0360-0435, cassianus, i conferencia dos padres do deserto, pt

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JOÃO CASSIANO: Iª CONFERÊNCIA DOS PADRES DO DESERTO : Index. JOÃO CASSIANO Iª CONFERÊNCIA DOS PADRES DO DESERTO Índice Geral CASSIANO MOISÉS CASSIANO MOISÉS CASSIANO MOISÉS GERMANO MOISÉS GERMANO MOISÉS file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pro...s%20Library/001%20-Da%20Fare/01/0-CASSIANUSPRIMUS.htm2006-06-02 10:20:03

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  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : Index.

    JOO CASSIANO

    I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO

    ndice Geral

    CASSIANO

    MOISS

    CASSIANO

    MOISS

    CASSIANO

    MOISS

    GERMANO

    MOISS

    GERMANO

    MOISS

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pro...s%20Library/001%20-Da%20Fare/01/0-CASSIANUSPRIMUS.htm2006-06-02 10:20:03

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.1.

    Joo Cassiano

    I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO

    O Abade Moiss e o Escopo e o Fim do Monge

    - condensado da traduo de D. Timteo Amoroso Anastcio -

    Dilogo entre o Abade Moiss e os monges Cassiano e Germano

    CASSIANO

    No deserto de Scete moravam os mais ilustres Pais de monges e de toda a perfeio. Entre todas aquelas exmias flores, rescendia de modo mais suave, tanto pela ascese quanto pela contemplao, o abade Moiss.

    Desejoso de ser formado sua escola, fui sua procura no deserto, em companhia do santo abade Germano. Com este, desde os primeiros exerccios da milcia espiritual, vivi em to estreita companhia, tanto no mosteiro como no deserto, que todos diziam, para significar a nossa amizade e comum propsito, que ramos um s esprito e uma s alma em dois corpos.

    Juntos, rogamos com muitas lgrimas ao mesmo abade uma conversa de edificao. Bem conhecamos o seu rigor e sabamos que no consentia em abrir as portas da perfeio seno queles que a desejavam com f e a procuravam de corao contrito. Pois no devia acontecer que a mostrasse a quem no a queria ou que s mornamente a desejasse, expondo, assim, a indignos, que as acolheriam com fastio, aquelas realidades necessrias que s devem ser reveladas a quem tem sede de perfeio, pois, do contrrio, pareceria ele incorrer no vcio de vanglria ou mesmo no crime de traio.

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-1.htm (1 of 2)2006-06-02 10:20:03

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.1.

    Cansado de nossos rogos, ele, afinal, comeou a falar.

    n

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  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.2.

    MOISS

    Toda arte e toda a disciplina tem um escopo, ou fim particular, e um "telos", isto , um fim prprio. fixando neste os olhos, que o zeloso pretendente de qualquer arte sustenta, sem perturbao e de boa vontade, todos os trabalhos, perigos e prejuzos.

    O lavrador, por exemplo, arrostando os raios ardentes do sol ou geadas e neves, infatigavelmente rasga a terra e com o vai-e- vem do arado amanha as glebas bravias. Assim fazendo, ele conserva o seu escopo, que purgar a terra de todas as saras e libert-las de ervas daninhas, at que a torne, pelo seu trabalho, fina e solta como areia. Ele no espera conseguir de outro modo o seu fim, que consiste em searas copiosas e colheitas abundantes, para que possa, da em diante, levar uma vida segura ou aumentar o seu patrimnio. De bom grado, esvazia o celeiro cheio de gros e com instante trabalho os semeia nos sulcos amolecidos. Contemplando as futuras searas, ele no sente a diminuio de agora.

    Tambm os que vivem do comrcio, no temem os azares do mar nem se apavoram com qualquer perigo, quando, alados pela esperana do vo ligeiro, so provocados ao lucro, que o seu fim.

    O mesmo acontece com os que se inflamam com a ambio da carreira militar, ao divisar ao longe o seu fim, que so as honras e o poder. So insensveis aos perigos e s mortes das campanhas e no se deixam abater pelos sofrimentos e riscos atuais, nem pelas aflies e guerras do momento, pois ambicionam a dignidade, que o fim que se propem.

    Assim tambm, a nossa profisso. Ela tem igualmente o seu escopo e o seu fim prprio. Por este fazemos todos os trabalhos, sem cansao e at com alegria. Para obt-lo, no nos fatiga a privao dos jejuns, achamos prazer na lassido das viglias, no nos enfastia a contnua leitura e meditao das Escrituras, nem nos deixamos assustar pelo trabalho incessante, pela nudez e privao de tudo, nem pelo horror desta vastssima solido.

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  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.2.

    , sem dvida, por causa deste mesmo fim, que abandonastes o afeto dos pais e desprezastes a ptria e as delcias do mundo, atravessando tantas regies para chegar at ns, homens rsticos e ignorantes, que vivemos na aspereza deste ermo.

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-2.htm (2 of 2)2006-06-02 10:20:03

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.3.

    CASSIANO

    Como insistisse em nossa resposta, dissemos que tudo isso tolervamos por causa do reino dos cus.

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pro...s%20Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-3.htm2006-06-02 10:20:04

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.4.

    MOISS

    Muito bem, disse ele, falastes corretamente sobre o fim. Mas, antes de mais nada, deveis saber qual o nosso escopo, isto , a firme determinao a que devemos aderir sem cessar, para podermos atingir o nosso fim.

    Em toda arte e disciplina, como j disse, tem precedncia um certo escopo, isto , um propsito da alma, uma incessante inteno da mente. Se algum no o guardar com perseverante empenho, no poder chegar ao fim desejado.

    Pois, como eu disse, o lavrador, tendo por fim prprio viver do proveito de colheitas abundantes com segurana e largueza, exerce o seu escopo ou determinao ao purgar de saras e ervas inteis o seu campo, s confiando em atingir o fim almejado, a opulncia, se, antes de obt-lo j de algum modo o possua em seu trabalho e sua expectativa.

    Igualmente o mercador. No abandona o desejo de adquirir mercadorias, pois por seu intermdio que pode mais rendosamente acumular riqueza. Em vo cobiaria o lucro, se no tomasse o caminho que a ele conduz.

