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    GOIS NO SCULO DO CINEMA

    BETO LEO *

    EDUARDO BENFICA

    2 Edio

    O MERCADO EXIBIDOR

    OS PRIMEIROS CINEMAS

    A primeira sesso pblica de cinema no Brasil foi realizada no Rio de Janeiro em 8 dejulho de 1896, apenas 7 meses aps a histrica exibio dos filmes dos irmos Lumiere em Paris,ocorrida no dia 28 de dezembro de 1895. Dois anos depois, em 1898, seriam feitas as primeirasfilmagens em solo brasileiro. Segundo os dados oficiais, dois irmos italianos, Affonso e PaschoalSegreto foram os responsveis pelo incio de nossa produo. Affonso foi responsvel peloprimeiro filme feito no Brasil: algumas cenas da Baa de Guanabara. Paschoal era dono de teatrose empresrio do ramo de diverso e o primeiro a fazer projees de filmes no pas.

    Em Gois, a primeira projeo aconteceu no dia 13 de maio de 1909. A sesso aconteceus 20 horas, no Theatro So Joaquim, na antiga capital Vila Boa de Goyaz, sob os auspcios daEmpresa Recreio Goyano, que projetou comdias, dramticas e phantasticas, como dizia o

    cartaz colocado no saguo do teatro. Segundo a crnica da poca, a estria da salacinematogrfica aconteceu em clima de grande euforia e expectativas. Afinal, apenas 14 anosseparava aquele histrico dia 13 de maio da pioneira exibio no Salo Indicano do Gran Caf deParis, que maravilhou o pblico e foi o grande acontecimento do sculo, de acordo com Pedro

    Viggiano.1

    Durante a dcada de 1910, quando o cinema se firma como forma de entretenimento, osfilmes tinham de 10 a 20 minutos de durao. Assim, a programao era composta por vrioscurtas. Nesse contexto, o Cinema Goyano, aps um ms de sua inaugurao, exibia As Proezasde Dom Quixote, anunciado como uma verdadeira fbrica de gargalhadas; Santos Dumont,documentrio sobre as peripcias do Pai da Aviao em Paris; O Enforcado, comdia, eChegada e Partida de Trens de Ferro.

    O Cinema Goyano funcionou ininterruptamente at 1934. No Teatro So Joaquim, no Becoda Lapa, ele funcionou at 1917, quando o seu proprietrio, Domingos Gomes, contruiu prdioprprio para o cinema, no Largo da Cadeia. No novo endereo, os filmes contavam com oacompanhamento dos msicos da Banda do Exrcito. Posteriormente, o primeiro cinema goianopassou a usar orquestra prpria durante a exibio dos filmes para fazer o fundo musical.

    Em 1919 foi inaugurado na antiga capital o Cinema Iris, de propriedade de Geraldo Sarti.Adminstrada por Carlos Lins, a sala exibidora tambm criou a sua prpria orquestra para sonorizaras sesses cinematogrficas. Com o fechamento do Iris, em 1923, Edilberto Santan fundou, nomesmo local, o Cinema Ideal, que funcionou at 1927.

    Com o advento do som, em 1928, as orquestras so relegadas ao segundo plano. No dia 3de fevereiro de 1937, dez anos depois do primeiro filme sonoro, O Cantor de Jazz, Wadjou daRocha Lima inaugurou na Cidade de Gois o primeiro cinema falado do Estado, o Cine Progresso,pondo fim a toda uma era de magia reinante entre msica e cinema.

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    A prtica de executar msicas de fundo durante as exibies dos filmes vinha desde 1914,quando foi fundado o Cinema Luzo Brasileiro, construdo por Joaquim Guedes de Amorim.Paralelamente, foi criada a primeira orquestra de Gois, diante da necessidade de haver fundosmusicais para as exibies cinematogrficas. Em seu livro A Msica em Gois, a professoraBelkiss Spencire Carneiro de Mendona ( ) registra a seguinte crnica:

    Cinema Luzo Brasileiro. Tem sido grande a concorrncia s sesses destaelegante casa de espetculo. Os films focalisados tem sido muito apreciados pelasua cuidadosa escolha, concorrendo para a animao das sesses irrepreensvelorchestra que sobre a abalisada direco da maestrina D. Nhanha do Couto temdeliciado os habitues do Luzo. A modificao feita pelo proprietrio do Luzo,substituindo a banda policial pela actual orchestra, mereceu os apllausos de todosaquelles que querem que a nossa terra acompanhe o progresso. verdade quebandas de msicas em Cinemas, s se vm em Goyaz.

    De acordo com a autora, o repertrio compunha-se de aberturas, das peras Tosca eGuarany, de Carlos gomes; alvorada do Schiavo, do mesmo compositor; Si jetais roi de Adam;

    Poeta e campons, Cavalaria Ligeira de Supper, grandes valsas como Pomome e outras domesmo gnero. (2)

    PRIMEIRO CINEMA DE GOINIA

    O primeiro cinema da nova capital foi inaugurado no dia 13 de junho de 1936. Seu nome,Cine Teatro Campinas, foi escolhido atravs de concurso pblico. A sugesto vencedora foi de

    Antnio Leo Teixeira, de acordo com Oscar Sabino Jnior. (3)

    J no setor central de Goinia, a primeira sala de cinema a ser aberta foi o Cine Popular,em outubro de 1939. Mais tarde passou a ser denominada Cine Santa Maria, na Rua 24, entre a

    Avenida Anhangera e Rua 4.

    Em crnica publicada no jornal O Popular, edio de 4 de dezembro de 1994, Sebastiode Barros Abreu registra o clima reinante no dia da inaugurao do Cine Popular:

    O Liceu estava em polvorosa na cinzenta manh de outubro de 1939. Osalunos que moravam no Botafogo haviam trazido a auspiciosa notcia de que,finalmente no prximo sbado, seria inaugurado o Cine Popular, ali na Rua 24, entrea Avenida Anhangera e a Rua 4. Era mais uma iniciativa do velho Alpio Ferreira,um portugus empreendedor que apostar no futuro da jovem capital e no se

    conformava em ter que se deslocar at Campinas para ver Buck Jones ou kenMaynard dizimando hordas de cheienes no far west ou par extasiar-secontemplando e ouvindo a bela Janet Mac Donald em dueto com Nelson Eddy nosprimeiros musicais da Metro Goldwin Mayer.

    A notcia era boa demais para ser verdadeira e por isso os estudantes daprimeira srie, burlando a vigilncia do severo Adventor, chefe dos bedis,resolveram dar uma de So Tom: foram ver para crer, enforcando as aulas degeografia e histria, a cargo, respectivamente, dos professores Alcide Jub eJoaquim Ferreira.

    No terceiro horrio j estavam todos de volta s suas salas, mas a confusoera geral. Tudo por causa de um grande cartaz afixado porta do cinema, no qualse via um rapaz com a mo direita portando uma metralhadora que cospia fogo ecom a mo esquerda arrastava uma bela e apavorada loira. No fundo, viam-se as

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    escadarias e colunas de um majestoso edifcio, que mais tarde ficaramos sabendoser a Casa Branca, sede do governo americano. Em letras enormes sobre o corpodo valente mocinho estava escrito THE MAN e na saia azul plissada da mocinhaduas palavras em vermelho: WHO DARED. Metade da turma sustentava que TMan era o nome do artista, enquanto a outra metade dizia que o mocinho sechamava Uo Daredi. Um estudante de Rio Verde jurava que j havia visto o filmeem Uberlndia e que Who Dared era o nome da artista, enquanto Gilberto Marcocloretrucava do alto de sua sapcincia de mais velho da turma:

    - Onde j se viu mulher com nome terminado em o?

    De repente fez-se silncio na sala, porque acabava de entra o temvelprofessor Joo Setbal. De p em frente ao quadro negro, limpando os culos comseu leno sempre de imaculada brancura, o velho mestre foi logo explicando:

    - Isto aqui est parecendo mercado de peixe. O que est acontecendo paratanta algazarra?

    Um estudante mais corajoso se levantou e exps o grave problema:

    - Qual era o nome do mocinho, the Man ou Who Dared? - escrevendo noquadro as quatro palavras. O rosto vermelho de bebezo do mestre se abriu numsorriso de comiserao ante tanta ignorncia. Ajustou os culos, fitoudemoradamente a turma e fulminou com fingida beleza:

    - Camba de batrquios, no se trata de nome de ningum. The Man WhoDared simplesmente o ttulo da fita em ingls e quer dizer mais ou menos O

    Homem que ousou. (3)

    CINE-TEATRO GOINIA

    De estilo art dco, com uma arquitetura que lembra uma embarcao que sobe o RioTocantins, situado na avenida de mesmo nome, o Cine-Teatro foi inaugurado em 12 de junho de1942. A primeira pgina do jornal Correio Oficial, de Goinia, estampava poca:

    A inaugurao do Cine-Teatro Goinia. Divino Tormento asuperproduo da Metro Goldwin-Mayer, com os aclamados artistas Nelson Eddy eJeanette Mac Donald, que ser exibida na tera-feira prxima, quando se dar ainaugurao do Cine-Teatro Goinia, obra monumental construda pelo Governo

    Estadual. Possuindo aparelhos cinematogrficos modernssimos, acomodaesconfortabilssimas e, antes de tudo, higinicas, aparelhagem de renovao de ar etudo o mais que se possa exigir ao rigor da tcnica cinematogrfica, o Cine-TeatroGoinia ser mais um formidvel ponto de diverses que a nova capital oferece aosseus habitantes.

    Assim, pois, com a inaugurao desse cinema, Goinia se engalanar maisuma vez, o que ser um acontecimento de intensa alegria para todos. Ao que fomosinformados, a programao de filmes a serem exibidos obedecer a esmerada

    seleo, a fim de satisfazer-se plenamente ao pblico em geral.(4)

    Em Anpolis, o primeiro a ser inaugurado foi o Cine Bruno, em 1924. Funcionouinicialmente em um barraco de paredes de pau-a-pique e piso de terra batida. Demolido essebarraco, ali foi construdo um magnfico prdio para os padres da poca, onde passou a

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    funcionar, a partir de 1929, o Cine Goians, de propriedade de Maximiano Alves da Cunha. Essecinema encerrou suas atividades em 1933. Nesse mesmo ano foi inaugurado o Cine urea, quetambm no agentou a concorrncia com o recm-aberto Cine Teatro Imperial e fechou suasportas em 1937.

    O Imperial foi aberto em 14 de dezembro de 1936. Na poca era um cinema de primeira

    classe, contando com equipamentos modernos e poltronas de ltimo tipo, confeccionadas no RioGrande do Sul. Um dos seus proprietrios era o jovem Jonas Duarte, futuro governador de Goisnos anos 1950, cujo nome foi dado posteriormente ao Estdio Municipal de Anpolis. O CineTeatro Imperial tem seu nome mudado para Cine Roxy, na dcada de 1970.

    TELAS ESCURAS

    Assim como a cidade de Milo narrada na crnica nostlgica por Giuseppe Tornatore emseu filme Cinema Paradiso, Gois tambm viveu a ascenso e a decadncia do espetculocinematogrfico nas salas escuras. Para se ter uma idia, em 1934, o Estado contava com quatro

    cines-teatros e 14 cinemas, onde aconteciam 2.395 sesses por ano, s quais compareciam318.408 espectadores. Trs anos depois, Gois j comportava cinco cines-teatros e 19 cinemasparticulares, que realizavam 2.995 sesses para uma platia de 400.640 pessoas. Em 1938, aento capital do Estado contava dois cinemas, que recebiam 72 mil espectadores em 550sesses. No ano de 1944, em todo o Estado existiam trs cines-teatros e 17 cinemas,

    responsveis por 4.781 sesses apresentadas para 900.383 espectadores.(5)

    O fenmeno do fechamento das salas de cinema no mundo inteiro tem uma relao diretacom o surgimento da televiso e das novas tecnologias. Com o advento da TV nos EstadosUnidos, na dcada de 1950, ficou patente que a essncia da programao seriam os filmes. ComoHollywood o centro produtor cinematogrfico mundial e h uma forte legislao antitrustenaquele pas, tratou-se logo de fazer o casamento entre a televiso e o cinema, unio que dura

    at os dias de hoje. Se por um lado, essa unio garantiu e ainda garante a sobrevivncia docinema enquanto indstria nos EUA, por outro, neste do mundo, responsvel pelo fechamentode muitas salas de exibio.

