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Alexandra Sellers - Atração do deserto (Julia 1156) ATRAÇÃO DO DESERTO (The sultan’s heir) Alexandra Sellers Série Filhos do Deserto – Os Sultões – Volume 1 Personagens: sheik Najib Al Makhtoum e Rosalind Lewis (Atração do deserto – Julia 1198) O sheik Najib irrompeu na vida do Rosalind Lewis e reclamou os direitos do sultão sobre seu filho. Ela negou que o sultão fosse o pai do menino, mas sua negativa se chocou contra a incredulidade do Najib e seus beijos sem clemência. O perigo espreitava, e Najib os levou a seu mundo exótico: um lugar longínquo onde amparo equivalia a matrimônio. Todas as noites, nos braços de seu marido o xeque, Rosalind pensava que não poderia seguir guardando seu segredo. Não sabia se sua verdade lhe traria um final amargo ou o verdadeiro amor. Homens destinados a encontrar um amor tão eterno como as areias do deserto... 1

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Alexandra Sellers - Atração do deserto(Julia 1156)

ATRAÇÃO DO DESERTO(The sultan’s heir)

Alexandra Sellers

Série Filhos do Deserto – Os Sultões – Volume 1Personagens: sheik Najib Al Makhtoum e Rosalind Lewis (Atração do deserto – Julia 1198)

O sheik Najib irrompeu na vida do Rosalind Lewis e reclamou os direitos do sultão sobre seu filho. Ela negou que o sultão fosse o pai do menino, mas sua negativa se chocou contra a incredulidade do Najib e seus beijos sem clemência. O perigo espreitava, e Najib os levou a seu mundo exótico: um lugar longínquo onde amparo equivalia a matrimônio. Todas as noites, nos braços de seu marido o xeque, Rosalind pensava que não poderia seguir guardando seu segredo. Não sabia se sua verdade lhe traria um final amargo ou o verdadeiro amor. Homens destinados a encontrar um amor tão eterno como as areias do deserto...

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PRÓLOGO

Um silêncio detestável parecia pesar sobre as paredes de tijolo e aço da câmara blindada. Três homens observavam o diretor do banco introduzir a chave que abria a pesada porta de ferro e os três se olhavam sem dizer uma palavra.

Todos eram jovens, de uns trinta anos, pensou o diretor. Havia algo estranho neles, um ar de autoridade que não era muito comum em pessoas tão jovens. Recordavam a alguém, mas não saberia dizer a quem. Entre eles havia uma grande semelhança física e o mais alto chamava o falecido, proprietário da caixa forte, seu «primo».

— Faz cinco anos que ninguém a toca, é obvio — disse em voz baixa.Não era algo incomum depois da devastadora guerra no Bagestan.

Outras famílias tinham perdido as caixas fortes de seus familiares ou não sabiam nada delas até que o banco as notificava. E, às vezes, não recebiam resposta a essas cartas...

— Por aqui, senhores — disse então o diretor, sustentando a caixa sob o braço.

Um empregado ficou fechando a porta da câmara enquanto ele os levava através de um corredor.

Em silêncio, dirigiu-se à sala de conferências e, com um gesto, instruiu a outro empregado para que a abrisse.

—Aqui ninguém os incomodará — murmurou.Os três homens entraram, em silêncio. Havia tensão no ar enquanto

o diretor deixava a caixa sobre uma larga mesa de mogno, mas era uma tensão diferente a de outras pessoas que esperavam encontrar um tesouro familiar, uma herança inesperada... Então se perguntou o que haveria naquela caixa.

—Ninguém os incomodará — repetiu.—Obrigado — disse um dos homens, sujeitando a porta com

implacável amabilidade.Com desanimo, desejando ser parte do drama que intuía ia desatar-

se, o diretor fez uma saudação com a cabeça e saiu da sala.Najib Al Makhtoum fechou a porta e voltou-se para seus

acompanhantes. Os três homens se olharam, em silêncio. A luz do sol entrava por umas janelas altas, iluminando suas feições, tão parecidas. Os três tinham herdado de algum antepassado uma fronte larga, maçãs do

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rosto altas e lábios sensuais, mas cada um tinha o selo individual de seus genes.

—Esperemos que esteja aqui — murmurou Ashraf.Como se esse fora o sinal, cada um tomou uma cadeira para sentar-

se ao redor da mesa.Alguém levantou a tampa da caixa e mostrou o que havia no

interior... Nada.Os três deixaram escapar um suspiro.—Vazia — disse Haroun—. Suponho que era muito esperar que...—Mas tem que havê-lo deixado em alguma parte... — começou a

dizer Ashraf.—Não está vazia — o interrompeu Najib, mostrando dois envelopes

que havia no fundo.Najib e Haroun olharam para Ashraf e foi ele quem esticou a mão para pegar os envelopes. Um era de cor marrom, o outro branco.

—É um testamento — disse, surpreso—. E esta é uma carta dirigida a vovô.

—Quem é o tabelião? —perguntou Najib—. O velho Ibrahim?Ashraf olhou o marrom para ler o cabeçalho.—Jamal Al Wakil. Sabem quem é?Os outros dois negaram com a cabeça. Ele enrugou o cenho.—Por que teria ido a um estranho para fazer seu testamento? —

murmurou para si mesmo.—Lê — disse Najib.Ao fazê-lo, a expressão do Ashraf se endureceu.—O que é? —perguntaram os dois de uma vez.—Lego a minha esposa... — murmurou ele, olhando a seu irmão e

seu primo—. A minha esposa. Estava casado.—Com quem? —perguntou Najib.—Rosalind Olívia Lewis. Uma mulher inglesa. Teve que casar-se com

ela quando esteve em Londres... — Ashraf seguiu lendo em silêncio—. Estava grávida.

—Alá! —exclamou Haroun—. Mas se houvesse um filho, ela teria se posto em contato com a família.

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—Possivelmente não. Você crê que lhe contou a verdade antes de casar-se?

—Espero que não — suspirou Najib.Ashraf seguiu lendo e sacudiu a cabeça, incrédulo.—Deve haver o contado. Escutem... «e lego a meu filho a Rosa Al

Jawadi».Os três ficaram em silencio durante uns segundos.—Você crê que ela a tem? —murmurou Haroun—. Poderia estar tão

apaixonado para dar-lhe a essa mulher?—Possivelmente pensou que seria mais sensato deixá-la em Londres

que trazê-la para Parvan quando estava a ponto de estourar a guerra — respondeu Ashraf.

Najib tomou a carta branca e tirou algo que parecia um cartão. Mas era uma fotografia e encontrou olhando os olhos sorridentes de uma mulher.

—É ela.Era jovem e muito bonita. E lamentou então, sem saber por que, que

tivessem passados cinco anos. Lamentou não havê-la conhecido com aquele rosto jovem e fresco.

—O menino terá quatro anos agora —murmurou Haroun— meu Deus...

—Temos que encontrá-la. A ela e ao menino —disse Ashraf— antes que alguém o faça. Um filho de Kamil e a Rosa al Jawadi... A quem podemos confiar esta missão?

Najib seguia olhando a fotografia, sustentando-a com ambas as mãos como para proteger-la de algo. De repente, levantou-se e guardou-a no bolso da jaqueta.

—Eu o farei.

CAPÍTULO I

—A senhora Bahrami?Rosalind olhou, estranho o homem que esperava na porta. Fazia

muito tempo que ninguém a chamava assim, mas estava segura de não havê-lo visto antes. Não era o tipo de homem fácil de se esquecer.

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—Por que o zelador não me avisou de sua chegada?—Não sei — disse o estranho, de cabelo e olhos escuros. A pesar do

traje de jaqueta e os sapatos italianos, estava claro que era árabe; seu aspecto e seu acento o delatavam—. Estou procurando à senhora Bahrami.

Ela apertou os lábios. Apesar dos anos e as diferentes feições, eram muito parecidos.

—Você...—Por favor — ele a interrompeu, como se intuíra que estava a ponto

de negá-lo—. Uma mulher chamada Rosalind Lewis se casou com meu primo Jamshid Bahrami faz cinco anos. É você?

Seu primo. Rosalind sentiu contrair o estômago.Najib Al Makhtoum observava o cabelo loiro emoldurando um rosto

ovalado, os olhos verdes... Que o olhavam com certo sarcasmo. Não levava aliança.

—Sim, sou eu — disse ela por fim—. Mas faz muito tempo. Além disso, por que quer sabê-lo?

—Devo falar com você. Posso passar?—Não, sinto muito.Najib impediu que fechasse a porta.—A família de seu marido...—Produz-me repulsão — Rosalind terminou a frase por ele—. E tire a

mão, por favor.—Senhorita Lewis... Deixe-me falar com você. Por favor, é muito

importante.Seus olhos eram da cor do chocolate amargo e os lábios carnudos

mostravam sinais de uma natureza firme e apaixonada. Se Jamshid vivesse, provavelmente sua boca teria adquirido aquele gesto com os anos, mas a lembrança de uma jovem boca apaixonada era tudo o que ficava.

—Quem é você?—Najib Al Makhtoum —respondeu ele, com certo ar condescendente,

como se não estivesse acostumado a ter que apresentar-se.—E quem o envia?—Tenho um assunto familiar que discutir com você.

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—Que assunto familiar?—A herança de Jamshid. Sou um de seus administradores — disse o

homem—. E lhe asseguro que esta visita é em seu próprio benefício.—Já — murmurou Rosalind, incrédula—. Concedo-lhe meia hora,

nada mais — acrescentou, empurrando um dinossauro de pelúcia com o pé para abrir a porta.

—Meia hora com o representante da família de seu falecido marido?—Trinta minutos, mais do que vocês me concederam.Najib enrugou o cenho.—Entrou em contato conosco?Rosalind tentou fulminá-lo com o olhar, mas tinha a impressão de

que aquele homem não se assustava com nada. Parecia a classe de pessoa que se delicia com uma provocação.

—Passe a sala — lhe indicou, assinalando uma porta.Era mais alto que Jamshid. E mais forte, de poderosa musculatura

sob a jaqueta.Najib olhou ao redor. Era uma sala grande, bem iluminada por um

vitro. Sobre a mesa de café havia meia dúzia de adornos e os sofás, belamente estofados em seda, davam-lhe um ar muito elegante.

Só um par de coisas evidenciava que tinha estado casada com um homem árabe: um precioso tapete de seda tecido à mão e uma antiga miniatura do palácio real do Parvan em Shahr-i Bozorg.

—Sente-se, senhor Makhtoum — ela o convidou, sem sorrir.—Obrigado — murmurou Najib, deixando a maleta sobre a mesa.Rosalind estava descalça, com umas calças azuis de algodão e

camisa da mesma cor. E, de repente, ao ver a maleta, sentiu-se vulnerável. Inconscientemente, escondeu uma perna no sofá, sujeitando o tornozelo com a mão.

—O que pode querer sua família de mim depois de tanto tempo? — perguntou, um pouco nervosa.

—Primeiro devo confirmar os dados — disse ele, abrindo a maleta—. Você é Rosalind Olívia Lewis e há cinco anos se casou com o Jamshid Bahrami, cidadão do Parvan que era, nesse momento, estudante aqui em Londres. Equivoco-me?

—Não. Que mais?

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—Você teve um filho com Jamshid.Ela se ergueu então, muito séria.—Você não...—Lamento lhe dizer que recebemos a notícia muito recentemente—Ah, sim? —perguntou Rosalind, incrédula.Najib levantou uma sobrancelha.—Havia alguma razão para não informar a minha família sobre sua

gravidez, senhorita Lewis?—Eu poderia perguntar por que Jamshid não falou com ninguém de

mim antes de ir-se à guerra — replicou ela — partiu prometendo que pediria a aprovação de seu avô e que teria a meu filho no Barakat. Mas não foi assim. Se não era importante para meu marido, por que ia ser o para mim?

—Sem dúvida Jamshid deveria...—De fato, —interrompeu-o Rosalind— escrevi uma carta ao avô de

Jamshid pouco depois de saber que meu marido tinha morrido na guerra.—Meu avô morreu uns meses depois.—Lamento. Sempre pensei que algum dia poderia lhe dizer na cara o

que pensava dele.—Está segura de que meu avô recebeu essa carta?Ela olhou o estofado laranja do sofá, sentindo a velha punhalada de

angústia no coração.—Claro que sim. Seu avô recebeu minha carta e acredito que você

sabe. E sabe também que me respondeu dizendo que eu não estava casada com o Jamshid, que era uma oportunista e uma prostituta que não poderia saber qual de meus muitos amantes era o pai de meu filho. Também dizia que não receberia um centavo e que me queimaria no inferno por insultar a um herói de guerra. O que tem que acrescentar a essa carta da família de meu marido?

CAPÍTULO IIAquilo o deixou gelado. Najib Al Makhtoum apertou os olhos e deixou

escapar um suspiro.

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—Eu não sabia de nada — lhe assegurou. Havia dito em voz baixa para mascarar sua exasperação—. Ninguém sabia, aparentemente, mais que meu avô. De verdade dizia isso na carta?

—Dizia isso, asseguro. Passaram cinco anos e não recordo literalmente suas palavras, mas então a mensagem me cravou no coração como uma adaga. Suponho que Jamshid tenha mentido desde o começo, suponho que o matrimônio com uma inglesa não significava nada para ele, mas eu acreditei. Amava-o e pensei que ele me amava também. Estava grávida de seu filho e ao saber que não se incomodou em falar de mim a seu avô...

Rosalind não pôde terminar a frase. Além disso, contar a sua vida ao primo do Jamshid não serviria de nada. E seguia sem saber o que queria dela.

—Sinto muito — desculpou-se Najib—. Desculpo-me em nome de meu avô... De toda a família. Nós não sabíamos de nada. Como lhe disse, soubemos de sua existência muito recentemente. Meu avô manteve essa carta em segredo.

Ela não sabia se acreditava, mas dava na mesma. Só confirmava de novo que Jamshid não falou com ninguém de seu matrimônio com uma jovem inglesa.

—Pois agora entenderá por que não estou interessada em nada do que você possa me dizer. De fato, não estou interessada em seguir falando, de modo que...

—Senhorita Lewis, entendo que esteja furiosa. Mas, por favor...—Não entende. Você não sabe nada sobre minha vida e não sabe o

efeito que exerceu em mim essa carta. Não será necessário explicações alguma, senhor Makhtoum. Nada do que diga pode mudar essa história. O que estava acostumado a dizer Jamshid? «Está escrito, terminou-se».

—Não terminou-se — insistiu Najib, com tom apaixonado.—O que é o que quer?Ele limpou a garganta.—Como sabe, Jamshid morreu pouco depois de que começou a

guerra em meu país. Acreditávamos tivesse morrido sem testamento, mas recentemente apareceu seu testamento em uma caixa forte. Meu primo lhe deixou a maior parte de sua herança, a você e ao menino.

Rosalind abriu a boca, atônita.—O quê?

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—Tenho aqui uma cópia do testamento, se por acaso quer lê-lo.—Jamshid me nomeia em seu testamento?—É você a maior beneficiária.Uma mescla de sensações ameaçava afogá-la: medo, surpresa,

alívio, angústia...—Por que ninguém me disse isto há cinco anos?—Porque não sabíamos nada até dez dias.—Como podiam não saber que Jamshid tinha deixado um

testamento?Estava olhando-o fixamente, incrédula. E, de repente, Najib

entendeu por que Jamshid se casou com ela apesar de tudo, até sabendo que seu avô se negaria a aceitar esse matrimônio.—Não acionou os advogados da família, sem dúvida porque ainda não o tinha contado ao avô — lhe explicou—. Recentemente soubemos que o escritório do tabelião que redigiu seu testamento foi bombardeado durante a guerra.Rosalind recordou então ter visto na televisão os bombardeios em Baraka. E como tinha chorado pela destruição do país de seu marido.—Como encontraram então esse testamento?—Jamshid tinha deixado uma cópia em um banco que tampouco não sabíamos. O banco nos enviou uma nota recentemente, quando venceu o contrato de aluguel da caixa forte. Sem dúvida, meu primo tinha deixado uma chave na escrivaninha de seu advogado, esperando que a caixa fosse aberta se ele morresse na guerra.Rosalind inclinou a cabeça e a cortina de cabelo loiro cobriu parcialmente seu rosto. Então sorriu. E nesse sorriso não havia traço de cinismo. Parecia mais jovem, mais inocente. Najib pensou que estava vendo a garota da fotografia. A garota por quem Jamshid se apaixonou.—Sei—murmurou—. Oxalá tivesse sabido disso cinco anos antes.—Não foi culpa do Jamshid. Ninguém poderia ter imaginado tão trágica coincidência. Sua morte, a morte do advogado que assinou o testamento... As guerras são assim, senhorita Lewis.Rosalind estava emocionada. Cinco anos de sua vida reescritos em dez minutos. De modo que Jamshid não a tinha abandonado. Seu amor não foi uma mentira.Najib se clareou a garganta.

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—Na caixa também havia uma carta de explicação para meu avô.—E o que dizia? —perguntou ela, com voz rouca.—Tenho-a aqui. Quer lê-la? Acredito que você fala nosso idioma. Jamshid o menciona na carta.Rosalind tomou o papel com mãos tremendo. Seus olhos se encheram de lágrimas e teve que piscar várias vezes para ler as últimas palavras de seu marido:

Vovô envergonha-me não ter encontrado o momento para te falar sobre meu matrimônio na Inglaterra. Sei que você desejava que me casasse com uma mulher de meu sangue, mas Rosalind você adorará. É uma pessoa capaz de lutar contra qualquer eventualidade do destino e será uma boa mãe para nosso filho que, para minha grande alegria, está esperando neste momento. Acreditamos que será um varão. Se Deus não quiser que volte vivo da guerra e que se inteire de meu matrimônio através desta carta, confio em que...

Rosalind não pôde seguir lendo.—Oxalá tivesse conhecido a existência desta carta há cinco anos — soluçou, enterrando o rosto entre as mãos—. Pensei que Jamshid me tinha traído. Pensei que... — então mordeu os lábios, tentando acalmar-se —. Mas me amava. Meu marido me amava.O estranho de olhos escuros sentou-se a seu lado.—Sim — murmurou, tomando sua mão—. Sim, devia amá-la com todo seu coração.—Por que não lhe falou com seu avô de mim?—Meu avô tinha sofrido muitos infortúnios na vida e que seu neto favorito se casasse com uma inglesa... Mas o importante é que os últimos pensamentos de Jamshid antes de ir-se à guerra foram para você. Para você e para seu filho.Rosalind soluçou de novo. Quando ele a abraçou, pareceu-lhe algo natural. Era o primo de Jamshid, de seu marido. Apoiou a cabeça em seu ombro e chorou por tudo o que tinha sofrido, por isso acreditou uma traição que, por fim, não o era.

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Najib acariciou seu cabelo, pensando na tragédia que teve que viver durante aqueles cinco anos. Mas havia uma boa razão para que Jamshid não lhe falasse com seu avô sobre aquele matrimônio...Recordava a terrível comoção que seguiu à chegada de seu primo, anunciando que se ia à guerra ao lado do príncipe Kavian.Como conselheiro do príncipe, como homem criado no país de sua mãe, Jamshid tinha insistido que devia cumprir com seu dever. Seu avô gritou, ameaçou-o, falou-lhe sobre seu dever para com a família e o país de seu pai...A ira do avô tinha caído sobre suas cabeças durante semanas, enquanto os intentos diplomáticos por evitar a guerra fracassavam. Não era o momento de lhe falar sobre seu matrimônio com uma inglesa, ao que se haveria oposto com veemência. Essa notícia poderia havê-lo matado.De modo que Jamshid, neto favorito e herdeiro foi à guerra com a maldição do avô sobre sua cabeça. E umas semanas mais tarde receberam seu corpo ensangüentado, como uma promessa dos horrores que cairiam sobre Parvan com aquela guerra.Seu avô jamais se recuperou do golpe. A mudança que se operou nele os sobressaltou a todos. Quem foi sempre uma torre de força, ficou convertido em um ancião em questão de minutos.E a carta de Rosalind deve ter sido o golpe final. Possivelmente, como humano que era, o avô teria se revoltado contra ela como uma forma de se eximir de seu sentimento de culpa. Amaldiçoar a um homem que se ia à guerra era algo terrível...Se Rosalind tivesse entrado então na família, ela e o filho de Jamshid teriam estado sob seu amparo. Felizmente, o destino tinha revelado sua existência quando ainda podiam fazer algo. E era seu dever protegê-los, pensava Najib.—Obrigado por me emprestar seu ombro — murmurou ela, secando as lágrimas com um lenço.—Sinto não ter podido oferecê-lo há cinco anos.Rosalind negou com a cabeça, tentando sorrir.—Bom, e agora o que?—Suponho que deveria lhe falar do testamento.—Muito bem.Najib al Makhtoum tirou uns papéis da maleta.

