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AVALIAÇÃO DO EFEITO FARMACOLÓGICO DO CREME PRODUZIDO COM EXTRATO DAS FOLHAS DE ERVA MATE (Ilex paraguariensis A St. Hillare), EM SUTURAS DE VASECTOMIA EXECUTADA EM BEZERROS PHARMACOLOGICAL EVALUATIONS AND EFFECT OF THE CREME PRODUZE WITH EXTRACT FROM THE LEAVES OF YERBA MATE (Ilex paraguariensis A St. Hillares), IN VASECTOMY SUTURES PERFOMED IN CALVES Schayana de Oliveira Maciel¹ e Roseli Aparecida de Mello² ¹ Acadêmico do Curso Superior de Tecnologia em Bioprocessos e Biotecnologia, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba-Pr, Brasil. ² Mestre em Processos Biotecnológicos. Professora. Orientadora e Adjunto da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba-Pr, Brasil. Endereço eletrônico para correspondência: Roseli Aparecida de Mello, [email protected].

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AVALIAÇÃO DO EFEITO FARMACOLÓGICO DO CREME PRODUZIDO COM

EXTRATO DAS FOLHAS DE ERVA MATE (Ilex paraguariensis A St. Hillare), EM

SUTURAS DE VASECTOMIA EXECUTADA EM BEZERROS

PHARMACOLOGICAL EVALUATIONS AND EFFECT OF THE CREME PRODUZE

WITH EXTRACT FROM THE LEAVES OF YERBA MATE (Ilex paraguariensis A St.

Hillares), IN VASECTOMY SUTURES PERFOMED IN CALVES

Schayana de Oliveira Maciel¹ e Roseli Aparecida de Mello²

¹ Acadêmico do Curso Superior de Tecnologia em Bioprocessos e Biotecnologia,

Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba-Pr, Brasil.

² Mestre em Processos Biotecnológicos. Professora. Orientadora e Adjunto da Faculdade de

Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba-Pr, Brasil.

Endereço eletrônico para correspondência: Roseli Aparecida de Mello, [email protected].

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Resumo

A uma grande variedade de plantas com um imenso potencial medicinal agregado. Das quais

a planta erva mate possui inúmeras propriedades farmacológicas e é considerada uma planta

quase que completa como efeitos medicinais, isso se da em sua maioria aos seus compostos

bioativos. Dentre seus benefícios está a atividade cicatrizante, onde pesquisas tem-se

intensificado no tratamento com produtos naturais e atividade antimicrobiana, que através de

experimentos realizados “in vitro” dentro da Universidade nos trouxeram resultados

satisfatórios. Estudos indicam que em incisões cirúrgicas de animais, mesmo com assepsia no

pós operatório, podem ocorrer infecções provocadas por microrganismos. Com isso, apartir

destes dados foi proposto e realizado um teste “in vivo”, onde o objetivo do presente trabalho

foi verificar a ação cicatrizante e antimicrobiana do creme produzido com extrato bruto

hidroalcoólico com folhas in natura da erva mate em suturas de vasectomia de bezerros em

comparação ao uso do Bactrovet (produtos controle).

Palavra-chave: ação cicatrizante; ação antimicrobiana; suturas; deiscência de sutura.

Summary

A wide variety of plants with an immense potential medicinal aggregate. Of which the yerba

mate plant possess many pharmacological properties and is considered a plant almost

complete as medicinal purposes, this is mostly to all its composed bio-actives. Among its

benefits is the cicatrisive activity, where research has been intensified in the treatment with

natural products and antimicrobial activity, which through experiments performed "in vitro"

inside the University, brought us satisfactory results. Studies indicate that in surgical incisions

of animals, even with aseptic post-operative infections may occur caused by micro-organisms.

With this, since these data was proposed and carried out a test "in vivo", where the aim of the

present study was to verify the action scarring and antimicrobial cream produced with crude

extract with Sanitizer hydro alcoholic gel sheets in nature yerba mate in sutures of vasectomy

calves compared to using Bactrovet (control products).