    No Brasil, onde o fator econmico o principal motivo para que as pessoas troquem ocinema pela televiso, a situao mais grave. sintomtico que o princpio da decadncia doscinemas brasileiros tenha se dado justamente a partir da dcada de 1960, quando a televisocomeou sua consolidao. Centenas deles encerraram suas atividades desde ento, uma vezque a TV passou a proporcionar aos brasileiros um entretenimento mais barato, e geralmente dealta qualidade tcnica, no conforto de suas casas.

    A situao agravou-se ainda mais na dcada de 1970. Com o advento do videocassete -que existe desde 1964, mas que teve o seu uso domstico ampliado mundialmente nos anos 70 -,o cidado comum passou a dispor de (quase) tudo o que lhe oferecia o encantador mundo docinema em casa. Assim, o mercado brasileiro passou a reproduzir um fenmeno que j ocorreraem todos os pases em que houve um grande consumo de videocassete, num primeiro momento,e mais recentemente do DVD, televiso paga e internet: o fechamento gradativo dos cinemas.

    A indstria cinematogrfica dividida em trs ramos de atividades: a produo, adistribuio e a exibio. Na produo ocorre a maior inverso de capital e mo-de-obra. Adistribuio a grande responsvel pela comercializao e circulao dos filmes no mercado. A Aexibio o setor que vende os ingressos ao pblico e projeta as pelculas nas salas de cinema,alm de exibir os filmes em outras janelas, como a TV e o home video. Um dos principais fatoresque contribuiram para o fechamento crescente das salas de cinema no Brasil, principalmente oscinemas de bairros e os cinemas do interior do pas, foi o antagonismo entre esses trs setores.

    Para melhor entender essa correlao de foras, a histria pode ser dividida em cincofases, levando-se em conta o estgio de desenvolvimento da atividade de distribuio

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    cinematogrfica no pas. A primeira fase compreende os anos de 1896 a 1931. Como foi visto,durante os ltimos anos do sculo 19 ocorreu a entrada do cinema no Brasil. A partir da aatividade desenvolveu-se, atingindo platias e movimentando profissionais e empresrios. Nadistribuio, empresas locais cuidavam da circulao das produes nacionais e da importao dettulos estrangeiros, nos primeiros anos.

    Na dcada de 1910 ocorreu a instalao de filiais de distribuidoras estrangeiras noterritrio brasileiro. Em virtude da ausncia de legislao nacional sobre o cinema, neste perodo,a explorao do mercado era livre.

    A segunda fase, de 1932 a 1946, foi marcada pelo inicio da interveno estatal no cinema,fazendo com que as regras de mercado deixassem de ser as nicas balizas da atividadecinematogrfica. O Estado torna-se um agente efetivo do setor, caracterstica que se origina nestafase, mas que se far presente nos perodos subseqentes. A distribuio de filmes estrangeirosfica dominada pelo produto norte-americano, pois a Europa sofre as conseqncias da guerra. Ofilme nacional, em sua maioria de curta-metragem, comea a valer-se da lei de obrigatoriedade deexibio.

    Na terceira fase, de 1947 a 1966, promovido um amplo debate nacional sobre como

    deve ser o cinema brasileiro e de que forma o Estado deve intervir na atividade. A discusso geraconscientizao, fortalecendo as reivindicaes e o discurso da classe. A presena do filmeestrangeiro um dos principais temas debatidos, bem como as formas de explorao do mercadobrasileiro. A criao do INC Instituto Nacional de Cinema a conseqncia direta damovimentao dos profissionais e do Estado.

    A quarta fase, de 1967 a 1989, se caracteriza pela interveno direta do Estado brasileirona atividade cinematogrfica, atravs da atuao do Instituto Nacional de Cinema, da Embrafilmee do Concine. A nica participao efetiva do estado na atividade de distribuio cinematogrficade filmes brasileiros ocorreu neste perodo.

    Na quinta fase, de 1990 a 2006, com a adoo de uma poltica de liberalismo cultural, oEstado liquida os rgos pblicos do setor, destruindo a estrutura existente de amparo ao cinemabrasileiro. Complementa o perodo, a adoo de prticas do mecenato liberal, caracterizado peladependncia da iniciativa privada. O filme brasileiro se adapta aos novos tempos.

    Vale ressaltar que, na metade da dcada de 1910, Hollywood dava os primeiros sinais daatuao econmica e mercadolgica que a sua indstria cinematogrfica viria a desenvolver. Estaconduta traria profundas conseqncias para vrios pases, entre eles o Brasil. A primeira delasfoi um declnio da produo nacional de filmes, por volta de 1914. Os reflexos do mercadotambm esto relacionados com a instalao das distribuidoras americanas no Brasil. A primeira ase instalar foi a Fox Film, em 1915. No ano seguinte, foi a vez da Paramount Cia. Pelculas deLuxo da Amrica Latina. A Universal veio em 1921. Este processo continuou com a chegada daMGM, em 1926, da Warner Bros, em 1927, e da First National e Columbia, em 1929. Com aentrada das distribuidoras norte-americanas, um forte vnculo entre os exibidores brasileiros e

    estas empresas comeou a se formar. Atravs da atuao dessas empresas, os filmes podiam seralugados, eliminando a necessidade de compra por parte do exibidor.

    Os tradicionais estdios de Hollywood vose fundindo, como a Universal, Paramount,Metro, Fox, Warner e a Colmbia. Esses novos grupos passam ento a monopolizar a distribuiointernacional, decretando o fim dos distribuidores independentes. Com isso, os exibidores tm deadquirir lotes de filmes e no mais esta ou aquela determinada pelcula.

    Na verdade, a principal reduo de salas concentrou-se nos municpios do interior. Aqueda chega a mais de 60%, se compararmos o perodo entre 1978 e 2002. O Brasil, ento,possui uma vasta regio interiorana desprovida de salas de cinema e, portanto, fora do eixo deabrangncia da atividade de distribuio cinematogrfica e descomprometida com a circulao defilmes, sejam os nacionais ou estrangeiros.

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    Em Gois, vrios cinemas da capital e do interior acompanharam a tendncia defechamento generalizado das salas escuras. Dezenas de cinemas foram fechados nas trsltimas dcadas, com seus prdios sendo transformados em igrejas evanglicas, supermercados,

    jojas de tecidos e concessionrias de automveis ou simplesmente passaram a apresentarespetculos teatrais. Somente em Goinia, na dcada da 1960 para c, encerreram suasatividades originais os cines Regina, na Vila Nova, hoje supermercado; Ftima, no Setor dosFuncionrios, transformado em empresa de transporte coletivo; Helena, em Campinas, loja deutenslios domsticos; Rio, em Campinas, transformado em igreja evanglica; Goinia, no SetorCentral, hoje apenas teatro; Gois, no Setor Central, loja de tecidos; Campinas, loja deeletrodomsticos; Avenida, no Setor Campinas, virou clube danante; Eldorado, no SetorCampinas, hoje loja de tecidos; Presidente, no Setor Central, restaurante do hotel homnimo;Cinema 1, Setor Oeste, transformado em loja; Frida, no Setor Central, loja de discos; Casablanca,hoje igreja evanglica; Royal, no Setor Pedro Ludovico, que funcionou inicialmente com a bitola16mm, fechou e reabriu em 35mm, com o nome de Cine Cultura, que finalmente fechou as portasem 1979. Hoje funciona ali uma loja de material de construo.

    Como se pode v por esse levantamento, os cinemas de bairro foram sendogradativamente sendo desativados. Nesse contexto, o bairro de Campinas um caso parte.

    Desde os tempos em que Goinia era um imenso canteiro de obras, na dcada de 1930, aCampininha era o local predileto dos espordicos cinemas campais itinerantes que percorriamtoda a regio. Anos depois, nas dcadas de 1960 e 1970, o setor chegou a se equiparar ao centroda capital em quantidade de salas exibidoras. Dos catorze cinemas existentes em Goinia napoca, dois situavam-se no bairro da Fama, um na Vila Nova, cinco em Campinas e cinco emGoinia. Hoje, o bairro de Campinas no conta com um cinema sequer. e tudo indica que no hchance de reativao dessas salas no setor, onde foi implantado pioneiramente, nos anos 70, oprojeto Cinema de Arte. No Cine Rio (anteriormente Cine Tocantins, hoje igreja evanglica), umgrupo de alunos e professores da Universidade Federal de Gois promoveu, a partir de 1974, umaverdadeira revoluo na programao cinematogrfica da cinema, com a exibio de obras dosmais importantes diretores do cinema mundial, em sua grande maioria inditos nos cinemascomerciais da capital e que dificilmente teriam um lugar luz dos projetores das salas normais deespetculos flmicos existentes. Infelizmente, essa fase durou apenas quatro anos. Os filmes dearte foram banidos da programao do Cine Rio, que logo em seguida foi desativado etransformado num tempo multinacional de evangelizao. Novas tentativas de repetir aexperincia do Cinema de Arte no Cine Rio foram tentadas nos cines Presidente, Casablanca e

    Astor, no centro da cidade, mas o xito no foi o mesmo.

    A maioria das cidades do interior de Gois, que em muitos casos contavam com apenasuma sala exibidora, tambm teve seus cinemas fechados gradativamente nas trs ltimasdcadas. No centro histrico de Pirenpolis, o Cine Pireneus, fundado em 1930 como Cine Teatro,de estilo neo-clssico inicialmente, esteve em runas, permanecendo apenas o esqueleto dafachada de estilo art dco at meados da dcada de 1990, quando foi reformado pelo poderpblico estadual. Hoje funciona esporadicamente.

    Em Silvnia, o Cine Municipal, aps algum tempo fechado, foi transformado em teatro pelaPrefeitura. Em Catalo, o antigo Cine Real foi transformado em depsito de arroz. O municpio deGurupi, quando ainda pertencia ao Estado de Gois, teve seus dois cinemas fechados: oUmuarama e o Gurupi, que respectivamente so hoje uma revendedora de automveis e umafbrica de mveis.

    Porto Nacional, tambm pertencente hoje ao Estado do Tocantins, no possui mais o seuCine Ideal. A cidade de Goiatuba igualmente encontra-se privado do seu antigo cinema. Em

    Anicuns, o cinema de tantas emoes abriga hoje um depsito de cereais. No municpio de NovaCrixs, onde funcionava o Cine Rios, hoje funciona um escritrio de contabilidade. O Cine SoJos de Porangatu atualmente supermercado. Corumb tamb no tem mais sua sala deespetculos cinematogrficos. O Cine Bagd de Rio Verde igualmente no emana mais a magiado cinema, tendo perdido o espao para uma loja de tecidos. Em Aparecida de Goinia, o Cine

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    Teatro Mrio Mello foi fechado, a exemplo do Cinema de Trindade. Em Guara, o Cine Rochavirou oficina mecnica.

    A INVASO DOS MULTIPLEX

    O crescimento das salas nas capitais no foi to vertiginoso como o decrscimo,representando pouco mais de 40%. Nos ltimos anos, segundo estudo do IBGE6, pode-seestabelecer a hiptese de que a retomada do crescimento dos cinemas guarda uma relaodireta com a dos shoppings centers, com as suas mltiplas salas de exibio, j que o nmerodestes estabelecimentos tambm aumentou no perodo. Alis, de se notar que uma novagerao de shoppingsj nasce com o produto multiplex agregado.

