beth bryan - primavera de amores

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  • 7/30/2019 Beth Bryan - Primavera de Amores

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    Ttulo: Primavera de amoresAutor: Beth Bryan

    Ttulo original: What Lucinda learnedDados da Edio: Editora Nova Cultural 1992

    Publio original: 1991Gnero: Romance histrico

    Digitalizao e correo: Nina

    Estado da Obra: Corrigida

    O baile de debutantes comeou... Quando lorde Richard Devereux enlaou a cintura delicada, Lucinda entendeupor que diziam que a valsa era uma dana escandalosa. Sentia todo seu ser reagir proximidade dele e nosolhos cinzentos do lorde havia uma expresso que ela desconhecia, mas que a fez baixar os seus. No deviaamar Richard Devereux, pois era noiva de outro homem! Mas Lucinda no podia imaginar as confuses que

    Cupido andava fazendo naquela Temporada...

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    CAPITULO I

    A brisa passou entre as folhas da velha macieira, no pomar da Priory House, e as ltimas flores caramsobre os cachos avermelhados de Lucinda Neville. Ela no reparou: fitava o rapaz a sua frente.Casar? exclamou. Por que deveria se casar, Will?Estou tentando lhe explicar, Lucindaele disse, tenso.Desta vez meu pai acabou com tudo, mesmo.Sir Oliver voltou a jogar?Ah! Will sufocou um gemido. Passou os dedos nos cabelos loiros, deixando-os eriados. Foram o

    baralho, os cavalos e os usurrios. Se a propriedade no estivesse vinculada, no seria mais nossa.Will!Lucinda deixou-se cair no banco circular, sob a velha macieira.Pois , Lucinda. Est vinculada e no me importo com as hipotecas. Vou pag-las quando receber a

    herana de meu av Ryland. verdade, esqueci que ele deixou tudo para voc. Isso no ajuda, Will?S vou poder dispor do dinheiro quando completar vinte e cinco anos, ainda faltam quatro.. .Lucinda arregalou os grandes olhos castanho-claros, quase dourados, luminosos.No entendo muito dessas coisas falou, hesitando , mas no poderia levantar um emprstimo,

    considerando sua herana?Como acha que meu pai conseguiu as hipotecas? Will voltou a maltratar os cabelos, que ficaram

    mais arrepiados.

    Deve existir alguma coisa que se possa fazer! Lucinda mordeu os lbios, nervosa. E lady Ryland?Minha me est trancada em seu quarto explicou Will, amargurado. No quer ver ningum, exceto o

    mdico. Toma toda espcie de remdios e se algum tenta falar com ela, comea a ter ataques.Lucinda no fez comentrios: conhecia lady Ryland muito bem. Lembrou-se, porm, da irm de Will.E Belle? Ela no est para voltar da Frana? Deve ser apresentada sociedade nesta Temporada, no

    mesmo?E ser uma grande vantagem para ela, se meu pai for para a cadeia!A situao to ruim, mesmo?espantou-se Lucinda e Winassentiu. O que podemos fazer?Sei o que devo fazer, Lucinda, e j lhe expliquei: preciso me casar com uma moa rica.Voc no quer se casar, quer ir para a Marinha! o que eu queria, mas agora no poderei mesmo comprar uma comisso e me tornar oficial da Marinha,

    como sempre sonhei. Devo fazer o que puder para salvar a famlia e isto significa encontrar uma herdeira.E j pensou em algum, especialmente? ela perguntou, pensativa.De que jeito? No h herdeiras em Nether Wilden.Tem uma.Quem?Eu. Os olhos de Lucinda brilharam ao ver a expresso de espanto de Will. Sim. Herdei a fortuna

    de minha me. Ela deixou tudo para mim, sabia?Cinda, deixe de brincadeira!No estou brincando. A moa se levantou de repente e bateu palmas, animada. No acha que

    seria maravilhoso?

    Pare, Cinda!

    Ele segurou as mos dela.

    E no se mexa tanto, todos esses pulos me deixam comdor de cabea.No est vendo, Will? a soluo! Quando os credores souberem que voc se casar comigo, deixaro

    de perseguir seu pai e poder pag-los com meu dote!Lucinda!Will levantou-se e seus olhos azuis lampejaram. No fale mais nisso, entendeu?Por qu? Ela arregalou os olhos. Est apaixonado por algum?No.E nem eu! Ento, est tudo certo.Nada est certo!ele berrou e enrubesceu.Desculpe... Quero dizer que...Voc gosta de mim, Will, no ? ela continuou, sem lhe prestar ateno.No tem nada a ver!Por que no?Diacho, Lucinda, no basta gostar de algum para se casar!Pensei que fosse o suficiente. Os olhos dela ficaram enormes. O que mais precisa, Will?Ele levantou as mos para enfi-las mais uma vez nos cabelos, mas parou na gravata e comeou a pux-la.No conveniente que eu discuta este assunto com voc, Lucinda.

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    Neste caso, pode discuti-lo com papai. Colocou uma mo no brao dele e o fitou por entre os longosclios. No se preocupe, Will, acredito que achei uma soluo perfeita para o problema.E tudo continuar como antes, s que irei morar em Ryland Hall.

    Will nunca conseguira resistir a Lucinda quando ela falava e o olhava daquele jeito. Quando se despediu,quinze minutos depois, j concordara em discutir o assunto com o sr. Neville naquela mesma tarde.

    Ela o acompanhou ao limite do parque, ficou acenando para ele at que desapareceu, e voltou para PrioryHouse. Antes de avistar a casa parou, fez uma pirueta, fazendo rodar as saias, que arrancaram as ptalas dastulipas do canteiro ao lado do caminho.

    A prima Ethelreda com certeza no acharia seu comportamento muito conveniente para uma jovem dama,prestes a ser apresentada sociedade, mas ela no precisava mais se preocupar com isso, pensou, transbordandode felicidade. Logo seria uma mulher casada e, como todas as mulheres casadas, estaria livre para fazer tudoque quisesse.

    No se surpreendeu, naquela mesma tarde, quando seu pai a mandou chamar e a recebeu em seu gabinete.Depois que se sentaram, o sr. Neville olhou primeiro para a janela e depois para a filha. Soube que deseja ficar noiva ele falou.Se o senhor me der licena ela murmurou, tmida. Jasper Neville apanhou sua caixinha esmaltada

    de rap.Eu ignorava que voc alimentava um amor secreto por Will Ryland comentou, olhando para a filha

    com ateno.

    Sempre gostei de Will. Lucinda olhou para seu pai, desconfiada, pois nem sempre apreciava a ironiadele.Sem dvida. O sr. Jasper abriu a caixinha e tomou uma pitada. Expliquei ao jovem Ryland que se

    voc ainda estiver com a mesma disposio depois da Temporada, concordarei com o anncio do noivado.Mas, papai...Acho que ningum pode dizer que sou um pai draconiano. No posso, porm, consentir que fique noiva do

    nico rapaz que conhece, antes de ter a oportunidade de conhecer outros.No gostarei de ningum mais do que gosto de Will! teimou a jovem, emburrada.Pelo menos, ter a possibilidade de conhecer outros explicou o pai, com calma.Porm, sir Oliver..,Will explicou-me sua situao financeira.Se o noivado ficar secreto, os credores...No se preocupe, querida. Tenho alguma influncia. Vou dar uma palavrinha aqui e acol. A situao

    ficar difcil durante algum tempo, mas Will no est na misria. Acho que as coisas iro melhorar. Lucinda no parecia satisfeita e ele continuou: Se vocs querem se considerar comprometidos, no possoimpedi-lo e j o disse tambm ao Will. Apenas insisto que voc v a Londres para a Temporada e se divirta.Depois disso, veremos...Est bem, papai. Lucinda viu que no adiantava discutir. O que acontecer com Belle? Lady

    Ryland est numa de suas fases... Will disse que ela no tem nimo para assumir a responsabilidade sobre ela,nessas condies.Aqui est uma carta de lady Grantham respondeu o sr. Jasper, mostrando uma folha de papel

    encabeada com um braso.Ela a madrinha de Belle, no ?Sim e tambm uma velha amiga de Ethelreda. A filha dela, Patience, tambm ser apresentada nesta

    Temporada. Lady Grantham escreveu para dizer que espera que vocs, mocinhas, se tornem amigas. Ela enossa prima podero se incumbir de acompanh-las.Ento, ela vai apresentar Belle, tambm?Tenho a impresso que lady Grantham j esperava isso respondeu o pai, seco e, vendo que Lucinda

    arregalava os olhos, continuou:Voc sabe, querida, que lady Ryland nunca teve uma vida fcil. Eu sei ela assentiu. Sir Oliver e o jogo... Oliver no o nico culpadoexplicou o sr. Neville.Acho que o testamento do pai dele foi injusto:

    deixou a maior parte da fortuna para ser administrada por Will e apenas uma quantia pequena para o filho.Oliver sempre achou que o pai o desprezava e o testamento no o ajudou a superar esse recalque. Lucindaabriu a boca pela surpresa: era a primeira vez que o pai falava com ela desse jeito. Um testamento umdocumento muito importante, minha filha. Espero que se lembre disso em relao aos seus prprios filhos.Fi... filhos? Ela enrubesceu, sem jeito.

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    Se est pensando em se casar, querida, deve saber que os filhos so uma consequncia natural.Ela abaixou os olhos. Nunca pensara em filhos. Os filhos dela com Will? Sacudiu os cachos ruivos e

    lustrosos, com ar de dvida. O pai ficou a observ-la durante alguns instantes. Lucinda, sua me e eu tivemos muito pouco tempo juntos falou depois, mansamente. Entretanto,

    cada minuto daquela breve convivncia est em minha memria e me conforta. Depois de um breveintervalo, acrescentou: O que mais desejo que voc encontre a mesma felicidade no seu casamento.

    Lucinda piscou depressa, para controlar as lgrimas. Sua lembrana da me era muito vaga, muito distante,mas se emocionava ao ouvir o pai falar nela.

    De qualquer forma continuou o sr. Jasper, mais animado , voc tem toda a temporada pararefletir, filha, embora, pelo que Ethelreda disse, ela no considere a reflexo uma atividade muitorecomendvel.

    Lucinda riu, divertida, e perguntou:O senhor j decidiu se viajar conosco?Receio que noo pai respondeu, com um suspiro, e indicou os papis empilhados na escrivaninha.So os documentos que se referem ao esplio Cranford? a moa indagou, hesitando, porque ele no

    costumava discutir seus negcios com ela.Sim. Sabe que sou o testamenteiro deles. O velho conde morreu h dois meses, logo em seguida o filho

    mais velho desapareceu naquele terrvel acidente. Duas sucesses em menos de dois anos complicam muito ascoisas.

    O novo conde ainda no voltou Inglaterra?No, mas escrevi-lhe para a Itlia e espero que se manifeste logo. Deve estar disposto a apressar as

    coisas.Ele no casado? quis saber, enquanto pensava que a volta do rapaz seria triste, depois de perder o

    pai e o irmo.Ele ainda jovem... Houve uns boatos sobre namoro, quando esteve em Londres, h dois anos, mas

    parece que deu em nada. Assim que puder, irei encontr-la na Capital, filha.Tambm est querendo ver o sr. Bunthorpe em seu novo cargo, em Londres, no , papai?De fato. Ele est fazendo um timo trabalho, mas os problemas l so enormes. Tivemos sorte, o novo

    diretor do hospital da nossa aldeia, que veio substituir Bunthorpe, tambm bom.

    Sim, simptico e o senhor disse que um cavalheiro de importncia. ..Um membro da mais alta roda. Espero ganhar o interesse de palheiros e damas influentes, que possamentendei suas re ponsabihdades sociais. O novo governador da Sade em Londres um passo na direo certa.Vai gostar dele quando o conhecer.Ficarei feliz de conhec-lo... Mas apresse sua ida a Londres, papai. No gosto de ficar longe do senhor!No deixarei que a sucesso Cranford me atrase mais do que o necessrio. O sr. Jasper sorriu.

