aspectos elementares do crime de lavagem de...

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ BEATRIZ MADER SIKORSKI ANDRADE ASPECTOS ELEMENTARES DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO BRASIL CURITIBA 2013

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANAacute

BEATRIZ MADER SIKORSKI ANDRADE

ASPECTOS ELEMENTARES DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

CURITIBA

2013

BEATRIZ MADER SIKORSKI ANDRADE

ASPECTOS ELEMENTARES DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado ao Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Tuiuti do Paranaacute como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de bacharel em Direito Orientador Prof Andreacute Peixoto de Souza

CURITIBA

2013

Dedico este trabalho a minha famiacutelia por

todo amor carinho e paciecircncia sempre

me incentivando e acreditando em mim

AGRADECIMENTOS

Primeiramente aos meus pais por todos os ensinamentos pelos valores de

vida e por sempre me manterem no caminho certo

Ao meu amado marido por todo seu carinho e dedicaccedilatildeo por estar sempre

ao meu lado ldquoPeito aberto matildeos fechadasrdquo

E principalmente ao meu filho Augusto Meu motivo de vida minha

inspiraccedilatildeo Quem me mostrou o verdadeiro significado do amor Eacute por ele que eu

levanto e luto todos os dias

ldquoSe vis pacem para bellumrdquo

RESUMO

O presente trabalho eacute uma pesquisa bibliograacutefica e tem como principal objetivo a anaacutelise dos vaacuterios aspectos dos crimes de ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores que tambeacutem eacute conhecido por crime de lavagem de dinheiro Seratildeo discutidos paralelamente alguns dos artigos mais importantes da Lei 961398 e da sua nova redaccedilatildeo a Lei 126832012 assim como seu histoacuterico e sua elaboraccedilatildeo e claro sua relevacircncia e seus efeitos Trata tambeacutem sobre assuntos polecircmicos como o princiacutepio da autonomia do delito antecedente assim como as reflexotildees sobre os ldquoindiacutecios suficientesrdquo de prova do delito antecendente Abordaremos sobre a questatildeo acerca do bem juriacutedico tutelado sobre os sujeitos do crime (ativo e passivo) o tipo penal objetivo e tipo penal subjetivo e do objeto material Foram inuacutemeras as fontes utilizadas para concretizar este trabalho de conclusatildeo de curso como livros doutrinaacuterios jurisprudecircncias revistas dos Tribunais sites nacionais e internacionais Palavras-chave Direito Penal Lavagem de Dinheiro Delito Antecedente Lei 126832012 Lei 961398

ABSTRACT

The present study is a research that has the objective of analysing the various aspects of the crime of disguising and concealment of assets rights and values also known as money laundering crime We will also discuss some important articles from Law 961398 and its new writing Law 126832012 as well as its historical and elaboration It also discusses the polemic principle of delictrsquos liberty and the reflexions about enough Several sources were researched in order to accomplish this work including books magazines published by Regional and Federal Courts and national and internacional websites

Key words Criminal Law Money Laundry Previously delicts Law 126832012 Law 961398

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO 12

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 9613199815

4 DA COMPETEcircNCIA 23

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO NA LEGISLACcedilAtildeO BRASILEIRA 25

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO 25

52 SUJEITOS DO CRIME 25

53 TIPO PENAL OBJETIVO 26

54 TIPO PENAL SUBJETIVO 26

55 OBJETO MATERIAL 28

6 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE 30

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 34

REFEREcircNCIAS 36

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

De acordo com Raul Cervini expressatildeo lsquolavagem de dinheirorsquo teve origem

nas lsquomaacutefiasrsquo norte americanas quando na deacutecada de 20 lavanderias foram

montadas com a finalidade de dar aparecircncia de liacutecito ao dinheiro obtido ilicitamente

Inicialmente lavanderias eram usadas como fachada para encobrir lucros

advindos de atividades iliacutecitas Dessa maneira o dinheiro considerado ldquosujordquo

(originaacuterio um crime) era transformado lavado para ter aparecircncia de liacutecito

Em 1982 nos Estados Unidos a expressatildeo money laundering foi usada

juridicamente pela primeira vez em um caso em que se pleiteava a perda de dinheiro

oriundo de traacutefico de entorpecentes

O Financial Action Task Force (FATF) criada pelas Naccedilotildees Unidas para

combater o crime de lavagem de dinheiro apresentou informaccedilotildees do FMI (Fundo

Monetaacuterio Internacional) onde em 1996 de 2 a 5 do Produto Interno Bruto do

mundo inteiro seria dinheiro procedente de atividades iliacutecitas

Poreacutem natildeo se pode afirmar precisamente a quantidade de lsquodinheiro sujorsquo que

circula nos dias de hoje

No Brasil apenas em 1998 a lavagem de dinheiro se tornou crime com a

elaboraccedilatildeo da Lei 961398 Nessa eacutepoca haviam somente sete inqueacuteritos policiais

instaurados para se investigar esse tipo de crime No ano 200 jaacute havia subido para

94 segundo dados da Divisatildeo de Repressatildeo ao Crime Organizado e de Inqueacuteritos

Especiais da Poliacutecia Federal (DCOIE)

Graccedilas a Resoluccedilatildeo n 3142003 Varas Especializadas em processar crimes

de lavagem de dinheiro com juiacutezes e procuradores capacitados e com experiecircncia

foram criadas em 2003 no Brasil

Tal Resoluccedilatildeo foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 5172006 onde determinou-se a

criaccedilatildeo de Varas Especializadas para julgar e processar os crimes contra o sistema

financeiro nacional e de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores assim

como crimes praticados por organizaccedilotildees criminosas independentemente de suas

infraccedilotildees terem caraacuteter transnacional

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) informa que ateacute

2012 a regiatildeo que mais enviou comunicaccedilotildees chegando ao assustador nuacutemero de

231 mil comunicaccedilotildees foi a regiatildeo Sudeste Infelizmente nem todas satildeo

11

investigadas ainda mais porque nem sempre uma operaccedilatildeo eacute iliacutecita apenas por ser

considerada suspeita

Com afirma Felipe Bernardes Rodrigues1 natildeo existem fronteiras para essa

espeacutecie de crime pois movimenta milhotildees de doacutelares ao redor do mundo Sem

contar que causa uma certa aversatildeo uma vez que os criminosos pretendem

apreciar impunemente os frutos de suas infraccedilotildees

_______________ 1RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006

12

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

13

De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

14

Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

31

objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

34

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

36

REFEREcircNCIAS

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

BEATRIZ MADER SIKORSKI ANDRADE

ASPECTOS ELEMENTARES DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO NO

BRASIL

Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado ao Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Tuiuti do Paranaacute como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de bacharel em Direito Orientador Prof Andreacute Peixoto de Souza

CURITIBA

2013

Dedico este trabalho a minha famiacutelia por

todo amor carinho e paciecircncia sempre

me incentivando e acreditando em mim

AGRADECIMENTOS

Primeiramente aos meus pais por todos os ensinamentos pelos valores de

vida e por sempre me manterem no caminho certo

Ao meu amado marido por todo seu carinho e dedicaccedilatildeo por estar sempre

ao meu lado ldquoPeito aberto matildeos fechadasrdquo

E principalmente ao meu filho Augusto Meu motivo de vida minha

inspiraccedilatildeo Quem me mostrou o verdadeiro significado do amor Eacute por ele que eu

levanto e luto todos os dias

ldquoSe vis pacem para bellumrdquo

RESUMO

O presente trabalho eacute uma pesquisa bibliograacutefica e tem como principal objetivo a anaacutelise dos vaacuterios aspectos dos crimes de ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores que tambeacutem eacute conhecido por crime de lavagem de dinheiro Seratildeo discutidos paralelamente alguns dos artigos mais importantes da Lei 961398 e da sua nova redaccedilatildeo a Lei 126832012 assim como seu histoacuterico e sua elaboraccedilatildeo e claro sua relevacircncia e seus efeitos Trata tambeacutem sobre assuntos polecircmicos como o princiacutepio da autonomia do delito antecedente assim como as reflexotildees sobre os ldquoindiacutecios suficientesrdquo de prova do delito antecendente Abordaremos sobre a questatildeo acerca do bem juriacutedico tutelado sobre os sujeitos do crime (ativo e passivo) o tipo penal objetivo e tipo penal subjetivo e do objeto material Foram inuacutemeras as fontes utilizadas para concretizar este trabalho de conclusatildeo de curso como livros doutrinaacuterios jurisprudecircncias revistas dos Tribunais sites nacionais e internacionais Palavras-chave Direito Penal Lavagem de Dinheiro Delito Antecedente Lei 126832012 Lei 961398

ABSTRACT

The present study is a research that has the objective of analysing the various aspects of the crime of disguising and concealment of assets rights and values also known as money laundering crime We will also discuss some important articles from Law 961398 and its new writing Law 126832012 as well as its historical and elaboration It also discusses the polemic principle of delictrsquos liberty and the reflexions about enough Several sources were researched in order to accomplish this work including books magazines published by Regional and Federal Courts and national and internacional websites

Key words Criminal Law Money Laundry Previously delicts Law 126832012 Law 961398

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO 12

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 9613199815

4 DA COMPETEcircNCIA 23

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO NA LEGISLACcedilAtildeO BRASILEIRA 25

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO 25

52 SUJEITOS DO CRIME 25

53 TIPO PENAL OBJETIVO 26

54 TIPO PENAL SUBJETIVO 26

55 OBJETO MATERIAL 28

6 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE 30

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 34

REFEREcircNCIAS 36

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

De acordo com Raul Cervini expressatildeo lsquolavagem de dinheirorsquo teve origem

nas lsquomaacutefiasrsquo norte americanas quando na deacutecada de 20 lavanderias foram

montadas com a finalidade de dar aparecircncia de liacutecito ao dinheiro obtido ilicitamente

Inicialmente lavanderias eram usadas como fachada para encobrir lucros

advindos de atividades iliacutecitas Dessa maneira o dinheiro considerado ldquosujordquo

(originaacuterio um crime) era transformado lavado para ter aparecircncia de liacutecito

Em 1982 nos Estados Unidos a expressatildeo money laundering foi usada

juridicamente pela primeira vez em um caso em que se pleiteava a perda de dinheiro

oriundo de traacutefico de entorpecentes

O Financial Action Task Force (FATF) criada pelas Naccedilotildees Unidas para

combater o crime de lavagem de dinheiro apresentou informaccedilotildees do FMI (Fundo

Monetaacuterio Internacional) onde em 1996 de 2 a 5 do Produto Interno Bruto do

mundo inteiro seria dinheiro procedente de atividades iliacutecitas

Poreacutem natildeo se pode afirmar precisamente a quantidade de lsquodinheiro sujorsquo que

circula nos dias de hoje

No Brasil apenas em 1998 a lavagem de dinheiro se tornou crime com a

elaboraccedilatildeo da Lei 961398 Nessa eacutepoca haviam somente sete inqueacuteritos policiais

instaurados para se investigar esse tipo de crime No ano 200 jaacute havia subido para

94 segundo dados da Divisatildeo de Repressatildeo ao Crime Organizado e de Inqueacuteritos

Especiais da Poliacutecia Federal (DCOIE)

Graccedilas a Resoluccedilatildeo n 3142003 Varas Especializadas em processar crimes

de lavagem de dinheiro com juiacutezes e procuradores capacitados e com experiecircncia

foram criadas em 2003 no Brasil

Tal Resoluccedilatildeo foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 5172006 onde determinou-se a

criaccedilatildeo de Varas Especializadas para julgar e processar os crimes contra o sistema

financeiro nacional e de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores assim

como crimes praticados por organizaccedilotildees criminosas independentemente de suas

infraccedilotildees terem caraacuteter transnacional

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) informa que ateacute

2012 a regiatildeo que mais enviou comunicaccedilotildees chegando ao assustador nuacutemero de

231 mil comunicaccedilotildees foi a regiatildeo Sudeste Infelizmente nem todas satildeo

11

investigadas ainda mais porque nem sempre uma operaccedilatildeo eacute iliacutecita apenas por ser

considerada suspeita

Com afirma Felipe Bernardes Rodrigues1 natildeo existem fronteiras para essa

espeacutecie de crime pois movimenta milhotildees de doacutelares ao redor do mundo Sem

contar que causa uma certa aversatildeo uma vez que os criminosos pretendem

apreciar impunemente os frutos de suas infraccedilotildees

_______________ 1RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006

12

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

13

De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

14

Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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Dedico este trabalho a minha famiacutelia por

todo amor carinho e paciecircncia sempre

me incentivando e acreditando em mim

AGRADECIMENTOS

Primeiramente aos meus pais por todos os ensinamentos pelos valores de

vida e por sempre me manterem no caminho certo

Ao meu amado marido por todo seu carinho e dedicaccedilatildeo por estar sempre

ao meu lado ldquoPeito aberto matildeos fechadasrdquo

E principalmente ao meu filho Augusto Meu motivo de vida minha

inspiraccedilatildeo Quem me mostrou o verdadeiro significado do amor Eacute por ele que eu

levanto e luto todos os dias

ldquoSe vis pacem para bellumrdquo

RESUMO

O presente trabalho eacute uma pesquisa bibliograacutefica e tem como principal objetivo a anaacutelise dos vaacuterios aspectos dos crimes de ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores que tambeacutem eacute conhecido por crime de lavagem de dinheiro Seratildeo discutidos paralelamente alguns dos artigos mais importantes da Lei 961398 e da sua nova redaccedilatildeo a Lei 126832012 assim como seu histoacuterico e sua elaboraccedilatildeo e claro sua relevacircncia e seus efeitos Trata tambeacutem sobre assuntos polecircmicos como o princiacutepio da autonomia do delito antecedente assim como as reflexotildees sobre os ldquoindiacutecios suficientesrdquo de prova do delito antecendente Abordaremos sobre a questatildeo acerca do bem juriacutedico tutelado sobre os sujeitos do crime (ativo e passivo) o tipo penal objetivo e tipo penal subjetivo e do objeto material Foram inuacutemeras as fontes utilizadas para concretizar este trabalho de conclusatildeo de curso como livros doutrinaacuterios jurisprudecircncias revistas dos Tribunais sites nacionais e internacionais Palavras-chave Direito Penal Lavagem de Dinheiro Delito Antecedente Lei 126832012 Lei 961398