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—Jamshid lhe deixou seu apartamento em Paris e outro em Nova Iorque. Além disso, a vila de Barakat, que poderá desfrutar até sua morte e que depois herdará seu filho. Outra propriedade, que desfrutará em usufruto até que o menino cumpra os vinte e um anos... Certos valores, bônus e investimentos cujos interesses lhe permitirão ter uma renda anual... Felizmente, nenhuma de suas posses foi vendida nestes anos. E, naturalmente, receberá em seguida a parte dos interesses que lhe corresponde por estes cinco anos.Rosalind o olhou atônita.—Meu marido possuía tudo isso?Najib não sabia se acreditava nela. Achava estranho que seu primo não lhe tivesse contado nada.—O pai de Jamshid morreu quando ele era um menino e, aos vinte e um anos, recebeu sua parte da herança. Por certo, tomei a liberdade de lhe trazer uma jóia que lhe pertence.Então colocou a mão na maleta e tirou uma caixa de veludo granada. Dentro havia um anel com um diamante do tamanho de uma bolinha de gude. Era incrível. Uma dessas jóias que só se vê nos museus.—Era de nossa bisavó — lhe explicou Najib. — Uma mulher famosa por sua beleza e encanto.A lenda familiar dizia que Mawiyah tinha sido uma mulher fabulosa... É, bobamente, pensou que Rosalind Lewis também o era.—Eu não... Está seguro de que me pertence?Najib tomou sua mão para lhe pôr o anel. Enquanto o fazia, precaveu-se de que estava levando a cabo o ritual que unia a um homem e a uma mulher para sempre... E sentiu que seu coração se acelerava.—É muito formoso, verdade?—Nunca tinha visto nada parecido — murmurou ela.—É só mais uma das jóias que agora lhe pertencem.Rosalind sacudiu a cabeça, incrédula.—Jamshid nunca me disse nada. Nenhuma palavra.Seu marido não gostava de falar de si mesmo. Tinham saído juntos durante meses antes que lhe dissesse que era conselheiro do príncipe Kavian.Em outros tempos, os conselheiros eram os homens com os que o príncipe se divertia e esquecia os problemas graves de estado. Mas naquele

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momento era virtualmente seu Conselho de ministros. Era um cargo de muito prestígio, portanto, para Rosalind não tinha sido surpresa. Possivelmente era pela aura de poder de Jamshid ou possivelmente porque o príncipe Kavian sempre tinha tratado a seu «guarda-costas» com o respeito devido a um igual.Os conselheiros estavam acostumados a pertencer a famílias nobres, mas ela pensou que, como a maioria das famílias de Parvan, a de Jamshid teria perdido todo seu dinheiro contribuindo com recursos para apoiar ao príncipe durante a devastadora guerra contra os Kaljuk.—Não perderam tudo durante a guerra? —perguntou então.—Perdeu-se parte de nossa fortuna, mas meu primo acertou em não lhe deixar suas propriedades de Parvan. Asseguro-lhe que a herança de seu filho está virtualmente intacta.<<Seu filho>>—Ah, já vejo.—Há outra questão... Pensamos que, ao saber que estava grávida, possivelmente Jamshid tenha lhe deixado algo antes de partir. Deu-lhe de presente alguma jóia, Rosalind?—Me deu de presente uma antiga aliança. Tínhamos tanta pressa antes que voltasse para Parvan...—Não, refiro a um anel com um grande diamante. Ou possivelmente a chave de uma caixa forte.Ela negou com a cabeça, surpreendida.—Um grande diamante? Maior que este?—É uma herança de família que pertenceu a Jamshid, mas não estava entre seus pertences. E ele teria querido que seu filho o herdasse.—Seu filho — murmurou Rosalind.—A família está desejando conhecê-la a você e ao menino, é obvio. Nós gostaríamos que viesse nos visitar. Ela olhou o anel com expressão triste. Que diferente poderia ter sido sua vida...—Espere um momento — o interrompeu então —. O dia que recebi a carta de seu avô sofri um aborto. Lamento lhe dizer que perdi o filho de Jamshid.

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CAPÍTULO III—Um aborto? —repetiu ele, recordando o dinossauro de pelúcia que tinha visto no corredor.Rosalind recordou a tremenda dor que sentiu ao ler a carta, como se o avô de Jamshid lhe tivesse atravessado uma adaga no ventre. Como se seu filho tivesse respondido com violência, rebelando-se ante a idéia de chegar ao mundo.—Foi a carta — murmurou —. Sei que foi a carta. Por isso odiava toda a família de meu marido.Najib a olhou em silêncio, com uma mescla de dúvida e tristeza. Mas não havia nada mais que dizer.Rosalind se levantou para lavar o rosto no banheiro e depois de olhar com tristeza o anel voltou para sala.Ele continuava onde o tinha deixado, olhando como ausente uma bola de cristal que continha uma rosa vermelha.—Gostaria de um café?Najib assentiu com a cabeça, perdido em seus pensamentos.Enquanto ligava a cafeteira, Rosalind o observou de pelo vão da porta da cozinha. Sentado no sofá, olhava a rosa sobre a qual caíam flocos de neve artificial.—Como conheceu Jamshid? —perguntou ele então—. Estudavam juntos na universidade?—Não, o conheci depois. Eu tinha terminado meus estudos e trabalhava na embaixada de Parvan como tradutora.—Eu estava em Paris naquela época, mas minha irmã estudava com Jamshid —murmurou Najib, levantando-se —. Recorda-se de uma garota chamada Lamis al Azzam?Rosalind deixou cair o medidor, manchando de café a bancada. Nervosa, pegou uma esponja para limpá-lo.—Sim, conheci-a. Lamis é sua irmã?—Sim.Rosalind engoliu a saliva. Aquela era uma complicação extraordinária. Devia tomar cuidado.—Por que não levam o mesmo sobrenome? —perguntou-lhe.

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Ele sacudiu a mão, como se a explicação contivera uma nota cultural que não merecia a pena discutir.— Então, você é de Barakat?—Assim é. Minha mãe era meio-irmã do pai de Jamshid. Mas a família é originariamente do Bagestão.Rosalind se perguntou então se teria mencionado Lamis para ganhar sua confiança. Se for assim, devia estar em guarda.—Jamshid era do Bagestão? Não sabia.—Nasceu lá — respondeu ele.—E por que se foram do Bagestão?Em seu tom havia uma falsa nota de curiosidade que a Najib não passou despercebida.—Por questões familiares.—Ah, claro.—Por certo, minha irmã está casada e tem um filho.—Ah, sim? —murmurou Rosalind, apartando o olhar.—Trabalha na televisão de Barakat... E coleciona adornos como este — disse Najib então, movendo a bola de cristal que continha uma rosa.—Que coincidência.Aquele adorno não era do mesmo estilo que outros: uma figura de jade, um cinzeiro de ametista, um ovo de alabastro, uma caixa de madeira...«Pense em mim quando olhar a rosa, Rosalind».Nunca tinha gostado da idéia de que uma rosa estivesse aprisionada no cristal. Como uma mulher em um harém. Era natural pensar em Lamis quando olhava a rosa: Lamis era a rosa.—Minha irmã não era a mesma mulher quando voltou da Inglaterra — disse Najib então.— Sabe o que lhe ocorreu para que mudasse tanto?O olhar escuro do homem parecia penetrá-la. Rosalind baixou os olhos e, nervosamente, moveu um dos adornos.—Não sei a que se refere.—Sempre tinha sido muito alegre, mas quando voltou da Inglaterra já não era a mesma.

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Najib deixou a bola de cristal com cuidado como se a rosa, ou pensar em sua irmã, tivesse despertado nele uma instintiva ternura.Rosalind estava hipnotizada por sua voz, pelos olhos escuros, as mãos largas e fortes... Parecia um homem em contato com a vida. Seria um alívio confiar nele, mas...—Possivelmente estava triste por causa da guerra. Além disso, ouvimos rumores de que tinha tido um problema... Com o jogo. Pelo visto perdeu muito dinheiro no cassino e sua família teve que ajudá-la.—É certo — suspirou ele—. Mas isso não teria provocado a mudança de que falo.—Então você também estava na Europa, não? Se lhe tivesse ocorrido algo, o teria sabido.—Eu voltei para casa, como Jamshid, pouco antes que se estalasse a guerra. Lamis ficou aqui para terminar seus estudos.—Falou-lhe de mim?—Minha irmã nunca fala sobre sua estadia na Inglaterra. Sabia Lamis que estava casada com Jamshid?Rosalind se encolheu de ombros, nervosa.—Todo mundo sabia — murmurou, colocando as xícaras sobre a bandeja.—Não me surpreende que tampouco ela o contasse a meu avô. Já se sabe o destino do mensageiro... Possivelmente você vai querer voltar a vê-la.—Sim, claro — sorriu ela, levando a bandeja ao sal. — Quando pensa voltar para a Inglaterra?Najib enrugou o cenho.—Não pensa ir a Barakat para inspecionar sua herança e conhecer a família?Rosalind tinha sonhado com aquela viagem. Mas isso foi muito tempo atrás.—Não sei... — murmurou incômoda. Então olhou o relógio e soltou a bandeja com pressa. — Sinto muito, tenho que ir. Perdoe-me, não me tinha dado conta de que era tão tarde. Tenho... Uma entrevista.Obediente, Najib guardou os papéis na maleta e a seguiu pelo corredor.—Teremos que...—Adeus — ela o interrompeu.—Voltaremos a nos ver.

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—Sim, claro. Chame-me...Rosalind abriu a porta, mas, em lugar de sair, Najib deixou a maleta no chão e tomou pelos ombros. Por um momento, com a boca do homem tão perto da sua, pareceu penetrar em outra realidade, uma realidade em que se conheciam bem, em que Najib al Makhtoum podia beijá-la. Tinha a absurda sensação de que pondo o anel em seu dedo tinha aberto a porta de outra vida. Os olhos escuros do homem pareciam ler sua alma.Um segundo depois, felizmente, o mundo voltou a colocar-se em seu lugar.«É uma sedutora», pensou ele. «Terá que estar em guarda». Entendia por que Jamshid se casou com ela. Devia ter perdido o juízo olhando aqueles olhos verdes.—Rosalind, isto é de tremenda importância. É vital que me diga a verdade. Teve ou não o filho de Jamshid?Então o olhar escuro começou a assustá-la.—Por que é tão importante?—Não posso explicar-lhe agora. Mas lhe rogo que acredite em mim.—Como é possível que algo que foi rejeitado cinco anos atrás, seja agora de vital importância?—Me responda, por favor.Ela deu um passo atrás.—Já lhe disse que o filho de Jamshid morreu — disse, com os dentes apertados—. E, por favor, vá, já é tarde.—Adeus, Rosalind —despediu-se Najib, tomando a maleta —. Chamarei-a.Aproximou-se então da grade de ferro forjado estilo art deco, mas não teve que apertar o botão, porque o elevador já estava subindo.Ela mordeu os lábios, nervosa. Como não lhe ocorreu que aquilo podia acontecer?Como temia, uns segundos depois se abriu a porta do elevador e dele saiu correndo um menino, seguido de uma jovem morena.Najib se voltou, incrédulo, para olhar ao menino, que segurava uma cartolina na mão.—Mamãe, mamãe! Olhe o que fiz no colégio!Por cima do ombro de Sam, Rosalind viu o olhar acusador do Najib al Makhtoum.

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Sem dizer nada, ele entrou no elevador e fechou de uma porta.

—É a viva imagem do vovô — disse Najib.—Maldita seja — murmurou Ashraf —. Maldita seja, maldita seja! E não sabe nada da Rosa?—Isso ela diz. Mas vive em um apartamento que não pôde comprar com seu salário de tradutora. Em Kensington.—Você acredita que vendeu a Rosa? A quem?Najib negou com a cabeça.—Não tenho nem idéia. Depende de quanto soubesse.—Sabe o suficiente para negar que o menino é filho de Jamshid.—Possivelmente, quando tiver tido tempo para pensar, deixará de negá-lo. Pensava que a família a tinha deixado fora porque era inglesa. E Deus sabe o que pensará sobre os motivos de Jamshid para não dizer nada ao avô sobre seu matrimônio.—Se Jamshid lhe deu a Rosa, essa mulher não pode duvidar de sua sinceridade.—Certo. Mas possivelmente a vendeu porque essa carta era uma traição.—Não sei, não se enquadra... —murmurou Ashraf.—Ela me contará — suspirou Najib—. Pode ser que demore algum tempo em reunir coragem.—Mas não temos tempo. Temos que levar o menino a Barakat.—Sei.—Necessita ajuda?Najib pensou nos olhos verdes do Rosalind Lewis. Havia uma promessa nesses olhos, uma promessa que tinha esperado toda sua vida sem sabê-lo.—Não, obrigado. Eu me encarrego de tudo.

Rosalind estava sentada no sofá, abraçando o seu filho enquanto lia um conto. Era algo que faziam todos os dias, mas naquele momento não podia concentrar-se. Acariciava a cabeça de Sam, mas não podia deixar de olhar o anel que levava no dedo. E tampouco podia deixar de pensar em Najib al Makhtoum.

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Não deixava de fazer-se perguntas. Por que Jamshid nunca tinha contado a seu avô que estava casado? Por que não lhe havia dito que sua família era tão rica? De verdade teriam encontrado o testamento pouco antes ou tinham alguma obscura razão para lhe entregar a herança cinco anos depois do falecimento de seu marido?Se for assim, a razão devia ser a possibilidade de que Jamshid tivesse um herdeiro. Mas, por que era tão importante?Tinha falado de uma jóia extraordinária... Então olhou o diamante que Najib tinha posto em seu dedo. Ela não sabia muito de jóias, mas aquele diamante devia ser muito valioso. Maior que aquele... Do que estavam falando? Do Koh-i-Noor?Como ia lhe dar Jamshid uma jóia tão fabulosa se nem sequer sabia que era rico?Tinha-lhe dado presentes, é obvio. Uma jaqueta de couro, uma caderneta de ouro... Rosalind olhou a mesa. E a bola de cristal com a rosa quando soube que estava grávida. Nada mais.Então olhou de novo o anel. Não podia acreditar. O diamante seria autêntico? Mas a resposta estava clara. A pedra brilhava com todas as cores do arco íris.Perguntou-se então se Najib teria falado dela com sua irmã... Mas algo que Lamis lhe tivesse contado carecia de importância porque tinha visto Sam. Voltaria, era óbvio. E teria que pensar o que ia dizer lhe.

CAPÍTULO IV—Olá outra vez, Rosalind.Ela inclinou a cabeça a um lado, maravilhando-se quão parecido com Sam. Sobre tudo, nos olhos.—O que faz, suborna o zelador? Ou tem um manto que te faz invisível? —perguntou.Najib sorriu.—Posso entrar?—Não deveria ter chamado antes?—Estaria em casa se tivesse chamado?Rosalind levantou uma sobrancelha.—O que quer a estas horas? São oito da manhã.

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Ele a olhou sem dizer nada. Um par de largas pernas nuas sob a camisa de algodão, o cabelo despenteado, os olhos inchados do sonho... Então se deu conta de algo: desejava-a com todas suas forças.E teve que apertar os dentes para não dizê-lo em voz alta.—Me deixe entrar. Tenho que te dizer...Rosalind não se afastou para deixá-lo passar.—Como o zelador te deixou entrar? E esta vez quero uma resposta.—Vivo neste edifício. Comprei um apartamento — suspirou ele, irritado.—O que? Não acredito.—O dinheiro pode fazer muitas coisas. Você sabe, não que sei por que te surpreende. Posso entrar ou não?A pegou no braço, e... Isso foi um tremendo engano. Sua pele pareceu pegar-se a do Rosalind. Impelida pelo ímpeto de seu olhar, ela deu um passo atrás.O roçar de sua mão tinha sido como um choque. Que tonta tinha sido ao não reconhecer a atração que sentia por ele. Uma atração muito poderosa.Uma pena que não pudesse confiar nele.—Me solte — disse, com voz rouca.Najib estava perto, muito perto. Podia cheirar o perfume de sua pele e pior, podia cheirar a cama, o delicioso perfume de uma mulher recém levantada.Queria apartar a mão, mas não podia fazê-lo. Desejava tomá-la nos braços e levar-la de volta a essa cama, despi-la e fazer amor, fazê-la sua antes que pudesse protestar. Seu corpo ficou alerta ante o louco desejo de enterrar-se nela.—Sinto-o — disse por fim.Najib acariciou sua bochecha e inclinou a cabeça para lhe dar um perigoso, mas inevitável beijo.Com um repentino ataque de paranóia, Rosalind pensou: «está tentando usar o sexo como arma». Então deu um passo atrás e os lábios do homem só beijaram o ar. E a mesma pontada de pena se cravou no coração dos dois.—O que é o que quer?

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—Vi o seu filho, Rosalind. Por que me mentiste sobre um assunto tão sério? —disse ele, impaciente.—Não te menti. E por que é um assunto tão sério?Começava a lamentar haver lhe dito a verdade. Que dano poderia lhe haver feito à família acreditar que Jamshid tinha deixado um herdeiro?—Podemos nos sentar?—Não penso seguir falando contigo — lhe espetou ela.Mas Najib simplesmente entrou na sala e deixou a maleta sobre a mesa.—Temos que falar.—Por que não chamaste antes?—Sente-se, por favor.Rosalind se sentou, com as pernas cruzadas. A camiseta que estava acostumada a usar para dormir era mais larga que alguns de seus vestidos, mas se sentia nua frente aquele homem.Quando abriu a maleta, o som das fechaduras foi como um balaço que a deixou paralisada.Najib lhe mostrou um papel.Registro de nascimento e leu. Nome: Samir Jawad, sexo, varão...—E?—Estava grávida no verão e deu a luz na primavera.—Ah, sim?Era ridículo pensar que ia acreditar, mas tinha que tentar de todas as formas.—Mãe: Rosalind Olívia Lewis — leu Najib.—Isto não leva a nenhuma parte. Eu...—Pai: Jamshid Bahrami.—O que é que quer? —demandou Rosalind, exasperada — o que te importa? Passaram-se cinco anos! O que te importa se meu filho herda as propriedades de Jamshid ou não?Najib não respondeu e ela sentiu um calafrio de alarme.«Um assunto tão sério» havia dito. Por que era tão sério? Encontrava-se o herdeiro de uma fortuna cinco anos depois da morte de seu pai poderia ser um inconveniente para alguém, mas por que era algo tão sério?

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Por que o descobrimento de que Jamshid tinha deixado uma esposa levara Najib al Makhtoum a Londres em pessoa? Por que não tinham enviado um advogado? Por que parecia tão desesperado?—Sam é... —começou a dizer, mas não terminou a frase porque Najib tomou pela mão.—Não me minta.De novo estavam olhando-se nos olhos e, de novo, entre eles passou aquela corrente elétrica, aquela sensação estranha de que deviam estar juntos.Nervosa, Rosalind se levantou.—Eu não minto nunca! E você não sabe nada de minha vida.—Sei que registrou o seu filho como filho de Jamshid, mas agora me diz que não o é. Qual das duas afirmações é mentira? —perguntou Najib, levantando-se.Era muito poderoso, entristecedor. Tanto que Rosalind teve que aproximar-se da janela para não cair sob seu influxo.—Neste país, o marido de uma mulher está acostumado ser o pai de seu filho. Seja o pai biológico ou não. Jamshid não é o pai biológico do Sam.—Teve um filho, de modo que não houve aborto. Certo ou não? Ou me mentiu antes ou me está mentindo agora. Não há outra possibilidade.Havia outra possibilidade, mas Rosalind não podia contar-lhe. Najib era a última pessoa que devia sabê-lo e só era uma sacanagem do destino que tivesse sido precisamente ele quem fosse a Londres para lhe falar do testamento de Jamshid.—Você não sabe nada.—Uma mulher não tem um aborto e depois dá a luz uns meses mais tarde. Diga-me a verdade!Aquilo era muito mais sério do que tinha pensado. E o importante era manter ao Sam afastado de Najib al Makhtoum.—Eu disse a verdade. Não vou repetir-me — disse Rosalind.—Por que não pôs o nome do pai biológico na certidão de nascimento? Vou dizer por que. Porque Jamshid é o pai. Não mentiu a meu avô e está me mentindo. E é uma mentira muito perigosa.—Você não sabe nada de minha vida — repetiu ela, com ênfase.Mas não podia lhe contar a verdade, não podia tirá-lo de seu engano.