    Os que ambicionam as honras deste mundo, atravs de determinadas dignidades, escolhem antes os cargos e carreiras a que devem dedicar-se para poder chegar, pelo caminho certo, ao fim que a desejada dignidade.

    Assim, o fim ltimo da nossa via o reino de Deus. Mas, qual seja o escopo, deve-se cuidadosamente procurar. Se no o soubermos com clareza, em vo nos cansaremos em nossos esforos, pois os que viajam sem caminho certo, s conseguem o labor da jornada, no o avano.

    O fim ltimo da nossa profisso, como j dissemos, o reino de Deus ou dos cus. Quanto ao nosso escopo, a pureza de corao sem a qual impossvel algum alcanar aquele fim.

    Portanto, fixando neste escopo o olhar que nos dirige, orientamos a nossa corrida por uma linha certa, de modo que se

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-4.htm (1 of 10)2006-06-02 10:20:04

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.4.

    o nosso pensamento se desviar um pouquinho, ns o retificamos, voltando logo a contempl-la, como a uma norma. Revertendo os nossos esforos a esse signo nico, ele nos avisar imediatamente, caso o nosso esprito se desvie ainda que pouco da direo proposta.

    como os que so hbeis no manejo de armas de arremesso. Quando querem demonstrar sua percia diante de um rei deste mundo, esforam-se por lanar dardos ou flechas em pequenos escudos onde so pintados os prmios. Esto certos de no poder alcanar o seu fim, o prmio cobiado, seno visando diretamente ao alvo. Ganharo o prmio se puderem realizar o escopo proposto. Se este lhes for subtrado da vista, seja qual for o desvio que afaste o olhar imperito da direo correta, eles no percebero que se apartaram daquela linha, porque lhes falta o sinal certo que lhes aprove a correo do tiro ou acuse a sua falha.

    E assim, ao lanarem no ar e no vcuo seus inteis arremessos, esto impedidos de distinguir por que erraram ou se enganaram, pois carecem de qualquer indicao do desvio, e o seu olhar confuso no pode ensinar como, desde ento, corrigir ou recuar a linha acertada.

    Assim tambm a nossa profisso. seu fim, segundo o Apstolo, a vida eterna, conforme, suas prprias palavras:

    "Tendes por fruto

    a santidade, e por fim

    a vida eterna".

    Rom. 6, 22

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  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.4.

    Quanto, porm, ao nosso escopo, a pureza de corao, que ele merecidamente chama de santidade, sem a qual aquele fim no poderia ser atingido. como se dissesse em outras palavras:

    `Tendes o vosso escopo

    na pureza

    de corao,

    e o vosso fim na vida

    eterna'.

    Falando, alis, desse escopo, o mesmo Apstolo emprega o prprio termo, isto , escopo, de modo bem significativo:

    "Esquecendo o que est para trs, e lanando-me para

    frente, eu sigo sem

    parar at o fim, para a

    recompensa a que fui

    chamado do alto".

    Fil. 3,13-14

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-4.htm (3 of 10)2006-06-02 10:20:04

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.4.

    O texto grego mais claro ainda, trazendo: "kat skopn diwko", isto : "eu sigo at o fim, segundo o escopo", vale dizer, segundo a determinao que me propus, como se dissesse:

    "Por este propsito, pelo qual esqueo o que ficou para trs, isto , os vcios do

    velho homem, eu me esforo por chegar ao meu fim,

    que a recompensa

    celeste".

    Assim sendo, devemos abraar com toda a energia o que pode nos encaminhar ao escopo da pureza de corao, e evitar tudo que dela nos separa, como pernicioso e nocivo.

    ela a razo de tudo que fazemos e suportamos. por ela que abandonamos parentes, ptria, honrarias, riqueza, delcias e qualquer prazer deste mundo, para guardar continuamente a pureza de corao.

    Se nos propomos esta inteno, os nossos atos e pensamentos sempre iro direto sua conquista. Mas se ela no estiver constantemente diante dos nossos olhos, no s os nossos trabalhos se tornaro vazios e instveis e sem nenhum proveito, mas tambm se levantaro pensamentos de toda sorte e contrrios entre si.

    Pois inevitvel que a alma, no tendo a que voltar e a que se fixar de preferncia, mude a cada hora e a cada minuto, ao sabor da variedade dos impactos que sofre, e logo se transforme, em virtude das influncias de fora, na disposio que primeiro lhe

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-4.htm (4 of 10)2006-06-02 10:20:04

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.4.

    ocorra.

    Da vem que j vimos que muitos, depois de ter deixado as maiores riquezas, no s em quantias de ouro e prata, mas igualmente em propriedades magnficas, se deixam perturbar, depois disso, por causa de um canivete, um estilete, uma agulha, uma pena de escrever. Se tivessem mantido o olhar invariavelmente fixo naquela pureza de corao, jamais teriam admitido em coisas to pequenas o que radicalmente rejeitaram em bens considerveis e preciosos.

    Pois acontece muitas vezes que no poucos guardam com tanto cime um volume, que no permitem a ningum sequer de leve o ler ou tocar. E assim encontram ocasio de impacincia e de morte onde eram estimulados a ganhar a recompensa de pacincia e de caridade. Depois de terem distribudo todos os seus bens por amor de Cristo, eles retm em coisas mnimas o antigo afeto do seu corao e se deixam por elas, muitas vezes, encher-se de fortes cleras, como os que, no tendo a caridade do Apstolo, se tornam de todo infrutuosos e estreis. O santo apstolo o previa, em esprito, quando disse:

    "Ainda que eu

    distribusse todos os

    meus bens para o

    alimento dos

    pobres, e entregasse meu corpo

    s chamas,

    se eu no tiver a

    caridade, de nada

    me serve".

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-4.htm (5 of 10)2006-06-02 10:20:04

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.4.

    I Cor 13, 3

    Prova-se, assim, com clareza, que no se alcana de imediato a perfeio pelo simples despojamento e pela renncia de toda riqueza e honraria, seno houver aquela caridade cujos membros descreve o Apstolo, pois s na pureza de corao que ela consiste.