ABSTRACT

The present study is a research that has the objective of analysing the various aspects of the crime of disguising and concealment of assets rights and values also known as money laundering crime We will also discuss some important articles from Law 961398 and its new writing Law 126832012 as well as its historical and elaboration It also discusses the polemic principle of delictrsquos liberty and the reflexions about enough Several sources were researched in order to accomplish this work including books magazines published by Regional and Federal Courts and national and internacional websites

Key words Criminal Law Money Laundry Previously delicts Law 126832012 Law 961398

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO 12

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 9613199815

4 DA COMPETEcircNCIA 23

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO NA LEGISLACcedilAtildeO BRASILEIRA 25

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO 25

52 SUJEITOS DO CRIME 25

53 TIPO PENAL OBJETIVO 26

54 TIPO PENAL SUBJETIVO 26

55 OBJETO MATERIAL 28

6 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE 30

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 34

REFEREcircNCIAS 36

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

De acordo com Raul Cervini expressatildeo lsquolavagem de dinheirorsquo teve origem

nas lsquomaacutefiasrsquo norte americanas quando na deacutecada de 20 lavanderias foram

montadas com a finalidade de dar aparecircncia de liacutecito ao dinheiro obtido ilicitamente

Inicialmente lavanderias eram usadas como fachada para encobrir lucros

advindos de atividades iliacutecitas Dessa maneira o dinheiro considerado ldquosujordquo

(originaacuterio um crime) era transformado lavado para ter aparecircncia de liacutecito

Em 1982 nos Estados Unidos a expressatildeo money laundering foi usada

juridicamente pela primeira vez em um caso em que se pleiteava a perda de dinheiro

oriundo de traacutefico de entorpecentes

O Financial Action Task Force (FATF) criada pelas Naccedilotildees Unidas para

combater o crime de lavagem de dinheiro apresentou informaccedilotildees do FMI (Fundo

Monetaacuterio Internacional) onde em 1996 de 2 a 5 do Produto Interno Bruto do

mundo inteiro seria dinheiro procedente de atividades iliacutecitas

Poreacutem natildeo se pode afirmar precisamente a quantidade de lsquodinheiro sujorsquo que

circula nos dias de hoje

No Brasil apenas em 1998 a lavagem de dinheiro se tornou crime com a

elaboraccedilatildeo da Lei 961398 Nessa eacutepoca haviam somente sete inqueacuteritos policiais

instaurados para se investigar esse tipo de crime No ano 200 jaacute havia subido para

94 segundo dados da Divisatildeo de Repressatildeo ao Crime Organizado e de Inqueacuteritos

Especiais da Poliacutecia Federal (DCOIE)

Graccedilas a Resoluccedilatildeo n 3142003 Varas Especializadas em processar crimes

de lavagem de dinheiro com juiacutezes e procuradores capacitados e com experiecircncia

foram criadas em 2003 no Brasil

Tal Resoluccedilatildeo foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 5172006 onde determinou-se a

criaccedilatildeo de Varas Especializadas para julgar e processar os crimes contra o sistema

financeiro nacional e de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores assim

como crimes praticados por organizaccedilotildees criminosas independentemente de suas

infraccedilotildees terem caraacuteter transnacional

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) informa que ateacute

2012 a regiatildeo que mais enviou comunicaccedilotildees chegando ao assustador nuacutemero de

231 mil comunicaccedilotildees foi a regiatildeo Sudeste Infelizmente nem todas satildeo

11

investigadas ainda mais porque nem sempre uma operaccedilatildeo eacute iliacutecita apenas por ser

considerada suspeita

Com afirma Felipe Bernardes Rodrigues1 natildeo existem fronteiras para essa

espeacutecie de crime pois movimenta milhotildees de doacutelares ao redor do mundo Sem

contar que causa uma certa aversatildeo uma vez que os criminosos pretendem

apreciar impunemente os frutos de suas infraccedilotildees

_______________ 1RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006

12

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

13

De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

14

Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

31

objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

34

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

36

REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente aos meus pais por todos os ensinamentos pelos valores de

vida e por sempre me manterem no caminho certo

Ao meu amado marido por todo seu carinho e dedicaccedilatildeo por estar sempre

ao meu lado ldquoPeito aberto matildeos fechadasrdquo

E principalmente ao meu filho Augusto Meu motivo de vida minha

inspiraccedilatildeo Quem me mostrou o verdadeiro significado do amor Eacute por ele que eu

levanto e luto todos os dias

ldquoSe vis pacem para bellumrdquo

RESUMO

O presente trabalho eacute uma pesquisa bibliograacutefica e tem como principal objetivo a anaacutelise dos vaacuterios aspectos dos crimes de ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores que tambeacutem eacute conhecido por crime de lavagem de dinheiro Seratildeo discutidos paralelamente alguns dos artigos mais importantes da Lei 961398 e da sua nova redaccedilatildeo a Lei 126832012 assim como seu histoacuterico e sua elaboraccedilatildeo e claro sua relevacircncia e seus efeitos Trata tambeacutem sobre assuntos polecircmicos como o princiacutepio da autonomia do delito antecedente assim como as reflexotildees sobre os ldquoindiacutecios suficientesrdquo de prova do delito antecendente Abordaremos sobre a questatildeo acerca do bem juriacutedico tutelado sobre os sujeitos do crime (ativo e passivo) o tipo penal objetivo e tipo penal subjetivo e do objeto material Foram inuacutemeras as fontes utilizadas para concretizar este trabalho de conclusatildeo de curso como livros doutrinaacuterios jurisprudecircncias revistas dos Tribunais sites nacionais e internacionais Palavras-chave Direito Penal Lavagem de Dinheiro Delito Antecedente Lei 126832012 Lei 961398

ABSTRACT

The present study is a research that has the objective of analysing the various aspects of the crime of disguising and concealment of assets rights and values also known as money laundering crime We will also discuss some important articles from Law 961398 and its new writing Law 126832012 as well as its historical and elaboration It also discusses the polemic principle of delictrsquos liberty and the reflexions about enough Several sources were researched in order to accomplish this work including books magazines published by Regional and Federal Courts and national and internacional websites

Key words Criminal Law Money Laundry Previously delicts Law 126832012 Law 961398

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO 12

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 9613199815

4 DA COMPETEcircNCIA 23

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO NA LEGISLACcedilAtildeO BRASILEIRA 25

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO 25

52 SUJEITOS DO CRIME 25

53 TIPO PENAL OBJETIVO 26

54 TIPO PENAL SUBJETIVO 26

55 OBJETO MATERIAL 28

6 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE 30

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 34

REFEREcircNCIAS 36

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

De acordo com Raul Cervini expressatildeo lsquolavagem de dinheirorsquo teve origem

nas lsquomaacutefiasrsquo norte americanas quando na deacutecada de 20 lavanderias foram

montadas com a finalidade de dar aparecircncia de liacutecito ao dinheiro obtido ilicitamente

Inicialmente lavanderias eram usadas como fachada para encobrir lucros

advindos de atividades iliacutecitas Dessa maneira o dinheiro considerado ldquosujordquo

(originaacuterio um crime) era transformado lavado para ter aparecircncia de liacutecito

Em 1982 nos Estados Unidos a expressatildeo money laundering foi usada

juridicamente pela primeira vez em um caso em que se pleiteava a perda de dinheiro

oriundo de traacutefico de entorpecentes

O Financial Action Task Force (FATF) criada pelas Naccedilotildees Unidas para

combater o crime de lavagem de dinheiro apresentou informaccedilotildees do FMI (Fundo

Monetaacuterio Internacional) onde em 1996 de 2 a 5 do Produto Interno Bruto do

mundo inteiro seria dinheiro procedente de atividades iliacutecitas

Poreacutem natildeo se pode afirmar precisamente a quantidade de lsquodinheiro sujorsquo que

circula nos dias de hoje

No Brasil apenas em 1998 a lavagem de dinheiro se tornou crime com a

elaboraccedilatildeo da Lei 961398 Nessa eacutepoca haviam somente sete inqueacuteritos policiais

instaurados para se investigar esse tipo de crime No ano 200 jaacute havia subido para

94 segundo dados da Divisatildeo de Repressatildeo ao Crime Organizado e de Inqueacuteritos

Especiais da Poliacutecia Federal (DCOIE)

Graccedilas a Resoluccedilatildeo n 3142003 Varas Especializadas em processar crimes

de lavagem de dinheiro com juiacutezes e procuradores capacitados e com experiecircncia

foram criadas em 2003 no Brasil

Tal Resoluccedilatildeo foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 5172006 onde determinou-se a

criaccedilatildeo de Varas Especializadas para julgar e processar os crimes contra o sistema

financeiro nacional e de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores assim

como crimes praticados por organizaccedilotildees criminosas independentemente de suas

infraccedilotildees terem caraacuteter transnacional

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) informa que ateacute

2012 a regiatildeo que mais enviou comunicaccedilotildees chegando ao assustador nuacutemero de

231 mil comunicaccedilotildees foi a regiatildeo Sudeste Infelizmente nem todas satildeo

11

investigadas ainda mais porque nem sempre uma operaccedilatildeo eacute iliacutecita apenas por ser

considerada suspeita

Com afirma Felipe Bernardes Rodrigues1 natildeo existem fronteiras para essa

espeacutecie de crime pois movimenta milhotildees de doacutelares ao redor do mundo Sem

contar que causa uma certa aversatildeo uma vez que os criminosos pretendem

apreciar impunemente os frutos de suas infraccedilotildees

_______________ 1RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006

12

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

13

De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

14

Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

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Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

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O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

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Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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ldquoSe vis pacem para bellumrdquo

RESUMO

O presente trabalho eacute uma pesquisa bibliograacutefica e tem como principal objetivo a anaacutelise dos vaacuterios aspectos dos crimes de ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores que tambeacutem eacute conhecido por crime de lavagem de dinheiro Seratildeo discutidos paralelamente alguns dos artigos mais importantes da Lei 961398 e da sua nova redaccedilatildeo a Lei 126832012 assim como seu histoacuterico e sua elaboraccedilatildeo e claro sua relevacircncia e seus efeitos Trata tambeacutem sobre assuntos polecircmicos como o princiacutepio da autonomia do delito antecedente assim como as reflexotildees sobre os ldquoindiacutecios suficientesrdquo de prova do delito antecendente Abordaremos sobre a questatildeo acerca do bem juriacutedico tutelado sobre os sujeitos do crime (ativo e passivo) o tipo penal objetivo e tipo penal subjetivo e do objeto material Foram inuacutemeras as fontes utilizadas para concretizar este trabalho de conclusatildeo de curso como livros doutrinaacuterios jurisprudecircncias revistas dos Tribunais sites nacionais e internacionais Palavras-chave Direito Penal Lavagem de Dinheiro Delito Antecedente Lei 126832012 Lei 961398

ABSTRACT

The present study is a research that has the objective of analysing the various aspects of the crime of disguising and concealment of assets rights and values also known as money laundering crime We will also discuss some important articles from Law 961398 and its new writing Law 126832012 as well as its historical and elaboration It also discusses the polemic principle of delictrsquos liberty and the reflexions about enough Several sources were researched in order to accomplish this work including books magazines published by Regional and Federal Courts and national and internacional websites

Key words Criminal Law Money Laundry Previously delicts Law 126832012 Law 961398

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO 12

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 9613199815

4 DA COMPETEcircNCIA 23

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO NA LEGISLACcedilAtildeO BRASILEIRA 25

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO 25

52 SUJEITOS DO CRIME 25

53 TIPO PENAL OBJETIVO 26

54 TIPO PENAL SUBJETIVO 26

55 OBJETO MATERIAL 28

6 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE 30

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 34

REFEREcircNCIAS 36

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

De acordo com Raul Cervini expressatildeo lsquolavagem de dinheirorsquo teve origem

nas lsquomaacutefiasrsquo norte americanas quando na deacutecada de 20 lavanderias foram

montadas com a finalidade de dar aparecircncia de liacutecito ao dinheiro obtido ilicitamente

Inicialmente lavanderias eram usadas como fachada para encobrir lucros

advindos de atividades iliacutecitas Dessa maneira o dinheiro considerado ldquosujordquo

(originaacuterio um crime) era transformado lavado para ter aparecircncia de liacutecito