    Pesquisa realizada pelo IBGE, em 2001, aponta a existncia de cinemas em 417municpios brasileiros. Entre eles, 273 possuam apenas uma sala, 106 cidades estavamequipadas com 2 a 5 cinemas, e apenas 38 tinham mais de 5 cinemas. Em 2002, segundo dadosdo Sindicato dos Exibidores do Rio de Janeiro, 378 municpios brasileiros possuam salas decinema. Talvez exista uma real diminuio no nmero de cidades ou uma diferena no

    levantamento feito pelo Sindicato, se comparado com os dados do IBGE de 2001. Apesar dadiferena, os dados do Sindicato so relevantes para a presente pesquisa, por apontarem quaisso as cidades equipadas com cinema. A maioria dos municpios com espao de exibio estolocalizados na regio Sudeste (54,55%) e Sul (25,19%). Na seqncia, esto o Nordeste(10,13%), Centro-Oeste (7,01%) e Norte (3,12%), aparecendo como a regio mais desprovida decinemas. Percebemos que a regio Sudeste, a mais bem equipada, tambm a zona de maiordensidade demogrfica brasileira (dos 172.385.826 brasileiros, 73.501.405 vivem na regio -dados do IBGE).

    O Estado de Gois tem 246 municpios dos quais apenas 13 possuem cinemas, num totalde 16 salas: Anpolis (Cine Lumire Anashopping, duas salas), Caldas Novas (Cine 7 ArteStadium Caldas), Catalo (Cine Stadium Real), Ceres (Centro Cultural de Ceres), Cidade de

    Gois (Cine Teatro So Joaquim), Formosa (Cine Premier), Morrinhos (Goiatuba Cine 7 Arte),Itumbiara (Cine Plaza, trs salas), Jata (Cine Regente), Pirenpolis (Cine Pireneus), Rio Verde(Cine Regente) e Valparaso (Cine Lumire).

    Com as 16 salas do interior, o ano de 2006 deve ser fechado com um total de 83 salas decinema no Estado, sendo 67 s na capital: Centro Cultural Oscar Niemeyer (2 salas), Faculdadede Letras-UFG, Cinema Municipal Goinia Ouro, Shopping Bougainville (6 salas), AraguaiaShopping (5 salas), Banana Shopping (5 salas), Goinia Shopping (15 salas), ShoppingFlamboyant (18 salas), Buriti Shopping (6 salas), Cine Cultura (2 salas), Cine Ritz (2 salas.

    De tudo isso, podemos inferir que a reduo do circuito exibidor, nas dcadas de 1970 e1980, tem relao direta com os baixos resultados do filme brasileiro. Com menos salas, o pblicoem geral ficou reduzido, assim como os canais para os lanamentos. Os filmes mais comerciais

    foram privilegiados, pois a performance dos dois setores distribuio e exibio ficou baseadaem poucos lanamentos que tinham garantia de xito econmico.

    Isso elimina a possibilidade de uma carreira comercial para filmes que no se encaixamneste perfil. Fica claro tambm a tendncia capitalista da exibio no pas, voltada apenas para oretorno financeiro.

    A diretriz econmica do setor reforada pelo fato de que poucas iniciativas pblicasacontecem nesta rea. A participao do estado em espaos menos comprometidos com o lucropoderia funcionar como uma alternativa programao padronizada das salas comerciais.Polticas culturais destinadas abertura de novas salas e manuteno do circuito existente noso implantadas no Brasil durante todo o perodo estudado. Assim como a produo e adistribuio nacionais dependem de recursos pblicos, a exibio poderia ter sido includa em

    programas de fomento.

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    Por outro lado, o aumento de salas na dcada de 1990, e no incio da atual dcada, deveu-se especialmente ao investimento de capital estrangeiro nas instalaes de novos circuitos,normalmente em formato multiplex. Essas empresas conservam a tendncia de explorar as zonasmais populosas e ainda inserem um nvel de qualidade referente aos equipamentos de som eprojeo que aumenta o custo dos investimentos. Os cinemas do interior sempre forammantidos, em sua maioria, por empresas nacionais. A diminuio da participao do capitalnacional na abertura de novas salas contribuiu para a reduo destes equipamentos no interior dopas.

    Com a exigncia de qualidade equiparvel dos circuitos estrangeiros, os custos deinstalao tornaram-se ainda mais impeditivos.

    A realidade, portanto, que temos quase 50% dos brasileiros morando em cidadesdesprovidas de salas de cinema. Isso interfere no conceito de pblico brasileiro. O pblico decinema no Brasil composto pelas populaes das regies economicamente mais fortes e commaior concentrao populacional. Provavelmente, isso gere tambm uma padronizao no perfilde consumo, estimulando a manuteno do sucesso de produtos especficos. Novas prefernciaspoderiam se sobressair entre as demandas do mercado caso diferentes platias fossem inseridas

    na rede de exibio.Soma-se a isso o fato de que 50% dos brasileiros consomem programao

    cinematogrfica apenas atravs das televises abertas (a mais difundida) e das videolocadoras.

    CINECLUBISMO NO BRASIL

    O cineclubismo em nosso pas tem cumprido o importante papel de fomentar a culturacinematogrfica. Como tradicional centro de estudos e de divulgao da arte cinematogrfica, aopromover regularmente cursos tericos e prticos, seminrios, projees e debates, os cineclubesbrasileiros vm oferecendo s novas geraes subsdios para a avaliao mais aprofundada dosfilmes. O cineclube definido por algumas caractersticas bsicas que so mantidasinternacionalmente, como o fato de estar legalmente constitudo, possuir carter associativo econtar, nos seus estatutos, como finalidade principal, a divulgao, a pesquisa e o debate docinema como um todo.

    O movimento cineclubista no Brasil teve incio por volta de 1917, no Rio de Janeiro. Foiquando o crtico Pedro Lima e um grupo heterogneo de entusiastas do cinema - entre eles

    Adhemar Gonzaga, lvaro rocha, Paulo Vanderley, Lus Aranha, Hercolino Cascardo - fundaram oprimeiro cineclube brasileiro. Fugindo um pouco das caractersticas da tradio cineclubistaeuropia, o cineclubismo brasileiro surgiu como uma forma sistemtica de discusso e exibio defilmes, voltado para o estudo e o debate crtico das grandes obras do cinema universal.

    Esse grupo ficou conhecido como Cineclube Paredo. Esses cineclubistas pioneirosassistiam aos filmes nos cinemas ris e Ptria, depois continuavam sua jornada no local conhecidocomo Paredo, onde debatiam o que fora visto nos cinemas. As discusses eram voltadas quaseque exclusivamente para um tratamento da questo cinematogrfica de maneira culturalista, ouseja, debatendo o cinema em seus aspectos abstratos de arte pura, desvinculado da realidadesocial.

    Na realidade, o Cineclube Paredo nunca foi constitudo legalmente. No existemdocumentos que provem o seu funcionamento de fato, restando apenas alguns relatos dos seusprincipais integrantes, Pedro Lima e Adhemar Gonzaga.

    A denominao cine-club foi utilizada pela primeira em So Paulo, em 1925, pelo atorJayme Redondo. Ele se referia a um clube de jogo com exibies cinematogrficas. O primeiro

    cineclube de fato surgiu no Rio de Janeiro, em 13 de junho de 1928, o Chaplin Club. Foi fundadopor Plnio Susskind Rocha, Santiago Dantas, Octavio de Faria, Almir Castro, Cludio Mello, Josu

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    de Castro e Santiago Dantas. De acordo com o artigo 3 dos seus estatutos, o cineclube tinhacomo objetivo primordial o estudo do cinema como uma arte.

    O Chaplin Club editou durante dois anos o curioso e inquietante tablide O Fan. Oprimeiro dos sete nmeros saiu em agosto de 1928 e definia a filosofia e viso de mundo dosfundadores. Repetindo a mesma definio que Chaplin fez do seu personagem Carlitos, os

    redatores do jornal se autodefiniam de maltrapilhos, bengala torta e surgidos da multido semcaminho traado. Nesse caminho ns sempre estaremos... como ele (Chaplin) sempre est...(aluso ao cinema mudo).

    Com efeito, o Chaplin Club durou at o momento em que surgiu o cinema sonoro. Emdezembro de 1930 saiu a ltima edio de O Fan, que abandonou definitivamente a arenadepois de dois anos de intensa pregao em nome da arte do preto e branco e do silncio. Os

    talkiesganham a guerra, o cinema fala e O Fansilencia.7

    Em sua curta trajetria, o Chaplin Club foi o mentor da cultura cineclubista no Brasil, tendopautado suas atividades na defesa dos ideais estticos dos seus associados. Herdeiro da tradioda vanguarda francesa, foi responsvel pelo lanamento do mais importante filme vanguardistabrasileiro da poca: Limite, de Mrio Peixoto. A sesso aconteceu no Capitlio, de FranciscoSerrador, em 1931.

    Em agosto de 1940 foi fundado o Clube de Cinema de So Paulo, na Faculdade deFilosofia da Universidade de So Paulo. Entre seus fundadores estavam importantespersonalidades como Paulo Emlio Salles Gomes, Dcio de Almeida Prado, Ccero Cristiano desouza e Lourival Gomes Machado. Assim como o Chaplin Club, esse cineclube paulista teve curtaexistncia. Por motivos outros: foi interditado pelo DEIP - Departamento Estadual de Imprensa ePropaganda. Foco de resistncia ditadura getulista, a partir de 1941 o Clube de Cinema de SoPaulo funcionou com exibies clandestinas nas residncias de agluns dos fundadores.

    Aps a Segunda Guerra Mundial, com o pas j respirando ares democrticos, o cineclubevoltou as suas atividades normais. Em 1946, o Clube de Cinema foi oficializado, com sua diretoria

    composta por Almeida Salles (presidente), Mcio Porphyrio Ferreira (secretrio) e Rubem Bifora(tesoureiro). Nessa segunda fase, o cineclube exibia e debatia os filmes no auditrio do consuladonorte-americano em So Paulo, tendo sido o embrio da Cinemateca Brasileira e servindo demodelo para os futuros cineclubes brasileiros, j que, alm das exibies cinematogrficas e osdebates, oferecia cursos e seminrios.

    Ainda em 1946, em So Paulo, foi fundado o Clube de Cinema da Faculdade Nacional deFilosofia. Suas atividades foram orientadas pelo cineclubista pioneiro Plnio Sussekind Rocha, doChaplin Club. Nesse mesmo ano, em Belo Horizonte, surgiu o primeiro cineclube mineiro, o Clubede Cinema de Minas Gerais.

    O ano de 1948 foi particularmente significativo para o cineclubismo brasileiro. No Rio deJaneiro, os crticos de cinema Alex Viany, Moniz Vianna e Luiz Alpio Barros fundaram o Crculo

    de Estudos Cinematogrficos. Esta entidade lanou a excelente revista Filme. No Rio Grande doSul, o tambm crtico P.F. Gastal fundou o Clube de Cinema de Porto Alegre, em 13 de abril. Elefoi tambm um dos criadores do Festival de Cinema Brasileiro de Gramado, no incio dos anos1970.

    Em 1949, o cineclubismo brasileiro atingiu sua maturidade. O Clube de Cinema de SoPaulo uniu-se ao Museu de Arte Moderna de So Paulo, transformando-se em Filmoteca do MAM- a rigor a primeira cinemateca do pas. Iniciou oficialmente suas atividades no ms de maro, coma projeo de Drame chez les Fantoches, Enlve Rosalie e La Passion de Jeanne DArc. AFilmoteca do MAM funcionou at 1957.

    Ainda em 1949, foi fundado o Seminrio do Museu de Arte de So Paulo. Os fundadoresforam Adolfo Celi, Carlos Ortiz e Ruggero Jacobbi. Ali, Alberto Cavalcanti realizou importantes

    palestras. Em 1950, nasceu o Clube de Cinema do Rio de Janeiro, fundado por Paulo Brando ePedro Gouveia Filho. No ano seguinte, a Ao Social Arquidiocesana (ASA) instituiu cursos de

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    cultura cinematogrfica. Em So Paulo, nesse mesmo ano, foi criado o Centro de EstudosCinematogrficos (CECSP), que promoveu o primeiro Congresso de Clubes de Cinema, onde foiproposta a criao da Federao Brasileira de Cineclubes, jamais efetivada.

