cesare brandhi analisis

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  • 8/3/2019 cesare brandhi analisis

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    SEMINRIO INTERNACIONAL, 28 DE MAIO, 09:30, LISBOA; FAUTL, "O CUBO"Na concluso da parte lectiva do 6 Curso de Mestrado em Reabilitao de Arquitectura e Ncleos Urbanos.

    CESARE BRANDI: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTNICO

    1

    SEMINRIO INTERNACIONAL, 28 DE MAIO, 09:30, LISBOA; FAUTL, "O CUBO"Na data de concluso da parte lectiva do 6 Curso de Mestrado em Reabilitao de Arquitectura e Ncleos Urbanos.

    CESARE BRANDI:

    TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTNICO

    Conferncias de:

    Polo FANCELLI (La Sapienza, Roma); Delgado RODRIGUES (LNEC); Ana SERUYA

    (UNL); Paulo PEREIRA (FAUTL); Joaquim CAETANO (Doutorando UNL); Nuno

    PROENA (NC-Restauro); Lus MARREIROS (IGESPAR); Fernando SALVADOR

    (FAUTL); Elena CHAROLA (WMF); Jos AGUIAR (FAUTL).

    Exposio:

    A cento anni dalla nascita di Cesare Brandi

    Comisso Organizadora:

    Jos Aguiar; Delgado Rodrigues; Ana Seruya; Nuno Proena

    Iniciativa:

    Faculdade de Arquitectura da Universidade Tcnica de Lisboa (Portugal) em conjunto com: Ministero per i Beni e le Attivit

    Culturali - Dipartimento per i Beni Culturali e Paesaggistici (Italia), Associazione Amici di Cesare Brandi (Italia),

    Associazione Giovanni Secco Suardo (Italia), Istituto Centrale per il Restauro (Italia), Academy of Fine Arts Warsaw -

    Faculty of Conservation and Restoration of Works of Art (Poland), Hochschule fur angewandte Wissenschaft und Kunst

    Hildeshiem/Holzminden/Gottingen (Germany), Institut Nationale du Patrimoine (France), Universidad Politecnica de

    Valencia - Departamento de Conservacin y Restauracin de Bienes Culturales (Spain), Universit Libre de Bruxelles -

    Facult de Philosophie et Lettres, Section d'Histoire de l'Art (Belgium).

    Apoios:COMUNIDADE EUROPEIA, Ministerio da Cultura / GESPAR e ICOMOS-PORTUGAL

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    SEMINRIO INTERNACIONAL, 28 DE MAIO, 09:30, LISBOA; FAUTL, "O CUBO"Na concluso da parte lectiva do 6 Curso de Mestrado em Reabilitao de Arquitectura e Ncleos Urbanos.

    CESARE BRANDI: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTNICO

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    ________________________________________________________________

    Apresentao

    O objectivo deste mini-guia o de tornar mais compreensveis os contedos dos

    painis da exposio dedicada vida e obra de Cesare Brandi,

    intencionalmente constitudos sobretudo a partir de imagens, de forma a tornar

    menos cansativa a sua recepo.

    De resto, a figura de Brandi de tal modo complexa que seria impossvel pensar-

    se que se lhe poderia traar um perfil adequado atravs da utilizao de

    instrumentos to rudimentares.

    No entanto, o projecto Cesare Brandi (1906-1988). O seu pensamento e o

    debate na Europa no sculo XX, que pretende celebrar o aniversrio do

    nascimento do grande intelectual europeu, prev tambm outras actividades,mais qualificadas e importantes, tais como a criao de um glossrio plurilingue

    (italiano, ingls, francs, espanhol, portugus, alemo, polaco) dos mais comuns

    termos brandianos acerca do restauro e uma srie de seminrios (para alm da

    Itlia, em Munique, em Hildesheim, em Valncia, em Lisboa, em Londres, em

    Varsvia, em Bruxelas, em Paris) sobre o modo como nos diferentes pases

    parceiros se foi estabelecendo no tempo a relao entre teoria e prtica, luz da

    teoria e da prtica levadas a cabo por Brandi no Instituto Central de Restauro

    (ICR) em Roma durante os vinte anos em que o dirigiu e ainda hoje actuais.O glossrio tem um objectivo fundamentalmente prtico de facilitar a

    compreenso dos textos brandianos sobre restauro, mesmo na previso de

    ulteriores tradues, enquanto que os seminrios pretendem chamar a ateno

    para alguns dos grandes problemas que interessam ao restauro nos nossos dias.