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—Devo acreditar que meu avô não se equivocou ao te insultar em sua carta? Devo acreditar que enganou a Jamshid para que se casasse contigo?Rosalind apertou os lábios, furiosa. Então levantou uma mão e o golpeou na cara com toda a dor e a raiva que tinha mantido guardados durante cinco anos.Os olhos do homem se anuviaram até voltarem negros como o carvão. Então a tomou pelos braços, apertando-a com força.—Não use a violência comigo!Ela observou, fascinada, como se dilatavam suas pupilas de fúria. E se deu conta de que Najib não era um homem que alguém pudesse ofender impunemente.—Saia de minha casa — disse em voz baixa.—Seu filho é a viva imagem de meu avô —insistiu ele— Não te acuso de nada exceto de estar muito doída para perdoar. Mas devemos deixar isso de lado pelo bem do menino. O resto...—Saia de minha casa e de minha vida!Najib soltou uma gargalhada amarga.—Não posso fazê-lo.—Por quê?Ele deixou escapar um longo suspiro.—Seu filho está em perigo, Rosalind. Deve esconder-se durante um tempo... Só dessa forma poderemos protegê-lo.—Em perigo? Que tipo de perigo?—Existe gente que procurará lhe fazer algum dano se souber que é filho de Jamshid.Aquilo era muito pior do que tinha imaginado. Rosalind teve que conter um soluço.—Não é filho de Jamshid! Por que não acredita?—Porque a semelhança é indiscutível. E porque foi registrado como seu filho. Embora eu acreditasse em você, outros não o fariam.—Quais são esses outros? Quem vai dizer lhes que Sam é filho de Jamshid?—Ninguém. Mas cedo ou tarde saberão.

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—Porque você os trouxeste até aqui! —acusou-o ela.—Não é verdade.—Por que removeste esta velha história? Ninguém teria sabido nada de Sam se...Najib negou com a cabeça.—Foi muito fácil lhe encontrar. E será igual de fácil para outros.—O testamento levava cinco anos guardado! Por que lhes interessa precisamente agora?—Isso não lhe posso dizer.—Por que querem fazer algum mal ao filho de Jamshid? —exclamou Rosalind, assustada—. Quem é você? Quais são seus inimigos?—Já te disse mais do que deveria — suspirou ele.—Só é o filho de Jamshid ou toda a família está ameaçada? Seus filhos, por exemplo... Também eles estão em perigo?—Eu não estou casado. Mas não é só seu filho quem está em perigo.—É uma disputa familiar ou algo assim?—Não posso dizer nada mais, Rosalind. Mas deve confiar em mim. Não fica muito tempo.Ela mordeu os lábios.—E se confiar em ti, o que deveria fazer?—Vir comigo à Barakat, onde podemos proteger a seu filho.—À Barakat — repetiu Rosalind, pensativa—. Durante quanto tempo?Najib vacilou.—Umas semanas... Dois ou três meses no máximo.—Três meses? E depois?—Não posso te explicar como mudará a situação. Mas mudará.—E depois disso... Sam e eu poderemos voltar para Londres?—Isso espero. Isso acredito. Se tivermos êxito.—Isso espera? — espetou-lhe Rosalind, furiosa.—Não é minha culpa. Jamshid não tinha direito a casar-se contigo sem informar a ninguém. Aconteça o que acontecer agora, é inevitável.—Mas...

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—Rosalind, asseguro-te que pode confiar em mim. Jamshid desejaria que fizesse isso.Estava aterrorizada. Não sabia o que fazer. Podia confiar em Najib ou estaria metendo-se em uma armadilha?—Mamãe?Uma vozinha chegava do corredor e os dois se voltaram. Sam, com o cabelo revolto, olhava-os com olhos de sono da porta.—Bom dia, querido — disse Rosalind, tentando sorrir.O menino entrou no salão e abraçou sua mãe, olhando o estranho com jeito desconfiado.—Olá — sorriu Najib.Sam olhou para sua mãe, interrogante.—Querido, este senhor se chama Najib al Makhtoum.O menino o olhou com curiosidade.—Olá — murmurou por fim — este é Lambo — disse então, lhe mostrando um cordeirinho de pelúcia que levava na mão.—Encantado, Lambo.A mão grande do homem envolveu a pequena mão do menino e esse gesto a enterneceu. Sam olhava o estranho com admiração, com ternura inclusive. E o coração do Rosalind deu um pulo. Porque naquele olhar estava tudo o que ela, apesar de seu amor, não poderia lhe dar: o carinho de um pai.—É meu amigo?—Sim, sou seu amigo — respondeu Najib.—É meu pai?—Sam... — começou a dizer ela, envergonhada.—Penso cuidar de ti durante uns meses como o teria feito seu próprio pai. Parece-te bem?O menino piscou, sem compreender de tudo, mas entendendo a intenção.—Sim — disse por fim, como se tivesse assinado um pacto.—Céus, quer ir a seu quarto e ler um conto? Eu irei dentro de um momento — murmurou Rosalind. Quando Sam saiu do salão, voltou-se para o Najib fulminando-o com o olhar—. Por que lhe disse isso?—É a verdade — respondeu ele.

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—Não aceitei que cuide de meu filho...—Por que não? O menino necessita um pai.—Isso eu decidirei.—Não me importaria cuidar dele. É minha obrigação, além disso.Rosalind ficou em silencio durante uns segundos. Aquela conversa era muito perigosa, sobre tudo porque despertava nela um desejo absurdo. Quantas vezes tinha desejado ter alguém para compartilhar as alegrias e as tristezas? Quantas vezes tinha desejado ter a alguém que a ajudasse a criar Sam?—Ainda não me explicou por que estamos em perigo — lhe perguntou.—Já te lhe disse que não posso fazê-lo. Mas estou disposto a proteger a Sam como faria Jamshid. Seu pai foi morto quando ele era um menino e teria desejado que eu cuidasse e quisesse a seus filhos como se fossem meus. Por favor, permite que o faça — insistiu Najib—. Pode que temos menos tempo de que acreditávamos.Suas palavras a assustavam, mas temia confiar nele. Por muitas razões.—Quando iríamos à Barakat?—Tem o passaporte como deve ser?—Sim.—Então, imediatamente. Quando estará preparada, amanhã?Rosalind se assustou. Tão logo? Sair de Londres sem saber qual ia ser seu destino?—No sábado que vem.Najib negou com a cabeça.—Uma semana é muito tempo. Devemos ir na quarta-feira ou na quinta-feira o mais tardar.—Na sexta-feira — disse ela —. Não posso estar pronta antes da sexta-feira.Uma vozinha lhe dizia que necessitava de tempo para pensar.

CAPÍTULO VRosalind passeava pelo apartamento, nervosa.«Seu filho está em perigo. Deve esconder-se».

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Essas palavras davam voltas e voltas em sua cabeça. Não sabia se era verdade ou uma mentira para obrigá-la a ir com ele à Barakat, mas não podia ignorar a advertência.Ou confiava em Najib al Makhtoum ou se ia de Londres. Devia proteger a Sam porque Najib tinha razão sobre uma coisa: qualquer que estivesse interessado chegaria à conclusão de que era filho de Jamshid.Por que um filho de Jamshid estaria em perigo? Uma antiga disputa familiar? Uma vingança tribal? Tinha ouvido que algumas tribos árabes estavam em contínua briga com outras, mas parecia tão absurdo no século XXI...«Jamshid não tinha direito a casar-se contigo».Por quê? Por que não tinha contado a seu avô que estava casado com uma européia? Recordava a carta que recebeu de seu marido pouco antes de ir-se à guerra. Em que lhe dizia que a família estava encantada com a notícia.A carta de seu avô tinha provado que era mentira. Após duvidou dele. Mas Jamshid tinha sido um homem otimista. Sem dúvida pensava esclarecer tudo antes de levar a sua esposa a Barakat...Entretanto, depois de conhecer a notícia, ou acreditar que a conhecia, em lugar de felizes, estavam todos paranóicos.Rosalind sentiu um calafrio. Era como estar rodeada de animais na escuridão.E não a ajudava nada descobrir-se atraída por Najib al Makhtoum. Embora fosse um homem muito atrativo. E um homem em quem poderia apoiar-se... Enquanto estivesse de seu lado.A única relação importante de sua vida era seu filho. Rosalind saía com amigos, mas não podia confiar seus segredos a ninguém. Aquilo a tinha isolado emocionalmente.Entretanto, apesar de não confiar nele em tudo, sentia em Najib al Makhtoum uma força masculina que tinha sentido falta durante muito tempo. Levava cinco anos sendo forte e estava cansada.Não podia arriscar-se a confiar, mas intuía que estava dizendo a verdade quando falava do perigo que corria seu filho.Embora não sabia se era o próprio Najib quem representava uma ameaça.

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—Sim, está de acordo. Mas, a menos que me equivoque, neste momento estará tendo sérias dúvidas.Bocejando, Najib passou vigorosamente uma mão pelo cabelo para despertar. A luz do sol iluminava a calça branca do pijama e seus pés descalços.—O que significa isso?Ashraf sempre esquecia a diferença de horário entre Barakat e Londres, mas não lhe importou. Durante a guerra se acostumou a dormir e despertar a vontade.—É muito possível que saia correndo.Ao outro lado do fio houve um silêncio.—Poderia cair em mãos do inimigo.—Esperemos que não seja assim — suspirou Najib, levantando-se da cama.—Você acredita que já se puseram em contato com ela? —perguntou Ashraf.—Eu acredito que não.—Então, por que mente?—Possivelmente porque vendeu a Rosa.Najib tomou a fotografia de Rosalind, que estava sobre a mesinha de cabeceira. Era o rosto sorridente de uma jovem que não temia nada.Ela não o olhava como olhava na fotografia. Em seus olhos tinha visto receio e suspeita. E não queria que fosse assim.Mas não havia razões para que o olhasse com essa doce expressão. Deveriam ter se conhecido em outras circunstâncias. Então existiria a possibilidade de uma relação...—Mas não teria por que mentir sobre o menino — insistiu Ashraf—. É possível que Jamshid lhe contasse a verdade e ela não queira saber nada?—Então teria sabido por que estou em Londres.—Pode ter dissimulado.Najib olhou de novo a fotografia. Estava escondendo algo, seguro. Mas o que era?—Eu gostaria de lhe contar a verdade, Ashraf. Se Rosalind soubesse...

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—Acaba de me dizer que odeia a todos. Se lhe disser a verdade... Já falamos sobre isso, Najib.Ele assentiu ausente. Tinham discutido o assunto em todos os ângulos e sabia que tinha razão: era um risco que não podiam assumir. Nas mãos equivocadas, o filho de Jamshid seria uma arma invencível.—Existe alguma possibilidade de que esteja dizendo a verdade e o menino não seja filho de Jamshid? —perguntou Ashraf então.—Está na certidão de nascimento...—Poderia ter mentido desde o começo.Isso significaria que tinha enganado a Jamshid, que tinha mentido a ele, a seu avô... E tudo por dinheiro. Najib olhou a fotografia de novo.Não era precisamente um perito em saber se uma mulher o estava enganando, mas não queria acreditar que aquela cara angelical fora capaz de tais maquinações.—Se fosse assim, por que o negaria agora que há dinheiro no meio?Possivelmente era a dor pelos cinco anos perdidos. Cinco anos atirados pela janela por uma amarga carta de seu avô. Poderia fazê-la entender como a história tinha destruído a um homem, como o tinha feito recear de todos os seres humanos, inclusive odiá-los?Mas uma relação sentimental com a mãe do filho de Jamshid seria um suicídio naquele momento. Não podia correr riscos.«Depois», pensou Najib.

O destino deu uma virada na situação, na segunda-feira seguinte. A agência de traduções para qual Rosalind trabalhava, lhe perguntou se estava interessada em traduzir um antigo manuscrito parvaní.Era mais interessante que as traduções técnicas que estava acostumada a fazer e o melhor de tudo era que o proprietário não queria separar do valioso documento. O trabalho incluía transladar-se a sua casa na costa até que terminasse a tradução.Era a primeira vez que lhe ofereciam algo parecido, embora não era estranho na agência. Os proprietários de documentos valiosos não estavam acostumados a querer separar-se de seus tesouros e isso significava que os tradutores tinham que transladar-se para fazer seu trabalho.—Mas teria que levar Sam — recordou a seu agente.

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—Se for um menino obediente que não se dedica a romper manuscritos de inapreciável valor, pode ir contigo.Rosalind deixou escapar um suspiro de alívio. Desapareceria de Londres durante um tempo e não teria que arriscar-se a fazer uma viagem a Barakat.Mas teria que planejar o que fazer para que Najib al Makhtoum não conhecesse seu paradeiro.

Os dias seguintes foram de uma atividade frenética. Como primeiro passo, confiou a Emma que tinha que partir de Londres sem dizer a ninguém aonde ia.—Por quê? —perguntou a babá de Sam, surpreendida.—Não posso lhe dizer — suspirou Rosalind.Esse mesmo dia, mencionou como de casualidade a um vizinho e ao menino da banca de jornais que se ia aos Estados Unidos durante umas semanas. Inclusive comprou dois bilhetes para Nova Iorque.A Helen, a senhora da limpeza, encarregou-lhe que regasse as plantas uma vez por semana. Também lhe disse que se ia aos Estados Unidos.De modo que tudo estava preparado.Na quinta-feira pela manhã, Sam e ela chegavam de táxi à estação Victória. Uma vez na estação, entraram no banheiro, onde Rosalind trocou de jaqueta, colocou um boné de viseira e uns óculos de sol. Disfarçou a Sam de maneira similar e voltaram a sair para tomar um táxi.Falando com sotaque italiano pediu a um taxista que os levasse a estação de Paddington, de onde saíam os trens para o sul. Na estação, voltaram a trocar de disfarce e pouco depois subiam no trem e se afastavam de Londres.Não era nenhuma perita, mas estava quase segura de que ninguém poderia havê-los seguido.

—Quer dizer que decidiu escapar — suspirou Ashraf.—Assim é.—Como o fez?—Aceitou vir comigo a Barakat na sexta-feira, mas partiu na quinta-feira. Pelo visto, tinha dois bilhetes de avião para Nova Iorque...

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—Nova Iorque?—Em realidade, era uma balela.—Oxalá tivesse acreditado em ti, Najib. Prefiro os ter aqui o quanto antes.—Não pôde ser — suspirou ele—. Mas não se preocupe. Sabia que teríamos que usar o plano B.

CAPÍTULO VI—É muito amável por sua parte ter vindo até aqui — sorriu sir John, abrindo a porta de uma sala que a deixou boquiaberta.Era uma biblioteca privada que parecia o cenário de um filme. Havia livros forrados de pele em estantes de mogno que iam do chão até o teto, com uma escada de caracol que dava acesso às estantes mais altas.Em uma das paredes havia também, uma janela através da qual podia ver o formoso jardim, depois dele havia um bosque imenso. Cada área da biblioteca que não estava ocupada por livros continha tapeçarias de Parvan, pinturas de Bagestão e artefatos que só podiam ser encontrados em um museu.—O rei Kavad Panj — murmurou Rosalind, aproximando-se de um retrato.—É obvio — sorriu sir John—. É um dos dois retratos que fez o artista. O outro está no palácio real de Parvan. Sua Majestade me deu de presente este quando me retirei, uma grande honra para mim.Rosalind não se surpreendeu ao conhecer a identidade do homem para quem ia trabalhar. Sabia que o manuscrito que ia traduzir devia pertencer a um notório colecionador. Sir John Cross, antigo embaixador britânico em Parvan, era um apaixonado pela cultura árabe e depois de ter vivido no país durante vinte anos tinha muitos e importantes amigos ali. Era lógico que as famílias mais enriquecidas lhe tivessem vendido seus tesouros antes e depois da guerra.Rosalind ficou olhando o retrato, pensando o diferente que teria sido sua vida se não tivesse havido uma guerra. O rei Kavad Panj era o pai do príncipe Kavian, de que Jamshid era conselheiro.Se seu marido não tivesse morrido, teria visto aquele retrato em circunstâncias diferentes, no grande palácio do Shahr-i Bozorg. Teria conhecido ao rei e a sir John em diferentes circunstâncias.

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Teria conhecido Najib al Makhtoum? Cada vez que o via tinha a estranha sensação de que se conheceram em outra vida. Era um fenômeno curioso, como se estivesse entre dois caminhos diferentes...Mas, é obvio, recordou a si mesmo, embora tivessem se conhecido antes não teria acontecido nada. Porque ela seria a esposa de Jamshid.De repente, se deu conta de que estava perdida em seus pensamentos.—Perdoe, sir John.—Absolutamente, querida. Eu adoro que alguém aprecie meus tesouros. Reconhece esta pessoa? —perguntou o homem, detendo-se em frente a outro retrato.—Acredito que é o ex-sultão do Bagestão, não? Hafzuddin al Jawadi?—Exatamente. Um grande homem. Sua derrota foi uma tragédia não só para ele, mas para todo o país. Eu era embaixador de Sua Majestade naquele momento, como sabe.Rosalind sorriu.—A verdade é que não estudei a história contemporânea de Bagestão em detalhe.—História... —murmurou ele, pensativo—. Suponho que agora só é história. O golpe de estado teve lugar antes que você nascesse, é obvio. Em mil novecentos e sessenta e nove. Não parece que tenha passado tanto tempo... Mas são mais de trinta anos. Que país formoso e civilizado era então...—Foi um golpe militar, verdade?—Foi e não foi, querida. O golpe não teria triunfado sem a cumplicidade dos interesses ocidentais no petróleo. Alguns dizem que nem sequer o teriam tentado sem o apoio de nosso próprio governo. Hafzuddin era um grande democrata, a sua maneira. E um grande aliado da Europa, mas estava decidido a resistir à hegemonia ocidental. E logo aprendeu que nem todas as democracias estão dispostas a deixar que cada país se governe por si mesmo.Rosalind observava ao ancião, fascinada.—Quer dizer que o destronamento dos Jawadi foi orquestrado...?Sir John sorriu, voltando-se para olhar o retrato.—É obvio, fizeram parecer como promovido por seu próprio povo, mas Hafzuddin não era nenhum ingênuo. Quando nenhum dos que se proclamavam seus amigos abriu a boca para protestar pelo golpe de

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estado, entendeu que tinha sido traído não só por seu protegido Ghassib, que lhe devia tudo, mas sim por seus supostos amigos nos governos ocidentais. Incluindo, lamento dizer, o nosso.Seus conhecimentos sobre o assunto a deixaram boquiaberta. Ninguém mais que o embaixador poderia ter tal informação e a alegrava que a compartilhasse com ela.—Espero que tenha tempo para me contar mais coisas.—É obvio, querida — riu sir John—. Irfani Arifan esperou mais por quinhentos anos para ser traduzido e umas semanas a mais não lhe afetarão o mínimo. Além disso, eu gostarei de desfrutar de sua companhia.

Sam estava como no céu. A casa estava rodeada por hectares de bosque com riachos, árvores e esconderijos que teriam feito as delícias de qualquer menino. Além disso, o caseiro tinha duas filhas pequenas que pareciam encantadas com seu novo companheiro de jogos. Sam desaparecia pela manhã e voltava para a hora do almoço, esgotado e cheio de barro até as orelhas, lhe contando que tinha visto uma coisa, um coelho, rãs, peixes... E comia com mais apetite que nunca.Um dia, depois de que Sam e as meninas saíssem correndo ao bosque em busca de aventuras, Rosalind viu do balcão um homem com botas altas, boina e escopeta que ia atrás deles.Voltou a vê-lo o dia seguinte. E ao outro.—Há alguém vigiando aos meninos? —perguntou a sir John.O homem, que estava tomando uma taça de vinho, derramou-a sem querer sobre a preciosa toalha de damasco.—Ah, vejo que viu Jenkins — disse, com um sorriso de desculpa—. É o guarda e acredito que não ache muita graça que os meninos andem correndo de um lado a outro. Cultiva vários tipos de flores exóticas e preferiria que não saíssem do jardim. É muito ciumento de seu território, mas não os assustará... Só se encarrega de que não pisoteiem suas flores.Aquela explicação não a deixou muito tranqüila.—Esta muito tempo trabalhando para você?—Sim, sim, muito tempo. Toda a vida. Inclusive conheci seu avô. Não tem que preocupar-se com Jenkins, querida. Ele se encarregará de que os meninos não os passe nada.