    Ainda na capital paulista, os crticos Rubem Bifora e Jos Jlio Spiewak fundaram oClube de Cinema Orson Welles, cujas atividades se desenvolveram durante um ano. No sul,

    Archibaldo Cabral Neves e Emanuel Santos fundaram o Clube de Cinema de Florianpolis, noincio da dcada de 1950.

    Em 1951, em Minas Gerais, foi fundado o famoso Centro de Estudos Cinematogrficos,responsvel pela edio da Revista de Cinema. Entre seus fundadores estavam Jacques doPrado Brando, Cyro Siqueira e Fritz Teixeira Salles. No tardou para que esse cineclube setransforma-se no centro de um intenso ciclo intelectual da capital mineira, tendo sido responspvelpela formao de uma gerao de cincelbuistas e cineastas mineiros, entre eles Neville dAlmeida.

    Em 1952, entre os meses de novembro e dezembro, foi realizada a Primeira Retrospectivado Cinema Brasileiro. Pela primeira vez no pas realizava-se uma mostra retrospectiva do cinemabrasileiro de forma didtica, exibindo-se para as novas geraes filmes de difcil acesso para amaioria. A iniciativa foi da Filmoteca do Museu de Arte Moderna, do Centro de Estudos

    Cinematogrficos, de So Paulo, e do Crculo de Estudos Cinematogrficos do Rio de Janeiro. Oevento pioneiro foi composto de 19 programas com palestras.

    Tambm em 1952, foi fundado o Cineclube de Marlia, no ms de outubro. Foi a entidadecineclubista mais duradoura da histria do movimento, tendo funcionado at a dcada de 1990.Nesse mesmo ano, em So Paulo, Plnio de Arruda Sampaio liderou um movimento pela fundaodo Cineclube Universitrio.

    Em 1953, teve incio um forte movimento de orientao catlica que estimulava a culturacinematogrfica e a fundao de cineclubes. A CNBB (Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil)criou o Centro de Orientao Cinematogrfica, presidido pelo padre Guido Logger, destinado formao de espectadores. No Rio de Janeiro, Rubens Rosadas fundou o Cineclube ASA,congregando alunos e ex-alunos dos cursos promovidos pela Ao Social Arquidiocesana. Nointerior paulista, a exemplo de Marlia, foram fundados diversos clubes de cinema, dando incio interiorizao do movimento cineclubista, com destaque para o clube de cinema de Campinas.

    Em meados de 1954, Joaquim Pedro de Andrade, Haroldo Martins e Saulo Pereira deMelo deram incio s atividades do Centro de Estudos Cinematogrficos da Faculdade Nacionalde Filosofia. Esse cineclube foi o responsvel pelo resgate do filme Limite. Nesse mesmo ano,em Recife, surgiu a Unio Regional dos Cineclubes recifenses. A URCC foi a primeira tentativabem-sucedida de agregar cineclubes sob o manto de uma entidade federativa. Em fins de 1955,Marcos Farias e Carlos Perez fundaram o Cineclube EPAB, da Fundao Getlio Vargas.

    Uma anlise desse perodo (final dos anos 1940 a meados dos anos 1950) nos leva aconcluir que o cineclubismo brasileiro de ento era basicamente ligado ao culto ao cinema

    europeu. Os cineclubistas da poca tinha uma viso universalista do cinema, com profundoengajamento esttico, e diante da dominao monopolista do mercado exibidor pela produohollywoodiana, passaram a ocupar-se do cinema europeu e da discusso dos seus problemasestticos. Essa caracterstica a marca da elite intelectual da poca. Com uma viso culturalistado cinema, valorizando os clssicos do cinema e produes europias recentes, os cineclubistasde priemira hora ficavam cada vez mais distantes da realidade brasileira.

    O final dos anos 1950 e incio da dcada de 1960 marca uma alterao significativa nomovimento cineclubista brasileiro. Paralelamente ao desenvolvimento das idias nacionalistas, aosurgimento das organizao populares e do movimento estudantil que assumiu o papel de agentepoltico e cultural, surgiram os cineclubes universitrios. Essas entidades foram se proliferando emPorto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Natal, Joo Pessoa, Belo Horizonte, Goinia e Braslia,com seus membros mostrando-se mais propensos discusso da realidade brasileira e procurade uma linguagem prpria para o cinema nacional, desvinculada dos modelos estrangeiros,notadamente do cinema hollywoodiano.

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    Era a poca dos Centros Populares de Cultura (CPCs), das campanhas de alfabetizao edo Cinema Novo. Os novos cineclubistas deram ento enorme peso em suas programaes parafilmes italianos neo-realistas (Antonioni, Fellini, Rosselini, Visconti, Zavattini, entre outros) emantm uma atitude crtica em relao a determinadas tentativas de implantao de uma indstriade cinema no Brasil, como a Companhia Cinematogrfica Vera Cruz, instalada em 1949, queparalisa suas atividades em 1954.

    Nesse perodo, o cineclubismo brasileiro encontrava-se na fase de organizao em tornode entidades federativas. Em 1956, foi fundado o Centro dos Cineclubes do Estado de So Paulo,por iniciativa de Carlos Vieira, mais tarde transformado em Centro dos Cineclubes, reunindoentidades cineclubistas paulistas e de outros estados. No Rio de Janeiro, foram fundados oscineclubes Escola de Belas-Artes, Aliana Francesa e o Centro de Cultura Cinematogrfica,transformado mais tarde em Cinemateca do Museu de Arte Moderna. Em 1957, surgiu o Grupo deEstudos Cinematogrficos da Unio Metropolitana de Estudantes, liderado por Jos Paes de

    Andrade e Dejaen Pelegrin.

    Em 1958, diante da enorme demanda, foi criado o primeiro Curso para Dirigentes deCineclubes, realizado em So Paulo pela Cinemateca Brasileira. Nesse ano, surgiu o Cineclube

    Dom Vital de So Paulo, fundado por Rud de Andrade e Carlos Vieira, cujo primeiro presidentefoi Gustavo Dahl.

    No ano de 1958 surgiram no Rio de Janeiro diversas outras entidades cineclubistas. Entreelas, o Cineclube da Escola Nacional de Engenharia, fundado por Leon Hirszman e FernandoDrumond; o Cineclube da Escola Nacional de Arquitetura, fundado por Altino M. Santos. Diante danecessidade de melhor organizar o movimento cineclubista foi fundada ento a Federao deCineclubes do Rio de Janeiro.

    Em 1959, foi realizada a Primeira Jornada de Cineclubes. O evento foi promovido peloCentro dos Cineclubes, com apoio da Cinema Brasileira, e contou com a presena de 16cineclubes, que participaram da Semana da Cultura Cinematogrfica, cuja programao foiconstituda da exibio de filmes e debates.

    O movimento cineclubista superava ento a sua prpria alienao da realidade brasileira.Entretanto, como vrias outras iniciativas culturais da poca, conservava o seu carter de elite. Adiscusso da cultura popular ainda incipiente no tivera temp de chegar s suas fontes,permanecendo fechada nos crculos mais intelectuais. O CPC, por exemplo, durou apenas doisanos. A maior parte dessas iniciativas foi abruptamente cortada pelo golpe militar de 1964.

    O cineclubismo nos anos 1960 viveu uma expanso nunca vista antes. No entanto, foi ummovimento artificial, identificado principalmente com a Igreja Catlica, que detinha o monoplio daatividade. Esse movimento foi liderado pelos padres Guido Logger, Massote Lopes, HumbertoDidonet e Hlio Furtado do Amaral - este ltimo residindo atualmente em Goinia.

    Em 1960, foi realizada em Belo Horizonte a II Jornada de Cineclubes, promovida pelo

    Centro dos Cineclubes e patrocinada pelo Centro de Estudos Cinematogrficos de Minas Gerais.Foi criada ento a Federao de Cineclubes de Minas Gerais, um dos basties do emergentemovimento cineclubista, ao lado da Federao carioca e do Centro paulista de cineclubes. No Riode Janeiro, a Federao lanou a revista Cineclube, dirigida por Marcos Faria, e desenvolveucursos de iniciao cinematogrfica em escolas secundrias.

    Em 1962, na III Jornada de Cineclubes, realizada em Porto Alegre, foi fundado o ConselhoNacional de Cineclubes (CNC). A nova entidade passou a organizar as Jornadas Nacionais deCineclubes e a direcionar o movimento cineclubista brasileiro como um todo. A partir de 1964,com o advento do regime militar, a atividade cineclubista entrou em declnio.

    O recrudescimento que se abate sobre o Brasil a partir de 1968 foi o tiro de misericrdiadesferido contra o movimento cineclubista. Na VII Jornada Nacional de Cineclubes, realizada em

    Braslia naquele ano, o CNC se manifestou claramente contra o regime militar. Na poca, o Brasilpossua cerca de 300 cineclubes. Um ano depois, o Conselho Nacional de Cineclubes e todas as

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    federaes (Rio, So Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Norte-Nordeste e Centro-Oeste),alm de cerca de 90% dos cineclubes, cessaram as suas atividades, criando um vazio cultural nosetor. Com a edio do Ato Institucional nmero 5 (AI-5), no dia 13 de dezembro de 1968, e osubseqente fechamento do regime, o movimento cineclubista efetivamente arrasado. Oscineclubes foram desmantelados em sua maioria, desestruturando por completo o movimento.

    A reorganizao do movimento cineclubista se daria no incio da dcada de 1970. No Riode Janeiro, o recm-criado Cineclube Glauber Rocha, dirigido por Marco Aurlio Marcondes, foi oprincipal reorganizador da Federao de Cineclubes. Comeou ento um novo cineclubismo,politicamente engajado. Em 1973, em Marlia, foi reorganizado o Conselho Nacional deCineclubes, que preparou a VIII Jornada Nacional de Cineclubes, ocorrida em Curitiba um anodepois. Nessa Jornada foi lanada a Carta de Curitiba, documento que delineou a ao doscineclubes brasileiros at a volta da democracia. Entre as principais propostas estavam oengajamento dos cineclubes em prol do cinema brasileiro e o combate censura. A Carta deCuritiba previu tambm a constituio de uma distribuidora alternativa para os cineclubes, com oobjetivo de fornecer opes s poucas fontes existentes de abastecimento de filmes de 16mm, abitola dos cineclubistas.

    Em 1975 foi reorganizada a Federao de Cineclubes de So Paulo. Um ano depois, oCNC criou a Dinafilmes (Distribuidora Nacional de Filmes), como fora previsto na Carta deCuritiba. A Dinafilmes teve uma trajetria bastante conturbada devido s constantes invases eapreenses de filmes feitas pela ditadura militar.

    Essa nova fase do cineclubismo brasileiro mostrou-se bastante ativa. Os cineclubesestavam presentes em quase todos os estados e principais capitais, ligados a universidades,sindicatos e associaes de classe. Foi tambm o momento de maior engajamento poltico doscineclubistas, diferentemente dos cineclubistas das dcadas de 1940 e 1950, mais preocupadosem discutir a cultura cinematogrfica do ponto de vista esttico.

    Em 1981, o Concine (Conselho Nacional de Cinema, ligado ao Ministerio da Educao eCultura) editou a Resoluo n 64, que regulamentou a atividade cineclubista e definiu o que

    cineclube. O contedo legal da Resoluo 64 permenece vlido at os dias de hoje,regulamentando as normas para se criar ou proteger uma entidade cineclubista.

    Com democratizao do pas, a partir de 1985, grande parte dos cineclubes perdeu suafuno, de conscientizao do povo atravs do cinema. Na Nova Repblica, os partidos polticosclandestinos e outras organizaes de esquerda j no mais necessitavam dos cineclubes-biombos para derrubar a ditadura. A partir da, um novo momento passou a fazer parte domovimento cineclubista, permanecendo na ativa apenas aqueles cineclubistas verdadeiramenteinteressados em desenvolver uma atividade essencialmente cultural. Alguns deles partiram para aprofissionalizao, deixando de operar com a bitola 16mm e abrindo salas de projeo em 35mm.