    Vou me apressar, no por causa de Bunthorpe, mas por voc. No quero perder o dbutde minha nica filha.Vrios criados j foram na frente, para abrir nossa casa, l. Vai encontrar tudo em ordem, querida.

    Ao sair do gabinete, Lucinda sentia-se muito satisfeita. Seu pai falara com ela como uma pessoa adulta. Noconcordara com o noivado, verdade, mas tambm no o proibira. Ela no era mais uma criana, pensou,extasiada; deu uma srie de pulinhos e uma pirueta no hall. O casamento com Will Ryland fora uma excelente

    ideia! O que est fazendo?Ela parou, confusa, diante da apario de uma senhora de meia-idade. Ethelreda Cleeson era uma viva alta

    e magra, com expresso sempre preocupada, devido a sua distrao crnica. Perdera o marido ainda muitojovem e estava na Priory House desde a morte da me de Lucinda.

    Sabe, meu amor, precisa se acostumar a um comportamento mais decoroso. Essas manifestaes demoieca so inaceitveis na cidade.No farei isto na cidade, prima Ethelreda. que estou muito feliz! riu a moa, os olhos dourados

    luzindo. timo, porque h mocinhas que ficam muito nervosas antes da primeira Temporada. Pode acreditar,

    voc gostar.

    Tenho certeza que sim.O que foi que a deixou to feliz? Jasper falou com voc? Avisei que no precisava se preocupar. Seu pai

    nunca a obrigar a se casar com algum de quem no goste e no a censurar se no conseguir um pedido decasamento aceitvel, emboraela continuou, sorrindo para a priminha isto me parea impossvel.

    A sra. Cleeson estava feliz da mudana de humor de Lucinda. Seria difcil e intil acompanhar uma mocinha

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    emburrada durante toda a Temporada. Suba comigo, amor continuou. Recebi revistas novas e vi um vestido de baile que desejo lhe

    mostrar. Acho que modificando um pouco as mangas...Lucinda passou a tarde falando de moda e tecidos. Will voltou depois do jantar e foram passear no

    roseiral.

    J discutiu o dote com papai? perguntou a moa.Aspirava o perfume de uma rosa amarela e no viu que Will, mais uma vez, desarrumava os cabelos, comaquele gesto nervoso.

    No chegamos a falar nisso... respondeu ele.Do que falaram, ento?Seu pai me deu alguns conselhos. Mostrou-me como devia falar com os credores... Eu nem conhecia essas

    coisas. Afinal, no estou desprovido de dinheiro. Gostaria que meu pai entendesse de negcios, como o seu.No sei muito a respeito, mas fico satisfeita ao ver que voc est mais animado. Vendo que Will

    arrastava os ps no cascalho do caminho ao redor do espelho d'gua, continuou alegremente: Como papaino quer anunciar o noivado por enquanto, no h pressa em voc falar com ele sobre meu dote.

    Will chutou uma pedrinha para a gua com violncia.Cinda, voc foi muito generosa, mas eu no posso me aproveitar...Que tolice! Como poderia fazer isso?No pense que no aprecio o gesto e, realmente, no vou esquec-lo, mas seu plano no to bom

    como pensa.Voc se deixou influenciar por papai, Will!Ele est certo, no est? Eu sou o nico rapaz que voc conhece.No se esquea dos rapazes Bearley, de John Gage, de...Escute falou Will, zangado , se voc me comparar com aqueles garotos cheios de espinhas, eu...No, no! Lucinda riu.S que papai est exagerando. No se preocupe com ele, a no ser... a no

    ser que queira desmanchar o compromisso.Will viu que os olhos de veludo dourado estavam tristes.No, Cinda falou, impulsivamente.Ento, est tudo certo! ela exclamou, radiante. Vamos falar nisso em Londres, est bem? Papai

    disse que lady Grantham provavelmente apresentar Belle, tambm.Sim, ela escreveu a mame, convidando Belle e a mim, para ficarmos com ela em sua casa, na

    Cavendish Square.E vocs iro?Acho que sim: economizo a despesa de abrir nossa casa e vou ficar mais tranquilo, sabendo que Belle

    est bem vigiada.No acha que morar em Paris pode ter mudado sua irm?Duvido! preciso mais do que alguns meses na Frana para

    mudar o gnio de Belle. Ah! Estive na aldeia e conheci o sr. Edgely, o novo diretor do nosso asilo. J o viu?Sim, jantou em casa outro dia e papai est contente comMas tenho saudade do velho diretor...

    Eu tambm. Mas parece que o sr. Bunthorpe est bem, em Londres. Dizem que o hospital de l muitobonito.E que fica perto do rio. Estou louca para v-lo!No sabia que havia algo em Londres que a interessava! H sim! respondeu a jovem, rindo.Mas na semana passada voc disse que nao queria saber da Capital, que nada por l poderia atrai-la.

    Agora as coisas mudaram: nao me sinto... exposta! --- Ao ver que ele no entendia, explicou: ---

    Como sua noiva e sua melhor amiga, no vou para l com a ineno de arranjar um marido, como nosobrigam a fazer! Estamos noivos, no?Noivos? Bem, eu... Sim, estamos. Era a nica resposta que Will podia dar.CAPITULO II

    O cavalheiro Jasper Neville no costumava ostentar sua importncia, porm, como membro de uma dasmais antigas e ricas famlias da regio, sabia perfeitamente o que lhe era devido. Portanto, os preparativos para

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    a viagem de Lucinda e de seus acompanhantes levaram trs semanas.Finalmente, chegou o momento de partir. Dois batedores de libr, montados em cavalos cinzentos, iguais,

    encabeariam o cortejo, seguidos pela calea de viagem, grande e bem equipada, com o braso dos Neville nasportas. Uma outra calea levava Emmie, a criada de Lucinda, Albert, o lacaio, e a camareira da sra. Cleeson,todos apreensivos com a montanha de bagagens amarradas nos tetos. Atrs, iria um outro cavaleiro de libr.

    O sr. Neville dava as ltimas instrues aos cocheiros que pareciam meio nervosos, pois era a primeiravez que iam a Londres.

    Com uma lista na mo e uma bolsa repleta na outra, a sra. Cleeson corria de uma carruagem para outra e,

    depois, para a casa. O cavalheiro encerrou as instrues aos cocheiros e esperou pela prima, dizendo-lhe srio:Oua, Ethelreda, permita-me que repita mais uma vez: ao chegar a Londres, passaro primeiro por

    Agincourt Crescent, depois tero de seguir pela...Papai! O rostinho risonho de Lucinda apareceu janela da calea. Por favor, no diga mais nada

    prima. Ela j est muito agitada!A sra. Cleeson olhou para suas listas e soltou um grito:Cus! No examinei aquelas fronhas! E sumiu de novo dentro de casa.Finalmente, ela acomodou-se na calea, ao lado da prima. Depois das ltimas saudaes, o comboio se

    movimentou. Will, em seu garanho preto, cavalgava ao lado da calea das damas. Pouco depois, NetherWilden, a propriedade do pai de Lucinda, e sua aldeia, ficaram para trs. Campos e bosques desfilaram pelas

    janelas, at que chegou a hora do almoo.

    Pararam em uma pequena estalagem, onde havia uma sala reservada para eles. A sra. Cleeson chamouEmmie, Albert, e ps-se a consultar infindveis listas. Will e Lucinda foram caminhar no pequeno jardim daestalagem.Esta viagem muito cansativa comentou a moa e tedioso ter de ficar sentada num lugar to

    acanhado!Deve serconcordou Will. Aposto que ia gostar mais de viajar a cavalo.Adivinhou!Entretanto, mesmo para uma boa amazona como voc, no ficaria bem. provvel. Mas no estou gostando desta viagem, to demorada, de calea.Receio que ter de aguentar mais um bom tempo.No fale assim! Ficarei tentada a sentar atrs de voc, na garupa de Black Shadow.Gostaria de ver a reao da sra. Cleeson! respondeu Will, rindo. E, por falar em cavalos, j

    soube o que acontecer com o haras Mountmellor, dos Cranford?No suspirou Lucinda. Papai disse que s quando o testamento estiver registrado, ficar sabendo

    quem o herdeiro. Vamos ter de esperar com pacincia para saber o que acontecer com Castor e Plux.So animais magnficos comentou Will, enquanto entravam para comer. Quem os ganhar, cuidar

    bem deles.Espero que sim.A cozinheira da estalagem fizera um esforo e a mesa estava carregada de iguarias: carne de vaca cozida,

    pastelo de pombos e frangos assados, porm Will foi o nico a comer com gosto. A sra. Cleeson petiscoudistraidamente, enquanto consultava suas listas, e Lucinda estava agitada demais: s se serviu de algumas fatiasde peito de frango e de alguns morangos.

    Partiram logo em seguida. Durante algum tempo Lucinda achou a paisagem interessante. Ficou a olhar pelajanela, lendo os letreiros, perguntando a respeito de campanrios que via a distncia. Aos poucos, no entanto,se cansou e se recostou no assento.Est se sentindo bem, meu amor? perguntou a sra. Cleeson, ansiosa.Estou sentindo calorlamentou-se a jovem. E acho que vou ter uma enxaqueca.A prima Ethelreda retirou um vidro de gua de rosas da bolsa. Molhou um leno e o colocou na testa de

    Lucinda. Est muito quente murmurou. Colocou a mo embaixo do assento e apanhou uma garrafa, ainda

    envolvida em folhas de jornal molhadas. A limonada ainda est bem fresca, querida. Despejou um pouconum copo. Tome, Cinda, talvez isto ajude. A poeira seca a garganta!

    Lucinda bebeu avidamente. Recostou-se de novo e agitou a cabea, impaciente.Vai demorar muito ainda, prima? perguntou.Estamos na estrada para Londres, mas receio que teremos de viajar por mais quatro horas respondeu

    a dama, ansiosa. Espero, querida, que no seja afetada pelo mal-da-carruagem...Entretanto, com o passar do tempo viu que no adiantava esperar. Quando o cocheiro comeou a lidar com

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    o trnsito da cidade, Lucinda estava com uma feroz enxaqueca, seus olhos ardiam e cada solavanco da caleadoa em todos os seus ossos.Estamos perto, Will? indagou a senhora, pela janela.No tenho certeza, sra. Cleeson respondeu o rapaz, que cavalgava ao lado da carruagem. Estamos

    apenas na periferia e h muito movimento.Estou vendo, mas preciso colocar Lucinda na cama o mais depressa possvel. Diga ao cocheiro que se

    apresse!Falarei com ele concordou Will e pensou que o pobre homem j tinha muito que fazer ao enfrentar

    pela primeira vez o trnsito da cidade.Mais um pouco de pacincia, meu bem disse tia Ethelreda, afagando a mo de Lucinda.

    Chegaremos logo.Acho esse barulho insuportvel! lamentou-se a mocinha.Gostaria de um pouco de silncio.Realmente, o rudo dos aros de ferro das rodas sobre as pedras do calamento era muito desagradvel. A

    senhora olhava, esperanosa, para a janela, quando Will reapareceu.Estamos em Piccadilly, sra. Cleeson. O Agincourt Circle deve estar perto, no ?Cus, acho que sim, Will. Estive em Londres h alguns anos, mas nunca fui quela casa, a no ser

    quando criana. Espere um minuto... Franziu a testa. Jasper explicou-me algo a respeito de Aginc...Prima Ethelreda, estou muito mal! Lucinda se agitou sobre o assento. Posso descer um momento,

    por favor?