    Pois o que no invejar, no se encher de orgulho, no se irritar, no agir mal, no ir atrs do prprio interesse, no ter prazer com a injustia, no levar em conta o mal (I Cor. 13,4ss) e o resto, seno oferecer sempre a Deus um corao perfeito e sincero, e guard-lo imune de quaisquer perturbaes?

    , portanto, pela pureza do corao que tudo devemos fazer e apetecer. Por ela, temos de ir atrs da solido. Por ela, saibamos que nos cumpre assumir jejuns, viglias, trabalhos, despojamento, leitura e outras virtudes, para, graas a isto, tornar e conservar livre de ms paixes o nosso corao, galgando por estes degraus a perfeio da caridade.

    E se eventualmente no pudermos, em virtude de alguma legitima e necessria ocupao, realizar o ritual dos nossos rigores costumeiros, no vamos por motivos de tais observncias cair na tristeza ou na ira ou indignao, pois para vencer tais coisas que teramos feito o que foi omitido. No to grande o lucro do jejum, quanto os dispndios da ira; nem tanto o fruto que se colhe com a leitura, quanto o dano que sofremos com o desprezo de um irmo.

    Convm, portanto, fazer por causa do nosso escopo principal, isto , a pureza do corao, que a caridade, todas aquelas coisas secundrias, jejuns, viglias, anacorese, meditao das Escrituras, e no desbaratar por causa delas esta virtude principal, pela qual, se a guardarmos intacta em ns, nada nos poder fazer mal, ainda que se omita por necessidade algo secundrio.

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  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.4.

    De resto, no nos servir de nada fazer todas as coisas, se nos deixarmos privar daquela que chamamos principal e para cuja aquisio tudo deve ser feito.

    Se algum, com efeito, se apressa a arranjar e preparar as ferramentas de qualquer arte, no para as possuir ociosas nem para fundar na mera posse dos instrumentos o fruto deles esperado, mas sim para adquirir realmente, por seu servio, a maestria e o produto daquela arte, de que so eles os meios.

    Assim, os jejuns, as viglias, a meditao das Escrituras, o despojamento e a privao de todos os recursos no constituem a perfeio, mas so instrumentos da perfeio, pois se no neles que est o fim dessa disciplina, por eles que se chega ao fim.

    , portanto, em pura perda que algum multiplicar tais exerccios, se neles detiver a inteno do seu corao, como se fossem o sumo bem, deixando de fixar no fim pelo qual se justificam aquelas prticas, todo o esforo da sua virtude. Possuiriam os instrumentos daquela disciplina, mas ignorariam o seu fim, no qual consiste todo o fruto.

    Tudo, pois, que pode perturbar a pureza e a tranqilidade da mente, ainda que parea til e necessrio, deve ser evitado como prejudicial . Com esta norma poderemos escapar disperso dos pensamentos extravagantes e atingir, seguindo a justa direo, o fim querido.

    Este, portanto, deve ser para ns o principal esforo, esta a invarivel inteno do corao, para que a mente sempre esteja fixa em Deus e nas coisas divinas. Tudo o que disto se afasta, mesmo que seja grande, deve ser julgado secundrio ou mesmo nfimo, ou por certo nocivo. De modo muito belo, o Evangelho traa uma figura deste esprito e deste modo de agir, no episdio de Maria e Marta.

    Enquanto Marta prestava um servio absolutamente santo, pois era ao prprio Senhor e a seus discpulos que ela ministrava, e Maria, somente atenta doutrina espiritual, estava fixa aos ps de Jesus, que ela, beijando, ungia com o perfume duma boa confisso, ela a preferida pelo Senhor, por ter escolhido a

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  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.4.

    melhor parte, e uma parte que no lhe podia ser tirada.

    Marta, com efeito, toda ocupada nos piedosos cuidados do seu servio domstico, vendo-se incapaz de cumpri-lo sozinha, pede ao Senhor a ajuda da irm:

    "No te importas

    que minha

    irm me deixe servir

    sozinha? Dize-lhe,

    pois, que me ajude".

    Lc. 10, 40

    No era a uma obra vil, mas a um louvvel ministrio, que ela chamava Maria. E, no entanto, que resposta ouviu do Senhor?

    "Marta, Marta, ests

    preocupada e te

    perturbas por muitas coisas. No

    h necessidade

    seno de poucas, e

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-4.htm (8 of 10)2006-06-02 10:20:04

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.4.

    at mesmo uma s basta. Maria

    escolheu a boa parte,

    que no lhe ser tirada"

    Lc. 10, 41-42

    Vedes, portanto que o Senhor colocou o bem principal s na "theoria", isto , na contemplao divina. Segue-se que as outras virtudes, ainda que as proclamemos necessrias e teis e boas, ns a julgamos de segundo grau, porque todas so praticadas para a obteno desta s. Dizendo o Senhor:

    "Ests preocupada

    e te perturbas por muitas coisas; no

    h necessidade

    seno de poucas e

    at mesmo uma s basta";

    ele colocou o sumo bem no na ao, embora louvvel e abundante de frutos, mas na contemplao dEle mesmo, que , na verdade, simples e una. Ele afirmou que poucas coisas so necessrias para a perfeita bem-aventurana, isto , aquela

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-4.htm (9 of 10)2006-06-02 10:20:04

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.4.

    "theoria" que comea pela considerao do exemplo de uns poucos santos.

    Elevando-se desta contemplao, aquele que ainda se acha em progresso, chegar tambm a esse nico assim chamado, isto , viso de Deus s, com a sua graa. Ultrapassando, com efeito, os atos e ministrios maravilhosos dos santos, ele j passa a nutrir-se da beleza e do conhecimento de Deus:

    "Maria escolheu

    a boa parte,

    que no lhe ser tirada".

    preciso considerar isto mais cuidadosamente. Quando Ele disse: "Maria escolheu a boa parte", embora se cale a respeito de Marta e no parea censur-la, ao louvar aquela, declara esta inferior. E quando diz "que no lhe ser tirada", mostra que desta pode-se tirar a sua parte, um servio corporal no pode perseverar sempre com o homem, ao passo que a ocupao de Maria, esta, como Ele ensina, em tempo algum pode findar.