Em 1982 nos Estados Unidos a expressatildeo money laundering foi usada

juridicamente pela primeira vez em um caso em que se pleiteava a perda de dinheiro

oriundo de traacutefico de entorpecentes

O Financial Action Task Force (FATF) criada pelas Naccedilotildees Unidas para

combater o crime de lavagem de dinheiro apresentou informaccedilotildees do FMI (Fundo

Monetaacuterio Internacional) onde em 1996 de 2 a 5 do Produto Interno Bruto do

mundo inteiro seria dinheiro procedente de atividades iliacutecitas

Poreacutem natildeo se pode afirmar precisamente a quantidade de lsquodinheiro sujorsquo que

circula nos dias de hoje

No Brasil apenas em 1998 a lavagem de dinheiro se tornou crime com a

elaboraccedilatildeo da Lei 961398 Nessa eacutepoca haviam somente sete inqueacuteritos policiais

instaurados para se investigar esse tipo de crime No ano 200 jaacute havia subido para

94 segundo dados da Divisatildeo de Repressatildeo ao Crime Organizado e de Inqueacuteritos

Especiais da Poliacutecia Federal (DCOIE)

Graccedilas a Resoluccedilatildeo n 3142003 Varas Especializadas em processar crimes

de lavagem de dinheiro com juiacutezes e procuradores capacitados e com experiecircncia

foram criadas em 2003 no Brasil

Tal Resoluccedilatildeo foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 5172006 onde determinou-se a

criaccedilatildeo de Varas Especializadas para julgar e processar os crimes contra o sistema

financeiro nacional e de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores assim

como crimes praticados por organizaccedilotildees criminosas independentemente de suas

infraccedilotildees terem caraacuteter transnacional

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) informa que ateacute

2012 a regiatildeo que mais enviou comunicaccedilotildees chegando ao assustador nuacutemero de

231 mil comunicaccedilotildees foi a regiatildeo Sudeste Infelizmente nem todas satildeo

11

investigadas ainda mais porque nem sempre uma operaccedilatildeo eacute iliacutecita apenas por ser

considerada suspeita

Com afirma Felipe Bernardes Rodrigues1 natildeo existem fronteiras para essa

espeacutecie de crime pois movimenta milhotildees de doacutelares ao redor do mundo Sem

contar que causa uma certa aversatildeo uma vez que os criminosos pretendem

apreciar impunemente os frutos de suas infraccedilotildees

_______________ 1RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006

12

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

13

De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

14

Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

31

objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

34

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

36

REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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RESUMO

O presente trabalho eacute uma pesquisa bibliograacutefica e tem como principal objetivo a anaacutelise dos vaacuterios aspectos dos crimes de ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens direitos e valores que tambeacutem eacute conhecido por crime de lavagem de dinheiro Seratildeo discutidos paralelamente alguns dos artigos mais importantes da Lei 961398 e da sua nova redaccedilatildeo a Lei 126832012 assim como seu histoacuterico e sua elaboraccedilatildeo e claro sua relevacircncia e seus efeitos Trata tambeacutem sobre assuntos polecircmicos como o princiacutepio da autonomia do delito antecedente assim como as reflexotildees sobre os ldquoindiacutecios suficientesrdquo de prova do delito antecendente Abordaremos sobre a questatildeo acerca do bem juriacutedico tutelado sobre os sujeitos do crime (ativo e passivo) o tipo penal objetivo e tipo penal subjetivo e do objeto material Foram inuacutemeras as fontes utilizadas para concretizar este trabalho de conclusatildeo de curso como livros doutrinaacuterios jurisprudecircncias revistas dos Tribunais sites nacionais e internacionais Palavras-chave Direito Penal Lavagem de Dinheiro Delito Antecedente Lei 126832012 Lei 961398

ABSTRACT

The present study is a research that has the objective of analysing the various aspects of the crime of disguising and concealment of assets rights and values also known as money laundering crime We will also discuss some important articles from Law 961398 and its new writing Law 126832012 as well as its historical and elaboration It also discusses the polemic principle of delictrsquos liberty and the reflexions about enough Several sources were researched in order to accomplish this work including books magazines published by Regional and Federal Courts and national and internacional websites

Key words Criminal Law Money Laundry Previously delicts Law 126832012 Law 961398

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO 12

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 9613199815

4 DA COMPETEcircNCIA 23

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO NA LEGISLACcedilAtildeO BRASILEIRA 25

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO 25

52 SUJEITOS DO CRIME 25

53 TIPO PENAL OBJETIVO 26

54 TIPO PENAL SUBJETIVO 26

55 OBJETO MATERIAL 28

6 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE 30

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 34

REFEREcircNCIAS 36

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

De acordo com Raul Cervini expressatildeo lsquolavagem de dinheirorsquo teve origem

nas lsquomaacutefiasrsquo norte americanas quando na deacutecada de 20 lavanderias foram

montadas com a finalidade de dar aparecircncia de liacutecito ao dinheiro obtido ilicitamente

Inicialmente lavanderias eram usadas como fachada para encobrir lucros

advindos de atividades iliacutecitas Dessa maneira o dinheiro considerado ldquosujordquo

(originaacuterio um crime) era transformado lavado para ter aparecircncia de liacutecito

Em 1982 nos Estados Unidos a expressatildeo money laundering foi usada

juridicamente pela primeira vez em um caso em que se pleiteava a perda de dinheiro

oriundo de traacutefico de entorpecentes

O Financial Action Task Force (FATF) criada pelas Naccedilotildees Unidas para

combater o crime de lavagem de dinheiro apresentou informaccedilotildees do FMI (Fundo

Monetaacuterio Internacional) onde em 1996 de 2 a 5 do Produto Interno Bruto do

mundo inteiro seria dinheiro procedente de atividades iliacutecitas

Poreacutem natildeo se pode afirmar precisamente a quantidade de lsquodinheiro sujorsquo que

circula nos dias de hoje

No Brasil apenas em 1998 a lavagem de dinheiro se tornou crime com a

elaboraccedilatildeo da Lei 961398 Nessa eacutepoca haviam somente sete inqueacuteritos policiais

instaurados para se investigar esse tipo de crime No ano 200 jaacute havia subido para

94 segundo dados da Divisatildeo de Repressatildeo ao Crime Organizado e de Inqueacuteritos

Especiais da Poliacutecia Federal (DCOIE)

Graccedilas a Resoluccedilatildeo n 3142003 Varas Especializadas em processar crimes

de lavagem de dinheiro com juiacutezes e procuradores capacitados e com experiecircncia

foram criadas em 2003 no Brasil

Tal Resoluccedilatildeo foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 5172006 onde determinou-se a

criaccedilatildeo de Varas Especializadas para julgar e processar os crimes contra o sistema

financeiro nacional e de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores assim

como crimes praticados por organizaccedilotildees criminosas independentemente de suas

infraccedilotildees terem caraacuteter transnacional

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) informa que ateacute

2012 a regiatildeo que mais enviou comunicaccedilotildees chegando ao assustador nuacutemero de

231 mil comunicaccedilotildees foi a regiatildeo Sudeste Infelizmente nem todas satildeo

11

investigadas ainda mais porque nem sempre uma operaccedilatildeo eacute iliacutecita apenas por ser

considerada suspeita

Com afirma Felipe Bernardes Rodrigues1 natildeo existem fronteiras para essa

espeacutecie de crime pois movimenta milhotildees de doacutelares ao redor do mundo Sem

contar que causa uma certa aversatildeo uma vez que os criminosos pretendem

apreciar impunemente os frutos de suas infraccedilotildees

_______________ 1RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006

12

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

13

De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

14

Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

31

objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

32

antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

34

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

36

REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

37

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

ABSTRACT

The present study is a research that has the objective of analysing the various aspects of the crime of disguising and concealment of assets rights and values also known as money laundering crime We will also discuss some important articles from Law 961398 and its new writing Law 126832012 as well as its historical and elaboration It also discusses the polemic principle of delictrsquos liberty and the reflexions about enough Several sources were researched in order to accomplish this work including books magazines published by Regional and Federal Courts and national and internacional websites

Key words Criminal Law Money Laundry Previously delicts Law 126832012 Law 961398

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO 12

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 9613199815

4 DA COMPETEcircNCIA 23

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO NA LEGISLACcedilAtildeO BRASILEIRA 25

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO 25

52 SUJEITOS DO CRIME 25

53 TIPO PENAL OBJETIVO 26

54 TIPO PENAL SUBJETIVO 26

55 OBJETO MATERIAL 28

6 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE 30

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 34

REFEREcircNCIAS 36

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

De acordo com Raul Cervini expressatildeo lsquolavagem de dinheirorsquo teve origem

nas lsquomaacutefiasrsquo norte americanas quando na deacutecada de 20 lavanderias foram

montadas com a finalidade de dar aparecircncia de liacutecito ao dinheiro obtido ilicitamente

Inicialmente lavanderias eram usadas como fachada para encobrir lucros

advindos de atividades iliacutecitas Dessa maneira o dinheiro considerado ldquosujordquo

(originaacuterio um crime) era transformado lavado para ter aparecircncia de liacutecito

Em 1982 nos Estados Unidos a expressatildeo money laundering foi usada

juridicamente pela primeira vez em um caso em que se pleiteava a perda de dinheiro

oriundo de traacutefico de entorpecentes

O Financial Action Task Force (FATF) criada pelas Naccedilotildees Unidas para

combater o crime de lavagem de dinheiro apresentou informaccedilotildees do FMI (Fundo

Monetaacuterio Internacional) onde em 1996 de 2 a 5 do Produto Interno Bruto do

mundo inteiro seria dinheiro procedente de atividades iliacutecitas

Poreacutem natildeo se pode afirmar precisamente a quantidade de lsquodinheiro sujorsquo que

circula nos dias de hoje

No Brasil apenas em 1998 a lavagem de dinheiro se tornou crime com a

elaboraccedilatildeo da Lei 961398 Nessa eacutepoca haviam somente sete inqueacuteritos policiais

instaurados para se investigar esse tipo de crime No ano 200 jaacute havia subido para

94 segundo dados da Divisatildeo de Repressatildeo ao Crime Organizado e de Inqueacuteritos

Especiais da Poliacutecia Federal (DCOIE)

Graccedilas a Resoluccedilatildeo n 3142003 Varas Especializadas em processar crimes

de lavagem de dinheiro com juiacutezes e procuradores capacitados e com experiecircncia

foram criadas em 2003 no Brasil

Tal Resoluccedilatildeo foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 5172006 onde determinou-se a

criaccedilatildeo de Varas Especializadas para julgar e processar os crimes contra o sistema

financeiro nacional e de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores assim

como crimes praticados por organizaccedilotildees criminosas independentemente de suas

infraccedilotildees terem caraacuteter transnacional

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) informa que ateacute

2012 a regiatildeo que mais enviou comunicaccedilotildees chegando ao assustador nuacutemero de

231 mil comunicaccedilotildees foi a regiatildeo Sudeste Infelizmente nem todas satildeo

11

investigadas ainda mais porque nem sempre uma operaccedilatildeo eacute iliacutecita apenas por ser

considerada suspeita

Com afirma Felipe Bernardes Rodrigues1 natildeo existem fronteiras para essa

espeacutecie de crime pois movimenta milhotildees de doacutelares ao redor do mundo Sem

contar que causa uma certa aversatildeo uma vez que os criminosos pretendem

apreciar impunemente os frutos de suas infraccedilotildees

_______________ 1RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006

12

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

13

De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

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Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

36

REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO 12

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 9613199815

4 DA COMPETEcircNCIA 23

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO NA LEGISLACcedilAtildeO BRASILEIRA 25

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO 25

52 SUJEITOS DO CRIME 25

53 TIPO PENAL OBJETIVO 26

54 TIPO PENAL SUBJETIVO 26

55 OBJETO MATERIAL 28

6 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE 30

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 34

REFEREcircNCIAS 36

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

De acordo com Raul Cervini expressatildeo lsquolavagem de dinheirorsquo teve origem

nas lsquomaacutefiasrsquo norte americanas quando na deacutecada de 20 lavanderias foram

montadas com a finalidade de dar aparecircncia de liacutecito ao dinheiro obtido ilicitamente

Inicialmente lavanderias eram usadas como fachada para encobrir lucros

advindos de atividades iliacutecitas Dessa maneira o dinheiro considerado ldquosujordquo

(originaacuterio um crime) era transformado lavado para ter aparecircncia de liacutecito

Em 1982 nos Estados Unidos a expressatildeo money laundering foi usada

juridicamente pela primeira vez em um caso em que se pleiteava a perda de dinheiro

oriundo de traacutefico de entorpecentes

O Financial Action Task Force (FATF) criada pelas Naccedilotildees Unidas para

combater o crime de lavagem de dinheiro apresentou informaccedilotildees do FMI (Fundo

Monetaacuterio Internacional) onde em 1996 de 2 a 5 do Produto Interno Bruto do

mundo inteiro seria dinheiro procedente de atividades iliacutecitas

Poreacutem natildeo se pode afirmar precisamente a quantidade de lsquodinheiro sujorsquo que

circula nos dias de hoje

No Brasil apenas em 1998 a lavagem de dinheiro se tornou crime com a

elaboraccedilatildeo da Lei 961398 Nessa eacutepoca haviam somente sete inqueacuteritos policiais

instaurados para se investigar esse tipo de crime No ano 200 jaacute havia subido para

94 segundo dados da Divisatildeo de Repressatildeo ao Crime Organizado e de Inqueacuteritos