    Antes disso, a primeira experincia bem-sucedida nesse sentido foi a do Cineclube Bixiga, quenasceu em So Paulo em julho de 1981, criado por Antnio Gouveia Jnior. Respaldos nesse que

    foi um dos fenmenos cineclubistas mais importantes desse novo momento, surgiram o CineclubeEstao Botafogo, no Rio de Janeiro, o Cineclube Oscarito e o Eltrico, na capital paulista, e oCineclube Savassi, em Belo Horizonte.

    Com o advento da globalizao, os cineclubes e suas entidades representativas deixaramde existir.

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    CINECLUBISMO EM GOIS

    O movimento cineclubista goiano, nascido aps o interregno forado pelo AI-5, tem secaracterizado pela crnica precariedade em termos de infra-estrutura. Os cineclubes tmenfrentado como maior problema a falta de salas de exibio. A maioria deles improvisa suassalas em locais cedidos por igrejas, universidades, sindicatos e associaes comunitrias, ondeos cinfilos se renem no somente para assistir aos filmes do chamado circuito alternativocomo tambm para discutir as propostas dos cineastas e seus prprios ncleos de produo. Oproblema da falta de salas destinadas produo cinematogrfica brasileira tem contribudo parao desaparecimento em Gois de diversas entidades do gnero, que iniciam suas atividades commuito esforo e boa vontade dos cinfilos, mas em seguida interrompem as exibies e osdebates.

    O que falta em Goinia so justamente condies fsicas e estmulo governamental para osurgimento de novos ncleos de discusso cinematogrfica, seja para dar continuidade a umtrabalho iniciado por cineclubes histricos seja para ocupar novos espaos e iniciar novas formasde debates. O que sempre se constatou nas tentativas de formao de um cineclube a carncia

    de informaes, de recursos e de incentivo para o envolvimento inicial das pessoas interessadasno estudo do cinema.

    Entre os poucos cineclubes que tm conseguido sobreviver em Goinia est o CineclubeAntnio das Mortes, que desde meados da dcada de 1970 busca oferecer ao pblico o que hde melhor na cinematografia nacional e internacional. Mas essa sobrevivncia deveu-se, numcerto momento, ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), em cujo auditriodesenvolveu-se durante dois anos e meio, de 1985 a 1987, a programao elaborada peloscineclubistas.

    Em 2003, o Cineclube Antonio das Mortes, em parceria com Associao dos Docentes daUniversidade Federal de Gois Adufg, passou a promover a mostra de Cinema O Amor aMorte e as Paixes em conjunto com outros sindicatos de professores do Estado no intuito deoportunizar alm de lazer para os docentes e para a comunidade, uma chance de aproveitar ocinema como reflexo, pensamento e arte. A programao foi realizada at 2005 no Cine Lumire.Este ano ela no aconteceu.

    O Cineclube Joo Bennio, fundado em 1984, outro que tambm resiste s intempries eesporadicamente realiza mostras em locais diferenciados, de acordo com as circunstncias. Umadas primeiras atividades desenvolvidas pelo Cineclube Joo Bnnio (CJB) foi a I Mostra doCinema Francs na Caixa Econmica Federal, realizada de 1 a 5 de julho de 1984. Foramexibidos filmes contemporneos como Deserto dos Trtaros, de Valrio Zurlini; Ada, de PierreJouyrdain; O Mau Filho, de Claude Sautet; Minha Doce Delegada, de Philippe de Brocca, e ORelojoeiro de So Paulo, de Bertrand Tavernier. Os filmes foram gentilmente cedidos pelaEmbaixada da Frana no Brasil.

    A partir da, foram realizadas sesses itinerantes pelos bairros de Goinia.

    Aps essa promoo, o CJB realizou a I Semana Joo Bnnio, de 18 a 23 de junho de1985, no Teatro Liberdade. A homenagem pstuma teve por objetivo a preservao da memriadeste pioneiro e grande incentivador da arte cinematogrfica em Gois. Foram exibidos todos osfilmes produzidos e dirigidos por Bnnio, documentrios em vdeo sobre sua vida e obra, alm deexposio de artes plsticas, fotografias e cartazes referentes ao artista e seus filmes. Na ocasiofoi lanada a revista Joo Bnnio Perfil, produzida pelo Departamento de Divulgao ePromoes do Cineclube, que traa a sua trajetria pessoal e artstica.

    O Cineclube Joo Bnnio lanou em 6 de setembro de 1985, no Cine Hawa da cidade deItapuranga (GO), o projeto Cinema Itinerante. O objetivo foi levar s mais distantes localidades do

    Estado a cultura cinematogrfica de Gois, sem perder o contato com os melhores filmesnacionais e internacionais. A abertura do projeto se deu com a apresentao do filme Simeo, o

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    Bomio, dirigido e interpretado por Joo Bnnio em 1969 na cidade de Pirenpolis; sendo exibidoem seguida O Diabo Mora no Sangue, dirigido por Ccil Thir e interpretado por Joo Bnnio e

    Ana Maria Magalhes, rodado na Ilha do Bananal, s margens do Rio Araguaia, em 1967. EmGoinia, o projeto teve prosseguimento com a exibio de vrios outros filmes em bares,restaurantes, feiras e exposies.

    O esforo empreendido pelo Cineclube Joo Bnnio no sentido de divulgar acinematografia goiana, nacional e estrangeira, foi recompensado no XVIII Festival do CinemaBrasileiro de Braslia, realizado de 25 de setembro a 1 de outubro de 1985. O produtor, diretor eator Joo Bnnio foi homenageado postumamente ao lado de Paulo Emlio Salles Gomes e deGlauber Rocha. A homenagem foi sugerida ao coordenador do festival, Marco Antnio Guimares,pelo ento presidente do Cineclube, Beto Leo, que recebeu das mos da atriz Ana MariaMagalhes o Trofu Candango.

    Os cineclubistas voltaram de Braslia super-animados e com mil idias na cabea, depoisde participarem l do I Encontro de Cineclubes do Centro-Oeste. Uma semana depois, oCineclube Joo Bnnio deu prosseguimento ao Cinema Itinerante, com uma mostra de desenhoanimado realizada na I Feira da Criana, no Parque Agropecurio de Goinia. Foram

    apresentados os filmesAt Tu Baro!, A Feiticeira da Baixada, Batuque, Faz Mal, Sorrir e Meow,este ltimo vencedor do Festival de Cannes em 1982 na categoria de curta-metragem .

    Em seguida, o CJB se uniu ao Grupo Experimental de Cinematografia e Artes (Grcia),fundado por Divino Jos da Conceio. As duas entidades passaram ento a promover cursospara a formao de grupos de estudos e pesquisas, englobando as reas de cinema, televiso,vdeo, teatro e fotografia. O resultado desses cursos foram a produo de vrios filmes curtos emSuper-8 em 16 mm e vdeos.

    Em 1986, o CJB fez a co-produo do filme O Pescador de Cinema, de ngelo Lima, cujoroteiro fora aprovado pela Embrafilme. O filme teve sua fase de finalizao interrompida com aextino da empresa estatal durante o governo Collor, tendo sido finalizado somente em 1999,graas a um convnio entre a ABD-GO e a Fundao Cultural Pedro Ludovico Teixeira.

    Em dezembro de 1989, o CJB promoveu no Cine Cultura a mostra 100 Anos da Repblicano Cinema. Na ocasio foram exibidos os filmes A Revoluo de 30, de Slvio Back; Pra FrenteBrasil, de Roberto Farias, e O Homem da Capa Preta, de Srgio Rezende.

    Em 1991, o CJB realizou no Shopping Bougainville a mostra Glauber Rocha O Gnio daRaa. As principais obras do cineasta foram exibidas durante uma semana, com sesses lotadastodos os dias. Em 1992, o CJB produziu o documentrio Goinia Do Batismo Modernidade,dirigido por Beto Leo e Eduardo Benfica, diretores da entidade. O documentrio, realizado comintuito de despertar nas novas geraes o sentimento de preservao do patrimnio histrico,cultural e ecolgico de Goinia, teve sua estria no dia 10 de julho de 1992, no auditrio do CentroCultural Marieta Telles Machado. O trabalho mostra os contrastes arquitetnicos entre asconstrues iniciais da capital, em estilo art dco, com as modernas e contemporneas,

    enfatizando a destruio das casas antigas e a verticalizao da cidade.Em 1994, o CJB prestou uma homenagem pstuma ao cineasta italiano Federico Fellini,

    um ano aps sua morte, promovendo em parceria com a ABD-GO a mostra ABD Fellini. Amostra reuniu algumas das principais produes cinematogrficas do diretor italiano, tendo sidoexibidos os filmesAmacord, Cidade das Mulheres, Ginger e FredeA Voz da Lua. Em novembrode 1995 outro cineasta italiano foi homenageado por Cineclube Joo Bnnio: Per Paolo Pasolini,falecido no dia 2 de novembro de 1975. Durante uma semana foi exibido o polmico Sal, 120Dias de Sodoma, no Cine Cultura, que ficou superlotado em todas as sesses.

    Tambm em 1995, os diretores do CJB Eduardo Benfica e Beto Leo tiveram aprovadopelo Ministrio da Cultura, atravs do Pronac (Programa Nacional de Apoio Cultura), o projetodo livro Gois no Sculo do Cinema. O livro faz um resgate da histria do cinema goiano em suasdiversas vertentes: do mercado de exibio produo, passando pelo movimento cineclubista,

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    associaes representativas, publicaes e depoimentos de pessoas ligadas stima arte emGois.

    Em 1999, quando foram completados 15 anos do falecimento do cineasta Joo Bnnio, oCJB rendeu uma justa homenagem ao seu patrono. O pioneiro do cinema goiano foi lembrandocom o lanamento do livro Bnnio Da Cozinha para a Sala Escura, de autoria de Beto Leo, e

    da estria do filme O Pescador de Cinema, dirigido por ngelo Lima e co-produzido pelo CJB e aEmbrafilme, alm de exposio de fotografias e as exibies de Simeo, o Bomio, de JooBnnio, e do documentrio Bnnio O Inesquecvel Alquimista das Artes, de Eudaldo Guimarese Beto Leo. No mesmo dia, a TV Brasil Central exibiu um especial sobre o cineasta, que incluiu ovdeo O Inesquecvel Alquimista das Artese o longa-metragem O Diabo Mora no Sangue.

    No ano 2000, o documentrio em 35mm O Pescador de Cinema e o livro Bnnio DaCozinha para a Sala Escurafizeram parte da programao do 10 Festival Internacional de Curta-Metragem de So Paulo, ocorrido de 19 a 28 de agosto. O livro ficou em exposio no EspaoUnibanco, na rua Augusta, e o filme foi exibido no Museu da Imagem e do Som de So Paulo, naEstao Vitrine e no Centro Cultural So Paulo. No mesmo ano as duas obras estiverampresentes na XXVII Jornada Internacional de Cinema da Bahia, realizada de 12 a 18 de setembro.

    Em Gois, no mesmo ano, o filme e o livro foram lanados no FICA Festival Internacional deCinema e Vdeo Ambiental.

    Em 2003, o Cineclube Joo Bnnio e a Filmoteca Jos Petrillo prestaram uma justahomenagem pstuma ao cineasta JOS PETRILLO, falecido no dia 21 de agosto de 2000. Areferida homenagem consistiu na exibio de alguns dos principais filmes desse cineasta mineirode Ouro Preto, mas que adotou Goinia como sua cidade, tendo sido aqui um dos produtoresartsticos mais conceituados do Brasil, autor de obras valiosas e premiadas nacionalmente. No dia23 de agosto foram exibidos, no auditrio da Cmara Municipal de Goinia, os filmes Cavalhadasde Pirenpolis, vencedor do Festival de Braslia do Cinema Brasileiro em 1978;Areia, Cajazinho e

    Alfenin e A Primitiva Arte de Tecer, prmio de aquisio do Museu Nacional de Belas Artes, em1986.

