carta de desligamento do tarifa zero salvador e do mpl

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Carta de desligamento do Tarifa Zero Salvador e do MPL31 de maio de 2015Categoria:DestaquesComentar|ImprimirComo neutralizar essas prticas nocivas sem reforar a lgica do punitivismo? Os movimentos da esquerda precisam urgentemente encarar a situao. Ou o MPL acaba com a prtica dotrashingou otrashingacabar com o MPL.Por Ana Carla, Caribe LuamorenaMaio de 2015Companheiras e companheiros,Apresentamos a nossa carta de desligamento do Tarifa Zero Salvador e, consequentemente, da Federao de Coletivos do MPL Movimento Passe Livre.Pretendemos com essa carta: 1) combater a prtica do punitivismo e da perseguio pessoal nos meios do MPL e organizaes prximas; 2) incentivar que outras pessoas vtimas deste tipo de prtica realizem denncias tambm pblicas, ampliando o debate; e 3) problematizar a incapacidade do MPL de saltar do atual estgio de federao de grupos de afinidades para se tornar, finalmente, um movimento social. Colocamo-nos disposio para dar continuidade a este e aos demais debates que podero se seguir sem contudo cairmos na armadilha de fetichizar o MPL e, agora, por fora do Movimento.Sobre a prtica do trashing no Tarifa Zero SalvadorH um ano teve incio, nos espaos do Tarifa Zero Salvador, uma prtica extremamente danosa a essa e a tantas outras organizaes da esquerda: otrashing. Tambm chamado de detonao ou assassinato de carter, otrashingno desacordo; no conflito; no oposio. Esses so fenmenos perfeitamente comuns que, quando mutuamente entrelaados, honesta e no excessivamente, so necessrios para manter um organismo ou uma organizao saudvel e ativa. A detonao uma forma particularmente cruel de assassinato de reputao que equivale a um estupro psicolgico. manipulador, desonesto e excessivo. ocasionalmente disfarado pela retrica do conflito honesto ou acobertado pela negao de que exista qualquer reprovao. Mas ele no feito para expor desacordos ou resolver diferenas. feito para desacreditar e destruir(para melhor compreenso vera denncia de Jo Freeman feita h quase quatro dcadas).H um elemento central notrashingque merece destaque: ele necessita, para ser efetivo, que se provoque uma confuso entre o pessoal e o poltico.Para torn-lo visvel preciso, portanto, ir alm da aparncia, fazendo o esforo de separar uma coisa da outra, desvelando as regras ocultas do jogo.O primeiro episdio em que a prtica dotrashingfica evidente no universo do Tarifa Zero Salvador (TZ) remonta a uma atividade de apoio do coletivo a outro movimento social. Dois companheiros consensualmente designados pelos membros do TZ para, a pedido do movimento parceiro, exercerem a funo de representao, passaram a ser hostilizados por aqueles que os haviam eleito. Ao invs dos questionamentos a respeito de como ambos estavam a conduzir a representao delegada serem expostos de forma franca e politicamente debatidos, foram disseminados boatos que colocavam em xeque o carter e a militncia dos acusados. A situao causou um profundo mal-estar coletivo e foi reduzida a meros desentendimentos pessoais. Tentou-se, dentro do TZ, tratar a questo abertamente, a fim de se evitar o linchamento moral dos dois companheiros; contudo, no enfrentou-se o problema da forma que ele exigia. poca, passou despercebido que por trs dos supostos mal entendidos estavam escondidos conflitos polticos. S que os mal entendidos passaram a ser frequentes, coincidindo os alvos naqueles que se contrapunham burocratizao e elitizao do Tarifa Zero Salvador, ou seja, queles que atravs das suas aes e propostas apontavam para a perspectiva de