    Podemos, Will? indagou a prima. H alguma estalagem por perto?O cocheiro gritou algo e Will olhou na direo que o homem indicava. Disse, ento, nervosa dama:Est tudo bem, madame... Acalme-se, Lucinda. J chegamos. O cocheiro viu o nome da rua.Graas a Deus! exclamou a sra. Cleeson.Posso descer, prima Ethelreda? perguntou a moa, abrindo os olhos escurecidos pela dor e o enjoo.A carruagem deu um solavanco ao entrar em uma rua estreita e Lucinda caiu para trs, gemendo.O que foi isso? O que aconteceu? indagou a senhora, ao ouvir um barulho e gritos.Foi na segunda carruagem, sra. Cleeson disse o jovem. Algumas bagagens caram. Peciso ir

    ajud-los.Mas Lucinda tem de...J chegamos ao nmero 25, madame, e os criados vm vindo. As bagagens esto espalhadas, preciso

    recolh-las.Por favor, prima, vamos descer, eu no aguento mais! gemeu Lucinda.Ainda bem que a casa est iluminada resmungou, irritada, a sra. Cleeson , mas andano abriram a

    porta. Ningum est nos esperando, pelo visto.No iremos descer nunca desta carruagem? Lucinda colocou as mos nas tmporas, levantando a

    voz, em desespero.Sim, sim, meu amor, neste instante. O cocheiro est ajeitando a escadinha. Vamos descer j.No interior da casa nmero 25 da Agincourt Crescent, trs cavalheiros estavam terminando de jantar.No elegante comer to cedo observou o anfitrio, Richard Devereux , porm Charles acabou de

    chegar do campo e fiquei preocupado em v-lo morrer de inanio, se tivesse de esperar pela hora normal do

    jantar.Agradeo por voc ter esquecido seus escrpulos, Dev! O jovem robusto ao seu lado riu.O mais idoso dos trs cavalheiros, sir Ivor, puxou a garrafa de vinho do Porto para si.Eu tambm, Rickydisse, animado.Vou sentar a sua mesa todas as vezes que voc me convidar pra

    jantar e, no que diz respeito ao seu vinho...levantou o clice, aproximando-o da luz das velas , acho queme levantarei de meu leito de morte por este!Ainda h muito tempo at l, imagino respondeu sir Richard Devereux, seu sobrinho, enchendo o

    prprio copo.Acho que no corre riscos e como nunca faltou a uma Temporada, tio...E me divirto com ela, rapaz! No sou to cnico quanto voc, nem to romntico quanto nosso Charles.Romntico? indignou-se sir Charles Grantham, apanhando a garrafa de vinho. O que quer dizer

    com isso?

    por causa daquelas peas de teatro que gosta de assistir, Charles. Elas o influenciam... Por exemplo lorde Devereux sacudiua cabea, reprovador, vejo que usa um penteado a Ia Kemble, de "Hamlet", do ano passado. Vai bem no

    palco, meu caro, mas garanto que no serve para os sales londrinos. Cerrou os olhos e baixou a voz: Se no gosta de vinho do Porto, Charles, eu lhe ofereo um clarete medocre, que poder chacoalhar

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    vontade.Deus do cu! Sir Ivor recuperou a garrafa e colocou-a na mesa, com cuidado. Nunca lhe

    explicaram que deve respeitar o Porto e jamais sacudi-lo?Sir Charles pediu desculpa, embaraado, e perguntou:Diga a verdade, Dev, no est esperando ansioso pela Tempo rada? No gosta da agitao que ela traz?Quando tiver assistido a tantas Temporadas quantas as que j vi, Charles, sentir-se- cansado delas...

    respondeu Richard Devereux, com ar de profundo tdio.Voc quer dizer, querido sobrinho, ter resistido a tantas mocinhas e suas caadoras mames!

    comentou sir Ivor, rindo. O sobrinho fitou-o, carrancudo, mas ele continuou: Sem dvida, Charles, voc um bom partido, mas no pode se comparar ao Belo Devereux...Nem tentaria! admitiu o jovem sir Charles, com franqueza. Ento, por isso que no gosta da

    Temporada, Dev?!Sir Igor respondeu pelo sobrinho. E vai gostar menos ainda desta!Meu tio interferiu sir Devereux, com suavidade. O senhor j ouviu dizer que a melhor maneira

    de se apreciar um bom vinho em silncio?Acho que hoje voc no pde gozar de muito silncio, com a visita de minha irm Melpond sorriu

    sir Igor.Como soube que minha tia me fez uma visita? perguntou o anfitrio, com um de seus raros

    sorrisos.

    Ela mesma disse que viria. Queria que a acompanhasse.No diga! Olhe aqui, tio Igor, eu...Fique calmo, Ricky! Disse a ela que no ia interferir. No assunto meu... e nem dela, na verdade.

    Porm, Melpond nunca foi capaz de deixar os outros em paz! Minha tia estava completamente certa falou Richard, calmo.

    Sir Ivor engasgou e o vinho manchou seu colete.Diacho, rapaz, no diga essas coisas quando estou bebendo. Como possvel que Melpond estivesse

    certa?Alguma vez tinha de acertar.Vamos, Ricky, fale srio. No pode ter concordado com ela. Charles, fale com ele! No pode ter

    concordado, Richard! Charles, me ajude!Eu realmente no... O jovem sir Charles no entendia.A armadilha do pastorexplicou sir Ivor, sucinto.Casamento? Voc, Dev? Casamento?Richard observou seus convidados atravs do monculo.Estou sensibilizado com seu entusiasmo, meus queridos.Olhe, devo dizer que eu nunca... Charles enrubesceu violentamente.Ele quer dizer que nunca pensou que ia v-lo entre as patas de uma gata. Sir Ivor no se deixou

    impressionar. Pois, nem eu, sobrinho!Se o senhor tivesse cumprido com sua obrigao anos atrs, poderia estar agora cercado por uma turba

    de filhotes e minha tia no estaria me perseguindo para salvar o nome da famlia! desabafou o jovem

    lorde.

    Nunca deixei que me agarrassem, sobrinho! afirmou sir Ivor, com uma gargalhada. Mas diga, jpensou numa garota ou est esperando para ver a safra deste ano?

    Uma menininha, tio Ivor? As sobrancelhas se ergueram.No, claro que no. Desculpe. Ento, quem vai escolher? Uma viva? No muito velha e com...O senhor incorrigvel! sir Richard Devereux acabou rindo.Bom, se voc ainda no escolheu, aposto que minha irm j se decidiu por algum. Quem ela est lhe

    oferecendo este ano?O senhor est ficando vulgar, meu tio! queixou-se sir Richard, mas respondeu: Se quer mesmo

    saber, lady Melpond prefere lady Chloris dePoer.

    Lady Chloris dePoer! ecoaram os convidados.Estou feliz em ver que a escolha de minha tia ganhou a aprovao de ambos... disse sir Richard,

    arrastando as palavras.Bom... Ela , de fato, uma beldade... comentou sir Ivor. Porm, diacho, eu... Escutecomeou o jovem sir Charles.No a chamam de... a voz dele sumiu.

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    A "rainha de gelo"? completou lorde Devereux, calmo. Abriu uma noz, manipulando o quebra-nozes de ouro com uma s mo. No apelido ruim para uma esposa...

    Sir Charles no sabia o que dizer, mas sir Ivor assentiu.Se assim, ento um casamento arranjado. Sim, Chloris dePoer tima para uma unio de

    convenincia. Tem beleza, educao e dinheiro. Tem tudo.Correto aprovou lorde Richard, sem ocultar o tdio.Chloris dePoer? Sir Charles franziu a testa. Estou tentando me lembrar. Quando vim a Londres,

    pela primeira vez, parece que havia boatos do casamento dela com...

    Com o Cranford mais jovem completou sir Ivor. Faziam apostas a respeito, no "White Club".Todos achavam que eles iam se casar. Como eu, alis...E no deu em nada? quis saber o jovem sir Charles.Perdi cinquenta guinus. Ouvi dizer que os pais se desentenderam, no sei por qu. Os Cranford tm gnio

    igual cor de seus cabelos de fogo. Lorde dePoer, por sua vez, no se deixa demover quando enfia umaideia na cabea...O velho conde morreu, no? perguntou, atento, lorde Charles.Sim. E o filho mais velho tambm. O jovem Rollo o conde, agora, mas ainda no voltou Inglaterra,

    pelo menos que eu saiba. Sabe de alguma coisa, Ricky? indagou sir Ivor.No.O sobrinho encolheu os ombros. preciso revolver esses velhos mexericos?O homem que no gosta de mexericos e vive s voltas com obras de caridade! exclamou o velho nobre.

    No acredito que sua futura esposa aprove que voc perca tempo, para no falar em dinheiro, com essascoisas! E prepare-se, rapaz: ningum aguentar Melpond quando ela souber que voc concorda!Ainda no pedi lady Chloris em casamento, tio Ivor, mas se eu o fizer, no vejo motivos para mudar

    meus hbitos. claro que continuarei a cultivar meus interesses, como de costume. S quero repetir que, porenquanto, concordei com minha tia que est na hora de considerar um casamento conveniente. Lady Chloris uma possibilidade perfeita.Antes voc que eu, sobrinho! Sir Ivor notou a expresso irritada de lorde Richard. Oh, rapaz.

    Estava a ponto de dizer que eu iria preferir abraar um bloco de gelo, mas estou de boca fechada. Bemfechada,A sra. sua me e sua irm chegaram bem? perguntou sir Devereux, olhando para sir Charles

    Grantham, querendo mudar de assunto.Chegaram. Voc sabe, porm, como minha me detesta viajar. Caiu na cama e Patience a alimenta commingaus...A srta. Grantham ser apresentada neste ano? perguntou sir Ivor. Lembro-me dela quando ainda

    era uma garotinha.Sim, ser apresentada e mame apresentar tambm sua afilhada, a srta. Ryland. a filha de Oliver Ryland, no ? interferiu sir Ivor. Ouvi dizer que mais uma vez est fugindo

    dos credores. Est acabado. Porm tambm ouvi um outro boato. Parece que est se safando. Voc soube,Ricky?

    Sir Devereux fitava distraidamente o clice vazio, ao responder:Oliver Ryland? Nunca teve um tosto furado desde que o conheci.Ouvi dizer que o filho se casar com uma herdeira... disse o mais velho.Will Ryland? perguntou lorde Charles. Eu o conheo, mas no ouvi nada sobre um casamento.Tenho um conhaque na biblioteca, tio Ivor disse lorde Devereux, levantando-se , e gostaria que o

    senhor o experimentasse.Vou at me arriscar e lhe oferecer um pouco, Charles, mas ter de prometer que no chacoalhar a garrafa.

    Os trs saram para o hall quando se ouviram batidas enrgicas na porta de entrada. Larrigan, o mordomo,cruzou o hall, mostrando-se indignado.

    Os trs homens entraram na biblioteca e se acomodaram em grandes poltronas bergere. Lorde Ivor colocou osps no reluzente guarda-fogo de lato. Mal tinham levantado os bojudos clices, quando ouviram umaaltercao no hall. Sir Richard Devereux ergueu as sobrancelhas. Levantou-se agilmente e saiu.

    Os outros trocaram um olhar e o seguiram. Sir Ivor, prudentemente, tomou o ltimo gole de bebida e parou

    para encher mais uma vez o clice, antes de sair no hall. Ali, eles depararam com um cena bastante fora docomum.

    O mordomo barrava a porta de entrada. Atrs dele estavam dois lacaios jovens, de olhos arregalados.Algumas criadas espiavam pela porta de servio. J lhe disse, madame proclamou o mordomo , e quero repetir, que aqui no ... Retirou-se

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    para o lado ao ver o amo chegar.O lorde viu uma dama de meia-idade, com o chapu torto, parada na porta, sustentando uma figura

    cambaleante, envolvida numa capa de viagem com capuz. Quando ele se aproximou, a figura ergueu a cabea.Ele fitou dois enormes olhos castanho-dourados que corresponderam ao seu olhar e, de repente, ficaram

    vidrados. As plpebras macaradas se abaixaram e ele conseguiu amparar Lucinda antes que ela casse ao cho.

    CAPITULO III

    Lucinda abriu os olhos e viu paredes revestidas de seda rosa, desbotada, que lhe eram desconhecidas. Ouviaa distncia o rudo de rodas metlicas sobre pedras. Algum estava gritando na rua: "Peixe! Peixe fresco!" Estou em Londres ela falou em voz alta e sentou-se.

    Como se fosse um sinal, a porta se abriu, Emmie entrou com uma bandeja e, atrs dela, prima Ethelreda com osbraos cheios de flores.