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    CESARE BRANDI: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTNICO

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    Introduo

    Cesare Brandi nasceu em Siena em 8 de Abril de 1906, tendo falecido na mesmacidade em 19 de Janeiro de 1988.

    Licenciado em Direito (Siena, 1927) e em Histria da Arte (Firenze 1928), foi

    funcionrio da Administrao de tutela do Ministrio da Cultura, entre 1930 e

    1960, tendo sido, a partir de 1939, Director do Instituto Central de Restauro, em

    Roma. Entre 1961 e 1976, ensina Histria da Arte, primeiro na Universidade de

    Palermo, depois, a partir de 1967, na Universidade de Roma.

    Poeta, pintor, escritor de livros de viagens, dedicou muitas obras, ensaios,

    intervenes jornalsticas e televisivas, aos vrios domnios da criatividadeartstica (artes figurativas, poesia, msica, dana, teatro, fotografia, cinema) e

    salvaguarda das obras de arte.

    O objecto principal da sua investigao a natureza da criao artstica, vista

    como valor supremo na vida do homem e na histria da Humanidade, estando,

    por esse motivo, na base da concepo da salvaguarda das obras de arte como

    imperativo tico e do restauro (por ele definido como crtica prtica), como

    instrumento insubstituvel de conhecimento.

    O seu pensamento alcana a tradio mais elevada do pensamento europeu, dePlato a Kant e a Hegel, at Husserl, Heidegger, Bergson, Sartre, e mantm

    dilogos fecundos com os seus contemporneos Barthes, Arnheim, Jacobson.

    Quanto ao restauro, Brandi traz para a sua expresso mais elevada a linha

    crtica da tradio do sculo XIX, que, graas a ele, se pde impor, no apenas

    em Itlia e na Europa, mas tambm no resto do mundo.

    disso exemplo o facto de a sua Teoria del restauroter sido traduzida em quase

    todas as principais lnguas do mundo (encontram-se em curso as tradues para

    rabe e russo); a difuso do seu modelo de escola para o ensino do restauro,tambm nos pases de tradies culturais muito distantes da europeia (China,

    ndia, frica); os pedidos ao Instituto Central de Restauro em Roma, nos casos

    de maior dificuldade, de aconselhamento e de interveno, por parte de todos os

    pases.

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    1 A vida

    Os lugares mais importantes na vida de Brandi foram certamente Siena e a casade campo da famlia s portas da cidade de Vignano, entre Roma e Palermo. Em

    Siena passou os primeiros e os ltimos anos da sua vida, embora ali voltasse

    sempre que podia, refugiando-se em Vignano para trabalhar sem ser

    importunado. Passa em Roma os anos da fundao e da direco do Instituto

    Central de Restauro (1938-1960) e, depois, os ltimos 9 anos da sua actividade

    universitria (1967-1976), iniciada em Palermo em 1961.

    Palermo, no entanto, foi tambm o smbolo do seu profundo amor pela Siclia, a

    Ilha do mito da tradio clssica grega, na qual Brandi reconhecia a maisperfeita realizao da capacidade criativa humana na histria do Ocidente.

    Pelo mesmo motivo, gostava de passar parte das suas frias estivais na mtica

    ilha de Prcida, tendo adquirido a casa que presumivelmente tinha sido da

    Graziella, de Lamartine.

