acarretar dificuldades no tratamento do câncer, sendo
este, uma doença que traz consigo estigmas que repercute desfavoravelmente nos campo
psicológico, permeado por sentimentos negativos, como, medo, ansiedade, angústia e
sobrecarga emocional, que acompanham a descoberta e o diagnóstico.18
Após o câncer de mama, as mulheres passam por alterações na sua imagem corporal
bem como na sua autoestima, a doença golpeia a unidade corpo-mente e espírito. O cuidado a
essas mulheres deve considerar o aumento da qualidade de vida em todos seus aspectos,
assim, a assistência deve favorecer as alterações na esfera psicossocial, além da readaptação
ao estilo de vida vivenciado pela mulher.19
Os resultados apresentados acima (tabela 3) demonstraram que, o fato das mulheres
estudadas (no GI) estarem inseridas em um mesmo contexto, e possuírem a possibilidade da
troca experiências inerentes ao processo que permeia o diagnóstico do câncer de mama,
mostrou-se positivo para as estratégias de enfrentamento. Como demonstrado em uma
pesquisa na área, também foi relatado pelos autores o encorajamento, autoconfiança,
esperança e melhora em geral do grupo participante de intervenções voltadas ao apoio à
pacientes. Nesse sentido, a possibilidade de dar ânimo e forças para outras mulheres que estão
vivenciando a mesma situação de doença é reconhecido pela mulher como uma forma de
vencer cada etapa do ciclo da doença.20
Relacionando-se a média dos resultados encontrados no pré e pós-testes dos dois
grupos (GI e GC), torna-se possível visualizar um resultado estatisticamente positivo (p 0,496
e p 0,016) para os resultados da autoestima do grupo que participou da intervenção,
verificando-se diferenças significativas desde o pré-teste (tabela 4).
Tabela 4- Resultados do teste t para a Autoestima
Variável Grupo n Média Desvio padrão P
Autoestima pré Intervenção 24 27,3 5,2 0,496
Controle 10 25,9 6,2
11
Autoestima pós Intervenção 24 31,1 4,2 0,016
Controle 10 26,2 6,9
Fonte: autoria própria
Em um estudo realizado em 2007, foi constatado que um programa de atividade física
melhorou significantemente o bem estar subjetivo e depressão de mulheres diagnosticadas
com câncer de mama, em todas as suas escalas. No grupo controle utilizado, também se
percebeu uma melhora significativa, na comparação entre o pré e pós-teste, com a diferença
de os resultados do grupo experimental ser mais acentuados. Porém ao avaliarem os efeitos de
um programa de atividade física na autoestima de mulheres diagnosticadas com câncer de
mama, não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes nessa relação, o que
não ocorreu no presente estudo, pois a presente associação foi comprovada estatisticamente.21
O impacto positivo da prática da atividade física na autopercepção e autoestima são
reconhecidos cientificamente, e podem ser utilizados como estratégia para promoção do
autovalor físico, dentre outras relevantes autopercepções, como a imagem do indivíduo a
respeito do seu corpo, que reflete positivamente na autoestima. Nesse contexto, o autovalor
físico proporciona o bem estar mental, sendo considerado como sinérgico nos programas de
exercício. Os efeitos vivenciados por todos os grupos etários são mais intensos para aqueles
indivíduos que de início apresentavam baixos níveis de autoestima, como ocorrido no
presente estudo.22
A literatura descreve que são variadas as modalidades de exercícios que causam
impactos positivos nas autopercepções, entretanto, há evidências mais contundentes para a
prática de exercícios de suporte aeróbicos e treinamento de resistência, pois apontam
melhores resultados em um curto período de tempo.12,22 Esses resultados corroboram com os
dados apresentados nesta pesquisa, o qual se evidencia o tipo de programa oferecido na
intervenção, que foi pautado em atividades aeróbicas e utilizou-se um modelo de aulas que
prezou pelo estímulo e motivação para a prática.
Contudo, vários estudos evidenciaram a prática de exercícios físicos, em resposta aos
seus benefícios fisiológicos e psicológicos para os indivíduos com câncer de mama.22-25
Resultados que estimulam a continuidade da intervenção em prol da saúde das praticantes.
Nessa perspectiva, preconiza-se a aplicabilidade e desenvolvimento de programas de
atividades físicas que sejam prazerosos, e objetivem manter a motivação das participantes,
12
realizados gradualmente e com regularidade. O apoio de uma equipe multiprofissional em
saúde e a atenção no planejamento e avaliação por parte do profissional de educação física, se
tornam itens essenciais para a implementação de atividades que visem o bem estar físico,
emocional e psicossocial, atentando-se às necessidades de cuidado e adaptação relacionando
mulheres sobreviventes ao câncer de mama.6
CONCLUSÃO
De acordo com os resultados, conclui-se que, a participação em um programa de
atividades físicas sistematizadas possui a capacidade de melhorar a autoestima de mulheres
diagnosticadas com câncer de mama.
A convivência com o grupo proporcionou aos pesquisadores uma imersão aos diversos
tipos de enfrentamento da doença, e o significado que os encontros podem representar
emocionalmente na vida dessas pessoas. Nesse contexto, podemos considerar que a atividade
física se manifestou como elemento primordial no restabelecimento das relações sociais, pois
o desenvolvimento das atividades em grupo fortaleceu os laços de amizade, o espírito de luta,
o companheirismo e a ajuda mútua. A presente pesquisa se direciona no sentido de confirmar
os resultados de outros estudos acerca da importância da atividade física para mulheres
diagnosticadas com câncer de mama, se revestindo como um relevante fator na busca
incessante da estabilidade emocional, assim como um melhor bem estar geral em suas vidas.
Não há conflitos de interesses. Pesquisa institucionalizada pela Universidade Estadual
de Montes Claros. Extensão com interface com a Pesquisa – Projeto VIDA.
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