Keyword: cicatrisive action; antimicrobial action; sutures; suture dehiscence.

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1. INTRODUÇÃO

O Brasil abriga mais de 55 mil espécies de plantas nativas, aproximadamente um quarto

de todas as espécies conhecidas. Destas, 10 mil podem ser consideradas aromáticas e úteis

para a saúde humana e animal com o uso medicinal. Alem de serem usados na indústria

química, alimentícia e farmacêutica, entre outras. Segundo pesquisas, o mercado mundial de

produtos farmacêuticos, cosméticos e agroquímicos soma aproximadamente U$ 400 bilhões

ao ano, o que dá a dimensão da enorme oportunidade existente para os produtos brasileiros. O

Brasil detém mais de 20% da biodiversidade mundial das espécies vegetais, animais e de

micro-organismos. A biota brasileira - total de espécies conhecidas e não conhecidas foi

estimada entre 1,4 a 2,4 milhões de espécies. Apesar do crescente interesse internacional pela

megabiodiversidade brasileira, sabemos que ela por si só não é garantia de crescimento

econômico, tampouco de desenvolvimento sustentável. No entanto, espera-se que o país, além

de importante exportador de matéria-prima, se converta no protagonista de uma nova

economia mundial, a da biotecnologia.

A utilização das plantas como uso medicinal é antiga, bem como a preocupação na cura de

doenças ao longo da historia da humanidade e até os dias atuais. Isso porque as plantas

apresentam propriedades terapêuticas ou toxicas, onde vêm adquirindo fundamental

importância na medicina popular (ALONSO, 1999). No entanto, muitas plantas são utilizadas

sem nenhuma evidência científica de sua eficácia terapêutica (CAMARGO, 2010). Por este

fato inúmeras plantas e seus derivados com grande potencial medicinal vêm sendo estudado,

mas ainda é um grande desafio para as áreas de pesquisas envolvidas.

Segundo Barbosa et al. (2009) o própolis esta ligada a varias ações com efeito medicinal,

entre elas nas atuações relacionadas a cicatrização e ação antimicrobiana. Já a planta erva

mate é rica em compostos bioativos (HECK e MEJIA 2007), que dentre eles esta os

alcalóides, cafeína, teobromina e teofilina, taninos, flavonóides e várias saponinas, onde a

maior concentração de cafeína encontra-se em suas folhas (LORENZI e MATOS, 2002). Suas

propriedades farmacológicas têm sido muito estuda e demonstram ter ações terapêuticas

descritas pela medicina popular para o tratamento de artrites, reumatismo, doenças hepáticas e

gastrointestinais, diurético, além de ser estimulante do sistema nervoso central, também

possuem funções biológicas, tais como ação antioxidante, antiinflamatória, imunomodulatória

e anticancerígena (CAMARGO, 2010). Com isso, esta planta acaba sendo uma planta quase

que completa como efeitos medicinais.

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Da Croce e Floss (1999), explica que a planta erva mate (Ilex paraguariensis A St. Hil.)

pertence à família Aquifoliaceae, que esta representada por aproximadamente 600 espécies,

sendo que 400 pertencem ao gênero Ilex. Atualmente no Brasil são encontradas

aproximadamente 60 espécies (paraguariensis) desta família (CANSIAN, 2008). É

considerada cosmopolita, ocorrendo principalmente no Sul da America e com grande

importância na área de bebidas por infusão (CARVALHO, 1994). Um dos primeiros estudos

brasileiros com a erva-mate descrita por Joaquim Monteiro Caminhoá (1877 e 1884) mostrou

que sua composição química é complexa, o que acaba sendo alvo de novos estudos e grandes

descobertas.

A erva mate possui muitas propriedades farmacológicas já descritas anteriormente,

destacando a atividade antiinflamatória, cicatrizante, antioxidante e diurética (DICKEL et al.,

2007 e GONÇALVES et al., 2005), alem do potencial antimicrobiano

(HONGPATTARAKERE & JONHSON, 1999) estudado em trabalhos científicos realizados

in vitro, trazendo assim muitas perspectivas.