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Isso a tranqüilizou um pouco mais e pôde seguir jantando sem pensar mais no assunto.Sir John era um homem muito culto e, além de conhecer a fundo o mundo árabe, era um prazer falar com ele sobre arqueologia e história. Inclusive lhe falou de um menhir pré-histórico escondido no bosque.—Aqui, em sua propriedade?—Assim é.—Onde está?—Não é fácil de encontrar — sorriu sir John, tomando um gole de vinho—. Mas é uma tradição das jazidas megalíticas que a gente deva encontrá-las depois de procurar com o coração. Alguns a encontram imediatamente, mas à maioria resulta difícil. E há alguns que não a encontraram nunca. Posso lhe dizer, como digo a todos meus convidados, que está no quadrante sudoeste da propriedade. Mas não posso lhe dizer nada mais.

Rosalind não podia deixar de pensar em Najib al Makhtoum. Na biblioteca, enquanto traduzia o manuscrito de antiga sabedoria mística titulado O conhecimento dos sábios, podia esquecer-se dele. Mas de noite, em seu dormitório, a lembrança daquele homem a perseguia.Uma vez sonhou que ele estava ao lado de sua cama e a chamava em voz alta. Despertou então e lhe pareceu sentir seu perfume ao redor.Se soubesse que podia confiar nele...Não a ajudava nada que sir John falasse constantemente sobre Parvan e Bagestão, lhe recordando seus laços com essa zona do mundo.Não poderia escapar para sempre, pensou então. Em algum momento teria que lutar com a família de Jamshid e com sua herança.Várias vezes esteve a ponto de lhe perguntar a sir John se conhecia a família Bahrami ou aos Makhtoum. Mas não o fez porque tais perguntas levariam a mais pergunta por sua parte. Perguntas que não estava preparada para responder.Além disso, sir John poderia conhecer às pessoas que, segundo Najib, estava procurando o Sam.

Rosalind se acostumou a levantar cedo pelas manhãs e dar um longo passeio antes de tomar o café da manhã, esperando encontrar a jazida megalítica.

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O quadrante sudoeste do bosque era muito espesso e, embora alguns caminhos levassem diretamente à cerca de pedra que fechava a propriedade, outros simplesmente se perdiam entre as frondosas árvores.Aquela manhã, entretanto, sua mente não estava na jazida de pedra a não ser no problema que não parou de considerar antes de partir de Londres: como ia saber que o perigo tinha passado e Sam e ela podiam voltar tranqüilamente para casa.Enquanto pensava nisso, seguia o curso de um alegre riacho. As árvores que o rodeavam eram muito velhas, alamos, ciprestes, carvalhos... E o sol apenas penetrava através dos ramos. Poderia passar ao lado do menhir e lhe seria difícil detectá-lo.Era como se tivesse voltado para passado, centenas de anos atrás quando o bosque era novo, de árvores jovens... Tão concentrada estava que perdeu o sentido da realidade e entrou em outra...O riacho se ampliava naquele lance do bosque e o caminho parecia terminar frente a uma árvore muito velha. Se queria continuar, devia meter-se na água para rodeá-lo.Rosalind reconheceu o sítio como o lugar onde tantas vezes tinha dado a volta, mas aquela manhã decidiu seguir. Sir John havia dito que encontrar a jazida megalítico não era fácil.Tirando-as sapatos, segurou-se a um dos ramos da árvore para colocar os pés na água.O riacho era mais profundo do que tinha acreditado, mas o fundo estava cheio de pedrinhas e não resultava difícil caminhar. Sem soltar o ramo, Rosalind saltou por cima das retorcidas raízes da árvore e chegou ao outro lado.E ali, em uma clareira, sob a sombra do grande carvalho estava a pedra.Quase podia sentir seu poder magnético. Era incrível. Tinha penetrado em um sítio mágico.Sem fazer ruído, soltou a saia empapada e se aproximou do menhir. Media mais de dois metros. Era largo na base e um pouco curvado no topo. Dava a impressão de ser uma mulher em posição de reza, com as coxas apoiadas nos calcanhares. Os joelhos formavam um assento natural. «Vêem a mãe» parecia dizer. Sorrindo, Rosalind olhou a pedra que parecia cheia de vida.Absurdamente, sentiu o desejo de entregar-se a essa mãe anciã, eterna; sentiu o desejo de sentar-se sobre os joelhos que a conectavam com o

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universo. Aproximou-se, sentindo a sensualidade do musgo sobre a pedra, das folhas sob seus pés descalços, dos ramos das árvores...Viu algo mover-se perto da pedra, mas lhe pareceu natural, parte daquele momento.Quando viu um homem alto, moreno, olhando-a, não sentiu saudades. Uma parte dela reconhecia a antiga verdade de que homem e mulher se chamavam em presença da mãe natureza.Mas não estava preparada para descobrir que o homem era Najib al Makhtoum.CAPÍTULO VIIRosalind queria correr, queria ficar, queria gritar... Queria seduzi-lo. De repente, teve uma visão de como os antigos habitantes da região teriam adorado aquele menhir, rogando fertilidade à mãe natureza. E sentiu o desejo de repetir o rito com Najib.Com calças e camisa pólo preta, seu rosto parecia mais bronzeado que nunca. Na tradição celta, os homens trigueiros davam boa sorte. Um homem trigueiro devia ser o primeiro a entrar em casa no dia de Ano Novo, para assegurar a sorte.E também havia uma velha e antiga tradição segundo a qual o sexo com um homem moreno levava fertilidade a uma mulher, igual levava aos campos ermos.As vozes dos antigos deuses lhe sussurravam ao ouvido, tentando-a...Rosalind saiu correndo.Correu descalça pela erva e os deuses olhavam, encantados com a caça. As folhas dos carvalhos, dos ciprestes, tremiam a seu passo, algumas flores caindo sobre sua cabeça, porque as flores eram parte do rito...Os arbustos arranhavam suas pernas nuas, lhe fazendo sangrar, e tudo tremia em antecipação desse outro sangue virgem que logo mancharia suas coxas. Mas os ramos seguravam o homem porque a caça era deliciosa e queriam prolongá-la todo o possível. Tinha passado tanto tempo desde que dois humanos lhes proporcionavam tanto prazer...Uma estranha loucura a levava por aquele e este caminho e, por fim, Rosalind obedeceu à necessidade e voltou para a clareira, para a mãe natureza, onde a erva era suave, onde a deusa esperava.E então, obediente, a erva atirou de seus pés e a donzela caiu ao chão, disposta ao sacrifício.

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O homem moreno estava muito perto e não necessitou que a erva o ajudasse para tombar-se a seu lado, como queria a deusa. A donzela lutou porque o homem devia lhe provar sua força antes de sucumbir.A erva sujeitava a saia de seu vestido, subindo-a até os quadris e as flores silvestres adornavam seu cabelo. Uma pétala beijou seus lábios enquanto lutavam na erva.—Não seja tola! —gritou Najib—. Não quero te fazer mal.A voz do homem penetrou na loucura que a consumia. Rosalind ficou imóvel, ofegando.—Como... Encontrou-me?Estava em cima dela, os olhos cravados nos seus, olhando-a como um animal selvagem.—Tinha que te encontrar — murmurou Najib com voz rouca.—Najib... —protestou ela.Mas sob o protesto havia uma nota de desejo. Por um momento, os dois ficaram imóveis. O único movimento, um suave golpe de vento como um suspiro que deixou uma pétala vermelha sobre seus lábios. Quando Rosalind levantou a mão para tirá-la, ele a impediu.Lentamente, inclinou a cabeça e beijou a pétala com uma ternura que enviou uma corrente de desejo por todo seu corpo. Rosalind fechou os olhos para não ver.O homem moreno enredou os dedos em seu cabelo e deslizou os lábios por sua bochecha, tão brandamente que não estava segura de que a tinha beijado.Seus lábios, ou as pétalas, roçavam seu rosto, a ponta de seu nariz, as pálpebras...Rosalind abriu os olhos e se olharam um ao outro, como bêbados. Então suas bocas se tocaram, beberam-se, devoraram-se.Estavam um em cima do outro, perdidos em um rio de sensações. Najib a beijava com uma fome que parecia chegar do centro da terra. Suas mãos encontraram o caminho até as coxas nuas e ela não protestou.O homem moreno seguia acariciando-a, deslizando a mão para cima, perdendo-se entre suas pernas...E então, abruptamente, o mundo real retornou. Quem era? Não o conhecia. Não sabia o que queria.—Meu Deus, o que estamos fazendo? — murmurou, assustada.

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Najib sorriu, mostrando uns dentes brancos e perfeitos.—E não sabe?—Me solte — lhe implorou Rosalind, a donzela. Uma flor golpeou então sua bochecha, como lhe recordando qual era seu dever.—Rosalind...—Me solte.O vento parou, as folhas deixaram de tremer, como se, por um momento, a natureza estivesse contendo a respiração. Najib deixou escapar um suspiro, afastando-se.Ela se levantou, perguntando-se que demônios lhe tinha passado. O vento voltou então, mais forte, mais frio, e Rosalind baixou a saia, tremendo de medo e de desejo.—Como chegaste aqui? Como sabia onde me encontrar?—Sabia que estava aqui porque eu te trouxe aqui — suspirou Najib.—Você me trouxeste aqui? Como...?Sobre suas cabeças, uma nuvem tinha escurecido o sol. Rosalind olhou para cima, tremendo de frio, confusa.—Sir John é um velho amigo da família. Naturalmente, eu estava preocupado por sua segurança e quis te proteger. A ti e a teu filho. Mas não estará segura aqui durante muito tempo. Terá que tomar outras medidas.Suas palavras a assustaram ainda mais.—Quer dizer que só me contratou por que...?—Será melhor irmos — interrompeu ele, ficando em pé—. Está a ponto de chover.—Ai! —exclamou Rosalind quando algo golpeou seu braço—. Está caindo granizo... É granizo!—Vamos.Najib tomou sua mão e juntos correram pelo caminho para proteger-se sob os ramos de uma árvore.—Que estranho que tenha voltado pela mesma clareira. Onde está a pedra? Deveria...—Está aí — disse ele—. Mas não é fácil vê-la daqui.

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Tinha razão. O menhir estava ali, mas não podia vê-lo porque as cores da pedra se mesclavam com os do bosque, fazendo-o invisível.O furioso granizo seguia golpeando o chão, mas sob os grossos ramos da árvore estavam protegidos.—Como sabia que ia encontrar o menhir?—Não sabia. Mas o caminho que tomou termina no velho carvalho e há duas opções: dar a volta ou meter-se no riacho. Se te meter na água, encontra a pedra. Tinha vindo por aqui várias vezes e pensei que possivelmente hoje te atreveria.—Estiveste me seguindo? —perguntou-lhe Rosalind. Najib não respondeu—. Por quê?—Para te proteger.—Onde esta hospedo?—Não te disse que tanto você como o menino estão em perigo? Acredita que te deixaria ir por aí desprotegida?Ela piscou, confusa.—Quero uma explicação.Najib a olhou, muito sério.—Eu te darei.Quando deixou de cair granizo, saíram do bosque e tomaram o caminho que levava a casa.—Perdi os sapatos — disse Rosalind.—Não se preocupe com isso.Entraram na casa por uma porta meio escondida entre a hera que Rosalind não conhecia. Najib a levou então até a biblioteca para lhe mostrar o retrato do que sir John lhe tinha falado o primeiro dia.—Já vi o retrato.—Reconhece a este homem?—Sim, é Hafzuddin al Jawadi. O antigo sultão do Bagestão, que foi expulso do trono em 1969.Ele a olhava com uma expressão que a assustou.—Me alegro de que o reconheça porque levou cinco anos odiando-o. Este é o homem que te escreveu a carta, Rosalind.

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Capítulo VIII—Respira! Rosalind, respira!Ela abriu os olhos e reconheceu o brocado das cortinas. Reconheceu-o, mas não sabia onde estava.—Já me aconteceu — murmurou, olhando ao redor.Najib estava apoiado na janela, olhando-a com uma expressão indecifrável.—Alguma vez me tinha passado por algo assim — disse Rosalind, levando uma mão à frente—. É certo o que disse do retrato?—Claro que é certo — disse ele, impaciente —. Por que ia mentir?—Não sei. Sinto-me como em um filme do James Bond ou algo assim... Por que não me havia dito que Jamshid era neto do sultão Hafzuddin al Jawadi?—Sinto muito. Sei que deveria lhe ter dito isso.De repente, Rosalind recordou aquela absurda cena no bosque e ficou rubra. Nunca voltaria a duvidar da teoria de que algumas regiões da terra têm estranhos poderes...—Então, quem era Jamshid?—Seu nome verdadeiro era Kamil, o único filho do príncipe Nazim. Foi enviado ao Parvan quando assassinaram o seu pai...—O filho do príncipe Nazim? Ele teria sido...—Se não fosse pelo golpe de estado, teria sido o sultão, sim — assentiu Najib—. Havia muitos esperando que assim fora.—Refugiado-los — murmurou Rosalind.—Todo o país — a corrigiu ele.Por isso havia dito que Jamshid não tinha direito a casar-se com ela.Os dois ficaram em silêncio, perdidos em seus próprios pensamentos. Rosalind o viu puxar da antiga campainha e, uns segundos depois, estava dando instruções ao mordomo de sir John.Com toda naturalidade. É obvio. Também ele era neto do sultão.—Você também ocupa um posto como herdeiro ao trono?—Eu? Não.—Por que não?

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—Porque outros têm mais direito.—Você gostaria?—Não tenho nenhum desejo de ocupar o trono de meu avô.Rosalind não questionou tal afirmação. Não era um destino que ela tivesse elegido nem em um milhão de anos.—Como pôde casar-se comigo sem me contar isso por que não...?—É impossível sabê-lo. Possivelmente quando ficou grávida pensou que seu dever estava contigo e com seu filho.—Mas, por que não me contou isso? Nunca me deu nem a menor pista...—Teria te casado com ele se houvesse sabido?Ela apartou o olhar.—Não sei. Estava apaixonada, mas se tivesse existido a possibilidade de que Jamshid se convertesse em sultão... Isso não teria me agradado absolutamente.Najib entendia a seu primo. Entendia que a beleza do Rosalind pudesse fazer que um homem desejasse atá-la a ele para sempre.—Possivelmente por isso não lhe disse isso.—O sultão Hafzuddin tinha três esposas — murmurou ela, pensativa —. Não é assim?—Sim.—E vocês são... Meio-irmãos?—Rabia, sua primeira mulher, era uma Quaraishi, aparentada com a família real de Barakat. Teve dois filhos, Wafiq e Safa. Sonia era uma mulher francesa, filha do conde do Vouvrai. Teve três filhas, Muna, Zaynah e Yasmin. Maryam, sua terceira esposa, era uma Durrani, aparentada com a família governante de Parvan. Ela foi a mãe de Nabila e Nazim. Já sabe que Nazim era o filho favorito do Hafzuddin e o nomeado para lhe suceder no trono.—Quem era sua mãe?—Yasmin. Minha avó era Sonia, a esposa francesa do Hafzuddin.—Ah, entendo.Rosalind respirou profundamente, olhando pela janela. Um cervo saía então do bosque e olhava para a casa com curiosidade.

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—Meu avô tinha um filho adotado. Seu nome era Ghassib. Possivelmente conheça a história. Viu-o na rua um dia quando era menino, um órfão que procurava no lixo o que comer. Estava brincando de fazer guerra com outros meninos da rua e impressionou a meu avô com suas habilidades. Hafzuddin o adotou, enviou-o a uma academia militar e o treinou para o poder.Atrás da pausado no tom de voz, Rosalind notou uma profunda raiva.—Mas ninguém o treinou para ser leal, verdade?—Temo-me que não. Em 1969, Gasshib, o homem que agora se chama Presidente Supremo do Bagestão... — a voz do Najib estava cheia de desprezo — era o chefe das forças armadas de meu avô. Suponho que o tenha estudado ao estudar a história de meu país.—Sim.Rosalind conhecia a história, mas como um pouco tirado de um livro, não como a história da família de seu marido...Gasshib era órfão, mas tinha um irmão e muitos primos aos que foi dando postos importantes. Sob sua liderança, todo o exército, exceto o guarda real, acabou sendo leal ao traidor.O príncipe Nazim, pai de Jamshid, foi assassinado durante o assalto a palácio. A princesa Hana viu como matavam a seu marido e se fingiu de criada, conseguindo assim escapar com seu filho escondido em um fardo de roupa. Seus amigos a ajudaram a chegar a Parvan, seu lugar de nascimento.A princesa Hana era sua sogra. Rosalind não podia acreditá-lo.—Mas há coisas que não pode saber por que não estão em nenhum livro de história — seguiu Najib—. Depois do golpe de estado, meu avô ordenou que toda a família adotasse nomes falsos. Hana se foi às montanhas, onde tomou o nome da tribo que sempre tinha sido leal aos Durrani, e Kamil Durrani ibn Nazim al Jawadi Bagestani se converteu em Jamshid Bahrami quando tinha quatro anos.Rosalind observou a cervo inclinar a cabeça para mordiscar uma planta. O sol iluminava a pele de cor castanha. Tão tenro, tão frágil. Seu coração se rompia pela delicada majestade do animal.—Segue, por favor.—Mas nem todo mundo pôde desaparecer. Meu tio Wafiq foi assassinado em 1977, mas sua morte só foi anunciada em 1984, dizendo que foi um ataque ao coração. Se tivessem sabido que o príncipe Wafiq tinha sido

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assassinado, seus filhos também corriam perigo. Agora são eles os mais próximos ao trono.Najib deixou de falar e o silêncio, sufocante, envolveu os dois. Rosalind se aproximou do retrato para olhá-lo de novo.—Tudo isto é tão incrível...—Vê esse anel? —perguntou-lhe ele então, assinalando uma das jóias que levava o sultão—. É a Rosa de Jawadi. Por tradição, passa do sultão ao seu herdeiro. Jamshid, o príncipe Kamil, recebeu este anel de meu avô no dia que fez vinte anos. desapareceu.Era um anel enorme, circular, que ocupava quase todo o dedo. Uma jóia que não poderia passar despercebida.—E você pensava que Jamshid tinha me dado isso?—Não é assim?—Nunca vi nada parecido. Não disse que era um diamante? Isso não parece um diamante.—É um diamante muito estranho, de cor rosa. Muito antigo, de sessenta e três quilates.—Sessenta e três quilates! —exclamou ela—. Asseguro-te que Jamshid jamais me deu de presente uma jóia assim.Rosalind olhou de novo o retrato. Tinha sido pintado quando o sultão era relativamente jovem, possivelmente quarenta anos, e seu rosto era impressionante. Então descobriu o parecido familiar com o Sam. E com o Najib.—Pode entender um pouco a meu avô agora? Era um bom governante, mas isso não lhe salvou da traição do homem que mais lhe devia. Um por um, seus três filhos foram assassinados. Depois, a tortura de esperar para ver se seu neto cresceria até converter-se em um homem. E então Jamshid voltou da Inglaterra anunciando que se ia à guerra ao lado do príncipe Kavian. Um risco para sua vida, dizia meu avô... E sua vida não era sua para arriscá-la. O príncipe Kamil al Jawadi lhe devia a vida a seu povo. Sua morte foi o golpe definitivo para meu avô. Quando te escreveu essa carta, já não era ele mesmo.Rosalind ficou em silencio durante uns segundos.—Jamshid também foi assassinado? —perguntou por fim.—Não. Morreu lutando corajosamente no campo de batalha.—Por que está em perigo a vida de Sam se ninguém sabia que Jamshid...?

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—Não sabiam então, Rosalind. Mas estamos quase seguros de que Gasshib tenha descoberto a identidade do Jamshid Bahrami. É uma sorte que encontrássemos o testamento quando o fizemos.—Você trouxe para o Ghassib até mim?—Não. Mas cedo ou tarde te encontrará, não o duvide.Ghassib, aquele demônio. Um homem que tinha matado a seu próprio irmão quando suspeitou que lhe era desleal.Respirando profundamente, Rosalind se voltou de novo para a janela. O cervo tinha desaparecido.—E o que acontecerá quando nos encontrar?Najib a levou até o que sir John chamava sala de estudo. O mordomo tinha servido ali o café da manhã e estava colocando a cafeteira sobre uma mesinha frente à janela.Quando entraram, saudou-os com a cabeça e desapareceu discretamente.Rosalind necessitava um café. Ou um pouco mais forte. Estava absolutamente consternada.Quando voltou a olhar ao homem moreno que estava frente a ela, pareceu-lhe mais um estranho que nunca. O neto de um sultão.—Me conte — insistiu ela. Embora o último que desejava saber era que o Presidente Supremo do Bagestão queria matar a seu filho.—Ghassib não é um homem cordato. Se souber de que há um filho do herdeiro ao trono, se sentirá ameaçado. Devemos evitá-lo a toda custa.A xícara de Rosalind tremeu sobre o prato.—Como?—Embora saiba que Jamshid Bahrami era o nome do herdeiro do Hafzuddin, Ghassib não sabe nada de ti por agora. E pode ser que possamos enganá-lo.—Como sabe o nome? —perguntou ela.Najib encolheu de ombros.—Não estamos seguros. O governo do Ghassib produziu um novo desastre na agricultura e a fome faz que a gente se venda, Rosalind.Parecia um homem diferente, mais duro. Falar da fome em seu país lhe produzia uma dor profunda.—E o que fazemos?