    Joo Bennio foi, e sempre ser uma eterna presena inquieta e inquietadora no cenriocultural de Gois. O cineasta nunca se conformou com a mesmice da poltica e da cultura nessasterras de Anhanguera, nem com a insistncia dos vidiotas de planto em nivelar por baixo odebate sobre a importncia cultural do nosso Estado ou mesmo de considerar a real possibilidadede se fazer cultura de qualidade abaixo do Rio Paranaba. Bennio, desde que veio apresentar nossales do antigo Jquei Clube de Gois o monlogo As mos de Eurdice, de Pedro Bloch, nosidos da dcada de 1950, viveu seus 29 anos em Gois lutando para combater a burrice intelectual(e bem remunerada) que sempre imperou nas instituies, nas universidades, no seio da nossadita inteligncia.

    por essas e outras, que vira e mexe, o Cineclube Joo Bennio (CJB), criado no dia dasua morte em 18 de junho de 1984, procura manter viva a sua memria cultural. Assim, o CJB, em

    parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, promoveu no dia 12 de agosto de 2004, no Cete(Centro de Tecnologia do Espetculo, que fica em frente ao antigo Teatro Inacabado, ao lado doLago das Rosas), uma mostra em homenagem ao cineasta e teatrlogo Joo Bennio, que se vivoestivesse completaria 77 anos no dia 11 de abril. Bennio nasceu em Mutum (MG), morou edesenvolveu diversas atividades artsticas em Goinia de 1955 a 1984.

    Na oportunidade, foram exibidos os documentrios: O Inesquecvel Alquimista das Artes,dirigido por Beto Leo e Eudaldo Guimares; O Pescador de Cinema, de ngelo Lima; Benniona Intimidade de sua Chcara, de Antnio Eustquio (Taquinho), e Bennio no Frutos da Terra,de Hamilton Carneiro. Em seguida houve uma noite de autgrafos do livro Bennio Da Cozinhapara a Sala Escura, do jornalista e pesquisador de cinema Beto Leo, e um bate-papo comamigos e admiradores de Joo Bennio, entre eles o arquiteto Maurcio Marques de Faria, atualproprietrio da chcara onde funcionava o Restaurante Joo Bennio, no Jardim Novo Mundo; oadvogado Coriolano Soares e sua filha Renata (que mora em Londres e no conhecia a obra docineasta), e William Santana, ator que interpreta Joo Bennio no documentrio-fico O Pescador

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    de Cinema. Estiveram presentes tambm diversos membros da ABD-GO (Associao Brasileirade Documentaristas, Seo de Gois), da Associao Goiana de Cine-vdeo e tambm decineclubes goianos.

    Esta mostra faz parte da ampla programao que o CJB est realizando neste ano emhomenagem ao seu patrono, em comemorao aos 20 anos de existncia da entidade e do 20

    aniversrio da morte de Joo Bennio. A homenagem culminar na exibio, em junho prximo,dos quatro longas-metragens em 35 mm realizados por Joo Bennio (O Diabo Mora no Sangue,Simeo - O Bomio, Tempo de Violncia e O Azarento Um Homem de Sorte), alm dosfilmes em que participou como ator, entre eles O Leo do Norte e A Mulher que Comeu o

    Amante, ambos dirigidos por Carlos Del Pino. Como ficou acertado entre os amigos presentes nanoite do dia 12, ser organizada tambm uma grande feijoada, na antiga chcara de Bennio, pararememorar as receitas do mestre-cuca.

    Em 2005, no ms de novembro, o CBJ prestou homenagem ao cineasta Per PaoloPasolini, atravs da Mostra 30 Anos Sem Pasolini. A programao esteve bastante diversificada:s 14h acontece a Abertura do FASAM Cultural, com a apresentao do artista plstico RogrioDuarte Ungarelli e de sua obra, cujo tema nessa mostra a PAZ. As 14h e 10 min haver a

    apresentao de alunos do Ncleo de Msica do Colgio FASAM, sob a orientao da professoraMirelli Croce cujo tema das msicas selecionadas a PAZ, entre as quais Rosa de Hiroshima,de Ney Matogrosso; A Paz, de Gilberto Gil; O que o que , de Gonzaguinha; Aquarela, deToquinho; Te ofereo, do Grupo Gan. Na seqncia, s 14h e 35min, teve incio a exibio dosfilmes. Primeiro foi feita a pr-estria do curta-metragem Cristo Corra!, de ngelo Lima, umahomenagem a Pasolini, seguido de Accatone Desajuste Social, de Pier Paolo Pasolini. Logoaps houve um debate com o pblico. Os debatedores so Sandro de Oliveira, jornalista,professor e mestre em cinema - PUC SP; Beto Leo, Jornalista e documentarista e ngelo Lima,documentarista.

    Houve outras tentativas de formao de entidades cineclubistas que no perduraram. ocaso do Cineclube Nuestra Amrica, criado em 1983 na antiga Escola Tcnica Federal de Gois(hoje Cefet). O objetivo inicial era estudar o cinema em todo o seu processo produtivo atdesembocar na exibio. O pblico alvo era a comunidade estudantil e as comunidades de bairro,que numa primeira etapa assistiam aos filmes de graa, mas posteriormente tiveram de pagarpara v-los. A programao era constituda basicamente de filmes engajados e produesprprios do Nuestra Amrica, de cunho poltico-social como A Mais-Valia Uma Histria de

    Amor, Demagogia 82 e gua Tpida, entre outros.

    A CRTICA CINEMATOGRFICA

    No dia 8 de julho de 1896, diversos jornais comentaram a primeira exibio pblica do

    Omniographo, que se deu Rua do Ouvidor, 57, no Centro do Rio de Janeiro. Em 17 de julho de1897, o crtico teatral Arthur Azevedo publicou em O Paiz comentrios sobre os filmes quepassavam em casas teatrais. A constante preocupao com o comentrio desses filmes fez de

    Arthur Avezedo o primeiro crtico brasileiro. Em 1904, na revista Kosmos, o poeta e escritor OlavoBilac publicou um texto falando sobre a revoluo que o cinematographo deveria se tornar: Olivro est morrendo. O livro do futuro, para ensinar as populaes (...), o cinema.

    Em Gois, um dos primeiros crticos de que se tem registro Lourival Batista Pereira. LBP,como conhecido no meio jornalstico, iniciou suas crticas de cinema em 1959, nas pginas do

    jornal O Popular. Falando nossa pesquisa, ele confessa que, na poca, era muito difcilcomentar os filmes exibidos em Goinia, pois eles ficavam em cartaz apenas um dia, alm do queo material de divulgao era inexistente, as fotos eram reproduzidas em clichs (no jargo

    jornalstico, placas de metal com relevo usadas nos tempos da impresso a quente), alm do fatode s haver energia eltrica na capital das 14 horas meia-noite, justamente no horrio em quese fazia o jornal. Diante dessas dificuldades, LPB viajava constantemente a So Paulo e Rio de

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    Janeiro, a fim de assistir aos lanamentos e depois fazer as suas crticas para o jornal. As fichastcnicas e outros dados dos filmes eram copiados diretamente dos cartazes afixados nas portasdos cinemas. Este exerccio de crtica, porm, durou pouco tempo: de agosto a novembro de1959.

    A primeira revista brasileira com crticas dos filmes em cartaz surgiu no Brasil em maro de

    1918. Antes, porm, da Palcos e Telas, houve uma tentativa de peridico brasileiro, denominadoCinema, editado em Paris em 1913. Durou apenas um ano.

    Em 1965, surgiu a primeira publicao dedicada ao cinema em Gois. O DivulgadorCinematogrfico, que teve como editor Walter Menezes e diretores Loureno Pinto de Castro eFernando Magalhes, foi publicado ininterruptamente at 1969, mensalmente. No incio, a revistatinha distribuio dirigida aos freqentadores dos chamados cinmas de elite na poca: Cine TeatroGoinia, Casablanca, Eldorado e Santa Maria. Posteriormente, porm, a distribuio aconteceutambm junto ao pblico dos cines Campinas e Gois, considerados populares, alm de serremetida pelo correio, gratuitamente, para quem a solicitasse. Muito bem impressa para ospadres de ento, O Divulgador Cinetogrficotinha capa em policromina e ilustraes fotogrficasde filmes e dos brotinhos da poca.

    Alm dos comentrios (que no chegavam a ser propriamente crticas na verdadeiraacepo do termo), a revista focalizava tambm as moas da sociedade goianiense. Em suaedio de agosto de 1958, por exemplo, a coluna Focus, assinada por Loureno Pinto de Castro,dizia: Ns do Divulgador Cinematogrfico, no intuito de lanar uma pequena revista, pormilustrada e de boa apresentao, aos frqentadores da Empresa Teatral Paulista, limitamo-nos emabrir mo desta pgina e apresentar nesta na sua fase inaugural a figura simptica da senhoritaRosa Maria, to bem credenciada em representar a beleza feminina nas terras de Anhangera.Esta senhorita, que reside em nossa capital, possuidora de invejvel crculo de amizades

    pertencentes ao Society goianiense.10

    Outra publicao que sempre abriu suas pginas para a crtica cinematogrfica foi arevista Osis. Fundada em 1962 pelos irmos Luiz e Loureno Pinto de Castro, a revista teve

    como crtico permanente Pedro Paulino, que durante muito tempo escreveu uma coluna dedicadaao cinema e ao teatro. Na edio de outubro de 1968, ele reivindica, em nome da intelectualidadegoiana, a criao de um centro cultural no Cine Teatro Goinia:

    Intectuais exigem Cinema. O teatro em Goinia est perdendo os ltimosmeios de sobrevivncia. Emobra grande nmero de pessoas esteja interessado emtrabalhar no ramo, sem qualquer ambio econmica, o governo parece negarqualquer apoio a esta arte. O Cine Teatro Goinia, que poderia ser dedicado formao de um centro cultural goiano, assim que termine o contrato com aempresa que o aluga, ser entregue novamente ao Estado que, segundo secomenta, construir ali a Televiso Oficial. Os intelectuais, pintores, cineclubistas, opessoal de teatro e todo o povo interessado em cultura cogitam em pressionar ogoverno no sentido de doar aquele local para o desenvolvimento de intensivaatividade cultural, vez que o governo dispe de meios para construir a televiso em

    outro lugar, sem prejudicar os interesses artsticos goianienses.11

    Na edio de novembro de 1968 da revista Osis, Pedro Paulino saiu em defesa docinema nacional, em matria intitulada Nosso Cinema Ainda Melhor:

    O brasileiro que hoje fizer crticas pejorativas, irnicas ou se mostrarindiferente ao nosso cinema, passa a comportar-se no como pessimista, mas comouma pessoa incapaz de compreender a natureza do prprio povo brasileiro, contidana cinematografia nacional. Isto porque o nosso cinema situa-se entre os melhoresdo mundo, e, sendo social e didtico, cumpre plenamente o seu objetivo. O cinema

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    brasileiro atingiu tal nvel tcnico-artstico que forou a criao de dezenas decineclubes, promovendo, conseqntemente, a formao de uma rea de defesa

    sua integridade, por crticos de renome. 12

    Em 1966, na esteira deO Divulgador Cinematogrfico, surgiu a revista TV-Cine Gois, nomesmo formato e contedo. Como o prprio nome indica, a revista se dedicava divulgao daprogramao de televiso e cinema. Na edio de novembro do ano de seu lanamento, apublicao destacou filmes importantes em cartaz como Um Dia um Gato (Tchecoslovquia,1963), de Wojtech Jasny; O Homem que Matou o Facnora (EUA, 1962), de John Ford; eDivrcio Italiana (Itlia, 1961), de Pietro Germi.