De acordo com Roush (1996) nas incisões ocasionadas nas cirurgias em animais, mesmo

com assepsia no pós operatório, pode ocorrer infecções provocadas por microrganismos.

Fatores estes que se não tratados levam a um quadro onde a cicatrização não acontece ou até

mesmo a disseminação do agente infeccioso por todo o organismo, levando-o ao

comprometimento do organismo ou a sua morte.

Com relação à cicatrização de feridas, que é um processo fisiológico que envolve reações

químicas, físicas e biológicas. O tratamento tem-se intensificado em pesquisas com produtos

naturais no auxilio de cicatrizações, um exemplo é o óleo de copaíba (CORRÊA, 1984;

EURIDES & MAZZANTI, 1995) e a papaina (SANCHEZ NETO et al., 1993). Com isso, as

propriedades farmacodinâmicas dos produtos naturais vêm sendo testadas, com intuito de

auxiliar no processo de reparação tecidual (REYNOLDS & DWECK, 1999, KILIÇ, 2005).

Vários estudos utilizando fitoterápicos demonstram efeitos terapêuticos em animais, entre

eles podemos destacar o uso da erva mate (Ilex paraguariensis), pois a mesma demonstra

potencial farmacológico para uso em humanos e animais, com este intuito foi proposto um

experimento utilizando uma formulação à base de creme produzido com extrato bruto

hidroalcoólico das folhas in natura da erva mate, onde este foi utilizado nas suturas do saco

escrotal de bezerros resultantes de uma vasectomia, para determinação de uma possível ação

cicatrizante e antimicrobiana da planta em teste “in vivo” e assim contribuir com os estudos

na procura de produtos mais eficientes que não agridam o animal e nem o meio ambiente.

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2. MATERIAL E MÉTODO

2.1. Obtenção do extrato

O extrato bruto hidroalcoólico das folhas in natura da erva mate (Ilex paraguariensis

A St. Hil.), foi produzido em trabalhos anteriores de TCCs, por alunos do curso de

Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). As folhas de erva

mate foram colhidas de um erval nativo da região de Imbituva do estado do Paraná. As

mesmas passaram pelo processo de extração dos compostos descrito na farmacopéia brasileira

e em seguida realizou-se a liofilização até obtenção do extrato bruto em pó.

2.2. Preparo do creme

O creme foi produzido no laboratório de Farmacotécnica da UTP com auxilio da

Professora, Mestre e Farmacêutica Neiva Cristina Lubi, onde produziu-se 49,35 gramas de

produto. A formulação seguiu descrições da Farmacotécnica, que foi elaborado com a

incorporação da fase oleosa (6% de Cera Lanete, 2,5% de Óleo Animal e 0,025% de Nipazol)

com a fase aquosa (0,05% de Nipagin, 2,5% de Propilenoglicol e 38 gramas de água destilada

(q.s.p.)). Em seguida foram adicionados 6% do extrato bruto hidroalcoólico das folhas in

natura de erva mate para obtenção do produto final.

2.3. Animais

Com a colaboração da Professora e Medica Veterinária Elza Maria Galvão Ciffoni da

UTP, que nos cedeu os animais bem como o espaço para o experimento. Foram utilizados

dois Bezerros denominados conforme brinco de identificação como 06 com 123 kg e 05 com

128 kg, da espécie dos bovinos, ambos da raça Holandês Preto e Branco (HPB) que habitam a

Fazenda Pé da Serra da UTP, localizada na região de São José dos Pinhais, Pr. Na clínica da

fazenda, estes animais passaram pelo procedimento cirúrgico de vasectomia descrito por

STEINACH (1927) e depois por THARP (1955), realizado pelos Médicos Veterinários

Residentes Liedge Camila e Fernando Augusto Sella e pelos alunos do 9° período do curso de

Medicina Veterinária (2012/1) da UTP.