    Que beleza! exclamou a viva. E logo no seu primeiro dia na cidade!So para mim? -Para quem mais, menina? Emmie, pode colocar o chocolate ali.A moa examinou o ramalhete menor, de minsculas rosas amarelas. Leu o carto com votos de melhoras,

    assinado por lorde Charles Grantham. Sir Charles o filho da querida Amlia. No o via h alguns anos, e ele se tornou um homem atraente.

    E, agora, olhe para isto.A sra. Cleeson mostrou um grande ramo de lilases franceses, brancos.

    O perfume envolveu Lucinda quando os recebeu. No havia qualquer recado, apenas a assinatura: "R.Devereux", numa grafia firme, em tinta preta. Ambos, que gentis! a sra. Ethelreda sorriu, satisfeita. E meu amor, que sorte ter j conhecido

    Beau Devereux! H muitas moas bonitas que sacrificariam seus caninos superiores para chamar a atenodele...

    A jovem lembrou-se, ento, dos olhos cinzentos sob sobrancelhas retas e pretas. O sangue subiu-lhe aorosto e ela o escondeu entre as flores brancas. E foi culpa minha, embora tudo se resolvesse de maneira to propcia. Minha memria terrvel. Nem

    sei dizer quantas vezes Jasper me explicou que a casa ficava em Agincourt Circle, e no Crescent! E quando

    chegamos, eu tinha esquecido. Nunca me senti to mortificada! A sra. Cleeson enrubesceu. Claro, jestive aqui, quando garota, quando chegamos, fiz uma grande confuso e entramos na casa errada.A casa errada? Lucinda largou as flores. Como assim? Sei que batemos numa porta, mas no me

    lembro muito deste sr. Devereux, e... olhou para o carto absolutamente no me lembro deste sirCharles.E nem poderia, meu amor. Quando percebi o engano, queria morrer. Voc j tinha perdido os sentidos,

    no de se admirar, meu bem, e sir Devereux carregou-a para a biblioteca. Chamou a governanta, uma pessoaeficientssima. Ele e os cavalheiros se retiraram, ela queimou algumas penas para voc recobrar os sentidos edepois lhe deu algumas gotas de ludano. A sra. Cleeson mostrou-se arrependida. Sabe que no aprovomuito estas medidas drsticas, mas voc estava realmente mal.

    Isto explica por que minhas lembranas esto confusas. Como cheguei at a nossa casa?Numa liteira! Surpresa? Pois , parece que o sr. Devereux tem uma, usada para sua av! Ele e sir Charles

    me garantiram que era perfeitamente segura para voc. Colocou a mo na testa de Lucinda:Como quese sente hoje? Talvez fosse melhor se ficasse na cama...Ah, no! Lucinda pulou da cama e correu at a janela. Londres est l fora, no posso ficar

    deitada, prima!Lucinda! Afaste-se da janela, est de camisola, que ideia!

    Ela obedeceu, rindo, e perguntou, os olhos brilhando:O que faremos hoje, prima Ethelreda?Muitas coisas, s escolher. Parecia em dvida, mas continuou: Precisamos passar na costureira e

    encomendar seus vestidos. Tavez ela tenha algum, j pronto, para comear. Depois, voc precisar de xales,

    sapatinhos, botinhas, luvas, fitas, leques, centenas de coisas! Precisamos tambm pensar na casa. Jasper noesteve aqui durante alguns anos e precisa de consertos. No podemos organizar seu baile de apresentao atque esteja em ordem. Oh! Bateu a mo na testa.O que foi, prima?Estou mais desmemoriada do que nunca. Amlia Grantham escreveu esta manh para saber se

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    queramos ir a um jantar informal esta noite. Por outro lado, penso que deve estar muito ocupada porque, almdo filho e da filha, ela est com Will e Belle em casa. Talvez no devssemos...Avise que iremos, prima querida. Seria tedioso ficar em casa na primeira noite em Londres. Estou com

    saudades de Belle e preciso tambm agradecer a sir Charles pelas flores.Bom, no sei... Ser que voc j est bem?Eu estou tima, ento escreva logo, prima, aceitando o convite. Vou me vestir e sairemos para ver a

    cidade.A sra. Cleeson saiu, sacudindo a cabea. Lucinda chamou Em-mie e, com auxlio, ps um vestido de

    musselina estampada amarelo-limo, um spencer verde-ma, obra-prima da costureira da aldeia. O conjuntono parecia muito provinciano.Ethelreda ainda no estava convencida da convenincia de sair, mais por causa da sade do que pela

    roupa de Lucinda.Se voc no quer descansar e pretende ir jantar fora, devo insistir em apenas uma saidinha rpida e

    tranquila, talvez at uma livraria. ..Sim, vamos at a Hatchard's! Poderemos entregar a lista de encomendas de papai e a nossa tambm.

    Ser gostoso poder ver os ltimos romances, sem esperar que cheguem at Nether Wilden.A prima imaginava que o passeio at Hatchard's seria calmo, mas no levara em conta a reao da priminha

    ao ver a cidade e o Mall pela primeira vez. O parque estava repleto.Quanta gente! Lucinda estava a ponto de despencar da janela da carruagem. E, prima, olhe para

    aquele homem, o que ele est usando?So calas Petersham, queridarespondeu Ethelreda, depoisde uma rpida olhadinha. Usadas apenas

    pelos mais deselegantes. So muito largas, no acha?Realmente surpreendentes... E olhe ali...Lucinda! prima Ethelreda puxou a moa para trs. Precisa ficar sentada. Alm de ser

    inconveniente, muito perigoso colocar a cabea fora da janela.Uma carruagem negra e reluzente passou ao lado naquele momento, quase raspando na delas, e deu a

    Lucinda uma demonstrao eficaz do que poderia acontecer.Na entrada de Hatchard's havia um grande movimento. As pessoas saam e entravam, todas muito

    elegantes, pareciam se conhecer e Lucinda ficou um pouco intimidada.A sra. Cleeson no se impressionou e a levou para o interior da loja, onde foram recebidas por um

    funcionrio de libr, que pegou a lista de Lucinda com satisfao, depois indicou uma grande mesa, queaparentemente atraa o interesse de um bom nmero de pessoas.Ali, madame, encontram-se as mais recentes edies, se quiser esperar at juntarmos os livros pedidos.Vamos esperar, sim. No mesmo, prima?A sra. Cleeson assentiu, distrada. Dirigiu-se logo at um volume vistoso, de capa verde-escura, cujo ttulo

    era "Compndio de Infalveis Remdios Vegetais."Lucinda observou as damas e os cavalheiros ao redor da mesa. Pareciam muito sofisticados e no indicavam

    ter percebido sua presena, o que a animou a apanhar um livro.Enquanto o folheava, ouvia a conversa ao redor. A Temporada s ia comear dali a uma semana, mas j

    havia referncias a reunies, almoos, jantares e festas. Alguns discutiam o baile de lady Hoxborough: pelojeito, era o evento de abertura da Temporada.

    Suspirou. Nunca ouvira falar em lady Hoxborough. Em Nether Wilden conhecia todos e todos a conheciam.Londres era muito diferente e a intimidava. Porm logo se animou, ao lembrar que no precisava se preocuparcom reunies, bailes e recepes: ela j estava noiva.

    Apanhou mais trs volumes e os levou ao funcionrio, que cuidava de seu pedido. Viu que a prima aindaconsultava o mesmo compndio verde e foi investigar os outros recessos da livraria. As inmeras prateleirasiam at o forro, uma ao lado da outra, cheias de livros de todos os gneros, separados por assunto.

    Encontrou um volume grande, muito manuseado e comeou a folhe-lo, divertindo-se com as ilustraesda moda de vinte anos atrs. Que vestidos e que penteados! Era to interessante que levou algum tempo at

    perceber vozes que chegavam do outro lado da estante.... sempre disse que era uma estupidez termos um Circle e um Crescent com o mesmo nome. Aposto que

    isto deixa muita gente confusa.Acha realmente, Charles?A voz era to arrastada, to entendiada e desinteressada, que Lucinda apertou os dentes, em irritao

    inexplicvel.Claro que sim. Qualquer pessoa poderia se enganar.

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    Sua inocncia reconfortante, meu caro! tornou a voz irritante. Voc aprender com o tempo quemoas jovens, bonitas, e suas acompanhantes cata de candidatos ao casamento, apenas se enganam dianteda porta dos partidos mais cobiados... e mais ricos.

    Lucinda ficou gelada ao ouvir aquilo.Vamos, Dev, voc mesmo no acredita no que diz. Ento, por que mandou flores?Francamente, Charles. O comportamento da srta. Neville pode no ser dos melhores, mas o meu sempre .

    Tambm conheo opai dela, que tem atitudes bem diferentes! Detesto destruir sua confiana nas mulheres, mas se eu achasse o

    caso suficientemente interessante, apostaria que a srta. Neville ficar muito feliz em abusar daquele afortunadoengano.Lucinda fechou o livro e o colocou no lugar. Seus olhos lampejavam e duas manchas vermelhas apareceram

    em suas faces. Ora, que homem convencido e estpido!, pensou.Deu a volta, pronta a enfrentar o odioso sr. Devereux. S encontrou mais prateleiras. Havia corredores em

    todas as direes. Embora caminhasse depressa, s viu um cavalheiro idoso de ar erudito sobre uma escada.Finalmente se dirigiu para a frente da loja e encontrou a prima Ethelreda conversando animadamente com

    um cavalheiro rechonchudo, de rosto avermelhado. Ela acenou para que se aproximasse. Este um velho amigo meu, Lucinda disse a dama, animada. No pensei que o encontraria de

    novo, Sir Ivor. Esta minha queridssima Lucinda. Lucinda, este o sr. Ivor Devereux.Lucinda lanou-lhe um olhar ainda furioso, mas logo notou que o cavalheiro to animado no era o dono

    daquela voz arrastada e o cumprimentou polidamente.Que moa mais bonita! observou lorde Ivor, com ar de aprovao. Estou feliz em ver que

    melhorou, minha querida. Curvou-se sobre a mo dela. Gosto de moas coradas.Lucinda! A sra. Cleeson a observou, assustada. Espero que no tenha se cansado demais. Nunca

    deveria ter concordado em sair. Sir Ivor, estou encantada por rev-lo, porm ter de me desculpar. Venha,Lucinda: seu pai no me perdoaria se voc ficasse doente antes do comeo da Temporada.

    Lucinda se deixou levar para fora e entrou na carruagem. Ainda estava furiosa. Que homem impertinente!Sugerir que ela queria conquistar o Belo Devereux! Logo ela, que j tinha um compromisso e que passaramal diante da casa dele por acaso.

    Sentiu saudade de Will. Ele ficaria furioso tambm, se ouvisse aquelas insinuaes.Que sorte no precisar se preocupar com o que pensava o sr. Devereux ou qualquer outro dndi da cidade.

    Prima Ethelreda podia ach-lo simptico, mas ela no estava procurando marido e no precisava da aprovaode ningum. Quando tornasse a encontrar o Belo Devereux, mostraria a ele que no se importava com suasopinies.

    Lucinda teve essa oportunidade mais cedo do que esperava. Obedeceu insistncia da prima e passou atarde descansando, na cama, e lendo um dos novos livros. Quando se levantou, ps um de seus vestidos

    preferidos, com um drapejo creme sobre crepe rosa-antigo. Era um pouco mais justo do que a moda exigia nomomento, porm realava as formas de Lucinda, especialmente sua cintura muito delgada. Emmie colocouuma fita de veludo rosa-antigo entre os cachos lustrosos e rosetas da mesma cor decoravam suas sa-patilhas

    brancas.A casa dos Grantham era um prdio alto e estreito na Cavendish Square. Trs damas estavam a esper-las

    no salo da frente, duas moas elegantemente vestidas e uma matrona rechonchuda, com os cabelos enfeitadosde plumas. Esta se levantou com uma exclamao. Ethelreda!Enquanto as duas damas se abraavam, as moas aproveitaram para se observar. Uma era uma beldade

    calma com macios cabelos castanhos. A outra, Lucinda no escondeu sua admirao diante dos cabelos cor deouro, os grandes olhos azul-porcelana e o ousado decote do vestido.