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—Há duas opções. Ghassib não tem filhos e desde a morte de seu irmão não foi nomeado um sucessor. Se fosse inteligente, aceitaria ter ao Sam sob sua «proteção». Desse modo, poderia aparentar que ele atua só como regente, esperando que seu filho tenha idade para governar. Isso lhe daria uma grande vantagem porque é muito impopular entre o povo.Najib fez uma pausa para voltar a encher as taças.—Pobre Sam. Tão pequeno...—Se, além disso, tem a rosa de Jawadi, o símbolo que provaria que Samir é o herdeiro do príncipe Kamil, será absolutamente impossível tirá-lo do trono.—E Ghassib é suficientemente inteligente para vê-lo assim?—Pode que alguém lhe obrigue a vê-lo. Você mesma, por exemplo. Ghassib te ofereceria a lua para que vivesse no Bagestão, fazendo o papel de feliz mãe do herdeiro. Mas seria um grande risco. Embora o próprio ditador aceitasse o papel do Samir como herdeiro, há muitos primos e familiares ambiciosos. As possibilidades de que seu filho se convertesse em sultão seriam muito poucas.Rosalind franziu o cenho.—O que estás dizendo a sério? Acreditas que eu iria ao Bagestão para falar com o Ghassib? Com que objetivo? Para luzir diamantes e sedas? Para ser a mãe de um sultão? Meu deus, que horror!—Sinto muito, não queria te insultar.—Se me conhecesses um pouco, terias te dado conta de que eu quero muito a meu filho — replicou ela, furiosa.—Rosalind, o mundo está cheio de gente que venderia sua alma ao diabo por um punhado de moedas.—Eu não.Najib não a conhecia e não sabia o que podia esperar dela. E era lógico. Nem sequer lhe tinha contado a verdade sobre o Sam.Para ganhar tempo, Rosalind decidiu comer algo. Tomaram o café da manhã em silêncio, preocupados os dois.—Tenho que escolher, não? —perguntou por fim—. Não há forma de escapar. Ou contigo ou com o Ghassib.—Sim — respondeu Najib.Ela sacudiu a cabeça.

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—Já me dissestes qual seria a oferta do Ghassib. Será melhor que me diga qual é a tua. Suponho que tenhas uma — disse então, lhe mostrando o diamante que ele mesmo tinha posto em seu dedo. — De fato, poderia dizer que já fez o primeiro pagamento.—É teu, meu primo o deixou para ti em seu testamento. Não podia esconder-lhe isso só para que não pensasse que queria comprar.—Qual é sua oferta? —insistiu Rosalind, furiosa.Não estava só zangada com ele. Estava zangada com Jamshid por ter criado aquela situação impossível. Zangada com o destino... E com o Lamis. Por que a prima de Jamshid não lhe tinha advertido?—O primeiro que terá que ser feito é te levar para uma casa segura.—Pensei que este era um lugar seguro.—Seria muito melhor que viesse em Barakat. Esta opção só era o plano B.—Por que devo ir até Barakat?Najib a olhou, surpreso.—Porque ali temos os recursos do estado. Em Barakat estaria protegida por um exército se fosse necessário.—Um exército?—As forças armadas de Barakat, é obvio. Não sabe, mas eu sou conselheiro do príncipe Rafi. Acredite que os príncipes árabes não estão interessados na segurança de uma família com a que têm laços de sangue?Rosalind ficou em silêncio. Estava assustada e Najib sabia. Mas não podia evitá-lo. Tinha que convencê-la.—Como vai proteger-me de Ghassib?—Com uma campanha de desinformação.Ela suspirou, nervosa. Estava metendo-se em um labirinto do que não conhecia a saída.—Uma campanha de desinformação? —repetiu, com voz rouca.—Se o fizermos, pode que Samir perca para sempre a oportunidade de ser sultão do Bagestão. Agora é um menino pequeno, mas como único neto do príncipe Nazim, dentro de dez ou doze anos seria o eleito pelo povo para substituir ao Ghassib. Se agora inventarmos uma personalidade nova para ele, será difícil convencer às pessoas de quem é em realidade.—Mas se nem você mesmo acredita na verdadeira história...

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—Rosalind, creio que seu filho lamentará algum dia não herdar o trono que lhe corresponde? — perguntou Najib, ignorando o comentário.O coração do Rosalind se encolheu. Tentava imaginar como seria a vida do Sam, rodeado de lisonjeiros que insistiam em que devia ocupar o trono de Bagestão...—Não posso te convencer de que Sam não tem direito ao trono porque não é filho de Jamshid, mas espero que acredite que faria todo o possível para lhe evitar uma vida de sofrimentos. Qual é a solução?—A solução é fazer que todo mundo acredite que Samir é meu filho.

CAPÍTULO IXRosalind descobriu que não era capaz de reagir. Tinha sofrido muitas tensões na última meia hora. Se a parede da habitação se abrisse para deixar passar o próprio sultão Hafzuddin, não se surpreenderia absolutamente.Mas o medo a fazia mais forte. Sua vida não era, certamente, o que tinha esperado, mas tinha que acostumar-se.—E como faremos isso?—Aparentando que eu sou o homem com o que se casou faz cinco anos.—E isso funcionaria? É que ninguém sabe a verdade?—Eu também estudei na Europa, ao mesmo tempo em que meu primo. Além disso, fiz freqüentes viagens a Londres e minha identidade estava oculta, como a de Jamshid. E voltei também para meu país para lutar na guerra.—Como te chamava?—Nadim al Azzam. Mas devemos esconder isso aos meios de comunicação.—Os meios de comunicação — repetiu ela.—Assim convenceremos Ghassib de que os rumores são certos. A história será confirmada pela imprensa.—Que história? Que teve que esconder sua identidade para sobreviver?Najib negou com a cabeça.—Uma muito mais romântica. Ainda não sei os detalhes, mas a idéia é que vim a Londres como refugiado e me casei contigo. Depois, voltei para meu país para lutar na guerra e você me deu morto. Há alguns dias descobriu

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que tinha sobrevivido e eu, que tinha um filho. De modo que retornei para te levar a meu país.Rosalind o olhou, assombrada.—Mas essa história está cheia de buracos... Por que não me chamou em cinco anos? Por que não...?Ele levantou uma mão.—Já digo o que terás que fazer para tornarem a história acreditável. Sei que não será fácil, mas te peço que nos deixe tentá-lo para salvar a vida do filho de Jamshid.—Fingindo que estou casada contigo?—Te casando comigo, Rosalind.—Se já estamos casados, para que vamos casar-nos de novo?—Porque lhe disse qual é meu verdadeiro sobrenome e quem é minha família.—E que vantagem há nisso?—A primeira, que Sam e você terão o sobrenome de uma prestigiosa família que governou meu país durante gerações.—E a segunda?—Que as bodas sairão em todos os periódicos.—Como sabe?Najib sorriu.—Eu me assegurarei disso.Rosalind esticou a mão para pegar a colherinha, mas tremia tanto que não se atreveu a enchê-la de açúcar.—Não sei...—Tudo seria uma farsa, é obvio. Acredita que tentaria me aproveitar de ti? Recorda que estará sob meu amparo.—Não — disse ela então—. Samir não é filho de Jamshid e não tem direito ao trono. Por que não podemos dizer isso ao Ghassib?—Rosalind...—Se fizer tudo o que diz, só estaria me colocando nesta confusão de cabeça. Não quero que meu filho pretenda um trono que não lhe pertence. Não é filho de Jamshid! Por que não me acredita?

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—Ele é parecido com meu avô? —disse Najib.—Em sua família existe o costume de não escutar a outros, verdade? Seu avô não me acreditou quando lhe disse que estava grávida de Jamshid e agora você não acredita que não seja seu filho...—Olhe para mim! —ordenou ele então —. Dá-me sua palavra de honra de que Samir não é filho de Jamshid?—Sim!—Quem é o pai então? —pergunto-lhe Najib.Rosalind desviou o olhar. Não queria que pensasse o que estava pensando, que tinha enganado a Jamshid. Mas não podia lhe contar a verdade—Crês que poderia revelar ao mundo que enganou ao príncipe e roubou de seu povo o sultão que lhe pertencia?—Eu não enganei a ninguém. Estava grávida e perdi o menino. E então... Então...—Muito bem — a interrompeu ele—. Perdeu o filho do príncipe Kamil e ficou grávida imediatamente depois. Como seu marido estava morto, tem que haver outro homem. Terá que me dar provas.—Que tipo de provas?—DNA, é obvio.—O que? —exclamou Rosalind—. Jamshid está morto. É que guardastes seu cadáver, Por Deus bendito?—Uma prova de DNA com qualquer membro da família será suficiente. Eu mesmo farei isso.Ela engoliu a saliva. Um teste de DNA não serviria para provar que Sam não era filho de Jamshid. Justamente o contrário. Mostraria que o menino era parente de Najib al Makhtoum.

Rosalind e Najib estavam sentados no sofá e ele sujeitava carinhosamente sua mão. Rosalind apoiou a cabeça sobre seu ombro, desfrutando da proximidade do homem, embora sabia que era perigosa.Estava apaixonando-se por ele. Que fora fruto das circunstâncias, de seu próprio medo, do cansaço de criar um filho sozinha, não a salvava.Desejava beijá-lo, desejava que Najib a tomasse em seus braços... O que podia a lógica contra isso?

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—Quer olhá-lo, Rosalind? —disse uma voz.Ela, obedientemente, voltou-se para olhá-lo aos olhos. Najib a olhava com gesto possessivo, mas devia recordar-se a si mesmo que só era uma charada.Os fotógrafos seguiam fazendo seu trabalho, enquanto os jornalistas não deixavam de fazer perguntas.—Como se sente, Rosalind?—Maravilhosamente bem — respondeu ela, como tinham preparado de antemão com o Gazi al Hamzeh, o chefe de imprensa de Najib.Gazi estava sentado em uma poltrona, fiscalizando a entrevista, e Rosalind se sentia como uma ovelha rodeada de lobos e com dois cães de guarda dispostos a saltar em qualquer momento.Tinha aceitado aquilo porque tinha que fazê-lo. Por fim entendeu que se começavam a correr rumores de que Sam era o filho do príncipe Kamil, seria impossível sossegá-los. Não poderia provar que não era certo e sempre haveria alguém que queria acreditá-lo. Dava igual a essa gente queria matá-lo ou sentá-lo no trono; em qualquer caso, sua vida se veria destroçada.—Penso passar o resto de minha vida compensando-a — estava dizendo Najib.Rosalind fechou os olhos e sorriu, desejando que fosse verdade. Gazi tinha inventado uma história tecida com meias verdades, tão mesclada com sua autêntica vida que temia não poder distingui-la.—Podemos fazer algumas fotos no jardim? — perguntou alguém de mão, Najib e Rosalind saíram para o terraço para cumprir com seu encargo.O assistente de Gazi tinha escolhido para ela um vestido rosa de seda e um lenço combinandoA seu lado, a cesta do jardineiro, como se o homem tivesse deixado sua tarefa para tomar um chá. Como se aquela fora de verdade sua casa. Então, como estava planejado, Najib se inclinou para cortar uma rosa e oferecer-lhe E, como estava planejado, ela a recebeu e levantou a cara para receber um beijo.—Rosalind... — sussurrou ele com voz rouca, lhe fazendo sentir um estremecimento.—Preciosa! Estupendo! — gritavam os fotógrafos.

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Rosalind teve que recordar que aquilo só era uma farsa. Possivelmente Najib se sentia sexualmente atraído por ela, mas todo o resto era mentira.—Onde está o menino? — perguntou um jornalista —. Podemos vê-lo agora?Como tinham combinado, Rosalind foi buscar Sam. Tinha insistido em que poderiam fotografá-lo, mas ninguém lhe faria perguntas. O menino não devia pensar que seu pai havia voltado... E ninguém sabia onde.Só se faria as fotos de rigor, nada mais. Esse era o acordo. Sua semelhança com o Najib faria que a história fosse acreditável.Mas quando levou Sam pela mão até onde estavam os jornalistas, Rosalind o lamentou imediatamente.Najib tomou ao menino em braços e Sam, um pouco assustado de tantas câmaras, escondeu a cara em seu ombro. Nenhum ensaio poderia ter ficado melhor e os fotógrafos não paravam de fazer fotos instantâneas.Como tinham concordado, os jornalistas se mantiveram em respeitoso silêncio. Por isso, todos puderam ouvir como o menino perguntava ao Najib em voz baixa:—Agora é meu pai?E a resposta do Najib:—Sim.

—Por que disse isso? —exclamou Rosalind.—E que outra coisa podia fazer? Queria que lhe dissesse que não diante dos jornalistas? Então tudo isto não teria valido de nada.Estavam sozinhos na casa. Gazi se despedia dos jornalistas, Sam estava jogando com seus amiguinhos e sir John se retirou a seus aposentos. Rosalind podia ouvir as risadas dos meninos, mas o último que desejava era rir.—Eu não gosto de enganar a Sam.—Já te disse que deveria inventar algo...—Sei — murmurou ela, zangada—. Deveria... Mas o que vai passar quando lhe disser que você não é seu pai?Esse dia, tampouco ela seria a mais feliz dos mortais. Se não tivesse deixado entrar no Najib em sua casa aquele dia...

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—A dor emocional pode superar-se, Rosalind. Além disso, não há solução perfeita neste caso. Um dia poderá lhe explicar ao Samir por que tivemos que fazê-lo e ele o entenderá.—Mas lhe mentimos. Mentir a um menino é...Najib tomou pelos ombros.—Mentir a um menino é necessário se sua vida estiver em perigo. O que outra coisa podia fazer?Nada. Não podia fazer nada diante dos fotógrafos. Mas estava preocupada porque se dava conta de que Sam começava a cair sob a influencia de Najib... Igual a ela. Era muito tentador ter a alguém perto, alguém que pudesse ajudá-la, em quem poder apoiar-se.Mas só era uma fachada. Uma mentira.Era um terrível engano deixar-se levar pelos sentimentos, pensava Najib. Do primeiro dia que a viu se sentiu atraído por ela e, desde aquele estranho momento no bosque, era incapaz de afastar-se de seu lado. A natureza parecia lhe pedir então que lhe fizesse amor e seguia fazendo-o.—Não — protestou Rosalind, como se pudesse ler seus pensamentos.—Rosalind...Então a porta se abriu e Gazi al Hamzeh entrou com o celular na mão.—Acabam de chamar da revista Hello. Se lhes dermos a exclusiva das bodas, dará a capa. Não poderíamos pedir nada melhor.

Retorna da tumba!

A bem-vinda a um herói... Cinco anos depois!

Algum dia meu príncipe voltará!

Sim, sou seu pai!

Os periódicos sensacionalistas tinham manchetes seu gosto. Inclusive os periódicos sérios falavam sobre a história, embora em tom mais reservado.—Estupendo — murmurou Rosalind, olhando um título.—Certamente que sim. São dois profissionais — sorriu Gazi.Estavam tomando o café da manhã no terraço. Fazia um dia precioso e uma suave brisa movia os ramos das árvores. Sir John tinha ido a Londres

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para passar a noite em seu clube e, pela manhã, seu chofer lhes levou os periódicos.—Profissionais? —repetiu Najib, irônico.Gazi al Hamzeh encolheu os ombros. Tinha uma curiosa marca de nascimento em um olho que o fazia parecer um pirata. Rosalind esperava que não o fora.—Sam se parece muito contigo. Ninguém duvidará do parentesco.Era certo. As fotografias ressaltavam o parecido físico do menino com o de Najib e era muito fácil acreditar que era seu pai.—Saiu como esperávamos — suspirou ele.—Não teria podido sair melhor — murmurou Gazi, olhando os periódicos.Rosalind escutava enquanto lia alguns artigos:

... Neto do deposto sultão. Sua mãe, a princesa Hana, escapou com o posto... Os membros da família Jawadi tiveram que esconder-se para salvar a vida... Najib, sob um pseudônimo, veio a Inglaterra...

Seu próprio sobrenome tinha sido oculto à imprensa. Deveria estar agradecida a Najib, mas era difícil sentir gratidão pelo homem que tinha provocado aquela terrível mudança em sua vida. E cujo desaparecimento provocaria algo bem diferente: que lhe rompesse o coração. A ela e a Sam.Não, não estava agradecida.Ele havia dito que as feridas emocionais se curavam, mas Rosalind recordava bem quanto tempo sofreu pelo que acreditava ser uma traição de Jamshid. Najib tinha apagado essa ferida, mas... Faria outra?Suspirando, passou a página e seguiu lendo:

...foi ferido no campo de batalha, mas não morreu como todos acreditavam. Levaram-no a um povoado onde os camponeses curaram suas feridas, mas sofria amnésia. Um dia, recuperou milagrosamente a memória e procurou a sua esposa... O casal pensa voltar a casar-se para que ela leve seu verdadeiro sobrenome e assim renovarão os votos que fizeram faz cinco anos...—O que te parece? —perguntou-lhe Gazi.

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—Alguém vai acreditar em todas estas tolices?Os dois homens soltaram uma gargalhada.—Querem acreditar, Rosalind. Assim temos meia batalha ganha. Além disso, é uma boa história, não? Lágrimas, alegria, amor, um vilão, um final feliz...O silêncio caiu sobre eles, quebrado só pelas risadas dos meninos no jardim.—Cinco anos é muito tempo — disse Gazi então.—A gente esquece — acrescentou Najib—. Além disso, não afirmei que eu era Jamshid Bahrami. Minha vida concorda com a história real. Nem sequer meus amigos podem estar seguros de que não seja verdade.Rosalind olhou outro periódico. Havia uma fotografia dos três, Sam nos braços de Najib. E lhe surpreendeu o aspecto régio do homem que tinha ao lado. Em realidade, parecia um sultão.Era como um retrato real.Com a repentina sensação de que uma armadilha estava fechando-se a seu redor, engoliu em seco.—Seguro que não quer o trono para ti mesmo? Não será esta uma forma de te apresentar como possível herdeiro do Ghassib?Os dois homens se olharam. Então Najib deixou a xícara de café sobre o pires e a olhou aos olhos.—Não confias em ninguém? Que não confie em mim possivelmente é compreensível, mas crê que sir John tomaria parte em uma fraude desse tipo?Rosalind apertou os dentes. Era certo. Que razão poderia ter alguém tão eminente como sir John para traí-la?—Não tenho interesse em sacrificar minha vida por um trono —seguiu Najib— Acredite, quero ver o Ghassib fora de meu país como é, mas... De verdade está me acusando de te manipular para meu próprio benefício, de pôr em perigo a vida de um menino? Acreditei que me conhecia um pouco melhor.Olhava-a nos olhos, como se quisesse lhe dizer que entre eles havia um laço que não podiam romper.E ela desejava acreditá-lo.Gazi tomou um dos periódicos e leu em voz alta para romper o incômodo silêncio:

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Najib al Makhtoum não é um dos herdeiros ao trono do Bagestão. Suspeita-se que Hafzuddin legou essa honra a um dos filhos do príncipe Wafiq antes de morrer. Mas até que apareçam, ninguém pode estar seguro de que seguem com vida.

Ela olhou ao Najib, insegura.—Eu gostaria de te acreditar.—Vamos nos casar só para proteger a seu filho. Juro-lhe isso. Tem minha palavra de honra.Rosalind se deu conta de que tampouco gostava da charada. Podia vê-lo em seus olhos.E, se forem casar se, seria melhor levar-se bem. Apesar de que o matrimônio era uma farsa.