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%2...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-4.htm (10 of 10)2006-06-02 10:20:04

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.5.

    CASSIANO

    Ficamos muito perturbados com esta palavra. Pois que, dissemos ns, ento o labor dos jejuns, a solicitude da leitura, as obras de misericrdia, de justia, de piedade e afeio humana, nos sero tiradas e no permanecero com os seus autores? Mas, sobretudo, no foi o prprio Senhor que prometeu o reino dos cus em retribuio a tais obras, ao dizer:

    "Vinde, benditos do meu

    Pai, entrai na posse do reino que

    est preparado para vs desde a origem

    do mundo. Pois tive fome, e

    me desde de comer;

    tive sede, e me

    deste de beber".

    Mt. 25, 34-35

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-5.htm (1 of 2)2006-06-02 10:20:04

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.5.

    E o resto? Como enfim, ser tirado o que introduz no reino os seus praticantes?

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-5.htm (2 of 2)2006-06-02 10:20:04

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.6.

    MOISS

    Eu no disse, respondeu o abade Moiss, que o prmio da boa obra nos deva ser tirado, porque o mesmo Senhor declara:

    "Aquele que der a um desses

    pequeninos um clice de gua fresca, porque um

    dos meus discpulos, em verdade

    vos digo, no perder

    a sua recompensa",

    Mt. 10, 42

    mas sim que lhe ser tirada a ao, atualmente exigida pela necessidade corporal, pelos ataques da carne ou pelas desigualdades deste mundo.

    A assiduidade da leitura e as aflies do jejum para purificar o corao e castigar a carne, s tem utilidade na vida presente, enquanto

    "a carne tem concupiscncia

    contra o esprito".

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-6.htm (1 of 6)2006-06-02 10:20:05

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.6.

    Gal. 5, 17

    Vemos, alis, que no raro esse exerccio j nesta vida cessa para aqueles que esto esgotados pelo excessivo trabalho, ou pela doena e pela velhice, e no podem ser perpetuamente praticados.

    Quanto mais cessaro no futuro, quando

    "este corpo corruptvel se

    revestir de corruptibilidade",

    I Cor. 15, 53

    e esse corpo agora "animal" ressuscitar "espiritual" (I Cor. 15, 44), e a carne comear a no mais ter concupiscncia contra o esprito?

    Sobre isto, igualmente, o Apstolo se pronuncia com clareza:

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-6.htm (2 of 6)2006-06-02 10:20:05

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.6.

    "O exerccio corporal

    tem utilidade limitada,

    mas a piedade,

    ( a caridade,

    sem dvida,

    que deve-se

    entender), til para tudo,

    pois ela tem a

    promessa da vida

    presente e futura".

    I Tim. 4, 8

    Dizer que tem uma utilidade limitada, declarar claramente que ela nem se pratica todo o tempo, nem pode por si s conferir, a quem se esfora, a suma perfeio. O limite, com efeito, pode referir-se s duas coisas, vale dizer, tanto brevidade do tempo, j que o exerccio corporal no pode ser coeterno ao homem nem na vida presente nem na futura; como, igualmente pouca utilidade obtida pelos exerccios corporais, porque a macerao corporal produz um certo comeo de progresso, mas no a prpria perfeio da caridade, e esta que tem a promessa da vida atual e futura.

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-6.htm (3 of 6)2006-06-02 10:20:05

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.6.

    Julgamos, pois, necessrio o exerccio dessas obras, porque sem elas impossvel subir ao cume da caridade.

    As obras de caridade e misericrdia, como as chamais, so tambm necessrias neste tempo, enquanto ainda reina a desigualdade. Mas dessas obras nem mesmo seria de esperar a sua prtica, se no houvesse, aqui em baixo, um numero muito grande de pobres, necessitados e enfermos, produzido pela injustia dos homens, daqueles, quero dizer, que retiveram para o seu uso exclusivo, sem contudo, realmente servir-se delas, as coisas que o criador comum concedeu a todos.

    Enquanto, pois, grassar neste mundo uma tal desigualdade, aquela ao to necessria aproveitar a quem a exercer, dando ao bom corao e benevolncia fraterna o prmio da herana eterna. Mas no sculo futuro, reinando a igualdade, ela cessar. J no mais haver ali diferenas que exijam a sua prtica, mas todos passaro da multiplicidade da ao caridade de Deus e contemplao das coisas divinas, numa perptua pureza de corao.

    a isto que, desde este sculo, se dedicam com todas as foras, aqueles que s querem cuidar da cincia e da purificao de sua mente. Consagrando-se, enquanto se acham na condio carnal e corruptvel, ao ofcio em que havero de permanecer depois de a ter deixado, eles atingem aquela promessa ao Senhor, nosso Salvador, que diz:

    "Bem-aventurados os puros de

    corao, porque vero a Deus".

    Mt. 5, 8

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-6.htm (4 of 6)2006-06-02 10:20:05

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.6.

    Por que vos admirais da transitoriedade daqueles servios acima enumerados? O prprio Apstolo nos descreve como passageiros at os mais sublimes carismas do Esprito Santo. Somente a caridade, como ele nos indica, permanece sem fim:

    "As profecias

    sero abolidas, as lnguas cessaro; a cincia

    ser destruda".

    I Cor. 13, 8

    Mas, quanto caridade, diz ele:

    "A caridade

    no passar jamais".

    I Cor. 13, 8

    Todos os dons, com efeito, nos so dados em razo da utilidade e da necessidade, por algum tempo, devendo, sem dvida,

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-6.htm (5 of 6)2006-06-02 10:20:05

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.6.

    desaparecer logo que se consumar a presente economia. A caridade, porm, no ser jamais interrompida. No s neste mundo que ela opera em ns de modo til, mas tambm no futuro. Depois de deposto o fardo das necessidades corporais, ela permanecer ainda mais eficaz e mais excelente, para que, sempre imune de qualquer desgaste, possa aderir a Deus, na eterna incorruptibilidade, de modo ainda mais ardente e mais intenso.