    A viso permaneceu altiva por um momento, depois os lbios se curvaram num sorriso maroto e um olhose fechou devagar, numa piscadela.Belle!Lucinda no conseguia acredita no que via. Belle, realmente voc?Claro que sim, sua tonta! E Belle a abraou.Deixe que a veja! Lucina deu um passo para trs. Nunca a teria reconhecido! Paris a

    transformou...Sim... Belle no disfarava sua satisfao.Sou Patience Grantham, srta. Neville disse a moa de cabelos castanhos. Acho que sua prima e

    mame esto muito ocupadas para se lembrar das apresentaes.Assim parec. Porm me chame de Lucinda. Espero que sejamos amigas...

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    Sem dvida, seremos amigas concordou Belle, vibrante. Quero que saiba, Lucinda, que eu disse aPatience que breve seremos um sucesso. Eu sou muito bela, seu cabelo tem uma cor extraordinria e Patience to bonita e suave, que acabaremos por nos destacar das demais.

    As outras duas moas riram e lady Grantham as observou com indulgncia, enquanto se aproximavadelas.Isso bom disse. Gosto de ouvir a mocidade se divertindo. Abraou Lucinda: Voc a

    imagem de sua me, querida. Ela tambm tinha esses cabelos ticianescos. Onde estaro os rapazes?A senhora sabe, mame, que foram ver os novos cavalos de Charles. Teremos sorte se eles lembrarem

    de voltar. uma calnia, srta. Grantham. Eu protesto. A senhorita est nos caluniando e caluniando seus

    prprios encantos.Belo Devereux estava parado na porta. Sua casaca celeste caa com perfeio dos ombros largos e a cala bege

    se amoldava s coxas musculosas. A camisa brilhava de alvura e entre as dobras da gravata de n intrincadovia-se uma enorme prola.

    Lucinda ouviu lady Grantham cumpriment-lo e depois prima Ethelreda agradec-lo mais uma vez peloauxlio prestado no dia anterior. Lembrou-se das palavras dele na livraria Hatchard's e fechou os punhos, comraiva. Lucinda, minha querida! chamou a prima, acenando com a mo. Sei que deseja agradecer

    pessoalmente a gentileza de sir Devereux.Lucinda, sem pressa, observou os outros. Will entrava com um jovem moreno e atarracado, vestido

    vistosamente ltima moda.Comparado aos outros dois, Will tinha uma aparncia rstica. Mas ao v-lo, Lucinda ficou mais tranquila.

    Ergueu o queixo e se aproximou da sra. Ethelreda.Uma menina bem bonitinha, pensou lorde Devereux, moderadamente interessado, especialmente quando

    est um pouco corada. Bateu um dedo na caixinha de rap. E seu cabelo notvel! Em seguida, observou-a comredobrada ateno.

    Em geral, as jovens damas se aproximavam dele com os olhos baixos ou com olhares tmidos. No estavaacostumado a ser cumprimentado por uma dama com um brilho belicoso nos olhos e o queixo agressivamenteerguido.

    Lucinda fitou friamente os olhos cinzentos. Preciso agradecer-lhe, senhor falou, imitando o mais possvel o jeito arrastado dele. Receio terperturbado muito sua noite.

    A prima Ethelreda arregalou os olhos, enquanto sir Richard Devereux executava uma perfeita reverncia. Absolutamente, srta. Neville. Estou satisfeito por ter sido de auxlio.Sua voz indicava apenas um interesse polido, porm, os cantos dos lbios... estariam se levantando um

    pouco? Como ousava rir dela? Lucinda inclinou a cabea, ao falar: Minha prima e eu agradecemos pela sua ajuda, senhor, mas no devo aproveitar mais de sua

    bondade.. Com sua licena preciso conversar com o sr. Ryland.Foi at onde Patience e Will estavam sentados. Eles no notaram nada de especial em seus modos e ela ficou

    a ouvir, em silncio, Will contar as maravilhas da nova parelha de cavalos de Charles e de seu faton.

    Ela percebeu, contrariada, que sir Richard Devereux no se importava com seu pouco-caso e conversavacom Belle, que flertava desavergonhadamente com ele, e com sir Charles. Tentou se concentrar nas conversas aoseu lado, mas sua ateno voltava sempre para o trio ao lado da lareira.

    O mordomo no demorou a anunciar o jantar.Esta uma reunio informal especificou lady Grantham e receio que nem todas tenhamos

    cavalheiros.Neste caso reclamo a honra de escoltar milady e a sra. Cleesonfalou lorde Richard.Eu escoltarei a srta. Ryland!sir Charles ignorou o olhar severo da me.Receio que as damas tero de se satisfazer comigo... Will ofereceu o brao a Patience e Lucinda.Na sala de jantar, lady Grantham foi firme ao indicar os lugares. Apesar das manobras bvias de sir

    Charles, Lucinda foi colocada direita dele, esquerda de Will e de frente para Patience. Sir Charles no

    guardou rancor e logo os quatro comearam a brincar e rir, embora ele lanasse frequentemente olhares outraponta da mesa, onde Belle monopolizava a ateno de sir Devereux.

    Ele, entretanto, era polido demais para concentrar-se apenas numa dama, e deu ateno indististamente aBelle, lady Grantham e sra. Cleeson.

    Ainda preocupada com a sade da prima, esta ltima insistiu que voltassem para casa logo depois do jantar.

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    Quando se despediram, Belle posava, graciosamente sentada em um sof de pernas douradas. Sir Richard estade um lado e no outro se movimentava sir Charles, carrancudo.Sua irm est extraordinariamente mudada observou prima Ethelreda para Will, que insistira em

    acompanh-las na carruagem.Belle? indagou ele, com um desinteresse fraternal. Acho que tem boa aparncia...Boa aparncia! indignou-se a sra. Cleeson.Garanto que sir Devereux achou a aparncia dela mais

    do que boa!Sir Devereux? interferiu Lucinda, com voz aguda. Acha que ele se interessou por Belle, Will?Acho que no respondeu o rapaz. Nos clubes todos fazem apostas, achando que ele pedir ChlorisdePoer em casamento antes do fim da Temporada.Chloris dePoer? A sra. Ethelreda ficou intrigada. Deve ser a filha de Melisande... Sim, ela seria timo

    partido para um De-vereux. Lembro-me da ltima vez que vi Melisande...e continuou a falar at chegaremem casa.

    Lucinda descobriu que estava com enxaqueca. Pouco se importava com quem Richard Devereux iria secasar.

    Afinal, ela j estava noiva!

    CAPITULO IV

    Ela dormiu mal e acordou tarde. Ao terminar de se vestir, soube que a srta. Ryland viera visit-la.Encontrou-a na saleta.Lucindaindagou Belle, ao v-la , voc no acha que ele maravilhoso?Lucinda parecia estar sem voz, porque abriu e fechou a boca algumas vezes antes de conseguir balbuciar.Maravilhoso?Foi uma pena voc no ter ficado mais, ontem. Lady Grantham tocou para ns e nos deu licena para

    danar. At a valsa!Na mente de Lucinda surgiu uma imagem de Belle rodopiando entre os braos de lorde Devereux e sentou-

    se, depressa.Que bom para vocs! exclamou, disfarando a mgoa. claro! continuou Belle, erguendo a barra do vestido amarelo e valsando, com expresso sonhadora,

    pelo salo. Ele nodana muito bem, mas isso no tem muita import...Belo Devereux no sabe danar?

    Belle parou. claro que lorde Devereux sabe danar e muito bem! Preste ateno, Lucinda. Estou falando de sir

    Charles.Sir Charles?O que h com sua voz, esta manh, Lucinda? Sobe e desce de maneira esquisita!No dormi muito bem. Ela soltou um riso trmulo. Por favor, me desculpe se hoje no entendo

    logo.

    Voc que deve me desculpar

    falou Belle, contrita.

    Patience disse que precisvamos nos informarprimeiro se voc estava bem, antes de invadir a casa. S que esqueci de perguntar.Belle! Lucinda lhe lanou um olhar carinhosamente exasperado. Quer dizer que deixou Patience

    sozinha na carruagem esse tempo todo?Ah, ela tem Will por companhia.Voc mesmo uma menina lamentvel! Mandarei algum busc-la.No faa isso! Mande buscar um agasalho para voc. Viemos para lev-la "Doceira GuntherV porque,

    sabe, o lugar onde se rene toda a alta-roda.Preciso perguntar prima Ethelreda se posso.A sra. Cleeson no fez objees. Planejava uma sada para fazer compras importantes, tarde, e ficou feliz

    por ter mais tempo para fazer suas listas.

    A moa colocou o chapu de palha, enfeitado de flores iguais s flores bordadas em seu vestido, e saram.Will e Patience no pareciam aborrecidos por ter esperado e foram todos, alegremente, at Piccadilly.Lucinda j comeava a reconhecer algumas ruas e falou em suas compras no Hatchard's no dia anterior.

    Ele acompanhou-as no interior de Gunther's, cuidou de escolher uma boa mesa e se despediu. Alegou queno queria "se empantur-rar com docinhos" quela hora do dia.

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    As moas no tinham os mesmos escrpulos. Logo comearam a se regozijar com os famosos sorvetescor pastel.

    Belle terminava o seu, quando viu a aproximao de uma matrona imponente, com um formidvel turbantelaranja. A dama proclamou ser uma amiga de lady Ryland e levou-a outra mesa, para inquiri-la sobreassuntos de famlia.Voc conhece Belle e o sr. Ryland h muito tempo, no ? perguntou Patience, com sua voz suave.Desde sempre respondeu Lucinda, levando boca, com pesar, a ltima colher de sorvete de framboesa.

    Somos vizinhos prximos, em Nether Wilden, e nos visitamos sempre, desde que ramos crianas.

    Teria sido bom ter uma menina como vizinha, enquanto eu crescia... comentou Patience com umsorriso.Na verdade, eu vivia mais com Will, sabe, porque lady Ryland viajava muito e sempre levava Belle,

    quando ia a Harrowgate ou a Londres. Eu no me importava, mas me senti muito solitria quando Will foipra Cambridge.

    Ele voltou h algum tempo?Sim e voltou a ser como antigamente. De fato... Lucinda se interrompeu. No queria entediar

    Patience, mas esta mostrava uma curiosidade mais que polida. Uma vez meu pai me perguntou se eu tinhame mudado de vez para Ryland Park. Papai gosta de brincar.

    Patience afastou o prato. Lucinda viu que ela no terminara de tomar o sorvete. Talvez o de groselha nofosse to gostoso como o de framboesa.

    Quer dizer que voc e o sr. Ryland so muito amigos? perguntou Patience, com a voz quasesumida.Claro confirmou Lucinda e se sentiu tomada por uma onda de carinho por Will, o rapaz simples,

    confivel e firme que conhecia desde sempre. Sim, acho que Will meu melhor amigo.Finalmente! exclamou Belle ao voltar e se deixou cair sobre a cadeira. Depois disso, preciso pedir

    mais um sorvete...Aquela dama era lady Hoxborough, no ? perguntou Patience.Sim. amiga ntima de mame, porm me sinto como no colgio, quando a diretora me interrogava a

    respeito do professor de msica.O baile dos Hoxborough sempre o primeiro da Temporada. Voc ir ao baile hoje noite, Lucinda?Acho que no. A prima Ethelreda no mencionou bailes.Vai, sim. Belle estava atacando o segundo sorvete. Quando eu disse quem voc , lady Hoxborough

    prometeu mandar os convites agora mesmo.Um baile!falou Lucinda, emocionada.No tenho vestido que sirva para um baile em Londres.Masdisse Belle, tranquila voc tem a tarde inteira para fazer compras.Era verdade. S ento a jovem descobriu como cada minuto era precioso.Ao voltar Agincourt Circle, Lucinda almoou rapidamente com a prima.Belle disse que lady Hoxborough ia mandar convites para o baile desta noite, prima.O baile Hoxborough! Cus, Lucinda, se ela mandar convites, teremos de ir, claro. Sei que ela amiga

    de lady Ryland, mas como acabamos de chegar, no pensei... Quando o baile?Hoje noite.A sra. Cleeson soltou um gritinho e apanhou suas listas. Precisamos nos apressar. Deixaremos as compras de casa para outro dia. Precisamos ir imediatamente

    ao ateli de Clie. Ainda bem que voc no tem medidas difceis. Ontem mandei buscar meias de seda naPaternoster Row, graas a Deus! Mas o vestido... Espero que Clie tenha algo bonito, pronto. Levantou-se.Venha, Lucinda, no podemos perder tempo. No sei se teremos o tempo de encontrar tudo. Vamos,nimo!