construir o TZ enquanto movimento social. Dessa forma, a prtica dotrashingse tornou permanente, cada dia mais agressiva nos espaos formais e, principalmente, nos informais do Tarifa Zero Salvador.Duas concepes em disputa: minoria ativa X movimento social.Ainda em 2014, pouco tempo aps ao primeiro episdio, o Tarifa Zero Salvador resolveu realizar um planejamento no qual deveria definir suas atividades estratgicas, se repensar enquanto movimento e definir sua forma de funcionamento. Naquele momento havia um leve tensionamento de fora para dentro do coletivo, realizado por pessoas que queriam se somar ao TZ mas no encontravam a oportunidade. Enquanto a maior parte do coletivo era a favor da entrada de novos militantes, havia uma parcela que defendia uma entrada mais lenta e estruturada, supostamente qualificada. Apesar da prtica da detonao de carter j estar em pleno curso, havia o esforo de construir consensos, sem o uso das votaes, o que tornava qualquer deciso demasiadamente lenta. Por isso o planejamento se arrastou por longos meses, findando j no final do ano e quase destruindo o coletivo.Em uma das reunies de planejamento foi apresentada por um dos detonadores a proposta de transformar o Tarifa Zero em uma minoria ativa. A proposta de minoria ativa consistia em regras impossveis de se seguir para a entrada e permanncia de militantes, pois exigia alinhamento ideolgico e terico entre todos, estabelecia a estratificao de militantes em categorias e impunha regime de dedicao exclusiva ao coletivo. Nesse momento ficou evidente que alguns consensos j no poderiam ser alcanados.Em resposta, foi apresentado por outro militante os 27 pontos para reestruturar o Tarifa Zero que apontavam no sentido oposto, objetivando nos transformar em um movimento social, um instrumento da classe trabalhadora e aberto s mais diversas contribuies e concepes de luta que no fossem contraditrias aos princpios do MPL. Era uma tentativa de levar ao extremo o carter de Frente do Movimento.O debate poltico, portanto, girou em torno dessas concepes, movimento social X minoria ativa, e aqueles poucos que se alinharam proposta de minoria ativa foram seguidamente derrotados politicamente nos espaos de debate e de deliberao do coletivo. Por mais que a proposta de minoria ativa corrompesse brutalmente o carter de Frente do MPL, cravado na sua prpria carta de princpios, as desavenas polticas poderiam ser levadas com muita tranquilidade e maturidade. Entretanto, impossibilitados de conduzir o debate no plano do racional, dois militantes do coletivo, com apoios espordicos de um ou outro membro, intensificaram as prticas de detonao de carter, focadas naqueles que tensionavam o Tarifa Zero Salvador para se tornar mais aberto (tanto a novos militantes, quanto na relao com outros movimentos sociais).Otrashing, portanto, foi a prtica escolhida para reverter uma derrota poltica.Consequncias prticas: entrave construo da luta e conformao do TZ como grupelhoAlinhada proposta de minoria ativa, e pautada na construo demaggica e moralista de espaos militantes, houve todo o esforo por parte da dupla agressora de impor um ambiente no qual os laos de amizade se sobreporiam aos debates polticos, ideolgicos e estratgicos. importante frisar que esse tipo de converso, que coloca a poltica subordinada aos afetos, personalizando a poltica, a mesma que transforma movimentos sociais em comunidades hermticas e amplamente respaldado em referenciais tericos ps-estruturalistas (hoje hegemnicos dentro da esquerda no geral e de forma muito mais intensa na extrema esquerda). essa a dinmica que querem impor ao Tarifa Zero