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-6.htm (6 of 6)2006-06-02 10:20:05

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.7.

    GERMANO

    Quem que pode, na fragilidade da carne, ser sempre to preso a essa contemplao que nunca pense na chegada de um irmo, na visita de um doente, no trabalho manual, ou na hospitalidade devida aos peregrinos ou s pessoas que chegam? E, afinal, quem no solicitado a prover s necessidades e cuidados do corpo? Muito gostaramos de aprender como e em que medida pode a mente unir-se a esse Deus invisvel e incompreensvel.

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pro...s%20Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-7.htm2006-06-02 10:20:05

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.8.

    MOISS

    Unir-se a Deus sem interrupo e ficar-lhe inseparavelmente unido pela contemplao, como dizeis, impossvel ao homem na fragilidade da carne.

    Mas precisamos de saber onde devemos ter fixa a inteno da nossa mente e para qual objetivo reconduzir constantemente o olhar da nossa alma. Se a mente puder guard-la, alegre-se; se se deixar distrair, deplore e suspire.

    E saiba que decaiu do bem supremo, todas as vezes que se surpreender esquecida daquela contemplao. Julgue ser uma prostituio todo afastamento, ainda que momentneo, da contemplao do Cristo. Quando, pois, o nosso olhar se desviar dele um pouco, voltemos de novo para ele os olhos do corao e reapliquemos como em linha reta a fora da mente.

    Tudo, na verdade, se tem na profundeza da alma. Se da foi expulso o demnio, e se os vcios no mais a reinam, conseqentemente se funda em ns o reino de Deus, como diz o Evangelista:

    "O reino

    de Deus

    no vir de

    modo visvel.

    No diro: ei-lo

    aqui ou ali. Em

    verdade, eu vos digo, o reino

    de

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-8.htm (1 of 10)2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.8.

    Deus est

    dentro de

    vs".

    Lc. 17, 20-21

    Ora, dentro de ns no pode existir seno o conhecimento ou a ignorncia da verdade e o amor dos vcios, pelos quais preparamos em nosso corao um reino para o demnio ou para o Cristo. O Apstolo, por sua vez, assim descreve a qualidade desse reino:

    "O reino

    de Deus no

    comida ou

    bebida, mas

    justia, paz e

    alegria no

    Espirito Santo"

    Rom. 14, 17

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-8.htm (2 of 10)2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.8.

    Se, portanto, o reino de Deus est dentro de ns, e se ele justia, paz e alegria, quem mora nessas virtudes, est, sem dvida, no reino de Deus. E, pelo contrrio, quem vive na injustia, na discrdia e na tristeza que produz a morte, est no reino do demnio, no inferno e na morte, pois por esses indcios que se discerne o reino de Deus ou do diabo.

    E, de fato, se, elevando o olhar da mente, considerarmos aquele estado em que vivem as potncias celestes que esto verdadeiramente no reino celeste, como que devemos julg-lo, seno a perptua e continua alegria? Que , pois, mais prprio e mais conveniente verdadeira bem-aventurana, do que a tranquilidade constante e a alegria eterna?

    E para aprenderdes com maior certeza que assim como dizemos, no por minha conjetura, mas pela autoridade mesma do Senhor, escuta-o descrevendo claramente a natureza e o estado daquele mundo:

    "Eis que eu crio novos cus e

    uma nova terra; as coisas antigas

    no sero mais

    lembradas, nem

    subiro mais ao corao.

    Mas gozareis de uma

    alegria e exultao eterna no

    que eu criar".

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-8.htm (3 of 10)2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.8.

    Is. 65, 17-18

    E ainda:

    "Nela se encontraro o gozo e a

    alegria, ao de graas e

    cantos de louvor. E isto ser de ms a ms, de

    sbado a sbado".

    Is. 51, 3; 66, 23

    E mais uma vez:

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-8.htm (4 of 10)2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.8.

    "A alegria e

    a exultao

    eles tero, a dor e o gemido fugiro".

    Is. 35, 10

    Se desejais conhecer com clareza ainda maior o que so a vida e a cidade dos santos, prestai ateno ao que diz a voz do Senhor, falando a Jerusalm:

    "Eu te darei por visita a paz e como autoridade a justia.

    No se ouvir mais

    falar de iniqidade

    em tua terra, nem

    de devastaes e de runas

    em tuas fronteiras, e a salvao

    cobrir teus muros e o louvor as

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-8.htm (5 of 10)2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.8.

    tuas portas.

    Para ti no haver

    mais o sol para luzir durante o dia, nem o esplendor da lua te

    iluminar, pois o prprio Senhor

    ser a tua luz eterna, e Deus a

    tua glria. Teu sol no se por, e a tua lua no diminuir, e terminaro os dias do teu luto".

    Is. 60, 17-20

    Por isto o santo Apstolo no declara que qualquer alegria, de um modo geral e simplesmente, seja o reino de Deus, mas somente aquela que no espirito, como ele assinala e especfica (Rom. 14, 17). Ele sabe que existe uma outra alegria, que censurvel, da qual se diz:

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-8.htm (6 of 10)2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.8.

    "Este mundo

    se alegrar".

    Jo. 16, 20

    E ainda:

    "Ai de vs que rides,

    porque chorareis".

    Lc. 6, 25

    O reino dos cus, sem dvida, deve ser entendido em trs sentidos. Ou que os cus, isto , os santos, ho de reinar sobre os outros homens submetidos a eles, conforme esta palavra:

    "Tu governars

    cinco cidades, e tu a dez",

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-8.htm (7 of 10)2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.8.

    Lc. 19, 17-19

    e esta outra dirigida aos discpulos:

    "Assentai-vos-eis sobre doze

    tronos e julgareis as doze tribos de

    Israel".

    I Cor. 15, 28

    Outro sentido que os prprios cus tornar-se-o o reino de Cristo, quando tudo lhe for submetido e Deus comear a "ser tudo em todos" (I Cor. 15, 28). Ou, enfim, que os santos reinaro nos cus com o Senhor.