    Lucinda no sabia como seria o ateli de uma costureira londrina e ficou surpresa quando a carruagemparou diante de uma casa sem letreiro, num bairro elegante. Um lacaio impassvel acompanhou-as a uma salaespaosa, no primeiro andar. Ela observou os mveis elegantes, os grandes vasos com rosas e lrios rosados.Ah, madame Cleeson! Uma mulher diminuta, de cabelos brancos, muito bem penteados, vestida de

    cinza-claro, apertou a mo de prima Ethelreda. Quantos anos! Nem posso acreditar!

    E nem eu! exclamou a sra. Cleeson, rindo. Mas os anos foram cavalheiros com a senhora. Veja,trouxe minha priminha Lucinda, a filha de Jasper, sabe? Ser apresentada este ano e, claro, a senhora ter decriar os vestidos para ela. Esta noite, porm, temos de ir ao baile Hoxborough, ela terminou,dramaticamentee ela no tem nada que possa usar!OuilMadame Clie levantou ambas as mos, depois chegou perto de Lucinda. Levez-vous, s'il-

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    vous plait, ma petite. Quando Lucinda se levantou, caminhou a sua volta, balanando a cabea. Bon,bon\ Tem uma belle forme, muito delgada, e acredito que poderemos encontrar algo. Talvez precise de um

    pontinho aqui e acol, mas conseguiremos, conseguiremos!Lucinda foi levada para um aposento menor, com muitos espelhos e pequenas cadeiras douradas. Ficou de

    combinao, enquanto madame Clie e uma horda de assistentes passavam uma variedade de vestidos porcima de sua cabea. Ela achou todos bonitos, porm madame Clie no ficou satisfeita. Oh, non, pas a\ muito enfeitado. Tragam o celeste. Quando o enfiaram nela, protestou: No,

    este tambm no serve! muito inspido para esses cabelos maravilhosos!

    As pernas de Lucinda doam e teria gostado de se sentar. Porm ningum lhe dava ateno, a no ser paradizer que levantasse os braos ou que se virasse.Estava ficando exausta e um pouco irritada, quando finalmente madame Clie se deu por satisfeita. Ento, madame Cleeson, para hoje noite levar o blanc et or. Daremos um jeito aqui e ali, e

    assentar Ia merve Me. Faremos a mesma coisa com os outros dois. Vou mand-los entregar no meio da tarde.Agora a senhora eIa petite tomarq um pouco de ch, depois iremos ver os tecidos para os outros modelos.

    Lucinda vestiu suas roupas, dando graas. Voltaram primeira sala, onde tomaram ch da China, em xcarasde finssima porcelana.

    Madame Clie voltou a se movimentar, trazendo amostras de tecidos e desenhos de modelos. Por algumtempo a jovem prestou ateno, porm havia desenhos e tecidos demais; madame falava muito depressa e viravaas pginas sugerindo uma manga deste, com o decote daquele, babadinhos aqui, rendinhas acol, e a um certo

    ponto Lucinda se limitou a comer docinhos, deixando as decises prima e costureira. Quando, raramente,pediam sua opinio, apenas assentia.

    Cus, olhe s para a hora! exclamou de repente a sra. Cleeson, voltando realidade. Precisamos iragora mesmo, para que voc possa descansar. Clie, dependemos da sua arte! Precisamos o branco e ouro

    para esta noite. Vamos, Lucinda, venha logo.Parecia uma senha, em Londres, pensou Lucinda enquanto subia na carruagem. As pessoas s sabiam dizer:

    "vamos, venha logo, vamos, venha logo"! Nesse dia s vira vestidos e nunca imaginara que fazer compraspudesse cansar tanto. No via a hora de chegar em casa e descansar, como tia Ethelreda decretara.

    Mais tarde, noite, virando-se devagar diante do grande espelho, Lucinda chegou concluso que valera apena.

    Era ela mesma, aquela figura delgada, num vestido perfeito? Ficou a se observar, em seu primeiro modelolondrino. Justo no busto e na cintura abria-se numa saia ampla, de fina seda branca sobre um saiote ouro-

    plido.Minsculas estrelas de ouro com um pequeno diamante brilhavam entre seus cabelos e nas orelhas. Uma

    echarpe branca, transparente, com fios de ouro e de prata completava o conjunto. Est lindssima, meu amor! declarou a sra. Ethelreda ajustando o ltimo cacho de cabelos lustrosos.

    Clie est sempre certa. Essa cor de ouro reala o brilho de seus olhos e de seus cabelos. Vamos, venha logo,no queremos nos atrasar. Lembre-se que pro metemos nos encontrar com os Grantham.

    Mais tarde, Lucinda ficou satisfeita com esse compromisso. Encontraram os amigos no hall da mansoHoxborough, na Eaton Squa-re. Os lacaios de libr se encarregaram dos agasalhos e acompanharam osconvidados at a fila de recepo, no primeiro patamar da ampla escadaria.

    Enquanto seguia a sra. Cleeson e o lacaio pela escada, Lucinda sentiu-se completamente perdida. Tomaraparte em reunies e festas de jovens em Nether Wilden e nas cercanias, mas nada se comparava com aquelebaile.

    A sra. Cleeson e a srta. Lucinda Neville!anunciou o lacaio com voz sonora.Ela ficou to impressionada que precisou se esforar para levantar os olhos e fitar lady Hoxborough,

    enquanto esta cumprimentava prima Ethelreda. A filha de Jasper Neville, no ? perguntou Sua Senhoria com voz estentrea e Lucinda viu de

    relance uma quantidade de cetim verde e um colar feio, pesado, de esmeraldas. Parece demais com a me e... lady Hoxborough se aproximou da sra. Cleeson, proclamando, num sussurro audvel: ... e tem umafortuna! Ter trabalho em manter os rapazes a distncia! Balanou a cabea quando Lucinda, com as facesafogueadas, fez uma mesura e a passou para o marido.

    O anfitrio era magro e discreto, com um olhar vago. Apertava as mos de todos e repetia sem parar:Bem-vindos, estou encantado, bem-vindos.Um outro lacaio abriu as portas de um grande salo de baile branco e ouro. Lucinda ficou intimidada ao ver os

    espelhos que chegavam at o forro e refletiam as pessoas da alta-roda, impecavelmente vestidas.Oh!sussurrou Patience, atrs dela. um pouco assustador, no acha?

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    A srta. Grantham trajava um vestido numa linda tonalidade amarelo-narciso, entretanto Lucinda a achouplida.

    Assustador? perguntou a srta. Ryland, irnica.Belle no parecia assustada, ao contrrio. Seu vestido de listras brancas e azuis era um pouco ousado e uma

    grinalda de camlias brancas pousava nos cachos dourados.Esperem s at comearem as danas! Estaremos ocupadas demais para nos assustar! concluiu, rindo.Ela estava certa. Lady Grantham e a sra. Cleeson tiveram muitas oportunidades de mostrar seu brio de

    acompanhantes, porque as moas foram constantemente solicitadas para danar.

    Lucinda, a princpio intimidada, acalmou-se logo, quando percebeu que no meio da multido era muitodifcil distinguir as pessoas. Tranquila, passou, ento, a observar o ambiente suntuoso e a responder aosparceiros de dana com frases inteiras, no apenas com monosslabos, como no incio. Ficou satisfeita quandocomeou a identificar algumas pessoas naquele amontoado de gente.

    Notou Will, que acenava, parado na outra extremidade do salo e ident ificou o companheiro dele: lordeDevereux.

    O corao da jovem saltou e ela perdeu o compasso. Seu jovem parceiro corou ao tropear e apressou-se abalbuciar desculpas.

    Quando voltou para perto das acompanhantes, ela olhou ao redor e, com mais um salto do corao, viu queeles se aproximavam.Lucindaapressou-se a dizer Will, aposto que no consegue adivinhar o que aconteceu!

    Seu entusiasmo era to contagiante que Lucinda riu enquanto apertava sua mo, antes de se virar para sirDevereux, que cumprimentou polida e friamente.

    O cavalheiro notou a mudana de atitude para com ele e se sentiu um pouco ofendido, mas antes quepudesse falar, Will continuou:

    Cinda, lorde Devereux est com Castor e Plux!Isso verdade? Ficamos to preocupados depois do falecimento de lorde Mountmellor! Desta vez,

    Lucinda abriu um sorriso radioso. Mountmellor era meu padrinho, srta. Neville. Deixou-me seus cavalos, inclusive os dois que

    mencionou.Sabamos que ele no tinha parentes e estvamos ansiosos...Perdoe-me, srta. Neville, mas por qu? Lueinda e Will o fitaram. Richard Devereux sorria levemente.

    S recebi os cavalos na semana finda. Os documentos relativos foram provavelmente mandados para minhacasa no Devon.

    Quer dizer que o senhor ainda no teve oportunidade de ver sua ascendncia? So produto de Jpiter,que pertence ao pai de Lucinda. O senhor j ouviu falar nesse cavalo?A gua, porm, morreu logo depois de dar cria explicou Lucinda e tivemos de cri-los com

    mamadeira.Quando Lucinda diz "tivemos", ela quer dizer que ela os criou. At convenceu o pai a deix-la dormir na

    cocheira... claro, com a camareiraexplicou Will, depressa.Acho que Emmie ainda no me perdoou comentou Lucinda, rindo. Os potrinhos eram to

    minsculos e precisavam ser alimentados a cada trs ou quatro horas. Seria um absurdo ficar correndo anoite inteira entre a casa e a cocheira.Sobretudo, porque eles s aceitavam o leite das mos de Lucinda acrescentou o jovem amigo de

    Lucinda.A senhorita parece ter um verdadeiro talento para tratar animais, srta. Neville. verdade. Ela to boa quanto nosso veterinrio.No exagere, Will!protestou Lucinda.Lorde Devereux no deseja...De fato continuou Will, sem lhe dar ouvidos , se um de meus cavalos ficasse doente, preferiria que

    Lucinda o tratasse. E ela cavalga muito bem! O rapaz mostrava-se decidido a revelar os talentos da amiga. firme na sela, tem mos como plumas, porm capazes de dominar os cavalos mais fortes, apesar daaparncia frgil. Lorde Devereux observou a figurinha delgada da moa.

    Compreendo que seja uma grande amazona, srta. Neville... e no sentiu quando seu pai se desfez deCastor e Plux? No, porque eu podia v-los sempre nas cocheiras de lorde Mountmellor. Entretanto, fiquei ansiosa

    quando ele morreu. Felizmente, sei que agora posso ficar tranquila. Tem certeza que eles estaro bem comigo? indagou o lorde. Lucinda voltou para ele os enormes olhos

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    dourados, desconfiada. Avaliou o cavaleiro de escol, scio do Clube das Duas Parelhas. Por que essa pergunta, sir? rebateu, por fim.

    O jovem lorde sorriu, coisa que raramente fazia. Queria apenas lembr-la de que no se deve ter certeza de tudo. Vou cuidar bem dos cavalos, mas a

    senhorita precisa certificarse... Estendeu-lhe a mo: Estou pronto a me submeter a um interrogatrio, seme conceder a prxima msica.

    Durante os primeiros minutos de dana ela no disse nada. Belle estava certa: lorde Devereux danava muitobem, pensou, olhando para baixo.