2.4. Aplicação dos produtos

Logo após o procedimento cirúrgico as suturas foram avaliadas para determinar seus

aspectos e tamanhos iniciais, onde fizemos o uso de um paquímetro e visualização a olho nu

para posteriormente à aplicação dos produtos. Como foram realizadas duas suturas em cada

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animal, na visualização foi observada a deiscência da sutura do lado direito em ambos e que

esse rompimento da sutura no animal 05 ficou mais exposta. Ambos os animais submeteram-

se a aplicação do creme com erva mate produzido e Bactrovet® prata spray Koing 500 ml

(Larvicida, Bernicida, Repelente, Cicatrizante, Antisséptico e Hemostático que é usualmente

utilizado no pós operatório). Nas suturas onde ocorreu a deiscência foi administrado o creme

com erva mate e as suturas sem rompimento o Bactrovet®. No animal 05 foram

administrados os produtos tópicos duas vezes ao dia e no animal 06 uma vez ao dia. O

experimento ocorreu durante vinte e cinco dias, que subdividiram-se em duas etapas, a

primeira com onze dias de aplicação dos produtos tópicos junto com medicamentos injetáveis

(antibiótico Tylan 200 6 ml e antiinflamatório Flunamine 3 ml, ) administrados uma vez ao

dia durante sete dias e a segunda com treze dias, onde houve apenas a limpeza do local com

Clorexidina 2% por cinco dias e aplicação dos produtos tópicos. As medições e avaliações das

suturas foram realizadas três vezes a cada etapa. Todos os procedimentos e aplicações dos

antibióticos e produtos tópicos foram executados e acompanhados pelo Medico Veterinário

Residente Lucas Lleco e a Técnica de veterinária Maria Aparecida Weidlich Souza.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este estudo avaliou o possível efeito cicatrizante e antimicrobiano do creme com erva

mate em procedimento de vasectomia em bezerros. Os animais utilizados neste estudo foram

animais do plantel de animais da Fazenda Escola do curso de Medicina Veterinária da

Universidade Tuiuti do Paraná.

Uma vez escolhido o local e animal, optou-se em realizar o teste em suturas de vasectomia

que consiste na remoção bilateral do segmento de cada ducto deferente localizado no saco

escrotal do órgão reprodutor do animal. Este procedimento é comumente utilizado em aula

prática com a turma de Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Tuiuti, otimizando assim

o uso dos animais em experimentos “in vivo”. Para o experimento foi utilizado dois animais

do agropastoril, da espécie dos bovinos (chamados neste trabalho de animal 5 e animal 6,

conforme o brinco de identificação de cada um). Para o teste, o creme com erva mate foi

administrado em suturas após o procedimento cirúrgico de vasectomia. O procedimento

cirúrgico foi realizado em ambos os lados da bolsa escrotal dos animais, onde teve a

participação dos alunos de medicina veterinária, que realizaram a cirurgia no lado direito do

saco escrotal e dos residentes de medicina veterinária que realizaram no lado esquerdo em

ambos os animais.

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Ao iniciar o experimento, foi analisada a deiscência das suturas no lado direito do saco

escrotal de ambos os animais, ou seja, ocorreu a abertura das suturas cirúrgicas e/ou ruptura

dos pontos, havendo a separação das bordas dos tecidos que foram unidos por pontos. Este

fato pode ter ocorrido por interferências técnicas.

Também foi observado que no animal 05 com a ruptura dos pontos, a sutura ficou

mais exposta, sendo determinado através desta observação que o creme com erva mate e o

Bactrovet® neste animal seriam aplicados duas vezes ao dia, já no animal 06 apenas uma vez

ao dia. Também decidiu-se que nas deiscências das suturas (lado direito do saco escrotal)

seria aplicado o creme de erva mate e no lado esquerdo o Bactrovet® (medicamento

comercial) nas suturas sem seu rompimento (lado esquerdo do saco escrotal) dos animais.