Especiais da Poliacutecia Federal (DCOIE)

Graccedilas a Resoluccedilatildeo n 3142003 Varas Especializadas em processar crimes

de lavagem de dinheiro com juiacutezes e procuradores capacitados e com experiecircncia

foram criadas em 2003 no Brasil

Tal Resoluccedilatildeo foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 5172006 onde determinou-se a

criaccedilatildeo de Varas Especializadas para julgar e processar os crimes contra o sistema

financeiro nacional e de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores assim

como crimes praticados por organizaccedilotildees criminosas independentemente de suas

infraccedilotildees terem caraacuteter transnacional

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) informa que ateacute

2012 a regiatildeo que mais enviou comunicaccedilotildees chegando ao assustador nuacutemero de

231 mil comunicaccedilotildees foi a regiatildeo Sudeste Infelizmente nem todas satildeo

11

investigadas ainda mais porque nem sempre uma operaccedilatildeo eacute iliacutecita apenas por ser

considerada suspeita

Com afirma Felipe Bernardes Rodrigues1 natildeo existem fronteiras para essa

espeacutecie de crime pois movimenta milhotildees de doacutelares ao redor do mundo Sem

contar que causa uma certa aversatildeo uma vez que os criminosos pretendem

apreciar impunemente os frutos de suas infraccedilotildees

_______________ 1RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006

12

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

13

De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

14

Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

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6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

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61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

32

antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

De acordo com Raul Cervini expressatildeo lsquolavagem de dinheirorsquo teve origem

nas lsquomaacutefiasrsquo norte americanas quando na deacutecada de 20 lavanderias foram

montadas com a finalidade de dar aparecircncia de liacutecito ao dinheiro obtido ilicitamente

Inicialmente lavanderias eram usadas como fachada para encobrir lucros

advindos de atividades iliacutecitas Dessa maneira o dinheiro considerado ldquosujordquo

(originaacuterio um crime) era transformado lavado para ter aparecircncia de liacutecito

Em 1982 nos Estados Unidos a expressatildeo money laundering foi usada

juridicamente pela primeira vez em um caso em que se pleiteava a perda de dinheiro

oriundo de traacutefico de entorpecentes

O Financial Action Task Force (FATF) criada pelas Naccedilotildees Unidas para

combater o crime de lavagem de dinheiro apresentou informaccedilotildees do FMI (Fundo

Monetaacuterio Internacional) onde em 1996 de 2 a 5 do Produto Interno Bruto do

mundo inteiro seria dinheiro procedente de atividades iliacutecitas

Poreacutem natildeo se pode afirmar precisamente a quantidade de lsquodinheiro sujorsquo que

circula nos dias de hoje

No Brasil apenas em 1998 a lavagem de dinheiro se tornou crime com a

elaboraccedilatildeo da Lei 961398 Nessa eacutepoca haviam somente sete inqueacuteritos policiais

instaurados para se investigar esse tipo de crime No ano 200 jaacute havia subido para

94 segundo dados da Divisatildeo de Repressatildeo ao Crime Organizado e de Inqueacuteritos

Especiais da Poliacutecia Federal (DCOIE)

Graccedilas a Resoluccedilatildeo n 3142003 Varas Especializadas em processar crimes

de lavagem de dinheiro com juiacutezes e procuradores capacitados e com experiecircncia

foram criadas em 2003 no Brasil

Tal Resoluccedilatildeo foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 5172006 onde determinou-se a

criaccedilatildeo de Varas Especializadas para julgar e processar os crimes contra o sistema

financeiro nacional e de lavagem ou ocultaccedilatildeo de bens direitos e valores assim

como crimes praticados por organizaccedilotildees criminosas independentemente de suas

infraccedilotildees terem caraacuteter transnacional

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) informa que ateacute

2012 a regiatildeo que mais enviou comunicaccedilotildees chegando ao assustador nuacutemero de

231 mil comunicaccedilotildees foi a regiatildeo Sudeste Infelizmente nem todas satildeo

11

investigadas ainda mais porque nem sempre uma operaccedilatildeo eacute iliacutecita apenas por ser

considerada suspeita

Com afirma Felipe Bernardes Rodrigues1 natildeo existem fronteiras para essa

espeacutecie de crime pois movimenta milhotildees de doacutelares ao redor do mundo Sem

contar que causa uma certa aversatildeo uma vez que os criminosos pretendem

apreciar impunemente os frutos de suas infraccedilotildees

_______________ 1RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006

12

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

13

De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

14

Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

31

objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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investigadas ainda mais porque nem sempre uma operaccedilatildeo eacute iliacutecita apenas por ser

considerada suspeita

Com afirma Felipe Bernardes Rodrigues1 natildeo existem fronteiras para essa

espeacutecie de crime pois movimenta milhotildees de doacutelares ao redor do mundo Sem

contar que causa uma certa aversatildeo uma vez que os criminosos pretendem

apreciar impunemente os frutos de suas infraccedilotildees

_______________ 1RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006

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2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

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De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

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Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

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3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

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ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

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Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

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Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

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punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

31

objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

34

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

36

REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

22 CONSIDERACcedilOtildeES GERAIS

A sociedade internacional no intuito de combater a criminalidade de grande

porte como o crime organizado o traacutefico de entorpecentes e delitos contra a ordem

tributaacuteria de forma mais eficaz concluiu que devem ser tomadas medidas que

persigam o lucro decorrentes desses crimes Notaram que o crime de lavagem de

dinheiro estaacute diretamente relacionado a esses crimes

O objetivo entatildeo eacute privar os agentes de atividades criminosas dos produtos e

lucros proveniente de tal atividade

Apesar das inuacutemeras vertentes doutrinas e a proacutepria Lei entendem que

lavagem de dinheiro eacute uma atividade onde desvincula-se a origem iliacutecita de bens

valores ou ateacute mesmo de direitos para que esses possam ser usufruidos Essa

atividade fere gravemente a economia afeta a credibilidade nos negoacutecios juriacutedicos

e de acordo com o Professor Romulo Rhemo Palitot Braga

ldquodesafia a autoridade legiacutetima dos governos nacionais corrompe autoridades e profissionais ameaccedila a estabilidade financeira das naccedilotildees reduz a eficiecircncia dos mercados e viola reiteradamente as normas legais os direitos de propriedade e os direitos humanos

2rdquo BRAGA (2005 p103)

Poreacutem Carlos J Suares Gonzaacuteles acredita que existe um lado positivo da

lavagem de dinheiro como por exemplo a arrecadaccedilatildeo de impostos criando postos

de trabalho

Braga se opotildee a tese de alguns autores como por exemplo a de que a

lavagem de dinheiro pode trazer benefiacutecios econocircmicos arrecadando mais impostos

pela Fazenda Puacuteblica criando novos postos de trabalho e a possibilidade de

desenvolver atividades assistenciais como o estabelecimento de programas de luta

contra a fome

O aludido professor afirma que natildeo se pode esperar efeito positivo advindo de

um lucro iliacutecito

_______________ 2 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p 103

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De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

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Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

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3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

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ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

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Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

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Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

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6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

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61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

32

antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

13

De acordo com o Juiz Criminal Federal Fausto Martin de Sanctis o money

laudering eacute uma evoluccedilatildeo de dois delitos conhecidos a receptaccedilatildeo e o

favorecimento real

Apenas para fins de compreensatildeo analisaremos em fases A primeira fase

considerada colocaccedilatildeo ou inserccedilatildeo (placement) trata da separaccedilatildeo fiacutesica do

dinheiro oriundo do delito antecedente a segunda fase denominada dissimulaccedilatildeo

circulaccedilatildeo ou cobertura (layering) consiste na dissimulaccedilatildeo por parte do agente

quanto a origem iliacutecita dos bens ou valores e por fim a terceira fase conhecida

como integraccedilatildeo ou reciclagem (integration) eacute quando o dinheiro eacute introduzido na

economia legal sendo usado na compra de bens e em negoacutecios liacutecitos

Contudo nem sempre ficam claras podendo natildeo ocorrer todas elas ficando

difiacutecil de distingui-las

No exemplo de Gerson Godinho Costa

ldquoobtida determinada quantia de dinheiro como pagamento de comercializaccedilatildeo de substacircncia entorpecente o traficante remete-a para algum paraiacuteso fiscal (placement) Neste simula um empreacutestimo para investimentos no paiacutes onde se consumou o traacutefico (layering) Repatriados esse valores passa a usaacute-los publicamente ateacute mediante o recolhimento de tributos eventualmente incidentes como se a origem fosse exatamente o contrato simulado (integration)rdquo COSTA

O Tribunal Regional Federal da 1ordf regiatildeo proferiu acoacuterdatildeo explicando as trecircs

fases da lavagem

PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIME DE LAVAGEM DINHEIRO BRANQUEAMENTO CRIME AUTOcircNOMO 1 O crime de lavagem se opera em trecircs fases a) a ocultaccedilatildeo do dinheiro obtido mediante accedilotildees criminosas b) o distanciamento do dinheiro da sua origem criminosa e assim eacute ele manipulado nas bolsas superfaturados nas exportaccedilotildees remetido aos paraiacutesos fiscais - eacute a fase da cobertura tambeacutem chamada de controle da estratificaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e c) a conversatildeo do dinheiro obtido ilicitamente dinheiro dito sujo em capital liacutecito ou seja o dinheiro jaacute lavado - fase da integraccedilatildeo 2 Omissis (HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011)

Atraveacutes do Decreto n 1541991 da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas contra o

Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes e de Substacircncias Psicotroacutepicas conhecida como

14

Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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14

Convenccedilatildeo de Viena o Brasil junto aos paiacuteses signataacuterios no intuito de tentar evitar

tais condutas comprometeu-se a punir e reprimir a lavagem de dinheiro

A seguir em 1992 o Brasil participa da XXII Assembleacuteia-Geral da

Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) aprovando o Regulamento Modelo

sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Traacutefico Iliacutecito de Drogas e Delitos

Conexos Regulamento este elaborado pela CICAD (Comissatildeo Interamericana para

o Controle do Abuso de Drogas)

Portanto em dezembro de 1996o Ministro Chefe da Casa Militar os

Ministros da Justiccedila da Fazenda e das Relaccedilotildees Exteriores elaboraram junto a

Presidecircncia da Repuacuteblica a exposiccedilatildeo de motivos n 692

Junto a OEA o Brasil firmou um Plano de Accedilatildeo que previa que os governos

ratificariam a Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Traacutefico Iliacutecito de Entorpecentes

e Substacircncias Psicotroacutepicas de 1998 e sancionariam como iliacutecito penal a lavagem de

dinheiro gerado por crimes graves

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

19

punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

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Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

15

3 ELABORACcedilAtildeO DA LEI 961398

Acreditando que uma lei que tipificasse como crime a lavagem de dinheiro a

ocultaccedilatildeo de bens valores e direitos provenientes de determinados crimes graves

seria uma ferramenta eficiente contra modalidades de organizaccedilotildees criminosas e

suas conexotildees na data de 03 de marccedilo de 1998 a Lei de Lavagem de Dinheiro foi

promulgada

Contudo os Ministros acreditavam que apesar da fonte principal de lavagem

de dinheiro fosse o narcotraacutefico ainda existiam outras atividades iliacutecitas tatildeo graves

quanto a mencionada ldquoAssim o projeto reserva o novo tipo penal a condutas

relativas a bens direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente de crimes

graves e com caracteriacutesticas transnacionaisrdquo Com isso a Lei 9613 no seu artigo

1ordm inseriu outros crimes graves e de caracteriacutesticas transnacionais no rol taxativo de

delitos antecedentes

Essa Lei se encaixa no chamado movimento de segunda geraccedilatildeo pois natildeo

especifica apenas um crime que seria movimento de primeira geraccedilatildeo poreacutem natildeo eacute

tatildeo ampla a ponto de considerar qualquer infraccedilatildeo penal como delito antecedente

Luiz Regis Prado interpreta como uma lsquoconcepccedilatildeo mistarsquo

Foram tomadas precauccedilotildees para natildeo tornar a lei uma criminalizadora de

infinidades de crimes antecedentes Para o ex Ministro Nelson Jobim foi uma

decisatildeo adequada uma vez que a legislaccedilatildeo brasileira natildeo seria banalizada e se

encaixa no movimento de terceira geraccedilatildeo

ldquoessa foi a opccedilatildeo brasileira a de ficarmos no meio do caminho entre a segunda e a terceira legislaccedilatildeo Por que no Brasil natildeo avanccedilar para a legislaccedilatildeo norte-americana ou francesa de 1996 ndash que satildeo de terceira geraccedilatildeo Aqui no Brasil natildeo se tem experiecircncia alguma e se ressolvecircssemos tipificar como lavagem de dinheiro os valores oriundos de todos os crimes banalizariacuteamos a legislaccedilatildeo brasileira Essa foi uma decisatildeo poliacutetica no sentido gradualista ou seja o compromisso do legislador natildeo era portanto com a consistecircncia retoacuterica e acadecircmica do sistema mas sim com a viabilidade praacutetica de realizaccedilatildeo do proacuteprio sistemardquoJOBIN XXXX

Com a promulgaccedilatildeo da Lei 9613 surgiu uma discussatildeo acerca da autonomia

do delito antecedente Acreditam os Ministros que a obrigatoriedade da separaccedilatildeo

dos crimes se divide em dois aspectos essenciais

16

ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

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Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

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punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

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Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