    Os outros lugares ligados sua actividade laboral, enquanto funcionrio da

    Administrao de tutela do Ministrio da Cultura em Itlia, foram Bolonha,

    Ferrara, Verona, Udine, Rodes, de onde pde visitar a Grcia e as antigas

    colnias gregas na costa da actual Turquia.Desde jovem, tinha sentido um forte interesse pela actividade artstica, sobretudo

    pela pintura e pela poesia (no entanto deixou-nos apenas um quadro, alguns

    desenhos, trs recolhas de versos), mas depois decidiu dedicar-se

    completamente actividade crtica e filosfica, para alm das batalhas pela

    salvaguarda dos bens culturais, quer atravs de uma intensssima actividade

    editorial, jornalstica, radiotelevisiva, quer mediante a sua actividade didctica

    universitria.

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    2 Filosofia da arte

    A obra terica mais conhecida de Brandi seguramente a Teoria del Restauro,que, no entanto, faz parte como ele prprio adverte no incio da obra de um

    conjunto de escritos compostos com o objectivo de definir as caractersticas

    intrnsecas das obras de arte, de qualquer poca e de qualquer lugar, procurando

    individualizar o processo de fazer arte, que para ele unitrio, ainda que sejam

    diversas as realizaes fsicas a que d lugar.

    Desde o seu primeiro volume terico, o Carmine (1945), Brandi distingue 2

    momentos no processo criativo: a constituio do objecto (o artista escolhe um

    aspecto da realidade e torna-se seu intrprete) e a formulao da imagem (oobjecto, recriado pelo artista, torna-se realidade pura, isto , perde a sua

    existencialidade, embora permanea real). No entanto, o real, por um lado,

    enquanto imagemno existencial, eterno, ao mesmo tempo que, por outro lado,

    como matria, ou seja, artefacto fsico, submetido a todas as leis do mundo

    existencial e, portanto, degradao e ao fim). Para salvaguardar a imagem

    (onde reside uma multiplicidade de valores, sendo o mais importante deles o

    artstico), e transmiti-la s geraes vindouras, necessrio abrandar os

    processos de degradao que dizem respeito matria, reforando a suaconsistncia fsica e procurando restituir, mesmo que apenas potencialmente e

    naquilo que for possvel, o aspecto original ou o que seja o mais significativo da

    imagem.

    Deste modo, a teoria do restauro completa a teoria da arte, colocando-se do lado

    daquele que usufrui (esttica da recepo). Trata-se de algum que usufrui de

    forma privilegiada, porque sobre si recai a responsabilidade ltima da

    sobrevivncia da obra (daqui deriva a nova dignidade reconhecida figura do

    restaurador).

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    3 Crtica e histria da arte

    Para Brandi, as noes de civilizao artstica, poca artstica, estilo, maneira,escola, entre outras, tm apenas um valor prtico: para ele existe apenas a obra

    de arte na sua inseparvel unidade de matria e imagem, isto , na sua

    irrepetvel individualidade, tanto fsica como formal.

    A tarefa do especialista , pois, a de penetrar a obra na sua estrutura formal, nos

    seus caracteres mais intrnsecos enquanto obra de arte, no descurando nenhum

    dos seus outros possveis valores e significados, que, no entanto, para Brandi,

    dizem respeito histria da cultura e no tm qualquer capacidade de suscitar

    experincia esttica.Daqui deriva que possvel aplicar os mesmos critrios gerais interpretao de

    qualquer obra de arte (no sentido extensivo, mas especfico, que Brandi d ao

    termo), sem impedimentos de tempo ou de espao: tanto a Duccio como a

    Morandi e a Picasso, a Michelangelo como a Borromini ou a Wright, mas tambm

    s pinturas de Ajanta ou ao Jardim de Katsura.