    Tenho certeza que seus sapatinhos so encantadores... disse o jovem lorde, sorrindo , mas poderiaolhar, de vez em quando, para o seu parceiro, senhorita. Nem mesmo a mais rigorosa acompanhante seoporia a isso...

    Lucinda riu, baixinho. E se errssemos o passo respondeu, fitando-o por entre os longos clios , todo mundo saberia que

    a culpa era minha: ningum iria sequer imaginar que o Belo Devereux poderia ser desajeitado.Seria um exagero dizer que Richard Devereux recebeu tais palavras como lisonja, mas o certo que achou

    graa e sentiu-se intrigado, concluindo que a pequena Neville era, de fato, diferente. Para no ficar apenas olhando para ele, Lucinda observava os pares que danavam e notou uma moa que se

    destacava. Tinha cabelos loiro-clarssimos, presos em artstico penteado. O vestido branco era orlado de verde-claro e usava diamantes espetaculares. O ar de segurana e controle que ostentava era impressionante.

    Como bela! sussurrou a jovem. O senhor a conhece? lady Chloris dePoerele respondeu com calma, depois de olhar na mesma direo.Lucinda enrubesceu. Oh, no, pensou, logo a moa com qual dizem que ele pretende se casar! Ela linda! murmurou, tentando se mostrar tranquila.De fato, considerada um diamante de primeira gua. A voz dele s indicava um interesse casual.

    Mas fale-me dos cavalos que a senhorita criou...Ela gostou de mudar de assunto, mas sentiu-se diminuda. Quando a dana terminou, ficou contente e, ao

    mesmo tempo, decepcionada. Ele a levou para perto da prima Ethelreda. Obrigada, srta. Neville falou, curvando-se.Sra. Cleeson, est se divertindo?Muito mesmo ela respondeu, toda sorrisos. H tanta gente que no vi por muito tempo. Para mim,

    uma verdadeira reunio.Que bom. Espero que a senhora e a srta. Neville me permitam visit-las em breve. Sem dvida, sir Devereux. Ficaremos encantadas.Na prxima vez que nos virmos, sita. Neville, espero mostrar-lhe os temas de nossa conversa, em carne e

    osso... Despediu-se com mais uma mesura, voltou-se e sumiu entre os convidados.Provavelmente ia procura de lady Chloris, pensou Lucinda. Formariam um lindo par, ele moreno e ela to

    loira. De repente, percebeu que prima Ethelreda falava: ... e est esfriando muito!Lucinda achava o calor quase insuportvel, mas disse: Ponha o xale nos ombros, prima, se est com frio.Cus! murmurou Ethelreda, com olhar preocupado. Tenho certeza que o trouxe? Onde est meu

    xale?Estivemos na saleta reservada para senhoras, quer que veja se o deixou l?Voc to gentil, meu amor! Sim, obrigada!A moa atravessou entre os grupos de convidados, cumprimentando os que conhecia. No viu lady Chloris

    nem sir Richard entre eles.Saiu para o hall; estava mais fresco e mais calmo. Sabia que a saleta ficava no corredor, esquerda. Mas

    qual era a porta?Tentou a primeira. Dava para a copa, em plena agitao. Enquanto fechava a porta, olhou por cima do ombro e

    percebeu um vulto branco e verde desaparecer no hall. Sorriu, achando que talvez.tivesse atrapalhado umencontro.

    A porta seguinte era da saleta. O xale da prima Ethelreda encontrava-se sobre o encosto de um sof.

    Quando o apanhou, percebeu que as franjas tinham se prendido nos entalhes do p do mvel. Ao abaixar-separa solt-las, viu algo brilhando sobre o tapete. Era um bonito broche de topzios e diamantes. Observou com ateno as pedras brancas e amarelas,

    percebendo que formavam duas letras entrelaadas: C e R. C e R... Um vulto branco e verde... Chloris e Richard, que haviam se encontrado ali, um para dar e o outro

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    para receber o penhorde carinho.Ela perdeu a noo do tempo e permaneceu de p, imvel, ao lado do sof, com o broche na mo. Era uma

    pea delicada, mas pareceu transformar-se em uma pesada pedra de gelo. O frio que irradiava para sua mopenetrou-lhe rias veias, chegando at a alma.

    No vai voltar mais, Cinda? Will encontrava-se parado porta. A sra. Cleeson ficoupreocupada com sua demora. Achou o xale?

    Lucinda voltou-se depressa, guardando o broche na bolsa, e apanhou o xale.

    Est aqui, sim. Vamos para l, Will.Ela recebera uma educao muito apurada, que servia muito quando no queria deixar transparecer seussentimentos mais ntimos. Durante o resto do baile, danou, conversou e foi jantar. No entanto, no conseguiaesquecer as iniciais entrelaadas. Oculto na pequena bolsa, o broche se transformara em uma tocha acesa, queardia continuamente em seus pensamentos.

    CAPITULO V

    Na manh seguinte, lorde Richard Devereux se apresentou, hora correta, no salo de lady dePoer, paralevar Chloris a dar uma volta no parque em seu faton. Respondeu educadamente a todas as tolicesenunciadas pela anfitri, enquanto pensava em outras coisas.

    Como explicara ao tio, ainda no tomara uma deciso. Por outro lado, sua tia Melpond despertara nele umapreocupao que crescera com o tempo. Estava consciente de sua obrigao com a famlia e isso significavacasamento.

    Tivera uma srie de relaes com moas do demi-monde, muito caras e muito vistosas. Esses casos tinhamcomeado e terminado de maneira simptica, sem causar preocupaes.

    Um grande nmero de moas de fino trato, belas e no to belas, ricas ou pobres, inteligentes ou tolas,procuravam impression-lo. Era entre essas moas que precisaria encontrar uma esposa e nunca vira uma quedespertasse nele a vontade de passar o resto da vida em sua companhia.

    Por outro lado, refletiu cinicamente, quantos entre seus amigos passavam a vida com as esposas? A maioriadeles alimentava interesses totalmente separados e se reunia a elas apenas para salvar as aparncias.

    Pensou que aquele era um sistema pouco atraente.

    Ah, eis Chloris! falou lady dePoer, entusiasmada.Richard se levantou enquanto ela se aproximava. Estava vestida para um passeio e quando estendeu a mo

    o gesto indicou uma hbil mistura de cordialidade e discrio. No deu qualquer sinal de suspeitar que eletivesse outra inteno alm de um passeio matinal.

    Ela muito plida, pensou Richard. Precisaria um pouco do colorido da moa Neville. E por que, ele seperguntou, surpreso, estou fazendo essa comparao?

    Curvou-se sobre a mo de Chloris.Lady Chloris, consegui convencer sua mame a confi-la a mim, para um passeio.Senhor respondeu Chloris com sua voz fria , como poderia mame ficar ansiosa enquanto passeio

    com um condutor to famoso?Despediram-se de lady dePoer. Enquanto ajudava Chloris a subir no faton, ele observou-a mais uma vez. O

    vestido de passeio amarelo-claro era de bom gosto, o chapu realava sua beleza e seus modos eramimpecveis.

    Entretanto, ficou a se perguntar se havia nela algo mais do que aquela superfcie perfeita, de boneca.Lucinda tambm pensava em lady Chloris dePoer naquela mesma manh. Sentada na cama, tomava seu

    chocolate olhando para a bolsa. O que deveria fazer a respeito do broche?Era o caso de mandar um lacaio entreg-lo a sir Devereux? Ou a lady Chloris? Seria melhor entreg-lo

    pessoalmente a ele, no prximo encontro? O problema era que se tratava de um penhor de amor, algo quenenhum estranho deveria ver.

    Pelo menos, por enquanto, porque no existia noivado. Seria muito embaraoso para todos se ela revelasseque conhecia o segredo. Se o mandasse a lady Hoxborough, a temvel dama logo faria circular o boato.

    Talvez a melhor maneira seria envi-lo a lorde Richard Devereux de maneira annima. Ainda na cama, menina? No pode se atrasar. Combinou de passear no parque com Will e as moas,

    hoje de manh! ralhou a sra. Cleeson.Lucinda largou a xcara para se levantar. Esquecera por completo o programa feito na noite anterior. Poderia sair com seu novo vestido de passeio, cor de chocolate e com o chapu de pluma branca,

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    Cinda!No h nada no mundo melhor do que roupas novas e elegantes para levantar o moral. Sentada.ao lado de

    Belle, na nova carruagem esportiva de Will, Lucinda ficou animada. Passear no parque a essa hora era muitoelegante; ela e Belle receberam numerosos olhares de admirao. Conseguiu cumprimentar at algumas

    pessoas, embora no tantas como Belle, mas se sentiu satisfeita. Da prxima vez ser melhor vir a p observou Will rindo, depois da quinta parada. Parece que

    vocs conhecem muita gente mesmo!A jovem se divertiu ao ver alguns rapazes sentados sobre um estranho veculo de duas rodas. Eles o

    impulsionavam com os ps no cho e, quando conseguiram velocidade, levantavam os ps.Ao passar ao lado de um desses atletas, Lucinda reparou que o rosto dele estava vermelho e molhado desuor.Deve ser muito cansativo observou.Acho que no lugar dele, eu preferiria andar a p...Olhem! exclamou Belle. L est o sr. Stratton!Lucinda viu o jovem se aproximar, montado. Era atraente, porm um pouco vistoso demais. Como seu

    cavalo, pensou Lucinda: vistoso, mas no ficaria admirada se no tivesse muito flego. Na noite anterior viraBelle danar com o sr. Stratton e olhando a amiga, ficou a se perguntar se aquele encontro no fora

    programado.O sr. Stratton parou ao lado deles e ergueu o chapu. Logo Belle comeou a flertar com ele, enquanto

    Lucinda e Will se mantinham quase em silncio. Ela no conseguia gostar dos modos do sr. Stratton e o achava

    excessivamente confiado.Ali est Charles Grantham! exclamou Will, de repente, e indicou com a mo. De fato, Charles

    estava a observ-los, carrancudo.Belle, preciso conversar com Grantham. At logo, Stratton.Ficarei sem a luz do sol! suspirou o sr. Stratton.Ora, sr. Stratton! Tenho certeza que encontrar outros sis... e outras damas!Belle sacudiu os cabelos loiros e Lucinda achou o gesto odiosamente forado.Que dndi vulgar! fungou Will ao movimentar os cavalos.Voc acha? Mas dana to bem! respondeu Belle, provocando-o.Sir Charles subiu na carruagem com expresso mal-humorada. Sua disposio no melhorou ao ouvir Belle

    louvar Miles Stratton. Rangeu os dentes e respondeu a todas as tentativas de conversa com monosslabosrosnados. Lucinda estava a ponto de perder a pacincia com ambos, quando Will tocou seu brao e apontou

    com o chicote. Estava se aproximando um faton de luxo, puxado por dois magnficos baios.Castor e Plux! exclamou Lucinda.Lorde Devereux estava conduzindo e ela reconheceu, ao lado deles, Chloris dePoer. "C e R", ela pensou,

    sentindo-se desanimada de repente.Sir Richard parou ao lado deles e apresentou lady Chloris, que manteve uma atitude correta, embora pouco

    calorosa. Lucinda teve de admitir que ela era realmente linda, embora excessivamente plida. Ser que suareserva exagerada podia ser atraente? Teve um sobressalto quando percebeu que Richard Devereux estavafalando com

    ela.Estou curioso em saber, srta. Neville, se gosta da aparncia de seus cavalos prediletos.

    Claro que sim, senhor. Esto esplndidos.E com muita vontade de correr, mas aqui no possvel, tem muito trnsito. Espero porm que brevepossa certificar-se completamente do bem-estar deles.