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4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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ldquoO primeiro de caraacuteter instrumental visto que o procedimento relativo ao iliacutecito antecedente poderaacute estar - as mais das vezes - submetido agrave jurisdiccedilatildeo penal de outro paiacutes e o segundo de natureza material diz respeito agraves exigecircncias de seguranccedila e justiccedila que satildeo frustradas pelas praacuteticas domeacutesticas ou transnacionais de determinados crimes cuja gravidade e reiteraccedilatildeo constituem desafios ao estado contemporacircneordquo

Em relaccedilatildeo agrave peccedila acusatoacuteria do delito de lavagem ela deve ser instruiacuteda

com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedenterdquo podendo o agente ser

ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime baacutesicordquo No

entanto faz-se uma ressalva

ldquoa suficiecircncia dos indiacutecios relativos ao crime antecedente estaacute a autorizar tatildeo somente a denuacutencia devendo ser outro o comportamento em relaccedilatildeo a eventual juiacutezo condenatoacuteriordquo

Corriqueiramente em casos de deacutebitos inferiores a R$ 1000000 (dez mil

reais) inqueacuteritos policiais satildeo arquivados conforme dita a Lei 105222002 em seu

artigo 20 em razatildeo do princiacutepio da insignificacircncia

22 A NOVA LEI DE LAVAGEM

O Projeto de Lei do Senado nordm 209 de 2003 de autoria do Senador Antocircnio

Carlos Valadares daacute nova redaccedilatildeo a dipositivos da Lei 961398 tem por objetivo

tornar mais eficiente a perseguiccedilatildeo penal dos crimes de lavagem de dinheiro

A seguir os fatos mais relevantes da nova redaccedilatildeo

A reforma da lei ocorreu em 9 de julho de 2012 trazendo algumas inovaccedilotildees

como a revogaccedilatildeo do rol de incisos que tratava dos crimes antecedentes

caracterizando entatildeo a referida lei como lei de terceira geraccedilatildeo enatildeo mais como de

segunda geraccedilatildeo

Outra caracteriacutestica estaacute em seu primeiro artigo onde a expressatildeo ldquocrimerdquo foi

substituida por ldquoinfraccedilatildeo penalrdquo ganhando maior abrangecircncia Dessa maneira a

lavagem de dinheiro continua sendo um crime derivado poreacutem depende de uma

infraccedilatildeo penal antecedente que pode tanto ser um crime quanto uma contravenccedilatildeo

penal

17

Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

18

Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

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punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

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Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

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4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

31

objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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Justificando a alteraccedilatildeo de lsquocrimersquo para lsquoinfraccedilatildeo penalrsquo acreditam que

contravenccedilotildees penais como o jogo do bicho as maacutequinas de caccedila-niacutequeis e os

jogos de azar representam ldquouma das maiores chagas da criminalidade nacionalrdquo

De acordo com o artigo 51 do Decreto-Lei n 36881941 o chamado ldquojogo do

bichordquo natildeo eacute tipificado como crime e sim como contravenccedilatildeo penal Mas eacute uma

atividade onde os ldquobicheirosrdquo obtinham um lucro enorme e assim compravam

inuacutemeros bens em nome de outras pessoas os chamados ldquolaranjasrdquo Essa

dissimulaccedilatildeo do dinheiro ldquosujordquopassou a ser punida como lavagem de dinheiro

Quanto a classificaccedilatildeo das geraccedilotildees das leis leis de primeira geraccedilatildeo satildeo

aquelas consideram apenas o crime de traacutefico de drogas como crime antecedente

ao de lavagem de dinheiro As de segunda geraccedilatildeo aleacutem do crime de traacutefico trazem

um rol de crimes antecedentes Caracteriacutestica da Lei 961398 Jaacute a nova lei se

tornou de terceira geraccedilatildeo a partir do momento em que estabeleceu que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente do crime de lavagem de dinheiro Ou seja a

dissimulaccedilatildeo ou a ocultaccedilatildeo de ganhos obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal que

seja pode ser considerada lavagem de dinheiro

O Juiz Federal Sergio Fernando Moro um dos maiores especialistas sobre

lavagem de dinheiro no Brasil se manifestou sobre a mudanccedila

ldquoA eliminaccedilatildeo do rol apresenta vantagens e desvantagens Por um lado facilita a criminalizaccedilatildeo e a persecuccedilatildeo penal de lavadores profissionais ou seja de pessoas que se dedicam profissionalmente agrave lavagem de dinheiro() Por outro lado a eliminaccedilatildeo do rol gera certo risco de vulgarizaccedilatildeo do crime de lavagem o que pode ter duas consequecircncias negativas A primeira um apenamento por crime de lavagem superior agrave sanccedilatildeo prevista para crime entecedente o que eacute de certa forma incoerente A segunda impedir que os recursos disponiacuteveis agrave prevenccedilatildeo e agrave persecuccedilatildeo penal sejam focados na criminalidade mais grave()rdquo CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO (2010p36)

No seu artigo 2ordm nos crimes previstos nesta lei afirma que cabe ao juiz

competente para os crimes previstos nesta Lei a decisatildeo sobre a unidade de

processo e julgamento

Para que seja recebida denuacutencia pelo crime de lavagem de dinheiro a peccedila

ausatoacuteria do delito deve conter no miacutenimo indiacutecios da praacutetica de infraccedilatildeo penal

antecedente Podendo o agente ser ldquopunido ainda que desconhecido ou isento de

pena o autor do crime baacutesico ldquo

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Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

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punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

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Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

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Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

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E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

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4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

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A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

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5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

31

objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

34

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

36

REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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Muitos entendem que o delito de lavagem de dinheiro eacute considerado um crime

derivado parasitaacuterio ou acessoacuterio pois trata-se de delito que pressupotildee que ocorreu

uma infraccedilatildeo penal anteriormente Ou seja faz-se necessaacuterio que o dinheiro ou

lucro dissimulado tenha procedecircncia de algum crime jaacute praticado

De acordo com o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei para que seja caracterizado como

tal delito natildeo se faz necessaacuteria a condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo antecedente Basta

a simples existecircncia de indiacutecios da praacutetica da infraccedilatildeo penal antecedente para que

seja instaurada accedilatildeo penal e a apuraccedilatildeo da ocorrecircncia do delito Lembrando que a

preacutevia puniccedilatildeo do autor eacute indispensaacutevel

Esse eacute o entendimento tambeacutem do STJ e do STF

ldquoA majoritaacuteria jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila eacute no sentido de que a apuraccedilatildeo do crime de lavagem de dinheiro eacute autocircnoma e independe do processamento e da condenaccedilatildeo em crime antecedente sendo necessaacuterio apenas sejam apontados os indiacutecios suficientes da praacutetica do delito anteriorrdquo (HC 137628RJ julgado em 26102010 DJe 17122010) ldquo() 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398() 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem () Na verdade a palavra lsquoindiacuteciorsquo usada na Lei de Lavagem representa uma prova dotada de eficaacutecia persuasiva atenuada (prova semiplena) natildeo sendo apta por si soacute a estabelecer a verdade de um fato ou seja no momento do recebimento da denuacutencia eacute necessaacuterio um iniacutecio de prova que indique a probabilidade de que os bens direitos ou valores ocultados sejam provenientes direta ou indiretamente de um dos crimes antecedentes () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais

2009 p 588590) ()rdquo (HC 93368 Relator Min Luiz Fux Primeira Turma julgado em 09082011)

A nova Lei tambeacutem alterou o $1ordm do artigo 2ordm onde estabeleceu que ainda

que extinta punibilidade da infraccedilatildeo antecedente poderaacute existir o crime de lavagem

de dinheiro Ou seja na Lei anterior natildeo expunha se em caso de extinta a

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punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

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Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

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Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

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E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

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4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

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A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

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5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

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Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

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Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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punibilidade da infraccedilatildeo antecedente se havia crime de lavagem ou natildeo Com a

alteraccedilatildeo ficou expressa a condiccedilatildeo de que independe da extinccedilatildeo da punibilidade

para que seja configurado o delito de lavagem de dinheiro Essa novidade sana

qualquer duacutevida em relaccedilatildeo a esse aspecto

Na Lei de 2012 o artigo 366 do Coacutedigo de Processo Penal continua vaacutelido

poreacutem caso o acusado natildeo compareccedila em juiacutezo nem constitua um advogado este

deve ser citado por edital prosseguindo o feito ateacute o julgamento com a nomeaccedilatildeo

de defensor dativo Garantindo assim que o acusado natildeo seja julgado agrave revelia

A intenccedilatildeo dessa inovaccedilatildeo foi corrigir a falha da Lei 961398 que natildeo

explicava qual procedimento deveria ser aplicado

O artigo 3ordm da Lei de 2012 foi revogado pois aleacute de se encontrar contraacuterio agrave

jurisprudecircncia do STF natildeo estava em harmonia em relaccedilatildeo as alteraccedilotildees

promovidas pelo Coacutedigo de Processo Penal pela Lei 1240311 que trata de fianccedila

A novidade do artigo 4ordm da nova lei eacute que ficou mais clara no que se trata das

medidas assecuratoacuterias quanto a arrecadaccedilatildeo cautelar e confisco dos bens do

acusado Essa eacute uma medida usada no intuito de tentar combater o crime

organizado buscando diminuir o poder econocircmico para que assim tenham menor

possibilidade de continuar delinquindo

Contudo a nova redaccedilatildeo deixa clara que os bens ou objetos a serem

assegurados devem ser instrumentos ou produtos advindos do crime de lavagem de

dinheiro ou das infraccedilotildees penais anteriores

A previsatildeo de que o sequestro deveria ser levantado caso a denuacutencia natildeo

fosse oferecida em 120 dias foi revogada Agora o CPP prevecirc o prazo de 60 dias e

tambeacutem se aplica ao crime de lavagem de dinheiro Na nova redaccedilatildeo existe agora a

possibilidade de alienaccedilatildeo antecipada dos bens que satildeo arrecadados como

garantia

Em se tratando da autonomia para julgar e processar antes o que era

absoluta hoje eacute relativa Ou seja o juiz decidiraacute se eacute conveniente ou natildeo a reuniatildeo

dos processos de acordo com cada caso concreto

Houve uma maior abrangecircncia no artigo 7ordm I no que tange o perdimento de

valores ou bens diretos ou indiretos agrave praacutetica da lavagem inclusive os utilizados no

pagamento da fianccedila Na redaccedilatildeo anterior soacute fazia menccedilatildeo aos bens diretos

Essa perdiccedilatildeo que antes era exclusiva em favor da Uniatildeo agora pode ser em

favor do Estado Vai depender da competecircncia de cada caso concreto

20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

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Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

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A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

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Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

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Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

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6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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20

Foi acrescentado o paraacutegrafo primeiro e segundo no artigo 7 O primeiro daacute

poder agrave Uniatildeo e aos Estados para que esses disciplinem para onde os bens ou

valores declarados como perdidos sejam encaminhados

Contudo a proacutepria Lei jaacute assegura que os bens sejam utilizados pelos oacutergatildeos

encarregados Seja COAF para prevenccedilatildeo varas especializadas para julgamento

Poliacutecia Federal para combate ou Ministeacuterio puacuteblico para accedilatildeo penal

Natildeo haacute o que mencionar no paraacutegrafo segundo jaacute que estaacute muito claro

Uma grande marco veio junto agrave nova redaccedilatildeo Inclui agora em seu artigo 9ordm a

previsatildeo de que pessoas fiacutesicas tambeacutem estatildeo sujeitas agrave obrigaccedilatildeo dos artigos 10 e

11 Artigos que disciplinam atividades relacionadas a movimentaccedilatildeo de recursos

financeiros tiacutetulos ou valores imobiliaacuterios Modificou os incisos I X e XII para

abranger ainda mais pessoas que se encaixassem em tais atividades E ainda

acrescentou seis incisos incluindo novas hipoacuteteses de pessoas obrigadas a prestar

tais informaccedilotildees

Fato muito interessante jaacute que a amplitude do inciso XIV inclui como

obrigando o advogado ou escritoacuterio de advocacia que tenha prestado assessoria a

algum cliente que tenha constituiacutedo um offshore em paiacutes estrangeiro Mas como

prestar tal informaccedilatildeo uma vez que o advogado deve manter o sigilo profissional O

que deve prevalecer O Direito do Estado em prevenir crimes ou o direito ao sigilo

profissional

Levando em consideraccedilatildeo que tais questionamentos vao surtir inumeras

discussoes para evitar transaccedilotildees financeiras irregulares para os chamados

ldquoparaiacutesos fiscaisrdquo toda trasferecircncia internacional e saques em espeacutecie deveratildeo ser

previamente comunicados agrave instituiccedilatildeo financeira seguindo termos e condiccedilotildees

estabelecidos pelo Banco Central do Brasil Eacute o que determina o artigo 11-A da nova

lei que antes natildeo exisitia

Declara o artigo 12 em seu inciso II que a multa pecuniaacuteria variaacutevel antes era

natildeo superior a R$ 20000000 (duzentos mil reais) e agora natildeo pode ser superior a

R$ 2000000000 (vinte milhotildees de reais) Isso porque o crescimento econocircmico-----

Depois de 2012 forma incluidos mais oacutergatildeos para integrar o COAF sendo

eles a Agecircncia de Inteligecircncia (ABIN) Ministeacuterio da Justiccedila e Ministeacuterio da