    Por conseguinte, pode existir apenas a crtica de arte, em rigor, no a histria da

    arte, mas, no mximo, uma trama (um desenho) onde colocar uma srie de obras

    unidas entre si por elementos exteriores, e por relao com o facto de seremexpresses concretas de um determinado modo de fazer artstico. A capacidade

    de leruma obra de arte segundo os seus valores formais constitui tambm, por

    outro lado, a melhor forma de dela se aproximar, em funo de uma eventual

    interveno de restauro, enquanto ajuda para definir o aspecto mais significativo

    da obra, de modo a poder recuper-lo da maneira mais adequada.

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    4 Livros de viagens

    Brandi foi um viajante incansvel, mas muito singular.

    Com efeito, ele viajava fundamentalmente pelo esprito de curiosidade ou deaventura, e menos para ocupar o tempo livre, certamente para visitar as

    expresses artsticas mais elevadas das vrias civilizaes e observ-las em

    pessoa e nos seus contextos naturais, pois estava convencido de que s a

    observao directa das obras de arte (no sentido mais vasto de monumentos,

    campos arqueolgicos, centros histricos, paisagens, etc.) lhe poderia permitir

    um adequado conhecimento e, por conseguinte, a experincia inimitvel do ponto

    de vista esttico que para ele constitui o mximo da concretizao da criatividade

    humana.Fascinava-o tambm a possibilidade de conseguir penetrar nos mais secretos

    caracteres formais de cada uma daquelas obras luz de parmetros de leitura

    que ele prprio tinha sistematizado nas obras de teoria da arte, que, deste modo,

    poderiam ser confirmados na sua validade universal e no apenas em relao a

    expresses artsticas particulares.

    Por este motivo, depois da ateno dada ao que ele considerava ser o bero da

    civilizao, ou pelo menos da nossa civilizao, fundamentalmente mediterrnica

    e, depois, europeia o Egipto, a Mesopotmia, a Prsia, a Grcia, a fricamediterrnica, Portugal, a Rssia e, obviamente, a Itlia o seu interesse

    orientou-se em direco s grandes civilizaes do Extremo Oriente, ndia,

    China, ao Japo, deixando pginas memorveis, como aquelas em que, por

    exemplo, analisa o jardim japons na sua caracterstica fundamental de ser

    permevel ao espao e de representar, portanto, uma diferente e original variante

    do princpio de individuao da arquitectura, o interior-exterior, que tanta

    influncia veio a ter na mais inovadora arquitectura moderna, como por exemplo

    a de Wright.

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    5 Tutela da arte e da paisagem

    Tendo reconhecido na obra de arte a expresso mais alta da criatividadehumana, Brandi sentiu durante toda a vida, como um iniludvel dever cvico e

    moral (o imperativo tico, segundo a terminologia de Kant), a defesa das obras

    de arte, monumentos e todas as outras realizaes artsticas, incluindo a

    paisagem, na medida em que tambm ela - em Itlia como em muitos outros

    pases de tradio histrica antiga - produto de uma actividade secular do

    homem com o fim de lhe conferir uma configurao especfica, onde se encontra

    espelhado aquilo que constitui a caracterstica de uma determinada cultura (como

    afirma no escro de paisagem, visvel a partir da janela do seu estdio emVignano).

    Com este propsito, serviu-se de todos os meios que tinha sua disposio: o

    ensino, a sua actividade nos organismos de controlo e de tutela, quer

    institucionais (o Conselho Superior das Antiguidades e das Belas-Artes de

    Itlia), quer de voluntariado (a Associao Italia Nostra, para a defesa do

    patrimnio histrico, artstico e natural do pas), bem como da sua actividade

    jornalstica nos principais jornais italianos, com mais de 100 artigos, agora

    reunidos no volume intitulado Il patrimonio insidiato, e das denncias atravs dastransmisses radiotelevisivas.