    Ergueu o chicote, despedindo-se, enquanto Chloris murmurava um adeus com sua voz incolor. Ento, Cinda perguntou Will depois que Bele e Charles foram encontrar lady Grantham, ainda brigando

    , o que acha de Londres agora? muito diferente do que eu imaginava ela disse, de testa franzida. Tem tanta gente, tantas coisas a

    fazer e tantas para serem vistas! E as compras! Will, no sabia que as pessoas podiam gastar tanto tempo edinheiro fazendo compras!Eu no posso ele respondeu, sorrindo.Lucinda podia ver que ele se vestia com mais apuro do que no campo, mas ningum diria que sua casaca era

    igual de sir Devereux. Enquanto o observava, ao entrar em Agincourt Circle, Lucinda sentiu mais uma vez comoele era querido: o slido, simples, sensato e imutvel Will. Alis ela disse, impulsivamente , o fato de estarmos noivos, sabe, me facilitou muito as coisas.

    Estou feliz que voc tambm esteja em Londres.Will enrubesceu um pouco e se mexeu sobre o assento.

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    Voc foi muito generosa, Lucinda, como sempre! Mas.. .Quieto! ela ergueu uma mo. Voc o meu amigo mais querido, Will. Eu sempre tentaria ajud-

    lo.O sr. Ryland pareceu muito ocupado com as rdeas. Finalmente pigarreou, desviando os olhos que

    brilhavam, traindo sua emoo. Falou, por fim:Onde fica o hospital em Londres, Lucinda?Na Isle of Dogs. O sr. Bunthorpe acha que o lugar mais saudvel.Bom, ele um homem muito sensato, portanto deve estar certo.Sim e me arrependo de ainda no ter ido v-lo. A prima Ethelreda afirma que iremos, mas sempre temosto pouco tempo! Tal

    vez ela no queira que eu v. No porque discorde da ideia, apenas porque acha que no deveramos nosenvolver muito, pessoalmente.Falei do hospital com a srta. Grantham. As palavras saam da boca de Will cada vez mais animadas.

    Ela a favor. Disse que gostaria de ir. Prometi perguntar a voc.Mas esta a soluo, Will! Voc, Patience e eu iremos juntos, assim a prima Ethelreda no ter de ir. Que

    boa ideia! Lucinda apertou carinhosamente a mo de Will antes de se despedir.

    Sir Richard Devereux, depois de devolver Chloris a sua mame, fora para sua prpria casa, onde estavatrocando a indumentria em vista dos compromissos da tarde. Como de costume, pensava em voz alta, diante docriado, um indivduo magro, de rosto estreito, que falava to pouco que, na ala de servio, era conhecido

    como Dowstt, o Mudo. Evidentemente dizia lorde Richard , no existem objees contra lady Chloris como uma escolha

    apropriada. Ela possui beleza, educao e posio, tem um patrimnio respeitvel, embora isto no sejaimportante. O que mais um homem poderia querer numa esposa?

    Dowsett apresentou uma camisa lavada e passada com esmero. Como sempre, sua expresso dedesaprovao crnica no mudou. Voc est certo, Dowsett. Lorde Devereux esticou os braos para que ele pudesse colocar as

    abotoaduras. Se eu quisesse mais, deveria mandar examinar minha cabea. Apanhou uma gravata. Minha tia Melpond tambm est certa: j hora de eu me casar.

    Dowsett ficou a observar o amo, que conseguiu um perfeito n-matemtico na primeira tentativa. Comeou

    a ajud-lo a enfiar a casaca.Voc me deixa aliviado, Dowsett. Acredito que venho sendo dominado pelos costumeiros temores de um

    solteiro, ao contemplar o casamento. irritante constatar que no estou livre de emoes to corriqueiras.Dowsett alisou a casaca sobre os ombros do amo. Com um aperto final na gravata, o cavalheiro saiu, para se

    encontrar com sir Charles num local muito em voga, onde se servia caf. O amigo j estava a esper-lo. Sir Devereux aproximou e de repente parou, agarrando-se no encosto de uma

    cadeira, como quem vai desmaiar. Charles murmurou, fechando os olhos, Charles, meu caro rapaz... possvel mesmo? Sua casaca

    amarela?No gostou, Dev?No, Charles, no gosto. No posso dizer que desejo ofuscar a vista de qualquer infeliz que queira

    olhar para o meu lado.No to berrante assim!Acha que no? perguntou lorde Devereux, interessado.H muito tempo que voc sofre da vista?Est bem, Dev, est bem! Charles sorriu torto. Sente-se ali, onde no precisa olhar diretamente

    para mim. Acenou para o garom e depois mudou de assunto. Era Chloris que estava passeando comvoc esta manh?Sim, mas no vi voc.Ah, no.Sir Charles parecia um pouco confuso. Eu esperava por algum.Lorde Richard ergueu uma de suas sobrancelhas negras, ao indagar:Ser que Ryland passeava com sua bela irm, esta manh?Sim, por acaso... Charles enrubesceu diante do olhar irnico do amigo. E, claro, com a srta.

    Neville. Sabe, Dev, realmente penso que voc se engana a respeito da moa. Ela no uma caadora dehomens. Tenho a impresso que ela tenta capturar o jovem Ryland...Parece que Cupido anda trabalhando muito!E por falar nisso, voc viu sir Ivor na casa dos Hoxborough?

    Ele chegou tarde, mas quando encontrou a sra. Cleeson, no a largou mais. Nunca o vi to interessado em

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    mulheres.Pelo que sei, eles se conhecem h rnuito tempo.Talvez seu tio nos prepare uma surpresa. Sir Charles teve um sorriso malicioso. Talvez se decida,

    finalmente, a casar e voc estar a salvo da Rainha de Gelo!Richard esvaziou sua xcara de caf.Gostaria que voc me acreditasse quando digo que estou procurando uma esposa e no um caso de

    amor. Lady Chloris tem todos os atributos para esse papel.Ah, sim, um verdadeiro modelo. Sir Charles se levantou.

    Ento, vamos at o "MantonV, Dev, para treinar nossas pontarias. Vamos dar uns tiros e esquecer asmulheres.Devereux saiu atrs do amigo, expulsando energicamente a lembrana intrusa de pequenas estrelas

    douradas que brilhavam entre cachos reluzentes.

    CAPITULO VI

    A cada dia, Lucinda ficava mais ocupada. A Temporada estava no seu ponto culminante. Havia visitas tarde, visitas matinais, bailes, reunies, teatro, desjejuns, idas a museus, concertos e toda espcie de diverses.

    Comera um jantar frio no Pavilho Chins, em Vauxhall; enrubescera no museu de cera da sra. Salmon,diante do namoro de pastores e pastorinhas; ficara levemente entediada diante das esttuas de mrmore Elgin;

    extasiara-se com as vistas das rplicas das quedas de Nigara e de Pompia, no "Panorama", e ficara atnitano Apolonicon, onde "foras mecnicas" podiam ser vistas todos os dias.S no vi os animais ela disse uma tarde, enquanto caminhavam em Vauxhall.Animais?perguntou Will, que estivera conversando com Patience. Ouvi dizer que h tigres, macacos e at um elefante.

    Tinham caminhado quase at a Porta Stanhope. Ao redor da North Lodge havia um grande nmero de damas ecavalheiros. Um homem alto separou-se dos outros, vindo ao encontro deles. Boa tarde, srta. Neville, srta. Ryland. Como vai, Ryland?Boa tarde, senhor.Belle sorriu, coquete.J viu o elefante, sir Devereux?Elefante? O nobre piscou. Ah, Chunee!Chama-se assim? Lucinda riu. mesmo um nome estrangeiro.Ouvi dizer que existem muitas curiosidades naturais no "Exeter Exchange" observou Patience com

    sua voz suave.Sim, na Royal Menagerie, do sr. Cross, mas Chunee famoso. At lorde Byron foi v-lo.No sabia. Precisamos ir, sem falta! animou-se Lucinda.Como foi que no lembramos antes? concordou Belle, com entusiasmo.Lorde Devereux ergueu uma sobrancelha olhando para Will. Ento, Ryland? Entendemos a indireta, no ? Iremos ver Chunee quando as damas quiserem.Lucinda ficou surpresa, mas ele parecia falar a srio.Os compromissos sociais eram to numerosos que passou quase uma semana antes que fosse possvel

    marcar o passeio. Sir Charles, ao saber do programa, agregara-se ao grupo. Por outro lado, Pa-tience decidiuno ir, porque iriam a cavalo.Sabedisse estremecendo um pouco que os cavalos costumam empinar na rua, ao ouvir os rugidos

    vindos daMenagerielMas o que vai fazer? perguntou Lucinda, preocupada. Encontravam-se todos no salo dos

    Grantham.Will se ofereceu para me acompanhar a uma exposio de quadros, na Leicester Square. Quero dizer, se

    voc no se importa, Lucinda. claro que no me importo! Entretanto ela falou surpresa, olhando para Will , voc realmente

    prefere ver quadros a ver um elefante?Will deu um puxo na gravata e lorde Devereux fechou os olhos para no ver a destruio do n.Tanto fazresmungou o rapaz.J vi os animais na Torre...timo comentou Belle, toda feliz. Ento, podem ir para Leicester Square, ns iremos para oStrand!Lucinda ouvira falar na galeria Exeter Exchange, que ficava no Strand, e suas pequenas e elegantes lojas

    de chapus, meias, livros e vrios artigos de luxo. Sabia que era um lugar no qual se marcavam encontros,embora isso no tivesse a menor importncia para ela: no via a hora de visitar a exposio de animais.

  • 7/30/2019 Beth Bryan - Primavera de Amores

    23/59

    Quando entraram no imenso parque Strand e pararam diante do luxuoso Hotel Savoy, Lucinda olhou parao outro lado da alameda, esperanosa, e viu o letreiro enorme "Edward Cross, Comrcio de Aves eMamferos Estrangeiros". Vamos, depressa! exclamou, ansiosa.Lorde Devereux fitou os grandes olhos dourados, brilhantes, admirado com o entusiasmo vibrante da

    jovem. Venha, ento disse-lhe, rindo , mas preste ateno, cuidado com os degraus!No interior da Menagerie havia jaulas por todos os lados, porm lorde Richard, segurando-a pelo cotovelo,

    levou-a para o lado de onde vinha um rudo ensurdecedor. A est o famoso Chunee disse, apontando o animal, porm atento ao rostinho dela.Sem perceber, assustada, Lucinda achegou-se ao lorde.Nunca pensei que fosse to gigantesco!murmurou, num fio de voz.Soube que ele pesa cinco toneladas esclareceu o lorde.Deve ter uma fora enorme!Lucinda observou, um pouco nervosamente, as barras reforadas da jaula.Dizem, porm, que ele muito-comportado explicou sir Charles, que se juntara a eles.Mas, apesar do comentrio, ele ficou muito perto da srta. Ryland, como a proteg-la.Lorde Byron o achou to bem-comportado que teria gostado de lev-lo, para que lhe servisse de

    mordomo disse sir Devereux.

    Como se tivesse entendido aquelas palavras, Chunee ergueu a tromba e soltou um barrido prolongado. Lucindae Belle cobriram os ouvidos com as mos. Cus! observou Lucinda, rindo. Acho que no gostaria de um mordomo que fizesse isso!Depois de um ltimo olhar ao enorme animal cinzento, virou-se para ver os outros. Havia macacos que

    divertiam a todos, e uma enorme gaiola cheia de araras e papagaios de cores brilhantes, que contrastavam comsuas vozes roucas.

    Sir Richard tambm explicara que lorde Byron apreciara o espe-tculo dos tigres se alimentando, masquando Lucinda e Belle viram a chegada dos grandes baldes cheios de carne sangrenta, preferiram ir embora,nervosas.

    Ao sarem, recuperaram a calma e decidiram ir passear pela imensa galeria, admirando as inmeras lojinhasque se alinhavam dos dois lados. Havia bastante movimento e encontraram muitos conhecidos.

    Os cavalheiros decidiram parar numa livraria para examinar um volume com gravuras de Hogarth, e Bellechamou Lucinda para admirar um pente diamante numa lojinha ao lado. Enquanto Belle enumerava asvantagens daquele adereo, Lucinda viu um anncio na parede e chamou sir Devereux. Este deu uma olhada.No, srta. Neville ele observou, com um olhar maroto. Posso aguentar Chunee, mas Toby, o

    Porco Inteligente, realmente seria demais.Mas olhe, por favor! Aqui diz que sabe ler e soletrar e