    Por este motivo, saiba cada um desde agora, enquanto se acha neste corpo, que lhe caber aquele lugar e ministrio do qual na vida presente ele se mostrar um membro devotado. E no duvide, tambm, que no sculo ele ter a mesma sorte daquele cujo servio e companhia tiver agora preferido. a sentena do Senhor que diz:

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-8.htm (8 of 10)2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.8.

    "Se algum me quer servir,

    me siga, e onde

    eu estou, l estar o meu

    ministro".

    Jo. 12, 26

    Quanto contemplao de Deus, esta pode entender-se de muitos modos.

    Pois Deus, ns o conhecemos no s pela admirao da sua essncia incompreensvel, que ainda se acha escondida na esperana da promessa, mas tambm pela grandeza das suas criaturas, ou se consideramos a sua justia ou do auxlio cotidiano da sua providncia. Assim quando repassamos, de mente muito pura, tudo o que ele fez por seus santos ao longo de cada gerao. quando admiramos, de corao a tremer, a fora com que governa, modera e rege todas as coisas, bem como a imensidade da sua cincia e o seu olhar ao qual no escapa nem o segredo dos coraes. Ou quando pensamos que o numero das areias e das ondas do mar ele contou e conhece. E quando contemplamos, cheios de estupefao, que so presentes ao seu conhecimento as gotas das chuvas, os dias e as horas dos sculos, o passado e o futuro. E quando vemos, num transporte de admirao, a inefvel clemncia com que suporta, sem que a sua longanimidade se canse, os crimes inumerveis cometidos a cada momento diante dos seus olhos. E a vocao a que nos chamou, pela graa da sua misericrdia e sem quaisquer mritos precedentes. E ainda quantas ocasies de salvao ele concede aos que vai adotar como filhos!

    Pois ele nos fez nascer de tal modo que, desde o bero, a sua

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...0Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-8.htm (9 of 10)2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.8.

    graa e o conhecimento da sua lei nos fossem dados. E, vencendo em ns ele prprio o adversrio, ao preo apenas do consentimento da nossa boa vontade, nos agracia com a eterna bem-aventurana e prmios sem salvar, o plano de sua incarnao, e dilatar entre os povos as maravilhas dos seus mritos.

    So, alis, inumerveis outras contemplaes do mesmo gnero, que podem nascer em nossas faculdades, segundo a qualidade da nossa vida e a pureza do corao, e nas quais Deus visto ou possudo em puras intuies. Ningum, no entanto, as poderia reter perpetuamente, se nele ainda vive algo dos afetos carnais. Porque

    "no poders

    ver a minha face",

    diz o Senhor,

    "nenhum homem

    pode me ver e

    viver",

    Ex. 33, 20

    Isto , para este mundo e as afeies terrenas.

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%2...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-8.htm (10 of 10)2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.9.

    GERMANO

    Como que pensamentos suprfluos, mesmo contra a nossa vontade e at mesmo sem sabermos, se insinuam em ns de modo to sutil e escondido, que temos no pequena dificuldade no s para os repelir, mas tambm para os conhecer e descobrir? Pode a mente ver-se, um dia, livre deles e no ser mais atacada por iluses desta espcie?

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pro...s%20Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-9.htm2006-06-02 10:20:06

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.10.

    MOISS

    impossvel, sem dvida, que a mente no seja perturbada por pensamentos. Mas a quem se empenha, possvel os acolher ou rejeitar. Se, de um lado, o seu nascimento no depende inteiramente de ns, j a sua aprovao e acolhida est em nossas mos.

    E se dizemos ser impossvel mente no ser assaltada por pensamentos, nem por isso se deve tudo atribuir s suas investidas ou aos espritos malignos que nos tentam sugeri-los. Se assim no fosse, nem sobraria ao homem o livre arbtrio, nem nos restaria o empenho da nossa prpria correo.

    Eu digo, ao contrrio, que depende de ns, em grande parte, melhorar a qualidade dos nossos pensamentos, e influir na sua formao em nossos coraes, se santos e espirituais ou carnais e terrenos.

    a este fim, portanto, que se prendem a leitura freqente e a constante meditao das Escrituras: proporcionar a memria das coisas espirituais.

    Este o motivo do canto repetido dos Salmos: alimentarmos a continua compuno, e afinarmos de tal modo a mente, que ela perca o sabor das coisas terrenas e possa contemplar as celestes. Se, voltando atrs, e levados por uma sorrateira negligncia, cessarmos tais exerccios, inevitvel que a mente obscurecida pela impureza dos vcios se incline logo para o lado da carne e a se precipite.

    Este exerccio do corao bem se pode comparar m que as guas dum canal, tombando, fazem rodar com rapidez. Sempre a dar voltas ao impulso das guas, ela no pode, de nenhum modo, cessar o seu trabalho. Entretanto, est no poder daquele que se acha testa do moinho, escolher o que vai moer, se o trigo, a cevada ou o joio. O que fora de dvida, que s mi aquilo que o responsvel tiver fornecido.

    Ora, o mesmo acontece com a alma. Posta em movimento pelas torrentes de tentaes que a investem de todos os lados atravs

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-10.htm (1 of 15)2006-06-02 10:20:07

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.10.

    dos choques da vida presente, ela no poder ficar vazia da mar dos pensamentos. A seu zelo e diligncia cabe ver quais deve admitir ou procurar.

    Se, pois, como dissemos, recorremos meditao assdua da Escrituras e levantamos a nossa memria lembranas das coisas espirituais, ao desejo da perfeio e esperana da futura bem aventurana, inevitvel que os pensamentos da nascidos sejam espirituais e faro que nossa mente se detenha naquilo que meditamos.

    Se, pelo contrrio, vencidos pela preguia ou pela negligncia, nos deixamos invadir pelos vcios e conversas ociosas, ou nos embaraamos com cuidados mundanos e preocupaes suprfluas, a espcie de ciznia que da nasce sobrecarregar o nosso corao com um trabalho nocivo. E segundo a sentena do nosso Salvador, onde estiver o tesouro das nossas obras e de nossa inteno, l permanecer necessariamente o nosso corao (Mt. 6, 21).