    Brandi d a conhecer os inmeros modos como se pode atentar contra a

    integridade do patrimnio artstico, deixando ao abandono e na runa bairros

    inteiros (como em Palermo, 60 anos antes da guerra), mas tambm atravs de

    intervenes aparentemente positivas (a forada reconstruo do Templo E de

    Selinunte, a que espontaneamente se contrape a autenticidade das runas do

    contguo Templo G; a anacrnica recuperao do Palazzo dei Cavalieri, em

    Rodes, como da Igreja de So Francisco, em Siena); tudo isto como verdadeiroespecialista, indicando tambm as intervenes realmente positivas (por

    exemplo, a cobertura das galerias da fachada do Duomo de Ferrara, durante a

    invernia, de forma a prevenir a acelerao da degradao das frgeis estruturas

    medievais em mrmore).

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    6 Teoria e prtica do restauro

    A caracterstica mais original (de certa forma, a anomalia) da Teoria del restauroconsiste no facto de ela se fundar, no apenas numa srie de dedues da

    filosofia da arte de Brandi, mas tambm numa actividade de contnua verificao

    na prtica, a qual foi permitida pelos 20 anos em que permaneceu na direco do

    Instituto Central de Restauro em Roma.

    A actividade do Instituto, iniciada em 18 de Outubro de 1941, viria a ser

    interrompida quase de imediato devido guerra. Retomada logo aps a

    libertao de Roma, encontrou nos danos sofridos pelas obras de arte um terreno

    fertilssimo para a organizao de novos mtodos e de novas tcnicas: adisposio experimentalista de enfrentar problemas de conservao e de

    restauro, sempre novos e diferentes, caracteriza todo o perodo em que Brandi

    dirigiu o Instituto, mas tambm aquele que chegou at aos nossos dias.

    Um exemplo de fcil entendimento pode ser representado pela exigncia de

    intervir nas pinturas murais, reduzidas a destroos devido aos bombardeamentos

    durante a guerra: os casos mais conhecidos so os do Camposanto de Pisa, da

    Cappella Mazzatosta de Lorenzo de Viterbo, tambm nesta cidade, e da Cappella

    Ovetari de Andrea Mantegna, em Pdua.Naquela ocasio foi levado a cabo um mtodo de recomposio dos fragmentos

    identificados, imprimindo nas telas de suporte, com tcnica fotogrfica, a imagem

    a preto e branco anterior derrocada, mas sobretudo foi experimentada uma

    tcnica indita de reintegrao das lacunas (tambm essa ainda hoje usada), o

    tratteggio, que punha fim velha oposio entre a reconstruo em estilo (isto ,

    falsa) e a no interveno, bem como, por outro lado, viria a constituir uma

    confirmao operativa do conceito de unidade potencialda obra de arte.

    Brandi no se contentou com aquela genial soluo, seguidamente, e luz dateoria da Gestalt-psychologie, desenvolveu uma soluo ainda mais refinada

    tcnicamente, o abaixamento ptico (e cromtico) do fundo da lacuna.

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    7 - TEORIA E PRTICA DO RESTAURO:

    O cone da Madonna della Clemenza,em Santa Maria in Trastevere, em

    Roma

    A interveno, executada no incio dos anos cinquenta, constitui uma das

    referncias da actividade terico-prtica de Brandi, na direco do Instituto

    Central de Restauro de Roma.

    Com efeito, esta obra, devido aos repetidos repintes, era considerada at ento

    como de qualidade no excepcional, remontando ao sculo XII (ainda que o

    grande arquelogo cristo, Joseph Wilpert, lhe tivesse intudo uma origem mais

    antiga).Depois da remoo dos repintes foi descoberto um precioso cone do sculo VI, a

    nica figura inteira e pintada a encustica em madeira de cipreste (pelo menos de

    entre aquelas que chegaram at ns) no mbito do cristianismo ocidental, de

    enorme interesse, quer do ponto de vista iconogrfico, como histrico e artstico.

    Naquela ocasio foi possvel a utilizao de novas tcnicas de investigao

    cientfica ( base de raios infravermelhos, ultravioletas, radiogrficos), hoje

    usadas frequentemente, mas ento quase desconhecidas, tendo sido levado a

    cabo um procedimento consistente de recuperao preventiva de todas asinformaes teis sob o aspecto de conservao (casos anteriores, identificao

    dos materiais constitutivos e das modalidades de juno, definio do estado de

    conservao), para depois se passar s primeiras provas de limpeza e, s no

    final, remoo criticamente motivada das sobreposies voluntrias ou

    involuntrias.