Com isso iniciou-se o experimento, onde seguiram-se os parâmetros de aplicação dos

produtos injetáveis e tópicos, analises e medições, conforme demonstrado na tabela 1.

Mesmo com aplicação dos produtos tópicos e injetáveis, no quarto dia no animal 05

foi detectado o aparecimento de secreção o que indicava um foco inflamatório, já no animal

06 este apareceu no décimo primeiro dia, conforme demonstra a figura 07. É possível

observar nas figuras 01, 07 e 08 que houve um processo inflamatório no lado direito de ambos

os animais, comprometendo o experimento nos animais. Esta inflamação pode ter ocorrido

por problemas técnicos no momento da cirurgia (assepsia incorreta do animal e cirurgiões,

despreparo, falta de cuidados e indumentária correta, entre outros) e até mesmo pela falta de

cuidados no pós operatório (local adequado de instalação dos animais, manuseio das suturas,

entre outros). Estes produtos que foram administrados não indicam que não ocorrerá

inflamação ou infecção, pois se é necessário que todo processo seja bem executado para um

experimento satisfatório. E mesmo na ferida limpa o pico da resposta inflamatória pode

aparecer em cerca de três a quatro dias (BANKS, 1992) e fatores celulares são responsáveis

por sua eliminação.

Na ocorrência do foco inflamatório nas deiscências das suturas e sem sua diminuição,

foi necessário realizar um novo procedimento com critérios diferentes para obtenção de

resultados. Esta nova etapa deu inicio no décimo segundo dia, onde foi realizado somente a

limpeza do local das suturas abertas e aplicação dos produtos tópicos uma vez ao dia em

ambos os animais. Nesta limpeza foi utilizado o Clorexidina 2% (anti-séptico químico, com

ação antifúngica e bactericida, elimina todas as bactérias e inibe sua proliferação) por quatro

dias, produto usado na medicina veterinária para limpeza de regiões infeccionadas ou com

foco inflamatório e no pré e pós operatório. Apartir desta segunda etapa começou-se uma

nova avaliação para determinar os possíveis efeitos farmacológicos do creme com erva mate.

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Com a realização de uma nova etapa foi possível verificar e analisar, que a aplicação

do creme com erva mate nas deiscências das suturas foi eficaz, ocorrendo com mais rapidez à

cicatrização por segunda intenção (figura 02, 03, 08, 09, 10 e 11), esta que ocorreu devido à

ruptura dos pontos, não sendo possível a junção do tecido implicando no reparo tecidual.

A cicatrização por segunda intenção acontece quando ocorre à perda de tecido das

feridas e as extremidades das peles ficam distantes umas das outras, sendo necessária

formação de tecido de granulação até que a contração e epitelização aconteçam. Esta

cicatrização é complicada e demorada, sem os cuidados específicos podem ocorrer defeitos

cicatriciais. É importante ressaltar que uma série de agentes tópicos, tais como anti-sépticos,

antibióticos e curativos exercem algum efeito no local da ferida, sendo em alguns casos tão

adversos que prejudicam a cicatrização.

Nas suturas sem o rompimento dos pontos com uso do Bactrovet®, a cicatrização foi

normal, ocorrendo dentro dos quinze aos vinte e dois dias. Através das medições e

visualizações realizadas nas suturas com uso de Bactrovet® e o creme com erva mate,

puderam ser observadas diferenças e alterações, conforme descrito na tabela 1 e nas figuras

abaixo:

Tabela 01: Avaliação do efeito cicatrizante e antimicrobiano do creme com erva mate com

relação ao Bactrovet®, administrados nas suturas de vasectomia dos bezerros.