Salvador: restringir o coletivo a um grupelho, algo completamente antagnico a um movimento social ou a uma organizao que se prope ser um instrumento da classe trabalhadora. Os grupelhos funcionam por afinidade pessoal e, no caso do TZ, a crtica aberta e os debates polticos terminavam antes de comear, censurados por consequncia dos ataques pessoais.Ressentida com o coletivo ante as sucessivas derrotas polticas, a dupla iniciou dois movimentos: 1) boicotar todas as atividades estratgicas duramente pactuadas; e 2) baixar o moral do grupo sempre quando possvel. Chegaram a avaliar negativamente o maior ato de rua que fizemos em um contexto totalmente desfavorvel; da mesma forma procederam quando iniciamos a articulao nacional para criar aCampanha Contra a Tarifa; por ltimo, fizeram de tudo para inviabilizar a construo de laos de confiana com outros movimentos sociais. Apesar de, vale frisar, no terem participado destas atividades, boicotando-as, a crtica da dupla foi respeitada em absoluto e pde ser repetida quantas vezes ela achou oportuna faz-la.Percebendo as limitaes das duas tticas utilizadas (sucessivas derrotas polticas, a despeito do sucesso em atravancar a construo da luta atravs do TZ) houve um incremento: os detonadores passaram a migrar confusamente de posies ainda que, na prtica, o boicote ao crescimento do Tarifa Zero Salvador persistisse. Passaram a questionar a burocracia do Estatuto de Entrada, mesmo sendo eles a inviabilizar a todo momento a entrada de novos militantes; comearam a defender atividades em comunidades, quando sempre se colocaram contra o trabalho de base junto aos trabalhadores; etc.Conclumos, portanto, que o objetivo sempre foi o de conter o crescimento do Tarifa Zero Salvador, deixando como nica opo ser um grupo de afinidades, um clubinho de amigos, uma minoria ativa.Da importncia do campo libertrio enfrentar o trashing de frentePor ltimo, e apesar de a nossa sada ser motivada pelos ataques pessoais constantes da dupla de agressores e dos seus poucos apoiadores, bem como pela consequente tentativa de imobilizar o coletivo com prticas que mascaram as divergncias polticas e impedem o avano da construo real da luta, no podemos deixar de referir a incapacidade do Tarifa Zero Salvador em particular, e da esquerda dita libertria no geral, de enfrentar essas questes sem se valer das armas dos prprios agressores, ou seja, a violncia verbal e o linchamento moral.Como neutralizar essas prticas nocivas sem reforar a lgica do punitivismo?Os movimentos da esquerda precisam urgentemente encarar a situao. Ou o MPL acaba com a prtica dotrashingou otrashingacabar com o MPL.Nos colocamos disposio do Tarifa Zero Salvador e dos demais coletivos do MPL. Nos desculpamos se fomos duros em demasia, antipticos ou omissos em algumas situaes. Se defendemos nossas posies ou fizemos crticas polticas de forma desproporcional, jamais visamos agredir pessoalmente a algum, muito menos anular o companheiro ou companheira. E se hoje samos porque temos a certeza que a maioria dos militantes do Tarifa Zero Salvador que permanece na organizao tem clareza disso. s pessoas que identificaram o absurdo que se passava e no permitiram o nosso total isolamento s agora podemos deixar nosso agradecimento. Tomamos emprestadas as palavras de Benedetti (as nossas no so suficientes):Voc sabe que pode contar comigo () Se outras vezes me encontrar impaciente, sem motivo, no pense que diminuiu o meu amor () Mas faamos um trato, tambm quero contar com voc. to lindo saber que voc existe. Soma e segue.Por uma vida sem catracas e linchamentos!Ana Carla FariasDaniel CaribLuamorena Leoni