    Uma coisa importante devemos, antes de tudo, saber. Trs so os princpios dos nossos pensamentos, isto , Deus, o demnio e ns mesmos.

    So, com efeito, de Deus, quando ele se digna de nos visitar por alguma iluminao do Esprito Santo, elevando-nos a progresso mais alto; tambm, quando ele nos castiga por uma compuno salutar, se avanamos menos ou nos deixamos vencer, agindo com relaxamento; ou, ainda, ao descobrir-nos os celestes mistrios e quando atrai a nossa vontade e propsito a atos ainda melhores (Est. 6, 1 ss).

    como aconteceu com o rei Assuero quando, castigado pelo Senhor, foi levado a consultar os anais e estes lhe trouxeram memria os benefcios de Mardoqueu. Ele ento o exalta com as maiores honras e revoga de imediato a crudelssima sentena de morte contra o povo judeu.

    O mesmo se d com o profeta, ao recordar:

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-10.htm (2 of 15)2006-06-02 10:20:07

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.10.

    "Escutarei o que me

    fala o Senhor Deus".

    Sl. 84, 9

    E este outro que afirma:

    "Assim falou o anjo

    que falava

    em mim",

    Zac. 1, 14

    ou como quando o filho de Deus promete vir com o Pai e fazer em ns a sua morada (Jo. 14, 23).

    Ou ainda quando ele diz:

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-10.htm (3 of 15)2006-06-02 10:20:07

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.10.

    "No sois vs que

    falais, mas o Esprito

    do vosso

    Pai que fala em

    vs",

    Mt. 10, 20

    e tambm quando diz o vaso da eleio, S. Paulo:

    "Procurais uma

    prova de que Cristo

    que fala em mim".

    II Cor. 13, 3

    Do demnio, por outro lado, nasce uma srie de pensamentos, quando se esfora por derrubar-nos tanto pela atrao dos vcios, como por ocultas ciladas, pondo em ao a sua

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-10.htm (4 of 15)2006-06-02 10:20:07

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.10.

    sutilssima esperteza para nos apresentar fraudulentamente o mal como bem e transfigurar-se a nossos olhos em anjo de luz (II Cor. 11, 14).

    Ou, como conta o evangelista:

    "E acabada a ceia,

    como j o

    demnio tinha

    posto no corao

    de Judas, filho de

    Simo, o Iscariota,

    o propsito de trair o Senhor",

    Jo. 13, 2

    e, logo a seguir:

    "Depois do

    bocado, entrou nele

    Satans".

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-10.htm (5 of 15)2006-06-02 10:20:07

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.10.

    Jo. 13, 27

    O mesmo disse Pedro a Ananias:

    "Por que

    Satans tentou o teu

    corao, para

    mentires ao

    Esprito Santo?"

    At. 5, 3

    Acrescentemos ainda o que lemos no Evangelho, mas que muito antes o Eclesiastes predizia:

    "Se o esprito do que tem o poder

    se levanta contra ti, no deixes

    teu lugar".

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-10.htm (6 of 15)2006-06-02 10:20:07

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.10.

    Ecl. 10, 4

    Igualmente, o que pela boca do esprito imundo se diz a Deus contra Acab, no Terceiro Livro do Reis:

    "Eu sairei e

    serei um esprito

    mentiroso na boca de todos os seus

    profetas".

    III Reis 22, 12

    Quanto aos pensamentos que vm de ns, so os que nascem quando nos lembramos naturalmente de tudo que estamos fazendo, ou fizemos ou ouvimos. a estes que se refere o bem aventurado Davi, quando diz:

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-10.htm (7 of 15)2006-06-02 10:20:07

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.10.

    "Eu pensei

    nos dias antigos, e

    tive na mente os

    anos eternos, e meditei, de noite, quando

    me exercitava

    no meu corao e examinava

    o meu esprito".

    Sl. 76, 6-7

    E tambm:

    "Os pensamentos

    dos justos so justia".

    Pr. 12, 5

    E, nos Evangelhos, diz o Senhor aos Fariseus:

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-10.htm (8 of 15)2006-06-02 10:20:07

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.10.

    "Porque pensais o

    mal em vossos

    coraes?"

    Mt. 9, 4

    Devemos, portanto, sempre ter em vista esta causa trplice dos nossos pensamentos e examinar com sagaz discernimento todos os que emergem em nosso corao.

    preciso indagar desde o princpio as suas origens, causas e autores, a fim de podermos considerar, segundo o mrito do que sugerem, como os devemos acolher. Assim nos tornaremos cambistas peritos, segundo o preceito do Senhor (Mt. 25, 27).

    Sua arte e percia, com efeito, consiste em reconhecer o que ouro purssimo e o que foi menos purificado pelo fogo no cadinho. No seu bem atilado discernimento, ele no se deixa enganar, se uma pea vil de cobre tenta imitar, com as aparncias de ouro brilhante, uma moeda preciosa. Pois no s sabe reconhecer as peas cunhadas com a efgie de tiranos, mas tambm discernir com a percia mais sagaz as que. embora trazendo a imagem dum rei verdadeiro, so dinheiro falsificado. Finalmente, investigam cuidadosamente, ao exame da balana, se nada lhes falta do legtimo peso.

    Tudo isto ns tambm devemos observar espiritualmente, como nos mostra em exemplo, com este nome de cambista, a palavra do Evangelho.

    Assim que nos cumpre, em primeiro lugar, examinar com maior cuidado tudo o que se introduz sorrateiramente em nossos coraes, ou qualquer preceito que nos seja apresentado, a ver se no , acaso, algo ligado superstio judaica ou proveniente da orgulhosa filosofia do sculo, que

    file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20...Library/001%20-Da%20Fare/01/CASSIANUSPRIMUS-10.htm (9 of 15)2006-06-02 10:20:07

  • JOO CASSIANO: I CONFERNCIA DOS PADRES DO DESERTO : C.10.

    apresenta uma piedade de mera superfcie. Isto poderemos fazer, se cumprimos aquela palavra do Apstolo:

    "No creias

    em qualquer esprito,

    mas provai

    os espritos se so

    de Deus".