Bactrovet® Creme com

erva mate

Bactrovet® Creme com

erva mate

1° 40 mm/ 0% 40 mm/ 0% 21 mm/ 0% 70 mm/ 0%

8° 34 mm/ 15% 39 mm/ 2,5% 15 mm/ 28,5% 50 mm/ 28,5%

ETAPA

em dias 11° 30 mm/ 25% 13 mm/ 38% 47 mm/ 33%

14° 23 mm/ 42,5% 10 mm/ 52,3% 47 mm/ 32,8%

18° 18 mm/ 55% 21 mm/ 47,5% 8 mm/ 61,9% 45 mm/ 35,7%

20° 14 mm/ 65% 12 mm/ 70% 7 mm/ 66,6% 22 mm/ 68,5%

ETAPA

em dias

25° 0 mm/ 100% 0 mm/ 100% 0 mm/ 100% 0 mm/ 100%

Legenda: a tabela mostra as medições realizadas em três dias de cada etapa nas suturas com uso dos produtos

tópicos Bactrovet® e o creme com erva mate nos dois animais. Os resultados estão expressos em milímetros

convertidos em porcentagem. No 11° e 14° dia do experimento no bezerro 05, não foi possível realizar as

medições pela presença do foco inflamatório, inviabilizando a medição da sutura.

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As figuras abaixo mostram com detalhes e especificam os dados mais importantes do

experimento e descritos neste trabalho.

Figura 01: 8° dia/ animal 05 Figura 02: 13° dia/ animal 05

Fig. 03: 20° dia/ animal 05/ sutura uso do Figura 04: 25° dia/ animal 05

creme com erva mate

Figura 5: 1° dia/ animal 06 Figura 06: 8° dia/ animal 06

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Figura 07: 11° dia/ animal 06/ sutura uso do Figura 08: 14° dia/ animal06/ sutura uso do

creme com erva mate creme com erva mate

Figura 09: 18° dia/ animal 06/ sutura uso Figura 10: 20° dia/ animal 06/ sutura uso do

do creme com erva mate creme com erva mate

Figura 11: 25° dia/ animal 06

O processo de cicatrização ocorre para restaurar integridade anatômica e funcional do

tecido. Isso se da à resposta tecidual à lesão, processo de reparação tecidual ao qual é divido,

de modo geral, em três fases: 1° a inflamação, 2° formação do tecido de granulação com

deposição de matriz extracelular e 3° remodelação.

Este processo não é um processo degenerativo, nem neoplásico, logo se enquadra no

processo inflamatório, que quando iniciado é apenas um mecanismo de defesa contra um

agente agressor, simultaneamente, também se dá início aos mecanismos desencadeadores de

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cicatrização e regeneração, quer dizer, a inflamação vai evoluir de forma distinta, no que diz

respeito à regeneração e à cicatrização (Schimitt, 2006). E se a lesão tecidual for extensa,

também pode ocorrer sua reparação por cicatrização, dependendo da intensidade da agressão.

Conforme demonstrou a tabela e as figuras, na primeira etapa não pode ser observada

ação farmacológica esperada do creme com erva mate em comparação ao Bactrovet utilizado

normalmente em suturas e feridas de animais, devido ao comprometimento do experimento

causado pelo foco inflamatório, mostrando somente ação significativa para o Bactrovet. Na

segunda etapa com a limpeza e aplicação dos produtos tópicos nos animais, pode ser

observado e determinado que o creme com erva mate possui propriedades de cicatrização

positiva em deiscência de suturas. Com aplicação do Bactrovet o efeito foi o esperado para

este produto.

Com relação à atividade antimicrobiana, na primeira etapa não pode ser observado

nenhuma ação do creme com erva mate pelo fato do aparecimento da inflamação, mas no uso

do Bactrovet foi positivo, sem o aparecimento de infecção ou inflamação. Já na segunda

etapa, houve uma regressão no processo inflamatório no local onde foi utilizado o creme com

erva mate, sendo possível propor que houve uma ação antimicrobiana, inibindo microbiota

oportunista bem como um elevado processo de cicatrização, sem qualquer vestígio de

infecção. No lado onde foi utilizado o Bactrovet, como cicatrizante sua reação foi idêntica à

primeira etapa. Ambos os produtos tópicos tiveram ação positivas esperadas. Com os

resultados encontrados é possível propor que o creme com erva mate demonstrou um possível

potencial de ação cicatrizante e antimicrobiano neste experimento. Pois somente com a

limpeza do local da sutura de ambos os animais e aplicação do creme com erva mate, não

surgiu qualquer foco de infecção ou inflamação. Com a aplicação do Bactrovet foi observado

ação esperada para este produto.