    Em relao s lacunas, a interveno limitou-se a fazer o abaixamento ptico-

    cromticodo suporte em considerao (a madeira ou o linho da incamottatura1),

    ao mesmo tempo que foi dada especial ateno ao suporte, dotando-o de umaestrutura de sustentao que precedia as actuais solues elsticas,

    desligando-o da moldura, que foi aplicada na parte da frente.

    1Tcnica que permite colocar uma tela ou um papel sobre uma superfcie dura e plana, a maior parte das

    vezes uma parede ou madeira; tambm dita marouflagem.

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    CESARE BRANDI: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTNICO

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    Mais recentemente, para poder garantir o usufruto e a utilizao no culto, sem se

    colocar em risco a conservao do artefacto, o ICR realizou um complexo

    dispositivo mecnico que permite o controlo de perto, quer da pintura, quer do

    suporte.

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    8 TEORIA E PRTICA DO RESTAURO:

    A Sepultura de Santa Luciadel Caravaggio, no Museu Bellomo de Siracusa

    A interveno na grande tela da ltima produo caravaggesca constitui um outro

    ponto de referncia na experincia dirigida por Brandi e na histria do restauro

    em geral.

    Quando chegou ao Instituto Central de Restauro, a obra encontrava-se em

    pssimas condies, quer por estar danificada por intervenes anteriores pouco

    cautelosas, quer, sobretudo, por ter sido colocada num ambiente completamente

    inadequado (a Igreja de Santa Lucia al Sepolcro, exposta salsugem e com uma

    elevada humidade relativa que, no Vero, pode chegar aos 95%).Por conseguinte, os testemunhos antigos (reprodues, cpias) e as

    investigaes cientficas confirmaram-se como indispensveis aos propsitos da

    reconstituio do seu aspecto mais significativo, que, no entanto, s parcialmente

    foi possvel atingir, pois, sob algumas das zonas reconstrudas (o olho e a mitra

    do bispo, a armadura do soldado, a cabea do coveiro da direita, da mulher

    direita do dicono, etc.) no existia nada de original e, portanto, tornou-se

    prefervel deixar os repintes, fazendo assim prevalecer dialecticamente a

    instncia histrica.Concludo o restauro em 1947, depois de dois anos de trabalho, a obra foi

    devolvida aos responsveis que, no entanto, desobedecendo s recomendaes

    de Brandi, a recolocaram na igreja.

    Por este motivo, menos de 20 anos depois, foi necessria uma nova interveno

    de restauro do ICR, no curso da qual foi utilizada a mesma metodologia,

    limitando-se, em substncia, a remediar os novos danos, mas tendo-se podido

    proceder com maior segurana, graas s mais avanadas metodologias de

    investigao e ao emprego de produtos de conservao mais fiveis (ossolventes) do que os materiais tradicionalmente usados at ao incio dos anos 60.

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    CESARE BRANDI: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTNICO

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    9 Difuso da teoria e da prtica do restauro

    A difuso da via brandiana no restauro, em Itlia e no estrangeiro, tornou-sepossvel graas s caractersticas excepcionais da personalidade de Brandi, que

    soube, ao mesmo tempo, criar uma slida base terica, que usou continuamente

    e de forma dialctica em confronto com as mais variadas experimentaes

    prticas (tambm cientficas) e, sobretudo, valorizar os resultados alcanados

    atravs da actividade didctica.

    O ensino do restauro, como sntese da actividade terico-prtica do Instituto por

    ele criado e dirigido durante 20 anos, fez da escola para restauradores ICR uma

    experincia de relevncia histrica, tratando-se da primeira verdadeira escola deformao para restauradores, que, deste modo, deixaram de ser artesos para

    passarem a ser profissionais.