CAPÍTULO XA costa de Barakat era a mais formosa que Rosalind tinha visto em toda sua vida. Dedos de terra arranhavam as formosas águas do golfo, criando dúzias de pequenas baías.Do ar, em contraste com o dourado e negro das terras, a água era de cor turquesa, tão clara que podia ver-se o fundo.Na distância, o orgulhoso pico do monte Shir parecia um sentinela guardando o país.No idioma de Parvan, a palavra shir significava «leão» e «leite». E, segundo a lenda, a montanha era de uma vez a mãe e o pai daquelas terras. Rosalind entendia por que. Tinha uma qualidade protetora que a fazia sentir bobamente segura.—Mamãe, mamãe! —gritou Sam, olhando pelo gabine do helicóptero.Najib voava baixo para ter que subir de vez em quando porque ao menino gostava dessa sensação de estar em uma montanha russa.—Essa é sua vila — disse ele, assinalando uma estrutura alargada de pedra e argila, rodeada de vegetação.Estava construída ao estilo árabe, é obvio, ao redor de um grande pátio com fontes e tinha duas cúpulas pintadas de um tom vermelho dourado. Havia vários pátios interiores, todos com o chão de cerâmica. E em todos

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havia flores, algo que parecia impossível em um lugar inóspito como aquele.Aquilo era um oásis.Um caminho levava diretamente à praia. Na pequena baía, a areia era quase rosada e havia um bote de pesca amarrado a um mole.—É maravilhoso. Como um sonho.Tinham ido a Barakat para que Rosalind pudesse inspecionar sua herança, mas também porque ali a imprensa os deixaria em paz. Quando tivessem descansado um pouco, iriam visitar o palácio do príncipe Rafi, onde teria lugar as bodas.—Muito obrigado por admirar meu país.—Só se pode chegar até aqui em helicóptero?—E por mar — respondeu Najib—. Para os mais duros, a cavalo ou em camelo. Kamil... Jamshid tinha um iate que estava acostumado a usar para ir ao Daryashar.Daryashar era o porto principal do Barakat. Rosalind tinha aprendido isso como tantos outros dados no pouco tempo que teve antes de começar a que seria a aventura de sua vida.Notava que os homens de Najib a olhavam de forma estranha. Conheciam a verdadeira história... Ou o que acreditavam a verdadeira história e, logicamente, pensavam que tinha enganado a Jamshid. Mas, o que podia fazer? Fizera um juramento. Não podia contar a verdade.Além disso, preocupavam-lhe seus motivos para ter aceitado aquele matrimônio. Havia outra razão, uma razão oculta que a fez capitular? Não estaria tentando conseguir o amor do Najib?—Marhaba, ahlan wa sahlan — ouviu dizer a Najib, que tinha tomado a Sam em seus braços para descer do helicóptero.Várias pessoas tinham saído da casa para lhes dar as boas vindas e Rosalind os saudou em seu idioma.—Shokran jazilan.—Alhamdolillah ala assalaamata.Os homens tomaram a bagagem e as mulheres apontavam a Sam, rindo e comentando sobre a semelhança com seu «pai».Najib deixou Samir no chão e o menino se empenhou em tomar a mão de um e de outro para ir para a casa. Parecia feliz, mais feliz que nunca.

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Rosalind, muito elegante com um vestido comprido sem mangas de cor bege, decidiu que não poderia sair de casa sem um chapéu. O tremendo calor fazia que inclusive caminhar resultasse difícil.Sam era o único que mostrava certa energia embaixo daquele sol de chumbo. Ia virtualmente correndo, com a alegria de um menino que tem tudo: um pai, uma mãe...Tinham-lhe explicado que Najib seria seu pai durante um tempo. Foi o único que lhe ocorreu. Perguntou-lhe ao menino se isso lhe parecia bem e Sam disse que sim.Mas, entendia o conceito? Possivelmente só tinha entendido as palavras «Najib» e «pai».Rosalind deixou escapar um suspiro.—O que ocorre? —perguntou ele quando o menino saiu correndo para o fresco pátio interior.—O que acontecerá quando você já não estiver? Possivelmente seria melhor que não te aproximasse muito ao Sam.Najib negou com a cabeça.—Não, estarei ao seu lado quando crescer, de modo que mais razão para querê-lo agora.—Mas...—Se soubesse que foste ter que passar muito tempo no deserto, rechaçaria um gole de água ou beberia toda a que pudesse para poder suportar o tempo de seca?Também ela teria que deixar de vê-lo. Deveria tentar reunir todas as lembranças possíveis?E, sobre tudo, teria a oportunidade de fazê-lo?

O interior da casa era muito fresco; os grossos muros a protegiam do calor e as fontes e os jardins eram um sistema natural de ar condicionado.Comeram em um dos pátios, onde os criados tinham posto a mesa em uma espécie de claustro protegido do sol.O almoço consistiu em várias saladas e sorvete de limão, uma tradição árabe para saciar a sede dos caminhantes. Como sobremesa, pastéis de mel.

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Os arcos de pedra que uniam as colunas do pátio, as flores, a água da fonte e a imponente presença masculina do Najib a deixaram sem palavras.Sam também estava em silêncio, tomando o sorvete com grande concentração.—Não está acostumado a ser tão aventureiro com a comida — sorriu Rosalind—. Deve ser pelo calor ou a emoção da viagem.Najib levantou uma sobrancelha.—Seu amante também era árabe?—Me...? —começou a dizer ela, ficando corada.Se ele soubesse...Felizmente, não teve que responder por que nesse momento apareceu uma mulher para levar a Sam para o quarto.—Vá com Tahira — sorriu Najib—. Ela te levará a seu quarto para dormir a siesta.Sam desceu obedientemente da cadeira e Rosalind se surpreendeu. Seu filho não era precisamente obediente.—Está mais cansado do que parece. Tudo isto é novo para ele.—Tahira é uma babá excelente, por certo. Estudou no hospital Reina Halimah.Rosalind também começava a sentir o cansaço e teve que dissimular um bocejo.—Acredito que eu também vou me deitar um momento.—Mostrarei seu quarto — disse Najib.Seguiu-o até outro pátio em que havia uma espécie de lago circular. Dois degraus levavam a uma sala em que havia uma cama baixa e vários sofás ao redor de uma mesa de cerâmica. Nas paredes penduradas tapeçarias de seda e também havia nichos com objetos decorativos de bronze ou cristal. Em uma das paredes, um pano bordado em ouro com umas palavras em árabe referentes ao sultão Hafzuddin.Havia várias cômodas e armários de madeira com intricado desenho que cheiravam a cânfora e lavanda. As persianas eram de madeira, de cor verde.

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Uma habitação romântica e sensual, com perfume das flores que chegava do pátio até as tapeçarias, do perfeito silêncio à cama cheia de almofadões de seda.Estavam um ao lado do outro, sem dizer nada. Seria tão fácil...—Onde está minha bagagem? —murmurou Rosalind.Najib esboçou um sorriso.—Seguro que já guardaram suas coisas nos armários — disse, abrindo uma das portas—. Ah, não, estas são minhas.—Vamos compartilhar esse quarto? —perguntou ela, com um nó na garganta.—Temos que fazê-lo. Se houver rumores por parte dos criados, tudo isto não serviria de nada. Todo mundo deve acreditar que estamos casados e que Samir é nosso filho.—Sim — disse Rosalind. Tinha-lhe saído a voz muito rouca e teve que pigarrear.Possivelmente por isso, ele seguiu falando:—A história de nosso reencontro também apareceu nos periódicos do Barakat e, é obvio, os criados a tenham lido.—Claro.—Não se preocupe, eu dormirei em um dos sofás.—Muito bem.De modo que aquela era a resposta. Não ia ter oportunidade de beber antes de entrar no deserto.—Sinto que seja assim.—Não tem que te desculpar — disse Rosalind.Mas não o entendia. Sabia que Najib se sentia atraído por ela... Então, para que fingir um matrimônio quando poderiam fazê-lo realidade?

Rosalind despertou da siesta estirando-se prazerosamente. Depois de vestir-se, uma criada a levou pelo jardim até o caminho da praia.A paisagem era ainda mais formosa sob o último sol da tarde. As pedras se enchiam de vida, duras, estranhas, não suavizadas pelo musgo como na Inglaterra, a não ser feras e primitivas.

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Tinha um grande atrativo, mas se perguntou se seria fácil acostumar-se a aquela paisagem tão agreste, com quem teria que lutar inclusive para encontrar água. Na Inglaterra a natureza era generosa e era lógico que os antigos ritos celtas celebrassem a fertilidade e a sexualidade.Os antigos árabes também considerariam a terra como a uma mulher? Possivelmente por isso as tratavam de forma bem distinta aos habitantes dos verdes vales.Os Quran e os Hadith deixaram claro que o profeta Mohamed tinha levado sua mensagem a uma cultura profundamente contrária às mulheres. Parte dessa mensagem tentava convencer de que a mulher não era um ser pérfido e devia ser honrada e respeitada como um homem. Mas a mensagem não era respeitada naquela terra aparentemente esquecida da mão de Deus...Rosalind seguiu caminhando pela areia, desfrutando daquela estranha paisagem.Najib e Sam estavam sentados sobre uma pedra, olhando o mar. O homem tinha uma mão por cima de seu ombro e Sam se apoiava nele confidencialmente.—Olá.—Olá. dormiste bem?—Como uma menina — sorriu ela — Que entardecer tão formoso.—Deus está levando o sol, mamãe — disse Sam, emocionado.—Ah, sim?—Sim.—E onde o leva?—A que o vejam outros meninos.Rosalind sorriu.—Já vejo.—Todos os meninos necessitam o sol, assim Deus o leva por todo mundo — explicou Sam, alargando os braços como se queria tocá-lo—. Mas amanhã o trará de volta.O tema de discussão estava escondendo-se no mar pouco a pouco. Era uma bola dourada, imensa.—Não vemos muitos entardecer como este em Kensington. É impossível ver uma bola de fogo caindo em linha reta depois do horizonte.

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—O entardecer inglês é muito diferente — disse Najib.Sam apoiou a cabeça em seu braço com um suspiro. Sem palavras, sentindo a presença do bem a seu redor, seu coração de menino enviou uma prece. E como era levada nas asas da inocência, foi enviada diretamente ao trono de Deus...«Que seja meu pai para sempre», sussurrou o pequeno coração.Os últimos raios de sol pareciam abraçar ao trio e Sam, com a percepção de menino que eles já tinham perdido, escutou o «sim» em seu coração e se sentiu satisfeito.

CAPÍTULO XINajib se alegrava de que aquilo não fosse durar muito. Os criados os tratavam como se fossem um casal em lua de mel, emocionados com a história do amor reencontrado. Observava a Rosalind recortada contra o marco do jardim, iluminada por um abajur de azeite, o céu escuro sobre sua cabeça.Comia os manjares de seu país com prazer sensual. Com muito prazer sensual para sua tranqüilidade, sabendo que voltariam juntos ao dormitório e teria que lutar para não tocá-la, para não beijá-la...Não se parecia nada com Maysa e se perguntou se haveria dito a Jamshid, como Maysa havia dito a ele, que era virgem. Também Rosalind teria chorado lhe rogando a seu marido que se casasse com ela para lhe evitar a vergonha de um embaraço?No ocidente, uma mulher podia ter um filho solteira sem que fosse um escândalo. Ao contrário que em seu país.Mas possivelmente esse apelo também teria funcionado com Jamshid.Ou possivelmente seu primo estava tão apaixonado que não se deu conta de que ela não correspondia a esse amor. Possivelmente Jamshid tinha chegado à conclusão de que a gravidez era responsabilidade dele, possivelmente ele mesmo tinha insistido em casar-se a toda pressa.Jamshid sempre tinha sido muito impulsivo.Depois do encontro no Cornualles entre o Ashraf e Rosalind, onde lhe tinha jurado que Sam não era filho de Jamshid, Ashraf e ele falaram durante horas, tentando entender aquela história.

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Sem saber quem era o pai de seu filho, teria tomado Rosalind o caminho mais fácil, casando-se com o Jamshid? Entretanto, o menino se parecia muito a seu avô...Haveria, como Maysa, aparentado que estava grávida antes que se fora à guerra só para casar-se com ele?Ou possivelmente não mentia. Possivelmente se casou com ele de boa fé, apaixonada. Possivelmente perdeu o menino antes que seu marido morresse e procurou outro amante imediatamente para ficar grávida. Se Jamshid houvesse retornado da guerra, haver-lhe-ia dito que o menino era de outro homem ou teria fingido que era dele?Isso explicaria seu rechaço às provas de DNA.Quem tinha pagado aquele muito caro apartamento em Kensington? Isso também necessitava explicação. Os investigadores não tinham descoberto outro homem em sua vida e tampouco os meios econômicos necessários para comprar um piso na zona mais cara de Londres.De modo que seu rival era um homem rico... Najib franziu o cenho. Ele não tinha rival. Um homem devia estar louco para querer uma relação com uma mulher que já tinha provado não ser merecedora de confiança.E, entretanto, nada explicava por que negava que Sam fora filho de Jamshid. Teria se dado conta com os anos de quão terrível era essa mentira? Seria possível que tivesse conhecido a verdadeira identidade de Jamshid antes que ele fora a visitá-la?Se era assim, só podia haver uma fonte de informação.Seria Rosalind uma peça de Ghassib? Possivelmente o ditador tinha descoberto a identidade inglesa de Jamshid e a convenceu para que mentisse a qualquer outro que se interessasse.Então não seria culpado de trair ao seu marido... Mas sim de algo muito mais perigoso.Isso também explicaria o dinheiro necessário para comprar um apartamento em Kensington.Possivelmente tinha se posto em contato com o Ghassib depois de sua primeira visita... Possivelmente via a Sam como o sucessor de Ghassib no Bagestão, possivelmente pensava que era a única forma de salvar a vida de seu filho.Tinha que protegê-los a ela e a Samir, mas devia ter muito cuidado.Najib fechou os olhos, recordando a noite que recebeu a notícia de que os Kaljuk começavam a retirar-se. Recordava vagamente do príncipe Omar

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lhe dizendo que podia descansar vinte e quatro horas. Chegou a Barakat com alguns de seus homens sem avisar, exausto, doente, sua roupa coberta de sangue seca. Entrou em casa sem fazer ruído para não despertar a Maysa em sua condição...Nunca tinha estado grávida, confessou-lhe ela então. Sabendo que se ia à guerra, arriscou-se a lhe dizer que esperava seu filho para casar-se com ele. Se morresse na guerra, seria sua viúva e se não, viveria como uma princesa até que terminasse. E quando ele voltasse para casa... Preocupar-se-ia disso quando chegasse o momento.Najib era muito jovem então. Mas já não o era. E não queria manter outra relação com uma mentirosa. Rosalind mentia... Não sabia como, mas mentia.Mas ela não era Maysa. Pareciam tão diferentes como o dia e a noite. Em seus olhos não havia sombras, não havia traições. Não havia evidência de culpa em seu rosto.«Porque lhe cega sua beleza», disse-lhe uma voz. Rosalind tinha um grande magnetismo feminino, uma pele radiante, um sorriso embriagador...E o menino também. Apesar de suas dúvidas, algo lhe dizia que aquele menino e ele eram parentes.Por que mentia Rosalind e qual era a mentira?Najib sentia uma sede insaciável por Rosalind, uma sede que parecia ter estado em seu coração sempre. Mas, por muito sedento que estivesse, não podia tomar aquele elixir da vida.A fome e a sede são duas sensações que podem superar-se. Isso é algo que se aprende no campo de batalha.Rosalind viu a preocupação em seus olhos e deixou escapar um suspiro. Fosse qual fosse a razão pela que ele tentava ignorar a atração que havia entre eles, devia agradecê-la. Estava segura de que Najib não desejava uma relação permanente com nenhuma mulher.Mas enquanto comia os manjares preparados pelos empregados, desejava que aquele falso matrimônio fosse real. Que Najib tivesse voltado para ela depois de cinco anos e ir ao dormitório para converter-se em amantes naquela noite mágica...—Olhe quantas estrelas — disse, sem pensar.—Sim — assentiu ele, com os dentes apertados—. Kamil... Jamshid te deu de presente o apartamento?

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Rosalind apartou o olhar.—Não.—Então, herdou o dinheiro?Najib sabia que o apartamento foi comprado por ela quatro anos antes e que tinha sido pago em sua totalidade.Rosalind deixou o garfo sobre o prato. Não tinha pensado nisso e não seria capaz de explicar como pôde comprar um apartamento tão caro.—Na realidade... Não é meu.O que significava isso? A única explicação era que estava em seu nome como um pagamento, uma gratificação. Podia ser obra do Ghassib. Se o traísse, ver-se-ia na rua com seu filho.Isso significava que Ghassib seguia seus passos e que Rosalind estava disposta a trair a qualquer. O coração do Najib se encheu de dor.—Vamos dar um passeio?Ela se levantou sem dizer nada e caminharam pelo jardim ante o atento olhar dos criados.—Rosas — murmurou Rosalind—. Como podem ter rosas em um clima tão seco?—Aqui também há primavera.Najib não podia cheirar o aroma das rosas, só o de seu cabelo. Um aroma de limpo, pêssego, muito sensual.Seus olhos começavam a acostumar-se à escuridão quando a lua saiu por detrás de uma nuvem.Recordou então o dia que chegou a seu apartamento. Havia sentido um absurdo desejo de tomá-la em seus braços e levá-la à cama... Oxalá o tivesse feito. Oxalá se tivesse convertido em seu amante antes de suspeitar que era uma traidora.—Não se sente culpado por procurar um amante enquanto seu marido estava na guerra? —perguntou-lhe bruscamente.Rosalind se deteve, tentando controlar o tremor de sua voz.—Por que essa pergunta?—Porque não te entendo. Só sei uma coisa... Que não há dito a verdade. Não o negue. Não pode negá-lo —espetou Najib. Ela não disse nada —. Diga a verdade e te amarei, Rosalind. Far-te-ei o amor e...Ela se levou uma mão à garganta.

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—O que?Najib acariciou seus braços. Estava ferido, lhe tinha atravessado o coração.—Você é uma mulher que desfruta do sexo. Acredita que um homem não intui essas coisas?Rosalind fechou os olhos.—O que diz...—Eu também sou assim. E sei que você e eu poderíamos fazê-lo memorável. Dia e noite, bêbados de prazer. Não o lamentará. Seu corpo será como um poema...Ela deu um passo atrás.—O que está dizendo?—Que minha boca deseja te beijar, que me queimam as mãos porque tenho vontade de te tocar. Não o sente? Sei que sim. Vejo-o em seus olhos. Quer que te acaricie. Diga-me que sim. Diga-me.—Najib...A brisa movia seu cabelo. Seu corpo tremia de desejo, de desejo, de medo.Najib tinha conhecido à mulher de seus sonhos e era uma traidora. Como podia ser? Por que não lhe dava uma explicação que liberasse sua alma? Como podia amar a uma mulher que era um perigo para ele, para sua família, para seu povo?Tomou pelos ombros e com a agitação de um homem faminto, inclinou-se para beijar sua garganta. Ela deixou escapar um gemido.Podia obrigá-la a confessar. Fazer o amor faria perder a cabeça de uma mulher como ela, sabia. Gemia com um mero toque. Poderia derretê-la por completo, seria toda dele e lhe diria tudo o que lhe pedisse... Sussurrava-lhe um demônio privado.—Rosalind... —murmurou, passando a mão por suas costas, por suas coxas, com uma pressão selvagem que falava de fome, de desejo insatisfeito.De repente, a boca do homem procurou a sua, devorando-a. Rosalind gemeu, apertando-se contra seu peito.Enquanto a abraçava, Najib se deu conta de que deitar-se com ela seria uma arma de dois fios.