Previdecircncia Social

A nova lei ganhou um novo capiacutetulo o das Disposiccedilotildees Gerais

acrescentando cinco artigos

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

31

objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

32

antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

34

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

36

REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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38

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

21

Art 17-A Aplicam-se subsidiariamente as disposiccedilotildees do Decreto-Lei n 3689 de 3 de outubro de 1941 (Coacutedigo de Processo Penal) no que natildeo forem incompatiacuteveis com esta Lei

Em caso de lacunas ou omissotildees far-se-aacute uso do CPP para crimes de

lavagem de dinheiro

Art 17-B A autoridade policial e o Ministeacuterio Puacuteblico teratildeo acesso exclusivamente aos dados cadastrais do investigado que informam qualificaccedilatildeo pessoal filiaccedilatildeo e endereccedilo independentemente de autorizaccedilatildeo judicial mantidos pela Justiccedila Eleitoral pelas empresas telefocircnicas pelas instituiccedilotildees financeiras pelos provedores de internet e pelas administradoras de cartatildeo de creacutedito

Simplificando para maior agilidade membros do MP e delegados de Poliacutecia

poderatildeo requisitar de empresas de telefonia cartatildeo de creacutedito instituiccedilotildees

financeiras sem autorizaccedilatildeo judicial dados cadastrais do investigado que

contenham qualificaccedilotildees pessoais e endereccedilo

Anterior a esse dispositivo era necessaacuterio requerer tais informaccedilotildees mediante

autorizaccedilatildeo judicial e ainda estar sujeita a deferimento ou natildeo Causando assim

transtornos e atrasos agraves investigaccedilotildees

Art 17-C Os encaminhamentos das instituiccedilotildees financeiras e tributaacuterias em resposta agraves ordens judiciais de quebra ou transferecircncia de sigilo deveratildeo ser sempre que determinado em meio informaacutetico e apresentados em arquivos que possibilitem a migraccedilatildeo de informaccedilotildees para os autos do processo sem redigitaccedilatildeo

Essa determinaccedilatildeo foi muito coerente pois a facilidade que os meios

eletrocircnicos proporcionam eacute de conhecimento geral

Art 17-D Em caso de indiciamento de servidor puacuteblico este seraacute afastado sem prejuiacutezo de remuneraccedilatildeo e demais direitos previstos em lei ateacute que o juiz competente autorize em decisatildeo fundamentada o seu retorno

Indiciamento eacute ato de Delegado que aponta algueacutem como possiacutevel suspeito

de um delito e este natildeo tem conhecimento de que estaacute sendo investigado E como

no inqueacuterito policial segundo maior entendimento natildeo existe nem contraditoacuterio nem

ampla defesa a pessoa natildeo dispotildee de qualquer meio de se defender

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

23

4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

22

E por fim

Art 17-E A Secretaria da Receita Federal do Brasil conservaraacute os

dados fiscais dos contribuintes pelo prazo miacutenimo de 5 (cinco) anos

contado a partir do iniacutecio do exerciacutecio seguinte ao da declaraccedilatildeo de renda

respectiva ou ao do pagamento do tributo (Lei 126832012)

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4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

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Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

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Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

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Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

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4 DA COMPETEcircNCIA

Por motivos oacutebvios o Estado se vecirc obrigado a distribuir as lides que lhe satildeo

apresentadas pois natildeo existe condiccedilotildees de um uacutenico oacutergatildeo vencer tamanha

demanda Dessa forma a competecircncia eacute delimitada pela natureza dos litiacutegios da

funccedilatildeo de cada oacutergatildeo do territoacuterio e das funccedilotildees de cada um Assim determina a

Carta Magna

Mas uma duacutevida paira sob nossas cabeccedilas qual o juiacutezo competente para

julgar o crime de lavagem de dinheiro se natildeo foi praticado contra a Uniatildeo ou se sua

infraccedilatildeo penal antecedente natildeo ser relativa agrave Justiccedila Federal

Aparentemente de acordo com a Lei a competecircncia passa a ser da Justiccedila

Estadual restando agrave Justiccedila Federal as hipoacutetese previstas nas aliacuteneas lsquoarsquo e ldquobrdquo do

artigo 2ordm inciso III

Mas o processo e julgamento de tal crime independem do processo e

julgamento das infraccedilotildees antecedentes mesmo que praticados em outro paiacutes

Dessa maneira cabe ao juiz da vara onde tramitar o crime de lavagem definir se haacute

necessidade de tranferiacute-lo a outras varas Essa inovaccedilatildeo somente reforccedila o que jaacute

se aplicava ao CPP

Muitos entendem que na verdade a competecircncia deveria ser Federal jaacute que o

bem juriacutedico tutelado eacute supraindividual E no caso da Justiccedila Estadual eacute residual

Todavia Luiz Flaacutevio Gomes ressalta

ldquona eventualidade de que o bem juriacutedico protegido natildeo seja a ordem socioeconocircmica (eacute de se supor a existecircncia de crimes de lavagem de pequena monta que natildeo chegam a colocar em risco o bem juriacutedico supraindividual) entatildeo deve prevalecer a literalidade do dispositivo em regra a competecircncia eacute da justiccedila estadual e excepecionalmente da justiccedila federalrdquoGOMES

Marco Antonio de Barros acredita que foi a melhor soluccedilatildeo encontrada jaacute que a

Justiccedila Federal natildeo possui Varas Judiciais instaladas em todas as Comarcas dos

Estados brasileiros

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A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

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5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

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Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

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Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

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Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

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6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

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61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

24

A resoluccedilatildeo nordm 20 de 2003 criada pelo Tribunal Regional Federal da 4ordf

Regiatildeo especializou trecircs varas a 1ordf Vara Criminal de Porto Alegre a Vara Criminal

de Florianoacutepolis e a 2ordf Vara Criminal de Curitiba

25

5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

34

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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5 TIPO PENAL DE LAVAGEM DE DINHEIRO

51 BEM JURIacuteDICO TUTELADO

Esse eacute um tema um tanto quanto divergente mas o entendimento majoritaacuterio

segue o raciociacutenio adotado pelo STF e STJ que afirma que o crime de lavagem de

dinheiro eacute pluriofensivo poisrdquo em um primeiro plano o crime de lavagem atinge a

administraccedilatildeo da justiccedila por tornar difiacutecil a recuperaccedilatildeo dos produtos do crime e

secundariamente o sistema financeiro nacional e a ordem econocircmico-financeira satildeo

atingidos Esta posiccedilatildeo foi exteriorizada por Dias Toffoli Ministro do STF na Accedilatildeo

Penal n 470 (caso Mensalatildeo) que afirma ldquoO crime de lavagem eacute pluriofensivo eacute

uma proteccedilatildeo a toda a sociedade de uma maneira geralrdquo

52 SUJEITOS DO CRIME

Como dita o art 2ordm sect1ordm da Lei para oferecer denuacutencia natildeo eacute necessaacuteirio que o

sujeito ativo do crime de lavagem seja o mesmo da infraccedilatildeo antecedente Natildeo

necessita sequer que seja conhecido jaacute que esse tipo de atividade costuma ser

terceirizada

Segundo Dr Seacutergio Moro essa independecircncia eacute de suma importacircncia para a

eficaacutecia da lei tendo em vista que raramente o sujeito ativo da lavagem eacute o mesmo

do crime antecedente Sendo muitas vezes desconhecida a procedecircncia criminosa e

ateacute de qual atividade criminosa especiacutefica se trata

521 SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa seja um terceiro ou o proacuteprio agente autor ou partiacutecipe da

infraccedilatildeo antecedente pode ser o sujeito ativo jaacute que a qualificaccedilatildeo natildeo estaacute

expressa na lei Natildeo existe relaccedilatildeo entre qualificaccedilatildeo do autor e conduta tiacutepica

Muito menos exigecircncia que o infrator seja o mesmo sujeito que cometeu o crime

antecedente

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Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

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Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

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Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

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6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

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61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

34

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

36

REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

40

LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

41

RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

26

Ou seja o autor da lavagem natildeo precisa necessariamente ser o mesmo autor

da infraccedilatildeo antecedente que resultou em bens a serem convertidos em valores

iliacutecitos

522 SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo eacute o Estado Ou melhor passa a ser a coletividade a partir do

momento que fere a ordem econocircmico-financeira e demais interesses

TIPO PENAL OBJETIVO

Afirma Cezar Roberto Bitencourt

ldquotipo eacute um conjunto dos elementos do fato puniacutevel descrito na lei penal O tipo exerce uma funccedilatildeo limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes [] Tipo eacute um modelo abstrato que descreve um comportamento proibidordquo

Portanto o tipo penal diferente de tipicidade trata de um comportamento

humano iliacutecito cuja lei comine uma pena

O tipo penal objetivo eacute composto por um sujeito ativo uma accedilatildeo tiacutepica e um

resultado relacionados entre si obtendo um resultado

O delito em questatildeo refere-se a um crime de mera conduta ou seja

prescinde de um resultado para seu aperfeiccediloamento Com isso o resultado jaacute fica

caracterizado no delito antecedente razatildeo pela qual a ldquolavagemrdquo eacute um delito do tipo

ldquocomunicadordquo

Como afirma Antocircnio Seacutergio de Moraes Pitombo os tipos penais objetivos do

crime de lavagem estatildeo dispostos nos incisos do art 1ordm definindo os verbos como

cometimento dos delitos ocultar ou dissimular converter adquirir ou transferir e

utilizar os bens

53 TIPO PENAL SUBJETIVO

Jaacute o tipo penal subjetivo refere-se agrave vontade livre e consciente do agente em

praticar determinado crime

27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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27

Vale ressaltar que natildeo cabe a modalidade culposa nessa espeacutecie de crime

De acordo com o Coacutedigo Penal em seu artigo 18 II o crime culposo ocorre

quando haacute conformaccedilatildeo do tipo objetivo natildeo desejada pelo agente que produziu o

resultado por negligecircncia imprudecircncia ou imperiacutecia Jaacute o dolo eventual cabe a quem

assume o risco de produzir o resultado

Desse modo verifica-se que haacute a necessidade do sujeito ativo da lavagem ter

conhecimento que os bens direitos ou valores satildeo originaacuterios de iliacutecitos penais

Nas palavras de Pitombo

ldquoo elemento cognitivo na lavagem de dinheiro apresenta dois planos diferentes conhecer a origem criminosa dos bens e ter a possibilidade de entender a ilicitude da ocultaccedilatildeo da dissimulaccedilatildeo e da integraccedilatildeo de tais agrave

economiardquo PITOMBO

Para o autor aleacutem do agente precisar saber que os bens satildeo oriundos de

crime antecedente ele tambeacutem precisa querer praticar a accedilatildeo tiacutepica

Dr Seacutergio Moro acredita que haacute uma falha na legislaccedilatildeo brasileira pois natildeo

estaacute expressa a obrigatoriedade do agente do crime de lavagem ter conhecimento

especiacutefico do crime antecedente assim como suas circunstacircnciasPrincipalmente

porque costuma ser um serviccedilo ldquoterceirizadordquo

Seguindo o raciociacutenio de Seacutergio Pitombo e de Cesar Antonio da Silva eacute

indispensaacutevel que o a gente tenha conhecimento que os bens sejam oriundos de

algum dos crimes antecedentes

Zaffaroni afirma que dolo eventual ocorre quando o agente natildeo quer

diretamente a realizaccedilatildeo do tipo mas sabe que eacute possiacutevel e ateacute provaacutevel ocorrer

assumindo o risco da produccedilatildeo do resultado

Para Nelson Jobim se coubesse dolo eventual no crime de lavagem o sujeito

ativo deveria responsabilizado mesmo que natildeo tivesse conhecimento da origem

iliacutecita dos bens ldquoTinha a condiccedilatildeo de saber natildeo quis saber e fingiu natildeo saberrdquo

Fica claro que ainda haacute divergecircncia quanto a aceitaccedilatildeo de dolo eventual nos

crimes de lavagem de dinheiro

Para Pitombo e Barros natildeo eacute possiacutevel a configuraccedilatildeo do dolo eventual no

delito em questatildeo Diferente do que acreditam William Terra de Oliveira Fausto

Martin De Sanctis Marcelo Mendroni e Rodolfo Tigre Maia

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

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Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

41

RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

28

Os norte americanos tecircm uma teoria baseada em sua jurisprudecircncia chamada

de willful blindness ou conscious avoidance doctrine ou seja a doutrina da lsquocegueira

deliberadarsquo

Moro cita dois requisitos necessaacuterios conhecimento do agente quanto a

procedecircncia iliacutecita dos bens e indiferenccedila quanto ao reconhecimento da origem

Para esclarecer

ldquoEacute admissiacutevel o dolo eventual no crime de lavagem de dinheiro especificamente para o tipo do caput do art 1ordm da Lei 961398 respondendo portanto o agente que mesmo sem conhecimento pleno assume o risco de que os bens direitos e valores envolvidos sejam provenientes de atividade criminosa em espeacutecie de ldquoignoracircncia deliberadardquo na esteira da willful blindness doctrine norte-americanardquoMORO

54 OBJETO MATERIAL

O objeto material no crime de lavagem natildeo eacute apenas o produto direto

proveniente dos delitos anteriores mas tambeacutem as vaacuterias transformaccedilotildees que esse

dinheiro possa vir a sofrer durante o processo Satildeo os bens valores e direitos

originaacuterios previstos em lei

29

6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

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Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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6 O DELITO ANTECEDENTE