    Assim, Brandi revelou tambm excelentes dotes de organizador, de tal modo que

    o ICR, no perodo em que ele o dirigiu, foi reconhecido pelo socilogo do

    trabalho, Domenico De Masi, como um dos 13 grandes grupos criativos da

    Europa, entre a segunda metade do sculo XIX e a primeira metade do sculo

    XX.

    Tambm para a sua difuso no estrangeiro, a actividade didctica para alm datraduo da Teoria del Restauro em vrias lnguas, recentemente tambm em

    chins e em polaco revelou-se o instrumento mais importante, quer atravs da

    actividade de formao, de especializao, de actualizao de restauradores no

    ICR (5 alunos, de entre os 15 previstos todos os anos, devem ser, por prescrio

    do regulamento, estrangeiros, ainda que, ao longo dos anos, muitos tenham sido

    bolseiros), quer atravs dos cursos de aperfeioamento e de actualizao,

    leccionados por especialistas estrangeiros, sobretudo arquitectos, iniciados a

    partir dos anos 60 pelo ICCROM e pela Universidade La Sapienza, de Roma.Hoje em dia existe a tendncia de criar escolas para restauradores segundo o

    modelo ICR em vrios pases do mundo, mesmo naqueles com tradies

    culturais distantes das nossas (China, ndia, frica).

  • 8/3/2019 cesare brandhi analisis

    14/14

    SEMINRIO INTERNACIONAL, 28 DE MAIO, 09:30, LISBOA; FAUTL, "O CUBO"Na concluso da parte lectiva do 6 Curso de Mestrado em Reabilitao de Arquitectura e Ncleos Urbanos.

    CESARE BRANDI: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTNICO

    14

    10 Presena no centenrio do nascimento

    Em 2006 tiveram lugar 40 manifestaes em 26 cidades (oito na Europa:iniciando-se em Lisboa, depois Budapeste, Copenhaga, Varsvia, Valncia,

    Sevilha, Berlim, Helsnquia e seis no resto do mundo: Tquio, Quioto, Nova

    Iorque, So Francisco, So Paulo, Buenos Aires), foram reeditadas 4 obras ( Il

    restauro.Teoria e pratic; Aria di Siena; Terre dItalia; Scritti sullarte antica. 1:

    Medioevo e primo Rinascimento, da Giotto e Jacopo della Quercia), para alm da

    reproduo anasttica do primeiro ano (1950) do Bollettino dellIstituto Centrale

    del Restauro, publicadas 5 edies estrangeiras da Teoria del restauro (em

    japons, portugus, chins, alemo e polaco), as correspondncias com LuigiMagnani, com Renato Guttuso, com os outros seus artistas, as actas do

    Convnio La teoria del restauro nel 900: da Riegl a Brandi, e do Convnio

    Attraverso limmagine, a monografia de Paolo DAngelo, Cesare Brandi, critica

    darte e filosofia, a mostra e o catlogo La passione e larte. Cesare Brandi e Luigi

    Magnani collezzionisti. Em 2007 esto previstas cerca de 30 manifestaes e

    uma vintena de obras sobre Brandi, entre as quais algumas republicaes e

    tradues.

    No fundo, ficou confirmada, em Itlia e no estrangeiro, a convico de que ateoria e a prtica do restauro de Brandi permanecem vlidas, mesmo em relao

    quelas categorias de obras para as quais podem parecer menos adequadas:

    arquitectnicas, arqueolgicas, aplicadas ou industriais, contemporneas

    (apesar de constitudas por matria, isto , dotadas de consistncia fsica). No

    estrangeiro, em especial, o aspecto que mais tem sido apreciado exactamente

    o terico-metodolgico, do qual, nas tradies dos vrios pases, se tem sentido

    mais a falta.

    Traduo de Jesus Carlos. Reviso Cientifica: Jos Aguiar e Nuno Proena

    Mais informaes em: http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/