    I Jo. 4, 1

    Nesta espcie de erros caram, enganados, aqueles que, depois de ter feito profisso de monge, se deixaram iludir por belas palavras e certas sentenas de filsofos que, primeira vista, lhes soavam com sentido piedoso e de acordo com a religio. Enganadoras em seu brilho exterior de ouro, elas deixaram para sempre nus e miserveis aqueles a quem seduziram por sua aparncia, como moedas de cobre vil e falsificadas, seja fazendo-os voltar ao barulho do mundo, seja por arrast-los a erros herticos ou a opinies orgulhosas.

    Foi o que sofreu Acor, como lemos no livro de Josu, filho de Nave. Tomado pela cobia, ele furtou um lingote de ouro do acampamento dos Filisteus, merecendo por isto ser punido de antema e condenando morte eterna.

    Em segundo lugar, convm observar com todo cuidado que, ligado ao ouro purssimo das Escrituras, uma falsa interpretao no nos engane por causa do metal precioso. Foi

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    neste ponto que o demnio, muito esperto, tentou enganar o nosso Salvador, como se se tratasse de um simples homem. Corrompendo com uma interpretao maliciosa o que deve ser entendido das pessoas dos justos em geral, ele tenta explic-lo de modo especial quele que no precisava da guarda dos anjos:

    "Ele ordenou a seus anjos

    por causa de ti, que

    guardem em todos os

    teus caminhos; e

    eles te transportaro

    em suas mos, para

    que no batas o teu

    p contra as pedras".

    Mt. 4, 6; Sl. 90, 11-12

    Como se v, ele assim transmuda, por uma astuta interpretao, as preciosas palavras da Escritura, torcendo-as num sentido contrrio e nocivo, para nos apresentar, sob as cores do ouro falso, a imagem dum tirano usurpador.

    O mesmo acontece, quando ele se esfora por nos iludir com moedas falsas, aconselhando, por exemplo, alguma obra de

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    piedade que no provem da cunhagem legitima dos antigos e, sob pretexto de virtude, nos leva ao vcio. So jejuns imoderados e inoportunos, viglias excessivas, oraes desordenadas, leituras inconvenientes com que nos logra e arrasta a um fim desgraado.

    Outras vezes, ele nos persuade a fazer intervenes e visitas piedosas, a fim de nos tirar da clausura espiritual do mosteiro e do segredo duma paz amiga. Ou tambm nos leva a assumir os cuidados e assuntos de religiosas destitudas de recursos, para que o monge, prisioneiro desses laos de que no pode soltar-se, se veja dividido por preocupaes perniciosas. Embora tais coisas sejam contrrias nossa salvao e profisso, como, no entanto, se cobrem de certo vu de misericrdia e piedade, facilmente enganam os inexperientes e incautos.

    Elas imitam as moedas do rei verdadeiro, pois, parecem, primeira vista, cheias de piedade, mas no foram cunhadas pelos legtimos moedeiros, isto , os padres catlicos e aprovados, nem procedem da oficina do seu firme e autorizado ensinamento. So moedas clandestinas, fabricadas em fraude pelos demnios e passadas, com grande dano, aos inexperientes e ignorantes.

    Conquanto paream no momento teis e necessrias, se, contudo, comeam depois a ser contrrias solidez da nossa profisso e a pr em risco, de certo modo, todo o corpo do nosso propsito, importa nossa salvao cort-las e lan-las fora, como a um membro que, embora necessrio, nos escandaliza, mesmo que nos parea exercer a funo de mo ou p direito. prefervel, de fato, ter um membro a menos, isto , privar-se da realizao e do fruto de um preceito, e continuar so e firme quanto aos outros, para depois entrar amputado no reino dos cus, a cair, com todos os mandamentos completos, em algum escndalo. Transformado em pernicioso hbito, ele nos separaria da regra de austeridade e da disciplina do projeto de vida que abraamos para lanar-nos numa tal runa que, sem poder compensar os danos futuros, expor ao fogo do inferno todos os nossos frutos passados e o corpo inteiro das nossas obras (Mt. 18, 8).

    Deste gnero de iluses o livro dos Provrbios fala bem a propsito:

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    "H caminhos

    que parecem retos ao homem, mas o

    seu final o

    fundo do inferno".

    Pr. 16, 25

    E tambm:

    "O maligno prejudica quando se une

    ao justo".

    Pr. 11, 25

    Vale dizer, o demnio engana, quando se cobre com as cores da santidade.

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    "Ele odeia a palavra

    que protege",

    Pr. 11, 25

    isto , o vigor da discrio que procede das palavras e conselhos dos antigos.

    Agora, a ltima tarefa do cambista perito. Dissemos acima que o exame do peso. Ela se cumprir, se o nosso pensamento refletir sobre as coisas que tivermos a fazer, revolvendo-as com o maior escrpulo para que, depois de coloc-las na balana do nosso corao, as possamos pesar com a mais perfeita exatido. Assim apuraremos se so completas segundo a dignidade da nossa regra comum, se so de peso em razo do temor de Deus e irrepreensveis quanto ao sentido; ou se so levianas por ostentao humana ou alguma novidade presunosa, e se a vanglria no lhes teria diminudo ou arruinado o peso de seu mrito.

    Desta maneira, ns as examinamos numa balana autorizada, conferindo-as com os atos e os ensinamentos dos profetas e dos Apstolos, de modo que possamos ou guard-las, se so coisas integras e perfeitas e de peso igual a tais ensinamentos, ou recus-las com toda a cautela e diligncia, se defeituosas e nocivas e no conformes ao mesmo padro.

    , pois, preciso examinar, sem cessar, as profundezas do nosso corao e, com o farol mais sensvel, seguir o rastro dos que ali entram, para no acontecer que alguma fera espiritual, leo ou drago, passando por l, deixe em segredo a marca de seus passos perniciosos e permita, pela negligncia quanto aos ensinamentos, o acesso de outros ao santurio intimo da nossa alma.

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