Esses bens direitos ou valores devem ser provenientes de uma infraccedilatildeo penal

Por se enquadrar no movimento de terceira geraccedilatildeo a nova redaccedilatildeo da Lei deu

maior amplitude no que tange os delitos acessoacuterios ao crime de lavagem de

dinheiro

A principal caracteriacutestica do crime de lavagem eacute dar aos bens obtidos a

aparecircncia de liacutecito Para isso se faz necessaacuteria a praacutetica de outro crime que resulte

em bens valores ou direitos que consequentemente satildeo iliacutecitos

Criando portanto nexo de causalidade entre o delito antecedente e a

dissimulaccedilatildeo Natildeo configurado delito anterior fica impossiacutevel ser caracterizada a

lavagem

Sendo assim o Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo decide

EMENTA LAVAGEM DE DINHEIRO LEI 961398 NEXO DE ORIGEM CRIME DE TRAacuteFICO DOLO MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS 1 Para a configuraccedilatildeo dos crimes de lavagem de dinheiro (money laundering) ou lavagem de instrumentos monetaacuterios (laundering of monetrary instruments) exige-se um nexo de origem entre o crime anterior e o agir ocultando ou dissimulando a natureza origem localizaccedilatildeo disposiccedilatildeo movimentaccedilatildeo de (no caso) dinheiro proveniente de determinados crimes (na hipoacutetese traacutefico de entorpecentes) 2 A conduta de lavar dinheiro estaacute composta por vaacuterias fases vaacuterios atos Haacute uma complexidade de comportamentos geralmente ligados e fracionados direcionados agrave finalidade uacutenica de converter os valores e bens iliacutecitos em capitais ou bens plenamente disponiacuteveis por seus titulares 3 0s atos praticados pelos criminosos nos processos de lavagem de dinheiro encontram-se cada vez mais complexos e sofisticados Ao fazer a interpretaccedilatildeo do delito no caso concreto deve o julgador estar atento para as diversas fases pelas quais passa o delito em espeacutecie 4 Apelaccedilatildeo parcialmente provida (TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011) (Grifo nosso)

A Lei de 1998 foi muito criticada principalmente por elencar crimes que natildeo

estavam bem definidos nas leis brasileiras como organizaccedilatildeo criminosa e

terrorismo E deixou de fora crimes e contravenccedilotildees como ldquojogo do bichordquo

receptaccedilatildeo e sonegaccedilatildeo fisca delitos estes de grande impacto nacional

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

36

REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

37

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

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40

LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

41

RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

30

61 DO PRINCIacutePIO DA AUTONOMIA DO DELITO ANTECEDENTE

O princiacutepio da autonomia do delito antecedente surgiu a partir do referido art

2ordm inc II da Lei de Lavagem de 1998

ldquoA autonomia do crime de lavagem significa que pode haver inclusive

condenaccedilatildeo por crime de lavagem independentemente de condenaccedilatildeo ou mesmo

da existecircncia de processo pelo crime antecedenterdquo 3

Esse princiacutepio surgiu para tentar facilitar a persecuccedilatildeo penal haja vista que

inuacutemeras vezes o delito antecedente eacute praticado fora do paiacutes e se fosse necessaacuterio

esperar o seu julgamento o procedimento criminal pela lavagem de dinheiro seria

prejudicado Arriscando inclusive prescrever e tornar-se extinto

O STF proferiu em sede de habeas corpus decisatildeo na qual esclarece o

princiacutepio da autonomia na lavagem de dinheiro4

Ementa PENAL E PROCESSO PENAL HABEAS CORPUS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO LEI Nordm 961398 ART 1ordm VI E VII CC ARTIGO 1ordm sect 1ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 2ordm II CC ARTIGO 1ordm sect 4ordm AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA NAtildeO VERIFICADA SUPERVENIEcircNCIA DA SENTENCcedilA QUE PREJUDICA A ANAacuteLISE DA AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA INOCORREcircNCIA DA INEacutePCIA DA DENUacuteNCIA 1- 4 Omissis 5 O processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro eacute regido pelo Princiacutepio da Autonomia natildeo se exigindo para que a denuacutencia que imputa ao reacuteu o delito de lavagem de dinheiro seja considera apta prova concreta da ocorrecircncia de uma das infraccedilotildees penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art 1ordm do referido diploma legal bastando a existecircncia de elementos indiciaacuterios de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas 6 A autonomia do crime de lavagem de dinheiro viabiliza inclusive a condenaccedilatildeo independente da existecircncia de processo pelo crime antecedente 7 Eacute o que dispotildee o artigo 2ordm II e sect 1ordm da Lei nordm 961398 ldquoO processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei II - independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior ainda que praticados em outro paiacutes sect 1ordm A denuacutencia seraacute instruiacuteda com indiacutecios suficientes da existecircncia do crime antecedente sendo puniacuteveis os fatos previstos nesta Lei ainda que desconhecido ou isento de pena o autor daquele crimerdquo 8 A doutrina do tema assenta ldquoDa proacutepria redaccedilatildeo do dispositivo depreende-se que eacute suficiente a demonstraccedilatildeo de indiacutecios da existecircncia do crime antecedente sendo desnecessaacuteria a indicaccedilatildeo da sua autoria Portanto a autoria ignorada ou desconhecida do crime antecedente natildeo constitui oacutebice ao ajuizamento da accedilatildeo pelo crime de lavagem ()Natildeo eacute necessaacuterio descrever pormenorizadamente a conduta delituosa relativa ao crime antecedente que pode inclusive sequer ser

_______________ 3MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008

4BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 10 abr 2013

31

objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

32

antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

33

Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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objeto desse processo (art 2ordm II da Lei 961398) mas se afigura indispensaacutevel ao menos a sua descriccedilatildeo resumida evitando-se eventual arguumliccedilatildeo de ineacutepcia da peccedila acusatoacuteria ou ateacute mesmo trancamento da accedilatildeo penal por meio de habeas corpus () De se ver que no momento do recebimento da denuacutencia a lei exige indiacutecios suficientes e natildeo uma certeza absoluta quanto agrave existecircncia do crime antecedenterdquo (in Luiz Flaacutevio Gomes - Legislaccedilatildeo Criminal Especial Coordenador Luiz Flaacutevio Gomes e Rogeacuterio Sanches Cunha Lavagem ou Ocultaccedilatildeo de Bens ndash Renato Brasileiro Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2009 p 588590) (HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030)

O Supremo Tribunal Federal considera tal princiacutepio como absoluto pois soacute se

exige prova para a denuacutencia e para a sentenccedila condenatoacuteria que seja suficiente a

natildeo causar eventual ineacutepcia da denuacutencia e trancamento da accedilatildeo atraceacutes de um

habeas corpus

Marco Antonio de Barros5 afirma que a autonomia dos processos se faz

necessaacuteria pois frequentemente o delito antecedente aguarda jurisdiccedilatildeo diversa do

delito de lavagem o que dificulta a persecutio criminis in judicio Jaacute que muitas

vezes o delito antecedente por ser praticado no exterior natildeo estaacute sujeito agraves leis do

Brasil Mas esse princiacutepio deve ser relativo pois sua independecircncia natildeo eacute absoluta

A exposiccedilatildeo de motivos n 692 prega a obrigatoriedade de separaccedilatildeo entre os

processos

Entretanto Barros afirma

ldquoquando for possiacutevel e nenhuma oacutebice legal existir a reuniatildeo dos processos deve ser determinada para efeito de possibilitar a ediccedilatildeo de uma soluccedilatildeo

final mais justa e adequada aos efeitosrdquoBARROS 6

De fato natildeo haacute motivos para natildeo unir os processos se ambos ocorreram em

territoacuterio nacional

Em relaccedilatildeo agrave obrigatoriedade de reuniatildeo dos processos o TRF da 3ordf Regiatildeo

deciciu

EMENTA PROCESSUAL PENAL CONFLITO NEGATIVO DE COMPETEcircNCIA TRAacuteFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIMES FINANCEIROS VARA ESPECIALIZADA CONEXAtildeO PROBATOacuteRIA INEXISTEcircNCIA CONFLITO PROCEDENTE I - A acessoriedade material existente entre o crime de lavagem e o seu

_______________ 5BARROS Marco Antonio de Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

6BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 p 75

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

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SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

35

Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

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BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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antecedente in casu o traacutefico internacional natildeo justifica por si soacute a reuniatildeo dos feitos O fato de uma investigaccedilatildeo desdobrar-se em outros inqueacuteritos ou accedilotildees penais natildeo significa de pronto que exista conexatildeo probatoacuteria a justificar o julgamento conjunto dos feitos Haacute de se demonstrar as circunstacircncias especiacuteficas que influenciariam no julgamento isto eacute haacute que se apontar um liame de dependecircncia reciacuteproca entre as investigaccedilotildeesaccedilotildees que justifique a submissatildeo ao comando de um uacutenico juiz II - No caso vertente natildeo restou demonstrada a dependecircncia entre as investigaccedilotildees pois natildeo se indicou nada que pudesse denotar que a prova do crime de traacutefico influenciaria na prova do delito de lavagem e afins III - Natildeo haacute portanto conexatildeo a justificar neste momento a reuniatildeo dos feitos Nada impede que futuramente com o aprofundamento das investigaccedilotildees ou mesmo com eventual oferecimento de denuacutencia definindo objetivamente os fatos criminosos constate-se soacutelidos elementos aptos ao reconhecimento de conexatildeo e aiacute sim justificada e recomendada a reuniatildeo dos feitos para tracircmite e julgamento conjunto por um uacutenico magistrado a fim de evitar a inseguranccedila juriacutedica e decisotildees contraditoacuterias IV - Conflito julgado procedente para declarar a competecircncia do Juiacutezo suscitado(TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012)

7

Mesmo com a disposiccedilatildeo legal ainda existem doutrinadores brasileiros

contraacuterios a essa independecircncia

Para Mendroni8 o Estado deve zelar pela coerecircncia entre as decisotildees

judiciais portanto caso seja instaurado procedimento criminal pelo delito

antecedente tendo em vista a aplicaccedilatildeo no que couber da analogia o processo

deveria ser suspenso conforme inteligecircncia dos artigos 92 a 94 do Coacutedigo de

Processo Penal9 bem como do artigo 265 inc IV ldquoardquo do Coacutedigo de Processo Civil

Compreende tambeacutem de acordo com o Decreto da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas contra o Crime Organizado em seu no art 6ordm 2 ldquoerdquo que

se assim o exigirem os princiacutepios fundamentais do direito interno de um Estado Parte poderaacute estabelecer-se que as infraccedilotildees enunciadas no paraacutegrafo 1 do presente Artigo natildeo sejam aplicaacuteveis agraves pessoas que tenham cometido a infraccedilatildeo principal

10

O paraacutegrafo 1ordm faz referecircncia ao crime de lavagem de dinheiro

_______________ 7BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012

8MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

9BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

10MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

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Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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Cesar Antonio da Silva acredita que para que seja configurado tal crime se

faz necessaacuteria a praacutetica de um dos crimes antecedentes e sendo crime accedilatildeo tiacutepica

antijuriacutedica e culpaacutevel o princiacutepio da autonomia conforme disposto na Lei eacute uma

grave violaccedilatildeo aos princiacutepios adotados pelo sistema juriacutedico brasileiro11

ldquoNesse sentido dogmaacutetico em que eacute concebido o crime (accedilatildeo tiacutepica antijuriacutedica e culpaacutevel) natildeo se aceita o crime antecedente em sua funccedilatildeo baacutesica como elementar como condiccedilatildeo imprescindiacutevel agrave formalizaccedilatildeo do crime de ldquolavagem de dinheirordquo com todos os seus demais requisitos significa grave violaccedilatildeo aos princiacutepios da modera teoria garantista []Nessa perspectiva da forma como os crimes antecedentes foram colocados para servir de base aos crimes de ldquolavagem de dinheirordquo sem um provimento condenatoacuterio do autor do crime antecedente natildeo haacute como se obter a certeza necessaacuteria agrave perfeita configuraccedilatildeo do crime de tipo diferido cuja realizaccedilatildeo somente vai-se verificar ante uma conduta criminosa anteriorrdquoSILVA

Dessa forma a criacutetica feita por Silva eacute de que o princiacutepio da autonomia deixou

de observar o conceito de crime adotado pelo sistema juriacutedico-penal brasileiro pois

somente se tem conhecimento acerca de uma conduta tiacutepica iliacutecita e culpaacutevel

atraveacutes de um processo criminal acompanhado de um inqueacuterito policial e com

sentenccedila condenatoacuteria

Cesar Antonio da Silva ressalta12

ldquoo legislador natildeo pode esperar que a teoria geral do delito e os proacuteprios princiacutepios que sustentam os direitos fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo venham adequar-se agrave legislaccedilatildeo que produz[]rdquoSILVA

Entende portanto que dessa maneira natildeo se pode configurar lavagem se

natildeo confirmada a relaccedilatildeo dos bens valores ou direitos com senteccedila condenatoacuteria

_______________ 11

SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

12SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 108

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

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Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Diante do exposto percebemos que assim como a Lei 961398 a Lei