    Nessa mesma edio, sob o ttulo A Hora e a Vez de Goinia, Pedro Paulino comentavaa realizao do primeiro filme de longa-metragem goiano:

    Goinia nos seus 33 anos de existncia, j sustenta todos os meioscomerciais, esportivos e artsticos. Nasceu para todas metas. Agora, como era dese esperar, Goinia passar tambm a fazer cinema. Patrocinado pelo DEC eadministrado pelo prof. Geraldo Morais, diretor do Departamento de Cinema doCerne, foi ministrado um curso de cinema aos jovens goianos, os quais, aot erminaro curso, comearam seus trabalhos para a realizao de um curta-metragem quedever ser rodado em Goinia. Trata-se de uma adaptao do romance deBernardo Guimares, O Ermito de Muqum, que ser dirigido pela teatrloga CiciPinheiro e contar com a participao de milhares de figurantes. Segundoinformaes, est sendo planejada a realizao de vrios curtas-metragens paradiversos fins. esses filmes sero feitos com materiais da Truka, importante agncia

    publicitria de Goinia (desenhos cinematogrficos)13

    Em 1969, o jornal O Popularabriu pela primeira vez num veculo de comunicao dirio asua pgina de cinema. Publicado semanalmente, aos domingos, o novo espao lanou asindicaes da semana, com recomendaes dos filmes assinados por um corpo de crticosformado pelo prprio jornal. As cotaes dos filmes, que variavam de 1 (pssimo) a 5(excepcional), eram feitas pelos seguintes comentaristas: Hlio Rocha (editor), Hugo Brockes,Eduardo Benfica, Padre Lus Palacn, Gezica Vtor, Lourival Batista Pereira, Pedro Paulino eWander C. Levy.

    Para se ter uma idia da rigorosidade desses crticos, ilustrativo um detalhe por nsobservado na tabela de cotaes: na primeira edio desta pgina, em 29 de junho, o filmeTempo de Violncia, produzido por Joo Bnnio e dirigido por Hugo Kusnet, com Tonia e

    Carrero e Bnnio fazendo o casal de protagonistas, foi classificado apenas como regular por seisdos oito crticos. Na edio do dia 6 de julho, Bonnie and Clyde, de Arthur Penn, foi assimcomentado por Eduardo Benfica:

    A grande depresso mostrada em suas conseqncias. O grande xododos pequenos proprietrios e trabalhadores famintos e sem tralho, vagando com oque lhes restava pelas estradas, ao limiar do New Dial de Roosevelt, bemsuperficial mas no invalida a composio geral de Bonnie and Clyde, que nodeixa de ser um bom filme.

    No dia 13 de julho, O Homem que Veio de Longe prendeu a ateno do grupo de crticos.Pedro Paulino viu assim o filme:

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    De novo o mundo tedioso e negativo de Tennessee Williams se faz ver nocinema. (...) O diretor Joseph Losey, que realizou bons filmes (Estranho Acidente),mal conseguia prender a ateno do pblico at o final de O Homem que Veio deLonge. Atravs da cenofragia, indumentria e caracterizao de personagens de

    maneira maante, pesada, Losey falha em no tomar uma posio como capazpara melhorar e dar uma perspectiva mais otimista, uma soluo, uma sada aoamontoado de doenas de Tennessee Wiliams.

    Em 24 d agosto, a coluna Cinema anunciava, entusiasmada, as prximas atraes:

    Provavelmente esta ser a melhor semana dos ltimos meses em maria deprogramao cinematogrfica em Goinia. O Drago da Maldade Contra o SantoGuerreiro dever ser, de longe, o melhor filme em cartaz na cidade ltimamente.Vindo de uma recente e importante premiao internacional - conferida ao melhor

    diretor dos filmes exibidos no ltimo Festival de Cannes -, o filme de Glauber Rochaser seguido de A Religiosa, de Jean Rivette, no Cine Capri.14

    Na dcada de 1970, com o advento do Cinema de Arte no Cine Rio, o professor de cinemada Universidade Federal de Gois Hlio Furtado do Amaral passou a assinar uma pgina decinema no jornal O Popular. Na edio do dia 26 de fevereiro de 1975, a nova pgina de cinemado peridico de maior circulao no Estado ganhou um carter institucional e definitivo, com aincluso de comentrios, crticas e fichas de filmes que estavam em cartaz em Goinia.

    Entendemos que o jornalismo cinematogrfico crtico no pode excluirfinalidades educativas, isto , trabalhar pela incorporao de um nmero maior deespectadores entre aqueles que estejam capacitados a avaliar obrascinematogrficas. A simples colocao de tal objetivo implica em que esta pginaabole qualquer pretenso ao tratamento hermtico que habitualmente se atribui crtica de cinema. Vo colaborar com a pgina os alunos do curso de ComunicaoSocial (Habilitao em Jornalismo - disciplina: Tele-radiodifuso, Cinema e Teatro)da Universidade Federal de Gois, responsveis por uma iniciativa prtica deincentivo ao Cinema de Arte em Goinia, que so as sesses sabatinais do Cine

    Ouro.15

    No dia 23 de novembro de 1976, esta pgina de cinema trazia a seguinte manchete:Goinia precisa melhorar a programao cinematogrfica. E o texto constatava:

    Apesar do esforo que se faz no Cine Rio (esforo maior de alunos do Cursode Comunicao Social), Goinia deixa muito a desejar em matria de programaocinematogrfica. Nem a cidade tem um nmero suficiente de cinemas nem aprogramao segue uma linha de diversificao, impedindo dessarte uma opoconsciente do espectador. Alm do mais, no h uma preocupao em melhor onvel dos espetculos; nem sempre as salas de exibio oferecem condiesbsicas para uma projeo eficiente. E se no houver uma reao, a curto prazo, dopblico, a programao tender a piorar, crescendo assim os ndices de audincia

    na televiso.16

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    Nos anos 1980, a tarefa de tecer comentrios sobre cinema naquele matutino foi assumidapor Judas Tadeu Prto. Em seguida foi substitido por Tacilda Aquino e Sebastio Vilela, sendoque hoje a responsvel Rute Guedes. A iniciativa deste peridico de abrir espao para umacoluna diria de cinema fez com que os demais jhornais seguissem o mesmo caminho. Assim, a

    Folha de Goyazdelegou a tarefa de comentar os filme em cartaz a Plnio Czar Rolim; o JornalOpo a Ben de Castro; o Top News a Herondes Czar, Lourival Belm Jr. e Ricardo Musse,que se revezavam na tarefa, assinando as crticas com os pseudnimos Vittorio Cotavi e NicolaPalombo. J o Dirio da Manh inicialmente teve como crticos de cinema Hlio Furtado do

    Amaral, substitudo por Beto Leo de 1982 at 1989, quando assumiu a responsabilidade AdaltoAlves, depois Ranulfo Borges, sendo que atualmente os comentrios so feitos pela jornalistaMariana Tramontina.

    Em 1985, foi lanada em Goinia a revista Joo Bnnio - Perfil. A publicao teve comoobjetivo divulgar as atividades do Cineclube Joo Bnnio e, em sua primeira edio, trouxe umaretrospectiva da trajetria pessoal e artstica do cineasta goiano. Os artigos foram assinados porEurico Barbosa (Apresentao), Oscar Dias (biografia), Iber Monteiro (Bnnio, o Companheiro),

    Luiz Augusto Pampinha (Bnnio, o Bomio), Carmo Bernardes (Bnnio no Contexto Poltico-Cultural), Luiz Rtoli (Bnnio no Rdio e na TV), Beto Leo (Bnnio no Cinema) e Iri RinconGodinho (Bnnio e a Nova Gerao). Infelizmente, a proposta de se fazer uma revista mensal novingou, por absoluta falta de recursos financeiros.

    Em novembro de 1985 saiu o primeiro nmero da Revista de CinemaCisco, talvez a maisbem-sucedida e profcua publicao cinematogrfica de Gois. Surgiu como parte de um projetoexperimental em jornalismo impresso de dois estudantes de Comunicao Social da UniversidadeFederal de Gois, Hermes Filho Leal e Guilherme de Brito, sob a orientao do professora Maia,

    j falecido. A revista veio preencher uma lacuna deixada pelos meios de comunicao de massa,como os jornais, o rdio e a televiso, que sempre desprezaram o cinema dos diretores iniciantes.Nas duas primeiras edies, ainda na fase ligada Universidade, a Cisco deu grande destaquepara os filmes realizados por cineastas goianos e brasilienses, como Hlio Brito, Taquinho, JosPetrillo, Eudaldo Guimares, Pedro Augusto, Lourival Belm Jr., Geraldo Moraes, VladimirCarvalho, Pedro Jorge, alm de abrir espao para o cineclubismo goiano e ao ensino de cinemana UFG.

    O editorial do nmero de estria da Ciscoj dava bem a medida da sua proposta inicial:

    CISCO no vem para apoiar um movimento cinematogrfico ou tentar serporta-voz de uma nova linguagem cinematogrfica. Primeiro porque no existe emGois, nem no Brasil, um cinema mais novo que o da dcada de 60, e segundo

    porque nesta revista esto pessoas que, dentro de pouco tempo, ocuparo nasredaes dos jornais, rdio e TV a funo de jornalistas. Os cineastas so nossos

    entrevistados e o cinema est em nosso ideal. Como ns poderemos mais ajud-lo:defendendo-o.

    Defendendo-o dos enlatados e das pssimas produes, porquepesquisamos desde a chanchada, cinema novo, bangue-bangue brasileiro, udigrudi,pornochanchada, policial brasileiro e a pornografia produzida no Rio e em SoPaulo. O cinema no nosso ideal um s. Mltiplas so suas formas deinterpretao, porque diversos so os temas e a linguagem. Por isso, CISCO est

    procurando abrir o debate em torno do que se produz hoje, deixando para o leitor oprimeiro questionamento deste caos flmico embrulhado em vrios rtulos quediariamente chega s nossas salas de exibio.

    CISCO pretende formar jornalistas para a grande imprensa, que tenham umapreocupao maior com o cinema e procurem abrir espaos dentro dos jornais -porque no h espao para a crtica de cinema -, e desenvolvam um papel

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    consciente diante do fato. a primeira vez que se faz uma revista deste tipo em umcurso de jornalismo. Mas, a idia partiu dos alunos, porque a Universidade aindaest recalcada, e pensa que o que bom para ns s o que bom para ela. Mas,o trabalho est a para ser visto e lido. Vejam, leiam e acreditem que a busca de umcinema melhor fica por conta dos cineastas, se eles por acaso no dizem coisa comcoisa, esta anlise fica a critrio de vocs, leitores.

    CISCO pretende mostrar que vivel fazer uma publicao jornalstica sobreo cinema, no ao nvel de Cinemin, se que se pode cham-la de revista decinema, ou do rico material grfico da Filme Cultura, que publicada peloMinistrio da Cultura, e sim uma publicao que no defenda nem o nativismo daregio, nem o cinema descartvel que nos chega com um nome de boa qualidade.Como so pouqussimas as publicaes deste tipo, fica o nosso protesto para quetodas as universidades federais de Comunicao dem condies realmente deformar estudantes de jornalismo com condies de import dentro de seu campo detrabalho uma poltica de informao cinematogrfica que venha ao interesse s docinema, do cinema sem veriz, e que precisa ser mostrado em uma nova linguagem

    jornalstica. Est lanado o desafio, para ns e para o coitado do cinema que

    estamos tentando tirar da UTI da desinformao e da desculturao.17

    Depois dessa sua primeira fase, a Revista de Cinema Ciscose desatrelou da UniversidadeFederal de Gois, partindo para uma nova trajetria com as prprias pernas. Com o patrocnio dainiciativa privada (e at do governo) de Gois, da Embrafilme e de produtoras e revendedoras deprodutos para cinema do eixo Rio-So Paulo, a publicao passou a dedicar um espao maisabrangente para a cinematografia de outros estados brasileiros, divulgando o cinema feito emtodas as regies do pas. O vdeo e a televiso tambm passaram a ocupar as pginas da Cisco.