Este estudo veio confirmar o grande potencial medicinal da planta erva mate. Mas nos

dias de hoje, está havendo um crescente interesse em produtos medicinais naturais. Um

exemplo é a Quinabra (Química Natural Brasileira Ltda.), que desenvolveu uma pomada anti-

séptica e cicatrizante (Creamex®) de origem orgânica natural (fitoterápica), que aproveita de

forma sinergética a associação biológica do CITREX-líquido (extrato cítrico), considerado

bacteriostático e fungistático, com o extrato de confrei, considerado cicatrizante e regenerador

da pele. Além desses componentes, a pomada tem como coadjuvantes o óleo de fígado de

bacalhau, o óxido de zinco e um veículo inerte (QUINABRA, 1998). A confrei (Symphytum

officinale), é uma planta com propriedades anti-séptica, bactericida e fungicida e, em menor

grau, antiinflamatória, antipruriginosa, cicatrizante e emoliente (TIAGO, 1995). O suco

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extraído de suas raízes pode ser utilizado, externamente, como detergente e calmante de

feridas, tumores, inchaços e contusões (MORGAN, 1979). Também podemos citar o óxido de

zinco, componente de muitas pomadas, pós, pastas e loções dermatológicas, tendo

basicamente quatro propriedades no tratamento de lesões cutâneas: proteção, leve

adstringência, fraco poder anti-séptico e ausência de toxicidade (BOOTH, 1977). Swaim

(1980) afirmou que os resultados dos efeitos do sulfato de zinco em feridas são variáveis e

quando foi usado topicamente para tratar ulcerações crônicas da perna não melhorou a

cicatrização.

4. CONCLUSÃO

Os resultados obtidos nas condições experimentais do presente estudo permitem concluir

que:

- o creme fitoterápico produzido a base de extrato bruto hidroalcoólico das folhas in natura da

erva mate, pode demonstrar uma possível melhora na cicatrização de suturas cirúrgicas de

vasectomia bovina após ao 14° dia mesmo com processo inflamatório.

- o creme fitoterápico sugere possível ação antimicrobiana, tendo em vista que o tempo da

cicatrização a partir da segunda etapa foi muito menor que o esperado. Demonstrando que

devido a sua ação, chegou-se a inexistência de infecção ou inflamação.

- o creme fitoterápico de erva mate demonstrou possível efeito benéfico na fase inflamatória e

na fase de reparação tecidual.

- após a realização de outros testes e comprovação de seus efeitos, os fitoterápicos de erva

mate podem ser utilizados no tratamento tópico de feridas na espécie bovina.

A planta erva mate em trabalhos anteriores “in vitro”, demonstrou ação antimicrobiana

para patógenos oportunistas.

Novos experimentos como este realizado e o fracionamento do extrato de erva mate para

identificação de quais compostos estão associados deverão ser realizados, para comprovar o

efeito cicatrizante e ação antimicrobiana em patógenos oportunistas de bovinos.

5. AGRADECIMENTOS

Agradeço a professora Neiva Cristina Lubi por disponibilizar seu tempo e laboratório para

elaboração do composto ativo, a professora e veterinária Elza Maria Galvão Ciffoni pela

disposição do local e animais para o experimento, pelo Lucas Lleo residente de medicina

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veterinária e técnica de veterinária Maria Aparecida Weidlich Souza da Fazenda da Tuiuti

pela ajuda no manuseio e aplicação dos produtos nos bezerros para realização do

experimento. Agradeço também as professoras Luciana Cristina Nowacki e Roseli Aparecida

de Mello no auxilio do desenvolvimento do trabalho e a meu noivo Mauricio Miranda pelo

auxilio e paciência em todo processo de realização deste trabalho.

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