126832012 continua a provocar inuacutemeras discussotildees no meio juriacutedico Pois trata-

se de um delito complexo muitas vezes dificultando uma resposta raacutepida pois

varia de acordo com o caso concreto

De fato natildeo podemos ficar dependetes apenas da interpretaccedilatildeo dos

ministros magistrados e desembargadores pois por diversas vezes divergem em

suas decisotildees causando discoacuterdias significativas entre os Tribunais

Em outras palavras a ocultaccedilatildeo ou dissimulaccedilatildeo dos ganhos obtidos com

qualquer infraccedilatildeo penal pode configurar lavagem de dinheiro

Vimos tambeacutem que a referida lei eacute de terceira geraccedilatildeo jaacute que qualquer

iliacutecito penal pode ser antecedente da lavagem de dinheiro assim como ocultaccedilatildeo

ou dissimulaccedilatildeo dos lucros obtidos com qualquer infraccedilatildeo penal tambeacutem pode

assim ser configurado

Em se tratando da existecircncia de ldquoindiacutecios suficientesrdquo ambas as leis tratam

da ocorrecircncia do delito antecedente seja para embasar a denuacutencia ou a sentenccedila

condenatoacuteria Mas o conceito de indiacutecios eacute muito abstrato e pode facilmente ser

manipulado tanto pela acusaccedilatildeo quanto pela defesa Sendo que natildeo se pode

exigir condenaccedilatildeo preacutevia da infraccedilatildeo penal antecedente para que seja iniciada a

accedilatildeo penal pelo crime de lavagem de dinheiroPor isso natildeo eacute necessaacuterio que o

mesmo juiacutezo julgue a infraccedilatildeo penal antecedente e o crime de lavagem de

dinheiro nem que haja condenaccedilatildeo preacutevia por infraccedilotildees penais antecedentes

Existindo indiacutecios de sua praacutetica jaacute basta

A questatildeo de que ocultaccedilatildeo e dissimulaccedilatildeo de bens provenientes de outro

crime nem sempre se configura como lavagem de dinheiro e apenas exaurimento

de um delito antecedente qualquer

Para que se determine a diferenccedila entre eles eacute necessaacuterio muita atenccedilatildeo

conhecimento e bom senso principalmente na hora do julgamento

O delito de lavagem eacute digno de tamanha atenccedilatildeo pois trata-se de um

crime de grandes proporccedilotildees e afeta a sociedade como um todo Repercutindo de

maneira negativa uma vez que quem age dentro da lei se sente violado

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Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

experiecircncias a fim de facilitar a prevenccedilatildeo e a repressatildeo desse crime moderno

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRASIL Planalto Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituiC3A7aohtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL5869compiladahtmgt Acesso em 23 maio 2012 BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Varas Especializadas em lavagem de dinheiro chamam a atenccedilatildeo de organismos internacionais Disponiacutevel em lt httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=368amptmptexto=73775gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Congresso Senado Projeto de Lei do Senado nordm 2009 de 2003Disponiacutevel em lt httpwwwsenadogovbratividademateriagetPDFaspt=39727amptp=1gt Acesso em 12 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Comunicaccedilotildees recebidas por UF Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudoestatisticascomunicacoes-recebidas-por-ufgt Acesso em 5 maio 2012 BRASIL Conselho de Controle de Atividades Financeiras Exposiccedilatildeo de Motivos da Lei 9613 Disponiacutevel em lt httpswwwcoaffazendagovbrconteudosobre-lavagem-de-dinheiro-1exposicao-de-motivos-da-lei-9613gt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 94958 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 09122008 DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009 EMENT VOL-02347-04 PP-00734 RTJ VOL-00210-03 PP-01186 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+949582ENUME2E+OU+HC+949582EACMS2E29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 92279 Relator(a) Min JOAQUIM BARBOSA Segunda Turma julgado em 24062008 DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-02 PP-00294 RT v 97 n 878 2008 p 520-523 Disponiacutevel em lt httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28lavagem+dinheiro+exaurimento29ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 8 maio 2012 BRASIL Supremo Tribunal Federal HC 93368 Relator(a) Min LUIZ FUX Primeira Turma julgado em 09082011 DJe-163 DIVULG 24-08-2011 PUBLIC 25-08-2011 EMENT VOL-02573-01 PP-00030Disponiacutevel em lt

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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Dessa forma o Brasil assim como os ourtos paiacuteses envolvidos devem

manter nessa guerra

O Brasil assim como nos outros paiacuteses lsquoO crime natildeo compensarsquo Assim

para por em praacutetica essa velha frase o Estado Brasileiro e os organismos

internacionacionais devem concatenar suas ideacuteias e seus objetivos trocando

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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httpwwwstfjusbrportaljurisprudencialistarJurisprudenciaasps1=28HC+9336829ampbase=baseAcordaosgt Acesso em 29 abr 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo ACR 0003404-6819994013900PA Rel Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes Conv Juiacuteza Federal Rosimayre Gonccedilalves De Carvalho (conv) Quarta Turmae-DJF1 p163 de 04102010 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo TRF1 ACR 0000736-8720054014200RR Terceira Turma Relator TOURINHO NETO DE 11112011 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 1ordf Regiatildeo HC 0017706-4520114010000MG Rel Juiz Tourinho Neto Terceira Turmae-DJF1 p de 06052011 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf1jusbrdefaulthtmgt Acesso em 22 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 3ordf Regiatildeo TRF3 CJ - CONFLITO DE JURISDICcedilAtildeO 0025018-1820114030000SP Relator DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARAtildeES Primeira Seccedilatildeo TRF3 CJ1 DATA21032012 Disponiacutevel em lthttpwwwtrf3jusbrNXTGatewaydllf=templatesampfn=defaulthtmampvid=trf3etrf3vegt Acesso em 13 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 5009615-5920104047200 Seacutetima Turma Relator p Acoacuterdatildeo Maacutercio Antocircnio Rocha DE 15022012 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=4515495amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20057200003727-1 Seacutetima Turma Relator Tadaaqui Hirose DE 24062011 Disponiacutevel em lthttpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100052762-7 Oitava Turma Relator Luiz Fernando Wowk Penteado DE 17112011 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisainteiro_teorphporgao=1ampdocumento=3762085amptermosPesquisados=lavagem|dinheirogt Acesso em 1 maio 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20037100057804-0 Oitava Turma Relator Artur Ceacutesar de Souza DE 29072010 Disponiacutevel em lt httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 15 maio 2012 BRASIL Justiccedila Federal da 4ordf Regiatildeo TRF4 ACR 20067000020042-0 Oitava Turma Relator Paulo Afonso Brum Vaz DE 26112008 Disponiacutevel em lt

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httpjurisprudenciatrf4jusbrpesquisaresultado_pesquisaphpgt Acesso em 16 mar 2012 BRASIL Tribunal Regional Federal da 5ordf Regiatildeo PROCESSO 200481000167760 ACR6176CE DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO) Terceira Turma JULGAMENTO 02022012 PUBLICACcedilAtildeO DJE 23022012 - Paacutegina 293 Disponiacutevel em lt httpwwwtrf5jusbrJurisprudenciaJurisServletop=exibiramptipo=1gt Acesso em 14 maio 2012 BRUNO Aniacutebal apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003

BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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REFEREcircNCIAS

AMBOS Kai Lavagem de Dinheiro e o Direito Penal traduccedilatildeo notas e comentaacuterios sob a perspectiva brasileira de Pablo Rodrigo Alflen da Silva Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2007 ARAS Vladimir Criacuteticas ao Projeto da nova Lei de Lavagem de Dinheiro Disponiacutevel emlt httpgtldpgrmpfgovbrartigosartigos-docsartigo-nova-lei-lavagem-dinheiropdfgt Acesso em 12 maio 2012 BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 BARROS Marco Antonio Lavagem de dinheiro implicaccedilotildees penais processuais e administrativas anaacutelise sistemaacutetica da lei n 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Satildeo Paulo Oliveira Mendes 1998 BITENCOURT Cezar Roberto Tratado de Direito Penal parte geral 9 ed ndash Satildeo Paulo Saraiva 2004 vol 1 BITENCOURT Cezar Roberto Erro de tipo amp erro de proibiccedilatildeo uma anaacutelise comparativa 5 ed Satildeo Paulo Saraiva 2010 BRAGA Romulo Rhemo Palitot Aspectos poliacutetico-criminais sobre branqueio de capitais Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia n 165 2005 p99-106 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Uma anaacutelise criacutetica da lei dos crimes de lavagem de dinheiro Brasiacutelia CJF 2002 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Comissatildeo de Estudos sobre crime de ldquolavagemrdquo de dinheiro ndash Brasiacutelia CJF 2003 BRASIL Conselho da Justiccedila Federal Disponiacutevel em lthttpwww2cjfjusbrjspuibitstreamhandle12343322RES20314-2003pdfsequence=1gt Acesso em 6 maio 2012 BRASIL Planalto Lei 9613 de 3 de marccedilo de 1998 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL9613htmgt Acesso em 15 abr 2012 BRASIL Lei nordm 10522 de 19 de julho de 2002 Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis2002L10522htmgt Acesso em 13 mar 2012 BRASIL Planalto Decreto-Lei nordm 3689 de 3 de outubro de 1941 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel3689compiladohtmgt Acesso em 16 mar 2012

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BRUNONI Nivaldo Princiacutepio da culpabilidade consideraccedilotildees ndash Curitiba Juruaacute 2008 CERVINI Rauacutel OLIVEIRA William Terra de GOMES Luiz Flaacutevio Lei de lavagem de capitais Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1998 COSTA Gerson Godinho O tipo objetivo da lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 29-54 DAacuteVILA Faacutebio Roberto A certeza do crime antecedente como elementar do tipo nos crimes de lavagem de capitais Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo v7 n79 p 4-5 jun 1999 DE SANCTIS Fausto Martin Combate agrave lavagem de dinheiro teoria e praacutetica Campinas SP Millennium 2008 FINANCIAL ACTION TASK FORCE How much money is laudered per year Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgpagesfaqmoneylaunderinggt Acesso em 5 marco 2013 FINANCIAL ACTION TASK FORCE Mutual Evaluation Report Disponiacutevel em lt httpwwwfatf-gafiorgmediafatfdocumentsreportsmerMER20Brazil20fullpdfgt Acesso em 16 fevereiro 2013 JOBIM Nelson A lei 961398 e seus aspectos In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Brasiacutelia Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal KEHDI Andreacute Pires de Andrade O projeto de alteraccedilatildeo agrave lei de lavagem (PLS 2092003) e o art 366 do CPP Boletim IBCCRIM Satildeo Paulo ano 16 n 186 p 7 maio 2008

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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LINHARES Soacutelon Ciacutecero O branqueamento de capitais a prova indiciaacuteria e os princiacutepios da legalidade e ampla defesa Revista de Direito Econocircmico e Socioambiental Curitiba v1 n1 p65-80 janjun2010 MAIA Rodolfo Trigre Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime) anotaccedilotildees agraves disposiccedilotildees criminais da Lei n 961398 Satildeo Paulo Malheiros 1999 MENDES Gilmar Aspectos penais e processuais penas da lavagem de dinheiro In SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE LAVAGEM DE DINHEIRO 2000 Anais Brasiacutelia Conselho da Justiccedila Federal Centro de Estudos Judiciaacuterios 2000 p32 MENDRONI Marcelo Batlouni Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Atlas 2006 MOREIRA Alexandre Magno Fernandes Dos crimes antecedentes agrave lavagem de dinheiro 2006 Disponiacutevel em lt httpwwwdireitonetcombrartigosexibir2431Dos-crimes-antecedentes-a-lavagem-de-dinheirogt Acesso em 13 fev 2012 MORO Seacutergio Fernando Autonomia do crime de lavagem e prova indiciaacuteria Brasiacutelia Revista CEJ Ano XII n 41 p 11-14 abrjun 2008 MORO Seacutergio Fernando Crime de lavagem de dinheiro Satildeo Paulo Saraiva 2010 MORO Seacutergio Fernando Sobre o elemento subjetivo no crime de lavagem de dinheiro In BALTAZAR JUNIOR Joseacute Paulo MORO Sergio Fernando Lavagem de dinheiro comentaacuterios agrave lei pelos juiacutezes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 91-111 MOURA Maria Thereza Rocha de 1994 apud PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 p 128 PITOMBO Antocircnio Seacutergio A de Moraes Lavagem de dinheiro a tipicidade do crime antecedente Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2003 PRADO Luiz Regis Delito de Lavagem de Capitais Um estudo introdutoacuterio Satildeo Paulo Revista dos Tribunais Satildeo Paulo v 96 n 860 p 433-455 jun 2007 RIOS Rodrigo Sanchez Conflito Aparente de Normas e Direito Penal Econocircmico Palestra Realizada na Unicuritiba em 21 set 2011 ROMANI NETO Aldo A Lavagem de Dinheiro como mero exaurimento da conduta antecedente Escola de Direito de Satildeo Paulo GVLaw 2010 Disponiacutevel em lt httpbibliotecadigitalfgvbrdspacehandle104387697gt Acesso em 20 mar 2012

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RODRIGUES Felipe Bernardes A repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e as garantias constitucionais tendecircncias atuais Revista do Tribunal Regional Federal ndash Primeira Regiatildeo Brasiacutelia v 18 n 5 p 97-126 maio 2006 SILVA Cesar Antonio da Lavagem de dinheiro uma nova perspectiva penal Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 httpstaticspatualidadesdodireitocombrlfgfiles201208Lei-12683-altera-a-Lei-de-Lavagem-de-Dinheiropdf

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