    A partir da quinta edio, a revista mudou sua sede administrativa para So Paulo, passando acontar com um Conselho Editorial formado por nomes ilustres como Jean-claude Bernardet, Chico

    Botelho, Suzana Schild, Assuno Hernandez, Maria Rita Galvo, Vladimir Carvalho, JairoFerreira, Giba Assis Brasil, Slvio Back, Srgio Rezende, Jorge Durn, Edgar Navarro, PedroJorge de Castro, dentre outros. Alm de correspondentes no Rio de Janeiro (Lisbeth Oliveira),Porto Alegre (Carlos Carrion), Joo Pessoa (Joo de Lima Gomes) e Paris (Eliana Thom).

    Em 1988, em sua edio de nmero 12, a Revista de Cinema Cisco passou por umamodificao em seu projeto grfico e editorial. O Conselho Editorial, composto no incio de 1987,foi extinto, uma nova diagramao foi experimentada e as matrias deixaram de privilegiar ocinema nacional, abrindo-se espao tambm para o cinema hollywoodiano (Duro de Matar,Rogger Rabbit, Bom Dia, Vietn, Batman), mas sem deixar de lado, contudo, o cinemaespanhol de Carlos Saura e Pedro Almodvar e o cinema alemo de Wim Wenders. Este foi oprimeiro sintoma de que o cinema brasileiro, cuja histria histria de aventuras e desventurasencontrara na Ciscouma tribuna de defesa, j no ia bem das pernas e no demoraria a sucumbirdiante do gigante estrangeiro. Este foi tambm o princpio do fim da Cisco, que durante dois anosapimentou os olhos de muitos e virou o refresco nos olhos de outros.

    Em outubro de 1993, o professor Jos Tavares de Barros, da Universidade Federal deMinas Gerais, veio a Goinia ministrar o curso A Crtica de Cinema no Brasil. Na opinio deBarros, que estudou cinema em Milo, na Itlia, e Lion, na Frana, no existem no Brasil colunasespecficas de anlise cinematogrfica.

    Os artigos que a gente v parecem estar ali apenas para ocupar espao, jque os jornais servem hoje apenas de invlucro para outros produtos venda. Naverdade, os jornais tm regras que a gente define como comunicao fcil e isso

    resulta no em anlise ao filme, mas sim em relatos da histria, da produo. Acrtica jornalstica de cinema matria de introduo ao filme. Falam da produo

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    (oramento), dos efeitos especiais, da relao do diretor com os atores. Naatualidade, a figura do crtico de cinema erudito cedeu lugar ao jornalistauniversalista, aquele que no especfico da rea, mas possui uma gama deinformaes que inclui diversos segmentos. S que esse nmero maior deinformaes muitas vezes pode ser confundido com material promocional.

    Durante o curso, o professor Jos Tavares traou o perfil ideal do crtico de cinema:

    Primeiro ele tem que ter um grande amor pelo cinema, sentir prazer na suaatividade. A princpio isso pode parecer bvio, mas essencial para a pessoa queassuma a funo de crtico, j que muitos no conseguem penetrar na histriacontada na tela e a cumplicidade, no caso, um elemento indispensvel. Depois ha necessidade de cultura dupla, de conhecimento terico, da histria do cinema, suareflexo e at mesmo uma memria cinematogrfica excelente, ainda que sejaregistrada em computador, da produo atual e contempornea. E, finalmente,saber redigir, transmitir o seu pensamento e torn-lo acessvel ao pblico. No deveemitir opinio sobre os filmes, mas sim apresentar elementos analticos sobre eles

    para que o prprio leitor forme a sua opinio. preciso considerar que, emboramnima, a parcela de pessoas que procuram colunas crticas em jornal j tem umaformao e quer aprofundar seus conhecimentos. Mas ocorre que a imprensaescreve para o grande pblico - que em sua maioria tem gosto superficial e quermais se divertir em filmes de aventura -, esquecendo-se que, em se tratando decinema, esse pblico mais especfico. Por isso, o cinfilo que se orienta pelo jornalgeralmente no supervaloriza a crtica porque ele sabe que ela, por mais tcnica ereferencial que seja, sempre ser uma coisa subjetiva. so crticas feitas sem umaanlise prvia, que no abrem para o espectador uma viso dos vrios aspectos

    que constitui um filme.18

    De acordo com o professor de cinema da Universidade de So Paulo e ensasta Jean-Claude Bernardet, a crtica cinematogrfica no Brasil sofreu uma violenta represso a partir de1964. Em sua opinio, mesmo os crticos que ficaram ligados ao cinema brasileiro noaprofundaram seus pontos de vista.

    Um novo tipo de crtica e anlise comea a se desenvolver aps 1967-68,com a criao de cursos de cinema de nvel universitrio. De modo geral e com aexceo notvel da atuao de Paulo Emlio em diversas faculdades, a tendnciados professores se voltarem para a semiologia. No incio dos anos 70, estamosnuma fase como que do recolhimento de grande parte da intelectualidade e de

    forte importao de teorias europias, que so estudadas e aplicadas. Na reacinematogrfica, a semiologia. A adesoda crtica a uma metodologiapretensamente cientfica como que paralisa a reflexo sobre o processo de

    produo cultural cinematogrfica no Brasil.19

    No perodo de 22 a 25 de agosto de 2006, o jornalista, crtico de cinema, roteirista,apresentador de televiso e cineasta Rubens Ewald Filho, ministrou a oficina de Crtica deCinema, para jornalistas, universitrios e cineastas. A oficina fez parte da programao do 2FestCine Goinia, e teve por objetivo preparar o publico e a imprensa para o festival que aconteceem novembro.

    O contedo fez um apanhado geral, passando por temas como a idade de ouro do cinemae o sistema dos estdios, a esttica do cinema nos anos 1930 e 1950 e pelas tendncias que

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    marcaram poca, alm de contedos prticos sobre como entender um filme, como avaliar umaproduo cinematogrfica, a quem se destina a crtica de cinema e as diversas linguagens parardio, tev e jornal.

    FESTIVAIS E MOSTRAS

    Os festivais de cinema no Brasil so a principal janela de exibio de filmes nacionais.Atualmente, entre mostras competitivas e informativas, existem no pas aproximadamente 110certames cinematogrficos.

    A primeira tentativa de se realizar um festival de cinema permanente em Goiniaaconteceu na dcada de 1960. Em 13 de setembro de 1966, o Cine Teatro Goinia foi palco da IBienal Centro do Cinema Brasileiro. Com direito a tapete vermelho para recepcionar a delegaode artistas, produtores, diretores e crticos cinematogrficos, diz a crnica da poca que o pblicose acotovelava na pracinha em frente casa de espetculos, buscando a melhor posio para verseus dolos da tela grande, efusivamente aplaudidos ao passar. No palco, obedecendo ao ritual

    tradicional dos grandes festivais cinematogrficos, o diretor do Departamento de Turismo doEstado, Selem Domingos, abria o festival com as seguintes palavras: A finalidade dessa Bienal proporcionar ao pblico do Centro-Oeste do Pas o conhecimento e a atualizao das obrascinematogrficas nacionais realizadas entre 1965 e 1966 que, pelo seu valor artstico e cultural,contribuam para o desenvolvimento da arte e da indstria do cinema no Brasil.

    Os filmes selecionados concorreram a 5 milhes de cruzeiros, o maior prmio atribudo emfestivais nacionais na poca. Alm dos respectivos prmios em dinheiro, receberam as estatuetasem barro com a imagem de uma ndia Karaj, as seguintes produes: A Grande Cidade, deCac Diegues (melhor filme, melhor produo para Luiz Carlos Barreto, melhor ator para AntnioPitanga, e meno honrosa para a atriz Anecy Rocha), Amor e Desamor (melhor roteiro, deCarlos Alberto de Souza Barros, melhor trilha sonora de Rogrio Duprat) e Toda Donzela tem um

    Pai que uma Fera (melhor atriz, Rosana Tapajs). A comisso organizadora do primeiro festivalde cinema goiano foi formada por Raul Rassi, Ruarc Douglas Ferreira, Selem domingos, SrgioMarcondes e Jos Madeira.

    At ento, Goinia nunca reunira tantos artistas famosos em um nico espao fsico. A noser por ocasio do Congresso de Escritores e Intelectuais, realizado em 1959, quando aquiestiveram Pablo Neruda, Maria Della Costa, Lupicnio Rodrigues e Lima Barreto, que na pocacolhia os louros da premiao de O Cangaceiro, no Festival de Cannes. Contudo, a Bienal ficourestrita quele ano.

    Em sua coluna LBP Conta, no jornal O Popular, o crtico Lourival Batista Pereira falouassim sobre o festival:

    Chega hoje ao seu fim, a I Bienal Centro do Cinema Brasileiro. Olhandoapenas sob o prisma artstico, a impresso que se tem que o certame alcanou oseu fim colimado: atrair para Gois a ateno dos artistas e cineastas brasileiros.Vrios deles, alis, tm se manifestado com grande entusiasmo sobre o nossoEstado. Pena que o festival em Gois no tenha, como dissemos ontem, tido umcarter mais popular. O povo, infelizmente, no teve participao nenhuma. Tantoque um grupo de participantes da I Bienal Centro, entre os quais Jece Valado, anikMalvil, Luely Figuer e Roberto Farias, visitando anteontem a redao dO Popular,observaram a ausncia do povo nos espetculos do festival. Foi, no resta dvida,um erro do programa. Mas, como se trata da I Bienal, tudo poder ser perfeitamente

    perdovel. A segunda, certamente, ser muito melhor. Daqui a dois anos.

  • 5/25/2018 cinemaemgoias (1)

    24/88

    O realizador do filme Engraadinha Depois dos 30, J.B. Tanko, com quempassamos toda a tarde de ontem, no gostou do final de uma das nossas notas deontem (Ainda cedo para botar banca), sobre o cinema nacional. Mas, como conversando que se entende, o cineasta em questo compreendeu que os visadosno foram propriamente os convidados para a I Bienal. Quem est botando banca, custa de quem realmente merece o nosso apreo, so pessoas que querem fazermdia l fora com os homens de cinema. E ao colunista, neste momento, no

    interessa dar nome aos bois.20

    Mas foi somente 34 anos depois que Goinia teria um novo festival de cinema. Realizadopelo Instituto de Cultura e Meio Ambiente (Icumam), com o apoio de governos e a iniciativaprivada, a Goinia Mostra Curtas surgiu em outubro de 2000. A GMC um festival de cinemanacional de curta-metragem, que rene produes de todo o Brasil, valorizando a regionalidadecomo linguagem e celebrando a diversidade cultural do Pas como instrumento de construo deuma sociedade solidria, tolerante e cidad.

    O Icumam uma organizao privada, sem fins-lucrativos, criada para desenvolverprojetos voltados para a valorizao e democratizao do audiovisual brasileiro e a preservao

    do meio ambiente. A Goinia Mostra Curtas o carro-chefe desse trabalho que j apresentaimpacto no mercado goiano, do ponto de vista da produo de produtos audiovisuais, dacapacitao profissional para a indstria cinematogrfica e da formao de pblico. O pblicoestimado do festival, nos ltimos cinco anos, de mais de 96 mil espectadores. Anualmente, ofestival tambm uma oportunidade mpar para cineastas, videomakers e entusiastas do cinemaem Gois trocarem experincias e contatos com pesquisadores, profissionais e jornalistas detodos os Estados brasileiros, seja em oficinas, debates ou durante as mostras.

    Em novembro de 2005, a Prefeitura Municipal de Goinia, atravs da sua Secretaria deCultura, realizou o I FestCine Goinia - Festival de Cinema Brasileiro de Goinia. O poderexecutivo cumpria, assim, uma lei que existia desde setembro de 1992, determinando a criao doFestival de Cinema de Goinia e o seu carter permanente como parte integrante do calendrio

    cultural da cidade. O projeto de lei, aprovado pela Cmara Municipal e sancionado pelo entoprefeito, de autoria do ento vereador Doracino Naves, e estava desde essa poca nadependncia de regulamentao para ser colocado em prtica.

    Para justificar a importncia do seu projeto, Doracino Naves apresentou a seguinteargumentao:

    A cidade de Goinia, com pouco mais d