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«E se não for ela quem confessa a não ser você?», gritava a voz da razão. «Quando te tiver derrotado com os prazeres de seu corpo... Poderá lhe esconder tudo o que ela queira saber?».Mas esse pensamento se afogou sob uma onda de irrefreável desejo.CAPÍTULO XIIA luz da lua entrava através da persiana de madeira, criando sombras no edredom, no chão, na parede... Sombras que se mesclavam com a do Rosalind.Mas Najib não queria que fosse uma sombra, queria algo real. Quando alargou uma mão para acariciá-la, ela se estremeceu.Então, apaixonado, tirou-se a camisa de um puxão para sentir a pele de Rosalind contra sua pele.O suave aroma do suor masculino a ironizou. A pele do homem era de cor bronze, o torso coberto por um suave pêlo escuro.Najib tinha tirado as sandálias e se aproximava dela em silêncio, como um leão a ponto de lançar-se sobre sua presa.Rosalind abraçou-se a ele, apoiando o rosto em seu torso. O suave aroma de seu corpo se mesclava com a colônia masculina, com o aroma de sol, a areia... Tudo contribuindo a aquele aroma que era sozinho Najib al Makhtoum.Era tudo o que ela necessitava. Tão forte, tão masculino, tão real. Tudo o que faltava em sua vida desde cinco anos atrás.Najib desabotoou os botões do vestido e acariciou suas costas escondendo o rosto em seu cabelo. Enlouquecido, começou a beijá-la na frente, nas bochechas, na garganta, separando o decote do vestido para procurar seu pescoço.Rosalind beijava o dorso masculino, sentindo o suave pêlo acariciando sua cara, acendendo-a. Passou as mãos pelas largas costas, sentindo a firme musculatura sob os dedos.Ele se afastou um pouco para procurar sua boca com desespero e com desespero a beijou, apertando-a contra seu corpo como se queria enterrá-la nele.Não tinha pressa. Estava faminto, mas queria desfrutar de cada segundo. Seguia acariciando suas costas, deslizando as mãos por seus flancos, procurando seus seios, fazendo que Rosalind tremesse entre seus braços.

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Então tirou o seu vestido. Por um momento, ela ficou agarrando o tecido e Najib a segurou-a assim para admirá-la com prazer. Olhava-a com tal ardor que Rosalind se derretia. E quando inclinou a cabeça para beijar seus seios, teve que fechar os olhos.Então, suspirando roucamente, tomou-a em seus braços para levá-la à cama.

Despertou com o canto dos pássaros. Sentia-se lânguida, preguiçosa, como se tivesse mel em lugar de sangue nas veias.Rosalind sorriu, estirando-se. A luz do sol entrava através das persianas e o aroma do deserto lhe recordou a beleza do dia anterior.Estava sozinha e enterrou a cara no travesseiro para sentir o cheiro do corpo de Najib, recordando o prazer que lhe tinha lhe dado a noite.Depois de tomar banho, Colocou um vestido de algodão e saiu paro o pátio. Ainda era cedo e a pureza do ar era deliciosa.Najib e Samir estavam tomando o café da manhã. O menino falava e Najib assentia, sorrindo. Os dois levavam uma típica chilaba branca e não se deram conta de sua presença até que a ouviram tossir. Sam a chamou então e Rosalind se aproximou para lhe dar um beijo.Tivesse querido fazer o mesmo com o Najib, mas o olhar sério do homem a deteve.—Estou usando um vestido, mamãe — disse o menino, assinalando a chilaba—. Papai também usa um. Os homens têm vestido no deserto.—Está muito bonito — sorriu ela, servindo uma xícara de café—. De onde a tiraste?—Tahira, me deu esse.—É o mais cômodo para este tempo — disse Najib.Durante o café da manhã, o único que falava era Sam. Parecia feliz de estar ali, com seu pai e sua mãe. Não deixava de olhar Najib e ela rezava para que seu filho não sofresse quando desaparecesse de sua vida.Depois de tomar o café da manhã, Rosalind foi colocar um traje de banho para nadar um momento. Estavam absolutamente sós na praia e Sam decidiu banhar-se nu. Rindo, correu para a água e se voltou para ela, com expressão de surpresa.—Está quente, mamãe!

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—Eu pensava que não gostava do mar. Agora me dou conta de que só era uma questão de temperatura.—A água do Atlântico é muito fria — sorriu Najib.Pouco depois, estava nadando com o Sam de costas. O menino ria, encantado, segurando-se no seu pescoço. Não parecia ter nenhum medo.Rosalind nadava a seu lado, perguntando-se o que ia fazer com a herança. Estava claro que Sam adorava aquele lugar, mas, gostaria quando Najib não estivesse ali? Grande parte de sua felicidade era devido à presença daquele homem.E ela sentia o mesmo. —O que aconteceria gostaria de vender esta casa? —perguntou-lhe mais tarde.Estavam em um pequeno estúdio, onde se surpreendeu ao ver um computador e um moderno fax. Poderia trabalhar ali se esse era seu gosto. Seguiria na agência e enviaria as traduções por Internet.—Não quer esta casa? —perguntou ele, surpreso.—Eu acredito que uma casa na França seria bastante mais prática. É muito caro vir aqui de férias e...—Sam e você podem viajar grátis nas linhas aéreas de Barakat — a interrompeu Najib.—Grátis? Por quê?—Estamos a ponto de nos casar, Rosalind. A família de um conselheiro do príncipe viaja grátis.—Ah, claro. Mas o nosso não é um matrimônio real.Não sabia por que o havia dito. Possivelmente para ver como reagia.—Que mais tenho que fazer para que seja real? —replicou ele, irritado—. Ontem à noite fomos marido e mulher, não?Quando se olharam nos olhos, renasceu a paixão que os tinha envolvido a noite anterior.E então, sem dizer nada, caíram um em braços do outro.Se Najib tivesse querido resistir. Tivesse querido lhe dizer o quão absurdo era seguir com aquele jogo. Mas não podia fazê-lo. Não podia olhar aqueles lábios inchados pelos beijos da noite anterior e não tomá-la em seus braços.

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Do modo que se entregou à loucura que o consumia. Acordou aquela manhã junto a seu corpo nu, sentindo o um grande desejo de despertá-la e fazer o amor outra vez.Teve que fazer um esforço sobre-humano para sair. Do que serviria fazer o amor? De uma forma ou outra, era uma traidora. Certamente já o tinha traído. Mas seu desejo por ela era quase uma loucura.Perderam-se reinos por causa de uma mulher. E se a mulher era como Rosalind, pensava Najib, podia entendê-lo.Estava nu sob a chilaba e sabia que ela estava nua sob o vestido porque tirou o traje de banho na praia. Era muito fácil e impossível de resistir.Com um gemido, levantou seu vestido e a virou de costas. Ela se apoiou sobre a cadeira e, ao ver sua pele nua, Najib tirou a chilaba de um puxão e se enterrou nela grosseiramente.Rosalind gritou de prazer, um som que quase o fez perder o controle. Trêmulo, sujeitou seus quadris, apertando os dentes para conter-se.Então moveu uma mão para acariciá-la entre as pernas, procurando o sensível casulo que tinha acariciado tantas vezes de noite.Rosalind gemia, sentindo os dedos do homem entre as pernas e suas potentes sacudidas por detrás. Envolvia-a um calor tão tórrido como o sol do deserto e parecia flutuar, desfrutando de ondas de prazer com cada uma de suas investidas.Estava faminta, desesperada.. E quando Najib terminou com um grito rouco, deixou-se levar, sentindo um rio de lava ardente entre as pernas.

CAPÍTULO XIIIDepois disso, Najib se rendeu. Era impossível fazer outra coisa. Entre a tentadora comida, o calor, as fontes, o mar, a confiança de Sam, os sorrisos do Rosalind e seu delicioso corpo, era um homem perdido e sabia.Ensinou a Samir a não temer à água e observou sua transformação em golfinho com grande satisfação. Estavam acostumados a mergulhar e tanto o menino como Rosalind admiravam as infinitas cores do fundo do mar, os peixes de mil formas e o silêncio musical daquela paisagem.Também havia peixes no lago do pátio central e o menino passava horas olhando-os enquanto sua mãe lia um livro à sombra.

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Os periódicos chegavam por helicóptero cada dia, mas Rosalind estava de férias. Não queria saber nada de política e tampouco queria ler as fofocas que inventavam os jornalistas sobre sua vida.Todas as noites, quando Sam estava na cama, Najib a levava a praia e passeavam durante horas. A dez minutos da casa havia uma cova sobre o mar e, diante da cova, uma espécie de plataforma onde estavam acostumados sentar-se para olhar as estrelas. Uma vez fizeram amor ali, sobre as ondas que rompiam na praia, enquanto o sol se escondia no horizonte.Rosalind era muito feliz. Tão feliz como quando, era menina, seus pais a levavam de férias ao Mediterrâneo e não tinha uma só preocupação no mundo.A lógica lhe advertia que aquilo não ia durar, mas, para que preocupar-se com o futuro tendo um presente tão mágico?Najib nunca disse que a queria, mas estava em seus olhos, em seu corpo enquanto faziam o amor. Estava em seu carinho por Sam.Embora às vezes parecia torturado por sua relação com ela, como se quisesse separar-se e não pudesse fazê-lo. Mas, o que era isso mais que uma promessa de que o amor triunfaria ao final?

—Olhe, mamãe!Estavam jogando na praia e Rosalind deixou o livro para olhar a seu filho.—O que ocorre?—Um navio! —gritou Sam então.Um barco a motor se aproximava da praia. Os dois homens que estavam nele a saudaram com o braço e Rosalind lhes devolveu a saudação. Mas quando colocou a mão sobre os olhos para ver melhor, deu-se conta de que não estavam saudando-a e sim... Apontando com algo que brilhante.E então soou um disparo.Rosalind gritou e, de uma vez, atirou a Sam sobre a areia para protegê-lo com seu próprio corpo.Um segundo depois, levantou a cabeça e viu que os homens do barco a motor olhavam para a esquerda.—Temos que sair correndo, querido. Temos que fugir desses homens maus. Agarre-te a mim, de acordo?

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Sam assentiu com a cabeça, assustado, e Rosalind se levantou de um salto, apertou-o contra seu coração e saiu correndo a toda velocidade.Mas era muito tarde. Horrorizada, viu que outros dois homens armados corriam para eles pela praia. Um dos homens gritou em parvaní: «Atire-se ao chão!».Ela se inclinou tudo o que pôde, mas não deixou de correr. Então viu o Najib sair da casa.—Se atire no chão! —gritava-lhe.Rosalind obedeceu, morta de medo. Estava ofegando, com o coração tão acelerado que parecia a ponto de estourar. Sam chorava, morto de medo.—Não é... Nada, carinho. Najib...Ele chegou a seu lado então Rosalind viu que levava uma pistola na mão.—Tranqüilo, Samir. Não vai passar acontecer nada.—Havia dois homens... Na praia.Quando voltou a cabeça, Rosalind viu um navio de cor verde escura com vários homens armados. Três deles apontavam aos ocupantes do barco a motor, que tinham levantado as mãos em sinal de rendição.Um dos homens que tinha visto na praia falava por rádio; o outro estava a uns metros deles.—Vamos para casa — disse Najib, tomando ao Sam nos braços.—Quem eram os homens maus, papai? —perguntou o menino.Najib o sujeitava com uma mão e passou a outra pelos ombros do Rosalind enquanto caminhavam para a casa.—Não sabemos, Sam. Terá que lhes perguntar.—Os outros homens também eram maus?—Não, os outros são soldados. Vieram para te proteger.Quando foram entrar na casa, Rosalind sentiu que lhe doíam os pés, mas não prestou atenção. Nesse momento, Rima, uma das criadas, lançou um gritou:—A senhora está ferida!Ela olhou para baixo e viu que tinha deixado um rastro de sangue sobre o chão de cerâmica. Devia haver se cortado com as pedras.—Tem sangue, mamãe!—Não é nada.

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Apesar da insistência de Rosalind, Rima a levou dentro da casa.Por fim, com os pés enfaixados, ouviu que o helicóptero chegava e voltava a partir. Mas só depois de dar o jantar a Sam e reviver o susto da tarde uma e outra vez pôde colocá-lo na cama.Najib não estava no pátio. Encontrou-o no estúdio, falando por telefone.—Interrogaram-nos?—Sim. Dizem que são jornalistas, paparazzi. Têm câmaras e papéis que o provam. Só queriam roubar umas fotografias antes das bodas.Rosalind sacudiu a cabeça.—Mas se dispararam...—Quantos disparos ouviu?—Só um.—Então, foram meus homens.Ela deixou escapar um suspiro.—De verdade acredita que são jornalistas?—A verdade é que não opuseram resistência e seus papéis estão como deve ser. Desmontaram o barco a motor e não encontraram nada, nem equipe de vigilância nem armas de nenhum tipo. Tinham-no alugado em Daryashar de um comerciante que não tem conexão política alguma.—Então, foram seus homens?—Parece que sim.—São guarda-costas?—Não, são agentes do serviço secreto de Barakat.—Não sabia que na casa houvesse agentes do serviço secreto.—Por isso viemos para aqui — disse ele.—Pensei que estávamos a salvo, que ninguém sabia nosso paradeiro...Najib sacudiu a cabeça.—Onde estudou, Rosalind?—Como? Refere-te aonde tirei o título de tradutora? —perguntou ela, surpreendida pela repentina mudança de tema.—Meus homens dizem que reagiu com o instinto de uma agente bem treinada. Onde aprendeste a fazer isso?—Uma agente treinada? —repetiu Rosalind, incrédula—. O que quer dizer?

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—Protegeu a Sam como o faria um guarda-costas.—Protegi a meu filho porque sou sua mãe — replicou ela, furiosa—. O que acredita que faria qualquer mãe ao ouvir disparos?Estava mais que zangada. Najib suspeitava dela. Apesar de tudo, duvidava de seus motivos.Ele não disse uma palavra e seu silêncio a enfureceu ainda mais.—Resulta que sou uma terrorista treinada por Ghassib só porque protegi a meu filho? Por favor, não diga tolices!Depois disso, deu a volta e saiu do estúdio dando uma batida com a porta.Suspirando, Najib tirou da gaveta uma das fotografias que tinham tomado os paparazzi. Nela, Rosalind fazia um gesto com a mão para o barco a motor.Estava esperando alguém. A quem?

O episódio introduziu a serpente no paraíso. Rosalind não podia esquecer que Najib duvidava dela.Possivelmente era em certo modo lógico porque não podia lhe contar a verdade, mas se sentia decepcionada. Najib não acreditava e isso significava que não confiava nela.Tinha feito amor apaixonadamente e esperava que fosse algo mais que atração física. Mas se o comentário de um agente secreto podia fazê-lo duvidar, o que dizia isso de seus sentimentos por ela?Quanto a seus próprios sentimentos por Najib, Rosalind já não duvidava. Estava profundamente apaixonada por ele.Não teria se entregue de tal forma se não fosse assim. E lhe resultava incrível que Najib pudesse lhe fazer o amor e desconfiar dela de uma vez.Aquela noite jantaram juntos, como sempre. Mas Rosalind não tinha vontade de falar. Quando Najib a olhou parecia querer penetrar em sua alma para ver o que havia dentro. Mas já lhe tinha entregado sua alma. Najib sabia. E devia saber também que, além de um segredo que não queria compartilhar, todo o resto o tinha dado.A idéia de que ele não soubesse isso era deprimente. Estava construindo castelos no ar. Seus sonhos não tinham fundamento.Isso a atormentava, mas também ele estava atormentado. Normalmente, depois de jantar saiam para dar um passeio pela praia ou pelo jardim, mas aquela noite Rosalind se foi ao dormitório sozinha.

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O que ocorreu na praia lhe tinha feito ver que estava cometendo um engano. Desde dia que Najib al Makhtoum chegou a sua porta, parecia estar separada do mundo real.Mas aqueles homens armados eram reais. Muito reais. E isso lhe fez dar-se conta de algo que, até então, só era uma possibilidade remota: a vida de Sam estava em perigo.Najib havia dito que o perigo passaria em umas semanas e isso a fez acreditar que não era real.Entretanto, era-o. A vida de seu filho corria perigo.Rosalind esperou acordada para falar com ele, mas Najib não foi para o quarto. Tentou concentrar-se no livro, mas não era capaz de fazê-lo. Era uma história escura, de incerteza, que só lhe recordava os problemas pelos que ela mesma estava atravessando.Como não podia dormir, decidiu levantar-se da cama e ir ao estúdio para procurar outro livro mais interessante.A casa estava às escuras, mas se acendia uma luz algum criado despertaria para perguntar se necessitava algo e não queria incomodar a ninguém. De modo que atravessou o pátio iluminado pelas estrelas e entrou no corredor, apoiando-se nas paredes para não tropeçar com nada.Nunca se havia sentido nervosa dentro da casa, mas então se perguntou se também haveria agentes do serviço secreto nos corredores. A sensação de ser vigiada era muito desagradável.Quando chegou ao estúdio, viu que a luz estava apagada. E então se deu conta de que tinha esperado que Najib estivesse ali.De modo que tinha decidido dormir em outro quarto... Rosalind sacudiu a cabeça. O paraíso não dura eternamente. A história do Adão e Eva era uma metáfora para demonstrar que os seres humanos são incapazes de manter algo perfeito durante muito tempo.Então empurrou a porta do estúdio, tentando não fazer ruído. Não queria que um dos agentes secretos a confundisse com um ladrão e lhe desse um golpe de caratê ou algo assim.Mas não pôde abrir a porta, de modo que estava fechada por dentro. Seu coração deu um baque. Najib devia estar ali então. Foi à janela, mas também estava fechada.Deixando escapar um suspiro de irritação, Rosalind se deu a volta... E chocou-se com os braços de um homem.

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—O que faz aqui? —perguntou-lhe Najib com voz rouca —. O que é o que quer?

CAPÍTULO XIVEra a ele a quem ia procurar. Apesar da desilusão, não queria que dormisse em outra cama. Necessitava-o.—Ia a... Procura de um livro.—Um livro — repetiu Najib.Estava com o peito nu e Rosalind levantou as mãos para acariciar sua pele morena.—Por que não vieste para a cama?Ele a apartou então.—Isso não vai funcionar esta noite. Diga-me por que queria entrar no estúdio. A quem foste chamar?Falava com voz rouca, forçada. Parecia um moribundo. Tinha-a observado, sabendo que aquela noite tentaria algo. Sabia, mas esperava equivocar-se.—Chamar? —repetiu ela.Por que a apartava? Por que não a abraçava para consolá-la depois do que tinha passado?—Diga-me—Me abrace, Najib. Por favor, me abrace.—Rosalind...—Me faça amor — sussurrou ela.—E o que passará amanhã?—Dá igual manhã. Ame-me esta noite.Najib entendeu que estava perdido. Irresistivelmente. Então tomou-a em seus braços e se voltou para dirigir-se ao dormitório.Por última vez. Uma noite de amor que recordaria para sempre. Desejando que Rosalind tivesse sido o amor de sua vida.

Najib a deixou no chão e lhe tirou a camiseta de um puxão.

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Rosalind lançou um gemido ao ver-se nua e outro quando viu a apaixonada tortura no rosto do homem.—Najib!—Sim — murmurou ele, apertando os dentes —. Sim, esta noite gritará meu nome. E eu recordarei seu sabor, Rosalind. Recordarei como pronunciaste meu nome na cama.Tremiam-lhe as mãos e se deu conta de que estava fazendo um esforço para não perder o controle. Então a beijou com ânsia, apertando-a contra seu peito como se queria esmagá-la.O sangue do Rosalind se converteu em lava ardente ao sentir a língua do homem afundando-se em sua boca. Ele a movia como sabia que gostava, pressionando seus seios, apertando seus quadris para que sentisse a dura ereção.Rosalind baixou a mão para procurar seu membro erguido, mas Najib a afastou.—Não, carinho — disse com uma dureza desconhecida —. Esta noite é somente para ti.Então a deitou sobre a cama e abriu suas pernas, colocando-se de joelhos frente a ela. Rosalind deixou escapar um suspiro de prazer.—Sim — murmurou Najib —. Sei que você gosta. Quero que a recorde.Tinha aprendido o que gostava durante aquelas noites e ela se deixava levar, sentindo que se afogava sob sua úmida língua.—Najib! — gritou — Najib!Por fim, levantou-se para tirar a calça. Então a deitou sobre a cama, de costas para ele. Najib separou suas pernas com o joelho e começou a tocá-la com carícias duras e urgentes. Suspendeu seus quadris e a levantou um pouco para entrar nela de uma só investida. Rosalind o sentiu até o fundo e gritou de gozo.Najib seguiu empurrando e o prazer era tão profundo que quase era de dor. Cada investida era mais forte que a outra e teve que segurar-se ao edredom. Estava a ponto de explodir e ele seguia empurrando grosseiramente.Então procurou seu sexo para acariciá-la com uma mão. Ela lhe suplicava, pronunciava seu nome tonta de prazer, até que sentiu que se derramava em seu interior. Ofegando, deixou-se cair sobre a cama para procurar fôlego.