Etiquetas:Extrema_esquerda,Reflexes,Represso_e_liberdadesComentrios7 Comentrios on "Carta de desligamento do Tarifa Zero Salvador e do MPL"Leonardo em 1 de junho de 2015 00:36

Uma coisa que eu no entendi, porque nomear a estratgia do grupo que permaneceu de minoria ativa? O grupo usava esse conceito? Se usava, ao meu ver usava de maneira incorreta (se recorremos a tese de minoria ativa de Bakunin, dando nome aos bois), j que a tese da minoria ativa pressupe exatamente, o que o grupo que saiu (dissidente) defendeu.Se no usava, qual o interesse em colar esse rtulo no grupo que defendia a tese do grupo de afinidade que permaneceu?Alis, grupo de afinidade e minoria ativa so conceitos completamente estanques.Daniel Carib em 1 de junho de 2015 08:05

Sim, Leonardo, quando foi apresentada essa proposta de restringir o Tarifa Zero Salvador, o termo usado foi o de minoria ativa. Por isso ele vem entre aspas no texto. Se existe uma contradio ela no nossa.Rafael Saddi em 1 de junho de 2015 13:34

O prprio texto faz essa confuso/associao entre minoria ativa, grupo de afinidade e prticas escrotas. Por exemplo, nesta parte aqui:Conclumos, portanto, que o objetivo sempre foi o de conter o crescimento do Tarifa Zero Salvador, deixando como nica opo ser um grupo de afinidades, um clubinho de amigos, uma minoria ativa. preciso tomar cuidado com isso, pois a noo de minoria ativa e de grupo de afinidades so distintas. Porm, todas elas implicam em reflexes tericas honestas sobre formas de organizao para o enfrentamento do capitalismo. J o trashing pode existir nestas duas formas de organizao e em outras consideradas mais abertas.Lus em 1 de junho de 2015 17:44

Rafael, pelo que entendi, o texto usa minoria ativa porque esse era o termo usado pelos detratores naquele movimento. Ento no aparece sendo aplicado como um conceito preciso, mas como uma citao do que o outro setor falava deve ser at por isso que aparece entre aspas, no?E tu falou uma coisa que eu concordo: o trashing (ou: mtodos de queimao, que j aconteciam desde antes esse nome ingls aparecer no texto do Jo Freeman) no prprio de nenhum tipo de organizao, pode acontecer em qualquer lugar. Mas penso que organizaes fechadas e pautadas por vnculos de afinidade pessoais ou de identidades mais abstratas esto muito mais propcias a esse tipo de problema. Enquanto em organizaes mais amplas, abertas e orientadas por problemas concretos, esse tipo de prtica encontrar um solo menos frtil.Leonardo em 2 de junho de 2015 02:20

Rafael Saddi, minha dvida justamente essa. Ao confundir (propositadamente?) o termo minoria ativa e trashing, os autores insinuam que os defensores de tal conceito bakuniniano (anarquistas de determinada corrente no?) se comportam politicamente como os que permaneceram no tal movimento.Ao meu ver isso problemtico e gera confucionismo (para ser brando na anlise), me desculpe a franqueza. Se eles so de uma organizao que defende abertamente tal conceito, se deve dar nome aos bois e cobrar tal organizao. Se no so creio que os dissidentes que saram de tal movimento social, poderiam ser mais transparentes e no associar a prtica que condenam a determinada corrente.Quem no conhece a composio interna do movimento (como eu e muitos outros leitores)associa logo os que permaneceram aos que defendem a tese da minoria ativa aos que permaneceram em tal movimento social.Coerncia nas crticas fundamental para no incorrer nos mesmos erros que se diz combater (trashing por tabela, atingindo determinadas organizaes).Taiguara em 2 de junho de 2015 15:29

Leonardo,Eu no conheo a composio interna do movimento e no fiz nenhuma associao direta entre os que defendem a tese da minoria ativa e os que permaneceram no movimento. O uso em aspas do termo me parece claro. Se foi isso que foi dito, isso que precisa ser relatado. Se os que disseram so legtimos representantes da tese da minoria ativa, isso um problema menor, penso eu, dentro do quadro que a carta apresenta. Espanta-me o preciosismo tacanho em se resumir a discusso a esse ponto especfico, quando a carta aponta para prticas to mais relevantes para o rumo dos movimentos sociais.Mais absurda ainda me parece a anlise de que o escrito cria uma identificao automtica em a tese da minoria ativa e o trashing; isso sim me parece falta de franqueza ou um defensismo por demais exagerado e precipitado que acaba por deixar o rabo de fora.Alis, que a tal tese da minoria ativa?s vezes ns ficamos to embrenhado em nossos crculos sociais restritos, sem qualquer relevncia poltica e social, que acabamos achando que eles so amostragens fiis do mundo. Assim, passamos a achar que o dialeto que falamos uma linguagem universal. A preocupao minscula com uso do termo, enquanto o mundo ao redor est em pleno desabamente, s comprova uma questo levantada pela carta, a dificuldade de superar a condio de grupo de afinidade para se tornar movimento social.Fagner Enrique em 2 de junho de 2015 21:35

Tem se tornado recorrente neste site a reduo dos debates a questionamentos banais sobre os sentidos das palavras. Aconteceu o mesmo no primeiro artigo da srie sobre a autonomia, enquanto nos demais artigos os comentrios foram quase inexistentes. Isso significa que as pessoas no meio militante no esto interessadas em debater o que realmente importa. Alis, como at agora o MPL no compareceu em peso ao debate, comeo a ficar apreensivo com o estado a que parece ter chegado a federao.