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Uns segundos depois ele estava duro de novo e a deitou de costas, mas Rosalind tentou detê-lo.—Espera um momento. Acredito que ainda não estou preparada.—Não? Mas quero que recorde esta noite para sempre. Olhe-me, Rosalind — lhe ordenou Najib —. Diga meu nome.A paixão que havia em sua voz fez que se derretesse. Nunca em sua vida havia sentido um desejo tão feroz.—Najib — murmurou. Ao dizê-lo, enterrou-se nela com uma poderosa investida —. Najib! — gritou, e ele a investiu de novo, olhando-a aos olhos.—Não quer mais?Então tomou em braços para apoiá-la contra a parede. Rosalind tomou a jarra de água e se molhou a mão para passá-la por sua cara e a cara do homem.Sem separar-se, Najib a levou para a janela e se sentou no parapeito. A lua iluminava o pátio com sua luz fantasmagórica.Ele acariciou seus seios com reverência, como se fora a última vez, como se queria gravá-los em sua mente. Depois, voltou a levá-la para a cama.Rosalind estava perdida em um mundo no que só havia prazer sexual e no que se submetia a seus desejos. Imagens de antigas estátuas de pedra apareciam em sua mente: o deus e a deusa unidos.—Najib!Ele seguia lhe fazendo o amor, ofegando, gritando com cada investida. Rosalind o sentia tão dentro que parecia chegar a sua alma.Najib sabia que estava cometendo um engano. Em sua determinação de levá-la ao fio, estava a ponto de perecer. Aquela mulher era parte dele para sempre. Nunca a esqueceria.Tinha que saber. Não podia seguir amando-a e esperando que fosse digna de sua confiança. Viraria louco por amá-la assim e estar atormentado por seus medos.—Me diga a verdade. Deve-me dizer isso. Deve fazê-lo!Tinha perdido o controle. Estava enterrando-se literalmente nela e Rosalind sentia que não haveria prazer maior. Que estava em outro mundo, que era parte daquele homem.—Najib...—Rosalind... Minha Rosalind...

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«Aproxime-te», ordenou o sultão.O retrato a atraía. Aproximou-se, enquanto os olhos do sultão a seguiam, atentos. Ele levantou uma mão e Rosalind se inclinou para beijar o anel.O contato a queimou e se afastou então, olhando a pedra rosa.OH! Exclamou Rosalind.

Rosalind despertou com todo o corpo dolorido, mas tão feliz que lhe dava igual. Najib estava ao seu lado, apoiado em um cotovelo, olhando-a.—Bom dia.—Diga-me isso Rosalind.Ela queria dizê-lo, eram palavras que parecia ter querido dizer toda sua vida: «quero-te».—O que quer ouvir?—A verdade! —exclamou Najib então—. Não posso viver com esta mentira nem um dia mais.—O que?Só depois de amar a Rosalind se dava conta de quão pálidos tinham sido seus sentimentos por Maysa. Então pensou que a confusão, a culpa e o desejo deviam ser amor, mas a dor que tinha sentido ao encontrá-la na cama com outro homem só era orgulho ferido.A traição de Rosalind o partiria pela metade. Perdendo-a ele, perderia a si mesmo.Maysa, com sua avareza e seus caprichos, só era uma menina comparada com o Rosalind.Mas o tinha sabido muito tarde. Estava perdido. Não deveria ter aceitado tomar parte naquela charada.Era uma sedutora. Que Jamshid se casou com ela, que lhe tivesse deixado sua herança, a Rosa de Jawadi que era seu só por ser o herdeiro do sultão... Todos eles atos de um louco.Rosalind estava procurando algo, mas não sabia o que.Queria acreditar que podia redimi-la. Mas era ela quem o mantinha prisioneiro, quem exercia o controle.—Diga-me isso.

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—O que tenta fazer, me voltar louca para que confesse... Não sei o que pecado inconfessável? Tudo isto foi um intento de me manipular? Usaste o sexo, aparentaste querer ao Sam... O que é, um espião?—Me diga a verdade — insistiu ele.—Já lhe disse mil vezes. Nunca te menti e se houvesse alguma humanidade em ti, ter-te-ia dado conta.—O que me contaste desafia à ciência.—É possível. Às vezes, quando aceita que certas coisas desafiam à ciência, encontra a verdade. Você deveria saber isso!—Ah, sim? Está dizendo que o nascimento do Sam foi um milagre?—Não foi nenhum milagre. Mas se tivesse uma mínima fé em mim, saberia que não estou mentindo — suspirou ela, derrotada—. E não a tem. Tem-me feito o amor acreditando que... Que o fazia a uma espiã do Ghassib. Mas cometeste um engano e...—Certamente que cometi um engano — a interrompeu Najib.—Sempre pensaste que mentia. E para seguir acreditando-o, tiveste que te levar como um vilão. Mas só tinha que confiar, Najib. Eu nunca vi essa maldita Rosa de Jawadi. Não dei a luz ao herdeiro do trono. Só tinha que acreditar que estava dizendo a verdade.—E então o que?—Então não teria tido que fingir uma paixão que não sentia — replicou Rosalind, levantando-se—. Sempre te disse a verdade, no primeiro dia.Najib desejava dizer que não tinha fingido a paixão, mas se mordeu os lábios. Não queria cometer mais enganos.—Aonde vai?—Não se preocupe, não terá que seguir fingindo — disse ela então.Depois, entrou no banheiro e fechou a porta.

Mas lhe tinha mentido sobre algo, pensou Rosalind. Embora não soube até aquele momento.Tinha visto a Rosa de Jawadi. Jamshid a deu de presente.O estranho sonho do sultão a fez entender o que sempre esteve diante de seus narizes.

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CAPÍTULO XV—Maravilhoso, Kamila! —exclamou a princesa Zara quando a desenhista pôs em Rosalind um broche de diamantes no cabelo—. É o toque perfeito.A princesa do Barakat estava deitada em um divã, observando a sua desenhista favorita dar os últimos toques ao vestido de noiva.Aquela mesma tarde tinham enlouquecido no palácio do príncipe Rafi. A sua chegada, Rosalind soube que as bodas teria lugar dois dias mais tarde.Os planos já pareciam e a princesa Zara o estava passando de maravilha. O palácio estava cheio de convidados, todos eles príncipes e princesas. Rosalind sabia que não poderia fugir.Mas nada tinha mudado desde que aceitou casar-se com o Najib al Makhtoum. Só que suas esperanças tinham morrido.—E o buquê de flores irá jogá-lo — estava dizendo a desenhista.—Kamila fará um desfile neste outono em Paris. E asseguro que suas bodas sai na Hello, assim será uma propaganda maravilhosa. Verdade, Kamila?—Certamente — sorriu a mulher.Rosalind estava olhando-se ao espelho. O vestido era de cor marfim e ia muito bem a sua tez bronzeada pelo sol, mas a cor era o único detalhe tinha a ver com um vestido de noiva habitual.Na realidade, era uma túnica tradicional bordada em fio de ouro sobre um vestido com decote redondo. Debaixo, umas calças de organza de seda. Mules do meio salto da mesma cor e, sobre sua cabeça, um véu quase transparente.No cabelo, o «algo emprestado» de Zara. Um broche de diamantes que, depois da cerimônia, seria seu presente de bodas.Viram-se aquele dia pela primeira vez, embora Zara estivesse vigiando o desenho do vestido durante dias.—Eu adorei — sorriu Rosalind—. Kamila será um grande êxito na Europa.—Dizem que sua roupa é «intensamente bonita». Mas não sei se isso é um insulto ou uma adulação — riu Zara.Depois de tirar o vestido, as duas ficaram um momento deitadas no divã, vigiando ao filho recém-nascido da princesa, que dormia tranqüilamente em uma cesta.—Está nervosa?

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—Sim — respondeu Rosalind.—Não se preocupe, Najib cumprirá sua palavra. Eu trabalho com ele, assim o conheço bem.—Trabalha com ele?—Najib fiscaliza o Museu Nacional.—Ah, sim? E no que consiste seu trabalho?—Tenta convencer aos museus ocidentais de que nos devolvam o que roubaram durante séculos de pilhagem.—E você o que faz?—Eu estou organizando agora mesmo a sala Alexandre Magno. Dedico-me a fazer Relações Públicas, na realidade.—Zara... Sei que Najib é um agente secreto ou algo assim. Quer dizer que seu trabalho no museu é um disfarce?—Não é um agente secreto, é um conselheiro do príncipe — riu a princesa—. Os conselheiros fazem todo o necessário para manter a situação em ordem, inclusive se fazem de Sherlock Holmes se necessário.—Ah, tá.—Sabe que Najib esteve na guerra?—Sim, sei.—É aparentado dos Durrani e...O menino as interrompeu então chorando a pleno pulmão e Zara o tirou de seu berço para lhe dar o peito.—Você deu o peito para Sam?Rosalind engoliu em seco.—Não, eu... Teria gostado, mas não pude.—Ah, que pena. Possivelmente com o seguinte.—Isso espero.—Já verá, as bodas será uma grande exclusiva. As primeiras fotos do palácio do príncipe Rafi e as bodas de um de seus conselheiros com a esposa a que tinha perdido durante cinco anos... Por certo, vão pagar uma dinheirama que irá aos orfanatos de Parvan.Não, embora quisesse, Rosalind não podia sair fugindo.

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—Tenho algo que te dizer — disse Rosalind.—E eu tenho algo que te dizer também — murmurou ele, tomando sua mão.Najib a levou pelo jardim até um suave rochedo da onde podia ver-se o monte Shir. Sentaram-se na erva sem dizer nada, nervosos os dois.—Eu...—Importa-te se falar primeiro? Quero te dizer que o sinto. Tinha razão, desde o começo quis acreditar que estava mentindo, mas me dei conta de que dizia a verdade. A verdade é a única que responde a todas as perguntas.—Ah, sim?—E entendo que não pudesse me contar a história. Sou um idiota, Rosalind. Lamis é a resposta, verdade? Samir é filho de minha irmã.

Rosalind e Lamis eram amigas e se uniram mais depois da morte de Jamshid.Ela estava preocupada com algo, mas não queria falar disso. Entretanto, quando chegou a carta do avô de Jamshid, avô também do Lamis, decidiu que não podia seguir suportando sua carga a sós.—Entende agora o que enfrento, Rosalind?Então lhe contou a história que tinha guardado para si mesmo durante meses: o homem por quem estava apaixonada, que dizia entender seus princípios religiosos, tinha-a violentado. E estava grávida.O medo e a vergonha a torturavam. Seu avô... Não sabia o que ocorreria quando o dissesse. Tinha pensado dar o menino em adoção, mas tinha que esconder a gravidez como fosse porque já era notava. E em Londres havia muitos olhos...Uns dias antes, Rosalind lhe teria insistido em que falasse com sua família. Como podia ninguém culpá-la pelo que tinha passado? Mas depois de receber a carta de seu avô, soube que não podia fazê-lo. Lamis devia proteger-se da fúria daquele homem.Ela estava destroçada pela perda de seu filho e então lhes ocorreu um plano: Lamis teria ao menino, mas diriam que era de Rosalind.Pediria dois meses de licença na embaixada. Lamis, enquanto isso, partiria de Londres com a desculpa de que estava investigando para sua tese. Iriam a alguma cidade do norte, onde ninguém as conhecesse.

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Lamis iria ao ginecologista sob o nome do Rosalind Lewis e registraria ao menino como seu filho. Depois o daria em adoção.E funcionou. Lamis sempre ia ao médico com o chaddor posto, alegando suas crenças religiosas, e ninguém a obrigou a tirar-lhe para comprovar a fotografia do documento de identidade.O parto foi perfeito, mas quando olharam a carinha do menino se deram conta de que não podiam dá-lo em adoção.—Lamis me fez prometer que jamais me poria em contato com ela — murmurou Rosalind—. Para sua irmã foi muito duro deixar seu filho, mas não tinha alternativa.Quando teve que voltar para seu país chorou amargamente e pediu ao Rosalind um último favor:—Não me chame, não me escreva nunca — lhe disse, afogando-se de emoção—. Tenho que esquecê-lo. Ficaria louca se pensasse nele.Rosalind também tinha esquecido. Para ela, Sam era seu filho.

—Tenho algo que te dizer — disse Rosalind uns minutos depois, enquanto a lua se levantava sobre as montanhas—. Equivoquei-me. Acredito que Jamshid me deu a Rosa de Jawadi.—O que? —exclamou Najib.—Disse-me que era uma pedra rosa de grande valor familiar, mas não me disse que fora uma jóia. Jamshid me fez prometer que a guardaria e que, em caso de que ele morresse na guerra, a daria a nosso filho.Najib a olhava, incrédulo.—Onde está agora?—Em meu apartamento. Ao lado da bola de cristal de Lamis que você teve na mão. Em uma simples caixa de madeira.

—Sam, esta é sua tia Lamis.Rosalind ficou muito nervosa quando soube que iria às bodas, mas assim que viu sua amiga soube que tudo ia bem. Lamis al Makhtoum a abraçou, chorando e rindo ao mesmo tempo.—Rosalind, está muito bonito!Tinha pedido ver seu filho e as duas foram da mão à habitação. E as duas tinham o mesmo medo.

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—Olá — a saudou Sam.—Parece-se com seu avô — sorriu Lamis, sem atrever-se a beijá-lo. Ao Rosalind lhe encolheu o coração—. Muito obrigado... O que posso dizer? Está bem, é um bom menino?—Por que é minha tia? —perguntou Sam então.—Porque sou a irmã de Najib — respondeu ela, secando uma furtiva lágrima—. E te quero muito. Sempre te quererei.

O dia antes das bodas, Rosalind e Najib passeavam pelo jardim, da mão.—Como soube? —perguntou ela.—Porque confiei em ti e então entendi a verdade.—Sério?—Sério. Só tive que confiar em ti para ver como as peças do quebra-cabeças começavam a encaixar. Sinto muito, Rosalind. Sempre foi uma boa pessoa... Mais que isso. E eu não podia vê-lo.Ela estava muito emocionada para falar e apertou sua mão enquanto seguiam caminhando entre as flores.Najib estava muito bonito com uma túnica branca e um colete ricamente bordado que o fazia parecer um homem de outro século.—Falaste com Lamis?—Falamos esta tarde. Foi um alívio para ela poder contar isso no fim. Pôde fazê-lo antes, mas temia muito a meu avô.—Tê-la-ia ajudado então?—É obvio. Acredita que a teria culpado por algo que ela não pôde evitar? Eu não sou meu avô, Rosalind.—Às vezes me dizia coisas que não eram muito diferentes das que me disse seu avô em sua carta —protestou ela.Najib assentiu com a cabeça.—Sinto muito, Rosalind. Minha preciosa Rosalind. Um dia te falarei da mulher pela que te julguei. Em lugar de te olhar com olhos novos, julguei-te por minha experiência com Maysa. E embora quisesse te acreditar, minha lealdade a outros me fazia recear.—Lamis me havia dito que a família está planejando recuperar o trono e por isso a situação é tão crítica.

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—Tem razão. Mas é um segredo que não deve ser revelado a ninguém.—Esse homem... Ashraf, que conheci na Cornualles... É filho do príncipe Wafiq?—Ashraf é o eleito da família para sentar-se no trono depois da morte de Jamshid.—Por isso estava tão horrorizado ao saber da existência de Sam?—Havia muitas razões para que a existência de um filho de Jamshid... Do príncipe Kamil, fosse preocupe-se. Ao morrer meu primo, Ashraf era o seguinte na sucessão ao trono, mas a Rosa tinha desaparecido. Além disso, existia a possibilidade de que Ghassib queria utilizar a Sam. Embora esse problema já esteja resolvido. E o problema de Ghassib resolverá dentro de pouco.—Quer dizer que tem os dias contados?—Isso esperamos. Mas não conte nada a ninguém, por favor. É um segredo de estado.Rosalind ficou pensativa.—Quando Lamis e eu registramos a Sam, devia saber que algum dia poderiam acreditá-lo filho de Jamshid.—Pensou que era uma possibilidade muito remota. Mas também pensou que não havia razão para que seu filho não herdasse o trono de seu bisavô. E tinha razão, Rosalind. O da linha de sucessão masculina é um estúpido prejuízo. Sabe o que me disse minha irmã outro dia? «Ninguém quer recordar que Mohamed não teve filhos. Toda a descendência do profeta vem de sua filha. Por que agora a descendência de uma mulher não tem valor? Ao menos se sabe com certeza quem é a mãe de alguém!».—Vejo que mudou muito —sorriu Rosalind— Lamis não teria dito algo assim há cinco anos.—Mas tem razão.—É obvio que a tem.—Fez algo muito valente ao criar um filho sozinha... Muitas mulheres não teriam se atrevido.—Não sabe quanto lhe doeu ter que deixá-lo — suspirou ela—. E a verdade, eu nunca lamentei ser a mãe de Sam. Além disso, Lamis se encarregou de que nunca nos faltasse de nada. Comprou o apartamento... Contou-te que por isso fingiu ter perdido dinheiro no cassino?

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—Sim, sei. Mas a carga de ser pai e mãe de um menino não pôde ser sido fácil para ti — disse Najib, olhando-a aos olhos.O coração do Rosalind começou a pulsar com força. Não queria ter esperanças...—Não, é certo.—Vamos nos casar amanhã, querida. Quando aceitamos fazer isto, não era real. Mas eu te quero como um homem ama uma mulher que deseja fazer sua esposa.Ela deixou escapar um suspiro que lhe saiu da alma.—De verdade, Najib?—Quis-te desde dia que te vi. Não, antes disso. Quando olhei sua fotografia, soube que você era a mulher de minha vida. Estava ciumento... Pode acreditar? Estava ciumento de meu primo porque, cinco anos antes, você lhe tinha sorrido dessa forma. E amanhã, quando fizer os votos os farei de coração. Quero me casar contigo e ser o pai de seu filho. Quero que seja de verdade, Rosalind. E quero te ouvir dizer que me quer.—Najib...—Quer te casar comigo, Rosalind?

Casaram-se pela manhã, quando o ar da montanha era fresco e limpo, no jardim do palácio. Um jardim que tinha sido plantado cinqüenta anos antes, como explicava a revista Hello a seus leitores, pela madrasta do príncipe Rafi, rainha Azizah.Havia milhares de rosas de todas as variedades, de todas as cores: brancas, amarelas, vermelhas, pêssego, granada...Para acrescentar mais magia, o bouquet de Rosalind estava composto por rosas brancas e vermelhos colhidas na noite anterior.A noiva foi acompanhada ao altar pelo filho do casal, Samir. O menino ia vestido com uma túnica de cor marfim combinando com o vestido de sua mãe.O xeque Najib, conselheiro do príncipe Rafi, famoso por seus intentos de repatriar várias estátuas nativas que estavam no Louvre, tinha um aspecto muito régio com uma túnica dourada.A lista de convidados incluía o príncipe Omar, a princesa Jana, o príncipe Karim, o príncipe Kavian e a princesa Alinor, o xeque Arash al Khosravi, Sheikha Lamis al Makhtoum e seu marido...

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Segundo os rumores, os herdeiros do sultão de Bagestão também estavam entre os convidados, mas se era assim ninguém estava seguro disso. Embora Jamshid al Makhtoum havia voltado da tumba para reunir-se com sua esposa, só pôde fazê-lo porque ele não era herdeiro ao trono. Os herdeiros do Hafzuddin al Jawadi não podiam arriscar-se a aparecer em público, explicava a revista.Rosalind apenas se fixou nos fotógrafos. Só podia ver a Najib, muito bonito com uma túnica bordada em vermelho e um turbante no que brilhava uma enorme esmeralda. Parecia o príncipe de um conto.Mas o melhor era como a olhava. Olhava-a com uma mescla de amor, orgulho e felicidade que fazia saltar seu coração.Acompanhada por seu filho, Rosalind se colocou ao lado de seu orgulhoso sheik, sabendo que, por fim, tinha encontrado ao homem de sua vida.

EPÍLOGOUma mulher de cabelo branco abriu a porta.—Helen Mitchell?—Sim, sou eu.—Boa tarde. Meu nome é Haroun Al Muntazir. Acredito que minha prima Rosalind a chamou por telefone esta manhã.A mulher o olhava, boquiaberta.—Oh Meu deus. Pois sim, chamou-me, mas...—Não lhe havia dito que viria para procurar certo adorno?—Sim, claro, mas... Então, quem era o que veio antes?—Como? —exclamou Haroun.—Era um homem alto e me disse: vim a procurar a Rosa...—E você a deu? —perguntou ele, apertando os lábios.—Pois... Pareceu-me que era o que devia fazer. Eu acreditei que esse era o homem ao que se referia Rosalind. Fiz mal? Veio faz uma hora, não sei se poderá encontrá-lo...—Encontrá-lo-ei, senhora Mitchell — disse Haroun então—. Possivelmente tarde algum tempo, mas o encontrarei.

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